China vai proibir por lei transferência forçada de tecnologia

[dropcap]A[/dropcap]China vai proibir por lei que entidades governamentais forcem empresas estrangeiras a transferirem tecnologia, em troca de acesso ao mercado doméstico, uma questão-chave nas disputas comerciais com os Estados Unidos.

A disposição consta num projecto de lei sobre investimento estrangeiro que está a ser debatido na sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN), o órgão legislativo do país.

A revelação foi feita ontem, em conferência de imprensa, por Ning Jizhe, o vice-presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o órgão máximo chinês de planificação económica.

O sistema legal vai garantir que as empresas estrangeiras “não podem ser obrigadas a transferir tecnologia por meios administrativos, proporcionando uma garantia jurídica mais ampla e benéfica”, afirmou.

O texto estipula que “todas as partes envolvidas no investimento devem decidir, através de negociações, as condições de cooperação tecnológica, no caso do investimento estrangeiro”, e que “nem os departamentos do Governo, nem os funcionários, podem utilizar meios administrativos para forçar transferências de tecnologia”.

“Os governos locais devem cumprir rigorosamente as suas promessas políticas e todo o tipo de contratos legais com empresas com fundos estrangeiros”, estipula.

“Caso contrário, as empresas estrangeiras devem ser compensadas pelas suas perdas”, acrescenta.

Cumprir promessas

A declaração de Ning surge um dia depois de o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ter garantido, no arranque da sessão da APN, que todas as empresas serão “tratadas de forma igual”, estrangeiras ou chinesas.

Washington e Bruxelas criticam frequentemente Pequim por transferência forçada de tecnologia, atribuição de subsídios a empresas domésticas e obstáculos regulatórios que protegem os grupos chineses da competição externa.

As políticas industriais de Pequim, vistas como “predatórias”, suscitaram já uma guerra comercial com os EUA, com Donald Trump a impor taxas alfandegárias sobre 250.000 milhões de dólares de bens importados da China.

Os EUA têm ainda pressionado vários países, incluindo Portugal, a excluírem a gigante chinesa das telecomunicações Huawei na construção de infraestruturas para redes de Quinta Geração (5G), a Internet do futuro.

Pequim quer transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.

Os EUA consideram que aqueles planos industriais, impulsionados pelo Estado chinês, violam os compromissos da China em abrir o seu mercado. Washington teme ainda perder o seu domínio industrial para um rival estratégico em ascensão.

Na terça-feira, Li Keqiang anunciou uma meta de crescimento económico para 2019 “entre 6 por cento e 6,5 por cento “.

Trata-se de um ritmo ligeiramente abaixo ao alcançado no ano anterior e seria o mais lento em três décadas, mas ainda assim entre os mais rápidos do mundo.

A China é a segunda maior economia do mundo, a seguir aos Estados Unidos.

A propósito do sismo de 28 de Fevereiro de 1969

[dropcap]S[/dropcap]ão poucos os dias em que os meios de comunicação social não nos trazem notícias sobre desastres naturais que ocorrem algures pelo mundo fora. Dentre este tipo de desastres, os de carácter meteorológico são os mais frequentes: tufões no Pacífico Ocidental e Mar do Sul da China, furacões no Atlântico e Pacífico Oriental, ciclones no Índico, frio intenso na América do Norte, vagas de calor na Austrália, incêndios florestais na Europa Meridional, enfim, numerosos títulos inundam com frequência os jornais, as televisões e as redes sociais.

Mesmo Portugal tem sido afetado ultimamente por fenómenos extremos, não usuais, como o furacão Ofélia que, em outubro de 2017, contribuiu grandemente para a intensificação do incêndio florestal que alastrou por vastas áreas do nosso país. Também a tempestade Leslie, que chegou a ser classificada como furacão, afetou o território continental em 13 de outubro de 2018, já como tempestade pós-tropical, causando elevados estragos.

Mais raramente surgem notícias sobre sismos. Quando estes fenómenos naturais acontecem são alvo, durante dias, da difusão de imagens impressionantes de destruição de vastas zonas urbanas, cenas de populações em pânico, deslizamentos de terras, etc. Mas estes acontecimentos caem rapidamente no esquecimento.

É contra este esquecimento que se levou a cabo a evocação do sismo de 28 de fevereiro de 1969, o de maior magnitude que afetou Portugal deste o terramoto do 1º de novembro de 1755 e também o de maior magnitude na Europa desde essa data. Assim, a Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES) e a Associação Portuguesa de Meteorologia e Geofísica (APMG) resolveram contrariar a tendência que a sociedade em geral tem para deixar diluir na memória estes fenómenos naturais, tanto mais que Portugal se encontra numa zona do globo onde têm ocorrido sismos de magnitude significativa, principalmente nas regiões localizadas no vale do Tejo e no Algarve, no território continental e, nos Açores, principalmente nas ilhas Terceira, Faial, Pico, São Jorge e São Miguel, as mais povoadas do arquipélago.

A SPES e a APMG escolheram a Fortaleza de Sagres para evocar essa ocorrência de há meio século. A escolha foi intencional, na medida em que se pretendeu, de forma simbólica, estar no local do território nacional mais perto do epicentro do sismo, junto das áreas mais afetadas em termos de vítimas e danos, evidenciando que o risco sísmico existe e é uma realidade.

A presença do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, na sua qualidade de Presidente da República, mobilizou certamente a participação de numerosas entidades, nomeadamente presidentes das câmaras municipais do Algarve e da Junta da Freguesia de Sagres; representantes dos Bastonários das Ordens dos Engenheiros e Engenheiros Técnicos; Presidentes do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, do Infraestruturas de Portugal; representantes da Autoridade Nacional de Proteção Civil, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, da Infraestruturas de Portugal e Presidente do Centro Europeu de Riscos Urbanos. E foi de toda a conveniência a presença destas entidades, na medida em que ouviram de viva voz as preocupações dos representantes da SPES e da APMG e do próprio Presidente da República.

Os sismólogos e os geólogos, contrariamente aos meteorologistas, lidam com fenómenos geológicos praticamente imprevisíveis. Enquanto que atualmente se fazem previsões do tempo com elevada fiabilidade para períodos de alguns dias, com recurso a modelos físico-matemáticos, os sismólogos, apesar da investigação mundialmente levada a cabo nas universidades e institutos geofísicos, pouco progresso têm conseguido na previsão de sismos atendendo à complexidade destes fenómenos naturais.

Houve, no passado, quem tentasse ligar a ocorrência de sismos ao estado do tempo, tendo-se mesmo referido numa publicação de 1757, “Advertência aos Modernos que aprendem o Ofício de Pedreiro e Carpinteiro” (escrita pelo mestre pedreiro Valério Martins de Oliveira) que a “terra treme entre as onze e o meio dia, e mais no verão do que no inverno, por causa das exalações e calor do sol”. Mas, claro, tratava-se de conjeturas sem base científica.

No campo científico, muito se tem avançado na identificação e estudo das fontes de geração sísmica, mas pouco no que se refere à sua previsão. A invenção do sismógrafo no século XIX, instrumento que deteta e regista sismos, deu grande ímpeto ao conhecimento dos mecanismos geológicos que despoletam estes fenómenos naturais. Curiosamente o precursor do sismógrafo, o sismoscópio, foi inventado em 132 d.C. pelo astrónomo chinês Zhang Heng, uma réplica do qual se encontra em exposição no Hotel Lisboa, em Macau.

O sismo que ocorreu há cinquenta anos foi despoletado numa zona na junção das placas tectónicas Africana e Euroasiática, cerca de duzentos quilómetros a sudoeste de Sagres. A sua magnitude foi de 7,9 na escala de Richter e a intensidade chegou a atingir no território continental português os graus VII, e em alguns locais VIII, na escala de Mercalli modificada. Note-se que a escala de Richter é usada para fazer referência à magnitude dos sismos, ou seja à energia libertada, enquanto que a Escala de Mercalli se aplica para avaliar as consequências dos sismos, isto é, o grau de destruição causada. Assim, por exemplo, um sismo de elevada magnitude pode ter uma classificação muito baixa em termos de Escala de Mercalli numa região desértica, pela simples razão de que nada ou pouco há a destruir.

Várias localidades algarvias foram grandemente afetadas, como por exemplo as povoações de Vila do Bispo, Bensafrim, Portimão e Castro Marim, onde muitas casas ficaram danificadas. Em Lagos também houve estragos e o lugar de Fonte de Louzeiros, no Concelho de Silves, ficou praticamente em escombros. O número de vítimas foi indeterminado, constando que houve duas vítimas mortais devido a causas diretas e treze por causas indiretas, como ataques cardíacos. Em Marrocos e em Espanha o sismo também se fez sentir.

Próximo do epicentro, no mar, a navegação foi afetada. Segundo o Diário de Lisboa de 1 de março de 1969, o 3º piloto do navio mercante Manuel Alfredo, que navegava próximo do local onde o sismo foi gerado, declarou que “parecia que estávamos a andar por cima de rochas, que o navio subia escadas” e que “se o sismo durasse o dobro teríamos ido para o fundo”.

Com magnitudes inferiores, muitos mais sismos ocorrem no nosso território e nas suas vizinhanças, muitas centenas por ano, na ordem do milhar, na sua esmagadora maioria microssismos apenas detetados pelos sismógrafos. No entanto, tal como resulta das leis estatísticas, mais tarde ou mais cedo ocorrerão outros de maior magnitude.

Pode-se afirmar que o sismo de 1969 foi um “pequeno” sismo quando comparado com o de 1755 e que sismos com magnitude pelo menos igual a este último ocorrerão no futuro, estando identificadas fontes sísmicas capazes de os gerar. É tudo uma questão de tempo.

Não só nos Açores, mas também no Algarve e no vale do Tejo, existem fontes sísmicas locais capazes de gerar sismos que, embora de menor magnitude, ocorrem a muito curta distância das zonas atingidas, pelo que, nessas zonas o grau de destruição será comparavelmente elevado. Sismos como todos os dos Açores e os de Lisboa em 1531, Portimão em 1719, Tavira em 1722, Loulé em 1856 e Benavente em 1909, são exemplos desse outro tipo de sismos que no passado também causaram vítimas e destruição no território nacional.

Os eventos sísmicos de grande magnitude estão também ligados à ocorrência de tsunamis, como aquele que, em 1755, os portugueses sentiram em toda a costa algarvia, em grande parte da costa atlântica e em estuários como o do Tejo. É algo que os portugueses também esqueceram ao ocuparem desregradamente algumas zonas costeiras e estuarinas e, em especial, ao aí colocarem algumas infraestruturas vitais.

O esquecimento, a rejeição e a negação da evidência científica ou a inação perante essa evidência são atitudes que contribuem para nos conduzir ao desastre. O crer que os sismos com potencial destrutivo são fenómenos do passado, ou o acreditar que nada pode ser feito perante a sua ocorrência, ou ainda confiar que estamos suficientemente protegidos são atitudes conducentes à tragédia.

Há que combater estas atitudes e promover a sensibilização dos portugueses, em especial dos que têm capacidade para com as suas decisões e ações mitigar o risco a que estamos expostos.

É necessário o Estado investir mais nos serviços de Geofísica para que se possa intensificar a investigação na área da sismologia tendo em vista um melhor conhecimento das falhas potenciadoras de futuros sismos; dar relevo nos curricula das escolas primárias e secundárias à explicação sobre desastres naturais, com especial realce para os sismos; intensificar as campanhas de informação e de sensibilização dos cidadãos acerca dos riscos e das atitudes a tomar, informando-os sobre os procedimentos adequados em caso de sismo; evitar que os cidadãos, ou as instituições, por ações, ou inações, contribuam para aumentar o risco sísmico a que estão expostos; garantir eficazmente o adequado comportamento das infraestruturas que suportam a nossa vida face aos eventos sísmicos.

É neste contexto que o Estado tem de aperfeiçoar os mecanismos de fiscalização do cumprimento da regulamentação antissísmica que existe em Portugal desde há algumas décadas, mas que na prática não é aplicada com rigor.

Atendendo a que os sismos não se podem evitar, nem prever, há que atenuar as suas consequências. É que se os sismos são inevitáveis, as tragédias podem ser evitáveis.


*O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Posso dar-te um beijinho?

[dropcap]D[/dropcap]o sofá avisto gatos, figos e a solidão escolhida.

A liberdade de tantas possibilidades e dizer não, não me apetece e não, não vou. Mas isto são conversas em que eu faço todas as vozes, com mais ou menos gestos, que importa isso, o efeito lúdico é o mesmo ou até mais prazeroso. Os figos ainda não estão bons e os gatos são os da vizinha (e na verdade mais de si mesmos) não me tornei aquela senhora de há uns anos, perto do hospital da Cruz Vermelha, que tinha vários, e nomes e vozes para cada um, tradição que herdou de sua mãe. A liberdade de pequenos luxos como dormir até me fartar (e eu farto-me facilmente de dormir) ou ver, imagine-se só, três episódios seguidos de uma série. Ou duas. Filmes, de animação ou não. Luxos. Arrumar e desarrumar, doar e deitar fora, guardar e resgatar. De pensar (nunca me farto), sobretudo nos pequenos nadas. De decidir, de desistir, de repensar. De fazer planos ou tentar e aceitar, quer se realizem ou não. De estar bem assim, na praia, a ler, ou em casa, a ler. Mas de vez em quando é preciso sair, mais que não seja para fazer umas pequenas compras tontas pré último dia férias e perpetuar rituais de pouca dura. Atravessar a estrada conta como sair de casa, afinal não é como abrir a porta da cozinha e ir lá atrás, ao quintal.

Pergunta – Porque é que a rapariga atravessou a estrada?

Demorei mais do que precisava lá dentro, e parei à saída, não sei bem porquê. Estava sol. Ela pediu desculpa, perguntou onde morava, se eu ia para aquele lado, e apontou para a esquerda. Não, eu vivo mesmo aqui. Continuou a falar. Eu trazia um saco e ela, dois. Peguei neles e lá fomos, afinal eu não tinha mesmo nada para fazer. Melhor, eu só tinha nada para fazer. Vira-a algures no corredor, momentos antes. Explicou que se sentira mal, tensão baixa, e não queria arriscar ir para casa assim, que sabia que não devia carregar tanto peso, mas. Corroborei.

Lembrei-me de uma mulher que, há muitos anos, nunca mais a vi, costumava carregar sacos e sacos pesadíssimos, vinda, imagino, de casa, para a estação de comboios, e vice versa, passando talvez nalguma feira pelo caminho (sacos enormes que nunca percebi bem o que traziam), e frequentemente pedia ajuda a transeuntes para carregarem os mesmos. Calhou-me, calhou à minha irmã, e deve ter calhado a metade da população lá da terra. E como era difícil dizer que não, e como era difícil carregá-los sem acrescentar o peso extra do julgamento, da crítica, dos motivos e das admoestações, dirigidas a ela e a nós próprios que, no fundo, não saíam da nossa cabeça. Alguém sabe se Sísifo tinha com quem falar? Talvez se tivesse safado melhor se tivesse conhecido esta mulher. Ou não, ou não.

Esta moça queria ajuda só até atravessar a estrada. Mas fomos andando mais um pouco e depois mais uns metros e ela morava, afinal, tão perto como duas ruas ao lado da minha. Cinco meses de gravidez, fez no sábado, ontem. Pensava que seria um rapaz mas afinal vem aí uma garota. Falámos de hérnias, de preparações, de desmaios, de esforços, de tamanhos, de barrigas e de alegrias. Em quase tempo nenhum. Nunca nos tínhamos visto, ou melhor, reconhecido. No fim, apresentou-se e eu a ela. Perguntou, posso dar-te um beijinho? E aceitei, e deu, e ainda houve um curto e sentido abraço, e os votos normais, de que tudo (lhes) corresse bem. Esforço mínimo pode ser o que nós quisermos, pode dar-nos um sorriso enorme.

Se calhar nunca mais nos cruzamos, se calhar agora vamos esbarrar (delicadamente) a cada dois dias. Se calhar ainda descubro que ela é tão de Cabo Verde quanto eu. Não importa. Podemos sair de casa sem grandes expectativas ou expectativas algumas de real contacto humano, numa altura em que toda a gente promete, e agenda, e sente, e quer, e lamenta, e tenta, e ignora, e marca, e desmarca, e acena, e emoji, e zanga, e ama e agradece e volta a lamentar muito mas não sai do Messenger, quanto mais de casa. Mas estamos todos aí, cheios de possibilidade de acontecer uns aos outros. Não é por acaso que lhe chamam o conforto de estranhos. Muitas vezes, prefiro-os. Muitas vezes, estes minúsculos encontros quotidianos são feitos exactamente à nossa medida, e a pessoa pensa que fizemos algo incrível por ela e na verdade foi ao contrário.

Resposta – Para voltar a casa mais leve.

Entretanto as férias acabam, o contraste regressa, a doçura permanece. Aguardo os figos e, no fundo, talvez ainda os amigos.

A tasquinha do senhor Osório

[dropcap]N[/dropcap]o início do século, Peter Sloterdijk, no seu Ensaio sobre a Intoxicação Voluntária*, considerou que os media e especialmente a televisão constituíam a última técnica de “meditação da humanidade”, depois da era das grandes receitas (ideologias) e das “religiões regionais”. Deste modo, a televisão teria sido a primeira das redenções a libertar verdadeiramente os humanos. Uma teoria extraordinária que encontra nos fluxos suscitados pelos plasmas e pela pele dos monitores uma paz que teria sido apenas sonhada pelas muitas espiritualidades das escatologias. Leiamos o texto original:

(finalmente), “na televisão, a história da redenção da humanidade chega ao seu termo” (…) “a televisão informa-nos sobre o facto de, no fundo, tudo ser apenas imagens” (…) “Qual a diferença entre um televisor ligado e um televisor desligado?” (…) “não há diferença nenhuma, é só ritmo, tam-tam, som-pausa, ligado-desligado, é o mundo tal como o conhecemos. Olhar, não olhar, acontecimento, não acontecimento, imagens, não imagens” (…) “A televisão é a última técnica de meditação da humanidade na era que se segue às altas religiões regionais” (…) “Este (redentor), a televisão, é o primeiro que nos deixa realmente livres” (…) “os indivíduos querem que os deixem em paz; e esta tranquilidade é uma coisa que agora podem ter de uma vez por todas”.

Quase duas décadas depois, há quem pense que as coisas se alteraram radicalmente. O argumento é do tipo self-service. Ou seja: dantes as televisões providenciavam uma ementa certa e os espectadores, na sua passividade, podiam encontrar um lugar para ancorar o corpo e deixar-se ir; enquanto hoje os canais de ‘streaming’, fugindo à programação tradicional, deixam ao utilizador a escolha livre do que ver e quando ver. Se se mostrar a dimensão do self-service, o argumento parece até um pouco convicente (Netflix, Amazon Prime Video, Nos Play, Filmin, Hulu, Fox Play, Mubi, YouTube premium, Meo go, Disney+ e mesmo a RTP Play).

No entanto, pensando bem, aquilo que mudou foi a pilotagem: passou-se da fase do piloto automático, baseada numa cronologia que visava essencialmente o serão, para uma aparente auto-gestão (lembro-me, em criança, de que havia um dia para o teatro, outro para um filme, outro para as “variedades”, etc, e, mais tarde, logo a seguir à revolução, veio a telenovela e depois os concursos enquanto matrizes orientadoras do tempo televisivo). A chegada das televisões privadas e depois do cabo dividiram as águas e compartimentaram os temas e as escolhas possíveis. A era do self-service viria a entregar, por sua vez, o leme e a pilotagem a quem “consome” (cito o verbo “consumir” a partir do vocabulário da actual ministra da cultura, pois temos que ir aprendendo alguma coisa ao longo na vida).

Esta entrega parece semelhante a outras que têm ganho ‘fôlego viral’ nos últimos anos: hipermercados em vez de mercearias, redes sociais e informação cruzada na rede em vez de jornais impressos e telejornais a horas certas, trivagos e congéneres em vez de agências de viagens; uber, chauffeur, cabify ou taxify em vez de táxis; formações em rede em vez de ensino por correspondência, compra online de livros em vez de encomenda nas livrarias clássicas, etc, etc. Na realidade, do hipermercado posso trazer o mesmo sabonete, mas a possibilidade de escolha é incomparável; da rede posso trazer as mesmas notícias, pois o aumento de informação não se traduz pelo aumento da tipologia de acontecimentos que ocorrem no mundo, mas a rapidez de acesso é incomparável; das viagens posso trazer as mesmas paisagens, mas com mais agilidade nos ingressos; das formações posso recolher idênticos frutos, mas a possibilidade de diálogo ininterrupto é incomparável; das livrarias online posso encomendar qualquer obra sem ter que depender das existências e dos stocks locais.

No caso da televisão, parece-me óbvio que continuamos ‘sempre a ver o mesmo filme’. Como escreveu Sloterdijk, estamos inevitavelmente a maturar “o mesmo ritmo, o mesmo tam-tam, o mesmo som-pausa”. É claro que me refiro àquele formato de sequência (ou de ‘filme perceptivo’) que a escritora Patrícia Melo caracterizou, um dia, como “transcendência fácil”. Recorrendo a linguagem de treinador de futebol: liga-se o chip, esticam-se as pernas, chupa-se uma pipoca e com um olho na acção e outro no facebook, passa-se um tempo do diabo. Umberto Eco na sua generosidade apocalíptica e integrada pousou a mão na consciência e disse que não havia mal nenhum em um gajo roncar a ver Visconti ou elevar o pingarelho glosando as entrevistas de Cristina Ferreira. As coisas convivem melhor do que se pensa. Mas não deixa de ser verdade que uma pessoa atravessa o self-service de lés a lés e dá sempre com os mesmos guerreiros a disparar bala, com os mesmos cadáveres fumegantes, com os mesmos polícias jovens e imortais, com os mesmos hospitais melosos, com os mesmos efeitos especiais a excitar a medula e com a mesma sonoridade tipo cuduro para bandarilhar a delicadeza dos tímpanos. Uma pessoa liga o cartão de crédito ao streaming – a tal “outra forma de ver televisão” – e sai do outro lado do self-service em forma de apagão.

Poderá voltar a questionar-se, por fim: mas o que muda realmente, se e quando salto da uber para o glovo e do trivago para o airbnb, antes de ligar o computador para aterrar na netflix e ficar impermeabilizado durante uma série de horas? O que muda é tão-só a perspectiva com que a ilusão toma conta de cada um de nós. Ao fim e ao cabo, a ilusão do tempo ‘que não era o meu’ transformou-se na ilusão do tempo que ‘passou a ser feito só para mim e à minha medida’. É realmente diferente conviver com um tempo que recebemos do ‘altíssimo’ e convivermos, depois, com um outro tempo que faz de nós a simulação do próprio ‘altíssimo’. No entanto, a carne é fraca em ambos os casos, pois, como escreveu Sloterdijk, “os indivíduos querem que os deixem em paz; e esta tranquilidade é uma coisa que agora podem ter de uma vez por todas”. Seja no self-service ou seja na tasquinha do senhor Osório que, nos tempos livres, continua a ser um apaixonado pelos remansos do velho cinematógrafo, pelas entranhas do crackdown 3 e pelo afã dos ‘colporteurs’ da lanterna mágica.


*Peter Sloterdijk. Ensaio sobre a Intoxicação Voluntária. Lisboa: Fenda, 2001, p. 132.

Pagar o preço

03/2018

[dropcap]O[/dropcap]curso que começarei a dar na quarta, 13, e a que chamei Dá-me cem Gramas de Platão Mal Passado?, começa com um módulo sobre Nietzsche e as Vanguardas e dou de novo com o episódio:

Nietzsche passava um serão com uns amigos. Um deles deu como fanfarronada a história de Mutius Scaevola, um jovem romano que entrou no campo inimigo do Etruscos e matou por engano o secretário do rei Porsena, em vez do próprio rei. Para se castigar do erro, Scaevola meteu a mão num braseiro.

O episódio não colhia junto dos companheiros do filósofo, incrédulos. E então Nietzsche dirigiu-se à lareira e pegou num carvão em brasa, fechando a mão sobre ele, enquanto cerrava os dentes para não deixar escapar um grito.

O que desconhecia leio-o agora num livro de Élie Faure: «Com uma destas teimosias de criança que muitas vezes constituem o instintivo esboço de uma disciplina do querer, durante anos conservou aberta a chaga».

E o que pode parecer uma doidice, um sadomasoquismo declarado, explica algo da aragem que se sente na leitura do filósofo de Assim Falava Zaratrusta.

Em presença da dor cada palavra é mais viva, porque arrancada a uma intensidade sensorial que, para ser apaziguada, obriga a uma paralela exactidão expressiva. Ninguém se livra da dor duma queimadura recitando um soneto de Shakespeare, porém a pouca disposição para jogos de linguagem que assiste a quem sofre a dor, obriga a soltar o verbo numa única oportunidade, certeira como a pincelada num fresco. Não há retoques diante da dor e embora a palavra certa não a faça esquecer, talvez a sublime. Como a pintura ajudou Frida Khalo a suportar o desconjuntamento da sua coluna vertebral.

Nietzche usava a chaga sempre aberta como uma disciplina, um enxerto de tragédia na carne, e quando falava na dor, ou na alegria, no apaziguamento ou na revolta, era sentido. Ninguém discorda de nada com uma dor enfiada na carne se não discordar de todo; ninguém se diz eufórico, com uma dor entalada na carne, se tal não for verdadeiro.

Mais tarde Nietzsche, formulará que «a doença é um ponto de vista sobre a saúde», já uma forma de distanciamento sobre o sensível e que terá treinado na longa duração deste episódio.

Escrevo isto e ouço a Jade a reclamar com o gato, «o Sebastião é um lambareiro…» (roubou-lhe uma salsicha). Gosto que ela tenha achado uma forma mais viva e expressiva de acusar o gato sem ter caído nas fórmulas gastas de «comilão», ou «guloso». Mas quanto tempo lhe durará esta descoberta das palavras antes de se enfronhar nas fórmulas?

Por que o problema é este: não estamos dispostos (como o Nietzsche) a pagar o preço.

 

06/03/2019

 

De um prefácio que escrevi: “ (…) um traço de irrequietude, desconstrutor, só é possível a partir de um ponto de ancoragem. Deixar de navegar à cabotagem só é possível depois da invenção da bússola. Cada nova descida no abismo tem de achar novos pontos de amarração – alargamos o âmbito, mas sem o acto de amor que nos permite descortinar um padrão no caos nenhuma aventura humana seria possível.

Aliás, creio que pouco podemos para além do que Seferis insinua em EURÍPEDES, ATENIENSE: «Gostava das cavernas no areal e dos desenhos / do mar./ Viu as veias dos homens / como rede dos deuses, onde nos apanham como às alimárias; / tentou rompê-la.»

Por isso me incomoda a facilidade com que tantos evocam a loucura. A loucura em pão-de-ló da literatura. Quando, desse ponto, muito raramente se regressa.

A escrita, para mim, é antes o recorte lúcido de uma lide tauromáquica, onde se joga o pleito da morte. Subrescrevo totalmente esta anotação de Andrès Sanchez Robayana, nos seus diários, La Iminência:

«Leio Herman Broch – A Morte de Virgílio, esse livro inacabável, livro de uma vida que corre interminavelmente até ao seu fim -: o destino de Virgílio havia-se visto condenado à poesia, “a mais estranha das actividades humanas, a única que serve para o conhecimento da morte”.

E não é a poesia, por esse motivo, a única que serve para o conhecimento da vida? Não é o poema a homenagem da morte à vida?

Observo que a minha última escritura encerra, de certo modo, essa ideia. Os poemas levarão o título de Palmeiras sobre a laje fria. Vejo nisto a ideia e a imagem da vida e da morte, ambas interrogando-se, aliadas, mas nunca, em verdade, juntas ou fundidas. Afirmação ou vitória da vida. Afirmação da vida até na morte. (subinhado meu)»

Sim, a haver algo de singular que rompa a clausura da subjectividade, que mais além do modo como se interpela a intratável indomesticabilidade da morte? Podemos rir, podemos escolher a metafísica, podemos solenizar o amor ou o erotismo, podemos fazer da propriedade a ilusão – nada suspende o anúncio trágico de que padecemos de um aneurisma: eis aquilo que Charlot procurava no relógio quando o martelava desalmadamente, o aneurisma escondido por detrás dum mecanismo de tão dóceis simetrias, do ronrom do tempo. O modo como Charlot ri e nos faz rir com ele subtrai à morte o triunfo; a resposta paradoxal do relojoeiro-Charlot fez da indecibilidade uma festa e subtrai a esse limite o direito a dimensão negativa. O valor que Charlot transmite nesse gag é o do «aprender a desaprender» que Pessoa refere a dado passo, e nesse descasque fenomológico julgo que se desmonta o sentido da privação que Paul de Man atribuía à linguagem, por esta ser sobretudo figura, representação de algo: se tal condição prepondera no geral, há “curto-circuitos” criativos pelos quais a linguagem supera a sua mudez inexorável e se projecta num âmbito de novas relações para além das imagens, onde se desvanecia.

Daí que me seja mais atreito sondar a zona transfronteiriça da catábase que a “extraterritorialidade” da loucura, propícia a uma retórica do artifício.”

André Couto vai testar um Lamborghini no Japão

[dropcap]V[/dropcap]ice-campeão do Super GT em 2004, na categoria principal (GT500), e campeão da categoria GT300 em 2015, André Couto nunca escondeu que gostaria de regressar à maior competição de automobilismo do Japão. Uma nova oportunidade surgiu e o piloto português residente em Macau vai participar nos dias oficiais de testes com um Lamborghini Huracan GT3 Evo, da equipa JLOC (Japanese Lamborghini Owners Club), no circuito de Okayama nos dias 16 e 17 de Março.

De acordo com a lista de participantes revelada pela organização do campeonato a que o HM teve acesso, Couto será um dos três pilotos designados para conduzir o Huracan GT3 nº87 da categoria GT300. A equipa fundada em 1994 pelo clube de proprietários de viaturas da marca italiana, que terminou no 11º lugar à classe em 2018, ainda não anunciou oficialmente os seus pilotos para a temporada de 2019, tendo chamando também para este teste oficial os pilotos japoneses Tsubasa Takahashi e Kiyoto Fujinami.

Nas corridas do Super GT as formações de pilotos são constituídas por dois elementos apenas, porém, nas duas corridas mais longas do campeonato, ambas a disputar no circuito de Fuji, existe a possibilidade regulamentar para as equipas utilizarem um terceiro piloto.

Couto participou em quinze temporadas do Super GT. A sua última aparição no campeonato foi em 2017, antes do grave acidente na prova do Campeonato da China de GT, no Circuito Internacional de Zhuhai, que o atirou para uma cama de hospital e o obrigou a uma longa paragem para recuperação.

 

Regresso ao passado

Esta não será a primeira vez que Couto conduzirá um Lamborghini Huracan GT3. O piloto de 42 anos levou um exemplar em todo idêntico ao 12º lugar da corrida encurtada da Taça do Mundo FIA de GT do Grande Prémio de Macau de 2016. Não foi um fim-de-semana de grandes memórias para os Lamborghini, que nunca tiveram andamento para os favoritos, nem para Couto. O piloto da casa, após a corrida, depois de ter feito várias alterações nas afinações no carro ao longo dos quatro dias de prova, lamentou “não ter tido tempo para ganhar confiança com este tipo de afinação do carro”, até porque, na corrida decisiva, “o carro estava realmente melhor”.

Na temporada passada, Couto conduziu um Audi R8 LMS, que tem um motor igual ao Lamborghini, ao quinto posto do campeonato nipónico de resistência Super Taikyu Series, para além de ter realizado participações esporádicas no Campeonato Chinês de Carros de Turismo (CTCC) e no campeonato TCR China.

O calendário de 2019 do campeonato Super GT é composto por oito eventos, todos eles no Japão, com excepção de uma ronda a realizar no Circuito Internacional de Chang, em Buriram, na Tailândia. O arranque está agendado para o fim-de-semana de 13 e 14 de Abril.

 

 

Liga Europa | Benfica sem André Almeida, Pizzi e Jonas

[dropcap]O[/dropcap]Benfica viajou ontem para a Croácia, onde na quinta-feira defronta o Dínamo Zagreb, sem os futebolistas André Almeida, Pizzi e Jonas, numa lista de convocados que integrou o jovem Nuno Santos, extremo da equipa B. Em comparação com o jogo de sábado, no estádio do FC Porto, que deixou o Benfica na liderança da I Liga, graças à vitória por 2-1, o treinador Bruno Lage prescindiu de André Almeida, Pizzi e Jonas, promovendo as entradas de Yuri Ribeiro, Krovinovic e Nuno Santos para o embate da Liga Europa. O extremo, de 20 anos, é habitual titular na equipa B do Benfica, clube que representa desde os iniciados, apesar de nas escolinhas ter ainda representado o Boavista e o FC Porto. Na lista de indisponíveis, devido a lesão, continuam Ebuehi, Jardel, Fejsa, Conti e Salvio. Tal como aconteceu na eliminatória anterior da prova europeia, em que viajou para a Turquia sem Pizzi, Jonas e Grimaldo, desta vez, o treinador ‘encarnado’ repetiu dois dos ausentes, trocando de lateral, ao deixar André Almeida de fora, em vez de Grimaldo.

Tottenham | Pochettino suspenso por dois jogos

O treinador do Tottenham, o argentino Mauricio Pochettino, foi punido com dois jogos de suspensão por conduta imprópria, anunciou ontem a Federação Inglesa de Futebol (FA). Em causa está o comportamento de Pachettino em relação ao árbitro Mike Dean, depois da derrota por 2-1 sofrida pelo Tottenham no estádio do Burnley, em 23 de Fevereiro, para a liga inglesa. O castigo a Pochettino, de 47 anos, que também foi multado em 10.000 libras (cerca de 11.600 euros), tem efeitos imediatos e o treinador argentino irá falhar o jogo de sábado com a sua anterior equipa, o Southampton. O Tottenham é terceiro classificado do campeonato inglês, com 61 pontos, a dez do líder Manchester City, e qualificou-se na terça-feira para os quartos de final da Liga dos Campeões, ao afastar os alemães do Borussia Dortmund.

Ajax goleia em Madrid e afasta tricampeão Real

O Ajax afastou terça-feira o Real Madrid nos oitavos de final da Liga dos Campeões, depois de vencer em casa dos tricampeões europeus, por 4-1, em jogo da segunda mão. Depois de ter perdido em casa por 2-1, o conjunto holandês deu a volta à eliminatória, com golos de Hakim Ziyech (07 minutos), David Neres (18), Dusan Tadic (62) e Lasse Schöne (72). O Real Madrid, que vinha de oito presenças consecutivas nas meias-finais, ainda reduziu por Marco Asensio (70), terminando o jogo reduzido a 10, por expulsão de Nacho (90+3).

Desde 2002/03 que o conjunto holandês não atingia os quartos de final da Liga dos Campeões.

 

 

Futebol | Encontro entre China e Portugal não se realiza este ano

Apesar da vontade expressa pelos membros dos dois Governos, questões de calendário das duas selecções fazem com que não seja possível realizar o encontro

[dropcap]O[/dropcap]encontro de futebol entre a China e Portugal já não se vai realizar durante este ano. O desejo de organizar uma partida entre os dois países para celebrar o 20.º aniversário da criação da RAEM tinha sido expresso pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, e o ministro português da Educação, Tiago Brandão Rodrigues. Na terça-feira, o presidente do Instituto do Desporto (ID), Pun Weng Kun, confirmou que a partida não se vai realizar, à margem da apresentação das Regatas Barcos-Dragão.

“Muitas pessoas recordam o encontro de 2002, entre a China e Portugal, e têm saudades desse jogo. Mas é um evento muito difícil de organizar, porque depende da disponibilidade das federações chinesa e portuguesa”, explicou o presidente do ID. “Esperamos que, no futuro, seja possível organizar este jogo. Mas será um dia, no futuro”, acrescentou.

A vontade de organizar a partida tinha sido revelada em Setembro de 2017, quando Alexis Tam esteve reunido com Tiago Brandão Rodrigues, que tutela o desporto português.

Na altura, o Governo de Macau emitiu um comunicado em que se podia ler o seguinte: “Ambos os governantes expressaram o desejo de celebrar os 40 anos do restabelecimento das relações diplomáticas entre a China e Portugal, que se celebra em 2019 e que coincide com os 20 anos da RAEM, através do desporto, nomeadamente de um jogo entre as selecções chinesa e portuguesa a realizar em Macau”.

Em 2002, no encontro disputado no Estádio de Macau, na Taipa, Portugal derrotou a China por 2-0, com golos de Nuno Gomes e Pauleta. O jogo serviu de preparação para o Mundial da Coreia do Sul e do Japão. Uma competição que acabou de ser de má memória para as cores portuguesas, uma vez que a equipa orientada por António Oliveira acabou por ser eliminada logo na fase de grupos.

Southampton por confirmar

Outra possibilidade que tinha sido avançada era a possibilidade do Southampton se deslocar a Macau para realizar uma partida de carácter amigável.

Em relação a este assunto, o Instituto do Desporto está a trabalhar para encontrar um adversário para a formação inglesa, que virá do principal escalão do futebol do Interior da China.

Contudo, ainda não é certo que o encontro se venha mesmo a disputar: “Ainda não há nada confirmado. Estamos, neste momento, à procura de uma equipa para disputar o encontro entre as formações do principal escalão do futebol chinês”, revelou.

Nuclear | Pyongyang aparenta reconstruir centro de lançamento de mísseis

[dropcap]E[/dropcap]specialistas norte-americanos anunciaram ontem ter detectado “sinais de actividade” no centro de lançamento de mísseis de Sohae, na Coreia do Norte, sugerindo que Pyongyang avançou para a “reconstrução rápida” da instalação após o fracasso da cimeira de Hanói.

A reunião entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, terminou abruptamente na quinta-feira, sem que fosse alcançado um acordo sobre a desnuclearização. De acordo com Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), a actividade foi detectada apenas dois dias após o fracasso da cimeira, ilustrando uma “resposta face à rejeição dos EUA” em reduzir as sanções económicas sobre o regime norte-coreano. “Esta instalação estava inactiva desde Agosto de 2018, o que indica que as actividades são deliberadas e têm um propósito”, apontou o CSIS.

 

Poluição | Coreia do Sul quer projecto com a China para limpar o ar

[dropcap]O[/dropcap]Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, propôs ontem à China um projecto conjunto de utilização de chuva artificial para limpar o ar em Seul, que tem registado níveis de poluição elevados.

Na semana passada, os níveis de poluição atingiram recordes negativos na Coreia do Sul. Para as autoridades sul-coreanas, este é um resultado das actividades industriais chinesas, mas também da emissão de poluentes dos veículos existentes na Coreia do Sul.

Moon Jae-in instruiu ainda as autoridades governamentais a acelerarem o encerramento das centrais a carvão, segundo o porta-voz da presidência sul-coreana, Kim Eui-kyeom.

O Presidente sul-coreano afirmou que “a China está muito mais avançada” tecnologicamente para o combate às emissões de poluentes, do que a Coreia do Sul, e que a cooperação com Pequim ajudaria a diminuir a poluição do ar.

Moon também propôs que a Coreia do Sul e a China desenvolvam um sistema conjunto para a emissão de alertas de poluição.

Na terça-feira, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, anunciou que Pequim vai investir, este ano, 25 mil milhões de yuan no combate à poluição atmosférica, um aumento de 25 por cento em relação a 2018.

As principais cidades chinesas são frequentemente cobertas por um manto de poluição, resultado de três décadas de forte crescimento económico assente na produção industrial, que transformou o país na “fábrica do mundo”.

Xinjiang | ONU volta a pedir a Pequim acesso à província

[dropcap]A[/dropcap]Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos voltou ontem a pedir a Pequim acesso total à região de Xinjiang para avaliação da situação dos muçulmanos de origem uigur detidos em campos de reeducação.

Michelle Bachelet, que falava na apresentação do relatório anual, que decorreu em Genebra, referiu-se com preocupação à situação dos muçulmanos da província chinesa de Xinjiang.

Para a Alta Comissária, o rápido desenvolvimento na República Popular da China “tirou milhões de pessoas da pobreza” mas, acrescentou, em certas regiões, comunidades e indivíduos foram abandonados.

“O meu gabinete está a tentar estabelecer contactos com o governo [chinês] para a obtenção de acesso total no sentido de se conseguir uma avaliação independente dos relatórios que denunciaram desaparecimentos, detenções arbitrárias, em particular na região autónoma de Xinjiang”, afirmou.

Em Setembro de 2018, Bachelet pediu autorização a Pequim para o envio de uma equipa à região ocidental do país, mas ainda não obteve resposta.

Xinjiang, uma vasta região habitada maioritariamente por muçulmanos de etnia uigur, tem vindo a ser palco de violentas tensões e de atentados mortais.

A região é alvo de altas medidas de segurança levadas a cabo pelas forças policiais.

Pelo menos um milhão de muçulmanos estão detidos em centros de reeducação política, de acordo com informações difundidas por organizações de defesa dos Direitos Humanos.

Segundo uma organização uigur com sede na Alemanha, o número de detidos pode ser superior a três milhões.

As acusações têm vindo a ser desmentidas por Pequim que se refere a “centros de formação profissional” contra a “radicalização islâmica”.

Segundo o regime de Pequim, as medidas de segurança em Xinjiang “são necessárias para combater o extremismo, mas não visam grupos étnicos em particular”.

UE | Itália adere a ‘Uma Faixa, Uma Rota’ apesar das pressões externas

[dropcap]A[/dropcap]Itália deverá tornar-se, juntamente com Portugal, um dos poucos países da União Europeia (UE) a apoiar formalmente o projecto internacional de infra-estruturas lançado pela China ‘Uma Faixa, Uma Rota’, apesar da oposição de Washington e Bruxelas.

Citado pelo jornal Financial Times, o subsecretário do ministério italiano do Desenvolvimento Económico, Michele Geraci, revelou que Roma deve assinar um memorando de entendimento de apoio aquela iniciativa, que materializa a nova vocação internacionalista de Pequim.

A iniciativa visa conectar o sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa, e é visto como uma versão chinesa do ‘Plano Marshall’, lançado pelos EUA após a Segunda Guerra Mundial, e que permitiu a Washington criar a fundação de alianças que perduram até hoje.

O documento deverá ser assinado este mês, durante a visita a Itália do Presidente chinês, Xi Jinping.

“As negociações ainda não terminaram, mas é possível que sejam concluídas a tempo para a visita de Xi”, disse Geraci, citado pelo Financial Times.

“Queremos ter a certeza de que os produtos ‘Made in Italy’ podem ter mais sucesso em termos de volume de exportação para a China, que é o mercado que mais cresce no mundo”, explicou.

A iniciativa tem, no entanto, suscitado divergências com as potências ocidentais, que vêem uma nova ordem mundial ser moldada por um rival estratégico, com um sistema político e de valores profundamente diferentes.

Cepticismo americano

A Casa Branca disse já que a inclusão de Itália nos planos chineses não ajudará o país economicamente e pode prejudicar significativamente a sua imagem internacional.

“Nós vemos [Uma Faixa, Uma Rota’] como uma iniciativa ‘Made by China, for China’ [Feita pela China, para a China]”, reagiu o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Garrett Marquis.

“Estamos cépticos de que o apoio do Governo italiano trará quaisquer benefícios económicos sustentáveis para o povo italiano e isso pode acabar por prejudicar a reputação global de Itália a longo prazo”, disse.

Bancos estatais e outras instituições da China estão a conceder enormes empréstimos para projectos lançados no âmbito daquele gigantesco plano de infraestruturas, que inclui a construção de portos, aeroportos, autoestradas ou linhas ferroviárias ao longo de vários continentes.

Mas os Estados Unidos apontam para um aumento problemático do endividamento, que em alguns casos coloca os países numa situação financeira insustentável, permitindo a Pequim avançar com os seus interesses geopolíticos.

No Sri Lanka, um porto de águas profundas construído por uma empresa estatal chinesa, numa localização estratégica no Índico, revelou-se um gasto incomportável para o país, que teve de entregar a concessão da infraestrutura e dos terrenos próximos à China, por um período de 99 anos.

“Todos os aliados e parceiros, incluindo a Itália, devem pressionar a China a alinhar os seus esforços globais de investimento com os padrões internacionais e as boas práticas”, apontou Garrett Marquis.

Xi no terreno

O Presidente chinês chega a Itália em 22 de Março, no dia seguinte a um encontro da União Europeia, em Bruxelas, que vai debater a criação de uma abordagem comum para os investimentos chineses no bloco europeu.

Alemanha e França têm pressionado por critérios de selecção mais rigorosos para os investimentos chineses no continente.

Em Dezembro passado, durante a visita de Xi Jinping a Lisboa, Portugal e China assinaram um memorando de entendimento para a cooperação bilateral no âmbito da ‘Uma Faixa, Uma Rota’ .

Lisboa quer incluir uma rota atlântica no projecto chinês, o que permitiria ao porto de Sines conectar as rotas do Extremo Oriente ao oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá.

Bolsa | Queda atinge fortunas dos milionários do parlamento chinês

[dropcap]O[/dropcap]abrandamento do crescimento económico e as disputas comerciais com os Estados Unidos fizeram de 2018 um ano com reflexos nos bolsos dos mais ricos da China

O valor total das fortunas dos delegados do órgão legislativo e do órgão consultivo da China registou uma queda homóloga de 14 por cento durante o ano passado devido à forte desvalorização nas praças financeiras chinesas, segundo um estudo.

A Hurun, unidade de investigação sedeada em Xangai, revela que a riqueza somada dos cerca de 3.000 delegados na Assembleia Popular Nacional (APN), órgão máximo legislativo da China, e dos 2.200 membros da Conferência Política Consultiva do Povo Chinês (CCPPC), uma espécie de senado sem poderes legislativos, caiu para 3,4 biliões de yuan.

Em comparação, os 50 membros mais ricos do Congresso dos Estados Unidos têm uma riqueza acumulada de 2 mil milhões de dólares.

Considerada a Forbes chinesa, a Hurun Report Inc foi fundada em 1999 pelo contabilista britânico Rupert Hoogewerf, e publica anualmente uma lista dos mais ricos da China.

O relatório informa que os dois órgãos reúnem agora, no conjunto, 93 delegados milionários. No ano passado, eram 104.

Serão estes milionários – a maioria fez fortuna com propriedade, tecnologia ou no sector manufactureiro – a defender os direitos das empresas privadas, durante os dez dias em que as elites políticas da China estão reunidas, em Pequim.

O sector privado contribui para mais de metade da receita tributária da China, 60 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do país ou 80 por cento dos postos de trabalho nas cidades, segundo dados oficiais.

Bons negócios

A reunião anual da APN, que começou na terça-feira, decorre num período de abrandamento no ritmo de crescimento económico da China para o nível mais baixo em trinta anos e de disputas comerciais com os Estados Unidos.

Em 2018, a bolsa de Xangai, principal praça financeira da China, registou o pior desempenho do mundo, ao recuar quase 25 por cento.

Apesar de as empresas privadas chinesas partilharem do mesmo estatuto legal das firmas estatais, na prática, as segundas têm mais apoio dos bancos, dominados pelo Estado, e gozam de tratamento preferencial por parte das autoridades.

O Governo central tem prometido melhorias no ambiente de negócios para o sector privado.

Em causa está maior acesso ao crédito, redução da carga tributária ou melhor protecção dos direitos de propriedade contra abusos de poder dos governos locais.

Pony Ma, fundador da Tencent Holdings, continua a ser o delegado mais rico na APN, com um património estimado em 255 mil milhões de yuan.

Na Conferência Consultiva, o magnata do imobiliário Hui Ka Yan é o mais rico, com uma fortuna estimada em 250 mil milhões de yuan.

 

 

 

Wynn | Macau volta a receber anúncio dos “50 Melhores Restaurantes da Ásia”

Macau vai acolher, pelo segundo ano consecutivo, o anúncio dos “50 Melhores Restaurantes da Ásia em 2019”, em 25 de Março próximo, foi ontem anunciado.

[dropcap]E[/dropcap]m paralelo, vão decorrer também as “50 Melhores Conversas” (“50 Best Talks”), que vão ter como pano de fundo as tendências actuais no mundo gastronómico, em que vários ‘chefs’ vão partilhar histórias e novas tendências.

No dia 25, vai também haver uma palestra sobre “Ingredientes Vitais”, em que se discute a sustentabilidade e o consumo excessivo dos alimentos, pode ler-se na página oficial do evento “50 Melhores Restaurantes da Ásia em 2019”.

Macau é “um destino gastronómico em rápida evolução (…) com uma variedade de mercados, experiências culinárias únicas e atracções culturais”, aponta-se na mesma nota.

Em declarações à operadora de jogo Wynn, que vai acolher o evento, a directora dos Serviços de Turismo de Macau, Maria Helena de Senna Fernandes, enalteceu a transformação do território “num centro mundial de turismo e lazer” em que a gastronomia é um dos melhores valores.

Macau entrou para a Rede de Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) na área da Gastronomia em 31 de Outubro de 2017, tornando-se na terceira cidade na China, a seguir a Chengdu e Shunde, a conquistar tal feito.

Após o reconhecimento, foi lançado no início de 2018 o “Ano da Gastronomia de Macau”, uma iniciativa inserida num plano a quatro anos para “forjar uma Cidade Criativa”, à boleia da designação recém-atribuída.

Em Fevereiro deste ano, 24 restaurantes de Macau foram premiados pelo Guia de Viagens da Forbes 2019, que atribuiu a pontuação máxima de cinco estrelas a 16 destes espaços nos ‘resorts integrados’.

Concurso | Abertas inscrições para jovens músicos

[dropcap]A[/dropcap]s inscrições para o 37.° Concurso para Jovens Músicos de Macau estão abertas até ao próximo dia 10 através do registo online. Esta forma de inscrição pretende facilitar o processo aos interessados, sendo que a entrega de documentos e o pagamento de 100 patacas que vão confirmar o registo podem ser efectuados mais tarde. Os candidatos podem também preparar os documentos necessários e dirigir-se ao Edifício do Instituto Cultural onde serão apoiados pelos funcionários do IC na realização da inscrição.

 

 

Curtas de animação| IC promove apresentações internacionais

[dropcap]O[/dropcap]Instituto Cultural (IC) vai promover a exibição de cinco curtas metragens de animação subsidiadas pelo organismo em 2016 dentro do programa de apoio aos criativos locais. A apresentações vão ter lugar em Macau, na China Continental, em Hong Kong, Portugal e na Grécia. “The Lighthouse”, de Lei Pui Weng, “Starry Sky”, de Ku Pou Cheng, “Father’s Lunch”, de Pun Lap Fung, “Pundusina”, de Lou Ka Choi, e “Dinzong”, de Cheong Chi Pan, foram os filmes considerados “excelentes” e seleccionados para estas mostras.

“The Lighthouse” foi finalista do 24.º Festival IFVA de Hong Kong, no Festival de Animação de Lisboa 2019 em Portugal e Athens Animfest 2019 na Grécia. “Father’s Lunch” vai participar no 15.º Festival Internacional de Cinema de Animação da China. “Pundusina”, uma obra de animação que retrata o quotidiano, será transmitida nas plataformas de partilha de vídeos e apresentada no programa de televisão Bom Dia, Macau. “Dinzong”, uma animação digital e “Starry Sky” uma animação com um estilo semelhante aos livros ilustrados, assinalam um avanço na cena da animação local vão ser apresentadas na “Exposição de Multimédia, Animação e Banda desenhada de CMM” organizada pela Associação de Arte da Animação e Banda Desenhada de Macau, a ter lugar no Centro de Arte Contemporânea – Oficinas Navais N.º 2, de 11 a 18 de Maio. Este último evento vai contar com a participação dos realizadores.

Os cinco realizadores das animações vão ainda participar no “Moving Image Programme: Independently Yours” um evento anual de exibição de produções independentes organizado pelo Hong Kong Arts Centre, que terá lugar no dia 2 de Abril.

Sombras Chinesas | Criada a primeira Associação de Teatro em Macau

A primeira Associação de Teatro de Sombras Chinesas em Macau foi criada no passado mês de Janeiro. A iniciativa é de António Inácio que pretende, desta forma, levar esta arte aos países de língua portuguesa e ao mundo

[dropcap]A[dropcap]Associação de Teatro de Sombras Chinesas de Macau foi fundada no passado mês de Janeiro para colmatar a ausência de uma entidade que se dedicasse à investigação e desenvolvimento de actividades a partir desta forma de arte.

Para António Inácio, presidente da associação, a criação de um grupo que represente o teatro de sombras chinesas “é um dever” e vem na sequência de uma promessa feita a si próprio há 21 anos, depois de um encontro em Pequim com o responsável de uma trupe da capital. “Foi nessa altura que também entrei em contacto pela primeira vez com as marionetas e com esta arte”, apontou ao HM.

No entanto, o projecto não avançou na altura porque as facilidades de comunicação “não eram as que existem hoje em dia”, afirmou.

No ano passado, 21 anos depois do primeiro contacto, António Inácio regressou a Pequim e aproveitou o momento para marcar novo encontro com o responsável “que é também herdeiro da quinta geração da arte de teatro de sombras da China”. “O destino permitiu que nos encontrássemos apesar de se ter passado tanto tempo, e este foi o primeiro passo para formar a associação em Macau”.

Necessidades quase esquecidas

A existência desta entidade em Macau era uma necessidade: “o teatro de sombras chinesas foi reconhecido pela UNESCO em 2011 como património mundial imaterial da humanidade e numa altura em que a China está a avançar com a política ‘Uma faixa, uma rota’, é importante que Macau assuma uma posição em que possa servir de plataforma de divulgação desta arte do espectáculo”.

António Inácio recorda ainda que o teatro de sombras acompanhou a antiga rota da seda tendo por esse meio chegado ao Médio Oriente, à Turquia, à Grécia e mesmo a França. “Foi esta rota que acabou por levar as máscaras e os espetáculos para vários países”, aponta.

Através da política “uma faixa uma rota” o responsável quer “devolver esta tradição à própria rota da seda e alargar os destinos da divulgação, primeiro pelos países de língua portuguesa e depois pelo mundo inteiro”.

Na agenda

Para já, a associação recentemente criada ainda se está a organizar e a promover contactos com companhias ligadas a esta área tanto na China continental como noutras regiões.

Entretanto, é necessário constituir um grupo local, e para a formação de actores, músicos e técnicos António Inácio conta com a possibilidade de intercâmbio com várias regiões da China para que os interessados de Macau possam vir a ser formados.

A transmissão de conhecimentos pode ainda passar pela aprendizagem com os “grandes mestres” chineses. “Há muitos mestres de marionetas chinesas que se encontram isolados em várias partes do país e são estas pessoas que também queremos chamar para virem ensinar os de cá”, aponta.

Promover palestras e oficinas para aprender a representação e confecção de marionetas, e criar um museu de teatro de sombras no território são metas que a associação também quer atingir. “Há um museu em Nanjin que já mostrou interesse em transferir peças para Macau. Agora é necessário ter pessoas interessadas e os devidos apoios”, sublinhou.

“Queremos ainda realizar o primeiro festival internacional do teatro de sombras em Macau ainda este ano, se possível”, avança. Contudo a missão apresenta-se algo utópica até porque o objectivo seria “reunir 20 grupos chineses e 20 grupos estrangeiros”. Os contactos já estão em andamento nomeadamente com países com tradição em teatro de sombras como a Indonésia, a Malásia, Singapura, Tailândia e Camboja.

Modernizar para atrair

António Inácio considera ainda que há dificuldades a ultrapassar nomeadamente para atrair pessoas que se dediquem ao ofício. “O teatro de sombras não é uma coisa moderna e está a deixar de atrair jovens. Os interessados são normalmente idosos ou crianças, salvo raras excepções”. Para colmatar esta dificuldade é necessário atrair jovens e assegurar que esta possa ser uma carreira reconhecida.

Na manga, estão ainda algumas inovações a serem feitas aos conteúdos. Às histórias clássicas que normalmente servem de suporte ao teatro de sombras chinesas, podem ser acrescentados outros argumentos, como a “história do Titanic, que é muito conhecida e mais internacional”. A nível técnico o responsável quer integrar as novas tecnologias, principalmente na área da iluminação.

 

Simulacro | Exercício de busca e salvamento no mar juntou 160 pessoas

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA) organizou ontem um exercício de busca e salvamento no mar, envolvendo 160 pessoas, nove embarcações, bem como uma mota de água, um ‘drone’ e nove ambulâncias, com o objectivo de reforçar a capacidade de resposta a incidentes e a coordenação entre diferentes serviços. A manobra, que durou cerca de uma hora e meia, teve lugar nas áreas marítimas em frente do Centro de Ciência, perto do canal de acesso ao Porto Interior e do canal reservado do Porto Exterior.

Número de idosos por cada 100 jovens subiu pelo 21.º ano consecutivo

[dropcap]O[/dropcap]crescente envelhecimento populacional é um fenómeno em Macau e os dados continuam a atestá-lo. Segundo estatísticas divulgadas ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o índice de envelhecimento, que reflecte a proporção de idosos relativamente aos jovens, subiu 1,1 pontos percentuais para 84,1 por cento em 2018, crescendo pelo 21.º ano consecutivo.

A população idosa (com idade igual ou superior a 65 anos) aumentou 0,6 pontos percentuais em 2018, representando 11,1 por cento da população total, composta por 667.400 habitantes (+14.300 face a 2017).

Contas feitas à população local, ou seja, excluindo trabalhadores não residentes e estudantes que não vivem em Macau, a proporção ocupada pela terceira idade sobe para 13,5 por cento, num universo de 548.200 pessoas. O índice de dependência dos idosos também cresceu – de 13,7 para 19,2 por cento –, o que significa, que cada idoso era sustentado por quase cinco adultos.

Nascimentos e mortes em baixa

Já em queda estiveram as taxas de natalidade e de mortalidade. Ao longo do ano passado, foram registados 5.925 nados-vivos (menos 604) e 2.069 óbitos (menos 51). De acordo com a DSEC, quase quatro em cada dez óbitos deveram-se a tumores malignos (817).

Já em termos de imigração, a DSEC destaca a queda, pelo terceiro ano consecutivo, de imigrantes chineses (3.532 ou menos 674). Do total, mais de dois terços (2.262) eram provenientes da província de Guangdong e do sexo feminino. Em queda esteve também o número de indivíduos autorizados a residir em Macau em 2018: 1.074 ou menos 453 comparativamente ao ano anterior.

Os dados divulgados pela DSEC indicam ainda que, ao longo do ano passado, houve menos casamentos e mais divórcios. No total, foram celebrados 3.842 matrimónios, ou seja, menos 1,1 por cento, com a mediana da idade do primeiro casamento a corresponder a 29,2 anos no caso dos homens e a 27,6 no das mulheres. Já os divórcios ascenderam a 1.544, isto é, mais 65 do que em 2017, com 94,2 por cento dos casais a separarem-se por mútuo consentimento.

IAS | Candidaturas a apoio para promover emprego de idosos a partir do próximo mês

Existem pelo menos quatro associações sem fins lucrativos que expressaram o interesse em aderir ao plano de apoio financeiro para a promoção do emprego de idosos, anunciado recentemente pelo Governo. O prazo para a entrega de propostas abre a 1 de Abril

[dropcap]D[/dropcap]e modo a promover a reintegração de idosos no mercado de trabalho, o Governo lançou um plano de apoio financeiro destinado às empresas sociais. O prazo para a entrega de propostas termina a 31 de Março do próximo ano, mas há pelo menos quatro interessadas em aderir. Um número que pode vir a aumentar, tanto que o IAS estima que o plano arranque com seis projectos.

A informação foi facultada ontem pelo chefe do Departamento de Solidariedade Social do IAS, em conferência de imprensa, após a primeira sessão plenária do ano da Comissão para os Assuntos do Cidadão Sénior. Choi Sio Un não soube, no entanto, indicar quando poderá arrancar o primeiro projecto, até porque o prazo para a apresentação de propostas termina dentro de sensivelmente um ano.

Em Novembro, o IAS calculou existirem aproximadamente 40 associações sem fins lucrativos com condições para avançar com uma candidatura ao novo plano de apoio financeiro, ou seja, para criar empresas sociais destinados a proporcionar oportunidades de emprego para residentes com idade igual ou superior a 60 anos. No entanto, na conferência de imprensa de ontem, o mesmo responsável falhou igualmente em fornecer uma estimativa sobre a proporção dos idosos actualmente ao serviço das mesmas.

Ao abrigo do plano financeiro, recentemente anunciado, as empresas sociais podem receber um apoio máximo de 3,5 milhões de patacas. Essa verba, que pode ser reforçada em 500 mil patacas em casos excepcionais, destina-se a cobrir despesas nomeadamente de funcionamento, incluindo salários, nos primeiros três anos. O regulamento é, no entanto, omisso relativamente a um montante mínimo, deixando-o ao critério das futuras empresas sociais.

À luz das regras, nos primeiros cinco anos, as empresas sociais têm de assegurar que a percentagem de idosos entre o universo de trabalhadores corresponde a, pelo menos, 60 por cento.

Tecnologia na geriatria

A Comissão para os Assuntos do Cidadão Sénior, presidida pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, abordou ainda a experiência de “sucesso” de Hong Kong e do Japão ao nível da ‘gerontecnologia’, área que reúne todas as inovações tecnológicas no campo da geriatria, tanto para rastreio, como assistência ou reabilitação. Apesar de ainda estar a “estudar a viabilidade” da aplicação em Macau de projectos aplicados na ex-colónia britânica, o IAS revelou que planeia destinar uma verba inicial de 8,5 milhões de patacas para “estimular” instituições, como lares, a dotarem-se de equipamentos inovadores.

Grande Baía | China vai acelerar infra-estruturas em Guangdong, Hong Kong e Macau

[dropcap]A[/dropcap]China vai levar a cabo mais esforços para acelerar a construção de um centro internacional de ciência e tecnologia na Grande Baía, afirmou ontem o director da Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Reforma, durante uma conferência de imprensa, no âmbito da segunda sessão da 13.ª Assembleia Popular Nacional, que decorre em Pequim. He Lifeng garantiu ainda que mais medidas vão ser tomadas para acelerar a construção de infra-estruturas em Guangdong, Hong Kong e Macau, com vista ao estabelecimento de uma base sólida para impulsionar o intercâmbio e a comunicação entre as regiões. Segundo o China Daily, Pequim vai também traçar políticas adicionais de modo a que seja mais conveniente para as pessoas de Hong Kong e de Macau trabalharem e criarem os seus negócios na província de Guangdong, na esperança de impulsionar a inovação, sublinhou He Lifeng.

APN | Delegados de Macau ansiosos por participar no desenvolvimento da China

[dropcap]O[/dropcap]s delegados de Macau à Assembleia Popular Nacional (APN) defenderam que uma participação mais activa no desenvolvimento global da China vai ajudar Macau a diversificar a sua economia. Segundo o China Daily, os delegados à APN concordam que a RAEM precisa de explorar outras áreas – além do jogo – de modo a garantir um desenvolvimento sustentável. O apelo foi lançado durante uma sessão plenária dos delegados de Macau na terça-feira, realizada após a abertura da segunda sessão da 13.ª APN. Neste âmbito, Chui Sai Peng, também deputado à Assembleia Legislativa de Macau, destacou nomeadamente que os padrões da área tecnológica e industrial devem ser unificadas para impulsionar a integração regional. Actualmente, Macau adopta, regra geral, os padrões europeus, enquanto a China tem os seus próprios, explicou. Além de um papel mais activo, Lao Ngai Leong defendeu mesmo que Macau pode ir mais além, sugerindo que a Ilha da Montanha se transforme numa zona de cooperação especial entre Guangdong e Macau ou num porto de comércio livre, refere o mesmo jornal.

Nomeação | Sobrinho de Chui Sai On no Conselho da Juventude

Calvin Chui Tinlop foi nomeado pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultural como membro do Conselho da Juventude. O filho de Chui Sai Peng vai ocupar o cargo deixado por Lei Iok Pui, arguido ilibado no caso John Mo

[dropcap]O[/dropcap]sobrinho do Chefe do Executivo, Calvin Chui Tinlop, foi escolhido por Alexis Tam, secretário para os Assuntos Sociais e Cultural, para assumir a posição de vogal do Conselho da Juventude. O anúncio sobre o novo cargo do filho do deputado Chui Sai Peng foi ontem publicado no Boletim Oficial da RAEM e o mandato prolonga-se até Junho de 2020.

A posição estava vaga depois de, no final de Janeiro, Lei Iok Pui ter abdicado do cargo. O vice-presidente da Federação de Juventude de Macau foi um dos envolvidos no caso John Mo e enfrentou acusações de omissão de auxílio e violação. No entanto, à imagem dos outros arguidos, acabou ilibado pelo Tribunal Judicial de Base (TJB), numa decisão que ainda não transitou em julgado e que pode ser contestada pelo Ministério Público.

Por sua vez, Calvin Chui Tinlop é advogado-estagiário no escritório Rato, Ling, Lei & Cortés – Advogados e tem como áreas de actividade o Direito Comercial e Societário, Civil e Penal. Entrou no escritório em Setembro de 2015, como jurista, e começou o estágio em Março de 2017. Tem como patrono o advogado Frederico Rato.

Além disso, em 2014 passou pela “Legal Clinic Intern” na equipa de Corporate Finance do departamento de Tax da KPMG & Associados, em Lisboa, e foi estagiário de Verão na PLMJ – Sociedade de Advogados, também na capital portuguesa.

Formado em Portugal

Em termos formação académica, Calvin Chui é licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de Portugal e completou o mestrado na Universidade de Chicago. Além de fazer parte da Ordem dos Advogados de Macau, segundo o portal do escritório de advogados em que trabalha, também está inscrito na Ordem dos Advogados do Estado de Nova Iorque.

Já ao nível do associativismo, Chui foi presidente-fundador da Direcção da Associação de Estudantes Luso-Macaenses, entre 2013 e 2015, e é presidente da Cimeira da Juventude de Macau, desde 2016.

O Conselho da Juventude foi criado em 1988 e é um órgão de consulta para o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, no que diz respeito às políticas focadas nos jovens.

 

Ponte HKZM | Mak Soi Kun critica Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap]facto da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau não ter um estacionamento junto à fronteira na RAEHK levou o deputado Mak Soi Kun a escrever uma interpelação a apresentar queixas de residentes. O legislador, vencedor das eleições legislativas, revelou que recebeu muitas queixas de residentes, uma vez que ao contrário do que acontece em Macau, em Hong Kong não há lugares de estacionamento prontos para deixarem as viaturas e entrarem na cidade pelo próprio pé ou transportes públicos. “As pessoas de Macau estavam à espera de ter os mesmos direitos de utilização da ponte que os cidadãos de Hong Kong”, aponta Mak Soi Kun. “Será que o Governo de Macau, que quer incentivar uma maior integração na Grande Baía, já pensou em acautelar os interesses dos residentes? O que é que o Governo vai fazer em relação a este assunto?”, questiona.