Natasha Fellini, professora de português

[dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]atasha Fellini chegou a Macau em 2001, deixando para trás a megalópole de São Paulo, onde nasceu há 34 anos. Uma proposta de emprego levou a família a mudar-se para cá e, como adolescente que era à época, não teve escolha. Dezassete anos depois continua por cá e sem perspectivas de partir, desta feita por opção.

“Pretendo ficar por mais algum tempo porque acho que Macau me proporcionou uma qualidade de vida e uma segurança que não tenho no Brasil”, explica a professora de português, para quem estar reunida com a família e utilizar a língua materna são factores que jogam a favor da sua permanência em Macau. “Já criámos raízes e pretendemos ficar”, sublinha, referindo-se à mãe e às duas irmãs.

“Fico feliz por Macau não ser bem China e ter estas particularidades que têm a ver com a cultura, além de ser um lugar muito conveniente. Gosto de estar aqui”, realça Natasha Fellini, recordando, no entanto, um primeiro embate cultural que teve à chegada.

“Como sou brasileira não tenho o padrão dos chineses que parecem muito miúdos e têm outro tipo de corpo e, no início, quando entrava numa loja diziam-me logo que não tinham o meu número mesmo quando eu estava à procura de algo para oferecer e isso marcou-me”, relata. Se na altura não achou piada agora descreve o fenómeno como “engraçado”, um simples fruto de “uma questão cultural” que, entretanto, foi-se dissipando, com o desenvolvimento da cidade e, por conseguinte, com a oferta de lojas internacionais.

Quando chegou, Natasha Fellini estava em idade escolar e foi para a Escola Portuguesa de Macau. No entanto, mesmo depois de terminar o secundário não abandonou o território, tendo optado por prosseguir os estudos na Universidade de Macau, onde acabaria por ter a primeira experiência profissional. Seguiu-se a Escola Anglicana até hoje, onde coordena o português, além de também dar aulas.

Ensinar era, aliás, um sonho que tinha desde criança. “Desde pequena sempre gostei da área da educação e quando brincava com as bonecas fingia que lhes dava aulas. Sempre tive essa vontade de trabalhar na área da educação”, sublinha Natasha Fellini que ensina português aos alunos do 7.º ao 10.º ano.

O maior período de tempo que Natasha Fellini passou fora de Macau, onde já viveu metade da vida, foi quando resolveu apostar na aprendizagem do mandarim, língua à qual tinha sido introduzida durante a licenciatura na Universidade de Macau. “Era uma disciplina obrigatória. Como tinha estudado as bases e vi que ia ficar mais tempo decidi ir aprender a língua a fundo”, explica a docente que esteve em Pequim, entre 2006 e 2008, exclusivamente dedicada a essa missão. “Hoje consigo ter uma conversa”, brinca a docente.

Outra vantagem que encontra em Macau tem que ver com o facto de existir uma comunidade brasileira significativa que a faz sentir “um pouco em casa”. “Temos feito festas de carnaval e organizado outros eventos de inspiração brasileira, o que é muito bom”, sublinha Natasha Fellini, embora lamentando que haja falta de espaço para mais: “É difícil encontrar lugares para nos juntarmos para conviver”. O mesmo aplica-se à gastronomia: “Sentimos falta da comida [brasileira] e podíamos ter mais opções”, observa.

Natasha Fellini reconhece que, em termos genéricos, no seio da comunidade chinesa o conhecimento sobre o Brasil cinge-se praticamente ao “rótulo do futebol e do samba”, mas dentro da sala de aula esforça-se por levar os alunos a verem além disso. “Como professora, tento sempre mudar essa imagem e mostrar outro lado do Brasil, dando a conhecer coisas interessantes como música. Mas, infelizmente, também já começam a ver as notícias acerca da violência no Brasil e às vezes também me perguntam”.

Ao Brasil regressa normalmente uma vez por ano: “Tenho muitas saudades e preciso de lá ir para ver o resto da minha família e os meus amigos de infância”. Aliás, como “boa brasileira” que é, gosta de dançar, não dispensado uma ida à discoteca nos tempos livres, bem como de “socializar”. “Estou sempre a procurar os amigos”, diz Natasha Fellini que também mal o tédio aperta aproveita para dar um pulo a outras paragens. “Macau é pequeno e pode cansar um pouco, pelo que aproveito e vou a Hong Kong ou a Cantão”.

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