Inflação | Preços ao consumidor caíram pela primeira vez desde 2009

O principal indicador de inflação na China, o índice de preços ao consumidor, registou uma contracção homóloga de 0,5 por cento em Novembro, na primeira queda desde Outubro de 2009, segundo dados oficiais ontem divulgados.
Em Outubro, aquele indicador tinha já registado o menor crescimento homólogo dos últimos onze anos, sobretudo devido à queda do preço da carne de porco, que chegou a registar subidas homólogas acima dos 100 por cento, nos últimos 19 meses, devido a um surto de peste suína que devastou a produção doméstica.
Em Outubro, o preço da carne de porco caiu 2,8 por cento, mas em Novembro a queda foi superior e fixou-se em 12,5 por cento.
Dong Lijuan, estatístico do Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) da China, atribuiu a queda no preço à “recuperação contínua da produção de carne suína”.
No conjunto, os preços dos alimentos caíram 2 por cento, em Novembro, a primeira queda desde Janeiro de 2018.
No período de Janeiro a Novembro, a inflação ao consumidor da China aumentou 2,7 por cento, em relação ao mesmo período de 2019.
O índice de preços ao produtor da China caiu, em Novembro, 1,5 por cento, em relação ao mesmo mês do ano anterior, depois de registar uma queda de 2,1 por cento em Outubro.
O GNE disse que a produção industrial da China continuou a recuperar, enquanto a procura no mercado aumentou, elevando os preços dos bens industriais.

Sichuan | Dois milhões de pessoas vacinadas de urgência após novo surto

A província chinesa de Sichuan, que diagnosticou sete casos de covid-19 nos últimos dias, iniciou um programa de vacinação de “emergência” que abrangerá até dois milhões de pessoas, avançou ontem a imprensa estatal.
Segundo o jornal oficial Global Times, as autoridades esperam concluir esta campanha de vacinação antes do final deste ano.
Sichuan declarou, nos últimos dias, o estado de alarme, reservado para tempos de guerra, e ordenou a execução de testes em massa num dos distritos da cidade, após ter detectado uma cadeia de transmissão do vírus cuja origem ainda é desconhecida.
Os primeiros a receberem a vacina serão funcionários de saúde, professores, estivadores, estudantes ou funcionários que tenham que viajar para o estrangeiro, explicou o número dois da equipa de Sichuan encarregue de combater a pandemia, Luan Rongsheng.
A partir do início de 2021, outros grupos, como idosos ou portadores de doenças crónicas, começarão a ser vacinados.
Segundo Luan, a vacinação da população em geral começará em Fevereiro, após o Ano Novo chinês, mas dependerá de quantas vacinas estarão disponíveis. O responsável considerou que assim que a taxa de vacinação ultrapassar os 80 por cento, dificilmente o vírus reaparecerá.
Embora as autoridades não tenham confirmado esta informação oficialmente, o jornal Sichuan Daily destacou que vão ser utilizadas vacinas à base de vírus inativados e que o seu preço se vai fixar em 400 yuans.

Aprovação a caminho

A vacinação será feita em duas doses inoculadas com intervalos entre 14 e 28 dias.
As condições seriam idênticas às estabelecidas em algumas cidades da província de Zhejiang, na costa leste da China, onde a vacina começou a ser administrada a pessoas em grupos de risco em Outubro passado.
A China ainda não concedeu licenças a nenhuma vacina candidata para comercialização, embora no final de Julho tenha aprovado o seu uso em alguns casos considerados urgentes.
No entanto, o Conselho de Estado (executivo) anunciou que vai aprovar a comercialização de 600 milhões de doses de vacinas contra o coronavírus – quatro delas já na última fase de testes – antes do final de 2020.

MAM | Trajes da dinastia Qing em exposição a partir de 16 de Dezembro

Será inaugurada na próxima semana, no dia 16, no Museu de Arte de Macau (MAM), a exposição “Aparência Majestosa: Trajes dos Imperadores e Imperatrizes Qing da Colecção do Museu do Palácio”, pelas 18h30. Esta mostra, realizada em parceria com o Instituto Cultural e o Museu do Palácio, apresenta cinco secções, incluindo “Trajes Oficiais”, “Trajes Festivos”, “Trajes Regulares”, “Trajes Militares e de Viagem” e “Trajes de Lazer”. O público poderá ver cerca de 90 peças (conjuntos) de trajes e acessórios dos imperadores e imperatrizes da dinastia Qing da colecção do Museu do Palácio. A mostra tem, assim, como objectivo “dar a conhecer todo o trabalho sofisticado por detrás do fabrico de cada item, a influência mútua e a integração das culturas Manchu e Han, bem como os gostos sofisticados da moda chinesa”.
Esta exposição centra-se na selecção de artefactos dos períodos dos imperadores Kangxi, Yongzheng e Qianlong, “a fim de recriar o esplendor da época, apresentando igualmente vários itens deslumbrantes pertencentes a consortes imperiais de meados e finais da dinastia Qing, com vista a reflectir a evolução das tendências da moda”.
Além desta mostra, serão também realizadas diversas actividades paralelas, incluindo palestras com oradores especializados do Museu do Palácio, visitas guiadas, workshops e jogos com prémios. No dia 14 de Dezembro terá lugar a palestra “Esplendor Nacional e Aparência Imperial – O Sistema de Cores dos Trajes da Dinastia Qing e a Sua Evolução” com Zhang Xin, investigador associado da Divisão de Artefactos Bordados do Departamento de Vida no Palácio e Rituais Imperiais no Museu do Palácio. A 26 de Dezembro tem lugar a “Actividade para a Família dos Amigos do MAM: Novas Vestes do Imperador”.

DocLisboa | Macau recebe festival de cinema com filmes portugueses e locais

A extensão do festival DocLisboa está de regresso a Macau. Entre os dias 16 e 19 deste mês o público poderá assistir a películas portuguesas e locais, como é o caso do filme “A Lily Ainda por Desabrochar”, de Lei Cheok Mei, ou “Grandmas’ Dangerous Project”, de Peeko Wong. De Portugal chega o filme “Zé Pedro Rock’n’Roll”, de Diogo Varela Silva, entre outros

Os amantes do cinema, sobretudo do género documentário, terão oportunidade de ver algumas películas entre os dias 16 e 19 deste mês no âmbito da VIII edição da Extensão a Macau do DocLisboa, festival de cinema documental. Trata-se de uma iniciativa do Instituto Português do Oriente (IPOR).
Nesta edição destaca-se a exibição de cinco obras de realizadores portugueses e duas de realizadores estrangeiros, e que foram apresentadas no XVII Festival Internacional de Cinema DocLisboa. Serão também exibidas mais três produções, duas no âmbito da colaboração com a Creative Macau e uma outra no âmbito da colaboração com o Festival Literário Rota das Letras.
No primeiro dia da extensão do DocLisboa em Macau será exibido o filme “A Lily Ainda por Desabrochar”, da realizadora Lei Cheok Mei, que venceu, em 2018, a secção Local View Power do Festival Internacional de Cinema e Prémios em Macau. A realizadora foi também nomeada para o prémio de melhor documentário no concurso Golden Harvest Awards for Outstanding Short Films o ano passado.
Também no dia 16, será exibido o filme “Gradmas’ Dangerous Project”, de Peeko Wong, vencedor do Prémio Best Local Entry. “The Lighthouse”, de Jay Pui Weng Lei poderá também ser visto. Este filme venceu o Prémio Macau Cultural Identity do Sound & Image Chalenge de 2019.

Zé Pedro e amigos

A 18 de Dezembro será exibido o filme “Três Perdidos Fazem um Encontrado”, de Atsushi Kuwayama, e que venceu o Prémio Escolas e o Prémio ETIC – melhor da competição portuguesa da Secção de Competição Portuguesa do Doclisboa. Este filme retrata um japonês de coração partido e o seu amigo indiano em peregrinação numa auto-caravana velha, em busca de uma nascente sagrada no sul de Portugal, procura que se torna um apelo à alteridade e empatia.
No mesmo dia será exibido “Rio Torto”, de Mário Veloso, vencedor do Prémio Fernando Lopes, Prémio Midas e o Prémio Pedro Fortes da Secção Verdes Anos do Doclisboa. Neste festival são também exibidos os filmes “Prazer! Camaradas!”, de José Filipe Costa; “Há Margem”, de Filipe Oliveira, “Outside the Oranges are Blooming”, de Nevena Desivojevic; e “The Sound of Masks”, de Sara CF de Gouveia.
Destaque ainda para, a 19 de Dezembro, a exibição de “Zé Pedro Rock’n’Roll”, documentário de Diogo Varela Silva sobre o músico da banda portuguesa Xutos & Pontapés. Este filme venceu o Prémio Público da Heart Beat do Doclisboa.
A extensão a Macau do Doclisboa é uma iniciativa do Instituto Português do Oriente (IPOR) em parceria com o Instituto Cultural e Associação Pelo Documentário (APORDOC). O objectivo desta iniciativa é “proporcionar ao público um conhecimento sobre as propostas e as linguagens que marcam o cinema documental contemporâneo, em Portugal e em Macau, colocando, deste modo, em diálogo expressões artísticas oriundas destes dois contextos”. Todas as sessões decorrem no auditório Dr. Stanley Ho, no edifício do consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, a partir das 19h. A entrada é livre. No sábado serão feitas duas exibições, uma às 17h e outra às 18h30.

Como é que a pandemia mudou o sexo?

Já passaram nove meses desde que a pandemia foi declarada. Uma das muitas perguntas por responder – que os investigadores do sexo se têm mais debruçado – é de como é que o sexo, e as relações de intimidade, poderão ter mudado com tudo isto. No início especulou-se sobre o pico dos bebés corona ou, ao contrário, o pico de divórcios. A semana passada o Hoje Macau publicou uma reportagem sobre os trabalhadores sexuais e a pandemia, mostrando que as transformações no sexo são complexas. Claro que o período de confinamento mais severo desregulou as rotinas de todos, e talvez aí tivesse havido potencial para uma transformação mais abrupta (para o bem e para o mal). Mas agora regulam-se as vidas para algum tipo de normalidade pandémica, que ainda ninguém sabe qual é.
A pouca investigação que existe mostra algumas transformações no sexo. A pandemia veio trazer algum espaço para inovação, mas também veio trazer algum desinteresse. Com base no estudo divulgado pelo Kinsey Institute, que costuma ser um líder nestas matérias, aqui ficam algumas evidências de transformação.
O estudo mostra que as pessoas (acompanhadas) e que reportaram satisfação com a sua vida sexual em tempos de pandemia, também reportaram a inclusão de novas actividades na sua prática sexual. Pessoas que se aventuraram em, por exemplo, experimentar sexo anal pela primeira vez ou fazer um vídeo sobre sexo. Para pessoas que não estavam acompanhadas, o uso de plataformas digitais para estar em contacto com os outros foi importante para manter o interesse sexual vivo e de saúde. O distanciamento social e o sexo não são muito compatíveis. Mesmo que não se saiba se há transmissão por fluidos sexuais, como o esperma, é difícil imaginar qualquer forma de sexo que não envolva o toque. O sexo casual precisou de se re-inventar. Também se têm reportado, apesar de anedoticamente, o crescente consumo de produtos e brinquedos sexuais. A durex diz que houve um declínio no consumo de preservativos, mas um aumento na venda de lubrificantes. Novas e mais sofisticadas práticas masturbatórias poderão ter sido uma consequência pandémica – para as pessoas que confinaram sozinhas e não só.
Por outro lado, também há quem reporte desinteresse no sexo e uma perda na sua qualidade, o que não é de admirar de todo. Vive-se atualmente uma pandemia que, para além de tornar mais saliente a doença e a morte, tem vindo a trazer desafios sociais e económicos que bem ajudam a estimular o stress a níveis catastróficos. O stress, já bem sabemos, pode atrapalhar a líbido de formas complexas alimentando uma verdadeira pescadinha de rabo na boca. Ansiedade, leva a desinteresse, e o desinteresse leva à ansiedade também. Com a ressalva, contudo, que o stress não é um preditor exclusivo para o desinteresse sexual, apesar de ajudar bastante. Há quem consiga usar o sexo e a masturbação como uma forma de gestão do stress.
Ainda é necessária mais informação para perceber estas dinâmicas pandémicas. Haverá, certamente, diferenças individuais que vão explicar alguns destes resultados. A híper conectividade de écrans e mensagens têm conseguido compensar a ausência de contacto social, mas o evitamento dos corpos tem sido demasiado real (quem fica a aflito a ver filmes na era pré-covid, com pessoas amontoadas em espaços pequenos e pouco arejados?). Ainda estamos para descobrir como é que ausência de toque e de contacto poderão afectar o sexo e a intimidade, a longo-prazo. Só o tempo dirá.

Ai que

Horta Seca, no passeio, Lisboa, quarta, 4 Novembro

A sensação não nasceu por estes dias, mas acabo também eu por não praticar como devia o mergulho nas águas profundas da ficção científica. O almoço com o Filipe [Homem Fonseca] soube-me a intergaláctico, e dei por mim, sem uso de estupefacientes, a ver-nos tocar cada um para seu lado o teremim, que ele sabe bem e eu nada. Aliás, o instrumento exacto para quando nos impedem o contacto. Pode ter nascido daqui algo de outro mundo, mas a transversalidade do encontro deixou-me com mais rasgões do que a assistente serrada do mágico desajeitado. (Em breve e a propósito, a abysmo dará passo na direcção do mais-além viajando com prosa negra de FC. Sigam-nos se querem ver.) Vai daí, lembrei-me desta perturbadora ilustração de um extraordinário explorador visual destes territórios, Virgil Finlay (1914-1971). Fê-la para Hepcat of Venus, de Randall Garrett, onde um Observador Galáctico, semi-deus tudólogo, se deixa surpreender por «a jive trio in a beatnik hangout» onde os instrumentos são extensões do corpo dos intérpretes. Que andamos nós a compor e a tocar?

Horta Seca, Lisboa, quarta, 2 Dezembro
Revejo os ares e faltaram-me bumerangues: além de livros, que a casa quer-se pôr a celebrar a sua década e nisso há jornais, catálogo ambicioso, edições ainda mais especiais, e antologia peculiar, faltou tomar nota dos lugares doidos que querem cruzar o território com a palavra, o outro bêbado de vanguardismos que querer misturar realidade e ficção, ou os trabalhos em mãos com o João Francisco [Vilhena] para misturar rostos e memórias, e portanto território e ficção e palavra com realidade. Só para não me esquecer onde vou.

Horta Seca, Lisboa, sexta, 4 Dezembro

«Voilá: estava eu na minha biblioteca e o meu filho aproxima-se: ó mãe, diz ele, seria possível procurar-me nesta barafunda um livro que me emprestaram e eu quero devolver? Digo que sim, talvez, quem sabe. E como se chama o livro? Gritos da Minha Dança, responde-me.» Assim em sonho surgiu a Fernanda Botelho o nome deste seu derradeiro volume, que não o das Obras Completas, que a ordem escolhida foge à cronologia e procura propor maneiras de entrar em obra interpeladora. Outro objecto, mais ou menos inclassificável, colecção de fragmentos apanhados ora do chão quotidiano ora do céu da fulgurância. Tropeçamos a cada passo em subtilezas, de observação, de pensamento. E leituras de si. O conjunto apropriadíssimo para o entorno. «Que ninguém, no entanto, se engane ou caia em confusões: não será determinantemente uma biografia, muito menos uma autobiografia, se bem que de ambas tenha a sua parte. De diário, mensário ou anuário também um tanto terá, desordenado, ao sabor de caprichos ociosos, de apetites pontuais, de exigências compensatórias de silenciosas carências, de descargas emotivas, de recalques finalmente soltos e galopantes…»

Santa Bárbara, Lisboa, sexta, 4 Dezembro

No dia em farias 90 anos, neva na tua Gardunha. Nunca te tratei por tu, pai, mas justifica-se agora para te dizer que a tenho visitado, nas palavras de portadores de ideias e comboios e granito e nuvens. Qual delas se trabalha melhor a maceta e escopro?

Santa Quitéria, Lisboa, segunda, 7 Dezembro

Afazer de susto põe-me a bater à porta da novíssima Snob em tarde chuvosa. Não há melhor lugar de recolhimento das intempéries, ainda que modestas ou íntimas, que uma livraria. Melhor ainda se fechada, a não ser para responder a sedes de passagem. A volta a dar será a do costume, estantes a esconder paredes, mesas a ocupar o centro com os rostos vociferantes ou sussurradoras. O novo convive aqui com o velho para dizer o óbvio, os tempos afinam-se para além dos calendários. Se fora o Inverno se anuncia, sem grande glamour, a arrumação dentro não esconde a imensa tempestade que aqui se conserva prestes a explodir em quem queira. Pode aceder-se à incontável floresta de lombadas de muitas maneiras, mas o bom livreiro conhece-as todas, temas e geografias, claro, mas também capistas e tradutores, desconfio que até tipos mal encarados e os tipográficos. Além da coordenada que interessa apenas a uns quantos, as editoras. (Tive a prova há tempos na Feira do Livro da capital quando um leitor atento trazia lista de bons livros, mas estava perdido por não saber onde encontrar as mães de cada um dos seus orfãos. Fiz de frustre livreiro, na ocasião.) Alegrei-me, portanto, com a nova casa do vagabundo Duarte [Pereira], que não deixou nunca de espalhar sabedoras orientações para quem navega em alto mar. Um farol, fica dito, dos que não se apagam nem quando o ecrã se quebra ou os satélites se escondem do lado errado.

Santa Bárbara, Lisboa, terça, 8 Dezembro

Fora isto diário despido, sobretudo dos enquadramentos, do sobretudo das consequências, teria que colocar aqui os veios do mármore em que tenho embatido. Faz um tempo de avaliações miudinhas, de molha tolos, portanto, e não escapo sem que a realidade me encharque. Um amigo, desconfio que sem querer ou por achar que eu devia ter disso consciência, deixa claro em amistosa conversa que a abysmo não está na lista das editoras capaz de enfrentar e servir a sua obra. Afinal, pouco mais será que capricho de meia idade de um doidivanas. Uma viagem em passo de corrida à tradução da última década deu-me a entender a que acontece uma atenção fervilhante e diligente às mais obscuras e perigosas paisagens do mundo literário. E nós, ensimesmados? No site, essa coisa prática e óbvia que conseguimos tornar projecto peregrino, o blogue vai chamar-se Mymosa. Quando a pandemia fechou a Mimosa do Camões, todos percebemos que o mundo e nós com ele havíamos mudado mais do que pensávamos. Durante uns anos valentes, aquelas salas foram prolongamento bastante mais do que físico do que a editora foi sendo. Ao fazer texto que olha para aquele mundo agora em ruínas, interrogo-me se não terá sido fogo fátuo, se dali terá nascido outra coisa que não espuma, se foi haiku. Diz o Luís [Carmelo], o primeiro a pôr o lugar no mapa da língua, no seu poema «Mymosidades», que acabou por dá origem à sua Nova Mymosa, depois de lido em voz alta em noite orgíaca: «[…]É verdade que o presente é um olimpo a desfazer a espuma nos lábios,/ talvez um estuário ou a cona de onde surgiu a cabeça e a maré a gritar a forma do/ ângulo raso. […]// Por vezes, há factores arbitrários/ como naquela noite em que nos sentámos a falar da tabuada/ e a bússola que cegava certezas se transformou/ no craque do lápis a quebrar-se em duas partes.// Foi o mais belo Haiku da minha vida.»

O abraço

Me abrace, que no abraço mais do que em palavras, as pessoas se gostam.
Clarice Lispector

Se é para escrever sobre os dias então que seja dito: a coisa tem sido difícil, desgraçada, às escuras. E de tantas maneiras e todas más: a incerteza, a insegurança, a distância, a ausência de tudo: de quem amamos, de nós, das rotinas, do dinheiro. Falo por mim, que tudo isto me bateu à porta e ainda se senta à sala. Não há como fugir e apenas se pode estar grato que o essencial ainda nos habite. Aquele velho adágio e final de discussão que tantas vezes trocei ganhou uma verdade ainda maior que já tinha, para minha vergonha: “Saudinha é que é preciso!”, diziam-me os mais velhos quando eu era imortal. E eu concordava hipocritamente sabendo que era precisamente a saudinha que desejava desperdiçar. Agora já não rio e digo exactamente o mesmo a quem me rodeia. Sem ironia nem displicência, infelizmente.
Mas uma vez compreendido o essencial desta sabedoria fico com ainda muito por resolver. O mundo muda e eu não, ou pouco. Pela primeira vez percebo que a vida vai em excesso de velocidade para quem como eu gosta de registar as paisagens. Mas o que fazer, amigos? Num ano em que os obituários se sucedem, resta viver e tentar não ficar preso aos inventários das perdas.
Infelizmente não consigo, por feitio ou convicção. E reparo mais no que me falta do que no que poderei ter. Coisas pequenas, por vezes, mas que crescem como flores selvagens e inacessíveis. Pequenos gestos que se engrandecem pela sua ausência – pelo menos a ponto de servirem de pretexto para estas palavras.
Finalmente aqui chegados, peço: considerem o abraço. Gesto simples, outrora rotineiro e tantas vezes esperado. O abraço foi-nos tirado, amigos. Esse amplexo lindo e inocente que tanto serve um romance como uma amizade. Essa vontade definitiva de tocar quem estimamos ou amamos, esse “amor envergonhado” que sinaliza de forma visível as amizades ou reitera de forma casta quem desejamos. Por Deus, até os alemães – povo não dado a grandes extroversões afectivas – possuem o provérbio que diz, mais ou menos, que um abraço por dia mantém os demónios longe.
Nestes dias, o abraço passou à clandestinidade. O novo protocolo sanitário aceita toques de falanges, metatarsos ou articulações sortidas mas proíbe o abraço. A prova desta afirmação é fácil: experimentem abraçar alguém em público, sem medo e de forma acolhedora e ireis ter ao vosso redor olhares que não deveriam lá estar. Sei do que falo porque sou um abraceiro convicto e enquanto ninguém me prender não me inibo de pôr os braços ao redor dos meus amigos, em público e sem medo. Mas que sinto o peso dos olhares de censura à beira da denúncia- ui, isso sinto.
Abraçar, uma das saudações mais humanas e bonitas, transformou-se num acto de resistência. Mas por favor compreendam: não estou aqui a incitar o desprezo pelas regras de saúde pública. Apenas exaltar algo que não quero que desapareça, que quero que regresse com urgência. Por favor, não me façam escrever o obituário do abraço porque nesse dia desistirei de ser humano.

Bolsa | Plataforma ‘online’ JD Health sobe 50% na estreia

As acções da maior plataforma de saúde ‘online’ da China dispararam 50 por cento na sua estreia em bolsa, reflectindo o entusiasmo dos investidores pela indústria, numa altura em que a China emerge da pandemia do novo coronavírus.
A JD Health, uma subsidiária da JD.Com Inc., empresa líder no comércio electrónico na China, vende medicamentos, programas de cuidados hospitalares e consultas médicas via ‘online’.
As gigantes chinesas da indústria da Internet oferecem cada vez mais serviços de saúde num país onde os hospitais estão sobrecarregados e a distribuição de remédios e suprimentos médicos fora das grandes cidades é desigual.
As consultas pela Internet com médicos que falam chinês são também populares entre as famílias da China a viver fora do país.
Outros concorrentes incluem o Alibaba Health, do gigante de comércio eletrónico Alibaba Group; o Baidu Health, administrado pelo motor de pesquisa líder na China Baidu.com Inc; e a WeDoctor, administrada pela Tencent Holding, operadora do popular serviço de mensagens instantâneas WeChat.
A pandemia do novo coronavírus aumentou a procura por estas plataformas na China.

Em expansão

Os investidores têm “grandes esperanças de que este tipo de empresa se desenvolva na China”, disse Jackson Wong, director de gestão de ativos da Amber Hill Capital Ltd. em Hong Kong.
“Este novo padrão de compromissos digitais provavelmente continuará e aumentará a frequência das consultas”, disse o analista da indústria Kevin Chang, da Bain & Co, num relatório.
Os gastos dos consumidores e as actividades comerciais recuperaram para níveis acima do período anterior à pandemia, depois de a China, onde a pandemia começou em Dezembro, ter controlado a doença.
As restrições para viajantes oriundos do exterior, no entanto, ainda estão em vigor.
A JD Health arrecadou cerca de 3,8 mil milhões de dólares com a venda de 20 por cento da empresa na bolsa de Hong Kong.
Trata-se da segunda maior oferta de acções em Hong Kong este ano, a seguir à empresa mãe, a JD.Com.
O Partido Comunista está a incentivar o uso de serviços de saúde ‘online’ para reduzir a carga sobre os hospitais.
A JD Health disse que planeia expandir a sua farmácia ‘online’ e desenvolver “soluções inteligentes de saúde”, apoiadas por inteligência artificial.
A empresa diz que tinha 72,5 milhões de utilizadores activos em Junho, um aumento de 30 por cento, em relação ao ano anterior.

Venezuela | Encontro virtual de escritores lusófonos homenageia Pessoa

Arrancou ontem o Primeiro Encontro Virtual de Escritores Lusófonos na Venezuela, que homenageia o poeta Fernando Pessoa e une sete escritores e intelectuais contemporâneos portugueses ao público venezuelano, noticiou a Lusa. O embaixador português em Caracas, Carlos de Sousa Amaro, indicou que se trata de uma oportunidade para conhecer o património literário em língua portuguesa existente em vários continentes “que une diferentes culturas numa mesma expressão linguística”.

“Este primeiro encontro de escritores lusófonos pretende ainda difundir o trabalho de autores de diferentes países e contextos culturais que utilizam o português como língua de expressão. Desde Malaca (na actual Malásia), passando por Macau, África, Brasil e Portugal, há escritores que prestam homenagem à língua portuguesa nas suas produções, convertendo-se em verdadeiros promotores do nosso idioma no mundo”, explicou o diplomata.

O Encontro decorre até 12 de Dezembro, sendo transmitido nas redes sociais da Coordenação do Ensino do Português na Venezuela. Um dos participantes é Miguel de Senna Fernandes, escritor de Macau, além de Deane Barroqueiro (EUA), Delmar Maia Gonçalves (Moçambique), Luísa Timóteo (Malásia), Jerónimo Pizarro (Colômbia), Juan Martins (Venezuela) e Julián Fuks (Brasil).

“Este evento tem como objectivo difundir o valor que tem o nosso idioma na actualidade, assim como a crescente importância que terá no futuro”, afirmou Carlos de Sousa Amaro. Já o coordenador do ensino da Língua Portuguesa na Venezuela, Rainer Sousa, explicou que o encontro ajuda a perceber que “a língua portuguesa foi reinventada, adaptando-se a climas diferentes ao de Portugal, sendo também adoptado por pessoas de culturas muito variadas”.

 

Doci Papiaçám | Coro reactivado com actuação na Igreja de São Domingos

Passados vinte anos sobre a última actuação do coro do grupo Doci Papiaçám por ocasião do Natal, a iniciativa regressa para dar voz a cânticos e músicas da época. A actuação, apresentada também como uma mensagem de esperança, acontece na Igreja de São Domingos, no dia 19 de Dezembro

O coro dos Doci Papiaçám di Macau vai actuar na Igreja de São Domingos, no dia 19 deste mês, pelas 17h30. O grupo irá dar voz a canções de Natal e outras de teor religioso na missa, em Patuá, celebrada nesse dia. E quer deixar uma mensagem de esperança. “Volvidos 20 anos o Grupo quer celebrar o Natal com a população, a ocorrer num ano tão atípico e repleto de emoções. Trata-se de uma mensagem de esperança e de apelo à resiliência, na recepção de novos tempos de muito desafio”, disse Miguel de Senna Fernandes em comunicado.
A primeira actuação do coro foi neste mesmo dia, mas numa época diferente: corria então o ano de 1998, em vésperas da transferência de soberania. Já a segunda apresentação deu-se a 24 de Dezembro de 2000, quando o grupo acompanhou a missa do galo. Em ambas as situações o palco foi a Igreja de São Domingos. “A partir daí houve mais uma ou outra intervenção, por ocasião de outros encontros, mas fora do contexto do Natal. Há 20 anos que não cantamos por ocasião do Natal”, descreveu o representante dos Doci Papiaçám ao HM.
O coro vai acompanhar a missa de dia 19, que decorre em português, sendo que todos os cânticos vão adoptar o patuá. É nessa língua que vão ser cantados momentos solenes como o salmo, e também as alturas do ofertório, comunhão e acção de graças. “Há momentos de pausa, e são momentos para o coro poder intervir. Acho que vai ser bonito”, descreveu Miguel de Senna Fernandes. Depois da missa seguem-se músicas globalizadas também em patuá, com temas como “White Christmas” ou “Santa Claus is Coming to Town”.

Momento de convívio

Com o passar do tempo, as condições para o coro se manter deixaram de existir. No entanto, durante muito tempo houve quem alimentasse a ideia de trazer o projecto de volta. Este ano, marcado por adversidades de saúde pública, surgiu a oportunidade de o fazer, embora sem a orquestra que chegou a existir no passado. Em vez disso, faz-se uso da tecnologia para produção de som. “É um momento de descontração, um momento de convívio do grupo”, lançou Miguel de Senna Fernandes.
Com pouco tempo de preparação, o responsável explica que poder contar com pessoas com quem já trabalhou ajudou no processo. “Sabemos das qualidades de cada um e os aspectos que teríamos de corrigir. Uma confiança mútua entre as pessoas torna a coisa mais fácil”, indicou. A iniciativa regressa para o Natal, mas fica a ideia de revitalizar o coro também para outras ocasiões.
Num ano “atípico” e “absolutamente excepcional”, Miguel de Senna Fernandes reconhece que “tivemos sorte em Macau, mas noutras partes do mundo tal sorte não existe”. Pelo que se pretende passar “uma mensagem de esperança, de que melhores momentos virão com certeza”.

Gastronomia | Restaurante 3 Sardinhas inaugura conceito de peticos em Macau

Desde da inauguração em Junho que a casa está cheia. André Da Silva Gomes, Pedro Almeida e Mauro Almeida são os três chefs responsáveis pelo 3 Sardinhas, espaço dedicado exclusivamente a servir petiscos. Neste “Dim Sum” à portuguesa, a ideia é partilhar sem ter de escolher e sempre em família

“Passar a porta do 3 Sardinhas é a mesma coisa que estares a entrar em casa da tua avó. Há sempre aquela saudade, nostalgia e aqueles objectos que estão lá, não se sabe bem porquê”, começou por dizer André Da Silva Gomes, fundador e chef do estabelecimento inaugurado em Junho.

Nas paredes há rádios antigos, ferros de engomar, objectos de função questionável, aquecedores a óleo e, claro, máquinas de costura de marca Singer perfiladas em prateleiras. A luz que entra pela janela é escolhida a dedo e não abunda. Subindo ao primeiro andar é dado a escolher se o cliente pretende sentar-se num assento, que noutros tempos voou no interior de um avião da TAP, ou em velhas cadeiras da plateia do Teatro da Trindade, em Lisboa.
André Da Silva Gomes, Pedro Almeida e Mauro Almeida compõem o trio de chefs fundadores e responsáveis pela gestão do 3 Sardinhas. A ideia de abrir em Macau uma casa de petiscos já vem de trás, mas acabou por ser concretizada apenas este ano, apesar de todos os temores em torno da crise gerada pela pandemia. O objectivo é permitir, através dos petiscos, que cada cliente possa ter a oportunidade de provar mais pratos.
“Quando começámos a pensar no projecto, sentimos a necessidade de diminuir muito as doses para que as pessoas pudessem provar mais pratos, principalmente turistas que estão em Macau durante dois dias e querem provar a gastronomia portuguesa”, explicou Pedro Almeida ao HM. É como se fosse um Dim Sum português, porque os chineses adoram pedir 10 pratos (…) e adoram comida portuguesa, que normalmente vem sempre em grandes doses”, acrescentou.

Sobre os riscos calculados que a abertura do novo espaço, numa altura de crise, poderia acarretar, André Gomes afirmou que o contexto difícil até jogou a favor do projecto, já que muitos portugueses estão impossibilitados de ir a casa.
“Estamos todos confinados aqui, os portugueses não podem ir a casa, então trouxemos a casa a eles. O mesmo acontece com os locais. Por isso, queríamos abrir algo novo como o 3 Sardinhas, com vida e histórias por trás de cada decoração e cada telha. Além de ser um conceito que não existia em Macau”, partilhou.

Casa cheia

De acordo com Pedro Almeida, desde a data de abertura que o espaço está “completamente cheio”, o que motivou inclusivamente mais tarde a abertura do restaurante Portucau. Além das sardinhas, entre os pedidos mais costumeiros contam-se o polvo frito, as costelinhas e os peixinhos da horta.
“Queríamos demonstrar a gastronomia portuguesa a toda a gente. Aos portugueses que têm saudades de ir a Portugal beber uns canecos e comer uns petiscos. Mas também aos turistas e aos locais a quem queremos mostrar que a cozinha portuguesa é muito mais que leitão, arroz de marisco e bacalhau à brás”, acrescentou André Gomes.
Sobre a influência que a gastronomia e o paladar de Macau teve na forma de confeccionar os petiscos servidos no 3 Sardinhas, Pedro Almeida aponta que a principal adaptação passa por “não matar a comida com sal”, como acontece em Portugal, até porque permite aproveitar muito melhor os produtos.
“Os chineses estão certos, estamos a matar a comida com sal. Estamos a comprar um produto bom e depois encharcamo-lo com sal. Por isso, cortámos um pouco no sal, ninguém vai morrer. Pelo contrário até damos alguns anos de vida às pessoas. Se querem mais sal, está na mesa”, apontou.
O chef acrescenta ainda que há determinados produtos como os pastéis de nata que não devem ser comparados com o que se faz em Portugal por ser uma evolução adaptada ao gosto e à cultura local e não uma receita replicada.
“Quando compro um, não penso que vou comer um pastel de nata, mas sim um pastel de Macau e vou apreciá-lo dessa forma e isso permite-me ver que há bons e maus dentro daquilo que é”, rematou.

Vacinas | Alvis Lo diz não ser necessária autorização de administração urgente

Depois de o Governo ter anunciado a chegada este mês de vacinas de emergência para o pessoal da linha da frente, o médico Alvis Lo Iek long disse que não é necessário autorizar a administração urgente. As vacinas vão ser gratuitas para residentes e tomadas de forma voluntária

O Governo anunciou, no debate das Linhas de Acção Governativa, que iam chegar este mês vacinas urgentes para o pessoal da linha da frente, como médicos, enfermeiros e bombeiros. No entanto, o médico Alvis Lo Iek Long afirmou em conferência de imprensa na segunda-feira que a situação do território não requer a sua administração.
“Com a actual situação epidémica de Macau, não é necessário que seja autorizada administração urgente da vacina”, diz uma nota do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus.
Em comunicado, indica-se que as vacinas encomendadas por Macau incluem diferentes técnicas de produção e que não serão obrigatórias. “Alvis Lo sublinhou que a introdução de vacinas por parte do Governo da RAEM terá como grande princípio a sua segurança e a eficácia, e que a vacinação terá como pressuposto a voluntariedade”, descreve.
A distribuição das primeiras vacinas vai ser ajustada de acordo com a quantidade, mas mantém-se a prioridade de vacinação para os trabalhadores da linha da frente, ou residentes com necessidade de se deslocarem ao estrangeiro. O médico escudou-se em acordos de confidencialidade relacionados com negociações comerciais assinados com diferentes laboratórios para não dar pormenores sobre a quantidade e calendários de aquisição de vacinas.
De acordo com a TDM Rádio Macau, Alvis Lo Iek Long reconheceu que numa fase inicial a maioria das pessoas pode esperar por ter receio, e que os residentes serão incentivados a tomá-la, mas garantindo que não vão ser usados meios de obrigatoriedade. Além disso, confirmou que as vacinas serão gratuitas para residentes, deixando para o futuro se a isenção de pagamento também se vai aplicar a trabalhadores não residentes.

Autorizações e rejeições

Até dia segunda feira foram recebidos 139 pedidos para entrada de 158 indivíduos em Macau. Recorde-se que a partir deste mês os estrangeiros que tenham estado no Interior da China nos 14 dias antes de entrarem em Macau podem entrar no território, mediante uma aprovação prévia do Governo que é cedida em situações excepcionais, como reunião familiar, actividades profissionais ou educacionais. Dos pedidos registados, 20 foram autorizados e 11 foram rejeitados por não cumprirem os requisitos.
Por outro lado, desde o início da pandemia até domingo já 20.376 pessoas foram encaminhadas para quarentena. Na segunda feira estavam em observação médica 1.492 indivíduos, duas em instalações dos Serviços de Saúde e as restantes nos hotéis designados. O Grande Coloane Resort voltou a fazer parte dos hotéis usados para quarentenas, com 200 quartos disponíveis.
Entre 30 de Novembro e 6 de Dezembro foram testadas mais de 97 mil pessoas em Macau, e submetidas 807 pessoas a observação médica. Macau não regista casos importados de covid-19 há mais de 160 dias.

Diplomacia | Rita Santos quer usar posição internacional para promover Macau

Os novos membros do Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural França-China das Nações Unidas foram recebidos por Edmund Ho, que considerou os cargos uma forma de ajudar o país

Rita Santos acredita que os cidadãos de Macau podem ser uma força no âmbito das relações internacionais. A mensagem da vice-presidente do Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural França-China das Nações Unidas foi deixada num encontro com Edmund Ho, ex-Chefe do Executivo e um dos vice-presidentes da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.
Num encontro em que participarem os outros três membros de Macau nomeados para o organismo com ligações à ONU, Marco Ting, Herman Ng e Joyce Wong, Rita Santos comprometeu-se diante do ex-chefe do Executivo a fazer “o seu melhor para demonstrar que os cidadãos de Macau são capazes de dar o seu contributo no âmbito do trabalho internacional”.
Ao mesmo tempo, a responsável afirmou que no âmbito da diversificação económica haverá oportunidades para o desenvolvimento de mais empresas europeias na RAEM, em áreas como o sector financeiro, a medicina e ainda a alta tecnologia.
Mas as trocas, no entender de Rita Santos, não funcionam apenas num sentido e haverá oportunidades para as empresas da RAEM. Segundo a também conselheira das comunidades portuguesas, o Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural França-China das Nações Unidas vai trabalhar com o objectivo de criar uma “série de plataformas de intercâmbio”, que irão permitir às empresas locais participar nos negócios entre a Europa e África.
Na vertente cultural, Rita Santos explicou a Edmund Ho que existe a esperança de que o Centro venha a organizar visitas de estudo para os residentes locais se deslocarem à Europa de modo a “expandirem a sua perspectiva internacionalmente”.

Promoção da RAEM

Por sua vez, o ex-Chefe do Executivo, Edmund Ho, elogiou as nomeações de Rita Santos, Marco Ting, Herman Ng e Joyce Wong para o Centro e considerou tratar-se de “uma óptima oportunidade para a participação nos assuntos internacionais”.
Segundo Ho, esta é ainda uma oportunidade para “promover as características da população da RAEM” e “desenvolver um bom trabalho” no Departamento dos Assuntos Económicos e Culturais do Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural entre a China e a França.
O vice-presidente do CCPPC elogiou ainda o papel do Centro que caracterizou como uma “organização internacional influente das Nações Unidas” e “uma ponte importante entre a França e a China”. Edmund Ho apontou ainda que a cooperação é cada vez mais importante “especialmente nos dias de hoje em que a situação internacional tem sido muito complicada”. Neste sentido, salientou que os quatro convidados recebidos podem “dar um bom contributo para o desenvolvimento do país”.

Estudo | Maioria dos inquiridos desconhece “habitação para classe sanduíche”

A Associação Love Macau, de Cloee Chao, realizou um inquérito sobre o conceito de “habitação para a classe sanduíche”, cujos resultados foram ontem apresentados. Cerca de 70 por cento dos inquiridos nunca ouviu falar da ideia associada a uma classe média que não cumpre os requisitos para se candidatar a uma habitação pública e que não tem capacidade para adquirir casa no mercado privado

As dificuldades começam logo pelo conceito em si. Cerca de 70 por cento das pessoas ouvidas no âmbito de um inquérito realizado pela Associação Love Macau, da activista Cloee Chao, nunca ouviu falar do conceito de “habitação para a classe sanduíche” ou não sabe bem o que isso significa. O estudo, ontem apresentado em conferência de imprensa, foi realizado a partir de meados de Outubro e tem como base 783 inquéritos válidos.
Segundo Cloee Chao, esta foi uma das principais dificuldades encontradas para realizar este inquérito. “Muitos participantes não souberam responder, ou porque não têm nenhuma ideia sobre o que é a habitação para a classe sanduíche, ou porque não sabem sequer da existência deste conceito.”
Cloee Chao admitiu que este estudo não pode representar as posições de toda a população porque a maioria dos residentes inquiridos não revelou conhecimentos suficientes sobre a habitação para a classe sanduíche.
Lei Man Chao, vice-presidente da direcção da associação, acredita que o conceito de habitação para a classe sanduíche é confundido com o de habitação económica. Nesse sentido, o responsável sugere que o Governo, após implementar as devidas regulamentações ao nível dos terrenos e dos critérios de candidaturas, deixe a habitação para a classe sanduíche desenvolver-se no mercado privado de forma liberal.

Mais T2

Outros resultados do inquérito mostram que 55 por cento dos inquiridos deseja ver construídos mais apartamentos T2, enquanto que apenas 39,97 por cento quer ver mais fracções de tipologia T3.
O estudo mostra ainda que mais de 60 por cento dos participantes quer que os candidatos a este tipo de habitação não tenham imóveis em seu nome antes da candidatura. Além disso, quase 80 por cento dos participantes defende que as candidaturas só devem estar abertas a residentes permanentes.

Hong Kong | Os primórdios da educação de matriz portuguesa

Jason James Santos, cidadão português a residir em Hong Kong, fez um levantamento exaustivo, no âmbito de uma tese de mestrado, sobre as escolas de matriz portuguesa criadas em Hong Kong no período compreendido entre 1841 e 1941. Da existência de “escolas livres”, fundadas por portugueses, a situação evoluiu para a fundação do Colégio de São José e Colégio La Salle, que ainda hoje existem e se destinam apenas a rapazes

A data da ocupação britânica do território de Hong Kong, em 1841, coincide com o início da aposta não apenas numa educação de matriz protestante, mas também católica. Foi nessa altura que começaram a aparecer as primeiras escolas de matriz portuguesa.
Estas e outras informações constam no ensaio “Portuguese Education in Colonial Hong Kong – 1841-1941”, elaborado por Jason James Santos no âmbito de uma tese de mestrado que o académico está a desenvolver na Universidade Nova de Lisboa. Jason James Santos é professor do ensino secundário em Hong Kong.
Este é um passo que nunca tinha sido dado, tendo obrigado Jason James Santos a enfrentar vários desafios durante a pesquisa de material. “Fiz um levantamento que nunca tinha sido feito, e mesmo no que toca à história de Hong Kong, na versão inglesa, tem havido muito pouco interesse nesta área. Fiz um levantamento muito simples, mas exaustivo, dos registos públicos que existem em Hong Kong”, contou ao HM.
Essa viagem no tempo levou-o a descobrir que, nas primeiras décadas da Administração britânica de Hong Kong, as escolas portuguesas proliferavam, mas pouco se sabia sobre elas. Eram as chamadas “Free Schools” [Escolas Livres] e delas apenas se sabe a rua, o nome do director e o número de alunos. “Qualquer pessoa poderia abrir uma escola, em qualquer lugar, até em casa. Não havia controlo. Temos um sem número de escolas que existiam porque alguém tinha dinheiro e vontade de o fazer. As esposas de quem tinha dinheiro e que tinham disponibilidade para dar aulas, abriam uma escola.”
Desta forma, no período compreendido entre 1849 e 1854 havia “uma série de escolas na mesma rua”, pelo que é possível que “a comunidade portuguesa estivesse concentrada na mesma zona”. Essa rua era a Wellington Street, hoje situada na zona central da ilha de Hong Kong.
“Na primeira década temos escolas com 20 alunos, e algumas notas referem tratar-se de uma escola portuguesa, cujo director é o senhor João Pereira. Os alunos eram europeus, de educação católica, e havia 20 alunos do sexo masculino. São os únicos registos existentes”, frisou Jason James Santos.
A supervisão dos conteúdos didácticos ou do ensino não existia. “Nas primeiras décadas da colónia não existia um departamento público destinado à educação, e foram os portugueses que impulsionaram a educação na colónia. Só em 1860 é que os britânicos sentiram necessidade de ter um pouco de controlo em relação ao que se estava a passar em termos de educação”, contou o investigador.
A falta de supervisão explica os registos bastante vagos sobre a época. “[Numa das notas] surge o senhor J.J. Silva e Sousa como director de uma escola com 50 alunos, e depois surge a senhora J.J. Silva e Sousa como directora de uma outra escola, na mesma rua, só para raparigas.”
Ainda assim, Jason James Santos acredita que neste período o ensino do inglês seria muito importante. “Quando se cria o secretariado da educação, já sob alçada do Governo colonial britânico, o primeiro secretário para a educação diz que é obsceno os alunos que estão a receber educação em Hong Kong não saberem falar inglês. Isso está numa carta que consta nos arquivos.” Além disso, “uns anos mais tarde, há um grupo enorme de portugueses que se juntam à Administração colonial britânica, ocupando uma série de cargos importantes, e que necessitam de falar inglês”.
É também no ano de 1860 que é fundada o St. Saviour College, uma “escola comercial para a comunidade portuguesa”, lê-se no documento produzido por Jason James Santos. “Nos primeiros anos da nova colónia, alguns indivíduos e mesmo famílias inteiras mudaram-se para Hong Kong em busca de trabalhos com maior reputação com a Administração colonial ou para desenvolver negócios no novo entreposto comercial do Império Britânico. Em alguns casos, a transferência de Macau para Hong Kong foi determinada por entidades que desejavam transferir completamente as suas operações.”

O Colégio de São José

A ocorrência de um violento tufão, no ano de 1874, que afectou bastante Macau, levou muitas famílias a partirem para Hong Kong. O que seria uma mudança temporária acabou por se transformar numa residência permanente até à II Guerra Mundial.
Neste período, “temos escolas com muitos mais alunos”. A partir da década de 70 do século XVIII surgem “uma série de escolas importantes”, sendo uma delas o Colégio de São José, que abre portas em 1875 e que à época se chamava Colégio de São Salvador.
“Toda a informação que existe sobre esta escola está nos cofres do colégio, até ao dia de hoje. E o acesso não é facilitado. Vi alguns documentos quando lá trabalhei. A qualidade dos documentos é terrível, têm documentos com mais de 100 anos de idade dentro de sacos de plástico”, referiu. O Colégio de São José está localizado na Kennedy Road, em Central, e apenas aceita rapazes, estando no ranking das melhores escolas do território vizinho.
Mas voltando às décadas de 70 e 80 do século XVIII, altera-se a designação de “Free Schools” para Escolas Portuguesas Privadas. Mantinha-se a génese de escolas profundamente elitistas e com separação de sexos, um modelo que ainda hoje persiste em Hong Kong.

A Victoria Portuguese School

Os arquivos revelam que, em 1914, é criada a Victoria Portuguese School, ainda que não se conheça a sua localização. Na década de 90 do século XX o nome é alterado para Nova Escola Portugueza. Em 1906 surge uma nova instituição de ensino, a “Equal Portuguese School” que tinha “as mesmas pessoas” da Victoria Portuguese School, e que mais tarde viria a chamar-se “English School for Portuguese”.
Há depois uma terceira vaga de escolas portuguesas, onde se inclui a fundação do Colégio La Salle, em Kowloon, e que mais não era do que uma extensão do Colégio de São José. “Em 1932 passa a ter o nome de Colégio La Salle e depois tornou-se a escola com maior reputação em todo o território. Na década de 30 tinha quase mil alunos, o que para a época era um número impressionante. O Colégio de São José tinha cerca de 200.”
Depois da II Guerra Mundial começaram a escassear as escolas de matriz portuguesa no território, o que coincide com a saída de muitos membros das comunidades portuguesa e macaense de Hong Kong, devido ao conflito mundial.
Ainda assim, Jason James Santos destaca um “caso estranho e muito mal explicado” ao qual promete regressar nesta ou numa outra investigação: o da Escola Camões, que ainda hoje existe mas que está ligada ao ensino inglês e chinês, tendo mantendo apenas o nome.
“Esta escola surge nos anos 50 e, segundo os seus estatutos, um grupo de portugueses queria reabilitar a educação portuguesa no território. Falei com professores que lá trabalharam que me disseram que o seu ordenado era pago pelo Estado português.”
Jason James Santos estranha este caso após décadas de escolas portuguesas privadas. “No século XIX era tudo privado, e depois no século XX temos alguns registos de apoio financeiro vindo do Governo de Macau. O próprio Governador de Macau fez algumas visitas a Hong Kong na primeira metade do século XX e havia algum financiamento. No pós-II Guerra não há nenhuma ligação, mas estes professores juram que o seu ordenado era pago pelo Estado português”, rematou Jason James Santos.

O lado positivo

José Carlos Matias elogia trabalho jornalístico na cobertura da pandemia

O presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), José Carlos Matias, considerou que o “jornalismo, a boa informação e a responsabilidade social dos jornalistas” destacaram-se num ano de desafios colocados pela covid-19.
“Celebramos este aniversário no final de um ano em que enfrentámos, todos na sociedade, vários desafios resultantes da pandemia da covid-19. O jornalismo, a boa informação e a responsabilidade social dos jornalistas emergiram aos olhos de todos como um bem público precioso”, disse à Lusa José Carlos Matias, por ocasião do 15.º aniversário da AIPIM.
Para o responsável, o sector dos média em português e inglês e a AIPIM beneficiaram muito com o “desenvolvimento extraordinário” da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) nos últimos 15 anos.
José Carlos Matias destacou os laços com os meios de comunicação social e associações locais em língua chinesa, bem como o apoio e diálogo com “o Governo, instituições e sociedade civil, numa dinâmica bastante positiva ao longo dos anos”.
Este foi um aspecto destacado pelo chefe do Executivo de Macau, Ho Iat Seng, numa mensagem de felicitações enviada à AIPIM. “A AIPIM tem estado empenhada em servir a RAEM, contribuindo para a sua harmonia e estabilidade, e aproveito esta oportunidade para lhe desejar os maiores sucessos no futuro”, escreveu.
Com cerca de 100 associados, o responsável da AIPIM salientou ainda a “cooperação muito relevante no âmbito da União de Beneficências das Associações de Trabalhadores da Comunicação Social de Macau, bem como cações de formação para profissionais e palestras abertas ao público, na procura “de servir a RAEM e o jornalismo local de várias formas”.
José Carlos Matias indicou ainda os “laços importantes” com associações de jornalistas dos países lusófonos.
Na segunda-feira, no Clube Militar de Macau, a AIPIM festejou formalmente o 15.º aniversário, na presença de várias dezenas de convidados, associados e representantes de associações locais.

Transporte marítimo | Abertura para pedidos de novas carreiras

[dropcap]O[/dropcap] Governo está disposto a abrir novas carreiras marítimas com cidades do sul da China e já terá recebido um pedido de uma concessionária. A informação foi avançada na sexta-feira por Susana Wong, directora dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água.

No então, a responsável não adiantou qual foi a concessionária que fez o pedido. “Uma companhia de navegação pretende criar uma nova carreira até à China e entendemos que somos capazes de angariar novas carreiras com as cidades do sul do Delta [do Rio das Pérolas]”, disse Susana Wong.

Também o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse que é “possível abrir mais rotas se as regiões vizinhas concordarem”. “Podemos abrir mais rotas nos terminais marítimos”, frisou.
Susana Wong adiantou que “devido à pandemia o número de passageiros caiu bastante”. “Neste momento não temos planos para criar um novo terminal [marítimo], mas estamos a ver como podemos aproveitar os actuais terminais marítimos”, concluiu.

Na prisão ao telemóvel

[dropcap]H[/dropcap]oje vou escrever-vos sobre um tema a quem ninguém agrada. Sobre as prisões em Portugal. A maioria dos portugueses não faz a mínima ideia das condições em que vivem os reclusos. Não vou defender criminosos, como os homicidas de mulheres e de crianças, os assaltantes de velhos com noventa anos para lhes roubar a pequena reforma ou os pedófilos que violam crianças de três anos que são suas enteadas. Se estão presos é porque foram sentenciados pelos tribunais, apesar de sabermos que muitos inocentes passaram anos e anos no interior de um presídio.

Um director de uma cadeia convidou-me para visitar o seu local de trabalho e para que eu acreditasse com os meus olhos nas condições depauperadas que existem no interior de um estabelecimento prisional. Passei o dia na conversa com o director falando sobre o que se passa no nosso Portugal presidiário e duas horas sobre a cadeia que dificilmente dirige. Não sabia, por exemplo, que entre os criminosos havia estatutos de certa “ética” e “moral”… só vos digo que um indivíduo que tenha matado a mulher ou violado uma criança, que sofre no interior da prisão aquilo que nunca imaginou. Passam a ser criados dos outros presos para todas as tarefas, são alvo de pancadaria mal “metem o pé na poça”, são alvo de actos sexuais de todo o género, nomeadamente, terem de fazer diariamente sexo oral a um qualquer preso que lhe apeteça. Estatutos que variam conforme as cadeias espalhadas pelo país e há cadeias onde os pedófilos sentem todos os dias um pau a ser-lhes enfiado pelo ânus ou andar com um peso metálico atado ao pénis. O interior das cadeias é mesmo tenebroso. Os prisioneiros organizam-se em mafias, alguns deles que já anteriormente pertenciam ao crime organizado. Há mesmo sentenciados com dez e quinze anos de detenção que controlam e gerem negócios que se processam no exterior tais como os de tráfico de droga e de prostitutas. A higiene nas cadeias é um horror e as casas de banho são de tal forma que nem os porcos lá entravam. Algumas das celas são desumanas, não são para um ser humano dormir juntamente com a sanita que nem água deita. Os recreios são normalmente momentos de conspiração para o que acontecerá nos próximos tempos no interior da prisão e para aqueles que vão sair em liberdade.

Os presídios em Portugal têm necessidades de toda a ordem. A alimentação é do pior que possam imaginar. O director mostrou-me a cozinha e confessou que se sente impotente para gerir as dificuldades que se lhe deparam por falta de verba e de pessoal competente. Quem dirige uma prisão tem forçosamente de ter um grupo de guardas prisionais de confiança. Grupo esse que tem de ter todas as benesses que entender, dias de folga nas datas que melhor lhes convier, liberdade para insultar ou agredir um prisioneiro, venderem aos reclusos os telemóveis topo de gama, fecharem os olhos aos bolos que as visitas transportam e que contêm no interior objectos letais.

O director a dado momento disse-me o que me fez quase duvidar da sua palavra, apesar de ter dado a sua palavra de honra. “Sabe que se algum preso quiser fugir é coisa que consegue quando lhe apetecer. É só pagar a certos guardas prisionais. Eles é que nem casa têm lá fora e aqui têm cama e comida”. Obviamente que a conversa tinha de deambular para os guardas prisionais, para a sua formação, para a sua seriedade, para o seu salário, para as suas ligações ao mundo do crime e para a falta de pessoal, cujas organizações do tipo sindical estão sempre a reivindicar melhores condições de trabalho e um aumento substancial no número de activos e de justeza nas suas carreiras profissionais.

O meu interlocutor é uma pessoa muito séria e trabalhadora. Às sete horas já está no gabinete de trabalho e na maioria dos dias só se retira para casa às vinte horas. Foi sério a responder-me a todas as perguntas e sobre os guardas prisionais não deixou de responder concretamente às questões mais melindrosas. Se os reclusos vivem num submundo, há guardas prisionais que não lhes ficam atrás. Há poucos dias soubemos que na cadeia de Paços de Ferreira havia guardas prisionais que geriam uma rede de tráfico de droga juntamente com alguns funcionários do estabelecimento prisional, corrupção com lucro exorbitante. Era um negócio que se fazia quase diariamente e há muito tempo. Os reclusos recebiam droga e telemóveis que eram colocados no interior do presídio por, pelo menos, quatro guardas prisionais. Apenas três foram presentes a julgamento porque o quarto morreu no entretanto, sem ter sido divulgada a razão do óbito. Os contactos entre guardas e familiares de alguns presos tinham lugar no exterior da cadeia e era aí que eram entregues os objectos proibidos. Negócios como estes estão enraizados em todo o país onde exista uma prisão, incluindo as de mulheres. Chega-se ao ponto de se namorar por telemóvel em vídeo-conferência de uma cadeia de mulheres para outra de homens. E não escrevo da tutela? Da Justiça? Não, não escrevo, porque o director que me recebeu, os presos e os guardas prisionais afirmam que a tutela vale zero.

*Texto escrito com a antiga grafia

André Namora

Colon e o Tratado de Tordesilhas

[dropcap]N[/dropcap]o regresso da inaugural viagem às Índias, Cristóvão Colon chegou a Lisboa em Março de 1493 e, apesar de andar ao serviço de Espanha, visitou primeiro o Rei de Portugal D. João II e os seus matemáticos que, já antes dele partir, conheciam a existência de um continente no outro lado do Atlântico. Sabia-se também estar a Índia a 135º Leste de Espanha, logo Colon para aí chegar por Oeste precisara de ter viajado 225º.

No mapa de Henricus Martellus do ano de 1489 aparecia o Oceano Índico já como um mar aberto, mas sem representação entre o Atlântico e a costa da China, e apresentava 24 fusos horários para os 360º da divisão da Terra, correspondendo cada fuso a 15º. O matemático cosmógrafo e navegador Duarte Pacheco Pereira (1460-1533), autor do De Esmeraldo Situ Orbis, calculara o valor do grau de meridiano e o perímetro da Terra pelo Equador em 40.001 km; diferença de menos 74 km da actual.

Os portugueses tinham transposto a linha do Equador em 1471, quando João de Santarém e Pêro Escobar encontraram o arquipélago de São Tomé e Príncipe e fruto da viagem de pesquisa de José Vizinho, em 1485 ficou pronta a Tabela da Altura do Sol no Equador. Nessa data, os físicos de Portugal, o cristão Rodriguo, o judeu Josefe e Martim de Boémia, criaram o astrolábio náutico.

A chegada de Colon às Índias aguçou o apetite de Espanha nas viagens marítimas, enquanto a prioridade dos portugueses estava no explorar a Sul e a Sudeste do Atlântico para descobrir os ventos e correntes a facilitar o navegar até ao Índico e assim, abrir por Leste a rota para a Índia.

“Portugal decidiu oferecer à Espanha um vasto território onde não existia qualquer comércio estabelecido, nenhuma cidade desenvolvida e nenhum porto construído para acolher navios, mas era perfeito para manter entretidos os exércitos de uma Espanha unificada, que ali iria ficar ocupada por largos tempos. Funcionou. A Espanha atirou-se à conquista do Novo Mundo…”, segundo Manuel da Silva Rosa, de quem provém muitas das informações encontradas no livro Portugal e o Segredo de Colombo, (Alma dos Livros, 2019), que revela ser Cristóvão Colon provavelmente Segismundo Henriques Jagiellon, neto do Infante D. Henrique. O Infante tivera uma relação com uma mulher da família Sá-Colonna e daí nasceu a Senhorita Anes, que se casou com o Rei Ladislau III da Polónia, Lituânia e Hungria, conhecido em Portugal por Henrique Alemão.

Antes de partir para a segunda expedição, Cristóvão Colon recomendou à Rainha D. Isabel de Castela falar ao Papa Alexandre VI [o espanhol Rodrigo Borgia eleito em 1492] para criar um meridiano a dividir o mundo por conhecer entre a Espanha e Portugal.

A inicial proposta portuguesa, não aceite por Espanha, foi dividir a Terra por meio dum paralelo traçado pelo Sul das Canárias, (que o Papa dera aos espanhóis o senhorio), ficando estes com a parte setentrional, excluindo-se contudo os Açores, pertença de Portugal, a quem cabia o hemisfério austral.

A segunda viagem começou a 25 de Setembro de 1493 e desta vez seguiam três naus e catorze caravelas. Avistou as Pequenas Antilhas e foi a Martinica e depois para Norte chegou a Porto Rico. Voltou a Hispaniola (Haiti e Santo Domingos), mas a colónia fora arrasada pelos indígenas e deixando o seu irmão Bartolomeu com uma nova leva de homens, Cristóvão Colon rumou para Oeste, onde encontrou a Jamaica. Fundou La Isabela na actual Santo Domingos, República Dominicana, e regressou a Espanha em 1496. Desta vez trazia prova assinada na altura por os capitães dos barcos como, após explorar ao longo da costa [oriental de Cuba] e sem lhe ver fim, encontrara as costas do continente asiático, próximo da Aurea Chersoneso – (península de Malaca e Bornéu), registada por Ptolomeu com informações indianas chegadas a Alexandria.

TRATADO DE TORDESILHAS

O Papa Alexandre VI (1492-1503), por bulas Inter coetera de 3 e 4 de Maio de 1493, propôs aos reis da Península Ibérica criar um meridiano a 100 léguas para Oeste dos Açores e Cabo Verde, cabendo as terras ‘descobertas e por descobrir’ situadas a Oriente dessa linha a Portugal e para Ocidente, à Espanha.

Ajudado nas complexas negociações por Duarte Pacheco Pereira, D. João II acreditava poder forçar D. Isabel de Castela a deixar-lhe um pedaço maior no Atlântico e propôs ser-lhe dado mais 120 léguas para Oeste, mas com a linha a ser medida desde Cabo Verde. As 100 léguas para Oeste dos Açores correspondiam a partir de Cabo Verde a 250 léguas, o rei português pedia agora 370 léguas para Oeste de Cabo Verde. Apenas mar para os espanhóis, mas permitia a Portugal ter no seu espaço um pouco da ainda então desconhecida terra de Vera Cruz.

Procurando deixar de fora das conversações o Papa, em 1494 D. João II assentou directamente com os Reis Católicos [título concedido por o Papa em 1496 a Fernando de Aragão e a Isabel de Castela] o meridiano que pretendia, a dividir as duas zonas de influência. Com esta linha divisória foi assinado o Tratado de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494. Relativamente a esse meridiano, a passar a 370 léguas a Oeste de Cabo Verde, o mundo ficava dividido entre o hemisfério ocidental para Espanha e Portugal com o oriental, sem saberem onde calhava essa fronteira no outro lado do mundo.

A linha do Tratado correspondia hoje à longitude de 50º e o desvio mais para Oeste foi o suficiente para abranger no espaço português o Nordeste do Brasil, mas não a Terra Nova, que ficava já no lado espanhol.

AS RESTANTES VIAGENS DE COLON

Cristóvão Colon só chegaria da sua segunda viagem em Março de 1496, tendo até aí apenas contacto com os caraíbas das ilhas, experimentando o tabaco e visto animais, desconhecidos para os europeu, como papagaios, periquitos e perus e talvez provado alguns produtos da alimentação local como milho, mandioca, feijão, tomate, batata, abóbora, ou o ananás.

A 30 de Maio de 1498, Colon iniciou a terceira viagem com seis naus e rumando a Cabo Verde, daí atravessou o Atlântico para Oeste numa atribulada navegação e encontrou a ilha da Trinidad. Depois, pisou pela primeira vez o continente. Voltou a São Domingos, em Hispaniola, onde na sua segunda viagem deixara o irmão Bartolomeu à frente da primeira colónia espanhola nas Américas e rumando a Sul, atingiu a 1 de Agosto de 1498 a costa da actual Venezuela. Procurava agora o estreito a dar passagem para o Índico.

Regressou em 1500 à Hispaniola e entrou em conflito com o governador Francisco de Bobadilla, que enviou Colon com o seu irmão presos para Castela, mas logo à chegada foram libertados.

Entre 1502 e 1504, a quarta e última viagem de Colon, que saiu de Cádis com quatro naus e avistou a Jamaica, andou no Yucatán, México e após uma grande tempestade chegou à pequena ilha de Guanaja nas Honduras. Avistou as costas da Nicarágua, Costa Rica e Panamá, mas com as naus muito maltratadas voltou a Hispaniola, de onde regressou a Espanha. O seu filho Diogo seria depois governador de Hispaniola.
Cristóvão Colon morreu em Valladolid a 20 de Maio de 1506.

Horas

[dropcap]À[/dropcap]s vezes este silêncio novo da cidade. Como uma atmosfera fina em que pequenos sons esparsos se fazem notar. Passos. Um esvoaçar mais nítido. Estalar manso de pequenas matérias, que sobe aos andares acima da rua, um carro que acorda ao longe a face habitual. Motores geradores exaustores e outros incómodos roedores da floresta urbana, dormem por agora esquecidos do seu trabalho de atordoar.

Surgem mais tarde, atrasados mas infalíveis como a natureza a acordar. E as pessoas invisíveis. Quase o marulhar dos lençóis afastados aqui e ali. Uma roupa sacudida do torpor, uma máquina de café. Uma frescura inicial, sempre, a da manhã. O piar de pássaros como uma primavera fora do sítio. Sinos, depois. São dez horas. Horas e meias horas. Catorze horas e aquela sensação de não haver deveres urgentes a distrair a mente desta espécie de desnecessidade estranha e culpada. Dezoito e quinze e a luta contra a falta de vontade das inúmeras coisas da vida pendentes a precisar de um v de efectuadas. Coisas indizíveis de pequeninas e tirânicas e mesquinhas etapas para o momento seguinte simplesmente com a sensação, aí sim, de estarem feitas, na sua insignificante e vazia importância. Coisas a despender o tempo e a cumpri-lo. Se nenhum relógio consegue tornar substância o tempo, como o podem os inúmeros ângulos aprisionados de passagem pelos olhos, os incontáveis objectos tocados e movidos, os sons alinhados na sua vizinhança aleatória, os passos na casa percorrida às quinze horas já de quilómetros. Dezanove e treze, ainda se espera algo que seja mesmo não mais que somente uma faúlha. A empurrar a vida para um pouco mais à frente.

Vinte e duas. A inspirar fervorosamente os segundos e a adiar um pouco mais o jantar como o fecho da emissão. É difícil explicar como ainda se espera que uma coisa pequenina e ínfima – e porque só dessa escala se trata de esperar – aconteça vinda como estrela cadente com a proporção exacerbada pela luz, a parecer maior e mais bonita e luminosa ou acontecida a rasgar o negro do que for. Sim mesmo se somente uma dessas evanescentes estrelas cadentes a colher esta inexistência e a pedir um desejo. Vinte e três e dezoito.

Quase a arrumar o dia e a recolher para dentro. O que foi como um intervalo. Na sala que ninguém acede e que é ausente de todos os trabalhos os bons e os maus. Uma distracção a acompanhar o jantar sempre atrasado e uma distância final, de tudo, que mesmo à ideia de que algo poderia chegar é já quase avessa. O dia terminado. Uma parte da casa adormece mais cedo e a outra acende-se em tons baixos e silenciosos.

Uma será já difícil de acordar, como criança de sono bom, a outra será difícil de levar para a cama como uma que nunca quer dormir.

Jantar tardio. Um copo de água à beira da cama – depois – não vá aquela sede imensa a desarrumar o sono, dar azo a pensamentos que se querem livres da realidade.

No silêncio muito se dissolve, ou deveria dizer: dilui. Mas também muito de subtil se torna visível. Como as noites de aldeia em que o céu é repleto de todas as estrelas de sempre mas que na poalha luminosa que se evapora dos poros citadinos, não se deixam ver. Há sempre um médium no qual algo acontece. O solvente.

Há uma certa poesia nas qualidades objectivas da matéria. Dissolver: desorganizar, estragar, corromper, dissociar, dispersar, misturar num meio em qualquer estado. Diluir é acrescentar solvente, logo diminuir a concentração do soluto, cuja massa se mantém inalterada. Volume e concentração são inversamente proporcionais. Por isso diria que no silêncio tudo se dissolve e dependendo do grau de diluição, o sabor, o perfume ou as qualidades dos reagentes, tornam-se mais ou menos evidentes. Mas se de vida se tratar, sendo o silêncio o solvente, pode acontecer que as partículas se tornem mais óbvias. Dependendo da sua massa e capacidade de dissolução. Se estas características são inversamente proporcionais pode acontecer uma enorme subtileza na matéria por entre o silêncio e entre isso e a inexistência ser possível a confusão. A ilusão de um vazio total, apenas porque as partículas são ínfimas, ao nível do átomo invisível ao olho, mas inexoravelmente existente e poderoso.

A televisão continua a desfiar coisas e vidas. Isso, fora de horas. Depois outra vez seis e meia. Sete, nove.

Cinemateca | Filmes de Taiwan em destaque nas selecções de Dezembro

Em vésperas de Natal, o cartaz da Cinemateca Paixão inclui duas obras de Taiwan que prometem dar que falar por prescindirem do uso da palavra em prol da imagem e do silêncio. Há películas do campo do fantástico e está ainda previsto um seminário sobre direitos de autor dedicado aos produtores locais no próximo sábado

 

[dropcap]H[/dropcap]á histórias sem uma única palavra, criaturas fantásticas, humor negro e clássicos para lembrar que o Natal está aí à porta. Ao todo, o cartaz de Dezembro da Cinemateca Paixão inclui seis novas selecções, que colocam o cinema de Taiwan em destaque, com a inclusão de duas obras da Ilha Formosa.
A primeira a merecer realce pela ousadia de prescindir de qualquer diálogo ou do uso de palavras é “Days”.

Realizado pelo malaio Tsai Ming-Liang, “Days” testemunha, em silêncio, o encontro feliz de dois homens sozinhos numa terra estranha. Através da imagem, Kang e Non partilham lentidão, fragilidade e esperança antes de voltarem à sua rotina. “Days” será exibido na Cinemateca nos dias 8 (19h), 10 (21h30) e 18 (19h).

Também de Taiwan directamente para a travessa da Paixão virá “The Silent Forest”. Realizado por Chen-Nien Ko “The Silent Forest” leva o espectador a conhecer de perto a vida de Chang Cheng, um adolescente surdo que, após ser transferido para um estabelecimento dedicado a crianças com necessidades especiais, é confrontado com um problemático e violento jogo, que rapidamente dissemina o medo entre os alunos.

A obra de Chen-Nien Ko pode ser vista nos dias 9 e 20 às 19h, no dia 12 às 21h e nos dias 15, 17 e 30 às 21h30.

De Taiwan, o cartaz da Cinemateca vai ainda à Coreia do Sul para apresentar o clássico de 1998 “Christmas in August”. O drama realizado por Hur Jin-ho, aborda a vida agri-doce de Jung-won, o proprietário de um estúdio fotográfico que descobre ter uma doença terminal pouco depois de encontrar o amor da sua vida. “Christmas in August” será exibido nos dias 13 (21h), 18 (21h30), 26 (16h30) e 30 (19h30) de Dezembro.

No campo do fantástico, destaque ainda para produção espanhola e norte-americana “A Monster Calls”, de Juan Antonio Bayona. Longe do pai e a lidar com a doença da mãe e o bullying de que é alvo na escola, Conor O’Malley, de 12 anos, vai viver com a avó e cedo encontra refúgio no desenho e no seu imaginário. A aventura começa quando a criatura que idealizou ganha vida. “A Monster Calls” pode ser visto na Travessa da Paixão nos dias 16 e 24 de Dezembro às 19h.

O cartaz de Dezembro é completado pelos filmes “Not Quite Dead Yet”, uma produção japonesa realizada por Shinji Hamasaki e ainda por “Tangerine”, realizado pelo norte-americano Sean Baker e cujo enredo é passado na véspera de Natal da turbulenta vida de Sin-Dee Rella, um transgénero que ganha a vida através da prostituição.

Conhecer os direitos

No próximo sábado, a Cinemateca Paixão irá ainda acolher um seminário dedicado aos direitos de autor na área do audiovisual. A iniciativa destina-se aos produtores locais e, segundo um comunicado oficial, tem como objectivo dar a conhecer os direitos que os profissionais detêm sobre as suas obras, sobretudo porque a publicação de trabalhos “em diferentes plataformas”, tem vindo a aumentar

Dado que a pirataria não se limita só a produtos físicos como CD’s ou DVD’s, o seminário “Entretenimento & Leis dos Direitos de autor, Filme & Televisão” irá contar com a advogada local, Annie Lao, para partilhar informações, como a “definição de violação de direitos de autor, precauções ao usar obras de outras pessoas” e ainda “métodos para proteger os direitos de autor.

A participação no seminário, que inclui tradução simultânea de cantonês para inglês, é gratuita e as inscrições podem ser feitas por email até quinta-feira.

Táxis | Agnes Lam diz que taxa de 300 patacas é “injusta”

[dropcap]A[/dropcap] deputada Agnes Lam disse na sexta-feira, na Assembleia Legislativa (AL), que a implementação de uma taxa mensal de 300 patacas a pagar pelos taxistas pelo uso do sistema inteligente nos veículos é uma medida “injusta”.

No dia anterior, a deputada acompanhou um grupo de taxistas na entrega de uma petição na sede do Governo. “Dez patacas representa dez por cento do rendimento diário dos taxistas. Concordamos que este sector necessita de ser fiscalizado, mas não podemos punir todos os profissionais do sector. Eles não foram ouvidos e isto é uma injustiça. Parece pouco dinheiro, mas com o tempo este dinheiro significa muito. Será que o Governo pode suspender esta medida? Isto é extremamente injusto.”

Os representantes do Governo lembraram que, o ano passado, os deputados não só discutiram este ponto como o aprovaram. “Quando elaboramos o regulamento administrativo em Maio de 2019 foi divulgada esta informação, não é uma novidade”, disse Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas.

Lam Hin San lembrou que “todos são interessados” e que o pagamento da taxa é da responsabilidade do portador do alvará. “Nas reuniões das comissões da AL discutimos a nível técnico a gravação do som e imagem. Como seriam feitos uploads imediatos dos dados e os custos eram elevados, os deputados concordaram em usar este método”, rematou.

Secretário diz “não conseguir dar detalhes” sobre rede 5G

[dropcap]O[/dropcap] secretário para os Transportes e Obras Públicas Raimundo do Rosário lamentou não ter mais informações para adiantar acerca processo de implementação da rede 5G em Macau.

Em resposta a Joye Lao, que procurou saber porque é que as Linhas de Acção Governativa (LAG) da tutela são omissas sobre o tema, Raimundo do Rosário afirmou ter “pena” por não conseguir adiantar mais detalhes, apontando, contudo, que o Governo não pretende, para já, fazer “um grande investimento”, na implementação de uma tecnologia que é, já de si, dispendiosa. “Vamos ver como é que conseguimos evitar que o menor investimento do Governo tenha um impacto negativo”, acrescentou.

Raimundo do Rosário sublinhou ainda que o contrato com a CTM vai terminar no final de 2021, aspecto referido durante as intervenções de Wong Kit Cheng, Ma Chi Seng, Agnes Lam e Chan Hong. Entre as preocupações dos deputados estavam eventuais perigos relacionados com radiações devido à construção de estações em edifícios residenciais e a manutenção do monopólio da CTM quanto ao aluguer das estações.

Na resposta, Derbie Lau, directora dos Serviços de Correios e Telecomunicações, afirmou esperar que os activos da CTM “sejam libertados para a utilização de outras operadoras” e que a posição será de “abertura”.

Sobre a questão da radiação, Derbie Lau afirmou que “se todos os moradores aceitarem a instalação de estações”, várias entidades académicas estarão incumbidas de “proceder a estudos”.

“Se podemos instalar [as estações] em edifícios do Governo porque não podemos instalar também em edifícios residenciais? O 5G depende da construção de muitas estações em muitos edifícios e a grande altura para garantir a cobertura da rede”, acrescentou Raimundo do Rosário.

LAG 2021 | Raimundo do Rosário fala em “nova fase de crescimento de Macau” na área das obras públicas

Depois de anos de planeamento, Raimundo do Rosário diz que a maioria dos projectos “há muito aguardados” estão finalmente em condições de avançar em 2021. Apesar de admitir que existem problemas nos programas de habitação pública, o secretário diz a questão vai ser resolvida “gradualmente”

 

[dropcap]E[/dropcap]stá na hora de arregaçar as mangas. A começar pelo desenvolvimento das áreas urbanas do aterro da Zona A, passando pela conclusão da elaboração do Plano Director e acabando no desenvolvimento das novas linhas previstas para o metro ligeiro, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário afirmou que, no decorrer do próximo ano, serão iniciados vários projectos fundamentais para o desenvolvimento futuro de Macau.

“Estamos a promover projectos há muito aguardados e de grande importância para o futuro que, depois do devido trabalho de estudo, análise e planeamento, estão finalmente em condições de avançar. Prevemos que 2021 marque o início de uma nova fase de crescimento e de desenvolvimento de Macau”, começou por dizer na passada sexta-feira, o secretário para os Transportes e Obras Públicas durante o discurso de apresentação das Linhas de Acção Governativa para 2021 da sua tutela.

Sobre a habitação, que o secretário considerou ser “uma das principais preocupações da população”, durante o debate, foram vários os deputados, como Ella Lei, Sulu Sou e Leong Sun Iok que se mostraram preocupados com as dificuldades sentidas, sobretudo entre os mais jovens, quando é chegada a hora de comprar casa.

Depois de Ella Lei ter frisado que ainda vai levar tempo até que as primeiras 3.000 fracções públicas previstas para a Zona A estejam concluídas e que é “difícil” ter sucesso ao apresentar uma candidatura “sem idosos” no agregado familiar, Raimundo do Rosário reconheceu o problema, mas assegura que, com o tempo e seguindo o plano traçado, tudo será resolvido.

“Quanto à habitação económica (…) reconheço que uma candidatura sem idosos dificilmente consegue obter uma fracção. Mas agora temos três mil fracções e no próximo ano, cinco mil. Vamos trabalhar para esta meta e avançar com milhares de fracções, de cada vez. Vamos ter 24 mil fracções, em 20 terrenos. Esse problema vai ser resolvido gradualmente”, apontou o secretário.

Já em resposta a Sulu Sou, que perguntou directamente ao secretário se não acha que os preços das habitações em Macau são altos, sobretudo para os mais jovens, cujo salário médio é de 18 mil patacas, Raimundo concordou, acrescentando que a criação de vagas específicas para os jovens nos concursos de habitação pública é uma questão que tem de ser estudada.

Ainda na área da habitação, o secretário reiterou que serão continuadas as obras de habitação pública na Avenida Wai Long, Venceslau de Morais e Tamagnini Barbosa, estando prevista ainda “a conclusão da habitação social de Mong-Há” e o início da construção de 1.800 residências para idosos na Areia Preta (Lote P).

Acerca dos receios apresentados pelo deputado Chan Iek Lap de que as fracções para idosos do tipo “estúdio” não seriam ideais, Raimundo do Rosário afirmou que mesmo que o projecto não seja “perfeito” é preciso “avançar” e que, consoante a experiência adquirida, o modelo pode vir a ser aperfeiçoado em futuras fases.

Desejos a metro

Quanto ao metro ligeiro, Raimundo do Rosário apontou como prioridades a definição do projecto da linha leste, que fará a ligação entre a Taipa e as Portas do Cerco através da Zona A, aumentando “consideravelmente a extensão da rede e os benefícios deste meio de transporte ecológico” e ainda as ligações a Hengqin e à Barra e a linha de Seac Pai Van. “Insistimos em concluir estas três até ao final do mandato”, acrescentou o secretário.

Sobre o tema, Leong Sun Iok e Ella Lei apontaram que a sociedade gestora do metro ligeiro (MTR) deve estar debaixo de uma fiscalização mais apertada, não só para garantir a contratação e formação de trabalhadores locais qualificados após o despedimento de 79 trabalhadores, mas também para assegurar a boa utilização do erário público. Leong Sun Iok foi mais longe e perguntou se o Governo tenciona renovar contrato com a empresa em 2024, altura em que expira o contrato de prestação de serviços.

Na resposta, o secretário afirmou que “a renovação ainda não está decidida”, lembrou que 80 por cento dos trabalhadores é local e que as despesas da MTR “não atingem as 100 milhões de patacas”.

Para 2021, Raimundo do Rosário traçou ainda como metas, a continuação da obra da quarta ponte Macau-Taipa, a criação do segundo terminal do aeroporto e a definição de um novo regime de acesso à actividade do transporte aéreo.

Outro dos “pilares” da tutela será a protecção ambiental, que deverá ser concretizada, segundo o secretário, através da “modernização de infra-estruturas” de tratamento de resíduos e da actualização da legislação vigente.