BNU com lucro de 109,4 milhões de patacas no primeiro trimestre

O Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Macau registou lucros de 109,4 milhões de patacas no primeiro trimestre, menos 20,8% em termos anuais, assinalou hoje a instituição.

“Por comparação com Março de 2020, os resultados foram inevitavelmente afectados pela redução das taxas de juro por comparação com os níveis que vigoraram durante grande parte do primeiro trimestre de 2020”, pode ler-se na mesma nota.

O BNU salientou que, “não obstante o dinamismo evidenciado pelo crescimento do crédito a clientes (+7,8% por comparação com março de 2020)” a “descida generalizada das taxas de juro afetou negativamente a margem financeira”, que diminuiu 19,4%.

A instituição bancária sublinhou ainda que continua “a apresentar uma grande solidez com um rácio de solvabilidade de 20,5%”.

Em 2020, o BNU anunciou lucros de 420,3 milhões de patacas, uma perda de 41,7% quando comprado com os resultados de 2019, antes da pandemia do novo coronavírus, que afetou a economia global e a capital mundial do jogo.

O BNU, do Grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD) é, juntamente com o Banco da China, banco emissor de moeda em Macau. Além de Macau, o BNU está também presente na China continental, em Xangai e em Hengquin (ilha da Montanha), Zhuhai.

Morreu a actriz Maria João Abreu aos 57 anos

Morreu a actriz Maria João Abreu. A notícia foi avançada ontem pela SIC, onde trabalhava. A actriz de 57 anos encontrava-se internada no Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, depois de ter sofrido um AVC hemorrágico. A actriz, de acordo com a SIC, sentiu-se mal e desmaiou durante as gravações da novela que está a ser produzida para o canal. A actriz integra o elenco da telenovela “A Serra”, emitida pela SIC desde Fevereiro.

Maria João Abreu iniciou a carreira profissional no teatro, uma paixão que nunca abandonou, mas foi a televisão que lhe granjeou a popularidade, graças a produções como “Médico de Família”. A televisão foi o meio em que mais trabalhou e que lhe deu maior visibilidade, tendo participado em mais de 60 programas, entre telefilmes, séries e telenovelas.

A sua carreira como actriz remonta, no entanto, a 1983, quando, com 19 anos, se estreou profissionalmente no Teatro Maria Matos, no musical “Annie”, de Thomas Meehan, dirigido por Armando Cortez. A este sucederam-se vários outros espectáculos de revista no Parque Mayer, até participar, na Casa da Comédia, em “O Último dos Marialvas”, de Neil Simon, peça estreada em 1991, que lhe daria visibilidade e reconhecimento como actriz de comédia.

Depois de várias actuações em espetáculos de revista, sobretudo no Teatro Maria Vitória e no antigo Variedades, Maria João Abreu passou pelo Teatro Aberto, onde trabalhou com João Lourenço em “As Presidentes”, de Werner Schawb, e com José Carretas, em “Coelho Coelho”, de Celine Serreau. Com Manuel Cintra e José Carretas, fez também “Bolero”, apresentado no Centro Cultural de Belém (CCB).

Mais recentemente, participou em filmes como “Call Girl”, de António-Pedro Vasconcelos, “Florbela” de Vicente Alves do Ó, “A Mãe é que Sabe”, de Nuno Rocha, e “Submissão”, de Leonardo António.

Ao longo dos seus mais de 35 anos de carreira, e apesar das muitas requisições para televisão, Maria João Abreu nunca deixou o teatro nem a revista, uma das suas paixões, tendo coprotagonizado, em 2004, “A Rainha do Ferro Velho”, de Garson Kanin, encenada por Filipe La Féria, no Teatro Politeama.

Perto do fim

A sua última participação no teatro aconteceu em 2019, quando protagonizou “Sonho de uma noite de verão”, no Tivoli, contracenando com José Raposo, de quem estava já divorciada, e com Miguel Raposo, um dos filhos do casal.
Era também com o ex-marido que contracenava na telenovela “A Serra” e na série “Patrões fora”, ambas actualmente em gravações e em exibição.

No dia 30 de abril – cinco meses depois da morte do pai e apenas 16 dias após ter feito 57 anos -, a actriz sentiu-se indisposta durante as gravações da telenovela “A Serra” e desmaiou, tendo sido internada de urgência no Hospital Garcia de Orta, em Almada, com diagnóstico de rotura de aneurisma cerebral.

PME | Trabalhadores de quase 150 empresas não gozaram férias em 2020

Apesar de as empresas estarem obrigadas a darem seis dias por ano de férias aos trabalhadores, 12,5 por cento das Pequenas e Médias Empresas (PME) admite que os trabalhadores não gozaram as férias, ou seja, 149 companhias. Os dados foram apresentados ontem pela Associação de Recursos Humanos de Macau, com base num estudo feito através de 1.192 inquéritos válidos a PME, entre Março de 2020 e Fevereiro de 2021.

Esta foi uma situação destacada pelo presidente da Associação de Recursos Humanos de Macau, Man Choi, que defendeu uma maior promoção dos documentos legais. “Se calhar os funcionários combinaram com os seus empregadores que abdicam este ano de férias e que no próximo ano serão compensados. Mas, achamos que o Governo precisa de reforçar a divulgação da Lei das Relações de Trabalho, para que os empregados e empregadores conheçam os seus direitos e obrigações”, alertou Man Choi.

Segundo o artigo 46.º da Lei das Relações Laborais as empresas cujos trabalhadores estejam há mais de um ano numa empresa, devem ter direito a seis dias de férias. Contudo, caso haja acordo entre as partes, podem acumular, no máximo, os dias correspondentes a dois anos de trabalho, ou seja, 12 dias.

O estudo, apresentado ontem, mostrou ainda que desde o início da pandemia da Covid-19, que chegou a Macau em Fevereiro de 2020, cerca de 8,1 por cento das Pequenas e Médias Empresas procedeu a cortes de salários, o equivalente a 97 companhias. Entre estas, cerca de 38 empresas fizeram cortes de entre 20 a 50 por cento do vencimento do salário dos funcionários.

No mesmo período, 11,2 por cento das empresas inquiridas declaram ter aumentado os ordenados, o que representa um número de 134 empresas que operam na RAEM. Entre este número, 94 empresas, que representam uma proporção de 70 por cento, apontaram ter feito aumentos de salários de 3 a 6 por cento dos ordenados, ou seja, acima do nível da inflação.

Onda de despedimentos

Para o presidente da Associação de Recursos Humanos de Macau a situação é preocupante e pode gerar uma vaga de despedimentos: “Houve uma percentagem maior de empresas a reduzir o salário dos funcionários do que a aumentar. Estamos preocupados, porque caso a saúde financeira das empresas não seja resolvida apropriadamente, ou caso o Governo não dê outros apoios, pode haver uma vaga de despedimentos”, alertou Man Choi.

Segundo os resultados apresentados, durante o espaço temporal estudado, a maior parte das empresas não procedeu nem à contratação ou despedimento de trabalhadores. Foram 894 as empresas que mantiveram os quadros.

Contudo, houve 215 empresas que fizeram despedimentos, ou seja 18 por cento das inquiridas. No polo oposto, 84 empresas, ou sete por cento, aumentaram os quadros.

O estudo realizado pela Associação de Recursos Humanos de Macau teve como objectivo analisar as PME “numa situação difícil nunca vivenciada”, assim como o impacto das medidas do Governo no incentivo à actividade económica.

Quem tem a última palavra sobre o futuro de Macau?

Na sessão de consulta exclusivamente destinada aos Deputados da Assembleia Legislativa sobre o Projecto do Plano Director da Região Administrativa Especial de Macau (2020-2040), lançado em Setembro de 2020, o Secretário para os Transportes e Obras Públicas revelou que o Governo da RAEM propôs ao Governo Central a suspensão do projecto de aterro da Zona D dos Novos Aterros Urbanos, passando a construir uma zona entre a Zona A dos novos aterros urbanos e a Península de Macau, com o objectivo de criar espaços verdes. Assim, a área do aterro foi reduzida de 58 para 41 hectares. Quando questionado sobre a suspensão do projecto de aterro da Zona D, o Chefe do Executivo declarou que Macau terá território suficiente nos próximos 20 anos e que a proposta para suspensão do projecto de aterro da Zona D aguarda a aprovação do Governo Central.

Assim que esta notícia foi divulgada, os membros do Conselho do Planeamento Urbanístico manifestaram de imediato o seu apoio à suspensão do projecto de aterro da Zona D, e os representantes da União Geral das Associações dos Moradores de Macau e da Associação de Construtores Civis e Empresas de Fomento Predial de Macau também se mostraram favoráveis ao projecto num programa de rádio. Na sessão de consulta pública exclusiva ao público, interroguei os responsáveis sobre o motivo da suspensão do projecto de aterro da Zona D. Em resposta, o Chefe do Departamento de Planeamento Urbanístico da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) alegou que a decisão tinha sido tomada para protecção dos ecossistemas da marina de Macau e da paisagem circundante.

Os principais pontos da minha intervenção na sessão de consulta pública exclusiva ao público, foram os seguintes, “A publicação do documento de consulta do Plano Director da Região Administrativa Especial de Macau (2020-2040) visa sondar a opinião da população. Mas, infelizmente, enquanto o documento de consulta esteve a circular, o Governo da RAEM afirmou que tinha proposto ao Governo Central a suspensão do projecto de aterro da Zona D dos Novos Aterros Urbanos, passando a construir uma área entre a Zona A dos novos aterros urbanos e a Península de Macau. Isto fez com que o projecto de aterro da Zona D, transformado em documento de consulta, deixasse de existir. Desta forma, estamos perante uma ‘notificação’ pública ou perante uma ‘consulta’ pública? A criação das cinco novas zonas urbanas em Macau foi oficialmente aprovada pelo Conselho do Estado em 2009, como um “presente” para assinalar o 10.º aniversário do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau. Em 2010, Wen Jiabao, o primeiro- ministro da República Popular da China ao tempo, veio pessoalmente a Macau para analisar o plano do Governo da RAEM para a criação das novas zonas urbanas através de aterro. Como é que uma decisão tão importante pode ser agora ignorada com tanta ligeireza?”

Se recuarmos a Setembro de 2020, quando o Governo da RAEM ousou propor ao Governo Central a suspensão do projecto de aterro da Zona D, a maior parte das pessoas acreditou que o Governo local tinha um certo grau de certeza na aprovação do projecto. Caso contrário não faria uma proposta que pretende reverter uma decisão do Governo Central. Eu fui o único que, na sessão de consulta pública exclusiva ao público, se opôs à suspensão do projecto de aterro da Zona D.

Sem o consentimento do Governo Central, o projecto de aterro da Zona D mantém-se, enquanto o plano de construir uma área entre a Zona A dos novos aterros urbanos e a Península de Macau através de aterro será suspenso temporariamente.

Sou um grande defensor da protecção ambiental, e o projecto de aterro vai ter necessariamente impacto nos ecossistemas da marina de Macau, particularmente nos residentes do Edifício Ocean Garden, devido ao projecto de aterro da Zona C dos Novos Aterros Urbanos. Mas, na realidade, muitos dos terrenos de Macau foram obtidos através do aterro. O projecto de aterro das cinco novas zonas urbanas já arrancou, então porque é que o plano de aterro da Zona D teve de ser cancelado ou adiado? A razão é simples. Macau terá terrenos suficientes nos próximos 20 anos. Além disso, um aterro em grande escala requer o investimento de grandes somas do erário público, enquanto a construção de um grande número de edifícios residenciais vai provocar o rebentamento da bolha do sector do imobiliário de Macau. Do ponto de vista da economia deste sector, a suspensão do projecto de aterro da Zona D dos Novos Aterros Urbanos é uma boa decisão, o que vai implicar o adiamento da construção das habitações públicas.

Quanto ao Governo Central, a sua maior preocupação nos próximos 20 anos não é a RAE de Macau, mas sim o papel de Macau na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau depois de 2049. As cinco novas zonas urbanas não são apenas um presente do Governo Central à RAEM, mas também uma aposta estratégica no desenvolvimento futuro de Macau. Desta forma, o projecto de aterro da Zona D pode ser adiado, mas terá de ser realizado porque constitui uma decisão política. O Governo Central tem sempre a última palavra no que respeita ao futuro de Macau!

Os homens que abrem caminho

Tinha dezasseis anos quando o meu pai morreu. Tinha dezasseis anos e alguma esperança de que o meu mundo estivesse finalmente a melhorar. Chegado de França com dez anos e portador de uma infância basicamente infeliz, Portugal constituía-se como um reduto possível de familiaridade no qual eu conseguiria limar os aspectos mais anti-sociais da minha personalidade e, finalmente, fazer amigos. Não foi de todo assim. Fui recebido com a estranheza a que os imigrantes são normalmente votados. Trazia ainda muita França em mim. Não era só o meu mau-jeito social que tinha de desbastar, era também a minha roupagem gaulesa, os meus modos demasiado reservados, algumas palavras que teimavam em não sair em português.

O facto de ter uma consola (ainda que pré-histórica) e um zx spectrum a cassetes ajudou a levar alguns amigos a casa. Pela primeira vez na minha vida, os miúdos não me viam apenas como o nerd sem jeito para jogar à bola ou andar de skate e cujo passatempo era falar apaixonadamente de astronomia e ficção científica. Eu era, ao lado disso, um nerd com brinquedos fixes. Numa altura em que Portugal corria já sem fôlego atrás de uma Europa orgulhosa da sua abundância, ter brinquedos fixes era um atributo social nada despiciendo.

Pouco a pouco, fui sendo convidado para aniversários, matinés com banda sonora de Europe regadas a sumol de ananás e idas à praia quando o sol algarvio começava a despontar. Passei de ser tolerado a ser aceite. Para um solitário como eu, que já tinha feito contas à vida e ao futuro e que aspirava socialmente, no máximo, a não morrer virgem aos quarenta e poucos, nada mau.

Quando o meu pai morreu, eu tinha acabado de experimentar a adolescência na sua componente de excessos irresponsáveis. Era quarta-feira de cinzas e eu estava de ressaca. Tinha saído na sexta, no sábado, na segunda e na terça e em cada um desses dias eu tinha bebido mais do aquilo a que estava habituado. Pela primeira vez na minha vida, tinha contacto, ainda que muito difusamente, com o conceito de ressaca. Pela primeira vez na minha vida, percebia o significado de «dia seguinte».

O meu pai morreu em casa, nos meus braços. Demasiado repentino, demasiado cedo. Tínhamos finalmente descoberto o filão de uma linguagem comum. Já não passávamos um pelo outro no corredor como dois estranhos que se cruzam numa estação de comboios. Vê-lo partir assim, antes de ser possível recuperar as centenas de abraços que não demos e todas as ideias que não trocamos, arrancou um bom pedaço de mim. O edifício não cai apenas porque se vota parte dele ao abandono e se cola o restante com cuspo.

Há uns dias morreu-me um amigo, o Cândido. Tive a sorte de conhecer e o azar de não o ter conhecido há muito mais tempo. Era um homem maior do que o corpo que habitava (e não era nada pobre em corpo, diga-se de passagem) e morreu cedo. Teve a sageza de privilegiar sempre na sua vida a generosidade e o acto de distribuir o que fosse com as mãos abertas em flor. Era uma espécie de líder tribal que conseguia congregar à sua volta novos e velhos, família e amigos, conhecidos e desconhecidos com uma autoridade natural que decorria de uma espécie de budismo heterodoxo, súmula escolhida a dedo daquilo que a vida lhe tinha posto diante em cada momento. Actor portentoso, talvez a Comunidade do Pacheco tenha sido o texto que mais prazer lhe deu levar a cena. Não por acaso: se há uma palavra que o Cândido abraçaria com aqueles braços capazes de envolver o mundo e o levar ao peito seria essa mesmo. Comunidade. À Blau, à Marta e ao Ivo, o meu abraço possível. Até já, camarada, e quando estiveres com o meu pai diz-lhe que já faltou mais.

Da vida como brasa

Serei o único nababo que ao acender o cachimbo, macia e estultamente, se queima?

Muito mais do que eu, o Pasolini há-de ter esmaltado com o lume algumas estrias nos dedos imprevidentes porque não há dúvida que a vida lhe esteve sempre em brasa, que o seu sopro nunca deixou esfriar o escândalo, que o vento nele era uma liga de fogo «num ventre vivo».

Lê-se este livro póstumo de Pasolini, editado pela Barco Bêbado, e percebe-se porque, sinaliza-o Claudio Magris num artigo em que os compara, Montale se irritava com ele.

Pasolini e Montale representam os dois pólos da atitude face à escrita e à vida. Um apostava numa escrita impessoal e era céptico quanto ao poder que a poesia lograsse para mudar a vida; aliás à própria vida não atribuía mais do que uns 5% de presença e convicção. Pasolini, pelo contrário, era da linhagem de Rimbaud, vivia a 120% do seu potencial e a escrita nele só tinha sentido como operador da mudança. Mesmo eivada de contradições e do vestígio das derrocadas que a existência arma, a poesia era-lhe um modo expedito de fazer respirar a acção que urde uma moral focalizada pelo dissídio, ou na razão poética e anti-burguesa.

A poesia é, para o autor de “Poesia in Forma di Rosa”, esse pleito onde a consciência acede à sua própria percepção e restaura a contigência duma voz (de um rosto) exumada pela sua inscrição política. Ademais, ele tinha uma vocação plectórica que o fazia tocar vários carrinhos: poeta, contador de histórias, dramaturgo, cineasta, romancista, cronista político, ensaísta, e, provocatoriamente, gostava de fazer de “ponto” intrometido e desarvorado no palco de todas as revoluções. Este “Who is me – Poeta delle Ceneri” (Poeta das cinzas), bem o demonstra.

Um dia, cinco anos depois do seu assasinato, Enzo Siciliano, o autor de uma das suas biografias, descobriu o rascunho deste longo “poema biobibliográfico”, e, apesar de não estar acabado, considerou que à obra incabada não faltava o ímpeto que merecia a publicação.

Tinha razão, o poema tem nervo e no seu modo digressivo, “reticulado” (um bom achado da posfaciadora, Rosa Maria Martelo, para falar do mecanismo desta escrita) faz uma espécie de panorâmica sobre a vida, com flexões desde a infância, às ilusões revolucionárias e à justificativa de passar da poesia para o cinema (o filme “Teorema” tem no poema uma boa e alentada sinopse), numa fluência em que as modulações reflexivas, as concretíssimas pinceladas campestres, a trama dos amores e das perseguições judiciais que aí se desencadearam (Pasolini foi alvo de vários processos), a discussão sobre as formas estéticas e os valores morais, se enredam numa textura verbal sempre à beira de pegar fogo. Porque este é um homem de um realismo iracundo que conversa interpelando o leitor, nesse tu cá, tu lá, que fazia dos poemas de Pasolini um pensamento coral.

Não tinha razão Montale quando acusava Pasolini de um excesso de pathos, como se erguesse um ego contra o mundo; na verdade, para o poeta rival, como prevenia Deleuze, «Escrever não é contar as lembranças, as viagens, os amores, os lutos, sonhos e fantasmas. Ninguém escreve com as suas neuroses. (…) A literatura só se afirma se descobre sob as aparentes pessoas a potência de um impessoal.»

É neste sentido que o emocionado Moravia, nas exéquias de Pasolini, falou da enorme perda de um “poeta civil” – exactamente no mesmo sentido com que Pound definia o “poeta como antena da raça”. Pasolini usava a sua vida, narrava-a, como quem encarna o modo coral da sua época e do tecido social que ele sentia em perda.

Este poema de trinta páginas, que faz o balanço de «um peixe fora da rede», chega a ser brutal na análise e na auto-derrisão dos factos narrados, quer na relação com o pai, sempre ambivalente no ódio e na compaixão, quer na traição dos camaradas comunistas, aburguesados, que chegaram a matar-lhe o irmão por fanatismo de facção, quer na própria relação de artista com o seu público («A burguesia italiana, a verdadeira, a/ que compõe verdadeiramente a Itália/ experimentou um ódio profundo por aquele mundo subproletário:/ o ódio pela diversidade/ um ódio indistinto e global por mim e pelas minhas personagens./ Com o meu primeiro filme, que se intitula “Accattone”, /aquele ódio transformou-se num verdadeiro e real sintoma de racismo.», pág. 21).

Nada escapa à lucidez e ao crivo do poeta (que na altura da escrita do poema viajava pela América e era alvo de processos judiciais contra a iconoclastia de “La Ricotta”).

E, antecipando-se ao seu tempo, o poema apontava o dedo à biopolítica que corrompia pela base as alternativas existenciais e políticas e anteviu os perigos da massificação das massas («Caros americanos, não pacifistas, e não espiritualistas, /ou seja, a enorme maioria bem-pensante,/ o vosso deus é um idiota/ como qualquer cidadão médio/ que deseja com todas as suas forças e com todo o seu espírito/ ser como todos os outros (…)», pág. 22).

Expressivamente, Pasolini reclama uma alocução directa que diz preferir às volutas do estilo: «Também este caso te contei/ num estilo não poético/ para que não me lesses como se lê um poeta. / Assim decaiu a estima pela poesia, típica/ das infâncias que acreditam no eterno…» (pág. 29), mas esta é uma meia-verdade, pois como o poeta lembra na página seguinte: «Apenas o amor por aquela língua do não-eu, que se exprime/ com igual direito, igual força do eu/ dá ao poeta/ a capacidade.» (vês, Montale?). Daí que ao fim de trinta páginas deste aluvião ou ossário afinal polposo o leitor se sinta agarrado – e também por força do bom ritmo com que a tradutora, Ana Isabel Soares, soube dotar o texto.

«E hoje, dir-vos-ei, não é só preciso comprometer-se com o escrever, / mas com o viver:» é isto, nem mais.

Jerusalém | Pequim expressa preocupação com escalada da violência

A China expressou ontem “profunda preocupação” com a escalada militar entre Israel e grupos islâmicos armados na Faixa de Gaza, e pediu à ONU que reafirme o apoio a uma solução de dois Estados.

“A China expressa a sua profunda preocupação com a situação em curso entre Israel e os palestinianos”, disse a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying, pedindo à ONU que “tome medidas” para acabar com os confrontos.

A China, que neste mês detém a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU, disse ontem que estava pronta uma declaração conjunta a pedir o fim dos confrontos.

No entanto, alguns países estão “a bloquear” o texto, criticou a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying, à imprensa, sem especificar as nações.

Em duas reuniões do Conselho de Segurança nesta semana, os Estados Unidos opuseram-se à adopção de uma declaração conjunta, considerando-a “contraproducente” nesta fase, disseram diplomatas. Outra reunião de emergência do Conselho de Segurança está marcada para sexta-feira.

A porta-voz da diplomacia chinesa também pediu à ONU que estabeleça o “firme apoio” à solução de dois Estados para encerrar o conflito israelo-palestiniano.

Hostilidades em alta

Israel e os palestinianos estão envolvidos numa das maiores escaladas de violência dos últimos anos naquela região.
Os confrontos intensificaram-se esta semana com milhares de foguetes a serem lançados contra Israel pelo movimento islâmico Hamas. O exército israelita retaliou com ataques à Faixa de Gaza.

O movimento islâmico Hamas deu ontem conta de mais 16 mortos nos ataques israelitas à Faixa de Gaza, que controla, o que faz aumentar para 83 o total de palestinianos mortos desde o início das hostilidades, na segunda-feira.

Além de um total de 83 mortos, incluindo 17 crianças, 487 pessoas ficaram feridas, indicou o Hamas, após uma nova noite de ataques aéreos de Israel no enclave e de disparo de ‘rockets’ a partir de Gaza em direcção ao território israelita. Esta foi a terceira noite de hostilidades entre Israel e grupos armados palestinianos em Gaza.

As salvas de ‘rockets’ contra território israelita levaram ao desvio de todos os voos em direcção ao aeroporto internacional Ben Gurion de Telavive. A luta entre Israel e o Hamas iniciou-se na segunda-feira após semanas de tensões israelo-palestinianas em Jerusalém Oriental, que culminaram com confrontos na Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar mais sagrado do islão, junto ao local mais sagrado do judaísmo, nesta zona da cidade ilegalmente ocupada e anexada pelo Estado hebreu, de acordo com a lei internacional.

Desde segunda-feira, o exército israelita indicou ter realizado 600 bombardeamentos na Faixa de Gaza, território exíguo sob bloqueio israelita há mais de uma década e onde vivem cerca de dois milhões de palestinianos.

As milícias do Hamas e da Jihad Islâmica dispararam cerca de 1.600 ‘rockets’ contra território israelita, que mataram sete pessoas, incluindo uma criança e um soldado, e deixaram feridas centenas.

ARTM | “Hidden Gems” inaugurada este sábado no espaço “Hold on to Hope”

Alice Kok é a curadora da nova exposição promovida pela Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau. “Hidden Gems” visa recolher fundos com a venda de obras doadas por artistas como Arlinda Frota, Cristina Vinhas ou Denis Murell, entre outros

 

Ajudar através da arte e, ao mesmo tempo, revelar ao grande público os talentos de quem saiu do vício da droga são alguns dos objectivos do novo projecto artístico da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM). É este sábado que é inaugurada uma nova exposição, intitulada “Hidden Gems” [Pedras Escondidas], com curadoria de Alice Kok, e que conta com trabalhos doados por mais de uma dezena de artistas de Macau.

A mostra estará patente na galeria de arte situada na antiga leprosaria de Ka-Hó, em Coloane, onde hoje funciona o mais recente projecto da ARTM, “Hold on to Hope”. Ao HM, Alice Kok falou da mensagem principal por detrás desta iniciativa. “O nome da exposição refere-se aos bonitos trabalhos que podemos encontrar na exposição e, ao mesmo tempo, à localização do espaço, uma vez que Ka Hó fica um pouco afastado da cidade e é um lugar cheio de amor, com uma história de pessoas marginalizadas pela sociedade”, disse, numa referência à antiga leprosaria.

Alice Kok destaca ainda os “talentos escondidos” dos antigos toxicodependentes que trabalham no café que funciona ao lado da galeria de arte. “Estas pessoas tentam desenvolver os seus talentos e o seu lado artístico.”

Muitos dos artistas foram convidados por Augusto Nogueira, presidente da ARTM, e tiveram total liberdade para escolher os trabalhos que vão estar patentes nesta mostra. “Demos-lhe total liberdade. Temos uma grande diversidade de trabalhos com diferentes formas artísticas, como fotografia, pintura, impressão, e também pintura chinesa, escultura, cerâmica”, frisou Alice Kok.

Uma missão

Alice Kok, ela própria artista e presidente da associação AFA – Art for All Society, tem estado ligada aos projectos artísticos da ARTM e assume-se satisfeita com esta colaboração. “Quando o Augusto [Nogueira] me convidou o ano passado para este projecto achei que tinha muito significado, porque através das actividades artísticas podemos convidar mais pessoas a estar envolvidas na missão da ARTM. Em nome da arte podemos ter um grande público e uma partilha da beleza e das capacidades, e como curadora estou muito feliz por poder contribuir com o meu conhecimento artístico para um trabalho com tal significado.”

O café e a galeria de arte abriram portas em Dezembro do ano passado e, desde então, tem sido um espaço muito procurado pelos residentes que não podem viajar neste momento. “De certa forma a pandemia está a ajudar [a desenvolver] este projecto, porque as pessoas estão mais dispostas a explorar os lugares de Macau. Nos fins-de-semana o lugar está cheio e penso que as pessoas estão dispostas a vir. É um lugar muito diferente de outros lugares artísticos em Macau, uma vez que Ka Hó tem um maior contacto com a natureza e é um bom lugar para as famílias”, rematou Alice Kok.

Galaxy | CEO “satisfeito” com resultados positivos do primeiro trimestre

Os lucros antes de impostos, juros, amortizações e depreciações da Galaxy Macau no primeiro trimestre do ano triplicaram face ao mesmo período de 2020. O CEO do grupo, Lui Che Woo, mostrou-se satisfeito, apesar de em relação ao trimestre anterior se ter registado uma quebra de 15 por cento

 

O Galaxy Entertainment Group apresentou ontem o sumário dos resultados financeiros do primeiro trimestre do ano à Bolsa de Hong Kong a dar conta de EBITDA (lucros antes de impostos, juros, amortizações e depreciações) de 859 milhões de dólares de Hong Kong, 203,5 por cento superior ao registado no mesmo período do ano passado. Porém, o resultado é 15 por cento inferior ao registado no trimestre anterior.

Em termos de receitas, nos primeiros três meses de 2021 foram apurados 5,07 mil milhões, um crescimento de 0,5 por cento em relação ao primeiro trimestre do ano passado, mas resultado semelhante aos três meses entre Outubro e Dezembro de 2020.

Continuando a evolução mista do grupo, em termos de receitas líquidas o primeiro trimestre foi sinónimo de uma descida de 4,7 por cento em termos anuais, para cerca de 3,86 mil milhões de dólares de Hong Kong, resultado que face ao trimestre anterior materializa um crescimento de 5,6 por cento.

“Apesar de o EBITDA do primeiro trimestre do ano ter sido inferior ao 4.º trimestre de 2020, estamos satisfeitos com os resultados, porque o trimestre anterior incluía 100 milhões de dólares de Hong Kong de prémio de seguros”, Lui Che Woo, CEO do grupo.

O homem forte da Galaxy acrescentou que desde o final de 2020, continuando em 2021, o relaxamento das restrições impostas para controlar a pandemia trouxe um número crescente de visitantes, “que se traduziu no aumento de receitas” do grupo.

Visto à lupa

O comunicado emitido ontem revela que o volume de negócios do sector VIP caiu 30,7 por cento nos primeiros três meses de 2021, em relação ao primeiro trimestre do ano anterior, de 68,17 mil milhões para 47,24 mil milhões de dólares de Hong Kong. Já em relação aos três meses finais de 2020, o volume de negócios subiu 7,6 por cento.

A um dia de o grupo celebrar o 10.º aniversário de operações em Macau, Lui Che Woo aplaudiu o Executivo de Ho Iat Seng pela “liderança pro-activa durante os tempos desafiantes da pandemia”. O CEO da Galaxy aproveitou ainda para destacar o trabalho da Direcção dos Serviços de Turismo na promoção de Macau no Interior da China.

Yoga World | Conselho de Consumidores já recebeu 98 reclamações

No espaço de um dia, o Conselho de Consumidores (CC) recebeu mais 56 queixas em relação ao Yoga World, um centro que fechou depois de ter cobrado a assinatura anual dos alunos. O caso foi relatado pela imprensa no início da semana e terá causado cerca de 500 lesados, num valor que se pode aproximar de 5 milhões de patacas.

Segundo uma nota de imprensa, ontem o CC já totalizava 98 reclamações, em contraste com os números de quarta-feira em que apenas tinha registado 42 queixas de afectados. A entidade de fiscalização e protecção dos direitos do consumidor apela assim que os lesados entrem em contacto para poderem receber “ajuda”.

“O CC apela aos consumidores envolvidos para entrar em contacto com o CC o mais rápido possível, podendo reclamar e apresentar as informações necessárias através da plataforma ‘Consumidor Online’. O CC irá prestar-lhes ajuda com todo o esforço”, poder ler-se no comunicado de ontem. “Recebidas as reclamações, o CC considerou que a acção do centro de yoga prejudica os direitos e interesses do consumidor e portanto tomou imediatamente medidas para apoiar os consumidores afectados”, foi acrescentado.

O CC divulgou também que o encerramento foi precedido por parte da gestão do espaço de um aviso de que o centro ia encerrar de forma permanente. Porém, nunca ninguém da administração tomou a iniciativa de proceder à devolução do dinheiro da assinatura anual, que já tinha sido adiantado pelos praticantes de yoga.

“Segundo as informações apresentadas pelos reclamantes, estes receberam um aviso a informar que o centro de yoga em questão irá encerrar permanentemente, mas sem indicação de qualquer informação sobre a devolução do valor das inscrições já pago, pelo que vieram pedir ajuda junto do CC”, foi indicado.

Museu | Suzuki de Schwantz que fez parte da colecção está no Reino Unido

Após anos em exposição no Museu do Grande Prémio, uma das motos mais icónicas da colecção deixou de fazer parte do acervo. Mike Trimby diz que foi enviada para o Reino Unido para a Crescent Motorcycles, proprietária, em 2011

 

Desde o mês passado que os cidadãos e turistas voltaram a poder visitar o Museu do Grande Prémio de Macau, após as obras de renovação realizadas. Contudo, nem com a reabertura os visitantes vão poder ver uma das motas mais icónicas da colecção do museu, a Suzuki RGV500 com o número 34 e as cores da Pepsi, semelhante à utilizada por Kevin Schwantz em 1988.

A ex-peça da colecção é um exemplar utilizado pelo americano no mundial de 1988 da modalidade, ano em que também venceu o Grande Prémio de Macau. Esta prestação tornou-se inesquecível para os fãs da modalidade, não só pela margem entre Schwantz e os outros pilotos, mas porque o campeão mundial de 1993 fez grande parte da prova em “cavalinho”.

Além de não estar exposta, a moto já deixou mesmo a RAEM e foi enviada para o Reino Unido. A informação foi avançada por Mike Trimby, ao HM, britânico que até 2011, e durante 34 anos, esteve envolvido na organização do Grande Prémio de Motos e era responsável pelo convite aos pilotos internacionais.

Segundo Trimby, a moto estava em Macau porque tinha sido emprestada pela Equipa Oficial da Suzuki ao museu, através das ligações de Trimby e da International Road-Racing Teams Association. Esta é uma associação liderada pelo britânico, como CEO, e que está envolvida na organização do Campeonato Mundial de Motas, desde os anos 80, onde compete Miguel Oliveira.

Empréstimo original

“Quando a colecção do museu começou a ser escolhida, por Carlos Guimarães, perguntaram-me se estava disponível para emprestar a minha moto Yamaha, com que tinha ficado em terceiro lugar em 1978”, afirmou, através de uma resposta escrita, ao HM. “E como estou ligado à organização do Campeonato Mundial de MotoGP fiz a ligação para que a Equipa Oficial da Suzuki emprestasse um exemplar da moto com as cores da Pepsi com que Kevin Schwantz tinha competido no Campeonato Mundial e vencido em Macau”, revelou. “As garantias sobre a integridade do empréstimo foram avançadas à Suzuki, por mim”, acrescentou.

Trimby revelou ainda que após a saída da organização do Grande Prémio, que aconteceu em 2011, em ruptura com o Governo, que ficou combinado que a moto regressaria às origens. “No evento de 2011, após um envolvimento de 32 anos, foi decidido que não devia continuar como consultor do Grande Prémio de Macau. Em consonância com essa decisão, a minha Yamaha foi-me devolvida, e enviada para o Reino Unido, e a Suzuki do Schwantz devolvida à  Equipa Oficial da Suzuki, que na altura era gerida e organizada pela Crescent Motorcycles no Reino Unido”, revelou.
Face a este desfecho, Trimby recusa que a mota lhe tenha sido oferecida e apontou que “o museu apenas se limitou a devolver as motos emprestadas aos respectivos donos”.

Embora sem pormenores, os Serviços de Turismo confirmaram que a moto foi devolvida ao proprietário, que não identificaram, embora numa data diferente: “O respectivo artigo de exposição foi emprestado ao Museu do Grande Prémio de Macau após a corrida para efeitos de exposição pelo seu proprietário, tendo sido devolvido ao seu proprietário no ano 2010”, responderam.

DSEDJ | Garantidas vagas suficientes nas universidades locais

Os Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) asseguram que há vagas nas universidades locais para os cerca de quatro mil alunos que vão entrar no Ensino Superior este ano. A garantia foi deixada pelo subdirector da DSEDJ, Teng Sio Hong, em resposta a interpelação de Lam Lon Wai, deputado dos Operários, que se mostrava preocupado com a possível subida da procura, devido à pandemia.

“Mesmo que, em resultado da epidemia, aumentem os alunos que optam por estudar em Macau, as dez instituições de ensino superior de Macau, especialmente as públicas, têm vagas suficientes para os estudantes locais”, escreve Teng.

Quanto ao número de alunos que se espera que concorram às vagas, o subdirector da DSEDJ aponta que devem ser cerca de 4.00. “Nos últimos anos, o número médio anual de alunos que concluem o ensino secundário complementar, em Macau, é de cerca de 4.000, e aproximadamente metade desses opta por prosseguir estudos em Macau”, é indicado.

No entanto, a DSEDJ acredita que no que diz respeito ao Ensino Superior a procura interna vai diminuir. “De acordo com as estimativas, nos próximos anos, o número de finalistas do ensino secundário complementar da educação regular de Macau vai continuar a diminuir”, é explicado.

Em relação aos estudantes que pretendem frequentar o ensino superior fora de Macau, Teng Sio Hong indicou que nos últimos anos foram tomadas medidas para que os resultados do exame unificado local serem admissíveis em instituições do Interior, Taiwan e Portugal.

Ciência | Governo chinês acha que laboratório de referência toma rumo confuso

Após avaliação de dois dias, o Ministério da Ciência e Tecnologia da China considera que o Laboratório de Referência dedicado à cidade inteligente obteve “resultados notáveis”, embora considere o rumo de desenvolvimento “um pouco confuso”. Sobre o Laboratório de Ciências Lunares e Planetárias, o único do género em toda a China, o desafio é a internacionalização

 

Juntamente com o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT), os representantes do Departamento de Investigação Básica do Ministério da Ciência e Tecnologia da China, vieram a Macau avaliar o trabalho dos laboratórios de referência estatal dedicados à internet das coisas da cidade inteligente (UM) e às ciências lunares e planetárias (MUST).

Ontem, durante a apresentação dos relatórios de avaliação, Guan Xiaohong, chefe do grupo de especialistas responsável pela avaliação do Laboratório de Referência do Estado da Internet das Coisas da Cidade Inteligente, apontou que o organismo “obteve resultados notáveis” na resolução dos “problemas” gerados pelo desenvolvimento de Macau, nomeadamente ao nível da implementação de “novas tecnologias” de rede electrónica e padrões de transporte. No entanto, ficaram também algumas críticas e sugestões.

“Consideramos que o laboratório tem um posicionamento muito claro, mas que as direcções de desenvolvimento são um pouco confusas. O laboratório já obteve algum sucesso e vai avançar para a industrialização, mas, neste momento, ainda não sabe de que forma será integrada. A escala do laboratório não é suficiente e precisa de se expandir”, transmitiu o responsável, acrescentado ainda que deve procurar capitalizar com vantagens oferecidas pela Grande Baía, a internacionalização de Macau e o princípio “Um País, Dois Sistemas”.

Segundo Guan Xiaohong o azimute passa por concretizar a investigação desenvolvida e reforçar a formação de profissionais especializados.

Em resposta, Song Yonghua, chefe do Laboratório de Referência assumiu que será feito “um melhor trabalho de ligação interdisciplinar nas áreas de pesquisa científica”, reafirmando que a cidade inteligente faz parte, não só da estratégia nacional, mas também do desenvolvimento de Macau.

Foi ainda referido que o laboratório contribuiu para a elaboração do Plano Director e que no futuro, será feita uma maior aposta ao nível do fornecimento de “energia limpa”, sobretudo na eólica.

De Macau para o Universo

Acerca do Laboratório de Referência de Estado para a Ciência Lunar e Planetária, Hong Xiaoyu, Chefe do grupo de especialistas responsável pela avaliação frisou a importância do laboratório localizado na MUST para o projecto de exploração espacial da China, enaltecendo as suas características “únicas” a nível nacional, o trabalho de desenvolvido e ainda as vantagens que Macau oferece para “abrir janelas” a nível internacional.

Como principais metas, o relatório aponta a “necessidade de formar quadros qualificados e atrair talentos”, o apetrechamento de equipamento de ponta e a criação de planos a médio e longo prazo para que as investigações tenham um maior alcance.

À margem do evento, o Chefe do Laboratório de Referência de Estado para a Ciência Lunar e Planetária, Zhang Keke, mostrou-se satisfeito com os resultados da avaliação, embora considere que atrair talentos de topo ou produzi-los localmente “não é fácil”. “Se queremos ter um centro de pesquisa de topo a nível internacional precisamos de cientistas de topo mundial. Para atrair estes cientistas é preciso dar os incentivos necessários, mesmo a nível financeiro”, referiu.

Por seu turno, o investigador português que lidera a equipa de astrobiologia do laboratório, André Antunes, sublinhou que “é muito importante ter superado a prova da avaliação”, que foi “muito positiva”.
Sobre o artigo destacado em 2020 pela revista Nature do qual é co-autor, e que vem referido no relatório, o investigador considerou que é “muito importante para colocar Macau como ponto focal das actividades da astrobiologia para toda a China e como referência a nível global”.

Acerca da contratação de quadros altamente qualificados, André Antunes lamentou a burocracia processual que não facilita a entrada mais célere de talentos em Macau.

Executivo recusa actualizar leis da criminalidade sexual contra menores

O Governo afasta a possibilidade de tornar a importunação verbal crime, pelo menos para já. A resposta foi avançada por Liu Dexue, director dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ), e a posição é tomada com base nas discussões de 2017, entre o Governo e a Assembleia Legislativa, ou seja, na última vez que se reviu a legislação que criminaliza crimes sexuais.

A deputada Wong Kit Cheng tinha questionado o Governo, através de uma interpelação escrita, sobre se o Executivo tinha intenção de criminalizar o piropo. A resposta surgiu agora, e foi divulgada ontem pelo escritório da deputada ligada à Associação das Mulheres.

“No que diz respeito aos actos de importunação verbal, o Governo e a Assembleia Legislativa, durante a apreciação da Proposta de Lei acima referida, discutiram de forma abrangente este assunto e tomaram como referência o regime de outros países e regiões nesta área, nos quais, geralmente, o acto de importunação verbal é tratado de forma não penal”, começou por explicar Liu Dexue.

Além da comparação com outras jurisdições, o Governo acredita ainda que o crime de injúria permite que qualquer pessoa incorra em responsabilidade criminal “sempre que o acto de importunação verbal corresponda às disposições relativas ao crime de injúria”. Este crime é punido com uma pena que pode chegar aos três meses de prisão ou 120 dias de multa. “Assim sendo, os actos de importunação verbal não foram incluídos no ‘crime de importunação sexual’ em vigor, nem foram consideradas, nesta fase, quaisquer alterações”, é igualmente justificado.

Menores cada vez maiores

No que diz respeito às acções de luta contra os crimes sexuais que envolvem menores, Liu Dexue defendeu que o Executivo “tem prestado atenção à protecção dos direitos e interesses dos menores” e por isso foram criados em 2017 dois novos tipos de crimes: “recurso à prostituição de menor” e “pornografia de menor”. Ao mesmo, tempo foram agravadas as penas como efeito dissuasor, com a idade em que se consideram os envolvidos a subir de menos de 14 anos para menos de 16 anos.

Face a estes motivos, Liu Dexue justifica que as leis actuais precisam de estar mais tempo em vigor, para se analisar a necessidade de novas alterações.

Jornalista José Pedro Castanheira recorda ligação com Roque Choi: “Uma fonte absolutamente excepcional”

A forte ligação profissional que uniu o tradutor-intérprete Roque Choi ao jornalista de investigação José Pedro Castanheira foi recordada esta quarta-feira numa masterclass online promovida pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Castanheira diz “dever-lhe muito” e recordou o “silêncio total” que ainda permanecia sobre o 1,2,3 na década de 80

 

O jornalista de investigação português José Pedro Castanheira, autor de dois livros sobre Macau, recordou esta quarta-feira a ligação profissional intensa que desenvolveu com Roque Choi, que foi intérprete-tradutor de todos os governadores de Macau a partir dos anos 40, e até 1999, e uma importante figura nas comunidades portuguesa, chinesa e macaense. O diálogo aconteceu numa masterclass promovida pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, intitulada “Encontros de um repórter com Salazar”.

“Ajudou-me muito a escrever a reportagem sobre o 1,2,3”, começou por dizer. “Quando estive em Macau, no final da Administração portuguesa, voltei a cruzar-me com Roque Choi que me confirmou a sua confiança e simpatia por mim.” Mas já antes, em 1987, José Pedro Castanheira se havia cruzado com ele, aquando de uma visita realizada ao território na qualidade de presidente do Sindicato de Jornalistas.

“Quando ele apareceu foi, precisamente, como intérprete. Falei com os directores dos jornais chineses de Macau e foi ele que traduziu. Eu poderia ser filho dele, pois nasceu nos anos 20, respeitávamo-nos e tivemos uma colaboração magnífica. Foi uma fonte absolutamente excepcional. Todo o meu trabalho sobre Macau tem a impressão digital do senhor Roque Choi.”

Para escrever o livro sobre o 1,2,3, intitulado “Os 58 dias que abalaram Macau”, José Pedro Castanheira conseguiu também outro acesso valioso a fontes documentais. “O Arquivo Histórico-Diplomático [em Lisboa] desclassificou a meu pedido toda a correspondência entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Lisboa e o Governador de Macau dessa época. É uma documentação riquíssima.”

Roque Choi, que esteve “no centro do furacão”, uma vez que “todos os segredos passaram por ele”, voltaria a cruzar-se com Castanheira nos anos 90, quando deu uma longa e talvez a última entrevista, publicada na íntegra anos mais tarde no livro “Roque Choi – Um homem, dois sistemas”, de Cecília Jorge e Rogério Beltrão Coelho.

“Acabou por me dar uma longuíssima entrevista de dezenas de horas no seu gabinete do banco, de que era administrador, e através da conversa e da sua vida fui capaz de reconstituir a vida de Macau e da Administração portuguesa, e das relações com o poder político em Pequim. Foi um privilégio inacreditável ter tido acesso a essa fonte, que é única. É a melhor fonte sobre a história de Macau dos últimos 50 anos, não tenho qualquer dúvida.”

“Silêncio” sobre o 1,2,3

José Pedro Castanheira recordou ainda que, aquando da sua primeira visita ao território, ouviu falar do 1,2,3, mas havia ainda muito por dizer e explorar, em 1987. “Falaram-me logo de uma coisa chamada 1,2,3 que achei estranhíssima, um nome de código. E depois explicaram-me que era o nome conhecido dos reflexos da Revolução Cultural em Macau.”

“Havia um silêncio total sobre o 1,2,3. As pessoas tinham vergonha, medo de falar nisso. Achei isso tão estranho que prometi a mim mesmo que a próxima vez que fosse a Macau haveria de tentar encontrar pistas e fontes que me iriam levar a perceber o que se tinha passado nesse mês de Dezembro de 1966 que se prolongou até Março e Abril de 1967, mas em Hong Kong”, recordou ainda.

Confiança de Rosa Casaco

Na mesma masterclass, o jornalista, que começou a exercer em 1974 e é jornalista do semanário Expresso desde 1989, lembrou ainda a sua entrevista a António Rosa Casaco, o agente da PIDE [polícia política do tempo do Estado Novo] responsável pelo assassinato do general Humberto Delgado, candidato à Presidência da República em 1958 e que disse, caso fosse eleito, que demitiria Salazar, então presidente do Conselho.

Essa conversa, publicada na revista do Expresso em 1998, é fundamental pela “importância que tem na nossa memória colectiva do assassinato do general Humberto Delgado”, tido como “o maior crime pessoal e político cometido pela ditadura em território continental português”. Nas ex-colónias portuguesas, “o maior crime cometido foi o do assassinato de Amílcar Cabral”, apontou Castanheira.

“Tive sorte”, respondeu quando questionado como conseguiu a entrevista com Rosa Casaco, que à data tinha sido condenado, à revelia, a oito anos de prisão. “Tenho tido acesso a muitas boas fontes e no caso particular do Rosa Casaco tive acesso a uma que resultou. Tentei usar várias, lancei o anzol, e tive a sorte de uma delas morder o isco. E revelou-se de uma tremenda eficácia, pois levou-me directamente ao Rosa Casaco. Era uma pessoa muito próxima dele que merecia a confiança.”

O jornalista recorda que teve de esperar dois anos até estar frente a frente com Rosa Casaco. “A fase final foi de intensas negociações, porque o Rosa Casaco impôs uma série de condições, por escrito, mandou-me um documento que ainda guardo e tenciono usá-lo quando escrever as minhas memórias como repórter, porque tem mais de 20 páginas. Inclusivamente é engraçado porque é um documento onde assina todas as páginas autenticando, e a última página tem a sua assinatura e impressão digital.”

Com a confiança a aumentar, Rosa Casaco acabaria por se deixar fotografar, condição que inicialmente recusou. “A entrevista foi publicada com uma série de fotografias do próprio Rosa Casaco junto à Torre de Belém, feitas pelo meu colega Luís Carvalho.”

José Pedro Castanheira não tem dúvidas de que esta entrevista foi dada com o intuito de passar uma clara mensagem. “Na nossa gíria, como costumamos dizer, não há entrevistas grátis. Durante muitos anos achava que sim, hoje não tenho ilusões. Mas só percebi a intenção dele depois da entrevista. Rosa Casaco, quando me deu a entrevista, calculou muito bem o timing. Percebi que ele fez as contas e considerou que em 1998, quando me deu a entrevista, em Fevereiro, prescrevia a pena pela qual tinha sido condenado. Ele apostou forte nisso e nesse momento pensou que já podia falar e ajustar contas com a democracia. A entrevista foi uma tentativa de ajuste de contas com a democracia.”

“Tentei convencer o Luís Carvalho a fazer as fotografias junto à sede da PIDE, mas o Rosa Casaco preferiu que essas fotografias fossem feitas na Torre de Belém e tiveram muito mais impacto. A ideia era vingar-se da democracia e humilhar a Polícia Judiciária e a Interpol, pois havia um mandato de captura. Ele acabaria por ter razão, porque houve depois uma pugna judicial que foi até ao Supremo Tribunal de Justiça. Posteriormente o Tribunal Constitucional foi chamado a intervir, e o último acordão do TC considerou que a pena de Rosa Casaco havia caducado. Ele podia estar em Portugal”, rematou Castanheira.

Ainda sobre as diferenças do aparelho censório entre os períodos em que Salazar e Marcelo Caetano estiveram no poder, José Pedro Castanheira não tem dúvidas de que houve uma mudança. “É inquestionável que houve uma grande descompressão por parte da censura, sobretudo a partir do momento em que Marcelo Caetano toma posse.

Até à posse de Caetano era tudo controlado à minúcia, ao segundo, à palavra. É o próprio secretário de Estado [Paulo Rodrigues] que tutela a censura que dá a notícia da morte de Salazar e é ele que leva o comunicado oficial à Emissora Nacional para ser lido pelo locutor de serviço. E antes de passar o comunicado para as mãos dele, o Paulo Rodrigues decide fazer ainda mais uma alteração no comunicado”, exemplificou.

Miss Birmânia junta-se à guerrilha para lutar contra ditadura militar

Uma ‘miss’ e modelo birmanesa publicou uma fotografia no Facebook com uma espingarda de assalto, na selva, afirmando que está a fazer a “revolução”, quando muitos jovens se unem a grupos armados para fazerem frente à Junta Militar.

A fotografia da modelo Htar Htet Htet, de 30 anos, vencedora do concurso Miss Birmânia 2013, foi publicada hoje, o dia que assinala os 100 dias após o golpe de Estado militar de 01 de fevereiro.

“Hoje faz 100 dias que perdemos tudo. Porque vim para território ‘revolucionário’? Já cá estou há um mês e 11 dias”, escreveu Htar Htet Htet na mensagem que publicou na rede social Facebook.

“Eu não faço política, mas derrotando a ditadura eu faço a ‘revolução'”, acrescenta a birmanesa.

No passado dia 01 de maio, Htar Htet Htet publicou na rede social uma fotografia do filme “Libertarias” (1996), do realizador espanhol Vicente Aranda, em que as atrizes Ana Belén, Victoria Abril e Adriadna Gil interpretam milicianas anarquistas durante a Guerra Civil de Espanha (1936-1939).

Calcula-se que centenas de jovens estão atualmente a receber treino militar junto de grupos de guerrilha das várias minorias étnicas dos Estados de Karen (leste) e Kachin (norte), cansados dos efeitos quase nulos dos protestos pacíficos contra a Junta Militar do Myanmar (antiga Birmânia).

Os jovens mostram-se dispostos a organizar a luta armada contra a ditadura militar integrados em grupos na selva, mas muitos dizem estar dispostos a regressar às cidades para formarem organizações de guerrilha urbana.

Outras figuras públicas da Birmânia já se uniram aos movimentos de desobediência civil como o ator e modelo Paing Takhon, que permanece detido desde o mês de abril, acusado de incitar à violência por mostrar publicamente apoio aos protestos contra o golpe de Estado.

Hoje, segundo a imprensa local, controlada pelo Exército, as forças de segurança prenderam 39 pessoas supostamente envolvidas em ataques ou dispostas a integrar grupos rebeldes para receberem treino militar.

Estas detenções começaram no dia 17 de abril em Rangum durante uma rusga à casa de um opositor ao golpe de Estado onde as autoridades no poder dizem ter encontrado munições, detonadores e mechas para explosivos, escreve o jornal The Global New Light of Myanmar que agora é controlado pelos militares.

De acordo com a notícia, a polícia relaciona as detenções com a série de ataques com explosivos ocorridos na antiga capital do país contra edifícios governamentais, apesar de os atentados não terem sido reivindicados.

Outras operações levaram à prisão um total de 39 pessoas supostamente relacionadas com ataques e “ações suspeitas” como a vontade de se unirem às guerrilhas étnicas que operam sobretudo no leste da Birmânia.

Pelo menos 783 pessoas morreram desde o golpe de Estado devido à brutal repressão da polícia e dos militares durante as manifestações, em todo o país.

Segundo a Associação de Auxílio aos Presos Políticos, além do balanço de mortos, divulgou o número de presos políticos que ascende a cinco mil detidos de forma arbitrária.

O Exército da Birmânia justificou o golpe de Estado com a alegada fraude eleitoral de novembro de 2020.

Nas legislativas o Liga Nacional para a Democracia, da Nobel da Paz Aung Sang Suu Kyi, venceu as eleições, como em 2015, em resultados validados pelos observadores internacionais.

CAEAL anuncia desistência de duas comissões de candidatura às eleições

A Novas Forças dos Trabalhadores das Empresas do Jogo tinha a comissão de candidatura validada e podia avançar com uma lista para as eleições. No entanto, optou por abdicar, pouco mais de um mês depois

 

As eleições ainda não começaram, mas duas potenciais candidaturas já desistiram, depois terem oficializado a vontade de concorrer junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). Os casos foram revelados ontem pela CAEAL, que recusou ligações entre desistências e qualquer decisão do órgão responsável pelo acto eleitoral.

As comissões de candidatura são formadas por 300 a 500 eleitores e servem de plataforma de apoio às listas candidatas ao hemiciclo. A CAEAL não revelou o nome das pessoas envolvidas, mas identificou as duas comissões: “Novas Forças dos Trabalhadores das Empresas do Jogo” e “Aliança Macau”.

Segundo a informação divulgada, a comissão “Novas Forças dos Trabalhadores das Empresas do Jogo” já tinha sido validada pela CAEAL, depois de apresentar as assinaturas no início do mês, mas desistiu no final de Abril.

O HM contactou Stephen Lao, ligado à “Power of the Macau Gaming Association”, associação ligada ao sector do jogo que no início do mês apresentou as assinaturas para formular uma comissão de candidatura. Contudo, Lao limitou-se a responder que “não é conveniente divulgar informações”, não negando ligações à comissão.

Por sua vez, a “Aliança Macau” desistiu sem que a candidatura tivesse sido validada. O pedido de desistência foi formalizado a 10 de Maio, depois de formalizar a candidatura em Abril.

Novos lugares de voto

Também ontem, a CAEAL anunciou cinco novos lugares de voto, que vão substituir outros tantos. Segundo as autoridades, os antigos lugares de voto no Fórum Macau, Serviços de Acção Social do Seac Pai Van, Escola Fong Chong da Taipa e Escola Santa Teresa vão ser substituídos pela Escola Santa Rosa Lima (Secção Inglesa), Escola Oficial de Seac Pai Van, Secção Primária da Escola Pui Tou (Taipa) e Colégio Diocesano de São José 5.

“Há dois motivos para as substituições, alguns espaços estão a ser utilizados como centro de teste de ácido nucleico, como acontece com o Fórum Macau. Outros não têm espaço adequado para a votação”, explicou Tong Hio Fong.

No que diz respeito ao local de voto, a CAEAL alertou para o facto de mais de 32 mil pessoas viverem em Coloane, mas apenas estarem registados para votar naquela zona cerca de 6 mil pessoas. Por isso, Tong apelou aos residentes para actualizarem a morada até 31 de Maio.

Acto de confissão

Sobre os funcionários públicos com carreiras especiais, que têm de respeitar o dever de neutralidade nas eleições, o presidente da CAEAL sublinhou que não podem ser membros de comissões de candidatura. No caso de já terem declarado o apoio, Tong diz que devem avisar o respectivo serviço, no caso de o apoio não poder ser cancelado, ou pedir ao mandatário para avisar a CAEAL, antes da comissão de candidatura ser validada.

Em relação a eventuais consequências, Tong afirmou que a CAEAL não vai penalizar ninguém, mas não excluiu a possibilidade de processos disciplinares internos.

Conselheiros em dúvida

O presidente da CAEAL deixou em aberto a possibilidade de eventuais Conselheiros da Comunidade Portuguesa poderem assumir lugares na AL. Até Fevereiro, Pereira Coutinho foi deputado e ainda Conselheiro das Comunidades Portuguesas, porém abdicou do cargo consultivo para se “concentrar” na AL e nas eleições.

“Temos de ver a natureza do cargo, a natureza do órgão em que exercem funções. Se for um órgão de um outro estado, não pode candidatar-se à Assembleia Legislativa. Se não for membro de um parlamento de um outro Estado, temos de ver o estatuto do órgão em que é membro”, respondeu, quando questionado se os conselheiros portugueses estavam proibidos de estar no hemiciclo.

Turismo e Covid-19

“The travel industry worldwide has been dealt a vicious blow by COVID-19. The industry will recover, but travel will never be the same again, and the year 2020 will be a defining moment in the history of the tourism sector. As COVID-19 has painfully demonstrated, travel can play a critical role in the spread of new infectious diseases. Likewise, the increased globalization of tourism means that the industry is uniquely vulnerable to the disruption these disasters can cause.”
Simon Hudson
COVID-19 & Travel: Impacts, Responses and Outcomes

 

O turismo proporciona meios de subsistência a milhões de pessoas e permite a milhares de milhões mais apreciar as suas diferentes culturas, bem como o mundo natural. Para alguns países, pode representar mais de 20 por cento do seu PIB e, globalmente, é o terceiro maior sector de exportação da economia global. O turismo é um dos sectores mais afectados pela pandemia da COVID-19, impactando economias, meios de subsistência, serviços públicos e oportunidades em todos os continentes. Embora a manutenção dos meios de subsistência dependentes do sector deva ser uma prioridade, a reconstrução do turismo é também uma oportunidade de transformação, com vista no aproveitamento do seu impacto nos destinos visitados e na construção de comunidades e empresas mais resilientes através da inovação, digitalização, sustentabilidade, e parcerias.

De acordo com dados de 2019, o turismo gerou 7 por cento do comércio mundial, empregou uma em cada dez pessoas a nível mundial e através de uma complexa cadeia de valor de indústrias interligadas, forneceu meios de subsistência a milhões de pessoas nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Com o encerramento das fronteiras, os hotéis fecharam e as viagens aéreas caíram drasticamente, as chegadas de turistas internacionais diminuíram 56 por cento e perderam-se trezentos e vinte mil milhões de dólares em exportações do turismo nos primeiros cinco meses de 2020, o que representou três vezes mais que a perda durante a Crise Económica Global de 2009. Os governos estão a lutar para compensar a perda de receitas necessárias para financiar serviços públicos, incluindo a protecção social e ambiental, e cumprir os prazos de pagamento da dívida.

Os cenários para o sector indicam que o número de turistas internacionais poderia diminuir de 58 por cento para 78 por cento em 2020, o que se traduziria numa queda nos gastos dos visitantes de 1,5 triliões de dólares em 2019 para entre 310 e 570 mil milhões de dólares em 2020, colocando em risco mais de cem milhões de empregos no turismo directo, muitos deles em micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) que empregam uma elevada percentagem de mulheres e jovens. Os trabalhadores informais são os mais vulneráveis. Nenhum país escapou à dizimação do seu sector turístico, desde Itália, onde o turismo representa 6 por cento do PIB do país, até Palau, onde gera quase 90 por cento de todas as exportações. Esta crise é um grande choque para as economias desenvolvidas e uma emergência para as pessoas mais vulneráveis e para os países em desenvolvimento.

O impacto nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento (PEID), países menos desenvolvidos (PMD) e muitas nações africanas é motivo de preocupação. Em África, o sector representava 10 por cento de todas as exportações em 2019. Os impactos da COVID-19 no turismo ameaçam aumentar a pobreza quanto aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS1) e a desigualdade (ODS10) e inverter os esforços de conservação da natureza e da cultura. A pandemia também corre o risco de abrandar o progresso no sentido dos ODS. O turismo é directamente referenciado em três objectivos: ODS8 “trabalho decente e crescimento económico”, ODS12 “consumo e produções responsáveis” e ODS14 “vida na água”. Para as mulheres, comunidades rurais, povos indígenas e muitas outras populações historicamente marginalizadas, o turismo tem sido um veículo de integração, empoderamento e fonte de rendimentos. Permitiu a prestação de serviços em locais remotos, apoiou o crescimento económico das zonas rurais, proporcionou acesso a formação e emprego, e muitas vezes transformou o valor que as comunidades e sociedades atribuem ao seu património cultural e natural.

A ligação do turismo a tantas outras áreas da sociedade significa que esta crise também põe em risco a contribuição do sector para outras ODS, tais como a igualdade de género (ODS5) ou a redução das desigualdades entre e dentro dos países (ODS10). O turismo relacionado com a natureza e os oceanos é uma importante motivação para viajar e fonte de receitas. Um inquérito de 2015 da Organização Mundial do Turismo (OMT) determinou que catorze países africanos geram uma estimativa de cento e quarenta e dois milhões de dólares em taxas de entrada em áreas protegidas. O encerramento das actividades turísticas significou meses sem rendimentos para muitas áreas protegidas e para as comunidades que vivem à sua volta, muitas delas altamente dependentes do turismo para sobreviver e sem acesso a redes de segurança social. A perda de rendimentos do turismo põe ainda mais em perigo a biodiversidade das áreas protegidas e de outras áreas conservadas, onde se realiza a maior parte do turismo de vida selvagem. Sem oportunidades alternativas, as comunidades podem recorrer à sobre-exploração dos recursos naturais, quer para consumo próprio quer para criar rendimentos.

Ao mesmo tempo, o sector do turismo tem uma elevada pegada climática e ambiental, exigindo um forte consumo de energia e combustível que coloca stress nos sistemas terrestres. O crescimento do turismo ao longo dos últimos anos pôs em risco a realização dos objectivos do Acordo de Paris. As emissões de gases com efeito de estufa relacionada com os transportes provenientes do turismo foram estimadas em 5 por cento de todas as emissões de origem humana e poderão recuperar drasticamente se a recuperação do sector não estiver alinhada com os objectivos climáticos. A riqueza global de tradições, cultura e diversidade estão entre as principais motivações para as viagens.

O impacto da COVID-19 no turismo coloca mais pressão sobre a conservação do património no sector cultural, bem como sobre o tecido cultural e social das comunidades, particularmente os povos indígenas e grupos étnicos. Por exemplo, com o encerramento dos mercados de artesanato, produtos e outros bens, as receitas das mulheres indígenas têm sido particularmente afectadas.

As organizações culturais também viram as suas receitas cair a pique. Durante a crise, 90 por cento dos países foram total ou parcialmente fechados como Património Mundial, e cerca de oitenta e cinco mil museus foram temporariamente encerrados. O turismo, um sector construído na interacção entre as pessoas, é um dos principais veículos para a promoção da cultura e para o avanço do diálogo e compreensão interculturais. À medida que as viagens recomeçam em algumas partes do mundo, a conectividade limitada e a fraca confiança dos consumidores, a evolução desconhecida da pandemia e o impacto da recessão económica apresentam desafios sem precedentes para o sector do turismo. Apoiar os milhões de meios de subsistência que dependem de um sector afectado por meses de inactividade, e construir uma experiência de viagem sustentável e responsável que seja segura para as comunidades de acolhimento, trabalhadores e viajantes são fundamentais para acelerar a recuperação.

Esta crise é também uma oportunidade sem precedentes para transformar a relação do turismo com a natureza, o clima e a economia. É tempo de repensar o impacto do sector nos nossos recursos naturais e ecossistemas, com base no trabalho existente sobre o turismo sustentável; de examinar como interage com as nossas sociedades e outros sectores económicos; de o medir e gerir melhor; de assegurar uma distribuição justa dos seus benefícios e de fazer avançar a transição para uma economia turística neutra e resistente ao carbono. Uma resposta colectiva e coordenada de todos os intervenientes pode estimular a transformação do turismo, juntamente com pacotes de recuperação económica, e investimentos na economia verde. A crise COVID-19 é um momento crítico para alinhar o esforço de sustentar os meios de subsistência dependentes do turismo com os ODS e assegurar um futuro mais resiliente, inclusivo, neutro em carbono e eficiente em termos de recursos.

O aproveitamento da inovação e digitalização, abraçando valores locais, e a criação de empregos decentes para todos, especialmente para os jovens, mulheres e grupos mais vulneráveis nas sociedades, poderia ser a frente e o centro da recuperação do turismo. Para tal, o sector precisa de avançar nos esforços para construir um novo modelo que promova parcerias, coloque as pessoas anfitriãs no centro do desenvolvimento, promova políticas baseadas em provas e investimentos e operações neutras em carbono. A ONU através da OMT propôs um guia para transformar o turismo e que necessita de abordar cinco áreas prioritárias sendo a primeira como gerir a crise e mitigar os impactos socioeconómicos sobre os meios de subsistência, particularmente sobre o emprego das mulheres e a segurança económica e para tal terão de ser implementadas soluções e respostas graduais e coordenadas para proteger os meios de subsistência, empregos, rendimentos e empresas; criar confiança através da segurança em todas as operações turísticas e reforçar as parcerias e a solidariedade para a recuperação socioeconómica, dando prioridade à inclusão e à redução das desigualdades.

A segunda seria impulsionar a competitividade e construir a resiliência, apoiando o desenvolvimento de infraestruturas turísticas e serviços de qualidade em toda a cadeia de valor do turismo; facilitar os investimentos e construir um ambiente empresarial favorável para as MPME locais, diversificar produtos e mercados, e promover o turismo doméstico e regional sempre que possível. A terceira seria avançar a inovação e a digitalização do ecossistema turístico com pacotes de recuperação e futuros desenvolvimentos turísticos poderiam maximizar a utilização da tecnologia no ecossistema turístico, promover a digitalização para criar soluções inovadoras e investir em competências digitais, particularmente para trabalhadores temporariamente sem uma ocupação e para pessoas à procura de emprego. A quarta seria fomentar a sustentabilidade e o crescimento verde inclusivo sendo importante que o turismo mude para um sector resiliente, competitivo, eficiente em termos de recursos e neutro em termos de carbono, em conformidade com os objectivos e princípios do Acordo de Paris sobre Alterações Climáticas e da Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030. Os investimentos verdes para recuperação poderiam visar áreas protegidas, energias renováveis, edifícios inteligentes e a economia circular, entre outras oportunidades.

O apoio financeiro e de ajuda dos governos às indústrias de alojamento, cruzeiros e aviação poderia também garantir a proibição de práticas poluidoras insustentáveis. A quinta área seria a coordenação e parcerias para transformar o turismo e alcançar os ODS sendo necessárias abordagens e alianças mais ágeis para se avançar para um futuro resiliente e objectivos globais. A Comissão de Crise Global do Turismo da OMT uniu o sector do turismo para formular uma resposta sectorial ao desafio sem precedentes da pandemia da COVID-19. Uma coordenação eficaz para planos e políticas de reabertura e recuperação poderia considerar colocar as pessoas em primeiro lugar, envolvendo governos, parceiros de desenvolvimento e instituições financeiras internacionais para um impacto significativo nas economias e meios de subsistência. É de lembrar que estão em risco cem a cento e vinte milhões de empregos no turismo directo; perda de mais de novecentos e dez mil milhões de dólares para 1,2 triliões de dólares em exportações provenientes do turismo – despesas dos visitantes internacionais; a perda de 1,5 por cento a 2,8 por cento do PIB global; a salvação para os países menos desenvolvidos (LDCs na sigla inglesa), países menos desenvolvidos (PMDs) e muitos países africanos em que o turismo representa mais de 30 por cento das exportações para a maioria dos SIDS e 80 por cento para alguns.

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres quando tomou posse a 1 de Janeiro de 2017, afirmou que é imperativo que reconstruamos o sector turístico. O turismo é um dos sectores económicos mais importantes do mundo. Emprega uma em cada dez pessoas na Terra e dá sustento a centenas de milhões de pessoas mais. Impulsiona as economias e permite que os países prosperem. Permite às pessoas experimentarem algumas das riquezas culturais e naturais do mundo e aproxima as pessoas umas das outras, destacando a nossa humanidade comum. De facto, poder-se-ia dizer que o turismo é em si mesmo uma das maravilhas do mundo. É por isso que tem sido tão doloroso ver como o turismo tem sido devastado pela pandemia da COVID-19. Nos primeiros cinco meses de 2020 no estudo da ONU de Agosto do mesmo ano, as chegadas de turistas internacionais diminuíram em mais de metade e perderam-se cerca de trezentos e vinte mil milhões de dólares em exportações do turismo. No total, cerca de cento e vinte milhões de empregos directos no turismo estão em risco. Muitos estão na economia informal ou em micro, pequenas e médias empresas, que empregam uma elevada proporção de mulheres e jovens. A crise é um grande choque para as economias desenvolvidas, mas para os países em desenvolvimento, é uma emergência, particularmente para muitos pequenos Estados insulares em desenvolvimento e países africanos. Para as mulheres, comunidades rurais, povos indígenas e muitas outras populações historicamente marginalizadas, o turismo tem sido um veículo de integração, empoderamento e geração de rendimentos.

O turismo é também um pilar fundamental para a conservação do património natural e cultural. A queda nas receitas tem levado a um aumento da caça furtiva e da destruição de habitats em áreas protegidas e em seu redor, e o encerramento de muitos “Sítios do Património Mundial” tem privado as comunidades de meios de subsistência vitais. A imperatividade da reconstrução do turismo tem de ser de uma forma segura, equitativa e amiga do clima. As emissões de gases com efeito de estufas relacionadas com os transportes poderão recuperar drasticamente se a recuperação não estiver alinhada com os objectivos climáticos. Apoiar os milhões de meios de subsistência que dependem do turismo significa construir uma experiência de viagem sustentável e responsável que seja segura para as comunidades de acolhimento, trabalhadores e viajantes. Para ajudar à recuperação, são identificáveis cinco áreas prioritárias sendo a primeira, mitigar os impactos socioeconómicos da crise. A segunda construir resiliência em toda a cadeia de valor do turismo. A terceira maximizar a utilização da tecnologia no sector do turismo. A quarta promover a sustentabilidade e o crescimento verde e a quinta, fomentar parcerias que permitam ao turismo continuar a apoiar os ODSs.

É necessário que o turismo recupere a sua posição como fornecedor de empregos decentes, rendimentos estáveis e a protecção do nosso património cultural e natural. A mensagens-chave é de que a reconstrução do turismo é uma prioridade, mas o sector deve tornar-se mais sustentável e resiliente no futuro. O turismo continua a ser um dos sectores mais duramente atingidos pela pandemia do coronavírus e as perspectivas continuam a ser altamente incertas. A OCDE espera que o turismo internacional diminua cerca de 80 por cento em 2020. Os destinos que dependem fortemente do turismo internacional, de negócios e de eventos são particularmente difíceis, com muitas zonas costeiras, regionais e rurais a terem melhores resultados do que as cidades. As notícias encorajadoras sobre vacinas impulsionaram as esperanças de recuperação, mas os desafios permanecem, prevendo-se que o sector permaneça em modo de sobrevivência durante 2021.

O turismo doméstico recomeçou e está a ajudar a mitigar o impacto sobre o emprego e as empresas em alguns destinos. Contudo, a recuperação real só será possível quando o turismo internacional regressar. Isto requer cooperação global e soluções baseadas em provas para que as restrições de viagem possam ser levantadas em segurança. A sobrevivência das empresas em todo o ecossistema turístico está em risco sem apoio contínuo do governo e embora os governos tenham tomado medidas impressionantes para amortecer o golpe no turismo, para minimizar a perda de empregos e para construir a recuperação em 2021 e mais além, é necessário fazer mais, e de uma forma mais coordenada. As principais prioridades políticas incluem, restabelecer a confiança dos viajantes; apoio às empresas de turismo para se adaptarem e sobreviverem; promover o turismo interno e apoiar o regresso seguro do turismo internacional; fornecer informação clara a viajantes e empresas, e limitar a incerteza (na medida do possível); medidas de resposta evolutivas para manter a capacidade no sector e colmatar as lacunas nos apoios; reforçar a cooperação dentro e entre países e construir um turismo mais resiliente e sustentável.

O leme secreto

Num dos muitos inspirados serões da rue du château em Paris – corriam os anos vinte do homónimo século – Marcel Duchamp, Jacques Prévert e Yves Tanguy inventarem o chamado “cadáver esquisito”. Cada um escreveu uma sequência de palavras, antes de enrolar a folha e passar ao outro. Resultado: um enunciado em que se perdia a noção de autor – anátema que perseguiu boa parte das teorias do século XX -, em que se parodiava a noção de controlo e em que, finalmente, se atingia uma expressão de desejado vínculo espontâneo. Poucos dias se passaram e Yves Tanguy com a ajuda de André Masson transpuseram a ideia para imagens. 
 
Seis décadas depois, conheceste em Amesterdão um artista polaco chamado Henryk Gajewsky que te convidou a participar num projecto intitulado “networking”. A ideia baseava-se numa gravação em cassete que rodava entre as moradas de vários artistas. Cada um gravava o que achava por bem – voz, leituras, sons de paisagens, misturas, ecos, palavras, narrativas curtas, devaneios, etc. – e enviava ao seguinte que constava da lista. O trajecto, sempre inacabado, viria depois a ser exposto com apoio de material visual (lembras-te de um violoncelo em que o arco tinha luz e de uma miscelânea final que faria lembrar um desengonçado concerto da Meredith Monk). 
 
No caso do cadáver esquisito, o diagnóstico situava os males da modernidade (imposição de alto controlo a partir das máquinas, da violência, da velocidade e das linguagens técnicas) e virava-se contra eles ao jeito fugidio de todas as vanguardas da época. No caso do networking de Gajewsky, a acção enfatizava bem mais a ininterrupta interacção em rede e menos os efeitos da linguagem, entendidos como arma fosse contra o que fosse. O resultado era e foi, neste último caso, uma surpresa sem carga de manifesto, mas tão-só de júbilo estético. E isto apesar de Gajewsky ser, na altura, estávamos nos derradeiros anos da guerra fria, um exilado político. 
 
Os dois casos aqui evocados ilustram dois modos de nomadismo que marcaram o século XX. Um primeiro instrumental e contestatário e um segundo essencialmente paródico (e capaz de assimilar e de truncar tudo o que as vanguardas haviam produzido até ao final dos anos setenta). A identidade do século XX como que avançou de múltiplas resistências a poderes muito claros (violentíssimos e verticais) para a era do paradoxo – que chega até aos dias de hoje – em que os poderes se diluem e avolumam, organizando-se também eles em rede. 
 
Tens razão quando afirmas que o poder é, hoje em dia, uma espécie de polifonia: um vasto conjunto de vozes que irrompe de todo o lado, não se detectando, na maior parte das vezes, de onde provém e para onde segue. É uma toada que desejaria subjugar ou imobilizar tudo o que mexe e que se impregna em todos nós, pobres mortais. Como escreveu Barthes, na sua famosa Lição (1977), é discurso de poder todo aquele “que engendra a culpa e, por conseguinte, a culpabilidade daquele que o ouve”. Os poderes fazem parte da teia humana. Eles são o grande parasita do maior predador do planeta, o que quer dizer que passaram a estar muito para além das galáxias políticas e das (muitas) redomas dos costumes. Até estas linhas, dirás tu a sorrir, serão um pequeno apêndice de poder. 
 
Hoje tudo se tornou em cadáver esquisito: as imagens que se atropelam na net, a informação e as suas “fake news”, o constante palimpsesto publicitário e até mesmo as contaminações pandémicas. E a arte passou a ser – sei que é o que pensas – uma recolecção em viagem que procura atravessar e radiografar estes vaivéns sem fim, tentando que as suas marcas falem por si. E o que restará, por fim, à literatura? Dirás: ser o leme secreto que há-de incitar os resíduos de todas estas vastas operações a reorganizarem-se no seu próprio silêncio.

Terceiro acto – Cena 2

Gonçalo continua absorto na sua nuvem de fumo, há qualquer coisa de mágico na forma como o fumo se espalha pela divisão, iluminado pelo luar que vem da janela. Os pássaros nocturnos vão picando o ponto na noite silenciosa que se adivinha lá fora. Ouve-se uma descarga do autoclismo, depois água a correr do lavatório. A porta do fundo abre-se, Valério entra, volta a fechá-la atrás de si e aproxima-se da mesa. Abre o frasco de tremoços e trá-lo consigo de volta ao seu lugar.

Gonçalo
Lavaste as mãos, fofa?

Valério
Claro, meu amor.

Gonçalo levanta-se e vai buscar duas tigelas a um dos armários por cima do balcão lava-loiça. Depois pega num dos pacotes de batata frita e regressa ao seu lugar. Abre o pacote e deita algumas para uma das tigelas. Valério já mastigou alguns tremoços e usa a outra tigela para as cascas.

Gonçalo
Foram jantar e…?

Valério
E… [longa pausa] Não sei exactamente quando é que foi, mas sei que foi cedo… que me esqueci de que estava a falar com uma mulher com metade da minha idade…

Gonçalo
[interrompendo]
Uma mulher. Muito bem!

Valério
[confuso]
O quê?

Gonçalo
Por isso é que te esqueceste da idade dela… olhas para ela como uma mulher.

Valério
Hmmm… pois. [pausa] Estava completamente babado a ouvi-la… no meu babete interior [ri-se]. Ela é inteligente… tem a voz aveludada… e cheira tão bem, valha-me Deus. [pausa] Mas depois lembrei-me de como fomos ali parar… e lembrei-me da idade dela… e comecei a gaguejar. [pausa] Acho que ela notou… e até achou piada. Entrámos no carro… ela queria ir dançar. Mais um lembrete: já não danço. É da idade. Ela pediu-me para tentarmos noutro dia… beijou-me. [pausa] Foi sair com umas amigas, deixei-a à porta de um bar… depois fui para casa.

Gonçalo
E porque é que estás com o ar mais deprimido do mundo?

Valério
É uma boa pergunta…
Gonçalo
Pois é.

Os dois ficam novamente em silêncio. Gonçalo acende dois cigarros ao mesmo tempo e dá um ao amigo. Agora contemplam a nuvem de fumo e os estranhos padrões mutáveis que ela vai formando. Valério volta a olhar para o texto de Gonçalo. Hesita antes de falar.

Valério
[indicando o texto]
Talvez o sentido mais alargado de que falava, essa coisa mais impenetrável e absoluta, já lá esteja… [pausa] Eu sou demasiado analítico… por isso é que me pedes para ler os teus textos. [pausa] Está lá alguma coisa… isso é certo. E pelo simples facto de não falares dela, torna-se quase palpável… Há uma força qualquer… não sei apontá-la, confesso. Mas pressentimo-la a cada frase. E não estou a falar deste texto em particular… falo da tua escrita em geral. [pausa] Às vezes parece totalmente superficial… irónica, muitas vezes sarcástica… mas… lá está… do nada pregas-nos uma rasteira e passamos a ver tudo com outros olhos… é interessante… muitas vezes essas rasteiras vêm tarde no texto, mas mesmo assim, quando acontece, revemos tudo num ápice, desde o início, com outros olhos… até ao ponto da rasteira… e percebemos que o que quer que nos tenha feito tropeçar já lá estava desde início… e era tão óbvio… mas estava muito bem disfarçado.

Valério volta a reler algumas passagens. Gonçalo termina o seu cigarro e acende outro com a beata do quase defunto. Depois serve-se de mais vinho.

Valério
O truque é… [interrompe-se] Não há truque, eu sei… da tua parte. Para quem lê, sim, pode passar por truque… mas isso não é mau… [indica o fumo dos cigarros] É como estas nuvens de fumo… há algo de fortuito nas formas… imperfeições, às vezes parecem inacabadas, outras parecem ter sido excessivamente elaboradas… mas aconteceram assim, formaram-se assim… e é precisamente nesta aleatoriedade que reside a beleza destas nuvens de fumo, não é?

Gonçalo
É… acho que sim.

Os dois ficam durante algum tempo a admirar as nuvens de fumo que se espalham novamente pelo tecto. O luar está ainda mais intenso.

Valério
Vais continuar?

Gonçalo
O Joãozinho Neo-Nazi?

Valério
Isso era um título com tomates!

Gonçalo
Também acho… [pausa] Vais vê-la outra vez?

Valério
Pois que não sei…

Gonçalo
Acho que devias…

Valério
Eu acho que não. [pausa] Ela vai querer dançar… eu vou querer ficar-me pelo jantar… Isso aguenta-se durante uns meses… e depois? Eu quero ler… quando muito ir ao cinema… e chega. E depois? [pausa] Às tantas ela farta-se, começa a dar-se conta dos anos que nos separam… gosta muito de estar comigo, mas… e eu não digo nada, deixo andar… e ficamos assim, durante algum tempo, até os ventos da paixão amainarem… [os dois desatam à gargalhada]. Que azeiteiro…!

Gonçalo
Até Os Ventos da Paixão Amainarem… o novo romance de Valério R…

Valério
Prefiro ir dançar!

Gonçalo
E achas que ela é como tu…? [ri-se] Que vai deixar andar até os ventos da paixão amainarem…?

Valério
É bem visto… Não sei. [pausa] Mas sei que não vou esperar que chegue até aí. E já percebi que ela quer dançar e sair… e vai querer que eu conheça os amigos e as amigas… Deus me livre e guarde!

Gonçalo
Se calhar ela sabe como és e não vai insistir.

Valério
Vai, vai… não tenho a mínima dúvida.

China merece um lugar na cobertura mediática internacional, diz MNE

A China, a segunda maior economia do mundo, o maior país em desenvolvimento com 1,4 mil milhões de habitantes, quase um quinto do total mundial, com uma civilização ininterrupta de 5.000 anos, é merecedora de um lugar na cobertura mediática internacional – disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China.

Hua Chunying proferiu estas afirmações na terça-feira, em conferência de imprensa, quando solicitada a comentar uma recente reportagem da media americana que refere que a China está a criar uma alternativa à media noticiosa global, dominada por veículos como a BBC e CNN, e inserindo dinheiro, poder e a perspectiva chinesa em quase todos os países do mundo.

“O mundo é um lugar diverso. No sector da media, em vez de haver apenas a CNN e BBC, os países deveriam ter suas próprias vozes”, disse Hua.

Devido à diferença nos sistemas, os meios de comunicação em diferentes países operam de maneiras diferentes. Ao avaliar se uma organização de media é profissional, o mais importante a referir é se ela segue a ética do jornalismo, a objectividade e justiça nas suas reportagens, acrescentou.

“Eu observei que o Comité de Relações Exteriores do Senado dos EUA aprovou a Lei de Competição Estratégica de 2021, que autoriza a alocação de 300 milhões de dólares para cada ano fiscal para ‘conter a influência maligna do Partido Comunista Chinês globalmente'”, disse Hua, enfatizando que a imprensa chinesa faz a cobertura de forma objectiva e nunca inventa ou dissemina desinformação visando outros países.

Hua disse que a Agência de Notícias Xinhua é uma agência de renome mundial com quase 90 anos de história. Seguindo as regras habituais de operação, fornece serviço de notícias confiável e profissional a usuários globais. A cooperação com outras agências de notícias não é diferente da AP, Reuters, AFP, Kyodo, entre outras.

“Ninguém pode privar a media chinesa como a Xinhua do seu direito de intercâmbio e cooperação só porque é da China, um país socialista. Acusar a Xinhua de se envolver em intercâmbios e cooperação com outras agências apenas com base nisso consiste num viés ideológico e discriminação política “, disse.

Direitos protegidos

Hua observou que é uma completa distorção dos factos acusar a China de suprimir a media estrangeira e negar vistos a jornalistas norte-americanos.

A porta-voz disse que, “após o surto de Covid-19, fizemos o que pudemos para superar as dificuldades e ajudar os correspondentes americanos na China e as suas famílias retidas no exterior a regressar à China. Mesmo que os EUA se recusem a conceder a prorrogação de visto a jornalistas chineses, nós oferecemos apoio e assistência aos jornalistas americanos que trabalham na China, como a todos os jornalistas estrangeiros. As suas reportagens aqui não foram afectadas”.

Ao abusar da hegemonia do discurso, os EUA lançaram um ataque de desinformação à China sob o pretexto da liberdade de imprensa. Nesse sentido, os EUA estão a ideologia substituir os princípios de objectividade e autenticidade, justificando a manipulação política com a repressão da imprensa chinesa através da difamação, disse Hua.

“Face a mentiras e rumores difamatórios, é natural que façamos com que nossa própria voz seja ouvida”, disse Hua, acrescentando que a China explicou a verdade e os factos sobre muitas questões importantes, incluindo a Covid-19, para assegurar uma narrativa objectiva e directa na memória da humanidade. “A isso chamamos de atitude responsável de um país responsável”, disse Hua.

Justiça | TUI dá razão a advogado estagiário alvo de acção disciplinar 

O Tribunal de Última Instância (TUI) deu razão a um advogado estagiário que viu ser-lhe aplicada uma acção disciplinar de censura por alegada violação do Código Disciplinar dos Advogados. O caso remonta a 24 de Abril de 2016, quando um jogador, num casino, perdeu dez mil patacas numa jogada e arremessou contra o empregado da mesa de jogo “uma placa publicitária de papelão”.

O filho do empregado era advogado estagiário e acompanhou-o ao hospital depois desse incidente, tendo apresentado também queixa na Polícia Judiciária. Em Maio, este enviou uma carta ao casino dizendo que o empregado não ia exigir o pagamento de uma indemnização.

No entanto, “faltou às aulas de estágio por ter que tratar o referido incidente”, além de não ter conseguido preparar o exame que se realizou a 28 de Abril, e que por isso ia apresentar um pedido de indemnização “a fixar de acordo com os valores praticados na profissão de advogado”, referindo que o empregado ia retirar a queixa contra o jogador se o casino pagasse a indemnização. Esta carta levou o casino a fazer uma participação à Associação de Advogados de Macau, tendo sido depois aplicada a acção disciplinar.

Armazém do Boi | Experimentalismo multimédia em exibição até 30 de Maio

Arte performativa, videografia, instalação, fotografia, pintura e tudo o que estiver à mão de Wang Yan Xin pode ser veículo de expressão. Até 30 de Maio, o Armazém do Boi, na Rua Volong, tem exposto “Post-truth: Fool Others As Well As Oneself”, o resultado de um diálogo que Wang manteve com a cidade e consigo próprio durante um mês de residência artística

 

Imagine que Macau é uma mensagem que necessita de interpretação e que o artista é o meio para a exprimir. Wang Yan Xin tem exposto até 30 de Maio a mostra “Post-truth: Fool Others As Well As Oneself”, o resultado da digestão da cidade ao longo da residência artística que fez entre 4 de Abril e 3 de Maio. A mostra espelha a experiência de liberdade expansiva em termos de utilização de diversos meios de expressão artística.

O criador, originário de Lanzhou, capital da província de Gansu, utilizou elementos de videografia, instalação, fotografia, pintura e performance para discutir consigo próprio as possibilidades da criação artística. As obras acabam por ser o resultado da uma série de observações, consciência e admissão de vulnerabilidades e os limites do ego.

A jornada até ao fim da criação levantou questões a Wang Yan Xin, tais como o que faz uma pessoa querer aparentar dureza, e quais as origens do medo e do sentimento de impotência que levam à autocrítica e à autorreflexão. Citado num documento que apresenta “Post-truth: Fool Others As Well As Oneself”, Wang pega asserção perspectivista de Friedrich Nietzsche que estabelece que “não existem factos, apenas interpretações” para concluir que as emoções são mais influentes que a factualidade. Também as mentiras podem ser interpretadas como “um ponto de vista” ou “opinião”, porque “tudo é relativo” e “toda a gente tem a sua própria verdade. Apesar de ser uma abordagem muito actual, Wang admite que este projecto artístico é também uma experiência de reconstrução da verdade sobre ele próprio.

Visão de fora

Em resposta ao HM, a organização do Armazém do Boi refere que Wang interpretou Macau com um olhar de outsider, com a cidade a providenciar-lhe espaço para criar e interagir.

“Em vez de encontrar protagonistas ou actores, ele próprio representa e relaciona-se com o ambiente e com muitos elementos improvisados que lhe surgem pelo caminho”, explica a curadoria da exposição. O resultado é a entrega total, que dá ao público “100% de autenticidade”. Por exemplo, no trabalho “8 Hours of Searching for Death” Wang Yan Xin usou uma câmara GoPro na cabeça, enquanto deambulou pela cidade tirando fotografias de insectos mortos, registando todo o processo de busca com anotações da hora e local do achado.

Outra das obras, “Indelével”, tem como palco os estaleiros de Lai Chi Vun, onde o artista sente as superfícies, polindo e removendo ferrugem de pregos que encontrou no local. Com o pó de ferrugem escreveu a palavra que retrata o desaparecimento de uma indústria marcadamente artesanal.

A elevada exposição que as obras revelam sobre o processo de criação e o criador tocam no cerne da mostra: A verdade enquanto conceito abstracto. Assim sendo, o artista convida o público a descobrir o que é verdade no seu trabalho, julgando e questionando a genuinidade das obras.

Arquivada queixa contra português por tentativa de violação

Um homem, de 50 anos, estava acusado da alegada prática do crime de tentativa de violação por uma estudante de 17 anos, mas o processo foi arquivado. A acusação ainda pode pedir a abertura da fase de instrução

 

O Ministério Público (MP) arquivou a queixa contra o português que estava a ser investigado por tentativa de violação de uma jovem de 17 anos. O caso tinha sido noticiado em Novembro do ano passado, e a alegada tentativa contra a residente portuguesa teria acontecido durante uma aula de fitness.

Segundo o HM apurou, a decisão de arquivamento foi tomada por falta de provas, por volta do início de Abril, e as entidades já terão feito os contactos para notificar as partes envolvidas.

No entanto, este arquivamento pode ser visto como “provisório”, uma vez que a acusação pode requerer a abertura da fase de instrução. O prazo limite para a abertura é de 15 dias a partir da notificação, e o HM sabe que a acusação ainda não terá sido notificada, pelo que prazo ainda não começou a decorrer.

A instrução é uma fase facultativa do processo penal e só se realiza a pedido das partes envolvidas, caso não concordem com a decisão inicial do MP. Ao contrário da primeira fase, conhecida como inquérito, em que o processo é conduzido pelo MP, na fase de instrução as decisões são tomadas por um juiz e, visam “a comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito, em ordem a submeter ou não a causa a julgamento”.

Foi em Novembro do ano passado que a notícia se tornou pública, já depois de o português de 50 anos ter sido ouvido pela Polícia Judiciária, no âmbito da investigação. O homem tinha ficado obrigado a apresentações periódicas, como medida de coacção.

Aula de fitness

De acordo com a versão da acusação, tudo teria acontecido durante uma aula de fitness e o homem seria o personal trainer da aluna de 17 anos. Segundo a versão da queixosa, foi durante uma aula particular que o sujeito teria feito “avanços indesejados”, que teriam deixado “marcas físicas na jovem”.

Por sua vez, a vítima manteve-se em silêncio após o ataque e só alguns dias mais tarde contou o sucedido na aula de fitness à família. Na sequência da revelação, a família da vítima apresentou a denúncia junto da polícia.
Na altura, o HM contactou a PJ sobre o caso, que recusou revelar qualquer tipo de informação devido a um pedido dos pais da vítima. Esta foi uma postura explicada com a intenção de evitar “danos secundários”.

O crime de violação é punido com uma pena que pode chegar aos 12 anos de prisão, que pode ser agravada por mais seis anos, atingindo um total de 18 anos. No entanto, uma vez que o ataque não foi consumado, e como a alegada vítima tem uma idade superior a 16 anos, o homem poderá ser acusado de coacção sexual. Nesse caso, a moldura penal vai dos dois a oito anos de prisão, mas pode ser agravada por mais dois anos e oito meses, dependendo das condições do crime, como o facto de este poder ter resultado de uma “dependência hierárquica”.