Bournemouth, café e padaria | Chan, proprietário: “Apostei num serviço barato”

Está aberto há duas semanas e já tem o rótulo de sucesso garantido. Chan é a cara do negócio que pretende facilitar a vida dos residentes. Comidas leves, acompanhadas por sumos frescos, para levar ou comer num simpático balcão

[dropocap style=’circle’]A[/dropcap]ssim que entramos somos recebidos com um sorriso. O cheiro a pão inunda-nos e o calor pede um sumo, bem fresco. Chan, o proprietário do mais recente café junto à igreja de São Lourenço, convida-nos a provar o “fresquíssimo sumo de manga”. “Querem um pão? É português e temos vários tipos de pães”, completa.
Esta era, de facto, a ideia que fez nascer o café e padaria Bournemouth. “Sou formado na área de hotelaria, e sempre trabalhei em grandes restaurantes. Um dia decidi que queria o meu próprio negócio e como tinha muito contacto com comida mais ‘ocidentalizada’ decidi criar este espaço”, começa por partilhar o proprietário.
A ideia era simples: os clientes tinham ao seu dispor uma quantidade variada de sumos frescos e tipos de café, sejam duplos, americanos, Moka ou um café com leite. Para acompanhar tinham pão português. “Esta combinação resulta sempre: sumo com pão”, brinca Chan. O fabrico não é próprio, alerta. “O pão encomendo da Metro Pizza. Eram os fornecedores do meu antigo trabalho e sempre gostei do serviço”, explica.
Pão com chouriço, vegetais e salsichas, leitão, mortadela e até bacon são algumas das variedades que se podem encontrar na montra. Ao lado está uma arca que se destaca, por estar vazia.
Chan olha e prontamente justifica. “Não tenho mãos a medir, numa semana e meia as mais de 500 garrafas desapareceram e percebi que as pessoas queriam mais do que um sumo e um pão”, conta. É desta necessidade que nasceu um menu mais completo composto por sandes, saladas e pratos rápidos.

Bom e barato

“Parece que as pessoas queriam sempre mais, e a verdade é que venho para aqui às 7 da manhã mas rapidamente vendo tudo. Estou a tentar encontrar uma forma de ter mais oferta agora, para a procura que tenho”, continua.
Quando questionado sobre a aceitação do serviço, Chan explica que a ideia era ser um serviço barato. “Apostei num serviço barato, porque comecei a perceber que com esta história das baixas na economia as pessoas querem gastar menos. Eu sentia isso no restaurante em que trabalhava, e posso dizer que era uma coisa de luxo”, continua.
“Eu sei que há sítios em que este serviço é mais caro. Mas não acho que haja necessidade para isso. A ideia é que seja mesmo barato. Que uma sandes um sumo sejam baratos, não precisam de ser caros”, explicou ainda.

Para todos

Sandes de frango, queijo e fiambre, bife com ovo, tomate, acompanhadas por uma salada César ou de fruta, por menos de 50 patacas? Sim é possível. Agora é possível.
Um balcão com poucas cadeiras, porque “a ideia não é que as pessoas fiquem por aqui, mas sim usufruam do serviço take away”, recebe que por ali que ficar. A decoração não podia ser mais simples e bonita. Paredes de ardósia para se poder diversificar, o uso da madeira e brincadeira com a luz dão um ar saudável, divertido e bastante familiar.
Uma pequena cozinha mostra todo o processo de confecção das sandes. E até as garrafas são originais. “Apostei no simples”, explica Chan.
Abrir um negócio não “é trabalho fácil” em Macau, mas com esforço as coisas vão-se conseguindo. Chan não esconde que não contava com tanta gente nos primeiros dias porque sempre teve em mente trabalhar para um grupo pequeno de pessoas. “Não sabia que isto iria ser assim, talvez tenha que fechar mais cedo para conseguir confeccionar mais para o dia seguinte, mas é importante que as pessoas também comprem o nosso pão”, argumenta.
Entusiasmado com o projecto, mas com medo de falhar, Chan nasceu para vencer e isso nota-se na sua dedicação ao trabalho. “Vamos ver, um dia de cada vez”, diz. E não será este o lema mais simples de viver?

15 Jun 2016

Ariel Tang, designer: “Saí para encontrar o que gosto”

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]arece que quem trabalha na área da arte e design não tem um caminho fácil. Não basta gostar, também é preciso ganhar dinheiro. Mas Ariel Tang rompeu com um estilo de vida estável, deixou o seu trabalho e dedica-se hoje à área do design. “Sempre gostei de desenhar e comecei a contactar com o mundo das artes desde a escola. Os professores deram-me essa oportunidade. Entre o sétimo e o décimo segundo ano eu e uns colegas fizemos os boletins de turma, os professores sabiam que eu gostava de fazer isso”, contou ao HM.
Em 2007 chegou a altura de escolher um curso superior e Ariel Tang considerou que as indústrias culturais e criativas ainda não eram muito desenvolvidas e poucas pessoas estudavam design. Então resolveu escolher o curso de gestão empresarial, respondendo às expectativas da família para garantir um bom emprego no futuro.
Contudo, a formação não trouxe grande satisfação à jovem. “Depois de acabar a licenciatura, trabalhei em várias empresas, o último emprego que tive foi num banco. A remuneração era relativamente boa, a vida estava tão estável que eu só pensei em fazer o que gosto mais”, apontou.
Em 2014, Ariel conseguiu a oportunidade de estar presente na Feira de Arte na Praça de Tap Seac sem pagar a concessão do espaço e então começou a vender as suas obras. São postais, calendários, capas para telemóveis ou estátuas de madeira cujo design é totalmente feito por Ariel, sempre com os gatos como inspiração.
“Tenho gatos em casa e sempre quis desenhá-los, penso que devem haver outras pessoas que gostem de animais. O resultado foi bom e vendi os meus trabalhos rapidamente”, lembrou.

Criar e gerir

Depois de várias participações na feira, Ariel criou a “Little DoDo NaNa”, uma página na rede social Facebook para desenvolver os seus próprios produtos. “Para além de saber desenhar, entendo que também é preciso saber como gerir a venda dos produtos. Combinando com os meus conhecimentos em marketing, surgiu-me a ideia de desenvolver os gatos como uma personagem e uma marca. Espero que no futuro alguém queira usar esta marca em outros produtos.”
Mesmo sendo bem sucedida no mundo das artes, Ariel continuou o seu trabalho no banco. Até que no final do ano passado tomou uma decisão. “O meu chefe no banco queria que eu aprendesse coisas novas mas disse que eu não estava muito entusiasmada. Sabia isso porque nunca gostei da área. Depois da segunda participação na desisti do trabalho e comecei a estudar design.”
Ariel teve sorte: conseguiu entrar na licenciatura em design gráfico do Instituto Politécnico de Macau (IPM) com uma bolsa de estudos. Já nessa altura a família estava preocupada com o facto da jovem poder vir a ficar sem rendimentos.
Hoje em dia a jovem artista continua a trabalhar como freelancer. Faz design de interiores e trabalhos de design gráfico como, por exemplo, cartões de contactos para vários negócios e pessoas. A jovem vende alguns produtos em lojas e num website com alguma projecção lá fora. Para ela, esses pequenos trabalhos e colaborações fazem com que ela consiga manter alguma estabilidade financeira. Quando acabar a licenciatura, Ariel pretende tornar-se numa verdadeira designer, com mais profissionalismo.
Depois da mudança de rumo, Ariel não se arrepende da decisão de estudar gestão empresarial, porque acabou por se revelar útil no seu actual negócio. Na feira do Tap Seac conheceu amigos e pessoas da área das artes, mas lamenta o grande número de desistências.
“Há pessoas que não olham para a arte de forma série e acham que não têm um elevado salário, por comparação à maioria das pessoas. São poucos os que têm vontade de se dedicar apenas a esta área porque estão mais preocupadas com o dinheiro. Isso é uma realidade em Macau”, notou.
Ariel considera-se ela própria um exemplo muito raro porque nem todos conseguem fazer o que ela fez: mudar de vida. Para ela, o que importa é ganhar dinheiro com o que se gosta, sem dar importância ao que os outros dizem.

10 Jun 2016

Handmade Arraiolos | “Fazemos isto porque é uma arte”

Há três anos Vera Fernandes veio viver para Macau e, juntamente com os pais, trouxe a Handmade Arraiolos, um negócio de família de produção e restauro dos tapetes de Arraiolos. Se em Portugal a tradição não pega, na China virou moda

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara fazer tapetes de Arraiolos em Macau é necessário importar todas as telas e lãs e enfrentar um enorme calor enquanto se faz uma peça à mão com técnicas tradicionais utilizadas há vários anos, mas nem assim se desiste. De geração em geração, a Handmade Arraiolos chegou a Macau há três anos não tanto com a vontade de fazer negócio mas com o desejo de continuar a preservar a técnica de fazer estes tapetes que não existem em mais nenhum lugar do mundo.
A avó e o pai de Vera Fernandes eram verdadeiros artesãos numa empresa fundada há 70 anos. Hoje, a Handmade funciona graças ao trabalho da mãe de Vera, já reformada, e com a proprietária, que, contudo, mantém outro emprego. “Não vivo dos tapetes de Arraiolos, infelizmente”, apontou Vera Fernandes.
As encomendas feitas por portugueses escasseiam e são os chineses que mais compram. “Os portugueses percebem que podem adquirir em Portugal ou mandar fazer de novo. O Arraiolos não está assim tão na moda em Portugal. Os chineses ficam muito interessados. Escolhem mais os clássicos, os desenhos mais cheios, gostam que tenham o máximo de elementos e gostam muito das cores que tenham a ver com o azulejo português, com o azul, amarelo, branco. Pedem almofadas a imitar o azulejo, já vendemos um tapete a imitar o azulejo de Lamego”, exemplificou Vera Fernandes ao HM.
O atelier está montado em casa e existem mais de mil cores de lãs prontas a serem trabalhadas numa tela. Vera Fernandes não fala de preços, por variarem consoante a encomenda, mas confessa que um tapete de dois metros pode levar quase seis meses a fazer.
“Em Macau não há tanto mercado para o restauro, não há muitos tapetes de Arraiolos, infelizmente, então dedicamo-nos à confecção de novos tapetes e damos workshops. Já fizemos umas apresentações na China, também”, disse ainda.

As imitações

Para além dos trabalhos que faz para fora, a Handmade Arraiolos também realiza workshops na Casa de Portugal em Macau, os quais “estão quase sempre cheios”. São a única empresa que se dedicam a manter viva a tradição, mas os alunos também fazem por isso.
“Temos tido uma recepção muito boa e os cursos têm estado quase sempre cheios, com pessoas de todos os grupos, e cada vez mais temos pessoas que não são portuguesas. Há pessoas em Macau que fazem tapetes de Arraiolos porque as nossas alunas querem continuar a fazer depois dos workshops e acabamos por ser revendedores.”
Outro dos desafios de ter a empresa em Macau é de lidar com as imitações que são feitas na China. “As pessoas, na sua grande maioria, não perceberem a diferença em termos de materiais e técnicas. As coisas na China não são feitas com a técnica tradicional e isso não ajuda muito à divulgação da cultura portuguesa.”
“Temo-nos dedicado a várias vertentes do negócio, mas o principal objectivo é divulgar a cultura portuguesa. Mesmo havendo imitações na China a técnica continua a ser totalmente desconhecida, porque eles não a seguem”, revelou ainda Vera Fernandes.
Para o futuro a empresa pretende continuar a inovar, mas mantendo sempre a técnica tradicional. “Tentamos manter a técnica o mais possível ligada à origem. Mas inovar em termos da aplicação da técnica sim. Para além dos tapetes e almofadas, temos bolsas, capas para telemóveis, malas e estofos para cadeiras.”
“O nosso objectivo seria conseguirmos a partir de Macau levar os workshops a outros países. Depois de fazermos esta exposição podemos levá-la a outros sítios aqui na Ásia. Os tapetes de Arraiolos são algo muito português e esta técnica do ponto é única em Portugal. Fazemos isto porque é uma arte”, concluiu.

8 Jun 2016

Ana Rita Amorim, tradutora e revisora

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap] uma mulher do mundo e uma força da natureza. Ana Rita Amorim nasceu em Luanda, mas bem cedo voou para Portugal. “O meu pai era militar em Luanda e a minha mãe foi lá ter com ele. Por isso nasci lá, mas não estive muito tempo. Com três ou quatro ano voltámos para Portugal”, começa por contar ao HM.
Ana Rita Amorim é tradutora e revisora no Museu das Telecomunicações e não tem dúvidas de que Macau é a sua casa. “Eu sou de Macau, sinto-me como macaense. Esta é a minha terra”, aprontou-se a colocar os pontos nos “is”.
Foi aos 18 anos que Ana Rita, a viver em Portugal, decidiu “experimentar a vida”, fazer as coisas por ela. “Isto foi no início dos anos 90, foi numa altura em que Portugal ficou economicamente numa situação complicada, não se contratavam pessoas, era difícil arranjar um trabalho onde contratassem mais do que três ou seis meses. Havia trabalho, mas eram coisas temporárias, não nos dava segurança nenhuma”, recorda.
Em 1997, surge a oportunidade de vir até cá. “Se não gostasse, sabia que passado dois anos com a transferência [de soberania] voltaria para Portugal, para ao pé da família. Pensei que seria uma experiência interessante”, conta. Sem ter de tratar de toda a burocracia inerente às fronteiras e documentação necessária, Ana Rita Amorim não hesitou e comprou uma viagem de vinda para Macau.
“A ideia foi: ‘vou comprar um bilhete só de ida para me obrigar a ter que encontrar um trabalho lá para pagar o de volta’. Isto eu tinha de cumprir”, conta, mostrando o perfil de aventureira que tão bem a caracteriza.

Do outro lado

A chegada a Macau não se mostrou uma surpresa feliz. “Quando cheguei, odiei. Não gostei nada. Os dois primeiros três meses foram difíceis, não gostava de nada, estava tudo em obras, o clima não me agradava. Custou-me muito”, recorda.
Contrariamente ao que pensava, a comunidade também não se mostrou fácil de conquistar. “A pessoa que chegava a Macau, nos anos 90, sentia-se quase que isolada. Existiam muitos portuguesas, mas parece que quase não os via. Sentia-me perdida e não falar a língua não ajudou”, aponta. Facebook
A vida está sempre em mudança e, mesmo o que parece certo pode, de um dia para o outro, mudar. Foi isto que aconteceu com Ana Rita Amorim e a sua relação com o território.
“Aconteceu uma coisa muito engraçada. Depois de arranjar trabalho e de me estar a tentar a habituar à vida de casa, saí de Macau, fui viajar. Nesta primeira viagem de férias, dei por mim a sentir falta das pessoas daqui e de Macau. Houve uma mudança em mim”, recorda.

Amor para sempre

Entretanto as amizades começaram a ser cada vez mais fortes. “Quando dei por mim tinha-me apaixonado por Macau, pelas suas gentes, pelo trabalho, pelo cultura”, assume. Mais do que isso, Ana Rita Amorim encontrou o amor, um amor que momentos antes de poder ir estudar para a Escócia a fez ficar por aqui. Um amor que trazia consigo filhos e que Ana Rita Amorim assumiu como seus. “São meus filhos, são os meus filhos, todos”, faz questão de deixar claro.
Não esquece que depois da transferência da soberania o seu contrato de trabalho não foi renovado. “Na altura foi difícil encontrar emprego. Mas eu não podia ir embora, tinha aqui tudo, a minha família. Eu já era de cá”, explica. Entre trocas, foi nos Correios de Macau que assumiu funções nos últimos dez anos, estando nos últimos sete no Museu das Comunicações. Local em que, diz, adora trabalhar.

Vencer sempre

São 21 anos em Macau e de muita vida. “Eu já me sinto na cultura aqui, por exemplo, a minha passagem do ano é no Ano Novo Chinês. Visto-me de vermelho. As tradições que sigo são as de cá”, partilha.
Quem conhece Ana Rita Amorim percebe que a energia vive nela. Apaixonada por desporto, a tradutora não se recorda de uma modalidade que não tenha praticado. Aficionada por futebol, com 43 anos, é jogadora na equipa feminina de Macau Show di Bola. Mas, desengane-se quem ache que isto é tudo. É que Ana Rita não passa sem um bom treino de Crossfit. “Adoro desporto”, reforça.
O amor é tanto que a jogadora gostaria de passar para treinadora. “No futuro gostava de tirar um curso de treinadora de futebol ou assistente. Acho que Macau não investe muito na parte feminina do futebol. As mulheres jogam até muito tarde com os homens e depois são um bocadinho largadas. Gostava de pegar nessas jogadoras e trabalhá-las. Isto tem futuro em Macau, porque aqui é um ponto de culturas”, remata.
Mãe, mulher, profissional e atleta, Ana Rita Amorim veio para ficar e daqui não sai.

3 Jun 2016

“1930 Dream Corner”, espaço partilhado | Joe Chan, responsável

E se Macau tivesse um lugar onde todos pudessem descansar, partilhar ideias, dormir ou tocar guitarra? E se esse lugar fosse aberto àqueles que acreditam na necessidade de proteger o ambiente e de fazer novas amizades? Agora Macau já tem um espaço assim. É o “1930 Dream Corner”

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]ica na Travessa do Penedo, ao lado do Templo de Na Tcha na Calçada das Verdades e do Colégio Mateus Ricci. Foi criado por Joe Chan, líder da União Macau Green Student, e chama-se “1930 Dream Corner”. Mas o que é este novo espaço no meio da cidade?
A ideia de Joe Chan, como o próprio explica ao HM, é fácil de entender: criar um espaço onde o conceito de consumo partilhado dá o mote para diversas experiências. Aqui, as pessoas podem compartilhar recursos ao mesmo tempo que diminuem a produção de resíduos e consumos desnecessários, em prol do ambiente. Joe Chan quer que todos sejam bem-vindos: os idosos podem passar pelo “Dream Corner” para partilhar as suas experiências e histórias com os mais novos, de forma a “passar memórias e culturas”. Os residentes podem lá descansar. E os turistas têm até um espaço onde ficar durante a noite. Mesmo que não seja uma hospedaria.
“Isto não é um café, nem uma pensão. É um canto para promover uma outra forma de vida, uma forma de proteção ambiental que envolve a partilha de recursos, onde os jovens se podem encontrar, trabalhar e até tocar guitarra neste espaço”, explica o responsável ao HM. Joe Chan indica ainda que este espaço serve também como ponto de descanso, ou como hospitalidade temporária para os turistas que cá chegam. 1930-2
Joe Chan quer que turistas e residentes possam conhecer outra forma de vida no território além dos casinos através do “1930 Dream Corner”, ao mesmo tempo que se promove a protecção ambiental. Por isso mesmo, reciclar e reutilizar é algo “muito importante” neste espaço, onde várias mobílias e peças de decoração foram encontradas em depósitos de lixo fechados, depois de abandonados pelos cidadãos.
“O conceito de consumo em colaboração é muito importante , porque é uma maneira de proteger o ambiente. Podemos utilizar os recursos juntos, não precisamos de continuar a produzir mais enquanto não se trata a pressão actual no que concerne ao lixo”, diz o responsável.
Joe Chan explica que a ideia de abrir este espaço partiu de um professor de Ciência do secundário, que decidiu ir viajar pelo mundo porque queria conhecer as histórias dos outros e ver as paisagens dos países estrangeiros. Nessa viagem, encontrou alguns espaços semelhantes ao “Dream Corner”, especialmente alguns com cozinha pública, algo que admirou e que depois tentou tornar real em Macau.
Joe Chan explica que a localização do espaço é um pouco escondida, mas nem isso impede o valor alto da renda, por ser perto de uma zona turística. Ainda assim, o responsável considera-se um sortudo por ter conseguido encontrar o local e arrendá-lo, dado que as sete mil patacas que paga ainda são mais baratas do que as lojas à volta. O pagamento das despesas, contudo, está dependente de algumas actividades.
“Realizamos mensalmente alguns eventos, iniciativas ou festas que têm temáticas relacionadas com a protecção ambiental, os organizadores das actividades doam pela utilização do lugar e alguns turistas que passam a noite aqui também doam. Às vezes vendemos comida ou produtos alimentares para obtermos dinheiro e conseguimos cobrir cerca de 60% das despesas. O resto pago eu do meu dinheiro”, explica-nos Joe Chan.
Contar com o Governo para “fornecer” um local onde o “1930 Dream Corner” pudesse funcionar é algo que Joe Chan apelida de difícil, para já. Até porque a ideia é demasiado nova para Macau e muitas pessoas não entendem o que está a ser criado. 1930-1
“Neste momento, o que quero é que o espaço tenha sucesso, até porque não está finalizado, e depois, se o Governo nutrir alguma admiração pelo local e pensar em dar-nos um espaço, seria um grande favor.”
Sobre o futuro do “Dream Corner”, Joe Chan espera poder continuar a convidar residentes que nasceram em décadas diferentes para apresentar as suas histórias de vida, partilhar as suas experiências com os jovens e mostrar como Macau tem muitas coisas com “muito valor” para proteger, como a relação entre as pessoas, as lojas e produtos tradicionais, cada vez mais a fechar e a perderem-se.
O espaço ainda não tem condições para recrutar trabalhadores, mas Chan e outros membros do espaço conseguem conciliar um horário de trabalho, que não permite, contudo, que o local tenha um horário regular de abertura e fecho. “Vimos cá quando temos tempo livre e estou a tentar encontrar uma pessoa que tenha interesse em administrar o espaço, mas é muito difícil, os jovens são muito ocupados”, lamenta. O líder da União Macau Green Student diz, contudo, que ganhou já muito com este espaço – várias amizades, intercâmbio de ideias com diferentes pessoas e a expansão da “crença na protecção ambiental”.

1 Jun 2016

Hallonia Lai: “Ninguém gosta deste Macau de agora”

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara quem se lembra das noites de Macau de há 15 ou 20 anos, no “Casablanca” (onde os 46 ou 47 portugueses restantes de 1999 se encontravam), e antes, do “Talker”, Hallonia Lai, Loni para os amigos, é uma figura icónica. Por cá cresceu e por cá passou grande parte da vida.
“Quando era pequena, as pessoas não eram ricas, mas remediadas”, começa por dizer ao HM. “O meu caso era especial porque o meu pai morreu quando nasci e não foi fácil para a minha mãe.”
Não era simples arranjar trabalho em Macau, “especialmente para mulheres de meia idade”, como diz Hallonia. Quando nasceu, a mãe tinha quase 40 anos. “Teve sorte de poder trabalhar em casa. Fazia partes de calças para uma pequena fábrica.”
O mais difícil acabava por não ser alimentar a criança, mas sim cuidar de uma ‘teen’ irrequieta. “Nunca me portei bem”, confessa-nos Hallonia. “Não era como as outras meninas, não cumpria ordens. Estávamos nos 70, percebe? Eu respeitava mas não ouvia”, diz-nos enquanto ri.
Aos 13 anos já desaparecia de casa para ir para a festa. “Sabia que ao chegar a casa a minha mãe me batia, mas não queria saber.”

Saudades do Macau antigo

As festas aconteciam em casa de amigos, muitas na zona da Coronel Mesquita. “Adorava”, diz, “não existiam estes prédios todos. Quase tudo eram vivendas, até nos Três Candeeiros onde só existiam prédios de dois andares”, recorda. Uma dessas vivendas serviu de palco a várias festas.
“Ouvia-se, música, namorava-se…”, frisa Hallonia, admitindo que não se lembra bem das músicas, “os hits de dança ocidentais”. Mas lembra-se bem dos Bee Gees, “para dançarmos agarradinhos”.
A casa da Coronel Mesquita deixou-lhe grandes recordações. “Era de uma família macaense”, adianta, “devia ir lá tirar umas fotografias senão ainda a deitam abaixo”, suspira, revelando saudades desse Macau perdido. “Agora detesto”, diz, “se as pessoas conhecessem o Macau antigo não iam gostar disto. Pode perguntar a qualquer pessoa que conheceu. Ninguém gosta.”
Voltámos à juventude. O grupo de amigos era quase exclusivamente chinês, alguns macaenses, mas os próximos eram chineses. “Os macaenses davam-se mas não havia muita intimidade. Só nas festas. Viviam no mundo deles”, diz.

Escolas de mulheres nem pensar

“Estudei na Leng Lam (perto da Guia), mas quando passei para a classe dos mais velhos a minha mãe tirou-me pois queria-me a aprender Inglês”. Foi o desastre. Acabou na Escola do Sagrado Coração. “Detestava”, confessa Hallonia, “mulheres por todo o lado, dava em maluca”, relembra divertida.
Não gostava das escolas unissexo e foi expulsa, como nos conta enquanto se ri muito. “A minha mãe ficou furiosa, claro.” Tentou a Luso-Chinesa mas “não a quiseram lá”. Foi para o Santa Rosa de Lima mas “era outra vez só mulherio”, diz, “e a reitora, uma freira sempre de nariz no ar. Detestava”.
Começou a trabalhar tinha 16 anos “num salão de beleza”. Gostou da experiência pois aprendeu muito e fazia dinheiro. Um ano depois engravidou, casou-se e trabalhou até a filha nascer. Depois teve de desistir.

Aventura em Hong Kong

“O meu marido era meio maluco como eu e andávamos aflitos com dinheiro”, conta a rir. Como não queria trabalhar para um casino, convenceu-o a ir para Hong Kong tentar uma vida melhor, pois lá podiam ter opções.
“Fui para um Night Club, imagine”, diz-nos, mais uma vez a rir. Fazia o papel de telefonista/recepcionista que conectava os clientes com as “mamasans”.
“Uma experiência incrível”, garante. “As coisas que se vê e ouve…”, relembra.
Lugar cheio de histórias e muito exclusivo, “enorme e para gente rica”, era um sucedâneo de um grande clube de Xangai que, à imagem da terra, tinha um perfil de opulência.
“Divertia-me com as histórias das raparigas. Ouvia coisas que… waaah!”, revela Hallonia recordando uma em particular: “Ia lá gente muito, muito famosa. Um desses marcou uma rapariga do turno da tarde.” As mais caras, soubemos, eram empregadas de escritório que ali faziam um dinheiro extra. O famoso marcou uma saída com a rapariga e “eram 500 HKD para irem jantar, dos quais 300 ficavam na casa”, como explica Hallonia, “e o fulano recusou-se a pagar”. Disse à rapariga que ser vista com ele em público era pagamento suficiente.
A experiência durou apenas um ano. O marido arranjou um bom emprego e Hallonia deixou de trabalhar. Mas aborrecia-se e um dia voltaram para Macau.

Mudando a noite

Pouco depois surgia o bar “Talker”, que viria a tornar-se numa lenda dos anos 90. Inaugurado em 1993, começou a reunir pessoas de várias origens. Ao princípio só ajudava aos fins-de-semana, mais tarde viria mesmo a tornar-se gerente. “Adorava a experiência de conhecer muitas pessoas e apaixonei-me pelo trabalho”, revela. Mas um dia o negócio começou a estiar “talvez por as pessoas quererem novidades.”
A zona dos NAPE estava a ser construída. “Eram apenas meia dúzia de ruas”, explica, e tinha aparecido o “Opiarium”, que estava a concentrar as pessoas.
“As lojas eram baratas, ninguém as queria, alugámos uma e montámos um bar que baptizei de 911”, diz a rir-se. O “Talker” acabou por fechar, o dono da empresa arrendou mais uma loja e assim apareceu o “Casablanca”.
Hoje está em casa “e trabalha mais que nunca”, garante, “a tomar conta da neta e do próximo neto que aí vem”. Se pudesse mudar algo na terra, “tornava as pessoas menos preguiçosas”, confessa-nos.
“Macau precisa de opções”, pois a excessiva dependência dos casinos não é boa para ninguém. “É tempo de trazer coisas novas para Macau. As pessoas gastam menos porque sentem-se inseguras. Não podemos estar dependentes disto. Temos de inovar”, conclui.

27 Mai 2016

“Cedar & Cicada”, mobílias e design de interior | Francis Choi, co-fundador

De um edifício antigo de 50 anos para uma loja moderna, com a fachada com listas azul e brancas, a “Cedar & Cicada” foi criada por um grupo de designers locais que faz mobílias únicas e “Made in Macau” bem ao gosto do cliente

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]uitos clientes entram na loja e perguntam se a loja foi aberta por pessoas de Hong Kong. Ou se as mobílias são de marca. Mas não. Aqui, todas as mobílias são criadas por pessoas de Macau. É assim que começa a nossa conversa com Francis Choi, co-fundador da “Cedar e Cicada”, uma loja de móveis e design de interior.
Para Francis, ele próprio designer, a abertura da loja é motivo de orgulho, porque não só mostra que existem pessoas de Macau que têm profissões nesta área, mas também porque pode provar aos clientes que mobília não é apenas um objecto para se ter em casa: também podem trazer sentimentos.
“Tenho um cliente que comprou uma mobília aqui e quando voltou para Singapura quis transportá-la com ele. Queremos que as pessoas dêem essa importância [aos nossos móveis].”
A loja foi aberta em Dezembro do ano passado, apesar de estar arrendada há dois anos. Francis explica porquê. “Esta loja tem uma história. Estava muito danificada e passamos muito tempo a fazer obras e a tratar da decoração, desde o exterior ao interior.” IMG_4243
Após a remodelação da loja, o que mais se destaca é a fachada, com listas azuis e brancas pintadas em todo o edifício de três andares.
“Quisemos fazer uma fachada de estilo francês e a cor azul é muito francesa. Mesmo assim, quisemos manter as suas características originais, como a barreira metálica antiga de estilo chinês na entrada, os azulejos de estilo português no chão… preservamos de propósito para uma fusão entre o oriente e ocidente.” 
Francis Choi assegura-nos que cada produto aqui vendido tem uma “linguagem de design” muito própria.
“Não fazemos algo do nada. Por exemplo, um parceiro meu foi ao Japão,  visitou um prédio com uma arquitectura muito especial. Quando chegou a Macau surgiu a inspiração de criar mobílias [tendo em conta essa arquitectura]”, diz-nos mostrando um armário onde várias peças se sobrepõem umas às outras.
Um sofá que vimos foi também criado pela equipa depois de uma viagem à Tailândia. “Passamos por um hotel e vimos um sofá com elementos de [madeira de] vime. Voltamos a Macau e fizemos este sofá de estilo do sudeste-asiático. Os clientes também acham muito confortável.”
Há ainda uma outra série que o responsável nos mostra, que é uma homenagem a grandes mestres. “Além do design local, queremos que os nossos clientes conheçam a existência de pessoas extraordinárias neste mundo. Usamos o design de mestres e alteramos um pouco para adequar à utilização actual. Isso deve ser preservado e queremos desenvolvê-lo ainda mais”, explica.
A “Cedar&Cicada” é também especializada em fazer mobílias temáticas para clientes. Francis Choi explicou que a loja está a criar mobílias para uma escola católica: sofás, mesas e cadeiras estão a ser criadas especialmente para esta instituição, integrando conceitos da Bíblia.
Actualmente apenas o primeiro andar está aberto ao público, mas o responsável espera que daqui a um ano o segundo e terceiro andares possam servir para que o público possa apreciar as mobílias que aqui são feitas.  
Localizada na Rua de Abreu Nunes, perto do Jardim Luís de Camões, a loja está, diz Francis Choi, numa zona tranquila, que levou até a que os clientes tenham sido poucos nos primeiros três meses. Mas agora há cada vez “mais” interessados. IMG_4237
“Estou muito contente por ver que alguns clientes vieram com grande vontade à loja. Como a zona tem falta de lugares de estacionamento, só conseguem estacionar o carro longe e vir a pé para aqui”, disse. Mas “o trabalho da equipa está ainda a crescer” e, por isso, por descobrir. “Queremos usar mais os média e as redes sociais para promover a nossa loja.”
São vários os designers locais que fazem parte da equipa da “Cedar&Cicada”. Antes de inaugurar a loja, já faziam mobília por encomenda, bem como design de interiores e gestão de obras.
“Cooperámos, até há um ano com hotéis, como o Altira, fizemos design de interiores e uma parte das mobílias para o hotel quando pensamos que teríamos capacidade para abrir uma loja para que mais pessoas pudessem conhecer as nossas obras.”

25 Mai 2016

Ana Choi, relações públicas: “A vida é curta e posso tentar mais”

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]studou e trabalha no ramo do Turismo e “tem uma boa imagem” para se mostrar a outros, como relações públicas que é. Ana Choi apresenta-se ao HM: explica que trabalha num hotel mas teve “uma experiência extraordinária” num concurso de beleza.
Há três anos, a jovem natural de Macau acabou o curso em Turismo e Gestão de Eventos na Suíça, num parte do país onde se falava Alemão, que acabou por aprender. Lá foi ainda o local onde praticou o Inglês: para Ana tratou-se de um desafio.
A jovem trabalha agora num resort, sendo o seu trabalho o de apresentar as instalações aos clientes e organizar de eventos. Mas a sua forma de pensar mudou muito, depois de ter vencido o concurso onde participou. Ana gosta de estudar Turismo porque considera esta uma área “viva”. Não fez os trabalhos de casa como os estudantes comuns: organizou eventos verdadeiros. Não estudou Filosofia “fixa”, até porque “os conhecimentos mudam” e o turismo tem a ver com pessoas e com movimentos. Os professores, diz, partilharam experiências, problemas para os quais encontraram soluções.
“Na universidade, penso que a situação é semelhante a Macau, porque a Língua Portuguesa é muito utilizada. Na Suíça, o alemão é também encontrado nos supermercados, nas ruas”, conta-nos Ana, que lamenta que quando voltou para Macau, não teve muitas oportunidades de falar Alemão e esqueceu-se.
O trabalho da Ana parece satisfazer a jovem e fazer surgir ideias para várias tentativas. Sendo uma seguidora do Macau Pageant Alliance, no ano passado Ana começou a pensar em participar em concursos de beleza, porque considera uma experiência interessante e especial.
“É muito raro ser possível representar uma região num concurso internacional. Mas fiz entrevistas e fui seleccionada”, conta-nos. Ana participou no ano passado pela primeira vez no concurso de beleza, o Miss International, que teve lugar no Japão. Foi considerada uma “Ambassador beauty” por um patrocinador.
 Antes de começar o concurso, Ana não tinha grande esperança. “Porque Macau não é foco dos concursos de beleza, mesmo que nos esforcemos muito. Treinamos a força física, aprendemos como fazer maquilhagem, etiqueta e como falar. Não fazia muito este tipo de trabalho, mas pensei em como a vida é curta e como posso tentar mais [coisas]”.
Ana recorda-se que o concurso foi cansativo, mas valeu a pena, diz, quanto mais não seja porque conseguiu fazer coisas que nunca pensou conseguir. A jovem diz-nos que durante as três semanas do concurso, conseguiu conhecer todos os dias novas amigas provenientes de 70 países diferentes, o que fez com que não ficasse sozinha e pudesse partilhar histórias. Há também outras vantagens. “Agora posso ir visitar muitos sítios onde moram as minhas amigas. Amizade foi o que ganhei no concurso”.
Depois da participação no concurso, Ana voltou ao mesmo trabalho, mas a forma como pensa a jovem mudou. “No concurso, aprendi como enfrentar [os problemas] e comunicar melhor com as pessoas, no meu trabalho é também preciso isso”.
O concurso foi importante para Ana porque a jovem ficou, diz, menos cobarde. “Como estudei numa escola onde estudam só meninas, muitas vezes não tinha coragem de falar, de expressar opiniões. Depois do concurso, estou mais corajosa  em expressar ideias, porque cada pessoa tem diferentes opiniões”, disse.
Fora do trabalho e do palco, Ana gosta de fazer desporto nos tempos livres. De correr, de nadar. Mas o que lhe interessa mais é a dança.
“Gosto de dançar Jazz, já aprendi há dois anos. Esta actividade é boa porque quando sigo os ritmos, estou muito concentrada nisso e fico relaxada, deixando as coisas más para trás. Sinto-me também um sucesso quando decoro uma coreografia e aprendo outra nova”.
Actualmente há pessoas que preferem a antiga Macau, que era mais calma e confortável. Mas para Ana, não é preciso dividir a antiga ou a actual Macau: a jovem gosta da forma como o território é em todas as épocas. 
“Antigamente Macau parecia mais livre, mais relaxado, com estilo português. Saía de casa e as ruas estavam mais vazias mas eram mais seguras, porque as pessoas conheciam-se umas às outras, brincávamos sempre em casa dos vizinhos mas agora há uma distância”.
Mas se Macau não se tivesse desenvolvido tanto, continua Ana, não teríamos tantas oportunidades de conhecer mais o resto do mundo e o mundo não conheceria Macau. “Não podemos sempre ficar com as coisas antigas.” 

20 Mai 2016

Portus Cale, restaurante | Herlander Fernandes, chef

Ali, entre as distracções do Jockey Club, está o Portus Cale. Um restaurante português que reúne gastronomia, música, espaços abertos e a possibilidade de, no coração da Taipa, sentirmos o sabor a casa

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]viagem começa logo no parque de estacionamento. Ao entrarmos no Jockey Club, bem lá no fundo, encontramos o Portus Cale, o restaurante do momento. Ao entrar no espaço sentimos que podíamos estar em qualquer outro restaurante, mas em Portugal. A verdade é essa, Portus Cale, aberto desde o final de 2014, quer trazer para Macau do melhor que se faz por lá.
Somos recebidos na sala VIP, ideal para almoços ou jantares de trabalho, aniversários ou qualquer outra festa que queira organizar. A sala, que está separada da principal do restaurante, reúne as condições ideias para parecer que está na sala lá de casa. Confortável, com música de fundo, o espaço acolhe quem o visita.
É Herlander Fernandes, o chef do Portus Cale, que nos dá as boas-vindas. Sorriso aberto e muita simpatia faz jus à representação de toda a equipa. Afinal de contas saber receber é das principais marcas de qualquer restaurante que queira ser uma segunda casa para o cliente.
A olhar à volta o espaço convida a ficar. Se já se está a questionar se existe esplanada, dizemos-lhe: sim. Duas. Uma varanda no primeiro andar, com mesas e possibilidade de almoçar ou jantar lá fora. “A verdade é que no Verão é mais difícil por causa do calor”, explica o chef, mas, garante, a decisão é do cliente. No andar de baixo há também uma esplanada, esta em cima da relva. “Ideal para festas”, diz Herlander. Nós confirmamos. O espaço fica virado para a pista de corridas, afastado mas com visibilidade. No lado direito estão os estábulos. herlander fernandes portuscale
“Quando há festas de aniversário de crianças, ou crianças em algum evento, podemos conciliar e oferecer passeios de pónei aos miúdos. É giro, a ideia é esta, as pessoas poderem aproveitar do espaço”, frisou.

Sabor luso

Mas vamos ao que interessa: a comida. O menu é só e apenas dedicado à comida tradicional portuguesa. “Temos alguns pratos de autor, criados por nós, mas são pratos portugueses, 100% portugueses”, apontou Herlander Fernandes ao HM. Prepare-se para ir provar aquelas que têm sido as jóias da casa: o arroz de marisco, a feijoada, o bacalhau à Portus Cale e a sopa, “o verdadeiro caldo verde”.
É preciso despachar-se, porque o menu vai mudar já este mês. Sem adiantar as surpresas que aí vêm, Herlander Fernandes garante que a carta será portuguesa, até porque essa é a essência deste espaço. “Comidas mais leves para o Verão e terá alguns pratos de assinatura”, diz-nos. É a única pista que conseguimos arrancar do chef. sala
Desengane-se quem acha que é um restaurante só a olhar para a comunidade portuguesa. “Os nossos clientes são metade portugueses, metade chineses”, adianta o chef, sem esconder que às vezes é preciso adaptar o tempero ao cliente. É inegável, confirma, o diferente paladar que as duas culturas têm. “Por vezes corto um bocadinho no açúcar porque sei que a comunidade chinesa não gosta tanto, mas a verdade é que não posso fugir ao que a sobremesa é na sua raiz”, confirma.

Sem entraves

Preparar pratos que sejam verdadeiramente portugueses é mesmo possível. Os entraves da inexistência ou escassez de alguns produtos são fáceis de contornar nos tempos que correm. “É possível aqui arranjar os produtos que temos em Portugal. Temos muitos fornecedores que importam directamente de Portugal e é fácil arranjarmos, aceitando que às vezes o custo é um pouco mais elevado. Mas não é difícil arranjar, é algo muito acessível até”, desvenda. comida1
O jantar é a hora de ouro do espaço, principalmente ao fim-de-semana. Uma sala que tem capacidade para 50 pessoas está muitas vezes cheia. “Também temos o snack-bar que podemos usar como sala, temos a varanda e ainda temos o estacionamento que é uma coisa tão difícil de arranjar em Macau. Os clientes podem vir, sem chatices, estacionar no nosso parque que, por sinal, é muito grande. E temos vista, conseguimos ver o horizonte, que é coisa rara em Macau. Conseguimos ver as montanhas da China. Reunimos as condições ideais”, relata.
Condições estas que têm feito os clientes voltar. “Sim, tenho notado que os nossos clientes repetem e isso é bom para a casa, é um bom sinal”, explica. O espaço é “meio escondido”, mas a qualidade e preço valem a procura. Por exemplo, Portus Cale funciona com um “set menu ao almoço, de terça a sexta-feira, com sopa, prato principal, bebida e sobremesa por 90 patacas”. “Um preço bastante acessível”, afirma Herlander Fernandes. De fundo ouve-se fado e outros géneros de música portuguesa, até porque esta é uma casa portuguesa, com certeza.

18 Mai 2016

Niel Wong, profissional de comércio electrónico

Gosta de fazer dinheiro e tem muitas ideias. O jovem Niel Wong teve uma boa formação em Macau e na Europa e está a desenvolver-se na área de IT e comércio electrónico, sendo que está prestes a ser o seu próprio patrão.  
Desde a infância que Niel foi instigado ao desenvolvimento. “Na minha família, todos os adultos são empresários e os meus pais gostam de fazer negócios. Dentro desta atmosfera, naturalmente também gosto de fazer dinheiro”, conta-nos, mostrando que a sua determinação é grande.
A ideia de Niel em estudar Gestão Empresarial surgiu nos primeiros anos da escola secundária.
Niel estudou Comércio Electrónico na Universidade de Macau (UM). Quando questionado sobre o que o impressionou, Niel confessa-nos que não foram os estudos, mas sim a criação de uma associação de alunos de comércio electrónico, onde foram organizadas várias actividades, tais como uma competição de IT.
“Para um projecto correr bem, é preciso cooperação com os colegas e, sendo o presidente, tive de motivar todos a trabalhar comigo. Ainda bem que a competição correu bem e ganhei também na amizade, porque até ao momento mantenho contacto com os concorrentes”. 
O jovem natural de Macau confessa-nos ainda que ficou “rico em experiências” ao viver no estrangeiro. No terceiro ano da licenciatura, teve meio ano em Amesterdão, na Holanda, onde fez intercâmbio. Partilhou connosco que gostava de passar tempo na Faculdade de Business da universidade, conversando com colegas e professores. Mas admitiu que não foi um estudo muito sério. Nessa altura, o foco foi perceber mais o que fazem os europeus.
Quando voltou a Macau, antes de acabar o curso de licenciatura, começou a acreditar que consegue ver mais do mundo lá fora, além Macau. Assim candidatou-se ao curso de mestrado de Gestão Internacional na Universidade de Londres, onde passou dois anos da sua vida.
“Depois de viver na Europa, fiquei admirado com o facto de a economia da Inglaterra e da Holanda serem muito maiores que a de Macau. Pelo ângulo de um profissional, Macau não é o melhor sítio para ganhar dinheiro, porque aqui pode-se desenvolver qualquer negócio só porque se conhecem muitas pessoas, mesmo que não se tenha muitos conhecimentos. Vejo isso também porque as indústrias focam-se no Jogo, unicamente, e não conseguem atrair talentos de diferentes lados do mundo”.
Para Niel, Macau é tão pequeno que para aprender muito, só quando se está lá fora. Primeiro, a cultura e os hábitos diferentes. “Os estrangeiros costumam ter festas nas noites de sexta-feira. No início, não me habituei a isso, mas tive que me habituar o que demorou vários meses.”
Além disso, por ter estado lá fora, Niel compreende de forma mais abrangente a China. “Em Macau, leio mais os média de Hong Kong que mostram a imagem da China de forma negativa, mas na Europa, quando os europeus estudam a economia e dão exemplos, a China é sempre a primeira escolha, tanto a situação económica como os métodos de gestão. Eles olham para a China de forma competitiva, mas não de forma negativa. Portanto isso mudou a minha impressão sobre a China”. 
Actualmente Niel está a trabalhar como gerente de projecto de IT na companhia Laxino Systems, sendo responsável pela investigação e desenvolvimento de produtos de jogo electrónico, que serve o sector de Jogo.
Niel está sempre atento ao que acontece em Macau e Hong Kong, mas o que atrai mais o jovem é a área comercial.
“Quando leio jornais, a primeira coisa que tento perceber é se há a oportunidades de desenvolver qualquer coisa. Mas Macau é pequeno e a maioria das notícias [em Chinês] são muito aborrecidas”.
Mesmo que tenha estudado no estrangeiro, o jovem considera que o que a UM ou as universidades da Ásia ensinam não diferencia muito das instituições ocidentais, porque os modelos académicos são semelhantes.
Apesar disso, “o mundo é grande”, como nos diz Niel, e a sua sugestão para outros jovens que tenham capacidades especiais é que se desenvolvam no estrangeiro. 
Mas o jovem profissional prefere manter-se em Macau porque tem mais tempo para a sua família. “Toda a minha família está em Macau, as minhas raízes estão cá e, de facto, receio o sentimento de mudança, portanto desenvolvo-me no meu território”, confessa-nos.
E Niel Wong tem já pano para mangas no que a esse desenvolvimento diz respeito. Está a preparar-se para abrir uma empresa de consultoria de comércio electrónico e quer realizar as ideias que estão sempre a pairar na sua cabeça.
“Estou a pensar em fazer umas coisas que todos podem usar na sua vida diária. Mas por agora não posso revelar”.
Nos tempos livres, o jovem costuma relaxar durante encontros com amigos, jantar ou beber um copo. Mas o que considera importante é saber o que há de novo, o que os outros têm para contar e o que planeiam para o futuro. Afinal, diz, tudo é possível através de um “brainstorming” em conjunto.

13 Mai 2016

“Maggie Chiang”, catering

Já apareceu neste jornal pelo seu restaurante “Maquete”, mas agora a aventura desta apaixonada da cozinha conhece uma nova fase: a arte combinada com comida num projecto de catering personalizado ao qual decidiu dar o seu próprio nome

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m serviço de catering, adaptado ao evento a que se destina, combinando arte com comida é algo que não se vê normalmente. Maggie Chiang resolveu dar vazão às suas duas grandes paixões, cozinha e arte, e é isso mesmo que apresenta num serviço muito próprio, quiçá único.
“É tudo sobre mim”, diz Maggie, “é um trabalho muito pessoal”. Tudo parte de uma ideia dela ou por solicitação dos clientes. A maioria das suas encomendas provêem de “marcas que pretendem realçar a singularidade do evento”, explica Maggie ao HM.
Como exemplo, o lançamento do iPhone rosa da CTM onde, claro, a cor definiu o conceito, ou o de uma exposição de arte com tinta da china onde a criadora usa “tinta de lula e os pratos saíram todos a preto e branco”, como nos conta.
Não existe um menu pré-definido. “As pessoas têm de confiar no meu gosto”, diz. “Posso apenas falar em estilos, como canapés, mas o cliente não faz ideia como vai sair”, revela entre risos. image- maggie food 1
O processo é muito semelhante ao de uma obra de arte. Parte de um tema, pesquisa e elabora esboços no papel. “Eu pinto”, explica, “crio imagens e depois tento perceber como aplicá-las na comida.”
Um processo de experiência e erro que demora até chegar ao final desejado. Para além disso, “quando se fala de catering”, explica, “tenho de me preocupar com a durabilidade dos pratos, pois todos têm um período óptimo para serem consumidos.”

Do papel para o prato

“Cozinhar não demora muito”, confessa Maggie, “mas o conceito pode levar entre dez dias a duas semanas para desenvolver”. Até mais, como um mês ou mais de três como foi o caso do “Jantar Contos de Fada”, um projecto artístico concebido para celebrar o dia de São Valentim e desenvolvido em conjunto com Giulio Acconci, artista plástico e músico.
A “piéce de resistance” do serviço de catering Maggie Chiang são esses jantares. “Cada prato tem uma história”, revela. “São jantares com uma mensagem positiva por detrás.” O primeiro e único organizado até agora tinha por tema “A Procura do Amor”. Seis pratos, que custaram 850 patacas por pessoa.
“Não acho que tenha sido caro e tenho a certeza que foi uma experiência única”. Cada prato era introduzido com uma peça gráfica de Giulio Acconci e ela própria surgia na sala para contar a parte da história até esta ser concluída na sobremesa.
“O negócio não vai mal”, garante, “é um nicho, os hotéis fazem alguma coisa mas normalmente apresentam comida em pratos e mais nada. Nem os chefs ‘sobem ao palco’ para ‘desenharem’ no local, como eu faço”, diz.

Paixão de criança

Desde os seis anos que a paixão culinária a envolve. “Tentava fazer bolos mas a coisa não corria bem. Falhei muitas vezes”, diz a rir-se.
Um dia, apareceu uma tia salvadora que a colocou no caminho certo e, aos 11 anos, já dominava a ciência.
“Brincava mais na cozinha do que com bonecas”, revela.
Acabou a estudar gestão estratégica por pressão do pai que a queria ver ligada aos negócios mas foi sempre fazendo bolos para festas de amigos.
O curso levou-a a trabalhar em marketing e publicidade, surgindo depois as relações institucionais do Galaxy. Isso aborrecia-a e começou um part-time como formadora numa escola de cozinha.

Cozinha é arte

Nunca tirou um curso superior mas assegura-nos que “deve ter mais de 30 certificados de cozinha em casa”, confessa bem disposta. Esgotou os cursos todos em Macau, Hong Kong e Taiwan. Cursos curtos mas onde ia aprendendo técnicas diferentes. “Nunca parei de aprender”, explica.
Há dez anos, um curso do IFT de “Cordon Bleu” ministrado por um chefe francês, fê-la perceber que tinha de ir para a Europa estudar. Em 2012 abalou para Turim e depois Paris.
Mas foi em Hong Kong que surgiu a revelação ao participar num curso do conceituado chefe italiano Massimo Bottura. “Era um artista”, explica. Dizia-me que cozinhar é arte, forma de expressão pessoal e não apenas know-how”, conta Maggie.
Foi o clique. Comida e Arte. As suas duas paixões juntavam-se, finalmente. “Cada prato dele era uma peça de arte”, garante. “O mais famoso chamava-se ‘Cinco Consistências de Parmesão’ um conceito sobre cores, texturas e formas. Uma abordagem muito diferente das técnicas tradicionais de cozinha”, garante.
Com tantas influências perguntámos-lhes pela síntese da sua própria cozinha que Maggie garante ser “contemporânea ocidental”, apesar de reconhecer poder ser estreito pois também utiliza técnicas chinesas na preparação. maggie face
Interessante é a forma como sintetiza as cozinhas: “A italiana”, começa por explicar, “revela o melhor de cada ingrediente. A francesa faz com que a comida pareça decente (risos), a portuguesa são sabores intensos e a Chinesa é a perícia”.
Uma equação onde, para ela, até a filosofia e a psicologia entram. “Das texturas à expressão visual tudo afecta a experiência. A disposição dos ingredientes, por exemplo, é crucial para condicionarmos a ordem de ingestão.”

Exposição na calha

“O meu sonho é produzir uma exposição de comida e arte”, confessa. Estava previsto para o início do ano mas ainda não saiu. “Tenho muito em que pensar”, explica, pois “os pratos têm um tempo para serem ingeridos e quem chegar tarde vai perder o espectáculo”, adianta. Mas isso não chega para desmoralizar. “Existem exposições para serem vistas como as de arte em açúcar”, diz, “mas isto é comida. Tem de ser ingerida, cheirada, experimentada”.
A efemeridade desta arte é algo que não a preocupa um pouco, “normalmente, são os comensais a preocuparam-se pois não querem destruir os pratos. Mas eu satisfaço-me com o processo de criação”, remata. E nós com a sua arte.
O catering de Maggie Chiang pode ser visto em www.maggiechiang.com

11 Mai 2016

Miss M, café | Maggie Lee, proprietária

“Miss M Food” é um espaço que cheira a algo delicioso. Quem entra não se arrepende. Pastelaria fina, um aspecto agradável, refeições saudáveis e um sorriso atrás do balcão são os ingredientes perfeitos para conquistar qualquer cliente

[dropcap style=’circle’]B[/dropcap]em ali, metido entre as ruas do Mercado de São Lourenço e a Igreja, nasceu, e vai ganhando vida, o sonho de Maggie Lee. É o “Miss M Food”, um café com linhas modernas e dedicado à pastelaria fina. O conceito é simples.
“Se olharem para os nossos menus eles não têm muita variedade”, começa logo por explicar Maggie, a proprietária do espaço. A ideia é comer bem e saudável, com refeições práticas. Mas não foi assim que começou.
“Abrimos o espaço em Julho do ano passado. Estamos quase de parabéns. Começámos por ter disponíveis alguns bolos e pastelaria fina que nós próprios confeccionamos”, indica. Depois, com o passar do tempo e com “o feedback e reacções” dos clientes, a gerência decidiu introduzir o conceito de massa e arroz nos seus menus. IMG_3688
Quem procura muita variedade não bate na porta certa, mas “quem quer qualidade” sim. “A verdade é que estamos inseridos na cultura de Macau e eu sei que as pessoas de cá gostam muito de massa e arroz, isso estava a faltar. Os nossos menus viviam muito na base do pão e saladas. Agora temos para todos os gostos”, explica.

Muito trabalho

Reforçando a ideia de “sonho concretizado”, o “Miss M Food” nasceu de muito trabalho e dedicação. “É preciso trabalhar muito, estarmos muito atentos ao mercado, saber o que ele quer, o que procura, o que mais gosta. É preciso ouvirmos o que os nossos clientes gostariam de ver e adaptarmos, gradualmente, o nosso negócio ao movimento da sociedade”, adiantou.
Desengane-se quem considera ser um mercado fácil. “Abrir um negócio em Macau não é coisa fácil, temos de estar sempre a trabalhar, sempre a evoluir, sempre atentos ao mundo dos negócios”, acrescentou Maggie, exemplificando que não pode ter sempre o mesmo menu. “Seria um erro. Tenho que adaptar o menu consoante as épocas e os gostos dos clientes”, reforçou.

Da decoração ao preço

Entre saladas saudáveis, refeições de qualidade e uns bolinhos na montra, Maggie tem ainda uma paixão à qual, sempre que o tempo lhe permite, se dedica. Decoração de bolos.
“Este não é o meu mercado, é só uma coisa que gosto muito de fazer”, explica, afirmando que qualquer cliente pode pedir um bolo, mas é um serviço paralelo ao objectivo do “Miss M Food”.
Bolos de casamento, aniversários ou por qualquer outro motivo já fazem parte da história de Maggie. “É preciso muito tempo para esta área. Para decorar um bolo inteiro são precisas muitas horas, existem muitos pormenores”, conta. IMG_3682
Mas há outro ponto de destaque neste negócio: os preços. “Apesar de estarmos perto de algumas escolas, os estudantes não mostravam interesse em entrar no nosso café. Nós não percebíamos porquê. Um dia entraram aqui alguns estudantes e eu perguntei se eles gostavam do espaço e da comida, eles disseram que sim, mas explicaram que não tinham entrado mais cedo porque, pelo aspecto do espaço, pensavam que era muito caro”, partilha a proprietária.
A verdade é essa, lá de fora, quem olha para o café parece “algo muito chique”. “Eu faço preços baratos, sei que sim, porque não tenho necessidade de os fazer mais caros e com isso mexer com o mercado de negócios. Não acho que as pessoas precisem de pagar mais, mas a verdade é que também não tenho muita variedade nos menus”, esclarece, indicando que assim é possível existir um equilíbrio.
Agradar a todos
São Lourenço é o bairro escolhido por Maggie. A escolha parece óbvia visto a proprietária residir por perto, mas a verdade é que “estar ao lado da Igreja de São Lourenço” era um ponto a favor para o negócio. “Há muitos turistas por aqui e entram muitas vezes no nosso café”, aponta. “Este é um espaço para todos, sejam chineses, portugueses, turistas ou não. É um espaço que pretende ser um bom sítio para se comer qualquer coisa e conversar um bocadinho”, frisa, admitindo que no mundo das refeições o negócio aposta muito no serviço de take-away. “Grande parte das refeições que vendemos os clientes vêm aqui buscar. Basta ligar para aqui, pedir e vir buscar”, remata.

4 Mai 2016

Carmo Pires, educadora de infância: “Macau está bonito”

Chama-se Carmo Pires e é uma cara bem conhecida de Macau. Recebeu-nos de braços abertos e sorriso rasgado, características que ninguém pode negar. Sempre muito disponível, a Educadora de Infância do Jardim D. José da Costa Nunes, veio há 32 anos para Macau, quando contava apenas com 22 primaveras.
“Sim, já passaram 32 anos”, relembra, arrastando o número de anos na voz. O facto do marido – na altura ainda namorado – ter “primos directos” no território facilitaram o processo.
“Eu moro em Almada, sempre morei. Quando acabei o curso fui colocada – apesar de na altura já ser difícil – em Porto Covo”, começa por partilhar com o HM.
A viagem no tempo continuou e Carmo, como gosta de ser tratada, guiou-nos até ao primeiro dia em que chegou à cidade Alentejana. “De Almada para Porto Covo era longe e eu não podia ir e vir todos os dias, portanto sabia que tinha que lá ficar. Em Setembro tive que me ir apresentar ao serviço e fui”, relembra.
E foi o que aconteceu: Carmo Pires apresentou-se ao serviço, mas imediatamente percebeu que não pertencia ali. “Como jovem que era gostava de sair à noite, ir a discotecas, estava cheia de vida, queria mudar o mundo. Apesar da terra ser muito bonita, não me senti bem. Por exemplo, em termos de transportes, se eu quisesse ir à cidade mais próxima, que era Sines, não podia, porque eram muito poucos. Comecei a imaginar-me ali no Inverno, sozinha, isolada de tudo, logo eu, que era uma pessoa tão viva. Pensei nisso tudo e disse ao meu namorado ‘não consigo ficar aqui, não posso’”, relembra.
Tomada a decisão, Carmo sabia que seria castigada pelo Ministério da Educação com dois anos de impossibilidade de se candidatar. A sogra ainda lhe deu uma ajuda em todo o processo.
“Comecei a procurar no privado, a minha sogra tinha um colega que abriu um jardim-de-infância e foi ali que comecei a trabalhar”, conta.
Trabalho este que apenas durou um ano. “O meu marido tinha família aqui em Macau e um dia lançaram a proposta para eu vir. É que na altura queriam abrir um novo jardim-de-infância no Monte da Guia. Foi assim que vim aqui parar”, brinca.

Aventura no sangue

Carmo Pires voou até ao outro lado do mundo para abraçar um projecto que ainda não tinha saído do papel. Ela e mais 18 novos educadores. “Éramos um grupo muito giro. Tudo miúdas novas, era uma equipa sensacional, todas cheias de energia e novas ideias”, aponta.
Carmo, como uma verdadeira aventureira, veio sem o marido e não nega que o primeiro impacto não foi o mais feliz.
“A minha primeira sensação de Macau foi muito má. Vim sem o meu marido, não queria nada ficar aqui. Estava sozinha, não conhecia ninguém, claro, estava em casa dos primos do meu marido. Quando cheguei ao barco nada me caiu bem – a humidade, o bafo quente, o cheiro. Fiquei sem ar, um choque”, relembra.
Um dia, partilha, comemorava-se a Festa da Lua e a prima do marido deu uma festa em casa. “Isto era assim, os amigos eram a nossa família, porque nós não tínhamos mais ninguém”, frisa.
Nessa noite, continua, um “advogado muito conhecido da nossa praça”, que estava na festa, tocou-lhe no ombro assim que a viu chorar na varanda. “Carmo não estejas assim porque vais ver que daqui a pouco tempo já vais gostar de Macau. É a primeira sensação que tu tens”, recorda. Carmo dizia apenas que “ia embora”. Desde aí quase 33 anos se passaram.

Sem saudosismo

Enquanto as mãos brincavam com um brinquedo “dos seus meninos”, durante a nossa conversa, Carmo admitiu ter alguma vontade de voltar para Portugal. “Pensei nisso em 99 com a transição. Com o corte nos portugueses muitos amigos meus foram embora. Foi muito difícil para quem cá ficou, vimo-nos muito sozinhos”, recorda. Mas a família decidiu ficar.
Depois desse processo, Macau “mudou muito”. Mas desengane-se quem pensa que Carmo lamenta. “Eu não sou muito dada a saudosismo, não fico agarrada ao antigamente, gosto da mudança e ao que me dá desafio. Estas mudanças que existiram e existem acho que tinham de acontecer. Macau não podia ficar tão pequenino como era, tínhamos de evoluir”, argumenta, lembrando que roupas, cultura e todos os outros bens eram adquiridos em Hong Kong.
“Macau está bonito. A confusão de gente nas ruas choca um bocadinho, é uma desvantagem. Mas a terra é bonita, vibrante, com variedade. Está bom assim”, remata.

Educar para amar

Milhares de caras passaram pelas mãos de Carmo. “Agora são homens e mulheres feitas”, brinca. Às vezes passa por eles na rua e não tem vergonha em abordar, conta. Apostando sempre na sua formação, Carmo nasceu para esta profissão. Os meninos, esses, são fonte de energia.
“Os problemas ficam lá fora”, aponta. Até porque educar para além de ser a tarefa mais difícil do mundo, é a mais apaixonante. E Carmo sabe fazê-lo como ninguém.

2 Mai 2016

Shoot and Chop, produtora audiovisual | Iwin Kwow e Kenny Leong, fundadores

Existe somente há uns meses e é mais uma das empresas que está localizada no Macau Design Center. A “Shoot and Chop” não quer apenas fazer vídeos de entretenimento mas assumir-se no mercado publicitário como uma aposta que vale a pena fazer

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]urante muito tempo Kenny Leong esteve chateado com Macau e a forma como tem sido governada. A série de vídeos “Pissed off man” fez sucesso no Youtube e tornou-se num canal para a reflexão da actualidade local. Mas Kenny Leong, nascido em Macau e com largos anos de vida em Toronto, no Canadá, decidiu juntar-se à sua parceira de negócio Iwin Kuok e apostar num novo projecto. “Shoot and Chop” é uma empresa de audiovisual criada há poucos meses, sediada no Centro de Design de Macau, e pretende tornar-se uma aposta profissional na área de produção de vídeos. foto shoot and chop
Aos poucos e poucos têm sido contactados por várias empresas e até por universidades que estão interessados nas suas produções. “Neste momento temos mais clientes, estamos a conseguir alguma atenção. Não devemos estar preocupados em atrair as atenções, não é uma preocupação para nós, isso vai acabar por acontecer. Há três meses foi algo difícil, mas as coisas vão melhorar”, disse Kenny Leong. “A minha verdadeira paixão sempre foi fazer vídeos sobre o que se passa em Macau ao nível da política, a actuação do Governo e os problemas sociais. Essas foram as ideias iniciais que me levaram a estabelecer e ‘Shoot and Chop’. A minha parceira também tem interesse por estas questões e ela é a directora desta empresa, enquanto eu sou o director criativo. Juntos queremos fazer um trabalho mais comercial, ligado à produção de filmes curtos, mas também fazemos os nossos próprios vídeos, os quais são depois colocados no Youtube”, contou ainda ao HM.
Estes vídeos, sem nenhum objectivo de lucro, pretendem apenas chamar a atenção do público e muitos deles são um verdadeiro sucesso online. Colocar estrangeiros a residir em Macau e a experimentar comidas tipicamente chinesas é um vídeo que mostra esse lado de entretenimento da “Shoot and Chop”.
“Para além de tentarmos tornar isto rentável também queremos ter espaço para fazer as nossas próprias coisas e é aí que entram esses vídeos. Não temos quaisquer lucros com esses vídeos mas temos paixão na criação de novos conteúdos e no desenvolvimento de novas ideias para as pessoas de Macau”, explicou Kenny Leong.

Pouca aposta em Macau

A Iwin Kwok cabe a parte de lidar directamente com os clientes e gerir toda a parte logística à qual uma empresa está obrigada. Kenny Leong apenas dá largas à sua imaginação, sendo director para os conteúdos criativos.
“Esperamos que as pessoas tenham interesse em seguir os projectos da nossa empresa, no nosso canal do Youtube e no Facebook também. Também estamos à procura de novos projectos e de encontrar patrocinadores para esses vídeos, porque achamos que podemos criar algo”, disse Kenny Leong.
Iwin Kwok assume que uma das grandes dificuldades de manter uma empresa em Macau é lidar diariamente com a competição que vem da região vizinha. “Nos últimos anos os meios de comunicação de Macau têm estado muito ligados às produções de Hong Kong, incluindo o próprio Governo e a indústria dos casinos. Mas porque é que as empresas locais não podem fazer esse trabalho? São profissionais e tudo mais, mas porque não dão mais atenção às empresas locais? Nós estamos à procura de mais oportunidades e esperamos que compreendam que em Macau também se fazem bons vídeos.”
Kenny Leong explica, contudo, que o mercado audiovisual local tem vindo a amadurecer. “Vemos mais produções de vídeo do que víamos antes e o mercado está a amadurecer, inclusivamente no mundo online. Estamos a receber mais atenção. Estamos num mercado pequeno, mas penso que as ideias podem fazer tudo. A partir do momento em que se colocam as coisas online se as pessoas gostarem é tudo mais fácil. Também queremos fazer coisas que possam surpreender as pessoas.”
Misturar o lado lúdico com a parte profissional é a aposta da “Shoot and Chop”. “A Shoot and Chop serve para termos a coragem para fazer algo de louco e dizer coisas que os outros não querem dizer. Mas para ter uma empresa termos de ter algo mais do que fazer coisas malucas. Também queremos criar conteúdos de forma profissional para potenciais clientes. Temos duas direcções e isso é importante para que não sejamos apenas divertidos”, disse Kenny Leong.

27 Abr 2016

Livraria Júbilo 31 | “Aproximar as relações entre pais e filhos”

Abraçada por um ambiente característico da Freguesia de São Lázaro, entre a cultura e a criatividade, mora a livraria Júbilo 31. Pequena, acolhedora e com cheiro a livros novos. Bem ali, no coração da Rua de São Roque, local tranquilo e pouco movimentado, encontrámos aquele espaço, que só pela cor e aposta nos livros infantis atrai miúdos e graúdos

Da Xiang é a dona da Júbilo 31. Entre sorrisos, explicou, ao HM, que o nome da livraria foi decidido por duas coisas: “Júbilo”, que quer dizer alegria – sentimento que quer que predomine na livraria – e 31, o número da prédio. Na realidade, o nome da livraria em chinês (井井三一) tem outro significado. “A forma do caracter chinês 井 parece uma estante, isto quer dizer que aqui há livros”, acrescentou.
A proprietária nasceu em Taiwan e chegou a Macau em 2003. A razão foi a mais bonita: amor. Apaixonada, Da Xiang voou até o território. O marido é de Cantão e a sua área de formação obrigava-o a estar sempre entre Hong Kong, Macau e o interior da China. Foi aí que Da Xiang percebeu que, depois de acabar a sua licenciatura, seria melhor viver em Macau. E foi aqui que se tornou professora.

Um novo rumo

A sentir que precisava de tempo para si, para descansar, a professora pensou que era a altura ideal para deixar um pouco de lado a sua profissão. Com o conhecimento, através de um amigo, de um espaço vazio à espera de ganhar alguma vida, Da Xiang não hesitou e pensou que poderia abrir a sua livraria.
“No início, não pensava em abrir uma livraria assim, dedicada maioritariamente ao mundo das crianças. Mas depois do que tenho vindo a observar nos últimos anos, vejo que os espaços infantis são cada vez menores. Não há muitas escolhas em Macau para as crianças se divertirem e aprenderem ao mesmo tempo. Portanto abri a livraria com este tema: livros de ilustrações infantis”, explicou-nos.
Tal como aconteceu naquela tarde que nos recebeu, os dias da semana são marcados pela entrada de poucos clientes. Algo que muda quando tocam as campainhas das escolas para a saída. É nessa altura que “muitos miúdos” enchem o espaço, folheiam os livros, conversam com Da Xiang e passam ali o seu tempo.
“Tenho duas clientes irmãs que gostam tanto do espaço que começaram a trazer os irmãos mais novos. Eles adoram. Chegam aqui e deitam-se no chão, bem perto das almofadas, a ler. Passam horas nisto. Os livros que escolhem não são aqueles que estão nas estantes, são os que estão deixados sobre as mesas ou pelo chão de leitura. Estão cheios de ilustrações”, gaba-se.

De fora para cá

Os livros vendidos na Júbilo 31 são principalmente de editoras e artistas de Hong Kong e Taiwan, mas também existem publicações de artistas locais. Da Xiang recomenda um livro de ilustrações que relata o desastre nuclear em Fukushima, no Japão.
“Este livro é considerado o “top de vendas”, muito valorizado. Não estou a falar do preço do livro mas sim do seu significado. É um livro que pretende alertar e educar as novas gerações para a ideia de anti-nuclear. Não são histórias felizes, conta a história de uma miúda que sofre com o desastre. Ela não chorou e até está calma, precisa de esforçar-se para enfrentar a tristeza e evitar que aconteçam mais desastres”, explica.

Elo literário

Da Xiang partilha ainda que acredita que pais e filhos que se dedicam à leitura em conjunto têm relações mais próximas, e isto, diz, traz uma felicidade incalculável à família. “Nas estantes há centenas de livros que fazem flores desabrochar no coração de crianças e adultos, levando-os para um mundo diferente”, é o slogan que dá as boas-vindas a quem visita o site da livraria.
Questionada sobre as dificuldades de ter um negócio em Macau, a empresária explica que a renda da loja é partilhada com um editora local que ocupa o espaço do andar de cima. Isto, conta, ajuda a aliviar os custos da abertura de um espaço. Mesmo assim, nem é tudo fácil.
“Temos que ganhar mais dinheiro, mas até agora, está difícil. As despesas e as receitas ainda não estão equilibradas”, confessa, explicando que “o movimento dos clientes é pouco”. “Existem pais e filhos que vieram cá só porque souberam da nossa existência através da internet ou pelos meios de comunicação”, apontou, admitindo que o espaço precisa de se tornar mais conhecido.
Em jeito de brincadeira, Da Xiang disse que muitas vezes a livraria assume funções de creche, isto porque há empregadas domésticas que levam os miúdos à Júbilo 31 depois da escola e os pais vão lá apanhá-los ao fim do dia. Algo que não incomoda a dona que diz que pode conhecer muito mais pessoas.
“A ideia é que se possa oferecer um espaço que junte crianças e que as ajude a desenvolver pensamentos e conhecimentos”, acrescenta.

Mais do que ler

Além de livros para vender, a Júbilo 31 organiza sessões de leitura e workshops na livraria, não só para crianças mas também para adultos. A proprietária garante que está atenta aos assuntos sociais deste território.
“Como fizemos na semana passada. Realizámos um workshop de fazer açaimes à mão. Através do workshop explicámos às crianças o que os cães podem sentir quando precisam de usar açaimes na rua”, relembrou.
A livraria realizou ainda outra sessão de partilha de opiniões, convidando um especialista de Taiwan para explicar as influências negativas de animais em cativeiro, e em parques de diversão. 
Outra das razões pelo qual os leitores devem ir a esta livraria, explicou Da Xiang, é o gato, bem redondo, o “Ar Pou”, que está a viver no espaço. “O Ar Pou tem muitos fãs, há pessoas que entram na livraria só para brincar com ele. Mas a verdade é que o gato gosta de passear lá fora e alguns deles ficam bastante desapontados”, rematou divertidamente.

20 Abr 2016

Jana Dvorska, professora de Inglês

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stá em Macau há cinco anos. Foi o amor que a trouxe e foi o amor que quase a levou. Mas isso são outras histórias porque a realidade é que Jana gosta de estar por cá: “é um sítio maravilhoso”, diz. “Mal cheguei, senti-me imediatamente feliz”, explica.

E foi em Outubro que chegou. Pois é, porque o pior viria a seguir. Primeiro com o frio e depois com as humidades. Mas é o frio, especialmente o deste último Inverno, que a mói mais: “foi horrível, detesto frio”. Isto apesar de ter crescido em Calgary, no Canadá, “onde temos seis meses de Inverno” diz Jana e, talvez por isso, tem uma paixão assolapada pela praia: “Imagino-me a escrever poemas na praia e a viver assim”, confessa Jana, em inglês, a língua que considera a sua principal. É também a que ensina, mas não a única que domina. Italiano, Francês, Português e, claro, Checo – Jana é checa – fazem parte do seu repertório.

Foi para o Canadá com a família aos cinco anos e aos 21, depois de se formar em Francês e Sociologia, voltou para República Checa sozinha, “porque precisava de experienciar a cultura”, conta.

Nasceu em Ostrava mas foi para Praga, “a Paris do Leste”, apelida, uma cidade que adora, “especialmente aquelas ruas medievais, o castelo, a ponte Charles..”, exemplifica. Foi aí que tudo começou a mudar quando conheceu um português que trabalhava na mesma empresa.

Meia volta ao mundo

Apaixonaram-se e mudaram-se para Manchester onde desenvolveu uma atracção pelo futebol pois, explica, “tínhamos um amigo que trabalhava para o Cristiano Ronaldo e ele foi simpático, assinou-nos umas T-Shirts e deu-nos bilhetes para um par de jogos”. Dois anos e picos depois seguiram para Lisboa onde viriam a estar um ano mas o suficiente para Jana dizer que o seu clube é o Benfica e para confessar que “talvez queira para lá voltar um dia”.

Desporto é algo que faz parte da sua vida. “Fazia muito ski e patins em linha em Calgary mas agora faço yoga, medito todos os dias e gosto de correr nos trilhos da Taipa e de Coloane”.

Voltávamos a Macau e, por falar em trilhos, Jana espera que as ideias de urbanização em Coloane não vão avante “porque é o único espaço verde que anda temos desimpedido e precisamos dele”. A falta de jardins e espaços verdes é mesmo o que ela menos gosta em Macau. “Percebo que a cidade é pequena mas talvez se pudesse fazer um esforço para termos mais jardins e espaços para andar a pé e de bicicleta”, diz.

Gosto pelo ensino

Quando falamos de sonhos Jana diz que vive perto deles, pois faz o que mais gosta: ensinar. “Fiz outras coisas na vida mas ensinar é a minha profissão, é o que mais gosto.” É professora na Escola Secundária Hou Kong, onde adora estar, depois de passar pelo Instituto Politécnico, pela Universidade de São José, pela Universidade Cidade de Macau (UCM) e pela Escola das Nações, esta uma experiência menor para ela porque “os estudantes vêm de famílias ricas e por isso são muito pouco respeitadores”.

A permanência em Macau “tem sido óptima para a minha própria educação”, diz, pois aqui tirou um mestrado em Educação e um diploma de pós graduação na mesma especialidade.

Decorar muito e opinar pouco

“A dificuldade de ensinar chineses é terem pouca confiança e poucas oportunidades para falarem. Passam a vida a memorizar. Por isso estou sempre a dar-lhes oportunidades para falarem, para nos conhecermos mutuamente”, diz Jana, considerando ser essa a principal pecha no sistema educativo local. “Memorizar datas, nomes é ridículo na era do Google”, afirma ainda Jana, que considera que os alunos chineses “têm poucas oportunidades para formarem uma opinião sobre os factos” – o que a jovem tenta providenciar nas suas aulas, pois. “Na minha classe quero é que eles participem, que falem. Não há nada para memorizar”.

Para a jovem professora a relação que se desenvolve com os alunos é, por isso, essencial: “ponho-os à vontade para falarem, para perguntarem o que entenderem. Até perguntas pessoais”.

Esse à vontade levou-a a um episódio que não esquece quando, ainda na UCM, uma aluna veio confessar-lhe que era lésbica, como a pedir conselhos, pois tinha medo de o confessar aos pais. Jana tranquilizou-a e deu-lhe coragem. Foram apenas dois semestres e nunca mais a viu pessoalmente mas segue-a pelo Instagram onde percebeu que ela tem colocado imagens com uma namorada nova. “Fiquei feliz. Deve estar tudo a correr bem”, esclarece.

Um privilégio

E viver em Macau? “Macau é um paraíso para adultos”, diz, mas foi logo adiantando que também permite “qualidade de vida e é um sítio fácil para encontrar os amigos e é segura. Isso é muito importante”. Além disso, “acontece muita coisa como o Festival de Cinema que aí vem, o Festival Literário, há música, muitas bandas locais”, aclara.

Também considera que a cidade “dá muitas oportunidades, é óptima para trabalhar, proporciona bons salários e várias oportunidades de trabalho. Também é uma boa base para explorar a Ásia”, conta. Tudo somado, “é um sítio especial e sinto-me privilegiada por aqui viver”, confessa.

15 Abr 2016

Cakepuccino Bakery, pastelaria e fábrica | Flora Che, proprietária

Assim que fez um bolo descobriu a sua paixão. Deu aulas, mas depressa se fartou do que fazia e apostou na abertura de um espaço que vende bolos e materiais de pastelaria. Assim é a “Cakepuccino Bakery”, que pretende, um dia, ser uma escola. Falta apenas o parceiro de negócio

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]lora Che começou a vender os seus bolos há dois anos na internet, enquanto dava aulas de culinária nos colégios Estrela do Mar e Diocesano de São José. Foi nessa altura que se apercebeu que era muito difícil comprar os materiais para fazer os seus bolos enquanto dava aulas e viu que tinha uma oportunidade de negócio à sua frente.
A proprietária da “Cakepucciono Bakery” teve a possibilidade de arrendar uma loja cuja proprietária é mãe de uma amiga. Foi aí que decidiu despedir-se do seu emprego como professora e apostou na abertura da pastelaria.
Primeiro, Flora Che arrendou um espaço no andar acima da loja que servia de cozinha para fazer os seus bolos. Hoje arrenda o espaço situado na Rua de São Lourenço e garante que o local é conveniente para quem quer adquirir estes materiais de pastelaria ou para quem quer encomendar bolos para ocasiões especiais.
“Comecei a interessar-me por fazer bolos há quatro anos e tudo por causa da minha irmã, que trabalha como pasteleira num hotel. Sempre gostei de trabalhos artesanais desde criança e sentia-me aborrecida com a vida no escritório. A partir do momento em que fiz o meu primeiro bolo descobri que era isto que gostava de fazer.” cakepuccino
Questionada sobre o tipo de bolo que mais gosta de fazer, Flora Che destaca o bolo feito com a cobertura em glacê. A aposta na formação internacional foi algo que a proprietária da “Cakepuccino Bakery” procurou fazer desde o início. “Estive no Reino Unido, em Taiwan e Hong Kong para frequentar cursos de pastelaria”, conta.

A faz-tudo

Flora Chen referiu que o seu negócio sofre com a falta de recursos humanos. “Tenho muitas funções aqui. Para além de ser a dona, também sou pasteleira e gestora de marketing. Estou à procura de pessoas que tenham interesse em fazer bolos.” A ideia é encontrar um parceiro de negócio e não apenas um simples empregado.
A promoção da “Cakepuccino Bakery” depende muito das redes sociais, sendo que Flora Che também participa em exposições ou eventos para mostrar os seus produtos. “Cheguei a ter um emprego relacionado com mercadorias num hotel e acredito que a eficácia da publicidade em exposições é grande. Gostaria de ter um stand nas exposições para poder promover os meus produtos”, disse. O próximo evento onde irá participar será o Rubber Duck Garden na Doca dos Pescadores.
Os pedidos feitos online garantem a manutenção do negócio. Os clientes pedem muitas bolachas, cupcakes e bolos com glacê. Mas a estabilidade ainda não está garantida apenas com a venda dos materiais. Como a loja abriu pouco tempo antes do ano novo chinês, “os clientes pediram mais bolos de aniversário”, mas Flora também recebeu pedidos para bolos de casamento e festas.” A maioria dos materiais que utiliza e vende provém de países como a Austrália ou os Estados Unidos, sendo que os seus bolos são livres de químicos.

Para o futuro

No processo de abertura da loja surgiram vários desafios, os quais Flora Che acredita que vai ultrapassando com o tempo. Para já pretende renovar a loja e focar-se na importação dos materiais. “Nunca pensei que pudesse ter tanto trabalho, como a encomenda dos materiais, a rotulagem dos produtos.” Sendo beneficiária do subsídio atribuído pelo Governo no âmbito do Plano de Apoio a Jovens Empreendedores, Flora Che garante que ainda não sente pressão financeira. HM1
“Tenho horário diferente daquele que tinha, começo às 11h00 e tenho a loja aberta até às 20h00. Faço os bolos depois de fechar a loja e trabalho normalmente até às 23h00. Tenho um horário muito preenchido, por isso quando tiver um parceiro de negócio poderei descansar mais”, disse ao HM.
Olhando para os próximos tempos, Flora Che quer ensinar outras pessoas a fazer bolos e essa será uma tendência da “Cakepuccino Bakery”: fazer com que outras pessoas se apaixonem pela arte da pastelaria.

13 Abr 2016

Ann Chan, artista de aguarelas: “Sempre tive interesse em pintar”

Conhecemos Ann Chan na feira “Sun Never Left”, organizada todos os sábados em frente ao Albergue SCM. Foi aqui que percebemos que a jovem de Macau é também artista: no local vendia muitas aguarelas e as imagens que pinta, de gatos, são tão delicadas que nos despertaram curiosidade.
“Tenho gatos em casa há muitos anos mas nunca os desenhava. Por acaso, um dia, os meus amigos perguntaram-me se pensava em desenhar gatos e naquele momento surgiu a ideia. Comecei por tentar desenhar os meus dois gatos, o Man Kei e o Tai Fei”, explica-nos Ann Chan quando a questionamos. A ideia, acrescenta ainda, surgiu em 2013 e, desde aí, nunca mais parou.  
A jovem, que nasceu e cresceu no interior da China, foi convidada para ser uma das artistas que apresentam as suas obras aos residentes e turistas na feira. No início, Ann não vendia as obras, optando antes por fazer retratos de pessoas. Contudo, confessa-nos, a reacção de clientes não foi tão positiva quanto esperava e a jovem decidiu mudar a forma de fazer as coisas.
Agora, Ann até recebe pedidos especiais para pintar. Clientes mostram fotografias de gatos que já faleceram, para que a jovem os pinte e estes fiquem, para sempre, na memória dos seus donos. A nós, a jovem confessa que gosta disto – até prefere ganhar menos com a venda das obras, só pelo prazer de ajudar outras pessoas a relembrar os seus amigos de quatro patas.

Da Arte à publicidade
Ann nasceu e cresceu no interior da China e relembra que, desde pequenina, que as aguarelas lhe despertaram interesse. Por isso mesmo, começou formação em Arte na escola secundária e tirou um curso para ser docente desta técnica em Cantão.
Apesar disso, quando começou a trabalhar, o caminho não foi o de artista nem o de professora e Ann decidiu trabalhar em publicidade.
“Não cheguei a ser professora porque comecei a ter outras ideias. Resolvi trabalhar em publicidade gráfica, no início no interior da China e depois em Macau”, conta-nos.
Ann veio para o território há sete anos e está a trabalhar na secção de Marketing de uma empresa de venda a retalho, mas continua a utilizar os seus conhecimentos profissionais. Os outros.
“Nunca deixei para trás o que estudei, porque é sobre estética. Acho que quem estudou Economia, pode não conseguir fazer publicidade. Faço muitos cartazes para a minha empresa, que precisa de mim”.  
Mas Ann tem agora ‘duas vidas’ uma de trabalho e uma artística. “São duas coisas separadas. Quando trabalho e quando desenho. Esforço-me muito no horário de trabalho e só crio nos tempos livres”.
Para Ann Chan, Macau tem muito mais recursos e maneiras de fazer Arte, comparativamente ao interior da China.
“Sempre tive interesse em pintar, mas quando trabalhei na China, não fazia arte por causa do ambiente, não existe uma atmosfera como em Macau. Muitos colegas meus também deixaram o meio artístico, a não ser os que são professores”.
Mas Ann não deixou o sítio onde nasceu só por causa disto. A área onde trabalha foi outra das razões, já que “é muito difícil trabalhar” em publicidade na China continental: trabalhava dia e noite por causa das exigências dos clientes, algo que a deixava exausta.
Mas teve sorte. Conseguiu trabalho em Macau e conheceu um mestre de aguarelas por cá, voltando a relembrar como se pinta. Ann Chan não se fica só pelos gatos e gosta muito de desenhar paisagens, objectos e retratos. 
A jovem diz que Macau dá muitas oportunidades a pintores e artistas. Ainda não é suficiente, diz contudo, questionando: “o que é mesmo uma indústria cultural e criativa? Não é apenas de quem sabe desenhar. É preciso um planeador para ajudar os artistas, criando a imagem deles e dando valor às suas obras. É verdade que existe um grupo de artistas em Macau e o Governo apoia muito, mas acho que está em falta um planeador em Macau, há uma desconexão entre os artistas e os consumidores”, disse.
No ano passado, Ann Chan organizou a sua primeira exposição: “Paint whatever you like”, onde mostrou principalmente aguarelas de gatos. A exposição foi inspirada por uma voluntária que ajuda felinos abandonados.
“Fiquei muito triste depois de visitar a voluntária, que adoptou um grupo de gatos em casa, algumas das fêmeas até estão grávidas. Acho que a sociedade deve dar atenção à importância de esterilização de animais abandonados para que não se reproduzam mais”.
Na exposição, Ann vendeu as suas obras e as receitas foram todas para ajudar a voluntária.  
No início deste ano, a jovem fez parte de outra exposição – “Brush Together” – com sete pintores locais. As obras de Ann foram novamente os gatos pintados a aguarela, duas paixões da jovem. Ann vai agora participar em mais uma exposição juntamente com outros artistas locais, mas desta vez as obras em exposição são paisagens, ainda que pintadas na mesma a aguarela.
Olhando para futuro, a jovem ainda não tem um plano muito claro, mas sabe que não quer continuar pelo caminho das exposições dos seus trabalhos. “Quero fazer uma pausa, pensar no caminho para o resto da vida”.

8 Abr 2016

MISE: “De eventos desportivos, a musicais e festivais”

Numa altura em que o atrair de diversidade a Macau é a “palavra de cada dia”, a MISE surge para “inovar” a área da promoção de eventos, de olhos postos nas reuniões e incentivos, mas com mais na manga

Chama-se Associação de Reuniões, Incentivos e Eventos Especiais (MISE, na sigla inglesa) e foi lançada no mês passado. É, como asseguram os criadores desta nova organização, uma plataforma que responde aos apelos governamentais de diversificação da economia da RAEM.
Fazendo do lançamento o pontapé de saída de uma das áreas desta Associação, a MISE fez da sua apresentação um exemplo dos serviços que pode prestar, num evento que contou com a presença de mais de uma centena de profissionais do sector do Turismo e eventos e que teve lugar no Hotel St. Regis Macao.
Mais que uma associação comum ou uma extensão do MICE (sector das convenções e exposições na sigla inglesa) num trocadilho com o programa, a MISE não só substitui as conferências e exposições pelos eventos especiais, como também pretende ir mais além e dotar Macau de um conjunto de meios capazes de promover a tão dita diversificação económica – e de turistas – do território.
Para Todd Cai, Presidente do Conselho de Administração, “até à data não existia uma associação que apoiasse estes sectores em particular, nomeadamente incentivos e eventos especiais”, diz num comunicado, assumindo a MISE como prioritária nas estratégias políticas de turismo de Macau enquanto entidade promotora e atractora de mais eventos internacionais, capazes de promover a região como destino.
Estão também na agenda a execução independente de relatórios das indústrias MICE, bem como a criação de uma plataforma em Inglês que abarque todos os profissionais ligados aos MICE numa perspectiva promotora do empreendedorismo local.

Mais e diferente

Representante de uma base de apoio aos profissionais dos negócios e turismo da região, Bruno Simões, Secretário do Conselho de Administração, diz ao HM que, apesar de já existirem na região entidades dedicadas aos eventos, esta plataforma pretende ir mais longe, numa aposta num leque mais alargado em que estão também na mira “eventos desportivos, musicais, festivais e desafios, numa intenção que vai até aos eventos televisivos ou mesmo casamentos”. Já nos incentivos, a diferença é marcada com a oferta de viagens a profissionais da área num convite para conhecer Macau e desta forma promover a região num contexto internacional cada vez mais alargado.
No que respeita à formação e numa aposta de carácter pioneiro na região, esta será dividida em duas componentes primordiais: do lado teórico é intuito da MISE – com o apoio dos Institutos de Educação locais – prestar formação certificada. Numa vertente prática, a MISE prevê uma formação integrada e completa através da aprendizagem directa com a participação dos formandos nas actividades organizadas pela Associação.

Em conjunto

A MISE não está sozinha e conta com a cooperação com duas empresas irmãs estabelecidas há alguns anos em Macau: a  DOC DMC Macau | Hong Kong e a smallWORLD Experience, especialistas em gestão de eventos e produção de actividades especiais e que é também a “maior empresa de team building em Macau”.
Sendo uma associação sem fins lucrativos, o “bom desempenho” da MISE é suportado por trabalho voluntário. Da organização, além de Todd Cai e Bruno Simões, fazem parte David Paulo Ribeiro, Rebecca Choi e Filipe de Senna Fernandes.
Tendo em conta a diversidade dos interessados, a Associação apresenta diversas opções aos seus associados tendo em conta pequenas e médias empresas e grandes empresas, bem como profissionais individuais e estudantes. Ainda não tem sede, mas está online, em www.misemacau.org.

6 Abr 2016

Heron Sou, viajante: “A viagem dura até que a conta esteja a zero”

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]eron Sou é um jovem de Macau e está a caminho de uma viagem à volta do mundo. Inicialmente, o plano passava apenas por viajar para os países da América do Sul e da América Central, como México, Cuba, Brasil, Argentina e Chile.
Demorou três meses na sua viagem para a América, porque não comprou um bilhete de avião para regressar a Macau. Mas a curiosidade não o deixou desistir: Heron Sou decidiu continuar o seu caminho. “Acho que a minha viagem ainda não se parecia com uma viagem à volta do mundo e não queria acabar de viajar”, conta-nos.
Sou assegura-nos que “a viagem dura até “aparecerem zeros no saldo da conta”. Até porque o objectivo, confessa, é que os destinos vão cada vez aumentando mais.
A viagem começou porque Heron Sou não encontra nada de especial que o prenda a Macau. Este é um território, para o jovem, muito cheio e aborrecido, uma cidade pobre “que só tem dinheiro e mais nada”. Sendo de cá, Heron sente-se feliz por Macau ter transportes públicos que o levem a todo o lado e diversidade para consumos de qualquer apetite. Mas não há natureza. Não há mar transparente, nem montanhas, nem gelo.
O jovem é “um produto complemente feito em Macau”: desde o ensino infantil ao mestrado, fez todo o percurso no território. Foi atleta de Squash e representou Macau em jogos internacionais no estrangeiro. Fez um intercâmbio na Noruega, enquanto tirava a licenciatura, e foi essa experiência que lhe deu uma nova visão: o mundo é tão grande e as coisas não correm sempre ao sabor do vento de Macau. Nem ao seu estilo.

Do plano à prática

Apesar de nos repetir que Macau é aborrecido para quem é jovem, Heron Sou relembra que, quando tinha tempo livre, sempre foi um “jovem normal como os outros”: ia ao cinema, praticava desporto ou namorava, mas a falta de coisas para fazer por cá fazia-o, às vezes, optar por ficar em casa.
“Quando era criança, gostava muito de ver coisas com extraterrestres e civilizações antigas na televisão e isso também foi uma das razões principais que me atraíram para ir à América”, diz-nos.
Em Setembro do ano passado, o jovem finalizou o mestrado em Educação Física e Estudo do Desporto na Universidade de Macau (UM), onde trabalhava também como funcionário. Trabalhou na UM quatro anos, onde lidou com vários tipos de emprego desde a limpeza, à administração, segurança… sentia-se desafiado. Mas isso era algo que não o completava e Heron Sou queria algo mais na sua vida.
“Era um atleta de Squash, sou treinador e tenho uma licença de árbitro para esta modalidade, mas sentia-me como um estudante da escola primária quando olhava para o mundo. Precisava muito de sair daqui.”
O orçamento para a viagem era de dez mil dólares americanos, mas Heron também não queria visitar os países “como um vagabundo”: foi aos restaurantes para experimentar a gastronomia e ficou acomodado em hotéis. Mas agora que o plano mudou, o orçamento é uma coisa que já não tem valor para ele.
Os familiares não discordaram da viagem. Heron Sou falou aos pais sobre o plano, apresentou-lhe a ideia de mudar de emprego e de fazer uma viagem bem longe da família. Os amigos apoiaram-no e deram até sugestões para ter cuidado com a vida… e com a carteira.
Para o seu futuro, ainda não tem ideia do que quer fazer. “A maioria dos pessoas não imagina o que quer. Não sabia o que gosto de fazer. Pensei que podia encontrar o meu interesse durante a viagem, mas a realidade é que o mundo é cruel, precisamos do dinheiro para sobreviver, cada coisa que precisamos temos de a pagar. É horrível, não é?”
Heron começou a viagem sozinho, mas conheceu muitos amigos novos durante a viagem: foi o caso de um casal de Hong Kong que conheceu na Bolívia, um alemão no México e alguns amigos da Noruega que até o acompanharam em parte da viagem.
E as memórias ficam. A bem ou a mal. “Faço diários e vou preparar um álbum de fotografias que tirei durante as viagens. Isso é fixe”, disse ao HM.
O próximo destino já está marcado: Heron Sou vai para o Egipto, porque queria comparar as pirâmides egípcias às mexicanas. Neste momento, o jovem está a descansar em Espanha. É que a viagem ainda agora começou e Heron também quer visitar o Pólo Sul, depois de ter ido ao Árctico.

1 Abr 2016

“IES”, restaurante | Larry Chen, proprietário: “Estamos concentrados no melhor”

O espaço desliga o cliente do mundo lá fora. Cor, luzes e decoração tornam-se elementos fundamentais que, aliados aos sabores, nos fazem voar até Itália. Assumindo uma aposta na aparência dos pratos, e fazendo jus ao sabor, a nova surpresa da gerência é “o pão”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]negócio está-lhe no sangue. Larry Chen traz consigo uma grande bagagem de trabalho na área de restauração, mas “esta é a primeira vez que tem um negócio mais pequeno”. “Sempre trabalhei em restaurantes, mas eram grandes e com muita saída, desta vez decidi apostar num espaço mais pequeno, mas criando condições para crescer e se espalhar para fora de Macau”, começa por partilhar com o HM aquele que é um, dos dois, sócios do restaurante “IES”.
Entre o Teatro D. Pedro V e as antigas instalações da Polícia Judiciária, o “IES” não passa despercebido. Uma porta de madeira dá entrada a um espaço acolhedor, com dois andares, e carregado de cheiro a comida caseira.
Bem no centro, no balcão, está uma equipa que rasga um sorriso sempre que um cliente chega. A atenção à nacionalidade dos que acabam de chegar é um ponto de dedicação da equipa, até porque, explica o proprietário, cada cultura tem os seus hábitos.

A crescer

Aberto há menos de um ano, “IES” – nome que surge de “IExpresso” – quer “criar um café com comida decente”, como explica Larry Chan. “Queremos criar uma marca que se possa estender para outros horizontes. Por isso é que criámos localmente uma marca sofisticada, moderna, com traços e uma atmosfera italiana”, acrescenta.
Mas não estamos só a falar do espaço. “Obviamente também falamos da comida, do café, das sobremesas, todo o conjunto”.
Macau, aponta o sócio-gerente, é tão diversificado que “mesmo com a competição louca que se sente nos dias de hoje”, o território “é um mercado emergente” e por isso precisa de novos espaços e novos conceitos.
“Aqui [em Macau] é possível encontrar um pouco de tudo. Seja comida portuguesa, seja chinesa… Mesmo as pessoas que vêm de Hong Kong ou do interior da China, mesmo que seja uma viagem curta, conseguem encontrar aqui em Macau uma grande diversidade”, acrescentou.

Pasta e pão

Uma breve passagem de olhos pelo menu facilmente nos remete para um restaurante italiano. A razão é simples, “a comida italiana não é cara, pode ser consumida todos os dias e os asiáticos estão ligados à massa”. Larry Chan explica que a vantagem deste tipo de gastronomia para com outras nacionalidades é a possibilidade de se optar por comida italiana diariamente. “Por exemplo, a comida tradicional francesa não é uma comida que se coma todos os dias, até porque é mais sofisticada e, por vezes, até mais cara. A comida italiana não é assim, é uma comida que se pode comer todos os dias”, apontou.
Variados tipos de massa, pizza, pão e sobremesas fazem parte da oferta da casa, que garante a qualidade e sabor dos seus pratos. Todos os dias existe um menu diário com opções variadas e a um preço simpático.
Uma das vantagens do espaço é que está aberto até tarde. “Uma das nossas particularidades é essa. Não fechamos a parte das refeições ou café. Ou seja, as pessoas podem vir aqui só para beber um café, ou um chá, ou uma sobremesa, mas também comer refeições a qualquer hora”, clarificou.

A grande aposta

É o pão a menina dos olhos do “IES”. A abertura de uma padaria foi a grande aposta do gerente para este ano. “A padaria abriu há poucos meses, estamos a tentar crescer”, apontou, explicando que existem variadíssimos tipos de pão dependendo dos gostos e necessidades de cada cliente.
Mas desengane-se quem acha que abrir um negócio em Macau, principalmente na área de restauração, é fácil. “É muito difícil”, partilha o empreendedor. Principalmente, diz, por causa da falta de recursos humanos dispostos a trabalhar na área. “É muito difícil encontrar pessoas que estejam prontas a oferecer um serviço bom e de qualidade, portanto isto não nos facilita o trabalho. E depois existe a concorrência, antigamente poucos ligavam ao mercado da restauração, agora há muito interesse”, apontou.
O trabalho nos casinos é também um dos grandes entraves ao negócio. “Trabalhar num casino é mais fácil do que trabalhar na restauração”, apontou.
Ainda assim, Larry Chan não está nada arrependido de ter arriscado num novo negócio. “Eu gosto disto, é um bom desafio. Abri vários restaurantes no passado, não em Macau, mas não estou arrependido, acho que é um desafio. É divertido, gosto desta combinação de café com comida. Gosto disto”, reforçou, sonhando expandir o “IES” para Hong Kong, Singapura e Taiwan.
“Por agora, eu e a minha equipa, queremos dar tudo por tudo para os nossos clientes. O feedback tem sido bom, mas estamos concentrados no melhor que podemos fazer”, rematou.

30 Mar 2016

Nature CM, loja de flores | Human Io e Ayo Io, proprietárias

São flores que podem durar até dois anos ou mais, ainda que sejam frescas e naturais. A “Nature CM” nasceu em Macau com o propósito de ajudar as pessoas a perceber que as flores não servem apenas para dias comemorativos

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]e quer flores frescas todos os dias, a “Nature CM” é a loja para si. Human Io e Ayo Io são duas jovens irmãs, que estabeleceram esta loja de flores, que traz novidades ao público: flores frescas preservadas.
“Sempre tivemos um grande interesse por flores e trabalhos artesanais, desde crianças”, começa por explicar Ayo ao HM, quando questionada sobre a razão de abrir esta loja. A jovem explica que, normalmente, os residentes apenas compram flores nos dias importantes, ou de celebração, como o Dia dos Namorados. A ideia de usar flores para decorar a casa ainda não é popular em Macau, diz Ayo, pelo que a ideia era também divulgar que as plantas são ideais para isso.
O produto principal da “Nature CM” são as flores frescas preservadas, que conseguem ficar vivas e coloridas até cerca de dois anos, depois de um tratamento técnico. Estas são vendidas com vários cores e decoração artesanal, em jarros para todos os gostos e feitios.
Human Io confidencia ao HM que as irmãs conheceram a técnica de tratamento para flores frescas numa viagem ao Japão. Embora admita que ainda têm muito de aprender para utilizar esta técnica, as duas dedicaram-se a vender este tipo das flores por cá, porque isso “é uma novidade para Macau”.
Quando se chega à porta da loja, é difícil imaginar que esta – localizada no Centro Industrial Keck Seng, na Avenida de Venceslau de Morais, 13º andar – contém tanta natureza. As duas irmãs explicam, no entanto, que a escolha para estarem neste prédio “é muito simples”: “a renda. Aqui temos um espaço maior e as rendas são tão elevadas em Macau”, diz-nos Human com um sorriso.
Ayo e Human apenas divulgam os seus produtos via redes sociais, como o Facebook e WeChat. “Ainda não investimos nada no anúncio e promoção da loja, porque queríamos evitar os aumentos dos custos”, explicou Ayo. Nature-CM
A loja é uma sala de trabalho e um lugar de venda, mas poderá vir a transformar-se numa sala de aula no futuro. É que as duas jovens têm o plano de criar um curso para ensinar como envasar e decorar flores frescas preservadas. “Como não temos tempo suficiente somos nós que temos de arranjar todas as coisas da loja e procurar as flores no estrangeiro para vender. Por isso estamos a estudar este plano.”
Ayo diz ao HM que o negócio já abriu há mais de um ano, mas só agora as proprietárias começaram a arrendar um espaço. Afinal, as duas jovens pensavam que este negócio seria apenas um trabalho temporal – ou até um hobby. Cada uma tinha o seu trabalho, mas depois de arrendarem a loja decidiram dedicar-se a 100% ao novo negócio.
Como a promoção dos seus produtos normalmente é partilhada via boca a boca, Human refere que os elogios dos clientes são muito importantes para duas irmãs, até porque esta é “a única maneira de atrair clientes”.
De acordo com as jovens, os clientes podem receber as encomendas três dias depois de fazerem o pedido, ainda que se possa oferecer um “serviço urgente” dependendo do caso. As rosas são as flores preferidas para os produtos, mas Human e Ayo procuram também vários tipos de girassol e tulipa, além de flores específicas de países estrangeiros, como o Japão.
Além das flores preservadas, a “Nature CM” também oferece flores secas com cores diferentes, sendo que cada cliente pode pedir as suas flores e cores preferidas, adicionado bonequinhos plásticos como decoração.
Human diz que o negócio corre bem, sem muitas dificuldades, mas revela que há um custo elevado com as flores, devido ao custo da compra, transporte e renda. “Normalmente, as flores frescas preservadas são importadas do Japão”, explica Ayo.
Estas duas irmãs relembram ainda a história de um cliente que consideram “inesquecível”: a de um português que tinha de regressar a Portugal de Macau e, para que a namorada tivesse uma prenda dele, este comprou uma rosa fresca preservada com decoração. “É uma história romântica, não é?”, dizem, indicando que também têm clientes de Hong Kong e da China continental.
As duas dizem ainda ao HM que a “vida simples é bela e que toda gente pode sentir-se maravilhosa quando partilhar o seu espaço com flores”.

23 Mar 2016

Gonçalo Ferreira, colorista: “Trabalhar com Johnny To seria um sonho”

Antes de vir para Macau, Gonçalo trabalhou durante sete anos na Tóbis. Saiu por causa da privatização. Corrigiu a cor de filmes de vários realizadores como Manoel de Oliveira, Pedro Costa, Edgar Pêra ou João Botelho e, por cá, além de continuar na área, é também formador em workshops e dá um módulo na Universidade de São José.
Veio para Macau porque “o processo de privatização da Tóbis foi doloroso”. Uma situação que não entendeu pois, diz, “apesar de ser um processo difícil nós tínhamos trabalho. Eu estava a fazer 16 horas por dia…”, recorda. Mas não recebia a horas, a mulher estava na mesma empresa e, com filhos para criar, criou-se o cenário perfeito para a mudança. “Já cá tinha estado duas vezes e tinha gostado imenso. Depois tinha os filmes de Hong Kong no meu imaginário, cresci a vê-los, o Johnny To… e queria fazer um bocadinho parte disto”. Não pensava que conseguir manter-se como colorista por aqui, mas hoje, cinco anos volvidos, aos 39 anos de idade, Gonçalo confessa nunca ter pensado fazer tanta correcção de cor apesar de, lamenta, “a maioria ser publicidade e não cinema”. Isso fica a dever-se, na sua opinião, “filmar-se mais em Macau, apareceram as novas câmaras digitais que são muito complexas a nível de cor, e eu já tinha alguma experiência com elas..”, explica. Trabalho suficiente para já ter justificado o investimento numa estação de trabalho. Gosta de viver em Macau, não pensa ficar por cá, mas também não tem planos para se ir embora: “Sentimos saudades de Portugal; da família, dos amigos, do mar…” Tem 3 filhos, um de 12, outro de nove e uma menina de seis, a única sem memória de Portugal. A indecisão tem a ver com o facto de já ter sentido “mais esperança na vida em Macau”, porque, explica, “não é um sitio barato para viver”. O lado positivo são os amigos que tem feito e os vários destinos que se espraiam à volta como as Filipinas, o Japão, Taiwan ou a Tailândia que, de outra forma, seriam de difícil acesso.

Cinema, sempre

Sempre quis trabalhar em cinema e, especialmente, em pós produção. Via-se como editor mas o advento dos processos digitais abriu a nova profissão de colorista. Antes, explica Gonçalo, “era um processo físico, de revelação de película, onde era apenas possível definir se o filme seria mais claro ou mais escuro, mais quente ou mais frio”. Estavam estas novas ferramentas a surgir quando entrou nos laboratórios da Tóbis. Respondeu a um concurso onde apareceram 100 mas só entravam três, e conseguiu ser escolhido. Foi trabalhar num grande projecto de restauro da RTP e depois, “tive sorte”, confessa, “estava tudo a começar e acabei por ser formado pelos tipos da Da Vinci”.

Cor que conta histórias

“A correcção de cor é um complemento do guião, um suporte da história, a segunda parte do trabalho do director de fotografia, é o trabalho das sensações, do apuro da mensagem que o filme pretende passar”, elucida Gonçalo. Dando exemplos, refere-se aos “clichés do cinema de hoje onde as cenas quentes são geralmente amarelas, as frias mais azuladas, as de noite são esverdeadas ou azuladas…” Aí quisemos saber porque se convencionou que a noite seria azul e Gonçalo revela: “foi a técnica que os americanos desenvolveram nos westerns, a “American Night”. Filmavam de dia e depois tornavam tudo azul e mais escuro para parecer noite. Há mesmo imensos filmes desses, que se tornaram numa piada, em que se vê os actores a andarem à noite com sombras por todo lado”.

Costa e To

Pedro Costa é o cineasta preferido de Gonçalo. “Fiz a correcção de todos os seus filmes até ao momento”, diz orgulhoso, um trabalho que considera “dar-lhe um prazer especial porque as sessões com o Pedro Costa são muito diferentes, e porque gosto dos filmes dele”. Uma diferença que, para Gonçalo, acontece “porque ele abandonou a ideia de grandes equipas e prefere trabalhar apenas com grupos mais reduzidos, para aproximar mais a equipa, ele, a câmara e o actor. Um processo quase promíscuo, que depois também se reflecte na cor. Para além disso, com Pedro Costa percebi que o cinema pode ser muita coisa.”
Mas há algo que pode mesmo adiar significativamente uma eventual partida de Macau: Johnny To, o icónico realizador de Hong Kong, de quem Gonçalo se considera grande fã, e a oportunidade até pode estar próxima. Foi a propósito do filme de outro realizador, mas “o curioso é que tudo aconteceu à conta de Pedro Costa”, explica Gonçalo, pois o produtor do To é fã do realizador português e quis conhecer o Gonçalo: “um dia apareceu-me lá no estúdio para me conhecer e foi engraçado porque ele só me fazia perguntas sobre o Pedro Costa e eu só lhe fazia perguntas sobre o Johnny To” (risos). Para já, irá trabalhar num filme do mesmo produtor mas de outro realizador. Mas a pergunta ‘gostarias de trabalhar com o Johnny?’ já lhe foi colocada.

18 Mar 2016

Loja das Conservas | Gabriela Cheang e Sara Costa, sócias

E se pudesse escolher além das tradicionais sardinhas e atum em lata? Agora pode, já que, a partir de dia 26 de Março, inaugura na Travessa do Aterro Novo a “Loja das Conservas”, directamente de Portugal para Macau

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]lém das pastelarias de marcas de Macau que invadem a zona da Avenida de Almeida Ribeiro (San Ma Lou), surge agora uma loja grande, onde mais de 300 espécies de produtos portugueses estão disponíveis para a população. As latas de peixe não parecem ser estranhas às pessoas de Macau, mas com a “Loja das Conservas”, os clientes podem experimentar os alimentos em latinhas mais característicos de Portugal.
“O desafio surgiu depois da abertura de uma loja com as mesmas características em Lisboa. Esta loja reúne todas as fábricas portuguesas de conservas e tem um protocolo com a Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe de Portugal para promover os seus produtos genuínos, tradicionais, originais”, começa por contar Sara Costa, uma das sócias da “Loja das Conservas”, ao HM.
Antes de chegar a Macau, Sara Costa – que agora trabalha lado a lado com Gabriela Cheang e João Manuel de Sousa Santos Reis – já trabalhava numa loja de conservas em Lisboa desde 2013. Mesmo que considere o trabalho um desafio, para Sara é “muito interessante” a abertura deste tipo de loja no território. Mais ainda, diz, faz todo sentido. IMG_3117
“Sendo que as conservas portuguesas são produtos que já estão presentes em Macau há algum tempo, agora surgem de outra forma, com mais variedade, com mais marcas de qualidade. Achamos que poderia ser interessante apresentar o que é que as indústrias portuguesas produzem, não só sardinhas e atum, mas uma série de outras espécies que também são produzidas”.
Localizada na Travessa do Aterro Novo, a loja foi aberta há pouco mais de uma semana e a inauguração oficial está marcada para o dia 26 de Março. Gabriela Cheang, outra das sócias da loja, natural de Macau, confessa que o Cônsul-geral de Portugal em Macau, Vítor Sereno, e o presidente Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe de Portugal, Rubem Maia, são convidados para a cerimónia, entre outras celebridades.
Gabriela Cheang explica ainda que, apesar de existirem cerca de 900 tipos de conservas em Portugal, esta loja escolhe primeiramente as espécies que os asiáticos aceitam mais.
“Quando escolhi os produtos, deixei os meus amigos chineses provar alguns. O que eles não gostaram tanto, não escolhi. Outros, com uma embalagem menos delicada, também não escolhi. Mas escolhemos produtos de cada uma das fábricas.”
Sara Costa admite que ainda não tem muito bem a noção de quais são os produtos que as pessoas do território mais gostam, mas afirma que quando os clientes provam “gostam imenso e compram bastante”.
“Para já, acho que estamos a ter uma boa aceitação. Mas a loja ainda não foi muito divulgada e, portanto, as pessoas ainda não sabem da sua existência, apenas as pessoas que vão passando aqui. Mas, de forma geral, acho que as pessoas gostam de reconhecer as sardinhas portuguesas e depois de experimentar outras coisas. É uma experiência muito boa”, disse.
Para Sara Costa, a loja não atrai apenas turistas mas também residentes de Macau, sobretudo macaenses. Já Gabriela acrescenta que, de acordo com o volume de negócio, os clientes são mais turistas, sobretudo de Hong Kong, já que estes, dizem as responsáveis, aceitam mais facilmente os alimentos estrangeiros.
“Uns turistas do interior da China ainda desconheciam as conservas e pensavam que tinham conservantes, mas os nossos produtos são todos sem conservantes. Como os peixes de profundidade têm muito ómega-3, são saudáveis e fáceis [de comer]. Mas os chineses precisam ainda de se habituar”, avançou Gabriela.
A loja ainda não está completamente pronta, já que vai ainda importar vinhos portugueses para venda, para combinar com as refeições que contam com as latinhas de conserva. IMG_3113
As sócias admitem existir um certo risco porque a renda e os custos das lojas em Macau são altas. Daí não ter sido escolhida uma loja perto das Ruínas de São Paulo, porque a renda mensal pode atingir um milhão de patacas. Como ainda está muito no início, Sara Costa diz que ainda é cedo para dar uma perspectiva de como é que as coisas vão correr, mas as sócias mostram-se confiantes.
Gabriela Cheang, nascida em Macau mas que trabalhou num escritório de advocacia em Portugal há algum tempo, juntamente com o marido, recorda que viajou muito pela Europa e notou como o negócio das lembranças é algo tão comum em Macau.
“Estava sempre a procurar um produto muito característico para vender como lembrança em Macau. Quando trabalhei no escritório de advocacia, os meus colegas apresentaram-me o outro sócio da loja, João, e compreendi que a venda das conservas de peixe em Lisboa é muito procurada por turistas. Assim, penso que este produto de característica portuguesa é bastante apropriado para servir de lembrança para quem vem a Macau. Foi assim que constituímos a loja, que agora está aqui”.
Tanto Sara, como Gabriela não vão ficar no território por um longo período, já que vieram a Macau apenas para acompanhamento inicial da loja até o funcionamento estar estável. Gabriela assegura que vai aventurar-se em Hong Kong, Japão, interior da China e Filipinas, onde vai tentar abrir mais lojas. E porquê? Porque estas latinhas podem ser um prazer.
“Antigamente, os asiáticos comiam [das] latas só quando não conseguiam fazer compras no mercado. Mas a verdade é que beber-se um copo de vinho tinto combinado com as conservas é um prazer”.

16 Mar 2016