IA | Novo modelo de conversão texto-vídeo Sora mobiliza sector

A competição global no campo das novas tecnologias de inteligência artificial conheceu um novo episódio com o lançamento do Sora. A China promete para breve o lançamento de modelos semelhantes de fabrico próprio no mercado asiático

 

O lançamento do modelo de conversão de texto em vídeo Sora voltou a alertar a China para um possível atraso nas tecnologias de inteligência artificial, observaram analistas, num período de intensa competição com os EUA.

“Foi como um balde de água fria”, afirmou Zhou Hongyi, fundador da empresa chinesa de segurança de redes 360 Security Technology, que se juntou à corrida do país asiático para lançar o seu próprio modelo de linguagem ao estilo do ChatGPT.

“Isto arrefeceu a cabeça de muitas pessoas [na China], obrigando-nos a ver a lacuna em relação a líderes estrangeiros do sector”, acrescentou Zhou, citado pela imprensa local.

O lançamento do ChatGPT, em 2022, também pela norte-americana OpenAI, levou já autoridades e investidores do país a questionarem se a China não está a ficar para trás numa indústria crucial nos planos de Pequim para tornar as empresas chinesas competitivas.

Mas a China enfrenta desafios acrescidos devido à falta de acesso a ferramentas fundamentais, como unidades avançadas de processamento gráfico (GPU) desenvolvidas pela norte-americana Nvidia, devido à imposição por Washington de restrições no fornecimento a entidades chinesas.

Após o lançamento do Sora, Pequim pediu às empresas estatais que assumam a liderança em inteligência artificial (IA). A Comissão de Supervisão e Administração de Activos Estatais do Conselho de Estado instou esta semana as empresas sob controlo direto do governo central a “abraçar as profundas mudanças trazidas” pela indústria.

Alguns dos gigantes chineses da Internet, incluindo os grupos Baidu, Tencent ou Alibaba, apresentaram já os seus próprios modelos de linguagem grande (LLM). Mas nenhum conseguiu ainda igualar o Sora.

Fernando Colaço, um português que fundou a empresa de programação COLACO Technology, em Pequim, alertou, no entanto, para a “especulação” e algum “sensacionalismo à mistura” na indústria, com demonstrações técnicas que “frequentemente apenas apresentam os resultados mais convenientes”, visando aliciar investidores “no que se está a tornar na nova corrida ao ouro”.

“Neste momento, há alguma dificuldade em saber quem está à frente, seja a nível de empresas ou países”, frisou. “No caso da China, como já aconteceu em muitos outros casos, e devido a diferenças culturais, não me surpreenderia se apenas revelarem um produto ou inovação apenas após este estar preparado para produção e sem muito alarido”, disse.

 

Descubras as diferenças

O grupo chinês ByteDance, proprietário da rede social de partilha de vídeos TikTok, afirmou que a sua ferramenta interna para criação de vídeos, o Boximator, ainda está na fase inicial.

“Continua a existir uma grande diferença em relação aos principais modelos de geração de vídeo em termos de qualidade de imagem, fidelidade e duração”, admitiu o grupo, em comunicado.

Xu Liang, empresário do sector baseado em Hangzhou, no leste da China, explicou também que não vai demorar muito até que o país asiático tenha modelos semelhantes àqueles apresentados pelos grupos norte-americanos.

“Nos próximos um ou dois meses vão haver modelos semelhantes aos do Sora a sair no mercado chinês e muitos no próximo semestre”, indicou Xu, ressalvando que poderá haver uma diferença significativa entre os produtos chineses e o Sora.

O isolamento no acesso aos mercados de capitais, equipamento e até profissionais especializados cria, no entanto, um contexto difícil para os competidores chineses, pela diferença nos valores de mercado entre as principais empresas tecnológicas da China e dos EUA.

Lu Yanxia, director de investigação da filial na China da International Data Corporation (IDC), consultora sobre tecnologias emergentes, afirmou que o país enfrenta actualmente uma escassez de dados de qualidade, necessários para treinar os modelos mais recentes, o que agrava os desafios decorrentes do seu acesso limitado a semicondutores avançados.

A falta de talento é outra preocupação, segundo Lu, uma vez que alguns dos melhores profissionais do país em matéria de IA foram recrutados pelas empresas de referência norte-americanas.

4 Mar 2024

Tecnologia | Macau quer atrair peritos, incluindo lusófonos

O Governo apresentou dois programas para atrair quadros qualificados das áreas da tecnologia de ponta que valorizam o conhecimento do português. O objectivo é captar profissionais formados nas 100 melhores universidades do mundo ou nas 20 melhores do Interior da China

 

Na sexta-feira entraram em vigor dois programas para captar “quadros altamente qualificados” e “profissionais de nível avançado” em tecnologia de ponta, cujos critérios valorizam o conhecimento da língua portuguesa.

De acordo com os despachos assinados pelo Chefe do Executivo, publicados no Boletim Oficial de Macau na quinta-feira, os programas têm como objectivo “impulsionar o desenvolvimento das indústrias chave”.

Nos despachos que enquadram os programas, Ho Iat Seng defendeu que a indústria de tecnologia de ponta é “necessária à diversificação adequada da economia” da RAEM, altamente dependente do turismo e dos casinos.

Os programas apontam para tecnologias como a inteligência artificial, novas energias, robótica, Internet das coisas, cibersegurança, mega dados, realidade virtual e aumentada, e circuitos integrados microelectrónicos, também conhecidos por ‘chips’.

Os candidatos aos programas têm de contar no currículo com, pelo menos, uma licenciatura, ter 21 anos ou mais e obter pelo menos 200 pontos numa lista de critérios que inclui experiência profissional e competências linguísticas. Quanto mais velhos forem os candidatos, menores serão os pontos atribuídos.

A nível das qualificações académicas, há pontos atribuídos para quem obter diplomas nas 100 melhores instituições do mundo ou nas 20 melhores do Interior, de acordo com os seguintes ranking: Times Higher Education World University Rankings, QS World University Rankings, U.S. News & World Report e Academic Ranking of World Universities.

Lista de critérios

Um candidato pode obter até 10 pontos se “possuir boa capacidade de expressão em duas línguas de entre o chinês, português ou inglês”, de acordo com os critérios dos dois programas.

Também os rendimentos anuais provados dos candidatos são alvo de avaliação, e se um candidato apresentar rendimentos superiores a 3 milhões de patacas, soma imediatamente 80 pontos, o valor mais alto. O nível mais baixo é de 30 pontos, para quadros com rendimentos de pelo menos 1,5 milhões de patacas por ano.

Estes dois programas são os primeiros a serem implementados no âmbito de uma lei, que entrou em vigor a 1 de Julho, e que procura captar para Macau quadros qualificados, entre eles vencedores de Prémio Nobel, nomeadamente com benefícios fiscais.

Os quadros qualificados poderão gozar de isenção do imposto do selo sobre a transmissão de bens ou sobre aquisição de bens imóveis destinado ao exercício de actividade própria, assim como isenção da contribuição predial urbana.

Além disso, terão isenção do pagamento do imposto complementar de rendimentos, assim como benefícios para efeitos do imposto profissional, caso sejam contratados por empresas locais.

O Governo definiu como aposta para os próximos anos o investimento em indústrias que podem absorver quadros qualificados, como é o caso do sector financeiro e das áreas de investigação, desenvolvimento científico e tecnológico, saúde com alta tecnologia e medicina tradicional chinesa.

4 Set 2023

Tecnologia | Ho Iat Seng diz que Macau tem condições ideais para inovar

O Chefe do Executivo considera que a inovação é o novo cartão de visita de Macau, realçando que o território tem características únicas que propiciam o desenvolvimento tecnológico. Estes foram alguns dos pontos centrais do discurso de Ho Iat Seng na cerimónia de abertura da Beyond Expo 2023, um evento co-fundado e organizado pelo seu filho

“Nos últimos anos, com o apoio vigoroso do Governo Central e do Interior da China, bem como com o esforço concertado da indústria, Macau tem registado um desenvolvimento progressivo notável na área da inovação científica e tecnológica. A tecnologia inovadora tornou-se o novo cartão de visita da cidade.” Foi com este mote que Ho Iat Seng presidiu ontem à cerimónia de abertura da Beyond Expo 2023, a feira de tecnologia que vai decorrer no Centro de Convenções e Exposições do Venetian até amanhã, co-fundada e organizada pelo filho do Chefe do Executivo, Jason Ho Kin Tung.

Ho Iat Seng sublinhou que a RAEM oferece condições privilegiadas para o desenvolvimento de indústrias centradas na inovação e tecnologia. Macau “é uma cidade com um porto franco internacional, politicamente neutra”, que oferece “um ambiente empresarial livre, políticas preferenciais de comércio externo e um sistema fiscal simplificado”, apontou o governante.

Continuando a elencar os trunfos de Macau, Ho Iat Seng não passou ao lado do que descreveu como a posição de centralidade do território no projecto de integração da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, com uma economia “intimamente ligada ao mercado internacional”.

Outro dos pontos de destaque do discurso do líder do Governo, focou-se nos “laços tradicionais de Macau com os países lusófonos”, descritos como a “força da cidade” no desempenho do papel de “plataforma de serviços entre a China e os países de língua portuguesa”.

Futuro é agora

As políticas estratégicas da RAEM não foram esquecidas por Ho Iat Seng, que enumerou o “papel crucial das novas tecnologias nas estratégias” de diversificação económica “1+4” e nas oportunidades nascidas pelo desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin.

Ho Iat Seng enalteceu ainda a Beyond Expo, referindo que o evento “está a ganhar raízes que crescem com força no solo de Macau, tornando-se numa plataforma para as indústrias chinesas e internacionais mostrarem” os encorajadores frutos do seu trabalho.

11 Mai 2023

Xi Jinping enfatiza segurança e autossuficiência tecnológica

Xi Jinping enfatizou ontem a necessidade de fortalecer a segurança nacional e promover a “autossuficiência tecnológica”, no seu primeiro discurso após assumir um inédito terceiro mandato como presidente da China.

“A segurança é a base do desenvolvimento”, afirmou o líder chinês, no discurso de encerramento da sessão plenária da Assembleia Popular Nacional (APN), o órgão máximo legislativo da China. “A estabilidade é um pré-requisito para a prosperidade”, acrescentou Xi, perante os quase três mil delegados reunidos no Grande Palácio do Povo, em Pequim.

Xi Jinping obteve, na sexta-feira, um inédito terceiro mandato como chefe de Estado. Foi nomeado sem nenhum voto contra dos delegados da APN. Analistas apontam para o culminar de uma era iniciada por Deng Xiaoping, o arquitecto-chefe das reformas económicas que abriram a China ao mundo, nos anos 1980.

A “segurança e controlo”, em detrimento do desenvolvimento económico, parecem agora orientar as decisões políticas de Pequim, numa altura de crescentes tensões com os Estados Unidos e vários países vizinhos, suscitadas por disputas territoriais, comerciais e tecnológicas.

Sem dependências

O líder chinês disse que o país “deve trabalhar para alcançar maior autossuficiência tecnológica”, depois de os EUA, em coordenação com outros países, terem aumentado as restrições no fornecimento à China de componentes essenciais para a produção de alta tecnologia.

“A China deve criar um novo modelo de desenvolvimento” e “promover a transformação industrial”, defendeu Xi. O líder chinês pediu uma “implementação da estratégia para revitalizar a China através da ciência e tecnologia” e o “avançar na coordenação do desenvolvimento urbano e rural”.

Na semana passada, Pequim anunciou uma reforma do ministério da Ciência e Tecnologia, com o objectivo de “melhorar a eficiência e autossuficiência tecnológica”, visando combater a “contenção externa”. O órgão reformulado transferirá funções como a formulação de políticas tecnológicas para o sector agrícola para outros ministérios, a fim de “desempenhar um papel maior” na “conquista de avanços tecnológicos”, de acordo com a imprensa oficial.

14 Mar 2023

Tecnologia | Pequim acusa EUA de abusarem de controlo sobre exportação

O Governo chinês criticou na segunda-feira a imposição pelos Estados Unidos de restrições sobre as exportações de alta tecnologia como uma violação comercial, depois de o Japão e os Países Baixos terem concordado em alinhar-se com Washington.

Em causa, está o acesso a equipamento para fabricar ‘chips’ semicondutores avançados. Os Estados Unidos argumentam que aqueles componentes podem ser usados pela China para fins militares e no aparelho de vigilância doméstico.

O ministério dos Negócios Estrangeiros não mencionou os últimos desenvolvimentos, mas acusou Washington de abusar das restrições sobre as exportações e de coordenar com outros governos para “manter a sua hegemonia” e conter o desenvolvimento da China.

“Isto viola seriamente os princípios do mercado e a ordem comercial internacional”, afirmou a porta-voz do ministério Mao Ning, acrescentando que Washington está a “minar a estabilidade das cadeias industriais e de fornecimento globais”.

Citada pela Associated Press, uma pessoa familiarizada com o acordo disse no domingo que o Japão e os Países Baixos, importantes fornecedores de tecnologia e matérias-primas para a produção de ‘chips’ semicondutores, concordaram em participar nas restrições impostas pelos EUA.

O Partido Comunista investiu milhares de milhões de dólares para desenvolver a sua própria indústria de ‘chips’, mas os seus fornecedores ainda dependem da importação de equipamento de fabricação, matérias-primas e outras tecnologias.

Especialistas da indústria dizem que a produção chinesa está a melhorar, mas que não é ainda capaz de fabricar os semicondutores necessários para telemóveis e outros produtos mais avançados.

1 Fev 2023

Tecnologia | Ngan Iek Hong preocupado com vício dos mais novos

O deputado dos Moradores admite que a pandemia tornou impossível viver sem telemóvel, mas quer medidas para combater um eventual aumento do vício entre os mais novos

 

O deputado Ngan Iek Hong considera que o Governo deve promover acções de formação para crianças e encarregados de educação sobre a utilização da Internet e dispositivos electrónicos. O pedido para que o Executivo adopte uma postura pró-activa sobre o “problema” consta numa interpelação partilhada ontem pelo legislador ligado à União Geral das Associações dos Moradores de Macau.

Ngan reconhece que devido às medidas implementadas pelo Governo para controlar a pandemia que “actualmente é impossível sair de casa sem um telemóvel”, e que a tecnologia se tornou “uma parte indispensável da vida moderna”.

No entanto, e apesar de reconhecer que a tecnologia traz grandes “conveniências” para o quotidiano, estudos e trabalho”, alerta para o perigo de vícios originados pela “riqueza de informação online”, “jogos electrónicos” e “recursos audiovisuais”.

Ngan Iek Hong indica igualmente que o uso excessivo pode conduzir ao abrandamento do “desenvolvimento mental e físico”, fraca capacidade de autocontrolo, dificuldades de concentração nos estudos, problemas de vista e coluna.

Face a este panorama, o deputado quer saber como o Governo vai educar as crianças e encarregados de educação a lidar com o desafio: “Nos últimos anos, com a popularidade da Internet e dos produtos electrónicos, que se conjugam com o impacto da pandemia do novo coronavírus, as crianças e os jovens podem ficar mais dependentes da tecnologia. Como vai o Governo controlar este impacto?”, perguntou.

Estudar e formar

O deputado dos Moradores quer saber como os departamentos de educação de Macau estudam este vício. “Será que vão fazer investigações regulares sobre o vício dos produtos electrónicos e Internet de forma regular para perceberem melhor a situação e adoptarem as políticas necessárias?”, questionou.

No que diz respeito às escolas, pergunta se há indicações claras para professores e pais sobre o tempo diário máximo de utilização de ecrãs e ainda sobre a necessidade de fazer pausas. Por isso, sugere que o Executivo promova acções de formação para escolas e famílias, para encontrar um equilíbrio entre as novas tecnologias e a utilização saudável.

24 Mar 2022

Foshan | Inovação é palavra de ordem em zona de desenvolvimento tecnológico

Depois de um período de consulta pública sobre o projecto governamental de captação de investimento, as autoridades de Foshan já têm traçados os objectivos para este ano para expandir a Zona Nacional de Desenvolvimento Industrial e de Alta Tecnologia de Foshan. Captação de talentos e aposta na inovação são as linhas orientadoras

 

Foshan, uma das cidades integrantes do projecto Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, tem apostado os seus recursos no fomento da Zona Nacional de Desenvolvimento Industrial e de Alta Tecnologia de Foshan (Foshan National Hi-tech Development Zone). Depois de um período de consulta pública iniciado em Julho do ano passado a propósito do plano governamental de captação de investimentos, as autoridades estão apostadas na abertura, este ano, de duas áreas inovadoras integrantes desta zona, os parques industriais para a inovação de talentos e desenvolvimento industrial (Foshan-China Talent Innovation Lighthouse Industrial Park e Dobei Zhanxin Industrial Park).

Segundo o jornal China Daily, o objectivo destas zonas é “reforçar a oferta de serviços em áreas como a tecnologia, talentos e recursos”, bem como melhorar “o nível de inovação e desenvolvimento da competividade”.

A Zona Nacional de Desenvolvimento Industrial e de Alta Tecnologia de Foshan é hoje tida como uma das áreas piloto escolhidas pelas autoridades chinesas para o desenvolvimento da inovação empresarial. Esta localização disponibiliza apoio e consultoria a 82 empresas que são tidas como as mais inovadoras do tecido empresarial chinês.

No ano passado esta zona destinada ao desenvolvimento empresarial e industrial introduziu 128 talentos de alta qualidade, sendo que 80 por cento detém posições de topo. Em prol da captação de pequenas e médias empresas para esta zona, as autoridades têm lançado diversos programas de investimento industrial e outros produtos financeiros que possam ser atractivos para quem ali deseja investir. Só no ano passado esta zona representou um valor de 502.41 mil milhões de yuan, com um crescimento anual de 13,32 por cento, segundo o China Daily.

Indústrias de topo

Além destas apostas, a Zona Nacional de Desenvolvimento Industrial e de Alta Tecnologia de Foshan pretende reforçar os seus serviços online e organização de feiras de negócios para ajudar as empresas a “conectarem-se com mercados importantes em vários níveis”.

Segundo o portal Foshan International, o plano de investimentos proposto pelas autoridades locais visa “atingir um desenvolvimento sustentável e de elevada qualidade”, existindo um compromisso para criar “um sistema de incentivos bem desenvolvido para atrair projectos de topo”. Desta forma, as políticas a implementar deverão focar-se “nas indústrias líderes a nível regional” que apresentam “menos custos em matéria de recursos”, com boas perspectivas de futuro e que possam trazer benefícios para a zona.

Além dos sectores financeiro e de alta tecnologia, pretende-se desenvolver áreas como a biomedicina, saúde, indústria de serviços, electrónica e outras indústrias emergentes, como é o caso de veículos ecológicos ou robótica. O projecto em causa prevê financiamentos que podem ir até aos 30 milhões de yuan, consoante a natureza do projecto.

14 Mar 2022

Tecnologia | Guangzhou e Israel estabelecem cooperação

A Conferência Anual de Investimento de Guangzhou serviu de mote para uma discussão entre Guangzhou e Israel com o objectivo de aprofundar a cooperação em matérias de alta tecnologia. As sessões, transmitidas em paralelo em Tel Aviv e na capital de Guangdong, contaram com a participação de representantes de empresas de biomedicina e alta tecnologia

 

A 8ª Conferência Anual de Investimento de Guangzhou e o 1º Global Unicorn CEO Forum deram início à sua primeira sessão paralela em Tel Aviv, Israel, no final de Fevereiro.

Representantes de topo de empresas de alta tecnologia e biomedicina, peritos, académicos e membros de governos participaram na sessão inaugural e partilharam pontos de sobre as melhores formas como impulsar a cooperação de alta tecnologia entre Guangzhou e Israel.

O governo da capital da província de Guangdong destaca a Conferência Anual de Investimento de Guangzhou como “uma importante plataforma para mostrar as conquistas da cidade em termos de abertura e cooperação internacional”. O evento é organizado consecutivamente há 7 anos.

Este ano, as sessões presenciais decorrem nos dias 29 e 30 de Março e a lista de participação inclui de cerca de 2.000 líderes empresariais, empreendedores e peritos de 38 países e regiões distribuídos por fóruns online e presenciais. À margem da conferência, realiza-se pela primeira vez o Global Unicorn CEO Forum.

Apesar da conferência propriamente dita apenas arrancar no final do mês, o evento já mexe com várias iniciativas a decorrer, incluindo 9 sessões paralelas um pouco por todo o mundo, desde o fim de Fevereiro até ao arranque o evento, nomeadamente Silicon Valley, Tóquio, Macau, Singapura, Tel Aviv, Sminsk, Tashkent, Berlim e Heidelberg.

Ligação ao Mediterrâneo

Durante a sessão de Israel, empresários e académicos elogiaram as oportunidades de mercado proporcionadas pela cadeia industrial de Guangzhou, panorama ideal para o aprofundamento da cooperação que faça uso das capacidades de Guangzhou e dos recursos inovadores e tecnologias de ponta das empresas israelitas.

O antigo ministro da Indústria, Comércio e Trabalho de Israel, Yehoshua Jacob Gleitman, enalteceu o nível de entendimento atingindo em termos de colaboração ao nível de formação, tecnologia, capital e serviços. Mais concretamente, o governante israelita destacou a criação de uma incubadora e um fundo de investimento para a indústria da biologia. Estas estruturas estão em operação na Guangzhou International Bio Island.

De acordo com o director do Gabinete de Comércio Municipal de Guangzhou, o valor total das importações e exportações de Guangzhou e de Israel em 2021 foi de 752 milhões de dólares americanos, um aumento de 55,08 por cento em relação ao ano passado.

Ao longo do ano passado, estabeleceram-se em Guangzhou 13 novas empresas de investimento israelitas em Guangzhou e desde Janeiro de 2022, Israel investiu em 74 empresas da cidade chinesa.

14 Mar 2022

Direito à reparação

A lei que garante o direito à reparação de produtos, aprovada em Novembro de 2020 pela União Europeia, entrou em vigor no passado dia 6 deste mês. A lei garante que o consumidor tem o direito de reparar os artigos que adquiriu, nomeadamente artigos electrónicos.

Após a lei entrar em vigor, os fabricantes têm de garantir que, nos sete anos posteriores à compra, têm suficientes peças sobresselentes para substituir as que se estragam. Após receber a encomenda, o fornecedor tem de fazer a entrega num prazo de 15 dias. A lei cobre produtos eléctricos, tais como máquinas de lavar roupa, máquinas de lavar loiça, frigoríficos, câmaras de vigilância, mas exclui telemóveis e computadores.

Por outras palavras, esta regulamentação estipula que o consumidor tem direito a obter peças, ferramentas e informação, eliminando assim os obstáculos que se colocam à manutenção dos artigos e garantindo a possibilidade de fazer ele próprio os arranjos necessários. Na ausência desta garantia, os consumidores viam-se obrigados a deitar fora os artigos que se avariavam e a ter de comprar outros. Com o direito à manutenção, os consumidores podem usar os produtos por mais tempo, reduzir a aquisição de produtos novos, e os fabricantes não podem monopolizar o mercado das reparações, que se assim se expande para outros sectores.

Os motivos para os fabricantes se oporem a esta lei são óbvios. Se as pessoas não conseguissem arranjar os equipamentos, os fabricantes monopolizavam o mercado das reparações. Além disso, podiam decidir se fabricavam ou não peças sobresselentes. Desta forma determinavam o ciclo de vida dos produtos, que não é muito alargado pois a sua prioridade é a venda de novos produtos. Neste cenário, os consumidores teriam de deitar fora os produtos avariados e comprar outros novos.

Em 2019, o novo coronavírus reduziu os contactos directos, criou o tele-trabalho e activou as comunicações globais online, mas o que não se esperava é que também tivesse impulsionado o direito dos consumidores à reparação dos artigos. Exemplo disso são os ventiladores. Os fabricantes estipulavam que quando um destes aparelhos se avariava, só podia ser reparado por técnicos da marca. Proibia terceiros de fornecer peças e equipamentos para reparação.

Após o surto da epidemia, os fabricantes viram-se obrigados a reduzir as equipas técnicas, o que levou os hospitais a não conseguirem reparar os ventiladores sempre que se avariavam, pondo assim em risco a vida dos pacientes.

Em 2020, o senador democrata Ron Wyden e a representante Yvette D. Clark propuseram o “Regulamento de 2020 para a Reparação de Equipamento Médico Crucial”, o que permitiu que os hospitais recorressem ao serviço de terceiros para reparação de equipamentos durante a pandemia, que incluía a colocação de peças, o desbloqueio de restrições do software e a obrigação do fabricante de fornecer informação e ferramentas. Esta foi a primeira vez nos Estados Unidos que um Governo Federal criou uma Ordenança de reparação de produtos.

Em Janeiro de 2021, antes da União Europeia implementar o direito à reparação, a França introduziu uma lei anti-desperdício. Passou a haver uma etiqueta nos produtos eléctricos onde se lista todas as possibilidades de reparação.

A lista tem vários indicadores, como a capacidade de desmontagem, o preço das peças, etc. Os itens listados estão avaliados de 0 a 10. Quanto mais baixa for a avaliação, menor será a capacidade de reparação do produto.

Reparar os produtos permite usá-los durante mais tempo. Para além de pouparmos dinheiro, podemos também reduzir os impactos ambientais. Prolongar a vida dos produtos electrónicos, significa a redução da produção dos seus substitutos e a Terra agradece. O fabrico de produtos electrónicos provoca a emissão de gases que aumentam o efeito de estufa e também a poluição do ambiente. Assim sendo, quanto menos produtos electrónicos forem fabricados, menos danos provocamos no ambiente. No que diz respeito à protecção do ambiente, estejamos nós onde estivermos, devemos sempre dar o nosso melhor.

A pandemia alterou as tecnologias, mas as nossas políticas e as nossas legislações devem acompanhar os tempos. Só quando colaborarmos uns com os outros em pleno, poderemos criar um ambiente melhor para todos.

 

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau
Blog:http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk

9 Mar 2021

A Qubit

“What is a Qubit? You guessed it – it’s a Quantum Bit. A Qubit is a Basic unit of information on a quantum computer. Just like bits on normal computers, qubits are used to store, transmit, and process information, but in much higher quantities.”
San Satoshi
Hymn Of Modernity: Machine Learning, Augmented Reality, Big Data, Qubit, Neuralink and All Other Important Vocabulary

 

A 29 de Setembro de 2018, cientistas chineses e austríacos ligaram-se numa videoconferência. Essa imagem de homens e mulheres, sentados em cadeiras e com a intenção de ouvir mensagens do outro lado do mundo, tornou-se uma das fotografias simbólicas da nova era. Porquê?

Era uma videoconferência diária, mas o evento representou uma novidade extraordinária, pois as equipas chinesa e austríaca estiveram em videoconferência encriptadas através de um sistema quântico. Tudo graças a Micius (um nome derivado do filósofo chinês Mozi, latinizado em Micius), um satélite que a China lançou em 2016, e cujo objectivo era precisamente assegurar a possibilidade de guardar informação através da utilização da mecânica quântica. Como acontece frequentemente na China, este resultado depende do trabalho do cientista, Jian-Wei Pan, elogiado até pelo Presidente Xi Jinping e considerado o “pai chinês do quantum” e que é professor na Universidade de Ciência e Tecnologia da China que com cinquenta anos de idade, produziu uma série de descobertas que o tornaram famoso na sua terra natal.

O seu trabalho, como habitualmente, não vem do nada, mas de um esforço excepcional da China para desenvolver perante outros o chamado “computador quântico”, que é extraordinariamente poderoso. Numa entrevista à “MIT Technology Review”, Pan recordou que na China foi primeiro um “estudante” de tudo o que foi descoberto no Ocidente, mas agora pode tornar-se um líder na sua área. Este é um pensamento que percorre a mentalidade de cada chinês. O principal objectivo de Pan era construir computadores quânticos poderosos, cujas unidades de computação, as qubits, ao contrário dos bits, podem ocupar simultaneamente um estado quântico de 0 e 1. Ao ligar as qubits através de um fenómeno que o próprio diário do MIT chama “quase místico” e conhecido como emaranhamento, os computadores quânticos podem gerar aumentos exponenciais no poder de processamento. No futuro, as máquinas poderiam portanto ser utilizadas “para descobrir novos materiais e medicamentos através da realização de simulações de reacções químicas que actualmente exigiriam demasiado tempo de processamento por computadores clássicos”.

Os “PCs Quantum” poderiam também impulsionar a Inteligência Artificial (IA) porque as redes ultra seguras que utilizam a distribuição quântica de chaves poderiam ser particularmente úteis para o sector financeiro (uma das áreas em que a recente aceleração da tecnologia produziu as mudanças mais radicais, embora nem sempre no centro da cena mediática) e para os militares. Os investigadores chineses estão, de facto, a trabalhar em “sensores quânticos” especiais com o objectivo de favorecer a navegação dos seus submarinos. Em suma, seria uma verdadeira revolução. E quem chegar primeiro, como de costume, será favorecido. É uma guerra em curso, na qual também há bolsas de cooperação, pois cientistas chineses e americanos colaboram entre si, mas os governos têm muito mais ciúmes das descobertas das suas próprias equipas. O confronto entre Oriente e Ocidente joga-se muito mais em pc quântico do que em sistemas de reconhecimento facial, onde as técnicas podem ser alcançadas, embora mais tarde do que os concorrentes, mais rápida e facilmente do que a criação de um computador quântico capaz de funcionar realmente.

A China já construiu a mais longa rede terrestre de “chaves criptográficas quânticas” do mundo. A ligação terrestre de 2032 quilómetros entre Pequim e Xangai foi concebida por Pan e envia chaves criptográficas quânticas. É um serviço cívico aos municípios, que começaram a utilizar esta nova forma de transporte de dados, bem como para a transmissão de dados financeiros. Segundo os analistas, é difícil medir exactamente quanto a China está a investir nestes e noutros projectos quânticos, pois é difícil medir tudo na China, considerando que alguns dados são confidenciais (mesmo o número exacto de “reservas estatais de carne de porco”, útil para acalmar os preços, como no caso da epidemia de peste suína que eclodiu em 2019, é um segredo de Estado) e outros são sempre susceptíveis de ajustamento por parte daqueles que os recolhem. Certamente que os investimentos são massivos.

O governo está há muito empenhado neste esforço, encorajando a produção de artigos científicos e o número de patentes relacionadas com comunicações e criptografia quântica. O número de patentes chinesas excede em muito o dos Estados Unidos. Para ajudar a desenvolver os futuros investigadores quânticos, o país está a construir em Hefei um laboratório nacional de mil milhões de dólares para a ciência da informação quântica, que abriu em 2020 para reunir especialistas de várias disciplinas, tais como física, engenharia eléctrica e ciência dos materiais. A China lançará também mais quatro satélites quânticos de baixa órbita, a serem seguidos por um satélite geoestacionário de alta órbita. A visão a longo prazo é criar uma Internet que cubra o continente e que, protegida pela criptografia quântica possa eclipsar aquilo a que agora chamamos de Internet, com tudo o que implica para a chamada “soberania digital” que caracteriza a China.

Mas olhando muito mais longe, e pensando nos consumidores, esta tecnologia poderia ser utilizada para proteger tudo, desde smartphones a portáteis. A grande questão é a vontade do Estado de investir em certos sectores e uma das razões pelas quais a China tem feito tão bem neste campo, é a estreita coordenação entre os seus grupos de investigação governamentais, a Academia Chinesa de Ciências e as universidades do país. A Europa tem o seu plano director quântico “para estimular tais colaborações, mas os Estados Unidos têm sido lentos em produzir uma estratégia abrangente para desenvolver as tecnologias e criar uma futura mão-de-obra quântica”. Que este desafio entre a China e o Ocidente também é fundamental foi demonstrado recentemente. A “supremacia quântica por meio de um processador supercondutor programável” é o título de um texto assinado por investigadores que colaboram com o Google e a NASA no desenvolvimento de novos computadores, o qual apareceu no website da Nasa e foi depois removido. Não foi feito tão depressa, porque o “Financial Times” conseguiu guardar uma cópia do documento e publicá-lo no seu site.

O texto ocupa-se precisamente dos computadores quânticos. Se houvesse casas de apostas para o desafio quântico entre a China e o Ocidente, até há pouco tempo a maioria teria aconselhado a apostar na China. O anúncio do Google, então, com ou sem publicidade, deve ter cientistas chineses inquietos nas suas cadeiras, assumindo que tudo é verdade. Não vai demorar muito tempo a perceber-se, porque as coisas avançam sempre muito rapidamente na China. E é precisamente a velocidade que distingue o desenvolvimento chinês. Os Estados Unidos pensaram, por exemplo, que a vantagem 5G da China poderia ser de alguma forma gerida, e depois tornar-se cada vez mais sólida com o passar dos anos.

A China navega com ventos devastadores em termos de velocidade de execução, podendo contar com financiamento e um sistema educativo que, embora com falhas, é capaz de gerar talentos, aproveitando o tamanho da população local e a riqueza que tem sido criada ao longo dos últimos quarenta anos.

O desafio tecnológico será o terreno em que o Ocidente terá de competir nos próximos anos; pensemos apenas nos dados, e em breve, perguntar-nos-emos, de facto já o fazemos, se a natureza extractiva do capitalismo actual, presente tanto no Ocidente como na China, dará origem a um sistema governado por empresas ou por um Estado, como o chinês. Para a Europa, então, o destino poderia parecer inexoravelmente ligado à seguinte questão se será que preferimos que os nossos dados estejam em mãos chinesas ou em mãos americanas?

Esta perspectiva deveria levar-nos a pensar no peso dos dados e no seu “processamento”, pelo qual passará o nosso mundo do futuro, como elaborar uma estratégia global e considerar os dados como um bem comum poderia permitir à Europa, por exemplo, não ser apenas uma periferia do mundo ou uma terra de conquista das superpotências, mas um lugar capaz de prever um novo modelo de transparência e de utilização pública dos dados.

Desta forma, poder-se-ia evitar os erros do passado. Se a Europa conseguir fazê-lo, tanto na China como no Ocidente, cidades inteligentes, por exemplo, poderiam realmente tornar-se o lugar capaz de produzir uma nova forma de cidadania, em vez de novas divisões sociais. De facto, a aspiração deve ser que as tecnologias possam tornar-se um instrumento para melhorar a vida das pessoas e a sua relação com o ambiente, em vez de uma arma de controlo social nas mãos dos estados e plataformas tecnológicas. Em finais de Janeiro de 2020, o Covid-19 atacou o mundo. O surto começou na região Hubei da China, na capital Wuhan, uma cidade de onze milhões de pessoas. Desde finais de 2019 que têm sido comunicados casos anormais de pneumonia na China. Alguns médicos pensavam que se tratava da SRA (Síndrome Respiratória Aguda Grave) novamente, outra forma de coronavírus registada na China e identificada por um médico italiano, que mais tarde morreu de SRA na Tailândia, desde finais de 2002. Durou até 2003 e fez setecentas e setenta e quatro vítimas em dezassete países. Alguns países sem qualquer comprovação científica em mero discurso político consideram as autoridades chinesas como responsáveis pela propagação do vírus, afirmando que minimizaram a epidemia durante muito tempo sem dar o alarme, contribuindo assim para atrasar fatalmente a adopção de contramedidas. Depois foi a vez de Guangdong, e depois de Hubei. O atraso das autoridades chinesas na comunicação da emergência foi mínimo, e para não incorrer em “outra SRA”, a China comunicou a existência do vírus, primeiro à Organização Mundial de Saúde (OMS) e só mais tarde à sua população.

Uma vez iniciada a resposta, no entanto, a China agiu como habitualmente, com a máxima velocidade para remediar o problema. Wuhan foi colocado em quarentena juntamente com quinze outras cidades, num total de pelo menos sessenta milhões de habitantes, correspondente à população da Itália inteira, que ficaram em lugares selados, dos quais era impossível entrar e sair; tendo sido a maior quarentena da história da humanidade, uma solução que é frequentemente considerada tardiamente pela comunidade científica, mas que demonstra a determinação chinesa em lidar com a epidemia. O facto de tudo ter provavelmente uma razão e onde a verdade científica está por determinar e de ter começado dentro de um mercado em Wuhan, onde animais selvagens são abatidos e vendidos, destaca o que ainda é visível, de um país lançado para o futuro, mas que ainda mantém hábitos tradicionais e culturais de mil anos de idade, capazes de afectar o tecido social se tal for comprovado.

Em quarentena e com as grandes cidades desertas, com escolas e escritórios fechados, uma sequência de imagens icónicas passou rapidamente perante a população chinesa como o grito dos edifícios na noite de Wuhan, de encorajamento, a contagem dolorosa dos mortos e a necessidade de abastecer os hospitais com material médico, a construção em dez dias de dois hospitais de emergência, o despedimento de centenas de funcionários considerados “incompetentes”, a morte de Li Wenliang, um médico de trinta e quatro anos de idade que tinha relatado casos de pneumonia anormal mas em que não se acreditava.

Li Wenliang teve de receber uma reprimenda, depois foi ilibado e finalmente morreu do Covid-19. Em todo este estremecimento de tragédia e esperança, a principal preocupação de muitos chineses continuava a temer a proximidade com qualquer pessoa infectada nos dias que antecederam o surto. E as respostas chegaram, porque o saber na China tornou-se muito fácil, pois as companhias telefónicas e algumas aplicações (por exemplo, as dos caminhos-de-ferro estatais) criaram sistemas através dos quais as pessoas puderam verificar se, durante as suas viagens de comboio ou avião, estiveram perto ou em contacto com aqueles que mais tarde adoeceram ou que foram hospitalizados. A China-Mobile, um dos maiores operadores telefónicos do país, disse aos cidadãos de Pequim que poderiam verificar os seus movimentos durante os últimos trinta dias através de um serviço ad hoc.

Parece inacreditável aos nossos olhos, uma afronta à privacidade de cada um dos passageiros dos comboios e aviões, que desconheciam os controlos do seu estado de saúde, no entanto, na China, revelou ser um passo bastante positivo, de acordo com o feedback dos utilizadores sobre estes serviços, para tranquilizar as pessoas. O poder das aplicações chinesas, dedicadas ao controlo rigoroso dos movimentos das pessoas foi apresentado pelo governo chinês e pelos operadores como um grande serviço numa situação de emergência.

Como a agência Reuters referiu, a Covid-19 teria feito emergir o sistema de vigilância chinês “das sombras”. Mais do que uma emergência, na realidade, poder-se-ia dizer que o vírus permitiu uma utilização ad hoc de instrumentos que os chineses estão habituados a utilizar todos os dias. A Covid-19, de facto, é a primeira emergência sanitária global na era da IA e, embora numa situação dramática e complicada, mais uma vez a China mostrou um caminho. Aqui, por exemplo, há outro uso da IA na China quando um homem de Hangzhou que tinha acabado de regressar de Wenzhou, um lugar considerado altamente infectado, foi avisado pela polícia para não sair de casa e a matrícula do seu carro foi gravada pelas câmaras de vídeo. Por causa da sua origem, deveria ter ficado em casa, ter medido a sua temperatura e contactado as autoridades sanitárias da cidade, se necessário. Mas, aborrecido, decidiu sair e foi contactado não só pela polícia, mas também pelo seu empregador. O homem tinha sido visto perto do lago Hangzhou por uma câmara de reconhecimento facial e as autoridades também tinham alertado a sua empresa de que não estava a cumprir as directivas impostas.

Na China existem novas possibilidades para as empresas de alta tecnologia e neste momento, embora nunca o admitam, deparam-se com uma oportunidade única de aumentar o combustível principal para as suas invenções, que são os dados. A China tem muito e de qualidade, mas com a Covid-19 a quantidade de informação aumentou. Abalados pelo medo e pela preocupação, os chineses enterraram a sua fraca resistência à invasão da sua privacidade com a empresa de reconhecimento facial. Foi desenvolvida uma nova forma de detectar e identificar pessoas com febre, graças ao apoio do Ministério da Indústria e Ciência. O novo “sistema de medição de temperatura” utiliza dados corporais e faciais para identificar pessoas doentes. Este é apenas um exemplo (Baidu, o principal motor de busca da China, anunciou também que o seu Laboratório de IA estaria a fazer um dispositivo semelhante) que permite detectar tendências que têm vindo a ocorrer no país há algum tempo como empresas privadas, apoiadas pelo Estado, desenvolvem novos produtos “intrusivos” (e, neste caso, também úteis, dir-se-á); a empresa pode então vender no estrangeiro a sua criação, aperfeiçoada graças à possibilidade de acesso a todos os dados.

O governo tem movimentos e dados na ponta dos dedos para se certificar de que tudo está a correr de acordo com as suas directivas. A frente do reconhecimento facial, não termina aí, pois o SenseTime, outra das bandeiras do sistema, afirmou ser capaz de identificar até pessoas que usavam máscaras. Este é um aspecto importante, especialmente durante os dias mais complicados da Covid-19, para além do smartphone, para fazer uma enorme quantidade de coisas (pagar, reservar, executar tarefas no banco ou em repartições públicas) precisa sobretudo da cara. Com a utilização massiva de máscaras, a tecnologia tem dado sinais de imperfeição (também ironicamente sublinhada nas redes sociais chinesas por pessoas que, devido à máscara, falharam o reconhecimento para entrar nas suas casas).

A empresa de câmaras de vigilância Zhejiang Dahua disse que pode detectar febre com câmaras de infravermelhos com uma precisão até 0,3 graus. Uma utilização específica para lugares com muita gente, como um comboio. De facto, numa entrevista à Xinhua, a agência estatal chinesa, a Academia das Ciências da China explicou como a tecnologia pode ajudar as autoridades a encontrar pessoas num comboio que possam estar expostas a um caso confirmado ou suspeito de Covid-19, pois obtém informações relevantes sobre o passageiro, incluindo o número do comboio, e informações sobre passageiros que estiveram próximos da pessoa. Outras aplicações para lidar com a Covid-19 estão em curso sendo o mais famoso que está relacionado com o uso de drones para convidar as pessoas a usar máscaras (um vídeo em que, na Mongólia Interior, uma senhora idosa recebeu uma visita de um drone foi muito filmada na rede); depois há os robôs que dentro dos hospitais cuidam de actividades que poriam em perigo a saúde dos operadores, tais como desinfestação, entrega de refeições ou limpeza nas áreas dos hospitais utilizadas para os infectados e doentes de Covid-19, bem como assistentes de voz, que usando IA são utilizados para pedir informações a pessoas em casa, armazenar dados e sugerir tratamentos ou hospitalização imediata. Em cinco minutos, os assistentes de voz chineses fazem duzentas chamadas, aliviando muito o trabalho dos hospitais.

Como o portal mandarim Yesky salientou, “este serviço de chamadas robotizadas pode ajudar os médicos da linha da frente a controlar a situação. Com tecnologias como o reconhecimento de voz, compreensão semântica, e diálogo homem-máquina, os robôs são capazes de compreender com precisão as línguas humanas, obter informações básicas e dar respostas”. O “lado” da investigação médica não está ausente.

A este respeito, o website da Administração do Ciberespaço da China, num artigo intitulado “Inteligência artificial e grandes dados ajudam a investigação e desenvolvimento de novos medicamentos contra o Covid-19”, anunciou o lançamento de um plano de “investigação e desenvolvimento de medicamentos graças à IA e plataformas de partilha de grandes dados, bem como todo o tipo de investigação e material bibliográfico sobre a Covid-19. Sobre esta questão, contudo, apesar dos anúncios, a comunidade científica é bastante unânime em salientar que o prazo para uma cura, para não mencionar as vacinas, não está exactamente ao virar da esquina. Finalmente, há o aspecto ligado às conferências virtuais e ao e-learning, em que a China tem vindo a investir há algum tempo e que em 2020, devido ao encerramento de escolas e escritórios, tem visto uma atenção e experimentação renovadas. Para as escolas, foram utilizados programas prontos que permitem a ligação de vários alunos ao mesmo tempo, fornecendo ao professor todos os dados necessários, incluindo os gravados por câmaras fotográficas sobre a atenção demonstrada pelo aluno durante a aula. Para além da actual situação de emergência, esta é uma realidade na China.

5 Fev 2021

Empresas da UE vendem à China tecnologia de vigilância – Amnistia Internacional

[dropcap]A[/dropcap] Amnistia Internacional (AI) alertou ontem que três empresas europeias vendem a agências de segurança pública na China tecnologia de vigilância que pode contribuir para o aumento dos abusos de direitos humanos naquele país.

O alerta baseia-se numa investigação da organização de defesa dos direitos humanos, divulgada por ocasião da reunião prevista para terça-feira em Bruxelas de representantes das três instituições europeias – Parlamento Europeu, Comissão e Conselho (presidência) – sobre uma revisão das regras aplicadas às exportações da União Europeia (UE).

Segundo a Amnistia Internacional (AI), três empresas europeias, com sede em França, na Suécia e na Holanda, “venderam sistemas de vigilância digital, como tecnologia de reconhecimento facial e sistemas de câmaras em rede, para os principais intervenientes do aparelho de vigilância em massa chinês”.

A AI alerta que “em alguns casos, os dispositivos exportados foram diretamente usados em programas indiscriminados de vigilância em massa, com o risco de serem utilizados contra uigures e outros grupos étnicos predominantemente muçulmanos em todo o país”.

Ainda segundo a AI, “a maioria dos governos da UE, incluindo a França e a Suécia, está a resistir aos apelos para fortalecer as regras de exportação de forma a incluir fortes salvaguardas de direitos humanos na tecnologia de vigilância biométrica, uma área que as empresas europeias dominam”.

A organização reconhece que a Alemanha, que exerce atualmente a presidência do Conselho Europeu, e a Holanda, têm defendido a necessidade de reforçar essas regras, mas a questão não foi até agora resolvida no quadro europeu.

“A indústria de vigilância biométrica da Europa está fora de controlo. Este anúncio de vendas para agências de segurança chinesas e instituições de investigação que as apoiam é apenas a ponta do icebergue de uma indústria multimilionária que está a florescer, vendendo os seus produtos a quem viola os direitos humanos, com poucas salvaguardas contra abusos na utilização final”, alerta Merel Koning da Amnistia Internacional.

O relatório cita projetos de vigilância em massa da China como “Skynet” e “Sharp Eyes”, usados pelas agências de segurança para “uma expansão da vigilância sem precedente”, e frisa que a vigilância é omnipresente na região de Xinjiang, “onde até um milhão de uigures e membros de outros grupos étnicos estão retidos em chamados ‘campos de reeducação’”.

“A condenação pelos governos da UE da repressão sistemática em Xinjiang é esvaziada enquanto continuarem a permitir que empresas vendam a tecnologia que pode estar a facilitar esses abusos”, acrescentou Merel Koning, responsável da AI para a Política, Tecnologia e Direitos Humanos, em comunicado.

A organização destaca que as ferramentas de vigilância biométrica, como o ‘software’ de reconhecimento facial, “estão entre as tecnologias de vigilância digital mais invasivas, que permitem aos governos identificar e seguir pessoas em espaços públicos e selecioná-las em função das suas características físicas ou comportamentais”.

“Estas tecnologias representam uma clara ameaça aos direitos de privacidade, liberdade de reunião, de expressão, de religião e de não-discriminação”, afirma.

As empresas denunciadas pela AI são a Morpho, que integra a multinacional francesa Idemia e em 2015 contratou a venda de equipamento de reconhecimento facial ao gabinete de segurança pública de Xangai, a sueca Axis Communications, que desenvolve e comercializa redes de câmaras de vigilância e, entre outros contratos, forneceu a expansão da rede de câmaras “Skynet” na cidade de Guilin (sul) de 8.000 para 30.000, e a holandesa Noldus Information Technology, que vendeu sistemas de reconhecimento de emoções a instituições de segurança pública chinesas para vigilância em universidades, nomeadamente no Xinjiang, entre 2012 e 2018.

A AI apela à UE que inclua a tecnologia de vigilância digital no quadro regulatório das exportações, reforce as salvaguardas de direitos humanos nas decisões comerciais e assegure que todas as empresas conduzem uma avaliação de impacto nos direitos humanos nas suas exportações.

“Em resposta à Amnistia Internacional, a Axis Communications afirmou que não lhe é exigida licença para exportar câmaras para serem usadas em programas de vigilância em massa chineses. É precisamente este o problema do atual quadro de regulação de exportações da UE. Os governos da UE têm de fazer face às suas responsabilidades e controlar esta indústria”, afirmou Merel Koning.

21 Set 2020

Hong Kong | UE limita exportações à tecnologia para evitar “repressão” de Pequim

[dropcap]O[/dropcap] Conselho da União Europeia (UE) manifestou ontem “grande preocupação” sobre a nova lei da segurança nacional imposta em Hong Kong pela China e adoptou limitações à exportação de tecnologia, para evitar a “repressão e vigilância” chinesas.

“Após um debate inicial no Conselho dos Negócios Estrangeiros em 13 de julho de 2020, o Conselho adoptou ontem conclusões que exprimem uma grande preocupação sobre a legislação de segurança nacional para Hong Kong adoptadas pelo Comité Permanente do Congresso Nacional Popular da China em 30 de junho de 2020”, refere a estrutura em comunicado de imprensa.

Essas conclusões reafirmam “o apoio da UE ao elevado grau de autonomia de Hong Kong ao abrigo do princípio ‘Um país, dois sistemas’”, manifestando ainda “solidariedade com o povo de Hong Kong”, acrescenta a estrutura.

Deste “pacote coordenado em resposta à imposição da lei de segurança nacional, a ser levado a cabo a nível da UE e ou dos Estados-membros, conforme considerado apropriado”, fazem parte limitações da União às “exportações de equipamento e tecnologias sensíveis específicas para utilização final em Hong Kong, em particular quando existam motivos para suspeitar de utilização indesejável relacionada com a repressão interna, a interceção de comunicações internas ou a vigilância cibernética”, de acordo com as conclusões da reunião.

Ao mesmo tempo, o Conselho da UE decidiu “rever as implicações da lei de segurança nacional sobre o funcionamento da extradição dos Estados-membros e outros acordos relevantes com Hong Kong”, bem como “continuar a envolver e apoiar a sociedade civil” na antiga colónia britânica, nomeadamente através da “monitorização contínua dos julgamentos dos ativistas pró-democracia”.

A UE vai, ainda, “controlar o efeito extraterritorial da lei de segurança nacional” e evitar, “por enquanto, lançar quaisquer novas negociações com Hong Kong”.

Em meados de Julho, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, reunidos em Bruxelas, reiteraram a sua “preocupação” pela nova lei da segurança nacional imposta em Hong Kong pela China, admitindo recear os “riscos” na soberania da antiga colónia britânica.

Pequim impôs uma lei da segurança nacional a Hong Kong, argumentando que a legislação “não coloca em causa” a máxima “Um país, dois sistemas” por ser “apenas uma forma de aumentar a segurança” daquela região administrativa especial com uma lei que “já devia ter sido aprovada”.

O documento surgiu após repetidas advertências do poder comunista chinês contra a dissidência em Hong Kong, abalado em 2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas democráticas e quase sempre marcadas por confrontos com a polícia, que levaram à detenção de mais de nove mil pessoas.

Num relatório anual publicado na semana passada, a diplomacia da UE considerou que 2019 foi um ano “excepcionalmente desafiante” para Hong Kong, devido à “agitação social constante” e às situações de violência, criticando também a “deterioração” das liberdades fundamentais”.

29 Jul 2020

Tóquio Lab

[dropcap]É[/dropcap] a maior área metropolitana do mundo, com os seus 38 milhões de pessoas em intenso, acelerado e permanente movimento. Quase metade (48 por cento) desta gigantesca população desloca-se diariamente em transportes ferroviários, comboios e metropolitanos que compõem uma complexa e intrincada rede e substituem com amplas vantagens os modos de transporte rodoviários: apenas 12 por cento das deslocações se fazem em automóvel e mesmo os autocarros só são usados por 3 por cento da população. Numa cidade que parece sempre ultra-congestionada, acaba por haver espaço público suficiente (ou quase) para deslocações em bicicleta (14 por cento) e a pé (23 por cento). Em todo o caso, é a hegemonia da mobilidade ferroviária que marca a singularidade do sistema de transportes desta metrópole, onde se concentram 26 das 50 estações de comboios mais utilizadas no mundo, incluindo as três primeiras deste ranking (Shinjuku, Shibuya e Ikebukuro).

Não é isento de problemas, em todo o caso, este padrão de mobilidade urbana: são internacionalmente famosas as imagens de hora de ponta no metropolitano de Tóquio em que se vêem diligentes e eficazes funcionários das estações a empurrar passageiros para dentro das carruagens, uma densa amálgama de gente assustadoramente comprimida na sua deslocação para o trabalho. Não deixa também de ser curiosa esta intensa proximidade e contacto físico – ultrapassando largamente a capacidade oficial das carruagens – num país onde as normas de segurança são levadas ao máximo extremo nas mais variadas actividades quotidianas e os contactos físicos entre pessoas são culturalmente reduzidos ao mínimo – ou a zero – nas relações sociais. Na realidade, mesmo fora das horas de máxima utilização, é frequente as carruagens e estações funcionarem a 200 por cento ou 250 por cento da sua capacidade – chegando mesmo aos 400 por cento em momentos de maior intensidade.

A um ano dos Jogos Olímpicos que Tóquio vai acolher em 2020, é intensa e gigantesca a renovação em curso nas estações ferroviárias da cidade – sendo que, na maior parte dos casos, uma estação não é apenas um lugar onde se entra e sai de um transporte público: é um complexo de centros comerciais, com dezenas ou centenas de lojas acumuladas em torres de sofisticada arquitectura e avançadas engenharias que previnem os impactos dos regulares terramotos que caracterizam uma região situada na confluência de três placas tectónicas (Eurásia, Filipinas e Pacífico). Estas gigantescas infraestruturas – cuja utilização requer cuidada e permanente atenção às dezenas de entradas, saídas e acessos a diferentes ruas ou edifícios circundantes – estão hoje em renovação profunda: novas linhas e plataformas, novos painéis informativos (mais digitais e multi-linguísticos) e também novas lojas, novos restaurantes, novos centros comerciais, novos edifícios de escritórios em novas ou renovadas torres de várias partes da cidade.

É sobretudo disto que se fazem os grandes eventos globais, culturais ou desportivos, nas metrópoles contemporâneas: uma mobilização massiva e coordenada de recursos para renovar as cidades, transformando-as temporariamente num diversificado e multissectorial centro de negócios, um catalisador de investimentos através das chamadas parcerias público-privadas que vão alimentando o crescimento económico e também a especulação imobiliária e financeira.

Neste momento, o impacto deste súbito aumento da oferta de serviços diversos é facilmente visível para quem visita Tóquio e pode, por exemplo, encontrar magníficos novos restaurante com belas vistas panorâmicas, atencioso serviço e deliciosa comida por um preço relativamente modesto, tendo em conta os padrões locais.

Outra coisa será o que se vai passar durante os Jogos, nesse Verão muito quente que se avizinha em 2020, em plena época alta das temperaturas e da humidade relativa. A imprensa vai publicando opiniões de especialistas ou resultados de estudos diversos sobre os impactos previstos das Olimpíadas e há relevantes pontos comuns a várias publicações de que vou tendo conhecimento: a rede de transportes – que já opera na maior parte do tempo muito acima da capacidade recomendada – não será suficiente para acolher os movimentos quotidianos dos residentes, os fluxos dos turistas habituais e ainda os dos visitantes dos Jogos, em particular no acesso aos principais eventos; esse super-congestionamento dos transportes coloca particulares problemas no contexto das temperaturas e humidade relativa muito elevadas que caracterizam Tóquio em Agosto; o alojamento hoteleiro, normalmente já muito caro na cidade, será ainda mais caro; a renovada oferta de serviços diversos, incluindo restauração e animação, terá nessa altura a necessária procura.

Outra coisa ainda é o que se passará a seguir às Olimpíadas. O Japão já atingiu os 20 milhões de turistas por ano que se tinham definido como objectivo até 2020 – e na cidade de Tóquio já se atingiram os 15 milhões projectados. A menos que após os Jogos haja um aumento muito significativo dos turistas vindos da Europa ou da América, estes fluxos (até agora com origem na Ásia em 85 por cento dos casos) não deverão aumentar muito significativamente. Internamente, o envelhecimento populacional que caracteriza a sociedade japonesa faz com Tóquio seja das raríssimas grandes metrópoles a nível mundial que arrisca perder população nas próximas décadas. Para que servirão então estas mega-infraestruturas actualmente em construção ou renovação – incluindo as novas habitações na zona da Baía onde se vão instalar mais de 5.000 participantes nos Jogos – é uma questão que torna esta metrópole um interessante laboratório para as políticas urbanas do futuro. Até – ou sobretudo – para se discutirem os limites destas mega-operações de requalificação urbanística e especulação imobiliária com base nas internacionalmente famosas “parcerias público-privadas” e na mobilização de capitais financeiros internacionais.

23 Ago 2019

Bolsa de Xangai | Emissão de títulos de alta tecnologia estreia a subir 520%

O novo mercado para emissão de títulos de tecnológicas chinesas abriu ontem, em Xangai, a subir até 520 por cento, na sessão de estreia, com os investidores animados para comprar acções das primeiras 25 empresas listadas

 

[dropcap]I[/dropcap]nspirado no norte-americano NASDAQ, o STAR Market reflecte o desejo do Partido Comunista Chinês de canalizar capital privado para os seus planos de desenvolvimento, dando aos pequenos investidores chineses uma oportunidade de comprar títulos em indústrias de tecnologia que até agora se voltaram para Wall Street.

No arranque da sessão, as primeiras acções subiram até 520 por cento, face à cotação nas ofertas públicas iniciais.

Mais de 140 empresas de tecnologia e ciência em toda a China inscreveram-se para negociar as suas acções no novo mercado, que é administrado pela Bolsa de Valores de Xangai, a principal praça financeira do continente chinês.

As 25 empresas que começaram ontem a negociar já arrecadaram 37 mil milhões de yuan.
O novo mercado é o único na China com incentivos para empresas de tecnologia, incluindo acções de duas classes, o que garante aos fundadores que mantêm controlo sobre as empresas.

O novo índice é também o único na China continental que permite vendas curtas (“short selling”), prática que pretende tirar partido da queda do valor das acções: os investidores pedem acções emprestadas para as vender no mercado e, posteriormente, adquiri-las a um preço mais baixo.

O valor das acções no novo mercado pode oscilar até 30 por cento, antes de os reguladores imporem uma suspensão de 10 minutos. Nas principais praças financeiras chinesas, os títulos deixam de ser negociados durante o resto da sessão, caso subam ou desçam 10 por cento.

Capital e social

Empresas como a fabricante de módulos de células solares Anji e a fabricante de chips Montage Technology subiram até 520 por cento e 285 por cento, respectivamente, beneficiando da ausência de limites na oscilação dos preços, durante os primeiros cinco dias de negociação.

Durante a sessão da manhã, seis das 25 acções subiram mais de 200 por cento e todas as acções avançaram mais de 100 por cento.

A Star exige que as empresas listadas aloquem pelo menos metade das suas acções listadas para fundos mútuos, previdenciários ou de seguro, e limitam a negociação a investidores com um saldo de pelo menos 500.000 de yuan e dois anos de experiência a negociar em bolsa.

As bolsas de valores da China, em Xangai e Shenzhen, foram criadas no início dos anos 90 para arrecadar dinheiro para a indústria estatal, e passaram mais tarde a incluir empresas privadas, mas continuam a ser dominadas por empresas sob tutela do Governo, como a PetroChina Ltd. e a China Mobile Ltd.

Privadas como os gigantes do comércio electrónico Alibaba e JD.com, ou o motor de busca Baidu, emitiram milhares de milhões de dólares em títulos em Wall Street, numa operação inconveniente e cara para empresas mais pequenas.

As empresas que ainda não registaram lucros podem negociar no novo mercado se gastarem pelo menos 15 por cento das suas receitas em pesquisa e desenvolvimento ou se tiverem drogas ou outras tecnologias num estágio avançado de desenvolvimento.

23 Jul 2019

Isto não está a correr nada bem

[dropcap]N[/dropcap]ão vai acabar já, diz-se que ainda vai durar um par de décadas ou pouco mais. O sopro. Durante o intervalo, coisas estranhas acontecem. Algumas, rasto de ideias. Outras, erguem-se sem entendimento. Indiferente, o argumento diário continua a ser escrito. Quem segura a pena? Debruçado sobre a bancada, a separar palavras: bonitas para um lado, feias para o cesto da reciclagem, para que possam ter outra vida. O pensamento surge, murmura e apoquenta-se. Faltam ligaduras. Mas isso também se arranja no mercado dos domingos. O indispensável visco que liga a semente ao solo e forma um texto comprido. Com vírgulas extraviadas. Que atravessam ruas.

Materializando, a coisa vai. É país, empresa, aplicação. Um bocado de lata? Não se pode dizer ao certo. Ouve-se falar. Vê-se. Para que a nação avance, o poder está caído para um dos lados. Seres ímpios e invisíveis. Maquinismos que contêm todo o conhecimento e riqueza. Não são homens em cima de guindastes, são aquilo a que chamam números, ou contas de somar. O valor está sempre a subir, como o brilho que ilumina a ignorância. A. B. C. É esta a sigla. Das cronografias.

Só uma, para começar. Conceberam essa coisa a que não puseram nome, mas a que todos chamam de Centro. É uma experiência. Como o vulcão ou o colapso de uma mina. Aí, nesse lugar, espaço aborrecido e desmesurado, fica o âmago de tudo. Foi assim que escreveram no livro das cobranças. Teologia base: o âmago de tudo. Medula, talento, clave. Um parafuso no meio do solo. Pense-se num lugar, escolhido com o dedo na esfera a girar: aqui! E o imaculado cosmos nasce. O meio onde se dividem as frequências. É linguagem encriptada, não compreensível na totalidade. Deve deixar-se assim, com pontas soltas e nada em claro, como segurança para o imprevisível. Olhos menos bem-intencionados afloram tentações suicidas. Medo, muito medo.

O meio. Na grafia chinesa é um pequenino rectângulo horizontal com um traço vertical que atravessa exactamente o ponto central, deixando uma mão cheia de pixéis de cada lado a cobrir o espaço vazio. Para esta determinada posição, no Centro, convergem milhões de seres vivos munidos de razão desviados dos seus caminhos através de cartografia digital, contradizendo as indicações boca-a-boca. Mapas da Google, da Apple, da Microsoft e outras versões open source, assim como as aplicações que os usam, ou os guias Michelin que se desdobram igualmente com as mãos, prestam indicações desacertadas. A todos eles, num raio de cem ou mais quilómetros, essa é outra incógnita, foi dito que era preciso passar por ali. Que passando por ali, pelo âmago de tudo, se encontrava o melhor itinerário. O mais rápido, o mais interessante para a vista. Ao chegarem, atraídos por um magnetismo raro, que lhes empurra as hormonas para fora da tampa, os condutores ou transeuntes desvairados, param. Fazem-no sem juízo aparente. Os carros avariam, a gasolina falta, não há como evitar a necessidade desmesurada de aliviar a bexiga, que emerge sem aviso. Por todas as razões a direcção é aquela.

O trânsito é imenso, todas as estradas confluem para o mesmo ponto, exactamente onde está o parafuso, simbolicamente encriptado e colocado como a marca do caos, só para se ter a certeza de que existe. Um ponto no meio de lugar nenhum. Um campo vazio com milhares de toneladas de pavimento onde todos confluem. O primeiro viajante reza, os outros ressoam e transcrevem as coordenadas. Fazem contas à vida. Despedem-se das famílias. Perdendo a compreensão, não chegam a entranhar. Os que regressam, não voltam a ser iguais. O resultado não favorece ninguém. Alguns ainda gritam pela mãe. Engarrafamento milenar.

Outro exemplo, um restaurante. Fica na Metrópole. Projecto pioneiro deixado nas mãos da robótica e da Inteligência Artificial. A polémica estalou quando foi anunciado que neste empreendimento, área com vários milhares de metros quadrados, não iria existir um único empregado. Espaço amplo, como se sugere. No meio – pequeno rectângulo com traço por cima –, fica a cozinha. Eixo autónomo que roda sobre si como os dias que passam, lá em cima, no fuso do guindaste. Lugar ermo, aparafusado, onde por meio de refrigeração severamente controlada se guardam os ingredientes possíveis para a elaboração de todas as gastronomias. Armários metálicos e gavetas desenhados na perfeição. Aqui, por uma equação liminar é possível preparar qualquer receita, ao gosto de cada cliente. O código está aberto.

O pensamento surge, murmura e apoquenta-se. Faltam ligaduras. Mas isso também se arranja no mercado dos domingos. O indispensável visco que liga a semente ao solo e forma um texto comprido. Com vírgulas extraviadas. Que atravessam ruas.

A preferência é executada através de uma aplicação móvel, que acompanha, examina e notifica, sem esquecer o instante mais residual, o batimento cardíaco de cada bálsamo, a desagregação visceral a determinado elemento, a mais oculta agitação do palato. Tudo é contabilizado. A escolha criteriosa do que se vai comer só é efectuada nas primeiras ocasiões, a partir daí a processo de cálculo que navega no dispositivo sugere e, por critério pleno, acerta. Acerta sempre. Conhece o mais íntimo desejo, aquele ainda não presente na consciência. Representações animadas com a volumetria ideal completam o processo. Imaginação lúdica. Um oceano cresce nas membranas gustativas.

O cliente chega, pára à porta do restaurante e a viatura é prontamente recolhida no tapete rolante, para um lugar na rede de estacionamento horizontal e vertical. Lá dentro, já configurado pelo engenho que traz no bolso, encaminha-se para a sua mesa, seguindo indicações cintilantes no chão por entre o labirinto de mesas. A aterragem ocorre sem turbulência. Os passageiros batem palmas. A ergonomia do assento vai sendo melhorada a cada utilização, eliminando desconfortos e aperfeiçoando posturas. Todo o ambiente conferido ao lugar da refeição é recolhido do imaginário. Aromas, sensações, reminiscências oníricas. Traduzidos em calorias, proteínas e nutrientes.

A aplicação é configurada de modo a repercutir o gosto do utilizador, não esquecendo desprazeres e alimentos passíveis de rejeição física. Mas até aqui, ao longo dos tempos, o mecanismo vai agregando novos elementos, necessários para a melhoria física e uma saúde melhor, combatendo maus hábitos e ânimos rasos. We are what we eat. As rotinas alimentares traçam o gosto e o desgosto. Uma câmara com reconhecimento facial cria padrões de satisfação e proporciona ajustes em tempo real. A miríade de opções é infinita. Na cozinha, um bailado de braços robóticos sincroniza-se entre si, recolhendo os alimentos frescos, cortados na altura, os refrigerados e os naturais. Corte e temperaturas ideais, fornos e dispositivos a vapor. O resultado é encaminhado para as mesas por uma tapeçaria rolante. Apurado a cada garfada, a escolha e o resultado são sempre perfeitos para o cliente, estabelecendo um padrão biográfico sem igual. As quantidades são ajustadas às necessidades e à purificação da alma.

O restaurante também une e proporciona associações entre os utilizadores, juntando-os à mesma mesa. Para os mais ávidos ou solitários, uma companhia virtual que ouve e dialoga é a opção a tomar. De igual modo, o conhecimento flui, proporcionado tempo de qualidade. Nada é desperdiçado. O piscar de olhos. Eficiência energética, estrito controle de produtos e despesa nula com funcionários, minimizam os custos deste prazer gastronómico. No final, a conta é debitada na aplicação e o transporte está à porta. Na segunda oportunidade a primeira impressão é sempre revigorada. O carro não avaria, a gasolina não falta. O cliente volta para novo fluxo de indicações boca-a-boca.

Haveria mais para dizer. Ainda não foste à Metrópole? Então estás à espera de quê?

16 Jul 2019

“Think small” e a comunicação via tweet

[dropcap]H[/dropcap]á sete décadas, a fórmula “Think small” resultou num grande sucesso no campo da publicidade. Foi essa ideia que coroou a entrada em cena e em força da Volkswagen nos EUA. Mais tarde, já nos anos sessenta, a campanha “Lemon” aprofundou o mesmo minimalismo, aliás contemporâneo da Pop Art. O design destas campanhas foi particularmente revolucionário na época. A economia da fórmula falava por si: as imagens isolavam num espaço branco uma pequena fotografia de um automóvel novo que contrastava radicalmente com a dimensão e a escala da tradição de Detroit, dotada com o fulgor quase fáustico do pós-guerra.

A carreira do ‘minúsculo’ no campo do design não passou pelos melhores dias nos anos setenta e no revivalismo intenso e paródico dos eighties. Foi preciso chegarmos ao mundo dos chips, no ‘turn’ dos anos noventa do século passado, para que ela voltasse a aflorar. Hoje em dia, tudo é ‘nano’, tudo é fragmento, tudo é descontínuo: é esse o apelo expressivo que a tecnologia e o cibermundo passaram a veicular à nossa própria expressão do dia-a-dia. Na primeira década do século, a blogosfera reflectiu esse espírito comunicacional. Desde o final dessa mesma década, ferramentas como o Facebook o Twitter e, a seu modo, o Instagram, têm estado a traduzir este renovado design baseado na fórmula vintage “Think small” (enfim, o verbo ‘pensar’ é francamente excessivo para o uso que nestes apressados hiatos da rede lhe é dado).

Atentemos à realidade Twitter que, nos últimos anos, passou a galvanizar a comunicação da política mundial, sobretudo desde o início da era Trump. Destacaria três aspectos para este novo artesanado do ápice e do minúsculo.

Em primeiro lugar, parece óbvio que os tweets estão a deslocar a urgência da actualidade para um outro espaço. Podemos chamar-lhe o espaço do aceno que se caracteriza por um efémero flash (quase devorado antes da devoração) que não chega sequer a ganhar corpo. Nele não há tempo para contextos, nem para pré-avisos: apenas iminência e resposta de tipo fugaz. Nada fica por reflectir e para saborear. É a chamada ‘iminência do coelho’.

Em segundo lugar, os tweets sofrem de remissão obsessiva (os links e os índices presentes na mensagem apontam quase apenas para outros links e índices). No tempo das narrativas orgânicas, tudo apontava para âncoras fixas e claramente posicionadas. Agora, os signos constróem-se através de pontes muito frágeis entre continentes que mal se distinguem. A ideia é mesmo essa: dar a ver a onda através da sugestão do seu contorno (necessariamente) fluido. Para quem tem muito pouco a dizer – o que se adequa na perfeição ao modo como a política hoje se apresenta diante de todos nós – é o modelo ideal.

Em terceiro lugar, o universo twitter baseia-se na elipse e na – chamemos-lhe – irradiação metonímica. Por outras palavras: aquilo que é transmitido permite conjecturar territórios próximos e contíguos. O olhar como que desliza para onde (não) é chamado, sem muitas vezes dar por isso. Nessa medida, o twitter pode ser muito eficaz na sua economia própria. Devido a esta extrema economia, os tweets requerem, portanto, menos ‘dito’ e mais ‘não dito’ (mesmo se não intencionado). Chegam, por isso mesmo, quase a aproximar-se da ideia de fractal: uma unidade mínima e discreta que convive em sistemas diversos, com rostos variados e flutuações intermitentes. Surf e liquidez errante, obviamente.

Concluindo, poderíamos afirmar que o Twitter se converteu, hoje em dia, na versão expressiva e social do “Think small” de há pouco mais de meio século. O desígnio e o design são similares à partida, embora a encarnação da fórmula na nossa era seja, de facto, radicalmente outra. Nos anos cinquenta do século XX, gerava uma atmosfera de fascínio devido ao contraste que exprimia; no nosso tempo, está a gerar aquele impacto fugidio que é próprio da actividade da consciência nuclear.

Repare-se no modo como os efeitos de sentido realmente se alteraram: do contraste do “Think small” dos anos cinquenta  – que tinha o seu tempo próprio e era sempre susceptível de uma dada ponderação sensorial (não foi por acaso que a pintura romântica abraçou sempre os grandes contrastes) – passou-se para uma gramática de acenos flagrantes (ou, adoptando a palavra “flagrante”, não como adjectivo, mas enquanto substantivo abstracto,  dir-se-ia que se passou para uma gramática do flagrante que visa tão-só o flagrante, sem qualquer preocupação em deixar vestígios para arqueologias futuras).

Talvez o “Think small” tenha sido a última aparição moderna do romantismo. O contraste cromático que Caspar David Friedrich registou, em 1818, na sua obra ‘O Peregrino sobre o mar da névoa’ não deixa dúvidas sobre o tempo que é reservado à contemplação dos sentidos (que se realiza sobretudo através da figura do contraste). Um tweet, por outro lado, recebe todo o seu pasmo ao diluir-se nessa mesma reserva temporal: o que dele sobra é sempre e só o espaço para um outro tweet. O que nós passámos e vivemos, enquanto espécie, para, de novo, nos vermos forçados a inventar o jogo do pingue-pongue.

6 Mai 2019

Tecnologia | App acusada de pagar tarde a restaurantes

[dropcap]O[/dropcap] proprietário da aplicação móvel Ou Mi, que tem como logótipo um esquilo, que permitem fazer encomendas de comida nos restaurantes, está a ser acusado de demorar mais de dois meses a fazer os pagamentos aos estabelecimentos.

O caso foi relatado ontem pelo jornal Exmoo e, de acordo com os proprietários ouvidos, a situação faz com que os restaurantes se atrasem nos pagamentos a fornecedores e mesmo aos trabalhadores. Em alguns casos, as encomendas feitas através da aplicação podem chegar a mais de 60 por cento das receitas destes estabelecimentos.

Por sua vez, o proprietário da aplicação confirmou a situação, mas explicou que estes atrasos se devem a formalidades relacionadas com aplicação. Ao mesmo tempo, prometeu também que no futuro os pagamentos aos restaurantes na modalidade semanal, bissemanal e mensal.

25 Abr 2019

Cimeira | Macau junta peritos para debater cidade inteligente

[dropcap]M[/dropcap]acau organiza a 25 e 26 de Abril a “Cimeira Internet + Cidade Inteligente 2019” para reforçar a aposta na tecnologia e na indústria de exposições e convenções, com a presença de especialistas e académicos, anunciou ontem a organização.

O objectivo é impulsionar o desenvolvimento da indústria e da tecnologia na área de aplicações, explicou o presidente da comissão administrativa do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia, que coordena a iniciativa, em conferência de imprensa.

Ma Chi Ngai sublinhou a presença de 30 especialistas e académicos, entre os quais peritos em comunicação 5G de Espanha e em segurança de rede de Israel.

A iniciativa garantiu também a participação de especialistas de empresas chinesas de dimensão mundial, casos do vice-presidente sénior da Xiaomi Tecnologia, do director de tecnologia da Huawei Tecnologias e do cientista-chefe do Departamento IoT (Internet of Things) da Alibaba.

A cimeira integra duas palestras temáticas, “Cidade inteligente orientada para as pessoas” e “Índices de Avaliação da Cidade Inteligente na Grande Baía”.

O evento, que terá ainda seis sessões distribuídas pelos dois dias, responde “à exigência de diversificação moderada da indústria levantada pelo Governo Central [China]” e pretende “colaborar com o Plano Quinquenal de Desenvolvimento da Região Administrativa Especial de Macau (2016-2020), de acordo com a organização.

A cimeira é promovida pelo Conselho de Ciência e Tecnologia e tem ainda o apoio da Fundação para o Desenvolvimento da Internet da China.

17 Abr 2019

Estacionamento inteligente

[dropcap]N[/dropcap]o passado dia 25 de Março, o Departmento de Transportes do Governo de Hong Kong apresentou uma proposta ao Conselho Municipal do Distrito de Sham Shui, para a construção de um parque de estacionamento inteligente, em Sham Shui Po. A área destinada ao parque tem cerca de 3.400 metros quadrados. As instalações terão a forma de uma espiral e os espaços de estacionamentos vão ser circulares. O estacionamento será inteiramente controlado por um sistema informático automatizado que incluirá uma rede de “paletes automáticas”. Este design permite maior facilidade e rapidez de estacionamento. No rés do chão do complexo prevê-se a construção de jardins, parques infantis e ginásios.

Dia 7 deste mês, a Autoridade de Renovação Urbana de Hong Kong fez novas propostas para a construção do primeiro parque inteligente de Hong Kong, administrado por um sistema de estacionamento informatizado, responsável pelo controle das “paletes automáticas”.

As paletes automáticas efectuam o estacionamento dos veículos. Primeiro o condutor pára o carro à entrada do parque e depois faz o seu registo no sistema. Quando este processo está concluído, a palete automática vai buscar o carro, introduzindo-se na parte de baixo do veículo e depois eleva-o para proceder ao transporte. O espaço de estacionamento é detectado automáticamente, bem como a trajectória até ao local. Este mecanismo de transporte está equipado com um sensor que lhe permite desviar-se dos obstáculos e evitar colisões.

A Autoridade de Renovação Urbana alertou para o facto de não existir qualquer tipo de legislação que regule este sistema automatizado. Esta falha vai criar algumas dificuldades à aprovação do projecto por parte do Governo de Hong Kong.

O conceito de parques de estacionamento inteligentes foi importado de Singapura. De forma a evitar o congestionamento do tráfego e as emissões de dióxido de carbono, Singapura tem encorajado o uso de bicicletas. Mas, tal como os carros, as bicicletas também necessitam de locais para estacionar. Se forem deixadas na rua, podem bloquear a circulação e, além disso, podem ser roubadas. Por causa disso, o Governo de Singapura criou um parque inteligente para estacionar bicicletas, com capacidade para albergar 500 unidades. Antes de entrar, o utilizador tem de se registar no sistema informático do parque, recebendo de seguida a password que lhe permite estacionar a bicicleta. O processo de estacionamente automático leva menos de um minuto a efectuar-se. Este sistema de estacionamento inteligente foi inventado no Japão, onde está em funcionamento já há algum tempo. É pois expectável que o novo parque de Hong Kong venha a funcionar às mil maravilhas.

E que lições pode tirar Macau desta experiência? A 17 de Maio de 2018, o Governo da RAEM publicou a “Estratégia para o desenvolvimento da cidade inteligente de Macau e a construção nas áreas principais – Consulta Pública” . As plataformas automáticas de Singapura podem vir a ser tomadas em linha de conta para a implementação deste projecto em Macau.

Macau tem imensos habitantes e, desde há muito tempo, que se sente a falta de parques de estacionamento na cidade. À noite, sobretudo, vêem-se bastantes carros estacionados na estrada. Este estacionamento desordenado provoca o caos, dificultando a circulação de veículos e de peões. Todos sabemos que durante a passagem dos super tufões Hato e Mangkhut em Macau, em 2017 e em 2018, muitos carros estacionados em parques subterrâneos ficaram literalmente desfeitos, devido às cheias. É urgente construir na cidade mais parques de estacionamento, em estruturas acima do solo. Quer do ponto de vista da vida do dia a dia, quer do ponto de vista do desenvolvimento urbano, os parques inteligentes são indispensáveis.

Para estabelecer uma rede de parques inteligentes, são necessárias leis que os regulamentem. Embora exista em Macau muita legislação rodoviária, não existem leis que tenham em consideração as questões levantadas pelos parques inteligentes. Por isso, se quisermos construir parques inteligentes, temos de criar a respectiva legislação e agir antecipadamente.

17 Abr 2019

Tecnologia | Firmado memorando com a China

[dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, e o ministro da Ciência e Tecnologia, Wang Zhigang, testemunharam, na sexta-feira, a assinatura de um memorando de reforço da cooperação entre Macau e a China.

O memorando e o anexo plano de acção conjunta no domínio da inovação da ciência e tecnologia definem o objectivo e servem como guia de acção para a colaboração.

Os signatários concordam aprofundar a cooperação bilateral em cinco domínios, incluindo na investigação e pesquisa, na formação de quadros qualificados, na transformação de resultados científicos em produtos industrializados, na integração de Macau na estratégia de desenvolvimento nacional e na popularização da ciência.

1 Abr 2019

Corrida tecnológica ao 5G conta com participantes de todo o mundo

Entre suspeitas de espionagem, com a gigante chinesa Huawei a ser a principal visada, a corrida tecnológica joga-se um pouco por todo o mundo, com os Estados Unidos, o Japão, a Coreia do Sul e a China a assumirem a liderança no desenvolvimento da rede de quinta geração

 

[dropcap]A[/dropcap]rede móvel de quinta geração (5G) está a ser desenvolvida em vários países do mundo, estando os asiáticos e os Estados Unidos mais bem posicionados para vencer a ‘corrida’ tecnológica, que tem sido marcada pelas suspeitas de espionagem chinesa.

Nesta ‘corrida’ está também a União Europeia (UE), com os Estados-membros a darem passos para que o 5G seja disponibilizado, de forma comercial, em pelo menos uma cidade por país até 2020 e para que haja uma cobertura mais abrangente até 2025.

Ainda assim, os avanços são maiores fora da UE, já que “os Estados Unidos, o Japão, a Coreia do Sul e a China são os principais países em termos de desenvolvimento” desta tecnologia, admite o Observatório Europeu para o 5G no seu relatório de acompanhamento mais recente, datado de final do ano passado.

Além de monitorizar o que está a ser feito na União, este observatório criado pela Comissão Europeia acompanha a aposta no resto do mundo, indicando no relatório, a que a agência Lusa teve acesso, que “os Estados Unidos são um país muito avançado no 5G”, sendo esperado em breve que as operadoras AT&T ou Verizon o comercializem, após testes no ano passado.

Também a China está “a experimentar o 5G”, prevendo o seu lançamento comercial em 2020 através da China Unicom e da China Telecom, segundo o documento.

Antes, para o segundo semestre deste ano, é apontada a comercialização do 5G na Coreia do Sul, país que chegou a testar esta tecnologia numa zona limitada dos jogos olímpicos de Inverno, em Fevereiro do ano passado, na região de PyeongChang.

No próximo ano, esta oferta comercial deverá chegar ao Japão, com “os operadores japoneses a pretenderem lançar o 5G a tempo de acolher os jogos olímpicos e paraolímpicos de Verão em Agosto de 2020”, segundo o relatório.

“Além destes países e da UE, outros estão a planear desenvolvimentos no 5G, como a Índia, a Austrália, o Canadá, a África do Sul e os países do Golfo, como os Emirados Árabes Unidos, o Qatar e a Arábia Saudita”, aponta o mesmo documento do Observatório Europeu.

No caso da Índia, o lançamento comercial só é estimado para 2022. Entre os restantes, “o Qatar e os Emirados Árabes Unido reivindicam ter sido os primeiros a lançar o 5G”. Porém, “sem qualquer dispositivo 5G disponível até ao momento [nestes dois países], parece ter sido mais uma ‘luz verde’ para a infraestrutura do que um lançamento comercial completo”, observa o relatório.

Alvo a abater

No que toca aos principais fabricantes de equipamentos 5G, o documento aponta a Ericsson, a Huawei, a Nokia, a Samsung e a ZTE, alguns dos quais podem vir a ser lançados ainda este ano.

É, contudo, a chinesa Huawei que está no cerne da polémica, estando acusada de 13 crimes por procuradores norte-americanos, incluindo fraude bancária e espionagem industrial.

O Congresso dos Estados Unidos chegou, inclusive, a proibir agências governamentais de comprarem produtos da Huawei, ao abrigo da Lei de Autorização de Defesa Nacional, por considerar que a empresa serve a espionagem chinesa.

Ao mesmo tempo, o país tem pressionado vários outros, incluindo Portugal, a excluírem a Huawei na construção de infraestruturas para redes de 5G.

A empresa tem rejeitado alegações sobre a segurança da sua tecnologia 5G, insistindo que não tem “portas traseiras” para aceder e controlar qualquer dispositivo, sem o conhecimento do utilizador.

A Huawei informou ainda que vai processar o Governo dos Estados Unidos por ter proibido a compra dos equipamentos de telecomunicações pelos serviços públicos.

Entretanto, em meados deste mês, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Nato), Jens Stoltenberg, disse estar a ponderar eventuais acções contra a Huawei, tendo em conta as preocupações de segurança.

Também nessa altura, o Parlamento Europeu mostrou-se preocupado com a ameaça tecnológica chinesa na UE, instando a Comissão Europeia a agir perante possíveis acessos ilegais a dados em equipamentos móveis de 5G.

Já esta semana, o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, pediu aos países da UE que garantam livre concorrência para as empresas chinesas, e denunciou tentativas de “afundar” grupos como a Huawei por motivos de segurança.

25 Mar 2019

China vai proibir por lei transferência forçada de tecnologia

[dropcap]A[/dropcap]China vai proibir por lei que entidades governamentais forcem empresas estrangeiras a transferirem tecnologia, em troca de acesso ao mercado doméstico, uma questão-chave nas disputas comerciais com os Estados Unidos.

A disposição consta num projecto de lei sobre investimento estrangeiro que está a ser debatido na sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN), o órgão legislativo do país.

A revelação foi feita ontem, em conferência de imprensa, por Ning Jizhe, o vice-presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o órgão máximo chinês de planificação económica.

O sistema legal vai garantir que as empresas estrangeiras “não podem ser obrigadas a transferir tecnologia por meios administrativos, proporcionando uma garantia jurídica mais ampla e benéfica”, afirmou.

O texto estipula que “todas as partes envolvidas no investimento devem decidir, através de negociações, as condições de cooperação tecnológica, no caso do investimento estrangeiro”, e que “nem os departamentos do Governo, nem os funcionários, podem utilizar meios administrativos para forçar transferências de tecnologia”.

“Os governos locais devem cumprir rigorosamente as suas promessas políticas e todo o tipo de contratos legais com empresas com fundos estrangeiros”, estipula.

“Caso contrário, as empresas estrangeiras devem ser compensadas pelas suas perdas”, acrescenta.

Cumprir promessas

A declaração de Ning surge um dia depois de o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ter garantido, no arranque da sessão da APN, que todas as empresas serão “tratadas de forma igual”, estrangeiras ou chinesas.

Washington e Bruxelas criticam frequentemente Pequim por transferência forçada de tecnologia, atribuição de subsídios a empresas domésticas e obstáculos regulatórios que protegem os grupos chineses da competição externa.

As políticas industriais de Pequim, vistas como “predatórias”, suscitaram já uma guerra comercial com os EUA, com Donald Trump a impor taxas alfandegárias sobre 250.000 milhões de dólares de bens importados da China.

Os EUA têm ainda pressionado vários países, incluindo Portugal, a excluírem a gigante chinesa das telecomunicações Huawei na construção de infraestruturas para redes de Quinta Geração (5G), a Internet do futuro.

Pequim quer transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.

Os EUA consideram que aqueles planos industriais, impulsionados pelo Estado chinês, violam os compromissos da China em abrir o seu mercado. Washington teme ainda perder o seu domínio industrial para um rival estratégico em ascensão.

Na terça-feira, Li Keqiang anunciou uma meta de crescimento económico para 2019 “entre 6 por cento e 6,5 por cento “.

Trata-se de um ritmo ligeiramente abaixo ao alcançado no ano anterior e seria o mais lento em três décadas, mas ainda assim entre os mais rápidos do mundo.

A China é a segunda maior economia do mundo, a seguir aos Estados Unidos.

7 Mar 2019

A confiabilidade da inteligência artificial (II)

“Artificial intelligence is changing our world faster than we can imagine? It will impact every area of our lives. And this is happening whether we like it or not. Artificial intelligence will help us do almost everything better, faster, and cheaper, and it will profoundly change industries, such as transportation, tourism, healthcare, education, retail, agriculture, finance, sales, and marketing. In fact, AI will dramatically change our entire society.”
“Artificial Intelligence: 101 Things You Must Know Today About Our Future” – Lasse Rouhiainen

[dropcap]A[/dropcap] segunda área-chave diz respeito à força de trabalho ensinando os cidadãos e os especialistas de IA a trabalharem em conjunto. A melhoria da qualificação de profissionais não conhecedores da Ciência de Dados e IA para trabalhar com esta, tornou-se uma parte crucial da estratégia da força de trabalho, e uma nova classe de ferramentas, incluindo a Aprendizagem Automática de Máquina (AutoML na sigla em língua inglesa) que é a automatização do processo total de aplicação de aprendizagem de máquina a problemas do mundo real e que simplificam e automatizam parte do processo de criação de modelos de IA, está a democratizá-la e cerca de 38 por cento dos líderes empresariais concentrarão esforços em ferramentas de IA para pessoas envolvidas em negócios, como a capacidade de segundo nível que cultivarão por trás de conjuntos de dados e modelos reutilizáveis.

Todavia a IA amigável ao utilizador ainda é um processo complexo e mesmo com formação básica, os líderes empresariais podem não entender completamente os diferentes parâmetros e níveis de desempenho dos seus algoritmos e poderiam acidentalmente aplicá-los de forma errada, com resultados não intencionais. A resposta é uma estratégia de força de trabalho que cria três níveis de funcionários experientes em IA, e fornece meios para que todos trabalhem em conjunto com êxito. A força de trabalho é composta por cidadãos utilizadores, desenvolvedores de cidadãos e cientistas de dados.

À medida que a IA se dissemina, a maioria dos funcionários de uma empresa precisará de formação para se tornarem cidadãos utilizadores do sistema, aprendendo como devem usar os aplicativos avançados da empresa, dar suporte à boa governança de dados e obter ajuda especializada quando necessário. Um grupo mais especializado, talvez de 5 a 10 por cento da sua força de trabalho, deve receber formação adicional, para se tornarem desenvolvedores de cidadãos que são profissionais de negócios, utilizadores avançados e podem identificar casos de uso e conjuntos de dados e trabalhar em estreita colaboração com os especialistas de IA.

Quanto às novas aplicações de IA, um pequeno mas crucial grupo de engenheiros e cientistas de dados fará o trabalho pesado para criar, implantar e gerir aplicativos de IA. Para colocar esses três grupos em funcionamento, é necessário identificar sistematicamente novas competências e funções profissionais e desde logo surgem perguntas como o tipo de trabalho que é necessário para que os utilizadores ou desenvolvedores possam manipular? Quais os aplicativos que exige um cientista de dados experiente? É necessária então uma abordagem igualmente sistemática para preencher esses papéis, interna e externamente, e incentivar os diferentes grupos a colaborar.

A qualificação profissional em toda a empresa deve abordar tanto as competências técnicas quanto as formas digitais de trabalho. As estruturas de desempenho e compensação terão que se adaptar, e muitos trabalhadores serão bem-sucedidos na qualificação para preencher novas funções, mas alguns não poderão fazer a transição, e nesse caso torna-se imprescindível a preparação para algum volume de negócios.

Conhecer o desafio de empregos da IA é essencial e para muitos líderes empresariais, tentar dimensionar o impacto da IA nos empregos tornou-se uma tarefa absurda, pois sabem o que acontece e qual a quantidade do que está em jogo, seja grande ou pequeno em número, e quando constitui tema de debate.

As previsões variam amplamente, incluindo as do estudo de automação de empregos internacionais, que colocaram o impacto de curto prazo em menos de 3 por cento dos empregos perdidos até 2020, mas chega a 30 por cento na metade da década de 2030. Os líderes empresarias sondados, concordam que, por enquanto, a IA não está a tirar empregos nas suas organizações e de facto, o dobro de executivos afirmou e que a IA levará a um aumento no número de funcionários (38 por cento), e os que disseram que a IA levará a cortes de empregos (19 por cento) na sua organização. O desafio, neste momento, é de preencher vagas e 31 por cento dos líderes empresariais estão preocupados com a incapacidade de dar resposta à procura por competências de IA nos próximos cinco anos.

O ensino de competências adicionais a um empregado pode criar utilizadores e desenvolvedores de cidadãos, mas é provável que se necessite de contratar programadores e cientistas de dados altamente treinados. Forjar parcerias com universidades e alunos é uma forma de começar. A cultura do local de trabalho também é um grande factor. Muitos especialistas em IA querem trabalhar para uma empresa que pense em usar o sistema por longo prazo e também valorizam os locais de trabalho com a configuração organizacional, recursos, definição de funções, pesquisa empolgante e empoderamento individual que os inspirará a fazer um óptimo trabalho em colaboração com outras pessoas talentosas.

A terceira área-chave contende com a confiança traduzida em responsabilizar a IA em todas as suas dimensões, pois aumentaram as preocupações sobre a mesma, que pode afectar a privacidade, segurança cibernética, emprego, desigualdade e o meio ambiente. Os clientes, trabalhadores, consultores, reguladores e parceiros corporativos questionam se podem confiar na IA, daí que não seja surpresa que os líderes empresariais digam que garantir que os sistemas de IA sejam confiáveis é o principal desafio de 2019, e como vão superar esse desafio, depende se estão a trabalhar com todas os aspectos da IA responsável, como seja a justiça, interrogando se estão a minimizar os dados e modelos da mesma e estarão a trabalhar com preconceitos quando a usam?

A questão de interpretabilidade é importante pois derivam várias questões como a possibilidade de explicar como um modelo de IA toma decisões? Se podem garantir que essas decisões sejam precisas? A questão da robustez e segurança traz interrogações sobre a possibilidade de confiar no desempenho de um sistema de IA? Se os sistemas de IA estão vulneráveis a ataques? A questão da governança põe questões sobre quem é responsável pelos sistemas de IA? Se existem os controlos apropriados? A questão da ética do sistema interroga se os sistemas de IA estão em conformidade com os regulamentos e como afectarão os trabalhadores e clientes?

É necessário construir a responsabilidade por cada área, seja dentro da IA CoE ou em um grupo adjacente que trabalhe de perto com o CoE. Um número cada vez maior de empresas está a supervisionar a IA responsável por meio de conselhos de ética ou directores de ética em tecnologia, como parte das suas atribuições. É uma tendência encorajadora, que é de esperar que se desenvolva. É também necessário criar funções de trabalho que combinem conhecimento técnico com um entendimento de preocupações reguladoras, éticas e de reputação.

É importante configurar controlos e balancear conflitos de escolha e para estabelecer controlos sobre os dados, algoritmos, processos e estruturas de relatórios da IA, é fundamental a existência de equipas combinadas de especialistas técnicos, comerciais e de auditoria interna que testem e monitorizem continuamente os controlos. Tais equipas terão que considerar as compensações apropriadas e com a interpretabilidade, por exemplo, podem encontrar o equilíbrio certo entre desempenho, custo, importância do caso de uso e extensão da experiência humana envolvida. É de entender que um carro autónomo, um diagnóstico de assistência à saúde por IA e uma campanha de marketing conduzida por IA exigiriam diferentes níveis e tipos de interpretabilidade e controlos relacionados.

As outras formas de tornar a IA mais confiável vêm dos seus avanços, particularmente na área da IA Explicável (XAI na sigla em língua inglesa). O programa XAI da Agência de Projectos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos (DARPA na sigla em língua inglesa), por exemplo, está a trabalhar em algoritmos mais interpretáveis. A XAI é uma agência do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, responsável pelo desenvolvimento de novas tecnologias para uso militar. Foi criado em 1958 como uma consequência tecnológica da Guerra Fria e da qual surgiram as bases da ARPANET, a rede que deu origem à Internet.

[primeira parte]
17 Jan 2019

China | Lei proíbe transferência forçada de tecnologia

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades chinesas apresentaram um projecto de lei sobre investimento estrangeiro que proíbe a transferência forçada de tecnologias. A sessão bimestral do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular, o órgão máximo legislativo da China, vai revisar esta semana o projecto de lei. O texto indica que a “China vai continuar a desenvolver e a melhorar as suas políticas de liberalização e facilitação do investimento estrangeiro”, visando “criar um ambiente estável, transparente e previsível”, avançou a agência noticiosa oficial Xinhua. O projecto estipula que “todas as partes envolvidas no investimento devem decidir, através de negociações, as condições de cooperação tecnológica, no caso do investimento estrangeiro”, e que “nem os departamentos do governo, nem os funcionários, podem utilizar meios administrativos para forçar transferências de tecnologia”. “A propriedade intelectual das empresas estrangeiras estará protegida” e “os lucros obtidos pelas firmas na China podem ser livremente transferidos para fora do país”, estipula o texto.

27 Dez 2018