“Clepsydra 1920-2020 – Estudos e Revisões” é lançado amanhã em Macau Andreia Sofia Silva - 28 Dez 202028 Dez 2020 “Clepsydra 1920-2020 – Estudos e Revisões”, é apresentado amanhã em Macau. Uma obra que traça um olhar sobre o único livro que Camilo Pessanha deixou através de uma série de ensaios, alguns deles com novos dados sobre o poeta português. Editado em Portugal e em Macau, o livro é lançado amanhã na sede da Casa de Portugal com a chancela da editora COD. Será também lançada a obra “Ladrão de Tempo”, de Carlos Morais José Como surgiu a ideia de reunir este conjunto de ensaios sobre “Clepsydra”? Inicialmente pensámos em fazer um evento público para celebrar os 100 anos da publicação de “Clepsydra” através de umas jornadas, que iriam acontecer na Biblioteca Nacional. Esta ideia partiu de mim e do professor Gustavo Rubim [da Universidade Nova de Lisboa], que por motivos pessoais teve de se afastar do projecto. Mas a pandemia veio alterar tudo, e para não se perderem estes contributos, uma vez que a maior parte das pessoas já tinha aceite falar na ocasião, decidimos transformar as jornadas em livro. A ideia nasce desta linha de investigação que é o ORION, o orientalismo português. Neste momento sou eu que coordeno esta linha [na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL)] e já temos feito alguns trabalhos de investigação sobre Camilo Pessanha e a sua relação com a China e Macau. O que é que este livro traz então de diferente? Queríamos fazer algo um pouco mais abrangente e não ficarmos apenas pela parte orientalista de Pessanha, mas celebrar esse livro discreto que ele nos deixou, que até se pode dizer que de orientalista tem muito pouco, uma vez que é encarado como sendo, talvez, o melhor exemplo do simbolismo português. Reunimos especialistas, e entram os nomes incontornáveis em torno da investigação de Camilo Pessanha, que é o caso de Paulo Franchetti ou Daniel Pires. Mas depois também chamámos investigadores novos, que, não sendo especialistas das obras de Camilo Pessanha, poderiam de facto pensar sobre a obra e trazer novos contributos. Duarte Drummond Braga, por exemplo, é um desses autores, que tem escrito muito sobre o orientalismo. Sim, o Duarte e eu somos os dois representantes do ORION, essa linha de investigação do Centro de Estudos Comparatistas [da FLUL]. De facto, o texto que ele escreve para este volume está directamente relacionado com essa vivência de Camilo Pessanha na China e em Macau. No entanto, depois há outros trabalhos que não se cruzam tanto com esta temática. Mas sim, o Duarte é um dos pensadores desta nova geração de académicos que tem trazido muitas coisas novas sobre Pessanha, nomeadamente relacionando-o com a Geração de Orfeu, que vem logo a seguir à dele e que o considera um mestre. Ele [Camilo Pessanha] vai ser um mestre para Pessoa e para os restantes poetas de Orfeu. Pessanha foi importante para poetas de gerações seguintes? Pessanha tem sido muito lembrado já no novo milénio. Foi celebrado pela Comissão Asiática da Sociedade de Geografia de Lisboa nos 90 anos da sua morte, em 2016. Depois foi lembrado em 2017 quando foram os 150 anos do seu nascimento. Mas acho que a tónica tem sido a figura do Pessanha nas suas múltiplas facetas, de tradutor, sinólogo, professor e jurista. Mas a obra magistral que ele nos deixa não tinha sido ainda objecto de trabalho nenhum. A verdade é que ele é visto como um mestre, não só para a primeira Geração de Orfeu. Tem sido continuamente designado de mestre por poetas como Eugénio de Andrade, que também esteve em Macau. Eugénio de Andrade tem um livro muito interessante, “Pequeno Caderno do Oriente”, em que a figura central é Camilo Pessanha. Temos António Barahona, o próprio Gastão Cruz, e mais recentemente Manuel de Freitas. São poetas mais recentes e estamos sempre a encontrar um diálogo nas poesias. Muitas vezes vão buscar versos de Pessanha para compor novos poemas. Tem sido tão continuo este diálogo com a obra ao longo destes 100 anos que passaram que acho que seria uma pena deixarmos passar esta efeméride centrada numa obra fundamental e que, para muitos, é a mais importante da poesia portuguesa. Um dos capítulos do livro é da sua autoria, e é sobre Pessanha lido hoje. Como é que Pessanha é hoje lido, além dessas referências dos poetas contemporâneos? É um autor próximo dos leitores portugueses? Não é uma poesia fácil. Requer alguma maturidade, e talvez por isso seja um pouco marginal do ensino básico e secundário. Depois encontramos essa poesia mais facilmente na universidade. Um currículo de literatura portuguesa não deixará de incluir Pessanha, que é o representante da Escola Simbolista. Ele acaba por estar presente de uma forma discreta mas mais entre poetas, é aí que o vamos encontrar. E por isso dei o título “representar, rescrever e reconhecer um poeta”. Porque são estas três fórmulas que vamos encontrar nos exemplos que recolhi para o ensaio. “Representar” porque sendo uma figura muito lacónica, há muito pouca informação que seja absolutamente credível sobre a sua figura. Ele foi sendo representado, e essas lacunas foram sendo aproveitadas pelos próprios escritores para ficcionarem a sua figura. A verdade é que ele é personagem de romances, de novelas, como é o caso de Agustina Bessa-Luís, em “A 5ª Essência” e de Paulo José Miranda em “O Mal”. De algum modo a literatura delicia-se até com essas lacunas porque vai aproveitar tudo o que não sabe para criar por si. Mas na poesia há uma ligação diferente. No caso da poesia há esse diálogo inter-textual. Os poetas não precisam de o apelidar de mestre mas acabam por resgatar e revisitar alguns dos seus poemas, muitas vezes usando um ou outro verso, muitas vezes colocado em itálico, e escrevem um novo poema. Tem havido muito o outro lado da homenagem, não só com a obra que já referi, de Eugénio de Andrade, como o próprio Daniel Pires, que escreve um ensaio neste volume. Se há continuamente este tipo de impulsos, de escrever sobre ou para homenagear Pessanha, quer dizer que há muita vitalidade na sua obra, e há ainda que a pensar no final destes 100 anos, fazer um balanço. Apesar de ser apenas uma só obra, “Clepsydra” é muito rica em análise. Exactamente. É uma obra tão pequenina, de um autor discreto, que viveu quase como um exilado, longe da metrópole, e no entanto não o deixámos cair no esquecimento. E importa perguntar porquê, mas acho que a melhor resposta que temos é abrir a “Clepsydra” e lê-la. Este conjunto de ensaios aborda menos o Pessanha homem, a sua personalidade e feitos além da literatura. Não tínhamos tanto essa intenção. A nossa ideia era centrarmo-nos na “Clepsydra”, embora depois haja pontes para pensar essas questões. Por exemplo, é incontornável essa relação de Pessanha com Macau e com a China. Há um estudo de Daniel Pires que não deixa de nos trazer alguns dados novos muito importantes que não têm directamente a ver com a “Clepsydra”. Ele traz-nos com este ensaio um inventário daquilo que era a biblioteca de Pessanha que estava em Macau. Ele [Daniel Pires] nas várias viagens que foi fazendo conseguiu ir reunindo essa listagem das suas obras e sabemos que este tipo de inventários, do que é uma biblioteca de um autor, podem ter um contributo importante para a análise da obra. Outro exemplo importante é o trabalho do Ricardo Marques, que é o acesso ao que foi a crítica de Clepsydra no momento em que ela sai, nas revistas da Geração Orfeu. Já existe uma data para a apresentação deste livro em Lisboa? A obra acabou de sair em Portugal mas deixa-me muito feliz que acabe por ser apresentada em primeiro lugar em Macau. Ainda não temos data de apresentação em Lisboa, mas é possível que seja em Janeiro. Fico muito contente, pensando pela cabeça e coração de Pessanha, que a obra seja apresentada primeiro em Macau. Camilo Pessanha tem de facto uma comunidade de leitores muito importante em Macau.
Covid-19 | Macau aumenta período de quarentena obrigatória de 14 para 21 dias Hoje Macau - 21 Dez 2020 Macau decidiu aumentar a partir de hoje o período de quarentena obrigatória de 14 para 21 dias às pessoas que cheguem oriundos de territórios considerados de elevado risco de transmissão do novo coronavírus. “A nível mundial (…), após 14 dias houve novas transmissões e vamos por isso reforçar as medidas de quarentena”, justificou o médico Lo Iek Long, dos Serviços de Saúde, em conferência de imprensa. A medida exclui as pessoas que chegam a Macau de locais identificados como de risco moderado na China continental e em Taiwan e inclui aquelas provenientes do Reino Unido e da região administrativa especial chinesa vizinha, Hong Kong, destacou. No Reino Unido foi identificada uma variante mais contagiosa do novo coronavírus, que provoca a doença covid-19. “Esta nova variante tem uma transmissibilidade de mais 70%”, salientou Lo Iek Long, frisando que o objetivo das autoridades é de garantir a saúde pública dos residentes de Macau e minimizar os riscos de transmissão. Macau não regista qualquer caso há quase seis meses, tendo sido dos primeiros territórios a ser atingido pela pandemia, em finais de janeiro. No total identificou apenas 46 contágios e nenhum surto local. A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.685.785 mortos resultantes de mais de 76,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).
A nova era por haver Carlos Morais José - 21 Dez 202021 Dez 2020 Ao longo destes 21 anos de RAEM, as instruções de Pequim têm sido cruciais para garantir algum desenvolvimento nesta região “governada pelas suas gentes”. Aliás, algo que percebemos é que sem elas a comunidade portuguesa aqui residente teria muito mais dificuldade em encontrar um espaço de subsistência. Lembramo-nos, por exemplo, do ano de 2003, no qual o Governo Central determinou que Macau seria uma ponte para os Países Lusófonos o que, em grande parte, justifica a nossa presença e utilidade enquanto peças desse processo que, infelizmente, ainda não conheceu a desenvoltura desejada, na medida em que tem encontrado escolhos locais que vão do desinteresse à oposição. O estabelecimento do Fórum Macau tem conhecido altos e baixos. Estes últimos devem-se, sobretudo, à sobranceria de alguns decisores locais e a escolhas menos felizes para a liderança deste processo. Os altos acontecem quando Pequim resolve “puxar algumas orelhas”, como aconteceu por ocasião da visita do primeiro-ministro Li Keqiang, em 2016, 13 anos depois do estabelecimento do Fórum, cujo discurso estabeleceu 19 (!) pontos que faltavam realizar para que Macau atingisse, minimamente, aquele desiderato. A verdade é que temos de analisar com especial cuidado e atenção as “quatro expectativas” que o Presidente Xi Jinping aqui deixou, quando do seu discurso em Dezembro de 2019, e que, oportunamente, o actual Chefe do Executivo Ho Iat Seng relembrou na sua intervenção de ontem. Contudo, não basta analisar e relembrar: antes de mais, é preciso executar. Em primeiro lugar, o Presidente sublinhou a necessidade de “melhorar a qualidade da governação”, nomeadamente através da modernização dos processos burocráticos, aproveitando o desenvolvimento das novas tecnologias. Contudo, Xi chamou especialmente a atenção para que o “estado de direito” seja rigorosamente respeitado como “princípio básico da governação” e que, nesse contexto, os melhoramentos se realizem. Isto é, no nosso entender, que não dêem somente privilégios aos privilegiados e que estes encontrem na lei as fronteiras para a sua acção, descartando a possibilidade de inusitadas benesses só para alguns, em geral os mesmos. É que, como dizia o jovem Carson Fong, na nossa edição de ontem, a maior parte da população tem consciência do que realmente se passa nos bastidores. Em segundo lugar, Xi Jinping referiu a diversificação económica sustentada, sobretudo, nas relações com o exterior, devendo Macau aproveitar as possibilidades criadas pela iniciativa nacional “Uma Faixa, Uma Rota” para potenciar os negócios locais, quer com os Países Lusófonos quer no contexto da Grande Baía. Ao disponibilizar uma enorme fatia de terra na Ilha da Montanha (Henqin), Pequim pouco mais pode fazer para proporcionar aos investidores e empreendedores de Macau possibilidades competitivas, assim aqui exista suficiente visão e capacidade de aproveitar oportunidades de negócio que ultrapassem o âmbito do Jogo e da especulação imobiliária, as duas áreas que têm satisfeito enormemente as ambições financeiras dos privilegiados locais. Em terceiro lugar, e talvez o mais importante, o Presidente recomendou que se coloque em primeiro lugar a população e a melhoria da sua qualidade de vida. Para Xi, “tem de estar muito claro que o objectivo do desenvolvimento é melhorar a vida das pessoas. Assim, a RAEM precisa de adoptar arranjos institucionais mais justos, mais equilibrados e que beneficiem todos, para que os frutos do desenvolvimento possam ser partilhados por toda a comunidade.” Nós não diríamos melhor, mas, durante anos, insistimos neste discurso. Macau, inexplicavelmente devido ao seu extraordinário PIB per capita, apresenta deficiências nas áreas da saúde, educação, trânsito, habitação, meio ambiente, etc. O dinheiro, por muito tempo, não tem sido alocado à melhoria dos sistemas públicos, nomeadamente na área da saúde, mas deslocado para o privado, servindo os interesses de alguns, ao invés de servir o interesse geral. A demora na construção do Hospital da Taipa é o sintoma mais grave deste problema. Em quarto lugar, Xi Jinping falou da preservação da harmonia social, entendendo que tal objectivo só pode ser conseguido se o Governo escutar a população através de consultas sobre os problemas prementes, que devem ser resolvidos de forma coordenada e não unicamente por decretos desligados da realidade e das aspirações das pessoas. O Presidente não esqueceu o facto de que na RAEM habitam várias comunidades, sublinhando que “sendo um lugar onde as culturas chinesa e ocidental se encontram, Macau está bem posicionado para promover trocas entre pessoas e aprendizagem mútua entre culturas”. Oiçam o Presidente Xi, é o nosso voto para a governação de Macau. É que se, segundo ele, “nenhuma força externa tem o direito de nos ditar seja o que for”, também os desejos egoístas de alguns, que unicamente pensam em si e nos seus, não devem ter o direito de condicionar o desenvolvimento de Macau e a melhoria da qualidade de vida da generalidade da população. Aos 21 anos, a RAEM atinge uma outra maioridade. Tal acontece num momento de crise provocado pela pandemia, mas as crises são também momentos de reflexão e de afastamento de percursos menos próprios. Esperamos que o governo de Ho Iat Seng, como foi ontem prometido no discurso, siga as vias traçadas por Xi Jinping e inaugure agora uma nova era de desenvolvimento conjunto que contemple todos e transforme Macau numa região onde seja permitido que o potencial financeiro e humano disponíveis atinja níveis nunca vistos nesta cidade multicultural que muitos exemplos, de desenvolvimento, cultura e tolerância, tem para dar ao país e ao mundo.
CCM | Orquestra de Macau celebra Mozart em Janeiro Hoje Macau - 21 Dez 2020 A Orquestra de Macau (OM) actua a 23 de Janeiro no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) num concerto que conta também com a presença do maestro e pianista chinês Xu Zhong. O espectáculo, intitulado “A lenda de Mozart”, marca o 230.º aniversário da morte do compositor austríaco e apresenta a famosa Abertura de “Don Giovanni” e a Sinfonia n.º 41, “Júpiter”. Neste concerto Xu Zhong executará o Concerto para Piano n.º 9 “Jeunehomme” de Mozart. Xu Zhong é o primeiro maestro chinês a ser director artístico e maestro principal do Teatro Massimo Bellini, em Itália, e é também o actual maestro principal do Festival e da Ópera Arena di Verona, em Itália. Os bilhetes para este concerto começam a ser vendidos a partir do próximo sábado, dia 26, e os preços variam entre as 150 e as 250 patacas. Além deste espectáculo, a OM irá protagonizar ainda vários concertos no próximo mês. Um deles é “Artes Florescentes”, agendado para o dia 9 de Janeiro pelas 20h, e que decorre na Aula Magna da Universidade de Macau (UM). O concerto “Quando a Música Fala – Descubra Mozart”, um dos destaques da temporada, terá lugar no dia 16 de Janeiro, pelas 20h, também na Aula Magna da UM. Além disso, o concerto “Música em Património Mundial” terá lugar no dia 30 de Janeiro, pelas 20h, no Teatro Dom Pedro V, onde a OM apresentará um repertório de sopros compostos por Mozart, Haydn, Poulenc e Bach. Estes espectáculos têm entrada gratuita, estando os bilhetes já disponíveis para levantamento.
Albergue SCM | Poeta Yao Feng apresenta primeira exposição individual Hoje Macau - 21 Dez 2020 Yao Feng, pseudónimo de Yao Jingming, académico, tradutor e poeta, apresenta na próxima quarta-feira, 23, a sua primeira exposição a título individual. Em “Não Conjuntivo – Exposição de Arte de Yao Feng”, são reveladas 58 obras de fotografia, pintura e instalação com curadoria de Guilherme Ung Vai Meng, ex-presidente do Instituto Cultural Professor catedrático da Universidade de Macau (UM) e tradutor de grandes poetas portugueses para chinês, Yao Jingming aventura-se agora noutra vertente do mundo das artes. Na próxima quarta-feira, dia 23, sob o pseudónimo de Yao Feng, Yao Jingming inaugura a sua primeira exposição individual no Albergue SCM, que conta com curadoria do também artista e ex-presidente do Instituto Cultural Guilherme Ung Vai Meng. A mostra tem como nome “Não Conjuntivo – Exposição de Arte de Yao Feng” e é composta por 58 obras que vão desde a fotografia à pintura e instalação. A exposição “explora uma linguagem plástica e pictográfica na qual o figurativo e o abstracto se fundem num encontro cultural herdeiro de influências orientais e ocidentais, propondo novas dinâmicas”, explica um comunicado do Albergue SCM. A mostra estará patente até ao dia 21 de Fevereiro do próximo ano e conta com o apoio da Fundação Macau, marcando os 21 anos da transferência de soberania de Macau para a China. Fotografia foi o início Apesar de esta ser a primeira mostra individual de Yao Feng, a verdade é que o poeta e artista há muito que se dedica ao mundo artístico, nomeadamente da fotografia. Muitos dos seus livros incluem imagens da sua autoria, além de ter feito uma exposição de fotografia juntamente com o poeta Yu Jian. Nascido em Pequim, Yao Jingming vive em Macau desde 1992 e é doutorado em literatura comparada. Além de ser um dos poetas mais consagrados da China, já publicou 13 livros de poesia, em chinês e em português, e recebeu vários prémios. Dedica-se à investigação da literatura portuguesa e à tradução, tendo publicado dezenas de livros. Em 2006 foi agraciado com a medalha da Ordem Militar de Santiago de Espada, atribuída pelo Presidente de Portugal.
RAEM, 21 anos | Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau: “O maior valor de Macau é o seu legado” Andreia Sofia Silva - 21 Dez 2020 Ex-secretário adjunto de Rocha Vieira, Jorge Rangel assumiu vários dossiers e por pouco um problema de saúde não o afastou do cargo antes da transferência de soberania. 21 anos depois, Jorge Rangel defende um novo modelo de desenvolvimento para o território que não dependa tanto do jogo e acredita que deve existir equilíbrio na implementação da educação patriótica Que análise faz à RAEM 21 anos depois da transição? Sendo sempre fácil identificar insuficiências e até apontar naturais desvios, creio ser justo reconhecer que, em larga medida, os compromissos assumidos no acordo firmado em 1987, na Declaração Conjunta, foram cumpridos e o território conheceu períodos de crescente prosperidade. Houve, é certo, alguns graves acidentes de percurso. Tais como? Falo dos casos de corrupção que ganharam notória repercussão, mas esses percalços foram resolvidos pela via judicial, constituindo um teste à capacidade de resposta do sistema instituído, mesmo sabendo que nem todos terão concordado com a forma como alguns dos problemas criados foram resolvidos. Foram, entretanto, atribuídas à RAEM especiais responsabilidades. Fala do seu papel de plataforma com a China… E também da articulação de Macau com a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e como centro mundial de turismo e lazer. Foram, igualmente, definidos novos percursos com vista à sua progressiva integração na Grande Baía Guangdong – Hong Kong – Macau. Estávamos precisamente nesta fase do desenvolvimento da RAEM, com a ilha vizinha de Hengqin em rápida transformação para servir este propósito, quando a pandemia impôs uma pausa, que pode e deve ser muito bem aproveitada para repensar os objectivos imediatos e as estratégias de médio e longo prazo. A pandemia obrigou Macau a olhar-se de uma outra forma? Qual o caminho para recuperar de uma crise desta dimensão? Claro que sim. A receita global, proveniente do jogo, fazia acreditar que o seu desenvolvimento seria linear e sempre continuado, à medida que as autoridades fossem permitindo a entrada de mais e mais visitantes do continente, criando emprego, mas também recorrendo mais e mais a mão-de-obra importada. Cheguei a expressar uma opinião sobre a vulnerabilidade do nosso modelo de desenvolvimento, dependente das receitas dos casinos. Disse que, numa situação de crise, como por exemplo um grave problema de saúde que tornasse imperativo o fecho das fronteiras, o nosso modelo seria, inevitavelmente, posto em causa e iria obrigar a um lúcido redimensionamento e a uma redefinição das prioridades. Há lições penosas que importa extrair e sobre elas, com coragem, repensar metas e ritmos de crescimento. E fazer incidir uma atenção maior na população. Defende então um maior equilíbrio ao nível do turismo. Os casinos e o turismo devem existir para servir os interesses da população e nunca o contrário. É imprescindível conseguir um muito maior equilíbrio. É estulto e estúpido o propósito primário de trazer mais e mais visitantes todos os anos. Em tudo há um limite e nós já ultrapassámos o nosso, até porque o nosso espaço é exíguo e a sustentabilidade do território depende mais da qualidade desse turismo do que do número de visitantes. Oxalá a pandemia nos permita repensar e redimensionar o nosso modelo de desenvolvimento, até porque o Chefe do Executivo, atento aos insistentes apelos das autoridades centrais, quer apostar numa maior e bem necessária diversificação. Mas não haverá limitações a essa diversificação? Ela é possível, havendo que apostar nas mais-valias do território, que vão da cultura e do património a um turismo de qualidade, muito mais selectivo e benéfico para a economia local. [Há também que apostar] nas indústrias, com as mais avançadas tecnologias e a inteligência artificial, com o suporte das universidades e dos seus centros de estudos e investigação. Temos também a área das finanças, assumindo alguns dos propósitos de maior utilização da moeda chinesa no exterior. E é preciso ter uma noção clara e realista dos nossos limites de espaço e dos nossos condicionalismos geográficos, sociais e políticos, em conjunturas nem sempre favoráveis. Haverá que ter em conta também as vantagens e os óbices que resultam da progressiva e, provavelmente, irreversível integração no projecto da Grande Baía, adoptando uma posição pró-activa mais consistente e consequente. Que análise faz da governação de Ho Iat Seng? Este, que é o seu primeiro ano em funções, foi imensamente prejudicado pela pandemia. Por isso não será possível fazer uma apreciação justa da sua governação em relação às linhas de acção que foram aprovadas e não inteiramente realizáveis. Mas podemos avaliar muito positivamente o esforço assumido para conter a pandemia e proteger a população dos seus nefastos efeitos. Houve liderança e sentido de missão. E as suas preocupações, desde o início, com a contenção nos gastos, a utilização correcta dos fundos públicos e contra o “despesismo” são de louvar. Qual foi, para si, o melhor e o pior momento da transição de Macau? Tutelei o Gabinete das Cerimónias e fui designado pelo Governador para acompanhar os assuntos da transição, trabalhando com a comissão preparatória e acompanhando o futuro Chefe do Executivo até ele tomar posse. E, no âmbito da Administração Pública, que era uma das áreas da minha responsabilidade, acompanhei de perto os processos de formação e “localização” de quadros, bem como os de integração e de ingresso nos quadros da República Portuguesa. Foram processos de particular complexidade. Também acompanhei os trabalhos do Grupo de Ligação e estive em reuniões da comissão interministerial sobre os assuntos de Macau. Estava em Hong Kong no âmbito de uma intervenção cirúrgica para remoção de um tumor, que me poderia ter impedido de continuar em funções governativas num tempo de grande exigência e intensa participação, quando tudo era urgente. Estava preparado para solicitar a minha dispensa e substituição, receando já não poder corresponder, quando recebi a visita do Governador. Mas continuou no Executivo. Na opinião da minha família deveria pedir ao Governador que autorizasse a minha saída, mas ele trazia-me uma pasta cheia de novas responsabilidades que acabei por aceitar, ficando em funções até ao último dia. Foi o fim de um tempo de Portugal e também o fim definitivo do meu exercício de funções públicas. Mas houve bons momentos. Foram muitos, e incluem a forma empenhada como o Gabinete das cerimónias funcionou, cumprindo exemplarmente uma missão, em nome de Portugal, e a forma como, indo até onde era possível no pouco tempo que nos restava, a conclusão do processo de “localização” de quadros, viabilizando uma transferência suave da administração. E os maus momentos? Se ainda vale a pena falar deles, recordo algumas incompreensões que rodearam o tratamento de vários processos que dependiam das autoridades nacionais e as questões políticas que condicionaram o diálogo, e o andamento célere e correcto de assuntos que requeriam urgência, a qual nem sempre foi correspondida. Mas isso já é passado e deixou de ter interesse para mim. A transferência da soberania esteve envolvida em algumas polémicas. Acha que está na altura de encerrar definitivamente o passado? Quem viveu aqueles acontecimentos não os esquecerá jamais. As polémicas a que se refere ganharam dimensão pelas motivações políticas que as estimularam. Sobre elas já muito foi dito, embora algo possa ter ficado por contar, nomeadamente sobre os bastidores e a intriga política que sempre existiu e existirá e que se agrava enormemente nos períodos de mudança histórica. É minha convicção que, com todas as dificuldades e incompreensões que rodearam o processo de transição, se cumpriu da melhor maneira possível a missão que aceitámos e que exigiu de nós tudo quanto lhe pudemos dar. Trabalhei com os seis últimos governadores de Macau. Pude ver, comparar e entender as motivações de cada um, até pela relação de grande proximidade e confiança que pude manter com quase todos. Sei que quiseram fazer o melhor em nome de Portugal. Mas nenhum se livrou de polémicas, que existem sempre no decurso da acção governativa, naturalmente surgidas ou intencionalmente provocadas. Considera que há hoje uma tentativa de apagar o passado colonial por parte de algumas personalidades de Macau? É necessário reforçar esse aspecto para a manutenção da identidade de Macau? São ainda vozes pouco generalizadas e que não tiveram grande eco, mas vão surgir, inevitavelmente, mais. Aliás, é bom lembrar que, nos próprios dias 19 e 20 de Dezembro de 1999, já em alguns organismos locais eram defendidas mudanças maiores, além de ali festejarem entusiasticamente (leia-se “patrioticamente”) a mudança. Porque é que essas ideias não avançaram? Foi o pragmatismo das autoridades centrais que foi sempre travando alguns ímpetos maiores, como acontecera no período da Revolução Cultural, de muito má memória cá fora e, sobretudo, lá dentro, pela forma como atingiu muitos milhões de pessoas. Convém também lembrar que, mais do que a sociedade civil chinesa tradicional de Macau, foram as autoridades centrais que quiseram que à RAEM fosse cometida a responsabilidade de se assumir como plataforma de cooperação com os países de língua portuguesa e que múltiplas iniciativas tivessem sido realizadas neste domínio. Cabe às instituições de matriz portuguesa e a muitas outras entretanto criadas continuar a defender a singularidade de Macau, porque o seu real valor é caracterizado pela sua diferença, mesmo no contexto da Grande Baía. O que pensa do projecto actual da Escola Portuguesa de Macau (EPM) e da educação de matriz portuguesa? Acompanhei de perto o processo de criação da EPM, como membro do Governo responsável pela educação, ainda antes da decisão final tomada pelo Estado Português, que escolheu um modelo diferente daquele que havíamos defendido. Já estávamos a prepará-la e a fazer ensaios e estudos sobre o seu papel e dimensão. Tomada a decisão, embora não tivesse deixado de oferecer as minhas opiniões, que apontavam para um maior envolvimento, desde o início, das instituições de matriz portuguesa e do Governo de Macau, abrindo-se o caminho para a participação da própria RAEM no apoio ao seu funcionamento, apostámos na sua criação segundo o modelo escolhido. Fiquei desligado dela [da EPM] durante muito tempo e voltei a acompanhar mais de perto o seu funcionamento, como membro do Conselho de Curadores da Fundação da EPM. A minha participação será, contudo, transitória. Mesmo com todas as mudanças que já ocorreram, considera a EPM um projecto importante. Sempre considerei a EPM a instituição mais relevante para garantir a permanência de portugueses e um bom ensino em língua veicular portuguesa, além de promover a difusão da língua e da cultura, podendo ainda contribuir seguramente para a viabilização do preceito da Lei Básica que atribui à língua portuguesa o estatuto de língua oficial. Espero que, com base na experiência feita, os seus responsáveis, através de um diálogo que se deseja amplo com as entidades financiadoras e todas as outras que têm um papel a desempenhar no seu regular funcionamento e nas experiências pedagógicas ensaiadas, encontrem para ela o melhor modelo de gestão e que os seus planos curriculares sejam consentâneos com a realidade presente, como escola portuguesa no estrangeiro e, simultaneamente, como estabelecimento de ensino particular da RAEM. Mas, no que diz respeito ao ensino do português, há ainda outras entidades. Qual a estratégia a adoptar para elas? O Instituto Português do Oriente deve também merecer a continuada atenção das autoridades para que possa cumprir bem a sua relevante missão, em articulação com o Camões – Instituto para a Língua e Cooperação. Quanto ao Jardim de Infância D. José da Costa Nunes e outras escolas e centros de formação onde a língua portuguesa é ensinada, importa, igualmente, assegurar-lhes a colaboração necessária e contribuir para que lhe sejam garantidos os meios adequados ao seu regular funcionamento. Creio que, no âmbito dos Serviços de Educação e Juventude da RAEM, é possível e desejável ir ainda mais longe, mas esta é matéria que já transcende o âmbito da pergunta feita. Preocupa-o a aposta crescente na educação patriótica? Macau é uma região chinesa com um estatuto especial transitório. É apenas natural que as autoridades, quer centrais, quer locais, se preocupem com a educação patriótica, mas, exactamente por causa deste estatuto especial que ainda deverá vigorar, oficialmente, por mais quase 30 anos, é bom que haja um sentido de equilíbrio e muita lucidez na forma como essa educação é ministrada. Os programas e textos de apoio não devem, a meu ver, ser simplesmente transpostos duma realidade diferente, mas sim adequadamente adaptados, sob pena de se tornarem ineficazes. O amor à Pátria sempre foi um valor naturalmente assimilado e convictamente assumido. Pode até ser estimulado e cultivado, mas nunca imposto. Quem não perceber isto, não deve estar a perceber nada do que tem a ver com o presente e o futuro da RAEM. Como perspectiva o futuro da RAEM? Faltam quase 30 anos [para 2049]. Parece muito tempo, mas, na realidade, nem o é, já que estes vinte, desde a transferência da administração, passaram assaz vertiginosamente. Podemos perspectivar o porvir através dos planos de desenvolvimento aprovados ao longo da última década e meia, primeiro para o Delta do Rio das Pérolas, e, logo a seguir, a sua articulação crescente e interligação regional, para culminar agora no ambicioso projecto da Grande Baía. Esses planos apontam metas para 2022 e para 2035, prazo fixado para a sua conclusão. As coordenadas do desenvolvimento de Macau estão ali claramente delineadas, através do plano sectorial elaborado pelo Governo da RAEM, o qual merece mais ampla difusão, para que todos possam tomar conhecimento do que está verdadeiramente em preparação. Executado o plano da Grande Baía, entrará certamente em vigor um plano que estabelecerá as linhas mestras da integração definitiva. Mas, no contexto da Grande Baía, Macau deverá ser um território único. O que devemos desejar é que haja sempre clarividência para se entender que o maior valor de Macau reside no seu legado de séculos. A sua diferença é a marca da sua singularidade e só a manutenção da sua singularidade garantirá a utilidade da sua participação e da sua integração em condições que ainda estão por definir e podem, por isso, depender ainda da nossa legítima intervenção, em nome das associações e outras organizações da sociedade civil a que estamos ligados, como residentes permanentes. Filho da terra, invocarei sempre a legitimidade de participação que essa antiguidade deve facultar. Mas essa legitimidade de participação deve ser assegurada a todos quantos, de qualquer origem, aqui têm a sua casa e aqui decidiram fazer o seu futuro, que é o mesmo que dizer, fazer o futuro de Macau, sua terra, com as suas gentes, que acreditam que sem memória não haverá futuro. Esse futuro, porém, dependerá sempre muito mais da China do que de nós, dos rumos que ela for apontando para o seu desenvolvimento nas próximas décadas e dos sucessos da afirmação da sua influência crescente no mundo.
João Marques da Cruz deixa direcção da EDP e vai presidir eléctrica no Brasil João Santos Filipe - 21 Dez 2020 João Marques da Cruz, vice-presidente da Companhia Eléctrica de Macau, está de saída do Conselho da Administração da EDP e vai presidir à EDP Brasil, onde deverá substituir Miguel Setas. As movimentações na eléctrica de Portugal fazem parte das alterações propostas por Miguel Stilwell, presidente que substituiu António Mexia, investigado pela Justiça portuguesa, no cargo. A saída de João Marques de Cruz da eléctrica de Portugal acontece num processo de reestruturação, uma vez que o conselho de administração vai passar a ter cinco gestores, quando anteriormente era constituído por nove membros, até à suspensão de funções dos dois directores a serem investigados, António Mexia e João Manso Neto. Além dos cargos na EDP e CEM, João Marques da Cruz é igualmente presidente da Câmara de Comércio Luso-Chinesa. Quanto à posição de vice-presidente na CEM, João Marques da Cruz foi reconduzido em Março e o mandato prolonga-se até 2023. Rocha Vieira em risco? As alterações nos órgãos sociais da EDP não se devem ficar pela direcção, e também o conselho de supervisão, onde um dos membros é o último governador de Macau, Vasco Rocha Vieira, deverá sofrer alterações com uma redução do número de membros. Rocha Vieira foi escolhido pelos accionistas da empresa para o cargo de supervisor independente em 2012, e, na altura, foi acusado pelo Partido Socialista de ser escolhido para o cargo por estar ligado ao Partido Social Democrata. Contudo o ex-Governador recusou as acusações e apontou que a sugestão do nome para o cargo tinha partido dos accionistas, principalmente da empresa estatal chinesa Three Gorges. Rocha Vieira não deverá sofrer um impacto financeiro, uma vez que tem direito a uma reforma vitalícia de 13.607 euros, a mais alta paga pela Caixa Geral de Aposentações de Portugal. Parte deste pagamento está suspenso, mas em caso de saída da EDP, Rocha Vieira poderá receber da CGA o montante que agora está suspenso.
Caso IPIM | Tribunal de Segunda Instância recusou liberdade a Miguel Ian João Santos Filipe - 21 Dez 2020 Em prisão preventiva desde finais de Outubro, o ex-director-adjunto do Departamento Jurídico e de Fixação de Residência por Investimento do IPIM pretende aguardar o desfecho do caso em liberdade Miguel Ian, condenado a quatro anos de prisão no âmbito do processo do caso Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), vai continuar em prisão preventiva. O ex-director-adjunto do Departamento Jurídico e de Fixação de Residência por Investimento do IPIM está preso desde finais de Outubro, pretendia alterar as medidas de coacção e sair em liberdade, mas o Tribunal de Segunda Instância (TSI) recusou-lhe a intenção. A decisão foi tomada na quinta-feira por um colectivo constituído pelas juízas Tam Hio Wa, Chao Im Peg e ainda o juiz Choi Mou Pan, após Miguel Ian ter decidido recorrer das medidas de coacção aplicadas depois da sentença condenatória da primeira instância. Uma vez que Miguel Ian havia sido condenado a pena de prisão efectiva pela prática dos crimes de falsificação de documento, cuja moldura penal vai até aos três anos, e abaixo de 10 anos, não deverá haver possibilidade de recorrer sobre a libertação imediata para o Tribunal de Última Instância. Também Irene Iu, uma das condenadas no caso IPIM, que o tribunal considerou fazer parte da associação criminosa criada pelos empresários Ng Kuok Sao e Wu Shu Hua, para vender a fixação de residência em Macau vai continuar em prisão preventiva. Irene Iu encontra-se a cumprir pena de prisão desde a leitura da sentença, quando foi condenada a 8 anos e seis meses de prisão, além de vários crimes de falsificação de documentos. No entanto, neste caso a decisão do TSI poderá admitir recurso nos próximos dias para o TUI, uma vez que a moldura penal do crime de associação criminosa chega aos 10 anos. Recurso pendente Além da decisão tomada, ainda se encontram no TSI os recursos sobre as condenações, colocados pelo Ministério Público e pela defesa dos arguidos. No que diz respeito ao recurso do MP, foi deixada cair a acusação de associação criminosa face a Jackson Chang. O ex-líder do IPIM foi condenado a dois anos de prisão efectiva pela prática de quatro crimes de violação de segredo e três crimes de inexactidão de elementos no preenchimento da declaração de rendimentos. Jackson Chang ainda enfrenta no TSI a acusação da prática dos crimes de corrupção activa, passiva e branqueamento de capitais, pelas quais foi absolvido na primeira instância. Em relação a Glória Batalha, a juíza deu como provados praticamente todos os quesitos apresentados pela acusação e condenou a ex-vogal do IPIM a um ano e nove meses de prisão efectiva pela prática de um crime de abuso de poder e dois de violação de segredo.
Presidenciais | Portugueses vão votar presencialmente no Consulado João Santos Filipe - 21 Dez 2020 Entre 23 e 24 de Janeiro os cidadãos portugueses vão ser chamados às urnas para escolherem o próximo presidente. Marcelo Rebelo de Sousa é o grande favorito e as sondagens apontam para uma vitória à primeira volta As eleições para escolher o próximo presidente de Portugal vão realizar-se de forma presencial no consulado, durante o fim-de-semana de 24 de Janeiro. A informação foi avançada ao HM, pelo cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves. Os pormenores sobre o acto eleitoral deverão ser revelados nos próximos dias, através das páginas nas redes sociais no Consulado, quando serão esclarecidos os principais aspectos. Os interessados em participar no acto eleitoral precisam de estar registados nos cadernos eleitorais de Macau. De acordo com o mapa divulgado pela Comissão Nacional de Eleições, as eleições no estrangeiro, decorrem ao longo de dois dias, entre as 08h e 19h de sábado, dia 23 de Janeiro, e as 08h e as 20h de domingo, já no dia 24. Na madrugada de dia 25 de Janeiro, hora de Macau, deverão ser conhecidas as primeiras projecções e o vencedor. Além disso, em caso de deslocação ao exterior, as pessoas registadas em Macau poderão votar por antecipação, num processo, que segundo o mapa divulgado pela Comissão Nacional de Eleições, deverá decorrer entre 12 e 14 de Janeiro. Nas últimas eleições presidenciais, o consulado contava com 16.125 votantes inscritos, entre os quais 580 optaram por exercer o seu direito de voto, o que representou uma participação de 3,6 por cento. O actual presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, foi o candidato mais votado em Macau, com 256 votos, ou seja 46,04 por cento das pessoas que participaram no acto eleitoral. Sampaio da Nóvoa foi o segundo candidato mais votados (154 votos), seguido por Marisa Matias (55 votos) e Paulo de Morais (34 votos) e ainda Maria de Belém (33 votos). Reeleição à primeira? Segundo a mais recente sondagem sobre os resultados das presidenciais, elaborada pela Pitagórica para a TVI/Observador, Marcelo Rebelo de Sousa deve vencer à primeira volta com 68,9 por cento das intenções de voto. No segundo lugar surge Ana Gomes, com 11 por cento, seguida por André Ventura, com 9 por cento. Marisa Matias (6,5 por cento) surge no quarto lugar, à frente de João Ferreira (3,6 por cento), e de Tiago Mayan Gonçalves (0,9 por cento). O prazo para a entrega de candidaturas termina no dia 24 de Dezembro, mas segundo um artigo publicado no Pública, a 12 de Dezembro, além dos candidatos mencionados na sondagem, estão ainda interessados em juntar-se à corrida a Belém Vitorino Silva, conhecido como Tino de Rans, Carla Bastos e Orlando Cruz.
Medalha | Lionel Leong considera reconhecimento como “uma honra” Hoje Macau - 21 Dez 2020 Lionel Leong, ex-secretário da Economia e Finanças a quem foi atribuída a medalha do Lótus de Ouro, indicou ontem que é “uma honra” receber uma medalha do Governo. “Preciso de enfatizar o meu agradecimento a todos, especialmente aos órgãos de comunicação social que me têm apoiado ao longo dos anos. Tenho de agradecer a oportunidade do Governo e da RAEM para fazer o meu melhor pela comunidade. Vou continuar a fazer os meus esforços para servir Macau da melhor forma que posso”, prometeu, em declarações aos jornalistas. O antigo secretário mostrou-se confiante na prosperidade do futuro de Macau e do país, frisando que este reconhecimento é “um incentivo”, bem como “uma responsabilidade para fazer melhor”. Questionado sobre a possibilidade de regressar ao Governo, Lionel Leong frisou a sua nomeação para presidente da Comissão de Desenvolvimento da Grande Baía, sob a alçada do Fórum BOAO. “Como é uma organização internacional com 29 países da Ásia Pacífico, a minha esperança é poder ser uma ponte entre a Grande Baía, a plataforma de Macau e os 29 países”, destacou. Por outro lado, elogiou o trabalho feito pelo Governo na luta contra a pandemia, que atribui à liderança do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng.
Educação | Elsie Ao Ieong U confunde pensamento crítico com opinião discordante Hoje Macau - 21 Dez 2020 “Não é criticar por criticar, mas ver o que não está a ser bem feito e dar sugestões. É esse tipo de pensamento que se deve ter.” Estas palavras foram proferidas ontem pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, na recepção Comemorativa do 21.º Aniversário da RAEM, depois de lhe ter sido pedido um comentário sobre a substituição do termo “pensamento crítico” por “pensamento ponderado” na versão chinesa da Política da Juventude, o plano dos próximos 10 anos do Governo para os jovens de Macau. Importa esclarecer que “pensamento crítico” não é uma forma de demonstrar oposição, mas um conceito analítico de avaliação da validade de uma asserção ou teoria. O mesmo tipo de comentário já havido sido feito pela chefe do departamento de juventude da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Cheong Man Fai. Ainda dentro do tema, Elsie Ao Ieong U comentou a Base da Educação do Amor pela Pátria e Macau, nomeadamente se o conteúdo histórico e didáctico retrataria apenas episódios gloriosos da história da China, deixando de lado episódios mais negros. A secretária referiu que cabe aos docentes decidir se é necessário aumentar o leque de informações e que nem tudo cabe na base, uma vez que o espaço é reduzido. “Só podemos destacar alguns pontos que achamos importantes para que os estudantes tenham conhecimento. O espaço é pequeno, mas o conteúdo, o espólio pode ser substituído”, disse a governante. Também questionada sobre o massacre da Praça Tiananmen, Elsie Ao Ieong U destacou que é necessário conhecer os factos da história, mas que a celebração do aniversário não era propícia para uma aula de história. Vacinas mascarados Abordando outro assunto da sua tutela, a saúde, Elsie Ao Ieong U adiantou que não haverá a tradicional parada de celebração do Ano Novo Chinês e que, em princípio, o mesmo se aplicará ao espectáculo de fogo-de-artifício, uma forte possibilidade, apesar de ainda sujeita a ponderação da situação pandémica. De resto, a secretária garantiu que a distribuição de máscaras vai continuar até depois da vacinação e que, até agora, o custo se fixou em cerca de 200 milhões de patacas. Quanto às vacinas, a governante referiu que vão custar, pelas duas doses, 500 patacas por pessoa. Multiplicando o preço por 700 mil habitantes, o custo pode rondar os 350 milhões de patacas.
Secretário para a Economia e Finanças diz ter confiança no orçamento para 2021 Pedro Arede - 21 Dez 2020 O secretário para a Economia e Finanças considera que o orçamento para 2021 é para cumprir sem ajustamentos e que, com a ajuda da vacina contra a covid-19, a economia de Macau vai melhorar em breve. Para ajudar, fica a promessa de mais medidas para atrair turistas. A distribuição do cheque pecuniário não deverá ser antecipada A confiança está lá. O secretário para a Economia e Finanças Lei Wai Nong descartou ontem a possibilidade de vir a alterar o orçamento para 2021. Isto, apesar de o valor orçamentado de 96 mil milhões de patacas ter sido calculado com base em receitas de jogo que incluem a retoma à normalidade nas fronteiras entre Macau e Hong Kong. Segundo Lei Wai Nong, é preciso não esquecer que a vacina contra a covid-19 está a caminho e que o número de turistas que entram em Macau está a aumentar gradualmente. “Quanto ao orçamento de 2021 alguns dos nossos serviços fizeram estas estimativas e, de acordo com os dados anteriores e a nossa previsão, até agora, estamos confiantes neste orçamento. Quanto ao próximo ano, com as vacinas e o controlo da pandemia, o orçamento vai decorrer com o previsto”, afirmou à margem da recepção oficial para assinalar o 21.º aniversário do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau. O orçamento para 2021 prevê que a receita bruta de jogo para o próximo ano atinja 130 mil milhões de patacas e que, como deverá ser deficitário, serão injectados 26,58 mil milhões de patacas da reserva financeira. Recordando que, desde a retoma na emissão de vistos turísticos a partir do Interior da China, o número de visitantes tem vindo a aumentar mês após mês, Lei Wai Nong mostrou-se confiante na melhoria da economia, a breve trecho. A juntar a isso, o secretário revelou que serão reforçadas “divulgações para que os turistas saibam que Macau é uma cidade segura” e “muitas medidas de benefícios” para atrair mais turistas ao território. “Foram já 90 mil os quartos alugados pelos turistas devido a estas medidas e eles não se podem esquecer que a pandemia ainda não passou. No entanto, vai passar e nós vamos continuar a fazer o trabalho de prevenção”, acrescentou o secretário. Sobre a temática do desemprego entre residentes, cuja taxa continua nos 4,1 por cento, Lei Wai Nong revelou que, até Agosto, foram recebidos 320 pedidos de apoio e houve 6.200 trabalhadores a arranjar emprego, muito por culpa dos resultados muito favoráveis“ das sessões de conjugação de emprego. Questionado sobre se estão a ser ponderadas medidas para solucionar a questão dos trabalhadores não residentes (TNR) sem trabalho, impedidos, pela nova lei de contratação, de arranjar emprego, o secretário vincou que a prioridade são os trabalhadores locais e que os TNR “são para colmatar a falta de trabalhadores residentes.” Tudo como dantes Confrontado com a antecipação do prazo para a atribuição do cheque pecuniário, Lei Wai Nong apontou que o Governo “irá atender às necessidades dos cidadãos e ouvir a população”, mas que, tanto o modo de distribuição, como o calendário a de distribuição “será feito como em anos anteriores”. Sobre a possibilidade de vir a ser lançada uma terceira ronda do cartão de consumo, o secretário lembrou que as duas rondas anteriores foram motivadas “por situações especiais” e espera que a população “continue a apoiar a recuperação da economia e as PME”, fazendo uso das 10 mil patacas do cheque pecuniário no consumo local.
Covid-19 | Lei Chin Ion confia nas vacinas encomendadas pelo Governo Hoje Macau - 21 Dez 2020 O director dos Serviços de Saúde (SS) garantiu que tem igual confiança em todas as vacinas encomendadas pelo Governo. “Vou tomar uma, a primeira que chegar a Macau”, disse ontem Lei Chin Ion. O responsável espera que a situação da pandemia melhore depois da vacinação, indicando que é preciso informar a população com profissionalismo para haver confiança. Quanto à medalha de Mérito Altruístico com que foi reconhecido, Lei Chin Ion disse que “foi para todos os trabalhadores dos serviços de saúde, porque durante este ano trabalharam muito”.
RAEM 21 anos | Personalidades fazem análise ao estado do território Hoje Macau - 21 Dez 2020 Reforma Política | Coutinho lamenta défice democrático Pereira Coutinho considera que o “calcanhar de Aquiles” de Macau, ao fim de 21 anos enquanto região autónoma especial, é o progresso democrático. “A Assembleia Legislativa não tem uma maioria democrática, e isto é mau para Macau. A falta de representatividade, significa défice democrático e que as vozes da população de Macau não estão a chegar onde deviam chegar”, apontou ontem o deputado. Apesar disso, considera que Macau “foi-se desenvolvendo e atingiu a maioridade”, sabendo manter a estabilidade. “Com muitos desafios para a frente, espero que a sociedade se mantenha estável, mas seja mais justa. É o que falta a Macau em todos os aspectos, ou seja, uma sociedade mais justa, equilibrada, e que, de facto, beneficie todos com o seu desenvolvimento económico”, vincou. Amélia António: Número simbólico A maioridade talvez demore mais um pouco a chegar, mas em 21 anos houve muitas coisas bem feitas. É esta a opinião de Amélia António: “Não sei se Macau atingiu a maioridade [com os 21 anos], porque ainda faz tanta asneira (risos)… mas é um número simbólico”, disse, em tom divertido. “Há muita coisa que precisa de ser feita e melhorada, porque a certos níveis há muita coisa que funciona mal. Por outro lado, outras funcionam muito bem, como a segurança com que vivemos, e que se nota agora ao nível da saúde. É um dado que não se pode nunca menosprezar”, acrescentou. “Macau está de parabéns”, realçou. Tina Ho: A Pátria começa em casa Tina Ho, presidente da Associação Geral das Mulheres de Macau e irmã do Chefe do Executivo, considera que a família tem um papel fundamental no desenvolvimento de Macau para o futuro. Em declarações ao jornal Ou Mun, Ho apontou a família como pilar para a promoção de um ambiente social harmonioso, assim como das virtudes morais chinesas, que permitem aos cidadãos adoptar os julgamentos morais correctos no esforço da harmonia e prosperidade social. A Constituição e Lei Básica, a participação no plano quinquenal e a governação segundo a lei foram outros pontos destacados. Sales Marques: “Balanço extremamente positivo” À margem da cerimónia oficial do 21º aniversário da RAEM, José Luís Sales Marques considera que desde o dia da transição, o território adquiriu novas experiências ao longo do tempo e que o “balanço global é extremamente positivo”. “Temos muita sorte em viver em Macau. O caminho traçado pelo Chefe do Executivo é sólido, prudente e (…) aponta no sentido de uma recuperação gradual, e, portanto, assente em bases sólidas. Esperemos que toda a conjuntura mundial e o desenvolvimento da própria China nos ajude no sentido de conseguir isso”, acrescentou. Carlos Marreiros | “A qualidade de vida não melhorou nos últimos 10 anos” O arquitecto Carlos Marreiros considerou ontem que em Macau a qualidade de vida da população não melhorou nos últimos 10 anos. “Depois de 10 anos em que as pessoas estavam felizes porque Macau prosperou, nos 10 anos seguintes (…) Macau não conseguiu criar aproximações sistémicas a vários níveis. A qualidade de vida das pessoas que não melhorou”, apontou. À margem da cerimónia oficial do 21º aniversário da RAEM, Marreiros acredita, contudo, que “o novo Governo vai alterar significativamente muitos sectores de Macau”. Exemplo disso, segundo o arquitecto, é o Plano Director. “É um instrumento que, não sendo perfeito, funciona como a decisão do comandante de um navio. Mesmo que a decisão seja não perfeita, é melhor que indecisões. Por isso, vamos ter esperança”, rematou. Neto Valente | “Feliz por estar vivo” O Presidente da Associação de Advogados de Macau, Jorge Neto Valente considerou que, apesar de ter completado ontem 21 anos, a Região Administrativa e Económica de Macau (RAEM) dá sinais de não ter alcançado a maturidade desejada. “Estou feliz por estar vivo. Com 21 anos, para mim a maioridade não tem a ver com a idade, mas com a maturidade. Estou mais preocupado com a maturidade”, começou por dizer, à margem da cerimónia oficial do 21.º aniversário da RAEM. Questionado sobre o caminho traçado por Ho Iat Seng durante o discurso de ontem, Neto Valente mostrou-se reticente. “Que caminho? Eu estava à procura do caminho para aqui e alguém me disse: ‘If you don’t know where you are going, any road will get you there’. É onde nós estamos”, rematou. Santa Casa | Provedor destaca estabilidade de Macau No 21.º aniversário do estabelecimento da RAEM, o Provedor da Santa Casa da Misericórdia destacou a estabilidade no território. “Julgo que a população não tem argumentos para contestar muitas situações. Claro que em alguns terá argumentos, mas tem reinado a estabilidade social, que é importante. Isto veio a provar que as orientações de ‘Um País, Dois Sistemas’ e ‘Macau Governado pelas Suas Gentes’, é um sistema que funciona”, declarou ontem António José de Freitas. O Provedor observou ainda o “boom económico” que se seguiu à liberalização do jogo. Indicando que a última distribuição do ano ligada ao projecto da loja social foi feita recentemente, mostrou-se confiante de que “tem pernas para andar” no próximo ano.
Covid-19 | Ho Iat Seng diz que reunião familiar também pode ser feita fora de Macau Salomé Fernandes - 21 Dez 2020 As famílias separadas por causa das restrições fronteiriças não têm de se reunir em Macau: os residentes podem sair do território. Foi o que indicou ontem o Chefe do Executivo à margem das celebrações do aniversário da RAEM. Ho Iat Seng admitiu também a possibilidade de os contratos de concessão do jogo serem prolongados As reuniões com familiares também podem acontecer fora de Macau. Foi a solução que o Chefe do Executivo reiterou ontem para reatar os laços de família de não residentes que vivam na RAEM, depois da separação imposta pelas limitações fronteiriças. “Se estiverem na Europa ou nos Estados Unidos e não forem residentes de Macau, por enquanto [ao nível das] medidas não temos outro remédio, temos de insistir nisso”, disse Ho Iat Seng, indicando que, por sua vez, os residentes de Macau podem regressar ao território ou sair para outras zonas. “Se estiverem em Macau não há problema em regressarem para a Europa ou Estados Unidos. Mas se não tiverem bilhete de identidade de residente de Macau não podem entrar. A reunião não é de um lado só, pode ser de cá para lá, não só de lá para cá”, frisou. O Chefe do Executivo remeteu a possibilidade de as interdições serem levantadas quando os países de origem não tiverem casos durante 14 dias. “Se esse país não tiver nenhum caso, for zero, nós permitimos. (…) O essencial é que esses países têm de fazer as medidas de prevenção e controlo”, observou. O controlo da epidemia em Macau, bem como as verbas destinadas a ajudar a população – que tiveram “resultados positivos” – foram destacadas por Ho Iat Seng no seu discurso da recepção da celebração do 21º aniversário da RAEM. O dirigente máximo explicou que para o controlo da pandemia resultar é necessário trabalhar “de forma rigorosa, efectiva e precisa, do início ao fim”. Esforço de contenção que ganha fôlego com a chegada de vacinas. A previsão do Chefe do Executivo é que os Serviços de Saúde deverão gastar cerca de 500 patacas por pessoa. A vacinação é voluntária e gratuita para residentes. Ho Iat Seng deixou em aberto a possibilidade de os trabalhadores não residentes também não pagarem. “Estamos a analisar, mas não é uma grande questão, não é um grande problema. Nalguns países não houve máscaras para não residentes, o que deu problemas. Essa é uma experiência que adquirimos. Muitos não residentes também estão a trabalhar na linha da frente, portanto, vamos garantir isso”, notou. Mudanças de jogo Outra das declarações que merece destaque foi a sugestão de que os contratos de concessão do jogo podem ser prolongados. Questionado sobre a probabilidade do cenário se concretizar, o Chefe do Executivo respondeu que “qualquer situação será ponderada” e não contrariou previsões que apontam para a extensão das licenças de jogo até 2025, indicando que todos têm o direito de fazer comentários. “Ainda estamos a consolidar a base legal. Sobre essas empresas e previsões não vou comentar. É difícil comentar porque tem a ver com o futuro desenvolvimento de Macau”, disse o Chefe do Executivo, acrescentando que os pormenores serão divulgados aquando a base legal estiver concluída. No entanto, o processo da revisão da lei do jogo está atrasado devido à pandemia, e a consulta pública adiada para o segundo semestre do próximo ano. Sem receios No discurso referiu também a segurança nacional e as eleições legislativas. “Serão adoptadas medidas eficientes de prevenção da infiltração e intervenção de forças externas, de modo a garantir a estabilidade e segurança da RAEM. Iremos assegurar o sucesso das eleições para a 7ª Assembleia Legislativa que terão lugar no próximo ano, garantindo que decorram com imparcialidade, justiça e transparência”, disse. No entanto, à margem do evento, Ho Iat Seng disse que “não há nada concreto que possa dizer” relativamente a medidas concretas. Por outro lado, o líder da RAEM apontou que não há sinal de as eleições em Hong Kong afectarem as de Macau. “As duas regiões administrativas são diferentes em termos de mecanismos e estrutura. Cada qual tem o seu mecanismo para fazer as eleições. (…) A próxima legislatura é em Outubro, podemos prever que as duas regiões administrativas tenham eleições na mesma altura, mas não vemos [qualquer] influência”, declarou. O impacto da pandemia nas eleições ainda é incerto. “Se houver muitos casos na altura se calhar temos de ponderar como adiar, mas agora não consigo fazer essa previsão”, disse o Chefe do Executivo. Ho Iat Seng apontou ainda o dever de materializar as instruções dos discursos do presidente Xi Jinping durante a visita a Macau no ano passado, tendo em conta conjunturas que “ainda são complexas e mutáveis”. Além disso, declarou que a retoma sucessiva de vistos de turismo “injectou dinâmica e vitalidade na economia de Macau, que recupera gradualmente”. O líder da RAEM indicou que ainda não recebeu informações sobre a viagem a Pequim para o balanço anual. Publicidade falsa O Governo vai responder a problemas associados à aquisição de casas na Grande Baía ao melhorar aspectos relacionados com publicidade. “Depois de assumir o cargo de Chefe do Executivo, comecei a tomar medidas muito rigorosas para a publicidade, e também com os serviços da tutela da economia, porque no passado houve falta de gestão (…) em Macau. E há muitas publicidades que não são verídicas”, comentou Ho Iat Seng, apelando a que a população só pondere a compra de imobiliário depois de analisar toda a documentação.
Media zero Luís Carmelo - 20 Dez 2020 Hans Enzensberger defendeu há mais de trinta anos que a televisão é o “media zero” por excelência. Isto significa que ela se limita a indicar-nos se o aparelho está ligado ou desligado. Estando ligado, haverá imagens a percorrer o ecrã, sons que explodem ao mesmo tempo, cores e vozes a coroar o folclore tele-transmitido. Se se desliga a televisão, essa ‘coisa’ não se produz. O “media zero” gera a indiferença à distância e é criado todos os dias para que esse efeito se materialize. O que o “media zero” leva a cabo é preencher o tédio, simular apogeus sensoriais e oferecer uma companhia fantasmática a quem tem a televisão sempre ligada em casa. Trata-se de uma espécie de filme de terror disfarçado de pombinha branca magnética dentro do qual a larga maioria da população vive diariamente. Imaginar que se vence a doença contemporânea do stress implica, hoje em dia, sofá e “media zero”, ou seja: pretender o mais possível desistir de ser e anestesiar-se diante deste novo altar composto por pixels (a santidade dos dias de hoje). O “media zero” cria essa ‘coisa’ (que liga os humanos à máquina) como se fosse uma penumbra que nos empresta graciosamente um estado de coma suportável. E não é apenas um apanágio da televisão. Uma boa parte das marcas e dos registos do nosso tempo são ritualizados em modo de “media zero” (a maioria das músicas que ocasionalmente se escutam – e não é apenas nos aeroportos ou nos centros comerciais – limita-se a informar-nos de que há música no ar – geralmente percussão e batida sem silêncio – ou de que, ao invés, não há qualquer música no ar). Na era dos grandes clímax, a relação com a transcendência permitia perceber o humano como parte indiscutível de uma entidade superior. O natal, a páscoa e o pentecostes eram, por isso mesmo, fontes de comunhão partilhadas socialmente com avidez e entrega. O mesmo se dirá de outro tipo de clímax históricos (muitos deles ideológicos e com origem no século XIX), na medida em que fomentaram o mesmo enlevo de partilha com algo absoluto, ideal e indiscutível. Muitos vestígios rituais que continuam presentes na nossa cronologia anual decorrem destas fantasias de apogeu (são vários os feriados nacionais que as reflectem). Na sociedade em que vivemos, entregue ao fluxo hipnótico dos zappings e à cegueira do consumo de bens (sobretudo tecnológicos) em desfavor de um ‘ethos’ social, todos estes rituais, sejam de origem religiosa, ideológica ou outra – caso do chamado dia dos namorados, por exemplo -, surgem perante nós à moda do “media zero”. Passamos por eles como um comboio que pára em estações que são sempre iguais e que terão sido mais sonhadas do que reais. E o fundamental – em todas essas estações – é fazer uma ‘selfie’ (individual ou da tribo) e aspirar fundo o tempo com mímicas digitais como se fosse um ‘shot’ que convida a um estado de êxtase instantâneo e imediato para logo de seguida se apagar. Ao fim e ao cabo, o significado do natal, do 5 de Outubro, da páscoa ou do primeiro de maio é praticamente nulo, pois o que povoa esses dias não é nada que alimente uma sede intrínseca de apogeu ou de realização interiormente motivada, mas tão-só o fluxo da pombinha magnética que entra e sai do shopping, tal como se entra e sai do ecrã televisivo. A diferença entre haver natal e não haver natal é apenas térmica e memorial, ou seja: mero espasmo do que passámos, há poucas décadas, a designar por “férias”; um agosto mais pequeno e mais frio com prendinhas, iluminação eléctrica nas cidades e chatices nos casais, nos pais e nos avós – e outros velhos – friamente atirados para a prateleira dos lares (é até explicável como estes tempos paradoxalmente “livres” correspondem a um cume de violência dentro das famílias). O calendário é, nesta nossa época acelerada, um recheio de companhias fantasmáticas. As datas e as “celebrações” são parte de um pano de fundo tendencialmente indiferente. Ninguém hoje pensa no futuro de ouro da humanidade, nem nada hoje atrai mais as ‘massas populares’ do que uma saudável amnésia colectiva (e da própria história). O presente e o imediato tornaram-se rei, o agora-aqui sem continuidade impera por toda a parte e a instantaneidade tecnológica veio para dar corpo a esta saga que é a nossa. Acresça-se à urgência deste ‘já-patológico’ a simulação anestesiada da eterna juventude (que passa pelo fluxo dos ginásios e das próteses ciber-estéticas). Fora deste presente eterno, tudo o que venha de longe é inevitavelmente vivido ao jeito de um filme igual a si mesmo e que repete sempre as mesmas figuras, “tipos” e imagens. Tal como nos dizia Enzensberger, basta-nos saber se esse filme está agora a acontecer ou não. E esse saber – que é uma filosofia de nulidade branca sobre o branco – constitui o mais elevado e assumido culto do “media zero”. Por isso mesmo, desejo-vos a todos um bom natal! *Em Português de Portugal, ao contrário do Português do Brasil (que usa “mídia” numa adaptação fonética do Inglês), a palavra “media” não tem o acento agudo que é, normalmente, próprio de uma falsa esdrúxula (como acontece com “média” no sentido de “média aritmética”, “média de vida”, “média harmónica” ou de “fazer/tirar a média”, etc.). Por diferenciação, “media”, enquanto substantivo masculino e plural (do lat. media ‘meios’), surge em Português como uma excepção e deve ser sempre assim registado – apenas “media” –, embora a sílaba tónica recaia, tal como em “média” (no sentido de “média aritmética”), na primeira sílaba.
Os SEF matam Hoje Macau - 20 Dez 2020 Opinião de André Namora Ai, Portugal que deixas os teus filhos tão envergonhados, revoltados e tristes. Durante a semana, imaginem, só se falou num caso com nove meses de existência, quando inspectores dos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) assassinaram alegadamente um cidadão ucraniano. O problema é que o caso veio à baila agora porque tem sido encoberto, deturpado e aldrabado desde o início e porque se estão a descobrir mais casos de violência extrema contra imigrantes. Chegou-se ao ponto de o relatório da autópsia e uma declaração de óbito terem sido falsificadas. Só se falou que um cidadão ucraniano que pretendia entrar em Portugal foi violentamente agredido até à morte por inspectores dos SEF em serviço no aeroporto de Lisboa e que uma vigilante já confirmou à Polícia Judiciária. Casos deste tipo são graves em qualquer país do terceiro mundo. Os SEF transformaram-se num poder independente que tem cometido as maiores ilegalidades e barbaridades. Sobre o cidadão ucraniano que pretendia entrar em Portugal, à sua chegada os funcionários de uma empresa de segurança privada que opera junto dos SEF do aeroporto de Lisboa detectaram logo que o indivíduo sofria de epilepsia. Nada fizeram para que fosse assistido clinicamente, a não ser atá-lo nos pés e nas mãos com fita adesiva. Mas, uns funcionários de segurança podem torturar um visitante do nosso país? Onde estão os vários directores e chefes dos SEF que nada sabem do que se passa nas instalações do organismo? A própria directora-geral que se demitiu passados nove meses e que já foi para Londres com um “tacho” no consulado português vencendo 12 mil euros mensais, não tinha que se demitir imediatamente após o conhecimento do óbito do ucraniano? O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, não tinha que ter tomado uma posição radical contra as chefias dos SEF mal soubesse que tinha sido morto um cidadão estrangeiro em instalações da sua tutela? Aliás, há ainda em Macau quem se lembre de Eduardo Cabrita como director dos Serviços de Tradução Jurídica do governo macaense. Era um jurista exemplar, funcionário competente, digno, educado e nunca entrou nos cambalachos dos seus camaradas socialistas de serviço em Macau. Cabrita poderia ter dado um bom ministro da Justiça, mas até hoje tem andado a deambular por onde o seu íntimo amigo António Costa lhe ordena. Pois, presentemente está o país envergonhado e chocado. O cidadão ucraniano depois de estar maniatado por vigilantes, foi alvo de espancamento com bastões até à morte. Mas estamos em que país? As facetas jihadistas já fazem regra? A tortura e o assassínio processam-se em instalações do Estado? Um médico, uma enfermeira, inspectores dos SEF, vigilantes de uma empresa de segurança ajudam a deturpar e a abafar um crime? Uma autópsia informa que se tratou de um ataque cardíaco? Uma certidão de óbito é falsificada? Uma viúva sem apoio de ninguém paga do seu bolso a transladação dos restos mortais do seu marido para a Ucrânia? O Estado não contacta com a viúva a fim de lhe comunicar quanto lamentava uma tragédia destas e comunicar que a senhora seria indemnizada? Mas, afinal o que são os SEF? Só vos digo que suspendi a leitura das redes sociais. O meu coração quase não aguentou quando li queixas de cidadãs estrangeiras que foram assediadas, expoliadas e maltratadas sem direito a terem um advogado ao seu lado. Quando fiquei a saber que nestes SEF há muitos anos que chineses, russos e brasileiros, por exemplo, tiveram de despender milhões de euros para obterem o chamado “visa gold” que lhes deu direito à residência no nosso país. Incrédulo fiquei quando li que uma cidadã brasileira ou praticava sexo com o interlocutor funcionário dos SEF ou, então, entregava três mil euros para que a sua documentação fosse assinada oficialmente. Nas redes sociais pode ler-se as mais diversas queixas de imigrantes que só agora tiveram a coragem de denunciar o sofrimento que os SEF lhes proporcionaram. Inclusivamente lemos que a Ordem dos Advogados, na pessoa do seu bastonário, ao longo dos tempos teve conhecimento de inúmeras e variadas queixas dos seus associados contra os SEF. Não, senhor Presidente da República. Não, senhor primeiro-ministro. Não, senhor ministro da Administração Interna. Este caso está nas bocas do mundo. A imprensa estrangeira chamou à primeira página que “funcionários do Estado português mataram estrangeiros visitantes”. Tem havido muitas situações de violência e tortura nos SEF. Ninguém sabe quantos imigrantes já teriam morrido às mãos de inspectores dos SEF. Ninguém sabe ainda qual a razão da demissão da directora-geral dos SEF passados nove meses. Ninguém sabe a razão de tantos processos disciplinares a inspectores e ainda a semana passada demitiu-se também o inspector-coordenador dos SEF. Constatar junto de um advogado que sem corrupção de muito dinheiro nada se conseguia resolver nos SEF é chocante, deplorável e obrigatoriamente a ter de levar as mais altas autoridades a tomar uma posição de fundo e de limpeza nos quadros de um organismo criminoso. O mesmo advogado salientou-me que uma cliente sua foi obrigada a assinar que vinha para Portugal trabalhar sem visto e sem contrato, quando a senhora vinha a Portugal por uma semana a fim de cumprir uma promessa em Fátima. O caso dos SEF ultrapassa toda a compreensão de um português que ainda pensava que a oficialidade estatal era minimamente séria. Não, os SEF têm de ser reestruturados de alto a baixo e tem de se remover a maioria dos seus funcionários que esteve ligada ao licenciamento ou aprovação de qualquer processo ligado à regularização de cidadãos estrangeiros. Os SEF matam e isso tem de terminar imediatamente. Talvez o general que foi nomeado como novo director dos SEF saiba castigar as tropas mal comportadas… *Texto escrito com a antiga grafia
Covid-19 | China com mais 23 casos, um deles por contágio local Hoje Macau - 20 Dez 2020 A China informou hoje que foram diagnosticados 23 novos casos do coronavírus no sábado, um deles por contágio local. O infectado local foi identificado na província de Liaoning, no nordeste do país. O número divulgado hoje mostra uma ligeira recuperação, após os 17 casos anunciados no dia anterior. As autoridades sanitárias também especificaram que mais 21 pacientes tiveram alta. O número total de casos ativos na China continental é agora de 309, cinco dos quais em estado grave. A Comissão Nacional de Saúde não anunciou quaisquer novas mortes por covid-19, pelo que o número se mantém em 4.634 (inalterado desde meados de Maio), entre as 86.829 pessoas infectadas desde o início da pandemia. A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.675.362 mortos resultantes de mais de 75,6 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Fotografia | Exposição sobre 21º aniversário da RAEM no Largo do Leal Senado Hoje Macau - 20 Dez 2020 A galeria do edifício Ritz, no Largo do Leal Senado, recebe uma exposição de fotografia sobre o 21º aniversário da RAEM, que vai estar aberta ao público até 27 de Dezembro, noticiou o canal chinês da Rádio Macau. O organizador, Yau Tin Kwai, apontou que se sente honrado por poder gravar e mostrar as fotografias históricas da transferência de soberania de Macau em 1999. O também fotógrafo do Gabinete de Coordenação da Cerimónia de Transferência considera que Macau apresenta grandes mudanças nas áreas social e económica antes e depois da transferência, com a sociedade a tornar-se mais “estável” e “harmoniosa”. Yau deseja que a exposição estimule a memória de quem presenciou o momento e dê a conhecer aos jovens de Macau o seu significado. A mostra inclui 99 obras, incluindo a preparação do Edifício da Cerimónia de Transferência de Poderes por parte da então administração portuguesa, e as actividades cerimoniais de cada sector social.
UM | Criada página de promoção do português Hoje Macau - 20 Dez 2020 A Universidade de Macau (UM) anunciou na sexta-feira a criação de uma página na Internet para promover “a aprendizagem da língua portuguesa e as culturas chinesa e portuguesa”. “Os artigos publicados na página bilingue chinês-português não só acompanham de perto as actividades realizadas pelo CPC [Centro de Ensino e Formação Bilingue Chinês-Português], mas também apresentarão, entre outras áreas, a cultura, a história e a arte da China e dos países de língua portuguesa através das publicações que abrangem temas e questões diversas como histórias clássicas chinesas e portuguesas, poetas chineses e portugueses, os 24 Períodos Solares Chineses, vinho do porto e chá chinês, azulejaria e porcelana, fado, Shi Jing (Clássico da Poesia), entre muitos outros”, pode ler-se no comunicado da Universidade de Macau. Para a UM, as publicações na página bilingue chinês-português constituem uma boa base pedagógica para os alunos da licenciatura e dos cursos de pós-graduação desenvolverem competências nas línguas chinesa e portuguesa, nomeadamente nas áreas dos usos estéticos e lúdicos, que pressupõem, muito frequentemente, conhecimento de usos idiomáticos da língua e dos valores conotativos.
Ponte Nobre de Carvalho | Homem resgatado após saltar para a água Hoje Macau - 20 Dez 2020 Um homem saltou da Ponte Governador Nobre de Carvalho, no Sábado, e foi resgatado, com vida, por uma equipa de bombeiros e agentes da Alfândega. Segundo o jornal Ou Mun, o Corpo de Bombeiros recebeu um alerta às 16h05 que um jovem queria saltar da ponte, por isso foram enviadas para o local as equipas de salvamento. Quando as autoridades chegaram à ponte, o homem de 26 anos estava sentado no gradeamento. Após as equipas de salvamento terem falado com o jovem, este acabou por saltar, tendo sido retirado do mar momentos depois num estado de semiconsciência. Após o resgate, o residente foi levado para o hospital e, segundo um amigo próximo, na origem da acção terão estados problemas amorosos. Segundo as recomendações do Instituto de Acção Social, em caso de necessidade por problemas emocionais deve contactar a linha de aconselhamento, através do número 28261126.
O olhar que nos mata Amélia Vieira - 20 Dez 2020 Em toda a longa marcha a visão entra como forma de julgar e esculpir a Humanidade, quer como conceito subjectivo da noção de beleza, ou invólucro da substância do desejo, ela tem forjado um sistema dúbio, intenso, desagregador e ilusório no mais desperto sentido que se tem tornado sempre mais voraz. O ilusório exercício de quem vê, não será menor que o daquele que se mostra, e tudo se plasma em visualidade que exprime uma certa inocência. Mas existe um outro olhar, bem mais penetrante que todas as associações do espectro visual e que apenas olha obliquamente o drama dos expostos, esse melodrama comum de uma deidade infantil que descarrega enchentes de bloqueios para os outros sentidos com o gritante reflexo que lhes esconde: de que se reveste a intromissão desta lente cujo filtro se rompe ao captar o contemplado? De muitas coisas, e de um poder terrível! Górgone, lembra-nos sempre, e os gatos dizem-nos constantemente quando assumem a grande antipatia por quem os tenta deslindar, não gostando dessa devassa grosseira da observação intensa. Deus de Israel não permitiu que Moisés o contemplasse pois que este morreria, Eurídice desapareceu, e a mulher de Lot transformou-se em estátua de sal. O Olho Galáctico, ou o que Tudo Vê, aproxima-se deste conteúdo, gera o propósito do anunciar com as pálpebras fechadas quando a sua voz é tudo o que percepciono…! Deixei de ver por desventura de superabundância de imagem humana e quando o faço, sinto uma náusea tão estranha como um lamento macerado de perplexidade, um anzol com pinças nas pupilas puxado por ímanes agonizantes, ver tudo em compressão nesta fartura inexpressiva no rosto e nos corpos dos milhões que se expõem, é quase abismo e perdição. Uma crendice que se alonga nas amostras de todos os receituários e dá estampas de intolerável entretenimento, e é esta desolação sem nome que atrai o mau olhado que anda no mundo e poucos reparam como sendo a rara coisa viva. A vulnerabilidade dos expostos em suas anatomias gera o pânico, que o lamacento olhar a todos calcina, e sem nada que os segure de si mesmos, na mira do Olho que vê nas Trevas, passeiam-se sem condições, as criaturas. O que vemos é aquilo que querem que se veja, são armadilhadas, todas as imagens, lúgubre fachada que não escapa no entanto aos que as trespassam, e todos os sedentos da circunstância do visível acontece-lhes nunca serem a mariposa que desejam ver desabrochar em outros olhos incautos. Quem vê é quem cheira, e o que penetra, vê-se de tal forma por outros ângulos, que nada do que está em regime vigente no olhar pode causar a mais ínfima sensação. Fechamos os olhos dos mortos por delicadeza e respeito, olhamos a desordem com mágoa, desviamos o olhar da densa combustão dos corpos, pois tudo o que não devemos ver se nos apresenta como um transtorno grave, pensamos deslindar as capacidades dos seres pela legenda das maceradas imagens e elas tornam-se rápido uma forma plana por onde correm alcateias de cegos sem sentidos. Um mundo fechado à janela do seu ver cria fantasmas que padecem. Muito ao contrário da pueril manifestação de «olhos nos olhos» os grandes apaixonados não têm essa prática, eles pressentem-se na névoa dos seus contornos, e quase deixam de ver quando ampliados pela substância de fortes e misteriosos intervenientes outros. O ver dos amantes não necessita de nenhuma imagem nem se congrega ao redor das orientações visuais. Quando todos nos dermos conta do que se passa, ficarão apenas crateras vazias no lugar onde antes encaixaram as órbitas que tiveram das superfícies o reflexo dos loucos quando se põem a caminhar. Sem projecto, nem trajecto, os caminhos que percorrem são cegos, da volúpia, apenas os pés que não se cansam, e a natureza vagabunda de um desleixo sem causa. É onde parecemos andar neste plasma planeta, e pelos seus cantos vamos sentido como se esmagam as vontades e como os dons se esfumam quais Eurídices, pois que a certificação das presenças não passa de uma desconfiança que já não é consentida. Cegados de ver, a grande abóboda Galáxia se apaga pela manobra dos que a olhar se foram para sempre carregados de vasta escuridão. O caminho do meio não tem imagens e não derrete no quente deserto onde as periferias acordam fazer para o caminhante pequenos oásis, aí, na torreira, nem um disco brilhante no alto é visível como prolongamento do vazio, que a miragem prossegue e a sede cede. O caminhante está sempre ao nível do seu horizonte que não necessita ser lembrado porque são as estrelas que o guiam, e essa certeza é tudo o que se deseja para não sermos escravos da aparência e dos Infernos tenazes que fabricam os sonhos. Existe um vapor pornográfico nesta vertigem das amostras, uma domesticação dos instintos a catálogo, o que faz detonar os circuitos da insuportabilidade quando o estático se move. A indução do efeito visual pode levar a encantamentos colectivos que se tornam agora os mais ardentes responsáveis do perigo comum. A prestidigitação do núcleo orbital aponta uma larga pontaria em grande escala. Nós estamos todos na mira de um colapso. É o mau olhado! Quem olha para fora vê e quem olha para dentro acorda. Ditado Alquímico
Jazz | Tributo a Armandinho reúne músicos locais no D2 Pedro Arede - 20 Dez 2020 A carreira do “mestre do jazz” Armando Araújo, mais conhecido por Armandinho será celebrada no dia 26 de Dezembro no D2 e conta com a participação de mais de 25 artistas locais. José Chan, baixista dos The Bridge, considera que, independentemente da idade, o jeito inconfundível de Armandinho na bateria “continua lá” 1, 2, 3, 4, 5 minutos de jazz ao ritmo das baquetas de Armandinho bastariam para apreciar o génio do “mestre do jazz” de Macau. Mas está para breve uma oportunidade para ter a experiência completa ao longo de uma noite inteira. No dia 26 de Dezembro, o espaço do D2 irá acolher, a partir das 22h um tributo ao lendário baterista Armando Araújo, mais conhecido por Armandinho. Para celebrar a carreira do baterista brasileiro radicado em Macau desde os anos 70, o evento irá contar com mais de 25 músicos locais, que entram em cena, logo após a actuação de abertura a cargo dos The Bridge, o grupo de Armandinho. “A abrir vamos ter a banda do Armandinho, que são os The Bridge, formação residente do Jazz Club de Macau, e depois vai haver uma espécie de ‘Jam Session’ com várias bandas locais que decidiram associar-se a esta celebração”, disse ao HM Rui Farinha, um dos organizadores do evento. Dos grupos que vão marcar presença no evento fazem parte os Groove Ensemble, os Hot Dog Express, Groovy Ghosts e “outras bandas ad-hoc criadas especialmente para o efeito”, esclareceu o responsável. Afirmando que a ideia não é de agora, mas que “desta vez não havia desculpas” para não se fazer um tributo a Armando Araújo, Rui Farinha destaca a importância da celebração especialmente para o artista “se sentir querido” e comprovar “que as pessoas ainda se lembram dele como um grande músico que sempre demonstrou ser”. “Todas as pessoas com quem falamos sobre o Armando têm um carinho muito especial e sabem quem ele é. Aliás, ele é inclusivamente um músico famoso fora de Macau e bastante conhecido em toda a Ásia”, acrescentou. Rui Farinha aponta ainda a entrega “absolutamente fantástica” do artista em palco, lugar onde demonstrou sempre ser “afável” e “solidário”. “Lembro-me de o ver muitas vezes, no intervalo entre as músicas, a explicar um pouco o conceito das letras ou estilo que estava a tocar na bateria. Sempre teve este lado um bocadinho pedagógico”, sublinhou. Ginga peculiar José Chan, baixista dos The Bridge, que se juntou a Armandinho no Jazz Club de Macau em 1988, faz questão de vincar que as origens do “mestre do jazz” conferem um toque único à música que o artista emana. “O Armando, como é brasileiro, tem uma maneira de tocar que é diferente dos americanos ou dos europeus e isso faz com que a música tenha uma outra forma. Apesar de ser jazz, tem um toque mais latino”, partilhou Chan. Apontando ser um tributo “mais que merecido” por ser se tratar de um marco da música de Macau, o baixista lembra a influência incontornável que Armandinho teve no panorama musical de Macau, especialmente ao nível da música brasileira que havia no território. Questionado sobre como é tocar ao lado de Armandinho, José Chan lembra a forma como artista influenciou toda a sua carreira musical e como, “apesar de já ter mais idade, o jeito de tocar continua lá”. Quanto ao trato, Chan destaca o facto de Armandinho ser “um cara muito bacana” e a abrangência que conquistou ao longo dos anos. “Como foi dos músicos que chegou a Macau há mais tempo, muita gente o conhece na comunidade chinesa, macaense ou portuguesa porque já está cá há mais de 40 anos. O Armandinho é abrangente nas pessoas que o conhecem e que reconhecem o seu talento”, remata.
Um melhor futuro Carlos Morais José - 20 Dez 2020 A RAEM faz hoje o seu vigésimo primeiro aniversário. 2020 foi um annus horribilis, devido ao aparecimento da pandemia, que paralisou Macau e a sua economia, porque esta cidade muito depende da livre circulação de pessoas. Por isso, o actual Chefe do Executivo, no seu primeiro ano, teve de se defrontar com este problema, ao invés de colocar em marcha as medidas que indiciariam os propósitos da sua governação. Também por esta razão, é com alguma expectativa que aguardamos pelo seu discurso de hoje. Todos compreendemos já que estamos perante um Governo que alterou, em muito, o estilo a que o anterior nos habituara. Por um lado, as mensagens passam muito mais claramente; por outro, mostrou-se decisivo na forma como nos protegeu da pandemia, apesar de tal ter afectado muitos dos interesses instalados e que nos habituáramos a ver sobrepostos ao próprio bem-estar da população. Macau conheceu nestas duas décadas um brutal crescimento económico. Mas, infelizmente, nem sempre esse movimento foi acompanhado por uma condicente distribuição da riqueza e, sobretudo, por um melhoramento significativo da qualidade de vida da população. A nossa cidade confronta-se com problemas de diversificação económica, habitação, trânsito, saúde, educação, cultura e meio ambiente. Estamos atrasados em relação a muitas outras cidades da República Popular da China, apesar de dispormos de um rendimento per capita muitíssimo superior. Logo, há que concluir que faltou alguma capacidade de liderança e de priorização do que realmente é importante, a saber, o bem-estar da população, sem excepções. O que não tem faltado a Macau é o apoio incondicional do Governo Central, fundamental para a manutenção da harmonia e da paz social, bem como para o fortalecimento económico da região. Tudo indica que, sob a liderança de Ho Iat Seng, poderá existir um desenvolvimento e aprofundamento do princípio “um país, dois sistemas”, que constitui a base do funcionamento da RAEM, em termos económicos, jurídicos, civis e políticos. Nesta fase, mais importante que as questões eleitorais, que entendemos poderem constituir uma ameaça real para o equilíbrio da RAEM, será a transparência democrática, uma justa distribuição da riqueza comum, o acesso às decisões que, definitivamente, deverão ser tomadas em favor dos interesses da maioria e não somente de alguns, cujo enriquecimento excessivo tem colocado entraves a um real desenvolvimento. É por isso que aguardamos com alguma expectativa o discurso de Ho Iat Seng, no sentido de nele recolhermos pistas que nos permitam compreender por que via seguirá Macau na próxima década. Ou seja, se realmente estamos perante um virar de página ou se ficaremos mais uma década a marcar passo, enquanto o mundo à nossa volta, nomeadamente o país do qual a RAEM faz parte, parece caminhar decisivamente na direcção de um melhor futuro.