A democracia abanou

A democracia portuguesa com 50 anos abanou. Mas não caiu. Não caiu porque – e devo ser a única pessoa a dizer isto – o partido Chega teve uma estrondosa derrota. Sim, uma derrota, porque o seu líder André Ventura anunciou por mais de uma vez que queria ser governo e que iria vencer as eleições. Ventura queria obter o primeiro lugar no número de votos e de mandatos de deputados. Ventura queria derrotar a Aliança Democrática (AD). Melhor, queria destronar, de uma vez por todas, Luís Montenegro.

É certo, que o Chega obteve mais de um milhão e cem mil votos e quarenta e oito deputados, no momento em que ainda não é do conhecimento público o resultado eleitoral da emigração. Ventura está desesperado porque não ganhou as eleições e não pensem que o milhão e tal de votos no Chega que foram de portugueses totalmente racistas, xenófobos, anti Constituição e anti regime vigente.

Não, os eleitores do Chega, na sua maioria, foram antigos abstencionistas, descontentes com a governação socialista e dissidentes do PSD e do CDS. Foram eleitores que regressarão rapidamente ao PSD quando este partido não tiver como líder Luís Montenegro, um político que não tem a mínima ideia do que é governar. São eleitores democratas que não se reveem num regresso ao fascismo. No máximo, o Chega tem duzentos mil eleitores que pensam como André Ventura, que são contra o regime e que querem destruir a democracia, à semelhança de outros partidos na Europa, nos EUA com Donald Trump e no Brasil com Jair Bolsonaro.

O resultado das eleições deixou-nos as mais variadas análises a começar pela margem mínima de votos entre o PSD e o PS. Se o PSD tivesse concorrido sozinho, e nunca aliado a um partido semelhante a um táxi, teria muitos mais votos. Do mesmo modo, os analistas afirmam que se o Partido Socialista tivesse como líder José Luís Carneiro que venceria as eleições por uma margem distanciada do PSD. De qualquer das formas, em princípio, a AD venceu as eleições.

Não acredito que os socialistas obtenham os quatros deputados da emigração. Sendo assim, o Presidente da República, que foi o autor de um golpe palaciano, com a sua amiga procuradora-Geral da República, para destituir António Costa e o seu Governo, certamente que irá nomear Luís Montenegro como primeiro-ministro. Montenegro não deve dormir descansadamente desde a noite em que se souberam os resultados eleitorais. Não faz a mínima ideia onde irá arranjar personalidades competentes, e muito menos independentes, tal como anunciou, para formar Governo.

Na semana passada, Montenegro realizou alguns contactos para possíveis ministros e ouviu a rejeição completa da maioria dos contactados por esta não saber quanto tempo irá o novo Governo ficar em funções. O Partido Socialista já anunciou que só fará oposição e que não lhe cabe aprovar seja o que for de propostas vindas de Montenegro. O Chega deu conhecimento que apresentará uma moção de rejeição na Assembleia da República ao governo da AD, apesar de nos últimos dias já ter andado a fazer os possíveis para que a AD mude de posição e que pudesse haver um Governo de direita com maioria absoluta. Todos sabemos que Montenegro tem mantido a sua do “não, é não”, mas já afirmou que apoiará um vice-presidente da Assembleia da República que seja deputado do Chega… O Partido Comunista, pela voz do seu líder Paulo Raimundo, também já deu a conhecer que apresentará uma moção de rejeição ao novo governo de direita.

A verdade, é que Pedro Nuno Santos quando afirmou que “A AD é uma bagunça”, tinha total razão. É o que se está a verificar. Metade dos militantes do PSD querem aliança com o Chega para formar o novo Governo. A outra metade apoia Luís Montenegro e nem quer ouvir falar no Chega. Mas, vão ter que ouvir muitas vezes André Ventura a continuar a denegrir Montenegro, a acusar o Governo de não resolver os problemas dos portugueses, na Educação, Habitação, Saúde, Forças Armadas e em outras temáticas que ele sempre arranja, seja com demagogia e populismo, ou não. Há quem diga que o Chega é um fenómeno. Nada mais patético. Não se trata de fenómeno nenhum porque há muito que se sabia que, pelo menos, iria triplicar o número de votos e que o seu paradigma é idêntico aos dos partidos da extrema-direita na Europa.

Para terminar quero deixar-vos quatro notas. A primeira, é o número muito baixo da abstenção. A segunda, o bom resultado do Iniciativa Liberal (IL) porque todos pensavam que a saída de Cotrim de Figueiredo seria o fim do partido. A terceira, é o resultado muito bom do Livre, porque o discurso de Rui Tavares teve sempre coerência, humildade e propostas justas. E a quarta, tem a ver com a desilusão no resultado do Partido Comunista, especialmente no Alentejo, quando há mais de cem anos luta pela liberdade e pelo bem do povo. Aguardemos o que sucederá esta semana, após sabermos os resultados da emigração e a posição do Presidente Marcelo, que fazemos votos que acabe com trapalhadas como aconteceu na semana passada em começar a ouvir os partidos sem se saber ainda o resultado final das eleições…

18 Mar 2024

Portugal já tem novo primeiro-ministro

Estou a escrever-vos no dia mais estúpido da política portuguesa, o chamado dia de reflexão, em especial quando me recordo que há países civilizados que até fazem propaganda eleitoral no dia e hora em que os eleitores vão votar. Em Portugal parou tudo sobre eleições no sábado que antecede a votação para, ai meu Deus, para reflexão. Reflexão de quê? Quando noventa por cento dos portugueses já decidiram em quem vão votar.

Enfim, é mais uma aberração deste modelo eleitoral que Portugal escolheu para prepararem as escolas como locais de voto e o transporte das urnas e dos boletins de voto sem qualquer perturbação como se isso não pudesse realizar-se durante a semana. Certamente, no momento em que já têm o HOJE MACAU na mão já os leitores sabem quem é o novo primeiro-ministro.

O que vos posso dizer é sobre esta semana de campanha eleitoral que antecedeu o dia de ontem em que o povo escolheu o novo primeiro-ministro. E a escolha recaiu em Pedro Nuno Santos (PS) ou em Luís Montenegro (AD). Como eu votei sempre em branco, estou à vontade para vos comunicar sem facciosismos o que aconteceu. A campanha eleitoral foi possivelmente a pior de sempre. Não assistimos a uma campanha dos partidos políticos, mas sim de líderes dos partidos. Não se ouviu falar dos reais problemas que fazem o povo sofrer.

Não ouvimos falar das alternativas para que Portugal deixe de ser um dos países mais pobres da Europa. Ninguém falou da tragédia que grassa na Ucrânia ou na Faixa de Gaza, que queiram ou não, terá repercussões em Portugal, porque Putin não brinca em serviço nem esquece os detractores do seu regime.

O lado mais negro da campanha, infelizmente, coube à comunicação social e aos líderes dos partidos. A comunicação social passou dos limites, quando os canais de televisão escolheram para comentadores da campanha uma maioria que apenas soube promover a AD e, em particular, Luís Montenegro.

Os líderes dos partidos, por sua vez, negaram-se, leia-se, desprezaram, os jornais e não concederam uma única entrevista onde os temas políticos podiam ter sido mais aprofundados. O único facto político positivo foi o civismo verificado ao longo da campanha e não assistimos a insultos e a lavagem de roupa suja entre os candidatos, mesmo com André Ventura a comportar-se como um político moderado, o que lhe retirou muitos votos. Os adeptos do Chega queriam sangue, suor e lágrimas. Queriam que Ventura insultasse Montenegro, Rui Rocha, Mariana Mortágua ou Pedro Nuno Santos. Pelo contrário, conteve-se e apenas se mostrou ressabiado por Luís Montenegro ter dado a sua palavra que se ganhar as eleições não se alia ao Chega.

A campanha eleitoral mostrou pobreza no paradigma político e no entusiasmo popular. Assistimos a arruadas onde o povo estava em casa ou no trabalho. A adesão foi mínima e aconteceram acções de campanha que apenas tinham os membros da comitiva do partido que se deslocavam com o seu líder pelas ruas das cidades portuguesas.

Escândalos, tivemos dois. Por um lado, a AD foi buscar Passos Coelho, Durão Barroso, Assunção Cristas, Manuela Ferreira Leite, Luís Filipe Menezes, Santana Lopes, Rui Moreira, Marques Mendes, Rui Rio e, imaginem, a múmia Cavaco Silva, o pior primeiro-ministro da democracia com 50 anos de existência. Só disseram baboseiras e esqueceram-se dos telhados de vidro que têm e das lembranças muito negativas que o povo tem deles. Passos Coelho chegou a retirar o subsídio de Natal aos portugueses. Durão Barroso estendeu o tapete vermelho, nos Açores, para que Bush e seus amigalhaços destruíssem o Iraque.

Marques Mendes, sendo um comentador televisivo que devia manter a independência verbal, apareceu na rua aos gritos pela AD ao lado de Montenegro. Assunção Cristas foi a pior dirigente do CDS e os portugueses não esquecem a lei que ela aprovou sobre as rendas de casa, facto que ainda é um sofrimento para os mais desprotegidos. Santana Lopes, por indecente e má figura, bem teve que “fugir” da Provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e ficou sempre a suspeita de vários cambalachos.

Rui Moreira sempre se anunciou como um “independente” e apareceu ao lado de Montenegro apenas com o objectivo de no caso de a AD vencer as eleições, um dia ser apoiado como candidato a Presidente da República. Por seu turno, Pedro Nuno Santos, foi mais inteligente e apenas chamou António Costa porque sabe bem que se trata de um dos melhores políticos portugueses e ainda com muito crédito popular.

No entanto, o escândalo maior aconteceu no final da semana quando o semanário Expresso trouxe à estampa uma atitude inqualificável do Presidente da República e a merecer condenação. Marcelo Rebelo de Sousa, antes do acto eleitoral e dos resultados finais, veio anunciar que não dará posse a um governo que insira o Chega. Um acto de discriminação vergonhoso e dando a entender que a AD já tinha ganho as eleições. Se calhar, enganou-se.

Vocês, em Macau, hoje ao levantarem-se, já saberão se Marcelo estava certo da vitória de Montenegro. E a discriminação foi tanto mais grave que as suas palavras deram a entender que ninguém devia votar no Chega. Naturalmente que estamos perante um partido que defende a xenofobia, o racismo e o populismo.

Mas, queiramos ou não, trata-se de um partido com assento na Assembleia da República e que irá de certeza aumentar o número de votantes. Marcelo Rebelo de Sousa está nas bocas do mundo e já houve constitucionalistas que afirmaram tratar-se de um caso grave, que deve ser estudado pelo Tribunal Constitucional. Só faltou que Marcelo dissesse que não dava posse a um governo que tivesse comunistas. Ao fim e ao cabo, a sua atitude discriminatória foi uma ofensa ignóbil à própria democracia com 50 anos.

11 Mar 2024

A Justiça é só para pobres

Antes de mais, neste meu primeiro contacto com os leitores no Ano Novo do Dragão quero desejar a todos um ano cheio de felicidade e prosperidade, e como dizem por aí: Kung Hei Fat Choi.

Por aqui, a semana que passou deixou os portugueses ainda mais desolados com a Justiça. Tudo nesta tutela parece um descalabro. Os casos de investigação judicial têm-se sucedido e muitas vezes deixam a sociedade perplexa com um possível paradigma de defesa dos suspeitos de enorme e constante actividade ligada à corrupção. Há umas semanas, uma senhora de certa idade, com imensas dificuldades de sobrevivência, num hipermercado introduziu três latas de conserva na sua mala. Ao sair do estabelecimento os detectores assinalaram algo não pago no interior da mala. A segurança do hipermercado chamou a polícia, a senhora foi revistada, detectaram as latas de conserva, foi logo detida e presente a um tribunal foi sentenciada. Por outro lado, o Ministério Público e a Polícia Judiciária andaram quase dois anos a investigar várias personalidades da Madeira, incluindo o presidente do Governo regional, Miguel Albuquerque, e o presidente da Câmara Municipal do Funchal. Decidiram reunir todos os meios e num avião da Força Aérea seguiram para a Madeira cerca de cem agentes e procuradores onde realizaram várias buscas tendo decidido deter o presidente da edilidade madeirense e dois empresários que alegadamente conseguiam obter a concessão da maioria das grandes obras de construção civil naquele arquipélago. As suspeitas eram mais que muitas. Recebimento de dinheiro vivo, descoberta de envelopes com muitos milhares de euros na casa do presidente da Câmara e de sua mãe, que o motorista da Câmara efectuou vários depósitos bancários na conta do autarca presidente. As suspeitas judiciais concluíram que a empresa de construção civil em causa oferecia benesses às autoridades investigadas em troca da aprovação das obras no valor de milhões de euros. O presidente do Governo regional foi indiciado como arguido e depois de alguns dias lá se demitiu provocando a queda do Governo e o mesmo a situar-se em gestão e a aguardar-se uma decisão do Presidente da República para o caso de se decidir por eleições antecipadas, à semelhança do que acontecera com o primeiro-ministro António Costa. Miguel Albuquerque chegou ao ponto de adquirir um terreno com uma casa em ruínas, construiu um palacete que está transformado em alojamento local sem que as Finanças tivessem alterado o valor do IMI a pagar.

Os detidos viram iniciar-se o processo de decisão judicial que a Constituição insere que deve ser tomada em 48 horas. Ora, a partir desse momento o país assistiu a um descalabro absoluto na relação Ministério Público com o juiz de instrução criminal a quem foi entregue a análise das acusações. Vergonhosamente os detidos estiveram privados da liberdade e encurralados numa cela, sem condições, das instalações da Polícia Judiciária. Os advogados de defesa solicitaram, por duas vezes, a liberdade dos detidos, o que foi recusado pelo juiz. Se o juiz não aceitou a pretensão dos advogados de defesa é lógico que qualquer cidadão pense que se tratava de um caso gravíssimo. Mas não, ao fim de 21 dias o juiz de instrução criminal decidiu surpreendentemente pela libertação dos detidos pronunciando que não existiam quaisquer indícios de crime. O Ministério Público nem queria acreditar na decisão sobre as medidas de coação e já requereu da decisão do juiz. Inclusivamente a Procuradoria-Geral da República emitiu um comunicado onde salienta “existir indício de crime”.

O paradoxo é de tal forma inconsequente que observamos dois factos concretos: o presidente do Governo regional e o presidente da Câmara Municipal do Funchal demitiram-se, dando a entender que os factos eram passíveis de grande gravidade. Na Madeira, há muitas décadas que se suspeita de casos de corrupção ao mais alto nível da governação. E quando aconteceu uma investigação a sério, eis que um juiz permite que a lei seja violada com a detenção de três cidadãos durante 21 dias e depois envia-os em liberdade. Segundo as nossas fontes, que não conseguimos confirmar, o juiz em causa terá sido colega de curso de dois advogados de defesa deste caso de corrupção, branqueamento de capitais, de fraude fiscal e até diamantes entregues a Miguel Albuquerque e ao presidente da edilidade. Recorde-se, que este autarca tinha trabalhado para a empresa em causa que tem obtido a concessão das grandes obras na Madeira. E algo de mais grave, quando as mesmas fontes nos informaram que o juiz deste processo já tinha sido castigado por ofensas a um arguido noutro processo e que a pessoa que testemunhou contra o juiz foi precisamente uma procuradora deste caso da Madeira, levando a pensar que a decisão surpreendente do juiz se tratou apenas de uma vingança contra a referida procuradora.

Depois, temos a posição do Presidente da República que, num caso desta gravidade, tendo percorrido os seus dois mandatos de Chefe de Estado como um comentador quase diário de todo e qualquer caso, agora veio afirmar que não comentava casos judiciais. As críticas a Marcelo Rebelo de Sousa, ao juiz em causa e à procuradora-Geral da República têm sido uma constante dos mais variados quadrantes, nomeadamente do ex-presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, que já requereu ao Presidente da República que convoque o Conselho de Estado antes das eleições de 10 de Março, a fim de se debater a reforma necessária e urgente na Justiça. Rui Rio, ex-presidente do PSD também se pronunciou contra a morosidade na justiça e a leviandade de três cidadãos estarem privados da liberdade contra todas as regras dos direitos humanos. Uma coisa é certa, está instalada uma tensão muito significativa entre o Ministério Público e os juízes. E isto não é bom para um Estado que se diz democrático e de bem. A Justiça há muito que passa por momentos de degradação e não há dúvidas de que necessita de uma reforma urgente. Basta lembrarmo-nos dos adiamentos judiciais dos casos BES e José Sócrates. Mas, o pior de tudo é que o povo tem a consciência absoluta de que a Justiça é só para pobre…

19 Fev 2024

Macacadas portistas

Entre 2013 e 2018, quando o Sport Lisboa e Benfica conquistou vários campeonatos nacionais de futebol, lembro-me perfeitamente do que li por parte dos detractores do Benfica. Essencialmente, que o Benfica “comprava” os árbitros e essa era a razão de tantos títulos. Esqueciam-se os críticos que o Benfica teve durante essas vitórias, dos melhores jogadores que passaram por Portugal. Mas, esqueceram-se do fundamental: que o presidente do FC Porto foi levado a tribunal como suspeito do famoso caso ‘Apito Dourado’ e da “fruta” para os árbitros. Recordo-me perfeitamente que nessa altura, Pinto da Costa entrou no tribunal ladeado e protegido por um grupo enorme pertencente à claque oficial do FC Porto, os chamados ‘Super Dragões’, onde já figurava Fernando Madureira, mais conhecido pelo ´macaco’, como chefe da claque. Constatou-se em 2018 que os portistas tinham memória curta quando criticaram as vitórias do Benfica com a “ajuda” dos árbitros.

Na semana passada, este facto mereceu a recordação de tudo o que se passou nas hostes portistas quando a PSP entrou pela casa de Madureira, fez buscas, encontrou grande quantidade de dinheiro, de drogas, de material pirotécnico e uma arma, para além de os telemóveis seu e da sua mulher, os quais devem ter dado aos investigadores imenso conteúdo comprometedor entre Madureira e a Direcção da SAD do FC Porto. A verdade é que foram 12 pessoas detidas ligadas a Madureira e ao FC Porto. Inclusivamente Madureira e sua mulher declaravam às Finanças um rendimento mensal de dois mil euros e, no entanto, estão a construir uma casa no valor de milhões de euros junto à praia de Gaia.

Naturalmente que este caso não é virgem. Madureira já esteve incluído há mais de 15 anos em vários processos judiciais e ao livrar-se da prisão convenceu-se em absoluto que seria intocável porque tinha a protecção do presidente do FC Porto. E esta acção policial teve a ver precisamente com a última Assembleia-Geral dos portistas onde o grupo de Madureira – às ordens de funcionários do FC Porto que foram agora detidos – agrediu e ameaçou quantos se encontravam no pavilhão e que fossem adeptos da candidatura de André Villas-Boas à presidência do FC Porto. O grupo de Madureira, o célebre ´Super Dragões´, por diversas vezes já tinha ameaçado um grande número de adeptos de outros clubes, jogadores do FC Porto que desejavam deixar o clube, um treinador estrangeiro e árbitros que se negavam a deixar-se corromper. O volume de acções alegadamente criminosas teve agora o seu epílogo nesta “Operação Pretoriano”, um nome que eu apenas entendo dirigir-se directamente ao patrão Pinto da Costa, já que a esquadra pretoriana de Madureira teve sempre as costas quentes do presidente portista.

Em face deste escândalo, contactámos uma fonte amiga policial do Porto que nos disse: “Ó meu caro, as acusações ao macaco e ao seu grupo são mais que muitas, existem provas de venda de drogas, de controlo de prostituição de brasileiras, de branqueamento de capitais, de milhares de euros escondidos em casa incluindo atrás do televisor e no interior do sofá, de vendas de bilhetes para jogos a um preço excessivo, fuga ao fisco, ameaças a colegas meus que realizavam patrulhamento junto dos estádios, compra de carros de topo de gama sem justificação coincidente com os rendimentos declarados à Autoridade Fiscal e não tenho dúvidas que haverá mais pessoas a serem nomeadas como arguidas e para se fazer justiça o macaco terá de ficar em prisão preventiva”.

Esta opinião demonstra bem que não se trata de uma simples claque que ia para os estádios de futebol gritar em apoio ao seu clube. O caso poderá ser muito mais grave quando a investigação do Ministério Público apresentar provas ao tribunal que na estrutura do FC Porto é que as ordens eram dadas ao grupo de Madureira.

Obviamente que há um portista que respira de alívio e estará a pensar que os seus apoiantes não irão ter receio de votar em si. Falamos de André Villas-Boas a quem os seus apoiantes, por mais que uma vez, lhe transmitiram ter receio em ir votar nas próximas eleições para a presidência do FC Porto devido às ameaças que andavam a receber dos cabecilhas do grupo de Madureira agora detidos.

À hora que escrevemos esta crónica, os detidos continuavam a ser ouvidos pelo juiz de instrução criminal e as nossas fontes informaram-nos que alguns dos detidos não queriam falar à justiça, mas que o advogado de Madureira tinha-o convencido a prestar declarações. Tudo está em aberto no que deu muito que falar durante a última semana e os interrogatórios poderão ir até entre hoje e quarta-feira, contudo, o que se pode extrair deste facto é que as claques “oficiais” não têm razão de existir e que o futebol deve ser um espectáculo desportivo pacífico e ao qual os pais possam levar os seus filhotes sem medo de violência nas bancadas.

5 Fev 2024

O Bailinho da Madeira

A maioria dos caros leitores devem lembrar-se do cantor madeirense, Max, e da sua célebre canção o Bailinho da Madeira. Só que a música agora é outra. Há muitas décadas que a Região Autónoma da Madeira liderada por Alberto João Jardim já deixava os portugueses perplexos com as decisões que o ex-chefe do Executivo madeirense tomava deixando rabos de palha.

Reinou até poder e deixou a governar a Madeira o seu delfim Miguel Albuquerque. Este, começou por afirmar que ganharia eleições por maioria absoluta, caso contrário, demitia-se. Não aconteceu e teve de se valer do PAN local para poder continuar na cadeira do poder. Albuquerque, sabem bem os madeirenses, fez sempre o que quis e o que lhe apeteceu com aquele ar de monárquico arrogante. As desconfianças de negociatas obscuras, o compadrio com empresas de amigos, a colocação como presidente da Câmara Municipal do Funchal do seu maior amigo e braço direito, foram sempre uma constante.

As pessoas interrogavam-se como era possível uma offshore ter o direito de não dar satisfações nenhumas ao Governo central, a não ser pedir dinheiro. O tempo foi passando e a situação na Madeira passou a ser escandalosa no que tocava a ajustes directos de obras, de concursos públicos irregulares ou ilegais, autorizações para certos grupos hoteleiros e rejeitando outros interessados, compras extravagantes dos mais diferentes materiais e inserção dos mais diversos militantes do PSD regional em lugares-chave da administração pública. Chegou ao ponto de se aproveitar da fama mundial de Cristiano Ronaldo para se promover junto do povo madeirense. O seu Governo gastou milhões de euros deixando sempre um grande número de habitantes da ilha vivendo na miséria em casas quase em ruína.

Na semana passada assistimos ao Bailinho da Madeira em forma secreta com um avião da Força Aérea a transportar inspectores da Polícia Judiciária, procuradores e juízes em direcção ao Funchal. A comitiva judicial entrou a matar e realizou as mais diversas buscas, incluindo na casa de Miguel Albuquerque. A primeira conclusão foi a ligação corruptiva entre um grupo português de construção civil e as autoridades madeirenses.

Até dinheiro vivo encontraram na casa do presidente da edilidade funchalense e da sua mãe, bem como depósitos bancários injustificados nas suas contas. Foram de imediato detidos o presidente da Câmara do Funchal e dois empresários do referido grupo de construção civil, que pela divulgação de alguns factos ficou a saber-se que os concursos públicos das obras seriam alegadamente fraudulentos para que o tal grupo os vencesse.

Mais: o presidente do Governo regional, Miguel Albuquerque, foi constituído arguido e sem qualquer ética e dignidade política, anunciou logo que não se demitia. Neste sentido, o líder do PSD nacional, Luís Montenegro, fechou-se em copas, quando anteriormente teve apressadamente a decisão de anunciar que António Costa se devia demitir depois do tal parágrafo do comunicado da Procuradoria-Geral da República. Desta feita nem uma palavra no sentido de retirar imediatamente a confiança política a Miguel Albuquerque, que acabava de ser suspeito de corrupção e de outros crimes.

O ambiente político chegou ao rubro com todos os partidos, excepto os que fazem parte da nova Aliança Democrática, a exigirem a demissão de Albuquerque. Na sexta-feira, Albuquerque já não tinha mais condições políticas para continuar no cargo e anunciou a sua demissão.

Depois, assistimos à vergonhosa actuação do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa, que tinha ouvido de viva voz o pedido de demissão do primeiro-ministro António Costa, e acto contínuo, anunciou a dissolução da Assembleia da República e marcou eleições antecipadas e nem aceitou a proposta do Partido Socialista, que tinha a maioria absoluta, de continuar a governar Portugal com outro primeiro-ministro.

No caso da Madeira, o Presidente Marcelo, ex-líder do PSD, não teve o mesmo critério político e deixou que o Governo madeirense continuasse no activo com outro político do PSD Madeira à frente do Executivo. Dois pesos e duas medidas contraditórias que vieram manchar, mais uma vez, o mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, que cada vez perde mais popularidade junto do povo. O Presidente Marcelo apenas tinha de dissolver a Assembleia Legislativa regional e marcar eleições assim que a lei o permitisse, no caso concreto para o mês de Março.

Como devem imaginar assistimos ao aproveitamento político da situação por parte do Chega de André Ventura, que esfregou as mãos de contente na esperança de conseguir obter uma votação superior ao PSD devido à inoperância de Luís Montenegro, nas próximas eleições de 10 de Março. Naturalmente que este caso é gravíssimo quando estão em causa vários crimes graves por parte das autoridades madeirenses, especialmente a detenção do presidente da Câmara do Funchal, o homem de maior confiança de Miguel Albuquerque.

Estamos perante mais um caso que fará correr muita água por baixo das pontes, já que será o tribunal a decidir o futuro dos suspeitos por corrupção em grande escala e de outros crimes graves. No entanto, lembremo-nos do caso Sócrates, que na semana passada voltou ao início passados anos e voltou a ser acusado de vários crimes na companhia de vários arguidos e cujo “caso Marquês” continuará para as calendas. Quanto aos ilhéus irão continuar num Bailinho da Madeira com fanfarra repleta de interrogações.

29 Jan 2024

O congresso dos desiludidos

Na semana passada realizou-se o 5.º Congresso dos Jornalistas. Como tenho o hábito de escrever num blogue sobre jornalismo fui convidado como observador para o congresso. Foi-me totalmente impossível estar presente porque resido longe de Lisboa. No entanto, acompanhei pela comunicação social o discurso do Presidente da República na abertura dos trabalhos e fiquei profundamente chocado com as verdades proferidas pelo professor Marcelo Rebelo de Sousa, de quem me lembro bem dos tempos em que foi jornalista no Expresso. O Presidente Marcelo meteu o dedo na ferida quando afirmou que acima de tudo é necessária muita transparência sobre a propriedade dos jornais, rádios ou televisões. Nada mais certo. Os jornalistas que trabalham para o Global Media Group vivem momentos de angústia porque não receberam os salários de Dezembro e muito menos o subsídio de Natal. Alegadamente ninguém consegue divulgar quem são os accionistas do Grupo e qual a razão de o Ministério Público não levar a efeito uma investigação sobre o assunto.

O Congresso dos Jornalistas tentou debater e abordar os problemas da classe. Não conseguiu porque a lista é infindável. Antes do 25 de Abril os jornalistas como Cáceres Monteiro, Baptista-Bastos, Joaquim Letria, José Carlos Vasconcelos, Carlos Albino, Augusto Vilela, Ruella Ramos, Herculano Carreira, Raul Rego ou Assis Pacheco enfrentavam a censura sem receio de serem presos pela PIDE. Escreviam o que conseguiam que o lápis azul não riscasse e lutavam por um dia existir liberdade de informação em Portugal. No Congresso, a maioria dos presentes era composta por jovens sonhadores para quem o jornalismo é a melhor forma de servir o povo em termos de notícias, investigação ou reportagem. São jovens que sentem que se não existe censura oficial existe a censura de quem serve os patrões nos cargos de direcção ou são obrigados a autocensurar os temas que obtêm, antes que sejam despedidos. São jovens que recebem um salário mínimo, muitos a recibos verdes e impossibilitados, tais como outros jovens, de contrair família e comprar uma casa.

O jornalismo de hoje, seja nos jornais, rádio ou televisão é tão desinteressante que os potenciais leitores, ouvintes ou espectadores optam pelas redes sociais ou pela informação que obtêm nos telemóveis. A venda de jornais está em decadência e uma vendedora de jornais de um quiosque na cidade do Porto transmitiu-me que nunca devolveu tantas sobras de jornais como agora. Neste sentido, qual o futuro que os actuais jornalistas podem esperar? Nem sequer têm ao seu lado, nas redacções, jornalistas seniores que lhes ajudem a fundamentar um artigo com dados históricos de há 40, 50 ou 60 anos. Os donos de jornais só querem contratar jornalistas cuja despesa seja mínima e conheço alguns jornalistas que até usam o seu próprio computador.

Os meus caros leitores não fazem ideia quantos dos presentes no Congresso já me escreveram, sabendo que tenho alguns amigos em Macau, da possibilidade de irem trabalhar para a RAEM. Obviamente que lhes respondo não conhecer directores de jornais em Macau que os possam contratar e limito-me a aconselhá-los que entrem em contacto com os jornais macaenses na perspectiva de terem uma resposta positiva. São jovens com o curso superior de jornalismo, são sonhadores de um dia poderem ter a liberdade de escrever o que lhes vem à mente. O debate sobre jornalismo é peculiar e imprevisível. Em nenhum órgão de comunicação social temos profissionais com a liberdade total que prometeram em 25 de Abril de 1974. E depois, acontece o que mais nos entristece. Muitos jornalistas são obrigados ao mercenarismo e a trocar o seu talento por algo pecuniário em troca de uma entrevista. Um crime no jornalismo. Recordo o jornalista do semanário ‘Tempo’, Nuno Rocha, que um dia me disse que no seu jornal começavam a trabalhar estagiários impreparados e com mentalidade mercenária que apenas estavam a visar obter um lugar em qualquer lado que lhes desse muito dinheiro por fora. Nuno Rocha tinha razão. Alguns deixaram o seu jornal e debandaram para a vida fácil de apenas escreverem sob a “ordem do dono”.

As conclusões do Congresso dos Jornalistas não as consegui obter, mas tenho a certeza que o maior número dos presentes saiu da sala muito desiludido, porque não viram soluções para os seus problemas. A esses, dou-lhes um conselho: criem uma cooperativa de informação e sejam o director, o chefe de redacção, o editor de um jornal que prime essencialmente pela liberdade de informação e pela independência. Não podem ficar desiludidos. Não pode ter sido o Congresso dos desiludidos. Têm de lutar muito pela sua carreira contra ventos e tempestades. No essencial, têm de mostrar que o jornalismo é uma das profissões mais nobres que existem no mundo. A amargura reinante hoje no seio dos jornalistas portugueses tem de dar lugar à alegria de o seu nome ser honrado e louvado até ao fim da carreira.

22 Jan 2024

A verdade escondida

A democracia em Portugal atravessa momentos de grande degradação e preocupação. Tudo teve o seu início quando o Presidente da República iniciou um diferendo contínuo como primeiro-ministro. Marcelo Rebelo de Sousa habituou-se desde os tempos de jornalista no Expresso a criar factos políticos. Nesse tempo, lembramo-nos dos conteúdos polémicos dos seus artigos, os quais nunca eram provados. Depois, como comentador televisivo pronunciava-se de modo que deixava sempre a dúvida em quem ouvia as suas teses políticas. Eleito Chefe de Estado demitiu um Governo e mais tarde nunca perdoou que o Partido Socialista obtivesse uma maioria absoluta. A fim de não destruir a popularidade angariada percorreu alguns anos a dar a ideia que estava ao lado das decisões de António Costa. Até que se começou a perceber que Marcelo Rebelo de Sousa não estava nada interessado na continuação de Costa no poder e os observadores políticos independentes deixaram a ideia que estava a nascer uma cabala versus contra-revolução chefiada por Rebelo de Sousa de modo bem escondido, para não se dizer de índole secreta, entre os políticos e comentadores televisivos de direita. A gravidade dessa desconfiança veio a descambar numa aliança sobejamente declarada entre a procuradora-geral da República e o próprio Marcelo. Ao ponto de termos assistido à incompreensível inserção de um parágrafo num comunicado da Procuradoria-Geral da República que denunciava uma investigação judicial que atingia o primeiro-ministro.

Obviamente que António Costa a partir desse facto não tinha outra opção senão pedir a demissão da chefia do Governo. Marcelo Rebelo de Sousa deve ter dormido descansado e pensado que as suas intenções estavam em marcha. Isto, porque o próprio Conselho de Estado não patenteou uma maioria a favor da dissolução da Assembleia da República. O Presidente Marcelo podia perfeitamente ter aceitado a proposta de António Costa, de que o seu partido com uma maioria absoluta poderia continuar a governar com um novo primeiro-ministro. Não foi o que aconteceu. Marcelo Rebelo de Sousa usou de imediato os seus poderes e aceitou a demissão de António Costa e marcou eleições legislativas antecipadas.

De imediato, a direita chefiada por Luís Montenegro, um político com telhados de vidro e sem qualquer experiência governativa, recebeu logo o apoio de Marcelo Rebelo de Sousa para se manter como líder do PSD quando no interior do partido os militantes desejavam uma mudança na liderança para Passos Coelho ou para Carlos Moedas. Montenegro venceu o diferendo e consequentemente muitas personalidades têm abandonado o PSD, inclusivamente o prestigiado deputado Maló de Abreu. No entanto, Montenegro tinha de cumprir as intenções contra-revolucionárias do Presidente Marcelo e, nesse sentido, constituiu uma Aliança Democrática (AD) que ainda veio piorar o ambiente no seio dos sociais-democratas. Naturalmente que a cabala está há muito tempo escondida e agora ninguém nos convence que Montenegro não haverá de mudar de ideias quando disse que nada queria com o Chega. A dita AD se obtiver uma maioria relativa está na cara que chamará o Chega para conseguir formar uma maioria absoluta e governar. Ora aí está, a cabala em todo o seu esplendor, a democracia com neonazis no Governo correrá o perigo de descambar em mais censura – como se tem verificado no Global Media Group, do chinês de Macau Kevin Ho e que tanto tem dado que falar -, mais prepotência, mais privatizações, mais despedimentos de trabalhadores de esquerda e em resumo, uma democracia fantoche que reduziria salários, pensões e subsídios sociais. O povo voltaria a sofrer mais do que presentemente acontece e os grandes projectos seriam imbuídos de muito mais corrupção.

Em face de tudo isto, Marcelo rebelo de Sousa tem sido indubitavelmente o chefe da “verdade escondida”. Uma verdade triste porque introduziu muitos factos políticos, desde o pedido de demissão de João Galamba, à detenção do chefe de Gabinete e do melhor amigo de António Costa, mas que o juiz do processo decidiu pela sua liberdade por falta de provas do Ministério Público (MP). Um MP que tem sido contestado em todos os areópagos da política decente, ou seja, dos colunistas independentes e dos próprios políticos socialistas e não só. O MP que resolveu manter vários ministros sob escuta telefónica durante vários anos, o que por si só demonstra que existia uma cabala para demitir o Governo chefiado por António Costa. Contudo, a cabala dos direitistas ainda não terminou: agora as setas estão viradas diariamente contra o alvo Pedro Nuno Santos e todos os males e toda os erros têm sido apontados ao novo líder socialista. A intenção é clara: a esquerda política não pode vencer as eleições de 10 de Março, porque isso seria uma heregia para quem tanto sonha em voltar ao poder deixando Portugal com um défice negativo e com uma maior dívida pública, porque essa é a prática generalizada em Portugal e nos outros países onde a extrema-direita mete o pé.

Abordámos anteriormente o papel do Chega, que no maior cariz de populismo atreveu-se a anunciar que pretendia ser governo. O Chega não é o que alguns pensam. Não é um partido popular, os portugueses na sua grande maioria não querem regressar ao 24 de Abril de 1974. E veremos que no dia das eleições milhares de indecisos se vão recordar dos tempos da PIDE, das prisões, das torturas e das deportações, decidindo por não votar no Chega. As sondagens quase sempre se têm enganado e aqueles que já projectam para o Chega uma percentagem a rondar os 20 pontos, podem estar certos que o Chega não terá mais do que 15 por cento. O povo habituou-se a protestar, mas também a viver em democracia. Nesse sentido, é caso para escrever a velha máxima de que “o fascismo não passará”, mesmo com verdades escondidas.

15 Jan 2024

Ano novo, preços novos

Antes de mais, neste meu primeiro contacto com os queridos leitores em 2024 desejo a todos a maior felicidade e prosperidade ao longo do novo ano.

1 – Portugal entrou em 2024 cheio de preocupação e incógnita devido às mudanças sociais que se apresentam devido essencialmente ao encarecimento do nível de vida de os portugueses que já começaram a fazer contas à vida. A maioria dos preços nos mais distintos paradigmas vão aumentar. Terminou a medida do IVA zero para um número diverso de produtos essenciais.

Quase tudo aumenta de preço e quem vai ao supermercado denota uma viragem negativa para enfrentar o seu nível de vida. Os bens alimentares aumentaram de preço, os produtos de higiene aumentaram, os preços da roupa aumentaram, as rendas de casa aumentaram, segundo a lei, de um modo muito perturbador e doloroso para quem vive com dificuldades.

Por exemplo, um cidadão com 200 euros de reforma, terá um aumento de seis por cento, o que dá 12 euros mensais, dando apenas para comprar um frango assado com batatas fritas. O preço das casas também já inflacionou e os gurus das imobiliárias já atacaram no aumento dos preços com a sempre esfarrapada desculpa da inflação, quando esta tem diminuído.

Os portugueses vão passar um ano de grande dificuldade. Os salários aumentaram um pouco, o salário mínimo passou para 820 euros, mas os impostos indirectos aumentaram em demasia, nomeadamente, o tabaco, as bebidas alcoólicas e a tarifa dos táxis. Contudo, o mais desolador é o aumento no preço da electricidade, do gás natural, dos transportes públicos e das operadoras de telecomunicações.

Quem tem telemóvel e televisão associados a um contrato com a Vodafone, NOS ou MEO vai sentir imenso quando receber a próxima factura. Até as portagens nas autoestradas já aumentaram 2,04 por cento. É muito para quem usa diariamente as autoestradas. O único aumento que não se esperava e que está a chocar os mais pobres é o aumento do preço do pão. Há famílias que o alimento dos filhos é à base de pão com qualquer acompanhamento possível.

A vida vai ser difícil, mas os portugueses apoiam-se na sua resiliência e na esperança. Algo poderá mudar a partir das eleições antecipadas de 10 de Março. Depende se o novo Governo eleito trará estabilidade, confiança e melhoria no nível de vida, nunca esquecendo os mais desprotegidos que já atingem cerca de quatro milhões de pessoas.

2 – Quanto à política, eleições, alianças, novo governo, tivemos neste fim de semana o Congresso do Partido Socialista. E surpresa das surpresas, o novo secretário-geral, Pedro Nuno Santos, apareceu uma nova pessoa. Deixou de se o líder da Juventude Socialista, para apresentar-se como verdadeiro líder dos socialistas, com um discurso realista, moderado, apelativo à união e de um cariz pouco volátil.

Pedro Nuno Santos, como indicam as sondagens, poderá vir a ser o novo primeiro-ministro e o seu discurso no Congresso demonstrou um homem que humildemente pediu desculpas pelos erros eventualmente cometidos, mas prometeu que o povo tem de melhorar o seu nível de vida.

Prometeu que o investimento na habitação, saúde e educação tem de ser de uma maneira a que a própria classe média tenha uma casa digna, que as mais de 15 horas de espera nas urgências dos hospitais têm de acabar e que os professores terão de ter os incentivos necessários para que os problemas existentes na classe venham a terminar e que os jovens sintam vontade de optar pelo professorado.

O Congresso do PS mostrou um gesto de grande dignidade, o abraço apertado entre dois adversários que agora irão caminhar juntos, referimo-nos a José Luís Carneiro e a Pedro Nuno Santos. Este, na qualidade de novo líder socialista não deixou de louvar a governação de António Costa e de indicar tudo o que foi feito em desenvolvimento do país nos últimos oito anos.

Esperemos que possa cumprir o que afirmou aos delegados presentes no auditório da Feira Internacional de Lisboa. O mais importante é que as eleições tragam uma decisão que não prejudique quem já muito sofre. Com uma vitória da aliança direitista assistiremos certamente à privatização de quase tudo e, tenho dúvidas, que seja algo de bom para os mais pobres. Se o Partido Socialista vencer, o povo conta para já com um novo líder activo, peremptório e cheio de vontade de realizar trabalho que provoque uma melhoria significativa na vida dos portugueses.

A pré-campanha eleitoral já se iniciou e confirma-se que Luís Montenegro não devia ter sido o líder do PSD. Os sociais-democratas não descolam nas sondagens, continuam longe dos socialistas e negaram-se a uma aliança com o Chega, o partido da extrema-direita que tem cativado cada vez mais os descontentes. Acrescente-se que, se o PS vencer as eleições, Pedro Nuno Santos é um apologista em toda a dimensão para a criação de uma nova geringonça.

8 Jan 2024

Asas sem voar

Há mais de 50 anos que se fala de um novo aeroporto para Lisboa e há 13 anos que um engenheiro que terminou o curso no Instituto Superior Técnico com 20 valores e que ao longo da vida nunca foi consultado para nada por não pertencer a qualquer partido político, transmitiu-me que o novo aeroporto de Lisboa em Alcochete nunca poderia acontecer porque existiam vários aquíferos no subsolo local.

Incompreensivelmente foi Alcochete que a Comissão Técnica para estudar a localização do novo aeroporto aconselhou como o melhor local. Dizem que não há bruxas, mas parece que as há. Acontece que a contestação a Alcochete tem sido tema de vários especialistas durante a semana passada. A Comissão Técnica indicou as mais variadas vantagens de Alcochete, mas lembremo-nos de um pormenor: dizem que em sete anos será construída a primeira fase e custará milhares de milhões de euros. Sete anos? À boa maneira portuguesa a derrapagem financeira é sempre uma realidade e os prazos de construção nunca foram cumpridos em obra alguma. Depois, a opção por um novo aeroporto deve-se ao quase congestionamento do aeroporto da Portela.

Ora, se está no limite da operacionalidade vai ainda esperar sete anos por uma pista na primeira fase? Antes de mais, não acreditamos que o aeroporto esteja pronto dentro de 10 ou mais anos. Isto, quando nos lembramos que na China se têm construído bons aeroportos em cerca de dois anos. A tal Comissão Técnica estudou nove locais e agora afirmou que a segunda melhor opção seria em Vendas Novas, mas o Estado teria de gastar muitos milhões em indemnizações de terrenos privados. Lembrar ainda que um aeroporto em Alcochete obrigará a despesas extras monumentais como uma terceira ponte entre Lisboa e a margem sul e a uma ferrovia de alta velocidade (TGV).

Tantos locais em estudo, desprezando à partida, o local que seria mais vantajoso para um país pobre, e que, esse local já tem as estruturas construídas e está em pleno funcionamento, como é o aeroporto de Beja. Não foi por acaso que os alemães em 1964 construíram em Beja uma base aérea militar. O local é extenso, plano e facilitador de desenvolvimento.

Beja, com um comboio de alta velocidade ligando a cidade alentejana a Lisboa ou com autocarros de luxo ficaria ao serviço da capital lisboeta a um tempo muito menor que vários aeroportos do mundo. Em Beja podiam-se construir mais duas pistas e desenvolver as estruturas técnicas necessárias por um terço do dinheiro que se planeia gastar com Alcochete, com a agravante de poder servir também o turismo para o Algarve. Este, é o país que temos. Não se aproveita o bom existente para se sonhar com megalomanias de gastos assustadores num país em crise e com dois milhões de pobres.

Há 50 anos que andam por decidir e agora anuncia-se um projecto de enorme envergadura para daqui a dez anos ou mais. E não queremos entrar por um parâmetro que tem sido comentado: a corrupção que alegadamente fará parte da construção do aeroporto em Alcochete. Porquê? Primeiramente porque já nos habituámos a ver ministros e autarcas a serem detidos ou demitidos pela prática da corrupção. Em segundo lugar já houve lóbis que adquiriram terrenos ou imóveis em Alcochete porque já sabiam (?) onde seria a localização do novo aeroporto.

Seja como for, só lá para Maio ou Junho do próximo ano é que o novo Governo que saia das eleições legislativas de 10 de Março irá tomar uma decisão. Contudo, não faremos uma crítica aos muitos especialistas da Comissão Técnica que estudou a localização. Quem somos nós para contestar os técnicos prestigiados que fizeram parte da referida comissão. Mas, também assistimos a outras individualidades de enorme conhecimento técnico que já contestaram a localização do aeroporto em Alcochete. E no meio disto tudo temos a ANA, presidida pelo cavaquista José Luís Arnaut, que já veio anunciar que irá apresentar uma queixa contra a Comissão Técnica.

Obviamente que à Ana, que tem um contrato de longa duração na gestão do aeroporto Humberto Delgado e que em nada lhe interessa que um novo aeroporto lhe retire a galinha dos ovos de ouro. Arnaut quer que o aeroporto Humberto Delgado continue a operar e que Montijo seja o anexo… quando a Comissão Técnica provou por A mais B que Montijo seria absolutamente impraticável. A procissão vai no adro há 50 anos e se formos pessimistas nem daqui a 20 anos teremos um novo aeroporto internacional a funcionar em pleno.

O Partido Socialista ainda vai eleger o novo secretário-geral. Por um lado, Pedro Nuno Santos há muito que ficou desautorizado por ter escolhido Alcochete sem dar qualquer cavaco ao primeiro-ministro. José Luís Carneiro entende que terá de haver um entendimento com o PSD para qualquer decisão sobre a matéria. O PSD anunciou que ainda vai criar uma comissão de estudo sobre a matéria. Muita água irá correr por baixo das pontes. No entanto, quem tem metido mais água até aos dias de hoje, têm sido todos quantos nos governam nos últimos 50 anos.

12 Dez 2023

As lágrimas de Costa

Não foram lágrimas de crocodilo. O primeiro-ministro António Costa emocionou-se no momento em que a sua bancada parlamentar o aplaudiu em pé durante vários minutos como sinal de gratidão, na última sessão no Parlamento na qualidade de chefe do Executivo oficialmente eleito. António Costa emocionou-se por culpa própria. Como todos sabemos estamos perante um político muito experiente e que começou a ouvir falar de política em criança porque o seu pai era comunista.

António Costa exerceu os mais variados cargos, nomeadamente presidente da Câmara de Lisboa, deputado e ministro da República. Costa esteve a governar durante oito anos e ultimamente percorreu os corredores do palácio de S. Bento com maioria absoluta. No entanto, a sua culpa deveu-se às suas próprias escolhas de colaboradores. Teve no Governo ministros, secretários de Estado e assessores que pediram a demissão ou foram excluídos da máquina governativa. Escolheu um chefe de Gabinete socratista que já tinha um passado cheio de ilegalidades. A sua escolha foi o seu fim de ciclo.

Das duas, uma. Ou António Costa se precipitou ao pedir a demissão ao Presidente da República ou sentiu que estaria envolvido, ou envolveram-no alegadamente em negociatas à margem da lei. A investigação que decorre no Supremo Tribunal à sua pessoa dará resposta e esta nossa dúvida. É do conhecimento geral que a corrupção grassa na governação nacional e regional. Cada vez mais temos autarcas que são obrigados a deixar o cargo devido a peculato, falsificação de documentos ou recebimentos ilícitos.

A corrupção tem sido o grande cancro da gestão nacional de quem tem poder. E António Costa para pedir de imediato a demissão assim que a Procuradoria Geral da República incluiu o seu nome num comunicado que salientava a existência de investigações a ilegalidades, deixou os portugueses perplexos. A maioria gostava de Costa e deu-lhe uma maioria absoluta por confiar na sua seriedade e na sua experiência. No decorrer da sua carreira política nunca lhe foi apontado o dedo para um qualquer caso à margem da lei. O que se sabia era que confiava em demasia nos seus colaboradores e deixava alguns em roda livre.

Tal como aconteceu com Pedro Nuno Santos e João Galamba. Nuno Santos teve a pouca vergonha de decidir sozinho, sem dar conhecimento ao primeiro-ministro, a localização do novo aeroporto de Lisboa com a agravante de anunciar a continuação do aeroporto Humberto Delgado, a existência de um pequeno aeroporto no Montijo e um de grande envergadura em Alcochete. Logo não faltaram os críticos que o governante se tinha deixado corromper. António Costa anulou de imediato o despacho do seu ministro das Infraestruturas e mais tarde, o mesmo ministro, meteu os pés pelas mãos no caso da TAP e acabou por se ir embora. Este era o estilo de colaboradores que António Costa tinha na sua governação.

Possivelmente veio a pagar caro por tudo isto e só nos falta saber se esses mesmos colaboradores o entalaram numa teia que se sabia ser generalizada em tudo o que fosse projectos de grande envergadura como o caso do hidrogénio em Sines e do lítio no norte do país. Na classificação dos países onde existe mais corrupção, Portugal está nos lugares cimeiros. Ora, voltamos ao mesmo, ou Costa deixava que os seus ministros, e o seu maior amigo Lacerda Machado, fizessem o que queriam e não tinha conhecimento ou, então, sabia de tudo e será julgado pela justiça.

Inacreditavelmente é esse mesmo Pedro Nuno Santos que se candidata à liderança do Partido Socialista e as sondagens indicam que poderá derrotar José Luís Carneiro. Se Nuno Santos vier a ser líder dos socialistas e futuro primeiro-ministro não nos admirávamos nada se um dia assistíssemos à demissão de outro primeiro-ministro…

Há quem comente que António Costa não merecia sair em lágrimas. Que deixou um legado positivo. Que o país está melhor. Que conseguiu controlar o deficit e baixar a dívida pública. Que foi o único primeiro-ministro que ajudou os portugueses em dificuldade de pagar o arrendamento das suas casas, portugueses esses que recebem e vão receber durante cinco anos a quantia mensal de 200 euros. Os seus contactos internacionais foram aplaudidos pelas mais diferentes personalidades políticas.

Portugal está melhor com menos desempregados, isso é inegável, mas Costa obviamente que cometeu erros como todo o cidadão, mesmo que não seja governante. O país vai para eleições legislativas antecipadas em 10 de Março do próximo ano e ainda não sabemos quem é o novo secretário-geral socialista que irá defrontar o cavaquista Luís Montenegro.

O país também não merecia isto, não temos poder financeiro para estar constantemente a gastar milhões de euros em eleições e se muita gente já anda farta dos políticos e a extrema-direita está a avançar por todo o lado, é preciso moralizar o sistema e voltar a dar confiança aos portugueses, mas na nossa modesta opinião não será com criaturas como Nuno Santos à frente de um Governo que a agulha mudará o carril. Despedimo-nos de António Costa agradecendo o que muito fez pelos seus compatriotas e simultaneamente condenamo-lo por ter sido tão ingénuo ou sem liderança no que lhe era devido.

4 Dez 2023

Banco alimentar ajuda a pagar a casa

Todos conhecemos Christine Lagarde, a senhora que mais parece um homem, que é a presidente do Banco Central Europeu e que tem deixado milhares de famílias em pânico com a subida das taxas de juro, o que provoca o aumento da prestação das casas que foram compradas através de crédito bancário. Especialmente os casais jovens que compraram casa têm andado numa roda viva para conseguirem pagar a prestação da casa que adquiriram. No entanto, na semana passada chegou-nos uma informação quase inacreditável que fomos confirmar e que dizia respeito a muitos casais jovens que estavam a usar o Banco Alimentar contra a fome para poderem fazer frente ao pagamento da prestação mensal de suas casas.

Dirigimo-nos a Alcântara, onde está situado o Banco Alimentar e confirmámos que o número de casais que recolhem alimentos tem aumentado nos últimos meses. Um aumento que se deve a esses casais não poderem gastar dinheiro na alimentação para guardar o dinheiro para pagar a casa ao banco onde realizaram o contrato de compra. Tentámos ver alguém nesta situação e conseguimos falar com Daniela e Fernando que saiam com sacos cheios de géneros alimentícios. Mantivemos uma conversa e Daniela começou por nos confirmar que tinam vindo ao Banco Alimentar porque tinham dois filhos menores e o dinheiro não chegava para pagar as despesas, muito menos para uma alimentação digna para o conjunto familiar.

“Comprámos a casa e a prestação tinha um valor acessível, mas com o aumento das taxas de juro anunciadas pela presidente do Banco central Europeu, a nossa prestação da casa passou quase para o dobro… a vinda aqui ao Banco Alimentar é a nossa salvação, pois não temos dinheiro suficiente para os comestíveis”, disse-nos Daniela e o marido Fernando retorquiu: “Não sei onde vamos parar. Nós e milhares de famílias. Alguns dos nossos amigos já venderam a casa. A inflação para os dois por cento no segundo semestre de 2025… como se atreve a falar assim se continuamos com a inflação alta e podendo subir a qualquer momento. Os dois por cento quanto a mim nem a sonhar. Ela só soube aumentar as taxas de juro e os jovens recolheram-se em casa dos pais. Nós é que sofremos e de que maneira. É um facto real a sua pergunta no sentido se vimos aqui ao Banco Alimentar porque o rendimento não chega para enfrentar as despesas da família. Não tenho vergonha em vir buscar comida e outros géneros, como compotas e enlatados para que os nossos miúdos não passem dificuldades”, salientou Fernando que nos acrescentou que já venderam o carro e que por sorte o pai da Daniela emprestou-lhes um automóvel já velhote, mas que dá perfeitamente para irem carregar os alimentos. De resto, usam os transportes públicos.

E é este país que temos. Jovens que sonharam ter a sua casinha e que se vêem a braços com uma prestação que aumenta a toda a hora e que torna impossível manter a situação. Tudo isto com a banca a dar milhões de lucro e toda “contentinha” a ganhar milhões na venda das casas que são entregues ao banco por incumprimento do pagamento acordado.

A prestação da casa ao banco continua a subir. Em alguns empréstimos, significa uma subida de quase 60 por cento na prestação. Comprar casa é cada vez mais difícil e exige um esforço cada vez maior. A perda de poder de compra e a subida acentuada dos juros dificultam o pagamento dos empréstimos. Os bancos já estão a registar uma queda no número de pedidos para a compra de casa.

A escalada dos juros continua (e parece ter vindo para ficar), o que significa que a prestação da casa a pagar ao banco não para de aumentar. Em Julho, a prestação média do crédito habitação fixou-se em 370 euros, mais nove euros que em Junho e mais 106 euros que em Julho de 2022. Trata-se de um aumento de 40,2 por cento em termos homólogos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Considerando a totalidade dos contratos, dos 370 euros de prestação, 204 euros (55 por cento) correspondem a pagamento de juros e 166 euros (45 por cento a capital amortizado). Neste sentido, como é que não havemos de assistir cada vez mais os nossos jovens a emigrar? A compra de casa passou a ser um luxo para ricos.

28 Nov 2023

O imprudente obviamente ruiu

Podem não acreditar, mas José Sócrates continua na berlinda. Em Portugal, na semana passada, rebentou a “bomba” que há muito se esperava. O primeiro-ministro António Costa pediu a demissão ao Presidente da República, este aceitou, ouviu os partidos políticos e o Conselho de Estado e marcou eleições legislativas para o próximo 10 de Março.

O país ficou atónito, ninguém estava à espera que as palavras sem pudor escritas numa rede social pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça salientando que o país era um antro de corrupção, viessem a terreiro tão depressa provocar a queda de um governo de maioria absoluta. Naturalmente que o senhor presidente do Supremo Tribunal já sabia de tudo, até porque as investigações do Ministério Público (MP) começaram em 2019 com a tal história do ministro João Galamba e as minas de exploração de lítio.

Vamos aos factos: primeiramente ao imprudente-mor, o primeiro-ministro António Costa. Como é possível que um homem com tantas décadas de vida política nos mais diversos cargos e tendo enfrentado “guerras” com António José Seguro e José Sócrates, tenha escolhido para o seu governo vários socratistas?

Como é possível que António Costa imprudentemente, ou não, tenha escolhido para chefe de Gabinete um indivíduo socratista até à quinta casa que só tem tido problemas de ilegalidades e ainda por cima escondia o dinheiro que ia sacando entre os livros e caixas de garrafas de vinho, como foi descoberto no seu gabinete do Palácio de São Bento? António Costa, das duas, uma. Ou é mesmo um imprudente nato ou quis que se realizassem as mais diferentes negociatas nos mais diversos projectos em curso. A que propósito é que a “imprudência” de António Costa chega ao ponto de introduzir o seu melhor amigo, Diogo Lacerda Machado, – que por sinal esteve em Macau, tal como outro atingido neste imbróglio político, Jorge Oliveira – em todos os meandros e decisões a tomar pelo Governo?

Lacerda Machado é suspeito de ter corrompido gravemente o chefe de Gabinete, Vítor Escária, do primeiro-ministro. Bem, sobre suspeitas estamos atordoados. Então, eu que sou um simples cidadão e sou informado que só por escrever umas coisitas incómodas para este regime de corruptos e de incompetentes tenho o meu telefone sob escuta, como é que um assessor ministerial, um chefe de Gabinete, um secretário de Estado, um ministro e um primeiro-ministro se põem a falar ao telefone de factos graves, alguns ilegais e que alegadamente os colocam sob suspeita de corrupção, não pensando que estarão as suas conversas a ser gravadas?

Neste particular, por acaso a montanha pariu um rato porque as escutas que o MP apresentou aos advogados de defesa dos detidos não há matéria nenhuma que possa incriminar os seus clientes e outros arguidos como ministros, autarcas e empresários. Aliás, o triste último parágrafo do comunicado da Procuradoria-Geral da República, focando a suspeita sobre o primeiro-ministro e que ao fim e ao cabo derruba um governo de maioria absoluta é de uma gravidade tal, que levou um dos comentadores televisivos a dizer que tudo isto se tratou de um golpe de Estado constitucional.

E por outro lado, o MP também deixou atónitos todos os observadores políticos quando entra pela primeira vez na história da democracia em 50 anos, pelo Palácio de S. Bento a dentro com a PSP. PSP? Porquê? Se a Polícia Judiciária é que é a instituição para investigar e realizar buscas do foro criminal? O país ainda tem muita sorte em não assistir a uma greve indeterminada dos inspectores magoados e enxovalhados da Polícia Judiciária.

A história desta demissão do primeiro-mistro mais “imprudente” da política portuguesa por se ter rodeado por todos os lados de socratistas, que têm um curso superior de corrupção, será feita daqui a 10 ou 20 anos, possivelmente com o conhecimento de factos que hoje em dia não passam de conspirações, nomeadamente uma vingança do Presidente Marcelo, ou do antigo primeiro-ministro José Sócrates que ia tendo toda a informação dos cambalachos ministeriais, ou ainda de alguém muito importante na Comissão Europeia que não estava nada interessado em ver António Costa no topo da política europeia com um cargo em Bruxelas.

A verdade histórica vai demorar a ser conhecida. O que não demorou nada foi o povo estranhar como é que António Costa nomeia “imprudentemente” João Galamba para ministro das Infraestruturas, uma pasta que mexe com milhares de milhões de euros e depois não o demite quando o Presidente Marcelo assim o solicitou. O que é certo é a existências de muitas nuvens escuras em todo este baralho de compadrios entre ministros e autarcas, gabinete do primeiro-ministro e o maior amigo de António Costa, a aprovação de projectos megalómanos e sem viabilidade futura como o lítio e o hidrogénio. Um governo de maioria absoluta que ruiu deixando muita gente sem dormir.

As nossas fontes indicam-nos que há centenas de políticos envolvidos nos cambalachos, mas que o MP, nem com as escutas, os vai conseguir meter na prisão. Resta-nos saber quem será o novo líder do PS e se o PSD cai em si e decide fazer o mesmo, porque com Luís Montenegro perderá as eleições pela certa. Há muito que sabíamos que nada em Portugal acontecia com transparência, sem suspeitas de corrupção e compadrio. Os casos sucederam-se. Chamaram-lhes “casos e casinhos” e o povo tristemente a olhar para tudo isto e a ficar cada vez mais sem poder pagar a casa, dar escola aos filhos e até comprar medicamentos.

13 Nov 2023

Pais destroçados por burlas

É possível que esteja a acontecer a nível mundial, mas em Portugal o fenómeno está a generalizar-se e a deixar mães e pais completamente destroçados devido às burlas de que são alvo de uma forma que engana especialmente os mais intimamente ligados aos filhos. Eu explico: acontece por quase todo o país que uma mãe ou um pai recebe uma mensagem no telemóvel deste género: “- Olá mãe, o meu telefone avariou e estou a falar-te aqui por outro de um amigo. Desculpa, estar a incomodar-te, mas tive aqui um problema e precisava da tua ajuda.” A mãe responde: “- Então, Ricardo o que te aconteceu? Ó querido mas do que é que precisas?”

Os filhos normalmente estão longe. Se os pais vivem no Porto, o filho pode estar a estudar ou a trabalhar em Lisboa, em Londres, Paris, Dubai ou outra qualquer cidade do estrangeiro. E o diálogo, via mensagem por telemóvel continua: “- Não te preocupes, mãe. Eu depois explico-te. Só que agora tenho mesmo que resolver este problema e agradeço que me faças uma transferência de 950 euros para a conta que eu te vou dar. Obrigado, querida mãe.”

A mãe, amedrontada responde: “- Mas querido Ricardo porque tem de ser para outra conta que não a tua habitual?” Resposta: “- Mãezinha, a minha outra conta foi bloqueada, depois explico-te tudo e amanhã mesmo devolvo-te os 950 euros. Peço-te o grande favor que envies pelo multibanco para a conta FT40 3356 0000 425400981 830 6.”

A mãe, que adora o seu Ricardo, sem pensar em mais nada, apenas que o seu filho deve estar a passar por um problema grave e que terá de lhe resolver de imediato o problema, sai pela porta fora e dirige-se à primeira caixa ATM que encontra e transfere para a conta indicada os 950 euros. Pronto. A burla está consumada. Não se tratava de filho nenhum.

A mãe saudosa não pensou duas vezes. Parar um pouco para pensar, olhar para o visor da linha whatsApp, ver o número de telefone que podia observar no cimo do visor. Responder que iria ligar-lhe para falar com o filho de viva voz e ainda cometeu um erro fatal em pronunciar logo o nome do filho, algo que nunca se deve fazer.

Casos como este estão a acontecer todos os dias nas mais diversas localidades. As nossas fontes na Polícia Judiciária informaram-nos que é um caos o que está a acontecer. O pai ou a mãe que estão a receber mensagens no telemóvel, na sua grande maioria acredita de imediato que é o filho que está a escrever-lhe em aflição. O sentimentalismo e o amor dos pais são de tal forma que se dirigem em acto contínuo a uma caixa de multibanco para transferir as diferentes quantias solicitadas pelos burlões.

É inacreditável o que está a acontecer. Uma senhora que conhecemos, viúva, que vive de uma reforma muito baixa, foi abordada por um falso filho, cujo verdadeiro filho reside em Inglaterra, e transferiu 350 euros ficando doze dias sem praticamente comer ou fazer frente a outras despesas.

Desde já, aviso os amigos leitores que tomem uma especial e profunda atenção a casos como este. Se receberem uma mensagem do vosso “filho” que se encontra em Hong Kong, Austrália, Canadá ou Tailândia, não respondam nem mantenham diálogo.

Liguem de imediato para o vosso filho e confirmarão que estavam a ser alvo de uma burla. Estes casos são graves porque o instinto paternal decide que o apoio tem de ser dado de imediato ao querido filho e os burlões estão precisamente a aproveitarem-se dessa particularidade para conseguirem o objectivo e ganhar muito dinheiro. Uma das nossas fontes policiais informou-nos que pelas suas estatísticas existem indivíduos que estão a obter cerca de 5000 euros por dia e que em Portugal a rede mafiosa está a obter cerca de 1 milhão de euros por mês. Quase inacreditável.

Trata-se de um fenómeno horrível, de aproveitamento total do amor paterno e da inconsciência e desconhecimento tecnológico da maioria das pessoas atingida. Aqui fica um aviso sério, mas essencialmente a constatação de um fenómeno que está a deixar muitas famílias destroçadas assim que sentem que foram roubadas.

6 Nov 2023

11 mil sem-abrigo em quatro anos

Antes de mais, quero informar-vos que hoje faz três anos que este jornal único no panorama do jornalismo e do grafismo português publica os meus textos. O meu agradecimento ao director Carlos Morais José e aos leitores.

Não fazia a mínima ideia do que poderia escrever sobre o que acontece em Portugal se passamos todo o tempo a ouvir os canais de rádio e televisão a falarem do conflito Israel-Palestina em sessões contínuas de 24 sobre 24 horas. Naturalmente, que Portugal vive com crises na Saúde, no Ensino e no tecido social. O que mais me chocou na semana passada foi a informação de que os sem-abrigo aumentaram 78 por cento em quatro anos por todo o país: são cerca de 11 mil, entre homens, mulheres, jovens, idosos, estrangeiros e famílias inteiras. Precisamente na mesma semana em que me deparei com um jovem deitado na rua, na entrada de um prédio, com um copo de plástico à sua frente. Parei impressionado, deixei algum dinheiro no copo e o jovem abriu os olhos. Perguntei-lhe porque era sem-abrigo. Respondeu-me que os pais o expulsaram de casa ao terem conhecimento que andava a consumir drogas. O jovem é licenciado em gestão e após dormir na rua e lavar-se na casa de banho de um café, vai trabalhar numa empresa média a recibos verdes.

Ainda me recordo quando o Presidente Marcelo andou pelas ruas de Lisboa a contactar com sem-abrigo e afirmou que iria terminar com esta tragédia. Passaram mais de dois anos e o que constatamos é que cada vez mais assistimos a compatriotas a dormir na rua. Nem todos são drogados ou alcoólicos, foram despejados por não conseguir pagar a renda ou ficaram desempregados e após um litígio com a mulher, ela pô-lo fora de casa. Os dramas são da maior variedade e a realidade é que o governo fala muito do problema da habitação, mas não vimos construir casas de renda acessível ou moradias pequenas para quem nada tem.

11 mil a mais em quatro anos a dormir nas ruas é trágico e o pior é que nada acontece. Os turistas passam, olham, comentam e não acreditam que a capital lisboeta tenha tanta gente na miséria. As tendas de lona têm aumentado por todos os bairros e albergam pais e filhos que ficaram sem casa por não conseguir pagar a prestação do imóvel que tinham adquirido com crédito bancário. No entanto, estes números que vos apresento reportam-se a 2022 e sabemos que este ano houve um aumento substancial de sem-abrigo.

O número de sem-abrigo aumentou bastante e foi transversal, de portugueses a estrangeiros, de jovens a idosos. Só este ano registaram-se mais cerca de 25 por cento, essencialmente devido ao agravamento das condições de vida, à imigração e ao aumento de consumo de drogas. Em Lisboa, nunca vimos tantas tendas. E o fenómeno dos sem-abrigo mudou. Antes, eram essencialmente homens com problemas de saúde mental ou dependência. Agora o perfil é muito variado. Há famílias inteiras sem casa. Gastam-se milhões de euros e as pessoas continuam na rua ou num umbral de uma porta de um prédio dependentes da caridade dos transeuntes. Há quase 11 mil sem-abrigo nos últimos quatro anos e o PRR (ajuda europeia) não tem um euro para lhes dar casa. O único dinheiro que existe é para respostas de emergência e temporárias. Continua-se a falhar na resolução do problema.

Segundo Renato Alves, da Comunidade Vida e Paz, as respostas que existem não chegam para todas as pessoas actualmente a viver na rua. “Os centros de acolhimento estão cheios. Temos uma unidade para 40 pessoas sempre lotada. E as instituições estão a atravessar muitas dificuldades pela subida de custos, ausência de apoios e descida de donativos.”

No passado Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, o Presidente Marcelo pediu novas abordagens e modelos de acção no combate à pobreza, alegando que o país não se pode conformar com quase dois milhões de pobres. Mas, na minha óptica a ferida que foi aberta entre Belém e S. Bento deve ter levado as palavras do Presidente da República a entrarem por um ouvido do primeiro-ministro e a saírem pelo outro. O governo sabe que a pobreza e a situação dos sem-abrigo são uma chaga na governação do país e, contudo, continuamos a assistir a vidas miseráveis de reformados que auferem uma pensão entre 150 e 400 euros. São milhares de famílias que não podem pagar renda de casa, não podem comer dignamente, não podem comprar medicamentos, não podem pagar a água e a luz e no meio disto tudo, temos o nosso “ilustre” jornalismo apenas preocupado com os “terroristas” do Hamas, existindo jornalistas a quem devia ser retirada a Carteira Profissional por apenas tomarem posição a favor de Israel.

30 Out 2023

A guerra do orçamento de Estado

Portugal, e o mundo, passou os dias da semana passada a assistir assustadoramente à invasão do Hamas a território israelita e aos bombardeamentos de Israel à Faixa de Gaza, conflito que certamente irá durar muitas semanas. Entretanto, o ministro das Finanças, Fernando Medina, veio anunciar as principais medidas do Orçamento do Estado para 2024. Uma verdadeira panóplia de divergências. Que estranho é para o observador independente que o Orçamento do Estado tenha merecido a crítica atroz de todos os partidos políticas da extrema direita à extrema esquerda, excepto obviamente do Partido Socialista.

A estranheza deve-se apenas à dúvida latente se um Orçamento do Estado não tem nada de positivo para bem do povo. Naturalmente que tem. Os partidos políticos que fazem oposição à maioria absoluta socialista não sabem minimamente esclarecer os potenciais seus militantes. Só dizer mal, por vezes, paga-se muito caro e não será por acaso que nas últimas sondagens, o PSD tem o pior resultado da sua história na tendência de voto dos potenciais eleitores.

O Orçamento do Estado tem efectivamente, dentro dos limites que é possível, muitos benefícios para a população, designadamente para os sectores críticos da Saúde, Educação e Habitação. Aumenta os salários dos funcionários públicos, mantém o apoio ao pagamento das rendas de casa das famílias que se encontram em dificuldade e apresenta uma série de medidas estruturais que vários economistas e empreendedores já aplaudiram.

Não se pode pegar na crítica por dá cá aquela palha e anunciar em alta voz, em certos casos, com laivos de histeria, que o orçamento é uma decepção, sem pensar calmamente que todo um processo de enquadramento financeiro para um orçamento estatal deriva das possibilidades que a União Europeia concede. O Governo mexeu em termos positivos no IRS para jovens, o que levará muitos deles a não abandonar o país.

Apresenta um plano, pela primeira vez, para a construção de centenas de habitações para jovens e não só. Um qualquer governo merece crítica acérrima quando entra na asneira ou na incompetência. Ora, um Orçamento do Estado é um documento que leva meses a executar com a maior dificuldade no acordo entre Ministérios. O primeiro-ministro António Costa salientou que é o Orçamento do Estado possível. A única coisa de que pode ser criticado é que dá com uma mão mas retira com a outra.

No Orçamento do Estado para 2024 naturalmente que nem tudo são rosas. Veremos: o Estado vai cobrar em impostos 167 milhões de euros por dia. Segundo o PSD os impostos vão subir de 24,9 para 25, 2% do PIB. 60 mil milhões de euros é o valor a ser cobrado em 2024; Pobrezinhos mas, cada vez, menos caloteiros. A dívida pública, em 2024, vai ficar nos 98,9% do PIB. Vamos pagar menos pelo custo do dinheiro. Se em 2024 tivéssemos a mesma dívida de 2015 cada português teria de pagar em 2024, 230 euros. Afinal, os críticos terão de meter algo dentro do saco porque relativamente aos funcionários públicos é claro que haverá um benefício significativo: os funcionários públicos vão ser aumentados entre 3% e 6,8%. Têm direito a 715 milhões de euros no próximo ano.

O problema que mais tem dado que falar é o que referimos anteriormente em que os críticos do Governo acusam que o orçamento dá com uma mão e tira com a outra devido aos impostos indirectos. São aqueles impostos, quase invisíveis. As taxas nos produtos dos supermercados, na gasolina, no tabaco, no IUC dos carros e aqui é que torcemos o nariz porque o aumento é de 8,9%. Se o povo quer poupar terá de ir menos ao supermercado, terá de andar menos de carro, terá de deixar de fumar e beber menos.

Vejam só os números dos aumentos: IVA cresce 7,9 %, o imposto nos produtos petrolíferos sobe 13,4%, o tabaco tem um aumento de 14%, o álcool vai subir 17, 4%. E finalmente o IUC dos carros anteriores a 2007 terá uma subida de 21%, o que leva as pessoas a pensar que a intenção é acabar com os carros com mais anos e que o povinho compre um carro novo. Como é isso possível, se quem tem um carro comprado antes de 2007 mal tem dinheiro para o manter?

Por outro lado, o investimento público cresce 24,2%. Sendo assim, vamos esperar que os serviços estatais comecem a servir o público com o mínimo de dignidade, sem longas esperas, sem não atenderem os telefones e sem abordarem o público com sete pedras na mão. E acima de tudo, esperemos que a Polícia Judiciária deixe de responder a uma queixa-crime que um cidadão apresente, só ao fim de dois ou três anos, porque a PJ é quem mais vai receber, nada mais que 282 milhões de euros.

Quanto ao problema dos professores podem esperar sentados no que respeita aos seis anos, seis meses e 23 dias que pretendem receber. Em 2024, os professores que sejam colocados em Lisboa ou Algarve e a sua residência fique a mais de 70 quilómetros podem candidatar-se a um subsídio de habitação. E vivó velho. Muitos professores deveriam pensar bem se não valeria a pena irem leccionar para Macau, que está com dificuldades de docentes na Escola Portuguesa, devido à falta de residência, mas que pensamos ser uma obrigação da Fundação da Escola Portuguesa arranjar casas para professores.

Enfim, foi uma semana em que as televisões misturaram Orçamento do Estado com massacres e invasões no Médio Oriente, quando a verdadeira guerra esteve em Portugal entre a classe política. Tristemente.

16 Out 2023

Estrangeiros na tropa é uma aberração

Não sei que ideias mais absurdas podem aparecer na esfera política deste país. No âmbito das Forças Armadas, ao nível dos quadros superiores reina a revolta com a ideia que tem sido gerada de aceitar nas Forças Armadas cidadãos estrangeiros – atribuindo-lhes, em troca do serviço, cidadania, e ultrapassando assim a necessidade de haver revisão constitucional, porque a nossa Constituição é peremptória: só cidadãos portugueses podem integrar as Forças Armadas.

Toda esta ideia absurda deve-se à diminuição gradual de jovens interessados em integrar as Forças Armadas. Porquê? Porque precisamente o Ministério da Defesa não modifica a actual situação miserável dos militares que obtém um salário baixo e não têm condições sociais para manter a família.

A ideia absurda tem ganho força na bancada parlamentar do PS com o presidente da Comissão de Defesa, Marcos Perestrelo, a mostrar-se favorável ao ingresso de estrangeiros sem sequer colocar o domínio do português como dever necessário. Por outro lado, o major-general Vieira Borges concorda com a ideia desde que apenas fosse restrita a cidadãos da CPLP.

Por seu turno, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa já se mostrou mais favorável à ideia, mas tem vindo a regredir a sua posição, parecendo agora aproximar-se da ministra da Defesa, que é cautelosa quanto à solução. Naturalmente que a ministra tem de ser cautelosa, porque para sermos sérios, o que aconteceria era darmos a cidadania portuguesa a mercenários. Um outro socialista, Pedro Pinto, nem lhe interessa a origem dos mercenários, apenas o domínio da língua portuguesa.

Marcos Perestrelo, por exemplo, não concretiza em que moldes se daria a obtenção de cidadania, alegando que é preciso reflectir. Sem se comprometer com uma ideia concreta, ressalva que no processo de obtenção da nacionalidade, a questão da língua é relevante, mas ainda assim refere-se-lhe como uma barreira ultrapassável. Para Perestrelo, a atribuição de cidadania a estrangeiros que quiserem integrar as Forças Armadas portuguesas seria, em abstracto, a melhor solução – escusando-se assim a uma revisão constitucional e ao apoio do maior partido da oposição, o PSD.

O major-general Vieira Borges propõe que, no âmbito da CPLP, se abra um regime especial para aqueles que queiram ingressar nas Forças Armadas. Os pretendentes devem estar, segundo este militar, pelo menos, um ano em Portugal – que lhes garantirá a dupla cidadania – e depois cumpridos todos os requisitos ordinários para entrar nas Forças Armadas (nomeadamente habilitações literárias), poderão tentar alistar-se. A proposta de Vieira Borges é mais conservadora do que as ideias de Perestrelo ou Sousa Pinto. E por que razão especificamente um ano? O militar afirmou que seria o mínimo para alguém perceber o país. Mas, estará à espera que uns fulanos que vêm enfiar-se nas Forças Armadas apenas porque precisam de dinheiro, autênticos mercenários, estejam muito interessados a gastar tempo em “perceber” o país? Há cada lírico.

Desde que cumprimos o serviço militar que conhecemos muitos militares e militares na reserva e contactámos alguns. Todos foram unânimes em discordar da ideia de contratar estrangeiros. Um deles, mostrou-me um jornal com declarações do capitão de Abril, Vasco Lourenço. Lourenço não tem papas na língua afirmando: “Acho uma aberração só própria das mentes que não têm a mínima ideia do que é a instituição militar em Portugal”.

E acrescenta: “Um indivíduo que venha para o serviço militar de um país a que não pertence é um mercenário, não posso chamar outra coisa”. Lourenço ressalva não ter problemas em que portugueses nacionalizados se alistem no Exército, mas observa que esta cidadania não deve poder ser adquirida de um dia para o outro”. Questionado sobre o argumento da lusofonia, Lourenço é determinante: “No grupo Wagner também devem falar várias línguas. Não brinquem comigo, ou são portugueses ou são mercenários. Uma coisa são Forças Armadas, outra são forças com armas”, considerou.

Por fim, o presidente da Associação 25 de Abril rematou: “Criem condições para que as Forças Armadas se sintam prestigiadas e que, quando saem do país, fiquem com as costas familiares protegidas. Façam isso e as Forças Armadas podem voltar a ter mais efectivos do que os necessários”.

Estamos perante uma ideia, verdadeiramente absurda e que deve ser rejeitada por todos os portugueses. Portugal não precisa de mercenários. O único factor que realmente mobilizará os jovens a ingressar no Exército, Marinha ou Força Aérea é a mudança de paradigma que se tem de registar nas condições remuneratórias dos militares e acabar com os quartéis onde as camaratas, casas de banho e a generalidade das instalações nem para porcos serviriam.

9 Out 2023

O surrealismo do PSD

No momento em que escrevemos este texto as sondagens indicam que nas eleições da Madeira, o PSD poderá vencer por maioria absoluta. Numa ilha onde o caciquismo político reina desde o 25 de Abril e onde existem mais bairros de pobres que hotéis de luxo, vivendo a região autónoma, à base do turismo. É com essa política de caciquismo que o PSD tem saído vencedor e onde Alberto João Jardim fez o que lhe apeteceu mas sempre pedindo de mão beijada milhões de euros aos governos da República. Uma República que assiste à maior crise no interior do PSD.

Os sociais-democratas, com as suas diferentes facções, não descansaram enquanto não mandaram embora um homem sério e activo como Rui Rio e que escolheram para líder Luís Montenegro que tem chefiado o partido há 18 meses sem apresentar uma alternativa para um dia poder vir a ser primeiro-ministro. É nas hostes do PSD que temos ouvido dizer que com Luís Montenegro o partido não vai lá e é assim que a toda a hora sonham com o “D. Sebastião” de nome Passos Coelho para voltar a chefiar os destinos do partido. Como é que Passos Coelho pode ser o “desejado” se o povo ainda não esqueceu a sua governação onde tudo foi mau e em prejuízo dos mais desprotegidos?

No PSD assiste-se ao surrealism total onde cada um quer tudo, e nada acertado apresenta. Até apareceu um Poiares Maduro a propor que fosse retirado o subsídio de Natal aos reformados. Isto, até é ofensivo quando temos portugueses a receber reformas de 150, 200 e 300 euros.

A bancada parlamentar do PSD em confronto com o Governo nos vários debates apenas tem sabido manifestar contradição com as propostas governamentais, mas alternativas viáveis nunca se ouviram. Com um líder parlamentar fraquíssimo, o que se assiste é a António Costa, como primeiro-ministro, sair do Parlamento todo satisfeito pelas posições que toma com frontalidade e lógica, dentro dos parâmetros em que é possível financeiramente governar, apesar das críticas da oposição que o dinheirão que veio da Europa em forma de PRR não ser aplicado no desenvolvimento estrutural do país.

O que acontece no PSD é que assiste ao Iniciativa Liberal e ao Chega a cativarem cada vez mais adeptos, os quais vêm da área do PSD. Segundo as últimas sondagens, que valem o que valem, o Chega e o IL podem vir a ter juntos maior percentagem eleitoral que o PSD e, isso, seria um descalabro para quem se arvora em afirmar ser o maior partido da oposição.

O PSD bem tenta puxar todos os “senadores” para a ribalta da propaganda, tais como Marques Mendes que anda a ser levado ao colo pelo Presidente Marcelo a fim de o candidatar a seu successor, Durão Barroso o tal primeiro-ministro que abandonou os portugueses para ocupar cargos de remuneração choruda na Europa, Pedro Santana Lopes que à frente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa saiu com uma fama desastrosa devido à péssima gestão e o surrealismo do outro mundo chamado Aníbal Cavaco Silva. Este último, teve o desplante e a pouca vergonha de lançar um livro onde tenta ensinar como se deve ser primeiro-ministro. Bem, é melhor rirmos do que chorarmos, quando nos lembramos que Cavaco Silva foi dos piores primeiros ministros que Portugal teve.

Em entrevista encomendada a um semanário, Cavaco Silva não deixou de sublinhar, como piadas ao actual primeiro-ministro, que se existe um ministro sem bom senso deve ser demitido. Mas, o que será isso do bom senso à frente de um Ministério? Depois, acrescentou que se um ministro for mal educado igualmente tem de ser demitido. Será que Cavaco Silva entrou já na fase da senilidade e não se lembra de quantos ministros teve nos governos que chefiou que foram uns mal educados, arrogantes e incompetentes? O seu livro é um chorrilho de disparates a querer ensinar tudo aquilo que não praticou e é por essa razão que os cidadãos que normalmente votavam no PSD estão virados para o IL, Chega e alguns mais realistas pensam em votar no PS.

A política portuguesa está inacreditavelmente perturbadora porque se o PCP está a perder votos por apoiar a Rússia no conflito com a Ucrânia, no Bloco de Esquerda Mariana Mortágua não está a fazer melhor do que foi a coordenação de Catarina Martins. Infelizmente, o populismo e a demagogia do Chega com os gritos patéticos de André Ventura que, na realidade, manda cá para fora umas verdades que o povo gosta de ouvir, está efectivamente a aumentar a sua base de apoio e, imaginem só, que num bairro social da margem sul do Tejo, toda a gente afirma que votará no Chega por ser o único partido que defende os pobres. Não, não dá para entender como em 50 anos da chamada democracia o espectro político mudou tanto, particularmente com o surrealismo gerado no PSD que não consegue levar um balde de água ao seu moinho.

25 Set 2023

O aborto da saúde

Os serviços de Saúde em Portugal vão de mal a pior. Os portugueses sofrem a sério com a falta de apoio ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) há muitos anos. Penso mesmo, que durante os 50 anos desta etapa democrática que não existiu nenhum governo que se preocupasse a sério com a saúde dos portugueses. Tivemos o grande António Arnaut que fundou o SNS e que em boa hora evitou que já tivessem morrido milhares de portugueses sem assistência hospitalar. Nos tempos de hoje a Saúde está quase um caos. Os médicos fazem greve protestando contra as faltas de condições de trabalho e devido ao salário insuficiente, apesar de termos de salientar que uma grande maioria deles trabalha de manhã no SNS, à tarde no seu consultório ou num hospital privado e desloca-se de Porsche ou Mercedes. Os enfermeiros aguentam há anos por um aumentozinho no salário minimamente digno e como nada acontece emigram, especialmente para Inglaterra onde lhes proporcionam tudo e um salário chorudo. Há hospitais que até parecem não ter gestores e quanto a compras de materiais nem é bom referir porque a corrupção impera de norte a sul. Os pacientes são como o mexilhão, são os que se lixam. Bem, vocês não acreditam: às três horas da madrugada já há pessoas de todas as idades, em fila, à porta de um qualquer Centro de Saúde, para conseguirem uma senha para consulta. Consulta? Há dias tive a necessidade de limpar os ouvidos porque já não ouvia praticamente nada. Fui ao Centro de Saúde da minha área de residência e fui atendido por uma médica atenciosa e já com alguns anos de experiência. Ela viu através de um aparelho próprio, o que se passava e confirmou que necessitava urgentemente de uma lavagem aos ouvidos. E acrescentou: “Caro senhor, eu posso marcar uma consulta para um otorrinolaringologista no hospital, mas a consulta irá demorar aí uns três ou quatro meses. O melhor, se puder, é ir a um otorrinolaringologista privado porque o senhor está muito mal de audição”. E assim tive de fazer, optar por um privado gastando uma quantia que bem me custou.

Em certos hospitais os doentes chegam de ambulância, ficam nos corredores nas macas das ambulâncias, o hospital não tem macas suficientes e as ambulâncias ficam horas e horas a aguardar que libertem as suas macas. E durante essas horas quantos pacientes teriam tido necessidade dessas ambulâncias que ficam engarrafam nos hospitais? A este propósito de macas nos corredores, recordo-vos que há dias o país ficou chocado com um doente com 92 anos de idade que esteve seis horas na maca no corredor de um hospital e veio a falecer por falta de atendimento.

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, é médico, está atento e conhece os problemas da saúde, mas dá a ideia de andar de mãos atadas. O seu colega das Finanças deve ter-lhe dito que não poderá contar com o dinheiro necessário. Mesmo assim, já aumentou o salário dos médicos substancialmente e de outro pessoal paramédico. O principal de tudo é necessariamente a miséria de salários que aqueles milhares de profissionais de saúde recebem e a falta de hospitais. O novo hospital de Lisboa está prometido há anos e nunca avança.

Na semana passada tivemos um caso muito grave e que não podemos deixar de vos apresentar quase como um crime de lesa pátria. Eu sei que há portugueses que são contra a interrupção voluntária da gravidez e outros a favor. O certo, é que a lei portuguesa permite que as mulheres façam o aborto e nos centros hospitalares do país. Ora, aconteceu o inimaginável. E gravíssimo. Veio a público que vários casos em que o acesso das mulheres à realização de uma interrupção voluntária da gravidez (IVG) estava a ser dificultado em vários hospitais do SNS. O acesso ao aborto não está à mesma distância para todas as mulheres em Portugal e, em 15 anos, estagnou. Um em cada três hospitais públicos não tem consulta de IVG, ou seja, 13 em cada 45 hospitais do SNS, que não a disponibilizam. O Bloco de Esquerda vai pedir uma auditoria aos hospitais para apurar as causas e os responsáveis nos casos das mulheres que se viram impedidas de levar a cabo interrupções voluntárias da gravidez. O partido quer também que a linha SNS24 passe a acompanhar as mulheres em todo o circuito, para a realização do aborto. Outros partidos políticos já se manifestaram pela presença do ministro da Saúde na Assembleia da República. No entanto, Manuel Pizarro já admitiu a existência de “casos pontuais”. Seja como for, existem hospitais que praticamente se negam a assistir um aborto e, assim, os seus responsáveis deviam ser condenados no foro judicial. Com factos destes, de uma coisa não temos dúvidas, um grande aborto é a Saúde.

18 Set 2023

O Conselho do mundo

O Conselho de Estado é o órgão de consulta do Presidente da República. Já se realizaram em 50 anos de democracia dezenas de reuniões com os mais diferentes conselheiros. Na semana passada decorreu mais uma reunião do Conselho de Estado. Tratou-se da segunda parte de uma outra que tinha sido convocada em Julho e que terminou apressadamente porque o primeiro-ministro tinha de apanhar o avião para ir ver o futebol na Nova Zelândia, como se isso fosse um problema importante do país.

Desta vez, realizou-se a segunda parte da reunião de Julho, mas vale a pena lembrar que em Julho o Conselho de Estado tinha sido convocado devido aos graves problemas na TAP, e desta vez o Presidente da República teria de continuar a ouvir os conselheiros sobre a TAP, especialmente quando certamente já tinham conhecimento de mais um possível rombo na carteira dos portugueses. Acontece que a ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, deu oficialmente entrada com um processo em tribunal contra a TAP pedindo 5,9 milhões de euros de indemnização. Pouca coisa, que os erros dos governantes e a absurda demissão da antiga presidente executiva da empresa aérea devia ter levado os conselheiros a manifestar ao Presidente da República que Portugal não pode continuar a ser governado com o esbanjamento do nosso dinheiro em indemnizações constantes por dá cá aquela palha.

Inacreditavelmente a comunicação social resumiu a reunião numa análise da situação do país e da situação internacional. Totalmente errado. As nossas fontes informativas são credíveis e disseram-nos ao longo dos tempos que nas reuniões do Conselho de Estado sempre existiram perguntas do Presidente da República, debate entre conselheiros, críticas aos Governos e ao Parlamento e intervenções duras dos primeiros-ministros. Incluindo recentemente, o actual primeiro-ministro António Costa, respondeu a alguns conselheiros críticos da sua governação.

No Conselho de Estado temos as mais diversas personalidades dos mais diferentes quadrantes políticos, nomeadamente Manuel Alegre, Carlos César, Santos Silva, Lídia Jorge (PS); Cavaco Silva, Marques Mendes, Leonor Beleza (PSD) e independentes como António Ramalho Eanes. Neste particular, o povo não entende lá muito bem porque Marcelo Rebelo de Sousa não convidou ninguém do PCP e do BE, mas enfim é o que temos. Quanto a esta última reunião do Conselho de Estado muito se teria passado e com um ambiente tenso e uma coincidência. Comecemos pela coincidência: pela primeira vez sentaram-se lado a lado Lídia Jorge e Cavaco Silva, ambos de Boliqueime, Algarve, com residências perto um do outro e que nem se podem ver. Não sei mesmo se dirigem alguma palavra um ao outro.

Quanto à reunião propriamente dita, Miguel Cadilhe é um crítico acérrimo da governação e tece duras críticas a António Costa pela forma de governar há oito anos sem o país avançar em áreas como a Economia, Saúde e Educação. Marques Mendes é outro dos críticos que indica os erros ou as lacunas do Governo. Carlos César defende a sua dama Açores, por vezes, mesmo contra as posições da maioria absoluta do seu partido. O general Ramalho Eanes já chamou à atenção para o grave problema que se passa nas Forças Armadas, onde cada vez há menos jovens que queiram ingressar nas fileiras militares por as condições não serem apelativas.

Cavaco Silva, sem razão alguma, critica o Governo quando ele próprio fez muito pior. Manuel Alegre é bem conhecido de todos nós e sabemos que nunca na vida ficou calado, antes pelo contrário. O Presidente da República ouve e tira as suas conclusões e quando no exterior se encontra com os jornalistas diz algo sem nexo e salienta que nunca se pronuncia sobre o que se passa nas reuniões do Conselho de Estado.

Bem, desta vez, podia, já que foi confrontado por um jornalista, se na reunião falaram da TAP e da “bomba” dos 5,9 milhões que o Estado (todos nós) terá de pagar à senhora francesa que dirigiu a TAP e que não brinca em serviço. Mas, o mais surpreendente haveria de estar para vir. Qual não foi o espanto do Presidente Marcelo e de os conselheiros quando António Costa não contestou qualquer crítica e nem respondeu a uma sequer pergunta. Simplesmente mudo, durante toda a reunião.

Obviamente que a oposição veio logo aproveitar-se da situação e afirmar que António Costa anda “amuado”. Isto, porque o país vive momentos de crise institucional. Já não bastou a pandemia e a guerra na Ucrânia e agora ainda temos um Presidente da República que andou anos a apaparicar tudo a António Costa e que a caminho do fim do mandato, só porque António Costa não demitiu o ministro João Galamba, passa o tempo a dificultar e a vetar as decisões governamentais. É natural que António Costa se sinta “amuado”, mas disfarça bem. Diz que nada se passa com o Chefe de Estado, que está tudo no melhor dos mundos e continua a andar pelo país já em campanha eleitoral para as eleições europeias do próximo ano. Para nós, resumimos tudo isto a um termo: país adiado.

11 Set 2023

A loucura de um beijo

Quem prefere sintonizar os canais de televisão de notícias do país, do mundo e do desporto ficou na semana passada absolutamente atordoado com a decisão editorial nos referidos canais. O país vive momentos de grande dificuldade, os cidadãos que optaram por comprar casa estão desesperados com o aumento das taxas de juros e o consequente aumento da prestação mensal, em alguns casos, já subiu para o dobro.

As famílias que optaram pelo arrendamento andam desesperadas com o possível aumento de sete por cento nas rendas no próximo ano devido à subida da inflação, caso o Governo não venha a travar esse aumento. Nos hospitais prevalece o caos, os médicos entram em greve e as cirurgias e as consultas ficam para as calendas atingindo milhares de portugueses. No corredor de um hospital, um idoso com 96 anos esteve seis horas à espera de atendimento e veio a morrer. Uma jovem de 23 anos, grávida, teve alta do hospital depois de ter manifestado que não se sentia bem.

Assim que saiu da unidade hospitalar veio a falecer. Os agricultores continuam a não receber as ajudas que já foram prometidas há dois anos. O Presidente da República vai continuar a viajar para o estrangeiro. Passam-se no seio da administração pública os factos mais mirabolantes, como o do Joe Berardo, que só de uma vez levantou 350 milhões de euros, sem garantias, da Caixa Geral de Depósitos e depois foi comprar acções no Banco Millennium e anda à boa vida num luxo inacreditável e a anunciar que vai abrir mais museus quando os crimes cometidos foram tantos que há muito devia estar na prisão, como ficou provado nas páginas da revista Sábado.

E com tanta matéria para noticiar, as nossas televisões não tiveram mais nada para divulgar diária e consecutivamente, se não um beijo que o presidente da Federação de Futebol espanhola, Luis Rubiales, deu na boca de uma jogadora da selecção nacional feminina que tinha acabado de se sagrar campeã mundial. Mas, as sessões nos canais televisivos foram seguidas, repletas dos mais variados comentadores, com defensoras dos direitos das mulheres, com a suspensão de Rubiales pela FIFA. Um absurdo total. Uma total loucura.

Mesmo no desporto, a semana foi fértil em transferências de jogadores, o Benfica estava a comprar e a vender jogadores, o Sporting e o FC Porto a mesma coisa e as televisões apresentavam um minuto sobre esse assunto. Ora vejamos: primeiramente quero dizer-vos que um amigo que reside em Madrid, informou-me que há muito que se falava de uma relação íntima entre Rubiales e aquela jogadora.

Depois, se repararem bem, na imagem que publicamos, a jogadora abraçou apertadamente o presidente da Federação de Futebol espanhola e no momento do beijo na boca ainda está a abraçá-lo. Tudo o resto são tretas, oportunismos de associações pseudo defensoras dos direitos das mulheres. Se o presidente Rubiales tivesse entrado no balneário das jogadoras quando elas estiveram completamente nuas a tomar o duche, bem, isso era um crime grave, era um abuso sem perdão, era motivo de noticiários constantes.

Agora um beijo na boca de um homem a uma mulher que, pelos vistos, conheciam-se muito bem, é uma vergonha jornalística o que se passou nos canais televisivos. E ainda mais, como hoje em dia está na moda, se tivesse sido um beijo entre dois homens ou entre duas mulheres nada aconteceria. Se pretendem ser verdadeiramente fundamentalistas, então a FIFA que decida rapidamente que as equipas de futebol femininas terão de ser treinadas por uma mulher, terão de criar uma Federação de Futebol Feminino presidida por uma mulher, os massagistas terão de ser todas mulheres tal como já acontece com as árbitras. De resto, colocar um presidente de uma Federação de Futebol importante como é a espanhola, como um criminoso, como um escroque, um bandido que teve o desplante de beijar na boca uma jogadora, eivado daquela emoção natural de ser campeão mundial, é de bradar aos céus.

O jornalismo português está a passar por uma fase degradante. Não temos um jornal onde se possa ler algo de independente. Agora até veio a lume uma escandaleira que deixou todos os jornalistas sérios de cara à banda. O Governo quer decidir o pagamento acrescido de 40 por cento do salário dos jornalistas. Isto, é comprar os jornalistas, é acabar totalmente com a liberdade de um jornalista, é condicionar a crítica ou a investigação a actos governamentais. Oferecer mais 40 por cento do salário que tenha o jornalista em Portugal? É inacreditável e vergonhoso se isso vier a acontecer. Por que razão o Governo não decide apoiar as empresas proprietárias de órgãos de comunicação social e estas, sim, aumentarem os salários dos jornalistas? Seria mais decente e os jornalistas possivelmente deixariam de se preocupar com um beijo na boca de um homem a uma mulher…

4 Set 2023

Promessas do “rei” dos pobres

Nunca entendi a razão de um Presidente da República viajar tanto para o estrangeiro. É um cargo sem decisão governamental, mas vai a todo o lado mais assemelhando-se a um primeiro-ministro. Marcelo Rebelo de Sousa viajou para a Polónia, sede da estratégia da guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Ninguém ficou a saber o que é que Portugal ganhou com a sua ida à Polónia. De seguida viajou 10 horas de comboio para a Ucrânia.

Logo à chegada, prometeu este mundo e o outro. Que Portugal apoiaria sempre económica e militarmente a Ucrânia. Isto é o absurdo total. Prometer apoio económico e militar? Isso é para os países ricos onde o capitalismo tem o maior interesse que as suas fábricas de armamento estejam sempre a facturar. E Marcelo acrescentou o absurdo, que Portugal pode ajudar a Ucrânia na investigação dos crimes de guerra, quando esse assunto já há muito que está entregue ao Tribunal Penal Internacional. Com a agravante de as investigações judiciais no seu país levam anos por decidir algo. Sobre o que disse o presidente Marcelo sobre a Crimeia, apesar de ler muito, não leu que a Crimeia é território russo desde a guerra entre a Rússia e a Turquia (1877-1878).

O Presidente português prometeu este mundo e o outro, sem pensar no que tem em casa. Como é possível prometer ajuda económica se na economia portuguesa vivem-se momentos trágicos, com o povo cada vez mais pobre, sem poder comprar ou arrendar uma casa; que os agricultores não cessam de pedir ajuda e em consequência os preços dos produtos alimentares aumentam todas as semanas; que os jovens emigram às centenas por falta de trabalho; que temos reformados a receber 200 e 300 euros mensais; que os hospitais não têm médicos e enfermeiros; que o povo vai às três horas da madrugada para uma fila junto dos centros de saúde para conseguir uma senha de consulta médica; que doentes morrem em macas nos corredores dos hospitais depois de esperarem mais de seis horas por atendimento; que os sem-abrigo aumentam todos os meses pelas ruas das cidades do país, só na avenida de Roma, em Lisboa, dormem no chão todas as noites seis sem-abrigo; que os bombeiros queixam-se por falta de meios no combate aos fogos; que os novos oficiais de justiça vão vencer uns míseros 800 euros mensalmente; que mais de 20 por cento dos portugueses não puderam fazer férias e que a economia paralela que foge ao fisco prejudica o país em milhões de euros.

No campo militar, o tal que o Presidente Marcelo também prometeu ajuda à Ucrânia, o senhor esqueceu-se que as Forças Armadas vivem um tempo de desânimo devido à falta de jovens que queiram ingressar nas fileiras militares; que o Exército tem material obsoleto, que a Força Aérea pensa vender alguns aviões F-16 por não haver financiamento necessário para o seu sustento e pela redução constante do número de pilotos; que a Marinha tem fragatas nos estaleiros a aguardar financiamento para restauração.

Apoio militar à Ucrânia? Mas que tipo de apoio? A Ucrânia está a receber apoio militar e económico dos mais variados países, começando pelos Estados Unidos da América. E será este Portugal pequeno e pobre que vai ajudar a manter uma guerra? Por que não falou o Presidente Marcelo em paz. A paz é que tem de ser negociada o mais depressa possível. As famílias ucranianas e russas já ficaram sem milhares de filhos mortos em combate. Os ataques de uma guerra injusta matam crianças acabadas de nascer e não é a paz o mais importante que se tema de debater em todos os quadrantes políticos, especialmente quando fala um Presidente de um país que só tem dificuldades de sobrevivência?

Temos de ser sérios e independentes, porque somos infimamente pequenos e pobres. Nem sequer se constroem bairros sociais, lares, creches com dignidade e vamos prometer à Ucrânia que terá todo o apoio de Portugal? É difícil compreender este tipo de política, ao fim e ao cabo, totalmente oficial, porque o Presidente Marcelo levou consigo o ministro dos Negócios Estrangeiros, dando obviamente o aval a tudo o que de absurdo foi pronunciado pelo chefe do Estado português.

A Rússia invadiu a Ucrânia e a resposta foi imediata por parte dos países da NATO. Para quê? Para eternizar a guerra até ao infinito? Deixemo-nos de fanfarronices, mas apelem e tudo façam para que a paz seja uma realidade. Já chega de se ganhar milhões de dólares americanos e de euros no fabrico de armamento para enviar para a Ucrânia. Só faltou que o Presidente Marcelo tivesse dito que Portugal oferecia os seus F-16 que nunca ninguém compreendeu porque adquirimos tal tipo de aviões. Salazar foi um dos maiores fascistas do mundo político e manteve-se neutro durante a guerra e nós orgulhamo-nos de pertencer à NATO sem ter um fósforo para acender um cigarro…

28 Ago 2023

As negociatas dos radares

Na semana passada lembrei-me das faixas da esquerda de certas autoestradas da Alemanha e de algumas estradas da Austrália onde não existe limite de velocidade. E lembrei-me por quê? Porque este país é um país de modas nas negociatas. Sim, nas negociatas e não nos benefícios para o povo. Há uns anos foi a moda das barragens, depois foram as energias renováveis onde as eólicas deram lugar a negociatas de cair para o lado.

Chegou a haver um presidente de câmara que ao saber quanto é que um outro autarca tinha recebido para licenciar a instalação dos aerogeradores nas montanhas da sua jurisdição, pediu para ele uma comissão em dobro… depois vieram as negociatas dos projectos para o TGV, para o novo aeroporto de Lisboa, para a terceira ponte sobre o rio Tejo entre Lisboa e a margem sul, as vendas da EDP. Efacec, Portugal Telecom e a negociata inenarrável da TAP.

De seguida, assistimos à negociata dos helicópteros Kamov para combate aos incêndios, os quais estão abandonados por falta de peças. E a negociata da compra de dois submarinos de tecnologia mais avançada? Neste caso o escândalo ainda é tão significativo que os interlocutores alemães do negócio estão presos por terem sido condenados por corrupção. No nosso país não aconteceu nada. Aliás, aconteceu. A comunicação social deu o ar de ter recebido uma “ordem” para não falar no assunto. Negociatas não têm fim. A última a que assistimos atordoadamente foram as centenas de milhões de euros em ajustes directos nas obras para a Jornada Mundial da Juventude.

Mas, voltemos à estrada e à velocidade. Porque em Portugal cada vez mais se vendem “bombas” que podem atingir os 320 quilómetros por hora. Se autorizam a venda de carros de alta cilindrada só por absurdo é que podemos deixar de dizer que se trata de mais um cambalacho. Carros topo de gama para andarem no máximo a 120 quilómetros por hora, a velocidade máxima permitida numa autoestrada. A 120 dá a sensação de um carro dos fabricados nos dias de hoje completamente parado.

Não se admite que ainda não tenha sido autorizada a velocidade máxima para 140, apenas na faixa da esquerda. Pois agora, temos mais uma negociata, não um benefício para o povo, não, temos uma invenção que vai custar ao erário público milhões de euros. Descobriram que um novo rendimento, mais conhecido pela caça à multa, é a compra para todo o país de radares que controlam a velocidade média. O que é isso? Ora bem, se o amigo leitor vier até Portugal, fica a saber que passará a ter radares no norte, centro e sul que controlam a velocidade da sua viatura desde que passa numa câmara até outra câmara instalada muitos quilómetros depois. É o máximo de “chico-espertos” que devem ter dito ao primeiro-ministro: “Senhor Doutor, temos mais uma maneira de ganhar milhões por ano. Temos uma mina de ouro, assim mais ou menos parecida com mais um imposto”…

Que tristeza, ver num país onde a preocupação não é ajudar os pobres, os reformados que recebem uma miséria menor que 300 euros, os sem-abrigo, construir bairros sociais com dignidade onde hajam escola, creche, centro de saúde, parque infantil e pequeno jardim e não os mamarrachos de cimento que têm oferecido aos pobres onde nem sequer existe um café para tomar uma bebida ou comer uma sandes. Não, o importante, o mais importante do país são os novos radares que irão dar muito dinheiro para os cofres das Finanças. Nada de pensar nos professores, nos médicos, nos enfermeiros, nos oficiais de justiça, nos maquinistas da CP ou do Metropolitano, não, o importante são os radares controladores de velocidade entre um ponto e outro da sua viagem.

O próprio presidente do Automóvel Clube de Portugal, Carlos Barbosa, afirmou que estes radares controladores “só servem para virem encher os cofres do Estado”. Esta afirmação é de uma importância vital e que mostra bem como as negociatas são efectuadas sem consultar quem sabe da matéria. Carlos Barbosa adiantou que “a sinalização dos radares está mal colocada, alguns sinais nem se veem e que nos outros países têm uma dimensão muito maior que em Portugal e estão colocados dos dois lados da estrada”. Quem tomou esta decisão dos radares controladores devia ter vergonha da decisão que tomou porque num país onde se pagam impostos em exagero, esta medida só vem reduzir o rendimento das famílias portuguesas numa demonstração cabal de que não estão preocupados com o bem do povo, antes pelo contrário, em apenas prejudicar as suas vidas.

20 Ago 2023

Os fogos não queimam, matam

Nesta altura do ano temos uma sina: os fogos pelo país fora. No norte, no centro e no sul. Os incêndios, neste ano, já consumiram dezenas de hectares de floresta. Qualquer dia o país não tem pulmão verde se a inoperância dos responsáveis continuar como se tem verificado ao longo dos tempos. As chamas ficam sem controlo e os meios aéreos a combatê-las somente durante a luz do dia não chegam.

Na zona de Castelo Branco o fogo esteve durante dias a consumir a verdura, e não só. Há aldeias que foram evacuadas. Houve casas que arderam. Pessoas como nós que ficaram sem nada. Em absoluto. Apenas com a roupa que tinham no corpo. Arderam os recheios das moradias, os galinheiros, as alfaias, as máquinas agrícolas, os tractores, os carros, as carrinhas, os camiões.

Representavam a mão-de-obra dos agricultores que de sol a sol tratavam das suas árvores de fruto, das suas colmeias, das suas hortas, das suas vinhas e dos seus animais. Um horror quando escrevemos a palavra nada. Nada é zero. Nada é sofrimento. Nada é lágrimas. Nada é depressão. Nada é olhar o firmamento e perguntar a Deus porquê? E o mais triste de tudo isto é que esta gente não tem a mínima possibilidade de reconstruir sem ajuda estatal. As autoridades dizem todos os anos que vão ajudar, que vão financiar, que vão reconstruir, mas há vítimas dos incêndios que estão há seis anos à espera de um euro vindo da oficialidade.

Neste Portugal interior, chame-se Gerês, Castelo Branco, Cascais ou Ourique é precisamente onde seria obrigatório existirem meios organizacionais que evitassem os fogos. Os bombeiros, que lutam até à morte, debaixo de um calor abrasador, queixam-se que os meios mecânicos não são suficientes para realizarem um trabalho profícuo. Afirmam à boca cheia que se gastaram milhões de euros na compra de aviões que estão abandonados por falta de peças. Os terrenos continuam a não ser limpos de modo a diminuir substancialmente o combustível acumulado. Não se abrem caminhos no meio das florestas de modo a que os camiões dos bombeiros possam passar e evitar que as chamas passem de um lado para o outro. Os especialistas nesta matéria opinam na televisão das mais diferentes formas. Para uns os fogos são devido a isto, aquilo e aqueloutro. Para outros, idem, idem, aspas, aspas.

Quem não aguenta mais são as populações que andam de balde na mão a tentar apagar os fogos que chegam junto das suas casas. O pânico destes milhares de atingidos é constante e chega a sangrar ou a matar. Os incêndios não queimam, matam.

E um grande número de incêndios tem origem em mão criminosa. Os pirómanos são aos montes por todo o país. Pelo menos, 60 pessoas foram detidas este ano pelo crime de incêndio florestal. E a GNR e a Polícia Judiciária já identificaram 117 indivíduos por fogo posto. Mesmo assim, a vigilância destas instituições e da Força Aérea não tem sido suficiente para que os pirómanos actuem a seu bel-prazer. Alguns destes incendiários têm sido presentes a juízes e vão em liberdade. Os pirómanos sabem que têm aliados, tais como, o vento e o imenso calor que se tem feito sentir no país.

O território está em perigo constante dos que por várias razões incendeiam as nossas florestas. Há quem afirme que muitos são pagos para que no final a madeira queimada possa servir para negócios chorudos. Neste mês de Agosto chegam a Portugal milhares de emigrantes que vêm de férias e muitos deles passam o seu período de descanso a ajudar os bombeiros no combate aos incêndios e a verem as suas propriedades a arder. Assistimos a campanhas de sensibilização para que as populações tenham o máximo cuidado, que não queimem nada, que não operem máquinas agrícolas junto do mato, que limpem os terrenos à volta das casas. Campanhas essas, que vão por água abaixo porque os pirómanos rebentam com qualquer tipo de campanha de sensibilização.

Os apelos ao comportamento das populações não servem para nada quando temos criminosos no terreno. Até o incrível aconteceu: dois elementos do Corpo de Bombeiros de Caneças, em Odivelas, com idade de 27 e 19 anos, foram detidos pela Judiciária por crimes de incêndio, depois de terem sido apurados indícios de que já este mês atearam fogos florestais na área de intervenção da sua corporação.

Ficaram em prisão preventiva a aguardar julgamento. Imaginem que o objectivo destes bombeiros-pirómanos era para dar trabalho à corporação onde os dois exercem funções, e há suspeitas de que, para atearem as chamas utilizaram inclusive uma viatura dos bombeiros em que se faziam transportar. Parece mentira que os próprios bombeiros façam parte do grupo de pirómanos. Infelizmente, no meio desta tragédia nacional, um comandante de uma corporação de bombeiros transmitiu-nos que: “há muitos negócios chorudos no meio desta tristeza toda…”.

14 Ago 2023

Muita polémica nas jornadas da juventude

Portugal é um país laico, segundo a Constituição. Este é o busílis da realização da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, com um dispêndio de mais de 200 milhões de euros. O Papa Francisco deslocou-se a Portugal e foi saudado por cerca de um milhão de pessoas católicas. Durante a semana passada a rádio, televisão e jornais não abordaram outro tema.

Para uns, o maior evento do mundo em Portugal que trará um retorno financeiro substancial e uma promoção do país a nível internacional. Para outros, não é possível que um país pobre como Portugal gaste tanto dinheiro do povo num evento religioso de uma das muitas religiões existentes em Portugal. Esses comentadores referem o facto de sendo Portugal um país laico, o que aconteceria se muçulmanos, evangelistas, protestantes, testemunhas de Jeová e outras, se lembrassem de também solicitarem ao Governo e às Câmaras Municipais de Lisboa e de Loures a mesma quantia para realizarem eventos semelhantes.

A sociedade não católica salienta que a Igreja Católica chefiada pelo Papa Francisco, não fez a justiça devida aos sacerdotes que durante décadas abusaram sexualmente de menores masculinos, femininos e de mulheres que frequentavam as sacristias. As vítimas dos abusos sexuais, hoje adultos, lamentam profundamente que o Papa Francisco não tenha decidido a expulsão da sua Igreja de todos os sacerdotes ou freiras que abusaram de meninos e de meninas. Para outros observadores esta Jornada Mundial da Juventude veio tentar pôr água na fervura junto dos jovens tentando abafar o crime dos abusos sexuais, provados ainda recentemente por um relatório produzido por uma comissão independente.

Mais de um milhão de jovens e adultos que estiveram em Lisboa e Fátima nas cerimónias do evento naturalmente que para os católicos foi um êxito divino e que Portugal mostrou, mais uma vez, que o seu povo é católico. Não é bem assim. A maioria poderá ser católica, mas é devido o respeito a todas as outras religiões existentes em solo português.

Por outro lado, desde o Presidente da República, um católico praticante, ao presidente da Assembleia da República, ao Governo, autarquias, dioceses, paróquias e forças de segurança, todos foram mobilizados para o evento com milhões de euros gastos num país que tem reformados a ganhar 150, 200, 300, ou 400 euros mensais; que tem centenas de sem-abrigo a dormir nas ruas, que tem estudantes a abandonar o ensino por falta de dinheiro para pagar as propinas e que vivem em casa dos pais até aos 30 anos de idade; que tem bairros da lata e outros sociais onde impera a miséria; que tem milhares de jovens que não podem casar e ter filhos porque não lhes é possível comprar ou arrendar uma casa; que tem protestos nos hospitais por parte dos médicos e enfermeiros a reivindicar melhores condições de trabalho e financeiras; que tem bombeiros a afirmar que não têm condições para combater os incêndios; que tem julgamentos a serem adiados por falta de condições financeiras dos oficiais da justiça; que tem centenas de jovens licenciados que emigram todos os anos por não encontrarem emprego; que tem um ministro das Finanças a dizer que este ano não haverá cativações no Orçamento e que os cofres estão cheios. Que absurdo. Se os cofres estão cheios gastavam-se 200 milhões de euros em apoio aos reformados de miséria, às empresas à beira da falência, à construção de novos centros de saúde e de novos bairros sociais e não se privatizando a TAP de modo a que o povo perca os 3,2 mil milhões que foram injectados na empresa de aviação civil.

A semana foi passada com uma enorme multidão em ebulição festejando a sua fé e a possibilidade de ver o seu chefe da Igreja Católica. No entanto, com um milhão de pessoas foi necessário organizar as forças de segurança ao mais alto nível, com brigadas especiais de atiradores, com snipers nos telhados de vários edifícios e com a cidade de Lisboa praticamente impossibilitada de ter outros transeuntes, que não fossem participantes da jornada. Medo de quê? Que matassem o Papa? Ninguém acredita que algum ateu ou não católico enfrentasse uma multidão de um milhão de pessoas e umas forças de segurança altamente preparadas e posicionadas em todos os lugares das cerimónias e tivesse a coragem de pegar numa catana ou numa pistola para fazer mal ao Papa Francisco.

A pedofilia é um crime hediondo e não pode ter branqueamento ou esquecimento por parte dos responsáveis da Igreja Católica. Ainda na semana passada o semanário ‘Tal & Qual’ trouxe em manchete que o bispo Ximenes Belo, acusado de abusos sexuais em Timor-Leste, estava escondido num santuário em Anadia. A pedofilia foi bem lembrada durante a semana através de cartazes outdoors que foram instalados em diversos locais de Lisboa e que chamaram à atenção que já foram abusados sexualmente em Portugal cerca de 4.800 crianças. Cartaz esse que foi censurado e retirado pela edilidade de Oeiras, mas que tudo indica por conselho do Papa Francisco, voltou a ser recolocado. Este facto é chocante e esperemos possível que as novas gerações sejam sensibilizadas para que no futuro não aconteça mais abusos no seio da Igreja, o que se assistiu no passado tão triste?

9 Ago 2023