Psicologia clínica | Os benefícios e riscos da introdução da IA

A inteligência artificial está aí para ficar e o seu uso no campo da psicologia começa a ser falado. Recentemente, o deputado Lam Lon Wai defendeu a sua utilização e, em Portugal, a Ordem dos Psicólogos criou a plataforma “PsIA”, que permite detectar sintomas. Nuno Gomes e Goreti Lima, dois terapeutas que trabalham com residentes, falam dos benefícios, riscos e potenciais usos da tecnologia

 

Perceber se emoções podem resultar em doenças do foro psicológico é algo que já é possível fazer com recurso à inteligência artificial (IA). O assunto começa a discutir-se em Macau ainda de forma tímida, nomeadamente através do deputado Lam Lon Wai, que em Fevereiro interpelou o Governo sobre a necessidade de aplicar ferramentas de IA em casos clínicos com jovens.

O HM falou com dois psicólogos clínicos que trabalham com residentes de Macau, de forma presencial ou à distância, sobre os benefícios e riscos de apostar na IA. Nuno Gomes, psicólogo numa clínica local, diz que a IA “é, para já, uma ajuda, e será sempre”.

“A IA é um processo irreversível e é inevitável que abranja todos campos da nossa vida, e neles está a psicologia e ajuda às pessoas. Mas venho de um campo da psicologia que é a Escola Humanista, que tem por base a relação com o paciente, e por isso não vejo grandes benefícios, para já, da utilização da IA, porque nas relações humanas a IA não entra”, defendeu.

Nuno Gomes acredita que a IA pode ajudar na fase de diagnóstico, embora pense que “o psicólogo vai ser sempre a personagem central”. “A IA pode ser uma vantagem em Macau para as pessoas que têm dificuldades em pedir ajuda. O uso da IA bem definido, até em termos éticos, poderá ser bastante útil para o início de uma terapia. Porém, neste momento não temos condições para o uso da IA ao nível de uma terapia mais completa e de fundo”, disse.

Nuno Gomes recorda ainda que para quem deseje falar com alguém, a IA “pode dar a sensação de que não estamos sozinhos e que está alguém do outro lado”. Trata-se de uma sensação que é ainda “estranha”, mas que “no futuro deixará de o ser, porque a IA vai fazer parte dos nossos dias”.

O psicólogo acredita que a IA “poderá funcionar desde que seja eticamente bem regulada, podendo ajudar em terapias breves, mas sempre como complemento de um processo maior”.

Goreti Lima, que já viveu em Macau, continua a fazer psicologia clínica à distância com residentes que vivem no território. É mais céptica em relação ao uso da IA, defendendo que a relação humana é sempre fundamental para um acompanhamento de qualidade.

“A terapia faz-se na relação e estas aplicações não contemplam isso. Acho muito bem que possamos utilizar a IA para diagnosticar, ver sintomas, mas isso também podemos fazer com um livro ou artigo. O ChatGPT já nos diz algumas coisas na área da psicologia, possíveis análises dos sintomas. A IA ajuda nesse processo, mas depois o resto funciona na relação terapêutica. É por isso que as pessoas gostam mais de um psicólogo ou outro. Depois há a questão ética, os dados são armazenados como? Vão para onde? As pessoas podem confiar?”, questiona.

Recomendações em Portugal

Numa interpelação escrita dirigida ao Governo da RAEM, o deputado Lam Lon Wai questionou se vai existir “cooperação” entre departamentos governamentais, empresas tecnológicas e instituições académicas locais no uso da IA na área da saúde mental. Porém, Goreti Lam lamenta que deputado “não fale na figura do psicólogo”.

“Os académicos têm uma experiência diferente dos psicólogos e terapeutas, que adquiriram essa experiência em termos práticos. Isso desenvolve-se ao longo do tempo. Todas essas questões têm de ser pensadas na hora de aplicar a IA. A IA pode identificar o que a pessoa tem e até técnicas a utilizar, mas depois há que ter em conta condições deontológicas. A avaliação tem sempre nuances consoante o contexto social da pessoa, e isso nunca é analisado na IA, ou então é de forma insípida”, acrescentou.

Portugal é um dos países onde a aplicação da IA na psicologia começa a ganhar alguma forma, ao ponto da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) ter criado a ferramenta online “PsIA”, que permite enunciar uma série de sintomas e chegar a um diagnóstico. Os dados pessoais parecem ficar protegidos com a introdução, no website, do número do Cartão de Cidadão, com a Chave Móvel Digital.

Além disso, a OPP criou um manual de boas práticas, intitulado “O factor humano na inteligência artificial – Recomendações estratégicas para a sustentabilidade”, que refere que existem “terapeutas virtuais que conseguem identificar, na comunicação com as pessoas, dificuldades emocionais que facilitam a educação psicológica deliberada”, além de potenciarem “a aprendizagem de técnicas e competências que visam, por exemplo, a redução da ansiedade”.

Além disso, o documento da OPP conclui que “alguns estudos sugerem que estes chatbots, desenvolvidos com base em modelos terapêuticos validados, podem ser eficazes na redução de sintomas depressivos e, inclusive, que algumas pessoas estabelecem com eles um vínculo semelhante ao de uma relação humana”. Porém, “estas evidências não se encontram consolidadas e questões relacionadas com a segurança (de pessoas e dados), a eventual dependência das tecnologias e a responsividade do apoio prestado face a diferentes dificuldades psicológicas não se encontram esclarecidas”, lê-se ainda.

Relativamente ao PsIA, é referido no website da OPP que “em questões muito específicas ou complexas não deve ser utilizado em tarefas que requeiram julgamento e avaliação especializados, análise técnica profunda ou aconselhamento profissional”. É ainda esclarecido que as respostas fornecidas baseiam-se “nos documentos e informações disponíveis” até ao dia 31 de Julho do ano passado, além de que a PsIA “não substitui de forma alguma o papel de um psicólogo ou de quaisquer actividades de supervisão”.

No caso de Hong Kong também começam a surgir algumas soluções, o que motivou, aliás, a interpelação do deputado Lam Lon Wai. É o caso da Hollo, uma aplicação de telemóvel desenvolvida em ligação com a Universidade de Hong Kong (UHK) e que pretende “tornar os cuidados com a saúde mental mais acessíveis aos pacientes, plataformas de serviços e organizações”.

A Hollo usa o poder da IA e tecnologias para levar práticas clínicas estandardizadas a um outro nível de produtividade, inteligência e conectividade digital. Segundo Cameron van Breda, CEO e co-fundador da Hollo, a empresa pretende ser “uma ferramenta facilmente acessível em momentos de stress, oferecendo análises e sugestões de amizade para melhores exercícios da saúde mental”. Em termos práticos, “foca-se nos jovens dos 12 aos 24 anos, funciona em inglês e chinês e introdu-los à terapia e práticas de aconselhamento através de actividades de ‘mindfulness’ e jogos diários”, lê-se no website da UHK.

Quase na mesma

Questionado sobre o panorama da saúde mental de Macau, Nuno Gomes entende que persiste “algum conservadorismo e desconhecimento não só naquilo que é a IA e as áreas onde se pode aplicar, mas também daquilo que a psicologia pode fazer”.

“A psicologia está cá para ajudar pessoas e no contexto de Macau não há ainda esse entendimento. Esse estigma impede muitas pessoas de procurar ajuda e a IA pode dar esse apoio. No entanto, a população mais velha desconhece ainda muito o funcionamento da IA, mas os mais jovens vão recorrer cada vez mais a este tipo de plataformas”, disse.

Em termos gerais, “o panorama da saúde mental pouco mudou desde a pandemia”, pois “no geral, as pessoas não sentem necessidade de expressar emoções e desde pequenas que são encorajadas a guardar as emoções, que quando são más e guardadas muito tempo, começam a fazer mal. As pessoas não sabem como exprimi-las por vergonha ou culpa”. Goreti Lima também entende que na área da saúde mental há ainda algum desconhecimento em Macau.

12 Mar 2025

Augusto Nogueira, presidente da ARTM: “Macau está à frente de Hong Kong”

A Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau faz 25 anos este ano. Augusto Nogueira faz um balanço positivo do quarto de século que começou com uma pequena comunidade terapêutica e atingiu o reconhecimento internacional. O presidente da associação defende que, em prevenção, Macau está à frente de Hong Kong e que o consumo de drogas sintéticas ainda não é problemático no território

 

 

Que balanço faz do trabalho desenvolvido pela ARTM nestes 25 anos?

Fazemos o balanço bastante positivo, pois começámos com uma pequena área e uma pequena comunidade terapêutica. Hoje em dia temos uma comunidade com capacidade para 60 pessoas, muito mais do que as 15 que tínhamos na altura. Desenvolvemos vários programas, nomeadamente o da distribuição de seringas, que é um sucesso, porque levou a uma redução e quase supressão do contágio de VIH por parte de pessoas que injectam drogas. Há nove anos que existe o programa e temos zero casos de infecção. Desenvolvemos apoio à integração social e acompanhamento após o tratamento, com o “After Care”. Fazemos trabalho preventivo nas escolas com o programa “Be Cool”. Temos o projecto “Hold on To Hope”, com aposta na educação vocacional, através do café e da galeria de arte. É um projecto que está bem conseguido e que acaba por ser algo virado para o turismo. Temos visitas de entidades internacionais e diversas organizações não-governamentais, e das próprias Nações Unidas. O mais positivo para nós é sabermos a quantidade de pessoas que estão recuperadas e que hoje estão bem. Infelizmente, não conseguimos recuperar todas as pessoas, mas em cada recaída há sempre a possibilidade da pessoa vir novamente para fazer tratamento.

Tem ideia de quantas pessoas recuperaram em 25 anos?

Não conseguimos ter essa noção. Mantemos contacto com muitas pessoas, mas outras já deixaram Macau, seguiram a sua vida. Temos alguns contactos nos dois primeiros anos após o tratamento, mas depois a vida segue. As pessoas também querem seguir uma vida sem ter ligação à ARTM, às vezes casam e os novos companheiros não sabem da sua vida anterior e querem manter algum sigilo. Mas às vezes encontramo-nos. No outro dia pagaram-me uma água sem eu saber (risos). São pequenos gestos que nos dão satisfação para continuar e que nos fazem acreditar que a recuperação é sempre possível.

Quais os grandes desafios actuais para manter o projecto da ARTM, em termos de espaço e financiamento?

Em termos de espaço e locais para tratamento estamos bem. As instalações têm dez anos, há problemas de manutenção, mas isso está mais relacionado com o panorama das construções em Macau. Necessitamos de um espaço para o “After Care”, pois o que temos actualmente é arrendado e está deteriorado. Estamos em conversações com o Instituto de Acção Social (IAS) para termos um espaço novo. No tocante aos fundos, todos os nossos departamentos têm financiamento, mas obviamente procuramos apoios para as nossas actividades de outra forma.

Relativamente à postura das autoridades quanto ao consumo e tratamento, entende que é ainda conservadora em relação a outros países e regiões?

Essa pergunta é um pouco ambígua. Em termos de tratamento e estratégia no combate ao consumo, penso que Macau está muito à frente em relação a Hong Kong, por exemplo. Em Macau, temos comunidade terapêutica, trabalhamos na prevenção e no tratamento, além do nosso programa de distribuição de seringas e metadona. Temos um leque de tratamentos disponíveis para quem necessita. Na área da prevenção, o Governo tem dado muito apoio. O IAS tem sido bastante aberto nas estratégias de combate ao consumo e prevenção. Em Hong Kong, por exemplo, não existe um programa de distribuição de seringas. Macau é das poucas regiões do Sudeste Asiático que tem um programa de distribuição de seringas apoiado pelo Governo. Mas poderia haver outra interpretação diferente da lei, com uma diferenciação entre o que é tráfico e consumo próprio. Por exemplo, neste momento se a pessoa tiver na sua posse uma quantidade superior ao estipulado é logo considerado tráfico, sem que seja necessária prova. Pensamos que, neste caso, deveria haver uma diferenciação. Cabe depois à polícia investigar se as quantidades encontradas são para consumo ou tráfico. Deveria haver uma abertura para dar às pessoas mais oportunidades para serem encaminhadas para tratamento ao invés de irem para a prisão. Mas, ultimamente, não têm havido tantos casos quanto isso.

Como descreve o perfil do consumidor actual em Macau?

Existe uma grande redução do consumo de heroína, e as poucas pessoas que o faziam consomem hoje lorazepam, ou dormicum. Neste momento o maior consumo é de metanfetaminas, canábis e alguns resíduos de ketamina. Quanto às novas drogas sintéticas, tem havido alguns registos, mas até ao momento nada de alarmante. Mas claro que temos de estar atentos, temos de continuar a fazer um bom trabalho de prevenção, para que as pessoas tenham conhecimento dos problemas ligados ao consumo de drogas. Em relação ao tráfico, sabemos que antes da pandemia havia muito tráfico de cocaína para Macau, e após a covid-19 essa situação quase deixou de acontecer. Tem sido feito um bom trabalho de dissuasão e tem de continuar a ser feito para que cada vez haja menos tráfico a passar por Macau. Não quer dizer que não haja algumas situações actualmente, mas não estamos numa situação assim tão caótica quanto isso.

Falando das drogas sintéticas e do seu consumo, que segundo o último relatório das Nações Unidas atingiu uma situação preocupante em todo o mundo. Qual o seu comentário ao cenário descrito no relatório anual do International Narcotics Control Board?

É evidente que o consumo desse tipo de drogas tem vindo a aumentar ao longo dos anos. As drogas sintéticas são um verdadeiro problema nos Estados Unidos da América, por exemplo, com o consumo de Fentanil, e na Ásia em alguns países. É um problema global, pois o consumo e produção são fáceis. Algumas destas drogas são feitas com outros químicos e muitos outros produtos de que não se conhece bem a origem e que podem causar muitas overdoses. A ONU sugere o combate à produção dos ingredientes que são usados para produzir estas drogas, continuarmos a reforçar a investigação para apanhar os traficantes. Mas há pontos deste relatório que é necessário seguir, para muitos países, que é a luta entre ideologias.

Em que sentido?

Existe uma luta entre aqueles que defendem que a redução de danos é suficiente para combater todos estes problemas que estão a surgir, e que é a solução para tudo. Depois temos aqueles que acham que a redução de danos não faz falta. Na ARTM consideramos que tem de haver um equilíbrio, pois a prevenção é algo importante que não pode parar. O que aconteceu em Portugal, por exemplo, quando liberalizaram a droga e deixaram de fazer prevenção e apoiar o tratamento, [não foi bom], e hoje em dia Portugal está novamente numa situação um pouco caótica a nível do consumo e tráfico. Isso quer dizer que a prevenção não pode nunca deixar de existir. Devem haver tratamentos de qualidade, com supervisão de entidades. A rapidez de acesso ao tratamento tem de existir, e não pode ser como em alguns países em que as pessoas estão vários meses à espera de vaga ou autorização para entrar, pois as organizações não governamentais não deixam a pessoa entrar enquanto não recebem o subsídio para cada cama e paciente. Nesses meses muita coisa pode acontecer. A redução de danos deve ser vista como uma continuidade para recuperação, com salas para consumo com apoio médico e técnico, ou programas de gestão de seringas. Há outro problema, sobretudo na Europa, que é os consumidores de heroína, quando chegam a uma idade mais avançada, já têm muitos problemas de saúde e necessitam de sítios para estar, de uma certa dignidade. Está-se a perder muito tempo com estas guerras ideológicas, sendo que algumas delas existem por uma questão de poder, para se influenciar a liberalização das drogas, e isso é bastante prejudicial. Os direitos das pessoas acabam quando se começa a prejudicar os direitos de todas as outras pessoas, deve haver um equilíbrio. Como diz também o relatório, há falta de medicamentos para alguns países em África.


Celebrar com arte

Para comemorar os 25 anos, a ARTM inaugurou na sexta-feira a “Exposição do 25º Aniversário da ARTM”, que fica patente na Galeria Hold On To Hope até ao dia 23 deste mês. No espaço cultural na Vila de Nossa Senhora em Ká-Hó, que faz parte do programa de terapia ocupacional para os utentes da ARTM, pode ver-se uma mostra de arte feita por estes, com 45 obras de cerâmica, pintura e trabalhos de madeira. Segundo uma nota de imprensa da associação, a exposição “celebra a resiliência, a criatividade e a cura”. “Ao longo do último quarto de século, a ARTM tem sido um símbolo de esperança para indivíduos na sua jornada de recuperação da dependência. Esta exposição apresenta as extraordinárias obras de arte criadas pelos nossos residentes”, lê-se ainda.

11 Mar 2025

Debbie Lai, directora do Centro do Bom Pastor | “Vítimas precisam de mais protecção”

A propósito do Dia Internacional da Mulher, que se celebrou em todo o mundo no sábado, o HM conversou com Debbie Lai, directora do Centro do Bom Pastor, uma das entidades que acolhe vítimas de violência doméstica no território. A responsável defende celeridade nas investigações de casos de violência doméstica e mais dias de licença de maternidade

 

 

No que respeita à violência doméstica, a lei continua a não ser revista, com muitos casos em que não se consegue acusar ou condenar o agressor. O que precisa ser alterado na legislação actual?

Deve-se acelerar o tempo gasto na investigação do caso, bem como fazer uma simples promoção da lei, para deixar as pessoas compreender o que vão enfrentar caso denunciem a situação à polícia. Continua a haver medo da denúncia à polícia, então o que acontece é que o agressor, perante uma denúncia, fica com raiva, volta novamente a cometer violência e a família fica partida.

Quantas mulheres estão actualmente no Centro do Bom Pastor?

De acordo com a licença de serviço concedida pelo Instituto de Acção Social (IAS), podemos acolher 14 pessoas, incluindo os filhos. Actualmente, temos 11 pessoas, seis mulheres, três crianças e duas raparigas a viver no nosso centro. Algumas destas mulheres têm problemas devido aos conflitos emocionais, e, apesar de já terem alguma estabilidade a esse nível, continuam a ter dificuldades financeiras. Muitas dessas mulheres não são residentes permanentes e, por isso, não têm condições para se candidatarem a habitação social do Governo, além de que precisam de mais tempo para poupar dinheiro para poderem pagar uma renda em Macau, que não é barata. No caso de existirem crianças pequenas, é mais difícil para elas encontrarem um emprego a tempo inteiro, pelo que estas mulheres não se conseguem mudar num curto espaço de tempo para uma casa, chegando a ficar um ano no nosso centro. E nesta situação, o centro não consegue ter mais quartos vazios para ajudar outras mulheres em crise.

Considera que são necessários mais centros de acolhimento para vítimas de violência em Macau, ou mais recursos para garantir a segurança da vítima, dado que o território é tão pequeno?

Penso que os recursos são suficientes, mas o processo de investigação é demorado. As vítimas precisam de mais protecção, pois há sempre o risco de o agressor continuar a ameaçá-las.

O que é necessário fazer para aumentar a taxa de natalidade e garantir que as mulheres continuem a ter acesso à igualdade de oportunidades económicas e de emprego?

A promoção precisa de ser contínua, e devem aumentar os dias de licença de maternidade, pois noutros países existem mais dias de licença de maternidade. Também se poderia diminuir o valor mensal das creches. Poderia ponderar-se também a atribuição de um subsídio por cada criança caso a família tenha problemas financeiros.

Há falta de apoio às famílias monoparentais, onde as mulheres ficam sozinhas com crianças dependentes, ou onde as mulheres são cuidadoras? Em termos concretos, o que precisa ser melhorado?

Penso que sim. Penso que algumas delas não sabem que existem recursos na sociedade para as ajudar, ou talvez não tenham motivação para procurar ajuda. Muitas destas mulheres também não querem confiar no Governo, nem mesmo nas associações ou organizações não governamentais que prestam serviços à família. Mas estas mulheres podem sempre candidatar-se ao subsídio atribuído pelo Instituto de Acção Social, que lhes dá algum dinheiro e permite ficar em casa a tomar conta dos filhos.

Como descreve as mulheres em Macau actualmente, especialmente a comunidade chinesa? Estão mais emancipadas e iguais aos homens no que respeita aos seus direitos?

Hoje em dia a capacidade das mulheres mudou muito, pois têm igualdade de oportunidades e direito de se desenvolverem. Muitas empresas locais já são presididas por mulheres, por exemplo. Além de terem força física, podem escolher o emprego que desejam, frequentar o ensino superior, casar e ter a capacidade para assumir posições de liderança. Porém, há muitas mulheres que vêm para Macau e se casam com residentes e que têm uma posição social mais baixa, sofrendo com vários problemas familiares. Falo do machismo que ainda existe, do vício do jogo, situações de toxicodependência ou falta de comunicação. Há homens que controlam tudo, criando um clima em que a mulher tem de ouvir o marido e fica desprovida de auto-estima para sair dessa situação. Nesses casos, é muito fácil haver discussões, conflitos e até casos de violência entre o casal. Trata-se de situações que, obviamente, também afectam os filhos.

Dia Internacional da Mulher celebrado em Macau

O Dia Internacional da Mulher foi celebrado em Macau de formas muito diversas. No caso da Sands China, foram oferecidas flores às trabalhadoras da operadora de jogo, como forma de expressar “o apreço pelas contribuições indispensáveis que as mulheres fazem no local de trabalho, na família e na sociedade”, pode ler-se num comunicado da empresa. Foi também organizado um debate que focou as questões em torno da mulher, organizado pela equipa voluntária da “Sands EmpowHER”, uma “iniciativa global de diversidade e inclusão liderada por mulheres, que tem como objectivo ligar os membros femininos da equipa para criar oportunidades de trabalho em rede”. Este evento foi transmitido em directo nas diversas plataformas digitais da Sands China.

O “Sands EmpowHER” dedica-se, sobretudo, na organização de acções de formação e mentoria para que as mulheres se possam desenvolver em termos profissionais e de carreira.

Na mesma nota, refere-se que a empresa “está empenhada em construir e manter um local de trabalho com respeito e igualdade”, defendendo e garantindo os direitos das mulheres. No tocante ao assédio sexual, a Sands afirma que tem levado a cabo uma campanha de prevenção da ocorrência de casos desde Julho de 2018, bem como acções que reduzam casos de discriminação contra mulheres.

Esta foi “a primeira em Macau”, tendo-se realizado ainda uma “acção de formação com todos os membros da equipa” sobre essas temáticas. Relativamente aos apoios à maternidade, “a empresa também disponibiliza salas de amamentação para mães e realiza uma grande variedade de actividades para pais e filhos para promover a harmonia familiar”.

Na Escola Portuguesa de Macau, o Dia Internacional da Mulher celebrou-se na sexta-feira com o projecto DAC – “Mulheres que Inspiram”, uma iniciativa organizada pelos docentes das disciplinas de Português, Filosofia e Matemática, entre outras. Os alunos do 10º ano desenvolveram vários trabalhos sobre mulheres inspiradoras nas mais diversas áreas. Uma delas foi a poetisa Maria Teresa Horta, recentemente falecida.

10 Mar 2025

Poluição costeira | Reportados 14 casos em 2024

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) disse ter recebido, no ano passado, 14 casos relacionados com poluição costeira.

Numa resposta à interpelação escrita da deputada Ella Lei, é referido que “após a investigação as principais razões [para a ocorrência dos odores] foi a ligação errada de esgotos, o extravasamento do colector unitário e as descargas ilegais, que levaram a que águas residuais tenham sido descarregadas em águas costeiras”.

Além disso, é referido, na mesma resposta, que o projecto de modernização da Estação de Tratamento de Águas Residenciais de Coloane terá início neste primeiro trimestre.

A DSPA quer ainda concluir “com a máxima brevidade possível, os trabalhos de adjudicação da Estação de Tratamento de Águas Residuais da Ilha Artificial de Macau na zona do Posto Fronteiriço de Macau, situada na Ilha Artificial da Ponte HKZM”.

7 Mar 2025

Residentes | Mais de 14 mil com novos empregos em 2024

Dados da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) mostram como as dezenas de sessões de emparelhamento organizadas em parceria com empresas tiveram sucesso. No ano passado, 14.699 residentes, na grande maioria jovens, conseguiram um novo emprego

 

O Governo continua na senda de promover o emprego de residentes e têm sido muitas as sessões de emparelhamento realizadas. Segundo uma resposta a uma interpelação escrita do deputado Lei Leong Wong, só no ano passado foram empregadas 14.699 pessoas, assegurou Wong Chi Hong, director da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL).

Destes candidatos colocados no mercado de trabalho, “mais de 60 por cento eram jovens com idade inferior a 35 anos”. Além disso, e a pensar nos jovens, a DSAL tem levado a cabo o plano de estágios “Criar melhor perspectivas de trabalho”, a fim de proporcionar “postos de trabalho nos sectores de turismo e lazer integrado, finanças, tecnologia, ‘big health’, serviços de utilidade pública e serviços sociais, a fim de ajudar os jovens a adquirirem experiência prática no mercado de trabalho”. É ainda organizada a “Feira de emprego para jovens”, pensada para licenciados.

A DSAL continua a salientar que a premissa é sempre a contratação de locais, garantindo “que os trabalhadores residentes tenham prioridade no acesso ao emprego e os direitos e interesses laborais não sejam lesados”.

“Apenas na existência ou insuficiência de recursos humanos residentes locais será considerada a autorização da importação de TNR para suprir a falta de recursos humanos locais”, refere-se na mesma resposta.

Regras nas obras

Wong Chi Hong explicou ainda ao deputado que existem regras no sector da construção civil para assegurar que os locais têm primazia na contratação. “Para incentivar os empreiteiros a contratar trabalhadores locais, desde 2020 que o Instituto para os Assuntos Municipais passou a incluir a proporção de trabalhadores locais recrutados nos itens de avaliação dos concursos para obras municipais, tendo introduzido um mecanismo de fiscalização através do qual os empreiteiros que não cumpram esse compromisso são sancionados”.

Além disso, o Governo exige “na elaboração do processo de concurso para a prestação de serviços, e consoante a natureza e viabilidade do projecto, que os concorrentes submetam, juntamente com a sua proposta, uma Declaração de Contratação Prioritária de Trabalhadores Residentes, com o intuito de que possam considerar a situação laboral dos trabalhadores locais e criar oportunidades de emprego para estes”.

7 Mar 2025

Arquitectura | Liu Jiakun venceu prémio Pritzker 2025

Liu Jiakun venceu o prémio Pritzker deste ano. O arquitecto natural de Chengdu foi escolhido pela obra “coerente”, em paz com a natureza e o mundo envolvente. A organização do prémio destaca o “percurso que não foi linear nem esperado”, e os projectos de arquitectura com “respostas convincentes” em termos ambientais

 

Na obra de Liu Jiakun é o cidadão que manda, sem linhas fixas ou barreiras, conjugando o antigo e o moderno. Mas acima de tudo, sobressai uma espécie de coerência. O arquitecto chinês, nascido em 1956 na província de Chengdu, venceu prémio Pritzker deste ano, distinção descrita frequentemente como o Nobel da arquitectura. Com o anúncio desta semana, foi acrescentado o ponto que faltava para consagrar o talento de um homem que viveu e trabalhou numa China em transformação e que, por pouco, não desistia da arquitectura. Aliás, segundo a informação oficial do prémio Pritzker sobre Liu Jiakun, o seu percurso “até à arquitectura não foi linear nem esperado”.

A mãe era médica interna no Chengdu Second People’s Hospital e foi por lá que passou grande parte dos seus dias durante a infância. Nos anos em que a China vivia intensamente o Maoísmo e depois durante o processo da Reforma e Abertura, Liu passou por todas as transformações políticas e sociais à medida que ia crescendo. Frequentou o programa para “jovens instruídos” na área da agricultura, e depois o Instituto de Arquitectura e Engenharia de Chongqing, mais tarde chamado de Universidade de Chongqing, em 1978. “Como num sonho, apercebi-me, de repente, que a minha vida era importante”, disse, segundo a informação oficial do prémio Pritzker.

O atelier em nome próprio, Jiakun Architects, só surgiu em 1999 na sua cidade natal, Chengdu, a capital da província de Sichuan.

Sobre si e o seu trabalho, Liu Jiakun disse: “Aspiro sempre a ser como a água – a permear um lugar sem ter uma forma fixa própria e a infiltrar-me no ambiente local e no próprio sítio”. “Com o tempo, a água solidifica-se gradualmente, transformando-se em arquitectura e talvez mesmo na forma mais elevada da criação espiritual humana. No entanto, mantém todas as qualidades desse lugar, tanto as boas como as más”, acrescentou.

Sobre a atribuição do Pritzker, o júri considerou que o arquitecto chinês soube inovar, mantendo o lado mais tradicional que a profissão pode ter. “A identidade tem tanto a ver com o indivíduo como com o sentido colectivo de pertença a um lugar. Liu Jiakun revisita a tradição chinesa sem abordagem nostálgica nem ambiguidade, mas como um trampolim para a inovação. Criar uma nova arquitectura que é simultaneamente um registo histórico, uma infra-estrutura, uma paisagem e um espaço público notável”, refere a organização.

Compromisso espacial

Construir casas ou edifícios pode ser muito mais do que a simples edificação, estabelecendo um compromisso com o espaço e o meio ambiente. Para o júri do Pritzker, “num contexto global em que a arquitectura se esforça por encontrar respostas adequadas a desafios sociais em rápida evolução, Liu Jiakun deu respostas convincentes que também celebram a vida quotidiana das pessoas, bem como as suas identidades comunitárias e espirituais”.

Ainda segundo o júri, “através de uma obra notável de profunda coerência e qualidade constante, Liu Jiakun imagina e constrói novos mundos, livre de qualquer constrangimento estético ou estilístico”.

“Em vez de um estilo, desenvolveu uma estratégia que nunca se baseia num método recorrente, mas sim na avaliação das caraterísticas e exigências específicas de cada projecto de forma diferente. Ou seja, Liu Jiakun pega nas realidades actuais e manipula-as ao ponto de oferecer um cenário totalmente novo da vida quotidiana. Além do conhecimento e da técnica, acrescenta senso comum e sabedoria à caixa de ferramentas do designer”, acrescenta-se.

A nota que apresentou o prémio refere que o arquitecto consegue projectar “um ambiente construído que está frequentemente a ser puxado em direcções opostas”, repensando “os fundamentos da densidade através da coabitação, criando uma solução inteligente que equilibra as forças opostas em jogo”.

O júri descreve também que “através de uma obra notável de profunda coerência e qualidade constante, Liu Jiakun imagina e constrói novos mundos, livre de qualquer constrangimento estético ou estilístico”.

Os maiores projectos

O comunicado do Pritzker deste ano destaca o projecto “West Village”, em Chengdu, classificado como “transformador”, onde Liu Jiakun soube “reformular o paradigma dos espaços públicos e da vida em comunidade”, “inventando novas formas independentes e partilhadas de viver em conjunto, em que a densidade não representa o oposto de um sistema aberto”. O arquitecto criou, aqui, um espaço que permite “a adaptação, a expansão e a replicabilidade”.

Destacam-se ainda “museus subtis e memoráveis” por si criados, como é o caso do Suzhou Museum of Imperial Kiln Brick ou o Shuijingfang Museum, também em Chengdu. Por sua vez, no Memorial Hu Huishan, em Chengdu, o arquitecto “compreende que a identidade é uma questão de memória colectiva e pessoal, elevando brilhantemente a perspectiva individual a um elemento fundamental da criação de lugares, a fim de reavivar uma dimensão comunitária”.

Licenciado em 1982, Liu fez parte da primeira geração de alunos responsáveis por parte dos grandes projectos da chamada “Nova China”, já com Deng Xiaoping ao leme do Governo Central. No início da carreira, esteve ligado ao Instituto de Investigação e Design Arquitectónico de Chengdu, uma entidade estatal, tendo-se deslocado a Nagqu, no Tibete, onde viveu dois anos na década de 80.

Sobre esse tempo, o arquitecto recordou a sua “maior força na altura parecia ser o meu medo do nada, além das capacidades de pintura e escrita”, desbravando livros e escrita à noite, quando não projectava.

A carreira na arquitectura esteve quase a ser posta de lado até ao momento em que Liu Jiakun viu a exposição individual de arquitectura de Tang Hua, um antigo colega da universidade, no Museu de Arte de Xangai, em 1993. Tal “reacendeu a sua paixão pela profissão e alimentou uma nova mentalidade de que também ele se podia desviar da estética social prescrita”, descreve o júri do Pritzker.

Para Liu, “a arquitectura deve revelar algo – abstrair, destilar e tornar visíveis as qualidades inerentes às pessoas locais”, tendo “o poder de moldar o comportamento humano e criar atmosferas, oferecendo uma sensação de serenidade e poesia, evocando compaixão e misericórdia, e cultivando um sentido de comunidade partilhada”.

7 Mar 2025

Governo lança novo alerta sobre covid-19

Os Serviços de Saúde de Macau (SS) indicam uma diminuição dos casos de gripe, com a situação actual “abaixo do nível de alerta”. Porém, no caso das infecções covid-19, “o vírus SARS-Cov-2 está a tornar-se activo”, pelo que se faz um apelo à vacinação, sobretudo para doentes crónicos e idosos. Os SS adiantam, no entanto, que ainda não se registou qualquer morte causada por covid-19 desde o início do ano.

Segundo uma nota ontem divulgada, que cita dados laboratoriais da nona semana do ano, ou seja, do final de Fevereiro, “a taxa de positividade de detecção da covid-19 foi de 13,7 por cento”, sendo que este valor “representa um aumento significativo face à semana anterior, de 3.8 por cento”.

Em termos gerais, os SS acreditam que “a actividade gripal irá manter-se activa nas próximas semanas”, chamando-se a atenção, porém, para uma certa estabilidade. O número de doentes atendidos no serviço de urgência na nona semana de 2025, ou seja, fins de Fevereiro, “diminuiu em relação à semana anterior”, tendo sido atendida uma média diária de 1.190 pessoas, 282 delas crianças.

Verifica-se, assim, que “a tendência de descida da taxa de positividade de detecção do vírus influenza, passando de 10.5 por cento na oitava semana do ano (abaixo do nível de alerta de 13,1 por cento), para cinco por cento na nona semana”.

Subida na média diária

Porém, os SS alertam que não é ainda tempo para afastar as atenções em relação à gripe, pois verifica-se “uma média de cerca de 83 pessoas [doentes], por dia, o que representa uma subida em comparação com dados anteriores”. Dessas 83 pessoas, 31 são adultos e 52 crianças. Assim, os SS entendem que “a propagação do vírus do tracto respiratório em Macau ainda está activa”.

No tocante a casos colectivos de gripe, desde Janeiro que ocorreram 46 no território, bem como 25 casos causados pelo vírus influenza A e cinco pelo vírus influenza B.

6 Mar 2025

DSEC | Registado aumento anual de TNR

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram que, no final do ano passado, Macau tinha 688.300 pessoas, um “crescimento ligeiro” de 0,7 por cento, ou seja, um crescimento de 4.600 pessoas em termos anuais. Segundo a DSEC, tal deve-se “principalmente ao acréscimo do número de trabalhadores não residentes (TNR) domiciliados em Macau”, cujo aumento foi de 4.900 pessoas.

No tocante à população local, ou seja, sem TNR e estudantes do exterior, chegou às 568.700 pessoas, “baixando ligeiramente” 0,4 por cento em termos anuais. Tal deve-se “principalmente ao facto de a emigração líquida de residentes de Macau, com a saída a ser superior à entrada, ter sido mais elevada do que o crescimento natural (ou seja, o número de nado-vivos é maior do que o de óbitos)”.

Em termos dos movimentos populacionais, em 2024 existiam 3.677 indivíduos do Interior da China recém-chegados a Macau titulares de um salvo conduto, o que representa mais 260 pessoas em termos anuais, sendo que 64,8 por cento pertencia ao sexo feminino.

No ano passado foi dada residência a 1.074 pessoas, mais 196 em termos anuais, sendo a maioria dessas pessoas de Hong Kong, no total de 364.

6 Mar 2025

Bernardo Mendia, Câmara de Comércio e Indústria Portugal – Hong Kong: “Portugal deve estender a mão”

Chega hoje a Lisboa o secretário para a Inovação, Tecnologia e Indústria de Hong Kong, Sun Dong, acompanhado por empresários das áreas digitais, comércio online e tecnologia. Bernardo Mendia, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal – Hong Kong, destaca a importância da visita para as empresas portuguesas e da RAEHK enquanto complemento de contactos portugueses em Macau

 

 

No ano passado, Portugal recebeu a visita de Christopher Hui Ching-yu, secretário dos Assuntos Financeiros e do Tesouro de Hong Kong, e agora outro governante de Hong Kong passar por Portugal. É uma visita com significado acrescido?

Como Câmara de Comércio e Indústria Portugal – Hong Kong consideramos de extrema importância esta visita, valorizando muito a atenção que está a ser dada a Portugal. É importante, sobretudo, por se tratar de uma área tão específica como a inovação. Esta é uma área em que Hong Kong aposta muito e que tem sido uma prioridade para as autoridades da região, e isso é algo que existe em comum com Portugal, que também tem apostado na área tecnológica e de desenvolvimento científico. O que Portugal deve fazer é aproveitar esta oportunidade, estender a mão ao secretário e trabalhar em parceria. O desenvolvimento tecnológico e económico só se faz com parcerias internacionais, com a abertura de mercados e com colaborações. É também isso que promovemos como Câmara de Comércio. Temos estado envolvidos na organização desta viagem, algo que começou há meses. Vamos levar empresas portuguesas a identificar potenciais sinergias com as entidades que vêm cá, para que se conheçam e façam, depois, o seu trabalho.

Hong Kong tem estado presente em todas as edições da Websummit em Lisboa. Esta visita dá a ideia de que a região pretende expandir-se e firmar parcerias mais concretas com Portugal?

Sim, sem dúvida. Isso tem-se evidenciado nos discursos oficiais dos mais importantes membros do Governo de Hong Kong, incluindo do próprio Chefe do Executivo. Essa é a estratégia da região neste momento, ser uma ponte para o resto do mundo poder entrar na Ásia. Aí o território compete com outras plataformas, pois Hong Kong, Singapura e Tóquio são, talvez, os três territórios com maior expressão nesta área [tecnológica], na Ásia. Mas Hong Kong apresenta as melhores condições, não apenas pelo apoio que dá [às empresas], mas também por fazer parte da China, apesar de ter um sistema legal diferente e uma moeda diferente. Há um sistema completamente aberto ao nível da circulação de capitais e acesso à Internet. Acho que Hong Kong se posiciona melhor nesse campo, mas essa é uma competição que o território tem de fazer, tal como Portugal quando vai apresentar-se na Ásia, competindo com a Espanha e outros países europeus na atracção de investimento directo estrangeiro.

Macau é, por norma, a principal ligação a Portugal, por questões históricas e da presença da língua portuguesa. Hong Kong pode ser também um território de ligação entre as empresas portuguesas e a Ásia?

Macau e Hong Kong são muito complementares nesse aspecto. Macau tem essa ligação histórica com Portugal e tem empresas muito importantes sediadas no território, algumas delas há mais de 100 anos, nomeadamente o Banco Nacional Ultramarino. Essa experiência, e o facto de a língua portuguesa ainda ser oficial, é, sem dúvida, uma vantagem para as empresas portuguesas. Se for necessário entrar no mercado de capitais, as empresas portuguesas vão optar por uma série de serviços disponibilizados por Hong Kong. Mas Macau tem as suas vantagens próprias e considero que são dois mercados bastante complementares. A proximidade geográfica de Macau e Hong Kong também funciona como um ponto atractivo.

Durante a visita de Christopher Hui Ching-yu, no ano passado, foi abordado o posicionamento de Hong Kong como paraíso fiscal. Como olha para essa questão?

Esta visita é organizada pelo Hong Kong Economic and Trade Office e as questões fiscais ficarão, agora, postas de parte. Mas a nossa posição, como Câmara de Comércio, é que não faz sentido Hong Kong estar na lista de paraísos fiscais, e não faz sentido nem do ponto de vista legal, nem político. Nenhum dos mercados com quem concorremos coloca Hong Kong como um paraíso fiscal, nem a própria União Europeia. Só temos a perder com isso, porque criamos barreiras às trocas comerciais e investimento directo estrangeiro em Portugal, e também ao investimento que é feito pelas empresas portuguesas em Macau, que acabam por ser afectadas por isso. Não faz sentido essa designação do ponto de vista legal, porque Hong Kong não reúne as condições para fazer parte da lista dos paraísos fiscais, e do ponto de vista político porque nenhum outro país europeu coloca o território nessa categoria.

A China está presente no mercado português através de diversos investimentos. Hong Kong está a tentar criar o seu próprio caminho?

Não nesses termos. A esmagadora maioria do investimento chinês que é feito em Portugal é-o através de Hong Kong. Aí, nesse aspecto, Hong Kong e China trabalham de forma bastante complementar. Hong Kong funciona como um “porta-aviões” da China em termos do investimento externo, e não há propriamente uma concorrência entre os dois, trabalhando, sim, em conjunto.

Encontros em Oeiras | Taguspark acolhe hoje sessões de intercâmbio e seminários

Dong Sun faz-se acompanhar a Portugal pelas empresas e entidades mais importantes de Hong Kong nas áreas da inovação, tecnologia e meios digitais, quer a nível governamental, com o “Hong Kong Science and Technology Park” e o “Cyberport”, parque tecnológico com escritórios com projectos orçamentados em dois mil milhões de dólares de Hong Kong; quer a nível académico e de investigação, com a presença na comitiva do “Hong Kong Applied Science and Technology Research Institute” e “Hong Kong Microelectronics Research and Development Institute”.

As sessões de intercâmbio e seminários acontecem hoje a partir das 16h, no Taguspark, em Oeiras, onde está localizada a Oeiras Valley Investment Agency, cujos representantes já estiveram, aliás, presentes em Macau para contactos comerciais.

Na parte da tarde haverá oportunidade de diálogo entre o próprio secretário de Hong Kong, representantes da Câmara de Comércio e Indústria Portugal – Hong Kong e dirigentes dos parques tecnológicos e institutos da RAEHK, sendo que no total estão representadas 24 empresas.

Na via catalã

Num comunicado divulgado pelo Executivo de Hong Kong, lê-se que o programa inclui “reuniões e intercâmbios com líderes dos sectores político, empresarial e de inovação e tecnologia locais”, bem como visitas a infra-estruturas, parques tecnológicos, institutos de investigação e empresas.

O objectivo é “reforçar os laços e a cooperação” com Portugal neste sector, “promovendo as vantagens da inovação e tecnologia de Hong Kong e explorando oportunidades de negócio no estrangeiro”, segundo o comunicado.

Antes de passar por Lisboa, a delegação esteve em Barcelona, para participar no “Mobile World Congress”, considerado um dos eventos tecnológicos mais influentes a nível mundial.

Esta é a segunda visita a Portugal de um membro do Governo de Hong Kong no espaço de um ano, depois de o secretário para os Serviços Financeiros e Tesouro ter passado por Lisboa em Junho. Na altura, Christopher Hui Ching-yu pediu a Portugal para retirar Hong Kong da lista de paraísos fiscais e defendeu que já cumpre os padrões da União Europeia para combater a evasão fiscal.

6 Mar 2025

Cristina Rocha Leiria, autora do projecto do Centro Ecuménico Kun Iam: “A obra que mais me preencheu”

Até 13 de Março pode ser vista, no Centro Ecuménico Kun Iam, a mostra “Moments of Light with Kun Iam”, uma exposição de Cristina Rocha Leiria, arquitecta, escultora e autora do projecto do centro. Ao HM, Cristina Rocha Leiria fala de um espaço criado para todos, incluindo ateus, e lamenta a falta de divulgação da exposição

Imagem: Fundação Rui Cunha

 

Fale-me de “Moments of Light”, a exposição patente no Centro Ecuménico Kun Iam.

O centro foi criado para o silêncio, porque tudo é feito para as maiorias, mas temos de pensar nas minorias, que têm direito de existir. Pode existir uma minoria que precisa de silêncio. Podem ser vistos cristais levados de Portugal e adquiridos também na China, escolhidos por mim, e pedras energéticas. Incluem-se ainda 25 peças feitas pela Atlantis [empresa portuguesa do grupo Vista Alegre] em cristal, além de um bazar com outros materiais.

O centro ecuménico foi inaugurado em 1999, passaram-se 25 anos. Como olha hoje para o projecto? Sente que está devidamente aproveitado?

É a obra que mais me preencheu. Trabalhei nele ao nível da arquitectura, porque é essa a minha área de formação, e trabalhei também com a escultura porque é o que faço, embora não tenha tirado qualquer curso. Faço escultura como terapia. Trabalhei ao nível da música com Rão Kyao e outro maestro, que perceberam o que eu queria e fizeram uma composição de tal ordem que toca o dia todo [no Centro] e as pessoas nunca se cansam. Tratei, na altura, de tudo o resto, da decoração e do que lá se vendia. As coisas foram-se esgotando e acabou por não haver quase nada para vender, à excepção de uns livros e postais. Criámos muita coisa que se vendia, os turistas iam lá, não faziam barulho porque percebiam que era um sítio de silêncio, compravam e esse espaço tinha um certo rendimento. Deve-se divulgar este centro ecuménico, que se tornou um ex-líbris de Macau, junto dos turistas como algo que Macau tem e que não existe em mais nenhum outro lugar urbano no mundo. Portanto, o centro funciona neste momento com uma exposição minha e um bazar que tem produtos que se vendem noutros locais e que não têm nada a ver com o centro ecuménico, mas que são um chamariz.

Como foi o arranque da construção deste projecto? Já tinha feito alguma coisa com tanta ligação ao mundo espiritual?

Vivi em Moçambique até ir para Lisboa estudar arquitectura. Desde criança que conheço a deusa Kun Iam, porque a minha mãe tinha uma estátua branca de Kun Iam em casa, e era a coisa que eu mais gostava naquela casa. Mal sabia eu que um dia viria a fazer um centro dedicado a esta deusa. Quando vim para Macau trabalhar no Leal Senado, como assessora do presidente, com o primeiro dinheiro que ganhei fui a Hong Kong comprar um abat-jour branco com a figura de Kun Iam, que ainda hoje tenho. Em relação à parte espiritual, esta vem de criança, sempre gostei do silêncio. Quando faço arquitectura ou escultura é sempre em completo silêncio. Estou só eu ligada ao trabalho e a um mundo que, como não é tangível, muitas pessoas nem se apercebem dele, nem acreditam nele. Eu acredito porque sinto que quando trabalho duas noites sem dormir, ou três dias seguidos, em qualquer projecto, em silêncio, acordo de manhã e penso nas ideias que tive, surpreendo-me até com elas. Então a parte espiritual está reflectida na escultura que faço. Especializei-me em habitação e a espiritualidade também se reflecte nos projectos que fiz em Macau na área da habitação social. A espiritualidade é uma parte de mim, e o centro ecuménico é orientado para isso. Nestas visitas guiadas que tenho feito tento puxar pelos mais jovens para que percebam que podemos ser muito ajudados por energias que não vemos. Não dou nomes às coisas e digo para não se importarem com isso, porque o importante é tomar consciência que há mais do que aquilo que vemos. O mundo material não é o único que nos interessa, há mais para tomarmos contacto e agradecermos.

Macau é um território pautado pelo consumo, o jogo, os excessos. Ter um centro desta natureza nesta sociedade tem um maior significado?

Este centro é ecuménico, mas nada tem a ver com a Igreja, remetendo sim para algo abrangente. O centro foi feito para ateus, agnósticos, religiosos e não religiosos, para todos aqueles que precisem de silêncio. E no mundo de Macau, ou em grandes meios urbanos, há sempre poluição auditiva. Esse centro foi feito numa ilha que pedi de propósito ao Governador de então, o general Vasco Rocha Vieira, que foi uma pessoa muito aberta a esta proposta. Essa ilha foi criada porque, na altura, não havia espaço em Macau para colocar um monumento de 20 metros de altura. O centro tornou-se um símbolo, muitos vão lá rezar, mas não foi feito para isso. Devo dizer que acredito que a essência do divino está em cada um de nós, mas nem todos têm consciência disso. Outros estão abertos para essa essência.

Voltando à exposição. O que podem as pessoas aprender com ela?

Estou agora em Macau por um período de seis meses, mas tenho tratado também de vários assuntos relacionados com projectos que fiz em Portugal há muitos anos e que estou a tentar que sejam recuperados. A exposição, por si, está lá e não é um atractivo. É bom saber-se que a reabertura do centro ecuménico não teve a divulgação que deveria ter. Ninguém sabe que o centro ecuménico foi aberto, e quem aparece lá são as pessoas que deixam os filhos nos parques, observam o espaço, e vão lá com as crianças. É interessante porque os mais pequenos dirigem-se, precisamente, para os pontos de energia identificados por mim. Aparecem pessoas que andam a passear, entram, mas não vão de propósito ver a minha exposição. Depois, como vêem a porta de saída que dá para o rio, saem logo e a exposição passa despercebida.

Mas lamenta que não se tenha feito mais divulgação.

Não se fez, não. Agora é que estou a fazer esse trabalho e a divulgar junto de pessoas amigas. Estou a acabar uma exposição sem que, de facto, as pessoas tenham usufruído, quando tenho esculturas com mensagens. Demoro cerca de um mês a fazer uma escultura, e vou escrevendo, pensando, fazendo poesia, então tenho muito a transmitir às pessoas sobre cada escultura. Muitas pessoas dizem que saem de lá mais ricas. Vou pedir que a exposição seja prolongada além do dia 13 de Março e era bom que isso acontecesse, porque têm aparecido grupos de pessoas, inclusivamente algumas que marcam hora comigo e eu vou fazer a visita guiada.

Como surgiu a sua ligação à cultura chinesa?

Essa ligação vem de infância. Depois aprofundei muito essa ligação porque tive de estudar sobre a deusa Kun Iam. Tive de ver muitas figuras de Kun Iam para pensar como iria fazer uma que estivesse ali suspensa, ao ar livre sujeita aos tufões e ventos fortes, bem como altas temperaturas. A parte espiritual foi mais fácil para mim, porque desde criança que me interesso por filosofias orientais. Essa parte da espiritualidade [na construção do centro ecuménico] foi, para mim, mais fácil, embora tenha tido muitas dificuldades. Dei tudo de mim, livros para a biblioteca, e até contribuí a nível financeiro para este centro, para que muitos jovens pudessem usufruir dele.

Disse-me que algumas obras que edificou necessitam de recuperação. É ingrato esse lado do artista, de ver os projectos a destruírem-se com o tempo, sem preservação?

Não lamento nada, tento, sim, entender. Mas também tento defender os propósitos que existiam no arranque de cada projecto. Tento entender a maneira de ser dos chineses que viveram tantos anos limitados e com muitas proibições. Gostaria de entender porque puseram um bazar na exposição a vender tantos produtos. O mesmo acontece em Portugal: tenho a obra “Vela ao Vento”, em Tavira, numa rotunda enorme que tinha um lago, foi algo que tentei fazer de forma poética, mas depois vejo que as pessoas menosprezam. Agora não há água no espaço e crescem ervas. Sinto que há uma falta de respeito pelo artista.

4 Mar 2025

Cinemateca Paixão | Óscares e Coreia do Sul na tela deste mês

“Emília Pérez”, filme com grande presença nos Óscares, e “Mickey 17”, o mais recente do realizador sul-coreano Bong Joon Ho, autor de “Parasitas”, são alguns dos grandes destaques que a Cinemateca Paixão traz para as salas do cinema para este mês

 

Está aí “Encantos de Março”, a habitual escolha mensal de filmes da Cinemateca Paixão. E desta vez há mesmo “grandes encantos”, com o cartaz preenchido com o novo filme do realizador de “Parasitas” e com “Emília Perez”, um dos filmes internacionais que mais nomeações recebeu nos Óscares de Hollywood.

“Emília Perez”, protagonizado pela actriz Karla Sofía Gascón, mas também com nomes como Selena Gomez, exibe-se amanhã, domingo, e depois nos dias 12 e 19 deste mês. São várias as oportunidades para ver um filme que também brilhou nos Globos de Ouro, onde arrecadou quatro prémios, incluindo o de “Melhor Filme” nas categorias de musical e comédia.

“Emília Perez”, do realizador Jacques Audiard, conta a história de três mulheres mexicanas que se destacam pelas suas profissões e carisma, mas que buscam a sua felicidade. Se “Emília” é líder de um cartel, “Rita” é a advogada que a vai ajudar a fingir a sua própria morte para que possa viver o seu verdadeiro eu, descreve-se na sinopse. De resto, Jacques Audiard é um nome bastante conhecido do cinema francês, tendo sido premiado em vários festivais de cinema e competições.

Da Coreia do Sul chega-nos então “Mickey 17”, de Bong Joon Ho, o homem que conseguiu colocar “Parasitas” nas bocas do mundo pela sátira social que representa e pela reviravolta na tela que deixou muitos presos ao grande ecrã. Em “Mickey 17” apresenta-se uma “experiência cinematográfica inovadora” protagonizada por Mickey Barnes, um “herói improvável” interpretado por Robert Pattinson, nome que ficou mais conhecido do grande público com o sucesso da trilogia “Crepúsculo”.

Ecrã teatral

Destaque ainda, em “Encantos de Março”, para “Prima Facie – National Theatre Live”, exibido nos dias 15, 22, 26 e 30 de Março. Exibido numa tela de cinema, este filme, interpretado e gravado ao vivo no Harold Pinter Theatre, no West End de Londres, mostra uma nova forma de contar histórias.

“Prima Facie” conta-nos a história de Tessa, uma advogada de sucesso que subiu na vida a pulso e que tudo faz para jogar o jogo da vida à sua maneira. Porém, a sua vida muda com um acontecimento inesperado, levando-a a estar em confronto interno com a lei e o poder patriarcal, as provas de um caso e questões morais. Justin Martin, realizador inglês de televisão e teatro, é o autor deste projecto.

Além de “Encantos de Março”, o público terá ainda oportunidade de assistir a outros ciclos de cinema que já estão na fase final, nomeadamente o que se dedica à actriz Kristen Stewart, com exibições ao longo deste mês.

“Heretic”, que conta com Hugh Grant como principal protagonista, e que faz parte da selecção “Encantos de Fevereiro”, ainda pode ser visto esta sexta-feira, 7, e depois na terça-feira seguinte, dia 11. Eis a história mirabolante e aterradora de um homem céptico sobre todas as religiões do mundo que engana duas jovens que pertencem à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

4 Mar 2025

Pequim | “Duas Sessões” arrancam hoje com foco na economia

O mês de Março é sinónimo de movimentações políticas em Pequim, com a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, que começa hoje, e a sessão da Assembleia Popular Nacional, que se inicia amanhã. Nas reuniões serão discutidas metas e planos políticos e económicos para este ano, sem esquecer a evolução do panorama internacional

 

Começa hoje mais uma sessão da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), em Pequim, enquanto que para amanhã está agendado o arranque da Assembleia Popular Nacional (APN). Os dois acontecimentos são os mais importantes do sistema político chinês, materializando o sistema de representatividade política do país, contando com a participação de delegações todas as províncias e regiões da China, incluindo as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong. A CCPPC tem, como o nome indica, um carácter consultivo, enquanto a APN é o mais importante órgão legislativo do país.

As chamadas “Duas Sessões”, com periodicidade anual, chamam a atenção de todo o mundo porque é nessa altura que o Governo chinês apresenta as suas metas económicas e principais medidas políticas para o resto do ano.

Segundo a agência estatal Xinhua, os dados relativos ao Produto Interno Bruto (PIB) do país é um dos pontos que mais atenção atrai, mas as “Duas Sessões” “também irão servir para lançar algumas luzes sobre a política externa da China, algo particularmente notável num cenário global turbulento e em rápida mudança”.

Até ao dia 11 de Março, data prevista para o encerramento dos trabalhos, definem-se objectivos, calendários e políticas essenciais, moldando “a direcção política do país” num “ambiente doméstico e global complexo e desafiante”, lê-se ainda na Xinhua.

Olhemos, então, para aquilo que poderemos esperar em matéria de valores do PIB. “À medida que a economia chinesa se orienta para o desenvolvimento de alta qualidade, o PIB não é a única medida da economia, mas continua a ser um indicador importante. Em 2024, a China atingiu o seu objectivo de crescimento económico de cerca de cinco por cento, graças, em grande parte, a uma série de medidas macroeconómicas significativas, introduzidas para compensar a pressão da recessão económica”, lê-se.

Esperam-se, assim, “políticas mais concretas para estimular a actividade económica”. Segundo a Xinhua, a “China deu já sinais de mudança na sua orientação macroeconómica”. “Na última Conferência Central do Trabalho Económico, em Dezembro, os responsáveis políticos comprometeram-se a aplicar políticas macroeconómicas mais proactivas em 2025”.

Foi decidido, assim, a adopção de uma “política monetária ‘moderadamente flexível’, o que representa um afastamento significativo da abordagem ‘prudente’ adoptada nos últimos 14 anos”, descreve a agência. Neste encontro foram ainda definidas “nove prioridades fundamentais”, sendo a primeira “o aumento do consumo”.

Desta forma, espera-se que, nas “Duas Sessões”, a “China dê ênfase à procura interna como principal prioridade económica”, sendo que, este ano, se espera “que as actualizações de equipamento em grande escala e os programas de troca de bens de consumo sejam promovidos com maior intensidade e num âmbito mais alargado”.

É indicado que “a China irá utilizar de forma activa a margem de manobra para um défice mais elevado e aumentar a emissão de obrigações especiais das administrações locais”, além de “continuar a emitir obrigações do tesouro especiais com maior prazo e aumentar os pagamentos de transferências do Governo Central para as administrações locais”. As “Duas Sessões” irão revelar mais detalhes neste sentido.

IA em destaque

Ainda no plano económico, a Xinhua descreve como o Presidente Xi Jinping sublinhou noutras ocasiões “as principais prioridades, como o apoio ao crescimento do sector privados”, “a aceleração do desenvolvimento da economia digital” e ainda o aprofundamento da abertura do país.

Os membros da APN “irão analisar o orçamento anual e o plano de desenvolvimento do Governo”, esperando-se ainda “propostas e sugestões relacionadas com a inteligência artificial (IA)”. Aliás, este é “um dos principais pontos de interesse para os observadores da China”, a par dos valores do PIB. Importa salientar que, neste campo, o país tem procurado marcar pontos e ganhar um crescente posicionamento no mercado com a criação da plataforma DeepSeek.

Segundo o jornal Global Times, empresas chinesas como a Tencent, Baidu e BYD integram a DeepSeek nos produtos e serviços que disponibilizam, sendo que “alguns governos locais também anunciaram colaborações com modelos IA da DeepSeek para melhoria dos serviços públicos”.

“Muitos planos relacionados com a IA mencionados em relatórios de trabalho dos governos provinciais [da China] centram-se na construção de plataformas de inovação, na promoção de uma integração mais profunda da indústria e na melhoria dos quadros políticos. É importante notar que a ascensão de plataformas como a DeepSeek reflecte o compromisso da China em assumir a liderança nos avanços tecnológicos e um maior foco estratégico no cultivo de talentos e na existência de um ambiente propício à inovação”, lê-se.

As “Duas Sessões” constituem ainda “uma plataforma crucial para legisladores e conselheiros políticos apresentarem sugestões e promoverem um amplo consenso sobre o desenvolvimento nacional” na área da IA, sendo que “alguns deles são executivos de empresas e investigadores de renome”.

PIB: a manutenção

Ainda no que diz respeito ao PIB chinês, uma análise de Neil Thomas e Jing Qiang, do Asia Society Policy Institute, defende que as “Duas Sessões” deverão revelar “uma agenda ainda mais em prol do crescimento do que em relação ao ano passado, com objectivos aproximados de cinco por cento para o crescimento do PIB, de quatro por cento para o rácio do défice fiscal no PIB e de dois por cento na inflação em termos de consumo”. “Deverão ser também introduzidas medidas para aumentar o consumo e encorajar o sector privado em matéria de inovação”, escrevem os autores.

A mesma análise do Asia Society Policy Institute destaca também as medidas económicas de prevenção e combate ao desemprego, um problema que tem afectado a economia chinesa nos últimos tempos.

“A China irá anunciar também os objectivos anuais para os novos postos de trabalho nas áreas urbanas e a taxa de desemprego urbano. No ano passado, Pequim fixou estes objectivos em 12 milhões de novos postos de trabalho e 5,5 por cento de taxa de desemprego, e os números deste ano serão provavelmente semelhantes”, é referido.

No que diz respeito ao consumo interno, pretende-se que a China seja, cada vez mais, “um hub para lançamento de produtos, turismo de Inverno e que tenha uma ‘economia de prata’ com foco na área da restauração para uma população mais idosa”. Ainda segundo a análise do Asia Society Policy Institute, “outras prioridades incluem reequilibrar as regulações de plataformas económicas, estimular a actividade económica nas pequenas cidades, uma maior integração na área da Grande Baía e expandir o investimento nas indústrias marítimas”.

Atenção ao investimento

As “Duas Sessões” decorrem com Donald Trump de regresso à Presidência dos Estados Unidos da América e certamente que esse ponto irá marcar a agenda externa das reuniões em Pequim ao longo da semana.

Mas ainda no tocante à economia, as autoridades chinesas vão procurar apresentar e discutir medidas que possam manter a atracção de investimento estrangeiro no país, após o lançamento do “Plano de Acção para a Estabilização do Investimento Estrangeiro”, no passado dia 19 de Fevereiro.

Verifica-se, aqui, uma “mudança estratégica na abordagem de Pequim, afastando-se dos benefícios fiscais e subsídios e dirigindo-se à liberalização de sectores específicos, à racionalização da regulamentação e incentivos ao re-investimento”, apontam os mesmos analistas.

Assim sendo, Pequim pretende “enquadrar as empresas estrangeiras no quadro regulamentar da China para as transformar em partes interessadas a longo prazo, tornando a expansão local mais atractiva do que a reafectação de capitais para outros mercados”. Os analistas esperam também que as “Duas Sessões” revelem políticas concretas nesse sentido.

Sam Hou Fai em Pequim

O Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, está em Pequim desde ontem para assistir à cerimónia de abertura da terceira sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN), que decorre amanhã.

Sam Hou Fai estará na capital chinesa até quinta-feira desta semana. Segundo um comunicado do Gabinete de Comunicação Social, Sam Hou Fai será substituído pelo secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, que passa a exercer, interinamente, as funções de Chefe do Executivo.

Na 14ª APN será feita a revisão do relatório de trabalho do Governo e a análise ao relatório sobre a implementação do plano anual de desenvolvimento económico e social nacional para 2024. Na agenda inclui-se ainda a análise ao projecto de desenvolvimento económico e social nacional para este ano. Será também analisado o relatório sobre a implementação dos orçamentos central e locais para 2024, bem como os projectos de orçamentos central e local para 2025.

4 Mar 2025

Economia | Viagens à China aumentam devido a diversidade e preços baixos

Ir à China nunca foi tão fácil, rápido e barato. Dois residentes de Macau de nacionalidade portuguesa revelam ao HM o que os leva a atravessar a fronteira com frequência, principalmente ao fim-de-semana. Diversidade cultural, preços baixos e maior qualidade de serviço em bares e restaurantes fazem toda a diferença

 

As pequenas e médias empresas (PME) de Macau têm enfrentado, desde a reabertura de fronteiras no período pós-pandemia, enormes dificuldades para recuperar o negócio, sobretudo as que estão mais afastadas das zonas turísticas. Numa altura em que viajar para a China se tornou extremamente fácil e barato, dois residentes explicam porque preferem deslocar-se com frequência à cidade vizinha de Zhuhai, ou mesmo a Shenzhen, e consumir lá ao invés de ficarem em Macau. Opções como jantar fora, apanhar um táxi ou beber um copo ficam bastante mais baratos, além da possibilidade de conduzir fora do território tornou essa opção mais frequente. Mas o comércio electrónico também contribuiu para a queda do consumo a nível local, asseguram.

Nelson Moura, jornalista e residente de nacionalidade portuguesa, vai a Zhuhai sempre que tem um fim-de-semana livre ou feriados. Chega a ir entre três a quatro vezes por mês. “Os custos são mais reduzidos no Interior da China, e depois há o factor novidade. Nunca foi tão fácil para um residente não chinês de Macau ir à China. Antes precisava de pedir um visto, tinha um prazo reduzido e isso limitava muito as minhas idas, e escolhia sempre sítios mais longínquos, num contexto de viagem turística. Os residentes locais já podiam ir à China antes, mas a conveniência actual, com as fronteiras organizadas e desenvolvidas, sobretudo Hengqin, com a ligação ao Metro Ligeiro, permite ligações mais fáceis”, contou ao HM.

Desde que a China flexibilizou a política de vistos e aumentou a oferta de circulação fronteiriça, viajar para o país deixou de ser encarado como uma grande viagem. “Como estrangeiro a residir em Macau, ir à China era um pouco como ir de viagem a outro país asiático. Na pandemia não saímos praticamente de Macau, mas agora desde que a política de vistos para portugueses foi flexibilizada, passa a ser possível ir à China sempre que quisermos”, destacou Nelson Moura.

“Tenho a mesma facilidade que um residente chinês tem, e passou a ser uma opção viável ir passar os fins-de-semana e feriados à China, conhecendo sítios diferentes. A comida é um terço do preço do que é praticado em Macau, tem mais qualidade, com produtos frescos, as ofertas de acolhimento são melhores. Macau é uma óptima cidade, mas depois de três anos de pandemia sabe muito bem sair daqui sempre que queremos. É uma opção mais conveniente agora do que antes.”

Nelson Moura considera ainda que “para a comunidade chinesa de Macau e Hong Kong existe uma maior conveniência de viagens”, pois “há muitos residentes a conduzir todos os fins-de-semana para a China só para irem às grandes superfícies comerciais, que permite comprar grandes quantidades de comida”.

“O tráfego perto da fronteira das Portas do Cerco ou ponte HKZM está a um nível nunca antes visto. Há a opção de poder conduzir na zona de Grande Baía o que é bom para cidades pequenas e caras como são Macau e Hong Kong”, adiantou.

PME, o eterno problema

Do lado de Macau as associações ligadas ao sector comercial da comunidade chinesa clamam por socorro, pedindo mais medidas como o Grande Prémio do Consumo, ou mesmo cartões de consumo, ou seja, mais campanhas e iniciativas para que os residentes possam comprar mais em Macau com descontos ou apoios.

Uma das últimas vozes a mostrarem preocupação sobre este cenário foi Stanley Au, presidente da Associação de PME de Macau. À TDM Canal Macau, o responsável defendeu que nas próximas Linhas de Acção Governativa o Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, tem de mostrar medidas eficazes para evitar encerramentos e, consequentemente, mais desemprego. “A situação mais urgente e actual é o encerramento das empresas. Acredito que a população viu muitas lojas encerradas em diferentes bairros do território. Às vezes, na mesma rua, há mais lojas encerradas do que abertas. Além disso, o maior problema é que Macau está a enfrentar um abrandamento económico contínuo. Se não resolvermos este problema, a sociedade não melhora”, acrescentou.

Porém, segundo Nelson Moura, será sempre difícil combater a atracção do consumo da grande China. “O comércio local de Macau é uma questão complicada. Nota-se uma grande redução de consumidores, sobretudo aos fins-de-semana e dias em que as pessoas têm tempo para sair da cidade.”

O comércio electrónico acaba por potenciar também uma redução do consumo a nível local. “Os residentes sabem que encontram mais e mais barato lá fora. Há empresas chinesas de comércio electrónico, como o Taobao, que permitem compras de toda a China para Macau sem encargos de transporte, o que reduziu o consumo interno. As pessoas vão às lojas ver o que querem comprar para depois o fazer no Taobao. Não sei como é que se pode contornar essa tendência. É o capitalismo a funcionar”, explicou Nelson Moura.

O residente chama também a atenção para o facto de agora ser mais fácil usar plataformas de pagamento online na China com cartões estrangeiros ou de bancos de Macau, nomeadamente através do MPay.

Nelson Moura acredita que as PME locais só se aguentaram tanto tempo por estarem numa espécie de circuito económico fechado. “Os negócios locais viveram um pouco numa economia de ilha, e sobreviviam pelo facto de o mercado de Macau se ficar pelo território, sem as pessoas poderem sair tanto. Agora que passou a haver a concorrência com o que a China tem para oferecer, as empresas sofrem porque não oferecem, muitas vezes, o serviço com tanta qualidade e a um preço tão atractivo. Sei que a situação em Hong Kong é semelhante.”

“Curtir” na China

O macaense Miguel Rosa Duque sempre trabalhou em Macau e passou no território grande parte dos dias da semana, mas desde que começou a dar aulas em Zhuhai a sua vida passou a fazer-se mais do outro lado da fronteira. Destaca as saídas nocturnas bem mais baratas, bem como a oferta de restauração. “Macau não tem variedade e as pessoas fartam-se pelo facto de o território ser pequeno. Temos hotéis e restaurantes, mas são caros porque as rendas são caras. Face à China, em termos de preços, a diferença é como entre o céu e a terra. Dou um exemplo: para apanhar um táxi das Portas do Cerco para a universidade onde dou aulas são 40 minutos de viagem, 28 quilómetros, e pago cerca de 60 a 80 renminbis. É baratíssimo. Em Macau, das Portas do Cerco até Coloane pagamos 150 patacas ou mais, a diferença de preços é enorme.”

Miguel Rosa Duque conta que as idas à China no seu círculo de amigos se tornaram tão frequentes que até criaram um grupo na rede social WhatsApp para facilitar passeios em grupo. “Prefiro mil vezes ir para a China só para me divertir. Tenho muita variedade de bares e discotecas e em Macau está tudo morto. Uma massagem para duas pessoas custa 600 renminbis, em Macau custa o dobro. Não falo de massagens em hotéis sequer. O serviço ao cliente é muito melhor na China, com mais atenção aos clientes, mais atenciosos, além de que é tudo mais barato. Se gastarmos 1000 patacas numa noite em Macau, na China gastamos 400 renminbis e somos tratados como reis. A variedade é infinita em termos de restaurantes. Macau não dá para competir”, contou.

Miguel Rosa Duque conta que tem amigos que, mesmo com carro em Macau, acabaram por adquirir outra viatura com matrícula chinesa que deixam estacionada no parque de estacionamento junto à fronteira, por ser mais barato alugar um lugar para estacionar.

O macaense entende que entre as PME locais e o comércio na China “não há competição possível”, sobretudo com as plataformas de venda online. “As pessoas já não vão às lojas aqui, há mil escolhas e dá para comprar a partir de casa. A minha namorada raramente vai ao supermercado, faz tudo online, por exemplo”, acrescentou.

3 Mar 2025

Creative Macau | O espaço de Macau exposto em “Framing a Future Past”

A galeria da Creative Macau acolhe, a partir do dia 20 deste mês, a exposição “Framing a Future Past 2018-2024”, com curadoria de Sara Neves e trabalhos de Nelson Silva, fotografia; e João Nuno Marques, com desenho. Ambos arquitectos, expõem, através de imagens e desenhos, a visão de uma cidade em constante mutação urbanística e social

 

Chama-se “Framing a Future Past” e é a nova exposição que chegará ao espaço da Creative Macau a partir do dia 20 de Março. Com curadoria de Sara Neves, ligada à área da arquitectura, esta mostra revela as visões de dois arquitectos radicados em Macau sobre o território em que habitam e que escolheram como casa. Nelson Silva apresenta as suas imagens, João Nuno Marques os seus desenhos. A ideia é, segundo um comunicado, explorar “as várias camadas do espaço construído de Macau”.

A exposição, patente até ao dia 17 de Abril, mostra como, no território, a sensação de impermanência está sempre presente” em Macau, com “espaços, edifícios e locais que aparecem, se transformam e desaparecem”.

“Dentro deste ambiente dinâmico, o acto de documentar a cidade torna-se essencial, com o objectivo de observar e capturar momentos fugazes”, é ainda descrito pela mesma nota de imprensa. “Como intervenientes na evolução da cidade, os arquitectos são desafiados a compreender a essência de um lugar e a lidar com as questões e incertezas sobre seu futuro.”

“Framing a Future Past” apresenta “crónicas visuais” que foram produzidas nos últimos anos, nomeadamente desde 2018, sendo “resultado de um processo pessoal de descoberta da cidade, por parte destes dois arquitectos”, sem serem criadas especificamente para esta exposição.

Da diversidade

Com esta mostra, o público poderá observar “a diversidade de Macau, com especial foco nos elementos que poderão em breve fazer parte do passado da cidade”, além de se fomentar “o diálogo entre duas técnicas diferentes, a fotografia e o desenho, em torno de um tema, espaço e tempo comuns”.

Fascinado pela natureza desde jovem, Nelson é apresentado como “arquitecto e fotógrafo dedicado”. Nelson estudou Arquitectura na Universidade do Minho e passou um ano transformador em Trondheim, na Noruega, onde despertou o seu interesse por viagens e diferentes culturas. Em 2018, mudou-se para Macau, onde se tem dedicado à arquitectura e à fotografia.

Nelson é sócio da LBA Architecture & Planning e ganhou reconhecimento pelo seu trabalho fotográfico, incluindo o 2.º lugar no Concurso de Fotografia Arquitectónica de Macau de 2024.

No caso de João Nuno Marques, a sua formação fez-se na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), tendo-se especializado em “Património Arquitectónico” e “Cooperação e Habitabilidade em Países em Desenvolvimento”, entre outras pós-graduações no domínio da arquitectura.

O seu percurso profissional acumula períodos em Portugal, Espanha, Alemanha e Turquia, antes de se fixar em Macau em 2017. Tem dividido a sua actividade entre o exercício de arquitectura em diferentes sectores e a vertente académica na Universidade de São José (USJ), na qualidade de académico visitante. Além disso, João Nuno Marques integra a direcção do CURB – Centro para a Arquitectura e Urbanismo de Macau.

No seu caso, o desenho é usado “não apenas como parte do processo de trabalho, mas enquanto registo ‘in-situ’ dos lugares por onde passa, procurando captar as suas dimensões arquitectónicas e culturais”.

Relativamente a Sara Neves, curadora desta mostra, tem formação ao nível do mestrado na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa. Integrou, em 2016, a equipa da quarta edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa, tendo-se mudado depois para Macau. A curadora é também académica visitante na USJ, ministrando a disciplina “Buildings of Macau and Hong Kong.”
Em 2023, Sara concluiu o Curso de Práticas Curatoriais e Artes Contemporâneas em Veneza. Durante este período, co-curou a exposição “Broken in Three Places” com as obras de Sophie Jung e Maeve Brennan na Galeria “A plus A” em Veneza.

2 Mar 2025

Jimson Kin Wa Hoi, presidente da Orquestra Sinfónica Jovem de Macau: “Macau é um espaço de cultura”

O presidente da Orquestra Sinfónica Jovem de Macau, Jimson Kin Wa Hoi, defende o apoio à música clássica e formação dos jovens. À frente da orquestra há duas décadas, o responsável revela ao HM detalhes sobre os próximos concertos, incluindo uma passagem por Portugal e o “24º Concerto da Nova Geração de Músicos 2025”, marcado para este domingo no Centro Cultural de Macau

 

Imagem: António Sanmfaurl_MacauNews

Comecemos por falar do espectáculo no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) este domingo. É uma grande oportunidade para revelarem o vosso projecto ao público.

Sim. Na verdade, a Orquestra existe desde 1997, quase há 28 anos. Ao longo deste tempo realizámos cerca de 100 concertos, no que chamamos de espectáculos com assinatura de Macau. A nova geração de músicos locais está, de facto, bastante entusiasmada com o espectáculo que vamos ter no próximo domingo.

A realização de concertos e participação em festivais é a parte mais visível do vosso projecto. Mas quantos músicos estão actualmente na orquestra? Até que ponto a orquestra é importante para os jovens que querem ser músicos?

Somos de facto a única orquestra juvenil em Macau que providencia formação específica neste género musical. Nesta fase, os jovens músicos podem ter a oportunidade de mostrar o seu talento. Tentamos, de facto, construir uma nova geração de músicos. Este tipo de espectáculo encoraja-os a aprender e sair mais, a estudar música ao longo dos anos, então é algo mesmo muito importante para eles. No espectáculo de domingo os músicos terão a oportunidade de tocar em orquestra, e este ano organizámos duas audições para a escolha dos solistas. Estou feliz por termos este ano um total de 33 grupos de jovens que participaram nessas audições, de onde foram escolhidos nove solistas.

É o director da única orquestra juvenil em Macau. Como descreve o panorama de formação musical dos mais jovens? Onde é preciso melhorar?

Sim, claro. Comecei desde muito cedo a tocar na Orquestra de Macau, sou violinista. Posso dizer-lhe que, ao nível da formação, a maioria dos professores são de Hong Kong ou de Guangzhou, que todas as semanas se deslocam a Macau para treinar os nossos jovens. Macau é muito conhecida como a cidade do jogo, mas é também um espaço cultural. Consegue-se sentir o património que existe em Macau, graças, em parte, à anterior administração portuguesa, e temos de agradecer pela manutenção desta cultura portuguesa e de toda uma cultura ocidental misturada com a oriental. Macau é especial por isso mesmo. Penso que temos de promover esta cultura e saber desenvolvê-la. No caso da música clássica, começámos a ter uma orquestra em 1983, ainda durante o Governo da administração portuguesa, e aí organizámos também uma série de competições para os mais jovens. O Festival Internacional de Música de Macau também começou a ser organizado há várias décadas, bem como o Festival de Artes de Macau. Hoje, Macau tem mais iniciativas deste género e isso é bom para enriquecer a nossa cultura, sobretudo a música clássica que se faz no território.

Além do espectáculo de domingo, o que está na agenda da Orquestra da Juventude de Macau para este ano?

Posso dizer-lhe que vamos participar na edição deste ano do Festival de Música de Mafra “Filipe de Sousa”, agendado para Julho. Irei visitar Mafra e todos os locais onde iremos actuar, ter reuniões e organizar-me com a produção. Não será a primeira vez que estamos, como grupo, em Portugal, mas penso que para a maioria dos jovens músicos será a primeira vez. A nossa orquestra já actuou duas vezes em Portugal, a primeira vez foi em 2010.

Entende que o Governo de Macau deve dar mais apoios para a formação na área da música clássica?

Penso sempre que o Governo deveria dar mais apoio aos estudos de música clássica. Para isso não basta gastar dinheiro na organização de festivais, é preciso um maior foco na educação musical. Temos também de ensinar a população a apreciar música clássica, a ouvi-la e a consumi-la, para que possam conhecer o que ouvem e ir aos concertos. Macau é um território pequeno com cerca de 600 mil habitantes, e tem muito dinheiro por causa do jogo. Temos de usar esse dinheiro para construir uma cultura de Macau, onde se inclui a música clássica. Devemos criar uma cidade que mostra a sua cultura, e por isso encorajo sempre o Governo a dar apoio à formação musical. Não apenas para as orquestras profissionais, mas para as orquestras juvenis e associações de música.

Macau carece ainda de cursos superiores na área da música, tendo apenas o Conservatório. Essa é também uma lacuna?

Está certa. Existem várias universidades em Macau, mas há, de facto, falta de oferta formativa na área da música. O Conservatório não oferece essa formação a nível superior. Neste momento, os alunos que queiram estudar música de forma profissional têm de sair de Macau e ir para a Europa, Estados Unidos da América, Hong Kong ou até mesmo a China. Mas, por outro lado, a população de Macau é muito pequena e manter um Conservatório com outro tipo de oferta formativa iria custar muito dinheiro. Penso que o melhor que se pode fazer é o Governo apoiar financeiramente estes excelentes alunos para que sejam aceites em cursos fora de Macau.

As jovens estrelas que vão subir ao palco do Centro Cultural de Macau

Organizado pela Associação Orquestra Sinfónica Jovem de Macau, o espectáculo de domingo começa às 19h45 e tem como lema “Progressing Towards the Future” [Progredindo em Direcção ao Futuro]. O espectáculo será dirigido pelo maestro italiano Lorenzo Antonio Iosco, que também é clarinetista e tem trabalhado com a Orquestra Filarmónica de Hong Kong. Antes de se mudar para a Ásia, em 2015, estudou clarinete no Conservatório Luigi Cherubini, em Florença, e tocou em Espanha e Londres.

No que diz respeito aos jovens músicos de Macau que sobem ao palco no domingo, destaque para Zita Ho Nok Chon, nascida no território em 2009, e membro da Orquestra desde 2021. A jovem frequenta a Escola Secundária Pui Ching, estuda violino e já participou em diversos concursos com distinção. Tem tocado na Orquestra como primeira e segunda violinista.

Na harpa destaca-se Eugenia Wong Hei U, nascida em 2011 e estudante do Colégio Anglicano de Macau. Começou a tocar este instrumento com apenas quatro anos, começando a sua formação na Escola de Música do Conservatório, que lhe valeu o seu primeiro prémio quando tinha apenas cinco anos. Actualmente, tem aulas com Ann Huang, harpista principal da Sinfonietta de Hong Kong.

Ao HM Eugenia Wong Hei U confessou que se sente muito satisfeita pela oportunidade proporcionada pelo concerto no CCM. “Tem sido uma honra muito grande fazer parte desta orquestra, onde conheci muitos parceiros talentosos e ganho um grande conhecimento musical.”

Outro nome de Macau na jovem orquestra é Brian Mui On Ian, violinista, que também frequenta a Escola Secundária Pui Ching. Além do violino, começou a estudar piano em 2018. O jovem foi um dos solistas da edição do ano passado do concerto promovido pela Orquestra Sinfónica Jovem de Macau, o “23rd Macau Music New Generation Musicians Concert 2024”, onde tocou a composição “Bruch Double Concerto in E Minor”.

28 Fev 2025

Emprego | Coutinho alerta Sam Hou Fai para dificuldades

O deputado José Pereira Coutinho, na qualidade de presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), reuniu ontem com o Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, a propósito da elaboração do relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano.

Ao lado de Rita Santos, também ela dirigente da ATFPM, O deputado pediu ao Chefe do Executivo para dar mais atenção à questão do emprego em Macau, referindo que a falta de oportunidades é geral, e não apenas para os portugueses.

“Está cada vez mais difícil para as pessoas que não dominam a língua chinesa encontrar um emprego. Parece-me uma questão transversal que afecta todas as pessoas de Macau, sobretudo os mais jovens. Temos [na ATFPM], currículos de pessoas que há mais de dois anos não conseguem encontrar um emprego”, disse Coutinho.

O deputado e dirigente associativo destacou a falta de emprego na área do Direito para cidadãos portugueses. “Não é fácil para os cidadãos portugueses que queiram vir para Macau encontrarem emprego. Temos casos de residentes que voltaram depois de ter estudado Direito, não conseguiram encontrar trabalho e depois foram forçados a voltar a Portugal para fazer o estágio. A situação económica e de emprego em Macau é grave e deve ser resolvida com medidas concretas e eficazes, a fim de reactivar a economia.”

De resto, Rita Santos e José Pereira Coutinho confirmaram não ter abordado a dificuldade dos portugueses na obtenção do Bilhete de Identidade de Residente (BIR), pois “trata-se de uma questão muito complexa e o Chefe do Executivo sabe o que deve fazer, essa questão não está esquecida”.

Aumento para 97 patacas

De resto, a reunião serviu para pedir aumentos salariais na Função Pública, para que, este ano, o valor de cada ponto da tabela indiciária seja elevado de 94 patacas para 97 patacas. “Sam Hou Fai disse para esperarmos. Veremos o que surge no relatório das LAG, até porque serão ouvidas outras associações que até podem ser contra a actualização salarial. Nunca se sabe o que os outros pensam, mas da nossa parte insistimos para que o Chefe do Executivo faça algo em relação à actualização dos salários”, explicou Coutinho.

A ATFPM submeteu um documento escrito com todas as sugestões que foi fruto da participação de 19.300 sócios e “cerca de 50.000 residentes”, explica-se numa nota. Descreve-se, nesse comunicado, que “os preços dos bens essenciais em Macau têm registado um aumento constante, resultando numa significativa diminuição do poder de compra dos residentes”.

Os dois responsáveis da ATFPM abordaram também no encontro a necessidade de uma maior e melhor utilização da língua portuguesa por parte do Executivo, a propósito da recepção de uma carta, apenas em chinês, da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), sobre a saída de docentes da Escola Portuguesa de Macau.

“Insisti que a língua portuguesa deve ter um elevado nível de utilização, pois existe a falta de divulgação do idioma em vários websites do Governo e nos comunicados de imprensa, pois são enviados primeiro em chinês. Algumas sinalizações também não respeitam bem a língua portuguesa. Propusemos dar um subsídio aos trabalhadores que dominam as duas línguas, para que possam desempenhar um melhor papel”, disse Rita Santos.

27 Fev 2025

Cristina Ferreira, jurista e docente da Universidade de Macau: “O FATF estava no lugar e momento certos”

Cristina Ferreira, especialista em Direito Internacional, investigou o estatuto jurídico do “Grupo de Acção Financeira Internacional”, que combate a lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo. No livro “The Legal Status of the Financial Action Task Force in the International Legal System”, a jurista discorre sobre o estatuto jurídico indefinido do organismo que obteve grande poder a nível mundial

 

Quais as principais razões para a criação do Financial Action Task Force (FATF)?

O FATF surge no âmbito do G7, em Julho de 1989, em grande parte por iniciativa dos Estados Unidos da América (EUA), para dar resposta ao crime de branqueamento de capitais com origem no tráfico de drogas e à Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas de 1988. Tratava-se de um grupo informal que visava a cooperação e troca de experiências na parte policial, a elaboração de directrizes comuns e a coordenação de medidas preventivas, especialmente no âmbito financeiro e cooperação internacional. Foram elaboradas 40 “Recomendações Internacionais Contra o Branqueamento de Capitais”. Hoje o FATF tem 40 membros, 38 jurisdições, a Comissão Europeia e o Conselho de Cooperação do Golfo. O último membro, a Indonésia, entrou em 2023. Estes membros representam países industrializados, grandes praças financeiras e economias emergentes.

Como avalia, ao longo dos anos, o desempenho do FATF?

Teve um papel importantíssimo de liderança após o 11 de Setembro de 2001. De repente, o combate ao financiamento ao terrorismo (FT) tornou-se uma obrigação internacional e prioridade na agenda de todos os países. No plano internacional, os Estados foram instados a fazer parte da Convenção Internacional para Supressão do Financiamento ao Terrorismo, bem como de acordos e acções regionais ou internacionais de combate ao terrorismo e ao seu financiamento. A nível interno, os países foram instados a criminalizar o FT, a adoptar medidas de congelamento de bens, medidas de prevenção e detecção do FT nas entidades financeiras, como bancos e seguradoras, e não-financeiras, como casinos, agências imobiliárias ou lojas de penhores. Adoptar novos instrumentos internacionais que harmonizam ou uniformizam as práticas dos diversos Estados, e chegar a acordo sobre o seu conteúdo, pode levar anos. Mas o FATF estava no lugar e momento certos. Dada a sua natureza informal e flexibilidade para ajustar o seu mandato em função das ameaças que pudessem existir no sistema financeiro e do seu ‘know-how’ técnico, o FATF incorporou no seu mandato o combate ao FT e produziu recomendações, numa altura em que este assunto era novo para a maioria das jurisdições. O FATF agiu com rapidez, de forma útil e eficiente para a comunidade internacional. Tinha peritos experientes na área financeira e capacidade para ajudar na aplicação [das recomendações] e supervisionar a sua execução. O mesmo sucedeu em 2009, a seguir à crise financeira de 2008 e ao pedido do G20 para reforçar medidas destinadas à transparência e de combate à corrupção. Portanto, tem sido um caminho positivo.

Defende que ocorreu no FATF uma “metamorfose institucional” neste organismo. Como?

O FATF foi criado como um grupo informal, de índole técnica e temporário, renovável a cada oito anos, mas ao longo de 30 anos tornou-se numa organização cada vez mais complexa, governando hoje 206 jurisdições. A extensão do mandato implicou igualmente a evolução dos seus poderes e responsabilidades, e hoje o FATF é mundialmente reconhecido como a autoridade internacional sobre esta matéria. É dotado de um poder público de governação mundial cujo reconhecimento está traduzido em diversas Resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

O estudo vem clarificar o estatuto legal da FATF. Que estatuto é este e qual a conexão com outras entidades também ligadas ao combate ao FT e lavagem de dinheiro?

O FATF é a autoridade mundial responsável por fixar padrões, normas e políticas internacionais sobre estas matérias e não há uma duplicação de funções com outras organizações e entidades internacionais, incluindo Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a União Europeia. Este estudo defende que a evolução gradual do mandato, da estrutura institucional e do ‘modus operandi’ do FATF no plano internacional alterou o seu ‘modus constituendi’. Ou seja, uma organização pode evoluir para uma organização internacional de pleno direito, independentemente da intenção inicial dos membros e de não ter sido criada por um tratado.

Como explica que, até à data, falte clarificação do estatuto legal da FATF?

Acho que nunca houve um verdadeiro interesse em analisar a fundo esta questão. Este tema foi abordado entre 2016 e 2018, durante as presidências Espanhola e Argentina do FATF, mas ficou a “marinar”, com o argumento de que haveria vantagem em manter uma entidade flexível para mais facilmente poder responder a desafios e riscos emergentes contra a segurança, transparência e integridade do sistema financeiro internacional. Mas o facto é que o FATF passou a deter e a exercer um enorme poder, pois avalia e identifica as jurisdições não cumpridoras, nomeando-as em listas (‘blacklisting’). Pode ainda instar a aplicação de medidas a membros e não membros, um poder detido por pouquíssimas organizações internacionais.

Até que ponto as suas recomendações têm impacto e são postas em prática?

As recomendações do FATF têm impacto porque os países são regularmente avaliados quanto à sua aplicação, chamada de “Technical Compliance”, e eficácia da sua aplicação prática, com a designação de “Immediate Outcomes”. Essa avaliação é feita segundo critérios rigorosos, sendo dada uma classificação. Se o resultado for deficiente, a jurisdição tem de assumir um compromisso político de alto nível de resolução dessas deficiências, passando a fazer parte da ‘Lista Cinzenta’, sujeita a um plano de acção e a um prazo [de cumprimento]. Na ausência do compromisso político ou na falta de progresso suficiente na execução do plano, a jurisdição pode ser nomeada para a ‘Lista Negra’, e o FATF pode apelar a todas as jurisdições da rede do FATF para que aconselhem as suas instituições financeiras a reforçarem as medidas de diligência relativamente aos riscos associados a tal jurisdição. É isso que está a acontecer com o Myanmar desde Outubro 2022. Se a jurisdição apresenta graves deficiências ou não cumpre com o plano de acção ou não é membro de um grupo regional, pode ser nomeado para a ‘Lista Negra’. Neste caso, o FATF pode apelar que se apliquem as medidas da ‘Recomendação 19’, que vão desde o reforço da diligência e comunicação sistemática das transacções e operações que envolvam a jurisdição até à limitação ou proibição de transacções financeiras com a jurisdição.

Há alguns exemplos concretos?

Isso acontece com o Irão e Coreia do Norte há duas décadas. A reputação internacional [desta medida para um país] é real, tem um custo político e económico. Um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) de 2021 revela que os efeitos negativos estimados em 7,6 por cento do Produto Interno Bruto nos fluxos de capitais e uma redução significativa do investimento directo estrangeiro nas jurisdições que constam da ‘Lista Cinzenta’, podendo até ter consequências nas condições de empréstimos do FMI.

Levanta, no livro, a questão da importância do FATF no panorama institucional global. Que importância é essa?

O FATF serve de modelo institucional, operacional e de regime para outros organismos internacionais. Este estudo desenvolve um modelo teórico que pode ser utilizado em qualquer organização que actue na cena internacional, reúna os mesmos elementos objectivos e cujo estatuto jurídico seja pouco claro. No fundo, o FATF é um caso prático. O Direito internacional não é estático e tem de se analisar a realidade e ajustar os modelos, devendo estes reflectir a realidade objectiva da ordem jurídica internacional.

A China e Hong Kong são membros do FATF. Qual é a relação da RAEM e das políticas locais de combate ao FT e lavagem de dinheiro com esta entidade?

A RAEM é membro de um dos grupos regionais do FATF – o Grupo Ásia-PacÍfico para o Combate ao Branqueamento de Capitais (APG), e obedece às recomendações e mecanismos de supervisão do FATF, exercidas pelo APG. Macau tem tido um bom desempenho, cumprindo, obviamente, as suas recomendações. Isso aconteceu, por exemplo, com a adopção do Regime de execução de congelamento de bens e a lei do Controlo do transporte transfronteiriço de numerário e de instrumentos negociáveis ao portador. Aliás, a RAEM foi a primeira jurisdição do mundo a obter a melhor nota de cumprimento técnico em relação às 40 Recomendações do FATF quando foi avaliada em 2017.

Quais os principais desafios que o FATF enfrenta actualmente no combate a este tipo de crimes?

O uso de novas tecnologias, da moeda virtual e o acesso limitado aos serviços financeiros formais que conduzem ao uso de canais não regulamentados, aumentando os riscos de branqueamento de capitais e de FT. No livro falo ainda do fosso económico e de capacidade de resposta ou acção entre as jurisdições-membros do FATF em relação às jurisdições-membro dos grupos regionais. Muitas delas são economias frágeis ou de baixo rendimento, pelo que não surpreende que apresentem mais deficiências ou dificuldades em cumprir com os padrões internacionais FATF. No APG, a título de exemplo, o Afeganistão, Bangladesh, Camboja, Laos, Myanmar, Nepal, Timor-Leste e Tuvalu constam na lista do Banco Mundial de 2023 dos Países Menos Desenvolvidos, o que dificulta a aplicação uniforme e global das normas e políticas do FATF. Além disso, as normas, políticas, procedimentos de avaliação e recomendações ou planos de acção do FATF são pouco flexíveis ou ajustáveis à realidade local e aos condicionalismos internos e regionais das jurisdições não membro do FATF. Deveria ainda ser assegurada uma participação mais equitativa ou representação dessas jurisdições no processo final de tomada de decisões do FATF, a fim de aumentar a sua legitimidade e transparência.

27 Fev 2025

Cinemateca | Primeiro festival de cinema indiano marca início de Março

A Cinemateca Paixão acolhe nos dias 1 e 2 de Março o primeiro festival de cinema indiano de Macau. O cartaz, promovido pelo Consulado-geral da Índia em Hong Kong e Macau, traz títulos como “Dangal”, com a grande estrela do cinema indiano Aamir Khan, “Hellaro”, e “Zindagi Na Milegi Dobara” e “RRR”

 

Os amantes do cinema de Bollywood, pautado por histórias românticas, com aventura e muita dança, vão ter dois dias para ver alguns filmes desta indústria, protagonizados por grandes estrelas do cinema indiano.

Numa iniciativa inédita no território, o primeiro festival de cinema indiano acontece na Cinemateca Paixão no fim-de-semana de 1 e 2 de Março, com organização do Consulado-geral da Índia em Hong Kong e Macau e apoio da Associação da Cultura Indiana em Macau, presidida por Victor Kumar.

O festival arranca com o filme “Dangal”, protagonizado por Aamir Khan, que será exibido entre as 10h e as 13h de 1 de Março. O filme mistura desporto e acção, contando a história do antigo lutador de wrestling Mahavir Singh Phogat, que passa os ensinamentos desse desporto às suas filhas, Babita e Geeta. As jovens venceram os Jogos da Commonwealthy de 2010, tornando-se duas lutadores bastante conhecidas em toda a Índia, ganhando, respectivamente, as medalhas de prata e ouro nesta modalidade. “Dangal” estreou em 2016.

Também no dia 1 de Março será exibido, entre as 15h e as 17h, “Hellaro”, uma “história que conta a jornada de uma mulher para a liberdade através da dança”, descreve a organização. Datado de 2019, o filme retrata a história de uma mulher que se tenta superar a si mesma, enfrentando os mais diversos desafios para conseguir aquilo que deseja.

O segundo dia

O festival de cinema indiano continua no dia 2 de Março, desta vez com a exibição de “Zindagi Na Milegi Dobara”, um filme centrado na história de três amigos de infância que fazem uma viagem de três semanas em Espanha. O passeio acaba por mudar as percepções e ideias que tinham da vida até à data, ganhando novas ideias sobre amizade e amor. A exibição do filme decorre entre as 10h30 e as 13h.

O festival é encerrado com “RRR – Revolta, Rebelião e Revolução”, exibido das 14h30 às 18h no mesmo dia. Este filme ficou conhecido pelo prémio de Melhor Banda Sonora atribuído nos Óscares com “Naatu Naatu”, levando a Índia a ganhar um prémio desta categoria pela primeira vez. A canção acabou por se tornar viral nas redes sociais.

O filme, de 2022, centra-se na história de um guerreiro corajoso que embarca numa missão perigosa onde encontra um polícia que serve o exército britânico. A película é, assim, uma saga épica passada na Índia do período anterior à independência do Reino Unido.

26 Fev 2025

Saúde | Casos de gripe triplicaram entre Dezembro e Janeiro

Os casos de gripe triplicaram em Janeiro, face a Dezembro, indicaram ontem os Serviços de Saúde. Os dados das doenças de declaração obrigatória revelam ainda um aumento mensal de quase 13 por cento das infecções de escarlatina, enquanto os casos de gastroenterite mais que triplicaram em termos anuais

 

Foram ontem divulgados os dados estatísticos relativos às doenças de declaração obrigatória dos Serviços de Saúde (SS), nomeadamente a gripe (infecção por vírus influenza), a escarlatina e as infecções por norovírus, ou gastroenterite. Um dos dados que salta à vista é relativo à gripe, com as infecções a triplicarem entre Dezembro e Janeiro, enquanto os casos de gastroenterite diminuíram face ao mês anterior, mas mais que triplicaram em termos anuais.

Mas olhemos para as doenças sazonais do foro respiratório. Se em Janeiro deste ano os casos de gripe foram 2.190, menos 30,9 por cento face a Janeiro de 2024, quando foram registados 3.170 casos, houve um aumento para o triplo em relação ao último mês do ano passado, quando se registaram 731 casos.

Os SS destacam que as infecções pelo vírus influenza têm maior incidência no Inverno e Primavera, ou seja, entre os meses de Janeiro e Março. “Em Macau, os tipos de gripe mais frequentes são a gripe A (H1N1 e H3N2) e a gripe B”, explicam os SS, que alertam para sintomas comuns como febre, dores de cabeça, dores musculares, corrimento nasal, dor de garganta e tosse. Os SS deixam também um alerta sobre a importância da vacinação como prevenção de casos mais graves.

Relativamente à escarlatina, em Janeiro deste ano foram registados 97 casos, menos 55,7 por cento face aos 219 casos registados no mês homólogo de 2024. Porém, ocorreu um aumento de 12,8 por cento em relação aos 86 casos registados no mês anterior.

Esta doença tem um período de incubação entre um e três dias, sendo provocada pelo vírus estreptococo beta hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes). O pico da doença ocorre também nas épocas do Inverno e Primavera, afectando crianças dos dois aos oito anos de idade. Os sintomas são febre, dor de garganta, língua com aspecto semelhante a um morango e prurido. As crianças costumam ficar também com erupções nas zonas do pescoço, tórax, axilas, fossas cubitais, na virilha e no lado interno das coxas.

Doenças que caem

No caso das infecções por norovírus, ou seja, gastroenterite, houve uma grande redução, de 53,4 por cento entre Janeiro deste ano e Dezembro, quando foram registados 176 casos. Porém, em termos anuais, Janeiro registou 82 casos, mais do triplo face aos 24 casos registados em Janeiro do ano passado.

Esta doença é causada, sobretudo, pelo consumo de alimentos ou água contaminados, pelo contacto com vómitos ou excrementos dos doentes e pelo contacto com os materiais contaminados, podendo também ser transmitidas por gotículas de saliva no ar. Este vírus é o principal agente patogénico da gastrenterite não bacteriana e pode causar surtos de gastrenterite em lares de idosos, escolas e outros estabelecimentos colectivos. Os SS alertam para o facto de “todos os grupos etários estarem suscetíveis de infecção”, sendo que o Inverno “é a estação de maior incidência”.

Há 45 tipos de doença de declaração obrigatória. Os SS registaram, em Janeiro deste ano, um total de 2.529 casos de doenças de declaração obrigatória. “Os primeiros três grupos de doenças com maior número de casos são a influenza, a escarlatina e a infecção por norovírus”, é revelado.

26 Fev 2025

Dia da Mulher | Sam Hou Fai promete igualdade

Sam Hou Fai destacou a vontade do Executivo de assegurar mais igualdade entre homens e mulheres em Macau, durante um jantar da tomada de posse de mais uma equipa de dirigentes da Associação Geral das Mulheres de Macau, e que serviu também para comemorar antecipadamente o Dia da Mulher, celebrado no próximo dia 8 de Março.

No seu discurso, o Chefe do Executivo disse ser “inspirador ver que, em Macau, há cada vez mais mulheres que ultrapassam as limitações impostas pela tradição, ingressando activamente em diferentes sectores e ramos de actividade”, constituindo “uma força indispensável para o desenvolvimento da economia e da sociedade de Macau”.

O Chefe do Executivo admitiu também o facto de que “muitas mulheres ainda enfrentam vários desafios e dificuldades”, referindo “o compromisso do Governo na defesa dos direitos das mulheres e da igualdade de oportunidades para ambos os sexos”.

Sobre os novos corpos dirigentes e os seus 75 anos de existência, Sam Hou Fai declarou que a associação sempre manteve “a bela tradição do patriotismo e cuidado com mulheres e crianças”. Espera-se que continuem “a promover os valores fundamentais do patriotismo e do amor a Macau”, além de “apoiarem políticas e acções do Governo da RAEM”.

26 Fev 2025

Ensino | Universidades chinesas sobem em ranking por disciplinas

As universidades chinesas subiram no “World University Rankings by Subject 2025” em várias áreas, apesar de em artes e humanidades a Ásia continuar aquém de outros continentes. Em 11 disciplinas analisadas, como Direito, Gestão e Economia, a China e Singapura constam nas 50 melhores, enquanto Hong Kong destaca-se em Estudos de Educação

 

O mais recente ranking mundial do ensino superior por áreas do saber da Times Higher Education, o “World University Rankings by Subject 2025”, conclui que as universidades do Interior da China têm subido para posições de topo, embora a Ásia continue a posicionar-se uns lugares aquém nas áreas das artes e humanidades.

Foram analisadas, no total, 11 áreas académicas. “Artes e Humanidades”, “Negócios e Economia”, “Ciências da Computação”, “Estudos de Educação”, “Engenharia”, “Direito”, “Ciências da Vida”, “Medicina e Saúde”, “Ciências Físicas”, “Psicologia” e “Ciências Sociais”.

Conclui-se, segundo uma nota oficial do Times Higher Education (THE), que “China e Singapura aparecem entre as 50 melhores em todas as 11 disciplinas”, com destaque para a Universidade de Pequim e Universidade de Tsinghua a subirem, respectivamente, para o quarto e sexo lugares nas disciplinas relacionadas com “Negócios e Economia”. Aliás, “o melhor desempenho da Ásia regista-se nas áreas de gestão e economia”, com “as suas principais universidades a continuar a ter dificuldades em competir a nível mundial no domínio das artes e humanidades”. “As preocupações com a ‘crise’ nas humanidades parecem estar destinadas a continuar este ano, mas a análise do THE revela a contínua importância para as instituições de elite”.

Tendo em conta a análise a 11 áreas académicas, a região vizinha de Hong Kong destaca-se em nove, sobretudo na área da Educação, onde também a Universidade de Pequim e Tsinghua obteve bons resultados. “A Universidade Nacional de Singapura ocupa novamente a nona posição em Engenharia, entrando no top 10 das ciências físicas – a primeira instituição da Ásia a consegui-lo – em 10º lugar”, lê-se ainda.

Citada pela mesma nota, Simon Marginson, professor na Universidade de Oxford, uma instituição que costuma liderar os rankings a nível mundial, disse que o desempenho da Ásia nesta classificação mostra “o mundo multipolar do ensino superior” existente hoje, com uma maior amplificação “da capacidade académica nacional”.

“Neste contexto, ao longo do tempo, a posição relativa dos países da Anglosfera e da Europa Ocidental tem de diminuir, não porque a sua qualidade absoluta esteja a diminuir, mas porque o campo de comparação está mais preenchido com outros países a surgirem”, afirmou.

O mesmo responsável apontou ainda que “os sistemas do ensino superior da Ásia Oriental e do Sudeste Asiático melhoraram nas últimas duas décadas devido ao crescimento do número de estudantes, ao aumento do financiamento público, a uma organização e gestão mais orientadas para o desempenho e a políticas de internacionalização selectivas”.

Uma das áreas onde se destaca uma melhor posição das universidades asiáticas é nos Estudos de Educação, tendo mostrado “uma força notável, com três universidades no top 10, com a Universidade de Hong Kong em sexto lugar, a Universidade de Tsinghua em sétimo lugar e a Universidade de Pequim em oitavo lugar”. Além disso, o THE mostra que a Universidade Chinesa de Hong Kong fez “progressos significativos”, passando da 19ª para a 11ª posição. Por outro lado, a Universidade Nacional de Ciência e Tecnologia de Taiwan (Taiwan Tech) obteve “a pontuação mais elevada em termos de qualidade da investigação”.

Porém, a liderança global vai para a Universidade de Stanford, “ultrapassando a Universidade da Califórnia, Berkeley, demonstrando um desempenho excepcional tanto no ensino como no ambiente de investigação”.

China sobe em Direito

Olhando para a área do Direito, não existe actualmente, segundo o ranking do THE, melhor lugar para estudar do que a Universidade de Stanford, que alcançou a “excelência no ensino e no ambiente de investigação”, seguindo-se a Universidade de Harvard, com “desempenho excepcional na investigação” e, em terceiro lugar, a Universidade de Nova Iorque, “com a pontuação mais elevada em termos de ambiente de investigação”.

Destaque, nesta área, para a entrada da Universidade de Pequim na 14ª posição, em parte devido à boa classificação “no ensino e no ambiente de investigação”. De frisar que, no que respeita ao Direito, foram classificadas 389 instituições de 48 países e territórios, com recurso a 18 “indicadores de desempenho rigorosos”.

Na área do Direito, são analisadas especialidades como Direito Constitucional e Administrativo e o exame a estruturas e enquadramentos de governação, ou ainda Direito Internacional, onde se inclui sistemas e tratados jurídicos globais.

Conhecimento capital

A China também se destaca na área dos Negócios e Economia, liderada pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). A Universidade de Pequim subiu para o quarto lugar, acompanhada por outras 20 universidades chinesas que melhoraram as suas posições na tabela. Nesta área foram analisadas 990 instituições de 85 países e territórios, com a atenção a focar-se na qualidade do ensino e investigação em disciplinas como liderança estratégica, negócios internacionais e desenvolvimento organizacional, bem como finanças empresariais ou econometria.

No que diz respeito às ciências sociais, a China surge, de facto, mais abaixo, na lista das 20 melhores, novamente com a Universidade de Pequim em 16º e a Universidade de Tsinghua em 20º. Aqui, a liderança cabe ao MIT, passando a Universidade de Stanford para o terceiro ligar e depois a Universidade de Oxford, com “um desempenho excepcional no ensino e ambiente de investigação”. A London School of Economics and Political Science continua a ser uma instituição integrante do Top 10, ocupando agora o nono lugar.

Foram analisadas 1.093 instituições de 100 países e territórios em disciplinas como Comunicação e Estudos dos Media, Política e Estudos Internacionais, incluindo Estudos de Desenvolvimento, Sociologia, Geografia e Antropologia.

A China subiu também na disciplina de Ciências da Computação com a Universidade de Pequim a passar do 16º para o 12º lugar. Nesta área, lidera a Universidade de Oxford, atingindo a sua maior pontuação de sempre.

MIT lidera em artes

O MIT passou a estar à frente da Universidade de Stanford, assumindo o “primeiro lugar nas artes e humanidades, bem como em negócios, economia e ciências sociais”, mesmo que seja reconhecido primeiramente “pela especialização nos domínios da ciência, tecnologia, engenharia e matemática”. Segundo o ranking, é agora “o melhor local para estudar artes – com pontuações elevadas em cada um dos cinco pilares subjacentes à metodologia, em especial a qualidade da investigação e a perspectiva internacional”.

Nas 11 disciplinas do ranking THE, “Stanford ficou em primeiro lugar em estudos de Educação, Direito e Psicologia, a Universidade de Harvard ficou em primeiro lugar em Engenharia e Ciências da Vida”.

A única instituição local que consta no ranking do THE por disciplinas é a Universidade de Macau (UM), mas em lugares bastante mais abaixo do top 10: na área das ciências computacionais, está no grupo das 126-150 melhores do mundo, posição semelhante ocupada na área da Educação e Engenharia. Na área do Direito, por exemplo, a UM está no grupo das 176-200 melhores, enquanto nas Ciências da Vida está entre as 151-175 melhores.

25 Fev 2025

Estudo | Tratamento digital de insónia pode combater depressão

Um estudo inédito desenvolvido por diversas universidades, incluindo a Universidade Chinesa de Hong Kong e Universidade de Pequim, concluiu que a terapia cognitivo-comportamental através de aplicações de telemóvel pode ajudar a combater depressão em jovens através da monitorização de insónias. A taxa de redução da doença é de cerca de 40 por cento

 

O estudo “Eficácia da terapia cognitivo-comportamental baseada em aplicações para a insónia na prevenção da perturbação depressiva major em jovens com insónia e depressão subclínica: Um ensaio clínico aleatório” [Effectiveness of app-based cognitive behavioral therapy for insomnia on preventing major depressive disorder in youth with insomnia and subclinical depression: A randomized clinical trial] promete respostas para o tratamento de casos de depressão nos mais jovens.

O trabalho, publicado pela revista “PLOS Medicine” e desenvolvido por académicos de diversas universidades de Hong Kong e da China, onde se incluem a Universidade de Hong Kong, Universidade Chinesa de Hong Kong ou a Universidade de Pequim, conclui que é possível reduzir, em cerca de 40 por cento, casos de depressão em jovens com a utilização de uma aplicação de telemóvel que monitoriza as insónias, um habitual sintoma em quem sofre da doença. Os dados foram apresentados no final da última semana em Hong Kong.

Para chegar aos resultados, foi escolhida uma amostra aleatória de mais de 700 jovens chineses do Interior da China e Hong Kong com perturbação de insónia e sintomas depressivos, com idades compreendidas entre 15 e 25 anos, que se submeteram ao teste com a aplicação durante seis semanas.

Assim, “este estudo controlado e aleatório avaliou a eficácia da terapia cognitivo-comportamental para a insónia baseada em aplicações (TCC-I) na prevenção do aparecimento futuro de perturbação depressiva major (MDD) em jovens”, pode ler-se. Isto numa altura em que “cada vez mais provas sugerem que a insónia desempenha um papel importante no desenvolvimento da depressão”, ocorrendo nesta investigação “a intervenção na insónia como uma abordagem promissora para prevenir a depressão nos jovens”.

Assim, a “TCC-I baseada em aplicações é eficaz na prevenção do aparecimento futuro de depressão major e na melhoria dos resultados da insónia entre jovens com insónia e depressão subclínica”. O estudo conclui também que “estes resultados sublinham a importância de se visar a insónia para prevenir o aparecimento de DMG [um tipo de depressão] e realçam a necessidade de uma maior divulgação da TCC-I digital para promover o sono e a saúde mental na população jovem”.

Conclui-se ainda que a TCC-I baseada em aplicações “não só melhorou os sintomas nocturnos de insónia, como também reduziu a fadiga diurna e conduziu a uma maior mudança para a maturidade”.

Mais de 700 jovens analisados

Depois de se testar a aplicação da TCC-I, foram realizadas entrevistas clínicas de base durante um período de seis a 12 meses para se compreenderem os resultados nos participantes e monitorizar os sintomas. Falamos, no período compreendido entre 9 de Setembro de 2019 e 25 de Novembro de 2022, de 708 participantes, sendo que destes 407 era mulheres (57 por cento), com uma média de idades de 22 anos. O estudo aponta ainda que “37 participantes, 10 por cento, no grupo de intervenção e 62 participantes, 18 por cento, no grupo de controlo desenvolveram novas perturbações do humor ao longo dos 12 meses de seguimento”.

Por sua vez, o grupo que foi sujeito à CBT-I baseada na aplicação de telemóvel, ou seja, a terapia cognitivo-comportamental para a insónia, apresentou “taxas de remissão da perturbação da insónia mais elevadas do que os grupos de controlo pós-intervenção” no espaço de um ano. Além disso, o mesmo grupo “relatou uma maior diminuição nos sintomas depressivos do que os controlos na pós-intervenção e ao longo dos seis meses de seguimento”. Os autores do estudo entendem que “a insónia foi um mediador dos efeitos da intervenção na depressão”, não tendo sido “relatados eventos adversos relacionados com as intervenções”.

Os autores partiram para este estudo com algumas ideias comprovadas de que a insónia constitui uma das causas principais para a depressão. “Os dados emergentes sobre a intervenção na insónia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental para a insónia (TCC-I), têm mostrado resultados promissores no alívio da insónia e dos sintomas depressivos em doentes com insónia”, lê-se.

As investigações já existentes centram-se em adultos e idosos, pelo que era importante analisar esta matéria entre os mais jovens.

“Além disso, existem poucos estudos com poder estatístico adequado para demonstrar o efeito preventivo da TCC-I na depressão, tanto ao nível dos sintomas como das perturbações”, explicam os autores do estudo, frisando que “pouco se sabe sobre se a intervenção digital da insónia pode potencialmente prevenir a depressão juvenil”.

Significados importantes

O estudo aponta ainda que a terapia cognitivo-comportamental para a insónia baseada em aplicações “é uma intervenção viável e eficaz para prevenir a depressão futura, tanto ao nível dos sintomas como das perturbações, nos jovens”. Porém, é recomendada a realização de mais estudos que possam explorar “a integração do TCC-I baseado em aplicativos na prática clínica para melhorar a acessibilidade e prevenir a depressão entre a população jovem”.

É também referida a necessidade da realização de mais ensaios clínicos “para explorar os potenciais benefícios da adaptação de intervenções digitais sobre o sono no alívio e prevenção da depressão”, a fim de se “avançar em direcção a abordagens de cuidados personalizados e escalonados junto da comunidade”.

São referidas limitações neste estudo publicado na “PLOS Medicine”, nomeadamente “a inclusão de uma mistura de indivíduos com e sem depressão prévia, e uma amostra limitada de adolescentes, embora tenha havido uma amostra global adequada”.

À imprensa de Hong Kong, os autores do estudo falaram da importância destes resultados e como podem constituir novas ferramentas em futuros tratamentos da doença. Citado pelo The Standard HK, Chen Si-jing, primeiro autor da investigação e bolseiro de pós-doutoramento do Departamento de Psiquiatria da Universidade Chinesa de Hong Kong, disse que o estudo “demonstra que a TCC-I digital é eficaz na prevenção do aparecimento futuro de depressão grave, com uma eficácia satisfatória”. Já Wing Yun-kwok, director da Unidade de Avaliação do Sono da Família Li Chiu Kong, indicou que os estudos futuros irão centrar-se na intervenção digital sobre a insónia na prática clínica.

O carácter inédito deste estudo na Ásia confere-lhe ainda uma maior importância. Segundo afirmou Lu Lin, académico da Academia Chinesa de Ciências e presidente do PKU Sixth Hospital, até à data “não tinha sido realizada qualquer investigação na Ásia sobre a eficácia desta terapia”.

24 Fev 2025

Galaxy | Concerto do tenor Andrea Bocelli no fim de Março

A Galaxy Arena recebe, a 29 de Março, Andrea Bocelli para um concerto que marca a estreia do cantor em Macau. O espectáculo faz parte da digressão que o tenor tem levado a cabo por vários países e regiões, como Taiwan

 

Andrea Bocelli, um dos grandes tenores italianos da actualidade, actua em Macau pela primeira vez na Galaxy Arena, a 29 de Março, sendo que os bilhetes já se encontram à venda. Segundo um comunicado da Galaxy, promete-se “um concerto que apresenta uma lista única de músicas, oferecendo aos fãs de Macau, Hong Kong e de toda a Ásia-Pacífico a rara oportunidade de ver este artista excepcional ao vivo”.

Apesar de ser invisual, Andrea Bocelli conseguiu, com a sua voz, encantar fãs de todo o mundo, sendo “celebrado pela sua capacidade de misturar música italiana, ópera e música pop” e “aclamado pelo seu estilo distinto e cruzado”.

Sobre ele, a cantora Celine Dion disse ser a “Voz de Deus”, e o sucesso está à vista: ao longo da sua carreira, Andrea Bocelli vendeu mais de 90 milhões de álbuns e teve mais de 16 milhões de ouvintes online, sendo “o artista que mais vendeu dentro do género clássico”.

O concerto de Andrea Bocelli em Macau é uma oportunidade única para ver e ouvir um artista notável que anda em digressão pelo mundo, dando também um saltinho a Taiwan. De resto, Andrea Bocelli passa também pela Austrália, Portugal, França, Holanda, EUA, Chéquia e África do Sul, sem esquecer alguns países da América Latina.

Homem de duetos

Na sua enorme capacidade de se fundir com a música pop, Andrea Bocelli tem na sua carreira enormes êxitos que, decerto, se farão ouvir na Galaxy Arena. É o caso do dueto com Sarah Brightman, “Time to Say Goodbye”, que esteve no topo da tabela de singles alemã durante 14 semanas. Celine Dion, a cantora canadiana que o elogiou, gravou com ele “The Prayer”, e “Vivo per Lei”, em que a conjugação de duas belas vozes resultou em dois grandes êxitos e “demonstrou ainda mais o talento” de Bocelli.

Considerado um embaixador de longa data da cultura italiana, Andrea Bocelli atraiu novamente os olhares dos fãs em 2020, em plena pandemia, com o evento “Music for Hope”, que se tornou num dos maiores espectáculos de música transmitido em directo de todos os tempos. Foi a forma do músico responder aos difíceis tempos da pandemia, numa adaptação da sua arte ao formato online.

No rol de parcerias de Andrea Bocelli, inclui-se a participação com a cantora pop Lady Gaga, dona de uma grande voz, mas num registo bastante diferente do tenor. A parceria aconteceu no concerto promovido por ela, intitulado “Lady Gaga, One World: Together at Home de Lady Gaga”, que juntou estrelas como Celine Dion, Lang Lang e John Legend. O objectivo desta iniciativa foi “espalhar mensagens de amor e esperança em tempos difíceis”.

O sucesso de Andrea Bocelli em todo o mundo revela-se também pelo facto de ter actuado para quatro presidentes dos EUA, três papas, a família real britânica e vários primeiros-ministros. Além disso, Bocelli subiu aos palcos de marcos icónicos como as Pirâmides do Egipto, a Torre Eiffel em Paris, a Estátua da Liberdade em Nova Iorque e a Catedral de Milão. Actuou também em numerosos eventos de grande dimensão, como a cerimónia de abertura do Euro 2020 e os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em 2022. Na China, Bocelli foi também convidado em 2021 para a Gala de Ano Novo do canal CCTV.

O tenor colaborou ainda com outras estrelas de géneros musicais distintos do seu, mostrando a sua versatilidade como cantor, nomeadamente Ed Sheeran, Jennifer Lopez e Christina Aguilera.

Novos álbuns

A digressão de Bocelli far-se-á de êxitos antigos e novos. Relativamente ao trabalho de estúdio, o tenor italiano gravou, em 2022, “A Family Christmas”, um trabalho dedicado à família e ao Natal, destacando-se o single “The Greatest Gift”. “Si Forever” foi lançado em 2019 e é também um disco de duetos, com nomes como Ellie Goulding e Jennifer Garner, destacando-se “cinco novas canções que se juntam às favoritas, incluindo ‘Fall On Me'”, lê-se no website do tenor. Não faltam faixas como “Un rêve de liberté”, com o cantor pop MIKA, ou “If Only”, com a artista de R&B e pop Dua Lipa.

Andrea Bocelli nasceu em 1958 na região de Lajatico, e já ganhou cinco BRIT Awards e três Grammys. Começou a tocar piano, flauta ou saxofone, entre vários instrumentos, aos seis anos, mas um acidente aos 12 anos, em que fez um golpe na cabeça durante um jogo de futebol, mudaria a sua vida para sempre, deixando-o totalmente cego. Ainda estudou Direito, exercendo advocacia em Itália, mas a música acabou por conquistá-lo.

21 Fev 2025

António Queirós, filósofo e académico: “A Ocidente há uma grande ignorância” sobre a China

Doutorado em Filosofia da Ciências, Ambiental e Éticas Ambientais, António Queirós, ligado à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, lamenta que o Ocidente continue a encarar a China de forma errada, sobretudo em questões ambientais. O HM conversou com António Queirós antes da palestra sobre o assunto que deu ontem no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa

 

Irá falar do tema “A Crise ambiental e o projecto de Eco-civilização da China”. Que projecto é este?

Este é o grande projecto da China para a Nova Era. Trata-se de um conceito que começou a ser elaborado a partir de 2013. Essa ideia começou a ser concretizada com distintos projectos. Desde o regime da “nova democracia”, que resultou da resistência chinesa à ocupação do Japão e o confronto geopolítico dos países do Eixo das diferentes democracias. Isto dá-se quando é proclamada a República Popular da China, como a proclamação da “nova democracia” e surge a tomada de consciência da crise ambiental à escala mundial por parte da China, com o regime a evoluir para o chamado “socialismo ecológico” a partir de 2003. Foi preciso o país experimentar um modelo de industrialização comum às primeiras experiências de socialismo, e sobretudo os países capitalistas. A tese fundamental da China é que todos os regimes podem colaborar na construção de uma nova civilização, mas isso implica profundas reformas democráticas que estão consignadas nas propostas de civilização global, da garantia de paz segundo o princípio da indivisibilidade da segurança. Mas gostaria de apontar o momento em que a Organização das Nações Unidas (ONU), representando todo o mundo, tomou consciência da existência de uma crise ambiental, a partir da Conferência de Estocolmo, que se realizou em 1972. Na China esse processo de consciencialização da parte dos órgãos do Estado socialista, dos cidadãos e partidos, começou em 2003. É estranho que questões como esta nunca sejam debatidas a Ocidente. O confronto ideológico que vem da Guerra Fria não cessou com os Acordos de Helsínquia, e, portanto, há temas que são desconhecidos a Ocidente por causa dessa tradição nefasta da Guerra Fria, que se prolongou, e porque os órgãos de comunicação social não têm abertura para discutir e apresentar as propostas que a China faz.

A China marca presença e é um actor importante em reuniões mundiais sobre ambiente e clima. Porque entende que não há discussão a Ocidente sobre o conceito de Eco-civilização?

Não se discute porque a Ocidente há uma grande ignorância sobre a China e a realidade do país. A única vantagem que tenho sobre a maior parte das pessoas que escrevem e falam sobre a China é que a minha relação com o país tem mais de 50 anos. Sei como a China era apresentada ao Ocidente há 50 anos. Vivíamos [em Portugal], um regime fascista onde a informação chegava às pessoas com muita dificuldade. Assisti ao longo destes anos a todo o tipo de visões sobre a China que careciam de informação concreta, até porque o país, até à Reforma e Abertura, era uma sociedade também fechada. Mas essa falta de informação era geral no Ocidente. Também tive visões que não eram a realidade e comecei a questionar-me se a experiência histórica da China é única, sem paralelo na história da sociedade, de democracia e socialismo, pelas suas características históricas, a hermenêutica, no sentido de método, a análise de conceitos e pontos de partida, que predomina a Ocidente, não serve. Mas vamos então à questão concreta, que é as responsabilidades que a China tem em matéria ambiental.

Que, concretamente, são…

Uma coisa é a contribuição que dão a China, Índia e outros países para o aquecimento global, porque são populações que representam a maior parte da humanidade. Existem tecnologias que são, elas próprias, poluidoras. Mas se olharmos para este ângulo acabamos por falsificar a realidade, porque os gases com efeitos de estufa que existem na atmosfera existem há 150 anos, pelo menos, devido à industrialização europeia e americana. Em termos de responsabilidade histórica, os EUA são os grandes responsáveis [pelo aquecimento global], e cito dados oficiais da União Europeia, por exemplo. Falo de toneladas de dióxido de carbono e gases com efeito de estufa emitidos para a atmosfera em todos esses anos.

Porque se industrializaram muito mais cedo do que a China.

Sim, e apresentaram uma indústria sem esse tipo de preocupações ambientais. Portanto, esconde-se essa realidade, que os gases com efeito de estufa começaram a poluir desde há 150 anos e que não é apenas os contributos de hoje [que são os grandes causadores do aquecimento global].

Acha, portanto, errada a ideia de que a China é o principal país poluidor.

Em termos actuais a China e Índia podem ser os mais poluidores. Mas não o são em termos “per capita” nem historicamente. O que tem de verdade [no discurso a Ocidente], é que eles contribuem actualmente [para o aquecimento global]. Mas depois temos de ver as tendências para onde vamos caminhar. Mas se aprofundarmos este tema chegamos a conclusões ainda menos favoráveis às políticas ocidentais. A história ambiental da China pode resumir-se a quatro períodos. O primeiro período é nos anos da Reforma e Abertura, a partir de 1978, e o quarto período é quando a China lança os projectos piloto de civilização ecológica. O processo é global. Ainda em relação às responsabilidades da China, na primeira fase o Ocidente e o Oriente industrializados transportaram para a China as indústrias mais poluentes, porque o apelo da China era industrializar-se e criar mais emprego. A resolução da ONU que acrescenta um artigo além dos 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, reconhece finalmente como direito inalienável do ser humano a um ambiente saudável. Essa declaração que está, a Ocidente, completamente truncada, reduzida a coisa nenhuma, tem um preâmbulo com 30 artigos em que a questão ambiental não é colocada. Como essa declaração já não se coaduna com a realidade política e social actual, tem vindo a ser escamoteada, mutilada e reduzida às liberdades formais. Ignorada também pelo conjunto de cidadãos que também não conhecem bem a sua origem. A China é co-fundadora da Declaração Universal dos Direitos do Homem, facto que também é escamoteado. Mas queria falar também da maior falácia da política ambiental do Ocidente.

Que é?

A ideia de que, a partir de agora, se vai proteger a natureza. Então o que se faz àquilo que foi destruído? Sobretudo nos países em desenvolvimento, porque foi para lá que enviámos esses resíduos das indústrias poluidoras e explorámos todos os recursos. Ninguém queria saber disso, e o que fez a China? Assumiu a liderança do processo e através da sua diplomacia de “agir sem agir”, o caminho de Tao, sem violentar a natureza, respeitando as leis e a dignidade das coisas, fazendo aprovar o Acordo de Kunming-Montreal [sobre biodiversidade]. Temos então um compromisso que, provavelmente, os EUA vão deitar para o caixote do lixo, para recuperar os biótipos que estão destruídos, porque grande parte do mundo está em crise ambiental e até aqui assobiava-se para o lado. A China tem uma visão gradualista, no sentido de que os factores de risco na crise ambiental tendem a diminuir com o esforço da China, tanto a nível nacional como internacional. Mas a questão mais notável na ideia da construção de um Estado com consciência ecológica no país foi o facto de, por iniciativa do Presidente Xi Jinping, tenham sido incluídos princípios da filosofia ambiental nos estatutos do Partido Comunista Chinês, facto inédito em outro partido comunista e até alguns ecologistas.

Reformulação global

Segundo o estudo “Ecological Civilization in the People’s Republic of China: Values, Action, and Future Needs”, de Arthur Hanson, publicado em 2019 pelo Asian Developmento Bank, o conceito de Civilização Ecológica “está a ser utilizado pela República Popular da China (RPC) para fornecer um quadro conceptual coerente para os ajustamentos ao desenvolvimento que responde aos desafios do século XXI.

Difere do desenvolvimento sustentável na ênfase colocada nos factores políticos e culturais, bem como na definição de novas relações entre as pessoas e a natureza que permitam viver bem e dentro dos limites eco-ambientais do planeta Terra”.

Além de reduzir a poluição e promover a economia circular, por exemplo, consideram-se ainda “domínios das finanças, do Direito, do reforço institucional e da inovação tecnológica”, tendo já sido definidas algumas ideias em Planos Quinquenais aprovados por Pequim, destacando-se ” necessidades a médio prazo, especialmente até 2035, quando se espera que a Civilização Ecológica, na sua forma básica, esteja totalmente implementada para a modernização da RPC”.

21 Fev 2025