Bom Sexo Novo

[dropcap]O[/dropcap] bom sexo novo não precisa de ser diferente. Só precisa de ter uns laivos de ambição de que este ano ser-lhe-á dada uma prioridade diferente. Com isto não quero dizer que se deva continuar com o mau hábito de criar resoluções de ano novo generalistas e vagas que não nos levam a lado nenhum. As resoluções – ou melhor – os objectivos do novo ano (que devem ser o mais directivos possível se quisermos ver alguma mudança) devem ser acompanhados de uma reflexão sobre o significado das coisas, e do sexo também. Para além dos objectivos de ano novo que podem ser, por exemplo, ter sexo de satisfação plena, que tal pensarmos sobre o sexo? Da mesma forma que o sentimos, inteiros e coerentes com os nossos desejos.

Digamos que o sexo de 2018 nos desiludiu. Falo por mim como se falasse por todos porque secretamente espero que partilhem da minha opinião. A luta crescente por mais e melhores direitos sexuais mostrou-se não ser uma função exponencial de sucesso, mas uma batalha constante entre conservadorismos e libertinagem.

Culparei a constante confusão de conceitos que fazem com que a família continue a ser um oásis de perfeição que nunca existiu – nem nunca existirá – de homem, mulher, filhos e total honestidade e bom carácter. O pluralismo familiar e sexual ainda é extensivamente contestado, e o sexo também. Nem com o constante lembrete de que os bebés são fruto do devaneio dos genitais por um encontro. O sexo continua a ser difícil até para os mais progressistas. E assim 2018 testemunhou retrocessos incríveis, daqueles que não julguei testemunhar na minha geração.

Talvez 2019 seja diferente. Talvez porque para nos levantarmos precisamos de bater no fundo. Esse fundo pode ser a crescente consciencialização de que o mundo não é nada daquilo que julgávamos. As ditas ‘maiorias’ afinal ainda têm características e desejos menos simpáticos ao sexo. Pior: espalha-se a narrativa de que o sexo é uma escolha ideológica – que contrasta com as decisões de carácter prático e racional. E assim, se o sexo é tido como ideológico facilmente se legitimiza a pouca conversa do mesmo. Mas o sexo não deve ser – nem é – uma contingência de um sistema político. O sexo é uma possibilidade de discussão honesta. Com todos os macaquinhos e medos que possa acarretar.

Mas como não quero andar com este tom pessimista – para não começar o ano com a atitude errada – nem tudo foi mau. Houve algumas conquistas sexuais também no ano de 2018. A Índia descriminalizou a homossexualidade, um passo importante para a possível aceitação da homossexualidade como um facto natural da vida. Na Austrália o casamento homossexual é uma realidade para satisfação de muitos aqueles que já viviam uma vida em união de facto. Enfim, existem alguns avanços palpáveis por esse mundo fora mas tenho a sensação que a conversa do sexo ainda está muito além do que seria desejável. Um bom sexo novo podia ser comprar aquele brinquedo sexual que as reviews garantem não desiludir, ou dar asas à imaginação e concretizar as fantasias mais loucas. Objectivos importantíssimos, de facto. Mas um bom sexo novo precisa de muito mais, já nem sei bem do quê. Precisa de irreverência e revolução, mas também precisa de carinho, afecto e compreensão. Se 2019 nos trouxer um pouco mais de espaço para pensarmos nestes desafios – e tantos outros – que o sexo nos propõe, não seria um mau ano.

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