Cinema | Ng Man-tat, um dos mais populares actores de Hong Kong, morreu no sábado

Com uma filmografia extensa, desde os finais dos anos 70, Ng Man-tat será para sempre recordado como parceiro de ecrã de Stephen Chow, incluindo em sucessos de bilheteira como “Shaolin Soccer” e “All for the Winner. Ng Man-tat morreu no sábado, vítima de cancro no fígado, deixando para trás uma carreira com mais de 150 filmes

 

“Ele partiu pacificamente, morreu enquanto dormia”. A curta declaração de Tenky Tin Kai-man, presidente da Federação de Cineastas de Hong Kong, anunciou no sábado a morte do amigo Ng Man-tat, um dos actores mais populares de Hong Kong, depois de uma batalha inglória contra o cancro no fígado.

Partiu assim, aos 70 anos, uma das lendas da indústria cinematográfica do território vizinho e um dos mais famosos actores chineses do final do século passado. Com mais de 150 filmes no currículo, Ng Man-tat ficará para sempre associado a Stephen Chow, o rei da comédia de Hong Kong, com quem contracenou em alguns dos filmes de maior sucesso da indústria da região vizinha. A dupla viria a partilhar o ecrã em algumas das mais populares comédias ao estilo Hong Kong, o chamado “Mo lei tau”, um conceito fílmico assente no absurdo e na paródia como veículos para retratar características culturais chinesas.

Entre os filmes mais marcantes da carreira de Ng Man-tat destaque para “All for the Winner”, onde interpreta o papel de Blackie Tat, o tio da personagem interpretado por Chow, “Shaolin Soccer” o êxito de bilheteira mundial que transporta para o mundo do futebol as habilidades físicas sobrenaturais do kung fu de monges de Shaolin.

Ficam também na memória filmes como “Fight Back to School”, “The God of Cookery” (que leva para uma dimensão louca concursos de culinária) e “Sixty Million Dollar Man” uma insana comédia inspirada na “Máscara” protagonizada por Jim Carrey.

Vida e obra

Natural de Xiamen, Ng chega a Hong Kong com cinco anos na década de 1950. Durante os anos 70 frequenta cursos de representação organizados por estações televisivas, onde chega a ser colega de turma de Chow Yun-fat, outro dos mais conhecidos actores de Hong Kong. No final dos anos 70 e início dos 80s ganha notoriedade em aparições no pequeno ecrã. O salto para o grande ecrã dá-se em 1981, com o filme de estreia de uma longa carreira “Heroic Cops”, que retrata a luta entre um polícia e um chefe de uma tríade, com o colega e amigo Chow Yun-fat no elenco, assim como Danny Lee.

A ascensão na carreira e a fama trouxeram ao actor uma vida de excessos, onde não faltaram doses copiosas de álcool, vício do jogo e muitas mulheres. De acordo com o South China Morning Post, nesta altura Ng Man-tat acumulou dívidas a rondar 300 mil dólares de Hong Kong. Em desespero, chegou a pedir ajuda a Chow Yun-fat, que rejeitou emprestar-lhe dinheiro.

“Sentia-me envergonhado de ter de declarar bancarrota. Tinha de encontrar uma saída. Como no início não queria admitir problemas à minha família, acabei por pedir dinheiro a Chow Yun-fat”, admitiu o actor, há uns anos, em entrevista a um órgão de comunicação social do interior da China, citado pelo jornal de Hong Kong.

“Ele era um actor de grande sucesso, muito popular e fez muito dinheiro. Pedi-lhe 300 mil dólares de Hong Kong nos anos 80, mas ele recusou. Fiquei chateado. Ele não me emprestou dinheiro, nem me explicou porquê”, acrescentou.

Mais tarde entendeu que o amigo não me deu a quantia porque isso não o iria ajudar. Assim sendo, declarou falência e trabalhou com afinco para recuperar terreno perdido. Foi nessa altura que começou a contracenar com Stephen Chow, criando uma das mais prolíferas e amadas duplas do cinema de Hong Kong.

A fama de Ng Man-tat foi muito além das fronteiras de Hong Kong. Em 2017, entrou em “The Wandering Earth”, um filme chinês de ficção científica que foi um enorme êxito de bilheteira, com lucros de cerca de 700 milhões de dólares norte-americanos.

As notícias da sua morte atraíram mais de 2.1 mil milhões de visualizações no Weibo e nas redes sociais em Macau e Hong Kong foram lançados apelos à visualização dos filmes com Ng Man-tat no Netflix, para que cheguem à lista de popularidade “trending” no site de streaming.

Investigadores da Universidade de Macau monitorizam Ponte do Delta

A Universidade de Macau (UM) está a participar em dois projectos associados à manutenção inteligente, reparo e operação da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. A primeira travessia da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau deu-se em Outubro de 2018.

O Programa de Desenvolvimento e Investigação Chave Nacional é focado no uso de tecnologia inteligente na operação e manutenção da ponte, enquanto o da Província de Guangdong procura de formas de monitorização e controlo em situação de emergência. A UM comunicou que os programas foram oficialmente lançados no ano passado, e se realizam em conjunto com parceiros na China continental e em Hong Kong.

A professora Hannah Zhou, que lidera a equipa da UM, defendeu a importância de monitorizar diferentes áreas da infraestrutura, uma vez que a estrutura da ponte pode ser afectada por vários factores. “O foco actual da equipa da UM é no túnel imerso da ponte e as suas partes fracas de conexão com as ilhas artificiais. O túnel é composto por 33 segmentos, cujas juntas são mais susceptíveis a deformação”, explica a nota da UM.

Os investigadores da entidade de ensino superior estão a desenvolver diferentes sensores, alguns feitos de fibra ótica que consegue transmitir dados e medir factores como mudanças na temperatura e pressão. “Estes dados reflectem o quanto a estrutura é deformada sob pressão”, indicou Zhou, citada na nota. Além disso, a equipa está a desenhar uma rede de sensores para serem instalados nos pontos de contacto do túnel com as duas ilhas artificiais da ponte.

Condomínios | IH recebeu duas dúzias de queixas sobre empresas de administração

Desde que a Lei da Actividade Comercial de Administração de Condomínios entrou em vigor, em Agosto de 2017, até ao final de Janeiro deste ano, o Instituto da Habitação (IH) recebeu 20 queixas contra empresas de administração de condomínios. A informação foi avançada pelo presidente do IH em resposta a uma interpelação escrita do deputado Leong Sun Iok.

Na base das queixas estiveram motivos como a “saída irracional da empresa de administração” ou a falta de afixação da conta e orçamento do edifício. “Todos os casos foram resolvidos e foi assegurada a transferência do poder de administração para evitar conflitos relacionados com a administração de edifícios”, respondeu Arnaldo Santos, presidente do IH.

No mesmo período, o organismo emitiu 297 licenças ou licenças provisórias a sociedades comerciais para prestação de serviços de administração em mais de 700 edifícios. Além disso, o IH passou certidões às administrações de 504 torres de edifícios, com mais de 56 por cento a obterem apoio financeiro para fazerem reuniões das assembleias gerais dos condomínios, no âmbito do Plano de Apoio Financeiro para a Administração de Edifícios.

O relatório de estudo sobre a “situação da administração dos edifícios de mais de sete pisos na península de Macau” foi concluído e está a ser analisado pelo IH.

Covid 19 | Chegaram a Macau mais de 100 mil doses da vacina da BioNTech

No sábado chegaram a Macau mais de 100 mil doses da vacina produzida pela BioNTech, para a qual estão inscritas 3.369 pessoas. A vacinação arranca na quarta-feira, no Centro Hospitalar Conde de São Januário, e é permitida a pessoas a partir dos 16 anos

 

A vacina produzida pela BioNTech vai começar a ser administrada na quarta-feira, dia 3 de Março. A previsão foi avançada pelo director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, durante a recepção do primeiro lote das vacinas, comunicou o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. O lote chegou no sábado a Macau e a vacina pode ser administrada a pessoas com idade igual ou acima dos 16 anos, não havendo limite máximo de idade.

Até às 21h de sexta-feira, 29.353 pessoas tinham agendado a vacinação, com mais de 88 por cento a optar pela vacina da farmacêutica Sinopharm. De resto, 3.369 indivíduos escolheram a da BioNTech e 87 agendaram vacinação com a da AstraZeneca.

De acordo com a nota, as 100.425 doses da vacina produzida pela BioNtech em cooperação com a Fosun, chegaram ao Centro Hospitalar Conde de São Januário a partir da Alemanha, através do Aeroporto de Hong Kong. Espera-se que o segundo lote, com cerca de 100 mil doses, chegue a Macau ainda em Março. Ontem à tarde chegaram 400 mil doses da vacina da Sinopharm.

A página electrónica dos Serviços de Saúde sobre as vacinas contra a covid-19 indica que a eficácia das vacinas de mRNA – como é o caso da BioNTech – é superior a 90 por cento, e que a incidência de efeitos colaterais como febre “é média”.

Dada a sensibilidade da vacina de mRNA à temperatura, devendo seja transportada a 70 graus Celsius negativos e usada cinco dias após o descongelamento, inicialmente não vai poder ser administrada em todos os postos. “Esta é a primeira vez que os profissionais de saúde fazem este tipo de operação, e necessitam de tempo para se familiarizar com o processo, por isso, nas próximas duas semanas, a administração da vacina de mRNA irá decorrer exclusivamente no Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ)”, indicou o centro de contingência.

Regressou inscrição de idosos

A vacina da Sinopharm é acompanhada por restrições etárias, tendo sido aprovada para o grupo etário entre os 18 e 59 anos. Para pessoas com idade com 60 anos ou mais, a administração só é permitida a quem esteja em alto risco de exposição e em bom estado de saúde.

O centro de coordenação indicou que depois de muitos idosos agendarem a vacinação, “verificou-se que não reuniam as duas condições, desperdiçando muito tempo no processo de avaliação”. Além disso, a nota refere que este grupo da população ficou sem opções com o atraso de uma semana na entrega da vacina da BioNTech. Foram estes os motivos apresentados para justificar a decisão dos Serviços de Saúde em suspender a marcação de vacinação de pessoas a partir dos 60 anos.

“Após a confirmação que a vacina de mRNA tinha sido embarcada no avião, os Serviços de Saúde decidiram reabrir a marcação de vacinação para indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos a partir de domingo (28 Fevereiro), contudo os interessados devem voltar a preencher o formulário de avaliação no momento da marcação”, explica a entidade. Apesar de poderem escolher o tipo de vacina, se não preencherem os requisitos para a da Sinopharm é-lhes proposto que optem pela da BioNTech.

Por outro lado, as autoridades de saúde indicam ainda que já houve uma avaliação médica aos seis casos de reações adversas notificados depois de vacinação, e que todos os sintomas foram leves.

Censos 2021 | Recolha de dados começa a 1 de Abril

Os Censos 2021 arrancam no dia 1 de Abril. Na última sexta-feira foi apresentado, em sede de Conselho Executivo, o regulamento administrativo relativo à realização dos Censos, que terão duas fases, prolongando-se até ao dia 21 de Agosto.

“Apelamos a todos os interessados para participarem nos Censos 2021”, disse André Cheong, também secretário para a Administração e Justiça. Os dados serão recolhidos em formato papel e electrónico, prevendo-se, por parte da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), a contratação de 2700 trabalhadores provisórios.

“Segundo a lei temos a obrigação de recolher as informações da população. Há punições para quem não responder, mas esperamos não ter de as usar”, disse Ieong Meng Chao, director da DSEC. Devido à pandemia, tanto o recrutamento dos trabalhadores como a sua formação está a ser feita online, estando também previsto contacto reduzido com as pessoas aquando da recolha de dados nas ruas.

Conselho Executivo | Regime de registos e notariado alterado

O Conselho Executivo concluiu a discussão sobre a alteração ao regime orgânico dos registos e notariado. Esta revisão tem como objectivo “optimizar os serviços”, a fim de se haver um ajustamento ao serviço “one stop”. André Cheong, porta-voz do Conselho Executivo e secretário para a Administração e Justiça, explicou na sexta-feira que a ideia é que o pagamento de documentação em cartórios e conservatórias “seja logo reencaminhado para os cofres do Governo da RAEM em vez de se pagar primeiro a estes serviços”.

A proposta pretende também alterar o quadro do pessoal, com vista a uma maior flexibilidade, bem como o regime de substituição de trabalhadores. A composição do Conselho dos Registos e do Notariado vai também ser alterada.

“Temos uma composição que integra todos os conservadores e notários públicos em funções. Eram membros por inerência. Como era uma comissão com poucos elementos era muito eficaz. Com os últimos concursos e nomeações de conservadores e notários já temos 18 conservadores e notários públicos. Contando com o director da DSAJ e notários privados, o conselho ficou muito grande e sugerimos que seja revisto”, explicou André Cheong. A proposta prevê que fique com um mínimo de cinco conservadores e notários, designados pelo director da DSAJ.

MNE | Ho Iat Seng discute patriotismo e segurança com novo comissário

Os assuntos externos de Macau e o reforço da consciência dos residentes no amor à pátria e ao território dominaram o encontro do Chefe do Executivo com o novo comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês na região. Liu Xianfa prometeu firmeza na prevenção de intervenção de forças externas

 

O novo comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês na região. Liu Xianfa, teve a primeira reunião com o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng na sexta-feira. Acabado de chegar, Liu Xianfa fez notar a “imagem marcante” de Macau, que considera “uma cidade próspera, ordenada, pacífica e bela”.

No encontro, na sexta-feira, Ho Iat Seng apresentou “os resultados faseados da prevenção e do controlo da epidemia em Macau, a orientação de desenvolvimento da diversificação económica adequada no futuro e ainda a programação dos trabalhos para elaboração do segundo plano quinquenal de desenvolvimento da RAEM, de acordo com um comunicado do Gabinete de Comunicação Social.

Liu Xianfa, de 57 anos, chegou a Macau na quarta-feira para assumir o cargo em substituição de Shen Beili, que cessou funções em Julho passado, indicou a mesma nota. O mesmo responsável adiantou que o seu trabalho será “em prol da defesa da soberania, segurança e interesses nacionais de desenvolvimento, prevenindo com toda a firmeza a intervenção de forças externas” e para “implementar o poder de governação do Governo Central”.

Ao mesmo tempo, indicou que o Comissariado vai procurar apoiar “ainda mais” o intercâmbio e cooperação da RAEM com o exterior para aumentar “a capacidade de influência internacional de Macau”, que deve tomar “a iniciativa de promover a realização” de convenções e eventos internacionais “de grande relevância”.

O Comissariado vai, em conjunto com o Executivo, “aprofundar o sentido de pertença e de orgulho nacional da população em relação ao país, particularmente da nova geração”, disse.

Além disso, Liu Xianfa afirmou que “irá pôr em prática a diplomacia de ‘para o povo’ e ‘pelo povo’, prestando serviços consulares de excelência aos compatriotas de Macau.

Seguros de vida

Ho Iat Seng lembrou que Macau sempre teve “a boa tradição de amor à pátria” e ao território, tradição que reforçada com a entrada em funcionamento da Base da Educação do Amor pela Pátria e por Macau para Jovens em Dezembro.

Por outro lado, sublinhou que a segurança do país “é um ponto essencial na acção governativa” deste ano.
Desde a transição em Dezembro de 1999 e sob o apoio do Governo Central e do interior da China, “os esforços conjuntos dos anteriores Chefes do Executivo e Governos, bem como das demais personalidades, permitiu criar um exemplo de sucesso na implementação do princípio ‘Um País, Dois Sistemas'”, afirmou Liu.

Por outro lado, o responsável do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês destacou que Ho Iat Seng “liderou o Governo” na aplicação de “estratégias precisas” no combate à covid-19, o que permitiu registar zero casos mortais, zero casos de contaminação comunitária e zero casos de contaminação entre o pessoal de saúde. “De igual modo, possibilitou uma organização ordenada da recuperação do movimento económico e social”, salientou.

AL | Kou Hoi In sublinha prevalência pós-transição do Executivo sobre o Legislativo

No tradicional almoço do Ano Novo Lunar, o presidente da Assembleia Legislativa destacou o trabalho “harmonioso e interactivo com o Governo” e elogiou o trabalho dos deputados em tempos de pandemia

 

A Assembleia Legislativa supervisiona e condiciona o Governo, mas a palavra final pertence ao Executivo e é este conceito que permite implementar correctamente o princípio Um País, Dois Sistemas. Foi esta uma das mensagens deixada pelo presidente Kou Hoi In, durante o tradicional discurso do almoço de Ano Novo Lunar com os órgãos de comunicação social.

“Desde o retorno de Macau à Pátria, e inserida numa contextualização política em que predomina o poder executivo, e na qual os poderes executivo e legislativo se complementam e condicionam mutualmente, a Assembleia Legislativa tem-se pautado pela Lei Básica e pelo seu Regimento, dando cumprimento às atribuições a elas conferidas pela Lei Básica, com vista à concretização plena e correcta dos princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e ‘Macau governado pelas suas gentes’”, afirmou Kou.

Para o presidente do hemiciclo, a predominância do Executivo foi possível após a transição com o esforço da Assembleia Legislativa: “Com o esforço conjunto de todos os meu predecessores, e de todos os deputados, do passado e do presente, a Assembleia Legislativa estabeleceu e melhorou gradualmente os procedimento e o regime de funcionamento do órgão legislativo, tendo concretizado um modelo de trabalho harmonioso e interactivo com o Governo, a fim de assegurar o bom funcionamento do sistema vigente, com a prevalência do poder Executivo centrado no Chefe do Executivo”, sustentou.

Ainda de acordo com o presidente da AL, a forma como é feita a supervisão do Executivo vai sofrer alterações: “O trabalho fiscalizador do hemiciclo terá uma concretização mais direccionada para o balizamento dos objectivos, a par da sua eficácia do seu papel supervisor, dando ênfase ao apuramento factual da verdade, tendo em vista a optimização crescente do trabalho parlamentar”, declarou.

Elogios em tempo de pandemia

O último ano do trabalho dos deputados ficou marcado pela aprovação de orçamentos suplementares e outras medidas relacionadas com a pandemia. Kou Hoi In não esqueceu o trabalho dos envolvidos, que considerou estar longe de ser fácil. “É de salientar que, de modo nenhum foi fácil conseguir os resultados alcançados na 3.ª e actual sessões legislativas”, atirou. “Trata-se, pois, do fruto do dedicado labor do corpo legislativo, constituído pelos deputados e pessoal de apoio à Assembleia Legislativa, no desempenho responsável dos seus deveres funcionais, e também do resultado da sinérgico cooperação entre os órgãos executivo e legislativo”, frisou.

Segundo Kou Hoi In, neste momento a Assembleia Legislativa está a trabalhar em sede de comissão em 12 propostas de lei. Caso os diplomas não sejam aprovados até 15 de Agosto, e com as novas eleições, leis deixam de ser discutidas e têm de ser propostas novamente no Plenário. Porém, à margem do evento, o presidente da AL desdramatizou o desafio: “Temos uma organização bem definida e estabelecida, pelo que estamos confiantes que durante a última sessão legislativa podemos cumprir o trabalho que temos em mãos”, afirmou. Kou Hou In admitiu ainda que os trabalhos podem ser acelerados para cumprir os objectivos.

Au Kam San anuncia que depois de 20 anos deixa Assembleia Legislativa

O democrata Au Kam San anunciou que vai deixar o hemiciclo em Agosto e que não vai participar nas próximas eleições. A decisão foi explicada com a vontade de mudar de profissão e devido à estagnação e falta de avanços sociais e políticos.

“No próximo ano não vou candidatar-me novamente porque já estou a trabalhar como deputado há mais de 20 anos e queria mudar de trabalho. Vou deixar esta oportunidade para outras pessoas”, afirmou o deputado, que foi eleito pela primeira vez em 2001. “Como sou deputado há mais de 20 anos estou aborrecido, estamos sempre a falar dos mesmos problemas, questões e reivindicações, mas não vejo qualquer melhorias e deixo a oportunidade para outros”, acrescentou. “Já me sinto aborrecido”, sublinhou.

Apesar de admitir ter havido poucos avanços, Au Kam San garante que não foi pela falta de esforços e que em alguns casos houve melhorias, como no caso da construção de habitação pública. “Durante estes 20 anos fiz todos os esforços possíveis no meu cargo. Por exemplo, no que diz respeito aos assuntos ligados à vida da população, esforcei-me por fazer mais, exigi ao Governo para construir mais habitações públicas e o Governo está a fazer isto. São os resultados que conseguimos conquistar”, desabafou. “Mas em outras questões, parece que não há progressos nem avanços”, reconheceu.

Sistema limitado

Sobre a falta de progressos, Au atirou as responsabilidades para o sistema político que limita a actuação dos deputados. “Fiz o que foi possível. Só que o que a Assembleia Legislativa pode fazer é muito pouco e durante este tempo só podemos pressionar o Governo para que faça mais”, explicou. “São limitações que vêm do sistema político”, sublinhou.

O mandato dos actuais deputados termina em Agosto e, para já, Au Kam San diz que ainda não tem planos definidos. Porém, não pensa em nomear um sucessor para candidatar-se na plataforma que tem utilizado como lista. Segundo o legislador a decisão fica para os eleitores: “Não tenho um sucessor. Cabe as residentes fazerem um escolha”, frisou.

Apesar disso, o democrata não se vai retirar da vida pública e promete continuar a fiscalizar as acções do Executivo, por outra vias, como as associações locais. “Posso sempre continuar a trabalhar nas actividades associativas e a fiscalizar o governo. Só que vou mudar de papel”, indicou. Entre estas tarefas vai continuar a vontade de assinar o massacre do 4 de Junho de 1989.

Os deputados e as eleições deste ano

Candidatos

Wong Kit Cheng

Mak Soi Kun

Ho Ion Sang

Si Ka Lon

Zheng Anting

Ng Kuok Cheong (não garante ser cabeça de lista)

Abandona o hemiciclo

Au Kam San

A ponderar

Angela Leong

José Pereira Coutinho

Wang Sai Man

Song Pek Kei

Ella Lei

Chan Hong

Sulu Sou

Chan Chak Mo

Vong Hin Fai

Chui Sai Peng

Wang Sai Man pede apoios

Wang Sai Man, deputado eleito pela via indirecta, considera que o Governo deve preparar-se para lançar mais medidas de apoio à população. “Devemos defender junto do Governo o lançamento de mais medidas de apoio à população, como a terceira fase das medidas de apoio”, disse Wang. “O Executivo deve estar bem preparado para oportunamente lançar com rapidez as medidas necessárias. E como a situação económica ainda está difícil, acho que devem ser lançadas medidas, que vão deixar a população contente”, frisou.

Direito de reunião e manifestação | Afinal, que lugar cabe aos não residentes?

Podem ou não os trabalhadores não residentes manifestar-se? O secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, remete a sua posição para as declarações da PSP, que afasta esse direito aos não residentes, falando em “diferentes interpretações da lei”. Deputados revelam as suas posições e recordam a primeira discussão sobre esta questão, em 1993. Duas líderes de associações que representam TNR defendem mais direitos no território

 

O golpe de estado do Myanmar, ocorrido a 1 de Fevereiro, fez com que, de forma indirecta, se tenha levantado a questão se os trabalhadores não residentes (TNR) têm ou não direito a manifestar-se no território. Isto porque um TNR se dirigiu a uma esquadra de polícia para se informar sobre os passos a adoptar para se manifestar sobre aquilo que está a acontecer no seu país. Foi-lhe dito que não tinha esse direito.

“Como são não residentes, quando fazem assembleias e reuniões, podem não estar protegidos por esta lei. Os nossos agentes explicaram-lhe que as provisões da Lei 2/93/M sobre a reunião e manifestação apenas mencionam os direitos dos residentes de Macau – não é para os não residentes. Explicámos-lhe o que está na lei”, disse, à TDM Rádio Macau, Kim Ka Kit, porta-voz do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP).

Na sexta-feira, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, remeteu a sua posição para esta explicação do CPSP. “Não tenho nada a comentar ou a acrescentar. É um incidente na aplicação da lei e de interpretação da lei na área policial. Relativamente a este aspeto a autoridade policial tem uma interpretação e deu o seu parecer. Devem ler a autoridade policial para compreenderem o que se pretende, e a Lei Básica é muito clara”, frisou.

A Lei Básica põe em pé de igualdade residentes e não residentes quanto ao direito de reunião ou de manifestação, mas o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, já veio dizer que esse direito não é absoluto. “De facto, o artigo 43.º da Lei Básica afirma o princípio de que às pessoas não residentes mas que se encontrem na RAEM, devem ser reconhecidos os direitos e deveres fundamentais previstos para os residentes de Macau, todavia, esse reconhecimento é apenas um princípio geral, não absoluto”, afirmou, também à TDM Rádio Macau.

André Cheong acredita que podem haver várias interpretações deste diploma. “As pessoas podem ter uma interpretação diferente da lei. Li o parecer e a posição das autoridades. Os interessados podem ter uma percepção diferente e há outras vias para reclamar ou impugnar uma decisão, como é a via judicial.”

O que dizem os deputados

Na última sexta-feira, à margem do almoço de ano novo chinês da Assembleia Legislativa (AL), alguns deputados revelaram o que pensam sobre esta matéria. O consenso parece não existir.

“Nunca houve nenhuma proposta sobre se a lei deve ou não incluir os não residentes. Ainda temos de reflectir e ganhar mais conhecimentos para poder dar uma opinião”, disse Ho Ion Sang.

Para Au Kam San, a posição do CPSP “distorce o sentido da lei”. “O artigo 43 da Lei Básica prevê expressamente que as pessoas não sejam residentes de Macau podem exercer o seu direito. Portanto, não há a interpretação de que os não residentes não têm direito de reunião e manifestação”, acrescentou.

Para Vong Hin Fai, deputado nomeado e advogado, defende que este direito cabe apenas aos portadores de BIR. “Como o secretário disse há pouco, de acordo com a Lei Básica apenas os residentes têm direito de manifestação e eu, pessoalmente, concordo. A minha interpretação literal da lei diz que neste ponto são os residentes que têm esse direito, por isso se uma pessoa for não residente não têm esse direito. Esta é a minha interpretação pessoal e não comento a interpretação de outros colegas”, disse.

Pelo contrário, José Pereira Coutinho defende que os TNR têm o direito de ir para a rua. “A Lei Básica permite que os não residentes gozem dos mesmos direitos dos residentes locais. Não concordo com o secretário para a Segurança.”

“Para mim não há dúvidas de que eles gozam do direito de reunião e manifestação. [Os TNR] são residentes locais mas têm uma denominação diferente”, acrescentou.

Uma lei “atrasada”

Para o deputado Sulu Sou coloca-se a necessidade de rever a lei do direito de reunião e manifestação, que já sofreu duas revisões, em 2008 e 2018, mas nunca relativamente aos conceitos de residente e não residente.

“Talvez seja necessário rever a lei para cumprir a Lei Básica e as convenções internacionais assinadas por Macau. Parece-me a solução que a polícia deveria adoptar em vez de proibir manifestações e negar direitos aos não residentes.” Uma das convenções em causa é o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas.

Sulu Sou lembrou que “segundo as convenções internacionais, as autoridades não podem restringir ou proibir a liberdade de manifestação, muito menos com base na cor da pele ou da nacionalidade”. “A nossa lei de reunião e manifestação é atrasada e não permite que se cumpram os requisitos da Lei Básica e das convenções internacionais. Acredito que em 21 anos houve não residentes que participaram em manifestações. Porque é que nunca houve problemas até agora?”, questionou.

Chan Wa Keong, também advogado, também lembrou que o artigo 43 da Lei Básica prevê que “as pessoas que não sejam residentes de Macau, mas se encontrem na Região Administrativa Especial de Macau, gozam, em conformidade com a lei, dos direitos e liberdades dos residentes de Macau, previstos neste capítulo”.

“A lei do direito de reunião e manifestação regula os direitos dos residentes mas não regula as obrigações e direitos dos que não são residentes de Macau. Não podemos dizer que não há estes direitos, mas esta lei não tem”, frisou.

Para o deputado, “a Lei Básica só regula as obrigações e os direitos de alguns residentes de Macau, mas como se devem executar é conforme a lei. Não devemos subestimar as palavras ‘de acordo com a lei’, que se refere às leis implementadas em Macau”.

Sobre uma eventual revisão, Chan Wa Keong acredita ser necessário “um consenso colectivo da sociedade”. “Acho que não há urgência para discutir este assunto”, adiantou.

Por sua vez, Zheng Anting referiu apenas que “cada país ou região tem as suas exigências, e as pessoas têm o direito de as apresentar”. “Mas é preciso cumprir as leis das regiões onde estão e, por exemplo, em Macau é preciso fazer um pedido para uma manifestação ou reunião para poderem apresentar as suas exigências”, rematou.

A posição dos TNR

Ouvida pelo HM, Jassy Santos, presidente da União Progressista dos Trabalhadores Domésticos de Macau, disse que os TNR precisam que a sua voz seja ouvida. “É suposto deixarem-nos (protestar). Como é que vão saber qual é a nossa situação se não deixarem? Não é justo. Também estamos a contribuir para Macau.” Jassy Santos considera que não permitir que os TNR se manifestem “é discriminação”, e espera que as autoridades mudem de opinião.

Erik Lestari, defensora dos direitos dos trabalhadores migrantes, observou que “Macau não é como Hong Kong”, onde os trabalhadores migrantes podem protestar pelos seus direitos, apontando dificuldades à própria legalização das organizações. “Ao longo dos 16 anos que estou em Macau, os direitos dos trabalhadores migrantes não foram tratados com justiça”, indicou. Erik Lestari entende que é importante os TNR terem direito a protestar, nomeadamente para mostrar ao mundo caso as políticas do Governo – seja o de Macau ou de outro local – não forem boas para os cidadãos.

Ouvido pela TDM Rádio Macau, o jurista António Katchi foi uma das vozes que contestou a posição do CPSP e do secretário para a Segurança, falando de uma “interpretação completamente errada da lei”. Para Katchi, apenas os turistas não têm direito a manifestar-se em Macau. Além de se tratar de uma interpretação errada, “nem sequer corresponde à interpretação da polícia nestes 20 ou 21 anos que decorreram desde a transferência de soberania”, concluiu.

Debate na AL da proposta de lei da reunião e manifestação mostra vontade do legislador

Estávamos a 23 de Março de 1993 e a Assembleia Legislativa (AL) tinha Anabela Ritchie como presidente. O hemiciclo discutia a proposta de lei relativa ao direito de reunião e de manifestação em lugares públicos, que entraria em vigor em Maio desse ano e que revogou um decreto-lei datado de 1974. No debate para a votação do diploma na generalidade, Anabela Ritchie deixou claro que se tratava de um diploma feito para todos os que residiam no território.

Segundo um extracto do diário da AL do dia 23 de Março de 1993, a que o HM teve acesso, a então presidente do hemiciclo citou uma resolução da Assembleia da República que estendia a Macau o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas. “É nesta base que eu entendo a apresentação da proposta de lei que pretende regular o exercício de direitos fundamentais e pessoais dos habitantes de Macau”, disse.

Também o deputado Ng Kuok Cheong defendeu, no mesmo debate, que a proposta de lei deveria ser aprovada o mais depressa possível “de modo que a população possa usufruir do direito concedido pela Constituição”.
Na última sexta-feira, o deputado lembrou que, à época, “a discussão [sobre residentes e não residentes] nunca se colocou, e depois da transição já houve alterações à lei mas, que me lembre, nunca se discutiu este assunto”.
Ng Kuok Cheong diz que “ambos os lados têm a sua justificação”. “A Lei Básica torna muito claro que os direitos constantes no 3º capítulo incluem residentes e não residentes. Temos de explicar que qualquer lei tem de incluir os residentes e não-residentes, mesmo quando só inclui os residentes. Para mim todas as pessoas devem ter esse direito fundamental, mas o Governo adopta uma questão técnica para não lhes reconhecer esse direito”, frisou.

Um contexto “diferente”

André Cheong, secretário para a Administração e Justiça, recorda que “o contexto legislativo é muito diferente, pelo que as pessoas podem ter uma interpretação diferente”. “Em 1993 ainda não tinha sido implementada a Lei Básica, pelo que diferentes académicos e peritos podem ter diferentes pontos de vista sobre se o termo de residente abrange os não residentes.”

O secretário acrescentou que o CPSP “nunca tentou esquivar-se da questão e tomou a iniciativa de esclarecer a sua interpretação”.

José Pereira Coutinho destacou o facto de nunca ter sido necessário “discutir a diferença entre residentes e não residentes porque está plasmado na lei dos anos 90”. “Os TNR são residentes porque têm o direito a residir em Macau. Por isso ninguém levantou problemas sobre essa questão”, adiantou.

Au Kam San recorda que “antes da transferência [de soberania] pessoas não residentes organizaram manifestações contra a colonização de certos países. Nessa altura os não residentes podiam exercer esse direito, mas tinham de seguir certos procedimentos, como a notificação prévia [às autoridades]”.

“Só porque a lei não especifica a situação dos não residentes não acredito que haja uma zona cinzenta, porque a Lei Básica regula os direitos dos residentes e diz que outras pessoas em Macau podem gozar dos direitos legalmente previstos”, disse o deputado.

Pokémon comemora 25 anos em alta com ajuda da pandemia

O vídeojogo Pokémon, uma das franquias globais mais bem sucedidas, assinalou este sábado 25 anos da estreia no Japão, agora reforçado pela pandemia da covid-19 que tem impulsionado o entretenimento digital.

Neste mesmo dia, em 1996, os títulos originais da franquia, “Pokémon Red” e “Pokémon Green”, foram lançados no Japão para o não menos revolucionário Game Boy da Nintendo, no qual o jogador desempenhava o papel de um rapaz que sonha apanhar todos os “Pocket Monsters”, ou na abreviatura, pokémon.

Um quarto de século mais tarde, esses títulos e 150 criaturas evoluíram, em formato e género, para a publicação de dezenas de jogos que venderam mais de 368 milhões de cópias, com mais de 800 pokémon para descobrir, catalogar e reproduzir.

Mais de 22 mil milhões de cartões colecionáveis distribuídos em 77 países ou uma série animada com mais de mil episódios em 23 épocas, licenciada em 176 países, são outros marcos importantes.

Há cinco anos, a chegada aos telemóveis do Pokémon GO, com mais de mil milhões de ‘downloads’, acabou por transformar um fenómeno já global, que soube adaptar-se a novos públicos e também cativar a maioria dos adultos, pelo menos até à chegada da pandemia da covid-19.

“Vamos continuar a oferecer novas e inovadoras formas de experimentar o mundo do Pokémon durante os próximos 25 anos”, disse o diretor de marketing Peter Murphy da divisão internacional da The Pokémon Company, a empresa criada especificamente para gerir a franquia multimilionária, à agência de notícias espanhola EFE por ocasião do aniversário.

Para 2022, a empresa anunciou o lançamento de um novo jogo Nintendo Switch, “Pokémon Legends: Arceus”, no qual os jogadores terão de construir a primeira base de dados Pokémon (Pokédex) para uma das regiões da série, Sinnoh, apresentado pela primeira vez em 2006.

Estes títulos foram completamente refeitos em “Pokémon Shiny Diamond” e “Pokémon Shimmering Pearl” e serão lançados no final deste ano.

O anúncio foi feito numa das habituais apresentações de vídeo da empresa, cuja emissão coincidiu com as 00:00 no Japão, na sexta-feira. As comemorações do 25.º aniversário viraram-se para o formato digital e uma série de actuações musicais, no âmbito do projecto P25 Music, que decorrerá durante um ano e começará nas próximas horas com um concerto gratuito do ‘rapper’ norte-americano Post Malone.

A iniciativa é patrocinada pela cantora norte-americana Katy Perry, fã da franquia. “Pokémon tem sido uma constante na minha vida, desde jogar os jogos de vídeo originais no meu Game Boy até trocar cartões Pokémon TCG durante o recreio para aventuras de apanhar Pokémon na rua com Pokémon GO”, disse a artista.

Jogo | Melco Resorts anuncia prejuízos de 1,26 mil milhões de dólares

A operadora de jogo Melco Resorts & Entertainment, com quatro casinos em Macau, anunciou hoje prejuízos em 2020 de 1,26 mil milhões de dólares. Uma queda significativa, se comparado com o lucro de 373,2 milhões de dólares em 2019, quando registara uma subida de 9,7% em relação a 2018.

O presidente da empresa, Lawrence Ho, justificou o resultado negativo com o impacto da pandemia de covid-19 e consequentes restrições nas viagens, que afastaram os turistas da capital mundial do jogo. Ho garantiu que o grupo, que detém ainda casinos nas Filipinas e no Chipre, iria continuar a investir em Macau e Europa, bem como num possível posicionamento no Japão, que procura desenvolver o mercado do jogo.

No último trimestre de 2020, a Melco registou um prejuízo de 199,7 milhões de dólares, quando em 2019 contabilizara um lucro de 68,1 milhões de dólares. Ainda assim, a operadora subiu 66% em relação ao terceiro trimestre, quando apresentou um prejuízo de 331,6 milhões de dólares.

Os casinos em Macau terminaram 2020 com receitas de 60,4 mil milhões de patacas, uma quebra de 79,3% em relação ao ano anterior, em que registaram 292,4 mil milhões de patacas.

China avisa EUA: É “impossível” dissociar as economias

A China avisou ontem os Estados Unidos de que é “impossível” forçar a desassociação das economias dos dois países, numa reacção à decisão do Governo norte-americano de revisar a estratégia de Washington no abastecimento em sectores-chave. “É impossível pressionar por uma dissociação das indústrias ou usar o poder político para forçar mudanças nas leis económicas”, apontou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China Zhao Lijian.

Na quarta-feira, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que os Estados Unidos “devem garantir que a escassez de produção, interrupções comerciais, desastres naturais ou acções de rivais e adversários estrangeiros não voltam a deixar a América numa posição vulnerável”. O objectivo de Washington é não depender da produção e importação de bens produzidos por “rivais estrangeiros”, numa referência à China.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, deve assinar um decreto na quarta-feira que estabelece 100 dias para apresentar um relatório detalhado sobre a reavaliação das cadeias estratégicas para o país.

“A China espera que os Estados Unidos cumpram as regras do livre comércio e protejam a estabilidade e confiabilidade das cadeias industriais e de abastecimento globais”, respondeu o porta-voz chinês, acrescentando que não deve ser esquecido que “os interesses de todos os países estão profundamente interligados”. “A China opõe-se a quaisquer acusações infundadas ou estigmatização das suas actividades económicas e comerciais”, apontou.

Na quarta-feira, o novo ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, disse que está à “espera e disposto a trabalhar” com os Estados Unidos para “fortalecer o comércio” bilateral, mas ressaltou que vai ser preciso “lidar com as discrepâncias” nesta matéria.

O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, também pediu aos EUA esta semana que removam as taxas alfandegárias impostas aos produtos chineses e levantem as sanções às empresas e instituições chinesas, visando melhorar as relações, que se deterioraram rapidamente durante a presidência de Donald Trump.

Embora Biden tenha prometido uma abordagem diferente, o seu Governo parece inclinado em manter a pressão sobre o país asiático.

China | Duas novas vacinas com eficácia de 65% e 72%

Duas farmacêuticas chinesas, a estatal Sinopharm e a privada CanSino, anunciaram ontem a conclusão do desenvolvimento de vacinas contra a covid-19, que apresentam eficácia de 72% e 65%, respectivamente.

O Instituto de Wuhan de Produtos Biológicos, subsidiária da Sinopharm, anunciou que já submeteu à Administração Nacional de Produtos Médicos chinesa o pedido de aprovação da sua nova vacina, com uma eficácia de 72.51% contra o novo coronavírus.

A China desenvolveu e está a usar na sua campanha de vacinação interna duas vacinas contra a covid-19, através da Sinopharm em Pequim e da Sinovac, cuja vacina CoronaVac está a ser utilizada internamente e em países como o Brasil. Os resultados da CoronaVac em ensaios clínicos no estrangeiro foram díspares, atingindo os 91% de eficácia na Turquia, mas apenas 50,6% num estudo de maiores dimensões no Brasil.

Ambas as vacinas Sinopharm foram elaboradas com o método tradicional de vírus desactivados, e não com a nova biotecnologia utilizada por empresas como a Pfizer e Moderna, que alcançaram eficácia superior a 90%.

Também a CanSino anunciou que as autoridades chinesas já estão a avaliar a sua nova vacina, que em ensaios clínicos demonstrou uma eficácia de 65.28%, com uma só dose, utilizando uma tecnologia semelhante às da AstraZeneca e Johnson & Johnson.

Desenvolvida em colaboração com a Academia de Ciências Médicas Militares, instituto dirigido pelo Exército de Libertação do Povo chinês, a vacina da CanSino já foi aprovada para uso de emergência no estrangeiro, nomeadamente no México e Paquistão.

A transparência do desenvolvimento de vacinas pela China tem sido questionada noutros países, nomeadamente na França, onde o presidente Emmanuel Macron disse este mês não haver “absolutamente nenhuma informação” sobre os imunizantes, que não são tão fiáveis como os ocidentais.

Não obstante, alguns países da União Europeia têm considerado comprar vacinas chinesas, dada a incapacidade de fabricantes europeus ou norte-americanos suprirem as necessidades, e a Hungria tornou-se no primeiro Estado-membro a imunizar os seus cidadãos com a vacina do laboratório Sinopharm.

“Estamos a começar a vacinação com lotes chineses [da vacina do laboratório Sinopharm]”, disse o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, numa breve mensagem publicada na rede social Facebook. As primeiras 550.000 doses chegaram da China em meados de fevereiro, num total de cinco milhões, o suficiente para vacinar um quarto da população de 9,8 milhões.

A China espera aumentar a produção das suas vacinas para 2.000 milhões de doses este ano, e 4.000 milhões até 2022, um plano ambicioso que visa converter o país no maior fornecedor das nações em desenvolvimento. Citado pela imprensa local, o presidente da Associação da Indústria das Vacinas da China, Feng Duojia, estimou que os 4.000 milhões de doses vão cobrir até 40% da procura global.

A China já distribuiu doses das suas vacinas em 22 países em desenvolvimento e prestou assistência a 53, número que continuará a crescer, à medida que Pequim fechar mais acordos com países africanos, segundo dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China.

Jovens suicidas

É problema relativamente antigo na sociedade japonesa, o do elevado número de suicídios, e são certamente complexas as suas causas: um sistema educativo altamente competitivo na infância e adolescência, longas jornadas de trabalho na idade adulta, uma vida social em relativo isolamento e um certo estigma em relações às perturbações psicológicas e mentais que inibe o seu acompanhamento e tratamento estão entre as razões geralmente aprontadas para a sua persistência. Uma das consequências é também a monitorização detalhada, sendo o Japão dos países que dispõe de dados mais precisos, regulares e atualizados sobre o fenómeno. Isso permite saber que, apesar de os valores se manterem altos, o número de suicídios tem vindo a descer sistematicamente e sem interrupções ao longo dos últimos 10 anos. Até 2020, quando os impactos económico, social e psicológico do covid-19 implicaram uma inversão dessa tendência: o número de suicídios voltou a aumentar a partir de Julho de 2020 e com muito maior incidência na população jovem feminina.

Os números disponíveis indicam 20919 suicídios no Japão em 2020, claramente abaixo dos quase 35000 que se tinham registado em 2003 e que tinham levado à criação de programas de prevenção e à monitorização sistemática do fenómeno. Desde então os números tinham diminuído, sem interrupções entre 2009 e 2019. A partir de Julho do ano passado a situação alterou-se e 2020 acabou por fechar com 13943 suicídios entre os homens (1% mais do que em 2019) e 6976 suicídios de mulheres (15% mais do que no ano anterior). Só no mês de Outubro suicidaram-se 851 mulheres, um acréscimo de 85% em relação ao mesmo mês de 2020. Aliás, o número total de mortes por suicídio nesse mês (2153) foi superior ao número de mortes por covid-19 até esse momento (2087). É também de salientar a coincidência de se tratar de um ano em que o número total de mortes no país diminuiu em relação ao ano anterior, o que aconteceu pela primeira vez em 11 anos. Uma das justificações adiantadas para este fenómeno é o de se terem adoptado cuidados gerais de saúde mais rigorosos devido ao covid-19 que contribuíram também para prevenir outras doenças – do corpo, não da mente.

Os dados também revelam que os casos de suicídio não aumentaram durante a primeira fase da pandemia, com a primeira vaga de infecções, que no Japão tinha começado ainda em Janeiro. Foi na segunda vaga, no Verão – com um volume de casos mais significativo e medidas de contenção mais restritivas e com maiores impactos económicos e sociais – que se começou a consolidar uma subida anormal do número de suicídios no país. Explicações adiantadas para o problema focam-se no impacto do encerramento forçado de estabelecimentos comerciais e de restauração, com níveis de emprego feminino proporcionalmente mais altos que os da indústria ou outros serviços. Em consequência, quase dois terços dos empregos perdidos em 2020 em resultado da pandemia eram ocupados por mulheres. Apesar de a população feminina ter uma participação no mercado de trabalho francamente inferior à dos homens, a perda de postos de trabalho de mulheres reflecte a precariedade generalizada da sua situação laboral, uma vez que cerca de dois terços ocupa postos de trabalho a tempo parcial. Resta então saber qual será o impacto da terceira vaga, que agora parece estar finalmente a terminar, mas que atingiu valores muito mais altos nos níveis de infecções e implicou restrições ainda mais severas.

Na realidade, os números parecem apontar para uma tendência semelhante também na Coreia do Sul: durante quase todo o ano de 2020 (até 10 de Dezembro) 564 pessoas tinham morrido de covid-19, enquanto o número de suicídios por mês era mais do dobro, pelo menos entre Janeiro e Setembro (último mês com dados disponíveis). Em particular, o número de suicídios em mulheres de 20 a 30 anos de idade aumentou 40% em relação ao ano anterior. As explicações adiantadas por comentadores na imprensa são semelhantes às do caso japonês: incapacidade de suportar os custos de vida para quem ocupa os lugares mais vulneráveis à pandemia no mercado de trabalho actual (pessoas com contratos de curta duração ou trabalho informal, geralmente a tempo parcial, nos sectores do comércio a retalho e restauração mais orientados para o turismo).

Este sofrimento solitário imposto por sucessivos confinamentos tem evidentes consequências sobre a saúde mental que se juntam aos problemas sociais e económicos que este tipo de recessão inevitavelmente implica. Mas o caminho está longe de estar percorrido, não só porque a pandemia não está controlada, mas também porque os seus devastadores impactos económicos e sociais ainda vão perdurar. O capitalismo contemporâneo não lida bem com este confinamento que representa também um encerramento generalizado dos mercados, cuja abertura permanente permite a competição sistemática em que vivemos e alimenta o eventual crescimento das economias. Os estados emagrecidos que temos hoje não estão preparados para substituir esta dinâmica em caso de emergência. E é essa emergência que vai persistir, não só no Japão ou na Coreia do Sul, mas também em todos os outros países onde a pandemia tem impactos significativos, com mais ou menos intensa monitorização dos suicídios e suas causas, ou das implicações sociais e individuais desta doença.

Universidade Cidade de Macau | Jun Liu é o novo reitor

Jun Liu toma posse como reitor da Universidade Cidade de Macau na segunda-feira, de acordo com um comunicado da instituição de ensino superior.

O novo líder da universidade tem mais de quatro décadas de experiência em educação linguística, doutorou-se na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos em 1996. No currículo tem cargos como vice-presidente e vice-reitor para os assuntos globais, reitor de programas e serviços académicos internacionais, director do China Center.

Foi também professor de linguística na Universidade Stony Brook, em Nova Iorque, antes de vir para Macau. Jun Liu tem publicado extensivamente na área da metodologia de ensino de línguas, sociolinguística, desenvolvimento curricular e comunicação intercultural.

Covid-19 | Taiwan aligeira restrições à entrada de estrangeiros e escalas no aeroporto

Taiwan vai começar a levantar algumas restrições à entrada de visitantes estrangeiros a partir de 1 de março, permitindo igualmente a escala de passageiros em trânsito no aeroporto internacional, anunciaram as autoridades.

O Centro Central de Comando da Epidemia de Taiwan informou que os visitantes que desejem deslocar-se à ilha em viagens de negócios podem solicitar uma autorização especial nos escritórios de representação do território no estrangeiro, segundo a agência Associated Press (AP).

Para isso, terão de apresentar resultado negativo ao teste de coronavírus, realizado até três dias antes da viagem, devendo ser novamente testados após cumprirem duas semanas de quarentena obrigatória.

Os viajantes de uma lista de países e regiões classificados como de baixo ou médio risco em termos de infeções de covid-19 podem requerer períodos de quarentena reduzidos, entre cinco a sete dias. Estes incluem Macau, Nova Zelândia, Austrália, Singapura, Vietname e Camboja.

As alterações das restrições sanitárias na ilha também vão permitir aos estrangeiros em trânsito fazer escala no aeroporto internacional de Taiwan. A notícia tem impacto em Macau, já que Taiwan era um dos raros locais em que era permitido fazer escala em voos internacionais, até à interdição, em 01 de janeiro.

Ao abrigo das novas regras, os viajantes estrangeiros em trânsito podem passar até oito horas no aeroporto internacional de Taiwan para fazer escala, segundo o jornal Taipei Times, devendo igualmente apresentar teste com resultado negativo realizado nas 72 horas anteriores.

As novas regras vão igualmente facilitar a visita de cidadãos chineses em determinadas circunstâncias, incluindo por razões humanitárias, e permitir o regresso de estudantes da China a instituições de ensino superior em Taiwan.

Marte e a agência barata

19/02/2021

Dantes só encontrava números de telefone nas últimas páginas dos livros, muitos deles estranhos e de novo anónimos ao fim de pouco tempo. Nesta época desavinda, sempre que revisito um livro, dou conta de só ter anotado nessas páginas, números de táxis, horários de comboios ou de Expressos, modos de trânsito. O isolamento estreita-se e estreita-nos e eis-nos, como os caranguejos, em andamento oblíquo e reticente, a pau com a própria sombra.

20/02/2021

É espantosa a nossa (minha) ignorância. Em 1926, quando Robert Goddard lançou o primeiro foguete movido a combustível líquido à respeitável “altitude” de 12,5 metros, quem se consentiria a imaginar que o rover Perseverance pousaria em Marte 95 anos mais tarde, 54 milhões de quilómetros de distância?

Não me fez mal tanta leitura de Rilke mas devia ter alternado com mais leituras científicas. A ciência, a poesia e a música: os pilares em que devia assentar qualquer educação que se preze.

O salto que se deu em menos de cem anos!
Melhor, foram três os países que se dispuseram a uma “amartagem” e para além da colheita de poeiras cósmicas ser desta vez partilhada colapsaram-se de uma vez as teorias da conspiração que defendiam nunca o homem ter ido à lua, a não ser que os chineses e os emissários de Alá se hajam rendido a Hollywood.
Em homenagem a Marte, durante um mês só se deviam usar palavras pressurizadas.

22/02/2021

Não é o caso destas.
Há um livrinho colectivo de 2013, que se chama O QUE É UM POVO? Quem o abre é Alain Badiou com um texto intitulado Vinte e quatro notas sobre os usos da palavra “povo”, e na nota final lê-se: «A palavra “povo” só tem um significado positivo quando subentende uma possível inexistência do Estado, seja porque se trata de um Estado interdito cuja criação é ansiada ou de um estado oficial cujo desaparecimento é desejado. “Povo” é uma palavra que assume todo o seu valor na forma, transitória, duma guerra de libertação nacional, ou, em níveis bem mais baixos, sob aquelas formas definitivas das políticas comunistas».

Leio isto e não consigo deixar de pensar em Moçambique e na sorte lamentável que tem, a todos os níveis. Há povos que nascem para a provação. Num estalar de dedos morre Daviz Simango, líder do MDM, e o competente presidente da câmara da Beira. Com 57 anos, de um AVC, com “recaída”. Mais do que Dahklama, que só conhecia a linguagem das armas, Daviz é que introduziu verdadeiramente a oposição parlamentar e democrática em Moçambique e o seu relevo vinha-lhe, além disso, da qualidade da sua gestão à frente de uma cidade fustigada quer por calamidades físicas, quer pelo contínuo boicote do poder central. Apesar dos limites dos recursos com que contava, conseguiu imprimir uma dinâmica e uma credibilidade à sua gestão que o tornou confiável, interna e externamente. Com este desaparecimento, contam-se agora pelos dedos de uma mão as figuras de oposição com um verdadeiro capital político e competência técnica para governar, só que nenhum deles é líder e tem carisma. É uma verdadeira desgraça, num momento de realidade soturna, onde à política restritiva do covid se junta um blackout informativo (sobretudo no que às guerras diz respeito), e quando o poder se sustenta num partido que institucionalmente já colonizou tudo, só restando que o soalho apodreça sob os seus pés à vagarosa velocidade do muchém e que o empobrecimento se acentue. Enfim, cada vez mais este é um povo com muitos recursos mas a quem furtam a esperança.

23/02/2021

Encontro, escrito pelo crítico de arte Bernard Berenson, algo que me parece vital: «Uma vida completa talvez seja aquela que termina em tal identificação com o não-eu que não resta um eu para morrer».
Vagabundagem ao sabor da pele, como a do o matreiro sorriso de Pessoa quando a morte o convidou a jogar xadrez?
Mesmo políticamente, Pessoa apostou sempre nesse tabuleiro.

Em 1917 é publicado no Portugal futurista o «Ultimatum», pela pena de Álvaro de Campos. É um libelo político fortíssimo que apela à regeneração da Europa, mergulhada numa guerra fratricida. O heterónimo de Pessoa propõe uma intervenção cirúrgica anti-cristã, o que compreendia:

a) A abolição do dogma da personalidade; b) a abolição do preconceito da individualidade; c) a abolição do Objectivismo pessoal.

O seu projecto corresponderia a uma revolução coperniciana, com os devidos nexos políticos traduzidos num novo sistema em que cada cidadão teria direito a X votos, consoante o mérito pessoal. Pessoa, como era um Sindicato, teria direito a, no mínimo, 6 votos: ele mesmo, ortónimo, 4 heterónimos (contando com o António Mora), e o semi-heterónimo Bernardo Soares.

Isto é mais do que curioso (ainda que perigoso e manipulável), sobretudo como pretexto para uma discussão quanto aos deficitários valores em uso na preguiçosa e dolente democracia hodierna e nunca esquecendo que Pessoa visava sobretudo um sistema que premiasse o mérito, um sistema antitradicionalista e anti-hereditário, e ao arrepio de interesses corporativos.

Eis um dos poucos democratas genuínos no século XX, um homem que vai ao cerne receptor da ideologia, o sujeito, e o esvazia, substituindo-o por uma pensamento que não se move por antagonismo dialéctico mas no trânsito entre polarizações. O que à partida torna impossíveis pulsões hegemónicas, autoritarismos e dogmas. Mais democrático é difícil.

Em 1936, quando morreu Fernando Pessoa, os serviços fúnebres ficaram a cargo da “Agência Barata”. É um simples pormenor, mas no caso de Pessoa nenhuma coincidência é um acaso. Sinaliza o despojamento de a quem já não resta um eu para morrer.

Está quase, já passou

Daqui a pouco, a Primavera. Que faremos então com tanto sol?
É mais fácil confinar no Inverno; mais intuitivo. É mais fácil respeitar as regras de distanciamento social, as recomendações de que se evitem contactos desnecessários, as proibições das festas. A Primavera – onde ela existe – foi sempre uma época de renovação e de festejo; está ligada a bonança das colheitas, à fertilidade, ao engordar do dia. Os animais reaparecerem na Primavera e pontuam a paisagem onde tudo quanto é verde se estende em direcção ao sol e ao céu. Tudo é mais suportável na Primavera.

Esta poderá ser a segunda Primavera de que seremos subtraídos. Pouco me importa que me levem o Inverno e boa parte do Outono; está frio, chove. Podem ficar com os poucos dias de clemência meteorológica. Já a Primavera é outra coisa. É como acordar de um longo sono salpicado de sonhos oblíquos e estranhos estados de vigília e não poder sair da cama para celebrar a vida na igreja das coisas.

Quando vivia em França, com os meus pais, uma boa parte da infância, numa cidade do interior ladeando uma cordilheira de vulcões dormentes – Clermont-Ferrand – onde o clima era particularmente inclemente – Invernos nevosos e Verões infernais, a Primavera, muitas vezes tardando em aparecer até despontar, tímida, nos últimos dias de Março, como se tivesse prurido em chegar, era a única altura da vida da cidade em que o corpo parecia estar em sintonia com o ambiente.

Eu estava sempre doente no Inverno, amiúde no Outono, e calhavam-me sempre pelo menos duas sessões de amigdalite no Verão. Na Primavera descobria o que era ser como os outros miúdos – sempre muito mais robustos do que eu. Na Primavera éramos todos imortais. Na Primavera o meu pai atrevia-se a tirar-me da segurança de casa aos fins-de-semana para fazermos piqueniques à beira-rio com a trupe de emigrantes com que partilhávamos pão e histórias da terrinha. Íamos pescar trutas – de que eu fingia gostar à mesa mais do que na verdade gostava –, ver a procissão dos bichos a caminho das múltiplas peripécias da vida (isto é um gaio, filho, isto é uma lebre, vês como têm as pernas muito mais longas do que as dos coelhos, isto é…), e no caminho de regresso, o meu pai ia apontando – para desespero da minha mãe, que insistia em que ele olhasse antes para a estrada – onde tinha trabalhado, onde tinha comido a melhor perdiz estufada, onde tinha bebido uns copos a mais. Era a topografia do adulto de meia-idade antes da chegada da mulher e filho, a segunda adolescência numa terra em que uma estranha liberdade eclode do anonimato.

Tenho poucas lembranças da minha infância – felizmente. Essas poucas lembranças são bastante desproporcionais em relação aos sítios de onde elas vêm e ao tempo que neles passei. Estava quase sempre na cidade, enfiado em casa ou na sala de aula. Lembro-me vagamente da casa em França, uns pormenores difusos, o sítio do fogão, o padrão do papel de parede, a cor com que pintaram as janelas. Da escola lembro-me ainda menos; umas rampas que tínhamos de descer ou subir para entrar nas salas de aulas, um pátio enorme onde as crianças mais façanhudas se entretinham a humilhar as crianças mais reservadas, duas freiras extremamente meigas que eram o meu porto de abrigo quando as coisas não faziam sentido ou o almoço era fígado guisado.

Do que me lembro bem era do cheiro acre da terra na Primavera, do meu pai procurando os meus dedos magros e frágeis para me ajudar a passar por um curso de água, dos gaios para que apontava com minúcia de coleccionador. Da Primavera que tudo renova.

O Tango, Camus e as Gnossiennes 

Nos cinco anos que antecederam a Expo-98 fui hóspede assíduo do Hotel Americano. Não foi propriamente o espaço que escolhi para me alojar naqueles três dias por semana em que dava aulas em Lisboa. A escolha antecedera há muito a minha aparente decisão.

Em criança, os meus pais levaram-me uma vez a esse hotel e, na sala do pequeno-almoço, havia na altura uma pianista. Às torradas, às compotas e ao leite somavam-se as Gnossiennes de Eric Satie. Uma coisa tão rara pelo repertório e pela circunstância acabou por criar em mim uma espécie de cofre do tempo, razão por que me senti obrigado, mais tarde, a reentrar no hotel. Já estava bastante degradado, mas mantinha, na rua 1º de Dezembro, nº 73 (a dois passos do Rossio), a mesma secreta chama. Todos os dias de manhã percorria os velhos corredores à procura da pianista e das Gnossiennes. Só a tinha visto aquela única vez e de costas, a pele branca por cima do decote cavado, as madeixas escuras, um sinal no ombro direito, os braços e os dedos a brilharem.

Alguns anos passaram e houve uma noite em que sonhei que estava perdido nos corredores desse hotel, subitamente transformados num labirinto sem fim. Até que num desvão dei com uma enorme sala de arrumos. A um canto o velho piano ressurgiu aos meus olhos rodeado de teias de aranha, embora fosse clara a presença de um exemplar de ‘O Mito de Sísifo’ de Camus em cima do teclado. Aproximei-me e, por trás de uma espécie de biombo desdobrável, apareceu a mulher. O longo vestido azul escuro cintilou como se tudo se passasse no fundo do mar.

Ficámos frente a frente a retocar enigmas. Quando os primeiros acordes se ouviram vindos de muito longe, ela limitou-se a anunciar: “Sou eu que te vou, também a ti, ensinar a dançar o tango”.

Na primavera de 1999, passeava com o Urbano em Paris pelas bandas da Rive Gauche e contei-lhe este sonho e esta história. Estávamos a peregrinar pelos locais onde antes ele costumava deambular na companhia de Camus.

Falavam os dois muito de futebol. “A bola muda sempre de direcção”, bela metáfora para compreender que o pensamento se inicia num arrebatamento, ou numa compulsão que se divide, que inflama, que quase se perde. Camus falava depressa e a sua paixão pelo futebol alimentava-lhe a certeza de que pensar não é uma coisa inata; é antes um engendramento ou uma jogada que começa na lateral do relvado. E a sua missão é ampliar a dimensão do jogo, driblar e agarrar o fio do raciocínio apesar dos obstáculos (oferecidos pela outra equipa, pela vida). Por baixo da gramática e da lógica, esses tapetes pouco lascivos, existe um jogador elástico que explode e que não se submete a imagens, cria-as. O pensamento fulmina no golo, mas não sucumbe nessa metonímia (que arrasta consigo quer o gáudio de uns, quer a tristeza de outros, quer a diferença que afinal lhes alimenta o ser).

Antes da tuberculose, Camus tinha sido guarda-redes na Argélia. Falava menos na doença e mais nas grandes avançadas. “A bola muda sempre de direcção”, repetia o Urbano a sorrir e a lembrar-se da frase. Tal como aquele advogado, em A Queda, que não foi capaz de salvar a mulher de se afogar. E foi aí, devido à coincidência, que lhe li um poema, cuja versão inicial escrevera em Amesterdão uns anos antes: “Nunca soube por que cheguei tarde/ mas sei/ (na mesma prumada/ quase no mesmo catavento tornado em pedra)/ que assim foi./ Também apurei que Camus escreveu a queda/ no México City/ ficava ali no bairro vermelho/ nas ins-suspensas esplanadas cheias de neve / entre dois a sete parágrafos/ nesses fins de tarde passava por lá todos os dias/ e não havia tricot para distribuir/ aos amigos./ Porque os amigos são faunos.”.

A meados da década de noventa, eu passava todas as terças e quintas pela casa do Urbano na Tomás Ribeiro e dava-lhe boleia até à universidade onde ele acabaria por me apresentar o romance As Saudades do Mundo. Depois desse lançamento, durante o jantar, eu disse que existia uma “aragem saudosa no mundo que subtrai ao corpo a sua própria leveza” (foram mais ou menos estas as palavras). “É o que se sente, quando se sabe dançar bem o tango”, respondeu o Urbano a imaginar os deleites da pianista, de decote aberto, debruçada sobre Camus e a lucubrar acerca da magia das Gnossiennes que ainda hoje se continuam a ouvir nos passeios que envolvem o antigo Hotel Americano. Não apenas o imaginou como de tudo isto tomou nota para um livro que nunca viria a ser escrito, seguindo o que Marguerite Duras deixou dito numa entrevista a Benoît Jacquot em 1993: “Escrever é tentar saber aquilo que escreveríamos, se escrevêssemos”.

(texto transformado da segunda para a primeira pessoa e extraído de ‘Órbita-I/ Singular’ – título provisório de obra de longo curso ainda em trânsito)

Presidente declara êxito da China na erradicação da pobreza extrema

O Presidente da China, Xi Jinping, declarou ontem oficialmente que o país concluiu a “árdua tarefa” de erradicar a pobreza extrema, apontando que 98,99 milhões de pessoas saíram daquela condição nos últimos oito anos. “Hoje, declaramos solenemente o sucesso completo na luta contra a pobreza no país”, disse Xi, numa cerimónia no Grande Palácio do Povo, em Pequim, perante milhares de membros do Partido Comunista Chinês (PCC).

O presidente destacou que os “problemas regionais da pobreza foram resolvidos”, pelo que a China encerrou a sua “árdua tarefa de erradicar a pobreza extrema, gerando outro milagre incrível”.

O governante também indicou que 832 vilas e 128.000 cidades foram retiradas da lista de locais empobrecidos, segundo os “padrões actuais”. Xi ressaltou que a meta foi alcançada em 2021, o ano do centenário da fundação do PCC.

Desde que a China lançou o programa de reforma e abertura, no final dos anos 1970, quase 800 milhões de pessoas saíram da pobreza, contribuindo assim para cerca de 70% na redução da pobreza extrema em todo o mundo, durante aquele período.

Em 2012, a China estabeleceu como meta erradicar a pobreza extrema até 2020, dez anos antes da data estabelecida pelas Nações Unidas para os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.
Residentes rurais idosos receberam doações em dinheiro e o Governo lançou esquemas para fomentar a criação de emprego para quem dependia da agricultura de subsistência, incluindo através da formação de cooperativas agrícolas ou da abertura de fábricas. O investimento em infra-estruturas e habitação permitiu também tirar do isolamento comunidades inteiras.

Segundo Xi Jinping, a erradicação da pobreza extrema foi possível com uma “abordagem realista e pragmática” e graças às “vantagens políticas do sistema socialista, que pode reunir os recursos necessários para concretizar grandes tarefas”.

A China investiu o equivalente a cerca de 202.000 milhões de euros, nos últimos oito anos, no combate à pobreza, disse Xi. Cerca de três milhões de funcionários do PCC foram enviados para as áreas rurais para trabalharem na campanha de erradicação da pobreza extrema.

Em 2019, a China fixou o limiar de extrema pobreza em 4.000 yuans por ano, o que representa 1,3 dólares por dia. O Banco Mundial fixa o limiar em 1,5 euros.

Obras completas de Mário Soares publicadas este trimestre pela Imprensa Nacional

O primeiro volume das Obras Completas do ex-Presidente da República Mário Soares vai ser publicado até ao final do primeiro trimestre deste ano, pela Imprensa Nacional (IN), disse à agência Lusa fonte da editora.

O projecto da publicação das Obras Completas de Mário Soares (1924-2017) foi anunciado pela IN em 2019, sob coordenação de José Manuel dos Santos, antigo assessor do Presidente, e com a colaboração de personalidades próximas do ex-líder socialista, afirmou na ocasião o director editorial da IN, Duarte Azinheira, que explicou tratar-se de um “projecto muito ambicioso e complicado do ponto de vista editorial”, porque, ao contrário do que acontece com outros autores, “os títulos não estão fixados”.

“Há um enorme arquivo e foi necessário ter uma equipa a investigar”, disse Azinheira, em Janeiro de 2019, referindo que essa equipa estava “a ajudar a fixar o plano de publicações”, um trabalho que vai continuar a fazer “nos próximos anos”.

Segundo essas declarações de Azinheira, a colecção abre com “As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga”, trabalho que tem por base a dissertação de licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas que Soares apresentou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

A edição, fac-similada, constituirá o volume número zero – porque é “uma espécie de aperitivo” -, e vai reproduzir o exemplar oferecido a António Sérgio, com todas as anotações que este fez à margem.

A este título, seguir-se-á o primeiro de “Correspondência Cultural”, já fruto do trabalho dos investigadores, que irá mostrar como o antigo Presidente se correspondia com “toda a gente”, nomeadamente o poeta Herberto Helder (1930-2015).

Outras edições

A IN também conta publicar este ano o teatro completo de Natália Correia (1923-1993), em dois volumes, que serão incluídos na colecção “Biblioteca de Autores Portugueses”. O projecto da edição do Teatro Completo de Natália Correia, que inclui peças como “O Encoberto” ou “A Pécora”, tinha já sido anunciado no ano passado e foi adiado devido a “constrangimentos vários”, justificou à agência Lusa fonte da IN.

O plano de edições deste ano da IN inclui ainda uma biografia de João Ludovice (1673-1752), arquitecto de origem alemã naturalizado português, que projectou o Palácio e Convento de Mafra (1717- 1730), ao serviço do rei João V. A biografia é de autoria de José Monterroso Teixeira, da Universidade Autónoma.

Outro dos destaques do plano editorial para este ano é a publicação da “Divina Comédia”, de Dante Alighieri, numa tradução de Jorge Vaz de Carvalho, que vai fazer parte da colecção “Itálica”, coordenada por António Mega Ferreira. Este título é publicado no âmbito do 7.º centenário da morte do poeta italiano.

Concerto | “Dvořák meets Saxophone” amanhã no Centro Cultural de Macau

A Associação de Regentes de Banda de Macau leva amanhã ao pequeno auditório do Centro Cultural de Macau um concerto dedicado à música do compositor checo Antonín Dvořák. O jovem músico local Hugo Loi vai liderar a ensemble de saxofones, em composições clássicas com influências de música tradicional

 

O pequeno auditório do Centro Cultural de Macau recebe amanhã, pelas 19h45, o concerto “Dvořák meets Saxophone”, interpretado por um ensemble de metais de sopro, com a organização da Associação de Regentes de Banda de Macau.

O jovem saxofonista local Hugo Loi vai liderar a banda no reportório assente nas obras “Slavonic Dance Op.46.No.1, No.2, No.7 e No. 8”, na “Serenade for winds, op.44” e no seundo movimento, Largo “From the New World” da Sinfonia No. 9.

Hugo Loi Hon Cheong é formado no prestigiado Conservatório Real de Haia, na Holanda, onde completou o bacharelato e mestrado em performance de saxofone. Em 2006, arrebatou o primeiro prémio nas categorias solo e música de câmara do Concurso para Jovens Músicos de Macau, organizado pelo Instituto Cultural. Passado quase um quarto de século, Loi é hoje professor no Conservatório de Macau, na escola da Associação de Regentes de Banda de Macau e noutras instituições.

Celebrar Antonín Dvořák

O concerto tem como objectivo, além do prazer do espectador, celebrar o 180º aniversário do compositor checo, que na altura em que escreveu a música que se vai ouvir amanhã era director do Conservatório de Música de Nova Iorque.

Nascido na pequena comuna checa de Nelahozeves, Antonín Dvořák foi cedo para Praga estudar órgão e mais tarde violino, acabando por fazer parte da secção de cordas da Orquestra do Teatro Bohemian Provisional em Praga.
O músico acabou por abandonar a orquestra depois de se ter casado, mas continuou a compor até atrair o interesse Johannes Brahms, que viria a ser preponderante na sua carreira.

O conceito musical de Dvořák, à semelhança dos homens do seu tempo e país, enquadrava-se no movimento romântico do nacionalismo checo. Os bilhetes para o concerto custam 120 patacas.

Segurança | Criminalidade em 2020 influenciada pela pandemia

No ano passado, a criminalidade associada ao jogo, como o sequestro e agiotagem, sofreram uma redução drástica na sequência da paralisação imposta pela pandemia ao sector. Porém, crimes como abuso sexual de menores e burlas online dispararam em 2020, de acordo com as estatísticas da criminalidade

 

A pandemia da covid-19 alterou profundamente a forma como as pessoas vivem, alteração de paradigmas que se estende ao crime. As estatísticas da criminalidade, divulgadas ontem pelo gabinete do secretário para a Segurança dão conta disso mesmo.

As restrições fronteiriças para controlar a propagação do novo tipo de coronavírus alteraram no ano passado padrões e métodos criminais, nomeadamente no tráfico de drogas, burlas na internet e nos crimes associados ao jogo.

Assim sendo, as estatísticas divulgadas pelo gabinete de Wong Sio Chak referem que em 2020 foram registados “37 casos de sequestro, vulgarmente conhecido por crime de ‘cárcere privado’, representando uma descida de 316 casos comparativamente com o ano de 2019, uma descida significativa de 89,5 por cento”.

Outro dos delitos mais comuns de Macau, também associado à indústria que domina a economia local, é a usura, também conhecida por agiotagem. Em 2020, as autoridades dão conta de 78 casos, o que representa uma quebra abrupta em relação aos 527 casos registados em 2019, mais de 87 por cento.

Destaque também para a queda significativa dos casos reportados de violação no ano passado, de 29 para 15, o que representa menos 32,6 por cento. O número de homicídios repetiu-se em relação a 2019, com dois casos.

Ainda na categoria de crimes contra pessoas regista-se um dos registos mais negros nas estatísticas da criminalidade de 2020, quando as autoridades trataram “24 casos de abusos sexuais de crianças, um aumento de 13 casos, representando uma subida de 118,2 por cento comparativamente ao ano de 2019”. Neste domínio, Wong Sio Chak realça que os dados das autoridades indicam que “a maioria dos casos de abuso sexual de crianças ocorrem nas escolas ou no ambiente familiar, cerca de 70 por cento dos autores são familiares, colegas ou professores da vítima”.

Para contornar situações em que as vítimas tiveram medo ou não compreenderam a gravidade do que lhes aconteceu e que, por isso, não reportaram os crimes às autoridades, a comunicação sobre este tipo de criminalidade foi reforçada. A polícia publicou cerca de 150 informações de combate ao abuso de menores em plataformas como o Wechat, Facebook e Youtube, apelando aos menores para pedirem “ajuda oportuna à Polícia ou à geração mais velha”. Além disso, foram organizadas mais de meia centena de palestras, que contara com a participação de cerca de 12.000 estudantes, pais e docentes.

Perigo na rede

Com as movimentações no exterior condicionadas, no ano passado alguns fenómenos de criminalidade passaram a surgir na internet. Um dos crimes que passou a estar no radar das autoridades, e que não tinha registado nenhum caso em 2019, foi a divulgação de pornografia infantil. No ano passado as autoridades instauraram 129 casos, que resultaram na apresentação a órgãos judiciais de 34 arguidos.

O secretário para a Segurança aponta a dificuldade em investigar e apanhar quem comete este tipo de crimes, porque “a maioria das plataformas de redes e os ip address utilizados por arguidos estão localizados fora de Macau”.

Assim sendo, a polícia da RAEM estabeleceu um mecanismo de cooperação com a Interpol e, como a maioria dos arguidos é de oriunda do sudeste asiático, foram emitidas comunicações a informar sobre as consequências da conduta criminosa.

Outros crimes que surgiram no ano passado, foi a burla com vendas de materiais médicos, como máscaras, com o total de 42 casos e o uso ilegal de documento de identificação de outrem para adquirir material médico para revenda, ilícito que se verificou 53 vezes no ano passado. Com a evolução da pandemia, este tipo de crimes desapareceu já no último trimestre de 2020.

Com a vida exterior reduzida aos mínimos, o tempo que se passa online e as compras pela internet aumentaram significativamente. No ano passado, “foram registados 531 crimes informáticos, uma subida de 96,7 por cento em comparação com o ano de 2019, entre os quais houve uma subida significativa de casos relacionados com compras online com cartão de crédito, dos quais foram registados no total 411 casos, uma subida de 294 casos, em comparação com o ano de 2019, representando um aumento de 251,3 por cento”

Puxar pela cabeça

As redes de distribuição de droga foram fortemente afectadas no ano passado, com as restrições fronteiriças que surgiram por todo o mundo. Macau não foi excepção. Por cá, o crime de tráfico caiu mais de 40 por cento durante 2020.

Wong Sio Chak mencionou as formas inovadoras como os traficantes fizeram chegar estupefacientes a Macau. No ano passado foi apreendida droga em máscaras hidrantes, em forma líquida disfarçada de vinho tinto a através de empresas de compras online.

No cômputo geral, registaram-se menos 673 crimes no ano passado, em comparação com 2019, o que correspondeu a uma descida de 63,9 por cento da criminalidade.