Livraria portuguesa | Sonia Leung em Macau para falar da sua obra

Sonia Leung, poetisa e escritora de Hong Kong, estará em Macau este fim-de-semana para uma série de eventos em torno da sua escrita, com foco no livro “The Girl Who Dreamed – A Hong Kong Memoir of Triumph against the Odds”. Na Livraria Portuguesa esperam-se conversas com a autora e workshops de escrita criativa

 

Os amantes da literatura que se faz em Hong Kong, em inglês, podem desfrutar este fim-de-semana do contacto com a autora Sonia Leung, que vem à Livraria Portuguesa para dois eventos onde irá falar da sua obra, nomeadamente do seu mais recente livro, “The Girl Who Dreamed – A Hong Kong Memoir of Triumph against the Odds”.

Sonia Leung é uma poetisa e escritora que já ganhou diversos prémios, nomeadamente o “Wordview 2023”, concurso anual de poesia do Reino Unido, sem esquecer as edições de 2015 e 2016 dos prémios Hong Kong Top Story. Sonia Leung estreou-se em 2020 na área da literatura com uma colecção de poesia bilingue, escrita em inglês e chinês, intitulada “Don’t Cry, Phoenix”.

“The Girl Who Dreamed: A Hong Kong Memoir of Triumph against the Odds” é o seu segundo livro, sendo que o terceiro, “Three-inch Heaven – Chinese Women’s Stories of Resilience and Determination” já está a ser ultimado.

Este sábado, a partir das 17h, decorre o evento “Confissões Corajosas – Parte I”, que conta com a presença da autora e de Julia Ying Zhu, docente da Universidade Politécnica de Macau. Segundo um comunicado da Livraria Portuguesa, esta sessão convida o público “a acompanhar a autora enquanto ela observa o que aprendeu no caminho para se tornar uma escritora de memórias, na esperança de a ajudar na sua própria viagem”.

“The Girl Who Dreamed” é, assim, um livro sobre as memórias de Sonia, descrevendo “as suas dificuldades e tristezas com um enorme detalhe”. A obra é, acima de tudo, “uma história de aventuras e um conto do triunfo”, proporcionado a quem o lê, “uma exploração rica das alegrias da leitura, escrita, bem como dos actos de comer e viver no contexto cultural chinês”. Este livro leva, portanto, os leitores não chineses a emergir “neste mundo de uma forma perfeita”.

Escreve com ela

No domingo, dia 5, a partir das 15h, é dia de escrever em parceria com a autora de Hong Kong. “Confissões Corajosas – Parte 2” leva os participantes a realizar exercícios de escrita em torno do conceito de memórias, além de querer dar uma nova visão a este género literário, “frequentemente menosprezado” pelos críticos. O menosprezo revela-se ainda mais se se tratar de “livros de mulheres”, pois estas memórias passam a ser rotuladas de “confessionais”, aponta o mesmo comunicado.

“Este workshop pretende resgatar a noção de ‘confessar’ para todos os que passem por momentos difíceis e desejem escrever sobre eles com franqueza. Muitos críticos, e também o público em geral, ainda não compreendem que, quando nos ‘confessamos’, procuramos a comunhão das nossas experiências, aumentando o conjunto do que significa ser profundamente humano.”

Sobre este workshop, descreve-se ainda que “através da escrita corajosa de memórias, compreendemos as nossas próprias narrativas de vida e aprendemos com as dos outros”, pois “quanto mais escrevemos de forma artística, mais reconhecimento obtemos”. “O workshop ‘Confissões Corajosas’ permitir-vos-á fazer ouvir as vossas vozes”, refere-se ainda.

O workshop inicia-se com um exercício de 15 minutos em que se pede aos participantes para compararem a escrita a comida, estabelecendo uma ligação com os cinco sentidos, a fim de perceber quais os que podem estar a ser negligenciados. Isto porque “quando falamos de comida, evocamos todos os sentidos”.

Segue-se um exercício de 35 minutos em que se pretende responder à questão “Porque é que importa escrever sobre a vida”, onde se recriam memórias de infância num permanente diálogo com os sentidos, como se de um puzzle se tratasse. Criam-se também personagens em torno dessas memórias. Depois, irá escrever-se uma carta para alguém que se ama ou odeia, se teme ou alguém que provoca divertimento. Contudo, o destinatário deve ser alguém a quem nunca confessamos os nossos sentimentos.

A sessão irá ainda abordar técnicas da escrita de memórias, nomeadamente para a escolha de temas e estilos de escritas, propondo-se depois um exercício de escrita em torno de uma fotografia da infância, em que se pede para “usar a voz e sensibilidade de quem se era quando a fotografia foi tirada”, em comparação com a personalidade actual do autor do texto.

2 Mai 2024

FRC | Sandro Mendonça fala hoje do impacto das ‘Big Tech’

Sandro Mendonça, recentemente nomeado Fellow Economist da Comissão Europeia, estará hoje na Fundação Rui Cunha para falar das cinco grandes empresas tecnológicas Apple, Microsoft, Google, Amazon e Facebook e da ligação ao mercado europeu. Ao HM, declara que Macau começa a ter bons exemplos na área da tecnologia

Marcas como Apple, Microsoft, Google, Amazon e Facebook fazem parte do dia-a-dia de cada um de nós. Nas regiões administrativas especiais é comum o uso de aparelhos criados por Steve Jobs, bem como a rede social de Mark Zuckenberg, enquanto na China aposta em alternativas, com a Baidu, Tencent, ByteDance ou Temu.

O posicionamento que as cinco empresas tecnológicas ocupam no mundo e, em particular, no mercado europeu será hoje tema de uma conferência promovida pela Fundação Rui Cunha (FRC) e que conta com a presença de Sandro Mendonça, professor associado do departamento de economia do ISCTE Business School – Escola de Negócios do Instituto Universitário de Lisboa, cronista da Macau Business. O académico foi recentemente nomeado Fellow Economist da Comissão Europeia, para liderar um projecto de análise ao papel e impacto das Big Tech na Europa até 2040.

Aliás, esse será o âmbito da conferência que irá apresentar na FRC, intitulada “The Future of Big Tech” [O Futuro das Grandes Tecnológicas].

Ao HM, Sandro Mendonça destaca que estas empresas dominam “de forma consistente” o sector tecnológico mundial desde 2010, tanto em “termos de capitalização bolsista, lucros ou alcance nos mercados internacionais”. As cinco grandes empresas “estão por todo o lado”, quer “nos sistemas operativos móveis e fixos, na busca na Internet, nas redes sociais, nas vendas por comércio electrónico ou no armazenamento de dados empresariais em nuvem”. Com menor presença na China, embora no país o Windows “esteja por todo o lado, assim como os Iphones”, estas tecnológicas “estão fortemente em Macau e Hong Kong”.

“Quando lançamos o escrutínio sobre estas gigantes megapolistas, alguns padrões vêm ao de cima. É notório que nenhuma delas é europeia, tendo, todas o seu quartel-general nos EUA.”

O académico destaca ainda “um facto central que pode ser chocante”, no sentido em que “o investimento destas tecnológicas em investigação e desenvolvimento, num só ano, é maior do que todo o esforço conjunto nesta área que os 27 países da União Europeia fazem num programa-quadro, ou seja, em sete anos”.

Sandro Mendonça coordenou um estudo sobre a presença destas cinco empresas no mercado europeu para o Directorado-Geral da Investigação e Inovação (DG Research) em Bruxelas, intitulado “O Futuro das Grandes Tecnológicas na Europa” [The Future of Big Tech”, já publicado.

“Fome de inovação”

Segundo um comunicado da FRC, a conferência de hoje alerta para o facto de estas “Big Tech” terem vindo “para ficar”, tratando-se de empresas que “não conseguem estar paradas, tendo fome de inovação”.

Citado pela mesma nota, Sandro Mendonça destaca que as “grandes empresas tecnológicas aproveitam as infra-estruturas em nuvem, os modelos de negócio das plataformas digitais e, cada vez mais, as tecnologias de Inteligência Artificial, para captar áreas de mercado em expansão e alcançar um desempenho superior”, embora continuem a estar mais ausentes do mercado europeu. Há ainda “outros gigantes internacionais a aproximarem-se, como a Alibaba ou a Tencent”.

Desta forma, Sandro Mendonça irá debruçar-se sobre o papel da Europa “numa economia totalmente orientada para o mercado” e ainda sobre “as soluções convencionais, como a regulamentação e a política de concorrência”, e se estes instrumentos serão “suficientes para lidar com as repercussões” oriundas do posicionamento destas empresas.

“Será altura de passarmos à fase neoliberal e de nos envolvermos num activismo industrial informacional do tipo disruptivo? Ou, pelo contrário, será que o incremento da descentralização empresarial resolverá quaisquer falhas temporárias de competitividade e governação europeias?”, questiona o responsável.

Questionado pelo HM sobre a ligação destas grandes empresas tecnológicas ao mercado chinês, o académico defende que o país saído do processo de reforma e abertura liderado por Deng Xiaoping “nunca se deixou enfeitiçar pelo mercado”.

“A China usou o mercado, mas não se deixou levar por ele. Parece-me que a China dos nossos dias tem uma base inovadora endógena, o que lhe dá centralidade e criatividade. Dá-lhe também maior autonomia e maior segurança, pois está menos sujeita a chantagens que outros lugares que são dependentes de outros para efeitos de tecnologia, segurança e sistemas financeiros”, declarou.

Bons exemplos de Macau

Numa altura em que o Governo local quer apostar no sector da tecnologia para diversificar a economia, o HM questionou Sandro Mendonça quanto às reais capacidades do território para o fazer.

O autor declarou que o “futuro está perto”, pelo facto de Macau estar incluído no “Silicon Valley chinês”, ou seja, a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Contudo, na hora de fomentar o desenvolvimento, Sandro Mendonça deixa um alerta: “Macau só serve aos residentes, à China e ao mundo se continuar a ser Macau”, preservando a sua identidade.

“Dou um exemplo real e prático, que já é um caso significativo que resulta da cooperação entre Zhuhai, Hengqin e Macau. Hengqin conseguiu atrair uma jovem engenheira de Pequim, Lyu Jinyan, para um projecto radicalmente importante para a China, o desenvolvimento de biomateriais para a área médica.”

Neste contexto, foi lançado, no final do ano passado, “um produto complementar a esta agenda de longo prazo”, intitulado “Machloom 麥士能”, virado “para o bem-estar e reparação da fadiga cerebral”, que já marca alguma presença em farmácias locais e que “ostenta o símbolo das Ruínas de São Paulo no símbolo comercial” do produto.

Outro exemplo de sucesso destacado por Sandro Mendonça diz respeito às empresas “e-Research Solutions” e da “uMax Data Technology”, consultoras e tecnológicas fundadas por Angus Cheong, formado na Universidade de Macau.

Angus Cheong lançou um instrumento multi-modal movido a inteligência artificial chamado DiVoMiner”. Sandro Mendonça lamenta a pouca visibilidade que este projecto tem a nível local. “Tudo isto é mais conhecido lá fora do que em Macau. Lá fora [Angus Cheong] é conhecido, escutam a sua opinião. Não sei porque estas empresas, de raiz local, não são mais conhecidas.”

Papel dos portugueses

“Vejo aqui o papel histórico de Macau, uma área híbrida em que novas propostas de negócio ganham uma camada cultural que lhes agrega valor e potencial para escalar internacionalmente”, referiu o académico, que aponta “o grande trabalho de contexto” que se encontra em curso, também feito “por portugueses que acreditam nas virtudes das boas relações Oriente-Ocidente”.

Sandro Mendonça destaca os casos de Rui Pedro Cunha, presidente da Câmara de Comércio Macau-Europa, Bernardo Mendia, na qualidade de secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, e ainda Rodrigo Brum, que deixou o Fórum Macau há uns anos para fundar a Câmara de Comércio e Indústria dos Países de Língua Portuguesa na Grande Baía de Guangdong, Hong Kong e Macau (China). “Estamos com boas dinâmicas em curso. Espero que prossigam, pois não é cedo”, remata.

A palestra de hoje começa às 18h30 e integra-se no ciclo “Roda de Ideias” promovido pela FRC. Sandro Mendonça está de regresso a Macau depois de, em Abril, ter falado, também na FRC, sobre “A Mudança nas Comunicações: Do 5G à IA através das Plataformas Digitais”.

2 Mai 2024

Publicado livro sobre o II Raide Macau-Lisboa de 1990

Foi finalmente editado o livro que recorda o II Raide Macau-Lisboa de 1990, uma viagem protagonizada por dez amantes do todo-o-terreno e aventura que decidiram fazer um percurso terrestre entre Macau e Lisboa, atravessando vários países da Ásia e Europa, apenas com jipes. A obra, que começou a ser preparada em 2021, tem 300 páginas escritas e traduzidas em quatro línguas. A edição está a cargo da Jetsetter Ltd, de Hong Kong, estando previsto um lançamento também em Macau, ainda não confirmado.

Segundo disse ao HM Joaquim Correia, um dos tripulantes do Raide e co-mentor deste livro, esta obra tem algumas alterações face ao projecto inicial, incluindo mais fotografias e textos, alguns deles de Joaquim Magalhães de Castro, autor, cronista de viagens e investigador independente sobre a presença portuguesa no sudeste asiático.

Além disso, o livro conta com posfácio do jornalista João Figueira, que viveu em Macau entre 1988 e 1992. O texto, divulgado na página oficial de Facebook sobre o livro, tem como título “A teimosia dos 10 gloriosos ‘malucos’ de todo-o-terreno'”, grupo que “inscreveu na história das grandes viagens de todo-o-terreno uma epopeia de 50 dias, desde Macau a Lisboa”.

Em 1990, este grupo percorreu 22 mil quilómetros entre a Ásia e Europa, tendo atravessado dois desertos e convivido “com as manifestações que então animavam Moscovo no tempo da Perestroika”. Os tripulantes tiveram ainda de aguentar “temperaturas próximas dos 50 graus”.

“Ter vencido esses entraves foi o primeiro sinal à navegação de que aquele grupo não desistia facilmente, era mais do género quebrar que torcer. Se havia loucura no empreendimento, este precisava de uma teimosia de aço bem temperado para ser bem-sucedido”, recorda João Figueira no posfácio.

Do texto à BD

A edição desta obra foi sendo sucessivamente adiada devido à pandemia. Contudo, esta viagem já deu origem a um livro de banda desenhada, “II Raide Macau-Lisboa: Da China a Portugal pela Rota Proibida”, entretanto lançado com o apoio da Fundação Oriente.

A viagem do II Raide, realizada dois anos depois do I Raide, partiu do Jardim Camões a 27 de Julho de 1990, tendo terminado a 13 de Setembro desse ano na Torre de Belém em Lisboa. Foram percorridos quase 22 mil quilómetros a uma velocidade média de condução de cerca de 55 quilómetros por hora. O II Raide Macau-Lisboa pretendeu ser “um abraço entre culturas”, integrado nas comemorações dos 500 anos dos Descobrimentos portugueses.

Além de Joaquim Correia, então bibliotecário na Universidade de Macau, a viagem foi feita por Mário Sin, ex-presidente do Automóvel Clube de Macau; António Calado, então técnico do Instituto de Desportos de Macau e posteriormente dos Serviços de Educação; Fernando Silva, médico; e António Teixeira, mecânico do Grande Prémio de Macau.

30 Abr 2024

Jazz | Dia Internacional celebrado hoje com bandas, músicos e dj’s

O Dia Internacional do Jazz celebra-se hoje em Macau com uma jam session que reúne bandas, músicos e dj’s locais. A partir das 21h, e com o apoio de várias entidades, incluindo o Clube de Jazz de Macau, tocam e cantam na Red House Macau os The Hot Dog Express, The Bridge, Jandira Silva, Miguel Falé, Rachel Lau, Dj Herbie Bangkok e Dj IDego

 

Definido em 2011 pela UNESCO, o Dia Internacional do Jazz celebra-se um pouco por todo o mundo e Macau não é excepção. Assim, com a organização da associação None of Your Business e apoio do Clube de Jazz de Macau e mais quatro entidades, celebra-se hoje em Macau o Dia Internacional do Jazz na Red House Macau, no empreendimento The Ascott, na Rua Cidade de Braga.

A partir das 21h, o público pode esperar uma jam session com os nomes habituais da cena do jazz local, nomeadamente a cantora brasileira Jandira Silva, presença comum em eventos de Bossa Nova e Jazz no território, sem esquecer o Festival da Lusofonia. Na voz, destaca-se ainda a presença da cantora local Rachel Lau, bem como o músico Miguel Falé.

O cartaz de hoje não poderia ignorar os The Bridge, banda que toca em Macau desde os anos 80 e que se assume como um grupo de “músicos de várias nacionalidades e amantes do jazz”, focado nos vários estilos que este género musical pode assumir. Os The Bridge têm sido presença habitual nos vários eventos de jazz que já decorreram no território.

Destaque ainda para um grupo mais contemporâneo como é o caso dos The Hot Dog Express, formado por Ivan Piñeda no baixo, Paulo Pereira no saxofone, Miguel Noronha na guitarra, Ari Calangi na percussão, Jacob Jaggers no teclado e Mario Venditti na bateria. Numa clara referência ao grande músico de jazz Herbie Hancock, o Dj Herbie Bangkok irá passar som mais para o final da noite, sem esquecer o Dj IDego.

Numa nota divulgada nas redes sociais, os None of Your Business referem que esta noite será uma mescla de “música, criatividade e unidade”, pretendendo-se lembrar “o impacto do jazz na cultura, paz e liberdade com entusiastas em todo o mundo”.

A ideia é fazer “história em conjunto” para honrar “o legado do jazz e o seu futuro”, sempre em nome da “harmonia global e expressão”

Celebrações mundiais

Este ano a cidade acolhedora do Dia Internacional do Jazz é Tânger, em Marrocos, apesar de qualquer lugar do mundo poder inscrever o seu evento nesta iniciativa. Em Taiwan, celebra-se o dia com um concerto dos Vincent Hsu e Soy La Ley Afro Cuban Jazz Band, enquanto em Nanjing decorre a “Manhã do Jazz” na escola Basis International School Nanjing, onde estudantes e docentes vão actuar num coro e numa performance com várias bandas.

Em Xangai, cidade chinesa do jazz por excelência, decorrem dois eventos distintos. Um deles, é um concerto agendado para hoje a partir das 19h com a JZ All Star Big Band, grupo formado em 2006 e que se apresenta como um dos mais importantes da cena do jazz de toda a China. O grupo já colaborou com artistas como Dee Dee Bridgewater, John Daversa, Cui Jian, Li Quan, Shunza e Coco Zhao, além de ter marcado presença em inúmeros festivais de música e concertos. Este espectáculo acontece no JZ Club.

Também no JZ Club, actuam os 梦中大力神Dream Hercules, a partir das 22h. Trata-se de um grupo formado pelo baixista Ren Yuqing, o pianista Huang Jianyi, o trompetista Li Xiaochuan, e ainda Alec Haacik e Bao Junrui no saxofone. Esta banda inclui ainda o baterista Shen Wanghao e o percussionista Toby Senior.

Na China, o Dia Internacional do Jazz celebra-se ainda em Zhongshan com os Old Street Jazz, e também em Shenzhen, no Penny Black Jazz Club, com o evento ” Jazz – The Global Harmony of Love”.

Foi em Novembro de 2011 que a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) estabeleceu o Dia Internacional do Jazz a 30 de Abril a fim de “potenciar o jazz e o seu papel diplomático na união de pessoas em todos os cantos do mundo”.

A UNESCO aponta que este dia “reúne comunidades, escolas, artistas, historiadores, académicos e entusiastas do jazz a fim de celebrar e aprender sobre o jazz e as suas raízes, futuro e impacto”. A ideia é também “aumentar a consciência para a necessidade de um diálogo intercultural e compreensão mútua”, além de “reforçar a cooperação internacional e comunicação”.

Assim sendo, todos os anos, a 30 de Abril “esta forma de arte internacional é reconhecida por promover a paz, o diálogo entre culturas, a diversidade e o respeito pelos direitos humanos e a dignidade humana”. Celebrando-se o jazz apoia-se também “a erradicação da discriminação, a igualdade de género e a promoção da liberdade de expressão”, descreve ainda a UNESCO.

30 Abr 2024

Turismo | Após quase um século da inauguração, o Hotel Central vai reabrir ao público

O Hotel Central vai abrir portas, ainda de forma experimental, a partir desta quarta-feira. A inauguração oficial está marcada para 22 de Julho, data da primeira inauguração há 96 anos. Recordamos histórias de um lugar de luxos e prazeres, que ficou marcado por festas inebriantes, lutas de tríades, espionagem e boatos de canibalismo

 

Manuel Rodrigues teria cerca de dez anos quando o seu pai, segurança pessoal de Pedro José Lobo, o levou ao Hotel Central. O jovem macaense, que em 1969 haveria de partir do território para continuar os estudos superiores em Toronto, no Canadá, tinha curiosidade em ver como se jogava “Fan Tan”, o tradicional jogo chinês. “Fui lá uma ou duas vezes com o meu pai. Nunca aprendi a jogar, mas tinha interesse em ver como se jogava”, recorda ao HM.

Lugar de negócios, prazeres e divertimentos, o Grand Central Hotel, conhecido entre os portugueses como o Hotel Central, foi inaugurado a 22 de Julho de 1928 com o nome de Hotel Presidente, passando a designar-se Grand Central Hotel a 31 de Outubro de 1930. Aquele que foi o primeiro arranha-céus de Macau, com 11 andares, ganhou fama, tendo sido retratado nas histórias de James Bond, da autoria de Ian Fleming. Essa notoriedade foi conquistada “tanto por boas como pelas piores razões”, lê-se na biografia de Roque Choi, da autoria de Cecília Jorge e Rogério Beltrão Coelho.

Muitas décadas depois, e após um grande interregno ao abandono e de portas fechadas, o Hotel Central ganha um novo capítulo da sua história, abrindo ainda de forma experimental a partir desta quarta-feira, Dia do Trabalhador, sendo inaugurado oficialmente a 22 de Julho, data da sua primeira inauguração há 96 anos. Na semana passada, decorreu uma “soft opening” para alguns convidados.

O edifício, propriedade do grupo Lek Hang, foi totalmente revitalizado, prometendo agora ser um espaço que contribui para dar uma nova vida aos bairros mais antigos de Macau.

Na mesma biografia de Roque Choi, lê-se que o Hotel Central foi lugar de inovações, pois, segundo Luís Andrade de Sá, foi lá que se instalou “o primeiro sistema de elevadores eléctricos que, num minuto, subiam da entrada ao ‘roof garden’ de onde se desfrutava de uma magnífica vista”.

Tendo como gerente Francisco Assis Fong, no Hotel Central existiam “divertimentos europeus e chineses”, incluindo um salão-de-beleza, dois restaurantes e um salão de dança, chamado “Clube Hou Hing”, no sexto andar. Este espaço de dança, ou cabaret, “era o maior salão de dança da cidade, com jazz privativo, divertimentos e bilhar”.

A partir de Abril de 1937, por decisão do Governador Tamagnini Barbosa, o Hotel Central passa a ter jogo graças à concessão à sociedade Tai Hing, que arrendou a unidade hoteleira para este fim. Meses depois, abria no sexto andar o novo “Cabaret Grand Central”, ganhando o edifício mais três pisos. Foi nesta sala de jogos que Manuel Rodrigues entrou ainda jovem.

Um ar “orientalizado”

Entre a inauguração do hotel e a chegada à cena da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), em 1963, e já com uma nova concessão de jogo, Macau era um território parado, muito marcado pelas agruras da II Guerra Mundial nos anos de 1939 a 1945. Pelo Hotel Central passava toda a movida e negociatas próprias da época. O turismo, ao contrário de hoje, era bastante incipiente.

Manuel Rodrigues, conhecido como “Manecas”, recorda que o turismo só ganhou fulgor com a chegada do Governador Jaime Silvério Marques ao poder, em 1959. Até lá “o turismo limitava-se à atracção do Grande Prémio de Macau”, com as apostas em corridas de galgos a atrair mais pessoas a partir dos anos 60.

“Macau era um território muito apagado e com poucas oportunidades, mas, olhando para trás, isso tinha a ver com as políticas do Governo de Macau. Em termos económicos, era uma política extremamente restritiva”, recorda o macaense formado em Economia.

Nos anos 50 e 60 o Hotel Central era “um dos centros sociais de Macau”, “um local de encontro de empresários chineses, na sua maioria”, além de que, durante a guerra, era também um ponto de encontro para japoneses, sem esquecer “alguns empresários médios, macaenses”.

“Os metropolitanos [portugueses] não frequentavam muito o Hotel Central, porque eram na sua maioria militares e funcionários públicos. Frequentavam outros locais, como o Hotel Bela Vista. Depois ao lado, mais abaixo do Hotel Central, havia o Hotel Kuoc Chai, chamado de ‘Estrela de 5 Pontas’. Lá havia bastante animação entre chineses e macaenses”, destaca.

Ao HM, João Guedes, jornalista e autor de diversos livros sobre a história de Macau, confirma de facto o pouco gosto que os portugueses tinham por este hotel, por ter um ar “demasiado orientalizado para a comunidade portuguesa daquele tempo”.

“O jornal ‘O Petardo’, que se publicava em Hong Kong, diz dele o seguinte: ‘Não é simplesmente um restaurante chinês, um coulau, mas sim uma hospedaria chinesa ricamente mobilada, uma casa de pernoitar onde toda a gente, qualquer que seja a sua condição, pode ser recebida sem se inquirir da sua procedência, dos seus costumes, do seu modo de vida!”

O jornal descrevia ainda o Hotel Central como “uma verdadeira casa de prazer, onde se banqueteiam todas as noites, quer nas suas amplas salas, quer no âmbito dos seus quartos de cama, os ‘bons vivants’, quantas vezes piratas”.

Com a chegada do jogo, João Guedes fala num fomento da vida nocturna em conjugação com “as meretrizes [que trabalhavam] na Rua da Felicidade”, ali tão perto.

“A frequência do hotel era, pelos vistos, composta maioritariamente por polícias que iam lá, de certo modo, fiscalizar o sítio, aproveitando para se divertir, sem esquecer os ladrões e os piratas. Ajustes de contas surgiam entre as seitas que se digladiavam aos tiros e à bomba”, disse João Guedes.

Canibalismo: verdade ou ficção?

Durante a II Grande Guerra Mundial e a Guerra do Pacífico, a rotina do Hotel Central pautava-se também pela “presença reforçada de militares japoneses que passavam férias e fins-de-semana em Macau hospedados nesse hotel”, bem como alguns militares portugueses, polícias e espiões.

“Foi esta atmosfera que jornalistas e escritores captaram em relatos e novelas livrescas, pela Europa e pelas Américas. Tudo isso foi desaparecendo em movimento acelerado até as suas salas de dança, corredores, quartos e restaurantes se pacificarem definitivamente com a chegada da STDM.”

Perduraram no tempo as histórias de canibalismo praticado no restaurante do Hotel Central no período da II Grande Guerra Mundial, quando Macau aumentou bastante a sua população com refugiados vindos da China e Hong Kong e a fome grassava por toda a parte.

No livro “Macau 1937-1945: Os Anos da Guerra”, do jornalista João Botas, reproduz-se um testemunho da autoria do Monsenhor Manuel Teixeira sobre esta questão.

“Como não havia o que comer, alguns hotéis (por exemplo, o Hotel Central), compravam crianças, cozinhavam-nas e davam-nas a comer aos clientes. Tinha um grande amigo, e meu paroquiano, o dr. Juiz Evaristo Mascarenhas, que me confessou ter ido a um desses restaurantes e lhe terem proposto uma refeição de carne humana, “muito saborosa”, segundo o próprio juiz. A fome é má conselheira…”

Monsenhor Manuel Teixeira descreveu que este assunto pouco foi falado de forma oficial. “Eram rumores que circulavam por toda a parte, mas não se podiam publicar nos jornais. Mas toda a gente sabia”, lê-se ainda.

Manuel Rodrigues diz, porém, que estas histórias associadas ao Hotel Central não passam de boatos sem fundamento. “Ouvi histórias de canibalismo no Hotel Central que nunca foram confirmadas, porque, pelo que os meus pais contavam, tratava-se de histórias fictícias. Se houve canibalismo não aconteceu no Hotel Central. Poderia ter acontecido noutros lugares, mas não em hotéis em Macau. O meu pai, que conhecia extremamente bem os meandros de Macau, pois era segurança de Pedro José Lobo, nunca confirmou que houvesse esse tipo de actividades nos hotéis em Macau.”

A partir da década de 60, com a nova concessão de jogo e a construção do Hotel Lisboa, sem esquecer o Hotel Estoril, na praça do Tap Seac, o Hotel Central passou a empreendimento destinado a “hospedarias económicas, para pessoas com mochila às costas, até encerrar sem brilho”, conclui João Guedes.

Hotel Central | Renovação custou 2,2 mil milhões

Renovar o velhinho Hotel Central demorou três anos e custou ao grupo Lek Han 2,2 mil milhões de patacas. Sio Chong Meng, proprietário da unidade hoteleira, disse à TDM – Rádio Macau que as expectativas iniciais passavam por ter o hotel a funcionar de forma experimental em Março, mas tal não foi possível devido aos atrasos na emissão das licenças necessárias.

O responsável referiu que revitalizar o hotel foi o maior desafio da sua carreira de 30 anos pelo facto de o edifício sofrer de problemas estruturais, correndo mesmo risco de desabamento. Contudo, foram aplicadas sugestões de peritos e realizados vários testes que tornaram a construção possível.

Sio Chong Meng referiu que a decoração do hotel é inspirada na sua história, sobretudo no período dos anos 20, 30 e 40, tendo um restaurante, um centro comercial com três andares e ainda sete lojas no rés-do-chão. O 11º andar será um telhado com uma vista panorâmica sobre a cidade.

O responsável, que comprou o empreendimento em 2016, disse estar confiante no futuro do projecto e do investimento feito. O Hotel Central reabre com o slogan “Que o Hotel Central seja brilhante e viva por mais cem anos”.

29 Abr 2024

Macaenses | João Oliveira lança livro sobre humor no patuá

Foi lançado, no passado dia 19, o livro ” O Latinórum na Tóri di Babel – Humor e Língua na Literatura em Crioulo de Macau”, da autoria do professor universitário João Paulo Oliveira. A obra nasce da sua tese de mestrado e traz uma análise actualizada sobre o crioulo de Macau, com uma ligação mais próxima às questões da identidade macaense

 

 

O docente da Universidade Católica Portuguesa, João Oliveira, apresentou no passado dia 19, no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), o livro “O Latinórum na Tóri di Babel – Humor e Língua na Literatura em Crioulo de Macau”, que nasce da sua tese de mestrado defendida em 2018 na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

A obra, cuja edição conta com o apoio do CCCM e Universidade de Macau, traz novas análises sobre o uso do humor na literatura escrita em patuá, com grande foco na poesia de José dos Santos Ferreira, mais conhecido por Adé, e numa colectânea feita por Leopoldo Danilo Barreiros.

Ao HM, João Oliveira contou que, para este livro, aumentou a introdução histórica e linguística sobre o patuá, “com mais referências e informação”, sendo também feita “uma comparação com outras realidades geográficas próximas, principalmente com o crioulo de Malaca e ainda o Japão”.

“Tentei posicionar melhor o crioulo de Macau no momento presente do território, além de analisar como esse crioulo e a etnia macaense são vistos hoje em dia no seio da própria comunidade. Ao contrário do que fiz na minha tese de mestrado, que se centrou nos textos escritos, fiz ainda uma análise dos vídeos do grupo Doci Papiaçam di Macau, tentando relacioná-los com os textos passados”.

Este livro inclui ainda uma parte onde são analisados todos os termos de origem não portuguesa que estão registados nos textos em crioulo de Macau. Segundo o autor, esta compilação nasce, em parte, “de glossários e estudos passados, alguns deles mais antigos, como é o caso [dos escritos] de Graciete Batalha, e outros mais actuais, [da autoria] de Raúl Gaião”.

João Oliveira confessa que sempre se interessou por culturas diferentes da sua, cujo conhecimento acaba por ser proporcionado pela globalização que se vive hoje em dia e pela facilitação do contacto com línguas, escritos e representações culturais.

O docente considera que o patuá “tem grande influência da história e cultura portuguesas”, tendo as suas especificidades face a outros crioulos.

“Interessei-me pelo patuá e comunidade macaense porque contém, ao contrário da maioria dos crioulos portugueses na Ásia, um espólio escrito considerável. A maioria dos crioulos de origem portuguesa na Ásia têm uma vertente bastante oral, sendo estudados através de conversas com nativos e gravações.”

As inovações nos Dóci

Há muito que se fala da necessidade de preservação da identidade macaense e o humor impregnado na sua literatura aborda bastante esta questão. Mas o humor feito em patuá, e toda a literatura macaense, também acabam por revelar “as várias camadas culturais, a religião e a gastronomia” de um grupo étnico.

Da análise feita por João Oliveira aos vídeos que habitualmente são exibidos nas peças dos Dóci Papiaçam di Macau “verificam-se algumas inovações, sobretudo devido às evoluções sócio-económicas de Macau”, sem esquecer que o território “se foca mais hoje no jogo e no turismo do que no passado”.

“Estas temáticas estão hoje bem mais presentes na vivência do dia-a-dia e nas produções culturais, tendo uma maior presença do que nos textos mais antigos”, disse João Oliveira, destacando “o sentido de continuidade” no trabalho feito pelos Dóci e Miguel de Senna Fernandes, autor das suas peças.

“Esse sentido de continuidade é o mais importante, pois o grande cérebro dos Doci, Miguel de Senna Fernandes, tendo noção dos textos mais antigos, tenta actualizá-los e utilizar o seu universo criativo. Existe, assim, uma grande continuidade entre textos antigos e produções mais recentes, e essa é uma tentativa de talhar uma identidade macaense através de um género artístico.”

Trata-se ainda de uma forma de criação “de uma identidade ligada à história e cultura portuguesas, mas distinta dessa e de tudo o resto que se pode encontrar em Macau, que passa pela comunidade chinesa”.

“Miguel de Senna Fernandes diz que a etnia macaense está integrada na nação chinesa e existe uma tentativa de talhar uma existência cultural específica para a comunidade macaense com características que a distingue das outras”, recorda João Oliveira.

Numa entrevista concedida ao HM a propósito da sua investigação, João Oliveira declarou que, nos escritos antigos, “os macaenses brincavam, sobretudo, com eles próprios, com a sua cultura, muitas das vezes diminuindo-se de uma forma que, para quem lê, não é verdadeiramente para inferiorizar.”

Enquanto o português era uma língua mais formal, o patuá era usado de uma maneira bem mais “coloquial”.

“Os macaenses brincam muito com eles próprios e com o elemento português, que muitas vezes é visto como o elemento supra cultural. As personagens, tal como a própria língua portuguesa, são representadas com alguma hiperformalidade, pois [o português] é visto como uma língua muito formal e pouco natural no dia-a-dia, enquanto a língua e as personagens de Macau são identificadas de forma contrária.”

29 Abr 2024

Eleições | Advogado indica que Rita Santos e ATFPM poderão ter violado lei

Rita Santos e dirigentes da ATFPM foram alvo de uma queixa remetida pelo deputado Paulo Pisco, do Partido Socialista, à Comissão Nacional de Eleições. A queixa está a ser analisada pelo Ministério Público. O advogado Paulo Saragoça da Matta considera que pode estar em causa uma violação da lei eleitoral portuguesa. Paulo Pisco diz que provas apresentadas não foram negadas

 

Na sequência das últimas eleições legislativas ocorridas em Março deste ano, Rita Santos e a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) foram acusados de suspeitas de terem protagonizado actos alegadamente violadores da lei portuguesa. Face a esse cenário, o deputado do Partido Socialistas (PS) eleito pelo Círculo da Europa apresentou uma queixa à Comissão Nacional de Eleições (CNE), que, por sua vez, a encaminhou para o Ministério Público (MP), a fim de se apurar a eventual prática de crime.

Esta queixa incide sobre duas situações: o facto de Rita Santos ter sido vista à porta do edifício dos correios, em Macau, a tentar recolher os boletins de voto a eleitores, além da suspeita de que membros da ATFPM ligaram a eleitores chineses afirmando que estes “podiam trazer as cartas com os boletins de voto à sede da ATFPM, que eles tratavam de tudo”.

Ao HM, Paulo Pisco diz que está na hora de alterar um cenário de alegada fraude que há anos se repete nas eleições. “Tem de haver correcção em todos os actos eleitorais e transparência. Os partidos têm de estar em pé de igualdade. Não pode haver uns que utilizam truques e outros que fazem as coisas como deve ser.”

Paulo Pisco aponta que há registo de “provas e evidências” e que a CNE fez a devida confirmação. “Apresentámos as provas de que as coisas se passaram efectivamente assim e a CNE confrontou as pessoas visadas na queixa. As provas não foram negadas. Parte-se do princípio de que elas foram reconhecidas e, portanto, há todas as razões para que esta queixa tenha sido reencaminhada para o MP.”

Do MP não há, até à data, novidades sobre o processo, muito menos uma acusação formal. “Confirma-se a recepção da queixa mencionada. A mesma encontra-se em análise”, foi referido ao HM em resposta escrita.

O que está em causa

O HM quis perceber que crimes podem estar em causa numa eventual acusação a Rita Santos e aos responsáveis da ATFPM envolvidos. O advogado Paulo Saragoça da Matta destaca que, antes de analisar os crimes que poderão ser imputados, é fundamental avaliar as verdadeiras intenções de Rita Santos e do pessoal da ATFPM.

“Se olharmos para a lei eleitoral da Assembleia da República, diria que o único crime que se pode enquadrar nesta situação é o artigo 152 [Coação e artifício fraudulento sobre o eleitor ou o candidato].”

Este artigo prevê uma pena de prisão de seis meses a dois anos para quem “usar da violência ou ameaça sobre qualquer eleitor” ou “usar de enganos, artifícios fraudulentos, falsas notícias ou de qualquer outro meio ilícito para o constranger ou induzir a votar em determinada lista ou a abster-se de votar”.

Assim, para o advogado, “a situação tem de ser muito bem investigada”. “Não sabendo qual o objectivo da senhora, que não conheço, não há indícios da prática de crime. A ser [crime], seria esse, mas com a evidência dos objectivos”, acrescentou.

Quanto à possibilidade de se aplicar o Código Penal nesta questão, o advogado fala na possível aplicação do artigo 341, relativo à fraude e corrupção de eleitor. Este artigo pune a pessoa que, com recurso a “artifício fraudulento”, leve eleitores ao voto, os impeça de votar ou ainda os leve “a votar em certo sentido”. É ainda criminalizada a compra ou venda de votos. Nestes cenários, os culpados incorrem em penas de prisão até um ano ou pagamento de multa até 120 dias.

Contudo, na visão do advogado, volta a ser imperativo definir, na investigação, as verdadeiras intenções de Rita Santos e dos restantes membros da ATFPM.

“A senhora poderá sempre alegar que o que iria fazer era mesmo ajudar as pessoas, remetendo os votos ao seu destino nos termos legais. [Pode estar em causa] o erro quanto ao procedimento que, se não for censurável, exclui o dolo e, assim, a tipicidade. Sendo um erro censurável, aí sim, permitirá dar o tipo [de crime] por preenchido”, declarou.

Apesar das hipóteses teóricas, Paulo Saragoça da Matta diz ser pouco provável que se aplique este artigo do Código Penal ao caso “pela simples razão de que são crimes que exigem comportamentos de alguma violência ou intencionalidade específica que a matéria de facto relatada não preenche”.

O advogado fala mesmo na possibilidade de o caso vir a ser arquivado. “Uma das questões que se pode colocar é o arquivamento por não estar previsto no Código Penal que, além dos seus artigos, também os crimes eleitorais estão previstos em legislação avulsa.”

O HM contactou outros advogados sobre esta matéria, que recusaram comentar casos concretos.

Uma questão de credibilidade

Paulo Pisco entende que este tipo de situações suspeitas leva ao “descrédito do acto eleitoral e do método de eleição”.

“Não pode haver uma violação das regras eleitorais, que são explícitas e não admitem este tipo de situações. Por uma questão de transparência e respeito pelos actos democráticos e sistema de voto, apresentámos a queixa. Espero que possa haver, finalmente, uma modificação dos comportamentos, porque o sistema de voto não pode estar permanentemente sob descrédito.”

O deputado do PS considera mesmo que, sendo Rita Santos conselheira do CCP, esta entidade “deve prestar contas em relação a este tipo de situações que lançam descrédito no sistema de votação”.

Já Paulo Saragoça da Matta entende que ficam afectadas “a seriedade, transparência e honestidade com que os actos eleitorais são vistos”. É algo que “indirectamente afecta a qualidade da democracia”, mas não as autoridades, pois o advogado destaca o facto de “protestos e queixas feitas por partidos em momentos eleitorais são relativamente habituais”. “É algo que faz parte do jogo político de qualquer democracia”, frisou.

Considerando que a queixa na CNE e o processo no MP “afectam a credibilidade da pessoa denunciada”, “todas as entidades envolvidas, e preocupadas com as eleições e a nossa diáspora, vão sempre ter a má imagem que fica da mera existência da suspeita”.

Contudo, Paulo Saragoça da Matta recorda o outro lado da moeda no que diz respeito à apresentação de queixas desta natureza. “Quando se impute a alguém a prática de um crime, sabendo que realmente ali não há crime nenhum, estamos a incorrer na prática de um crime de denuncia caluniosa. A legislação prevê isso para desmotivar que as pessoas, até no âmbito da luta política, apresentem denuncias criminais, sabendo que não é verdadeiramente crime, de alguma forma.”

O HM questionou Rita Santos sobre o decorrer da análise da queixa no MP português, bem como José Pereira Coutinho, mas até ao fecho desta edição não obteve respostas. Também o actual presidente do conselho permanente do CCP, Flávio Martins, não respondeu às questões colocadas por email.

29 Abr 2024

Fórum Macau | As “moderadas” ambições e o lado técnico do plano de acção

Terminada a sexta Conferência Ministerial do Fórum Macau, a académica Cátia Miriam Costa destaca as “questões técnicas” saídas do novo plano de acção e a “novidade considerável” que é a inclusão da Zona de Cooperação Aprofundada. Francisco José Leandro, da Universidade de Macau, entende que o plano é “moderadamente ambicioso”

 

Aquele que foi considerado um dos eventos políticos e diplomáticos mais importantes do ano no território, a Conferência Ministerial do Fórum Macau terminou na terça-feira com a apresentação de um novo plano de acção a implementar até 2027, sem esquecer os encontros com empresários dos países de língua portuguesa que trouxeram projectos e expectativas de maior cooperação.

Dois académicos analisaram o plano de acção saído da sexta conferência, a convite do HM, e entendem que traz algumas novidades, reforçando o papel de Macau como plataforma de comércio e serviços entre a China e os países de língua portuguesa.

Cátia Miriam Costa, académica ligada ao ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa e aos assuntos relacionados com a China e Macau, considera que, no novo plano de acção do Fórum Macau, a China “elenca uma série de questões técnicas, como por exemplo, as questões fitossanitárias ou o estabelecimento de seguros de crédito, que são uma novidade”. Na óptica da académica, são temas mais específicos que “constituem de facto obstáculos à circulação de bens e serviços”. Verifica-se, portanto, “a entrada em domínios técnicos específicos no que respeita ao alargamento das relações comerciais e o reforço da ideia de cooperação e outras áreas económicas e sociais como a saúde, a agricultura, ensino e cultura”.

Dividido em seis áreas, o plano de acção começa por abordar o tópico “Cooperação no comércio e investimento”, onde se incluem as linhas mais técnicas abordadas pela académica.

A China diz-se “disposta a apoiar e facilitar a participação de empresas dos países de língua portuguesa” em feiras de negócios, nomeadamente a Exposição Internacional de Importação da China, Feira de Importação e Exportação da China, Feira Internacional de Comércio em Serviços da China e Exposição Económica e Comercial China–Países de Língua Portuguesa (Macau), “entre outras importantes convenções e exposições”.

Pretende-se também, da parte de Pequim, “prestar seguros de créditos à exportação” para empresas chinesas e lusófonas com foco em “sectores prioritários como infra-estruturas, energias e construção naval”.

A China quer também “prestar apoio financeiro ao comércio, ajudando as empresas chinesas para expandir as importações provenientes dos países de língua portuguesa”. Além disso, o Governo Central pretende “prestar medidas de facilitação em matéria de inspecção sanitária e fitossanitária dos produtos alimentares e agrícolas importados” do mundo lusófono, além de cumprir o objectivo de criar guias de comércio e de investimento entre a China e os países de língua portuguesa.

Uma “ligação directa”

Cátia Miriam Costa entende que a sexta Conferência Ministerial veio materializar ainda mais a visão da China sobre Macau, considerando-o “um território essencial para a cooperação com os países de língua portuguesa”. “Agora materializa essa plataforma com uma proposta de ligação directa à China continental”, frisou.

Uma das novidades do plano de acção apontadas por Cátia Miriam Costa prende-se com a “indicação da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin como espaço para desenvolvimento dos projectos que unam a China e os países de língua portuguesa”. Trata-se de um ponto que “reflecte a questão financeira, mas também científica e tecnológica”, sendo “indicador da vontade de dinamizar esta zona de cooperação e alargar o diálogo entre a China e os países de língua portuguesa a Guangdong”. É sinal de que as autoridades de Pequim pretendem uma cooperação que vá “além de Macau e que se projecte para a China continental”.

A cooperação na Zona de Cooperação Aprofundada de Guangdong e Macau em Hengqin surge no sexto ponto do plano de acção, intitulado “Cooperação na Plataforma Macau”. Nele lê-se que a China pretende, nesta região, apoiar a construção de uma “plataforma de serviços financeiros” e o desenvolvimento do “mercado internacional de obrigações em renminbi e patacas”.

Pretende-se ainda, neste domínio, dar apoio nas áreas da cooperação científica e tecnológica, promovendo projectos que se desenvolvam tanto na China, como Macau e o universo lusófono, e que tenham “condições para ser implementados de forma prioritária na Zona de Cooperação Aprofundada”.

A ideia é também, via Hengqin, apoiar Macau “na construção de um mecanismo de cooperação no sector audiovisual” através do “diálogo de políticas” e no fomento de projectos em “co-produção, intercâmbio de programas, cooperação técnica e formação de quadros”.

Comércio e saúde

Para Francisco José Leandro, académico da Universidade de Macau, o plano de acção sintetiza-se no apoio aos sectores da agricultura e educação, investimento nas áreas dos serviços médicos e turismo, sem esquecer a aposta na cooperação e serviços financeiros “em torno da utilização do renminbi e no desenvolvimento do eixo Cantão-Hengqin-Macau”. Contudo, o académico ressalva a importância de aguardar pela “versão final [do plano de acção] para melhor análise e estudo”.

“Há um esforço da parte chinesa no apoio às suas exportações através do crédito, seguros e facilitação da inspecção sanitária”, acrescentou Francisco Leandro. O académico destaca também “o interesse em reforçar o apoio à formação de quadros nos países de língua portuguesa, designadamente nas áreas médicas e da saúde, de turismo, da linguística e do audiovisual”.

Em termos gerais, considera que “o plano estratégico de cooperação agora aprovado é moderadamente ambicioso e aposta na continuidade do desenvolvimento das relações entre a China e os países de língua portuguesa”.

Relativamente à área da saúde, o plano de acção contempla todo um capítulo destinado à “cooperação médica e sanitária”, com a China a admitir a vontade de aprofundar as parcerias “entre hospitais associados da China e dos países de língua portuguesa”, com a prestação de “consultas gratuitas ou realizando outros projectos médicos de curto prazo”.

Relativamente à medicina tradicional chinesa, a China pretende aumentar a formação de quadros qualificados nos países lusófonos através do estabelecimento de centros de medicina tradicional chinesa. Além disso, Pequim quer “enviar aos países de língua portuguesa da Ásia e de África equipas médicas integradas no total por 300 pessoas”.

O plano de acção inclui ainda a área da economia azul, domínio onde “os ministros concordaram em promover o estabelecimento de parcerias relacionadas com a economia azul entre a China e os países de língua portuguesa, por forma a estudar e elaborar planos sectoriais, bem como desenvolver projectos de cooperação sustentável” nesta área.

Destaque ainda para as promessas de cooperação na área das pequenas e médias empresas (PME), pretendendo-se, através do Fórum, “organizar actividades de intercâmbio” entre empresas chinesas e lusófonas. Além disso, os ministros “acordaram em aproveitar a plataforma de Macau para desenvolver a cooperação em matéria de incubação, parceria e promoção de startups”.

Ainda na área do desporto, pretende-se o “reforço do intercâmbio e cooperação ao nível de diversas modalidades desportivas entre países participantes”, além de se “promover a formação de treinadores e outros técnicos”.

Seis em vinte

A China estabeleceu a RAEM como plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003 e, nesse mesmo ano, criou o Fórum de Macau. O organismo integra, além de Macau e China, nove países de língua portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. A Guiné Equatorial foi o mais recente a aderir, à luz da adesão do país à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Cada país nomeia um delegado permanente em Macau, à excepção do Brasil que ainda não nomeou nenhum representante desde que o Fórum foi criado, mas que nesta sexta Conferência Ministerial expressou vontade de o fazer.

Tal foi revelado por Francisco Tadeu Barbosa de Alencar, secretário executivo do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte brasileiro. Citado pela Lusa, este referiu não existir ainda qualquer decisão sobre um delegado permanente do Brasil no Fórum de Macau, mas indicou ser “um instrumento a considerar para fortalecer a relação” com o organismo.

Cinco conferências ministeriais foram realizadas em Macau em 2003, 2006, 2010, 2013 e 2016, durante as quais foram aprovados Planos de Acção para a Cooperação Económica e Comercial. Inicialmente prevista para 2019, a sexta conferência ministerial foi adiada para Junho de 2020, mas com a pandemia da covid-19 acabou por não se realizar. Em 2022, houve apenas um curto evento online que culminou com a assinatura de uma declaração ministerial.

26 Abr 2024

Jorge Prado, músico chileno: “A nossa democracia é imperfeita”

Era adolescente quando o referendo no Chile deu o “Não” à ditadura de Pinochet, instaurada com o golpe de Estado de 1973. Meses depois, a 25 de Abril de 1974, Portugal ficava livre desse regime. Na luta dos dois países foram muitas as influências. Hoje, Jorge Prado considera-se um precursor da guitarra portuguesa e do fado no Chile, tendo musicado para fado poemas de Gabriela Mistral

 

Optou pela música em vez do futebol. O que havia na música que lhe despertou mais a atenção?

Tinha de ter muita disciplina para fazer as duas actividades, até pelo momento que vivíamos no Chile, os anos 80. Aí a música era algo distinto, e gostava da música que os chilenos faziam no exílio. Tinham uma mensagem, e aí comecei a explorar os instrumentos que tocavam. O resultado de fazer música era distinto do resultado de jogar futebol.

Tinha mais prazer a fazer música.

Claro. Se a minha decisão tivesse passado por ser jogador do futebol, depois dos 35 anos não poderia continuar a jogar. Provavelmente teria muito dinheiro. Nunca me arrependi da decisão.

A sua decisão de se tornar músico profissional foi muito influenciada pela situação política no Chile. Viveu o período do referendo para acabar com a ditadura de Pinochet. Foi fundamental essa politização?

Claro. Antes disso eu ouvia música inglesa pop, gostava muito de grupos como os Queen, por exemplo. Gostava de ouvir, mas não de tocar. E depois quando conheci a canção de intervenção, queria cantar e tocar. Foi assim que decidi fazer esse caminho.

Encontra semelhanças entre as canções de protesto portuguesas e chilenas?

Há muitas coisas em comum. Muitos músicos e grupos chilenos gravaram a “Grândola, Vila Morena” depois de 1974. Depois tive a sorte de os conhecer quando regressaram ao Chile do exílio. Eram os meus super-heróis e agora são meus amigos e colegas. Tenho um grande amor por Portugal e conhecíamos José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco. Os cantores portugueses de protesto tinham muita solidariedade com o que se passava no Chile.

O que é que uma boa canção de intervenção tem de ter?

A letra é muito importante e deve ter poesia também, não deve ter só a parte do protesto. Também gosto que tenha metáforas. Se for directa é bom, mas tem de ter sempre algo artístico. Claro que os arranjos também são importantes. Tem de ter lindas melodias.

Como foi o início da sua carreira?

No momento em que tomei a decisão de ser músico estava ainda na escola e tinha um grupo. Fazíamos música juntos e foi assim que começámos. Vivia em Talca e para estudar música a única possibilidade era ir para Santiago, e eu não queria. Não queria deixar o meu grupo porque tinha fé de que iríamos conseguir fazer coisas importantes. Então fiquei mais um ano em Talca. Estudei durante um semestre algo que não tinha nada a ver com música e depois vim para Santiago para estudar música. Deixei os meus companheiros com muita dor, mas a vida é assim. A minha ideia sempre foi trabalhar em torno dos instrumentos, ser um intérprete. Não sabia era de quê, mas o destino quis que fosse multi-instrumentista. Consegui ser polígamo na música.

Começou no tango?

Não. A música que fazia na adolescência tinha uma grande ligação à canção de protesto, mas tinha mais raízes da zona do norte do Chile, semelhante ao do sul do Perú e da Bolívia, a chamada música altiplânica, com instrumentos de sopro feitos de bambu, por exemplo. Já em Santiago queria continuar a fazer esse tipo de música e tocava flauta. Comecei por estudar música clássica, mas o caminho não era por aí, queria explorar outras linguagens musicais, e entrei numa escola chamada “ProJazz”. Esse caminho levou-me ao tango, porque não queria tocar jazz, mas sabia que a sua linguagem é importante para toda a música, nomeadamente a improvisação e a harmonia. Depois estudei com dois maestros de jazz em Buenos Aires, no tempo em que a Argentina estava numa crise como está agora. Foi um momento lindo da minha vida. Além de aprender jazz fazia um caminho próprio na composição, gostava muito de escrever música instrumental. Com a linguagem do jazz queria potenciar esse tipo de música e ter um trabalho distinto. Só depois é que comecei no tango.

Depois há uma altura em que se apaixona pela cultura e língua portuguesas, tendo vivido um período no país.

Em 2008 tive a oportunidade de acompanhar um grande músico chileno, Patrício Castilho, que não voltou do exílio, tendo ficado em França. Fez um concerto em Barcelona nesse ano e tive a sorte de o acompanhar fazendo o que sabia fazer, tocar flauta traversa. Aproveitei para trabalhar como músico de tango na Catalunha, onde estive dois meses. Depois tive um convite de um amigo chileno para ir à Galiza, mas não gostei da Galiza. Não estava a acontecer nada, não estava animado, até que recebi um convite para ir a Guimarães da parte de um guitarrista, e fui. Essa é a magia da minha vida. E aí tudo mudou. Decidi viver em Portugal depois disso. Comecei a pesquisar onde se podia tocar tango e, finalmente, escrevi para Lisboa. Responderam-me que contavam comigo para tocar às sextas e sábados. E fui viver para uma pensão na Praça do Chile. Comecei depois a tocar todas as noites. Isso em 2009.

Foi aí que começou a ouvir fado.

Sim, e foi amor à primeira vista. Adorava. Terminava de tocar tango e, no Bairro Alto, havia sempre algum lugar onde conseguia ouvir fado. Perguntava a amigos onde podia ouvir fado tradicional.

Tango e fado têm algo em comum? A melancolia, por exemplo?

Claro. Têm muitas semelhanças, mas como Amália disse uma vez, o tango é uma tristeza de desamor, e o fado é uma tristeza de vida. Ambos têm muita melancolia e são também semelhantes na harmonia.

Como descreve o português e a sua cultura?

O português é muito alegre, mas claro que tem momentos de melancolia. Conheci a Europa e acho que os portugueses são os mais sul-americanos de todos. Culturalmente, Chile e Portugal são países de poetas.

Quais os seus poetas portugueses favoritos?

Além de Pessoa, conheci e gosto muito da poesia de Florbela Espanca. Penso que é uma poesia parecida com a de Gabriela Mistral, que também estava atrás de um homem importante e não era reconhecida. As temáticas da Florbela e Gabriela são ambas profundas e intensas. No Chile, até aos dias de hoje, existe uma grande dívida para com Gabriela Mistral e há quem defenda que Florbela Espanca deveria ter maior reconhecimento no Chile. A ligação entre as duas poesias poderia ser um ponto de partida para esse maior reconhecimento.

Musicou poemas de Gabriela Mistral com fado. Como foi esse projecto?

Foi algo muito intenso e lindo. No Chile só os estudiosos conhecem bem a história de Gabriela Mistral, sobretudo como diplomata. Conheci a história dela em 2009, tendo-me deparado com a frase dela de que em Portugal conheceu a felicidade. Também encontrei. Soube que ela também não gostou de Espanha, saiu de lá de forma meio escandalosa devido a declarações que fez sobre os espanhóis. Em 2009 voltei ao Chile, até porque em Portugal a situação não estava boa. A minha dúvida era se comprava ou não uma guitarra portuguesa. Pensei que no Chile ninguém conhecia o fado, mas cheguei cá e todos me diziam que o fado era lindo e que o devia tocar. Comecei a conhecer a comunidade portuguesa em Santiago, pequena, e também a tocar guitarra portuguesa. Comecei a aprender sozinho. Em 2014 dei início ao projecto “Fado al sur del mundo”, com quatro músicos chilenos de estilos distintos. Depois surgiu a oportunidade de desenvolver um projecto para o programa de actividades do Centro Cultural Gabriela Mistral e pensei em fazer algo com o meu grupo de fado, mas relacionado com a poesia melancólica de Gabriela e Portugal. Pensei que a sua poesia poderia ficar bem com o fado. Foi então aprovada a ideia de um espectáculo de fado com poemas de Gabriela Mistral.

Mas a pandemia trocou-lhe as voltas.

E não só. O concerto foi cancelado devido à agitação social que aconteceu no Chile em 2019. Houve recolher obrigatório, os protestos eram muito violentos. O que espoletou os protestos foi o aumento do preço do metro, mas depois as manifestações passaram a ser sobre todo o sistema. O Chile é um país muito desigual, com um péssimo sistema de saúde, em que quem não tem dinheiro não tem tratamento. Era um momento histórico. A polícia foi muito repressiva. Foi nessa altura que o projecto ganhou forma, mas o concerto teve poucas pessoas. Queria continuar quando as coisas acalmassem, e aí chegou a pandemia. Não havia trabalho e pensei em dar continuidade ao projecto, porque conhecia muitos músicos. Falei com o meu grande maestro da guitarra portuguesa, José Manuel Neto, sobre a possibilidade de gravar um disco. Concorri a um concurso ao Ministério da Cultura do Chile e ganhei, mas o financiamento era muito limitado para o orçamento. Aí falei com a Embaixada de Portugal no Chile e consegui o apoio para gravar “Saudades de Gabriela – Mistral y el Fado”. Sabia que se falasse com os melhores músicos portugueses o resultado seria espectacular.

Considera que é um dos grandes dinamizadores do fado no Chile?

Acho que sim. Quando tenho de fazer algum comentário sobre mim digo que sou o precursor do fado no Chile, porque dez anos depois de ter começado não há mais ninguém que toque guitarra portuguesa. Sinto da parte da comunidade portuguesa um grande respeito porque sabem que sou um chileno que tem amor pela sua cultura e gentes.

Os artistas chilenos continuam a trabalhar muito em torno do passado político do país e da ditadura. Sente que não foram feitas as pazes com esse passado?

Claro. São 50 anos. Penso que nunca haverá uma resolução. Os filmes têm sempre a temática do golpe de Estado. É como uma ferida aberta. Penso que isso acontece porque não tivemos justiça. O ditador [Augusto Pinochet] não cumpriu uma pena, ficou em casa até ao dia da sua morte. O que impede que consigamos virar a página é o facto de continuarmos a ter um sistema económico deixado pela ditadura. Se isso não mudar é difícil, porque a desigualdade é o centro das injustiças. Hoje temos pessoas novas de direita que dizem que Pinochet foi importante.

Viveu o referendo que deu a vitória ao “Não”. Recorde-me esse momento.

Parecia um filme. Tínhamos muita fé de que o “Não” pudesse ganhar. Tinha 14 anos, tinha já muita consciência do que significava viver em ditadura, e o que poderia significar voltar à democracia. Nasci um ano depois do golpe de Estado e não tinha nenhuma experiência de vida em democracia. Nesse dia fui jogar futebol e voltei depois a casa da minha mãe, sabendo depois o resultado na rádio, que Pinochet tinha sido derrotado, e fiquei muito feliz. A nossa democracia é muito imperfeita, por causa da desigualdade social e injustiça política, mas para mim esse período [revolucionário, associado à ditadura] acabou.

Os chilenos viram acontecer à distância a revolução em Portugal a 25 de Abril de 1974. Houve sempre uma influência desse momento na luta chilena.

Sim. Falava com a minha mãe outro dia porque nasci uma semana depois da Revolução dos Cravos, e perguntei-lhe o que se falava cá sobre isso. Não vivíamos em Santiago e as informações eram poucas.

Em Portugal criou-se o grupo musical Brigada Victor Jara, por exemplo.

Sim, há essa influência. Quase na mesma altura em que Portugal acabou com a sua ditadura o Chile começou a sua.

25 Abr 2024

25 de Abril | Como era Macau no ano da Revolução dos Cravos

Em Macau, a notícia do derrube do Estado Novo tardou e a censura apenas foi abolida em Maio. A vida no território era bem mais simples do que é hoje: grande parte da comunidade chinesa vivia em barracas, a primeira ponte para a Taipa estava quase acabada, os telefones eram pouco mais de 10 mil e os japoneses dominavam as nacionalidades dos turistas

 

Chegaram tarde a Macau as notícias sobre o 25 de Abril de 1974. Os primeiros sinais de que algo se passava na então metrópole foram chegando através de canais de informação estrangeiros, nomeadamente a BBC de Hong Kong, pois em Macau a imprensa portuguesa era sujeita a censura.

Por ironia do destino, o 25 de Abril de 1974 aconteceu a uma quinta-feira, tal como hoje. E nesse dia os jornais locais de língua portuguesa noticiaram a espuma dos dias, com artigos que hoje nos permitem percepcionar a vida provinciana que então se vivia no pequeno território com administração portuguesa.

O Clarim, à data bissemanário, noticiou em grande destaque a ida do Governador Nobre de Carvalho à Assembleia Legislativa (AL), uma notícia semelhante também publicada no diário Notícias de Macau. A actualidade informativa não variava muito de publicação para publicação e era comum publicarem-se comunicados ou discursos na íntegra, espalhados nas várias páginas do jornal.

Nobre de Carvalho foi à AL apresentar o panorama geral do território nomeadamente a “situação financeira, análise da conjuntura económica, actividade bancária, turismo, problema habitacional, segurança pública, actividade municipal, plano de fomento, telecomunicações e energia eléctrica”.

Há 50 anos, as autoridades repensavam a cobrança de impostos à população devido à “necessidade de actualização”. Propunha-se, assim a actualização do imposto de consumo pela importação de veículos automóveis, a revisão das taxas de sisa “que incidem sobre a transmissão de imobiliários por título oneroso e do regime de isenção da contribuição predial e outros benefícios fiscais de que gozam os prédios edificados de novo, melhorados ou ampliados”, além de se propor a actualização das “taxas da tabela das profissões liberais e técnicas que servem de base à liquidação do imposto profissional dessas classes; actualização da tabela geral do imposto de selo”.

Nobre de Carvalho dizia esperar que a actividade bancária se tornasse “cada vez mais um instrumento impulsionador do progresso de Macau, promovendo o seu desenvolvimento económico através da melhoria dos mercados monetário e financeiro”.

480 mil turistas em 1973

A economia local, pautada já pelo jogo, sector fabril e comércio de ouro, conheceu pujança quando foi dada nova concessão de jogo à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) de Stanley Ho, em 1963. Desde aí, foi sempre a crescer. O Governador admitia perante o hemiciclo que essa “actualidade” tornava-se “dia a dia mais importante dentro do quadrante da economia da província”.

Os números nada anteviam, contudo, o boom turístico que o território iria conhecer 50 anos depois. Em 1973, Macau recebeu 480 mil turistas, “obtendo-se uma taxa de crescimento de 20 por cento”, descreveu o Governador. Em 1972, os turistas tinham sido apenas 380 mil.

À época, a China permanecia um mistério para a maioria dos portugueses e macaenses, com fronteiras quase intransponíveis, tendo em conta que Portugal não reconhecia o regime comunista da República Popular da China. Assim, se hoje os turistas chineses dominam o sector, à época dominavam os japoneses, que tinham atingido a fasquia dos 250 mil em 1973. Seguiam-se “os cidadãos britânicos, com 105 mil, e americanos, com 37 mil”, graças à influência da vizinha Hong Kong.

A população era na sua maioria chinesa, vivendo em barracas na zona norte e trabalhando sobretudo em fábricas e empregos pouco qualificados. Nobre de Carvalho tinha, assim, em mãos um grave problema habitacional. “O Governo continua a dar a atenção que é possível a este sério problema que afecta o sector economicamente mais débil da população – na sua maioria a residir em construções provisórias, de madeira (…).”

Os portugueses ocupavam as habituais posições de funcionários públicos em comissão de serviço ou no atendimento ao público, tal como os macaenses, que iam traduzindo ou estabelecendo pontes entre dois mundos distintos.

Casas com mais telefones

Há 50 anos, ir a Taipa e Coloane era sinónimo de férias para os adultos ou de tempos livres em colónias de férias para os mais novos. Ia-se de barco e a viagem demorava o seu tempo. A vida fazia-se sobretudo na península, sendo que os telefones domésticos, numa população que não ia além das 300 mil pessoas, eram ainda poucos.

O Governador Nobre de Carvalho disse na AL esperar que até final de 1974 fosse implementada a segunda fase do desenvolvimento de telecomunicações, esperando-se “o pleno funcionamento de cerca de 10.500 telefones, ou seja, o dobro dos existentes em Maio de 1973”.

Em 1974, terminavam as obras na primeira ponte do território. A construção da ligação Macau-Taipa, que ficaria conhecida como ponte Nobre de Carvalho, tinha sido adjudicada em 1969 por 14 milhões de patacas, valor que passou a 20 milhões em 1971 devido a um “contrato adicional”, explicou o Governador no hemiciclo.

Macau, tal como os restantes territórios ultramarinos portugueses, tinha o orçamento dependente dos Planos de Fomento do Governo português. De frisar que no plano para 1974 já constavam projectos de obras públicas ou infra-estruturas como a construção de estradas na Taipa e Coloane, instalações portuárias em Ka-Hó, “resgate de terrenos” ou mesmo o desenvolvimento do “plano geral do aeroporto”.

Spínola na capa

As notícias do 25 de Abril saíram nas notícias locais com um dia de atraso. A imprensa estava ainda sujeita à censura, mas depressa a Comissão de Censura à Imprensa e a sua fiscalização se tornaram num pró-forma.

A 27 de Abril de 1974 a Gazeta Macaense colocava em manchete “A hora presente da Nação”, com o rosto de Spínola na capa e a informação de que havia sido criada a Junta de Salvação Nacional. Desta fez parte, além de Spínola e outras personalidades, um antigo Governador de Macau, Jaime Silvério Marques. Também o Notícias de Macau escreveu, no mesmo dia, o seguinte: “A data do 25 de Abril de 1974 assinala um novo capítulo na História de Portugal”. Acrescentava-se que “O general António de Spínola foi proclamado ‘CHEFE DE PORTUGAL NOVO'”. O Clarim escreveu, a 28 de Abril, em primeira página, sobre “A nova ordem política em Portugal”, publicando na íntegra as primeiras palavras do Movimento das Forças Armadas.

Além dos órgãos estrangeiros terem noticiado o 25 de Abril, os boatos de que algo tinha acontecido em Lisboa chegaram pela via do cantor Rui Mascarenhas, que estava em Macau para participar no festival “Abril em Portugal”, que decorreu no restaurante “Portas do Sol”, no Hotel Lisboa, entre os dias 13 e 28 de Abril. Nas páginas dos jornais portugueses ostentava-se o anúncio do espectáculo com o “Príncipe do Fado” de Portugal que acabou por falar, na rádio, sobre os novos acontecimentos. Do espectáculo fazia ainda parte o “dinâmico grupo” intitulado “Portugal a Cantar”.

Em entrevista à rádio TSF, Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses, recordou que soube da revolução pelo seu pai, o escritor Henrique de Senna Fernandes. Com 13 anos, recorda-se de a professora ter dito que “ia mudar tudo em Portugal”. O também advogado recordou que a comunidade chinesa passou ao lado deste acontecimento, pois, para a elite chinesa, imperava meramente a continuidade da estabilidade social e política em prol dos negócios.

A censura à comunicação social terminou oficialmente a 3 de Maio depois de os directores dos jornais terem reunido com Lages Ribeiro, chefe de gabinete de Nobre de Carvalho e último presidente da Comissão de Censura à Imprensa. Constituiu-se depois uma comissão ad-hoc. Da revolução saíram novos partidos políticos, nomeadamente o CDM – Centro Democrático de Macau e a ADIM – Associação da Defesa da Instrução dos Macaenses. Macau mudou de Governador logo no ano da revolução e começou a trabalhar em prol do Estatuto Orgânico, implementado em 1976 em consonância com a nova Constituição portuguesa. Dele saiu a composição de deputados que hoje existe na Assembleia Legislativa e as garantias de autonomia administrativa e financeira em relação a Lisboa. Um novo futuro começava a traçar-se.

25 Abr 2024

Fórum Macau | Novas linhas de acção focadas na Zona de Cooperação Aprofundada

Mais guias de comércio e investimento, financiamento agrícola, criação de 3 mil vagas para formação, mais bolsas de estudo para alunos lusófonos na China, maior cooperação no sector aéreo e fomento do mercado financeiro na Zona de Cooperação Aprofundada. Eis as novas linhas mestras de intervenção do Fórum Macau até 2027 saídas da VI Conferência Ministerial

 

Foram ontem divulgadas as principais linhas orientadoras da acção do Fórum Macau até 2027 no âmbito da realização da VI Conferência Ministerial. São seis as medidas da China para a Promoção da Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, dedicadas às áreas do comércio e investimento, cooperação sectorial, cooperação para o desenvolvimento, recursos humanos e cooperação médica e sanitária.

O documento oficial revela, em termos gerais, a vontade de Pequim de investir na formação de mais e melhores recursos humanos, conceder mais bolsas de estudo para o ensino superior, financiar projectos que possam melhorar as condições de vida das populações dos países lusófonos ou ainda fomentar o comércio e investimento.

Estas linhas orientadoras dão destaque à “cooperação na plataforma de Macau”, mais concretamente, com a Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin.

Desta forma, a China diz estar “disposta a suportar a Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin” através do apoio à “construção da plataforma de serviços financeiros” e ao “desenvolvimento do mercado internacional de obrigações pelo uso de renminbis ou patacas” através da Zona de Cooperação.

Ainda em relação ao território, a China pretende “apoiar Macau na construção de uma plataforma de cooperação científica e tecnológica” com os países de língua portuguesa, através da promoção de “projectos que reúnam condições para ser implementados prioritariamente” na Zona de Cooperação Aprofundada.

Pretende-se ainda fazer uma aposta no sector audiovisual entre a China, Macau e os países de língua portuguesa, nomeadamente no desenvolvimento de “projectos de diálogo de políticas, co-produção, intercâmbio de programas, cooperação técnica e formação de quadros”.

Ao nível do comércio e investimento, o primeiro ponto das seis linhas de acção, salienta a “elaboração de guias de comércio e investimento entre a China e os países de língua portuguesa”, apostando-se ainda no reforço “do intercâmbio sobre políticas comerciais e de investimento” nestes países.

Além de facilitar a presença de empresas em feiras de comércio e negócios, Pequim pretende “prestar seguros de créditos à exportação de empresas da China e dos países de língua portuguesa em sectores prioritários”, como é o caso das “infra-estruturas, energias e construção naval”.

Outro dos objectivos passa pelo “suporte financeiro ao comércio, ajudando empresas chinesas a expandir as importações provenientes dos países de língua portuguesa”. A “facilitação em matéria de inspecção sanitária e fitossanitária dos produtos alimentares e agrícolas importados” dos países lusófonos é ainda um outro ponto em destaque.

Entre a terra e o ar

Na área da agricultura, a China sugere a criação de “zonas emblemáticas de cooperação agrícola nos países de língua portuguesa interessadas”. O objectivo é que, através do Fórum Macau, se possa “melhorar a produção, transformação ou armazenamento de produtos agrícolas”.

Relativamente à ciência e tecnologia, pretende-se continuar a fomentar o desenvolvimento de “projectos conjuntos de investigação científica” e o estabelecimento de “laboratórios [de investigação] conjuntos”.

Outro ponto de destaque nestas linhas orientadoras, passa pelo “reforço da cooperação no transporte aéreo” com o mundo lusófono. A ideia é “negociar e assinar acordos de transporte aéreo”, bem como promover as “liberdades no ar”.

Focando-se na área social, a China diz-se disposta a implementar “projectos pequenos, mas inteligentes”, que ajudem a melhorar “o bem-estar da população conforme as necessidades dos países de língua portuguesa da Ásia e África”. Estes projectos devem focar-se “na construção de pequenas instalações ou fornecimento de materiais generalizados e cooperação técnica”.

Estudar e formar

Relativamente aos recursos humanos, a China continua a assumir-se, através do Fórum Macau, como a figura de proa na formação de quadros e estudantes universitários. Assim, Pequim quer “oferecer 3.000 vagas para formação aos países de língua portuguesa”, a fim de “formar quadros profissionais especializados em governação e administração”. A ideia é apostar na “redução da pobreza”, numa maior “interconectividade, gestão ecológica e do meio ambiente e ainda desenvolvimento verde”.

Fica também a promessa de mais bolsas de estudo governamentais destinadas aos alunos lusófonos para estudarem nas cidades do interior da China. Encoraja-se o Governo local “a conceder bolsas de estudo aos estudantes dos países de língua portuguesa para estudar em Macau”.

As autoridades locais devem ainda “convidar pessoal dos países de língua portuguesa para a realização de formação e estágios em Macau nos domínios do turismo, serviços médicos e saúde”.

Ainda na área da saúde, além da aposta na medicina tradicional chinesa, a China diz estar “disposta a enviar aos países de língua portuguesa da Ásia e de África equipas médicas integradas no total de 300 pessoas”.

Palavras matinais

A VI Conferência Ministerial do Fórum Macau começou ontem de manhã, tendo sido pautada por discursos de todos os intervenientes, representantes dos nove países lusófonos que fazem parte da entidade.

Na primeira intervenção, o vice-presidente do comité permanente da Assembleia Popular Nacional, Li Li Hongzhong, defendeu a necessidade de reforçar o papel de Macau na cooperação entre a China e os países de língua portuguesa para a “construção conjunta de uma economia mundial aberta e inclusiva”.

Para isso, o responsável propôs incentivos à exportação da China, como seguros de créditos, e também mais acordos comerciais para agilizar a importação de produtos lusófonos.

Em representação do Governo português, o ministro da Economia, Pedro Reis, defendeu a necessidade de continuar “a tirar partido das potencialidades” do Fórum Macau enquanto “plataforma privilegiada para um diálogo contínuo e frutífero” entre a China e o bloco lusófono. “Desejamos que o Fórum se afirme cada vez mais como verdadeira plataforma de cooperação ao serviço do desenvolvimento comum, com resultados tangíveis para todos”, disse.

Para os próximos anos, o “principal desafio será a crescente consolidação do valor acrescentado e da marca distintiva”, tendo Macau um “papel crucial a desempenhar na dinamização das atividades do Fórum”, centradas no diálogo, na cooperação e no trabalho conjunto.

O valor da herança

O governante português lembrou que a criação do Fórum de Macau, em 2003, representa “o reconhecimento pela China do valor estratégico da herança linguística e cultural no território e da importância económica” dos países lusófonos.

Os representantes dos países lusófonos destacaram a importância do organismo como mecanismo de solidariedade e de cooperação bilateral, mas também a necessidade de reforçar o desenvolvimento das oportunidades de negócio, sem deixarem de elogiar a persistência da China em manter esta plataforma de cooperação entre Estados-membros.

Para o ministro do Comércio chinês, Wang Wengtao, o novo plano de acção 2024-27 será “a força motriz” do desenvolvimento do Fórum Macau. Esta entidade integra a China, Macau e nove países lusófonos, nomeadamente Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Cinco conferências ministeriais foram realizadas no território em 2003, 2006, 2010, 2013 e 2016, durante as quais foram aprovados Planos de Acção para a Cooperação Económica e Comercial.

Inicialmente prevista para 2019, a sexta conferência ministerial foi adiada para Junho de 2020, devido às eleições para a Assembleia Legislativa de Macau, mas com a pandemia da covid-19 acabou por não se realizar.

A VI Conferência Ministerial terminou com um jantar oferecido pelo Governo. No seu discurso, Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, declarou que os resultados deste evento diplomático “irão proporcionar um novo ciclo de oportunidades de desenvolvimento para todas as partes envolvidas”. Hoje, decorre um evento complementar exclusivamente destinado a empresários dos países lusófonos presentes em Macau. A.S.S. / Lusa

“Afinar” o fundo

O ministro português da Economia, Pedro Reis, disse ontem haver espaço “para afinar o regulamento” do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa, com regras de acesso criticadas por membros do bloco, mas rejeitou ser necessário outro fundo. “Às vezes, há espaço para afinar o regulamento do fundo, não tem necessariamente que dar um salto tão quântico a criar outros fundos para responder às expectativas”, disse à Lusa o governante.

O fundo de cooperação, no valor de mil milhões de dólares, foi criado há 10 anos pelo Banco de Desenvolvimento da China e pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Macau. Este mecanismo já investiu 500 milhões de dólares nos países lusófonos, anunciou, em Outubro, Shi Wenju, presidente da entidade gestora, o Fundo de Desenvolvimento China-África. No que diz respeito ao investimento de metade do fundo num total de dez projectos no espaço de dez anos, Pedro Reis notou que “não é tão pouco significativo como” se tem ouvido falar. “Acho que é um arranque. Seria de esperar agora uma aceleração, até porque, mesmo nesta matéria dos fundos, às vezes os primeiros anos são menos projetos, e depois ganha uma tração natural. Muitas vezes, nos fundos, a segunda fase tem muito mais capacidade de investir”, disse.

23 Abr 2024

Cinemateca Paixão | Ciclo exibe filmes do sul-coreano Hong Sang-soo até Maio

Um total de dez películas com a assinatura do realizador Hong Sang-soo podem ser vistas na Cinemateca Paixão até 11 de Maio. O ritmo vagaroso com que conta histórias de amor e dilemas do quotidiano da Coreia do Sul são características do realismo doméstico típico dos seus filmes

 

Arrancou na última semana na Cinemateca Paixão um ciclo de cinema inteiramente dedicado ao realizador sul-coreano Hong Sang-soo, que começou a ficar conhecido no cinema asiático e mundial em meados dos anos 1990. “Realizador em Destaque: Exibição Temática de Filmes de Hong Sang-soo” apresenta ao público de Macau um conjunto de dez filmes, incluindo a longa-metragem com a qual se estreou nos grandes ecrãs: “The Day a Pig Fell Into the Well” [O Dia em que o Porco caiu no Poço], que teve uma única exibição no último sábado.

Contudo, os restantes filmes terão direito a duas exibições para que os fãs não percam a oportunidade de conhecer de perto o trabalho do realizador. Ainda esta quarta-feira serão exibidos, às 19h30, a curta-metragem “Lista” e o filme “A Colina da Liberdade”, este último de 2014.

“Necessidades de Uma Viajante”, filme deste ano, exibe-se no próximo sábado às 16h30. Esta película, que ganhou o Urso de Prata no Festival Internacional de Cinema de Berlim, além de ter marcado presença no Festival Internacional de Cinema de Hong Kong, conta a história de uma mulher francesa que tocava flauta de bisel num parque para sobreviver, mas que acaba por se tornar docente de francês de duas mulheres. A filme conta com a participação da actriz Isabelle Huppert.

Também no próximo sábado, às 21h30, passa o filme “Recordando a Porta Giratória”, feito em 2002, e que é novamente exibido no dia 11 de Maio às 21h30. No domingo, às 19h30, exibe-se “Na Praia À Noite Sozinha”, centrando-se nas deambulações da actriz Younghee devido a uma relação com um homem casado.

“A Romancista e o seu Filme”, com uma primeira exibição na última quinta-feira, volta a ser exibido no domingo, 28 de Abril, às 21h30.

Este filme conta a história de uma romancista que faz uma longa viagem para visitar uma livraria gerida por uma colega com a qual perdeu o contacto. Numa ocasião, ao subir sozinha uma torre, cruza-se com um realizador de cinema e a mulher, que a convence a fazer um filme. Contudo, uma série de peripécias, que culmina com uma bebedeira, altera o rumo dos acontecimentos.

“A Romancista e o seu Filme” ganhou um Urso de Prata na edição de 2022 do Festival Internacional de Cinema de Berlim, além de ter marcado presença nos festivais de Nova Iorque e Busan.

Dias de Maio

A Cinemateca Paixão exibe também “O Dia em que Ele Chegar”, pela segunda-vez a 5 de Maio.

O filme de 2011, que marcou presença em Cannes, centra-se em torno de Seongjun, que vai para Seul ter com um amigo próximo. Quando este não atende o telefone, Seongjun decide passear na zona de Seul em que vive o seu amigo, Bukchon, encontrando uma actriz que conhecia. Ao descer até outra zona de Seul, Insadong, Seongjun, que era realizador de cinema, trava conhecimento com várias pessoas, vendo-se obrigado a enfrentar as consequências das suas decisões.

Depois de se estrear com a longa-metragem de 1996, Hong Sang-soo realizou, em 1998, “O Poder da Província Kangwoo”, que volta a ser exibido na Cinemateca Paixão no dia 3 de Maio, às 21h30, depois de uma primeira exibição ontem.

Com este filme, o realizador sul-coreano venceu os Prémios Dragão Azul nas categorias de melhor realizador e melhor argumento, além de ter marcado presença, em 2000, no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary

“A Nossa Sunhi”, exibido a 2 de Maio às 19h30, também gira em torno de uma personagem que faz filmes. Neste caso é Sunhi, que vai à sua antiga escola pedir uma carta de recomendação a um docente, com o intuito de prosseguir estudos em cinema nos Estados Unidos. Mas esse pedido faz com que Sunhi se reencontre o ex-namorado e o director que se formou na mesma escola que ela, gerando-se um interesse romântico de ambos pela protagonista.

Finalmente, a 9 de Maio, será exibido “Nos Nossos Dias”, centrado na vida de uma mulher de cerca de 40 anos que vive temporariamente em casa de uma amiga que, por sua vez, está a criar um gato. Há ainda outro idoso, na casa dos 70 anos, que vive sozinho e sofre com a morte do seu gato. A trama prossegue em torno destas histórias de vida.

Hong Sang-soo formou-se em cinema na Coreia do Sul, Califórnia e Chicago. Ao longo da carreira, os seus filmes tiveram como foco relatos de vidas e relações modernas, condimentados com pitadas de humor negro. Os bilhetes normais para uma sessão custam 60 patacas, enquanto estudantes e idosos têm desconto de 50 por cento.

22 Abr 2024

Fórum Macau | Ministro português da Economia com Ho Iat Seng e Conselheiros

A presença no Fórum Macau é provavelmente um dos primeiros actos do ministro Pedro Reis fora de Portugal, uma vez que o novo Governo, saído das eleições legislativas de Março, tomou posse há pouco tempo. No território, o responsável tem aproveitado a viagem para vários encontros políticos.

No sábado Pedro Reis reuniu com Ho Iat Seng, Chefe do Executivo. Segundo uma nota oficial do gabinete de Ho Iat Seng, o encontro entre os dois governantes serviu para a troca de “impressões sobre a promoção da cooperação bilateral nas áreas da economia e comércio, a atracção de mais empresas e quadros portugueses para se estabelecerem em Macau e um melhor aproveitamento do papel de Macau como plataforma”.

O Chefe do Executivo da RAEM lembrou “a longa história da amizade entre a China e Portugal, e as relações estreitas entre Macau e Portugal”, tendo revelado o desejo de as empresas portuguesas possam “reforçar o investimento em Macau e continuar a expandir os negócios na Zona de Cooperação Aprofundada, designadamente a indústria ‘big health’ [saúde]”.

Ho Iat Seng lembrou a inauguração recente do hospital das ilhas e salientou “as bases sólidas de Portugal na área da biomedicina”, referindo que “as empresas podem aproveitar Macau e Hengqin como ponto de partida para entrar no enorme mercado do Interior da China”.

Pedro Reis destacou, por sua vez, que a sexta Conferência Ministerial do Fórum Macau pode “fortalecer as relações amistosas entre Portugal e a China e aumentar o potencial da cooperação económica e comercial entre os dois países”.

O ministro disse que Portugal “está muito interessado no desenvolvimento da indústria de finanças modernas de Macau e irá incentivar mais empresas portugueses a expandir os seus negócios no território de modo a alcançarem benefícios mútuos”.

Para Pedro Reis, “Macau vai continuar a desenvolver-se de forma robusta”, além de esperar que, no futuro, “se possa co-organizar com Macau e com o Interior da China grandes projectos de convenções e exposições”, promovendo-se “o intercâmbio cultural e o desenvolvimento económico”.

O ministro deixou também uma nota de agradecimento ao Governo de Macau pelos “esforços na promoção do ensino português e na difusão da cultura portuguesa”.

Parabéns à ATFPM

Pedro Reis reuniu no mesmo dia com a equipa de conselheiros do Conselho das Comunidades Portuguesas do Círculo da China, nomeadamente Rita Santos, Rui Marcelo e Marília Coutinho. Num comunicado divulgado pelos conselheiros, o ministro terá “enaltecido o importante trabalho realizado, desde o período da transição, até a presente data, pelos dirigentes da ATFPM [Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau], em prol da comunidade portuguesa residente em Macau e na China Continental, bem como das comunidades de portugueses residentes na Ásia”.

Pedro Reis falou ainda “do significado e a importância da comunidade portuguesa em Macau”, tendo prometido que “Portugal continuará a contar com o seu apoio na concretização da portugalidade em Macau”. O território constitui, para este responsável, “um pilar basilar do relacionamento bilateral entre Portugal e a República Popular da China”.

Por sua vez, os conselheiros voltaram a alertar para a “necessidade de reforço de pessoal no Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong”, bem como a “agilização de processos no âmbito de emissão de vistos, para o incremento do fluxo de turistas entre Portugal e a República Popular da China”.

22 Abr 2024

Patuá | Livro que reúne cartões de estudo do crioulo apresentado amanhã

Elisabela Larrea apresenta amanhã, no pavilhão polidesportivo do Tap Seac, o livro “Unchinho di Língu Maquista: Cartões de Estudo do Patuá”, uma edição financiada pelo Governo e apoiada pelo Instituto Internacional de Macau. Ao HM, a autora fala do projecto que começou a ser desenvolvido em 2016

 

É apresentado amanhã o novo livro da macaense Elisabela Larrea, a partir das 14h30 no pavilhão polidesportivo do Tap Seac, por ocasião da Feira do Livro da Primavera. Editado pelo Instituto Internacional de Macau (IIM) e com o patrocínio do Fundo de Desenvolvimento da Cultura (FDC), o livro reúne os cartões de estudo de patuá, o crioulo macaense, sendo ainda traduzido para chinês, português e inglês.

O projecto de desenvolver cartões de estudo com palavras em patuá começou a traçar-se em 2016, mas a sua compilação em livro visa “proporcionar uma forma de aprendizagem do crioulo de base portuguesa de Macau, através de ilustrações simples”. A edição proporciona ao utilizador o acesso a redes sociais com códigos QR para fomentar a aprendizagem do patuá nos meios audiovisuais, “facilitando ainda mais a aprendizagem de uma língua que se encontra actualmente em perigo de extinção, conforme a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)”, aponta o IIM.

Na mesma nota, o IIM recorda que “a comunidade macaense tem procurado salvaguardar com trabalhos de documentação de estudo, em publicações e na promoção e no ensino e na música, sem esquecer o teatro em patuá do grupo dos Dóci Papiaçám di Macau, reconhecido pela RAEM e pela República Popular da China como património intangível”.

Ao HM, Elisabela Larrea recorda que iniciou este trabalho graças à pesquisa que desenvolveu para o seu doutoramento, na Universidade de Macau, relacionado, precisamente, com o patuá. “Apercebi-me de que as publicações ou explicações [do crioulo] estavam maioritariamente em português e inglês, pelo que surgiu a ideia de incluir o chinês para promover a cultura macaense e o patuá junto de diferentes comunidades culturais.”

A autora refere ainda ter “muitos amigos chineses interessados em saber mais” sobre o patuá, sentido muitas dificuldades em encontrar materiais ou livros sobre o assunto, tal como macaenses na diáspora, ou não macaenses, que têm interesse na linguagem muito específica de Macau.

A elaboração dos cartões de estudo transformou-se rapidamente numa “paixão”, sobretudo depois de Elisabela Larrea receber “muitas mensagens encorajadoras e interessantes enviadas de todo o mundo”.

Aumentar o conhecimento

Além dos cartões que explicam o significado das palavras em patuá, o livro conta também um pouco da história da própria comunidade macaense, a fim de “aumentar o interesse das pessoas para saberem mais” sobre o grupo étnico. “Encaro este livro como um atractivo para despertar o interesse e o desejo de diferentes comunidades culturais em saber mais sobre a cultura macaense, bem como sobre esta língua que nasceu em Macau”, frisou.

Elisabela Larrea é doutorada em comunicação e investigadora da cultura macaense, tendo desenvolvido grande interesse pela história e pelas culturas de Macau. Desde 2004 que se dedica ao trabalho de preservação e promoção da cultura macaense através da arte, documentários, filmes, palestras públicas e investigação académica.

É preciso mais

Questionada sobre se fazem falta mais materiais de estudo em patuá, Elisabela Larrea diz ser uma “defensora absoluta da diversidade no que diz respeito à preservação e promoção do patuá”.

“Os cartões de estudo foram criados para serem uma forma de ajudar nesta busca [de novos materiais], mas muitos outros também estão a fazer essa busca. Aprender uma língua em vias de extinção tem desafios e dificuldades, sendo necessário mergulhar na língua e comunidade durante tempo suficiente para compreender, de facto, a essência e contexto cultural, a fim de garantir que aquilo que é partilhado corresponde ao que existe na comunidade.”

Elisabela Larrea mergulhou nas obras do poeta Adé, de nome José dos Santos Ferreira, “que criou uma espécie de consistência no sistema de escrita do patuá”. A autora pesquisou também o livro com vocabulário do patuá intitulado “Maquista Chapado”, bem como as peças de teatro do grupo Doci Papiaçam di Macau, escritas por Miguel de Senna Fernandes.

A autora espera que “cada vez mais pessoas possam publicar obras em patuá, para que as novas gerações tenham mais meios de aprendizagem”, revelando ainda estar optimista quanto ao futuro do crioulo. “Estou muito optimista em relação à atenção dada ao patuá, especialmente nestes últimos anos. Conheço um grupo de jovens, macaenses e não macaenses, que são apaixonados pelo patuá. São solidários e curiosos sobre a língua e anseiam por fazer a sua parte para a sua preservação e promoção. Alguns são chineses, malaios, japoneses, singapurenses ou brasileiros, aprendem o patuá e tentam usá-lo através das redes sociais.”

Além disso, destaca a autora, “o número de espectadores do teatro em patuá continua a aumentar, o que reflecte o interesse das pessoas por esta cultura”.

19 Abr 2024

Exportações | Empresários prudentes sobre próximo semestre

Os empresários dizem estar prudentes em relação ao sector das exportações nos próximos seis meses. A informação consta nas respostas ao Inquérito de Conjuntura ao Sector Industrial Exportador relativo ao quarto trimestre do ano passado, realizado pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

Refere-se que “no que respeita às perspectivas das exportações para os próximos seis meses, os empresários industriais locais tomaram uma atitude prudente”, sendo que 35,9 por cento dos inquiridos “antecipou uma perspectiva optimista no trimestre em análise, representando uma descida de 11,3 pontos percentuais face ao terceiro trimestre de 2023”. Nenhum empresário antecipou um “aumento acentuado” das exportações para estes seis meses, enquanto 52,8 por cento antecipou uma “evolução menos favorável” neste sector.

No quarto trimestre do ano passado, Macau exportou essencialmente, por ordem decrescente, produtos farmacêuticos, equipamentos electrónicos ou eléctricos, vestuário e confecções, bebidas alcoólicas e tabaco e produtos alimentares, ou lembranças. A União Europeia foi o mercado de destino das exportações de Macau com uma “performance relativamente melhor” face a outros mercados, representando um índice de 19,3 por cento.

Já a performance das exportações para os EUA “foi relativamente menos favorável”, com uma quebra de 43,7 por cento face ao terceiro trimestre do ano passado. Também o número de trabalhadores nesta área registou uma quebra trimestral de 4,9 por cento e anual, ou seja, face ao quarto trimestre de 2022, de 1,6 por cento.

18 Abr 2024

Centros de explicações | Estudo fala de “indústria sombra” no sector educativo

Nos últimos anos, os centros de explicações multiplicaram-se em Macau. Os alunos procuram tirar dúvidas geradas num sistema de ensino tradicional, mas também para passar tempos livres devido à excessiva carga horária dos pais. Estas são algumas das conclusões de um estudo de Alberto Pablo, docente da Universidade Politécnica de Macau

 

Em Macau é comum inscrever um filho num centro de explicações, sobretudo para tirar dúvidas sobre a matéria abordada nas salas de aulas ou para passar tempo livre enquanto os pais estão a trabalhar. Alberto Pablo, docente da Universidade Politécnica de Macau (UPM), realizou um estudo sobre o fenómeno da proliferação de centros de explicações em Macau e a sua sobrevivência durante a pandemia, intitulado “A influência dos centros de explicações – Sistema social de educação não superior de Macau em tempos de crise pandémica da covid-19”. O artigo foi publicado na edição de Março da revista académica “Sociologia – Problemas e Práticas”.

O estudo concluiu que os centros de explicações no território constituem “um grande negócio para o sector educacional não formal privado, que toma mesmo a forma de uma outra indústria educativa à sombra da educação escolar formal”. Estes espaços, que obrigam a uma despesa familiar adicional, servem também “como local absolutamente necessário para ‘depositar’ filhos e filhas que, além do apoio educativo, recebem também alimentação, cuidados e transporte”.

A prestação destes serviços adicionais é indicada como um trunfo preponderante para a sobrevivência durante a pandemia. Aliás, é descrito que “as salas de explicações locais se adaptaram bem mais rapidamente ao impacto económico da crise pandémica”, tendo sido pagos, na maioria, pelas oito mil patacas dos cartões de consumo atribuídos aos residentes pelo Governo neste período.

O autor escreve ainda que “contrastando com muitas lojas comerciais, pequenos restaurantes, agências de viagens e outras pequenas e médias empresas que desapareceram, provavelmente sem retorno, com a crise pandémica de covid-19, não consta nem se anunciou o encerramento de qualquer espaço de explicações e apoio educativo”. Segundo o académico isso demonstra que é uma “indústria próspera, mesmo em períodos com os piores ‘ventos e tempestades'”.

Porquê ter explicações?

Os inquéritos realizados para este estudo realizaram-se a partir de 9 de Janeiro de 2020 a estudantes do ensino superior de Macau, residentes permanentes, que frequentaram o ensino secundário e complementar em escolas privadas e que fizeram os exames de acesso à universidade.

O autor quis analisar, em parte, porque os alunos e encarregados de educação optam pelos centros de explicações. Um total de 90 inquéritos online gerou 78 respostas escritas válidas, correspondendo a 87 por cento do total. Houve ainda 12 estudantes que não responderam por não terem frequentado estes centros com regularidade ou por “completo desinteresse pelo tema ou dificuldade em escrever respostas pessoais às perguntas solicitadas”.

Em 78 respostas validadas, 28 alunos disseram ter recorrido aos centros para ter explicações de matemática ou de uma língua não materna, enquanto 26 o fizeram para se preparar para testes e exames. Apenas 11 estudantes usaram os centros de explicações para ocupar os tempos livres, enquanto que oito procuraram melhorar as notas na escola. Apenas cinco estudantes foram a centros de explicações para “recuperar de resultados negativos”.

O estudo de Alberto Pablo indica que a escolha dos centros de explicações prende-se com lacunas existentes no próprio sistema de ensino, em que os alunos sentem dificuldades em colocar questões ou dúvidas na sala de aula.

“A totalidade das respostas repetiu a conhecida impossibilidade de se levantar questões e pedir esclarecimentos durante as aulas da escolaridade formal por imperar sempre algum tipo de constrangimento em relação à autoridade dos docentes, os quais não dispunham de tempo suficiente ‘para ler os manuais’ ou os ‘powerpoints’ (na verdade, um texto projectado)”. Assim, “não restaria espaço lectivo para atender e resolver dúvidas pessoais dos alunos”.

O caso da EPM

O estudo refere o caso dos alunos do ensino secundário da Escola Portuguesa de Macau (EPM), que “destacaram a frequência regular de explicadores particulares – por vezes professores ou ex-professores da própria escola – a quem pagavam entre 300 e 500 patacas por hora, recebendo geralmente seis horas semanais, ou mais, de explicações de português e matemática”.

Alberto Pablo entende afirma que são “montantes pecuniários bastante elevados, mesmo para os padrões económico-sociais de Macau, rondando uma média mensal muito expressiva e onerosa entre 5.000 e 12.000 patacas por estudante, valor que normalmente duplica em função da família nuclear dominante de dois filhos”.

Os estudantes das escolas chinesas privadas, cujos inquiridos dizem ter frequentado centros de explicações durante 20 e 28 horas semanais, entre segunda-feira e sábado, três a quatro horas por dia, mediante pagamento mensal de cinco mil patacas.

O estudo destaca, ainda quanto aos resultados, “o número significativamente baixo de inquiridos que recorreu aos centros de explicações para contrariar o que se poderia designar como insucesso escolar”, apenas cinco alunos. Verifica-se ainda “a quantidade pouco expressiva de inquiridos que procuraram apoio extraescolar por terem obtido resultados ‘baixos’ nas avaliações formais escolares”, ou seja, apenas oito, dez por cento do total.

Desta forma, “69 por cento dos inquiridos frequentaram regularmente espaços de explicações durante o período da escolaridade secundária e complementar obrigatória para preparar testes e exames, mas mais ainda para recuperar de dificuldades e disfunções na aprendizagem nos domínios da matemática e língua não materna”. Segundo Alberto Pablo, a grande dificuldade reside no “inglês falado e escrito”.

Uma mentalidade própria

O estudo demonstra que os centros de explicações são um sector à margem do ensino formal porque os estudantes do ensino não superior são “‘empurrados’ para recorrerem regularmente” a estas instituições, devido à existência de um “sistema de ensino muito tradicional, factual e positivista, orbitando o manual, a memorização, testes e exames recorrentes”.

Há ainda uma carga social e cultural em torno destes centros, porque, como refere o autor, estes estudantes “são socialmente ‘obrigados’ a marchar diariamente depois do fim das aulas escolares porque os seus pais e encarregados de educação trabalham por turnos nos casinos e afins, cumprem jornadas intensivas de trabalho, mantém pequenos comércios abertos todo o dia ou labutam nas áreas da intermediação e do transporte”.

Tal faz com que os pais não tenham “tempo útil disponível para dedicar aos problemas de escolaridade dos seus educandos”, que ficam “entregues ao cuidado geral dos centros de apoio extralectivos”.

Mas mais do que dar resposta às famílias com horários laborais intensos, os centros de explicações têm muita procura graças à “mentalidade cultural dominante entre as famílias chinesas de Macau, que confiam quase exclusivamente a promoção social futura ao sucesso na escola no presente”.

Pouca transparência

O trabalho de Alberto Pablo descreve também que “a esmagadora maioria dos centros de explicações não apresenta organização clara, métodos pedagógicos ou planos didáticos”, sendo que o investigador também não conseguiu ter acesso a relatórios de contas e actividades que “não são conhecidos”.

“É difícil chegar aos responsáveis por estes espaços – acreditando que os há – sendo ingrata a tarefa de questionar, o que gera desconfianças inultrapassáveis”, refere-se. Os centros de explicações são, assim, um “peculiar mercado de trabalho”, e é “muito difícil de apurar e mesmo de estimar”, pois integra “diferentes trabalhadores com escolas formais, associações, empresas e intermediários”.

Estes permanecem “neste lucrativo campo cultivado pelas ‘explicações’ à sombra também das patacas pingues de Macau”. Além disso, o Governo “continua a certificar e subsidiar os espaços de explicações sem cuidar de fiscalizar as habilitações académicas necessárias do pessoal de apoio pedagógico”.

Local e não global

Se a pandemia trouxe o debate em torno da digitalização do ensino, a verdade é que não levou à modernização do sistema em vigor nos centros. “A maior parte destes espaços privados foi mesmo incapaz de evoluir no sentido das soluções ‘globais’ online, antes pressionando política e socialmente para um rápido regresso à sua actividade de ‘explicações’ habitual.”

Assim, conclui-se que “a multiplicação dos espaços de explicações [em Macau] é, sobretudo, um processo de localização”, não se conseguindo adaptar a novidades curriculares à escala global.

Em Macau, os centros apresentam “características muito próprias”, e são um sector “hostil a algumas futuras formas de transnacionalização da educação não superior, dos currículos às avaliações”, além de “hostil também a algumas modalidades de globalização dos sistemas educativos de aprendizagem”.

Esta localização dos centros explica-se ainda “pela sua especial capacidade de continuar a prosperar apesar dos devastadores efeitos da pandemia na economia de Macau”.

Existem actualmente no território 558 empresas com alvará de centros de explicações, um número bastante mais elevado em relação às 77 escolas existentes, dez delas públicas. As instituições de ensino são frequentadas 75 mil alunos, 96 por cento deles matriculados em escolas privadas.

18 Abr 2024

Quadros qualificados | Segunda fase inclui licenciados da UM

O Governo quer integrar os licenciados da Universidade de Macau (UM) na segunda fase do programa de importação de quadros qualificados para o desenvolvimento das indústrias “1+4”.

“Muitos estudantes vêm para Macau fazer os seus estudos e não são residentes, e pergunta-se se podem ser absorvidos pelo nosso mercado laboral. É nosso desejo que os alunos com um determinado nível de excelência, consoante os nossos parâmetros, possam integrar o mercado laboral, por serem pessoas que têm um certo apego à sociedade e conhecem o seu funcionamento. Em Maio, quando iniciarmos a segunda fase [de recrutamento de quadros] podemos incluir esses estudantes”, prometeu Ho Iat Seng ontem no plenário da Assembleia Legislativa.

Contudo, o governante deixou claro que a vinda de quadros qualificados será sempre controlada. “Macau é um território pequeno, em termos de área é exíguo, e não podemos de uma assentada importar um grande número de quadros qualificados. Não se trata de uma importação em grande escala, mas segundo as necessidades das indústrias 1+4. Sempre que importarmos quadros teremos de ter uma oferta correspondente de emprego para os interessados, não vamos importar quadros qualificados para virem cá à procura de emprego.”

17 Abr 2024

Cinemateca Paixão | “Opus”, sobre a vida de Ryuichi Sakamoto, no cartaz de Abril

A Cinemateca Paixão apresenta, a partir de hoje, um cartaz com novos filmes onde se inclui “Opus”, que nos recorda a vida e obra do compositor japonês Ryuichi Sakamoto, recentemente falecido. Hoje é exibido o primeiro filme de Ariane Louis-Seize, “Humanist Vampire Seeking Consenting Suicidal Person”

 

Há novos filmes para ver na Cinemateca Paixão à boleia de um novo mês. “Encantos de Abril” é o nome dado ao programa que traz a esta sala de cinema apenas quatro filmes, sendo que um deles representa a aclamação da vida e obra do compositor japonês Ryuichi Sakamoto.

“Opus”, realizado pelo filho do compositor, Neo Sora, gira em torno de 20 grandes composições clássicas que melhor descrevem o percurso musical do compositor japonês que até começou na música electrónica, ao integrar, em jovem, o grupo Yellow Magic Orchestra.

Falecido com cancro no ano passado, em Março, Sakamoto deixou a memória de muitas músicas que fizeram bandas sonoras de filmes e tantas outras composições em parceria com outros músicos, inclusivamente ligados ao universo da Bossa Nova, como foi o caso de Jacques Morelenbaum no disco “Casa”.

“Opus” apresenta as últimas actuações ao vivo de 20 temas seleccionados por Sakamoto por melhor descreverem os 40 anos de carreira, tendo cabido ao seu filho captar estes momentos. Cria-se, assim, num universo a preto e branco, e também melancólico, “uma celebração comovente da música de Sakamoto”, descreve a Cinemateca.

“Opus” é mais do que um mero filme “essencial para os fãs”, apresentando-se como “uma experiência musical solene que deve ser vista no cinema”. Neo Sora vive entre Tóquio e Nova Iorque e já realizou diversas curtas-metragens de estilo narrativo e documental, bem como vídeoclipes e outras produções ligadas ao mundo da moda e música. O filme sobre Sakamoto estreia esta quinta-feira, 18, sendo exibido a partir das 21h30, tendo ainda uma segunda exibição no dia 25 à mesma hora.

Vampiros e outras histórias

“Encantos de Abril” apresenta hoje o primeiro filme da realizadora Ariane Louis-Seize, intitulado “Humanist Vampire Seeking Consenting Suicidal Person”. Trata-se de uma película que ganhou o prémio de Melhor Realizador edição do ano passado do Festival Internacional de Cinema de Veneza.

O filme conta a história de Sasha, uma jovem vampira que não consegue matar, ao contrário do que acontece com a maioria dos vampiros. O problema adensa-se quando os pais deixam de lhe dar sangue, colocando a vida da filha vampira em perigo. Contudo, Sasha conhece Paul, um adolescente solitário com tendências suicidas que está disposto a dar a vida em prol da sua sobrevivência. O que parecia ser a solução para um grande problema torna-se numa sucessão de episódios marcados pelos últimos desejos de Paul, que devem ser concretizados antes que uma nova manhã se inicie.

Ariane Louis-Seize é uma realizadora do Canadá que começou a carreira no universo das curtas-metragens, nomeadamente com a produção “Wild Skin”. “Humanist Vampire Seeking Consenting Suicidal Person” é exibido hoje às 19h30, com repetição esta sexta-feira às 20h.

Da Filândia chega à Cinemateca Paixão o filme “Fallen Leaves”, o último do mestre do cinema finlandês Aki Kaurismäki e que se estreou mundialmente no Festival de Cinema de Cannes em 2023.

Este filme começa no momento em que Ansa e Holappa, duas almas solitárias, se conhecem num bar de karaoke em Helsínquia. Contudo, o que parecia uma bonita história de amor depressa obriga os seus protagonistas a ultrapassarem uma série de obstáculos.

“Fallen Leaves” é exibido pela primeira vez este sábado, 20, às 19h30, com repetições na próxima terça-feira, 23, quinta-feira, 25, e sábado, dia 27, sempre no mesmo horário.

“All Shall Be Well” é um filme de Hong Kong que também integra o cartaz de “Encantos de Abril”, da autoria de Ray Yeung, e que conta apenas com uma exibição no dia 21, já esgotada.

Este filme estreou mundialmente na secção Panorama do 74.º Festival Internacional de Cinema de Berlim e ganhou o Teddy Award para melhor longa-metragem com temática LGBTQ. “All Shall Be Well” também foi o filme de abertura do 48º Festival Internacional de Cinema de Hong Kong.

17 Abr 2024

Jockey Club | Terreno sem habitação e com “multifunções”

O Governo não pretende construir mais habitação no terreno anteriormente concessionado ao Macau Jockey Club, que fechou portas no dia 1 deste mês. Ho Iat Seng disse que o Governo está a avaliar as melhores opções, não descartando a possibilidade de o espaço vir a ser concessionado a privados.

“O terreno do Jockey Club está incluído no nosso plano de desenvolvimento de actividades de espectáculos. Veremos se seremos nós a investir ou se será uma entidade a fazê-lo. Temos 300 mil metros quadrados de terreno e devemos aproveitar o facto de estar perto do Cotai. Precisamos de um plano de longo prazo. Temos de pensar a área do parque de estacionamento a construir. Talvez contemos com uma empresa de renome para elaborar este planeamento, pois precisamos de maximizar [a utilização] desse terreno.”

O governante deu a entender que o Executivo começou a analisar possibilidades de exploração, mas não quis desvendar o mistério. “O que será feito? Não vou dizer, mas [o terreno] terá multifunções. Não vão ser construídas habitações porque já há terrenos suficientes para isso e não podemos desperdiçar este terreno”, adiantou.

17 Abr 2024

Cultura | Estádio da Taipa sem concertos

Em relação à polémica relacionada com o concerto dos Seventeen no Estádio de Macau na Taipa, Ho Iat Seng assegurou que a experiência não se repetirá.

“Houve muitas queixas de residentes por causa da poluição sonora e tivemos de pedir desculpas. Achamos que o Estádio de Macau não é um local propício à realização de concertos, mas será que devemos desistir? Temos de ter determinação e continuar o trabalho [de fomento da área do entretenimento e dos espectáculos]. Queremos, até ao final do ano, organizar um concerto que traga a Macau 50 mil pessoas. Mas vamos fazer esse concerto em frente à Torre de Macau? Não. Temos de fazer estudos”, disse. Ho Iat Seng frisou ainda que está a ser pensado um plano para desenvolver a indústria de entretenimento.

17 Abr 2024

Ho Iat Seng diz que sustentabilidade das escolas está em risco

Neste momento, 77 escolas em Macau sofrem os resultados da baixa taxa de natalidade. Os dados foram avançados pelo Chefe do Executivo, que declarou que a sustentabilidade de algumas instituições de ensino está em risco. “Daqui para a frente, as escolas vão deparar-se com falta de alunos. Há escolas que têm turmas cheias, mas outras situadas na mesma zona têm turmas quase vazias, e isso também tem a ver com a qualidade dos docentes.”

O governante explicou que há muitas escolas gratuitas com menos de 20 alunos por turma, afastando a possibilidade de aumentar o montante de investimento por turma. “As despesas são muitas e passaremos a gastar cerca de 700 mil patacas [ao invés das actuais 600 mil por turma] se as turmas sofrerem uma redução de alunos. Em turmas com 15 a 20 alunos as despesas vão aumentar, tendo em conta que existem 15 anos de escolaridade gratuita, e teremos de investir quase 1.400 milhões de patacas por ano.”

Ainda assim, Ho Iat Seng prometeu a continuação do apoio às escolas. “Para mantermos o emprego dos professores temos de investir mais erário público, não há outra hipótese.” O passo seguinte foi lançar mais um apelo aos residentes. “Espero que neste ano do Dragão tenhamos mais bebés”, frisou.

Desigualdades em marcha

Coube ao deputado Lam Lon Wai levantar a questão da baixa taxa de natalidade e da população envelhecida. “A taxa de natalidade começou a descer após atingir o seu pico em 2012. Algumas escolas primárias terão insuficiência de alunos, e temos algumas escolas à beira de terem de reduzir algumas turmas. Precisamos aumentar recursos para responder a esse problema.”

Ho Iat Seng assumiu que a situação não é nova nem exclusiva de Macau. “Temos de pensar, eu e a secretária Elsie Ao Ieong U, em arranjar novos métodos [de apoio]. Os docentes são jovens e há, de facto, um desenvolvimento irregular no ensino. É difícil encontrar mais estudantes”, concluiu.

17 Abr 2024

Iao Hon | Reconstrução do edifício Son Lei arranca este ano

O Chefe do Executivo garantiu que este ano deverão arrancar as obras de reconstrução do edifício Son Lei no bairro Iao Hon, com os moradores a mudar-se temporariamente para os dois mil apartamentos construídos no lote P, na Areia Preta.

A garantia foi dada ontem em resposta a uma questão do deputado Leong Hong Sai. “Dar-se-á início à primeira fase de trabalhos de reconstrução no Iao Hon.

O edifício Son Lei será demolido e reconstruído, e iremos depois divulgar quais os custos. Vamos ver se é possível construir mais parques de estacionamento, bem como fracções com componente comercial. Esses trabalhos serão iniciados este ano.” Actualmente, há mais de 30 mil edifícios em Macau com mais de 40 anos, necessitando de obras de renovação ou reconstrução. O bairro do Iao Hon ocupa uma grande percentagem nos planos de intervenção da Macau Renovação Urbana.

17 Abr 2024

Zona norte | Governo sem soluções concretas para incentivar consumo

A falta de negócio dos comerciantes da zona norte foi um dos temas chave do debate de ontem no hemiciclo, mas o Chefe do Executivo não apresentou medidas concretas. Ho Iat Seng disse que “temos de nos ajudar uns aos outros”, apelando ao consumo de residentes e bondade dos proprietários no controlo de rendas

 

Desde que é possível viajar de carro até ao Interior da China, os pequenos negócios da zona norte passaram a registar muito menos movimento e entraram em decadência. Além do Grande Prémio de Consumo na Zona Norte no fim-de-semana, o Governo parece não ter mais medidas concretas para impulsionar o comércio das zonas menos turísticas de Macau.

Ontem, ao responder a questões na Assembleia Legislativa (AL), Ho Iat Seng afastou quase todas as possibilidades levantadas pelos deputados: colocar mais táxis na zona norte pode causar engarrafamentos, criar mais cartões de consumo não é possível, é ainda preciso estudar a criação das linhas directas de autocarros. Para o governante, o ónus está nos residentes: são eles que têm de consumir e cobrar rendas mais baixas.

“O desenvolvimento do consumo é irregular. Existem problemas nas zonas comunitárias. Nem sempre é possível o Governo sustentar tudo e fomentar o desenvolvimento de todas as zonas. O modelo de cartões de consumo não é saudável porque são recursos provenientes do erário público e só no tempo da pandemia é que os podíamos usar. Agora temos de pensar noutras formas”, apontou, em resposta à intervenção da deputada Wong Kit Cheng.

Ho Iat Seng garantiu que estão a ser estudadas medidas de apoio juntamente com o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, mas dirigiu-se também aos proprietários das lojas. “As rendas aumentaram bastante quando os contratos foram renovados, depois da pandemia, e os negócios não melhoraram. Os lojistas estão à beira da ruptura. O Governo conhece bem a situação e esperamos que os proprietários não aumentem tanto as rendas, para que os lojistas respirem um pouco.”

De seguida, o apelo foi dirigido aos próprios residentes. “Estamos num período transitório que tem de ser ultrapassado e é importante contar com o consumo de todos. Há uma discrepância, porque há muitas pessoas nas zonas turísticas, mas não nas zonas residenciais, aos fins-de-semana. Espero que os residentes apoiem a nossa economia e fiquem cá para fazer, pelo menos, uma refeição. Já não podemos dizer às pessoas para ficarem em Macau como dizíamos no período da pandemia. Mas esperamos que os residentes entendam que a economia local se deve manter.”

Uma ajudinha

Afirmando que “temos de nos ajudar uns aos outros”, Ho Iat Seng assegurou ao deputado Ngan Iek Hang que será difícil criar mais hotéis de baixo custo para atrair turistas à zona norte.

“Não podemos permitir pensões ilegais e só temos condições para abrir hotéis económicos. Mas o Governo não vai abrir mais hotéis porque para haver novos temos de contar com investimentos das concessionárias.”

O deputado sugeriu a criação de “cadeias de hotéis de baixo custo para levar os turistas aos bairros comunitários”, bem como a “criação de carreiras de autocarros entre vários pontos” da cidade. “Os turistas não vão aos bairros comunitários consumir devido à falta de publicidade e de incentivos, e as lojas estão a ter problemas em sobreviver”, frisou o governante.

Ho Iat Seng garantiu que têm de ser realizados estudos. “É impossível colocar mais táxis nas zonas antigas porque as ruas são estreitas e pode haver engarrafamentos.”

O Chefe do Executivo acredita que Macau este ano terá “mais de 30 milhões de turistas”, com números diários a rondar os 80 a 100 mil pessoas, esperando a vinda de mais excursões.

Apesar do cenário dos lojistas parecer negro, o governante mostrou-se optimista. “Temos de ter confiança porque teremos mais e melhores dias com as medidas do Governo Central [de atribuição de vistos]. Este ano temos um orçamento estável e equilibrado”, concluiu.

17 Abr 2024

Pedro Chiang perde terrenos usados para corromper Ao Man Long

O empresário Pedro Chiang e a mulher, Leong Lai Heng, perderam dois terrenos situados no Beco e Calçada do Lilau que foram usados para corromper o antigo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, condenado por corrupção.

Segundo o acórdão do Tribunal de Última Instância (TUI) ontem divulgado, o casal perdeu os terrenos a favor da RAEM, tendo conhecido a primeira decisão por parte do Tribunal Judicial de Base (TJB) a 20 de Janeiro de 2022, e apresentado posteriormente sucessivos recursos, sempre perdidos.

Segundo o acórdão, o casal recorreu para o TUI por considerar que “não podia o TSI declarar perdidos [os terrenos] a favor da RAEM com fundamento nos factos dados como provados pelo TUI no caso de corrupção do ex-Secretário Ao Man Long”.

A vivenda perdida

Segundo este processo, de 2008, Pedro Chiang requereu, em 2003, a concessão de um terreno junto à Estrada da Penha pela troca dos terrenos junto à zona do Lilau, a fim de ali construir uma vivenda. Para obter a autorização, “Pedro Chiang deu os direitos do terreno onde seria construída a vivenda a Ao Man Long como retribuição, para que este, utilizando a sua competência e influência, interviesse nos procedimentos administrativos da autorização dos respectivos pedidos”.

Em 2006, quando ainda era secretário, Ao Man Long proferiu o despacho governamental que autorizava a troca dos terrenos na zona do Lilau pelo terreno junto à Estrada da Penha. Apesar do ex-secretário ter sido julgado no TUI e Pedro Chiang no TJB, o TUI adianta que “parte dos factos dados como provados pelo TJB são totalmente coincidentes com os factos considerados provados no processo de 2008 do TUI”, decidindo-se, assim, a favor da RAEM.

O TUI entendeu ainda que “os terrenos envolvidos foram instrumentos utilizados por Pedro Chiang para corromper Ao Man Long”, constituindo “sério risco de ser utilizados para o cometimento de novo crime”, pelo que “não devem ser restituídos” ao empresário.

Por ser casada em regime de comunhão de adquiridos, Leong Lai Heng “beneficiou, sem dúvida, das vantagens obtidas por Pedro Chiang pelo uso do bem comum [os terrenos] para corromper Ao Man Long”, apontou ainda o mesmo acórdão do TUI.

16 Abr 2024