População chinesa entra em declínio “imparável” dentro de dez anos, diz estudo

[dropcap]A[/dropcap] população chinesa vai entrar num declínio “imparável” nas próximas décadas e terá uma população activa cada vez menor, mas que terá de sustentar uma sociedade mais envelhecida, conclui um relatório ontem divulgado.

O relatório, publicado por uma unidade de investigação do Governo chinês três anos depois de a China ter abolido a política de filho único, refere que a “era do crescimento populacional negativo está quase a chegar”, prevendo que a população do país atingirá um pico de 1.440 milhões, em 2029.

A seguir, o declínio nas taxas de fecundidade levará a uma diminuição da população para 1.172 milhões de habitantes, em 2065, prevê o relatório da Academia Chinesa de Ciências Sociais.

A China, nação mais populosa do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes, aboliu a 1 de Janeiro de 2016 a política de “um casal, um filho”, pondo fim a um rígido controlo da natalidade que durava desde 1980. Pelas contas do Governo, sem aquela política, a China teria hoje quase 1.700 milhões.

Mas a população em idade activa estagnou, considera o relatório, enquanto o rácio de dependência – o número de trabalhadores em relação à população que não trabalha (sobretudo crianças e reformados) – continua a aumentar.

“Em teoria, o declínio demográfico a longo prazo, especialmente acompanhado pela escalada do envelhecimento da população, está fadado a ter consequências sociais e económicas muito negativas”, lê-se no relatório, que não detalha quais serão as consequências.

Especialistas alertam que, à medida que a população em idade activa da China encolhe, o consumo poderá também diminuir, o que poderá ter consequências para a economia global, que depende da China como principal motor de crescimento.

O relatório recomenda ao Governo que elabore políticas para enfrentar os desafios do declínio iminente. Segundo a actual política de natalidade, que substituiu a de “um casal, um filho”, a maioria dos casais chineses pode ter apenas duas crianças.

Em 2016, o primeiro ano desde a abolição da política de filho único, o número de nascimentos aumentou, de 16,55 milhões, no ano anterior, para 17,86 milhões.

Desde então, a taxa de natalidade caiu sucessivamente, apesar de Pequim ter deixado de promover abortos forçados e multas, e embora tenha aberto novas creches, passando a oferecer incentivos à natalidade.

Em 2017, o número total de nascimentos fixou-se em 17,23 milhões, menos 630.000 do que no ano anterior. Demógrafos estimam que, no ano passado, nasceram 15 milhões de crianças na China, o número mais baixo desde 2000.

Segundo especialistas, a queda deve-se sobretudo à redução no número de mulheres em idade fértil, um grupo que perde entre cinco e seis milhões de pessoas por ano, e aos altos custos e falta de tempo para criar uma criança.

A actual restrição de dois filhos pode assim vir a ser também abolida, permitindo que as famílias tenham vários filhos, pela primeira vez em décadas.

Apesar das projecções de declínio no país mais populoso do mundo, as Nações Unidas estimam que a população global continue a crescer. Um relatório de 2017 estima que, em 2030, chegue aos 8,6 mil milhões, e que, até ao final do século, alcance os 11,2 mil milhões. A Índia deve superar a China como o país mais populoso até 2024, segundo a ONU.

9 Jan 2019

Este país é para velhos

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ociedade chinesa está a envelhecer. Idosos já são mais de 16% da população

A China tinha, no final do ano passado, mais de 230,8 milhões de pessoas com idade superior a 60 anos, o equivalente a 16,7% da população total chinesa, ilustrando as rápidas mudanças demográficas no país.

Dados publicados pelo Ministério de Assuntos Civis chinês indicaram que, entre a população idosa do país, 150,03 milhões têm 65 anos ou mais, o equivalente a 10,8% do conjunto da população.

Um país ou região têm uma sociedade envelhecida quando o número de pessoas com 60 anos ou mais atinge os 10%.

Segundo as Nações Unidas, a China está a envelhecer mais rapidamente do que qualquer outro país no mundo. Em 2050, o rácio de dependência, a relação entre a população activa e o número de indivíduos além da idade de reforma, poderá atingir os 44%.

O fenómeno é uma consequência da política de “um casal, um filho”, um rígido controlo da natalidade que perdurou no país entre 1980 e o início de 2016.

No ano passado, a taxa de natalidade aumentou 7,9%, com 17,86 milhões de partos. Foram mais 1,31 milhões de bebés do que em 2015, o número mais alto deste século, ilustrando os efeitos do fim daquela política. No entanto, ficou muito aquém das previsões oficiais, que apontavam para um aumento de três milhões de nascimentos.

Quando Deng Xiaoping impôs a política de filho único, a China era ainda um país pobre e isolado, longe de conhecer o trepidante crescimento económico que viria a transfigurar a sociedade chinesa.

Actualmente, nas grandes metrópoles chinesas, muitos jovens rompem com a tradição, optando por casar tarde e ter apenas um filho, independentemente da flexibilização ditada pelo Governo.

“A atitude das mulheres em relação a ter filhos sofreu profundas mudanças. Deixou de existir o conceito tradicional de ‘mais crianças, mais felicidade'” afirmou Jiang Quanbao, professor na Universidade Jiaotong, na cidade chinesa de Xi’an, citado pelo jornal Financial Times.

“As mulheres querem obter educação e ter a sua própria carreira. Os custos de ter uma segunda criança são grandes”, apontou.

Alto quadro do Vaticano visita o país

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] director das Academias Pontifícias do Vaticano, o bispo Marcelo Sánchez Sorondo, viajou para a China, apesar da ausência de relações diplomáticas entre os dois estados, onde transmitiu uma mensagem do papa Francisco, informou sexta-feira a imprensa local.

Segundo o jornal oficial Global Times, Sánchez Sorondo participou numa conferência sobre transplantes em Pequim, onde destacou, numa intervenção pública, o amor do papa pela China.

“O papa Francisco ama a China e ama o seu povo e a sua História, esperamos que tenham um grande futuro”, declarou o bispo argentino, que dirige, desde 1998, a Academia Pontifícia de Ciências e a Academia Pontifícia de Ciências Sociais.

A viagem à China do alto quadro da Santa Sé retribui a visita que um responsável do ministério da Saúde chinês efetuou ao Vaticano, no passado mês de Fevereiro, numa outra aproximação rara entre os dois lados, cujos laços diplomáticos estão cortados desde 1951.

As visitas ocorrem num momento em que o papa Francisco expressou o seu desejo por uma maior aproximação à China.

China e Vaticano divergem, sobretudo, na nomeação dos bispos, com cada lado a reclamar para si esse direito.

7 Ago 2017