Reportagem | Visita ao mundo das corridas virtuais de Macau

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]outros tempos, os aficionados por velocidade tinham poucas opções para saciarem a adrenalina. Ou viam os Grande Prémios de Fórmula 1 na televisão, e isso só abria ainda mais o apetite, ou davam umas “aceleradelas” em Coloane ou esperavam e desesperavam por Novembro pelo Grande Prémio de Macau. Os tempos mudaram e agora nem sequer é preciso sair de casa ou esperar pelo que quer que seja. Basta um computador bem apetrechado com um volante com force feedback (reprodução exacta da sensibilidade do volante), um banco estilo competição e um bom televisor de plasma e voilá: temos um simulador de alta qualidade. Esta é a receita perfeita para quem gosta dos prazeres da velocidade e não tem possibilidades para “queimar borracha” ao vivo e a cores.

Com o crescimento dos eSports (competições profissionais de jogos electrónicos), que hoje em dia representam uma indústria que movimenta milhões e cujos profissionais, em alguns países já considerados atletas de alto rendimento e chegam a auferir chorudos ordenados, elevou a parada para outros níveis. A capacidade hoje existente de jogar online, contra “pilotos virtuais” de qualquer outra parte do planeta, abriu as portas à materialização e expansão das competições virtuais de automobilismo (ou Sim Racing, na designação inglesa). Esta resulta da fusão da tecnologia avançada da simulação de corridas para criar um desporto totalmente novo atendendo às expectativas cada vez mais exigentes de uma audiência que procura uma melhor experiência, proporcionando quase todas as reacções físicas como em competição num carro “real”.

Plataformas como as do Assetto Corsa, iRacing ou a série rFactor, ou, nas consolas, as séries F1, MotoGP, Nascar, Forza, Grid, Gran Turismo e Project Cars, abriram as portas para um novo consumidor de desportos motorizados. É fruto desta pequena revolução digital que nasceu a Associação SimRacing Macau-China (Macau SimRacing Association, na sua designação inglesa); a primeira associação para corridas de simuladores registada em Macau e no Sudeste Asiático, constituída por um grupo de apaixonados de simuladores de automóveis (Sim Racers, na designação inglesa) que esperam competir com os melhores da especialidade em todo o mundo.

“A SimRacing é uma plataforma e método de treino para aqueles que são entusiastas e apaixonados pelos desportos motorizados. A nossa missão é levar o Sim Racing (abreviatura de Simulator Racing) até outro nível em Macau e no Sudeste Asiático”, lê-se na introdução da associação fundada por Carlos Fu, Simon Sanchez e Bruno Cardoso, na rede social Facebook.

A razão de existir

Apesar da sua reduzida dimensão, Macau goza de uma história e reputação no automobilismo mundial que é de fazer inveja às grandes nações do continente asiático. Várias gerações nasceram a ver o Grande Prémio e nem todos escaparam ao “vírus” dos desportos motorizados. Com a possibilidade de participar a sério no Grande Prémio e outras competições automóveis cada vez mais reduzida, devido aos custos cada vez mais altos e profissionalismo exigido, o virtual acaba por ser um escape indicado para aqueles. Aliando uma velha paixão da terra ao rápido desenvolvimento dos desportos virtuais nasceu a Associação SimRacing Macau-China.

“Criamos a associação porque verificamos que esta modalidade tem crescido em vários países a nível de números de participantes e do nível de profissionalismo, o que implicou a necessidade de se elevar o nível organizativo”, explicou o presidente Carlos Fu ao HM. “Entendemos que Macau também devia ter uma organização para regular o Sim Racing e uma vez que existe um intercâmbio bastante activo entre várias associações de vários países, decidimos que o nome de Macau podia estar melhor representado nesta modalidade, não só a nível asiático mas também a um patamar mais alto, a nível internacional”.

Os esforços das gentes da terra não têm sido em vão, pois “até fomos convidados para ser um dos membros de uma entidade internacional de Sim Racing que se encontra a formar por várias associações internacionais, o que nos deixa bastantes orgulhosos em ver o nome de Macau nos planos de uma organização tão importante do mundo do Sim Racing”.

Sabendo que há muitos entusiastas de automobilismo no território, o panorama actual das corridas de simuladores na RAEM está ainda muito verde. “Existem poucas lojas em Macau onde se possa experimentar correr em simuladores e as corridas não são através da internet, ou seja, competem entre os que estão na loja, ao contrário dos membros da MSRT que têm montando em casa os seus próprios simuladores”, clarifica Fu.

A Macau SimRacing Team tem actualmente doze pilotos a competir em provas internacionais.

“A nível de corridas internacionais podíamos ter mais participantes porque é sabido que todos os anos vemos pilotos locais a participarem em corridas automobilísticas, por isso seria óptimo juntarmos a todos os cidadãos que querem experimentar o automobilismo sem suportar os elevados custos e riscos que o automobilismo acarreta”, aclara Fu que realça que “é ainda do conhecimento geral que os pilotos profissionais usam o Sim Racing para treinos e adaptação a circuitos. Podemos perguntar a todos os pilotos que vêm ao Grande Prémio de Macau, quantos usaram os simuladores para treino de adaptação do Circuito da Guia. Acredito que mais de 90% respondem afirmativamente. Muitas vezes encontramos vários pilotos profissionais com renome a correr na mesma corrida que nós”.

A associação apoia a equipa Macau SimRacing Team, que tem experiência em corridas internacionais há mais de 10 anos, e conta com alguns ex-pilotos que já participaram no Grande Prémio e em corridas de karting. A equipa compete neste momento no campeonato asiático de GT3 organizado pela “Sim Racers Asia” e ainda no Campeonato de Fórmula 2.0 organizado pela “Center Force Racing”, ambos na plataforma de iRacing para PC.

“Para um futuro próximo vamos entrar em mais corridas e em diferentes plataformas, como o RaceFactor 2, Project Cars, Assetto Corsa, etc”, diz o nosso interlocutor. “Bem como em breve a associação irá organizar um troféu e já recebemos aceitação de convites de vários pilotos da Ásia, Europa e dos EUA. Com a corrida a ser transmitida em directo no Youtube, com comentários em directo e em diferido para o Youku para os entusiastas da China. Estamos a obter bons resultados em quase todas as competições em que participamos, falo em vitórias e em posições do pódio em várias corridas. Esperamos ganhar o campeonato a nível de pilotos e em equipas na classe “clubman” do campeonato asiático de GT3”. Recentemente dois pilotos de Macau estrearam-se na “World Cup of iRacing 24 Hours Endurance race” a convite do iRacing Asia Club.

Falta de apoios

Até aqui a associação ainda não recebeu qualquer apoio do governamental e os únicos suportes com que conta são os pequenos patrocinadores que apoiam a equipa nas corridas do mundo virtual. “Todo o equipamento é pessoal. A equipa da Macau SimRacing Team tem patrocinadores que apoiam a modalidade e em troca têm a sua marca divulgada nos nossos carros. O SimRacing tem sido largamente divulgado nos media, as corridas são transmitidas em directo no Youtube e até tem comentários profissionais. Existem equipas que por exemplo têm patrocínios oficiais de grandes empresas mundiais, tal como acontece nas corridas de automobilismo”, explica Bruno Cardoso.

Os custos de competir não se aproximam do real, apesar das despesas dependerem da carteira de cada um. Qualquer novo entusiasta tem que estar preparado para o investimento inicial.

“O preço do material varia bastante”, diz-nos Fu. “O essencial é o conjunto volante e pedais. Existem volantes a 2 ou 3 mil patacas, como também existem uns melhores que podem chegar às dezenas de milhares patacas. O mesmo para os pedais e outros acessórios. Ainda se pode adquirir um “cockpit” fixo constituído por suportes de monitores, volante, pedais, mudanças, banco, etc, ou até um cockpit com suporte de movimentos, que se podem adquirir por dezenas de milhares até os mais sofisticados que ascendam a um milhão de patacas!”

De Macau para o mundo

A curto prazo a Associação SimRacing Macau-China espera, para além de aumentar o número de associados, crescer internacionalmente.

Fu não esconde que “a associação foi convidada para ser membro de uma organização internacional, que é constituída por associações de SimRacing de vários países e que eventualmente irá funcionar como a FIA. Queremos ser mais activos e sermos vistos como uma associação activa em prol do desenvolvimento do SimRacing na Ásia e progressivamente a nível internacional”.

Os objectivos não se ficam por aqui, pois “queremos juntar mais praticantes de Sim Racing e prestar apoio técnico, com a ajuda de membros mais experientes, para desenvolver e regular o Sim Racing em Macau com o intuito de ajudar pilotos que competem automobilismo e para aqueles que competem Sim Racing para todos obterem bons resultados em competições internacionais em representação de Macau”. Mas para crescer e para que alguns destes objectivos sejam palpáveis, Fu espera que lhe sejam concedidos “apoios por parte das entidades governamentais e até empresariais. Todos juntos temos condições de ter um papel importante no mundo Sim Racing”, conclui.

Tal como o automobilismo real, esta vertente virtual pode ser atractiva para uma RAEM que procura “diversidade” na área do turismo e diversão. Fu relembra que “eventos internacionais de SimRacing, como a Simrace Expo 2016, que se realizou em Nürburgring, Alemanha, atraem bastantes entusiastas e patrocinadores do automobilismo. Sabemos que Macau tem todas as condições de organização de eventos internacionais deste tipo, o que certamente poderá ajudar muito na diversidade do turismo local”.

Casos de Sucesso

A GT Academy – uma iniciativa da Playstation e da Nissan – tendo vindo ao longo dos anos a permitir que vários candidatos a piloto saltem do sofá para as mais reputadas pistas deste mundo. O espanhol Lucas Ordoñez foi o primeiro vencedor de sempre da GT Academy, o pioneiro da história “da virtualidade para a realidade” da Nissan. Foi o primeiro vencedor da GT Academy a competir nas 24 horas de Le Mans, dominando as manchetes quando terminou a grande corrida francesa com um lugar no pódio à classe.

Jann Mardenborough, que se estreou no Grande Prémio de Macau no passado mês de Novembro, é outro caso de sucesso maior da GT Academy até o momento. O piloto galês foi vencedor do programa em 2011, superando 90 mil candidatos. Filho de um ex-futebolista, Jann tem agora a sua carreira a ser gerida pela Nissan e compete ao mais alto nível no Japão, tanto na Fórmula 3, como no campeonato Super GT.

Em Portugal, Miguel Faísca também teve a oportunidade de sair do virtual para uma temporada a sério, em 2014. No super-competitivo campeonato Blancpain Endurance Series, o português de 27 anos conduziu um Nissan GT-R Nismo GT3 igual aquele que André Couto tem competido nos últimos anos no Japão. Em 2015, o sonho de uma carreira no desporto motorizado esvaneceu-se, mas Faísca foi viver para Inglaterra, seguindo a paixão de criança, e este ano voltou a competir, correndo nas 4 horas do Estoril com um protótipo Ligier JS P3 Nissan.

Edgar Lau é talvez o melhor exemplo na região. O “gamer” de Hong Kong participou na GT Academy nos Estados Unidos da América. Não venceu, mas esta participação deu-lhe motivação para tentar algo mais no automobilismo. Este ano alinhou pela primeira vez no Grande Prémio de Macau, com um SEAT Léon Cup Racer com o logótipo da Associação SimRacing Macau-China no carro, terminando num honroso 13º lugar na Corrida da Guia.

Uma perninha em Zhuhai

No fim-de-semana de 10 e 11 de Dezembro, a MRS Motor Racing Simulator, que pertence ao ex-piloto de Macau de Fórmula 3 Michael Ho, organizou um evento na cidade vizinha de Zhuhai que contou com a participação de algumas caras conhecidas do automobilismo da região, como André Couto ou Adderley Fong (primeiro piloto de Hong Kong a conduzir um F1 da era moderna), para além de pilotos de topo das corridas de carros de turismos locais, como Kelvin Leong, Jerónimo Badaraco ou Andy Yan (campeão do TCR Asia Series). A associação foi convidada a prestar apoio à organização do evento como “oficiais”, tendo sido responsável por colocar de pé o regulamento da prova, realizando o briefing aos participantes, para além de ter supervisionado as corridas, para que o respeito em pista fosse mantido, tal e qual como acontece na vida real.

3 Jan 2017

Sara Medina, consultora: “Queremos utilizar Macau como plataforma”

É uma das responsáveis da Sociedade Portuguesa de Inovação, empresa portuguesa com representação em Pequim desde 1999. Sara Medina veio a Macau falar da cooperação entre a União Europeia e a China, país que procura cada vez mais projecção ao nível internacional nas áreas da ciência, tecnologia e inovação. Macau tem espaço para crescer lá fora

[dropcap]V[/dropcap]eio a Macau para um seminário sobre ciência, tecnologia e inovação na China, numa perspectiva europeia. A Europa e a China têm estado a cooperar nesta matéria. No programa que antecedeu o Horizon 2020, Pequim já tinha sido um parceiro importante. Como é que a China se posiciona neste momento?
A China tem vindo a apostar muito nas temáticas da ciência, tecnologia e inovação. O 13o Plano Quinquenal aposta muito nessas temáticas e há uma participação nos programas da Comissão Europeia: a obtenção de financiamento, nomeadamente através do Horizon 2020, um programa que está com um financiamento disponível de 80 mil milhões de euros, entre 2016 e 2020. No programa anterior, o 7o Programa Quadro, já se posicionou de uma forma muito boa – estava em terceiro lugar, a seguir aos Estados Unidos e à Rússia. Neste momento, está também a apostar na cooperação com a Europa através da obtenção de financiamento no programa Horizon 2020.

Em que moldes é que o Horizon 2020 se está a desenvolver?
É um programa bastante sofisticado, não é de fácil acesso, é preciso compreender muito bem quais são as diferentes estruturas e oportunidades que existem. Há oportunidades no agro-alimentar, na energia, na cooperação internacional – existem várias áreas que estão disponíveis. Através do financiamento que está também disponível através do Ministério da Ciência e Tecnologia chinês e da Academia de Ciências Chinesa, proporciona-se a instituições chinesas – universidades, centros de investigação e empresas – que possam candidatar-se e obter este tipo de apoio. O objectivo final é aumentar a cooperação com os Estados membros da União Europeia, que ainda são, neste momento, 28. Acaba por ser muito interessante, porque o financiamento disponível vai proporcionar encontros – vai haver reuniões na Europa e na China –, e ter acesso a fontes de informação que, de outra forma, não estariam disponíveis. Visa também a cooperação ao nível da transferência de tecnologia e nas temáticas da ciência, tecnologia e inovação.

Trabalha há já vários anos com a China e com a Ásia. Os últimos anos têm sido muito importantes para a projecção da China nestas áreas, concorda?
Certo. Trabalho na SPI (Sociedade Portuguesa de Inovação), uma empresa de consultadoria focada nas temáticas da ciência, tecnologia e inovação. A empresa foi criada em 1996, pelo meu pai [Augusto Medina], professor catedrático da Universidade do Porto. Em 1996 surgiu o Livro Verde da Inovação da Comissão Europeia. Isso inspirou-o para a criação desta empresa, que faz uma ligação entre as empresas privadas, as universidades e as instituições de carácter científico e tecnológico, e as organizações internacionais. Temos, neste momento, 75 pessoas e estamos aqui na China desde 1999, com um escritório de representação em Pequim, e criámos em 2010 uma empresa aqui em Macau. Em Pequim, temos três consultores a tempo inteiro e temos estado a trabalhar muito nos programas de cooperação de ciência, tecnologia e inovação com a China. Temos vários projectos neste momento a decorrer, tanto na área das doenças epidemiológicas – um tema muito específico, muito técnico –, como ao nível do programa Dragon Star Plus [um programa de cooperação entre a União Europeia e a China nas áreas da pesquisa e da inovação]. Ganhámos agora um novo projecto para a criação de um centro de investigação e inovação na China, que vai ter a sede em Pequim, e tem também um conjunto de parceiros muito interessantes – entre eles o centro que faz parte do Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável por todos os parques de ciência e tecnologia na China e as incubadoras de empresas. Temos uma rede de parceiros por toda a China Continental e queremos também poder utilizar Macau como uma plataforma, que também pode beneficiar deste centro que vai arrancar agora em 2017.

Como é que surgiu esse interesse pela China? Há 17 anos, o país era muito diferente daquilo que é hoje.
Na altura ainda não estava na SPI – estou desde 2003. O meu pai veio a uma reunião em Macau e foi a Xangai, e achou que isto era tão diferente que, para se trabalhar com o Oriente, era necessário termos presença física. Foi assim que se decidiu criar o escritório de representação em Pequim. Neste momento, já temos também um escritório em Singapura, por isso temos também projectos no Sudeste Asiático. Este escritório permite-nos alargar o trabalho à Indonésia, à Malásia… Esta região é muito interessante, está a fazer-se um trabalho muito interessante, e Macau é também um ponto crucial para nós.

Que participação pode ter Macau nesta dinâmica da área da ciência, tecnologia e inovação?
Existe o Fundo de Ciência e Tecnologia de Macau (FCTM) – tenho uma reunião marcada para hoje – que permite co-financiar entidades locais que queiram candidatar-se a projectos do Horizon 2020. Como na China Continental existe o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Academia das Ciências Chinesa, aqui em Macau existe o FCTM. Por isso, entidades de Macau são incentivadas para poderem cooperar com a Europa. Penso que é uma área interessante e que, neste momento, está pouco explorada. A informação que tenho é que não existe nenhuma entidade de Macau que tenha recebido financiamento para participar no Horizon 2020. Na reunião vou ver até que ponto é que podemos trabalhar mais em conjunto com entidades locais para que aumentem a sua participação neste programa.

22 Nov 2016

Web Summit | Evento em Lisboa sem startups de Macau

Macau não respondeu aos apelos do primeiro-ministro português António Costa e não tem nenhuma startup representada na Web Summit, uma das principais cimeiras mundiais de tecnologia que começou há dois dias em Lisboa. Alguns empresários locais participam de forma individual para analisar o evento e o mercado

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m olhar para a lista de empresas que participam na edição deste ano da Web Summit, em Lisboa, permite chegar à conclusão de que Macau não levou nenhuma startup à capital portuguesa, ficando atrás no contexto asiático que, este ano, tem muita expressão numa das maiores cimeiras mundiais de tecnologia. Regiões como Taiwan e Hong Kong estão presentes com várias empresas, incluindo a China, o Japão e a Índia. Nem o Sudeste Asiático escapa à presença na Web Summit, existindo empresas da Tailândia, da Malásia e até do Myanmar, que começa agora a abrir-se ao mundo.

O HM confirmou junto do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento (IPIM) que não foi enviada qualquer delegação de Macau a Lisboa, apesar dos recentes apelos deixados pelo primeiro-ministro português, António Costa, aquando da sua visita ao território.

A vinda de Costa a Macau foi mesmo pautada pela assinatura de um memorando de entendimento para “promover o empreendedorismo e o apoio às startups”, celebrado num evento destinado a olhar para a criação destas empresas ligadas à tecnologia, internet e redes sociais.

“Na economia de hoje, assente no conhecimento, na criatividade e inovação, se há algo que é essencial é estabelecer pontes (…) entre o talento e a diferença. É esse trabalho que queremos prosseguir à escala global, acolhendo em Portugal em Novembro, e nos próximos três anos, o maior evento mundial na área da inovação e do empreendedorismo, que é o Web Summit”, disse António Costa na altura.

Olhar lá para fora

Ao HM, o economista José Sales Marques recorda-se das declarações do governante português e confessa ter até ficado “entusiasmado” com a possibilidade de as empresas de Macau se poderem mostrar em Lisboa.

“Não é uma notícia agradável porque fiquei com a impressão de que Macau estaria representado. O evento em Lisboa é de muitíssima importância e teria sido também muito importante que empresas de Macau participassem”, aponta. “As empresas de Macau têm de ir lá para fora, faz parte do processo de diversificação que Macau quer empreender e é necessário que as empresas sejam competitivas.”

O economista considera que as Pequenas e Médias Empresas (PME) de Macau devem conseguir ir além dos apoios do Governo. “A iniciativa privada e o empreendedorismo são fundamentais e, nessa perspectiva, a aquisição de experiências novas e a entrada em ambientes mais competitivos faz as empresas e os projectos ganharem força. O apoio de qualquer só faz sentido se for complementar. O fundamental é que esses projectos ganhem o interesse dos mercados e investidores privados.”

“É evidente que o caminho a percorrer é só um, e exige que as nossas empresas apareçam e façam aquilo que referi. O apoio do Governo pode ser fundamental em certos aspectos, mas nunca será apenas por essa via que as nossas empresas irão expandir-se”, referiu o economista.

Os que foram sozinhos

Apesar da ausência de uma delegação oficial, a Web Summit conta com a participação de alguns empresários locais que foram sobretudo analisar o evento e o próprio mercado. O HM apurou que o empresário Jorge Neto Valente está presente, bem como outros empresários do território.

A participação de Manuel Correia da Silva, um dos fundadores da marca de moda Lines Lab, surgiu da realização do evento sobre startups em Macau e do protocolo assinado. O designer foi a Lisboa apresentar o seu mais recente projecto a convite da Fábrica de Startups Portuguesa e do Turismo de Portugal.

A startup que Manuel Correia da Silva quer implementar chama-se “I’m Mo” e trata-se de “uma plataforma online que gere e cria valor ao tempo livre que nós temos, para que possamos saber o que podemos fazer, onde e como”, conta. “O projecto está ainda a desenvolver-se e é fruto da licenciatura que temos na Universidade de São José, que tem vindo a desenvolver-se fora da faculdade.”

Manuel Correia da Silva falou da adesão massiva que as pessoas têm tido em relação ao evento, com longas filas e muitos bilhetes comprados. “Esta é a primeira vez que participo numa Web Summit e interessava-me saber o formato e os conteúdos de uma cimeira como esta. Já tinha participado num evento de Hong Kong ligado às startups, mas com uma escala completamente diferente. Queremos aproveitar a vinda de todas estas pessoas a Lisboa para lançar algumas parcerias, algumas que já temos e que estão presentes e estamos a aproveitar para trabalhar com elas.”

Sobre a ausência de Macau da cimeira, o designer acredita que, nos próximos dois anos, haverá possibilidades de maiores participações. “Seria importante haver uma representação mas também teríamos de saber como seria feita, e por quem. A Web Summit vai continuar por mais dois anos em Lisboa e vamos ter a oportunidade de ter Macau representada de alguma maneira, seja mais governamental ou independente”, conclui.

A cimeira tecnológica que nasceu em 2010 na Irlanda, e que se realiza pela primeira vez em Portugal, vai manter-se em Lisboa até 2020 e poderá prolongar-se por mais dois anos, havendo uma expectativa de retorno financeiro na ordem dos 175 milhões de euros para a edição de 2016.

Entre os mais de 50 mil participantes estarão 7787 portugueses. Além dos que vêm da área tecnológica, muitos são de sectores tradicionais como o retalho, a construção, a advocacia e a agricultura. Os participantes são oriundos de mais de 165 países, incluindo a presença de mais de 20 mil empresas e mais de duas mil startups.

OMC defende necessidade de apostar na tecnologia

O director-geral da Organização Mundial do Comércio, Roberto Azevêdo, considerou que o comércio é o “alvo fácil” das sociedades, quando é a inovação e a tecnologia que estão a reduzir os postos de trabalho nos empregos tradicionais.

“Temos um problema e está aí. E o problema é que hoje no mercado de trabalho existem sentimentos de incerteza, sentimentos de abandono, de as pessoas terem sido deixadas para trás, de não terem oportunidades suficientes”, disse o responsável brasileiro da OMC na abertura da Web Summit em Lisboa.

Roberto Azevêdo disse que “muita desta culpabilização do comércio é uma forma de encontrar um alvo fácil, o inimigo fácil, o forasteiro”. “Apontar o que é diferente e que vem de fora. E isso é injusto. Mas se formos honestos e virmos o que está a acontecer com o mercado de trabalho, não tem nada que ver com o comércio”, disse o responsável da OMC.

O dirigente da entidade que regula o comércio mundial admitiu que “dois em cada dez empregos que se perdem nas economias avançadas têm que ver com o comércio”. “Mas oito em dez ou mais tem que ver com novas tecnologias, tem que ver com maior produtividade, com inovação. E não podemos estar contra essas coisas, não podemos lutar contra essas coisas. Temos de as abraçar e perceber que são o futuro”, disse Roberto Azevêdo.

O director-geral da OMC deu como exemplo o serviço de entrega “em grande escala” de encomendas e pacotes por drones ou por camiões automáticos, sem condutor. “Só nos Estados Unidos há 3,5 milhões de condutores de camiões. Esses tipos vão perder os seus empregos. E não só eles? Todos os da assistência à beira das auto-estradas, cafés, restaurantes, estações de serviço. O que vai acontecer com todas estas pessoas?”, questionou o dirigente perante muitos milhares de jovens que assistiam à abertura da Web Summit.

Roberto Azevêdo também considerou que não vale a pena dizer “daqui a uns anos que não se sabia que isso ia acontecer”. “Isto vai acontecer. A questão é saber como lidas com isso. Se não perceberes qual é o problema vais receitar o remédio errado, e o remédio errado é o proteccionismo”, disse o responsável da OMC, para quem essa receita significa “esmagar as oportunidades de milhares de pessoas como as que estão aqui hoje”. “Jovens que querem ser empreendedores, que querem conectar-se e fazer negócios. O comércio não é o monstro, mas também não é a panaceia”, concluiu.

9 Nov 2016

A era das mudanças radicais

“There are times in politics when the Black Swan shows up; when a highly unlikely, highly improbable event shatters years’ worth of assumptions.”
“What If Trump Wins? Sometimes voters do break the rules” – Jeff Greenfield

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] tecnologia inovadora está a mudar o mundo. A transformação é violenta, implacável e está a acontecer em todas as organizações. É uma nova era tecnológica com incrível potencial para alterar a vida quotidiana das sociedades, e as concepções económicas e políticas que prevaleceram até ao presente. As grandes mudanças de tecnologia terão impacto em três elementos, que são a sociedade, a política e a economia, e que irão mudar drasticamente a nossa vida e o mundo. Por exemplo, são de realçar marcos importantes, como a queda do comunismo, a “Grande Recessão de 2008”, a rápida ascensão do “Estado e Exército Islâmico”, o aparecimento do “Trumpismo” que não é alternativa a nada, segundo Paul Krugman, e o processo que terminou com o “Brexit”.

Se nos concentrarmos no futuro, descobriremos cinco megatêndencias que terão um enorme poder de transformação, sendo a primeira o surgimento de robots, de uma outra forma de inteligência artificial, capazes de ocupar postos de trabalho, e executar actividades a velocidades sem precedentes, e que apenas era possível ser desenvolvida por seres humanos. A segunda será a subida incontrolável do nível das águas nos oceanos que submergirão as zonas costeiras. A terceira será a descoberta de outras manifestações de vida primitiva em todo o universo.

A quarta serão partidos extremistas de direita capazes de tomar o poder em vários países da Europa, criando um grave prejuízo à ideia estabelecida de democracia e a quinta conduz à interrogação sobre o que aconteceria se o Irão desenvolver equipamentos bélicos nucleares? Quiçá as duas últimas megatêndencias pequem gravemente por exagero, ou talvez não, pois tudo depende de uma questão de perspectiva.

Os robots fazem o trabalho, sendo que o custo da sua produção foi reduzido substancialmente, e são considerados especialmente úteis na indústria automóvel, onde começaram por ser utilizados, mas actualmente são usados praticamente em todas as indústrias, não apenas nos Estados Unidos e Europa, mas também com crescente rapidez, no Sudeste Asiático.

O que inquieta é a velocidade a que é feita a deslocação humana, e que irá acontecer muito em breve na economia, em doses elevadas, e não em um futuro distante. Os robots para além de realizarem muitas tarefas que são efectuadas por trabalhadores, estarão em condições de substituir muitos líderes e gestores, e de ocupar posições no campo dos serviços. É o bilhete-postal que intimida a larga classe média em todos os países, que prevê dramáticas consequências laborais para os seus empregos. O novo cenário laboral alterará substancialmente a forma como serão distribuídos os benefícios sociais.

As reformas, pensões e prestações de saúde são pagas através dos empregos actuais ou de pretérito. Quanto à subida do nível do mar, está cientificamente provado que o aquecimento global é real, mas com nuances. O aquecimento global cria violentas tempestades e alterações nos padrões climáticos em todo o planeta, bem como, o permanente aumento do nível dos oceanos e mares, tendo como resultado a existência de águas mais quente e o derretimento das plataformas de gelo no oeste da Antárctida, especialmente na Groenlândia.

Prevê-se que o aumento do nível do mar quadruplique, em 2100, o que agravará o problema, pois convém recordar que nas últimas décadas, milhões de pessoas se deslocaram do interior dos continentes para as zonas costeiras, numa migração contínua, para viverem próximo do mar, bem como aproveitar as vantagens das grandes cidades nas margens dos mares. Actualmente, existem seiscentos milhões de pessoas que vivem em áreas que são periodicamente inundadas. É de recordar que 40 por cento da população dos Estados Unidos vive em zonas costeiras de alta concentração urbana, onde o mar avança impiedosamente e produz a erosão marinha.

A nível global são muitas as cidades que estão em grave risco como Nova Iorque, Boston, São Francisco, Miami, Amesterdão, Veneza, Cidade do Cabo, Tóquio, Xangai, Hong Kong e São Petersburgo. O custo de realojamento de milhões de americanos que serão afectados em um futuro próximo pela subida das águas será de catorze milhões de milhões de dólares, segundo um recente estudo do “Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em língua inglesa) ”. Acresce ao actual fenómeno os milhões de refugiados devido às guerras e conflitos armados nacionais e regionais, fome, secas e inundações. Existirá uma nova classe de refugiados em todo o mundo, que serão os deslocados das zonas costeiras.

A vida em outras partes do universo não está relacionada com ameaças ambientais, sociais ou mesmo políticas. Está relacionada com questões existenciais básicas. O progresso científico e industrial faz que o conhecimento científico esteja cada vez mais disponível, a aceitar que a vida não se limita ao planeta Terra, e que pode existir em muitas outras partes do vasto universo. É conhecida a existência de água, calor e químicos orgânicos em grande quantidade fora do sistema solar.

Os cientistas acreditam fortemente, por estas razões, que a raça humana está próxima de confirmar que existem condições de vida em muitas partes do universo. Prevê-se que essa confirmação se dê nos próximos dez a vinte anos. Não se trata de extraterrestres, pois essa convicção refere-se a pequenos microrganismos. A comprovação da existência de vida em outros planetas levará a abandonar uma visão centrada na Terra, que tem dominado a história da humanidade e todos os seus pensamentos.

Os especialistas em política externa, durante muitas décadas, assumiram o facto de que o comunismo estava entrincheirado na ex-União Soviética e na Europa. Os líderes desses países construíram poderosos estados autoritários que monitorizavam os cidadãos, puniam os dissidentes e mantinham os seus partidos políticos no poder. Alguns académicos pensavam que esses regimes tinham contradições internas que os levariam à sua inexorável morte, mas tais profetas eram vistos como opositores, e não eram levados muito a sério, pelos principais líderes de opinião.

Quando o Muro de Berlim caiu em 1989 e a União Soviética se dissolveu dois anos depois, a política interna e as economias de quase vinte países da Europa Central e da Ásia Central foram transformadas, suspendendo as alianças políticas em todo o mundo. Os principais investidores financeiros ficaram chocados em 2008, quando as principais instituições financeiras da Wall Street entraram em colapso, e uma grande recessão se desencadeou. Os bancos Bear Stearns e Lehman Brothers fecharam as suas portas, os mercados de acções em todo o mundo perderam metade do seu valor, e muitos bancos cessaram de conceder crédito.

Durante décadas ninguém poderia conceber a possibilidade de outra Grande Depressão, o mundo de repente viu-se perigosamente próximo de um colapso financeiro global. O impacto económico devastador desencadeou a ira pública contra as grandes instituições financeiras e governos, e agravou a situação difícil da classe trabalhadora em muitos países. A maioria das pessoas no mundo ocidental foi apanhada de surpresa em 2014, quando um grupo de combatentes muçulmanos se auto denominou de “Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS na sigla em língua inglesa) ou (Daesh na sigla em língua árabe) ”, proclamando um califado, depois de tomar o controlo de grandes partes do Iraque e da Síria, e estabeleceu um império teocrático liderado por uma única figura religiosa e política, parecia algo de medieval para a maioria do mundo, e os líderes do ISIS pouco fizeram para dissipar essa impressão, quando os seus seguidores começaram a decapitar publicamente reféns e a queimar vivos os adversários.

O mundo interrogava-se como era possível existir esse tipo de barbárie na era da globalização, cosmopolitismo secular e extraordinário progresso científico. A população do Reino Unido, em 2016, confundiu os analistas e políticos ao votarem por 52 por cento contra 48 por cento o abandono da União Europeia (UE). Nas semanas que antecederam o referendo, as autoridades financeiras e diplomáticas alertaram sobre as terríveis consequências para a estabilidade fiscal, crescimento económico e comércio internacional se a saída fosse aprovada, mas sob uma onda de sentimentos nacionalistas e anti-Bruxelas, os eleitores apoiaram a saída da UE e um futuro independente para a Grã-Bretanha.

O movimento assustou o bloco comunitário, levando a uma venda dramática da libra inglesa, e agitou os líderes financeiros e políticos em todo o mundo. O acaso não origina a mudança em grande escala que está a ocorrer no período contemporâneo. Muitas das crenças e instituições que ancoraram os assuntos internacionais e domésticos tornaram-se fracas. Os maremotos políticos ocorreram em muitas partes do mundo. Vivemos uma era onde os maiores eventos ocorrem numa base aparentemente regular, implicando mudanças dramáticas nos fenómenos sociais, económicos ou políticos. Essas alterações podem incluir perturbações económicas, transtornos políticos ou conflitos sociais, entre outras situações.

Qualquer um deles pode gerar ramificações que ultrapassam a pequena escala, mudanças graduais que tipificaram historicamente muitos desenvolvimentos societários. Ainda que a extensão e o ritmo da mudança pareçam excepcionalmente dramáticos, a época actual não é a primeira a mostrar evidências de mudanças em larga escala. Ao longo da história, impérios e civilizações apareceram e sucumbiram com regularidade. As nações cresceram em importância e depois entraram em colapso, devido a desafios económicos, invasões estrangeiras, conflitos internos ou desastres naturais.

8 Nov 2016

China | Lançada com êxito missão ao Espaço com dois astronautas

Com o lançamento da nave tripulada “Longa Marcha 2F”, esta segunda-feira, a China continua a tentar aproximar-se da Europa e dos Estados Unidos nas conquistas espaciais

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China lançou ontem com êxito a missão espacial tripulada Shenzhou-11, com dois astronautas a bordo, que deverão passar um mês no espaço, no laboratório Tiangong-2.

O foguetão “Longa Marcha 2F” foi lançado sem problemas às 07:30 locais, a partir do centro de Jiuquan, na província de Gansu, no deserto de Gobi, segundo os responsáveis pela missão.

Uma câmara colocada dentro da cápsula permitiu ver os dois astronautas, Jing Haipeng e Chen Dong, durante todo o lançamento e chegada à órbita terrestre.

Esta é a sexta missão que a China envia para o espaço com astronautas a bordo e será a mais longa, se tudo correr como planeado.

Os dois tripulantes da nave Shenzhou-11 permanecerão 33 dias em órbita. A missão anterior demorou 15 dias.

Jing Haipeng, de 50 anos, faz a sua terceira viagem espacial e comanda a nave, levando consigo o estreante Chen Dong, de 37 anos.

O principal objectivo da missão Shenzhou-11 é verificar o correcto funcionamento dos sistemas do laboratório Tiangong-2 e começar os preparativos para a futura estação espacial chinesa, que as autoridades de Pequim esperam ter a funcionar até 2022.

Os dois astronautas farão ainda experiências científicas, que incluem projectos em colaboração com instituições académicas e outros propostos por estudantes do ensino secundário de Hong Kong sobre medicina, física espacial ou botânica.

Pequim tem vindo a investir no seu programa espacial, na tentativa de acompanhar os progressos dos Estados Unidos da América e da Europa.

Anunciou em Abril que quer enviar uma nave espacial “perto de 2020” para orbitar Marte, aterrar e colocar um ‘rover’ para explorar a superfície do Planeta Vermelho.

Pequim vê o programa espacial como um símbolo do progresso da China e da sua emergência como potência mundial.

No entanto, até agora, tem reproduzido apenas actividades em que os Estados Unidos e a União Soviética foram pioneiros há várias décadas.

Parabéns presidenciais

O presidente chinês Xi Jinping enviou uma mensagem de felicitações pelo lançamento bem-sucedido da nave espacial tripulada.

Xi expressou enviou mensagens de parabéns a todos os investigadores e funcionários envolvidos na missão assim como aos astronautas.

Pediu que os funcionários da missão garantam a boa realização das metas planeadas, encorajando-os a “abrir novos caminhos de forma constante para o programa espacial tripulado, para que o povo chinês dê maiores passos e avance mais na pesquisa do espaço, e faça novas contribuições para construir a China numa potência espacial”, relata a Xinhua.

O Presidente chinês enviou a mensagem de Goa, onde participou na 8º Cimeira dos BRICS.

18 Out 2016

UM | Conferência sobre inteligência artificial

Depois do sucesso do programa AlphaGo da Google, a inteligência artificial (IA) está na ordem do dia. Na passada semana, o professor Lionel Ni, vice-reitor da Universidade de Macau (UM), deu uma palestra onde explicou o fenómeno. Para o académico, por muito inteligente que as máquinas sejam, os humanos não precisam de ter medo delas. Mas reconhece que milhões de empregos vão desaparecer

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]arecia mais um acontecimento trivial, mas quando o AlphaGo derrotou o tricampeão Europeu de Go a comunidade científica começou a perceber que as mudanças que se esperavam bem mais para frente vão começar bem mais depressa. Apenas meses antes vários especialistas entendiam que precisaríamos de mais uns dez anos para tal ser possível. Para se ter uma ideia, o Go é um jogo muito mais complexo que o xadrez, com cerca de 10¹⁷⁰ posições possíveis no tabuleiro (no universo existem apenas 10⁸⁰ átomos). A grande diferença nestes sistemas de IA é terem por base o que se chama Deep Neural Networks, uma espécie de cérebros humanos, o que permite às máquinas aprenderem de uma forma estonteante. Tal como nós, as máquinas agora aprendem por associação de conceitos a imagens e situações com a vantagem de terem acesso directo à designada Biga Data. Basicamente esta define-se por toda a informação que vamos produzindo e colocando online diariamente. Para se ter uma ideia do volume que isso representa, um estudo de 2013 elaborado pela SINTEF (a maior organização independente de pesquisa da Escandinávia) estima que 90% de toda a informação no mundo tenha sido criada nos dois anos anteriores, sendo duplicada a cada ano e meio. Estas notícias fazem muitos temer pelo futuro robótico que se anuncia, onde as máquinas irão substituir os humanos, quiçá, ameaçar a nossa a existência. Mas em relação a isso, o prof. Lionel Ni tem uma postura tranquila garantindo que “as máquinas não vão causar problemas aos humanos” afirmando mesmo que, “com a tecnologia actual, as máquinas não vão suplantar a inteligência humana”.

Milhões de empregos em risco

A IA vai, todavia, destruir milhões de postos de trabalho e nesse aspecto o professor não discorda. Quando confrontado com o exemplo do sistema “Amélia” da IPsoft, em beta testes em várias grandes empresas mundiais e que irá substituir todos os serviços de assistência ao cliente e de telefonistas, estimando-se na ordem dos 250 milhões de postos de trabalho a serem extintos em todo o mundo quando estiver em pleno funcionamento, o catedrático ironiza dizendo que “pode ser que tenhamos todos mais tempo para ir de férias e passar tempo com as famílias”. Segundo o académico, apenas os empregos “low tech” estão em risco e aponta a inovação como o caminho a seguir.

Novo motor a vapor

“As maiores empresas estão a contratar todos os que podem para trabalhar nesta área. Os meus alunos nos Estados Unidos estão todos empregados,” disse à audiência que enchia o auditório da UM confirmando a grande procura de profissionais para a área da IA. “É um grande avanço tecnológico”, diz o professor, “como a invenção do motor a vapor”, garante, o que diz bem do potencial revolucionário desta nova tecnologia. “É claramente uma nova ferramenta” diz o académico mas reforça que “a inovação tecnológica deve ajudar a humanidade e a pesquisa científica não deve trazer desastres nem a máquina deve tornar o homem inútil” reconhecendo, todavia, que os “computadores não erram” pois não têm emoções como nós. Mas será que podem vir a ter já que podem aprender, quisemos saber, mas Lionel recusa-se a acreditar nisso.

Salário para não trabalhar

A propósito das potenciais rupturas que esta tecnologia pode vir a criar nos sistemas sociais pelo mundo fora, vários cientistas, onde se inclui o Andrew Ng, Cientista Chefe da Baidu e fundador do projecto de Deep Learning “Google Brain”, Andrew Ng, defendem que os governos devem começar a pensar seriamente na possibilidade de criarem um rendimento garantido para toda a população. “Existe uma forte possibilidade de que a IA vá criar desemprego massivo”, disse Ng na última Cimeira de Deep Learning realizada já este ano. Em relação a esta solução Lionel Ni vai adiantando que “é um problema dos políticos” mas reconhece que “impostos mais altos para a indústria para distribuir mais dinheiro pelas pessoas poderão ter de vir a ser considerados”. Contrariamente a outros seus colegas que entendem que os avanços tecnológicos a partir de agora serão parabólicos e não lineares, o professor Lionel Ni entende que “as mudanças irão ser graduais”.

29 Mar 2016

Conselho de Ciência e Tecnologia reestruturado

O Governo decidiu criar mais um cargo de vice-presidente no Conselho de Ciência e Tecnologia, remunerado, mas este ano o organismo só reuniu uma vez e sem a presença do seu presidente, Chui Sai On. Pereira Coutinho promete levar o assunto ao hemiciclo

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]sta semana o Conselho de Ciência e Tecnologia, organismo com carácter consultivo, sofreu a segunda alteração do ano. Depois de ter decidido pela extinção do secretariado, o Governo criou um segundo cargo de vice-presidente, que será ocupado por uma personalidade nomeada por Chui Sai On e remunerado com base em senhas de presença. O primeiro vice-presidente é o Secretário para as Obras Públicas e Transportes e o presidente é o próprio Chefe do Executivo.
Ao HM, o Gabinete do Secretário da tutela, Raimundo do Rosário, garantiu que o Conselho só reuniu uma vez este ano e sem a presença do Chefe do Executivo. Confrontado com o assunto, o deputado José Pereira Coutinho prometeu apresentar uma interpelação oral sobre o assunto na Assembleia Legislativa (AL).
“Parece esquisito criar mais um cargo elevado com mais um salário, numa altura em que há restrições orçamentais para a contratação de mais trabalhadores”, apontou. E dá o exemplo do Fórum Macau como uma entidade que precisa de mudanças. “Onde era necessário mais um coordenador-adjunto é no Fórum Macau, porque a senhora [Echo Chan], pediu a demissão após sete meses e agora está outra senhora [Cristina Morais]. O Fórum não tem pessoal, as coisas não estão a funcionar bem por dentro”, apontou.

Sem resposta

Arnaldo Santos, coordenador do Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético (GDSE), é um dos membros do Conselho e confirmou ao HM que “habitualmente o Conselho reúne uma vez por ano”, mas que “as comissões específicas têm reuniões mais frequentemente”.
Questionado sobre se é necessário tornar o Conselho mais activo, Arnaldo Santos prefere não responder. “Não sei responder a essa pergunta, porque só sou conselheiro para assuntos técnicos. Isso depende das necessidades, se calhar é necessário criar mais um cargo de vice-presidente. Isso é o Governo que entende que é necessário criar mais postos.”
Já Eilo Yu, docente de Ciência Política na Universidade de Macau (UM), defende que tem de ser analisado “se o Conselho pode ter mais reuniões no futuro”, algo que “pode de certa forma provar o valor atribuído a esse Conselho”.
“Segundo a estrutura do Governo, quando o Chefe do Executivo é o presidente do Conselho, é porque o Governo está muito preocupado com as opiniões obtidas nessa área. Significa também que o Conselho tem o seu poder de intervenção em termos de políticas. O problema é que [Chui Sai On] tem uma agenda apertada e não é fácil ir a todas as reuniões. E essa é uma questão fundamental no Governo, de como podemos lidar com essas questões”, rematou o académico.

28 Out 2015

O telemóvel mal-educado

200_s[dropcap style=’cirlcle’]T[/dropcap]ortura, entre outros, é também ter de digerir afirmações de ilustres que verbalizam assuntos como se do objecto em discussão alguma coisa entendessem, quando na verdade deveriam era aproveitar a oportunidade para se manterem calados, contribuir para a redução da poluição sonora e a criação de um ambiente favorável à manutenção da nossa sanidade mental.

E é esse o tema que vai ser hoje abordado: silêncio e sanidade mental.

A pedido do meu filho, no sábado passado passei com ele a manhã no Museu das Comunicações, um excelente sítio com expositores de altíssima qualidade. A todos aqueles que gostam de bater no Governo por tudo e por nada, e sem razão nenhuma, eis aqui um exemplo demonstrativo de que nem tudo no Governo está mal, porque o Governo tem coisas boas também. E muitas até.

Regressando ao Museu. Uma das atracções preferidas do meu filho são os telefones antigos que ainda funcionam perfeitamente. Entre eles, estão aqueles pretos de discar e em forma de champuleung que a CTT instalava no passado, nos tempos em que os números de telefone em Macau tinham apenas quatro algarismos.

“Sabes, o papá quando era pequeno tinha um telefone assim em casa”, disse eu para o meu filho. Olhou para mim sem perceber se era a brincar ou a sério.Como as coisas mudaram. Eram tempos em que telefonava para a casa dos meus amigos e não sabia ao certo o que iria acontecer, pois (1) podia não ser o meu amigo a atender a chamada, pelo que tinha de dizer “olá, queria falar com o fulano de tal, se faz favor” e do outro lado até podia vir um “e quem fala, se faz favor?”; e (2) o meu amigo podia até não estar em casa, pelo que então podia responder “ah, então diga-lhe se faz favor que liguei, fico então à espera que me devolva a chamada”.

Quando penso nisso até sinto uma certa saudade, pois com a chegada do telemóvel esses diálogos desapareceram das nossas vidas. Em contrapartida, ganhámos outro tipo de expressões e hábitos, nomeadamente o “ligo-te quando estiver a chegar”, “podes descer agora”, “vou a caminho”.

No meio de muita conveniência, o telemóvel permitiu também uma falta de rigor total. O “às 15:30 à porta do Leal Senado” foi substituído pelo “ligo-te quando estiver despachado, diz-me por onde andas que vou aí ter contigo”.

É absurdo o número de chamadas que às vezes fazemos só para combinar uma coisa simplicíssima que podia ser definida logo desde o início. Mas, por alguma razão, preferimos adiar decisões simples como, por exemplo, o local para um almoço.

Pelo que, no gozo, quando se começa uma conversa para combinar algo, mando a boca: “mas para que andam vocês a tentar combinar coisas? No fim, acaba-se sempre por combinar que amanhã um de vocês vai ligar para o outro para combinar melhor…”

Com o advento do smartphone as coisas mudaram ainda mais – e para pior. Agora, para se combinar um jantar cria-se um chat room. Convida-se um chonto di gente e passa-se dias e dias a conversar, a conversar e a conversar por mensagem. Centenas de mensagens apenas para se definir dia, hora e local para um jantar.

Não escondo que às vezes até me divirto com isso, pois aproveito para desenvolver alguma conversa inconsequente que me faz muito bem à cabeça. No entanto, numa reflexão mais profunda, não consigo mesmo perceber que tipo de evolução vem a ser essa.

Não me entenda mal, caríssimo leitor, não sou contra a tecnologia não apadrinho aquele discurso miserabilista de que a próxima geração vai ser assim ou assado por causa do smartphone.
Aliás, no que concerne às tecnologias fui sempre um early adopter: no início do milénio quando ainda todos usavam Nokia, já eu enviava emails com um telemóvel da HP do tamanho de uma raquete de ténis de mesa.

A questão é que não posso simplesmente fazer de conta que está tudo bem e que isso é normal. Se é normal – e se calhar para o meu filho vai ser muito normal – então trata-se de um normal que vai sempre merecer de mim muitas reservas. Porque essencialmente não consigo passar constantemente o tempo a ler e a responder às mensagens do Facebook, Whatsapp, Telegram, WeChat, iMessage e SMS.

Para agravar, tenho ainda o telemóvel de serviço – sim, faço parte daqueles que andam com dois telemóveis na mão – que de quando em quando faz soar um “ding” porque recebo cerca de 100 emails por dia. E não, não podem ser ignorados pois trata-se de trabalho. E tenho também o Lync instalado, onde igualmente recebo mensagens. E o Calendar, sendo que ao longo do dia vou recebendo meeting invitations que têm de ser respondidos.

Finalmente, os meus dois telemóveis, sendo telemóveis, servem certamente para receber chamadas. Ah, tenho também o telefone de linha fixa no gabinete e não são poucas as chamadas que recebo: quando volto de uma reunião, a primeira coisa que faço é ver o registo das chamadas perdidas. Há sempre duas ou três, pelo menos.

Tudo isto é anedótico e, ao mesmo tempo, perigoso. Multitasking é uma palavra que está na moda, mas tudo tem o seu limite. Pelo que tenho procurado colocar um travão à coisa.

Quando chego ao trabalho de manhã, não me ponho imediatamente a ler e a responder aos emails. Antes de mais, faço uma lista das tarefas a cumprir e planeio o meu dia de trabalho conforme a agenda. Só depois é que faço o login no computador e leio os emails. Pois, caso contrário, começo o dia simplesmente a reagir aos emails de terceiros – ou seja, ao trabalho dos outros e não à minha própria iniciativa de trabalho.

Por outro lado, decidi colocar as notificações de todos os apps de mensagens em silêncio. Verifico as mensagens apenas quando me dá jeito e me apetece – e não quando o telemóvel chama por mim.

Sim, eu sei, demoro a responder às mensagens. Mas antigamente também não se apanhava necessariamente as pessoas em casa quando se telefonava e esperava-se, portanto ninguém vai morrer por causa disso.

Acima de tudo, trata-se de manter a sanidade mental. As interrupções constantes fazem-nos muito mal e provocam ansiedade mesmo sem nos apercebermos. E não é por acaso que a boa educação exige que se bata à porta antes de se entrar.

O telemóvel, por natureza, é um ser mal-educado porque nunca bate à porta. Portanto, a não ser que queira mesmo passar a maior parte do tempo com uma postura de Corcunda de Notre Dame a olhar para o seu smartphone sem saber o que se está a passar à sua volta, ou mesmo enlouquecer, talvez não seja má ideia exigir ao seu telemóvel que bata à porta antes de entrar.

É o que tenho feito. E como resultado, entre outras coisas, sinto até que tenho estado mais tempo com o meu filho.

Sorrindo Sempre

Babosices vindas de todos os quadrantes referentes à invasão demográfica de que Macau tem sido palco nos últimos anos é algo que, com toda a certeza, o caríssimo leitor já se cansou de ouvir.

O que o caríssimo leitor não sabe, no entanto, é que algo semelhante se verificou recentemente no Jardim de Infância D. José da Costa Nunes (DJCN). Não, os turistas de visto individual (ainda) não se matricularam nessa escola. Quando disse “semelhante” referia-me ao facto de ter havido também uma pequena invasão demográfica.

Pois que a DJCN abriu mais duas turmas em resposta a esse tão interessante fenómeno e, nessa decorrência, na semana passada foram lançadas as actividades extra-curriculares, cujas inscrições tiveram início às 8:30 da manhã na secretaria da escola.

Conforme habitual, foi notificado aos pais que as colocações seriam feitas por ordem de chegada. O chamado “first come, first serve basis” que, aqui para esta parte do mundo, tem sempre potencial para produzir efeitos espaventosos.

À cautela, a minha esposa chegou pouco antes das 8:30 para evitar surpresas desagradáveis e garantir colocações nas actividades preferidas do nosso filhote. Mesmo assim, conseguiu apenas a senha n.º 48. Porquê? Ora, porque a senha n.º 1 foi distribuída a um ilustre encarregado de educação às 5:00 da manhã.

Hábitos diferentes, de facto, pois pelos vistos os encarregados de educação “daqueles” miúdos estão já acostumados a madrugar à porta de uma escola para fazer fila e ser o primeiro. É cultural – e nós, portugueses, não temos disso no nosso sangue.

Mas nunca é tarde para aprender.

Pelo que, para a próxima, antes das inscrições vou submeter ao IACM uma licença de ocupação provisória de espaço público – porque vou acampar à porta da escola.

Sorrindo sempre.

18 Set 2015

Wikileaks | Novo Macau exige investigação do Ministério Público

A Associação Novo Macau quer que o Ministério Público investigue a alegada intenção de aquisição por parte do CCAC e da PJ de um sistema de controlo de telecomunicações. Jason Chao acredita que a Associação é o principal alvo. CCAC não comenta. PJ diz que não possui o software

[dropcap style=’circle’]I[/dropcap]p Son Sang, Procurador do Ministério Público (MP) da RAEM, recebeu ontem à tarde documentos do website Wikileaks das mãos da Associação Novo Macau (ANM), para que leve a cabo uma investigação. Em causa estão os emails revelados pelo projecto de Julian Assange, que mostram que o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) e a Polícia Judiciária (PJ) mantiveram contactos com a empresa italiana Hacking Team no sentido de adquirir um software que permite controlar todas as formas de comunicação através da internet.
O caso foi noticiado ontem pelo jornal Ponto Final, sendo que em Hong Kong a entidade homóloga do CCAC terá mantido conversações semelhantes, segundo o South China Morning Post.
Jason Chao, membro da direcção da ANM, garante que o caso é “preocupante”, pois visa controlar “cidadãos, jornalistas e activistas” e viola normas que constam no Código Penal e no artigo “ilegítima intercepção de dados informáticos”, da lei que combate o crime informático.
“As capacidades do sistema vão além dos métodos legais de investigação. Então porque é que a PJ tem vindo a desenvolver conversações no sentido de adquirir o sistema? Trata-se de algo ofensivo e intrusivo e claramente não é permitido no âmbito das leis de Macau”, começa por dizer. “Vamos entregar materiais ao Procurador para que leve a cabo uma investigação sobre a utilização deste sistema por parte da PJ. Descobrimos que o CCAC também teve contactos, mas não há documentos que revelem a aquisição do sistema”, acrescentou o activista.
Jason Chao diz acreditar que a aquisição deste software visa controlar as actividades e contactos da ANM. “Não posso rejeitar essa possibilidade [da Novo Macau ser um dos alvos]. O que dizemos ao público é baseado com os documentos que vemos no Wikileaks. Não temos provas, mas não posso recusar essa possibilidade. Pessoalmente acredito nisso.”
Apesar do pedido, a Novo Macau não acredita que o MP possa desenvolver uma investigação isenta. “Segundo a minha experiência, não espero [uma investigação independente]. Claro que esperamos sempre que o MP olhe para esta questão de forma parcial.”
Depois deste pedido de investigação, os membros da direcção da ANM vão testar os seus telemóveis. “Se encontrarmos uma empresa de confiança vamos bloquear os telefones, caso estejam a ser espiados”, disse Jason Chao.

CCAC atento, mas não comenta

Entretanto o CCAC já reagiu às notícias através de um comunicado, onde diz estar atento às últimas novidades no que diz respeito à tecnologia utilizada para combater o crime, não comentando uma eventual aquisição.
“Para exercer as suas competências na investigação criminal de forma legal e eficaz, todos os meios e técnicas adoptadas nas diligências do CCAC são de natureza confidencial. Pelo exposto, o CCAC não vai comentar ou responder a perguntas relativas aos métodos concretos adoptados na sua investigação.”
A entidade liderada por André Cheong refere ainda que “o CCAC tem de conhecer e entender a evolução das tecnologias na perspectiva da investigação e da contra-investigação”, sendo que “todos os meios e diligências de investigação adoptados estão em rigorosa conformidade com a lei, sobretudo com o disposto nos Códigos Penal, Código de Processo Penal e Lei de combate à criminalidade informática”.
O HM contactou ainda a PJ, mas apenas nos foi garantido que, até ao momento, a PJ ainda não adquiriu nenhum software. Em comunicado, a PJ referiu ainda que “todos os trabalhos de detenção são executados de acordo com as leis e supervisionados pelos órgãos judiciais. No que diz respeito à monitorização de telecomunicações para investigação, esta deve ser aprovada pelo juiz”. À semelhança do CCAC, a PJ referiu que “precisa de consolidar os conhecimentos sobre novas tecnologias” no combate ao crime.
Segundo os emails citados pelo Ponto Final, elementos do CCAC terão estado reunidos com responsáveis da empresa italiana em Outubro de 2013, em Singapura, para conhecer a tecnologia RCS (Remote Control System), que permite controlar qualquer tipo de comunicação via online, seja de telemóvel, skype ou emails, entre outros. Representantes da Hacking Team terão estado em Macau a pedido do CCAC para outra acção de demonstração também em 2013. Os emails revelam que o CCAC terá interesse em controlar os smartphones e pediu a máxima confidencialidade sobre o assunto.

17 Jul 2015