Chefe do Executivo | Sam Hou Fai eleito com 394 votos

Apenas duas pessoas das 400 que compõem o colégio eleitoral que elege o Chefe do Executivo não votaram ontem, tendo sido ainda registados quatro votos em branco. Sam Hou Fai assegurou a eleição por volta das 11h, reunindo um total de 394 votos. O ex-juiz, eleito Chefe do Executivo, afirmou que este é o ponto alto da sua carreira

 

Sam Hou Fai foi eleito ontem o novo Chefe do Executivo da RAEM com 394 votos da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, o que significa que duas pessoas não votaram, além de que se registaram quatro votos em branco. Contudo, por volta das 11h o candidato único contabilizava já 201 votos, o que assegurou a sua eleição.

O homem que foi presidente do Tribunal de Última Instância (TUI) nos últimos 25 anos torna-se agora líder de uma região que celebra precisamente este ano o 25º aniversário enquanto RAEM. A candidatura surgiu subitamente após Ho Iat Seng ter desistido de concorrer a um segundo mandato devido a problemas de saúde. A partir daí, o caminho estava feito.

Sam Hou Fai só tomará posse a 20 de Dezembro, precisamente a data do aniversário da RAEM, mas já frisou que este é o momento mais alto da sua carreira. A votação e conferência de imprensa, que decorreram no edifício do Fórum Macau, começou às 10h, sendo que a votação terminou meia hora depois.

O candidato eleito agradeceu também à família, que vive em Macau há cerca de três gerações, tendo destacado que, como governante, vai dar atenção às relações comerciais com os países lusófonos.

Sam Hou Fai disse que “no próximo mandato do Governo temos de estudar bem o conteúdo e funcionalidades da plataforma” comercial em Macau, “promovendo mais a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa”. Prometeu “melhorar a ligação com os países de língua portuguesa” e fortalecer o papel de Macau como “uma ponte para maximizar as vantagens singulares” do território, como um local onde as empresas lusófonas e chinesas podem fazer negócios.

“Ao nos integrarmos e ajudarmos a conjuntura do desenvolvimento nacional, podemos maximizar as nossas vantagens singulares, sendo esse um rumo importante e crucial para o rumo de Macau. A base jurídica do território é o facto de este estar subordinado ao Governo popular, sendo uma região administrativa especial, e o tempo tem mostrado que essa política é muito adequada para o desenvolvimento de Macau”, declarou também.

O novo líder frisou ainda que “no futuro temos de aproveitar bem as nossas vantagens”, explicando que a transição tem sido um sucesso sobretudo devido aos princípios ‘um país, dois sistemas’ e ‘Macau governada por patriotas’.

Parabéns de Ho

No rescaldo da vitória, Ho Iat Seng, que se mantém em funções até 20 de Dezembro, deu os parabéns ao candidato eleito, referindo que Sam Hou Fai “expôs o conteúdo do programa [eleitoral] e ideias de governação aos diversos sectores sociais e aos residentes”, procurando “inteirar-se das condições sociais e ouvindo a opinião pública, o que lhe granjeou amplo reconhecimento e apoio dos diversos quadrantes da sociedade”.

Para Ho Iat Seng, o próximo governante “continuará a promover com sucesso o princípio de “um país, dois sistemas” e a “impulsionar o desenvolvimento da RAEM para um novo patamar”.

De destacar que para a corrida a Chefe do Executivo chegou a estar na calha Jorge Chiang, natural de Macau, com 61 anos e católico, e que denunciou as “famílias poderosas” que dominam certos sectores da sociedade. Porém, o desejo de querer ser Chefe do Executivo caiu pelo caminho.

13 Out 2024

Condomínios | Criadas mais sete empresas de gestão

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram que no espaço de um ano surgiram no mercado mais empresas de administração predial, vulgo gestão de condomínios.

No ano passado eram 235, mais sete face a 2022. Estas entidades empregaram 8.157 pessoas, mais 8,7 por cento em termos anuais, tendo-se registado receitas de 1,92 mil milhões de patacas, uma quebra de 1,3 por cento, observando-se também a mesma queda percentual no tocante às despesas, que foram de 1,79 mil milhões.

A DSEC destaca ainda que as despesas com funcionários representaram 58,8 por cento em termos de proporção de despesas destas empresas, enquanto os custos de exploração representaram 28,3 por cento, sendo estas as proporções mais elevadas do bolo de todas as despesas de condomínio.

No tocante à segurança de edifícios, 2023 registou 60 empresas, menos uma do que em 2022, com 11.184 trabalhadores, menos 2,1 por cento. Na área da prestação de serviços de limpeza registaram-se 353 empresas, mais 29 em termos anuais.

10 Out 2024

Melco Crown | Lawrence Ho recua no investimento no Japão

Numa entrevista à revista Macau Business, Lawrence Ho, CEO da Melco Crown, admite que recuou, para já, de investir no mercado de jogo no Japão, dado o tempo que gastou no processo, sem frutos concretos. Em relação ao City of Dreams Mediterranean, no Chipre, a confiança é grande, apesar dos conflitos no Médio Oriente

 

Lawrence Ho, CEO da Melco Crown, parece ter desistido da ideia de investir no Japão. Em entrevista à revista Macau Business, o empresário, que detém uma das concessões de jogo em Macau, declarou que o longo processo para entrar no mercado de jogo nipónico ainda não deu frutos.

“Estivemos envolvidos no processo [de jogo] no Japão nos últimos dez anos, e investimos muitos recursos nisso. Pessoalmente gastei bastante tempo no Japão, e não penso que o país esteja já no nosso horizonte imediato. Tendo estado envolvido em todo o processo, seria mais cauteloso sobre uma aposta demasiado rápida.”

Em relação ao resort integrado da Melco na Europa, o City of Dreams (COD) Mediterranean, aberto em Julho do ano passado, em Limassol, no Chipre, as expectativas mantém-se elevadas, apesar dos conflitos próximos no Médio Oriente e entre a Rússia e Ucrânia.

“Há muito que acreditamos no Chipre. Ganhámos um concurso competitivo para a obtenção da licença. Temos uma licença de 30 anos para estarmos no Chipre, 15 deles em regime de monopólio. Ganhámos isso em 2016, mas se me dissesse que os nossos principais mercados internos estariam em guerra, teria sido uma espécie de adivinho. Não tivemos sorte”, declarou.

Explicando que o Chipre tem a vantagem da legislação europeia, por fazer parte da União Europeia, Lawrence Ho espera “uma resolução em breve” para os conflitos na região. “Há muitos casinos na Europa, mas não existem resorts integrados. Penso que aquilo que temos para oferecer no COD do Mediterrâneo é mais do que uma experiência de casino, é um resort plenamente integrado com restaurantes, vida nocturna e retalho. Temos sorte de poder estar no Chipre, que é o lugar mais soalheiro da Terra. Há muito para acontecer no COD Mediterranean, e investimos muito aqui a longo prazo”, adiantou.

Lawrence Ho referiu, porém, que não considera “a Europa, como mercado de jogo, como uma região de crescimento rápido”, mas está “muito satisfeito com o investimento no Chipre”.

Expectativas para Macau

Relativamente a Macau, Lawrence Ho desabafou sobre os difíceis tempos da pandemia, em que a empresa teve de recorrer a empréstimos bancários para se manter à tona, aumentando a sua dívida. Na entrevista, o empresário disse mesmo que foi preciso “cortar até ao osso”, pois estava a construir no Chipre e também a Fase 2 do Studio City. “A covid foi mais difícil do que a crise financeira global de 2008-2009”, apontou. “Todas essas dívidas serviram apenas para nos mantermos a funcionar, manter as pessoas empregadas em Macau e continuar a construir a Fase 2 do Studio City. Como estávamos a construir no Chipre também, foram tempos difíceis.”

Sobre Macau, Lawrence Ho disse estar “muito optimista em relação ao quarto trimestre”, admitindo que houve um “recomeço lento” da empresa no período pós-covid. “Fizemos algumas mudanças na estrutura organizacional e também ao nível da gestão. Tivemos de fazer coisas muito difíceis no período covid, mas agora estamos de regresso e plenamente de forma competitiva, trazendo pessoas da área da gestão que tínhamos afastado no período covid. Vamos ter a recompensa de tudo isto neste quarto trimestre. Em 2025 vamos continuar a crescer de forma estável, mas o que seria incrível é se a economia chinesa crescesse ainda mais.”

Afirmando ter “muita sorte” por poder operar em Macau desde a liberalização, tendo em conta que é “o maior mercado com maior crescimento dos últimos 50 anos”, o empresário diz não ter medo da competição asiática.

“Vai sempre haver competição na Ásia. Singapura certamente que constitui uma competição em relação a Macau, mas no futuro, assim que o Japão abrir [para o mercado do jogo], vai ser também um forte competidor. Já existe debate em torno da Tailândia e jurisdições mais pequenas como o Cambodja, Vietname e Filipinas. Mas a grande vantagem de Macau é ter 1.4 mil milhões de chineses do outro lado da fronteira. Não penso que as regulações sejam excessivas.”

10 Out 2024

Semana Dourada | Sector do turismo satisfeito com resultados

A Semana Dourada, recentemente terminada, é a prova de como o sector do turismo voltou aos seus tempos áureos. Associações dizem-se satisfeitas com os resultados, que foram de encontro às expectativas, tendo em conta os recordes batidos

Foto de Rómulo Santos 

 

Terminada na segunda-feira, a Semana Dourada deixou nas associações do sector do turismo sinais de optimismo. Segundo o jornal Ou Mun, as reacções foram positivas face ao número de visitantes, que bateu recordes em alguns dias ou a taxa de ocupação hoteleira. O balanço foi apresentado em conferência de imprensa pela Associação dos Hoteleiros de Macau.

Na apresentação, destacou-se o facto de, no dia 3, ter sido registado um total de 174,5 mil entradas de visitantes no território, um novo recorde diário. Citado pelo mesmo jornal, Cheung Kin Chung, presidente da associação, lembrou que, em média, Macau recebeu 158 mil turistas nos primeiros cinco dias da Semana Dourada, o que demonstra que o panorama geral do turismo é bom, com Macau a ser beneficiado pelas políticas de Pequim nesta área.

Já Lou Chi Leong, vice-presidente da associação, recordou que não só o volume diário de turistas nos feriados ultrapassou as previsões, como a taxa de ocupação hoteleira foi além dos 90 por cento, correspondendo também às expectativas do sector para estes dias. Relativamente ao preço médio dos quartos, foi igual ao registado na Semana Dourada de 2019.

Zhu Nanying, vice-presidente da associação, apontou que a grande maioria dos visitantes foram turistas individuais e não excursões, que registaram um número estável. A responsável lembrou que as excursões ocorreram sobretudo nos dias 2 e 5 de Outubro, tendo sido elogiada a boa preparação de passeios e demais logística por parte dos excursionistas. Para o sector do turismo, este foi o ano com maior sucesso em termos de organização de excursões.

Boas previsões

Na mesma conferência de imprensa da Associação dos Hoteleiros de Macau, houve ainda espaço para previsões sobre o quarto trimestre. Cheung Kin Chung prevê um melhor desempenho do mercado, e apontou que o sector vai continuar a organizar acções de formação para os empregados.

Zhu Nanying defendeu que o Governo deve realizar mais acções para atrair turistas internacionais, nomeadamente através da medida de oferta de bilhetes de autocarro e ferry, que poderia ser estendida.

Além desta iniciativa, a vice-presidente apontou que podem ser lançadas ofertas na área do alojamento, dando apoios às agências de viagens para que criem acções de campanha na busca de turistas internacionais.

Em termos do panorama de recursos humanos na área do turismo, Zhu Nanying disse estar satisfeita porque há mais pessoas a trabalhar como guias turísticos, destacando, porém, a falta de motoristas de autocarros turísticos, esperando que o Executivo possa também dar mais apoio nesta matéria.

9 Out 2024

Eleições | Sam Hou Fai quer aproveitar terrenos na Taipa

Em mais uma acção da campanha eleitoral para o cargo de Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, único candidato, visitou alguns bairros na Taipa e prometeu que os terrenos nesta zona serão melhor aproveitados pelo novo Governo. Sam Hou Fai deixou ainda promessas de melhorias no trânsito

 

Os bairros comunitários da Taipa foram o lugar escolhido por Sam Hou Fai, candidato único ao cargo de Chefe do Executivo, para mais uma acção de campanha ocorrida ontem. Deste encontro com a população, ficou a promessa de um melhor aproveitamento de terrenos no futuro, quando formar um novo Executivo.

“Caso seja eleito iremos recolher opiniões de uma forma geral sobre o aproveitamento de terrenos. Temos aqui muitos espaços de boa qualidade que podem ter maior funcionalidade, nomeadamente como centro de transportes, espaços de lazer ou instalações desportivas”, declarou aos jornalistas.

Sam Hou Fai, que durante 25 anos foi presidente do Tribunal de Última Instância (TUI), reconheceu que a ilha da Taipa é hoje uma zona densamente povoada, sobretudo por famílias de classe média, conforme o último recenseamento.

“A Taipa tem cerca de 116 mil habitantes, sendo que 90 mil moram no centro. Cada família a morar na Taipa tem um rendimento médio de cerca de 82 mil patacas, sendo que, na península, as famílias têm um rendimento médio de 58 mil patacas, aproximadamente”, explicou.

O candidato lembrou que, nas últimas décadas, a Taipa desenvolveu-se bastante, sendo hoje uma zona mais movimentada do que a zona norte da península de Macau.

Trânsito a fluir

Na visita à Taipa, não faltaram questões sobre como melhorar o trânsito numa zona densamente povoada. Tendo sido questionado sobre a possibilidade de se construir uma ligação entre o sistema pedonal da Avenida de Guimarães, na Taipa, e o complexo de habitação pública no Edifício do Lago, o candidato a Chefe do Executivo prometeu analisar o assunto no futuro.

Sam Hou Fai defendeu que o sistema pedonal na zona deve ser melhorado, a par da conexão com o metro ligeiro, autocarros e táxis, devendo ser feito um maior esforço para melhorar as zonas em que as pessoas podem andar a pé. Para isso, lembrou o candidato, deve ser garantindo um equilíbrio para assegurar o conforto dos transeuntes e demais passageiros, para que não haja um impacto negativo na vida dos moradores da zona.

Esta segunda-feira, a campanha de Sam Hou Fai passou ainda pela Associação de Dotados de Macau, tendo sido partilhadas “informações sobre a educação dos alunos dotados”, além de serem apresentadas “sugestões para a optimização da política e apoio educativos” dos alunos com maiores capacidades, a fim de promover “a formação de talentos em Macau”, destaca uma nota.

9 Out 2024

Musical | CCM acolhe “João e o Pé de Feijão” em Dezembro

Chama-se “João e o Pé de Feijão” e é a nova aventura musical contada aos mais novos no Centro Cultural de Macau. Em Dezembro, sobe ao palco o espectáculo que é uma readaptação de um clássico por uma companhia japonesa, o Teatro Hikosen. Com recurso a marionetas, personagens como a harpa mágica ou a galinha dos ovos de ouro ganham outra dimensão

 

“Quanto a João e à mãe, foram muito felizes daí em diante. E, com uma galinha a pôr ovos de ouro e uma harpa a tocar sozinha, nunca mais foram pobres”. É desta forma que começa a história de encantar, numa espécie de conto de fadas para crianças, “João e o Pé de Feijão”, mundialmente conhecida e traduzida para várias línguas, a partir do original em inglês.

É esta história que dá o mote para o próximo espectáculo a subir ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) entre os dias 13 e 15 de Dezembro, graças à readaptação da história pela companhia japonesa Teatro Hikosen, que trará a sua marca artística a Macau, marcada pelas marionetas.

Segundo uma nota do Instituto Cultural (IC), esta é uma “aventura musical dirigida ao público infantil”, contando-se esta história de encantar “através de grandes marionetas, incarnadas por um experiente elenco”.

“A companhia japonesa leva à cena um conto que tem encantado inúmeras gerações com uma série de personagens bem conhecidas, desde a harpa mágica à famosa galinha dos ovos de ouro. Através de cantigas e movimentos de dança, esta versão, um pouco diferente da original, conta a história de um bom menino que, a caminho de vender a vaca da família, se torna amigo de uma princesa”.

Desde o século XIX

Popularizado em todo o mundo, o conto “João e o Pé de Feijão” tem “resistido ao teste do tempo, sendo transmitido de boca em boca ao longo de milhares de anos através de histórias contadas tradicionalmente e, mais tarde, nas páginas de livros infantis”.

A versão mais popular deste conto foi publicada na colectânea “Contos de Fadas Ingleses”, escrita por Joseph Jacob em 1890. Porém, a versão mais antiga que se conhece é da autoria de Benjamim Tabart, de 1807. Tendo sido recriado em inúmeras versões, dos desenhos animados aos filmes, o conto inspirou o Teatro Hikosen a reinventar o clássico.

O Teatro Hikosen nasceu em 1966 no Japão, tendo já percorrido o mundo com as suas coloridas máscaras, figurinos e adereços. Esta não é a primeira vez que o grupo actua em Macau, apresentando sempre espectáculos dirigidos a um público jovem e às suas famílias. No caso de “João e o Pé de Feijão”, será uma peça dobrada em cantonense e legendada em inglês e chinês, sendo que os bilhetes já estão à venda desde o dia 29 de Setembro.

8 Out 2024

Wynn Resorts | Atribuída primeira licença nos EAU

A operadora de jogo Wynn Resorts, sediada em Las Vegas, obteve a primeira licença de jogo nos Emirados Árabes Unidos (EAU), atribuída pela Autoridade Reguladora Geral de Jogos Comerciais do país, foi noticiado pela agência Reuters.

Em causa, está a construção de um resort de luxo na ilha Wynn Al Marjan, em Ras Al Khaimah, tratando-se de um projecto no formato joint-venture entre a Wynn Resorts e as empresas Marjan e RAK Hospitality Holding. O gabinete de comunicação do governo de Ras Al Khaimah, RAKTDA, e a RAK Hospitality Holding não responderam aos pedidos de comentário da Reuters.

Em Setembro, os EAU criaram uma entidade federal para a regulação do sector do jogo, tendo sido contratados especialistas veteranos da indústria do jogo dos EUA, sediada em Las Vegas, para acompanhar os trabalhos. Assim, escreveu a Reuters, colocou-se um ponto final a anos de especulação se o país iria ou não ter jogo, uma vez que é ilegal em toda a região do Golfo.

As medidas para permitir o jogo têm como pano de fundo a intensificação da concorrência económica no Golfo, especialmente com a Arábia Saudita. No mês passado, os EAU introduziram uma série de reformas legais liberais, numa tentativa de manter a sua posição de centro comercial, turístico e financeiro da região.

8 Out 2024

Eleições | Sam Hou Fai acaba com audiências públicas

O candidato único ao cargo de Chefe do Executivo declarou ontem que não lançará mais audiências públicas, sugerindo ter pouco tempo em agenda e que a população pode apresentar as suas opiniões por vias alternativas. Sam Hou Fai voltou a referir que já percepcionou mais a sociedade em poucas semanas do que em 25 anos como juiz

 

Decorreu ontem, nos bairros do Porto Interior e Praia do Manduco, mais uma acção de campanha de Sam Hou Fai, único candidato ao cargo de Chefe do Executivo, que declarou aos jornalistas que não irá realizar mais audiências públicas de auscultação de opiniões e sugestões dos residentes.

“Tenho um calendário apertado e preciso ainda de visitar e ouvir as vozes de pessoas de outras indústrias e em outros bairros”, justificou. Sam Hou Fai acrescentou ainda que há meios alternativos para acolher as opiniões da sociedade além da audiência pública.

“O nosso website oficial da candidatura acolhe quaisquer opiniões da população, e temos ainda outros meios como a entrega de cartas, e através de associações, para que estas opiniões possam ser expressas”, acrescentou.

De frisar que, na última semana, o jornal All About Macau escreveu uma reportagem sobre alegadas dificuldades de acesso a estas audiências públicas, pois havia apenas 400 vagas, sendo necessário aos restantes residentes inscreverem-se para participar num sorteio de vagas.

Outro exemplo destacado pelo jornal digital, prende-se com o facto de apenas alguns meios de comunicação social terem recebido convites para a apresentação na última audiência pública.

11 perguntas

No sábado, decorreu uma audiência pública em que estiveram presentes 400 cidadãos, sendo que, segundo um comunicado, 11 participantes fizeram perguntas a Sam Hou Fai depois de participarem num sorteio.

“Sam Hou Fai respondeu a cada uma das questões apresentadas pelos cidadãos, trocando com eles opiniões sobre as ideias de acção governativa. Entre os principais temas de interesse dos cidadãos estão a governação pública, o ingresso e a promoção dos funcionários públicos, formação de talentos, a habitação, transportes e serviços médicos”, pode ler-se.

O candidato prometeu “consolidar a posição de Macau como Centro Mundial de Turismo e Lazer”, bem como “aperfeiçoar projectos de investimento não relacionados com o jogo”. Sam Hou Fai não esqueceu as questões sociais e prometeu “melhorar a afectação de recursos médicos e elevar o nível de educação”, entre outras promessas.

No final, o candidato confessou que já aprendeu mais sobre a sociedade de Macau nas semanas de campanha do que nos anos em que foi juiz, 25 deles na presidência do Tribunal de Última Instância. “Nos 30 anos que tenho de carreira não conheci bem a sociedade, mas agora estas visitas têm compensado esta lacuna, sobretudo nas áreas da economia, bem-estar, trânsito e o panorama geral da cidade”, acrescentou. Sam Hou Fai deixou a promessa de visitar também as ilhas de Taipa e Coloane para se inteirar melhor dos assuntos mais prementes em Macau.

7 Out 2024

Doci Papiaçam di Macau | Coro do grupo em patuá actua em Lisboa

O coro dos Doci Papiaçam di Macau irá actuar em Lisboa esta semana por ocasião do plenário do Conselho das Comunidades Portuguesas, entre os dias 8 e 10 de Outubro. Inclui-se ainda uma actuação na Casa de Macau em Lisboa. Miguel de Senna Fernandes destaca que este é o primeiro convite feito por Portugal ao grupo 25 anos depois da transição

 

É um momento quase histórico. Ao fim de 25 anos da transferência da administração portuguesa de Macau para a China, os Doci Papiaçam di Macau, grupo local que mantém vivo o patuá, vai a Lisboa actuar por ocasião do plenário do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), que decorre entre amanhã e quinta-feira na capital portuguesa.

Assim, os Doci, que actuarão com o seu coro e não com o grupo de teatro, irão apresentar as suas canções e o seu trabalho na Assembleia da República, em São Bento, na terça-feira ao meio dia, seguindo-se, no dia seguinte, uma actuação na Casa de Macau em Lisboa. Finalmente, o grupo terá uma última actuação em frente à Câmara Municipal de Lisboa, por ocasião do encerramento das actividades do CCP.

Ao HM, Miguel de Senna Fernandes revelou que a ideia inicial de levar a Lisboa uma peça de teatro em patuá acabou por cair por terra, pois apresentar o coro é bem mais fácil em termos logísticos. “Havia alguma dificuldade em escolher o que seria apresentado, pois no que diz respeito às línguas seria complicado [apresentar a peça em patuá], mas oferecemos a possibilidade de apresentar o coro dos Doci, que está reabilitado desde há quatro anos.”

Desta forma, o grupo pensou tratar-se de uma melhor solução, “pois a música é uma linguagem universal”. “As pessoas não sabem patuá e podem apreciar a música cantada numa língua que não entendem, mas é sempre algo melódico”, frisou Miguel.

A actuação na Casa de Macau surgiu por acaso, a fim de aproveitar o único dia em que os Doci estão em Lisboa sem agenda, podendo, assim, mostrar o seu espectáculo aos macaenses que vivem em Portugal e demais interessados.

Fazer “o melhor possível”

Miguel de Senna Fernandes foi o responsável pelos arranjos das dez canções que o coro dos Doci vai levar para Lisboa, sendo que o grupo parte hoje para Portugal.

As expectativas são mais que muitas por um regresso que acontece 25 anos depois da transferência da administração portuguesa de Macau para a China.

“Não sei que público teremos, vamos fazer o melhor possível. As pessoas não sabem o que é o patuá, e talvez grande parte das pessoas já nem saiba o que é Macau, e vamos ter de explicar. Mas o grupo está entusiasmadíssimo. Tudo pode acontecer, estamos à espera do imprevisto, mas vamos dar conta do recado”, destacou Miguel de Senna Fernandes.

O convite feito pelo Governo português no ano em que se celebram os 25 anos da RAEM carrega em si um grande simbolismo, acrescentou o grande dinamizador dos Doci, autor habitual das peças de teatro que o grupo apresenta. “Há 25 anos que o grupo não vai a Portugal. Quando o fizemos [em 1999], actuamos na presença de Jorge Sampaio [então Presidente da República portuguesa], e nunca mais se falou da deslocação do grupo para fora. Não tínhamos como largar esta hipótese, é uma honra para o grupo.”

Miguel de Senna Fernandes confessa que não está posta de parte a possibilidade de se apresentarem em Lisboa peças em patuá. “Não está descartada a hipótese de um dia irmos a Lisboa apresentar o teatro em patuá, com uma trupe menor, tendo em conta o orçamento. Já nos custa muito ir agora. O coro tem 20 pessoas e, tendo em conta que a deslocação é paga pela secretaria de Estado, houve um limite apertado em termos de orçamento e muitas pessoas não puderam ir.”

A ida dos Doci a Lisboa é um evento com tanto simbolismo que o próprio Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, autorizou a despensa de serviço de muitos dos membros que são funcionários públicos. O governante recebeu uma carta a dar conta do evento.

“Há uma referência da ligação da secretaria de Estado em Portugal que manifestou a sua conexão à comemoração dos 25 anos da RAEM, embora não seja um apoio formal pois teria de passar pela Embaixada da China. Mas talvez [a iniciativa] tenha sensibilizado o Chefe do Executivo e os funcionários públicos tiveram despensa de serviço”, rematou.

7 Out 2024

Conselho das Comunidades | Plenário acontece esta semana em Lisboa

Realiza-se esta semana, entre amanhã e quinta-feira, o plenário anual do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) em Lisboa, com a presença da conselheira para os órgãos regionais do CCP na Ásia e Oceânia, Rita Santos.

Segundo o programa oficial da secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Portugal, a sessão começa amanhã na Assembleia da República, com Maria Manuela Aguiar como convidada especial. Haverá ainda uma recepção, ao meio-dia, na Residência Oficial do Primeiro-ministro, actualmente Luís Montenegro, e que contará com a actuação do coro dos Doci Papiaçam di Macau.

Será ainda deliberado o programa de acção do CCP para os próximos quatro anos, além de ser eleito um novo presidente do conselho permanente do CCP.

Na quarta-feira, haverá reuniões com os diversos conselhos regionais do CCP, sendo que na quinta-feira terá lugar outra recepção de encerramento, com a actuação dos Doci, em frente à Câmara Municipal de Lisboa. Nessa cerimónia, às 18h15, estará presente Carlos Moedas, presidente da Câmara, e o próprio secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário.

7 Out 2024

Livraria portuguesa | Obra de Philip J. Stern sobre colonialismo britânico lançada este sábado

“Empire, Incorporated – The Corporations That Built British Colonialism”, da autoria do historiador Philip J. Stern, será lançado este sábado na Livraria Portuguesa a partir das 18h30. Nesta obra, lançada no ano passado com a chancela da Harvard University Press, analisa as relações entre o sector público e privado na era do colonialismo britânico, com o foco no mundo empresarial

 

Philip J. Stern, historiador premiado e especialista na história do colonialismo britânico, vai estar em Macau este sábado para apresentar, na Livraria Portuguesa, a partir das 18h30, o seu mais recente livro que se debruça sobre o mundo empresarial no antigo império colonial britânico e a relação com o sector público.

“Empire, Incorporated – The Corporations That Built British Colonialism” coloca, segundo a descrição da obra, a “corporação, mais do que a Coroa, no centro do colonialismo britânico, argumentando que as empresas construíram e governaram o império global, levantando questões sobre o poder público e privado que eram tão preocupantes há 400 anos como o são actualmente”.

Falamos de zonas onde os ingleses governaram ou administraram ao longo de séculos, como é o caso da Irlanda, Índia, Américas, África ou Austrália, e onde a sua presença acabou por ser “um negócio de empresas”, que foi a força motriz do colonialismo.

Segundo a mesma descrição da obra, “as corporações conceberam, promoveram, financiaram e governaram a expansão ultramarina, reivindicando territórios e povos e assegurando, ao mesmo tempo, que a sociedade britânica e colonial fosse investida, literalmente, nos seus empreendimentos”.

Actualmente ligado à Duke University, onde é professor associado de História, Philip J. Stern ganhou um prémio com a obra “The Company-State”, lançado em 2011 e que conta a história da corporação como tendo tido um papel fulcral em toda a política colonial dos ingleses. Neste livro agora apresentado em Macau, o autor aprofundou o tema.

Das controvérsias

Em “Empire, Incorporated – The Corporations That Built British Colonialism”, procura-se mostrar como as empresas coloniais eram também “implacavelmente controversas, frequentemente endividadas e propensas ao fracasso”. Foi comum a criação de sociedades anónimas adaptadas à expansão ultramarina dos ingleses “não por ser um rolo compressor inevitável, mas porque, tal como o próprio império, era uma contradição esquiva: pública e privada; pessoa e sociedade; subordinada e autónoma; centralizada e difusa; imortal e precária; nacional e cosmopolita”. Ou seja: “uma ficção jurídica com um poder muito real”, é descrito.

Philip J. Stern conseguiu assim, com esta obra, “romper com histórias tradicionais em que as empresas assumem um papel de apoio, fazendo o trabalho sujo dos Estados soberanos em troca de monopólios comerciais”, argumentando que “as empresas assumiram a liderança na expansão e administração globais”.

No livro, é ainda explicado que em territórios como a Irlanda ou América do Norte, no século XVI, ou ainda nas ilhas Malvinas já na década de 80, “as empresas foram actores fundamentais”, sendo que “o colonialismo de risco não terminou com o fim do império”, pois o legado dessas empresas continuou a “levantar questões sobre o seu poder que são tão relevantes hoje como eram há 400 anos”.

“Desafiando a sabedoria convencional sobre onde o poder é detido à escala global, Stern complica a distinção supostamente firme entre a empresa privada e o Estado, oferecendo uma nova história do Império Britânico, bem como uma nova história da corporação”, é descrito.

Com um doutoramento pela Universidade de Columbia concluído em 2004, Philip J. Stern diz focar o seu trabalho “nos vários aspectos legal, político, intelectual e nas histórias de negócios que formaram o Império Britânico”. “Os meus interesses incluem o papel que as empresas e corporações tiveram no mundo empresarial colonial, a exploração estrangeira e a cartografia, e a historiografia da Índia britânica”, entre outras matérias.

3 Out 2024

Turismo | Quarta-feira bateu recorde em número de visitantes

Macau recebeu, esta quarta-feira, 166,1 mil visitantes, número que ultrapassa as 162,1 mil pessoas que, há cinco anos, visitaram o território também na Semana Dourada, mas no dia 5 de Outubro. Governo fala em “níveis ideais” de turistas para este período. Zona das Ruínas de São Paulo tem sido sujeita a controlo de multidões

 

Os números de visitantes de Macau durante a chamada Semana Dourada estão a corresponder às expectativas das autoridades. Na quarta-feira, no dia seguinte ao Dia Nacional da China, o território recebeu 166,1 mil visitantes, número que “ultrapassou o recorde de 162,1 mil registado a 5 de Outubro de 2019, marcando o número mais elevado de que há registo estatístico nos feriados do Dia Nacional”, apontou a Direcção dos Serviços de Turismo (DST), em comunicado.

Números oficiais preliminares, apontam que o território recebeu na terça-feira, 1 de Outubro, data dos 75 anos da implantação da República Popular da China (RPC), 128,3 mil visitantes, sendo que, em conjunto com os visitantes do dia 2, quarta-feira, “correspondem a um total de perto de 277 mil”, com um aumento de 20 por cento da média diária, é referido na mesma nota.

A DST destaca ainda dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) sobre os visitantes de há cinco anos, que mostram como o território tem registado uma boa recuperação no sector do turismo. “Os três anteriores valores diários mais elevados registados por altura do Dia Nacional ocorreram todos nos feriados de 2019: dia 5 de Outubro (162,1 mil), dia 3 (161,6 mil) e dia 2 (159,3 mil)”.

Mais de 700 mil

Números divulgados pelo Corpo de Polícia e Segurança Pública (CPSP) revelam ainda a enchente registada em Macau nos últimos dias: um total de 708.954 entradas e saídas nos postos fronteiriços, quase 710 mil pessoas.

A DST destaca também que “a recuperação da indústria turística local decorre a um ritmo célere e avança para um novo patamar de desenvolvimento”, tendo em conta o panorama “positivo” do sector nos períodos do Ano Novo Chinês e férias de Verão, sem esquecer que “o número de visitantes em Agosto registou novo recorde histórico”.

A zona das Ruínas de São Paulo, um dos monumentos mais visitados do território, foi ainda alvo de medidas de controlo de multidões, dado o elevado número de visitantes no local, além de que muitos percursos de autocarro foram alterados para melhor circulação no território.

Na mesma nota, a DST destaca que para estes números contribuíram também os muitos eventos e actividades organizadas para estes dias de celebração, nomeadamente o 32.º Concurso Internacional de Fogo-de-Artifício de Macau que, no dia 1, contou com as apresentações de empresas de pirotecnia do Interior da China e de Itália. No próximo domingo, dia 6, será dia de apresentar os dois últimos espectáculos do evento, a cargo de companhias do Japão e Portugal.

3 Out 2024

Exposição sobre design de cartazes de Macau para ver no Porto

Decorre até ao dia 31 de Outubro, na Faculdade de Economia e Gestão da Universidade do Porto, a exposição em formato pop-up de design de cartazes de Macau. A iniciativa acontece graças à junção de forças entre a Associação de Design de Cartazes de Macau e Associação Cultural Portuguesa, e conta com apoios do Fundo de Desenvolvimento Cultural da RAEM. A mostra está patente desde o dia 23 de Setembro.

Com curadoria de Hong Ka Lok, este destacou, na inauguração da mostra, que esta é também uma forma de comemorar os 25 anos da RAEM, tendo sido escolhidos 25 cartazes que “constituem uma selecção das realizações do design de Macau ao longo dos anos, permitindo ao público português ter uma visão abrangente do crescimento e desenvolvimento do território desde o seu regresso à China há 25 anos”. Além disso, a exposição “destaca também o panorama do design de Macau, oferecendo uma plataforma internacional que possibilita à nova geração de designers de Macau mostrar o seu talento”.

Os cartazes falam de eventos como o Festival de Artes de Macau, o Festival Fringe de Macau, a Semana de Design de Macau, os Prémios de Design de Macau, a Zona do Estaleiro de Lai Chi Vun e o Festival de Artes Sino-Português, oferecendo uma visão abrangente sobre o crescimento e desenvolvimento de Macau.

Conexões artísticas

Criada em 2009, a Associação de Design de Cartazes de Macau tem-se comprometido a fornecer uma plataforma para que os designers locais possam mostrar, trocar e criar, através da organização de exposições profissionais. Segundo a mesma nota, a entidade procura também, em “consonância com os esforços do Governo de Macau, promover o intercâmbio e cooperação cultural sino-portuguesa e impulsionar o desenvolvimento diversificado das indústrias”.

Com o trabalho desenvolvido, a associação procura “reflectir, através do design, a profunda conexão entre a cultura chinesa e a cultura única dos países de língua portuguesa”.

No caso da ACPT – Associação Cultural Portuguesa, trata-se de uma associação independente, tendo como objectivos de acção a “promoção e intercâmbio de negócios culturais e criativos entre culturas portuguesas que se relacionem com a língua portuguesa e o resto do mundo”. Promove-se, assim, o intercâmbio de actividades académicas, culturais e económicas relacionadas com indústrias culturais e criativas, incluindo todas as disciplinas de artes plásticas, arquitectura, design, cinema, literatura, música, artes performativas e empreendedorismo.

3 Out 2024

Exposição | “Echoes of a Golden Age” no Cotai até Janeiro

Pode ser vista até ao dia 5 de Janeiro a exposição “Echoes of a Golden Age”, na Sands Gallery no empreendimento Grand Suites do Four Seasons, no Cotai. São expostas 121 obras de arte de nove artistas contemporâneos de Macau, com o intuito de celebrar os 75 anos da República Popular da China e o 25.º aniversário transição da soberania de Macau para a China

 

Chama-se “Echoes of a Golden Age” [Ecos de uma Idade de Ouro] e é mais uma exposição com arte feita em Macau para celebrar o chamado “duplo aniversário”: os 75 anos da República Popular da China e os 25 anos da RAEM.

A mostra, que inclui 121 obras artísticas, incluindo selos, pode ser vista na Sands Gallery, no hotel Four Seasons, até ao dia 5 de Janeiro, e é uma co-organização entre a operadora de jogo Sands China e a Sociedade de Artistas de Macau, incluindo várias entidades governamentais, sendo comissariada por Lam Chi Ian, artista de Macau.

Incluem-se, assim, trabalhos de Lam Chi Ian e ainda Ung Vai Meng, que presidiu ao Instituto Cultural; Lai Ieng, Lok Hei, Ng Wai Kin, Lio Man Cheong, Lei Tak Seng, Chan Hin Io e Ao Kuan Kin. Segundo um comunicado, cada um dos artistas “apresenta uma vasta experiência nas várias disciplinas” artísticas, sendo que o público poderá ver, nas obras, “uma variedade de formas, incluindo pintura a tinta da china, pintura a óleo, aguarela, pintura acrílica, esboço, desenho com fineliner, ilustração digital e fotografia”.

Relativamente às temáticas, inclui-se “o desenvolvimento de Macau e suas características culturais e sentimentos públicos de antes e depois da reunificação”, celebrando-se, assim, “a prosperidade e o patriotismo de Macau desde a reunificação e o poder de união do povo de Macau para seguir em frente”.

A organização descreve ainda que se pode obter, com estas obras, “uma excelente visão geral das mudanças dos tempos a partir de várias perspectivas, partilhando ao mesmo tempo a alegria deste ano de duplas celebrações”.

Selos especiais

Os artistas participantes desta mostra criaram ainda selos com cenas que retratam “o esplendor centenário das Casas da Taipa ou as maravilhas modernas como a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau”. São reflectidas “as mudanças históricas com desenhos únicos que registam a mudança dos tempos na pequena tela de uma moldura de selo”.

Citada pela mesma nota de imprensa, Lok Hei, artista e presidente da Sociedade de Artistas de Macau, defendeu que os selos e obras expostos “revelam-nos o amor dos artistas locais por Macau ao retratarem os traços dos edifícios locais em tempos passados e as novas paisagens da cidade numa nova era”.

“A exposição das obras dos nove artistas não só representa o nosso tributo às duplas celebrações, como também é um reflexo do património histórico de Macau devido à integração das culturas chinesa e ocidental e ao rápido desenvolvimento da cidade desde a sua reunificação”, concluiu.

Lam Chi Ian, artista e curador, afirmou que o tema central por detrás da mostra, “Macroacontecimentos através de macrovisões” acaba por incorporar “a grande ambição que é transmitida nas obras dos nove conhecidos artistas locais”.

Trata-se de uma exposição que constitui uma “representação viva da forma como Macau se tem revigorado ao longo do seu desenvolvimento histórico”, pretendendo-se “contar as histórias de Macau através do suave poder da cultura e arte”.

3 Out 2024

Lançado em Lisboa livro com poemas traduzidos de Han Shan

Acaba de ser editado, com a chancela da Grão-Falar, mais um livro de poesia chinesa traduzida. Trata-se de “Han Shan – Poemas”, com tradução, selecção, notas e prefácio de António Graça Abreu. O lançamento decorreu na última quinta-feira no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM).

O poeta Han Shan terá vivido no século VIII, mas, segundo o prefácio da obra, é um nome misterioso, provavelmente um pseudónimo, pois “ninguém sabe ao certo quem foi o poeta, quando viveu, ninguém sabe onde o encontrar”.

“O seu nome, que significa ‘Montanha Fria’, corresponde por certo a um pseudónimo, e, por detrás destes dois caracteres, esconde-se um letrado estranho, evanescente, quase ignorado pelas muitas e desvairadas gentes que têm vivido debaixo do céu”, lê-se.

Tendo em conta que, na China, “pelo menos desde o século II a.c. se acostumou a biografar os seus filósofos, poetas, letrados e mandarins, Han Shan acabou também por ser objecto de uma curiosa nota biográfica”, lê-se ainda no prefácio.

“Pobre diabo com juízo”

Han Shan foi, assim, uma figura que despertou alguma estranheza. Graça Abreu, ao traduzir palavras de Liu Qiuyin, Governador de Taizhou, um mandarim dos séculos VIII ou IX, revela um “testemunho com múltiplos detalhes sobre a figura excêntrica de Han Shan, um pobre diabo com juízo que habitava as montanhas Tiantai”, que, com referências actuais, “não é longe da actual cidade de Linhai, no nordeste da província de Zhejiang”.

O poeta “deve ter tido uma vida longa”, vivido “em datas incertas entre os anos de 650 e 850”. “Se a vida de Han Shan se prolongou até 780, o poeta poderá ter conhecido e convivido com alguns dos maiores poetas da China de sempre, homens como Wang Wei, Li Bai e Du Fu”, descreve-se ainda.

Ainda no prefácio, é referido que Han Shan era, até há bem pouco tempo, “completamente desconhecido em Portugal, o que de resto acontecia com quase todos os poetas chineses”, apesar de “Macau e de uma continuada presença portuguesa de quatrocentos e cinquenta anos em terras da China”.

O livro, com cerca de 160 páginas, inclui dezenas de poemas de Han Shan, que escreveu versos como “Habito a montanha, / Ninguém me conhece. / Entre nuvens brancas, / O silêncio, sempre o silêncio”.

30 Set 2024

CCCM | Celina Veiga de Oliveira recordou autores de Macau

Foi com a palestra “Um Colar de Pérolas – Perspectiva Global da Literatura de Macau em Língua Portuguesa no Século XX” que a historiadora Celina Veiga de Oliveira apresentou, em Lisboa, alguns dos mais icónicos autores de Macau. Na sessão, couberam os escritos de Camões, Deolinda da Conceição, Henrique de Senna Fernandes ou Maria Ondina Braga

 

No ano em que se comemoram os 500 anos do nascimento de Luís de Camões, o maior poeta português, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) promoveu, na última quinta-feira, uma conversa sobre a literatura que se fez no território ao longo de todo o século XX, na habitual sessão “Conversas Sábias”, organizada todas as semanas.

Coube a Celina Veiga de Oliveira, historiadora, docente e antiga residente em Macau, protagonizar esta palestra, que recordou “vultos que, em Macau, produziram obra literária de considerável valor no século XX”.

Intitulada “Um Colar de Pérolas – Perspectiva Global da Literatura de Macau em Língua Portuguesa no Século XX”, a sessão começou com a definição de Ferreira de Castro, autor que um dia intitulou Macau como uma “cidade liliputiana”, descrevendo o Rio das Pérolas como o “Rio Pérola”. “Para mim é a forma mais poética para designar o rio que banha Macau”, disse Celina Veiga de Oliveira, que fez a relação com a literatura ali realizada, “o vasto rio literário de Macau”.

Foi também destacada Deolinda da Conceição, autora do livro de contos “Cheong Sam – A Cabaia”, alguém que foi “jornalista feminista, com opinião própria, uma mulher muito avançada para a sua época”. Para Celina Veiga de Oliveira, este livro constituiu “um marco na literatura macaense em que uma mulher se assumiu como autora”.

Maria Ondina Braga, autora portuguesa que deu aulas em Macau no Colégio Santa Rosa de Lima, foi outra das autoras referenciadas. Celina Veiga de Oliveira destacou dois livros que têm o território como cenário: “A China vive ao lado” e “Nocturno em Macau”.

Falou-se “de uma grande escritora”, que “reporta na sua obra os costumes e modos de vida chineses e macaenses, em especial em desassossego interior”, demonstrando “uma mulher muito ansiosa”.

Em “A China vive ao lado” são “contos de inspiração chinesa” em que o primeiro deles “fala-nos do aborto que uma jovem chinesa fez e a descrição do ambiente em que o fez”. Era uma vida difícil, pois a jovem refugiou-se em Macau com a avó, e “vivia varrendo o chão do templo, sustentando-se com a comida das oferendas”.

Já em “Nocturno em Macau” retrata-se “a vida das professoras do Colégio de Santa Fé, um microsmo das relações pessoais em espaço fechado”. Destacam-se as professoras Ester, “muito provavelmente o alter ego de Maria Ondina Braga”, Chiao, a professora chinesa, a professora goesa e um “muro fora do colégio”.

Para Celina Veiga de Oliveira, trata-se de um “livro difícil de resumir e maduro”. “É a sua alma que espelha no desenvolvimento da narrativa que tem de ser lida para ser apreciada. A certa altura fala dos chineses, e diz algo interessante: que eram completamente indiferentes às procissões católicas de Macau, mas que davam muita atenção ao 10 de Junho. Para o chinês, o seu amor era os pais, os filhos e os seus antepassados, a vida e a morte”, apontou Celina Veiga de Oliveira.

Os filhos da terra

Além do destaque a Henrique de Senna Fernandes, um dos grandes autores de Macau, Celina Veiga de Oliveira lembrou ainda Maria Pacheco Borges, com o livro “Chinesinha”, “contos que Maria Borges escreveu com carinho, agilidade e subtileza”.

Houve ainda tempo para falar de José Santos Ferreira, mais conhecido por Adé, amigo pessoal de Celina. Para esta, foi “um filho da terra e representante do patuá local, nunca esquecendo a língua portuguesa”, pois Adé considerava “o português como sendo a sua língua mátria”.

No final da palestra, Celina Veiga de Oliveira apresentou ainda uma lista de autores que considera importante por serem contemporâneos em Macau, nomeadamente Dora Nunes Gago, com “Palavras Nómadas” ou “Floriram por engano as rosas bravas”, que têm Macau como espelho de fundo, e também Carlos Morais José, com a obra “Anastasis”. Couberam nomes que, no essencial, viveram em Macau ou que escreveram sobre o território.

30 Set 2024

Rua da Felicidade | Protestos para a suspensão de zona pedonal

Vários comerciantes da Rua da Felicidade lançaram uma acção conjunta no último fim-de-semana afixando papéis às portas das lojas onde exigem o cancelamento da zona pedonal no local conforme prometido pelo Governo

 

Os comerciantes da Rua da Felicidade exigem que o Governo, através do Instituto Cultural (IC), cumpra a promessa de cancelar a zona pedonal localizada entre a Travessa do Aterro Novo e Travessa do Mastro. Para isso, lançaram uma acção conjunta, que decorreu nos últimos dois dias, com a afixação de papéis e folhas de jornal sobre o assunto, exigindo acções concretas após a reunião levada a cabo entre o IC estes comerciantes.

Segundo o jornal All About Macau, o deputado Ron Lam U Tou, que tem acompanhado o caso, explicou que a acção conjunta dos comerciantes visa demonstrar que “apenas querem que o Governo não cause problemas, tratando-se de um pedido simples”. “Querem apenas um ambiente de negócios comum”, adiantou.

Além disso, o IC tem demorado a reagir ao pedido dos comerciantes. Ron Lam disse que foi pedida uma resposta concreta no prazo de uma semana, mas não houve ainda reacção, sendo que os comerciantes pediram a suspensão da zona pedonal antes da chegada da Semana Dourada.

Assim, nas palavras do deputado, os comerciantes sentem-se desapontados por considerarem sincera a atitude do Executivo, pensando que as autoridades queriam, de facto, manter uma comunicação aberta com eles.

Sem efeitos

Além da colocação de papéis nas portas das lojas, os comerciantes, um total de 41, assinaram uma petição a pedir o cancelamento da zona pedonal, a qual foi entregue ao Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, e a Sam Hou Fai, candidato ao cargo, logo depois da reunião com o IC.

Lançado a 29 de Setembro do ano passado, o plano de criar uma zona pedonal na Rua da Felicidade foi realizado em conjunto com a operadora de jogo Wynn, responsável pela organização de actividades e decoração. Entre as 11h e a 1h é proibida a circulação de carros em algumas zonas, sendo apenas permitido o acesso com motociclos.

Os comerciantes ouvidos pelo All About Macau dizem que o plano pedonal não tem grandes efeitos nos negócios. O dono de um antiquário participou na acção conjunta, mas tem uma postura neutra sobre a criação de uma zona pedonal, explicando que pode atrair mais visitantes, mas que estes nem sempre compram, e tiram fotografias em vez de consumirem.

Outra comerciante que participou na campanha, afirmou que, inicialmente, estava de acordo com a criação de uma zona pedonal, mas que não notou um grande aumento de visitantes tendo em conta a Semana Dourada do ano passado.

Esta proprietária sugeriu mudar os horários de funcionamento da zona pedonal e também evitar a ocorrência de obras viárias durante os feriados.

30 Set 2024

Aliança do Povo defende mais terrenos para espaços de terceira idade

A associação Aliança do Povo defende que mais terrenos sejam disponibilizados para a construção de espaços para a terceira idade, nomeadamente lares de idosos ou centros de apoio.

Segundo o Jornal do Cidadão, Chan Peng Peng, vice-presidente da associação, apontou que, actualmente, há 2.500 vagas em lares de idosos, sendo que 200 são a curto prazo, e que até 2028 haverá mais 900 vagas na zona A dos novos aterros. Porém, na sua visão, o número está longe de ser suficiente.

A responsável destacou o exemplo do Lar de Cuidados de Ká Hó, subordinado à Federação das Associações dos Operários de Macau, que tem 200 vagas, mas uma lista de espera de 300 pessoas, sendo que outros lares também estão cheios. Em causa, está também um longo período de espera que pode ir além de um ano.

“Recebemos um caso de um residente cujo pai teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC), não tinha como cuidar dele, e poucas pessoas estavam disponíveis para cuidar do pai em casa. Após candidatar-se a uma admissão num lar de idosos, foi informado que tinha de esperar pelo menos um ano e que a opção seria ir para Zhuhai.”

Mais apoios

Outro pedido de Chan Peng Peng, passa pelo aumento do valor da reforma, que permanece inalterado desde Janeiro de 2020. A responsável refere queixas dos idosos quanto à insuficiência do valor, tendo em conta a crise económica causada pela pandemia e a inflação. O facto de muitas lojas terem encerrado faz com que, em muitas famílias, os filhos tenham deixado de poder auxiliar financeiramente os pais já idosos.

Tendo em conta o tema do trabalho da terceira idade, a dirigente associativa destaca que os jovens têm, actualmente, dificuldade em encontrar emprego, sendo essa dificuldade acrescida no caso das pessoas com mais de 65 anos. São, assim, na sua óptica, pouco eficazes as medidas anunciadas pelo Executivo, sendo que a aposta deveria ser levar as operadoras de jogo a criar mais oportunidades de emprego para idosos, indo de encontro às responsabilidades sociais das empresas.

26 Set 2024

Areia Preta | Inaugurada residência oficial para idosos

Foi ontem inaugurado o edifício que irá servir de residência para idosos no lote P da Areia Preta. No discurso de inauguração, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, referiu a importância deste projecto para as políticas habitacionais, concebido para responder “às necessidades reais dos idosos”

 

São 37 andares em que cada apartamento terá uma área útil de 33,17 metros quadrados. É assim a nova residência para idosos erguida no lote P da Areia Preta, cujo terreno foi anteriormente concessionado para o projecto habitacional Pearl Horizon, que nunca foi terminado.

Na cerimónia de inauguração de ontem, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, disse tratar-se de um “importante projecto da acção governativa interdepartamental do Governo da RAEM”, tendo sido concebido “em plena consideração as necessidades reais dos idosos”.

De resto, a secretária não esqueceu a importância do projecto tendo em conta o envelhecimento populacional. “À medida que a RAEM se torna numa sociedade envelhecida, o Governo tem vindo a implementar várias medidas no âmbito do Plano de Acção para o Desenvolvimento dos Serviços de Apoio a Idosos nos Próximos Dez Anos, a fim de ajudar os idosos a terem uma vida saudável e activa, bem como apoiá-los na sua integração na comunidade, através da mobilização de toda a sociedade”.

Promessa cumprida

A residência para idosos ontem inaugurada já fazia parte do discurso governamental desde 2020, quando, nas Linhas de Acção Governativa desse ano, se falou da “criação de residências destinadas a idosos com algumas condições económicas e que necessitam de cuidados”, nomeadamente os que vivem sozinhos ou moram em prédios sem elevador, mais antigos.

Assim, estas casas prometem “elevar a sua qualidade de vida, proporcionando uma nova opção de moradia na velhice”, declarou a governante. “Além de ser proporcionado na Residência um espaço habitacional agradável e confortável, foram introduzidos equipamentos tecnológicos e instalações sem barreiras, com o intuito de proporcionar segurança e protecção aos idosos no dia-a-dia”, acrescentou.

Elsie Ao Ieong U referiu também o “apoio esmagador por parte dos idosos” a este projecto, com o “número de candidatos sido muito superior ao previsto”, pelo que se duplicou o número de casas disponibilizados na primeira fase, passando a mais de 1.500.

O Governo promete agora “continuar a promover o desenvolvimento diversificado dos serviços para idosos e a colaborar com toda a sociedade para transformar Macau numa sociedade inclusiva”.

26 Set 2024

Turismo | Grande subida de excursionistas da Índia

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram um grande aumento anual de excursionistas oriundos da Índia. Nos oito primeiros meses, o território recebeu 18 mil excursionistas vindos deste país, o que representa um aumento de 1.165,9 por cento em relação a igual período do ano passado. Só no mês de Agosto, foram recebidos dois mil excursionistas, um aumento anual de 337,5 por cento.

Destaque também para a vinda de 51 mil excursionistas oriundos da Coreia do Sul em oito meses, um aumento de 587,9 por cento face a 2023. Registou-se, em termos gerais e também nos oito meses deste ano, um total de 1.388.000 excursionistas, um crescimento de 127,6 por cento face a igual período de 2023, sendo que 1.240.000 eram excursionistas do Interior da China.

Quanto à ocupação hoteleira, nos oito meses de 2024 a taxa foi de 85,5 por cento, mais 4,6 por cento face aos primeiros oito meses de 2023. Os estabelecimentos hoteleiros hospedaram 9.773.000 indivíduos, mais 12,9 por cento face a idêntico período de 2023, sendo que o período médio de permanência dos hóspedes se manteve em 1,7 noites.

26 Set 2024

Lisboa | Ana Jacinto Nunes com nova mostra na galeria Belard

“Numa Cadeira: Um Ganso ao Colo, um Cão aos Pés” é a nova exposição de Ana Jacinto Nunes, ex-residente de Macau, que pode ser vista até Novembro na galeria Belard, em Lisboa. Através de pinturas, esculturas e desenhos, a artista revela o seu mundo interior contado de forma visual, sujeito a várias leituras, por não serem necessárias palavras

 

Catarina Mantero, pintora e fundadora da galeria Belard, em Lisboa, entrou um dia na casa de Ana Jacinto Nunes, artista e ex-residente de Macau, e deixou-se fascinar por aquilo a que chama o “mundo mágico de Ana”, cheio de detalhes, histórias e elementos que, gradualmente, se vão descobrindo. Há cadeiras, cães, gansos ao colo e, desde a pandemia, uns óculos de mergulho que remetem para a necessidade de respirar. As formas vão aparecendo e ganhando um ritmo próprio nas suas obras.

Depois desta visita, nasceu a vontade de realizar uma exposição individual de Ana Jacinto Nunes que foi inaugurada esta quarta-feira, e que fica patente até Novembro. Nesta entrevista, a artista prefere transferir para Catarina Mantero, curadora, a explicação da sua arte, que transmite a ideia de casa e do mundo específico da artista.

A mostra “Numa Cadeira: Um Ganso ao Colo, um Cão aos Pés” é o resultado de peças escolhidas por Catarina Mantero que fazem uma espécie de retrospectiva da carreira da artista que já viveu em muitos lugares, mas que considera ainda Macau um pouco como a sua casa.

“A minha vida vai mudando e o meu trabalho também vai mudando com ela. Ando sempre à volta das mesmas questões, que não sei muito bem quais são, mas são da minha vida. Só posso trabalhar sobre o que sinto e o que anda comigo, e entusiasmo-me mais com determinada técnica a certa altura. Em cada técnica tenho, se calhar, uma resposta diferente, embora seja a mesma mão. Podem surgir coisas mais pesadas ou mais leves. Às vezes temos de respeitar o caminho que os materiais ou os pincéis fazem”, descreveu ao HM Ana Jacinto Nunes.

A cada pergunta, a resposta acaba por recair em Catarina Mantero. Para a artista, a explicação é simples, recorrendo à literatura. “Um escritor escreve um livro. E depois perguntam sobre o que é. A resposta é: ‘leiam’. A tinta é toda igual. Costumo dizer: ‘Queres saber como se faz? Ensino-te’. Não é a técnica que faz o artista. Há imensos segredos.”

Assim sendo, o objectivo é que, na galeria Belard, as obras expostas falem por si, numa comunicação visual e não verbal. “Tenho de respeitar esta postura da Ana, porque o que ela diz é que, se quisesse escrever, escrevia um romance. Demos este nome a esta exposição por ser uma experiência, um convite a entrar no mundo da Ana, colocando perguntas a fim de deixar as pessoas sentirem a experiência destas obras. Isso vai ser o reflexo de cada um: vão ver um sofá, um banco, um ganso, uma senhora, muitos elementos reconhecíveis, mas depois cada um constrói uma narrativa, que vai ter uma parte da projecção da Ana, incluindo o lado de quem estar a observar”, descreve a curadora.

O nome da exposição é, assim, “bastante invasivo, transmite-nos uma imagem, mas não nos diz nada de concreto, abrindo-se, assim, a porta para algo sensorial que não seja imediatamente inteligível”. “É um nome com muitos símbolos, que se repetem na obra da Ana, e que lança uma pergunta: porquê tantas cadeiras, cães, o ganso ao colo, que é uma coisa invulgar?”, acrescentou.

Para Catarina Mantero, “a Ana é pintora, escultora, desenha, e tenho muito interesse nessas várias vertentes dela como artista, não só enquanto galerista e artista, mas também como observadora e consumidora de arte”. “A Ana está sempre a questionar a técnica que usa para narrar aquilo que tem cá dentro. O que ela tem a dizer sai-lhe pelas mãos”, referiu ainda.

Dois anos de galeria

Ana Jacinto Nunes tem o atelier em casa e juntos compõem o seu mundo muito próprio, que está cheio de trabalhos que se apresentam nesta mostra, mas nem todos são novos. “Vemos as influências de vários momentos no seu percurso artístico, mas o que queria trazer é este fascínio que sinto cada vez que vou visitar a Ana a casa e ao atelier. É o mundo mágico de Ana. É uma coisa tão particular de se viver que esta mostra é só uma alusão a esse mundo. É importante esta experiência do mundo interior da artista para se compreender outra camada deste trabalho.”

Ana Jacinto Nunes confessa que Catarina Mantero escolheu as “obras mais difíceis”, mas a curadora discorda. “Não acho que tenha escolhido as obras mais difíceis, escolhi aquelas que tinham mais a ver comigo, em que veja um factor de qualidade acrescido. Nesta criação da Ana revela-se quase uma compulsão, a forma dela de ver o mundo.”

O que permanece sempre é uma “sensibilidade” da artista pelos materiais, e mais uma vez entra a ligação que Ana Jacinto Nunes tem com a China e com Macau, onde viveu alguns anos. “As coisas mais ricas que tenho vieram da China, os pincéis, a tinta da China”, apontou.

Catarina Mantero destaca, assim, “a sensibilidade que ela tem com os materiais e as coisas que, se calhar, alguém simplesmente define como um simples papel”. “Isso é mágico e vê-se em cada trabalho da Ana, essa sensibilidade com os materiais e a sua crueza. Daí abraçar o que tem defeito, o que está partido ou amarrotado, porque tem um amor e fascínio pela imperfeição.”

O projecto da galeria Belard nasceu há dois anos depois de Catarina Mantero, ela própria pintora, ter decidido estudar arte em Nova Iorque, onde aprendeu técnicas e todo o processo de negócio associado à arte, ganhando uma visão global da área.

A galeria Belard assume o foco na arte figurativa, por querer mostrar algo diferente. “Estava saturada da arte conceptual pura queria apresentar neste espaço artistas que estivessem profundamente embebidos no léxico no qual comunicam, que passam a vida a aprimorar técnicas ao serviço de uma história que querem contar. Apresento aqui a técnica ao serviço do conceito”, descreve Catarina Mantero.

A curadora queria trazer para Lisboa artistas nova-iorquinos, até que percebeu que era “hipócrita” não ter também artistas portugueses e lisboetas. Foi assim que surgiu a ligação ao trabalho de Ana Jacinto Nunes. “Sempre que a visito no atelier é como se entrasse, literalmente, na sua casa, porque ela não gosta de falar do seu trabalho, diz que não sabe, mas sabe perfeitamente o que faz”, remata.

26 Set 2024

Vila da Taipa | Galeria acolhe a partir de hoje mostra de Bianca Lei

“At the Crack of – Works by Bianca Lei Sio-Chong” é o nome da nova exposição que, a partir de hoje e até 30 de Novembro, pode ser vista na galeria Taipa Village Art Space. Eis a oportunidade para ver trabalhos de uma artista que quis trabalhar em torno da ideia de “ruptura” como símbolo de partidas e recomeços

 

A artista local Bianca Lei Sio-Chong expõe, a partir de hoje, “At the Crack of – Works by Bianca Lei Sio-Chong”, na galeria Taipa Village Art Space, na Rua dos Clérigos, na Taipa Velha. A mostra fica patente até ao dia 30 de Novembro.

Segundo uma nota de imprensa, trata-se de uma colecção que deriva da ideia de “ruptura”, interpretada pela artista com “fendas” que se verificam nas suas obras, nomeadamente gráficos, fotografias e gravuras.

E aqui as “rupturas” podem ser entendidas como recomeços ou fins, evocando-se “impressões negativas de desastres naturais e provocados pelo homem, mas também um sentimento positivo de avanços e da chegada de coisas novas”. Com esta mostra, “a quebra e o esbatimento das fronteiras entre as obras de arte e o espaço revelam a orientação artística de Bianca, segundo a qual o local foi integrado como parte das obras de arte”, aponta a mesma nota.

Sobre esta mostra, Bianca Lei aponta que sempre manteve “um pensamento fora da caixa e uma mentalidade criativa”, sendo que a ideia de ruptura tem estado bastante “persistente” na sua cabeça tendo em conta “as pessoas e as coisas que têm acontecido nos últimos anos”.

Desta forma, a artista diz que começou a prestar mais atenção e a observar o mundo em volta, nomeadamente as “fendas” presentes nesse mundo. “Sob os factores naturais ou provocados pelo homem, a maioria das fendas na vida deve-se a várias razões que abrem um espaço estreito entre partes de algo. As fissuras dão-me sempre uma forte caraterística do tempo, pois formam-se normalmente durante um período de tempo, permanecendo num estado de ‘espera’ para voltarem a ‘estalar’ mais”, descreve a artista, que também acredita num ângulo mais optimista destas fendas, com recomeços e novas partidas.

“A ‘racha’ do amanhecer e o ‘romper’ do dia significam que a luz do sol rompe a escuridão e dá início a um novo dia. Além disso, quebrar ou esbater as fronteiras existentes entre as obras de arte e o espaço de exposição sempre foi uma das minhas orientações artísticas”, descreve a artista.

Parte de um todo

Segundo Bianca Lei, nesta mostra a galeria de arte torna-se como uma parte de um todo que é a exposição. Esta é, para a artista, “um suporte para as obras de arte, uma definição idiomática e um estatuto”. Porém, “desta vez este espaço da galeria não é apenas usado para colocar as obras de arte, é também uma parte das obras de arte”.

Assim, “algumas cenas que apareceram, no passado ou neste momento, neste espaço da galeria serão exibidas como obras de arte através de gráficos, fotografias e impressões, tais como as gotas de chuva que um dia ficaram nas janelas de vidro, bem como fendas, texturas, marcas e sombras nas paredes ou no chão. Esses elementos visuais do espaço da galeria que não foram vistos ou foram mesmo ignorados são transformados em obras de arte expostas”, acrescentou a artista.

A curadoria da mostra está a cargo de João Ó, arquitecto também ligado ao projecto da Taipa Village Art Space. Numa nota sobre esta mostra, o curador descreve Bianca Lei Sio-Chong como “uma das mais proeminentes artistas conceptuais de Macau”.

Na sua visão, a artista possui “a capacidade de explorar vários meios e expandir as possibilidades da arte, trazendo novas ideias para o espaço da galeria”. “Artistas como Bianca, com um forte sentido de exploração e necessidade experimental, quebram fronteiras e expandem os nossos horizontes. ‘At the Crack of…’ é a mais recente contribuição de Bianca para esse caminho exploratório”, frisou.

João Ó destaca também o facto de a própria galeria se transformar num espaço de trabalho por parte de Bianca Lei, pois esta “manobra [o espaço] através de vários elementos arquitectónicos do espaço da galeria, tais como paredes, pavimento e vidro, tornando a exposição específica para o local”.

Deste modo, “as obras de arte tocam em valores universais relacionados com o tempo, o espaço, a presença e a ausência”, estendendo “a sua transformação material de texturas ambientais a desenhos abstractos e de paredes brancas a telas estrategicamente dilapidadas”.

Bianca Lei estudou belas-artes em Londres, sendo actualmente docente na Universidade Politécnica de Macau, bem como curadora da galeria do Armazém do Boi. Bianca Lei é também co-fundadora da AFA – Art for All Society, tendo já exposto em mostras individuais ou colectivas em Taipei, Xangai ou Hong Kong.

26 Set 2024

MASTV | Funcionários receberam todos os salários em atraso

Antigos funcionários da falida estação televisiva MASTV receberam todos os salários que tinham em atraso desde que o canal fechou portas. Segundo o jornal All About Macau, em causa estavam 29 pessoas com salários em atraso no valor de cinco milhões de patacas

 

O encerramento da estação televisiva MASTV a 16 de Julho fez com que funcionários tenham ficado com salários em atraso que só agora foram liquidados. Segundo o jornal All About Macau, um grupo de 29 pessoas tinha ordenados por receber no valor de cinco milhões de patacas que foram pagas graças ao Fundo de Garantia de Créditos Laborais. Este mecanismo foi criado em 2015 com o objectivo de assegurar pagamentos a trabalhadores sempre que haja incumprimento por parte do patronato.

Um antigo funcionário da MASTV disse ao All About Macau estar satisfeito com o desfecho do processo. “Estou contente com o resultado, pois a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) fez o seu trabalho”, ainda que não tenha sido a estação a pagar os montantes em dívida.

A MASTV foi declarada falida a 24 de Julho, levando os funcionários a pedir à DSAL apoios para o pagamento de salários, com o auxílio da deputada Ella Lei.

A MASTV situava-se em Coloane e viu a licença de operação renovada por 15 anos em Março de 2019, era então Chui Sai On Chefe do Executivo. Na altura, a estação já enfrentava o problema de salários em atraso em Taipé.

Queixas de 2021

Segundo noticiou o HM em Julho, as queixas de ordenados em atraso datam de 2021. “Em 2021, os trabalhadores fizeram uma queixa colectiva junto da DSAL, e, mais tarde, em tribunal foi decidido que a empresa tinha de pagar aos trabalhadores”, relatou um ex-funcionário, que não quis ser identificado. “Apesar da empregadora ter ficado obrigada a pagar os salários e outros direitos em prestações, só cumpriu com a primeira prestação. Todas as outras ficaram por pagar”, acrescentou.

No passado dia 12 foi referido por Derbie Lau, directora dos Serviços de Correios e Telecomunicações de Macau, que seria utilizada a caução de 2,5 milhões de patacas pagas pela MASTV na altura do pedido de licença, para pagamentos de impostos. Tal montante não poderia ser usado para pagar salários porque, como explicou, “os funcionários da MASTV envolvidos [no processo] não estão ligados aos assuntos relacionados com a supervisão da licença”, referiu.

25 Set 2024

RAEM, 25 anos | Heitor Romana revela planos para evacuar portugueses

Heitor Romana foi durante nove anos assessor do Governador Rocha Vieira. Numa palestra no Centro Científico e Cultural de Macau recordou os tempos da transição e a preparação de planos para evacuar portugueses em caso de turbulência política na China e na região

 

Antes da assinatura da Declaração Conjunta, em 1987, Heitor Barras Romana, professor catedrático do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, foi para Macau a trabalhar numa unidade definidora de estratégias em matéria de segurança para o território, ainda durante o Governo de Carlos Melancia.

Nessa fase chegaram a ser preparados planos para a retirada dos nacionais portugueses a residir em Macau caso se verificasse, na China e na região, um cenário de turbulência política. A confissão foi feita no âmbito da conferência “Contributos para uma análise estratégica do processo de transição de Macau”, proferida no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), no passado dia 19 de Setembro, nas semanais “Conversas Sábias”.

As autoridades portuguesas pretendiam “sair a bem” do território e chegaram a ser elaborados “planos de contingência em relação a cenários em que se tivesse de retirar os portugueses de Macau”. Incluíam-se, assim, os portugueses e seus descendentes bem como os detentores de nacionalidade portuguesa cujo local de nascimento tivesse sido Macau até 1981.

Tal iria ocorrer face a “um cenário de convulsão interna na China, em que se alterasse a ordem de equilíbrios e relações diplomáticas com Portugal”.

“Era essa a perspectiva que se tinha e que não tinha nada de estratégico, mas situacional. Era essa a abordagem que se fazia de Macau. Ainda estava bem presente a memória do ‘1,2,3’, e se houvesse uma convulsão regional teriam de se antecipar cenários, de forma a retirar em segurança os portugueses que estivessem no território”, descreveu.

Segundo Heitor Romana, estava em causa os últimos acontecimentos políticos na China, com o episódio de Tiananmen, em 1989, e a queda da URSS. “As atenções estavam viradas para aquilo que veio a acontecer em 1989, com o desmembramento da URSS e todo o sistema. Do ponto de vista geopolítico, a China não entrava no jogo das preocupações que Portugal tinha obrigação de acompanhar em determinados sectores. No essencial, Macau não era tido no jogo dos interesses geoestratégicos de Portugal, mas havia a vontade de uma boa resolução quando tivesse de ocorrer a saída de Portugal de Macau e o fim da sua administração.”

A China vinha, desde 1978, vivendo o período de Reforma e Abertura, mas pensava-se que “o desmembramento da URSS poderia contaminar a realidade do sistema político e ideológico da China”. “Essa era uma das teses defendida não apenas em Portugal, mas por parte de analistas americanos e ingleses. Pensava-se que o fim da URSS iria contaminar o regime político chinês e levar à queda da República Popular da China”, lembrou, algo que não aconteceu, como a história veio a mostrar.

O trabalho de análise em matéria de segurança do académico foi realizado quando tinha cerca de 30 anos, e foi por iniciativa de Carlos Melancia que se criou a “unidade de análise geoestratégica sobre Macau e China que também envolvia a ‘questão de Macau’, e já era uma questão política e diplomática”. Nesse sentido, frisou, “era importante perceber o que podia acontecer na China que pudesse afectar ou acelerar a saída [dos portugueses de Macau]”.

“O trauma” do Império

Heitor Romana recordou também que o desejo de “sair bem” de Macau, por parte das autoridades portuguesas, acarretava consigo o fantasma da descolonização em 1975, no rescaldo da Guerra Colonial.

“Veio-se a perceber mais tarde, no quadro das relações bilaterais, e mais alargado ao multilateralismo e política internacional no seu todo, que ‘sair bem’ tinha como pano de fundo o trauma da descolonização, em relação à forma apressada como Portugal tinha saído dos territórios ultramarinos em 1975”, apontou. O responsável descreveu “o medo” que existia em relação “àquilo que ainda faltava ‘descolonizar’, nomeadamente Macau”, sem esquecer os episódios da perda da Índia portuguesa, em 1961, ou de Timor.

“Havia na memória colectiva a ideia de que a saída de Portugal dos seus territórios não tinha corrido bem por variadas razões. A percepção era de que, em Macau, não havia razões para que corresse bem. A visão era muito pessimista.”

Em 1989, após os acontecimentos de Tiananmen, Carlos Melancia vai a Pequim reunir com as autoridades chinesas, tendo sido “o primeiro representante de um país europeu a ir a Pequim depois desse episódio”.

Segundo o académico, nos anos 90 a China vivia “um processo de ajustamento político e ideológico que teve repercussões não no processo de transição [de Macau], mas sim na natureza desse processo”, pois no seio do partido havia uma “luta surda entre sectores mais reformistas e ortodoxos”.

O conceito “Um País, Dois Sistemas” tinha sido recentemente anunciado a pensar em Taiwan, e o primeiro-ministro chinês que assinou a Declaração Conjunta, Zhao Ziyang, acabou por “cair em desgraça três anos mais tarde”, pois, na visão de Heitor Romana, tinha sido secretário-geral do partido em Cantão e era “visto com desconfiança”. Isto porque “historicamente Cantão tinha tido relações privilegiadas com ocidentais, diga-se Portugal e Reino Unido, e essa relação próxima, comercial, política e de miscigenação gerava dúvidas quanto à lealdade desses dirigentes face aos princípios basilares do partido. O problema de Zhao Ziyang residia nesse facto”, afirmou.

Melancia queixa-se

Ainda relativamente ao período de governação de Carlos Melancia, falecido em Outubro de 2022, Heitor Romana lembrou uma reunião em que este lhe disse existirem “forças” que o queriam prejudicar.

“Carlos Melancia disse-me que havia [essas] forças, mas não vou dizer nomes. Fiquei espantado com a franqueza dele, pois disse-me que o problema que tinha não era com a China, mas sim com Portugal e com aqueles que colaboravam consigo no gabinete.”

Heitor Romana considera que a transição de Macau estava então envolvida numa teia difícil de jogos e tramas políticos. “Aí percebi que Portugal e os portugueses, Macau e a sua governação, estavam envolvidos numa trama muito complicada que poderia levar a resultados muito negativos para os interesses estratégicos de Portugal, incluindo as relações bilaterais e interesses da salvaguarda daquilo que, mais tarde, veio a ser identificado como a identidade de Macau e a sua singularidade.”

Rocha Vieira, o último

Entre 1990 e 1999 Heitor Romana foi assessor de Rocha Vieira, homem escolhido para ser “o último Governador de Macau” no sentido de assegurar a estabilidade necessária ao território. “Mário Soares [à época Presidente da República] tinha uma preocupação muito grande de que o próximo Governador fosse o último e que garantisse estabilidade. Já não era só a questão de irmos embora a bem, mas havia o possível efeito sistémico dos problemas gerados à volta de Macau”, e que se centravam em “jogos político-partidários que estavam muito acesos”. Havia, no fundo “questões ideológicas que também envolviam o aspecto político-partidário, pois o Governo [em Portugal, liderado por Cavaco Silva] era diferente da matriz ideológica do Presidente da República”, estando criadas “todas as condições para que não corresse bem” a transição de Macau.

Vasco Rocha Vieira chegou a Macau numa fase de “vulnerabilidade e fragilidade política”, tendo gerado “uma enorme expectativa” para que “pudesse pôr ordem no território”. O novo Governador acabou por assumir, segundo o orador, “uma postura imune a todos esses processos, o que na altura suscitou muitas críticas, mas que foi eficaz”.

Rocha Vieira ganhou “um espaço próprio, ajudando a definir muito bem o processo de transição até 1999 e depois”. “As autoridades chinesas perceberam que ele tinha uma personalidade muito própria e não podiam deixar de ser sensíveis nessa situação de liderança. Viam no Governador de Macau esse interlocutor desejado para que o processo [de transição] corresse bem”, disse ainda.

Heitor Romana lembrou que, no processo de transição, procurou definir-se ainda a ideia de identidade própria de Macau. “Na fase final da presença portuguesa em Macau foi visível que o Governador tinha a missão da defesa e salvaguarda dos interesses de Portugal, e isso passava muito pela defesa da identidade de Macau. Era esse o elemento diferenciador, comparando com Hong Kong ou Taiwan.”

Assim, a Lei Básica de Macau foi “obrigada a incorporar, de certa forma, esta visão da especificidade de Macau”. “Há uma estratégia para Macau, de Portugal, definida pelo Governador e a sua equipa, de que era importante ter uma identidade própria. O mito refundador de Macau está presente no papel do macaense, sendo um activo estratégico histórico que vai ser o eixo daquilo que é a natureza específica de Macau”, rematou.

25 Set 2024