Fraude | Proprietários do “Yoga World” falham reunião com Conselho de Consumidores Andreia Sofia Silva - 13 Mai 2021 Os proprietários do estúdio de yoga “Yoga World”, situado na Rua do Campo, não compareceram a uma reunião com o Conselho de Consumidores (CC) a propósito de uma alegada fraude. Conforme noticiou o Jornal Tribuna de Macau (JTM), o “Yoga World” pediu aos sócios, o ano passado, o pagamento adiantado das mensalidades, alegando que os preços iriam subir este ano. No entanto, o estúdio deixou um aviso na porta, a 6 de Maio, de que iria fechar de forma permanente. Há cerca de 500 pessoas envolvidas neste caso, sendo que o CC já recebeu 42 queixas. O CC informou ontem que tentou entrar em contacto com o “Yoga World” a fim de “solicitar que proponha uma solução devido às reclamações”. No entanto, os proprietários “não compareceram ao encontro marcado”, pelo que “o CC irá tomar medidas para acompanhar o andamento do caso”. Ontem a deputada Wong Kit Cheng reuniu com alguns dos queixosos, tendo ajudado a submeter algumas queixas junto do CC. A deputada espera que este organismo “adopte medidas para dar apoio aos sócios afectados”, sendo importante informar o público para os riscos do pagamento prévio de inscrições deste género. Segundo o JTM, cada sócio terá pago 10 mil patacas relativos a um ano de inscrição, o que perfaz um total de 5 milhões de patacas. O diário apurou que o dinheiro não será devolvido devido a “dificuldades financeiras”. Antes de se dirigirem ao CC, os queixosos tentaram apresentar queixa junto da Polícia Judiciária, que considerou “não haver natureza criminal” no caso.
Património | Novo projecto do edifício “Chao Lei Aves” descarta traços originais Andreia Sofia Silva e Nunu Wu - 13 Mai 2021 A nova planta de condições urbanísticas (PCU) relativa ao projecto de preservação do edifício “Chao Lei Aves”, situado nas imediações da Avenida Almeida Ribeiro, não prevê a manutenção da placa original nem da fachada, noticiou o jornal Cheng Pou. Em 2016, o proprietário do edifício, onde funcionou uma empresa ligada ao negócio de aves, remodelou a fachada do prédio e retirou a antiga placa da parede, que continha o nome “Chao Lei Aves”. As obras foram feitas sem licença, num caso descoberto pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). Mais tarde, este organismo exigiu ao proprietário a recuperação da fachada original. Nessa altura, o então presidente do Instituto Cultural (IC), Guilherme Ung Vai Meng, lamentou a extinção da placa e disse que, mesmo que o edifício não esteja classificado como património, pertence à paisagem histórica do local. A DSSOPT chegou a incluir as opiniões do IC sobre a preservação da fachada e a manutenção da placa com o nome da antiga empresa, tendo as obras sido canceladas. Entretanto, a actual PCU prevê a reconstrução da fachada com novos materiais, tendo sido excluídas as opiniões do IC datadas de 2016.
Burla | Desfalcados em 3,6 milhões em esquema de vinho e roupa Pedro Arede - 13 Mai 2021 Ao todo, sete pessoas foram seduzidas a investir numa plataforma online dedicada à venda de vinho tinto e roupa. A principal suspeita pelo esquema que terá lesado as vítimas em 3,6 milhões de renminbis desde 2019 é uma residente de Hong Kong de 38 anos, que acabou detida pela Polícia Judiciária na zona do NAPE A Polícia Judiciária (PJ) deteve na passada terça-feira, na zona do NAPE, uma residente de Hong Kong de 38 anos suspeita da prática do crime de burla de valor consideravelmente elevado. Em causa, está o facto de a suspeita ter alegadamente sido a principal responsável por aliciar sete pessoas, seis das quais residentes de Macau, a investir cerca de 3,6 milhões de renminbis numa plataforma online dedicada à venda de vinho tinto e roupa. O valor nunca foi recuperado. De acordo com informações reveladas ontem em conferência de imprensa pela PJ, o alerta foi dado pelas próprias vítimas na passada terça-feira, quando estas revelaram ter conhecido uma mulher através da qual lhes foram prometidos lucros, mediante investimento financeiro na referida plataforma. Mais especificamente, segundo as vítimas, a mulher terá prometido lucros de 20 por cento dos montantes investidos ao fim de 30 dias. Numa fase inicial, após terem colhido alguns lucros do primeiro investimento que fizeram na plataforma, as vítimas sentiram confiança na intermediária e em todo o processo, voltando a transferir novos montantes. Ao todo, partilhou ontem um porta-voz da PJ, entre Setembro de 2019 e 2021, as sete vítimas investiram cerca de 3,6 milhões de renminbis, valor que procuraram recuperar junto da residente de Hong Kong. No entanto, e após a apresentação de várias desculpas para adiar a devolução dos montantes, a suspeita acabou mesmo por não os restituir, facto que levou à apresentação da queixa por parte das vítimas. Palavra contra palavra Iniciada a investigação, a PJ detectou que a suspeita entrou em Macau na passada terça-feira através das Portas do Cerco, acabando mais tarde no mesmo dia, por localizá-la e detê-la num restaurante na zona do NAPE. Nos depoimentos prestados à PJ, a suspeita alegou ter recebido 2,8 milhões de renminbis das vítimas, argumentando não ter devolvido os montantes “porque a plataforma não produziu lucros”. Além disso, segundo a PJ, a suspeita não conseguiu apresentar qualquer comprovativo de utilização ou comunicação com a alegada plataforma dedicada à venda de vinho tinto e vestuário. O caso seguiu ontem para o Ministério Público (MP), onde a suspeita irá responder pela prática do crime de burla de valor consideravelmente elevado. A confirmar-se, poderá vir a ser punida pena com pena prisão entre 2 a 10 anos.
Colina da Ilha Verde | Si Ka Lon questiona planos de preservação Andreia Sofia Silva - 13 Mai 2021 Si Ka Lon interpelou o Governo sobre a preservação da colina da Ilha Verde, onde se situa o antigo convento jesuíta. O deputado lembrou que o Executivo “ainda não iniciou o sequestro provisório para avançar com a preservação das edificações na colina”, tendo-se limitado apenas “a fazer reparações a posteriori face a problemas como a ocupação ilegal, vandalismo e ligações de electricidade ilegais no convento”. Neste sentido, o deputado questiona “o ponto de situação do estudo efectuado pelo Governo sobre os danos, nomeadamente na casamata militar e no convento da colina da Ilha Verde”, e se vão se plantadas árvores na zona. O deputado recordou também que, segundo o projecto do Plano Director de Macau, a colina da Ilha Verde será transformada em zona de protecção ecológica, “na qual o uso dos terrenos não é compatível com a finalidade habitacional, industrial, turística e lazer”, além de existir um problema de propriedade privada. “O Governo reconhece que a colina da Ilha Verde tem valor de preservação. Então, como a vai preservar? Em conjugação com os vestígios históricos e as árvores antigas, o Governo deve transformar a colina da Ilha Verde num novo ponto turístico e cultural na zona noroeste de Macau”, sugeriu.
4 Junho | Novo Macau considera decisão do IAM sobre exposição “pouco inteligente” Pedro Arede - 13 Mai 202113 Mai 2021 O vice-presidente da Associação Novo Macau, Sulu Sou considerou ontem que justificar a proibição da exposição fotográfica sobre o massacre de Tiananmen com a falta de espaço é uma “desculpa pouco inteligente” e espera que os organizadores da habitual vigília alusiva à data “lutem até ao fim” pela sua realização. “Vamos comunicar com os organizadores [da vigília] e discutir como é que a Associação Novo Macau pode ajudar. No ano passado o IAM usou outra desculpa para recusar as actividades do 4 de Junho. Este ano mudaram as razões, mas não é uma boa desculpa, nem sequer é uma desculpa inteligente, porque não utilizaram a argumentação da prevenção da pandemia e disseram apenas que todos os espaços estavam ocupados”, apontou ontem Sulu Sou. Sublinhando discordar da posição do Governo porque nos últimos 32 anos as actividades alusivas ao 4 de Junho têm sido sempre “pacíficas”, o responsável defende que o Executivo deve garantir a correcta coordenação do espaço público para evitar “conflitos” e “responder às necessidades das associações”. “Espero que os organizadores lutem até ao fim, porque há muitas formas de o fazer, incluindo os procedimentos tradicionais e (…) outras hipóteses, sítios e datas para apresentar ao IAM”, acrescentou. Por último, Sulu Sou vincou que, em relação ao ano passado, a actual situação da pandemia é “diferente” e que, por isso, o Governo “não pode usar a mesma razão para impedir o direito de reunião”. “Vamos manter a comunicação com os organizadores da vigília e, se necessário, a Novo Macau vai usar os meios ao seu alcance para prestar apoio”, rematou.
Plano Director | Sulu Sou pouco optimista sobre mudança de posição do Governo Pedro Arede - 13 Mai 2021 Sulu Sou considera que o Chefe do Executivo passou a “mensagem errada” quando defendeu que a população não se opôs às instalações governamentais previstas para as zonas C e D. Contudo, o deputado não acredita que o Governo volte atrás e destine o espaço a zonas verdes e instalações culturais e recreativas Numa conferência de imprensa agendada para expressar as opiniões da Associação Novo Macau sobre as conclusões da consulta pública ao novo Plano Director, Sulu Sou considerou que a vontade da população não está a ser cumprida relativamente à criação de zonas verdes e instalações culturais e recreativas nas zonas C e D junto ao Lago de Nam Van. Segundo o deputado e vice-presidente da Associação Novo Macau, apesar de quase 70 por cento da população ter mostrado oposição à construção de edifícios governamentais na zona e mais de 80 por cento estar contra os limites máximos de altura de 62,7 metros, o Chefe do Executivo passou a “mensagem errada” sobre o assunto, vincando que o plano é mesmo para avançar. Perante o cenário, Sulu Sou está pouco optimista sobre uma mudança de posição por parte do Governo. “O Chefe do Executivo disse que os cidadãos não se opõem à construção dos edifícios governamentais e que se opõem apenas aos limites estabelecidos para os edifícios, mas isso não é verdade. Para ser honesto, não estamos optimistas [numa mudança de posição], porque enfrentamos repetidamente a mesma atitude por parte do Governo nos últimos anos. No entanto, temos a responsabilidade de mostrar novamente as nossas exigências, que são também as opiniões da população”, apontou ontem Sulu Sou. Para o deputado, aquela área que, além das zonas C e D junto ao Lago Nam Van inclui também o Lago Sai Van e a zona B dos novos aterros, é o “último jardim da península de Macau” e que, por isso, esta é a “última oportunidade” para o defender. Além disso, Sulu Sou considera que existem “recursos suficientes” para albergar os serviços do Governo noutros locais como no Pac On, Zona Nova e Dynasty Plaza. Quantos são? Durante a conferência de imprensa, Sulu Sou referiu ainda que a Associação Novo Macau está “desiludida” com o facto de, tanto o documento de consulta pública, como o relatório serem omissos em termos de política demográfica. “O Plano Director de qualquer cidade não pode estar separado da sua política demográfica. Estamos muito desiludidos que o documento de consulta pública e o relatório final não mencionem dados ou qualquer informação sobre o desenvolvimento da população em Macau. O relatório não tem em conta as necessidades gerais e regionais da população, projecções de evolução (…), capacidade de desenvolvimento e estrutura da população, pelo que as necessidades reais em termos de espaço público nunca poderão ser estimadas”, afirmou o responsável. Sobre a classificação do Alto de Coloane como zona habitacional, proposta liminarmente recusada pela população e sobre a qual o Governo recuou, Sulu Sou apontou que o Executivo perdeu uma oportunidade de evitar um “conflito”. “Não percebemos porque é que o Governo sugeriu que o Alto de Coloane fosse usado como zona habitacional durante o período de consulta pública. Pedimos ao Governo para reflectir sobre esta questão e não avançar temas que constituem conflitos sociais. A protecção de Coloane é uma exigência de longo prazo da população”, vincou.
Paulo Osório, linguista e professor catedrático: “Macau não deve ser só árvore das patacas” Andreia Sofia Silva - 13 Mai 2021 Professor Catedrático de Linguística Portuguesa na Universidade da Beira Interior, Paulo Osório gostaria de realizar em Macau um estudo que faça a descrição do português falado no dia-a-dia, para que se possam identificar problemáticas e criar, a partir daí, novos materiais didácticos. Paulo Osório defende que a UM “tem tido um espaço mais reduzido de evolução” nesta área face ao IPM Colabora com a Universidade de Macau (UM) e o Instituto Politécnico de Macau (IPM) ao nível dos doutoramentos, mas também se dedica ao estudo da expansão do idioma em termos históricos. Uma das minhas áreas de investigação tem sido a história da língua portuguesa. Há um período que me tem interessado particularmente, que é do século XV em diante, a que o professor Ivo Castro chama o ciclo da expansão da língua portuguesa, quando a língua vai em busca de outros territórios graças à expansão ultramarina. Esse processo da diáspora foi longo e claro que o português ao chegar a esses espaços teve de contactar com as línguas já existentes. Isso aconteceu na Ásia, em África, no Brasil. Este tema tem-me levado a fazer várias questões para as quais tenho tentado encontrar algumas respostas, e que não são fáceis. Tais como? Por exemplo, conheço bem Macau. E um dos aspectos que me faz muita confusão é que, embora a implementação dos portugueses tenha sido longa, o português enquanto língua de comunicação basicamente não existe. Noutros pontos do globo o português conseguiu vingar e ter uma implantação. Mas na Ásia… quando falo em Ásia os dois locais que tenho como referência e que conheço melhor são Macau e Timor-Leste. São dois pontos onde não notámos grande implantação da língua. É quase impossível uma comunicação em língua portuguesa em Macau. Mas é interessante porque se olharmos para um território como Hong Kong, e que teve um processo de colonização, o inglês ficou bem radicado. Na sua visão, porque é que o português não ficou como língua de comunicação em Macau, apesar de ser língua oficial? Seria mais fácil dizer que não houve empenho por parte do poder local na língua portuguesa, mas isso também não pode ser dito assim. Temos instituições de ensino com departamentos de português. Temos ainda o IPOR que tem feito a defesa da língua portuguesa. Temos de fomentar mais políticas linguísticas de defesa da língua portuguesa, mas há um factor linguístico que não podemos escamotear, que é o facto de estarmos na presença de línguas tipologicamente muito diferentes, o português e o cantonês / mandarim. Isso faz com que seja mais difícil a própria aquisição e aprendizagem de um falante de chinês. Há depois outras questões que não são linguísticas, mas que estão envolvidas no desenvolvimento da língua, e que têm a ver com o facto de estarmos perante culturas muito diferenciadas. Em Macau é curioso… saio e noto pouca presença portuguesa. Há a calçada portuguesa no Leal Senado, temos algum património, mas não me parece que haja uma relação tão directa entre o que lá foi deixado com a existência de facto de uma permanência tão duradoura. Tivemos várias classes profissionais que propiciaram a ida da língua portuguesa para esses pontos. Uma das quais foi os missionários, que têm aqui uma importância muito grande. Talvez possam ser feitas outras medidas de investimento. Se reparar, a língua oficial da UM é o inglês, nem sequer é o mandarim ou o português. Acaba por ser, com a proximidade de Hong Kong, a língua de comunicação, como uma segunda língua, e é a única Que projectos está a desenvolver com a UM e o IPM? Na UM tenho colaborado com a professora Maria José Grosso ao nível de júris de provas de doutoramento, questões de aprendizagem do português como língua não materna. Com o IPM tenho colaborado com a professora Rosa Bizarro, há um ano, para dinamizar sessões ao nível do doutoramento em português. O doutoramento da IPM em português é muito interessante, abrange vertentes da linguística e da literatura, que tem bastantes alunos. Pelo que conheço, parece-me que o IPM tem feito um esforço muito grande na defesa e expansão do português e até na formação que têm dado aos professores. Um dos aspectos que gostaria de estudar no terreno era fazer um estudo descritivo do português que é falado, a fim de tentar aferir algumas diferenças linguísticas mais acentuadas nos dois sistemas de língua e depois como isso se pode operacionalizar para a sua aprendizagem. O professor de português de língua estrangeira tem de ter atenção à questão da descrição das línguas em uso, para depois poder fazer algumas pedagógico-didácticas para se aferir um maior sucesso. Ensinar português a hispano falantes não é o mesmo do que ensinar a língua a chineses ou macaenses. Como seria feito esse estudo? Seria um trabalho no terreno, de auscultação e gravação de reproduções de falantes que usem o português, ou que saibam um pouco da língua, de modo a que conseguisse diagnosticar quais são as principais dificuldades no uso do idioma. Para que depois possamos desenvolver a criação de materiais didácticos para o ensino do português. Tem de haver uma aposta nesse campo. Mas só quando diagnosticamos as dificuldades é que conseguimos depois elaborar os materiais para promover esse processo de aprendizagem da língua. Deveria haver muitos mais materiais didácticos, pois nem sempre são os suficientes para as necessidades. Espera que com este doutoramento no IPM o ensino do português possa chegar a um outro nível? Vai permitir uma formação de quadros. Esses doutorandos, muitos deles são professores, de Macau e da China, e serão as pessoas indicadas para fazer o ensino da língua portuguesa. Tem sido assim a nossa história, neste momento em Portugal estamos a fazer uma grande aposta na formação de quadros angolanos. Que análise faz ao ensino do português em Macau, em termos gerais? Tem sido feito um esforço, e temos também a Escola Portuguesa de Macau. Esse esforço deve ser continuado. Macau não deve ser só um espaço da árvore das patacas, mas quem vai com a missão de ensinar tem de ter isso mesmo, um espírito de missão, quase como um sacerdócio. O que não é fácil. É sempre possível fazer melhor, mas acho que o português tem sido dinamizado com algum afinco. Parece-me que talvez a UM tenha tido um espaço mais reduzido de evolução do que o IPM. O IPM tem abraçado mais para si essa função de ensino e difusão do português. Na UM tem-se optado mais pela investigação neste domínio, até porque têm o centro bilingue português-chinês, onde não tenho visto muita produção. As primeiras teses de doutoramento em português do IPM ainda não saíram, há um ano tinham um número muito significativo de alunos. A UM já tem uma tradição mais antiga ao nível da academia e tem naturalmente muitos doutoramentos. Voltando à expansão do português na Ásia. Foi feita em diferentes fases, a diferentes ritmos? A implantação das línguas em todos os territórios não ocorreu com a mesma intensidade. Encontrou sempre resistências locais. Mas a partir do momento da expansão ultramarina digamos que a língua se estende nos diferentes pontos do globo. Claro que com pontos intermitentes de actuação, para os quais muitas vezes não temos muitos dados. Depois foi tendo as suas evoluções. No fundo, o português que chega a esses territórios já é uma língua, segundo alguns académicos, um português moderno, do século XVI para a frente, que põe termo ao português medieval ou antigo. No caso de Macau, quando os portugueses chegaram ao território, já era esse português que se falava. Esse português moderno é que vai para esse espaço fora da Europa. Depois da chegada dos portugueses podemos falar dos missionários jesuítas como os grandes dinamizadores do português em Macau. Sim. Não apenas expandiram a língua como também contribuíram para o seu ensino, que era uma tarefa muito importante. Os missionários vão ter em vários pontos do espaço asiático uma importância muito marcante na difusão e ensino do idioma. Há muitas comunidades de luso-descendentes onde restam estas formas de falar e que são resultado da expansão do português. As autoridades portuguesas deveriam dar mais atenção a esses crioulos? Deveria haver mais atenção e até mais estudos. Sob o ponto de vista governamental deveria haver um maior cuidado pela descrição desse tipo de línguas e da sua preservação. Há alguns grupos que vão sendo excluídos e vamos perder o testemunho desses falares. Tratam-se de formas linguísticas muitíssimo importantes que atestaram a passagem dos povos. Seria importante uma preservação através de um estudo científico. É complexo, porque implica trabalho de campo. Não digo que se deva dar um estatuto de língua, porque isso prende-se com outras questões, mas sim dignificar essas formas de falar como uma forma importante do património imaterial das civilizações.
Covid-19 | Timor-Leste com mais 133 casos e aumento na incidência Hoje Macau - 12 Mai 2021 As autoridades timorenses anunciaram hoje novos 133 novos casos de infeção com a covid-19, com quase o mesmo número de casos recuperados nas últimas horas, com a maioria das infeções a serem detetadas em Díli. Rui Araújo, coordenador da ‘task-force’ para a prevenção e mitigação da covid-19 do Centro Integrado de Gestão de Crise (CIGC) explicou em conferência de imprensa online que, além de 117 casos em Díli, registaram-se 10 casos em Ermera, quatro em Baucau e um cada em Covalima e Manufahi. Atualmente Timor-Leste tem 1.727 casos ativos e 3.626 casos acumulados desde o início da pandemia. Hoje, os casos positivos em Díli corresponderam a mais de 12% dos 966 testes realizados na capital. Doze dos casos positivos registados hoje tinham sintomas da covid-19. Os dados fizeram aumentar a taxa de incidência para 9,1/100 mil habitantes em Timor-Leste e 31,1 por 100 mil habitantes em Díli. Rui Araújo disse que a estimativa de casos positivos na região de Díli é “atualmente de 35 mil pessoas” com uma taxa de prevalência entre os 9,9 e os 12% e uma taxa de incidência que foi em média de 27,8 por 100 mil habitantes nos primeiros nove dias do mês de maio. Isso implica, disse, hipoteticamente, que se as autoridades conseguissem realizar 10 mil testes por dia poderia haver novas 1.300 a 1.500 infeções diárias registadas. Segundo explicou, tem havido um aumento constante no número de casos sintomáticos como percentagem de todos os casos positivos detetados – que passou de 7 para 12% entre abril e maio – e no número de hospitalizados, que quase triplicou. No que se refere à hospitalização, Araújo disse que o número total tem aumentado, com um aumento significativo de mulheres grávidas infetadas. “Em termos gerais, os casos que demonstram sintomas respiratórios têm vindo a aumentar com alguma gravidade, mas nestas duas últimas semanas, não muitos em situação crítica”, disse. “Hoje por exemplo temos um caso a utilizador ventilador em Vera Cruz, um exemplo da continua gravidade de casos que podem surgir”, referiu. O responsável timorense explicou que desde 01 de abril até agora, um total de 209 pessoas foi autorizada a fazer o confinamento terapêutico em casa, dos quais 70 casos já tiveram alta. Rui Araújo disse que o CIGC está a trabalhar para poder começar a utilizar um novo mecanismo online para registo de pessoas que pretendem sair da cerca sanitária de Díli, e que atualmente estão a fazer os pedidos presencialmente, com grandes aglomerações diárias. “Isso é um risco para a saúde pública e tem-se insistido na dispersão de aglomerações dessas. A população reage de forma negativa ao esforço de dispersão. Estamos a trabalhar nesse mecanismo online e a fazer preparativos para o começar a utilizar”, disse. Timor-Leste está a viver atualmente o pior momento desde o início da pandemia. Hoje, o Governo timorense deliberou manter o confinamento obrigatório em Díli durante mais 14 dias, até ao final de maio, renovando a cerca sanitária na capital e nos municípios de Baucau e Covalima, as regiões com mais casos ativos da covid-19. As cercas sanitárias em Baucau, Covalima e Díli mantém-se por mais 14 dias, não tendo sido renovadas, por outro lado, as que vigoram até 16 de maio em Ainaro, Ermera, Lautém, Liquiça, Manufahi e Viqueque.
Covid-19 | Malásia decreta restrições para travar nova vaga da pandemia Hoje Macau - 12 Mai 2021 As autoridades malaias decretaram hoje restrições à circulação no país e limitaram as atividades sociais, medidas que deverão estar em vigor até 7 de Junho, para tentar travar uma nova vaga da pandemia da covid-19. As medidas, anunciadas em comunicado pelo primeiro-ministro malaio, Muhyiddin Yassin, incluem o fecho das salas de restaurantes ao público e a proibição de grandes eventos sociais, passando as viagens entre distritos e estados a ser limitadas apenas a quem se desloque por motivos de trabalho ou de saúde. As restrições foram aprovadas na véspera da celebração do Aid al-Fitr, quando os muçulmanos regressam a casa, no final do Ramadão. O chefe do Governo malaio justificou as medidas com a pressão no sistema de saúde, devido ao aumento de casos da covid-19 e à presença no país da variante no novo coronavírus detetada na Índia. Esta é a terceira vez que a Malásia impõe restrições devido à covid-19, embora menos severas do que as aprovadas no ano passado e nos meses de janeiro e fevereiro. O país, um dos mais afetados pela pandemia no Sudeste Asiático, registou mais de 444 mil infeções e 1.700 mortes desde o início da pandemia. A crise sanitária afetou particularmente os migrantes, incluindo trabalhadores nas fábricas do maior fabricante mundial de luvas de látex, a empresa Top Globe, que em novembro último foi obrigada a encerrar 28 fábricas na Malásia, devido a um surto de covid-19. Com 32 milhões de habitantes, o país vacinou apenas um milhão de pessoas, o que representa cerca de 3% da população.
Sporting campeão: Hora tardia ‘rouba’ força à festa em Macau, sem tirar drama e lágrimas Hoje Macau - 12 Mai 2021 A hora tardia do jogo ‘roubou’ força às celebrações em Macau do título nacional de futebol do Sporting, mas a diferença de sete horas não despojou os adeptos do drama nem das lágrimas contidas durante 19 anos. A mais de 10.000 quilómetros de Portugal, os sportinguistas vibraram com a vitória sobre o Boavista (1-0) já na madrugada de quarta-feira, mas a distância só ‘emprestou’ intensidade aos festejos num bar na ilha da Taipa que adiou especialmente a hora de fecho para projetar o jogo que ‘carimbou’ o 19.º título, à 32.ª jornada. Num grupo composto por muitos jogadores do Sporting de Macau, seniores e veteranos, já próximo do final do jogo, alguém do grupo procurou sossegar o nervosismo e tensão geral, face às perdidas do Sporting e à vantagem ‘maga’ do marcador: “Somos do Sporting, qual é a novidade? Temos de sofrer”. “É claro que não era preciso sofrer tanto, mas sendo sportinguista, e, sabendo como tem sido a história do Sporting, (…) é claro que tínhamos de sofrer [neste jogo]”, desabafou no final do encontro Pedro Paulo Santos, ainda a recuperar das emoções. Entre abraços, Carlos Oliveira, reforçou o sentimento: “Foi um grande alívio emocional, (…) mas correu bem”. Afinal, salientou, “isso é o sportinguista, se formos ver os campeonatos para trás da história recente (…) é sempre sofrimento até à última”, para reconsiderar logo de seguida: “Bom, foi a três jornadas do fim”, portanto, “correu bem”. Pedro Paulo Santos até preferia que o título fosse garantido na jornada seguinte, pelo simbolismo e pela rivalidade, mas não conseguiu disfarçar satisfação imediata. “Até esperava que fosse no jogo com o Benfica, tinha tido um sentimento especial, obviamente, apesar de ser muito triste ver os estádios vazios, era bom festejar o título na Luz, mas estou contente do Sporting ter conseguido já a três jornadas do fim, que se mantém invicto há 32 jornadas”, assinalou. Os festejos, tinham arrebatado o fôlego e a fluência a Ismael Gulamo, mas não a memória. O sportinguista sublinhou que a conquista do campeonato foi um feito de todos, lembrou a frase motivacional ‘leonina’ de “Onde vai um vão todos” e recordou o último campeonato que o Sporting venceu, o de “Jardel, do João Pinto, lembro-me de tudo”, reiterou. Embalados pelo entusiasmo, já pela manhã que se levantava na capital mundial do jogo, e à falta de melhor cenário, mais de uma dezena de adeptos fez questão de se deslocar para o casino da MGM para tirar uma fotografia junto do leão, um símbolo que é partilhado pela operadora de casinos e, claro, pelo Sporting.
Macau perdeu população e milhares de TNR Hoje Macau - 12 Mai 2021 No final do primeiro trimestre deste ano, Macau tinha uma população total de 682.500 pessoas, menos 600 em comparação com o trimestre anterior, e menos 13.600 em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), no final de Março viviam em Macau 363.400 pessoas do sexo feminino, representando 53,2 por cento da população. A DSEC afirmou durante o primeiro trimestre do ano registaram-se 1.173 nascimentos, menos 172, em termos trimestrais. Do total de bebés nascidos, 650 foram meninos. No capítulo dos óbitos, registaram-se 586 óbitos nos primeiros três meses do ano, mais 20, em termos mensais. As três principais causas antecedentes de morte foram tumores (222 óbitos), doenças do aparelho circulatório (163 óbitos) e doenças do aparelho respiratório (99 óbitos). Atravessar fronteiras No trimestre em causa o número de indivíduos do Interior da China recém-chegados a Macau titulares de “Salvo-Conduto Singular” fixou-se em 675 pessoas, com os indivíduos autorizados a residir em Macau a totalizarem 124. Estes índices demográficos registaram quebras de 245 e 19 pessoas, respectivamente em termos trimestrais. Um dos factores demográficos mais afectados pela pandemia, e decorrente crise económica, foi o número de trabalhadores não residentes (TNR). No final de Março, viviam em Macau 173.113 TNR, menos 4.548 em relação ao trimestre anterior. Em termos anuais, nos primeiros três meses de 2021 o número de TNR registava uma quebra de 16.405 em relação ao primeiro trimestre do ano passado, uma diminuição de quase 10 por cento. Outro dos aspectos analisados pela DSEC é o número de casamentos. Nos primeiros três meses do ano registaram-se 973 casamentos, mais 84 em termos trimestrais.
A insatisfação conjugal e os desafios do divórcio chinês Tânia dos Santos - 12 Mai 2021 Na China um inquérito indicou que cerca de 20 por cento das mulheres estão arrependidas por se terem casado. Os números da insatisfação têm aumentado ano após ano. Talvez um ano de pandemia tenha ajudado a esta tendência. Não houve ano mais exigente para as mães e esposas que andaram em malabarismos entre tarefas e trabalhos. Os valores de insatisfação, por sua vez, não se reflectem da mesma forma nos homens. Os homens parecem estar muito satisfeitos. A razão? Os desequilíbrios na divisão de tarefas conjugais está claramente a tender para um lado. A mulher chinesa moderna tem um emprego, ao mesmo tempo que cuida da casa, dos filhos e dos pais. Para um jovem chinês a pressão para se casar e ter filhos começa logo depois da universidade, quando até lá era “proibido” namorar. As políticas que estimulam a natalidade também estão orientadas para esta visão pró-casamento. O envelhecimento da população é cada vez mais óbvio. A necessidade de manter uma geração trabalhadora exige muito casamento, família e filhos. Agora – mudam-se os tempos e as vontades, e num contexto em que as mulheres têm cada vez mais espaço no tecido empresarial, a família e a procriação podem só ser mais uma tarefa para sobrecarregar a vida, e não um propósito de existência. Aliada a esta tendência para a insatisfação, os divórcios têm aumentado. O governo chinês, preocupado com estes números, implementou um período de reflexão obrigatório de 30 dias a quem queira divorciar-se. Implementado a 1 de Janeiro de 2021, imensos casais apressaram-se a divorciar para não serem apanhados por esta exigência. A ideia não é nova – parece que a Coreia do Sul já a tem implementada desde 2005, variando os períodos dependendo das localidades. A investigação em contexto coreano mostra que há casais que acabam por desistir do processo. As teorias que sustentam um período de reflexão obrigatório acreditam que as pessoas se precipitam a tomar decisões. Da mesma forma que as pessoas não devem ir ao supermercado com fome, porque vão comprar muito para além do que é suposto, as pessoas no calor da discussão não conseguem racionalizar o divórcio. O estado chega-se à frente na criação de condições para se acalmarem os ânimos. Se resulta em casamentos mais felizes, isso é que a investigação longitudinal poderá elucidar – mas não vi que existisse. Já sabemos que este é um estado que tende a meter-se nos assuntos da esfera privada, mas nem é muito consistente nesta intromissão. Se há um período de reflexão para o divórcio porque não existe um para o casamento? Não se tomam decisões sobre o casamento de cabeça apaixonada? O que estas leis estão a querer insinuar é que está tudo bem se te casares e tiveres filhos sem grande reflexão. O divórcio, esse que destrói a sagrada união matrimonial e familiar, tem que ser evitado, ou pelo menos, racionalizado. Principalmente se existem filhos envolvidos. Os teóricos a favor deste mecanismo frequentemente referem a sua preocupação pelo bem-estar dos filhos – e que filhos de casais divorciados são mais infelizes e têm mais problemas, etecetera. E períodos de reflexão para quem planeia ter filhos? Nestes tempos a ênfase no casamento talvez já não faça o mesmo sentido como antigamente. As pessoas vêem que há legitimidade para querer outras coisas. As preocupações sociais fazem pressão por uma visão do casamento, e da família, intacta e em prol do desenvolvimento. Talvez valha a pena reformular o paradigma. E se a preocupação for o bem-estar? O individual e o colectivo. Talvez, se não existir tanta pressão para casar, não existirão tantos divórcios. E se se trabalhar a igualdade de género? E se se permitir o casamento homossexual? E a adopção? E se se normalizar a terapia de casal? Tudo opções que podem ser bem mais eficazes na promoção do bem-estar e na promoção da família – que não tem que ser única nem prototípica. Talvez seja bem mais eficaz dar espaço para as várias constelações familiares surgirem. Todos têm a ganhar.
Apagar a Bedeteca de Lisboa João Paulo Cotrim - 12 Mai 2021 Horta Seca, Lisboa, sexta, 23 Abril Nunca mais voltei ao Palácio do Contador-mor. De vez em quando chegavam-me notícias dos Olivais. Não me lembro de uma boa, mas a minha memória tem vontade própria. Ou tinham tornado as salas de exposição em armazém, uma necessidade imperiosa. Ou tentavam encerrá-la, incendiando a indignação do Ruben de Carvalho, na Assembleia Municipal. Ou desatavam a distribuir os originais em depósito como se aí viessem os bárbaros. Afinal, os bárbaros estavam bem instalados. Nem decidiam nem saíam de baixo. Tanto que entregaram às autoridades sem esboço de resistência livros atentatórios da moral e dos bons costumes. Uma chamada do José Marmeleira desinquietou-me: a moribunda Bedeteca cumpria por estes dias 25 anos e o Público queria saber das razões para o «desaparecimento» (https://www.publico.pt/2021/05/02/culturaipsilon/noticia/bedeteca-bela-historia-apagou-1960529). Pensei em pegar em cartaz, newsletter, exposição ou livro e discorrer em direcção ao pôr-do-sol. Pensei em divertir-me desafiando em duelo pequenos e médios funcionários da vida e outros arrotadores de postas de pescada. Pensei em reflectir a fundo sobre a ausência de estratégia cultural em gestão autárquica feita ao sabor de modas. Andando por estes dias a lidar outros fantasmas, por causa de uma ilusão chamada futuro, desapeteceu-me. Mas a conversa perturbou-me a ponto de me fazer espreitar umas fotos e reler uns textos. Hesito em deixar aqui a introdução ao longo relatório que entreguei ou pedaços da carta de despedida, entre recordar o entusiamo dos objectivos ou a emoção do corte com projecto bastamente identitário. Por causa das pessoas, deixo a carta, quase por inteiro. «Fiquem descansados que outras imagens me atormentaram nos momentos-chave, mas, no caso da banda desenhada, colecciono duas ou três. As primeiras são vinhetas do Tintim, na América e no Tibete. Primeiro a vertigem de atravessar entre dois arranha-céus, num álbum que andou comigo cada segundo de alguns meses da infância. Depois veio o hino à amizade de um nome que, gritado, faz tremer todo o bem-estar pequeno burguês de uma estância de férias. Vertigem e grito perturbador foi o que voltei a encontrar, muitas páginas mais tarde, na prancha de Muñoz e Sampayo, em Viet Blues. Afinal, havia vida e carne e política nos quadradinhos. É só por isso que os projectos valem a pena: há pessoas por detrás das coisas e das obras. Há vida antes da morte. O gesto estético só me interessa se estiver ligado à vida e à carne dos dias. Não é tanto a questão desirmanada da fantasia escapista contra a força de intervenção rápida do neo-realismo. Trata-se de encontrar a força ténue do acto criativo: uma interrogação que pode explicar; um momento que pode iluminar; uma imagem que pode dar a ver; uma ficção que nos pode mudar a vida. Ou não. Alguma coisa mudou, entretanto, no horizonte da bd nacional. Começo pelo modo como esse ser viscoso chamado opinião pública olha as histórias aos quadradinhos. Muito preconceito e confusão haverá ainda – o que, segundo os ensinamentos da História, pode ser bastante produtivo –, mas a bd está decididamente na agenda da atenção mediática. A massa crítica aumentou consideravelmente. Mais artigos, mais livros, mais gente a discutir e a fazer. Mais formação. Há páginas de frenético entretenimento e de arriscada pesquisa pessoal. Um olhar mais próximo diria que aumentou a autoestima dos criadores. Não está ainda consolidado um sistema, mas vão surgindo obras a ritmo razoável, com importantes visões plásticas e experiências narrativas. É óbvio que está tudo por fazer. O projecto da Bedeteca é totalitário. Importa tudo e todos tocar. Até agora falhou, mas o lastro da utopia contamina algumas vontades. Vai ser possível fazer mais, por uma razão simples, se simples fossem as razões: possuímos excelentes criadores e alguns bons investigadores. Sem vontade política era impossível ter nascido a Bedeteca de Lisboa. Devo um primeiro agradecimento a João Soares e a Tomás Vasques. [Acrescento aqui e agora a Manuela Rêgo e a Maria Calado. De todos conservo a amizade.] É injusto não enumerar em seguida cada um dos nomes que a partir deste impulso inicial ajudaram a construir. Mas porque foram, felizmente, bastantes é impossível escrever aqui os milhares de agradecimentos que desejava. No jardim do Palácio florescem verdadeiros livros de solidariedade, de inútil beleza, de utilidade permanente. Se alguma coisa aprendi terá a ver com as pessoas, humanas e individualizadas. Também com a vida e as várias mortes que ela contém. Ao Júlio, um abraço. Devo mais abraços. Alguns são de uma intimidade que fere, outros são públicos e notórios. Àqueles que tentaram e continuarão a tentar destruir, é-lhes também devida uma palavra. Obstáculos, mesmo os que têm origem na má-fé, podem (quase) sempre transformar-se em oportunidade. E, se é verdade que meios inquinados como a função pública só oxigenam graças de ao empenho e generosidade de uns quantos (nenúfares), também não é menos verdade que se encontra a torto e a direito a mediocridade, a preguiça mental e o atavismo (pântano). A todos agradeço. São de ordem política e pessoal as razões que me levam a tomar esta decisão. Politicamente, a equipa que me convidou saiu. Ora eu, não sendo funcionário camarário, e portanto descomprometido com uma ética de instituição, devo demitir-me também. Empenhei-me na campanha eleitoral, na exacta medida das minhas capacidades e desilusões. Achei que havia um projecto de cidade e de cultura que merecia continuação. Lisboa não concordou. A outros a tarefa de dar corpo a outras ideias. Porque esta ideia (de cultura e bd, por exemplo) é política. Pessoalmente, qualquer explicação passa pela palavra cansaço. É isso: troco de lugar. Quase nada se altera no rumo das coisas, antes lhe dá consistência. A Bedeteca é um ponto luminoso na vida da cidade. Os novos responsáveis pela vida cultural da cidade reconhecem-no e afirmam a vontade em mantê-lo exactamente assim: luxuriante e perturbador, conservador e reflexivo.» [Risos, muitos e desbragados]
Henry Fielding Amélia Vieira - 12 Mai 2021 «Diário de uma viagem (por Lisboa)» – preposição designativa – virar as páginas que «a Lisboa» é o título de um livro já com sombras no roteiro pois que se passa em 1754. As crónicas de viagem têm sempre muitos incidentes e uma narrativa que se procura factual para registo das sensações que vão dando corpo ao viajante. Mas Fielding, enceta-a por recomendação médica o que é bem diferente de uma aventura, mesmo assim, ela nunca perde o tónus de um velejar cheio de peripécias e Lisboa lá para o fim não é bem tratada pelo autor, cidade onde veio a falecer. Quase sempre as ditirâmbicas histórias de cada um nos desinteressam na proporção que entusiasmam o narrador, os seres da primeira pessoa enfatizam acontecimentos que dão para nenhures e a menos que estejamos diante de alguém dotado para fazer da experiência pessoal um arquétipo da identidade colectiva, nos interessará então o que de si mesmo nos contar. Nós, que em versão oral já temos de escutar cada um no seu delírio pessoalíssimo, queremos que a escrita não reponha aquelas vozes mergulhadas em si mesmas pela inércia do egocentrismo. Mas a nós, pessoas singulares, acontecem-nos coisas dignas de registo e por isso o dever de participar no historial colectivo do relato dos factos. Partirei da sincronicidade. O quarteirão dos ingleses a Campo de Ourique fora algures um local bonito e extremamente aprazível, a casa de Almeida Garrett estava aqui enquadrada mas foi destruída para urbanização habitacional de um político, menor, que estes políticos poderiam bem ter ido viver para Xabregas e outros locais. Arquitetonicamente feio, começou a destoar da paisagem que já vinha definhando com o fecho do Hospital Inglês que neste momento se encontra entaipado porque vai nascer uma coisa daquelas tão grandes que ninguém diz exactamente o que é, mas foi deste Hospital com encanto único, que algures via o cemitério de uma das suas janelas ladeado por frondosas árvores, e me parecia então nitidamente um puro jardim. Sempre passei por ele, mas por respeito à comunidade nunca entrei, mantinha-se solenemente um local de silêncio que a minha curiosidade não desejou desbravar, aqui tão perto, rasante aos meus caminhos, havia um local intacto onde só a lua me mostrava os contornos do arvoredo. Acontece que por estranhos acasos tinha revisto nestes dias «Uma Viagem a Lisboa» a propósito de nada, apenas me veio de novo parar às mãos o singular livro, e com gosto o reli e foquei-me em algumas passagens, e quando na manhã serena de Primavera, após este revisitar, subia a rua do lado do Jardim da Estrela se me depara aberta a porta, entro então como que guiada por nuvens frescas matinais: estava no jardim! Entrara pela parte das lápides do século XIX que não davam aquela penumbra do sentimento da morte, e na rua que subia, o nome de Henry Fielding com uma seta para a esquerda, guiada assim, deparei-me então com um lindíssimo mausoléu sem arrebatamentos estéreis que a morte não precisa de coloridos vivos, de dignidade e beleza, impressionantes. A morte acontecera no dia em que nasci, o encontro, quase no aniversário de Fielding, e das rosas, sempre inglesas, um inefável perfume percorria o espaço mais bonito de toda a redondeza. Tudo estava à escala humana, desde as árvores que me pareciam frondosas vistas de fora, aos mármores, às flores, sem aquelas ameaçadoras raízes que quebram o solo no da Estrela ali ao lado. Tudo era gentil em meu redor. E mais encantos existiam; outro seu livro « Amélia». E naquela manhã, foi ali mesmo que resolvi um problema que a índole elegantíssima do meu interlocutor assim me facultou. Há dias que são como sonhos, somos guiados. No reino da manifestação há que se ser abençoado, o mesmo que contemplado, pois que os felizes momentos são grandes demais para o nosso estreito entendimento, mas um poeta, por o ser, só o será de forma plena pela consciência de que as leis que o regem são bem diferentes das de muitos outros. As mais vivas coisas não fazem barulho. A Casa Fernando Pessoa ali ao lado é asséptica ao maravilhoso, e neste instante tive pena que ele não estivesse aqui, perto da sua primeira essência. Por momentos tudo faz sentido havendo um lado luminoso que não desiste de nós. Parabéns, Henry Fielding. Ele era parecido com Voltaire, talvez que estes seres se assemelhassem no seu registo temporal, e seria aqui encontrada a frase do entendimento “é preciso cultivar o nosso jardim”. – Sempre estivemos tão perto! Mas há sempre um tempo para os seres se encontrarem. E quem sabe ainda se desde sempre estamos unidos?!
Não sermos o que fazemos Nuno Miguel Guedes - 12 Mai 2021 You know the nearer your destination The more you’re slip slidin’ away Paul Simon Faltam menos de dez minutos para o concerto da Lisbon Poetry Orchestra, um colectivo poético-musical que tem a caridade de me albergar como um dos seus. O camarim onde estou, partilhado com músicos e outros que como eu irão dizer poemas ficou miraculosamente vazio, com a excepção da minha presença. Percebo a vozearia nos corredores vinda dos meus colegas e amigos que naturalmente denuncia a excitação que antecede a entrada num palco. Deveria estar também assim, e estou. Mas um ínfimo instante, não mais do que um nanosegundo, foi o suficiente para me deixar assombrar por uma pergunta: “Como é que eu vim aqui parar? “ Na altura não tive tempo para responder. Agora tento, à medida que os dedos se movem pelo teclado com uma autonomia veloz que só me lembra as famosas descrições das experiências “fora do corpo”. A pergunta não se refere apenas à situação em que me encontrava: tem a ver com uma questão maior, quase existencial. Ou seja: nada da minha vida me preparou para entrar num palco e enfrentar plateias. Mas gosto e, ao que parece, não me safo mal. Por outro lado, também escrevo, sou jornalista e tenho uma série de outras actividades em que me regozijo, muitas vezes díspares entre si. Como é que vim aqui parar, então? Não sei, ou melhor, suspeito. Mas este frenesim quase renascentista ainda é mal compreendido pela maior parte das pessoas. Percebo: estamos habituados a rótulos que nos apaziguam, a pistas e a uma estranha lógica que me parece perversa e que poderia ser traduzida pelo postulado “diz-me o que fazes, dir-te-ei quem és”. E quando se faz muitas coisas quem aparentamos que somos é incompreensível para quase toda a gente. Há pouco tempo um amigo contou-me uma história divertida mas que é exemplar a este respeito. Numa promoção televisiva para apresentação de um júri que iria presidir às escolhas de uma famosa gala da estação, apareciam as fotos dos ilustres jurados acompanhadas de uma legenda: fulano de tal, cantor; fulana de tal, actriz e assim por diante. Acontece que um dos elementos do júri era Vasco Graça Moura – poeta, escritor, político, tradutor, gestor, letrista…enfim, muitas coisas. O responsável da legenda, perante esta dificuldade, não hesitou e saiu-se com esta hilariante amenidade: “Vasco Graça Moura, intelectual de múltiplos talentos”. Esta ontologia da profissão – és o que fazes, mais uma vez – é limitadora e para mim contrária à ideia de liberdade que possuo e persigo. A vida não é planeada e à medida que nela avançamos as surpresas e descobertas são ainda mais gratificantes. Já aqui escrevi uma vez que o diletantismo é seriamente subestimado. O diletante é o verdadeiro amador, o que ama aquilo em que está empenhado em amar. Que isso confunda os outros é apenas reflexo de uma cultura em que a especialização parece ser o garante de responsabilidade. Não é. Como é que eu vim aqui parar a pouco mais de meio do caminho da minha vida, para parafrasear o padroeiro desta coluna? Não sei, amigos e esse não saber é bom. Mas sei isto: quando numa ocasião social me dirigem a pergunta da praxe, “Então o que fazes?” já consigo responder sem medo ou hesitações: faço o que gosto. E isso, amigos, é o meu humilde troféu que é só meu. E é por essa possibilidade que vim aqui parar.
China | Crescimento populacional quase nulo nos últimos 10 anos Hoje Macau - 12 Mai 202112 Mai 2021 A queda da taxa de natalidade e a consequente diminuição da população activa surgem como novos obstáculos a ultrapassar para dar seguimento ao crescimento económico e à estabilidade social do país A população da China praticamente parou de crescer, à medida que menos casais têm filhos, segundo dados do Governo chinês difundidos ontem, indicando uma inversão da pirâmide demográfica que pode ter implicações para o país. A população aumentou em 72 milhões de pessoas, nos últimos 10 anos, para 1.411 milhões, em 2020, segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) da China. O crescimento médio anual fixou-se em 0,53 por cento, em termos homólogos, uma queda de 0,04 por cento, em relação à década anterior. A China praticou um rígido controlo de natalidade, entre 1980 e 2016, em nome da preservação de recursos escassos para a sua economia em expansão. A queda na taxa de natalidade é vista agora, no entanto, como grande ameaça ao progresso económico e à estabilidade social no país. A política de filho único foi abolida em 2016, mas os casais permanecem reticentes em ter mais filhos, face aos elevados custos de vida e discriminação das empresas contra as mães. “A mão de obra ainda é abundante”, disse o director das estatísticas chinesas, Ning Jizhe, em conferência de imprensa. A percentagem de crianças na população aumentou ligeiramente, em comparação com 2010, mas a percentagem de população acima dos 60 anos aumentou mais rápido. O grupo de pessoas em idade activa, entre os 15 e os 59 anos, encolheu para 894 milhões, uma queda de cerca de 5 por cento em relação ao pico de 2011. As mudanças nos limites de natalidade e outras políticas “promoveram uma recuperação da natalidade”, disse Ning. No entanto, a mesma fonte disse que nasceram 12 milhões de bebés, no ano passado, uma queda de 18 por cento, em relação a 2019, quando nasceram 14,6 milhões. A China, juntamente com a Tailândia e alguns outros países asiáticos em desenvolvimento, enfrenta o risco de envelhecer antes de enriquecer. Alguns especialistas consideram que o país asiático enfrenta uma “bomba-relógio demográfica”. Preocupações activas Reflectindo a sensibilidade da questão, o gabinete de estatísticas da China tomou a decisão invulgar, no mês passado, de reagir a uma notícia do jornal The Financial Times, que avançou que o último censo tinha revelado um declínio demográfico. “Estamos mais preocupados com o rápido declínio da população em idade activa”, disse Lu Jiehua, professor de estudos populacionais da Universidade de Pequim. A população em idade activa cairá de três quartos do total, em 2011 para pouco mais da metade, em 2050, de acordo com Lu. “Se a população envelhecer, vai ser impossível resolver o problema através da imigração”, disse Lu. Os casais que desejam um filho enfrentam grandes desafios. Muitos dividem apartamentos com os pais em cidades densamente povoadas no litoral do país. Os cuidados infantis são caros e a licença de maternidade curta. A maioria das mães solteiras está excluída do seguro médico e dos pagamentos da previdência social. Algumas mulheres temem que o parto possa prejudicar as suas carreiras. Não estamos sós Japão, Alemanha e alguns outros países ricos enfrentam o mesmo desafio de sustentar populações envelhecidas com menos trabalhadores, mas podem recorrer ao investimento em fábricas, tecnologia e activos estrangeiros. Em contraste, a China continua a ser um país de rendimento média, com agricultura e manufactura intensivas em mão-de-obra. O declínio da população em idade activa “vai pôr um limite no crescimento económico potencial da China”, disse Yue Su, da Economist Intelligence Unit, num relatório. Trata-se de um “incentivo poderoso para introduzir reformas que aumentem a produtividade”. O Fundo Monetário Internacional prevê um crescimento económico de 8,4 por cento para este ano, após uma recuperação da pandemia do novo coronavírus. O Partido Comunista Chinês estipulou como meta dobrar o PIB (Produto Interno Bruto), por pessoa, até 2035, face aos níveis de 2020, o que exigiria um crescimento económico anual de cerca de 4,7 por cento. A política de filho único, imposta através de ameaças de multas ou perda de emprego, levou a abusos, incluindo abortos forçados. A preferência por filhos homens levou os casais a abortar meninas, gerando um desequilíbrio entre o número de homens e mulheres, o que poderá alimentar a tensão social. Os dados agora revelados mostram que a China tem 105,7 homens e meninos para cada 100 mulheres e meninas, ou cerca de 33 milhões a mais de pessoas do sexo masculino. Índia a crescer Alguns investigadores dizem que a população da China já está em queda. Yi Fuxian, cientista em obstetrícia e ginecologia da University of Wisconsin-Madison, diz que a população começou a cair em 2018. No seu livro “Big Country With An Empty Nest”, argumentou contra a política de “um só filho”. “As políticas económica, social, educacional, tecnológica, de Defesa e externa da China são construídas com base em números errados”, disse Yi. Reguladores chineses falam em aumentar a idade oficial de reforma para os 55 anos, para aumentar o número de trabalhadores. Os dados mais recentes colocam a China mais perto de ser ultrapassada pela Índia como o país mais populoso do mundo, o que deve acontecer até 2025. A população da Índia no ano passado foi estimada pelo Departamento de Assuntos Económicos e Sociais da ONU em 1.380 milhões. A agência afirma que a Índia deve crescer 0,9 por cento ao ano até 2025.
Teatro | Dança do Dragão Embriagado no Antigo Tribunal na sexta-feira João Luz - 12 Mai 2021 O espectáculo Dança do Dragão Embriagado sobe ao palco do Edifício do Antigo Tribunal na sexta-feira e sábado, com a interpretação da companhia local Four Dimension Spatial. Algures entre a dança e a performance teatral, a interpretação vai além da cultura tradicional, integrando aspectos contemporâneos Na próxima sexta-feira e sábado, o Edifício do Antigo Tribunal recebe três espectáculos que aliam dança contemporânea e uma tradicional manifestação cultural bem enraizada no imaginário de Macau. A interpretação da companhia Four Dimension Spatial apresenta na sexta-feira, às 20h, Dança do Dragão Embriagado, seguido de uma conversa. A performance volta a poder ser vista no sábado, com duas sessões, às 15h e 20h e faz parte do cartaz da 31.ª edição do Festival de Artes de Macau. Seguindo a linha performativa da companhia local Four Dimension Spatial, que participou em várias edições do Festival Fringe, quem assistir à Dança do Dragão Embriagado terá apenas a manifestação tradicional como contexto para um espectáculo assente num conceito moderno de teatro de dança. “O trabalho não procura explorar a cultura tradicional da dança do dragão embriagado, procura sim, descobrir que tipo de ‘ritual’ se obterá ao adaptar a formação dessa dança para os dias de hoje”, explica o Instituto Cultural (IC) em comunicado. Segundo o IC, Dança do Dragão Embriagado é dirigido por Zé e Um Iat Hou, com coreografia de Hong Chan U. O espectáculo tem a duração de cerca de uma hora, com diálogos ocasionais em cantonense, sem legendas, e o bilhete custa 180 patacas. Teoria da evolução As origens ancestrais das festividades do dragão embriagado dividem-se um pouco por toda a China, com manifestações bem diversas. Mais perto de Macau, na província vizinha de Guangdong, a lenda teve como palco o condado de Xiangshan, onde se diz uma epidemia terá deixado muitas pessoas às portas da morte. O IC recupera o mito descrevendo que “quando os aldeões foram à montanha procurar uma boa receita para combater a epidemia, foram quase mordidos por uma cobra gigante”. Depois do encontro com a criatura, um monge conseguiu salvar os aldeões e cortou a cobra em três pedaços e aí estaria a cura. O monge deu uma receita para o remédio, com uma mistura de folhas fervidas com água do rio com sangue da cobra. A partir daí, já curados, os aldeões consideraram a serpente gigante como sendo o deus dragão e passaram a realizar a dança do dragão embriagado todos os anos para agradecer a intervenção divina. A tradição chegou a Macau e passou a ser celebrada pelos vendedores de peixe. Tradicionalmente, no final da tarde do sétimo dia do quarto mês do calendário lunar chinês, os residentes de Macau que se dedicavam à venda e comércio de pesca juntam-se no mercado, onde se sentam à volta de mesas para comer, tradição que se transformou na festividade da “longevidade do arroz”. Durante esta festividade, um dragão de madeira dançava na mesa onde se queima o incenso para pedir bênçãos. A tradição da dança do dragão embriagado transformou-se mais tarde numa festividade regularmente celebrada e entrou oficialmente no final de Março na Lista Nacional do Património Cultural Imaterial.
Covid-19 | Consulado das Filipinas distribuiu 330 mil dólares num ano Andreia Sofia Silva - 12 Mai 2021 O consulado-geral das Filipinas em Macau atribuiu, desde Março do ano passado, mais de três mil cabazes de comida aos seus cidadãos (mais de 30 mil no território). Além disso, atribuiu apoios financeiros superiores a 300 mil dólares norte-americanos e repatriou mais de 3000 pessoas em 16 voos O consulado-geral das Filipinas em Macau tem providenciado ajuda alimentar e financeira aos seus cidadãos que, devido à pandemia da covid-19, se viram sem trabalho e sem possibilidade de regressar ao seu país de origem. Segundo dados fornecidos ao HM, tanto o consulado como o gabinete Phillipines Overseas Labour Office, da agência Overseas Workers Welfare Administration (POLO – OWWA), ligada ao Departamento do Trabalho e Emprego do Governo, distribuiu em Macau um total de 3,300 cabazes de comida aos cidadãos filipinos. Estes cabazes contêm arroz, noodles, comida enlatada, café, biscoitos, produtos de higiene e máscaras”. De frisar que a agência estatal funciona como um sistema de segurança social e também como seguradora. Importa ressalvar que a comunidade filipina em Macau totalizou 30.913 indivíduos no final de Março deste ano. Através de um outro programa de assistência financeira, também gerido por esta agência, 1,650 cidadãos filipinos que estão no território receberam, cada um, um vale de 200 dólares americanos. No total, as autoridades das Filipinas atribuíram também 330 mil dólares americanos. Nos últimos meses vários trabalhadores não residentes (TNR) que se viram sem rendimentos devido à pandemia têm procurado ajuda alimentar junto de associações locais, como é o caso da Caritas Macau. O HM tentou contactar Nedie Taberdo Palcon e Jassy Santos, duas dirigentes de associações de defesa dos direitos dos trabalhadores migrantes, para perceber se estes apoios conseguem abranger toda a comunidade. Apenas Jassy Santos respondeu às nossas questões, alertando para o facto de haver muitos trabalhadores migrantes que não estão a ser abrangidos por esta ajuda institucional, uma vez que não estão inscritos na OWWA. Regresso a casa Relativamente aos serviços de repatriamento, o consulado diz ter organizado, desde Março de 2020, um total de 16 voos de repatriamento, que transportaram para casa 3,399 pessoas. “Enquanto os voos comerciais estiverem suspensos, vamos continuar a dar assistência aos cidadãos filipinos para o regresso” ao país, explica o consulado na sua resposta. Para já, a prioridade é dada aos idosos, grávidas, menores de idade e todos aqueles que fizeram o registo das suas condições médicas e de saúde junto das autoridades. Esta prioridade acontece “devido às actuais restrições de chegada do número de passageiros diários às Filipinas”.
Turismo | Isenção de imposto alargado a mais estabelecimentos Hoje Macau - 12 Mai 2021 O Governo alargou as medidas de redução e isenção de impostos para estabelecimentos que prestam serviços turísticos, prevendo-se que haja mais de 370 beneficiários. Desta feita, desde ontem que a isenção do imposto de turismo foi alargada aos estabelecimentos hoteleiros, salas de dança, bares, saunas, estabelecimentos do tipo “health clubs”, massagens e “karaokes”. Segundo uma nota divulgada na segunda-feira pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), o plano, que visa concretizar as acções governativas integradas no “Plano de garantia do emprego, estabilização da economia e asseguramento da qualidade de vida da população 2021”, mais concretamente “revitalizar a economia e injectar dinamismo na recuperação da indústria do turismo de Macau”, irá custar aos cofres do Governo cerca de 379 milhões de patacas. Com a aplicação da medida, os estabelecimentos beneficiários ficam isentos de pagar até ao final do ano, a taxa de 5,0 por cento relativa ao imposto de turismo. Em comunicado, a DST deixa, no entanto, um aviso aos estabelecimentos abrangidos pelo apoio, que tentarem cobrar indevidamente o imposto de turismo aos consumidores. “Se descobertos, além de estarem sujeitos ao pagamento do respectivo imposto, podem ver ser aplicadas a respectiva multa nos termos da lei”, pode ler-se no mesmo comunicado.
DICJ | Governo promete ouvir população sobre lei do jogo Hoje Macau - 12 Mai 2021 O Executivo diz que vai ouvir a população antes de definir as exigências que vão integrar o caderno de encargos para as empresas que concorrem ao processo de atribuição das licenças de jogo. A revelação foi feita por Adriano Ho, director da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) na resposta a uma interpelação escrita de Ho Ion Sang. No documento, Adriano Ho aponta que o Executivo está comprometido com o desafio de desenvolver o sector de forma sustentada e saudável, de forma que haja um contributo para o desenvolvimento de um Centro Mundial de Turismo em Macau. Contudo, as exigências vão mais longe, e o Executivo entende que o sector do jogo vai ser essencial para a diversificação da economia. Em relação às responsabilidades sociais das concessionárias, Adriano sublinha que o Governo está empenhado em encorajar as operadoras a recorrerem às empresas locais, nomeadamente às Pequenas e Médias Empresas, no que concerne ao fornecimento de produtos e serviços para os hotéis e casinos. Sobre este aspecto, a DICJ admite que pedem informação com regularidade às concessionárias. Sobre a revisão do Regime jurídico da exploração de jogos de fortuna ou azar em casino, o Governo promove uma consulta pública para a segunda metade deste ano.
Wynn | Prejuízo de 281 milhões de dólares no primeiro trimestre Pedro Arede - 12 Mai 2021 Nos primeiros três meses de 2021 a Wynn Resorts registou prejuízos de 281 milhões de dólares, valor que representa uma melhoria para os cofres da empresa, já que em 2020 os prejuízos foram de 402 milhões de dólares. Sobre Macau, Matt Maddox, director executivo da Wynn Resorts, aponta que o aumento de turistas tem reforçado o segmento premium do mercado de massas Com Lusa A operadora do jogo Wynn Resorts, que explora dois casinos em Macau, anunciou ontem um prejuízo total de 281 milhões de dólares no primeiro trimestre de 2021, traduzindo uma trajectória de melhoria para a empresa, fortemente abalada pela pandemia. Isto, porque, de acordo com um relatório divulgado na segunda-feira, em igual período de 2020, a empresa tinha registado um prejuízo de 402 milhões de dólares, ou seja, mais 121 milhões comparativamente com o primeiro trimestre de 2021. As receitas operacionais nos primeiros três meses de 2021 foram de 725,8 milhões de dólares, decrescendo 23,9 por cento, em relação ao primeiro trimestre do ano passado, altura em que as receitas operacionais foram de 953,7 milhões. “Os nossos resultados do primeiro trimestre reflectem um progresso contínuo no negócio à medida que os consumidores começaram a viajar mais uma vez para os seus destinos preferidos de lazer e jogos”, disse o director executivo da Wynn Resorts, Limited, Matt Maddox, citado no mesmo relatório. Macau recupera Em relação a Macau, o director executivo da Wynn Resorts sublinha que os dados do primeiro trimestre de 2021 traduzem uma melhoria progressiva face ao impacto da pandemia. “Em Macau, registámos melhorias graduais contínuas na tendência de visitas, reforçando particularmente o segmento ‘premium’ do mercado de massas dos casinos, bem como no segmento de luxo”, acrescentou na mesma nota. Segundo os dados divulgados pela Wynn Resorts, entre os dois resorts explorados pela empresa em Macau, o primeiro trimestre revelou ser mais animador para o Wynn Palace, no Cotai, do que para o Wynn Macau. Se por um lado, entre Janeiro e Março de 2021, o Wynn Palace registou um EBITDA (lucros antes de impostos, juros, amortizações e depreciações) positivo de 17,2 milhões de dólares quando comparado com igual período de 2020, o Wynn Macau registou um EBITDA negativo de 2,7 milhões. A recuperação face ao impacto da pandemia no sector do jogo em Macau é também demonstrada pela diminuição de apenas 8,5 por cento das receitas operacionais (237,3 milhões de dólares) no Wynn Palace em relação aos resultados dos primeiros três meses de 2020, quando o grupo obteve receitas de 259,5 milhões, contando com o mês de Janeiro, que praticamente não tinha sido ainda afectado pela crise no sector. Contudo, as receitas operacionais no Wynn Macau, que se fixaram em 179,7 milhões de dólares, representaram um decréscimo de 21,7 por cento, dado que no primeiro trimestre de 2020 as receitas foram de 229,5 milhões. No total, em 2020, a operadora tinha registado um prejuízo recorde de 740 milhões de dólares. Verão Azul Numa palestra dirigida aos investidores da empresa, o director executivo da Wynn Resorts, Matt Maddox, mostrou-se confiante relativamente às operações de Macau para os próximos meses. Isto, tendo em conta, não só os resultados auspiciosos obtidos durante a Semana Dourada do 1.º de Maio, mas também as perspectivas de crescimento a partir deste mês. “Temos expectativas de ver, em Maio, uma aceleração dos resultados obtidos em Abril. Vendo os ganhos obtidos durante a Semana Dourada e compreendendo as motivações dos consumidores chineses e a nossa posição nesse mercado, torna-nos confiantes sobre a nossa posição em Macau, o mercado de Macau e o desenvolvimento de oportunidades futuras em torno do Wynn Palace”, pode ler-se numa nota oficial divulgada sobre o evento.
Deputado Lei Chan U elogia enfermeiros de Macau João Santos Filipe - 12 Mai 2021 Hoje celebra-se o Dia Internacional do Enfermeiro e o deputado e vice-presidente da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Lei Chan U, elogiou ontem o contributo da classe em Macau na resposta à pandemia da covid-19. Para Lei Chan U, a pandemia “veio mostrar a importância do papel dos enfermeiros na sociedade, principalmente na prevenção e tratamento de doenças infecciosas, mas também a nível da saúde pública”. Porém, o deputado não se esqueceu de destacar que enquanto em outros países houve infecções de médicos e enfermeiros, que diz terem sido em número superior ao anunciado em número superior, que na RAEM o Governo e os profissionais conseguiram ser um caso de sucesso. “Em Macau houve zero infecções ou mortes entre o pessoal médico e não houve contágio entre profissionais. Este sucesso deveu-se não só ao contributo da forte liderança do Governo de Macau, mas também aos esforços do pessoal médico na primeira de linha de resposta à pandemia”, afirmou o deputado. Por outro lado, Lei Chan U apontou ainda que no futuro os enfermeiros vão ser mais importantes que nunca, devido ao envelhecimento da população e ao fornecimento de cuidados de saúde mais abrangentes. “A classe vai desenvolver-se no futuro e as autoridades vão prestar cada vez mais formação para o sector, para estabelecerem quadros qualificados suficientes para um serviço mais universal”, vincou.
4 de Junho | Scott Chiang e Sulu Sou condenam recusa do IAM Pedro Arede e Nunu Wu - 12 Mai 2021 No seguimento da proibição da exposição fotográfica sobre o massacre de Tiananmen, Scott Chiang afirmou que o caso é demonstrativo do “aumento do controlo social em Macau” e que a partilha de espaço entre associações seria solução viável. O presidente do IAM José Tavares reafirma que a exposição foi rejeitada apenas porque todos os espaços estão ocupados O ex-presidente da Associação Novo Macau e possível candidato às próximas eleições legislativas, Scott Chiang, considera que a recusa do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) em autorizar a exposição fotográfica alusiva ao massacre de Tiananmen é demonstrativa do aumento do controlo social que o Governo tem vindo a aplicar sobre a população e que existem alternativas perante o argumento de falta de espaços disponíveis. Numa publicação no Facebook, Scott Chiang lembra que ao longo dos anos tem participado nas actividades alusivas ao 4 de Junho e que, por isso mesmo, tem sido “testemunha das mudanças” que as celebrações têm sofrido, nomeadamente acerca do entendimento que tem sido dado pelas autoridades ao conceito de “espaço público”. “O Governo está encarregue de gerir e distribuir os espaços públicos pelos diferentes intervenientes da sociedade, com o objectivo de garantir a extensão dos direitos dos indivíduos e manter a ordem geral. No entanto, o poder corrompe e os governantes começaram a considerar que as ruas e as praças lhes pertencem”, pode ler-se na publicação. Recorde-se que, pelo segundo ano consecutivo, o IAM voltou a não autorizar a iniciativa da União para o Desenvolvimento Democrático, alegando que o espaço escolhido para o efeito, o jardim do mercado do Iao Hon, já estava reservado por outras associações, assim como os restantes 16 locais sugeridos. A informação foi divulgada no Facebook pelo deputado Au Kam San, membro da associação, que estendeu o pedido a nove espaços e oito suplentes. No entanto, o IAM recusou também a proposta apresentada para estes locais. Exemplificando que em anos anteriores, a celebração da vigília do 4 de Junho foi partilhada no Largo do Senado com a Associação Geral de Estudantes Chong Wa, por ocasião do Dia da Criança, Scott Chiang considerou a decisão do IAM é “razoável, mas pouco lógica”. “Quem disser que não existe um objectivo por detrás do cancelamento está a mentir”, acrescentou. Também Sulu Sou criticou no Facebook a proibição do IAM, afirmando que o Governo “teme” que as pessoas “critiquem”, “mencionem” e “divulguem” os “actos maus” relacionados com a limitação da liberdade de expressão. Sobre a decisão, o presidente do IAM José Tavares afirmou ao jornal Ponto Final que a exposição foi recusada apenas porque “estava tudo ocupado”. Questionado sobre quais os eventos planeados para as datas em questão, José Tavares limitou-se a responder: “São vários, já não sei. São tantos eventos que eu não sei”. Manifestações pelo canudo Em resposta a interpelação escrita enviada por Sulu Sou, o Gabinete do Secretário para a Segurança indicou que entre 2018 e Fevereiro de 2021 o CPSP recebeu 48 pedidos de manifestação, dos quais 30 acabaram por ser cancelados pelos promotores. Quanto a avisos de reunião, foram feitos 298 pedidos, sete dos quais acabaram por ser recusados e 22 foram cancelados pelos promotores. Na mesma resposta, a Chefe do Gabinete do secretário para a Segurança, Cheong Ioc Ieng, indicou que os pedidos rejeitados em 2019 ficaram a dever-se à “ilegalidade dos temas e objectivos das reuniões” e que, em 2020, os pedidos não aprovados estiveram relacionados com o “cumprimento das orientações de prevenção da pandemia”. “Mesmo que a reunião seja pacífica, se o objectivo da reunião é ilegal, prejudica a segurança nacional, a ordem e a saúde pública, a ética ou direito e a liberdade de alguém, a polícia tem o dever de não aprovar esses pedidos”, pode ler-se na resposta.
Ciência | Sociedade de Oceanografia vai cooperar com Portugal Hoje Macau - 12 Mai 2021 A Sociedade de Oceanografia e Hidráulica de Macau (sigla inglesa MSOH) está empenhada em criar uma plataforma de cooperação entre académicos de Macau, Portugal e do Interior. O objectivo foi traçado na segunda-feira à noite, durante um encontro entre o presidente da associação, Ao Peng Kong, e o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng. A plataforma de académicos tem como objectivo partilhar conhecimentos sobre “os recursos hídricos, a prevenção de desastres, o planeamento marítimo e a ecologia aquática”. O projecto vai ser concretizado com a realização de “seminários e acções de formação com as regiões vizinhas”, de firma a alargar as perspectivas do sector e formar jovens quadros qualificados. Ao mesmo tempo, Ao Peng Kong comprometeu ainda a sociedade com os objectivos da integração de Macau no desenvolvimento nacional e em cumprir o papel no âmbito da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Por sua vez, o Chefe do Executivo sublinhou que as áreas marítimas sob jurisdição da RAEM vieram proporcionar novas oportunidades e espaço para o desenvolvimento e construção de Macau. Nesse sentido, o líder do Governo prometeu “encontrar um equilíbrio entre o aproveitamento do mar de forma científica e a protecção do ecossistema marinho”.