O girassol depois do cataclismo

[dropcap]V[/dropcap]iver sob a pandemia faz inexoravelmente pensar no pós-pandemia. Os humanos têm os pés a levitar no futuro, mas são escravos do presente – território onde sobrevivem ou sucumbem. A literatura é um filtro extraordinário para se compreender o pós-cataclismo. Nesse tipo de vórtice, que se tenta sempre antecipar com alguma ansiedade, o que fica à vista não é tanto o que somos, mas sobretudo aquilo que facilmente abandonamos ou que somos fria e activamente levados a despovoar.

Antes de se iniciar a narrativa parisiense que ocupa ‘Devoção’ (2017) de Patti Smith, logo no início do livro, a protagonista encontra por acaso o trailer de um filme sobre a deportação, em 1941, de milhares de estónios que as tropas de Estaline cercaram e transportaram em camiões para a Sibéria como se fossem gado. Depois, na segunda página do romance, é evocado o tempo que sucede a esta voragem terrível:

“Um roupão azul serve de cortina para uma janela pela qual ninguém olhará mais. Há sangue por todo o lado, mas já sem a cor do sangue, e um cão a ladrar, e estrelas a riscar os céus perdidos./ Um bezerro moribundo. Uma tala na pata – manchas, buracos. A noite cai, escondendo o membro contorcido do último ser vivo./ Um cenário no tempo. Ferramentas, pequenas mãos suspensas no meio do gelo. Pássaros já sem a curiosidade própria dos pássaros deixam de voar. A dança acabou e o rosto do amor não é mais do que uma saia larga e uns tacões lustrosos de inverno”.

Mudando a atmosfera, o ponto de partida do romance ‘O Deus das Moscas’ (1954) de William Golding centra-se num desastre aéreo causado por um conflito planetário. A acção inicia-se numa ilha deserta onde um grupo de rapazes resiste sem qualquer presença de adultos. Recomeçar após a catástrofe é, mais uma vez, o tema. No final do primeiro capítulo, o verniz possível rasga-se e a violência torna a aflorar o mundo como se fosse uma água indomável:

“- Eu ia matá-lo -, continuou Jack. Seguia à frente e eles não lhe podiam ver o rosto. – Estava à procura do sítio. Para a próxima…!/ Arrancou o facão da bainha e arremessou-o contra o tronco de uma árvore. Para a próxima vez não haveria piedade. Olhou à roda com ferocidade, ousando contradizê-los. Depois separaram-se na claridade rija do sol, e, durante algum tempo, ocuparam-se em buscar e procurar comida…”.

Saltemos, por fim, para o derradeiro volume do ‘Quarteto de Alexandria’ de Lawrence Durrell, ‘Clea’ (1960) onde a paisagem das proximidades do deserto surge retratada no pós-guerra com uma fidelidade crua, quase táctil. Também aqui a visão do retomar da “normalidade” (cito a voz do vulgo) ocupa algumas das páginas deste maravilhoso livro:

“Ao retirar-se como uma inundação (a guerra), abandonava os seus estranhos troféus coprolíticos ao longo das praias que outrora frequentávamos e que fomos encontrar brancas e desertas sob o voo das gaivotas. A guerra impedira-nos de frequentá-las durante muito tempo, e agora descobríamo-las pejadas de tanques esventrados, canhões torcidos” (…) “Sentíamos uma melancolia estranhamente serena tomando banhos ali, como se o fizéssemos no meio dos vestígios petrificados de um mundo pré-histórico” (…) “Um dia, em que ia guiando, Clea deu uma forte guinada – a estrada estava bloqueada pelo cadáver despedaçado de um camelo vítima da explosão de uma mina”.

No trecho de P. Smith os últimos vestígios de vida contracenam com uma suspensão do tempo, como se as palavras tivessem que ocupar outra estratégia que não a da narração. Narrar tornara-se impraticável e a imagem do bezerro a arrastar-se fala por si acerca deste aspecto disfórico. No romance de W. Golding, depois de o relato se focar numa espécie de oásis existencial, ou até ideal, a ferocidade reencontra caminhos e a sua natureza reaparece a sós e à solta, a par da guerra pela sobrevivência. Finalmente, na passagem assinada por L. Durrell, a “melancolia estranhamente serena” dá entrada no texto como se não se fosse possível acreditar no novo estado de coisas e a incredulidade até acaba por ser ampliada com a iminência de um acidente (curiosamente, os animais surgem nas narrativas – repetidamente – como uma alegoria da nossa própria infelicidade).

Com excepção do excerto de ‘O Deus das Moscas’, centrado na constância de fundo das coisas, e por isso mesmo, para o bem ou para o mal, acusando um realismo mais agudo, tudo aquilo que se desata e desprende do mundo é feito através do estranhamento ou da inércia do recomeço. Nessa enigmática terra de ninguém (sempre por percorrer), a necessidade de voltar a impermeabilizar o vivido e as suas imagens sobrepõe-se ao foco da retrospectiva, ou seja, à ferida exposta da memória. Primo Levi em ‘Se Isto é um Homem’ (1947) levou este tópico até aos seus limites, de tal modo que a existência da própria arte (mesmo a da escrita) se poderia – e pôde realmente – pôr em causa.

Voltemos à solaridade de Durrell e ao momento que creio ser ‘o da verdade’, isto é, o de agir “como se o fizéssemos no meio dos vestígios petrificados de um mundo pré-histórico”. Jogar é recriar uma situação irreal como se fosse a real, mas neste caso estamos perante um jogo dentro do jogo: é a realidade que se levanta e recria sobre os escombros da mais pestilenta das irrealidades. Já Fernando Pessoa o referira, curiosamente num poema de amor: “Todo eu sou qualquer força que me abandona./ Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio”.

 

Pessoa, Fernando. ‘O Pastor Amoroso’ (poema assinado a 19/07/1930) em ‘Poemas de Alberto Caeiro.’ (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

Perfumar a glande

[dropcap]E[/dropcap]spanta nos diários de 1906 de Fernando Pessoa a sua confessada decisão de ler dois livros por dia, um de filosofia e outro de literatura, de preferência poesia. E esse ritmo só foi baixando porque a partir de 1913 se imiscui a decisão de aprofundar uma voz poética, ainda por cima em arquipélago e com uma clara propensão para em suaves declinações ensaísticas refinar uma espécie de mathesis universalis.

Ou seja, Pessoa desatou a escrever ele mesmo um livro por semana. Exagero e caricaturo, mas releve-se a sua enorme capacidade de trabalho.

Mas não é único, apesar de nos ser difícil acreditar (e, em Portugal, no século anterior basta pensar em Camilo). Depois de um delicioso livro de entrevistas e de um muito parcial mas cativante Diccionario De Literatura, pego numa biografia sobre o espanhol Francisco Umbral (1932-2007), outro omnívaro que escreveu cento e tal livros e muitos milhares de artigos e crónicas (só no El Mundo manteve uma crónica diária durante 40 anos). E conta Anna Caballé, a biógrafa-não-autorizada que fez em «Francisco Umbral/ El frio de una vida» o livro definitivo sobre o escritor de Diario de un escritor burguês:

«Consideremos qualquer semana de sua vida. Qualquer semana de 1977, por exemplo, um de seus anos mais fecundos. Encontramos Umbral publicando um artigo diário (secção “Diario de un snob”) no El País e outro artigo, também de jornal, para a agência Colpisa, que o distribuia entre os jornais associados. Tem um artigo semanal na Interviú (algumas “Horteras Cartas” em que ensaia várias fórmulas coloquiais) e outro, mais exigente, na Destino, semanal. A essas colaborações regulares deve ser adicionado um artigo mensal com conteúdo erótico para a revista Siesta e uma história erótica bimestral que aparece na mesma publicação.

Juntem-se a estas outras colaborações que ele espontaneamente concede em Diario 16, em Triunfo, em Hermano Lobo. Não levo em consideração os textos aleatórios que surgiram no decorrer da sua vida profissional, mas chamo à lista os livros que publicou naquele ano: La prosa y otra cosa, Diccionario para pobres, La noche que llegué al Café Gijón, Las jais, Teoría de Lola y otros cuentos e Tratado de perversiones.

Seis livros – quatro deles de criação. Ou seja, um livro a cada dois meses. E não se pode dizer que seja fruto de acaso editorial, já que em 1976 publicou onze livros, quase um por mês. Com razão, o hispânico Jean-Pierre Castellani, baseando-se apenas na intensidade de suas colaborações jornalísticas, considera-o um fenómeno único na Espanha e “talvez na imprensa europeia contemporânea”».

O que assombra, com flutuações naturais, é a qualidade média de cada livro, invejável. Cada pico em Umbral corresponderia ao melhor do dos seus colegas escritores, só que Umbral tem uma dúzia de picos. De entre os cinco que li, talvez escolhesse Mortal e Rosa (traduzido, e bem, em português por Carlos Vaz Marques) o livro que escreveu depois da morte do filho, de sete anos, com leucemia, ou El hijo de Greta Garbo. Noutra ocasião farei uma descida à “morfologia do estilo” de Umbral que foi um defensor e um dos mais bem sucedidos cultores do “romance lírico”. Aqui fica um parágrafo, breve, de Mortal e Rosa: «Outubro.

Aperfeiçoa-se a rotundidade do mundo. As árvores são violinos cuja música é o azul do céu. O bosque brinca com o meu filho como um tigre verde com um pintassilgo. Somos o âmago de uma lentíssima maçã caindo silenciosamente no tempo».

Sirva agora esta nota só para meter alguma humildade no toutiço de alguns jovens escritores que conheço, tão vaidosos como ignorantes, tão convencidos como improdutivos.

Ontem fiz o download do livro póstumo que reuniu toda a sua poesia, um livro de 200 páginas. Não é o seu melhor mas tem coisas que me divertiram, como o ciclo de poemas em prosa erótica que dedicou à Letícia/Lutecia. Vê-se que lhe era fácil e como isso lhe menorizava os poemas, nem resistindo, por vezes, ao mau gosto; por outro lado, são divertidíssimos e a espontaneidade do seu jacto denota que aos setenta (morreu com setenta e cinco, suponho que gasto) mantinha ainda um ímpeto juvenil. Aqui traduzo um poema desse ciclo: EL PERFUME

«Há sexos de mulheres que perfumam a glande durante uma semana. Há mulheres que têm na geografia da vulva, nas gargantas da vagina, na caverna das secreções, uma infinidade de jardins subaquáticos, uma pluralidade de peixes que antes foram flores e sonham em se cristalizar, silenciosamente, no sal.
Há sexos que deixam um perfume a mancebia babilónica e a armazém portuário, e do mesmo modo que o poeta passou anos sem lavar a testa, pois ali fora beijado por outro poeta, pode-se passar dias sem lavar a glande para que não perca, no freio do prepúcio, a sua aura de mulheres e flores, o seu halo de mar e porto, que é como uma coroa olorosa, essa fragrância que hesita em adoptar uma forma única mas se vai assemelhando ao desenho balístico da glande.

A rigor, havia que descer-se à rua com o erecto membro ao léu, circuncidado como o azul no céu, ou uma proa, ou a pequena e vermelha agressão perfumada que distribui fitas aromáticas pela vizinhança, como quando passa o peixeiro. Disse que era preferível não lavar-se, nesses casos, mas a verdade é que há também a mulher indelével, a que perfuma e perfuma, e ao cabo de numerosas e meticulosas lavagens, depois de repetidas esfregas e enxaguamentos, a coisa continua a cheirar ao mesmo, com aquela fidelidade dos cheiros, que é a única fidelidade no amor. Não há maneira.”

Compra de malas de luxo acaba em desfalque de 240 mil patacas

[dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) deteve um residente de Macau de 28 anos, por suspeita de burlar nove mulheres no montante total de 241.650 patacas, através da promessa de compra de malas e carteiras de marcas luxuosas com desconto.

De acordo com informação revelada ontem em conferência de imprensa, a investigação começou quando uma das vítimas apresentou queixa junto da PJ no passado dia 20 de Agosto, apontando que, no final de Junho, teve conhecimento através de um amigo sobre uma pessoa que conseguia comprar produtos de luxo com 30 por cento de dedução, já que usufruía de desconto de trabalhador.

Interessada na aquisição dos produtos a preço reduzido, a vítima depositou cerca de 62 mil patacas na conta indicada pelo suspeito, correspondendo ao valor de duas malas e uma carteira. Passadas quatro semanas, período de tempo avançado pelo suspeito para o envio dos produtos, foram apresentados vários argumentos para justificar o atraso no envio dos artigos que nunca chegaram a aparecer.

Depois de investigar o caso, a PJ descobriu mais oito vítimas burladas pelo suspeito, após terem sido alvo do mesmo esquema e que, em Março, o homem terá enviado mensagens através de uma rede social, a publicitar o alegado desconto que conseguiria obter.

Dívidas à perna

Segundo o porta-voz da PJ, os crimes terão ocorrido entre Junho e Agosto, período em que cada uma das nove vítimas terá pago entre 4 mil e 62 mil patacas para encomendar as alegadas malas e carteiras de luxo. Contas feitas, no total, o montante burlado é de 241.650 patacas, sendo que foram devolvidas 100 mil patacas às vítimas.

No decorrer da investigação, o suspeito foi convidado a prestar declarações à PJ na passada sexta-feira, tendo confessado o crime. Segundo a polícia, o suspeito disse ainda não ter qualquer contacto com trabalhadores ligados à venda de marcas de luxo e que recorria a este método para saldar dívidas relacionadas com o jogo.

O caso já seguiu para o Ministério Público (MP), onde o homem terá de responder pela prática do crime de burla de valor consideravelmente elevado, podendo ser punido com pena de prisão entre 2 a 10 anos.

História | Blogue Macau Antigo, de João Botas, celebra 12 anos de existência 

[dropcap]O[/dropcap] blogue do jornalista João Botas, intitulado “Macau Antigo”, celebra 12 anos de existência com algumas novidades em termos de conteúdos, além de estar prevista a realização de um passatempo, anunciou o autor do projecto em comunicado. O passatempo prevê a oferta de livros sobre a história de Macau, esperando-se ainda novidades em termos de publicações.

Haverá “revelações sobre o hotel Hing Kee, que, ao contrário do que tem sido escrito até hoje, não foi o primeiro hotel do tipo ocidental no território”, aponta João Botas. O jornalista promete também escrever sobre as “memórias de uma família russa que fugiu à Revolução Bolchevique de 1917 e que na década de 1930 visitou Macau”, além das “impressões de uma aristocrata / princesa soviética que visitou Macau, juntamente com o marido, no final do século XIX”.

João Botas pretende também escrever sobre “um conceituado zoólogo britânico que viveu em Hong Kong na década de 1960 e que aceitou o convite para ‘revisitar’ as fotografias que tirou em Macau nos anos quentes (1966 e 1967) da revolução cultural chinesa”.

O blogue “Macau Antigo” terá também imagens inéditas ou raras da primeira versão do Hospital S. Januário inaugurado em 1874 ou “curiosidades sobre a indústria dos panchões e empresas de navegação da ligação marítima entre Macau e Hong Kong no século XIX”, entre outros assuntos.

Com cerca de cinco mil posts, o blogue tem, em média, 500 visitas por dia, que está quase a atingir os dois milhões de visitantes. A maioria dos leitores é originária de Portugal (25%), Macau (16%), EUA (14%) e Brasil (10%), perfazendo mais de 1 milhão de visualizações de página. Destaque ainda para Rússia (9%), Alemanha (4%), Hong Kong (2º), Itália e França (<1%).

Casa Garden | Salão de Outono regressa este sábado e inclui arte performance

O Salão de Outono está de regresso à Casa Garden. A exposição que reúne vários trabalhos de artistas locais será inaugurada no sábado às 18h30. Este ano, além de revelar os formatos artísticos mais tradicionais, o Salão de Outono apresenta também ao público uma performance. Em ano de pandemia, esta foi a edição que registou o maior número de submissões de sempre

 

[dropcap]A[/dropcap] Fundação Oriente (FO), em parceria com a associação Art for All Society (AFA), volta a organizar uma nova edição do Salão de Outono, que este ano celebra os 11 anos de existência. Tratando-se de uma mostra plural, onde todos os formatos artísticos têm lugar, o público poderá ver trabalhos de autores mais ou menos consagrados no panorama da arte de Macau.

Nomes como Alexandre Marreiros, Alice Kok (que é também curadora da exposição), Armelle de Lainsecq ou Crystal W. M. Chan, entre outros, fazem parte do conjunto de 50 artistas que este ano decidiram apresentar os seus projectos para integrar o Salão de Outono. No total, poderão ser vistas 82 obras. Os trabalhos seleccionados incluem pintura a óleo, aguarela, desenho, gravura, escultura, fotografia, arte digital, vídeo e instalação.

Ao HM, Alice Kok afirma que este foi o ano com mais candidaturas submetidas. “Este ano tivemos o maior número de trabalhos candidatos em 11 anos de realização do Salão de Outono. É mais ou menos o mesmo número de obras, mas tivemos mais artistas a candidatarem-se. Uma das razões prende-se com o facto de as pessoas não poderem sair de Macau e dedicarem-se mais ao seu trabalho.”

A curadora aponta ainda que a maior parte das obras analisadas pelo júri foi realizada este ano, o que mostra que 2020 “tem sido um ano especial para todos devido à pandemia e também para os artistas, que reflectem sobre tudo aquilo que está a acontecer no mundo”. “Pensamos mais sobre a forma como vivemos e como existimos e penso que isso naturalmente se reflecte na produção artística”, frisou Alice Kok.

Performance como novidade

Alice Kok destaca o facto de esta edição do Salão de Outono “ter uma maior abrangência ao nível dos formatos artísticos” em relação aos anos anteriores, e uma das novidades é precisamente a performance de uma artista coreana a residir em Macau que será revelada ao público este sábado, durante a inauguração.

“Em chinês chamamos-lhe ‘a arte do comportamento’. É algo muito específico, onde o artista usa o seu corpo como o meio para realizar o trabalho, utilizando certos comportamentos”, explicou a curadora, que continua a considerar o mais importante a exploração de “todo o tipo de formatos artísticos, desde os mais tradicionais aos contemporâneos”.

No Salão de Outono “é muito importante mostrar o panorama artístico local e estamos focados em explorar o que está a acontecer em Macau, o que está a ser discutido e experimentado, e também quais os temas que estão a ser abordados”.

“Como curadora considero isto mais importante do que pensar unicamente em atrair o público”, disse ainda. Ideia semelhante tem Ana Paula Cleto, delegada da FO em Macau.

“O Salão de Outono que tem desde o seu início um princípio ou filosofia que é promover e dar a conhecer ao público o que se vai fazendo no campo da arte em Macau. Concorrem artistas que podem ser de qualquer nacionalidade desde que vivam e trabalhem em Macau. Tentamos sempre que haja sempre um certo equilíbrio entre os artistas mais conceituados, até para dar qualidade à própria exposição e depois também escolher o que de melhor aparece junto de artistas menos conhecidos, com objectivo de os promover.”

Ana Paula Cleto destaca os trabalhos de Alice Kok ou de Lai Sio Kit, “um pintor ainda jovem, mas que já venceu o prémio da FO e é sem dúvida um artista que tem vindo a evoluir de uma forma incrível nos últimos tempos”.

A mostra conta também com a presença de Kit Lee, “uma artista que faz essencialmente vídeo arte e que já é conceituada, faz um excelente trabalho”, bem como o arquitecto Francisco Ricarte, que se apresenta nesta edição do Salão de Outono com um trabalho fotográfico.

Música da casa

Ao contrário dos dois anos anteriores, em que o Salão de Outono procurava também trazer a Macau pedaços de música e literatura, a pandemia obrigou a organização a convidar os artistas locais.

“Nos últimos dois anos juntámos uma componente musical e até literária ao Salão de Outono, porque no fundo é um acontecimento em que vários tipos de arte se podem encontrar. Este ano com a pandemia tínhamos programado a vinda de um músico português, que não pôde vir. Mas vamos ter jazz e um DJ depois da abertura da exposição e da entrega do prémio.”

Outra alteração prende-se com o adiamento, para o próximo ano, do festival de vídeo arte, uma vez que o curador não pôde deslocar-se a Macau.

Além da inauguração, que acontece no sábado a partir das 18h30, será também anunciado o vencedor do 8.º Prémio Fundação Oriente para as Artes Plásticas. Este terá a oportunidade de visitar Portugal para um programa de intercâmbio artístico de um mês.

Plano Director | Criticada falta de dados sobre crescimento da população

A Novo Macau defende que é impossível tomar uma decisão informada sobre a desistência da Zona D dos Novos Aterros quando a consulta sobre o Plano Director não disponibiliza dados sobre a distribuição da população

 

[dropcap]A[/dropcap] Associação Novo Macau criticou o Governo pela falta de estimativas sobre a distribuição da população nos documentos de consulta sobre o Plano Director. A associação democrata entregou ontem as suas ideias sobre o projecto e considerou que faltam elementos para que a população possa participar no debate de forma informada.

“O Governo diz que com o Plano Director vai criar condições para a ‘cidade inteligente’. Mas, quando lemos o documento de consulta não encontramos dados específicos. Por exemplo, há uma previsão de que a população vai ser de 800 mil habitantes. Só que não estão especificadas as zonas da cidade pelas quais a população vai estar distribuída”, apontou Sulu Sou, vice-presidente da associação.

Ao mesmo tempo, a associação defendeu ainda a necessidade de o Governo formular um plano a longo prazo para o desenvolvimento da população e impor mais restrições no “crescimento sem limites” das pessoas vindas de fora. “Se não tiverem uma política de expansão da população bem definida e mais restrita para pessoas vindas de fora, nem que destruam 10 Coloanes vai haver espaço para morar tanta gente”, atirou.

O deputado mostrou-se igualmente incomodado com o facto de poucos dias depois do Governo ter apresentado o documento de consulta sobre o Plano Director ter vindo a público revelar que pretendia abdicar da Zona D dos Aterros.

“Como é que podemos concordar com a decisão de desistir da Zona D dos Aterros se nem nos informaram sobre a distribuição da população?”, questionou.

Três problemas

O dia de ontem serviu para a Novo Macau entregar ao Governo as suas opiniões sobre o novo Plano Director. No documento foram destacados principalmente três pontos que visam as áreas da Colina da Penha, o terreno do Parque Oceanis, na Taipa, e ainda o Alto de Coloane.

Em relação à Colina da Penha a associação mostrou-se contra a construção de edifícios do Governo nos terrenos de Nam Van, por considerar que a necessidade não foi justificada e por estar reticente face à construção em altura, que considera poder bloquear o corredor visual até à Ponte Governador Nobre de Carvalho. Ao invés, foi defendido que seja criada uma área de lazer entre os lagos de Nam Van e Sai Van.

A construção de uma zona de lazer é também o destino defendido para o Parque Oceanis. No entanto, o plano director prevê a construção de uma zona comercial.

Finalmente, no que diz respeito ao Alto de Coloane, a associação é contra qualquer construção, indo ao encontro dos interesses da população que defende a “protecção completa daquela zona natural e montanhosa”.

Lai Chi Vun | Estaleiro utilizado como depósito de papel usado

[dropcap]O[/dropcap]s estaleiros navais de Lai Chi Vun foram classificados como património, mas um deles foi utilizado como um espaço de depósito de papel usado. A Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA) já alertou o ocupante para não colocar bens no espaço sem aprovação prévia. Segundo o jornal Exmoo, a DSAMA pediu-lhe também um esclarecimento por escrito.

O ocupante explicou que muitos bens recicláveis não podem ser exportados devido às políticas das zonas vizinhas e de férias, motivo pelo qual guardou provisoriamente os bens no estaleiro.

O presidente da direcção da Associação Comercial de Reciclagem de Materiais Recicláveis de Macau, Wong Weng Chi, lamentou que o sector da reciclagem não tenha espaços suficientes para depositar o material. Em declarações ao Exmoo, recordou que o Governo anterior prometeu a concessão de um terreno perto da incineradora, mas que ainda não houve avanços. Além disso, a pandemia afectou o mercado da reciclagem, sendo esperada uma queda de cerca de 50 por cento do movimento de importação e exportação de bens.

Turismo | Governo rejeita “bolhas de viagem” e quer dar confiança à China

Com a crise instalada, os Serviços de Turismo afastaram a hipótese de criar “bolhas de viagem” para territórios estrangeiros. Ao invés, e enquanto não são reiniciadas as excursões da China para Macau, a aposta passa por “dar confiança” às autoridades centrais. Sobre as agências de viagens não se espera que haja despedimentos em larga escala

 

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Turismo (DST) considera essencial continuar a promover Macau no Interior da China e transmitir confiança às autoridades centrais para revitalizar o sector do turismo e contribuir para a sustentabilidade das agências de viagens do território, que anunciaram recentemente o despedimento de, pelo menos, 200 funcionários.

“Não é bom ver despedimentos qualquer que seja o momento. Da nossa parte considero que temos de continuar a fazer mais promoções dentro da China e dar confiança para que os turistas voltem e assim ajudar o nosso sector, porque só com a actividade comercial e mais turistas é que podemos, de facto, ter uma actividade sustentável para as nossas agências de viagem”, sublinhou ontem a directora da DST, Maria Helena de Senna Fernandes à margem da apresentação 8.ª Expo Internacional de Turismo.

Questionada sobre se Macau está a considerar criar “bolhas de viagem” com regiões localizadas no estrangeiro, à semelhança do que está a ser feito entre Hong Kong e Singapura, a responsável negou essa possibilidade, apesar de admitir que já foram feitas “algumas avaliações internas”. “Não é a altura propícia para falar sobre este assunto porque há ainda muitas considerações e incertezas, mesmo relativamente a Hong Kong, onde ainda existem alguns casos que não se sabe de onde vêm”, acrescentou Maria Helena de Senna Fernandes.

Sobre o reinício das excursões turísticas do Interior da China para Macau, a directora da DST diz tratar-se de uma “luta” que está dependente do “controlo central sobre a pandemia” e que, por isso, é fundamental continuar a transmitir confiança às autoridades da China. Isto, numa altura em que já foram reiniciadas as excursões entre províncias no Interior da China.

“Continuamos a lutar porque o Ministério da Cultura e Turismo está aberto para, no momento certo, falar sobre isto, mas transmitiram-nos também que (…), porque existe um controlo central sobre a pandemia, não estão muito virados para abrir as excursões transfronteiriças. Por isso, temos de continuar (…) a dar confiança às autoridades do Interior da China porque Macau é muito segura e tem muitas medidas em força que também podem evitar qualquer surto epidémico”, explicou.

Remodelação a caminho

Durante a sessão de perguntas e respostas da conferência de imprensa, o presidente da Associação das Agências de Viagens de Macau, Alex Lao, assegurou que, apesar dos despedimentos recentes motivados pela entrada em vigor da lei do salário mínimo, não haverá uma “onda de falências” nem despedimentos em larga escala.

No entanto, o responsável admitiu ser necessário tempo para que sejam feitos ajustes “entre empregadores e empregados”, mais concretamente através da celebração de novos contratos.

“Há pessoas que vão deixar de trabalhar depois da lei do salário mínimo entrar em vigor, mas cada um tem a sua maneira de sobreviver e precisamos de tempo”, afirmou Alex Lao.

Por seu turno, Helena de Senna Fernandes recordou que desde o início do ano já foram encerradas cinco agências e que, por isso, “nem todos os casos estão relacionados com a entrada em vigor da nova lei”, mas sim por razões comerciais. Além das cinco agências (sedes), foram também encerradas duas sucursais e 13 balcões, estando outras 15 agências de viagem com a actividade suspensa.

Corrupção | Poder do Povo marca manifestação e pede investigação a Chui Sai On

Os problemas de cálculo dos novos taxímetros continuam na ordem do dia, e a associação liderada por Iam Weng Hong quer uma investigação para apurar se a empresa foi beneficiada com o contrato público

 

[dropcap]A[/dropcap] Associação Poder do Povo quer que o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) investigue todas as obras da governação de Chui Sai On, anterior Chefe do Executivo, e diz já ter conseguido a aprovação para uma manifestação com o pedido. A revelação sobre o protesto agendado para 6 de Novembro foi feita ontem, no mesmo dia em que a Poder do Povo montou uma banca nas Portas do Cerco.

“O nosso pedido é simples, queremos que o Chefe do Executivo Ho Iat Seng mande o Comissariado contra a Corrupção investigar todas as obras concedidas pelo Governo anterior de Chui Sai On, incluindo a instalação obrigatória do sistema terminal inteligente nos táxis”, explicou o presidente da associação, Iam Weng Hong.

“Queremos saber se existe conluio, ou tráfico de influências, entre o Governo e o sector [de instalação dos taxímetros]”, acrescentou.

Em relação à manifestação de 6 de Novembro, Iam disse que já conseguiu autorização do Governo e que o percurso vai ser entre a Praça do Tap Seac e a sede do Executivo. Segundo o organizador, são esperados 100 manifestantes.

Erro de cálculo

A associação Poder do Povo montou ontem uma banca nas Portas do Cerco contra a instalação do sistema de terminal inteligente nos táxis, que tem causado alguns problemas no cálculo do preço por viagem. Sobre outras acções de protesto contra a instalação do taxímetro inteligente, Iam Weng Hong recordou que recentemente foram enviadas cartas a Lam Hin San, director da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, para suspender a instalação do novo sistema de taxímetro.

Também no início de Outubro, o CCAC avançou ao canal chinês da Rádio Macau ter recebido queixas de taxistas sobre as despesas obrigatórias com a instalação do sistema. Os taxistas queixaram-se que quando foram discutidas as alterações à lei que regula o sector não sabiam o preço das despesas da instalação do novo taxímetro, de 300 patacas por mês, nem que teriam problemas no cálculo da distância percorrida.

Quando a banca foi instalada passaram pelo local alguns taxistas. Aos jornalistas, um profissional do sector, com o apelido Cheong, queixou-se dos erros do taxímetro. Outro profissional, com o nome Kam, defendeu que o Governo não pode obrigar os taxistas a ter este tipo de despesas fixas com um equipamento que funciona mal, e que devia compensar aos profissionais do sector. “Queremos uma explicação para toda esta situação, cara-a-cara”, apontou Kam.

Cheque de 12 mil

Durante o evento de ontem, a Associação Poder do Povo deixou também uma mensagem ao Governo para aumentar o valor do cheque pecuniário para 12 mil patacas e ainda antecipar a sua distribuição. Segundo Iam Weng Hong, devia ser feita antes de Março, para que as pessoas possam lidar com a pandemia, o aumento dos preços dos bens de primeira necessidade e ainda com o desemprego. Ao mesmo tempo, a associação entende que deve haver uma terceira ronda do cartão de consumo, com a distribuição de 5 mil patacas por residente para revitalizar a economia.

Presidente do hemiciclo pede lei sindical a Ho Iat Seng em encontro de preparação de LAG

[dropcap]K[/dropcap]ou Hoi In, presidente da Assembleia Legislativa, defendeu a necessidade de “avançar, cuidadosamente, com a lei sindical para criar harmonia entre a parte patronal e a laboral” numa reunião com Ho Iat Seng. A sugestão foi dada na terça-feira durante um encontro entre o Governo e a Associação Comercial de Macau (ACM) para a preparação das Linhas de Acção Governativa (LAG).

Kou Hoi In falou ainda da necessidade de “lançar a terceira ronda de apoio mais direccionada para as pequenas e médias empresas”. O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng que uma nova ronda de apoios à população vai depender do panorama económico de 2021.

Ho Iat Seng referiu que “o lançamento da terceira ronda de medidas de apoio dependerá da situação epidemiológica e económica e financeira do próximo ano”.

Em relação ao cheque pecuniário, o Chefe do Executivo acredita que “se este for utilizado em Macau contribuirá para incentivar o consumo interno, a economia local e servirá como apoio importante para as pequenas e médias empresas”. Por esse motivo, “o Governo continuará a ouvir as opiniões da sociedade sobre o modelo da sua atribuição”.

Kou Hoi In considerou ainda importante “tentar aliviar as restrições de entrada dos visitantes do interior da China, no sentido de promover a recuperação gradual do turismo local”, entre outras sugestões.

Macau segue “instruções”

Ho Iat Seng reuniu também esta terça-feira com o presidente da Associação de Amizade de Membros da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês na Instância de Província de Macau, Ma Chi Ngai, a propósito das LAG para 2021. Os representantes da associação também defenderam “o lançamento da terceira ronda do cartão de consumo e a continuação do plano de comparticipação pecuniária”.

Em relação à recuperação do turismo, Ho Iat Seng disse que “o Governo tem estudado este assunto”, mas “devido à situação epidemiológica registada a nível mundial, com flutuações constantes, o Governo da RAEM vai, por agora, seguir as instruções e exigências do País e ter em conta a conjuntura geral nacional para a prevenção da pandemia, mantendo-se firme e determinado com a linha de defesa”.

Orçamento | Comissão quer explicações de seis entidades governamentais

Os valores das taxas de execução de orçamental motivaram inquietações na 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa. Os deputados estão preocupados com a falta de interesse da população no Fundo para a Bonificação para o Crédito à Habitação e ao Fundo de Reparação Predial

 

[dropcap]A[/dropcap] 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa pretende chamar representantes da Direcção dos Serviços de Finanças, da obra social da Polícia de Segurança Pública e de quatro fundos governamentais a prestar explicações sobre a execução orçamental de 2019. Uma das preocupações é a falta de interesse da população em recorrer ao Fundo para a Bonificação para o Crédito à Habitação. Em causa está a análise do projecto de resolução sobre o relatório da execução orçamental do ano passado.

O presidente da comissão disse que o Governo vendeu no ano passado “muitos imóveis”, tendo arrecadado 970 milhões de patacas. No entanto, a taxa de execução do fundo foi de cerca de 31 por cento. Chan Chak Mo considera necessário que o Governo explique por que motivo as pessoas não recorrem ao fundo. No entanto, respondeu aos jornalistas que os deputados não têm informações sobre o número de fracções habitacionais vendidas. “É uma informação sobre a qual temos de ser esclarecidos”.

Foi ainda destacada a falta de interesse sobre o Fundo de Reparação Predial. “Temos muitos prédios com largos anos de construção, mas a taxa de execução (do Fundo de Reparação Predial) é baixa”, disse o deputado. De acordo com o mapa da execução da despesa do orçamento ordinário integrado, o Fundo de Reparação Predial teve uma taxa de execução de 58,1 por cento.

Chan Chak Mo indicou que o Governo já foi questionado sobre o tema no início do ano, particularmente se a falta de interesse se devia à complexidade dos procedimentos, e que é necessário “encontrar uma forma de encorajar as pessoas a recorrer a esse fundo”. Para o deputado “é muito importante” aumentar os anos das construções e evitar que venham a ser demolidas.

A taxa mais baixa

Dos diferentes fundos mencionados, o da Protecção Ambiental e Conservação Energética foi o que teve uma taxa de execução mais baixa, de 14,3 por cento. Apresentou uma despesa de 3,5 milhões de patacas, apesar do orçamento autorizado ser de 24,56 milhões. Estão também em análise os resultados do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização, que teve uma taxa de execução de 22,6 por cento. Gastaram-se 531,6 milhões de 2,3 mil milhões autorizados.

Fundação Macau | Apoios do terceiro trimestre aumentam 7% ao ano

Os apoios da Fundação Macau referentes ao terceiro trimestre deste ano foram superiores a 514 milhões de patacas, mais 7 por cento em relação ao mesmo período de 2019. Como é habitual, uma larga fatia foi dividida entre as associações tradicionais, enquanto a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau recebeu mais de 72 milhões de patacas. A Casa de Portugal recebeu praticamente o mesmo que no período homólogo de 2019

 

[dropcap]A[/dropcap]pesar do anunciado aperto em relação à atribuição de subsídios da Fundação Macau, a lista de apoios concedidos no terceiro trimestre deste ano mostra um aumento de 7 por cento dos fundos despendidos, para um total de 514,3 milhões de patacas.

Entre as maiores beneficiárias da entidade presidida por Wu Zhiliang contam-se as associações mais tradicionais de Macau, e que se fazem representar em peso na Assembleia Legislativa.

A Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) vai receber no terceiro trimestre deste ano 42,9 milhões de patacas para cobrir os custos das 33 instituições e 46 filiais que a associação opera no território. A FAOM recebeu cerca de 17,3 milhões de patacas a mais em relação ao mesmo período do ano transacto.

Já a União Geral das Associações dos Moradores de Macau (Kaifong) vai ter um impulso nos cofres de 21,3 milhões de patacas para o terceiro trimestre de 2020. Desta verba, pouco mais de um 1 milhão de patacas está destinado ao projecto de remodelação da nova sede da Associação de Beneficência e Assistência Mútua dos Moradores do Bairro da Ilha Verde.

O apoio que os Kaifong recebem da Fundação Macau no período em análise foi cerca de meio milhão superior em 2020.

Outra das forças políticas e sociais que mais recebeu da Fundação Macau no terceiro trimestre deste ano foi a Associação Geral das Mulheres de Macau, totalizando 27,3 milhões de patacas, verba que representa uma quebra de quase 4 milhões em relação ao mesmo período de 2019.

A Aliança de Povo de Instituição de Macau, associação ligada aos conterrâneos da província de Fujian, vai contar com quase 22 milhões de patacas no terceiro trimestre deste ano. Importa referir que existem mais associações financiadas pela Fundação Macau relativas a este bloco demográfico, como a Fu Jian Clãs Associação de Macau, que foi subsidiada em 455 mil patacas e a Associação Geral dos Conterrâneos de Fukien que recebeu 9,9 milhões de patacas.

No total, os grandes blocos associativos tradicionais representaram uma despesa de cerca de 124 milhões de patacas, o que corresponde a quase um quarto do valor total atribuído no terceiro trimestre.

Obras várias

A Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu recebeu no terceiro trimestre de 2020 cerca de 27,1 milhões de patacas, 5,5 milhões referentes à última prestação para aquisição de equipamentos clínicos e informáticos e obras de remodelação do Hospital Kiang Wu. A associação ligada ao hospital privado recebeu perto de menos 10 milhões de patacas no período em análise comparado com 2019.

Outro dos beneficiários típicos dos maiores volumes de dinheiros da Fundação Macau é a Universidade de Ciência e de Macau, que para o terceiro trimestre deste ano recebeu 72,4 milhões de patacas, destino à construção do Edifício para Faculdade da Arte Humana.

No ano passado, as despesas do terceiro trimestre da Fundação Macau tiveram o Centro de Ciência como uma das entidades recordistas em termos de apoios, totalizando 96,8 milhões de patacas. O subsídio que o Centro de Ciência recebeu este ano, para o mesmo período, foi de 45 milhões de patacas, menos de metade do valor de 2019.

Um capítulo com algum peso na lista de apoios publicada ontem no Boletim Oficial diz respeito a despesas com obras. Um dos destaques é o projecto de ampliação da Escola Secundária Kao Ip, para o qual a Fundação Macau atribuiu um subsídio no valor de 20,3 milhões de patacas.

O outro exemplo de gastos com obras em estabelecimentos escolares, ainda mais dispendioso para os cofres da entidade presidida por Wu Zhiliang, foi a renovação dos edifícios Escolares do Colégio do Sagrado Coração de Jesus (secção chinesa). Para custear a primeira prestação da obra, a Fundação Macau entregou às Filhas Canossianas da Caridade mais de 34,9 milhões de patacas.

Em bom português

Passado pouco tempo da polémica que envolveu a Casa de Portugal e a Fundação Macau, em relação ao encerramento antecipado da exposição da World Press Photo, a entidade de matriz portuguesa recebeu um valor aproximado ao do período homólogo de 2019.

A Casa de Portugal recebe no período em análise perto de 5,3 milhões de patacas, 23 mil destinados a financiar o espectáculo “Pontes da Lusofonia”, programa seleccionado para integrar os “Espectáculos da Fundação Macau para os Cidadãos”. No terceiro trimestre de 2019, a associação presidida por Amélia António foi subsidiada com 5,7 milhões de patacas.

O Instituto Português do Oriente terá direito a 95 mil patacas de apoio referente ao terceiro trimestre deste ano, valor substancialmente inferior ao recebido no mesmo período de 2019, quando o subsídio foi de 172 mil patacas, porque serviu para cobrir despesas anuais que tinham ficado em atrasado.

A Fundação Macau atribuiu para o período em análise 347 mil patacas ao Clube Militar de Macau para financiar o plano de actividades do ano corrente, assim como obras de decoração.

Em nome individual, a lista de apoios da Fundação Macau revela a atribuição de 120 mil patacas ao cineasta António Caetano de Faria.

Instituições várias

Em termos de entidades macaenses, na lista de atribuição de apoios do terceiro trimestre de 2020 consta a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, que contou com 585 mil patacas para financiar, entre outros projectos, as despesas do Jardim de Infância D. José da Costa Nunes.

Também o Conselho das Comunidades Macaenses foi contemplado pelos apoios da Fundação Macau, mais precisamente com a atribuição de 990 mil patacas, que financiou a organização do “Encontro das Comunidades Macaenses – Macau 2019”.

Numa perspectiva de acção social, destaque para a Obra das Mães, que recebeu no terceiro trimestre deste ano mais de 6 milhões de patacas. A Cáritas de Macau recebeu quase 5,4 milhões de patacas no terceiro trimestre para custear o plano para prestar serviços de deslocação e 86 mil para despesas da Escola Cáritas de Macau.

A Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), presidida por Jorge Fão, foi subsidiada em 2,1 milhões de patacas durante o terceiro trimestre deste ano, apenas menos 50 mil patacas em relação ao mesmo período de 2019.

Finalmente, destaque para a Associação de Retalhistas e Serviços de Turismo de Macau, que todos os anos organiza o Festival Gastronómico Internacional de Macau. A entidade recebeu 5,35 milhões de patacas no terceiro trimestre deste ano.

Novo Macau elogia Fundação

A Associação Novo Macau, que tem como vice-presidente o deputado Sulu Sou, considera que as alterações nos financiamentos da Fundação Macau são oportunidade para reduzir a dependência do Governo.

“Nunca pedimos qualquer tipo de financiamento da Fundação Macau, nem de outros departamentos do Governo. Mas, temos noção da importância dos subsídios da Fundação Macau para outras associações. É uma boa altura para as pessoas entenderem que não podem estar sempre dependentes do financiamento público para gerir associações e actividades privadas”, disse Sulu Sou.

O legislador indicou também que no encontro de terça-feira, entre o presidente da fundação, Wu Zhiliang, e os deputados, foi revelado que houve várias associações criadas só para obter subsídios e que em vários casos os órgãos dirigentes eram igualmente as pessoas à frente de outras associações financiadas.

IC | Atribuídas quatro bolsas de investigação na área da história de Macau

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) atribuiu quatro bolsas de investigação na área da história de Macau a três investigadores de universidades do interior da China e um investigador português. O trabalho de Pedro Manuel Sobral Pombo, doutor em Antropologia, intitula-se “Macau, do oceano aos arquivos. Documentação sobre Macau e as suas rotas marítimas do século XIX em arquivos no oceano Índico” e versa sobre “os trabalhadores chineses contratados e exportados de Macau para o Ultramar no século XIX”.

Outro dos projectos escolhidos é o “Catálogo de Transportes Marítimos em Macau 1700-1833”, do investigador Paul Arthur Van Dyke, doutorado em História pela Universidade do Sul da Califórnia e actualmente professor catedrático da Universidade Sun Yat-Sen. Zhou Daming, doutorado em Etnologia pela Universidade Sun Yat-Sen, ganhou uma bolsa para realizar o “Estudo sobre os Imigrantes em Macau após 1999”.

O quarto investigador a ganhar uma bolsa do IC é Zhao Xinliang, com o projecto “Estudo sobre as Finanças Públicas de Macau na Era Moderna (1844-1911)”. Este projecto tem como objectivo “a realização de um estudo aprofundado sobre as mudanças e a evolução das finanças públicas da Administração Portuguesa de Macau durante o período de transformação da cidade (1844-1911), bem como a sua relação com o intercâmbio cultural entre Macau, a China e outros países”.

China acusa senadores norte-americanos de mentirem sobre Xinjiang

[dropcap]A[/dropcap] China acusou hoje um grupo de senadores norte-americanos de mentirem, após estes terem proposto declarar Pequim culpada do “genocídio” de muçulmanos na região de Xinjiang, no extremo noroeste do país. A resolução dos senadores acusa Pequim de repressão contra os chineses das minorias étnicas muçulmanas uigur e cazaque e culpa Pequim de levar a cabo um “genocídio”.

A China sofreu, nos últimos anos, vários ataques à bomba e esfaqueamentos atribuídos a separatistas e extremistas uigures, que resultaram na morte de dezenas de civis. Uma vasta região semidesértica, onde os uigures representam quase metade da população, Xinjiang foi convertido num Estado policial, em nome da luta contra o terrorismo.

Mais de um milhão de pessoas foram internadas em campos de doutrinação, segundo organizações de defesa dos Direitos Humanos.

A China afirma que estes campos são “centros de treino vocacional”, destinados a ajudar os uigures a encontrar empregos e afastá-los do extremismo religioso.

“Esses senadores norte-americanos estão empenhados em fabricar todos os tipos de mentiras para desacreditar a China e obter benefícios políticos”, disse Wang Wenbin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, em conferência de imprensa.

“Entre 2010 e 2018, a população uigur de Xinjiang aumentou de 10,17 milhões para 12,72 milhões (…) Em que se baseiam essas acusações de um alegado genocídio”, questionou. Wang culpou antes os Estados Unidos pela “assimilação e massacre em grande escala” dos nativos americanos. “Isso não é um genocídio”, questionou o porta-voz.

A resolução foi apresentada por senadores eleitos de ambos os partidos, Republicano e Democrata.

A ONU define genocídio como um crime cometido “com a intenção de destruir, na totalidade ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”, em particular através de medidas “destinadas a prevenir nascimentos dentro do grupo”.

A China é acusada por um estudo publicado pelo instituto de pesquisa norte-americano Jamestown Foundation de “esterilizações forçadas” em Xinjiang.

Secretário de Estado norte-americano realiza périplo anti-China nas nações do Índico

[dropcap]O[/dropcap] secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, levou hoje a retórica anti-China do Governo de Donald Trump a duas nações insulares do Oceano Índico que Washington considera estarem em risco de ficar reféns de Pequim.

Mike Pompeo está a visitar o Sri Lanka e as Maldivas, para pressionar os dois países a ficarem atentos contra potenciais “armadilhas do endividamento” e investimentos predatórios da China.

A visita ocorre a uma semana das eleições nos Estados Unidos, em que a China é um dos principais temas, com Donald Trump a acusar o candidato rival, Joe Biden, de estar comprometido com Pequim.

Pompeo planeia pressionar o Sri Lanka, as Maldivas e a Indonésia, que visita na quinta-feira, a resistir ao aumento da expansão chinesa no Indo-Pacífico, particularmente através de projetos de desenvolvimento e infraestrutura insustentáveis e suscetíveis de causar um excesso de endividamento, permitindo a Pequim ganhar influência sobre estes países.

No início deste mês, a China anunciou a doação ao Sri Lanka de 90 milhões de dólares para apoiar o desenvolvimento rural.

A China considera o Sri Lanka um elo crítico na sua iniciativa ‘uma faixa, uma rota’, um mega projecto de infra-estruturas que abrange Ásia, Europa e África, e que visa redesenhar o mapa da economia mundial.

O país emprestou milhares de milhões de dólares para a construção de infra-estruturas no Sri Lanka nos últimos dez anos. Os projetos incluem portos, um aeroporto, rodovias e centrais elétricas.

Críticos dizem que os projetos financiados pela China não são financeiramente viáveis e que o Sri Lanka terá dificuldades para pagar os empréstimos.

Em 2017, o Sri Lanka teve de arrendar um porto construído pela China, localizado perto de rotas de navegação estratégicas no Índico, a uma empresa estatal chinesa, por um período de 99 anos, face às dificuldades em reembolsar o empréstimo concedido por Pequim.

Pompeo chegou ao Sri Lanka na terça-feira, depois de uma visita à Índia, onde, em conjunto com o secretário de Defesa norte-americano, Mark Esper, intensificou a mensagem anti-China do governo Trump, numa altura de crescente rivalidade entre Pequim e Nova Deli.

“Os Estados Unidos estarão ao lado do povo da Índia enquanto este enfrenta ameaças à sua liberdade e soberania”, afirmou Pompeo.

“Os nossos líderes e cidadãos veem claramente que o Partido Comunista Chinês não é amigo da democracia, do Estado de Direito, da transparência, nem da liberdade de navegação – a base de um Indo-Pacífico livre, aberto e próspero”, disse.

Poucas horas depois de Pompeo e Esper aterrarem na Índia, o Governo de Donald Trump notificou o Congresso norte-americano sobre os planos de venda a Taiwan de sistemas de mísseis Harpoon, por 2,37 mil milhões dólares.

Os dois territórios separaram-se em 1949, depois de as forças nacionalistas terem fugido para Taiwan, após a derrota na guerra civil chinesa contra os comunistas.

A relação entre a China e os Estados Unidos deteriorou-se também rapidamente, nos últimos dois anos, com várias disputas simultâneas entre as duas maiores economias do mundo, em torno do comércio, tecnologia, a soberania do mar do Sul da China ou questões de direitos humanos. Em Pequim e em Washington, referências a uma nova Guerra Fria são agora comuns.

O gangue do alcatrão

[dropcap]E[/dropcap]m tempos que já lá vão convivi com jornalistas e senti o amor que colocavam no que faziam. O jornalismo tem que se lhe diga quando praticado com a investigação à verdade. Recordo-me do caso Watergate que levou ao fim político de Richard Nixon. Na altura, foi um grande escândalo, o mundo tremeu, a América chorou de vergonha e o mundo ficou a saber que o jornalismo tem muita força quando aborda os temas com surpresa suprema e indiscutível.

Encontrava-me numa mesa de café com amigos quando um deles afirmou: “É pá, isto do Nixon foi uma grande caxa”! “Caxa”? O que era isso, indaguei e explicaram-me que se tratava de uma notícia verdadeira que podia derrubar montanhas. Uma “caxa” era algo que o jornalista apresentava ao chefe e quando lhe mostrava, ouvia logo “Tens a certeza disto? Olha que é muito grave!”. O chefe arriscava e a manchete de jornal provocava que a edição esgotasse. Foi assim ao longo dos anos. Anos que passaram mas que infelizmente cada vez menos nos têm surpreendido cada vez menos por não existirem tantas “caxas”. Há quem diga que os jornais agora são de sociedades multinacionais, que os jornalistas são uns jovens receosos de tudo e todos, ganhando mal e cheios de medo de perderem o emprego. Pode existir menos qualidade no que se lê nas páginas dos jornais, mas vê-se que continuamos a ler jornalistas com um grande nível literato e com histórias que são autênticas “caxas”. Então, o escândalo do ex-juiz Rui Rangel que colocava as namoradas a escrever os acórdãos de um tribunal superior e que não passava de um corrupto que envergonhou todos os magistrados, não foi uma “caxa” que deu brado? As “caxas” continuam a existir e a mostrar ao mundo que o pateta do Trump que tanto mal diz da China, afinal tem uma conta bancária num banco chinês e negócios com a China.

Ao lembrar-me destas histórias das “caxas” conclui que o que tinha acabado de saber, mesmo não sendo jornalista, tinha uma “caxa” na mão e que valia a pena colocá-la ao conhecimento dos meus leitores de Macau, já que em Portugal nenhum jornal faz a mínima ideia do que se passa.

E o que se passa é que no seio da Guarda Nacional Republicana (GNR) anda tudo doido. Trata-se de um gangue de malfeitores profissionalmente organizados que têm ganho milhões de euros em prejuízo de centenas de portugueses. Uma autêntica mafia à qual lhe chamam “o gangue do alcatrão”. Imaginem que acabaram de construir um armazém de grandes dimensões para a guarda de pneus e que ao lado do armazém tem de ter um espeço equivalente a um campo de futebol bem alcatroado para os camiões carregar e descarregar. No escritório aparece-lhe um Alberto qualquer a dizer-lhe que tem uma empresa de alcatroamento e que lhe pode fazer o trabalho de terraplanagem e alcatroamento. Falam em custos e o Alfredo adianta-se logo a elucidar que normalmente as empresas da especialidade levam entre 20 e 50 mil euros conforme a dimensão do terreno, mas que devido à pandemia o negócio tem andado mal e que ele lhe faz o trabalho por cinco mil euros. O empresário esfrega logo as mãos de contente e concorda com a empreitada proposta. No entanto, o Alberto diz logo que lhe terá de pagar adiantado para as despesas de compras de materiais. O empresário concorda e passa um cheque de cinco mil euros. Alberto, informa que no dia seguinte lá estarão as máquinas e que as obras terão início.

Na verdade, no dia seguinte chegam ao local as monstruosas máquinas e camionetas empregues nos trabalhos deste género de alcatroamento de grandes superfícies junto de hipermercados, fábricas, estações de transportes públicos, zonas industriais, arruamentos e até parqueamentos ao redor de estádios de futebol. Os trabalhos decorreram e passadas três semanas, o empreiteiro sobe a escritório para falar com o empresário e apresentar a conta dos trabalhos no valor de 30 mil euros…

– Mas, desculpe, deve haver um grande engano da sua parte, senhor empreiteiro!?
– Não, não me parece que haja qualquer problema. Então, o senhor não encomendou a obra? Eu recebi um telefonema no meu escritório que avançasse com as máquinas para alcatroar toda este seu terreno e foi o que fiz como o senhor assistiu estes dias todos…
– Mas… Mas, desculpe, eu recebi aqui o senhor Alfredo a comunicar-me que tinha uma empresa especializada nestes trabalhos e que me faria a obra por cinco mil euros e até me pediu para lhe pagar adiantado, o que fiz em dinheiro vivo…
– Pois é, meu caro amigo, o senhor foi aldrabado e esse Alfredo é um dos muitos vigaristas que andam por aí a aldrabar centenas de empresários que precisam de ter as suas superfícies alcatroadas… usam sempre o mesmo estratagema… quando veem um local por alcatroar, contactam com o patrão, contam essa mesma história do bandido, mamam a massa adiantada e depois telefonam para as empresas especializadas que avancem para determinado sítio a fim de executar a obra…
– Você nem me diga uma coisa dessas…
– Digo-lhe e mais ainda: isto é o “gangue do alcatrão” que é um polvo enorme que tem andado a por a GNR e a Guarda Civil a entrarem em loucura, porque não conseguem apanhar os fulanos… a vigarice é em Portugal e em Espanha… os fulanos têm ganho uma fortuna milionária… já imaginou as centenas de trabalhos que têm sido feitos nos dois países com um início deste calibre, onde aparece um aldrabão a propor um trabalhinho baratinho e levam logo o dinheirinho adiantado… Isto está muito bem organizado e têm ganho milhões…

*Texto escrito com a ANTIGA GRAFIA

A ver o mar e comboios

Santa Bárbara, Lisboa, domingo, 18 Outubro

 

[dropcap]P[/dropcap]ara onde quer que atire os olhos, para o branco no alcatrão a dizer bicicleta, seta de sentido ou jogo da macaca, para o verde farfalhudo e inusitado da colina, o fragmento recortado de castelo vindo de nenhures para desaparecer, a quadrícula espelhada e funcionária do prédio público, o candeeiro torto, a voluta do puxador no móvel sinuoso, as lombadas hieráticas, enfim, a experiência interior, o resultado acaba sendo o mesmo: vejo-me um belo condutor de paragens de autocarro. De tão quedo, chego até a pensar que vou a lugares.

Horta Seca, Lisboa, segunda, 19 Outubro

Dou por mim a fazer malabarismos com a brasa, a batata quente e o fragmento de lava em está feita a editora, isto enquanto avanço no fio da navalha. Olhar para o abysmo provoca a queda, há que seguir em frente, mesmo sem vislumbrar sítio, lá no horizonte, onde ter pé. Talvez a vida fosse sempre assim, e acreditássemos que os planos tornavam os dias mais sólidos. Nunca assim foi, jamais será. Desato, portanto, a disparar projectos em todas as direcções da frente. Alguns são ideias antigas, de puro interesse pessoal, outros procuram responder às circunstâncias. Disso falaremos adiante, desde que o chão, mesmo entretecido de nós por desatar, não me escape.

O essencial da noite acabou sendo a amizade, mas discutia-se como passar para imagens em movimento uma mudança de pele. E de lugar. A cidade encolhe, a pensar que cresce. E impiedosamente amachuca papéis, destrói monumentos, sacrifica íntimas correspondências com os múltiplos passados. Não voltaremos a ser os mesmos. Tenho brincado com os fins do mundo que vão acontecendo no entorno de cada um, mas percebo agora que se trata disso mesmo. Não estamos entre parêntesis, o caminho risca-se em linhas compostas de três pontos. No carro que me deposita em casa, as vozes da rádio levaram-me a outros tempos, quando a crença ainda fazia parte das ferramentas. Custou-me a adormecer.

Santa Bárbara, Lisboa, terça, 20 Outubro

A generosa insistência do último moicano da tribo da carta manuscrita Tiago [Manuel] trouxe-me a beira-mar, tão rica de cambiantes que parece aquele ouro de cobrir peitos de Viana. Luísa Dacosta, também nesta recolha diarística de «Um Olhar Naufragado» (ed. Asa), descreve como ninguém os múltiplos mares, que aquele atlântico não é sempre o mesmo. «O mar é hoje uma ondulação quebrada de espelhos a reflectir o sol e um céu, alto e claro. Entre céu e mar há como que um balão de luz, transparente, bola de sabão, não irisada. Duas velas, ao longe, dão-me asas e tornam-me gaivota.» Em cada lugar que visita há-de descobrir um rio ou a subtileza das orlas marítimas. «Mar achãozado, sem ondas. Azul clarinho. Quieto, na tarde morrente. Um campo de água, semeado a miosótis.» A volúpia da descrição também a aplica à flora, mais riqueza deslumbrante, a contaminar o vocabulário, jardim de palavras que soube cultivar com esquecida mestria. E à casa, a grande da infância. «Manhã de névoa, perfurada pela ronca, que é para mim um som de búzio e infância. À beirada, a areia tem já um tom quente e solar, mas as águas, quietas, da maré vaza estão prisioneiras da névoa e dos penedos, onde as gaivotas, aninhadas, parecem nenúfares, brancos, de corolas fechadas. Não há linha de horizonte, nem apelos de longe. Só este chamamento, doloroso, constante e incansável.» Passo a mão pelo veludo do detalhe exposto e acuso o toque.

O mano Tiago, na ilustração que abre o volume (algures na página), desenhou rosa cercada por ondas de espinhos, espelhando os tons sensíveis destas páginas líquidas. A morte e a dor são presenças dialogantes, nunca afastadas nem pelas manifestações de afecto, ou pelas retribuições da comunidade escolar, e, sobretudo, dos seus leitores infanto-juvenis de várias idades. Na maré da atenção vem os amigos, a pintura, a actualidade política, os seus autores, Pessanha e Cecília Meireles. (Macau também aparece com a alegria do bom acolhimento, ou não fosse a casa do seu poeta.) E o feminino visto de muitos ângulos, sobretudo os mais negros, tendo o homem por qualquer coisa entre sombra e assombração. A infância desponta a cada frase, irrigando a palavra, que brilha no orvalho, na nuvem, na cor. E a dor, ainda ela.

A relação com os editores está representada tão só na versão amarga, causada pelos inevitáveis atrasos, pela desatenção, agravamentos da sensação partilhada amiúde de que era escritora ignorada. A entrada de um certo 15 de Outubro anuncia: «os livros não irão aparecer! Como me explicou o novo director do departamento, já estava esgotado o lote das saídas. De resto não tinha sido ele a contactar-me porque só há pouco tomara conta do cargo e não fazia parte da programação que tinha elaborado. Além disso era uma autora pouco vendável (não estava em causa a qualidade, claro) e não havia nada a fazer. Há quanto tempo a vida vinha a escorraçá-la e a bater-lhe?» Muito comum na sua prosa, este atravessar da primeira para a terceira pessoa, como que a afastar-se de si para se ver melhor. Luísa Dacosta pagou o preço de ser autora para as infâncias, preconceito que afasta os bem pensantes de cada época, e que, neste caso único, escondeu obra única que se mantém requintada como manhã de litoral. «O meu livro caiu no silêncio e na indiferença», escreve. «Ninguém noticiou. Ninguém disse, ainda, nada.» Ninguém ainda nada parece ser o exacto quotidiano da edição.

Horta Seca, Lisboa, quarta, 21 Outubro

Peguei sem querer no livrinho e logo senti o inverso. Diálogos cortantes a empurrar vertiginosamente uma narrativa de personagens inteiriças, sem sombra de banalidade. Surpresa em texto adulto, que, não sendo sobre nada, cresce à volta do ser mulher, mãe, voz e figura. Talvez gato a rasgar palco com as garras. «Um Tigre à Porta da Sé» (ed. Nova Mymosa), da Mónia [Camacho], obrigou-me a desligar o telefone até saber o que ainda não descobri da cantora marroquina que deseja mudar de pele, de país. Ser daqui. E faz de uma estação de comboios o seu lugar. Para mal dos nossos pecados, contém ainda chefe de estação perplexo, jornalista embeiçado e polícia filósofo. «Todas as vidas têm, num qualquer canto, um jardim. Um oásis. Mas em alguns casos é preciso semeá-lo primeiro. Era isso que ia fazer. / O mundo dobra-se ao meio quando é preciso.» Estou capaz de acreditar, um instante que seja.

A ditadura do prefixo

[dropcap]E[/dropcap]u sei, sei: muitas vezes o leitor duvida dos pequenos episódios que aqui descrevo. Uma conversa aqui, um jantar acolá … Percebo: quem é este fulano que tem uma vida social entre a misantropia e o convívio entre génios?

Bom, esse leitor – que sei ser apenas um e conheço o endereço e estou a caminho – tem razão. Muitas vezes utilizo recortes de conversas que aconteceram ou não apenas para ter a vossa atenção para o que vos quero dizer. Não são mentiras, apenas artifícios de escrita para ganhar a vossa complacência até ao final do texto.

Toda a escrita, digo eu, tem de ser sedução mesmo que – ou se calhar sobretudo…- queira divulgar a mais recente teoria de física quântica.

Só que há alturas em que a realidade e a matéria das palavras escritas coincidem. Isso é que é raro para mim, que não tenho o talento para pescar os pequenos peixes que podem cintilar. Mas enfim, este início foi mesmo verdade, juro. Disse-me um moço amigo de amigos, criatura daquelas a que não se resiste e com quem a conversa se solta facilmente: «Sou um ex-vegan».

Conseguiu explicar tranquilamente, perante as minhas mandíbulas separadas pela incredulidade, que não conseguiu resistir aos prazeres da carne (essa, mas no forno e com uma boa molhanga) e que os seus princípios éticos não foram feridos pela mudança de dieta. Melhor ainda, vivia bem com isso e, acredito, com mais paladar.

Se vos conto isto não é apenas pelo facto do meu interlocutor ter viajado de um lugar de onde eu pensava não ser possível regressar, dada a rigidez das práticas e o dogmatismo das ideias: é sobretudo porque é alguém que vive bem com o recuo – que vive bem com o prefixo, que neste caso é “ex”.

Sabem do que falo, amigos. Esse prefixo é maldoso e pode criar fanáticos. Um ex- fumador, um ex- bebedor, um ex-dependente, um ex-crente sincero de alguma coisa que terá praticado. Há uma tentação imediata de uma vez livres de algo que lhes tolhia a vida passarem ao proselitismo, à negação descabelada, ao paternalismo ou no limite a uma combinação de todos com um toque de moralismo autoritário. São escravos do prefixo.

Daí que seja bonito o que este amigo me contou. “Ex” significa muitas coisas: de fora, sem, antigo. Mas em muitas situações o estar fora é apenas uma oposição ao lugar onde antes se estava. E em outras em que o prefixo é utilizado – exagero, exaltação – é exactamente o contrário. E olhem, o advérbio de modo que acabei de utilizar não me deixa mentir.

A vida, amigos, está semeada com este prefixo: ex-amores, ex-infância, ex-ideais, ex-nós. A ideia da existência assim nos obriga, até o ex final, que se resume a estar ex-vivo. Mas pelo meio e se pudermos tenhamos a força de recuar e duvidar do que o prefixo nos ofereceu. Diria mesmo ser-lhe grato. Porque amigos, quem tem um “ex” qualquer na sua história de vida é sinal disso mesmo: viveu e não necessita de o proclamar porque isso é aquilo que ninguém irá poder tirar, instante após instante. Como esta ex-crónica que o passou a ser a partir de agora mesmo.

IFFAM | Maxim Bessmertny e Sam Leong em destaque nos prémios “Project Market”

“The Darter”, de Sam Leong, e “Marlin”, de Maxim Bessmertny, fazem parte do cartaz de 14 filmes seleccionados para a quinta edição dos prémios “Project Market”, do Festival Internacional de Cinema de Macau, que acontece entre os dias 3 e 5 de Dezembro

 

[dropcap]A[/dropcap] quinta edição dos prémios “Project Market”, que integram o Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa) está de regresso entre os dias 3 e 5 de Dezembro e já são conhecidos os 14 filmes seleccionados para a competição. De Macau, destacam-se as produções “The Darter”, de Sam Leong, e “Marlin”, de Maxim Bessmertny.

Destaque ainda para os filmes “Ash Valley”, de Shu Zhu; “Death’s Bride”, de Antonio Morales; “Fellow Travelers”, de Haolu Wang e “Mars Express”, de Jérémie Perin, entre outros.

Segundo a organização do IFAAM, esta é uma competição que acontece “num período desafiante” e pretende ser “um encontro entre culturas, apresentando uma série de filmes que revelam “um elevado nível de talento e que misturam vários elementos da Ásia e do mundo ocidental”.

Os projectos seleccionados concorrem a prémios pecuniários, sendo o mais elevado o de “Melhor Projecto”, no valor de 15 mil dólares americanos. O prémio mais baixo, no valor de cinco mil dólares americanos, é o “Espírito de Macau” [Macau Spirit Award], que visa “reconhecer o projecto que melhor integra as diferentes culturas” e que tem como objectivo de “celebrar a natureza glamourosa e inclusiva de Macau”. Além dos prémios pecuniários, os realizadores têm a oportunidade de se conhecerem e partilharem experiências. Ao seleccionar estes 14 filmes, o júri teve a preocupação de juntar “talentos já estabelecidos e interessantes novos realizadores”. De frisar que, devido à pandemia, esta edição dos prémios realiza-se online.

Regresso de Mattie Do

Depois de ter participado na primeira edição dos prémios “Project Market”, Mattie Do está de regresso com “Entaglement”, um filme com pinceladas de horror e mistério. Eric Khoo, já distinguido no Festival de Cinema de Cannes, também foi seleccionado com o filme “Prisoners of the Pacific”, onde trabalhou na qualidade de produtor. Junxiang Huang foi o realizador da película. Por sua vez, Christopher Doyle é também um dos nomes presente na lista dos 14 filmes com a comédia “Peaches”, realizada por Jenny Suen.

A ficção científica ganha espaço em filmes como “Fellow Travelers”, produzido por Camille Gatin e realizado por Haolu Wang. “Fellow Travelers” é uma adaptação do conto de Alastair Reynolds, autor britânico nascido em 1966.

Simon Jaquemet “explora a intersecção das emoções humanas e inteligência artificial” com o filme “Electric Chid, enquanto que o francês “Jérémie Perin” traz um filme de ficção científica e género noir intitulado “Mars Express”. Já Shu Zhu apresenta o seu primeiro filme “Ash Valley”, depois de uma série de bem sucedidas curtas-metragens.

Konstantina Kotzamani é outra das realizadoras presentes na lista dos filmes seleccionados para os prémios “Project Market”, com o seu filme de estreia “Titanic Ocean”. Romeo Candido, realizador e produtor filipino e canadiano, integra esta lista com “The Dragon Returns”, um filme que nos traz uma história de fantasia: Bruce Lee é chamado para uma missão importante, a de salvar o seu velho amigo Chuck Norris da prisão.

Hong Kong | Isenção de quarentena para residentes que regressem da China

A partir de Novembro, os residentes de Hong Kong que pretendam voltar ao território a partir do Interior da China estão dispensados de fazer quarentena. A novidade foi avançada por Carrie Lam, no mesmo dia em que confirmou que a “bolha de viagem” com Singapura deverá avançar também no próximo mês

 

[dropcap]P[/dropcap]ode muito bem ser um primeiro sinal de que estão para breve mais medidas de relaxamento nas fronteiras de Hong Kong. A partir de Novembro, os residentes de Hong Kong que estejam no Interior da China, estão dispensados da realização de quarentena de 14 dias aquando do regresso ao território. A medida foi anunciada ontem por Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, avançou o South China Morning Post (SCMP).

Em declarações proferidas antes de uma reunião semanal do Conselho Executivo, Carrie Lam referiu ainda que, apesar da entrada em vigor da isenção, o número de entradas estará sujeito a um sistema de quotas dado que apenas dois postos fronteiriços estão actualmente em funcionamento.

“É um bom começo. Apenas estão operacionais os postos fronteiriços da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e da Baía de Shenzhen, o que quer dizer que o número de hongkongers com permissão de entrada será restrito. No futuro, as fronteiras serão reabertas de uma forma ordeira”, sublinhou Carrie Lam, de acordo com o SCMP.

Referindo-se ao esforço que está a ser feito para relançar o sector do turismo através do retorno progressivo de visitantes a Hong Kong, a responsável partilhou também a esperança de vir abrir mais fronteiras em breve.

No entanto, lembrou que essa será sempre uma decisão que está dependente da cooperação com as autoridades do Interior da China.

“Estamos a trabalhar arduamente, ouvindo as preocupações de todas as partes envolvidas no sector turístico. Quanto à travessia de fronteiras entre Hong Kong e a China, é necessário que haja consentimento mútuo, porque tecnicamente estamos prontos”, acrescentou Carrie Lam.

Recorde-se que, à excepção de três, todos os postos fronteiriços da região vizinha estão encerrados desde Fevereiro e, desde então, todos os visitantes provenientes da China, Macau e Taiwan estão obrigados a fazer uma quarentena de 14 dias para entrar em Hong Kong.

Bolha de felicidade

Carrie Lam confirmou ainda que a bolha de viagem entre Hong Kong e Singapura, que permitirá a circulação entre os dois territórios sem que para isso seja necessária a realização de quarentena, deverá ser uma realidade já no próximo mês de Novembro.

De acordo com a Chefe do Executivo de Hong Kong, para circular entre os territórios, o viajantes terão apenas de apresentar um resultado negativo no teste à covid-19, não sendo impostas quaisquer restrições acerca do motivo das viagens.

IAS | Registados 34 casos de vício de jogo no primeiro semestre

Na primeira metade do ano houve menos pedidos de ajuda por indivíduos afectados pelo vício do jogo, e foram também menos os casos de jogadores com dívidas. Embora a percentagem de casos ligeiros tenha aumentado, os de grau elevado desceram para 17,24 por cento

 

[dropcap]A[/dropcap] Casa de Vontade Firme do Instituto de Acção Social (IAS) registou 34 casos de pessoas afectadas pela dependência do jogo entre Janeiro e Junho deste ano. É uma descida de 44,3 por cento, comparativamente ao mesmo período de 2019, em que tinham pedido ajuda 61 pessoas.

Desde 2011 que não se registava uma percentagem tão baixa dos jogadores sinalizados com dívidas. Os dados do IAS revelam que no primeiro semestre do ano, 55,88 por cento dos casos envolviam pessoas com dívidas. No mesmo período do ano passado, a percentagem de pessoas nesta situação era de 75,41 por cento.

O quadro com os dados de Janeiro a Junho de 2020 mostra que, de entre os endividados, 5,26 por cento tinha entre 250 mil e 500 mil patacas por liquidar, e cerca de 47 por cento devia montantes entre as 100 mil e as 250 mil patacas. Mais de um quinto das pessoas que pediram ajuda gastaram em média entre 10 mil e 50 mil patacas por mês no jogo. Uma percentagem que aumentou comparativamente ao ano passado, tal como a de quem gastou entre cinco a 10 mil patacas.

Importa referir que o volume de pessoas que recorreram ao jogo principalmente para desanuviar foi de 20,27 por cento. Por outro lado, a percentagem de quem o faz para a resolução de problemas financeiros baixou a fasquia dos 20 por cento, enquanto 16,22 por cento joga por entretenimento.

Sobressai a quantidade de casos de residentes envolvidos – mais de 97 por cento dos indivíduos tinha bilhete de identidade da RAEM. É o volume mais alto de entre os anos apresentados nesta tabela do registo central, com dados desde 2011. Também aumentou de 10 para 26,47 por cento a percentagem de indivíduos que reside em Macau entre dez a vinte anos. Cerca de 70 por cento dos casos reportados na primeira metade deste ano são homens.

A faixa etária entre os 30 e os 39 anos foi a que mais procurou ajuda junto do IAS devido à dependência do jogo. As informações disponibilizadas dão ainda a conhecer que comparativamente ao cômputo geral de 2019 há mais menores de idade a procurar apoio, num volume de 2,94 por cento.

Menos casos graves

Dos 34 jogadores sinalizados pelo IAS, verifica-se uma quebra da percentagem de casos graves de distúrbio do jogo – tanto em comparação com o período homólogo de 2019 como com o ano passado no geral – para 17,24 por cento. Por outro lado, os casos de vício do jogo de grau ligeiro aumentaram, assim como os de grau moderado.

São visíveis mudanças em relação à situação de trabalho dos jogadores. Cerca de 20,6 por cento eram estudantes, domésticos ou aposentados, um volume maior do que os 8,18 por cento do ano passado. A subida destas situações foi acompanhada da descida para 67,65 por cento de quem está empregado.

O bacará manteve-se como o jogo mais popular, sendo o preferido de metade dos indivíduos. Foi seguido pelas máquinas de póquer, cuja utilização aumentou para 11,36 por cento. As apostas no futebol e basquetebol surgem depois, bem como o Sic Po Cussec, que perdeu popularidade.

Justiça | TSI decidiu que um trabalhador foi despedido sem justa causa

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) decidiu que uma associação despediu um trabalhador sem justa causa, havendo lugar a indemnização. Depois de cerca de oito anos de serviço, o médico foi despedido sem lhe ser dada explicação. De acordo com um comunicado do gabinete do presidente do Tribunal de Última Instância, o trabalhador apresentou queixa junto da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais por falta do pagamento de indemnização de antiguidade por despedimento sem justa causa.

O Tribunal Judicial de Bases condenou a associação a uma multa de 7.500 patacas por uma contravenção, bem como ao pagamento de uma indemnização de 187.000 patacas ao trabalhador. A decisão motivou um recurso da associação para o TSI.

Nesta instância, considerou-se que houve um erro na apreciação das provas, e que o empregador alegou ter cessado o contrato por o trabalhador ter cometido erros várias vezes. Mas este factor não teve influência na decisão. O TSI entendeu que o importante era se o fim da relação laboral seguiu as regras, e não a explicação oral do recorrente. Sem a notificação da explicação, o despedimento era considerado injustificado.

Assim, o tribunal decidiu manter a contravenção. Como o empregador tinha pago um mês de salário de compensação, o TSI permitiu o desconto de 33.800 patacas no pagamento da indemnização.

Macau perdeu 11.801 TNR desde Janeiro

Entre Janeiro e Setembro, Macau perdeu 11.801 trabalhadores não residentes, havendo actualmente 181.697 a viver no território. Só o sector hoteleiro conta agora com menos 7.400 bluecards. Entretanto, sessões de apoio da DSAL resultaram na contratação de 170 residentes

 

[dropcap]D[/dropcap]e acordo com o relatório mensal da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), Macau contava até ao final de Setembro com 181.697 trabalhadores não residentes (TNR), ou seja, menos 11.801 relativamente a Janeiro, altura em que estavam em Macau 193.498 trabalhadores com bluecard.

Segundo os dados publicados ontem pela DSAL e divulgados pela TDM-Rádio Macau, a descida mais acentuada registou-se no ramo dos “hotéis, restaurantes e similares” que, entre Janeiro e Setembro, perdeu, no total, 7.410 bluecards, contando agora com 47.497 trabalhadores.

Quanto ao número de empregados domésticos, no final de Setembro existiam 29.218, representando uma queda de 1705 relativamente desde o início do ano. A perda de TNR foi sentida também noutros ramos, como as “actividades culturais e recreativas, lotarias e outros serviços” (menos 1.268), “comércio por grosso e a retalho” (menos 990), “transportes, armazenagem e comunicações” (menos 897), “indústrias transformadoras” (menos 454) e “actividades imobiárias e serviços prestados às empresas” (menos 429).

Em sentido contrário registou-se um aumento no número de TNR nos sectores da “construção” (mais 1335), “saúde e acção social (mais 110) e “actividades Financeiras” (mais 13).

Contas feitas, em termos anuais, no final de Setembro, o número de TNR era de 181.697, menos 11.773 relativamente a Setembro de 2019, altura em que estavam 193.470 TNR no território.Afunilando a análise quanto à proveniência, o Interior da China continua a ser o principal “fornecedor” de mão-de-obra importada de Macau, sendo naturalmente onde se registaram também as maiores quebras. Assim sendo, dos actuais 181.697 TNR em Macau, 114.594 são da China, 31.673 das Filipinas e 12.708 do Vietname, com a maioria a trabalhar em hotéis, restaurantes e similares (47.497) e na construção (27.451).
Recorde-se que, desde Março, está em vigor a medida que proíbe a entrada de estrangeiros em Macau.

Equilibrar a balança

Através de um comunicado divulgado ontem, a DSAL revelou também que, no total, 170 residentes conseguiram emprego após participarem nas oito sessões de apoio ao emprego promovidas pelo organismo entre 3 de Setembro e 8 de Outubro.

“Foram registados um total de 400 participantes, dos quais 170 foram contratados através da entrevista in loco, representando uma taxa de sucesso de 42,5 por cento”, pode ler-se numa nota oficial.

Segundo a DSAL, das profissões fazem parte empregados administrativos, recepcionistas de hotéis, vendedores, empregados de mesa, consultores de beleza, cozinheiros, seguranças, empregados de limpeza, auxiliares de construção civil, entre outros.

Adicionalmente, o organismo refere que a remuneração das profissões “está em conformidade com o nível do mercado de trabalho” e que, durante as sessões, foi ainda prestado aconselhamento sobre técnicas de entrevista e enviado pessoal para fiscalizar as entrevistas, a fim de dar apoio na procura de emprego aos candidatos que pretendem trabalhar naquelas profissões.

Preocupação sobre entradas barradas é questão colocada “a nível pessoal”

[dropcap]A[/dropcap] proposta de alteração à lei de bases de segurança interna começou ontem a ser discutida na especialidade pela 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) e, de acordo com o seu presidente, Chan Chak Mo, a possibilidade de rever o diploma a fundo é um cenário que irá depender apenas da vontade do Governo. Isto, os artigos sobre os critérios que permitem barrar a entrada de pessoas ao chegar a Macau não foram discutidos durante a reunião.

“Não houve discussão, mas houve um deputado que propôs a possibilidade de alterar toda a lei de bases, por exemplo quanto ao impedimento de entrada nas fronteiras. Como essa possibilidade não foi discutida cabe ao Governo fazer essa alteração, se for necessário. A questão foi colocada a nível pessoal, durante a reunião, por um dos deputados”, frisou Chan Chak Mo.

Aprovada na generalidade no passado dia 16 de Outubro, a proposta do Governo tem como objectivo principal articular com o novo Regime da Protecção Civil, através de ligeiras modificações, tais como a alteração da designação de alguns serviços públicos, actualização das competências e transferência do comando das operações para o secretário para a Segurança, quando anteriormente essa responsabilidade era do comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários (SPU).

Sinais do tempo

Recorde-se que o diploma aprovado na generalidade mereceu os votos contra de Sulu Sou, Ng Kuok Cheong e Au Kam San, por não ser claro quanto aos critérios que permitem barrar a entrada de pessoas nas fronteiras. Dirigindo-se na altura a Wong Sio Chak, Sulu Sou apontou que se perdeu uma oportunidade para rever, a fundo, um diploma criado há 18 anos, que tem vindo a ser utilizado para impedir a entrada em Macau de activistas, jornalistas, académicos, juristas e escritores.

No mesmo dia, o deputado vincou ainda que, enquanto não for revista, a lei vai continuar a ser alvo da comunidade internacional. Em resposta, o secretário para a Segurança garantiu que Macau segue as práticas internacionais quando a polícia não indica as razões concretas que estão por trás das interdições de entrada.