Design | Exposição em Lisboa revela projectos locais feitos nos últimos 20 anos

“Here and There” [Aqui e Ali] é o nome da exposição que estará patente até Janeiro do próximo ano na Roca Lisboa Gallery. Com curadoria de James Chu e Emanuel Barbosa, a mostra revela trabalhos de marcas e empresas locais ligadas à arquitectura e ao design, como é o caso da Lines Lab, Soda Panda ou Macau Design Center, entre outras

 

A evolução do design feito em Macau nos últimos 20 anos pode agora ser vista em Lisboa no espaço Roca Lisboa Gallery. “Here and There” [Aqui e Ali] é o nome da mostra que, ao mesmo tempo, celebra os 35 anos de existência da Associação de Design de Macau, fundada pelo artista macaense António Conceição Júnior e actualmente presidida por Chao Sio Leong.

A mostra conta com a curadoria de Emanuel Barbosa, da Associação Cultural Portuguesa (ACPT) e James Chu, director do Macau Design Center, duas entidades que há muito colaboram uma com a outra. Ao HM, Emanuel Barbosa falou de uma mostra “eclética” onde entram nomes como a Lines Lab, ligada ao design de moda, Soda Panda, LBA – Architecture & Planning, atelier de arquitectura de Rui Leão e Carlotta Bruni, entre outras entidades.

“É uma selecção muito eclética porque mostra um bocado de tudo. É uma representação muito grande dos sócios das empresas e da associação. Cobre arquitectura, design de interiores, de produto, design gráfico, multimédia. [A exposição] é interessante por causa disso”, disse.

A primeira vez que os designers de Macau viram o seu trabalho exposto em Portugal foi em 2019 na Casa do Design de Matosinhos, no norte do país. Mas agora impôs-se a necessidade de expor na capital portuguesa.

Se no início o design local contava com inspiração portuguesa, as coisas mudaram muito nos últimos anos, confessa Emanuel Barbosa. “Nota-se uma evolução muito grande. Com o mercado chinês, e também [devido à proximidade] com Hong Kong, os estúdios de Macau estão com muito trabalho e com uma dinâmica enorme, por isso é importante vermos em Portugal esse crescimento. Há 20 anos o design em Macau era muito influenciado pelo que se passava em Portugal. Agora já não é o caso, e isso torna a exposição muito interessante.”

Para Emanuel Barbosa, o design feito no território apresenta características muito próprias, graças a esta mistura de culturas de que Macau é feito. “As influências são as mesmas um pouco por todo o mundo, mas estando Macau tão próximo da China nota-se que o trabalho desenvolvido é muito próprio, porque nem é design chinês nem é aquele que costumamos ver no mundo ocidental. Faz uma ponte entre as duas coisas.”

Que futuro?

James Chu adiantou que a preparação para esta exposição teve início em 2019, por ocasião do 20º aniversário de transferência de soberania de Macau, mas a pandemia fez adiar o projecto para este ano. “Com o apoio do Instituto Cultural queríamos ter a oportunidade de mostrar o design feito nos últimos 20 anos em Portugal. Como curador posso dizer que é sempre importante manter a troca cultural entre Macau e Portugal, e através do design conseguimos encontrar ainda influências da cultura portuguesa, o que faz com o que nosso design seja diferente daquele que é feito noutras cidades chinesas.”

Além de olhar para o passado, esta mostra quer também perspectivar o futuro e o caminho que os designers locais ainda têm de percorrer. Para James Chu, esta “não é uma questão para ser pensada apenas pelos designers, mas também para merecer a atenção do Governo, educadores e políticos. Não tenho uma resposta, mas acredito que eles tenham as suas próprias opiniões”, frisou.

Citado no catálogo da exposição, Chao Sio Leong, presidente da Associação de Design de Macau, lembrou que esta iniciativa contém “trabalhos representativos das empresas de design de Macau nos últimos vinte anos”.

“Portugal é o berço da cultura, arte e vida de Macau que se integra com harmoniosamente a cultura nativa tradicional Chinesa. Esta é a vantagem diferenciadora de Macau e fazemos questão de continuar perto dos nossos amigos portugueses para partilhar as nossas conquistas”, acrescentou. A exposição abriu portas no passado dia 29 de Julho e estará patente até Janeiro do próximo ano.

16 Ago 2021

O design é uma poética do corpo  

Olhavas para o piso de baixo e vias as cadeiras brancas, branquíssimas, com aquele rasgo iluminado que a penumbra empresta à semi-escuridão. Haveria, a par da certeza íntima de partilha, a distância como modo de conformação. O fascínio nasceu-te, a pouco e pouco, a teia levitou nos alicerces do estético e muito mais perto da aventura literária do que se possa pensar. Percebeste que a poética em estado de bruto – mesmo se criada pelos jogos do design – é sempre um movimento em que as conotações bloqueiam outras conotações. A certa altura já não há denotação: apenas conotações que não conseguem multiplicar-se de modo a expressarem uma mensagem que fosse final. O que a conotação propõe, nestes casos, é simplesmente o adiar de todas as conotações. Uma poética em estado bruto, portanto. Os objectos de design dispõem-se, nesta óptica de simplicidade, a tentar atingir o que eles mesmo são. Um desejo que visa tão-só um desejo. E foi esta adulação criativa que te inundou paixões várias. Algumas verdadeiramente inesperadas.
 
Por exemplo, o candeeiro Sputnik de Marco Macura que, com a leveza da sua haste tripla, evoca os sonhos de superação da era moderna. Uma peça nada orgânica, embora sugira a ideia de corpo. Mas um corpo em plena evasão, como se desejasse escapar-se à matéria que a originou. Algumas peças dos ‘fifties’, de que a Sputnik é pura paródia, já haviam mostrado empatia com as morfologias do foguetão soviético. Foi o caso dos candeeiros Luminator de Pier Giacomo e Lívio Castiglioni de 1955. De qualquer modo, na tensão entre ‘pertença’ e ‘não pertença’ a um tempo, Sputnik joga toda a sua atracção na intemporalidade. 
 
Entre outros exemplos poéticos, lembras-te da poltrona Showtime do catalão Jaime Hayón, uma peça com cordas vocais e de concepção maleável (alimentada pelo teor almofadado e pelo ritmo das pregas a partir de uma pele em polietileno rotomoldado) ou do Antibodi de Patrícia Orquila que recusava ser chaise longue ou divã para se afirmar como um esteio de lazer à base de alegorias florais (a lã e o cabedal davam corpo às pétalas que dominavam o assento reversível). O Antibodi foi e é um objecto de que Freud teria fugido a sete pés. Para lucubrar sobre a psicanálise, bastaria a sua presença deslumbrante. Também não resististe ao banco Spun de Thomas Heatherwick, uma recriação da espiral da vida que acumulava a função de um inesperado cadeirão (dirias tratar-se de uma metáfora das utopias que ainda hoje subsistem, muitíssimo discretas, nas letras pequenas do dia-a-dia). 
 
Por fim, as laranjas que se querem tocadas como as estrelas. Corpo de casca e magma suave, as laranjas são personagens doces, lânguidas por natureza e foram baptizadas para fazer parte de uma gramática do júbilo. Tudo isto se respirava no candeeiro Flower-Pot-Orange de Verner Panton. A peça sugeria uma esfera, um aflorado de gomos e uma pressentida liquidez. Adivinhaste neste candeeiro um ponto de encontro e uma grelha de partida para poder pensar sem metas, sem objectivos, sem pressas. Uma laranja é um projecto de vida realmente. Tal como escreveu Ibn Sâra de Santarém (1043-1123), um poeta que traduziste do Árabe: “Com a sua beleza/ não permite aos olhos que vejam outra coisa:/ parece-me, às vezes, uma chama ardente/ e, outras vezes, o crepúsculo dourado”.
 
Sabias perfeitamente que o design somos nós próprios, revisitados. Percebeste a tempo que certas formas e acenos estéticos acasalam, na casa do design, com uma democracia quase intuitiva que todos partilhamos. É por isso que o design não é apenas uma espécie de revestimento dos objectos culturais. Ele é sobretudo a dança que percorre o modo com que nos olhamos ao espelho, numa sociedade em que o corpo já não é apenas um organismo. O corpo passou a projectar-se para muito longe de si mesmo. Dizes uma palavra em Singapura ao mesmo tempo que o ipad te dá ao dedo a simulação de uma viagem celeste. E, no entanto, continuas serenamente em Portugal sentado numa cadeira que não é apenas uma cadeira. O som da palavra, o dedo, a viagem e o objecto ambíguo onde te sentas são partes de um polvo lúdico que nada tem de orgânico. Trata-se antes de uma construção bem mais vasta de que fazes parte e em que interferes. 
 
O design cresce nesse tipo de territórios férteis onde nos revisitamos sempre que agimos. O design quase não necessita de reflexão, por isso mesmo: ele impõe-se ao declarar-se. É por isso que escolhes este site e não aquele, é por isso que escolhes esta camisola e não aquela, é por isso que escolhes esta palavra ou esta metáfora e não aquela (o design também se gera por dentro da literatura, é verdade). E o mais curioso é que a repetição criada pelo design não parece cansar, nem perturbar. Por vezes, cativa, hipnotiza e toca liturgicamente no fundo da alma. E porquê? Justamente, porque o design possibilita a repetição sem niilismo, ou seja: sem negatividade, sem fardo, sem peso. É essa a sua função primordial: permitir incessantemente, e sem limites, o fluxo do desejo.

29 Abr 2021

Design e a pele da cultura

[dropcap]H[/dropcap]á pouco mais de duas décadas D. Kerckhove caracterizou o design como a “pele da cultura”. A sua tese era simples: mais do que ser uma espécie de relações públicas da tecnologia (“embelezando os produtos e apurando a sua imagem no mercado”), o design teria essencialmente uma finalidade metafórica, traduzindo “benefícios funcionais em modalidades cognitivas e sensoriais”.

Deste modo, o design contribuiria para a forma exterior visível, audível e “texturada” dos artefactos culturais, mas reflectindo sempre os sinais dos tempos e o eco dos valores em voga (ecologia, mobilidade, ubiquidade, etc.). Ou seja: de um lado, um devir de marketing, posicionando pela forma e também pelo aceno estético o produto no mercado; do outro lado, um devir que faria do produto um denominador comum da respiração global. Eis, em suma, a tese que harmoniza a funcionalidade com a feliz designação de “pele da cultura”

Em 1997, os exemplos a que o autor canadiano se socorria para ilustrar esta sua tese eram tão plausíveis como os que hoje poderíamos seleccionar, nomeadamente o aerodinamismo dos meios de transporte introduzido por Raymond Loewy (que se estendeu a uma vasta gama de produtos, incluindo frigoríficos, torradeiras e o design clássico da garrafa de Coca-Cola), a chamada ‘nouvelle cuisine’ francesa (que estendeu o efeito Bauhaus à textura e à ‘frescura’ da comida) ou ainda o funcionalismo de Dieter Rams para a linha Braun.

Esta tese de D. Kerckhove reata alguns aspectos do Barthes de Mithologies do fim dos anos cinquenta, embora substitua a obsessão ideológica pela especularidade da cultura. Seja como for, creio que o design é bem mais do que um barómetro antropológico. A razão é simples: sinalizar o estado de coisas é condição de todo o signo, ou seja, de todo o uso a que recorremos para comunicar, para significar ou para marcar o tempo. O design, tal como um bom mundial de futebol, não escapa a este fatum. Mas o que o torna diferente – e aquilo que o faz aparecer em todas as actividades e produtos no globo – é a sua capacidade de aliar a herança estética à eficácia pragmática, restaurando no quotidiano aquilo que, na Idade Média, era traduzido pela “Graça de Deus”: um ‘além’ – agora com letra pequena –, profundo, cativante e misterioso, que se mistura nas coisas do dia-a-dia.

Em era de simulações e ilusões, este ‘além’ (este ‘espírito santo techno’) vive nas malhas – ou na “pele” – da cultura, é certo. Mas, por outro lado, releva uma herança que está muito para além do contingente, na medida em que recupera, na sua morfologia e reconhecimento, aquilo que foi a senha primeira da arte e da estética, quando foram teorizadas de meados do século XVIII para cá: a sublimação do sagrado (aparentemente) perdido.

Esta herança – que foi específica da arte e da estética ao longo de oitocentos e de grande parte de novecentos – foi sendo lentamente absorvida pelo design, sobretudo devido ao modo como se foi distanciando do seu uso instrumental para passar a afirmar-se, cada vez mais, com uma autonomia própria. Hoje em dia, o importante é reconhecer que o design ‘está lá’. O importante é que o design saiba afirmar a sua própria presença e assim tornar-se reconhecível de forma imediata, como se fosse uma esperada aparição (na roupa, nos interiores, na comida, na tecnologia, na rede, nos jornais, nos objectos, nos passeios públicos, etc., etc.).

Como se o design tivesse passado a ser uma ‘referência central’ da vida, numa época que é justamente caracterizada pela ausência de valores ou de referências centrais. Neste sentido, creio que a tese de D. Kerckhove, apenas com 22 anos de vida, já é uma tese muito clássica.

19 Set 2019

Design | Lusodescendente promove cortiça nos EUA

[dropcap]A[/dropcap] promoção da cortiça como um “material incrível” e “muito sustentável” é uma das motivações da designer lusodescendente Melanie Abrantes, que desenha peças únicas na Califórnia com a matéria-prima importada de Portugal. A artista, que fundou a marca Melanie Abrantes Designs em Oakland, produz artigos para casa com vários tipos de cortiça que são vendidos em lojas da especialidade, como a cadeia de decoração West Elm do grupo Williams-Sonoma. “Estou a tentar mostrar às pessoas que a cortiça tem muitos formatos, utilidades e visuais, em comparação com outros materiais”, disse à Lusa a designer, que está agora a tentar criar uma linha “usando as capacidades de isolamento” da matéria-prima.

A lusodescendente foi incluída na lista de 2018 dos 100 Maiores Criativos dos Estados Unidos pela revista Country Living, que a considerou uma “cork whisperer” e destacou o seu virtuosismo na arte de trabalhar a cortiça.

“Os meus produtos são virados para a estética e têm um visual muito específico, mas só faço coisas úteis”, disse. “Nada é puramente decorativo”. As características específicas da cortiça, como a sua porosidade, ajudam ao elemento funcional das peças de design.

Entre os produtos em cortiça que Melanie Abrantes criou estão caixas de jóias, candeeiros de tecto, cinzeiros para canábis, castiçais e vasos para plantas. Várias criações misturam cortiça e madeira, o outro material em que a artista se especializou e sobre o qual publicou o livro “Carve”, em 2017.

Os produtos são feitos com mais que um tipo de cortiça, incluindo um tipo “cortiça-mármore”, que “tem um preço mais elevado” mas leva as pessoas “a responderem bem às peças”.

O custo dos artigos é um dos desafios da criadora, com etiquetas que vão até às largas centenas de dólares.

“As pessoas não percebem que a cortiça é um material muito caro que ainda é retirado à mão”, argumentou, justificando com o facto de os consumidores norte-americanos estarem habituados a usar cortiça em objetos simples, como rolhas e tábuas de cozinha, cujos preços são baixos. “Tento educar as pessoas em relação ao valor da cortiça”.

A artista irá mostrar o seu trabalho em maio de 2019 na New York Design Week, como parte do grupo de designers independentes JOIN Design, e está em conversações para participar no programa televisivo da NBC “Making It”, que põe fazedores a criarem trabalhos manuais.

Neta de portugueses, Melanie Abrantes visita Portugal uma vez por ano, dividindo-se entre Lisboa, onde reside a avó, e produtores de cortiça no norte. “A razão pela qual trabalho com cortiça é devido à minha herança genética”, afirmou a lusodescendente, de 28 anos. “Todas as vezes que ia a Portugal quando era mais nova via produtos diferentes feitos com cortiça e achava fascinante, porque nem sabia que se podia fazer algo com o material”, recorda.

Natural de Sugar Land, perto de Houston, Texas, a artista estudou no Otis College of Art and Design em Los Angeles antes de abrir o seu estúdio em Oakland. Além de fazer dois workshops por mês sobre técnicas para trabalhar madeira e cortiça, também faz sessões em empresas. Os seus produtos estão à venda em cerca de 40 lojas nos Estados Unidos e nalgumas boutiques internacionais, incluindo Japão, França e Inglaterra.

28 Dez 2018

Vítor Marreiros, designer gráfico: “O Instituto Cultural não está mais bem entregue”

Já não é possível dissociar o cartaz oficial do 10 de Junho do nome Vítor Marreiros. Desde 1990 que o designer gráfico faz este projecto por gosto, e assume estar sempre a pensar em novas formas de retratar, por exemplo, Luís de Camões. Ao HM, Vítor Marreiros defende que Ung Vai Meng não foi o melhor presidente do Instituto Cultural, mas Leung Hio Ming também não é o nome ideal

[dropcap]O[/dropcap]O seu nome está muito ligado aos cartazes oficiais do 10 de Junho. Como é que tudo começou?
Faço os cartazes do 10 de Junho desde 1990. Fiz primeiro para o Governo de Macau, quando ainda estava no Instituto Cultural (IC), e depois para a comissão organizadora das comemorações do 10 de Junho. Depois, ao fim de uns anos, voltou para o IC e passou a ser feito pelo IPOR. Ao fim de um ano, pelo facto de o IPOR ter decidido fazer um concurso, em vez de me pedir cartazes, deixei de fazer. Mas ainda assim decidi fazer sem encomenda, em 2006, quando fiz um galo de Barcelos para oferecer à comunidade portuguesa. Estava habituado. A Casa de Portugal em Macau soube da história e decidiu apadrinhar o cartaz. Até hoje.

Como funciona o processo criativo?
Vou fazendo aos poucos ao longo do ano. Há uns cartazes que demoram mais, basta contar as cabeças das pessoas. Outros demoram menos tempo. Mas vou fazendo outros trabalhos também. Estou reformado mas nunca deixei de trabalhar. É um hábito meu, quando tenho um trabalho vou pensando nele. A minha cabeça está sempre a trabalhar. Quando estou numa conversa que está aborrecida, por exemplo, vou desenhando e pensando. Foi um hábito que adquiri a partir dos 27 anos, porque antes não dormia. A minha vida é feita de datas. Adoro o meu trabalho e não é stressante trabalhar comigo, mas as datas [para as entregas] são stressantes. E às vezes uns clientes, que são de uma monotonia ou de uma inteligência… É a parte pior do design gráfico.

Não gosta que lhe imponham ideias.
Não faço o meu trabalho para agradar. Há umas cotoveladas, uns maus momentos, mas nunca trabalhei para agradar ao cliente ou ao superior. Respeito o trabalho e depois as sugestões e objectivos. Ao longo da vida tenho tido bons e menos bons clientes, mas isso faz parte da profissão.

Tantos anos a fazer este projecto dos cartazes, houve certamente uma evolução na forma de representar Portugal e os portugueses.
Quando se trabalha o mesmo tema muitas vezes ganha-se facilidade, mas também se começam a secar as fontes. Para mim nunca foi um grande problema fazer o cartaz do 10 de Junho, já estou habituado a repetir os mesmos temas. Portugal tem uma história rica, uma nação colorida. Às vezes repito o Camões, tenho dez versões dele, ou 20 versões do mar. Tento sempre equilibrar o Camões, a comunidade e a história. Ao longo dos anos os cartazes foram mudando de estilo e é um amadurecimento como designer. Nunca fiz questão de manter o mesmo estilo.

Gosta de variar e de evoluir.
Posso saltar de estilo que as pessoas reconhecem sempre. Deve lá ter alguma alma, algum esqueleto, pois reconhecem sempre. Com a idade tornei-me mais divertido e brincalhão, e atrevido também. Coloquei em alguns cartazes a frase “Este cartaz não passou pela comissão prévia de censura” e também tirei do Boletim Oficial a frase que diz que, em caso de conflito, prevalece a versão portuguesa de uma lei. São pequenas brincadeiras que não agridem ninguém.

Quer passar alguma mensagem ou fazer uma espécie de exercício de memória?
São brincadeiras. Gosto de pensar que, quando estou a trabalhar brinco, e depois o trabalho ganha vida. Cada um que interprete. Tenho sempre duas interpretações: a minha e aquela que dou ao cliente. No 10 de Junho há cotoveladas no bom sentido.

Fez uma exposição com trabalhos seus em 2014. Porquê tanto tempo sem expor?
Não exponho o meu trabalho numa galeria, ele está à vista. Já esteve mais, mas está à vista. Não é por acaso que estamos aqui a tomar café. Estes trabalhos são meus [aponta para as obras expostas num restaurante no MGM, feitas em 2016]. Fala-se muito das indústrias criativas, dos artistas locais, mas fiz este projecto e não foi noticiado. Faço poucas exposições, nestes cerca de 30 anos devo ter feito umas quatro ou cinco, incluindo duas em parceria com o meu irmão [Carlos Marreiros] e com Ung Vai Meng, em Osaka. Não trabalho para fazer exposições. Falando destes trabalhos que vemos aqui, foi um convite do MGM.

FOTO: Hoje Macau

Tem ali a imagem da imperatriz chinesa Cixi.
Sim. Foi um dos trabalhos que gostei muito de fazer, além de ser muito respeitado pelo cliente. Fiz os quadros e a parte gráfica. O único input que me deram foi que as obras seriam para os restaurantes norte e sul. Na zona sul coloquei o Mateus Ricci, por exemplo.

Acha que o seu trabalho é reconhecido o suficiente em Macau?
É uma pergunta perigosa. Penso que é reconhecido, não é mais por culpa minha. Muitas vezes nego entrevistas.

Gosta de estar na sombra?
Não gosto de estar na sombra, mas não preciso do estrelato. Estrelas é o que há mais, no mundo e em Macau. Apesar de ser designer gráfico não tento publicitar o meu trabalho, por opção ou falta de jeito, não sei. Fui condecorado pelo Governo português e pela RAEM. Sei que os meus amigos gostam, outros dão palmadinhas e outros têm inveja, mas isso faz parte da vida. Acho que é reconhecido, mas podia ser mais.

Nunca quis ter a intervenção social e política que o seu irmão tem, por exemplo.
Somos muito diferentes. O meu irmão gosta disso e tem a sua maneira de estar na vida e na cultura, faz muito bem e tem o seu valor. Eu gosto de estar mais no meu cantinho, sem ser escondido. A minha prioridade, acima de tudo, é a liberdade. Estar em muitas comissões ou associações para mim seria um sacrifício. Prefiro trabalhar como quero e andar onde quero.

Criou o Círculo dos Amigos da Cultura de Macau há muitos anos. Agrada-lhe a cultura que se faz em Macau nos dias de hoje?
Fui sócio fundador, com Ung Vai Meng, o meu irmão e mais alguns artistas. Fizemos muito na altura, contribuímos muito para o panorama artístico de Macau. O Governo dá bastante apoio aos artistas, mas será da forma mais correcta? Acho que não. Mas há facilidades em fazer uma exposição, há subsídios. Poderia ser um apoio mais organizado e seleccionado. O que faz falta no Governo e na comunidade de Macau é o amor aos seus valores.

E é isso que está a faltar.
Também não podem ter muito orgulho se mais de metade da população não sabe quem foi São Paulo [referindo-se às Ruínas de São Paulo].

Quanto à cultura macaense, tem-se feito o suficiente em prol da sua preservação?
As coisas boas nunca são de mais. Poderíamos ter mais coisas. Tenho pena de termos perdido o hábito do carnaval no Teatro D. Pedro V, uma festa muito macaense. Isso desapareceu e ninguém reanimou. A Associação dos Macaenses está a fazer um bom trabalho com o patuá. É o destino das coisas. A comunidade está cada vez menor, mais diversificada. Definir um macaense… Pergunto sempre: definir à antiga, de acordo com a actualidade ou politicamente? Se a cultura macaense está protegida? Há sempre lugar para mais.

Está descaracterizada?
É o percurso normal das coisas. Um macaense nascido na Austrália é normal que fale mais inglês. E ainda se orgulha de ser macaense? Batemos palmas. Com o tempo o português vai diminuindo, o chinês vai aumentando e introduzem-se outros sangues. Não troco o meu passaporte português por nada e nasci aqui, mas os outros, que nasceram noutros lugares, também têm direito de dizer que são macaenses. Definir um macaense é difícil e a cultura, consoante as nuances, vai mudando. Espero que a alma se mantenha.

FOTO: Hoje Macau

Há projectos novos a nascer em Macau, há uma evolução rápida. A cultura local e o património podem ficar perdidos no meio desse desenvolvimento?
Só depende da comunidade e do Governo. Gosto do antigo, sou nostálgico, mas também gosto de coisas novas, desde que sejam bem feitas. Um design arrojado, atrevido, mas também gosto do mofo da madeira. Por isso é que há reuniões e conselhos, espero que todos se reúnam, trabalhem e tenham dois dedos de testa. Se Macau perder as suas características será abafada por Zhuhai. Mas para manter o tradicional não tem de se parar o moderno. Façam concursos internacionais, há dinheiro, tragam os melhores. As coisas não têm de ser sempre feitas por locais. Há pouco público, mas não temos de fazer coisas só para esse público.

Ficou triste com a saída de Ung Vai Meng do IC?
Já não estava lá [reformou-se em 2015]. Visto de fora, não sei se fiquei triste. Somos amigos de longa data. Posso dizer que é um apaixonado pelas coisas que faz. Não digo que o IC está mais bem entregue e afirmo-o com as duas mãos abertas. Neste momento não está mais bem entregue, doe a quem doer. Mas essas coisas acontecem, o vai e vem, as pessoas não podem estar sempre ligadas ao seu trabalho. Trabalhei para todos os presidentes do IC [dirigiu o departamento de design gráfico], e tinha sempre uma mala invisível, caso mudasse o presidente e quisessem mudar as chefias. Mas sempre fiquei lá. Se Ung Vai Meng fez tudo bem? Como ex-funcionário, como gráfico, posso dizer que não foi o melhor presidente. Houve melhores, o sector [do design gráfico] foi mais respeitado [com outros presidentes].

É muito diferente do seu irmão, mas como funciona quando têm projectos em comum, como foi o caso de “A Peregrinação”?
Trabalhar para e com o meu irmão não é difícil porque é um cliente conhecedor dos objectivos do trabalho que pede e respeitador do criativo. Torna-se mais difícil quando o trabalho é um catálogo para o artista Carlos Marreiros. Somos dois artistas apaixonados e exigentes, por vezes para defender as nossas ideias e sermos irmãos torna-se mais complicado. Mas há sempre um final feliz e estamos prontos para o próximo trabalho. “A Peregrinação” foi um dos trabalhos gráficos que mais me divertiu e a relação profissional com o meu irmão foi óptima.

Gostava de fazer um projecto semelhante com outra obra da literatura portuguesa?
Poderia ser “Os Lusíadas”, mas com menos piada. Fernão Mendes Pinto, se não fosse português, tinha 20 filmes, uma galeria e vários documentários sobre ele. Tem muita piada, tal como “A Peregrinação”. “Os Lusíadas” têm outra componente.

22 Jun 2017

Design | Finalistas acreditam que existe mercado mas é preciso melhorá-lo

Finalistas de design. Acabaram os estudos e enfrentam o mundo do trabalho. O Governo aposta nas indústrias culturais e criativas e os alunos agradecem. No entanto, ainda há muito a fazer. O mercado precisa de se desenvolver e enquanto uns tentam a sua sorte por aqui, outros vêem o estrangeiro como uma mais-valia

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]elix Vong é um dos 99 finalistas da licenciatura em Design Gráfico do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Apaixonado por fotografia, para o jovem o trabalho ideal seria conseguir uma oportunidade de se tornar fotógrafo a tempo inteiro, sem nunca descurar a área de design. Em conversa com o HM, Felix Vong admite que está um “pouco indeciso” quanto ao futuro, mas frisa que quando tomar uma decisão profissional não esquecerá a realidade dos dias de hoje: ter dinheiro para viver.
“Sejamos francos, o dinheiro é muito importante em Macau. Todos os meus colegas, todos os alunos de design também pensam nisto”, começa por partilhar. A verdade, aponta, é que neste território que vive do Jogo, mas insiste em tentar diversificar-se, é a própria massa crítica que “pensa que trabalhos na área do design são piores do que trabalhar no Jogo”.
“Existe esta ideia porque os licenciados quando procuram um emprego numa empresa de design nunca vão receber ordenados chorudos. Mas o facto é que o trabalho não é tão duro quanto noutros sítios”, indicou, abrindo a excepção daqueles profissionais “que sejam amigos dos donos das empresas”. Esses, diz, são os mais sortudos, com “bons salários”.

Jogo de interesse

Agora, de testa franzida, puxando de um tom de voz mais sério, Felix Vong não esconde que “nem tudo pode ser dinheiro”. Nesta área é muito importante uma coordenação entre entidade patronal e funcionários. “Não é um trabalho que funciona da mesma maneira em todas as empresas, depende do estilo da empresa, das suas opções de mercado. Cabe-nos a nós, profissionais, escolhermos com quem queremos trabalhar, que tipo de trabalho queremos representar e fazer”, explica.
Esta foi uma das grandes questões apresentadas logo no primeiro ano do curso do IPM. O finalista recordou as palavras do docente que o encorajou para o futuro. “Um professor tranquilizou-nos, logo no início do curso, quando nos disse que não nos precisávamos de preocupar em procurar trabalho, porque muitas empresas têm falta de designers”, citou. Contudo, desengane-se quem acha que o design gráfico chega. “As empresas exigem muito mais de nós, não podemos ser só bons designers, temos de ter experiência, ou pelo menos conhecimento, em outras áreas”, aponta.
A olhar para os exemplos de outros alunos, Felix Vong conta que, nos últimos anos, muitos colegas que terminavam o curso criaram pequenos negócios em Macau, mas que nem sempre atingiram o sucesso.
Segundo os mais recentes dados dos Serviços de Economia, em Macau existem 33 mil pequenas e médias empresas, sendo que as PME com apenas cinco funcionários ocupam 80% do bolo total. Sou Tim Peng, director dos serviços, afirmou à imprensa local, em Abril deste ano, que em 13 anos de existência do Plano de Apoio a Pequenas e Médias Empresas (PME) já foram concedidos 2200 milhões de patacas, num total de 8144 pedidos, bem como 163 milhões no âmbito do Plano de Apoio a Jovens Empreendedores, com 1029 pedidos. Relativamente às industrias culturais e criativas, o IC afirmou que vai publicar um relatório com estatísticas sobre as empresas na área no final deste ano.
Mas nem todos quiseram ter o seu próprio negócio. “Muitos conseguiram entrar em grandes empresas e até em operadoras de Jogo. Mas há ainda quem tenha conseguido ir para o Governo, como técnico para o Instituto Cultural (IC) ou até para o Museu de Arte de Macau (MAM)”, frisa.
Este último, diz, é o “trabalho ideal”. “Este é mesmo um bom trabalho. Para quem não quer ter um negócio, este é o cargo ideal, porque no Governo há um maior grau de criatividade. Isso vê-se nos cartazes publicitários de vários departamentos da Administração Pública. São bem lindos”, sublinha.
Num último apontamento, o finalista adverte à necessidade de perceber que jeito não é tudo. “Há muitos colegas meus que não vão continuar nesta área porque gostar de design não é a mesma coisa que saber trabalhar. Também há alunos que têm jeito e depois ao estudar percebem que não querem esta área”, remata.
Em Macau, para além do IPM, a Universidade de São José (USJ), a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), a Universidade de Cidade de Macau (UCM) também oferecem os cursos de Design. Porém, é no Politécnico que mais alunos se encontram matriculados, seja na área de design gráfico, digital, espacial, publicitários, assim como em Arte Visual. Este ano formaram-se mais 99 novos profissionais no IPM e 13 na USJ.

Investir em mais

Na área de Media Digital, também do IPM, acaba de se formar Jonze Leong que, partilha com o HM, não sabe se os estudos acabam por aqui. Nos planos para o futuro está a possibilidade do curso de mestrado, portanto encontrar um trabalho a tempo inteiro não deve ser a opção a curto prazo. A ideia, partilha, é fazer trabalhos como free lancer em Web design e fotografia até começarem as aulas.
Com formação em produção de filmes, vídeos de animação e imagem em movimento, Jonze tem conseguido, ao longo dos últimos anos, fazer pequenos trabalhos e “ganhar algum dinheiro”. Talvez este seja o segredo para um futuro em que de imediato o mercado esteja aberto aos recém-finalistas, irem produzindo durante os anos de licenciatura. “Eu comecei logo no segundo ano, fiz vários trabalho como fotógrafo, depois foi uma questão de melhorar, diariamente, expandindo as áreas de actuação.”
Como trabalho ideal, o finalista acredita que o sonho de qualquer profissional é poder ser criativo sem barreiras, sendo que isto poderá implicar não ter um contrato de trabalho fixo com uma empresa só.
Macau não é, para Jonze, um lugar onde possa depositar as suas esperanças profissionais, pois isso o ideal é avançar com o mestrado noutro país qualquer e conseguir ganhar a confiança do mercado.
Contrariamente a Felix, Jonze não acha que o trabalho ideal seja ser contratado pelo Governo. Antes pelo contrário, para ele, muitos dos finalistas querem ser jovens empreendedores e ter o seu próprio negócio. “Acredito que para eles [os finalistas] criar o seu próprio negócio lhes trará mais ensinamentos, outro tipo de experiência que o Governo não pode dar. E se o próprio Executivo tem medidas de apoio às Pequenas e Médias Empresas (PME’s), então eles aproveitam”, defendeu.

Futuro em números

Opiniões à parte, Patrick Lei, coordenador do programa de Design da Escola Superior de Artes do IPM, indicou, ao HM, que 80% a 90% dos estudantes de área procuram emprego em empresas de design, incluindo as de publicidade, multimédia e construção. Os restantes, diz, por norma continuam a estudar em mestrados ou pós-graduações. “Segundo os dados dos últimos anos, não foram muitos os estudantes que escolheram continuar os estudos. A causa é fácil de perceber: em Macau não é difícil encontrar emprego na área do design, por isso, os finalistas preferem começar logo a trabalhar e, talvez, voltar a estudar no futuro”, explica.
É o caso de Winky Lam, finalista do curso de Artes Visuais do IPM, que sem hesitar diz-se pronta para trabalhar. Ainda não foi a sua festa de graduação e Winky Lam já tem um trabalho em mãos. Nos próximos dias vai começar um trabalho na área de floricultura no Wynn Palace e Winky não podia estar mais entusiasmada. A apostar na inspiração da criação, com dedicação e entusiasmo, a mais recém profissional diz-se pronta para trabalhar “com a beleza das flores”.
Esta não é a sua primeira experiência. A finalista, antes de o ser, realizou alguns estágios em Macau, um deles na área de ensino. O estágio de Winky obrigava a aluna a ser professora de arte num estúdio, mas logo percebeu que a pedagogia não está nos seus planos.
“Gosto mais de ensino de arte fora das escolas, em jeito mais criativo, com mais liberdade, sem aquelas restrições naturais das escolas. O que acho que é com esse método os alunos não conseguem absorver muito os ensinamentos e depois isso reflecte-se no futuro”, aponta. IPM
Sobre a possibilidade de abrir um negócio seu, Winky descarta a hipótese. “O meu trabalho ideia é atingir o cargo de directora de arte, assumindo um papel de coordenação em projectos e obras de vários artistas, por exemplo, um trabalho no Festival de Artes de Macau”, esclarece.
Os estudos, esses não acabaram por aqui, mas será noutro país, depois de conseguir poupar dinheiro para isso. Ao contrário de Jonze, Winky quer voltar, depois de tirar o mestrado, a Macau e trazer tudo o que aprendeu para cá. “O mercado de trabalho é bom, tem muito espaço para se desenvolver, quero usar a minha capacidade para mudar o actual”, frisou.

Formação prática

Quando questionados sobre o tipo de curso, todos os finalistas afirmaram que este é bastante prático e vai ao encontro do que o mercado pede. Felix explica que o IPM está muito actualizado sobre as necessidades reais do mercado, apostando também em projectos para a comunidade, envolvendo o maior de entidades possível. Jonze complementou que os trabalhos finais permitem os alunos treinar as suas capacidades e fazerem-se mostrar à comunidade, através de exposições ou feiras de trabalho.
O docente Patrick Lei reafirma a iniciativa, afirmando que há o cuidado de que os projectos dos alunos possam interagir com outras entidades, permitindo que os estudantes participem e experienciem trabalhos reais. A pensar nisso, explicou, o IPM implementou um estágio de mais de um mês durante as férias de verão, antes do quarto ano do curso, para que possam ganhar noções do mundo de trabalho.

Abrir de portas
Para o docente Álvaro Barbosa, director da Faculdade de Indústrias Criativas da USJ, todos os alunos conseguem emprego na área de design, principalmente nas vertentes de gráfico e de interacção. Contudo, o mais importante é ter alunos empreendedores que possas abrir novas empresas nesta área.
“Parte do processo de empreendedorismo é fomentado e despoletado ainda durante o curso. O design é uma disciplina que tem cada vez mais importância nos processos de inovação”, disse, acrescentando muitos alunos têm também oportunidades de trabalho em áreas laterais, utilizando as suas experiências como criativos e “Design Thinkers”.
O director salientou que o curso de design da USJ é bastante abrangente, cobrindo áreas como design de produto, design gráfico, design de interacção e design de interiores. As cadeiras, continuou, têm componente teórico-prática. A instituição vai ainda abrir um novo curso do Design de Moda este ano. “Tudo o que ensinamos é com base na realidade e tendências da indústria do design e todos os nossos professores são experientes na indústria”, rematou.

Mercado de arte desenvolveu-se mas não é suficiente

Profissionais falam na melhoria

Para Patrick Lei, coordenador do programa de Design do IPM, o mercado de design e arte está muito mais desenvolvido do que dez anos. Crescimento que aconteceu devido ao boom económico, que aumentaram o número de empresas de design e de produção de conteúdos. Também com a promoção do Governo nas indústrias culturais e criativas, Patrick Lei considera que há cada vez mais oportunidades e a empregabilidade é, por isso mesmo, positiva. “Noto que cada vez mais há estudantes que têm a sua própria empresa, depois de terem ganho experiência durante dois ou três anos”, afirmou.
O docente Álvaro Barbosa acredita que este mercado irá desenvolver-se ainda mais, tornando-se cada vez mais sofisticado. Isto depende, claro dos recursos humanos qualificados na área e da massa crítica da própria sociedade.
“O facto de haver várias universidades e institutos politécnicos a proporcionar formação avançada nesta área, irá por si só transformar a qualidade e exigência desta indústria em Macau e, consequentemente, criar mais procura de profissionais de excelência”, aponta.
O finalista do IPM, Felix Vong, considera também que a taxa de aceitação do mercado de arte de Macau aumentou, sobretudo face aos jovens. Por outro lado, Winky Lam lamenta que o ambiente de arte em Macau não tenha melhorado de forma mais drástica, mesmo com a organização de muitas exposições e programas últimos tempos. É preciso, diz, desenvolver o mercado.
“O mercado de arte e design de Macau tem falta de orientações, por exemplo, numa exposição no MAM, reparei que o número de visitantes nunca é alto. Penso que existem carências na coordenação entre as políticas sobre cultura e a população, uma não conhece a outra e o desenvolvimento deste mercado não é controlado. Jonze Leong é mais radical, Macau não tem mercado. “Não quero ficar em Macau, só agora é que se está a desenvolver este mercado, precisa de se desenvolver, portanto quero ir trabalhar para fora”, rematou.

13 Jun 2016

Ariel Tang, designer: “Saí para encontrar o que gosto”

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]arece que quem trabalha na área da arte e design não tem um caminho fácil. Não basta gostar, também é preciso ganhar dinheiro. Mas Ariel Tang rompeu com um estilo de vida estável, deixou o seu trabalho e dedica-se hoje à área do design. “Sempre gostei de desenhar e comecei a contactar com o mundo das artes desde a escola. Os professores deram-me essa oportunidade. Entre o sétimo e o décimo segundo ano eu e uns colegas fizemos os boletins de turma, os professores sabiam que eu gostava de fazer isso”, contou ao HM.
Em 2007 chegou a altura de escolher um curso superior e Ariel Tang considerou que as indústrias culturais e criativas ainda não eram muito desenvolvidas e poucas pessoas estudavam design. Então resolveu escolher o curso de gestão empresarial, respondendo às expectativas da família para garantir um bom emprego no futuro.
Contudo, a formação não trouxe grande satisfação à jovem. “Depois de acabar a licenciatura, trabalhei em várias empresas, o último emprego que tive foi num banco. A remuneração era relativamente boa, a vida estava tão estável que eu só pensei em fazer o que gosto mais”, apontou.
Em 2014, Ariel conseguiu a oportunidade de estar presente na Feira de Arte na Praça de Tap Seac sem pagar a concessão do espaço e então começou a vender as suas obras. São postais, calendários, capas para telemóveis ou estátuas de madeira cujo design é totalmente feito por Ariel, sempre com os gatos como inspiração.
“Tenho gatos em casa e sempre quis desenhá-los, penso que devem haver outras pessoas que gostem de animais. O resultado foi bom e vendi os meus trabalhos rapidamente”, lembrou.

Criar e gerir

Depois de várias participações na feira, Ariel criou a “Little DoDo NaNa”, uma página na rede social Facebook para desenvolver os seus próprios produtos. “Para além de saber desenhar, entendo que também é preciso saber como gerir a venda dos produtos. Combinando com os meus conhecimentos em marketing, surgiu-me a ideia de desenvolver os gatos como uma personagem e uma marca. Espero que no futuro alguém queira usar esta marca em outros produtos.”
Mesmo sendo bem sucedida no mundo das artes, Ariel continuou o seu trabalho no banco. Até que no final do ano passado tomou uma decisão. “O meu chefe no banco queria que eu aprendesse coisas novas mas disse que eu não estava muito entusiasmada. Sabia isso porque nunca gostei da área. Depois da segunda participação na desisti do trabalho e comecei a estudar design.”
Ariel teve sorte: conseguiu entrar na licenciatura em design gráfico do Instituto Politécnico de Macau (IPM) com uma bolsa de estudos. Já nessa altura a família estava preocupada com o facto da jovem poder vir a ficar sem rendimentos.
Hoje em dia a jovem artista continua a trabalhar como freelancer. Faz design de interiores e trabalhos de design gráfico como, por exemplo, cartões de contactos para vários negócios e pessoas. A jovem vende alguns produtos em lojas e num website com alguma projecção lá fora. Para ela, esses pequenos trabalhos e colaborações fazem com que ela consiga manter alguma estabilidade financeira. Quando acabar a licenciatura, Ariel pretende tornar-se numa verdadeira designer, com mais profissionalismo.
Depois da mudança de rumo, Ariel não se arrepende da decisão de estudar gestão empresarial, porque acabou por se revelar útil no seu actual negócio. Na feira do Tap Seac conheceu amigos e pessoas da área das artes, mas lamenta o grande número de desistências.
“Há pessoas que não olham para a arte de forma série e acham que não têm um elevado salário, por comparação à maioria das pessoas. São poucos os que têm vontade de se dedicar apenas a esta área porque estão mais preocupadas com o dinheiro. Isso é uma realidade em Macau”, notou.
Ariel considera-se ela própria um exemplo muito raro porque nem todos conseguem fazer o que ela fez: mudar de vida. Para ela, o que importa é ganhar dinheiro com o que se gosta, sem dar importância ao que os outros dizem.

10 Jun 2016

Design | Jovem local vence competição para decorar fachada do Hotel Roosevelt

Kenny Leong venceu o concurso para decorar parte da fachada do futuro Hotel Roosevelt, na Taipa. Este deverá ser livre de mesas de Jogo, focando-se na temática de Hollywood. A inauguração está prevista para 2016

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau vai ter um novo hotel na Taipa, desta vez livre de mesas de Jogo e totalmente dedicado ao mundo hollywoodesco, onde reinavam estrelas como Marilyn Monroe, Marlon Brando ou James Dean. Este deverá ser inaugurado durante o primeiro semestre do próximo ano e vai, de acordo com um dos investidores, Aaron Iu, dar primazia às gastronomias asiática e ocidental.
“Estamos a planear ter um hotel com um serviço especializado de alta qualidade. Vai ter restaurantes chineses e ocidentais, por isso vai apresentar um bom estilo, mas não [será] para Jogo”, disse o investidor à Agência Lusa. O Roosevelt pertence à mesma cadeia dos hotéis Roosevelt dos EUA, mas com uma componente asiática. “O conceito não é exactamente o mesmo do hotel de Hollywood, onde foi construído o primeiro. Este combina as tradições de Macau e as de Hollywood”, afirmou Iu. A possibilidade de abrir um hotel da cadeia na região foi anunciada em 2013, mas apenas recentemente se soube mais pormenores.
Foi através de um concurso que o realizador local Kenny Leong venceu um prémio pecuniário de 300 mil patacas e a oportunidade de decorar parte da fachada e do terraço do empreendimento. O HM conversou com Leong e percebeu que se trata de um projecto complexo, revolucionário e “no qual poucas grandes cadeias investem”. Isto porque, explicou o artista, preferem ficar-se por elementos mais básicos e de mais fácil e barata manutenção, uma vez que se tratam de espaços frequentados por um grande volume de pessoas.
Questionado sobre a natureza do projecto, Kenny Leong respondeu que demorou cerca de dois meses a completá-lo totalmente e as coisas foram surgindo aos poucos. “Demorei um mês e meio para desenvolver a ideia e acho que não vai ser assim tão caro [montar o projecto]”, disse.
Visualmente, a obra de Kenny é feita de vários materiais e recorre a uma série de técnicas artísticas. Antes de mais, será colocada uma instalação de canos no terraço que ganha vida através da técnica de impressão em espuma em 3D.
“Desenhei uns painéis verticais de [luz] LED com os quais os visitantes podem interagir, por meio de uma aplicação móvel por exemplo”, explica Kenny.

Kenny Leong com a directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes
Kenny Leong com a directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes

O conceito, diz, gira em torno da relação entre espaço e utilizador. Além de tudo isto, há ainda espaço para colocar painéis de fumo que criam “uma enorme parede de projecção instaladas do hotel cá para fora”, contrariando assim o conceito tradicional de uma projecção, que o faz do projector para uma parede. Para completar, Kenny escolheu imagens de celebridades da “Era Dourada” para figurar nos painéis. “The Era” é o nome da sua invenção, precisamente por aludir aos actores como Marlon Brando e Marilyn Monroe da Hollywood americana.

O talento não abandona o artista

A história de Kenny começa em Macau, mas rapidamente continua do outro lado do mundo, no Canadá. Desde os cinco anos de idade que lá viveu, tendo frequentado a Universidade Ryerson, em Toronto. A sua primeira escolha havia sido Design de Interiores, a segunda Rádio e Televisão, mas o destino deixou que o jovem fosse parar ao curso de Novos Média.
“Na escola, desenvolvi um projecto relacionado com design, mas acabei por não entrar no curso mais tarde, quando me candidatei”, lamenta. Foi há três anos que regressou ao território e confessou-se “muito agradecido” ao Centro de Design de Macau pela oportunidade de poder ter o seu próprio estúdio de produção de vídeo neste local. “É isso que basicamente faço e onde passo quase todas as horas dos meus dias, a trabalhar, pelo que estou muito grato ao Centro”, disse.

Lembrar para não esquecer

Entre os premiados estiveram ainda projectos de Henrique Silva e de Rui Rasquinho, juntamente com uma equipa da Associação Art for All (AFA). O primeiro fez, de acordo com declarações do autor ao HM, uso de resíduos de estaleiros para decorar partes da fachada do prédio, de uma forma original. “A ideia foi pegar no entulho das obras e utilizá-los como elementos decorativos do próprio hotel, embutindo-os dentro de placas de epoxi [plástico semelhante a verniz]”, começa por explicar.
O terceiro projecto foi primeiramente criado por Rui Rasquinho, mas posteriormente desenvolvido por uma equipa de artistas da AFA. No entanto, ao HM, o artista plástico disse que a ideia inicial foi recriar a cultura chinesa, com uma espécie de recursos aos elementos básicos. “Faz parte de uma série que estou a fazer e que se inspira directamente em elementos da pintura chinesa, mas não recria, apenas se inspira, usando elementos como a água, as rochas, as nuvens”, explicou. Apenas Kenny Leong ganhou a oportunidade de ver o seu projecto ganhar vida, mas Henrique Silva e Rui Rasquinho também receberam galardões pecuniários, no valor de 50 mil patacas, ao lado de Ng Hio Wai e Carlos e Pedro Ho.

31 Jul 2015

FIC | Plataformas de apoio a PME com mais de 42 milhões

Foram ontem conhecidas as sete plataformas de apoio a Pequenas e Médias Empresas que vão receber dinheiro do Fundo das Indústrias Culturais. O Centro de Design de Macau, de James Chu, é um dos espaços contemplados

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]riatividade, tradicionalismo, alta qualidade e inspiração. Foram estas as características fundamentais para que sete incubadoras de negócios tenham sido escolhidas para receber apoios do Fundo das Indústrias Culturais (FIC). No total, serão aplicadas mais de 42 milhões em plataformas na área do design, moda e música, que pretendem ajudar a fomentar as Pequenas e Médias Empresas (PME) locais. São elas o Centro de Design de Macau, Espaço Cultural 100 Plus, projecto Design for Profit, Centro de Incubação e de Produtos Culturais e Criativos, Plataforma de Serviços Comerciais e Centro de Incubação de Marcas de Macau.

Leong Heng Teng, presidente do FIC e também porta-voz do Conselho Executivo, revelou que o objectivo é que o sector das indústrias culturais possa trabalhar em conjunto.

“Os jovens necessitam de apoio e têm várias dificuldades, sendo uma delas o pagamento da renda. Querem fazer algo novo e criativo e não conseguem, e nos últimos oito a dez anos tem sido assim. O desenvolvimento das indústrias culturais só é possível se todos derem apoio. Antes as indústrias culturais faziam cada uma o seu trabalho mas agora é diferente, queremos fazer um desenvolvimento sustentável do sector para que todos possam trabalhar em conjunto”, disse aos jornalistas na apresentação, que decorreu no Centro de Design de Macau.

Este espaço, que abriu portas há seis meses e cujo mentor é James Chu, foi um dos contemplados, tendo recebido das mãos do FIC 7,031 milhões de patacas para um plano de desenvolvimento a cinco anos. Tratando-se de um espaço de exposições, espectáculos e aluguer de salas para empresas, este centro de design considera que tem vindo a fazer um bom trabalho, já com 30 eventos organizados.

“Só depois de muito esforço é que criámos este espaço”, apontou James Chu. “Para além de promovermos as marcas, para que estas possam sobreviver em Macau, também queremos que estas possam sair de Macau”, referiu.

Espaços de apoio

Já o responsável do Centro de Incubação e de Marcas de Macau, que vai receber 8,854 milhões de patacas, referiu que o principal objectivo do projecto é “fornecer apoio a todos os interessados na área do design”. O espaço tem um local de exposições e 18 salas individuais para as empresas, sendo que no primeiro ano de actividade não pagam quaisquer despesas de utilização. “A necessidade para estas indústrias é muito grande e os nossos espaços já estão quase todos preenchidos”, considerou.

José Tang, industrial com duas fábricas de vestuário em Macau, resolveu criar o projecto Design for Profit, por forma a disponibilizar serviços para a produção de uma colecção de moda. “Os designers de moda de Macau têm os seus produtos mas não sabem como os vender”, concluiu.

Para já, 23 projectos continuam a analisar a proposta feita pelo FIC, sendo que 13 decidiram não aceitar o dinheiro, por não concordarem com os procedimentos ou pelo montante não cobrir os custos do projecto. Três concorrentes apresentaram mesmo reclamações.

25 Jun 2015