EventosMês de Portugal | Bruno Pernadas actua esta sexta-feira na Red House Andreia Sofia Silva - 10 Jun 2025 Bruno Pernadas formou-se em jazz e dá aulas, mas faz da música um só género. Em entrevista ao HM, o músico revela que irá tocar em Macau algo completamente diferente dos discos, que começou a lançar em nome próprio há 11 anos. Na sexta-feira actua em Macau no âmbito de uma digressão pela Grande Baía, numa noite que será animada também por três djs: Sound of Silva, Oba e Tongrim Vem aí mais uma proposta musical integrada no cartaz das comemorações do 10 de Junho – Dia de Camões, Portugal e das Comunidades Portuguesas. A proposta é protagonizada pelo músico português Bruno Pernadas, que vem a Macau, Hong Kong e ao sul da China, nomeadamente Shenzhen e Zhuhai, no âmbito da “Greatest Bay Area Tour 2025”. Na sexta-feira, o músico irá actuar no espaço Red House, no Ascott, a partir das 20h30, acompanhado pelas actuações dos djs Sound of Silva, Oba e Tongrim. Em conversa com Bruno Pernadas, o músico explica aquilo que o público de Macau poderá ver e ouvir. “A música que trago para esta digressão não é bem a música que está disponível nas plataformas [digitais de streaming], e nas lojas para ouvir. O concerto que vou fazer é a solo, e eu a solo toco coisas que não estão nos discos. Posso até tocar uma ou outra música, mas é uma proposta diferente, é mais experimental, tem mais jazz e características folk também. É uma música pouco rápida, mais contemplativa, toda tocada só no instrumento. Portanto, é completamente diferente dos concertos com formações”, destaca. Bruno Pernadas formou-se em jazz na Escola Superior de Música de Lisboa, estudou no Hot Club, dá aulas lá e olha para a música de uma forma global, sem distinções. Já assumiu numa entrevista que não se considera cantor, algo que tem a ver com a forma transversal como encara a música. “Isso tem a ver com a forma como oiço música desde criança, que é um bocadinho diferente da maioria das pessoas que conheci. Não consigo e faz-me confusão associar estilos e géneros musicais. Como oiço música de todos os géneros, para mim é como se não houvesse um género, pois o género é ser música, uma só linguagem”, explicou. Questionado sobre a diferença entre aquilo que é gravado e tocado ao vivo, Bruno Pernadas explica que procura sempre estabelecer “uma relação”, porque faz “música muito diferente, também dentro da música erudita, e também com a música de cinema e dança”. “Essa música é completamente diferente da que está nos discos, mas é um projecto de que gosto muito e até tenho feito digressões em Portugal com este projecto a solo e com um convidado, na maior parte das vezes”, explicou. Discos de que se arrepende Bruno Pernadas tem feito muitas andanças na música, produzindo bandas sonoras para filmes, fortalecendo a sua conexão com o cinema. Destaca-se, neste campo, a banda sonora de “Patrick”, filme de Gonçalo Waddington. Como produtor, trabalhou com Margarida Campelo em “Supermarket Joy”, lançado em 2023. Mas em nome próprio começou há 11 anos: em 2014 lançava “How can we be joyful in a world full of knowledge”, seguindo-se “Worst Summer Ever” lançado em 2016 e, no mesmo ano, “Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them”, que completou a trilogia. Mais recentemente, em 2021, Bruno Pernadas lançou “Private Reasons”. Hoje olha para trás “de forma positiva”, explicando que, no ano passado, juntou a equipa para celebrar os 10 anos do lançamento do primeiro disco em nome próprio, com uma digressão. “How can we be joyful in a world full of knowledge” demorou um ano e meio a gravar e, segundo Bruno Pernadas, deu-lhe uma linguagem de que só se apercebeu “quando o álbum foi terminado”. “Durante o processo não sabia muito bem como ia ser o resultado final. Sabia, mais ou menos, por onde tinha de ir para chegar lá, mas não sabia mesmo como é que ia ficar. Depois sabia que ia fazer mais um álbum para dar continuidade a essa linguagem que tinha inventado, porque é uma mistura de várias linguagens, mas não é nada forçado. Vou seguindo, improvisando”, descreveu ainda. Bruno Pernadas assume que quando tocou, no ano passado, músicas dos três primeiros álbuns que fez em nome próprio, descobriu que havia músicas que já não lhe faziam sentido. “Quando tive de fazer o exercício de voltar a reproduzir ao vivo, havia muitas coisas com as quais já não me identificava. Algumas canções, de forma geral, do início ao fim. Tinham componentes melódicas mais próximas da música pop ou folk que já não me dizem muito, e naquela altura fazia sentido”, disse. O músico diz mesmo que o disco lançado em 2021, em plena pandemia, “Private Reasons” é o trabalho que, hoje em dia, lhe diz menos. “É muito pop. Com esse é que não me identifico de todo, e é muito mais recente do que o primeiro. Há coisas estranhas que acontecem”. Bruno Pernadas diz mesmo que haveria canções de “Private Reasons” que nem sequer gravaria hoje, nomeadamente a faixa 4, “Theme Vision”, que até teve direito a videoclip. “Posso ter a certeza que jamais lançaria a ‘Theme Vision’”, esclareceu. Estúdio e Palco Bruno Pernadas assume: “nem sequer gosto de estar em estúdio”. “Na verdade, gosto mesmo do processo criativo e de quando se consegue encontrar mesmo o resultado. Durante a minha vida evitei ir a estúdios, e só vou quando é mesmo preciso. Só a ideia daqueles produtores e compositores, que são mais produtores, que estão num estúdio sem janelas durante metade da sua vida, para mim não dá. É impensável. Era incapaz, pois tenho de trabalhar num sítio com a luz do dia”, referiu. Há, porém, uma coisa de que Bruno Pernadas gosta muito: de cinema, estabelecendo uma profunda conexão com a música que faz. “Penso nos discos como se fossem filmes, mas não é como se fosse música para um filme. É mesmo como se fossem filmes, no sentido em que penso num grupo de pessoas que vai participar no disco. Quando estou a escrever parte de uma música já sei que é aquela pessoa que vai gravar e tocar, e já estou a escrever para ela, tal como alguns realizadores escrevem a pensar num determinado actor.” “Desde criança que vou ao cinema, e sei que há realizadores que normalmente acham que percebem mais de cinema do que todas as outras pessoas, mas isso é um erro, porque no meu caso, não acho que perceba mais de música em relação às outras pessoas. Claro que de acordo com uma linguagem técnica, mantenho esses conhecimentos”, rematou. Antes de actuar em Macau, Bruno Pernadas passa pela cidade de Shenzhen na quinta-feira, seguindo-se espectáculos em Zhuhai e Hong Kong, este último no domingo. Em relação à região vizinha o músico diz ter “muita curiosidade”, até pelo cinema, sobretudo o trabalho do realizador Wong Kar Wai. “Sempre vi mais filmes em cantonês. Do cinema feito na China, só conheço os grandes clássicos”, destacou. O trabalho de Bruno Pernadas é conhecido no Japão, e nesta digressão o músico português marca também presença no país. “O que aconteceu é que os meus discos começaram a sair em algumas revistas do Japão e, passado pouco tempo, a maior distribuidora do país quis começar a distribuir os meus discos. E assim começou esta história que está por terminar. Depois propus fazer um concerto. Já estive duas vezes no Japão, mas desta vez vou tocar na Expo Osaka 2025”, concluiu.