Taiwan | Vitória de Tsai Ing-wen faz China clamar contra independência Hoje Macau - 13 Jan 2020 A enorme participação eleitoral e vitória da candidata do Partido Democrata Progressista, Tsai Ing-wen, nas presidenciais de Taiwan deste sábado levaram a China a reiterar que se opõe a “qualquer forma de independência” da Ilha Formosa. EUA felicitam vitória e União Europeia destaca significativa ida às urnas [dropcap]A[/dropcap] China reiterou este sábado a sua oposição à declaração de Estado soberano por Taiwan, apesar da esmagadora vitória eleitoral da actual presidente, a independente Tsai Ing-wen. “Nós opomo-nos veementemente a qualquer forma de ‘independência de Taiwan’”, disse Ma Xiaoguang, porta-voz do gabinete de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado da China, num breve comunicado divulgado pela imprensa estatal. A posição chinesa não mudou apesar da histórica vitória de Tsai, e Ma lembrou que continuarão a procurar a “reunificação pacífica” daquela ilha com a China continental, através do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’. O porta-voz do governo chinês relembrou que a China aderiu ao chamado “princípio de uma China Única”, num acordo alcançado em 1992, que estabelece que existe apenas um país chamado China e que Pequim e Taipei reivindicam a soberania de todo o território, incluindo a ilha de Taiwan e a China continental. Após o fim da guerra e o estabelecimento da China comunista, em 1949, o líder da República da China derrotado, Chiang Kai-shek, e as suas tropas exilaram-se na ilha de Taiwan, onde continuaram com seu regime, e nos anos 90 começaram a realizar eleições democráticas. No entanto, Pequim ainda considera a ilha uma província rebelde. Ma disse que a China está “disposta a trabalhar” com os “compatriotas de Taiwan para promover o desenvolvimento pacífico das relações” entre ambas as partes do Estreito da Formosa, embora tenha repetido imediatamente a ideia de “reunificação pacífica da pátria mãe, de acordo com o consenso atingido em 1992”, negando a possibilidade de um Taiwan independente. A actual presidente de Taiwan declarou-se vencedora das eleições realizadas no sábado, ao receber mais de 8,1 milhões de votos (57,1 por cento do total), enquanto o seu principal rival, Han Kuo-yu, do partido Kuomintang (KMT), obteve 5,5 milhões de votos, 38,6 por cento. Com 23 milhões de habitantes, Taiwan levou às urnas 19 milhões de eleitores, tendo sido registada uma participação de 74 por cento, ou seja, 8,6 milhões de pessoas, número inédito na história eleitoral de Taiwan. Apesar da vitória nas presidenciais, o DPP perdeu sete assentos no parlamento, de acordo com a agência Bloomberg, enquanto que o KMT ganhou três lugares. O presidente da câmara municipal de Taipei, Ko Wen-je, do partido People First Party, estreou-se no hemiciclo com 1,5 milhões obtidos contra os 4,8 milhões de votos do DPP e 4,7 milhões do KMT. Desde 2012 que as eleições legislativas acontecem ao mesmo tempo que as presidenciais. Uma emenda à Constituição, levada a cabo em 2005, permitiu que o partido que controla o Executivo também controle o parlamento. Parabéns americanos Por sua vez, os EUA felicitaram, também no sábado, Tsai Ing-wen pela reeleição para um segundo mandato presidencial em Taiwan, com a União Europeia (UE) a destacar, por sua vez, a alta participação no escrutínio e a encorajar um “diálogo construtivo” com Pequim. “Os Estados Unidos (EUA) felicitam Tsai Ing-wen pela sua reeleição no escrutínio presidencial em Taiwan”, escreveu o chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, num comunicado citado pelas agências internacionais. “Sob a sua liderança, esperamos que Taiwan continue a servir como um brilhante exemplo para os países que lutam pela democracia”, referiu o secretário de Estado norte-americano. Também em reacção às presidenciais em Taiwan, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, felicitou o povo daquele território pela “alta participação” registada no escrutínio. “Os nossos respectivos sistemas de governança estão fundados num compromisso partilhado com a democracia, o Estado de Direito e os direitos humanos”, referiu uma porta-voz do Alto Representante da UE para a Política Externa, num comunicado. A mesma nota frisou que a UE acompanha atentamente o desenvolvimento da relação entre Taiwan e a China, lembrando que o bloco comunitário “tem incentivado um diálogo e um compromisso construtivo”. Relação deteriorada As eleições presidenciais deste sábado, que serviram também para eleger o parlamento da Formosa, foram marcadas pela deterioração das relações entre Taipei e Pequim, desde que Tsai assumiu o cargo, em 2016. Han, candidato do KMT, foi apresentado como uma alternativa para melhorar as relações com a China. No entanto, o KMT perdeu a vantagem que as sondagens lhe deram há menos de um ano, devido à repressão dos protestos em Hong Kong e à posição do presidente chinês Xi Jinping, que não excluiu o uso da força para alcançar a aguardada reunificação de Taiwan com a China. No seu discurso, depois da vitória nas eleições, Tsai disse que espera que Pequim possa “interpretar o sinal” dado pelos resultados eleitorais, o que, defendeu, mostra que os taiwaneses não aceitam as “ameaças” da China. “Taiwan mostrou ao mundo o quanto amamos o nosso modo de vida livre e democrático, bem como a nossa nação”, afirmou Tsai Ing-wen, em declarações à comunicação social, anunciando a sua vitória nas eleições presidenciais hoje realizadas. Segundo a agência Reuters, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) emitiu um comunicado onde também reitera que “independentemente das mudanças que ocorram internamente em Taiwan, o facto base é que há apenas uma China no mundo e que Taiwan é parte da China, e isso não irá mudar”, disse o MNE. Ontem, Tsai Ing-wen reuniu com o chefe da embaixada norte-americana em Taipei, Brent Christensen, tendo referido que, “mais uma vez, a população de Taiwan usou o voto que tinha nas suas mãos para mostrar ao mundo o valor da democracia. A democracia e a liberdade são importantes activos em Taiwan e a fundação de uma longa parceria entre Taiwan e os EUA”, disse a presidente reeleita. Além das relações tensas com a China, Taiwan tem perdido vários aliados nos últimos anos a favor da China, estando a ilha cada vez mais isolada diplomaticamente, mantendo apenas 15 países aliados. Estas eleições ficaram também marcadas pelos protestos em Hong Kong e pela maior aproximação com Washington. Tsai Ing-wen rejeitou o chamado “princípio de uma só China”, mediante o qual só existe uma China, abarcando a ilha e o continente, o que levou Pequim e Taipé a reclamar a totalidade do território. “As relações eram pacíficas até que Tsai chegou ao poder. Se voltar a ganhar, vai continuar uma espécie de ‘paz fria’ ou de ‘confrontação fria'”, afirmou o director do Centro de Estudos de Taiwan da Universidade Jiao Tong em Xangai, Lin Gang. Em resposta, Pequim ofereceu medidas para multiplicar os vínculos económicos e culturais, insistindo, ao mesmo tempo, na reunificação. No ano passado, o Presidente chinês, Xi Jinping, insistiu na possibilidade de uso de força e lembrou que não será tolerada “qualquer acção para dividir o país”. Activista detida As autoridades de Hong Kong detiveram uma activista do partido pró-democracia Demosisto que procurava viajar para Taiwan na quinta-feira para acompanhar as presidenciais de sábado na ilha, indicou o partido. Lily Wong, de 26 anos, foi detida – e depois libertada sob fiança – pelo assalto ao Conselho Legislativo a 1 de Julho e é acusada de “conspiração para cometer danos criminais”, explicou o partido Demosisto numa publicação na rede social Facebook. O secretário-geral do movimento, Joshua Wong, disse à agência de notícias Efe que a activista estava a ir para Taiwan para participar nas eleições como observadora internacional. Segundo o Demosisto, Lily Wong não sabia que a polícia de Hong Kong a havia incluído numa lista de pessoas procuradas. “Pedimos a todas as pessoas envolvidas que tomem cuidado com detenções inesperadas nos postos de controlo de imigração”, acrescentou o grupo. Deputados pró-democracia de Macau elogiam vitória de Tsai A vitória expressiva de Tsai Ing-wen nas presidenciais de Taiwan gerou reacções dos deputados do campo pró-democracia de Macau. Na sua página oficial de Facebook, o deputado Sulu Sou escreveu “obrigada Taiwan por seres, mais uma vez, um exemplo”. “Vitórias e derrotas são normais numa eleição directa com sufrágio universal. O que é importante de facto é que a razão ultrapassou o ódio e a intimidação, para que as pessoas possam continuar a viver sem medo”, acrescentou o deputado à Assembleia Legislativa (AL) da RAEM. Sulu Sou adiantou também que espera “que mais pessoas possam desfrutar da semente da democracia e realizar o seu sonho ao tomar a sua decisão”. “Esperamos ainda que, um dia, as pessoas de todo o mundo possam vir a Macau observar as nossas verdadeiras eleições com sufrágio universal”, frisou. Também Au Nam San, deputado à AL, congratulou Tsai Ing-wen “pela sua bem-sucedida reeleição”. “Que a paz democrática seja mais estável e que evolua de forma mais rápida. Que se quebre o destino da população chinesa de não desfrutar de direitos democráticos”, apontou, também na sua página de Facebook.
Taiwan | Vitória de Tsai Ing-wen faz China clamar contra independência Hoje Macau - 13 Jan 2020 A enorme participação eleitoral e vitória da candidata do Partido Democrata Progressista, Tsai Ing-wen, nas presidenciais de Taiwan deste sábado levaram a China a reiterar que se opõe a “qualquer forma de independência” da Ilha Formosa. EUA felicitam vitória e União Europeia destaca significativa ida às urnas [dropcap]A[/dropcap] China reiterou este sábado a sua oposição à declaração de Estado soberano por Taiwan, apesar da esmagadora vitória eleitoral da actual presidente, a independente Tsai Ing-wen. “Nós opomo-nos veementemente a qualquer forma de ‘independência de Taiwan’”, disse Ma Xiaoguang, porta-voz do gabinete de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado da China, num breve comunicado divulgado pela imprensa estatal. A posição chinesa não mudou apesar da histórica vitória de Tsai, e Ma lembrou que continuarão a procurar a “reunificação pacífica” daquela ilha com a China continental, através do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’. O porta-voz do governo chinês relembrou que a China aderiu ao chamado “princípio de uma China Única”, num acordo alcançado em 1992, que estabelece que existe apenas um país chamado China e que Pequim e Taipei reivindicam a soberania de todo o território, incluindo a ilha de Taiwan e a China continental. Após o fim da guerra e o estabelecimento da China comunista, em 1949, o líder da República da China derrotado, Chiang Kai-shek, e as suas tropas exilaram-se na ilha de Taiwan, onde continuaram com seu regime, e nos anos 90 começaram a realizar eleições democráticas. No entanto, Pequim ainda considera a ilha uma província rebelde. Ma disse que a China está “disposta a trabalhar” com os “compatriotas de Taiwan para promover o desenvolvimento pacífico das relações” entre ambas as partes do Estreito da Formosa, embora tenha repetido imediatamente a ideia de “reunificação pacífica da pátria mãe, de acordo com o consenso atingido em 1992”, negando a possibilidade de um Taiwan independente. A actual presidente de Taiwan declarou-se vencedora das eleições realizadas no sábado, ao receber mais de 8,1 milhões de votos (57,1 por cento do total), enquanto o seu principal rival, Han Kuo-yu, do partido Kuomintang (KMT), obteve 5,5 milhões de votos, 38,6 por cento. Com 23 milhões de habitantes, Taiwan levou às urnas 19 milhões de eleitores, tendo sido registada uma participação de 74 por cento, ou seja, 8,6 milhões de pessoas, número inédito na história eleitoral de Taiwan. Apesar da vitória nas presidenciais, o DPP perdeu sete assentos no parlamento, de acordo com a agência Bloomberg, enquanto que o KMT ganhou três lugares. O presidente da câmara municipal de Taipei, Ko Wen-je, do partido People First Party, estreou-se no hemiciclo com 1,5 milhões obtidos contra os 4,8 milhões de votos do DPP e 4,7 milhões do KMT. Desde 2012 que as eleições legislativas acontecem ao mesmo tempo que as presidenciais. Uma emenda à Constituição, levada a cabo em 2005, permitiu que o partido que controla o Executivo também controle o parlamento. Parabéns americanos Por sua vez, os EUA felicitaram, também no sábado, Tsai Ing-wen pela reeleição para um segundo mandato presidencial em Taiwan, com a União Europeia (UE) a destacar, por sua vez, a alta participação no escrutínio e a encorajar um “diálogo construtivo” com Pequim. “Os Estados Unidos (EUA) felicitam Tsai Ing-wen pela sua reeleição no escrutínio presidencial em Taiwan”, escreveu o chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, num comunicado citado pelas agências internacionais. “Sob a sua liderança, esperamos que Taiwan continue a servir como um brilhante exemplo para os países que lutam pela democracia”, referiu o secretário de Estado norte-americano. Também em reacção às presidenciais em Taiwan, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, felicitou o povo daquele território pela “alta participação” registada no escrutínio. “Os nossos respectivos sistemas de governança estão fundados num compromisso partilhado com a democracia, o Estado de Direito e os direitos humanos”, referiu uma porta-voz do Alto Representante da UE para a Política Externa, num comunicado. A mesma nota frisou que a UE acompanha atentamente o desenvolvimento da relação entre Taiwan e a China, lembrando que o bloco comunitário “tem incentivado um diálogo e um compromisso construtivo”. Relação deteriorada As eleições presidenciais deste sábado, que serviram também para eleger o parlamento da Formosa, foram marcadas pela deterioração das relações entre Taipei e Pequim, desde que Tsai assumiu o cargo, em 2016. Han, candidato do KMT, foi apresentado como uma alternativa para melhorar as relações com a China. No entanto, o KMT perdeu a vantagem que as sondagens lhe deram há menos de um ano, devido à repressão dos protestos em Hong Kong e à posição do presidente chinês Xi Jinping, que não excluiu o uso da força para alcançar a aguardada reunificação de Taiwan com a China. No seu discurso, depois da vitória nas eleições, Tsai disse que espera que Pequim possa “interpretar o sinal” dado pelos resultados eleitorais, o que, defendeu, mostra que os taiwaneses não aceitam as “ameaças” da China. “Taiwan mostrou ao mundo o quanto amamos o nosso modo de vida livre e democrático, bem como a nossa nação”, afirmou Tsai Ing-wen, em declarações à comunicação social, anunciando a sua vitória nas eleições presidenciais hoje realizadas. Segundo a agência Reuters, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) emitiu um comunicado onde também reitera que “independentemente das mudanças que ocorram internamente em Taiwan, o facto base é que há apenas uma China no mundo e que Taiwan é parte da China, e isso não irá mudar”, disse o MNE. Ontem, Tsai Ing-wen reuniu com o chefe da embaixada norte-americana em Taipei, Brent Christensen, tendo referido que, “mais uma vez, a população de Taiwan usou o voto que tinha nas suas mãos para mostrar ao mundo o valor da democracia. A democracia e a liberdade são importantes activos em Taiwan e a fundação de uma longa parceria entre Taiwan e os EUA”, disse a presidente reeleita. Além das relações tensas com a China, Taiwan tem perdido vários aliados nos últimos anos a favor da China, estando a ilha cada vez mais isolada diplomaticamente, mantendo apenas 15 países aliados. Estas eleições ficaram também marcadas pelos protestos em Hong Kong e pela maior aproximação com Washington. Tsai Ing-wen rejeitou o chamado “princípio de uma só China”, mediante o qual só existe uma China, abarcando a ilha e o continente, o que levou Pequim e Taipé a reclamar a totalidade do território. “As relações eram pacíficas até que Tsai chegou ao poder. Se voltar a ganhar, vai continuar uma espécie de ‘paz fria’ ou de ‘confrontação fria'”, afirmou o director do Centro de Estudos de Taiwan da Universidade Jiao Tong em Xangai, Lin Gang. Em resposta, Pequim ofereceu medidas para multiplicar os vínculos económicos e culturais, insistindo, ao mesmo tempo, na reunificação. No ano passado, o Presidente chinês, Xi Jinping, insistiu na possibilidade de uso de força e lembrou que não será tolerada “qualquer acção para dividir o país”. Activista detida As autoridades de Hong Kong detiveram uma activista do partido pró-democracia Demosisto que procurava viajar para Taiwan na quinta-feira para acompanhar as presidenciais de sábado na ilha, indicou o partido. Lily Wong, de 26 anos, foi detida – e depois libertada sob fiança – pelo assalto ao Conselho Legislativo a 1 de Julho e é acusada de “conspiração para cometer danos criminais”, explicou o partido Demosisto numa publicação na rede social Facebook. O secretário-geral do movimento, Joshua Wong, disse à agência de notícias Efe que a activista estava a ir para Taiwan para participar nas eleições como observadora internacional. Segundo o Demosisto, Lily Wong não sabia que a polícia de Hong Kong a havia incluído numa lista de pessoas procuradas. “Pedimos a todas as pessoas envolvidas que tomem cuidado com detenções inesperadas nos postos de controlo de imigração”, acrescentou o grupo. Deputados pró-democracia de Macau elogiam vitória de Tsai A vitória expressiva de Tsai Ing-wen nas presidenciais de Taiwan gerou reacções dos deputados do campo pró-democracia de Macau. Na sua página oficial de Facebook, o deputado Sulu Sou escreveu “obrigada Taiwan por seres, mais uma vez, um exemplo”. “Vitórias e derrotas são normais numa eleição directa com sufrágio universal. O que é importante de facto é que a razão ultrapassou o ódio e a intimidação, para que as pessoas possam continuar a viver sem medo”, acrescentou o deputado à Assembleia Legislativa (AL) da RAEM. Sulu Sou adiantou também que espera “que mais pessoas possam desfrutar da semente da democracia e realizar o seu sonho ao tomar a sua decisão”. “Esperamos ainda que, um dia, as pessoas de todo o mundo possam vir a Macau observar as nossas verdadeiras eleições com sufrágio universal”, frisou. Também Au Nam San, deputado à AL, congratulou Tsai Ing-wen “pela sua bem-sucedida reeleição”. “Que a paz democrática seja mais estável e que evolua de forma mais rápida. Que se quebre o destino da população chinesa de não desfrutar de direitos democráticos”, apontou, também na sua página de Facebook.
Irão pede ao Canadá para partilhar informações sobre avião ter sido abatido por míssil Hoje Macau - 10 Jan 2020 [dropcap]O[/dropcap] Irão pediu ontem ao Canadá para partilhar as informações sobre o voo 752 de Ukranian International Airlines (UIA) ter sido derrubado por um míssil iraniano, considerando que essas informações são “relatos questionáveis”. De acordo com a agência France-Presse, Teerão convidou Otava a “partilhar” com a comissão de inquérito iraniana, criada depois de o voo comercial ter caído perto da capital do Irão, na quarta-feira de manhã, provocando a morte dos 176 ocupantes, entre passageiros e tripulação. O Ministério das Relações Exteriores do Irão convidou também a Boeing, fabricante da aeronave, a “participar” na investigação. O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, afirmou hoje que o seu Governo dispõe de informações de que o voo 752 de UIA foi derrubado por um míssil iraniano. Trudeau, que falava numa conferência de imprensa, acrescentou que a ação “pode não ter sido intencional”. O aparelho, um Boeing 737 da companhia aérea privada ucraniana UIA, descolou da capital iraniana, Teerão, e tinha como destino a capital da Ucrânia, Kiev. O avião despenhou-se dois minutos depois da descolagem, matando todas as pessoas que estavam a bordo, a maioria de nacionalidade iraniana e canadiana. Pelo menos 63 cidadãos canadianos estavam a bordo. Onze ucranianos, incluindo nove membros da tripulação, estão, igualmente, entre as vítimas mortais do acidente. Também estavam dentro do avião da UIA cidadãos oriundos da Suécia, Afeganistão, Alemanha e Reino Unido. A Ucrânia enviou para Teerão uma equipa de 45 investigadores para estudar as causas do desastre aéreo. A tese de que a aeronave foi derrubada por balística iraniana também é partilhada pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que disse ter “um conjunto de informações” de que o Boeing 737 ucraniano foi “abatido por um míssil iraniano de superfície para ar”. Quatro oficiais norte-americanos que falaram sob a condição de anonimato, citados pela Associated Press, referiram que o avião ucraniano poderá ter sido confundido como uma ameaça por parte de Teerão.
Trânsito | Sugerida abertura da Ponte Nobre de Carvalho a particulares Hoje Macau - 10 Jan 2020 [dropcap]L[/dropcap]o Chong I, membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas considera que “a Ponte Governador Nobre de Carvalho deve estar disponível para todos os carros sempre que ocorrerem acidentes nas outras duas pontes”. Segundo as informações citadas no jornal Cheng Pou, Lo Chong I considera que, para além de terem chamado a atenção do público para a segurança rodoviária, os dois acidentes que ocorreram recentemente na Ponte da Amizade, e que acabaram por encerrar a circulação na estrutura, geraram preocupação entre os residentes e entre os membros do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas. Citada pelo jornal Cheng Pou, Lo Chong I salientou ainda que deve ser incluída a abertura temporária da ponte Governador Nobre de Carvalho a todos os veículos como mecanismo de contingência para aliviar o trânsito em caso de acidente. Além disso, apontando que em 2018 ocorreram 481 acidentes na Ponte da Amizade, Lo Chong I considera que o Governo deve estabelecer medidas para aumentar a consciência de condução segura de condutores. De acordo com a mesma fonte, Ng Chio Wai, também membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas, argumentou que a fissura da Ponte da Amizade e os acidentes ocorridos na mesma estrutura demonstraram a necessidade de construir pelo menos mais uma ligação entre Macau e a Taipa. Ng criticou ainda a falta de planeamento rodoviário e espera que o Governo garanta que a construção da quarta ligação possa começar o mais rapidamente possível e que não ultrapasse o orçamento previsto.
Trânsito | Sugerida abertura da Ponte Nobre de Carvalho a particulares Hoje Macau - 10 Jan 2020 [dropcap]L[/dropcap]o Chong I, membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas considera que “a Ponte Governador Nobre de Carvalho deve estar disponível para todos os carros sempre que ocorrerem acidentes nas outras duas pontes”. Segundo as informações citadas no jornal Cheng Pou, Lo Chong I considera que, para além de terem chamado a atenção do público para a segurança rodoviária, os dois acidentes que ocorreram recentemente na Ponte da Amizade, e que acabaram por encerrar a circulação na estrutura, geraram preocupação entre os residentes e entre os membros do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas. Citada pelo jornal Cheng Pou, Lo Chong I salientou ainda que deve ser incluída a abertura temporária da ponte Governador Nobre de Carvalho a todos os veículos como mecanismo de contingência para aliviar o trânsito em caso de acidente. Além disso, apontando que em 2018 ocorreram 481 acidentes na Ponte da Amizade, Lo Chong I considera que o Governo deve estabelecer medidas para aumentar a consciência de condução segura de condutores. De acordo com a mesma fonte, Ng Chio Wai, também membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas, argumentou que a fissura da Ponte da Amizade e os acidentes ocorridos na mesma estrutura demonstraram a necessidade de construir pelo menos mais uma ligação entre Macau e a Taipa. Ng criticou ainda a falta de planeamento rodoviário e espera que o Governo garanta que a construção da quarta ligação possa começar o mais rapidamente possível e que não ultrapasse o orçamento previsto.
Há coisas que devem ser copiadas Carlos Morais José - 10 Jan 2020 [dropcap]U[/dropcap]m das áreas que este novo Governo devia prestar uma cuidada atenção é a dos transportes públicos. O metro ligeiro, além dos problemas detectados, é irrelevante para a população. Um brinquedo em que se gastaram rios de dinheiro e pouco mais que isso. Já os autocarros constituem o mais importante meio de transporte público da cidade. Daí que talvez fosse boa ideia voltar a estudar as rotas de modo a racionalizar o sistema. Quem os utiliza sabe muito bem que primam pela irracionalidade, do tipo passam três seguidos com o mesmo destino e depois só voltam a aparecer 40 minutos depois. Existem linhas em que os condutores guiam como loucos, abusando das travagens bruscas. Seria urgente cursos de condução especializados e aulas de civismo, em que seriam colocadas situações e a sua resolução racional. A dimensão da cidade torna muito fácil a criação de uma rede de autocarros totalmente eficaz e tal só ainda não foi feito porque certamente iria contra os interesses enraizados. Talvez este Governo não tenha de se curvar a esses mesmos interesses e pense no interesse da população. E, sobretudo, na sua satisfação. São problemas como este e a habitação, entre outros, que motivam mais revolta entre as pessoas. E aqui ninguém quer isso. E já agora esforcem-se por comprar autocarros não-poluentes. Como os que vemos nas cidades da China. Há coisas que devem ser copiadas.
Cristalinos e intricados Luís Carmelo - 10 Jan 20206 Mar 2020 [dropcap]N[/dropcap]ão gosto de generalizar, mas por vezes apetece. Facilita a percepção do território, torna mais visíveis os seus limites e define melhor a luz com que invadimos os temas a abordar. Na maior parte das vezes, prefiro ser indutivo nas análises, ainda que a senda de particularizar em demasia conduza ao apagamento de horizontes. Então, o texto – ou a voz – desdobra-se e fá-lo sem a preocupação de um sentido óbvio imediato ou, pelo menos, claro. O ensaísmo oriundo do mundo anglo-saxónico pertence ao primeiro dos caminhos: clarifica o terreno, estrutura o campo de visão e convida a organizar o olhar. Lemos a divisão dos saberes proposta por Locke, a alegoria da liberdade proposta por Hobbes ou a sequência temática dos ‘Ensaios’ de Francis Bacon e tudo é cristalino. Entramos nas obras de Harold Bloom, Richard Rorty ou do (oxfordiano) Isaiah Berlin e capta-se imediatamente um esquema de fundo que permite situar o espaço na sua totalidade. Depois a digressão, que pode assumir características chãs e até descentradas, torna-se clarividente e flui particularmente bem. Já o ensaísmo latino prefere enredamentos: avança com a gula críptica que advém do prazer da palavra e dos seus ecos e, no entanto, galvaniza, contagia, impõe-se pelo eclectismo. Entre Montaigne, Barthes ou Magris sente-se esse tremor da natureza, ou essa inquietação, de que nem sempre se deduz uma matéria óbvia. No seu ‘Ensaio sobre a origem da linguagem’ (1772), Herder escreveu: “os filósofos franceses misturam tudo o que diz respeito a algumas curiosidades aparentes das naturezas animal e humana”. A verdade é que também não existe fascínio sem esse tipo de cocktail e de incompletude. Já se sabe que a mini-saia discursiva é sempre bem mais atraente do que uma saia vitoriana até à flor dos artelhos. A chamada disposição cartesiana não foge a este espírito ecléctico. Ela é comparável às áleas geométricas dos jardins franceses de seiscentos que vivem sobretudo do aparato visual e da formalidade teatral. Nas suas ‘Lettres Philosophiques’, Voltaire realçou a fértil imaginação de Descartes, chegando a referir que “a natureza fez dele um poeta”, facto que nunca conseguiu dissimular, nem “mesmo nas obras filosóficas onde se vêem a todo o momento comparações engenhosas e brilhantes”. Leibniz apontou o excesso de “hipóteses imaginárias” à física cartesiana, enquanto o holandês Huyghens, autor de uma autobiografia que destacou os avanços ópticos do seu tempo, a comparou a um mero “ensino de quimeras”. O engenho e a reverberação poética a sobreporem-se à linearidade dos canteiros. Não é por acaso que o mal amado Deleuze destacou em vários dos seus livros a “superioridade” da literatura anglo-saxónica devido à sua vocação para uma espacialidade livre e não sujeita a freios ou a aparatos formais, dando como exemplos, entre outros, Melville, Stevenson, Wolfe, Fitzgerald, James, Lovecraft, Miller, Kerouac, Lawrence ou Virginia Woolf. Por outro lado, não deixou de relegar o imaginário da tradição francesa para o imobilismo, para a previsibilidade e para a extrema centralidade dos seus cenários. Por outras palavras: a cinética a devorar literalmente a inércia. Esta diferença entre a errância e a determinação é a mesma distância que separa o nómada do sedentário. O primeiro cria um guião para a sua viagem, mas fá-lo em movimento. O segundo encerra todas as viagens no seu habitat projectando o globo num jardim, cujo labirinto se fecha a si próprio. A sobrevivência do primeiro obriga a uma cartografia que deverá ser compreendida com exactidão por terceiros, enquanto a sobrevivência do segundo se bastará aos mais íntimos sortilégios da poética. Se este é, em suma, o descaminho que afasta o tradicional verbete anglo-saxónico do enredamento latino, não esqueçamos nunca as excepções que muitas vezes ditam aquilo que o mundo afinal é (verdadeiras flechas prontas a arrasar conclusões imprudentes). Não é por acaso que todo o actual discurso do Brexit – mesmo no caudal pós-eleitoral – é a peçonha mais nevoenta que já se viu. Qual dedução, qual indução, qual poética, qual quê! Aquilo é um misto de brumosa apologia com pés de cabra, de insularidade papalva, de contrição trombuda, de ‘cala consente’ sem norte, enfim: um verdadeiro estiolar do que ainda restaria das ossadas da velha ‘Britannia’. Que nos valham figurões como Peter Sellers, John Cleese ou Rowan Atkinson para nos contagiar a rir de toda esta charada. Pois eles é que são a única e verdadeira vaga imperial anti-Brexit.
Joker Rui Filipe Torres - 10 Jan 2020 [dropcap]O[/dropcap] Acontecimento cinematográfico do ano, ou pelo menos um dos, na minha análise, deu vida a uma biografia desconhecida do icónico vilão da DC comics. Realizado por Tood Phlips, teve estreia em Outubro e ainda permanece em sala. Na lista dos filmes mais vistos neste ano 2019 em Portugal, surge em 2º lugar, logo a seguir ao Rei Leão, o filme da Walt Disney Pictures pensado para toda a família. JOKER, protagonizado por Joaquin Phonix estreou a 3 de Outubro e até 25 de Dezembro teve 18 962 mil sessões com 895 903 mil espectadores, o que faz uma receita bruta em sala de € 4.963.583, 79 euros. O Budget estimado desta co-produção EUA /Canada, segundo dados do IMDb, é de 55, 000, 00 dólares, e as receitas de bilheteira ascendem a mais de 1,062,994, 002 dólares. Arthur Fleck, o personagem vivido por Joaquin Phonix, é um comediante palhaço que é despedido na agência de eventos onde presta serviço a recibos verdes, a cidade é Gotham City, a cidade que há muito conhecemos através desse outro ícone da BD o Batman, o alter-ego, de Bruce Wayne, herdeiro de enorme fortuna que decidiu dedicar a sua vida ao combate do crime. Arthur Fleck tem também um alter ego, o JOKER. A cidade vive o seu quotidiano de indiferença, miséria e crime. Arthur Fleck é espezinhado por um grupo de adolescentes que também lhe destroem o cartaz com publicita um produto comercial, cartaz que vai ter de pagar do seu magro salário de palhaço a horas, mas, mais do os pontapés no corpo, são os pontapés na alma, a solidão que se acumula a cada hora do dia e da noite que passa. E pior, com o passar dos cresce também a percepção da falta de perspectivas para outra realidade mais quente e menos sofrida. Arthur Fleck tem necessidade de cuidados médicos, os serviços de saúde públicos em Gotham City são degradantes como o é sempre a miséria, a sua saúde psíquica é difícil. O riso descontrolado acontece nele, como a sucessão de atchim(s) quando se está constipado, é um riso nervoso, que acaba por se tornar uma idiossincrasia da sua persona. Vive com a mãe numa decadência alimentada ansiolíticos. A mãe sonha com a ajuda do seu velho amor o milionário Bruce Wayne, escreve-lhe sucessivas cartas, sempre sem resposta. Bruce Wayne, é o pai de Arthur Fleck, segundo ela ele é filho desse amor clandestino quando esteve empregada na mansão do milionário. Arthur Fleck veste a sua personagem JOKER, é dessa forma, cara pintada de palhaço, que se movimenta na cidade. Um dia no metro, em defesa de vida, mata um assaltante, a sua identidade não é reconhecida, mas a sua figura, comunicada através das tv e jornais encontra eco na população da cidade. Perante a onda de criminalidade da cidade, é percepcionado como um herói. Tenta aproximar-se do pai, vai à grande mansão, encontra junto do muro fronteira de grandes grades entre a propriedade e a cidade o seu irmão, aquele que, sabe o espectador, anos mais tarde será o herói Batman. É expulso, escorraçado da mansão. A revolta interior cresce de forma paralela as manifestações violentas dos habitantes da cidade contra as injustiças da governação da cidade. Os manifestantes usam pinturas faciais iguais à sua, é um herói desconhecido. É convidado num programa de televisão de grande audiência – como sempre, magnifica interpretação de Robert De Niro. Dispara em direto sobre o apresentador. O filme rodado no Bronx, Harlem, Manhattan, é tudo menos uma comédia leve de fácil digestão. O extraordinário – aparentemente – é a adesão dos públicos a esta narrativa que trabalha o burlesco e o drama da marginalidade social nas grandes cidades da falência do capitalista liberal. JOKER é cinema maior, se arte é sempre um tempo fora do tempo, o imaginário Comics, é necessariamente território fértil. Este é um filme construído no novo regime estético do cinema, assim denominado por Jaques Ranciére, um regime em que o híbrido e o pós-dramático são o território da materialidade narrativa. A narrativa trabalha com o grotesco e o informe, que como sempre, tem de ser reconhecida na materialidade, na realidade filmada, de forma sublime JOKER convoca e coloca-nos perante o fascínio visual que trabalha o grotesco. O grotesco é uma potência do humano sempre presente e que, em tempos de crise, de transição de regime, tende a emergir com toda a sua dimensão do espetacular. Captura dá-nos a ver a ansiedade vivida individualmente e em grandes massas, sempre presente nos momentos de fractura, de crises de sociedade. JOKER é o medo do não ser, a procura da forma para o reconhecimento da cidadania, depois da falência da norma. Freud em 1919 no artigo Das Unheimliche, usualmente traduzido em português por “O Inquietante”, tem uma abordagem psicanalítica na área da estética. A análise parte dos contos Hoffmann “O Homem de Areia” e “Os Elixires do Diabo”. Freud investiga a etimologia da palavra Unheimlich, em diferentes línguas, a qual numa tradução literal é significa desconhecido e, paradoxalmente, encontra por vezes o oposto imediato – conhecido ou familiar. Conclui que atrás de algo atrás de algo incompreensível ou atemorizante está sempre alguma coisa familiar, refere então que existe sempre uma sombra no conhecido, um inominável que foi afastado, reprimido. É esse reprimido que alimenta o arco dramático da personagem JOKER. É esse desconhecido, conhecido, que permite a identificação mesmo que involuntária do espectador com a vida na tela. Estamos na presença do herói relutante, este herói que chegou à tela e à literatura na década de 50, o anti-herói, aquele que é herói, protagonista, não porque por decisão própria enfrenta e supera um empreendimento extraordinário, o que quer dizer que se coloca em ação por vontade própria, mas aquele novo herói dos quotidianos modernos que é levado à ação por razões de contexto, movido pela circunstância em que a realidade o envolve. Estamos também em dois tempos, o tempo do filme, ou melhor o tempo em que o filme se passa, os anos da primeira grande recessão económica, e o tempo dos espectadores, o tempo do “espectador emancipado” como escreve Jacques Rancière, o público do cinema do final da segunda década do século XXI. JOKER é o cinema da Nova Hollywood neste tempo de hipercinema em que a qualificação distintiva entre cinema arte e cinema indústria deixou de fazer sentido enquanto julgamento estético e de modelo de produção. São raros, ainda assim bastantes, os heróis negativos que alcançam sucesso inegável na multidão dos públicos, é ainda comum a ideia de que o filme para ter sucesso comercial tem de trazer bons sonhos, distanciar os públicos da realidade e nessa distância oferecer a pílula da felicidade dourada. Basta falar com quem decide das programações em sala e nas televisões, e até de quem tem responsabilidade nas decisões políticas da cultura, e este axioma é apresentado como verdade em altar. JOKER prova de forma incontornável que os senhores do marketing, muitas das vezes, são vendedores de segunda, convencidos de que possuem ciência social e humana. Lembro esse filme com o magistral ator, o Anthony Hopkins em “Silêncio dos Inocentes” de 1991 – filme que ocupa a 74ª posição na lista dos 100 filmes do American Film Institute. Em todo o caso, JOKER é um caso relevante e de especial interesse, e essa singularidade resulta do eco da personagem indivíduo no colectivo, na comunidade. Esta capacidade de contágio e a figuração da massa urbana em conflito agudo, em batalha nas praças e ruas da cidade Gotham City no ecrã da sala escura, a fazer eco de um tempo agora, um tempo hoje, onde coletes amarelos em Paris, multidões em Barcelona, ou em Hong-Kong, por razões de ordem diversa, confrontam de forma aberta o poder de polícia dos Estados. JOKER é um homem sem pai, um cidadão sem representação da sua cidadania, vive uma dupla orfandade, pessoal e social. Neste nosso tempo de vivências atomizadas, de vidas sem laços sociais comunitários, a orfandade é um trauma que irrompe como vulcão. De alguma forma o trauma da orfandade é subterrâneo ao agitar das bandeiras, seja as da libertação do género da âncoras dos comportamento socialmente bem aceites; mudanças de género, etc, ou bandeiras das vozes minoritárias das etnicidades ao acesso ao exercício do Poder, o facto Édipo, permanece e é central na construção da afectividade humana. A libertação do pai, processo constitutivo do crescimento individual e social do humano, tem sempre uma carga traumática, e marca a relação do afecto com o próprio e com o mundo. Freud afirmou que o que move o mundo é o desejo inconsciente. Se a leitura das manifestações do inconsciente no consciente quase sempre é de difícil acesso, mais fácil é verificar que o desejo consciente, em certos casos mais até do que a necessidade, é instrumental para as dinâmicas da ação. * Cineasta, Jornalista. Doutorando em Estudos Artísticos – Estudos Fílmicos e da Imagem – FL -Universidade de Coimbra Mestre em Estudos Culturais Aplicados em Cinema – Desenvolvimento de Projecto Cinematográfico – ESTC – Instituto Politécnico de Lisboa. Licenciado em Ciências da Comunicação – ISCSP – Universidade de Lisboa
Circularidades António Cabrita - 10 Jan 2020 28/ 12/ 2019 [dropcap]L[/dropcap]i hoje a pauta de “As Orelhas de Karenin”, que a Rita Taborda Duarte interpretou a quatro mãos com o Pedro Proença, e saiu-me nas margens dos poemas este escrito: «A minha mão é uma ilha negra que extirpa nos galos a sua semente de alvorada. Guardo os selos mais valiosos, dois, do tempo do rei dom Carlos, na carteira de mão – herdei-os duma avó, vai para nove anos – só para confirmar matinalmente, em tomando o meu chá verde, o enxuto e espigado recorte da serrilha. Miro-os, ainda a manhã anda a monte. Há quem lhe chame tiques, prefiro resguardos. Com a mesma pinça que me afina as sobrancelhas puxo-os para fora e examino-os detidamente; às vezes com a ponta da língua – eriçam-se, e as estampas ganham brilho. Depois atraio um dos galos, com grãos de bico e um segundo antes que a voz da alba lhe ascenda ondulante do papo enforco-o com a linha do horizonte. Empalho-os e alivio-lhes as penas com um verniz. Estão-me todos gratos, juro por Deus, que me transmitiu: se eu capturar em cada dia novas cristas, as serrilhas dos teus selos manter-se-ão incólumes. Por isso ele não cantam, cá em casa, não é por mal sou até pela agro e pela avicultura biológicas. Ganhei este hábito há cinco anos quando me vi nua, no quarto, à espera do meu noivo, depois dele – acabara de pôr a tocar na sala o The touch of your lips, do Chet Baker – se ter escapulido pela janela. Gosto muito dos meus lábios, é do que mais gosto no meu corpo. Ele também, jurava, catucando-me com o seu bico de galo.» 29/12/2019 Como de costume, trouxe para esta semana de recolhimento na praia o dobro dos livros de que serei capaz de ler; trouxemos o dobro de comida de que seremos capazes de consumir; suponho que terei trazido o dobro dos ácaros, o dobro das espectativas, o dobro da impaciência; toda a vida arrastei comigo o dobro dos filhos que os meus amigos aturavam; tive o dobro dos casamentos, o dobro de inconsciência e irresponsabilidade; bebi o dobro do que me era devido (embora agora tenha trazido metade de bebidas do costume, o corpo pede e eu obedeço); escrevo, dizem-me, o dobro do que é comum escrever-se anualmente; tenho uma temperatura corporal, em média, um grau acima da que é comum, tive uma namorada que me chamava A minha botijinha; transpiro o dobro dos comuns mortais, é um ver se te avias; durmo, de comum, metade do que as outras pessoas dormem; peço sempre, numa encomenda, o dobro do tempo que preciso para a cumprir e metade do dinheiro que merecia (houve uma mulher que me chamava O meu idiota de estimação); é-me, pelo que é dado avaliar, duas vezes mais difícil cumprir um dever, tratar de burocracias (acabo sempre por pagar multas), escrever relatórios, etc.; no entanto sinto-me a pessoa mais desocupada do mundo, tortura-me a preguiça, o meu pendor para a procrastinação (nisto, a minha mulher, que acaba de ter uma grande ideia de editora, é absolutamente igual, e por isso levámos dezasseis anos para casar), assusta-me a minha moleza. Se houvesse um epitáfio justo, seria: Quem aqui jaz não conseguiu ter a arte do caracol, apesar da pretensão! 30/12/ 2019 Deito-me um pouco a ler na rede e só ouço o mar, o trinado dos pássaros, grilagens, os espanta-espíritos, zunzum dos besouros que têm a sua casa no tronco, atrás da rede. Não sei nomear nenhum destes pássaros e também o ar me parece inominável. Se olhar detidamente o jardim, não saberei o nome de metade das flores, arbustos e árvores. Este estado lacunar, paradoxalmente, transmite-me uma grande segurança. É como estar rodeado de gente que fala uma língua que desconheço – não me causa angústia. Nem pesar. Só me dá paz aquilo que desconheço. Como adquiri esta confiança no homem, no mundo? Fosse eu crente e consideraria esta uma das provas da existência de Deus! 30/12/2019 Com as asas de quantos milhares de anjos caídos se fez a espuma do mar? Uma imagem justa para os tempos de Rilke, hoje, para não ser pires, só se ajusta aos entardeceres, em finais de ano muito solitários, como este que viemos passar à Macaneta, só eu, a Teresa e as miúdas. Deve ser o último ano em que a Luna de 15 não exige passar com as amigas em festas ou discotecas. Temos de o aproveitar. A Teresa fez um arroz de cogumelos magnífico ( – com cogumelos, curgetes, um nico de bacon, azeite e alho), e fomos depois à preamar tentar apanhar ameijoas. Da última vez que aqui passámos o “réveillon” (faz dois anos) ouvíamos Toward the sea, de Takemitsu, e eu escrevi: «É ao fim da tarde que a praia fica dourada,/ quando amansa o coração das dunas/ e os caranguejos reaparecem, na mira / de chorões, catando os últimos pedúnculos da luz.// A noite não retrocede.// Cada dia que nasce é novo, a noite/ é uma e não retrocede./ Decanta-se, porém, a resistência,/ apura-se como o vinho e amola as lâminas/ para o intérmino combate.// Inantecipável, meu amor, a Arca ascende, / da ordenação das vinhas/ para o extático desarme da música.» As circularidades não nos cercam, bicefalam-nos, no amor, na música, no eterno retorno do dia, no regurgito com que cada final de ano deixa emergir da sua matéria suja o broto de uma nova era – nesta crónica. Segundo o Youtube, uma profecia muito seguida dava o fim do mundo para 28 de Dezembro de 2019. Escapamo-nos de mais essa, meu amor. Caiu-me bem o gin desta tarde.
Vida Nova Gisela Casimiro - 10 Jan 2020 [dropcap]T[/dropcap]anto era tempo de partida que a avó se foi, sem ninguém dar por ela sair da casa habitada durante oitenta e oito anos. Um último Natal e, dois dias depois, uma ida silenciosa e serena, como quem diz: “Vocês cuidaram de mim mas, agora, finalmente, posso levantar-me e ir, vejam, afinal ainda consigo fazer coisas sozinha”. E lá foi, deixando para trás o eco da sua gargalhada inconfundível e todos os bons conselhos que nos deu. Foi sem falar e sem que as máquinas a traíssem. Foi sem que ninguém percebesse. No entanto, ninguém foi mais notado do que ela, entre a outra casa e o hospital. A doença prolongada faz isso. O amor também. E ela espalhou o seu, no mínimo, por mais três gerações. O que será do tempo e do espaço que ela ocupou aos que lhe eram mais próximos? Talvez nem eles saibam ainda. Talvez ainda seja cedo para fazer mais do que contemplar o vazio. Mas desconfio que as crianças ainda vejam a bisa e se riam com ela. Desconfio que as crianças saberão exactamente o que fazer. Que elas, uma e outra vez, ensinarão aos adultos o que é viver. Que é preciso fazê-lo. E que nem as crianças nem a avó terão lido Valéry. É outra vez aquela fase em que toda a gente parece estar com um bebé a caminho ou acabado de chegar. As visitas, os vídeos e as fotos ocupam a agenda e o telemóvel. Dou por mim a pensar em como pôde a vida ser antes destas chegadas que parecem, assim de repente, de quem esteve sempre ali. Poderia ser um grande motivo de preocupação, a ameaça de guerra. Mas um bebé ocupa tanto a barriga da mãe como tudo o resto. Em “Conhecereis a Nossa Velocidade”, uma das personagens de Dave Eggers declara: “Há viagens e há bebés. O resto é trabalheira e morte.” Começa um novo ano e somos obrigados a confrontar-nos com as promessas de falhar à la Pedro Chagas Freitas e a concluir que ele esteve, este tempo todo, a falar das resoluções de ano novo. Em reuniões de trabalho ou no Instagram, as listas são muito semelhantes. Dou por mim a fazer listas para os outros, como todas as pessoas que adoram listas e acham que sabem o que é melhor para alguém. Mas as listas que anunciamos publicamente não são, também elas, para mostrar aos outros? Penso na minha própria lista, evito-a, destruo e refaço-a. Dou por mim a falhar um ou outro aspecto e ainda só passou uma semana da não consensual nova década. O meu último momento vergonhoso de 2019 foi, ao sair de casa no dia 31 para deixar comes e bebes em casa de uma amiga, ter pedido ao motorista da Uber que me esperasse, pois ainda precisaria de ir ao teatro. Ricardo III, de Thomas Ostermeier, no Dona Maria II. A maravilha total. O motorista acedeu. Subi, desci e dirigi-me ao carro cinzento em quatro piscas frente ao prédio. Porta trancada. Bati e nada. Vidro da frente. Bato. O dono desce o vidro e olha-me, muito sério. Peço desculpa, olho para a frente e vejo um carro cinzento em quatro piscas. Entro. Conto o que acabou de acontecer. Rimos até ao teatro. O meu primeiro momento vergonhoso de 2020 foi, continuando com o dramatismo que define quer a minha vida quer a cultura que consumo, ter ido assistir ao querido “Que mal fiz eu a Deus agora?”, ver-me a braços com um menu pipoca mais refrigerante e, tendo chegado cedo ao cinema, em pleno dia 1, pousar a bebida no chão, à falta de suporte, e as pipocas no banco ao lado. Equilíbrio perfeito, até o dito ter tombado, sozinho, para o banco e para o colo da ocupante do banco ao lado, num momento em que, já em modo sala cheia, aquele lugar, ainda para mais no topo, se tornou, de repente, mais cobiçado que o trono mais falado dos últimos anos. Até ao filme começar, tive de desiludir umas cinco pessoas que queriam sentar-se ali. Mas só um senhor conquistou o Popcorn Throne. À saída do filme, pediu desculpa por ter-se sentado nas minha pipocas. Como dizia a alguém de quem gosto muito outro dia, estranhamente, não dei por mim a querer ser menos parva em 2020. Há quem saiba dizer onde se encontra no tempo da sua vida. Eu observei sempre as minhas mãos sem saber ou acreditar que cumpriria o comprimento da linha da vida. Tenho umas linhas bem longas e vincadas. Não sei onde me encontro, se falta muito mais para a frente do que o que esteve para trás. Seria assim, idealmente, não é? No entanto, para tantos e tantas, a dificuldade de viver é tão avassaladora que envelhecer nem é uma hipótese. A mente não chega lá. Quanto a mim, gosto de viver. Apenas nunca me imaginei a envelhecer, como se não fosse lá chegar sem tê-lo imaginado. Como se fosse desenhando a minha existência, ou escrevendo-a, ao longo da própria vida. Independentemente das mãos e de tudo o resto. Penso no que dizer a todos estes bebés. Mas é tão mais bonito e importante o que eles me dizem quando me olham, quando dormem, quando fazem birras e quando sorriem. É maravilhoso e tolo o tempo que podemos passar a olhar para eles. No fundo, precisamos tanto deles como o contrário, ou mais até.
Parada | Ano Novo Chinês celebrado no centro e no norte de Macau Pedro Arede - 10 Jan 2020 Orçamentado em 28,3 milhões de patacas, o evento realiza-se no terceiro e no oitavo dia do Ano Novo Lunar (27 de Janeiro e 1 de Fevereiro) e conta com um total de 34 grupos de animação, desfile de 18 carros alegóricos, concertos e fogo-de-artifício [dropcap]“2[/dropcap]020, ano do rato, é o ano da dupla Primavera e é o ano propício para o casamento”, foi desta forma que o director substituto da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Cheng Wai Tong deu ontem o mote para a apresentação do programa da Parada de Celebração do Ano do Rato, que terá lugar no terceiro e no oitavo dia do Ano Novo Lunar (27 de Janeiro e 1 de Fevereiro). A parada, que terá lugar no centro e na zona norte da cidade, vai contar com desfiles de carros alegóricos, espectáculos culturais, fogo-de-artifício e vários passatempos. “Ao longo do tempo temos vindo a promover o nível da qualidade da parada de recepção do Novo Ano Lunar, esperando melhorar a organização de cada edição (…), pois queremos com este grande evento do ano, proporcione uma atmosfera festiva e repleta de cultura e tradições chinesas a todos”, partilhou Cheng Wai Tong. Assim, a primeira parada agendada para 27 de Janeiro terá início a partir das 20h no centro da cidade, mais precisamente na Praça do Lago Sai Van, em frente à Torre de Macau. O espectáculo abre com dança aérea e acrobacias que darão início a um desfile de 18 carros alegóricos, acompanhados de 34 grupos de animação locais e estrangeiros, que seguirão pela Avenida Dr. Sun Yat Sen, com ponto de chegada no Centro de Ciência de Macau. Antes disso, a partir das 17h30 haverá também lugar para actuações diversas que antecedem o evento principal da noite, que irá contar com a presença de celebridades de Hong Kong e Macau como Selena Lee, Paisley Hu e Mandy Wong. Pelas 21h45 haverá um espectáculo de fogo-de-artifício com a duração de 15 minutos, na zona ribeirinha em frente à Torre de Macau. Já as celebrações do dia 1 de Fevereiro, oitavo dia do Ano Novo Lunar, terão início pelas 20 horas e contará com um desfile dos 18 carros alegóricos, que partirão da Rua Norte do Patane, passando pela Avenida do Conselheiro Borja, Estrada do Arco, Estrada da Areia Preta, Avenida de Venceslau de Morais, Rua Quatro do Bairro da Areia Preta, Avenida da Longevidade e Rua do Mercado de Iao Hon. O cortejo segue depois em direcção ao ponto de chegada situado no Jardim do Mercado do Iao Hon, onde se realizará um espectáculo de encerramento que conta com actuações de artistas de Hong Kong e Macau como Louis Yuen, Germano Guilherme, Elise Lei, Elvin Chio, BoBo Chan e Kenny Lei. De referir ainda que A Marcha do Alto do Pina, vencedora da última edição das marchas populares de Lisboa, será um dos 34 grupos que irão participar na parada. Questionado sobre o número de espectadores esperado para este ano, o director substituto da DST, Cheng Wai Tong, disse esperar uma afluência semelhante à do ano passado, ou seja, entre 80 mil a 90 mil pessoas. Orçamento inflaccionado “Temos mais grupos de animação locais e também maior inflação”, foi desta forma que Cheng Wai Tong justificou ontem o orçamento de 28,3 milhões de patacas dedicado à Parada de Celebração do Ano Novo Chinês e que reflecte um aumento de três por cento em relação ao ano passado. Confrontado sobre as recentes indicações do Governo para controlar as despesas públicas, o responsável disse apenas que os serviços de turismo receberam ordens de Ho Iat Seng “para racionalizar as despesas em função da rentabilidade e em função dos resultados”. Já sobre tomadas medidas específicas acerca da Pneumonia de Origem Desconhecida de Wuhan, Cheng Wai Tong afirmou que os serviços de turismo estão a acompanhar a situação de perto e que tomarão medidas se vier a ser necessário. “A DST é um dos membros do grupo de contingência e por isso temos vindo a acompanhar a situação. Até ao dia da parada ainda faltam algumas semanas e por isso vamos dar acompanhamento à evolução da pneumonia e claro que, se, entretanto, a pneumonia agravar iremos tomar as medidas necessárias” Questionado sobre se poderá estar em causa a realização do evento devido a um surto da doença, Cheng Wai Tong afirmou que terá de ser avaliado na altura “o grau da situação da pneumonia”. “A DST não pode suspender a parada por si só e teremos de entregar um projecto ao grupo de contingência para avaliar a situação”, acrescentou.
Parada | Ano Novo Chinês celebrado no centro e no norte de Macau Pedro Arede - 10 Jan 2020 Orçamentado em 28,3 milhões de patacas, o evento realiza-se no terceiro e no oitavo dia do Ano Novo Lunar (27 de Janeiro e 1 de Fevereiro) e conta com um total de 34 grupos de animação, desfile de 18 carros alegóricos, concertos e fogo-de-artifício [dropcap]“2[/dropcap]020, ano do rato, é o ano da dupla Primavera e é o ano propício para o casamento”, foi desta forma que o director substituto da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Cheng Wai Tong deu ontem o mote para a apresentação do programa da Parada de Celebração do Ano do Rato, que terá lugar no terceiro e no oitavo dia do Ano Novo Lunar (27 de Janeiro e 1 de Fevereiro). A parada, que terá lugar no centro e na zona norte da cidade, vai contar com desfiles de carros alegóricos, espectáculos culturais, fogo-de-artifício e vários passatempos. “Ao longo do tempo temos vindo a promover o nível da qualidade da parada de recepção do Novo Ano Lunar, esperando melhorar a organização de cada edição (…), pois queremos com este grande evento do ano, proporcione uma atmosfera festiva e repleta de cultura e tradições chinesas a todos”, partilhou Cheng Wai Tong. Assim, a primeira parada agendada para 27 de Janeiro terá início a partir das 20h no centro da cidade, mais precisamente na Praça do Lago Sai Van, em frente à Torre de Macau. O espectáculo abre com dança aérea e acrobacias que darão início a um desfile de 18 carros alegóricos, acompanhados de 34 grupos de animação locais e estrangeiros, que seguirão pela Avenida Dr. Sun Yat Sen, com ponto de chegada no Centro de Ciência de Macau. Antes disso, a partir das 17h30 haverá também lugar para actuações diversas que antecedem o evento principal da noite, que irá contar com a presença de celebridades de Hong Kong e Macau como Selena Lee, Paisley Hu e Mandy Wong. Pelas 21h45 haverá um espectáculo de fogo-de-artifício com a duração de 15 minutos, na zona ribeirinha em frente à Torre de Macau. Já as celebrações do dia 1 de Fevereiro, oitavo dia do Ano Novo Lunar, terão início pelas 20 horas e contará com um desfile dos 18 carros alegóricos, que partirão da Rua Norte do Patane, passando pela Avenida do Conselheiro Borja, Estrada do Arco, Estrada da Areia Preta, Avenida de Venceslau de Morais, Rua Quatro do Bairro da Areia Preta, Avenida da Longevidade e Rua do Mercado de Iao Hon. O cortejo segue depois em direcção ao ponto de chegada situado no Jardim do Mercado do Iao Hon, onde se realizará um espectáculo de encerramento que conta com actuações de artistas de Hong Kong e Macau como Louis Yuen, Germano Guilherme, Elise Lei, Elvin Chio, BoBo Chan e Kenny Lei. De referir ainda que A Marcha do Alto do Pina, vencedora da última edição das marchas populares de Lisboa, será um dos 34 grupos que irão participar na parada. Questionado sobre o número de espectadores esperado para este ano, o director substituto da DST, Cheng Wai Tong, disse esperar uma afluência semelhante à do ano passado, ou seja, entre 80 mil a 90 mil pessoas. Orçamento inflaccionado “Temos mais grupos de animação locais e também maior inflação”, foi desta forma que Cheng Wai Tong justificou ontem o orçamento de 28,3 milhões de patacas dedicado à Parada de Celebração do Ano Novo Chinês e que reflecte um aumento de três por cento em relação ao ano passado. Confrontado sobre as recentes indicações do Governo para controlar as despesas públicas, o responsável disse apenas que os serviços de turismo receberam ordens de Ho Iat Seng “para racionalizar as despesas em função da rentabilidade e em função dos resultados”. Já sobre tomadas medidas específicas acerca da Pneumonia de Origem Desconhecida de Wuhan, Cheng Wai Tong afirmou que os serviços de turismo estão a acompanhar a situação de perto e que tomarão medidas se vier a ser necessário. “A DST é um dos membros do grupo de contingência e por isso temos vindo a acompanhar a situação. Até ao dia da parada ainda faltam algumas semanas e por isso vamos dar acompanhamento à evolução da pneumonia e claro que, se, entretanto, a pneumonia agravar iremos tomar as medidas necessárias” Questionado sobre se poderá estar em causa a realização do evento devido a um surto da doença, Cheng Wai Tong afirmou que terá de ser avaliado na altura “o grau da situação da pneumonia”. “A DST não pode suspender a parada por si só e teremos de entregar um projecto ao grupo de contingência para avaliar a situação”, acrescentou.
Wuhan | Serviços de Saúde mantêm medidas de prevenção Hoje Macau - 10 Jan 2020 [dropcap]N[/dropcap]o seguimento de uma investigação preliminar que identificou a doença respiratória de Wuhan como um novo tipo de coronavírus, os Serviços de Saúde (SS) de Macau anunciaram que vão manter as actuais medidas de prevenção. Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de prevenção e doenças infeciosas e vigilância da doença do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos SS, revelou que as autoridades locais vão entrar em contacto com os departamentos chineses responsáveis a fim de saber mais sobre a forma de detecção e tratamento da pneumonia. Citada pela mesma fonte, Leong Iek Hou apontou ainda que as medidas adaptadas pelo Governo são adequadas para doenças infecciosa como o SARS e MERS. No caso de se tratar de uma doença da gravidade da pneumonia atípica, Leong Iek Hou afirmou que Macau está preparado para dar resposta e que são desnecessários ajustamentos enquanto não existirem mais informações quanto à agressividade do novo vírus.
Wuhan | Serviços de Saúde mantêm medidas de prevenção Hoje Macau - 10 Jan 2020 [dropcap]N[/dropcap]o seguimento de uma investigação preliminar que identificou a doença respiratória de Wuhan como um novo tipo de coronavírus, os Serviços de Saúde (SS) de Macau anunciaram que vão manter as actuais medidas de prevenção. Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de prevenção e doenças infeciosas e vigilância da doença do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos SS, revelou que as autoridades locais vão entrar em contacto com os departamentos chineses responsáveis a fim de saber mais sobre a forma de detecção e tratamento da pneumonia. Citada pela mesma fonte, Leong Iek Hou apontou ainda que as medidas adaptadas pelo Governo são adequadas para doenças infecciosa como o SARS e MERS. No caso de se tratar de uma doença da gravidade da pneumonia atípica, Leong Iek Hou afirmou que Macau está preparado para dar resposta e que são desnecessários ajustamentos enquanto não existirem mais informações quanto à agressividade do novo vírus.
Saúde | Vírus da gripe “está muito activo em Macau” Hoje Macau - 10 Jan 2020 [dropcap]N[/dropcap]o seguimento da monitorização que resultou na detecção de um caso de infecção colectiva de gripe numa escola e no diagnóstico de um caso grave de gripe detectado num residente de Macau com 69 anos, os Serviços de Saúde (SS) divulgaram uma nota oficial onde alertam para o facto de “o vírus da gripe em Macau está muito activo”. Prevendo que a situação se venha agravar em breve, os SS apelaram novamente os cidadãos para a vacinação e bons hábitos de higiene e de ventilação do ar. Segundo os SS, desde o mês de Setembro até agora, foram registados 26 casos de gripe conjunta com pneumonia, dos quais vinte não tinham administrados à vacina contra gripe. Neste momento, nove ainda estão internados, sete do sexo masculino e duas do sexo feminino, com idades compreendidas entre 28 e os 98 anos, dos quais um é grave. Os demais doentes encontram-se num estado clínico considerado estável.
Saúde | Vírus da gripe “está muito activo em Macau” Hoje Macau - 10 Jan 2020 [dropcap]N[/dropcap]o seguimento da monitorização que resultou na detecção de um caso de infecção colectiva de gripe numa escola e no diagnóstico de um caso grave de gripe detectado num residente de Macau com 69 anos, os Serviços de Saúde (SS) divulgaram uma nota oficial onde alertam para o facto de “o vírus da gripe em Macau está muito activo”. Prevendo que a situação se venha agravar em breve, os SS apelaram novamente os cidadãos para a vacinação e bons hábitos de higiene e de ventilação do ar. Segundo os SS, desde o mês de Setembro até agora, foram registados 26 casos de gripe conjunta com pneumonia, dos quais vinte não tinham administrados à vacina contra gripe. Neste momento, nove ainda estão internados, sete do sexo masculino e duas do sexo feminino, com idades compreendidas entre 28 e os 98 anos, dos quais um é grave. Os demais doentes encontram-se num estado clínico considerado estável.
Governo rejeita conclusões do relatório do Congresso norte-americano Andreia Sofia Silva - 10 Jan 2020 [dropcap]O[/dropcap] Executivo de Ho Iat Seng emitiu ontem um comunicado a rejeitar as conclusões do mais recente relatório do Congresso norte-americano, que lamenta a ausência de sufrágio universal no território. O relatório é relativo ao ano de 2019. Em resposta, o Executivo destaca o sucesso de “Um País, Dois Sistemas” nos 20 anos desde o estabelecimento da RAEM. “A prática do princípio de ‘Um País, Dois Sistemas’ provou as suas enormes vantagens e vitalidade. O relatório da parte norte-americana demonstra ‘cegueira selectiva’ intencional, com acusações infundadas e interferindo grosseiramente nos assuntos de Macau, que são uma questão interna da República Popular da China. Nesse sentido, a RAEM expressa a sua firme oposição”, lê-se. Neste sentido, o Executivo local pede que à Administração e à comissão do Congresso norte-americano que produziu o relatório que “libertem as afirmações de quaisquer preconceitos e apenas respeitem os factos”. É também exigido que os Estados Unidos “se abstenham de práticas equivocadas e passem a agir em prol do desenvolvimento das relações sino-americanas e da cooperação e intercâmbio regional entre a RAEM e os EUA”. Críticas a leis As críticas do Congresso norte-americano dizem respeito às últimas eleições para o cargo de Chefe do Executivo, que teve Ho Iat Seng como único candidato. De acordo com o Jornal Tribuna de Macau (JTM), o documento aponta que o actual governante “ganhou as eleições depois de receber “392 de 400 votos possíveis da Comissão Eleitoral do CE, do qual muitos membros são considerados apoiantes do Governo Central”. A comissão defende que tanto Pequim como a RAEM devem definir um calendário para alterar a lei eleitoral com o objectivo de implementar o sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo, cumprindo o que está expresso na Convenção Internacional de Direitos Civis e Políticos, ratificada pela RAEM. O relatório norte-americano faz ainda referências à Lei da Cibersegurança, aprovada o ano passado, e Lei do Hino Nacional, destacando os votos contra dos três deputados do campo pró-democracia, escreve o JTM.
Pobres de nós João Romão - 10 Jan 20205 Mar 2020 [dropcap]O[/dropcap] relatório sobre o desenvolvimento humano que as Nações Unidas publicaram recentemente (Human Development Report 2019) mostra com a evidência necessária a brutalidade das injustiças do capitalismo global contemporâneo. O exaustivo trabalha documenta com precisão diferentes aspectos e determinantes das desigualdades atuais, incluindo detalhadas análises de estruturas económicas e sociais, suas particularidades geográficas, diferenças ainda marcantes entre homens e mulheres, impactos díspares das alterações climáticas ou preocupações crescentes para o futuro relacionadas com o desenvolvimento tecnológico e a educação. Em todo o caso, só o parágrafo de abertura é suficiente para se perceber a dimensão dos problemas que enquanto comunidade não conseguimos, sequer remotamente, resolver: “em cada país, muita gente tem limitadas perspectivas de um futuro melhor. À falta de esperança, objectivos ou dignidade, observam desde as margens da sociedade como outros progridem para ainda maior prosperidade. Em todo o mundo, muitas pessoas escaparam à pobreza extrema, mas ainda mais são as que não têm nem as oportunidades nem os recursos para assumir o controle das suas vidas. Muito frequentemente, género, etnia ou a riqueza dos pais ainda determina o lugar de cada pessoa na sociedade”. É minha a tradução livre do inglês e o documento está acessível na página de internet do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Talvez fosse momento para se pensar melhor o que queremos enquanto comunidade que habita este precário planeta, quando se chega a este momento histórico de extraordinária capacidade tecnológica, magníficas fortunas acumuladas em tantos lugares, tamanha capacidade de produzir riqueza a partir dos mais variados recursos, e ainda assim não somos capazes de assegurar um nível de vida minimamente decente para uma tão larga parte da população global. Nem se trata de uma qualquer reivindicação de radicalidade revolucionária: é tão só o cumprimento básico do ideário liberal, tão hegemonicamente aceite em todo o mundo como referência normativa para uma sociedade livre e democrática, que também não deixa de exigir (ou pressupor) que toda a gente deve ter acesso em condições adequadas aos instrumentos que permitam o exercício efetivo dessa liberdade, autonomia e suficiência. Analisar em detalhe toda a importante informação que o relatório revela seria inadequado para esta singela coluna, mas socorro-me de ilustrativo exemplo apresentado logo no início: o de duas crianças nascidas no ano 2000, uma num país muito desenvolvido e outra num país pouco desenvolvido, seguindo os critérios de desenvolvimento humano da ONU, que vão muito para além da riqueza produzida – o famigerado PIB per capita, que tanto entusiasma a generalidade dos economistas. Enquanto a pessoa nascida no país desenvolvido tem 50% de hipóteses de estar na Universidade aos 20 anos, a que nasceu no país menos desenvolvido tem 17% de hipóteses de estar morta. Pelo contrário, 3% das pessoas nascidas em países pouco desenvolvidos estão na Universidade aos 20 anos, enquanto que apenas 1% das nascidas nos países mais desenvolvidos terão morrido. Caminhos amplamente divergentes, portanto, com desigualdades que o género ou a etnia tendem a amplificar. O relatório analisa com detalhe diferentes aspetos que conduzem a estas divergências: desde logo há as questões tradicionais ligadas à educação, qualificações e tecnologia, com as suas manifestas implicações sobre a produtividade, a racionalidade na utilização de recursos limitados ou a eficácia dos sistemas económicos, mas também há novos problemas globais com impactos geográfica e socialmente diferenciados – as maiores vítimas das inundações e cheias resultantes das alterações climáticas em curso são populações pobres que vivem em zonas de maior risco e menor desenvolvimento das infra-estruturas. Na realidade, ainda que se salientem progressos manifestos em aspetos que tradicionalmente caracterizam a pobreza extrema (défices de rendimentos, carências alimentares, escassez de habitação), os dados também mostram que são crescentes as desigualdades no acesso a infra-estruturas e serviços avançados ou à educação e conhecimento, que a prazo condicionam irremediavelmente o acesso à representatividade política e ao dinamismo económico que inevitavelmente continuarão a demarcar territórios de exclusão. Não se trata de um relatório produzido por uma organização que se posicione com particular radicalismo crítico no atual sistema político e económico – e até podia ser, que não faltam razões para isso. Trata-se, pelo contrário, da mais consensual das organizações internacionais, onde todos os países têm voz e assento, mesmo que uns melhor sentados que outros. É, também, a voz dos governos, e não dos povos ou de organizações independentes dos poderes políticos. E quando estas vozes falam assim, talvez seja mais evidente a urgência de serem ouvidas. E mais do que isso: de contribuírem para abrir caminhos novos para problemas velhos que se vão agravando à medida que enriquecemos. Valem pouco as celebrações de paz e amor inerentes à quadra vigente e os desejos de novidade para o ano que agora chegou ao nosso calendário quando afinal se vai fazendo tão pouco para mudar o essencial. Em todo o caso, o relatório também traz um sinal de otimismo: em todo o mundo aumenta o número de pessoas que defendem uma distribuição mais igualitária da riqueza produzida. Já não é mau de todo.
O encontro que nunca mais acontece Valério Romão - 10 Jan 20205 Mar 2020 [dropcap]U[/dropcap]ma das poucas coisas por que ansiava possíveis no meu tempo de vida era finalmente encontrarmos vida inteligente extraterrestre. Quando nasci, em 1974, a última missão tripulada à lua tinha ocorrido há dois anos. A febre das conquistas espaciais, alavancada em grande parte pela guerra fria, dissipava-se lentamente. Ainda assim não faltavam literatura, filmes e séries de ficção científica sobre o tema do espaço e da sua exploração, e sentia-se que de algum modo havia uma equivalência entre a produção de um fantástico aparente irrealizável e os romances de Júlio Verne acerca dos mais incríveis feitos humanos: era uma questão de tempo. Quando se perguntava aos miúdos da minha geração o que eles queriam ser, bombeiros e astronautas estavam no topo das respostas mais frequentes. De algum modo, ambas profissões estavam ligadas por uma espécie de abnegação heróica presente em cada uma delas. A maior parte dos putos conhecia apenas um ou dois astronautas – e provavelmente apenas o nome – e quase certamente nenhum bombeiro. Mas o que fascinava a gaiatada não era o lado concreto e desformalizado destas profissões mas, outrossim, a aura que elas transportavam e que claramente remetia para uma heroicidade com contornos de modéstia: uma propunha-se a salvar o mundo civilizado, uma casa de cada vez; a outra almejava expandir esse mesmo mundo, primeiro dentro dos limites das nossas parcas capacidades tecnológicas “um pequeno passo para um homem, mas um passo de gigante para a humanidade”, nas palavras de Neil Armstrong, mas – e sobretudo – mediante o alargamento ciclópico daquilo que era doravante concebível. Com 45 anos agora e espero que ainda algo longe do dia que sempre chega, já não nutro grande esperança de no meu tempo de vida a espécie humana encontrar qualquer sinal de vida inteligente lá fora. Não é só uma questão de pessimismo estrutural, condição que vai recrudescendo à medida que um tipo se aproxima da morte, mas sobretudo de uma manifesta incapacidade de encontrar quaisquer evidências, sejam estas directas ou indirectas, da presença, nem que seja arqueológica, de uma civilização extraterrestre algures. Apesar da quantidade propriamente astronómica de estrelas no universo que albergam planetas possivelmente habitáveis, não há qualquer notícia de que a vida tenha surgido e evoluído num deles ao ponto de podermos detectá-la. A esta contradição entre termos – biliões de estrelas por um lado, zero notícia de vida inteligente por outro – chama-se paradoxo de Fermi. As razões elencadas para justificar este silêncio ou dormência do universo são muitas. A terra parece ser, de facto, um planeta excepcional, a muitos níveis, e talvez a confluência de motivos pelos quais a vida floresceu neste cantinho não seja facilmente repetível. Talvez as civilizações tenham tendência para se autodestruírem antes de conseguirem explorar o espaço em seu redor – sabe Deus como caminhamos sobre esse fio de navalha há largos anos. Talvez as distâncias cósmicas sejam impeditivas da comunicação: olhar para fora, na perspectiva astronómica, equivale a olhar para trás no tempo, e as distâncias são tão avassaladoras que um pingue-pongue de mensagens trocadas pode facilmente levar mais de mil anos a cumprir-se. Talvez o ponto de vista humano seja tão primitivo que não consegue perceber uma possível presença não tão rara de civilizações extraterrestres evoluídas. Ou talvez estas existam, e em abundância, e nos considerem incapazes de as compreender adequadamente – pelo menos por ora. Talvez sejamos apenas a colónia de formigas de uns tipos que se entretêm a olhar para nós quando não têm mais nada que fazer. Por minha parte, e independentemente da justificação que melhor se adequa ao silêncio do universo, reduzi grandemente as expectativas com a idade e proponho-me a uma tarefa bem mais humilde, ainda que igualmente espinhosa: encontrar vida inteligente aqui mesmo, neste cantinho, coisa que parece ser cada vez mais rara.
Scorsese, It is what it is (Parte II) José Navarro de Andrade - 10 Jan 2020 [dropcap]É[/dropcap] então ao cabo de quase duas horas de “O Irlandês” que se dá O Acontecimento. Durante a caprichosa confecção de uma salada, a salada perfeita, Joe Pesci sugere a De Niro que resolva o caso de Al Pacino. (A história do cinema já nos habituou a que no subgénero dos filmes de gangsters, talvez aquele em que a morte esteja mais exposta, muito poucas ordens sejam dadas. As indicações são insinuadas, ou seja, não há transferência de responsabilidade, cada um é senhor dos seus actos e fica individualmente comprometido com as suas consequências. Mais do que uma estratégia judicial é uma determinação moral.) Pela primeira vez De Niro vê-se agrilhoado a um dilema, vicissitude a que fora escapando por se ter restringido a cumprir as tarefas que lhe eram cometidas sem esboço de objecção ou dúvida. Doravante, decida o que decidir na sua consciência para sempre se ferrará o labéu de Judas. Quem irá o irlandês Frank Sheenan trair? Se não cumprir a incumbência homicida, trairá Joe Pesci, o mistagogo a quem deve, mais do que a vida, o ser e a existência (esse identidade que a filha renega castigando o pai com o infinito silêncio das mulheres das tragédias gregas privadas da palavra. Já agora, poucos actores foram vistos a dizerem tanto de lábios fechados como Anna Paquin em “O Irlandês”). Se, por outro lado, assassinar Pacino trairá a confiança supostamente inviolável daquele que lhe foi afiançado guardar e proteger, com quem estreitara laços de amizade, manchando e penhorando ad aeternum a sua credibilidade. Adensa o dilema que Pesci ilibe De Niro pondo a culpa de lado com uma simples frase: “we did all we could for the man.” Durante 20 minutos seguintes “O Irlandês” transfigura-se por completo, desde a cena da salada até à sequência mais trágica do filme, em que para conquistar e merecer um pouco de respeito da filha, De Niro telefona à mulher de Pacino, e sabendo que só a verdade a consolaria mostra-se incapaz de assumir o seu ónus despenhando-se na mentira com um discurso atropelado e cobarde, tornando-se a seus próprios olhos um ser abjecto – um Judas. Até aqui “O Irlandês” fora um filme de diálogos, firmado em prolíficas e destras tomadas em campo / contra-campo, com os planos muito cingidos ao torso dos atores, quase todo em interiores e bastante nocturno. Neste 20 fulminantes minutos abundam os planos exteriores filmados com uma grande angular que diminui as figuras humanas, apequenadas no espaço e com muito ar à volta. São cenas diurnas e o clima é primaveril. Será especulativo, mas não imprudente, evocar de novo a influência de John Ford – talvez o da “trilogia da cavalaria” – nesta forma de enquadrar na vastidão do mundo as suas personagens tolhidas por um pecado original que tentam superar ou ignorar norteando-se apenas pela missão que têm de cumprir. Houve quem se enfadasse com a demora de Scorsese em chegar a este ponto e aferisse essas duas horas como redundantes em relação a “Goofellas.” Mas o movimento dos filmes é de todo antinómico. O andamento de “Goofellas” é em accelerando para a precipitação. Queda que ratifica a traição final de Ray Liotta, reduzido a um “schnuck” suburbano que vem de roupão recolher o jornal à porta pela manhã. É em sentido contrário que corre “O Irlandês;” o percurso de De Niro não só se consolida num modo de vida prático, estável e perfunctório (oposto à euforia criminal de “Goofellas”) como vai mesmo progredindo até à liderança do sindicato, com direito a concorrido jantar de homenagem e baile. A traição é em “Goofellas” o epílogo consumado por um destino; em “O Irlandês” a traição é a tragédia inerente ao livre-arbítrio. Desde o início de “O Irlandês” que Scorsese se defronta com uma dificuldade diegética: como impulsionar a expectativa dramática e insuflar alento emocional numa história cujo desfecho toda a gente prevê? Mal se apresenta a figura de Jimmy Hoffa quem conheça um bocadinho da História dos EUA – essa História que vai cuidadosamente pontuando o filme – sabe que ele desapareceu sem deixar rasto e embora nunca tenha havido nem cadáver nem factos comprobatórios, saberá também que foi a mafia que o suprimiu. Quem desconheça Hoffa mas esteja a par do repertório de Al Pacino discerne que as suas personagens raro morrem com os sapatos calçados. Mas em “O Irlandês” até os virgens da História e da cinefilia pressentem que aquilo é capaz de não acabar bem. Scorsese sabe, portanto, que a magnitude sísmica do dilema que dilacera a existência de De Niro só será partilhada emocionalmente por todas estas espécies de espectadores se estes se resignarem a presenciar um rosário de peripécias que malgrado o seu defluxo narrativo produzem a sensação de não se orientarem para um climax. Ora no cinema há uma ferramenta privilegiada para causar lassitude e desguarnecer a atenção – dilatar o tempo, de modo aparentemente desnecessário. Que não haja equívoco, “O Irlandês” tem a duração exacta e necessária. Pode é não obedecer à medida do tempo fora dele ou do tempo de um espectador que tem outras coisas que fazer além de ficar 3 horas a contemplar um filme.
Associação António de Castro Caeiro - 10 Jan 2020 [dropcap]U[/dropcap]m dos factos experimentados por nós na vida é a lembrança imediata de tempos idos provocada por uma percepção actual da realidade. A formulação teórica deste “facto” pode até inibir a facilidade com que fazemos essa experiência. A psicologia fala de “associação”. Mas já Platão tinha construído o argumento para demonstrar a especificidade da lucidez humana nesse facto. O modo como vivemos o que acontece é o de uma contínua tentativa de reconstituição e interpretação do passado, mas também do presente e do futuro, como se os conteúdos da realidade por si sós fossem insuficientes e não trouxessem consigo nenhuma explicação do que são, mas também porque a sua realidade é fluída. Tal como um som só existe distribuído numa sucessão temporal, mesmo quando admite coexistência e simultaneidade de sons (não apenas uma voz mas uma sinfonia de vozes), assim também qualquer manifestação noutro campo sensorial: uma fragrância (o aroma a sardinha grelhada à tardinha num bairro popular em Lisboa), uma configuração (a variação e esbatimento do céu como plano de fundo cromático à forma do sol a pôr-se: azul claro, escuro, laranja, fogo, púrpura, negro), táctil (palma da mão que acaricia o rosto de alguém), paladar (trincar uma maçã, mastigar, engolir). Todos os fenómenos da realidade são distribuídos no tempo para acontecerem. Sem tempo são como os fenómenos exclusivamente acústicos que dependem quase unicamente da dimensão do tempo para ocorrerem e decorrerem. Assim, tudo o que acontece num só dia passa ao fim desse dia, embora haja situações em aberto que demoram meses, semestres, anos, até a vida inteira a concluir. Outras situações há que não são conclusivas. Mas importa frisar isto. No fim do dia, o que estava na nossa agenda, tendo ou não sido tratado, teve o seu momento, passou, está, mal ou bem, teve cumprido ou não, o seu tempo. Daí que, no fim do dia, quando conversamos com alguém sobre o dia que passou, haja uma reconstituição do que se passou. Não é apenas uma invocação por memória que activa uma percepção passada, com um determinado conteúdo, exactamente como se passou tim tim por tim tim. Ao conversar-se no fim do dia sobre o dia que passou comemora-se, isto é, lembramos a dois ou a três, colectivamente ou a sós na calada da consciência, o que se passou. Temos a oportunidade de reviver outra vez o que foi vivido, como se “realizássemos”, “editássemos”, “contássemos pelas nosssa palavras”, “déssemos a nossa versão”, do que se passou. Mas não adoptamos nenhuma atitude correspondente perante o acto de “realizar”, “editar”, “contar uma versão”, “dizer a verdade”, “expressar um sentido”, “invocar o passado”. É assim que habitual e normalmente estamos “by default” ao conversar sobre o dia vivido, ao contar como foi e ao ouvir dizer ao outro o que lhe aconteceu. De memória e percepção como actos psicológicos não temos nenhuma noção. “Estaríamos feitos” se estivéssemos à espera de aprender com a psicologia o modo de aceder ao passado e de contar o que se passou. Despertamos logo com essa possibilidade, com ela “jogamos” desde sempre, está “aberta”, “disponível” para nós e contamos com essa abertura e disponibilidade nos outros. O que não é nada evidente. Quando olho para o outro no seu ambiente perceptivo ao pé de mim e me conta que esteve em agências bancárias, nas Finanças, eu não “vejo” o WhatsApp meio pelo qual “converso” ou o interior do meu carro, onde tenho a conversa, ou a cara do outro com quem estou. Eu sou atirado para o tempo passado com o compacto implícito, complicado, integrado, mas susceptível de ser desdobrado do que se passou. Correu bem no Banco. Mas nas Finanças!… Eu sou transportado para lá. Não sou eu lá, como se fosse a mim. Eu não preciso de me transportar para lá e tentar pôr-me no lugar do outro de modo altamente reflexivo e teórico. Simplesmente, eu capto a realidade total, concreta e maciça, num ápice, do que o outro me está a contar, num “resumo” disposicional, numa abertura que me permite “espreitar” para dentro das horas infindáveis até ser recebido, para depois ter resolvido o assunto em tão pouco tempo e, depois, ter podido seguir com a sua vida. Como também se pode ter a abertura que permite o transporte num abrir e fechar de olhos que tem a percepção de como foram boas as férias de três semanas passadas por alguém que as aproveitou para descansar. Sente-se desanuviamento, tranquilidade, serenidade, sem o ramerame dos dias a passaram nas três semanas, mas sente-se o transporte telepático e telecinético para lá, seja “lá” onde for, seja “três semana” o que for.
Wuhan | Doença respiratória identificada como novo tipo de coronavírus Hoje Macau - 10 Jan 2020 Uma investigação preliminar identificou uma doença respiratória que infectou dezenas de pessoas numa cidade no centro da China como sendo um novo tipo de coronavírus, informou ontem a imprensa estatal chinesa [dropcap]O[/dropcap]s resultados da investigação foram avançados pela emissora estatal CCTV, mas as autoridades de saúde chinesas ainda não confirmaram as informações. Os coronavírus são uma espécie de vírus que causam infecções respiratórias em seres humanos e animais e são transmitidos através da tosse, espirro ou contacto físico. Alguns destes vírus resultam apenas numa constipação, enquanto outros podem gerar doenças respiratórias mais graves, como a pneumonia atípica, ou síndrome respiratória aguda grave (SARS), que entre 2002 e 2003 matou globalmente mais de oito mil pessoas. A investigação citada pela CCTV identifica a doença que infectou 59 pessoas na cidade de Wuhan, centro da China, como um novo coronavírus, diferente daqueles que foram identificados anteriormente. Segundo a Comissão Municipal de Saúde de Wuhan, sete dos pacientes encontram-se em estado crítico e os restantes em condição estável. Oito pacientes receberam alta na quarta-feira, sem apresentar qualquer sintoma de pneumonia, avançou a agência noticiosa oficial Xinhua. Os especialistas detectaram o novo coronavírus em 15 dos 59 casos de Wuhan, detalhou a CCTV, acrescentando que mais pesquisas serão realizadas antes de se obter uma conclusão. Expansão regional Possíveis casos da mesma doença foram relatados em Hong Kong e na Coreia do Sul, envolvendo pessoas que viajaram recentemente a Wuhan. Desde o final de 2019, os hospitais públicos de Hong Kong relataram 38 pacientes com febre, infecção respiratória ou sintomas de pneumonia, após visitas recentes a Wuhan. Vinte e um desses pacientes já receberam alta, informou na quarta-feira a Autoridade Hospitalar de Hong Kong. Não foram encontrados casos graves relacionados aos de Wuhan, segundo Sophia Chan, chefe de saúde de Hong Kong. Na Coreia do Sul, uma mulher chinesa que trabalha para uma empresa sul-coreana foi diagnosticada na terça-feira com pneumonia, disseram os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças da Coreia. Nos últimos anos, a síndrome respiratória do Oriente Médio, um coronavírus que começou na Jordânia e na Arábia Saudita, em 2012, alastrou-se por cerca de duas dezenas de países, tendo sido relatados cerca de 2.500 casos confirmados em laboratório, incluindo mais de 800 mortes.
Wuhan | Doença respiratória identificada como novo tipo de coronavírus Hoje Macau - 10 Jan 2020 Uma investigação preliminar identificou uma doença respiratória que infectou dezenas de pessoas numa cidade no centro da China como sendo um novo tipo de coronavírus, informou ontem a imprensa estatal chinesa [dropcap]O[/dropcap]s resultados da investigação foram avançados pela emissora estatal CCTV, mas as autoridades de saúde chinesas ainda não confirmaram as informações. Os coronavírus são uma espécie de vírus que causam infecções respiratórias em seres humanos e animais e são transmitidos através da tosse, espirro ou contacto físico. Alguns destes vírus resultam apenas numa constipação, enquanto outros podem gerar doenças respiratórias mais graves, como a pneumonia atípica, ou síndrome respiratória aguda grave (SARS), que entre 2002 e 2003 matou globalmente mais de oito mil pessoas. A investigação citada pela CCTV identifica a doença que infectou 59 pessoas na cidade de Wuhan, centro da China, como um novo coronavírus, diferente daqueles que foram identificados anteriormente. Segundo a Comissão Municipal de Saúde de Wuhan, sete dos pacientes encontram-se em estado crítico e os restantes em condição estável. Oito pacientes receberam alta na quarta-feira, sem apresentar qualquer sintoma de pneumonia, avançou a agência noticiosa oficial Xinhua. Os especialistas detectaram o novo coronavírus em 15 dos 59 casos de Wuhan, detalhou a CCTV, acrescentando que mais pesquisas serão realizadas antes de se obter uma conclusão. Expansão regional Possíveis casos da mesma doença foram relatados em Hong Kong e na Coreia do Sul, envolvendo pessoas que viajaram recentemente a Wuhan. Desde o final de 2019, os hospitais públicos de Hong Kong relataram 38 pacientes com febre, infecção respiratória ou sintomas de pneumonia, após visitas recentes a Wuhan. Vinte e um desses pacientes já receberam alta, informou na quarta-feira a Autoridade Hospitalar de Hong Kong. Não foram encontrados casos graves relacionados aos de Wuhan, segundo Sophia Chan, chefe de saúde de Hong Kong. Na Coreia do Sul, uma mulher chinesa que trabalha para uma empresa sul-coreana foi diagnosticada na terça-feira com pneumonia, disseram os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças da Coreia. Nos últimos anos, a síndrome respiratória do Oriente Médio, um coronavírus que começou na Jordânia e na Arábia Saudita, em 2012, alastrou-se por cerca de duas dezenas de países, tendo sido relatados cerca de 2.500 casos confirmados em laboratório, incluindo mais de 800 mortes.
Economia | Carne de porco mantém inflação no nível mais alto em sete anos Hoje Macau - 10 Jan 2020 [dropcap]A[/dropcap] subida do preço da carne de porco, em Dezembro, manteve a inflação na China ao nível mais alto em sete anos, apesar dos esforços para reduzir a escassez causada por um surto de peste suína. O preço da carne de porco, a principal fonte de proteína animal na cozinha chinesa, quase duplicou, e puxou a inflação em todo o sector alimentar, agravando os efeitos da desaceleração da economia chinesa e de uma prolongada guerra comercial com os Estados Unidos. O preço da carne de porco subiu 97 por cento, em relação ao mesmo mês do ano passado, apesar do aumento das importações e da colocação no mercado pelas autoridades de dezenas de milhares de toneladas de carne suína que mantêm em reserva. Os preços dos alimentos subiram, no conjunto, 17,4 por cento, fixando a inflação em 4,5 por cento, acima da meta oficial definida pelo Partido Comunista Chinês, de 3 por cento, no maior aumento desde 2012. A China produz e consome dois terços da carne suína do mundo, mas o país teve que abater milhões de porcos, após um surto de peste suína que se espalhou por todo o continente chinês, gerando também efeitos inflacionários no resto do mundo, à medida que os importadores chineses compram mais na Europa, Estados Unidos ou Brasil. Em Outubro passado, o Departamento de Agricultura dos EUA previu que a produção de carne suína da China em 2020 cairá 25 por cento, em relação ao ano anterior. A diferença, de 12 milhões de toneladas, seria equivalente a quase toda a produção anual nos EUA.