Trânsito | 15 mil casos de excesso de velocidade

[dropcap]E[/dropcap]ntre Janeiro e Setembro, as autoridades registaram 15.288 casos de excesso de velocidade por parte dos condutores. Os número foram avançados ontem pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública, e são citados pelo canal chinês da Rádio Macau.

De acordo com as informações disponibilizadas, 633 acidentes, ou seja 6,2 por cento, foram causados devido à velocidade excessiva e ao facto de não ter sido respeitada a distância de segurança para o veículo da frente.

A PSP encontra-se neste momento a realizar uma acção intensa de fiscalização do trânsito com a duração de duas semanas e só ontem foram passadas duas multas por excesso de velocidade e três devido à utilização do telemóvel ao volante.

Tufão Yutu | Baixa probabilidade até segunda-feira

[dropcap]A[/dropcap] probabilidade do super tufão Yutu chegar ao Mar do Sul da China antes de segunda-feira é considerada “baixa”, de acordo com o comunicado de ontem dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos.

“As previsões actuais revelam que a probabilidade do super tufão entrar no Mar do Sul da China, antes do dia 29, é baixa”, pode ler-se no comunicado.

“O super tufão “YUTU” localizado no Oceano Pacífico está a mover-se de oeste para noroeste. Nos próximo dias, vai dirigir-se, genericamente, para a área marítima entre “Taiwan” e o leste das Filipinas”, é sublinhado.

Parcimónia e outros exageros

[dropcap]S[/dropcap]uaves e discretos movimentos corporais, baixos tons de voz, risos e sorrisos contidos, raros contactos visuais e ainda mais raros contactos físicos, vestuário de cores sóbrias que contrasta com a generalizada exuberância da vizinhança asiática: há uma parcimónia sistemática e omnipresente nos quotidianos, profundamente enraizada na cultura japonesa. Não é apenas a provável barreira linguística que dificulta a comunicação com quem vem de fora: há também uma permanente protecção em relação ao exterior que também – ou sobretudo – se aplica em qualquer outra relação social, independentemente da origem dos intervenientes e também entre a própria população nipónica. Como me dizia uma amiga (japonesa), o Japão é uma ilha e cada pessoa é uma ilha em si mesma.

Em boa verdade, é preciso também dizer que a parcimónia se dissolve no álcool com relativas facilidade e eficácia: quer seja o tradicional sake, a universal cerveja ou o mais exótico vinho a animar os repastos, não é difícil observar a metamorfose que gradualmente vai transformando a generalizada parcimónia quotidiana em ruidosas celebrações de gestos amplos, olhares descontraídos, vozes ruidosas e sonoras gargalhadas, eventualmente excessivas e inevitavelmente surpreendentes para quem tem pouca familiaridade com estas drásticas transformações. De resto, as tradicionais tascas japonesas – isakaya – são o palco mais peculiar pare se observarem estas graduais transições entre o comedimento e o excesso.

A comida é, de resto, território de excelência para a manifestação extrema da parcimónia nipónica. Pratos pequenos, poucos condimentos, receitas simples com poucos ingredientes e alta precisão, pequenas doses já preparadas e cortadas em comedidas porções que podem ser levadas integralmente à boca, dispensando facas e outros utensílios metálicos, e uma regra essencial: comer até o estômago estar 80% cheio, o essencial para manter uma nutrição adequada ao funcionamento do corpo e para evitar excessos pouco saudáveis. A obesidade é relativamente rara, em comparação com qualquer outro país que tenha visitado, e a longevidade está nos mais altos níveis do planeta. E há também o respeito sistemático pela limitação dos recursos: raramente há sobras, os pratos estão vazios no final da refeição e não há desperdícios. Esta frugalidade também se reflete na surpresa com que agora enfrento as primeiras doses em restaurantes em Portugal, com quantidades de carne ou peixe que seriam suficientes para meia dúzia de refeições japonesas. E com os inerentes desperdícios, para os quais olhamos como sinal de generosidade, abundância e fartura.

Ainda assim, é também na alimentação que se releva um dos aspectos menos parcimoniosos do quotidiano japonês: a utilização desenfreada de plásticos, num país onde se cozinha relativamente pouco em casa e onde em cada quarteirão há uma loja, da especialidade ou de conveniência generalizada, onde se pode comprar comida feita e rápida, quente ou fria, adequada à curta pausa laboral da hora do almoço ou a uma rápida recuperação calórica no regresso a casa depois da habitual longa jornada de trabalho. Levando a higiene a extremos insuspeitos, são diferentes embalagens de plástico, enfiadas em pequenos sacos de plástico, por sua vez acomodados em sacos de plástico maiores, aos quais se juntam outros adereços, como os guardanapos húmidos embrulhados em plástico, a garrafa de plástico com água ou chá, as eventuais palhinhas, enfim, uma parafernália plástica proporcional à obsessão com a higiene e a limpeza.

Verdade seja dita, ganhar-se-á nos cuidados de saúde individuais algo que se perde nos cuidados colectivos com o meio ambiente, que o plástico não desaparece por grande que seja o esforço de reciclagem. Não é só a questão alimentar: em todo o comércio se revela esta aparentemente desproporcionada preocupação com a embalagem, a protecção contra a possível contaminação, o isolamento higiénico sistemático. E para tudo há plásticos, de vários tipos. Não pode ser uma surpresa que o Japão, país de frugalidade e parcimónia, seja o segundo país do mundo onde o consumo de plástico por habitante é mais alto (ainda há os Estados Unidos). E se a limpeza e a higiene da urbanidade contemporâneas ficam exemplarmente asseguradas, já os ecossistemas parecem severamente atacados e os mares da costa japonesa são os que apresentam maiores níveis de contaminação por micro-plásticos no mundo. Talvez alguma parcimónia neste campo – não só no Japão, certamente – ajudasse a proteger um bocadinho este planeta tão mal tratado pelas sociedades industriais e pós-industriais.

GP Motos | Schoots não recupera de lesão e falha Macau

[dropcap]A[/dropcap] 51ª edição do Grande Prémio de Motos de Macau iria contar com a participação de uma senhora à partida, facto inédito. Contudo, a holandesa Nadieh Schoots, que iria só pela sua presença ser certamente uma atracção na edição deste ano da prova de motociclismo mais antiga do sudeste asiático, irá acompanhar a prova pela televisão.

Antes do anúncio dos concorrentes da edição deste ano, a piloto de 27 anos terá comunicado à Comissão do Grande Prémio que não está totalmente recuperada da lesão sofrida numa prova de estrada no continente europeu este ano. Depois de novos exames médicos, à veloz holandesa foi diagnosticado um nervo danificado no músculo da perna esquerda, sendo por isso forçada a abdicar da presença na prova da RAEM este ano.

“Considerando a natureza incerta dos danos no nervo, principalmente o tempo de recuperação, a minha equipa e eu entramos em contacto com a organização do Grande Prémio de Macau”, explicou Nadieh Schoots no seu blog, consentindo que seria “muito arriscado para mim correr o Grande Prémio de Macau este ano. Parece que todos nós vamos ter que esperar até 2019 para que a primeira mulher corra neste incrível circuito e evento.”

“Obviamente, isso é muito difícil de aceitar, para ser honesta, estou completamente de coração partido, especialmente considerando que a minha lesão resultou de uma situação inaceitável. No entanto, o que está feito, está feito”, escreveu a corredora aos seus muitos fãs e seguidores.

Para ocupar a vaga deixado em aberto pelo infortúnio de Schoots foi chamado Erno Kostamo. Inscrito pela Markka Racing by Penz13 numa BMW S 1000 RR, o finlandês de 27 anos será um dos dez estreantes na prova deste ano, representando novamente o país nórdico após o compatriota Eero Hyvarinen ter obtido alguns lugares dentro dos dez primeiros nos anos 1980s.

Rival Americana

Nadieh Schoots não é a única senhora interessada em marcar presença na grelha de partida do Grande Prémio de Motos de Macau do próximo ano. Patricia Fernandez, de 33 anos, não abdicou do sonho de ser a primeira mulher à partida da prova.

Em Setembro passado, em entrevista ao site de motociclismo Cycle World, a norte-americana voltou a vincar as suas intenções de participar na desafiante prova do território.
“Definitivamente tenho aspirações para correr em Macau”, admitiu Fernandez que revelou que está em conversações com os organizadores da prova da Ilha de Man para alinhar no evento de 2019, apesar das dificuldades em encontrar apoios para a iniciativa.

Para ser admitida na prova de Macau, como mandam os regulamentos, Fernandez terá que ter participações passadas nas provas mais exigentes do motociclismo de estrada a nível mundial, como a Ilha de Man TT, a North West 200 ou o Grande Prémio do Ulster, prova em que alinhou em 2017.

Inshalla

[dropcap]O[/dropcap]s gregos achavam que o passado estava à nossa frente, porque dele nos podíamos lembrar como vida passada. Achavam, pelo contrário, que o futuro estava nas nossas costas. Era como se andássemos de costas para o futuro. O caudal do passado aumenta a cada dia. O Afluxo do tempo futuro é cada vez menor, ténue, até ao estrangulamento e asfixia do sentido. A memória refere-se a uma percepção passada. Platão fez da reconstituição da vida uma anamnese: uma lembrança da representação do que temos sem o vermos. Todos os protagonistas das nossas vidas: mãe, pai, irmão, amigos, amada, a banda sonora das nossas vidas, a nossa cinemateca, os sítios onde vamos e fomos, ginásios, cervejarias, igrejas e hospitais, a casa dos avós, tudo é como se tivesse sido projectado outrora num tempo pré-natal. O passado tem peso. Tem tanto peso que mal nascemos somos já velhos o suficiente para morrermos ou como dizia Santo Agostinho: “começas a morrer quando sais do ventre da tua mãe”. O presente é a actualidade complexa que desactualiza o passado, tempos idos: é o que é, é por onde vamos indo. Estafa. Não temos já o que fomos, nem quem tivemos, meus queridos. Agora, temos de nos reinventar. É sempre difícil. Mas chegam auroras. Chegam.

E o futuro? Como temos uma antevisão, uma previsão do futuro?

Os antigos achavam que a esperança era uma velha vestida de princesa ou então um sonho cheio de promessas. Na verdade, não trazia nada a não ser a morte sem a possibilidade do presente. Quem vive cheio de esperança, mesmo da vida eterna, esquece-se de viver. A vida está cheia de gente que veio à existência, a atravessou, dela saiu e, hoje, está morta para sempre. Mas também não é o desespero nem a desesperança. O horror nasce das paredes da nossa casa vazia de gente. O horror não tem rosto. Não é a gadanha nem a dor. O horror escorre da humidade fria das paredes das nossas casas.

O futuro é outra coisa. Está presente logo na primeira vez de todas as primeiras vezes. Para haver contagem tem de haver as segundas e as terceiras vezes, mas também a última vez. Nós acordamos para a vida com a hora da nossa morte. Tudo o que é o mais antigo nas nossas vidas não passou. Pode ser esquecido mas não passou. Está à nossa espera na hora da nossa morte. O tempo não é do presente para o futuro. Vem sempre do futuro para o presente e depois para o passado e para o esquecimento. Toda a duração tem esta qualidade. É do limite temporal do fim que pensamos o presente sem o pensarmos. O jogo a partir do seu fim onde decorre. A aula, a viagem, o encontro. O encontro total da vida é pensado a partir do seu fim. Tem de ser no limite irreversível do fim que pensamos o presente.

Mesmo que vivêssemos eternamente seria sempre a perder.

Sem a possibilidade radical da perda não poderíamos viver a pensar no céu azul nem na linha do horizonte.

Com vista para as traseiras

[dropcap]Q[/dropcap]uanto mais vejo a sequência inicial do filme “Janela indiscreta” de Hitchcock, mais ela se me afigura macabra e deplorável.

Vamos dar com James Stewart de pijama transpirado e perna engessada, imobilizado numa cadeira, a dormitar. Entra de súbito o rosto radioso de Grace Kelly em crescendo para câmara, mas afinal era para os lábios de Stewart, oferecida a um beijo mais abrasador do que o Verão urbano. No dueto subsequente Grace executará o que deveriam ser invencíveis manobras de sedução, desde o voluptuoso vestido de colecção pronto a ser despido (ou nem seria preciso…) até a um suculento jantar de lagosta, encomendado ao extremamente elitista e boémio “Clube 21”, servido por criado de libré. Qualquer espectador que não seja feito de gelatina, é infalível que neste ponto já lhe inflamassem as gónadas, mesmo ignorando que dali a um ano Kelly adviria indisponível enquanto Princesa do Mónaco.

Pois Stewart nada. De todo refractário às astúcias da Vénus furta-se a elas com relutância de peixe velho em picar o engodo, empregando um sarcasmo pedante, de quem se reivindica impermeável a frivolidades. O enfado dele é exuberante, como se soubesse que estava a ser filmado, e atinge mesmo a desonestidade emocional, quando a instâncias da frustrada Grace justifica a sua incomodada indiferença como sendo uma passageira hesitação. Nunca falha ser amarelo o nosso riso vendo-a sair porta fora com um “adeus” vexado por tão inverosímeis negas. Toda a cena é indesculpável.

Ah e tal…, isso são vocês deslumbrados com a novidade e a expectativa da cena…, ou esqueceram que a rotina gera o marasmo e a excessiva solicitude a lassidão do caçador perante a presa capturada?

Seria plausível o argumento, não fossem as cãs de James Stewart denunciarem os seus 46 anos de idade. E já não era o James Stewart cândido e generoso, personificação da virtuosa mediania que víramos na década de 40. Ele viera ter a este aposento com vista para o saguão após uma sequência de filmes com Anthony Mann, realizador sumamente asseado e pragmático, que não só o meteu a cavalo e aos tiros nas bravias florestas do noroeste americano, como lhe transfigurou o carisma. Posta de lado a sua proverbial inocência, o James Stewart de agora não desdenhava a ira da vingança, haja dela necessidade para desagravar injustiças.

Vá lá, faça-se um exame de consciência: mas que homem de 46 anos solteiro e autónomo, inevitavelmente titular de um acervo de desilusões na vida e decerto advertido que os dados da sorte não rolam com a boa estrela de outrora, que varão maduro permaneceria impávido aos fervores de Grace Kelly, bem condizentes com a avidez dos seus 23 anos? Mas quem preferiria entreter-se a bisbilhotar a vulgaridade dos vizinhos do que a explorar até onde consentiria a paixão de Grace Kelly? – de Grace Kelly! Quem?

Em jovens, nas primeiras vezes que vimos esta cena, quando o tempo e as oportunidades ainda eram incomensuráveis, partilhámos com gozo e cumplicidade não tanto a petulância de James Stewart – atire pedras quem não resmungasse que dava deus nozes a quem não tinha dentes… – quanto a torpeza de Hitchcock em comprometer-nos com a intuição de que a recusa será mais libidinosa do que cedência. Mas hoje não consigo deixar de ver na misantropia da personagem de Stewart algo de mórbido e punitivo que o realizador nos quis instilar.

Hitchcock sabia bem o que fazia. A são e salvo nos bem-sucedidos 54 anos que então envergava, é deliberado que faça pouco da protérvia da juventude e desconforte o recato da meia-idade. As duas classes etárias – que é para aprenderem… – o mestre da manipulação ludibria com mão direita as intenções pecaminosos incitadas pela mão esquerda. A cena não é a comédia de uma paixão desmerecida e malograda, mas uma provação apontada à lascívia dos espectadores. E este ostensivo gosto em retirar prazer da negação do sexo poder-se-á crer que seja a versão hitchcockiana da “Noche Oscura” do místico João da Cruz – poema que nos convenceríamos ter sido escrito por um libertino se nos sofismassem acerca da sua espiritualidade. Enganou-nos muito bem enganados, o patife.

Sun Yat-sen como médico em Macau

[dropcap]S[/dropcap]un Wen (Sun Yat-sen) nascera um ano antes de Manuel da Silva Mendes e Camilo de Almeida Pessanha. Já com o Imperador Guang Xu (1875-1908) no trono do Celeste Império, veio o Dr. Sun para Macau como médico em Setembro de 1892, onde ficou um ano, enquanto como professores do Liceu, os bacharéis formados em Direito pela Universidade de Coimbra, Camilo Pessanha chega um ano e meio depois e Manuel da Silva Mendes só em 1901. Ambos vieram ao mundo no ano de 1867, Silva Mendes a 23 de Outubro em S. Miguel das Aves, Famalicão e Camilo Pessanha em Coimbra a 7 de Setembro.

Como médico, Sun Yat-sen serviu no Hospital Kiang Wu em regime de voluntariado entre Setembro de 1892 e Setembro de 1893 e aí criou uma secção de Medicina Ocidental. A comunidade chinesa de Macau fizera a Associação do Hospital Kiang Wu com a finalidade de ajudar os chineses mais desfavorecidos e tinha projectos de abrir escolas gratuitas, socorrer os necessitados e enterrar os mortos cujas famílias eram pobres ou, sem ninguém para deles cuidar. O Hospital foi instalado em San Kiu, um dos locais mais doentios de Macau, onde os mortos mal enterrados, muitas vezes com partes do corpo a descoberto e sem sepulturas, encontravam-se espalhados pela encosta do monte. A arquitectura do Hospital Kiang Wu, semelhante à do Templo de Kun Iam Tong, tem três pavilhões centrais, servindo o da entrada para as reuniões da Associação e o terceiro, um templo com altares aos deuses, Hua Tuo, Guang Gong, Bao Gong, Liu Zu e Hong Sheng. Na casa situada no lado direito dos três pavilhões realizam-se os cuidados médicos. Conta o Hospital com um total de 60 quartos, localizados ao redor do terreno, prestando gratuitamente serviços clínicos aos doentes, servindo de asilo e casa mortuária. Assim se apresenta a Camilo Pessanha o Hospital chinês, dirigido então por uma Comissão Administrativa com quatro directores.

Macau não lhe reconhece diploma

Apoiante e amigo do Dr. Sun desde o tempo de Hong Kong, era então Francisco Hermenegildo Fernandes (1863-1923) funcionário tradutor da Justiça britânica e a sua família proprietária em Macau da tipografia N. T. Fernandes e Filhos, com sede na Rua da Casa Forte n.º 3. Encontrava-se o Dr. Sun a exercer medicina em Macau quando a 18 de Julho de 1893 Francisco Fernandes aqui fundou o Echo Macaense, semanário bilingue luso-chinês. Era Director da tipografia e do jornal e contou com Sun Yat-sen para criar a edição chinesa.
O Ching Hai Tsung Pao (JingHaiCongbao), a edição chinesa do jornal Echo Macaense, a 26 de Setembro de 1893 referia: .

“Através de Francisco Fernandes, Sun Yat-sen seria apresentado a António Joaquim Bastos, figura que de facto desbloquearia o acesso de Sun aos círculos sociais macaenses, avalizando-o na sua vida profissional e defendendo-o nos processos judiciais que lhe foram movidos por rivais e inimigos políticos em Macau. António Joaquim Bastos era, tal como Francisco Fernandes, jornalista e integrava igualmente a redacção do Echo Macaense. (…) Para além de político era também um destacado causídico do foro local. (…) Foi diversas vezes vereador e presidente do Leal Senado e provedor da Santa Casa da Misericórdia. Foi graças a esta última qualidade do seu protector macaense que Sun conseguiu estabelecer-se como médico na cidade, já que António Joaquim Bastos, como provedor da Santa Casa, não teve dificuldades em convencer a mesa directora da instituição a conceder-lhe os empréstimos necessários para montar não só consultório, mas também uma farmácia anexa”, segundo João Guedes, (Revista Macau 52, Outubro 2016) que segue, “Os bons ofícios de Bastos contribuíram também para que a Misericórdia arrendasse a Sun a casa que seria a sua residência nos anos de Macau, situada precisamente na Travessa da Misericórdia, a poucos passos da Praça do Leal Senado. No seu novo domicílio, Sun atendeu alguns dos seus primeiros pacientes, que além de serem seus vizinhos eram portugueses, como os filhos do escritor Venceslau de Morais…”

Formado em Hong Kong, Sun Yat-sen, sem diploma português de médico, segundo as leis do território não poderia exercer legalmente medicina em Macau e nem o poder e influência de António Joaquim Bastos o conseguiram ajudar. Assim, o Dr. Sun teve em 1893 de abandonar Macau e mudou-se com a sua farmácia para Cantão, mas como refere o Dr. Cantlie, «as actividades do Partido Regenerador tomaram tal vulto e ele tornou-se tão proeminente entre os seus colegas que dispunha de pouco tempo para qualquer outra actividade que não fosse a política».

Caçada aos caçadores

Era habitual os portugueses de Macau atravessarem as Portas do Cerco e irem fazer caçadas em território do interior da China. Assim foi na madrugada de 26 de Agosto de 1893, quando o Sr. Firmino Cândido Pereira e quatro amigos seguiram para Goiaveira, povoação pouco distante da Porta do Cerco, com o fim de caçar martinhos-brancos. Sem problemas passaram a estação aduaneira e casa de guarda e levavam já uma hora de caça quando às 7 horas, na maior afluência de caça, depois de ter o Sr. Pereira descarregado sua espingarda sobre um bando de martinhos, no momento de a colher foi bruscamente assaltado por uns quinze chineses, que o desarmaram à força, tendo os outros entregado sem resistência as armas. Asseveraram algumas pessoas que os assaltantes eram meirinhos do mandarim Ngai, sub-prefeito de Chin-san (Casa Branca) e este, numa carta deu a sua versão: . O Mandarim de Chin-san mandou publicar um edital em que narrava o ocorrido e suscitava a observância do anterior edital proibitivo da caça. O Governador da província de Macau e Timor, Custódio Miguel de Borja fez um protesto perante Tsung-Li-Yamen contra o procedimento abusivo do sub-prefeito de Chin-san.

Para haver paz e harmonia, pedia-se que o governo encarregasse um funcionário português a se entender com o mandarim de Chin-san sobre a determinação dos lugares onde devia ser permitido caçar e sobre as formalidades a observar quem quisesse obter uma licença para ir à caça. Pouco tempo depois, tal ficou resolvido, continuando os caçadores de Macau a fazer as incursões em território do interior da China até 100 lis de Macau, onde não faltavam tigres e martinhos-brancos.

Forbes | Crise bolsista e fricções comerciais atingem os mais ricos na China

A guerra comercial declarada por Donald Trump atinge também os bolsos dos bilionários chineses. Segundo a revista Forbes, um terço dos 400 mais ricos da China sofreram perdas de 20 por cento ou mais

 

[dropcap]A[/dropcap]s fortunas dos mais ricos da China caíram este ano, face às disputas comerciais entre Pequim e Washington, desvalorização do yuan e abrandamento do ritmo de crescimento da economia chinesa, informou ontem a revista Forbes.

A lista dos bilionários chineses, elaborada pela Forbes, revela que o património líquido total dos maiores empresários chineses caiu de 1,19 biliões de dólares, em 2017, para 1,06 biliões de dólares, este ano.
Em média, o património dos 400 chineses mais ricos caiu de 1.700 milhões de dólares, no ano passado, para 1.400 milhões de dólares, em 2018.

“O mundo habituou-se a associar a China à criação de riqueza e está alarmado por ver a dimensão da destruição de riqueza este ano”, escreveu Russell Flannery, delegado da Forbes em Xangai, a “capital” económica da China.

As fortunas de 229 dos 400 mais ricos que constam na lista recuaram este ano, face a 2017. Um terço sofreu perdas de 20 por cento ou mais.

O sector manufactureiro foi o mais afectado este ano, sugerindo o efeito da guerra comercial com Washington, que levou o Presidente norte-americano, Donald Trump, a impor taxas alfandegárias sobre 250 mil milhões de dólares de bens chineses.
No ano passado, 79 bilionários chineses do sector manufactureiro constavam na lista. Este ano, o número recuou para 72.

Conta gotas

Segundo a publicação, Jack Ma, o fundador do gigante de comércio electrónico Alibaba, voltou a ser o mais rico da China, com um património líquido avaliado em 34.600 milhões de dólares, quatro milhões a menos do que em 2017.

Em segundo na lista está o fundador do gigante da Internet Tencent, que detém a aplicação Wechat.
A fortuna de Pony Ma caiu 6.200 milhões de dólares, para 32.800 milhões de dólares.
As acções da Tencent registaram perdas acentuadas este ano.

Hui Ka Yan, que figurava como o mais rico da China no ano passado, caiu para terceiro, após um recuo de 28% na sua fortuna, para 30.800 milhões de dólares. Hui é o presidente do grupo imobiliário Evergrande, que enfrenta uma crise de dívida que levou as acções do grupo a cair.

No terceiro trimestre do ano, o crescimento económico da China abrandou para 6,5%, em termos homólogos, o ritmo mais lento desde o primeiro trimestre de 2009, segundo dados publicados na semana passada.
O investimento em activos fixos, motor fundamental do crescimento chinês, abrandou para 5,4%, nos primeiros nove meses do ano, face ao mesmo período do ano passado.

A bolsa de Xangai, principal praça financeira do país, caiu mais de 20%, desde o início do ano, enquanto a moeda chinesa, o yuan, caiu quase 10%, face ao dólar norte-americano.

FIMM | Festival encerra com obras de Schumann

[dropcap]O[/dropcap] XXXII Festival Internacional de Música de Macau (FIMM), apresenta nos dias 27 e 28 de Outubro, pelas 20h00, o concerto “Christian Thielemann e a Staatskapelle Dresden”. Os concertos têm lugar no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau e marcam o final de mais uma edição do FIMM.

“A Staatskapelle Dresden é uma das orquestras mais antigas e tradicionais do mundo e uma das principais na interpretação da música alemã”, refere o Instituto Cultural em comunicado. Dirigida por Christian Thielemann, a orquestra apresentará, em dois concertos, as sinfonias completas de Schumann.

A organização promove uma conversa pré-espectáculo no dia do concerto, entre as 19h00 e as 19h45, na Sala de Conferências do Centro Cultural de Macau em que o director musical e maestro do Coro da Universidade Chinesa de Hong Kong, Leon Chu vai explicar os conteúdos do espectáculo. Nos dias 26 e 27, o quarteto de guitarras Los Romero, conhecido como “A Família Real da Guitarra”, apresenta-se no Teatro Dom Pedro V, pelas 20h00.

Salão de Outono | Mais de 80 obras locais para ver a partir de 3 de Novembro

A nona edição do Salão de Outono tem início no próximo dia 3 de Novembro na Casa Garden. O evento mostra as obras de artistas locais seleccionadas pela Fundação Oriente e a Art For All Society e conta com mais uma edição do Festival Internacional de Vídeo com a chancela da VAFA

 

[dropcap]A[/dropcap] edição deste ano do Salão de Outono é inaugurada no próximo dia 3 de Novembro com a apresentação das obras seleccionadas pela Fundação Oriente e a Art for All Society (AFA).
O evento mantém a tradição e pelo nono ano consecutivo mostra o que de melhor fazem os artistas de Macau.

A cerimónia de abertura terá lugar às 17h30, na Casa Garden e a exposição conta com 84 trabalhos seleccionados de 43 artistas entre os cerca de 100 que a organização recebeu.
As obras seleccionadas incluem trabalhos em pintura a óleo, aguarela, desenho, escultura, fotografia, porcelana, gravura, e instalação. De acordo com a organização, “todos os participantes, embora de diferentes origens, trabalham e vivem em Macau e tal como nos anos anteriores, há a representação de artistas jovens mas também de artistas reconhecidos no panorama da arte contemporânea”.

Entre os artistas seleccionados encontram-se Lam Ka Man, Ho Si Man, Yolanda Kog, Zheng Yu, Wong Hio Chit, Fan Sai Hong, Vai Im Fong, Tong Chong, Leong Cheng I, Ricardo Meireles, Duarte Esmeriz, Francisco Ricarte, Leong Lampo, José das Neves, Shih Ting Yu, Chau da Luz, Celeste, Sanchia Lau, Kawo Cheang, Lou Ka I, Ieong Mei Cheng, Lei Chekon, Ieong Man Hin, Edmundo R. Lameiras, Gonçalo Cardoso de Menezes, Tiffany Ian Tong Ho, Sou Chon Kit, Chan Ka Lok, Jose Drummond, Cheok Hio Peng, Ho Ka Io, Leong Chi Mou, Che Chi Un, Meng Hei, Fannie Leong, Tang Kuok Hou, Van Pou Lon, Yang Sio Maan, Ng Man Wai, Noah Ng Fong Chao, Heidi Ng, Siokit Lai, Alice Kok, Cai Guo Jie e James Chu Cheok Son.

No mesmo dia será ainda anunciado o vencedor do 7º Prémio Fundação Oriente para as Artes Plásticas, O vencedor terá a oportunidade de visitar Portugal para um programa de residência artística durante um mês.
A exposição estará aberta ao público de 3 a 30 de Novembro. E conta com entrada livre.

Vídeos do mundo

Paralelamente, vai decorrer mais uma edição do Festival Internacional de Video de Macau, um evento organizado pela VAFA. De acordo com o responsável, o artista e curador José Drummond, o número de trabalhos que respondeu à abertura das candidaturas superou todas as expectativas.

No total, a organização recebeu 375 vídeos de artistas de 53 países. O país que mais aderiu à iniciativa foi os Estados Unidos da América com 43 obras, seguido do Reino Unido com 45. A China e Portugal também representam uma larga parcela de candidaturas com 23 e 21 vídeos enviados respectivamente. De Macau concorreu Kit Lee.

Para a selecção dos melhores vídeos foi destacado um júri composto pela vencedora da edição do ano passado, Song Zihui, a presidente da AFA, Alice Kok, o curador de Hong Kong Andrew Lam, o artista de Xangai Hu Renyi, e o director do festival José Drummond.

A apresentação dos vencedores tem início marcado também para dia 3 de Novembro às 18h30 , no anfiteatro da Casa Garden, momento em que é anunciada a vencedora deste ano, Maria Molina Peiró.
No dia seguinte tem lugar a projecção das restantes obras selecionadas.

Segundo José Drummond a edição deste ano segue “a lógica do trauma”, até porque quase todos os vídeos recebidos abordam este assunto de alguma maneira. “Mesmo que de uma forma mais poética, todos falam sobre as questões do presente: da guerra, da luta LGTB, dos refugiados ou da censura”, disse ao HM.
Outro destaque do responsável vai para os quatro vídeos chineses seleccionados “É a primeira vez que tal acontece”, disse.

 

 

Programa do Festival Internacional de Vídeo de Macau

3 de Novembro – 18h30

Maria Molina Peiró (Espanha/Holanda) – Digital Trauma (And the Crystal Image) – 8’07’’
Naween Noppakun (Tailândia) – We Love Me – 13’18’’
Hiroya Sakurai (Japão) – The Stream VIII – 6’54’’
Pedro Matias (Portugal/Holanda) – To My Plastic Brothers – 9’49’’
Lin Li (HK) – Four Minutes and Beyond – 4’30’’
Kit Lee (Macau) – Flower in the Water (Red, Yellow, Blue) – 2’00’’
Fair Brane (EUA) – Centered – 1’00’’
Mo Jia Qing (China) – Subliminal Mirage – 9’16’’
Wang Yanxin (China) – Snowy – 8’44’’
Luciano Scherer (Brasil/Portugal) – Untitled (5) – 5’05’’

4 de Novembro – 16h30

Noémi Varga (Hungria) – The Happiest Barrack – 15’51’’
Pablo Romo Alvarez (México) – Suspect – 1’48’’
Jim Rolland (França) – Musical Landscape – 7’42’’
Alexandra Buhl (Dinamarca) – Blue Furacana – 11’00’’
Michael Lyons (Canadá/Japão) – Film Loop 34: Ryoanji – 1’30’’
Corrine Charton (Reino Unido) – (Paroxysms erupting because) MR ROCHESTER DOES NOT QUITE GET IT – 2’ 36’’
Veronica Burger (Áustria) – fade IN fade OUT – 6’28’’
Leonid Kharmalov (Rússia/Alemanha) – The Wall – 1’24’’
Tullio Manca (Itália) – The Wait – 3’15’’
Marisa Benito (Espanha) – Ductile – 2’43’’

Asian Showcase – 17h30
Ieong Kun Ieng (Macau) – The Golden Birdcage – 0’48’’
Kiwi Chan (Macau) – Hato’s Journey – 9’51’’
Carlos Caires (Macau) – This is Not a Story This is Not a City– 14’23’’
Bo Choy (HK) – Un/folding In – 13’56’’
Zhang Yongji (China) – The Generation is Screaming – 4’31’’
Zhang Yunfeng & Li Haiguang (China) – Playground – 13’42’’
Di Hu (China) – Urban Sculptures – 6’16’’
Shon Kim (Coreia do Sul) – Bookanima: Dance – 7’31’’
Rita Mahfouz (Líbano) – On Familiar Waters – 7’44’’
Axl Hazarika (índia) – Goru Bihu Song – 4’00’’
Rita Mahfouz (Líbano) – “On Familiar Waters”,7’44’’
Axl Hazarika (Índia) – “Goru Bihu Song”, 4’00’’

Bullying | Alexis Tam espera perdão entre alunas

[dropcap]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, deixou o desejo que as alunas envolvidas no caso de bullying na Escola Luso-Chinesa Técnico Profissional consigam ultrapassar a situação e perdoarem-se.

“Esperamos que as alunas se consigam entender, devem dar-se melhor, e esperamos que as agressoras peçam desculpa à vítima. Por outro lado, também esperamos que a estudante agredida consiga perdoar às agressoras”, disse Alexis Tam, ontem, de citado pelo Canal Macau.

Galgos | ANIMA pede apoio a clínicas veterinárias para tratamentos

[dropcap]A[/dropcap]lbano Martins, presidente da Sociedade Protectora dos Animais de Macau (ANIMA), emitiu ontem um comunicado na sua página oficial do Facebook onde afirma necessitar de apoio das clínicas veterinárias para a continuação do tratamento dos galgos do antigo Canídromo que ainda não foram dados para adopção.

“ANIMA, com o apoio financeira da Companhia de Corridas de Galgos Yat Yuen e com a autorização do presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), José Tavares, está a tentar o seu melhor para evitar que haja mais mortes no Canídromo”, apontou, estando em causa o elevado número de animais ao cuidado da ANIMA.

“Depois de 21 de Julho, quando o Governo de Macau retirou os galgos do Canidromo, morreram seis cães apesar dos bons e consideráveis esforços do IACM. São demasiados animais para uma estrutura muito pequena. Depois de muitas conversações, conseguimos a permissão do IACM para levar os animais para clinicas veterinárias em carrinhas da ANIMA. Precisamos do apoio de todas as clínicas para levarmos a cabo este trabalho colossal”, escreveu Albano Martins.

São necessárias esterilizações dos animais, testes de sangue e exames à boca. “Na próxima semana já estão agendados seis galgos do sexo feminino para seguirem para tratamento e esterilização, mas gostaríamos que mais galgos tivessem um tratamento mais imediato.”
O presidente da ANIMA assegura que toda a transparência será garantida. “Não queremos fazer negócio com nenhuma clínica em particular, o nosso trabalho é apenas ajudar os galgos”, rematou.

Galaxy | Receitas líquidas aumentam 6 por cento

[dropcap]T[/dropcap]ambém ontem a concessionária Galaxy Entertainemnt Group apresentou os resultados para o terceiro trimestre, com as receitas líquidas a aumentarem para 13 mil milhões de dólares de Hong Kong, ou seja 6 por cento face ao período homólogo do ano passado.

No que diz respeito ao EBITDA ajustado (ou seja lucros antes de impostos, amortizações e depreciações) houve um aumento de 10 por cento face ao ano passado para os 3,9 mil milhões de dólares Hong Kong.

Jurista Luís Pessanha pede regulação do jogo além dos casinos

O jurista Luís Pessanha defende que seria oportuno criar uma lei para regular as apostas desportivas, em corridas de cavalos e lotarias e, em simultâneo, repensar todo o jogo extra casino

 

[dropcap]É[/dropcap] normalmente o parente pobre do sector do jogo. Tanto que, ao contrário do que sucede com os casinos, o grosso das regulações das apostas desportivas, em corridas de cavalos e lotarias figura nos respectivos contratos de concessão. Neste sentido, o jurista Luís Pessanha defende uma espécie de chapéu legal para cobrir todas as modalidades de jogos à excepção dos de fortuna ou azar.

“Na minha opinião, seria oportuno pensar-se em fazer uma lei para o resto do jogo [além dos casinos] para tentar enquadrar melhor a actividade e estabelecer um padrão de regulação”, afirmou, à margem de uma conferência internacional sobre jogo na Universidade de Macau. Embora reconhecendo que o território tem “vivido bem” com a tradição antiga – em que o “mais relevante” consta dos contratos de concessão” –, Luís Pessanha entende que uma lei permitiria uma “solução mais uniforme e coerente no sistema para as apostas desportivas, em corridas de cavalos e lotarias”, uma “área menos desenvolvida” no seio do sector.

“Estamos sempre mais preocupados com o jogo em casino, por razões financeiras evidentes e, às vezes, não damos tanta atenção ao resto”, observou. Para se ter uma ideia, as receitas brutas combinadas das apostas em futebol, basquetebol, em corridas de cavalos e nas lotarias representam sensivelmente 0,4 por cento dos proventos de todo o sector do jogo, dado que os casinos granjeiam a fatia de leão.

Essa regulação não teria que seguir necessariamente a bitola da lei sobre a exploração de jogos de fortuna ou azar, nomeadamente no que toca ao limite máximo da validade das concessões, ressalvou. “As regras podiam ser essas ou outras. Até poder-se-ia permitir a renovação ou prorrogação dos contratos– como temos actualmente –, ao contrário do que acontece com os casinos”, em que a lei obriga a um concurso público, após o limite máximo de 20 anos e uma eventual extensão por cinco, exemplificou.

Em simultâneo, na opinião de Luís Pessanha, seria igualmente “importante repensar” o que se pretende fazer com todo o sector que existe para além dos casinos. “Há quem diga que Macau devia ter um produto de jogo mais diversificado, uma espécie de menu mais completo”, comentou o jurista, observando que poder-se-á entender eventualmente que há vantagens para além do jogo bancado e das ‘slot machines’. “Isso deve ser pensado, porque há uma questão de viabilidade económica que – se nada for feito – pode pôr em causa o que não é casino”, observou o jurista, para quem a vertente das apostas de jogo ‘online’ também tem sido esquecida.

Pensar o futuro

O futuro dos casinos também esteve em foco na intervenção de Luís Pessanha que apresentou um novo olhar sobre as concessões de jogo em Macau. Para o jurista, a actual lei que regula a exploração de jogos de fortuna ou azar “tem de ser revista”, seja para afastar a obrigatoriedade de concurso público ou para aumentar o número de operadoras.

Se a opção política passar por manter o actual número, o jurista entende que “não faz sentido” avançar com o concurso público, sendo mais “pragmático” rever a lei de modo a permitir a renovação e a adjudicação directa. Já se a intenção for abrir o mercado de jogo a mais operadoras então torna-se “inevitável”, complementou.

Os actuais contratos de concessão e de subconcessão expiram entre 2020 e 2022, mas não há sinais sobre futuro. Luís Pessanha, à semelhança de outros juristas e de analistas de jogo, está a contar que os primeiros dois (SJM e MGM) vão ser prorrogados por dois anos, para que todos se alinhem e terminem no mesmo ano para se fazer o concurso público como exige a lei. “Tal quer dizer que temos tempo para tratar do assunto, mas está na altura de começar a estudar e a ponderar”, realçou.

Sands | Equacionada construção de mais um pavilhão de grande dimensão

[dropcap]A[/dropcap] operadora Sands China está a equacionar construir uma segunda arena de grande dimensão em Macau. A revelação foi feita, ontem, por Sheldon Adelson, presidente da empresa, durante a apresentação dos resultados financeiros da empresa no terceiro trimestre do ano.

“Talvez venhamos a construir outra arena. Colocámos alguma parte dos nossos terrenos de lado para construir uma piscina com ondas, mas agora já houve alguém [Galaxy] que construiu uma piscina deste género, o que faz com que não seja uma oferta única. Por isso, acho que podemos utilizar a terra para construir uma arena”, afirmou Sheldon Adelson.

A operado do jogo está neste momento a renovar o hotel Sands Cotai Central e a transformá-lo no hotel “Londrino”, que imita a cidade inglesa. Inicialmente estava previsto um investimento de cerca de 8,2 mil milhões de dólares de Hong Kong, mas a empresa anunciou que o valor vai ser aumentado para 17,2 mil milhões. Parte do montante vai ser igualmente gasto em melhoramentos nos hotéis Four Seasons e St. Regis.

Em relação ao terceiro trimestre do ano, os lucros da Sands China aumentaram 13 por cento para cerca de 3,56 mil milhões de dólares de Hong Kong, quando no período homólogo tinham sido de 3,16 mil milhões. Já quanto aos resultados da empresa-mãe, Las Vegas Sands, que inclui as operações nos Estados Unidos e Singapura, os lucros foram de 4,47 mil milhões de dólares, um aumento de 1,4 por cento face ao período homólogo, quando o lucro tinha atingido os 4,46 mil milhões de dólares de Hong Kong.

Legislação | Registo comercial de embarcações passa a ser obrigatório

[dropcap]T[/dropcap]erminou a discussão no Conselho Executivo da proposta de lei acerca do registo de embarcações. O diploma prevê a obrigatoriedade do registo comercial nas conservatórias, que até agora estavam apenas sujeitas a um registo administrativo de propriedade na Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA).

Depois da entrada em vigor desta lei, os proprietários de embarcações que não fizerem o registo no prazo de trinta dias, a contar da data de celebração do contrato de aquisição da embarcação, verão a taxa a pagar agravada para o dobro do valor.

Já para as embarcações que se encontram regularizadas em termos administrativos junto da DSAMA, a proposta de lei permite aos proprietários fazer o registo comercial dentro de um período de 18 meses, sem que sejam penalizados nos emolumentos, avançou ontem o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, em conferência de imprensa.

O diploma também prevê que o registo comercial seja cancelado após a apresentação de documentos comprovativos de demolição, desmantelamento ou desaparecimento da embarcação, bem como nos casos de transferência da embarcação para outra jurisdição que não a da RAEM.

Coutinho questiona medidas sobre residência no interior da China

[dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho entregou uma interpelação escrita ao Governo onde questiona quais são as medidas que Macau está a tomar para a residência de portadores do BIR permanente no interior da China.

“Que medidas efectivas vão ser implementadas para que os residentes permanentes da RAEM que se encontrem no interior do continente disponham, em tempo útil, das necessárias plataformas oficiais do Governo da RAEM?”, questionou.

Coutinho pretende também saber “que medidas vão ser implementadas pelo Governo da RAEM no sentido de esclarecer os seus residentes permanentes interessados em requerer ou que tenham requerido a residência no interior do continente quanto às diferenças dos sistemas político, económico e legal entre a RAEM e o interior do continente?”, inquiriu.

Clínica Malo reabriu ontem portas no centro de Macau

Depois de meses com a actividade suspensa, a clínica Malo abriu ontem portas na avenida da Praia Grande, nas instalações da Pedder Clinic. Os Serviços de Saúde não receberam novo pedido de licenciamento em nome da Malo

[dropcap]O[/dropcap]s serviços dentários da clínica Malo estão desde ontem disponíveis ao público, informaram os responsáveis pelo espaço na sua página oficial do Facebook. As consultas decorrem nas instalações da clínica Pedder entre segunda-feira a sábado, das 9h15 às 13h00 e das 14h15 às 18h00.

O HM tentou ontem chegar à fala com Paulo Malo, fundador da clínica com o seu nome, mas até ao fecho da edição não foi possível estabelecer contacto. Este é o regresso de um projecto de saúde de matriz portuguesa que se viu envolto em polémica depois da suspensão do licenciamento do hospital Taivex/Malo no Venetian, por alegadas práticas ilegais noutros serviços que não a medicina dentária.

Os Serviços de Saúde de Macau (SSM) garantiram ao HM que a parceria com a Pedder é uma mera ligação comercial e que, até ao momento, não receberam em nome da Malo qualquer pedido para um novo licenciamento para uma clínica em nome próprio.

A aposta num novo projecto depois da perda da licença foi anunciada por Paulo Maló em Maio. “Na parte dentária vamos abrir uma nova clínica, que não tem nada a ver com a anterior, com um parceiro novo”, referiu à Lusa.

Licença suspensa

A PHC-Pacific Health Care, dona de 90% da marca Maló em Macau e que detém a licença da clínica TaivexMalo, recebeu uma ordem de despejo do Venetian Macau, hotel-casino onde se encontravam as instalações que incluíam o consultório dentário Malo.

A 24 de Novembro do ano passado, os SSM anunciaram a suspensão da licença da TaivexMalo por seis meses, devido à prática ilegal de procriação médica assistida, tráfico e contrabando de medicamentos de oncologia e falta de condições de higiene e segurança.

Paulo Malo afirmou que a ordem de encerramento das instalações da PHC-Pacific Health Care não abrangia directamente a sua empresa, mas afectou na prática o seu funcionamento, uma vez que partilhavam o mesmo espaço.

Meses depois, continuam a não existir novidades sobre a suspensão da licença no Venetian, sendo que os materiais da Malo continuam no mesmo espaço, bem como as placas que indicam a localização da clínica.

Apesar disso, Paulo Malo acrescentou, também em Maio, que pretende continuar com a PHC, para continuar a fazer turismo médico, que inclui a parte dentária, cirurgia cosmética, dermatologia ou pediatria, mas que desta vez não abdicará da gestão.

“Precisamos do espaço do Venetian, que foi feito para ser o maior centro de turismo médico na Ásia, mas não vamos abrir mão do controlo do ‘management’, até porque temos muito a perder, como aconteceu agora, não só do ponto de vista económico, como de reputação”, afirmou.

Táxis | Raimundo do Rosário explica redução de multas com consenso

Um diploma que não pode ser analisado pelo valor das multas e que vai contribuir para melhorar o serviço dos táxis. Foi assim que Raimundo do Rosário comentou a marcha-atrás do Governo no aumento das multas de 30 mil para 9 mil patacas

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo aceitou a sugestão de vários deputados para reduzir o aumento de algumas das multas aplicáveis aos proprietários das licenças de táxis de 30 mil patacas para nove mil. O secretário para os Transportes e Obras Públicas explicou a medida com a necessidade de construir consensos com os legisladores.

“Faço as coisas com a melhor das intenções. Mas é evidente que na vida nunca conseguimos fazer tudo aquilo que nos apetece. Temos de consensualizar as coisas”, começou por explicar. “O documento que chega ao fim é sempre o resultado de um consenso entre o Governo e a Assembleia Legislativa. Esta é a minha postura e não venho para aqui impor nada”, acrescentou.

Raimundo do Rosário desvalorizou ainda a questão dos aumentos das multas serem mais reduzidos do que o inicialmente proposto: “Não veja a eficácia do diploma só pela questão das multas. Veja isto como uma questão global e o objectivo final é que o serviço final seja o melhor. Espero que não haja dúvidas que o objectivo é melhorar o serviço para a população, Governo e táxis”, frisou, após ter sido questionado sobre o assunto.

Após mais uma reunião de análise ao documento entre Governo e comissão da Assembleia Legislativa, o secretário para os Transportes e Obras Públicas deixou ainda a promessa de rever a lei, caso esta não tenha os efeitos pretendidos. “Que não haja dúvidas que o nosso objectivo é ficarmos melhor servidos com a nova lei. Só o futuro dirá [se isso acontece], mas se não conseguirmos, vamos rever a lei. Espero que não haja dúvidas que estamos a trabalhar para melhorar o serviço de táxis”, sublinhou.

No passado, o secretário para a Segurança havia afirmado que precisava de uma lei mais rígida para combater a criminalidade e infracções administrativas no sector dos táxis. Porém, ontem, Rosário não quis esclarecer se a decisão foi tomada por sua iniciativa, com o consenso de Wong Sio Chak, ou se foi imposta pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On. “Isto é um acordo e não vale a pena estar a personalizar. Eu aqui represento o Governo, a comissão é a comissão e depois ainda há a aprovação em plenário”, atirou.

Pedido de bênção

Neste momento, os deputados ficam a aguardar por uma nova proposta do Governo. Depois o objectivo, segundo o presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL, é levar o documento à votação em Plenário.

Antes da aprovação, os deputados querem reunir-se novamente com os taxistas. “Vamos ouvir as associações do sector com as alterações propostas agora. Mas não há nenhuma inclinação da comissão [para favorecer os taxistas]. Queremos proteger os interesses gerais de todos”, vincou Vong Hin Fai. O deputado disse ainda que o pedido de audiência estava agendado desde Julho, mas que não foi possível realizar antes porque “não havia uma versão final da lei”.

Vong Hin Fai garantiu também que até à versão final do diploma, os deputados vão fazer tudo para bloquear qualquer tentativa de implementar o mecanismo de polícias à paisana, que possa resultar em multas para os taxistas.

Flexibilizadas regras do regime de benefícios fiscais para reconstrução de edifícios

[dropcap]F[/dropcap]oi introduzida maior flexibilidade para os promotores na proposta de lei sobre benefícios fiscais para a reconstrução de prédios. A novidade foi avançada ontem pelo presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que analisa o diploma em sede de especialidade.

À luz da proposta de lei, o promotor do empreendimento goza de isenção do imposto de selo sobre a aquisição do segundo e posteriores bens imóveis destinados à habitação, mas está obrigado a concluir as obras de fundação do edifício a ser reconstruído no prazo de três anos a contar da data da aquisição do edifício a ser demolido. Ora, segundo a nova versão do diploma, foram consagrados agora três cenários em que a contagem pode ser suspensa. A saber: quando houver alterações ao contrato inicial relativo à concessão dos terrenos destinados a edifícios a serem reconstruídos; quando a emissão a planta de condições urbanísticas levar “muito tempo” e, por fim, quando existirem “razões inimputáveis aos promotores, como tufões, e que o director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) considere justificativas. “Esta alteração é nova e pertinente”, observou Chan Chak Mo.

A nova versão, entregue pelo Governo, adita ainda dois artigos que regulam o tratamento dos dados pessoais. O primeiro define que a Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) e outras entidades públicas podem, para efeitos de execução de procedimentos administrativos, apresentar, trocar, utilizar e confirmar dados entre si, desde que em observância da Lei da Protecção dos Dados Pessoais. O segundo artigo elenca as entidades que ficam excluídas do dever de sigilo, como instituições de crédito, advogados, solicitadores, contabilistas ou agentes imobiliários, quando lhes forem solicitados elementos relativos ao pagamento de impostos e emolumentos no âmbito da fiscalização do cumprimento da lei. “Era um aspecto que estava em falta, até porque agora muitas leis têm artigos semelhantes”, comentou o presidente da 2.ª Comissão Permanente da AL.

Chan Chak Mo deu ainda conta de outras alterações “satisfatórias” que resultaram das propostas apresentadas pelos deputados e pela assessoria da AL, como a separação dos benefícios fiscais de promotores e de proprietários. Não obstante, outras perguntas ficaram sem resposta, como a forma como vai o diploma articular-se com a Lei da Salvaguarda do Património, apontou o responsável, dando conta de que a comissão espera reunir-se com o Governo na próxima semana.

Chefe do Executivo | Bruce Kwong acha que Alexandre Ma pode ser candidato

Bruce Kwong, docente da Universidade de Macau, defende que o empresário Alexandre Ma Iao Lai poderá ser uma alternativa a Ho Iat Seng para as eleições ao cargo de Chefe do Executivo, que acontecem no próximo ano. O académico alerta também para o facto de “estarmos a ser monitorizados por muitos olhos”

 

[dropcap]U[/dropcap]m dia depois da inauguração oficial da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, falámos com Bruce Kwong, docente na área da ciência política da Universidade de Macau (UM), sobre o momento político que o território atravessa. Na cerimónia de inauguração, Chui Sai On falou mal mandarim, uma língua que não domina completamente, e foi alvo de críticas nas redes sociais. Para Bruce Kwong, o fraco domínio do mandarim é algo que lhe dá uma má imagem como político mas, nesta fase, já não importa, pois o Chefe do Executivo está de saída.

E quem lhe poderá suceder? Muito se tem falado de Ho Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa (AL), sobretudo desde que Chui Sai Cheong, vice-presidente e irmão de Chui Sai On, o elogiou publicamente.
Contudo, Bruce Kwong prefere avançar com o nome de Alexandre Ma Iao Lai, empresário ligado à histórica Associação Comercial de Macau e a vários conselhos consultivos.

“Aos olhos de Pequim, ele [Ho Iat Seng] pode ser uma figura ideal para concorrer a este cargo, mas o segundo candidato pode ser Ma Iao Lai. Tanto em Macau como em Hong Kong, um candidato tem de ser de confiança, ter experiência em cargos políticos e Mao Iao Lai tem essa experiência. Ele é membro do Conselho Executivo, mas Ho Iat Seng não é. Tem experiência na estrutura governamental de Macau.”
Bruce Kwong lembrou que, em 2009, escreveu um artigo de opinião em que defendeu que Ho Iat Seng poderia ser o “cavalo negro” de Chui Sai On, ou seja, alguém capaz lhe poderia suceder mas com baixa probabilidade de o ser efectivamente. Quase dez anos depois, tudo depende da própria vontade do presidente da AL.

“Pode ser o ‘cavalo negro’, mas tudo depende se tiver interesse ou se for forçado a ter interesse em se candidatar. De outra forma, penso que Ma Iao Lai pode ser candidato”, frisou.

Sobre a nova ponte, inaugurada com pompa e circunstância esta terça-feira, Bruce Kwong assegura que Macau não necessita da maior travessia marítima do mundo. “Quando Zhuhai tentou persuadir Hong Kong a construir uma ponte como esta, o Governo de Macau disse que não tinha qualquer interesse neste projecto, pois a ponte iria ajudar muito pouco a trazer mais turistas para o território. Poderíamos usar a fronteira nas Portas do Cerco ou outras formas mais fáceis. Não teríamos de gastar milhões para aderir a este projecto.”
Além disso, “Hong Kong também rejeitou o projecto, nos anos 80, depois da apresentação da ideia de Gordon Wu, que sugeriu a ponte entre Hong Kong e Zhuhai, pois poderia criar muitos congestionamentos de trânsito.”

Bruce Kwong assegura que o território não consegue receber mais que 32 milhões de turistas, apesar dos tão falados benefícios económicos em termos de integração. “Foi uma medida de propaganda [do Governo Central], porque a China quer ligar o Delta do Rio das Pérolas”, frisou.

Chui na CCPPC

Depois de deixar o Governo, Chui Sai On poderá ser eleito como vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), cargo actualmente desempenhado por Edmund Ho, ex-Chefe do Executivo da RAEM. Bruce Kwong acredita que Chui Sai On almeja essa posição.
“Penso que ele gostaria de ser vice-presidente da conferência consultiva, como Edmund Ho ou CY Leung em Hong Kong. Chui Sai On quer mesmo ser escolhido para a conferência e este pode ser o último cargo político da sua carreira.”

Quanto ao último mandato, o académico pensa que não tem sido muito diferente em relação a outros políticos que estão de saída dos seus cargos.
“Em vários países do mundo podemos observar que, no último ano de mandato, um chefe de Governo faz muito pouco. Chui Sai On tenta fazer algo que o ajude a criar uma imagem mais poderosa e capaz, porque em 2009 foi criticado por estar na sombra de Edmund Ho. Ele disse que iria seguir as políticas de Edmund Ho no seu novo Governo, para não ter uma má imagem. No segundo mandato, nomeou novos secretários para criar uma nova imagem”, recordou.

Big Brother

Questionado sobre o impacto negativo que as novas medidas adoptadas pelo secretário Wong Sio Chak possam vir a ter, ao nível da perda de direitos, Bruce Kwong diz nada temer e afirma que todos nós já estamos a ser vigiados.

“Esta questão é muito sensível, mas não tenho receios [de uma redução dos direitos]. Em Macau, já somos monitorizados por muitos olhos. Não apenas pelas câmaras, mas quando usamos os smartphones, com o WeChat e outras aplicações. Sim, eles sabem [autoridades de Macau e China], têm muitos canais para saber esses dados. Não é propriamente uma coisa nova. Em Macau e Hong Kong é muito fácil detectar ou saber os nossos passos.”

Sobre a questão da liberdade académica, Bruce Kwong assegura que nunca teve problemas. “Pode notar pelas minhas respostas que eu tenho liberdade académica. Tenho liberdade de expressão. Alguns jornalistas gostam de me entrevistar porque posso ser crítico, não tenho receios de nenhuns problemas que possam surgir nesse âmbito. Não fiz nada que viole a lei.”

Confrontado com as recentes declarações do seu ex-colega Newman Lam, que assegurou que o Gabinete de Ligação de Pequim em Macau anda a ser mal informado sobre o panorama político local, Bruce Kwong disse desconhecer esses casos. “Não conheço casos. Newman Lam é mais sociável do que eu, gosto de fazer a minha investigação dentro e fora do gabinete”, apontou, acrescentando que em Macau nunca se colocou a hipótese da independência do território face à China.

EUA | China escutou chamadas entre Steve Wynn e Donald Trump

Steve Wynn é uma das personalidades a quem o Presidente norte-americano liga com frequência. Os serviços secretos chineses sabem disso e escutam as conversas entre Trump e o antigo CEO da Wynn Resorts. De acordo com o The New York Times, as secretas norte-americanas conhecem o esquema de espionagem de Pequim. O Governo chinês reagiu ao artigo e categorizou-o como notícia falsa e aconselhou Trump a comprar um Huawei

 

[dropcap]Q[/dropcap]uando o telefone de Steve Wynn toca e do outro lado está Donald Trump, as probabilidades de agentes das secretas chinesas estarem à escuta são consideráveis. O esquema montado por Pequim para interceptar chamadas que o Presidente norte-americano faz para os amigos mais próximos, onde está incluído o antigo CEO e fundador da Wynn Resorts, que detém a Wynn Resorts Macau, foi descoberto pelos serviços secretos norte-americanos.

A notícia dada pelo The New York Times (NYT) adianta que quando Donald Trump utiliza um dos seus iPhones, as secretas chinesas ouve as conversas. Muitas vezes, o teor do que se fala é insignificante, mas com frequência o Presidente norte-americano discute com amigos próximos, onde se inclui Steve Wynn, decisões políticas. Este tipo de informação possibilita a Pequim, e a quem mais estiver à escuta, ter acesso ao processo decisório da Admnistração Trump e é uma ferramenta para apurar quais as melhores formas de influenciar as políticas de Washington. A informação, obtida pelo NYT, assenta em depoimentos de antigos e actuais oficiais dos serviços de informação norte-americanos.

“Se Trump está preocupado com a segurança do iPhone, devia comprar um telefone Huawei”. Foi assim que a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês respondeu à notícia do esquema de escutas. De qualquer das formas, Pequim reagiu à notícia do NYT ao modo de Trump: “fake news”.

Altas patentes da Casa Branca, próximas do Presidente repetidas vezes o alertaram para o facto dos seus telemóveis não serem seguros o suficiente para usado para conversas sensíveis. Trump foi avisado explicitamente para a elevada probabilidade de operacionais do Kremlin também estarem à escuta. Outra recomendação que caiu em saco roto foi a necessidade do Presidente norte-americano usar a linha fixa da Casa Branca com mais frequência. No entanto, e para a frustração de quem o aconselha, Donald Trump não abdica dos seus iPhones. Fontes da Casa Branca referiram ao NYT que só podem acalentar a esperança que o Presidente não discuta informação classificada em telefones não seguros. Aliás, a matéria foi discutida várias vezes em briefings de forma a contornar aquilo que pode ser descrito como a “abordagem casual à segurança electrónica” de Trump.

Alunos atentos

Os agentes norte-americanos que falaram com o NYT, em condição de anonimato, referiram que as entidades chinesas têm como objectivo aprender com as chamadas interceptadas. A forma como Trump pensa, que tipo de argumentos o costumam convencer e a quem o Presidente dá crédito são informações valiosas para, por exemplo, prevenir a escalada da guerra comercial entre Pequim e Washington que tem abalado os mercados do mundo inteiro.

No fundo, a campanha dos serviços chineses é uma simbiose entre lobbying e espionagem, com base num pequeno grupo de pessoas com quem Trump fala com alguma regularidade e na esperança desses contactos serem usados para tentar influenciar as políticas de Administração norte-americana.
Além de Steve Wynn, Stephen Schwarzman, director executivo do Blackstone Group, é uma das pessoas incluídas na lista. É de salientar que o dirigente da companhia de investimentos financiou um programa de mestrado na prestigiada Universidade de Tsinghua, em Pequim.

De acordo com o NYT, as secretas chinesas identificaram amigos de ambos os homens, assim como de amizades de outros contactos regulares de Donald Trump. Num segundo plano, a China conta com a ajuda de empresários chineses, assim como outras personalidades ligadas ao regime de Xi Jinping, para fornecer argumentos pró-chineses aos amigos dos amigos próximos de Trump. O objectivo é que a agenda da Casa Branca seja influenciada, indirectamente, por algumas das pessoas em que Donald Trump mais confia. Fontes citadas por jornal sediado em Nova Iorque acrescentam que é muito provável que os amigos do Presidente não estejam cientes das intenções do Governo liderado por Xi Jinping.

Reforma silenciosa

Quando o NYT contactou o advogado de Steve Wynn para saber se o magnata queria esclarecer a sua posição nesta matéria, o representante referiu que o seu cliente estava aposentado e que não faria qualquer comentário. Uma porta-voz da Blackstone recusou comentar os esforços chineses para influenciar Schwarzman, mas referiu que este “se sente feliz com a possibilidade de servir de intermediário em matérias críticas entre os dois países, sempre que requisitado pelos seus líderes”.

Fontes ouvidas pelo jornal sediado em Nova Iorque revelaram descrédito perante a hipótese de Moscovo estar a montar uma operação com o mesmo grau de sofisticação da de Pequim, principalmente tendo em conta a afinidade aparente entre Trump e Putin.

Ainda assim, este tipo de manobras de contra-informação não são anormais por parte de Pequim que, durante décadas, tentou influenciar líderes norte-americanos através de redes informais constituídas por importantes homens de negócios e académicos capazes de “vender” ideias e políticas que cheguem à Casa Branca. A diferença é que desta vez, com o esquema de escutas montado, as secretas chinesas têm acesso a conversas que lhes permitem ter uma ideia bem mais clara dos argumentos que resultam com Donald Trump.

Aliás, é de referir que o próprio Stephen Schwarzman, uma das presenças proeminentes na primeira reunião entre Trump e Xi, que ocorreu no resort da Florida Mar-a-Lago, não esconde as visões alinhadas com a China e que tendem a ser a favor do comércio livre. Uma linha que tem perdido fôlego para as forças isolacionistas na Casa Branca.

Um dos agentes ouvidos pelo NYT afirmou que uma das tácticas das autoridades de Pequim era tentar convencer Trump a marcar reuniões com Xi com a maior frequência possível. O motivo é a convicção de que o Presidente norte-americano dá grande valor às relações pessoais, e que, como tal, as reuniões a dois poderiam levar a significativos avanços na relação entre as duas maiores economias mundiais.

Amigo do seu amigo

A questão que se levanta com a revelação do esquema de escutas é se as amizades mais próximas de Donald Trump, nomeadamente Steve Wynn, conseguem atenuar a guerra comercial empurrada pela ala isolacionista que continua a ter um forte capital de persuasão, mesmo depois da saída de Steve Bannon da Casa Branca.

Fontes ouvidas pelo NYT revelam que Trump tem dois iPhones que foram alterados pela NSA, de forma a limitar as suas capacidades e vulnerabilidades, e um terceiro telefone igual ao qualquer outro iPhone. Apesar das insistências de oficiais de segurança, o Presidente continua a usar o seu telemóvel pessoal porque, ao contrário dos aparelhos seguros, pode guardar contactos.
A intercepção de chamadas não é algo que necessite de um enorme aparato tecnológico. À medida que as chamadas “viajam” entre torres de telecomunicações e redes de cabos, a intercepção torna-se relativamente fácil para chamadas feitas tanto por iPhone, Androido e velhos telefones anterior ao smart-phone, que são vulneráveis.

É de salientar que o tópico da segurança de comunicações foi algo amplamente discutido por Trump durante a sua campanha na corrida à Casa Branca. Aliás, até hoje, em comícios políticos que continua a fazer, Donald Trump menciona o servidor de correio electrónico pouco seguro de Hillary Clinton enquanto esta era secretária de Estado. Um discurso que costuma ser acompanhado pela audiência a entoar “Prendam-na!”.
Barack Obama estava bem ciente dos riscos de usar um telefone não seguro, uma prática que nos dias que correm é natural em líderes mundiais, como Vladimir Putin e Xi Jinping.

Governo reforça gestão das fronteiras e dados informáticos

O Conselho Executivo terminou a discussão sobre o regulamento administrativo que altera a organização e funcionamento da Direcção dos Serviços das Forças de Segurança. Dois novos departamentos vão ser criados e contratados 58 funcionários para responder às necessidades nas áreas das novas tecnologias e na gestão dos postos fronteiriços terrestres

 

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços das Forças de Segurança vai ter mais dois departamentos e, para o efeito, vai contratar 58 pessoas, revelou ontem o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, em conferência de imprensa. A novidade surge é trazida pelo regulamento administrativo que altera a organização e funcionamento desta Direcção, tendo em conta a necessidade de reforço da capacidade de “policiamento inteligente e a garantia do bom funcionamento dos novos postos fronteiriços terrestres do território”, acrescentou o responsável.

Um dos organismo que vai ser criado é o Departamento de Sistema Informático que te como objectivo assegurar todos os assuntos relacionados com a área da tecnologia informática das Forças de Segurança de Macau (FSM). Este departamento vai ter como competências o planeamento e avaliação dos sistemas relativos à tecnologia informática das FSM, bem como a coordenação, construção e a aplicação geral das redes e dos sistemas dos vários tipos de informação de dados.

Cabe ainda ao novo departamento a garantia da estabilidade e segurança dos sistema informáticos das FSM.
Já o Departamento de Postos Fronteiriços Terrestres vai garantir a gestão das instalações das estruturas já existentes e aquelas que vão ser criadas.

De acordo com Leong Heng Teng, a necessidade deste departamento agudiza-se não só com a abertura da Ponte HKZM, mas também com a iminência de novos postos terrestres. Em causa está o plano para as novas instalações de Qing Mao e o alargamento do posto da Flor de Lótus à Ilha da Montanha, adiantou.

O planeamento do desenvolvimento das construções básicas e instalações complementares nos postos fronteiriços terrestres afectos à administração das FSM, a gestão e manutenção das instalações e equipamentos destes postos e a supervisão das operações são algumas das principais responsabilidades deste novo organismo.

Mais pessoas

A abertura dos dois departamentos das FSM vai exigir a contratação de funcionários para os quadros da função pública. No total, são 58, na sua maioria profissionais técnicos, adiantou Leong Heng Teng. “Temos que ter em conta o aumento do número de postos fronteiriços, por exemplo. Anteriormente, o apoio técnico era dado por outros serviços, mas agora precisamos de trabalhadores para garantir o funcionamento das novas estruturas”, disse.

Por outro lado, e no que respeita ao policiamento inteligente, é necessário pessoal que garanta a criação de “nuvens”, assim como profissionais responsáveis pela gestão de mega dados.

Jornalista japonês libertado relata “inferno” do seu cativeiro na Síria

[dropcap]U[/dropcap]m jornalista japonês detido na Síria por mais de três anos, libertado esta semana, descreveu os seus anos de cativeiro como um “inferno” antes de partir para o Japão, onde é esperado na noite de hoje.

“Foi um inferno”, disse Jumpei Yasuda numa entrevista transmitida pela televisão pública japonesa NHK.

O jornalista disse que este “inferno” não foi só físico, mas também mental. “Todos os dias, eu dizia a mim mesmo ‘não é hoje que serei libertado’ e perdia o controlo de mim mesmo, pouco a pouco”, afirmou.

O jornalista freelancer, de 44 anos, pareceu empolgado, aliviado e tenso ao mesmo tempo, descreve a agência France-Presse. “Por cerca de 40 meses, eu não falei japonês, então as palavras não me vêm facilmente”, disse.

“Estou feliz por voltar ao Japão, mas ao mesmo tempo, não tenho ideia do que vai acontecer agora e de que maneira eu devo comportar-me. Não sei o que pensar”, disse Yasuda, que pediu desculpas pelo “problema causado”.

Ex-reféns japoneses já foram vítimas de insultos por parte dos seus compatriotas, que consideram que a situação em que se envolveram ocorreu devido a sua imprudência.

Jumpei Yasuda detalhou em outro canal as suas condições de detenção, explicando que não se pôde lavar por oito meses e foi forçado a permanecer imóvel por longas horas.

De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), baseado no Reino Unido, o jornalista japonês foi libertado no quadro de um acordo entre a Turquia e o Qatar.

Yasuda foi levado para a Turquia após ser entregue pelos seus raptores a um grupo armado “não-sírio”, segundo a OSDH.

Jumpei Yasuda foi sequestrado em junho de 2015 e apareceu em agosto passado num vídeo divulgado por um grupo jihadista.

Neste vídeo, vestindo um macacão laranja, Yasuda estava sob a ameaça de homens armados e mascarado. Outro refém, o italiano Alessandro Sandrini, também apareceu nas imagens.

No início de 2015, militantes do grupo Estado Islâmico (EI) haviam decapitado dois japoneses, o correspondente de guerra Kenji Goto e o seu amigo Haruna Yukawa.

O Governo japonês foi então criticado por, alegadamente, perder a oportunidade de salvar os dois homens.