Andreia Sofia Silva SociedadeHotelaria | Mais trabalhadores, mas salários sem aumentos Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), relativos ao primeiro trimestre deste ano e saídos do Inquérito às Necessidades de Mão-de-obra e às Remunerações apontam para um aumento de 7,2 por cento no número de trabalhadores em hotéis, um total de 60.482 pessoas, face a igual período de 2024. Porém, em matéria salarial, as remunerações médias dos trabalhadores a tempo completo na hotelaria foram de 20.090 patacas, menos 1,9 por cento, enquanto que no sector da restauração um trabalhador ganhava, em Março, uma média de 10.540 patacas, menos 0,7 por cento face a 2024. No fim do trimestre em análise, a taxa de vagas em hotelaria baixou apenas 1,1 por cento face ao primeiro trimestre do ano passado devido ao facto de “as vagas deste ramo terem sido preenchidas e a procura de mão-de-obra ter voltado a estabilizar gradualmente”. Assim, o número de vagas existentes no referido trimestre, nos hotéis, foram 839.
Andreia Sofia Silva EventosFRC acolhe debate “Desafios de Ser Macaense Hoje!” Decorre hoje, a partir das 18h30, a primeira sessão de um novo ciclo de conferências sobre a comunidade macaense. A sessão tem por nome “Desafios de Ser Macaense Hoje!” e integra-se no ciclo de palestras “Ser Macaense no Século XXI – Cultura, Tradição, Identidade, Desafios”. A palestra de hoje conta com a presença de José Luís de Sales Marques, presidente do Conselho das Comunidades Macaenses, Elisabela Larrea, investigadora, fundadora e presidente da MACRA – Macanese Culture Research Association; António Monteiro, presidente da AJM – Associação dos Jovens Macaenses; Rachel Antonia Handley, Young Member do Club Lusitano de Hong Kong; e Miguel Silva (via Zoom), afiliado da Casa de Macau em Portugal e sobrinho-neto do último poeta de Patuá, Adé dos Santos Ferreira. Segundo uma nota de imprensa, o evento pretende abordar “o modo de vida dos macaenses, a comunidade ou as comunidades, em Macau e na diáspora, e os seus desafios diários para manter o ser e o sentir da realidade macaense”. Assim, “o propósito da conferência, e das próximas neste ciclo, é uma discussão construtiva a olhar para o presente e o futuro, sem esquecer a tradição e os diferenciados marcos identitários, em especial a Gastronomia e o Teatro em Patuá, ambos Património Intangível da RAEM e da RPC”. A valorização dos chineses Ao HM, José Sales Marques referiu que este ciclo de debates que hoje se inicia é coordenado por si e procura “trazer para a mesa uma vasta gama de contributos pessoais destes mesmos e, de certa forma, renovar o debate sobre o que é ser-se e sentir-se macaense no século XXI”. Para o responsável, “os desafios são sempre novos, porque o tempo é sempre novo, não volta para trás”, existindo uma “complexa actualidade que funciona como um acelerador, onde as coisas se transformam a velocidades inimagináveis”. “Estamos sempre a descobrir e a aprender, sobretudo com os mais novos. O desafio da diluição identitária não se verifica só aqui em Macau através da integração e miscigenação. Acontece em toda a parte. Por isso, temos que compreender o pulsar da realidade e a mente aberta para reconhecer que o ser-se macaense também pode mudar com os tempos, mantendo alguns elementos constantes”, adiantou. Já António Monteiro, referiu que “o maior desafio do macaense foi sempre a adaptação a vários tempos, momentos e conjunturas ao longo dos 500 anos de Macau”, sendo que hoje os desafios de pertencer a esta etnia, e preservá-la, são “diferentes, especialmente para os mais jovens”. “Foram criadas bases no associativismo macaense, muitas de matriz portuguesa, na sociedade civil de Macau. Assistimos a uma altura de ‘passagem de testemunho’ ou do surgimento de novas caras na comunidade macaense. A diluição só existirá se a comunidade macaense não se assumir como macaense, culturalmente ou identitariamente, e não estiver ‘fisicamente’ presente em Macau”, defendeu. O presidente da AJM lembrou que “a comunidade chinesa reconhece e valoriza os macaenses e a sua cultura, inclusivamente no património intangível”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCriminalidade | “Jogo ilícito” com aumento superior a 900 por cento As alterações à “Lei de combate aos crimes de jogo ilícito”, que aditaram o crime de câmbio ilegal, levaram a mais ocorrências. Só num ano houve um aumento de 906,3 por cento de crimes associados ao “jogo ilícito”. Os dados são relativos ao primeiro trimestre deste ano e foram ontem divulgados pelo secretário Wong Sio Chak A lei mudou e o crime aumentou. Foi assim com o câmbio ilegal em casinos, uma vez que a actividade passou a ser criminalizada com a alteração à “Lei de combate aos crimes de jogo ilícito” no ano passado. Segundo o balanço da criminalidade feito ontem, os crimes associados ao jogo ilícito subiram 906,3 por cento, tendo-se registado 161 casos no primeiro trimestre deste ano face aos 16 do ano passado, crescimento potenciado pelos casos de câmbio ilegal. A mudança legislativa em causa “levou a um grande aumento deste tipo de criminalidade, sobretudo no que diz respeito aos câmbios ilegais”, foi referido. Ao aditar-se o crime de “Exploração de câmbio ilícito para jogo”, foi assim, ajustado “o âmbito de cobertura de alguns crimes relacionados, o que teve como consequência o aumento dos crimes relacionados com o jogo ilícito”, foi acrescentado. Na conferência de imprensa de ontem, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, referiu que as autoridades policiais vão continuar “a reforçar os trabalhos de prevenção e de execução da lei”, além de acompanharem “e analisarem o desenvolvimento da criminalidade”. Trocas e baldrocas Em termos gerais, os crimes associados ao jogo também aumentaram, com a instauração de 567 inquéritos, mais 216 face ao primeiro trimestre de 2024, representando um aumento de 61,5 por cento. Segundo uma nota de imprensa do gabinete de Wong Sio Chak, “acredita-se que a causa principal deste aumento está relacionada com a criminalização da ‘troca ilegal de dinheiro'”, “o desmantelamento de várias redes criminosas pertinentes, nas operações conjuntas, assim como factores incertos da sociedade resultantes do aumento de turistas”. No panorama geral da criminalidade, a polícia instaurou, no total, 3.289 inquéritos criminais, o que representa um decréscimo de 260 casos e traduz uma decida de 7,3 por cento relativamente ao mesmo período do ano de 2024. Táxis | Mais de 700 infracções em três meses Os dados divulgados ontem pelo Executivo mostram como as infracções cometidas por taxistas não pararam de aumentar. Só no primeiro trimestre deste ano foram registadas 773 infracções, sendo que 660 foram detectadas pelos agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). Segundo as autoridades, “mais de metade foram situações em que os condutores de táxis não aguardaram por ordem de chegada pelos clientes nas praças de táxis”. A polícia diz ter “tratado os casos em conformidade com a lei e apelado aos infractores para não voltarem a infringir a lei”.
Andreia Sofia Silva PolíticaViolação | Casos diminuem, Governo refere “embriaguez” das vítimas No primeiro trimestre deste ano foram registadas dez violações, menos quatro em comparação com igual período do ano passado, o que representa menos 28,6 por cento. Porém, as autoridades destacam o facto de, no caso das vítimas locais, a grande maioria estar embriagada no momento da ocorrência do crime. “Nos casos em que as vítimas eram residentes, a maioria ocorreu após o consumo de álcool em bares, assim como a maioria das vítimas encontrava-se em estado de embriaguez profunda”, foi referido na apresentação dos dados, enquanto que no caso das vítimas naturais do Interior da China, que representam “metade das vítimas”, os crimes ocorreram em quartos de hotel. “Nalguns dos casos existiram conflitos monetários entre as vítimas e os suspeitos, não sendo de afastar a hipótese de que os casos tenham ocorrido num contexto de transacções sexuais”, ou seja, prostituição. As autoridades policiais dizem levar a cabo plataformas de prevenção como o “Mecanismo de ligação de policiamento comunitário” e o projecto “Amigos da prevenção criminal para mulheres”. Violência doméstica | Só quatro ocorrências consideradas crime No primeiro trimestre deste ano foram registados apenas quatro casos de crime de violência doméstica, mais dois do que no mesmo período do ano passado. Porém, e de acordo com as investigações levadas a cabo até ao dia 12 deste mês, das 26 ocorrências preliminarmente encaradas como violência doméstica, só quatro casos receberam mesmo essa classificação criminal, enquanto 12 foram considerados crimes de ofensa à integridade física e dois como outro tipo de crimes. Há ainda oito ocorrências a serem investigadas. Relativamente ao crime de abuso sexual de crianças, foram registados pelas autoridades cinco casos no primeiro trimestre do ano, mais uma ocorrência face ao primeiro trimestre de 2024, um aumento de 25 por cento. Foi referido que os casos envolveram “principalmente a prática de actos sexuais voluntários entre pessoas da mesma idade e a difusão de fotografias e de imagens pornográficas”.
Andreia Sofia Silva PolíticaCrime informático diminui, mas há cada vez mais burlas com IA As autoridades policiais registaram, a 24 de Abril deste ano, o “primeiro caso de burla ocorrido em Macau relacionado com a tecnologia de Inteligência Artificial (IA), ‘Deepfake’, em que os “criminosos produziram um vídeo e, com mutação de rosto e de voz, personificaram uma celebridade de Macau, para atrair o público a aceder a uma plataforma de investimento virtual fraudulenta”. Segundo a apresentação feita ontem pelo Governo sobre os dados da criminalidade no primeiro trimestre, não foram recebidas ainda denúncias de vítimas desse esquema de burla, mas as autoridades destacam que há cada vez mais crimes de burla com recurso à IA, que “têm vindo a originar uma imensa variedade de ‘modi operandi’ [modos de actuação]”. Destaque também para o início da tendência de quebra da criminalidade informática. As autoridades referiram ontem que “os crimes informáticos também começaram a registar uma tendência de diminuição”, algo demonstrado pelos dados: no primeiro trimestre deste ano ocorreram 186, menos 26 face a igual período do ano passado, o que representa uma quebra de 14 por cento em relação ao primeiro trimestre de 2024. Tempo de alívio Em relação às burlas online ou com recurso a telecomunicações, no primeiro trimestre do ano registaram-se 74 casos de burla telefónica, um decréscimo de 22 casos em relação ao período homólogo de 2024. Segundo a apresentação de ontem, “cerca de 40 por cento dos casos diz respeito à ‘simulação de chamada por pessoal dos serviços públicos'”, representando “uma descida” na forma de actuação dos burlões. Por sua vez, os casos de burla com o método “adivinha quem sou eu” subiram cerca de 20 por cento em termos anuais. Nos primeiros três meses do ano houve 145 casos de burla cibernética, uma quebra anual de 47 casos, sendo que “burlas através com investimentos online de venda de bilhetes e compras foram as formas mais frequentes da prática deste tipo de crimes”. Sobre as situações de “nude chat”, com imagens de nudez associadas a esquemas de extorsão de dinheiro, houve 14 casos no primeiro trimestre, mais sete face ao período homólogo de 2024.
Andreia Sofia Silva PolíticaObras públicas | Secretário quer melhorar regime de concurso público O Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raymond Tam Vai Man, disse ontem, num encontro com o Grupo de Acompanhamento do Desenvolvimento do Sector da Construção Civil de Macau, composto por seis associações do sector, que o regime de concursos públicos será “optimizado com vista a fomentar uma concorrência saudável e o desenvolvimento sustentável da indústria”. Nas palavras do secretário, citadas num comunicado, será estudada “a adopção de um mecanismo de ‘adjudicação pelo preço mais razoável’, em substituição do tradicional critério de ‘preço mais baixo’, garantindo a execução fluída das obras públicas em conformidade com os padrões exigidos”. No encontro, foi também debatida a possibilidade de “ampliar as oportunidades de emprego para trabalhadores residentes e promover a formação e o desenvolvimento de quadros qualificados no sector da construção”. Assim, os documentos dos concursos “deverão estipular a exigência de contratação prioritária de trabalhadores residentes e a fixação de uma proporção mínima dos mesmos, sempre que as condições o permitam”. Além disso, “será incentivado que os adjudicatários aumentem, de forma gradual, a percentagem de trabalhadores residentes em cargos técnicos, de gestão e especializados”, foi referido.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLiteratura | MUST aposta em projecto de tradução de Camões para chinês A Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau está a apostar em projectos de tradução de Luís de Camões. Numa altura em que celebram os 500 anos do nascimento do poeta, Filipe de Saavedra, académico da universidade local, fala da iniciativa e do Congresso do Meio Milénio do Nascimento de Luís de Camões, em Moçambique No ano passado, completaram-se 500 anos do nascimento daquele que é considerado o maior poeta português de todos os tempos. Luís de Camões, autor da epopeia “Os Lusíadas”, nasceu em 1524, navegou pelos mares e percorreu terras por onde os portugueses andaram, nomeadamente Moçambique, Goa e Macau, entre outros, e sobre eles deixou poemas e escritos em cartas. A sua importância está espelhada nas comemorações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das comunidades portuguesas. Todas as manifestações literárias que Camões deixou escritas vão agora ser traduzidas para chinês graças a um projecto que tem vindo a ser desenvolvido pela Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa). Filipe de Saavedra, especialista na vida e obra de Luís de Camões, docente e investigador nesta universidade e doutor em Estudos Portugueses, falou ao HM sobre o projecto. “As nossas traduções sairão ao abrigo de um projecto em curso na UCTM [MUST na sigla em inglês] onde se prevê a tradução integral para chinês de todos os géneros líricos e das cartas de Camões. Os alunos são ali expostos ao poeta desde o primeiro ano da Licenciatura em Estudos Portugueses até ao mestrado, e a resposta deles é entusiástica. Temos trabalhos de grande qualidade feitos por eles e publicados no canal YouTube ‘Português em Macau’. Já tínhamos tido igual sucesso com os alunos indonésios. Neste momento, o número de projectos de vídeo sobre Camões já publicados ultrapassa as duas centenas”, confessou. “O projecto mais ambicioso é o da edição crítica da obra, a que estamos a dar início pelas cartas e pelas odes. Irá combinar os esforços acumulados de várias gerações de estudiosos com as nossas novas leituras dos manuscritos, e novas interpretações. Será o contributo mais duradouro e mais necessário suscitado por estas celebrações”, acrescentou o camonista. A MUST tem também o projecto de atelier de teatro em que “os alunos representam Camões”, além de que “no concurso de poesia deste ano os alunos escolheram recitar Camões, demonstrando grande sensibilidade à poesia dele”. Para Filipe de Saavedra, “a semente está lançada, e dali sairão os tradutores e camonistas do futuro”. Tendo em conta a forte ligação de Macau na vida de Luís de Camões, o território acolheu, no ano passado, o “I Congresso do Meio Milénio”, com representação de académicos de vários países com estudos em torno da figura, obra e vida de Luís de Camões. O balanço feito por Filipe de Saavedra é bastante positivo. “Trouxemos já por três vezes o mestre-tradutor Zhang Weimin, sempre com o apoio da Fundação Oriente, que deu várias aulas magistrais sobre como traduzir Camões para mandarim aos alunos dos cursos mais avançados da UCTM.” Nesse contexto, a MUST tem estabelecido “protocolos com universidades estrangeiras onde existem centros camonianos, para iniciativas em comum”. Um dos mais recentes foi com a Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, para a realização da segunda edição do mesmo congresso no próximo mês de Junho, em Maputo e na ilha. Camões em Moçambique Segundo Filipe de Saavedra, “o congresso realiza-se em dias especiais para Camões, e em lugares que ele habitou: 25 de Fevereiro, data mais provável do seu nascimento e 12 de Março, data da publicação da epopeia; e agora 10 de Junho, dia da morte do poeta em Lisboa”. “Como Camões viveu dois anos na Ilha de Moçambique, tarde ou cedo ali iríamos. Já tinham sido realizados congressos sobre Camões em Portugal e no Brasil, mas este é o primeiro que se reúne em toda a África, sendo que na Ásia também já fizemos dois, um na Indonésia e outro em Macau, os primeiros neste continente”, explicou. Em Moçambique, o docente irá falar “sobre os africanos em geral [presentes] na obra de Camões”, sendo que outros académicos vão “ocupar-se da relação dele com Moçambique, com outras pessoas que por ali passaram no tempo em que ele lá esteve, de questões de tradução que são sempre primaciais, e do ensino de Camões nas escolas”. Segundo o académico, este congresso tem o apoio da Comissão Nacional Portuguesa para as Celebrações do V Centenário de Camões. Filipe de Saavedra faz também parte da “Rede Camões na Ásia & África”, que reúne vários especialistas em Camões e que tem organizado os Congressos do Meio Milénio. “A rede de camonismo que implantamos na Ásia será fiel à sua matriz de ponto de encontro dos tradutores com os exegetas. Caracteriza-se por uma perspectiva global e plural, centrada nos textos, mas ancorando-se igualmente na experiência vital do poeta, concretamente nas vivências asiáticas e africanas dele. Este é um ponto de vista diferente do de Portugal.” O III Congresso do Meio Milénio irá decorrer no próximo ano em Goa, em parceria com a Universidade de Goa. “Iremos aprofundar as relações de Camões com a Índia daquele tempo, e não só com a Índia portuguesa. Estamos a oferecer co-tutorias a estudantes indianos de mestrado e doutoramento que queiram trabalhar Camões, bem como assistência bibliográfica. Também investiremos na procura de novos tradutores da poesia de Camões para as várias línguas indianas”, adiantou. Escritos que faltam Questionado sobre o que falta analisar e investigar na obra do poeta, o investigador da MUST salienta os poucos avanços ao nível da obra, e mais na vertente biográfica. “No século XX, e no que vai do XXI, avançou-se sobretudo no conhecimento da vida de Camões. Mas quanto à obra, os progressos têm sido mais lentos. Apesar dos contributos fundamentais prestados por estudiosos portugueses e estrangeiros, pode-se dizer que nenhuma edição da lírica saída até hoje se sustenta no seu conjunto como definitiva, e o mesmo quanto às do teatro. Para as cartas, a pesquisa e edição que eu estou a publicar era ainda mais urgente.” Filipe de Saavedra destaca que “muito está feito e muito está por fazer”, mas no que diz respeito à agitada vida do poeta, “há muitos aspectos da vida de Camões em que até sabemos demasiado, em assuntos sobre os quais o próprio talvez não tivesse gostado que se soubesse tanto”. “Mesmo o estudo da lírica já seria para ele um abuso, uma vez que a não quis reunir nem publicar, quando facilmente o poderia ter feito depois do sucesso de ‘Os Lusíadas’. Foi uma parte renegada da obra dele, já sem falar das cartas privadas, algumas privadíssimas. Pelo que todo esse excesso de conhecimento, esse saber-se quase tudo sobre a vida e sobre a obra de Camões, representa para nós um milagre, e para ele possivelmente uma maldição”, acrescentou. Para Filipe de Saavedra está em causa “o angustiante dilema entre respeitar a vontade e a privacidade de um autor, e perscrutar até aos íntimos recessos a existência terrena dele, sondando mesmo os seus pensamentos mais íntimos”. “Aqui somos forçados a pesar o interesse do indivíduo por um lado, idealmente atendível, e o interesse da cultura e da história por outro, que é maior e soberano. Ganha o segundo, e que Camões nos perdoe”, conclui.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEconomia | Associação quer acelerar transformação de indústrias A Associação Económica de Macau defende que Macau necessita de uma transformação económica mais célere, face à fraca recuperação económica a nível local e mundial e ao aumento das tensões geopolíticas. Um dirigente da associação salienta que Macau é a cidade da Grande Baía que menos investe em investigação É preciso acelerar a transformação da economia, apostando em indústrias emergentes para retirar o peso do jogo das restantes actividades económicas. A ideia foi deixada por Wong Un Fai, secretário-geral adjunto da Associação Económica de Macau, que, ao jornal Ou Mun, disse que é necessário efectivar a diversificação da economia tendo em conta a fraca recuperação da economia local e global e ainda o aumento das tensões geopolíticas. Num artigo de opinião publicado no jornal Ou Mun, o responsável pediu para se olhar para os anos da pandemia, que explicam os riscos inerentes da dependência de uma única actividade económica. Nesses anos, o Produto Interno Bruto (PIB) de Macau caiu mais de 50 por cento devido à queda de turistas e das receitas do jogo, salientou. Para o responsável, é também grave o facto de os casinos “roubarem” espaço de desenvolvimento a outros sectores e empresas. Apesar da esperança no fomento de áreas como a cultura, medicina tradicional chinesa (MTC) ou sector financeiro, a sua base é ainda fraca, o desenvolvimento lento e não existe uma cadeia de produção e fornecimento com maturidade, escreveu. Assim, Wong Un Fai defende que Macau tem desequilíbrios estruturais na sua economia que não dão resistência ao território para enfrentar impactos externos, defendendo um maior foco das autoridades em indústrias emergentes como a MTC, através dos laboratórios nacionais. maior entrada de empresas internacionais, para promover Macau como um centro de actividade entre a moeda chinesa e os países de língua portuguesa. Wong Un Fai pede também o reforço da aposta no ensino superior, aumentando o investimento em investigação científica para cerca de 1 por cento do PIB, criando mais laboratórios de referência do Estado e reforçando a cooperação académica internacional. Parcos investimentos Em relação ao investimento na área da ciência, Wong Un Fai disse que Macau é a cidade da Grande Baía que menos investe em investigação e desenvolvimento científico, representando apenas 0,3 por cento do PIB. Ao nível dos recursos humanos, o responsável alertou para a escassez de quadros qualificados que limita a transformação das actividades económicas, e criticou a falta de políticas adequadas e medidas complementares para a chegada de mais quadros qualificados internacionais. Isso faz de Macau um território pouco atractivo para a chegada de académicos e profissionais, defendeu. Ainda que seja uma das 11 cidades do projecto da Grande Baía, Macau não desempenha, segundo Wong Un Fai, o papel que lhe foi destinado por Pequim neste contexto, pois é em Hengqin que existe oferta de terrenos e políticas de apoio ao território. Além disso, lembrou, é ainda necessário aumentar a articulação entre a RAEM e as restantes cidades da Grande Baía nas áreas legislativa, indústrias e recursos.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteJogo | Como o bacará e o empresário Yip Hon ajudaram a cimentar a STDM Jorge Godinho, jurista e especialista na história do jogo de Macau, publicou um artigo que destaca o legado de Stanley Ho e como o bacará e o empresário Yip Hon foram essenciais na construção do império da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau. Completaram-se ontem cinco anos da morte do rei do jogo de Macau Acaba de ser publicado, na revista “Gaming Law Review”, um artigo de análise do académico Jorge Godinho que retrata as peças essenciais que ajudaram a construir o império da STDM – Sociedade de Turismo e Diversões de Macau e o legado que Stanley Ho deixou nas indústrias do jogo e entretenimento do território. Os fundadores dos STDM foram Yip Hon, Teddy Yip, Henry Fok e Stanley Ho. Em “The place of Stanley Ho (1921-2020) in Macau casino gaming history” [O lugar de Stanley Ho (1921-2020) na história do jogo de casino em Macau], conclui-se que dado o parco conhecimento e domínio do funcionamento dos jogos de fortuna e azar por parte do magnata de Hong Kong, acabou por ser Yip Hon o grande estratega da STDM nessa área. E que, nos primeiros anos, o bacará foi o jogo que deu fortuna aos bolsos dos gestores da STDM. “Yip Hon esteve por detrás das principais mudanças de 1975-1976: a viragem para o bacará e a utilização de uma rede de promotores de jogo. Stanley Ho era um empresário muito inteligente, com um olhar extremamente atento às oportunidades de negócio. Foi decisivo ao aproveitar a oportunidade oferecida pelas reformas e pelo concurso público de 1961-1962 e ao criar a STDM. No entanto, isso não é necessariamente o mesmo que ter experiência no jogo em geral e no bacará em particular”, escreveu Jorge Godinho na conclusão. O professor visitante na Universidade de Macau e docente no ISMAT – Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes cita um diálogo entre Stanley Ho e a jornalista do canal CNN, Lorraine Hahn, numa entrevista de 2004, em que este assume o seu fraco conhecimento dos meandros do funcionamento do jogo. “Não percebo nada de jogos de azar, continuo a não jogar. Consegui esta concessão porque foi um desafio para mim, pois não consigo perceber por que razão Hong Kong era tão próspera e Macau era uma cidade moribunda, a apenas 40 milhas de distância. Por isso, mais uma vez, adoro desafios, apresentei uma proposta e ganhei a concessão. (…) Como é que eu sou? Bem, sou muito normal; a única diferença é que não jogo”, assumiu Stanley Ho, acrescentando que apenas se interessava por desporto. “Bem, gosto desse nome [rei do jogo], mas para ser muito franco não mereço esse ‘rei do casino’, não jogo, como posso ser o rei do casino?”, questionou Stanley Ho em resposta à jornalista. O artigo de Jorge Godinho destaca que “nos primeiros anos, e durante o período em que se deu a grande viragem para o bacará, a força motriz do jogo na STDM foi Yip Hon (1904-1997), o verdadeiro perito do jogo na STDM”, cuja importância foi reconhecida pelo próprio Stanley Ho. “Devido ao tempo que passei em Macau, conhecia toda a gente de lá e, em 1961, quando houve um concurso para a concessão do jogo, juntei-me a alguns amigos e fizemos uma proposta para o casino – e ganhámos o franchise. Eu estava a trabalhar com o Sr. Henry Fok, o meu cunhado Teddy Yip e Yip Hon, que era um jogador profissional. Precisava de alguém que conhecesse esse lado do negócio”, disse o magnata, citado no artigo. Yip Hon era “o único accionista da STDM especialista em jogo”, e, nos primeiros anos de vida da empresa, o bacará gradualmente assumiu mais importância, ganhando destaque face a jogos como o blackjack e roleta, “tanto no mercado de massas como no segmento das grandes apostas”. Dados citados por Jorge Godinho, da Direcção dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos, à data com o nome Inspecção dos Contratos de Jogos, mostram uma “evidente” ascensão do bacará, que era o maior jogo em 1977, com 37 por cento de quota de mercado, e 65 por cento de quota em 1984. “Por outro lado, todos os outros jogos diminuíram o seu peso relativo”, acrescenta o autor do artigo. Dividir o bolo O monopólio da STDM em Macau durou exactamente 40 anos e três meses – de 1 de Janeiro de 1962 a 31 de Março de 2002, quando as autoridades decidiram liberalizar o mercado, trazendo para o território concessionárias norte-americanas. No artigo é referida a posição pública de Stanley Ho relativamente à chegada de novas operadoras e ao estilo de empresa que trouxe novidades ao que se passava em Macau, com mais eventos de cariz internacional. “Eles querem imitar Las Vegas, criar grandes espaços centrados no entretenimento familiar. Isso é bom para Macau. Quanto aos nossos clientes habituais, eles vêm para jogar assim que entram no casino. Não têm tempo para ver outras coisas”, referiu o magnata. Da STDM nasceu a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) que concorreu ao concurso público para a atribuição de novas concessões e que ganhou uma, mas para Jorge Godinho poderá ter havido uma má análise da futura concorrência, o que afectou, em parte, o posicionamento da operadora. “A SJM pode ter esquecido o seu próprio passado e pode ter repetido alguns dos erros cometidos pela Tai Heng no concurso público de 1961, a começar pelo excesso de confiança. A SJM poderá ter entendido que, como lhe seria sempre atribuída uma das concessões, não valeria a pena assumir compromissos ‘excessivos’. Esta abordagem revelou-se incorrecta”, lê-se. O estudo remete a 1961, quando a anterior concessionária à STDM, a Tai Heng Ltd, encarou esse concurso “de forma demasiado optimista e poderá ter subestimado a concorrência potencial num processo de concurso em que a decisão se baseia essencialmente numa base muito simples e directa: o montante da renda oferecida”. “A Tai Heng pode ter esperado que não houvesse concorrência, dado o montante do investimento necessário”, defendeu Jorge Godinho. Concurso aquém Em 2001, Macau tinha deixado para trás há bem pouco tempo a administração portuguesa e era já RAEM. As análises em relação ao futuro do jogo já sem monopólio eram, portanto, prudentes. “Embora em 2001 se acreditasse que havia potencial para crescer e transformar o mercado através da introdução da concorrência, na altura as expectativas não eram muito elevadas. Num movimento algo conservador, cuidadoso ou incremental, foi tomada a decisão de ter (apenas) três concessões. De facto, em 2001, ninguém poderia ter previsto o enorme desenvolvimento que, de facto, ocorreu nos anos seguintes.” Estava “ainda muito fresca” a criminalidade marcada pelas seitas no final dos anos 90 e “os decisores eram muito prudentes”. “Havia dúvidas sobre se as grandes empresas internacionais estariam presentes no concurso público de 2001. Havia também a percepção de que seriam necessários muitos anos para que os novos operadores gerassem efectivamente algum tipo de concorrência significativa para o antigo monopólio da STDM.” Segundo Jorge Godinho, “com o benefício da retrospectiva, é bastante claro que estas percepções não estavam de acordo com o que aconteceu”, pois “os anos que se seguiram a 2001 foram caracterizados por um crescimento histórico e por transformações qualitativas”. Jorge Godinho recorda que, embora fosse “amplamente esperado que uma das concessões fosse atribuída à SJM”, a verdade é que a empresa “foi classificada em terceiro lugar – o que não é uma posição excelente”. “Talvez porque os projectos de investimento pré-concessionados não eram vistos como os melhores para o que se pretendia ser um futuro dominado pelo turismo de massas em Macau e com uma diversificação crescente. A SJM terá estimado que a nova concorrência não lhe retiraria demasiada quota de mercado, especialmente no sector VIP”, acrescentou. O lugar de hoje Aquando do desenvolvimento dos primeiros projectos de grande envergadura no Cotai, Jorge Godinho destaca como a “força motriz foi a Venetian, liderada por Sheldon Adelson”, que trouxe para o território o maior casino do mundo, o Venetian. Tratou-se de “uma aposta fortíssima em Macau, que deu bons resultados”, frisou o autor do estudo, que destaca que a SJM depressa perdeu terreno no mercado. “O papel principal nestes projectos [no Cotai] não foi desempenhado pela SJM. A perda de quota de mercado da SJM começou em 2004 e foi relativamente rápida. Em 2009, a SJM continuava a liderar, com 31 por cento de quota, mas a liderança do mercado perdeu-se em 2014 e nunca mais voltou. A SJM enfrentou uma concorrência séria tanto no mercado de massas como no mercado VIP, e nos investimentos em novas propriedades”, refere Godinho. O estudo traz ainda dados sobre o actual posicionamento da SJM após os anos duros da pandemia, e já no contexto de atribuição de novas licenças de jogo, num total de seis. “A SJM foi o último operador a abrir um grande resort integrado na zona do Cotai”, lê-se, referindo-se de seguida que, a partir do terceiro trimestre de 2023, a quota de mercado por GGR [Gross Gaming Revenue – receitas brutas de jogo] foi de 26,9 por cento para a Venetian, 18 por cento para a Galaxy, 14,6 por cento para a MGM, 14,5 por cento para a Melco, 13,4 por cento para a Wynn e 12,1 por cento para a SJM. Assim, o que se verificou, nos últimos anos, foi “a perda inevitável de importância da SJM” tendo em conta “a intensa competição desde o fim do monopólio em 2001”. “Actualmente, a SJM encontra-se na última posição. A SJM Resorts é o principal operador de casinos em Macau apenas numa métrica específica: o número de casinos (13). Este facto deve-se sobretudo à sua longa história e ao legado dos ‘casinos-satélite’. O concurso público de 2022 para seis concessões constitui a base do actual ciclo de concessões de dez anos (2023-2032). No concurso de 2022, a SJM foi classificada na sexta posição – a última entre os operadores históricos”, remata Jorge Godinho.
Andreia Sofia Silva EventosConcerto | Bruno Pernadas em Macau e no Interior em Junho O mês de Junho será preenchido para o multi-instrumentista e compositor português Bruno Pernadas, que em parceria com a associação NOYB (None of Your Business), protagoniza diversos concertos em Macau, Hong Kong e noutras paragens do sul da China. As sonoridades lusas podem ouvir-se em Shenzhen, no dia 12; em Macau no dia seguinte, e depois em Zhuhai e Hong Kong A associação NOYB (None of Your Business) prepara-se para trazer, já no próximo mês de Junho, a digressão de Bruno Pernadas, “The Greatest Bay Area Tour 2025”, com concertos em Shenzhen, Macau, Zhuhai e Hong Kong. Assim, o público português, chinês e de outras nacionalidades pode ouvir e ver de perto as criações do multi-instrumentista e compositor português, apresentando-se uma jornada de fusões sonoras que deambulam entre o “jazz, pop futurista, folk, electrónica e rock psicadélico”. Segundo uma nota de imprensa da NOYB, Bruno Pernadas é “mestre da alquimia sonora, criando paisagens vibrantes e imersivas que desafiam categorizações, tornando os seus concertos uma experiência inesquecível”. “A sua abordagem fluída entre géneros, combinando arranjos intricados com influências globais, levará o público numa viagem musical onde melodias retro-futuristas se encontram com ritmos hipnóticos, e onde cada nota conta uma história. Mais do que uma série de concertos, este evento é uma ponte cultural entre Portugal e a Grande Baía”, refere ainda a NOYB. Destaque para o facto de o concerto em Macau decorrer dois dias depois do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das comunidades portuguesas, sendo que todo o mês é dedicado a celebrar a cultura e língua portuguesas. Todas as músicas numa só A incursão de Bruno Pernadas pelo mundo da música fez-se através dos Real Combo Lisbonense e de grupos como os “Julie & The Carjackers” ou “Minta & the Brooktrout”. O primeiro álbum intitulava-se “How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge?”, e foi lançado há 11 anos. Seguiu-se “Those Who Throw Objects At The Crocodiles Will Be Asked To Retrieve Them”, em 2016, e desde aí que tem somado êxitos. Destaque para o lançamento, em 2021, do trabalho discográfico “Private Reasons”, que encerra a trilogia sonora criada em 2014 e 2016. Ainda nesse ano, Bruno Pernadas lançou “Worst Summer Ever”, tendo criado também diversas bandas sonoras para dança, teatro e cinema. Em declarações à Agenda Cultural de Lisboa, Bruno Pernadas falou da diversidade de estilos musicais que estão presentes no trabalho que faz. “Não há um género que descreva a música que faço. Tem jazz, tem música pop, muita música exótica, algum rock, world music… Quando faço música não penso muito nisso, em que género é que se encaixa.” O músico disse ainda, à mesma publicação, que não se considera cantor. “Não, não me sinto cantor, de todo [risos]. Nos outros discos também cantei, mas neste canto mais, é um facto. Foi difícil para mim porque não me é natural, não tenho ferramentas para isso. Canto como qualquer pessoa, a única diferença é que sei as notas que estou a cantar, mas técnica não tenho. Prefiro muito mais tocar instrumentos.”
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteNanfang Media | Grupo de Guangdong cria plataforma com Portugal Na sexta-feira, foi lançada uma plataforma de cooperação na área dos media, promovida pelo grupo Nanfang Media, com sede em Guangdong e escritórios em Macau. A “Plataforma Chinesa-Portuguesa de Conteúdos de Media para a Grande Baía” pretende “reformar a cooperação de media e facilitar a troca de notícias e conteúdos culturais entre a China e os países de língua portuguesa” Acaba de ser criada uma nova plataforma para troca de conteúdos noticiosos e culturais entre a China e os países de língua portuguesa. O projecto é do Nanfang Media Group, com sede na província de Guangdong e escritórios em Macau, e intitula-se “Greater Bay Area Chinese-Portuguese Media Content Platform”. Trata-se de um projecto integrado na internacionalização e expansão do grupo chinês e que foi lançado na última sexta-feira, em Lisboa, integrado no Festival da Cultura Chinesa-Portuguesa “Chinese Styles, Portuguese Flavors” [Estilos Chineses, Sabores Portugueses], que decorreu na sede da Quinta da Marmeleira, em Lisboa. O Nanfang Media Group, que detém títulos como o GD Today, em língua inglesa, quer agora chegar ao universo da língua portuguesa e a uma “audiência global de cerca de 300 milhões de falantes de português”, escreveu essa publicação. Também aí se descreve que o grande objectivo desta nova plataforma é “reforçar a cooperação de media e facilitar a troca de notícias e conteúdos culturais entre a China e os países de língua portuguesa”. No seu discurso, Zhao Yang, chefe de redacção do portal “International SOUTH”, ligado ao grupo Nanfang, apresentou os objectivos principais desta plataforma, nomeadamente “estreitar a colaboração com meios de comunicação portugueses, ‘Think Tanks’ e outras instituições e apresentar, de forma mais acessível, histórias sobre o ambiente de negócios da China, Grande Baía e Guangdong”. É ainda objectivo mostrar a modernização económica e social que a China tem conhecido nos últimos anos, bem como mostrar “a cooperação pragmática sino-portuguesa e a amizade entre os dois povos”. Assim, esta plataforma de contacto visa ainda “aproveitar as potencialidades da inteligência artificial, a fim de promover os nossos meios de comunicação social na era digital”. “Espero que esta iniciativa possa contribuir, com a força dos media, para o diálogo entre civilizações e aprofundamento de uma cooperação abrangente entre a China e Portugal”, disse Zhao Yang. O responsável explicou ainda que “nos últimos dois anos, e através do aproveitamento das vantagens jornalísticas em Macau, a SOUTH tem reforçado a colaboração com a plataforma sino-portuguesa, a Agência Lusa ou outros órgãos de comunicação em língua portuguesa, divulgando de forma ampla histórias sobre portugueses a viver e trabalhar no grande país [China], Hong Kong e sobre a cooperação económica entre Guangdong e Portugal”. De frisar que o grupo Nanfang, presidido por Liu Qiyu, detém actualmente a rádio portuguesa Iris FM, com sede em Samora Correia e Lisboa. Palavras de presidente Liu Qiyu, presidente do Nanfang Media Group, destacou o facto de esta plataforma ser lançada numa altura em que se celebram os 500 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e a Europa, bem como “o 20º aniversário do estabelecimento de uma parceria estratégica abrangente entre a China e Portugal”. Referindo-se ao grupo que lidera, que tem “ampla influência nacional e internacional e que está enraizado na principal província económica da China, em Guangdong”, Liu Qiyu falou da ideia de internacionalizar o grupo, “empenhando-se na construção de pontes a nível internacional e na promoção do diálogo entre civilizações”. “Queremos reforçar a cooperação com os meios de comunicação social de todo o mundo, a fim de promover uma compreensão global entre povos”, referiu. O responsável afirmou esperar que a nova plataforma “possa reunir a sabedoria e a força dos meios de comunicação social de ambos os países para se contarem histórias do mundo lusófono e as histórias de Guangdong, da Grande Baía e da China, e também para que se possam levar histórias de Portugal e da Europa para a China, em especial para Guangdong”. O presidente do grupo Nanfang não esqueceu o papel de Macau na ligação à zona de Hengqin, numa altura em que se consolida “o papel da região como plataforma de serviços a nível económico e comercial entre a China e países da língua portuguesa”. Camões e Ronaldo Zhao Bentang, embaixador da China em Lisboa, marcou presença no evento, destacando que “as civilizações chinesa e portuguesa valorizam-se, aprendem e coexistem de forma harmoniosa, o que beneficia os povos de ambos os lados, fazendo também contribuições importantes para a paz e desenvolvimento mundial”. “A cooperação linguística e cultural entre a China e Portugal tem sofrido um processo rápido”, destacou ainda, referindo que, nos últimos anos, a cultura chinesa tem tido cada vez mais popularidade fora do país, enquanto que Portugal “foi um dos primeiros países europeus a comunicar com a China”. Trata-se de uma história “com mais de 500 anos”, tendo-se criado “uma base sólida para o desenvolvimento comum” e um maior intercâmbio cultural, disse. Zhao Bentang não esqueceu o destaque que o futebol e a literatura em português têm tido na China. “Cristiano Ronaldo é um nome bem conhecido na China, e as excelentes obras de escritores portugueses como Camões, Fernando Pessoa ou José Saramago podem ser encontradas em todas as livrarias chinesas”, lembrou. O festival cultural sino-português onde se integrou o lançamento desta nova plataforma de media contou com gastronomia chinesa e também pratos macaenses e portugueses, com assinatura de Michael Franco, macaense de Hong Kong que abriu recentemente um novo restaurante em Lisboa, o Dragon Inn. De resto, o evento, apoiado por diversas entidades, como a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), teve provas de vinhos e demonstrações da cultura chinesa, com sessões de caligrafia e uso de vestes tradicionais. Bernardo Mendia, secretário-geral da CCILC, destacou que a China criou, há 71 anos, a ideia de “respeito mútuo e da coexistência pacífica entre as nações, os célebres Cinco Princípios de Coexistência Pacífica, que não são mais que uma manifestação de respeito pela cultura de terceiros, sem a pretensão de alterações ou imposições, como se umas culturas fossem superiores a outras”. O responsável salientou que, nas ligações económicas, “a cultura é um elemento essencial e até anterior como forma de potenciar o bom relacionamento bilateral e a concretização de negócios mutuamente benéficos”. Neste sentido, acrescentou Bernardo Mendia, “o respeito pela cultura é inegociável”, por se tratar de “um bem intangível, porque é composta por valores, crenças, costumes e tradições, transmitidos de geração em geração através de práticas, rituais e expressões que resultam na própria identidade de um Povo ou comunidade”. Segundo o GD Today, Bernardo Mendia referiu “que os media podem ajudar-nos a quebrar barreiras e a facilitar a comunicação”, sendo que a nova plataforma poderá ter “um enorme significado na conexão entre Portugal e a China”. Fazendo referência ao debate que existe actualmente em Portugal, sobre o fim das touradas, Bernardo Mendia destacou que “as corridas de toiros à portuguesa” são parte da cultura, algo “anterior ao poder do próprio Estado, poder esse que se legitima pelo respeito da cultura do seu Povo e comunidades”. Assim, neste contexto, o secretário-geral da CCILC lamentou que o Estado tente “impor uma cultura – fenómeno denominado de ‘cultura de Estado'”. Nesses casos, “instala-se o caos, conforme presenciámos recentemente no mundo ocidental com a tentativa de imposição da cultura woke por parte de alguns Estados”, rematou.
Andreia Sofia Silva SociedadeSaúde | Número de médicos e enfermeiros por habitante sem aumentos Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) divulgados pelos Serviços de Saúde (SS) demonstram que entre 2023 e 2024 não houve aumento do número de profissionais de saúde no território em termos da média de médicos ou enfermeiros por número de habitantes. Desta forma, no final do ano passado existia uma média de 3 médicos (2,9) por cada mil habitantes; 1 médico (1,1) de medicina tradicional chinesa (MTC) por cada mil pessoas; menos de um médico dentista ou odontologista (0,4) por cada mil pessoas e ainda cerca de 4 enfermeiros por cada mil habitantes (4,44). Tratam-se de “dados semelhantes aos de 2023”, aponta a DSEC. Ainda assim, e em termos globais, Macau registou mais 50 médicos inscritos em termos anuais, num total de 2.030; mais 732 médicos de medicina tradicional chinesa ou mestres de medicina tradicional chinesa inscritos, um aumento de apenas quatro, em termos anuais; e uma redução de dois médicos dentistas inscritos, num total de 304. Por sua vez, o território ganhou mais 78 enfermeiros no espaço de um ano, com 3.058 inscritos no final de 2024. Em termos do número de camas havia, no final do ano passado, 1.779 camas nos cinco hospitais locais, uma redução de 103 em termos anuais “devido principalmente à transferência de camas para doentes”. As camas para internamento aumentaram em 96 unidades face a 2023, mas a taxa de utilização destas, de 71,5 por cento, registou um decréscimo homólogo de 2,3 pontos percentuais. Destaque, nestas estatísticas, para uma subida ligeira de 0,5 por cento, entre 2023 e 2024, dos atendimentos nos serviços de urgência de todos os hospitais, no total de 463 mil.
Andreia Sofia Silva PolíticaRestauração | Lei que regula licenciamento será revista O Governo pretende rever vários diplomas legais na área do comércio e negócios, sendo que a revisão da lei de 1996, relativa ao licenciamento dos estabelecimentos de comidas e bebidas e bares, será uma das primeiras a ser revista, juntamente com a lei de 1998 que “regula o condicionamento administrativo de determinadas actividades económicas”. Além disso, será também revista a lei de salvaguarda do património cultural, de 2013, a fim de “garantir os interesses dos consumidores, os valores do património cultural, a segurança na construção e a segurança contra incêndios”. A informação consta numa resposta à interpelação escrita do deputado Ngan Iek Hang assinada pela directora dos Serviços para os Assuntos de Justiça, Leong Weng In. A directora refere que a revisão destes diplomas visa “reduzir os impactos negativos que a legislação relevante possa causar ao ambiente empresarial, designadamente no que diz respeito ao início de actividade de empresas”. O Executivo quer ainda apostar na electronização de serviços para empresas, nomeadamente a “constituição de sociedades comerciais”, “certidão de admissibilidade de firma” e “registo inicial de empresário comercial e pessoa singular”. Este sistema está na fase de teste e deverá ser lançado “gradualmente na Plataforma para Empresas e Associações [na Conta Única] no segundo e terceiro trimestre do corrente ano”.
Andreia Sofia Silva PolíticaTrabalho | Sector dos seguros com salários mais altos e vagas Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) confirmam que o sector das seguradoras está em alta, quer em número de vagas, quer na média salarial dos trabalhadores. No final do primeiro trimestre deste ano, havia um total de 821 trabalhadores nas empresas de seguros, mais 1,1 por cento face a igual período do ano passado, sendo que em Março a remuneração média foi de 34.480 patacas, mais 3,3 por cento. O aumento da remuneração média, dentro do sector financeiro, foi maior para as actividades de intermediação financeira, na ordem dos 5,5 por cento. Assim, em Março, um trabalhador deste segmento ganhava uma média de 30.270 patacas. Em termos globais, a remuneração média dos trabalhadores a tempo completo do sector das actividades financeiras foi de 32.020 Patacas, mais 2,7 por cento, em termos anuais. No fim do primeiro trimestre houve uma quebra de 0,7 por cento no número de trabalhadores na banca, que tinha um total de 7.193 funcionários. Trata-se de uma redução de 53 pessoas. Em termos do número de vagas disponíveis nos bancos, eram 202, menos oito em termos anuais. Porém, no segmento dos seguros, o número de vagas aumentou em sete, no total de 41.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCCCM | Lançada edição bilingue de livro sobre Ciência Humana A Ciência Humana, que visa “integrar todas as áreas do conhecimento humano”, foi tema de um livro de Maria Burguete e Lui Lam lançado em 2015. Agora chegou a edição bilingue de “Science Matters – Ciência Humana, Uma Perspectiva Unificada nas Humanidades e nas Ciências”, editada com apoio da Universidade de Macau. A obra foi apresentada na quarta-feira no Centro Científico e Cultural de Macau Houve um tempo em que a filosofia era a base do conhecimento antes de surgirem outras áreas do saber. Porém, actualmente separam-se as ciências exactas das ciências humanas, a arte da filosofia, como áreas completamente distintas. Maria Burguete, cientista e presidente da Associação Science Matters, estabelecida em Portugal, lançou na quarta-feira o livro bilingue “Science Matters – Ciência Humana, Uma Perspectiva Unificada nas Humanidades e nas Ciências”, escrito com o cientista chinês Lui Lam. A obra procura demonstrar como todas as áreas do saber podem viver e conviver em conjunto, numa espécie de complementaridade, sem esquecer a filosofia. O livro foi apresentado no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) e contou com o apoio de várias entidades, nomeadamente a Universidade de Macau e o Instituto Rocha Cabral. Lançada pela primeira vez em 2015, a obra é agora editada numa versão bilingue, em português e chinês, a fim de juntar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido por Maria Burguete, doutorada em Histórias das Ciências na Alemanha e com formação de base em Bioquímica, e o cientista Lui Lam. É na Associação Science Matters, a que está ligado, desde 2018, o Centro Science Matters, em Cascais, que Maria Burguete dá cursos sobre o conceito de “Ciência Humana”, enquanto Lui Lam se dedica ao mesmo trabalho na China. Na sessão de quarta-feira, Maria Burguete explicou que Ciência Humana, tradução para português do conceito “Science Matters”, pretende “integrar todas as áreas do conhecimento humano, incluindo ciências naturais, sociais e humanas, sob o paradigma científico”. Assim, “a ideia é que todos os aspectos relacionados com os seres humanos podem ser estudados cientificamente, rompendo com as tradicionais divisões entre as ciências naturais e humanas”, promovendo-se “a unificação de todo o conhecimento produzido pela espécie humana numa única multidisciplina”. Englobam-se, portanto, as áreas das humanidades e das artes com as ciências sociais, ou ainda as humanidades com as ciências médicas. Segundo a autora, a Ciência Humana traz uma “visão unificadora do conhecimento”, sendo “uma nova multidisciplina que é como uma nova filosofia do século XXI”. Trata-se de uma “nova abordagem ao conhecimento, onde se reconhecem padrões comuns” a todas as áreas, explicou ainda. Maria Burguete diz ter tido contacto com o conceito a partir das ideias do físico nuclear inglês Charles Percy Snow, que numa palestra em Cambridge, em 1959, apresentou a ideia das “duas culturas”, ou seja, uma separação entre as ciências exactas e as humanidades, como dois pólos opostos. “A minha formação de base é em bioquímica e engenharia química. Portanto, estou muito ligada às ciências naturais. E houve uma altura em que C.P. Snow, quando era professor em Cambridge, deu uma conferência em que falou da existência de duas culturas. Isso foi um escândalo na altura, porque parecia que havia a cultura científica e as outras, e todos os que não estavam dentro dessa cultura científica sentiram-se atingidos. Ainda hoje há pessoas que dividem a área das letras das restantes, e isso tem de acabar.” Para Maria Burguete, “não faz sentido criar barreiras”, porque “todas as áreas se complementam”. “Todas as áreas, de uma forma ou de outra, estão sujeitas a um paradigma muito semelhante de conhecimento. Como se forma, de onde vêm e para onde vão? Todas passam por estas etapas. Claro que as abordagens são diferentes, conforme se trate de literatura, artes ou química, mas continuam a ser áreas de desenvolvimento do saber”, acrescentou. O papel da filosofia O contacto de Maria Burguete com Lui Lam deu-se por altura do 20º Congresso Mundial da História da Ciência, que decorreu em Pequim em 2005. “Aí apresentei uma nova epistemologia, e o meu colega, que é físico, ficou encantado e veio ter comigo, propondo-me uma nova multidisciplina, porque disse acreditar, como eu, que o saber é transversal”, frisou ao HM. De resto, esta obra bilingue nasce de um projecto editorial de seis volumes, sendo que esta edição é apenas o primeiro volume. As conferências promovidas por Maria Burguete e Lui Lam relacionadas com o tema da Ciência Humana arrancaram em 2007 e decorreram várias edições nos anos de 2009, 2011, 2013, 2015, 2017 e 2019. O que foi falado nessas conferências foi compilado em inglês, editando-se agora, no livro apresentado na quarta-feira. A académica acredita que “tudo surgiu com a filosofia”, remetendo para o período da Antiguidade Clássica. “A filosofia foi o marco principal do conhecimento, e só depois as áreas do conhecimento começaram a divergir.” Álvaro Rosa, macaense e docente do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, deixou no ar alguns dos temas que podem ser encontrados na obra, nomeadamente a história da ciência na China. “Para quem está interessado nos problemas da China, este livro ajuda-nos a compreender como a China encara e vê a história das ciências, e como é feita a comunicação da ciência” no país, disse. “A China não é exactamente igual ao Ocidente, tem as suas características, e este livro ajuda-nos a compreender como a China vê essa e outras questões. É um livro que vale a pena ler, feito para mentes abertas, para que se possa discutir o conhecimento sem que haja um vocabulário ou abordagem demasiado técnicas”, acrescentou Álvaro Rosa. Álvaro Rosa lançou o repto à audiência do CCCM com o exemplo de como é encarada a beleza ou a fealdade de algo. “Muitas vezes dizemos que gostos não se discutem. O cientista começa por classificar quais as coisas que são bonitas e feias e depois realiza um inquérito, começando a observar se há ou não fealdade, colocando tudo em categorias. Há uma abordagem completamente diferente daquela que é feita pelo humanista. Portanto, a ideia da Maria Burguete é abranger todos os temas relacionados com a humanidade dentro daquilo a que chamamos ciência, no sentido de como é que conseguimos colocar, dentro do mesmo chapéu, o estudo de todos os temas e a sua interpretação. Acho isso muito interessante”, apontou Álvaro Rosa. “Uma perspectiva integrada” Ana Cristina Alves, coordenadora do serviço educativo do CCCM e formada na área da filosofia chinesa e da cultura, defendeu que o livro de Maria Burguete e Lui Lam apresenta “uma perspectiva holística e integrada” do conhecimento. “A filosofia ocidental olha para a filosofia chinesa como não sendo filosofia, encarando-a como pouco científica, porque não começa e não acaba na lógica”, disse, falando do exemplo da integração de conhecimentos existente na medicina tradicional chinesa. “A medicina tradicional chinesa é toda apoiada na filosofia, o seu substracto é a filosofia. Quando não se tem essa perspectiva filosófica integrada e holística, o que se faz na medicina é receber os pacientes em cinco minutos e pronto. E o que é importante para um bom diagnóstico é perceber os males que afligem o paciente. Isso só é possível de uma perspectiva integrada”, apontou. Neste sentido, Maria Burguete defendeu que um médico não deveria terminar a sua formação sem “ter pelo menos três anos de filosofia, porque tratar das pessoas não é apenas tratar o corpo fisicamente, mas também perceber a pessoa que está à sua frente”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTurismo | Visitantes de Zhuhai sobem mais de 60% Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos mostram que o número de turistas continua a aumentar em Macau de uma forma geral, com destaque para o crescimento de 63 por cento em Abril, em termos anuais, dos visitantes de Zhuhai. As estatísticas revelam ainda um aumento do número de turistas internacionais O sector do turismo está bom e recomenda-se. É o que mostram os dados mais recentes divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) que indicam um aumento de visitantes de uma forma global, mas sobretudo dos que chegam de Zhuhai. Dados relativos a Abril deste ano, mostram que, das nove cidades que compõem o projecto da Grande Baía (à excepção de Macau e Hong Kong), o número de visitantes foi de 1.066.367, mais 34,5 por cento, face a Abril de 2024. Este aumento deve-se, segundo a DSEC, ao facto de “o número de entradas de visitantes provenientes de Zhuhai ter crescido 63 por cento”. Registaram-se ainda aumentos inferiores de 13,4 por cento para os visitantes oriundos de Hong Kong, no total de 659.844, e de 4,4 por cento para os turistas de Taiwan, com o total de 76.721, também em relação a Abril de 2024. Macau recebeu, em Abril, 2.126.212 do Interior da China, mais 22,4 por cento em termos anuais, destacando-se o facto de o número de entradas com visto individual ter sido de 1.064.231, mais 34,1 por cento. Em Abril de 2025, o número de entradas de visitantes em Macau foi de 3.092.791, mais 18,9 por cento, em termos anuais. Realça-se que o número de entradas de excursionistas (1.755.592) e o de turistas (1.337.199) aumentaram 30,1 por cento e 6,9 por cento, respectivamente, em termos anuais. Índia sobe, Malásia desce Os dados mostram ainda um aumento do número de turistas internacionais na ordem dos 10,4 por cento, tendo Macau recebido, neste segmento, 230.014 pessoas. Relativamente ao Sudeste Asiático, o número de entradas de visitantes das Filipinas (43.097), o da Tailândia (20.463) e o da Indonésia (19.656) ascenderam 20,2, 24,1 e 0,4 por cento, respectivamente, em termos anuais. Porém, no caso dos visitantes da Malásia (14.776) e Singapura (7.888) houve quebras de 17,6 e 8,7 por cento, respectivamente. Ainda no que diz respeito a turistas internacionais, os dados revelam o aumento de 50 por cento nas entradas de visitantes da Índia, que totalizaram 12.485, em relação a Abril de 2024. Quanto ao Nordeste Asiático, o número de entradas de visitantes do Japão (8.646) cresceu 4,1 por cento, em termos anuais, porém, o da República da Coreia (37.215) desceu 0,7 por cento. Em relação aos visitantes de longa distância, o número de entradas de visitantes dos Estados Unidos da América (13.429) teve um acréscimo homólogo de 4,3 por cento. Relativamente aos quatro primeiros meses deste ano, o número de entradas de visitantes em Macau foi de 12.955.456, mais 12,9 por cento face ao mesmo período de 2024. Realça-se que o número de entradas de excursionistas (7.578.976) e o de turistas (5.376.480) aumentaram 23,4 e 0,8 por cento, respectivamente.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteFilipe de Saavedra, docente: “Falta um centro interpretativo de Camões em Macau” Professor da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau e estudioso da presença de Camões na Ásia, Filipe de Saavedra entende que falta em Macau um centro interpretativo sobre a vida e obra do poeta. O académico falou ontem na Biblioteca Nacional, em Lisboa, sobre a correspondência escrita por Luís de Camões na Ásia Participou ontem na sessão “De Lisboa a Goa: O que contam as cartas de Camões”. Que percurso a Oriente surge retratado nestas cartas, e a quem foram dirigidas? As cartas que Camões escreveu da Ásia são na ordem das dezenas. Há nelas erudição, filosofia, e também muito humor, sarcasmo, e sátira de cunho humanista. Algumas foram escritas de Ternate, outras de Malaca, de Macau, provavelmente outras do Camboja, para destinatários na Índia e em Portugal. Com excepção das cartas de Goa, em que a identificação do local de escrita está geralmente presente, mapear as que foram escritas durante o restante périplo asiático dele seria tarefa complexa. Ficam somente dadas como escritas na Ásia. Pode dar exemplos de cartas escritas neste contexto? Menciono aqui duas das primeiras que ele enviou para o reino. A epístola cuja primeira linha é “O Poeta Simónides falando” foi redigida em Janeiro de 1554, quando Camões acaba de chegar a Goa, destinando-se ao seu pupilo, D. António de Noronha. É uma carta muito emotiva, dando-lhe conta da tempestade que assolara a Armada no Cabo da Boa Esperança, “vendo a morte d’ante em mim”. Camões sobreviveu a esta experiência limite a bordo da nau São Bento, aliás a única a chegar naquele ano a Goa, e que se perdeu na torna-viagem em frente às terras de Natal, morrendo neste segundo lance o capitão-mor Fernão de Álvares Cabral, e muitos dos que com ele viajavam. Além da notícia da sua salvação, o poeta estava igualmente ansioso por contar ao seu amigo a expedição de D. Afonso de Noronha ao Malabar, em que tomara parte no mês anterior. Em páginas irenistas, Camões condena veementemente o massacre das poucas e mal-armadas tropas nativas pela “armada grossa” do desproporcionado exército vice-reinal. No seu elogio radical da paz, o poeta chama “remédio verdadeiro” à morte precoce que vem curar as manias bélicas dos que querem viver “por cavaleiros”, pois “quem há de andar seguindo o fero Marte traz os olhos sempre em seu perigo”. Palavras cruelmente proféticas: por ironia do destino, no momento mesmo em que o poeta escrevia estas linhas e as enviava, aquele dilecto destinatário, por cuja vida ele tanto temia, jazia já morto, caído durante uma incursão militar em Ceuta a 29 de Abril de 1553, com apenas 17 anos de idade. E a segunda carta? Um ano depois, em Janeiro de 1555, escreveu a um amigo uma epístola diferente em tom e em propósito, cuja primeira linha é «Desejei tanto uma vossa», onde evocava o choque que sofreu com a morte de D. António, juntando um soneto que compusera à memória dele. Por aí se percebe que Camões tinha também grande intimidade com este correspondente, que conhecia D. António e a poesia de Camões, de Petrarca e de Boscán. Curiosamente, a carta inclui algumas linhas masculinas, que Camões diz serem obrigatórias em cartas privadas, contendo aquilo a que se pode chamar conversa de balneário, pelo que ser culto ou erudito não impedia que se fosse “bon vivant”. A presença de Camões em Macau está ainda envolta num certo mito. Quais as provas concretas da sua presença no território? É preciso separar as águas. A pousadia de Camões nos penedos de Patane, depois chamados “gruta”, está rodeada por uma bela aura lendária. Mas a presença de Camões em Macau, essa não está envolta em “mito” algum, é uma realidade factual e histórica, fundada numa amplíssima variedade de testemunhos, todos eles independentes entre si. Insistindo numa cronologia que constava nas fontes, mas que era flagrantemente errónea, procurou-se deliberadamente confundir as dúvidas que se pudessem ter sobre a permanência dele nos penedos, cabíveis embora injustificadas, com as falsas dúvidas sobre a estadia do poeta em Macau, estas risíveis e desprovidas do mínimo fundamento. O chiste correu célere, e pouco a pouco foi-se incrustando no imaginário colectivo, ao ponto de algumas pessoas menos informadas o tomarem por uma suposta “descoberta” recente. Contudo, o disparate foi lançado em 1907, e logo desmontado em 1911 por Jordão de Freitas. O juiz Eduardo Ribeiro pôs mais “pontos nos iis” a este respeito. A seu tempo publicarei a documentação completa sobre a presença de Camões em Macau, pondo fim definitivo ao mítico “mito”. Que vida fez Camões em Macau? Podemos dizer que esses dois anos foram os de maior plenitude profissional, económica e afectiva na vida dele. Se escreveu poesia? Constantemente, como o atesta a dimensão da obra. Uma parte significativa de “Os Lusíadas” foi aqui composta, embora o poema não tivesse sido nem iniciado, nem terminado em Macau. Não menos importante na vida dele foi ter sido em Macau que assumiu publicamente uma relação com uma jovem chinesa, mais exactamente da etnia tanka, de pescadores pobres. Não é de estranhar esta ligação assimétrica e ancilar com uma jovem modesta: só as famílias desfavorecidas não impediriam que as filhas se relacionassem com estrangeiros. Isso explica o facto de ela partir com Camões em 1565 para Goa, com estatuto de concubina. Mas a embarcação particular em que seguiam, pertença de mercadores chineses, sofreu um naufrágio junto ao Camboja, e Camões perdeu ali a “a cordeira gentil que eu tanto amava”. Foi só depois da sua morte que ele viria a crismá-la como Dinamene, uma ninfa grega das águas, para que ela vivesse para sempre no Oceano. Os chineses de Macau têm uma relação especial com Camões, tal como os portugueses e os macaenses. Como se verifica essa relação? Já existia no século XVIII em Macau o primeiro monumento em homenagem a Camões, algo que em Portugal só se começou a pensar erigir no século seguinte. Recebeu mesmo uma inscrição em chinês, e até um pavilhão chinês foi construído sobre o santuário dele. Diz o visconde de Juromenha que em 1845 o vice-rei de Cantão e Comissário Imperial Ki-ing ali venerava Camões como o “Confúcio português”. E com razão, pois Camões partilha muitos aspectos dos sábios da tradição chinesa: estabeleceu um diálogo com os mestres através das recriações de obras maiores, cultivou uma tradição milenar (ele glosa poetas dois mil anos anteriores à sua própria época), praticou a itinerância como fonte de “sagesse”, afirmou o primado da poesia, concebeu os rios como entes míticos, chegando mesmo a personificá-los, demonstrou acentuada tendência para moralizar, e epitomou o seu pensamento em sentenças magistrais. Que ligação teve Camões com Goa? Ao contrário de Macau, Goa suscitava em Camões sentimentos maioritariamente negativos. As primeiras impressões que dela teve, como uma terra sem lei em que só os videirinhos medravam, não poderiam ter sido piores, como se lê na carta inicial a que aludi: “longa terra, de todo o pobre honrado sepultura”. Na segunda carta prossegue: “Da terra vos sei dizer que é mãe de vilões ruins, e madrasta de homens honrados”. Estas impressões não melhorariam com o tempo, como o corroboram as sátiras que lhe acarretaram a expulsão para Ternate em 1556. Goa, onde ele chegou a ser o protegido dos vice-reis, para cair depois no maior desfavor sob D. Antão de Noronha, foi nos textos dele o espelho invertido do reino, a Babilónia corrupta e corruptora, alfurja da venalidade e da traição a Deus, ao rei e à lei. No que nem é original, pois há outras fontes que reforçam este retrato jeremíaco e apocalíptico da capital do império português do Oriente. Lembremos Bocage: “Das terras a pior tu és, ó Goa”. Isto dito, obviamente que também terá vivido ali horas mais doces, sobretudo sob o vice-reinado dos seus protectores, e no convívio com alguns companheiros das lides poéticas que ali residiam então, e que ele evoca no chamado “Banquete de Trovas”. A um desses espíritos cultos, o poeta Luís Franco, deixou até cópia das suas obras quase completas, incluindo o «Auto de Filodemo» que ali compusera, para que elas se salvassem se outra adversidade sobreviesse na tornada ao reino. Considera que Portugal deveria dar mais atenção aos seus escritos, dinamizando mais a sua obra? De que forma? Em Lisboa é necessário construir um grande museu literário dedicado a Camões e às suas criações. O lugar ideal será o Convento de São Bento de Xabregas, onde o seu amigo Dom António teve sepultura no panteão dos Linhares da capela-mor. Também em Goa a estátua de Camões partiu para um exílio no cruelmente denominado “Museu Arqueológico», que não é o local adequado para encerrar a poesia ou a imagem de um Poeta. Sendo o maior património intangível de Macau, Camões tem sido pouco aproveitado nesta região. Falta-nos um centro interpretativo da sua obra, para o qual já houve em tempos propostas, uma espécie de minimuseu, com exposição permanente, biblioteca fundamental e recursos multimédia. E em Macau? Camões é estudado ao nível do ensino superior? Dois alunos da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau vão agora defender as suas teses de mestrado. A primeira é um estudo técnico aprofundado da tradução de Zhang Weimin das odes de Camões. A segunda percorre a sobrevivência literária da figura de Dinamene na ficção portuguesa contemporânea, e são ambas excelentes, trazendo novidade.
Andreia Sofia Silva EventosAFA | Mostra “Chinoiserie Surrealista” chega a Antuérpia Estreia a 7 de Junho, na cidade de Antuérpia, uma mostra da AFA – Art for All Society. Trata-se de um “projecto de arte e performance transcultural” intitulado “Surrealistic Chinoiserie: Golden City of Seres”, com curadoria de Alice Kok. Durante dois dias, apresenta-se um trabalho do artista local Leong Chi Mou complementado com uma performance musical com coreografia A AFA – Art for All Society, prepara-se para exportar um projecto artístico local com curadoria de Alice Kok, também ela artista. Trata-se do “projecto de arte e performance transcultural” intitulado “Surrealistic Chinoiserie: Golden City of Seres – A Cultural and Artistic Exchange Exhibition and Performance between Macao and Antwerp” [Cidade Dourada de Seres – Uma Exposição e Performance de Intercâmbio Cultural e Artístico entre Macau e Antuérpia], patente nos dias 7 e 8 de Junho na Venusstraat 19, Antuérpia. O público belga poderá, assim, ver uma iniciativa que combina “arte visual, dança, música e figurinos”, criando-se com todos esses elementos “uma viagem imersiva ao desejo, à tecnologia e ao simbolismo cultural”, descreve uma nota da AFA sobre o projecto. Além disso, o título da mostra, “Golden City of Seres”, remete para o antigo termo greco-romano “Sērēs”, utilizado para as regiões produtoras de seda do Oriente, enquanto “Golden City” evoca a “transformação de Macau do porto histórico para a moderna Cotai Strip”, é referido. Segundo a AFA, todo este trabalho procura “criar novos vocabulários artísticos e espaços de reflexão, fazendo a ponte entre o surrealismo inspirado em Magritte e a identidade cultural de Macau”. Depois desta estreia internacional em Antuérpia, a mostra da AFA regressa a Macau em Dezembro, ficando patente no Parisian Macao, “simbolizando um regresso da Europa para a Ásia e dando continuidade ao diálogo cultural além-fronteiras”, descreve a mesma nota. Música e arte Um dos artistas locais que participa nesta iniciativa é o Leong Chi Mou, que explora a ideia de “seda de novo tipo” através da criação de trabalhos em malha de latão e aço pintados com acrílico. Apresentam-se, assim, “peças-chave” como “Serica – Diamond Hill” e “Serica – Auspicious Drone”, que “justapõem motivos paisagísticos tradicionais com drones e imagens de vigilância, criando uma paisagem que é simultaneamente familiar e estranha”. Além disso, a performance apresentada em Antuérpia conta com a co-direcção e coreografia de Jay Zhang e Tina Kan, “integrando formas inspiradas em Dunhuang com ballet contemporâneo para ecoar a reconstrução cultural no trabalho de Leong”. A música desta performance foi composta por Faye Choi, sendo interpretada com flauta por Iris Lo. Trata-se de uma composição que “mistura tons etéreos orientais com texturas electrónicas ocidentais para completar uma experiência sensorial totalmente imersiva”. Por sua vez, “a estilista e artista de pintura corporal Mandy Cheuk concebeu toucados futuristas inspirados em estruturas cristalinas e formas ciborgues, imaginando a interação entre corpo e tecnologia”, aponta a AFA. O projecto conta também com a orientação do director artístico belga Dirk Decloedt, tendo o apoio de produção de Florence Fong, em Antuérpia. A iniciativa contou também com apoios do Instituto Cultural de Macau, entre outras entidades.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaChips | Pequim considera intimidação recomendações dos EUA para exportação A China prometeu ontem “medidas firmes” em resposta às novas recomendações do Governo dos Estados Unidos sobre a exportação de semicondutores electrónicos avançados, conhecidos como ‘chips’, denunciando uma tentativa de intimidação por parte de Washington. “As medidas dos Estados Unidos são de unilateralismo típico, combinando intimidação e proteccionismo, e prejudicam seriamente a estabilidade das cadeias de abastecimento globais e da indústria de semicondutores”, afirmou um porta-voz do Ministério do Comércio da China em comunicado. Na semana passada, a Administração do Presidente norte-americano Donald Trump revogou restrições à exportação de semicondutores utilizados no desenvolvimento de inteligência artificial (IA), que penalizavam particularmente a China. Em contrapartida, porém, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos substituiu as restrições por recomendações, que alertam “o público para as potenciais consequências de permitir que os ‘chips’ norte-americanos sejam utilizados” para desenvolver “modelos de IA chineses”. O Departamento do Comércio explicou que a política visa partilhar a tecnologia de IA norte-americana “com países estrangeiros de confiança em todo o mundo, evitando que caia nas mãos dos adversários [dos EUA]”. Estas orientações não são, porém, vinculativas, ao contrário das restrições propostas pela anterior Administração do democrata Joe Biden, que Trump agora revogou. Não obstante, Pequim condenou veementemente a medida, acusando Washington de “abusar dos controlos de exportação para conter e reprimir a China”. “Qualquer organização ou indivíduo que implemente ou auxilie na implementação destas medidas dos EUA pode estar a violar” as regulamentações chinesas, advertiu o Ministério do Comércio chinês.
Andreia Sofia Silva China / Ásia“Golden Dome” | China vê plano dos EUA como uma ameaça à estabilidade global A China insistiu ontem que o plano do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para construir um enorme sistema de defesa antimísseis dos EUA, apelidado de “Golden Dome”, representa uma ameaça à estabilidade global. “Esse plano prejudica o equilíbrio estratégico e a estabilidade global. A China expressa sérias preocupações sobre isso. Instamos os Estados Unidos a abandonarem o desenvolvimento e a implantação de um sistema global de defesa antimísseis o mais rápido possível”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Mao Ning, em conferência de imprensa. Para a China, o projecto “corre o risco de acelerar a militarização do espaço, bem como alimentar a corrida ao armamento”. O Presidente norte americano anunciou na terça-feira o conceito que pretende para o escudo antimíssil, conhecido por “Golden Dome” [Cúpula Dourada]. “Tenho o prazer de anunciar que seleccionamos oficialmente uma arquitectura para este sistema de última geração”, disse Donald Trump aos jornalistas, na Sala Oval da Casa Branca, acrescentando que o Canadá se juntará a esta iniciativa. “Uma vez concluído, o ‘Golden Dome’ será capaz de interceptar mísseis mesmo que sejam lançados do outro lado da Terra e mesmo que sejam lançados do espaço”, acrescentou. O sistema estará operacional até o final do mandato e custará um total de “aproximadamente 175 mil milhões de dólares”, disse. De acordo com uma agência do Congresso dos EUA sem afiliação partidária, o custo estimado de um sistema interceptor espacial para combater um número limitado de mísseis balísticos intercontinentais está entre 161 mil milhões e 542 mil milhões de dólares ao longo de 20 anos.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaUcrânia | Contestadas sanções da UE à Rússia As autoridades chinesas rejeitaram ontem as novas sanções impostas pela União Europeia à Rússia no âmbito da guerra com a Ucrânia, alegando que afectam empresas chinesas e que não têm como base o direito internacional. Pequim “opõe-se firmemente a tais sanções unilaterais, porque não têm qualquer base no direito internacional e não contam com a aprovação do Conselho de Segurança da ONU”, disse hoje a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Mao Ning, em conferência de imprensa. “Expressamos a nossa firme insatisfação e a nossa veemente rejeição às sanções infundadas impostas pela União Europeia [UE] contra as empresas chinesas”, adiantou a mesma fonte, citada pelo jornal estatal chinês Global Times. A porta-voz exortou ainda a UE a “parar de ter critérios diferentes em relação à sua cooperação económica e comercial com a Rússia” salientando que muitos países, incluindo membros da UE e os Estados Unidos, continuam a manter relações comerciais com Moscovo. As empresas chinesas afectadas pelas sanções da UE são consideradas cúmplices da Rússia, já que Moscovo as usa para contornar as sanções e medidas de restrição. “As relações comerciais normais entre as empresas chinesas e russas têm de continuar e não podem ser interrompidas por interferências ou restrições”, alegou Mao Ning, prometendo que o Governo chinês tomará as medidas apropriadas para “proteger os seus direitos e interesses legítimos”. Mao aproveitou a oportunidade para sublinhar que a China nunca forneceu armas letais às partes e sublinhou que “controla rigorosamente a exportação de produtos que possam ter dupla utilização”. Novo pacote A UE adoptou na terça-feira o 17.º pacote de sanções contra a Rússia e a chamada “frota fantasma”, além de medidas restritivas dirigidas a entidades e indivíduos russos e estrangeiros que apoiam o esforço de guerra de Moscovo. Segundo a responsável pela política externa do bloco europeu, Kaja Kallas, estão ainda em preparação mais sanções contra a Rússia caso Moscovo continue a guerra na Ucrânia. O novo pacote inclui, segundo o Conselho Europeu, medidas económicas e individuais que “cortam o acesso da Rússia à tecnologia militar essencial e restringem as receitas energéticas russas que alimentam a sua guerra de agressão contra a Ucrânia”. Nesse sentido, a UE impôs sanções individuais (congelamento de ambiente e proibições de disponibilidade de fundos) visando o ambiente empresarial que permite a operação da “frota fantasma”, como companhias de navegação dos Emirados Árabes Unidos, Turquia e Hong Kong, além de uma importante seguradora. Entre as medidas adotadas, contam-se também restrições a 45 empresas e indivíduos russos que fornecem drones, armas, munições, equipamento militar, componentes essenciais e apoio logístico ao Exército e facilitadores industriais, como entidades russas e chinesas que fornecem máquinas e ferramentas aos setores militar e industrial russos. Três outras entidades chinesas — incluindo empresas estatais — foram colocadas na “lista negra”, bem como uma empresa bielorrussa e outra israelita que fornecem componentes essenciais para os militares russos, incluindo para a produção de drones.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEmprego | Especialista aconselha jovens a aceitar o que encontram Um especialista em recursos humanos considera que os jovens licenciados devem baixar as expectativas e aceitar os empregos que encontrarem. Face ao actual mercado de trabalho, a prioridade deve ser garantir um salário e pensar em oportunidades de carreira mais tarde Um responsável de uma empresa de recursos humanos, que não quis ser identificado, defendeu ao jornal Ou Mun que o mercado laboral de Macau não está numa fase acessível para residentes e que os jovens licenciados devem aceitar o primeiro trabalho que encontrem, ainda que seja pouco qualificado ou nada tenha a ver com a sua formação de origem. O responsável disse que existem poucas vagas de emprego no mercado e que a base salarial inicial é baixa, pelo que dificilmente os recém-licenciados locais irão encontrar um emprego à sua medida. O responsável disse que, por norma, os licenciados procuram um emprego com um salário base de 11 a 12 mil patacas, mas nesta fase o mercado “não é favorável aos residentes”, pois o sector hoteleiro, por exemplo, disponibiliza poucas vagas e os trabalhadores não-residentes (TNR) ocupam a maioria dos cargos porque recebem salários mais baixos. Desta forma, “as possibilidades de contratação são raras para quem tem uma licenciatura em gestão hoteleira”, disse a mesma fonte. O especialista exemplificou o panorama laboral também com uma empresa que organiza eventos, no sector de convenções e exposições, onde o salário inicial é de apenas sete mil patacas, o que faz com que “só os TNR tenham vontade de assumir a vaga”. “Os candidatos a emprego sem experiência laboral preferem trabalhar em escritórios, mas estes empregos são agora ocupados por TNR, sobretudo em centros de explicações e empresas de construção, pelo que os residentes têm poucas possibilidades de serem recrutados”. Cortes precisam-se O especialista aponta para uma solução frequentemente repetida: a diminuição de não-residentes. “Se o número de TNR não for cortado de forma significativa, a dificuldade de procura de emprego por parte dos residentes vai continuar. Os salários iniciais são mais baixos e os recém-licenciados têm de estar psicologicamente preparados para isso”, aponta. Assim, o responsável sugere que os jovens “procurem um trabalho que não corresponda necessariamente à área de licenciatura e não tenham esperanças em ter um salário alto, aproveitando a vaga ao invés de procurar o emprego ideal”. Para aqueles que desejem mudar de emprego, o responsável aconselha a observação do mercado, pois “o salário do potencial novo emprego pode não ser o ideal, mas nesta fase o ambiente de negócios não é muito bom”, concluiu. Questionado pelo Ou Mun sobre o panorama laboral no segundo semestre deste ano, o representante da empresa de recursos humanos disse que tudo vai depender do posicionamento do sector a retalho, pois há marcas que estão a planear uma expansão em Macau e, aí, podem surgir mais vagas, podendo ser uma possibilidade de emprego para recém-licenciados. Porém, o mesmo responsável salientou que o ambiente económico ainda está fraco, mas que pode melhorar no segundo semestre deste ano, estimando que a taxa de desemprego pode diminuir 0,1 por cento.
Andreia Sofia Silva EventosCinemateca Paixão | Os últimos dias do “Panorama do Cinema de Macau” Termina esta semana mais uma edição do “Panorama do Cinema de Macau”, composta por uma selecção de curtas e longas-metragens produzidas no território que ganharam prémios atribuídos pelo Instituto Cultural. O público pode ainda ver produções como “Menina com Amém”, de Teng Kun Hou; ou “Núpcias em Voo”, uma produção em tagalo de Johson Chan Chon Sin O cinema de Macau está bom e recomenda-se. Este poderia ser o mote de mais uma edição da iniciativa “Panorama do Cinema de Macau”, que há vários anos premeia o que de melhor se faz no cinema local, destacando novos realizadores que se estreiam no mundo das histórias e da sua rodagem. A edição deste ano, que termina esta semana, traz ainda a possibilidade de o público desfrutar das últimas exibições, que decorrem esta quinta e sexta-feira na Cinemateca Paixão. Nestes dias exibem-se 11 filmes que concorreram à secção “Competição de Macau” do “Panorama do Cinema de Macau”, que visa apoiar financeiramente e destacar as melhores produções com o “Grande Prémio do Júri”, “Melhor Argumento”, “Melhor Interpretação” e “Melhor Realização”. Assim, esta quinta-feira, a partir das 19h30, exibe-se “Menina com Amém”, de Teng Kun Hou, um filme do ano passado que conta a história de Kimmy, a “menina que só queria dormir com a sua mamã, e por isso se lembrou de uma história que a mãe lhe tinha contado”. Segundo a sinopse do filme, essa história remete para a presença da religião católica em Macau, mas também para as crenças chinesas, pois caso a menina visitasse “todas as igrejas e templos de Macau”, os seus desejos poderiam tornar-se realidade. Depois da sessão, o realizador estará presente para uma conversa sobre o filme. Teng Kun Hou fez um mestrado no grupo de realização cinematográfica do Departamento de Cinema da Universidade Nacional de Artes de Taipé, tendo sido seleccionado para a Academia de Cinema dos Golden Horse em 2021. A sua obra de realização, “One to Ten”, foi distinguida com o Prémio de Melhor Longa-Metragem na categoria Estudantil dos Golden Harvest Awards. No mesmo dia, apresenta-se a curta-metragem “Núpcias em Voo”, filme em tagalo de Johnson Chan Chon Sin que revela a história de um “homem de dança hipnotizante que, um dia, viu os seus olhos serem consumidos por flashes erráticos de luz que se agarravam de forma impiedosa à sua visão”. “Eles continuaram a assombrar o seu olhar, mesmo enquanto o seu corpo se movia num ritmo gracioso. Na sua busca por um remédio médico, consumiu diligentemente abacaxi conforme prescrito, na esperança de expulsar esses visitantes indesejados da sua visão. No entanto, com o passar do tempo, permaneceu preso numa deriva nebulosa e sem rumo, os seus movimentos agora pesados por um sentimento de inutilidade”, lê-se na sinopse. Destaque também para a exibição, na quinta-feira, de “Onda de Retorno”, uma curta-metragem de Ieong Chi Wai, sobre o jovem Jinshan que trabalha na peixaria dos pais e que, um dia, “avistou ao longe uma estranha figura com cabeça de peixe”, a partir do qual “foi forçado a enfrentar os medos ocultos do seu coração e a despertar as memórias adormecidas da infância”. Há ainda espaço para a exibição das curtas “Keep Looking?”, de Anna Ieong e “A Audição” de Ao Ieong Weng Fong, um trabalho em japonês em torno do actor Yuta que foi rejeitado em inúmeros castings. Uma espécie de fumo Sexta-feira, o último dia do “Panorama”, começa também às 19h30 com a exibição da curta-metragem “Fumo Sagrado”, de Ho Cheok Pan, formado em realização pela Universidade de Jinan em 2021. “A jornada de mil cigarros começa com um único trago?” Uma perseguição tóxica tem início quando o fumador compulsivo Sr. Chen é apanhado em flagrante pelo segurança, seu irmão Keung. O irmão Keung empurra o Sr. Chen para um beco sem saída, resultando em uma colisão brutal. Mas, no final, tudo não passa de uma encenação por trás desse jogo de gato e rato”, descreve-se na sinopse. Segue-se “Mão Mão”, de Jarvis Xin, com apenas 23 minutos de duração. O filme retrata a história de Jun, de sete anos, que foi enviado para estudar com um professor de piano de renome. “O professor convenceu o pai a planear uma exposição de Jun. A exposição aproximou-se, uma grande faixa ‘Concerto a solo de Jun’ foi pendurada em casa, e os familiares e amigos vieram. O colega do pai até trouxe uma câmara de vídeo profissional”, destaca-se ainda na sinopse. “Oceano de Mim”, com oito minutos de duração, da realizadora Vitty Ho Wai Tong. Licenciada pelo Departamento de Radiodifusão, Televisão e Cinema da Universidade Nacional Chengchi (NCCU), Vitty obteve posteriormente o grau de mestre pelo Instituto Superior de Vídeo Criativo e Indústrias de Media Digitais da Universidade Nacional de Artes de Taiwan em Taipé (NTUA). Trabalha como profissional independente nas áreas do design visual para teatro e produção audiovisual, tendo igualmente exercido funções como orientadora pedagógica em diversas escolas secundárias em Macau. Em 2021, fundou a POV Production, uma entidade vocacionada para a exploração das potencialidades das artes visuais e das performances ao vivo. Entre as suas curtas-metragens destacam-se “General Parenting Test”, “Fantastic Eggs”, “Where to Find Them”, “One Last Sunrise” e “Our Store”. “Ondas debaixo do Mar”, de Chan Si Ieong, é falado em mandarim e no dialecto Hokkien, abordando a história da personagem Chen Xi, uma jovem de 18 anos que vai estudar para o estrangeiro para continuar os estudos, mas que antes disso regressa à sua terra natal para se despedir da aldeia piscatória onde cresceu e que marcou a sua infância. Com apenas nove minutos, “Uma Tarde”, de Chong Man Kit, foca-se na definição dos limites da relação da personagem principal com a sua meia-irmã. Natural de Macau, Chong Man Kit nasceu nos anos 90 e é licenciado pelo Departamento de Literaturas Sinófonas da Universidade Nacional Dong Hwa, frequentando actualmente o mestrado em Produção no Departamento de Rádio, Televisão e Cinema da Universidade Shih Hsin. O cartaz encerra, também esta sexta-feira, com “Chuc Chuc Chuc”, de Chao Koi Wang, mais uma curta-metragem de sete minutos. Mentes e sonhos O “Panorama do Cinema de Macau” é, segundo o IC, uma “plataforma para que os cineastas de Macau possam obter visibilidade e promover o diálogo através da arte cinematográfica”, contando com secções como “Realizadores Locais e os Seus Clássicos Inspiradores” e “Panorama das Escolas de Cinema”. Descreve-se ainda que “os cineastas de Macau, com os seus diversos estilos e origens, utilizam consistentemente o cinema para expressarem as suas perspectivas, retratarem Macau e construírem sonhos”.
Andreia Sofia Silva PolíticaXia Baolong | Deputados comentam visita e formulam desejos A recente visita de Xia Baolong, director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, entre 8 e 13 deste mês, foi comentada pelos deputados na sessão parlamentar de ontem. Os legisladores exigiram mudanças no panorama económico, entre eles Leong Sun Iok. “O director Xia atribuiu grande importância ao progresso da diversificação adequada da economia de Macau. Com mudanças económicas e influências externas, o sector do jogo enfrenta certos desafios e há que impulsionar a referida diversificação económica. Mas deparamo-nos, na prática, com muitas dificuldades”, disse, destacando “os recursos limitados” e estruturas insuficientes tendo em conta “o desenvolvimento da indústria”. Por sua vez, o deputado Lei Chan U lembrou que Xia Baolong “afirmou ser necessário unir esforços para acelerar o desenvolvimento da diversificação adequada da economia, promover a construção da Zona de Cooperação Aprofundada e tratar o desenvolvimento de Hengqin como um assunto próprio de Macau”. Lei Chan U espera que à medida “que se aumenta a resiliência económica de Macau, poderão ser proporcionadas aos residentes mais oportunidades de emprego com perspectivas de desenvolvimento, promovendo-se um emprego de alta qualidade para a população”. Já Wu Chou Kit defendeu um maior “desenvolvimento coordenado” entre Macau e Hengqin sobretudo ao nível da “articulação das regras do regime de exploração comercial” e também no caso da construção de obras e infra-estruturas.