Natasha Fellini, professora de português

[dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]atasha Fellini chegou a Macau em 2001, deixando para trás a megalópole de São Paulo, onde nasceu há 34 anos. Uma proposta de emprego levou a família a mudar-se para cá e, como adolescente que era à época, não teve escolha. Dezassete anos depois continua por cá e sem perspectivas de partir, desta feita por opção.

“Pretendo ficar por mais algum tempo porque acho que Macau me proporcionou uma qualidade de vida e uma segurança que não tenho no Brasil”, explica a professora de português, para quem estar reunida com a família e utilizar a língua materna são factores que jogam a favor da sua permanência em Macau. “Já criámos raízes e pretendemos ficar”, sublinha, referindo-se à mãe e às duas irmãs.

“Fico feliz por Macau não ser bem China e ter estas particularidades que têm a ver com a cultura, além de ser um lugar muito conveniente. Gosto de estar aqui”, realça Natasha Fellini, recordando, no entanto, um primeiro embate cultural que teve à chegada.

“Como sou brasileira não tenho o padrão dos chineses que parecem muito miúdos e têm outro tipo de corpo e, no início, quando entrava numa loja diziam-me logo que não tinham o meu número mesmo quando eu estava à procura de algo para oferecer e isso marcou-me”, relata. Se na altura não achou piada agora descreve o fenómeno como “engraçado”, um simples fruto de “uma questão cultural” que, entretanto, foi-se dissipando, com o desenvolvimento da cidade e, por conseguinte, com a oferta de lojas internacionais.

Quando chegou, Natasha Fellini estava em idade escolar e foi para a Escola Portuguesa de Macau. No entanto, mesmo depois de terminar o secundário não abandonou o território, tendo optado por prosseguir os estudos na Universidade de Macau, onde acabaria por ter a primeira experiência profissional. Seguiu-se a Escola Anglicana até hoje, onde coordena o português, além de também dar aulas.

Ensinar era, aliás, um sonho que tinha desde criança. “Desde pequena sempre gostei da área da educação e quando brincava com as bonecas fingia que lhes dava aulas. Sempre tive essa vontade de trabalhar na área da educação”, sublinha Natasha Fellini que ensina português aos alunos do 7.º ao 10.º ano.

O maior período de tempo que Natasha Fellini passou fora de Macau, onde já viveu metade da vida, foi quando resolveu apostar na aprendizagem do mandarim, língua à qual tinha sido introduzida durante a licenciatura na Universidade de Macau. “Era uma disciplina obrigatória. Como tinha estudado as bases e vi que ia ficar mais tempo decidi ir aprender a língua a fundo”, explica a docente que esteve em Pequim, entre 2006 e 2008, exclusivamente dedicada a essa missão. “Hoje consigo ter uma conversa”, brinca a docente.

Outra vantagem que encontra em Macau tem que ver com o facto de existir uma comunidade brasileira significativa que a faz sentir “um pouco em casa”. “Temos feito festas de carnaval e organizado outros eventos de inspiração brasileira, o que é muito bom”, sublinha Natasha Fellini, embora lamentando que haja falta de espaço para mais: “É difícil encontrar lugares para nos juntarmos para conviver”. O mesmo aplica-se à gastronomia: “Sentimos falta da comida [brasileira] e podíamos ter mais opções”, observa.

Natasha Fellini reconhece que, em termos genéricos, no seio da comunidade chinesa o conhecimento sobre o Brasil cinge-se praticamente ao “rótulo do futebol e do samba”, mas dentro da sala de aula esforça-se por levar os alunos a verem além disso. “Como professora, tento sempre mudar essa imagem e mostrar outro lado do Brasil, dando a conhecer coisas interessantes como música. Mas, infelizmente, também já começam a ver as notícias acerca da violência no Brasil e às vezes também me perguntam”.

Ao Brasil regressa normalmente uma vez por ano: “Tenho muitas saudades e preciso de lá ir para ver o resto da minha família e os meus amigos de infância”. Aliás, como “boa brasileira” que é, gosta de dançar, não dispensado uma ida à discoteca nos tempos livres, bem como de “socializar”. “Estou sempre a procurar os amigos”, diz Natasha Fellini que também mal o tédio aperta aproveita para dar um pulo a outras paragens. “Macau é pequeno e pode cansar um pouco, pelo que aproveito e vou a Hong Kong ou a Cantão”.

22 Jun 2018

Goa Nights | Restaurante de tapas e bar de cocktails

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“Goa Nights”, que abriu portas oficialmente em finais de Março, é um lugar para descontrair do rebuliço dos dias, entre tapas indianas e originais ‘cocktails’

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]ocalizado no coração da vila da Taipa, o “Goa Nights” é um dois em um: é um restaurante de tapas, que alia a cozinha clássica e moderna indiana ao toque peculiar da gastronomia de Goa, cheia de influências portuguesas, e um bar de ‘cocktails’. A originalidade figura como o denominador comum das valências que coabitam no edifício de três andares.

Inicialmente, a ideia era abrir um restaurante indiano na vila da Taipa, tirando vantagem da proximidade dos hotéis da ‘strip’ do Cotai, mas tudo mudou quando surgiu a ideia de ir mais além e oferecer também um bar com ‘cocktails’. “Todos os portugueses que vivem em Macau conhecem Goa como um lugar onde as pessoas podem relaxar, tomando uma bebida e apreciando comida indiana, enquanto desfrutam de boa vibração”, sublinhou o fundador Gagan Sethi, que veio para Macau em 2009.

À mesa servem-se tapas. Uma opção que não foi ao acaso. “Basicamente, o que fizemos foi pegar nos sabores indianos de uma forma mais moderna e condensada não só para ser mais fácil de comer, mas também para ser mais leve, dado que os pratos indianos normalmente são pesados”. Em paralelo, foi introduzida uma variante, dado que menu mistura elementos da cozinha do mais pequeno estado da Índia, caracterizado também pela influência portuguesa. “Pegamos em cinco ou seis elementos da gastronomia goesa”, explica Gagan Sethi, dando o exemplo de dois “pratos de assinatura” ao estilo de Goa: “amêijoas com recheado” e “porco vindaloo”.

Os cocktails de Vasco da Gama

O bar distingue-se pelos ‘cocktails’ originais criados pelo ‘bartender’ e mixologista Chetan Gangan, que conquistou vários prémios na Índia. “Ele concebeu um menu baseado na viagem de Vasco da Gama que teria nove paragens de Portugal até Goa, pelo que criamos nove ‘cocktails’ especiais e cada um deles tem influência desses sítios, como um determinado tipo de bebida alcoólica, fruta ou especiaria”, realçou.

Essa carta despertou ainda um fenómeno engraçado. “Naturalmente, é difícil terminar a viagem dos nove ‘cocktails’ numa noite, pelo que há pessoas que regressam para completar a jornada”, descreve o mesmo responsável.

Para Gagan Sethi, o “Goa Nights” vem preencher um espaço vazio pelo menos fora do universo dos hotéis e casinos: “Este conceito de restaurante e de bar não existe em Macau. Por outro lado, normalmente, quando vais a um bar é porque as bebidas te agradam; e quando vais a um restaurante é porque aprecias a comida. Contudo, para nós, ambos têm igual peso. A ideia é que as pessoas possam gostar de ambos e desfrutar de ambos num mesmo espaço”.

De portas abertas oficialmente desde finais de Março, o “Goa Nights” tem recebido principalmente membros da comunidade macaense e portuguesa, bem como expatriados. “Por enquanto, tudo bem. Tem sido muito bom para nós”, salienta Gagan Sethi, dando conta de que a comunidade goesa também tem aparecido para espreitar os sabores de casa.

Já turistas não há muitos. “Não somos ainda muito conhecidos, mas queremos atrai-los, porque, às vezes, não saem dos hotéis e perdem o outro lado de Macau”, sustentou.

O “Goa Nights” encontra-se aberto de terça a domingo, das 18h à 1h, oferecendo ao fim-de-semana um menu diferente exclusivamente para ‘brunch’, disponível entre as 12h e as 16h.

Morada: Rua Correia da Silva, 118, Taipa

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20 Jun 2018

Kamyi Lee, Artista Digital | Da música às cores

[dropcap style=’circle’] F [/dropcap] oi na infância que Kam Ying Lee teve o primeiro contacto com o mundo das artes. As aulas de piano marcaram a jovem local, que com o passar do tempo trocou as teclas do piano pelos média digitais. Aos 27 anos, encontra-se em Los Angeles, a tirar um mestrado em Média Interactivos para Performance, e foi nos Estados Unidos que mostrou ao público os seus últimos trabalhos.

“Sempre quis estar envolvida no mundo das artes desde a minha infância. Nessa altura, estava exposta principalmente à música porque aprendi a tocar piano. Mas com o passar do tempo desenvolvi um maior interesse pelas artes visuais, até que, na universidade, comecei a trabalhar com tecnologias digitais. Neste momento, a maior parte dos trabalhos que desenvolvo são focados nas componentes áudio e visual”, contou Kam Ying Lee, que tem como nome artístico Kamyi Lee.

Antes de ingressar no Instituto de Artes da Califórnia, e quando ainda estava no território, optou, primeiro, por se licenciar em Comunicação na Universidade de Macau. Uma licenciatura que encarou como a melhor opção para se preparar para o que antevia como a carreira: “Decidi estudar artes porque é através dessa forma que quero exprimir e as minhas ideias. Quero que as pessoas compreendam o que vejo e o que quero partilhar”, contou.

 

Design gráfico

Concluídos os estudos, Kam Ying Lee focou-se essencialmente no design gráfico, com a paginação de revistas locais, livros entre outros mais. “É uma área que sempre me interessou muito, ainda hoje me interessa, mas por agora estou mais focada nos meios digitais”, reconhece. “No fundo, o que tenho feito ainda está intimamente ligado ao design gráfico, só que estou a trabalhar com outros meios. Tenho um âmbito mais alargado, com outras plataformas”, frisou.

Foi neste período, entre 2013 e 2014, que através da participação no Festival de Artes de Macau envolveu nos espectáculos “Mapping: Fabricado em Macau I e II” e “Um Sonho de Luz”. Os primeiros espectáculos projectaram imagens, combinadas com elementos áudio, sobre a Praça do Tap Seac e Casa do Mandarim, o segundo, em que desempenhou a função de assistente de produção aconteceu com a projecção de imagens sobre as Ruínas de São Paulo.

“O espectáculo Um Sonho de Luz mudou um pouco a forma como vejo a zona das Ruínas de São Paulo. O projecto estava integrado no Festival de Artes de Macau, era uma grande equipa e tivemos cerca de 10 meses para prepará-lo. Envolveu muita pesquisa e isso permitiu-me ter uma melhor compreensão daquela zona”, reconhece Kam Ying Lee. “É uma das minhas zonas favoritas em Macau”, acrescenta.

 

Mudança para os EUA

Com o avançar do tempo, Kamyi sentiu necessidade de se desafiar, seguir o seu caminho e continuou a desenvolver técnicas de trabalho. Por esta razão, decidiu mudar-se para os Estados Unidos. Mesmo que implicasse ficar sem trabalhar durante algum tempo.

“Estava um bocado aborrecida em Macau, sentia que precisava de mexer um pouco com a minha vida e de me afastar para fazer um caminho meu. Também estou numa área em que nem sempre há projectos em Macau, por isso ir estudar para fora foi uma opção para me continuar a desenvolver”, sublinha.

O facto de ter um irmão mais velho, fez com que a família aceitasse com naturalidade a mudança: “Sou a segunda filha e o meu irmão tem assumido o principal papel financeiro. Tenho sido a mimada da família e por isso os meus pais deixam-me fazer o que quero, desde que mantenha a independência financeira”, admite, em tom divertido.

 

Saudades da Chuva

Mas se o aspecto profissional e educativo tem entusiasmado Kamyi, que em dois anos desenvolveu seis projectos, alguns dos quais integrados no mestrado, por outro lado, a residente de Macau, nascida em Hong Kong, admite que sente saudades do território.

“Tenho sempre muitas saudades, do ambiente da cidade, do mar, porque nos Estados Unidos vivo mais afastada do oceano, das pessoas e de falar cantonense de forma regular”, confessa, apesar de dominar fluentemente o inglês. “Nos primeiros tempos foi difícil encontrar pessoas que falassem cantonense, e ainda hoje não conheço muitas. Portanto, acaba por haver essa saudade”, justifica.

Nos últimos dias, com a passagem do tufão Ewiniar, ter saudades pode parecer estranho, contudo, Kamyi admite que depois de dois anos a viver quase num deserto, que se sentem bem nestas condições: “Tenho saudades da chuva, porque estou há dois anos quase numa zona de deserto e isso muda-nos perspectiva”, frisa.

Foi também a chuva que serviu de inspiração para a sua última instalação em Los Angeles, que teve com o nome: The Peach Blossom Land. O trabalho consistiu numa série de chapéus-de-chuva com luzes LED, numa sala escura, presos ao tecto, que as pessoas podia mover à vontade. A partir do movimento das pessoas, as luzes mudavam também de cor, variando entre o vermelho, azul e verde.

“A arte para mim tem de ser interactiva. É diferente ficar a apreciar um trabalho de forma passiva e poder mexer-lhe e interagir sobre ele. Para mim, é muito mais significativo envolver as pessoas”, explicou sobre o conceito. “Se estivermos de fora e virmos as pessoas a interagirem com a instalação, e eu fiz isso, há um significado especial. Para mim se fizer um trabalho e as pessoas não interagirem, não se envolverem, sinto que a exposição não está completa”, acrescentou.

 

8 Jun 2018

Kitroom Sports, loja de camisolas de futebol | Vestir a camisola

Em Macau é frequente ver os adeptos de futebol utilizarem as camisolas dos clubes que mais gostam no dia-a-dia. Tin U com a loja Kitroom Sport alimenta a paixão local

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pesar de Macau não ter um futebol com o nível e o mediatismo dos grandes campeonatos europeus, a verdade é que os fãs locais gostam de vestir as camisolas das grandes equipas e selecções. Foi a partir desta particularidade cultural, e também devido ao seu gosto pelas próprias camisolas, que Tin U decidiu abrir há oito anos uma representação da Kitroom Sports no território, marca que também está presente em Hong Kong e no Interior da China.

“Considero que estou à frente de um negócio muito ligado à cultura local e por isso muito particular. Muito dificilmente uma loja que apenas vende camisolas de futebol se consegue sustentar por si na Europa ou noutras regiões. Acredito mesmo que para os europeus seja estranho ver as pessoas a utilizarem no dia-a-dia as camisolas dos clubes”, começa por admitir Tin U, ao HM. “Mas a verdade é que em Macau e Hong Kong as pessoas adoram utilizar as camisolas dos seus clubes e ídolos como roupa casual. Isso permite que um negócio como este se sustente”, explicou.

Quando decidiu abrir o negócio, Tin U teve igualmente em conta a sua paixão. Contudo, as suas escolhas nem sempre são mais populares, apesar de admitir ser fã de Cristiano Ronaldo. Quando foi entrevistado pelo HM, Tin U vestia mesmo a camisola de treino da selecção dinamarquesa, que foi utilizada entre 2013 e 2015. Em vez do vermelho da bandeira dinamarquesa, o equipamento é azul.

“A verdade é que tenho muito interesse pelo futebol e pelas camisolas dos clubes. Como me fui apercebendo que a cultura local tinha boas oportunidades de negócio para as camisolas dos principais clubes e selecções, achei que seria um bom negócio e do qual ia gostar”, admitiu o proprietário da loja Kitroom Sports em Macau.

Em relação ao top de vendas, Tin U não tem dúvidas em apontar a liga inglesa como a fonte das camisolas mais populares. No topo estão Manchester United e Liverpool, embora outras equipas que se mostrem mais fortes possam facilmente saltar para o topo da tabela de vendas.

“As camisolas que se vendem mais são dos clubes da Premier League, como Manchester United, Liverpool, Chelsea, Arsenal, entre outras”, indicou. Também a liga espanhola, principalmente Real Madrid e Barcelona fornecem alguns dos produtos mais apetecíveis.

No que diz respeito às selecções, as vendas são orientadas pelos países tradicionalmente mais fortes no futebol. Entre as preferências dos locais está Portugal. “Portugal, Japão França, Espanha, Alemanha são as que vendem mais. Normalmente, são as equipas que vemos constantemente nos mundiais e europeus”, admitiu.

Também em relação às vendas de camisolas de selecções, Tin U recorda o Europeu de 2016: “Nessa altura, a camisola portuguesa, principalmente após a vitória na final, esgotou. Foram muito rápidas as vendas”, recorda. Também no momento da pergunta que divide o mundo do futebol não vacila: “Entre Messi e Ronaldo prefiro o Ronaldo”, responde prontamente.

Camisolas dos grandes

Se por um lado, a camisola da selecção de Portugal é um sucesso nas vendas, o mesmo não acontece com os três grandes, Benfica, FC Porto e Sporting. Em causa está o facto da liga ter pouca expressividade junto dos residentes locais, apesar dos jogos serem transmitidos pela TDM. “Essas camisolas não vendem muito em relação às de outras ligas porque não são muitas as pessoas que vêem os jogos da Liga Portuguesa e isso afecta a vontade de comprar as camisolas”, justifica.

O mesmo não acontece com as camisolas do futebol local, que sofreram um empurrão nesta última época com a campanha do Benfica de Macau na Taça AFC. Contudo, Tin U clarifica que o mercado das pessoas que compra camisolas dos clubes locais é muito diferente dos clientes habituais.

“Há cada vez mais pessoas que gostam de comprar camisolas do futebol local. Mas é um mercado muito diferente, são as pessoas que apoiam essas equipas. Também por isso, nem todos os clubes têm camisolas para venda. Só Ka I, Sporting, Monte Carlo, Benfica de Macau e Chao Pak Kei têm produtos para venda”, confessa.

No que diz respeito ao negócio, Tin U diz que o mais complicado é gerir as épocas altas e baixas. O Verão é um dos melhores períodos, com a realização das competições internacionais, como os mundiais e europeus, assim como o início das diferentes ligas. Contudo, o Inverno é uma fase mais complicada.

“Após o Natal, e até ao final da época, é o período mais complicado para vender camisolas. Nessas alturas, temos de procurar outras soluções, como camisolas de clubes mais alternativos como japoneses ou de ligas de Europa de Leste. Temos de tentar diversificar um bocado nessa altura”, exemplifica.

“As camisolas que se vendem mais são dos clubes da Premier League, como Manchester United, Liverpool, Chelsea, Arsenal.” Tin U, dono Kitroom Sports

Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida No.28A

6 Jun 2018

Elvis Mok, calígrafo e poeta | O artesão da escrita

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]icenciado em língua chinesa pela Universidade de Macau, Elvis Mok, de 36 anos de idade, é professor da caligrafia. A paixão surgiu por influência da família, revelou ao HM, especialmente porque o pai era professor de chinês. No entanto, a dedicação a esta arte só apareceu quando entrou na universidade. “No início não gostava muito de caligrafia chinesa, e só quando fui para a universidade é que me apercebi da importância de escrever os caracteres com exactidão”, contou.

As obras de caligrafia de Elvis Mok podem ser encontradas no “Tealosophy Tea Bar”, loja em que o menu é escrito pelo calígrafo e os copos de papel são ilustrados com um poema da sua autoria. A parceria com este estabelecimento foi motivada pela amizade entre Mok e o proprietário que nasceu de um interesse comum por cultura chinesa, há cerca de oito anos. Quando o amigo decidiu abrir uma loja de bebidas convidou Mok para escrever o menu. A poesia é outra das suas paixões apoiada pelo “Tealosophy Tea Bar” com a divulgação da colecção de poemas “A Cultura é Vida” que Kok usa para levar as suas mensagens aos clientes daquele estabelecimento.

Ensinar a escrever

Elvis Mok é também o fundador do Centro de Educação de Artes Hon Mak. Neste centro, lecciona cursos de caligrafia chinesa, enquanto a irmã, parceira neste projecto, é professora de pintura.

A ideia de criar o Centro de Educação de Artes Hon Mak foi concretizada após Mok ter deixado as suas funções de professor do ensino secundário, há três anos. No centro, o mestre dos caracteres ensina crianças, mas também adultos que na sua maioria são professores.

Para Elvis Mok muitos professores de chinês de escolas secundárias, apesar de não serem profissionais na arte da caligrafia, precisam de ensinar os alunos como escrever correctamente. Para isso, o calígrafo, nos cursos destinados aos professores, tem especial atenção no ensino da técnica.

O número de interessados em frequentar estes curso têm excedido as expectativas de Mok. A razão, referiu, tem que ver com a atitude dos pais das crianças que estão atentos ao desenvolvimento das capacidades de escrita na escola e fazem questão que os filhos escrevam os caracteres chineses com exactidão.

O professor considera ainda que o ensino da caligrafia é fundamental por poder potencializar o estudo em geral e por ser um bom instrumento para promover a capacidade de coordenação visual e manual das crianças.

Elvis Mok reconhece que a arte da caligrafia chinesa está cada vez mais distante da população, mas ainda está muito ligada à vida quotidiana das pessoas. Mok olha para o futuro com esperança, mas também com algum receio quanto ao avanço tecnológico e a sua repercussão nas formas mais tradicionais de escrita. “Se os estudantes nas escolas usarem o Ipad para escrever os trabalhos de casa relativos à caligrafia, será terrível”, diz.

Elvis Mok é também presidente da Associação de Poetas de Macau Outro Céu, uma plataforma criada em 2002 para se reunir os poetas locais. Um outro objectivo desta entidade é conseguir angariar fundos para publicar colectâneas dos trabalhos produzidos pelos seus associados. “Em Macau há poucas publicações locais, ou seja, muitas pessoas escrevem poemas mas as obras não são divulgadas por não existir uma editora que o faça”, disse Elvis Mok. O resultado é que alguns dos poetas locais acabam por recorrer a este tipo de serviço no exterior. Por outro lado, Mok considera que, mesmo que existam obras publicadas no território, há outros obstáculos a superar, como a falta de leitores.

1 Jun 2018

3 cm JuiceLab, loja de sumos | Laboratório da fruta

Por todo o território têm vindo a proliferar espaços de venda de comida e bebidas saudáveis, onde o açúcar não é bem-vindo. Contudo, o conceito por detrás da 3cm Juicelab é que cada cliente se sinta como se o seu sumo estivesse a ser criado em laboratório. Falámos com Cheang Pak Lam, fundador do projecto

 

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi em Julho do ano passado que Cheang Pak Lam decidiu investir na loja de sumos naturais chamada 3cm JuiceLab, um espaço de bebidas onde se podem encontrar 15 opções diferentes de sumos de fruta. Os clientes escolhem três para fazer a sua bebida, sempre sem adicionar açúcar ou água. Cheang Pak Lam, um dos sócios, explicou ao HM que a 3cm JuiceLab tem como objectivo levar os seus clientes a sentirem-se num laboratório de sumos, uma vez que, depois de adquirirem a sua bebida, podem saber as informações nutricionais e os respectivos benefícios da bebida que vão provar.

A inspiração para a 3cm JuiceLab foi encontrada em Taiwan. “Eu e o meu parceiro estudámos no estrangeiro, em Taiwan. Por acaso, descobrimos que lá havia lojas semelhantes a esta, e pensámos que seria uma boa ideia trazer este conceito para Macau. Com esta loja sinto que podemos contribuir para a saúde dos clientes”, frisou.

A qualidade e o lado saudável dos sumos é algo que querem manter. “Insistimos em não adicionar água ou açúcar nas nossas bebidas, porque queremos que sejam saudáveis”, adiantou Cheang, que explicou que existe a cooperação com um nutricionista neste projecto.

Relativamente aos preços praticados, Cheang defende que os sumos da 3cm JuiceLab são um pouco mais caros do que nas restantes lojas, custando, em média, 30 patacas. Mas tal deve-se ao recurso aos ingredientes naturais, que representam metade dos custos. O sócio defendeu que os clientes compreendem as razões dos preços mais elevados.

Contudo, esse factor traz alguma dificuldade para o sucesso do negócio, pois nem todos aceitam os elevados preços. Muitos clientes também se revelam confusos sobre as frutas a escolher. Cheang disse que, além de explicar aos clientes as frutas que podem escolher, foi criada uma lista com dez opções pelas quais as pessoas podem optar.

Sem grandes lucros

Um ano e meio depois de abrir portas, a 3cm JuiceLab ainda não gera grandes lucros para os seus sócios. Cheang Pak Lam notou que, neste fase, há apenas um equilíbrio entre despesas e receitas, sendo que existe o objectivo de atrair mais clientes nos próximos meses. Por esse motivo, a loja vai apostar na venda de produtos através da aplicação Aomi.

Na visão do sócio, na qualidade de empresa de pequena dimensão em Macau, é difícil ter uma especialidade ou uma localização para o seu funcionamento. “Como podemos atrair mais clientes? Temos de pensar muito bem este aspecto do negócio.”

Antes de avançar para a abertura da 3cm JuiceLab, Cheang levou cerca de meio ano a fazer trabalhos preparatórios, tal como a concepção do espaço e a escolha dos produtos. Mas os valores elevados das rendas fizeram com que tenha demorado mais tempo até chegar o dia de inauguração do espaço.

Os sócios da 3cm JuiceLab têm guardado na manga um trunfo para o futuro, uma maior variedade de sumos, com mais opções, já a partir do próximo mês. Está também a ser pensada a criação de um cartão de cliente para dar mais benefícios.

Além dos sumos, a 3cm JuiceLab também disponibiliza frutas frescas e secas, estando prevista a importação de mais frutas da Tailândia, sobretudo aquelas que não se encontrem facilmente nos mercados e supermercados em Macau.

 

MORADA

Rua do Brandão, No. 2-2A, Edifício Hung Fok, rés do chão, C Macau

30 Mai 2018

Healthy Habits Superfood Café | Refeições de alto rendimento

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] briu ontem um novo espaço de refeições em Macau. O Healthy Habits Superfood Café pretende proporcionar aos seus clientes não só um menu cheio de alimentos saudáveis, como uma opção para quem pratica exercício físico.

A ideia para criar o Healthy Habits Superfood Café começou a ter forma para João Areias há cerca de um ano. O sócio-gerente do novo espaço, que tem as portas abertas desde ontem, viu-se confrontado com uma necessidade pessoal que o levou a pensar nas faltas de oferta do território. A trabalhar num casino e a frequentar um ginásio que lhe requeria uma dieta equilibrada, quando chegava a hora da refeição a única opção que tinha era cozinhar para ele. “Trabalhava num casino e comecei a ter interesse em frequentar o ginásio. Quem está interessado em manter a linha e frequenta os ginásios acaba, mais cedo ou mais tarde, por mudar os seus hábitos alimentares”, começa por contar João Areias ao HM.

“Fazia turnos de 10 horas e tinha de cozinhar para mim. Entretanto, comecei a procurar lugares onde pudesse comer de acordo com a dieta que o ginásio me exigia”, explica.

Foi também a treinar que conheceu o outro sócio do restaurante. Livio Kowalski, um personal trainer que para acompanhar melhor os seus instruendos optava por cozinhar para eles. “Falei-lhe que tinha interesse em abrir um restaurante deste género, ele achou que era uma boa ideia e avançámos”, disse.

Estudo cuidado

A pesquisa que fez para perceber o que comer e como elaborar o menu ocupou algum tempo aos sócios. “Demorei cerca de um ano a pesquisar para conseguir perceber como podia ter um estabelecimento que oferecesse às pessoas a possibilidade de terem uma dieta equilibrada, adequada para o público em geral como para as pessoas com prescrições específicas que frequentam os ginásios”, refere João Areias.

Apesar da ideia ter partido das necessidades específicas de quem faz desporto, é válida para todos. “As pessoas que vão ao ginásio querem comer mais, porque precisam de comida para terem energia para gastar nos treinos, mas aliado a um bom prato, as calorias têm de ser poucas”, aponta.

O sócio do Healthy Habits Superfood Café dá exemplos: Neste tipo de comida não podemos, por exemplo, utilizar muito óleo, mas temos de garantir uma refeição saborosa porque se o prato não tive sabor as pessoas não aderem”, refere João Areias.

O truque é tentar ter um prato grande, composto e com poucas calorias em que a ideia essencial é proporcionar uma “alimentação saudável e equilibrada que contenha hidratos, proteína e vegetais”.

Além do equilíbrio nutricional muitas das receitas incluem os designados superalimentos. “São alimentos que dão energia e concentram uma série de nutrientes essenciais a uma boa saúde”, diz. Exemplos que muita gente já conhece e que se podem encontrar no cardápio do novo espaço são receitas que incluem as sementes de chia ou o turmérico.

Leites especiais, batidos e sumos naturais que misturam ingredientes e sabores são o prato do dia.
Entretanto, o Healthy Habits Superfood Café vai ter confecção própria de pão e doces para garantir a total qualidade dos alimentos que vende ao público.

Público interessado

De acordo com João Areias, o interesse da população local por este tipo de alimentação é crescente por haver uma divulgação nas redes sociais cada vez maior dos seus benefícios. “Este tipo de conceito num café já é popular há muito tempo em vários países. Através dos media sociais a divulgação vai sendo cada vez maior e chegou a Macau. Aconteceu comigo e acontece com muitos dos nosso potenciais clientes”, aponta.

No entanto, nem tudo é um mar de rosas e as dificuldades para abrir portas têm sido algumas, nomeadamente no que respeita a encontrar um chefe de cozinha que saiba cozinhar comida saudável e, ao mesmo tempo, adequada para quem treina.

Para já o menu é relativamente curto, mas a ideia é aumentar a oferta com o desenvolvimento do negócio.
As expectativas quanto ao futuro não podiam ser melhores. Em breve, o Healthy Habits Superfood Café vai ter serviço de entregas. Para já, o horário de funcionamento é das 8h da manhã às 18h, mas deve, em breve, ser prolongado até às 21h.

Morada

Avenida Comercial de Macau, Edifício La Bahia, No 203, R/C Macau

23 Mai 2018

Joana Maryia, criadora de vídeos no projecto “Shoot and Chop”

[dropcap style≠‘circle’]T[/dropcap]udo começou com Kenny Leong e os seus vídeos críticos da actualidade local, mas depressa o projecto “Shoot and Chop” ganhou nova vida com mais colaboradores como Benjamim Soares e Josh the Intern. Joana Maryia, nascida em Macau, com pai português e mãe americana, juntou-se ao grupo e é a mais recente criadora de vídeos do projecto, cabendo-lhe a missão de mostrar os segredos do território que a maioria desconhece. Além de fazer a apresentação, Joana também faz trabalho de pesquisa sobre as coisas novas que o território tem para oferecer.

Joana Maryia tem sido o rosto da série de vídeos “Macau Top 5”, que revela particularidades fora dos roteiros turísticos, como os melhores lugares para beber chá ou os melhores espaços de restauração para tirar selfies. Já na universidade a jovem revelava um gosto pela carreira na área do entretenimento.

“Era uma estudante de media na área da produção de vídeos e cinema e sempre quis fazer algo na parte ligada ao entretenimento. Penso que em Macau continuam a existir meios de comunicação social mais tradicionais e não queria fazer esse trabalho. Então conheci o Kenny e o projecto ‘Shoot and Chop’, que faz vídeos engraçados sobre a realidade de Macau”, conta.

Joana fez um estágio e depois acabou por ficar. Hoje dá a cara por um projecto onde fala um mandarim quase perfeito, graças à frequência de uma escola em Zhuhai. Em criança, Joana também aprendeu cantonês, ao frequentar uma escola chinesa em Macau, e português. Contudo, afirma expressar-se melhor em inglês.

Fazer parte desta iniciativa fez Joana pensar na sua terra natal com uma outra perspectiva. “Ajudou-me a apreciar mais a cidade. Antes fazia a minha vida nos mesmos lugares, ia sempre aos mesmos sítios, com as mesmas pessoas. Com estes episódios comecei a conhecer mais cafés e restaurantes e isso fez-me apreciar mais todas as diferenças que existem. Há muitas coisas interessantes aqui.”

Novos rostos, mais visões

Quem conhece o projecto “Shoot and Chop” desde o seu início recorda-se dos primórdios de Kenny em redes sociais como o YouTube, onde fazia vídeos de crítica ao Governo na série “I’m pissed off, man”. O “Shoot and Chop” nasce daí, mas hoje consegue ter diversas presenças online.

“Penso que à medida que o projecto ‘Shoot and Chop’ vai tendo mais colaborações vão existindo diferentes tópicos e direcções, mas o que queremos é fazer de Macau um lugar melhor. Então falamos sobre os problemas que permanecem por resolver por parte do Governo, mantemos esse segmento, mas ao mesmo tempo queremos que as pessoas apreciem as boas coisas de Macau.”

Joana pretende continuar a fazer este trabalho nos próximos tempos, por adorar aquilo que faz. Já vai sendo reconhecida na rua, mas não se considera uma figura pública.

“Não é que eu seja muito reconhecida na rua, mas começam a aparecer mais pessoas que me reconhecem dos vídeos e me dizem ‘és a Joana dos vídeos’. É bom e penso que há mais apoio ao meu trabalho, penso que as pessoas gostam cada vez mais do que fazemos. No que diz respeito a ser, ou não, uma figura pública, acho que isso ainda não tem grande dimensão.”

Joana estudou na área dos media, mas nunca teve vontade de ser jornalista num meio de comunicação social tradicional. Além disso, afirma “adorar” dançar, participando, inclusive num grupo com o qual tenta organizar vários eventos no território.

Para alguém que nasceu em Macau, Joana considera que a mentalidade das pessoas não mudou assim tanto, em comparação com o desenvolvimento económico.

“A um certo nível sim, a mentalidade da sociedade mudou e ficou mais aberta, mas penso que os locais ainda têm uma mentalidade tradicional. Nós também tentamos trazer uma mudança, falar de diferenças culturais.”

A criadora de vídeos defende que Macau tem hoje mais pessoas diferentes e uma mescla de culturas. “Antes Macau era um lugar muito pequeno mas agora há uma identidade mais diversa”, remata.

18 Mai 2018

Maalé | Acessórios originais e personalizados feitos à mão

[dropcap style =’circle’ ] N [/dropcap] ão há duas peças iguais. Cada uma é minuciosa e originalmente burilada pelas mãos de quem sempre adorou o mundo dos trabalhos manuais. Depois de anos a fio a criar peças para oferecer, Manuela Sotero decidiu pôr a habilidade à prova. Os acessórios únicos e originais feitos à mão da Maalé – Design. Creation podem ser adquiridos através do Facebook e do Instagram.

“Além dos que guardava para mim, eu fazia para oferecer. Tinha sempre muito prazer em pensar na pessoa a quem ia dar”, conta Manuela Sotero, exibindo ao pescoço um dos colares mais antigos da sua colecção pessoal. Apesar da contínua insistência da filha e do incentivo do marido, Manuela Sotero nunca aceitara vender as peças que concebe, “exactamente porque queria que fossem para oferecer”. No entanto, as circunstâncias acabariam por levá-la a ceder.

“Deixei de trabalhar no ano passado e fui a África do Sul passar umas férias com a minha filha, que vive lá. Tive reuniões e convívios com senhoras influentes do trabalho dela e as conversas iam parar aos colares que eu usava”. O ‘feedback’ não podia ter sido mais positivo: “Elas gostaram muito e faziam-me muitas perguntas sobre como os fazia e então eu achei que era talvez altura de começar [o negócio] e abrir uma conta no Facebook e no Instagram”, explica Manuela Sotero.

Dedica-se sobretudo à feitura de colares, por via dos quais tenta “sempre transmitir emoções positivas e alegres”, recorrendo a cores vibrantes e fortes para inspirar isso mesmo, como vermelhos ou amarelos. Em termos de pedras, gosta de as sentir, “porque se forem agradáveis ao toque já é um ponto de começo”, sublinha Manuela Sotero sem esconder as predilectas: “Adoro turquesas, jade, ónix e lápis lazúli e sou doida por pérolas”.

As pedras preciosas ou semipreciosas vai comprando por onde viaja, até porque “em Macau basicamente não há, ou se há são a preços exorbitantes”. Em paralelo, não é vulgar comprar as peças em função de um estilo, dado que, na maioria das vezes, faz o contrário.

O seu gosto particular figura como a imagem de marca, embora aceite pedidos concretos. “No outro dia, duas amigas deram-me uma série de pedras semipreciosas para eu montar os colares a meu gosto”, exemplifica.

O nome da marca resulta da expressão pela qual Manuela Sotero é carinhosamente conhecida (Malé), tendo sido ligeiramente ajustado para funcionar melhor na língua inglesa.

A Maalé – Design. Creation dedica-se sobretudo a colares, mas também há conjuntos de brincos ou pulseiras a condizer. O tempo de execução dos colares depende do formato: “Se for em terço, em que as pequenas argolas são feitas uma a uma, pode levar um dia”.

A carteira de clientes, essa, tem vindo a crescer. “Estou ainda a começar, mas tenho tido bastantes encomendas”, incluindo de amigas, ou de amigas de amigas, mas também de clientes que não conhecia antes.

Os pedidos têm chegado também de fora de Macau, nomeadamente de África do Sul ou de Itália, com os preços das peças a oscilarem entre as 500 e as 2000 patacas. O próximo passo é “investir mais na embalagem”, indica Manuela Sotero.

Já abrir um espaço físico é uma carta fora do baralho: “Adorava, mas com as rendas em Macau quem pode?”

O gosto pelos trabalhos manuais surgiu cedo: “Desde pequenina sempre adorei fazer coisinhas com as mãos. O meu pai comprava-me muitas missangas. Comecei a fazer pequenos colares e brincadeiras e quando houve a revolução em Moçambique fomos para a África do Sul, mas eu continuei a fazer e usava-os eu”.

Mas nem sempre foi assim e, na verdade, Manuela Sotero até teve, nos tempos de estudante, a experiência de vender as peças que produzia. “Um dia fui a uma boutique muito gira e perguntaram-me onde é que eu tinha comprado o colar que usava e a dona sugeriu que eu fizesse trabalhos em regime de exclusividade para a loja. Eram trabalhos muito simples, com arames e missangas”, indica Manuela Sotero.

Essa experiência, a primeira de trabalho e que durou dos 15 aos 17 anos, permitiu-lhe, aliás, uma certa almofada financeira em tempos complicados. “Eu, como miúda que era, continuava a querer o leitor de cassetes ou a máquina fotográfica e comprei todas essas coisas com o dinheiro que ia fazendo”, recorda.

“Depois parei um pouco, mas nunca me desliguei totalmente dos trabalhos manuais. Eu fazia pintura em porcelana, costura de roupa, acolchoados, enfim, até fiz vitrais. Sempre gostei muito dessas coisas”.

A Macau chega em Janeiro de 1999, numa altura em que muita gente estava de partida, onde ganha um novo ímpeto. “Embora com trabalho a tempo inteiro, comecei a fazer todos os cursos que apareciam no horário fora do expediente e ao fim-de-semana”, explica Manuela Sotero, que desenvolveu muito a sua capacidade técnica com Cristina Vinhas, que dá formação de joalharia.

Mais uma vez, “tudo sempre com a ideia de oferecer”, até hoje. O cuidado em tornar cada peça personalizada e única, esse, mantém-se.

16 Mai 2018

Raquel Dias, coordenadora na área cultural | Uma casa chamada Macau

[dropcap style=’circlr’]N[/dropcap]asceu em Moçambique, estudou em Portugal e em Inglaterra, mas a maior parte da vida passou-a em Macau. Uma terra que, apesar de não ser a sua, a faz sentir-se em casa. “Independentemente do que decidir para o meu futuro, vai ser sempre o meu poiso”, diz Raquel Dias.

“Foi só há pouco tempo que deixei de olhar Macau como um sítio de passagem”, uma visão que “marca também um pouco a maneira como nós nos relacionamos com a terra”, observa a jovem de 31 anos. “É um lugar onde investimos pouco – tanto financeira como emocionalmente – porque achamos sempre que vamos ficar por pouco tempo e depois acabamos por ficar uma quantidade de anos e não construímos nada”, realça Raquel Dias, que chegou a Macau em 1991.

Essa viragem teve os primeiros sintomas quando saiu de Macau: “Aos 16 anos decidi que queria ir para Portugal e chateei tanto a cabeça dos meus pais que fui para um colégio interno. Foi um momento marcante na minha vida, porque nunca me tinha questionado sobre a minha identidade e foi aí que começaram as minhas grandes dúvidas existenciais, porque percebi que era ‘mais ou menos portuguesa’ ou pelo menos não era portuguesa de Portugal”. “Foi a primeira vez que tive essa sensação de não ter terra”, embora, “às vezes, seja bom, porque ao sermos de lado nenhum podemos ser de qualquer lado”. “Foi um momento marcante, mas exacerbado também, claro, pelas hormonas da adolescência”, brinca.

Depois de Portugal, Raquel Dias foi estudar História e Antropologia para Inglaterra. Quando terminou o curso, regressou a Macau. A ideia era ficar um ano e voltar a Inglaterra, mas acabaria por deixar-se estar na terra onde cresceu até hoje.

Arregaçar as mangas

O primeiro emprego surgiu, pouco depois do retorno a casa, na Delta Edições, empresa que produz e distribui a Revista Macau. Foi a primeira experiência de várias do mesmo tipo, dado que trabalhou de seguida para diferentes projectos editoriais, incluindo as revistas Essential Macau, Macau Business e High Life ou no portal Live and Love Macau, da qual foi uma das fundadoras, actual Macau Lifestyle.

Pelo meio recebeu uma oferta do Wynn, que estava a preparar a abertura do Wynn Palace. “Fizeram-me uma proposta aliciante e acabei por ficar um ano e meio”, explica. Integrada na equipa de relações públicas, “fazia a edição do material escrito em inglês e também traduções ou ‘news clipping’, na verdade, um pouco de tudo”. “Eu não tinha ideia de que fazer a abertura de um casino era tão intenso e cansativo, pelo que acabei por sentir saudades e queria voltar para um projecto editorial”, recorda.

Depois do regresso ao mundo editorial, Raquel Dias decide embarcar numa nova aventura: “Comecei a trabalhar como freelance, a fazer tradução e interpretação simultânea de inglês-português e vice-versa, porque queria trabalhar para mim”. “Descobri que me dava imenso prazer e foi o que fiz durante algum tempo. Claro que era óptimo trabalhar por conta própria, mas também tem as suas desvantagens”, sublinha.

Foi, aliás, por essa razão, que aceitou de imediato uma oferta de trabalho na Fundação Rui Cunha, onde está desde Março como coordenadora da área de apoios socioculturais e filantrópicos. “Nem pensei duas vezes, porque já tínhamos falado antes”.

É uma mulher de sete ofícios, mas “tudo um pouco por acaso”: “As coisas foram acontecendo, sem nada muito programado”. “Não sou historiadora, não sou antropóloga e também nunca achei que me pudesse auto-intitular de jornalista”, realça.

O que lamenta? Nunca ter voltado a Moçambique. “Nunca voltei a Moçambique e era uma viagem mesmo muito importante para mim, mas se calhar precisamente por essa razão ainda não arranjei tempo para a fazer”, diz. Acima de tudo, “queria voltar lá, gostava de conhecer uma das terras que também é minha”.

11 Mai 2018

Supreme, supermercado | A nova mercearia do bairro

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] supermercado Supreme, localizado na Taipa, tem desde Setembro uma nova gerência e um novo ambiente. De pequeno local de comércio, com pouca variedade de produtos, o Supreme passou a ser uma superfície comercial onde os clientes encontram tudo o que pretendem num só lugar.

Encher a despensa em Macau nem sempre é fácil e requer, sobretudo, uma logística e deslocação a vários locais de comércio, pois é difícil encontrar tudo o que se precisa num só espaço. Foi a pensar nesta lacuna que Lúcia Costa, juntamente com outros sócios, resolveu apostar na renovação do supermercado Supreme, localizado bem no coração da Taipa.
O que antes era um pequeno local de comércio passou a ser um supermercado de maior dimensão, que pretende oferecer aos clientes uma experiência completa ao nível de compras.
“Em Macau toda a gente sente que tem de ir a mais do que um supermercado comprar as coisas. Há uma competição dos outros supermercados, mas também acho que nos completamos uns aos outros. O que estamos a tentar fazer, mas isso leva tempo, porque só abrimos em Setembro, é que uma pessoa compre tudo o que precise ali, em vez de saltitar de supermercado em supermercado.”
Com uma experiência de sete anos neste sector, Lúcia Costa e parte dos sócios com que trabalha no supermercado já operavam alguns serviços num outro espaço na Taipa. Porém, investir neste negócio revelou-se uma oportunidade imperdível.
“Nós já tínhamos um talho e mais alguns serviços no supermercado Park n Shop, e soubemos que este espaço estava disponível para arrendamento. Vimos nisso uma oportunidade de expandir e ter uma loja só nossa.”
Lúcia Costa confessa que a maior parte dos clientes tem tido uma reacção positiva face ao novo supermercado. Ainda assim, há “alguns clientes que estavam habituados ao antigo Supreme, que tinha muitos poucos produtos e coisas muito específicas, que nós não temos”.
“No início foi difícil a adaptação dos nossos clientes à loja. Mas cada vez temos mais clientes, mais produtos e o negócio vai crescendo. Ainda estamos a estudar o mercado, mas o feedback tem sido positivo. Mantivemos o nome, mas mudamos a loja, que está completamente diferente, em termos de estética e de variedade de produtos”, acrescentou a sócia do supermercado.

Aposta no vegetarianismo
Uma das novidades introduzidas pelo supermercado Supreme prende-se com a oferta de produtos vegetarianos, incluindo substitutos de carnes, queijos e patés. “Há muita procura em Macau de produtos vegetarianos, mas há falta de oferta de produtos não só vegetarianos mas sem lactose e sem glúten, por exemplo. Acho que cada vez há mais procura e é muito difícil arranjá-los em Macau. Então fizemos essa aposta, para termos algo diferente dos outros.”
Lúcia Costa destaca ainda o talho e as suas carnes frescas. “Cerca de 90 por cento das carnes que temos são estrangeiras, principalmente da Austrália e EUA, e aí também apostamos na qualidade. Além disso, temos ofertas, em que se o cliente comprar determinados produtos fica a metade do preço. Há coisas que ficam mesmo em conta e isso não se consegue em mais nenhum outro sítio em Macau.”
Além da diversidade, os sócios do supermercado Supreme buscam a qualidade, através de um grande leque de fornecedores. “A maior parte dos nossos fornecedores são de Hong Kong. Costumamos ir lá a feiras, fazemos muita pesquisa através de contactos que já temos. É assim que vamos descobrindo cada vez mais produtos e expondo-os na loja.”
“Todos os produtos têm certificado. Para trazer produtos de fora tudo tem de ter um certificado que comprove de onde vêm e com que ingredientes são feitos. Apostamos em produtos de qualidade e temos muitos produtos portugueses, canadianos, australianos, americanos, e até franceses e italianos, por exemplo.”
Apesar de estar localizado na Taipa, o supermercado Supreme faz bastantes entregss a moradores da península de Macau e Coloane. Para Lúcia Costa, o facto do Supreme disponibilizar um serviço em várias línguas serve de factor diferenciador face a outros negócios semelhantes.
“Em primeiro lugar é difícil comunicar em inglês em todos os supermercados em Macau. Nós aqui temos serviço em português, inglês, tagalo e mandarim, temos pessoas que falam diversas línguas, o que ajuda no serviço.”
O recurso às redes sociais é também uma aposta para contactar o cliente. “Temos uma página de Facebook e tentamos sempre ter feedback dos clientes. Aí, sabemos o que podemos mudar e melhorar, e só aí haverá uma evolução. Nesse ponto, as redes sociais funcionam, sobretudo com clientes novos, quando querem saber se temos determinado produto”, concluiu Lúcia Costa.

9 Mai 2018

Hyper Lo, cantor | O Rapaz de Chocolate

[dropcap]S[/dropcap]ou doce, tão doce, como um rapaz de chocolate”. Começa assim a música Chocolate Boy (em português Rapaz de Chocolate) do artista de Macau Hyper Lo, cantor de pop, que viria a marcar a sua afirmação no panorama da indústria do entretenimento local. Mas se, por um lado, foi este tema, com forte inspiração no pop coreano, que reforçou a imagem de um cantor polivalente, por outro, é através das baladas que Hyper Lo conquista o público, principalmente os mais novos e os pais.

“O tema Chocolate Boy é inspirado no pop coreano, um género musical que aprecio muito devido ao ritmo e à vibe que transmite. Curiosamente, foi um tema que me surpreendeu porque sendo algo diferente do habitual, chegou a um público muito maior”, conta o cantor. “Muitas crianças gostaram da música e ouvi muitas críticas positivas por parte de muitos pais”, acrescentou.

Actualmente, Hyper Lo trabalha a tempo inteiro para a produtora SP Entertainment. Além da carreira a solo, faz igualmente parte do grupo MFM, que é constituído ainda pelo macaense Adriano Jorge, assim como Josie Ho, cantora e filha do deputado Ho Ion Sang. Ao HM, Hyper Lo confessou que é com os MFM que tem mais sucesso, e que na rua é muito abordado pelo trabalho feito em grupo.

“Para ser sincero, posso dizer com orgulho que muitos locais gostam das nossas músicas como MFM. Somos um grupo muito próximo e trabalhamos juntos desde 2014. Temos uma química especial”, admitiu.

“Conseguimos popularidade em Macau por causa das nossas músicas de dança, também fomos pioneiros no território ao nível do investimento monetário que fazemos na qualidade de produção das nossas músicas e videoclips”, explica.

É também como membro do trio que Hyper Lo deixa a musa tomar conta da sua criatividade. “Espero que os MFM venham logo à cabeça doas pessoas, quando as pessoas pensam em artistas de Macau”, confessa.

 

Desafios locais

Sobre a indústria local do entretenimento, Chocolate Boy admite que há vários desafios e aconselha os interessados nesta carreira a não se dedicarem a tempo inteiro. “Não é fácil ser artista a tempo inteiro e não encorajo ninguém a fazerem-no logo após terminarem o ensino secundário ou superior. No início, é melhor concentrarem-se em desenvolver também outras habilidades para poderem ter outras formas de ser auto-suficientes. Só quando tiverem um bom suporte financeiro é que aconselho a encararem a possibilidade de serem artistas a tempo-inteiro”, aponta.

Aos 31 anos, Hyper Lo estabeleceu-se principalmente como cantor, no entanto, a sua carreira poderia ter sido bem diferente. Na altura de começar os estudos no ensino superior, Hyper foi aceite na Universidade de Macau para tirar a licenciatura em Inglês. Contudo, foi nessa altura que decidiu tomar a decisão de se mudar para Taiwan e estudar artes performativas.

“Senti que era o meu sonho e que se esperasse pelo final da licenciatura seria muito velho para lutar pelo que queria. Tive em mente que há muitos cantores que começam as carreiras aos 16 anos. Por isso, senti que essa era a melhor altura para apostar neste tipo de estudos”, recorda.

Enquanto artistas, tem como principal ídolo a cantora e actriz de Hong Kong Viviana Chow, com quem já trabalhou anteriormente. “Adoro-a porque ela é sempre muito bonita e elegante, canta muito bem e é uma pessoa com quem é muito fácil trabalhar”, justifica.

No dia-a-dia a inspiração começa em casa, com a mãe. “Foi uma pessoa que não teve a oportunidade de frequentar um curso superior mas que, mesmo assim, não deixou de se interessar e ser autodidacta, através de livros e jornais. É uma pessoa que me ajuda muito e que tem sempre um conselho, uma opinião para dar, mesmo agora”, admite.

 

Banhos para relaxar

Enquanto residente de Macau, na altura de relaxar Hyper Lo não tem dúvidas sobre o seu local favorito. Por isso, quando se sente mais cansado, trocas as ruas efervescente da Península e da Taipa pela tranquilidade de Coloane. “Adoro a vila antiga de Coloane porque é o único local onde me sinto relaxado e descontraído. Sempre que me sinto stressado e a precisar de descansar é para lá que vou”, revela. Contudo, também encontra alternativas e revela um dos seus prazeres proibidos: “Adoro relaxar com longos banhos de imersão”.

No que diz respeito à relação com a cidade, as memórias mais agradáveis que recorda da infância são os passeios de bicicleta na Taipa antiga: “Macau era uma cidade muito diferente muito mais tranquila, tinha muito menos pessoas e trânsito. Tenho saudades desse tempo”, recorda.

Apesar disso, o Rapaz de Chocolate não tem dúvidas em dizer que se sente muito feliz por viver em Macau e também por ter seguido esta carreira, mesmo que o trabalho lhe imponha alguns amargos de boca. “Gosto muito de chocolate, desde que não seja branco, infelizmente como preciso de me manter em forma já não posso comer tanto”, reconhece.

4 Mai 2018

Old Town Vintage, Loja de roupa com traços clássicos | Regresso ao passado

Na Rua Manuel Arriaga há uma loja de roupa que transporta os clientes às décadas de 20, 30, 40, 50 e 60 do século passado. No interior da Old Town Vintage, enquanto as pessoas escolhem os vestidos que mais gostam, podem desfrutar dos ritmos das músicas da época

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]berta em 2014, a loja Old Town Vintage foi o concretizar de um sonho de criança para Clara Yung. Neste espaço, a proprietária concilia a ambição de ter onde vender artigos de roupa com o desejo de estar rodeada pelo seu estilo favorito: o vintage. Esta é uma tendência que se caracteriza por apresentar traços clássicos e antigos e peças feitas nas décadas de 20, 30, 40, 50 e 60 do século XX.

“Abri a loja em 2014, foi o concretizar de um sonho de infância. Quando as meninas são crianças, todas têm aqueles sonhos, algumas querem ser cantoras, outras modelos, coisas deste género. O meu sonho era abrir uma loja e vender roupa, que é uma coisa que adoro”, contou Clara Yung, ao HM. “Em 2014 concretizei esse sonho com a abertura da Old Town Vintage”, acrescentou.

Clara Yung admite ser viciada em roupa antiga. “É um estilo que adoro, sou completamente viciada em artigos vintage e utilizo artigos deste género sempre que posso”, admitiu.

Formada em Estudos Ingleses, pela Universidade de Macau, foi ainda durante os seus tempos de estudante universitária que deu aquele que considerou o principal passo para a abertura deste negócio. O momento marcante foi uma viagem a Londres, em que aproveitou para visitar tantas lojas do género quanto possível.

“Quando ainda estava na universidade aproveitei para ir a Londres. Nessa visita fui a muitas lojas vintage com a preocupação de estudar o mercado e compreender que tipos de produtos oferecem e como se organizam. Depois disso, avancei para a abertura deste negócio”, explicou.

Mas se hoje o estilo retro poderá ter mais popularidade, a proprietária reconhece que esta situação ainda não se verificava em 2014. O facto de ainda não haver um mercado deste género, exigiu algum trabalho extra.

“Honestamente, quando abri a loja ainda não havia muita gente interessada neste estilo e o conhecimento não era muito. No início, foi preciso informar muito bem as pessoas sobre este estilo e explicar as tendência”, recorda. “Havia muito a ideia errada de que as roupas vintage eram todas em segunda mão e isso não corresponde à verdade”, acrescentou.

Ajuda de di Caprio

A maior parte dos produtos que chegam à Old Town Vintage vêm da Europa, Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos. Por isso, filmes datados entre as décadas de 20 e 60 ajudam bastante na promoção de alguns artigos e aumentam o interesse na loja.

Neste aspecto, Clara Yung teve a ajuda do actor Leonardo DiCaprio, através do filme “The Great Gatsby”. Inspirado no romance de Francis Scott Key Fitzgerald com o mesmo nome, cuja acção se desenrola em 1922, Clara destaca que a película ainda hoje tem a capacidade chamar a atenção às pessoas para o estilo retro.

“Sei que muitos clientes vêm procurar produtos vintage na loja, principalmente depois de terem assistido a filmes, como o “The Great Gatsby”. Procuram muito chapéus e vestidos dessa época. Nesse sentido, os filmes são influentes”, contou.

Contudo, esta influência através da sétima arte não se fica pelos filmes norte-americanos, a situação repete-se no Japão, Taiwan e Coreia do Sul. “São mercados em que as pessoas adoram o estilo vintage. Por isso, é muito normal que surja com muita frequência nos filmes e séries. São povos que têm um sentido de moda mais apurado e diversificado do que as pessoas de Macau. Mas sinto que em Macau se começa a seguir essas tendências”, aponta.

No ambiente de negócios em Macau, nem todas as condições são fáceis, principalmente no que diz respeito às rendas e à competição das vendas online através do Taobao, apesar da Old Town Vintage também disponibilizar vendas através da internet.

“Quando abrimos a loja, o Taobao ainda não era tão popular. Mas desde o ano passado que sinto que há mais gente a comprar através do Taobao. É um facto que nos dificulta a vida. Mas lidamos com isso disponibilizando artigos muito únicos. Mais caros, é verdade, mas originais e que não se encontram nessa plataforma”, confessa.

No entanto, o valor das rendas é mais difícil de ultrapassar. Ao HM, Clara Yung confessa que as condições são demasiado complicadas. “Não faz sentido pagar tanto de renda num local onde o mercado não é assim tão grande. Se falarmos de rendas altas em Hong Kong, compreende-se melhor porque o mercado deles tem sete milhões de pessoas. Em Macau, são só 700 mil pessoas, mas as rendas são na mesma elevadas. Não há um equilíbrio”, defende.

Rua de Manuel Arriaga 64-A, Macau

2 Mai 2018

Tony Lai, jornalista | Freelancer por acaso

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois de mais de dois anos a exercer a tempo inteiro a profissão de jornalista, no final de 2014, aproveitando um período de instabilidade interna na revista em que trabalhava, Tony Lai decidiu fazer uma pausa na carreira. A paragem durou quatro meses e, pouco-a-pouco, sem que houvesse um planeamento, Tony acabou por se tornar jornalista freelancer.

“Durante essa pausa, que durou cerca de quatro meses, surgiu-me uma proposta para colaborar com outro meio de comunicação social. E, curiosamente, a seguir a esse momento, foram surgindo mais e mais propostas que fui aceitando. Foi assim que me tornei freelancer. Não foi algo que tivesse planeado, foi acontecendo”, recorda Tony Lai ao HM.

Apesar das eventuais limitações, a grande vantagem para o jornalista ao adoptar este regime é o facto de ter uma maior oportunidade de escolher as histórias em que realmente quer trabalhar. Por outro lado, consegue evitar alguns dos trabalhos mais rotineiros.

“As pessoas quando escolhem ser jornalistas procuram um trabalho sem rotina, que traz novidades todos os dias. Mas quando se trabalha a tempo inteiro, acaba por haver uma grande rotina, ao contrário do que se possa pensar”, considera.

“Depois de trabalhar um ano num sítio, quando se entra no segundo ano, cerca de 80 por cento dos eventos que é necessário cobrir são os mesmo do ano anterior. Quando os jornais seguem a agenda, não há muito de diferente. Esse aspecto torna o trabalho demasiado monótono. É por isso que prefiro a situação de freelancer. Tenho mais escolha”, justifica.

Vertente mais humana

Também neste regime, o jornalista colabora com diferentes revistas, o que lhe permite experimentar e trabalhar em diferentes registos. Quando escreve em inglês foca-se mais em assuntos económicos, quando escreve em chinês o registo é mais pessoal. E, neste capítulo, a prioridade passa por colaborar com revistas, mais do que os jornais.

“Gosto de trabalhar mais em revistas em chinês do que nos jornais em chinês. Muitas vezes os jornais têm uma linguagem muito próxima da utilizada oficialmente, isto é uma linguagem demasiado próxima dos comunicados de imprensa. No entanto, nas revistas podemos focar-nos mais nas histórias das pessoas, há uma vertente humana”, explica.

“Por exemplo, recentemente fiz uma história sobre o mercado imobiliário. Mas não me foquei nos elementos económicos, são as pessoas que vivem na cidade a contarem o que sentem. Acho que este tipo de trabalhos é mais interessante”, sublinhou.

Em relação à escolha pelo jornalismo, surgiu depois de um curso em Comunicação em Inglês na Universidade de Macau: “No final do curso, achei que o trabalho de jornalista se adaptava às minhas capacidades e optei por experimentar”, explicou.

Arte de comer

Além de escrever, o jornalista de 27 anos adora experimentar diferentes tipos de comida e cafés. Por este motivo, actualiza com regularidade as redes sociais com diferentes tipos de comida e petiscos, que vão surgindo pela cidade.

“Macau tem muitos locais para comer petiscos com qualidade. Não se pode dizer que são restaurantes porque servem principalmente snacks, não é um local para a refeição tradicional, mas a comida tem muita qualidade. O único problema são as rendas, que fazem com muitos destes locais com comida de qualidade tenham de encerrar”, considera. “O outro problema é quando os restaurantes se tornam demasiado populares. Acabam por receber muitas pessoas e torna-se difícil encontrar um lugar”, acrescenta.

Entre os locais onde mais gosta de petiscar está a pastelaria Lord Stow, em Coloane. “É um bom lugar em Macau que permite às pessoas relaxar e passear à beira-mar e olhar para Hengqing. Também não é muito caro, se compararmos com a Taipa ou o Cotai”, conta. No entanto, Tony explica que a melhor altura para ir é durante a semana: “no fim-de-semana tem muitos turistas. Mas durante a semana é mesmo mais calmo e até se pode ver as lojas locais a secarem o peixe”, diz.

Fascínio pela leitura

Outro dos grandes interesses do jornalista é a leitura. Por essa razão, não é difícil encontrar Tony Lai nas bibliotecas do território, principalmente na Biblioteca Central, na praça do Tap Seac.

“Gosto principalmente de ler romances, mas também livros com pequenos relatos das impressões dos autores sobre diversos assuntos, como comida, política, temas realmente muito diferentes”, afirmou.

Em relação às bibliotecas de Macau considera que têm melhorado muito nos últimos anos, mas que mesmo assim a oferta é limitada.

“Se formos a Biblioteca Central há uma oferta muito maior, mas as outras não têm assim tanta oferta. Claro que se podem pedir os livros, e eles depois são transferidos entre as bibliotecas, mas mesmo assim a oferta é limitada”, considera.

Por outro lado, Tony Lay considera que as revistas disponíveis para os leitores são de grande qualidade. O problema é a regularidade com que chegam as novas edições, mas sendo conhecedor do mercado, não culpabiliza as bibliotecas: “Não ficava surpreendido que os atrasos se ficassem a dever mesmo às revistas, que só ficam prontas mais tarde”, aponta.

27 Abr 2018

“Our City Our Tales”, canal de Youtube e página de Facebook | Actividade paranormal

“Our City Our Tales” é uma página de Facebook e um canal de Youtube criado no ano passado, onde se publicam vídeos sobre fantasmas e temas do paranormal produzidos por uma equipa local

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]o falar da criação da página, o director, Oliver Fa, recorda que a ideia para a criação do projecto “Our City Our Tales” partiu de uma conversa entre amigos que conheciam uma pessoa que se dedicava a coleccionar histórias de fantamas. Logo ali surgiu a ideia de a convidar para partilhar as suas histórias, sendo que o resultado final das assombrosas partilhas resultou numa espécie de talk show de internet, acompanhado por filmes de curta duração. “Este tema é interessante mas não havia pessoas que produziam [vídeos ligados ao espiritismo], ou seja, há quem esteja interessado na produção desses vídeos mas que não têm coragem para levar a intenção avante”, disse o director.

Assim sendo, o grupo de amigos constituiu uma equipa técnica e começou a filmar os episódios do programa a partir dum período conhecido como a Festa dos Fantasmas em Macau. Curiosamente, o medo partia dos próprios convidados.

Fernando Lourenço, produtor do “Our City Our Tales”, revela que abraçou o projecto sem receios. Apesar de reconhecer um factor de entretenimento em causar terror ao público, considera que existe um fim educativo nos vídeos que produz. “O nosso objectivo não é falar mal dos espíritos mas trazer significado educativo às pessoas”, frisou. Na visão de Fernando Lourenço, o programa também serve como plataforma em que os interessados neste tema partilham as suas experiências. “Algumas histórias podem ser interessantes. Mas não havia um sítio em que as pessoas pudessem discutir estes assuntos. Às vezes, depois de publicar (os episódios), há pessoas que nos comentários dizem que querem aparecer no programa para partilhar as histórias”, acrescentou o director.

Issac Tong, um dos responsáveis do programa, salienta que o respeito é importante ao longo do processo de filmagem deste tipo de vídeos, tendo acrescentado que a equipa insiste em trabalhar o tema com “boas intenções”. Acerca dos conteúdos dos filmes, Issac Tong deu como exemplo um episódio focado em notícias ocorridas no estrangeiro sobre fotógrafos que cometeram crimes. “Alguns dos nossos filmes são baseados na realidade. Ouvimos falar nas notícias de alguns fotógrafos que enganaram e abusaram sexualmente de mulheres, causando sequelas mentais nas vítimas que levaram algumas a cometer suicídio. Por isso, um dos nossos filmes tem como intuito levar as pessoas a pensar antes de cometerem estes actos”, revela.

Sobre encontros com figuras do além, o director do projecto confessa que a equipa chegou mesmo a notar a presença de espíritos.

Após a publicação dos primeiros episódios, a reacção do público foi melhor do que poderiam esperar. Para já, na página se encontram nove vídeos publicados, três dos quais de curta duração, enquanto que os restantes são episódios do talk show. De acordo com os responsáveis, faltam dois vídeos para terminar a primeira temporada do programa. Entretanto, a equipa do “Our City Our Tales” espera continuar com o projecto, sendo que é esperado que se faça algo de novo na segunda série do programa, incluindo vídeos em directo em regiões vizinhas, ou convidar figuras públicas e assim alargar o público.

Oliver Fa admite que é difícil trabalhar a tempo inteiro na área de produção do programa, e que a aposta nas indústrias criativas e culturais é arriscada e uma área de trabalho onde é difícil sobreviver. Para se atingir um equilíbrio, refere que é essencial estar realmente apaixonado naquilo que se faz e manter um foco na qualidade de vida.

Na opinião de Issac Tong, em Macau a cultura não se esgota na defesa do património histórico da cidade. “Acho que é possível fazer algo focado no espiritismo, no sobrenatural e até na área do erotismo, acho que podemos ser mais corajosos e não precisamos de estar tão centrados no património”.

25 Abr 2018

Diana Soeiro, coordenadora da Casa de Portugal

[dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]iana Soeiro não nasceu em Macau mas isso não invalida que não se sinta de cá. “Vim aos seis anos, os meus pais vieram para cá trabalhar e trouxeram-me com eles e com os meus irmãos e, depois de estudar em Portugal, voltei para cá”, começa por contar ao HM.

Corria o ano de 1999 quando foi estudar direito para Portugal, altura em que também muitos dos portugueses que viviam em Macau foram embora. Algo que não aconteceu com a coordenadora da Casa de Portugal, nem com a sua família. “É a minha terra”, afirma.

E é uma terra que, de acordo com Diana Soeiro, tem um série de vantagens, aumentadas com a maternidade por se alargarem aos seus filhos.

Uma das possibilidades que Macau lhe oferece é a abertura de horizontes. “A coexistência de várias culturas faz com que bebamos um bocadinho de cada uma delas, acho que isso faz com que sejamos talvez mais seguros”, refere.

Por outro lado, é também no contacto com a diferença que se criam outros mecanismos de adaptação. “O conhecer mais e o contacto com outro tipo de pessoas, ajuda-nos a desenvolver uma outra capacidade para nos adaptarmos a diferentes ambientes e isso faz com que trabalhemos melhor a nossa auto-confiança. Mas também influencia a nossa visão do mundo”, acrescenta, sendo que é isso que pretende transmitir aos seus três filhos. “Quero que os meus filhos tenham acesso a isto e que sintam que é um privilégio viver em Macau”.

Como se não bastasse, a RAEM é ainda ponto de acesso a outros mundos que lhe estão perto. “Aqui podemos viajar para qualquer lado”, diz.

Mas também se pode ir para fora sem sair do território. “Se houver uma festa tailandesa no bairro, nós vamos; se houver a festa da ópera chinesa, nós vamos, e tentamos estar sempre a par de todas as especificidades das culturas que existem aqui em Macau”, sublinha com satisfação. No entanto, mantem sempre a âncora na portugalidade que quer conservar em si, e nos filhos.

Criatividade escondida

Diana Soeiro tem alguns segredos, entre eles um gosto especial pela escrita de poesia. “Escrevo alguns poemas que partilho com as pessoas mais próximas, não é uma coisa pública, mas leio também muita poesia e faço muitos projectos com os miúdos relacionados com esta forma de escrita”, diz. Por outro lado, é também a leitura que lhe permite um tempo que é só seu. “Leio todos os dias, é o meu escape  a minha meditação”.

Se na escrita já tem currículo pessoal, já outras áreas criativas vieram à tona com a maternidade. “Tinha sempre negativa nas área criativas da escola, era mesmo má aluna e quando as miúdas nasceram, como todos os pais, comecei a lutar para que não passassem muito tempo no computador. O resultado foi o desenvolvimento de ideias e projectos criativos”, aponta, coisa que pensava ser impossível de concretizar. “Não sei se alguma vez teria feito estas coisas se não tivesse sido mãe. Eu não era uma pessoa que tirava fotografias, não gostava. Não fazia trabalhos manuais. Se não fosse pelas crianças e por aquilo que lhes quero transmitir, acho que nunca tinha descoberto essas capacidades”, considera.

A fotografia integra quase todos os projectos familiares, e Macau e as suas misturas não podem faltar. Entre a paisagem, a comida e a arte, o resultado é bom de se ver e reflecte a multiculturalidade que Diana Soeiro vai absorvendo. “Tentei fazer um pudim de manga macaense, aproveitei e conciliei com a abordagem fotográfica. Tenho andado a tentar desenvolver este tipo de projectos tendo por base o princípio da mistura que existe no território”, explica.

“Tenciono ficar aqui muitos anos, mas pode acontecer que, por alguma razão, tenha de ir embora e quero ter um registo, meu e da minha família, do sítio onde vivemos”, refere.

Macau infinito

O território pode ser pequeno mas as suas possibilidades são infinitas. Para Diana Soeiro é uma terra que, independentemente do tempo que se cá viva, tem sempre algo de novo para descobrir. “Não temos aquela atitude de que está tudo visto no território”, aponta. “Estou aqui há trinta anos e ainda me surpreendo imenso com Macau. Aliás, fazemos todos os fins-de-semana passeios para descobrir o território e encontramos sempre um novo pormenor: uma porta, uma janela, ou qualquer outra coisa”, remata.

20 Abr 2018

Restaurante All Fama | Pratos com toque de autor

[dropcap style=’circle’] A [/dropcap] partir de sexta-feira vai ser possível saborear um prego no pão com foie gras na Taipa. A apresentação é simples e cuidada e o sabor surpreendente. O All Fama é um lugar novo que oferece uma opção requintada e acessível a todos.

O All Fama é o resultado de uma amizade entre pessoas que desejam partilhar pratos, sabores e conversas. Telmo Gongó, Marco Policarpo e Victor Martires são os sócios do novo espaço de comes e bebes na Taipa que tem abertura oficial marcada para a próxima sexta-feira.

No espaço, sito na rua Fernão Mendes Pinto, existia uma coffe shop que foi reestruturado para incluir a imagem e os produtos da casa. Uma das ideias principais ideias que guiaram a remodelação foi vincar que este não será apenas mais um espaço dedicado à comida portuguesa. “Macau tem muitos restaurantes portugueses, há muitos sítios para comer comida portuguesa e macaense, mas um dos nossos objectivos, e que definimos desde logo, é que este não seria mais um restaurante comum”, começa por dizer o chef Telmo Gongó, ao HM.

Uma das filosofias centrais do espaço é a promoção da diversidade. “Queremos um espaço em que as pessoa possam saborear vários paladares da comida portuguesa sempre com um toque de autor”, refere o responsável pela cozinha. Para que não haja dúvidas Gongó explica: “aqui, a intenção não é chegar e pedir a tradicional entrada e refeição individual. O objectivo é a partilha também de sabores. As pessoas podem se sentar e ter vários sabores portugueses à frente como os petisquinhos em porções pequenas e depois, então, dividirem uma refeição principal”, avança.

 

Fama muito portuguesa

Para quem conhece Portugal ou já ouviu falar, o bairro de Alfama não passa despercebido e foi com este “símbolo” lisboeta em mente que o nome do novo restaurante na Taipa foi escolhido. O trocadilho foi feito de modo a dar a ideia de fama, característica que os três responsáveis anseiam que venha a definir o projecto e que vai de encontro à popularidade do bairro que lhe deu nome. “Alfama é um bairro muito famoso e acho que o restaurante vai ter potencial para o ser também”, apontou o chef. Já para Marco Policarpo “o nome combina também com a excelente comida portuguesa que aqui vamos ter”, referiu.

O All Fama é feito para todos. “Estamos na Ásia e será um restaurante de partilha em que toda a gente é bem-vinda”, diz Telmo Gongó.

A acompanhar a comida portuguesa não vão faltar sabores que misturam ingredientes mais populares na Ásia. “Vamos ter, por exemplo, camarões com mel e gengibre”, revela Gongó adiantando que o objectivo é ter “um lugar de comida portuguesa com sabores com que os locais se vão identificar”.

No que respeita à carteira, a opinião dos três sócios é unânime: “estamos abaixo da média de preços que se pratica nos restaurante portugueses no território”, dizem em uníssono.

 

A união faz a força

O restaurante vai aglomerar as mais valias da experiencia anterior dos três sócios. Telmo Gongó, chef, estrutura a cozinha e o menu e é o responsável pela formação do pessoal, até porque “num espaço em que trabalham pessoas de várias nacionalidades é preciso trabalhar em conjunto de modo a que a equipa esteja dentro do objectivo da casa e dar o melhor a comer aos seus clientes”.

Policarpo, experiente na área da restauração local, traz todas as vantagens de quem gere restaurantes há muito. O responsável considera que Macau está bem fornecido quando se fala de distribuição dos melhores produtos alimentares. No que respeita à formação de pessoal e acompanhamento logístico, apesar das dificuldades, “é com o trabalho, com treino e presença que se consegue construir uma boa equipa de trabalho”.

Victor Martires, responsável por uma empresa de distribuição de produtos portugueses, especialmente vinhos e queijos, contribuirá com a qualidade que está habitado a comercializar e que vai trazer para o All Fama.

Para a abertura oficial, na sexta-feira, está programada uma pequena celebração ao final da tarde. “Vamos fazer um soft opening em que pretendemos apresentar às pessoas um pouco do que temos para oferecer” e quem, sabe, proporcionar algumas surpresas, apontou Policarpo.

 

 

18 Abr 2018

Helena Ramos, freelancer | Residente intermitente

[dropcap style=’circle’] Q [/dropcap] uando sobe o pano do Rota das Letras anda de um lado para outro de papéis na mão pelos corredores do edifício do antigo tribunal. Apesar da preferência pelos bastidores, todos a conhecem fora deles. Helena Ramos vem com regularidade a Macau, mas apesar de ter decidido desligar-se do Festival Literário no final da sétima edição, que terminou no final de Março, acabou por transformar-se numa “residente intermitente”. Novos projectos talvez continuem a trazê-la cá.

A primeira vez que desembarcou em Macau foi em 2013, ou seja, na segunda edição do Rota das Letras. “Quando cheguei fiquei louca com estas luzes e estes casinos todos e depois comecei a perceber um bocadinho melhor a segregação que existe e isso assustou-me. No primeiro ano sai daqui um pouco não desiludida com o festival, mas com Macau”, porque “achava que havia muito mais interacção entre culturas”. Essa primeira desilusão não a demoveu de continuar num projecto em que acreditava: “Afinal, o festival servia para isso mesmo, para aproximar as culturas, e pensei ‘vamos lá então tentar’”. Com o tempo, Helena Ramos não mudou totalmente de opinião, mas ter conhecido outras pessoas e perceber que “há, de facto, quem esteja particularmente interessado nessa mistura cultural” suavizou a primeira impressão. “Se estiveres com a mente aberta as pessoas não são assim tão fechadas. No início tive a impressão de que eram muito difíceis, porque nem olhavam para mim na rua nem me respondiam quando fazia perguntas e agora já não”, observa a freelancer.

A vida de Helena Ramos sempre girou à volta dos livros. Depois de ter ido estudar para estrangeiro, passando cinco anos em Espanha, regressou em 2004 a Portugal onde começou a trabalhar na ASA que, anos mais tarde, viria a ser adquirida pelo grupo Leya, altura em que recebe um convite para a Porto Editora. Foi, aliás, nesse “mundinho” que se cruzou com Hélder Beja, co-fundador e ex-director de programação do Rota das Letras, que mantinha um blogue sobre literatura. Ficam “grandes amigos”, pelo meio ganha vida o Festival Literário de Macau e Helena Ramos, sem possibilidade de vir a Macau, mas “com muito interesse” no novo projecto começa a participar à distância. “Comecei a trabalhar a partir de lá nos livros, a fazer traduções e a editar, porque é o que faço, mas depois percebemos que tinha de vir para aqui e coordenar os conteúdos e essas coisas todas”, conta a lisboeta de 41 anos que, embora não tenha vindo a Macau todos os anos consecutivos, era uma das pessoas mais antigas na equipa do festival.

Pelo meio, despediu-se para ser freelancer – faz tradução (de inglês e de espanhol) e edição. Contudo, o seu objectivo mantém-se: “abrir horizontes”. Um deles foi ir tirar o curso de Belas Artes (que ainda frequenta), após uma formação anterior em cinema. “O meu problema é que me aborreço imenso se fico só numa coisa. Então, estou sempre à procura de novas coisas o que, às vezes, é mau, porque não acabo uma e vou logo para outra, mas estou a tentar focar-me”, afirma.

Actualmente, tem outro vínculo com os livros, desta feita o novo desafio é escrever um, baseado na viagem de três meses que fez no ano passado, movida pela “vontade de sair” de Portugal. “Fui tipo Forrest Gump, mas a andar”, brinca Helena Ramos que apanhou um avião para Oslo e voltou a pé para Lisboa. “Foi um bocado à maluca. Fiz metade da Noruega, as montanhas todas, estive três semanas sem ver ninguém e para morrer várias vezes, porque eu nunca tinha feito isto, nem sequer sabia ler um mapa”, recorda. “Todos os dias perguntava-me o que estava a fazer ali e ainda por cima sozinha, mas aquele instinto de sobrevivência fez-me relativizar imenso as coisas do dia-a-dia que nos stressam e aprendi imenso sobre mim também”. Durante a viagem, apenas recorreu a dois meios de transporte: uma “bicicleta velha” que o desespero a levou a comprar e que a ajudou em parte do percurso, e um barco para fazer uma travessia de duas horas entre a Suécia e a Dinamarca.

Contar histórias é o que realmente lhe interessa, independentemente do formato, embora aprecie particularmente vídeo-arte, mas nada muito conceptual, porque gosta, acima de tudo, de levar a cultura aos cantos onde não chega. Na sua cabeça magica mil ideias. “No ano passado, quando tive um tempinho, comecei a fazer um trabalho aqui em Macau. Tirei umas fotografias e tenho, de facto, isso, além de que também já me disseram para fazer aqui uma exposição com os meus quadros e as minhas esculturas, mas fico um bocado envergonhada”.

“Embora tenha sido o meu último ano no Rota das Letras, tudo o que sejam projectos de cultura interessam-me e há vários em mente, a misturar culturas, e também a ver com a Ásia. Cá nos veremos outra vez noutros formatos”, promete.

 

6 Abr 2018

Restaurante Saboroso | Tradição servida com modernidade

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]mbora a inauguração oficial esteja marcada para hoje, o Saboroso tem dado um ‘cheirinho’ do que oferece desde o início do mês. O restaurante, um pequeno negócio familiar, dedica-se à comida tradicional macaense.

“Toda a gente sabe que a comida macaense é caseira e seguimos as receitas da minha avó. Tudo é feito de forma tradicional, mas achamos que talvez precise de uma melhor imagem, pelo que a ideia é dar um toque de modernidade na apresentação dos pratos”, explica Jorge Ló, que detém o restaurante com os pais.
“Muitos chineses acham que a aparência da comida macaense não é muito boa e ficam com essa primeira impressão, portanto, queremos dar uma melhor apresentação” para agradar logo à vista, sublinhou o jovem de 29 anos.

O restaurante tem um prato do dia, com duas opções: Ontem era minchi e galinha à portuguesa. No entanto, como ressalva Jorge Ló, o menu ainda é temporário. A capela, por exemplo, “vai ser transformada em prato do dia. Como não se consegue fazer no momento, porque exige tempo, preferimos torná-la prato do dia também para que o cliente possa desfrutar do prato confeccionado no dia e assim não tenha que comer aquecido”, salienta.

Em paralelo, o cardápio também tem uma recomendação do chefe. Ontem, por exemplo, caldeirada de peixe, linguado panado, bifinhos e esparguete com molho béchamel e amêijoas eram os pratos sugeridos. Aberto das 12h às 23h, actualmente com 12 funcionários, o restaurante também tem lanche. Mais tarde, diz o proprietário e chefe de cozinha, a ideia é também servir pequenos-almoços.

Desde que abriu portas informalmente no passado dia 3, o restaurante Saboroso tem recebido um ‘feedback’ “positivo” de uma clientela diversificada. “Têm vindo macaenses, portugueses e chineses”, diz Jorge Ló, embora reconheça ser “difícil agradar a todos os gostos”.

A ideia de abrir o Saboroso surgiu para suprir uma lacuna. “Macau tem poucos restaurantes típicos de comida macaense”, afirma, embora reconhecendo que nas proximidades do Jardim da Flora existem dois.

Em paralelo, também foi uma forma de diversificar: “Tínhamos um restaurante take-away de comida chinesa antes junto ao mercado do Iao Hon, onde eu também já cozinhava, que fechámos para poder abrir o Saboroso”. “A comida macaense tem mais vantagens”, sublinha Jorge Ló.

O nome do restaurante foi ideia do pai. “Saboroso é um termo mais macaense. Por exemplo, os portugueses raramente usam essa palavra para descrever a comida”, diz. No entanto, a mãe de Jorge Ló, que de vez em quando dá uma mão na cozinha, admite que o programa da TDM sobre gastronomia macaense intitulado “Ui Di Sabroso”, conduzido por Ana Isabel Dias, pode ter contribuído como fonte de inspiração.

28 Mar 2018

Restaurante Sip Sop Soup | Alvin Au, investidor e co-fundador

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] Sip Sop Soup é um restaurante dedicado às sopas que começou a operar em Macau, em Agosto do ano passado. Localizado junto ao Lago de Nam Van, o estabelecimento trouxe para Macau um conceito inovador

Em Agosto do ano passado o restaurante Sip Sop Soup abriu portas para gáudio dos aficionados das sopas. A ideia surgiu depois de Alvin Au, um dos investidores e co-fundadores do negócio, ter passado algumas semanas com um dos sócios na Austrália. A visita serviu de inspiração para o tipo de restaurante que acabaria por importar para Macau, em conjunto com Cathie Lam e Houin Ao.

“É um conceito que está muito desenvolvido na Austrália. É muito comum haver espaços que só vendem mesmo sopas. E em muitos dos casos são restaurantes até mais especializados no take-away. As pessoas entram, encomendam a sopa que querem e depois vão comer para outro lado”, disse Alvin Au, ao HM, sobre a origem da iniciativa.

O facto de Macau não ter uma cultura gastronómica propícia a este tipo de restaurantes justificou a aposta: “Queríamos abrir algo especial no território, não queríamos ser apenas mais um café, porque hoje em dia é muito frequente abrirem cafés. Por outro lado, queremos encorajar as pessoas a tentarem comer a sopa como prato principal e não apenas como entrada”, revelou.

Apesar da estratégia, Alvin Au reconhece que este tipo de estabelecimento vai contra a mentalidade mais tradicional de Macau, no que diz respeito aos hábitos alimentares.

“Para muita gente de Macau e Hong Kong à hora do almoço o normal é comer refeições com noodles ou arroz. Esta nossa aposta implica uma mudança, no entanto, temos o cuidado de oferecer sopas em quantidade suficiente para que uma pessoa possa ficar satisfeita”, reconheceu.

Ao mesmo tempo, houve também a preocupação de garantir uma oferta saudável aos clientes, um aspecto muito associado a este tipo de alimento. Também por essa razão, os sabores artificiais foram afastados dos pratos servidos no Sip Sop Soup.

“Tentamos manter o sabor original dos ingredientes e usamos cebola e abóbora, por exemplo, em vez de outros sabores artificiais. Queremos que as pessoas experimentem os sabores originais nas nossas refeições”, explicou. “São refeições que podem ser consideradas saudáveis, mas também temos ofertas de sopas com frango e peixe. Tentamos sempre manter um equilíbrio entre os ingredientes”, frisou Alvin Au.

 

Público feminino

Também por muitas vezes existir a ideia, principalmente entre o público masculino, que uma refeição à base de sopa pode não ser suficiente para encher a barriga, o Sip Sop Soup acaba por atrair um tipo de cliente mais feminino. No entanto, Alvin Au vê mudança na clientela do restaurante.

“Noto que os nossos clientes são principalmente mulheres que se preocupam em comer algo mais ligeiro ao almoço. Todavia, há homens que também já procuram seguir esta tendência e comer apenas uma sopa. Estamos felizes com o ligeiro crescimento do negócio nestes seis meses”, admite.

Em relação aos principais desafios de desenvolver restaurantes no território, as rendas e os recursos humanos são apontados como os principais obstáculos. Esta é a experiência de Alvin Au, que é proprietário de outros dois espaços de restauração.

“As rendas e os recursos humanos são os grandes desafios. Por outro lado, também o número da população em Macau, que não é um mercado tão grande quanto, por exemplo, Hong Kong. Há uma base de clientes mais pequena”, justificou.

Os riscos de apostar no Sip Sop Soup foram mitigados. Isto porque o restaurante funciona no segundo andar do estabelecimento com comida chinesa, o Sei Kee Café. Os dois espaços estão ligadas através de uma escada, mas podem ser acedidos de forma independente.

“Tentei apostar no conceito de ter duas lojas no mesmo edifício, para diminuir o risco caso as coisas não corram como queremos. Quando se abre um espaço deste tipo num único edifício é muito difícil e as rendas não são baixas. Também por isso, o restaurante está próximo de uma marca conhecida. Temos de ser sinceros e perceber que, no que diz respeito a comida, as pessoas de Macau não são assim tão abertas a novos conceitos”, considerou.

 

21 Mar 2018

Ferdinand Choi, músico e compositor

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ascido e criado em Macau, Ferdinand Choi é um guitarrista e compositor que faz questão de mostrar a terra onde nasceu nos seus videoclips. Exemplo disso é o vídeo promocional da música “When I Have You”, gravado nas tradicionais palafitas de Coloane.

Arranha no inglês mas faz dele o seu instrumento de trabalho. O gosto pela música começou cedo, pouco depois de terminado o ensino secundário. “Acabei a escola secundária e comecei a aprender a tocar guitarra. Numa primeira fase não cantava, mas depois como gostava muito de tocar guitarra passei a fazer parte de uma banda. Nessa banda eu já fazia algumas canções mas não cantava, havia outra pessoa a fazê-lo.”

Hoje Ferdinand Choi vive da música e toca três vezes por semana no bar Mugs, um pequeno espaço localizado na zona da Praia Grande. “Toco algumas canções chineses, em inglês também, canções pop. Numa noite posso tocar uma ou duas canções minhas”, explicou.

Mas não só: o músico já tocou em vários bares de Macau e até participou, em 2016, num concurso de música na China.

Apesar de ter gostado da experiência, no continente deparou-se com a competição, uma vez que há muitos talentos nas mais diversas áreas musicais.

“Na China há muitos músicos e muita competição. Mas foi uma boa experiência, porque nunca tinha participado em nenhum concurso antes. Há muitos músicos na China, bastante diferentes dos de Macau. É mais difícil ser músico na China. Macau é um território pequeno e não há muitos músicos e compositores, então não há essa competição. Na China há uma grande variedade de bons músicos.”

Afirmando que deve ser um dos poucos músicos de Macau que consegue sustentar-se com os concertos, Ferdinand Choi considera que, no território, “é difícil ser músico a tempo inteiro”. “Neste momento vivo da música, talvez seja um dos poucos que em Macau vive só disso. Tenho vindo a compor algumas canções nos últimos tempos”, frisou.

O primeiro disco

O músico de Macau já se aventurou no mundo dos álbuns, tendo apostado na gravação de “Meet”. O projecto foi feito em Taiwan, dada a diversidade e maturidade do mercado musical da Ilha Formosa.

“Já tinha muitas canções escritas nessa altura e queria gravar um disco. Muitos incentivava-me a fazê-lo. Então decidi ir para Taiwan gravar o álbum. Lá é mais barato e o mercado está mais desenvolvido, temos muitas escolhas de locais onde possamos gravar, há mais produtores e engenheiros de som, com mais experiência do que em Macau.”

Macau começa agora a despertar para o mundo da música e há uma nova geração de músicos e cantores a nascer, bem como de estúdios de gravação. Ainda assim, Ferdinand Choi assegura que as empresas ligadas às indústrias do jogo e do entretenimento desconhecem os talentos locais do mundo da música.

“Os casinos, por exemplo, não sabem que em Macau também há músicos, e muitas vezes acabam por contratar cantores de Taiwan, Singapura e Malásia. Só agora é que começam a ter noção de que em Macau também há muitos músicos. Muitas vezes estas empresas trabalham em parceria com agências de artistas e nós não trabalhamos com elas.”

Ferdinand Choi aposta tudo na sua página de Facebook para mostrar o seu trabalho. Aliás, para quem começa uma carreira, as redes sociais podem ser uma boa ajuda, assegura. “Actualmente o Facebook é uma boa ferramenta para mostrarmos o nosso trabalho, as redes sociais no geral. Além disso acabamos por não gastar dinheiro com a promoção do nosso trabalho.”

Nos próximos tempos Choi sabe que quer continuar a tocar e a cantar, sendo que a aposta numa carreira mais internacional está nos seus planos.

“Quero participar em mais festivais de música na China ou em Taiwan, e até no estrangeiro. Quero tocar as minhas próprias canções. Talvez no próximo ano estarei a trabalhar no meu próximo álbum”, rematou.

16 Mar 2018

Pamela Ieong, intérprete-tradutora | Um gosto natural pelas línguas

[dropcap style=’circle’] Q [/dropcap] uando era criança, não sabia o que queria ser. À inoportuna pergunta respondia o que os professores queriam ouvir: médica ou advogada. Não tinha grandes ambições na altura, mas quando saiu da escola secundária começou a perceber melhor do que era capaz. “Gostava de aprender línguas e acabei por optar pela licenciatura em Estudos Portugueses na Universidade de Macau”, conta Pamela Ieong.

Embora interessada pelas línguas em geral (hoje domina quatro), ao pensar nas oportunidades, o português era o que “tinha mais vantagem” no contexto de Macau. O facto de o curso incluir um programa de mobilidade também foi uma aliciante. “Já sabia que podia fazer um intercâmbio no terceiro ano e, por isso, optei pela língua portuguesa”.

“No início foi difícil. Hoje acho que estou melhor”, brinca a jovem de 29 anos que trabalha a tempo inteiro como intérprete-tradutora no Instituto de Acção Social (IAS). “Não conhecia ninguém de Portugal ou de outros países de língua portuguesa. Antes de ir fazer a entrevista para a universidade pedi ajuda a uma amiga que, meses antes, tinha estado a aprender português no Instituto Português do Oriente (IPOR)”. “Ela ensinou-me a dizer o nome, em que escola andei, um conjunto de frases que depois usei na entrevista. Disse tudo o que aprendi com ela, o resto só em inglês!”

O verdadeiro primeiro contacto com o português aconteceu pouco antes de começar o ano lectivo, já que decidiu inscrever-se no Curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesa, também na Universidade de Macau.

Quando chegou o terceiro ano do curso seguiu para Portugal, aproveitando a boleia do programa de intercâmbio. Esteve principalmente em Braga, mas também em Coimbra. “Gostei imenso da experiência”, enfatiza Pamela Ieong, que viu o seu gosto ser influenciado pela cultura do país mais ocidental da Europa.

O café figura como o exemplo mais evidente: “Em Macau é mau, mas lá experimentei e gostei. No meu antigo trabalho também bebiam muito e eu agora também bebo”. Numa incursão pelos doces também se deparou com a descoberta – não rara entre chineses de Macau – de que o pastel de nata “é totalmente diferente” e “come-se com canela”.

Depois de concluir os estudos, Pamela Ieong estagiou no Jornal Tribuna de Macau. Foi depois para o Instituto Internacional de Macau (IIM), o seu primeiro emprego, seguindo-se uma passagem pela Fundação Macau até se mudar, há três anos, para o IAS. “Os meus trabalhos foram sempre ligados à língua portuguesa”, explica, convicta de que a aposta foi acertada. “Não me arrependo. Além disso, o português já me deu muitas oportunidades para ir ver mundo”.

“Em Portugal, tinha vergonha de falar em público, mas depois de voltar ganhei mais confiança e participei num grupo de Toastmasters. Primeiro em inglês, depois em português. Ajudou-me muito e também fiz amizades com pessoas de países de língua portuguesa, como de Moçambique”, diz a intérprete-tradutora.

Pamela Ieong gosta muito do que faz, sobretudo porque esse ofício, de converter um mundo para o outro, “pode ser um bom instrumento para ajudar muita gente”. Esta ideia acompanha-a desde cedo, dos tempos em que ouvia os pais a narrarem-lhe as dificuldades que encontraram em fazer-se entender nos departamentos públicos quando chegaram a Macau.

À sua volta há uma verdadeira babel. No emprego trabalha com o português e com o cantonês; em casa fala em mandarim com o marido malaio; enquanto com o sogro, por exemplo, a conversa decorre em inglês. Nos tempos livres, gosta de ler: em casa mais em chinês, no serviço mais em português. “Tenho que dominar as duas línguas e também de ler muito para conseguir traduzir bem”, realça Pamela Ieong, fã da escrita de Mia Couto.

Deixar um dia a terra-natal é uma possibilidade em cima da mesa. “Queria ir para fora, mas acho que Macau é um sítio onde posso ter um bom começo. Dentro de alguns anos, se conseguir alguma oportunidade em Portugal ou no Brasil, por exemplo, talvez arrisque”, confessa.

“Se calhar mais Portugal, porque conheço”, reconhece a intérprete-tradutora que, em 2014, esteve durante três meses no Porto, onde fez serviço de voluntariado, enquanto acompanhava a irmã que, curiosamente, também foi atrás da língua portuguesa. “Foi escolha dela, não a forcei. Ela fez-me perguntas antes de decidir que curso tirar, não decidi por ela. Mas ela quer ser professora”.

9 Mar 2018

Love Avenue No. 9, Serviços de Casamento | Avenida dos Sonhos

Com o objectivo de auxiliar casais a lidar com a pressão da organização de casamentos, há quatro anos que Love Avenue No. 9 está em Macau para oferecer um serviço abrangente, que inclui sessões fotográficas no estrangeiro

Estabelecida há quatro anos em Macau, a Love Avenue No. 9 é uma empresa que oferece serviços de casamento, como planeamento de eventos, sessões de fotografia para noivos no estrangeiro, decoração de salão de festas, desenho de vestidos, entre outros. Yvonne Ho, fundadora da empresa, é natural de Macau, no entanto, a Love Avenue No.9 foi primeiramente fundada no território vizinho, há cerca de 10 anos.
“Há cerca de 20 anos trabalhava muito nas áreas do design gráfico, fotografia e moda. São áreas relacionadas com o trabalho de bastidores das indústria do cinema e da publicidade em Hong Kong”, começou por dizer a empresária, ao HM.

Yvonne Ho é licenciada em design no Instituto Politécnico de Macau e com um mestrado em Artes Electrónicas, na região vizinha.
“Com esta experiência decidi criar o meu próprio negócio em Hong Kong. Os serviços que começámos por oferecer relacionavam-se com design, decoração e vestidos. Eram tudo coisas muito bonitas que normalmente as mulheres adoram”, recorda.
Um dos serviços mais requisitos pelos casais de Hong Kong são as sessões de fotografias pré-casamento em Macau. Esta é uma tendência que ainda hoje se mantém e que justificou a abertura de uma representação da Love Avenue No. 9 na RAEM.

“Nessa altura, comecei a trazer muita gente de Hong Kong e de outros locais para tirarem fotografias pré-casamento em Macau. A cidade tem um património cultural muito bonito, cheio de História, perfeito para as fotografias”, apontou.
As fotografias são depois mostradas aos familiares e convidados durante o tradicional jantar da cerimónia. No entanto, no que diz respeito às preferências dos locais, a tendência vai para sessões no estrangeiro.

“As pessoas locais pedem-nos um serviço mais abrangente, o implica que tenhamos de tratar de quase todos os detalhes do casamento, como fotografias, espaço para o jantar de festas, decoração do salão, roupas, entre outros” conta. “Mas no que diz respeito às fotos pré-casamento as pessoas de Macau gostam mais de ir para fora. A Europa é um dos destinos favoritos, principalmente França e Alemanha. Na Ásia o Japão também é muito procurado”, revela.

Casamentos à Las Vegas

Na altura de falar sobre o casamento, a fundadora da Love Avenue No.9 não tem hesitações em admitir que é um evento com custos significativos. Contudo, diz que esta tendência pode mudar e que Macau, com a emergência de tantos empreendimentos turísticos, pode seguir o exemplo da capital do jogo norte-americana.

“Em Las Vegas o jogo é uma das grandes fontes de receita, mas os casamentos também movimentam um volume de negócios muito significativo. Lá, é muito fácil ter um casamento organizados em horas, porque há muitas igrejas e um serviço muito abrangente. No futuro, consigo imaginar Macau a seguir este caminho e a ser criado um ambiente destes”, considerou.
“Nos últimos anos, surgiram muitos empreendimentos turísticos de grande dimensão com locais muito giros para fotografias de noivos, também temos um património histórico muito impressionante. Por isso, consigo ver passo-a-passo muitos turistas virem a Macau para terem o seu casamento ou mesmo lua-de-mel”, previu. Entre os principais mercados que vão seguir a tendência, a responsável aponta para o Interior da China, Coreia do Sul ou Japão.

Ainda em relação a perspectivas para o futuro, a fundadora da Love Avenue No.9 acredita que as pessoas vão focar menos recursos nas cerimónias de matrimónio.

“Hoje me dias a maior parte dos jovens já prefere poupar o dinheiro para comprar uma casa ou mesmo jóias. Gasta-se menos nos casamentos, que vão começar a ser mais simples”, observou.
Por isso, a empresa oferece eventos mais semelhantes ao que acontecem no Ocidente, com dimensões mais reduzidas. Foi com vista a apoiar estes casais que a Love Avenue No. 9 começou a fazer da vivenda em Coloane um salão de festas, além de espaço para as sessões fotografias.

“Preparámos a vivenda para ser um salão de festas, com capacidade para cerca de 30 a 50 convidados e com serviço de buffet. É para cerimónias mais próximas das tendências ocidentais”, apontou. “Também existem casais que convidam poucas pessoas, por isso os salões de festas dos casinos acabam por ser demasiado grandes e caros. Esta opção que oferecemos é indicada para esse tipo de casais”, justificou.

7 Mar 2018

Julien Jacob, chefe de pastelaria no restaurante Tasting Room

[dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]as suas mãos saem verdadeiras obras de arte de várias cores e formatos, que podem ser vistas na sua conta do Instagram. A elegância existe em cada bolo ou sobremesa que confecciona e este é o elemento mais importante para Julien Jacob no seu trabalho. Julien é francês e chefe de pastelaria no restaurante The Tasting Room, no City of Dreams, e adora o que faz. A sua ligação ao mundo do açúcar começou ainda em jovem, quando fazia bolachas e bolos com a mãe e as irmãs.

Nunca tinha estado na Ásia, até que foi convidado para integrar a equipa do restaurante localizado no Cotai, num dos muitos casinos que existem no território. “Decidi vir para Macau porque nos últimos anos temos visto que o sector hoteleiro e turístico tem-se tornado um dos mais conhecidos em todo o mundo, com grandes hotéis e restaurantes de cinco estrelas. O meu objectivo era ser chefe de pastelaria aqui e fui contactado por um dos melhores restaurantes em toda a Ásia. Convidaram-me para fazer parte de um projecto muito aliciante e foi aí que decidi vir”, contou.

Com a mente focada nos objectivos que cria para si próprio, e sempre a desejar testar receitas, Julien Jacob não tem dúvidas de que este é um bom lugar para trabalhar na pastelaria e experimentar coisas novas.

“Macau é um dos melhores lugares que mistura o mundo ocidental com o asiático, é um lugar bonito que nos deixa trabalhar.”

Antes de vir para a Ásia trabalhar, Julien passou por vários restaurantes no seu país de origem. Aqui pretende introduzir os seus conhecimentos de pastelaria francesa ao público chinês, mas sem os assustar com os sabores demasiado doces. O equilíbrio, garante, é o segredo.

“Cada país tem os seus próprios sabores no que diz respeito à pastelaria. Normalmente, buscamos o sabor doce e procuramos um equilíbrio entre a acidez e o sabor do açúcar. Como adaptamos isso ao mercado chinês? Estou a descobrir isso agora, porque na Europa incorporamos muitos sabores asiáticos na comida, trabalhamos com temperos japoneses, que podem ser picantes. Estou a lembrar-me do açafrão, por exemplo.”

Adaptar e ajustar são palavras que estão sempre presentes no vocabulário de Julien Jacob. “Quando faço a clássica pastelaria francesa tento sempre ajustar as minhas receitas ao mercado e às pessoas. Qualquer pessoa pode descobrir novos elementos, novas formas de cozinhar. Às vezes incorporamos outros ingredientes. Queremos trazer um equilíbrio em termos de sabores e manter sempre um toque asiático também,” conta.

Um dos grandes desafios que o chefe de pastelaria sentiu em Macau foi o clima, que torna mais difícil o seu trabalho. “O grande desafio que enfrentamos aqui é o clima, pois o tempo é muito húmido e isso influencia a forma como confeccionamos e mantemos as sobremesas. Quando vim para a Ásia todas as minhas receitas tiveram de ser ajustadas por causa disso. Macau , na verdade, é um mercado muito aberto e podemos ter acesso a ingredientes de todo o mundo, e o grande desafio é mesmo a humidade. Mas na verdade aprendi com isso”, frisou.

Algo “especial”

Julien Jacob poderia ter optado por ser um chefe de cozinha, mas a pastelaria seduziu-o desde cedo. “A pastelaria é especial porque existe em todo o tipo de gastronomias do mundo. Se formos à cozinha chinesa, temos pastelaria chinesa. Se formos à cozinha italiana, também encontramos sobremesas italianas. É um dos poucos segmentos da culinária que cobre todas as áreas.”

Em Macau já criou novas receitas com ingredientes famosos, como o matcha, um pó verde japonês muito em voga e que é usado em vários pratos e bebidas. “Já criámos imensas receitas. Podemos ser criativos em todo o lado.”

A adorar a sua experiência no território, Julien Jacob pretende ficar deste lado do mundo por mais um tempo.

“Traço os meus próprios objectivos, e posso mudar-me de acordo com o meu próximo objectivo. Para já, quero ficar aqui, neste restaurante, este ano. É a minha meta pessoal e estou a trabalhar para ela. Normalmente, fico três a quatro anos num sítio, gosto da minha vida aqui e da rede social que tenho. Não sei o que vai ser daqui a dois ou três anos, mas, por enquanto, quero ficar. Adoro Macau.”

2 Mar 2018