Habitação económica | Candidatos exigem investigação a preços

Um grupo de candidatos a casas económicas entregou ontem uma carta ao Comissariado contra a Corrupção a pedir uma investigação aos preços dos imóveis. Acompanhados pelo ex-deputado Au Kam San, os residentes alegam irregularidades na definição dos montantes

 

Foi ontem entregue no Comissariado contra a Corrupção (CCAC) uma carta de residentes candidatos a habitações económicas no concurso de 2019 por considerarem que houve irregularidades na definição dos preços das casas. A carta endereçada a Chan Tsz King, comissário do CCAC, pediu a abertura de uma investigação ao processo.

Os residentes descontentes foram acompanhados pelo ex-deputado Au Kam San, que afirmou no acto de entrega que as queixas se prendem com receios de ilegalidades ou irregularidades do ponto de vista administrativo. “Os candidatos querem que o CCAC investigue se o aumento dos preços das casas foi feito conforme a lei, porque têm dúvidas que tenham sido decididos tendo em conta a capacidade de compra dos potenciais beneficiários”, explicou.

Au Kam San disse que o aumento do preço das casas económicas, que ronda os 73,7 por centro face aos preços praticados em concursos anteriores, não é razoável e ultrapassa bastante o poder de compra dos candidatos. “É questionado um aumento dos valores superior a 70 por cento. A taxa de inflação acumulada registada entre os anos de 2013 e 2019 foi de cerca de 20 por cento, mas a subida do preço da habitação económica foi de 70 por cento”, exemplificou.

A carta endereçada ao CCAC descreve ainda que o preço médio da habitação económica, no concurso de 2013, foi de 1.900 patacas por pé quadrado, enquanto no concurso de 2019 passou para 3.300 patacas. “A mediana do rendimento mensal dos residentes com emprego manteve-se este ano nas 20 mil patacas, não houve aumento. No mesmo período, o índice de preços à habitação diminuiu, pelo que não entendemos a decisão da subida dos preços para as candidaturas à habitação económica de 2019”, pode ler-se.

Recorde-se que a 31 de Janeiro deste ano o Instituto da Habitação anunciou que o preço médio dos apartamentos de habitação económica do concurso de 2019 é de aproximadamente 35.600 patacas por metro quadrado, o que significa 3.300 patacas por pé quadrado.

Dilemas que se colocam

Um residente que participou na entrega da carta, de apelido Ho, confessou estar num dilema quanto à compra da casa. “Os novos preços são demasiado altos para mim. Preciso falar com a família para ver se compramos mesmo esta habitação ou não.”

Em Março deste ano um grupo de candidatos também se queixou do aumento dos preços, mas o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, respondeu que a fixação de preços foi feita segundo a lei.

Ontem, Raimundo do Rosário revelou que os projectos da habitação económica para a candidatura de 2019, que se situam na Zona A dos Novos Aterros, ficarão concluídos este ano. O Governo prevê que os moradores possam começar a viver nos novos apartamentos no próximo ano.

12 Abr 2024

Governo avança com plano pormenor da Taipa Central

O Governo vai avançar com o plano pormenor para a urbanização da zona da Taipa Central, projecto relacionado com o Plano Director da RAEM. Segundo um despacho publicado ontem em Boletim Oficial (BO), determina-se a “elaboração do projecto” relativo ao “Plano de Pormenor da Unidade Operativa de Planeamento e Gestão Taipa Central – 2”, pretendendo-se “estabelecer regras para uma intervenção integrada de planeamento na área abrangida”.

O Executivo tem como objectivo melhorar “as condições de habitabilidade do bairro comunitário, bem como dos equipamentos e instalações complementares de utilização colectiva e de transportes”. Segundo o Plano Director da RAEM, pensado para os anos de 2020 até 2040, e que entrou em vigor em 2022, a zona da Taipa Central tem uma área de 0,9 quilómetros quadrados, onde residem cerca de 68 mil pessoas.

Mais e melhores acessos

A maior parte dos terrenos são destinados a habitação e a área, segundo as previsões do Executivo, deverá permanecer inalterada, estando previsto apenas um ligeiro aumento da população devido ao desenvolvimento da povoação de Cheok Ká.

O relatório técnico adjacente ao Plano Director determina o reforço dos acessos ao Parque Central graças à implementação de mais equipamentos e infra-estruturas de utilização colectiva, sem esquecer a construção de um novo sistema de mobilidade ligado aos transportes públicos existentes, nomeadamente o metro ligeiro, autocarros e zonas pedonais.

De frisar que na zona da Taipa Central encontram-se ainda alguns espaços culturais classificados, como o Templo de Kuan Tai e Tin Hau, pelo que os projectos de planeamento urbanístico para estes imóveis necessitam da análise do Instituto Cultural.

Depois de muitos anos de planeamento e discussão, o Plano Director foi implementado em 2022, com o objectivo de planar o “ordenamento do espaço físico de todo o território da RAEM”, bem como a definição das “condições de uso e aproveitamento dos solos” e a “organização racional das infra-estruturas públicas e dos equipamentos de utilização colectiva”. O Plano Director dividiu a península de Macau e ilhas em “Unidades Operativas de Planeamento e Gestão”, sendo que a cada uma irá corresponder um plano pormenor de urbanização.

11 Abr 2024

RAEM, 25 anos | Académicos debatem passado e presente de Macau

Decorre hoje na Universidade de Lisboa uma conferência que recorda os 25 anos da transição da administração portuguesa de Macau para a China. Três académicos analisam o legado deixado pelos portugueses, o rumo da língua portuguesa no território e o futuro da comunidade macaense

 

O Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa (UL) acolhe hoje uma conferência que celebra os 25 anos da transferência de administração portuguesa de Macau para a China e também os 45 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a China.

Francisco José Leandro, académico da Universidade de Macau (UM), que será um dos oradores, defendeu ao HM que “o legado mais importante deixado por Portugal foi o facto de ter negociado uma solução diplomática aceitável, progressiva e capaz de se adaptar à evolução dos tempos”.

Esse legado teve a capacidade de “aproximar Portugal e a China num processo de cooperação continuada e profícua para ambos os estados soberanos”. Para o académico, o processo de transição constituiu “um verdadeiro exemplo de diplomacia reconstrutiva de um legado histórico complexo, transformado num símbolo de futuro”.

Cátia Miriam Costa será outra das oradoras convidadas e, desafiada a fazer um balanço da implementação da Lei Básica da RAEM, apontou que “deve existir um acompanhamento de eventuais novas interpretações dos direitos civis assegurados” no período da transição, à luz da Declaração Conjunta assinada em 1987.

Sobre o que de mais importante os portugueses deixaram na RAEM de hoje, a académica, ligada ao ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, declarou que, do ponto de vista do território, o maior legado foi “encontro pacífico e prolongado de culturas que gerou um território atípico em qualquer parte do mundo”. Contudo, do lado da China, o mais importante é mesmo “a conexão de Macau às culturas lusófonas e a uma maior facilidade de conexão com os países de língua portuguesa, além da existência de um território chinês com características próprias que o diferencia de todos os outros e potencia o desenvolvimento de actividades diversas das existentes noutras partes do território chinês”.

Finalmente, a académica entende que, para Portugal ficou o impacto positivo da “conexão permanente com a China que Macau providenciou”. Trata-se de um legado “com uma função mais dinâmica, se pensarmos no que foi a presença portuguesa no mundo”.

Uma reflexão

Carlos Piteira, presidente da Casa de Macau em Portugal e antropólogo, também será orador na conferência do ISCSP. O responsável pensa que a interpretação do panorama de interpretação da Lei Básica “assume diferentes perspectivas”, pois “à luz da integração de Macau na China continua a haver uma realidade local que mantém o princípio de ‘um país, dois sistemas’, ou, no mínimo, um espaço social e político diferenciado”. O macaense entende ainda que o legado que os portugueses deixaram no território depois de 1999 assenta “na dimensão patrimonial e nas potencialidades de elevar Macau como espaço singular da lusofonia”.

Estudioso das questões da identidade macaense, Carlos Piteira está a desenvolver um estudo sobre esta matéria à luz dos novos tempos e tendo em conta o “conflito dos paradigmas identitários”, pois o mais provável é que haja, na comunidade macaense, “uma ramificação entre o passado e o futuro”, sendo este o “desafio colocado na [necessidade] de reinvenção do futuro”.

E o português?

Após 1999 continuou a ensinar-se a língua portuguesa em Macau, embora seja pouco falada no dia-a-dia. Nesse sentido, Carlos Piteira considera que o futuro do idioma depende da sua “componente económica”, sendo esta “reforçada pelos chineses que a queiram utilizar”.
Cátia Miriam Costa destaca o trabalho feito por muitas entidades privadas, como o Instituto Português do Oriente ou a Fundação Rui Cunha, para que se fale mais a língua de Camões no território. “A língua portuguesa aumentou o seu número de falantes na RAEM, se bem que como língua estrangeira. A sua preservação e manutenção está de boa saúde, o que é tributário de iniciativas públicas e privadas com origem em Portugal, China e Macau”.

Além dos oradores mencionados, a palestra de hoje inclui ainda a participação de Carmen Amado Mendes, presidente do Centro Científico e Cultural de Macau, e Heitor Romana, assessor do ex-Governador Rocha Vieira em Macau e actualmente professor catedrático no ISCSP. A moderação está a cargo do académico Nuno Canas Mendes, também ligado ao ISCSP. Incluem-se ainda na palestra os painéis “45 anos de Relações Diplomáticas Portugal-China” e “Futuro da Cooperação Portugal-China”.

11 Abr 2024

Aterro-lixeira | Joe Chan desapontado com o Governo de Ho Iat Seng

O activista ambiental Joe Chan entregou em Fevereiro uma petição ao Governo contra a construção do aterro-lixeira ao largo das praias de Coloane, mas até à data não recebeu resposta. O presidente da Macau Green Students Union está “desapontado” com o rumo da governação de Ho Iat Seng e a sua posição inflexível face a críticas

 

Joe Chan, activista ambiental e presidente da Macau Green Students Union, disse ao jornal online All About Macau estar “desapontado” com a forma como o Executivo de Ho Iat Seng está a gerir determinados dossiers e a governar. Em causa está o projecto de construção de um aterro a sul de Coloane destinado a resíduos de construção urbana, a que o Governo chama “ilha ecológica”, que levou a associação a apresentar uma petição contestatária. Até à data, o Governo ainda não deu uma resposta.

“Quando entregávamos petições aos anteriores Governos éramos contactados pelos serviços públicos, mas o actual Chefe do Executivo tem uma atitude firme e ignora as nossas opiniões. É algo que nos surpreende. A sua atitude também demonstra que não dá atenção às nossas posições, nem disponibiliza informações [sobre os projectos], o que nos assusta”, frisou.

Joe Chan teme que a postura assumida quanto à “ilha ecológica”, que na sua visão pode danificar o meio ambiente da zona, se possa verificar em políticas futuras do Executivo. “Esta forma de governar é horrível e estou muito desapontado”, disse.

Muitas dúvidas

A petição de Joe Chan foi entregue em Fevereiro e tinha 1600 assinaturas contra a construção do aterro-lixeira junto às praias em Coloane.
O activista destacou ainda a posição de Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, que explicou que o projecto do aterro foi desenvolvido por especialistas. Neste contexto, Joe Chan recordou ainda que Mak Hei Man, vice-presidente da Sociedade de Conservação dos Golfinhos de Hong Kong, defendeu que a posição assumida pelo secretário não significa a suspensão ou cancelamento do projecto do aterro-lixeira.

Joe Chan concorda com Mak Hei Man quanto à postura inflexível demonstrada pelo actual Executivo, apesar do descontentamento social face ao projecto. “Tínhamos [na petição] cerca de 2000 assinaturas da população e, no nosso website, também registámos mais de 2000 assinaturas.”

O activista entende que há ainda muitas dúvidas em torno do projecto e que merecem ser esclarecidas publicamente, além de defender que todo o processo tem falta de transparência. Para Joe Chan, o Governo desenvolveu o projecto de forma selectiva, com uma consulta direccionada só para alguns especialistas, a fim de colher apoios ao invés de contestação.

A apresentação da “ilha ecológica” pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) também não convenceu Joe Chan. “A apresentação de muitos dados não explica o contexto. Por exemplo, porque é que a ilha ecológica terá aquela forma e tamanho? Isso não é devidamente explicado.”

Ho Iat Seng referiu que foi o Governo Central a decidir a localização do aterro, mas Joe Chan entende que é necessário que Pequim considere primeiro a avaliação do impacto ambiental elaborada por Macau antes de implementar o projecto.

Neste sentido, Mak Hei Man disse que a ordem vinda de Pequim já constitui um problema, pois o projecto da ilha ecológica foi anunciado e só depois é que foi desenvolvido um relatório de impacto ambiental para aquela localização específica.

Joe Chan queixou-se ainda do facto de o Executivo ter contratado a Universidade Sun Yat-sen para analisar a situação dos golfinhos brancos chineses nas águas de Macau, questionando por que não terá requisitado à mesma instituição um estudo sobre o aterro-lixeira nas águas ao largo de Coloane.

11 Abr 2024

Turismo | Lei das agências de viagem votada amanhã no hemiciclo

A nova lei das agências de viagem e da profissão de guia turístico foi admitida para votação e análise no hemiciclo e traz a possibilidade de não-residentes serem guias, além de simplificar o processo de licenciamento de agências. A proposta de lei é votada amanhã na generalidade

 

Os trabalhadores não-residentes (TNR) poderão exercer a profissão de guia turístico no território. É esta a vontade do Governo expressa na proposta de lei relativa ao regime jurídico das agências de viagem e da profissão de guia turístico que, após duas revisões, em 2004 e 2016, vai agora ser novamente revista. O diploma foi admitido na Assembleia Legislativa (AL) e será votado amanhã na generalidade.

Na nota justificativa da proposta, o Executivo expressa que, “em resposta às necessidades de mercado, a proposta de lei prevê que possa ser requerida a contratação de TNR que possuam qualificações adequadas para o exercício da profissão de guia turístico, ao abrigo da legislação da contratação de TNR”.

Tal deve acontecer “em situações de inexistência ou insuficiência de guias locais fluentes numa determinada língua estrangeira”.
Ainda no que diz respeito aos guias turísticos, o Governo decidiu ajustar “as disposições relativas à sua deontologia profissional, a fim de garantir uma melhor prestação de serviços”. Além disso, a proposta de lei fala na “obrigatoriedade de os serviços serem prestados pelas agências receptoras em todas as viagens por adesão realizadas na RAEM, sempre que estas sejam organizadas por outra agência ou por outra agência de viagens de fora da RAEM”. Esta medida surge para combater “os casos de grupos turísticos vindos do exterior sem o acompanhamento de um guia turístico local”.

O Governo decidiu também, devido “à pouca procura”, deixar de emitir ou renovar os cartões de transferista, ou seja, os profissionais que acompanham turistas entre transportes e alojamento. Assim, será criada uma disposição transitória para quem ainda tem o cartão válido, sendo que estes titulares terão de fazer o pedido à Direcção dos Serviços de Turismo (DST) um ano depois da lei entrar em vigor e mediante a frequência de um curso de guia ministrado pela Universidade de Turismo de Macau.

Licenças mais rápidas

Na área do licenciamento das agências de viagens, passa a caber ao director da DST essa tarefa, sendo que se simplifica todo o processo, ao eliminar a vistoria ao espaço onde vai funcionar a agência antes da emissão da licença.

A proposta de lei faz ainda uma separação clara entre a regulação das excursões ou a prestação de serviços de recepção por parte das agências de viagens, “ficando detalhadas as disposições respeitantes às responsabilidades” de ambas. Destaca-se também a proibição de as agências receptoras “cobrarem preços inferiores ao custo dos serviços prestados”, ficando mais bem regulada “a promoção e fornecimento de actividades opcionais” a turistas, a fim de “melhor proteger os direitos e interesses dos clientes e participantes”.

10 Abr 2024

Pintura | Exposição de André Lui na Livraria Portuguesa

É inaugurada no sábado, na galeria da Livraria Portuguesa, uma nova exposição a solo da autoria do arquitecto André Lui. Até Maio será possível visitar as obras que fazem parte de “Contemplating Still Life”, um exercício de pintura de natureza morta

 

Um dos nomes mais conhecidos no debate em torno da preservação do património local, o arquitecto André Lui está de volta às exposições revelando ao público novamente a sua faceta de artista plástico. Pela mão da AFA – Art for All Society, apresenta-se este sábado, às 18h30, a mostra “Contemplating Still Life” [Contemplando a Natureza Morta], que até ao dia 11 de Maio pode ser vista na galeria da Livraria Portuguesa.

Esta exposição integra a fase final do programa anual da AFA relativo a 2023, intitulado “View-Non-View – Série de Exposições de Arte de Imagens Artísticas”. Em “Contemplating Still Life” o artista plástico e arquitecto resolveu apresentar os seus mais recentes trabalhos, centrados na pintura de objectos ou elementos que pertencem ao conceito de “natureza-morta”, que, segundo a AFA,tem sido “utilizada como tema em pinturas desde a antiguidade”.

Contudo, a história fez com que esta ideia florescesse como “género único da pintura europeia” na arte holandesa do século XVII,quando artistas começaram a retratar diversos objectos do dia-a-dia “numa variedade tão grande e num estilo tão detalhado que dificilmente se pode deixar de ficar maravilhado” com estas obras. Tratam-se de “objectos comuns do quotidiano, como pão e frutas, até grandes quantidades de marisco, ostras e ossos de crânio”. Enquanto estudioso do património cultural, André Lui “olha para a ‘natureza morta’ como perspectiva desta parte da história”, descreve a AFA.

Pedaços de Macau

André Lui, ao recorrer ao género “natureza morta” para pintar, acaba por contar pedaços da história de Macau, visível em tantos objectos que encontramos na rua e no nosso dia-a-dia.

Podem, assim, ver-se pinturas de uma escultura de um filósofo coberta por um saco de plástico, o quadro de um relógio dourado esculpido, de cartas de póquer, flores, borboletas, pratos de cerâmica ou azulejos portugueses azuis. Não faltam ainda um mapa antigo de Macau ou livros também antigos.

“Tal como as pintura holandesa de naturezas mortas de há algumas centenas de anos, as naturezas mortas, apesar de serem calmas e silenciosas, transmitem, no entanto, um certo grau de costumes locais. Ao longo dos séculos, Macau tem sido um lugar onde as culturas chinesa e ocidental se misturaram, e tanto a imaginação dos chineses como a dos ocidentais estão cheias de curiosidade”, aponta a AFA.

Desta forma, “um passeio casual por uma das ruas mais antigas de Macau, como a Travessa do Armazém Velho, pode revelar-se uma aventura e tanto, como um ‘gabinete de curiosidades’ do século XVI”, uma época em que o território “era uma concessão portuguesa e, ao mesmo tempo, um porto comercial asiático que os holandeses queriam conquistar”.

O pequeno território “foi transformado pela história”, com as “coisas a mudarem de forma irreconhecível ao longo dos séculos” e, esta exposição mostra isso mesmo e de como certos objectos deixam perdurar a memória do que foi e do que aconteceu.

Nascido em 1971 em Macau, André Lui é um reconhecido académico, arquitecto e artista de Macau. Licenciou-se na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Portugal, em 1999 e completou um curso profissional de manutenção e restauro de edifícios históricos e áreas urbanas no “Centre des Hautes Etudes des Chaillot” em Paris, França, de 2003 a 2005. Foi o primeiro arquitecto chinês a obter o diploma francês e a qualificação profissional em arquitectura do património cultural.

9 Abr 2024

Instituto Cultural acusado de não responder a conselheiros

O Instituto Cultural (IC) ainda não respondeu às críticas apresentadas por dois conselheiros numa reunião em Fevereiro do Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários da Zona Central, relativamente aos impactos negativos das celebrações do Ano Novo Chinês na zona das Ruínas de São Paulo.

O jornal Cheng Pou analisou os documentos da reunião e verificou a ausência de respostas das autoridades cerca de dois meses depois da reunião. Um dos conselheiros que apresentou queixas foi Au Weng Hei, que, no encontro, acusou o IC de não avaliar bem o impacto destas actividades antes da sua aprovação. O conselheiro disse ainda que as autoridades devem evitar perturbar os moradores com espectáculos de rua, dando também o exemplo do concerto da banda “Seventeen” no Estádio de Macau, na Taipa.

O conselheiro frisou que a realização do concerto nas Ruínas de São Paulo e a instalação do palco reduziram o espaço de circulação, além de que foi deixado bastante material eléctrico na zona, o que poderia ter causado problemas de segurança.
Outro conselheiro que interveio na reunião de Fevereiro foi Chang Ka Wa, que alertou para a necessidade de revitalização da antiga casa de penhores na Rua Cinco de Outubro e do portão do antigo mercado na Rua do Tarrafeiro.

Só ID respondeu

O HM consultou a documentação das reuniões do Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários da Zona Central, e verificou que a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego não respondeu aos dois conselheiros quando estes sugeriram a melhoria das infra-estruturas de circulação pedonal e a elaboração de um plano rodoviário para melhorar o sistema de transportes durante grandes eventos e concertos.

Apesar das críticas e da reunião ter ocorrido há cerca de dois meses, os regulamentos permitem ainda às autoridades dar uma resposta aos conselheiros. Apenas o Instituto do Desporto deu respostas sobre a perturbação causada pelo concerto dos Seventeen.

9 Abr 2024

“Todos Fest!” | Comuna de Pedra apresenta festival inclusivo a partir de sexta-feira

A associação Comuna de Pedra volta a apresentar este mês o festival de arte, performance e cinema “Todos Fest!”, que procura ligar ao meio artístico portadores de deficiência e idosos. Entre os dias 12 e 21 de Abril o público poderá desfrutar de um extenso cartaz que se apresenta na Antiga Fábrica de Panchões Iec Long, na Taipa Velha

 

Mostrar que os portadores de deficiência e idosos conseguem ser artistas, num relacionamento também pedagógico, é o mote da quarta edição do “Todos Fest!”, promovido pela associação cultural Comuna de Pedra, que este ano decorre entre os dias 12, a próxima sexta-feira, e 21 de Abril. A programação inclui espectáculos, exibições de filmes, workshops e projectos multimédia e apresenta-se na Antiga Fábrica de Panchões Iec Long, na zona da Taipa Velha. Neste programa juntam-se artistas locais e de Hong Kong, bem como voluntários e diversas associações de cariz social que trabalham com idosos ou portadores de deficiências físicas ou intelectuais.

Citada por um comunicado da associação que organiza o evento, Jenny Mok, curadora do festival e directora da Comuna de Pedra, destaca que a associação se juntou a grupos da comunidade para “abrir o teatro a todos, incluindo a pessoas com deficiências físicas e mentais e idosos”. Algumas das entidades que participam neste festival são a Associação de Pais de Pessoas com Deficiência Intelectual de Macau, a Sociedade Fuhong de Macau ou a Richmond Fellowship.

Assim, “com base na experiência e observação, encorajamos as minorias locais a explorar as possibilidades do corpo, a olhar para o passado, a ouvir os corações e a expressarem-se através do teatro”.

Experiências de vida

Um dos destaque do cartaz deste ano é “Life is a Dream”, um espectáculo de dança contemporânea, protagonizado pelo projecto comunitário “The Journey of My Story”. O projecto baseia-se “numa abordagem mais suave de contar histórias”, apresentando-se uma narrativa pautada pelas experiências do elenco relacionadas com sentimentos de medo, depressão, sonhos, tristeza ou alegria, sem esquecer “as contemplações sobre a vida e morte”.

“Caretaker”, um projecto multimédia, apresenta gravações a partir das partituras originais da peça de teatro com o mesmo nome, narrando “histórias vividas por cuidadores [informais] a partir de diversas perspectivas e pontos de vista”.

Por sua vez, na área do cinema, destaque para a secção “Projecções com o Coração”, em que uma série de filmes exibidos nos dias 20 e 21 de Abril visa incluir os espectadores de todos os quadrantes da sociedade, a fim de aumentar a consciencialização da inclusão dos que são diferentes e minoritários.

O cartaz do “Todos Fest!” traz ainda para a agenda cultural da cidade o workshop “Forget Me Not”, destinado a profissionais de saúde e protagonizado por Kerry Cheung, de Hong Kong, que vai “levar os profissionais de saúde locais a descobrir como a dança pode dar vitalidade à vida das pessoas com demência”.

O programa encerra-se com um mercado de venda e exposição de produtos locais feitos pelos diversos grupos comunitários, a fim de mostrar o trabalho desenvolvido pelos mais velhos e portadores de deficiência na busca por uma vida mais activa.

Criada em 1996, a Comuna de Pedra tem na sua génese a apresentação de espectáculos com fortes mensagens sociais, muito ligada à dança contemporânea, ao teatro e à promoção da educação na arte, sempre procurando desenvolver “mais possibilidades artísticas” no território. Além disso, a Comuna de Pedra faz curadoria e produção de variados projectos artísticos como festivais, programas colaborativos ou exposições.

8 Abr 2024

São Januário | Curto-circuito originou incêndio na madrugada de sábado

Na madrugada de sábado, um incêndio no Centro Hospitalar Conde de São Januário obrigou à evacuação de uma enfermaria, sem que se tivessem registado consequências graves. A direcção do hospital exigiu um relatório sobre o sucedido à empresa que gere o sistema de reserva de energia

 

Deflagrou na madrugada de sábado, por volta das 05h, um incêndio numa das enfermarias do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ). O incidente não resultou em mortos ou feridos, mas obrigou à retirada de 26 pessoas, incluindo 24 pacientes que se encontravam internados e dois familiares, que foram transferidos para outra ala do hospital, segundo informação divulgada no sábado pelos Serviços de Saúde.

Um curto-circuito terá estado na origem do incidente, o que obrigou à actuação dos bombeiros que, rapidamente, conseguiram resolver a situação. Depois da limpeza do local, os pacientes e familiares voltaram à enfermaria, tendo o funcionamento do hospital regressado à normalidade. De frisar que esta ala de internamento é da especialidade de medicina interna.

Pedido relatório

As primeiras declarações sobre o ocorrido decorreram no sábado pouco tempo depois de ter sido reposta a normalidade do serviço. Ao canal chinês da Rádio Macau, Kuok Cheong U, director do hospital, disse que foi pedido um relatório detalhado à empresa responsável pela gestão do sistema de reserva de energia para obter respostas detalhadas sobre o ocorrido. Ainda assim, o responsável apontou que a causa para o curto-circuito poderá estar num dos componentes do referido sistema.

O também sub-director dos Serviços de Saúde destacou ainda a rapidez com que foi extinto o incêndio, resultado da “eficácia” dos simulacros que regularmente são organizados no hospital para garantir a segurança de todos.

Aos jornalistas o director do hospital falou ainda da afluência de pessoas ao serviço de urgência por causa da gripe ou covid-19, afirmando que não houve um aumento significativo.

8 Abr 2024

Trabalho | Ron Lam exige mudanças na lei que regula acidentes

O deputado Ron Lam U Tou defende, em interpelação escrita, que deve ser revisto o regime jurídico dos acidentes de trabalho e doenças profissionais por estarem em causa violações dos direitos dos trabalhadores.

Na interpelação, o deputado refere ter recebido muitas queixas de trabalhadores que, tendo direito a indemnização por acidentes de trabalho, acabaram por ficar meio ano em regime de licença sem vencimento ao invés de baixa médica por atrasos no aviso à seguradora, o que reduz o período de incapacidade e obriga o trabalhador a devolver parte do valor recebido de indemnização.

Para Ron Lam, a colocação de um trabalhador no regime de licença sem vencimento por mais de meio ano inflige “um duro golpe físico, mental e financeiro, fazendo-os sentir desamparados e com ansiedade”.

“A situação descrita é comum entre os trabalhadores que necessitam de gozar de uma baixa médica de longa duração por acidente de trabalho devido a lesões profissionais graves”, lê-se ainda. O deputado entende, assim, que a legislação deve ser revista a fim de assegurar que o trabalhador tem direito a “dois terços do salário durante o período de licença por acidente de trabalho e pagamento de despesas médicas”, não devendo “estar sujeito ao risco de ter de recorrer a tribunal para a recuperação de prejuízos”.

É referido também que as seguradoras “contestam quase sempre o período de licença por acidente de trabalho, optando por avançar com acções judiciais no prazo legal de dois anos a contar da data da cura do trabalho ou do óbito, caso o acidente resulte em morte”. Desta forma, “a licença por acidente de trabalho de um grande número de trabalhadores é drasticamente reduzida, o que reflecte a existência de problemas no funcionamento do sistema”.

8 Abr 2024

Taiwan | Residentes e estudantes da RAEM estão em segurança

O terramoto que abalou Taiwan na quarta-feira, o maior dos últimos 25 anos, foi sentido por residentes de Macau, que estão a salvo. As duas dezenas que estudantes locais que frequentam universidades de Taiwan também estão em segurança. O sismo causou, pelo menos, 10 mortos e 1.070 feridos

 

Taiwan foi atingida esta quarta-feira pelo maior sismo dos últimos 25 anos. Registando 7,4 na escala de Ritcher, foram contabilizados, até ao fecho desta edição, 10 mortos e 1.070 feridos, mas muitas pessoas continuam desaparecidas nas zonas mais montanhosas da ilha. O sismo foi registado a cerca de 838 quilómetros a leste-nordeste de Macau, e os Serviços Meteorológicos e Geofísicos afirmaram ter recebido o relato de um residente que sentiu o abalo sísmico.

Vários residentes de Macau encontravam-se na ilha e sentiram de perto a tragédia, mas não há registo de mortos ou ferimentos. Tanto a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) como a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) disseram, em comunicado, que contactaram os 20 estudantes de Macau que residem e estudam em Hualien, a zona de Taiwan onde mais se sentiu o sismo, mas que não foi recebido qualquer pedido de assistência. A DST promete “acompanhar de perto a situação e manter-se em contacto com os estudantes de Macau e organizações relacionadas para prestar assistência adequada”.

Relativamente a turistas locais, a DST indicou não ter recebido pedidos de ajuda e sugeriu aos residentes que estão na ilha para “estarem atentos aos últimos comunicados, prestarem atenção à sua segurança e permanecerem em local seguro”.

Relatos de residentes

Apesar do epicentro do sismo ter sido na região de Hualien, o terramoto foi sentido noutras zonas da ilha. Na rede social Facebook, o arquitecto Carlos Couto, residente de Macau, descreveu o abalo como “assustador, talvez o maior [sismo] que senti em toda a minha vida”.

“Não foi muito longo. Estava a caminho do aeroporto, o meu prédio parecia um bambu a vibrar e o viaduto à minha frente saltava. A caminho de Taoyuan houve uma réplica do sismo e sentiu-se dentro do carro. Sei por outros portugueses que há prédios com estragos menores”, descreveu.

O jornalista Paulo Barbosa descreveu à TDM o que sentiu na zona de Taichung. “Por volta das 08h fomos acordados por um enorme abalo. Estávamos no sexto andar do hotel e todo o edifício abanou. Escondemo-nos debaixo de uma mesa. Durou cerca de 30 segundos.”

O último balanço oficial indica que o sismo provocou nove mortos, sendo que, pelo menos, quatro pessoas morreram no Parque Nacional de Taroko, uma atracção turística de Hualien. Segundo as autoridades, 690 pessoas ainda estão isoladas. Mais de 600 encontram-se retidas no hotel Silks Place Taroko. A ilha foi abalada por mais de 300 réplicas desde o primeiro sismo e as autoridades alertaram a população para o perigo de deslizamentos de terra e queda de rochas.

5 Abr 2024

IFT | Primeira presidente felicita passagem a universidade

Virgínia Trigo, primeira presidente do Instituto de Formação Turística, diz que a passagem da instituição a universidade é “uma decisão esperada e que se justifica”, potenciando “o reconhecimento que tem dentro e fora de Macau”

 

“Uma decisão esperada e que se justifica”. É desta forma que Virgínia Trigo, primeira presidente do Instituto de Formação Turística (IFT) entre 1995 e 2001, classifica a passagem da instituição de ensino superior a universidade, medida consagrada esta segunda-feira com a entrada em vigor do Regime Jurídico da Universidade de Turismo de Macau (UTM).

“O IFT é uma instituição importante no ambiente do ensino superior em Macau. Possui uma cultura organizacional muito forte centrada no valor da qualidade, de que nunca abdicou, e sempre construiu a sua identidade em torno do ensino da hospitalidade e turismo, que são as principais indústrias de Macau. É por isso uma instituição que está especialmente ao serviço do território desenvolvendo conhecimento, preparando alunos para carreiras profissionais e para a aprendizagem ao longo da vida”, afirmou ao HM.

Na visão da académica, actualmente ligada ao Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), o IFT “tem grande reconhecimento dentro e fora de Macau e o estatuto de universidade vai contribuir para potenciar ainda mais esse reconhecimento”.

Esta segunda-feira, e segundo um comunicado de imprensa emitido pela instituição, a UTM anunciou a criação de novos cursos a pensar na nova fase: uma licenciatura em Ciências de Negócios Internacionais e Comunicação, bem como um curso revisto de Licenciatura em Marketing e Gestão de Marca. Estão ainda planeados dois programas de mestrado em Ciências de Gestão de Convenções, Exposições e Eventos Internacionais, bem como um programa de doutoramento em Gestão de Empresas.

Relativamente às instalações, a UTM prevê terminar as obras de construção do edifício Jubileu de Prata e o novo Edifício Residencial no Campus da Taipa. Esses projectos “visam criar um novo edifício académico e um local para formação prática em hotelaria”.

Presente e futuro

Ao longo da sua história, o IFT tem apostado na cooperação com instituições de ensino de outros países, nomeadamente Portugal. Exemplo disso foi a parceria, assinada em Julho de 2019, com a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, para a criação da Academia Internacional de Turismo no Estoril. O projecto teve um orçamento de 24 milhões de euros.

Para os próximos tempos, a recém-criada UTM pretende apostar na entrada na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, por ser um local “que está a desenvolver-se rapidamente, trazendo também novas oportunidades para o desenvolvimento do ensino superior” na RAEM.

Desta forma, a UTM “planeia criar [em Hengqin] um ambiente mais amplo de investigação, ensino e actividades para docentes e estudantes”, envidando “todos os esforços para formar quadros qualificados para a Grande Baía e até para o país”.

3 Abr 2024

Festival de Curtas | “BUBBLE”, de Ellen Wong, ganha Prémio Macau

Chegou ao fim a primeira edição do Festival Internacional de Curtas-metragens de Macau, organizado pelo Instituto Cultural. Com direito a passadeira vermelha, as realizadoras Gunnur Martinsdóttir Schlüter e Ellen Wong, de Macau, levaram os prémios máximos para casa

 

A realizadora local Ellen Wong, que participou no primeiro Festival Internacional de Curtas-metragens de Macau com o filme “BUBBLE”, sagrou-se a vencedora do Prémio Macau no festival que chegou ao fim na sexta-feira. Destaque ainda para a vitória de “FÁR”, realizado por Gunnur Martinsdóttir Schlüter, distinguido com o prémio de Melhor Curta-metragem.
Organizado pelo Instituto Cultural (IC) e patrocinado pela operadora de jogo Galaxy, a cerimónia de encerramento decorreu no recentemente inaugurado Centro Internacional de Convenções Galaxy.

“BUBBLE” integrava o grupo de dez curtas-metragens concorrentes ao Prémio Macau na categoria “Curtas de Macau”, com o objectivo de “reconhecer obras locais de curta-metragem excepcionais”. O filme foca-se na passagem para a vida adulta de Chi Ieng, uma menina que começa a namoriscar com o irmão de uma amiga. Chi Ieng estuda numa escola católica para meninas e, influenciada pela sua amiga Mei Ka, começa a tentar sair da sua zona de conforto da infância para a adolescência, mas acaba por se confrontar com situações que a levam ao desespero e constrangimento.

Ellen Wong é natural de Macau, mas estudou realização na Academia de Cinema de Pequim. Trabalhou em publicidade e esta não foi a sua estreia no mundo da curta-metragem, tendo já lançado para o mercado “Cards”, “One Day” e “Knock At The Door”, entre outros projectos.

Outro grande vencedor no festival foi “FÁR”, uma curta sobre pequenos momentos, como um pássaro bater na janela de um café e interromper o dia-a-dia dos clientes, momentos de descanso, ou uma mulher que se vê- obrigada a escolher entre ignorar a natureza ou reagir a ela.

Com nacionalidade islandesa e alemã, Gunnur Martinsdóttir Schlüter tem-se especializado, no seu trabalho como realizadora, em captar comportamentos e desejos humanos quotidianos. Nascida em Reykjavik, capital da Islândia, e com mais de dez anos de vida na Alemanha, formou-se em direcção teatral na Universidade de Música e Teatro de Hamburgo, continuando a estudar na Universidade de Artes da Islândia.

Filmes de todo o mundo

Um total de 26 curtas-metragens de todo o mundo competiram na secção de competição oficial “Novas Vozes do Horizonte” por quatro prémios. Destaque também para as vitórias de “Greylands”, de Charlotte Waltert e Alvaro Schoeck, que arrecadou o galardão da Melhor Contribuição Técnica. Este filme centra-se na vida difícil nas montanhas suíças, entre um dia de Outono e a primeira noite de Inverno, em que os caçadores se embrenham nas alturas para apanhar os melhores animais. Aí, os seus caminhos vão-se cruzando e também desvanecendo. “Manchas de névoa esbatem as fronteiras entre sonho, imaginação e realidade”, lê-se na sinopse do filme.

Na lista de trabalhos premiados incluem-se ainda “Bogotá Story”, de Esteban Pedrazza, premiado como Melhor Realizador. “The Miracle”, de Nienke Deutz, que ganhou o Prémio de Narrativa Inovadora, enquanto forma de reconhecimento “das contribuições dos jovens cineastas para a arte do cinema”.

O festival incluiu também uma variedade de eventos, além da exibição de filmes, como diversos workshops e conversas com realizadores. De Portugal viajou Bruno Carnide com a sua curta de 2023, “Memórias de uma Casa Vazia”.

O evento distinguiu ainda o trabalho do realizador japonês Shunji Iwai, tendo sido exibidas várias longas e curtas-metragens com a sua assinatura. Na sexta-feira, Iwai esteve em Macau para participar numa conversa com o público e partilhar o processo de produção de “Last Letter”, de 2018, que evoluiu de uma curta-metragem para uma longa-metragem.

Segundo o IC, a primeira edição deste festival “não só proporcionou uma plataforma para exibir o talento de novos cineastas internacionais, mas também fomentou mais oportunidades de troca e aprendizagem entre talentos locais do cinema”.

2 Abr 2024

CESL-Ásia apresenta na MIECF soluções ligadas à inteligência artificial

Em mais uma edição do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau 2024 (MIECF, na sigla inglesa), que começa hoje no Venetian e que termina no sábado, a CESL-Ásia prepara-se para apresentar as soluções com recurso à inteligência artificial que tem aplicado na gestão de infra-estruturas públicas e privadas, graças a acordos assinados com outras empresas.

Ao HM, António Trindade, CEO da empresa local, que recentemente celebrou 35 anos de existência, explicou que, tanto na Focus como na MPS, subsidiárias do grupo, têm sido pensadas “soluções para desenvolver o nível dos serviços que prestamos”, sendo que, com recurso à inteligência artificial, “há a oportunidade de alterar completamente aquilo que fazemos, no sentido de aumentar a eficiência e o nosso desempenho, bem como o das infra-estruturas que operamos”.

Este será o mote da presença da empresa em mais uma edição da MIECF, evento que se dedica a falar da protecção do meio ambiente, ecologia e soluções mais sustentáveis tanto para Macau como a nível mundial.

Trindade declarou também que a CESL-Ásia tem “procurado entidades que produzem esse tipo de tecnologia”, sendo que as parcerias já assinadas visam “estabelecer soluções para lidar com a maior complexidade das máquinas e da relação com o uso que se pode ter delas, e também nas áreas do ambiente e do clima, ou gestão e utilização de dados”.

“Vamos mostrar o que temos vindo a fazer e como nos propomos a fazê-lo, e como podemos agregar a nossa experiência na gestão e operacionalização de infra-estruturas críticas [em Macau], tanto públicas como privadas”, disse.

Um novo mercado

António Trindade apontou que, no contexto da MIECF, existe uma grande curiosidade sobre o que os seus clientes, incluindo as grandes operadoras, “[apresentam], num novo ambiente de mercado, com novos contratos, em que há exigências muito maiores em termos de performance e eficiência de operações”.

“Vê-se que a economia está a mudar muito com a abertura das fronteiras, com novas maneiras de operar, o que tem as suas consequências e o devido impacto ambiental [em termos de produção de resíduos e meio ambiente]. Vamos demorar dois ou três anos até ter alguma perspectiva sobre o que é normal e não é, e para onde caminhamos. Seria importante a MIECF manter a sua [presença] em termos de sustentabilidade”, rematou.

A MIECF 2024 tem mais 20 por cento de stands face ao ano passado, com mais de 560. Empresas e o grande público estão dispersos por cinco zonas, nomeadamente o “Pavilhão da Região do Pan-Delta do Rio das Pérolas”, “Zona de Exposição das Indústrias de Protecção Ambiental da Grande Baía”, “Zona de Projectos Verdes e com Baixo Teor de Carbono”, “Zona de Exposição das Indústrias Verdes e Inteligentes” e “Zona de Exposição de Mobilidade Verde”. O tema do evento é “Alcançar a Dupla Meta de Carbono através da Transformação Ecológica”.

28 Mar 2024

Cantopop | Banda “Mirror” actua em Maio na Galaxy Arena

Os “Mirror”, famosa boys band de Hong Kong, prepara-se para dar dois concertos em Macau nos dias 17 e 18 de Maio, na recém-inaugurada Galaxy Arena. Integrados na tour mundial “Mirror Feel the Passion Concert Tour 2024”, os concertos marcam o regresso dos 12 rapazes aos palcos depois de uma paragem forçada devido a um acidente que marcou profundamente a banda e os fãs

 

Os fãs locais de cantopop, género musical muito popular, e em particular da boys band “Mirror”, de Hong Kong, já podem celebrar a vinda do grupo a Macau para dois concertos. Esta terça-feira, a organização dos eventos anunciou que os “Mirror” sobem ao palco da Galaxy Arena nos dias 17 e 18 de Maio, espectáculos integrados na tour mundial “Mirror Feel the Passion Concert Tour 2024”.

Recorde-se que a banda está desde Janeiro de regresso aos palcos, tendo protagonizado 16 concertos na AsiaWorld Expo, seguindo-se, depois de Macau, actuações em países como Singapura, Malásia, Reino Unido, EUA e Canadá. De frisar que os espectáculos na região vizinha tiveram lotação esgotada.

Esta tour marca o regresso do grupo depois de uma longa ausência de dois meses dos palcos devido a um acidente ocorrido em Julho de 2022 no Coliseu de Hong Kong. A queda de um grande ecrã, de uma altura de quatro metros, feriu dois bailarinos, um deles gravemente. O incidente chocou os fãs. Nos meses seguintes, os 12 integrantes dos “Mirror” optaram por se manter discretos, com os críticos de música a questionar se teriam capacidade para se recompor do ocorrido e voltar aos palcos em forma.

Em Maio do ano passado, voltaram a falar sobre o assunto. Segundo o jornal “The Star”, o bailarino com mais ferimentos, nomeadamente na zona da coluna, Mo Lee Kai Yin, está ainda em recuperação.

“2022 foi, de facto, um ano difícil para nós… e também para os residentes de Hong Kong. Para ser honesto, é muito difícil imaginar que algo desse género poderia acontecer”, disse Edan Lui, um dos integrantes do grupo. “Levámos mesmo muito tempo, e precisámos de muita ajuda, para ultrapassar a situação. Felizmente temo-nos uns aos outros (em termos de confiança), os nossos fãs e famílias (que) também nos deram muito apoio.”

Single em inglês

Composta por jovens com pouco mais de 30 anos, os “Mirror” lançaram, em Março do ano passado, o single em inglês “Rumours”, a fim de chegar a um novo público que não domina o chinês. Tratou-se da primeira vez que a famosa boys band gravou numa língua que é também oficial em Hong Kong.

Também ao “The Star”, Edan Lui esclareceu que o objectivo principal não é chegar a um mercado internacional, assumindo que a banda está ainda a dar os primeiros passos no estrelato.

“O objectivo de lançar ‘Rumours’ não significa que queiramos entrar no mercado norte-americano, ou que pretendemos tornarmo-nos mais internacionais. Não estamos ainda nesse nível. A razão pela qual lançamos um single em inglês prende-se com o facto de, tendo em conta que é uma língua que todos compreendem, teremos a oportunidade de públicos de diferentes regiões possam ouvir as nossas canções.”

Para Edan Lui, lançar “Rumours” pode mesmo constituir uma oportunidade para que esse público “aprenda mais sobre os ‘Mirror’ por causa desta canção”.

Carreiras a solo

É muito provável que “Rumours” possa integrar o alinhamento dos dois concertos de Maio, tal como todas as canções que o grupo tem vindo a gravar desde 2018, ano em que se formou a partir do programa de televisão “Good Night Show – King Maker”. A boys band é composta por Frankie Chan, Alton Wong, Lokman Yueng, Stanley Au, Anson Kong, Jer Lau, Ian Chan, Anson Lo, Jeremy Lee, Edan Lui, Keung To e Tiger Yau. O single de estreia, lançado a 3 de Novembro de 2018, intitula-se “In a Second”.

Apesar do hiato causado pelo acidente, e de continuarem juntos nos “Mirror”, os membros da banda têm abraçado outros projectos musicais e artísticos, gravando músicas a solo, apresentando programas e espectáculos e até enveredado pela vida de actor, como foi o caso de Edan Lui e Anson Lo, escreveu o “The Star”.

Depois da queda do ecrã, o grupo lançou o single “We All Are” em Outubro de 2022, sendo que nesse mesmo ano venceu o prémio “Best Group Gold Award”, pela primeira vez, no concurso “Ultimate Song Chart Awards Presentation”. Os “Mirror” venceram também, pela segunda vez, o prémio “My Favourite Group”.

28 Mar 2024

Construção civil | Pequenas empresas continuam em luta

Harry Lai, CEO da Lai Si Construction Engineering, aponta que o sector da construção civil ainda não recuperou plenamente da crise gerada pela pandemia e que as empresas mais pequenas sofrem com falta de projectos na área das obras públicas e não conseguem competir com as de maior dimensão

 

A pandemia foi ultrapassada, mas para as pequenas empresas do sector da construção civil do território a crise persiste: no acesso aos projectos públicos não conseguem competir com as grandes empresas ou com as que estão sediadas no interior da China, sofrendo com falta de projectos.

A denúncia é feita pelo empresário Harry Lai, CEO da Lai Si Construction Engineering, que, ao jornal Ou Mun, declara que a recuperação económica registada no pós-pandemia não beneficiou muito as empresas locais, que têm pouca experiência em projectos e deixam os seus trabalhadores numa situação de subemprego.

Harry Lai explicou que os projectos do ano passado foram, sobretudo, virados para obras públicas e acabaram por ficar nas mãos de empresas de maior dimensão ou da China continental. Além disso, em plena pandemia, o sector continuou a trabalhar em projectos antigos, mas, no regresso à normalidade, não se registaram novas encomendas ou projectos, apesar da grande recuperação económica registada no território. Desta forma, o empresário denota que a área da construção civil tem registado um desempenho mais fraco face a outros sectores de actividade económica.

Relativamente ao sector privado, Harry Lai lembrou que, no ano passado, muitas concessionárias de jogo e empresas privadas estavam ainda na fase de planeamento de projectos, pelo que estes têm avançado muito lentamente. Uma vez que existem muitas burocracias associadas a um projecto privado, nomeadamente o licenciamento, concepção e investimento, o empresário apontou que a conclusão destes projectos é ainda mais demorada.

Poucos recursos humanos

Questionado sobre as principais dificuldades que o sector enfrenta actualmente, Harry Lai disse que o licenciamento das obras e a falta de recursos humanos são os problemas que se destacam. O processo complexo e moroso de licenciamento de uma obra faz com que o investidor fique indeciso na hora de avançar para um novo projecto. Desta forma, o CEO da Lai Si Construction Engineering espera que o Governo flexibilize os procedimentos, simplificando-os, para que o sistema seja mais eficaz.

O empresário sugeriu também que as autoridades cooperem mais com o sector, a fim de introduzir no sistema de ensino, desde cedo, noções de construção, a fim de motivar os estudantes a enveredarem pela área da engenharia civil. Este sugeriu ainda a organização de mais cursos de formação para quem deseje mudar de carreira, além de considerar fundamental a criação de um regime de credenciação das competências técnicas para o sector de construção civil.

A seu ver, o sector tem falta de “sangue novo”, sobretudo para os trabalhos mais duros e difíceis, o que faz com que a grande maioria dos trabalhadores já esteja perto da reforma. Tal faz com que a área da construção civil dependa bastante de trabalhadores não residentes, frisou.

28 Mar 2024

Associações acreditam em recuperação plena do turismo

Chegado o fim-de-semana da Páscoa esperam-se números bem-sucedidos do turismo. Helena de Senna Fernandes, directora da Direcção dos Serviços de Turismo, prevê a vinda de 65 mil visitantes por dia. Ao HM, Luís Herédia, presidente da Associação de Hotéis de Macau, fala de uma “perspectiva positiva” para os números do turismo nos próximos dias, adiantando que o sector deverá continuar em recuperação pós-pandemia até 2025.

“Estamos ainda numa aprendizagem, mas estamos melhor. O recrutamento [de empregados para o sector do turismo e hotelaria] correu bem, com grande apoio das autoridades. É um processo que já acontecia antes, mas é sempre trabalhoso e exigente.”

“Temos o mercado muito forte da China, sobretudo de Cantão, que exige uma série de aptidões, sobretudo linguísticas, mas temos de estar munidos para a aposta do mercado internacional que Macau está a fazer. Este ano vai ser importante e a recuperação total do sector irá até 2025”, apontou.

Luís Herédia fala ainda de “novos desafios” tendo em conta a emergência “em força de outros mercados”, como Dubai, Singapura ou outras regiões asiáticas.

Diversão precisa-se

Para o académico Glenn Mccartney, especialista em turismo da Universidade de Macau, importa olhar se os números de turistas se traduzem num maior número de noites em Macau e, consequentemente, em mais gastos, para que haja “um impacto económico mais amplo em toda a cidade e não apenas nos pontos turísticos mais populares”.

O responsável diz ainda ser necessário uma maior aposta no entretenimento nocturno. “Discuti recentemente a necessidade de desenvolvimento de uma economia nocturna em Macau, sendo que grande parte da qual depende do entretenimento. Por isso, o desenvolvimento do entretenimento de Macau deve considerar a possibilidade de o fazer evoluir para uma estratégia de vida nocturna”, rematou.

28 Mar 2024

ArtBasel de volta a Hong Kong com exposições, debates e filmes

Arrancou ontem, e termina este sábado, a nova edição da ArtBasel Hong Kong, considerada uma das mais conceituadas feiras de arte do mundo e palco de exposições e leilões de obras de arte. Depois do arranque destinado exclusivamente aos convidados, o público poderá visitar a feira, no Centro de Convenções e Exposições de Hong Kong, entre amanhã e sábado.

A edição deste ano conta com um total de 242 galerias de arte de 40 países e territórios, o que constitui um aumento de 37 por cento em termos de número de expositores comparando com o ano passado, marcado pelo regresso à dita “normalidade” no pós-pandemia. Segundo informação oficial da ArtBasel, mais de metade dos expositores pertencem a galerias e entidades do mundo das artes da Ásia. Destaque para as 23 galerias que se estreiam na ArtBasel.

Está ainda programado um calendário debates sobre o mundo das artes, com entrada gratuita. Hoje, entre as 10h30 e as 12h, acontece “The Global Art Market: Perspectives from Asia”, com Clare McAndrew, especialista em economia para a área das artes, Xiaoming Zhang, conselheira e académica ligada à Northwestern University e Adrian Zuercher, co-director da Global Asset Allocation. Margaret Wang, coleccionadora privada e patrona das artes, irá moderar o debate. Amanhã, por exemplo, decorre o debate intitulado “How to Build a History-Defining Collection of Contemporary Chinese Art” [Como Construir uma Colecção Definidora da História da Arte Contemporânea Chinesa].

O lugar do cinema

Mas nem só de exposições e debates se faz a ArtBasel de Hong Kong. Hoje será exibido o documentário de 2021 “A New Old Play”, do realizador Qiu Jiongjiong, que se baseou na vida e carreira do seu avô, um célebre artista de ópera de Sichuan. Trata-se de um filme que atravessa a conturbada história do século XX na China. Amanhã será exibida uma série de filmes, intitulada “Alienation” [Alienação], que exploram “a alienação mental, corporal e sexual dos protagonistas”. Exibem-se, assim, “Sorry for the late reply”, de Wong Ping, “Surrender”, de Jenkin van Zyl, e “Useless Sacrifice”, de Anna Uddenberg.

Destaque ainda para a colaboração entre a ArtBasel e o museu de Hong Kong M+, através do projecto “M+ Facade”, que visa “expandir o alcance artístico por toda a cidade”. Trata-se do terceiro ano consecutivo de colaboração e, nesta edição, apresenta-se um “filme arquitectural” intitulado “Sparrow on the Sea”, do artista e videógrafo Yang Fudong. Filmado em Hong Kong, este projecto videográfico apresenta “cenas de aldeias costeiras com ruas da cidade nocturnas”, com profundas referências ao cinema de Hong Kong dos anos 70 a 90, evocando uma “ideia nostálgica de familiaridade”.

O programa da ArtBasel inclui também a secção “Exchange Circle”, organizada por vários meios de comunicação social e parceiros culturais, visando criar uma plataforma aberta de diálogo para “pequenas e experimentais apresentações” pautadas por conversas com artistas, debates, leituras, apresentações de livros ou realização de workshops.

27 Mar 2024

Bruno Carnide, realizador: “O meu cinema não é tão convencional”

Nomeado duas vezes para os prémios Sophia da Academia Portuguesa de Cinema, Bruno Carnide conta já com um importante percurso na indústria cinematográfica portuguesa. Pela primeira vez em Macau, o realizador traz “Memórias de Uma Casa Vazia” para a primeira edição do festival de curtas-metragens organizado pelo Governo e Galaxy, exibido novamente amanhã. Bruno Carnide revela um pouco mais de um filme em torno de memórias familiares e as suas diferentes visões

 

Apresenta na primeira edição do Festival Internacional de Curtas-metragens de Macau a curta “Memórias de Uma Casa Vazia”, o seu mais recente filme. Fale-me deste projecto.

Esta é uma curta-metragem de 2023 que estreou em Setembro na Albânia, no festival de cinema de Tirana, onde ganhou uma menção honrosa, depois passou por Bilbao num festival bastante importante. Curiosamente ainda não teve a oportunidade de ser estreada em Portugal, mas esperamos que no decorrer de 2024 ela possa estrear no seu país de origem. “Memórias de Uma Casa Vazia” fala, no fundo, de memórias, sendo um pouco uma abordagem à ideia de que as mesmas coisas vividas por diferentes pessoas ganham perspectivas diferentes, e também importâncias diferentes. Baseio-me numas cartas escritas por uma mãe de família que abordam a relação com a filha e com o pai dela. [O filme aborda] a descoberta destas cartas, estas memórias de uma família.

Inspirou-se de facto em cartas escritas, ou quis simplesmente trabalhar o conceito de memórias?

Estas são cartas fictícias. Há alguns anos, quase desde o início do meu percurso, que me debruço bastante nesta temática familiar de pai, mãe e filha. Sendo este um filme completamente independente a nível narrativo, e também a outros níveis, ele acaba por ser o último filme de uma trilogia que tenho vindo a fazer. O primeiro filme retrata o ponto de vista do pai em relação à família, o segundo filme é o ponto de vista da filha em relação à família e este aborda o ponto de vista da mãe. Mas são filmes separados uns dos outros, não precisamos de ver os três para os entender, pois trabalham bem sozinhos. É uma temática que quis abordar, pois a relação familiar, que idealmente pensamos como um sonho ou algo pacífico, quase harmonioso, mas, de repente, por mil e uma razões, esta harmonia pode quebrar-se de forma bastante violenta, e isso é retratado no filme.

O Bruno tem alguma visibilidade no cinema feito em Portugal. Como olha para o percurso que tem traçado até aqui?

Claramente orgulho-me no que tenho feito. Curiosamente o meu trabalho já esteve presente em Macau há cerca de dois anos com uma curta-metragem de animação, “O Voo das Mantas”. Fico bastante satisfeito. Tento fazer o que me apetece, mas sempre com as condicionantes face ao que me é permitido fazer. Vou trabalhando com aquilo que posso. O meu cinema não é tão convencional no sentido clássico, como estamos mais habituados, onde podemos ter os actores que nos contam as histórias e trabalham para a câmara. Nesse sentido, os meus filmes poderão ser mais experimentais ou diferentes, digamos assim. Fico satisfeito porque, apesar de mostrar uma linguagem que não é tão comum, o cinema que tenho feito tem tido uma aceitação constante.

Até que ponto este “Memórias de Uma Casa Vazia” constitui uma mudança ou evolução como realizador?

Sinto que a cada filme que faço há sempre alguma coisa em que sinto que amadureci e que acabei por incluir de alguma maneira. Neste filme sinto que talvez tenha conseguido, finalmente, amadurecer o ritmo em que a história é contada. Cada filme é um filme, não quero falar menos bem dos meus filmes anteriores, mas sinto que este é, talvez, um filme menos apressado, onde não tive tanta pressa de contar a história ao espectador, ela é contada no seu próprio ritmo. Isso foi uma coisa muito boa que consegui construir.

Que expectativas deposita nesta edição do festival? Acredita que pode dar uma maior visibilidade ao seu trabalho na Ásia, por exemplo?

Estou expectante, porque este festival está a arrancar com um grande apoio a nível organizacional por parte do Governo e isso é muito bom, porque se consegue juntar os realizadores e outras pessoas da área e isso é desde logo um ponto a favor para esta primeira edição. Parece-me também que juntar todas estas pessoas traz muita credibilidade ao festival, pois arranca já com uma grande expectativa.

Como olha para o cinema feito em Macau, ainda de pequena dimensão face ao mercado de Hong Kong, por exemplo?

Confesso que não estou familiarizado com o cinema que se faz em Macau, mas vou aproveitar esta viagem para o fazer. Fiz questão de estar presente e de estar uma semana para conhecer o máximo de pessoas possível e estabelecer contactos. Quero começar a perceber como funciona a indústria, se há ou não oportunidades.

Já está a pensar em algum projecto novo, ou está ainda focado na promoção desta curta?

De momento sim, mas já estou a desenvolver algumas experiências ao nível da inteligência artificial para cinema, mas no sentido exploratório, de tentar perceber o que é que esta área pode fazer pela indústria do cinema, no sentido de poder vir a facilitar algum tipo de processos. Mas estou muito focado na promoção deste filme, que tem a particularidade de ser filmado em película analógica Super 8. Acaba até por ser um pouco um contrassenso eu andar a pesquisar sobre inteligência artificial e, ao mesmo tempo, andar a promover este filme feito de uma forma ainda muito tradicional, com película analógica.

A inteligência artificial pode trazer mais benefícios do que riscos, ou o contrário?

Se nos focarmos naquilo que é inteligência artificial exclusivamente para cinema, e na ajuda do processo de criação artística, acredito que seja uma mais-valia para acelerar alguns processos, ou algumas coisas de pós-produção que até são um pouco aborrecidas de fazer. Se olharmos para a inteligência artificial de uma forma mais geral, é um tema preocupante e assustador, porque não sabemos até onde pode ir. É um misto de emoções e pensamentos, mas, ao mesmo tempo, não podemos ficar na ignorância.

26 Mar 2024

Macau Jockey Club | Do trote ao descalabro financeiro

A dias de encerrar portas definitivamente, persiste o impasse no Macau Jockey Club na relação com os donos dos cavalos. Tam Vai Lam, que detém oito animais, aponta o dedo ao Governo e diz que os donos vão procurar apoio jurídico. Eis o fim conturbado de um espaço fundado há 40 anos que nunca conseguiu cativar turistas e a população local como o Canídromo outrora o fez

 

É já na próxima segunda-feira que chegam definitivamente ao fim as apostas em corridas de cavalos em Macau. O encerramento do Macau Jockey Club constitui, assim, o virar da página de uma história que durava há 40 anos sen nunca ter sido bem-sucedida: se o Canídromo, com as apostas em corridas de galgos, chegou a atrair, a partir dos anos 60, muitos turistas e apostadores locais, o mesmo nunca aconteceu com o Macau Jockeu Club, que fechou portas devido a perdas financeiras sucessivas.

Na verdade, o primeiro capítulo do Macau Jockey Club centrou-se nas apostas em corridas de cavalos a trote, tanto que o nome inicial chegou a ser Macau Trotting Club, instituído em 1980 pelo empresário de jogo local Yip Hon, inspirado nas populares corridas da América.

Ao HM, Jorge Fão, dirigente da Associação dos Reformados, Aposentados e Pensionistas de Macau (APOMAC), confessa que as corridas a trote “estavam na moda” e a ideia era trazer esse modelo para o território.

“Aquilo foi inaugurado de forma pomposa, mas não deu resultado e nunca criou entusiasmo ao povo de Macau nem da China, porque mesmo que o chinês goste de jogar, nada se compara às apostas no Jockey Club de Hong Kong”, confessou.

A partir de 1989, foi criado oficialmente o Macau Jockey Club, já sem as corridas a trote, “para se assemelhar às corridas de Hong Kong”, lembrou Jorge Fão.

O dirigente associativo e ex-deputado considera que, depois do fecho do Canídromo, em 2018, e agora do Macau Jockey Club, encerra-se também “parte da nossa história de jogo”.

Numa altura em que “o Canídromo tinha mais entusiastas”, Jorge Fão recorda que as corridas de cães sempre criaram o rebuliço que os cavalos não souberam gerar. “As corridas de cavalos não conseguiram enraizar-se em Macau, enquanto as corridas de cães conseguiram. Nos primeiros 10 ou 15 anos havia muitos apostadores, mas os cavalos quase nunca conseguiram atrair essa enchente de pessoas.”

“O Canídromo recebia apostas lá dentro, da parte da assistência, mas também tinha o chamado sistema ‘booking’, a aposta externa, em que pessoas aceitavam as apostas feitas por outras. Era um sistema um pouco à margem da lei, mas todos sabiam que funcionava. Os ‘bookings’ sempre existiram nas corridas de cavalos, mas mesmo assim aquilo não funcionou”, recorda Fão.

De mão em mão

Aquela que foi a primeira pista de corridas de cavalos a trote na Ásia parecia ter tudo para vingar, com 2.110 metros de comprimento, mas a verdade é que o interesse acabou ao fim de pouco tempo. Segundo o portal Macao News, que cita declarações de Vu Ieng Kan, presidente da Associação de Jornalistas de Corridas de Macau, dadas ao jornal Ou Mun, “o [número total de] apostas passou de três milhões de patacas no dia da abertura para apenas dois milhões de patacas em menos de meio ano”.

Seguiu-se a passagem do testemunho de mão em mão, como que numa tentativa de lidar com um negócio que acabou por se tornar num problema. O Macau Trotting Club fechou portas em 1988 face ao insucesso das corridas, tendo sido vendido a uma empresa de Taiwan que fundou então o Macau Jockey Club em 1989.

Sem conseguir gerar lucros, tal como o seu antecessor, a empresa encerrou a actividade apenas passado um ano, tendo o negócio passado então para as mãos de Stanley Ho, que o adquiriu em consórcio. Actualmente era a sua quarta esposa, e já viúva, Angela Leong, que estava à frente do negócio.

As perdas financeiras sucederam-se, e já em 2019 os deputados da Assembleia Legislativa questionaram as razões para o Governo renovar com uma empresa, em 2018, que só apresentava enormes prejuízos.

“O Governo prolongou o prazo do contrato até 2042 e entendemos que precisa de dar um fundamento para este prolongamento. Na passada sessão legislativa não facultou informações sobre os investimentos e em Agosto o Executivo apresentou um plano de investimento e outros documentos complementares”, disse Lei acrescentando que “a concessão já foi feita e o Governo não explicou claramente as razões para a renovação”, disse, à data, a deputada Ella Lei.

Aquando da renovação do contrato já era exigido que a empresa reembolsasse 150 milhões de patacas em dívida em três anos. Previa-se um investimento no terreno na Taipa na ordem dos 3,5 a 4,5 mil milhões de patacas, com a ideia de ali desenvolver um parque temático com cavalos e instalações para aulas de equitação, e ainda um hotel e um aparthotel. Tudo isso caiu por terra, e, com a pandemia, o fosso financeiro só aumentou.

A mão de Stanley Ho

Apesar de acabar sem glória, houve tempos em que o Macau Jockey Club gerou algum burburinho, muito por conta do cunho pessoal de Stanley Ho, que soube atrair algumas personalidades e patrocínios. Adquirido pelo magnata dos casinos por 400 milhões de patacas, o Macau Jockey Club chegou a ter estrelas das corridas de cavalos como Lester Piggott ou Frankie Dettori, que competiram no território em 2002.

Logo nos anos a seguir à transição, nomeadamente em 2003 e 2004, a empresa chegou a atingir nove mil milhões de patacas de lucros, organizando mais de 1200 corridas com cerca de 1200 cavalos, mais do que a entidade congénere de Hong Kong tinha à época.

O Macau Jockey Club chegou mesmo a ser cenário para a produção de filmes de Hong Kong, tendo recebido apoios de celebridades como o actor Eric Tsang ou Li Ning, antiga atleta olímpica chinesa.

Segundo o portal Macao News, o percurso de sucesso do Jockey Club mudou quando Stanley Ho sofreu um ataque cardíaco em 2009 e não mais teve a capacidade de intervir pessoalmente na projecção do espaço de corridas. A quebra foi tão grande que, na última temporada de corridas, existiam apenas 220 cavalos em competição.

Com 254 trabalhadores residentes e 316 não residentes empregados pela companhia, num total de 570 trabalhadores, o Macau Jockey Club iniciava a sua temporada de corridas em Setembro, terminando em Agosto do ano seguinte. Todas as semanas decorriam duas corridas, transmitindo também as competições da congénere de Hong Kong.

Já nos anos 90, o Macau Jockey Club começou também a destinar muitos milhões para caridade. A partir de 1995 começou a organizar-se o Dia da Caridade anual, além de terem sido atribuídos apoios para bolsas de estudo. Foi ainda criado o fundo de caridade “Macau Loving Heart Charity Fund”, em 2003, destinado a apoiar entidades locais e da China dedicadas ao apoio social.

Em Janeiro deste ano o fim foi anunciado, com o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, a admitir que “as referidas actividades têm vindo a tornar-se cada vez menos atractivas para os residentes locais e turistas nos últimos anos”. Não haverá nova concessão de corridas de cavalos, assegurou o Executivo.

Donos de animais ainda sem respostas da empresa

Tam Vai Lam, dono de oito cavalos de corrida, o proprietário com maior número de animais no Macau Jockey Club, acusa a empresa de, até à data, não ter apresentado um plano concreto sobre a forma como os animais vão ser tratados após o fecho das corridas, além de não ter dado uma resposta sobre os pedidos de indemnização pelo fim das competições.

“Há cerca de 300 cavalos lá, contando com os que já não correm, e como são alimentados por mão humana desde sempre não é possível agora libertá-los num ambiente selvagem. Por essa razão é necessário que continue a haver pessoas a cuidar deles, até porque alguns vão ser transferidos para outras regiões e esperamos que possam manter a capacidade de corrida. Contudo, até ao momento, o Jockey Club nunca nos disse quais os recursos humanos de que dispõe para cuidar dos animais”, contou o proprietário ao HM.

Tam Vai Lam investe em corridas de cavalos há mais de 30 anos e diz sentir-se “desapontado” com a súbita rescisão do contrato, dizendo que os proprietários têm sido “ignorados” em todo o processo, “ao nível da negociação e na defesa dos nossos direitos”. “Tentámos contactar directamente com o Jockey Club para negociar as nossas exigências, mas nunca nos foi dada uma resposta oficial. Apenas recebemos documentos, e quem falava connosco não tinha poder para decidir. Muitos donos dos cavalos vão contactar advogados para exigir soluções, por meios jurídicos, ao Macau Jockey Club”, adiantou.

ANIMA atenta

Do lado da ANIMA os contactos apenas têm sido feitos junto do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) quanto ao destino a dar aos animais, e poucas novidades existem a dias do Jockey Club fechar. Há cerca de duas semanas, os donos dos cavalos fizeram chegar uma carta com reivindicações.

Ao HM, Zoe Tang, presidente da ANIMA, disse que o IAM continua a dialogar com o Jockey Club sobre o destino que será dado aos animais.

Tendo ainda em conta os gatos que existem nas instalações do Jockey Club, a ANIMA tem vindo a dar apoio na alimentação e esterilização, sendo que, desde Fevereiro já foram esterilizados dez animais. Mas Zoe Tang confessa a falta de fundos da associação para continuar a desenvolver esta acção. “Quando o Governo recuperar o terreno, o que vai acontecer a estes gatos? Quando ninguém puder entrar para os alimentar vão morrer de fome ou o IAM vai capturá-los, com o risco de estes serem abatidos?”, questionou. Com Nunu Wu

26 Mar 2024

Hong Kong | Retrospectiva de Warhol na galeria Gagosian

“Warhol’s Long Shadow” é o nome da nova exposição inaugurada hoje na galeria Gagosian, em Hong Kong. Uma oportunidade para ver obras de artistas inspiradas por um dos nomes maiores da Pop Art que trabalhou com vídeo, fotografia, serigrafia e pintura, revolucionando a forma de expressão da cultura pop do pós-II Guerra no mundo das artes

 

Homem de rosto estranho, com cabelo branco causando ainda mais estranheza, Andy Warhol, natural de Pittsburg e falecido em 1987, foi um dos grandes nomes do movimento artístico Pop Art, tendo deixado serigrafias de personalidades famosas, incluindo do próprio Mao Tse-tung, antigo Presidente chinês, vídeos filmados na sua “The Factory”, estúdio em Nova Iorque, ou fotografias tiradas no formato Polaroid.

Os amantes ou curiosos do trabalho deste vulto da arte contemporânea podem agora ver a exposição “Warhol’s Long Shadow” na galeria Gagosian, em Hong Kong, que mais não é do que um conjunto de trabalhos de vários artistas influenciados por Warhol. A mostra, patente até ao dia 11 de Maio, a par do evento Art Basel Hong Kong, acaba por fazer também uma retrospectiva da carreira do vulto maior da Pop Art.

Na zona de Central apresenta-se um conjunto de obras seleccionadas especificamente para esta mostra por Jessica Beck, e que anteriormente estiveram no Museu Andy Warhol, situado em Pittsburgh.

“A exposição considera o impacto cultural contínuo de Warhol, justapondo pinturas, fotografias e filmes importantes do artista com obras de alguns dos seus contemporâneos e sucessores, incluindo Derrick Adams, JeanMichel Basquiat, Urs Fischer, Nan Goldin, Douglas Gordon, Alex Israel, Takashi Murakami, Richard Prince, Nathaniel Mary Quinn, Sterling Ruby e Zeng Fanzhi”, lê-se num comunicado da Gagosian.

Tido como “um dos artistas mais prolíficos do século XX”, Warhol conseguiu que a sua obra permanecesse anos após a sua morte e nunca passasse de moda. “Ao longo de quatro décadas, [Andy Warhol] reinventou continuamente a sua prática, passando dos desenhos íntimos dos anos 1950 para as icónicas pinturas Pop serigrafadas de celebridades, bens de consumo e desastres nos anos 1960, aos retratos da elite social dos anos 70, e ainda às fotografias, programas de televisão e colaborações nos anos 80.”

A “heterogeneidade” do legado de Warhol acabou por “formar e inspirar numerosos artistas contemporâneos”. Alguns dos trabalhos mais conhecidos do artista são “Silver Liz”, pintura de 1963, o retrato de Mao em Pop Art feito em 1973, ou ainda o da actriz Marilyn Monroe em 1979.

Destaque ainda para o pequeno filme feito com Donyale Luna, considera a primeira grande modelo negra do mundo da moda, entre 1965 e 1966. Todos estes trabalhos levaram à redefinição “do retrato na sua relação com o estilo contemporâneo, o poder e o mundo das celebridades”.

As influências

Segundo a Gagosian, “os novos estilos de representação que Warhol desenvolveu e o seu desafio às normas de género estão em sintonia com a centralidade temática da identidade, do glamour e da performance nas fotografias de Nan Goldin”. O exemplo revelado nesta exposição é da fotografia “Ivy in Opera Gloves, Boston”, trabalho de Nan Goldin datado de 1972.

Já o retrato duplo de Jean-Michel Basquiat com Warhol, intitulado “Dos Cabezas”, de 1982, foi feito pouco depois de Basquiat ter conhecido o seu ídolo. Por sua vez, “Sweet Pungent”, quadro de 1984 a 1985, é “uma das mais de 160 pinturas em que os dois colaboraram”, onde “Warhol regressou também à pintura à mão”.

Andy Warhol soube experimentar “novas estratégias de criação artística, mas também reimaginou a sua personalidade pública através de técnicas de duplicação, uso de máscaras e registo”.

Na obra “Polaroid Self-Portrait in Fright Wig”, de 1986, Warhol altera a sua aparência ao colocar uma peruca prateada e óculos de sol, ocultando também as suas feições na sombra. Além disso, “evidenciando uma afinidade desconfortável com esta abordagem”, a obra de duas peças “SelfPortrait of You +Me Andy”, de 2008, da autoria de Douglas Gordon, “inclui uma reprodução comercial de um autorretrato de Warhol de peruca parcialmente queimada, dividida e montada num fundo espelhado.

“Warhol’s Long Shadow” mostra ainda ao público de Hong Kong a obra “Dew”, de Urs Fischer, feita no ano passado, onde são empregues “estratégias pós-warholianas de apropriação e transformação de imagens comerciais”. Já em ” The Athlete (2024), Nathaniel Mary Quinn interpreta polaroids e pinturas de Muhammad Ali e Kareem Abdul-Jabbar da série Athletes de Warhol, juntamente com uma lata de sopa Campbell’s, um dos produtos mais consumidos pela população norte-americana do pós-II Guerra Mundial e elemento bastante conhecido dos quadros de Warhol.

Outro trabalho recente inspirado por Warhol, patente na exposição da Gagosian, é “Cool Down Bench (RWB)”, de 2023, de Derrick Adams, uma forma de abraçar “a cultura popular”, enquanto “Untitled”, de 2010, e de Richard Prince, estabelece uma relação entre o humor e o universo de Warhol.

25 Mar 2024

CCCM assina acordo com Universidade Politécnica de Macau

Uma delegação da Universidade Politécnica de Macau (UPM) assinou esta quarta-feira com o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) um acordo de cooperação na área académica, dias depois de ter feito o mesmo com a Universidade de Lisboa.

Citada por um comunicado, Vivian Lei, vice-reitora da UPM, destacou que o acordo assinado pode levar a uma maior “cooperação das duas partes no desenvolvimento de mais projectos de investigação científica, na promoção dos resultados da investigação académica e na organização de conferências académicas ou actividades culturais a nível internacional”. A ideia é “impulsionar em conjunto o desenvolvimento da educação e da cultura da China e de Portugal”.

Já Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM, disse considerar “do maior interesse o protocolo agora assinado com a UPM”, tendo em conta prévias parcerias com as universidades de Macau e de São José.

“Esta parceria vai reforçar a investigação, a formação, a publicação e a divulgação cultural no contexto das relações interculturais e internacionais entre Portugal e a China, através da organização conjunta de várias actividades, como conferências, cursos, exposições ou edições.”

A responsável falou ainda da importância da “difusão do conhecimento entre Portugal e a China através de Macau” como sendo “da maior importância, devendo ser incrementada”.

Boas relações

Esta parceria foi assinada no último dia das Conferências da Primavera, evento anual que decorreu nas últimas semanas e que serviu para a apresentação do trabalho de vários investigadores. Carmen Amado Mendes lembrou as múltiplas colaborações que o centro tem efectuado com Macau nos últimos anos, que passaram pela organização de exposições com o Instituto Cultural ou a colaboração com o Instituto Português do Oriente na elaboração do catálogo do museu do CCCM.

Além das edições conjuntas com a Universidade de Macau, a académica salientou a colaboração com a Universidade de São José no “desenvolvimento de um hub académico e científico” ou do acolhimento de vários estagiários em Lisboa oriundos do Instituto de Estudos Europeus de Macau.

22 Mar 2024

AMAGAO | Exposição celebra dois anos de mostras de arte

“YearTWO” é o nome da mostra hoje inaugurada no Artyzen Grand Lapa com vista a celebrar os dois anos de existência da galeria de arte AMAGAO, que tem organizado diversos eventos culturais no território. Até ao dia 5 de Maio podem ser vistos trabalhos de diversos quadrantes artísticos de figuras ligadas à arte, mas não só

 

A aventura de trazer artistas internacionais, incluindo lusófonos, a Macau para mostrar a sua arte arrancou há dois anos e promete não ficar por aqui. O segundo aniversário da galeria de arte AMAGAO, no Artyzen Grand Lapa, celebra-se hoje com a inauguração de uma exposição, a “YearTWO”, que pretende ser uma ode à arte, mas também a rostos das pessoas que vivem no território e que, há anos, foram dando cartas a nível profissional e criativo.

Incluem-se no rol de 34 artistas escolhidos nomes como o do pintor Denis Murrell, o arquitecto Alexandre Marreiros, o ilustrador Rui Rasquinho ou ainda o fotógrafo Gonçalo Lobo Pinheiro. A presidente da Fundação Oriente em Macau, Catarina Cottinelli da Costa, é outro dos nomes escolhidos, ao lado da joalheira Cristina Vinhas ou de Lai Sio Kit, Wilson Chi Ian Lam ou o designer Victor Hugo Marreiros.

Em declarações ao HM, José Isaac Duarte, co-fundador da AMAGAO, faz um “balanço positivo” da actividade cultural desenvolvida, ainda que tenham tido de enfrentar os desafios da pandemia.

“O período covid não foi fácil para nenhuma área de actividade, mas não nos impediu de lançar as bases do projecto”, apontou. Um dos eventos mais recentes promovidos pela AMAGAO, em colaboração com a Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau, foi, no ano passado, a exposição “Paisagens Interiores”, em que, pela primeira vez, se apresentou no território o trabalho da artista plástica Suzy Bila, natural de Moçambique.

De destacar também a organização, em 2022, de “Lusografia”, mostra inaugurada a propósito das celebrações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões das Comunidades Portuguesas.

José Isaac Duarte está ligado à inauguração de exposições há bastante tempo, apesar da formação e trabalho como economista. Considera que a “YearTWO” não é mais do que “um pretexto para um encontro de celebração com o público e artistas, sublinhando a continuidade do projecto”.

Traços lusófonos

Uma vez que a AMAGAO se tem pautado, desde os primeiros sinais de existência, por revelar o que de melhor se faz na arte em língua portuguesa, José Isaac Duarte confessa que esse continua a ser o principal paradigma no trabalho desenvolvido.

“A ligação especial ao mundo lusófono constitui um dos traços distintivos da nossa identidade que queremos continuar a manter, contribuindo, assim o achamos, para a vivacidade do diálogo artístico na região.”

Confrontado sobre o panorama de exposições e artístico depois da pandemia, o responsável pensa que “a oferta expositiva aumentou, mas ainda não assistimos a uma consolidação ou estabilização do mercado local ou dos fluxos de visitantes mais direccionados para as actividade culturais”.

22 Mar 2024

China-UE | Embaixador chinês deixa alertas em conferência no Porto

Zhao Bentang, embaixador chinês em Portugal, deixou vários recados numa conferência na Universidade do Porto sobre o relacionamento entre a China e a União Europeia, alertando para o facto de questões como o afastamento da Huawei nos concursos da rede 5G ou a maior supervisão face ao investimento estrangeiro trouxeram “desnecessárias turbulências e obstáculos ao desenvolvimento das relações” entre os dois campos

 

Os recentes episódios menos positivos no relacionamento comercial e diplomático entre a China e a União Europeia (UE) foram abordados num discurso de Zhao Bentang, embaixador chinês em Portugal, esta terça-feira, no âmbito da “Conferência Relações China-UE” que decorreu no Porto promovida pela Associação dos Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS) e pela Universidade Lusófona.

No evento, que não contou com a presença física do diplomata, foi lido o discurso do embaixador onde se chama a atenção para a ocorrência de “desnecessárias turbulências e obstáculos ao desenvolvimento das relações entre a China e a UE” graças a episódios como o afastamento da Huawei de leilões da rede 5G por parte de alguns Estados-membros da UE, nomeadamente Portugal, ou a chegada de uma nova legislação promovida pela Comissão Europeia que vai reforçar a supervisão do investimento estrangeiro que chega ao mercado da UE, incluindo da China.

“O lado europeu tomou recentemente uma série de iniciativas na área do 5G, na revisão do investimento estrangeiro ou na política competitiva que geram grandes preocupações para o Governo chinês, empresas e media.”

Segundo Zhao Bentang, “a China sempre encarou a UE como parceira estratégica, tendo desenvolvido o relacionamento com a Europa com a maior sinceridade e boa vontade. Há uns anos, um documento político oficial europeu elevou a China a grande parceiro, um dos maiores competidores e, ao mesmo tempo, uma variável sistémica [no relacionamento]. Contudo, tem vindo a ser provado que essa posição tripartida não está em linha com os factos e não é viável.”

Recorrendo à metáfora, Zhao Bentang comparou esta relação ao acto de “conduzir um carro numa zona com três sinais: vermelho, verde e amarelo, tudo ao mesmo tempo”. “Como pode um carro conduzir nestas condições?”, questionou.

“Esperamos que tanto a China como a UE possam estabelecer uma percepção correcta, manter um entendimento mútuo e confiança, bem como respeito, não fomentando uma relação como rivais apenas devido às diferenças existentes nos seus sistemas, nem reduzir a cooperação apenas devido à competição, ou entrar em confrontos apenas devido à existência de diferenças. O desenvolvimento da China constitui uma oportunidade, não um risco, para a Europa”, frisou.

Destacando os diversos encontros que Xi Jinping, Presidente chinês, manteve com líderes europeus nos últimos anos, nomeadamente Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, e Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, ou ainda “líderes da Alemanha, França, Espanha e outros países europeus”, Zhao Bentang destacou que “os dois lados transmitiram sinais positivos em prol de mais esforços para fomentar essa força relacional”.

Assumindo uma visão pragmática, o embaixador frisou que “quanto mais profunda for a cooperação entre a China e a UE, mais inevitável será o crescimento de visões e diferenças”.

“Não deveremos evitar os problemas, mas temos de admitir que essas diferenças significativas em termos de sistemas sociais e níveis de desenvolvimento podem não ser solucionados a curto prazo. A chave é procurar campos comuns [para a cooperação] no meio dessas diferenças, e não ignorar eventuais consensos devido a diferenças a título individual. Não podemos também deixar que a cooperação, em termos gerais, sofra constrangimentos devido a diferenças locais”, disse ainda.

Portugal, aquele modelo

O embaixador não esqueceu o facto de Portugal “desempenhar um modelo a seguir na cooperação entre a China e a UE”.

“Tendo como ponto de partida a perspectiva histórica, China e Portugal deveriam juntar as mãos e aprender com as experiências dos últimos 45 anos de desenvolvimento, trabalhando em conjunto para promover um progresso ainda maior, sendo um parceiro estratégico global na relação entre a China e a UE. Tal está em linha com os interesses de longo prazo da China e da Europa, bem como as expectativas comuns da comunidade internacional”, adiantou.

O diplomata citou também, no discurso, um inquérito realizado pela Câmara de Comércio da UE na China que fala da importância que o país continua a desempenhar para a visão estratégica das empresas europeias.

Este inquérito “revela que grande parte das empresas europeias na China continuam a ter lucros, e mais de 90 por cento das empresas inquiridas continuam a olhar para a China como um destino de investimento”.

Enquanto isso, disse Zhao Bentang, “59 por cento das empresas entrevistadas considera a China como um dos três principais destinos de investimento”.

“Mais importante é criar um sistema e ambiente de mercado aberto, justo e não discriminatório para os intervenientes de ambos os lados. Os esforços da China para expandir a abertura e melhorar o ambiente de negócios são óbvios para todos, mas tal não se verifica no lado europeu”, acusou.

O responsável entende que se deve fomentar “uma cooperação aberta e com mútuos benefícios”, sendo que “aprofundar o relacionamento entre a China e a UE não é apenas uma medida paliativa, mas uma escolha estratégica com benefícios mútuos, numa situação que proporciona ganhos mútuos”.

Ainda referindo alguns dados estatísticos, o embaixador lembrou, como prova da bem-sucedida relação comercial entre a China e a UE, que entre 2013 e 2022 o comércio entre os dois lados aumentou de 125.2 biliões de USD para 847.3 biliões.

Abaixo o unilateralismo

Zhao Bentang aproveitou também para referir algumas ideias em matéria de diplomacia que são, aliás, bastante referidas nas orientações de política externa chinesa, incluindo pelo próprio Xi Jinping.

Foi referida, nomeadamente, a ideia de que “a China e a UE devem opor-se ao unilateralismo, mantendo o sistema internacional com a ONU [Organização das Nações Unidas]” como o centro desse mesmo sistema.

Além disso, Zhao Bentang acredita que a China e a UE devem unir esforços no apoio a países africanos em desenvolvimento não apenas em termos económicos, mas também noutras áreas, nomeadamente a saúde.

“A China já apresentou à Europa algumas ideias em prol de uma cooperação tripartida, esperando também que cooperações relevantes possam ser implementadas o mais cedo possível para o benefício das populações dos países em questão.”

Dentro desta cooperação, “o lado estratégico da relação China-UE vai ser importante”, salientou. “Ambos os lados estão comprometidos com o multilateralismo, e a favor de uma gestão correcta das disputas mundiais em termos diplomáticos e políticos. Ambos os lados estão também contra o uso da força em resposta à ameaça da força”, disse, defendendo que o mundo “está hoje a atravessar uma grande mudança como não é vista há 100 anos”.

O recado para o futuro ficou dado. “À medida que a turbulência aumenta, mais é necessário trabalharmos em conjunto para enfrentar os desafios. A China e a UE são duas forças principais, dois grandes mercados e duas grandes civilizações. Quanto mais conturbado for o panorama internacional e quanto mais desafios globais surgirem, mais importante e indispensável é a cooperação entre a China e a UE”, rematou Zhao Bentang.

22 Mar 2024