As lágrimas de Costa

Não foram lágrimas de crocodilo. O primeiro-ministro António Costa emocionou-se no momento em que a sua bancada parlamentar o aplaudiu em pé durante vários minutos como sinal de gratidão, na última sessão no Parlamento na qualidade de chefe do Executivo oficialmente eleito. António Costa emocionou-se por culpa própria. Como todos sabemos estamos perante um político muito experiente e que começou a ouvir falar de política em criança porque o seu pai era comunista.

António Costa exerceu os mais variados cargos, nomeadamente presidente da Câmara de Lisboa, deputado e ministro da República. Costa esteve a governar durante oito anos e ultimamente percorreu os corredores do palácio de S. Bento com maioria absoluta. No entanto, a sua culpa deveu-se às suas próprias escolhas de colaboradores. Teve no Governo ministros, secretários de Estado e assessores que pediram a demissão ou foram excluídos da máquina governativa. Escolheu um chefe de Gabinete socratista que já tinha um passado cheio de ilegalidades. A sua escolha foi o seu fim de ciclo.

Das duas, uma. Ou António Costa se precipitou ao pedir a demissão ao Presidente da República ou sentiu que estaria envolvido, ou envolveram-no alegadamente em negociatas à margem da lei. A investigação que decorre no Supremo Tribunal à sua pessoa dará resposta e esta nossa dúvida. É do conhecimento geral que a corrupção grassa na governação nacional e regional. Cada vez mais temos autarcas que são obrigados a deixar o cargo devido a peculato, falsificação de documentos ou recebimentos ilícitos.

A corrupção tem sido o grande cancro da gestão nacional de quem tem poder. E António Costa para pedir de imediato a demissão assim que a Procuradoria Geral da República incluiu o seu nome num comunicado que salientava a existência de investigações a ilegalidades, deixou os portugueses perplexos. A maioria gostava de Costa e deu-lhe uma maioria absoluta por confiar na sua seriedade e na sua experiência. No decorrer da sua carreira política nunca lhe foi apontado o dedo para um qualquer caso à margem da lei. O que se sabia era que confiava em demasia nos seus colaboradores e deixava alguns em roda livre.

Tal como aconteceu com Pedro Nuno Santos e João Galamba. Nuno Santos teve a pouca vergonha de decidir sozinho, sem dar conhecimento ao primeiro-ministro, a localização do novo aeroporto de Lisboa com a agravante de anunciar a continuação do aeroporto Humberto Delgado, a existência de um pequeno aeroporto no Montijo e um de grande envergadura em Alcochete. Logo não faltaram os críticos que o governante se tinha deixado corromper. António Costa anulou de imediato o despacho do seu ministro das Infraestruturas e mais tarde, o mesmo ministro, meteu os pés pelas mãos no caso da TAP e acabou por se ir embora. Este era o estilo de colaboradores que António Costa tinha na sua governação.

Possivelmente veio a pagar caro por tudo isto e só nos falta saber se esses mesmos colaboradores o entalaram numa teia que se sabia ser generalizada em tudo o que fosse projectos de grande envergadura como o caso do hidrogénio em Sines e do lítio no norte do país. Na classificação dos países onde existe mais corrupção, Portugal está nos lugares cimeiros. Ora, voltamos ao mesmo, ou Costa deixava que os seus ministros, e o seu maior amigo Lacerda Machado, fizessem o que queriam e não tinha conhecimento ou, então, sabia de tudo e será julgado pela justiça.

Inacreditavelmente é esse mesmo Pedro Nuno Santos que se candidata à liderança do Partido Socialista e as sondagens indicam que poderá derrotar José Luís Carneiro. Se Nuno Santos vier a ser líder dos socialistas e futuro primeiro-ministro não nos admirávamos nada se um dia assistíssemos à demissão de outro primeiro-ministro…

Há quem comente que António Costa não merecia sair em lágrimas. Que deixou um legado positivo. Que o país está melhor. Que conseguiu controlar o deficit e baixar a dívida pública. Que foi o único primeiro-ministro que ajudou os portugueses em dificuldade de pagar o arrendamento das suas casas, portugueses esses que recebem e vão receber durante cinco anos a quantia mensal de 200 euros. Os seus contactos internacionais foram aplaudidos pelas mais diferentes personalidades políticas.

Portugal está melhor com menos desempregados, isso é inegável, mas Costa obviamente que cometeu erros como todo o cidadão, mesmo que não seja governante. O país vai para eleições legislativas antecipadas em 10 de Março do próximo ano e ainda não sabemos quem é o novo secretário-geral socialista que irá defrontar o cavaquista Luís Montenegro.

O país também não merecia isto, não temos poder financeiro para estar constantemente a gastar milhões de euros em eleições e se muita gente já anda farta dos políticos e a extrema-direita está a avançar por todo o lado, é preciso moralizar o sistema e voltar a dar confiança aos portugueses, mas na nossa modesta opinião não será com criaturas como Nuno Santos à frente de um Governo que a agulha mudará o carril. Despedimo-nos de António Costa agradecendo o que muito fez pelos seus compatriotas e simultaneamente condenamo-lo por ter sido tão ingénuo ou sem liderança no que lhe era devido.

4 Dez 2023

Banco alimentar ajuda a pagar a casa

Todos conhecemos Christine Lagarde, a senhora que mais parece um homem, que é a presidente do Banco Central Europeu e que tem deixado milhares de famílias em pânico com a subida das taxas de juro, o que provoca o aumento da prestação das casas que foram compradas através de crédito bancário. Especialmente os casais jovens que compraram casa têm andado numa roda viva para conseguirem pagar a prestação da casa que adquiriram. No entanto, na semana passada chegou-nos uma informação quase inacreditável que fomos confirmar e que dizia respeito a muitos casais jovens que estavam a usar o Banco Alimentar contra a fome para poderem fazer frente ao pagamento da prestação mensal de suas casas.

Dirigimo-nos a Alcântara, onde está situado o Banco Alimentar e confirmámos que o número de casais que recolhem alimentos tem aumentado nos últimos meses. Um aumento que se deve a esses casais não poderem gastar dinheiro na alimentação para guardar o dinheiro para pagar a casa ao banco onde realizaram o contrato de compra. Tentámos ver alguém nesta situação e conseguimos falar com Daniela e Fernando que saiam com sacos cheios de géneros alimentícios. Mantivemos uma conversa e Daniela começou por nos confirmar que tinam vindo ao Banco Alimentar porque tinham dois filhos menores e o dinheiro não chegava para pagar as despesas, muito menos para uma alimentação digna para o conjunto familiar.

“Comprámos a casa e a prestação tinha um valor acessível, mas com o aumento das taxas de juro anunciadas pela presidente do Banco central Europeu, a nossa prestação da casa passou quase para o dobro… a vinda aqui ao Banco Alimentar é a nossa salvação, pois não temos dinheiro suficiente para os comestíveis”, disse-nos Daniela e o marido Fernando retorquiu: “Não sei onde vamos parar. Nós e milhares de famílias. Alguns dos nossos amigos já venderam a casa. A inflação para os dois por cento no segundo semestre de 2025… como se atreve a falar assim se continuamos com a inflação alta e podendo subir a qualquer momento. Os dois por cento quanto a mim nem a sonhar. Ela só soube aumentar as taxas de juro e os jovens recolheram-se em casa dos pais. Nós é que sofremos e de que maneira. É um facto real a sua pergunta no sentido se vimos aqui ao Banco Alimentar porque o rendimento não chega para enfrentar as despesas da família. Não tenho vergonha em vir buscar comida e outros géneros, como compotas e enlatados para que os nossos miúdos não passem dificuldades”, salientou Fernando que nos acrescentou que já venderam o carro e que por sorte o pai da Daniela emprestou-lhes um automóvel já velhote, mas que dá perfeitamente para irem carregar os alimentos. De resto, usam os transportes públicos.

E é este país que temos. Jovens que sonharam ter a sua casinha e que se vêem a braços com uma prestação que aumenta a toda a hora e que torna impossível manter a situação. Tudo isto com a banca a dar milhões de lucro e toda “contentinha” a ganhar milhões na venda das casas que são entregues ao banco por incumprimento do pagamento acordado.

A prestação da casa ao banco continua a subir. Em alguns empréstimos, significa uma subida de quase 60 por cento na prestação. Comprar casa é cada vez mais difícil e exige um esforço cada vez maior. A perda de poder de compra e a subida acentuada dos juros dificultam o pagamento dos empréstimos. Os bancos já estão a registar uma queda no número de pedidos para a compra de casa.

A escalada dos juros continua (e parece ter vindo para ficar), o que significa que a prestação da casa a pagar ao banco não para de aumentar. Em Julho, a prestação média do crédito habitação fixou-se em 370 euros, mais nove euros que em Junho e mais 106 euros que em Julho de 2022. Trata-se de um aumento de 40,2 por cento em termos homólogos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Considerando a totalidade dos contratos, dos 370 euros de prestação, 204 euros (55 por cento) correspondem a pagamento de juros e 166 euros (45 por cento a capital amortizado). Neste sentido, como é que não havemos de assistir cada vez mais os nossos jovens a emigrar? A compra de casa passou a ser um luxo para ricos.

28 Nov 2023

O imprudente obviamente ruiu

Podem não acreditar, mas José Sócrates continua na berlinda. Em Portugal, na semana passada, rebentou a “bomba” que há muito se esperava. O primeiro-ministro António Costa pediu a demissão ao Presidente da República, este aceitou, ouviu os partidos políticos e o Conselho de Estado e marcou eleições legislativas para o próximo 10 de Março.

O país ficou atónito, ninguém estava à espera que as palavras sem pudor escritas numa rede social pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça salientando que o país era um antro de corrupção, viessem a terreiro tão depressa provocar a queda de um governo de maioria absoluta. Naturalmente que o senhor presidente do Supremo Tribunal já sabia de tudo, até porque as investigações do Ministério Público (MP) começaram em 2019 com a tal história do ministro João Galamba e as minas de exploração de lítio.

Vamos aos factos: primeiramente ao imprudente-mor, o primeiro-ministro António Costa. Como é possível que um homem com tantas décadas de vida política nos mais diversos cargos e tendo enfrentado “guerras” com António José Seguro e José Sócrates, tenha escolhido para o seu governo vários socratistas?

Como é possível que António Costa imprudentemente, ou não, tenha escolhido para chefe de Gabinete um indivíduo socratista até à quinta casa que só tem tido problemas de ilegalidades e ainda por cima escondia o dinheiro que ia sacando entre os livros e caixas de garrafas de vinho, como foi descoberto no seu gabinete do Palácio de São Bento? António Costa, das duas, uma. Ou é mesmo um imprudente nato ou quis que se realizassem as mais diferentes negociatas nos mais diversos projectos em curso. A que propósito é que a “imprudência” de António Costa chega ao ponto de introduzir o seu melhor amigo, Diogo Lacerda Machado, – que por sinal esteve em Macau, tal como outro atingido neste imbróglio político, Jorge Oliveira – em todos os meandros e decisões a tomar pelo Governo?

Lacerda Machado é suspeito de ter corrompido gravemente o chefe de Gabinete, Vítor Escária, do primeiro-ministro. Bem, sobre suspeitas estamos atordoados. Então, eu que sou um simples cidadão e sou informado que só por escrever umas coisitas incómodas para este regime de corruptos e de incompetentes tenho o meu telefone sob escuta, como é que um assessor ministerial, um chefe de Gabinete, um secretário de Estado, um ministro e um primeiro-ministro se põem a falar ao telefone de factos graves, alguns ilegais e que alegadamente os colocam sob suspeita de corrupção, não pensando que estarão as suas conversas a ser gravadas?

Neste particular, por acaso a montanha pariu um rato porque as escutas que o MP apresentou aos advogados de defesa dos detidos não há matéria nenhuma que possa incriminar os seus clientes e outros arguidos como ministros, autarcas e empresários. Aliás, o triste último parágrafo do comunicado da Procuradoria-Geral da República, focando a suspeita sobre o primeiro-ministro e que ao fim e ao cabo derruba um governo de maioria absoluta é de uma gravidade tal, que levou um dos comentadores televisivos a dizer que tudo isto se tratou de um golpe de Estado constitucional.

E por outro lado, o MP também deixou atónitos todos os observadores políticos quando entra pela primeira vez na história da democracia em 50 anos, pelo Palácio de S. Bento a dentro com a PSP. PSP? Porquê? Se a Polícia Judiciária é que é a instituição para investigar e realizar buscas do foro criminal? O país ainda tem muita sorte em não assistir a uma greve indeterminada dos inspectores magoados e enxovalhados da Polícia Judiciária.

A história desta demissão do primeiro-mistro mais “imprudente” da política portuguesa por se ter rodeado por todos os lados de socratistas, que têm um curso superior de corrupção, será feita daqui a 10 ou 20 anos, possivelmente com o conhecimento de factos que hoje em dia não passam de conspirações, nomeadamente uma vingança do Presidente Marcelo, ou do antigo primeiro-ministro José Sócrates que ia tendo toda a informação dos cambalachos ministeriais, ou ainda de alguém muito importante na Comissão Europeia que não estava nada interessado em ver António Costa no topo da política europeia com um cargo em Bruxelas.

A verdade histórica vai demorar a ser conhecida. O que não demorou nada foi o povo estranhar como é que António Costa nomeia “imprudentemente” João Galamba para ministro das Infraestruturas, uma pasta que mexe com milhares de milhões de euros e depois não o demite quando o Presidente Marcelo assim o solicitou. O que é certo é a existências de muitas nuvens escuras em todo este baralho de compadrios entre ministros e autarcas, gabinete do primeiro-ministro e o maior amigo de António Costa, a aprovação de projectos megalómanos e sem viabilidade futura como o lítio e o hidrogénio. Um governo de maioria absoluta que ruiu deixando muita gente sem dormir.

As nossas fontes indicam-nos que há centenas de políticos envolvidos nos cambalachos, mas que o MP, nem com as escutas, os vai conseguir meter na prisão. Resta-nos saber quem será o novo líder do PS e se o PSD cai em si e decide fazer o mesmo, porque com Luís Montenegro perderá as eleições pela certa. Há muito que sabíamos que nada em Portugal acontecia com transparência, sem suspeitas de corrupção e compadrio. Os casos sucederam-se. Chamaram-lhes “casos e casinhos” e o povo tristemente a olhar para tudo isto e a ficar cada vez mais sem poder pagar a casa, dar escola aos filhos e até comprar medicamentos.

13 Nov 2023

Pais destroçados por burlas

É possível que esteja a acontecer a nível mundial, mas em Portugal o fenómeno está a generalizar-se e a deixar mães e pais completamente destroçados devido às burlas de que são alvo de uma forma que engana especialmente os mais intimamente ligados aos filhos. Eu explico: acontece por quase todo o país que uma mãe ou um pai recebe uma mensagem no telemóvel deste género: “- Olá mãe, o meu telefone avariou e estou a falar-te aqui por outro de um amigo. Desculpa, estar a incomodar-te, mas tive aqui um problema e precisava da tua ajuda.” A mãe responde: “- Então, Ricardo o que te aconteceu? Ó querido mas do que é que precisas?”

Os filhos normalmente estão longe. Se os pais vivem no Porto, o filho pode estar a estudar ou a trabalhar em Lisboa, em Londres, Paris, Dubai ou outra qualquer cidade do estrangeiro. E o diálogo, via mensagem por telemóvel continua: “- Não te preocupes, mãe. Eu depois explico-te. Só que agora tenho mesmo que resolver este problema e agradeço que me faças uma transferência de 950 euros para a conta que eu te vou dar. Obrigado, querida mãe.”

A mãe, amedrontada responde: “- Mas querido Ricardo porque tem de ser para outra conta que não a tua habitual?” Resposta: “- Mãezinha, a minha outra conta foi bloqueada, depois explico-te tudo e amanhã mesmo devolvo-te os 950 euros. Peço-te o grande favor que envies pelo multibanco para a conta FT40 3356 0000 425400981 830 6.”

A mãe, que adora o seu Ricardo, sem pensar em mais nada, apenas que o seu filho deve estar a passar por um problema grave e que terá de lhe resolver de imediato o problema, sai pela porta fora e dirige-se à primeira caixa ATM que encontra e transfere para a conta indicada os 950 euros. Pronto. A burla está consumada. Não se tratava de filho nenhum.

A mãe saudosa não pensou duas vezes. Parar um pouco para pensar, olhar para o visor da linha whatsApp, ver o número de telefone que podia observar no cimo do visor. Responder que iria ligar-lhe para falar com o filho de viva voz e ainda cometeu um erro fatal em pronunciar logo o nome do filho, algo que nunca se deve fazer.

Casos como este estão a acontecer todos os dias nas mais diversas localidades. As nossas fontes na Polícia Judiciária informaram-nos que é um caos o que está a acontecer. O pai ou a mãe que estão a receber mensagens no telemóvel, na sua grande maioria acredita de imediato que é o filho que está a escrever-lhe em aflição. O sentimentalismo e o amor dos pais são de tal forma que se dirigem em acto contínuo a uma caixa de multibanco para transferir as diferentes quantias solicitadas pelos burlões.

É inacreditável o que está a acontecer. Uma senhora que conhecemos, viúva, que vive de uma reforma muito baixa, foi abordada por um falso filho, cujo verdadeiro filho reside em Inglaterra, e transferiu 350 euros ficando doze dias sem praticamente comer ou fazer frente a outras despesas.

Desde já, aviso os amigos leitores que tomem uma especial e profunda atenção a casos como este. Se receberem uma mensagem do vosso “filho” que se encontra em Hong Kong, Austrália, Canadá ou Tailândia, não respondam nem mantenham diálogo.

Liguem de imediato para o vosso filho e confirmarão que estavam a ser alvo de uma burla. Estes casos são graves porque o instinto paternal decide que o apoio tem de ser dado de imediato ao querido filho e os burlões estão precisamente a aproveitarem-se dessa particularidade para conseguirem o objectivo e ganhar muito dinheiro. Uma das nossas fontes policiais informou-nos que pelas suas estatísticas existem indivíduos que estão a obter cerca de 5000 euros por dia e que em Portugal a rede mafiosa está a obter cerca de 1 milhão de euros por mês. Quase inacreditável.

Trata-se de um fenómeno horrível, de aproveitamento total do amor paterno e da inconsciência e desconhecimento tecnológico da maioria das pessoas atingida. Aqui fica um aviso sério, mas essencialmente a constatação de um fenómeno que está a deixar muitas famílias destroçadas assim que sentem que foram roubadas.

6 Nov 2023

11 mil sem-abrigo em quatro anos

Antes de mais, quero informar-vos que hoje faz três anos que este jornal único no panorama do jornalismo e do grafismo português publica os meus textos. O meu agradecimento ao director Carlos Morais José e aos leitores.

Não fazia a mínima ideia do que poderia escrever sobre o que acontece em Portugal se passamos todo o tempo a ouvir os canais de rádio e televisão a falarem do conflito Israel-Palestina em sessões contínuas de 24 sobre 24 horas. Naturalmente, que Portugal vive com crises na Saúde, no Ensino e no tecido social. O que mais me chocou na semana passada foi a informação de que os sem-abrigo aumentaram 78 por cento em quatro anos por todo o país: são cerca de 11 mil, entre homens, mulheres, jovens, idosos, estrangeiros e famílias inteiras. Precisamente na mesma semana em que me deparei com um jovem deitado na rua, na entrada de um prédio, com um copo de plástico à sua frente. Parei impressionado, deixei algum dinheiro no copo e o jovem abriu os olhos. Perguntei-lhe porque era sem-abrigo. Respondeu-me que os pais o expulsaram de casa ao terem conhecimento que andava a consumir drogas. O jovem é licenciado em gestão e após dormir na rua e lavar-se na casa de banho de um café, vai trabalhar numa empresa média a recibos verdes.

Ainda me recordo quando o Presidente Marcelo andou pelas ruas de Lisboa a contactar com sem-abrigo e afirmou que iria terminar com esta tragédia. Passaram mais de dois anos e o que constatamos é que cada vez mais assistimos a compatriotas a dormir na rua. Nem todos são drogados ou alcoólicos, foram despejados por não conseguir pagar a renda ou ficaram desempregados e após um litígio com a mulher, ela pô-lo fora de casa. Os dramas são da maior variedade e a realidade é que o governo fala muito do problema da habitação, mas não vimos construir casas de renda acessível ou moradias pequenas para quem nada tem.

11 mil a mais em quatro anos a dormir nas ruas é trágico e o pior é que nada acontece. Os turistas passam, olham, comentam e não acreditam que a capital lisboeta tenha tanta gente na miséria. As tendas de lona têm aumentado por todos os bairros e albergam pais e filhos que ficaram sem casa por não conseguir pagar a prestação do imóvel que tinham adquirido com crédito bancário. No entanto, estes números que vos apresento reportam-se a 2022 e sabemos que este ano houve um aumento substancial de sem-abrigo.

O número de sem-abrigo aumentou bastante e foi transversal, de portugueses a estrangeiros, de jovens a idosos. Só este ano registaram-se mais cerca de 25 por cento, essencialmente devido ao agravamento das condições de vida, à imigração e ao aumento de consumo de drogas. Em Lisboa, nunca vimos tantas tendas. E o fenómeno dos sem-abrigo mudou. Antes, eram essencialmente homens com problemas de saúde mental ou dependência. Agora o perfil é muito variado. Há famílias inteiras sem casa. Gastam-se milhões de euros e as pessoas continuam na rua ou num umbral de uma porta de um prédio dependentes da caridade dos transeuntes. Há quase 11 mil sem-abrigo nos últimos quatro anos e o PRR (ajuda europeia) não tem um euro para lhes dar casa. O único dinheiro que existe é para respostas de emergência e temporárias. Continua-se a falhar na resolução do problema.

Segundo Renato Alves, da Comunidade Vida e Paz, as respostas que existem não chegam para todas as pessoas actualmente a viver na rua. “Os centros de acolhimento estão cheios. Temos uma unidade para 40 pessoas sempre lotada. E as instituições estão a atravessar muitas dificuldades pela subida de custos, ausência de apoios e descida de donativos.”

No passado Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, o Presidente Marcelo pediu novas abordagens e modelos de acção no combate à pobreza, alegando que o país não se pode conformar com quase dois milhões de pobres. Mas, na minha óptica a ferida que foi aberta entre Belém e S. Bento deve ter levado as palavras do Presidente da República a entrarem por um ouvido do primeiro-ministro e a saírem pelo outro. O governo sabe que a pobreza e a situação dos sem-abrigo são uma chaga na governação do país e, contudo, continuamos a assistir a vidas miseráveis de reformados que auferem uma pensão entre 150 e 400 euros. São milhares de famílias que não podem pagar renda de casa, não podem comer dignamente, não podem comprar medicamentos, não podem pagar a água e a luz e no meio disto tudo, temos o nosso “ilustre” jornalismo apenas preocupado com os “terroristas” do Hamas, existindo jornalistas a quem devia ser retirada a Carteira Profissional por apenas tomarem posição a favor de Israel.

30 Out 2023

A guerra do orçamento de Estado

Portugal, e o mundo, passou os dias da semana passada a assistir assustadoramente à invasão do Hamas a território israelita e aos bombardeamentos de Israel à Faixa de Gaza, conflito que certamente irá durar muitas semanas. Entretanto, o ministro das Finanças, Fernando Medina, veio anunciar as principais medidas do Orçamento do Estado para 2024. Uma verdadeira panóplia de divergências. Que estranho é para o observador independente que o Orçamento do Estado tenha merecido a crítica atroz de todos os partidos políticas da extrema direita à extrema esquerda, excepto obviamente do Partido Socialista.

A estranheza deve-se apenas à dúvida latente se um Orçamento do Estado não tem nada de positivo para bem do povo. Naturalmente que tem. Os partidos políticos que fazem oposição à maioria absoluta socialista não sabem minimamente esclarecer os potenciais seus militantes. Só dizer mal, por vezes, paga-se muito caro e não será por acaso que nas últimas sondagens, o PSD tem o pior resultado da sua história na tendência de voto dos potenciais eleitores.

O Orçamento do Estado tem efectivamente, dentro dos limites que é possível, muitos benefícios para a população, designadamente para os sectores críticos da Saúde, Educação e Habitação. Aumenta os salários dos funcionários públicos, mantém o apoio ao pagamento das rendas de casa das famílias que se encontram em dificuldade e apresenta uma série de medidas estruturais que vários economistas e empreendedores já aplaudiram.

Não se pode pegar na crítica por dá cá aquela palha e anunciar em alta voz, em certos casos, com laivos de histeria, que o orçamento é uma decepção, sem pensar calmamente que todo um processo de enquadramento financeiro para um orçamento estatal deriva das possibilidades que a União Europeia concede. O Governo mexeu em termos positivos no IRS para jovens, o que levará muitos deles a não abandonar o país.

Apresenta um plano, pela primeira vez, para a construção de centenas de habitações para jovens e não só. Um qualquer governo merece crítica acérrima quando entra na asneira ou na incompetência. Ora, um Orçamento do Estado é um documento que leva meses a executar com a maior dificuldade no acordo entre Ministérios. O primeiro-ministro António Costa salientou que é o Orçamento do Estado possível. A única coisa de que pode ser criticado é que dá com uma mão mas retira com a outra.

No Orçamento do Estado para 2024 naturalmente que nem tudo são rosas. Veremos: o Estado vai cobrar em impostos 167 milhões de euros por dia. Segundo o PSD os impostos vão subir de 24,9 para 25, 2% do PIB. 60 mil milhões de euros é o valor a ser cobrado em 2024; Pobrezinhos mas, cada vez, menos caloteiros. A dívida pública, em 2024, vai ficar nos 98,9% do PIB. Vamos pagar menos pelo custo do dinheiro. Se em 2024 tivéssemos a mesma dívida de 2015 cada português teria de pagar em 2024, 230 euros. Afinal, os críticos terão de meter algo dentro do saco porque relativamente aos funcionários públicos é claro que haverá um benefício significativo: os funcionários públicos vão ser aumentados entre 3% e 6,8%. Têm direito a 715 milhões de euros no próximo ano.

O problema que mais tem dado que falar é o que referimos anteriormente em que os críticos do Governo acusam que o orçamento dá com uma mão e tira com a outra devido aos impostos indirectos. São aqueles impostos, quase invisíveis. As taxas nos produtos dos supermercados, na gasolina, no tabaco, no IUC dos carros e aqui é que torcemos o nariz porque o aumento é de 8,9%. Se o povo quer poupar terá de ir menos ao supermercado, terá de andar menos de carro, terá de deixar de fumar e beber menos.

Vejam só os números dos aumentos: IVA cresce 7,9 %, o imposto nos produtos petrolíferos sobe 13,4%, o tabaco tem um aumento de 14%, o álcool vai subir 17, 4%. E finalmente o IUC dos carros anteriores a 2007 terá uma subida de 21%, o que leva as pessoas a pensar que a intenção é acabar com os carros com mais anos e que o povinho compre um carro novo. Como é isso possível, se quem tem um carro comprado antes de 2007 mal tem dinheiro para o manter?

Por outro lado, o investimento público cresce 24,2%. Sendo assim, vamos esperar que os serviços estatais comecem a servir o público com o mínimo de dignidade, sem longas esperas, sem não atenderem os telefones e sem abordarem o público com sete pedras na mão. E acima de tudo, esperemos que a Polícia Judiciária deixe de responder a uma queixa-crime que um cidadão apresente, só ao fim de dois ou três anos, porque a PJ é quem mais vai receber, nada mais que 282 milhões de euros.

Quanto ao problema dos professores podem esperar sentados no que respeita aos seis anos, seis meses e 23 dias que pretendem receber. Em 2024, os professores que sejam colocados em Lisboa ou Algarve e a sua residência fique a mais de 70 quilómetros podem candidatar-se a um subsídio de habitação. E vivó velho. Muitos professores deveriam pensar bem se não valeria a pena irem leccionar para Macau, que está com dificuldades de docentes na Escola Portuguesa, devido à falta de residência, mas que pensamos ser uma obrigação da Fundação da Escola Portuguesa arranjar casas para professores.

Enfim, foi uma semana em que as televisões misturaram Orçamento do Estado com massacres e invasões no Médio Oriente, quando a verdadeira guerra esteve em Portugal entre a classe política. Tristemente.

16 Out 2023

Estrangeiros na tropa é uma aberração

Não sei que ideias mais absurdas podem aparecer na esfera política deste país. No âmbito das Forças Armadas, ao nível dos quadros superiores reina a revolta com a ideia que tem sido gerada de aceitar nas Forças Armadas cidadãos estrangeiros – atribuindo-lhes, em troca do serviço, cidadania, e ultrapassando assim a necessidade de haver revisão constitucional, porque a nossa Constituição é peremptória: só cidadãos portugueses podem integrar as Forças Armadas.

Toda esta ideia absurda deve-se à diminuição gradual de jovens interessados em integrar as Forças Armadas. Porquê? Porque precisamente o Ministério da Defesa não modifica a actual situação miserável dos militares que obtém um salário baixo e não têm condições sociais para manter a família.

A ideia absurda tem ganho força na bancada parlamentar do PS com o presidente da Comissão de Defesa, Marcos Perestrelo, a mostrar-se favorável ao ingresso de estrangeiros sem sequer colocar o domínio do português como dever necessário. Por outro lado, o major-general Vieira Borges concorda com a ideia desde que apenas fosse restrita a cidadãos da CPLP.

Por seu turno, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa já se mostrou mais favorável à ideia, mas tem vindo a regredir a sua posição, parecendo agora aproximar-se da ministra da Defesa, que é cautelosa quanto à solução. Naturalmente que a ministra tem de ser cautelosa, porque para sermos sérios, o que aconteceria era darmos a cidadania portuguesa a mercenários. Um outro socialista, Pedro Pinto, nem lhe interessa a origem dos mercenários, apenas o domínio da língua portuguesa.

Marcos Perestrelo, por exemplo, não concretiza em que moldes se daria a obtenção de cidadania, alegando que é preciso reflectir. Sem se comprometer com uma ideia concreta, ressalva que no processo de obtenção da nacionalidade, a questão da língua é relevante, mas ainda assim refere-se-lhe como uma barreira ultrapassável. Para Perestrelo, a atribuição de cidadania a estrangeiros que quiserem integrar as Forças Armadas portuguesas seria, em abstracto, a melhor solução – escusando-se assim a uma revisão constitucional e ao apoio do maior partido da oposição, o PSD.

O major-general Vieira Borges propõe que, no âmbito da CPLP, se abra um regime especial para aqueles que queiram ingressar nas Forças Armadas. Os pretendentes devem estar, segundo este militar, pelo menos, um ano em Portugal – que lhes garantirá a dupla cidadania – e depois cumpridos todos os requisitos ordinários para entrar nas Forças Armadas (nomeadamente habilitações literárias), poderão tentar alistar-se. A proposta de Vieira Borges é mais conservadora do que as ideias de Perestrelo ou Sousa Pinto. E por que razão especificamente um ano? O militar afirmou que seria o mínimo para alguém perceber o país. Mas, estará à espera que uns fulanos que vêm enfiar-se nas Forças Armadas apenas porque precisam de dinheiro, autênticos mercenários, estejam muito interessados a gastar tempo em “perceber” o país? Há cada lírico.

Desde que cumprimos o serviço militar que conhecemos muitos militares e militares na reserva e contactámos alguns. Todos foram unânimes em discordar da ideia de contratar estrangeiros. Um deles, mostrou-me um jornal com declarações do capitão de Abril, Vasco Lourenço. Lourenço não tem papas na língua afirmando: “Acho uma aberração só própria das mentes que não têm a mínima ideia do que é a instituição militar em Portugal”.

E acrescenta: “Um indivíduo que venha para o serviço militar de um país a que não pertence é um mercenário, não posso chamar outra coisa”. Lourenço ressalva não ter problemas em que portugueses nacionalizados se alistem no Exército, mas observa que esta cidadania não deve poder ser adquirida de um dia para o outro”. Questionado sobre o argumento da lusofonia, Lourenço é determinante: “No grupo Wagner também devem falar várias línguas. Não brinquem comigo, ou são portugueses ou são mercenários. Uma coisa são Forças Armadas, outra são forças com armas”, considerou.

Por fim, o presidente da Associação 25 de Abril rematou: “Criem condições para que as Forças Armadas se sintam prestigiadas e que, quando saem do país, fiquem com as costas familiares protegidas. Façam isso e as Forças Armadas podem voltar a ter mais efectivos do que os necessários”.

Estamos perante uma ideia, verdadeiramente absurda e que deve ser rejeitada por todos os portugueses. Portugal não precisa de mercenários. O único factor que realmente mobilizará os jovens a ingressar no Exército, Marinha ou Força Aérea é a mudança de paradigma que se tem de registar nas condições remuneratórias dos militares e acabar com os quartéis onde as camaratas, casas de banho e a generalidade das instalações nem para porcos serviriam.

9 Out 2023

O surrealismo do PSD

No momento em que escrevemos este texto as sondagens indicam que nas eleições da Madeira, o PSD poderá vencer por maioria absoluta. Numa ilha onde o caciquismo político reina desde o 25 de Abril e onde existem mais bairros de pobres que hotéis de luxo, vivendo a região autónoma, à base do turismo. É com essa política de caciquismo que o PSD tem saído vencedor e onde Alberto João Jardim fez o que lhe apeteceu mas sempre pedindo de mão beijada milhões de euros aos governos da República. Uma República que assiste à maior crise no interior do PSD.

Os sociais-democratas, com as suas diferentes facções, não descansaram enquanto não mandaram embora um homem sério e activo como Rui Rio e que escolheram para líder Luís Montenegro que tem chefiado o partido há 18 meses sem apresentar uma alternativa para um dia poder vir a ser primeiro-ministro. É nas hostes do PSD que temos ouvido dizer que com Luís Montenegro o partido não vai lá e é assim que a toda a hora sonham com o “D. Sebastião” de nome Passos Coelho para voltar a chefiar os destinos do partido. Como é que Passos Coelho pode ser o “desejado” se o povo ainda não esqueceu a sua governação onde tudo foi mau e em prejuízo dos mais desprotegidos?

No PSD assiste-se ao surrealism total onde cada um quer tudo, e nada acertado apresenta. Até apareceu um Poiares Maduro a propor que fosse retirado o subsídio de Natal aos reformados. Isto, até é ofensivo quando temos portugueses a receber reformas de 150, 200 e 300 euros.

A bancada parlamentar do PSD em confronto com o Governo nos vários debates apenas tem sabido manifestar contradição com as propostas governamentais, mas alternativas viáveis nunca se ouviram. Com um líder parlamentar fraquíssimo, o que se assiste é a António Costa, como primeiro-ministro, sair do Parlamento todo satisfeito pelas posições que toma com frontalidade e lógica, dentro dos parâmetros em que é possível financeiramente governar, apesar das críticas da oposição que o dinheirão que veio da Europa em forma de PRR não ser aplicado no desenvolvimento estrutural do país.

O que acontece no PSD é que assiste ao Iniciativa Liberal e ao Chega a cativarem cada vez mais adeptos, os quais vêm da área do PSD. Segundo as últimas sondagens, que valem o que valem, o Chega e o IL podem vir a ter juntos maior percentagem eleitoral que o PSD e, isso, seria um descalabro para quem se arvora em afirmar ser o maior partido da oposição.

O PSD bem tenta puxar todos os “senadores” para a ribalta da propaganda, tais como Marques Mendes que anda a ser levado ao colo pelo Presidente Marcelo a fim de o candidatar a seu successor, Durão Barroso o tal primeiro-ministro que abandonou os portugueses para ocupar cargos de remuneração choruda na Europa, Pedro Santana Lopes que à frente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa saiu com uma fama desastrosa devido à péssima gestão e o surrealismo do outro mundo chamado Aníbal Cavaco Silva. Este último, teve o desplante e a pouca vergonha de lançar um livro onde tenta ensinar como se deve ser primeiro-ministro. Bem, é melhor rirmos do que chorarmos, quando nos lembramos que Cavaco Silva foi dos piores primeiros ministros que Portugal teve.

Em entrevista encomendada a um semanário, Cavaco Silva não deixou de sublinhar, como piadas ao actual primeiro-ministro, que se existe um ministro sem bom senso deve ser demitido. Mas, o que será isso do bom senso à frente de um Ministério? Depois, acrescentou que se um ministro for mal educado igualmente tem de ser demitido. Será que Cavaco Silva entrou já na fase da senilidade e não se lembra de quantos ministros teve nos governos que chefiou que foram uns mal educados, arrogantes e incompetentes? O seu livro é um chorrilho de disparates a querer ensinar tudo aquilo que não praticou e é por essa razão que os cidadãos que normalmente votavam no PSD estão virados para o IL, Chega e alguns mais realistas pensam em votar no PS.

A política portuguesa está inacreditavelmente perturbadora porque se o PCP está a perder votos por apoiar a Rússia no conflito com a Ucrânia, no Bloco de Esquerda Mariana Mortágua não está a fazer melhor do que foi a coordenação de Catarina Martins. Infelizmente, o populismo e a demagogia do Chega com os gritos patéticos de André Ventura que, na realidade, manda cá para fora umas verdades que o povo gosta de ouvir, está efectivamente a aumentar a sua base de apoio e, imaginem só, que num bairro social da margem sul do Tejo, toda a gente afirma que votará no Chega por ser o único partido que defende os pobres. Não, não dá para entender como em 50 anos da chamada democracia o espectro político mudou tanto, particularmente com o surrealismo gerado no PSD que não consegue levar um balde de água ao seu moinho.

25 Set 2023

O aborto da saúde

Os serviços de Saúde em Portugal vão de mal a pior. Os portugueses sofrem a sério com a falta de apoio ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) há muitos anos. Penso mesmo, que durante os 50 anos desta etapa democrática que não existiu nenhum governo que se preocupasse a sério com a saúde dos portugueses. Tivemos o grande António Arnaut que fundou o SNS e que em boa hora evitou que já tivessem morrido milhares de portugueses sem assistência hospitalar. Nos tempos de hoje a Saúde está quase um caos. Os médicos fazem greve protestando contra as faltas de condições de trabalho e devido ao salário insuficiente, apesar de termos de salientar que uma grande maioria deles trabalha de manhã no SNS, à tarde no seu consultório ou num hospital privado e desloca-se de Porsche ou Mercedes. Os enfermeiros aguentam há anos por um aumentozinho no salário minimamente digno e como nada acontece emigram, especialmente para Inglaterra onde lhes proporcionam tudo e um salário chorudo. Há hospitais que até parecem não ter gestores e quanto a compras de materiais nem é bom referir porque a corrupção impera de norte a sul. Os pacientes são como o mexilhão, são os que se lixam. Bem, vocês não acreditam: às três horas da madrugada já há pessoas de todas as idades, em fila, à porta de um qualquer Centro de Saúde, para conseguirem uma senha para consulta. Consulta? Há dias tive a necessidade de limpar os ouvidos porque já não ouvia praticamente nada. Fui ao Centro de Saúde da minha área de residência e fui atendido por uma médica atenciosa e já com alguns anos de experiência. Ela viu através de um aparelho próprio, o que se passava e confirmou que necessitava urgentemente de uma lavagem aos ouvidos. E acrescentou: “Caro senhor, eu posso marcar uma consulta para um otorrinolaringologista no hospital, mas a consulta irá demorar aí uns três ou quatro meses. O melhor, se puder, é ir a um otorrinolaringologista privado porque o senhor está muito mal de audição”. E assim tive de fazer, optar por um privado gastando uma quantia que bem me custou.

Em certos hospitais os doentes chegam de ambulância, ficam nos corredores nas macas das ambulâncias, o hospital não tem macas suficientes e as ambulâncias ficam horas e horas a aguardar que libertem as suas macas. E durante essas horas quantos pacientes teriam tido necessidade dessas ambulâncias que ficam engarrafam nos hospitais? A este propósito de macas nos corredores, recordo-vos que há dias o país ficou chocado com um doente com 92 anos de idade que esteve seis horas na maca no corredor de um hospital e veio a falecer por falta de atendimento.

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, é médico, está atento e conhece os problemas da saúde, mas dá a ideia de andar de mãos atadas. O seu colega das Finanças deve ter-lhe dito que não poderá contar com o dinheiro necessário. Mesmo assim, já aumentou o salário dos médicos substancialmente e de outro pessoal paramédico. O principal de tudo é necessariamente a miséria de salários que aqueles milhares de profissionais de saúde recebem e a falta de hospitais. O novo hospital de Lisboa está prometido há anos e nunca avança.

Na semana passada tivemos um caso muito grave e que não podemos deixar de vos apresentar quase como um crime de lesa pátria. Eu sei que há portugueses que são contra a interrupção voluntária da gravidez e outros a favor. O certo, é que a lei portuguesa permite que as mulheres façam o aborto e nos centros hospitalares do país. Ora, aconteceu o inimaginável. E gravíssimo. Veio a público que vários casos em que o acesso das mulheres à realização de uma interrupção voluntária da gravidez (IVG) estava a ser dificultado em vários hospitais do SNS. O acesso ao aborto não está à mesma distância para todas as mulheres em Portugal e, em 15 anos, estagnou. Um em cada três hospitais públicos não tem consulta de IVG, ou seja, 13 em cada 45 hospitais do SNS, que não a disponibilizam. O Bloco de Esquerda vai pedir uma auditoria aos hospitais para apurar as causas e os responsáveis nos casos das mulheres que se viram impedidas de levar a cabo interrupções voluntárias da gravidez. O partido quer também que a linha SNS24 passe a acompanhar as mulheres em todo o circuito, para a realização do aborto. Outros partidos políticos já se manifestaram pela presença do ministro da Saúde na Assembleia da República. No entanto, Manuel Pizarro já admitiu a existência de “casos pontuais”. Seja como for, existem hospitais que praticamente se negam a assistir um aborto e, assim, os seus responsáveis deviam ser condenados no foro judicial. Com factos destes, de uma coisa não temos dúvidas, um grande aborto é a Saúde.

18 Set 2023

O Conselho do mundo

O Conselho de Estado é o órgão de consulta do Presidente da República. Já se realizaram em 50 anos de democracia dezenas de reuniões com os mais diferentes conselheiros. Na semana passada decorreu mais uma reunião do Conselho de Estado. Tratou-se da segunda parte de uma outra que tinha sido convocada em Julho e que terminou apressadamente porque o primeiro-ministro tinha de apanhar o avião para ir ver o futebol na Nova Zelândia, como se isso fosse um problema importante do país.

Desta vez, realizou-se a segunda parte da reunião de Julho, mas vale a pena lembrar que em Julho o Conselho de Estado tinha sido convocado devido aos graves problemas na TAP, e desta vez o Presidente da República teria de continuar a ouvir os conselheiros sobre a TAP, especialmente quando certamente já tinham conhecimento de mais um possível rombo na carteira dos portugueses. Acontece que a ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, deu oficialmente entrada com um processo em tribunal contra a TAP pedindo 5,9 milhões de euros de indemnização. Pouca coisa, que os erros dos governantes e a absurda demissão da antiga presidente executiva da empresa aérea devia ter levado os conselheiros a manifestar ao Presidente da República que Portugal não pode continuar a ser governado com o esbanjamento do nosso dinheiro em indemnizações constantes por dá cá aquela palha.

Inacreditavelmente a comunicação social resumiu a reunião numa análise da situação do país e da situação internacional. Totalmente errado. As nossas fontes informativas são credíveis e disseram-nos ao longo dos tempos que nas reuniões do Conselho de Estado sempre existiram perguntas do Presidente da República, debate entre conselheiros, críticas aos Governos e ao Parlamento e intervenções duras dos primeiros-ministros. Incluindo recentemente, o actual primeiro-ministro António Costa, respondeu a alguns conselheiros críticos da sua governação.

No Conselho de Estado temos as mais diversas personalidades dos mais diferentes quadrantes políticos, nomeadamente Manuel Alegre, Carlos César, Santos Silva, Lídia Jorge (PS); Cavaco Silva, Marques Mendes, Leonor Beleza (PSD) e independentes como António Ramalho Eanes. Neste particular, o povo não entende lá muito bem porque Marcelo Rebelo de Sousa não convidou ninguém do PCP e do BE, mas enfim é o que temos. Quanto a esta última reunião do Conselho de Estado muito se teria passado e com um ambiente tenso e uma coincidência. Comecemos pela coincidência: pela primeira vez sentaram-se lado a lado Lídia Jorge e Cavaco Silva, ambos de Boliqueime, Algarve, com residências perto um do outro e que nem se podem ver. Não sei mesmo se dirigem alguma palavra um ao outro.

Quanto à reunião propriamente dita, Miguel Cadilhe é um crítico acérrimo da governação e tece duras críticas a António Costa pela forma de governar há oito anos sem o país avançar em áreas como a Economia, Saúde e Educação. Marques Mendes é outro dos críticos que indica os erros ou as lacunas do Governo. Carlos César defende a sua dama Açores, por vezes, mesmo contra as posições da maioria absoluta do seu partido. O general Ramalho Eanes já chamou à atenção para o grave problema que se passa nas Forças Armadas, onde cada vez há menos jovens que queiram ingressar nas fileiras militares por as condições não serem apelativas.

Cavaco Silva, sem razão alguma, critica o Governo quando ele próprio fez muito pior. Manuel Alegre é bem conhecido de todos nós e sabemos que nunca na vida ficou calado, antes pelo contrário. O Presidente da República ouve e tira as suas conclusões e quando no exterior se encontra com os jornalistas diz algo sem nexo e salienta que nunca se pronuncia sobre o que se passa nas reuniões do Conselho de Estado.

Bem, desta vez, podia, já que foi confrontado por um jornalista, se na reunião falaram da TAP e da “bomba” dos 5,9 milhões que o Estado (todos nós) terá de pagar à senhora francesa que dirigiu a TAP e que não brinca em serviço. Mas, o mais surpreendente haveria de estar para vir. Qual não foi o espanto do Presidente Marcelo e de os conselheiros quando António Costa não contestou qualquer crítica e nem respondeu a uma sequer pergunta. Simplesmente mudo, durante toda a reunião.

Obviamente que a oposição veio logo aproveitar-se da situação e afirmar que António Costa anda “amuado”. Isto, porque o país vive momentos de crise institucional. Já não bastou a pandemia e a guerra na Ucrânia e agora ainda temos um Presidente da República que andou anos a apaparicar tudo a António Costa e que a caminho do fim do mandato, só porque António Costa não demitiu o ministro João Galamba, passa o tempo a dificultar e a vetar as decisões governamentais. É natural que António Costa se sinta “amuado”, mas disfarça bem. Diz que nada se passa com o Chefe de Estado, que está tudo no melhor dos mundos e continua a andar pelo país já em campanha eleitoral para as eleições europeias do próximo ano. Para nós, resumimos tudo isto a um termo: país adiado.

11 Set 2023

A loucura de um beijo

Quem prefere sintonizar os canais de televisão de notícias do país, do mundo e do desporto ficou na semana passada absolutamente atordoado com a decisão editorial nos referidos canais. O país vive momentos de grande dificuldade, os cidadãos que optaram por comprar casa estão desesperados com o aumento das taxas de juros e o consequente aumento da prestação mensal, em alguns casos, já subiu para o dobro.

As famílias que optaram pelo arrendamento andam desesperadas com o possível aumento de sete por cento nas rendas no próximo ano devido à subida da inflação, caso o Governo não venha a travar esse aumento. Nos hospitais prevalece o caos, os médicos entram em greve e as cirurgias e as consultas ficam para as calendas atingindo milhares de portugueses. No corredor de um hospital, um idoso com 96 anos esteve seis horas à espera de atendimento e veio a morrer. Uma jovem de 23 anos, grávida, teve alta do hospital depois de ter manifestado que não se sentia bem.

Assim que saiu da unidade hospitalar veio a falecer. Os agricultores continuam a não receber as ajudas que já foram prometidas há dois anos. O Presidente da República vai continuar a viajar para o estrangeiro. Passam-se no seio da administração pública os factos mais mirabolantes, como o do Joe Berardo, que só de uma vez levantou 350 milhões de euros, sem garantias, da Caixa Geral de Depósitos e depois foi comprar acções no Banco Millennium e anda à boa vida num luxo inacreditável e a anunciar que vai abrir mais museus quando os crimes cometidos foram tantos que há muito devia estar na prisão, como ficou provado nas páginas da revista Sábado.

E com tanta matéria para noticiar, as nossas televisões não tiveram mais nada para divulgar diária e consecutivamente, se não um beijo que o presidente da Federação de Futebol espanhola, Luis Rubiales, deu na boca de uma jogadora da selecção nacional feminina que tinha acabado de se sagrar campeã mundial. Mas, as sessões nos canais televisivos foram seguidas, repletas dos mais variados comentadores, com defensoras dos direitos das mulheres, com a suspensão de Rubiales pela FIFA. Um absurdo total. Uma total loucura.

Mesmo no desporto, a semana foi fértil em transferências de jogadores, o Benfica estava a comprar e a vender jogadores, o Sporting e o FC Porto a mesma coisa e as televisões apresentavam um minuto sobre esse assunto. Ora vejamos: primeiramente quero dizer-vos que um amigo que reside em Madrid, informou-me que há muito que se falava de uma relação íntima entre Rubiales e aquela jogadora.

Depois, se repararem bem, na imagem que publicamos, a jogadora abraçou apertadamente o presidente da Federação de Futebol espanhola e no momento do beijo na boca ainda está a abraçá-lo. Tudo o resto são tretas, oportunismos de associações pseudo defensoras dos direitos das mulheres. Se o presidente Rubiales tivesse entrado no balneário das jogadoras quando elas estiveram completamente nuas a tomar o duche, bem, isso era um crime grave, era um abuso sem perdão, era motivo de noticiários constantes.

Agora um beijo na boca de um homem a uma mulher que, pelos vistos, conheciam-se muito bem, é uma vergonha jornalística o que se passou nos canais televisivos. E ainda mais, como hoje em dia está na moda, se tivesse sido um beijo entre dois homens ou entre duas mulheres nada aconteceria. Se pretendem ser verdadeiramente fundamentalistas, então a FIFA que decida rapidamente que as equipas de futebol femininas terão de ser treinadas por uma mulher, terão de criar uma Federação de Futebol Feminino presidida por uma mulher, os massagistas terão de ser todas mulheres tal como já acontece com as árbitras. De resto, colocar um presidente de uma Federação de Futebol importante como é a espanhola, como um criminoso, como um escroque, um bandido que teve o desplante de beijar na boca uma jogadora, eivado daquela emoção natural de ser campeão mundial, é de bradar aos céus.

O jornalismo português está a passar por uma fase degradante. Não temos um jornal onde se possa ler algo de independente. Agora até veio a lume uma escandaleira que deixou todos os jornalistas sérios de cara à banda. O Governo quer decidir o pagamento acrescido de 40 por cento do salário dos jornalistas. Isto, é comprar os jornalistas, é acabar totalmente com a liberdade de um jornalista, é condicionar a crítica ou a investigação a actos governamentais. Oferecer mais 40 por cento do salário que tenha o jornalista em Portugal? É inacreditável e vergonhoso se isso vier a acontecer. Por que razão o Governo não decide apoiar as empresas proprietárias de órgãos de comunicação social e estas, sim, aumentarem os salários dos jornalistas? Seria mais decente e os jornalistas possivelmente deixariam de se preocupar com um beijo na boca de um homem a uma mulher…

4 Set 2023

Promessas do “rei” dos pobres

Nunca entendi a razão de um Presidente da República viajar tanto para o estrangeiro. É um cargo sem decisão governamental, mas vai a todo o lado mais assemelhando-se a um primeiro-ministro. Marcelo Rebelo de Sousa viajou para a Polónia, sede da estratégia da guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Ninguém ficou a saber o que é que Portugal ganhou com a sua ida à Polónia. De seguida viajou 10 horas de comboio para a Ucrânia.

Logo à chegada, prometeu este mundo e o outro. Que Portugal apoiaria sempre económica e militarmente a Ucrânia. Isto é o absurdo total. Prometer apoio económico e militar? Isso é para os países ricos onde o capitalismo tem o maior interesse que as suas fábricas de armamento estejam sempre a facturar. E Marcelo acrescentou o absurdo, que Portugal pode ajudar a Ucrânia na investigação dos crimes de guerra, quando esse assunto já há muito que está entregue ao Tribunal Penal Internacional. Com a agravante de as investigações judiciais no seu país levam anos por decidir algo. Sobre o que disse o presidente Marcelo sobre a Crimeia, apesar de ler muito, não leu que a Crimeia é território russo desde a guerra entre a Rússia e a Turquia (1877-1878).

O Presidente português prometeu este mundo e o outro, sem pensar no que tem em casa. Como é possível prometer ajuda económica se na economia portuguesa vivem-se momentos trágicos, com o povo cada vez mais pobre, sem poder comprar ou arrendar uma casa; que os agricultores não cessam de pedir ajuda e em consequência os preços dos produtos alimentares aumentam todas as semanas; que os jovens emigram às centenas por falta de trabalho; que temos reformados a receber 200 e 300 euros mensais; que os hospitais não têm médicos e enfermeiros; que o povo vai às três horas da madrugada para uma fila junto dos centros de saúde para conseguir uma senha de consulta médica; que doentes morrem em macas nos corredores dos hospitais depois de esperarem mais de seis horas por atendimento; que os sem-abrigo aumentam todos os meses pelas ruas das cidades do país, só na avenida de Roma, em Lisboa, dormem no chão todas as noites seis sem-abrigo; que os bombeiros queixam-se por falta de meios no combate aos fogos; que os novos oficiais de justiça vão vencer uns míseros 800 euros mensalmente; que mais de 20 por cento dos portugueses não puderam fazer férias e que a economia paralela que foge ao fisco prejudica o país em milhões de euros.

No campo militar, o tal que o Presidente Marcelo também prometeu ajuda à Ucrânia, o senhor esqueceu-se que as Forças Armadas vivem um tempo de desânimo devido à falta de jovens que queiram ingressar nas fileiras militares; que o Exército tem material obsoleto, que a Força Aérea pensa vender alguns aviões F-16 por não haver financiamento necessário para o seu sustento e pela redução constante do número de pilotos; que a Marinha tem fragatas nos estaleiros a aguardar financiamento para restauração.

Apoio militar à Ucrânia? Mas que tipo de apoio? A Ucrânia está a receber apoio militar e económico dos mais variados países, começando pelos Estados Unidos da América. E será este Portugal pequeno e pobre que vai ajudar a manter uma guerra? Por que não falou o Presidente Marcelo em paz. A paz é que tem de ser negociada o mais depressa possível. As famílias ucranianas e russas já ficaram sem milhares de filhos mortos em combate. Os ataques de uma guerra injusta matam crianças acabadas de nascer e não é a paz o mais importante que se tema de debater em todos os quadrantes políticos, especialmente quando fala um Presidente de um país que só tem dificuldades de sobrevivência?

Temos de ser sérios e independentes, porque somos infimamente pequenos e pobres. Nem sequer se constroem bairros sociais, lares, creches com dignidade e vamos prometer à Ucrânia que terá todo o apoio de Portugal? É difícil compreender este tipo de política, ao fim e ao cabo, totalmente oficial, porque o Presidente Marcelo levou consigo o ministro dos Negócios Estrangeiros, dando obviamente o aval a tudo o que de absurdo foi pronunciado pelo chefe do Estado português.

A Rússia invadiu a Ucrânia e a resposta foi imediata por parte dos países da NATO. Para quê? Para eternizar a guerra até ao infinito? Deixemo-nos de fanfarronices, mas apelem e tudo façam para que a paz seja uma realidade. Já chega de se ganhar milhões de dólares americanos e de euros no fabrico de armamento para enviar para a Ucrânia. Só faltou que o Presidente Marcelo tivesse dito que Portugal oferecia os seus F-16 que nunca ninguém compreendeu porque adquirimos tal tipo de aviões. Salazar foi um dos maiores fascistas do mundo político e manteve-se neutro durante a guerra e nós orgulhamo-nos de pertencer à NATO sem ter um fósforo para acender um cigarro…

28 Ago 2023

As negociatas dos radares

Na semana passada lembrei-me das faixas da esquerda de certas autoestradas da Alemanha e de algumas estradas da Austrália onde não existe limite de velocidade. E lembrei-me por quê? Porque este país é um país de modas nas negociatas. Sim, nas negociatas e não nos benefícios para o povo. Há uns anos foi a moda das barragens, depois foram as energias renováveis onde as eólicas deram lugar a negociatas de cair para o lado.

Chegou a haver um presidente de câmara que ao saber quanto é que um outro autarca tinha recebido para licenciar a instalação dos aerogeradores nas montanhas da sua jurisdição, pediu para ele uma comissão em dobro… depois vieram as negociatas dos projectos para o TGV, para o novo aeroporto de Lisboa, para a terceira ponte sobre o rio Tejo entre Lisboa e a margem sul, as vendas da EDP. Efacec, Portugal Telecom e a negociata inenarrável da TAP.

De seguida, assistimos à negociata dos helicópteros Kamov para combate aos incêndios, os quais estão abandonados por falta de peças. E a negociata da compra de dois submarinos de tecnologia mais avançada? Neste caso o escândalo ainda é tão significativo que os interlocutores alemães do negócio estão presos por terem sido condenados por corrupção. No nosso país não aconteceu nada. Aliás, aconteceu. A comunicação social deu o ar de ter recebido uma “ordem” para não falar no assunto. Negociatas não têm fim. A última a que assistimos atordoadamente foram as centenas de milhões de euros em ajustes directos nas obras para a Jornada Mundial da Juventude.

Mas, voltemos à estrada e à velocidade. Porque em Portugal cada vez mais se vendem “bombas” que podem atingir os 320 quilómetros por hora. Se autorizam a venda de carros de alta cilindrada só por absurdo é que podemos deixar de dizer que se trata de mais um cambalacho. Carros topo de gama para andarem no máximo a 120 quilómetros por hora, a velocidade máxima permitida numa autoestrada. A 120 dá a sensação de um carro dos fabricados nos dias de hoje completamente parado.

Não se admite que ainda não tenha sido autorizada a velocidade máxima para 140, apenas na faixa da esquerda. Pois agora, temos mais uma negociata, não um benefício para o povo, não, temos uma invenção que vai custar ao erário público milhões de euros. Descobriram que um novo rendimento, mais conhecido pela caça à multa, é a compra para todo o país de radares que controlam a velocidade média. O que é isso? Ora bem, se o amigo leitor vier até Portugal, fica a saber que passará a ter radares no norte, centro e sul que controlam a velocidade da sua viatura desde que passa numa câmara até outra câmara instalada muitos quilómetros depois. É o máximo de “chico-espertos” que devem ter dito ao primeiro-ministro: “Senhor Doutor, temos mais uma maneira de ganhar milhões por ano. Temos uma mina de ouro, assim mais ou menos parecida com mais um imposto”…

Que tristeza, ver num país onde a preocupação não é ajudar os pobres, os reformados que recebem uma miséria menor que 300 euros, os sem-abrigo, construir bairros sociais com dignidade onde hajam escola, creche, centro de saúde, parque infantil e pequeno jardim e não os mamarrachos de cimento que têm oferecido aos pobres onde nem sequer existe um café para tomar uma bebida ou comer uma sandes. Não, o importante, o mais importante do país são os novos radares que irão dar muito dinheiro para os cofres das Finanças. Nada de pensar nos professores, nos médicos, nos enfermeiros, nos oficiais de justiça, nos maquinistas da CP ou do Metropolitano, não, o importante são os radares controladores de velocidade entre um ponto e outro da sua viagem.

O próprio presidente do Automóvel Clube de Portugal, Carlos Barbosa, afirmou que estes radares controladores “só servem para virem encher os cofres do Estado”. Esta afirmação é de uma importância vital e que mostra bem como as negociatas são efectuadas sem consultar quem sabe da matéria. Carlos Barbosa adiantou que “a sinalização dos radares está mal colocada, alguns sinais nem se veem e que nos outros países têm uma dimensão muito maior que em Portugal e estão colocados dos dois lados da estrada”. Quem tomou esta decisão dos radares controladores devia ter vergonha da decisão que tomou porque num país onde se pagam impostos em exagero, esta medida só vem reduzir o rendimento das famílias portuguesas numa demonstração cabal de que não estão preocupados com o bem do povo, antes pelo contrário, em apenas prejudicar as suas vidas.

20 Ago 2023

Os fogos não queimam, matam

Nesta altura do ano temos uma sina: os fogos pelo país fora. No norte, no centro e no sul. Os incêndios, neste ano, já consumiram dezenas de hectares de floresta. Qualquer dia o país não tem pulmão verde se a inoperância dos responsáveis continuar como se tem verificado ao longo dos tempos. As chamas ficam sem controlo e os meios aéreos a combatê-las somente durante a luz do dia não chegam.

Na zona de Castelo Branco o fogo esteve durante dias a consumir a verdura, e não só. Há aldeias que foram evacuadas. Houve casas que arderam. Pessoas como nós que ficaram sem nada. Em absoluto. Apenas com a roupa que tinham no corpo. Arderam os recheios das moradias, os galinheiros, as alfaias, as máquinas agrícolas, os tractores, os carros, as carrinhas, os camiões.

Representavam a mão-de-obra dos agricultores que de sol a sol tratavam das suas árvores de fruto, das suas colmeias, das suas hortas, das suas vinhas e dos seus animais. Um horror quando escrevemos a palavra nada. Nada é zero. Nada é sofrimento. Nada é lágrimas. Nada é depressão. Nada é olhar o firmamento e perguntar a Deus porquê? E o mais triste de tudo isto é que esta gente não tem a mínima possibilidade de reconstruir sem ajuda estatal. As autoridades dizem todos os anos que vão ajudar, que vão financiar, que vão reconstruir, mas há vítimas dos incêndios que estão há seis anos à espera de um euro vindo da oficialidade.

Neste Portugal interior, chame-se Gerês, Castelo Branco, Cascais ou Ourique é precisamente onde seria obrigatório existirem meios organizacionais que evitassem os fogos. Os bombeiros, que lutam até à morte, debaixo de um calor abrasador, queixam-se que os meios mecânicos não são suficientes para realizarem um trabalho profícuo. Afirmam à boca cheia que se gastaram milhões de euros na compra de aviões que estão abandonados por falta de peças. Os terrenos continuam a não ser limpos de modo a diminuir substancialmente o combustível acumulado. Não se abrem caminhos no meio das florestas de modo a que os camiões dos bombeiros possam passar e evitar que as chamas passem de um lado para o outro. Os especialistas nesta matéria opinam na televisão das mais diferentes formas. Para uns os fogos são devido a isto, aquilo e aqueloutro. Para outros, idem, idem, aspas, aspas.

Quem não aguenta mais são as populações que andam de balde na mão a tentar apagar os fogos que chegam junto das suas casas. O pânico destes milhares de atingidos é constante e chega a sangrar ou a matar. Os incêndios não queimam, matam.

E um grande número de incêndios tem origem em mão criminosa. Os pirómanos são aos montes por todo o país. Pelo menos, 60 pessoas foram detidas este ano pelo crime de incêndio florestal. E a GNR e a Polícia Judiciária já identificaram 117 indivíduos por fogo posto. Mesmo assim, a vigilância destas instituições e da Força Aérea não tem sido suficiente para que os pirómanos actuem a seu bel-prazer. Alguns destes incendiários têm sido presentes a juízes e vão em liberdade. Os pirómanos sabem que têm aliados, tais como, o vento e o imenso calor que se tem feito sentir no país.

O território está em perigo constante dos que por várias razões incendeiam as nossas florestas. Há quem afirme que muitos são pagos para que no final a madeira queimada possa servir para negócios chorudos. Neste mês de Agosto chegam a Portugal milhares de emigrantes que vêm de férias e muitos deles passam o seu período de descanso a ajudar os bombeiros no combate aos incêndios e a verem as suas propriedades a arder. Assistimos a campanhas de sensibilização para que as populações tenham o máximo cuidado, que não queimem nada, que não operem máquinas agrícolas junto do mato, que limpem os terrenos à volta das casas. Campanhas essas, que vão por água abaixo porque os pirómanos rebentam com qualquer tipo de campanha de sensibilização.

Os apelos ao comportamento das populações não servem para nada quando temos criminosos no terreno. Até o incrível aconteceu: dois elementos do Corpo de Bombeiros de Caneças, em Odivelas, com idade de 27 e 19 anos, foram detidos pela Judiciária por crimes de incêndio, depois de terem sido apurados indícios de que já este mês atearam fogos florestais na área de intervenção da sua corporação.

Ficaram em prisão preventiva a aguardar julgamento. Imaginem que o objectivo destes bombeiros-pirómanos era para dar trabalho à corporação onde os dois exercem funções, e há suspeitas de que, para atearem as chamas utilizaram inclusive uma viatura dos bombeiros em que se faziam transportar. Parece mentira que os próprios bombeiros façam parte do grupo de pirómanos. Infelizmente, no meio desta tragédia nacional, um comandante de uma corporação de bombeiros transmitiu-nos que: “há muitos negócios chorudos no meio desta tristeza toda…”.

14 Ago 2023

Muita polémica nas jornadas da juventude

Portugal é um país laico, segundo a Constituição. Este é o busílis da realização da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, com um dispêndio de mais de 200 milhões de euros. O Papa Francisco deslocou-se a Portugal e foi saudado por cerca de um milhão de pessoas católicas. Durante a semana passada a rádio, televisão e jornais não abordaram outro tema.

Para uns, o maior evento do mundo em Portugal que trará um retorno financeiro substancial e uma promoção do país a nível internacional. Para outros, não é possível que um país pobre como Portugal gaste tanto dinheiro do povo num evento religioso de uma das muitas religiões existentes em Portugal. Esses comentadores referem o facto de sendo Portugal um país laico, o que aconteceria se muçulmanos, evangelistas, protestantes, testemunhas de Jeová e outras, se lembrassem de também solicitarem ao Governo e às Câmaras Municipais de Lisboa e de Loures a mesma quantia para realizarem eventos semelhantes.

A sociedade não católica salienta que a Igreja Católica chefiada pelo Papa Francisco, não fez a justiça devida aos sacerdotes que durante décadas abusaram sexualmente de menores masculinos, femininos e de mulheres que frequentavam as sacristias. As vítimas dos abusos sexuais, hoje adultos, lamentam profundamente que o Papa Francisco não tenha decidido a expulsão da sua Igreja de todos os sacerdotes ou freiras que abusaram de meninos e de meninas. Para outros observadores esta Jornada Mundial da Juventude veio tentar pôr água na fervura junto dos jovens tentando abafar o crime dos abusos sexuais, provados ainda recentemente por um relatório produzido por uma comissão independente.

Mais de um milhão de jovens e adultos que estiveram em Lisboa e Fátima nas cerimónias do evento naturalmente que para os católicos foi um êxito divino e que Portugal mostrou, mais uma vez, que o seu povo é católico. Não é bem assim. A maioria poderá ser católica, mas é devido o respeito a todas as outras religiões existentes em solo português.

Por outro lado, desde o Presidente da República, um católico praticante, ao presidente da Assembleia da República, ao Governo, autarquias, dioceses, paróquias e forças de segurança, todos foram mobilizados para o evento com milhões de euros gastos num país que tem reformados a ganhar 150, 200, 300, ou 400 euros mensais; que tem centenas de sem-abrigo a dormir nas ruas, que tem estudantes a abandonar o ensino por falta de dinheiro para pagar as propinas e que vivem em casa dos pais até aos 30 anos de idade; que tem bairros da lata e outros sociais onde impera a miséria; que tem milhares de jovens que não podem casar e ter filhos porque não lhes é possível comprar ou arrendar uma casa; que tem protestos nos hospitais por parte dos médicos e enfermeiros a reivindicar melhores condições de trabalho e financeiras; que tem bombeiros a afirmar que não têm condições para combater os incêndios; que tem julgamentos a serem adiados por falta de condições financeiras dos oficiais da justiça; que tem centenas de jovens licenciados que emigram todos os anos por não encontrarem emprego; que tem um ministro das Finanças a dizer que este ano não haverá cativações no Orçamento e que os cofres estão cheios. Que absurdo. Se os cofres estão cheios gastavam-se 200 milhões de euros em apoio aos reformados de miséria, às empresas à beira da falência, à construção de novos centros de saúde e de novos bairros sociais e não se privatizando a TAP de modo a que o povo perca os 3,2 mil milhões que foram injectados na empresa de aviação civil.

A semana foi passada com uma enorme multidão em ebulição festejando a sua fé e a possibilidade de ver o seu chefe da Igreja Católica. No entanto, com um milhão de pessoas foi necessário organizar as forças de segurança ao mais alto nível, com brigadas especiais de atiradores, com snipers nos telhados de vários edifícios e com a cidade de Lisboa praticamente impossibilitada de ter outros transeuntes, que não fossem participantes da jornada. Medo de quê? Que matassem o Papa? Ninguém acredita que algum ateu ou não católico enfrentasse uma multidão de um milhão de pessoas e umas forças de segurança altamente preparadas e posicionadas em todos os lugares das cerimónias e tivesse a coragem de pegar numa catana ou numa pistola para fazer mal ao Papa Francisco.

A pedofilia é um crime hediondo e não pode ter branqueamento ou esquecimento por parte dos responsáveis da Igreja Católica. Ainda na semana passada o semanário ‘Tal & Qual’ trouxe em manchete que o bispo Ximenes Belo, acusado de abusos sexuais em Timor-Leste, estava escondido num santuário em Anadia. A pedofilia foi bem lembrada durante a semana através de cartazes outdoors que foram instalados em diversos locais de Lisboa e que chamaram à atenção que já foram abusados sexualmente em Portugal cerca de 4.800 crianças. Cartaz esse que foi censurado e retirado pela edilidade de Oeiras, mas que tudo indica por conselho do Papa Francisco, voltou a ser recolocado. Este facto é chocante e esperemos possível que as novas gerações sejam sensibilizadas para que no futuro não aconteça mais abusos no seio da Igreja, o que se assistiu no passado tão triste?

9 Ago 2023

Estado do clima em 2022-2023 e sua evolução

Entre as muitas publicações produzidas pela Organização Meteorológica Mundial (agência especializada das Nações Unidas que trata do tempo, do clima e da água), sobressaem as que se referem à monitorização do clima e à sua evolução. Antes de tirar conclusões sobre essa evolução, o IPCC, órgão criado pela OMM e UNEP (United Nations Environment Programme), estuda em pormenor as características anuais do clima e tira conclusões sobre as alterações sofridas pelos valores médios dos parâmetros meteorológicos à escala global.

Com os resultados deste estudo a OMM tem vindo a publicar anualmente, desde 1993 até 2020, relatórios intitulados “WMO Statement on the State of the Global Climate” e, desde 2021, com o título “State of the Global Climate”. O mais recente consistiu no “State of the Global Climate in 2022”.

O clima é um sistema altamente complexo e, como tal, não é fácil o seu estudo. Para o monitorizar tem de se recorrer a milhões de dados referentes aos parâmetros meteorológicos medidos diariamente em estações meteorológicas padronizadas. Até há algumas dezenas de anos recorria-se a observadores meteorológicos para efetuar as leituras dos valores registados pelos instrumentos meteorológicos, nomeadamente da temperatura, pressão atmosférica, direção e velocidade do vento, humidade, visibilidade, etc.

As leituras eram feitas nas chamadas horas sinóticas principais (00:00, 06:00, 12:00 e 18:00 horas) e secundárias (03:00, 09:00, 15:00 e 21:00 horas). Desde que foi generalizado o uso de estações meteorológicas automáticas, a quantidade dos dados aumentou significativamente, o que permitiu a sua monitorização contínua.

Estes dados são transmitidos em tempo real para centros meteorológicos, onde são tratados. A principal vantagem das estações meteorológicas automáticas em relação às convencionais consiste no facto de poderem fornecer continuamente dados precisos e fiáveis, inclusive em locais remotos de difícil acesso, podendo ser programáveis para alertar as autoridades aquando da ocorrência de valores extremos. Com base nos dados recolhidos são traçadas cartas meteorológicas que traduzem as condições meteorológicas em vastas regiões.

Os centros meteorológicos mundiais, com base nestes dados, traçam as chamadas cartas sinóticas à escala global, onde se esquematiza o campo da pressão atmosférica referido a uma determinada hora sinótica com o recurso a linhas de igual pressão (isóbaras) e as localizações e intensidades dos vários centros de ação (depressões e anticiclones). Com recurso a modelos físico-matemáticos são elaboradas cartas de prognóstico nas quais se pode seguir a evolução espácio-temporal desses centros de ação, bem como a formação e evolução de outros sistemas de pressão, nomeadamente vales, cristas e colos1.

São também esquematizadas as chamadas frentes, que correspondem a zonas de separação de massas de ar com características diferentes. Estas cartas de prognóstico são válidas para intervalos de 12 ou 24 horas, estendendo-se por 5 ou mais dias, com base nas quais se podem fazer previsões cuja fiabilidade diminui à medida que o período de validade aumenta.

A análise da situação meteorológica, ou seja, do tempo, e a previsão da sua evolução cabe aos meteorologistas, que traduzem em linguagem clara as situações esquematizadas nas cartas de análise e de prognóstico. Compete, por sua vez, aos climatologistas, o estudo dos valores médios dos parâmetros meteorológicos referentes a períodos mais ou menos longos, de preferência no mínimo 30 anos, e a respetiva evolução.

O sistema climático reage a forçamentos externos, manifestando comportamentos que fazem lembrar a reação dos seres vivos a estímulos exteriores. O Professor José Pinto Peixoto (1912-1996), eminente meteorologista e climatologista conhecido mundialmente, referiu-se a esta analogia no livro de sua autoria Physics of Climate (conjuntamente com o meteorologista americano Abraham Oort), “the climate is always evolving and it must be regarded as a living entity”.

Infelizmente os conceitos de “tempo” e de “clima” são por vezes confundidos, não só por entidades oficiais, mas também por alguns meios de comunicação social. Não é raro usar-se a expressão “condições climatéricas” para justificar a interrupção ou impedimento de eventos ao ar livre, devido a ocorrências meteorológicas, como, por exemplo, chuva intensa, vento forte ou trovoada. Dever-se-ia usar a expressão “condições meteorológicas” (ou simplesmente “tempo” ou “estado do tempo”) nessas situações, na medida em que a expressão “condições climatéricas” se refere ao clima. No entanto, o termo “climatéricas” não seria o mais adequado, mas sim “climáticas”, na medida em que o primeiro destes termos é um galicismo que se pode confundir com “climactéricas”, que se refere ao “climactério”, período da vida em que ocorrem alterações significativas no organismo, como, por exemplo, a menopausa e a andropausa.

Além do cálculo dos valores médios e extremos dos parâmetros meteorológicos, a OMM recorre a 7 indicadores para proceder à monitorização das alterações climáticas: concentração de gases de efeito de estufa, temperatura, aumento do nível do mar, acidificação dos oceanos e energia por eles absorvida e armazenada (calor do oceano), gelo marinho e glaciares.

No relatório “State of the Global Climate 2022” sobressaem vários aspetos que põem as entidades governativas e o público em geral de sobreaviso, nomeadamente a alta probabilidade de aumento de frequência de fenómenos extremos, entre os quais secas, inundações, ondas de calor2 e fogos florestais.

É também evidenciado o facto de, apesar de um episódio extraordinariamente longo de La Niña (de setembro de 2020 a março de 2023), fenómeno a que corresponde a um certo arrefecimento do nosso planeta, a temperatura média à escala global nos últimos 8 anos (2015-2022) foi a mais alta registada. O nível do mar e o calor do oceano alcançaram valores recorde e o gelo do Oceano Glacial Antártico atingiu a menor extensão registada. Na Europa foram também alcançados recordes de degelo de glaciares.

Caso não tivesse ocorrido esse episódio de La Niña o aumento da temperatura média teria sido, provavelmente, ainda mais acentuado. Entretanto, o episódio atual do El Niño, iniciado há cerca de um mês, que poderá perdurar aproximadamente um ano ou mais, muito provavelmente contribuirá para um maior aquecimento nos próximos anos. É muito provável que as ondas de calor que estão a afetar a vastas regiões na Europa, América do Norte e Ásia estejam relacionadas com este fenómeno.

Os valores da temperatura máxima deste ano, em algumas regiões, aproximaram-se dos máximos até agora observados, e não seria de estranhar que se registassem recordes mundiais em várias regiões do globo nos próximos anos. Segundo o “Archive of Weather and Climate Extremes”, a temperatura mais alta registada foi em Furnace Creek, Death Valley, Califórnia, com 56,7 °C em 10 de julho de 1913. Na Europa continental o recorde foi de 48,8 °C, na Sicília, em 11 de agosto de 2021. Na Ásia foi de 53,9 °C, em Mitribah, no Kuwait, e em Turbat no Paquistão, respetivamente em 21 de julho de 2016 e 28 de maio de 2017. Os valores da temperatura máxima em Death Valley em 2020 e 2021 foram tão altos, que se decidiu retirar os sensores da estação meteorológica e enviá-los para que se realizassem testes num laboratório independente.

De acordo com uma declaração conjunta da OMM e do Copernicus3, o dia 6 de julho de 2023 foi caracterizado pela mais alta temperatura média global diária, ultrapassando o recorde que havia sido atingido em agosto de 2016, o que indicia o perigo de se estar prestes a atingir o limite de 1,5 ⁰C, estabelecido no acordo de Paris, para o aumento da temperatura média global até ao fim deste século.

Apesar de não querermos ser tão pessimistas como o nosso compatriota António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, não deixa de nos perturbar as suas palavras integradas num discurso proferido na sede da ONU, em 27 de julho deste ano: «The era of global warming has ended; the era of global boiling has arrived».

Segundo a OMM, diz-se que ocorre uma onda de calor quando durante pelo menos 6 dias consecutivos a temperatura máxima diária excede pelo menos 5 graus Celsius a temperatura máxima média durante o período em referência.

Copernicus consiste na componente de Observação da Terra do programa espacial da União Europeia, cujo objetivo de observar o nosso planeta e o seu ambiente para o benefício dos cidadãos europeus.

3 Ago 2023

As férias podem desgraçar a vida

A maioria dos portugueses passa o ano a pensar nos dias de férias. As férias são uma medida merecida para quantos trabalham. O descanso físico e psicológico são factores imperiosos para todos os que laboram nas suas mais diversas profissões. As férias são normalmente planeadas e decididas, na maior parte dos casos para o mês de Agosto. Até a Assembleia da República encerra os seus trabalhos e os ministros vão até ao estrangeiro ou para as praias do Algarve.

As férias têm os mais diversos utilizadores. As pessoas que têm muito dinheiro, as que recebem um salário mediano e os cidadão que não podem ter férias. Estes últimos, são trabalhadores pobres que recebem o salário mínimo nacional ou reformados que usufruem pecúlios de miséria. Estes nem podem pensar em ter um dia à bera do mar.

Quem não pode ter férias sabe o que é o sofrimento de ter uma renda de casa em atraso, ter uma prestação ou mais por pagar ao banco, ter um a ordem de despejo porque não conseguiu fazer frente ao pagamento do arrendamento, ter de vender o seu automóvel para poder pagar as propinas dos filhos. Tenho uma vizinha que decidiu ir com o marido e três filhos para Punta Cana, em Junho passado. Para o efeito, contraiu um empréstimo ao banco de quantia avultada.

No regresso deparou-se com o aumento das taxas de juros no empréstimo para a compra da casa e com o pagamento da prestação mensal ao banco do empréstimo para ir de férias. Entretanto, a senhora ficou desempregada e o salário do marido é absolutamente insuficiente para que a família possa continuar a viver no andar que adquiriram porque já recebeu um aviso do banco que a sua casa terá de ser penhorada. Estão desesperados e a ida de férias desgraçou-lhes a vida. São as opções que se tomam, por vezes, inconscientemente e somente pensando no tal direito a férias.

Em Portugal, segundo um inquérito de uma organização de apoio social, mais de metade dos portugueses não podem gozar férias em lado nenhum. Ficam por casa, levam os filhos ao parque infantil e contam o dinheiro nas compras do supermercado. Quando os familiares lhes perguntam se vão de férias até à aldeia, respondem que não podem. O dinheiro necessário para o transporte, alimentação e a ajuda necessária aos familiares anfitriões não existe na conta bancária desses cidadãos.

Por outro lado, temos casos caricatos. Há três meses que andei a ouvir uma senhora dizendo-me que em Julho estaria numa bela ilha da Grécia de férias. Sonhava com o resort contratado para o ripanço de 20 dias. Chegou a altura de embarcar e a dita senhora seguiu viagem com o filho divorciado e com três netos para a Grácia. Chegou à referida ilha e deparou-se com uma temperatura insuportável de cerca de 50 graus e de seguida com incêndios destruidores.

A senhora e os familiares tiveram de ser evacuados do hotel e andar cerca de 15 quilómetros a pé com as malas de arrojo. As crianças cheias de sede e cansadas tiveram que receber assistência médica quando chegaram ao destino. Quando foram retirados de barco para Atenas, os hotéis estavam superlotados e seguiram para o aeroporto a fim de regressarem a Lisboa. No aeroporto reinava o caos. Passageiros que dormiam no chão, aviões que não levantavam voo devido aos graves incêndios que rodeavam a capital grega. Apenas conseguiram levantar voo para Lisboa passados dois dias, exaustos, nervosos e preocupados com as crianças. O sonho das férias tinha-se transformado num pesadelo profundo e estando à beira do risco de morte, no momento em que foram evacuados do hotel da ilha grega. O sonho das férias, mesmo para quem tem suficiente independência financeira, pode tornar-se numa desgraça nas suas vidas.

As férias são merecidas para todos, mas, infelizmente só alguns as podem gozar e muitas vezes sofrendo o que nunca imaginaram. Tenho conhecimento de pessoas que nunca gozaram dias de férias, outras que há cerca de 20 anos que não têm férias, especialmente, porque o subsídio de férias que recebem do Estado ou da empresa onde trabalham serve para pagar algumas dívidas que foram acumulando junto de amigos.

Há quem diga simplesmente; “É a vida”. Em todo o mundo há pobres e ricos. Certo. Mas, é muito triste chegarmos à altura do Verão, tempo propício para umas férias merecidas e reduzirem-se ao acolhimento do lar, ao arrefecimento da banheira na casa de banho e ao passeio nocturno pelo bairro quando a temperatura fica mais baixa.

Todos os que podem ter as suas férias podem considerar-se uns felizardos num país onde a vida está a ficar desnorteada para metade dos portugueses, quando os jovens acabam o seu curso superior e emigram após terem vivido em casa do pais, muitas vezes além dos 30 anos de idade. Seja como for há que desejar a todos os nossos leitores que podem ter férias que as gozem o melhor possível e que tudo vos corra pelo melhor, já que têm praias lindas na Tailândia, Filipinas, Timor-Leste ou Indonésia. De todo o modo, o nosso desejo de boas férias!

31 Jul 2023

A seita espiritual e a morte de um bebé de catorze meses

Ao que isto chegou em Portugal. Uma seita dita espiritual, denominada Reino do Pineal, instalada na aldeia de Seixo da Beira, em Oliveira do Hospital, no ano de 2020, comprou uma herdade de cinco hectares completamente fechada. O seu líder não acredita que a terra seja redonda ou que o homem tenha ido à Lua. Os membros são brancos e pretos e passam a maioria do tempo em danças e abraços. A seita assistiu à morte de um bebé de pouco mais de um ano, e resolveu cremá-lo e atirar as cinzas para o rio Mondego, em Abril do ano passado. Um crime hediondo, com a agravante de existirem na herdade mais crianças que estão a preocupar as suas famílias e as autoridades.

O Ministério Público já começou a investigar a morte do bebé e a avó de um outro bebé de sete meses alertou as autoridades para forçarem a entrada na herdade e recuperarem todas as crianças que lá vivem. A bebé que a avó reclama nunca foi registada, não foi vacinada e nem teve qualquer assistência médica. A preocupação dos familiares das crianças deve-se fundamentalmente ao facto devido às crenças da seita ali praticadas estarem relacionadas em não ter acesso a cuidados de saúde, educação e cidadania. A Câmara Municipal de Oliveira do Hospital já participou várias denúncias sobre a comunidade em causa à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e consequentemente ao Ministério Público.

Os membros da seita caracterizam-se como “nómadas viajantes com uma vocação espiritual” que escolheram “restaurar, proteger e preservar os modos de vida orgânicos, naturais, espirituais, culturais e indígenas”. Um chorrilho de mentiras chocantes que levam a uma prática incivilizada sem lei e sem moral.

O líder da seita, Água Aknal Pinheiro, teve o desplante de afirmar que “estamos aqui a viver em paz, cuidando respeitosamente da terra que actualmente habitamos até ao momento em que encontrarmos e estabelecermos uma casa permanente, talvez uma ilha…”.

Inclusivamente, a Câmara Municipal de Coimbra já tinha feito denúncias sobre esta comunidade às várias instâncias oficiais, salientando a presença na herdade de mais crianças e com a edilidade coimbrã preocupada com a segurança dos menores e por suspeitar que os mesmos não tinham acesso a cuidados de saúde, cidadania e educação, quando a lei diz que o ensino é obrigatório até aos 12 anos de idade.

A avó de uma bebé de sete meses luta na justiça pela guarda da neta – que está na seita do Reino do Pineal. A criança nascida no seio da seita está a deixar os seus familiares desesperados, sobretudo depois de terem conhecimento da morte de um bebé no ano passado. A avó da criança não consegue falar com a filha e quer urgentemente a guarda da neta.

A Polícia Judiciária já está a investigar as circunstâncias da morte do bebé, mas até agora as outras crianças da comunidade seitosa continuam na quinta à guarda do chefe da seita. Toda esta prática inacreditável nos dias de hoje, poderá ser alvo de processos judiciais, especialmente devido à exposição ao abandono, maus-tratos e profanação de cadáver, crimes pelos quais a seita do Reino do Pineal pode responder judicialmente após a morte e cremação de uma criança.

Vários canais de televisão, jornais e revistas têm dedicado o maior espaço à actuação desta seita em causa, salientando-se que vivem na marginalidade, que a morte da criança e a cremação decorreu completamente na ilegalidade e à margem da lei, que uma comunidade de 40 a 100 pessoas que se instalou em território português e que decretou a autodeterminação, que ao acreditarem que a terra é plana é inserir-se numa teoria de conspiração que leva a todo o tipo de pensamento depravado, que a maioria das pessoas que vivem na herdade não é portuguesa tratando-se de estrangeiros que se conheceram na internet e que ninguém sabe se estão em Portugal dentro da legalidade, que a soberania que apregoam relativamente ao Estado português é por si só uma afronta ilegal ao Direito Constitucional português, que naquele espaço se gera uma grande vulnerabilidade dos direitos fundamentais particularmente dos menores, que se trata de um abuso sobre humano possuir uma criança que morre sem registo e cremada sem certidão de óbito. Enfim, estamos perante algo idêntico ao que tem acontecido por esse mundo fora na área das teorias de conspiração e que em certos casos tem levado ao suicídio dos membros pertencentes a este tipo de seitas.

O que não é aceitável é que perante tanta gravidade, as autoridades judiciais ainda não tenham tomado uma posição severa, chamado à colação os membros da seita e terminar em absoluto com este denominado Reino do Pineal.

24 Jul 2023

Rui Rio regressou na varanda

A história da separação do poder político e o poder judicial é uma treta. O director da Polícia Judiciária (PJ) depende directamente da ministra da Justiça e, por sua vez, é da total confiança do primeiro-ministro. Os inspectores da PJ no decurso do seu trabalho analisam queixas, mesmo anónimas, escutam telefones e têm uma panóplia de trabalhos de investigação infinita. Na semana passada assistimos ao décimo quarto membro do Governo que se demitiu ou foi demitido.

O secretário de Estado da Defesa, Capitão Ferreira, há muito que andava metido em cambalachos e a PJ ao investigar os milhões de euros gastos a mais nas obras do hospital militar descobriu uma data de jogos sujos que levaram à suspeita de corrupção.

O governante demitiu-se logo assim que o Ministério Público (MP) o decretou como arguido num caso de bradar aos céus. O senhor fingiu que contratou um assessor para determinado trabalho, ele próprio efectuou o processo e recebeu por dia a “módica” quantia de 12 mil euros, num total de 61 mil em apenas cinco dias e as ilegalidades não cessam, inclusivamente milhões gastos na manutenção de helicópteros sem passar pelo Tribunal de Contas.

Obviamente, que o falatório pelo país foi generalizado. Simultaneamente o ministro da Cultura, Adão e Silva (nome sonante de outros mundos), criticou em entrevista os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP (CPI) e os seus membros ficaram na corda bamba através das palavras do socialista governante. Caiu o Carmo e a Trindade.

O presidente da CPI, o igualmente socialista e conceituado deputado e ex-membro do Governo, António Lacerda Sales, respondeu a Adão e Silva de uma forma contundente e salientou que o governante deveria pedir desculpas à Assembleia da República. E mais, Lacerda Sales relembrou o ministro que é o Parlamente que visiona o Governo e não o contrário. Seguiram-se outros socialistas e demais deputados de outros partidos a criticarem Adão e Silva, um dos mais protegidos do primeiro-ministro, António Costa.

Ora bem, quando o mundo político estava com o Partido Socialista e o Governo na corda bamba, de que se lembrou a PJ, a instituição que depende directamente do Governo? De virar o disco e terminar com as “guerrinhas” no seio dos socialistas e na má imagem criada com a demissão do tal secretário de Estado da Defesa. E de que maneira?

Arranjou um modo simples de fazer rebentar uma bomba entre os social-democratas e a generalização de todas as bancadas parlamentares, indo aos magotes, inusitadamente mais de 100 agentes por todo o lado, sem que antes vergonhosamente avisasse a TVI para o espectáculo, particularmente a casa do ex-presidente do PSD, Rui Rio, e às sedes desse partido no Porto e em Lisboa, de onde levaram os telemóveis e computadores após lá estarem 19 horas, alegando que Rui Rio teria gasto dinheiro público em pagamentos a funcionários ou a colaboradores do partido.

Mas, isso é o que todos os partidos fazem. O dinheiro, segundo a lei, não é público, é concedido pela Assembleia da República aos partidos com assento parlamentar, a fim de ser utilizado nas suas despesas, incluindo na contratação de colaboradores para a efectivação do trabalho parlamentar. E esses colaboradores não são obrigados a trabalhar no Palácio de S. Bento.

Por exemplo, se um fotógrafo é contratado por um partido para efectuar a cobertura da actividade dos deputados nas mais diversas acções no exterior do parlamente, esse fotógrafo tem de ser pago pelo seu trabalho. Ou seja, a PJ pariu um rato e até obrigou Rui Rio a vir à varanda, imagine-se, para explicar aos jornalistas o seu ponto de vista irónico sobre o que se estava a passar. Esta actuação da PJ até mereceu um comunicado da Procuradoria-Geral da República salientando que ninguém foi anunciado como arguido, mas o PSD enviou uma carta de protesto à procuradora-geral protestando contra o circo levado a efeito pelo MP.

A jogada dos inspectores deixou a maioria a pensar que todos seríamos atrasados mentais, porque viu-se de imediato que a estratégia judicial era abafar as críticas diárias ao secretário de Estado da Defesa e ao ministro da Cultura, mudando a agulha do remoque aos socialistas e ao Governo e passar a bola para um assunto que não é assunto, mas que deu impacto mediático em todos os órgãos de comunicação social.

Não, o MP não esteve bem, mais a mais, porque se tratou de uma denúncia vingativa de alguém no interior do PSD que se sentiu prejudicado no reinado de Rui Rio quando este tentou limpar a casa e diminuir as despesas no seio do seu partido.

Agora, fica-se na perspectiva de saber se o MP irá dirigir-se às sedes de todos os partidos políticos presentes na Assembleia da República e se as suspeitas irão recair igualmente em Mariana Mortágua (BE), Paulo Raimundo (PCP), António Costa (PS), Rui Rocha (IL) e André Ventura (Chega). O mais espantoso é que o crime organizado tem aumentado em Portugal de uma maneira assustadora e a PJ não anuncia a detenção dos vários cabecilhas que se passeiam em carros topo de gama por esse país fora controlando todas as redes de tráfico de droga e de prostitutas/tos brasileiros…

16 Jul 2023

Este país não é para políticos com maioria absoluta

O nosso país não é para políticos que façam parte de uma maioria absoluta. Por quê? Porque goste-se ou não, o PCP é o único partido político coerente e que na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP (CPI) só se preocupou com os muitos cambalachos que aconteceram na TAP ao longo de diferentes governações. Na semana passada foi apresentado o relatório preliminar dos trabalhos que decorreram durante meses. Assistimos a 46 audições no parlamento. Mas, ninguém acredita, que o relatório é um autêntico branqueamento de diversos assuntos graves que tomámos conhecimento ao longo das audições. A TAP foi partidarizada pelo governo de Passos Coelho. Essa partidarização foi uma vergonha, onde os accionistas levaram a companhia aérea portuguesa quase à falência. Um deles, David Neelman até levou uma indemnização de cerca de 50 milhões de euros. Um escândalo. E o relatório quase que se preocupou apenas com isso. Depois, o governo de António Costa nacionalizou a empresa e o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, delegou no seu secretário de Estado Hugo Mendes a tutela da TAP. Esse governante teve uma prática política que bradou aos céus, dando ordens constantemente à CEO francesa da TAP, esta CEO começou a embirrar com a competência da administradora Alexandra Reis, ao ponto de a querer despedir e colocar os advogados de ambas as partes a negociar uma indemnização para a engenheira Alexandra Reis. Esta gestora acabou por levar 500 mil euros de indemnização para deixar a administração da TAP. O ministro das Finanças, Fernando Medina disse na CPI que não teve conhecimento… quase para rir. Não ter conhecimento do meio milhão de euros que foi entregue à engenheira, quando a sua mulher era directora jurídica na TAP e que aconteceu com o beneplácito do ministro Pedro Nuno Santos, que ao mentir e ao meter os pés pelas mãos sobre o assunto, acabaria por se demitir. Medina ainda viria, para cúmulo, a convidar Alexandra Reis para secretária de Estado do Tesouro. A bronca dos 500 mil euros rebentou e a senhora nem aqueceu o lugar no ministério.
Nas audições da CPI, João Galamba, como ministro que substituiu Pedro Nuno Santos na pasta das Infraestruturas teve um comportamento indigno e a provar-se que, realmente, o primeiro-ministro devia ter aceitado a sua demissão. Galamba, através da sua chefe de gabinete, contactou com o SIS (Secretas) a fim de esta instituição ter um comportamento ilegal de funções policiais ao ir reaver um computador de um adjunto do ministro Galamba. O caso deu água pela barba e agora o relatório da CPI não aborda a gravidade destes factos que ficaram provados. O partido neonazi, de André Ventura, até já marcou pontos, vindo anunciar que o relatório foi redigido pelo Governo e entregue à deputada presidente da CPI. Os outros partidos políticos têm-se manifestado abertamente contra o branqueamento inserido no relatório sobre factos graves de que se tomaram conhecimento ao longo das audições e que o relatório nada refere.
O Estado português introduziu na TAP mais de três mil milhões de euros do povo, alegando que seria para salvar a empresa de transporte aéreo. Com esse dinheiro foi criado o tal Fundo da Airbus, para a aquisição de aeronaves, mas afinal, a TAP ainda tem mais de 20 aviões por receber da Airbus. A discussão não tem fim. Há partidos políticos que dizem ir votar contra o relatório. Outros manifestaram que irão redigir outro relatório com todos os factos graves que foram abordados na CPI e que todo o país ouviu e leu através da comunicação social.
Um relatório sobre 46 audições parlamentares não pode ser uma espécie de generalizações balofas omitindo as passagens graves que comprometiam membros do Governo e até o Partido Socialista, quando, por exemplo, o seu grupo parlamentar mobilizou uma reunião com a CEO da TAP para combinarem as perguntas e respostas durante a audição na CPI. O facto de um relatório parlamentar desta importância ser apresentado de um modo leviano e partidário é muito grave. O primeiro-ministro, António Costa, disse que se pronunciava apenas quando o relatório estivesse finalizado. Pudera, ele sabe que o relatório não haverá de conter nada que comprometa a sua governação. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (que voltou a desmaiar na semana passada) também afirmou que aguarda pelo final das conclusões do relatório para convocar o Conselho de Estado. O caso não é nenhuma brincadeira e o povo sabe perfeitamente que a TAP tem sido um cambalacho de enormes dimensões para certos indivíduos e os trabalhadores é que viram os seus salários diminuir e outros foram mesmo despedidos da empresa aérea. O relatório tem, no mínimo, três pontos muito polémicos e de grande controvérsia: a afirmação de que o Governo não interferiu na gestão da TAP, quando se sabia que o ministro Pedro Nuno Santos dava ordens para a CEO da TAP todos os dias, a afirmação de que não sabia do valor da indemnização de meio milhão a Alexandra Reis, quando o próprio secretário de Estado Hugo Mendes é que tratou de tudo e depois deu conhecimento ao seu ministro e a ausência de referências ao episódio que envolveu João Galamba e o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro, o que constituiu uma das maiores palhaçadas jamais vista na governação democrática. Neste último particular, inventaram-se cenas de pancadaria, agressões a funcionárias, roubo de computador, chamada dos SIS para fazer de Polícia Judiciária, insultos ao telefone e o relatório nada refere? Não, assim, o povo já nem na casa da democracia acredita. É o descrédito total quando Ana Paula Bernardo, relatora do relatório se encontrou com os jornalistas, dissecou uns quantos (poucos) temas relacionados com as 200 páginas e levantou-se da mesa dizendo que tinha de se ir embora porque existia outro compromisso, precisamente no momento em que os jornalistas queriam colocar as mais diversas perguntas. Bem, isto já não é democracia, não é nada. Reina o compadrio, o partidarismo e a pouca vergonha.

10 Jul 2023

Amêijoas à bulhão patos-bravos

Os patos-bravos criminosos ganham milhões de euros com o tráfico humano para a apanha de bivalves nas lamas dos rios Tejo e Sado, mesmo em frente aos ministérios do Terreiro do Paço, de Lisboa. Uma mafia bem organizada que sem ninguém conseguir explicar, fecharam os olhos durante anos às autoridades competentes (neste caso, muito incompetentes). Os patos-bravos criminosos estendiam a sua rede de traficar pobres seres humanos, especialmente, de países asiáticos ou do terceiro mundo, nomeadamente da Tailândia e Roménia. A apanha de amêijoas-japónicas tem sido feita por cerca de 1700 mariscadores ilegais. A amêijoa-japónica foi introduzida nas águas portuguesas do Tejo e do Sado como uma experiência ambiental para purificar mercúrio, chumbo e cádmio. Actualmente, esta espécie invasora, tóxica para os humanos, chega aos consumidores em Portugal e Espanha através de redes de caça furtiva. A amêijoa-japónica absorve as biotoxinas das águas dos rios lisboetas, um vestígio de um passado industrial que se tornou agora num problema de saúde pública. Apesar da sua elevada toxicidade, pode ser consumida caso tenha sido sujeita a níveis adequados de purificação, mas, na sua maioria, é obtida furtivamente, é frequentemente mal descontaminada e intoxica o consumidor, causando graves consequências que podem até levar à morte, segundo afirmou ao HojeMacau um médico especialista.

O problema tem crescido nos últimos anos. As redes clandestinas que traficam a amêijoa-japónica chegam a capturar até 14 toneladas por dia. Após um processo de limpeza insuficiente e documentos falsos, as amêijoas podem acabar em supermercados dos dois países ibéricos, apesar de não estarem aptas para consumo. Em Maio passado, foram apreendidas 1,5 toneladas de amêijoa-japónica impróprias para consumir.

Agora, as autoridades levaram a efeito uma operação relâmpago na vila do Samouco, Alcochete, onde existe um armazém que estava repleto de centenas de imigrantes ilegais e que eram explorados para a apanha dos bivalves. As autoridades depararam-se com um cenário de horror: cerca de 300 homens e mulheres, asiáticos, em condições absolutamente deploráveis, nojentas mesmo. Até foi difícil de entrar ou ainda menos permanecer no interior devido ao mau cheiro. Estava tudo no chão e pelo número de fatos de mergulho encontrado pelas autoridades, a conclusão é de que estão em Portugal muito mais imigrantes para a apanha ilegal. Quatro cabecilhas da rede criminosa foram detidos, três portugueses e um tailandês, indiciados de associação criminosa e exploração de mão de obra ilegal. A mega operação da Unidade Central de Investigação Criminal (UCIC) da Polícia Marítima estava a ser preparada há meses e já se sabia que numa rua do Montijo viviam dezenas de imigrantes asiáticos, explorados na apanha dos bivalves. Chegam a Portugal com a promessa de trabalho, mas acabam por ficar presos a intermediários e sofrem ameaças. Em média, os mariscadores vendem a amêijoa-japónica a três euros o quilo e os intermediários, depois de ensacados os bivalves, vendem a 18 euros, num negócio ilegal que pode render até 30 milhões de euros por ano. Deslocámo-nos ao Montijo para obter mais informação e ninguém quis falar sobre o assunto. Impera o medo. Apenas nos disseram que estão envolvidos indivíduos muito poderosos e perigosos. Falar sobre a apanha das amêijoas-japónicas é o mesmo do que se passava no tempo da PIDE sob a alçada do ditador Salazar.

Sob a ponte Vasco da Gama, as águas do Tejo têm um elevado nível de toxicidade, de acordo com o instituto meteorológico português. Uma prática comum dos caçadores furtivos é adulterar a origem das amêijoas, ou seja, apanhá-las no Tejo e certificar que são do rio Sado, por este ter muito menos toxicidade. A maior parte das capturas é transportada por intermediários para Espanha, principalmente para os portos de Vigo e Pontevedra, onde é entregue em estabelecimentos de aquacultura. Muitos destes estabelecimentos conhecem a origem dos bivalves, os quais também podem ser acusados da prática de crime contra a saúde pública. Uma das informações que recolhemos diz respeito à manobra do transporte. As redes criminosas falsificam os documentos de registo e as amêijoas partem para Espanha em carrinhas preparadas que fazem movimentos quase diários. E o mais grave é que de Espanha são comercializadas para toda a Europa.

Este perigoso e letal negócio que se inicia em Portugal com o tráfico humano vindo de países normalmente asiáticos, está a constituir um grave problema para as autoridades policiais, pois, os mafiosos não brincam em serviço, e têm ameaçado de morte quem se intrometa no negócio. Os responsáveis pela saúde pública também estão deveras preocupados com as negociatas porque uma grande quantidade de bivalves fica em Portugal.

3 Jul 2023

O povo não está cansado

Um amigo meu tem uma pequena fábrica de placas de contraplacados. Há dias, encontrámo-nos e a conversa percorreu vários continentes desde aquela loucura de irem ver os destroços do ‘Titanic’ a 3.800 metros de profundidade até às empregadas domésticas que cada vez são mais abusadas sexualmente para que possam obter um pecúlio extra dos patrões. No entanto, o principal da conversa situou-se na ideia peregrina que está em estudo nas hostes governamentais de se trabalhar apenas quatro dias por cada semana. O povo está cansado? Qual quê, qual carapuça. O meu amigo transmitiu-me que para o país andar para a frente, as fábricas e outras empresas até deviam trabalhar ao domingo. Aliás, algumas já o fazem, tal como hipermercados e centros comerciais. Antes, trabalhar aos domingos era um crime. Depois começaram a ficar de boca aberta ao verem as lojas dos chineses abertas ao domingo e agora uma grande parte de comerciantes já trabalham no “dia santo”…
O meu interlocutor explicou-me que a possível medida de trabalhar apenas quatro dias por semana, deve ser um caso para países ricos, muito desenvolvidos e que não tenham dívida externa. Se o pessoal começa a ter descanso três dias: sexta, sábado e domingo, a sua opinião é que o país regressa à bancarrota. Para alguns patrões trata-se da sorte grande porque ao parar tudo, a despesa da água e da luz diminui substancialmente. E os trabalhadores? Passam a receber o mesmo salário? Esses, estão muito enganados com o tri-descanso. O dia em que não trabalham será para dormir até ao meio-dia, depois têm de limpar a casa, pôr a roupa a lavar, passar a ferro, limpar os vidros e as varandas, cortar a relva, arranjar o jardim, lavar o carro e por aí adiante. Não haverá descanso nenhum, e irão trabalhar muito mais do que se estivessem no escritório ou na fábrica.
A medida dos quatro dias de trabalho por semana tem os seus apoiantes, mas também existe um grande número de trabalhadores que acha não haver qualquer vantagem. E alguns até já me salientaram: “É pá, mas o que é que eu estou a fazer em casa ou no café? A olhar para a televisão e a engordar com o sedentarismo ou no café a aturar bêbedos?”. A opinião varia. A medida poderá ser implementada, mas quer-nos parecer que ao fim de um ano tudo voltará ao princípio. O pessoal está habituado a um certo ritmo de vida e não está interessado em nenhum tipo de pasmaceira ou de trabalho caseiro de borla.
Para os que apoiam trabalhar só quatro dias por semana, segundo estatísticas confidenciais a que tivemos acesso, a maioria dos apoiantes tem dinheiro, é classe média alta. Pode pegar no carro com a cara-metade e passar três dias no ripanço numa praia ao longo da costa plantada. Mas, essa maioria tem um problema: se tiver filhos, já não haverá passeio para um turismo rural ou hotel de cinco estrelas porque a miudagem tem aulas à sexta-feira. Ou então, as escolas (professores, assistentes sociais, cozinheiros e funcionários da limpeza) também encerram porque só passam a abrir quatro dias por semana? Tudo isto, é muito confuso e perplexo. Não será fácil agradar a todos, como tudo na vida, mas o Governo terá de pensar muito bem, contactar patrões e comissões de trabalhadores antes de decidir pelo decreto. Não é fácil e sobre esta matéria muita água irá correr por baixo da ponte.
O que nós pensamos é que o país tem mais de dois milhões de cidadãos no limite da pobreza. Muitos desempregados, outros que fazem biscates durante todo o dia, outros dedicam-se à prostituição e ainda outros “inscrevem-se” nos gangues e a nessa vida fácil cometem um vasto número de crimes, que na maior parte das vezes, leva-os a ir ver o sol aos quadradinhos. Semana com quatro dias de trabalho? Hum… cheira-me que os pobres que trabalham (a maioria) não vão gostar da decisão e ainda vamos ter, pela primeira vez, uma manifestação sob o slogan “Somos pobres, queremos trabalhar!”. Uma verdade é certa: o povo não está cansado de trabalhar, o povo está é cansado de ganhar mal…

26 Jun 2023

Seis meses de inquérito à TAP

Seis meses, meus amigos. Seis meses de inquirições na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP. Aproximadamente 60 sessões de audições das mais variadas personalidades que terminaram na passada sexta-feira. Podemos concluir que se tratou de uma maratona parlamentar repleta de confusões, mentiras, deturpações, corrupção, desvios do tema principal, confrontos partidários, inquiridos a deturparem factos verdadeiros. Um sumário de assuntos que deveriam ser apenas relacionados com a TAP e assistimos a dada altura à ocupação das inquirições a um escândalo de um adjunto do ministro João Galamba que foi demitido após a chefe de Gabinete do ministro Galamba que recebeu ordens governamentais para contactar o SIS (Secretas), a fim de reter o computador de trabalho do referido adjunto ministerial ao bom estilo da antiga PIDE/DGS, quando se tratava de um assunto unicamente relacionado com a Polícia Judiciária. Este tema deu água pela barba e o povo acabou por ficar sem qualquer confiança nos SIS, por esta instituição não estar provida estatutariamente de qualquer acção do foro policial ou judicial.

A Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP abordou ao longo dos seis meses os mais diferentes acontecimentos relacionados com a TAP, tais como privatização da empresa, nacionalização, indemnizações absurdas e investimento estatal de mais de três mil milhões na empresa num total desrespeito pelo dinheiro dos portugueses. A dada altura, o tema principal foi verdadeiramente ligado às indemnizações ilógicas e ilegais, como os 55 milhões a um fulano que era accionista da empresa enquanto privada, 500 mil euros à engenheira Alexandra Reis e apenas porque a CEO francesa da TAP entrou em discordância com a administradora portuguesa. A mesma Alexandra Reis haveria passado pouco tempo de ingressar como presidente da NAV, uma empresa igualmente pública e da área da aviação civil e logo de seguida “roubada” à tutela do Ministério das Infraestruturas para o Ministério das Finanças, por sinal, ministérios tutelados por dois rivais políticos, Fernando Medina e Pedro Nuno Santos. As audições conseguiram ser tão maçadoras e nada esclarecedoras que o país inteiro estava desejoso que terminasse o desiderato indicado.

As contradições e mentiras foram de tal ordem que podemos adiantar que a pior presença na sala de audições foi a do actual ministro das Infraestruturas, João Galamba, que simplesmente demonstrou incompetência, má preparação para a inquirição mentindo sobre factos que já estavam provados e a melhor presença foi efectivamente a de Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas e Habitação que haveria de se demitir devido ao caso relacionado com Alexandra Reis. Pedro Nuno Santos mostrou ser um “lobo” político que se iniciou nestas andanças aos 14 anos de idade e que se apresentou aos deputados bem preparado, com seriedade, assumindo os erros cometidos e as responsabilidades que lhe coubera. É na verdade, o grande candidato a ser o futuro líder do Partido socialista.

As audições para as pessoas mais distraídas tiveram um número surpreendente de presenças que nos deixa perplexos ao imaginarmos as incongruências que ali foram ditadas. Para que tenham uma ideia real do que teria acontecido foram ouvidos pela Comissão algumas personalidades tais como: Eugénia Correia, chefe de Gabinete do ministro João Galamba; presidente da Comissão de Vencimentos da TAP; Fernando Pinto, ex-presidente executivo da TAP; Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA); Sindicato Independente de Pilotos de Linhas Aéreas (SIPLA); Sindicato dos Aeroportos de Manutenção e Aviação (STAMA); Plataforma de Sindicatos de Terra do Grupo TAP; Cristina Carrilho, coordenadora da Comissão de Trabalhadores da TAP; Tiago Faria Lopes; Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC); Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC); Paulo Duarte, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA); Ricardo Penarróias, dirigente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC); Mário Lobo, Parpública; Carlos Durães de Conceição, Parpública; José Gato, Direção Geral do Tesouro e Finanças; Maria João Araújo, Direção Geral do Tesouro e Finanças; Representante da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados responsável pela representação de Alexandra Reis nas negociações com a TAP; César Sá Esteves, jurista da SRS Advogados; António Manuel Ferreira dos Santos, Inspector-geral da Inspeção-Geral de Finanças; Manuel Teixeira Rolo, ex-Presidente do Conselho de Administração da NAV; Jaime Serrão Andrez, presidente da Parpública; Luís Ribeiro, ex-presidente da ANAC; José Luís Arnaut, presidente do conselho de administração da ANA; Violeta Bulc, comissária Europeia que avalizou a privatização da TAP em 2015; Margrethe Vestager, comissária Europeia que tratou da reestruturação da TAP; Sérgio Monteiro, secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações entre 2011 e 2015; António Pires de Lima, ministro da Economia entre 2013 e 2015; Pedro Marques, ministro das Infraestruturas entre 2015 e 2019; Luís Laginha de Sousa, presidente da CMVM; Responsáveis da DGComp com o acompanhamento do plano de reestruturação da TAP; Carlos Elavai, Managing Director e Partner da BCG; Auditores da TAP (PWC); Maria de Fátima Castanheira Cortês Geada, ex-Presidente do Conselho Fiscal da TAP; Luís Manuel Martins, Comissão Vencimentos TAP; Responsável pelo departamento jurídico da TAP na ausência de Stéphanie Sá Silva; Stéphanie Sá Silva, ex-diretora jurídica da TAP; Abílio Martins, ex-vice presidente do Marketing and Sales, da TAP; João Weber Gameiro, ex-administrador financeiro da TAP; António Macedo Vitorino, presidente da Assembleia Geral da TAP; David Neeleman, ex-accionista e administrador da TAP; Diogo Lacerda Machado, ex-Administrador Não-Executivo da TAP; Miguel Frasquilho, ex-presidente do conselho de administração da TAP; Rafael Quintas, ex-administrador financeiro da TAP; Antonoaldo Neves, Ex-CEO da TAP; Ramiro Sequeira, ex-CEO e atual Chief Operating Officer da TAP; Humberto Pedrosa, ex-accionista e administrador da TAP; Gonçalo Pires, administrador financeiro da TAP; Manuel Beja, presidente do conselho de administração da TAP; Christine Ourmières-Widener, CEO da TAP; Alexandra Reis, ex-administradora executiva da TAP, ex-Presidente do CA da NAV e ex-Secretária de Estado do Tesouro; João Galamba, ministro das Infraestruturas; Maria Antónia Barbosa de Araújo, ex-chefe do Gabinete do Ministro das Infraestruturas e da Habitação e actual chefe do Gabinete do Secretário de Estado das Infraestruturas; Hugo Santos Mendes, ex-secretário de Estado das Infraestruturas; João Nunes Mendes, ex-secretário de Estado das Finanças de João Leão e ex-secretário de Estado do Tesouro de Fernando Medina; Miguel Cruz, ex-secretário de Estado do Tesouro; Mário Centeno, ex-ministro das Finanças; João Leão, ex-ministro das Finanças; Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação (período 2019 e 2023) e Fernando Medina, ministro das Finanças. É inacreditável e fantástico. Tanta personalidade ouvida, e ao fim e ao cabo, as contradições foram tantas que ninguém entendeu nada de nada.

19 Jun 2023

A ingratidão do 10 de Junho

Li atentamente no Facebook uma referência a um macaense que é um grande artista plástico, um gráfico de se lhe tirar o chapéu e autor, há vários anos, do cartaz do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, de seu nome Victor Hugo Marreiros.

O texto referia que a República Portuguesa já o devia ter condecorado pelo seu amor a Portugal na exteriorização da sua arte. Não faço a mínima ideia se Macau já o agraciou, o que sei é que nunca vi que o artista tivesse sido chamado ao Palácio de Belém para receber uma condecoração nacional bem merecida. Esta, é uma das formas de ingratidão do 10 de Junho que se diz dedicado às Comunidades Portuguesas.

O que têm feito os diferentes governos portugueses pelas suas comunidades espalhadas pelo mundo? Têm enviado bolas de futebol para entreter a pequenada do Luxemburgo, de Moçambique, da Austrália ou dos Estados Unidos da América? Têm-se preocupado com os lusodescendentes que se licenciaram nas mais diversas universidades internacionais e contactá-los para saber o que precisam no futuro da sua profissão ou mesmo convidá-los a trabalhar em Portugal? Têm organizado os inúmeros consulados portugueses a receber condignamente os emigrantes que aos milhares desejam tratar do seu cartão de cidadão ou passaporte? Neste particular de “consulados” temos sido uma vergonha. A maioria dos casos informa os portugueses no estrangeiro que são “honorários”. Em outros casos, dizem que os assuntos têm de ser tratados nas embaixadas, assim ao estilo de tirar a água do capote. Por exemplo, no grandioso país que é a Austrália, como é que um português pode dirigir-se de Darwin, Perth, Brisbane ou mesmo de Melbourne até Camberra para ir à Embaixada de Portugal, se nem sequer sabem o horário de atendimento.

Não, não é um dia dedicado às Comunidades Portuguesas. Essas comunidades pouco ou nada usufruem da atenção, dedicação e obrigação de velarem pelos seus inúmeros problemas. Em grande número de casos, os emigrantes resolvem os seus problemas burocráticos quando se deslocam de férias a Portugal, normalmente no mês de Agosto. Há emigrantes que nem sabem onde é o consulado português, querem registar a sua nova vida, leia-se, residência, no país para onde decidiram viver e não o conseguem fazer.

Em Inglaterra, ao longo dos anos, temos lido as mais diversas queixas dos nossos compatriotas contra os consulados que não estão ao seu serviço. No Canadá um casal quis registar o seu filho que acabara de nascer e responderam-lhe que o registo seria feito após os dois anos de idade. Dois anos? A que propósito? É assim que se dedica o Dia de Portugal às Comunidades Portuguesas?

O que temos assistido é à ignóbil fanfarronice de anualmente um secretário de Estado, um ministro ou o primeiro-ministro e o Presidente da República deslocarem-se a um país onde residem portugueses, chegam lá, “mamam” umas almoçaradas e jantaradas, dão uns beijinhos, proferem uns discursos ocos e sem sentido, afirmam que gostam muito do patriotismo de quem por lá trabalha de sol a sol e viajam em primeira classe, porque a económica nas aeronaves deve ter percevejos…

O Dia de Portugal não pode ser a ida à África do Sul do Presidente Marcelo zangado com o primeiro-ministro António Costa, fingirem que nem se veem e andarem a visitar uns museus sul-africanos – o que tem isso a ver com os emigrantes? –, participarem nuns jantares com beijinhos e abraços aos que foram convidados, nem sequer explicar aos mais jovens quem foi o nosso maior poeta Luiz de Camões e regressar o mais depressa possível à Régua para observarem no Douro a poluição dos barcos do patrão da TVI e um fogo de artifício. Na Régua até o ministro João Galamba foi assobiado pelo povo e o primeiro-ministro confrontado pela ineficácia dedicada aos professores. O que restou de benefício para os portugueses da África do Sul a visita oficial deste ano? Nada.

Portugal tem de pensar profundamente que estes emigrantes que vivem desamparados oficialmente pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros são os mesmos que depositam milhões de euros nos bancos portugueses anualmente. Eles ajudam a economia portuguesa, eles fazem por viajar na TAP, eles alugam carros em Portugal, eles edificam a sua casa nas suas terras natais, eles frequentam durante um mês tudo o que é monumento, restaurante e mercado. E isto, não tem importância? O Governo não se acha com competência para colocar os consulados portugueses a servir dignamente os emigrantes? Não tem informações dos nossos emigrantes que adquiriram um prestígio enorme onde vivem, tal como o artista de gabarito internacional Victor Hugo Marreiros? Como diria o meu vizinho: “Não me lixem”…

Crédito para a foto: Cartaz de Victor Hugo Marreiros

11 Jun 2023