Hong Kong | Festival das Artes traz teatro, ópera e dança já em Fevereiro

Já é conhecido o cartaz da 53.ª edição do Festival de Artes de Hong Kong, que traz um programa repleto de ballet, dança, música e teatro que promete agradar a todos, sem esquecer uma vertente educativa. Entre os dias 19 de Fevereiro e 30 de Março apresentam-se vários espectáculos de um grupo de ópera de Xangai ou uma tragédia grega

 

Teatro, dança, ópera chinesa. São várias as artes que podem ser vistas na 53.ª edição do Festival de Artes de Hong Kong, que decorre entre os dias 19 de Fevereiro e 30 de Março em diversas salas de espectáculo da região vizinha.

Um dos destaques é a série de vários espectáculos protagonizados pelo grupo Shanghai Yue Opera House, que acontecem entre os dias 27 de Fevereiro e 1 de Março no Grande Teatro do Centro Cultural de Hong Kong.

O Shanghai Yue Opera House é descrito como “um dos mais importantes grupos de artes performativas da China”, celebrando este ano 70 anos de existência. Este grupo dedica-se à ópera Yue, um dos cinco géneros principais da ópera chinesa, inspirando-se em outros formatos de ópera chinesa, como a de Pequim, a ópera Kun e ópera Shao. A ópera Yue é oriunda de Zhejiang, e no caso específico deste grupo de Xangai, a sua estreia em Hong Kong fez-se em 1960.

Assim, o cartaz do 53.º Festival apresenta quatro programas, “a moderna ópera Yue Family, adaptada de um romance de renome; o adorado clássico The Jade Hairpin; uma das produções mais icónicas da trupe; The Butterfly Lovers (versão Yuan e Fan); bem como uma selecção magistral de excertos”, descreve-se na apresentação oficial do programa.

Já os amantes de ballet, podem assistir ao espectáculo do Ballet Nacional da República Checa, “La Sylphide”, que se apresenta entre os dias 6 e 8 de Março, também no Grande Teatro do Centro Cultural de Hong Kong. Esta é a oportunidade para o público se deixar “enfeitiçar por uma história de conto de fadas”, protagonizada por “uma heroína mágica, um belo herói de kilt e uma bruxa malvada”.

“La Sylphide” é um bailado bastante antigo, foi criado para o Royal Danish Ballet por August Bournonville em 1836, tendo sido “cuidadosamente preservado desde então”. Este espectáculo proporciona a oportunidade para recordar “o ballet romântico do início do século XIX”, tendo a Escócia como cenário e em que os bailarinos usam os tradicionais kilts escoceses. Segundo o cartaz, “a requintada dança de Bournonville irá cativar os amantes do ballet, enquanto as personagens animadas e a história de conto de fadas fazem deste um programa ideal para toda a família”.

Dançar com RV

No dia 29 de Março o Festival apresenta um espectáculo de música clássica com a China National Centre for the Performing Arts Orchestra, em que os músicos liderados pelo maestro Lu Jia vão interpretar composições de Franz Liszt e Richard Wagner.

Esta edição do Festival de Artes de Hong Kong traz também um espectáculo de dança interactiva com recurso à realidade virtual, intitulado “Le Bal de Paris”, de Blanca Li. Apresentado no Studio Theatre do Centro Cultural de Hong Kong, no dia 27 de Fevereiro e entre os dias 4 e 9 de Maio, proporciona ao público uma experiência de 40 minutos em que se mistura dança e realidade virtual, num projecto da coreógrafa espanhola e cineasta Bianca Li. É como se fosse um grande baile em Paris em que cada participante tem o seu próprio avatar, estando o espectáculo programado para dez espectadores e dois bailarinos profissionais em palco.

Da Grécia chega, nos dias 1 e 3 de Março, uma peça que remete para a mitologia grega, com a tragédia “Hippolytus”, do National Theatre of Greece, e que se baseia num clássico de Eurípides. Nesta peça, Hipólito, filho ilegítimo de Teseu e defensor declarado da castidade, ofende a deusa do amor, Afrodite, ao recusar a paixão carnal que ela tanto lhe pede. Assim, para o castigar, a deusa vingativa faz com que a sua madrasta se apaixone por ele, marcando o início da sua queda.

“Hippolytus” é uma produção de 2023 dirigida pela distinta encenadora e directora artística do Festival de Epidauro de Atenas, Katerina Evangelatos, tendo no elenco o total de 20 actores, mais um coro e um grupo de músicos. Esta peça apresenta-se no Lyric Theatre na Hong Kong Academy for Performing Arts.

Citada por um comunicado, Flora Yu, directora-executiva do Festival de Artes de Hong Kong, disse que esta edição “apresenta uma vasta gama de programas excepcionais destinados a inspirar e encantar o público, prometendo experiências inesquecíveis aos festivaleiros de todas as idades e origens”. A responsável destacou as apresentações com “mestres de renome de Hong Kong e de todo o mundo”, e “uma série de obras-primas inspiradas na literatura clássica da China e do mundo ocidental”.

Haverá ainda actividades no programa PLUS, com uma vertente mais pedagógica e educacional, que inclui “um extenso programa de divulgação e educação destinado a introduzir artes performativas de qualidade à próxima geração”, referiu Flora Yu. Os bilhetes começaram a ser vendidos em Dezembro, sendo que mais de 50 por cento foram vendidos no período de pré-venda.

10 Jan 2025

Política | Macau retrocede em termos de representação feminina

As deputadas lutam mais por temas relacionados com mulheres do que os seus colegas. A representação feminina na política local, nomeadamente no hemiciclo, continua “abaixo das médias globais e asiáticas”. Esta é uma das conclusões da dissertação de mestrado de Chan Wong Kuan “Participação política das mulheres em Macau: Do ponto de vista de género e de políticas públicas”

 

Macau está ainda aquém em termos de igualdade de géneros na política. Esta é a principal conclusão da dissertação de mestrado de Chan Wong Kuan defendida em Novembro de 2023 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, no ramo da Sociologia, e intitulada “Participação política das mulheres em Macau: Do ponto de vista de género e de políticas públicas”.

Da análise da académica retira-se a ideia de que em Macau prevalece “uma representação feminina abaixo das médias globais e asiáticas” e, para esta conclusão, foram analisadas 95 interpelações escritas dos deputados na Assembleia Legislativa (AL) “relacionadas com os interesses das mulheres” entre os anos de 1999 e 2022, entre a primeira à sétima legislatura.

Assim, “os resultados revelam que o número de deputadas permanece consistentemente num patamar relativamente baixo, mantendo-se em cinco desde 1999 até ao presente”. Segundo a autora do estudo, “embora se tenham registado flutuações ao longo desse período, com um máximo de sete e um mínimo de quatro deputadas, em termos gerais a evolução no número de deputadas tem sido muito limitada”.

Salienta-se também que, com o aumento do número de assentos de deputados na AL (33), “a proporção de deputadas em relação ao total tem diminuído”, pelo que “em Macau, as mulheres que constituem metade da população não alcançam um ‘reflexo exacto’ no órgão legislativo”.

Constata-se ainda que tem existido uma diminuição, nos últimos anos, da presença feminina no hemiciclo, ao contrário do que se verifica a nível regional e até mundial. “Constatámos que o número de mulheres em órgãos legislativos em muitas regiões está a aumentar, enquanto Macau está a experienciar uma tendência oposta. No caso da AL, o número de lugares ocupados por deputadas não é optimista. Em 1999, com 23 lugares, apenas 5 eram ocupados por mulheres, e quando o número de lugares aumentou para 33 lugares, em 2023, as mulheres continuaram a ocupar apenas 5 lugares.”

“Este número pessimista lembra-nos a baixa percentagem de representação descritiva das mulheres no órgão legislativo de Macau, com os homens a ocupar consistentemente o papel predominante neste espaço político”, pode ler-se.

Saúde e violência

No que diz respeito às interpelações analisadas, abordam “temas como violência doméstica, crimes sexuais, saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”, sendo que, “em termos quantitativos, as deputadas adoptam uma posição mais activa em relação a estas questões quando comparadas com os seus colegas do sexo masculino”.

Das 95 interpelações, 61 foram apresentadas por deputadas e as restantes por deputados, o que mostram que são elas que “tomam mais acção para as mulheres”. É referido também na dissertação que “nas discussões de políticas, as deputadas abordam estas questões com uma perspectiva de género, destacando as situações específicas enfrentadas pelas mulheres em vários contextos”.

É, assim, “mais provável que demonstrem a vida, as perspectivas e as necessidades das mulheres de uma forma específica e multidimensional”. Desta forma, a autora do trabalho académico entende que “são as deputadas que melhor representam os interesses das mulheres”.

Em termos do volume de interpelações escritas com questões colocadas ao Governo, a autora conclui que “os deputados masculinos e as deputadas femininas empreendem acções para promover os interesses das mulheres”, mas persistem “nuances relevantes que apoiam a conclusão de que são as deputadas quem melhor representa os interesses das mulheres”.

A maioria dos temas das interpelações sobre “questões femininas” incidem sobre “maternidade, violência doméstica, crimes sexuais, saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”. Destes, “os três primeiros temas representam aproximadamente quatro quintos de todas as interpelações”.

Para a autora, “esse foco reflete a preocupação dos deputados em garantir a protecção dos direitos das gestantes e das mães, bem como a prevenção e o combate à violência e aos crimes sexuais”. O facto de os deputados colocarem estas questões “reflecte uma relativa negligência em relação às questões de saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”. Desta forma, verifica-se um “desequilíbrio na atenção dada a diferentes aspectos das questões das mulheres”, algo que se pode relacionar “com estereótipos de género comuns na sociedade”.

Falta de perspectiva

O estudo analisa também a forma como os temas relacionados com a vida das mulheres são tratados consoante o género dos deputados. Assim, refere-se que “o único campo que não apresenta diferenças significativas é o da violência doméstica”, pois “os deputados e deputadas concentram as suas interpelações em medidas práticas para mitigar os danos causados às vítimas de violência doméstica e contribuem para a formulação de leis para combater e prevenir a violência doméstica”.

Porém, “no que diz respeito aos demais temas, as interpelações das deputadas revelam maior diversidade, abordando questões a partir de diversas perspectivas e enfatizando as necessidades e desafios das mulheres em contextos pertinentes”.

Um dos exemplos apontados diz respeito às interpelações sobre crimes sexuais, onde “as deputadas salientam a situação das mulheres enquanto vítimas, destacam a existência oculta do assédio sexual e do assédio verbal no local de trabalho, assim como com a ausência de respeito pelas mulheres no discurso das redes sociais em resposta a casos de assédio sexual em espaços públicos”.

As diferentes visões dos deputados consoante o género verificam-se no tema da relação da mulher com a maternidade e o mercado de trabalho. Neste caso, “os deputados sublinham a relação entre as mulheres e a reprodução, com foco na maternidade das mulheres”, enquanto “as deputadas destacam as pressões enfrentadas por grávidas no equilíbrio do trabalho e parentalidade, juntamente com as possíveis injustiças no ambiente de trabalho que podem surgir durante esse processo”. As deputadas são ainda “as únicas a demonstrar preocupação com os serviços médicos e a saúde das grávidas”.

Mulheres como vítimas

Outro tema que a autora procurou analisar foi a forma como as mulheres de Macau são representadas tendo em conta as questões colocadas pelos deputados nas interpelações escritas. Assim, “devido ao destaque conferido aos temas mais discutidos, como maternidade, violência doméstica e crimes sexuais, torna-se evidente que nas discussões de políticas na AL as mulheres são predominantemente associadas à identidade de mães e ao papel de grupos vulneráveis, tais como vítimas de violência doméstica e de crimes sexuais”.

Neste contexto, “as mulheres são frequentemente retratadas como vítimas, que precisam de auxílio, geradoras da reprodução humana e mães trabalhadoras que necessitam de equilibrar a vida familiar e profissional”.

Chan Wong Kuan diz ter encontrado apenas um exemplo de uma interpelação que encara as mulheres de outra perspectiva, “como tomadoras de decisões, desvinculadas de papéis maternos e laços familiares, representando-as como promotoras do desenvolvimento harmonioso e estável da sociedade”. A interpelação assinada por Iong Weng Ian, a 30 de Dezembro de 2005.

Desta forma, a académica entende que “as mulheres são predominantemente retratadas como figuras associadas à maternidade e vulnerabilidade, com poucas representações de outras possibilidades”.

“A diversidade das mulheres está negligenciada, uma vez que as declarações dos deputados enfatizam a vulnerabilidade e as necessidades das mulheres em contextos específicos, ao mesmo tempo que negligenciam a multiplicidade de papéis que as mulheres podem desempenhar. As mulheres não se limitam a ser apenas vítimas ou mães; elas também podem actuar como profissionais, líderes, participantes da comunidade, entre outros”, é referido.

Assim, a dissertação diz mesmo que os deputados, ao “ignorar essa diversidade” podem contribuir para a “simplificação e perpetuação de estereótipos em relação ao papel das mulheres, o que pode afectar a atenção aos seus direitos integrais”.

Destaque ainda para o facto de, em 95 interpelações, a autora ter encontrado apenas uma apresentada por um deputado cuja temática versava sobre a promoção da igualdade de género.

Já a deputada Wong Kit Cheng é referida como o exemplo a seguir, pois não só foi “a deputada mais activa” como apresentou interpelações sobre todos os temas acima descritos relacionados com as mulheres. Assim, é destacado “o papel crucial desempenhado pela deputada Wong Kit Cheng como uma protagonista fundamental na promoção dos interesses das mulheres”.

10 Jan 2025

Livro | Obra de Telma Carvalho explora exemplos de chinês vernacular na literatura

“A Revista Nova Juventude e os Experimentalistas da Literatura Moderna Chinesa” é o mais recente livro editado pelo Centro Científico e Cultural de Macau e a Universidade de Macau da autoria de Telma Carvalho. Nele a autora procurou analisar e traduzir escritos de autores chineses que começaram a usar o chinês vernacular na literatura, publicados na revista Nova Juventude

 

Foi editado, em Dezembro último, o livro “A Revista Nova Juventude e os Experimentalistas da Literatura Moderna Chinesa”, da autoria de Telma Carvalho, licenciada e mestre em Tradução e Interpretação Português-Chinês e Chinês-Português, sendo esta obra resultado do relatório de projecto para a conclusão do mestrado.

O livro, editado pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) em parceria com a Universidade de Macau (UM), procura analisar alguns exemplos de chinês vernacular que começaram a ser usados por autores chineses no princípio do século XX, e que pertenceram ao chamado movimento “Nova Cultura”. Depois da queda do regime imperial, com a revolução Republicana de 1911, começou a pensar-se numa forma mais simplificada de usar o idioma, baseado na linguagem falada, ao invés do chinês clássico e literário usado até então.

Desta forma, este livro procura caracterizar “as primeiras experiências literárias em chinês vernacular que integraram a revista Nova Juventude”, que foi “uma publicação central no debate cultural durante o movimento Nova Cultura”.

“Tendo como ponto de partida as criações literárias que surgem como resposta aos primeiros apelos do movimento”, a autora olhou “para os contextos dos autores e elementos que contribuíram para a construção de uma nova literatura no país”.

Além disso, a obra inclui, segundo uma nota oficial, “a análise a algumas mudanças linguísticas manifestas nos textos publicados neste período de revolução linguística e que persistem no chinês de hoje”.

No início do século XX, sobretudo com o início do regime republicano, a China “testemunhou profundas transformações políticas e sociais”, sendo a mais marcante no domínio da língua. “Após décadas de crescente contestação ao uso predominante de chinês clássico na escrita, viveu-se na era republicana uma mudança de paradigma, resultante de insistentes apelos a uma generalização do chinês vernacular”, é explicado.

Porém, o chamado movimento Nova Cultura não se debruçou apenas sobre o uso da língua, tendo também feito “uma profunda reflexão sobre vários aspectos da cultura e da sociedade”, pelo que se defendeu “a criação de uma nova literatura a partir de uma livre experimentação literária em chinês vernacular”. Desta forma, “a chamada revolução literária em 1917 marcaria o início da literatura moderna chinesa”.

Lu Xun e companhia

O relatório de projecto, defendido na Universidade de Lisboa para a obtenção do mestrado na área da tradução e interpretação, contém análises e traduções aos escritos de Hu Shi, nomeadamente quanto às suas sugestões para uma reforma da literatura; Chen Duxiu e a sua “chamada para a revolução literária”; Chen Hengzhe, Lu Xun, Zhou Zuoren e Liu Bannong.

Conforme explica a autora no referido projecto que dá origem ao livro, “todos os grandes nomes da literatura moderna chinesa haviam presenciado, directa ou indirectamente, um momento marcante na língua e literatura do país”, que foi o Movimento Quatro de Maio.

Desta forma, “a afirmação do chinês vernacular na literatura e na sociedade chinesas, no início do século passado, tinha aberto as portas para essas forças criativas”, destacando-se o papel que a revista Nova Juventude teve, ajudando “a moldar o chinês moderno”, tal como o fizeram outras publicações.

Telma Carvalho denota ainda que nas páginas desta revista “encontram-se alguns dos experimentalistas que, não constando nas listas de grandes nomes literários chineses, certamente contribuíram para os sucessos da literatura que se desvendariam mais tarde”.

Relativamente às mudanças ocorridas na China no início do século XX, Telma Carvalho descreve que “a amálgama de acontecimentos culturais dificultou a delimitação entre a reforma literária e outras restruturações sociais, mas possibilitou um pluralismo de ideias e uma abertura para o diálogo, o que se relaciona com as vidas dos autores e as suas experimentações literárias”.

Além do curso de tradução, que incluiu a frequência de alguns semestres em Macau e Pequim, Telma Carvalho viveu durante dez anos em diferentes regiões da China. Nesse período, foi professora universitária nas áreas de português e de tradução e aprofundou os seus conhecimentos sobre a cultura e sociedade chinesas. Em 2020, concluiu o mestrado, e no ano seguinte traduziu para português “O Problema dos Três Corpos”, de Liu Cixin.

9 Jan 2025

Fim de ano | Sugerido fogo-de-artifício na zona de Nam Van

Face à desilusão com a falta de fogo-de-artifício na península de Macau no fim de ano, António Monteiro sugere um espectáculo pirotécnico ou de drones com foco na paisagem urbana de Macau. O membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários lamenta que no réveillon a imagem de Macau no exterior seja a Torre Eiffel do Parisian

 

Macau poderia oferecer mais nas noites de fim de ano, nomeadamente um espectáculo de fogo-de-artifício ou de drones que ilumine a paisagem urbana da península, nomeadamente da zona de Nam Van, ao invés de remeter essa tarefa para as concessionárias de jogo. Este é o entendimento de António Monteiro, expresso ontem na reunião do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários.

O responsável realça a desilusão sentida por vários residentes e turistas que esperavam um espectáculo pirotécnico na zona do Nam Van na península de Macau na altura da passagem do ano. Aliás, o desapontamento colectivo correu as redes sociais com a partilha de vídeos de uma pequena multidão a aguardar, de telemóvel em riste, para filmar o fogo-de-artifício. O próprio Instituto Cultural, veio a publicar dar explicações e afirmar que esta não era uma tradição local.

Porém, António Monteiro questiona porque se fazem ao longo do ano “várias celebrações, com fogos de artifício, desde o concurso de fogo-de-artifício, o Ano Novo Chinês, celebrações festivas dos dias 1 de Outubro e do dia 20 de Dezembro, mas quando chega o fim do ano, tem-se mostrado alguma hesitação nos últimos anos no lado de Macau”. O conselheiro acrescenta que tal não acontecia antes da pandemia.

Copiar e colar

António Monteiro, também secretário-geral do Instituto Internacional de Macau, refere ainda que as festividades deste ano não favorecem a reputação do território a nível internacional. “A imagem de Macau no exterior é vista apenas com a Torre Eiffel do Parisian, ao invés da paisagem urbana de Macau ou da sua baía, quando comparamos com as celebrações de contagem do ano em Hong Kong, Dubai, Londres, e a verdadeira Torre Eiffel de Paris, na França”.

António Monteiro recorda também a posição de Macau enquanto Centro Mundial de Turismo e Lazer e de “Pérola da Pátria”, como referiu o Presidente Xi Jinping durante a sua última visita à RAEM, algo que não sobressai nas celebrações de fim de ano.

A beleza e singularidade da baía e marginal da península, a Torre de Macau e os edifícios distintos como o Grand Lisboa, Hotel Lisboa e outros hotéis, até chegar ao Centro Cultural de Macau e o Centro de Ciência e a Sands Macao, são paisagens que o responsável destaca como possíveis locais a abrilhantar com um fogo-de-artifício de fim de ano.

Como tal, António Monteiro sugere um “concurso pirotécnico ou de espectáculo de Drones, com foco na paisagem urbana de Macau e até de Hengqin, incluindo as celebrações habituais na Taipa e no Cotai”.

9 Jan 2025

Gastronomia | “Receita di Casa”, de Antonieta Manhão, lançado amanhã

Antonieta Manhão, figura incontornável da gastronomia macaense, lança amanhã um livro de receitas, estreando-se nas lides editoriais. “Receita di Casa – Homemade Macanese Cuisine” é uma obra trilingue feita para as bancadas da cozinha e para tornar mais prática uma gastronomia única

 

Chama-se “Receita di Casa – Homemade Macanese Cuisine” e, tal como o nome indica, é o livro que quer ensinar qualquer pessoa, com pouca ou muita experiência na cozinha, a fazer pratos macaenses. A obra, lançada amanhã com o apoio do Instituto Internacional de Macau (IIM), é a primeira incursão da chef Antonieta Manhão, a “Chef Neta”, nas lides editoriais na área da gastronomia.

A obra contém 19 receitas da casa da “Chef Neta”, nomeadamente o tradicional “Minchi”, talvez o mais conhecido de todos os pratos macaenses, o “Tacho”, a “Capela”, petiscos variados, como o pão recheado ou chamuças, e ainda o “Balichão Tamarindo”. Ao HM, Antonieta Manhão explicou que a escolha destas receitas recaiu no facto de serem as “mais conhecidas dentro e fora de Macau”, além de estarem bastante presentes nos cursos que ministra na Universidade de Turismo de Macau (UTM) aos alunos de cozinha e hotelaria.

Para a chef, “era necessário lançar mais um livro de comida macaense”, sendo que este lançamento foi adiado devido à pandemia. “Trata-se de uma obra para ser utilizada e para não ter apenas na estante, é mesmo um livro para ficar sujo e para que se veja como se faz a comida macaense, não é como outros livros de culinária que se colocam na estante e não são usados. Contém as informações que dou nas aulas e serve para as pessoas apreciarem verdadeiramente as receitas. Não são receitas fáceis, mas a preparação é razoável em termos de grau de dificuldade”, explicou.

A obra está à venda a partir de sábado. “Espero que as pessoas comprem o livro e possam aprender a comida macaense aos poucos. É uma obra para qualquer pessoa, coloco as horas de preparação e todas as instruções para se fazer a receita.”

No meio de tantos pratos, cheiros e paladares variados, uma receita sobressai como a preferida de Antonieta Manhão, que lhe foi transmitida por um tio, que já faleceu. O prato, que denominou como “Bacalhau à Zeca”, é um autêntico legado à mesa. “É uma receita de bacalhau ligeiramente diferente. Sempre que há festas em casa, como no Natal, faço este bacalhau.”

Apesar de estar há muito tempo ligada a tachos e panelas, e na promoção da comida macaense, a “Chef Neta” entrou tarde numa cozinha. “Na minha infância nunca entrei na cozinha, porque a minha avó não deixava, achava que era perigoso deixar entrar as crianças na cozinha. Quando cresci, após o falecimento de várias pessoas, sempre tive tias que queriam manter as receitas e recordar a preparação dessas comidas. Havia certos pratos que tinham de estar sempre na mesa, e no Natal sempre preparámos todos estes pratos.”

A autora estreante referiu ainda que outro dos motivos para editar o “Receitas di Casa” é o facto de “em Macau os pratos que estão no livro estarem a desaparecer aos poucos”. “Quero que as pessoas consigam manter as memórias antigas que têm destes pratos”, acrescentou.

Aulas para turistas

Tendo em conta o risco que existe do desaparecimento, ou diluição noutras gastronomias, da comida macaense, Antonieta Manhão lamenta que “há cada vez menos restaurantes em Macau onde se consegue comer comida verdadeiramente macaense, porque não há chefes ou macaenses que consigam dar aulas ou apoio na cozinha”.

“Temos pessoas com idade que não conseguem estar mais de 10 horas numa cozinha. Temos de ensinar os jovens para que aprendam mais sobre a gastronomia macaense, para que possam ser chefes deste tipo de cozinha”, disse.

Para evitar o total desaparecimento deste tipo de gastronomia, a chef sugere a criação de aulas culinárias para turistas. “Tanto o Governo como nós, chefes, temos de promover mais a nossa gastronomia fora de Macau, para que as pessoas saibam o que se come cá. São necessárias mais aulas para os turistas, como se faz na Tailândia. As pessoas gostam de aprender dessa forma. Também podemos dar formações nas escolas secundárias e ensino superior, para que os alunos saibam que Macau teve administração portuguesa e que a comunidade macaense tem este tipo de gastronomia. Nas promoções lá fora, deve-se levar mais a comida macaense para que as pessoas provem.”

No caso das aulas que dá na UTM, há cinco anos, Antonieta Manhão diz que “há muita procura” pela aprendizagem da comida macaense. “As minhas aulas de comida macaense estão sempre cheias, não tenho falta de alunos. Penso que os alunos querem muito aprender sobre a nossa comida macaense, por um único motivo. Antes os jovens comiam pratos uma ou duas vezes porque ainda tinham familiares que cozinhavam, e agora querem aprender por uma questão de memória, para se recordar desses momentos em família.”

“Iron Chef” foi uma “aventura”

Desde que participou no programa de culinária “Iron Chef”, na Tailândia, que a carreira de Antonieta Manhão deu um grande salto, dedicando-se não só a ensinar como se fazem pratos macaenses, mas também a promover este tipo de gastronomia no estrangeiro, muitas vezes com o apoio da Direcção dos Serviços de Turismo.

Uma das últimas iniciativas decorreu em Novembro do ano passado numa escola de hotelaria e turismo em Guangzhou, onde ensinou alguns pratos de comida macaense a 43 alunos.

Há cinco anos, a “Chef Neta” foi mesmo uma das convidadas do programa matinal da TVI, “Você na TV”, transmitido em Portugal, onde deu a conhecer ao público de Portugal as receitas de “Pão Recheado” e “Capela”, feitos com carne de porco.

“Há pessoas que conhecem Macau com ligação ao jogo, mas quase ninguém conhece a comida macaense e foi por isso que fui ao ‘Iron Chef’. Foi uma aventura, porque a gastronomia macaense nunca tinha estado neste tipo de competições. Fiz um prato de bacalhau, e muitos outros, mesmo para as pessoas ficarem a conhecer”, contou.

Antonieta Manhão, que está também ligada à Confraria da Gastronomia Macaense, participou no programa por convite, competindo com outro chef residente do concurso. Tendo em conta que cada chef tinha de introduzir um ingrediente secreto, a “Chef Neta” levou ostras, que juntou à receita de bacalhau.

Porém, hoje em dia, a chef diz ser difícil criar novos pratos macaenses, por haver o risco de se desviar daquilo que é verdadeiramente tradicional neste tipo de cozinha de fusão, onde a comida portuguesa casa com a chinesa e, muitas vezes, com iguarias do Sudeste Asiático. Muitas vezes os molhos e temperos são semelhantes, mas combinados de forma diferente. A chef explica que há ingredientes como o louro ou açafrão usados na comida portuguesa e macaense, por exemplo.

“É difícil modificar as receitas existentes e criar novas, pois assim deixa de ser a comida macaense. A única coisa que se pode fazer é adaptar e melhorar alguns pratos com novos ingredientes, usando carne de porco preto, por exemplo. Muitos desses ingredientes não se usavam antes porque não havia”, rematou.

9 Jan 2025

Venetian | Super Sound Festival traz várias estrelas a Macau

Uma dúzia de artistas de K-Pop vão pisar o palco do Venetian Arena no dia 18 de Janeiro. Irene, B.I., Youngjae, MAMAMOO+ ou Anson Lo e Keung To, integrantes da banda Mirror, de Hong Kong, são alguns dos nomes do Super Sound Festival. Os bilhetes já estão à venda

 

Já é conhecido o cartaz do próximo festival de K-Pop que irá decorrer em Macau, no dia 18 deste mês, na Venetian Arena: o Super Sound Festival traz 12 cantores de K-Pop e cantopop, com nomes bem conhecidos dos fãs destes géneros musicais, como a dupla Anson Lo e Keung To, integrantes da banda de Hong Kong Mirror. Seguem-se nomes como Kep1er, Xdinary Heroes, Cravity, B.I., Irene, MAMAMOO+, YoungJae, BTOB, Onew, TVXQ! e RAIN.

No caso de Irene, pseudónimo artístico de Bae Joo-hyun, trata-se de uma artista de 33 anos que explora também o universo da interpretação, sendo essencialmente conhecida por ter liderado o grupo pop Rede Velvet, além de ter integrado um outro grupo musical saído deste projecto, os Red Velvet – Irene & Seulgi. A sua estreia a solo no mundo da música é bastante recente, pois Irene lançou o álbum “Like a Flower” apenas a 26 de Novembro último.

Assim sendo, o público de Macau poderá apreciar as músicas que integram este trabalho, além de voltar a ver dois integrantes da famosa banda Mirror, de Hong Kong, um dos expoentes máximos do género cantopop na região vizinha.

Anson Lo, um dos artistas dos Mirror que sobe ao palco da Venetian Arena, é também actor e bailarino, tendo feito a sua estreia nos Mirror em 2018. Porém, dois anos depois, apostaria tudo numa carreira a solo, lançando o primeiro single “A Lifelong Mission”.

Oriundos de Seul, os TVXQ! é um duo masculino que anda nas lides do K-Pop desde 2003. O início do grupo deu-se com cinco elementos e com o lançamento dos singles “Hug” e “O Holy Night”. Mais tarde, devido a disputas judiciais, os membros Hero, Micky e Xiah saíram do grupo para formar o trio JYJ.

Em 2004, o grupo lançou o seu primeiro álbum, “Tri-Angle”, seguindo-se “Rising Sun”, logo em 2005, e depois “O-Jung.Ban.Hap”, em 2006. A banda lançou já um total de nove álbuns, sendo que o mais recente foi lançado em 2023, “20&2”.

Raparigas em palco

Do cartaz do Super Sound Festival destaca-se ainda a “girls band” MAMAMOO, composta por quatro cantoras de nome Solar, Moonbyul, Wheein e Hwasa. Já levam alguns anos de palco e de gravações, tendo feito a sua estreia a 18 de Junho de 2014, com o lançamento do álbum “Hello”. Em Macau, apenas dois elementos vão actuar, depois da banda ter sofrido alguns ajustes na sua composição, devido às saídas de Hwasa e Wheein.

Outro grupo que também sofreu ajustes, é o BTOB, formado em 2012 com seis cantores: Eunkwang, Minhyuk, Changsub, Hyunsik, Peniel e Sungjae, tendo Illhoon deixado o grupo em 2020. O single de estreia foi “Insane”, lançado logo em 2012.

Ainda da Coreia do Sul surge mais um nome integrante do Super Sound Festival: Youngjae, nome artístico de Choi Young-Jae, actua a solo na Venetian Arena, mas a sua carreira já foi feita ao lado da banda GOT7, onde foi o vocalista principal. Tal como acontece em inúmeros grupos do género, o vocalista acaba por sair do projecto para construir uma carreira a solo. “Colors from Ars” saiu em 2021, sendo que “Ars”, nome pelo qual também é reconhecido em termos artísticos, é mais utilizado para a sua faceta como compositor.

O festival começa às 16h30, prolongando-se até às 22h30. Os bilhetes já se encontram à venda, começando nas 880 patacas.

8 Jan 2025

História | Burlão passou-se por “príncipe de Macau” no século XVIII

Rodolphe Barack Famard passou por Macau no século XVIII. A visita inspirou-o a apresentar-se às autoridades francesas como Príncipe de Macau quando foi preso, em 1749, assinando como “Rodolfo, Deo Gratias Princeps ad Macao”. O historiador Ivo Carneiro de Sousa conta a história do burlão na Revista de Cultura

 

Macau, território administrado por Portugal desde meados do século XVI, teve um falso príncipe, negro, que se apresentou como sendo “Príncipe de Macau” aquando da sua prisão no porto de Morlaix, a 24 de Setembro de 1749. Porém, a tentativa de encarnar a falsa realeza acabou por ser desmascarada pelas autoridades francesas.

A história é contada pelo historiador Ivo Carneiro de Sousa, docente da Universidade Politécnica de Macau (UPM), na última edição da Revista de Cultura, editada pelo Instituto Cultural. O historiador vasculhou o que resta da documentação sobre esta detenção em França, revelando detalhes de um episódio que roça o caricatural na história de Macau.

O artigo, intitulado “Rodolfo, ‘Deo Gratias Princeps ad Macao’: A faked prince of Macao in 18th century France” conta como, em 1749, “um ‘negro soberbo’, bem vestido, falando e escrevendo francês com uma desenvoltura surpreendente, foi preso no porto de Morlaix, em Finisterra, habitualmente frequentado por corsários bretões”. Porém, o seu nome verdadeiro era Rodolphe Barack Famard, e não passava de um comum mortal, sem ligações à realeza, muito menos a uma família real de Macau que nunca existiu.

A prisão aconteceu depois da ocorrência “de uma briga numa taberna da cidade”, sendo que “Rodolfo” já era “procurado em vários portos da Bretanha por ter deixado muitas contas por pagar e distribuído notas de débito e de câmbio falsas”. Durante o interrogatório conduzido pelas autoridades, o homem “identificou-se surpreendentemente como o ‘Príncipe de Macau’ e o filho mais velho do seu rei, o ‘Grande Senhor de Macau’. Para espanto dos agentes, assinou com elegância as suas declarações como ‘Rodolfo, Deo Gratias Princeps ad Macao'”, pode ler-se.

Numa altura em que o comércio estrangeiro abundava em Macau, a história inventada por Rodolphe Barack Famard terá sido influenciada “pelas abundantes e provavelmente bizarras histórias orais que circulavam entre esses muitos marinheiros, comerciantes e aventureiros franceses que, partindo principalmente do porto de Lorient, chegaram ao fim de uma longa viagem para comerciar em Cantão, passando por Macau, sem nunca terem, afinal, posto os pés nas duas cidades”.

Segundo a análise de Ivo Carneiro de Sousa, estaria em causa a transmissão de “relatos vibrantes dos capitães e oficiais dos navios sobre as suas visitas a Macau, uma vez que Cantão estava fechada a estrangeiros”.

“Os relatos orais destas longas e singulares viagens foram certamente transformados em histórias fantásticas, aventurosas e divertidas na cultura marítima dos portos da Bretanha, onde era recrutada a maior parte destes marinheiros que navegavam para os mares asiáticos”, descreve ainda o historiador. O autor refere ainda que “a invenção fabulosa da falsa identidade de ‘Rodolfo’ como príncipe de Macau deve ser interpretada no âmbito destas práticas culturais populares”.

Quem era o “príncipe”?

O docente e investigador, que consultou os registos criminais referente à detenção, aponta que “Rodolfo” foi descrito pelos polícias como um “negro soberbo” e “bem vestido”, tendo revelado “surpresa e uma certa admiração” com o ocorrido aquando da sua prisão. Porém, no que diz respeito aos documentos do hospital de Bicêtre, por onde o homem passou, descrevem “uma personagem exótica, representada entre um ‘árabe’ e um ‘hindu’, venerada pelos seus companheiros de prisão, e por alguns guardas, sob a breve identificação oficial de ‘Barack’, o ‘príncipe de Macau’.

Porém, segundo relata o artigo, é “difícil de afirmar a identidade social e cultural” deste falso príncipe de Macau, pois não existe uma “prova documental remota” da “identificação sugerida”, que aponta “Rodolfo” como sendo “filho de Jacques e Elisabeth Bart de Valenciennes”.

Ainda assim, “o seu retrato físico e cultural pode, com algum esforço, indicar um grupo muito pouco estudado de marinheiros e pilotos com capacidades excepcionais de navegação no Oceano Índico, mobilizados pelo comércio europeu desde o final do século XV nos principais portos de Moçambique, Quénia, Tanzânia e, mais tarde, nas ilhas Mascarenhas, Madagáscar e Comores”.

Apesar da dificuldade de percepcionar as suas origens, “Rodolfo” terá sido “um homem com conhecimentos e experiência suficientes em viagens marítimas para sair rapidamente do hospital-prisão de Bicêtre, provavelmente curado e recrutado à força para o comércio ultramarino da Companhia Francesa das Índias Orientais”.

Por que mares navegou

Ivo Carneiro de Sousa descreve que não conseguiu apurar “quantas viagens Rodolfo fez e se chegou perto de Macau em alguma delas, mas a sua última e fatal aventura marítima está bem documentada”. Aconteceu a 7 de Março de 1758, partindo de Lorient no veleiro “Rôle de la Baleine” com destino a Pondichéry, “então o mais importante enclave comercial francês na Índia”. Teria então 33 anos e seria “patrão de marinheiros”. Nessa viagem, “o navio navegou da Bretanha para o Rio de Janeiro; daqui, contornou o Cabo da Boa Esperança, depois fez escalas nas Mascarenhas e em Madagáscar, dirigindo-se para Pondichéry, onde os navios ingleses o aprisionaram no mar”. “Rodolfo” terá ficado “preso, possivelmente ferido ou doente”, após ter sido “enviado para o hospital da marinha de Fareham”, acabou por falecer com menos de 40 anos.

Para Ivo Carneiro de Sousa, esta história prova que Macau deu azo a inúmeras histórias e fantasias ao longo dos anos. “A sua incrível história provou, através de uma falsificação entre a mitomania e a libertinagem, que Macau foi muito mais do que uma cidade referencial de comércio no século XVIII, para se tornar num locus de aventuras excitantes e exotismos imaginados que atingiram o mundo do comércio marítimo internacional.”

Fácil de comprovar

A história surge documentada numa carta régia de justiça constante num inventário de 1864 feito por Aristide Joly, e integrado na colecção “Memórias Lidas na Sorbonne”. Neste inventário, é descrito, “entre outros casos criminais menos vibrantes, o singular dossier de ‘um aventureiro negro detido em Morlaix’, que, em meados do século XVIII, se dizia ‘filho de um príncipe das Índias Orientais e grande senhor de Macau'”.

A mesma história surgiu depois no Journal des Débats Politiques et Littéraires, de 16 de Agosto de 1923, no texto intitulado “Um príncipe negro e a polícia no século XVIII”, assinado por Étienne Dupont, magistrado e historiador.

Ivo Carneiro de Sousa avança mais detalhes do diálogo que o falso príncipe teve com as autoridades. Além de se auto-denominar “Príncipe de Macau”, disse ter 25 anos e deixado o território “No Dia Real de 1746”, além de que “o seu pai e mãe estavam ainda vivos, mas não o queriam ver mais desde que ele se tinha tornado cristão”. Este disse ainda que “tinha partido no navio ‘Mettais Querquanny’ e desembarcado em Lisboa e que não tinha tido residência fixa nos últimos anos”.

O polícia George François Moreau, que o interrogou, depressa percebeu que o relato que acabava de ouvir não passava de fantasia. “As pessoas de Macau não são negras! E desde quando, por favor, é que o príncipe herdeiro daquele país é chamado de Delfim? Sempre acreditei, até agora, que esse título estava apenas atribuído ao filho mais velho de Sua Majestade o Rei de França?”.

Além disso, a documentação histórica da primeira metade do século XVIII, “incluindo os que usam a palavra colónia, impressos, manuscritos ou outros documentos, desde ficheiros oficiais a mapas e iconografias, nunca representaram Macau como um território ‘monárquico’ com reis, príncipes ou ‘grandes lordes’. Nesse contexto, as autoridades policiais e judiciais de um porto comercial e de corsários bastante movimentado como Morlaix não teriam dificuldades em ter um resumo de informações credíveis sobre Macau”, destaca Ivo Carneiro de Sousa.

8 Jan 2025

TSI | Gestor de centro médico condenado por falsos recibos

Um assistente de um centro médico, com funções de gestão, foi condenado a um ano de prisão, com pena suspensa por dois anos, pelo crime de co-autoria de falsificação de documentos por ter passado falsos recibos médicos a um homem que nunca consultou o médico, a fim de enganar a seguradora. O crime foi cometido com o conluio de um dos médicos do centro, denominado Centro Médico XX. O homem recorreu da condenação para o Tribunal de Segunda Instância (TSI), mas este manteve a pena decretada na primeira instância.

Uma das funções do homem no referido centro médico era “o preenchimento da ficha do utente após a consulta, a impressão do recibo médico e a cobrança do preço da consulta”, sendo que cada vez que o referido médico atendia um doente, o assistente “fazia o seu seguimento”, com o médico a assinar “um recibo em branco”, sendo depois impresso o diagnóstico do utente no referido recibo, juntamente com o valor do preço da consulta e a data de atendimento, para passar o recibo médico do utente.

Viagem ao Reino Unido

O caso que levou a esta condenação ocorreu em 2015, quando, a 25 de Março o homem viajou para o Reino Unido, tendo adquirido um seguro de viagem. Foi aí que planeou pedir uma indemnização com recurso a falsos recibos médicos, tendo realizado o processo no referido Centro Médico XX. Assim, o assistente e o médico emitiram 19 recibos falsos no período compreendido entre 5 de Outubro e 14 de Dezembro de 2015.

O TSI descreve no acórdão ontem divulgado que o homem “desde que saiu de Macau só aqui regressou em 22 de Dezembro de 2015, ou seja, nas datas constantes nos 19 recibos médicos, não se encontrava em Macau”.

Um dos argumentos utilizados pelo condenado foi que “se limitou a imprimir os dados constantes na base de dados do computador” pertencentes ao homem que queria enganar a seguradora, e que “não acrescentou dados que não correspondiam” a verdade. O homem “também alegou que não sabia nem tinha obrigação de saber que o levantamento de documentos se destinava a pedir indemnização à companhia de seguros”.

Porém, o TSI entendeu que o condenado “elaborou documentos cujo teor não correspondia à verdade e ele também tinha conhecimento da função dos recibos de consulta na vida social, factos estes que demonstravam suficientemente a existência da intenção de prejuízo a outrem”.

Para o tribunal, o homem “na qualidade de gestor do Centro Médico, devia conhecer bem a função real dos recibos médicos na vida social”, além de que sabendo que o falso doente “não tinha consultado o médico durante o período em causa”, passou os recibos, sabendo “perfeitamente a ilicitude da emissão de recibos de consulta falsos”.

7 Jan 2025

Saúde | Governo alerta para aumento de casos de gripe

O território enfrenta o pico de epidemia de gripe, com aumentos registados em adultos e crianças. A grande maioria dos casos, 75 por cento, diz respeito ao vírus AH1. Os Serviços de Saúde apelam à vacinação para prevenir mais ocorrências

 

Os Serviços de Saúde (SS) alertaram ontem para a chegada do pico de epidemia do vírus influenza, que causa gripe, e que “ultrapassou o nível de alerta”. Dados divulgados mostram que a partir da segunda quinzena do último mês o número de doentes com gripe que procuraram tratamento médico “começou a aumentar, especialmente entre os adultos”.

Na semana do Natal, a “proporção de consultas no Serviço de Urgência de Adultos por doenças semelhantes à gripe, em relação ao número total de consultas, foi de 5,2 por cada 100 consultas”. No caso da urgência pediátrica, a proporção foi de 15,6 casos de gripe por cada 100 consultas, o que “representou um aumento significativo em relação” à semana anterior, sendo que, nos adultos, o aumento dos casos de gripe foi de 39 por cento, e nas crianças 23,1 por cento.

Destaque ainda para o aumento de 2,6 por cento da taxa de positividade do vírus da gripe na semana que começou a 16 de Dezembro, sendo que essa mesma taxa foi de 15 por cento na semana do Natal, superior ao nível de alerta sobre o vírus, de 14,5 por cento. Os SS explicam, assim, que “Macau entrou no pico da epidemia, prevendo-se que continue activo nas próximas semanas”.

Relativamente aos tipos de vírus, são “principalmente o vírus influenza A H1”, em 75 por cento dos casos, sendo que os restantes são vírus influenza A H3, com 12,3 por cento; vírus influenza A (não tipificado), com 6,3 por cento, percentagem semelhante aos casos de vírus gripal B.

21 casos em 2024

Os SS fazem ainda o balanço dos casos detectados no ano que ainda agora terminou, ocorrendo 21 casos graves de gripe. Só em Dezembro último ocorreram quatro casos de infecção colectiva de gripe envolvendo 41 pessoas, principalmente em jardins de infância e escolas primárias e secundárias.

Destaque ainda para a ocorrência, na última sexta-feira, de um caso de infecção colectiva de gripe numa turma da Escola de Aplicação Anexa à Universidade de Macau, com seis rapazes a registar sintomas de gripe desde o dia 29 de Dezembro. Esses sintomas eram febre e tosse e obrigaram a tratamento médico. A mesma nota dos SS dá conta que “as condições clínicas dos doentes são consideradas ligeiras, não tendo sido registados casos graves ou internamento”.

A fim de travar este aumento, os SS apelam à vacinação da população. “Os residentes que ainda não foram vacinados contra a gripe, especialmente as grávidas, as crianças, os idosos e os portadores de doenças crónicas que são mais susceptíveis a complicações graves ou a morte após a infecção pelo vírus influenza, devem recorrer com a maior brevidade possível à vacinação antigripal”, é referido.

7 Jan 2025

Gastroenterite | Autoridades alertam para aumento de casos

Os Serviços de Saúde (SS) emitiram ontem um alerta sobre o “o aumento significativo de infecções por norovírus”, que causa gastroenterite aguda, doença que se tem tornado “mais activa”, levando a mais consultas médicas.

Dados contabilizados a partir de 1 de Dezembro último mostram que o número médio de utentes, por semana, passou de 88 para 125 no final do mês, uma “subida significativa em relação aos 79 utentes registados em Novembro”.

Além disso, e segundo os dados de vigilância sobre a declaração obrigatória de doenças transmissíveis, o número de casos começou a aumentar no dia 9 de Dezembro, com a média semanal de casos declarados a passar de 24 para 92 no final de Dezembro.

Em Novembro registaram-se apenas 12 casos. Os SS explicam que os “casos provêm principalmente de incidentes recentes de gastroenterite colectiva de origem alimentar ou de transmissão entre humanos, envolvendo um grande número de pessoas”. No último mês ocorreram 12 casos de infecção colectiva de gastroenterite, incluindo gastroenterite colectiva de origem alimentar e infecção colectiva de gastroenterite em instituições educativas.

Os dados mostram, assim, que “a infecção por gastroenterite aguda em Macau se encontra numa fase activa”, apelando-se “à população que preste atenção à higiene pessoal, ambiental e alimentar”.

7 Jan 2025

PME | Estudo diz que tecnologia foi essencial para sobreviver à pandemia

Durante a pandemia, as pequenas e médias empresas de Macau foram obrigadas a procurar formas de sobrevivência e a aposta nas novas tecnologias e redes sociais ajudou a manter negócios. Uma dissertação de mestrado de Lai Ieng Chio, defendida no Instituto Superior de Economia e Gestão, apresenta quatro casos de resiliência e adaptação

 

Chama-se “A adaptação das PME à covid-19 em Macau: O foco na Informação Tecnológica” e revela a forma como algumas pequenas e médias empresas de Macau se adaptaram às novas tecnologias, alterando modelos de negócio e inovando, para responder à crise económica que o território enfrentou durante os anos de combate à pandemia da covid-19. Este estudo constitui a dissertação de mestrado em Gestão de Sistemas de Informação defendida por Lai Ieng Chio no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), em Lisboa.

Contendo entrevistas a quatro empresários locais, o estudo conclui que “as atitudes dos empresários e a adopção das tecnologias da informação foram essenciais para apoiar as pequenas e médias empresas (PME) de Macau a sobreviver à crise, melhorando a capacidade de resiliência e a eficiência das empresas”. Além disso, a aposta em formatos online ou nas vendas através das redes sociais, entre outras ferramentas digitais, trouxe a possibilidade de adaptação “às condições do negócio em constante mudança”.

As quatro empresas versadas no estudo operam nas áreas da educação, propriedade intelectual; desporto e saúde, no caso concreto um estúdio de Yoga fundado em 2019; e uma empresa de marketing. A empresa mais antiga foi fundada em 2013 e, à data das entrevistas, empregava 20 pessoas a tempo inteiro, tendo 400 trabalhadores ocasionais e em regime freelancer.

O responsável pela empresa de marketing lembrou que “antes de 2019, (as empresas locais em Macau) faziam principalmente marketing tradicional offline… A covid-19 obrigou-os a transformarem-se e a começarem a fazer marketing em linha… agora viram as vantagens disso e continuam a fazê-lo”.

Desta forma, Lai Ieng Chio aponta que o empresário “enquanto profissional da indústria das tecnologias da informação, apresentou uma perspectiva mais ampla, salientando a mudança significativa nas estratégias de marketing no panorama empresarial local em Macau”. Neste contexto, a pandemia “funcionou como um catalisador, obrigando-as a fazer a transição para o marketing online”, sendo que “as empresas continuaram a fazer marketing online mesmo após a pandemia, reconhecendo as suas vantagens”.

O empresário acrescentou que a pandemia trouxe lições e modos de trabalhar diferentes. “Foi uma grande oportunidade porque o nosso principal negócio era online. As restrições obrigaram as pessoas a mudar para o online pois viram que os resultados eram satisfatórios, existindo agora uma maior percepção quanto a isso. Cada vez há mais pessoas a pedirem-nos ajuda para a transformação [do seu negócio]”, apontou.

No caso desta empresa, o estudo salienta que “o negócio beneficiou com a mudança” ocorrida com a passagem do marketing offline para online, tendo em conta que “mais empresas procuraram ajuda para a transformação digital”.

Adaptações online

No caso da empresa ligada à educação, em formato de franchising, foi fundada em 2020, tendo apenas dois funcionários a tempo inteiro. Aqui a transição para o online foi bastante desafiante, com o encerramento das escolas e demais instituições de ensino em diferentes fases e períodos.

Porém, o entrevistado destacou que a empresa começou também a apostar no marketing online. “Utilizámos de forma oficial as redes sociais este ano [2023] e começámos a utilizar os sistemas de informação para encomendar e organizar materiais didácticos.”

Desta forma, o estudo destaca que a maioria dos entrevistados adoptou “o marketing online e sistemas de informação” digitais, sendo que o caso da empresa ligada à educação demonstrou “uma abordagem proactiva à adopção de ferramentas digitais, tanto para marketing como para eficiência operacional”.

O uso de ferramentas digitais foi também útil para manter o estúdio de Yoga operacional. “Fazemos algumas coisas online (…) utilizando o FaceBook, o Instagram, o Wechat (…) principalmente por ser conveniente para a promoção e o marketing (…) e começámos a utilizar sistemas de informação para o registo dos alunos”, foi dito na entrevista para o estudo.

No que diz respeito à empresa da área da propriedade intelectual, houve também a necessidade de adaptação, sendo que os anos de pandemia até levaram o entrevistado a perceber onde estava a errar no negócio.

“Graças à covid-19 consegui ver mais claramente os pontos fracos [da empresa], pelo que desenvolvemos uma nova forma de funcionamento e começámos a utilizar grandes volumes de dados e algoritmos para nos ajudar a navegar. Por exemplo, devido à pandemia, cada vez mais pessoas começaram a ter gatos como animais de estimação. Foi uma boa oportunidade para seguir esta tendência que os grandes dados me mostraram e lançar produtos relacionados”, foi referido.

Digital foi a resposta

Tendo em conta os quatro exemplos analisados, o estudo denota que “os empresários de Macau se depararam com uma miríade de dificuldades, que vão desde as dificuldades financeiras à exaustão emocional”. No caso do centro de explicações, a empresa do ramo da propriedade intelectual e do estúdio de Yoga houve “rendimentos nulos, despesas contínuas e um futuro incerto”, embora todos os empresários tenham demonstrado capacidade de “resiliência e adaptação”.

Desta forma, o recurso às plataformas online e meios digitais “foram identificadas como estratégias-chave não só para sobreviver, mas também para prosperar no panorama empresarial transformado”, tendo-se verificado, nos anos de pandemia, “numa resposta dinâmica e adaptativa dos empresários de Macau na sequência das perturbações sem precedentes provocadas pela crise sanitária mundial”.

O estudo denota ainda que “a capacidade de se adaptar e de adoptar novas tecnologias e abordagens revelou-se essencial para as PME de Macau sobreviverem e prosperarem num ambiente difícil”.

Verificou-se ainda “a importância crescente das tecnologias da informação, particularmente do marketing online através de plataformas de redes sociais e da aplicação de sistemas de informação no panorama empresarial de Macau”.

O estudo destaca também a continuidade do uso destas ferramentas por parte das PME locais. “Mesmo após a pandemia, as empresas continuaram a reconhecer as vantagens das tecnologias da informação para alcançar um público mais vasto, estabelecer contacto com potenciais clientes e melhorar a eficiência operacional. À medida que as PME continuam a navegar no ambiente empresarial em constante mudança, espera-se que a sua capacidade de adaptação e inovação continue a ser crucial para o sucesso a longo prazo.”

Lai Ieng Chio denota que a actual situação empresarial “é dinâmica e que o impacto da covid-19 nas PME de Macau vai continuar a evoluir”, apelando à realização de estudos com maior abrangência e actualização de dados.

Apesar destas conclusões, a verdade é que muitos deputados e analistas têm apontado as dificuldades que as PME continuam a enfrentar em Macau, não só porque estão ainda a recuperar dos anos da pandemia, como têm de se adaptar a novos formatos de consumo por parte dos residentes, que viajam mais para o Interior da China, e dos próprios turistas.

7 Jan 2025

AMCM | Crédito malparado é o mais elevado dos últimos 20 anos

Os últimos dados da Autoridade Monetária e Cambial de Macau sobre a actividade bancária deixam sinais de alerta: o crédito malparado chegou a 5,5 por cento em Novembro, para um total de 55 mil milhões de patacas em dívida. É o valor mais elevado em 20 anos, depois de em 2001 ter atingindo 25,3 por cento

 

O sistema bancário de Macau tem enfrentado, em quase dois anos, 21 aumentos mensais consecutivos do volume do crédito malparado, atingindo em Novembro o registo mais elevado das últimas duas décadas. De acordo com últimos dados divulgados pela Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM), em Novembro os empréstimos por pagar representavam 5,5 por cento do total de créditos concedidos pelos bancos, uma subida de 0,1 por cento em relação a Outubro. No total, estavam em dívida 55 mil milhões de patacas.

Estes dados mostram, assim, o maior valor desde 2001, quando o crédito malparado atingiu a fasquia dos 25,3 por cento, logo a seguir à transição.

De resto, o cenário do crédito malparado tem vindo a piorar desde Agosto do ano passado, quando atingiu 5,1 por cento. Seguiu-se Setembro com 5,2 por cento de empréstimos por pagar. Os 5,5 por cento de crédito malparado de Novembro constituem, assim, o 21º aumento mensal consecutivo dos créditos que estão por pagar à banca com atrasos superiores a três meses.

Nas estatísticas divulgadas na última sexta-feira, a AMCM divulgou ainda uma descida ligeira dos depósitos dos residentes em Novembro, em termos mensais, com uma manutenção dos empréstimos por parte dos portadores de BIR face a Outubro, no total de 518,6 mil milhões de patacas. Por sua vez, os empréstimos ao exterior decresceram três por cento para 487,7 mil milhões de patacas.

Alertas de Verão

Em Agosto, o economista António Félix Pontes disse estar preocupado com estes dados. O facto de o crédito malparado estar acima dos 50 mil milhões de patacas em relação a Agosto é sinal de preocupação para o economista, tendo em conta que “excede em 12,4 vezes [relativo aos 50 mil milhões de malparado de Agosto] o montante respeitante a Janeiro de 2022, ou seja, na pandemia, quando se ficava por apenas 3,7 mil milhões de patacas”.

“Estamos, sem dúvida, perante uma situação que pode afectar, de forma adversa, o desenvolvimento da economia de Macau, sendo previsível que os bancos afectados passem a conceder menos empréstimos, com implicações negativas no investimento privado e no consumo dos particulares”, disse Félix Pontes, destacando que se pode mesmo verificar “uma contracção económica”.

Félix Pontes considerou que tal cenário “deveria constituir motivo de preocupação para os nossos governantes” e frisou que “traduz a fragilidade dos sectores não relacionados com a indústria do jogo”.

Em Outubro, numa resposta a uma interpelação escrita da deputada Wong Kit Cheng, a AMCM desvalorizou eventuais perigos para o sistema económico, explicando que os créditos por pagar dizem respeito a empréstimos comerciais garantidos por imóveis residenciais ou comerciais na China ou no estrangeiro, e que têm “garantias suficientes”.

Na mesma resposta, Chan Sau San, presidente do conselho de administração da AMCM, adiantou que “o rácio de crédito malparado dos empréstimos hipotecários, dos residentes, para aquisição de imóveis residenciais em Macau, foi de 0,9 por cento, o que se situava a um nível baixo e controlável”.

6 Jan 2025

Cinema | Festival “KINO” tem Sandra Hüller como estrela maior

A edição deste ano do KINO, festival que celebra o cinema alemão na Cinemateca Paixão até 21 de Janeiro, dá destaque à actriz Sandra Hüller, uma das estrelas da sétima arte germânica. A actriz participa amanhã numa conversa com o público da Cinemateca Paixão

 

Fez a “Zona de Interesse”, no papel da mulher de um oficial alemão das SS, e depois a “Anatomia de uma Queda”, interpretando uma mulher que fica viúva depois do marido cair da janela de um chalet no meio das montanhas. A actriz alemã Sandra Hüller é cada vez mais um nome presente no cinema internacional e é a actriz em destaque do KINO – Festival de Cinema Alemão, patente na Cinemateca Paixão até 21 de Janeiro.

Um dos eventos em destaque é a conversa que o público poderá ter com a actriz amanhã, a partir das 15h, em “O outro mundo incrível de Sandra Hüller”, que terá Joyce Yang como oradora e moderadora. Nem de propósito, um dos filmes exibidos amanhã, integrado na programação do KINO, é, precisamente, “Anatomia de uma Queda”, a partir das 16h30. A “Zona de Interesse”, que remete para os horrores do Holocausto na Alemanha nazi, pode ser visto no dia 21 de Janeiro.

Outro filme que conta com a participação da actriz é “Sissi e Eu”, que o público poderá ver no dia 19, e que conta a história de Irma Condessa von Sztáray. A protagonista começa a enfrentar desafios quando se torna dama de companhia da Imperatriz Elisabeth, que ficou conhecida como Imperatriz Sissi, que leva uma vida pautada por dietas rigorosas e exercício físico. As duras rotinas de Sissi, que sofre com problemas de depressão, acaba por unir as duas, cujo rumo de vida se altera por completo quando regressam a Viena.

No dia 12, a Cinemateca Paixão exibe “In the Aisles”, também com a participação de Sandra Hüller, cuja história gira em torno das vidas de empregados de uma loja: Christian é novo no serviço, sendo apadrinhado por Bruno, que trabalha na secção das bebidas. É então que, por entre corredores da loja, Christian apaixona-se por Marion, uma mulher casada que é responsável pela secção dos doces. Tudo muda quando Marion fica de baixa, deixando o novo funcionário muito depressivo.

Outros filmes

Para quem se interessa por cinema alemão há ainda outras oportunidades na Cinemateca Paixão que vão além do trabalho da actriz em foco. É o caso de “O Divórcio de Andrea”, exibido amanhã a partir das 19h30, e que se exibe novamente a 17 de Janeiro.

Neste filme, Andrea é uma polícia que quer divorciar-se, mas que subitamente se vê envolvida num atropelamento acidental do seu marido viciado em álcool. A polícia foge do local do acidente, mas no dia seguinte descobre que Franz, professor e também alcoólico, assumiu a culpa pelo acidente, o que faz iniciar um ciclo de comportamentos em que Andrea tenta eliminar os vestígios da sua participação no acidente.

A 18 de Janeiro exibe-se “15 Anos”, que gira em torno da vida de Jenny, que foi condenada a uma pena de prisão de 15 anos por um crime que não cometeu e que, cumprida a pena, tenta recomeçar a vida numa casa de apoio cristã.

Uma das valências de Jenny é o facto de tocar muito bem piano. Quando aceita actuar ao lado de Omar, cantor sírio, num programa de televisão, descobre que, por ironia do destino, o apresentador do programa é um antigo amante e o mesmo homem que a incriminou. É então que Jenny tenta vingar-se.

No dia 14 apresenta-se “Além da Fronteira Azul”, uma película que remete ao tempo em que a Alemanha estava dividida em duas. No ano de 1989, na República Democrática da Alemanha, Hanna e Andreas tentam desafiar a autoridade e tornam-se alvos da polícia, o que os leva a abandonar os planos de vida por serem perseguidos pelo regime comunista. É então que ambos decidem fugir pelo Mar Báltico, estando separados da liberdade desejada por apenas 50 quilómetros.

“Artur e Diana” é o filme escolhido para o dia 15, exibindo-se a partir das 19h30. Com realização de Sara Summa, o filme centra-se no casal de irmãos que dá nome ao filme. Diana tem um filho de dois anos, e estes decidem um dia sair de Berlim em direcção a Paris para renovar o registo do velho carro da marca Renault. Porém, a viagem revela-se atribulada, com os irmãos a lidar com discussões e memórias do passado.

O cartaz do KINO inclui ainda títulos como “Exile”, “Every You, Every Me”, “Weekend Rebels”, “Oito Dias em Agosto” e “Terra Queimada”. Os bilhetes para as sessões custam 60 patacas.

3 Jan 2025

Governação | Sam Hou Fai destaca “Um País, Dois Sistemas”

Na mensagem de Ano Novo, Sam Hou Fai declarou que o princípio “Um País, Dois Sistemas” é fundamental para o desenvolvimento de Macau. O líder do Executivo apontou como objectivos de governação a salvaguarda da estabilidade social e a diversificação económica

 

Sam Hou Fai proferiu uma mensagem cheia de esperança para o ano de 2025, mas também de alerta em relação ao que Macau precisa de fazer com um novo Executivo. O Chefe do Executivo, que tomou posse no passado dia 20 de Dezembro, defende que “a maior vantagem” de Macau é o princípio “Um País, Dois Sistemas”, cuja “base fundamental é a salvaguarda da soberania, da segurança e dos interesses de desenvolvimento” da China”.

O governante da RAEM defendeu que é necessário “estabelecer firmemente a consciência comum de ‘um país’ e persistir nesse imperativo, de modo a garantir que a prática de ‘Um País, Dois Sistemas’ não seja alterada ou desvirtuada”, acrescentou.

Em 2025, o sexto Governo da RAEM vai “aproveitar melhor” as vantagens de “Um País, Dois Sistemas” e tomar iniciativas “com espírito de reforma e inovação”, garantiu. Tendo em conta os próximos cinco anos de governação, Sam Hou Fai referiu que Macau “encontra-se numa nova fase de desenvolvimento”, pelo que o Governo deve “insistir na confiança institucional” no princípio “Um País, Dois Sistemas”.

É também necessário “saber identificar” os problemas, “dar respostas” e “procurar alternativas, aproveitando as oportunidades e realizando reformas com determinação”. Assim, cabe a Macau “aplicar, de forma plena, precisa e inabalável, o princípio “Um País, Dois Sistemas” e salvaguardar a paz e a estabilidade sociais”, além de “dedicar maior empenho na promoção efectiva da diversificação adequada da economia”.

Uma maior eficácia

No discurso de Ano Novo, Sam Hou Fai realçou a importância de seguir uma “governação de acordo com a lei e as responsabilidades assumidas, tendo em vista o aumento da eficácia da governação da RAEM e a construção de um Governo eficiente e eficaz orientado para servir a população”.

Foi também deixada a ideia de que deve ser criada “uma plataforma de abertura ao exterior de qualidade mais elevada” e uma maior integração “na conjuntura de desenvolvimento do país”.

Neste contexto, a aceleração da “construção da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin” deve ser feita “com uma nova mentalidade, uma nova abordagem e um maior empenho”. Sam Hou Fai, ex-presidente do Tribunal de Última Instância, não esqueceu a referência à “concretização da desejada perspectiva de uma Macau alicerçada no Estado de Direito, dinâmica, cultural e feliz”.

O governante mostrou-se confiante em relação ao ano que se inicia. “O desenvolvimento do nosso país está em constante transformação e é imparável. Macau encontra-se numa nova fase de desenvolvimento, em que a recuperação passa a ser o crescimento de alta qualidade, e tem um futuro promissor”, rematou.

3 Jan 2025

Passagem de ano | “Mirror” e German Ku abrilhantam a noite

Os fãs de cantopop podem desfrutar de muita música na noite de passagem de ano. Hoje à noite os “Mirror” sobem ao palco do Studio City para um concerto integrado na tournée “Mirror 2024 Grand Finale”. Destaque ainda para a actuação do macaense German Ku na praça do Lago Sai Van

 

A chegada de um novo ano em Macau faz-se com muita música e estrelas bem conhecidas do universo artístico da região. Depois do concerto desta segunda-feira, os “Mirror”, a mais badalada boys band de Hong Kong, sobem hoje novamente ao palco do Centro de Eventos do Studio City, a partir das 22h30, para um segundo espectáculo de passagem de ano, integrado na “Mirror 2024 Grand Finale”, que já está esgotado.

Esta constitui uma nova oportunidade para ver e ouvir quatro membros integrantes do grupo, nomeadamente Edan, Keung To, Anson Lo, Jeremy, tendo em conta que os “Mirror” trouxeram a Macau outros espectáculos em Maio, nomeadamente na Galaxy Arena, integrados na tour mundial “Mirror Feel the Passion Concert Tour 2024”.

Recorde-se que antes deste ano repleto de espectáculos, os “Mirror” estiveram parados durante algum tempo devido a um acidente ocorrido em Julho de 2022, no Coliseu de Hong Kong, quando um ecrã de grandes dimensões caiu no palco, de uma altura de quatro metros, ferindo dois bailarinos. O incidente acabou por afastar os “Mirror” dos palcos durante algum tempo, tendo também deixado chocada a sua legião de fãs que, ao mesmo tempo, aguardava pelo seu regresso. Apesar da noite de passagem de ano se fazer no Studio City com apenas quatro membros do grupo, os “Mirror” são compostos por 12 cantores.

Além desta pausa, a banda tem estado activa desde 2018, depois da formação no concurso televisivo de talentos “Good Night Show – King Maker”, tendo lançado o primeiro single a 3 de Novembro desse mesmo ano, “In a Second”.

Desde então, a boys band tem ganho inúmeros prémios, sendo considerada uma das principais bandas do género cantopop de Hong Kong. Em 2020, foi lançado o single “Ignited”, que entrou para a lista dos “Top Ten Song of The Year” dos “Ultimate Song Chart Awards” e também dos “Chill Club Music Awards”. No ano seguinte, o single “Warrior” também registou os maiores sucessos, permanecendo no “Ultimate 903 Charts” durante duas semanas.

Além de pertencerem ao projecto “Mirror”, alguns membros da banda mantém carreiras individuais no mundo da música e também na representação para televisão e cinema.

Festa aberta

Com organização do Instituto Cultural (IC), a festa de passagem de ano faz-se de forma gratuita em dois locais distintos, nomeadamente a praça do Lago Sai Van e nas Casas-museu da Taipa. Apesar do rol de convidados, o destaque vai novamente para o género cantopop e para German Ku, macaense vencedor este ano de um concurso de talentos da TVB, estação televisiva de Hong Kong, o “Meia-Idade, Canta e Brilha”.

Com 36 anos de idade, o macaense canta desde jovem. Em 2009 participou no concurso de talentos “Asian Million Star”, da ATV, tentando sempre um lugar no mundo da música. A vitória no concurso da TVB catapultou-o para a fama, tendo em conta que o programa durou nove meses e teve enorme competição, com mais de 100 cantores a participar.

Depois da consagração no programa da TVB, German Ku estreou-se a solo, na sua terra natal, no Venetian Theatre. Nem de propósito, o nome dado à série de espectáculos, ocorridos em Agosto, foi “German Ku – I’m Home”.
German Ku vai ainda partilhar o palco, a partir das 22h, com outros artistas, nomeadamente os conceituados cantores de Hong Kong George Lam e Sally Yeh, e ainda bandas e cantores como Maria Cordero, Vivian Chan, Rico Long, Nick Ngai, FIDA, Daze in White, Ocean Walker, Ying May Supermarket, KC Ao Ieong e DAX One Dance Complex. Esta série de concertos será apresentada por Bobo Leong e Jeoffrey Wong.

Por sua vez, nas Casas-museu da Taipa, o anfiteatro enche-se de música a partir das 20h30, com nomes bem conhecidos do público, como é o caso das bandas “Concrete/Lotus” e “Peony & Lon”, além do cantor pop de Hong Kong Johnny Yip.

A festa nas Casas-museu complementa-se também com actuações de Victor Kumar e o seu Bollywood Dreams Group, destacando-se a cultura indiana, sendo que as danças tradicionais filipinas se apresentam com a actuação da Associação Bisdak de Macau. Destaque também para a apresentação das danças tradicionais da Indonésia, Myanmar e do Vietname interpretadas por grupos locais.

Jason Fong irá protagonizar um “espectáculo de malabarismo com luzes e magia”, existindo no local expositores das diversas comunidades destes países.

No Cotai não faltarão ainda opções para celebrar a entrada em 2025, nomeadamente no Le Jardin, junto ao The Parisian. A partir das 21h30 haverá festa com a actuação de “Tess Collins & The Party Animals”, sem esquecer a música de DJ Ryan que se prolongará pela noite dentro. Fica a promessa de um espectáculo de cores e luzes bem perto da meia-noite e nas primeiras horas de 2025.

31 Dez 2024

Natalidade | Inquérito confirma pouca vontade de ter filhos

Um inquérito da Associação Chinesa para a Promoção da Juventude revela que apenas 38 por cento dos inquiridos deseja ter filhos. Questões financeiras foram as principais razões apontadas para não constituir família. Pouco mais de metade dos jovens ouvidos deseja casar

 

A Chinese Youth Advancement Association [Associação Chinesa para a Promoção da Juventude] realizou um inquérito que revela a baixa vontade dos jovens de constituir família, embora o casamento continua a ser opção para muitos.

Os resultados mostram que apenas 38 por cento dos entrevistados desejam ter filhos, 35,91 por cento disseram não querer, enquanto 26,09 por cento ainda não tomou uma decisão.

As razões para os jovens não desejarem ter filhos prendem-se com factores económicos: 46,63 por cento diz não conseguir suportar as despesas com cuidados infantis, 55,16 por cento não tem rendimentos suficientes e 37 por cento diz não conseguir suportar a renda da casa.

Em relação ao casamento, há ainda vontade dos jovens de o realizar: 55,84 por cento dizem ter esperança em subir ao altar, enquanto 27,85 por cento dizem não querer casar por pressão económica, por já terem um determinado estilo de vida e aversão a responsabilidades conjugais.

Mais de metade dos entrevistados defendem que, para escolher uma parceira ou parceiro de vida, olham para semelhantes posturas que possam ter perante a vida, as condições económicas ou a aparência. Além disso, 56,12 por cento dos entrevistados disseram que ainda estão solteiros por não terem encontrado um parceiro ou parceira adequados.

Cerca de 46 por cento dos entrevistados dizem sentir nervosismo com a ideia de casar devido às pressões familiares e sociais, e a maioria só admite casar quando tiver capacidade económica e emprego estável. Enquanto isso, 46 por cento dos entrevistados dizem participar em actividades desportivas e competições para fazer amigos.

Pedidas medidas

O inquérito contou com um total de 1010 respostas válidas de entrevistados entre 18 e 35 anos de idade. Foram também colocadas questões sobre medidas de apoio do Governo para as áreas da família e natalidade. Cerca de 50 por cento dos entrevistados respondeu que não conhecem bem as medidas em vigor. Por outro lado, 37 por cento dos inquiridos entendem que o Executivo não dá apoios económicos suficientes, enquanto 38 por cento confessou que a melhoria dos serviços de cuidados a crianças poderia aumentar a sua vontade de ter filhos.

A equipa responsável pelo inquérito considera que o Governo poderia melhorar as políticas nestas áreas e criar novos incentivos à natalidade, nomeadamente o prolongamento do prazo das faltas dadas por motivos de casamento no trabalho, de três dias para uma semana. Já a licença de maternidade poderia aumentar para seis meses, enquanto a licença de paternidade poderia passar a 15 dias.

A equipa também sugeriu que o valor do subsídio de casamento aumente de cinco para dez mil patacas, e que o subsídio de nascimento também suba para 20 mil patacas por família. A associação sugeriu também que famílias com baixos rendimentos recebam um subsídio para filhos até aos três anos e que o Governo reduza impostos para famílias com mais filhos.

31 Dez 2024

Turismo | Excursionistas coreanos mais que triplicam até Novembro

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram um aumento das excursões com turistas oriundos de fora da China até Novembro. Em 11 meses, Macau registou 79 mil visitantes em excursões da Coreia do Sul, um aumento significativo de 257,9 por cento em termos anuais, enquanto o número de excursionistas da Índia, 23 mil, subiu 426 por cento.

Em termos globais, Macau recebeu, de Janeiro a Novembro, 1.908.000 turistas em excursões, mais 70,9 por cento face a igual período de 2023, sendo que 1.699.000 eram do Interior da China e 182.000 eram visitantes internacionais em excursões, um aumento de 63,4 por cento e 179,4 por cento, respectivamente.

Relativamente ao mês de Novembro, os excursionistas foram 213 mil, mais 5,2 por cento em termos anuais.
Nos primeiros 11 meses deste ano, um total de 524 mil residentes adquiriu viagens para fora, mais 43,3 por cento em termos anuais.

A DSEC indica também a taxa média de ocupação dos quartos, que em 11 meses foi de 86,1 por cento, um aumento de cinco pontos percentuais face ao mesmo período de 2023. Nestes meses, os estabelecimentos hoteleiros hospedaram 13.242.000 indivíduos, um aumento de 8,1 por cento face ao período homólogo de 2023. O período médio de permanência dos hóspedes manteve-se em 1,7 noites.

31 Dez 2024

Zhuhai | Autor de atropelamento intencional condenado à morte

Foi condenado à morte, na sexta-feira, o autor do atropelamento intencional que, em Novembro, causou 35 mortos e 43 feridos na cidade vizinha de Zhuhai. Segundo a agência noticiosa Xinhua, o Tribunal Popular Intermédio de Zhuhai condenou o homem a pena de morte por “colocar em risco a segurança pública através de métodos perigosos”, sendo ainda “privado de direitos políticos para o resto da vida”.

Na sessão de julgamento, os juízes consideraram que o homem “decidiu descarregar a sua raiva por causa do fim do seu casamento, os resultados do divórcio e divisão de bens”, tendo atropelado intencionalmente, na noite de 11 de Novembro, pessoas que praticavam desporto junto ao Centro Desportivo do Distrito de Xiangzhou, em Zhuhai.

O tribunal entendeu, segundo a mesma nota, “que os motivos criminosos do réu foram extremamente desprezíveis”, e que “a natureza do crime foi extremamente grave e métodos criminosos particularmente cruéis”. O crime praticado teve “consequências graves, com grandes danos sociais”.

Ao julgamento assistiram familiares das vítimas e alguns sobreviventes do atropelamento, bem como membros da classe política do país, nomeadamente deputados da Assembleia Popular Nacional e delegados da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.

30 Dez 2024

Hengqin | Rui Martins reitera que UM terá curso de Medicina

A Universidade de Lisboa vai ajudar a criar uma Faculdade de Medicina no novo campus da Universidade de Macau (UM), na vizinha Hengqin (ilha da Montanha), disse um vice-reitor da instituição.

“A Faculdade de Medicina, que será a primeira faculdade de medicina pública aqui em Macau, será feita em parceria com a Universidade de Lisboa. Já temos um acordo nesse sentido”, disse Rui Martins. A Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, uma instituição privada, tem desde 2008 uma Faculdade de Ciências da Saúde, oficialmente rebaptizada como Faculdade de Medicina em 2019.

A notícia de que a UM terá uma faculdade de medicina, já noticiada pelo HM, foi dada por Rui Martins por ocasião de um evento no Centro Científico e Cultural de Macau de celebração dos 25 anos da transição da administração portuguesa de Macau para a China.

“O novo campus deverá aparecer na zona oeste da Ilha de Hengqin, tendo cerca de metade da superfície do actual campus. Terá quatro faculdades, nomeadamente a primeira faculdade de medicina pública de Macau, concretizada em associação com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Teremos ainda uma faculdade de ciências da informação, de engenharia e outra de design, que inclui o curso de arquitectura”, disse no evento.

Numa entrevista ao canal em língua portuguesa da televisão pública TDM, Martins disse que a ideia para o campus é facultar ‘dual degrees’ [cursos em co-tutela] com universidades estrangeiras. “A medicina já está com Lisboa e agora estamos a definir para as outras faculdades”, acrescentou Martins.
O novo campus em Hengqin, cuja primeira pedra foi lançada em 9 de Dezembro, deverá ser inaugurado em 2028 e permitir à UM passar dos actuais 15 mil para um máximo de 25 mil alunos. Com Lusa

30 Dez 2024

Sam Hou Fai muda dirigentes do IAM devido ao caso das placas toponímicas

O secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, decidiu fazer mudanças na liderança e gestão do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) depois de se concluir que o organismo foi responsável pela fraude verificada na substituição das 362 placas toponímicas, dado que os funcionários não comunicaram atempadamente a existência de problemas com materiais de má qualidade.

A informação consta no relatório interno de investigação ao caso divulgado ontem. Tendo em conta o “impacto negativo na sociedade”, e “após rigorosa ponderação”, o secretário da tutela “propôs ao Chefe do Executivo que procedesse ao ajustamento da direcção do IAM e conselho de administração”, que resultaram em “ajustamentos de algum do pessoal de chefia do IAM”.

A decisão de “ajustar” a direcção foi divulgada depois do anúncio da substituição de José Tavares por Chao Wai Ieng na presidência do IAM. Recorde-se que José Tavares já havia anunciado a intenção de se reformar após o mandato actual.

Segundo o relatório da secretaria para a Administração e Justiça, o IAM falhou na inspecção e não comunicou antecipadamente a existência de problemas. Assim, o Governo esclarece que o IAM “colaborou de forma activa” com a polícia, mas, ainda assim, o caso revelou “falta de rigor na vistoria e recepção da obra, falhas no mecanismo de comunicação interna e questões de acompanhamento posterior das obras”.

Coloca-se ainda a questão de alguns trabalhadores terem cometido infracções disciplinares, implicando a instauração de “processos disciplinares para uma investigação mais aprofundada”.

A mesma nota dá conta da necessidade de reformulação na forma de trabalhar do IAM, que tem “realizado vários trabalhos nas áreas da construção municipal, drenagem de esgotos, higiene ambiental ou segurança alimentar”, apesar de “diversos tipos de falhas”.

“Isto não só exige uma organização e análise dos procedimentos e da gestão do trabalho e uma elaboração de normas e orientações internas expressas, mas também uma revisão geral das funções, da estrutura e do regime do pessoal do IAM”, é indicado

Sem comunicação

A investigação dá conta que, durante uma acção de inspecção, “o pessoal do IAM verificou que a superfície de algumas placas toponímicas estava amarelada e que o vidrado estava separado da superfície dos azulejos”. Aí já era possível ver que o material era de má qualidade, pois as placas “foram produzidas com a colagem de uma película de plástico com o nome da rua nos azulejos”, e não “com o método de baixo vidrado de acordo com o estipulado na proposta” do concurso público.

Além disso, o pessoal de fiscalização do IAM “não comunicou ao superior hierárquico os problemas detectados com as placas toponímicas, nem adoptou, de imediato, medidas eficazes de acompanhamento”. Em Setembro, “o IAM verificou que a situação era grave e decidiu tomar medidas de resolução”, tal como a queixa junto da polícia, verificando-se fraude, e a devida substituição das placas. O caso gerou polémica, com a divulgação de imagens das placas em mau estado nas redes sociais.

As 362 placas foram substituídas por uma empresa que apresentou o orçamento mais baixo a concurso público, 1,1 milhões de patacas, sendo que a substituição foi feita em Janeiro.

27 Dez 2024

Música | Noite de cantopop inaugura área de espectáculos ao ar livre

O espectáculo que irá inaugurar o novo recinto para espectáculos ao ar livre no Cotai realiza-se amanhã. Um naipe de cerca de 30 cantores e artistas, na maioria de cantopop, irá estrear o palco do local construído para espectáculos de grande dimensão

 

Acontece amanhã a “Festa de Abertura do Local de Espectáculos ao Ar Livre de Macau”, que inaugura oficialmente a zona de espectáculos no Cotai, criada especialmente para eventos de grande dimensão com capacidade para cerca de 50 mil pessoas. O recinto foi pensada para afastar grandes multidões de zonas habitacionais.

Recorde-se que a zona de espectáculos foi anunciada pelo Governo pouco tempo depois da realização dos concertos da banda de k-pop “Seventeen”, no Estádio da Taipa, que gerou queixas sobre o barulho por parte de residentes.

Amanhã o público poderá assistir a vários artistas do mundo da música, mais de 30, sobretudo do género cantopop, onde se inclui o famoso cantor de Hong Kong Julian Cheung.

À semelhança de muitos artistas de cantopop da região vizinha, também Julian Cheung se destaca há muitos anos como actor. Porém, tem feito sucesso na música, tendo lançado o seu primeiro single em 1991, “A Modern Love Story”, que lhe trouxe sucesso de imediato. No ano seguinte, Julian Cheung recebeu um prémio pelo seu primeiro álbum, o “TVB Jade Solid Gold”, pela estreia bem-sucedida no mundo da música. Nas artes dramáticas, Julian Cheung ainda hoje é lembrado pela interpretação do personagem Guo Jing na adaptação para televisão do romance “Wuxia”, em 1994.

Além deste artista, o espectáculo de amanhã conta com outro artista de Hong Kong, Hins Cheung, que também tem feito projectos na área da interpretação e da música. Com a formação musical na China, de onde é natural, Hins Cheung mudou-se para Hong Kong depois do lançamento do seu primeiro álbum, em 2001, que lhe valeu um contrato com a produtora Universal Music.

Nascido em 1981, Hins Cheung já lançou 17 álbuns e eps e venceu, por seis vezes, o prémio “Ultimate Song Chart Awards Best Male Singer Gold”, na cerimónia que destaca os melhores artistas de Hong Kong.

Outra estrela da região vizinha que vem a Macau inaugurar a nova zona de espectáculos ao ar livre do Cotai é Pakho Chau. Nascido em Hong Kong em 1984, é um cantor e compositor que também faz uma perninha como actor. A sua entrada no mundo da música deu-se em 2007, quando assinou um contrato com o grupo Warner Music. Dez anos depois passaria a fazer parte do catálogo de artistas da Voice Entertainment. Além da música, Pakho Chau lançou ainda duas marcas de moda, a XPX e a CATXMAN.

A menina Vidal

Outro dos nomes que fará parte deste espectáculo é a cantora, e também actriz, de Hong Kong, Janice M. Vidal.
Com raízes filipinas, mas nascida no território vizinho, Janice M. Vidal destaca-se como cantora de cantopop, tendo sido descoberta pelo produtor Mark Lui quando cantava em bares, com o nome artístico de Renee. Depois de ter cantado ao lado de Leong Lai, Janice M. Vidal lançou-se sozinha no mundo da música e lançou o primeiro trabalho discográfico em 2004. Assinou depois com a Warner Music. Janice M. Vidal é também conhecida pelo seu nome chinês, Wei Lan.

O espectáculo de amanhã começa às 19h, prometendo prolongar-se pela noite dentro. A zona para concertos e outros eventos de grande dimensão localiza-se no cruzamento da Avenida do Aeroporto (a nordeste) com a Rua de Ténis (a norte), tendo uma área total de 94.000 metros quadrados.

O palco tem uma largura extensível até 100 metros e capacidade para mais de 50 mil espectadores. Os residentes têm direito a descontos, com bilhetes a 50 patacas, mediante inscrição prévia, que abriu no dia 14 e encerrou dia 18. Desde o dia 14 que estão à venda bilhetes a preços de mercado, que variam entre as 480 e as 1.080 patacas, podendo os mesmos ser adquiridos através das plataformas de pagamento MPay, Damai e Neigbuy. Espera-se, neste dia, uma afluência de 15 mil pessoas.

27 Dez 2024

Fai Chi Kei | Homem atira cutelo para a rua e é detido

Um homem foi detido por ter atirado pela janela um cutelo para uma rua movimentada do Fai Chi Kei. Há quase um ano que o CPSP recebia queixas de moradores devido a objectos atirados para a via pública, mas nunca actuou. Tudo mudou depois de um programa da TVB

 

Foi detido na quarta-feira um residente suspeito de atirar um cutelo do edifício onde mora para uma rua movimentada no Fai Chi Kei. Porém, a detenção, levada a cabo por agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), só ocorreu depois de o caso ter sido noticiado na TVB, canal de Hong Kong, no programa “Scoop”, com declarações de uma moradora do mesmo edifício onde reside o suspeito.

Segundo um comunicado do CPSP, a investigação ao caso decorreu durante alguns dias e as autoridades apontam como possíveis causas para o comportamento do suspeito de 40 anos questões emocionais ou do foro psicológico.

Tudo aconteceu na tarde da passada segunda-feira, no edifício Precious Jade Garden, no bairro do Fai Chi Kei. O homem já tinha atirado vários objectos potencialmente perigosos para a rua, comportamento que motivou a apresentação de queixa à polícia, que apenas deixou um alerta preventivo.

Porém, à TVB, a moradora, de nome Eva, criticou o facto de a autoridade nada ter feito durante um ano, período em que decorreram os incidentes que não resultaram em feridos ou danos de maior. “O homem atirou para a rua objectos durante vários dias, a situação foi denunciada várias vezes à polícia, até porque ele chegou a atirar uma tesoura para a rua. A polícia sempre disse que não podia instaurar um processo porque não havia feridos”, queixou-se ao “Scoop”.

Durante o programa foram exibidas imagens de videovigilância que mostram uma mulher a passar na rua e a ser quase atingida pelo cutelo atirado pelo suspeito.

Queixa na rádio

Também outra residente se queixou do comportamento do suspeito, na terça-feira, ao programa matinal Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau. A mulher lembrou que o agente do CPSP destacado para o local apenas disse que não lhe era possível tratar do caso porque não conseguia apurar de onde tinha sido atirado o cutelo.

No testemunho prestado à rádio, a ouvinte disse acreditar que o indivíduo atirava objectos para a rua com a intenção de ferir alguém e que “precisa de ter aconselhamento psicológico”.

27 Dez 2024

Rendimento bruto | Crescimento de mais de 50% em 2023

O Rendimento Nacional Bruto (RNB) de 2023, que diz respeito ao rendimento total obtido por pessoas e empresas de Macau, com actividades económicas dentro e fora da RAEM, foi, no ano passado, de 359,81 mil milhões de patacas. Segundo dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), trata-se de um aumento anual de 50,9 por cento face a 2022.

O crescimento deve-se ao facto de o Produto Interno Bruto (PIB), no valor de 369,33 mil milhões de patacas, ter crescido, em termos reais, 75,1 por cento, graças “à recuperação gradual das actividades económicas locais”.

O cálculo do RNB é feito mediante o valor do PIB mais o rendimento obtido pelos residentes que investiram no exterior, menos as saídas totais do rendimento obtido por não-residentes em Macau. No caso dos rendimentos obtidos pelos não-residentes em Macau foram de 117,53 mil milhões de patacas, um aumento “significativo” de 264,7 por cento, diz a DSEC. Já os rendimentos obtidos por residentes que investiram no exterior foram de 108,01 mil milhões de patacas, uma subida de 58,3 por cento.

A nota da DSEC refere ainda que o RNB per capita, de 530.504 patacas, teve um aumento real de 50,8 por cento no ano de 2023, também em termos anuais, sendo que o PIB per capita, de 544.530 patacas, registou um crescimento real de 75 por cento.

No que diz respeito à Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, os rendimentos obtidos por empresas e investidores de Macau foram de 157,2 milhões de patacas em 2023, dos quais 93,8 milhões pertenciam a rendimentos de investimento directo, 62,9 milhões às remunerações dos empregados e 0,5 milhões aos rendimentos de outros investimentos.

27 Dez 2024

RAEM 25 anos | Vitalino Canas destaca figura de Sam Hou Fai como CE

Vitalino Canas, advogado e figura ligada ao processo de transição de Macau, da parte portuguesa, destacou, esta quinta-feira, a tomada de posse do VI Governo da RAEM, liderado por Sam Hou Fai.

“Sam Hou Fai é uma figura que, do ponto de vista português, nos interessa muito, por ser alguém que domina o português e exerceu altas funções no sistema judiciário de Macau. Estou seguro de que será uma figura a contribuir para o acentuar das relações entre Portugal e Macau”, disse.

Vitalino Canas salientou também a presença de Xi Jinping em Macau para esta tomada de posse, o que “revela indícios da importância que a China continua a atribuir à RAEM”.

Referindo-se ao actual sistema político da RAEM, Vitalino Canas declarou que Portugal deixou “um legado” nas instituições políticas existentes, à excepção da figura do governador que passou a Chefe do Executivo.

“Conseguimos identificar as instituições políticas actuais e encontrar alguma similitude com as entidades e sistema de governo praticado em Macau antes da transferência da administração do território”, rematou.

Vitalino Canas destacou também o Direito de Macau como “um dos legados portugueses”, falando da importância de atrair novos académicos e interessados para o seu estudo e divulgação. “Falamos que há dificuldades em garantir a sua continuidade, e isso de facto existe. Mas uma das primeiras condições para ultrapassar isso é olhar esse legado, dizer em que consiste e promovê-lo. Isso faz-se com as pessoas que conhecem Macau, mas é necessário fazer com que pessoas que não estiveram em Macau possam ser atraídos para esta área do conhecimento.”

21 Dez 2024