Jornalista japonês libertado relata “inferno” do seu cativeiro na Síria

[dropcap]U[/dropcap]m jornalista japonês detido na Síria por mais de três anos, libertado esta semana, descreveu os seus anos de cativeiro como um “inferno” antes de partir para o Japão, onde é esperado na noite de hoje.

“Foi um inferno”, disse Jumpei Yasuda numa entrevista transmitida pela televisão pública japonesa NHK.

O jornalista disse que este “inferno” não foi só físico, mas também mental. “Todos os dias, eu dizia a mim mesmo ‘não é hoje que serei libertado’ e perdia o controlo de mim mesmo, pouco a pouco”, afirmou.

O jornalista freelancer, de 44 anos, pareceu empolgado, aliviado e tenso ao mesmo tempo, descreve a agência France-Presse. “Por cerca de 40 meses, eu não falei japonês, então as palavras não me vêm facilmente”, disse.

“Estou feliz por voltar ao Japão, mas ao mesmo tempo, não tenho ideia do que vai acontecer agora e de que maneira eu devo comportar-me. Não sei o que pensar”, disse Yasuda, que pediu desculpas pelo “problema causado”.

Ex-reféns japoneses já foram vítimas de insultos por parte dos seus compatriotas, que consideram que a situação em que se envolveram ocorreu devido a sua imprudência.

Jumpei Yasuda detalhou em outro canal as suas condições de detenção, explicando que não se pôde lavar por oito meses e foi forçado a permanecer imóvel por longas horas.

De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), baseado no Reino Unido, o jornalista japonês foi libertado no quadro de um acordo entre a Turquia e o Qatar.

Yasuda foi levado para a Turquia após ser entregue pelos seus raptores a um grupo armado “não-sírio”, segundo a OSDH.

Jumpei Yasuda foi sequestrado em junho de 2015 e apareceu em agosto passado num vídeo divulgado por um grupo jihadista.

Neste vídeo, vestindo um macacão laranja, Yasuda estava sob a ameaça de homens armados e mascarado. Outro refém, o italiano Alessandro Sandrini, também apareceu nas imagens.

No início de 2015, militantes do grupo Estado Islâmico (EI) haviam decapitado dois japoneses, o correspondente de guerra Kenji Goto e o seu amigo Haruna Yukawa.

O Governo japonês foi então criticado por, alegadamente, perder a oportunidade de salvar os dois homens.

25 Out 2018

Governo japonês confirma identidade do jornalista libertado da Síria

[dropcap]O[/dropcap] governo japonês confirmou hoje que um homem libertado pelas forças de segurança turcas é o jornalista Jumpei Yasuda, sequestrado há mais de três anos na Síria.

“Confirmamos que Jumpei Yasuda, sequestrado na Síria desde 2015, está são e salvo”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros japonês Taro Kono, em declarações à imprensa.

“Aparentemente encontra-se em bom estado de saúde. Estamos muito contentes que ele se encontre em segurança”, acrescentou, depois de informar que alguns responsáveis da embaixada japonesa na Turquia se encontraram com ele no centro de imigração Antakya, na província turca de Hatay, fronteiriça com a Síria.

Jumpei Yasuda, que foi visto “em boa forma” em imagens do canal de televisão japonês NHK, segundo a agência francesa AFP, deverá ser repatriado depois de efetuar exames médicos.

A mulher do jornalista, Myu, agradeceu a todos os que participaram na libertação do marido, “por terem rezado por ele e por se terem mobilizado”, disse em direto ao canal japonês NHK.

“Quero vê-lo em forma, o mais rápido possível, é tudo o que quero”, confiou o seu pai.

“Quero dizer-lhe que foi forte durante três anos e que nunca baixou os braços”, acrescentou.

Na passada terça-feira, um comunicado do gabinete do governador de Hatay anunciava que tinha sido libertada uma pessoa que declarava “ser de nacionalidade japonesa”, mas que não dispunha de identificação.

O texto acrescentava ainda que se esperava que as autoridades japonesas confirmassem “se se trata ou não do repórter japonês Yasuda/Jumpei Yamamoto, sequestrado em 2015″.

O jornalista independente, de 44 anos, apareceu num vídeo publicado por um grupo jihadista, no mês de agosto, vestido com um fato cor de laranja e ameaçado por homens armados.

Em 2016, a imprensa japonesa anunciava que Jumpei Yasuda tinha sido capturado pelo antigo braço da Al-Qaida na Síria (Frente al-Nosra).

No entanto, na passada terça-feira, o grupo Hayat Tahrir al-Cham (HTS), ao serviço da Frente al-Nosra, negou, num comunicado, qualquer implicação.

“Negamos todas as acusações em ligação com o jornalista japonês Yasuda. Ficámos a saber da sua libertação pela imprensa”, reagiu o grupo.

Em 2015, dois militantes do grupo Estado islâmico (EI) decapitaram dois japoneses, o correspondente de guerra Kenji Goto e o seu amigo Haruna Yukawa.

A Síria tem sido um dos países mais perigosos do mundo para os jornalistas, desde que o conflito começou em março de 2011.

Vários jornalistas continuam desaparecidos no país, e dezenas já foram sequestrados ou assassinados.

24 Out 2018