Pelo menos cinco mortos e 17 feridos em ataque à bomba nas Filipinas Hoje Macau - 24 Ago 2020 [dropcap]P[/dropcap]elo menos cinco soldados morreram hoje e 17 outros militares e civis ficaram feridos num ataque à bomba numa cidade no sul das Filipinas, apesar da segurança reforçada motivada pelas ameaças do movimento extremista islâmico Abu Sayyaf. O porta-voz militar regional, capitão Rex Payot, e a polícia disseram que as explosões danificaram lojas e dois camiões do exército em Jolo, na província de Sulu. Uma informação inicial indicava que a primeira bomba foi colocada numa motocicleta estacionada. Uma segunda explosão foi ouvida na zona pouco depois, mas não ficou claro se causou mais vítimas ou danos no centro da cidade, que foi isolado por soldados e polícias. Dois oficiais militares disseram que cinco soldados do exército morreram na explosão inicial, mas não forneceram outros detalhes. O ataque não foi reivindicado até ao momento, mas os militantes de Abu Sayyaf foram responsabilizados pela maioria dos atentados mortais em Sulu e nas províncias remotas, onde estão presentes. Os militares estão a empreender uma ofensiva há meses contra o Abu Sayyaf, um grupo pequeno, mas violento, alinhado com o Estado Islâmico e colocado na lista negra dos Estados Unidos e das Filipinas por atentados, sequestros de resgate e decapitações.
Covid-19 | Timor-Leste foi país do Pacífico que mais gastou na resposta à pandemia Hoje Macau - 24 Ago 2020 [dropcap]T[/dropcap]imor-Leste foi o país do Pacífico que mais gastou na resposta à pandemia, em termos do Produto Interno Bruto (PIB), com a maior fatia em apoio social, segundo um estudo da Universidade Nacional Australiana (ANU). Em concreto, Timor-Leste gastou na sua resposta à pandemia da covid-19 o equivalente a 8,3% do PIB não petrolífero, mais dois pontos percentuais que o segundo país com mais gastos, Tonga, que dedicou às várias medidas cerca de seis por cento do PIB. A análise, dos professores Stephen Howes e Sherman Surandiran, foi publicada hoje num blogue do Centro de Política de Desenvolvimento da Crawford School of Public Policy da Universidade Nacional Australiana, em Camberra. O texto compara dados de vários países do Pacífico – Fiji, Papua Nova Guiné, Samoa, Ilhas Salomão, Tonga e Vanuatu e Timor-Leste – e analisa a forma em que os vários países responderam à pandemia da covid-19. Para isso olha para as percentagens de gastos em seis categorias – saúde, apoio social, apoio às empresas, segurança alimentar, infra-estruturas e outras despesas –, e para o que isso representa em termos de PIB. Em termos de categorias de gasto, Timor-Leste dedicou cerca de 43% do total da resposta à covid-19 em medidas de apoio social directo a famílias, segundo valor mais elevado atrás do Vanuatu, que dedicou a este componente 72% do total dos seus gastos. Em média, os gastos líquidos no apoio social foram a principal prioridade deste grupo de países, representando cerca de 22% dos gastos totais dos países abrangidos, acima dos 21% em despesas na saúde, 13% no apoio empresarial, nove% em segurança alimentar e 4% em infra-estruturas. Admitindo alguma limitação nos dados disponíveis, o estudo coloca uma fatia de 31% em “outras despesas” – que inclui gastos como forças de segurança, medidas de contingência e fundos sectoriais. Os gastos dos países em apoio social representaram 1% do PIB, com as despesas em saúde a ser de 0,5% do produto, e os apoios às empresas a representarem 0,4%. Em Timor-Leste o apoio social representou 3,5% do PIB com as restantes categorias a ficarem abaixo dos 0,1%. Seis dos sete países reportam gastos em apoio social, apoio às empresas e segurança alimentar, e cinco registaram despesas em saúde, com apenas dois a reportarem despesas com infra-estruturas. “Este resultado é inesperado porque os países do Pacífico têm sido criticados por terem redes fracas de apoio social financiadas pelo Governo fraco. A maior parte dos países do mundo que não têm um sistema de proteção social em vigor estão no Pacífico”, assinalou-se no estudo. Ainda que os gastos em apoio social tenham sido uma “clara prioridade”, no estudo notou-se as abordagens “muito diferentes” adoptadas nos vários países. “Timor-Leste destaca-se tanto por destinar a maior quantidade de fundos para este objectivo (3,5% do PIB), como por adotar uma abordagem universal e não apenas a focar-se no sector formal”, explica-se, indicando um apoio de 200 dólares dado a praticamente todas as famílias do país. “O facto de Timor-Leste já ter em vigor uma série de pagamentos em dinheiro – a famílias pobres com crianças, veteranos e idosos, entre outros, – provavelmente tornou-o mais inclinado a olhar para além do setor formal. Outros países, no entanto, concentraram-se no setor formal”, refere-se no estudo. Além de apoio social, Timor-Leste implementou apoio a empresas para a manutenção do emprego, subsídios para electricidade, apoio a estudantes no estrangeiro e subsídios para trabalhadores da linha da frente, entre outras medidas. No estudo apontou-se, porém, que apesar de positivo, o apoio a famílias levanta “questões óbvias sobre sustentabilidade”, especialmente por durarem apenas três meses. O Governo timorense está actualmente a incorporar nos Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2020 e 2021 um conjunto de medidas de recuperação económica que vão incluir apoio a famílias e empresas. Timor-Leste tem actualmente um caso activo de covid-19, com 25 doentes recuperados e está actualmente no quarto período de estado de emergência que o Governo deverá alargar mais 30 dias.
Respiração António de Castro Caeiro - 24 Ago 2020 [dropcap]P[/dropcap]ara o pensamento arcaico a sede das emoções e da consciência era o diafragma (R. B. Onians 1951). Não era o coração. Muito menos o cérebro. Para os velhos estoicos, o “eu” estava localizado no externo, porque um grego gesticula como qualquer mediterrânico e toca com o dedo no externo quando diz eu ou bate com a mão violentamente no peito para se revelar corajoso. Para nós, contemporâneos, o coração está arraigado nos nossos idiomas. Aprendemos coisas “de cor”, usando a palavra latina no original para coração. Alguém tem bom coração. Há quem não tenha coração. Acedemos ao passado pela memória, mas quando queremos entrar por ele adentro é pela re-cor-dação, um modo de reverberar o coração. O coração bate rápido e depressa com medo e na excitação do amor. Cai-nos o coração ao chão, quando ficamos para morrer, pelo susto que apanhamos. O valente tem coração de leão. Os santos aproximavam-se do santo dos santos com o coração nas mãos, como oferta, símbolo vivo da vida. A simbologia do coração foi destruída (Sloterdjik 1988) com o advento da anatomia contemporânea. Passamos a falar de “máquina”. A metonímia faz perceber que o coração perdeu a riqueza semântica capaz de significar o aprender, o ficar em pânico, sentir-se apaixonado, lembrar-se do passado, ser corajoso, expor-se vulneravelmente à fé em Deus. Agora, o batimento cardíaco, a pulsação, o ritmo, são interpretados de acordo com a metáfora da máquina como se o coração fosse um motor, com peças substituíveis. O próprio coração pode ser substituído. Não é pessoal nem intransmissível. Já não é pessoal. Lá não estou eu. Nem a quem pertenceu. Um dia poderá ser produzido por material ainda mais consistente do que a carne humana, talvez. Vemos o “coração” como objecto, tal como o coração é, sem aura pessoal, sem metáforas nem símbolos. O ganho claro e maravilhoso da ciência é a perda da metáfora. Onde estou eu senão no coração. A que chamo eu coração então? Para o pensamento arcaico, era no diafragma que se situavam as emoções e a consciência. Não é metafórico também este pensamento? O que é que eles queriam dizer com isto? No oriente ainda há uma atenção dada à respiração completamente diferente da que lhe damos no ocidente. Os guerreiros árabes antes do combate estavam um dia inteiro a fazer colectivamente hiperventilação. Para se perceber o estado em que ficavam, experimentemos inspirar pela boca e expirar violentamente pelo nariz durante umas 20 vezes. Ficamos embriagados. A oxigenação transtorna. O sangue transforma-se. O batimento cardíaco altera-se. Se googlarmos “The Iceman”, verificamos que Wim Hof tem o mesmo método de respiração com preparação para mergulhar nas águas frígidas que congelariam qualquer um. A respiração Luta/Fuga (ofegante) dá lugar à respiração Sossego/Digestão. O controle da respiração tem de ser feito consoante a situação. Se um perigo nos aparecer não vamos querer respirar como o fazemos depois de um almoço tradicional de domingo ou a dormitar em frente à TV. Se quisermos adormecer, não vamos querer ter uma discussão acesa. Como inverter as respirações? O ponto é este. No controlo respiratório, na sua plasticidade, é possível alterar o estado de espírito. A palavra para espírito em grego diz-se pneuma, sopro. A vida para os gregos era um sopro. Todas as formas de respiração não são interiores apenas. São o nosso contacto com o mundo exterior, com a atmosfera, com o ar que respiramos. O ar está em nós e fora de nós. Circula através de nós. Inspiramos oxigénio e libertamos óxido de carbono. A respiração tem uma inspiração que não pode ser infinita e uma expiração que não pode ser infinita. Se inspirarmos e não expirarmos ou se expirarmos e não inspirarmos, morremos. É simples. Qualquer situação tem o seu modo passivo correspondente de respiração. Foi isso que o pensamento arcaico percebeu. No diafragma manifesta-se exteriormente o modo como alguém lida com a situação. Não há interior nem exterior. O ser humano é atmosférico. Há bafos de sorte e podemos ser bafejados. Há algo que “cheira” bem ou mal, que não nos cheira. Sopramos para arrefecer ou bafejamos para aquecer. A palavra para alma em grego, psychê, quer dizer refrescar, sopro vital, dentro de cada um de nós e a envolver-nos a todos nós. Respiramos de alívio, depois de termos ficado sem respirar. Caímos em situações de cortar a respiração. Expiram prazos. Nós próprios entre a primeira inspiração e a última expiração, datamos a entrada do espírito e a saída do espírito. Deus, dizem, não se manifesta no trovão, nem na tempestade, nem no tremor de terra, nem no fogo, mas no “murmúrio de uma leve brisa”. (1 Reis 19:12).
Malásia | Cientistas pretendem clonar rinoceronte de Sumatra Hoje Macau - 24 Ago 2020 O último rinoceronte de Sumatra que vivia na Malásia morreu no ano passado, mas cientistas malaios procuram financiamento para recuperar a população da espécie usando uma técnica de clonagem de células-tronco num projecto pioneiro [dropcap]”T[/dropcap]emos confiança na tecnologia para conseguir isso, mas precisamos de cinco milhões de ringgit (um milhão de euros). Estamos a procurar patrocinadores”, disse à agência de notícias EFE Muhammad Lokman, investigador da Universidade Islâmica Internacional da Malásia. Após o seu desaparecimento na Malásia, apenas cerca de 80 rinocerontes de Sumatra (“Dicerorhinus sumatrensis”) permanecem na Indonésia e estão “perigo crítico” de extinção. Lokman afirmou que já receberam cerca de um milhão de ringgit (cerca de 200 mil euros) do Governo da Malásia e preservaram tecidos vivos de diferentes órgãos como rins, fígado, pele ou coração dos últimos três espécimes de rinoceronte que morreram no país. Uma equipa liderada por Lokman está a trabalhar para obter óvulos de um rinoceronte africano no zoológico de Kuala Lumpur com a intenção de fertilizá-los com células somáticas dos espécimes extintos. “Extraímos o núcleo dos óvulos e inserimos as células somáticas (dos rinocerontes extintos) para que no óvulo se desenvolva num embrião que possamos transferir para o útero de um animal substituto, que pode ser outra espécie de rinoceronte ou outro mamífero como um cavalo”, explicou Lokman. O objectivo é clonar pelo menos cinco ou seis exemplares para garantir a reabilitação da espécie na Malásia. Dias contados Esta técnica foi usada para clonar a ovelha Dolly, em 1997, mas é a primeira vez que foi aplicada para reviver espécimes extintos num determinado local. O projecto de clonagem começou depois de Imam, o último rinoceronte de Sumatra na Malásia, ter morrido de cancro aos 25 anos em Novembro do ano passado. A morte de Imam, uma fêmea, na província malaia de Sabah, na ilha de Bornéu, chocou muitos malaios e a comunidade de cientistas e conservacionistas, depois de o último macho da espécie ter falecido seis meses antes. Os últimos 80 exemplares desta espécie, a menor entre os rinocerontes, medindo até 1,3 metros de altura na cernelha, eram encontrados principalmente na ilha de Sumatra e, em menor extensão, na parte indonésia de Bornéu. A Indonésia também abriga o rinoceronte de Java (“Rhinoceros sonicus”), a espécie de rinoceronte e provavelmente o mamífero mais ameaçado do mundo, com apenas 70 espécimes restantes na ilha de Java. De acordo com a organização não-governamental Save the Rhino International, também existem cerca de 3.500 rinocerontes indianos na Ásia, enquanto que em África existem entre 5.300 e 5.600 rinocerontes pretos e entre 17.000 e 18.000 rinocerontes brancos. As maiores ameaças aos rinocerontes são a caça furtiva – principalmente para recolher os seus chifres, muito procurados pelos consumidores da medicina tradicional -, bem como a perda de ‘habitat’ natural.
Tecnologia | Utilizadores do WeChat nos EUA e TikTok processam Trump Hoje Macau - 24 Ago 2020 Utilizadores do WeChat nos Estados Unidos estão a processar Donald Trump, numa tentativa de bloquear a ordem executiva que, segundo defendem, impediria o acesso à aplicação chinesa de mensagens extremamente popular nos EUA. Entretanto, a TikTok vai também avançar com uma queixa contra o Governo norte-americano [dropcap]A[/dropcap] queixa, registada na sexta-feira em São Francisco, foi apresentada pela organização sem fins lucrativos “US WeChat Users Aliance” e várias outras pessoas que dizem confiar na aplicação para trabalhar ou manter contacto com familiares na China, garantindo que não são associados ao WeChat, nem à Tencent, multinacional chinesa que detém a aplicação. Os utilizadores recorreram a um tribunal federal e pretendem impedir a ordem executiva de Trump, alegando que a mesma viola a liberdade de expressão dos utilizadores dos Estados Unidos, o livre exercício da religião e outros direitos constitucionais. Em 6 de Agosto, Donald Trump assinou uma ordem executiva a proibir transações com os proprietários chineses do WeChat e de outro aplicativo de consumo popular, o TikTok, defendendo que ambos são uma ameaça à segurança nacional, política externa e economia norte-americanas. O chefe de Estado falou de uma “emergência nacional” e acusou a rede social TikTok de espionagem de utilizadores norte-americanos em nome de Pequim, num contexto de crescentes tensões comerciais e políticas com a China. As ordens executivas devem entrar em vigor em 20 de Setembro, ou 45 dias a partir da data de emissão. O tico e o teco A aplicação chinesa de partilha de vídeos TikTok, acusada de espionagem pelo presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou que vai avançar na próxima semana com uma queixa contra o Governo dos Estados Unidos. “Para garantir que a lei é cumprida e que os nossos negócios e utilizadores são tratados de forma justa, não temos escolha a não ser contestar a ordem executiva (assinada pelo senhor Trump) através do sistema judicial”, afirmou o grupo, numa declaração enviada à agência de notícias francesa AFP. Na quarta-feira, o Presidente dos Estados Unidos disse apoiar uma oferta da Oracle para a compra do TikTok, apesar de estarem já em curso negociações com a Microsoft, segundo a Bloomberg. Segundo a agência de notícias económicas, a empresa informática Oracle, cujo presidente, Larry Ellison, ofereceu milhões de dólares em fundos para a campanha presidencial de Trump, estará na corrida para a aquisição das actividades do TikTok nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. A administração Trump deu 90 dias ao grupo chinês proprietário do TikTok, ByteDance, para vender rapidamente as operações da rede nos Estados Unidos, sob pena de as bloquear no país.
Miguel Oliveira conquista primeira vitória portuguesa em MotoGP Hoje Macau - 24 Ago 2020 [dropcap]”F[/dropcap]izemos história, hoje, para Portugal”, afirmou ontem Miguel Oliveira (KTM), após ter conquistado a primeira vitória de um português no Mundial de MotoGP, ao vencer o Grande Prémio de Estíria, na Áustria. “Não sei o que dizer, estou muito emocionado. Há tanto que gostaria de dizer. Quero começar por agradecer a toda a gente que acreditou em mim, a começar pela família, à equipa, os patrocinadores, os fãs portugueses, mostrámos que somos os melhores”, começou por dizer o português, após o triunfo na quinta prova da temporada. Prosseguindo com o agradecimento ao “apoio” dos adeptos, Miguel Oliveira destacou o feito, inédito, do motociclismo nacional. “Fizemos história, hoje, para Portugal. Não podia estar mais feliz por tê-lo conseguido aqui em casa da Red Bull e da KTM”, sublinhou o piloto da Tech3. Miguel Oliveira, que cumpre a segunda temporada em MotoGP, tinha como melhor resultado o sexto lugar no Grande Prémio da República Checa, em Brno, disputado em 9 de Agosto último. O português seguia no terceiro lugar e, na última curva do circuito de Spielberg, aproveitou a ‘luta’ entre o australiano Jack Miller (Ducati) e o espanhol Pol Espargaro (KTM) para vencer a corrida. Miller, que terminou no segundo lugar, felicitou Oliveira, destacando “a importância da vitória do Miguel para Portugal”. Tudo começou com Miguel Oliveira a partir do sétimo lugar da grelha, conquistando várias posições na segunda partida, para as últimas 12 voltas, depois do acidente do espanhol Maverick Viñales (Yamaha). Orgulho oficial Com este resultado, Miguel Oliveira somou 43 pontos e subiu do 14.º ao nono lugar da classificação de pilotos, que continua a ser liderada pelo francês Fabio Quartararo (Yamaha), com 70, mais três do que o italiano Andrea Dovizioso (Ducati). A próxima etapa do Mundial de MotoGP, que vai terminar em Portimão, em 22 de Novembro, está marcada para 13 de Setembro, em Misano, em Itália. O secretário de Estado da Juventude e do Desporto classificou como “extraordinária” a vitória de Miguel Oliveira (KTM) no Grande Prémio de MotoGP de Estíria, considerando que esta “enche de orgulho o país”. “A vitória na Áustria, apenas na sua segunda época na prova rainha do motociclismo e a correr numa mota que não é de fábrica só confirma o que há muito sabíamos: O Miguel Oliveira é um piloto extraordinário”, afirmou João Paulo Rebelo, em declarações à agência Lusa. O governante, que endereçou os parabéns ao piloto da Tech3, referiu que o triunfo no Grande Prémio de Estíria, em Spielberg, na Áustria, na quinta prova do campeonato, “enche de orgulho o país e o motociclismo nacional”.
Símbolos da nostalgia Manuel de Almeida - 24 Ago 2020 “(…) onde estão as boas pessoas quando acontecem coisas más? Quando acontecem coisas más, as boas pessoas ou estão caladas ou então a agir mal” George Orwell (1903 – 1950) [dropcap]A[/dropcap] geometria do vazio traz consigo escolhas de vida, gestos variados, sentidos diversos – um mundo de passagem. São ciclos de vida. “Envelhecendo eu revelo o meu carácter não a minha morte”, até porque, e segundo Max Weber (1864 – 1920), “os homens já não morrem saciados da vida, mas simplesmente cansados”. As sociedades modernas quebraram, fruto do tédio, do privilégio e da agonia intelectual. Não alimentamos os sentimentos. Não se cresceu com o que se aprendeu. É triste. O medo faz parte da estratégia – “este não é tempo para a indiferença” -, o medo paralisa o Homem, a Humanidade. George Orwell usa esta sugestiva frase: “O importante não é manter-nos vivos, é manter-nos humanos”. Paramos, bloqueamos. O medo é uma infecção contagiosa. O medo ajuda a impôr as ditaduras. O que nos dizem e como nos dizem, o que existe e como existe, o que fazemos e como fazemos, está certo? Não podemos cristalizar o desejo, a escolha, a opinião. Temos de pensar de mente aberta e criativa. Temos de descobrir algo de novo e pungente a cada dia. Acabar com estes caminhos obscuros de fragmentos de ignorância. Não há presente sem futuro – “um futuro que se constrói igual ao passado, não é futuro e por isso não tem futuro” -, só que a raiz dos males futuros está a ser plantada (?) nos erros que se cometem no presente. Percebem? Somos de hábitos sem grandes vícios. Existimos. Franquear fronteiras? À fé? À fantasia? Ao pecado? À caridade? À fraternidade? Há uma peça belíssima de Alves Redol (1911 – 1969), justamente apelidada de “Fronteiras Fechadas”, editada postumamente, em 1972. Relembro aqui o autor de “Barranco de Cegos”, após anos de ausência, não só pelo Homem, um dos grandes entre os maiores do Neorrealismo, mas sobretudo pelo seu carácter, já que, ao longo da sua obra, sempre tentou ser “um operário das letras ao serviço de uma obra artística colectiva”. Temas quentes nessa peça do autor de “Gaibéus”: a coragem de quem passa fronteiras clandestinamente à procura de uma vida melhor e/ou a fuga da opressão – cinco mulheres – a condição feminina; as ideologias; a cláusura; o enriquecimento ilícito dos traficantes; a avareza. Apesar dos anos, “Fronteiras Fechadas” mantém uma grande actualidade, também porque os grandes temas de Alves Redol foram, são e serão sempre, aos olhares atentos, temas do presente. As suas grandes questões são políticas, económicas, sociais e culturais – faltou-lhe a questão da saúde. No passado dia 10 de Junho, nas “Comemorações do Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas”, o Cardeal José Tolentino de Mendonça deixou uma mensagem em que alertava para os perigos do modelo de sociedades que se estão a construir, palavras que merecem uma reflexão. E passo a citar “O desafio da integração é imenso porque se trata de ajudar a construir raízes e essas não se improvisam: são lentas, requerem tempo, políticas apropriadas e uma participação do conjunto da sociedade” e, acrescentava, “Sem compaixão e fraternidade fortalecem-se apenas os muros e aliena-se a possibilidade de lançar raízes. A comunidade não se reforça esquecendo as periferias, mas fazendo delas motor da sua própria coesão”. É preciso que a identidade germine e o orgulho de pertença cresça, para que todos nós – sem excepção de credos e etnias -, possamos participar no bem comum da cidade. Razão que persiste e se perpetua. Ao espanto ou desencanto? Ao desencontro ou ao encontro? Para quando a confissão dos pecadores e/ou perdão dos hereges? Onde estão os “sacerdotes” da ordem e do poder? Por onde se passeiam os perdedores do culto das palavras, vãs e inúteis? Não esperem um novo ciclo de “Concertos da Vida”. A época foi adiada. A incompetência não é negociável, até lá, as ideias continuarão a ser uma forma de contaminação e intimidade. Até quando? Estamos a viver uma fase crítica. Recuamos no tempo. Vivemos numa época subordinada aos três movimentos de Newton (1643 – 1727), que são as leis de base da mecânica clássica: aceleração, reacção e inércia. Haja saúde! “O Mundo é o que é, os humanos que não são nada, que se permitem não ser nada, não têm lugar neste mundo.” V.S. Naipul (1932 – 2018)
Dia acima Anabela Canas - 24 Ago 2020 [dropcap]T[/dropcap]odos os dias um estado inicial. Uma exaltação de sentidos a reter. A rever. A esquecer ou a ignorar. A libertar. A procurar. Uma estrutura e tudo reside aí, mesmo no mistério do caos. E até para as leis da gravidade há um antídoto que nos protege de afundar terra adentro, forças em equilíbrio. Sobra o etéreo mas férreo domínio das ideias. Como perscrutar os pontos cardeais. Uma orientação física no universo de extensões em que se distende o pensamento. Como viadutos sobrepostos. O que se procura em frente. Quando se caminha – foge. A fuga para a frente, é ter o acordar congénito de todos os dias. Temer a queda. Esquecendo que um percurso, como um passado estimado ou não, retoma o seu lugar de partida, onde chega por inerência do que se é e da eterna questão que se revolve por detrás de brumas, mas volta. Volta irreversivelmente em qualquer curva distraída. Às vezes como uma terra estranha. E lastro, esse passado, mas necessário à definição de futuro. De sentido. Sem peso a mais nem a menos. Sempre esta impressão de que é ascendente, o dia. Como a acompanhar o sol na sua ilusória subida no horizonte, levando consigo a inclinação das plantas, porque é natural e o olhar de algumas. Uma inclinação que dificulta, ou a subida para uma ideia acima e uma etapa a conquistar. Difícil. Carregamos sobre os ombros o peso de tudo o que temos e tudo o que não temos. Dos que nos amam e dos que não nos amam. Dos que nos respondem e dos que não nos respondem. Do que fizemos e do que não fizemos e de uma relação estranhamente aleatória entre as coisas e a reacção do mundo a umas ou outras. Num requebro amargo, como ombro amigo, de vez em quando, penso nos que se recusam a perdoar. O que lhes fizemos e a si próprios o que nos fizeram. Neste mundo de humanos e de ideias. Os seus duplos em palco ou sombras produzidas para dentro. Anjos que se recusam a salvar ou que se lhes acalme as feridas. Não são anjos, simplesmente dores. E nenhum anjo gosta de as ser, nem o humano de as ter. O mito do peso. Do que é árduo de levar e do esforço sem recompensa. De novo o Sisifo. E a pedra que carregamos dia acima. Com o peso dos sentidos e da procura obsessiva mas também o deslumbramento de encetar o dia novo das mesmas questões, com a possibilidade de um olhar lavado. Pequenas tonalidades a diferenciar uma cor forte da véspera. O que parecia definitivo, a mudar com a luz, a diluir com uma lágrima, que mancha inesperada a forma global. Uma nódoa que desfeia. Poeiras que atenuam. Um redundante início, como uma emenda ao inevitável. As inércias inalteráveis e as predisposições difíceis de mover. Ou em face de Jano, deus das transições, a contemplar o que ele vê: passado e futuro. As portas, sempre entrada para o que se entrevê ou saída em renúncia. Um início ou um fim. Um olhar como da primeira vez. Porque da véspera não transitou um sentido. O meu ombro está carregado. É isso. Do peso que obriga a procurar. E peso é essa força da gravidade boa, que nos mantém ligados a terra. Comprometidos. Um novo registo: peso e medida. O que é o peso que nos arrasa os ombros e nos curva para a frente e dói. O que é a medida certa. Um artefacto de alumínio, de boca em corte oblíquo e que se enterra fortemente numa saca de arroz para dizer um litro e o que pagar por um litro. De assentimento e continuação De lealdade. De amor ou amizade. E o que são dois pesos e duas medidas, nesta economia de trocas? Há uma ética. Estruturas, preconceitos. A diferença entre estar fora ou por dentro a subverter. Ou, afinal e dizendo melhor, alicerces. Que nos ajudaram a construir e que é necessário verificar. A sua própria corrosão a abalar o todo. Existem sempre. mas temos talvez desonestidade afectiva. Podemos deixar de parte preconceitos éticos e analisar. Quem tem, por pequena que seja, uma dose de poder, esquece o poder que esse poder tem, ou não esquece, e faz justiça ou injustamente o usa. Com critérios restritos e orlas que se quedam de fora. Favorecimento ou prejuízo. Num exercício simultâneo de coragem e cobardia. A coragem de fazer bem fazendo mal, a coragem de fazer mal e a cobardia de não fazer bem. Ou de não fazer bem nem mal. O que às vezes é bem e outras vezes é mal. É arrasador verificar até à profundidade do sentir. O que se desculpa e o que se institui como culpa. Um estudo diário que sintetiza as estruturas confortáveis e estabelecidas. Ética, moral, todos os dogmas, egoísmos. Afectos. Um Deus que não ajuda mas pune. E à sua semelhança um mundo que parece castigar diariamente, por causa desconhecida. E nos devolve a desconfiança de que algo teremos feito mal. A culpa desde os confins do tempo, que advém desta procura, destes erros ou de um gesto sem intenção. Mas nenhum gesto é inocente. Nenhum vazio. Rebelamo-nos desde cedo. Tudo é útil, nos sentidos que nos propõe e tudo é contestável. Há que fazer as contas. Escrever o sentido. Caminhar sobre ele. Acordo de madrugada e abro a janela às flores que me alegram os olhos e me prendem. De uma utilidade por defeito e que não é sentido nem ofício, mas a inerência do seu papel no equilíbrio de tudo. Essa utilidade que não temos. E se não temos, não há equilíbrio no desgaste que produzimos ao todo. Aquieto-me. Sinto. Faço isto todos os dias muitas vezes. É talvez só isto que faço e o resto são intervalos. Ficar quieta e pensar que é isto viver. Olhares circulares por aquilo que me cerca, as flores, as dificuldades das minhas flores, o mistério das portadas a regular o sol que até ele pode ser demais neste habitat construído para descansar os olhos. Distrai-los, serenar a respiração que tende a sinais de inquietação. Paro todos os dias porque algo em mim dispara todos os dias. Um disparate de sentir. Uma pele mista de zonas frágeis e de carapaças. Porque, por mais que acorde de madrugada, com o dia ainda a custar a romper das sombras do sono, tenho sempre à beira a desconfiança de que o dia traz a dúvida de sempre. Como resolver a questão? A do sentido e da inutilidade de tudo. Esta procura de definição de sentido. Assim uma coisa como: temos que ser livres, ser felizes. Úteis. Por exemplo.
Os portos francos de Macau José Simões Morais - 24 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap]inda antes de João Maria Ferreira do Amaral ser nomeado Governador-Geral da Província de Macau, Timor e Solor, o que ocorreu a 22 de Dezembro de 1845, já Macau no mês anterior se tornara porto franco. A 20 de Novembro, “por Decreto da Rainha a Senhora D. Maria II, referendado pelo Ministro da Marinha e do Ultramar Joaquim José Falcão, foram declarados francos ao comércio de todas as nações os portos de Macau, – tanto o interno, denominado do rio, como os externos, da Taipa e da Rada, – podendo ser neles admitidas a consumo, depósito e reexportação todas as mercadorias e géneros de comércio, sem pagamento de direitos”, segundo Marques Pereira. Assim, Ferreira do Amaral trazia já como propósito fazer uma fortificação na Taipa quando tomou posse a 21-4-1846. A Taipa, Tanzai para os chineses, era então formada por duas ilhas, Taipa Grande separada da Taipa Pequena por um canal de mar. O Governador Ferreira do Amaral encarregou o então Capitão do Porto, Tenente Pedro da Silva Loureiro, para levar a cabo a construção da fortaleza na ilha da Taipa Pequena, de frente para a Fortaleza do Bom Parto em Macau, e localizada “na Xisha, ou Ponta do Areal Ocidental”, como refere Pedro Dias, que lembra, “Na verdade o Governador José Gregório Pegado tinha iniciado em 1842 conversações com o Vice-Rei de Cantão, ou alto-comissário imperial Ki-Ying, com vista à ocupação e posse efectiva da ilha, sendo tal desiderato facilitado pelo governante cantonense. Três anos depois, o Governo de D. Maria II declarou o Porto da Taipa como porto franco, tal como já era o de Macau” desde 4-10-1844. O porto da Taipa era onde hoje está o Campo da Corrida de Cavalos, refere Domingos Lam. Ferreira do Amaral em 1847 tomou posse da ilha e “decidiu-se pela efectiva ocupação, com a construção de uma fortaleza,” onde foi hasteada a bandeira portuguesa a 9 de Setembro desse ano. A Taipa, cuja entrada se assemelha a um semicírculo, era designada na dinastia Ming por Long Wan e o Mou Tai Miu, construído em 1488 e dedicado ao deus da Guerra, era o templo mais antigo da ilha. Nos finais do século XVII outra referência à Taipa, quando a população da ilha recebeu mal o ancorar de um barco inglês. Passou a ser porto de aguada aos navios que daí seguiam para em Cantão comerciar, quando em 1717 o governo chinês proibiu os juncos dos mercadores chineses de comercializarem com estrangeiros, exceptuando Macau, o que traz à cidade um novo dinamismo. Benjamim Videira Pires refere, em 1717 “a Cidade do Nome de Deus recebeu, transmitida pessoalmente pelo Vice-rei de Cantão, a seguinte ordem do Imperador Kang-shi (Kangxi, 1662-1722): . Por influência, contudo, do jesuíta, Pe. André Pereira, conseguiu-se isentar Macau dessa lei, facto que trouxe, de novo, à Cidade, durante quatro anos, o monopólio do comércio externo da China, sobretudo com Batávia”. Já Pedro Dias ressalta, nesse ano, a ordem do Imperador da China “mandando que todos os navios que desejassem subir para Cantão, até ao porto de Whampoa, tivessem que embarcar um ou mais intérpretes e um piloto nesta ilha, autorizando simultaneamente que os habitantes locais fizessem trocas comerciais com os passantes.” “Inicialmente, antes dos portugueses se interessarem em ocupá-la, só era habitada por pescadores congregados em pequenas aldeias, como as de Linjiacun e Zuojiacun”, prossegue Pedro Dias, que refere, “Em meados do século XIX a Ilha da Taipa passou a ter algum comércio, com mercados e lojas, seis templos e uma igreja católica. O seu ancoradouro principal, conformando uma baía pequena e suave, era refúgio seguro contra as forças da Natureza, e até assaltantes, para muitas dezenas de barcos de pesca.” Expulsão do Mandarim O Capitão-de-Mar-e-Guerra Ferreira do Amaral era maçon e viera como Governador preparar a colónia a tornar-se politicamente independente do governo chinês e logo concebeu o plano de despojar o Mandarim de parte dos poderes de que estava revestido, ampliando a esfera de atribuições da Procuratura, único tribunal em Macau para julgamento de chineses. Segundo Carlos José Caldeira, ordenou “a supressão dos direitos de tonelagem, chamados medição, que abusivamente se cobrava para o imperador, sobre os navios portugueses, que entravam no porto de Macau” e “mandou fechar definitivamente a Alfândega Chinesa de Macau”, segundo Beatriz Basto da Silva, que refere, ter o Governador a 5 de Março de 1849 proibido aos Hopus de Macau “cobrarem quaisquer direitos às mercadorias exportadas de Macau para os portos da China, pedindo ao Vice-Rei de Cantão que mandasse retirar os funcionários chineses que exerciam os seus cargos em Macau, dentro do prazo de oito dias.” Assim foi abolido de Macau o Hopu, Alfândega Chinesa, o qual já só exercia jurisdição no Hopu Grande da Praia Pequena (Largo da Ponte e Horta), o mais antigo e importante da cidade, pois o Hopu Pequeno da Praia Grande, de menor importância, encerrara em 1847. Como o Vice-Rei de Cantão não ordenara a retirada dos funcionários do Hopu, a 12 de Março o Governador mandou fechar a porta principal do Hopu Grande e colocou em frente um piquete de soldados e uma canhoeira de mar “para protegerem o desembarque de todas as mercadorias e víveres, acabando assim com o último vestígio da interferência chinesa na administração desta Colónia.” Encerrada a alfândega chinesa em Macau, os funcionários desta repartição foram expulsos. “O governo de Cantão respondeu com a transferência dos mercadores chineses para Huangpu, o que resultou na depressão do comércio em Macau”, segundo Liu Cong e Leonor Seabra. Sendo Macau porto franco, tornava necessário a supressão da alfândega portuguesa [criada em 1784], única fonte até ali da receita pública. Para remediar a precária situação financeira, o Governador logo estabeleceu um novo sistema de impostos, reformando em vários pontos outros ramos da administração, e reduziu as despesas dela a dois terços do que antes consumia. Ainda em 1849, decretava o fim do pagamento do foro pelo arrendamento de Macau, assente desde 1573, e tomou posse de toda a península, tornando-a colónia portuguesa. O mandarim, com jurisdição em Macau sobre os chineses, fugiu para Chin-san e o Procurador ficou então também com esse encargo. A 22-8-1849, junto à povoação de Monghá o Governador Ferreira do Amaral foi assassinado por sete chineses. Segundo João Guedes, estes pertenciam à Sociedade dos Rios e dos Lagos (ou Irmandade dos Primogénitos), no que parece ter sido a primeira grande manifestação de força das seitas em Macau. A 16 de Setembro, o Vice-Rei da Cantão participou ao Conselho Governativo de Macau ter sido já preso e executado Sen-Chi-Leong, o verdadeiro assassino do Governador, cuja mão e cabeça levadas para Cantão e expostas pelas ruas, foram restituídas a Macau em 16 de Janeiro do ano seguinte.
Cinema | InspirARTE em Festa com oito filmes destinados a jovens Salomé Fernandes - 24 Ago 2020 Voltado para crianças e adolescentes, o “Cinema InspirARTE em Festa” apresenta filmes que exploram relações interpessoais, luta contra injustiças e aventuras segundo perspectivas de realizadores de diferentes países [dropcap]A[/dropcap] edição deste ano do “Cinema InspirARTE em Festa”, que se realiza entre quinta-feira e domingo, tem oito filmes dedicados ao público mais novo. Organizado pelo Centro Cultural de Macau (CCM), o evento traz perspectivas fílmicas de outros países, como a França, República Checa, passando pela Noruega e pela Rússia. O festival aposta na projecção de filmes dirigidos a crianças, a partir dos 3 anos, e a adolescentes. Em comunicado, o CCM descrever o cinema como o “espaço onde a imaginação corre à solta e as possibilidades são infinitas”. “Passando valores como a amizade, empatia e respeito pelos outros, algumas destas histórias também poderão incentivar à autodescoberta. Sejam estas inspiradas em acontecimentos reais ou de ficção, tanto os pequeninos como os mais crescidos acabarão por descobrir que os problemas são muitas vezes mais simples de resolver do que possam pensar”, descreve o CCM na sua página electrónica. Entre as histórias que vão passar no ecrã do CCM está a “Balada do Tibete”, galardoado com o título de melhor filme do 13º Festival Internacional de Cinema Infantil da China. É inspirado na aventura verídica de um grupo de crianças invisuais tibetanas que viajou do Monte Evereste à cidade de Shenzhen, para cantar num concurso de talentos televisivo. Thupten quer ver o mundo antes de perder por completo a visão, e guia os seus companheiros cegos em direcção à cidade vizinha. A mostra de cinema traz de volta ao ecrã personagens já conhecidas, como a Abelha Maia, que em “Jogos de Mel” ofende uma governante quando se insurge contra a exigência de metade da produção de mel reverter para os cofres imperiais. As histórias dos Moomins surgem no ecrã depois de uma nova adaptação feita por Tove Jansson, que acompanha o crescimento de Moomintroll. Relacionamentos e aventuras O evento arranca na quinta-feira, com a exibição de “O Príncipe Perdido”, às 19h30. O filme aborda a dinâmica familiar entre Djibi e a sua filha Sofia, de oito anos. O pai assume o papel de príncipe encantado na “Terra dos Contos”, onde vão à noite antes de a menina adormecer. “Cinco anos depois, Sofia afasta-se das histórias do pai, inventando os seus próprios contos. À medida que o seu papel, tanto na vida real como na Terra dos Contos, começa a mudar, Djibi tem de encontrar forma de permanecer o herói da sua filha”, descreve o site do CCM. A encerrar o programa está “Harvie e o Museu Mágico”, no domingo às 17h. A narrativa da melhor longa-metragem de animação do Festival Internacional de Cinema Infantil de San Diego 2018 é passada à volta de Harvie, um rapaz que gosta de jogos de computador, que acidentalmente faz com que peças de um museu de marionetes ganhem vida. Os outros filmes que integram o programa são “Rocca Muda o Mundo”, “Klara a Super Estrela” e “Agência de Detectives Jerry e Maya – O Primeiro Mistério”. Os bilhetes custam 60 patacas. Apesar de a mostra de cinema terminar no domingo, o site do CCM aponta para a possibilidade de se comprarem bilhetes para sessões adicionais a partir de segunda-feira. De acordo com as orientações do CCM, o uso de máscara é obrigatório durante o evento, e vão ser impostas medidas de distanciamento social.
UNESCO | Governo diz que pagamento de dívidas está em curso Salomé Fernandes - 24 Ago 2020 O pagamento da dívida de cerca de 25 mil patacas de Macau à UNESCO está a ser processado. As contribuições de dois anos às Nações Unidas estão em atraso, mas a RAEM pagou uma quantia idêntica referente à anuidade da Organização das Cidades Património Mundial [dropcap]É[/dropcap] incerto quando será feito, mas o pagamento das dívidas de Macau à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) está em andamento. “O pagamento está em processamento”, respondeu o gabinete da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura ao HM. Em causa estão 3.118 dólares americanos (cerca de 25 mil patacas) que deviam ter sido pagos pela RAEM como contribuição para o orçamento regular enquanto membro associado da organização. O Jornal Tribuna de Macau avançou que as contribuições estavam em falta em Junho. Desde então, os relatórios semanais da UNESCO não apontam mudanças à situação de Macau, cujo último pagamento foi feito em Fevereiro de 2018. As 25 mil patacas em falta correspondem à soma das anuidades de 2019 e deste ano. Até 13 de Agosto, as dívidas dos diferentes membros à UNESCO atingiram 157 milhões de dólares americanos, dos quais mais de 26 milhões são contribuições em falta até ao final do ano passado. Em 2020, só 47 por cento dos membros apoiaram a organização, apesar do esquema de incentivo que concedia desconto nas contribuições de 2022 a quem saldasse todas as dívidas até 29 de Fevereiro. Investimento em nova organização Se de um lado há dívidas, do outro há investimento. Macau aderiu este mês à Organização das Cidades Património Mundial (OWHC), que é composta por mais de 300 cidades com sítios incluídos na Lista do Património Mundial da UNESCO. As vantagens de integrar o organismo estão dependentes do pagamento de uma anuidade – e a RAEM já pagou a sua para 2020. O Governo pagou uma taxa de 3.111 dólares americanos à OWHC, indicou o Instituto Cultural ao HM. “Todas as cidades membro têm o direito de votar na nossa Assembleia Geral, e podem participar em todos os nossos programas e actividades, a nível regional e global”, respondeu a OWHC sobre os benefícios que Macau passa a ter. Os direitos da RAEM passam pela participação em projectos como o prémio Jean-Paul-L’Allier e “Youth on the Trail” para o património, bem como acesso a apoio financeiro para a participação em actividades da OWHC, especialmente congressos mundiais. As cidades membro que deixam de pagar perdem acesso a alguns dos serviços. Na página electrónica da OWHC, são apresentados critérios para o registo de Macau. Aponta-se que tem uma “localização estratégica” e que a relação entre as autoridades chinesas e portuguesas “favoreceram ao longo de vários séculos um importante intercâmbio de valores humanos nos diversos domínios da cultura, ciências, tecnologia, arte e arquitectura”. O seu testemunho do encontro entre o Ocidente e a China ao longo de séculos e a arquitectura que o representa também mereceram menção, bem como o intercâmbio entre civilizações cujas ideias “motivaram diretamente a introdução de mudanças cruciais na China”.
Detidas na China Continental pessoas ligadas a junkets de Macau Salomé Fernandes e Nunu Wu - 24 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap]s autoridades da China Continental detiveram cerca de 50 pessoas, algumas associadas ao negócio junket em Macau, noticiou o GGRAsia, citando o “The Beijing News”. As detenções resultaram de acções policiais nas cidades de Suzhou e Wuxi, realizadas na semana passada, no âmbito de suspeitas de quatro casinos clandestinos. Duas das pessoas detidas eram alegadamente cabecilhas. Foi na sequência de trabalhos de investigação publicados pelo “The Beijing News”, alegando a existência de locais de jogo ilegal noutras partes da província de Jiangsu, que se deu a operação policial. Os casinos ilegais estariam montados em fábricas abandonadas e casas desocupadas, nas cidades de Kunshan e Taican. De acordo com o GGRAsia, jornalistas do meio de comunicação chinês fingiram ser um associado de junket e um jogador para se infiltrarem nos locais. Os dois repórteres terão, alegadamente, recolhido informação nos casinos clandestinos de que foram recrutados indivíduos com experiência “junket”. Essas pessoas terão ficado encarregues de direccionar clientes de valor elevado dos casinos de Macau. Jogar às escondidas Uma notícia de quinta-feira do “The Beijing News” descrevia que um repórter acompanhou a polícia de Suzhou a um casino, mas que não restavam mesas de jogo, quando anteriormente havia quatro. Noutro local, a polícia terá detido dois suspeitos e encontrado máquinas de distribuição de cartas, placas de matrículas e walkie-talkies. O GGRAsia explica que a polícia de Suzhou disse que os suspeitos mudaram constantemente a localização dos seus casinos clandestinos, para evitarem ser detectados. De acordo com o portal, a polícia aponta que as restrições de viagens podem ter sido um factor no aumento da procura por jogo ilegal na China Continental. O “The Beijing Times” indicou que a polícia acredita que o recrutamento de clientes para jogos de sorte ou azar está relacionada com a pandemia da covid-19 e às restrições de viagem. Este ano, a polícia de Suzhou regista 285 crimes relacionados com jogo, que resultaram na detenção de 1.241 suspeitos.
Economia | PIB desceu quase 68% entre Abril e Junho João Santos Filipe e Salomé Fernandes - 24 Ago 2020 O segundo trimestre do ano registou uma contração do PIB de 67,8 por cento, apesar do apoio do cartão de consumo. Entretanto, o saldo da balança de pagamentos de 2019 obteve um excedente de mais de 12 mil milhões de patacas [dropcap]O[/dropcap] Produto Interno Bruto (PIB) caiu 67,8 por cento no segundo trimestre deste ano. A Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) comunicou que a descida anual foi superior à do início do ano. As exportações de serviços reduziram mais de 92 por cento, e as de bens 26,4 por cento. Mas as importações de bens e serviços também registaram diminuições. “Os esforços do combate à epidemia da pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus, por parte do Governo da RAEM e de todos os sectores da sociedade, levaram ao abrandamento dos efeitos negativos e à recuperação gradual das actividades económicas, em Macau no 2º trimestre”, refere a DSEC. Os cartões de consumo conduziram ao “estreitamento de 9,8 por cento da amplitude descendente da despesa de consumo final das famílias no mercado local”. A despesa de consumo das famílias no exterior diminuiu 71,2 por cento. O investimento em obras públicas registou uma subida anual de quase 30 por cento. O Governo também direccionou dinheiro para a compra equipamento de protecção e material médico, para além do aluguer de hotéis para quarentenas e medidas de assistência financeira. Balança de Pagamentos com excedente Macau conseguiu um excedente de 12,1 mil milhões de patacas no saldo da Balança de Pagamentos (BP), segundo a estimativa preliminar referente a 2019, divulgada na sexta-feira. “Em 2019, a estimativa preliminar da BP de Macau registou o ‘superavit’ de 12,1 mil milhões de patacas, destacando-se o saldo positivo de 142,8 mil milhões de patacas na conta corrente e um aumento de 83,5 mil milhões de patacas nos activos financeiros líquidos não reserva”, indicou a Autoridade Monetária de Macau (AMCM). Os dados oficiais revelaram a subida do défice comercial de mercadorias, com as exportações a caírem 8,3 por cento em termos anuais e as importações a crescerem 0,7 por cento. Se em 2018 o défice era de 91,2 mil milhões de patacas, em 2019 subiu para os 93,3 mil milhões de patacas. A AMCM também destacou que as exportações de serviços diminuíram 1,1 por cento em 2019, justificando o resultado sobretudo com a queda das exportações de serviços turísticos e o decréscimo de 6,5 por cento das importações de serviços. “Portanto, caiu entre 2018 e 2019 o ‘superavit’ registado na conta de serviços, de 311,7 mil milhões de patacas para 310,3 mil milhões de patacas”, assinalaram as autoridades. Composta pela conta corrente, conta de capital e conta financeira, a Balança de Pagamentos é um registo estatístico integrado que apresenta os resultados das transações externas.
Cartão de consumo | Segunda fase injectou 790 milhões na economia Hoje Macau - 24 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] segunda fase do cartão de consumo electrónico injectou nos 20 primeiros dias de uso cerca de 790 milhões de patacas na economia, de acordo com os dados divulgados pelo Governo na sexta-feira. Este é o resultado de 7,7 milhões de transacções registadas desde o primeiro dia de Agosto. O consumo em restauração representou 22,9 por cento, com o primeiro lugar ocupado pelos “estabelecimentos de comidas e lojas de sopas de fitas e canjas”. Já no comércio a retalho, o maior valor de transação foi registado pelos supermercados, representando 19,6 por cento do valor total. Foram carregados mais de 610 mil cartões de consumo e levantados mais 19 mil novos cartões, pelo que cerca de 630 mil residentes já receberam o subsídio de consumo da segunda fase. Em Setembro há ajustamentos aos postos de atendimento para carregamento ou levantamento dos cartões. Os residentes passam a ter de o fazer na secretaria da Direcção dos Serviços de Economia, no balcão de atendimento de mediadores de seguros da Autoridade Monetária de Macau, ou nos centros de serviços da RAEM da Areia Preta ou das Ilhas. Em Julho, durante a primeira fase de utilização, a Direcção dos Serviços de Economia informou que cerca de 1,74 mil milhões de patacas tinham sido injectadas em Macau na primeira fase do cartão de consumo. A mesma entidade adiantou então que cerca de 63 por cento das mais de 19,4 milhões de transações beneficiaram pequenas e médias empresas, com a restauração (24 por cento) e o comércio a retalho (70 por cento) a serem os sectores mais beneficiados.
Estatuto das polícias vai ser revisto Hoje Macau - 24 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] Governo enviou para a Assembleia Legislativa uma lei para rever o Estatuto dos Agentes das Forças e Serviços de Segurança, que vai integrar as carreiras do pessoal alfandegário no regime. A mudança foi justificada com a necessidade de “responder melhor aos novos desafios e garantir uma evolução adaptada ao ritmo dos tempos modernos” além de permitir que “a gestão dos recursos humanos seja mais racional”. As alterações são feitas em três aspectos, de acordo com a informação apresentada no final do Conselho Executivo, nomeadamente na reestruturação da carreira, revisão das modalidades de promoção e melhoramento dos regimes disciplinares e de recompensas. A nível das carreiras das forças de segurança, o pessoal de base passa a poder aceder às carreiras superiores, o que é visto como uma forma de promoção para quem obtém um desempenho “excelente”. Além disso, são criadas as posições de chefe superior do Corpo de Polícia de Segurança Pública, Corpo de Bombeiros e inspector superior alfandegário. Já no CPSP são extintas as carreiras especiais de mecânicos, músicos e radiomontadores, que passam a integrar a carreira de pessoal técnico-especializado. No que diz respeito às promoções, vai ser criada uma comissão que pode ter pessoal externo às forças de segurança para decidir que é promovido. A abertura a pessoas de fora das forças de segurança acontece igualmente ao nível dos processos disciplinares. Com base nas sugestões do Governo, passa a ser possível nomear instrutores externos às forças e serviços de segurança, o que é justificado com a necessidade de reflectir “imparcialidade”.
Anunciado subsídio para trabalhadores em licença sem vencimento João Santos Filipe - 24 Ago 2020 A redução do número de turistas e o impacto na economia levou o Executivo a lançar um programa para subsidiar formações destinadas a quem procura o primeiro emprego ou esteja em licença sem vencimento [dropcap]A[/dropcap] partir do próximo mês o Governo vai lançar um programa para subsidiar formações a pensar nos estudantes que completaram cursos superiores e estão à procura de emprego, assim como para trabalhadores que estão a gozar licenças sem vencimento. O “plano de formação subsidiada” foi apresentado na sexta-feira, depois de ter sido discutido pelo Conselho Executivo. No que diz respeito aos subsídios para os desempregados, segundo os critérios do Executivo, são elegíveis as pessoas que estejam sem trabalho desde 1 de Janeiro de 2019 ou data posterior. Também os estudantes que concluíram curso superior este ano e estejam desempregadas podem inscrever-se. Após frequentarem a formação e a respectiva avaliação há dois níveis de subsídios. Os participantes que nos dois meses após a formação encontrem trabalho, os que criarem uma actividade por conta própria ou ainda aqueles se inscrevam na Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais para encontrar emprego, mesmo que sem sucesso, recebem um apoio de 6.656 patacas. Já os participantes que não se registarem na DSAL, porque assim o desejam, ou aqueles que por sua iniciativa recusarem serem contratados, depois de lhes ter sido encontrado um empregador têm o apoio limitado a 3.328 patacas. Requalificação profissional O programa é também feito a pensar nas pessoas que têm rendimentos afectados por estarem em licenças sem vencimento, uma prática que tem sido promovida pelos empregadores, devido à redução do número de turistas. A pensar nestes trabalhadores, a formação disponibilizada pretende aumentar as competências técnicas, e o empregador pode sugerir o nome de até cinco pessoas para frequentar os cursos. A iniciativa serve também para profissionais liberais, desde que não tenham empregados por sua conta. Neste sentido, um trabalhador que faça o curso enquanto goza de licença sem vencimento recebe um subsídio de 5.000 patacas. O mesmo acontece com os profissionais liberais. Quanto aos empregadores que permitam que os seus trabalhadores frequentem os cursos durante o horário de trabalho, sem os penalizar com férias sem vencimento ou cortes no salário, é pago um subsídio de 5.000 patacas por empregado em formações. “Queremos incentivar o empregador para que possa deixar o trabalhador fazer o curso”, afirmou Wong Chi Hong, director da Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), citado pela Rádio Macau, durante a apresentação do programa.
Sulu Sou quer assinalar passagem do Hato com memorial no Porto Interior Salomé Fernandes - 24 Ago 2020 [dropcap]F[/dropcap]ez ontem três anos desde a passagem do tufão Hato por Macau. Sulu Sou sugeriu ao Governo a criação de um memorial na zona costeira do Porto Interior e a designação do 23 de Agosto como dia de prevenção de desastres, recordando que o cenário de destruição da cidade “ainda hoje está vívido”. A ideia é tomar por referência a forma como outros locais lidam com desastres do passado, recordando as dez vidas que se perderam e os danos sofridos. “Toda a sociedade, especialmente os residentes das zonas baixas, tornaram-se mais vigilantes em relação aos danos dos tufões. É muito importante para o público e as próximas gerações lembrarem-se das dolorosas lições do Hato”, diz o deputado em interpelação escrita. Sulu Sou descreve que o tufão expôs a falta de infra-estruturas contra inundações, bem como a “vulnerabilidade” da prevenção de desastres. Vale a pena lembrar que foram pensados sete projectos públicos neste âmbito, mas em Junho a presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas disse que o Governo ainda não decidiu se vai instalar muretes de protecção contra inundações no Porto Interior, devido a dificuldades técnicas e preocupações financeiras. O deputado quer saber quando será conhecida uma decisão final sobre os projectos e que factores serão tidos em consideração. Outros planos Na interpelação é ainda apontado que se ia criar uma Direcção de Protecção Civil e de Coordenação de Contingência no âmbito da protecção civil, com dois departamentos e seis gabinetes. No entanto, depois da mudança de Governo, esses planos foram abandonados e mantiveram-se os Serviços de Polícia Unitários (SPU) na liderança do trabalho de protecção civil, “para lidar com o conceito de reforma da administração pública do novo Chefe do Executivo”. Sulu Sou quer saber qual o impacto desta mudança nos trabalhos de protecção civil. Tendo em conta que a Lei da Protecção Civil entra em vigor em Setembro, o deputado questões o Governo quanto ao “progresso dos Serviços de Polícia Unitários na revisão da sua estrutura organizacional e aumento de pessoal”.
Taipa | André Cheong diz que fábrica de gaze vai ser demolida João Santos Filipe - 24 Ago 2020 Os problemas de saúde pública originados pela acumulação de água, o parecer do Instituto Cultural, que considera que a fábrica de gaze não deve ser protegida, e as queixas da população levaram o Executivo a optar pela demolição [dropcap]N[/dropcap]a passada quinta-feira, a deputada Agnes Lam pediu ao Governo para pensar melhor o plano para a construção de um parque provisório na Taipa, em particular a parte que implica a demolição de uma antiga fábrica de gaze, um sinal da modernização da ilha. No entanto, na sexta-feira, André Cheong, secretário para a Administração e Justiça, garantiu que a fábrica vai mesmo abaixo por constituir um perigo para a segurança pública. Por um lado, André Cheong desvalorizou o valor patrimonial do edifício. “A fábrica só funcionou três anos. E, de acordo com o parecer do Instituto Cultural, não integra o grupo de imóveis classificados, o que faz com que não seja considerado um imóvel protegido”, disse o secretário, citado pela Radio Macau. Além da questão patrimonial, o representante do Executivo indicou que a fábrica é uma ameaça à saúde da população, porque “encontra-se abaixo do nível da estrada, acumulando água estagnada”, o que é considerado “grave” e “um risco para a saúde pública”. Como argumento contra a preservação da fábrica, André Cheong apontou também a existência de placas de amianto, material de construção cancerígeno que está proibido. “Como detectámos um risco para a segurança e saúde pública queremos demolir a construção o mais rapidamente possível”, admitiu o secretário, que falou ainda de queixas da população. Valor histórico Na análise que fez na Assembleia Legislativa, Agnes Lam defendeu a preservação do edifício por considerar que se ia destruir um bocado da história do território. “Na altura, era a maior fábrica de vestuário de Macau, e a sua inauguração simbolizou o início da modernização da Taipa. Esta fábrica também teve um contributo significativo para a construção da primeira ponte marítima de Macau”, sustentou a deputada. Por outro lado, a legisladora questionou também o plano do Governo, uma vez que o parque no centro da Taipa é apresentado como uma solução provisória. André Cheong também respondeu a esta dúvida e explicou que os planos para a zona incluem a construção de equipamentos sociais. Segundo o secretário, o Executivo quer aproveitar os quatro terrenos no centro da Taipa para desenvolvimento de instalações desportivas e jardins, não só para melhorar a qualidade de vida da comunidade mas também o ambiente na zona.
Cinemateca | Novo website ainda sem versão portuguesa e reservas online Pedro Arede e Nunu Wu - 24 Ago 2020 Os bilhetes para o festival que marca a reabertura da Cinemateca Paixão começam hoje a ser vendidos. Contudo, um dia depois do anúncio da programação multiplicaram-se críticas sobre o novo website, que não permite comprar bilhetes online, nem tem versões em português e chinês simplificado [dropcap]E[/dropcap]stão à venda a partir de hoje, os bilhetes para o festival de cinema que marca a reabertura da Cinemateca Paixão, sob a batuta de uma nova gestora, a Companhia de Produção de Entretenimento e Cultura In Limitada. Contudo, tanto a programação para o mês de Setembro, como o novo website da Cinemateca Paixão estão longe de reunir consenso entre o público e profissionais do sector. As principais queixas são a impossibilidade de adquirir bilhetes online através do novo portal da Cinemateca Paixão, mas também a inexistência de tradução para português e chinês simplificado. Intitulado “Uma carta de amor ao Cinema: Produção cinematográfica nos grandes ecrãs”, o primeiro evento desde que a Cinemateca encerrou para obras tem como objectivo “evocar um amor indescritível pelos filmes, entre os fãs”, através de uma selecção de clássicos e obras-primas de diferentes países e Eras. O festival abre a 1 de Setembro com a versão remasterizada de “Singin’ in the Rain” e inclui também obras de Fellini (“Otto e Mezzo”) e Woody Allen (“The Purple Rose of Cairo”). Contactado pelo HM, o cineasta Vincent Hoi, membro do grupo “Macau Cinematheque Matters”, considera que a programação apresentada pela nova gestora falha em cumprir o próprio objectivo a que se propõe, porque as obras escolhidas não chegam a abordar de forma apropriada o tema da cinematografia. “A nova programação inclui filmes clássicos, mas, na verdade, acho que não estão lá as obras principais. Simplesmente querem, ou pretendem, exibir algumas obras para apresentar a programação, mas os filmes principais estão a faltar”, apontou Hoi. “Penso que não sabem o que quer dizer cinematografia. Para organizar a programação do próximo mês acho que se limitaram a escolher obras, algumas delas muito populares, que falam do cinema, mas não da cinematografia”, acrescentou. Além disso, num jogo de palavras, o cineasta refere ainda que o próprio nome do festival, “Produção cinematográfica nos grandes ecrãs” é “caricato” e “não faz qualquer sentido”. “Se virmos bem, como é que se pode rodar um filme no grande ecrã?”, atirou. Já Rita Wong, directora de operações da CUT, empresa que geriu até ao final do ano passado a Cinemateca Paixão, não vê problemas em apostar nos clássicos, apesar de admitir que estava à espera de ver “coisas novas” ligadas ao cinema independente. “Não considero mau que haja alguns clássicos para o público ver, mas há também que explorar o cinema independente. Como único espaço dedicado ao cinema em Macau esperamos também ter a oportunidade de ver algumas obras pioneiras (…), coisas novas que vão além dos clássicos e que mostrem o que de melhor está actualmente a ser feito no mundo”, partilhou Rita Wong. Faroeste digital Ao contrário do que aconteceu nos últimos três anos, o novo website da Cinemateca Paixão não inclui versão em português e chinês tradicional, nem permite a compra de bilhetes online. Além disso, através de comentários partilhados na página de Facebook da Cinemateca Paixão, foram muitos os utilizadores a queixarem-se que a informação disponibilizada no novo portal está incompleta, não incluindo, por exemplo, o preço dos ingressos ou o nome dos realizadores e produtores das obras a ser exibidas. Recorde-se que, no ponto relacionado com as “condições gerais de execução da prestação de serviços”, do caderno de encargos referente ao concurso público que a In ganhou é estabelecido como critério da cumprir que “o website deve ter interfaces em chinês, tradicional e simplificado, português e inglês”. O mesmo se passa com o serviço de venda de bilhetes online, que segundo o documento deve ser disponibilizado, “com, pelo menos, duas formas de pagamento, electrónico e no local, no horário de funcionamento da bilheteira”. “Estou um pouco surpreendida com o facto de o novo portal não ter a versão portuguesa e em chinês simplificado que sempre existiu, até porque fazia parte dos requisitos do caderno de encargos. Por isso, pergunto-me o que se terá passado”, refere Rita Wong. Entre os vários problemas que detectou no site, Vicent Hoi confessa não compreender porque não aparecem os nomes dos realizadores e qual a razão para “a apresentação dos dias das exibições não ser explícita”. “Não sei se é, ou não, um prenúncio de que as coisas vão correr mal, mas ao ver o site da Cinemateca, é como se estivesse a ler a informação do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM), onde falta sempre muito conteúdo”, aponta o cineasta. Sobre a impossibilidade de comprar bilhetes no website, Hoi refere que é como voltar ao ano em que a Cinemateca abriu portas, gerida pela CUT. “Não se compreende porque é impossível comprar bilhetes online. Nos últimos três anos, a CUT construiu uma relação importante com o público e as bases de uma operação eficaz que incluía uma bilheteira online. É como regressar a 2017. Ou melhor, é como andar para trás 10 anos”. Julgamentos precoces Já para João Nuno Brochado, professor e coordenador dos programas de Cinema da Universidade de São José (USJ) é ainda cedo para fazer um julgamento, embora admita que “depois de tanta polémica, não foi boa ideia começar com este tipo de programação”, até porque tem dúvidas se terá o condão de atrair o público de Macau. “Efectivamente esta primeira programação vem confirmar que não há nenhum filme de Macau. Contudo, estamos a falar da programação para um mês e a nova empresa tem contrato para três anos, por isso não podemos estar a julgar toda a programação apenas com base no primeiro mês”, vincou o académico. Sobre as razões que fizeram soar o alarme junto dos cineastas locais, o professor aponta que o sector receia que a nova gestora deixe de apostar no cinema de Macau, sobretudo “porque as pessoas sempre trabalharam muito em conjunto”. “A comunidade ligada ao cinema em Macau é muito pequena, são pessoas que se conhecem e estão juntas com alguma regularidade e a Cinemateca era o sítio onde se encontravam. Além disso, quem geria a cinemateca também fazia parte desse grupo que também produz filmes em Macau. Por isso, quando agora mudaram a gestão para uma empresa que nem se sabia que existia e que está fora da comunidade cinematográfica, todos ficaram com receio”, apontou João Brochado. Remetidos ao silêncio O HM tentou saber junto do Instituto Cultural (IC) quais as justificações apresentadas pela nova gestora para que o website da Cinemateca Paixão não permita a venda de bilhetes online e não tenha versão em português e chinês simplificado. No entanto, até ao fecho da edição, não obteve respostas. O mesmo aconteceu após nova tentativa de contacto junto da Companhia de Produção de Entretenimento e Cultura In Limitada. Recorde-se que, a 16 de Julho, o HM questionou, por escrito, a empresa In sobre a data estimada para a apresentação da nova programação da Cinemateca, bem como o andamento da construção da futura página oficial da In na internet. Adicionalmente, após várias tentativas falhadas de contacto telefónico com a empresa através da sua coordenadora, Kathy Wong, o HM confrontou o IC com a ausência de respostas da In. O IC voltou a remeter a responsabilidade para a nova gestora da Cinemateca. Desde que foi anunciado que a In venceu o concurso de gestão da Cinemateca Paixão, têm sido levantadas muitas dúvidas sobre a experiência e trabalho feito pela empresa na área do cinema. Por ocasião de uma conferência de imprensa, que aconteceu nas instalações da In a 24 de Junho, quando foram pedidos exemplos concretos de trabalhos realizados, Kathy Wong remeteu mais informações para a futura página oficial da In na internet. A In venceu o concurso para assumir a gestão da Cinemateca Paixão no final de Junho. Com uma proposta de 15,4 milhões de patacas, a empresa bateu a CUT, que geriu até ao final do ano passado a Cinemateca Paixão e que tinha uma proposta de 34,8 milhões de patacas. Programação | 1 a 23 de Setembro Uma carta de amor ao cinema Filme de abertura: Singin’ in the Rain (Remasterizado) (1952) Realização: Stanley Donen, Gene Kelly 1. Otto e Mezzo (Remasterizado) (1963) Realização: Federico Fellini 2. The Purple Rose of Cairo (1985) Realização: Woody Allen 3. Cinema Paradiso (Remasterizado) (1990) Realização: Giuseppe Tornatore 4. Close-up (1990) Realização: Abbas Kiarostami 5. Center Stage (Remasterizado) (1992) Realização: Stanley Kwan 6. Goodbye, Dragon Inn (Remasterizado) (2003) Realização: Tsai Ming-liang 7. Phantom of Illumination (2017) Realização: Wattanapume Laisuwanchai 8. Talking the Pictures (2019) Realização: Masayuki Suo Selecção de Setembro 1. La Belle Époque (2019) Realização: Nicolas Bedos 2. The Weasels’ Tale (2020) Realização: Juan José Campanella 3. Beasts Crawling at Straws (2020) Realização: Kim Yong-hoon Animação: Buñuel in the Labyrinth of the Turtles (2018) Realização: Salvador Simó
Epopeias coloniais João Romão - 21 Ago 202024 Ago 2020 [dropcap]T[/dropcap]erminado muito simpático pequeno-almoço na minha primeira manhã em Banguecoque tinha duas horas livres até ao início da conferência que havia de decorrer no mesmo hotel onde estava hospedado. Com tempo demais para me aborrecer à espera e de menos para me dedicar à exploração da magnífica cidade, decidi-me por breve visita a museu de história que sabia próximo, mas pouco orientado para turistas estrangeiros. Em todo o caso, fui agradavelmente surpreendido pela exibição de um mapa do século XVII representado o sudoeste asiático, da Índia até ao Japão, claramente identificado por brasão português. Era uma segunda-feira de manhã, não encontrei quem me pudesse informar melhor, mas suponho que se tratasse de uma das primeiras – senão a primeira – representações cartográficas da região e certamente um bom exemplo dos possíveis contributos da expansão do conhecimento e das vantagens da interculturalidade inerente às viagens marítimas portuguesas da época. Já a conferência tinha terminado e Banguecoque revelado uma parte ínfima dos seus múltiplos e magníficos encantos quando tive oportunidade de sair da cidade num animado e interessante grupo com umas 30 pessoas de origens bastante diversas. Um dos sítios onde estive foi no extraordinário Wat Mahathat de Ayutthaya, uma das antigas capitais do reino do Sião, detalhadamente apresentado por um velho guia que a determinado momento se apercebeu da presença de pessoas portuguesas. Desde então, informou e reiterou pelo menos três vezes que os portugueses tinham sido os primeiros europeus a marcar presença no território que hoje corresponde à Tailândia. Talvez haja uma boa razão para essa efusiva referência: na realidade, a Tailândia nunca foi colonizada, nem por Portugal nem por outros países, o que eventualmente ajudará a olhar para este passado como um território de encontros e intercâmbios, mais do que de violência e exploração. Não foi assim quando estive em Goa, uma das antigas zonas portuguesas em território da Índia, também para um evento académico, que incluía vários participantes portugueses, alguns até com responsabilidades organizativas relevantes. Talvez por isso, logo no discurso de boas-vindas, com as tradicionais mensagens de boas-vindas à cidade, um professor local tenha evocado a importância histórica de 1962 e da independência de Goa em relação ao império colonial português. Uma relação histórica mais tensa, portanto, com toda a conflitualidade e violência associadas à colonização a marcar discursos contemporâneos. Pouco disto se vê na historiografia para turistas que oferece a Velha Goa, mais orientada para triunfalistas exibicionismos: os restos mortais do Padre Francisco Xavier miraculosamente conservados desde o século XVII na Basílica do Bom Jesus, mesmo em frente à Sé Catedral de Goa onde se celebrava em exposição a vida da santificada Madre Teresa e de João Paulo II, o papa que “libertou o mundo do comunismo”, nem mais nem menos. Francisco Xavier é também figura de relevo no Japão, onde o jesuíta é referenciado nos livros de história como o primeiro padre católico em terras japonesas, antes de ser banido o catolicismo. Tive oportunidade de visitar a Igreja que o homenageia, em Kagoshima, em tranquilo passeio pela zona de Nagasaki, no sul do Japão, terras das “igrejas escondidas”, onde comunidades cristãs mantiveram secretamente os seus cultos após a proibição do cristianismo. Também a terras nipónicas os portugueses foram os primeiros europeus a chegar, através do porto de Nagasaki. O Japão concedeu na altura privilegiada licença para comércio internacional com mercadores portugueses e chegou até a construir o porto de Dejima, exclusivamente dedicado ao comércio com Portugal, com todas as infra-estruturas logísticas inerentes e residências para capitães e altas personalidades. Duraria pouco, no entanto: o espaço havia de servir como área de “confinamento” para os portugueses, que haviam de ser também o primeiro (e historicamente o único) povo a ser expulso do Japão. O porto seria entregue a mercadores holandeses, que haviam de ficar com o exclusivo do comércio internacional com o Japão e hoje Dejima é uma relevante atração turística de Nagasaki, reconstruído em parceria com uma universidade holandesa e recriando o ambiente da época, com típicas habitações holandesas e as instalações portuárias para as embarcações e o comércio. Para se perceber esta mudança de atitude dos japoneses em relação à presença portuguesa socorro-me do legado de Wenceslau de Moraes, cônsul português no Japão na transição de século XIX para o XX, que havia de viver no país do sol nascente até à sua morte, em Tokushima, perto de Kobe, em 1929. Também visitei o pouco que resta da sua memória na pequena cidade: um busto difícil de encontrar, uma minúscula referência à casa onde vivia, o discreto túmulo onde o corpo foi sepultado, com a da sua esposa e sobrinha, ambas japonesas. O museu Moraes que ali existia já foi encerrado e toda esta tristeza sobre o seu legado histórico diz muito sobre a inépcia e o desleixo das políticas culturais portuguesas fora do país. Sobram os livros, no entanto, onde Moraes analisa com bastante detalhe diferentes aspectos da história do Japão e em particular da relação com Portugal. Moraes adianta uma explicação para a proibição do cristianismo e a expulsão dos portugueses, socorrendo-se de um encontro entre um “shogun” (autoridade máxima à época no Japão) e um mercador castelhano, em que este, depois de descrever a imensidão do reino, incluindo toda a América Latina, explica que o sucesso dessa conquista se deve a enviar primeiro os padres e só depois o exército. Segundo Moraes, os japoneses, não só entenderam o perigo das ambições colonialistas dos países ibéricos – com a inerente violência física, exploração económica e domínio político – como entenderam o papel decisivo da religião nesse processo. Neste sentido, continuarmos a olhar para este período da história e do mundo como uma “epopeia marítima” ou um processo de “descobrimentos” e “intercâmbio de culturas” contribui certamente para ocultar parte significativa destes processos: a intenção estrategicamente definida de conquistar e subjugar pela violência outros povos e territórios. Ajuda a perceber como Portugal contribuiu para o desenvolvimento da cartografia na Tailândia, mas impede que se perceba porque fomos o primeiro e único povo europeu a ser expulso do Japão.
A Covid-19 e economia (III) Jorge Rodrigues Simão - 20 Ago 2020 “If you know the enemy and know yourself, you need not fear the result of a hundred battles. If you know yourself but not the enemy, for every victory gained you will also suffer a defeat. If you know neither the enemy nor yourself, you will succumb in every battle.” Sun Tzu The Art of War [dropcap]A[/dropcap] pandemia que atingiu a Europa do Sul com muito mais força abre algumas possibilidades para se definir, e partindo da sua própria ideia de desenvolvimento para influenciar positivamente as outras economias e sociedade nacionais. Que a Europa do Norte tenha sido menos infectada e tenha menos mortos que a Europa do Sul não é um acidente. Apesar dos muitos incêndios, apesar da taxa de congestionamento nas suas cidades, o ar da Europa do Sul está menos poluído, a matéria particulada atmosférica, que muitos estudos demonstraram, ser um veículo importante para a propagação do vírus, está menos presente. Em todo o mundo, a Covid-19 atingiu as áreas onde o crescimento económico tem sido mais forte. Também aí os mais afectados foram os pobres, e se tudo voltar um tipo de parecer quase “normal” serão ainda os pobres de todo o mundo que mais pagarão, mas talvez pela primeira vez na história, a possibilidade está a abrir-se para imaginarem um novo tipo de desenvolvimento. Mesmo na Europa do Sul um desenvolvimento baseado nas riquezas que possui. A terra, a cultura, os seus jovens instruídos que terão cada vez menos oportunidades de migrar e que terão de tentar inventar ali as suas vidas. Pensar no seu território como uma ideia diferente de estar no mundo. Talvez olhando para a Europa do Norte, em vez do Norte que não cresce, para o Sul, onde há países cujas possibilidades de desenvolvimento são mais promissoras. Se houver paz, fim à dependência do petróleo e da mineração; se a energia da água, do sol e do vento for utilizada; se a diversidade biológica e cultural for preservada, a agricultura pode ser uma alavanca decisiva para a recuperação económica. Homologa monoculturas com o objectivo de exportar as próprias especificidades de cada país para o mundo em vez de seguir os modelos que outros impõem. É uma agricultura que regressa a ser de proximidade, o mais perto possível na produção e consumo, e precisamente por esta razão capaz de exportar os seus produtos como as muitas cooperativas fazem nos territórios retirados dos latifúndios, e aqueles onde os escravos dos campos se libertam para produzir um orgânico livre de pesticidas e de corporações. E na Europa do Sul é possível e realista criar cadeias energéticas limpas e locais para fornecer energia às indústrias de transformação de alimentos de qualidade e às pequenas e médias empresas localizadas nos sectores de inovação mais elevados, digitais e não, explorando no território o conhecimento que as universidades e os centros de investigação produzem e cuja maior inovação poderia ser gerar bens que duram e são reparáveis por muito tempo, e cujos componentes são concebidos para serem reciclados. Um desenvolvimento local verdadeiramente circular, porque não polui e produz o mínimo de resíduos possível. Um modelo de desenvolvimento local que também pode falar aos países, aqueles que terão de pensar de novo e regenerar-se, depois de terem prosseguido um crescimento que envenenou o ar e a terra, e se reduziu ao desperdício produzido, mulheres e homens que também terão de repensar como dar valor às suas áreas internas e de pobreza e marginalidade que também existem dentro das fronteiras. Neste contexto, é também necessário tirar o turismo dos velhos termos do turismo de massas, que tem esmagado as cidades de arte ao ponto de pôr em perigo a sua sobrevivência, o que as tem desertificado como cidadãos, transformando bairros inteiros em lugares para alugar a cada dia; retomar esse modelo seria não só um desastre do ponto de vista ambiental e climático, mas também profundamente irrealista. Durante algum tempo, não teremos exércitos de turistas vindos de todo o mundo para fazer visitas controladas por agências, nem navios de cruzeiro cheios de pessoas que se aglomeram em visitas rápidas às cidades mais badaladas e depois são desviados para alguma saída ou aeroporto usado por algumas nacionalidades desejosas por aterrar na Europa. Os aeroportos, que os fortes poderes, continuam a invocar quererem construir deixou de ser importante. Quando os europeus começarem a mover-se, terão de ir para lugares onde o ar esteja limpo, a distância entre as pessoas possível, a arte e a beleza ancoradas à vida dos cidadãos e à paisagem que os acolhe. As pequenas cidades no interior serão o destino, mais do que os endereços canónicos e as grandes cidades. Se quiserem entrar nos novos tempos que nos esperam, terão de recuperar a beleza da vida que perderam. O vazio dos turistas nos centros históricos das grandes cidades é preocupante, mas o que importa e deve inquietar mais do que qualquer outra realidade é o vazio dos cidadãos. Também deste ponto de vista, a Europa do Sul e as áreas interiores poderiam ensinar algo aos lugares mais ricos e mais “desenvolvidos”. A agricultura, indústria jovem e de qualidade, energia limpa, ar saudável, turismo generalizado, diálogo com os países do Sul e hospitalidade para aqueles que vêm do mar em busca de um futuro. Estes são os elementos para um desenvolvimento local que redime a Europa do Sul e a torna um ponto de referência para o desenvolvimento de toda a Europa. Contudo, será necessário investimento público para preencher a lacuna da cidadania nas áreas interiores e não apenas nas grandes metrópoles. As pessoas fugiram das zonas interiores porque não havia maneira de chegar e sair; porque muitas vezes as grandes infra-estruturas, as auto-estradas, os caminhos-de-ferro de alta velocidade, faziam um vazio à sua volta; porque as estações e os caminhos-de-ferro periféricos fecharam. E pouco a pouco as bibliotecas, escolas, lojas, farmácias, em muitos casos até as estações de correios desapareceram. As lojas locais são as que tornam a vida possível em regiões de muitos países, mas são também as que precisam de ser defendidas na periferia das nossas cidades. Apoiando para que o vírus não os mate, mas pensando para mais tarde num regime fiscal de apoio, talvez financiado pelo que a Amazon deveria pagar, e desencorajando a propagação de híper e supermercados, que têm sido as únicas realidades em muitas cidades que preencheram os espaços deixados vazios pelas indústrias fechadas. As primeiras obras para as quais se deve dar a mão terão de ser aquelas que servem para consertar o território ferido, para voltar a tornar habitável o que se deixou ir para o abismo. E os primeiros grandes investimentos culturais terão de ir para os municípios e associações que mantiveram viva a cultura e história desses territórios, que redescobriram e fizeram descobrir o prazer de visitar os bosques, o campo, o conhecimento e a vida passada e presente da sua natureza. Antes dos museus e das grandes exposições devemos reabrir a possibilidade de experimentar arte e cultura em lugares cheios de história mas esquecidos. Haverá necessidade de jovens arqueólogos e historiadores de arte, biólogos, jovens capazes de desenhar estradas e escolas e de interligar o seu pequeno mundo renascido com o grande mundo, jovens, e há muitos deles, não em busca de riqueza e consumismo, entre outras coisas cada vez menos possíveis, mas de um trabalho que dê sentido às suas vidas e às vidas dos outros. E assim tentar inverter o curso que levou ao abandono de países e territórios interiores para aglomerar os megalópoles, com o resultado de ter em conjunto o crescimento da poluição urbana e a desertificação de territórios inteiros. Para a Europa do Sul é talvez mais decisivo do que para qualquer outro país que o New Deal inventado em Bruxelas mas que se verá insuficiente possa reiniciar a economia e a sociedade verde. São os países em que as consequências seriam mais graves se a necessidade de um novo começo fosse ofuscada pela indispensabilidade de uma reconversão ambiental da economia. A começar pela indústria deverá colocar-se dinheiro público para reiniciar os negócios. Mario Draghi tem razão pois sem nova dívida pública, há falência. Mas precisamente por esta razão, porque uma lógica pura de mercado não se mantém; porque mesmo os mais teimosos dos liberalistas apelam à intervenção do Estado, é possível e necessário colocar condições sobre a transferência de recursos públicos para o sistema empresarial. Nem todas as dívidas são iguais. A saúde, investigação e educação são investimentos decisivos se quiser construir um sistema industrial capaz de escolher qualidade e inovação. E por isso deve ser legítimo contrair dívidas, garantir direitos constitucionais essenciais, mas ao mesmo tempo planear um desenvolvimento de qualidade, e não de pura concorrência, limitando ainda mais o custo do trabalho e dos direitos. E nas empresas, esta pode ser uma das condições, encorajando também com recursos públicos percursos de aprendizagem ao longo da vida, por um lado ligados às transformações organizacionais e de produto das empresas, e por outro ao desejo de crescimento civil e cultural dos trabalhadores. A superação de toda a discriminação de género pode e deve ser também uma condição, intervindo tanto nas diferenças salariais que ainda penalizam as mulheres, como nos bloqueios dos percursos profissionais. As empresas devem ser obrigadas a fazer um balanço energético, e a explicitar as acções que pretendem empreender para poupar energia, e a utilizar energias renováveis. A este respeito, serão necessárias iniciativas para facilitar o crédito às empresas, reforçando as garantias estatais para os bancos que optam por suspender o crédito aos poluidores e deslocar a sua actividade para o apoio aos que se convertem às energias renováveis e à sustentabilidade, para o ambiente e para os trabalhadores. Outra condição possível e necessária é o compromisso de não despedir e de não deslocalizar a sua produção e os seus escritórios fiscais para fora de cada país; de não utilizar a externalização de partes da produção para dar trabalho a empreiteiros com contratos e direitos inferiores aos que seriam devidos aos trabalhadores ao abrigo de contratos nacionais. As transformações produtivas necessárias para garantir a saúde daqueles que trabalham, tais como as resultantes de reconversões, devem ser obrigatoriamente negociadas e partilhadas com os sindicatos de trabalhadores. Mas será também decisivo redefinir as empresas com participação pública, colmatando as pesadas omissões do passado. O fim da política industrial de muitos países data do tempo em que foi decidido privatizar para ganhar dinheiro e reduzir a dívida pública, sem qualquer projecto de desenvolvimento industrial na base. A venda de algumas indústrias públicas significou também o encerramento de importantes centros de investigação industrial, que constituíram a interface quase única entre as universidades, a investigação e o sistema industrial. Raciocinar em termos de mercado puro e simples significava encerrar e reduzir as actividades que seriam decisivas para uma conversão verde. Historicamente, em todo o mundo, a maior parte do investimento público em investigação passou dos militares para os militares, aquele para o qual os recursos não eram medidos e para o qual todas as dívidas eram permitidas com repercussões importantes também em outros campos. Sem um forte investimento estatal destinado a gerir o sistema de defesa americano de uma forma mais descentralizada e menos vulnerável, a Internet nunca teria nascido. O desafio é ver se somos capazes de tornar a saúde, a luta contra o aquecimento global, a mobilidade inteligente uma alavanca pública para a investigação e a inovação produtiva tão importante e mais relevante do que qualquer tema militar ou geoestratégico. Este não é um desafio pequeno, e no qual uma grande parte do nosso futuro e do futuro do mundo está a ser jogado. E esta poderia ser a missão fundamental na Europa do Sul para redefinir o futuro de uma indústria pública esmagada pelo extractivismo e pela guerra de outros. Há esperança, mas uma das realidades que se tem dificuldade em aceitar, emocionalmente, é que estamos apenas no início desta crise. Em muitos países as taxas de mortalidade estão a diminuir, mas noutros estão a começar a subir e vice-versa. Há países que conseguiram controlar aparentemente o vírus isolando-se a si ou do resto do mundo, mas é difícil ver outros a fazê-lo, a longo prazo. Até obtermos uma vacina eficaz, vamos ter de encontrar formas de viver com este vírus. Uma abordagem, para os países que o podem controlar, significa distanciamento social, uso de máscaras em público, muitos testes, e rastreio extensivo. Testes generalizados, juntamente com rastreio, significam que as pessoas que foram infectadas podem ser detectadas, isoladas, e tratadas antes de o espalharem a outras pessoas. Mas fazê-lo envolve grandes questões de privacidade. Uma lei de emergência como da Coreia do Sul significa que as entidades oficiais podem localizar os movimentos utilizando câmaras de vigilância e acedendo a dados a partir do nosso telefone. Quem se tiver cruzado com alguém que tenha testado recentemente positivo, é-lhe enviado um texto e é-lhe dito para reportar a um centro de testes. Se o teste for positivo, pode ser enviado para um abrigo governamental ou mandado para casa, dependendo das circunstâncias. Se o teste for negativo, ainda tem de se auto-isolar e descarregar uma aplicação que informa a polícia se sair à rua. Pode ser preso ou enviado para a prisão por não cumprimento. Alguns países, como o Reino Unido, estão a experimentar o uso voluntário de aplicações de rastreio, para que as pessoas saibam quando tiverem sido expostas ao vírus. Mas especialistas dizem que para ser eficaz, pelo menos 60 por cento da população precisaria de descarregar e utilizar a aplicação. Será que um número suficiente de pessoas o faria voluntariamente? Agora que existem testes de anticorpos fiáveis, podemos também obter a utilização generalizada de passaportes de imunidade. Estes seriam documentos digitais, provavelmente guardados no telefone, que provam que foi infectado e que está imune (o que parece não ser o caso) . As pessoas com passaportes imunitários seriam autorizadas a regressar ao trabalho e a uma vida diária relativamente normal. Mas os passaportes de imunidade estariam abertos à fraude, e algumas pessoas, que testam negativo, poderiam ser tentadas a tentar ser infectadas para que possam obter um passaporte de imunidade. Seguindo em frente, teremos quase certamente de utilizar uma abordagem de “levantar, suprimir, levantar” ao distanciamento social. As crianças regressarão à escola, as universidades abrirão, e as restrições às reuniões sociais serão relaxadas. Mas assim que houver sinais de que o vírus se está a espalhar novamente, os travões continuarão a funcionar. A incerteza contínua será extremamente prejudicial para a economia. A par dos prejuízos para a economia, é provável que haja uma segunda e terceiras vagas como aconteceu no passado, não só mais infecções mas também mais doenças mentais. Durante a última recessão, de 2007 a 2009, o aumento do desemprego levou a um pico nas taxas de suicídio nos Estados Unidos e na Europa, que aumentou em mais de dez mil pessoas. Abraços, apertos de mão, e grandes encontros sociais são o menu inexistente para o futuro previsível. As pessoas estão a tornar-se intensamente ansiosas para sair de casa e conviver. O que irá acontecer às pessoas idosas? Como podemos mantê-los a salvo sem os conservarmos fisicamente isolados? Pelo lado positivo, espero que as pessoas continuem a lavar as mãos, o que poderá reduzir drasticamente o risco de outro grande surto. Espero que viajemos menos e trabalhemos mais a partir de casa. Apreciaremos mais os nossos profissionais de saúde e as pessoas que trabalham na assistência social. Esta crise pode, paradoxalmente, tornar-nos mais comunitários. Pode até fazer-nos preocupar mais com o estado do planeta, exercer pressão sobre os políticos para acabar com o comércio ilegal de espécies ameaçadas, que desempenharam um papel tão importante na actual crise. Vai ser um longo e difícil caminho de regresso a qualquer forma de normalidade. Mas se formos optimistas, temos de esperar que esta pandemia faça sobressair o melhor de nós e reúna o mundo para lidar mais efectivamente com os futuros desafios globais.
Holandeses voadores – III Luís Carmelo - 20 Ago 2020 5 [dropcap]C[/dropcap]orria a passos largos com as musselinas a enfunar o fantasma que revia nas paredes. Um ombro que se levanta, um cotovelo que desce. A cabeça que rodopia, os dedos a macaquearem a boca de um lobo. Ou a cauda do diabo. A noite afoga todas as evidências. Por vezes, levantava muito alto uma das pernas para que a sombra amarelada e movediça se transformasse num cinema envolto pela poeira. Também eu, imbuído pelo marulho das coisas sombrias, me pus com gesticulações agitadas e o ecrã de caliça branca a desfazer-se reproduzia-as porventura à procura de ouro. Assim ficámos os dois em frente à enorme lanterna do candeeiro a provocar aquele teatro de sombras, de que éramos os únicos espectadores. A certa altura, estatelámo-nos com a dolência de um adágio. Os meus óculos voaram até à beira do canal e ela, vincada pela geada da noite, viu os cabelos submersos na pedra e nos musgos frios onde nos deitávamos. Por cima, a lua confluía num único traço entre as nuvens rápidas e as texturas do breu. Era o sabre comprido que sucede ou precede a lua nova. Ou a cauda do diabo, como ela incessantemente repetia sem conseguir parar de rir. Haveria acasos na vida, sim, persistia eu, mas ela não queria acreditar. Preferia ver o destino inscrito até na forma das grades que nos protegiam da água sebenta do canal. Foi nesse ápice que me veio à cabeça a cavalgada – ou a motorizada – que Schubert compôs no mês em que morreu (tinha decorado a fórmula há muito: “trio número dois, ópus cem, andante con moto”). Tentei trautear, mas era um esforço inglório, semelhante ao de plantar uma buganvília no gume cortante da lua. Ela continuou a rir, o combustível advinha da falta de nitidez das minhas bilabiais. Mas era verdade, pura verdade. Só o acaso permitiu que hoje se pudesse ouvir Schubert. Schumann desvendou uma sinfonia em casa do irmão e dois ingleses, os senhores Grove e Sullivan, desenterraram mais cinco na cave de uma editora. Também a sinfonia inacabada foi descoberta numa arca, enquanto, já no fim século XX, os esboços da décima sinfonia foram fortuitamente encontrados num arquivo de Viena. Não, não foi o acaso, afincava ela. O destino é o cume da cordilheira que reúne todos os acasos. Como o de hoje. Por exemplo: o que fez com que hoje déssemos um com o outro no bar dum teatro ainda em obras? Continuou ela. E o que faz com que uma coisa seja o que é? perguntei eu. A sua essência. respondeu ela. Como vês, ganhei, concluiu ainda com todo o desplante. 6 A mistura de moliço e enxofre embrenha-se nas dunas e o rufar das vagas irrompe subitamente. Foi nesse repente que o vento colocou os lóbulos temporais nas nuvens, quase que tocámos com os cabelos nos altos da siderurgia. Foi assim que chegámos à praia de Zandvoort. Três ou quatro gigantes agarram as cordas e içam os papagaios coloridos que desempenham o papel de planadores trágicos. Cada corpo é um rio compulsivo a preencher as margens que julga ocupar, segredou ela. Uma ópera rasgada pela forte ondulação. Se houvesse música seria a dos penhascos subterrâneos. Ela mantinha-se perfeitamente ciente de que a praia de Zandvoort é composta por destroços de um grande navio caído no fundo do oceano. Falava de facto como se passeássemos a quatro mil metros de profundidade, debaixo daquela água negra espurca azulada que se desfaz em espuma gelada. A sequência de prédios é uma imensa bigorna de betão com vidros granitados, esplanadas para astronautas e o amontoado final de escombros e taipais que se desvendam a partir do casco imaginário. A paisagem condiz com os despojos de guerra que terão submergido muito lentamente, acabando por assentar nas entranhas do talude, tomado por cracas e algas. A proa, a popa e os mastros desapareceram. Ficou apenas o âmago das varandas a cheirar a crude e ao verdete da ferrugem. Com extremidades pontiagudas, o perfil da cidade dá a ver uma ou outra faceta proeminente. É o convés de aço alimentado pelas patines da maquinaria e das caldeiras. Às janelas deste santuário oxidado, dia e noite, há sempre holandeses muito felizes a comerem batatas fritas com maionese. Ela admirava o horizonte e os rochedos submersos como quem avidamente pesquisa com sonar. A praia expunha-se ao avesso de todas as geografias, mas o mar é sempre o mar. Vi-a sentar-se no coração da intempérie com a concha da mão encostada ao ouvido. Fiquei atrás sem quase conseguir manter-me de pé. O chão mole de estornos e cardos-marítimos oscilava ao sabor das requebras do vendaval. Foi então que me revelou que, um dia, já tinha visto o paraíso. (continua)
Hong Kong | Editores de livros escolares apagam conteúdos dos manuais Hoje Macau - 20 Ago 2020 É já no próximo ano lectivo que os alunos terão acesso a manuais escolares em Hong Kong alvos de alterações, que passam pela eliminação de conteúdos relacionados com matérias de desobediência civil ou sufrágio universal. Tudo devido à implementação da nova lei de segurança nacional no território [dropcap]A[/dropcap]s escolas secundárias de Hong Kong vão começar o próximo ano lectivo com manuais escolares revistos em que foram alterados ou eliminados temas como a desobediência civil ou o sufrágio universal, em aplicação da nova lei de segurança. Os seis editores responsáveis pela maioria dos manuais utilizados na disciplina “Estudos Liberais” aceitaram submeter-se a um programa de revisão voluntário, efectuado pelas autoridades educativas locais, que resultou na supressão de conceitos democráticos como separação de poderes, noticiou ontem o diário em língua inglesa South China Morning Post. A disciplina cobre seis tópicos, incluindo Hong Kong, China contemporânea e globalização, participação política, o sistema jurídico da cidade e a identidade dos seus residentes. O agora eliminado princípio democrático de que os poderes executivo, legislativo e judicial devem funcionar de forma independente tinha sido objecto de críticas por parte de sectores pró-Pequim, incluindo do antigo líder do território Tung Chee-hwa, que no ano passado acusou o sistema educativo de Hong Kong de encorajar os jovens a participar nos protestos anti-governamentais. Sobre a questão da desobediência civil, os novos textos enfatizam as consequências legais em que os participantes incorrem, enquanto o material gráfico que mostra manifestantes a segurar bandeiras ou a criticar Pequim desapareceu de alguns livros. O conceito de “identidade” também foi alterado: enquanto nos livros anteriores os textos eram acompanhados de fotografias de cartazes com as palavras “Sou um ‘Hong-Konger'” e “Libertem a comunidade”, nas versões actuais as imagens foram substituídas. As escolas podem escolher entre as ofertas dos editores ou utilizar o seu próprio material para ensinar a disciplina, que desde 2009 é obrigatória para os alunos do ensino secundário, visando “reforçar o seu pensamento crítico, alargar os seus conhecimentos gerais e aumentar a sua consciência dos problemas contemporâneos”. Aplausos oficiais O jornal estatal chinês Global Times aplaudiu ontem as mudanças, destacando que sublinham que “os manifestantes serão responsabilizados se abusarem da lei” e defendendo que “reforçam a identidade dos estudantes” como sendo “de Hong Kong e chineses”. O jornal aponta o caso da editora Aristo Educational Press, que acusa de anteriormente fornecer “informação venenosa” e “pró-secessionista”, e que concordou com a revisão. Em 6 de Julho, uma semana após a aprovação da polémica lei da segurança nacional imposta pela China ao território, o Governo de Hong Kong pediu às escolas que “examinassem o material didáctico, incluindo livros”, e “os retirassem” caso tivessem “conteúdos desactualizados ou provavelmente semelhantes aos quatro tipos de delitos” definidos pelo diploma. A directiva enviada às escolas foi anunciada dois dias depois de as bibliotecas terem também sido avisadas para retirar das prateleiras obras susceptíveis de violar a lei da segurança nacional, incluindo de figuras do movimento pró-democracia, como o activista Joshua Wong ou a política Tanya Chan.
CCM | Novo espectáculo da Comuna de Pedra decorre entre hoje e domingo Hoje Macau - 20 Ago 2020 Têm hoje início as primeiras sessões do espectáculo “Mira-monte”, nome do novo espectáculo da companhia teatral Comuna de Pedra. O texto de Inês Kuan conta a história de Lumi e a sua aventura na montanha. O espectáculo insere-se na iniciativa CCM Artmusing Summer e destina-se aos mais pequenos [dropcap]A[/dropcap] companhia teatral Comuna de Pedra está de regresso aos palcos, desta vez com um espectáculo destinado aos mais pequenos e inserido no cartaz CCM Artmusing Summer. “Mira-monte” é o nome do espectáculo que começa hoje no Centro Cultural de Macau (CCM) e que poderá ser visto até domingo, dia 23 de Agosto. Diariamente decorrem três sessões às 11h, 14h30 e 17h, com a duração de 45 minutos cada. Com direcção artística e coordenação de Jenny Mok, “Mira-monte” conta a história de Lumi e o seu percurso desafiante até ao topo de “uma bela montanha nevada”. Segundo uma nota divulgada pelo CCM, trata-se de um “adorável espectáculo sem palavras, mas repleto de efeitos visuais para miúdos a partir dos quatro anos”. O público poderá assistir a uma apresentação que combina “movimento corporal e manipulação de marionetas ao doce som do grupo Water Singers, as alegres artistas vão interagir num fantástico acampamento, montado pertinho do público”. O texto e a encenação do espectáculo está a cargo de Inês Kuan, que decidiu explorar a vida de Lumi depois da sua subida à montanha. “Qual será a próxima aventura? Será que Lumi vai explorar novas paisagens e fazer novos amigos? A conquista da montanha é a primeira de muitas histórias. A energia criativa leva-nos sempre muito para além dos sonhos mais audaciosos”, descreve o CCM. De volta Este espectáculo marca o regresso da Comuna de Pedra ao activo, depois de uma paragem forçada devido à pandemia da covid-19. Fundada em 1996, a companhia teatral tem-se dedicado a produções de dança e teatro físico bem como a trabalhos multimédia, explorando elementos diversos para desenvolver uma gama alargada de possibilidades artísticas. A companhia criou mais de 50 trabalhos tendo sido convidada para espectáculos e intercâmbios culturais com outros países, tendo também organizado uma série de projectos de colaboração, convidando artistas internacionais de renome. Nos últimos dez anos, a Comuna de Pedra tem trabalhado muito na área do teatro para a infância, tendo produzido, além de “Mira-monte”, o espectáculo Kidult Man. A companhia liderada por Jenny Mok tem-se dedicado também a vários projectos educacionais para os mais jovens, tendo organizado workshops e divulgado histórias na comunidade, palestras e seminários sobre a educação teatral das crianças.