História | Estudo indica que portugueses na Ásia tratavam escravos como família

Em “Escravatura, família e infância na diáspora portuguesa do sudeste asiático, séculos XVI e XVII”, Isabel dos Guimarães Sá refere que muitos comerciantes portugueses na Ásia, incluindo Macau, tinham escravos que eram encarados quase como família. A historiadora conta também situações em que escravos herdavam bens e verbas dos donos

 

Num tempo em que a escravatura era permitida e normalizada, os portugueses que viviam e faziam comércio na Ásia, incluindo Macau e China, mantinham os seus escravos que, segundo um estudo recente, eram considerados parte do núcleo familiar e até recebiam algumas contrapartidas após a morte dos donos.

Esta é uma das conclusões do artigo “Escravatura, família e infância na diáspora portuguesa do sudeste asiático, séculos XVI e XVII”, da autoria da historiadora Isabel dos Guimarães Sá, e que foi publicado na última edição da revista académica Ler História.

O trabalho baseia-se em testamentos e documentação das Misericórdias do Porto e Macau, que permitem perceber quem eram estes portugueses comerciantes e endinheirados, que bens deixaram depois da morte e quais os “significados que os chefes de família portugueses atribuíam aos seus escravos, entre eles crianças e jovens”.

Desta forma, grande parte dos testamentos dos séculos XVI e XVII que falam de escravos a trabalhar em territórios portugueses na Ásia referem “escravas domésticas”, situando-as “nas famílias dos seus proprietários, nas quais há uma presença significativa de crianças ou adolescentes escravizados”.

Segundo o estudo, “enquanto chefes de família, os proprietários de escravos revelaram um sentido de responsabilidade para com os seus dependentes, sobretudo as mulheres escravas, beneficiando-as com legados, muitas vezes destinados a facilitar os seus casamentos, ao mesmo tempo que lhes concediam a liberdade, restringindo assim a condição de escravos a um período circunscrito à sua vida”.

Assim, revela-se a existência de conceitos familiares que vão muito além dos laços de sangue, o que leva a autora a concluir que “estas pessoas de origem portuguesa consideravam os escravos como parte do seu agregado familiar, em comunidades onde predominava o comércio marítimo, caracterizado por longas ausências a bordo dos navios”.

Era um tempo em que ter escravos “era um dos sinais de estatuto de que dispunham”, “embora o sentido de responsabilidade dos testadores os levasse a assegurar o seu futuro após a sua morte, fazendo distinções de género”. Neste caso, “as raparigas constituíam a maioria dos jovens escravizados pelos portugueses, certamente devido à liberdade sexual dos homens que Boxer [Charles Boxer, historiador britânico] observou há muito tempo”.

A salvação matrimonial

É indicado no estudo que, para estas escravas, “o casamento parecia uma perspectiva provável após a morte dos seus senhores, cabendo a estes ajudá-las através de legados, formulados como bolsas de casamento geralmente concedidas em dinheiro”.

No caso dos rapazes escravos também havia acordos, “embora as somas fossem mais reduzidas e não houvesse a preocupação de lhes proporcionar um futuro casamento, uma vez que eram considerados capazes de ganhar a vida”.

Isabel dos Guimarães Sá destaca, porém, que existia “uma diversidade de situações e atitudes”, pois “alguns portugueses manifestaram a intenção de criar meninos e meninas como seus filhos, com o afecto que lhes era devido”. Já outros “estavam dispostos a negar a paternidade aos filhos das suas escravas, para não lhes concederem direitos sucessórios”. Desta forma, “a família surge como uma unidade cujas fronteiras, fluidas e flexíveis”, cabendo “ao chefe de família definir como detentor exclusivo dessa capacidade”.

O estudo deixa, porém, uma ressalva: “os testamentos não podem ilustrar nem as condições de vida destas pessoas escravizadas nem a sua agência”, transmitindo “uma imagem benigna das preocupações dos seus proprietários para com elas, num momento em que os testadores estavam a tratar da sua vida depois da morte e a ajustar contas com Deus”.

Meninas dominavam

Como era então a vida destes comerciantes e dos seus dependentes? O estudo explica que “a maior parte das actividades lucrativas dos portugueses na Ásia relacionava-se com o comércio marítimo, exigindo longas temporadas no mar”, sendo que os mercadores tinham “bases de apoio em terra, como Goa, Cochim, Malaca e Macau”, deixando “a família e escravos nessas cidades”, embora também tivessem parte dela a bordo.

No caso dos escravizados, “primavam pela variedade de origens geográficas e étnicas”. “Por serem crianças, adolescentes e jovens, muitos deles eram fruto de ligações entre portugueses e cativas”, acrescenta-se.

Nestas rotas de comércio, os portugueses “foram os primeiros europeus a entrar no comércio de escravos no Oceano Índico, fornecendo escravos africanos da África Oriental até Macau”, sendo posteriormente copiados por outros países europeus.

Em termos de escravatura, refere-se que os historiadores são consensuais ao referir que “a maioria dos escravos comercializados na Ásia era do sexo feminino, nomeadamente raparigas e mulheres jovens adquiridas pela sua atractividade sexual, e também crianças”, sendo que estas “eram escravizadas no mundo do Oceano Índico pelos mesmos meios que noutras regiões do globo”, nomeadamente “raptos, ataques de escravos ou venda por membros da família”.

É certo que os portugueses se “adaptaram às formas de escravatura já existentes”, sendo que, na China, “a venda de crianças só era considerada tráfico de escravos se fossem vendidas por alguém que não fosse o seu tutor legal”.

Havia, assim, uma ligação entre a propriedade portuguesa de mulheres escravas e a “ideologia confucionista, segundo a qual as mulheres eram mais ou menos consideradas propriedade dos homens”.

Ainda nesta época, “os escravos não desempenhavam um papel económico importante na China, e a forma dominante de escravatura era a escravatura doméstica: prisioneiros políticos, cativos de guerra, vítimas de rapto e aqueles que se vendiam a si próprios ou aos seus parentes para pagar dívidas”.

O estudo aponta também que “uma das formas como os portugueses afectaram o equilíbrio existente na Ásia foi precisamente através da dinamização do tráfico humano”. Porém, em Macau, “houve várias tentativas infrutíferas dos mandarins chineses, que governavam de facto a cidade, para proibir a escravização de chineses e japoneses”.

O caso Francisco Fernandes

São inúmeros os exemplos de testamentos referidos no artigo, mas destacamos o de Francisco Fernandes, de Macau, cujo testamento datado do ano 1635 declarava o seguinte: “Comprei uma rapariga por nome Luísa, de vinte dias de idade, não com intenção de cativeiro, mas com amor de uma filha que tenho criado com o mesmo amor”, tendo-a “livre para sempre”.

O mesmo testamento descreve que deixou também “uma rapariga por nome Isabel, de casta japonesa, para ser libertada e receber quinhentos cruzados para ajudar no seu casamento”. No entanto, “no caso de a dita moça morrer antes de casar, metade da dita prata será entregue à Misericórdia para casamento de órfãos, e outra parte a Isabel Vieira, sua patrona”, a quem pediu “que a trate como até agora tem feito”. “Peço à dita moça que seja obediente a sua senhora e que me confie a Deus”, é acrescentado no testamento de Francisco Fernandes.

23 Out 2024

Comércio | Estudo prevê que plataformas chinesas liderem compras de Natal

Um estudo prevê que uma em cada cinco prendas seja comprada numa plataforma de comércio online chinesa, como a Temu, Shein, AliExpress e TikTok. A investigação da consultora Salesforce realça também a influência global da IA no consumo e do efeito da perda do poder de compra dos consumidores no comércio global

 

Se dúvidas houvesse sobre a presença online cada vez maior das plataformas de comércio chinesas, estas voltam a desvanecer-se com o mais recente estudo da consultora Salesforce, o Salesforce Shopping Index de 2024. As previsões apontam para que uma em cada cinco prendas compradas para o Natal será efectuada em plataformas de comércio online chinesas, como a Temu, Shein, AliExpress e TikTok, que ocupam uma fatia de 21 por cento de vendas, na previsão da Salesforce.

Segundo a consultora, a previsão “reflecte o recente crescimento destas plataformas”, pois “mais de um terço, 35 por cento, dos compradores afirmam que estão a comprar mais nas aplicações nos últimos três meses em comparação com o mesmo período em 2023”.

O estudo dá conta de que “a aplicação a observar mais de perto” nas semanas prévias à época natalícia, quando todos correm a comprar os presentes para os mais próximos, “pode ser o TikTok”, pois “desde a última pesquisa, em Abril de 2024, houve um aumento de 24 por cento no número de consumidores que relatam ter feito uma compra através da aplicação”.

Num mercado que vinha sendo dominado pela Shein, marca de roupa que vende em todo o mundo, ou pela AliExpress, a Temu tem ganho destaque. É difícil pesquisar na Internet sem que nos deparemos com publicidade à plataforma, além de que o seu fundador é o homem mais rico da China, o que demonstra o sucesso do negócio. Colin Huang, com uma fortuna de mais de 50 mil milhões de dólares, conseguiu ultrapassar o anterior homem mais rico do mundo, Zhong Shanshan, dono da Nongfu Spring, empresa de água engarrafada.

Apesar do sucesso, as marcas Temu e Shein têm estado envoltas em algumas polémicas. No caso da Temu, o caso mais recente prende-se com a exigência da Comissão Europeia relativa a informações pormenorizadas sobre a alegada venda de produtos ilegais, as quais tinham de ser enviadas até ontem. Após a análise da informação requerida, a comissão poderá abrir um processo de infracção.

Já a Shein tem sido acusada de copiar o design de roupas, nomeadamente por marcas como a H&M, Ralph Lauren ou Adidas. Mas o mais recente caso, divulgado em Agosto, prende-se com o processo que a própria Shein está a iniciar contra a Temu. A primeira acusa a segunda de roubar designs de roupa e vários segredos industriais, bem como de montar uma “trama” para se infiltrar no mercado dos Estados Unidos da América (EUA), vendendo produtos a preços tão baixos que a própria Temu estaria a perder dinheiro em cada transacção.

Desafios e descontos

Para chegar a estes dados, a Salesforce avaliou os números de mais de 1,5 mil milhões de consumidores em sites de retalho agregados à Salesforce em mais de 64 países. Só nos EUA, a consultora ou os dados de 29 dos principais 30 retalhistas online para estimar aos comportamentos de consumo e as maiores tendências nos mercados.

Para a Salesforce, o período de compras para o Natal deverá arrancar já no dia 1 de Novembro e terminar a 31 de Dezembro. Apesar do crescimento significativo da presença de empresas chinesas no mercado, a verdade é que o índice de compras prevê um “crescimento modesto das vendas”, uma continuação do cenário do ano passado.

“Com 47 por cento dos compradores a dizer que vão comprar a mesma quantidade que no ano passado, e com 40 por cento a comprar menos, o crescimento das vendas nas férias deve ser mais brando do que em 2023, que aumentou três por cento em termos anuais para 1,17 mil milhões de dólares”, pode ler-se.

Para este ano, estima-se que as vendas globais cresçam ligeiramente menos, 2 por cento, nos últimos dois meses do ano, totalizado 1,19 mil milhões de dólares americanos.

Claro que a época de saldos ou descontos especiais poderá ainda potenciar mais as compras. A Salesforce “prevê que as taxas de desconto a nível global aumentem brevemente em Outubro, atingindo um desconto médio de 28 por cento durante a ‘Cyber Week'”, a chamada “segunda-feira cibernética” destinada a compras após o Dia de Acção de Graças, nos EUA, e que decorre a 2 de Dezembro. O índice de compras prevê que só nos EUA a taxa de desconto pode atingir, em média, até 30 por cento.

A consultora destaca a competição como a palavra de ordem para as semanas que antecedem o Natal. “Os retalhistas devem enfrentar uma época de compras mais curta e mais competitiva com descontos”, sendo que os desafios passam pelo facto de “competirem por consumidores com menos poder de compra do que nos anos anteriores”. Neste ponto, a Salesforce salienta para que dois terços dos consumidores de todo o mundo dizem que os preços vão influenciar bastante as decisões na hora de fazer compras este ano. Assim, “à medida que os consumidores procuram as melhores ofertas, os retalhistas podem utilizar descontos fortes e estratégicos para atrair e converter os compradores”, sugere a Salesforce.

O poder da IA

Outro ponto importante deste estudo é o papel que a inteligência artificial (IA) terá no processo de compras, um avanço tecnológico que pode ser aproveitado pelos comerciantes e empresas para terem um melhor posicionamento no mercado.

Segundo a Salesforce, “os retalhistas também podem utilizar a IA para aumentar o número de funcionários, a eficiência operacional, criar relações mais profundas com os clientes e aumentar as margens”, graças à personalização de recomendações de produtos e promoções.

“Esta época será competitiva, intensa e, sem dúvida, centrada nas estratégias de preços e descontos. Nunca foi tão importante aproveitar a tecnologia como a IA e confiar nos dados do cliente para obter orientação e informações internas sobre campanhas de marketing, especialmente o calendário promocional de férias, que mantém clientes fiéis a comprar mais e a comprar desse retalhista”, afirmou Caila Schwartz, directora de Estratégia e Insights do Consumidor da Salesforce.

As previsões mostram que 18 por cento das encomendas globais, durante a época natalícia que se avizinha, sejam influenciadas por uma combinação de IA “predictiva e generativa”, equivalendo a 201 mil milhões de dólares americanos em vendas online.

Além disso, mais de metade dos compradores inquiridos, 53 por cento, afirmam ter interesse em “utilizar a IA generativa como inspiração para comprar o presente perfeito”, enquanto outros preferem comparar preços e definir orçamentos na época de Natal.

Sendo uma empresa virada para o chamado “software on demand”, as informações da Salesforce têm por base sistemas de armazenamento de dados em nuvem como o Commerce Cloud, Marketing Cloud e Service Cloud, resultando em dados agregados de comércio online de 12 mercados principais, onde se inclui a região da Ásia-Pacífico, Japão, países nórdicos, EUA e outros países europeus, nomeadamente Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Espanha, Portugal ou Países Baixos, bem como a Austrália e Nova Zelândia.

22 Out 2024

Droga | Planta canábis em casa e apanha nove anos de prisão

Um residente foi condenado a nove anos e três meses de prisão depois de ter sido apanhado com plantações de canábis em casa. O caso remonta a 2021, quando o homem adquiriu “esporos de canábis e plantou-os na sua residência em Macau conforme as informações da internet”, descreve o acórdão.

Em Março de 2022, com o intuito de expandir a plantação, o arguido arrendou uma fracção de um edifício industrial, tendo “consumido a droga colhida em Macau várias vezes”, além de deter utensílios para consumo. Além disso, vendeu “sem autorização, ofereceu ou pôs à venda a supracitada droga canábis plantada por si a outrem por várias vezes”.

Na primeira instância, o homem foi condenado a 12 anos de prisão, por cúmulo jurídico, pela prática de um crime de “produção ilícita de estupefacientes”, um crime de “tráfico ilícito de estupefacientes” e ainda um crime de “detenção indevida de utensílio”. Porém, na apresentação do recurso para o Tribunal de Segunda Instância, a pena foi reduzida para nove anos e três meses, sendo o homem absolvido do crime de tráfico ilícito de estupefacientes. Não conformados, tanto o homem como o Ministério Público recorreram para o Tribunal de Última Instância (TUI), que resolveu manter a pena.

21 Out 2024

Cláudia Ribeiro, autora: “A Europa parece um museu”

Autora do livro “No Dorso do Dragão”, Cláudia Ribeiro viveu na China nos anos 80, fez investigações independentes no país e algumas traduções de chinês para português. Ao HM, explica que, para perceber a China, é preciso ir além do taoísmo e confucionismo. Cláudia Ribeiro abordou estes temas na última quinta-feira no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa

 

Como começou o interesse pelos estudos asiáticos, sobretudo pela China?

Começou na mais baixa infância. O fascínio com os caracteres chineses começou quando os vi pela primeira vez nos créditos de um filme de animação japonês, “O pequeno príncipe e o dragão das oito cabeças”, de 1963. Devia ter cerca de seis anos e fiquei colada à cadeira, extasiada, a olhar para os caracteres dos créditos. Pouco tempo depois li “O Loto Azul”, a aventura de Tintim na China e, de novo, fiquei fascinada com os caracteres e com a China e os chineses. Mas, já antes dos caracteres, lembro-me de uma arca chinesa lacada na casa de uma velha senhora. Os objectos criados pelos chineses atraíam-me. E japoneses. Quanto aos Estudos Asiáticos enquanto área de conhecimento, era algo totalmente fora do meu radar na época em que ingressei na faculdade. Essa opção, simplesmente, não existia em Portugal e não existiu durante as duas décadas seguintes. Havia um curso livre de chinês na Faculdade de Letras, leccionado por Alexandre Li Ching. Claro que me inscrevi e com uma alegria louca. Nos anos 1980, era o único local em todo o país onde era possível aprender chinês.

Quais as primeiras dificuldades que sentiu quando chegou à China?

As normais com que nos deparamos quando se vai viver para um país diferente pela primeira vez. Encontrava-me numa universidade e, portanto, tinha colegas ocidentais e japoneses que já lá estavam há mais tempo e que transmitiam informação aos novatos. Depois, foi adquirir novos hábitos, estoicos. O que me custou foi o frio, sou africana.

Foi desafiante o contacto com uma cultura e línguas tão diferentes?

Fui para lá precisamente em busca desse desafio. Queria contactar com aquela língua e aquela cultura diferente. Nasci e cresci nos anos finais da Angola colonial, no Lubango. Quando vim para Portugal, durante o processo de descolonização, tive de me adaptar a um país e a um povo muitíssimo diferentes de Angola e dos brancos nascidos na Angola colonial. Sentia uma falta tremenda de viver com outros povos e culturas. Felizmente, Portugal tem-se vindo a tornar num país multi-étnico e multi-cultural, o que é muito mais interessante.

No Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) falou sobre a China como a conheceu, nos anos 80. Como era encarado o estrangeiro nessa época?

Estive na China como estudante de chinês interessada em “viver” o país. Era a era de Deng Xiaoping, uma China a dar os primeiros passos para sair de um nível de vida muito humilde e a pressentir já um futuro diferente, pelo qual os chineses, em especial os jovens, ansiavam com impaciência. Era, por isso, uma época de esperança. Havia maior liberdade de expressão e muitas mudanças a terem lugar a nível económico e cultural.

Como se denotava essa liberdade?

Havia uma abertura, cautelosa, a actuações de músicos pop, como os Wham!, e exposições de artistas contemporâneos ocidentais, como Robert Rauschenberg. Foi a década em que floresceu a arte contemporânea chinesa e em que resmas de livros de filósofos, historiadores e escritores ocidentais eram traduzidas, publicadas e lidas com sofreguidão. Era também uma China onde os chineses ainda não podiam viajar livremente. O seu contacto com ocidentais tinha sido muito limitado e a maioria da população olhava-os como se fossem extraterrestres. A curiosidade por eles era desmedida, sobretudo se fossem americanos. Os chineses gostam da riqueza material e julgavam que todos os americanos eram ricos, como tinham visto na série televisiva “Dallas”. Queriam muito saber se tínhamos carro, frigorífico, televisão e quanto tinham custado. O frigorífico era ainda um luxo e o carro particular um bem muitíssimo difícil de adquirir. Os chineses moviam-se a bicicleta e transportes públicos.

Publicou “No Dorso do Dragão” em 2001, que fala dessa experiência. Que diferenças destaca na China entre a data da publicação do livro e o período actual?

Publiquei, entretanto, uma versão revista desse livro em 2023. “No Dorso do Dragão” foi escrito entre 1995 e 1998, e quando o estava a escrever a China já era diferente daquela em que eu tinha vivido. A China é sempre um mesmo-outro, desenvolve-se por camadas e, se raspamos um pouco, afloramos o seu passado. Há muitos aspectos em que permanece idêntica, e muitos outros em que se tornou diferente. É um país que retirou da pobreza 850 milhões de pessoas em quarenta anos, um feito absolutamente extraordinário e que nunca é demais frisar. Mas o germe da China de hoje, desse país vibrante, cheio de vida e de esperança, que caminha confiante rumo ao futuro, já estava presente nos anos oitenta. Nas cidades chinesas, basta sair para a rua e é palpável uma trepidação, um ímpeto avassalador. Por comparação com os chineses, os europeus parecem zombies, gente mole, refastelada, auto-complacente. E a Europa parece um museu que se exibe sem se renovar.

Até que ponto a filosofia, ou correntes como o taoísmo e o confucionismo, podem ajudar a compreender o sujeito chinês e a sua forma de pensar?

Para tentar compreender qualquer povo há que ter em conta os sistemas de crenças mais decisivos, religiosas e filosóficas, assim como outros factores, a geografia, a história política. É possível compreender os europeus sem compreender o cristianismo, o judaísmo e o islamismo? Não. No caso da China, não só o taoísmo e o confucionismo, como ainda o legalismo e a religião popular, que são autóctones; mas também sistemas de crenças estrangeiros, como o budismo, proveniente da Índia, e o marxismo, proveniente da Europa, e depois o maoísmo. Dominar tudo isso é uma tarefa ciclópica. A China é como um dodecaedro infinito de espelhos.

Portugal continua a não ter muitos sinólogos. Como explica essa questão?

Portugal não tem sinólogos. Um sinólogo é alguém capaz de ler e compreender fluentemente o chinês antigo, com um conhecimento muito profundo e alargado acerca da China clássica. Uma estirpe rara que possivelmente está em extinção no Ocidente. Na maioria das universidades adopta-se o termo Estudos Chineses ou Asiáticos, ou ainda da Ásia Oriental. A explicação pode vir da História, pois os sinólogos, como os cientistas ou os filósofos, não brotam da terra como os poetas populares, os pintores naïfs e os cantadores. Formam-se. A aprendizagem deve ser exigente, começar cedo e avançar sem interrupções. Mas Portugal tem sofrido de uma enorme instabilidade institucional e tudo quanto exige tempo e perseverança acaba por soçobrar. Portugal é um país que se tem esvaziado ciclicamente. Esvaziou-se de população com os Descobrimentos, tornando as instituições periclitantes durante um largo período de tempo. Esvaziou-se de população em Alcácer Quibir, esvaziou-se de população com a imigração e a ida para as colónias, esvaziou-se em extensão geográfica e, simbolicamente, com o desmoronar do império. Agora esvazia-se de jovens promissores. Esta ausência parece ter-se tornado endémica.

Mas há um contacto com a China desde há séculos. O que ficou?

Em matéria de obras científicas, o que resultou da era dos Descobrimentos foram uns poucos tratados dispersos e de cariz coleccionista, dependentes da observação: descrição de espécimes, história natural, botânica. Homens como Garcia da Orta, na área da botânica, Duarte Pacheco Pereira, na área da geografia, e D. João de Castro, na área do magnetismo terrestre, são excepções e não deixaram escola, embora tivessem deixado obra. Mas quem os leria? Só os estrangeiros e o punhado de portugueses que sabia ler. Certo é que o desamor pelos livros está profundamente arreigado nos portugueses. A ausência de livros nas casas dos nobres portugueses sempre chocou os forasteiros. Instalou-se uma desconfiança em relação ao saber teórico quando há problemas imediatos a ser resolvidos, por exemplo, de subsistência económica, como se fosse possível resolvê-los sem teoria. Há uma valorização da aplicação e das actividades práticas. Ora, a sinologia não se pode desenvolver sem um profundo amor pelos livros, desde logo porque os chineses são um povo da escrita e, portanto, da leitura e dos livros.

Isto reflecte-se no que sucede aos estudantes portugueses que se deslocam ao estrangeiro munidos de bolsas para assimilarem o conhecimento que lá fora se faz, coisa que se pratica desde a Idade Média.

Em que sentido?

Os estudantes acabam por ficar lá devido às condições de vida e de trabalho superiores ou, por mais brilhantes que sejam, não correspondem às expectativas quando regressam ao país. E isso porque não encontram estruturas de apoio nem uma sociedade capaz de apreciar aquilo que estudaram. Já os estrangeirados do séc. XIX se debatiam com este problema, com a impossibilidade de aumentar e difundir o conhecimento numa sociedade atavicamente inculta e pouco receptiva ao saber.

Também passou por isso quando voltou a Portugal?

Sim. Nos anos 1980 as pessoas tomavam a minha decisão de estudar chinês e de ir para a China como uma esquisitice incompreensível. E, quando regressei, no início dos anos 1990, deparei-me, é claro, com o mesmo deserto de que partira. Até prosseguir o estudo da língua chinesa era difícil. Só havia aulas de níveis inferiores ao meu. A curiosidade das pessoas pela China era igual a zero. Perguntavam-me “Então, gostaste, não foi?” e tratavam era de falar da vida delas. Quanto aos Estudos Chineses, a questão do estado larvar em que se encontram em Portugal tem muito a ver com tudo isto. Além disso, estiveram subjugados pelo peso do estudo dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa que é limitado a uma Ásia contemplada através dessa perspectiva.

Há cada vez mais estudos sobre a língua e cultura chinesas em Portugal, mas o que precisa verdadeiramente mudar?

Há que resolver uma série de problemas para que se consigam desenvolver plenamente. O investimento na aprendizagem e na formação tem de aumentar, assim como o acesso a fontes de origem asiática e a colaboração com investigadores asiáticos. Em princípio, seria possível agora construir instituições estáveis, um ensino capaz e maduro. Mas, para tanto, é preciso vontade colectiva e quebrar o círculo vicioso da ignorância para que o povo valorize a cultura.

21 Out 2024

Literatura | Lançado “Caril-Diabo”, livro de crónicas do padre Manuel Teixeira

“Caril-Diabo” era um manuscrito inédito do padre Manuel Teixeira que estava à guarda de Jorge Morbey, historiador, e que foi parar às mãos de Jorge Bruxo, antigo docente universitário. Daí até à edição por parte da Lema D’Origem, em Portugal, foi um passo. Eis o novo livro de crónicas do famoso pároco português que viveu quase toda a vida em Macau

 

A referência à comida macaense serve de título ao novo livro póstumo do padre Manuel Teixeira, natural de Freixo de Espada à Cinta, mas que fez de Macau a sua casa. Cronista e autor, sobretudo focado nos temas da história de Macau, Monsenhor Manuel Teixeira deixou nas mãos de Jorge Morbey, historiador e residente do território, um manuscrito com crónicas intitulado “Caril-diabo”.

A obra, lançada este ano pela editora portuguesa Lema D’Origem, constitui, assim, um relembrar dos escritos do padre Teixeira que viveu os principais acontecimentos de Macau no século XX.

António Lopes, editor da Lema D’Origem, contou que teve acesso ao manuscrito graças a Jorge Bruxo, antigo professor universitário em Macau. Trata-se de uma compilação de crónicas publicadas por Teixeira nos jornais locais. “O padre Manuel Teixeira é oriundo de uma vila muito próxima da minha e, tendo a Lema d’Origem uma costela transmontana, não podia deixar de os publicar.”

Para o editor, “é evidente que os textos do Padre Manuel Teixeira são um importante contributo para a compreensão da presença portuguesa no Oriente ao longo dos séculos”.

“Talvez os textos não narrem a história oficial, mas narram, de certeza, os encontros e desencontros da nossa gente nesse longínquo Oriente. O título é do próprio Padre Manuel Teixeira, que o explica logo no primeiro texto. [Caril-diabo] é um prato tipicamente macaense, muito picante, que quando se come apetece praguejar”, explicou ainda.

Palavras acutilantes

As crónicas, segundo Jorge Bruxo, são 355, publicadas ao longo dos anos no Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau. Trata-se de textos “de natureza histórica e um pouco críticas”. “É a pequena história de Macau contada praticamente a partir da fundação de Macau até ao século XX”, descreve o intermediário do livro. “São crónicas acutilantes, estórias que a história não conta, o outro reverso da medalha”, destacou.

Jorge Bruxo adiante que “Caril-Diabo” esteve quase para ser editado nos anos 80, mas acabou por nunca ver a luz do dia. “O livro esteve pronto para ser publicado no tempo do Governador Almeida e Costa, chegou a estar na Imprensa Oficial para uma primeira revisão, mas foi retirado das provas e nunca mais nenhuma entidade pública ou privada se interessou por esta obra. O padre Manuel Teixeira partiu lamentando-se que algumas das suas obras estavam por publicar”, disse Jorge Bruxo.

Falecido em 2006, o pároco Manuel Teixeira foi uma personagem lendária de Macau que, ao longo dos anos em que viveu no território, estabeleceu contactos próximos com as comunidades portuguesa, chinesa e macaense. Falecido em Portugal, passou 76 anos no Oriente, entre Singapura e Macau, para onde viajou com apenas 12 anos para estudar no seminário. Recebeu várias condecorações, nomeadamente a de Oficial da Ordem do Império, Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem Militar de Santiago e Espada.

18 Out 2024

AAM | Defendida actualização do montante pago pelo Governo

O presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM), Vong Hin Fai, defende o ajuste do índice da Função Pública para que a entidade possa arrecadar maiores receitas. “A AAM recrutou pessoal necessário para satisfazer as necessidades de prestação dos seus serviços, actualizou o equipamento e melhorou a divisão do espaço. Estas iniciativas conduziram a um aumento das despesas. No entanto, as receitas estimadas da AAM não registaram um aumento significativo.”

No seu discurso, o causídico recordou que o índice da Função Pública “nunca foi alterado desde 1993, além de que o cálculo “não acompanha o rápido desenvolvimento da associação”. Assim, Vong Hin Fai declarou que vai “manter uma comunicação estreita com o Governo, a fim de obter o apoio financeiro adequado e necessário para fazer face aos desafios colocados pelo futuro desenvolvimento da AAM”.

As receitas da entidade são oriundas da participação em custas judiciais e emolumentos pagos pelos serviços de registo e notariado, sendo o valor calculado igual a 370 vezes o vencimento correspondente ao índice 100 da tabela indiciária aplicável à Função Pública. Actualmente, a AAM tem 444 advogados inscritos e 170 estagiários.

O presidente não deixou de lembrar que “é urgente aumentar o espaço disponível para a AAM a fim de assegurar o seu funcionamento normal e melhorar a qualidade dos seus serviços”. As melhores instalações iriam também servir para a AAM “cumprir de forma ordenada as atribuições dos Centro de Arbitragem e Centro de Mediação e Conciliação que lhe são atribuídas por lei”.

18 Out 2024

Ano Judiciário | Presidente do TUI quer retirar “véu misterioso” da justiça

Song Man Lei, juíza que substituiu Sam Hou Fai na presidência do Tribunal de Última Instância, diz querer apostar no uso da língua chinesa para que “a justiça deixe de estar tapada por um véu misterioso como antes da transferência de soberania”. Já o procurador da RAEM afirmou que foi necessário “purificar a equipa de magistrados e erradicar elementos prejudiciais”

 

A presidente substituta do Tribunal de Última Instância (TUI), Song Man Lei, revelou ontem, na cerimónia de abertura do Ano Judiciário 2024/2025, que pretende apostar na “promoção persistente do uso da língua chinesa” nos tribunais para que “a justiça deixe de estar tapada por um véu misterioso para os cidadãos comuns de Macau, cuja população é predominantemente chinesa, como antes da transferência de soberania”.

Assim, no seu primeiro discurso como presidente do TUI, em substituição de Sam Hou Fai, recentemente eleito Chefe do Executivo, Song Man Lei demonstra que o português é, no seu entender, uma língua de menor utilização na justiça, apesar de ser também o idioma oficial da RAEM.

De resto, a responsável destacou que, nos últimos 25 anos, se tem elevado “a transparência dos órgãos judiciais”, e prometeu promover mudanças no funcionamento do TUI.

“Para acelerar o julgamento dos processos civis, iremos criar um novo Juízo Cível”, disse, o que irá contribuir “para aliviar a carga de trabalho dos juízos existentes, encurtar o tempo de espera para o julgamento dos processos civis e assegurar a protecção atempada dos direitos e interesses do público”.

Ainda na calha, está a possibilidade de criar “o mecanismo de assistente dos juízes do TUI e do Tribunal de Segunda Instância para elevar a qualidade do julgamento”, concretizando “o funcionamento eficiente do processo judicial e aliviar a pressão do julgamento judicial”.

Novos desafios

Na mesma cerimónia, que decorreu no Centro Cultural de Macau (CCM), o Chefe do Executivo ainda em funções, Ho Iat Seng, destacou a importância de reformar o sistema jurídico na manutenção do Estado de Direito.

“As mudanças no ambiente interno e externo trazem novos desafios. São, por isso, imparáveis os passos do aprofundamento da reforma judiciária. É imperioso que continuemos a promover a inovação do sistema e mecanismos judiciários, a elevar a eficiência do funcionamento dos órgãos judiciais, a reforçar a qualidade e deontologia dos profissionais judiciários, a punir severamente a corrupção no sistema judiciário e a assegurar a qualidade dos trabalhos judiciários.”

MP mais limpo

No caso de Ip Son Sang, procurador do Ministério Público (MP), além de destacar a importância de ter uma equipa de magistrados patriotas, lembrou que o “sistema jurídico relativamente aperfeiçoado da RAEM”, regista “insuficiência na sua actualização e modernização, tornando-se necessário apressar a adequação ao posicionamento e exigências do desenvolvimento da RAEM tanto na Grande Baía Guangdong-HongKong-Macau como na Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin”.

O procurador destacou a entrada ao serviço de 18 novos magistrados, tendo em conta a redução de profissionais nestes anos. “Desde 2017 que o número de magistrados efectivos desceu dos 41 para 34 por motivos de aposentação ou saída do serviço. Constata-se que o número dos magistrados afectos ao Serviço de Acção Penal e ao Serviço junto do Tribunal Judicial de Base (Juízos Cíveis, Juízo Laboral e Juízo de Família e de Menores) reduziu dos 17 e 6 para 12 e 5, respectivamente, e que o número médio de processos tramitados por cada magistrado desses dois Serviços no ano judiciário anterior atingiu 1.887 e 484, respectivamente”. Trata-se de números que, para Ip Son Sang, traduzem “uma elevada pressão de trabalho por parte da equipa de magistrados”.

De resto, Ip Son Sang falou da importância de “purificar a equipa de magistrados do MP e erradicar elementos prejudiciais”, tendo sido realizada “uma estreita cooperação com o Comissariado contra a Corrupção”. De frisar que Kong Chi, ex-procurador-adjunto do MP, foi condenado, em Janeiro, a 17 anos de prisão pela prática de 22 crimes de corrupção passiva para acto ilícito, 19 crimes de prevaricação, 7 crimes de violação de segredo de justiça, 3 crimes de abuso de poder, 1 crime de favorecimento pessoal e 1 crime de riqueza injustificada.

Justiça em números (2023/2024)

– 19.239 processos entrados nos tribunais, mais 1.858

– TUI com 132 novos processos, menos quatro face ao ano anterior

– Tribunal de Segunda Instância (TSI) com 998 processos, mais nove

– Aumento, no TSI, de mais 40 casos laborais num só ano

– Tribunais de primeira instância receberam 18.109 processos, mais 1.853. Só o Tribunal Judicial de Base recebeu 11.577, mais 672

– Processos pendentes, até Agosto, 12.379, mais 786

18 Out 2024

Obras públicas | Governo assegura manutenção de pavimentos

Lam Wai Hou, director das Obras Públicas, assegurou ao deputado Leong Hong Sai que é assegurada a manutenção dos pavimentos sempre que se realizam obras viárias. “Esta Direcção de Serviços solicitou ao empreiteiro e à entidade fiscalizadora para prestarem a maior atenção ao estado do tempo.

Caso se verifique qualquer anormalidade nos arruamentos e sapatas durante a execução da obra, os trabalhos serão imediatamente suspensos e serão investigadas as causas do problema e tomadas as medidas correspondentes”, é referido.

Além disso, explicou o dirigente, o Instituto para os Assuntos Municipais realiza duas inspecções por mês à qualidade do pavimento das ruas sob sua gestão. “Caso se verifique qualquer danificação do pavimento, será realizada a devida reparação, com a maior brevidade possível, notificando os serviços competentes, com o intuito de garantir a segurança dos peões e condutores”.

O IAM realiza também, todos os anos e antes da época das chuvas, acções de desentupimento dos esgotos e limpeza dos poços de águas pluviais, refere Lam Wai Hou.

18 Out 2024

Estacionamento | Deputado exige rigor nos preços

O deputado Ngan Iek Hang defendeu, segundo o Jornal do Cidadão, que devem ser definidas de forma mais científica as tarifas a pagar em parques de estacionamento. Tais declarações surgem no seguimento da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) ter dito ao deputado que a existência de baixas tarifas nos parques não beneficia a sustentabilidade do trânsito.

Neste sentido, Ngan Iek Hang defende que a fórmula de fixação de preços tem de ser mais científica e transparente, para que a população tenha a percepção dos critérios utilizados na definição de valores.

O deputado, ligado à União Geral das Associações de Moradores (UGAMM), receia que os novos parques de estacionamento públicos sigam a tendência de aumentar os preços, colocando o preço diurno a oito patacas por hora, e o preço nocturno a quatro patacas por hora, para os automóveis, o que irá aumentar as despesas dos residentes nesta matéria.

Ngan Iek Hang destacou que os parques mais recentes, na Residência para Idosos, no hospital das ilhas ou no parque construído junto à Estrada Governador Albano de Oliveira, já cobram estes preços. Os parques de estacionamento construídos anteriormente custam, durante o dia, seis patacas por hora, enquanto à noite o valor é de três patacas.

O deputado deixou ainda a sugestão de os parques de estacionamento públicos passarem a cobrar tarifas a cada meia hora, ao invés de apenas uma hora, ou então que adoptem o sistema do Interior da China, em que os primeiros 15 minutos são gratuitos, a fim de incentivar a circulação de viaturas.

17 Out 2024

Bombeiros | Aumenta saída de ambulâncias

O Corpo de Bombeiros (CB) registou um aumento anual de 6,6 por cento no número de saídas de ambulância, apontam dados ontem divulgados.

Entre 1 de Janeiro e 30 de Setembro do ano passado registaram-se 31.993 casos que obrigaram à saída de ambulâncias, 34.286 vezes, enquanto em igual período deste ano houve 34.124 casos, nos quais as ambulâncias circularam 36.805 vezes.

Em termos totais, o CB registou, este ano, 40.887 casos, mais cinco por cento em relação a igual período do ano passado, quando se contabilizaram 38.939 casos, desde saída de ambulâncias, incêndios, operações de salvamento e serviços especiais.

17 Out 2024

Vistos | Estrangeiros de Macau podem ficar mais dias no Interior

É mais uma boa notícia para quem deseja explorar a China e viajar para o país com mais frequência: os residentes de Macau com nacionalidade estrangeira podem agora pedir um visto de múltiplas entradas e ficar por lá até um máximo de 180 dias, quando antes esse limite era de 90 dias

 

As autoridades chinesas decidiram alargar o período de permanência no país para quem é residente de Macau e possui nacionalidade estrangeira. Desta forma, passa a ser permitido, tal como antes, pedir um visto de múltiplas entradas com a mesma validade de cinco anos, mas a autorização de permanência no país passa a ser de até um máximo de 180 dias, quando antes o prazo terminava nos 90 dias.

Segundo a informação oficial das autoridades, quem desejar “fazer viagens curtas ao interior da China para turismo, negócios, visitas familiares e outros fins pode solicitar um visto de múltiplas entradas com validade de cinco anos e um período de permanência não superior a 180 dias”.

De acordo com o Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China em Macau, também os mesmos residentes estrangeiros de Macau que solicitarem o visto para a China estão isentos de apresentar bilhetes de ida e volta ou reservas de hotel, documentação que antes era requerida para se obter a permissão de entrada.

Além disso, no que diz respeito às impressões digitais dos visitantes, se as mesmas já tiverem sido recolhidas anteriormente num consulado ou agência de vistos, não vai ser necessária recolhê-las novamente.

Portugal por fim

Este alargamento de permanência surge depois da notícia, divulgada a 30 de Setembro, de que a China irá permitir, até 31 de Dezembro do próximo ano, a visita de estrangeiros sem visto prévio, para estadias de até 15 dias.

Trata-se da extensão a Portugal da política de isenção de vistos para, até agora, 16 países europeus, e na qual Portugal não estava incluído.

A medida, que entrou em vigor esta segunda-feira, foi confirmada em comunicado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês depois da inclusão de países como a Noruega, Eslovénia, Grécia, Dinamarca e Chipre na lista de países cujos cidadãos poderão permanecer no país asiático para turismo, negócios ou trânsito durante 15 dias, isentos de visto.
Recorde-se que vários empresários lamentaram o facto de Portugal ter estado, por bastante tempo, afastado da lista de países isentos de visto, encarando essa questão como um grande entrave para quem quer fazer negócios na China.

Na rede social Linkedin, Bernardo Mendia, secretário-geral da Câmara de Comércio Luso-Chinesa, associou este anterior afastamento ao facto de Portugal não ter aderido à rede 5G. “Perante a ineptidão do XXIV Governo português de levantar o bloqueio económico ao 5G, implementado pelo anterior Governo, que prejudica o interesse português e beneficia interesses não nacionais, é compreensível a exclusão de Portugal”.

Este comentário foi publicado há cerca de duas semanas, depois da China ter anunciado, no dia 28 de Setembro, a inclusão da Eslovénia, Grécia, Dinamarca e Chipre na lista de isenções de visto. Porém, Portugal seria incluído alguns dias depois.

17 Out 2024

Metro ligeiro | Nick Lei exige explicações sobre avarias

Nas últimas semanas, o metro ligeiro registou várias avarias que têm levado deputados a questionar as suas origens. Desta vez é Nick Lei que quer saber o motivo das avarias, afirmando que o público merece ser esclarecido

 

O metro ligeiro esteve algumas vezes sem funcionar nas últimas semanas, primeiro por ocasião da Semana Dourada, a 29 de Setembro, quando foram anunciadas viagens gratuitas, e depois novamente no passado dia 11 de Outubro.

Tendo em conta a proximidade de datas das avarias, o deputado Nick Lei questiona as suas causas. Em declarações ao jornal Ou Mun, este exija que se faça uma investigação ao sucedido e que o público seja informado desses resultados, a fim de evitar que casos semelhantes ocorram no futuro.

Ligado à comunidade de Fujian, de que é representante, o deputado queixa-se do facto de as avarias do Metro ligeiro apenas serem divulgadas e explicadas através de comunicados de imprensa, levando a que a sociedade não tenha conhecimento dos detalhes dos acontecimentos nem consiga acompanhar os resultados da análise ao sucedido.

Nick Lei lembrou que, quando este meio de transporte começou a funcionar, o website da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) divulgava relatórios sobre a operação e quaisquer incidentes registados no metro ligeiro. Porém, não ocorrem actualizações nesse sentido desde Julho de 2020, pelo que o deputado sugere que seja novamente criado um sistema onde se divulguem informações públicas de forma sistemática.

Falta de confiança

Nick Lei pede ainda que, nas explicações fornecidas pelo Executivo, se explique se as avarias se deveram a erros humanos ou defeitos do próprio sistema de transporte.

A seu ver, o facto de as avarias terem ocorrido num curto espaço de tempo só faz com que o público não tenha confiança neste meio de transporte, pois o Metro acaba por não desempenhar as funções que deveria ter. Nick Lei lembrou ainda que, após ser inaugurado, existem ainda poucas linhas em funcionamento, sobretudo na Taipa, e que falta correspondência plena com outros meios de transporte.

No caso da avaria registada antes da Semana Dourada, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, já veio afirmar que se tratou de um problema técnico, que fez parar toda a linha da Taipa.

“O Metro Ligeiro tem um sistema próprio de operação, e as carruagens param quando houver problemas, isso é para garantir a segurança dos passageiros”, disse o responsável, indicando assim que “todo o Metro Ligeiro vai parar quando houver problemas na recepção do sinal”.

17 Out 2024

Literatura | Odes de Luís de Camões traduzidas para chinês

Foi recentemente lançado o livro “Odes de Camões” que reúne 14 odes de Luís de Camões traduzidas por Zhang Weimin. Este é um projecto editorial da plataforma académica “Rede Camões em Ásia e África”, da qual faz parte o tradutor e Filipe Saavedra, coordenador da obra. A tradução dos escritos de Camões para chinês promete não ficar por aqui

 

Nasceu há 500 anos o intérprete maior da língua portuguesa, Luís de Camões, e muitas têm sido as actividades que celebram o poeta que terá passado algum tempo da sua vida em Macau. Um dos últimos projectos realizados, foi o lançamento, no último sábado, de uma obra que revela em chinês todas as odes, ou poemas, da sua autoria.

“Odes de Camões” nasce da iniciativa da “Rede Camões na Ásia e África” (Rede), dedicada a estudar a vida e obra do poeta português, e que tem coordenação de Filipe Saavedra e tradução de Zhang Weimin. Filipe Saveedra é doutor em Estudos Portugueses e História, sendo actualmente docente da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau. Zhang Weimin, por sua vez, é formado em língua portuguesa pelo Bureau de Publicações em Línguas Estrangeiras de Pequim, sendo tradutor de Camões para chinês simplificado.

Numa nota da autoria de Filipe Saveedra sobre o projecto, explica-se que “Camões não se limita ao milagre de ‘Os Lusíadas'”, a sua obra mais conhecida.

“Para valorizar outros géneros que ele soberbamente cultivou, iniciámos, em 2022, a publicação do epistolário camoniano em moldes críticos, com uma edição já considerada indispensável por muitos estudiosos, que é a inédita ‘Carta que um amigo a outro manda novas de Lisboa'”.

Depois seguiu-se o estudo e tradução das Odes de Camões. Este tipo de texto poético vem do período da Grécia Antiga, sendo “uma das mais antigas tradições poéticas do mundo e das poucas que rivalizam com a chinesa em termos de antiguidade”. Terão sido os gregos que, segundo Filipe Saveedra, criaram os primeiros poemas de amor, textos autobiográficos ou confessionais “há quase três mil anos”.

As odes, enquanto género da escrita, constituem “uma revolução na temática dos poetas, até aí ocupados com heróis guerreiros e os seus feitos como fez Homero, ou com amplas questões da vida social e da justiça, como Hesíodo”. Nomes como Alceu e Safo começaram então a escrever poemas centrados “na própria vida e emoções do poeta, que se torna no centro da mundividência a que chamamos lírica”.

No caso das odes escritas por Camões, elas não se centram apenas “no herói em si, mas sim nos contrastes que se estabelecem entre a vida deste e a do poeta, ou pessoas do seu círculo”.

Outro exemplo conhecido da escrita de odes, vem do poeta Horácio, já no período romano, que “retomou temas e formas da ode grega para nos contar a sua própria vida de forma poética”. Após um período de menor produção na Idade Média, as odes voltaram a ter alguma expressão no período do Renascimento, primeiro em Itália, depois em Espanha e Portugal.

Assim, segundo Filipe Saveedra, “é possível que tenha sido Camões o criador da ode portuguesa, inspirado pelas recriações de Bernardo Tasso e de Garcilaso de la Vega”.

A obra lançada no passado dia 12 na Casa Garden inclui, assim, 14 odes da autoria do poeta português, que “homenageiam Orfeu, Safo, Alceu, Píndaro, Horácio, Tasso e Garcilaso”.

Traduções em curso

A Rede da qual faz parte Filipe de Saveedra organizou em Macau, este ano, a primeira celebração a nível mundial dos 500 anos do nascimento de Camões, até porque Macau terá sido o lugar “onde o poeta continuou a composição de ‘Os Lusíadas'”.

Para Junho de 2025, está a ser organizado um próximo congresso que deverá decorrer em Moçambique, local onde “Camões esteve dois anos a aperfeiçoar o seu manuscrito de ‘Os Lusíadas'”. “Se Camões era português, a sua obra é mais abrangente, e ‘Os Lusíadas’ não são apenas a maior obra da literatura portuguesa, mas parte importante das literaturas moçambicana, indiana, indonésia e, claro, de Macau, que se têm apropriado com sucesso, de uma forma ou de outra, deste riquíssimo património”, é referido.

A tradução das odes é “um passo inicial na edição e tradução da lírica completa de Camões”, sendo que o leitor “é auxiliado por paráfrases em prosa poética para a plena compreensão das alusões eruditas”, incluindo ainda notas explicativas em chinês da autoria do tradutor. Zhang Weimin está já a trabalhar na tradução das canções e éclogas de Camões.

Entretanto, os 500 anos do nascimento de Camões continua a ser celebrado em Portugal. Um dos eventos programados, um ciclo de mesas-redondas sobre Camões, acontece na Biblioteca Nacional, em Lisboa, a partir do dia 24 deste mês e estende-se até ao próximo ano.

Filipe Saveedra será um dos convidados para a sessão de 23 de Abril de 2025, intitulada “De Lisboa a Goa: o que contam as cartas de Camões”, ao lado de Maria do Céu Fraga. Rui Loureiro irá moderar a sessão de 22 de Janeiro, intitulada “Camões e o Oriente”.

16 Out 2024

D. Pedro V | “Fado Nosso”, o espectáculo que celebra Amália

“Fado Nosso” já tem alguns anos de existência no leque de produções da companhia de dança Amálgama, mas chega agora a Macau apresentando-se amanhã no Teatro D. Pedro V. Alexandra Battaglia, criadora e directora artística, fala de uma produção que celebra a voz maior do Fado, Amália Rodrigues

 

Desde 2003 que a companhia de dança Amálgama sobe aos palcos para dançar o Fado, a música portuguesa por excelência. “Fado Nosso” não é excepção – nasceu primeiro para ser apresentado no Panteão Nacional, onde repousa o corpo de Amália Rodrigues, considerada a maior fadista portuguesa, mas depois deixou de ser apresentado.

No ano em que se celebra o 25.º aniversário da sua morte, que ocorreu a 6 de Outubro de 1999, o Instituto Português do Oriente (IPOR) decidiu reavivar esta produção da Amálgama, trazendo-a de Portugal para o Teatro D. Pedro V. Alexandra Battaglia, directora artística da companhia e criativa do espectáculo, disse ao HM estar muito satisfeita com esta oportunidade.

“Desde o ano 2000, quando fomos criados, que a fusão entre o Oriente e Ocidente, a espiritualidade natural, o património físico e imaterial são os nossos princípios. Em 2003 começámos a trabalhar o Fado e fomos talvez a primeira companhia de dança a mergulhar numa casa de fados”, contou.

Para a criadora de “Fado Nosso”, o Fado “é um património não só de Portugal, pois quando o sentimos de forma diferente é um património universal da alma, e é já nesse estado que o sentimos e criamos”.

“Temos um percurso de quase 15 anos a dançar o Fado em várias criações. A última criação, pioneira, partiu do convite para criarmos, no Panteão Nacional, um espectáculo focado no tributo à voz do Fado, a Amália. Tem sido um sucesso enorme e só parou com a mudança na direcção do Panteão, e depois apareceu a pandemia. Tudo ficou em suspenso. Era um espectáculo que poderia ficar no Panteão eternamente, que seria sempre um sucesso certamente.”

Agora, em Macau, “Fado Nosso” apresenta-se com diferentes fados que vão contando o percurso de Amália Rodrigues, artista que nasceu pobre, mas que acabou por ter uma carreira de sucesso, também a nível internacional.

“No espectáculo do Panteão tínhamos a música ‘Fado Meu’, mas fizemos a mudança para ‘Fado Nosso’ dada a adaptação a outros espaços. Fazemos um percurso pelas diferentes etapas de Amália. Começa com um fado que é ícone nela, e que para nós permite olhar para a fase mais conhecida da fadista, e vamos depois entrando numa espiral de diferentes fases, que passa pelas paixões, os fados mais sensíveis.”

Depois é a vez de se ouvir e dança “os fados mais populares, como o ‘Barco Negro’, ‘Uma Casa Portuguesa’, entrando depois noutra fase com ‘Foi Deus’ ou ‘Com que Voz’. Temos depois fados que representam a fase da carreira dela mais internacional.”

Acima de tudo, “Fado Nosso” surge “do percurso das criações da Amálgama e dos seus cruzamentos com o património material e imaterial português e da humanidade, nomeadamente com o Fado”. Foi um projecto nascido “da vontade de criar um espaço mais informal, numa espécie de desgarrada e improvisos sobre o Fado que ofereça um encontro entre artistas de diferentes percursos e estéticas no dançar e sentir o Fado”, lê-se na descrição oficial do espectáculo.

Influências orientais

Na Amálgama não se começa a dançar com base num conceito ou numa mera ideia, procurando-se estabelecer uma conexão com o corpo, o espírito, o mundo que rodeia os criadores e os bailarinos. Dentro dos princípios da companhia reside uma conexão com o Oriente, e importa lembrar que a companhia nasceu na Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa.

“Passámos cerca de nove anos a partilhar metodologias entre a nossa formação em dança, com foco na dança contemporânea, com práticas energéticas e criativas que cruzavam o nosso conceito de dança e identidade artística, numa ligação com princípios taoístas e a relação com a natureza.”

Para Alexandra Battaglia, já aí se denotava que a Amálgama, como companhia de dança, “era muito diferente”. “Procurávamos identidade onde a alma estivesse envolvida, para não serem apenas corpos virtuosos com domínio técnico que executavam coisas. Primeiro fazemos uma busca sobre nós, quem somos e onde está a nossa raiz cultural, aquilo que nos toca como seres humanos e portugueses. Esse conhecimento geral partilhado numa companhia de dança vai depois para a essência do que é ser português. Tínhamos bailarinos a cantar Fado e íamos ao sentir o que era isso, o que era essa ‘coisa portuguesa’.”

Mas Alexandra Battaglia tem também uma forte ligação ao território, quando foi convidada em 2011, pelo Instituto Cultural, para criar a Parada Internacional de Macau. “Precisavam de alguém que soubesse trabalhar com a multiculturalidade e que conseguisse juntar o que está em Macau em caixinhas, desde brasileiros, portugueses, macaenses e chineses. Achava que esta miscelânea cultural e magia que Macau me parecia ter estava fundida, mas não. Procuravam então alguém que criasse identidade e desenhasse a parada.”

Primeiro foi realizado um espectáculo para o Festival das Artes em conjugação com todas as associações artísticas do território, num total de 700 artistas, e depois foi criada a parada. “Com isso quis colocar em cada rua de Macau a arte que se faz, o que o grupo tinha para oferecer, para que olhassem para a arte de uma outra maneira, saída do espaço tradicional e colocar na rua, nos jardins, nas esquinas. Queria criar uma viagem em que o público entrava e se encantava por momentos da arte que iam emergindo.”

A Amálgama esteve também ligada à plataforma UnityGate “que visava fazer fluir, a partir de 2011, artistas entre Macau e Portugal”, projecto que tem estado suspenso.

15 Out 2024

Governo | Sam Hou Fai deverá mexer em toda a equipa de secretários

As hipóteses de nomes para integrar o novo Executivo liderado por Sam Hou Fai, eleito Chefe do Executivo no domingo, começam a surgir. Sonny Lo acredita que poderá ir buscar figuras ao sector privado, enquanto Jorge Fão defende que apenas Wong Sio Chak se irá manter na pasta da Segurança

 

Que rostos farão parte do novo Executivo liderado por Sam Hou Fai, candidato eleito para o cargo de Chefe do Executivo e que tomará posse no dia 20 de Dezembro? Dois analistas fazem as suas previsões para uma equipa que, à partida, deverá ser totalmente renovada.

“Acredito que irá substituir toda a equipa, com a excepção, talvez, do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak”, começou por dizer Jorge Fão, dirigente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), e antigo deputado.

Relativamente à área da Economia e Finanças, Fão estima que seja uma personalidade do sector empresarial, “que esteja fora do circuito da Função Pública e que consiga criar riqueza em Macau”, pois o dirigente associativo entende que será necessário alguém que “entenda de economia” para um sector primordial para o território.

“Trata-se do ponto essencial neste momento, não só em Macau, mas também em Hong Kong e na China. A economia chinesa não está num bom momento e em Hong Kong também não. Em Macau, a economia está bem e não está, pois temos os casinos, mas como existe a ideia de diversificar a indústria, as receitas vão baixar, tendo em conta essa diversificação”, explicou.

Jorge Fão estima que haverá mais desemprego com o encerramento dos casinos-satélite, pelo que o novo secretário terá de dar resposta a essa questão sócio-económica. “O Governo vai ter de assegurar novos postos de trabalho, pelo que serão importantes as áreas do emprego e das receitas públicas”, declarou.

Equipa dá o sinal

No caso do analista político Sonny Lo, Sam Hou Fai deverá trazer para a equipa governativa “profissionais do sector privado, a julgar pelos gestores da sua equipa de campanha”.

O deputado Ip Sio Kai, ligado ao sector bancário, foi chefe da sede de candidatura de Sam Hou Fai. Eleito pela via indirecta, através do sector profissional, Ip Sio Kai é, actualmente, vice-director-geral da sucursal de Macau do Banco da China, sendo ainda administrador dos bancos Tai Fung e China Internacional. Lei Wun Kong, que representou Sam Hou Fai, é advogado no escritório Lektou, co-fundado por Frederico Rato.

Acima de tudo, espera-se dos novos secretários “competência e que possam implementar o plano [do futuro Chefe do Executivo] com medidas e mecanismos concretos”, acrescentou Sonny Lo.

O analista entende que não existe no sistema político um problema de liderança pelo facto de muitos nomes oriundos da China continental nos anos 90, e formados na RAEM, ocuparem cargos de funcionalismo público há algum tempo, como é o caso de André Cheong, entre outros.

“Há talentos em Macau que se podem preparar assim que forem identificados como secretários escolhidos”, frisou.

O mesmo não entende Jorge Fão, que considera que ser chefe de direcção é hoje uma tarefa bastante desafiante. “As pessoas que transitaram dos anos 90 para os anos 2000 estão na Administração há mais de 25 anos, alguns saíram e estou convencido de que muitos estão para sair ou não vão ficar muito mais tempo. Hoje em dia estar na Função Pública não é fácil, porque as exigências são muitas e as lideranças são fracas, pelo que as chefias intermédias têm uma responsabilidade acrescida.”

O dirigente da APOMAC destaca que como Sam Hou Fai foi presidente do Tribunal de Última Instância (TUI) nos últimos 25 anos, conhece bem os meandros da Administração, sendo factor preponderante na hora de decidir nomes para governar consigo. “Já viu muita coisa nestes anos e sabe a situação em que se encontra toda a máquina administrativa, que não está oleada.”

Raimundo de saída

Um dos nomes que deverá deixar o Governo será Raimundo do Rosário, que entrou para a equipa de Chui Sai On em 2014, quando este assumiu um segundo mandato. O macaense, formado em engenharia, vinha da Delegação Económica e Comercial de Macau em Lisboa e Bruxelas e tinha nos ombros a responsabilidade de re-organizar os projectos de obras públicas, nomeadamente o do metro ligeiro e habitação pública.

Há quatro anos, o governante admitiu, em pleno hemiciclo, que nunca quis ser secretário por uma segunda vez, já no período de Ho Iat Seng. “Não queria ser secretário há cinco anos e não queria continuar agora, mas em tudo o que faço dou o meu máximo e é o que vou fazer”, assegurou.

Jorge Fão defende que este “vai sair” do Executivo, não conseguindo afirmar se o sector das obras públicas registou uma verdadeira melhoria. “Parece que ele tem dificuldades. Começou bem no Governo, mas agora vejo a área com problemas, pois há projectos que estão fora daquilo que esperávamos. O metro ligeiro é um elefante branco, mas a sorte é termos dinheiro para darmos dinheiro a esse elefante.”

Na área social, Jorge Fão espera um novo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura que dê respostas ao envelhecimento populacional, com o aumento das pensões, defendendo a criação de um modelo de habitação intergeracional.

“Ao invés de se construírem apenas casas para idosos, devem construir casas maiores, sejam sociais ou económicas para várias gerações de uma família, devido à cultura chinesa. As famílias ocidentais não vivem juntas, mas as dos chineses sim.”

Além disso, Jorge Fão diz que essa medida poderia ajudar muitos dos idosos que vivem sozinhos.

15 Out 2024

Doci Papiaçam | Coro actua em Lisboa e volta a juntar comunidade

Quarta-feira foi um dia especial para a comunidade macaense de Macau e a residir em Lisboa: a actuação do coro do grupo Doci Papiaçam di Macau juntou, na Casa de Macau, macaenses e antigos residentes portugueses que quiseram matar saudades do território. Carlos Piteira, presidente da Casa, anunciou que pode ser criado uma extensão dos Doci em Portugal

 

O coro dos Doci Papiaçam di Macau esteve em Lisboa na última semana a convite do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, a propósito das eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas. Porém, a visita serviu de argumento para uma visita de maior importância: a ida à Casa de Macau em Lisboa, actualmente presidida por Carlos Piteira.

Na quarta-feira, ao final da tarde, já se vivia o rebuliço na Casa, localizada na Avenida Almirante Gago Coutinho, com ensaios do coro, as mesas a serem preparadas com petiscos macaenses e membros da comunidade a chegar. Tratou-se de uma actuação que juntou os macaenses que vivem entre cá e lá, no meio de abraços e muitos sorrisos.

Já no dia anterior os Doci tinham actuado no Palácio de São Bento, embora tenha sido “uma actuação muito breve”, com apenas duas músicas, conforme descreveu ao HM Miguel de Senna Fernandes, que se mostrou muito satisfeito por poder cantar numa casa que também é sua e de todos os macaenses.

“Por falta de tempo só podemos cantar duas músicas. Gostámos de conhecer o Palácio de São Bento, porque não conhecia. Penso que as pessoas ficaram maravilhadas, e havia pessoas que não sabiam que em Macau havia este tipo de projectos.”

Do grupo dos Doci vieram a Lisboa apenas alguns integrantes, como foi o caso de Agurtzane Azpiazu, Aleixo Siqueira, Arnaldo Ritchie, Carlos Anok Cabral, Isabela Pedruco, Ivone de Senna Fernandes, José Basto da Silva, José António Carion Jr., Luís Pedruco Novo, Manuel Jesus, Marina de Senna Fernandes e Miguel de Senna Fernandes, Paula Carion e Sónia Palmer.

Trata-se de rostos que habitualmente são vistos em palco nas peças dos Doci, em patuá, mas que agora vestiram a pele de cantores, cantando também em patuá. “As letras e arranjos são meus, mas claro que, obedecendo à tradição antiga, as melodias são conhecidas e fazemos a adaptação. Há uma música do Adé, que é o hino”, disse Miguel.

O espectáculo arrancou com “Nós Maquista Sâm” [Nós Macaenses Somos], uma letra sobre a personalidade dos macaenses, “gente com paixão” e com “bom coração”, apesar das discussões e coscuvilhices. Seguiu-se “Palavra di Amigo”, “Quelôra Sol Ta Quentá” [Quando o Sol Aquece] e a bem conhecida “Macau Sã Assí” [Macau é Assim], cantada por todos os presentes.

Doci em Lisboa

Na apresentação do espectáculo, Miguel de Senna Fernandes, autor das músicas e dos arranjos, bem como das peças de patuá, disse estar “sensibilizado” por poder estar com o grupo em Lisboa.

“Somos um grupo cujos membros, por acaso, também cantam. Já que viemos a Lisboa, porque não fazer uma visita à Casa de Macau. Faz 25 anos que o grupo dos Doci não actua em Portugal, pelo que faz todo o sentido.”

Do lado de Carlos Piteira, destacou-se o facto de o grupo estar naquela que é também a sua casa. “Se tivesse a ideia que a fama dos Doci era esta, teria contratado o Coliseu (risos). A contrapartida é que não vinham à Casa de Macau, e o virem aqui é virem também à vossa casa aqui em Portugal. É um tributo ao patuá, e nós Casa de Macau temos tentado manter este traço identitário paralelamente com a gastronomia. É uma pena estas canções não serem mais divulgadas aqui em Portugal.”

O presidente destacou ainda a ideia de vir a criar em Portugal, mais concretamente em Lisboa, uma extensão dos Doci Papiaçam di Macau. “Ainda não é formal, mas estamos a tentar criar um grupo de patuá também aqui em Portugal”, disse.

No dia seguinte a esta actuação, na quinta-feira, os Doci estiveram junto à Câmara Municipal de Lisboa a cantar em patuá, por ocasião da cerimónia de encerramento das actividades do Conselho das Comunidades, que reuniu durante três dias.

13 Out 2024

Chefe do Executivo | Sam Hou Fai eleito com 394 votos

Apenas duas pessoas das 400 que compõem o colégio eleitoral que elege o Chefe do Executivo não votaram ontem, tendo sido ainda registados quatro votos em branco. Sam Hou Fai assegurou a eleição por volta das 11h, reunindo um total de 394 votos. O ex-juiz, eleito Chefe do Executivo, afirmou que este é o ponto alto da sua carreira

 

Sam Hou Fai foi eleito ontem o novo Chefe do Executivo da RAEM com 394 votos da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, o que significa que duas pessoas não votaram, além de que se registaram quatro votos em branco. Contudo, por volta das 11h o candidato único contabilizava já 201 votos, o que assegurou a sua eleição.

O homem que foi presidente do Tribunal de Última Instância (TUI) nos últimos 25 anos torna-se agora líder de uma região que celebra precisamente este ano o 25º aniversário enquanto RAEM. A candidatura surgiu subitamente após Ho Iat Seng ter desistido de concorrer a um segundo mandato devido a problemas de saúde. A partir daí, o caminho estava feito.

Sam Hou Fai só tomará posse a 20 de Dezembro, precisamente a data do aniversário da RAEM, mas já frisou que este é o momento mais alto da sua carreira. A votação e conferência de imprensa, que decorreram no edifício do Fórum Macau, começou às 10h, sendo que a votação terminou meia hora depois.

O candidato eleito agradeceu também à família, que vive em Macau há cerca de três gerações, tendo destacado que, como governante, vai dar atenção às relações comerciais com os países lusófonos.

Sam Hou Fai disse que “no próximo mandato do Governo temos de estudar bem o conteúdo e funcionalidades da plataforma” comercial em Macau, “promovendo mais a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa”. Prometeu “melhorar a ligação com os países de língua portuguesa” e fortalecer o papel de Macau como “uma ponte para maximizar as vantagens singulares” do território, como um local onde as empresas lusófonas e chinesas podem fazer negócios.

“Ao nos integrarmos e ajudarmos a conjuntura do desenvolvimento nacional, podemos maximizar as nossas vantagens singulares, sendo esse um rumo importante e crucial para o rumo de Macau. A base jurídica do território é o facto de este estar subordinado ao Governo popular, sendo uma região administrativa especial, e o tempo tem mostrado que essa política é muito adequada para o desenvolvimento de Macau”, declarou também.

O novo líder frisou ainda que “no futuro temos de aproveitar bem as nossas vantagens”, explicando que a transição tem sido um sucesso sobretudo devido aos princípios ‘um país, dois sistemas’ e ‘Macau governada por patriotas’.

Parabéns de Ho

No rescaldo da vitória, Ho Iat Seng, que se mantém em funções até 20 de Dezembro, deu os parabéns ao candidato eleito, referindo que Sam Hou Fai “expôs o conteúdo do programa [eleitoral] e ideias de governação aos diversos sectores sociais e aos residentes”, procurando “inteirar-se das condições sociais e ouvindo a opinião pública, o que lhe granjeou amplo reconhecimento e apoio dos diversos quadrantes da sociedade”.

Para Ho Iat Seng, o próximo governante “continuará a promover com sucesso o princípio de “um país, dois sistemas” e a “impulsionar o desenvolvimento da RAEM para um novo patamar”.

De destacar que para a corrida a Chefe do Executivo chegou a estar na calha Jorge Chiang, natural de Macau, com 61 anos e católico, e que denunciou as “famílias poderosas” que dominam certos sectores da sociedade. Porém, o desejo de querer ser Chefe do Executivo caiu pelo caminho.

13 Out 2024

Condomínios | Criadas mais sete empresas de gestão

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram que no espaço de um ano surgiram no mercado mais empresas de administração predial, vulgo gestão de condomínios.

No ano passado eram 235, mais sete face a 2022. Estas entidades empregaram 8.157 pessoas, mais 8,7 por cento em termos anuais, tendo-se registado receitas de 1,92 mil milhões de patacas, uma quebra de 1,3 por cento, observando-se também a mesma queda percentual no tocante às despesas, que foram de 1,79 mil milhões.

A DSEC destaca ainda que as despesas com funcionários representaram 58,8 por cento em termos de proporção de despesas destas empresas, enquanto os custos de exploração representaram 28,3 por cento, sendo estas as proporções mais elevadas do bolo de todas as despesas de condomínio.

No tocante à segurança de edifícios, 2023 registou 60 empresas, menos uma do que em 2022, com 11.184 trabalhadores, menos 2,1 por cento. Na área da prestação de serviços de limpeza registaram-se 353 empresas, mais 29 em termos anuais.

10 Out 2024

Melco Crown | Lawrence Ho recua no investimento no Japão

Numa entrevista à revista Macau Business, Lawrence Ho, CEO da Melco Crown, admite que recuou, para já, de investir no mercado de jogo no Japão, dado o tempo que gastou no processo, sem frutos concretos. Em relação ao City of Dreams Mediterranean, no Chipre, a confiança é grande, apesar dos conflitos no Médio Oriente

 

Lawrence Ho, CEO da Melco Crown, parece ter desistido da ideia de investir no Japão. Em entrevista à revista Macau Business, o empresário, que detém uma das concessões de jogo em Macau, declarou que o longo processo para entrar no mercado de jogo nipónico ainda não deu frutos.

“Estivemos envolvidos no processo [de jogo] no Japão nos últimos dez anos, e investimos muitos recursos nisso. Pessoalmente gastei bastante tempo no Japão, e não penso que o país esteja já no nosso horizonte imediato. Tendo estado envolvido em todo o processo, seria mais cauteloso sobre uma aposta demasiado rápida.”

Em relação ao resort integrado da Melco na Europa, o City of Dreams (COD) Mediterranean, aberto em Julho do ano passado, em Limassol, no Chipre, as expectativas mantém-se elevadas, apesar dos conflitos próximos no Médio Oriente e entre a Rússia e Ucrânia.

“Há muito que acreditamos no Chipre. Ganhámos um concurso competitivo para a obtenção da licença. Temos uma licença de 30 anos para estarmos no Chipre, 15 deles em regime de monopólio. Ganhámos isso em 2016, mas se me dissesse que os nossos principais mercados internos estariam em guerra, teria sido uma espécie de adivinho. Não tivemos sorte”, declarou.

Explicando que o Chipre tem a vantagem da legislação europeia, por fazer parte da União Europeia, Lawrence Ho espera “uma resolução em breve” para os conflitos na região. “Há muitos casinos na Europa, mas não existem resorts integrados. Penso que aquilo que temos para oferecer no COD do Mediterrâneo é mais do que uma experiência de casino, é um resort plenamente integrado com restaurantes, vida nocturna e retalho. Temos sorte de poder estar no Chipre, que é o lugar mais soalheiro da Terra. Há muito para acontecer no COD Mediterranean, e investimos muito aqui a longo prazo”, adiantou.

Lawrence Ho referiu, porém, que não considera “a Europa, como mercado de jogo, como uma região de crescimento rápido”, mas está “muito satisfeito com o investimento no Chipre”.

Expectativas para Macau

Relativamente a Macau, Lawrence Ho desabafou sobre os difíceis tempos da pandemia, em que a empresa teve de recorrer a empréstimos bancários para se manter à tona, aumentando a sua dívida. Na entrevista, o empresário disse mesmo que foi preciso “cortar até ao osso”, pois estava a construir no Chipre e também a Fase 2 do Studio City. “A covid foi mais difícil do que a crise financeira global de 2008-2009”, apontou. “Todas essas dívidas serviram apenas para nos mantermos a funcionar, manter as pessoas empregadas em Macau e continuar a construir a Fase 2 do Studio City. Como estávamos a construir no Chipre também, foram tempos difíceis.”

Sobre Macau, Lawrence Ho disse estar “muito optimista em relação ao quarto trimestre”, admitindo que houve um “recomeço lento” da empresa no período pós-covid. “Fizemos algumas mudanças na estrutura organizacional e também ao nível da gestão. Tivemos de fazer coisas muito difíceis no período covid, mas agora estamos de regresso e plenamente de forma competitiva, trazendo pessoas da área da gestão que tínhamos afastado no período covid. Vamos ter a recompensa de tudo isto neste quarto trimestre. Em 2025 vamos continuar a crescer de forma estável, mas o que seria incrível é se a economia chinesa crescesse ainda mais.”

Afirmando ter “muita sorte” por poder operar em Macau desde a liberalização, tendo em conta que é “o maior mercado com maior crescimento dos últimos 50 anos”, o empresário diz não ter medo da competição asiática.

“Vai sempre haver competição na Ásia. Singapura certamente que constitui uma competição em relação a Macau, mas no futuro, assim que o Japão abrir [para o mercado do jogo], vai ser também um forte competidor. Já existe debate em torno da Tailândia e jurisdições mais pequenas como o Cambodja, Vietname e Filipinas. Mas a grande vantagem de Macau é ter 1.4 mil milhões de chineses do outro lado da fronteira. Não penso que as regulações sejam excessivas.”

10 Out 2024

Semana Dourada | Sector do turismo satisfeito com resultados

A Semana Dourada, recentemente terminada, é a prova de como o sector do turismo voltou aos seus tempos áureos. Associações dizem-se satisfeitas com os resultados, que foram de encontro às expectativas, tendo em conta os recordes batidos

Foto de Rómulo Santos 

 

Terminada na segunda-feira, a Semana Dourada deixou nas associações do sector do turismo sinais de optimismo. Segundo o jornal Ou Mun, as reacções foram positivas face ao número de visitantes, que bateu recordes em alguns dias ou a taxa de ocupação hoteleira. O balanço foi apresentado em conferência de imprensa pela Associação dos Hoteleiros de Macau.

Na apresentação, destacou-se o facto de, no dia 3, ter sido registado um total de 174,5 mil entradas de visitantes no território, um novo recorde diário. Citado pelo mesmo jornal, Cheung Kin Chung, presidente da associação, lembrou que, em média, Macau recebeu 158 mil turistas nos primeiros cinco dias da Semana Dourada, o que demonstra que o panorama geral do turismo é bom, com Macau a ser beneficiado pelas políticas de Pequim nesta área.

Já Lou Chi Leong, vice-presidente da associação, recordou que não só o volume diário de turistas nos feriados ultrapassou as previsões, como a taxa de ocupação hoteleira foi além dos 90 por cento, correspondendo também às expectativas do sector para estes dias. Relativamente ao preço médio dos quartos, foi igual ao registado na Semana Dourada de 2019.

Zhu Nanying, vice-presidente da associação, apontou que a grande maioria dos visitantes foram turistas individuais e não excursões, que registaram um número estável. A responsável lembrou que as excursões ocorreram sobretudo nos dias 2 e 5 de Outubro, tendo sido elogiada a boa preparação de passeios e demais logística por parte dos excursionistas. Para o sector do turismo, este foi o ano com maior sucesso em termos de organização de excursões.

Boas previsões

Na mesma conferência de imprensa da Associação dos Hoteleiros de Macau, houve ainda espaço para previsões sobre o quarto trimestre. Cheung Kin Chung prevê um melhor desempenho do mercado, e apontou que o sector vai continuar a organizar acções de formação para os empregados.

Zhu Nanying defendeu que o Governo deve realizar mais acções para atrair turistas internacionais, nomeadamente através da medida de oferta de bilhetes de autocarro e ferry, que poderia ser estendida.

Além desta iniciativa, a vice-presidente apontou que podem ser lançadas ofertas na área do alojamento, dando apoios às agências de viagens para que criem acções de campanha na busca de turistas internacionais.

Em termos do panorama de recursos humanos na área do turismo, Zhu Nanying disse estar satisfeita porque há mais pessoas a trabalhar como guias turísticos, destacando, porém, a falta de motoristas de autocarros turísticos, esperando que o Executivo possa também dar mais apoio nesta matéria.

9 Out 2024

Eleições | Sam Hou Fai quer aproveitar terrenos na Taipa

Em mais uma acção da campanha eleitoral para o cargo de Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, único candidato, visitou alguns bairros na Taipa e prometeu que os terrenos nesta zona serão melhor aproveitados pelo novo Governo. Sam Hou Fai deixou ainda promessas de melhorias no trânsito

 

Os bairros comunitários da Taipa foram o lugar escolhido por Sam Hou Fai, candidato único ao cargo de Chefe do Executivo, para mais uma acção de campanha ocorrida ontem. Deste encontro com a população, ficou a promessa de um melhor aproveitamento de terrenos no futuro, quando formar um novo Executivo.

“Caso seja eleito iremos recolher opiniões de uma forma geral sobre o aproveitamento de terrenos. Temos aqui muitos espaços de boa qualidade que podem ter maior funcionalidade, nomeadamente como centro de transportes, espaços de lazer ou instalações desportivas”, declarou aos jornalistas.

Sam Hou Fai, que durante 25 anos foi presidente do Tribunal de Última Instância (TUI), reconheceu que a ilha da Taipa é hoje uma zona densamente povoada, sobretudo por famílias de classe média, conforme o último recenseamento.

“A Taipa tem cerca de 116 mil habitantes, sendo que 90 mil moram no centro. Cada família a morar na Taipa tem um rendimento médio de cerca de 82 mil patacas, sendo que, na península, as famílias têm um rendimento médio de 58 mil patacas, aproximadamente”, explicou.

O candidato lembrou que, nas últimas décadas, a Taipa desenvolveu-se bastante, sendo hoje uma zona mais movimentada do que a zona norte da península de Macau.

Trânsito a fluir

Na visita à Taipa, não faltaram questões sobre como melhorar o trânsito numa zona densamente povoada. Tendo sido questionado sobre a possibilidade de se construir uma ligação entre o sistema pedonal da Avenida de Guimarães, na Taipa, e o complexo de habitação pública no Edifício do Lago, o candidato a Chefe do Executivo prometeu analisar o assunto no futuro.

Sam Hou Fai defendeu que o sistema pedonal na zona deve ser melhorado, a par da conexão com o metro ligeiro, autocarros e táxis, devendo ser feito um maior esforço para melhorar as zonas em que as pessoas podem andar a pé. Para isso, lembrou o candidato, deve ser garantindo um equilíbrio para assegurar o conforto dos transeuntes e demais passageiros, para que não haja um impacto negativo na vida dos moradores da zona.

Esta segunda-feira, a campanha de Sam Hou Fai passou ainda pela Associação de Dotados de Macau, tendo sido partilhadas “informações sobre a educação dos alunos dotados”, além de serem apresentadas “sugestões para a optimização da política e apoio educativos” dos alunos com maiores capacidades, a fim de promover “a formação de talentos em Macau”, destaca uma nota.

9 Out 2024

Musical | CCM acolhe “João e o Pé de Feijão” em Dezembro

Chama-se “João e o Pé de Feijão” e é a nova aventura musical contada aos mais novos no Centro Cultural de Macau. Em Dezembro, sobe ao palco o espectáculo que é uma readaptação de um clássico por uma companhia japonesa, o Teatro Hikosen. Com recurso a marionetas, personagens como a harpa mágica ou a galinha dos ovos de ouro ganham outra dimensão

 

“Quanto a João e à mãe, foram muito felizes daí em diante. E, com uma galinha a pôr ovos de ouro e uma harpa a tocar sozinha, nunca mais foram pobres”. É desta forma que começa a história de encantar, numa espécie de conto de fadas para crianças, “João e o Pé de Feijão”, mundialmente conhecida e traduzida para várias línguas, a partir do original em inglês.

É esta história que dá o mote para o próximo espectáculo a subir ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) entre os dias 13 e 15 de Dezembro, graças à readaptação da história pela companhia japonesa Teatro Hikosen, que trará a sua marca artística a Macau, marcada pelas marionetas.

Segundo uma nota do Instituto Cultural (IC), esta é uma “aventura musical dirigida ao público infantil”, contando-se esta história de encantar “através de grandes marionetas, incarnadas por um experiente elenco”.

“A companhia japonesa leva à cena um conto que tem encantado inúmeras gerações com uma série de personagens bem conhecidas, desde a harpa mágica à famosa galinha dos ovos de ouro. Através de cantigas e movimentos de dança, esta versão, um pouco diferente da original, conta a história de um bom menino que, a caminho de vender a vaca da família, se torna amigo de uma princesa”.

Desde o século XIX

Popularizado em todo o mundo, o conto “João e o Pé de Feijão” tem “resistido ao teste do tempo, sendo transmitido de boca em boca ao longo de milhares de anos através de histórias contadas tradicionalmente e, mais tarde, nas páginas de livros infantis”.

A versão mais popular deste conto foi publicada na colectânea “Contos de Fadas Ingleses”, escrita por Joseph Jacob em 1890. Porém, a versão mais antiga que se conhece é da autoria de Benjamim Tabart, de 1807. Tendo sido recriado em inúmeras versões, dos desenhos animados aos filmes, o conto inspirou o Teatro Hikosen a reinventar o clássico.

O Teatro Hikosen nasceu em 1966 no Japão, tendo já percorrido o mundo com as suas coloridas máscaras, figurinos e adereços. Esta não é a primeira vez que o grupo actua em Macau, apresentando sempre espectáculos dirigidos a um público jovem e às suas famílias. No caso de “João e o Pé de Feijão”, será uma peça dobrada em cantonense e legendada em inglês e chinês, sendo que os bilhetes já estão à venda desde o dia 29 de Setembro.

8 Out 2024

Wynn Resorts | Atribuída primeira licença nos EAU

A operadora de jogo Wynn Resorts, sediada em Las Vegas, obteve a primeira licença de jogo nos Emirados Árabes Unidos (EAU), atribuída pela Autoridade Reguladora Geral de Jogos Comerciais do país, foi noticiado pela agência Reuters.

Em causa, está a construção de um resort de luxo na ilha Wynn Al Marjan, em Ras Al Khaimah, tratando-se de um projecto no formato joint-venture entre a Wynn Resorts e as empresas Marjan e RAK Hospitality Holding. O gabinete de comunicação do governo de Ras Al Khaimah, RAKTDA, e a RAK Hospitality Holding não responderam aos pedidos de comentário da Reuters.

Em Setembro, os EAU criaram uma entidade federal para a regulação do sector do jogo, tendo sido contratados especialistas veteranos da indústria do jogo dos EUA, sediada em Las Vegas, para acompanhar os trabalhos. Assim, escreveu a Reuters, colocou-se um ponto final a anos de especulação se o país iria ou não ter jogo, uma vez que é ilegal em toda a região do Golfo.

As medidas para permitir o jogo têm como pano de fundo a intensificação da concorrência económica no Golfo, especialmente com a Arábia Saudita. No mês passado, os EAU introduziram uma série de reformas legais liberais, numa tentativa de manter a sua posição de centro comercial, turístico e financeiro da região.

8 Out 2024

Eleições | Sam Hou Fai acaba com audiências públicas

O candidato único ao cargo de Chefe do Executivo declarou ontem que não lançará mais audiências públicas, sugerindo ter pouco tempo em agenda e que a população pode apresentar as suas opiniões por vias alternativas. Sam Hou Fai voltou a referir que já percepcionou mais a sociedade em poucas semanas do que em 25 anos como juiz

 

Decorreu ontem, nos bairros do Porto Interior e Praia do Manduco, mais uma acção de campanha de Sam Hou Fai, único candidato ao cargo de Chefe do Executivo, que declarou aos jornalistas que não irá realizar mais audiências públicas de auscultação de opiniões e sugestões dos residentes.

“Tenho um calendário apertado e preciso ainda de visitar e ouvir as vozes de pessoas de outras indústrias e em outros bairros”, justificou. Sam Hou Fai acrescentou ainda que há meios alternativos para acolher as opiniões da sociedade além da audiência pública.

“O nosso website oficial da candidatura acolhe quaisquer opiniões da população, e temos ainda outros meios como a entrega de cartas, e através de associações, para que estas opiniões possam ser expressas”, acrescentou.

De frisar que, na última semana, o jornal All About Macau escreveu uma reportagem sobre alegadas dificuldades de acesso a estas audiências públicas, pois havia apenas 400 vagas, sendo necessário aos restantes residentes inscreverem-se para participar num sorteio de vagas.

Outro exemplo destacado pelo jornal digital, prende-se com o facto de apenas alguns meios de comunicação social terem recebido convites para a apresentação na última audiência pública.

11 perguntas

No sábado, decorreu uma audiência pública em que estiveram presentes 400 cidadãos, sendo que, segundo um comunicado, 11 participantes fizeram perguntas a Sam Hou Fai depois de participarem num sorteio.

“Sam Hou Fai respondeu a cada uma das questões apresentadas pelos cidadãos, trocando com eles opiniões sobre as ideias de acção governativa. Entre os principais temas de interesse dos cidadãos estão a governação pública, o ingresso e a promoção dos funcionários públicos, formação de talentos, a habitação, transportes e serviços médicos”, pode ler-se.

O candidato prometeu “consolidar a posição de Macau como Centro Mundial de Turismo e Lazer”, bem como “aperfeiçoar projectos de investimento não relacionados com o jogo”. Sam Hou Fai não esqueceu as questões sociais e prometeu “melhorar a afectação de recursos médicos e elevar o nível de educação”, entre outras promessas.

No final, o candidato confessou que já aprendeu mais sobre a sociedade de Macau nas semanas de campanha do que nos anos em que foi juiz, 25 deles na presidência do Tribunal de Última Instância. “Nos 30 anos que tenho de carreira não conheci bem a sociedade, mas agora estas visitas têm compensado esta lacuna, sobretudo nas áreas da economia, bem-estar, trânsito e o panorama geral da cidade”, acrescentou. Sam Hou Fai deixou a promessa de visitar também as ilhas de Taipa e Coloane para se inteirar melhor dos assuntos mais prementes em Macau.

7 Out 2024