Trump nega que esteja disposto a ceder perante Pyongyang

O Presidente norte-americano promete ajudar Kim Jong-um a transformar a Coreia do Norte numa potência económica mundial e desmente ter feito cedências a Pyongyang antes de se dar início ao processo de desnuclearização

 

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ontem serem “falsas” as informações de que estaria disposto a fazer cedências ao líder norte-coreano, Kim Jong-un, antes de este adoptar medidas concretas para a desnuclearização.

“São tudo informações falsas sobre as minhas intenções em relação à Coreia do Norte. Kim Jong-un e eu vamos esforçar-nos para definir algo sobre a desnuclearização e, em seguida, transformar a Coreia do Norte numa potência económica”, disse.

Trump tem seduzido o regime norte-coreano com boas perspectivas económicas caso aceite a desnuclearização e se insira na comunidade internacional.

A organização da cimeira no Vietname, outrora devastado por bombas norte-americanas, mas que é agora um importante parceiro económico e aliado de Defesa dos EUA, visa precisamente encorajar Kim a replicar aquele processo.

“Vamos ver o que acontece, mas ele quer fazer algo grandioso”, disse ontem o Presidente norte-americano ao primeiro-ministro do Vietname.

“Olhando para o que vocês fizeram, em tão pouco tempo, ele poderá fazê-lo muito rapidamente – transformar a Coreia do Norte numa grande potência económica”, disse.

No centro de imprensa em Hanói, o vice-ministro vietnamita dos Negócios Estrangeiros Le Hoai Trung disse aos jornalistas que Hanói “está disposto a trocar experiências com qualquer país que queira fazê-lo”.

“O Vietname fez reformas profundas nos últimos trinta anos visando converter-se num Estado moderno”, lembrou.

“Cada país tem as suas próprias circunstâncias e as decisões cabem aos seus líderes, mas o processo de integração na comunidade internacional é um processo de benefícios mútuos”, notou.

Kim Jong-un permaneceu no hotel enquanto outros quadros de Pyongyang visitaram a pitoresca baía de Halong e uma zona industrial próxima.

Uma televisão sul-coreana difundiu imagens de funcionários sul-coreanos, incluindo de Ri Su Yong, o vice-presidente do comité central do Partido dos Trabalhadores, num cruzeiro na baía e em visitas a fábricas, na cidade portuária de Hai Phong.

O grupo incluiu O Su Yong, director dos Assuntos Económicos do Partido dos Trabalhadores.

Especialistas consideram que a inclusão de O Su Yong na delegação indica que Kim espera voltar para casa com um alívio parcial das sanções, impostas pelo Conselho de Segurança da ONU, devido ao programa nuclear do país.

 

Troca de interesses

A cimeira arrancou ontem com um encontro privado entre Trump e Kim e um jantar entre as duas delegações.

O líder norte-americano é acompanhado pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, e pelo chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney.

Kim estará com Kim Yong Chol, negociador-chave nas negociações com os EUA, e Ri Yong Ho, ministro dos Negócios Estrangeiros.

Estarão ainda presentes intérpretes de ambas as delegações.

Mas entre os especialistas há a crescente preocupação de que Trump faça cedências a Kim em troco de pouco.

Uma declaração de paz na Guerra da Coreia (1950-1953), que terminou com um armistício, poderia implicar uma redução das tropas norte-americanas na Coreia do Sul, enquanto o alívio das sanções poderia permitir a Pyongyang reiniciar os lucrativos projetos económicos com a Coreia do Sul.

Cépticos quanto às promessas do regime norte-coreano insistem que Trump deve primeiro obter progressos reais na questão da desnuclearização antes de fazer cedências.

Os líderes reuniram-se pela primeira vez em Junho passado, em Singapura.

A histórica cimeira terminou, no entanto, sem nenhum compromisso da Coreia do Norte no sentido de abandonar o seu arsenal nuclear.

A Coreia do Norte sofreu já décadas de isolamento e pobreza extrema, incluindo períodos de fome que causaram milhões de mortos, mas não abdicou de desenvolver um programa nuclear como garantia de sobrevivência do regime.

Um tratado de paz que pusesse fim à Guerra da Coreia permitiria a Trump fazer História e encaixaria na sua oposição a “guerras eternas” dispendiosas para os EUA.

Mas isso poderá implicar a retirada dos 28.500 soldados norte-americanos estacionados na Coreia do Sul, antes de Pyongyang se comprometer com medidas concretas para a desnuclearização.

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