LGBT | Estudo recomenda políticas de saúde específicas para minorias

Um estudo realizado por uma licenciada da Escola de Enfermagem do Hospital Kiang Wu aponta para a necessidade de criar políticas de saúde destinadas às minorias LGBTQ+. Os entrevistados para o estudo reportaram incompreensão e falta de adaptação do sistema de saúde às necessidades específicas dos utentes homossexuais ou transgénero

 

Naquele que é o primeiro estudo sobre o acesso a cuidados de saúde por parte da comunidade LGBTQ+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero e Queer), Xin Lei Yang, licenciada em Enfermagem pela Escola Superior de Enfermagem do Hospital Kiang Wu, conclui que existem diferenças entre as necessidades destes utentes e os tratamentos e acompanhamentos disponibilizados pela comunidade médica e de saúde.

A académica sugere a criação de políticas de saúde específicas para estas minorias, bem como cursos de formação para médicos, enfermeiros e pessoal da área sobre as necessidades concretas destes doentes.

Refere-se a importância de “mais apoio em termos de referências médicas para os residentes sobre a comunidade LGBTQ+”, ou a implementação, nos hospitais públicos, de um guia de tratamento específico para homossexuais, bissexuais ou transgénero. É também sugerida a realização de mais formações específicas para médicos e enfermeiros.

Além disso, Xin Lei Yang destaca que podem também ser adicionados mais conteúdos sobre cuidados médicos a aplicar a pessoas LGBT nos currículos de licenciatura em enfermagem.

O estudo intitula-se “An exploration of LGBTQ+ People’s Experiences and Needs of Health Care in Macau using Interpretative Phenomenological Analysis (IPA)” [Exploração das Experiências e Necessidades das Pessoas LGBTQ+ no Sistema de Saúde de Macau usando a Análise Fenomenológica Interpretativa (IPA)] e foi apresentado no domingo. Referiu-se, assim, à “existência de diferenças entre os cuidados de saúde locais e as reais necessidades desta população”, nomeadamente casos de “conflitos”.

Estas situações prendem-se com “falta de tolerância e incapacidade pessoal dos médicos em prestar cuidados de saúde” adequados para estas pessoas que, muitas vezes, podem não se identificar com o género sexual com que nasceram ou estar em processo de mudança de sexo, por exemplo.

Como tal, o estudo sugere a “necessidade de implementar um sistema de cuidados de saúde mais próximo da diversidade de géneros”. A autora recomenda que seja criado “um completo mecanismo de referência” e potenciada “mais educação para o pessoal médico [sobre a área LGBTQ+], sendo fundamental “um ambiente de mais tolerância e sensibilidade cultural” quanto a estas matérias.

A responsável aponta ainda para a importância de um “sistema de saúde próximo da comunidade LGBTQ+ que possa servir uma população divergente, com diversidade de géneros e diferentes orientações sexuais, que possa focar-se no respeito”.

Em entrevista ao HM, Xin Lei Yang destaca que este tipo de situações, que categoriza como “micro-agressões”, não são mais conhecidos e discutidos porque estas pessoas optam por viver na sombra. No entanto, “existem actualmente em Macau alguns fenómenos de micro-agressões”, destacou.

“Procurei perceber as necessidades e os sentimentos de grupo da comunidade LGBTQ+ na hora de consultarem um médico. O meu estudo conclui que uma parte dos inquiridos sentiu que o pessoal médico tinha alguma sensibilidade em relação as estas minorias, por isso foi possível criar relações de confiança. Assim, o meu estudo demonstra que existem boas e más experiências, e que, na busca por um médico, nem sempre houve casos de discriminação”, frisou.

Desconforto em consulta

A autora decidiu realizar a investigação quando foi abordada por um amigo LGBT que confessou estar angustiado por ter de procurar um médico, questionando-a sobre qual a especialidade que devia escolher. Xin Lei Yang recorda não ter conseguido responder às dúvidas apresentadas conforme os seus conhecimentos, pelo que tentou perceber como seria o mesmo cenário num consultório médico.

“Os meus entrevistados descrevem alguns casos de micro-agressões de que foram vítimas, tal como os médicos não entenderem que eles têm uma sexualidade diferente, tratando-os como se fossem heterossexuais e cisgénero [identificação com o género sexual de nascimento]. Houve também certo tipo de olhares e toques que deixaram os entrevistados desconfortáveis” durante a consulta, apontou a autora do estudo ao HM.

No estudo, apontam-se cenários de “paternalismo” por parte dos médicos em contexto da consulta quanto à autonomia do doente, a pouca formação específica para situações vividas pela população LGBT, a “falta de compreensão pelas necessidades de saúde da população LGBT” ou situações de “homofobia”.

Além disso, foi reportado à académica a “falta de tratamentos” específicos para a população transgénero, nomeadamente na “área hormonal, cirurgias ou aconselhamento”. No trabalho não é mencionado se estas consultas decorreram no serviço público ou privado de saúde.

Para este trabalho, a autora entrevistou apenas seis pessoas que assumiram pertencer à comunidade LGBTQ+, além de terem mais de 18 anos e residir em Macau. Outro critério para participar no estudo foi ter tido, no passado, uma experiência desagradável ou inesquecível, pelas más razões, no processo de acesso a cuidados de saúde no território. Os entrevistados dominam apenas a língua chinesa.

Questionada sobre o uso desta metodologia, a IPA, e um baixo número de entrevistados, a autora lembrou a dificuldade primária em encontrar pessoas que se assumam como LGBT.

“O estudo foca-se nas experiências vividas pelo grupo LGBT e as opiniões com base nas consultas médicas, e não na nossa verificação ou interferência. Segundo um estudo da Associação Arco-Íris de Macau, de 2019, 82,8 por cento das pessoas LGBT escondem a sua orientação sexual ou identidade de género, pelo que foi difícil encontrar entrevistados. O modelo IPA exige um número baixo de entrevistados, de quatro a seis, o que correspondia às características do nosso estudo.”

Do grupo de entrevistados, cujas idades vão dos 18 aos 28 anos, existem três pessoas transgénero, dois homossexuais, dois bissexuais, uma pessoa que se identifica como pansexual [atracção pelas pessoas independentemente do género] e ainda uma pessoa não-binária [que não se identifica com nenhum género em particular, homem ou mulher]. As entrevistas tiveram uma média de 46 minutos, sendo que os entrevistados “prosseguiram as conversas sem interrupções ou bloqueios do foro emocional”.

Que políticas criar?

Tendo em conta que o estudo alerta para a necessidade de avaliar melhor a resposta a necessidades médicas por parte da comunidade LGBTQ+, para que haja uma melhor percepção dos casos de HIV no território, a mestre em enfermagem lança ainda ideias para futuras investigações.

Ao nível das associações locais, é descrito que os Serviços de Saúde podem “providenciar recursos e serviços psicológicos para a comunidade LGBTQ+ e especificamente sobre as infecções por HIV”, a fim de “garantir um apoio sustentado” a estas minorias. Em termos académicos, é referido que são necessários mais estudos sobre estes grupos e também sobre a postura da comunidade médica em relação aos doentes com estas necessidades.

9 Jul 2024

Lisboa | Mahjong ensina-se na Casa de Macau

A Casa de Macau em Lisboa vai passar a ensinar mahjong, o tradicional jogo chinês, tendo como professor o macaense Miguel Silva, membro da direcção. A iniciativa “Tardes de Mahjong” teve a primeira sessão no passado dia 1, numa tentativa de revitalizar as actividades da Casa e atrair mais pessoas

 

Só se aprende a jogar mahjong jogando muito. Esta é a máxima de Miguel Silva, macaense que desde o dia 1 de Julho ensina este tradicional jogo chinês na Casa de Macau em Lisboa, numa iniciativa intitulada “Tardes de Mahjong”. A ideia é chamar mais pessoas à Casa e transmitir às novas gerações um jogo tão ligado à cultura chinesa e que é bastante comum em Macau e Hong Kong, jogando-se, muitas vezes, na rua, nomeadamente em alguns locais do Porto Interior, isto no caso de Macau.

“Não há grandes desafios” no ensino deste jogo em Portugal, à excepção das peças com caracteres chineses, que impõe aos jogadores uma “dificuldade adicional”. É assim que Miguel Silva começa por falar da sua experiência como professor.

“O mais complicado neste jogo é a quantidade de peças e naipes que o jogo tem. É um jogo que tem muitos detalhes e as pessoas têm de fixar tudo. É também um jogo de arranque, pois basta saber as regras fundamentais e a pessoa começa a jogar. Até pode cometer erros, mas isso não invalida que o jogo prossiga. Não há grandes desafios, e [o rumo de aprendizagem] depende sempre da boa vontade de quem quer aprender.”

Miguel Silva, sendo macaense, viu jogar este jogo desde pequenino, mas só o aprendeu a sério quando terminou a licenciatura em Portugal e regressou à sua terra natal. “Nessa altura Macau não tinha os grandes casinos que tem hoje e a malta, para ocupar os fins-de-semana, passava as noites a jogar mahjong. Fui aprendendo.”

Da versatilidade

Miguel Silva destaca que o grande segredo do mahjong é ser “um jogo muito versátil”, pois “as regras podem ser convencionadas no início do jogo”.

“Há duas modalidades, uma em que determinamos que, para ganhar, basta um ou dois pontos, e outra em que se ganha a partir dos três pontos. A diferença é que, na primeira modalidade, a pessoa não pensa e só quer formar o jogo o mais depressa possível, enquanto na segunda modalidade já é mais sério, implica pensar um pouco.”

Aos jogadores cabe ter “uma grande capacidade de observação daquilo que os parceiros vão jogar, as peças que podem interessar, definir uma estratégia consistente”.

Na primeira sessão, que teve casa cheia, não faltaram as perguntas típicas dos primeiros aprendizes. “Um dos meus formandos perguntou-me se poderia sacrificar o seu jogo para que o adversário não ganhe. Respondi que é uma estratégia válida, mas que, se seguirmos isso, a pessoa nunca vai conseguir formar o jogo e ganhar, o que torna tudo mais aborrecido.”

O mahjong é também “um jogo de definição de estratégias que têm de ser flexíveis, em função do dia em que jogamos, se é de sorte ou de azar, e com quem jogamos. A estratégia vai sendo definida em função do estilo que os outros parceiros adoptam. Se tivermos pessoas que gostam de fazer grandes jogadas, nós acompanhamos.”

Miguel Silva destaca o lado social do mahjong, jogo que se joga em casa e nunca no casino, pois o dinheiro circula apenas entre os jogadores.

“Nos casamentos chineses a cerimónia ocupa o dia todo e os convidados aproveitam o tempo morto jogando mahjong no restaurante até à hora de jantar. É essa a grande vantagem do jogo, reunir as pessoas. Nos fins-de-semana as famílias juntam-se para jogar. A pessoa que ganha uma parada pode guardar parte do dinheiro para pagar o aluguer do espaço onde decorre o jogo ou pagar o jantar. É um jogo essencialmente social.”

Miguel Silva deixa, porém, um alerta para aqueles que se querem aventurar a ganhar grandes quantias de dinheiro. “Quem quiser fazer fortuna pode sempre ir para outra sala jogar com estranhos, mas é bom que seja um mestre dos grandes, pois a probabilidade de perder é maior.”

As inscrições para este evento devem ser feitas junto dos canais de comunicação habituais da Casa de Macau em Lisboa, sendo uma iniciativa gratuita. Porém, e tendo em conta as dificuldades financeiras que a entidade atravessa, como já foi noticiado, é pedida uma contribuição solidária por parte dos inscritos.

9 Jul 2024

Deficiência | Desemprego piorou face a 2019

Hetzer Siu, presidente da associação Macau Special Olympics, dá conta de que o panorama de desemprego para portadores de deficiência está ainda pior do que no ano de 2019, ou seja, no período pré-pandemia.

Ouvido pelo jornal Ou Mun, Hetzer Siu explicou que, apesar de a economia ter registado alguma recuperação, o foco manteve-se nas actividades ligadas ao sector do turismo, pelo que é difícil aos portadores de deficiência acederem a este tipo de trabalhos sem o tempo de formação adequado, pois têm mais dificuldades em realizar tarefas de forma rápida num curto espaço de tempo.

O responsável apontou ainda que as pequenas e médias empresas locais não conseguem proporcionar acções de formação no local de trabalho, além de que muitos empregadores esperam que os portadores de deficiência sejam produtivos no imediato, mas a verdade é que depois de serem contratados deixam de ter formações.

Outra questão mencionada por Hetzer Siu ao Ou Mun, prende-se com a falta de abrangência do cartão de registo de avaliação de deficiência do Instituto de Acção Social, uma vez que existem muitas pessoas com a formação feita em escolas de ensino especial, mas que não conseguem obter esse cartão por não cumprirem os requisitos, o que lhes aumenta as dificuldades no dia-a-dia.

9 Jul 2024

Pesca | Maioria de embarcações pediu certificado de navegação

Praticamente todas as embarcações de pesca de aço existentes em Macau, 45 de um total de 47, pediram, desde 2019, certificado de estabilidade para navegação junto da Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA).

A informação consta numa resposta assinada por Susana Wong, directora da DSAMA, à interpelação escrita do deputado Leong Sun Iok. O pedido de certificado deve ser feito para “satisfazer as condições de navegação”.

A DSAMA destaca que “após análise das informações técnicas, verificou-se que as mesmas cumpriram as condições de navegação de não exceder 120 milhas náuticas do Mar do Sul da China (não superior a 50 milhas náuticas da costa leste e sul da Ilha de Hainan)”. Além disso, Susana Wong deixou a promessa de rever os moldes do “Programa de Formação para Pescadores durante o período de defeso da pesca”, quando estes não podem pescar devido ao regime referido no mar do sul da China, o que afecta o seu sustento.

“Tendo em conta as mudanças do ambiente socioeconómico, o montante do subsídio de formação atribuído já foi actualizado várias vezes. Actualmente, aos formandos que concluem a formação, é atribuído um subsídio máximo de dez mil patacas. O Governo irá continuar a acompanhar de perto o programa, mantendo uma comunicação estreita com o sector, procedendo à sua revisão em tempo oportuno”, lê-se ainda.

9 Jul 2024

Kung Fu | Clube em Portugal celebra 22 anos com lançamento de livro

O Clube de Kung Fu Hong Long – Escola de Artes Marciais Chinesas, situado em Oeiras, ensina há 22 anos uma arte que prepara corpo e mente para a competição e para a vida. Mário Lameiras, que treinou cinco anos com um mestre de Macau, é hoje carinhosamente apelidado de “Lam Sifu” e ensina miúdos e graúdos. No clube praticam-se também as danças do leão e dragão

 

Mário Lameiras, “Lam Sifu” para os alunos (Sifu em chinês significa mestre, professor ou pessoa qualificada), está há muitos anos ligado não só às artes marciais chinesas como também à sua cultura. Depois de ter treinado cinco anos com o mestre Yin Chang Li em Macau, Mário Lameiras criou o Clube de Kung Fu Hong Long – Escola de Artes Marciais Chinesas, que há 22 anos existe em Portugal, mais concretamente em Oeiras.

É aí que os alunos treinam o estilo tradicional de Kung Fu de Shaolin do Sul, região chinesa célebre pelos milenares treinos desta arte marcial. O treino pode começar a partir dos sete anos, sendo de “alto rendimento e com exercícios físicos e mentalmente exigentes”.

São ensinadas as técnicas “TaoLu”, que transmitem o espírito marcial ao aluno, ou ainda as técnicas de combate, que incluem defesa pessoal. Os alunos são ainda ensinados a praticar a “Jiao Xu”, ou “Sombra”, uma técnica de combate com adversários imaginários, ou ainda o manuseamento de armas tradicionais chinesas, como é o caso da vara, espada, Kwan Dao e Pu Dao. Não faltam ainda treinos de Chi Kung e Qi Gong, nomeadamente ao nível dos exercícios respiratórios, “com o objectivo de promover a saúde”, lê-se na página oficial do clube.

Em entrevista ao HM, o português Mário Lameiras não esconde o orgulho que sente pelo percurso do clube que ajudou a criar. Sifu Lam foi também o coordenador de material para um álbum fotográfico que recorda os melhores momentos dos 20 anos de existência do clube, que só agora é materializado em livro, após a adiamentos motivados por questões logísticas.

“O clube produziu vários campões nacionais e atletas que representaram o país em competições internacionais. Temos uma vertente cultural com a divulgação das danças do leão e do dragão e já fizemos diversas apresentações em eventos, nomeadamente com a dança do leão que é a nossa especialidade”, contou.

Mário Lameiras confessou ainda que a escola conta actualmente com 80 atletas e formandos, estando “numa fase de expansão”.

O estilo dos “5 Animais”

Mário Lameiras treinou artes marciais na China, mas a sua formação académica de base é na área do Direito. Contudo, o amor pela arte marcial levou-o a outros golpes, nomeadamente com diversas formações em medicina tradicional chinesa. Foi ainda, até 2022, presidente do conselho disciplinar da Federação Portuguesa de Artes Marciais Chinesas, bem como vice-presidente da Federação Portuguesa de Artes Marciais Chinesas entre os anos de 2006 a 2009, de 2012 a 2016 e depois até 2020.

Mário Lameiras recorda os treinos com o mestre Yin Chang Li. “Ele veio para Lisboa de Macau nos anos 70. Emigrou muito cedo de Cantão para Macau. Em 1976, ainda eu era muito jovem, pois estava no liceu, comecei a treinar com ele. Na altura o grupo que o mestre Yin tinha era apenas com jovens chineses. Ele acabou por voltar para Macau nos anos 80.”

“Lam Sifu” treinou ainda segundo o estilo do “Punho dos 5 Animais”, que se inspira “na biomecânica do Leopardo, Tigre, Garça, Serpente e Dragão”, e que em chinês tem como nome “Ng Yin Kuen / Wu Xing Quan”. Datam do século VIII as primeiras práticas deste estilo muito particular de treino.

Trata-se de um estilo ” praticamente desaparecido”, que esteve na base dos treinos feitos nos templos de Shaolin, conhecidos pela dureza e exigência física imputados aos alunos.

“Discute-se muito se terá existido, de facto, este estilo, mas existem provas, nomeadamente escritos de ocidentais que dão conta da sua existência. Conta a lenda que o ‘estilo dos 5 Animais’ era a base de preparação do treino do templo, mas que depois haveria vários estilos de especialização consoante o mestre que ensinava e o aluno que aprendia.”

Mais do que treinar, Mário Lameiras aprendeu com o mestre “uma maneira de estar na vida”. “Era um ensino muito tradicional. Hoje em dia os instrutores de Kung Fu usam estilos mais modernos, ligados ao desporto, mas o ensino dele tinha uma vertente mais filosófica, com ideias muito importantes. O ponto principal é mesmo o aspecto humano e filosófico que esta arte envolve”, frisou.

Altamente defensível

Praticar Kung Fu não diz apenas respeita ao corpo, mas à mente. “Os valores do Kung Fu estão muito ligados a questões como auto-confiança, preparação física, defesa pessoal, um pouco os chavões associados à prática das artes marciais. Mas transmite também uma maneira racional e objectiva de ver a vida, afasta os medos e receios que as pessoas têm e todos esses bloqueios psicológicos.”

“Lam Sifu” dá mesmo o exemplo de alunos que, sendo vítimas de bullying na escola, deixam de o ser. “Não porque comecem a bater em toda a gente, mas porque ganham uma atitude diferente em relação aos outros, deixando de ser vítimas. Essa parte filosófica, aliada aos treinos físicos, é muito importante. Também temos pessoas que apenas nos procuram pela parte física ou para ganhar medalhas, mas o Kung Fu tem mais para oferecer do que o lado desportivo.”

Manuel Garcia, praticante de Kung Fu nesta escola há dois anos, descreve numa nota enviada ao HM a presença dos ensinamentos do mestre Yin Chang Li.

“Já há muitos anos que regressou a Macau, numa época em que as comunicações não eram tão fáceis, perdendo-se a ligação à raiz. No entanto, o clube, composto maioritariamente por portugueses, desenvolve um trabalho contínuo por manter viva esta herança cultural.”

Manuel Garcia destaca também o facto de o Kung Fu, apesar de “estar muitas vezes associado a desportos de combate ou a filmes de acção”, ser um símbolo de “uma cultura imaterial, de transmissão oral, muito importante de preservar”. “Esta associação procura fomentar os valores do Kung Fu tradicional em pleno, transcendendo a vertente marcial”, frisou.

Também “Lam Sifu” defende que deveria haver uma maior preservação desta arte marcial e das histórias que traz consigo, destacando que, na China, é cada vez maior a aceitação social.

“Em 2008 estive um mês na China e verifiquei que há cada vez mais uma aceitação dos valores tradicionais. As artes marciais chinesas são um legado cultural da humanidade que deveria ser preservado pela mais valia que trazem ao ser humano. Felizmente que a China tem aceite com mais facilidade o retorno deste tipo de cultura.”

No Clube de Kung Fu Hong Long há ainda outros treinadores, todos discípulos de Mário Lameiras: Luís Moreira, actual presidente, começou a praticar artes marciais chinesas em 2007, possuindo a graduação de nível seis, ou seja, como aluno avançado, do estilo de Shaolin do sul. É também treinador de Wushu, outra modalidade chinesa de artes marciais.

João Barroso começou os treinos em 2009, também ensina Wushu e é campeão nacional de Wushu Kung Fu, em “Formas de Armas”, distinção obtida em 2012.

O tradicional é bom

No website oficial da escola lê-se uma descrição do projecto em plena consonância com as práticas e ideias mais tradicionais do Kung Fu. “Não aceitamos a figura de Bodhidarma ou Tamo como patrono do Kung Fu. Aliás, até é duvidoso que tal personagem alguma vez tenha praticado artes marciais. E não usamos o nome de Shaolin em vão. A formação dos nossos praticantes inclui a abordagem da verdadeira evolução do Kung Fu, com a ajuda da metodologia científica da disciplina de História.”

O Clube Hong Long disponibiliza “um treino duro que requer muita força de vontade”. “Não se fazem passagens administrativas nem exames pagos. A escola recusa qualquer escala de graduações que não seja o método tradicional das escolas chinesas. Não há cintos às cores, a não ser as faixas com a cor da escola. Os novos alunos entram para o primeiro nível e têm de mostrar empenho e progresso para ascenderem aos níveis imediatos”, é referido. A cerimónia de celebração do aniversário do clube decorreu este domingo em Oeiras.

9 Jul 2024

MGM | “Summer Hype” mistura arte, cultura e retalho na Barra

Chama-se “Summer Hype” e é o nome dado à nova série de eventos realizados na zona da Barra este mês, promovidos pela concessionária de jogo MGM. A arte e cultura são os convidados para criar nesta zona da península, junto ao templo de A-Má, um “distrito vibrante”. Para já, pode ser vista a instalação artística “BERTILO Drifts in Barra” e uma exposição para crianças oriunda do Centro Georges Pompidou

 

Foi lançada, na sexta-feira, mais uma iniciativa cultural que pretende aliar o empreendedorismo, arte e cultura locais aos bairros históricos de Macau. A iniciativa “Summer Hype” agrega uma série de actividades culturais a fim de revitalizar a zona da Barra junto ao templo de A-Má, uma das mais visitadas pelos turistas e também um dos espaços históricos mais tradicionais de Macau.

Segundo um comunicado da MGM, com a iniciativa “Summer Hype” pretende-se estabelecer uma sinergia com pequenas e médias empresas (PME) locais e “parceiros criativos”, transformando, assim, a zona da Barra “num centro vibrante repleto de actividades artísticas, de lazer e de comércio”.

Destaque para a exibição, durante este mês, da instalação de arte pública com um insuflável cor-de-rosa intitulada “BERTILO Drifts in Barra”, que pode ser vista junto ao Museu Marítimo. Associados a esta instalação, estarão disponíveis na zona da Barra várias tendas com comidas e bebidas com o tema cor-de-rosa, nomeadamente gelados, bolos e outras iguarias, disponibilizados por empresas locais.

Ainda este mês, será inaugurada a exposição “Mundo de Arte Fantástica do Centre Pompidou: Os Plantamouves”, no antigo Matadouro da Barra, recentemente revitalizado. Trata-se de uma colaboração entre a operadora de jogo, o Instituto Cultural e o Centro Georges Pompidou, em França.

Segundo uma nota do MGM, esta exposição foi “especialmente concebida para crianças”, permitindo que estas, juntamente com os pais, criem “uma instalação de arte gigante vibrante utilizando luz, cor e linhas”.

A mostra pretende ser “um espaço criativo que serve não só como um parque infantil, mas também como uma plataforma educacional interactiva para estimular o potencial artístico das crianças”.

Destaque ainda para a organização, juntamente com a Associação de Ilustradores de Macau, do “Concurso de Design de Identidade Visual da Zona da Barra”, pretendendo-se “criar um sistema único de símbolos visuais para o bairro da Barra” através da “co-criação criativa da comunidade”. O concurso “visa revitalizar a história marítima e o património industrial da zona”.

Expectativas de futuro

Leong Wai Man, presidente do Instituto Cultural (IC), afirmou, no sábado, esperar que esta iniciativa conjunta dê uma nova vida à zona da Barra. “No passado os projectos de revitalização envolviam sobretudo o Governo e os proprietários. Agora, com o envolvimento da MGM e de uma variedade de PME, a revitalização da zona da Barra atingiu uma nova dimensão, permitindo uma cooperação mais aprofundada e modelos inovadores.”

A presidente do IC destacou que, apesar da zona da Barra ser histórica, pode atrair “muitas possibilidades no futuro e acolher uma série de projectos criativos”. “Acredito que a futura revitalização deste espaço pode combinar elementos históricos e culturais com a injecção de elementos inovadores, conduzindo gradualmente esta zona para uma nova fase de vitalidade”, acrescentou.

O cartaz de eventos do “Summer Hype” inclui ainda, em Agosto, a exposição de ilustração “Matsui’s – The Dog Exhibition”, organizada em parceria com a marca local “THE BIG APPLE”, que comemora em 2024 dez anos de existência no mercado da moda e do retalho. Assim sendo, apresenta-se, pela primeira vez em Macau, os trabalhos de Matsui, artista japonês. A zona da Barra terá ainda outros espaços temáticos em consonância com esta exposição.

8 Jul 2024

Daniel Cheng, autor de “How I built an Integrated Resort”: A ausência de um “plano abrangente” para a diversificação

O analista de jogo e antigo executivo do sector dos casinos Daniel Cheng lançou, em Maio, o livro “How I Built an Integrated Resort” [Como Construí um Resort Integrado], um manual de boas práticas para operadores, investidores e académicos. O autor lamenta que o ónus da diversificação económica de Macau esteja nas concessionárias e aponta a falta um “plano abrangente” do Governo para atingir esse objectivo

 

Porque decidiu lançar um livro sobre este tema? Um resort integrado é a resposta para o desenvolvimento futuro na área do turismo e lazer para muitas regiões?

O conceito de resorts integrados ajudou a tornar o jogo em algo mais aceitável em muitas jurisdições, particularmente na Ásia. Especialmente em países e regiões que anteriormente evitavam a legalização dos casinos devido a preocupações sociais e de segurança, e que ultrapassavam os potenciais benefícios económicos. No entanto, muitos dos novos resorts funcionam apenas no nome, não cumprindo os verdadeiros princípios do conceito.

Qual é, então, o resort integrado ideal em termos de confiança dos consumidores e de segmento de mercado?

Há muitos preceitos fundamentais, mas o mais importante é uma visão partilhada que alinhe os objectivos macro do Governo e os objectivos comerciais dos operadores.

Como encara actualmente o mercado de resorts integrados em Macau após as novas licenças de jogo? Quais são as hipóteses de expansão e modernização em relação ao que já existia?

O novo regime de jogo de Macau procura realinhar o desfasamento entre a indústria e a visão do Governo, segundo a qual a “Macau 1.0” era meramente uma legitimação da antiga estrutura de jogo existente antes da liberalização do sector. Embora o valor económico do mercado sofra um golpe, principalmente devido à erradicação do sector dos jogos de fortuna e azar e de todos os seus elementos mais obscuros, o novo regime proporcionará uma estabilidade de longo prazo, mesmo que o sector volte a atingir os níveis de glória que rondavam os 50 mil milhões de dólares no passado.

Acredita na diversificação do segmento não-jogo em Macau?

Acredito, se for orientada pelo mercado. Actualmente, as seis concessionárias estão a investir em activos não relacionados com o jogo de acordo com as directivas da nova lei e não necessariamente com o objectivo principal de gerar receitas não relacionadas com o jogo. Esta situação poderá conduzir a atracções que não correspondem à procura do mercado, levando a que haja um exagero em torno da ideia de Macau ser um grande destino para o segmento não relacionado com o jogo [nas áreas do lazer e entretenimento].

Que diferenças pode apontar entre o modelo de resort integrado de Singapura, como o Marina Bay Sands, e as restantes jurisdições de jogo, tanto na Ásia como nos Estados Unidos?

Se colocarmos Singapura e Macau lado a lado, e aplicarmos a lente de um consumidor, a distinção é clara, na medida em que as duas jurisdições possuem sistemas de “hardware” [infra-estruturas e empreendimentos] e “software” [modelos de negócio, sistemas] muito diferentes. No caso de Singapura, trata-se de um importante centro financeiro internacional e uma porta de entrada com uma população muito maior, e altamente qualificada. Enquanto a economia de Macau continua a depender quase exclusivamente dos casinos, Singapura tem uma economia que assenta numa vasta gama de sectores de actividade. O modelo de resort integrado não existe de forma isolada, mas insere-se neste tecido económico e social mais vasto. Assim, se fosse possível reproduzir o modelo do Marina Bay Sands para o Cotai, este não conseguiria atrair tantos visitantes devido às características subjacentes diferentes, além de que iria continuar a servir principalmente os visitantes do Interior da China. O modelo de resort integrado é uma variante do modelo existente em Las Vegas, onde há uma integração do entretenimento nas instalações do casino a fim de atrair segmentos mais vastos de clientes. O que o Governo de Singapura fez foi elevar o segmento não relacionado com o jogo ao mesmo nível do casino, introduzindo salvaguardas sociais. Embora os operadores de Macau e das Filipinas tenham posteriormente adoptado a designação de “resort integrado”, a verdade é que, nestes casos, são empreendimentos categoricamente diferentes, uma vez que são semelhantes aos resorts existentes em Las Vegas, onde o casino tem maior visibilidade e é o centro das atenções.

Como vê a evolução do comportamento de consumo dos turistas chineses nos próximos anos, à medida que os mercados de jogo asiáticos se desenvolvem?

Dada a enorme dimensão da China, é provável que o seu desenvolvimento económico continue a crescer a partir das áreas metropolitanas durante as próximas décadas. Este crescimento continuará a alimentar a economia de Macau num futuro previsível, dada a sua proximidade com a China, mesmo que a “Macau 2.0” não atinja a visão do Governo de transformar o território num centro mundial de turismo. À medida que os consumidores chineses se vão tornando mais sofisticados, os clientes dos segmentos “premium” e mais experientes passarão a deslocar-se a resorts integrados mais ao estilo de Singapura. Porém, o mercado [de jogo] irá continuar a ser suficientemente grande para sustentar resorts centrados em casinos, como é o caso das Filipinas.

Acredita na diversificação económica de Macau como um todo, com a redução do peso do jogo?

Concordo com a visão, mas tenho uma dupla posição em relação ao seu sucesso.

Porquê?

Há um claro desejo de Pequim manifestado na nova lei e licenças de jogo atribuídas. No entanto, o Governo de Macau não pegou nessa visão e não a articulou num plano abrangente, transferindo para as concessionárias o ónus de apresentação de ideias para atracções não relacionadas com o jogo. Este facto sugere que a missão de criar a “Macau 2.0” não é da responsabilidade de uma única entidade. Para agravar esta falta de responsabilidade exclusiva de uma só entidade, o sistema de “harware” turístico do pequeno enclave é limitado, além de que não há muito que se possa fazer em termos do desenvolvimento de novas atracções turísticas para aumentar o seu lado atractivo.

Qual é o mercado de jogo asiático mais prometedor actualmente, além de Macau? Quer esteja em desenvolvimento, como a Tailândia, quer já esteja a funcionar em pleno.

O Japão e a Tailândia têm ambos um potencial fantástico. No entanto, o seu sucesso depende, em grande medida, do quadro regulamentar e da execução. Já assistimos a alguns erros do Japão e espero que as autoridades tailandesas tenham observado atentamente o desenvolvimento da região nos últimos 20 anos. Se adoptarem as melhores práticas e evitarem os erros do passado, poderão maximizar o seu potencial.

8 Jul 2024

IC | Primeira edição do Festival Internacional de Artes para Crianças arrancou ontem

Estão aí os primeiros espectáculos relativos à primeira edição do Festival Internacional de Artes para Crianças de Macau. A iniciativa organizada pelo Instituto Cultural traz, até domingo, a peça de teatro infantil “A Lua numa Caçarola”, da companhia La Petita Malumaluga, de Espanha. Segue-se, na próxima semana, a peça “Laika”, da companhia espanhola Teatro Xirriquiteula

 

Já começou a primeira edição de um festival recheado de eventos destinados a crianças, mas também aos graúdos que as acompanham. O Festival Internacional de Artes para Crianças teve ontem a sua primeira exibição, que se apresenta até domingo. Trata-se da peça de teatro infantil “A Lua numa Caçarola” da companhia espanhola La Petita Malumaluga. Segundo uma nota do Instituto Cultural (IC), entidade promotora do evento, trata-se de um espectáculo que combina “música, dança, teatro e efeitos especiais”, sendo indicado para crianças a partir de um ano de idade. Assim, estas poderão “explorar os recantos mais emocionantes da lua através de uma abordagem interactiva”.

Existem vários horários disponíveis para assistir a este espectáculo, que se apresenta no pequeno auditório do Centro Cultural de Macau (CCM). Com cerca de 40 minutos de duração, o espectáculo tem “a felicidade como ingrediente principal para a autodescoberta”, convidando as famílias a sentarem-se em palco com os mais pequenos. Depois, usa-se uma “poção mágica para ‘borrifar’ meninos e meninas nas suas novas abordagens ao teatro infantil”.

Esta companhia é considerada uma das pioneiras nas artes performativas para os mais pequenos, tendo “espalhado a sua visão artística e imaginação pelo mundo fora, actuando em alguns dos maiores festivais e salas de teatro”. A companhia espanhola já fez um espectáculo intitulado “Beatles para Bebés”, que passou por Macau. Mas desta vez, é altura dos mais pequenos se deslumbrarem “com os segredos de uma bonita e misteriosa lua”.

Laika em Moscovo

Na próxima semana, nomeadamente nos dias 13 e 14 de Julho, é apresentada a peça “Laika”, também de uma companhia espanhola, o Teatro Xirriquiteula.

“Recorrendo a várias formas de expressão artística, como teatro de sombras, fantoches e montagem cinematográfica, o espectáculo levará o público através do túnel do tempo até à década de 1950 para uma experiência histórica animada, adequando-se a qualquer pessoa a partir dos quatro anos de idade”, descreve o IC.

A história de “Laika” passa-se em Moscovo, Rússia, em 1957. “Laika” é uma “cachorrinha vadia, inteligente e gentil” que “após completar o treino num programa espacial, recebe um bilhete para ir ao espaço”. A sua missão é “explorar e desvendar os mistérios das estrelas cintilantes que adornam o céu nocturno”, sendo que, “ao embarcar nesta viagem interestelar, Laika marcará o seu nome na história como o primeiro ser vivo a aventurar-se no grande desconhecido cósmico”.

Esta é a primeira iniciativa do género, em formato de festival, apenas dedicado aos mais pequenos. Com duração até Agosto, inclui, além dos espectáculos, um festival de cinema, que decorre na Cinemateca Paixão, bem como workshops que convidam toda a família a participar. Para o IC, trata-se de “um programa de actividades emocionantes”.

O IC quer também estimular o interesse dos mais novos pela leitura, com foco nos livros artísticos, pelo que a Livraria para Crianças, num formato “pop-up”, ou seja, temporário, estará aberta todos os fins-de-semana durante este mês no DOT ART, no primeiro andar do Centro Cultural de Macau. Incorporando elementos de um parque de diversões, a livraria incluirá mais de 200 géneros de livros ilustrados, para jovens leitores, com imagens, cartilhas e outros produtos culturais e criativos de mais de dez países e regiões. Haverá também dispositivos para fotografias e uma área de leitura para pais e filhos, onde pequenos e graúdos poderão desfrutar juntos da leitura.

Estão programados 20 workshops, num total de 60 sessões, “proporcionando às crianças e aos seus pais a oportunidade de participarem em diversas actividades, incluindo música, teatro, pintura e dança”. Um deles é o “Alma Musical”, exclusivo para adolescentes e destinado a promover o prazer da música através de expressões como a representação, canto e dança. Haverá ainda o workshop “Dança Conexão Corpo-Mente”, destinado aos mais idosos, que, assim, são convidados “a mover o seu corpo e a revelar o seu charme”. Para estas actividades é necessário fazer inscrição na plataforma “Conta Única de Macau”.

5 Jul 2024

IPIM | Jackson Chang condenado a mais três anos de prisão

O antigo presidente do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau, Jackson Chang, foi condenado, em Segunda Instância, a uma pena de prisão efectiva de oito anos, apesar de ter sido absolvido de três crimes de abuso de poder. Na Primeira Instância, a condenação, em 2022, foi de cinco anos

 

Jackson Chang, também conhecido por Cheong Chou Weng, antigo presidente do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM), viu a pena de prisão aumentar com a avaliação do seu recurso por parte do Tribunal de Segunda Instância (TSI).

Segundo o acórdão ontem divulgado, o arguido passa a ser condenado a uma pena de prisão efectiva de oito anos, por cúmulo jurídico, mais três anos em relação à condenação decretada no segundo julgamento do Tribunal Judicial de Base (TJB), em Maio de 2022.

Nessa altura, o antigo dirigente foi também condenado por três crimes de abuso de poder, em autoria material e forma consumada, sendo agora absolvido pelo TSI desses crimes. Porém, o recurso foi negado no que diz respeito aos crimes de corrupção passiva e prática de branqueamento de capitais.

O TSI decidiu, assim, condenar o antigo presidente do IPIM pelos quatro crimes de corrupção passiva para acto ilícito, aplicando-lhe uma pena de três anos e três meses de prisão por cada crime. Jackson Chang foi ainda condenado por três crimes de branqueamento de capitais, dois deles em co-autoria e de forma consumada, a dois anos de prisão por cada crime. Além disso, o arguido foi também “condenado pela prática de três crimes de inexactidão dos elementos, na pena de sete meses de prisão cada”.

Recorde-se que, no julgamento repetido no TJB, em Maio de 2022, Jackson Chang tinha sido condenado a um crime de corrupção passiva, três crimes de branqueamento de capitais e ainda três crimes de abuso de poder.

Empresário condenado

O TSI rejeitou ainda o recurso apresentado pelo arguido Ng Kuok Sao, condenando-o a 24 anos de prisão efectiva pela prática de quatro crimes de corrupção activa, três crimes de branqueamento de capitais, um crime de associação criminosa e de 23 crimes de falsificação de documento. Desta forma, aumenta a pena aplicada em um ano de prisão face ao segundo julgamento no TJB.

Recorde-se que ficou provado que Ng Kuok Sao, empresário, criou uma associação criminosa juntamente com a mulher, Wu Shu Hua, para vender autorizações de fixação de residência em Macau. Os crimes de que é acusado o antigo presidente do IPIM também estão relacionados com a atribuição de Bilhetes de Identidade de Residente de forma ilícita. Também o Ministério Público recorreu da segunda decisão do TJB, juntamente com os arguidos Ng Kuok Sao e Jackson Chang.

5 Jul 2024

CTM | Obras na via pública danificam ligações de internet

A Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) emitiu ontem um alerta sobre os estragos causados às instalações subterrâneas de telecomunicações devido à realização de obras nas vias públicas. Mais concretamente, o comunicado destaca os casos recentes, ocorridos entre o mês passado e ontem, em que cabos de fibra subterrâneos foram danificados devido a trabalhos de construção de estradas junto à Ponte 6B e Ponte 5B, no Porto Interior, na Rua das Lorchas e Rua do Comandante João Belo.

A CTM diz ter enviado equipas técnicas aos locais assim que os incidentes foram reportados para proceder a trabalhos de reparação para que as ligações de internet voltassem à normalidade. A concessionária defende também que os empreiteiros devem “supervisionar as operações e reforçar a formação para evitar causar danos às instalações do serviço de utilidade pública, acabando por afectar a vida quotidiana dos residentes”.

É também pedida a intervenção do Governo, para que exija “aos empreiteiros que supervisionem os trabalhos de construção com orientações cuidadosas e minuciosas para garantir a integridade das instalações de serviços públicos, com o objectivo de proteger os interesses do público em geral”.

5 Jul 2024

TUI mantém condenações no caso Suncity

O Tribunal de Última Instância (TUI) decidiu manter todas as penas aplicadas aos arguidos do caso Suncity, antiga empresa de promotores de jogo liderada por Alvin Chau.

Segundo o acórdão ontem divulgado, foram negados os recursos apresentados por Alvin Chau, Si Tou Chi Hou, Cheung Yat Ping Ellute, Ali Celestino, Cheong Chi Kin, Chau Chun Hee, Lou Seak Fong, Wong Pak Ling Philip e Leong Su Weng relativamente às penas decididas pelos juízes da Segunda Instância.

Desta forma, Alvin Chau terá mesmo de cumprir a pena de 18 anos de prisão, seguindo-se a pena de dez anos de prisão para Si Tou Chi Hou, outros dez anos para Cheung Yat Ping Ellute, 12 anos e seis meses de prisão para Ali Celestino, Cheong Chi Kin, Chau Chun Hee e Philip Wong Pak Ling, enquanto Leong Su Weng terá mesmo de cumprir a pena de nove anos de prisão. O arguido Lou Seak Fong terá ainda de cumprir a pena de 12 anos e três meses de prisão a que foi condenado.

Compensação de quase 25 milhões

Destaque também para o facto de o TUI ter revogado a decisão do TSI no que diz respeito ao valor compensatório a pagar à RAEM por parte de todos os arguidos. Assim, deverá ser pago o montante de 24.865 mil milhões de dólares de Hong Kong pelos “produtos ilícitos obtidos através da exploração ilícita de jogo”.

Foi ainda revogada a decisão do TSI “na parte em que condenou os arguidos no pagamento solidário à RAEM das vantagens obtidas através das actividades de branqueamento de capitais”.

Mantêm-se ainda as restantes decisões do TSI, nomeadamente a que obriga Alvin Chau a prestar uma caução económica mínima de 6,5 mil milhões de dólares de Hong Kong, bem como o arresto de contas bancárias e bens imóveis que o arguido possui juntamente com a empresa “Sawalana Limited” em Londres.

4 Jul 2024

Vila da Taipa | Novos investimentos em turismo e lazer até 2025

A Sniper Capital, empresa de investimentos imobiliários, anunciou ontem a aposta em seis novos projectos ligados às áreas da restauração, lazer e turismo no coração da vila da Taipa, que deverão estar concluídos até 2025. Trata-se de mais 50 mil pés quadrados de área comercial com “amplos terraços ao ar livre”, onde o retalho também tem lugar

 

A histórica vila da Taipa vai receber, até 2025, seis novos empreendimentos ligados às áreas da restauração, retalho e lazer, com um total de 50 mil pés quadrados. Os projectos devem-se ao investimento da empresa de investimentos imobiliários Sniper Capital, que anunciou ontem esta aposta onde se promete revitalizar alguns espaços desta zona antiga e um dos pontos centrais para quem visita o território.

Segundo um comunicado ontem divulgado, “os novos empreendimentos apresentam amplos terraços ao ar livre” e espaços “concebidos tanto para operações de restauração e bebidas como de retalho”, sendo inspirados “na rica história mercantil da vila da Taipa”.

Um dos projectos consiste num edifício espelhado de cinco andares, localizado numa pequena rua da vila, que irá disponibilizar lojas e restaurantes, com 30 mil pés quadrados de dimensão. Seguem-se mais cinco projectos em outras zonas da vila da Taipa com um total de 20 mil pés quadrados.

Design e história

Apesar de assumirem a inspiração na história de uma zona tão visitada em Macau, a Sniper Capital explica que estes novos empreendimentos terão “um design mais contemporâneo, proporcionando áreas comerciais luminosas e espaçosas, bem como terraços abertos e arejados que visam atrair marcas e estabelecimentos que procuram espaços operacionais atraentes e flexíveis”.

Esta não é a primeira vez que a Sniper Capital investe na vila da Taipa, tendo-o feito já em parceria com a Taipa Village Destination. Pamela Chan, directora-geral desta entidade, destacou, citada pela mesma nota, que “os últimos empreendimentos representam um investimento substancial no futuro da Vila da Taipa”.

A responsável não esqueceu a proximidade ao Cotai. “As nossas propriedades foram cuidadosamente seleccionadas para satisfazer os visitantes que afluem à vila da Taipa. Com o espaço adicional que os nossos projectos estão a trazer para a área, combinado com o aumento de visitantes mais jovens a este bairro vibrante, a vila da Taipa está preparada para uma década emocionante, à medida que continua a evoluir como um dos principais destinos de Macau.”

4 Jul 2024

Saúde | Pedidas mais medidas de controlo da covid longa

Os efeitos adversos e prolongados da covid-19 é o tema da nova interpelação de Leong Sun Iok. O deputado entende que os Serviços de Saúde de Macau devem aplicar medidas eficazes para controlar sintomas e patologias que continuam a manifestar-se após a infecção, numa situação chamada de “covid longa”

 

Leong Sun Iok está preocupado com a forma como as autoridades de saúde estão a lidar com os casos de covid longa, ou seja, quando há sintomas e patologias decorrentes de casos de covid-19 em residentes.

Numa interpelação escrita enviada ao Governo, o deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) destacou que há muitas pessoas a queixarem-se de sintomas prologados após deixarem de ter covid-19, questionando os Serviços de Saúde de Macau (SSM) sobre como estão a lidar com a situação.

“O Governo está a seguir as práticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do país em relação ao tratamento das sequelas da covid-19, para que haja um estudo, acompanhamento e conhecimento da situação da população? Que medidas de resposta tem o Executivo?”, questionou.

O deputado cita mesmo informações da OMS que referem como sintomas mais comuns de covid longa, nomeadamente fadiga persistente, dificuldades respiratórias e de concentração, dores musculares e articulares, distúrbios do sono, ansiedade e depressão.

E as crianças?

Leong Sun Iok lembrou que, no caso das crianças, estas podem continuar a registar sintomas do foro respiratório depois de terem covid, pelo que, para o deputado, cabe às autoridades prestarem mais atenção aos casos de covid longa, lançando tratamentos adequados.

O responsável destaca a possibilidade de ocorrência de outras infecções respiratórias que se sobrepõem aos sintomas de covid longa, como é o caso da gripe, e que podem originar sintomas mais graves nos doentes e maior tempo de recuperação.

Neste sentido, Leong Sun Iok questiona-se sobre a actual situação de casos covid-19 na sociedade. “Como está a prevalência de covid-19 em Macau agora? Quais os sintomas principais registados?”, interpelou.

De destacar que vários países do mundo continuam a registar um elevado número de casos covid, embora já com muito menos mortalidade em relação aos primeiros tempos de descoberta da pandemia. Em Portugal, desde finais de Maio que se regista um aumento do número de casos. Os dados oficiais mostram que a 14 de Junho ocorreram 616 infecções, o número mais elevado desde 8 de Setembro de 2023, quando se registaram 629 casos. Por sua vez, no passado dia 26 de Junho morreram 18 pessoas, considerado o número mais alto desde 15 de Julho de 2022, dia com 24 óbitos.

4 Jul 2024

Lisboa | Restaurante “Patuá” fecha portas

O restaurante “Patuá”, localizado em Lisboa e que servia comida macaense, fechou portas devido ao aumento da renda do espaço. A notícia foi divulgada pelos proprietários nas redes sociais.

“Caros comensais. É com muita tristeza que o Patuá fecha permanentemente. Queremos agradecer todas as vezes que vieram, os amigos que trouxeram, o bocadinho das vossas vidas que partilharam connosco e o carinho que nos deram e fizeram, connosco, o Patuá acontecer. Como costumamos dizer, ‘sobrevivemos à covid-19, mas não sobrevivemos à especulação imobiliária'”, pode ler-se.

Numa entrevista realizada em 2021 com o HM, Francisco Rodrigues e Daniela Silvestre falavam dos segredos do espaço e de como queriam contribuir para a preservação da gastronomia macaense. Francisco Rodrigues, com família macaense, mas que nunca viveu em Macau, trazia aos clientes sabores exóticos para uns, bem conhecidos de outros. Na rua Ilha de São Tomé, eram servidos o tradicional minchi, mas também caril de quiabos ou bacalhau macaísta, entre tantos outros.

2 Jul 2024

Galaxy | Exposição “Eggspression” para ver até Outubro

A galeria GalaxyArt apresenta, até Outubro, uma exposição fora do comum que mostra ao público de Macau trabalhos do artista holandês Henk Hofstra e instalações da “The Egg House”, em Nova Iorque. “Eggspression” pretende ser uma “experiência de arte imersiva”

 

Os ovos são os protagonistas da nova exposição de arte apresentada pela operadora de jogo Galaxy desde o dia 28 e que pode ser vista até 7 de Outubro. “Eggspression”, ou a “expressão do ovo” promete ser uma “experiência de arte imersiva” que apresenta trabalhos internacionais: por um lado, as instalações públicas do artista holandês Henk Hofstra e, por outro, as obras da “The Egg House”, localizada em Nova Iorque.

Citado por um comunicado, Kevin Kelley, ligado à “GalaxyArt”, disse que esta mostra “é mais uma demonstração da visão e intenção” da operadora de jogo em relação aos sectores da cultura e turismo.

“Os ovos são um alimento comum em diversas culturas. Esta exposição amplia objectos do quotidiano, lembrando-nos que a arte está presente nas nossas vidas diárias”, adiantou.

Também segundo a mesma nota, o artista holandês explicou o conceito criativo por detrás das suas obras. “Todos os meus projectos têm algo a ver com a forma como vemos as coisas, o que está a acontecer, de onde vimos, o que fazemos e o que fazemos com o nosso planeta.”

No caso das instalações da “The Egg House”, já passaram por Los Angeles e Xangai. “Estamos entusiasmados por trazer a Casa a Macau, uma cidade conhecida pelo seu rico património cultural e mistura dinâmica de tradições. A energia única de Macau e o seu apreço pela criatividade fazem dela o cenário perfeito para a nossa exposição”, disse Vivian Cai, directora artística da galeria.

Assim sendo, “Eggspression” gira em torno “de ovos que simbolizam a vida, novos começos, bem-estar ou sabedoria”, entre tantos outros conceitos, “estimulando-se a contemplação da arte, da vida e do mundo, bem como a sua ligação íntima”.

Peças e instalações

A obra que compõe a primeira parte da mostra, da autoria de Henk Hofstra, intitula-se “Eggs Fall from the Sky”, tratando-se de “uma obra-prima” que, pela primeira vez, é apresentada em Macau.

“A enorme instalação ‘Ovo Ensolarado’ não só é visualmente impressionante como também tem como objectivo sensibilizar para o aquecimento global. Assemelhando-se ao sol, estas instalações oferecem aos visitantes o calor da luz solar na Galaxy Promenade e na GalaxyArt na estação do Verão”, é descrito.

Hofstra apresenta ainda outra instalação intitulada “Loving Birds”, uma “instalação única em forma de ovo, adornada com ovos em forma de coração, pétalas de flores, nuvens e árvores”. Trata-se de uma peça que sublinha “a importância da vida, do amor, da integridade e da energia positiva”.

Henk Hofstra tem transformado, ao longo da sua carreira, objectos simples do quotidiano “em cativantes instalações de arte pública em grande escala”. Já expôs em cidades como Roterdão, São Paulo ou São Petersburgo, ou ainda Pequim e Wuhan.

“As criações de Hofstra abrangem diferentes temas, incluindo animais, plantas e paisagens. Apresenta frequentemente o seu trabalho de forma inovadora e surpreendente, incentivando as pessoas a explorar o mundo a partir de novas perspectivas e a reflectir sobre questões importantes”, aponta a organização.

A segunda parte desta exposição traz as instalações da “The Egg House”, que não é mais do que uma “experiência multisensorial criada por Biubiu Xu juntamente com um grupo de jovens artistas e designers de Nova Iorque”.

Nesta parte da exposição apresenta-se “Ellis”, nome dado a um ovo que “evoca a história de ‘As Aventuras de Alice no País das Maravilhas'”. Aqui, “os artistas misturam engenhosamente elementos do ovo no hall de entrada, na sala de estar, no quarto, na cozinha e até na casa de banho, enchendo cada canto de surpresas e transformando o ovo vulgar em algo extraordinário”.

Assim, nesta espécie de casa, “os visitantes podem interagir com as peças expostas e mergulhar numa atmosfera alegre partilhada com amigos e familiares, tornando-a um local imperdível para fotografias”.

Além da exposição propriamente dita, há actividades paralelas, como menus inspirados no tema da “Eggspression” em oito restaurantes no empreendimento Galaxy Macau, bem como sorteios e workshops temáticos a ter lugar na própria GalaxyArt.

2 Jul 2024

Dinheiro | Combate a casas de câmbio pode afectar fluxo financeiro

Vitaly Umansky, analista de jogo da Seaport Research Partners, emitiu uma nota esta segunda-feira onde alerta para o impacto negativo do combate que se avizinha às casas de câmbio, locais onde muitas vezes acontecem trocas ilegais de dinheiro.

Segundo noticiou o portal Macau News Agency (MNA), este combate pode afectar o fluxo de dinheiro que circula no território, bem como levar a um adiamento das viagens a Macau. “Muitas dessas redes recorrem à criptomoeda para transferência de dinheiro (algo que ganhou maior atenção das autoridades na China) juntamente com actividades de agiotagem”, escreveu o analista.

Vitaly Umansky apontou ainda que Macau “tem registado um aumento da actividade criminosa relacionada com a troca ilegal de dinheiro ao longo do último ano. Este problema foi elevado a um nível nacional em conjunto com as autoridades chinesas que analisam o uso contínuo de criptomoeda para mover dinheiro para fora da China, não estando necessariamente vinculado a Macau”.

Esta repressão às casas de câmbio pode acontecer “nos próximos um ou dois meses”, sendo que se espera uma diminuição a curto prazo. “Esperamos que a liquidez em Macau não seja significativamente afectada a médio prazo”.

No início de Junho, a agência de notícias oficial chinesa Xinhua avançou que o Ministério da Segurança Pública da China organizou “uma reunião especial de trabalho a nível nacional” dedicada ao câmbio ilegal em Macau.

A tutela da segurança alertou que a escala dos grupos dedicados a esta actividade “cresceu rapidamente” nos últimos anos, “graças aos enormes lucros” vindos não apenas da troca de dinheiro, mas também da usura, o empréstimo de dinheiro a juros muito elevados.

2 Jul 2024

ADM | Cantina volta a funcionar em período experimental

O serviço de cantina volta hoje a funcionar na sede da Associação dos Macaenses, na Rua do Campo, mas apenas para sócios. Suspenso devido à pandemia, por ser incomportável à entidade lidar com os custos, o serviço de refeições regressa de forma experimental até ao dia 16 e com um limite de pratos

 

A Associação dos Macaenses (ADM) começa a servir, a partir de hoje e até ao dia 16, refeições na cantina, localizada na sede da entidade, na Rua do Campo. Segundo uma nota de imprensa assinada por Miguel de Senna Fernandes, presidente da ADM, a cantina irá funcionar durante um período experimental de dez dias úteis, terminando na terça-feira, dia 16, com um limite de 25 refeições por dia a 85 patacas cada prato.

Na referida nota, Miguel de Senna Fernandes destaca que a reabertura da cantina “corresponde a um importante anseio” dos sócios da ADM. “Como o tempo do fecho da cantina foi considerável, e encontrando-se renovada a equipa da cozinha, torna-se necessário testarmos tudo, desde os custos por refeição e os sabores que a nova cozinha irá apresentar”, bem como “a capacidade da nova equipa para dar corpo ao serviço de cantina, antes da retoma normal do serviço”, o que explica o período experimental.

O presidente da ADM acrescentou que foram convidados sócios “que têm sido regulares nos almoços antes do encerramento anterior” para voltarem a frequentar a cantina nesta nova fase.

“Tal medida não pretende discriminar ninguém, mas serve apenas para atingir os objectivos para os quais será feita a experiência. Os sócios regulares podem dar-nos um contributo importante para isso”, frisou.

Sem “tapao”

Miguel de Senna Fernandes aponta ainda que o custo de 85 patacas por refeição poderá sofrer ajustes “consoante os custos inerentes”, além de que “o menu pode sofrer modificações de última hora, sem pré-aviso”. Está também afastado, para já, o serviço de “tapao” [takeaway].

O responsável adianta que, no futuro, “a cantina estará aberta para sócios e convidados”. “Procuraremos formas de alargar o universo de utentes. Neste momento experimental não aceitamos reservas no próprio dia, mas sim até às 15h do dia anterior”, explicou.

O presidente da ADM destaca ainda que a reabertura da cantina, depois de um longo período encerrada devido à pandemia e consequente impacto nos custos, é importante para a vida da comunidade macaense. “A reabertura da cantina é algo fundamental para a retoma da vida social na sede, o núcleo do convívio macaense”, rematou.

2 Jul 2024

CCAC | Chefe de departamento de empresa recrutou mediante subornos

Um quadro de uma empresa da área do turismo e lazer terá alegadamente recebido 190 mil renminbis em subornos exigidos a cidadãos do Interior da China que pretendiam trabalhar em Macau e que foram recrutados como administradores de bens. Uma investigação do Comissariado contra a Corrupção aponta para um caso de corrupção no sector privado

 

O Comissariado contra a Corrupção (CCAC) divulgou ontem dados sobre mais um caso de alegada corrupção no sector privado, nomeadamente numa empresa de turismo e lazer. O processo de investigação arrancou graças à denúncia apresentada por um cidadão, aponta o CCAC em comunicado.

O homem indicou que o chefe de departamento de gestão da empresa estaria a recrutar pessoas do Interior da China que pretendiam trabalhar em Macau. Neste caso, eram contratados como ecónomos, ou administradores de bens, pagando por isso “comissões de recomendação” que atingiram o total de 190 mil renminbis.

O CCAC diz ter descoberto que “o chefe de departamento envolvido no caso era responsável pelo recrutamento do pessoal, entre outros assuntos”, e que, desde o ano passado procurava, juntamente com a namorada, com quem vivia, e outro intermediário, “residentes do Interior da China interessados em vir trabalhar para Macau, atraindo-os com a ideia de ‘não ser necessária nenhuma entrevista’ ou com o ‘ingresso directo’, cobrando a cada um deles uma ‘comissão de recomendação’ de 15 mil a 25 mil renminbis”. Desta forma, o homem conseguiu “ajudar pelo menos nove residentes do Interior da China no referido ingresso com sucesso”.

Sem qualificação

A mesma nota dá conta de que as pessoas recrutadas para Macau não tinham qualificações e ainda assim dispuseram de acesso directo à empresa, uma vez que foram contratadas “sem necessidade de participar em entrevistas”.

“Alguns deles não reuniam sequer os requisitos mínimos de habilitações académicas ou eram analfabetos, o que violou manifestamente os requisitos e as regras de ingresso definidos pela referida empresa”, aponta o CCAC.

No processo de investigação o CCAC diz ter notado interferências para “encobrir o facto de terem sido recebidas ‘comissões de recomendação'” através da “destruição de provas”. Tal levou “os restantes trabalhadores envolvidos a encobrirem a respectiva situação”.

Desta forma, o chefe de departamento da empresa, a namorada e o intermediário são suspeitos da prática do crime de corrupção passiva no sector privado. Além disso, os restantes nove residentes do Interior da China que foram contratados são suspeitos da prática do crime de corrupção activa no sector privado. O caso foi encaminhado para o Ministério Público para posterior investigação.

Na mesma nota, o CCAC destaca que “este é o segundo caso de corrupção no sector privado recentemente descoberto, pelo que se apela mais uma vez à sociedade para ser íntegra e cumprir a lei”.

2 Jul 2024

Violência doméstica | Homem detido por bater na esposa

Um residente foi detido por bater na mulher que, alegadamente, o traiu, forçando-a a pedir desculpa. Segundo o jornal Ou Mun, foi a própria vítima que denunciou o caso de agressão, ocorrido em Junho. Numa noite, ao voltar para casa depois de ter estado numa festa, o homem acusou a mulher de ter um amante, dando-lhe socos e pontapés e tirado-lhe a roupa.

Posteriormente, o homem exigiu que a mulher se colocasse de joelhos diante dele, confessasse a traição e pedisse desculpa. O homem amarrou depois a esposa com um cabo de telefone fixo e tapou-lhe a boca com um pano, agarrando-a a fim de fazer com que esta batesse com a cabeça num banco de madeira. Todos estes actos de violência terão sido filmados.

A Polícia Judiciária (PJ) recebeu a denúncia através do Corpo de Polícia de Segurança Pública. Foi aí que as autoridades descobriram que, desde 2022, o homem atacava muitas vezes a mulher devido a questões familiares. A mulher chegou a chamar a polícia no ano passado, mas desistiu da queixa. Novas agressões ocorreram mais recentemente, mas a mulher nunca apresentou queixa por querer manter o casamento e a relação familiar.

O caso foi agora encaminhado para o Ministério Público, sendo o homem suspeito da prática de gravações ilícitas e do crime de violência doméstica. A fim de proteger a vítima e demais pessoas envolvidas no caso, a PJ não divulgou dados sobre a identidade do suspeito.

2 Jul 2024

Código Registo Civil | Alterações em vigor desde segunda-feira

Entraram esta segunda-feira em vigor as alterações ao Código do Registo Civil que se encontra implementado em Macau desde 1 de Novembro de 1999, cerca de um mês antes da transição. Assim, uma nova lei que altera o referido código visou “concretizar a simplificação, optimização e electronização do processo de registo”, descreve uma nota do gabinete do secretário para a Administração e Justiça, André Cheong.

Desta forma, “irá reforçar-se a colaboração e a interligação de dados entre a Conservatória do Registo Civil e os hospitais e serviços públicos”, além de se “simplificar o processo de pedido e redução do número de documentos necessários a apresentar”. Assim sendo, promove-se “a electronização dos procedimentos e serviços de registo”, a fim de “facilitar a vida da população e elevar a eficiência administrativa”.

Uma das alterações prende-se com a concessão de “competência funcional aos notários privados para a celebração do casamento” fora da Conservatória do Registo Civil, tratando-se depois o registo do casamento neste local.

Foi ainda cancelado o boletim de nascimento, conhecido como “cartão branco” e o boletim de óbito, “sendo gratuita para o requerente a primeira emissão da certidão pela Conservatória do Registo Civil.

Foi também criada a “interligação de dados com os hospitais locais, pelo que os residentes não necessitam de se deslocarem à referida Conservatória para tratamento do registo de óbito”.

Na mesma nota, é referido que serão lançados, em breve, os “Serviços Integrados de Casamento” e “Serviços Integrados de Nascimento” disponibilizados na plataforma da “Conta Única de Macau”. Pretende-se, com esta medida, digitalizar por completo o registo de nascimento e pedido de casamento.

2 Jul 2024

Desigualdade económica | Dados publicados no terceiro trimestre

A Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) vai publicar, no terceiro trimestre deste ano, os dados relativos ao coeficiente de Gini, relativo aos dados de desigualdade económica. A garantia foi dada pela subdirectora da DSF, Chong Seng Sam, em resposta a uma interpelação escrita do deputado Leong Hong Sai. Também no terceiro trimestre, serão divulgados outros dados estatísticos.

A responsável da DSF lembrou que, nos últimos anos, o Governo tem lançado diversas medidas para reforçar os apoios financeiros a grupos sociais mais vulneráveis, incluindo a criação do salário mínimo e respectivo aumento do montante, a concessão de subsídios para idosos ou para pessoas com dificuldades financeiras.

Na sua interpelação, Leong Hong Sai lembrou que “para se conhecer verdadeiramente a situação económica da população é necessário recorrer ao coeficiente de Gini, altamente representativo”. “Porém, as autoridades continuam sem divulgar os índices mais recentes, tratando-se de um indicador chave para os diversos sectores sociais avaliarem e examinarem, de forma objectiva, a eficácia das políticas adoptadas pelo Governo no combate à pobreza”, acrescentou.

2 Jul 2024

Óbito | Fausto Bordalo Dias morreu ontem aos 75 anos

Morreu, na madrugada desta segunda-feira, o músico português Fausto Bordalo Dias, um dos nomes maiores da música tradicional portuguesa e autor de um dos álbuns mais aclamados, “Por Este Rio Acima”, editado no início dos anos 80.

A confirmação da morte foi feita à agência Lusa pelo seu agente artístico. “Fausto Bordalo Dias morreu esta noite, em sua casa, vítima de doença prolongada”, disse o representante da agência Ao Sul do Mundo.

O falecimento deste vulto da música portuguesa levou o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, a emitir uma nota de condolências à família do falecido. “Fausto pertencia a uma constelação de músicos que traduziu para as canções de intervenção o sentimento do povo português, e é por isso inevitável associar o nome de Fausto aos nomes maiores da música portuguesa, como José Afonso, José Mário Branco ou Sérgio Godinho”, pode ler-se na nota publicada na manhã de ontem.

Desde 2011 que Fausto não lançava um novo trabalho, sendo que o último disco se intitula “Em busca de montanhas azuis”. O compositor, cantor e músico fechava, assim, a trilogia musical das “Descobertas”, iniciada em 1982 com a edição do álbum “Por este rio acima”, de onde saíram sucessos como “Lembra-me um sonho lindo” ou “Navegar, navegar”. Em 1994, ainda no seguimento do mesmo projecto musical, foi lançado “Crónicas da Terra Ardente”.

Músico de intervenção

O músico nasceu em 1948 a bordo do navio Pátria que fazia a viagem entre Portugal e Angola. Conhecido ao longo da sua carreira pela música de intervenção que fez em oposição à ditadura do Estado Novo, que vigorou em Portugal entre 1933 e 1974, Fausto Bordalo Dias esteve envolvido na criação do Grupo de Acção Cultural — Vozes na Luta (GAC), colectivo fundado com outros nomes da música tradicional portuguesa, como José Mário Branco, Afonso Dias e Tino Flores.

“Por este rio acima” foi escolhido pela revista Blitz, em 2009, como um dos 25 melhores álbuns da música portuguesa dos últimos 40 anos, figurando ao lado de outros trabalhos discográficos editados na década de 80, como “Ar de Rock”, de Rui Veloso; “Heróis do Mar”, álbum homónimo do grupo; “Os Dias de Madredeus”, de Madredeus; e “Independança”, dos GNR.

2 Jul 2024

Nancy Vieira, cantora cabo-verdiana: “As mornas não me fazem chorar”

Acaba de lançar um novo disco depois de um interregno desde 2018. “Gente” é o espelho de todos os músicos e compositores que têm trabalhado com Nancy Vieira, cantora cabo-verdiana que tem feito carreira em Portugal. O HM falou com a artista à margem do “Alentejo à Sombra – World Heritage Festival”, na vila de Cabrela, onde não foi esquecida a influência de Cesária Évora e o poder da morna em quem a ouve e dança

 

Tem um novo álbum, que acaba de ser lançado, “Gente”. Fale-me deste novo trabalho.

O nome diz tudo. “Gente, gente”. É a primeira vez que me aventuro na produção musical, mas não estive sozinha. Diria que a produtora principal é a Amélia Muge, o companheiro de vida e de música da Amélia Muge, José Martins, e eu. Chamei a minha “gente” destes anos todos, de quase 30 anos de vida de música para me ajudarem nos arranjos. Tive muito cuidado na escolha do repertório, não sou autora e tenho pouca coisa minha. Sou intérprete de vários autores cabo-verdianos e não só, no caso deste disco. As músicas chegaram em maquetes, com voz e guitarra, muito simples, mas já muito bonitas. Vinham já quase com uma vida própria e beleza. Este disco tem música tradicional de Cabo Verde, tem morna, tem coladeira, mas traz música da Guiné-Bissau.

País, aliás, onde nasceu.

Muitas pessoas não sabem, mas sou uma cabo-verdiana que nasceu na Guiné-Bissau. Essa é outra guerra minha porque não conheço bem a Guiné, nunca vivi lá, e a minha ligação com o país faz-se muito através da cultura e da música em particular. Por parte também de músicos e colegas que conheci já aqui em Portugal. Já tenho mais vivência de Portugal do que de Cabo Verde. Vim para Portugal com 14 anos. Não podia ficar de fora [do disco] a minha vivência com músicos portugueses que conheci aqui. Faço música com cabo-verdianos, e a base daquilo que faço é a música tradicional de Cabo Verde, mas fui recebendo, desde o primeiro momento, convites de músicos portugueses [para cantar], tal como Rui Veloso, a Ala dos Namorados, João Gil e o Júlio Pereira. Para este disco convidei alguns portugueses, como o António Zambujo que canta comigo o “Fado Crioulo”. “Rosa Sábi”, uma música deste novo trabalho, era, aliás, música tradicional portuguesa, mas demos um toque e aproximou-se do “sambinha” cabo-verdiano, a coladeira sambada.

Portanto, cabe mesmo toda a sua gente neste trabalho.

Cabe todos os que me têm acompanhado, que gostam de mim. Há a identidade da música de Cabo Verde, mas depois não há fronteiras. Aqui neste disco não tem mesmo: parte de Cabo Verde e viaja, vem de outros lugares até Cabo Verde. As nossas fronteiras são o mar.

É uma ode à lusofonia?

Também, mas sem pensar muito nisso. Tenho um músico peruano, por exemplo, o Jorge Cervantes, que produziu um disco meu de 2007. É um hispânico, e está comigo na estrada, agora, toca baixo e Charango. Tenho também o músico Olmo Marín, basco, espanhol, que toca comigo desde 2017. Há a lusofonia, mas há mais. Angola também aparece, pois tenho um dueto com Paulo Flores. “Fogo Fogo”, é um tema em que faço dueto com um grupo português que faz Funaná.

Porque é que não compõe mais?

Desde pequena que faço canções e duetos com os meus ídolos. Habituei-me a cantar grandes canções e poemas, grandes poetas cabo-verdianos, e não só. Sou muito exigente e tenho a certeza que não tenho esse dom. Canto (risos). Acho que fiz duas canções, com letra e música, tenho uma canção em co-autoria com a querida Sara Tavares. Foi feita em jeito de brincadeira, na minha casa.

Cesária Évora está ainda muito presente. Há quem diga que segue o seu legado, que é a nova Cesária. O que sente quanto a isso?

Não há ninguém parecido com a Cesária na sua interpretação e forma de estar. Isso não existe. A Cesária inspira-nos a muitos e muitas, e não me importo muito com a comparação, pois acho que quando o fazem é no sentido bom, é quase um elogio, mas não há ninguém como ela e não é intenção minha ser como a Cesária.

Quer ter a sua própria voz.

Cada um de nós tem a sua própria voz. A Cesária é única, cada um de nós, no nosso percurso, únicos. Mas é, sem dúvida, uma das grandes inspirações. É um orgulho ver nas minhas viagens e concertos em lugares longínquos a forma como ela deixou a imagem de Cabo Verde nas pessoas. Isso orgulha-me muito e comove-me, além de aumentar a minha responsabilidade. Eu, e muitos outros, continuamos esse legado.

Não gravava um novo disco desde 2018. Porquê?

Foi tudo muito natural. Houve alguma promoção e concertos com esse disco [Manhã Florida]. Os discos também têm um tempo de vida e de palco. Fiz muitos concertos, mas depois chegou a pandemia, que estragou tudo. Não foi nenhuma coisa pensada, e depois este disco [Gente], chegou a seu tempo.

Todos os discos têm o seu tempo para chegar.

Têm o seu tempo próprio. Tenho alguns anos de carreira e em 2025 conto com 30 anos desde o lançamento do meu primeiro disco, mas tenho poucos discos. Nunca senti necessidade nem pressa de gravar. Fui tendo a sorte de ter concertos, de cantar muito cada disco, cada repertório. Mas há muitos artistas que sentem que têm de fazer pausas, e posso vir a sentir isso. Mas agora tenho este rebento. Um disco é como um filho, e estou muito babada.

O que é que estes 30 anos lhe trouxeram?

Ensinaram-me muita coisa, sobretudo uma coisa importante: a magia da música de Cabo Verde. Como toca às pessoas, chega a elas, e ensinou-me também que é bom trabalhar em grupo. Tem tudo a ver, lá está, com este trabalho, “Gente”, em homenagem às pessoas que me ajudam. Continuo a aprender e vou continuar sempre.

O batuco é também tradicional de Cabo Verde, da ilha de Santiago. Tem estado mais nos palcos, é algo também positivo?

Claro que sim. Quantos mais géneros se popularizarem, melhor. A morna é a mais conhecida, mais transversal a todas as ilhas. O batuco é específico de Santiago.

Quais as grandes mensagens associadas ao batuco?

Inicialmente eram cânticos de trabalhos da terra, feitos por mulheres.

Então acaba por ter uma conotação colonial.

Sem dúvida. Houve alturas em que o batuco, sobretudo a dança, o “torno”, eram proibidos. É uma dança com alguma sensualidade, porque mexe muito com a parte do corpo feminino, e que foi proibido durante muito tempo. O funaná da ilha de Santiago também foi proibido e hoje é popular. Há muitos géneros de Cabo Verde que vão sendo divulgados. Há géneros específicos da ilha do Fogo, como o “Bandeira”, que não são muito conhecidos em Portugal, porque a morna e as batucadeiras foram avassaladoras.

O que é que a morna tem que faz deste estilo musical tão especial?

Diria que é muito difícil responder por palavras. Vou usar palavras do João Monge. Ele diz que é letrista, eu digo que é poeta. O João diz que a morna e estes géneros de Cabo Verde têm uma melancolia feliz. Algo que parece contraditório, mas que percebo perfeitamente. A mim as mornas não me fazem chorar, por mais tristes que sejam as letras. A nossa música é riquíssima em variedade de géneros, com as diferentes ilhas, mas a morna é transversal, e não toca apenas cabo-verdianos.

A classificação da morna como património pela UNESCO foi tardia?

Foi bem-vinda. Não penso na questão tempo, e tenho muito orgulho em ter estado em Bogotá, na Colômbia, nessa reunião, em Dezembro de 2019, onde a morna entrou para a lista dos patrimónios culturais imateriais da humanidade. Cantei uma hora e meia, muito nervosa, porque não estava no meu ambiente. Não era um ambiente de palco e espectáculo, era um ambiente de reuniões. Tínhamos espaço para um violão e um microfone para cantarmos morna e meia (risos).

Sentia a responsabilidade de estar a representar o seu país.

Estava. Nesse dia estávamos todos nervosos e eufóricos. Foi um dia muito feliz. A nomeação chegou em boa hora e posso dizer que essa candidatura foi muito inspirada pela candidatura do fado e pela equipa que a preparou, que deu um grande apoio.

O fado, que é também uma música melancólica, mas triste, ao contrário da morna.

Talvez triste, mas são músicas parentes, irmãs.

2 Jul 2024

Metro ligeiro | DSOP diz que adjudicações estão “num nível razoável”

A Direcção dos Serviços de Obras Públicas (DSOP) assegurou ao deputado José Pereira Coutinho que “numa análise geral, os preços de adjudicação em relação a todos os itens dos trabalhos da obra da Linha Leste estão, neste momento, num nível razoável”, afastando cenários de gastos ou derrapagens excessivas.

Em resposta à interpelação escrita do deputado, a DSOP explica que “toda a Linha Leste do Metro Ligeiro é composta por estações subterrâneas e túnel escavado pela tuneladora, sendo todas estas obras executadas no subsolo e debaixo do mar, pelo que, comparando com o método de execução da obra para a estação elevada, estas obras são mais difíceis e é necessário de dispor de muitos equipamentos complexos”.

Além disso, são também referidos “os preços dos materiais e o salário dos trabalhadores da construção em Macau” que “são mais elevados do que os das regiões indicadas na interpelação”.

A DSOP assegura que todos os montantes envolvidos nos trabalhos de construção da Linha Leste do metro foram “sujeitos a avaliação” e que, na hora de definir orçamentos, importam “condições de construção que variam de região para região”.

“Devido ao impacto causado pelo valor da moeda, inflação, entre outros factores, os dados de outras regiões só podem servir como referência, não estando reunidas condições para uma comparação directa” com as regiões referidas por Coutinho nas questões colocadas ao Governo.

2 Jul 2024