Estudo | Tecnologias levam a acordar político de uma nova geração

As novas plataformas digitais e o facto de qualquer pessoa poder divulgar informações sobre os assuntos que mais preocupam a população, e que muitas vezes ficam de fora dos órgãos de comunicação tradicionais, está a criar uma nova geração mais crítica e activa a nível político

[dropcap]A[/dropcap] utilização das redes sociais, como o Facebook, para a disseminação de notícias sobre Macau feitas por jornalistas ou simples cidadãos está a despertar uma geração mais jovem para o activismo político. É esta uma das principais conclusões de um artigo escrito por dois académicos da Universidade Sun Yat-sen, Lin Zhongxua e Zhao Yupei, sobre a ligação entre o jornalismo e o activismo SoMoLo, com o título “A caminho do jornalismo SoMoLo e activismo SoMoLo: um estudo de caso das práticas digitais dos internautas de Macau”.

O jornalismo e activismo SoMoLo são conceitos académicos que definem um tipo de jornalismo e de activismo que se destacam por três pilares: o social (SO), por focarem temas da comunidade, móvel (MO), de dispositivos móveis e novas tecnologias, e ainda a componente local (LO), uma vez que é feito por e para locais, independentemente de serem jornalistas. Em Macau a ligação entre as duas actividades nasce pelo facto de portais como o All About Macau, Macau Concealers, ou outra páginas sobre transportes e trânsito, terem resultado em cidadãos mais activos politicamente e actividades nas ruas.

Os casos concretos estudados são as páginas criadas para divulgar notícias e outras informações sobre o trânsito e atitude de condutores, que em 2012 impediram o aumento dos preços pretendidos pelas operadoras, a situação das telecomunicações, que em 2012 resultou numa manifestação contra a CTM, e ainda o donativo de 100 milhões de yuan da Fundação de Macau à Universidade de Jinan, naquela que foi uma das maiores manifestações do últimos anos e terminou com condenações em tribunal de activistas pró-democratas.

De passivos a activos

“Tradicionalmente, Macau tem sido normalmente descrita como uma ‘aldeia pacífica’ com cidadãos harmoniosos, marcados pela compreensão e preocupação mútua, que adoram harmonia social e odeiam conflitos sociais, tido como maus a protestar”, apontar os autores. “No entanto, com a emergência do jornalismo SoMoLo e do activismo SoMoLo estes cidadãos passivos dotaram-se de um pró-activismo online que os tem dotado de um poder para alterar o status quo da política local a pouco e pouco – embora seja demasiado cedo para poderem estar optimistas do seu sucesso”, é defendido.

Neste jornalismo e activismo político, que recorre às redes sociais, é frequente a utilização do humor como forma de crítica, através de textos ou manipulação de imagens. Um fenómeno que os autores identificam como comum a Macau, Hong Kong e ao Interior da China.

Por outro lado, o estudo destaca também que apesar de muitos dos tópicos abordados nas diferentes páginas do facebook e portais atraírem um grande interesse dos internautas, que nos principais órgãos de comunicação social eram tratados como temas menores.

Para o despertar das consciências políticas é igualmente sublinhada a importância da utilização das novas tecnologias. “Esta geração de nativos digitais é mais activa e criativa na produção e consumo de jornalismo SoMoLo e na mobilização e organização de activismo SoMoLo […] mas, estas alterações de comportamento não se limitam apenas ao jornalismo e activismo, existem sinais da emergência de uma nova geração política que, para alguns académicos, representam o acordar político em Macau e um ponto de viragem na política local”, é concluído.

15 Out 2018

Carro de corridas autónomo não virá ao Grande Prémio

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]inda não será este ano que iremos ver um carro de competição autónomo a percorrer o traçado do Circuito da Guia. Lucas Di Grassi, piloto e CEO da Roborace, a futura competição para este tipo de viaturas, disse em declarações ao HM em 2017 que gostaria de realizar este ano uma exibição entre nós, mas tal não irá suceder.

Para o piloto brasileiro, “os carros autónomos são o futuro do transporte comercial e faz sentido termos uma área dos desportos motorizados dedicada a este sector”. Em Novembro do ano transacto, Di Grassi, ele próprio um vencedor do Grande Prémio de Macau de Fórmula 3, disse estarem em andamento negociações para trazer uma demonstração de competição de carros autónomos a ter lugar no Grande Prémio de 2018. “Uma das acções dos desportos motorizados na área dos carros autónomos é trazer uma demonstração já no próximo ano ao circuito do Grande Prémio de Macau”, afirmou, na altura, o piloto.

Contudo, fonte da organização contactada pelo HM, confirmou que não há planos para qualquer actividade promocional este Novembro. “A Roborace não tem planos para este ano para participar no fim-de-semana do Grande Prémio de Macau”, esclareceu fonte da organização do campeonato. “Do que é do nosso conhecimento, não têm existido conversações no que respeita ao evento deste ano. Estamos concentrados no próximo ano.”

Engenharia à prova

O “The Robocar” será a base do futuro campeonato Roborace que se afirmará como o primeiro campeonato de viaturas autónomas e fará parte dos eventos do Campeonato FIA de Fórmula E. Ao contrário da filosofia de quase todos os campeonatos de automobilismo, este não se focará nos pilotos, mas sim nas equipas de engenheiros.

O carro, desenhado por Daniel Simon, o artista que desenhou os veículos de conhecidos filmes sci-fi de Hollywood como Tron Legacy e Oblivion, pesará 975kg e medirá 4.8m de cumprimento por 2m de largura. Com quatro motores de 300kW cada, uma bateria de 540kW, este veículo é maioritariamente construído em fibra de carbono e foi pensado para atingir velocidades na ordem dos 320km/h.

O carro utiliza uma série de tecnologias para se conduzir sozinho pelas pistas, como 5 lidars, 2 radares 18 sensores ultrassónicos, 2 sensores de velocidade ópticos, 6 câmaras IA, GNSS de posicionamento e é “conduzido” por um cérebro Nvidia Drive PX2, capaz de produzir 24 triliões de operações de inteligência artificial por segundo para ser programado pelas equipas de engenheiros de software usando complexos algoritmos.

A ideia dos organizadores desta iniciativa é iniciar o campeonato algures em 2019, utilizando as pistas de Fórmula E, que por natureza são muito menos exigentes que os circuitos convencionais. As curvas e contra curvas do Circuito da Guia seriam com certeza um grande desafio para um protótipo que ainda está na fase de desenvolvimento.

12 Out 2018

Primeiro carro voador começa a ser vendido em Outubro

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] período de pré-venda do primeiro carro voador do mundo, desenvolvido pela empresa Terrafugia, que foi adquirida pelo grupo chinês Geely, arranca em Outubro, com a chegada ao mercado prevista para 2019, avançou a imprensa chinesa.

O veículo, chamado Transition e com capacidade para dois passageiros, necessita de pista de descolagem e aterragem, como os aviões convencionais, mas pode converter-se num automóvel terrestre em apenas um minuto, segundo a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua.

Numa fase inicial, o carro voador estará apenas disponível no mercado norte-americano. A agência não detalha o custo de produção ou preço de venda.

Responsáveis da Geely revelaram que o objectivo é competir com o uso de aviões por parte de empresas, governos e firmas de transporte.

O conselheiro delegado da Terrafugia, Chris Jaran, anunciou já que apresentará, em Outubro, o próximo projecto da empresa, o veículo voador TF-2, que será capaz de descolar e aterrar na vertical, algo a que o Transition não está apto.

A Terrafugia foi fundada em 2006, por cinco antigos alunos do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).

A Geely emprega mais de 60.000 trabalhadores, a nível mundial, e vendeu em 2016 mais de 1,3 milhão de veículos. A empresa detém a marca automóvel sueca Volvo.

27 Set 2018

Comissão Europeia | Guerra comercial ameaça abrandar economia mundial

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]s taxas alfandegárias anunciadas ontem por Washington, sobre um total de 171 mil milhões de euros de importações oriundas da China, podem levar ao abrandamento da economia mundial, considerou o vice-presidente da Comissão Europeia (CE), Valdis Dombrovskis

“Este tipo de conflitos comerciais são um risco para a economia global. Vemos que a disputa se está a desenvolver de forma preocupante, e julgamos que vai ter um impacto negativo”, afirmou Dombrovskis, responsável pela estabilidade financeira da CE.

O responsável falava durante uma conferência no Fórum Económico Mundial, considerado o ‘Davos do Verão’, que se realiza na cidade portuária de Tianjin, norte da China. Dombrovskis defendeu que as disputas comerciais devem ser resolvidas através de mecanismos multilaterais.

“É preciso que nos sentemos na mesa de negociações, precisamos preservar o sistema de regras multilaterais e, no caso de disputas, estas devem ser resolvidas nos trâmites da Organização Mundial do Comércio”, afirmou. “Não se deve adoptar uma postura unilateral”, disse.

Dombrovskis enalteceu a abertura do sistema financeiro da China ao capital externo, mas defendeu que Pequim deve implementar as medidas anunciadas para atrair mais investidores estrangeiros e diversificar o seu mercado de capitais.

“As autoridades chinesas anunciaram reformas que visam a abertura dos seus mercados, incluindo do sector financeiro, mas é importante ver a implementação prática destes anúncios”, notou o responsável.

Dombrovskis reuniu na segunda-feira com o ministro chinês das Finanças, Liu Kun, e com o presidente da Comissão Reguladora de Valores, Liu Shiyu.

Gigantes tecnológicos

As novas taxas alfandegárias anunciadas na segunda-feira pelos Estados Unidos sobre bens oriundos da China deverão poupar empresas norte-americanas como Apple, Amazon e Google, cujos produtos contêm partes de fornecedores chineses, noticiou a Associated Press.

A Apple enviou a 5 de Setembro uma carta a pedir protecção ao seu ‘smartwatch’ e a outros dispositivos sem fios, tentando persuadir o Presidente norte-americano, Donald Trump.

As tarifas vão começar em 10 por cento e subir para 25 por cento, a partir de 1 de Janeiro. Esta decisão significa uma escalada na guerra comercial entre os Estados Unidos da América e a China e um aumento de preços nos preços de consumo nos EUA, que vão desde as malas de mão aos pneus de bicicleta.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou ontem taxas alfandegárias sobre um total de 200 mil milhões de dólares de importações oriundas da China, agravando uma guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta.

Em Junho passado, Trump impôs taxas de 25 por cento sobre 50 mil milhões de dólares, e Pequim retaliou com impostos sobre o mesmo montante de bens importados dos EUA.

Em causa está a política de Pequim para o sector tecnológico, nomeadamente o plano “Made in China 2025”, que visa transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.

Os Estados Unidos consideram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos da China em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.

19 Set 2018

Tecnologia | Jack Ma anuncia que vai deixar presidência do grupo Alibaba

No dia em que faz 54 anos, Jack Ma, o fundador do grupo Alibaba, que impulsionou o ‘boom’ do comércio electrónico na China, anunciou que vai deixar a presidência do grupo daqui a um ano

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m comunicado, Ma indicou que a empresa vai ficar a cargo do actual director executivo, Daniel Zhang.

Licenciado em língua inglesa, Jack Ma fundou o Alibaba em 1999, num apartamento em Hangzhou, na costa leste da China, para ligar exportadores chineses a retalhistas além-fronteiras.

Hoje, o grupo é a maior empresa de comércio electrónico do mundo. Além de operar as plataformas Taobao e Tmall, que dominam grande parte das vendas ‘online’ na China, passou a investir, nos últimos anos, em plataformas ‘online’ para financiamento (P2P, na sigla em inglês), computação em nuvem e outros serviços.

Em 2014, o grupo protagonizou a maior entrada em bolsa a nível mundial, com uma oferta pública inicial, que angariou cerca de 19,7 mil milhões de euros. O Alibaba passou a estar cotado em Nova Iorque, mas a sede mantém-se em Hangzhou. Entretanto, Ma tornou-se num dos empresários mais ricos do mundo, com uma fortuna estimada em 32 mil milhões de euros.

De acordo com o comunicado, Ma vai continuar a fazer parte da parceria Alibaba, um grupo de 36 pessoas que tem o direito a nomear a maioria dos membros do conselho de administração. “Esta transição demonstra que o Alibaba avançou para o próximo nível na governança corporativa, de uma empresa que depende de indivíduos, para uma construída num sistema organizacional de excelência, com uma cultura de desenvolvimento de talentos”, afirmou Ma, no mesmo comunicado. O empresário acrescentou que pretende “regressar ao ensino”, sem avançar pormenores.

E-China

O Alibaba é uma das empresas chinesas, a par da Tencent, Baidu ou Jingdong, que impulsionaram a difusão ímpar do comércio electrónico e carteiras digitais no país. Em 2016, o comércio ‘online’ na China cresceu 26,2 por cento, em termos homólogos, para 752 mil milhões de dólares, um valor equivalente a quase quatro vezes o Produto Interno Bruto (PIB) português. O país asiático é responsável por cerca de metade do conjunto mundial de vendas pela Internet.

Nas ruas de Pequim ou Xangai, o frenesim das motorizadas que fazem entregas rápidas ao domicílio é constante, enquanto milhares de fabricantes chineses abdicaram do retalho tradicional, passando a distribuir produtos exclusivamente através de plataformas ‘online’.
Jack Ma, cujo nome em chinês é Ma Yun, aparece regularmente na televisão. No festival anual da companhia, ele costuma cantar música pop, vestido em trajes excêntricos. O empresário não se inibe de troçar da própria aparência e afirma que é parecido com a figura do extraterrestre no filme “E.T. – O Extraterrestre”, de Steven Spielberg, devido à dimensão desproporcional da cabeça.

Ma vai completar o mandato actual, como membro do conselho de administração do grupo, até à reunião anual dos accionistas, em 2020.
“Nenhuma empresa pode confiar apenas nos seus fundadores (…) devido a limites na capacidade física e energia de cada um”, afirmou, na carta, Jack Ma. “Ninguém pode assumir as responsabilidades de presidente e CEO para sempre”.

11 Set 2018

Tecnologia | China vai limitar número de videojogos para “evitar miopia”

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China vai limitar o número de videojogos disponíveis na Internet do país, “para evitar a miopia”, uma doença que afecta muitas crianças e adolescentes chineses, avançou o ministério chinês da Educação. O novo regulamento foi anunciado na quinta-feira, logo após uma “importante directriz” do Presidente chinês, Xi Jinping, que apelou à protecção da visão das crianças.

As autoridades limitarão o número de videojogos na Internet, mas também o lançamento de novos produtos no mercado, segundo o comunicado do ministério da Educação. Outras medidas poderão incluir limitar o número de horas que as crianças passam a jogar, lê-se na mesma nota, coassinada por outras sete administrações do país.

As acções de várias empresas do sector nas praças financeiras chinesas afundaram no final da semana passada. A cotação do gigante chinês da internet Tencent desvalorizou mais de 5 por cento, em Hong Kong. A Perfect World caiu 9 por cento, na bolsa de Shenzhen.

Os estudantes chineses sofrem de uma alta taxa de miopia, que é cada vez mais precoce, alertou Xi Jinping, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua. O distúrbio ocular tem um impacto negativo significativo na saúde física e mental das crianças e representa um grande problema para o futuro da nação, acrescentou.

A medida anunciada na quinta-feira surge depois de Pequim ter suspendido a emissão de licenças para comercializar novos videojogos. Segundo a lista da Agência Nacional para a Rádio e Televisão, nenhuma empresa obteve novas licenças desde maio passado.

3 Set 2018

A inteligência artificial (II)

“Artificial intelligence will reach human levels by around 2029. Follow that out further to, say, 2045, we will have multiplied the intelligence, the human biological machine intelligence of our civilization a billion-fold.”

 

The Age of Spiritual Machines: When Computers Exceed Human Intelligence

Ray Kurzweil

Se considerarmos o caso de uma grande empresa agrícola que queria implantar a tecnologia da IA ​​para ajudar os agricultores e uma enorme quantidade de dados estava disponível sobre as propriedades do solo, padrões climáticos, colheitas históricas, e o plano inicial era criar um aplicativo de IA que pudesse prever com mais precisão o rendimento futuro das colheitas, mas nas discussões com os agricultores, a empresa aprendeu sobre uma necessidade mais premente. O que os agricultores realmente queriam era um sistema que pudesse fornecer recomendações, em tempo real, sobre como aumentar a produtividade, quais os terrenos e onde cultivar e quanto nitrogénio a usar no solo.

A empresa desenvolveu um sistema de IA para fornecer tais conselhos, e os resultados iniciais foram promissores; os agricultores ficaram felizes com o rendimento das colheitas obtido com a orientação da IA. Os resultados desse teste inicial foram então enviados de volta ao sistema para refinar os algoritmos usados. Assim, como na etapa de descoberta, novas técnicas analíticas e de IA podem auxiliar na co-criação, sugerindo novas abordagens para melhorar os processos. O terceiro passo para as empresas é escalonar e depois sustentar a solução proposta. O SEB, por exemplo, implantou originalmente uma versão da “Aida”, internamente, para ajudar os quinze mil trabalhadores do banco, mas depois, implementou o “chatbot” em um milhão de clientes.

O último estudo realizado nos Estados Unidos com uma sondagem a centenas de empresas, foram identificadas cinco características dos processos de negócios, que as empresas normalmente desejam melhorar que são a flexibilidade, velocidade, escala, tomada de decisões e personalização. Ao reinventar um processo de negócios, é necessário determinar qual dessas características é central para a transformação desejada, como a colaboração inteligente poderia ser aproveitada para resolvê-lo, e quais os ajustamentos e compensações com outras características do processo seriam essenciais.

Os braços “cobot” na Mercedes-Benz, tornam-se uma extensão do corpo do trabalhador e para os executivos da empresa, os processos inflexíveis apresentaram um desafio crescente. Os clientes que maior lucro dava à empresa, vinham a exigir cada vez mais, carroçarias individualizadas da classe S, mas os sistemas de montagem não conseguiam oferecer a personalização que as pessoas queriam. A fabricação de automóveis, tradicionalmente, tem sido um processo rígido com etapas automatizadas, executadas por robôs “pouco inteligentes”. A fim de melhorar a flexibilidade, a Mercedes substituiu alguns desses robôs por “cobots” com IA, e redesenhou os seus processos em torno de colaborações entre seres humanos e máquinas. Os braços robotizados, na fábrica da empresa, perto de Estugarda, guiados por trabalhadores pegam e colocam peças pesadas, tornando-se uma extensão do corpo do trabalhador.

O sistema coloca o trabalhador no controlo da construção de cada carro, fazendo menos trabalho manual e mais um trabalho de pilotagem com o robô. As equipas de máquinas humanas da empresa podem adaptar-se rapidamente. Os “cobots” na fábrica, podem ser reprogramados facilmente com um “tablet”, permitindo que trabalhem em tarefas diferentes, dependendo das alterações no fluxo de trabalho. Tal agilidade, permitiu que o fabricante atingisse níveis sem precedentes de personalização. A Mercedes pode individualizar a produção de veículos de acordo com as escolhas em tempo real que os consumidores fazem nas concessionárias, alterando tudo, desde os componentes do painel do veículo até à pele do assento ou às tampas das válvulas dos pneus, e como resultado, não existem dois carros iguais a sair da linha de montagem da fábrica na Alemanha. Algumas empresas estão a usar a IA para descobrir incógnitas desconhecidas nos seus negócios.

A “GNS Healthcare (GNS)” é uma empresa privada de análise de dados, sediada em Cambridge, nos Estados Unidos, que aplica “software” de aprendizagem de máquinas para encontrar relações negligenciadas, entre os dados nos registos de saúde dos pacientes e em outros locais. O “software” depois de identificar um relacionamento, elabora várias hipóteses para explicá-lo e, em seguida, sugere quais delas são mais prováveis. Tal abordagem, permitiu que o GNS descobrisse uma nova interacção medicamentosa escondida em anotações de pacientes não estruturados, não se tratando de uma peneira de dados para encontrar associações, pois a plataforma de aprendizagem de máquinas não vê apenas padrões e correlações nos dados. É de considerar que para algumas actividades de negócios, o prémio está na velocidade e uma dessas operações é a detecção de fraudes com cartões de crédito. As empresas têm apenas alguns segundos para determinar se devem aprovar uma determinada transacção. Se for fraudulenta, provavelmente terão que repor essa perda, mas se negarem uma transacção legítima, perdem a taxa da compra e irritam o cliente.

O “The Hongkong and Shanghai Banking Corporation (HSBC)”, como a maioria dos grandes bancos, desenvolveu uma solução baseada em IA que melhora a velocidade e a precisão da detecção de fraudes. A IA monitora e marca milhões de transacções diariamente, usando dados sobre o local de compra e o comportamento do cliente, endereços IP e outras informações para identificar padrões subtis que sinalizam possíveis fraudes. O HSBC implementou pela primeira vez o sistema nos Estados Unidos, reduzindo significativamente a taxa de fraudes e falsos positivos não detectados e, em seguida, implementou-o no Reino Unido e na Ásia. Um sistema de IA diferente usado pelo Danske Bank melhorou a sua taxa de detecção de fraudes em 50 por cento e diminuiu os falsos positivos em 60 por cento. A redução no número de falsos positivos, liberta os investigadores para concentrar os seus esforços em transacções equívocas, que a IA sinalizou, onde o julgamento humano é necessário.

A luta contra a fraude financeira é como uma corrida armamentista, pois uma melhor detecção conduz a criminosos mais perigosos, levando por conseguinte a uma melhor detecção, que continua o ciclo. Assim, os algoritmos e modelos de pontuação para combater fraudes têm uma vida útil muito curta e exigem actualização contínua. Além disso, diferentes países e regiões usam modelos diferentes e por essas razões, legiões de analistas de dados, profissionais de “Tecnologia de Informação (TI)” e especialistas em fraudes financeiras são necessárias no sistema de meios de ligação entre os seres humanos e as máquinas, para manter o “software” na dianteira dos criminosos. A baixa escalabilidade, para muitos processos de negócios, é o principal obstáculo para a melhoria e é particularmente verdadeiro em processos que dependem de trabalho humano intensivo com assistência mínima da máquina.

É de considerar, por exemplo, o processo de recrutamento de trabalhadores da “Unilever” que é uma multinacional britânica-neerlandesa de bens de consumo, que estava à procura de uma forma de diversificar a sua força de trabalho de cento e setenta mil pessoas. Os recursos humanos da empresa, determinaram que precisavam de se concentrar em contratações de nível básico e, de seguida, contratar o melhor para a gestão, mas os processos existentes na empresa não foram capazes de avaliar potenciais candidatos em número suficiente, ao mesmo tempo que davam atenção individual a cada aspirante para garantir uma população diversificada de talentos excepcionais. A “Unilever” combinou recursos humanos e de IA para dimensionar a contratação individualizada, e na primeira fase do processo de inscrição, os candidatos são convidados a brincar com jogos “on-line” que ajudam a avaliar características como a aversão ao risco.

Os jogos não têm respostas certas ou erradas, mas ajudam a IA da “Unilever”, a descobrir quais os indivíduos que podem ser mais adequados para uma determinada posição. Os candidatos, na fase seguinte, são convidados a enviar um vídeo em que respondem a perguntas específicas, para a posição em que estão interessados. As suas respostas são analisadas por um sistema de IA, que considera não apenas o que dizem, mas também a sua linguagem corporal e tom de voz. Os melhores candidatos dessa fase, conforme o decidido pela IA, são então convidados à “Unilever” para realizarem entrevistas pessoais, após as quais os seres humanos tomam as decisões finais de contratação.

É muito cedo para dizer se o novo processo de recrutamento resultou na contratação dos melhores trabalhadores. A empresa tem acompanhado de perto o sucesso dessas contratações, mas ainda são necessários mais dados. É claro, no entanto, que o novo sistema ampliou enormemente a escala do recrutamento da “Unilever”, em parte, porque os candidatos a emprego podem ter acesso facilmente ao sistema por “smartphone”. O número de candidatos duplicou para trinta mil em um ano, o de universidades representadas subiu de oitocentas e quarenta para duas mil e seiscentas, e a diversidade socioeconómica das novas contratações aumentou. Além disso, o tempo médio entre a aplicação e a decisão de contratação, baixou de quatro meses para apenas quatro semanas, enquanto o tempo que o pessoal que recruta a fazer a revisão dos aplicativos baixou 75 por cento. O facto de fornecer aos trabalhadores informações e orientações personalizadas, a IA pode ajudá-los a tomar melhores decisões, que pode ser especialmente valioso para os trabalhadores, pois onde fazer a escolha certa tem um enorme impacto.

É de considerar a forma pela qual a manutenção de equipamentos está a ser aprimorada com o uso de “gémeos digitais”, que são modelos virtuais de equipamentos físicos, ou cópias elaboradas das linhas de produção. A “General Electric (GE)” constrói esses modelos de “software” das suas turbinas e outros produtos industriais e actualiza-os continuamente, com a transmissão de dados operacionais do equipamento. Ao recolher leituras de um grande número de máquinas, a GE acumulou uma grande quantidade de informações sobre o desempenho normal e aberrante. O seu aplicativo “Predix”, que usa algoritmos de aprendizagem da máquina, pode prever quando uma peça específica em uma máquina pode falhar.

A tecnologia mudou fundamentalmente o processo decisivo de manutenção de equipamentos industriais. A “Predix” pode, por exemplo, identificar algum desgaste inesperado do rotor, em uma turbina, verificar o histórico operacional da turbina, informar que o dano quadruplicou nos últimos meses e avisar que, se nada for feito, o rotor perderá cerca de 70 por cento da sua vida útil. O sistema pode, então, sugerir acções apropriadas, tendo em consideração a condição actual da máquina, o ambiente operacional e os dados agregados sobre os danos e reparações semelhantes em outras máquinas. A “Predix” conjuntamente, com as suas recomendações, pode gerar informações sobre os custos e benefícios financeiros e fornecer um nível de confiança (por exemplo, de 95 por cento) para as hipóteses usadas na sua análise.

Os trabalhadores sem o “Predix” teriam sorte de descobrir o dano do rotor em uma verificação de manutenção de rotina. É possível que não seja detectado até que o rotor falhe, resultando em uma interrupção custosa. Os funcionários de manutenção, com a “Predix” são alertados sobre possíveis problemas antes de se tornarem sérios, e têm as informações necessárias na ponta dos dedos para tomar boas decisões, que por vezes podem economizar milhões de dólares à GE. A questão da personalização é importante, pois fornecer aos clientes experiências de marcas personalizadas individualmente é o santo graal do marketing e com a IA, essa personalização pode ser alcançada com precisão inimaginável e em larga escala.

É de pensar como o serviço de “streaming” de música “Pandora” usa algoritmos de IA para criar listas de reprodução personalizadas para cada um dos seus milhões de utilizadores de acordo com suas preferências em músicas, artistas e géneros, ou se considerarmos a “Starbucks”, que, com a permissão dos clientes, usa a IA para reconhecer os seus dispositivos móveis, e ter acesso ao seu histórico de pedidos para ajudar a fazer recomendações de serviços. A tecnologia da IA ​​faz melhor, analisando e processando grandes quantidades de dados para recomendar certas ofertas ou acções, que não é possível ao ser humano, A “Carnival Corporation”, é a maior empresa de viagens de lazer do mundo, que oferece aos viajantes férias extraordinárias com um valor excepcional, com uma frota de cento e dois navios que visitam mais de setecentos portos em todo o mundo, e está a aplicar a IA para personalizar a experiência de cruzeiro para milhões de turistas, através de um dispositivo “wearable” chamado “Ocean Medallion” e uma rede que permite que dispositivos inteligentes se conectem.

A máquina processa dinamicamente os dados que fluem do medalhão e dos sensores e sistemas em todo o navio, para ajudar os hóspedes a tirar o máximo proveito das suas férias. O medalhão agiliza os processos de embarque e desembarque, rastreia as actividades dos hóspedes, simplifica a compra conectando os seus cartões de crédito ao dispositivo, e actua como uma chave, como também se conecta a um sistema que antecipa as preferências dos hóspedes, ajudando os membros da equipa a oferecer um serviço personalizado a cada hóspede, sugerindo roteiros personalizados de actividades e experiências gastronómicas.

A questão da necessidade de novas tarefas e talentos, passa por re-imaginar um processo de negócios que envolve mais do que a implementação da tecnologia da IA; também requer um compromisso significativo para desenvolver trabalhadores com habilidades de fusão, ou seja os que permitem que se trabalhe efectivamente no sistema de comunicação homem-máquina. As pessoas, para começar, devem aprender a delegar tarefas à nova tecnologia, como os médicos confiam nos computadores para ajudar na leitura de raios X e ressonância magnética. Os trabalhadores também devem saber combinar as suas habilidades humanas distintas, com as de uma máquina inteligente para obter um resultado melhor do que qualquer um poderia alcançar só, como na cirurgia assistida por robô.

Os trabalhadores devem ser capazes de ensinar novas habilidades aos agentes inteligentes e passar por formação para trabalhar bem nos processos aprimorados por IA. Assim, por exemplo, devem saber a melhor forma de formular perguntas a um agente de IA para obter as informações de que precisam. É de esperar que, no futuro, as funções da empresa sejam redesenhadas ao redor dos resultados desejados dos processos reinventados, e as empresas sejam cada vez mais organizadas ao redor de diferentes tipos de habilidades, e não à volta de dísticos de trabalho rígidos. A “AT&T” iniciou essa transição ao mudar de serviços de rede telefónica fixa para redes móveis e começa a treinar cem mil trabalhadores para novas colocações.

A empresa, como parte desse esforço, reformulou completamente seu organograma, e aproximadamente, dois mil empregos foram simplificados em um número muito menor de categorias abrangentes, englobando habilidades similares. Algumas dessas habilidades são o que se pode esperar (por exemplo, proficiência em ciência e disputas de dados), enquanto outras são menos óbvias (por exemplo, a capacidade de usar ferramentas simples de aprendizagem da máquina para serviços de venda cruzada). A maioria das actividades no sistema de comunicação homem-máquina, exige que as pessoas façam coisas novas e diferentes (como treinar um “chatbot”) e façam de forma diferente (usar esse “chatbot” para fornecer um melhor atendimento ao cliente).

Actualmente, apenas um pequeno número de empresas começou a re-imaginar os seus processos de negócios para optimizar a inteligência colaborativa. Mas a lição é clara, pois as organizações que usam máquinas, apenas para deslocar trabalhadores através da automação perderão todo o potencial da IA. Tal estratégia é mal orientada desde o início. Os líderes de amanhã serão aqueles que abracem a inteligência colaborativa, transformando as suas operações, mercados, indústrias e a força de trabalho.

13 Jul 2018

Comércio | Batalha tecnológica com os EUA prossegue a todo o vapor

As autoridades norte-americanas afirmaram ontem que vão permitir à gigante de telecomunicações chinesa ZTE que retome alguns dos seus negócios nos Estados Unidos. Por seu lado, um tribunal chinês proibiu a empresa norte-americana Micron Technology de vender 26 tipos de chips no país

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] anúncio do Departamento de Comércio norte-americano faz parte de um acordo no qual a ZTE teve de pagar uma multa de mil milhões de dólares (860 milhões de euros) e substituir os seus executivos, depois de ter proibido as exportações de componentes destinados ao grupo.

Com sede em Shenzhen, no sul da China, a ZTE é responsável pelo desenvolvimento da infra-estrutura 5G no país asiático e umas das maiores fabricantes de ‘smartphones’ do mundo, mas depende de tecnologia norte-americana, como microchips e o sistema operacional Android.

A empresa chinesa pode a partir de agora fazer negócios com empresas norte-americanas, conseguindo assim assegurar o fabrico de telemóveis e dispositivos de segurança.

Em Abril passado, A ZTE suspendeu a maior parte das suas operações, face à decisão de Washington de proibir as exportações de componentes para a empresa, devido a declarações fraudulentas num inquérito sobre a investigação ao embargo imposto ao Irão e à Coreia do Norte.

A empresa paga a fornecedores norte-americanos cerca de 1,8 mil milhões de dólares anualmente.

A suspensão, em Abril, surgiu numa altura de crescentes disputas comerciais entre Pequim e Washington, suscitadas pela ambição chinesa no sector tecnológico. Washington acusou Pequim de obrigar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia em troca de acesso ao mercado chinês e ameaçou subir os impostos sobre 90 por cento das exportações chinesas para o país.

Macro-problema

Um tribunal chinês proibiu a empresa norte-americana Micron Technology de vender 26 tipos de chips no país, devido à infracção de patentes denunciada pela sua competidora taiwanesa United Microelectronis Corp (UMC), anunciou ontem a última.

A UMC, o segundo maior fabricante mundial de semicondutores, apresentou em Janeiro queixa conta as filiais da Micron na China por violação dos direitos de patentes dos seus chips DRAM (Memória Dinâmica de Acesso Aleatório) e de memória flash NAND.

Segundo um comunicado emitido ontem pela empresa, o Tribunal Popular Intermédio de Fuzhou, na província de Fujian, proibiu a Micron de vender aqueles dois produtos na China.

A firma norte-americana, cuja parte importante das receitas é oriunda da China, afirmou em comunicado que não recebeu “a ordem judicial preliminar mencionada nas declarações emitidas pela UMC” e que não faz comentários até receber o documento. Em Dezembro passado, a Micron processou a UMC nos EUA por violação dos direitos de propriedade intelectual dos seus chips DRAM.

O caso ocorre numa altura de crescentes disputas comerciais entre Pequim e Washington, suscitadas pela ambição chinesa no sector tecnológico.

5 Jul 2018

Pedro Rocha Vieira, CEO e fundador da Beta-i, empresa ligada a startups: “Macau não pode parar no tempo”

Filho do último governador português de Macau, Pedro Rocha Vieira é hoje CEO da Beta-i, uma empresa que ajuda startups a procurar investimento dentro e fora de Portugal. Macau está nos seus planos e os primeiros protocolos serão assinados este mês. Pedro Rocha Vieira viveu em Macau na década de 90 e entende que as empresas portuguesas não souberam, na altura, explorar as oportunidades deste lado do mundo

[dropcap]É[/dropcap] CEO da Beta-i, uma empresa ligada ao empreendedorismo e startups. Como começou este projecto?
A Beta-i nasce enquanto associação sem fins lucrativos, no pico da crise em Portugal, em 2009. Tínhamos o objectivo de trazer para Lisboa uma nova cultura de empreendedorismo e para capacitar as futuras gerações de empreendedores. Acreditámos que Portugal, e sobretudo Lisboa, tinha um potencial enorme para ser um hub de inovação e de startups a nível global, porque tem talento, boa qualidade de vida. Fomos responsáveis pela construção da grande parte do ecossistema do empreendedorismo em Lisboa, que incluem as startups de tecnologia e com maior ligação e capital internacionais. Começámos por fazer eventos, programas de capacitação de empreendedores, e depois criámos um programa emblemático, que foi o Lisbon Challenge, para empresas de todo o mundo que ainda estão a adaptar o seu produto ao mercado, precisam de acertar a sua estratégia. Fomos contribuindo para a criação de uma cultura de investimento, porque não havia muitos investidores internacionais, sobretudo que investissem na fase de capital de risco. Existiam investidores ligados a um modelo mais tradicional e contribuímos para uma nova mentalidade de investimento. Evoluímos para uma sociedade de capital de risco, e esse é, hoje em dia, o nosso maior negócio. A Beta-i é hoje uma empresa gerida por quatro sócios e este ano fundimo-nos com uma outra empresa, uma boutique de inovação, e somos oito sócios. 

Quais os principais projectos da Beta-i depois dessa fusão?
Sentimos que aquilo que estava a acontecer nas startups, ao nível do capital de risco, tinha um impacto nas grandes empresas. Hoje em dia todas as indústrias estão a passar para o digital e a Beta-i é um forte parceiro no processo de transformação das grandes empresas, desde ajudar a definir estratégias de inovação, capacitá-las com ferramentas de empreendedorismo e ajudamos a executar estratégias. Trouxemos muita da experiência que tínhamos com as startups. O nosso maior foco é a inovação aberta, pois, por um lado, as startups precisam de grandes empresas para entrar no mercado e para acelerar a sua inovação. Estamos a começar a fazer projectos globais com uma empresa de Hong Kong, a Fosun e o Hospital da Luz, por exemplo. Temos feito um trabalho muito forte nas grandes empresas e sentimos que um dos maiores desafios tem a ver com a mentalidade das pessoas dentro e fora das organizações. Temos programas de capacitação de empreendedores dentro das universidades, através de parcerias e estamos a apostar em escolas de Verão para crianças. Também temos uma ligação forte em termos internacionais. Há muito tempo que estamos em contacto com a China e acho que Macau pode ter um papel importante na ligação do mercado chinês e acho que Macau pode ter um papel importante na ligações com os países de língua portuguesa.

Macau, mais do que a oportunidade, tem a capacidade de aderir ao digital e às novas tendências de empreendedorismo?
Tem e não tem. Por um lado, Macau tem um grande desafio porque é um território muito dependente de poucas indústrias, tal como o jogo, o turismo e imobiliário. São indústrias que dão muito dinheiro, e também tem uma Administração Pública muito forte. A maior parte do talento e dos investidores estão nessas indústrias, e o custo de se fazer outras coisas é muito alto. O incentivo para diversificar é muito baixo, o que faz com que seja muito difícil criar oportunidade e interesse nos jovens empreendedores, ou potenciais, para explorarem outro tipo de negócio. Numa fase de capital de risco, os investidores vão, muito provavelmente, optar por investir em negócios mais tradicionais. Tenho acompanhado a evolução nos últimos anos e há uma vontade política para a diversificação e uma visão de estratégia mais alargada da presença do território no delta do rio das pérolas e a relação que Macau possa ter com os países de língua portuguesa nos próximos anos, dada a inauguração da nova ponte e uma maior interligação ao nível dos transportes. Há dinheiro para investir no digital e na tecnologia, o Governo de Macau pode investir em projectos de cidades inteligentes e na estruturação da maior parte das áreas. Acima de tudo, é preciso fazer um trabalho para atrair investimento e empreendedores para essa região e de articulação de Macau com as restantes cidades na região. O secretário Lionel Leong [da tutela da Economia e Finanças] tem uma visão para esta área. Mas há muitos tipos de empreendedorismo. Pareceu-me que está muito ligado ao turismo, e com negócios que podem ser apenas locais, e também ligado às indústrias criativas. Também há coisas novas que se podem explorar, e é uma aposta que Macau quer fazer, na área da saúde e das cidades inteligentes. Tenho visto uma mudança muito grande.

Viveu em Macau e o seu pai [Vasco Rocha Vieira] foi o último governador português de Macau. Havia apenas a Universidade da Ásia Oriental e agora há mais oferta educativa. A pouca aposta no ensino superior nas décadas de 80 e 90 poderão ter influenciado este atraso que Macau ainda tem no sector empresarial, em comparação com Hong Kong?
Pelo que sei, houve uma aposta muito forte para que Macau tivesse algumas bases. Hong Kong tem mais universidades mas tem uma dinâmica completamente diferente, com maior presença do sector privado. Muito do que existiu ao nível do ensino superior até foi uma aposta de Portugal, mas é difícil criar projectos de longo prazo. Foi feita uma aposta em torno do Direito, protocolos com a Universidade Católica Portuguesa, Universidade de Coimbra. Na altura, a realidade da região era completamente diferente e a China teve uma enorme mudança nos últimos anos. Os jovens que queriam estudar iam para fora, onde havia boas universidades, e as pessoas de Macau são bem formadas. Ao nível do ensino superior são precisas estratégias de longo prazo e acho que muito se fez na altura. Diria que não há falta de qualificações nas pessoas da minha geração. O liceu de Macau, onde estudei, era muito bom. Mas houve uma evolução enorme em todo o ensino superior na Ásia, hoje muitas universidades da China estão nos rankings mundiais. Tem mais a ver com a cultura e não com a educação, pois trata-se de um território pequeno. O meu pai tinha uma grande preocupação quanto à falta de espaço, pois nem havia terrenos para construir universidades. Estava tudo planeado, mas não houve tempo dentro da Administração portuguesa. Mas sei que era uma preocupação muito grande.

Há projectos específicos que a Beta-i esteja a preparar com Macau?
Vai haver uma delegação de Macau e China em Portugal no final deste mês [Maio], e o objectivo é estreitar relações entre Portugal e Macau. Vão ser assinados alguns protocolos e o objectivo é criar aqui ângulos de cooperação. Há alguns projectos que estão a ser trabalhados, mas é um bocado cedo para os revelar. O que se pretende é que, no final do mês, comecem a ser assinados os primeiros protocolos para que comece a ser feita uma maior ligação entre a Beta-i e Macau, com organizações locais.

A Beta-i organiza também o evento Lisbon Investment Summit. As empresas de Macau poderão vir a participar?
Sim, e penso que a Websummit, que não é organizada por nós, também é um óptimo evento para que Macau conheça o que se está a fazer nesta área. Não foi só Macau que mudou muito, Portugal também. Perceber esta nova dinâmica é muito interessante.

O que é preciso melhorar nas relações entre a China e Portugal? Parece que há ainda algumas diferenças para resolver. É preciso que as empresas portuguesas percebam melhor o contexto chinês, e vice-versa?
Claro. Há certas coisas que demoram tempo. Acho que Portugal fez um erro. Durante a Administração portuguesa foi feito um esforço para mostrar aos empresários portugueses o potencial que a China e Macau tinham. Houve pouco aproveitamento, e mesmo no contexto dos países de língua portuguesa, acho que as empresas portuguesas sempre tiveram um pouco de costas voltadas para a China, não perceberam o valor e não perceberam o que é preciso fazer. Não há uma via verde e não basta pensar que Macau era território português e que, com isso, as portas abrem-se. É preciso trabalhar muito e a China hoje em dia é um mercado super complexo, muito competitivo e de difícil entrada. Está a abrir mais, e da experiência que tenho tido com o contacto com a China é que existe uma maior abertura para novos produtos, novos contactos e parcerias. Macau não pode ficar parada no tempo e os portugueses têm de perceber que podem explorar muito mais o mercado chinês, e que, dadas as afinidades culturais, podem usar Macau para isso. São importantes as relações institucionais e o Governo chinês tem mandado mensagens muito claras que Macau tem esta importância para as relações com os países de língua portuguesa e Portugal, sobre a diversificação do território e quanto à nova posição da China sobre a política “Uma Faixa, Uma Rota”. O que é preciso é que isto passe para o nível dos empresários e não fique apenas na política. Há o enquadramento e Macau tem vantagens e desvantagens. Se calhar para muita gente é mais fácil ir directamente à China do que estar a ir para Macau.

Acabou por enveredar pela área dos negócios. Nunca pensou seguir os passos do seu pai, numa carreira como militar ou na política?
(Risos) Militar, de todo. Política, acho que o meu pai foi sempre um político atípico e foi mais chamado para desafios de Estado, não um político. Foi chamado para desafios que assumiu com responsabilidade e com sentido de Estado. Hoje em dia, vejo que ao ter criado uma associação, a minha forma de estar no mundo, de dever cívico, foi fazer algo que tenha impacto. Penso que ao criar a Beta-i contribui para uma mudança no meu país e na minha geração. Penso que há muitas formas de ter impacto na sociedade e a minha foi esta, mas nunca se sabe o que há-de acontecer. Comecei na banca, mas depois percebi que não estava talhado para isso.

1 Jun 2018

A China e a inovação (II)

“China’s innovative ability languished after the fourteenth century. Today, however, China is determined not only to catch up with the West, but to re-establish itself at the forefront of technological innovation. Two forces are driving the surge of Chinese innovation. One is based on need-China’s pressing need to solve the myriad domestic problems that rapid economic development has created. The other is based on a new strategic direction for Chinese corporations: to enter high-value, high-margin sectors that are internationally competitive and where they will be matching global corporations, innovation for innovation. Much of this recent drive is through mergers with and acquisitions of successful Western firms that were made to gain brands, technology, and markets”
“China’s Next Strategic Advantage: From Imitation to Innovation” – George S. Yip and Bruce McKern

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] sucesso do sítio de leilões, “Taobao”, acabou por forçar o “eBay” a sair da China. Se analisarmos o “Baidu”, líder de mecanismos de busca chinês, que cresceu maciçamente no mercado doméstico com uma oferta que não fractura nenhum campo tecnológico e não desafia a ortodoxia política e adaptou o seu produto, organização e processos às necessidades da manta de retalhos chinesa dos mercados regionais.

O “Baidu” tem uma procura de 80 por cento, tendo-se tornado no maior motor de busca do mundo. Assim como o Japão alcançou os Estados Unidos tecnologicamente em muitas indústrias durante as três décadas após a II Guerra Mundial, a China está a fazer o mesmo através de inovações. Adaptar a tecnologia tornou-se uma prática padrão e altamente lucrativa. Obter essa tecnologia por meio de aquisições, no entanto, é uma nova tendência importante.

A escrita tem sido volumosa sobre a actual onda de investimentos directos estrangeiros no exterior, a maioria dos quais se concentrou em recursos de matérias-primas, particularmente na África e na América Latina. A mudança para os Estados Unidos e Europa pela tecnologia, no entanto, não é menos significativa. As empresas chinesas cansadas de pagar taxas de licenciamento, marcas e patentes, têm cada vez mais, e com o incentivo do governo, tentado comprar, em vez de alugar, capacidades revolucionárias de inovação por meio da aquisição de tecnologia e talento. Se observarmos o caso da “Huawei” que é retratada como a maior empresa da qual nunca se ouviu falar, que engloba centros de P&D em todo o mundo, e as controvérsias geradas sobre as suas tentativas de aquisição nos Estados Unidos. A “Haier” é uma das principais fabricantes chinesas de electrodomésticos e electroelectrónicos, possui uma rede similarmente ampla de centros globais de projecto e P&D nos Estados Unidos, Japão, Coreia, Itália, Holanda e Alemanha. Para os fabricantes de automóveis chineses, Turim é o lugar para se localizar, com os centros de P&D operacionais em Zhuhai, Changchun e Changan.

As correntes culturais anti-ocidentais podem ser fortes domésticamente, mas empresas chinesas privadas que operam no exterior adoptaram talentos seniores locais. A “Huawei” tem contratado os melhores executivos estrangeiros americanos e ingleses para liderar os esforços de P&D nos Estados Unidos e supervisionar todo o orçamento e operações. Todos estão subordinados ao fundador e presidente da “Huawei”, um ex-oficial militar chinês. A fabricante de turbinas “Goldwind”, de igual forma contratou executivos de créditos firmados no campo de energia limpa, para representar a empresa nas suas operações nos Estados Unidos. A fabricante de máquinas “Sany”, cujos principais concorrentes internacionais incluem a “Caterpillar” e a “Komatsu”, tentou inicialmente ter sucesso nos mercados europeu e americano, contando com talentos e tecnologia locais. Mas alguns passos errados encorajaram a empresa a estabelecer centros de P&D intimamente ligados à sede regional europeia e americana e a contratar profissionais desses países.

A aquisição pela “Sany” da “Putzmeister”, líder na fabricação de bombas de cimento da Alemanha, em 2012, deu à empresa acesso à tecnologia de um único concorrente. Vemos as empresas chinesas a fazer um esforço concertado e eficaz para preencher grandes lacunas na sua capacidade de inovação por meio de aquisições e parcerias estrangeiras cada vez mais difundidas. Ainda assim, para se tornar uma força líder de inovação no século XXI, os chineses precisam de alimentar os inovadores do futuro. Esse é o trabalho das universidades chinesas. Na primeira metade do século XX, a China desenvolveu fortes instituições estatais como a “Universidade de Pequim”, “Universidade Jiao Tong”, “Universidade Nacional Central” e, no apogeu da pesquisa, a “Academia Sinica” que foram acompanhadas por um conjunto criativo de faculdades e universidades privadas.

Actualmente, as faculdades e universidades particulares são responsáveis ​​por mais de um quarto de todas as instituições de ensino superior na China, e estão a crescer mais rapidamente que as públicas. As grandes empresas também estão a envolver-se. A unidade “Taobao” do “Alibaba”, por exemplo, estabeleceu a “Universidade Taobao”, inicialmente para treinar proprietários de “e-business”, gestores e vendedores e com o tempo, oferecerá educação de negócios para mais de um milhão de estudantes “on-line”. A China em breve obterá mais “PhDs”, a cada ano do que qualquer outro país do mundo, dado que as universidades chinesas pretendem ser berços de pesquisa e forças criativas de alto nível, capazes de transformar pesquisa e inovação em maior produtividade. O governo chinês e muitas outras fontes estão a injectar enormes receitas nas principais instituições. Dentro de dez anos, os orçamentos de pesquisa das universidades de elite da China aproximar-se-ão das suas congéneres americanas e europeias, e em engenharia e ciências, as universidades chinesas estarão entre os líderes mundiais.

Será que as universidades chinesas estabelecerão padrões globais no século XXI? É possível (mesmo que nenhuma actualmente esteja na lista das cinquenta melhores a nível mundial) simplesmente por causa dos recursos que provavelmente terão. Mas a questão mais importante é se a China tem um bom quadro institucional para a inovação. A resposta é que a muito curto prazo terão. A independência de procurar ideias onde quer que possam levar é uma pré-condição para a inovação nas universidades. Mas, por qualquer medida comparativa, os membros do corpo docente nas instituições chinesas terão maior poder na sua governança. Tal como na indústria, na educação, a China pode desfrutar por algum tempo daquilo que Joseph Schumpeter chamou de vantagem inicial que é a capacidade de aprender e melhorar o trabalho dos seus antecessores imediatos. A China mostrou inovação através da adaptação criativa nas últimas décadas e agora tem capacidade para fazer muito mais. A China terá a sabedoria para aliviar e a paciência para permitir o surgimento pleno do que Schumpeter chamou de verdadeiro espírito de empreendedorismo? Sobre isso, não há que ter dúvidas.

[primeira parte]

3 Mai 2018

Das consequências da tecnologia

[dropcap]V[/dropcap]ivemos numa época em que a tecnologia impera. Até os mais analógicos – por militância ou desconhecimento – têm presença em uma ou mais redes sociais. Aqueles que prescindem de imprimir uma marca online são uma excepção. Mas muitos daqueles que abraçaram a internet na sua tentacularidade social não nasceram nela. Fazem parte de uma ou mais gerações de transição que, com maior ou menor dificuldade, embarcaram com o comboio em andamento. E, por vezes, nota-se.

Há dias, no Facebook, alguém partilhara uma publicação na qual se dizia que caso o utilizador escrevesse “BFF” nos comentários, ficaria a saber se os dados tinham sido partilhados pelo Facebook. Se a cor do texto do comentário mudasse de preto para verde era sinal de que os dados do utilizador em causa tinham sido partilhados de forma abusiva.

O código do Facebook é constantemente actualizado; corrigem-se bugs, retiram-se e adicionam funcionalidades e implementam-se mudanças mais ou menos perceptíveis. Uma das coisas que recentemente mudou é a resposta do algoritmo a um comentário que o Facebook consegue “ler”. Por exemplo, quando escrevemos “parabéns”, o Facebook interpreta a palavra, esta fica com uma cor alaranjada e pipocam no ecrã uma série de animações que sugerem festividade. “Bff”, por outra parte, fica verde. A cor que significaria “positivo” para a partilha indevida de dados pessoais, de acordo com o exemplo supra-citado. Uma pequena modificação no código explorada para o humor. Podia ter sido pior.

Uma amiga minha, livreira, confessava-me no outro dia ter apanhado um susto tão desnecessário como embaraçoso. Pesquisando pela livraria na qual trabalha, no Google, deu conta de que este dizia que a loja “encerrava brevemente”. Assustada, ligou para o chefe e dono do espaço: “mas nós vamos fechar? Passa-se algo que não me tenhas contado? Devo procurar trabalho?” O chefe, ainda mais iletrado nas coisas da informática, mostrou-se surpreendido e assegurou ter as contas em dia. “Não tenho planos de fechar isto, vê lá o que consegues saber junto desses tipos.”

Essa minha amiga passou algumas horas só para encontrar o endereço electrónico para o qual devem ser encaminhadas as reclamações. Escreveu uma missiva entre o indignado e o violento e remeteu-a nervosa, esperando que o Google foste lesto a desfazer o equívoco. Os clientes e potenciais clientes podiam ser induzidos em erro, o que seria fatal para o negócio.

Passados cerca de dois dias e alguma ansiedade, alguém lhe perguntou, num almoço com amigos, a que horas ela tinha feito a pesquisa. “Pelas 18:30”, respondeu. “Então é normal que o motor de busca tenha dado a informação de que encerravam brevemente. Fecham às 19, não é?” Fez-se subitamente luz e, verdade seja dita, uma dose considerável de vergonha. O Google, afinal, não fazia parte de uma conspiração de uma qualquer livraria vizinha para desacreditar a dela.

Um dia, já ninguém terá tido uma infância analógica. Até lá, a nossa ignorância informática confere-nos um certo charme e municia-nos de histórias interessantes para jantares com amigos.

23 Abr 2018

GP de Macau pode ter demonstração de carros autónomos já para o ano

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Grande Prémio de Macau do próximo ano pode vir a receber uma demonstração de carros de competição autónomos. A ideia foi deixada ontem ao HM pelo CEO da Roborace, e também piloto da modalidade GT pela Audi, Lucas Di Grassi.

Para o piloto “os carros autónomos são o futuro do transporte comercial e faz sentido termos uma área dos desportos motorizados dedicada a este sector”.

Neste momento já estão em andamento as negociações para trazer uma demonstração de competição de carros autónomos a ter lugar no Grande Prémio do próximo ano. “Uma das acções dos desportos motorizados na área dos carros autónomos é trazer uma demonstração já no próximo ano ao circuito do Grande Pémio de Macau”, afirmou o piloto.

No entanto a popularidade dos carros que não precisam de pilotos para andar não entra em confronto com os actuais desportos motorizados, considera Lucas di Grassi.

“Não é porque existem carros que não há as corridas de cavalo. Mas os carros autónomos vão ser uma realidade e que precisa de ser demonstrada em condições extremas e só a área dos desportos motorizados pode proporcionar isso”, explica.

O piloto brasileiro falou ao HM depois da primeira sessão de treinos livres em que se estreia ao volante de um Audi R8 LMS GT3 e em que ficou no 16º lugar. O resultado modesto pode estar associado à mudança de carro. “Não foi bom mas faz parte. Aqui em Macau temos de arriscar, mas acho que vou melhorar e ainda temos mais duas sessões de preparação para o fazer.”

Depois de ter corrido de Ferrari no Circuito da Guia, o piloto oficial da Audi está confiante que irá melhorar durante o fim-de-semana. “Estou contente com o progresso e acho que vamos estar bem nas próximas sessões”, referiu ao HM.

O regresso a Macau representa sempre o voltar a uma das pistas mais desafiantes do mundo. Para o piloto brasileiro, o território “tem uma pista muito longa e que combina tudo desde as altas velocidades com o circuito de rua, à montanha que é muito difícil. É também uma das pistas mais difíceis do mundo e por isso todos os pilotos gostam de passar por aqui”.

Também campeão de Fórmula E, o vencedor do GP Macau 2005 em F3 acha ainda que há lugar para introduzir a modalidade que integra carros eléctricos. “Poderia fazer-se aqui o circuito de fórmula E duas semanas antes de Hong Kong e poderiam existir as duas provas. A pista já existe e seria só avançar com a prova”, sugere.

16 Nov 2017

Don’t be evil

[dropcap style≠’circle’]”D[/dropcap]Don’t be evil” foi o moto oficial do Google desde o ano 2000 até ser substituído, em 2015, por “Do the right thing”. A ideia, originalmente, era a de separar a Google das outras empresas tecnológicas que incorriam em práticas, por vezes pouco transparentes, através das quais acabavam por retirar do contrato com o consumidor muito mais do que aquilo que tinha sido acordado. Era possível, segundo o Google de então, fazer dinheiro sem se ser desonesto. Mais: era possível fazer dinheiro sendo ético.

A maioridade trouxe ao Google, para além de lucros incontáveis e de um monopólio no domínio dos motores de busca, alguns percalços e dores de crescimento. Tendo em conta que os proveitos da empresa advêm quase inteiramente da publicidade online, não parece difícil perceber a tentação a que ao Google sucumbiu: a de guardar todos os dados possíveis relativos aos utilizadores para lhes poder devolver o anúncio mais personalizado. O “don’t be evil” tornou-se muito depressa um fardo para a empresa e um motivo de chacota para os internautas, cada vez mais preocupados com a privacidade.

Há cerca de uma semana, um empregado do Google escreveu um memo através da qual tenta explicar a razão pela qual há poucas mulheres nas áreas tecnológicas. Diz ele, grosso modo, que tal se deve à diferença de competências inerentes a cada um dos géneros. Os homens, mais assertivos, menos sociais e mais resistentes à ansiedade que subjaz aos confrontos, têm características inatas que jogam a favor deles. As mulheres, evidentemente, o contrário. Ao que parece, no Google existe um espaço assaz vasto para a discussão política: como em qualquer empresa de vanguarda, é fomentada a troca aberta de ideias entre trabalhadores, seja por mail, bulletin board ou chat. Se no século passado, o da linha de montagem, a ideia de empresa era a de um mecanismo perfeitamente oleado para o qual cada empregado concorria sob a forma de engrenagem, no séc. XXI, sobretudo na área da tecnologia e dos serviços, os trabalhadores tendem a ser vistos como células neuronais cuja criatividade converge na formulação de uma ideia inovadora. Daí dar-lhes liberdade de pensamento e voz para se exprimirem.

E, no entanto, este empregado, foi despedido. Não sei das suas intenções na escrita do memorando supracitado. Não sei sequer se estava fundado sobre argumentos sólidos e coerentes. Sei que era uma pessoa com uma ideia muito pouco original, radical ou mesmo nociva sobre um assunto que está longe de ser consensual ou de estar decidido: as diferenças entre homens e mulheres. Não negou o holocausto, não defendeu a criminalização da apostasia, não contraiu matrimónio com uma iguana indefesa. Limitou-se a tentar explicar a razão pela qual as mulheres não têm a representatividade que os homens têm nas indústrias tecnológicas. Podia não ter razão ou estar apenas mal informado. Tal não evitou ter sido liminarmente afastado da empresa. E o despedimento deveu-se, em grande parte, à pressão que muitos dos trabalhadores do Google, que pensam de forma distinta, exerceram sobre a empresa por via da comunicação social.

Ora se há alguma lição a tirar das últimas décadas de desenvolvimento das ciências sociais, esta prende-se precisamente com a natureza volátil das suas conclusões. Não há posições “científicas”, i.e., objectivamente mensuráveis, sobre as questões da identidade sexual ou de género. Há aproximações, tentativas e erros, orientações políticas, sociais e, em última análise, morais. Ora transformar uma posição política numa evidência científica, para além de conduzir inevitavelmente ao silenciamento de quem poderia acrescentar algum valor à discussão, é, sobretudo, impor uma forma muito selectiva e estreita de pluralidade de opinião: a nossa.

14 Ago 2017

O terrorrismo cibernético

“Organizations employing terrorism have also brought materials which in the past could only be distributed clandestinely and often with much danger to the attention of not only current members but future recruits and anyone else who might “benefit” from the destructive capabilities which are taught. Thus, training videos featuring instructions on how to build explosive devices and prepare gunpowder have recently appeared on several Web sites regularly used by militant Islamic groups. These sites also feature tips on money laundering and many other organizational needs.”
“Cyber terrorism: a clear and present danger, the sum of all fears, breaking point or patriot games?” – Michael Stohl

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] tema de capital importância na agenda mundial diária o exame crítico das estratégias de recrutamento e propaganda “on-line” de organizações terroristas, a sua evolução, razões para o seu apelo e respostas governamentais destinadas a combatê-las. Os estudos mundiais que têm sido efectuados apresentam uma metodologia de resposta táctica que pode aumentar as estratégias actuais destinadas a contornar o extremismo “on-line”.  As organizações terroristas aproveitam-se cada vez mais da oportunidade, proporcionada pelo rápido surgimento de novas tecnologias da Internet, para explorar os sentimentos anti-ocidentais entre os muçulmanos em massa e, consequentemente, acelerar as suas estratégias de recrutamento “on-line” e de disseminação em massa da sua propaganda ideológica.

Além disso, esses programas governamentais, até ao momento, não foram adeptos da luta contra esse fenómeno crescente. Ao examinar a literatura académica actual sobre propaganda e recrutamento de terroristas “on-line”, a sua evolução, atracção motivacional e como os governos procuraram lidar com o problema, pode-se perceber uma imagem mais clara sobre o porquê do aumento e o que pode ser feito para atenuar. Após o exame, os avanços tecnológicos e a inovação na “web” foram estimulados no crescimento da propaganda e recrutamento de terroristas “on-line”, alimentados por longas e existentes queixas não resolvidas em segmentos da comunidade islâmica.

A facilidade de acesso e o anonimato oferecidos pelas tecnologias “on-line” permite ver os grupos terroristas mais facilmente, e sem medo de captura, explorar esses sentimentos de injustiça utilizando o ambiente “on-line”. Os programas governamentais destinados a combater essa ameaça “on-line” mostraram eficácia nominal e uma abordagem mais pró-activa que utiliza intervenções lideradas por serviços de segurança que pode ser um benefício adicional.A evolução das estratégias de recrutamento e propaganda da organização terrorista “on-line”, necessária em resposta a uma maior securitização, ocorreu paralelamente à mudança tecnológica. Historicamente, o alcance das estratégias de recrutamento e propaganda de terroristas foi tecnicamente e geograficamente restringida.

A atenção audiovisual e de média impressa forneceu exposição limitada a representações subjectivas da sua causa. Na década de 1990, deu-se  a ascensão da “Al Qaeda”, que ampliou o alcance do terrorismo para além da média ocidental tradicional, aproveitando as simpatizantes fontes jornalísticas do Médio Oriente. No final da década de 1990, as organizações terroristas começaram a aproveitar as novas tecnologias da Internet para fins de angariação de fundos e publicidade. Esta média proporcionou maior autonomia em relação ao conteúdo da mensagem e à segmentação do público. A Internet, em 1999, tornou-se a arena principal para a disseminação da propaganda jiadista. Após os atentados de 11 de Setembro de 2001, a “Al Qaeda” diversificou-se, fornecendo traduções multilingues da sua propaganda “on-line”.

Após a invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos, uma “Al Qaeda” desmoralizada alterou a sua mensagem. Os adeptos estrangeiros foram  chamados a fazer a jihad nos seus países de origem com o treinamento metodológico fornecido através de canais terroristas “on-line”. Em 2005, quarenta organizações terroristas mantiveram uma presença “on-line”, envolvendo mais de quatro mil e quinhentos sítios e o advento do “YouTube” permitiu a disseminação mundial de propaganda audiovisual profissional e de vídeos comerciais. A década de 2000 viu um novo meio para a distribuição da propaganda terrorista, através do advento das médias sociais.

Ao contrário das tecnologias da “web 1.0”, as médias sociais permitiram entre os terroristas e o seu público, a capacidade de abordar recrutas demograficamente. Esta profissionalização aumentou a sua capacidade de recrutar e disseminar propaganda de forma anteriormente apenas disponível para os estados-nação. A radicalização tornou-se mais uma atracção do que um jogo de empurrão, resultando em uma explosão no número de novos adeptos que se reúnem para causas terroristas “on-line”. A ascensão do Estado Islâmico (IS na sigla inlesa) após 2010 continuou este impulso de profissionalização da média, ampliando ainda mais o alcance da mensagem terrorista e aumentando o recrutamento no Médio Oriente e em todo o mundo. Em primeiro lugar, assumindo o ponto de vista da organização terrorista, há um grande apelo na utilização de meios de comunicação “on-line” para a disseminação de mensagens de propaganda e para fins de recrutamento.

A tecnologia da nova média resultou em ofertas de causa “on-line” de procura profissional, que se enquadram na capacidade das organizações com conjuntos de habilidades e recursos orçamentais mínimos. Além disso, altos níveis de anonimato, deslocalização e transportabilidade de sitíos são oferecidos pela publicação “on-line”, permitindo assim um menor risco de evasão ou apreensão por parte das autoridades policiais. Em segundo lugar, a simplicidade de aceder a recursos e grupos “on-line” torna este mundo, em um ambiente atraente e nutritivo, através do qual participar de uma causa terrorista ou explorar ideologias terroristas sem as ásperas ramificações do envolvimento físico real. A estratégia do terrorista envolve a prestação de uma participação auto-estimada que pode gradualmente levar a uma radicalização posterior em grande escala.

Através da exploração de alguns sentimentos amplamente mantidos, como o sentimento de discriminação religiosa e vitimização por potências ocidentais que existe entre alguns povos islâmicos, os potenciais recrutas estão progressivamente expostos ao doutrinamento e ao envolvimento organizacional. Um crescente senso de interconexão com outros recrutas e membros da organização, é cultivado em uma experiência “on-line” evidentemente segura. O grupo terrorista mais importante actualmente, o IS, utiliza estratégias de mídia “on-line” como  sua principal ferramenta de propaganda e recrutamento. O IS procura divulgar propaganda de média carregada emocionalmente, que atrai uma ampla gama de grupos de pessoas, tipos de personalidade, afiliações sectárias e motivações políticas. Atrás ficaram os dias de simples apelos ideológicos, baseados em uma mensagem unipolar consistente. A abordagem do IS não é complexa de discernir.

Trata de atrair recrutas para a causa usando mensagens motivacionais e, em seguida, doutriná-los para estabelecer pela força um califado islâmico de um califa recentemente abatido. Dado o poder significativo de atracção que as organizações terroristas modernas adquiriram através do seu uso rígido da média “on-line”, é claro que é necessário um grande esforço para conter o crescimento da sua radical presença.Também deve ser percebido que este esforço para combater a propaganda terrorista “on-line” pode resultar na redução de algumas das liberdades, que a sociedade civil dá por garantida, em troca de maior segurança e protecção contra o que oferece o terrorismo. No entanto, alguns académicos e estudiosos não estão convencidos de que a presença “on-line” dos terroristas seja um factor significativo na radicalização.

Alguns afirmam que esses diálogos “on-line” permitem que os indivíduos descartem as suas frustrações de forma catártica, sem realmente recorrer à violência física. Não há garantias de que um indivíduo que se envolve em violência retórica “on-line” siga automaticamente com actos de terrorismo, e há uma escassez de evidências que mostram que tal relação causal existe além da especulação. Consideradas em conjunto, ambas as perspectivas, carregam algum peso da verdade e seria um erro abordar uma análise da propaganda e recrutamento de terroristas “on-line” sem considerar as duas. As abordagens de “laissez-faire” e/ou altamente reactivas para o extremismo “on-line”, podem ser igualmente úteis para reduzir a propagação do terrorismo.

Os governos alistaram uma combinação de três estratégias amplas que lidam com narrativas extremistas “on-line” que passam por uma estratégia de linha dura, que procura suprimir a actividade extremista “online”; uma estratégia de diplomacia suave envolvendo narrativas contáveis, distensão e a promoção do pluralismo social visando a contra-radicalização, e por último, uma estratégia liderada pelos serviços de informação estatais que utiliza actividades extremistas “on-line” e que fornece informação que permite identificar e processar fisicamente os envolvidos no terrorismo.

Apesar de todos os três visarem combater a disseminação do extremismo violento, interagem com a narrativa terrorista “on-line” de formas muito diferentes pois, são seguidas de várias aplicações significativas do mundo real, examinando os méritos práticos e as deficiências de cada abordagem. A maioria dos governos exibe alguns elementos da política de tolerância zero ao negar acesso e/ou apagar da sua abordagem a forma de lidar com espaços “on-line” envolvidos em propaganda terrorista ou recrutamento.

A negação de acesso a uma versão não filtrada da Internet ou a supressão assertiva de conteúdo terrorista são uma ferramenta importante na luta contra o terrorismo “on-line”. A China, por exemplo, tem sido bastante bem sucedida na luta contra o terrorismo, usando a negação e não excluindo políticas que procuram controlar a informação disponibilizada aos seus cidadãos. A estratégia impediu com êxito que a propaganda externa atinja a grande maioria da população, embora alguns utilizadores da Internet tenham podido contornar essas políticas e obter algum grau de acesso irrestrito à mesma. A estratégia foi prevenida exaustivamente. No entanto, a aplicação bem sucedida da China tem sido a excepção e não a regra. Na maioria das aplicações internacionais desta estratégia, a inovação tecnológica e a desatenção de detalhes por parte daqueles que realizam o bloqueio e supressão permitiram que este método de contra-radicalização “on-line” fosse prejudicado.

O governo da Síria, por exemplo, em 2012 procurou, mas falhou, ao limitar a disseminação da propaganda “on-line” em relação a uma revolta popular, negando 90 por cento do acesso da população à Internet. O governo turco, mais uma vez, em 2014, procurou eliminar a retórica anti-governamental “on-line”, sem sucesso. As vozes dissidentes encontraram uma rota alternativa usando mensagens instantâneas de celular para comunicar a sua propaganda. Por fim, em 2014, durante o crescente conflito no Iraque, aos cidadãos foi negado o acesso às médias sociais, mas ainda encontraram formas de se comunicar usando plataformas alternadas e desbloqueadas na “Web”. Sem dúvida, os governos ocidentais e os serviços de informação estatais, utilizando tecnologias e pessoal devidamente preparado, tiveram maior sucesso no bloqueamento e eliminação dos sítios de propaganda terrorista.

No entanto, apesar desta superioridade tecnológica, ainda são vítimas dos mesmos problemas encontrados nos exemplos anteriores. Os avanços tecnológicos e a natureza dinâmica da Internet também frustraram os seus esforços para efectivamente controlar o conteúdo. Tão rápido quanto um sítio,  grupo ou aplicativo é eliminado, outro surge para preencher o vazio e dá a entender não haver uma solução a longo prazo nesta estratégia, em vez disso, parece uma medida decididamente paralisada. Também é considerado como essas estratégias são efectuadas pelos diferentes ambientes políticos que podem existir no momento da sua implantação.

As estratégias de linha dura estão mais em sintonia com os partidos políticos orientados para o realismo e que estariam mais inclinados a promulgar a legislação necessária para a uma conduta eficiente. Por outro lado, as abordagens políticas liberais podem encontrar níveis mais elevados de resistência filosófica e moral nas suas fileiras e podem ter escrúpulos quanto à implementação de legislação. As tentativas de promulgar esse tipo de estratégia, por exemplo, na Austrália podem ser impedidas pelas garantidas liberdades civis que a nação abraça. A estratégia pode afectar o direito comum à privacidade pessoal e representar um sufoco das liberdades civis, nomeadamente da liberdade de expressão e associação.

8 Ago 2017

Tecnologia | Governo assina acordo com Alibaba para cidade inteligente

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo assinou um acordo-quadro com o grupo chinês Alibaba que prevê o estabelecimento de um centro de computação em nuvem e de uma plataforma de megadados. O objectivo é criar uma cidade inteligente

Macau assinou um acordo-quadro de cooperação com a Alibaba Cloud, sociedade filiada do gigante do Continente, que figura como “a maior fornecedora de serviços em nuvem na China” e assume “uma posição de liderança em termos internacionais”, prestando serviços, a governos e empresas, “espalhados por mais de 200 países e regiões”.

Ao abrigo do acordo-quadro, a cooperação divide-se em duas fases e vai desenrolar-se ao longo de quatro anos.

A primeira – até Junho de 2019 – prevê a criação de um centro de computação em nuvem e de uma plataforma de megadados, e o início gradual de projectos de utilização dos mesmos em seis domínios: promoção do turismo, formação de talentos, gestão do trânsito, serviços de assistência médica, gestão integrada urbana, e prestação de serviços urbanos integrados e tecnologia financeira.

A segunda etapa – de Julho de 2019 a Junho de 2021 – compreende o aperfeiçoamento do centro de computação em nuvem (conjunto de servidores remotos alojados na Internet para armazenar, gerir e processar dados em vez dos servidores locais ou de computadores pessoais) e da plataforma de megadados, abrangendo outras áreas como protecção ambiental, passagem fronteiriça e previsões económicas.

“Resultados preliminares positivos” são esperados em meados do próximo ano, disse a chefe de gabinete do chefe do Executivo, O Lam, que fez, em conferência de imprensa, uma apresentação do acordo-quadro de cooperação que assinou.

“A construção de uma cidade inteligente constitui uma medida estratégica para o desenvolvimento da economia e melhoria da qualidade de vida da população”, afirmou a responsável, sublinhando que “o Governo tem vindo a empenhar-se no seu planeamento a longo prazo, e na implementação de projectos a curto e médio” termo.

Dinheiro na nuvem

Embora seja uma estratégia “claramente definida” no primeiro plano quinquenal de Macau, apresentado em 2016, e presente nas últimas duas Linhas de Acção Governativa, não existe um “orçamento global”, com O Lam a indicar que adjudicação vai ser feita “projecto a projecto”.

Outra questão levantada prendeu-se com a protecção dos dados pessoais, com o director dos Serviços de Assuntos de Justiça, Liu Dexue, a garantir que a actual legislação “é suficiente”, o que não invalida a introdução de melhorias no futuro.

O presidente do Alibaba Cloud, Simon Hu, indicou que os dados recolhidos vão ser armazenados no território e que a plataforma de dados será estabelecida “de acordo com os padrões mais exigentes da União Europeia e das Nações Unidas”.

Neste âmbito, O Lam destacou que uma das razões pelas quais a escolha recaiu sobre a Alibaba Cloud foi esta estar “acreditada como plataforma de computação em nuvem da região Ásia-Pacífico” no domínio da segurança, figurando como “a mais capacitada para a garantia do cumprimento da lei”.

Em paralelo, realçou, a Alibaba Cloud “possui um elevado grau de abertura e de compatibilidade a nível de opções para ‘hardware’, compatibilidade entre os vários sistemas e ligação com plataformas de dados, computação em nuvem e exploração para utilização prática”.

Tal significa – como salientou – que “o Governo não necessita de abandonar a infra-estrutura de tecnologia de informação preexistente”, seguindo-se o pressuposto da “coexistência contínua”.

Aprender com eles

Simon Hu adiantou ainda que o Governo exigiu a realização de acções de formação de quadros, especialmente no que respeita às tecnologias de informação e ao comércio electrónico, uma área em que o gigante domina na China.

A assinatura do acordo foi testemunhada pelo Chefe do Executivo de Macau, Chui Sai On, e pelo presidente do grupo Alibaba, Jack Ma, numa breve cerimónia que juntou os titulares dos principais cargos políticos, sem lugar a declarações por parte de Chui ou Ma.

A Alibaba Cloud, estabelecida em 2009, ou seja, dez anos depois da fundação do grupo, conta atualmente com mais de 2,3 milhões de clientes em todo o mundo.

No último exercício fiscal, terminado em Março, as receitas da Alibaba Cloud mais do que duplicaram em termos anuais homólogos, alcançando 6,66 mil milhões de yuan.

7 Ago 2017

Pequim funda agência de investigação militar de alta tecnologia

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China fundou uma agência de investigação militar de alta tecnologia, inspirada no Pentágono dos Estados Unidos, para desenvolver equipamento de última geração, avançou ontem a televisão estatal CCTV.

O Comité de Gestão da Investigação Militar foi criado no início do ano e responde diretamente à Comissão Militar Central, o braço político do exército chinês, liderado pelo Presidente da China, Xi Jinping.

O novo organismo visa competir com a Agência de Projetos de Investigação Avançada de Defesa dos EUA (DARPA, na sigla em inglês), criadora da Internet ou do sistema GPS.

“A Internet, os sistemas de posicionamento global, caças furtivos, armas eletromagnéticas ou a lazer e outras tecnologias avançadas, estão quase todas vinculadas à DARPA”, explica uma reportagem difundida pela CCTV.

“No mundo actual, a inovação tecnológica converteu-se num elemento central”, acrescenta. “Para conseguir uma vantagem competitiva no âmbito militar, devemos esforçar-nos por promover a investigação científica”.

Historial de reformas

Numa longa reportagem, o programa refere as reformas empreendidas pelo Partido Comunista Chinês, incluindo a reforma de Exército de Libertação Popular, o ambicioso programa de modernização das Forças Armadas do país.

Com a reforma lançada por Xi, o Governo chinês espera eliminar o caráter soviético do seu exército, tornando-o mais ligeiro, rápido e funcional, enquanto moderniza as forças navais, numa altura em que a China reforça a sua presença militar em águas disputadas no Mar do Sul da China.

Em Março passado, a China anunciou a entrada em operação do caça furtivo de quinta geração J-20, o seu modelo mais avançado de aviação, convertendo-se no terceiro país dotado com este equipamento, a seguir aos EUA e Rússia.

Este mês, A China enviou soldados para a sua primeira base militar além-fronteiras em seis décadas, no Djibuti, sugerindo uma mudança na sua estratégia para África, onde nos últimos anos tem reforçado a sua influência.

China opõe-se a novas sanções dos EUA contra Pyongyang

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês disse ontem opor-se à nova ronda de sanções contra a Coreia do Norte aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos, afirmando que esta não “conduz à confiança mútua ou cooperação” entre Pequim e Washington.

“A China sempre se opôs a sanções unilaterais fora do âmbito do Conselho de Segurança da ONU e especialmente a que outros países imponham a sua jurisdição a empresas e cidadãos chineses”, afirmou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Lu Kang.

As novas sanções poderão afectar firmas de terceiros países que fazem negócios com a Coreia do Norte. A China é o principal parceiro comercial do país governado por Kim Jong-un.

O porta-voz afirmou que a China “sempre aplicou estritamente as resoluções [das Nações Unidas] contra a Coreia do Norte” e que, face a suspeitas de violação das sanções por parte de firmas chinesas, iniciaria investigação “de acordo com a lei” chinesa.

A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou na terça-feira novas sanções contra a Coreia do Norte, Irão e Rússia e limitou a capacidade do Governo de Donald Trump para pôr fim a estas sanções, face à intenção do líder norte-americano de relaxar a política para Moscovo.

As sanções chegam numa semana em que se prevê que a Coreia do Norte volte a desafiar a comunidade internacional com novos testes de mísseis balísticos, aos quais Pequim se opõe.

“Opomo-nos firmemente a qualquer palavra ou ação que possa elevar a tensão”, afirmou Lu Kang.

Xangai | Vaga de calor faz quatro mortos

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elo menos quatro pessoas morreram em Xangai, capital económica da China, devido a uma vaga de calor que elevou as temperaturas para o valor mais alto dos últimos 145 anos na cidade, informaram ontem as autoridades.

Na terça-feira, a cidade emitiu o terceiro alerta máximo do ano por altas temperaturas, depois de o termómetro alcançar os 40,5 graus.

Na passada sexta-feira os termómetros atingiram 40,9 graus, o número mais alto desde que há quase um século e meio se começaram a fazer registos. Altos níveis de humidade e poluição fazem com que a sensação térmica seja de cerca de 50 graus.

Segundo o jornal Shanghai Daily, o calor causou a morte de quatro pessoas, enquanto dezenas de outras, muitos idosos, foram internados no hospital com insolações e outras patologias.

A insolação pode resultar em perda de consciência, falhas no organismo, insuficiência cardíaca ou respiratória, ou um edema pulmonar ou cerebral.

Os mortos eram pessoas de idade avançada que se encontravam na rua ou em casas sem sistema de ar condicionado.

Segundo as indicações meteorológicas, as temperaturas começaram ontem a baixar.

27 Jul 2017

O problema dos clones

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m destes dias jantei com uma amiga, a Inês, e, a páginas tantas, ela confessa-me a sua relutância em ser teletransportada. “O teletransporte, a existir”, assegura-me, “não funcionaria como vemos nos filmes de ficção científica”. “E isso quer dizer o quê?” Pergunto. “Nos filmes de ficção científica”, prossegue, “o teletransporte é equivalente a mover água de um sítio para outro, ou seja, a matéria que estava de um lado é transferida para outro lado através de um meio adequado para o efeito.” De facto, pensei, é também assim que eu concebo o teletransporte, enquanto possibilidade de um futuro por acontecer. “O teletransporte assemelha-se muito mais a uma cópia, na verdade. O sujeito está do lado de cá, passa por uma espécie de scanner que o lê e, do lado de lá, é reconstruído. Mas não é a mesma matéria que passa de um lado para o outro, é como se o resultado do transporte fosse, na verdade, uma versão dois de ti próprio, um clone.”

Um clone. Se nos focarmos no processo leitura e recriação, tal como a Inês mo descreveu e que corresponde, de resto, ao modo como a física quântica o teoriza, é difícil não pensarmos nas implicações que uma tecnologia deste tipo teria ao nível daquilo que postulamos ser a identidade. Mesmo que não seja possível termos – como de resto não o parece ser, pois a leitura quântica é de carácter destrutivo –, num determinado instante, dois sujeitos exactamente iguais coexistindo – mesmo que por fracções de segundo –, ficam algumas dúvidas inquietantes.

Cada teletransporte corresponderia, na verdade, a uma espécie de suicídio. O sujeito – ao contrário do que acontece, por exemplo, num elevador, no qual a pessoa que entra e que sai é a mesma – entraria num compartimento e, no processo, seria destruído para poder ser reconstruído noutro local. De certo modo, isto reconfortava a Inês. Era garantia de não poderem existir, em simultâneo, duas criaturas absolutamente idênticas. Mas a questão da recriação criava outros problemas, nomeadamente a questão das versões.

A Inês não estava de todo confortável com o facto de cada transporte ser uma espécie de progressão aritmética de versões de si própria. Afinal, e mesmo sem a possibilidade de existir outro eu para além de mim, pela natureza específica do processo, o sujeito tinha forçosamente notícia de a sua existência corresponder, na verdade, a uma recriação de um original que já não era ele. Para mim, no entanto, este pensamento não era inquietante. Para existir um clone, insistia, tem de existir um original. Se o original é destruído no processo de cópia, a questão não se põe.

Da nossa discordância acerca da natureza filosófica do teletransporte passámos para outro tipo de considerações. “Imagina”, sugeri-lhe, “que o processo de leitura não era destrutivo. Imagina que te conduziam para dentro de uma sala, completamente às escuras, e que te clonavam. Imagina que o processo era instantâneo e que, quando acendiam as luzes, estavam dezenas de sujeitos exactamente iguais a ti, da roupa às memórias, do corpo à capacidade de se auto-nomearem. Haveria alguma forma de podermos distinguir, com certeza, o original dos clones? Mais importante ainda, haveria alguma forma de o original saber que o era?”. Ficámos o resto da noite nisto. Talvez a quantidade de passos dados dentro da sala pudesse ajudar o sujeito a determinar em que posição estava quando se deu a clonagem. Se, de algum modo e sem se mexer, estivesse numa posição inteiramente diferente da distância que imaginava ter percorrido, saberia com certeza que não era o original. Mas era fácil ultrapassar isso. Se o sujeito fosse de cadeira de rodas, teria uma notícia muito mais difusa da distância percorrida. Ou se a sala fosse antecedida por um corredor extenso que dificultasse a leitura da distância às cegas. O facto, indesmentível, é que todos os sujeitos pensariam ser o original e que todos eles nutririam, mesmo não o verbalizando, a mesma dúvida: e se eu for meramente uma cópia?

Não conseguimos resolver o paradoxo. Nem sei se tem resolução. Mas temos de jantar juntos mais vezes.

14 Mar 2017

A Internet das Coisas (IoT) nas nossas vidas

Davide Ricardo
CTO na Load Interactive

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stamos em 2017 e cada vez mais ligados a tudo aquilo que se relaciona com o mundo, e isso deve-se substancialmente à inovação.

A inovação faz parte da nossa história e desde a electricidade, o telefone, o carro, o avião, que demoraram anos desde a sua invenção até estarem no nosso dia-a-dia, a população está em constante evolução, melhorando dia após dia a sua qualidade de vida. A Internet das Coisas (IoT) também faz parte dessa mesma inovação/ evolução.

O termo IoT (conotado por Kevin Ashton em 1999) é usado para descrever a conectividade entre as nossas “coisas” e a tecnologia, facilitando o chamado M2M (de Máquina para Máquina), fazendo com que os dois tópicos estejam intrinsecamente ligados.

Podemos afirmar que vivemos, nos dias de hoje, num mundo mais da Internet das Pessoas do que da Internet das Coisas. Comparativamente com a Internet das Pessoas, que liga as pessoas através da internet, a Internet das Coisas liga coisas à internet.

As coisas partilham as suas experiências com outras coisas, escolhendo coisas, adicionando a capacidade do sentido e da comunicação com pouca ou nenhuma necessidade de intervenção humana.

Desta forma pode-se definir que a IoT centra-se em duas componentes: Sentido e Rede/ Comunicação. O primeiro, pela capacidade do computador compreender o mundo por ele mesmo e o segundo, porque sensores podem ser distribuídos por todo o lado, para que possam obter diferente tipo de informações em diferentes localizações, partilhando a sua informação para o computador que compreenderá o mundo.

Podemos então imaginar qual o impacto da IoT e o quão grande se pode tornar?

Esta noção nasce (em 2008) no momento em que se identificou que haviam mais coisas na internet do que pessoas.

Alguns indicadores provenientes de várias fontes dizem-nos que:

– Actualmente existem mais de 10 milhões de dispositivos, equivalente a 1.5 por pessoa;

– Estima-se que em 2020 hajam mais de 50 milhões de dispositivos, equivalente a 8 por pessoa;

– $41 triliões vão ser gastos nos próximos 20 anos na actualização das infraestruturas (por Intel);

– Por causa da IoT será gerado 22x mais tráfego de dados em 2020 (por Freescale);

– 40% de todos os dados gerados em 2020 serão gerados por sensores ligados (por Fros & Sullivan);

– 96% dos líderes empresariais planeiam usar IoT nos próximos 3 anos (por Wired);

– 38% das empresas acreditam que a IoT vai atingir o seu maior impacto nos próximos 3 anos (por The Economist);

– 94% das empresas puderam já verificar o retorno dos seus investimentos em IoT (por CMO.com);

– A IoT terá o maior impacto no atendimento ao cliente;

– A IoT poderia adicionar $10-15 triliões ao PIB global;

– A IoT conduzirá a uma redução de 25% de manutenção de activos e 35% de redução do tempo de inactividade (por Departamento de Energia U.S);

– Vão ser economizados 970 dólares por cada veículo de frota por ano (por Cisco);

Por todos estes indicadores, quase que conseguimos ter uma noção do impacto da IoT no nosso futuro. Quase, porque este é perfeitamente previsível mas ao mesmo tempo inacreditável a forma como irá interagir/ conviver com o nosso dia-a-dia.

Por vezes é-nos mais fácil entender o real impacto da IoT através de exemplos, por isso analisemos um bastante simples mas ao mesmo tempo muito útil:

Uma pulseira inteligente que faz o rastreio dos sinais vitais (eg: temperatura do corpo, pulsação, respiração, pressão arterial, …), detectou que durante o sono estes estão abaixo do pretendido e tenta-nos acordar com vibração, luz ou outro, enviando dados desses sinais para o nosso serviço médico. No hospital, os médicos recebem e analisam os dados, em tempo real, e tomam acções de forma rápida e eficiente, podendo até mesmo accionar o envio de uma ambulância para a nossa casa, que nos leva para o hospital para sermos observados. Essa informação, acerca da ambulância, é-nos enviada para o nosso smartphone, indicando que esta deve chegar em X minutos. E no dia seguinte, o médico dá-nos a boa noticia dizendo que vamos ficar bem e que, apesar de termos sofrido um ataque cardíaco, evitamos grandes danos porque num curto espaço de tempo conseguimos dar conta da situação.

Isto tudo foi somente possível porque “coisas” comunicaram com outras “coisas”.

Na Load, temos a experiência em projectos e desafios, que nos permitem ajudar os nossos clientes a melhorarem as suas estratégias de negócio, ou mesmo a auxiliar os seus colaboradores na tomada de decisões no seu dia-a-dia, com base nas soluções em IoT.  Desde soluções de monitorização e de análise estatística, até soluções em que existe interacção humana com as “coisas”, de forma a agilizar e a melhorar na decisão de processos.

A Internet das Coisas traz-nos muitas vantagens e é o futuro (a próxima revolução industrial) já bem presente, no entanto há questões de elevada importância que não devem ser descoradas, como é o caso da segurança, da privacidade e da protecção dos dados. Certamente que este é um excelente tópico para ser abordado no próximo artigo.

16 Fev 2017

A qualidade no sucesso da empresa

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]os dias de hoje a implementação de um Sistema de Qualidade e consequente certificação em normas de qualidade já não constitui um desafio impensável para a maioria das empresas. São agora inúmeras aquelas que já deram este passo.

Dependendo da estratégia de cada empresário para a sua empresa – é perfeitamente legítima (e necessária à economia) a existência de empresas que não têm como objectivo evoluir e, para estas um SGQ como o certificado pela família de normas ISO 9000 constitui, efectivamente, um encargo desnecessário – é quase unânime a percepção que um Sistema que apoia o sucesso da Organização na satisfação dos seus clientes, libertando recursos que podem ser usados noutras iniciativas, constitui um salto essencial para o crescimento sustentável de uma empresa.

É que o esforço das empresas gasto em actividades não produtivas pode, em alguns casos, chegar a 80% do esforço total. É um enorme esforço dispendido em actividades inúteis ou ineficazes – é aqui que os Processos para a Qualidade tentam agir e assegurar o registo de tudo o que é relevante para que eventuais problemas sejam detectados atempadamente e se aprenda com a experiência.

No entanto, o mundo está sempre em mudança. Depois de anos de aperfeiçoamento de processos de optimização e monitorização de produto, o que falta então a cada empresa fazer, enquanto organização, para resistir a um mundo que nunca foi tão competitivo e tão rápido, e que obriga a um esforço cada vez maior para manter e fazer crescer o seu negócio?

A resposta pode residir simplesmente nestes dois pontos:

  • A adaptação dos processos ao ambiente em que se insere o negócio da organização;
  • Pensar menos em soluções técnicas ou tecnológicas para os problemas, pois estas incidem sobre cada problema em particular e não às suas origens comuns, e pensar mais em agir sobre a cultura e valores da organização.

Alguns pensamentos orientais apregoam uma série de passos que são necessários percorrer para que cada indivíduo possa atingir a plena realização pessoal. Que tal estender este conceito às organizações, adaptando-o à sua Cultura e Valores? Este foi um exercício defendido pelo Dr. Gary Cort, na altura presidente do TC 176 – a comissão que zela pela manutenção e revisões da família ISO 9000 – num seminário que o autor destas linhas assistiu no Porto em finais de 2013, intitulado “A Qualidade e o Futuro”.

Seguindo esta filosofia, poder-se-ão aplicar às organizações oito princípios, como oito degraus que serão necessários subir, conquistando passo a passo o “nirvana”. São eles:

Passo 1Mente positiva: O estado de espírito positivo que permite olhar para o futuro, fomentando a curiosidade constante em evoluir, resultando numa maior flexibilidade da organização em adaptar-se ao ambiente em que se insere.

Passo 2Corpo são: manter a saúde da organização, como se fosse um organismo humano, que quanto mais saudável, mais capacidade tem para resistir a doenças. Numa organização, isto manifesta-se numa maior resiliência para ultrapassar tanto as dificuldades do dia a dia, como obstáculos inesperados.

Passo 3Relações equilibrados: manter a organização unida, fomentando o relacionamento equilibrado entre as pessoas e equipas. Evitar que equipas trabalhem em “roda livre”, cada uma com os seus próprios objectivos, desperdiçando energias que podiam ser aplicadas a transmitir mais força a um mesmo rumo.

Passo 4Sentido da Vida: agir sobre a Missão da organização de modo a que tenha um sentido, no mais abrangente significado do termo. Isto vai-se reflectir na motivação dos seus colaboradores, abrindo caminho à constante inovação e flexibilidade da organização.

Passo 5Inspiração: Decorrente do passo anterior, uma cultura inspirada e inspiradora de novas ideias e acções será extremamente positiva para o desenvolvimento da organização.

Passo 6Contribuição: uma organização, como somatório da capacidade dos seus colaboradores ganhará se fomentar que todos sintam vontade de contribuir para o seu crescimento

Passo 7Sustentabilidade: Todos os princípios anteriores tiveram de ser percorridos para se chegar até aqui. Que instrumentos as empresas e organizações detêm para garantir a sustentabilidade da sua posição no negócio e no mundo? Mais uma vez, o principal instrumento sobre o qual todos os outros princípios incidiram: a cultura da organização.

Passo 8Legado: O resultado final da aplicação de toda esta filosofia. O que fica depois de desenvolvida a actividade da empresa, depois da interacção da empresa com o meio onde se insere. Afinal, o que a empresa passou para os outros e para o futuro?

Eis o que poderá ser a chave para as empresas vencerem os desafios da competitividade no mundo actual: agir sobre a própria cultura e valores, transmiti-la aos seus colaboradores e envolvê-los de modo a que todos se mantenham comprometidos com ela e sigam o mesmo rumo. E assim diferenciar-se da sua concorrência.

18 Jan 2017

A China empresarial

“President Xi Jinping emphasized that innovation; economic restructuring and consumption should be among the top priorities of China’s next stage of growth (the 13th Five-Year Plan for 2016–2020). The “Internet Plus” action plan seeks to drive economic growth by integration of internet technologies with manufacturing and business.”
“China’s Mobile Economy: Opportunities in the Largest and Fastest Information Consumption Boom” – Winston Ma, Xiaodong Lee and Dominic Barton

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] crescimento da economia chinesa parecia imparável. O antigo modelo de crescimento, que depende fortemente do planeamento estadual e de um imenso investimento em infra-estruturas e propriedades, prospera com um uso maciço de crédito fornecido pelo sistema financeiro dominado pelo Estado, que se está a esgotar a todo o vapor.

O sucesso da transformação económica da China depende da capacidade de correcção das suas instituições. Muito pode ser alcançado se forem retiradas as lições correctas do passado recente, que permitiu o inigualável sucesso económico da China, e principiar o trabalho de fazer face aos problemas estruturais que têm algemado o espírito empreendedor do povo chinês.

Apesar de todas as suspeitas que muitos analistas levantam sobre a economia chinesa, a imagem não é de pesar, antes pelo contrário, havendo muitas razões para ser confiante. Embora a taxa de crescimento anual do PIB tenha caído para menos de 7 por cento, ainda representa maior produção económica do que os 14 por cento de 2007, simplesmente, porque a economia se tornou muito maior, e ao longo do tempo, temos observado o surgimento de novos tipos de empresas na China.

Os altamente disruptivos são os que mais agressivamente usam novas tecnologias, como a Internet móvel para desafiar operadores ineficientes, são globais em visão, mais dispostos a assumir riscos, e mais qualificados na administração do mercado de capitais, podendo aproveitar ao máximo as potencialidades da nova tecnologia e fornecer não só melhores produtos de fabrico, mas também serviços de qualidade cada vez mais sofisticados, sendo a esperança das grandes empresas da China.

As pessoas estão curiosas em saber como se explica o crescimento da economia chinesa e a forma como tal aumento implicou para o resto do mundo. O surgimento da economia chinesa decorreu do espírito empreendedor dos executivos e fundadores corporativos que tinham sido incentivados e libertos devido à reforma da China e às políticas de abertura. As suas histórias de sucesso e fracasso tornaram-se gradualmente assuntos de pesquisa de negócios e matéria de casos usados no ensino das escolas de negócios, e instrução de empresários e líderes de negócios pelo mundo.

Após três décadas e meia de desenvolvimento económico, a China transformou-se de um país empobrecido na segunda maior economia do mundo. O pesquisador do Instituto de Tecnologia Computacional da Academia Chinesa de Ciências (CAS), Liu Chuanzhi, em 1984, decidiu aventurar-se no mundo dos negócios e com a ajuda de dez outros colegas, criou uma empresa de tecnologia em Zhongguancun, um distrito onde a maioria dos institutos nacionais de pesquisa estão localizados, tendo conseguido juntar RMB 200.000 como investimento inicial.

O objectivo de Liu era humilde, pois tratava-se de desenvolver um sistema para acelerar a digitação de caracteres chineses em computadores e, se possível, ganhar algum dinheiro, e provavelmente estava além dos sonhos mais loucos de Liu, pensar que a sua pequena empresa se tornaria em uma das empresas de tecnologia mais bem sucedidas da China. A empresa, mais tarde conhecida como Lenovo, foi classificada como a 231.ª maior empresa do mundo em vendas pela revista Fortune, em 2015.

Liu não só se orgulha da maior quota de mercado de computadores do mundo, mas também desenvolveu uma base sólida em áreas como smartphones, tablets, megadados, computação em nuvem, private equity, venture capital investment e agricultura. A Lenovo era uma empresa totalmente doméstica, antes da aquisição da unidade de computadores da IBM, em 2005. A partir de 2015, os activos e as vendas no exterior ultrapassaram 50 por cento, e os executivos não chineses representam mais da metade dos executivos seniores da Lenovo. A Lenovo tem sido amplamente vista como a empresa mais orientada para o mercado e a mais internacional da China.

Em 1980, Ren Zhengfei, um ex-oficial do exército, mudou-se para Shenzhen para tentar a sua sorte. Após algumas tentativas fracassadas, fundou a Huawai Technologies, em 1988. Em menos de trinta anos, a Huawai tornou-se a fornecedora e líder mundial de equipamentos de informação e telecomunicações, exportando produtos e serviços para mais de cento e cinquenta países.

As vendas totais da Huawei, em 2014, ultrapassaram duzentos e oitenta e oito mil milhões de RMB, e o seu lucro líquido foi de cerca de vinte e oito mil milhões de RMB. A Huawei tem vendas significativamente maiores do que os campeões tradicionais neste campo, como a Ericsson, Alcatel-Lucent e Siemens. A Huawei é também o terceiro maior produtor de smartphones do mundo, com mais de 9 por cento da participação no mercado mundial, desde do terceiro trimestre de 2015.

A Sany Group, empresa sediada em Changsha, capital da província de Hunan, anunciou em 20 de Janeiro de 2012, a aquisição da Putzmeister, fabricante alemão de máquinas de engenharia e gigante industrial. Quando Liang Wengen fundou a Sany em 1994, possuir o “elefante” (apelido de Putzmeister) era apenas um sonho. A Sany, em menos de 20 anos, possuía o “elefante”, e também obteve acesso às tecnologias de ponta e canais de distribuição da Putzmeister em todo o mundo.

O maior processador de carne da China, a Shuanghui International Holdings Ltd., em Maio de 2013, firmou um acordo de 4,7 mil milhões de dólares para adquirir a Smithfield Foods Inc., dos Estados Unidos. O negócio marcou a maior aquisição de uma empresa americana por uma empresa chinesa. A Smithfield Foods Inc. foi criada em 1936, juntamente com outras quatro empresas, e controla 73 por cento da indústria de transformação de carne de porco dos Estados Unidos. Enquanto a receita de Shuanghui foi de 39,7 mil milhões de RMB, em 2012, a Smithfield referiu uma receita duas vezes maior que o da Shuanghui, de aproximadamente de 80,3 mil milhões de RMB, em 2012. A aquisição aumentou significativamente a escala global em negócios da Shuanghui, estabelecendo uma base sólida para a sua Oferta Pública Inicial (OPI), em Hong Kong. A procura por carne de porco continua a aumentar na China, estando a Shuanghui a emergir como um império porcino.

O empresário Lei Jun, em um pequeno escritório alugado em Pequim, juntamente com os seus seis parceiros, em Abril de 2010, anunciou a fundação de Xiaomi.com. Lei Jun tinha sido um empresário de sucesso antes de fundar a Xiaomi.com e levou a Kingsoft, uma empresa de desenvolvimento de software, para o estatuto de OPI. Fundou também, a Joyo, uma plataforma de comércio electrónico que foi adquirida pela Amazon. O fundador da Xiaomi.com, estava predestinado a entrar no mercado de smartphones high-end.

A Xiaomi.com, um ano mais tarde, lançou o seu telefone de primeira geração com um preço de retalho de 1999 RMB. Tendo por base as vendas na Internet e o marketing de boca-a-boca, as vendas de Xiaomi.com aumentaram rapidamente, vendendo mais de sessenta milhões de aparelhos em 2014, e tornando-se o sexto maior produtor mundial de telefones celulares. O telefone móvel, para Lei Jun, não é apenas um dispositivo simples. É um equipamento que engloba software, serviços de internet e hardware.

O Xiaomi.com, desde o início, tem conseguido desenvolver um ecossistema que não só abriga aplicativos, mas vende também, uma ampla gama de artigos, desde entretenimento, passando por software até serviços. A sua mais recente avaliação, efectuada no final de 2014, fixou o valor da Xiami.com em quarenta e cinco mil milhões de dólares, sendo considerada uma das mais valiosas “startups” do mundo, e uma das dez maiores empresas de Internet, em valor estimado de mercado no mundo.

Durante as últimas três décadas e meia, histórias como Lenovo, Huawei, Sany, Shuanghui e Xiaomi têm abundado na China. A China empresarial está a crescer, e juntamente com a surpresa improvável do impulso da China corporativa é o rápido crescimento da economia chinesa, desde que o governo chinês iniciou a reforma económica em 1978, a China conseguiu manter uma taxa média de crescimento do PIB de mais de 9 por cento.

A China ultrapassou o Japão para se tornar a segunda maior economia do mundo, em 2010. A China ultrapassou os Estados Unidos para se tornar a maior fabricante do mundo, em 2012. A China produziu menos de 3 por cento da produção total mundial, em 1990. Esta proporção aumentou para quase um quarto. Considerando a indústria do alumínio como um exemplo. Os produtores chineses de alumínio representavam apenas 4 por cento da produção mundial, em 1990 e até 2014, a sua participação aumentou para 52 por cento.

Ao longo do caminho do desenvolvimento, a China também se tornou o maior consumidor de bens de luxo do mundo, bastando caminhar pelas ruas de Pequim, Xangai, Shenzhen e muitas cidades costeiras, para se poder facilmente sentir o entusiasmo dos cidadãos chineses, em que muitos parecem viver uma preocupação optimista, falando pelos iPhones, carregando malas Rimowa, calçando sapatos Prada e usando relógios Piaget.

Ainda que o crescimento do PIB tenha abrandado nos últimos anos e muitos tenham perdido a fé no discurso da China, esta continua a ser o mundo da manufactura e centro de exportação, e um dos motores de crescimento mais poderoso do mundo. Todos os anos, a revista Fortune publica uma lista das 500 maiores empresas do mundo, a Fortune Global 500. Este produto clássico da revista é muito valorizado pelos meios de comunicação chineses, bem como pelas empresas chinesas.

O facto de constar desta lista, para muitos, tem o significado de se tornar em uma empresa de classe mundialmente respeitada. Para a China empresarial, o real progresso deu-se em 1986, quando duas empresas chinesas entraram na lista pela primeira vez. O número de empresas chinesas na Fortune Global 500, desde então, tem aumentado, aparecendo cento e seis empresas, em 2015, em comparação com cento e vinte e oito nos Estados Unidos. A China já obteve mais empresas listadas na Fortune Global 500, desde 2011, do que a Alemanha e o Japão, tendo sido ultrapassada apenas para os Estados Unidos.

As empresas chinesas, nos últimos trinta e cinco anos, transformaram-se com sucesso de acordo com a prática e os padrões de empresas como a GE, Toyota e Shell. A revista Fortune classifica as empresas globais de acordo com suas vendas totais. O limiar para a lista de 2015 foi de cerca de vinte e quatro mil milhões de dólares, correspondente a cerca de cento e cinquenta e quatro mil milhões de RMB, e mais de cem empresas relataram vendas acima dos cento e cinquenta mil milhões de RMB, em 2015, pelo que o aumento da China empresarial não poderia ser mais óbvio.

Em grande medida, esta vaga simboliza o sucesso económico da China nos últimos trinta e cinco anos. Em 2015, entre as dez maiores empresas do mundo por receitas, estão três empresas estatais chinesas, a Sinopec, PetroChina e State Grid Corporation da China. A China não tinha uma única empresa no sentido moderno do termo, quando em 1978, foi forçada a iniciar a sua reforma económica. As denominadas por empresas, eram unidades de trabalho do tipo instalado na União Soviética, destinadas a cumprir as tarefas que lhes fossem atribuídas pelas agências de planeamento, em diferentes níveis.

Até então, o Banco Central da China, o Banco Popular da China (PBOC na sigla em língua inglesa), sob a supervisão do Ministério das Finanças, também funcionava como um banco comercial. O PBOC desagregou as suas funções comerciais e deu forma ao Banco Industrial e Comercial de China (ICBC na sigla em língua inglesa) nos princípios da década de 1980. Desde então, o ICBC tornou-se um dos maiores intermediários finais do mundo. O ICBC, em 2015, foi considerada a décima oitava empresa mundial em termos de receita, o maior banco e a empresa mais rentável, batendo a Apple e a Exxon.

Transformando-se de simples unidades de produção sob a economia planeada para empresas orientadas para o lucro e mercado, a China empresarial concluiu com êxito a sua primeira metamorfose. Estudar a ascensão rápida e inverosímil da China empresarial é trabalho fascinante, pois apresenta muitas perguntas, algumas preocupantes, tal como o facto de milhões de empresas chinesas, muitas vezes em larga escala, conduzirem negócios na ausência de infra-estrutura institucional bem desenvolvida e como se processa a aplicação da lei e a protecção dos direitos de propriedade.

16 Jan 2017

Strategic Design: a variável secreta da Inovação Empresarial

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] seguro afirmar que a inovação é um dos principais motores da economia global. Novos produtos e serviços estão a concorrer com negócios antigos – o chamado “old money” – e há muito enraizados na nossa cultura, levando a que os mais desatentos os dêem como dados adquiridos. Vejamos o exemplo da Uber e a revolta que gerou nos transportes públicos e privados tradicionais. Há muito tempo que se dava como adquirido que o transporte de passageiros da localização A para localização B era uma necessidade com todas as soluções já descobertas, intensivamente testadas e validadas. A inovação tecnológica encarregou-se rapidamente de provar que essa afirmação era tudo menos verdadeira e que estaríamos no limiar de uma revolução.

Como em todas as revoluções, são as pessoas que têm o papel principal. A revolução gira em torno de um descontentamento com determinados conceitos e valores que são unilateralmente impostos. No passado, quando o “old-money” reinava, o produto era dono e senhor – uma ditadura em termos de modelo de negócio. As marcas não queriam saber das pessoas nem do que estas consumiam. A estratégia era completamente invertida: existiam produtos limitados e as pessoas consumiam o pouco que existia no mercado, sem grandes alternativas de expressar a sua opinião ou de mostrar o seu descontentamento.

Mas será a inovação tecnológica por si só é suficiente para gerar um novo paradigma de negócio? Será que a tecnologia foi a principal variável desta equação? Transcrevendo esta mesma equação: de um lado está uma necessidade que precisa de ser colmatada, do outro lado está a inovação tecnológica. É suficiente? Retratando de uma forma mais prática: de um lado está a necessidade de transporte de passageiros, do outro está a tecnologia para tornar empresas como a Uber possíveis.

Colocando as variáveis nesta posição, estamos a descrever exactamente o modelo de negócio de tempos passados onde a simples fórmula “Problema resolvido é igual à soma da necessidade com a tecnologia.” Então o que distingue o “old-money” do “new-money”? O que faz com que, por exemplo, o maior grupo hoteleiro, com 8.000 (oito mil) quartos esteja avaliado em $7B e o Airbnb, com 0 (zero) quartos esteja avaliado em $30B?

A resposta para estas perguntas é tão simples que este artigo pode parecer irrelevante: a forma de ouvir os consumidores mudou. Existe mais uma variável na tal equação que funciona tão naturalmente que passa despercebida aos olhos de quem a consome: O Strategic Design.

Este processo oferece às empresas uma forma de olhar para o negócio como um todo e não apenas para as partes que pareçam mais frágeis. E muitas vezes essa fragilidade não está no produto ou serviço, está na experiência que estes oferecem aos seus consumidores, às pessoas. A experiência de utilização de um serviço, produto ou mesmo de uma marca é vital para o seu sucesso e, nos dias de hoje, não está apenas ligada à própria utilização mas também ao que a precede e sucede.

Como referi anteriormente, a necessidade de transportar pessoas sempre existiu. E sempre existiram formas de a satisfazer. A pergunta que impera é: as soluções que existiam no mercado ofereciam uma boa experiência de utilização a quem as procurava? O mercado mostrou rapidamente que não. E é neste “não” que as empresas têm de trabalhar.

A geração de novas ideias e conceitos é óptima para a inovação, mas esta fase é só o início do processo. As ideias precisam de ser validadas por quem vai usufruir delas: as pessoas. Os consumidores que vão comprar têm de ser ouvidos e esse feedback é crucial para as marcas e para as empresas. O sucesso do Strategic Design, aliado à tecnologia, facilmente é validado quando empresas como a Uber, Paypal, Airbnb e Netflix – entre muitas outras – o utilizam para manter viva a experiência que oferecem ao seu público-alvo.

Nesta nova Era as empresas não podem olhar para o passado em busca de orientação, o sucesso depende hoje da intersecção de novas tecnologias com as rápidas mudanças nas expectativas dos clientes. É necessário que os empresários, empreendedores e decisores, descubram quem está no mercado e oferece aconselhamento em Strategic Design, para que possam começar a desenhar experiências de utilização que cativem o cliente desde o primeiro contacto com o seu negócio.

5 Jan 2017

Reportagem | Visita ao mundo das corridas virtuais de Macau

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]outros tempos, os aficionados por velocidade tinham poucas opções para saciarem a adrenalina. Ou viam os Grande Prémios de Fórmula 1 na televisão, e isso só abria ainda mais o apetite, ou davam umas “aceleradelas” em Coloane ou esperavam e desesperavam por Novembro pelo Grande Prémio de Macau. Os tempos mudaram e agora nem sequer é preciso sair de casa ou esperar pelo que quer que seja. Basta um computador bem apetrechado com um volante com force feedback (reprodução exacta da sensibilidade do volante), um banco estilo competição e um bom televisor de plasma e voilá: temos um simulador de alta qualidade. Esta é a receita perfeita para quem gosta dos prazeres da velocidade e não tem possibilidades para “queimar borracha” ao vivo e a cores.

Com o crescimento dos eSports (competições profissionais de jogos electrónicos), que hoje em dia representam uma indústria que movimenta milhões e cujos profissionais, em alguns países já considerados atletas de alto rendimento e chegam a auferir chorudos ordenados, elevou a parada para outros níveis. A capacidade hoje existente de jogar online, contra “pilotos virtuais” de qualquer outra parte do planeta, abriu as portas à materialização e expansão das competições virtuais de automobilismo (ou Sim Racing, na designação inglesa). Esta resulta da fusão da tecnologia avançada da simulação de corridas para criar um desporto totalmente novo atendendo às expectativas cada vez mais exigentes de uma audiência que procura uma melhor experiência, proporcionando quase todas as reacções físicas como em competição num carro “real”.

Plataformas como as do Assetto Corsa, iRacing ou a série rFactor, ou, nas consolas, as séries F1, MotoGP, Nascar, Forza, Grid, Gran Turismo e Project Cars, abriram as portas para um novo consumidor de desportos motorizados. É fruto desta pequena revolução digital que nasceu a Associação SimRacing Macau-China (Macau SimRacing Association, na sua designação inglesa); a primeira associação para corridas de simuladores registada em Macau e no Sudeste Asiático, constituída por um grupo de apaixonados de simuladores de automóveis (Sim Racers, na designação inglesa) que esperam competir com os melhores da especialidade em todo o mundo.

“A SimRacing é uma plataforma e método de treino para aqueles que são entusiastas e apaixonados pelos desportos motorizados. A nossa missão é levar o Sim Racing (abreviatura de Simulator Racing) até outro nível em Macau e no Sudeste Asiático”, lê-se na introdução da associação fundada por Carlos Fu, Simon Sanchez e Bruno Cardoso, na rede social Facebook.

A razão de existir

Apesar da sua reduzida dimensão, Macau goza de uma história e reputação no automobilismo mundial que é de fazer inveja às grandes nações do continente asiático. Várias gerações nasceram a ver o Grande Prémio e nem todos escaparam ao “vírus” dos desportos motorizados. Com a possibilidade de participar a sério no Grande Prémio e outras competições automóveis cada vez mais reduzida, devido aos custos cada vez mais altos e profissionalismo exigido, o virtual acaba por ser um escape indicado para aqueles. Aliando uma velha paixão da terra ao rápido desenvolvimento dos desportos virtuais nasceu a Associação SimRacing Macau-China.

“Criamos a associação porque verificamos que esta modalidade tem crescido em vários países a nível de números de participantes e do nível de profissionalismo, o que implicou a necessidade de se elevar o nível organizativo”, explicou o presidente Carlos Fu ao HM. “Entendemos que Macau também devia ter uma organização para regular o Sim Racing e uma vez que existe um intercâmbio bastante activo entre várias associações de vários países, decidimos que o nome de Macau podia estar melhor representado nesta modalidade, não só a nível asiático mas também a um patamar mais alto, a nível internacional”.

Os esforços das gentes da terra não têm sido em vão, pois “até fomos convidados para ser um dos membros de uma entidade internacional de Sim Racing que se encontra a formar por várias associações internacionais, o que nos deixa bastantes orgulhosos em ver o nome de Macau nos planos de uma organização tão importante do mundo do Sim Racing”.

Sabendo que há muitos entusiastas de automobilismo no território, o panorama actual das corridas de simuladores na RAEM está ainda muito verde. “Existem poucas lojas em Macau onde se possa experimentar correr em simuladores e as corridas não são através da internet, ou seja, competem entre os que estão na loja, ao contrário dos membros da MSRT que têm montando em casa os seus próprios simuladores”, clarifica Fu.

A Macau SimRacing Team tem actualmente doze pilotos a competir em provas internacionais.

“A nível de corridas internacionais podíamos ter mais participantes porque é sabido que todos os anos vemos pilotos locais a participarem em corridas automobilísticas, por isso seria óptimo juntarmos a todos os cidadãos que querem experimentar o automobilismo sem suportar os elevados custos e riscos que o automobilismo acarreta”, aclara Fu que realça que “é ainda do conhecimento geral que os pilotos profissionais usam o Sim Racing para treinos e adaptação a circuitos. Podemos perguntar a todos os pilotos que vêm ao Grande Prémio de Macau, quantos usaram os simuladores para treino de adaptação do Circuito da Guia. Acredito que mais de 90% respondem afirmativamente. Muitas vezes encontramos vários pilotos profissionais com renome a correr na mesma corrida que nós”.

A associação apoia a equipa Macau SimRacing Team, que tem experiência em corridas internacionais há mais de 10 anos, e conta com alguns ex-pilotos que já participaram no Grande Prémio e em corridas de karting. A equipa compete neste momento no campeonato asiático de GT3 organizado pela “Sim Racers Asia” e ainda no Campeonato de Fórmula 2.0 organizado pela “Center Force Racing”, ambos na plataforma de iRacing para PC.

“Para um futuro próximo vamos entrar em mais corridas e em diferentes plataformas, como o RaceFactor 2, Project Cars, Assetto Corsa, etc”, diz o nosso interlocutor. “Bem como em breve a associação irá organizar um troféu e já recebemos aceitação de convites de vários pilotos da Ásia, Europa e dos EUA. Com a corrida a ser transmitida em directo no Youtube, com comentários em directo e em diferido para o Youku para os entusiastas da China. Estamos a obter bons resultados em quase todas as competições em que participamos, falo em vitórias e em posições do pódio em várias corridas. Esperamos ganhar o campeonato a nível de pilotos e em equipas na classe “clubman” do campeonato asiático de GT3”. Recentemente dois pilotos de Macau estrearam-se na “World Cup of iRacing 24 Hours Endurance race” a convite do iRacing Asia Club.

Falta de apoios

Até aqui a associação ainda não recebeu qualquer apoio do governamental e os únicos suportes com que conta são os pequenos patrocinadores que apoiam a equipa nas corridas do mundo virtual. “Todo o equipamento é pessoal. A equipa da Macau SimRacing Team tem patrocinadores que apoiam a modalidade e em troca têm a sua marca divulgada nos nossos carros. O SimRacing tem sido largamente divulgado nos media, as corridas são transmitidas em directo no Youtube e até tem comentários profissionais. Existem equipas que por exemplo têm patrocínios oficiais de grandes empresas mundiais, tal como acontece nas corridas de automobilismo”, explica Bruno Cardoso.

Os custos de competir não se aproximam do real, apesar das despesas dependerem da carteira de cada um. Qualquer novo entusiasta tem que estar preparado para o investimento inicial.

“O preço do material varia bastante”, diz-nos Fu. “O essencial é o conjunto volante e pedais. Existem volantes a 2 ou 3 mil patacas, como também existem uns melhores que podem chegar às dezenas de milhares patacas. O mesmo para os pedais e outros acessórios. Ainda se pode adquirir um “cockpit” fixo constituído por suportes de monitores, volante, pedais, mudanças, banco, etc, ou até um cockpit com suporte de movimentos, que se podem adquirir por dezenas de milhares até os mais sofisticados que ascendam a um milhão de patacas!”

De Macau para o mundo

A curto prazo a Associação SimRacing Macau-China espera, para além de aumentar o número de associados, crescer internacionalmente.

Fu não esconde que “a associação foi convidada para ser membro de uma organização internacional, que é constituída por associações de SimRacing de vários países e que eventualmente irá funcionar como a FIA. Queremos ser mais activos e sermos vistos como uma associação activa em prol do desenvolvimento do SimRacing na Ásia e progressivamente a nível internacional”.

Os objectivos não se ficam por aqui, pois “queremos juntar mais praticantes de Sim Racing e prestar apoio técnico, com a ajuda de membros mais experientes, para desenvolver e regular o Sim Racing em Macau com o intuito de ajudar pilotos que competem automobilismo e para aqueles que competem Sim Racing para todos obterem bons resultados em competições internacionais em representação de Macau”. Mas para crescer e para que alguns destes objectivos sejam palpáveis, Fu espera que lhe sejam concedidos “apoios por parte das entidades governamentais e até empresariais. Todos juntos temos condições de ter um papel importante no mundo Sim Racing”, conclui.

Tal como o automobilismo real, esta vertente virtual pode ser atractiva para uma RAEM que procura “diversidade” na área do turismo e diversão. Fu relembra que “eventos internacionais de SimRacing, como a Simrace Expo 2016, que se realizou em Nürburgring, Alemanha, atraem bastantes entusiastas e patrocinadores do automobilismo. Sabemos que Macau tem todas as condições de organização de eventos internacionais deste tipo, o que certamente poderá ajudar muito na diversidade do turismo local”.

Casos de Sucesso

A GT Academy – uma iniciativa da Playstation e da Nissan – tendo vindo ao longo dos anos a permitir que vários candidatos a piloto saltem do sofá para as mais reputadas pistas deste mundo. O espanhol Lucas Ordoñez foi o primeiro vencedor de sempre da GT Academy, o pioneiro da história “da virtualidade para a realidade” da Nissan. Foi o primeiro vencedor da GT Academy a competir nas 24 horas de Le Mans, dominando as manchetes quando terminou a grande corrida francesa com um lugar no pódio à classe.

Jann Mardenborough, que se estreou no Grande Prémio de Macau no passado mês de Novembro, é outro caso de sucesso maior da GT Academy até o momento. O piloto galês foi vencedor do programa em 2011, superando 90 mil candidatos. Filho de um ex-futebolista, Jann tem agora a sua carreira a ser gerida pela Nissan e compete ao mais alto nível no Japão, tanto na Fórmula 3, como no campeonato Super GT.

Em Portugal, Miguel Faísca também teve a oportunidade de sair do virtual para uma temporada a sério, em 2014. No super-competitivo campeonato Blancpain Endurance Series, o português de 27 anos conduziu um Nissan GT-R Nismo GT3 igual aquele que André Couto tem competido nos últimos anos no Japão. Em 2015, o sonho de uma carreira no desporto motorizado esvaneceu-se, mas Faísca foi viver para Inglaterra, seguindo a paixão de criança, e este ano voltou a competir, correndo nas 4 horas do Estoril com um protótipo Ligier JS P3 Nissan.

Edgar Lau é talvez o melhor exemplo na região. O “gamer” de Hong Kong participou na GT Academy nos Estados Unidos da América. Não venceu, mas esta participação deu-lhe motivação para tentar algo mais no automobilismo. Este ano alinhou pela primeira vez no Grande Prémio de Macau, com um SEAT Léon Cup Racer com o logótipo da Associação SimRacing Macau-China no carro, terminando num honroso 13º lugar na Corrida da Guia.

Uma perninha em Zhuhai

No fim-de-semana de 10 e 11 de Dezembro, a MRS Motor Racing Simulator, que pertence ao ex-piloto de Macau de Fórmula 3 Michael Ho, organizou um evento na cidade vizinha de Zhuhai que contou com a participação de algumas caras conhecidas do automobilismo da região, como André Couto ou Adderley Fong (primeiro piloto de Hong Kong a conduzir um F1 da era moderna), para além de pilotos de topo das corridas de carros de turismos locais, como Kelvin Leong, Jerónimo Badaraco ou Andy Yan (campeão do TCR Asia Series). A associação foi convidada a prestar apoio à organização do evento como “oficiais”, tendo sido responsável por colocar de pé o regulamento da prova, realizando o briefing aos participantes, para além de ter supervisionado as corridas, para que o respeito em pista fosse mantido, tal e qual como acontece na vida real.

3 Jan 2017

Sara Medina, consultora: “Queremos utilizar Macau como plataforma”

É uma das responsáveis da Sociedade Portuguesa de Inovação, empresa portuguesa com representação em Pequim desde 1999. Sara Medina veio a Macau falar da cooperação entre a União Europeia e a China, país que procura cada vez mais projecção ao nível internacional nas áreas da ciência, tecnologia e inovação. Macau tem espaço para crescer lá fora

[dropcap]V[/dropcap]eio a Macau para um seminário sobre ciência, tecnologia e inovação na China, numa perspectiva europeia. A Europa e a China têm estado a cooperar nesta matéria. No programa que antecedeu o Horizon 2020, Pequim já tinha sido um parceiro importante. Como é que a China se posiciona neste momento?
A China tem vindo a apostar muito nas temáticas da ciência, tecnologia e inovação. O 13o Plano Quinquenal aposta muito nessas temáticas e há uma participação nos programas da Comissão Europeia: a obtenção de financiamento, nomeadamente através do Horizon 2020, um programa que está com um financiamento disponível de 80 mil milhões de euros, entre 2016 e 2020. No programa anterior, o 7o Programa Quadro, já se posicionou de uma forma muito boa – estava em terceiro lugar, a seguir aos Estados Unidos e à Rússia. Neste momento, está também a apostar na cooperação com a Europa através da obtenção de financiamento no programa Horizon 2020.

Em que moldes é que o Horizon 2020 se está a desenvolver?
É um programa bastante sofisticado, não é de fácil acesso, é preciso compreender muito bem quais são as diferentes estruturas e oportunidades que existem. Há oportunidades no agro-alimentar, na energia, na cooperação internacional – existem várias áreas que estão disponíveis. Através do financiamento que está também disponível através do Ministério da Ciência e Tecnologia chinês e da Academia de Ciências Chinesa, proporciona-se a instituições chinesas – universidades, centros de investigação e empresas – que possam candidatar-se e obter este tipo de apoio. O objectivo final é aumentar a cooperação com os Estados membros da União Europeia, que ainda são, neste momento, 28. Acaba por ser muito interessante, porque o financiamento disponível vai proporcionar encontros – vai haver reuniões na Europa e na China –, e ter acesso a fontes de informação que, de outra forma, não estariam disponíveis. Visa também a cooperação ao nível da transferência de tecnologia e nas temáticas da ciência, tecnologia e inovação.

Trabalha há já vários anos com a China e com a Ásia. Os últimos anos têm sido muito importantes para a projecção da China nestas áreas, concorda?
Certo. Trabalho na SPI (Sociedade Portuguesa de Inovação), uma empresa de consultadoria focada nas temáticas da ciência, tecnologia e inovação. A empresa foi criada em 1996, pelo meu pai [Augusto Medina], professor catedrático da Universidade do Porto. Em 1996 surgiu o Livro Verde da Inovação da Comissão Europeia. Isso inspirou-o para a criação desta empresa, que faz uma ligação entre as empresas privadas, as universidades e as instituições de carácter científico e tecnológico, e as organizações internacionais. Temos, neste momento, 75 pessoas e estamos aqui na China desde 1999, com um escritório de representação em Pequim, e criámos em 2010 uma empresa aqui em Macau. Em Pequim, temos três consultores a tempo inteiro e temos estado a trabalhar muito nos programas de cooperação de ciência, tecnologia e inovação com a China. Temos vários projectos neste momento a decorrer, tanto na área das doenças epidemiológicas – um tema muito específico, muito técnico –, como ao nível do programa Dragon Star Plus [um programa de cooperação entre a União Europeia e a China nas áreas da pesquisa e da inovação]. Ganhámos agora um novo projecto para a criação de um centro de investigação e inovação na China, que vai ter a sede em Pequim, e tem também um conjunto de parceiros muito interessantes – entre eles o centro que faz parte do Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável por todos os parques de ciência e tecnologia na China e as incubadoras de empresas. Temos uma rede de parceiros por toda a China Continental e queremos também poder utilizar Macau como uma plataforma, que também pode beneficiar deste centro que vai arrancar agora em 2017.

Como é que surgiu esse interesse pela China? Há 17 anos, o país era muito diferente daquilo que é hoje.
Na altura ainda não estava na SPI – estou desde 2003. O meu pai veio a uma reunião em Macau e foi a Xangai, e achou que isto era tão diferente que, para se trabalhar com o Oriente, era necessário termos presença física. Foi assim que se decidiu criar o escritório de representação em Pequim. Neste momento, já temos também um escritório em Singapura, por isso temos também projectos no Sudeste Asiático. Este escritório permite-nos alargar o trabalho à Indonésia, à Malásia… Esta região é muito interessante, está a fazer-se um trabalho muito interessante, e Macau é também um ponto crucial para nós.

Que participação pode ter Macau nesta dinâmica da área da ciência, tecnologia e inovação?
Existe o Fundo de Ciência e Tecnologia de Macau (FCTM) – tenho uma reunião marcada para hoje – que permite co-financiar entidades locais que queiram candidatar-se a projectos do Horizon 2020. Como na China Continental existe o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Academia das Ciências Chinesa, aqui em Macau existe o FCTM. Por isso, entidades de Macau são incentivadas para poderem cooperar com a Europa. Penso que é uma área interessante e que, neste momento, está pouco explorada. A informação que tenho é que não existe nenhuma entidade de Macau que tenha recebido financiamento para participar no Horizon 2020. Na reunião vou ver até que ponto é que podemos trabalhar mais em conjunto com entidades locais para que aumentem a sua participação neste programa.

22 Nov 2016

Web Summit | Evento em Lisboa sem startups de Macau

Macau não respondeu aos apelos do primeiro-ministro português António Costa e não tem nenhuma startup representada na Web Summit, uma das principais cimeiras mundiais de tecnologia que começou há dois dias em Lisboa. Alguns empresários locais participam de forma individual para analisar o evento e o mercado

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m olhar para a lista de empresas que participam na edição deste ano da Web Summit, em Lisboa, permite chegar à conclusão de que Macau não levou nenhuma startup à capital portuguesa, ficando atrás no contexto asiático que, este ano, tem muita expressão numa das maiores cimeiras mundiais de tecnologia. Regiões como Taiwan e Hong Kong estão presentes com várias empresas, incluindo a China, o Japão e a Índia. Nem o Sudeste Asiático escapa à presença na Web Summit, existindo empresas da Tailândia, da Malásia e até do Myanmar, que começa agora a abrir-se ao mundo.

O HM confirmou junto do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento (IPIM) que não foi enviada qualquer delegação de Macau a Lisboa, apesar dos recentes apelos deixados pelo primeiro-ministro português, António Costa, aquando da sua visita ao território.

A vinda de Costa a Macau foi mesmo pautada pela assinatura de um memorando de entendimento para “promover o empreendedorismo e o apoio às startups”, celebrado num evento destinado a olhar para a criação destas empresas ligadas à tecnologia, internet e redes sociais.

“Na economia de hoje, assente no conhecimento, na criatividade e inovação, se há algo que é essencial é estabelecer pontes (…) entre o talento e a diferença. É esse trabalho que queremos prosseguir à escala global, acolhendo em Portugal em Novembro, e nos próximos três anos, o maior evento mundial na área da inovação e do empreendedorismo, que é o Web Summit”, disse António Costa na altura.

Olhar lá para fora

Ao HM, o economista José Sales Marques recorda-se das declarações do governante português e confessa ter até ficado “entusiasmado” com a possibilidade de as empresas de Macau se poderem mostrar em Lisboa.

“Não é uma notícia agradável porque fiquei com a impressão de que Macau estaria representado. O evento em Lisboa é de muitíssima importância e teria sido também muito importante que empresas de Macau participassem”, aponta. “As empresas de Macau têm de ir lá para fora, faz parte do processo de diversificação que Macau quer empreender e é necessário que as empresas sejam competitivas.”

O economista considera que as Pequenas e Médias Empresas (PME) de Macau devem conseguir ir além dos apoios do Governo. “A iniciativa privada e o empreendedorismo são fundamentais e, nessa perspectiva, a aquisição de experiências novas e a entrada em ambientes mais competitivos faz as empresas e os projectos ganharem força. O apoio de qualquer só faz sentido se for complementar. O fundamental é que esses projectos ganhem o interesse dos mercados e investidores privados.”

“É evidente que o caminho a percorrer é só um, e exige que as nossas empresas apareçam e façam aquilo que referi. O apoio do Governo pode ser fundamental em certos aspectos, mas nunca será apenas por essa via que as nossas empresas irão expandir-se”, referiu o economista.

Os que foram sozinhos

Apesar da ausência de uma delegação oficial, a Web Summit conta com a participação de alguns empresários locais que foram sobretudo analisar o evento e o próprio mercado. O HM apurou que o empresário Jorge Neto Valente está presente, bem como outros empresários do território.

A participação de Manuel Correia da Silva, um dos fundadores da marca de moda Lines Lab, surgiu da realização do evento sobre startups em Macau e do protocolo assinado. O designer foi a Lisboa apresentar o seu mais recente projecto a convite da Fábrica de Startups Portuguesa e do Turismo de Portugal.

A startup que Manuel Correia da Silva quer implementar chama-se “I’m Mo” e trata-se de “uma plataforma online que gere e cria valor ao tempo livre que nós temos, para que possamos saber o que podemos fazer, onde e como”, conta. “O projecto está ainda a desenvolver-se e é fruto da licenciatura que temos na Universidade de São José, que tem vindo a desenvolver-se fora da faculdade.”

Manuel Correia da Silva falou da adesão massiva que as pessoas têm tido em relação ao evento, com longas filas e muitos bilhetes comprados. “Esta é a primeira vez que participo numa Web Summit e interessava-me saber o formato e os conteúdos de uma cimeira como esta. Já tinha participado num evento de Hong Kong ligado às startups, mas com uma escala completamente diferente. Queremos aproveitar a vinda de todas estas pessoas a Lisboa para lançar algumas parcerias, algumas que já temos e que estão presentes e estamos a aproveitar para trabalhar com elas.”

Sobre a ausência de Macau da cimeira, o designer acredita que, nos próximos dois anos, haverá possibilidades de maiores participações. “Seria importante haver uma representação mas também teríamos de saber como seria feita, e por quem. A Web Summit vai continuar por mais dois anos em Lisboa e vamos ter a oportunidade de ter Macau representada de alguma maneira, seja mais governamental ou independente”, conclui.

A cimeira tecnológica que nasceu em 2010 na Irlanda, e que se realiza pela primeira vez em Portugal, vai manter-se em Lisboa até 2020 e poderá prolongar-se por mais dois anos, havendo uma expectativa de retorno financeiro na ordem dos 175 milhões de euros para a edição de 2016.

Entre os mais de 50 mil participantes estarão 7787 portugueses. Além dos que vêm da área tecnológica, muitos são de sectores tradicionais como o retalho, a construção, a advocacia e a agricultura. Os participantes são oriundos de mais de 165 países, incluindo a presença de mais de 20 mil empresas e mais de duas mil startups.

OMC defende necessidade de apostar na tecnologia

O director-geral da Organização Mundial do Comércio, Roberto Azevêdo, considerou que o comércio é o “alvo fácil” das sociedades, quando é a inovação e a tecnologia que estão a reduzir os postos de trabalho nos empregos tradicionais.

“Temos um problema e está aí. E o problema é que hoje no mercado de trabalho existem sentimentos de incerteza, sentimentos de abandono, de as pessoas terem sido deixadas para trás, de não terem oportunidades suficientes”, disse o responsável brasileiro da OMC na abertura da Web Summit em Lisboa.

Roberto Azevêdo disse que “muita desta culpabilização do comércio é uma forma de encontrar um alvo fácil, o inimigo fácil, o forasteiro”. “Apontar o que é diferente e que vem de fora. E isso é injusto. Mas se formos honestos e virmos o que está a acontecer com o mercado de trabalho, não tem nada que ver com o comércio”, disse o responsável da OMC.

O dirigente da entidade que regula o comércio mundial admitiu que “dois em cada dez empregos que se perdem nas economias avançadas têm que ver com o comércio”. “Mas oito em dez ou mais tem que ver com novas tecnologias, tem que ver com maior produtividade, com inovação. E não podemos estar contra essas coisas, não podemos lutar contra essas coisas. Temos de as abraçar e perceber que são o futuro”, disse Roberto Azevêdo.

O director-geral da OMC deu como exemplo o serviço de entrega “em grande escala” de encomendas e pacotes por drones ou por camiões automáticos, sem condutor. “Só nos Estados Unidos há 3,5 milhões de condutores de camiões. Esses tipos vão perder os seus empregos. E não só eles? Todos os da assistência à beira das auto-estradas, cafés, restaurantes, estações de serviço. O que vai acontecer com todas estas pessoas?”, questionou o dirigente perante muitos milhares de jovens que assistiam à abertura da Web Summit.

Roberto Azevêdo também considerou que não vale a pena dizer “daqui a uns anos que não se sabia que isso ia acontecer”. “Isto vai acontecer. A questão é saber como lidas com isso. Se não perceberes qual é o problema vais receitar o remédio errado, e o remédio errado é o proteccionismo”, disse o responsável da OMC, para quem essa receita significa “esmagar as oportunidades de milhares de pessoas como as que estão aqui hoje”. “Jovens que querem ser empreendedores, que querem conectar-se e fazer negócios. O comércio não é o monstro, mas também não é a panaceia”, concluiu.

9 Nov 2016