Dakar | Leiriense mantém viva a tradição sino-portuguesa no automobilismo

Terminou na sexta-feira passada, em Jeddah, o rali Dakar 2021, a prova rainha de Todo-o-Terreno que já não percorre o trajecto de Paris à capital senegalesa, mas este ano disputou-se ao longo de 8000 quilómetros, divididos por 12 etapas, inteiramente na Arábia Saudita. A dupla portuguesa Ricardo Porém/Jorge Monteiro, a única nos automóveis, chegou com sucesso ao fim da prova, com a particularidade de o ter feito ao volante de um carro de uma marca chinesa, seguindo uma tradição

 

Ao volante de um Borgward BX7 DKR Evo, um carro que foi construído na Holanda há dois anos, tendo como base o Mitsubishi Racing Lancer, a dupla portuguesa terminou a prova na 20.ª posição da geral. “Estamos naturalmente satisfeitos com o resultado alcançado. A Wevers Sport e a Borgward Rally Team prepararam-nos uma viatura que conseguiu superar uma prova como o Dakar sem um único problema mecânico nos mais de 8,000 quilómetros de corrida, sendo que todos os problemas que o Borgward sentiu, fruto da dureza das etapas, foram prontamente resolvidos por esta equipa fantástica que me acompanhou na prova”, disse o piloto de Leiria.

Com mais de quarenta e quatro horas de competição, a edição 2021 do rali Dakar foi vencida nos automóveis pelo francês Stéphane Peterhansel (MINI), enquanto que o argentino Kevin Benavides (Honda) tornou-se o primeiro sul-americano a vencer nas motas. A representação chinesa esteve particularmente bem nos automóveis, com os três BAIC oficiais a terminarem a prova classificados na 13ª, 14ª e 15ª posições da geral, com a dupla Binglong Lu/Wenke Ma a serem os melhores iniciados na prova. O buggy SMG pilotado por Wei Han, a maior estrela do todo-o-terreno chinês e que conta com o apoio do maior construtor automóvel privado chinês, a Geely, terminou no 18º lugar.

O rali Dakar é das poucas provas internacionais em que os construtores de automóveis chineses se aventuram com regularidade. O Borgward BX7 DKR foi construído como ferramenta promocional a pensar na prova, isto quando a marca alemã falida em 1961 foi ressuscitada pela Foton Motor, uma subsidiária do BAIC Group. O objectivo era vender 800,000 viaturas por ano, mas este nunca foi concretizado. Após mais de 4 mil milhões de yuans de prejuízo e de ter feito um investimento inicial da mesma ordem, a Foton decidiu vender dois terços da sua participação à Ucar, uma empresa chinesa de partilha e aluguer de curta duração de automóveis.

O construtor fundado em 1929 concentra agora a maior parte das suas vendas na China, onde terá vendido 5,000 unidades na primeira metade de 2020. Na Europa apenas tem uma concessionária no Luxemburgo. O escritório central na Alemanha fechou portas e o projecto do SUV eléctrico terá sido cancelado. O facto do fundador da Ucar, Charles Zhengyao Lu, estar a ser investigado pelos negócios da Luckin Coffee, não abona a favor do futuro da marca.

O resultado de Ricardo Porém com certeza não irá mudar o futuro da Borgward, mas pelo menos deixou um registo positivo de uma marca chinesa entre os adeptos e entusiastas europeus.

Outros feitos

Apesar da curta história da indústria automóvel chinesa no automobilismo, a verdade é que a combinação “carro chinês-piloto português” tem dado bons resultados. Com mais de uma década e meia de participações no Dakar, a primeira, e única até aqui, etapa vencida por um carro chinês aconteceu em 2014 pelas mãos de um piloto português. Carlos Sousa venceu a primeira etapa da 33ª edição do rali Dakar, quando este ainda se disputava na América do Sul, ao volante de um Haval da Great Wall Motors, um feito nunca mais igualado.

Os pilotos portugueses de Macau também têm dado um contributo precioso para o sucesso das marcas chinesas no desporto. Rodolfo Ávila foi vice-campeão do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC) pela SAIC Volkswagen e foi vice-campeão do Campeonato TCR China com o único carro da categoria construído na China Interior, o MG6 XPower TCR. André Couto venceu a sua única prova do CTCC também com um SAIC Volkswagen, enquanto que Helder Assunção conquistou a Taça da Corrida Chinesa do 64ª edição do Grande Prémio de Macau, um troféu monomarca para os Senova D50 “Made in China”.

Cinemateca | Filmes indonésios em destaque até ao fim do mês

A Cinemateca Paixão anunciou o cartaz do programa “Cinema Asiático Hoje” que decorre em paralelo com as selecções de Janeiro. Ao todo, serão exibidas quatro obras produzidas na Indonésia, que partem em busca da definição de herói, com e sem capa, na aridez do campo, na cidade e com mais ou menos fantasmas

 

Há heróis de capa e espada e outros que acabam por sê-lo para sobreviver, ensombrados. Focado no cinema indonésio, a Cinemateca Paixão anunciou o cartaz do programa “Cinema Asiático Hoje”, mostra que inclui quatro obras focadas na temática do herói, e todas as suas facetas. Os filmes serão exibidos na sala de projecção da Travessa da Paixão até ao final do mês, paralelamente com as já anunciadas selecções de Janeiro.

Produzido por Eddie Cahyono em 2014, “Siti” pinta em tons de preto e branco a história de um dia na vida de Siti, uma mulher de 24 anos que “faz das tripas coração” para cuidar do filho, da sogra e do marido, incapacitado após sofrer um acidente enquanto pescava. Isto tudo, enquanto segura dois empregos para conseguir pagar dívidas e suportar a família. Se de dia é vendedora de bolachas em Parangtritis, no Sul da ilha de Java, de noite, Siti trabalha como guia de karaoke. Contudo, novos dilemas impõem-se nesta periclitante ginástica diária, quando o marido de Siti condena a vida nocturna que leva e decide deixar de lhe falar. Siti conhece um polícia disposto a casar com ela e fá-la hesitar.

“Siti” será exibido na Cinemateca na próxima quarta-feira (19h30) e no dia 28 de Janeiro (21h30).
Também da Indonésia, mas fruto de uma co-produção que adicionou contributos franceses, malaios e tailandeses, chega “Marlina the Murderer in Four Acts”, um drama com trejeitos de western que testemunha a vida sofrida de uma viúva que, para se defender, é forçada a matar. Ao longo de um penoso e assombrado caminho de redenção, a ilha de Sumba serve de cenário para quatro actos tão heróicos quanto áridos e desafiantes, onde a figura feminina e os direitos das mulheres estão no centro da equação.

Da autoria da realizadora indonésia Mouly Surya, “Marlina the Murderer in Four Acts” poderá ser visto na Travessa da Paixão no próximo domingo (19h00) e no dia 27 de Janeiro (19h30).

Como na BD

Lançado em 2019, “Gundala” tem o condão de repescar a fórmula de sucesso dos heróis com super-poderes e uniforme a condizer, enquadrando-a com as disparidades sociais, ascensão criminal e dificuldades em arranjar emprego sentidas na pele por uma população de Jacarta cada vez menos esperançosa. Perante um sistema viciado e depois de ter sido atingido por um trovão, Sancaka, órfão que perdeu o pai durante um motim, desenvolve a capacidade de expelir raios eléctricos pelas próprias mãos, decide lutar pelos direitos dos oprimidos, cada vez em maior número e vontade de rebelião.

Inspirado na banda desenhada de sucesso com o mesmo nome lançada em 1981, “Gundala” pode ser visto na Cinemateca Paixão na próxima quinta-feira (19h00) e no dia 29 de Janeiro (19h30).

Por fim, o foco no cinema produzido na Indonésia termina com “The Golden Cane Warrior”, uma epopeia centrada nos conceitos de lealdade, integridade, ambição e traição, onde dois aprendizes de uma poderosa e ancestral arte marcial partem em busca de uma relíquia bélica que caiu nas mãos erradas.

Realizado por Ifa Isfansyah, “The Golden Cane Warrior” será exibido na Cinemateca Paixão na próxima sexta-feira (19h00) e no dia 31 de Janeiro (16h30).

Recorde-se que até ao final do mês, o cartaz da Cinemateca Paixão inclui ainda exibições de obras provenientes dos quatro cantos do globo, com destaque para “Never Rarely Sometimes Always” (EUA e Reino Unido), o filme de animação “Waltz with Bashir” (Israel, França e Alemanha), “Bamboo Theatre” (Hong Kong), “True Mothers” (Japão), “The Woman Who Ran” (Coreia do Sul) e “Undine” (Alemanha e França).

Festival de Veneza | Bong Joon Ho, realizador de “Parasitas”, preside ao júri     

O realizador sul-coreano Bong Joon Ho vai presidir, em Setembro, ao júri do 78.º Festival Internacional de cinema de Veneza, em Itália, anunciou a direcção. “Como presidente do júri – e mais importante, como um eterno cinéfilo – estou pronto para contemplar e aplaudir todos os óptimos filmes seleccionados pelo festival”, disse o realizador de “Parasitas”, em comunicado.

O festival de cinema de Veneza decorrerá de 1 a 11 de Setembro e o júri, que Bong Joon Ho vai presidir, atribuirá vários prémios aos filmes da competição, entre os quais o Leão de Ouro.

Bong Joon Ho, 51 anos, fez os primeiros filmes na década de 1990, contando na filmografia com obras como “Memories of murder” (2003), premiado em San Sebastian (Espanha), “The Host – A criatura” (2006), “Mother – Uma força única” (2009), ambos estreados em Cannes (França).

Em 2013 assinou a primeira produção internacional, com elenco ocidental, com “Snowpiercer – O expresso do amanhã” (2013), seguindo-se “Okja” (2017), o filme que causou polémica por ter estreado em Cannes e apenas na plataforma Netflix.

A consagração internacional deu-se com “Parasitas” (2019), uma comédia, tragédia sul-coreana, reflexão sobre ricos e pobres e diferenciação social, que em 2020 conquistou vários prémios, entre os quais a Palma de Ouro em Cannes, e fez história nos Óscares, porque nunca antes um filme estrangeiro tinha vencido o prémio de melhor filme. “Parasitas” venceu ainda os Óscares de Melhor Realização, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Argumento Original.

Habitação económica | Pedida intervenção do Governo sobre queda de azulejos

As deputadas Agnes Lam e Ella Lei querem que o Governo se responsabilize e intervenha nos casos de queda de azulejos registados no Edifício do Lago e no Edifício Ip Heng, empreendimentos destinados à habitação económica.
Agnes Lam aponta que os casos resultam de uma “óbvia” falta de qualidade do desenho dos edifícios e de falhas ao nível da supervisão, construção e vistorias. Dado que o Governo é um dos proprietários dos edifícios e que, por isso, tem de pagar anualmente os custos afectos à manutenção, a deputada questiona se o Executivo tem participado activamente nas obras de reparação dos imóveis e se tem dado apoio à gestão do condomínio.

Já em declarações ao jornal Ou Mun, Ella Lei recorda que os dois edifícios foram recentemente inaugurados pelo Executivo e que o Instituto de Habitação (IH) apontou que os proprietários têm de responsabilizar-se pela reparação das partes comuns dos edifícios, visto que já não se encontram cobertos pelo prazo de garantia.

Aproveitando o balanço, Ella Lei referiu ainda que o Governo deve “melhorar a qualidade das obras públicas e das grandes infra-estruturas”, apontando ter recebido queixas de vários empreiteiros. Segundo a deputada, o Governo deve melhorar os moldes em que são feitos os concursos públicos e a supervisão das obras de grande envergadura, dado que, muitas vezes, o desenho inicial dos projectos acaba por não ser respeitado, nomeadamente ao nível do orçamento e da utilização de materiais.

Hospital das Ilhas | Instituto de Enfermagem do Kiang Wu foi suspenso

O plano de entrega do Edifício Pedagógico de Enfermagem do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas ao Instituto de Enfermagem Kiang Wu foi suspenso. Os Serviços de Saúde comunicaram que o aproveitamento do edifício será revisto, sem adiantar de que forma

 

O único edifício do Hospital das Ilhas que está construído vai ter um novo destino. Os Serviços de Saúde comunicaram que vão “rever e reorganizar” o Edifício Pedagógico de Enfermagem e que a entrega do prédio ao Instituto de Enfermagem Kiang Wu foi suspensa. Num comunicado publicado no final da semana passada, os SS asseguraram que o Governo “atribui grande importância” ao desenvolvimento da educação na área.

“Para aproveitar ao máximo o Edifício Pedagógico de Enfermagem do Complexo de Cuidados de Saúde, dar-lhe uma maior eficiência e para que este possa melhor desempenhar o seu papel, os Serviços de Saúde vão proceder à revisão, e reorganização do edifício para lhe dar maior desenvolvimento”, diz a nota. Não são especificadas as mudanças em causa.

Estava previsto que o edifício pedagógico de enfermagem fosse gerido pelo Instituto de Enfermagem Kiang Wu.
Na página electrónica da escola de enfermagem do Kiang Wu, a construção e mudança para um novo campus no Complexo das Ilhas é incluída no plano de desenvolvimento decenal, apontando que a área de construção é o quádruplo dos dois campus existentes.

De acordo com o canal chinês da TDM Rádio Macau, a directora do Instituto de Enfermagem Kiang Wu disse que as instalações actuais de ensino são aceitáveis, e espera que haja no futuro mais locais para actividades e desporto. Em conferência de imprensa na passada quinta-feira, a responsável indicou que a suspensão da entrega do edifício talvez se deva ao Governo precisar dele para utilização própria. “Segundo o plano, devíamos ter mudado para lá no ano passado. No entanto, devido a vários factores, sobretudo a pandemia, se calhar o Governo tem outras ideias”, disse Van Iat Kio.

Desenvolvimento incerto

Nas Linhas de Acção Governativa é indicado em que em 2020 deu-se início a um inquérito sobre as circunstâncias em que os residentes recorrem a serviços médicos e o nível de protecção da saúde, bem como o estudo de viabilidade dos modelos de funcionamento do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas. Para este ano, estão estipulados apenas preparativos da fase inicial para o funcionamento do Hospital das Ilhas, a par do fortalecimento de cooperação entre instituições públicas e privadas.

Recorde-se que no ano passado, o Edifício Pedagógico de Enfermagem foi estreado devido à pandemia. O edifício com capacidade para 192 camas recebeu doentes recuperados em quarentena e pessoas de alto risco ou de contacto próximo com infectados. Pelo menos, 26 pessoas foram encaminhadas para as instalações.

Carnaval do Consumo | Transacções na península ultrapassam 740 milhões

A iniciativa “Carnaval de Consumo na Zona Centro e Sul e na Zona Norte 2020”, que terminou ontem, gerou até 10 de Janeiro transacções num montante que ultrapassou 740 milhões de patacas, o dobro do registado em 2019.

A medida, promovida pela Direcção dos Serviços de Economia (DSE), em parceria com a Federação da Indústria e Comércio de Macau Centro e Sul Distritos e a Associação Industrial e Comercial da Zona Norte, teve como objectivo impulsionar o consumo comunitário e apoiar as pequenas e médias empresas (PME). Nesta área do território participaram 15 mil lojas, o dobro dos estabelecimentos aderentes em 2019.

Os residentes que fizeram compras superiores a 68 patacas, usando plataformas de pagamento electrónico em lojas designadas, não incluindo hotéis, casinos e centros comerciais de grande dimensão, habilitaram-se à oferta de “cupões de consumo electrónico para consumo nas PME”, num valor total superior a 8 milhões de patacas. O montante foi deduzido automaticamente após o pagamento do próximo consumo. Esta segunda compra fez circular 140 milhões de patacas em lojas da península de Macau.

O Carnaval do Consumo das Ilhas terminou no fim de Outubro do ano passado, contou com a participação de 16 mil lojas e gerou transacções num valor superior a 860 milhões de patacas.

A DSE relembra que decorre até 28 de Fevereiro de 2021 o prazo de utilização dos cupões de consumo electrónicos das PME.

Casinos | Mercado de massas volta a suplantar jogo VIP em 2020

Pelo segundo ano consecutivo, as receitas do segmento de massas dos casinos de Macau foram superiores às receitas do jogo VIP. Num ano atípico, que registou quebras anuais de 79,3 por cento, o segmento de massas representou 56,6 por cento das receitas brutas de jogo

 

Se 2019 foi a excepção à regra, 2020 confirmou definitivamente a tendência ascendente do mercado de massas. Pelo segundo ano consecutivo, as receitas de jogo do mercado de massas suplantaram as do segmento VIP, representando 56,6 por cento do total das receitas brutas de jogo, que se fixaram em 60,44 mil milhões de patacas em 2020.

De acordo com dados divulgados na passada sexta-feira pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), o segmento de massas, incluindo todas as modalidades de jogo, gerou 34,16 mil milhões de patacas ao longo de 2020. Por seu turno, o jogo VIP, materializado, segundo a DICJ, na modalidade “Bacará VIP”, foi responsável pelos restantes 26,28 mil milhões de patacas (43,4 por cento).

O ano de 2019, altura em que as receitas brutas de jogo se fixaram em 292,45 mil milhões de patacas, marcou definitivamente o momento de viragem no panorama da indústria do jogo em Macau, confirmando, através de uma preponderância acima dos 50 por cento, a tendência de crescimento do mercado de massas. Isto porque em 2019, o segmento de massas gerou 157,22 mil milhões de patacas (53,8 por cento), contra as 135,22 mil milhões de patacas (46,2 por cento) geradas pelo segmento VIP.

Voltando a 2020, a análise do segmento VIP por trimestre mostra uma recuperação à medida que o ano se foi aproximando do fim, facto que estará intimamente relacionado com a retoma de emissão de vistos turísticos, individuais e de grupo, para vir a Macau, desde o Interior da China, a partir do dia 23 de Setembro.

Se no primeiro trimestre de 2020, o melhor do ano, o segmento VIP foi responsável por gerar 12,15 mil milhões de patacas, à medida que as restrições relativas à pandemia de covid-19 foram apertando, as receitas foram caindo. Contas feitas, o segmento VIP gerou 1,50 mil milhões de patacas no segundo trimestre, 2,34 mil milhões no terceiro trimestre e, por fim, 7,62 milhões de patacas no quarto trimestre.

Também de acordo com os dados revelados pela DICJ, no final de 2020, Macau contava, no total dos 41 casinos do território, com 6.080 mesas de jogo e 8.960 máquinas de jogo.

Pouco auspicioso

Com o ressurgimento de novos casos de novos casos na China e os pedidos emitidos pelas autoridades do Interior e de Macau, no sentido de desencorajar viagens desnecessárias durante o período do Ano Novo Chinês, as festividades, que até aqui eram alvo de grande esperança para o sector turístico, não deverão trazer a recuperação almejada pela indústria do jogo. Nem tão pouco a perspectiva parece ser melhor para os meses que se seguem.

De acordo com um investidor do mercado junket, citado pelo portal GGR Asia, o sector “está preparado para o pior”, dado que existem ainda muitas incertezas quanto à estabilização da pandemia e que, a partir do dia 1 de Março, entra em vigor uma nova lei no Interior da China que implica novas restrições para a movimentação de fundos destinados ao jogo para fora do país.

“Definitivamente isto não são boas notícias para o segmento VIP. Esta medida vai afectar alguns jogadores, nomeadamente ao nível da facilidade de acesso a fundos de jogo”, afirmou o investidor.

Um responsável do casino do Ponte 16 disse à mesma fonte prever que, na melhor das hipóteses, em 2021, as receitas brutas do segmento VIP possam registar valores entre os 15 e os 20 por cento relativamente aos montantes registados antes da pandemia.

Deputados à AR exigem plano de vacinação para embaixadas e consulados

José Cesário e Carlos Gonçalves, deputados à Assembleia da República (AR) pelo Círculo Fora da Europa, questionaram o Governo português sobre a necessidade de o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) criar um plano de vacinação para os funcionários e diplomatas da rede de embaixadas e consulados em todo o mundo.

Ao HM, José Cesário adiantou que o Executivo está a trabalhar num plano, mas que são necessários resultados a curto prazo. “Sei que têm estado a trabalhar nisso, tenho essa informação, mas não quisemos deixar de manifestar essa necessidade, porque os nossos postos têm estado sob enorme pressão.”

“Há muita gente, portugueses e não só, que precisam de viajar, pelo que há um contacto permanente com os postos consulares, tem havido problemas sociais em vários sítios, muitos funcionários que têm tido contactos com muita gente. Portanto, numa fase em que se começa a generalizar a vacinação o Estado tem de definir critérios e um plano para fazer chegar a vacina às pessoas, ou para que localmente elas possam ser adquiridas, mas essa é uma questão que depende de país para país”, adiantou.

Incluir externos

Portugal tem, neste momento, 120 postos consulares pelo mundo [onde se inclui o consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong], pelo que “cada caso é um caso”, descreve José Cesário, que chama a atenção para a necessidade de protecção de funcionários externos.

“O MNE não pode deixar de ter um plano que inclua a vacinação a toda a gente, desde o diplomata até ao auxiliar, incluindo os prestadores externos de serviços que são bastante importantes em alguns postos.”

“Há casos de pessoas contaminadas e se os diplomatas têm seguro de saúde, mais ou menos eficaz, os restantes funcionários não têm. Quem está fora do espaço da União Europeia tem de suportar essas despesas inerentes aos tratamentos”, frisou.

Na questão colocada ao Governo, os deputados pediram também dados relativos aos anos de 2019 e 2020 sobre o número de documentação emitida, tal como cartões de cidadão ou passaporte, entre outras informações.

Relatório | Governo diz que Washington falha na sua própria governação

O Executivo de Ho Iat Seng reagiu ao relatório anual do Congresso norte-americano sobre a China, que incide sobre Macau, argumentando que o documento ignora factos e que Washington “falha na sua própria governação”. O relatório enumera casos como a proibição da exposição fotográfica em memória do Massacre de Tiananmen e a falta de progresso democrático

 

“Falha na sua própria governação, mas critica os assuntos internos de Macau. Esta prática de jogar com dois pesos e duas medidas é ridícula e impopular.” Foi assim que o Gabinete de Comunicação Social respondeu ao relatório anual de 2020 da Comissão Executiva do Congresso dos Estados Unidos da América para a China, que, como é hábito, dedica alguma atenção a Macau.

O Executivo alega que o relatório do Congresso norte-americano “ignora os factos” e merece firme oposição. Além disso, o Governo refere a obtenção de “grandes êxitos”, “reconhecidos mundialmente”, com destaque no ano passado para a resposta à pandemia.

O órgão legislativo norte-americano também repete no relatório relativo a 2020 algumas críticas feitas no ano anterior, nomeadamente a falta de progresso no caminho para o sufrágio universal para eleger o Chefe do Executivo e a forma como Ho Iat Seng foi eleito.

Os membros do Congresso citam a Lei Básica da RAEM quanto à “garantia do alto grau de autonomia” e “à protecção de direitos e liberdades reconhecidos internacionalmente, incluindo o direito a votar e ser eleito em eleições genuínas e periódicas, através de sufrágio universal e equitativo”.

O documento destaca também o encontro entre Ho Iat Seng, duas semanas antes de ser eleito para o mais alto cargo político do território, e a Associação Novo Macau, em que o governante não afastou a hipótese da implementação do sufrágio universal durante o seu mandato, mas que talvez fosse preferível “a reforma política ser proposta ou iniciada pela geração mais nova”. É referido ainda que a reunião ocorreu pouco depois do lançamento de uma sondagem informal, levada a cabo pela associação, cujo resultado relevou que entre 5.698 residentes inquiridos 94 por cento era favorável à eleição do Chefe do Executivo por sufrágio universal. O documento refere que a sondagem foi abruptamente cancelada e que membros da associação foram alvo de insultos, ataques físicos e ameaças.

Hong Kong ali ao lado

O ano passado foi ainda regionalmente marcado pela turbulência política e social vivida em Hong Kong. Nesse capítulo, os congressistas recordam o cancelamento de uma manifestação contra a violência policial no território vizinho, que chegou a ser anunciada nas redes sociais.

Outro episódio mencionado, foi a revogação da autorização, pelo Instituto para os Assuntos Municipais em Maio do ano passado, da mostra fotográfica em memória do Massacre de Tiananmen, cortando com uma tradição de cerca de três décadas.

O relatório menciona ainda vários episódios de restrições à liberdade de imprensa e recusa de entrada em Macau ocorridos aquando da visita do Presidente Xi Jinping ao território para a celebração dos 20 anos da RAEM, e o apelo da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau para que o Governo respeite a liberdade de imprensa.

Também é referido um artigo publicado no South China Morning Post sobre prostituição em Macau, sustentando preocupações sobre tráfico humano.

No plano tecnológico, o relatório do congresso menciona a retirada do emoji da bandeira de Taiwan dos serviços da Apple para usurários de Macau.

Deputado Sulu Sou quer saber quantos TNR trabalham na função pública

Sulu Sou quer saber os argumentos do Governo para empregar permanentemente trabalhadores não residentes (TNR) na função pública e se cada serviço da administração pública tem um mecanismo de substituição para promover o trabalho local.

Com vista a “elevar a transparência da administração pública”, o deputado pede, em interpelação escrita, que Executivo actualize o número de TNR nesta situação, recordando a obrigatoriedade de declarar as razões da contratação e as opiniões da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (DSAFP) que estão na base da tomada de decisão.

Segundo informações da DSAFP, até 31 de Maio de 2020, o Governo tinha contratado, no total, sete consultores, todos de Portugal e 134 técnicos especializados, provenientes de regiões como o Interior da China, Portugal, Taiwan, Hong Kong, Itália, Alemanha e Coreia do Sul.

Colina da Penha | Associação Novo Macau lança petição

A Associação Novo Macau (ANM) lançou uma petição online intitulada “Salvaguardar a Nossa Colina da Penha”, onde exige a retirada dos projectos urbanísticos para as zonas C e D da Baía da Praia Grande. Para a ANM, devem ser divulgados estudos de impacto ambiental e paisagístico dos projectos, além de pedir o respeito pelas opiniões expressas na consulta pública sobre o Plano Director. A petição pede que os planos para as zonas C e D recomecem apenas mediante a aprovação do Chefe do Executivo.

A petição pede ainda o respeito pelas opiniões proferidas no âmbito da consulta pública sobre o Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, realizada em 2018, a fim de cumprir a promessa de protecção da paisagem entre a Colina da Penha e a ponte Governador Nobre de Carvalho. A 6 de Janeiro, na reunião do Conselho do Planeamento Urbanístico, o Governo admitiu que os projectos podem não assegurar a vista da Colina da Penha, ao lado da ponte do cais, e da paisagem em geral ao lado da Colina da Penha.

Benefícios Fiscais | Fiscalização gerou dúvidas de deputados

Depois de questionar a necessidade de mais benefícios fiscais, a 1.ª Comissão Permanente acredita que a proposta do Governo pode favorecer a fixação de empresas que exerçam actividades de inovação científica e tecnológica. O Executivo garantiu que os Serviços de Finanças podem verificar a existência de incumprimentos de empresas através das declarações anuais de impostos

 

A 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa assinou o parecer referente à proposta de lei do regime de benefícios fiscais para empresas que exerçam actividades de inovação científica e tecnológica. O documento revela que a necessidade de criar mais benefícios fiscais para atrair empresas foi questionada pelos deputados, tendo em conta o “convidativo” quadro fiscal actual. “Será necessária a concessão de mais benefícios e isenções fiscais para atrair empresas do exterior para que se instalem na RAEM?”, pode ler-se no documento.

Além da isenção do imposto complementar de rendimentos durante três anos, está prevista a isenção do imposto do selo sobre a transmissão de bens pela aquisição de imóveis e a redução dos encargos do imposto profissional dos trabalhadores da empresa.

No entanto, com base nas medidas de regiões vizinhas, o Governo manteve a convicção de que as isenções propostas são benéficas. “Trata-se, pois, de um regime fiscal muito competitivo, apto a atrair efectivamente as empresas a instalarem-se na RAEM”, descreve o parecer, que aponta para a convergência da opinião das duas partes.

A comissão acha que a proposta pode ter “um duplo efeito”: por um lado, atrair empresas do exterior; por outro lado, reter as empresas já instaladas em Macau, prevenindo a deslocalização para outras zonas.

Questões de fiscalização

Alguns deputados “tiveram dúvidas” sobre a revisão da concessão destes benefícios, questionando como se podem detectar irregularidades. “Como a Comissão de Avaliação procede à revisão da concessão dos benefícios apenas no quarto ano após a data da análise e reconhecimento (…), como poderá verificar o incumprimento de alguma empresa ocorrido nos anos imediatamente anteriores à data da revisão?”, pode ler-se.

O Governo argumentou que a revisão só é feita ao fim de quatro anos por ser esse o período em que “as empresas de inovação tecnológica e científica normalmente consolidam a sua actividade após os primeiros anos de investimento e prejuízo”. No entanto, esclareceu que a actividade das empresas é acompanhada e que as declarações anuais do imposto complementar de rendimentos permitem à Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) saber se os requisitos legais são cumpridos.

Os deputados quiseram também saber se no caso de incumprimento as empresas beneficiárias são obrigadas a devolver todos os benefícios que, entretanto, lhes foram concedidos. O Governo esclareceu que a actividades das empresas é acompanhada e que as declarações anuais do imposto complementar de rendimentos dão conhecimento sobre o cumprimento dos requisitos legais. A versão final da proposta de lei inclui agora a obrigatoriedade de as empresas pagarem todos os impostos e contribuições de que tenham sido isentos, correspondentes ao “período em que deixaram de preencher os requisitos”.

A nova versão da proposta determina ainda que quem prestar informações falsas ou usar meios ilícitos para conseguir benefícios fiscais “incorre em responsabilidade disciplinar, administrativa, civil ou penal nos termos da lei”. Além disso, o director dos Serviços de Finanças tem competência para acabar com isenções, e que esses beneficiários “devem ainda efectuar o pagamento do imposto e contribuição de que tenham sido isentos”.

Justiça | Casal Guerra absolvido em Timor-Leste, mas caso conexo prossegue em Macau 

O casal de portugueses Tiago e Fong Fong Guerra, residentes de Macau, foram condenados pelo crime de peculato em 2017, mas na sexta-feira foi tornado público o acórdão do Tribunal de Recurso de Timor-Leste que os absolve. No entanto, ainda decorre um processo conexo em Macau, uma vez que tanto o casal como os pais de Fong Fong Guerra estão acusados do crime de branqueamento de capitais

Com agência Lusa 

 

O Tribunal de Recurso timorense absolveu o casal de portugueses Tiago e Fong Fong Guerra, condenado em 2017 por peculato a oito anos de prisão e a uma indemnização ao Estado, ordenando o descongelamento das suas contas.

O acórdão, aprovado por unanimidade por um colectivo de três juízes, e que foi na sexta-feira comunicado às partes, determina a absolvição do crime de peculato, pelo qual o Tribunal de Díli tinha aplicado uma pena de oito anos de prisão efectiva e o pagamento de uma indemnização de 859 mil dólares. Segundo fontes judiciais contactadas pela Lusa, o tribunal determina ainda o descongelamento das contas bancárias do casal e o levantamento de todas as medidas de coacção que estavam a ser aplicadas.

Ao HM, o ex-advogado de defesa do casal neste processo, Álvaro Rodrigues, disse tratar-se de uma “excelente notícia” e confirmou o fim das medidas de coacção. “Estávamos à espera [desta decisão], porque a acusação e a condenação que foi feita em Timor-Leste era injusta e não tinha qualquer fundamento.”

Álvaro Rodrigues adiantou também que o casal Guerra terá acesso ao acórdão esta semana, tendo de aguardar ainda um prazo de 15 dias para que o mesmo transite em julgado, o que vai efectivar o fim das medidas de coacção até agora decretadas.

O advogado adiantou também que Tiago e Fong Fong Guerra “estão extremamente felizes” com o desfecho deste processo, que teve algum impacto negativo junto da comunidade portuguesa de Timor-Leste. “Mas isso depois foi diluído e hoje acho que já se esqueceu e com esta decisão de um tribunal de recurso, superior, a declarar que eles são completamente inocentes, acho que a comunidade facilmente esquecerá esse impacto.”

Entretanto, corre em Macau um outro processo conexo, onde o casal e os pais de Fong Fong Guerra estão acusados de um crime de branqueamento de capitais, numa acção que, segundo a defesa, teve por base o processo de Timor-Leste e as cartas rogatórias na sequência de pedidos de informação feitos a Macau.

Álvaro Rodrigues, que defende o casal neste processo em Macau, não quis tecer comentários adicionais. “Esta decisão é importante não só no processo que decorreu em Timor mas também por causa de um outro processo conexo que está a decorrer em Macau. Não vou fazer comentários porque o processo está em curso. E também devido a normas deontológicas estou impedido de tecer comentários.”

O que diz o acórdão

O acórdão conclui um processo que durou dois anos e meio. Nele os juízes dão deferimento ao recurso da defesa à sentença de 24 de Agosto de 2017, onde se argumentava que a decisão da primeira instância padecia de “nulidades insanáveis” mais comuns em “regimes não democráticos”, baseando-se em provas manipuladas e até proibidas.

O casal foi preso pela polícia timorense em Díli a 18 de Outubro de 2014 e esteve desde então impedido de sair de Timor-Leste, com Tiago Guerra obrigado a apresentar-se semanalmente na Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL). Enquanto aguardava a decisão sobre o recurso à sentença do Tribunal Distrital de Díli, mantendo sempre a sua inocência e acusando o Tribunal de primeira instância e o Ministério Público de várias irregularidades, o casal fugiu para a Austrália, onde chegou, de barco, em 9 de Novembro de 2017, tendo depois chegado a Lisboa em 25 de Novembro desse mesmo ano.

O casal foi representado pelos escritórios Da Silva Teixeira e Associados e Abreu e C&C Advogados que, depois da fuga do casal renunciaram ao mandato. Contactados pela Lusa, os dois escritórios de advogados confirmaram que não puderam receber cópia do acórdão por terem renunciado ao mandato.

No recurso, a defesa apresentou 13 pontos de contestação à sentença, incluindo a “intromissão não autorizada em correspondência”. “Ao fim de 15 sessões de julgamento e depois de ter sido proferido o Acórdão ora colocado em crise, constata a defesa, sem qualquer margem para dúvida, que este processo padece de várias nulidades insanáveis, algumas das quais apenas acontecem em regimes não democráticos, o que não é o caso de Timor-Leste”, refere o recurso da defesa.

O texto, apresentado junto do Tribunal de Recurso, considera ter havido “manipulação de prova, utilização de prova proibida e valoração da mesma”, defende ter havido inconstitucionalidade, omissão de realização de diligências necessárias para a descoberta da verdade e “insuficiência de matéria de facto provada para a decisão”.

Os dois portugueses foram julgados pelos crimes de peculato, branqueamento de capitais e falsificação documental sendo central ao caso uma transferência de 859 mil dólares, feita em 2011 a pedido do consultor norte-americano, Bobby Boye.

Boye, um consultor pago pelo governo norueguês e posteriormente pelo governo timorense, chegou a ser co-arguido neste processo foi, entretanto, condenado nos Estados Unidos onde está a cumprir pena. A fuga do casal causou tensão diplomática entre Portugal e Timor-Leste, com o assunto a suscitar críticas de dirigentes políticos e da sociedade civil, com artigos a exigir até investigações à embaixada de Portugal em Díli.

Na sequência da fuga do casal, o Ministério Público timorense acusou um outro português e dois timorenses de vários crimes, incluindo branqueamento de capitais, por alegadamente terem apoiado na fuga do casal. Esse processo está ainda a decorrer no Tribunal Distrital de Díli.

Um casal satisfeito

Tiago Guerra disse à Lusa estar “muito satisfeito” porque “foi feita justiça”. “Estou muito satisfeito que depois de tantos anos finalmente foi feita justiça”, disse Tiago Guerra, contactado telefonicamente em Lisboa e informado pela Lusa da decisão do colectivo de juízes do Tribunal de Recurso.

“Ainda sem ler o acórdão fico grato que a justiça esteja a ser reposta. Sempre mantivemos a nossa inocência e isso é muito positivo”, considerou. Agradecendo o apoio da equipa de defesa, familiares e amigos, Tiago Guerra disse que a notícia da absolvição termina um longo e difícil processo para toda a família.

Actualmente a viver em Portugal, Tiago Guerra disse que a decisão do Tribunal de Recurso “muda tudo”. “Têm sido tempos difíceis. Temos estado a viver à custa de família. Retomamos o trabalho devagar e temos estado a tentar refazer a nossa vida, voltar a ter uma família normal”, afirmou.

Tiago Guerra acrescentou que a decisão de Díli deverá ter um impacto num outro processo a decorrer em Macau, onde ele próprio, Fong Fong Guerra e os pais da mulher são arguidos.

“Se realmente esse crime de que estamos acusados não existe, e era o subjacente do processo de Macau, esse ficaria sem mérito. Imagino que Timor-Leste comunique agora a Macau a decisão”, referiu.

Ana Gomes satisfeita com decisão

A candidata à Presidência da República em Portugal, Ana Gomes, disse estar satisfeita com a absolvição do casal português Tiago e Fong Fong Guerra. “Estava a haver uma perversão da justiça, uma instrumentalização da justiça, tornando este português numa vítima”, afirmou à Lusa Ana Gomes, que se empenhou pessoalmente no caso. “Fico muito feliz por as próprias autoridades judiciais timorenses terem concluído que ele estava ilibado”, disse Ana Gomes, salientando que foi contactada por Tiago Guerra que lhe deu conta da decisão judicial.

A absolvição, por um tribunal superior, mostra a “capacidade das autoridades judiciais timorenses” e a sua “coragem em assumir o erro”.

“Li o processo na altura” e “percebi que era um caso que se arriscava a criar uma grande fricção entre Portugal e Timor”, recordou a antiga eurodeputada, que visitou Tiago Guerra na prisão e “estava ao corrente que todas as diligências que as autoridades portuguesas tinham feito”.

Quando o viu pela primeira vez na prisão, em 2015, Ana Gomes disse que se apercebeu do risco de saúde e tentou sensibilizar as autoridades timorenses para o libertarem. “A verdade é que um mês depois [dessa visita], as autoridades timorenses decidiram deixá-lo em residência fixa até ao final do julgamento”, a cuja sentença de primeira instância também assistiu.

No processo, Ana Gomes detectou “vários problemas” que mostravam a fragilidade do caso contra o casal, que fugiu para Portugal. “Entendi quando ele [Tiago Guerra] não teve outra alternativa senão usar os meios que usou para fugir de Timor-Leste”, disse Ana Gomes, comentando a fuga do casal, via Austrália.

Após o anúncio da absolvição de Tiago Guerra, Ana Gomes publicou no Twitter: “Muito feliz com a total ilibação do português Tiago Guerra pelo Tribunal Supremo de #TimorLeste”. A antiga eurodeputada comentou também o seu papel na saída da prisão, mostrando-se “muito orgulhosa por ter ajudado à sua libertação da cadeia de Becora”, publicando uma foto da visita que fez em 2015, com o então embaixador português Manuel de Jesus. “Vale a pena lutar pela #Justiça!”, escreveu ainda Ana Gomes.

Covid-19 | China regista 109 novos casos

A Comissão de Saúde da China anunciou 109 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas, incluindo 96 de contágio local, a maioria nas províncias de Hebei e Heilongjiang.

Hebei, que conta com várias cidades seladas e milhões de habitantes em quarentena, diagnosticou 72 casos de origem local, enquanto na província de Heilongjiang, na fronteira com a Rússia, foram registados 12 contágios locais.

A província de Jilin, no nordeste do país, contabilizou 10 novos casos, registando-se mais dois no distrito de Shunyi, em Pequim.

A Comissão de Saúde da China contabilizou ainda 13 casos oriundos do exterior, os chamados “importados”. A cidade de Xangai (leste) somou quatro contágios, Tianjin (norte) um, enquanto as províncias de Fujian (sudeste), Guangdong (sul) e Sichuan (centro) registaram dois, tendo Shandong (este) e Hunan (centro) identificado um caso.

As autoridades também indicaram ter detetado 119 assintomáticos, 16 dos quais importados, embora Pequim só inclua estes doentes nos casos confirmados se manifestarem sintomas da covid-19.

A Comissão de Saúde da China disse que, nas últimas 24 horas, 17 pacientes receberam alta, pelo que o número de pessoas infetadas activas no país se fixou em 1.205, incluindo 42 em estado grave. O organismo tinha anunciado uma nova morte devido à covid-19 na quinta-feira, depois de quase oito meses, desde 17 de Maio, sem registar nenhum óbito causado pela doença. O número de mortes é agora de 4.635.

O país somou, no total, 88.227 infectados desde o início da pandemia. A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.009.991 mortos resultantes de mais de 93,8 milhões de casos de infecção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Hong Kong | Activistas pró-democracia pedem asilo nos EUA

Cinco activistas pró-democracia de Hong Kong chegaram esta semana aos Estados Unidos para tentar obter asilo naquele país, anunciou no sábado um grupo de defesa das liberdades na antiga colónia britânica, sediado nos EUA.

A fuga segue-se à repressão maciça contra figuras da oposição de Hong Kong, detidas ao abrigo da Lei da Segurança Nacional imposta por Pequim ao território, em junho de 2020, após os enormes protestos em 2019.

“Os activistas, todos com menos de 30 anos, participaram em protestos pró-democracia em Hong Kong, foram detidos e acusados e fugiram da cidade de barco, em Julho”, disse à agência de notícias France-Presse (AFP) Samuel Chu, fundador do Hong Kong Democracy Council (HKDC), uma organização que defende a causa dos ativistas de Hong Kong nos EUA.

“Estou aliviado e espero acolhê-los nos Estados Unidos e ajudá-los a pedir asilo e a construir uma nova vida”, acrescentou. “A sua iniciativa desesperada é a prova da rápida deterioração da situação dos direitos humanos e da crescente crise humanitária que se vive em Hong Kong actualmente”, alertou.

A imprensa de Taiwan noticiou em Agosto que estes cinco residentes de Hong Kong tinham tentado obter asilo naquele território no final de Julho.

Na sexta-feira, os Estados Unidos impuseram sanções a seis autoridades chinesas e de Hong Kong, depois da repressão das autoridades da antiga colónia britânica contra 50 activistas pró-democracia.

O chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, também pediu a Pequim e Hong Kong que “libertem imediatamente os detidos ao abrigo da lei de segurança nacional ou de outros textos simplesmente porque exerceram os seus direitos e liberdades”.

A adopção da lei draconiana, já denunciada pela União Europeia e por organizações de defesa de direitos humanos, tem contribuído para acentuar as tensões entre Estados Unidos e China.

Covid-19 | China coloca 20.000 pessoas de zonas rurais em quarentena forçada

A China colocou em quarentena forçada 20.000 pessoas de zonas rurais devido a um surto de covid-19, avançou hoje a imprensa estatal, acrescentando que o número de novos infectados bateu um recorde desde março.

No norte da China, onde os números têm crescido, uma cidade está a construir uma instalação com capacidade para colocar em quarentena 3.000 pessoas, em vésperas das habituais viagens do Ano Novo Lunar.

A imprensa estatal mostrou hoje equipas a nivelar terra, a despejar cimento e a montar salas pré-fabricadas em zonas agrícolas perto de Shijiazhuang, capital da província de Hebei, onde tem sido registado o maior número de novos casos.

As imagens fizeram lembrar cenas do ano passado, quando a China construiu rapidamente hospitais de campanha e transformou ginásios em centros de isolamento para lidar com o surto inicial ligado à cidade de Wuhan.

O Ministério da Saúde informou hoje ter registado 144 novos infetados com covid-19. Em comparação com a Europa ou os Estados Unidos, o número é extremamente baixo, mas, ainda assim, é o mais alto na China desde 02 de março de 2020.

A China conteve grande parte da disseminação doméstica do coronavírus, mas o aumento recente de casos levantou preocupações sobretudo por terem acontecido perto da capital do país e em época de viagens de pessoas que costumam reunir-se às suas famílias para o Ano Novo Lunar, o mais importante festival tradicional da China.

A Comissão chinesa de Saúde referiu hoje que há 1.001 novos doentes hospitalizados, 26 dos quais em estado grave e adiantou que 144 dos novos casos foram registados nas últimas 24 horas, 90 em Hebei e 43 na província de Heilongjiang, mais a norte.

Nove casos foram trazidos de fora do país, enquanto as transmissões locais também ocorreram na região de Guangxi e na província de Shaanxi, no norte, mostrando a capacidade do vírus circular pelo vasto país, onde vivem 1,4 mil milhões de pessoas, apesar das quarentenas, das restrições de viagem e da vigilância eletrónica.

Shijiazhuang foi colocada em confinamento, tal como as cidades de Xingtai e Langfang, em Hebei, partes de Pequim e outras cidades do nordeste. As medidas impedem as viagens e mais de 20 milhões de pessoas receberam ordens para ficar em casa nos próximos dias.

Ao todo e desde o início da pandemia, a China já contabilizou 87.988 casos de infeções e 4.635 mortes.

O surto no norte da China está a acontecer na mesma altura em que especialistas da Organização Mundial de Saúde chegaram à China, onde vão cumprir uma quarentena de 14 dias, para depois iniciar uma recolha de dados sobre a origem da pandemia, detetada pela primeira vez em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan.

A visita foi aprovada pelo Presidente Xi Jinping, após meses de disputas diplomáticas que provocaram uma reclamação pública do diretor da OMS.

A demora em aprovar a visita e o rígido controlo de informações e promoção de teorias de que a pandemia começou noutro lugar aumentou a especulação de que a China está a tentar evitar que se encontrem provas que destruam a sua autoproclamada liderança na batalha contra o coronavírus.

Cientistas suspeitam que o vírus, que matou mais de 1,9 milhões de pessoas em todo o mundo, desde o final de 2019, foi transmitida aos humanos por morcegos ou outros animais, provavelmente no sudoeste da China.

O ex-responsável da OMS Keiji Fukuda, que não faz parte da equipa que viajou para a China, alertou contra as expectativas de descobrir alguma coisa durante a visita, alertando que pode levar anos até que possa ser tomada qualquer conclusão.

Covid-19 | China regista 144 novos casos, 135 de contágio local

A Comissão de Saúde da China anunciou ter identificado 144 novos casos de covid-19 nas províncias de Hebei e Heilongjiang nas últimas 24 horas, incluindo 135 de contágio local. Este número de casos não era registado na China desde março passado, indicaram as autoridades.

Hebei, que conta com várias cidades seladas e milhões de habitantes em quarentena, diagnosticou 90 casos de origem local, enquanto na província de Heilongjiang, na fronteira com a Rússia, foram registados 43 contágios locais.

Os restantes dois casos locais foram identificados nas províncias de Guangxi (sul) e Shaanxi (centro), tendo cada uma das regiões contabilizado um contágio de origem local.

Em termos de casos importados, ou seja, oriundos do exterior, a Comissão de Saúde da China contabilizou nove. A cidade de Xangai (leste) somou dois contágios, e as províncias de Guangdong (sudeste) três, Jiangsu (leste) um, Zhejiang (leste) um, Sichuan (centro) um e Shaanxi (centro) um.

As autoridades também indicaram ter detetado 66 assintomáticos, 11 dos quais importados, embora Pequim só inclua estes doentes nos casos confirmados se manifestarem sintomas da covid-19.

A Comissão de Saúde da China disse que, nas últimas 24 horas, 28 pacientes receberam alta, pelo que o número de pessoas infetadas ativas no país se fixou em 1.001, incluindo 26 em estado grave.

O organismo tinha anunciado uma nova morte devido à covid-19, na quinta-feira, depois de quase oito meses, desde 17 de maio, sem registar nenhum óbito causado pela doença. O número de mortes é agora de 4.635.

O país somou, no total, 87.988 infetados desde o início da pandemia e 82.352 pessoas que recuperaram da doença.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.979.596 mortos resultantes de mais de 92,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

O infundado apocalipse climático

“What’s really behind the rise of apocalyptic environmentalism? There are powerful financial interests. There are desires for status and power. But most of all there is a desire among supposedly secular people for transcendence. This spiritual impulse can be natural and healthy. But in preaching fear without love, and guilt without redemption, the new religion is failing to satisfy our deepest psychological and existential needs.”
Michael Shellenberger
Apocalypse Never: Why Environmental Alarmism Hurts Us All

 

Estamos a viver uma era de preocupação, especialmente um medo das alterações climáticas. Uma imagem resume esta época que é de uma rapariga com um letreiro a dizer que “Morrerás de velhice ou de alterações climáticas”.

Esta é a mensagem que os meios de comunicação estão a perfurar as nossas cabeças, pois as alterações climáticas estão a destruir o nosso planeta e ameaçam matar-nos a todos. A linguagem é de apocalipse. Os noticiários referem-se à “incineração iminente do planeta” e os analistas sugerem que o aquecimento global pode fazer com que a humanidade se extinga em poucas décadas. Recentemente, fomos informados que a humanidade tem apenas uma década para salvar o planeta, fazendo de 2030 o prazo limite para salvar a civilização. E, portanto, temos de transformar radicalmente todas as grandes economias para acabar com a utilização de combustíveis fósseis, reduzir as emissões de carbono a zero, e estabelecer uma base totalmente renovável para toda a actividade económica.

As crianças vivem no medo e alinham as ruas em protesto. Os activistas estão a isolar as cidades e os aeroportos para aumentar a consciência de que toda a população do planeta está a enfrentar “hecatombe, morte e fome”. Em 2017, o jornalista americano David Wallace-Wells escreveu uma longa e aterradora descrição do impacto do aquecimento global para a revista New York. Embora o artigo fosse geralmente considerado pelos cientistas como exagerado e enganador, o mesmo argumento foi publicado em forma de livro, em 17 de Março de 2020, com o título

“The Uninhabitable Earth: Life After Warming”, que se tornou um bestseller. O livro revela um alarmismo sem falhas: “É pior, muito pior, do que se pensa”. Da mesma forma, no seu livro de 2019, “Falter: Has the Human Game Begun to Play Itself Out?”, o naturalista americano Bill McKibben, líder da organização ambientalista 350.org, advertiu que o aquecimento global é a maior ameaça à civilização humana, pior até do que a guerra nuclear. Pode acabar com a humanidade não com uma explosão, mas “com o rebentar de um oceano em ascensão”.

Uma prateleira gemeria sob o peso de livros recentes com títulos e mensagens deliberadamente aterradoras. É assim que o mundo acaba com secas e ondas de calor e os furacões que estão a convergir na América. Os meios de comunicação social reforçam a linguagem extrema, dando amplo espaço aos activistas ambientais, e envolvendo-se no seu próprio activismo. O New York Times adverte que “em todo o mundo as alterações climáticas estão a acontecer mais rapidamente do que os cientistas previam”. A capa da revista Time diz-nos: “Fiquem preocupados.

Estejam muito impressionados”. O jornal britânico The Guardian foi mais longe, actualizando as suas directrizes de estilo, pelo que os repórteres devem usar os termos “emergência climática”, “crise climática”, ou “ruptura climática”. O editor do jornal acredita que “alterações climáticas” não é suficientemente assustadora, argumentando que “soa bastante passivo e suave quando aquilo de que os cientistas estão a falar é uma catástrofe para a humanidade”.

Sem surpresas, o resultado é que a maioria de nós está muito preocupada. Uma sondagem de 2016 revelou que em países tão diversos como os Emiratos Árabes Unidos e a Dinamarca, a maioria das pessoas acredita que o mundo está a piorar, e não a melhorar. No Reino Unido e nos Estados Unidos, dois dos países mais prósperos do planeta, um espantoso 65 por cento das pessoas são pessimistas quanto ao futuro. Uma sondagem de 2019, revelou que quase metade da população mundial acredita que as alterações climáticas irão provavelmente acabar com a raça humana. Nos Estados Unidos, quatro em cada dez pessoas acreditam que o aquecimento global levará à extinção da humanidade. Há consequências reais para este medo.

As pessoas estão a decidir, por exemplo, não trazer crianças ao mundo. Uma mulher disse a uma jornalista: “Eu sei que os humanos são difíceis de procriar, mas o meu instinto agora é proteger os meus filhos dos horrores do futuro, não os trazendo ao mundo”. Os meios de comunicação social reforçam esta escolha; os países querem saber “como se decide ter uma criança quando as alterações climáticas estão a intensificar. Se os adultos estão preocupados de forma disparatada, as crianças estão aterrorizadas. Um inquérito do Washington Post de 2019 mostrou que das crianças americanas entre os treze e os dezassete anos de idade, 57 por cento sentem medo das alterações climáticas, 52 por cento sentem raiva, e 42 por cento sentem-se culpadas.

Um estudo académico de 2012 com crianças com idades compreendidas entre os dez e os doze anos, de três escolas de Denver, revelou que 82 por cento expressaram medo, tristeza e raiva ao discutir os seus sentimentos sobre o ambiente, e que a maioria das crianças partilhava opiniões apocalípticas sobre o futuro do planeta. É revelador que para 70 por cento das crianças, a televisão, os noticiários e os filmes foram fundamentais para formar os seus pontos de vista aterrorizantes. Uma criança de dez anos, diz sobre o futuro que já não haverá tantos países por causa do aquecimento global, porque ouve falar no Discovery Channel e canais científicos como se em três anos o mundo pudesse inundar-se com o calor e ficar demasiado quente. Estas descobertas, se válidas em todo o país, sugerem que mais de dez milhões de crianças americanas estão aterrorizadas com as alterações climáticas. Como resultado deste medo, em todo o mundo as crianças estão a faltar às aulas para protestar contra o aquecimento global.

Porquê assistir às aulas quando o mundo vai acabar em breve? Recentemente, uma aluna dinamarquesa da primeira classe perguntou seriamente à sua professora: “O que vamos fazer quando o mundo acabar? Para onde iremos? Para os telhados?” Os pais podem encontrar uma montanha de instruções e guias online com títulos bastante sugestivos. E assim, representando o verdadeiro terror da sua geração, uma jovem segura um sinal que diz

“Vou morrer de alterações climáticas”. As alterações climáticas são um problema real. Ao contrário do que ouvimos, os resultados climáticos básicos têm-se mantido notavelmente consistentes ao longo dos últimos vinte anos. Os cientistas concordam que o aquecimento global é principalmente causado pelo homem, e que tem havido poucas mudanças nos impactos que projectam para a subida da temperatura e do nível do mar. A reacção política à realidade das alterações climáticas sempre foi deficiente, o que também se tem vindo a apontar há décadas. Existem formas mais inteligentes para enfrentar o aquecimento global. Mas a conversa mudou drasticamente nos últimos anos.

A retórica sobre as alterações climáticas tornou-se cada vez mais extrema e menos ancorada à ciência actual. Ao longo dos últimos vinte anos, os cientistas climáticos aumentaram cuidadosamente o conhecimento sobre as alterações climáticas, e nós temos mais fiáveis dados do que nunca. Mas, ao mesmo tempo, a oratória que vem dos comentadores e dos meios de comunicação tornou-se cada vez mais irracional. A ciência mostra-nos que os receios de um apocalipse climático são infundados. O aquecimento global é real, mas não é o fim do mundo. É um problema controlável. No entanto, vivemos agora num mundo onde quase metade da população acredita que as alterações climáticas irão extinguir a humanidade, tendo alterado profundamente a realidade política. Faz-nos duplicar em políticas climáticas pobres. Faz-nos ignorar cada vez mais todos os outros desafios, desde as pandemias e a escassez de alimentos até aos conflitos e disputas políticas, ou subsumi-los sob o signo das alterações climáticas.

Esta singular obsessão com as alterações climáticas significa que estamos agora a passar de desperdiçar milhares de milhões de dólares em políticas ineficazes para desperdiçar triliões de dólares. Ao mesmo tempo, estamos a ignorar cada vez mais os desafios mais urgentes e muito mais fáceis do mundo. E estamos a assustar crianças e adultos sem sentido, o que não é apenas factualmente errado mas moralmente repreensível. Se não dissermos para parar, o actual falso alarme climático, apesar das suas boas intenções, é provável que deixe o mundo muito pior do que poderia estar. Precisamos de deixar o pânico, olhar para a ciência, enfrentar a economia, e abordar a questão racionalmente. Como é que reparamos as alterações climáticas, e como é que a priorizamos no meio dos muitos outros problemas que afligem o mundo no topo da qual está a Covid-19 que não é fruto das alterações climáticas?

As alterações climáticas são autênticas, e causadas predominantemente pelas emissões de carbono dos seres humanos que queimam combustíveis fósseis, e devemos combatê-las de forma inteligente. Mas para o fazer, temos de parar de exagerar e de argumentar que é agora ou nunca, e parar de pensar que o clima é a única coisa que importa. Muitos defensores do clima vão mais longe do que o apoio da ciência. Sugerem implicitamente ou mesmo explicitamente que o exagero é aceitável, porque a causa é tão importante. Depois de um relatório da ONU sobre o clima de 2019 ter conduzido a reivindicações exageradas por activistas, um dos autores científicos advertiu contra o exagero. Escreveu que arriscaríamos a afastar o público com conversas extremistas que não são cuidadosamente apoiadas pela ciência. Apesar de tudo está certo. Mas o impacto de reivindicações climáticas exageradas vai muito mais fundo. Dizem-nos que temos de fazer tudo de imediato. A sabedoria convencional, repetida ad nauseam nos meios de comunicação, é que só temos até 2030 para resolver o problema das alterações climáticas. Isto é o que a ciência nos diz? Não é! É o que nos diz a política. Este prazo veio de políticos que fizeram uma pergunta muito específica e hipotética aos cientistas e que basicamente consiste no que será necessário para manter as alterações climáticas abaixo de um objectivo quase impossível?

Não surpreendentemente, os cientistas responderam que fazê-lo seria quase impossível, e chegar perto de qualquer meta exigiria enormes mudanças para todos os sectores da sociedade até 2030.Imagine uma discussão semelhante sobre mortes no trânsito. Nos Estados Unidos, quarenta mil pessoas morrem todos os anos em acidentes de viação.

Se os políticos perguntassem aos cientistas como limitar o número de mortes a uma meta quase impossível de zero, uma boa resposta seria fixar o limite de velocidade ao equivalente a três quilómetros por hora. Ninguém morreria.

Mas a ciência não nos diz que devemos ter um limite de velocidade de três quilómetros por hora, apenas nos informa que se queremos zero mortos, uma forma simples de o conseguir é através de um limite de velocidade de três quilómetros por hora fortemente imposto. No entanto, é uma decisão política para todos fazerem as contrapartidas entre limites de velocidade baixos e uma sociedade conectada.

Actualmente e com exclusão da Covid-19 e todas as suas possíveis estirpes a nossa atenção única apesar dos muitos desafios globais, regionais e mesmo pessoais são quase inteiramente subsumidos pelas alterações climáticas. A sua casa está em risco de inundações por causa das alterações climáticas! A vossa comunidade está em risco de ser devastada por um ciclone devido às alterações climáticas! As pessoas estão a morrer à fome no mundo em desenvolvimento por causa das alterações climáticas! Com quase todos os problemas identificados como causados pelo clima, a solução aparente é reduzir drasticamente as emissões de dióxido de carbono a fim de melhorar as alterações climáticas. Mas será esta realmente a melhor maneira de ajudar? Se quiser ajudar as pessoas nas planícies aluviais do Mississippi, do Nilo ou outro qualquer grande rio a reduzir o risco de inundações, existem outras políticas que ajudarão mais rapidamente, de forma barata e eficazmente do que a redução das emissões de dióxido de carbono.

Estas poderiam incluir uma melhor gestão da água, a construção de diques mais altos, e regulamentos mais eficazes que permitam a algumas planícies aluviais inundar de modo a evitar ou aliviar inundações noutros locais. Se quiser ajudar as pessoas no mundo em desenvolvimento a reduzir a fome, é quase tragicómico concentrar-se na redução do dióxido de carbono, quando o acesso a melhores variedades de culturas, mais fertilizantes, acesso ao mercado e oportunidades gerais para sair da pobreza os ajudaria muito mais rapidamente e a um custo menor. Se insistirmos em invocar o clima a cada curva, acabaremos muitas vezes por ajudar o mundo de uma das formas menos eficazes possíveis. Não estamos à beira da iminente extinção. Na realidade, muito pelo contrário. A retórica da desgraça iminente desmente um ponto essencial, pois em quase todas as formas que podemos medir, a vida na Terra é melhor agora do que era em qualquer outra altura da história. Desde 1900, temos mais do que duplicado a nossa esperança de vida. Em 1900, a esperança média de vida era de apenas trinta e três anos; hoje é de mais de setenta e um. O aumento tem tido o impacto mais dramático no pior momento do mundo. Entre 1990 e 2015, a percentagem do mundo que praticava a defecação aberta caiu de 30 para 15 por cento.

A desigualdade na saúde diminuiu significativamente. O mundo é mais literato, o trabalho infantil tem vindo a diminuir, estamos a viver num dos tempos mais pacíficos da história. O planeta também está a ficar mais saudável.

No último meio século fizemos reduções substanciais na poluição do ar interior, anteriormente o maior assassino ambiental. Em 1990, causou mais de 8 por cento das mortes; isto reduziu quase metade para 4,7 por cento, o que significa que 1,2 milhões de pessoas sobrevivem todos os anos e que teriam morrido. O aumento do rendimento agrícola e a mudança de atitudes em relação ao ambiente significaram que os países ricos estão cada vez mais a preservar as florestas e a reflorestar. E desde 1990, mais 2,6 mil milhões de pessoas tiveram acesso a fontes de água melhoradas, elevando o total global para 91 por cento. Muitas destas melhorias surgiram porque ficámos mais ricos, quer como indivíduos quer como países.

Durante os últimos trinta anos, o rendimento médio global por pessoa quase duplicou. Isto conduziu a diminuições maciças na pobreza. Em 1990, quase quatro em cada dez pessoas no planeta eram pobres. Hoje é menos de uma em cada dez. Quando somos mais ricos, vivemos melhor e vidas mais longas. Vivemos com menos poluição do ar interior. Os governos providenciam mais cuidados de saúde, proporcionam melhores redes de segurança e aprovam leis e regulamentos ambientais e de poluições mais fortes. É importante notar que o progresso não terminou. O mundo foi radicalmente transformado para melhor no século passado, e continuará a melhorar neste século. A análise dos peritos mostra que é provável que nos tornemos muito melhores no futuro. Os investigadores que trabalham para a ONU sugerem que até 2100 os rendimentos médios aumentarão talvez para quatrocentos e cinquenta por cento dos rendimentos actuais.

A esperança de vida continuará a aumentar, para oitenta e dois anos ou possivelmente para além de cem anos. À medida que os países e os indivíduos enriquecem, a poluição atmosférica irá reduzir ainda mais. As alterações climáticas terão um impacto global negativo no mundo, mas diminuirão em comparação com todos os ganhos positivos que temos visto até agora, e continuarão a ver-se no presente século. A melhor investigação actual mostra que o custo das alterações climáticas, se nada fizermos, será de cerca de 3,6 por cento do PIB global. Isto inclui todos os impactos negativos; não só o aumento dos custos das tempestades mais fortes, mas também os custos do aumento das mortes por vagas de calor e das zonas húmidas perdidas devido à subida do nível do mar. Significa também, que em vez de verem os rendimentos aumentar para 450 por cento até 2100, poderão aumentar “apenas” para 434 por cento, o que é claramente um problema. Mas também não é uma catástrofe. Como o próprio painel climático da ONU o afirmou que para a maioria dos sectores económicos, o impacto das alterações climáticas será pequeno em relação aos impactos de outros factores [tais como] alterações na população, idade, rendimento, tecnologia, preços relativos, estilo de vida, regulação, governação, e muitos outros aspectos do desenvolvimento socioeconómico.

A Egiptomania em Portugal

Um caso curioso dentre as febres de fim de século é o da egiptomania, que a Portugal também se dignou chegar. E não falamos de reproduções de estranhos monumentos junto aos Jerónimos, ou de maquilhagens bizarras, mas de poesia. No Egipto dos modernistas portugueses, as pirâmides, a esfinge e restante bric-a-brac imagético são sinais de uma ambiência hierática, rara, ritualística, e não apenas puramente exótica. Para exótico, qualquer Java ou qualquer Algarve serviria. Só o Egipto parece dar ao poema aquele misterioso timbre de sarcófago mental; envolvê-lo numa certa ambiência, tornando abstrato o que é concreto e concreto o que é abstrato.

O terceiro poema da série «Chuva Oblíqua», do Pessoa ortónimo, reflete essa construção de um ambiente misterioso em pleno surto vanguardista. O Egipto atravessa o próprio ato de escrita do poema: “A Grande Esfinge do Egipto sonha por este papel dentro…/ Escrevo — e ela aparece-me através da minha mão transparente/ E ao canto do papel erguem-se as pirâmides… (…)/ Ouço a Esfinge rir por dentro/ O som da minha pena a correr no papel…/ Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme”. Muito longe de qualquer descritivismo do país dos faraós, há aqui um mistério no ato de escrita que só o Egipto permite cifrar.

Em Alfredo Guisado, um galego republicano da baixa de Lisboa, a atração pelo mistério redundou num travestismo metafísico junto às pirâmides, no terceiro poema da série «As Exéquias da Princesa»: “Meu Corpo é um Egipto de Saudade. /Mênfis a minha Alma. Meus sentidos/Pirâmides na minha antiguidade./ Meus seios são lagoas sempre cheias./ Múmias de reis meus olhos doloridos /E Nilos de desejos minhas veias.” É curioso que este poeta-princesa pouco se quis prolongar para além dos tempos da Vanguarda. Guisado calou-se por volta de 1918, reunindo apenas uns versinhos galegos. Ficaram só estas estranhas pirâmides do seu corpo metamorfoseado em país, e só elas conseguem simbolizar aquela misteriosa indefinição de um corpo.

Já Ângelo de Lima, triste cativo vário de hospitais psiquiátricos, Pessoa juntou-o ao grupo da revista Orfeu para o seu segundo número, aumentando o escândalo. As geografias orientais de Ângelo vão além do Nilo, chegando até ao Rio Amarelo, mas é junto ao primeiro que a sacerdotisa e rainha Neitha-Kri entoa o seu próprio louvor: “Sou a Grande Rainha Neitha-Kri… /Sou Devota da Noute Pensadora…/ E Neith é grande, pelos Céus Senhora… / E eu, Sua Filha, Sou Nofrei-Ari!…”. Aqui não se trata do mistério da escrita ou do corpo, mas da reconstituição de uma liturgia perdida de uma religião mistérica ou esotérica, que o poema procura simular para isso recriando a própria língua portuguesa com palavras e expressões anómalas.

O último exemplo é Luís de Montalvor, poeta órfico pouco conhecido, conquanto dinamizador de Orfeu, que se afogou com toda a família num carro que foi parar ao Tejo, uma espécie de Nilo lisboeta. Montalvor dirigiu a famosa coleção de poesia da Ática e verdade é que a sua obra poética, quase desconhecida, é-o sobretudo por ser muitíssimo parca, onde contudo se encontra a fantasia oriental «Dromedário», com elementos que citam condensadamente a temática da viagem ao Levante, mais do que precisamente ao Egipto: “Verdade ou sonho? Que importa/ ao morto olhar o rumo incerto)?/Eu sigo o sonho (e cismando!)/do dromedário pisando/silêncios do meu deserto…” Trata-se dum cenário reduzido a dados puramente simbólicos que remetem para uma paisagem essencialmente interior.

O Egipto, como se vê, forneceu bons materiais para um hieratismo e um culto do Mistério que interessava aos poetas modernistas portugueses. Em síntese, é sobretudo um clima imagético e simbólico, por vezes puramente textual, como em Pessoa, que a partir dele se desenha.

O flâneur, conto1

“Ce quelque chose q’on nous permetra d’appeler modernité”
Baudelaire

 

Moro em Baudelaire e gostava de dizer que nasci lá – naquele reino que me enche de comoção – mas nasci noutro lugar que não quero revelar para já. O que urge agora é ser o habitante daquela cidade parida num acto de escrita, e largar o meu corpo no passeio bouleversant das suas palavras, autênticas pontadas de civilização no meu coração nu, sangue de uma nova espécie de humanos: o flâneur que deambula sem profissão nem destino entre boulevards, quartiers, passages subtis e mergulhar “na multidão como um imenso reservatório de electricidade”. E a multidão, como ouvi em Benjamin, “é o véu flutuante através do qual Baudelaire vê Paris”. Ando e desando na cidade e, como numa atracção melíflua, vou sempre parar a Les fleurs du mal – bairro de Baudelaire onde me tenho embebedado, drogado e feito amor com a multidão, desposando-a em cada visita. A cidade é o espaço em que me quero mover para extrair a matéria prima que me interessa: o eterno do transitório na grande fábrica de choques que rege a cidade moderna na “realização do antigo sonho do labirinto” que o flâneur persegue, segundo também encontrei em Benjamin.

Benjamin é também uma cidade que visito com frequência, guiada pela minha carta-do-mundo. Nas últimas décadas foram escavadas importantes ruínas cartográficas, lugares de baldaquinos, cartografias e Globos Terrestres na cidade de Sloterdijk – topos deslumbrante mas muito inquieto! Bem sei que parece impossível, mas nem sempre as cidades mantêm as mesmas coordenadas. À frente destes olhos que o tempo há-de guardar, o mapa entra em mutação, como uma aranha desandasse a sua teia, e leva a cidade de Sloterdijk para perto de Marx, cidade incontornavelmente moderna. Mas o território representado no mapa não pára de se transformar e arrepia-se que nem uma serpente, insinuando-se nas cercanias de Kant, zona montanhosa e tradicional. E, não fica por aí, pois já a vi saltar para a frente da sombria cidade de Foucault ou mudar-se provisoriamente para a Ásia… mas isso fica para um conto a propósito de cidades-móveis que terei todo o gosto de vos falar quando chegarmos a Borges, a cidade de todos os Alephs, esferas mágicas, labirintos, bibliotecas encantadas, infinitudes que se concentram num só ponto.

Tenho uma absoluta consciência que a minha carta de orientação pode ser uma constelação: aquilo que pertence ao tempo, aquilo que se move, aquilo que está mas que não vemos sempre, aquilo que a luz obscura nos mostra e que podemos ligar a nosso bel prazer, dando nascimento às rotas que nos constituem no caminho. E sigo pela minha viagem.

Agora o que interessa é a minha visita a Baudelaire, uma cidade “crispé comme un extravagante”, “éprise du plaisir jusqu’ à l’atrocité”, “beugle”, e “hurle”. Senti-me como “un poète sinistre, ennemi des familles, favori de l’enfer” na maldição poética de Baudelaire. Finalmente instalei-me no Hotel dos Mortos, entre românticos e modernos. Como no Homem da Multidão de Edgar Alan Poe, eu ofereço-me como narradora desta aventura. Neste conto anormal das teorias do céu, o narrador é uma versão longínqua do flâneur, natural de Baudelaire. Neste conto sigo o olhar do flâneur que captura a paisagem num estado de distracção, ou melhor, “embriaguez anamnésica”, vagueando no presente à procura de “aventuras horríveis, raras, através das capitais”, glorificando a vagabundagem. Afinal ando à nora, entre informações disfuncionais. A minha rede de informações em Baudelaire leva-me a tantas outras cidades enterradas dentro dela, que fico tonta. A cidade subterrânea, escapista, as sensações multiplicadas com excesso e intensidade nos bairros de Mon coeur mis à nu, do Pintor da Vida Moderna, nos Tableaux Parisiens, inquietam-me.

Como qualquer criminoso, percorri o submundo da técnica moderna das fábricas, dos filmes, e aspirei a dissolução da experiência certa que ser consciente do meu próprio tempo é fundamental. Certa que quase “toda a nossa originalidade vem da marca que o tempo imprime nas nossas sensações.” Posso gritar Eu sou o Outro! O Outro sou eu!! Como um poeta da revolução que abre trincheiras e caminhos secretos para as cidades de Rimbaud e Pessoa.

Que sarilho – sinto-me como un Bateau Ivre, um soldado em fuga com uma malinha pequenina e castanha de couro da Suécia, onde guardo dois preciosos materiais: a aura e a experiência, por isso sou o narrador deste conto sobre cidades que nasceram no grande continente da Poesia rodeados do mar da literatura.

Voo para o Oriente. Aterro em Pessanha porque tenho esta incrível faculdade de conhecer as senhas de passagem entre cidades, como se fossem bilhetes de ida-e-volta para lugar nenhum. Apenas a viagem me alicia. Pessanha é uma cidade fin de siècle, acertada com o zeitgeist do seu tempo e, coisa rara, com a inteligenzia europeia. Nela reverberam outras cidades, a ocidente do oriente, neste caso, como Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, Verlaine…

Movi-me como um flâneur entre uma multidão de palavras moventes, álgidas, imagens fugidias, voláteis, instantâneas, fantasmagóricas. Exalo o ópio, o absinto talvez, mas sobretudo aquele bairro de tempo que se chama Clepsidra. Detive-me lá como se eu, a narradora, encarnasse um destino adivinhado a pairar sobre Macau. arando em um montão de estrelas a topografia poética das palavras daquela cidade-móvel que se exilou a oriente do oriente. Nas suas ruas e tabernas embebedo-me com lágrimas e fragmentos de palavras ouvidas na cidade e misturando-as no meu choro: Ai meu coração volta para trás, nas róseas unhinhas, dentinhos, conchas e pedrinhas de um mar em sofrimento, derramado dos olhos mortos dos soldados e guardado no pranto do mundo!

“Foi no entanto que choramos a dor de cada um…
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber no mesmo pranto.”
Camilo Pessanha

Exposição | Galeria At Light reúne artistas lusófonos em “Cor da Vida”

No próximo dia 23 é inaugurada na Galeria At Light a exposição “Cor da Vida”, com obras de artistas lusófonos e curadoria de José Isaac Duarte. A mostra foi organizada a partir de um acervo já existente no território. Para Joey Ho, responsável pela galeria, ligada à associação Arts Empowering Lab, recorda que Macau possui há muito uma ligação próxima com a lusofonia

 

A Galeria At Light, ligada à associação Arts Empowering Lab, inaugura no próximo dia 23 de Janeiro a exposição “Cor da Vida – Exposição dos Artistas dos Países de Língua Portuguesa”, que inclui trabalhos de autores como Damião Porto, Malé, Pedro Proença, entre outros. A mostra, que pode ser visitada até ao dia 6 de Março, tem a curadoria de José Isaac Duarte.

“Havia o interesse de fazer uma exposição de artistas lusófonos na galeria. Tudo foi feito com base em acervos que existem em Macau e montou-se uma exposição com dois artistas de cada país. O resultado é uma pequena amostra da diversidade artística dos países de expressão portuguesa”, contou ao HM.

Sem apontar uma obra de maior relevo, José Isaac Duarte confessou que quis mostrar a diversidade e a cor da arte que se faz nos países de expressão portuguesa. “Naturalmente que é importante uma galeria querer fazer esta exposição. Acho que é importante uma galeria não institucional que queira apresentar artistas lusófonos.”

Joey Ho decidiu avançar para a organização desta mostra dadas as ligações históricas que Macau possui com a lusofonia. “Macau tem uma longa conexão com os países de língua portuguesa. A relação tem incluído também uma partilha a nível artístico. Esta exposição é parte desse movimento e um vislumbre da vitalidade das artes visuais desses países”, disse.

Os artistas

Sem qualquer artista de Macau representado, “Cor da Vida” apresenta trabalhos de conceituados pintores que há muito palmilham o caminho das artes. É o caso de Pedro Proença, nascido em Angola em 1962, devido ao facto de o pai ter sido mobilizado para a Guerra Colonial. Anos mais tarde voltaria para Lisboa e, além de artista plástico, é também escritor, músico e tipógrafo.

No caso de Damião Porto, nascido em Portugal, a sua obra tem uma forte presença figurativa, conforme disse numa entrevista ao portal Minho Digital. “O que fundamenta geralmente o meu trabalho, tanto nas pinturas como nos desenhos é uma forte presença figurativa e, simultaneamente, persegue os limites do expressionismo chegando próximo do informal, ou seja, a neofiguração.”

Natural de São Tomé e Príncipe, Malé, cujo primeiro nome é Eduardo, reside hoje na Batalha, em Portugal. Nascido em 1973, Malé fez os cursos de Design de Equipamento (Escola Secundária de Artes António Arroio, Lisboa, 2000), Artes Plásticas (Escola Superior de Arte e Design, nas Caldas da Rainha, 2006), Formação Artística (SNBA, Lisboa, 1998).

Nomes como Abel Júpiter, Kwame Sousa, Roberto Chichorro e Sidney Cerqueira fazem também parte da mostra, sem esquecer Malangatana Ngwenya, artista plástico e poeta moçambicano que faleceu em 2011.

UM | Estudo sobre discriminação publicado em revista internacional

Um estudo da Universidade de Macau (UM) sobre a estigmatização, discriminação e crimes de ódio contra grupos populacionais inseridos em comunidades falantes de chinês durante a pandemia de covid-19 foi publicado no Asian Journal of Criminology.

A investigação, conduzida por Xu Jianhua, responsável pelo departamento de Sociologia da UM, debruçou-se sobre recolha de conteúdos nos meios de comunicação social entre o final de 2019 e Abril de 2020. O objectivo foi estudar a forma como factores como “o medo de ficar infectado, a cultura gastronómica, utilização de máscaras, ideologia política e o racismo”, influenciaram a estigmatização dos diferentes grupos.

Segundo o estudo, na fase inicial da pandemia, os actos de estigmatização recaíram mais sobre os residentes de Wuhan, e eram provenientes das regiões fora da província de Hubei, passando depois pela discriminação por parte de residentes de Hong Kong e Taiwan contra habitantes do Interior da China. Por fim, com a pandemia controlada dentro de portas, a estigmatização passou para a população africana a viver na China.

Ensino | Governo implementa novas medidas para fiscalizar financiamento

A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) vai aplicar cinco novas medidas para melhorar o modelo de financiamento do Fundo de Desenvolvimento Educativo (FDE) às escolas. Segundo um comunicado, “será reforçada a fiscalização das entidades titulares em relação ao financiamento e administração das escolas”, estando previsto um reforço das “atribuições de fiscalização dos gestores, de diversos níveis, das escolas”.

Além disso, serão optimizados “os actuais procedimentos e mecanismo de abertura e análise de propostas nas escolas, incluindo a introdução, na comissão de abertura e comissão de análise de propostas, de outros intervenientes educativos, abrangendo os representantes do conselho de administração”. A ideia é “aumentar a transparência na abertura e análise das propostas”, adianta a DSEJ.

O Executivo pretende também melhorar o actual procedimento “relativo ao pagamento faseado do financiamento do FDE”, incluindo a realização de mais vistorias às escolas. A DSEJ promete também divulgar a concessão dos apoios financeiros às escolas através da publicação de todas as informações online.

A DSEJ promete reforçar, “mediante meios electrónicos, a fiscalização sobre a implementação de planos por parte das escolas”, realizando “inspecções aleatórias, em maior grau, através da recolha, por via electrónica, de várias formas, das informações comprovativas dos planos realizados pelas escolas”.

Caberá ainda às escolas a apresentação de um relatório completo sobre os projectos subsidiados pelo FDE e um “ofício de esclarecimento” caso haja alterações nesses mesmos projectos. Este ofício deve ser assinado pelo representante da entidade titular, juntamente com o novo projecto. Nestes casos, o FDE “poderá eventualmente reduzir o montante do apoio financeiro ajustado à situação real”.

Xu Jie lança novo concurso para director da Faculdade de Letras da Universidade de Macau

O director interino da faculdade de letras desistiu da posição a que se tinha candidatado depois de fazer parte de comissão de recrutamento. A Universidade vai agora abrir um novo concurso internacional

 

A Universidade de Macau (UM) lançou um novo concurso para contratar um director para a Faculdade de Letras, após o candidato seleccionado, Xu Jie, que foi igualmente director interino, ter desistido. A notícia foi avançada ontem pela Rádio Macau.

Xu tinha sido o escolhido no ano passado, num processo polémico, uma vez que o académico terá feito parte da comissão de recrutamento que inicialmente avaliou os candidatos para a vaga.

Mais tarde, Xu acabaria por deixar a posição e candidatar-se ao cargo que ocupava de forma interina, tendo sido seleccionado. Face a este procedimento, e ainda antes de o director interino ter sido escolhido, a UM sempre defendeu que o recrutamento se tinha realizado “de acordo com os procedimentos normais”.

A UM terá recebido várias candidaturas no âmbito do concurso que durou mais de um ano, entre as quais de académicos internacionais.

Segundo o “Estatuto do Pessoal da Universidade de Macau”, os recrutamentos têm como princípio geral a “igualdade de condições e de oportunidades para todos os candidatos”.

Contrato de 1,3 milhões

Segundo o novo concurso, o director da Faculdade de Letras vai auferir de um salário anual que começa nas 1,3 milhões de patacas. Entre os requisitos exigidos, o candidato deverá ter doutoramento “numa área relevante”, além de ser professor catedrático com “distinta e internacionalmente reconhecida experiência de investigação e académica”.

O domínio do inglês, como língua de trabalho no meio académico, é outras das exigências e os conhecimentos de chinês e português são tidos como uma vantagem.

O concurso para liderar uma faculdade com cerca de 1.300 alunos e mais de 110 docentes tem como prazo limite 22 de Fevereiro. Os interessados serão contactados cerca de três meses depois da entrega da respectiva candidatura.

Além de um director para a Faculdade de Letras, a UM procura ainda um director para o Departamento de Português. O cargo é actualmente desempenhado por Dora Nunes Gago, de forma interna, após Yao Jinming ter pedido licença sabática.