Al | Coutinho lamenta atitude de Ho Iat Seng Hoje Macau - 1 Mar 20191 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap]deputado José Pereira Coutinho lamentou que o presidente da Assembleia Legislativa (AL) tenha respondido através da comunicação social à sua proposta de deslocação de uma deputação a Portugal. No início de Fevereiro, José Pereira Coutinho tinha escrito a Ho Iat Seng a propor a visita de um grupo de deputados de Macau aos parlamentos de Portugal, Madeira e Açores, como forma de celebrar o 20.º Aniversário da RAEM e ao 40.º Aniversário do restabelecimento das relações diplomáticas entre a China e Portugal. Contudo, Ho apontou que não tinha havido qualquer convite de Lisboa e considerou que a deslocação seria cara. A resposta dada aos órgãos de comunicação social não agradou a José Pereira Coutinho. “Lamento, contudo, que a resposta ao meu supracitado pedido fosse feita por V. Exa, através dos meios de comunicação social, de que não há convite oficial e de que a deslocação seria muito cara”, notou o deputado. Ainda segundo informação do legislador ligado à Associação dos Trabalhadores de Função Pública de Macau (ATFPM) houve posteriormente uma resposta por escrito, a revelar que o presidente da AL enviou para a Mesa da Assembleia Legislativa a proposta. Será este órgão que vai analisar o assunto e, caso a ideia tenha luz verde, vai igualmente designar a composição da eventual delegação.
Apreciação na especialidade da proposta de lei sobre ruído na recta final Diana do Mar - 1 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap]s deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) concordam que a proposta de alteração à lei da prevenção e controlo do ruído ambiental vai tornar mais expedito o processo de autorização de obras durante o período nocturno, ao eliminar etapas administrativas. A apreciação entrou na recta final, ficando a faltar a entrega de uma nova versão para ser emitido o parecer e o diploma subir ao plenário. “Entendemos que, de facto, o Governo consegue atingir o objectivo de simplificar os trâmites administrativos”, afirmou o presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL, Ho Ion Sang, após a reunião de ontem com o secretário para os Transportes e Obras Públicas. O diploma introduz basicamente duas mexidas, descritas por Raimundo do Rosário como “cirúrgicas”. Em síntese, é simplificado o processo de autorização, ao eliminar a obrigatoriedade de publicação do despacho do Chefe do Executivo em Boletim Oficial; e alargado o leque das excepções, passando a incluir as obras de manutenção do metro. À luz do diploma, há outros dois casos concretos que escapam à proibição de produção de ruído perturbador entre as 22h (ou as 23h no caso de sábado e véspera de feriados) e as 9h do dia seguinte. A saber: os serviços de manutenção do sistema de drenagem pública ou dos sinais de trânsito e a recolha e transporte de resíduos urbanos e limpeza de vias públicas. A única “novidade” diz respeito ao metro, porque, “na prática”, como constatou Ho Ion Sang, grande parte dos trabalhos, como a recolha de lixo, realizam-se já durante a noite, sem queixas de maior. O mesmo sucede com as obras, afirmou, dando o exemplo recente da intervenção na Avenida Almeida Ribeiro. Além de “minimizar o impacto no trânsito”, a realização à noite também “permite reduzir a [sua] duração”, realçou. Apesar de o secretário ter garantido serem “poucas” as queixas relativas ao ruído ambiental, os deputados contam ter em mãos os números concretos na próxima reunião. Já descartada está a possibilidade de o Governo mexer durante o actual mandato nas restrições ao ruído produzido nos espaços públicos durante o dia, levantada por deputados, confirmou Raimundo do Rosário.
Armando Teixeira, músico | “O que gosto mesmo é de misturar o experimental com a canção” Sofia Margarida Mota - 1 Mar 20191 Mar 2019 Armando Teixeira, conhecido como mentor dos Balla, está de regresso a Macau para um concerto que marca a estreia ao vivo do projecto Modular Extravaganza, hoje, no LMA, pelas 21h30. Ao HM o artista falou do trabalho musical que fez para o filme que estreia em Agosto acerca da vida de António Variações e das surpresas que encontrou no território [dropcap]E[/dropcap]steve cá há dois anos, e na altura disse que uma das suas curiosidades era perceber o que Macau tinha de particular para que vários músicos portugueses a abordassem nas suas canções. O que levou de Macau? Levei a vontade de voltar. Fiquei com a sensação que não vi nada e que deveria ter estado mais tempo, deveria ter conhecido mais. É impossível conhecer Macau numa semana, num mês e se calhar nem numa vida. Depois de cá ter estado, passado um tempo, deu um documentário na RTP sobre Macau e foi giro rever as coisas que tinha visto aqui. Não do ponto de vista mais turístico, mas é fascinante ver como as pessoas andam na rua, ver os espaços que de dia não existem e à noite aparecem, como os restaurantes. A forma como as pessoas vivem é de facto o que mais curiosidade me desperta. Outra coisa que me surpreende, é ver como os portugueses vivem em Macau e a maneira como sinto que Macau está ainda tão ligado a Portugal. Sem ser no sentido colonialista, dá-nos um certo orgulho pensar que no outro lado do mundo Portugal tem presença. Quando somos um país pequeno na Europa, sentir a presença de Portugal nestas ruas é bom. Parece que é pouquinho, não é? Mas aquilo que mais me marcou foi encontrar aqui os vestígios de Portugal. Pode parecer redutor para aquilo que é a China ou que é Macau, mas para mim é isto. O que vamos ver neste concerto de amanhã? A ideia deste concerto surgiu depois da viagem marcada para Macau. Eu e o Duarte [Cabaça], que toca comigo nos Balla e nos Knock Knock, marcámos a viagem para vir passear e concretizar a tal vontade de voltar. Depois fomos convidados para dar este concerto e foi uma oportunidade de aproveitar a nossa vinda. Ainda por cima trata-se de um projecto muito diferente. É um projecto também com o Duarte, uma coisa instrumental, mais electrónica. Vamos fazer uma coisa como nunca fizemos antes. É a estreia deste projecto? Sim, costumamos tocar com sintetizadores e bateria e neste caso vai ser um sistema modular, uma caixa com sons. É uma coisa que nunca fizemos ao vivo. O concerto faz parte do evento que assinala o 33º aniversário da RUC, uma rádio universitária, independente e que vai marcando a divulgação musical nas esferas mais alternativas. Como vê o papel da rádio em geral para divulgar a música que se vai fazendo? Quando se fala de rádio, fico com a ideia de que a preocupação comercial para subsistir e fazer dinheiro é o que mais importa. Parece ser mais importante do que divulgar música. Já não existe essa coisa de conhecer a música pela rádio. A rádio agora não tem programas de autor, a rádio agora são playlists que se repetem ad eternum. Ainda há pequenas estações com programas de autor, mas que no fundo não têm repercussão para as pessoas. A rádio está com o seu papel um pouco apagado no que respeita à divulgação de música, por culpa própria. Está mais interessada em entretenimento e em dar o que as pessoas querem ouvir sem pensar. Já mencionou noutras alturas o fascínio que tem pelo oriente e pela música que por aqui se faz. Que tipo de sonoridades deste lado do mundo o fascinam? Quando estivemos cá há dois anos, uma das coisas que assisti e que me marcou foi uma ópera chinesa. Penso que não seria uma ópera muito elaborada e deu-me a ideia que era quase como as casas de fado em que as pessoas vão para ali e cantam. Não sei se é assim que se passa mas foi essa a sensação que me deu. A ópera chinesa soa de uma maneira tão estranha que quase me parece música improvisada e isto fascina-me bastante, até porque não conheço. Também não é coisa para ouvir em casa. Penso que é para se ir a um sítio e ouvir ao vivo. Pelo que pude assistir, havia uma espécie de ordem pela qual entram os instrumentos e um respeito muito grande por todos os instrumentos. A precursão impressionou-me. É conhecida a sua colaboração com os Bizarra Locomotiva e os Da Waesel, além dos Balla e dos Knock Knock. São projectos muitos diferentes entre si. Knock Knock é um projecto mais de experimentação, mais electrónico e sem limites. felizmente ainda se pode fazer isso. Não é para tocar em grandes palcos mas é uma coisa que me dá muito gosto por causa da experimentação. Mas muita dessa experimentação normalmente levo para os Balla que tem mais canções mas também têm esse lado experimental que quero manter. Acabo por alimentar os Balla com estes projectos paralelos que vou tendo. O que gosto mesmo é de misturar o experimental com a canção, isso é o que me dá mais gozo. O resultado já não é de certeza pop, da maneira como o pop é visto actualmente. Há uns anos, nos anos 80 quando era miúdo e ouvia música, os Orchestral Manoeuvres in the Dark ou os Depeche Mode achavam-se, eles próprios, experimentais. Eram bandas electro-pop, experimentais e faziam canções. Agora quem faz canções é pop, é a Lady Gaga. É completamente diferente, não há a pop que existia há uns anos. Como vê o panorama actual da música portuguesa? Isso está óptimo. Sempre a crescer, com coisas novas todos os dias. Mas não é fácil para os mais novos. Eu já tenho uma carreira, e as coisas vão andando naturalmente. Mas os miúdos mais novos não sei como conseguem subsistir com a música porque os discos não vendem e as pessoas também estão cada vez mais habituadas a não pagar ou a pagar pouco por concertos. Chega a uma altura em que a arte tem que ser financiada. Se as pessoas sacam indiscriminadamente discos na internet não se paga nada ao artista. O nosso mercado é muito pequeno e não se consegue viver de concertos. Por outro lado, os grandes sucessos comerciais acabam por estar no you tube e estar associados a subgéneros como o kizomba, por exemplo. Era uma coisa que nós pensaríamos que seria considerada marginal e que nem passa nas rádios, o que é engraçado, mas depois acaba por ser aquilo que tem mais visibilidade. Também faz música para filmes. Como é esse processo? Bem, prefiro falar do último trabalho que fiz e que tem que ver com um filme especial. Já fiz música para filmes dentro do conceito normal, mas neste caso não foi nada disso. É música para o filme sobre a vida do António Variações. A história passa-se antes do António Variações ter sucesso em que já tinha bandas de garagem e nós, eu com os Balla, estivemos a refazer essas canções, a recriar uma banda. Há documentos e gravações dessas músicas que são muito diferentes dos originais e daquilo que conhecemos agora como sendo original. Nós pegámos nesse som e fizemos a música do António Variações como nunca foi ouvida por ninguém. Até há um inédito de um ensaio. Também há músicas como o tema “Perdi a memória”, “A canção do engate” e “Toma o comprimido” que são tudo temas que já estavam feitos antes. Este trabalho foi uma espécie de arqueologia. Fomos pegar nessas gravações e inventar uma banda que tivesse a sonoridade que eles tinham na altura. O nosso trabalho é completamente fiel aos originais. Tudo o que temos é documentado. Há mesmo exemplos em que as músicas não estavam acabadas, em que faltavam partes e nós fomos buscar as novas versões e adaptámos o som ou fizemos coisas que achámos que tinham que ver com aquele som. Quando me convidaram para fazer este trabalho pensei que era para fazer uma visão minha daquela música, mas não era nada disso. Foi até mais interessante do que isso. Foi recriar uma sonoridade que nunca existiu mas que foi esboçada por ele. Os músicos tocavam mal e nós tínhamos que tocar aquilo bem. Foi muito bom e já está feito. Por outro lado são temas que antecederam o famoso concerto no Trumps que deu origem à entrega de cassetes ao Júlio Isidro e que depois resultaram no sucesso do António Variações. Vamos, depois da estreia do filme, em Agosto, começar com concertos que pretendem recriar esse momento no Trumps. Vamos recriar o espectáculo com o cantor que faz de António Variações no filme e que canta bem, vamos ter figurinos e tudo. Alguma novidade em termos de projectos? Estamos a terminar o novo disco dos Balla. Felizmente aquilo que faço com os Balla e com os Knock Knock preenche-me completamente. Dizia há uns anos , quando estava nos Bizarra Locomotiva ou nos Da Waesel que queria uma banda para envelhecer e que me permitisse ir mudando. Os Balla são essa banda. É uma banda com a qual posso ir envelhecendo no sentido de me ir adaptando conforme o meu estado de espírito e a maneira como vejo a música. Não queria estar associado a um estilo especifico que me obrigasse a estar a vida toda a fazer aquilo. Os Bizarra Locomotiva estão a fazer a mesma coisa há quase 30 anos. Não é uma coisa que queira para mim.
Diplomacia | Ministros da China e Rússia estreitam laços Hoje Macau - 28 Fev 2019 [dropcap]O[/dropcap] conselheiro de Estado e ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, prometeram esta terça-feira fortalecer a comunicação estratégica e promover a cooperação dentro da reunião de chanceleres da China, Rússia e Índia. Os ministros anunciaram o reforço das relações na preparação da reunião trilateral dos chanceleres dos três países em Wuzhen, na Província de Zhejiang, leste da China, informa o Diário do Povo. Ao indicar que este ano marca o 70º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a Rússia, Wang disse que os dois países devem aprofundar mais a comunicação estratégica e fazer novas contribuições para a paz e o desenvolvimento do mundo. É de grande importância para China, Rússia e Índia fortalecer a comunicação, coordenar as posições e aprofundar a cooperação em prol da região e do mundo, disse Wang. A China deseja trabalhar com a Rússia e a Índia unindo forças para alcançar resultados substanciais na reunião dos chanceleres, acrescentou. Ecoando as observações de Wang, Lavrov disse que é necessário que a Rússia e a China salvaguardem conjuntamente as normas básicas do multilateralismo e das relações internacionais. Rich Global |Jack Ma em 22º na lista dos mais ricos do mundo Jack Ma, fundador da gigante chinesa de comércio electrónico Alibaba Group, esteve em destaque na última edição da lista Rich Global da Hurun para 2019. Com um património líquido de 39 mil milhões de dólares americanos, Ma Yun, de 55 anos, e sua família ficaram em 22º lugar na lista, subindo quatro posições. Ma Huateng, presidente e CEO da Tencent, com um património líquido de 38 mil milhões de dólares americanos, ficou em 24º lugar e tornou-se o segundo chinês mais rico da lista deste ano. O presidente do Evergrande Group, Xu Jiayin, tornou-se o terceiro chinês mais rico com um património líquido de 37 mil milhões de dólares americanos, ficando em 26º lugar no Palácio Loong · Hurun Global Rich List 2019, um ranking mundial de bilionários avaliado em dólares.
Por que razão empresas e famílias precisam da China Hoje Macau - 28 Fev 201928 Fev 2019 Por Wei Shang-Jin, Professor de Economia e Finanças na Universidade de Columbia [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] China beneficiará de uma normalização das suas relações comerciais com os Estados Unidos, mas é importante perceber que o mesmo também é válido para os EUA. Quando a gigante americana de tecnologia, Apple, reduziu recentemente a sua previsão de vendas, o CEO Tim Cook apontou o declínio das vendas na China – onde a guerra comercial do Presidente Donald Trump está a exacerbar os efeitos de uma desaceleração da economia – como sendo um importante factor de contribuição. A diminuição do desempenho da Apple destaca a importância do mercado chinês nos resultados de muitas empresas dos EUA – e revela os riscos que o proteccionismo de Trump representa para a economia americana. A verdade é que a Apple vende substancialmente mais iPhones e iPads aos chineses do que as estatísticas de exportação dos EUA sugerem. Da mesma forma, a General Motors vende mais carros na China do que o que está registado nos dados de exportação dos EUA – mais, na verdade, do que nos Estados Unidos e no Canadá juntos. E isso acontece porque essas empresas, como muitas outras, operam na China e vendem directamente aos consumidores chineses. Há muito menos empresas chinesas a vender directamente nos EUA. Como as empresas americanas aumentaram as suas operações na China ao longo do tempo, as estatísticas do comércio bilateral apenas refletem parcialmente a importância do mercado chinês para a economia dos EUA. De 2000 a 2018, as exportações dos EUA para a China dispararam530% –muito mais do que o crescimento cumulativo de 130% das exportações dos EUA para o mundo em geral. Isto foi um resultado directo da considerável e unilateral liberalização comercial que a China exerceu após ingressar na Organização Mundial do Comércio em 2001, inclusive reduzindo a sua taxa aduaneira aplicada de 30% antes da adesão à OMC, para menos de 6% actualmente. Além disso, aproximadamente metade das importações na China estão sujeitas a tarifas zero se a produção for para o mercado mundial. O rápido crescimento do PIB da China impulsionou as importações, mas esse crescimento também foi facilitado pela liberalização do comércio e outras reformas pró-mercado. Nenhum país desmantelou mais barreiras ao comércio ou levou a cabo mais reformas pró-mercado do que a China nas últimas quatro décadas. As reformas orientadas para o mercado, da China, desencadearam uma onda de empreendedorismo e possibilitaram que as empresas do sector privado – tanto nacionais como estrangeiras – prosperassem e, em muitos casos, alcançassem um crescimento mais rápido do que as empresas estatais. Isto contrasta fortemente com a narrativa promovida por alguns, de que a China ignorou em grande parte ou evitou os compromissos que assumiu quando se juntou à OMC. Se isso fosse verdade, a China simplesmente não teria conseguido crescer mais rapidamente do que 95% dos países do mundo, desde 2001. Alguns argumentam que, mesmo que as empresas americanas tenham lucrado com o seu acesso ao mercado chinês, o comércio entre os Estados Unidos e a China prejudica os trabalhadores americanos cujos empregos estão expostos à concorrência de baixos salários dos trabalhadores chineses. Mas a disponibilidade de produtos importados baratos provenientes da China reduz os preços não apenas para os consumidores dos EUA, especialmente famílias de baixo e médio rendimento, mas também para as empresas dos EUA, apoiando a criação de empregos. Quase 40% das importações dos EUA provenientes da China são peças e componentes, e produtos intermédios. A redução de custos que essas importações proporcionam às empresas dos EUA ajudam a alavancar a sua competitividade, permitindo-lhes contratar mais trabalhadores. Segundo a minha investigação realizada com colegas, este efeito de cadeia de fornecimento cria mais empregos do que aqueles que a concorrência directa da China elimina. Enquanto os empregos que se perdem estão concentrados num subconjunto dos sectores de produção, os empregos que se ganham com o comércio com a China estão espalhados por toda a economia, incluindo muitos sectores de serviços modernos. Graças a este efeito de criação de empregos, o comércio dos EUA com a China beneficia 75% dos trabalhadores americanos, mesmo antes de contabilizar o efeito positivo no seu poder de compra e antes de qualquer transferência de rendimentos de vencedores para perdedores. No entanto, muita gente nos EUA continua a concentrar-se unicamente no papel potencial do comércio aberto na fomentação das perdas de emprego. Quando uma empresa dos EUA demite trabalhadores, o comércio com a China é frequentemente responsabilizado. Mas quando uma empresa americana contrata mais trabalhadores, raramente se ouve falar dos produtos chineses mais baratos que tornaram isso possível. Algumas pessoas nos EUA estão a pedir uma dissociação entre as economias dos EUA e da China. Se isso acontecer, as empresas americanas que usam produtos chineses perderiam competitividade em relação às congéneres europeias e japonesas, os trabalhadores que empregam poderiam perder os seus empregos e os padrões de vida das famílias americanas de baixo e médio rendimento sofreriam com a subida dos preços de muitos artigos. Nada disto significa que a China não deveria estar a fazer mudanças. Deveria trabalhar no sentido de reduzir ainda mais as barreiras comerciais, reduzir os subsídios às empresas estatais, aliviar as restrições às empresas estrangeiras que operam no país e fortalecer os direitos de propriedade intelectual. Mas para que o comércio bilateral seja mais justo e mais eficiente, os EUA também precisam de fazer algumas mudanças. Por exemplo, deveriam reduzir as tarifas elevadas (geralmente na faixa dos 20%) nos têxteis e vestuário, uma categoria importante das exportações chinesas. E deveriam reformar o seu regime antidumping (fundindo-o com o regime antitrust), e mudar regras injustas que, ao imputarem os custos de produção de outros países de custos mais elevados à produção chinesa, colocam os exportadores chineses em desvantagem artificial. Tanto os EUA como a China ganham com a normalização das relações comerciais bilaterais. Embora as reformas políticas sejam difíceis em qualquer lugar, devido a pressões políticas e interesses particulares, uma estratégia recíproca e equilibrada pode ser a chave para o progresso sustentável em ambos os países. A questão é se os líderes terão a coragem e a sabedoria necessárias para colocarem as relações novamente no caminho certo. © Project Syndicate
Espaço |Criação de central de energia solar em estudo Hoje Macau - 28 Fev 2019 [dropcap]A[/dropcap] China está a estudar a viabilidade da criação de uma central de energia solar no espaço, com o objectivo de reduzir as emissões de gases estufa na Terra e reduzir a escassez de energia, noticiou ontem o jornal China Daily. De acordo com a publicação, investigadores da Universidade de Chongqing, da Universidade Xidian e da Academia Chinesa de Tecnologia Espacial estão a pensar construir um protótipo para a transmissão de ondas de energia solar. Xie Gengxin, um dos investigadores, citado pelo jornal, disse que o protótipo da central será localizado em Chongqing e que o principal foco da investigação vai incidir na distância da entrega da energia. “Planeamos lançar quatro a seis balões [agarrados ao protótipo] a uma altitude de mil metros”, disse o investigador. Se estes primeiros testes forem bem-sucedidos, o próximo passo, de acordo com Xie, será enviar balões para a estratosfera para prosseguir com a investigação a uma distância maior. No início do ano a China tornou-se no primeiro país a pousar uma sonda no lado mais afastado da Lua. O objectivo é testar o crescimento de plantas e captar sinais de radiofrequência, normalmente bloqueados pela atmosfera terrestre. A missão ilustra ainda a crescente ambição de Pequim no espaço, símbolo do progresso do país. Este ano, Pequim planeia ainda iniciar a construção de uma estação espacial com presença permanente de tripulantes e, no próximo ano, enviar um veículo de exploração a Marte.
Ká Hó | Empresa fundada por Stanley Ho prescinde de terrenos para ampliar barragem Diana do Mar - 28 Fev 201928 Fev 2019 [dropcap]A[/dropcap] Sociedade de Turismo e Desenvolvimento Insular declarou a desistência da concessão, por arrendamento, de cinco parcelas de terreno, junto à Estrada da Barragem de Ká Hó, em Coloane. A informação consta de um despacho do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, publicado ontem em Boletim Oficial. A empresa, que era detida em 35 por cento pela Shun Tak em 2017, declarou a desistência das cinco parcelas, “a fim de viabilizar a obra de ampliação da barragem de Ká Hó”, a 25 de Janeiro, segundo o despacho, que produz efeitos imediatos. A empresa vai prescindir de cinco parcelas que totalizam 3.632 metros quadrados de um terreno com uma área global de 767.373 metros quadrados, de cujos direitos resultantes da concessão é titular, onde se encontra implantado um complexo turístico e recreativo”, o Grand Coloane Resort (antigo Westin). As cinco parcelas de terreno vão ser integradas, livre de ónus ou encargos, no domínio público do Estado. O HM questionou a secretaria dos Transportes e Obras Públicas sobre se vai haver lugar a qualquer tipo de contrapartida, mas até ao fecho da edição não obteve resposta. IC | Candidaturas para Bolsas de Investigação abrem em Março A partir de 1 de Março, até 31 de Maio, estão abertas as candidaturas para Bolsas de Investigação Académica do Instituto Cultural (IC). O objectivo é “estimular o desenvolvimento de estudos académicos originais sobre a cultura de Macau e sobre o intercâmbio cultural entre Macau, a China e outros países”, de acordo com um comunicado. Podem concorrer doutorados e investigadores locais ou estrangeiros, “com comprovada experiência de investigação académica”. Os montantes das bolsas vão de 250 mil às 280 mil patacas, dependendo das credenciais académicas do candidato e do conteúdo do respectivo projecto de investigação.
Imobiliário | Empresa do projecto Guang Bo Hui entra em insolvência João Santos Filipe - 28 Fev 2019 Foi com pompa e circunstância que, em 2012, Chui Sai On foi a Jiangmen lançar a primeira pedra do empreendimento Guang Bo Hui, visto como um exemplo de cooperação regional. Sete anos depois, a empresa está em processo de insolvência. Só em Macau contam-se 70 lesados [dropcap]A[/dropcap] empresa Jiangmen Teda Real Estate Development, responsável pelo empreendimento Guang Bo Hui (GBH), iniciou o procedimento de falência, de acordo com um documento publicado no portal para falências do Supremo Tribunal Popular da China. Segundo a informação publicada, o tribunal abriu um concurso público, que vai decorrer até Abril, para escolher duas firmas como administradoras de falência. Já o processo de insolvência teve início a 25 de Janeiro deste ano: “O tribunal iniciou o processo de insolvência da empresa Jiangmen Teda Real Estate Development a 25 de Janeiro de 2019”, pode ler-se. A informação divulgada revela também que a empresa tem um capital social de 88 milhões de dólares norte-americanos, activos avaliados em 1,68 mil milhões de yuan e uma dívida acumulada de 236 milhões de yuan. Entre os principais activos, o tribunal destaca o “Centro Internacional de Exposições e Comércio Luz Verde – China (Jiangmen)”, com uma área total de 318.666 metros quadrados. Da informação publicada no portal do tribunal, verifica-se que a companhia foi registada no departamento de comércio de Jiangmen a 15 de Janeiro de 2008 e tem actualmente nos seus quadros 25 empregados. A Jiangmen Teda Real Estate Development conta com capitais de Macau e tinha como principal accionista Chan Hac Kim. O empresário nasceu no território, mas mudou-se posteriormente para Jiangmen [Kong Mun, em cantonês]. Contudo, mantem ligações a Macau, com destaque para os cargos de presidente honorário da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau e vice-presidente da Associação dos Conterrâneos de Kong Mun de Macau, de acordo com os portais de ambas as associações. Residentes em risco A falência da Jiangmen Teda Real Estate Development pode vir a afectar vários residentes locais que investiram no mais recente projecto do imobiliário: o Guang Bo Hui (GBH). Segundo dados apresentados pelos deputados Ella Lei e Leong Sun Iok há, pelos menos, 70 residentes de Macau que investiram 20 milhões de patacas para adquirir lojas e habitações no empreendimento GBH. No entanto, os legisladores alertaram que o número poderia ultrapassar os 300 lesados. As obras do GBH, que, entretanto, pararam por falta de dinheiro, arrancaram em 2012. Chui Sai On esteve presente na cerimónia de lançamento da primeira pedra. Mais tarde, já em 2015, o Chefe do Executivo voltou a liderar uma delegação que se deslocou ao projecto, que era visto como um exemplo da cooperação regional. No entanto, a polémica à volta da Jiangmen Teda Real Estate Development começou em Dezembro do ano passado. Nessa altura, vários compradores de fracções de Macau e Hong Kong contaram, ao jornal Apple Daily, que a imagem de Chui Sai On tinha sido utilizada para promover as vendas. Segundo os relatos, os agentes imobiliários teriam mesmo dito que Chui era um dos investidores. Contudo, o Chefe do Executivo de Macau emitiu, posteriormente, um comunicado a negar qualquer envolvimento. Ainda na terça-feira a Associação dos Conterrâneos de Kong Mun de Macau realizou uma conferência de imprensa, que contou com a participação dos deputados e membros da associação Mak Soi Kun e Zheng Anting, com o objectivo de informar que o Governo da Cidade de Jiangmen ia intervir para resolver a situação dos lesados de Macau.
Morreu Sequeira Costa, um dos maiores pianistas portugueses Michel Reis - 28 Fev 201928 Fev 2019 [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] pianista e pedagogo português José Carlos Sequeira Costa faleceu no passado dia 21 de Fevereiro em Olathe, Kansas City, aos 89 anos de idade. O último pianista português de uma linhagem que remontava ao Romantismo, fundamentada não só no estudo profundo das obras e da técnica pianística, mas também no conhecimento do contexto social, cultural, artístico e político em que os compositores viveram, Sequeira Costa foi, no seu tempo áureo, o maior pianista português, gozando de grande reconhecimento internacional e de um repertório muito vasto. Desde a sua infância, passada em África, onde nasceu, mais precisamente em Luanda no dia 18 de Julho de 1929, Sequeira Costa recebeu formação musical ao mais alto nível. O seu primeiro mestre, o pianista português José Vianna da Motta, com quem começou a estudar aos 8 anos de idade após mudar-se para Lisboa, foi um dos últimos alunos do eminente Franz Liszt e ainda do famoso maestro, compositor e virtuoso do piano Hans von Bülow. Transportando consigo esta importante herança musical, Sequeira Costa expandiu o seu conhecimento estilístico, estudando as escolas alemã e francesa do piano com Mark Hamburg, também aluno de Liszt, Edwin Fischer, Marguerite Long e Jacques Février. Desta forma, não é de estranhar que as suas interpretações do repertório romântico, nomeadamente de Chopin e Rachmaninov, sejam frequentemente descritas como verdadeiramente autênticas. Ao longo de uma extraordinária carreira que percorreu mais de seis décadas, o alcance expansivo da variação no seu timbre e da coloração concederam-lhe o primado da autoridade em qualquer estilo, durante as quais dominou as audiências pelas qualidades do seu sedoso fraseado e pelo seu som cristalino. Em 1951, Sequeira Costa recebeu o Grand Prix de Paris no prestigiado Concurso Internacional Marguerite Long. Desde então, desempenhou um papel de relevo nos círculos pianísticos internacionais, tendo fundado em Lisboa em 1957, aos 27 anos de idade, o Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta. No ano seguinte, foi convidado por Dmitri Shostakovitch para integrar o júri do 1º Concurso Internacional Tchaikovsky, em Moscovo, ao lado de “monstros” como Sviatoslav Richter, Dmitri Kabalevsky, Aram Khachaturian e Emil Gilels, tendo regressado sete vezes a este prestigiado concurso, do qual chegou a ser Vice-presidente. Como o mais jovem membro do júri na história da competição, era apenas alguns anos mais velho do que o famoso vencedor do primeiro certame, o recentemente falecido pianista americano Van Cliburn. A 17.a e última edição do Concurso Internacional Vianna da Motta, a que presidiu, teve lugar em Lisboa no Verão de 2010. A 12.ª e 13.ª edições deste Concurso realizaram-se em Macau em 1997 e 1999, respectivamente. O concurso tinha uma exigência enorme, o que fez com que várias edições não tivessem um primeiro classificado. Sequeira Costa estabeleceu também amizades com grandes pianistas internacionais, tais como Arturo Benedetti Michelangeli, Sviatoslav Richter, Heinrich Neuhaus e Emil Gilels. Apresentou-se em palco com os célebres violinistas Henryk Szeryng, Itzhak Perlman, Elmar Oliveira, Pavel Kogan, Jean Pierre Wallez e Igor Oistrach, com o violoncelista Janos Starker e com os maestros Paul Kletzki, Joseph Keilberth, Tibor Pesek, Eduardo Mata, Christopher Seaman, David Zinman, Walter Susskind e Maxim Shostakovitch, entre muitos outros. Apresentou-se com todas as orquestras da BBC, London Symphony Orchestra, Royal Philharmonic Orchestra, Philharmonia Orchestra, Orquestra Filarmónica de Moscovo, Oquestra Filarmónica de Leningrado, Sinfónica de Praga, Bamberger Symphoniker, Filarmónica do Japão, Metropolitana de Tóquio, Sydney Symphony Orchestra e Orquestra Gulbenkian, entre outras. Em 1976, vendo com amargura a impossibilidade de uma boa formação ou o desenvolvimento de uma carreira em Portugal e conhecendo bem as lacunas que o país sentia na segunda metade do século passado, resolve partir e aceitar a cátedra “Cordelia Brown Murphy Distinguished Professor of Piano” na Universidade do Kansas, nos Estados Unidos da América, tendo vários dos seus alunos, entre os quais se contam os pianistas portugueses Pedro Burmester e Artur Pizarro, recebido primeiros prémios em concursos internacionais de piano. As suas aparições em Portugal passaram a resumir-se praticamente à temporada de música da Gulbenkian, a recitais esporádicos no Orpheon Portuense e no Círculo de Cultura Musical, aos Cursos de Interpretação do Estoril e ao Festival Internacional da Póvoa de Varzim, o qual fundou e ao qual presidiu, e que no ano passado assinalou a sua 40ª edição. A relação de Sequeira Costa com Macau remonta a 1953, ano em que deu dois recitais no Teatro Dom Pedro V, a convite de um membro destacado da elite macaense da altura, o Dr. Pedro José Lobo, um importante empresário, político, filantropo, funcionário público, músico, dirigente associativo e dinamizador cultural de Macau, de quem o pianista foi muito amigo. Em 1980, regressou ao território com a Orquestra Gulbenkian, como solista, com a qual tocou o Concerto para Piano e Orquestra N.o 1 em Dó Maior, op. 15, de Beethoven. Na mesma ocasião, apresentou-se também com a Orquestra Gulbenkian em Hong Kong. Em 1995, interpretou os cinco concertos para piano e orquestra de Beethoven com a Orquestra Sinfónica de Xangai e a Orquestra Filarmónica de Hong Kong no IX Festival Internacional de Música de Macau. O pianista fez ainda amizade no território com o renomeado músico e compositor P. Áureo de Castro, fundador e director da Academia de Música D. Pio X e da Orquestra de Câmara de Macau. A sua última actuação no território ocorreu em 2013 por proposta do autor deste artigo à Casa de Portugal em Macau, tendo aqui realizado um recital intitulado “O Regresso do Mestre”, por ocasião do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas e das comemorações dos 500 Anos do Encontro Luso-Chinês, com o patrocínio da Fundação Macau, Hotel Grand Lapa Macau, Oulala Flower, Xcessu Lda. e em parceria com o Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong e o Instituto Português do Oriente, recital no qual interpretou brilhantemente, aos 83 anos de idade, obras de Bach, Beethoven, Vianna da Motta, Áureo de Castro e Chopin, entre outras. Orientou ainda uma série de master classes na Hong Kong Academy for the Performing Arts. Nos últimos vinte anos da sua vida, continuou a realizar digressões e a actuar nos mais importantes palcos internacionais, a orientar cursos de aperfeiçoamento e a integrar os júris de prestigiados concursos internacionais, como Chopin, Rubinstein, Leeds, Marguerite Long, e Montreal. Em Junho de 2005, fez parte do júri do 1.º Concurso Internacional Sviatoslav Richter, que teve lugar em Moscovo, pianista do qual foi amigo pessoal desde 1958 e a quem convidou a visitar Portugal, pela primeira vez, em 1969. A discografia de Sequeira Costa inclui a música para piano solo de Ravel, Chopin, Schumann, Albéniz, Bach/Busoni, Vianna da Motta e Rachmaninov e um CD dedicado a uma selecção de 23 encores, intitulado A Musical Snuffbox, na editora Camerata. Gravou também as obras completas para piano e orquestra de Schumann, Rachmaninov e Chopin e concluiu em 2006, em Londres, as gravações integrais das Sonatas para Piano de Beethoven, em 10 volumes (VMF Records). Em 2013, a editora inglesa Claudio Records lançou as suas gravações da integral das Sonatas para Piano de Beethoven em 10 volumes, assim como da integral dos concertos para piano e da Rapsódia Sobre Um Tema de Paganini de Rachmaninov. No dia seguinte ao seu falecimento, a Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota, afirmou em comunicado o seguinte: “A morte de José Carlos Sequeira Costa representa a perda de um dos maiores intérpretes musicais portugueses do século XX e, no momento da sua morte, a Fundação Calouste Gulbenkian presta sentida homenagem a um grande artista e a um colaborador fundamental na história da intervenção da instituição no campo das Artes”. Sequeira Costa actuou no Grande Auditório da Fundação pela última vez nos dias 7 e 8 de Abril de 2011, interpretando o Concerto para Piano e Orquestra nº 1, em Fá sustenido menor, op. 1, de Sergei Rachmaninov, com a Orquestra Gulbenkian, sob a direcção da maestrina Joana Carneiro. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, numa nota publicada no site da presidência, refere que “Sequeira Costa será lembrado certamente como um dos maiores pianistas clássicos de Portugal e pela forma como inspirou gerações de tantos jovens músicos, alunos, ouvintes, espectadores, apaixonados pela música clássica e rendidos ao seu raríssimo talento”. Contactado pelo jornal Observador, o maestro António Victorino de Almeida considera que Sequeira Costa “faz parte dos melhores pianistas do século XX e XXI a nível mundial”, destacando ainda o facto de ter “tocado até muito tarde”. Para Victorino de Almeida, “a música de Sequeira Costa não tem décadas nem séculos. Ele é uma figura histórica”, o que o levou a passar vários anos fora de Portugal, “porque nunca poderia estar no mesmo país graças à dimensão que atingiu. Sequeira Costa passou muito tempo fora, não pelas dificuldades do país, mas pela dimensão artística, que determinou que estivesse muito tempo em viagem, na sequência dos convites que recebeu de grandes universidades e escolas de música mundiais. É um pianista de grande carreira lá fora, mas também em Portugal”, conclui o maestro. Sequeira Costa, inegavelmente um dos maiores vultos portugueses do piano, conferia a cada actuação um vasto leque de timbres e um virtuosismo espantoso, mas também uma sensibilidade aos desejos do compositor, raramente conseguida por uma nova geração de virtuosos. Estas características, aliadas ao seu fraseado sedoso e tom cristalino, tornaram-no uma autêntica lenda do piano. Não restam dúvidas que o mundo ficou mais pobre com o seu desaparecimento.
Ambiente | Aberto concurso para avaliar impacto ambiental do armazém provisório de substâncias perigosas Diana do Mar - 28 Fev 2019 [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) lançou um concurso público para a avaliação do impacto ambiental e da segurança nos locais equacionados como hipótese para a construção de um armazém provisório de substâncias perigosas na zona de aterros entre a Taipa e Coloane. Segundo o anúncio, publicado ontem em Boletim Oficial, as propostas têm de ser entregues até ao próximo dia 19 de Março, estando o acto público de abertura marcado para o dia seguinte. Podem concorrer ao concurso todas as sociedades comerciais ou consórcios (compostos por sociedades) constituídos por, pelo menos, uma entidade registada na RAEM. De acordo com o anúncio, os concorrentes devem possuir experiência de trabalho nas áreas da avaliação do impacto ambiental e da avaliação da segurança. O preço é o factor que mais pesa entre os critérios de avaliação (30 por cento), seguindo-se o prazo da prestação de serviços e o plano de estudo (25 por cento cada) e a experiência profissional (20 por cento). O Governo seleccionou dois terrenos para a construção de um depósito e armazém de substâncias perigosas – um na Avenida Marginal Flor de Lótus e outro na Estrada do Dique Oeste –, cujas plantas de condições urbanísticas foram aprovadas, em Julho do ano passado, pelo Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU). Uma escolha contestada, desde a primeira hora, por moradores de diferentes edifícios da zona residencial do Cotai, incluindo do complexo de habitação pública de Seac Pai Van. Além de petições, endereçadas ao Governo e à Assembleia Legislativa, o grupo de moradores saiu para a rua em protestos, que contaram com o apoio dos deputados Ng Kuok Cheong, Au Kam San, Pereira Coutinho e Sulu Sou, que também levaram a polémica ao hemiciclo. Após as críticas, o Governo acedeu em levar a cabo uma avaliação de impacto ambiental e da segurança, cujo concurso para o efeito foi então agora lançado. Desemprego | Macau mantém taxa abaixo dos 2% Macau registou uma taxa de desemprego de 1,7 por cento entre Novembro de 2017 e o primeiro mês do ano corrente, o que representou uma ligeira descida face a igual período do ano passado, anunciaram ontem as autoridades. Entre Novembro e Janeiro, a população desempregada era composta por 6.900 indivíduos, indicou a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), em comunicado. A população activa totalizou 398.400 indivíduos e a taxa de actividade foi de 71,5 por cento, no mesmo período em análise. A DSEC destacou que o número de desempregados à procura do primeiro emprego constituiu 13,7 por cento do total da população desempregada, o que representa um aumento de 1,9 pontos percentuais. Enquanto o número de empregados no sector do jogo aumentou, entre Novembro e Janeiro, registou-se um decréscimo nos trabalhadores dos transportes, armazenagem e comunicações, apontou a DSEC. Em comparação com o período de Novembro de 2017 a Janeiro de 2018, a taxa de actividade subiu 1,7 pontos percentuais, enquanto a taxa de desemprego decresceu 0,1 pontos percentuais.
Motores já roncam para a nova época Sérgio Fonseca - 28 Fev 2019 [dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]uma altura em que a maior parte dos agentes do automobilismo local ainda preparam a temporada desportiva que aí vem, em 2019 já houve pilotos de Macau envolvidos em actividades em pista e outros que agora vão anunciando as suas participações em provas internacionais. O primeiro a entrar em acção foi Kevin Tse que ainda antes do Ano Novo Lunar, no segundo fim-de-semana de Janeiro, participou pela segunda vez consecutiva nas 24 Horas do Dubai. O piloto residente em Hong Kong fez parte da equipa do Centro Porsche Hong Kong e Macau. O Porsche 911 GT3-R que Tse partilhou com Frank Yu, Jonathan Hui e Antares Au terminou a corrida árabe de resistência na 10ª posição da geral e quarto entre os concorrentes amadores. No mesmo fim-de-semana, mas na Tailândia, realizou-se a terceira prova do campeonato Asian Le Mans Series. Representando a equipa chinesa Tianshi Racing Team, Billy Lo Kai Fung conduziu um Audi R8 LMS GT3 com Max Wiser e Dennis Zhang, terminando a corrida de quatro horas no circuito de Buriram no quarto e último lugar da categoria GT. O ex-vencedor da corrida Road Sport do Grande Prémio de Macau viajou depois para a Malásia para, agora num Audi R8 LMS ultra e na companhia de David Chen, vencer o título 2018/2019 do campeonato chinês GT Masters Asia. A pensar em 2019 Enquanto não vê clarificada a sua temporada de 2019, Charles Leong Hon Chio aceitou um convite de última hora e alinhou no pretérito fim-de-semana na última prova da Asian Winter Series, a competição de Inverno que usa os monolugares da Fórmula 3 asiática e que nas duas jornadas iniciais contou mesmo com a presença de Dan Ticktum, o vencedor das últimas duas edições do Grande Prémio de Macau de Fórmula 3. Após uma qualificação modesta, o jovem de 17 anos fez um nono, um décimo segundo e um oitavo lugar, respectivamente, nas três corridas disputadas no Circuito Internacional de Sepang, na Malásia. Se uns ainda fazem planos, outros já os têm firmados, como Alex Liu Lic Ka. O habitual piloto de carros de turismo vai mudar de ares e vai competir na temporada completa do Blancpain GT World Challenge Asia. Depois de aparições esporádicas na Taça Porsche Carrera Ásia e no TCR Asia Series, Liu Lic Ka alinhará a tempo-inteiro no mais forte campeonato de GT do sudeste asiático. O piloto-empresário da RAEM fará equipa com o banqueiro e experiente piloto de Hong Kong, Philip Ma. O duo irá tripular um Honda NSX GT3, que pertence a Ma, num campeonato que conta com prestigiadas marcas como Audi, Ferrari, Lamborghini, Mercedes-AMG e Porsche. Subsídio sem mexidas A atribuição de subsídios aos pilotos locais que participem em corridas no exterior tem sido um tópico sensível nos últimos anos, mas para a temporada de 2019 não haverá alterações quanto aos critérios para a concessão da verba disponibilizada pela Fundação Macau. Apesar de se manter a obrigatoriedade de participação na edição anterior do Grande Prémio de Macau, o Instituto do Desporto (ID) retirou o ano passado a polémica cláusula que obrigava os pilotos locais a terminarem as suas corridas no evento do Circuito da Guia, aliviando consideravelmente a contestação por parte dos pilotos do território.
Jogo | Wynn Resorts multada por ignorar queixas contra Steve Wynn João Santos Filipe - 28 Fev 2019 A Comissão de Jogos do Nevada, nos Estados Unidos, multou na terça-feira a antiga empresa de Steve Wynn em 20 milhões de dólares por falhar nas investigações de queixas de má conduta sexual contra o magnata [dropcap]A[/dropcap] penalização anunciada contra a Wynn Resorts Ltd. encerra uma investigação que começou após informações de que o fundador da empresa, Steve Wynn, que renunciou ao cargo há cerca de um ano, assediou ou atacou várias mulheres. Como tal, a empresa foi multada pela Comissão de Jogos do Nevada a pagar 20 milhões de dólares por ter, sistematicamente, ignorado queixas de empregadas contra a má conduta sexual de Steve Wynn. Ainda assim, e apesar da penalização, o acordo com a Comissão de Jogos do Nevada permite que a Wynn Resorts mantenha a licença de jogo. No acordo, firmado no passado mês entre a Wynn Resorts e a Comissão de Jogos do Nevada, a empresa assume como verídicas as alegações de que alguns executivos de topo e membros do conselho de administração tinham conhecimento das queixas feitas contra Steve Wynn. A multa que a Wynn Resorts Ltd. terá de pagar supera o anterior máximo na história do Estado do Nevada, que era de 5,5 milhões de dólares e que foi aplicada em 2014 contra a empresa de apostas desportivas agora conhecida como CG Technology. Virar de página Apesar de se multiplicarem os casos de escândalos sexuais perpetuados por homens de poder, poucas empresas têm sido penalizadas com multas pela forma como agiram perante queixas. Em causa estão queixas como a acusação de uma antiga empregada que alega que Steve Wynn a terá violado e engravidado. Na sequência deste caso, foi interposto um processo judicial contra o magnata norte-americano foi julgado, em 2005, que resultou num acordo extrajudicial com a ex-funcionária no valor de 7,5 milhões de dólares. Um outro caso que chegou à comunicação social foi o de uma empregada de bar que Wynn terá pressionado a actos sexuais, entre 2005 e 2006, e que resultou num acordo que chegou aos 975 mil dólares. De acordo com a Comissão de Jogos do Nevada, nenhum destes casos foi investigado pela empresa. Aliás, o próprio Steve Wynn, que não faz parte do acordo do Wynn Resorts, negou todas as acusações. O acordo entre a Wynn Resorts Ltd. e o regulador do jogo do Estado do Nevada foi a última tentativa de a empresa reabilitar a reputação depois da divulgação dos escândalos sexuais alegadamente cometidos pelo seu fundador. Desde então, as acções da empresa caíram cerca de 35 por cento. A Wynn Resorts Ltd. respondeu em comunicado à aplicação da multa argumentando que no último ano fomentou “uma mudança de paradigma” e “refrescou a sua cultura”. É também salientado que, actualmente, quase metade dos membros do conselho de administração são mulheres e que todos os empregados que não agiram perante o conhecimento das queixas contra Steve Wynn foram afastados da empresa. “O fim do processo movido pelo regulador do Nevada é um importante passo em frente. Estamos profundamente agradecidos pela confiança que depositam na nova liderança da Wynn Resorts”, lê no comunicado da empresa.
Manuela Ribeiro e a medula do tempo Luís Carmelo - 28 Fev 20197 Mar 2020 [dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]xistem liturgias: são escritas que irrompem do gelo do quotidiano, suspendendo-o. Por vezes, detêm a locomoção do ramerrame mais trivial, refreiam o trânsito das palavras e disfarçam-se daqueles fossos de orquestra onde se imaginam melopeias ainda por compor. São instantes movidos pela intensidade, podem durar anos, mas passam-se apenas em horas. O jogo dos dias esfuma-se nos raros momentos em que essas florestas compactas se estendem na palma da mão e nos brindam. E nos surpreendem. Na passada sexta-feira, Hélia Correia afirmava, nas Correntes d´Escritas, que o entusiasmo é um dom que nos é dado pelo deus. A frase (e os seus constituintes, um a um) deverá ser entendida como um ser vivo que se move num território de encantamento e que habitará apenas no ‘passado do passado’: a vorverganggenheit, tal como Blumenberg soletraria. Esse território, que é a ‘Grécia da Hélia’, consiste num mundo líquido que precede o lajeado do pensamento organizado, mesmo aquele que, na etimologia de Platão (no diálogo ‘Íon’), faz equivaler a palavra a “ser tomado pelo deus” (“En+theos” – com a devida assessoria do meu mano António de Castro Caeiro). De lá se resgata a água dos rios perdidos, de lá afloram novos rostos e cumplicidades, de lá se conserta até a complacência da perda. Em vinte anos de Correntes d´Escritas, passei pelo doce labirinto apenas quatro vezes, mas três nos últimos três anos. Em 2017, foi lá que me imaginei a fechar a porta à morte do meu pai (sim, a morte tem portas: condutas que arrastam a imortalidade para aquele tipo de máscaras que se evaporam na face, achincalhando-a). O ano passado, percebi que os amigos de infância se podem engendrar de um âmago para outro. Este ano, confesso que o portento foi mais terreno, mas fez-me confundir a precisão dos teodolitos com a vaga ideia de que o mundo é um guindaste invisível que nos capta, que nos murmura e que nos captura em segredo (João, o Baptista, pregava no deserto, mas era ouvido e era essa a pujança da coisa). Não me passa pela cabeça sacralizar a literatura e até creio que a sua força, hoje em dia, decorre do estado de nicho (meio exilado e meio desterrado) a que chegou. E concordo, há muitos muitos anos, com a verdade de que a poesia é mesmo a linha da frente. Vou ainda mais longe: estou em crer que o ‘produto livro’ é cada vez mais um lodo cheio de bacilos nefastos. A única coisa que a poesia e a literatura têm em comum com esse lodo é que encarnam num corpo em forma de livro. Por uma questão de nitidez, adoraria que a poesia e a literatura encarnassem noutra configuração e noutros formatos. E que se vendessem, não em livrarias, mas em poerias e em literarias. Mas isso só seria possível numa espécie de ‘Grécia da Hélia’. Ser contemporâneo (mesmo dos mais íntimos) é desafiar as vagas do poente num mesmo arco do tempo. É essa a inevitabilidade da nossa vida, mesmo para os adoradores da pureza que se imaginam no ar, lançados por catapultas. Após uma semana de Correntes d´Escritas, voltei a perceber que o entusiasmo é realmente um dom. Eu explico: sabemos que a ciência dos dias tem atrelados de todo o tipo e que a maior parte das carruagens se perde pelo caminho. Esta operação, que é a operação de existir, torna-se ainda mais vincada nestas calendas digitais em que o presente insiste em ser uma ‘black box’ que apaga todos os vestígios à sua volta. Pouco sobra. De qualquer modo, é nestas paisagens de quase desolação que, inesperadamente, se erguem as liturgias. São arquipélagos sem oceano à volta: traços salientes no meio da brancura que permitem decifrar tudo o que afinal é branco. Eu explico melhor ainda: descobri um poeta nas Correntes, chama-se José Rui Teixeira e acaba de ser publicado na colecção ‘Elogio da Sombra’, dirigida pelo Valter Hugo Mãe (‘Autópsia’ – poesia reunida). Trata-se de uma poesia que já se domiciliava no ‘passado do passado’, naquele mundo de liquidez que felizmente subsiste para nos tramar as modas e as vogas… e eu é que lhe cheguei já tarde (ora leia-se e releia-se: “O inferno é uma colecção de borboletas,/ onde domestico cruelmente a beleza/ e exercito pacientemente o escrúpulo”). Descobrir um poeta é também uma metáfora de muitas outras circum-navegações, é claro. Poderia falar, durante horas, de muitos outros que me tocaram especialmente, mas permitam-me a ênfase para o João Rios (‘Reter o amor do gancho do talho’) e para o José Anjos (‘Uma fotografia apontada à cabeça’), ambos editados pela Abysmo. No restante do vasto descobrimento, testemunhei muitas outras vozes e tentações, ao longo da longa semana em que contracenei com as (vigésimas) Correntes d´Escritas. Uma polifonia de fundo para sacudir os dias: foi um prazer ter trabalhado com dezenas de professores bibliotecários ao lado de um equipa de luxo (Ana Margarida de Carvaho, Filipa Melo, Henrique Correia, Isabel Bezelga, Margarida Fonseca Santos e Paulo Faria); foi um prazer ter levado as Sessões Ícone da EC.ON – Escola de Escritas às Correntes d´Escritas e foi ainda um grande prazer ter apresentado um livro (‘Primeira Linha de Fogo’ de Ana Margarida Carvalho) e ter visto um outro meu (‘Ficcionalidades de Prata’) – ambos com a chancela da Nova Mymosa – ser tão bem apresentado por essa alma antiga que é a Marta Bernardes. As atmosferas perduram bem mais do que os factos, diz-se. Mas não serão elas que conservam a medula do tempo. Quem o faz é, provavelmente, o tal dom de que nos possuímos através do deus que se desoculta, quando menos esperamos. Mas há uma pessoa, por trás dos cenários mais ínvios, que, há anos e anos, mantém um jeito de ligação directa com esta ventura. O seu nome é Manuela Ribeiro.
Ciência | Fundo de Desenvolvimento deu mais de 260 milhões em apoios João Santos Filipe - 28 Fev 2019 Em 2018, o FDCT aprovou o financiamento de 510 projectos, que representou um montante total de 261,4 milhões de patacas. No balanço do ano, o presidente do fundo, Frederico Ma, recordou o incentivo do Presidente Xi Jinping à ciência local [dropcap]O[/dropcap] Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT) apoiou com 261,4 milhões de patacas mais de meio milhar de projectos. Os dados foram apresentados, ontem, numa conferência de imprensa conduzida pelo presidente do Conselho de Administração, Frederico Ma. “O número de candidatura aprovadas para financiamento ao longo de todo o ano foi de 510 e o montante aprovado foi superior a 260 milhões de patacas”, anunciou o também filho do empresário Ma Iao Lai. Ainda de acordo com a informação apresentada, no ano passado registaram-se, no total, 639 candidaturas, que envolviam 619,4 milhões de patacas, o que significa que 129 foram recusadas. Além disso, os montantes aprovados como forma de financiamento ficaram quase em 360 milhões aquém do pedido. O FDCT, financiado e cuja composição é seleccionada pelo Governo, atribui subsídios com o objectivo de apoiar “a investigação científica” e massificar as ciências, com o objectivo de melhorar a “investigação científica de qualidade em Macau”. Além disso, concede prémios de incentivo a estabelecimentos de ensino. No que diz respeito à investigação científica, foram submetidas 196 candidaturas que pediam apoios no valor de 350,9 milhões de patacas, em 2018. Porém, o número de pedidos apreciados foi superior, uma vez que o FDCT transitou alguns processos de 2017 para o ano passado. Assim, o fundo apreciou 232 pedidos e 148 foram aprovados, o que representa uma percentagem de 63,79 por cento, o equivalente a 170,9 milhões. Ao mesmo tempo, foram recusados 82 projectos, no valor de 187,1 milhões. Finalmente, dois projectos foram retirados pelos autores, as propostas pretendiam obter financiamento total de 515 mil patacas. Em relação aos resultados financeiros do FDCT, a instituição teve um saldo positivo de aproximadamente 6 milhões de patacas. As receitas foram de cerca de 340 milhões de patacas, enquanto as despesas totalizaram 334 milhões de patacas. Incentivo de Xi Na apresentação do balanço das actividades e resultados do FDCT, Frederico Ma recordou ainda uma mensagem deixada pelo Presidente Xi Jinping, no ano passado, a incentivar o desenvolvimento da ciência local. “Em meados de Julho, o presidente Xi Jinping respondeu […] aos professores e estudantes dos institutos de ensino superior de Macau e afirmou que o novo progresso alcançado na inovação tecnológica de Macau constituiu um grande incentivo para a aquisição de mais resultados científico-tecnológicos”, recordou o presidente do FDCT. Cooperação com Portugal vai arrancar Apesar de no ano passado ter sido anunciado a assinatura do memorando de cooperação científica entre o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT) de Macau e a Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal, apenas este ano a iniciativa deverá arrancar. O ponto de situação foi feito, ontem, por Cheang Kun Wai, membro do conselho de administração do FDCT, que explicou que a instituição portuguesa precisou de mais um ano para se preparar: “… as coisas não estavam preparadas, talvez porque não tivesse sido orçamentado o montante necessário para aquele trabalho. Também foi necessário pedir mais documentação”, explicou. No entanto, Cheang mostrou-se confiante que a partir de Abril a cooperação arranque. “Poderá acontecer ainda durante o primeiro semestre”, indicou. Segundo os moldes da cooperação, Macau e Portugal vão subsidiar projectos científicos nas áreas da medicina tradicional chinesa, informática e investigação marítima. Portugal vai apoiar programas com um valor até aos 100 mil euros, já Macau vai financiar até 1 milhão de patacas. Convenções e exposições | Último trimestre de 2018 com mais eventos No quarto trimestre de 2018, realizaram-se 461 reuniões, conferências, exposições e eventos de incentivo, mais 83 do que durante o mesmo período no ano de 2017. Deste total, 429 foram reuniões e conferências, 22 exposições e 10 eventos de incentivo. O número de participantes e visitantes atingiu os 736 mil, mais 5,8 por cento do que no mesmo período do ano anterior, de acordo com a Direcção de Estatísticas e Sensos. As receitas apuradas pelas 22 exposições fixaram-se em 82,33 milhões de patacas, enquanto as despesas atingiram os 124 milhões de patacas. No total do ano de 2018, as receitas e despesas situaram-se em 189 milhões e 248 milhões de patacas, respectivamente.
A menina gosta de ler? Gisela Casimiro - 28 Fev 201928 Fev 2019 [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] menina gosta de ler?” Era sempre assim que, na pequena cidade onde os meus pais vivem desde sempre, as Testemunhas de Jeová se me dirigiam. E não podia dizer que não. Era como se soubessem, na verdade. Como se eu trouxesse um sinal no rosto (bem, na verdade eu tenho mesmo um sinal no rosto), emitisse uma frequência que os fizesse abordar-me constantemente, todos os dias, mais do que uma vez por dia. Ou talvez o fizessem com toda a gente, talvez encarassem todos os transeuntes como se vendo-os pela primeira vez. Sempre aos pares, para ser mais difícil dizer não, ou talvez apenas para fazerem companhia uns aos outros, quem sabe. Nunca perguntei. E nunca perguntei de volta: “O senhor, gosta? E a senhora, lê muito?” Talvez devesse tê-lo feito. Na esquina do muro do jardim público, algures no passeio de caminho para algum lugar, esta pergunta, e a mão estendida com uma ou duas revistas, que por vezes aceitava e, outras vezes, não. Quando aceitava, lia sempre, por inteiro ou pelo menos a maior parte, com o filtro necessário. Porque a menina gosta muito, muito de ler. Mas se às vezes fazia o gesto de rejeição com a mão, outras vezes parava e ouvia. Outras vezes fugia para o outro lado da estrada. Lembrei-me disto no outro dia quando (estava a menina cheia, cheia de pressa) saltei do autocarro 728 em Santa Apolónia, em passada larga e decidida rumo a casa quando algo me chamou a atenção. Alguém, na verdade. Um homem, faixa dos quarenta anos, sem-abrigo, deitado relaxadamente debaixo da larga ombreira da porta, manta até à cintura, pernas levantadas, cigarro fumegante, paz no rosto, paz no corpo. Voltei atrás. “Olá, posso saber o que está a ler?” Por curiosidade, porque para mim as capas de livros são um empecilho às relações humanas, porque afinal o que quer que fosse que eu ia fazer podia esperar, encontrei alguém como eu, alguém que gosta de ler. “Claro”, responde. Uma autora de que eu nunca ouvira falar, nem do seu livro. Para ele também era novidade. Contou-me a história: uma mulher que acordava todos os dias julgando que era criança ainda, com a memória de criança, quando na verdade já era casada, e as dificuldades que isso lhe causava, e ao marido, e ao médico e demais pessoas da sua vida. Se quiseres, passa aí daqui a dois ou três dias e eu empresto-te. Perguntei como arranjava os livros, disse que lhe davam, ou comprava, mas que também já lhe tinham roubado muitos. O amor aos livros, aquele sorriso leve que nem a barba por fazer escondia, o ar de quem poderia estar em casa, no quentinho, sem poluição, sem o passar de pessoas estranhas, apressadas ou indiferentes, sem barulho, o estar num mundo só seu a que mais ninguém tem acesso a menos que traga um livro ao colo, ou ao peito, a familiaridade com que me tratou por tu, e a disponibilidade para me emprestar livros, fizeram com que me esquecesse do resto durante aqueles momentos. Há muito tempo, na paragem, fotografei a sua casa, a mala de viagem feita e arrumada e o cartão ao lado, bem dobrado. Tudo no sítio. Como quem faz a cama. Mas sem cama e casa e sem tudo. Talvez ainda com muito. Quem tem um livro tem tudo. Talvez até tenha muito. E talvez, agora que mudei de casa, e já vivo menos de malas de viagens e sacos, e consegui finalmente arrumar os livros, seja tempo de pegar nuns quantos, apanhar o 728 após o trabalho, e ir visitá-lo.
F de fake: a dobra António Cabrita - 28 Fev 20191 Mar 2019 [dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]sta semana trouxe-me vários sustos. Tinha acabado de ler um magnífico ensaio do filósofo Eugenio Trías que me havia reconciliado com o Duchamp – na leitura de Trías, o Le Grand Verre ou La Mariée mise à nu par ses célibataires-même, supera a aporia aberta pelos ready-made e a Fonte (a qual se tornou manancial legitimador para grande parte dos embustes que hoje se manifestam na arte) – e de repente sabe-se que afinal o “engenheiro dos ready-made” ludibriou toda a gente. O mais célebre mictório do mundo, assinado por um incógnito R. Mutt, em 1917, o qual, depois do seu desaparecimento, foi objecto de réplicas, autorizadas por Duchamp e vendidas por milhares de dólares a alguns dos museus mais proeminentes do mundo (o Centre Pompidou em Paris, o Tate Modern em Londres e o San Francisco MoMA, por exemplo); pois o urinol deve ser creditado à artista Dada alemã, a Baronesa Elsa von Freytag-Loringhoven, segundo os especialistas. Vários académicos, sobretudo na Holanda, tentam determinar quem é o criador real desde 1982, quando apareceu uma carta de Duchamp em que ele nega qualquer envolvimento. Em 2002, a académica Irene Gammel escreveu na biografia da Baronesa que esta foi pelo menos parcialmente responsável pelo trabalho, e, entretanto, numa carta de Duchamp para a irmã, o artista refere, preto no branco, que foi mesmo Elsa von Freitag quem enviou o urinol para a Exposição de Nova Iorque. E que importância isto tem? Em 2004, a Fonte foi descrita na imprensa britânica como a obra de arte moderna mais influente de sempre, já se escreveram centenas de livros sobre a revolução que a peça ocasionou nos rumos da arte e milhares de artigos corroboram desde então o bifurcamento das práticas artísticas, sobretudo desde que a Art Pop e a Arte Conceptual tornaram o autor de Nu Descendo as Escadas como seu profeta. E afinal tudo não passou de um golpe de marketing, de uma farsa neo-neo-conceptual de um mitómano. Não estou ainda reposto e leio que «Elmyr de Hory tinha mão para pintar mas não de todo a técnica nem a formação para falsificar um Gauguin, um Matisse ou um Modigliani». A tese é defendida por Diego Feliu (Madrid, 1959), autor de Desmontando a Elmyr (editorial Sloper), que acabou de sair em Espanha. Eis questionado, pela primeira vez, o maior falsificador de arte da história. Até agora, recorda Feliu, «todo o mundo escrevia o mesmo» sobre este personagem, usando como únicas fontes a película F for fake, de Orson Welles, e o livro Fake, de Clifford Irving. Na opinião do jornalista madrileno, o que narrou o novelista e biógrafo americano sobre a vida do pintor e falsificador húngaro é «pura invenção». E adianta, Elmyr de Hory só tinha um verdadeiro talento para forjar os documentos dos supostos especialistas que validavam as obras que ele apresentava aos tansos, e para reproduzir a assinatura dos pintores. Os quadros eram pintados por outros, cada um deles, esses sim, especializados na burla de um pintor famoso. Ele depois assinava, daí que parecesse ter dotes polimórficos. Sinto-me destroçado, de repente o “meu” falsificador, a quem invejei toda a vida, não passa de um vigarista de indubitável requinte, mas a quem falta absolutamente o talento. E deixa-me de cara à banda a vigarice (meto aspas, tiro?) do Duchamp, porque é muito diferente a provocação do urinol aparecer da parte de quem André Breton considerava o homem mais inteligente do século XX e que concebeu este projecto de “ready-made recíproco”: utilizar um Rembrandt como tábua de engomar”, do que da simpática baronesa. Simplesmente, porque Duchamp criou toda a vida objectos artísticos e uma reflexão congruentes com uma obra de que afinal não foi o autor; em relação à baronesa a Fonte seria a sua “melhor” obra, pois ela foi sobretudo poeta. Imagino a cena, dado haver indícios de que Duchamp e a baronesa foram amantes, ela tem a ideia e fartam-se de rir com o efeito que a peça terá junto do júri (de que Duchamp fazia parte). Imaginarem a cena foi o complemento erótico para a noite. Ele de manhã desvaloriza a ideia e diz-lhe que não vai em frente com o atrevimento. Ela fica meio perplexa e diz-lhe que vai enviar o urinol, e ele anui, Força. « Quando depois observou o efeito que a peça foi produzindo e que sobre a autoria da mesma se mantinha o anonimato, Duchamp, que apurou o engenho de especular teorias à sombra de novos ready-made, apropria-se, e é ela quem então recua, devido ao crescente prestígio dele.» E foi um dos grandes negócios da vida dele. A brasileira Valentina Corrêa Trigo, focou a questão: «Por que ninguém fala mais em Picasso e tanta gente ainda se inspira em Duchamp? A resposta é simples: a arte de Picasso exige talento, técnica, reflexão sobre a vida e a História, enquanto Duchamp, por genial que tenha sido em seu momento, traz uma mensagem muito mais fácil de ser assimilada e copiada: qualquer um pode ser artista.» Na sua conversa com Pierre Cabanne, a dado momento Duchamp refere: «Quando Rubens ou qualquer outro necessitava da cor azul, tinha de pedir tantos gramas à sua corporação e discutia-se a questão para se saber se lhe podiam dispensar 50, 60, ou mais. Eram verdadeiros artesãos…» Sim, eram cedidos os pigmentos consoante o grau de responsabilidade que fosse inerente ao artista. Duchamp, nesta perspectiva, portou-se como um verdadeiro sofista. No fundo, ele reconhece, apenas forçou a sorte, pelo que «(…) nunca trabalhei para viver. Considero que trabalhar para viver é algo ligeiramente estúpido, desde o ponto de vista económico». Smart, e pessoalmente defensável, mas com isso abriu a caixa de Pandora. Bom, fica-me o filme de Orson Welles que continua a ser magnífico. E Le Grand Verre, pelo menos na leitura que dele faz Trías.
Kraftwerk regressam a Hong Kong, em Abril, para concerto 3-D João Luz - 28 Fev 2019 [dropcap style≠‘circle’]T[/dropcap]alvez se contem pelos dedos de uma mão bandas que abriram tantas portas para o futuro da música como os Kraftwerk. Goste-se deles ou não. Quase a celebrar meio século de carreira, a banda que nasceu em Dusseldorf, na Alemanha, volta a Hong Kong para apresentar o seu renovado espectáculo 3-D. O concerto está marcado para as 20h do dia 29 de Abril, no espaço KITEC em Kowloon Bay. Os fãs da banda podem esperar uma fusão de música com um exuberante show visual, que passou por alguns dos espaços artísticos mais prestigiados do mundo, como o MoMA em Nova Iorque, o Walt Disney Concert Hall em Los Angeles, a Fundação Louis Vuitton em Paris e o Tate Modern em Londres. Desde a sua fundação, os Kraftwerk exerceram uma profunda influência em inúmeros e díspares géneros musicais, como o post-punk, o hip hop, techno, obviamente o synthpop e tudo o que é música electrónica. Ao longo do tempo, e sem surpresas, a banda tem sofrido baixas na formação, com a saída de muitos membros. No entanto, Ralf Hütter, um dos fundadores, mantém-se no activo nos sintentizadores, apesar de já ter 72 anos. Ao longo da carreira, a banda alemã recebeu várias distinções, onde se destacam o Grammy Lifetime Achievement Award, atribuído em 2014. Homens e máquinas Com uma dezena de discos em quase 50 anos, a banda alemã é responsável por alguns marcos musicais incontornáveis da segunda metade do século XX. “The Man-Machine” é um desses registos. O sétimo disco de estúdio dos Kraftwerk, editado em Maio de 1978 pela Capitol Records, atingiu um sucesso comercial até à altura não alcançado pela banda. O facto da sonoridade do disco apostar menos em arranjos minimalistas e incluir ritmos mais dançáveis pode ter contribuído para a visibilidade que obteve. O disco tem duas das músicas mais conhecidas da discografia da banda alemã: “The Model” e “The Robots”. Mas para chegarem a “The Man-Machine” primeiro tiveram de viajar pela “Autobahn”, o registo em que os Kraftwerk cimentaram a sonoridade electrónica construída em loops que se repetem, crescem e se multiplicam como vias sonoras. O disco, inspirado no sistema de autoestradas alemãs, tenta replicar musicalmente a experiência de guiar numa autoestrada, com paisagens a passar num flash pelas janelas, a velocidade e a serenidade concentrada essencial a uma viagem segura, assim como a quebra da monotonia quando se liga o rádio. “Autobahn” quebra um pouco com a tendência minimalista, aproximando a sonoridade da banda do electro-pop. Estes dois registos, além do último disco lançado pela banda, “Tour de France”, devem marcar o alinhamento do concerto em Hong Kong. Os bilhetes já estão à venda e custam entre 680 e 880 dólares de Hong Kong.
Índia anuncia que também abateu um avião paquistanês Hoje Macau - 28 Fev 2019 [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Índia anunciou ontem que derrubou um avião paquistanês durante um confronto aéreo em que um dos seus aviões foi abatido pelo Paquistão. No dia posterior a uma operação apresentada por Nova Deli como um “ataque preventivo” contra um campo de treino no Paquistão, a força aérea paquistanesa “visou instalações militares” na Caxemira indiana, declarou Raveesh Kumar, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia numa conferência de imprensa. Kumar referiu que as “tentativas do Paquistão fracassaram”. No confronto, segundo o porta-voz, “um avião de combate da força aérea do Paquistão foi abatido por um Mig-21 Bison da força aérea da Índia”. “O avião paquistanês foi visto por tropas de terra a cair no lado paquistanês. Neste confronto, infelizmente, perdemos um MiG-21. O piloto desse caça desapareceu em combate. O Paquistão afirma que o tem detido”, afirmou, acrescentando que esta última informação estava a ser verificada. O exército indiano assegurou, na terça-feira, ter liderado um ataque contra um campo de treino no Paquistão do grupo islâmico Jaish-e-Mohammed (JEM), muito activo na luta armada contra a Nova Deli, no Vale do Srinagar, dizendo ter matado “um grande número” de combatentes. Islamabad denunciou imediatamente essa “agressão prematura” e prometeu responder aos ataques. Ao ataque Na manhã de ontem, o Paquistão anunciou que havia realizado “ataques” à Caxemira contra alvos “não militares”. O exército paquistanês alegou ter derrubado dois aviões indianos no seu espaço aéreo e ter detido um piloto indiano. Um dos aviões teria caído na Caxemira indiana e o outro na Caxemira paquistanesa”, indicou o general Asif Ghafoor, na rede social twitter. Uma rebelião separatista mortífera destabiliza a Caxemira indiana desde 1989. A Índia acusa o Paquistão de apoiar de forma dissimulada as infiltrações na sua parte do território e a própria revolta armada, o que Islamabad sempre negou. Na terça-feira, pelo menos seis pessoas foram mortas durante confrontos entre militares indianos e paquistaneses, perto da linha de demarcação das partes da Caxemira sob controlo da Índia e do Paquistão, no setor controlado por este, em Nakyal, de acordo com as autoridades paquistanesas.
Trump nega que esteja disposto a ceder perante Pyongyang Hoje Macau - 28 Fev 2019 O Presidente norte-americano promete ajudar Kim Jong-um a transformar a Coreia do Norte numa potência económica mundial e desmente ter feito cedências a Pyongyang antes de se dar início ao processo de desnuclearização [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ontem serem “falsas” as informações de que estaria disposto a fazer cedências ao líder norte-coreano, Kim Jong-un, antes de este adoptar medidas concretas para a desnuclearização. “São tudo informações falsas sobre as minhas intenções em relação à Coreia do Norte. Kim Jong-un e eu vamos esforçar-nos para definir algo sobre a desnuclearização e, em seguida, transformar a Coreia do Norte numa potência económica”, disse. Trump tem seduzido o regime norte-coreano com boas perspectivas económicas caso aceite a desnuclearização e se insira na comunidade internacional. A organização da cimeira no Vietname, outrora devastado por bombas norte-americanas, mas que é agora um importante parceiro económico e aliado de Defesa dos EUA, visa precisamente encorajar Kim a replicar aquele processo. “Vamos ver o que acontece, mas ele quer fazer algo grandioso”, disse ontem o Presidente norte-americano ao primeiro-ministro do Vietname. “Olhando para o que vocês fizeram, em tão pouco tempo, ele poderá fazê-lo muito rapidamente – transformar a Coreia do Norte numa grande potência económica”, disse. No centro de imprensa em Hanói, o vice-ministro vietnamita dos Negócios Estrangeiros Le Hoai Trung disse aos jornalistas que Hanói “está disposto a trocar experiências com qualquer país que queira fazê-lo”. “O Vietname fez reformas profundas nos últimos trinta anos visando converter-se num Estado moderno”, lembrou. “Cada país tem as suas próprias circunstâncias e as decisões cabem aos seus líderes, mas o processo de integração na comunidade internacional é um processo de benefícios mútuos”, notou. Kim Jong-un permaneceu no hotel enquanto outros quadros de Pyongyang visitaram a pitoresca baía de Halong e uma zona industrial próxima. Uma televisão sul-coreana difundiu imagens de funcionários sul-coreanos, incluindo de Ri Su Yong, o vice-presidente do comité central do Partido dos Trabalhadores, num cruzeiro na baía e em visitas a fábricas, na cidade portuária de Hai Phong. O grupo incluiu O Su Yong, director dos Assuntos Económicos do Partido dos Trabalhadores. Especialistas consideram que a inclusão de O Su Yong na delegação indica que Kim espera voltar para casa com um alívio parcial das sanções, impostas pelo Conselho de Segurança da ONU, devido ao programa nuclear do país. Troca de interesses A cimeira arrancou ontem com um encontro privado entre Trump e Kim e um jantar entre as duas delegações. O líder norte-americano é acompanhado pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, e pelo chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney. Kim estará com Kim Yong Chol, negociador-chave nas negociações com os EUA, e Ri Yong Ho, ministro dos Negócios Estrangeiros. Estarão ainda presentes intérpretes de ambas as delegações. Mas entre os especialistas há a crescente preocupação de que Trump faça cedências a Kim em troco de pouco. Uma declaração de paz na Guerra da Coreia (1950-1953), que terminou com um armistício, poderia implicar uma redução das tropas norte-americanas na Coreia do Sul, enquanto o alívio das sanções poderia permitir a Pyongyang reiniciar os lucrativos projetos económicos com a Coreia do Sul. Cépticos quanto às promessas do regime norte-coreano insistem que Trump deve primeiro obter progressos reais na questão da desnuclearização antes de fazer cedências. Os líderes reuniram-se pela primeira vez em Junho passado, em Singapura. A histórica cimeira terminou, no entanto, sem nenhum compromisso da Coreia do Norte no sentido de abandonar o seu arsenal nuclear. A Coreia do Norte sofreu já décadas de isolamento e pobreza extrema, incluindo períodos de fome que causaram milhões de mortos, mas não abdicou de desenvolver um programa nuclear como garantia de sobrevivência do regime. Um tratado de paz que pusesse fim à Guerra da Coreia permitiria a Trump fazer História e encaixaria na sua oposição a “guerras eternas” dispendiosas para os EUA. Mas isso poderá implicar a retirada dos 28.500 soldados norte-americanos estacionados na Coreia do Sul, antes de Pyongyang se comprometer com medidas concretas para a desnuclearização.
Contabilistas | Deputados vão pedir dados sobre consulta feita pelo Governo ao sector Diana do Mar - 28 Fev 2019 [dropcap]O[/dropcap]s deputados da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) vão pedir ao informações sobre a auscultação que o Governo fez junto dos contabilistas e auditores de contas relativamente ao novo regime, não descartando mesmo a possibilidade de levarem a cabo a sua própria consulta. A garantida foi dada ontem, após a primeira reunião em sede de especialidade sobre o Regime de Registo e Exercício da Profissão de Contabilistas. “No plenário da apresentação da proposta de lei, o secretário [para a Economia e Finanças] afirmou que foi feita uma ampla auscultação [ao sector], por isso, a Comissão quer mais informações sobre essas consultas realizadas no passado”, depois de deputados terem feito eco das vozes do sector de que essas consultas excluíram profissionais, pois foram dirigidas a associações, não chegando, por conseguinte, “a todos”. Neste sentido, os deputados não fecham a porta à possibilidade de virem a recolher opiniões junto do sector. Uma decisão que, como ressalvou, ficará dependente dos esclarecimentos que o Governo irá prestar sobre a auscultação levada a cabo no passado. O principal ponto do diploma prende-se com a fusão dos auditores de contas e dos contabilistas, com os primeiros a passarem a ser designados de “contabilistas habilitados a exercer a profissão”. A alteração, segundo a nota justificativa, pretende resolver “o problema da inconsistência entre os títulos profissionais” utilizados em Macau e noutras partes do mundo. Actualmente, existem 120 auditores de contas e 177 contabilistas, de acordo com dados facultados pelo presidente da 3ª. Comissão Permanente. Fundo de Pensões | Ermelinda Xavier substitui Julieta Ieong na liderança Ermelinda Xavier foi nomeada, em comissão de serviço, para exercer o cargo de presidente do conselho de administração do Fundo de Pensões. A nomeação, pelo período de dois anos, a partir de 1 de Março, consta de um despacho do Chefe do Executivo, publicado ontem em Boletim Oficial. Ermelinda Xavier, que ingressou no Fundo de Pensões em Março de 1990 como técnica, exerce desde Dezembro de 1999 o cargo de vice-presidente. Ermelinda Xavier vai suceder a Julieta Ieong que cessou, por motivo de saúde, a comissão de serviço como presidente do conselho de administração do Fundo de Pensões, segundo um despacho do gabinete da secretária para a Administração e Justiça, também publicado ontem em Boletim Oficial.
Grande Baía | Leong Sun Iok quer mais alternativas para circulação de veículos Sofia Margarida Mota - 28 Fev 2019 Com o projecto da Grande Baía é necessário promover a circulação de veículos entre as regiões envolvidas. De modo a evitar a concentração de tráfego nas Portas do Cerco ou mesmo na Ponte HKZM, é urgente preparar outros postos fronteiriços para o efeito, nomeadamente na Ilha da Montanha, considera Leong Sun Iok [dropcap]O[/dropcap] deputado Leong Sun Iok pede ao Governo que divulgue os planos que tem para permitir a circulação de automóveis com matrícula de Macau entre as regiões adjacentes tendo em conta o plano da Grande Baía recentemente divulgado. Em interpelação escrita, o tribuno sublinha que para atingir os objectivos definidos por esta política regional, nomeadamente no que toca à circulação de pessoas e de bens, é necessário, em primeiro lugar, “promover a rede de transportes dentro da Grande Baía bem como o seu alargamento a outras localizações dentro do Delta do Rio das Pérolas”. Por outro lado, o alargamento da circulação automóvel é condição para “fazer das cidades que integram Guangdong, Hong Kong e Macau, um grande aglomerado de cidades de classe mundial”, acrescenta. “É necessária a implementação de medidas políticas no sentido de alargar a circulação dos veículos automóveis com matrícula local no Continente”, aponta. É também urgente, “melhorar as políticas de circulação dos veículos de Guangdong, Hong Kong e Macau de modo a que estes possam circular livremente entre as regiões” podendo utilizar diferentes postos fronteiriços. Carros distribuídos O deputado recorre aos números para justificar a necessidade de abrir mais fronteiras à circulação de veículos. “Em 2018, havia 1 150 738 veículos ligeiros a circular através do posto das Portas do Cerco. Em comparação com 2014, os números indicam um aumentou de 91,3 por cento”, refere. O trânsito na Ponte HKZM também poderá vir a aumentar, até porque os “governos regionais estão a ponderar a implementação da quota única , medida que não impõe limite do número de veículos de cada região que podem utilizar a estrutura”. Macau deve assim optimizar “as instalações de apoio em vários postos fronteiriços o mais rapidamente possível, incluindo a conclusão do Posto de Qingmao e a deslocação da Flor de Lótus para a Ilha da Montanha”, lê-se. “Faremos um bom trabalho ao desviar passageiros e fornecer condições para aprofundar a cooperação regional no futuro”, aponta. Agora Leong apela ao Governo que divulgue o ponto da situação dos trabalhos que estão ser feitos para este efeito.
Administração | Criado grupo de trabalho para celebrações dos 20 anos da RAEM Hoje Macau - 28 Fev 201928 Fev 2019 [dropcap]O[/dropcap] Governo criou um grupo de trabalho interdepartamental para o acompanhamento e apoio à preparação e execução das acções relacionadas com as celebrações do 20.º aniversário da RAEM, de acordo com um despacho do Chefe do Executivo publicado ontem em Boletim Oficial. O objectivo é conseguir “uma melhor gestão e coordenação dos recursos humanos, técnicos e materiais necessários à organização e realização dos eventos relacionados com a comemoração do 20.º aniversário da RAEM”, aponta o despacho. As despesas deste grupo vão ser asseguradas pelos serviços e organismos públicos envolvidos e o apoio administrativo, técnico e logístico necessário ao seu funcionamento é assegurado pelo gabinete do Chefe do Executivo. Os restantes encargos financeiros decorrentes da actividade da entidade serão suportados pela Direcção dos Serviços de Finanças. O grupo de trabalho é coordenado pela chefe do gabinete do Chefe do Executivo, e terá um total de 11 membros, incluindo o director do Gabinete de Comunicação Social, Victor Chan, o presidente do Conselho de Administração da Fundação Macau, Wu Zhiliang, a coordenadora do Gabinete de Protocolo, Relações Públicas e Assuntos Externos, Lei Ut Mui, o presidente do Conselho de Administração do Instituto para os Assuntos Municipais, José Tavares, o director dos Serviços de Finanças, Iong Kong Leong, o comandante do Corpo de Polícia de Segurança Pública, Leong Man Cheong, a presidente do Instituto Cultural, Mok Ian Ian, o adjunto do comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários, Ng Kam Wa, a assessora do Gabinete do Chefe do Executivo, Sam I Kai, o assessor do gabinete do secretário para a Segurança, Adriano Marques Ho e o assessor do gabinete do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Lam Io Pak. Chefe do Executivo | Frederico Ma afasta candidatura “Não estava à espera dessa pergunta.” Foi desta forma que Frederico Ma, filho do empresário Ma Iao Lao, reagiu à possibilidade de abandonar a presidência do FDCT para concorrer à posição de Chefe do Executivo. “Acho que vou continuar além de 2019 e cumprir o mandato. Houve uma renovação do mandato em 2018, que se prolonga até 2020, e vou continuar”, acrescentou. Frederico Ma é membro da família Ma, ligada ao patriarca Ma Man Kei, tem 46 anos e é desde 2010 vice-presidente da Câmara do Comércio de Macau. Foi agraciado pelo Governo, em Dezembro de 2011, com a Medalha de Mérito, no sector da Indústria e Comércio.
Escolas particulares | Deputados colocam em causa “pesadas multas” Diana do Mar - 28 Fev 2019 Os deputados da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa querem saber por que razão foram definidas “pesadas multas” no Estatuto das Escolas Particulares do Ensino Não Superior, cujo máximo é 100 vezes superior ao do regime em vigor [dropcap]A[/dropcap]s “pesadas multas” previstas no Estatuto das Escolas Particulares do Ensino Não Superior preocupam os deputados da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que analisa o diploma em sede de especialidade. A possibilidade de haver “uma grande discricionariedade” por parte das autoridades figura como outro dos receios. À luz do diploma, a entrada em funcionamento de uma escola sem emissão de alvará ou a admissão de alunos em nome da escola é sancionada com uma multa de 500 mil a 1,5 milhões de patacas, quando no actual regime, em vigor desde 1993, a multa varia entre 1.500 e 15 mil patacas. “Queremos perguntar [ao Governo] por que razão elevou as multas”, afirmou o presidente da 2.ª Comissão Permanente da AL, Chan Chak Mo, no final da reunião de ontem, apontando que, na perspectiva dos deputados, as multas afiguram-se “pesadas”. “A moldura é bastante elevada, pode haver uma grande discricionariedade”, complementou. Além das dúvidas relativamente aos critérios da gradação das multas aplicável consoante a gravidade das infracções administrativas, os deputados também pretendem ver esclarecido o próprio teor de infracções e respectivas penalizações. Chan Chak Mo deu o exemplo da multa – de 10 mil a 400 mil patacas – que as entidades tutelares arriscam caso “não cumpram ou cumpram defeituosamente, por acção ou omissão, as suas competências ou deveres”. “Temos de perguntar do que trata o cumprimento defeituoso”, indicou o deputado. As sanções acessórias também geram dúvidas, com os deputados a manifestarem preocupação com o impacto que a suspensão dos apoios financeiros à escola ou a suspensão do funcionamento da escola podem ter nos alunos caso sejam aplicadas. “Não parece muito justo. Parece que quem vai sofrer [com a aplicação das sanções acessórias] são os alunos”, argumentou o presidente da 2.ª Comissão Permanente da AL. Isto porque, justificou, por um lado, os subsídios normalmente têm como destinatários os estudantes e, por outro, porque serão os principais afectados em caso de suspensão do funcionamento da escola. “A proposta de lei nada diz sobre o destino dos alunos em caso de suspensão da escola. Onde vão ficar? Em casa?”, perguntou. Fiscais em linha Nem o artigo que define que a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) exerce o poder de fiscalização pedagógica, administrativa e financeira sobre as escolas passou incólume. “A DSEJ pode fiscalizar as escolas que não estão no regime de escolaridade gratuita? Foi outra questão que colocamos”, indicou Chan Chak Mo. Já sobre a divulgação das sanções que, ao abrigo o diploma, pode ser feita pela DSEJ “caso haja interesse público”, a 2.ª Comissão Permanente da AL tem uma posição mais clara a avaliar pelas palavras de Chan Chak Mo. “Se tem a ver com educação ou ensino tudo tem interesse público”, apontou, indicando que essa pergunta será igualmente endereçada ao Governo. “Como temos muitas dúvidas, vamos ter reuniões técnicas entre as assessorias para saber a intenção legislativa e esclarecer as nossas dúvidas e só depois vamos reunir” com o Governo, indicou Chan Chak Mo.
Violência doméstica | IAS começou a ouvir opiniões para analisar a lei Sofia Margarida Mota e Andreia Sofia Silva - 28 Fev 2019 A lei de prevenção e combate à violência doméstica entrou em vigor em Outubro de 2016 e este ano vai ser analisada. Clarificação do que constitui o crime, maior apoio legal às vítimas, criação de um fundo financeiro e inclusão de casais do mesmo sexo são algumas das sugestões dadas por associações num encontro com o IAS [dropcap]A[/dropcap] lei de prevenção e combate da violência doméstica deverá ser analisada este ano, três anos após a entrada em vigor. Nesse sentido, o Instituto de Acção Social (IAS) já iniciou a recolha de opiniões para elaborar um relatório que vai dar a conhecer as sugestões das entidades ligadas a esta matéria. O objectivo é melhorar o diploma. Maior apoio legal à vítima, clareza no que constitui o crime, inclusão de casais do mesmo sexo e a criação de um fundo financeiro para responder às necessidades das vítimas são algumas das sugestões das associações. As opiniões vão ser entregues ao IAS em meados do próximo mês. A tipificação clara do crime de violência doméstica é uma das maiores preocupações das entidades ouvidas na recolha de opiniões. Segundo o diploma em vigor “considera-se violência doméstica quaisquer maus tratos físicos psíquicos ou sexuais que sejam cometidos no âmbito de uma relação familiar ou equiparada”. Esta definição implica, de acordo com o parecer emitido no final da análise na especialidade da proposta de lei, uma ocorrência que se repete ao longo do tempo, correspondendo ao conceito legal de maus tratos estatuídos no Código Penal. No entanto, segundo Cecília Ho, da Coligação Anti-Violência Doméstica, a definição deste crime não deve “ter em conta a sua frequência e seriedade, mas considerar apenas a relação entre as vítimas e a violência ocorrida”. A académica, que marcou presença na reunião com o IAS, entende que “se estes dois critérios estiverem preenchidos, o caso deverá ser julgado como crime de violência doméstica e não ‘ofensa simples à integridade física’, como está definido no Código Penal”. Cecília Ho realça que este tem sido o tratamento dado a casos destes pelos tribunais. Para a responsável, é necessário esclarecer e uniformizar a forma como o crime de violência doméstica é interpretado pelo IAS, a polícia e os tribunais. Aliás, as associações consideram que, actualmente, a definição deste crime leva a interpretações diversas e o resultado é o número reduzido de processos judiciais, aponta Ho. A opinião é partilhada pelos deputados Sulu Sou e Agnes Lam. “Desde que as relações familiares estejam definidas por lei, a violência que possa ocorrer dentro dessas relações tem de ser considerada violência doméstica”, diz Sou ao HM. O deputado pró-democrata e ex-presidente da Associação Novo Macau, também ouvida pelo IAS, apontou ainda que “na primeira metade do ano passado, o IAS tinha mais de 30 casos de violência doméstica e a polícia só identificou dois”, o que significa que a definição do crime não é a mesma nem é clara para as várias entidades envolvidas. “Os tribunais também entendem que o crime inclui actos repetidos e frequentes de violência”, o que, considera, vai contra a política de “tolerância zero” à violência doméstica. Agnes Lam manifesta a sua preocupação no mesmo sentido, argumentando que na lei vigente “os juízes e mesmo outros intervenientes no processo não estão familiarizados com os termos usados no diploma”, apontou ao HM. Uma lei normal Já o advogado Pedro Leal considera que se trata de “uma lei bem estruturada, define o que são as relações familiares, enquadra situações de protecção, situações de assistência e de prevenção e qualifica os factos que são crime aplicando uma pena”. Por outro lado, se destes maus tratos resultarem outros crimes, “nomeadamente o homicídio ou uma violação”, aplica-se o código penal, acrescenta. Entretanto, cabe a quem aplica a lei definir o que são maus tratos, até porque “se for uma coisa esporádica – um filho que se portou mal e levou uma palmada – não pode ser considerado mau trato, mas se for uma coisa que tem tendência a repetir-se não vejo que a lei esteja mal”, justifica Pedro Leal. Apoio adicional Outra das grandes preocupações manifestadas pelas entidades ouvidas pelo IAS é o apoio legal às vítimas que, consideram, deve ser prestado a partir do momento da queixa por um advogado especializado na matéria. “As vítimas devem ter um advogado que as acompanhe desde a denúncia, para isso o sistema tem de ser melhorado de modo a garantir este apoio”, aponta Cecília Ho. Já Sulu Sou lamenta que muitas vezes os casos denunciados acabem por não ter seguimento desejado porque as vítimas não conhecem os seus direitos e as ferramentas legais a que podem recorrer. Esta situação só pode ser ultrapassada com a disponibilização de advogados preparados pelo próprio sistema, defende. Pedro Leal reitera igualmente a necessidade de apoio judicial desde cedo. “Os advogados fazem sempre falta, ainda por cima num assunto que envolve crime. A vítima tem de ser acompanhada também por um advogado.” Apesar de entender que o auxílio de um assistente social também tem a sua importância, tal não basta em termos jurídicos. Fundo a longo prazo Na opinião de Agnes Lam, a criação de um fundo público para apoiar vítimas de violência doméstica também deveria estar previsto na legislação. “Para já, o hospital deve fornecer os serviços médicos e de tratamento que uma vítima possa precisar e depois pode pedir a retribuição do dinheiro ao agressor”, refere a deputada, acrescentando que a medida pode não ser suficiente. “A vítima pode ficar com deficiências devido aos maus tratos que sofreu e é necessário não só garantir que exista um acompanhamento médico, como garantir outras medidas de longo prazo que a ajudem a continuar com a sua vida”, sugere. Também no que respeita à autonomização destas pessoas, o Governo deveria garantir, através do fundo, a promoção de medidas que permitam ajudar a encontrar habitação, até porque “os abrigos podem acolher as vítimas durante um, dois ou três meses, no máximo durante um ano, e isso não é normal”. Desta forma, as vítimas não conseguem ser independentes e “os abrigos acabam por estar sobrelotados”, uma situação que dificulta a reintegração. “Neste sentido, é preciso apoio a longo prazo, quer financeiro, quer através da disponibilização de outros recursos capazes de promover o retorno a uma vida normal e nada disto está previsto na lei actual”, sublinha Agnes Lam. Cecília Ho salienta ainda que a opinião das associações aponta no sentido da criação de uma compensação para as vítimas de violência doméstica, por “uma questão de justiça social”. No que respeita à habitação, as associações vão aconselhar o IAS a disponibilizar abrigos intermédios, para acolhimento de longo prazo ou durante o tempo necessário até a vítima conseguir obter uma situação de habitação estável. Mais inclusão Os casais do mesmo sexo não são considerados pelo actual diploma, situação que “tem de mudar”. “Não existem casos, nem dados, acerca da violência entre casais do mesmo sexo nem podem ser recolhidos dados nesta matéria porque o sistema de denúncia não se aplica a esta situação”, refere Cecília Ho. De acordo com a docente, o relatório de sugestões que vai ser entregue ao IAS no próximo mês, vai sugerir “o alargamento do escopo de protecção a estes casais”, aponta. Recorde-se que este aspecto já tinha sido alvo de alerta por parte de Cecília Ho aquando da análise da proposta de lei em 2016. “Se a actual versão da lei não incluir os casais homossexuais então o que devemos fazer é, nos próximos três anos, recolher informação sobre esses casos que envolvem violência entre casais do mesmo sexo. Mas é preciso definir orientações. Se não houver informação como é que os assistentes sociais e a polícia vão estar sensibilizados para estas relações entre pessoas do mesmo sexo?”, questionava. Voz das vítimas No encontro com o IAS marcaram presença também três mulheres vítimas de violência doméstica que são agora “mães solteiras depois de deixarem relacionamentos abusivos”, revela Cecília Ho, acrescentando que “estão a começar uma nova vida com a responsabilidade de tomar conta das suas crianças de forma independente”. Uma das preocupações manifestadas pelas vítimas foi a possibilidade de se encontrarem com os agressores nos tribunais, nomeadamente em casos que sucedem aos episódios de abuso, como divórcio e reuniões sobre a custódia dos filhos. Este tipo de encontros é considerado “uma vitimização secundária”, tanto para elas como para os filhos, especialmente “quando as crianças são consideradas testemunhas”, avança Cecília Ho. A sugestão apontada é a utilização de salas com vidros de visibilidade unidireccional ou através de vídeo conferência. Por outro lado, as vítimas sentem que não são acompanhadas por profissionais especializados, em particular no que diz respeito ao apoio legal. Além dos pontos mencionados, o relatório vai ainda sugerir a divulgação de mais informação aos residentes e a profissionais que lidem com casos de violência doméstica. O objectivo da campanha de sensibilização é identificar situações de risco o mais cedo possível de modo a proceder ao encaminhamento, esclarece Cecília Ho.