Branqueamento de capitais | Advogados têm de reportar todos os casos

Os advogados devem agora sinalizar junto do Gabinete de Informação Financeira todos os casos suspeitos de branqueamento de capitais, independentemente do seu valor. As novas instruções foram ontem publicadas em Boletim Oficial e prevêem também a figura das “pessoas politicamente expostas”

[dropcap]A[/dropcap]s novas instruções destinadas a advogados sobre o tratamento de casos suspeitos de branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo foram ontem publicadas em Boletim Oficial (BO), depois de terem sido aprovadas pela Associação dos Advogados de Macau (AAM) em Novembro último.

Um dos novos deveres dos advogados que trabalham no território é o de “participar as operações ou tentativas de concretização de operações que indiciem a prática dos crimes de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, independentemente do seu valor”, aponta o despacho, sendo que esta sinalização deve ser feita junto do Gabinete de Informação Financeira (GIF).

O HM tentou obter esclarecimentos junto do presidente da AAM, Jorge Neto Valente, mas até ao fecho da edição não foi possível estabelecer contacto. Em declarações à Rádio Macau, o causídico explicou a principal mudança em causa.

“Os advogados tinham um limite de um milhão de patacas, abaixo do qual havia menos obrigações de identificação e verificação mais cuidada das transacções. Como o Governo já obrigou os notários públicos e privados [a levantar os limites], verificava-se uma situação: os advogados que não eram notários tinham menos obrigações ou obrigações ligeiramente diferentes em relação aos que eram notários. Para se igualar e para que não se aponte que Macau não está a seguir as instruções do Grupo Ásia-Pacífico, fez-se esta instrução”.

As novas regras determinam ainda que os advogados devem informar o GIF no prazo de dois dias úteis após a ocorrência dos casos suspeitos, sendo que estão incluídas acções como a compra ou venda de casas, gestão de fundos e de contas bancárias e transmissão de empresas.

“A associação faz verificações por amostragem e sabe que tem havido participações directamente ao GIF. Todos os meses, o gabinete informa a associação de quantas participações recebeu de todo Macau e reporta se houve alguma feita por advogados. Verifica-se que há poucas de advogados, mas há muitas de bancos e de outras entidades onde passa o dinheiro real”, explicou Jorge Neto Valente.

Contas à parte

Ainda de acordo com a Rádio Macau, os advogados têm, nestes casos, de ter a contabilidade separada daquela que pertence ao cliente e que está sob sua gestão, sendo que devem apresentar um relatório à AAM relativo à gestão dessas contas. Pode também ser apresentada uma declaração que sirva de comprovativo à não administração do dinheiro dos clientes por parte dos advogados.

Neto Valente, que foi reeleito presidente da AAM em Dezembro, adiantou à Rádio Macau que foram estabelecidas infracções para quem não cumprir esta regra.

As novas instruções passam ainda a incluir a definição de “pessoas politicamente expostas”, como sendo “pessoas singulares a quem são, ou foram, atribuídas funções públicas proeminentes (como, por exemplo, Chefes de Estado ou de Governo, altos quadros políticos, titulares de altos cargos judiciais, titulares de elevados cargos de gestão de empresas estatais, e os titulares de elevados cargos de partidos políticos ou militares) ou são, ou foram, confiadas funções proeminentes em organizações internacionais”.

IAM | Designadas competências para dirigentes

[dropcap]F[/dropcap]oram ontem publicados em Boletim Oficial (BO) os despachos que determinam as competências dos dirigentes do novo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), que entrou em funções no passado dia 1. No caso de José Tavares, presidente do conselho de administração deste organismo público, pode, entre outras funções, autorizar a realização de despesas até 700 mil patacas bem como “a liquidação de todas as despesas autorizadas por si”. Pode também autorizar a realização de despesas do fundo permanente até ao limite de 30 mil patacas.

DSAJ | Disponibilizado serviço de senhas online

A Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ) vai lançar o serviço de marcação de senhas online através de uma aplicação de telemóvel e do website do organismo, apontou ontem o organismo em comunicado. Além do serviço de marcação de senhas, será lançado um outro de marcação prévia para agendamento no próprio dia. Este passa a estar disponível para serviços na área do registo predial, registo comercial e de bens imóveis, registo civil, notariado e assistência judiciária. Em comunicado, a DSAJ afirma que “sempre tem colaborado cabalmente com a orientação do Governo da RAEM para o desenvolvimento de uma cidade inteligente tendo, ao longo dos anos, introduzindo aplicações electrónicas para os serviços dos registos e do notariado, com vista a proporcionar aos cidadãos um serviço público de qualidade e conveniente”.

Finanças | Lançada consulta pública sobre novas Normas de Relato Financeiro

[dropcap]A[/dropcap]rranca hoje uma consulta pública sobre novas Normas de Relato Financeiro. O documento de consulta, elaborado pela Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas da Direcção dos Serviços de Finanças propõe uma revisão às actuais tendo como referência a versão de 2015 das Normas Internacionais de Relato Financeiro. A auscultação pública tem a duração de 40 dias, terminando a 18 de Fevereiro.

Novo Macau entrega petição na AL sobre reversão “tardia” do terreno do “Parque Oceanis”

[dropcap]A[/dropcap]  Novo Macau entregou ontem na Assembleia Legislativa (AL) uma petição a lamentar a reversão “tardia” do terreno, na Taipa, para onde estava projectado um parque temático, cuja concessionária era uma empresa que tem como principal accionista o ex-deputado Fong Chi Keong.

Lembrando que o prazo de aproveitamento do terreno, concedido em 1997, expirou há muitos anos, a Novo Macau quer saber por que razão o Governo demorou tanto tempo a avançar com a anulação da concessão. A reversão da parcela, com uma área superior a 130 mil metros quadrados, não é, no entanto, definitiva, uma vez que Fong Chi Keong já fez saber que a empresa vai recorrer da decisão para os tribunais.

Na petição, a Novo Macau questiona a existência de irregularidades administrativas ou de má conduta por parte do Executivo durante o processo ou mesmo graves violações à lei e incumprimento do dever. “Se forem encontradas irregularidades, após uma investigação, o Governo deve ser responsabilizado e devem ser tomadas medidas para evitar a ocorrência de casos similares”, refere o documento entregue pela associação.

“Temos dúvidas e esperamos que a AL possa assumir a sua função de fiscalizar o Governo para exigir que as explique à sociedade”, afirmou Rocky Chan, da Novo Macau, em declarações aos jornalistas, apontando que se desconhece o processo de recuperação de outros terrenos. “O que o Governo fez até ao momento é pouco, pelo que a população não consegue conhecer a situação dos valiosos recursos de terrenos” , apontou.

Metro Ligeiro | MTR já contratou cerca de 300 pessoas

Já foram contratados mais de metade dos funcionários que vão trabalhar no funcionamento e manutenção do metro ligeiro. De acordo com Raimundo do Rosário, das 500 vagas, já estão preenchidas cerca de 300. Entretanto, a 3ª Comissão Permanente continua com dúvidas quando às tarifas e aos poderes de autoridade pública atribuídos aos fiscais

[dropcap]A[/dropcap]  MTR Corporation Limited, de Hong Kong, empresa responsável pelas operações do Metro Ligeiro nos primeiros cinco anos, já contratou cerca de 300 pessoas em Macau para o funcionamento e manutenção da Linha da Taipa que tem abertura prevista para este ano. A informação foi ontem deixada pelo secretário para os Transportes e Obras públicas, Raimundo do Rosário, depois de ter participado em mais uma reunião da 3ª Comissão Permanente onde a proposta de lei do sistema do metro ligeiro está a ser analisada na especialidade. “Sei que a MTR já começou o recrutamento e até houve umas sessões de apresentação dirigidas a potenciais candidatos em articulação com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais e o meu colega acabou de me dizer que já foram contratadas à volta de 300 pessoas”, disse o secretário. Segundo o governante, está prevista a contratação de um total de 500 funcionários.

Quanto a mais pormenores acerca do metro ligeiro, tais como o valor das tarifas ou datas aproximadas para a sua entrada em funcionamento, Raimundo do Rosário prefere não avançar com informações. “Acho que ainda é um bocadinho cedo para responder a perguntas tão concretas como estas. Este tipo de coisas vão ser divulgadas mais perto do acontecimento”, referiu.

No entanto, o secretário continua a manter garantia de que a Linha da Taipa irá começar a funcionar no ano de 2019. “Sinceramente não sei dizer em que mês. Posso e confesso que tenho ainda imenso que fazer até abrir o metro, mas farei tudo para o inaugurar este ano”, sublinhou o governante.

Preocupações constantes

Entretanto, os deputados da 3ª Comissão Permanente continuaram a manifestar as mesmas dúvidas que têm vindo a marcar as reuniões na especialidade. O desconhecimento da entidade que vai definir o valor das tarifas foi apontada pelo presidente da comissão, Vong Hin Fai, como uma preocupação. “Na comissão não discutimos quais os critérios que vão ser levados em consideração para a definição do valor das tarifas […] e preocupamo-nos qual será a entidade que define o valor”, referiu.

Na ordem de trabalhos dos deputados voltou a estar o facto do diploma não prever sanções para as operadoras que não cumpram com o estipulado em contrato. “Não conseguimos encontrar normas sancionatórias em caso de incumprimento de deveres da operadora”, apontou Vong. Por seu lado, o secretário voltou a frisar que as sanções são um aspecto a ser contemplado no contrato realizado, e não na lei.

A questão dos poderes dos agentes de fiscalização foi mais uma vez tema de discussão ontem, sendo que os deputados continuam a considerar que no caso do metro ligeiro são concedidos a estes profissionais poderes de autoridade pública únicos. “Neste momento, não conseguimos encontrar no ordenamento jurídico de Macau regras que atribuam tantos poderes aos trabalhadores das concessionarias de serviços públicos”, referiu Vong Hin Fai, reconhecendo que “no aeroporto e terminal marítimo os segurança gozam de poderes mas não de autoridade pública”. Em resposta, o Governo afirmou que vai facultar mais dados sobre a situação nestes dois locais para que possam ser considerados pela comissão.

Cibersegurança | Pedida mais autonomia das operadoras para contratação de especialistas

A contratação de um especialista de cibersegurança pelas operadoras de infra-estruturas críticas vai ser obrigatória e a idoneidade dos candidatos é garantida por um parecer dado pela Polícia Judiciária. No entanto, os deputados da 1ª Comissão Permanente consideram que este parecer não deve ser vinculativo, a não ser quando os candidatos tenham sido acusados de prática de delitos informáticos ou de crimes graves

[dropcap]O[/dropcap]s deputados da 1ª Comissão Permanente não querem que o parecer da Polícia Judiciária, um documento obrigatório para garantir a idoneidade dos interessados em ser especialistas de cibersegurança das operadores das infraestruturas críticas, tenha poder vinculativo na sua contratação. A ideia foi deixada ontem pelo presidente da 1ª Comissão Permanente após a reunião de discussão na especialidade da proposta de lei acerca desta matéria

Recorde-se que de acordo com a proposta de lei da cibersegurança, as operadores das infraestruturas críticas são obrigadas a contratar um especialista sendo que os requisitos exigidos são a sua idoneidade e a experiência.

O diploma prevê que a idoneidade seja reconhecida através de um parecer dado pela PJ, mas os deputados defendem que este parecer não deve ser vinculativo à excepção dos casos em que o candidato tenha no seu passado crimes informáticos ou outros considerados graves, sendo que a definição de grave integra os delitos que tenham dado origem a penas superiores a cinco anos.

Para os membros da comissão, quem não seja contemplado com este tipo de crimes pode ser contratado pelas operadoras ficando a decisão a cargo das mesmas e não vinculada ao documento emitindo pela PJ. “Não somos contra o parecer da PJ, mas este parecer não deve ser vinculativo e esperamos que isto seja clarificado na lei”, até porque “se [o candidato] não estiver dentro destes crimes, por exemplo se tiver cometido um roubo simples, a PJ também vai emitir um parecer e a contratadora privada decide depois. Estes crimes simples é que não são vinculativos”, esclareceu. Os deputados esperam que “as operadoras privadas tenham o direito de contratar pessoas sem dependerem deste parecer”, acrescentou.

Questionado se um registo criminal não seria o suficiente para garantir a idoneidade do candidato ao cargo de especialista de cibersegurança, Ho Ion Sang respondeu que “o parecer pode conter informações acerca de casos em andamento ou que aconteceram no estrangeiro”, situações que não figuram nos registos criminais.

No entanto, garantiu, todas as informações concedidas pela PJ estarão dadas ao abrigo do sigilo e de acordo com a lei de protecção de dados pessoais.

Já no que respeita ao requisito da experiência profissional os deputados também consideram que a avaliação deste item deve ficar a cargo da empresa contratante. “Sobre a experiência profissional as operadoras devem decidir por si sobre quem contratar sendo que a PJ apenas terá em conta a idoneidade da pessoa a ser contratada”, disse.

Para que fique claro, a comissão quer este esclarecimento na proposta de lei da cibersegurança.

Cartões identificados

Na reunião de ontem foi ainda discutida a ausência de sanções para quem não registe o seu cartão telefónico na medida em que o diploma prevê a obrigatoriedade desta acção, mas não define as punições para quem não o fizer.

Os membros da comissão questionaram o Governo sobre a forma como este registo obrigatório de cartões telefónicos iria facilitar o combate ao crime, sendo que segundo o Executivo, “os cartões SIM por registar são fonte para praticar muitos crimes e o Governo não tem dados estatísticos”. Acresce ainda o facto de “muitos criminosos virem a Macau adquirir estes cartões SIM pré-pagos para depois os utilizarem no exterior para burlar os chineses que lá vivem”, explicou o presidente da 1ª comissão.

Medalhas | Vítor Sereno recebeu título honorífico

Foram ontem atribuídas as medalhas e títulos atribuídos pelo Chefe do Executivo às pessoas e instituições que se destacaram ao longo do ano passado. A entrega do título ao ex-Cônsul de Portugal marcou a sessão, num momento único que “furou” o protocolo

[dropcap]F[/dropcap]oi ao som de um grito “Siiii” vindo da audiência, numa referência ao festejo de Cristiano Ronaldo – quando ganhou a quinta Bola de Ouro –, que Vítor Sereno recebeu das mãos do Chefe do Executivo o Título Honorífico de Prestígio. A Cerimónia de Imposição de Medalhas e Títulos Honoríficos do Ano de 2018 decorreu ontem, no Centro Cultural de Macau, e o momento em que o ex-Cônsul Geral de Portugal em Macau e Hong Kong recebeu a distinção foi o único que “furou” o protocolo.
No final, o actual embaixador de Portugal no Senegal, que regressou a Macau para esta cerimónia, admitiu estar “muito feliz” e dedicou a distinção à família.
“Em primeiro lugar é um reconhecimento à comunidade portuguesa, que esteve comigo ao longo dos últimos cinco anos e meio. É um reconhecimento a todas as portuguesas e portugueses que diariamente aqui vivem e trabalham e que por acaso tiveram um cônsul que se chamava Vítor Sereno”, afirmou o diplomata. “É um reconhecimento à equipa de trabalho que tive a honra de chefiar e um reconhecimento à família, a quem dedico este título honorífico”, acrescentou.
Vítor Sereno fez também questão de destacar “a qualidade” da comunidade portuguesa e referiu que Macau tem uma situação única ao nível da comunidade, que nunca encontrou em nenhum dos locais onde esteve ao serviço de Portugal.
“Temos uma comunidade portuguesa em Macau sem paralelo no mundo inteiro, em termos de representação diplomática, de qualificação, do interesse pelo próprio país. Nunca vi isto em mais lado nenhum”, reconheceu o agora Embaixador de Portugal no Senegal.
Ainda sobre o regresso à RAEM, Vítor Sereno disse estar “emocionado”. “Estou muito feliz, emocionado, é bom rever tanta gente, tanta cara amiga. Basicamente é um reconhecimento que partilho com a comunidade portuguesa”, indicou.

Medicina lusa

Entre as personalidades distinguidas esteve a médica Paula Pimenta, chefe de serviço no Centro Hospitalar Conde de São Januário, que foi agraciada com a Medalha de Mérito Profissional.
Em relação à distinção, a médica considerou que se trata de um reconhecimento por parte da RAEM do papel desempenhado pela medicina portuguesa. “Como é natural estou extremamente honrada pela distinção do Governo da RAEM. Penso que se fica a dever ao meu trabalho – estou cá desde 1995 –, mas vejo sobretudo esta distinção como o reconhecimento do contributo e importância que a medicina portuguesa tem tido em Macau”, afirmou Paula Pimenta.
Para a profissional de saúde, a medicina portuguesa vai continuar presente no território através dos médicos que ainda estão presentes e dos que virão no futuro.
Neste momento, os Serviços de Saúde estão num processo de recrutamento de médicos em Portugal. Paula Pimenta considerou que Macau ainda oferece condições atraentes para os médicos portugueses, apesar de reconhecer terem existidos alterações. “As condições [para os médicos portugueses] foram-se modificando. Mas depende das condições e regime que têm. Considero que oferece condições aliciantes para os médicos”, considerou.

Três vezes três

Na cerimónia que decorreu no Centro Cultural de Macau, o político e empresário Chan Meng Kam, ligado aos casinos da marca Golden Dragon, recebeu a distinção mais elevada da tarde, a Medalha de Honra de Lótus de Ouro. No final, disse em declarações ao HM, que espera continuar a contribuir para a RAEM.
“Estou muito contente [com a distinção]. Desde 2008 recebi três medalhas. Agradeço ao Governo pelo reconhecimento e encorajamento e espero no futuro poder continuar a fazer coisas benéficas para Macau e para o País”, afirmou o também membro do Conselho do Executivo e ex-deputado.
No que diz respeito à economia do território, Chan prometeu continuar a disponibilizar serviços sociais para a população e considerou que os empresários têm o dever de contribuir para a diversificação da economia.
Finalmente, quando questionado se o facto de ter deixado de ser deputado lhe permitia mais tempo para aproveitar a vida, Chan Meng Kam confessou que continuar a arranjar formas de contribuir de se envolver no bem-estar da cidade. “Todos podemos contribuir com papéis diferentes na sociedade e todos podemos arranjar um papel. Desde que haja entusiasmo”, respondeu, negando ter mais tempo livre.

Bispo medalhado

Outro dos galardoados foi Stephen Lee, Bispo de Macau, com a Medalha de Mérito Altruístico. No final da cerimónia, Lee afirmou que a distinção destaca o trabalho da Diocese da RAEM ao longo dos anos.
“Na História de Macau a Igreja sempre trabalhou para aqueles que precisam. Penso que este é um sinal do Governo a reconhecer o que a Igreja fez até agora e por isso é bom que a Igreja e o Governo, e todos os outros, colaborem juntos”, afirmou o Bispo. “Acho que é um sinal que tem um significado muito bonito”, completou.
Lee aproveitou igualmente para abordar as informações que o chegaram a apontar como o substituto de Michael Yeung, Bispo de Hong Kong. No final a escolha recaiu em John Tong. “Para nós é igual a nomeação para Bispo, porque temos fé. Acreditamos que é através da nomeação do Santo Padre que se cumpre a vontade divina”, respondeu.

Dedicação dos colegas

Já uma das Medalhas de Mérito Educativo atribuídas foi para Sou Chio Fai, coordenador do Gabinete Apoio ao Ensino Superior (GAES), que no final afirmou ser um prémio para os trabalhadores do sector da educação.
“Sinto-me muito feliz porque é uma confirmação da dedicação dos colegas e dos trabalhadores no sector da educação durante estes anos. Acho que é um prémio colectivo, porque sem os colegas e o apoio e esforços dos colaboradores e trabalhadores do sector da educação nada teria sido feito”, afirmou Sou.
O responsável do GAES abordou igualmente a aplicação da nova lei do Ensino Superior e prometeu que vai ser um esforço para traçar um plano de médio e longo prazos para o ensino local e para preparar esta área para a Grande Baía.

Yat Yuen fez pagamento de multa de mais de 25 milhões de patacas

Companhia aceita multa por abandono de 509 animais e já procedeu ao pagamento junto do IAM. Neste momento, segundo a ANIMA, ainda estão 300 galgos no Canídromo, mas alguns já têm destino

A empresa Yat Yuen decidiu aceitar a multa aplicada pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) sobre os galgos deixados no Canídromo e pagou 25,450 milhões de patacas. A informação foi avançada ao HM pelo IAM, que tinha aplicado uma penalização à empresa de 50 mil patacas por cada um dos 509 galgos abandonados no Canídromo, no final da concessão para as corridas deste tipo de animais.
Além deste valor a empresa tem vindo a assumir as despesas relacionadas com a manutenção dos cães nas instalações do Canídromo, enquanto o Governo trabalha, numa colaboração com associações, entre elas a ANIMA, para encontrar novos lares para os galgos. Até Dezembro, a empresa já tinha pagado cerca de 5 milhões de patacas para a manutenção dos galgos.
Com este desfecho chega ao fim o potencial diferendo entre o Executivo e a Yat Yuen, que poderia ter acabado nos tribunais. Isto porque a empresa poderia ter optado por contestar a natureza da punição de abandono.
Em relação ao valor da multa, o Governo optou por sancionar a companhia com 50 mil patacas por cão. De acordo com a lei em vigor, o abandono de animais, infracção que o Governo considerou cometida pela empresa, é punido com uma multa entre 20 mil e 100 mil patacas. Assim, no pior cenário para a Yat Yuen, a empresa poderia ter sido chamada a pagar 100 mil patacas por cão, o que significaria um total de 50,9 milhões de patacas. O Executivo optou por não aplicar a pena mais grave.

300 à espera

Neste momento, de acordo com um comunicado de Albano Martins, presidente da ANIMA, numa rede social, ainda estão no Canídromo 300 galgos. Este número tem em conta 10 animais que vão ser enviados hoje para a Europa e Estados Unidos.
Ainda segundo o presidente da ANIMA, desde que terminou a concessão da Yat Yuen e o Governo tomou conta das instalações do Canídromo foram realojados 219 galgos. Entre estes, 15 ficaram em Macau, 10 foram enviados para Milão, Itália. Contudo, o país que recebeu mais galgos para adopção foi os Estados Unidos, com um total de 194 animais. Filadélfia, com 69 cães, e Miami, com 40, foram as cidades que mais contribuíram para encontrar um futuro lar para os animais.
Também nos próximos dias, mais 30 cães deverão deixar Macau, 15 para os EUA e outros 15 para a Europa. Com estas adopções, o número de cães no Canídromo ficará em 270. Além destas regiões, também em Janeiro deverão começar a ser materializadas as adopções em Hong Kong, que fará com que o número desça ainda mais.

“Roma” e “Assim Nasce Uma Estrela” candidatos a “Melhor Filme” dos prémios Bafta

[dropcap]“R[/dropcap]oma”, do mexicano Alfonso Cuarón, e “Assim Nasce uma Estrela”, protagonizada por Lady Gaga, são dois dos filmes em competição na edição deste ano dos prémios britânicos de cinema Bafta, anunciou hoje a organização.

Na categoria de “Melhor Filme” os candidatos da edição deste ano são “Roma”, “Assim Nasce uma Estrela”, “BlacKkKlansman”, “The Favorite” e “Green Book: Um Guia para a Vida”, revelou hoje a Academia Britânica de Artes e Televisão de Cinema (BAFTA).

Alfonso Cuarón por “Roma”, Spike Lee por “BlacKkKlansman”, Pawel Pawlikowski por “Guerra Fria”, Yorgos Lanthimos (“O Favorito”) e Bradley Cooper (“Assim Nasce uma Estrela Nasce”) são os candidatos ao prémio de “Melhor Realizador”.

Na lista de candidatas a “Melhor Actriz” anunciada hoje estão Olivia Colman (‘The Favourite’), Glenn Close (‘The Wife’), Lady Gaga (‘Assim Nasce uma Estrela’), Melissa McCarthy (‘Can you ever forgive me?’) e Viola Davis pela sua interpretação em (‘Widows’).

Os candidatos a “Melhor Actor” são Bradley Cooper (‘Assim Nasce uma Estrela’), Christian Bale (‘Vice’), Rami Malek (‘Bohemian Rhapsody’), Steve Coogan (‘Stan & Ollie’) e Viggo Mortensen (Green Book: Um Guia para a Vida’).

Na categoria de “Melhor Actriz Secundária” concorrem Amy Adams, Claire Foy, Emma Stone, Margot Robbie e Rachel Weisz e de “Melhor Actor Secundário” Adam Driver, Maheshala Ali, Richard E. Grant, Sam Rockwell e Timothée Chalamet.

De acordo com a organização os candidatos a “Melhor Guião original” são “Cold War”, “The Favourite”, “Green Book”, “Vice” e “Roma”. A 72.ª edição dos prémios Bafta vai realizar-se a 10 de Fevereiro no Royal Albert Hall, em Londres.

Piloto Filipe Albuquerque confirmado no Campeonato do Mundo de Resistência

[dropcap]O[/dropcap] piloto português Filipe Albuquerque confirmou hoje o regresso ao Campeonato do Mundo de Resistência (WEC) este ano, com um carro da equipa americana United Autosports, com quem vai disputar também as European Le Mans Series.

O piloto de Coimbra, que foi vice-campeão da segunda categoria, a LMP2, em 2016, fará equipa com o britânico Phil Hanson, aos comandos de um Ligier JS P217. O objectivo será “lutar pelo título”.

“Estou muito contente por estar de regresso ao Mundial de Resistência. Em 2016 fiquei em segundo entre os LMP2 pelo que agora só me resta ambicionar chegar ao título”, sublinhou o português, que vai disputar também o campeonato americano de resistência, com João Barbosa.

“Acho que estamos no ponto certo para lutar pelo título no WEC mas também no ELMS. Vai ser um ano muito exigente em termos profissionais, competindo em três campeonatos. Mas estou preparado e focado para conseguir os melhores resultados em todas as frentes”, concluiu Filipe Albuquerque, citado pela sua assessoria de imprensa.

Director do MAM vai ser vice-presidente do Instituto Cultural

[dropcap]E[/dropcap]stá escolhido o novo que vai assumir a pasta da vice-presidência do Instituto Cultural (IC). De acordo com um comunicado hoje divulgado, será Chan Kai Chon a assumir esse cargo, deixando a direcção do Museu de Arte de Macau (MAM). O responsável, que assume funções a 12 de Janeiro, passa a assumir os trabalhos das áreas da museologia, Indústrias Culturais e Criativas e educação artística.

Chan Kai Chon assumiu funções como director do MAM em 2017. Licenciado em Economia pela Universidade de Jinan e mestre em Letras (Belas Artes) pela Universidade de Nanjing Normal, o novo vice-presidente do IC possui também um doutoramento na mesma área pela Academia Central de Belas Artes.

Iniciou em 1992 funções na Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) e ocupou o cargo de Chefe da Divisão de Extensão Educativa da DSEJ de Setembro de 1994 a Agosto de 2003. A seu pedido, Ieong Chi Kin cessou funções do cargo de Vice-Presidente a partir de 1 de Janeiro de 2019.

Canadá interpela Japão sobre a “importância da conservação das baleias”

[dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro canadiano interpelou ontem o seu homólogo japonês, Shinzo Abe, sobre “a importante questão da conservação das baleias”, após Tóquio formalizar a retirada da Comissão Baleeira Internacional para retomar a pesca comercial em Julho.

O arquipélago asiático junta-se assim à Islândia e à Noruega, únicos países que praticam a caça de baleia para fins comerciais, e abriu caminho a duras críticas da comunidade internacional e das organizações defensoras dos direitos dos animais.

Segundo um comunicado ontem divulgado, durante uma conversa telefónica na segunda-feira à noite entre os dois dirigentes, Justin Trudeau “prometeu trabalhar com parceiros internacionais para proteger as espécies de baleias”.

O Japão anunciou a 26 de Dezembro passado a sua saída da Comissão Baleeira Internacional (IWC, na sigla em inglês), desafiando abertamente os defensores dos cetáceos, 30 anos após o fim oficial de caça às baleias, cuja população continua a diminuir.

Outra das questões discutidas entre ambos foi o comércio internacional, saudando a entrada em vigor, a 30 de Dezembro, do Acordo de Livre Comércio Transfronteiriço (IPPP, na sigla em inglês).

Trudeau e Abe também debateram a próxima cimeira do G20, que será realizada em Junho em Osaka, no Japão, com o primeiro-ministro canadiano a prometer que o Canadá “apoiará activamente o Japão para ajudá-lo a ter sucesso”.

Por fim, falaram sobre a “detenção de dois cidadãos canadianos na China, reiterando ambos a importância [da luta] pela Justiça e pelo Estado de Direito”, adianta o comunicado.

As autoridades chinesas mantêm há um mês detidos o ex-diplomata canadiano Michael Kovrig, contratado pelo ‘think tank’ Internacional Crisis Group e o construtor canadiano Michael Spavor, que mantém frequentes contratos com a Coreia do Norte, indiciados por ameaças à segurança do Estado.

Muitos observadores acreditam que as detenções são uma retaliação pela prisão, em Vancouver, do diretor financeiro da empresa Huawei, gigante de telecomunicações da China.

Nelson Évora no meeting pista coberta de L’Eure

[dropcap]O[/dropcap] atleta português Nelson Évora vai ser uma das figuras do Meeting de L’Eure, em pista coberta, anunciou ontem a organização da prova francesa, que se realiza no dia 1 de Fevereiro em Val-de-Reuil.

O sportinguista surge como um dos destaques da reunião normanda para a prova do triplo-salto, que se realiza uma semana antes dos Campeonatos de Portugal de pista coberta e duas semanas antes da final do nacional de clubes.

Campeão olímpico (2008), mundial (2007) e europeu (2018) ao ar livre, Nelson Évora fará assim uma das suas primeiras provas ‘indoor’ deste ano, com olhos postos nos Europeus, onde certamente quererá defender os títulos conquistados em 2015 e 2017.

Nelson Évora defrontará um velho conhecido das pistas e dos treinos, o francês Teddy Tamgho, também orientado pelo cubano Ivan Pedroso. Campeão mundial em 2013, o gaulês é um dos cinco homens que saltaram acima dos 18 metros e que, tal como o campeão português, também sofreu lesões traumáticas que o afastaram das competições.

Governo vai aumentar iniciativas para internacionalização da cultura portuguesa

[dropcap]O[/dropcap] Governo português assumiu ontem o aumento do número de iniciativas para a internacionalização da cultura portuguesa, num plano para 2019 com apresentação prevista para dia 28, que resulta de colaboração entre os ministérios da Cultura e dos Negócios Estrangeiros.

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, garantiu que “irá existir um aumento em várias iniciativas” e assinalou a importância da experiência em 2018, com várias presenças da cultura portuguesa no estrangeiro, como na Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, a segunda maior do mundo, na qual Portugal foi convidado de honra.

“O programa de 2019 tem essa enorme mais-valia que é termos uma experiência acumulada de como correu o ano passado e o que devemos alargar, repetir e diversificar e, se calhar noutras dimensões, fazer de forma diferente”, afirmou a governante, após o encerramento do seminário sobre Cooperação, Cultura e Língua, promovido pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, em Lisboa.

Graça Fonseca sublinhou ainda que “também é importante apresentar o balanço do que foi feito em 2018, quais foram as iniciativas e como é que elas são avaliadas e analisadas”, remetendo para o próximo 28 de Janeiro, sem dar mais pormenores sobre o plano.

Igualmente no encerramento do seminário, em que se abordou cooperação da sociedade civil e cultura e língua portuguesas, entre outras matérias, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, considerou o plano de acção cultural externa “um desafio que tem sido ganho”.

O ministro declarou que o programa para este ano terá “a mesma lógica de sustentação dos avanços” registados no ano passado.

Neste âmbito, Augusto dos Santos Silva revelou que 2018 provou a “sustentação dos pilares que organizam a projecção internacional da cultura portuguesa, a fileira absolutamente essencial da literatura e do livro com programas activos de tradução de obras portugueses e de participação em feiras e mercados ligadas à promoção de livro e da literatura, como também programas muito importantes de divulgação quer da riqueza patrimonial portuguesa quer da criação portuguesa contemporânea”.

Augusto Santos Silva manifestou também confiança na “introdução gradual do português em vários sistemas de ensino” no mundo e “na duplicação do número de países” onde se ensina a língua portuguesa no presente, que está “numa vintena”.

O ministro referiu também que se espera “desafios muitíssimos importantes” na área da cooperação no que se refere à língua portuguesa.

“No âmbito do mundo da língua portuguesa da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), quer no plano multilateral, quer no plano bilateral, vivemos um momento particularmente auspicioso, que nos coloca mais exigências, porque as condições que hoje existem de desenvolvimento da cooperação multilateral no quadro da CPLP e as condições que hoje existem da realização de todos os programas estratégicos de cooperação que já estão aprovados, designadamente com Angola, são muito promissores”, afirmou.

População chinesa entra em declínio “imparável” dentro de dez anos, diz estudo

[dropcap]A[/dropcap] população chinesa vai entrar num declínio “imparável” nas próximas décadas e terá uma população activa cada vez menor, mas que terá de sustentar uma sociedade mais envelhecida, conclui um relatório ontem divulgado.

O relatório, publicado por uma unidade de investigação do Governo chinês três anos depois de a China ter abolido a política de filho único, refere que a “era do crescimento populacional negativo está quase a chegar”, prevendo que a população do país atingirá um pico de 1.440 milhões, em 2029.

A seguir, o declínio nas taxas de fecundidade levará a uma diminuição da população para 1.172 milhões de habitantes, em 2065, prevê o relatório da Academia Chinesa de Ciências Sociais.

A China, nação mais populosa do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes, aboliu a 1 de Janeiro de 2016 a política de “um casal, um filho”, pondo fim a um rígido controlo da natalidade que durava desde 1980. Pelas contas do Governo, sem aquela política, a China teria hoje quase 1.700 milhões.

Mas a população em idade activa estagnou, considera o relatório, enquanto o rácio de dependência – o número de trabalhadores em relação à população que não trabalha (sobretudo crianças e reformados) – continua a aumentar.

“Em teoria, o declínio demográfico a longo prazo, especialmente acompanhado pela escalada do envelhecimento da população, está fadado a ter consequências sociais e económicas muito negativas”, lê-se no relatório, que não detalha quais serão as consequências.

Especialistas alertam que, à medida que a população em idade activa da China encolhe, o consumo poderá também diminuir, o que poderá ter consequências para a economia global, que depende da China como principal motor de crescimento.

O relatório recomenda ao Governo que elabore políticas para enfrentar os desafios do declínio iminente. Segundo a actual política de natalidade, que substituiu a de “um casal, um filho”, a maioria dos casais chineses pode ter apenas duas crianças.

Em 2016, o primeiro ano desde a abolição da política de filho único, o número de nascimentos aumentou, de 16,55 milhões, no ano anterior, para 17,86 milhões.

Desde então, a taxa de natalidade caiu sucessivamente, apesar de Pequim ter deixado de promover abortos forçados e multas, e embora tenha aberto novas creches, passando a oferecer incentivos à natalidade.

Em 2017, o número total de nascimentos fixou-se em 17,23 milhões, menos 630.000 do que no ano anterior. Demógrafos estimam que, no ano passado, nasceram 15 milhões de crianças na China, o número mais baixo desde 2000.

Segundo especialistas, a queda deve-se sobretudo à redução no número de mulheres em idade fértil, um grupo que perde entre cinco e seis milhões de pessoas por ano, e aos altos custos e falta de tempo para criar uma criança.

A actual restrição de dois filhos pode assim vir a ser também abolida, permitindo que as famílias tenham vários filhos, pela primeira vez em décadas.

Apesar das projecções de declínio no país mais populoso do mundo, as Nações Unidas estimam que a população global continue a crescer. Um relatório de 2017 estima que, em 2030, chegue aos 8,6 mil milhões, e que, até ao final do século, alcance os 11,2 mil milhões. A Índia deve superar a China como o país mais populoso até 2024, segundo a ONU.

Câmara baixa da Índia vota projecto de lei que exclui refugiados muçulmanos

[dropcap]A[/dropcap] câmara baixa do parlamento da Índia aprovou ontem um projecto de lei que permite atribuir a cidadania a refugiados de diversas comunidades religiosas à excepção dos muçulmanos, provocando novas manifestações de protesto no nordeste do país.

A legislação, que ainda deve ser aprovada pela câmara alta do parlamento, envolve milhões de pessoas que nas últimas décadas fugiram do Bangladesh, do Paquistão e do Afeganistão, onde o islão é predominante, para se instalarem nas regiões do norte da Índia.

Se for aprovada a lei, tornar-se-ão indianos os membros de várias comunidades religiosas, como os hindus, os cristãos e os sikhs, originários daqueles três países que tenham vivido pelo menos seis anos na Índia, sendo explicitamente excluídos os muçulmanos.

A votação do projecto de lei desencadeou um segundo dia de protestos no estado de Assam, no nordeste do país, que nas últimas décadas acolheu milhões de refugiados dos países vizinhos.

Os manifestantes opõem-se não à exclusão dos muçulmanos da legislação, mas ao facto de texto permitir a atribuição da cidadania a migrantes, que acusam de ficarem com o trabalho das populações locais.

Assam, território montanhoso conhecido pelas suas plantações de chá e com 33 milhões de habitantes, é palco há décadas de tensões entre grupos étnicos e tribais locais e os migrantes.

Durante as manifestações de ontem, militantes da Organização dos Estudantes do Nordeste (NESO) saquearam instalações do Partido Bharatiya Janata (do primeiro-ministro Narendra Modi) no estado de Assam.

Presidente da Apple manifesta-se “muito optimista” num acordo EUA e China

[dropcap]O[/dropcap] presidente executivo da Apple, Tim Cook, manifestou-se hoje “muito optimista” face às negociações para um acordo comercial entre Estados Unidos da América e China, afirmando ser a favor “dos melhores interesses” para os dois países.

Numa entrevista à cadeia norte-americana CNBC, o líder da tecnológica definiu como “muito complexo” o pacto e considerou “temporária” a debilidade económica da China, relacionada com as turbulências comerciais.

“O tratado será bom não só para nós, como também o será para o mundo em geral. O mundo precisa de uma economia forte nos Estados Unidos e China para que a mundial também o seja”, afirmou o presidente da tecnológica norte-americana que fabrica os seus produtos na China.

Na semana passada, a Apple reviu em baixa as expectativas dos resultados no primeiro trimestre do seu ano fiscal, apontando a debilidade do mercado chinês como uma das razões, além de vendas menores que o esperado dos seus modelos iPhone.

Tim Cook criticou ainda aqueles que têm “desvalorizado” a filosofia de novos produtos e serviços da Apple. “Na minha honesta opinião existe uma cultura de inovação na Apple que, combinada com alguns clientes incríveis e leais, consumidores felizes, este virtuoso sistema está provavelmente desvalorizado”, salientou.

Prolongado diálogo sobre questões comerciais entre EUA e China

[dropcap]A[/dropcap]s negociações entre representantes dos Estados Unidos e da China, que visam pôr fim à guerra comercial entre os dois países, vão prolongar por mais um dia do que o previsto, informou hoje a imprensa oficial chinesa.

As conversas de alto nível prosseguem hoje, em Pequim, depois de na terça-feira se terem prolongado até ao final da noite. Analistas citados pelo Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, consideraram que a extensão reflecte a vontade de ambas as partes de chegarem a um acordo.

Trata-se do primeiro frente-a-frente desde que, no início de Dezembro, os Presidentes dos EUA e da China, Donald Trump e Xi Jinping, respectivamente, concordaram uma trégua de 90 dias, para encontrar uma solução.

Os dois países aumentaram já as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um, numa disputa suscitada pela política industrial chinesa. Na terça-feira, Trump afirmou na rede social Twitter que as negociações com Pequim estão a correr “muito bem”.

O vice-representante do Comércio, Jeffrey Gerrish, lidera a delegação norte-americana, que inclui ainda funcionários dos sectores de energia, agricultura e comércio, e do Departamento de Estado e do Tesouro.

Pequim não informou quem lidera a delegação, mas sabe-se que participou numa das reuniões o vice-primeiro-ministro chinês encarregado da política económica, Liu He, num nível de representação mais alto do que o esperado para a primeira ronda de negociações.

De acordo com os termos acordados entre Trump e Xi, Pequim e Washington devem chegar a um acordo definitivo antes do início de Março. Trump suspendeu temporariamente o aumento das taxas alfandegárias, de 10% para 25%, sobre um total de 200 mil milhões de dólares de bens importados da China.

Pequim reduziu as taxas sobre veículos importados do EUA e retomou as importações de soja norte-americana, além de ter apresentado um projecto de lei que visa proibir a transferência forçada de tecnologia.

Trump exigiu que a China ponha fim a subsídios estatais para certas indústrias estratégicas, à medida que a liderança chinesa tenta transformar as firmas do país em importantes actores em actividades de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos, ameaçando o domínio norte-americano naquelas áreas.

Mas o Partido Comunista Chinês está relutante em abdicar dos seus planos, que considera cruciais para elevar o estatuto global do país.

Bom Sexo Novo

[dropcap]O[/dropcap] bom sexo novo não precisa de ser diferente. Só precisa de ter uns laivos de ambição de que este ano ser-lhe-á dada uma prioridade diferente. Com isto não quero dizer que se deva continuar com o mau hábito de criar resoluções de ano novo generalistas e vagas que não nos levam a lado nenhum. As resoluções – ou melhor – os objectivos do novo ano (que devem ser o mais directivos possível se quisermos ver alguma mudança) devem ser acompanhados de uma reflexão sobre o significado das coisas, e do sexo também. Para além dos objectivos de ano novo que podem ser, por exemplo, ter sexo de satisfação plena, que tal pensarmos sobre o sexo? Da mesma forma que o sentimos, inteiros e coerentes com os nossos desejos.

Digamos que o sexo de 2018 nos desiludiu. Falo por mim como se falasse por todos porque secretamente espero que partilhem da minha opinião. A luta crescente por mais e melhores direitos sexuais mostrou-se não ser uma função exponencial de sucesso, mas uma batalha constante entre conservadorismos e libertinagem.

Culparei a constante confusão de conceitos que fazem com que a família continue a ser um oásis de perfeição que nunca existiu – nem nunca existirá – de homem, mulher, filhos e total honestidade e bom carácter. O pluralismo familiar e sexual ainda é extensivamente contestado, e o sexo também. Nem com o constante lembrete de que os bebés são fruto do devaneio dos genitais por um encontro. O sexo continua a ser difícil até para os mais progressistas. E assim 2018 testemunhou retrocessos incríveis, daqueles que não julguei testemunhar na minha geração.

Talvez 2019 seja diferente. Talvez porque para nos levantarmos precisamos de bater no fundo. Esse fundo pode ser a crescente consciencialização de que o mundo não é nada daquilo que julgávamos. As ditas ‘maiorias’ afinal ainda têm características e desejos menos simpáticos ao sexo. Pior: espalha-se a narrativa de que o sexo é uma escolha ideológica – que contrasta com as decisões de carácter prático e racional. E assim, se o sexo é tido como ideológico facilmente se legitimiza a pouca conversa do mesmo. Mas o sexo não deve ser – nem é – uma contingência de um sistema político. O sexo é uma possibilidade de discussão honesta. Com todos os macaquinhos e medos que possa acarretar.

Mas como não quero andar com este tom pessimista – para não começar o ano com a atitude errada – nem tudo foi mau. Houve algumas conquistas sexuais também no ano de 2018. A Índia descriminalizou a homossexualidade, um passo importante para a possível aceitação da homossexualidade como um facto natural da vida. Na Austrália o casamento homossexual é uma realidade para satisfação de muitos aqueles que já viviam uma vida em união de facto. Enfim, existem alguns avanços palpáveis por esse mundo fora mas tenho a sensação que a conversa do sexo ainda está muito além do que seria desejável. Um bom sexo novo podia ser comprar aquele brinquedo sexual que as reviews garantem não desiludir, ou dar asas à imaginação e concretizar as fantasias mais loucas. Objectivos importantíssimos, de facto. Mas um bom sexo novo precisa de muito mais, já nem sei bem do quê. Precisa de irreverência e revolução, mas também precisa de carinho, afecto e compreensão. Se 2019 nos trouxer um pouco mais de espaço para pensarmos nestes desafios – e tantos outros – que o sexo nos propõe, não seria um mau ano.

Elogio da rotina

[dropcap]E[/dropcap]star vivo pode ser um espantoso acaso cósmico e sabemos que não acaba bem. Mas a viagem vale a pena. As paisagens que iremos atravessar nem sempre serão as mais bonitas ou as mais desejadas; algumas irão deixar feridas e mazelas de que nunca iremos recuperar. Mas do tanto de bom que inevitavelmente guardaremos pelo caminho existirá sempre este maravilhoso truísmo: aprendemos. É um modo de usar a vida que nos chega naturalmente, quer por tentativa e erro quer apenas por estar atento ao que fomos e ao que somos.

Aprender exige, mais tarde ou mais cedo, um acto de contrição. Algo de que julgávamos ter uma certeza inamovível transforma-se de repente num quase embaraço pelo simples facto de termos arrecadado experiência e conhecimento. E se vos maço com um início de crónica que quase ameaça o registo dos piores livros de auto-ajuda (há “melhores” ?) é porque aqui venho confessar o meu caso e procurar redenção.

Porque houve um tempo em que desprezava a rotina. Queria fugir dela, como se foge de uma doença ou se tenta evitar um mau presságio. Considerava uma coisa menor, pouco digna e sobretudo algo que impedia de “viver a vida como ela deveria ser vivida”. Naturalmente este tipo de considerações coincidiu com a juventude, que é o mais próximo que o ser humano irá estar da imortalidade – e consequentemente o período em que estamos dispostos a correr mais riscos e a ser mais patetas em geral. Mas divago.

Todos conhecemos essa noção romântica da fuga à rotina, difundida na nossa sociedade sobretudo a partir do advento da Revolução Industrial, em que os dias ficaram mais presos por horários rígidos. Mas a rotina não é uma banalização: é uma âncora, um caminho percorrido que conhecemos bem. São rituais que nos estruturam, gestos e jeitos que procuramos pela sua familiaridade e conforto.

Nem sequer é um obstáculo à criatividade ou às mais importantes decisões. O poeta inglês W.H.Auden afirmava que a rotina numa pessoa inteligente é sinal de ambição. Os seus dias eram pontuados de forma implacável: despertar e palavras cruzadas às seis da manhã; cerca de onze horas de trabalho movidas a Benzedrina (o nome comercial da anfetamina, então substância legal e muito popular entre escritores), pausa para receber convidados e beber vodka martinis fortíssimos, jantar e recolha ao leito com ajuda de um soporífero (recusava-se a trabalhar durante a noite porque “só os Hitler deste mundo trabalham à noite”).

No dia seguinte a fórmula repetia-se, numa rotina capaz de empalidecer o mais profissional dos boémios. E podia continuar com muitos exemplos, o mais famoso sendo o do grande homem que com as suas decisões solitárias salvou a Europa durante a Segunda Guerra: o dia de Winston Churchill envolvia vários banhos, um pequeno-almoço regado a whisky com soda, horas a ditar discursos e memorandos, pausa para um almoço de três pratos, vinho e brandy, jogar às cartas com a mulher, trabalho outra vez, bebidas antes de jantar, jantar, trabalho e dormir. Assim, nos dias considerados “normais”.

Mesmo nós, os que não somos tocados pelo génio, compreendemos a manutenção destes rituais. Os nossos são mais próximos e menos grandiosos: a ida ao café do costume, a leitura à noite, uma bebida antes do jantar. Mas é de rotina que se fala; não é um método nem sequer uma solução. É uma arte da repetição, momentos que se aprendem a acarinhar, mesmo na sua ausência. É uma forma de domesticar o tempo, fazê-lo saltar pelo aro de metal quando nos bem apetece enquanto se contempla uma plateia que conhecemos bem. E agradecer, agradecer sempre.

Casas e ocasos

Rebelva, Carcavelos, 18 Dezembro

[dropcap]O[/dropcap]s ateliers são-me assim como o reverso das telas, modo de espreitar as hesitações, de passear no grande jardim do caos, de tocar as bainhas da beleza. Sinto-me acolhido na confusão, a lareira acesa das ideias, queimando-se na absoluta liberdade, hesitantes ou disparatadas, roupas tocadas por restos das cores, por gestos involuntários, as ferramentas e as matérias postas no seu repouso prestes a. A pretexto do mais que improvável, logo desafiante, projecto da Catarina [Marques da Silva], a emergente galeria Cisterna, encontro-me no meio dos panos e formas da Ana [Jacinto Nunes]. Anuncia-se a chuva nas massas de cinza lá fora, erguendo pano de fundo apropriado para o que por aqui se passa ou guarda. Um rolo pode desdobrar-se em texturas e mistérios. Um recanto pode tornar-se janela para um jardim do Éden. Sobre a mesa podem baloiçar-se uns pássaros do paraíso ou alongar-se uma bailarina. A Ana pratica um desenho que mantém relação líquida com a palavra e o pensamento, desaguando nos mais díspares suportes. Anda em inquietação com os modos da mulher ser contra a gravidade, a paisagem e o tempo, de se fazer corpo no confronto com os bichos da arca atracada ao dilúvio. Admiro a estupefacção dos rostos, as figuras envolvendo o seu próprio movimento, os objectos de assentar. Aliás, vi por ali rostos a fazer de bancos, bailarinas suspensas na parede suportando peso. Trouxe nos olhos uma deusa de duas cabeças, desmultiplicada em olhos e bocas, sentada sobre rosto ecoando águas de cisterna de velha encruzilhada de civilizações, a interpelar-nos, a nós enrolados no tempo, com frescura de seda. «A deusa imaginária/ planeia crimes/ progride o caos.» Assentam bem, os versos finais de Progride o Caos, do Rui André Delídia. Entretanto, chove.

Horta Seca, Lisboa, 18 Dezembro

Escavamos na circunstância e, desfocados dos ritmos alheios, até em título excluindo natal («Às Voltas em Dezembro»), arranjámos maneira de plantar pretexto para mostrar a carne do ano, feita de livros e imagens. A generosidade do mano [José] Anjos suscitou um pouco mais, dispondo-se a tocar enquanto o António [de Castro Caeiro] ou o Pedro [Lamares], o Valério [Romão] ou a Raquel [Serejo Martins] foram dizendo. Surgiu do nada um calor que suspendeu a chuva e permite esperançar outros verões. Leio, do Delídia com delícia, de Em Pó como Antiquíssimas Memórias: «Infinito? Estrada de fogo nocturno?/ silencioso caminho/ por onde se parte para nunca chegar;/ máscara círculo etéreo/ de ódio contra a luz alastra a voz/ na névoa onde as formas se confundem/ contra aranhas e estrelas explodem as palavras.»

Lisboa, 19 Dezembro

Para o estado, o óbito é uma bala expansível, das que em requinte de crueldade se fragmentam e expandem por todo o corpo da vítima. Incontáveis gestos burocráticos minaram os últimos dias da contagem que me importa tão pouco. No seu afã prático, o meu pai resolveu partir de lugar próximo de tantas oficialidades. Não facilita voltar ali para sublinhar a morte com funcionalidades do obrigatório seguir em frente. Depois, no banco, era suposto herdar o seu nome, tal qual, quando há muito me escolheram outro apelido, com desagrado seu, estou certo. Tive que o dizer alto, sem querer: não quero esse nome.

Horta Seca, Lisboa, 20 Dezembro

Comecei por pensar em lâminas, vítima de dramatismo. Passei para golpes de papel, respondendo com optimismo. Nada disso. Alguns dias metamorfoseiam-se em corredores, longos corredores com paredes movediças e uma floresta de mãos. O terror tem raízes no quotidiano mais plano. De pouco serve voltar atrás, mas continuar implica arranhadelas, nódoas negras e, sobretudo, o asco. Não me posso queixar, pois ninguém me obrigou a vir passear para o pântano. Mas custa aguentar, sem qualquer ordem particular, o desdém e a indiferença, a má-fé e a ganância, a volúpia do ataque gratuito e a miséria fria dos pequenos poderes, enfim, o desprezo generalizado. «Corte/ feridas no olhar incurável/ doença aberta/ mapa volátil.» Delídia, de novo.

Horta Seca, Lisboa, 21 Dezembro

«em forma de árvore, a face oculta do mal/ agrava a chama dos jardins, escultura/ aérea. Faca volátil, colecção de mortes,/ ombros, braços contra paredes, raivas privilégios/ nas cabeças dos visionários, aventureiros/ como colares ou pássaros, tigres alfabéticos.» Trata-se de «Uma Ideia Mineral», isto é, um seu fragmento (terceiro). Nem para os editores as memórias se ficam pela espessura do papel. De uma penada perderam-se dois dos que importavam nisto de erguer livros que são vidas. Devo a ambos, além de preciosíssimos títulos para bibliotecas instáveis, conversa solta e o farol de uma ética. Coincidem no acaso desta croniqueta com a animália. Não foi apenas a Salamandra que o Bruno da Ponte (1932-2018) criou, mas nela nos encontrámos, tendo sido prévio leitor da Questões & Alternativas, e partilhando o interesse pela poesia experimental além de recorrente discussão sobre luta armada. Fez-se primeira ilha açoriana conhecida e ainda nos cruzámos na Abril em Maio, maneira de dar nós no tempo, aqui há tempos. Afastado que tenho andado dos sábados e da Anchieta, há muito que não me encontrava com o [Rui] Martiniano (1954-2018), mas a Hiena jamais deixará de me gargalhar ao peito. A boa editora faz-se cruzamento dos vários tempos que se souberam inventar uma literatura a partir dos restos arestas do humano. Um catálogo cometa, resultado de investigação de um particular e partilhado gosto febril. São peças simples e cuidadas, feitas para servir textos indispensáveis e nomes únicos, que brilharão no alfarrábio, como convém. Pássaros que continuam a voar na noite. Acendi, nestes dias, a Luz Negra, do seu lado B, a do poeta Rui André Delídia. Faça-se parágrafos de silêncio.

Horta Seca, Lisboa, 21 Dezembro

Voltámos a consumir a tarde por entre os acordes do [José] Anjos e as palavras de quem se chegou ao microfone. Desta ecoaram inéditos da Rita [Taborda Duarte] e do Ricardo Gil Soeiro, augurando horizontes. A inesperada figura da tarde acabou sendo o Tóssan, de que o Jorge [Silva], além de grande divulgador, se tornou voz. Suscitou mesmo a amorosa participação de vários putos sem medo. Tudo fragmentário, desorganizado, discreto. Aqui e ali surpreendente. Para o fim da tarde, rimando, deu-se a breve e inusitada apresentação de «Caridade Romana», a nova e inclassificável polifonia de José Emílio-Nelson. Pequeno somatório de impossíveis, cruzando momentos de fulgurância poética com confissões ejaculadas nas redes sociais, invocando a erudição das teologias heréticas para as queimar nas fogueiras dos misticismos desregrados e celebratórios do corpo, altar maior. Pensar com espinhos que esfolam, que pedem a paciência dos prazeres estendidos ao limite. Quem arriscará para além do paleio transgressivo? As capas (algures na página) são visões (dobradas) da carne do mergulhador de corpos, António [Gonçalves].

Cova Funda, Lisboa, 28 Dezembro

Fazendo da mesa tantas vezes bússola, saber que o Cova Funda vai fechar agrava a minha desorientação.
Foi ponto de partida e porto de abrigo, lugar de encontro, miradouro de horizontes, plantação de desafios e ideias, casa de família. Construído a partir da mesa. A Ana [Jacinto Nunes] faz das cadeiras um bicho. Soubera eu, e faria da mesa animal doméstico. A mesa é o melhor amigo do humano. Também serviam, no Cova, dos melhores cozidos da cidade, um peixe que o fogo celebrava como carícia, pezinhos de coentrada e outra comida de tacho que soerguia a cova a pontos altos. A companhia importava, mas até o farol precisa ser aceso.

Fringe | Palestras sobre crítica de arte antecedem abertura oficial do festival

A edição do festival Fringe tem início oficial esta sexta feira, mas as actividades começam hoje com um ciclo de palestras dedicado à crítica de arte. O debate e a troca de ideias são a novidade deste ano do festival que tenciona promover formas alternativas de expressão artística no território

[dropcap]P[/dropcap]alestras e debates fazem parte, pela primeira vez, da edição do festival Fringe. Este ano o evento prevê três momentos, com temáticas diferentes, dedicados à troca de ideias, sendo que o primeiro, de um ciclo dedicado à crítica artística, tem inicio já hoje.

O objectivo, afirma a organização na apresentação do evento, é guiar os interessados “pelo mundo da arte e da escrita cultural através de dicas de escrita, palestras, entrevistas com artistas, desenvolvendo a tua capacidade de apreciação, competência analítica e observação atenta dos espectáculos”.

“Crítica de Arte 101” é o tema que vai preencher três palestras. A primeira tem lugar hoje pelas 20h na Macao Theatre Library e é dedicada à discussão da diversidade da crítica artística. A coordenar a conversa vai estar Mok Sio Chong, crítico de teatro local, dramaturgo e encenador. Mok Sio Chong é também editor-chefe da publicação trimestral Performance Arts Forum e de Reviews, sendo presidente do Macao Theatre Culture Institute.

Carol Law vai estar à frente da conversa agendada para amanhã, à mesma hora e no mesmo local, que se vai debruçar na preparação técnica para entrevistas a artistas. Carol Law, fez o mestrado em Jornalismo e Gestão Cultural pela Universidade Chinesa de Hong Kong e foi repórter de televisão responsável pela realização de entrevistas, redacção de notícias, edição de vídeo tendo trabalhado ainda na área de investigação. Actualmente, é escritora freelancer e trabalha com diferentes média, focando-se em temas como o desenvolvimento da indústria artística de Macau, estilo de vida ecológico e a história de Macau.

Sexta feira é dedicada ao debate sobre a questão “quão no limite é o festival Fringe?”. No Macau Theater Library vai estar Hui Koc Kun . Conhecido por “Big Bird”, Hui é dramaturgo, encenador e actor de teatro há mais de três décadas. Licenciado pela Faculdade de Letras da Universidade de Macau, foi também um dos primeiros licenciados do Programa de Administração de Arte do Centro de Artes de Hong Kong, e graduado pelo Programa de Pós-Graduação em Indústrias Culturais e Criativas da Academia de Artes e Design da Universidade de Tsinghua.

Hui tem na sua carreira a coordenação de eventos culturais e artísticos, incluindo o Festival de Música Pop de Macau, as Apresentações de Teatro Conjuntas de Macau, e o projecto Ano Novo Chinês em Lisboa. O dramaturgo foi um dos elementos envolvidos na criação do Festival Fringe e coordena o evento há mais de uma década. Actualmente, está envolvido na área da programação e os seus mais recentes projectos incluem o HUSH! Full Music e o Desfile por Macau, Cidade Latina.

Os interessados em participar têm que ter mais de 16 anos e para se inscreverem devem produzir um pequeno texto de 200 palavras a ser entregue no momento de chegada e onde descrevem os motivos da sua presença.

Fronteiras discutidas

As fronteiras entre a arte e o quotidiano são o tema que vai ocupar a palestra marcada para sábado, às 15h na galeria At Light. “A linha entre a arte e o quotidiano” é o tema de conversa que vai estar a cargo de Pak Sheung Chuen que vem de Hong Kong, Siraya Pai de Taiwan, e Cherrie Leong e Lei Sam I, de Macau. A conversa tem como objectivo possibilitar um espaço de debate acerca do papel da arte no dia a dia de cada um e debater a fronteira entre expressões artísticas e o quotidiano.

“Cada vez mais as actividades artísticas interagem com o nosso dia-a-dia e cada vez mais os espectáculos entram no nosso quotidiano. A arte está ultrapassar os limites e a entrar nas nossas rotinas diárias? Ou já estamos a envolver a arte na nossa vida diária e já não há mais fronteiras?”, questiona a organização na apresentação do evento. A participação é limitada a 30 pessoas com idades acima dos seis anos e as inscrições são feitas por ordem de chegada. A palestra vai ser conduzida em cantonês e mandarim.

No sábado, dia 26, é o momento de balanço com o encontro entre o público e críticos convidados para partilharem as suas opiniões sobre os espectáculos do Fringe.

Metro Ligeiro | Linha da Taipa vai funcionar das seis à uma da manhã

[dropcap]O[/dropcap] Metro Ligeiro vai funcionar das 6h da manhã à 1h da manhã diariamente, revelou ontem o Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT), de acordo com o canal chinês da Rádio Macau. Segundo a mesma fonte, a linha da Taipa do Metro Ligeiro entra em funcionamento na segunda metade deste ano.

Vão fazer parte desta linha 11 estações por onde vão circular cinco grupos de carruagens. Cada carruagem vai poder transportar cerca de 100 pessoas e a frequência de passagem do metro vai depender do número de passageiros.

O preço dos bilhetes continua a não ser dado a conhecer, sendo que, afirma o GIT, o valor a pagar depende da concessionária responsável pelo funcionamento da infra-estrutura, a MTR de Hong Kong.

Obras Públicas | Pelo menos mais 36 milhões para reparar Portas do Entendimento

[dropcap]A[/dropcap]s obras de reparação das Portas do Entendimento vão custar entre 36 e 48 milhões de patacas. A empreitada, a arrancar até Junho, deve ser concluída dentro de sensivelmente um ano e meio, estimando-se que crie aproximadamente 40 postos de trabalho.

A informação foi divulgada ontem pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transporte (DSSOPT), na sequência do acto público de abertura de propostas. Foram apresentadas 20 candidaturas, cinco das quais admitidas condicionalmente.

As obras consistem em substituir os ganchos que seguram as paredes e reconstruir o pontão de ligação e em adicionar caldas de cimento em partes da plataforma, mantendo inalterado o aspecto exterior. Inaugurado em 1993, o monumento, o primeiro a ser construído para comemorar a amizade luso-chinesa, encontra-se vedado ao público por razões de segurança.

A última obra de reparação das Portas do Entendimento foi adjudicada, em Outubro de 2017, à CAA, Planeamento e Engenharia, Consultores, do engenheiro civil e deputado Chui Sai Peng, por 3,4 milhões de patacas.