Internet | Post sugere Macau como local para venda de vacinas

[dropcap]U[/dropcap]ma publicação que circula nas redes sociais aconselha turistas do Interior da China a optar por visitar Macau, em vez de Hong Kong, devido ao preço e à acessibilidade em adquirir vacina contra o cancro no colo do útero.

A notícia avançada pelo Apple Daily refere que uma internauta publicou um “livrinho vermelho” com sugestões, onde explica que em Macau os turistas podem obter as três injecções necessárias à inoculação, sem filas de espera, por 4000 renminbis, face aos 7000 dólares de Hong Kong pedidos na região vizinha. Outra das queixas mencionadas no Apple Daily prende-se com o serviço ao cliente nas lojas de cosméticos.

“Os vendedores das lojas de cosméticos de Hong Kong maltratam-nos ou ignoram-nos sempre” comentaram alguns internautas do Continente, que descrevem fazer compras em Hong Kong como pagar para ser sofrer maus-tratos. Alguns internautas apontaram que “Macau é melhor, e que as pessoas são mais amigáveis.”

Falha de travões leva autocarro a quase a entrar em estabelecimento

Não causou mortes nem feridos, mas o acidente em que um autocarro de turismo quase entrou no Café Rosa levantou questões de segurança. A proximidade do local do acidente com o Jardim de Infância D. José da Costa Nunes trouxe ao de cima preocupações entre a direcção da APIM

 

[dropcap]U[/dropcap]m autocarro descontrolado embateu ontem, por volta das 9h30 da manhã, no café Rosa, na Avenida de Sidónio Pais, em frente ao Jardim de Infância D. José da Costa Nunes. De acordo com a Polícia de Segurança Pública (PSP), o acidente não fez vítimas mortais nem feridos e os estragos limitaram-se à parede exterior do estabelecimento de restauração.

A bordo do veículo seguiam 43 turistas de nacionalidade japonesa. Segundo as autoridades, e tendo em conta as declarações do motorista, o acidente resultou de uma “falha do sistema de freio”. O condutor “é residente e profissional há muitos anos” e não acusou alcoolemia quando submetido ao teste. A PSP iniciou as diligências para apurar os factos.

A proximidade do Jardim de Infância D. José da Costa Nunes fez soar alertas entre os encarregados de educação e de quem gere a escola. Para o presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), Miguel de Senna Fernandes, os autocarros deveriam ser submetidos a inspecções mais rigoristas e cumprirem regras mais apertadas, nomeadamente de velocidade. “Isto tem muito que ver com as inspecções dos veículos desta natureza”, começou por dizer ao HM. “São carros de grande porte que devem de ser submetidos a uma inspecção muito mais rigorosa”, acrescentou.

O responsável alertou ainda para os limites de velocidade que devem ser mais apertados para este tipo de transporte, uma vez que a altas velocidades podem representar um perigo para a segurança pública.

Para Miguel de Senna Fernandes as inspecções aos autocarros deveriam ter uma periocidade mais frequente do que exigida actualmente – uma vez por ano. “Não estamos a falar de veículos automóveis, estamos a falar de carros de grande porte que exigem um certo tipo de manuseamento, um certo tipo de perícia e naturalmente, de um certo tipo de controlo de velocidade”, justificou.

Situação preocupante

Apesar de não ter feito vítimas, “o certo é que aconteceu perto de escolas onde circulam para além dos normais peões, crianças”.

O responsável pela APIM, que tutela o Costa Nunes, espera poder ter acesso ao relatório acerca das causas do acidente. “Estamos ainda a aguardar desenvolvimentos e um eventual relatório sobre o ocorrido. Não estamos em posição de exigir, mas era bom para sabermos o que efectivamente ocorreu”, disse.

Estradas desadequadas

Gilberto Camacho que se dirigia ao local de trabalho, o Jardim de Infância D. José da Costa Nunes, na altura em que o autocarro embateu no café, além de sublinhar a necessidade de mais inspecções nos veículos de transporte de passageiros, alerta para a inadequação das estradas do território ao aumento de tráfego. “As estradas não dão margem de erro: as faixas são estreitíssimas e os autocarros são cada vez maiores”, referiu.

Uma moradora na zona do acidente, afirma peremptoriamente que “um autocarro não consegue dar bem aquela curva a não ser que vá muito devagar”. “Os autocarros vêm do túnel da Guia e não vêm a cinco à hora, querem despachar, querem apanhar o semáforo verde e acabam por ir em frente como aconteceu”, relatou. Para a residente é preciso mais contenção e rigor na condução.

MNE | Visita de Chui a Portugal visa tornar Fórum Macau mais operacional

Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros português, garantiu ao HM que a visita do Chefe do Executivo de Macau a Portugal visa reforçar a “operacionalidade do Fórum Macau”, bem como as relações comerciais entre a RAEM e o país

 

[dropcap]É[/dropcap] já na próxima semana, a 11 de Maio, que se realiza a última visita de Chui Sai On a Portugal na qualidade de Chefe do Executivo, e que termina no dia 19 deste mês. Numa resposta enviada pelo gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, ao HM, fica claro que a visita oficial, que acontece nas cidades de Lisboa e do Porto, se reveste de objectivos concretos.

“Sendo esta a 6ª reunião da Comissão Mista, será também a terceira realizada durante o mandato deste Governo, o que demonstra bem a intensificação do nosso relacionamento. A relação desenvolve-se já num quadro de excelência, em que esperamos incrementar dois aspectos: as relações comerciais entre Portugal e Macau e a operacionalidade do Fórum Macau, que ainda não realizou plenamente o seu elevado potencial.”

O funcionamento do Fórum Macau, criado há 15 anos, tem sido alvo de críticas por parte de algumas entidades oficiais, tanto chinesas como portuguesas. Isso mesmo deu conta o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, que terminou ontem uma viagem oficial à China, com passagem por Macau. “Há o objectivo de dar mais força ao Fórum Macau: isso foi muito sentido em todos os encontros, nomeadamente no encontro com a delegação liderada pelo Presidente Xi Jinping”, afirmou.

Na resposta ao HM, o MNE português adiantou também que a 6ª Comissão Mista Portugal-RAEM vai focar-se “nas relações económicas entre as duas partes, tendo em perspectiva as relações entre a China, Portugal e os demais países de língua portuguesa”, bem como “as relações nas áreas da língua, da cultura e da educação”.

Além do circunstancial

Chui Sai On deixa este ano o cargo de Chefe do Executivo da RAEM que desempenhou durante dois mandatos consecutivos. Numa altura em que as relações entre China e Portugal se estreitam cada vez mais, Augusto Santos Silva considera que o futuro das ligações à RAEM é risonho.

“Não cabendo a Portugal pronunciar-se sobre a dinâmica político-institucional de Macau, uma coisa é certa: o relacionamento continuará a desenvolver-se porque não é meramente circunstancial, antes resulta de laços históricos e da vontade dos dois Estados em continuá-los e aprofundá-los.”

Num comunicado enviado à comunicação social, o Governo de Macau adiantou que, na capital portuguesa, “o Chefe do Executivo será recebido, em audiência, pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e, mais tarde, pelo primeiro-ministro de Portugal, António Costa, com os quais trocará ideias a respeito da consolidação das relações de amizade entre Macau e Portugal e do reforço da cooperação bilateral”.

No Porto será assinado “um memorando de entendimento para o quadro de cooperação na promoção de amizade” com a câmara municipal, presidida por Rui Moreira. Depois da assinatura, o Chefe do Executivo “será agraciado com as Chaves da Cidade, um alto galardão municipal”.

Ex-deputada Kwan Tsui Hang quer mais candidatos a Chefe do Executivo

[dropcap]”E[/dropcap]spero mais candidatos, mais escolhas será melhor para o futuro de Macau.” As palavras são de Kwan Tsui Hang, ex-deputada, que falou ontem à margem da entrega de candidaturas da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) para membros da Colégio Eleitoral que irá eleger o próximo Chefe do Executivo.

A ex-deputada e veterana dos operários enalteceu as qualidades de Ho Iat Seng, mas mencionou que, enquanto residente, gostaria de ter mais opções, acrescentando que o próximo Chefe do Executivo deve ser um estratega que consiga promover o desenvolvimento de Macau no âmbito da Grande Baía.

O presidente da direcção da FAOM, Leong Wai Fong, espera que o próximo Chefe do Executivo tenha capacidade de gestão, considere e ouça as opiniões dos trabalhadores, melhore a Lei das Relações Laborais e elabore legislação que fixe o salário mínimo. Quando questionado se vai apoiar Ho Iat Seng, Leong Wai Fong referiu que enquanto presidente da Assembleia Legislativa, e membro do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, tem experiência e capacidade para ajudar ao desenvolvimento de Macau. Numa carta assinada pela direcção, a FAOM diz que o próximo líder do Executivo deve amar a pátria e Macau, ter a confiança do Governo Central e capacidade para governar.

Não foram, ainda, divulgados os nomes dos candidatos propostos pela FAOM para integrar o sector do trabalho do Colégio Eleitoral.

Bairros antigos | Agnes Lam pede esclarecimentos ao Governo

[dropcap]C[/dropcap]hui Sai On pode estar de saída do Governo em Dezembro, mas a deputada Agnes Lam quer garantias que a renovação dos bairros antigos fica preparada para o próximo líder do Governo avançar com os trabalhos.

É este o conteúdo da última interpelação escrita da deputada, que foi divulgada ontem. “Quais são as mudanças que o Chefe do Executivo pretende implementar e que vão garantir que o próximo Governo pode continuar com o conceito e proceder à renovação urbana?”, questiona a legisladora.

No mesmo documento, Agnes Lam fala da necessidade de resolver os problemas dos bairros antigos, principalmente na zona do Iao Hon e Porto Interior, e pede a Chui Sai On passos mais concretos neste diploma. “Neste momento, ainda não se sabe qual é o andamento dos trabalhos no projecto legislativo sobre a renovação urbana. Será que vai ser anunciado brevemente? E qual é o estado do progresso dos estudos sobre a renovação urbana?”, perguntou.

Segundo Agnes Lam, existe uma grande necessidade de melhorar os bairros antigos, uma vez que as pessoas mais velhas e com deficiências são as que mais sofrem.

Pedido prazo mais curto para cancelar licenças de restaurantes

Os proprietários de restaurantes fechados, que se situem dentro de hotéis, querem que o cancelamento das licenças de exploração por parte dos Serviços de Turismo seja mais rápido. De acordo com a proposta de lei que vai regular o sector, o cancelamento não pode ser efectuado durante o prazo de um ano caso exista um processo judicial em curso

 

[dropcap]S[/dropcap]e o titular de uma licença de exploração de um restaurante ou bar, dentro de uma unidade hoteleira, deixar de exercer actividade e ainda assim tenha avançado com um processo judicial, a sua licença não será cancelada pelo menos durante um período de um ano.

Este procedimento leva a que as rendas não sejam pagas aos proprietários ao longo do período de tempo em causa. A norma que faz parte da proposta de lei que vai regulamentar o funcionamento dos hotéis não agrada aos deputados da 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa. “Se o titular de licença disser que já apresentou uma acção judicial, então a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) não pode cancelar a licença e tem que aguardar pelo período de um ano”, explicou ontem o presidente da comissão, Chan Chak Mo, após mais uma reunião de análise do diploma na especialidade.

Rendas em falta

Este prazo é considerado por vários deputados como demasiado longo prejudicando os proprietários que durante esse período não recebem renda. “Existe um estabelecimento com portas fechadas e, neste momento, mesmo com portas fechadas, a licença continua válida mas o proprietário não pode arrendar esse estabelecimento a outra pessoa”, disse. “O prazo de um ano é bastante longo”, acrescentou.

Em resposta, o Governo apontou que vai “ponderar reduzir este prazo”, ou seja, “mesmo se existir uma acção judicial, a DST poderá cancelar a licença e o proprietário já pode arrendar a loja a outra pessoa”, disse. No entanto, os deputados não sugeriram um prazo que pudesse ser aceite pelo sector.

Caso não exista nenhum processo judicial em curso, a DST exige ao titular da licença a apresentação do certificado que lhes permite a exploração de actividade dentro de um prazo de 20 dias, após os quais, e caso não tenha recebido o documento, cancela a respectiva licença. “Com este novo mecanismo o proprietário pode comunicar à DST e dizer que o titular de licença não tem condições para explorar e dá um prazo de 20 dias para apresentar contraprova”.

De acordo com Chan Chak Mo, estas medidas permitem “combater as questões dos arrendatários trapaceiros”.

Na agenda dos deputados da 2ª comissão esteve também o registo dos clientes dos hotéis que terá que ser guardado por um período de pelo menos cinco anos. O objectivo é permitir o acesso das autoridades policiais e da própria DST, caso seja necessário. Os deputados querem esclarecer a necessidade de acesso aos dados à DST.

Função Pública | José Pereira Coutinho diz que fiscais são explorados

[dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre aquilo que considera ser uma situação de exploração dos fiscais dos serviços públicos. “Ao longo dos tempos temos vindo a receber cada vez mais queixas de fiscais de vários serviços públicos, nomeadamente do Instituto Assuntos Municipais, Instituto de Habitação ou em cargos equiparados como na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes ou Instituto Cultural, entre outros, alegando que têm de acumular cada vez mais tarefas de maior responsabilidade, sem, contudo, terem sido revistos os índices da tabela indiciária”.

Pereira Coutinho nota ainda que “muitos fiscais, no exercício das suas funções, são alvo de insultos e ameaças, e não são poucos os casos em que têm de recorrer ao apoio das forças policiais”. “A maioria dos fiscais tem licenciaturas e muitos deles têm enorme experiência de trabalho, contudo são muito mal remunerados”, acrescenta o deputado. Contudo, há serviços públicos que tentam contornar a situação, uma vez que estão “conscientes das elevadas responsabilidades destes trabalhadores e preferem contratá-los como Adjuntos Técnicos, a fim de eliminar este tipo de exploração”.

Neste sentido, José Pereira Coutinho questiona o Executivo sobre eventuais “alterações das carreiras de fiscais com a carreiras de inspectores, tais como aconteceu anteriormente com os fiscais da Direcção dos Serviços de Economia e outros serviços também com competências na área da inspecção”.

“A médio prazo, que mecanismos efectivos vão ser introduzidos para que, de uma forma geral e idêntica, os fiscais dos serviços públicos sejam ressarcidos dos insultos e ameaças de que constantemente são objecto no exercício das suas funções”, questionou o deputado.

Dia da Juventude | Chui Sai On volta a apelar ao patriotismo

[dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, reuniu na manhã de ontem com os jovens responsáveis pela organização das actividades relativas ao Dia da Juventude, que se celebra amanhã.

De acordo com um comunicado oficial, Chui Sai On voltou a “encorajar a geração mais jovem a promover o espírito do 4 de Maio e a transmitir o valor fundamental de amar a Pátria e amar Macau”.

Este ano celebram-se os 100 anos do Movimento 4 de Maio e o governante defendeu que “o rol de actividades ganha uma dimensão relativamente maior” dado o aniversário.

“Com estas iniciativas espera-se conseguir transmitir e aprofundar o entendimento de todos os jovens para o significado histórico do Movimento do 4 de Maio e para o espírito desse dia, de modo a que assumam, de geração em geração, a missão e responsabilidade de amar a pátria e amar Macau, e de desenvolvimento do País e da região administrativa especial”, lê-se ainda no mesmo comunicado.

Futebol, um símbolo do “soft power” chinês que pode falhar

No estudo “Turismo, Desporto, Diplomacia e ‘Soft Power’: O Caso Chinês”, Emanuel Júnior e Carlos Rodrigues, da Universidade de Aveiro, em Portugal, defendem que o investimento do Governo Central na área do desporto tem vindo a funcionar como uma arma diplomática, intensificado na era Xi Jinping. Contudo, há o risco de a estratégia não obter os resultados políticos desejados

 

[dropcap]D[/dropcap]ois investigadores da Universidade de Aveiro, em Portugal, acabam de publicar na publicação “Revista Turismo & Desenvolvimento” um artigo que olha para a forma como o Governo Central tem utilizado o desporto como uma estratégia diplomática. Em “Turismo Desportivo, Diplomacia e ‘Soft Power’: O Caso Chinês”, Emanuel Júnior e Carlos Rodrigues falam da forma como essa estratégia tem vindo a evoluir, sobretudo desde que Xi Jinping se tornou Presidente do país. Contudo, há fortes possibilidades desta estratégia não ser bem-sucedida, por duas razões.

“A China tem um enorme desafio pela frente, que é a busca por criar uma prática cultural no país. Jogar futebol não faz parte do quotidiano dos chineses. Fazer desta prática um hábito, incorporando seu jogo e o consumo do seu espectáculo, inclusive, em nosso entendimento, é um desafio inovador e que demandará tempo”, explicou Emanuel Júnior ao HM.

O investigador, licenciado em Direito e com experiência em jornalismo, alerta também para o facto de o futebol na China ser encarado, do ponto de vista estratégico, como algo planeado a médio e longo prazo. Isto porque existe entre as esferas decisórias o entendimento de que o futebol implica uma mudança cultural que não acontecerá da noite para o dia. Por esse motivo, “o desafio para as autoridades chinesas é enorme, pois é preciso que não haja precipitações, por exemplo, que possam ocasionar em decisões equivocadas, políticas e regras que ao invés de colaborarem para o desenvolvimento do futebol no país terminem por atrapalhar.”

Emanuel Júnior acredita ainda que a segunda razão para uma possível falha nesta estratégia reside “naquilo que alguns pesquisadores denominam ‘soft disempowerment’ – que ocorre quando esta tentativa ‘sai pela culatra’ e a influência e o prestígio são abalados ao invés de expandidos”.

Apesar da aposta no desporto, sobretudo no futebol, tem sido mais notória nos últimos anos, a verdade é que não só o conceito de ‘soft power’ foi introduzido na China em 1992, estando na linguagem oficial do Partido Comunista Chinês desde 2007, como houve mudanças em 2008, quando o país recebeu os Jogos Olímpicos.

“Hu Jintao mostrou-se empenhado em fazer da China uma potência do desporto mundial, determinando que acções fossem tomadas para que passassem de ‘um país de acontecimentos desportivos importantes para uma potência desportiva mundial’. Portanto, percebe-se que se trata de uma estratégia antiga, que antecede a chegada de Xi Jinping ao poder.”

Muito antes destes dirigentes chegarem à liderança do Governo Central, já o desporto tinha despertado a atenção de Mao Zedong, quando fundou a RPC, em 1949. “Se olharmos para a história da RPC percebemos que o desporto sempre serviu como instrumento político e diplomático.”

Uma arma

Emanuel Júnior defende que o actual Presidente chinês marcou a diferença pelo enorme investimento e atenção que tem dado ao futebol. “Xi Jinping é mais explícito em relação ao que ele entende necessário à China, como explorar o soft power, no sentido de que o país precisa ter uma boa narrativa sobre sua imagem e comunicar melhor a mensagem da nação ao mundo.”

Além disso, em 2009, quando Xi Jinping ainda era vice-presidente, já sinalizava para o “Sonho do Futebol Chinês”. “Dois anos depois, revelou ter ‘três sonhos do Campeonato do Mundo’: participar do Campeonato do Mundo, sediar o Campeonato do Mundo e vencer o Campeonato do Mundo”, frisou o académico, sem esquecer que Xi “tem como uma das suas metas o crescimento da indústria desportiva chinesa”. Prova disso foi o facto de, em 2014, o Conselho de Estado da China ter publicado o documento “Opiniões para a aceleração do desenvolvimento da indústria desportiva e promover o consumo do desporto”. É na esteira deste documento que surge o “Plano de desenvolvimento do futebol a médio e longo prazo (2016-2050). O programa previsto para o futebol, além de ser visto como a mola propulsora para o crescimento da indústria desportiva chinesa, explicita no seu texto a necessidade de se buscar, através do futebol, a promoção de intercâmbios e trocas de conhecimentos, o estabelecimento de relações e a aproximação da China com outras nações, ou seja, o soft power, explica o académico.

Se na China o futebol não é uma prática desportiva tradicional, o mesmo não acontece em Portugal, de onde saíram muitos treinadores para formar os futuros talentos do futebol chinês.

Emanuel Júnior acredita que esta ligação estreita deverá continuar nos próximos anos. “Portugal pode dar um enorme contributo para o desenvolvimento do futebol chinês. Aliás, desde o plano do futebol, veem-se exemplos do intercâmbio entre portugueses e chineses no âmbito do futebol.”

O académico dá o exemplo da Foyo Culture and Entertainment Co Ltd, subsidiária da Fosun, que se tornou sócia da Gestifute (do agente português Jorge Mendes). Outro exemplo apontado é a empresa chinesa WSports Seven, do empresário Qi Chen, que criou um clube, o Oriental Dragon FC, com o intuito de formar exclusivamente futebolistas chineses em Portugal. Qi Chen também é accionista maioritário dos clubes portugueses Pinhalnovense e Torreense.

Os investimentos estendem-se ao Desportivo das Aves, cuja SAD é detida em 90 por cento pela Galaxy Believers, companhia de marketing desportivo que pertence aos chineses Wei Zhao e Hongmin Wang. No fim do ano passado, 80 por cento das ações do Tondela, da I Liga portuguesa, foram adquiridas pela Hope Group do chinês Jiang Lizhang. Mais recentemente, no início do mês de Abril, o Sporting firmou um princípio de acordo com vista ao desenvolvimento do futebol jovem na província de Guiyang, na China.

A importância dos JO

O doutorando da UA pensa que a realização dos JO em Pequim representou um ponto de viragem para esta estratégia.

“Em 1979 (ano em que o país aderiu às organizações desportivas mundiais) a China percebeu a importância do desporto de alta competição internacional na promoção da imagem do país e, por isso, estabeleceu a estratégia olímpica. Então, acreditamos que, do ponto de vista do desporto como instrumento de soft power, a estratégia olímpica representaria esta intensificação. O culminar desta estratégia foi a organização dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.”

Nos JO, a delegação chinesa ganhou um total de 51 medalhas de ouro num total de 100, contra as 36 obtidas pelos atletas norte-americanos. Ainda assim, Emanuel Júnior deixa claro que o sucesso obtido pela estratégia olímpica chinesa jamais esteve próximo de ser replicado no desporto mais popular do mundo, o futebol. Esse facto fez com que “Hu Jintao tenha determinado que acções fossem tomadas para que o país se tornasse, definitivamente, uma potência do desporto mundial”.

A chegada ao poder de Xi Jinping representou uma intensificação deste plano táctico, pois o presidente “entendeu a importância do crescimento da indústria desportiva e viu o desporto como um instrumento eficaz para a promoção do país no cenário internacional e no estabelecimento de seus interesses geopolíticos”.

Neste sentido, o “plano do futebol estabelece uma ligação entre o desenvolvimento do futebol e a implementação das ‘Quatro Abrangentes’, que configuram os objectivos políticos de Xi Jinping, que buscam criar uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos, aprofundar a reforma, impulsionar o Estado de Direito e fortalecer a governança do Partido”.

OPA/EDP: CMVM extingue procedimentos relativos às ofertas da China Three Gorges

[dropcap]A[/dropcap] Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) indeferiu os pedidos de registo das ofertas públicas de aquisição (OPA) da China Three Gorges (CTG) sobre a EDP e EDP Renováveis, extinguindo os respectivos procedimentos administrativos.

Em comunicado divulgado hoje, a supervisora do mercado de capitais informa que “o Conselho de Administração da CMVM deliberou, a 30 de Abril de 2019, indeferir os pedidos de registo daquelas ofertas públicas de aquisição, por esse efeito extinguindo os respectivos procedimentos administrativos”.

Recordando que, em 24 de Abril, a assembleia geral da EDP não aprovou a proposta de deliberação para a alteração dos respectivos estatutos e tendo a CTG demonstrado antecipadamente a sua intenção de não renunciar a essa condição, “deu-se como não verificado um requisito para o registo e posterior lançamento da oferta sobre a EDP e, por conseguinte, sobre a EDP Renováveis”.

Os accionistas da EDP chumbaram na reunião magna a alteração dos estatutos para acabar com a limitação dos direitos de voto a 25% do capital.

Antes da reunião de accionistas, a CTG tinha esclarecido que se mantinham em vigor todas as condições da OPA, incluindo a desblindagem de estatutos, pelo que a operação caiu em 24 de Abril e agora esta formalidade encerra o processo que se havia iniciado em Maio de 2018, quando a CTG, o principal accionista da EDP, anunciou ao mercado a intenção de lançar uma oferta sobre o grupo liderado por António Mexia.

Atentados no Sri Lanka provocaram pelo menos 257 mortos – novo balanço

[dropcap]O[/dropcap]s ataques cometidos no domingo de Páscoa no Sri Lanka mataram 257 pessoas, de acordo com um novo balanço hoje anunciado pelas autoridades, que alertaram que esse número poderá aumentar.

“O saldo está agora em 257 mortos”, disse à agência de notícias francesa AFP o director-geral de serviços de saúde, Anil Jasinghe. O balanço anterior das autoridades cingalesas apontava para 253 mortos.

“Esse aumento é devido a mortes hospitalares. Também há partes corporais, então são pelo menos 257” mortos, declarou ainda Jasinghe. O Sri Lanka anunciou há alguns dias que identificou 42 cidadãos estrangeiros entre os mortos. Entre os estrangeiros mortos está um português. Não houve qualquer registo de feridos ou mortos oriundos de Macau.

Vários outros estrangeiros ainda estão desaparecidos e podem estar entre os corpos não identificados na morgue em Colombo, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros num comunicado publicado na noite de segunda-feira.

Segundo o balanço, 496 feridos foram hospitalizados, dos quais 47 ainda estão ainda a ser tratados (12 nos cuidados intensivos).

Antologia de poesia erótica de Natália Correia regressa conforme original de 1965

[dropcap]A[/dropcap] “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, de Natália Correia, livro apreendido pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), que funcionou durante o período do Estado Novo em Portugal e que levou a autora a tribunal, foi agora republicado pela Ponto de Fuga, pela primeira vez com as ilustrações originais de Cruzeiro Seixas.

Ao fim de mais de dez anos afastada das livrarias, esta “obra proibida” volta a ser editada, desta vez com as ilustrações do poeta e pintor do surrealismo português Cruzeiro de Seixas, tal como constava da edição original do livro, que chegou às livrarias em Dezembro de 1965, pela editora Afrodite, de Fernando Ribeiro de Mello.

“Finalmente num único livro, a poesia maldita dos nossos poetas”, “as cantigas medievais em linguagem actualizada”, “dezenas de inéditos” e “a revelação do erotismo de Fernando Pessoa”, prometia a cinta que acompanhava o volume de 552 páginas.

O facto é que a obra causou escândalo e foi apreendida pela PIDE, a polícia política da ditadura, com vários intervenientes – entre os quais os escritores e poetas Mário Cesariny, Luiz Pacheco, José Carlos Ary dos Santos, Ernesto de Melo e Castro e o editor Fernando Ribeiro de Mello, além da própria Natália Correia – julgados e condenados em tribunal plenário, num processo que se arrastou durante anos.

O julgamento dos escritores, “por motivo da publicação de um livro tido por imoral”, acto considerado “abuso de liberdade de imprensa”, como relatava o Diário de Lisboa de 8 de Janeiro de 1970, terminou a 21 de Março desse ano com a condenação da autora e do editor, por “ofensiva do pudor geral, da decência e da moralidade pública e dos bons costumes” a uma pena de 90 dias de prisão correcional, substituíveis por igual tempo de multa, a 50 escudos por dia, mais 15 dias de multa à mesma taxa.

As penas foram suspensas por três anos e os livros apreendidos foram declarados perdidos a favor do Estado para serem destruídos, tendo os restantes arguidos sido condenados a penas de 45 dias de prisão, igualmente substituíveis por multas, excepção feita a Luiz Pacheco, dispensado de a pagar, devido à sua situação económica.

A polémica “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica” nasceu de um desafio lançado por Fernando Ribeiro de Mello a Natália Correia que, não obstante ter visto sucessivos livros seus serem apreendidos pela censura do Estado Novo, aceitou o convite do irreverente editor da extinta chancela Afrodite, que era também seu amigo.

Este jovem filho de um abastado causídico do Porto, que chegou à capital portuguesa em 1963 como declamador de poesia e que ficou conhecido como o “Dali de Lisboa”, pela figura excêntrica, de traje impecável e bigode afilado, não demorou a integrar o núcleo duro de ‘habitués’ do salão de Natália Correia, recorda o editor da Ponto de Fuga, Vladimiro Nunes, no texto introdutório da obra agora editada.

“Com a anfitriã dos míticos saraus que decorriam no quinto andar da rua Rodrigues Sampaio, 52, o editor da Afrodite partilhava o espírito libertário e a irresistível tentação do risco”, escreve Vladimiro Nunes.

Quando a Antologia foi publicada, um relatório do Secretariado Nacional de Informação (SNI) dava conta de que, “apesar do pretensioso prefácio da autora da selecção, eivado de tendências sartrianas e das intenções que daí derivam, não é possível admitir que seja viável a circulação deste livro em Portugal, dado o seu carácter pornográfico. (…) Nestas condições, propõe-se a proibição rigorosa deste livro”.

Prevendo esta eventualidade, Ribeiro de Mello “foi rápido no contra-ataque” e, com o consentimento de Natália Correia, abriu caminho à produção de uma edição “pirata”, sem as ilustrações de Cruzeiro Seixas, e indicando como origem geográfica o Brasil, o que lhe permitiria escapar ao crivo censório, como o eram todos os livros importados daquele país.

Os livros venderam-se todos, tendo sido esta edição alternativa a chamar a atenção do público leitor e a contribuir para a fama da Afrodite, na altura ainda uma incipiente editora, que, antes da edição original, antes só tinha publicado um livro, o “Kama Sutra”, rapidamente proibido, mas que, durante os anos do processo, não evitou novos escândalos, com títulos como “Filosofia na Alcova”, de Sade, que levou de novo Fernando Ribeiro de Mello a tribunal.

Esta reedição da obra de Natália Correia pela Ponto de Fuga reproduz a original: além das ilustrações de Cruzeiro Seixas, e do prefácio e notas da autora, por debaixo da sobrecapa – que apresenta uma foto de uma jovem Natália Correia – esconde-se uma réplica da capa original, em tudo igual à da edição da Afrodite, excepto o nome da editora.

A Ponto de Fuga acrescentou-lhe ainda novos textos introdutórios e reproduções de documentos que contextualizam este marco histórico na edição em Portugal.

Numa introdução intitulada “Versos escarlates, risos amarelos e lápis azuis: crónica de um livro proibido”, Vladimiro Nunes conta toda a história desta antologia, desde a sua génese, incluindo o processo judicial a que deu origem, apresentando cópias das notícias da imprensa da altura, dos relatórios da censura e dos autos da polícia.

Segue-se um outro texto introdutório, da autoria de Francisco Topa, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, intitulado “Fahrenheit 451” – uma alusão ao romance de Ray Bradbury que se passa num futuro onde todos os livros são proibidos -, no qual se debruça sobre o processo judicial levantado contra a antologia de Natália Correia.

Natália Correia nasceu nos Açores, em 13 de Setembro de 1923 e morreu em Lisboa, em 16 de Março de 1993. Poetisa, ficcionista, contista, dramaturga, ensaísta, editora, jornalista, cooperativista, deputada à Assembleia da República (primeiro pelo PSD, depois como independente, pelo PRD), foi uma das vozes mais proeminentes da literatura e da cultura portuguesas na segunda metade do século XX, tendo resistido energicamente ao Estado Novo e aos radicalismos do pós-25 de Abril.

“Ecuménica e eclética, filantropa e idealista, anteviu um novo tempo, que garantisse a paz, a dignidade humana, a justiça social e o direito à diferença como raízes indeléveis da democracia”, descreve a editora.

ONG denuncia uso de aplicação móvel para vigiar muçulmanos em Xinjiang

[dropcap]U[/dropcap]ma organização não-governamental (ONG) denunciou hoje que as autoridades chinesas estão a usar uma aplicação móvel para vigilância maciça ilegal e detenções arbitrárias de muçulmanos na região ocidental de Xinjiang.

No relatório “Os algoritmos da repressão da China: Engenharia reversa numa aplicação de vigilância maciça da polícia de Xinjiang”, a Human Rights Watch (HRW) apresenta novas provas sobre a vigilância de Estado em Xinjiang, onde o Governo chinês submeteu 13 milhões de muçulmanos turcófonos a crescentes medidas de repressão, no âmbito da “campanha ‘mão pesada’ contra o terrorismo violento”.

Entre Janeiro de 2018 e Fevereiro de 2019, a HRW conseguiu estudar a aplicação para telemóveis que os responsáveis chineses usam para aceder à Plataforma de Operações Conjuntas Integradas (IJOP), o programa de policiamento em Xinjiang que agrega dados sobre pessoas e assinala quem é considerado potencialmente ameaçador.

Ao examinar o ‘design’ da aplicação, disponível no período de estudo, a HRW conseguiu saber o tipo específico de comportamento e as pessoas visadas por este sistema de vigilância maciça, de acordo com o relatório da ONG de defesa dos direitos humanos, com sede em Washington.

“A nossa pesquisa mostra, pela primeira vez, que a polícia de Xinjiang está a usar informação recolhida ilegalmente sobre comportamentos totalmente legais das pessoas e que são usados, depois, contra elas”, disse Maya Wang, investigadora sobre a China para a HRW.

“O Governo chinês deve encerrar imediatamente a plataforma IJOP e apagar todos os dados reunidos de indivíduos em Xinjiang”, afirmou a HRW, apelando aos governos estrangeiros que imponham sanções a responsáveis chineses.

No documento, a ONG alertou que as autoridades de Xinjiang estão a recolher uma enorme variedade de informações da população, desde o tipo sanguíneo à altura, da “atmosfera religiosa” de cada um à filiação política.

A plataforma da polícia visa 36 tipos de pessoas para compilação de dados, incluindo quem deixou de usar smartphones, quem deixou de “interagir com os vizinhos” e quem “pede dinheiro ou materiais para mesquitas com entusiasmo”, indicou.

A HRW acrescentou que a plataforma segue toda a população em Xinjiang, vigiando os movimentos das pessoas ao seguir os seus telefones, veículos e cartões de identificação.
Ao mesmo tempo, mantém registos do consumo individual de electricidade e de combustíveis.

A ONG disse ter descoberto que o sistema e alguns dos controlos rodoviários da região trabalham em conjunto para criar uma série de barreiras invisíveis ou virtuais, ao mesmo tempo que a liberdade de movimentos individual é restringida consoante o nível de ameaça que as autoridades atribuem a cada um, determinado por factores programados no sistema.

Um antigo residente de Xinjiang disse à HRW, uma semana depois de ter sido libertado na sequência de uma detenção arbitrária: “Estava a entrar num centro comercial e um alarme cor de laranja disparou”. Apesar de ter sido libertado de um campo de detenção por estar inocente, a polícia aconselhou o residente a “ficar em casa”, acrescentou.

As autoridades programaram a plataforma de maneira a tratar muitas actividades habituais e legais como indicadores de comportamentos suspeitos, como compra de combustível, viagens consideradas excessivamente longas ao estrangeiro, ou se deixou de conseguir seguir um telemóvel.

Algumas das investigações verificam se os telemóveis foram usados para aceder a 51 aplicações móveis consideradas suspeitas, incluindo WhatsApp, Viber, Telegram e Redes Privadas Virtuais (VPN), disse a HRW.

A plataforma foi desenvolvida pela China Electronics Technology Group Corporation (CETC), empresa estatal na área de serviços militares. Por sua vez, a aplicação foi desenvolvida pela Hebei Far East Communication System Engineering Company (HBFEC), companhia que, na altura do desenvolvimento da aplicação, pertencia à CETC.

A HRW não obteve uma resposta à carta enviada à CETC e à HBFEC na qual pedia informação sobre a aplicação e o sistema IJOP.

Em Março, o Conselho de Estado chinês publicou um livro branco intitulado “A luta contra o terrorismo e o extremismo e a protecção dos direitos humanos em Xinjiang”, no qual detalhou ter detido, desde 2014, deteve 12.995 terroristas na região de Xinjiang, desmantelou 1.588 grupos “violentos e terroristas” e apreendeu 2.052 “artefactos explosivos”.

“Entre 1990 e o final de 2016, forças separatistas, terroristas e extremistas lançaram milhares de ataques terroristas no Xinjiang, matando um grande número de pessoas inocentes e centenas de policias, e causando prejuízos incalculáveis”, referiu.

O Governo chinês garante que “protege e respeita plenamente os direitos civis, incluindo a liberdade religiosa” e que as suas acções têm como objectivo “evitar que o extremismo se propague e que se incite o ódio étnico (…) através da religião”.

Desde que, em 2009, a capital de Xinjiang, Urumqi, foi palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas últimas décadas na China, entre os uigures e a maioria han, predominante em cargos de poder político e empresarial regional, a China tem levado a cabo uma agressiva política de policiamento dos uigures.

Consciência profissional, meteorologia e ciclone Idai

[dropcap]C[/dropcap]erca das 15:00 horas do dia 11 de março de 2019, o meu telefone tocou. As palavras poderão não ter sido exatamente estas, mas o sentido foi o que se segue.
– Olá, tudo bem contigo? Já viste o que se está a passar no Canal de Moçambique?
– Olá Luís, tudo bem? Não, não vi. Do que se trata?
– Dá uma olhadela ao website www.windy.com. Verás que Moçambique está a ser ameaçado por um ciclone que aponta para a cidade da Beira.

Era o Luís Pinto Coelho, meteorologista aposentado, colega durante dezenas de anos no Serviço Meteorológico Nacional e nas instituições que lhe sucederam, Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica e Instituto de Meteorologia. O Luís sempre se sentiu muito ligado a Moçambique, onde fez serviço militar durante a guerra colonial, tendo também lá trabalhado na área da meteorologia. Durante muitos anos desenvolvemos a nossa atividade profissional, embora em turnos diferentes, no então chamado Centro Meteorológico do Aeroporto de Lisboa. Aí eram marcadas várias vezes por dia, em cartas, os valores das variáveis meteorológicas correspondentes a centenas de estações meteorológicas espalhadas por grande parte do hemisfério norte. Os meteorologistas procediam então à análise, que consistia essencialmente no traçado, nas cartas de superfície, das isóbaras (linhas de igual pressão) e na identificação de frentes e de sistemas de pressão. Nas cartas de altitude eram traçadas as isoípsas (linhas que unem pontos de igual altitude em cartas de pressão constante) em diferentes níveis isobáricos. Com as cartas já traçadas procedia-se então à elaboração dos prognósticos de superfície e de altitude. Nos de superfície assinalavam-se as zonas de tempo significativo previsto e nos de altitude as correntes de jato, zonas de turbulência, zonas de formação de gelo nas nuvens, etc. Com base nestas cartas eram feitas as previsões não só para fins gerais mas também para as atividades marítimas e aeronáuticas.

Na década de 1970 e parte da de 1980 todo este trabalho era feito manualmente. Cópias dos prognósticos de altitude e de tempo significativo eram entregues às tripulações dos aviões que partiam dos aeroportos nacionais. O trabalho era de grande valor económico, principalmente no que se referia à informação para a aviação, na medida em que os planos de voo, elaborados pelos operadores das várias companhias de aviação, eram feitos com base nesses prognósticos. As rotas eram traçadas de modo a que as aeronaves evitassem zonas de maior perigosidade, se afastassem de ventos fortes contrários e aproveitassem ventos favoráveis a fim de encurtarem o tempo de viagem. Por exemplo, nos percursos de Lisboa para a América do Norte, os planos de voo permitiam que as aeronaves se distanciassem das correntes de jato, zonas de ventos muito fortes com forte componente oeste, e aproveitassem essas mesmas correntes no percurso inverso. A quantidade de combustível e o peso da carga eram calculados em função das condições meteorológicas previstas no aeródromo de partida e em rota.

Desde meados dos anos oitenta do século passado o trabalho manual foi a pouco a pouco sendo substituído por produtos gerados por computadores, o que permitiu libertar os meteorologistas para outras tarefas e reduzir o pessoal nos centros de análise e de previsão do tempo. Graças aos modelos físico-matemáticos usados atualmente e aos satélites meteorológicos, as previsões são feitas para períodos mais alargados e a fiabilidade aumentou significativamente. Perdeu-se, no entanto, a prática que consistia na aplicação de um conjunto de regras que permitiam os meteorologistas decidirem sobre a evolução dos fenómenos utilizando, além de dados objetivos, uma certa subjetividade baseada nos conhecimentos adquiridos ao longo de muitos anos de prática.

Voltando ao telefonema do Luís, segui o seu conselho e consultei o website por ele sugerido, e de facto o aspeto do ciclone, designado por Idai, era verdadeiramente ameaçador. Acedi a outras páginas da Internet e constatei que os resultados de diferentes modelos não diferiam muito uns dos outros. Liguei-lhe então:

– Tens razão, a situação é preocupante. Se a previsão se concretizar vai haver uma grande tragédia em Moçambique.
– É verdade. Será que tens alguém conhecido ligado a Moçambique com quem possas contactar no sentido de alertares para a situação?

Na verdade, as comunicações em África nem sempre funcionam bem, o que poderia implicar um não acompanhamento eficiente da evolução do ciclone por parte dos meteorologistas moçambicanos. Além disso, a troca de impressões entre meteorologistas de países diferentes pode ajudar a clarificar situações. Com base nestes pressupostos e atendendo a que estive várias vezes em Moçambique em missões de treino meteorológico, seria lógico, no pensamento do Luís, que eu mantivesse alguns contactos. Mas como a última missão a Moçambique fora em 2002, já havia perdido os contactos com os técnicos com quem lá trabalhara.

Lembrei-me de telefonar ao Sérgio Ferreira, luso-moçambicano que desempenhou durante alguns anos as funções de diretor do Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique (INAM). Não seria de estranhar que mantivesse contactos mas, por estar desligado do INAM há já muitos anos, não me pôde dar quaisquer indicações. No entanto comentou que a sua experiência como meteorologista em Moçambique lhe permitia afirmar que as trajetórias dos ciclones no Canal de Moçambique são bastante erráticas, o que torna difícil a sua previsão.

Consultei então o website do INAM, onde constatei que os meteorologistas moçambicanos estavam a par da evolução do Idai e, nos boletins emitidos, já estavam a alertar para a aproximação do ciclone e das suas possíveis consequências. Passados alguns dias a preocupação concretizou-se e o Idai atingiu violentamente Moçambique, entrando no país durante a noite de 14 para 15 de março. Curiosamente esta foi a segunda vez que atingiu terra firme em Moçambique, pois alguns dias antes a depressão tropical que lhe dera origem, e que se formara no Canal de Moçambique, já atingira a costa próximo de Quelimane, na província da Zambézia.

Nesta sua primeira investida, ao entrar no continente enfraqueceu, progrediu inicialmente para oeste e depois para norte. Atingiu o Malawi, retornando em seguida para leste, entrando de novo no Canal de Moçambique. Ao chegar próximo de Madagáscar inverteu o movimento, que passou a ser de novo em direção ao continente, mas mais a sul. Estando a temperatura da superfície do mar muito elevada, a depressão intensificou, atingido progressivamente as categorias de tempestade tropical, ciclone tropical moderado, reentrando em Moçambique perto da cidade da Beira já como ciclone tropical severo, com ventos persistentes de cerca de 190 km/h, com rajadas superiores a 200 km/h, afetando gravemente as províncias de Sofala, Manica, Zambézia, Tete e Inhambane.

A cidade da Beira, capital da província de Sofala, construída numa zona pantanosa e parcialmente abaixo do nível do mar, parecia ter sido alvo de bombardeamento, tal foi o grau de destruição.

Segundo a agência Lusa e a Rádio Moçambique, o Secretário-Geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, referiu-se ao bom trabalho que o INAM fez no que se refere à previsão da evolução do ciclone, mas comentou que os meios para evacuar as áreas de risco foram insuficientes. Comparou ainda o ciclone Idai com o furacão Harvey que em agosto de 2017 atingiu o estado do Texas, nos Estados Unidos da América, na medida em que ambos chegaram a ter a categoria 4 da escala de Saffir–Simpson, que vai de 1 a 5. Em ambos os casos foram emitidos atempadamente avisos mas, enquanto as vítimas mortais nos EUA foram 82, em Moçambique atingiram um número próximo de mil. Comentou ainda que a grande diferença consistiu no facto de nos EUA as pessoas terem saído das áreas de risco nos seus carros, enquanto que em Moçambique não havia meios para retirar milhões de pessoas.

Numa reportagem da RTP, o jornalista Pedro Martins relatou que habitantes de uma aldeia desaparecida se salvaram graças a uma vala designada por “Vala do Moura”, construída por um português com aquele apelido. Pressuponho que se refugiaram numa zona do terreno mais elevada formada pela terra removida aquando da construção da vala. Lembrei-me então que no Bangladesh, país frequentemente afetado por cheias provocadas por ciclones ou outras situações meteorológicas, são construídas elevações de terreno estrategicamente distribuídas, com abrigos onde se refugiam habitantes e animais nas vastas zonas frequentemente inundadas. Seria útil as autoridades de Moçambique inteirarem-se do conteúdo do chamado Programa de Preparação para Ciclones (em inglês Cyclone Preparedness Programme – CPP) adotado desde 1973 pelo Bangladesh, onde se poderiam inspirar em medidas tomadas naquele país para mitigar as consequências dos ciclones. Este programa foi desenvolvido sob os auspícios do Governo e do Crescente Vermelho de Bangladesh e, graças a ele, centenas de milhares de vidas têm vindo a ser salvas. Consta essencialmente de medidas relacionadas com avisos, alertas, abrigos, primeiros socorros, evacuação, busca e salvamento, distribuição de meios de subsistência e atividades de reabilitação e recuperação.

A violência do ciclone Idai foi comparável à que caracterizou o que ocorreu nas em 1892 nas Ilhas Maurícias, atualmente República das Maurícias, que provocou pelo menos 1200 mortos.

Os países têm muito a aprender uns com os outros e a cooperação internacional é um fator primordial para promover esse intercâmbio. A OMM está a preparar uma missão de avaliação do impacto do ciclone e outras agências especializadas das Nações Unidas e ONGs estão já em ação.
Vem este texto a propósito da consciência profissional de alguém sempre pronto a alertar sobre fenómenos meteorológicos gravosos e, de passagem, para relembrar o tempo não muito longínquo da meteorologia sem computadores. Entretanto, nunca é demais alertar para facto de que as alterações climáticas são uma realidade, e os desastres naturais de carácter meteorológico poderão aumentar de intensidade e, eventualmente, de frequência.

*O autor escreve ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico

“Diamantino” e o cinema Bimby

[dropcap]E[/dropcap]streou a 4 de Abril em 22 ecrãs em Portugal, o filme vencedor do grande prémio da crítica do festival de cinema de Cannes. “Diamantino”, 96 minutos, já passou em perto de 60 Festivais Internacionais, entre estes; Toronto International Film Festival, London BFI, New York Film Festival, ou Cannes como referido.

Teve estreia comercial de cinema no Brasil e em França. Em Portugal, nos primeiros 4 dias de exibição em sala, foi visto por 3.898 espectadores, a que corresponde a receita bruta de 20.967,04 euros. É provável que para além dos elogios da crítica tenha sucesso comercial.

Quando o filme começa, a história já aconteceu e o protagonista narra-a com o recurso quase constante à voz-off, é uma viagem por dezenas de excentricidades esta em que acompanhamos Diamantino, é esse o nome do protagonista, e que nos narra os momentos próximos da falência da sua carreira de hiper-estrela do futebol mundial.

Fora dos relvados procura de um novo sentido para a vida, e, apesar de só querer fazer o bem, como pelo próprio nos é dito, ou talvez por isso, entra numa odisseia delirante construída como alguns pratos na cozinha doméstica contemporânea.

A construção narrativa resulta de uma mistura de ingredientes como nas máquinas de cozinha Bimby; é introduzida uma ou duas cenas que gravitem em torno do neofascismo, mais duas ou três, em torno da crise dos refugiados, um nó narrativo em torno da ficção científica aplicada à modificação genética, ao trans-género, duas ou três ideias com capacidades especulativas e facilitadoras do género comédia, a ideia parola e simultaneamente multimilionária do jogador de futebol de topo mundial caído em desgraça, carrega-se no botão, a coisa mistura, e saí a narrativa.

Sai sempre uma coisa qualquer. Saí uma história com um tempo narrativo, em que a questão da verosimilhança, do verosímil, sendo sempre um aspecto central para a adesão do espectador ao que vê e vive no ecrã, não é a questão central. Ou pelo menos se tomarmos a questão da verosimilhança enquanto cópia, reprodução do modelo. Estamos em território do cinema onde por definição tudo é possível, e mais do que um mimetismo do real nos territórios da ficção, o que se precisa para admissibilidade por parte do espectador da possibilidade do real, são pequenos toques, lugares de contacto, raspões, ou, se possível, toques em profundidade perfurando a carne e chegando ao osso da realidade, o cerne ou átomo primeiro. Acontece que este cerne da realidade em territórios do cinema não tem a obrigatoriedade de ser uma imagem reprodutora a realidade pré-existente ao filme.

O cinema tem esta coisa fantástica, todos nós perante o ecrã nos disponibilizamos para a viagem, e aceitamos outro regime estético do que o da colagem ou da figuração do real.

E é aqui que o filme “Diamantino” se joga, e, paradoxalmente se ganha, e se perde. Há elogios rasgados em vários jornais; “Divertimento leviano e seriedade ideológica” jornal Público, “É um delírio de monta raro no cinema Português”, jornal Expresso, “Diamantino” é um objecto de uma energia nova no cinema Português”, estamos próximos, mas não tanto assim, do genial cinema do Federico Felini, ou caminhado na direção do país do Brexit, e de outra estética cinematográfica, dos filmes Monty Python. O que por si não retira qualquer valia ao filme, mas mais do que a singularidade da obra, “Diamantino” confirma um dos caminhos que o cinema contemporâneo tem vindo a percorrer, o da sucessão episódica de acontecimentos numa estrutura narrativa fragmentada de múltiplas ideias que chegam e partem sem particular discussão ou profundidade.

“Diamantino” confirma a tendência do cinema contemporâneo neste trabalhar da eficácia da desconexão, ou nas palavras de Jaques Rancière, na tradução de José Mirando no “O Espectador Emancipado”:

“ … a eficácia estética significa propriamente a eficácia da suspensão de toda e qualquer relação direta entre a produção das formas da arte e a produção de um efeito determinado sobre um público determinado….uma rotura entre as produções das diversas modalidades artísticas de saber-fazer e fins sociais definidos, entre formas sensíveis, as significações que nelas podemos ler e os efeitos que podem produzir. Dizendo de outra maneira, trata-se da eficácia de um dissentimento. O que entendo por dissentimento não é um conflito de ideias ou de sentimentos. É o conflito de vários regimes de sensorialidade. “

Afirmam os realizadores Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, que nesta sua primeira longa-metragem tinham como assunto “…fazer um filme principalmente sobre uma pessoa muito rica que adotava uma pessoa muito pobre e os problemas políticos inerentes a essa situação”. É uma premissa válida como qualquer outra, seguramente uma linha narrativa de grande potencial para o desenvolvimento de uma telenovela, género que também precisa, e muito, de renovação. No filme “Diamantino”, os criadores do produto telenovela podem encontrar um toque seminal para um caminho onde a comédia excêntrica se torne núcleo estético central no desenvolvimento da narrativa. Se assim vier a acontecer estaremos num processo ao contrário do caminho percorrido pelo Pedro Almodóvar, que tão exemplarmente explorou o Kistch na filmografia, partindo muitas das vezes do pequeno ecrã, ampliando a dimensões gigantes a intensidade dramática das personagens nas diversas situações e ambientes e de um quotidiano urbano vivido nos inícios de uma “Madrid me mata”.

As linhas de filiação no cinema contemporâneo são sempre muitas e diversas, um dos filmes que pode ser convocado a propósito do “Diamantino” , embora com outro tema e um outro exercício, mas onde o “excêntrico” é o filão explorado é o BORAT, de 2007.

O filme de Larry Charles; Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan, produção dos EUA. Estreou em 837 salas nos Estados Unidos, e no primeiro fim de semana fez 26,4 milhões de dólares.

Neste filme, Borat Sagdiyev (Sacha Baron Cohen), é um jornalista do Cazaquistão que resolve deixar o seu país e viajar para os Estados Unidos, com a intenção de fazer um filme documentário.

Durante sua viagem pelo país, ele conhece pessoas reais que, ao reagir ao seu comportamento primitivo, expõem o preconceito e a hipocrisia existentes na cultura americana nos dias de hoje. É certo que aqui estamos num outro regime estético, o de um cinema que assume o híbrido, a contaminação entre cinema e documental na sua construção e processo.

No entanto se repararmos na caracterização do personagem principal que é apresentada como se segue:

“ Filho de Asimbala Sagdiyev e Boltok, o Estuprador — de quem também é neto e genro—, nasceu em 30 de julho de 1972 na vila fictícia de Kuzcek, no Cazaquistão. Diverte-se jogando pingue-pongue, dançando música disco e fotografando mulheres enquanto elas vão ao WC. Viúvo, comemora a morte da primeira esposa Oxana — violentada e comida por um urso — que, apesar de cozinhar bem e ser boa no arado, passado três anos de a ter comprado — ao completar 15 anos — começou a ficar com a voz grossa, ganhar pelos no corpo e ficar com a “vagina parecida com a manga de um feiticeiro”.

Tem um filho de 13 anos chamado Hooeylewis e dois gêmeos de 12, Biram e Bilak, sendo também avô de dezassete crianças — algumas ele planeia vender para a popstar Madonna. Na sua família ainda estão a irmã mais velha Natalya — a quarta melhor prostituta do país (sexta durante a turnê das Pussycat Dolls) — e o caçula Bilo — retardado mental com a cabeça em forma de espiga e mais de duzentos dentes. Em sua viagem aos “US and A”, como chamava os EUA, em busca de um romance com Pamela Anderson, conheceu Luenell nas ruas, com a qual uniu laços.

Respeitado apresentador de telejornal na sua pátria natal, é membro do quadro de honra da Universidade de Astana, onde se formou com louvor não só em jornalismo mas em inglês e no estudo de pragas. Prestou durante longos anos serviços ao governo criando cinco novas pragas que devastaram cinco milhões de cabras no Uzbequistão, sem contar a época em que fez gelo, foi guardador de sémen de animais, caçador de ciganos e removedor de pássaros mortos em um computador. Pagão até fazer amizade com os pentecostais e converter toda a sua vila ao cristianismo, admira a visão política de Joseph Stalin por causa do forte e poderoso pénis do ex-ditador russo e apoia o presidente Bush na sua guerra de terror.

Encontramos a extravagância e o delírio como eixo e fonte para a caraterização do personagem, o que nos aproxima e muito, embora que um grau de complexidade substantivamente menor, da caracterização do personagem “Diamantino”.
Carloto Cota , em “Diamantino”.

Em “Diamantino” o personagem principal, – Carloto Cotta -, é um jogador de futebol galáctico hiper famoso com pronuncia das ilhas, uma sonoridade próxima dos Açores, faz muita publicidade, e as montanhas de dinheiro que ganha são geridas pela família, no caso duas irmãs gémeas, essenciais na trama, são elas as antagonistas e simultaneamente coadjuvantes do herói da narrativa. As terríveis gémeas acabam por estar na origem de um ataque cardíaco fulminante que retira a vida ao pai. Um crime, acidente, rapidamente secundarizado nas peripécias da narrativa. Este herói tem uma particularidade, uma ingenuidade próxima da debilidade mental e um conhecimento do mundo para além “dos toques na bola” muito incipiente. Tem ainda uma característica definitivamente fundadora da relação que o público estabelece com o personagem e com o filme, quando está em campo, os outros jogadores são por ele vistos como cães de peluche gigantes, é a eles que finta e ao lado deles que corre e pontapeia a bola na direção do golo na baliza adversária. É uma personagem caricatura sem particular evolução do arco narrativo, ou quase, dado que o filme é estruturado em 3 atos, – como são quase sempre todas as histórias do cinema e na literatura oral e escrita-, e no final o protagonista está diferente, descobre e vive o amor físico com o filho adoptado. Incesto e homossexualidade? Não é bem isso, primeiro porque o filho na verdade é filha, e segundo porque a adopção é falsa, resulta de um disfarce para um trabalho de espia de encomenda para a jornalista com quem vive uma relação amorosa e que está investigar possíveis escândalos financeiros de fuga aos impostos do jogador galáctico.

Como referido, o argumento, segue a estrutura do 3 actos, e como tal conta-nos uma história com principio meio e fim, aspecto em nada displicente para a relação dos públicos com a narrativa, seja esta qual for e, no caso do cinema, ser excêntrica pode mesmo ser uma vantagem, como é o caso.

No entanto o argumento construído, assim parece, com a moderna Bimby que tudo cozinha, acaba por cometer o erro do excesso de ingredientes com dosagem em quantidades próximas do aleatório, – mesmo sendo visível o cuidado com cenas plantadas na linha do tempo que permitem o avanço e o final.

Fica excessivo mesmo num filme que trabalha o excesso, uma paleta tão vasta de assuntos, como refugiados do norte de África, fuga aos impostos, jogadores galácticos, Brexit, campanhas para as eleições europeias, genética aplicada, identidade trans-género. Mas é isto tudo o filme, e se por um lado este excesso faz perder densidade por outro lado faz ganhar excentricidade e mantem num muito razoável nível o interesse e o prazer de acompanhar esta singular viagem fílmica.

O filme tem um departamento de arte que não acompanha o excesso que carateriza o filme, duas irmãs gémeas com grande destaque e um protagonista que se entrega sem reservas ao filme, e um pai que estranhamente parece não tem o sotaque dos filhos. Ainda assim é um filme bem construído e ousado no panorama nacional.

Não é todos os dias que se vê um jogador galáctico que quer só “fazer o bem” e alimentar com crepes de Nutella e Chantily essa gente negra para ele desconhecida que atravessa quase a nado o mediterrâneo para chegar ao paraíso do continente Europeu. Um continente que vive e se olha a si próprio, por vezes, como neste caso, com ironia e sátira. O filme teve efeitos especiais da Irmã Lúcia e apoio financeiro do ICA, Euro-Image, e Fundo Ibero-Americano. Vai continuar em cartaz e é uma das produções que vai marcar a colheita cinematográfica deste ano nas salas nacionais.

Da telha ao Brecht

25/04/19

 

[dropcap]C[/dropcap]omecei o ano com a telha. A esgravatar no imenso abismo que, no dizer de Camilo José Cela, se abre entre estar hodido e estar hodiendo. Nos primeiros dois meses, no plano existencial, obcecavam-me os borrifos de sangue que redemoinhavam no caustico bafo de uma estrela negra.

E de repente abriu-se uma fissura no denso negrume da estrela negra: o convite para um projecto muito desafiador. Como as coisas chegam em séries, na semana seguinte recebi outro convite para um projecto irrecusável. Em ambos trabalho, neste momento.

É do segundo que falarei primeiro.

A mensagem surpreendeu-me: conhecia de nome a actriz e encenadora e vi alguns dos seus trabalhos, mas há quinze anos que estou fora e desconhecia que entre nós havia elos. Felizmente que os havia. A Maria João Luís convidou-me para escrever uma peça tendo como objecto a (complicada) relação entre o Bertolt Brecht e a Helene Weigel (sua mulher e diva), no momento em que encenavam a mítica versão da Mãe Coragem.

Há desafios a que não se pode dizer que não, se chegam no momento em que se está maduro para não estragar o embrulho da bela complexidade que nos puseram ao colo, e ao entusiasmo (primeira acendalha da criatividade) já aliamos a disciplina.

Estou radiante, e prometo que irei falando dos matizes que trouxerem a hulha a esse fogo.

O primeiro livro em que peguei foi o Intelectuais, de Paul Johnson, que aí desfila retratos incisivos de 13 intelectuais entre os quais Ibsen, Tolstoi, Hemingway, Russell, Sartre, Edmundo Wilson, Lillian Hellman… e Brecht. E terminam assim as suculentas quarenta páginas dedicadas ao dramaturgo alemão: «Neste relato tentei encontrar algo que dizer a favor de Brecht. Mas, salvando o facto de que sempre trabalhou muito e que durante e depois da guerra enviou encomendas com comida para a Europa (ainda que isto possa ter sido obra de Weigel) não há nada que se possa dizer a seu favor. É o único intelectual, de entre os que estudei, que parece estar destituído de um só rasgo que o redima.»

Logo no início fôramos avisados: «De facto, inventou um tipo novo de intelectual, como o fizeram Rousseau e Byron no seu momento. O intelectual novo modelo de Brecht, de que ele mesmo foi o protótipo, era áspero, duro, desapiedado, cínico, em parte gangster, em parte entusiasta e desportista.»

O livro é informado, num bom balanceamento entre vidas e obras, e não se exime nem de mostrar o brilho nem as contradições dos retratados, à vez magnéticos e perigosos.

Entre o tanto que aprendo, enxergo que só o facto de Brecht ser um santinho da esquerda nos impediu de ver o grau zero do seu comportamento ético e a dimensão canalha da personagem, na verdade, um péssimo exemplo, que nem Auden, um santo católico, (que colaborou com ele), consegue poupar – classifica-o assim: um filho da puta. É definitivamente um personagem fascinante, já que a qualidade da obra ninguém lha tira.

Embora mesmo aqui haja nuances: Hannah Arendt, num excelente ensaio, defende que tudo o que Brecht escreveu depois do casal regressar à Alemanha e de terem criado o Berliner Ensemble, é inferior ao que escreveu antes. Juízo que só poderei avaliar depois de ler detidamente cinco mil páginas de e sobre ele. Aliás, decidi começar por uma peça póstuma: A Judith de Shimoda; já que ando a rever Ozu e Mizogushi vem a talhe de foice. E o primeiro ensaio será o da recolha dos textos do Benjamin sobre o seu amigo Brecht.

27/04/19

«“O Brasil não pode ser o país do turismo gay. Quem quiser vir aqui fazer sexo com mulher, fique à vontade. Agora, [o Brasil] não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay”, disse Bolsonaro em café da manhã com jornalistas.»

Nem sei como reagir a semelhante barbaridade.

Quando era miúdo não havia gays. Havia homossexuais, panilas, ou larilas, consoante o estrato social de quem aludia ao “fenómeno”. Os primeiros dois homossexuais de que me lembro, eram justificados por causa de um desastre de automóvel de que haviam sido vítimas: fora o efeito colateral.

Depois descobri que o meu tio. Que dois amigos de infância, e três da adolescência. E que uma namorada um pouco rezinga que tive, afinal. Eu próprio a dado momento senti-me um miserável porque não tinha Veneza nem me aparecia um Tadzio para me desviar da minha via straight, pois, esteta e curioso, achava que isso podia dilatar o meu campo da percepção humana. Ou seja, cresci num momento em que essa dimensão ontológica estava inibida no horizonte do meu piqueno mundo para depois a ver desabrochar sem medo e ela se tornar um dos pilares de uma consciência finalmente em simbiose com a liberdade do corpo. Descobri em seguida que, em Roma, o generalíssimo, o vigoroso, o estratega único, o grande Júlio César era conhecido como “o homem de todas as mulheres e a mulher de todos os homens”, e que, se eu tivesse nascido romano e a coisa fosse só cultural, a minha hipótese de ser bissexual era descomunal.

Nunca mais consegui deixar de respeitar as escolhas de cada um e um dos filmes da minha vida é com certeza O Jogo de Lágrimas, do Neil Jordan.

Certo é que nada me preparou para a evidência de que o Brasil – o país de Drummond, de Hilda Hilst e Lispector – tenha agora um presidente que, depois de ter assegurado que as posições que o Brasil assumiria na ONU se orientariam pela Bíblia, tenha agora declarado que, apesar de ser absolutamente contra Sodoma, o Brasil é uma Gomorra aprazível, de lubricidade à flor da pele e de pernas eternamente abertas para o turista – declarações que me parecem pouco apostólicas e me deixam literalmente estupefacto.

Mas isto sou eu que sou ateu, havendo mistérios da fé que nunca poderei compreender.

Taxista que atropelou três pessoas entregue ao Ministério Público

Na passada noite de segunda-feira, um táxi atropelou três peões, um deles uma bebé de 2 anos, na Av. Dr. Sun Yat-Sen. O condutor foi entregue ao Ministério Público e as duas vítimas, que permanecem hospitalizadas, apresentam um estado clínico estável

 

[dropcap]P[/dropcap]or volta das 22h de segunda-feira, três turistas oriundas do Interior da China foram abalroadas por um táxi quando, alegadamente, atravessavam uma passadeira. As vítimas, segundo informações veiculadas pelos órgãos de comunicação de língua chinesa, serão familiares, mais especificamente mãe, filha de dois anos e sogra e terão sofrido escoriações e fracturas na sequência do atropelamento.

Segundo informação veiculada pelo Corpo da Polícia de Segurança Pública (CPSP), “um táxi que seguia nesta Avenida (Centro Cultural em direcção ao Largo de Monte Carlo) embateu em três peões (duas senhoras e um bebé em carrinho) que ali atravessavam a rua, causando graves ferimentos. As vítimas foram de imediato transportadas para o Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ). De acordo com informações prestadas pelos Serviços de Saúde de Macau, até ontem à noite, uma mulher ainda se encontrava internada no serviço de urgência em condição clínica considerada estável. Quanto à criança do sexo feminino “foi admitida na ala de pediatria e o seu estado clínico é estável”. Ambas as vítimas vão permanecer internadas no CHCSJ.

Nas mãos do MP

O taxista, residente de Macau, não acusou consumo de álcool no teste de alcoolemia e a CPSP suspeita que o acidente terá resultado de o facto do condutor não ter dado prioridade na passagem de peões.

O condutor do veículo foi entregue ao Ministério Público e o caso segue agora para investigação. Para já, o taxista está acusado de condução perigosa, crime punido com pena de prisão de 1 a 8 anos e de três crimes de ofensas à integridade física por negligência, punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias.

Governo estuda a possibilidade de criar bolsa de valores

[dropcap]O[/dropcap] Executivo vai estudar a viabilidade do estabelecimento de uma bolsa de valores no território, anunciou o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. “O Governo está, neste momento, a preparar a escolha de uma empresa de consultoria internacional para proceder a um estudo preliminar sobre a viabilidade do estabelecimento em Macau de uma bolsa de valores”, afirmou o responsável, de acordo com um comunicado oficial.

Lionel Leong sublinhou que o estudo vai ser orientado para “ir ao encontro do posicionamento definido pelo país para o desenvolvimento de Macau”, como plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa e plataforma para a prestação de serviços financeiros entre Pequim e o bloco lusófono.

Por outro lado, esta iniciativa deverá reforçar as vantagens do princípio “Um País, Dois Sistemas”, no âmbito da livre circulação de capitais e o relacionamento com os países lusófonos, reiterou.

“O estudo está ainda numa fase bastante preliminar”, destacou o responsável, acrescentando que a empresa escolhida terá de “estudar se o território tem sistemas legais, de fiscalização e de regulação”, bem como “quadros qualificados adequados para garantir um mercado bolsista” e as possibilidades de contribuir para o alargamento das oportunidades de emprego e de participação dos jovens. Por outro lado, o estudo terá também de identificar as condições em falta para que se possa estabelecer uma bolsa de valores em Macau, disse.

O secretário lembrou que nas “Linhas gerais do planeamento para o desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau” e também na revisão do acordo CEPA, assinado entre Macau e o Ministério do Comércio chinês, se refere a necessidade de realização de um estudo sobre o estabelecimento de bolsas de valores, para fomentar a diversificação económica do território.

Protecção Civil | Simulacro “Peixe Cristal” passa a ser realizado regularmente

O simulacro “Peixe Cristal”, que se realizou no passado sábado, vai passar a ser realizado com regularidade, de acordo com o secretário para a Segurança. Wong Sio Chak adianta que o Conselho Executivo vai amanhã terminar a discussão da proposta de Lei de Bases da Protecção Civil

 

Com agência Lusa 

[dropcap]O[/dropcap] exercício de simulação “Peixe de Cristal” vai passar a acontecer com regularidade, de acordo com Wong Sio Chak. O secretário para a Segurança adiantou que o simulacro, que tem como intenção preparar autoridades e população das zonas baixas sob “Storm Surge” durante a passagem de tufão, contou com 29 entidades que compõem a estrutura de protecção civil.

“Entre as 14h e 19h30 do dia 27 deste mês, foram simulados 57 incidentes que poderiam ocorrer durante a passagem de tufão, contando-se com a participação de um total de 2546 pessoas. Esta iniciativa envolveu 47 associações e de entre os 409 residentes inscritos a título pessoal, 360 compareceram efectivamente no exercício”, pode ler-se em comunicado.

Sobre à suspensão temporária do simulacro devido ao aviso de trovoada, o governante revelou que a medida teve como objectivo “garantir a segurança dos residentes que participavam no exercício”.

Wong Sio Chak analisou ainda a questão de um ponto de vista jurídico e disse que a estrutura da Protecção Civil não pode exigir aos cidadãos que participem no exercício estando em vigor um aviso de trovoadas, “perante a impossibilidade de serem imputadas responsabilidades em caso de ocorrência de incidentes que coloquem em risco a segurança das pessoas”.

Também o adjunto do Comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários (SPU), Ng Kam Wa, deu como prioridade a segurança da população durante o exercício realizado no sábado passado. Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, Ng Kam Wa referiu que nas regiões vizinhas se registaram “perdas de vida” devido à queda de relâmpagos e, como tal, as actividades exteriores do “Peixe Cristal” foram canceladas para “prevenir o perigo”.

Lei a caminho

Por outro lado, o secretário para a Segurança revelou que o Conselho Executivo irá amanhã concluir a discussão da proposta que define a Lei de Bases da Protecção Civil, com o objectivo de que seja submetida o mais rapidamente possível à Assembleia Legislativa.

Ainda ao nível da resposta a catástrofes naturais, uma equipa médica de Macau recebeu a acreditação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para responder a emergências a nível internacional, nomeadamente catástrofes naturais, anunciaram os Serviços de Saúde. Composta por 120 membros dos Serviços de Saúde e do Corpo de Bombeiros, a equipa vai prestar “serviços ambulatórios e de emergência, incluindo ginecologia e pediatria”, entre outras “necessidades de assistência médica urgentes”, refere um comunicado das autoridades.

Com a certificação, a resposta a emergências estende-se a todo o “país e ao estrangeiro”, incluindo “catástrofes naturais ou surtos de doenças infecciosas”.

A equipa de Macau tornou-se a quinta a nível nacional a receber a certificação da OMS. O processo teve início no ano passado, tendo sido aprovado e formalizado esta tarde, com a presença de peritos da organização internacional.

Segundo a mesma nota, “está previsto que possam atender diariamente mais de 100 consultas externas, incluindo situações de reanimação”.

Jogo | Receitas da MGM sobem 23 por cento no primeiro trimestre

[dropcap]A[/dropcap] operadora de jogo MGM Resorts apresentou receitas de 3,2 mil milhões de dólares, no primeiro trimestre, um aumento de 13 por cento face ao período homólogo de 2018, com as receitas de Macau a aumentarem 23 por cento.

De acordo com o comunicado apresentado na segunda-feira pela operadora norte-americana, as receitas em Macau no primeiro trimestre foram de 734 milhões de dólares.

O aumento das receitas homólogas do grupo em Macau, entre Janeiro e Março, tem grande parte que ver com a abertura do hotel-casino MGM Cotai em 13 de Fevereiro de 2018: este ‘resort’ integrado registou receitas no valor de 301 milhões de dólares, quando no mesmo período do ano passado tinha apresentado 85 milhões de dólares.

A MGM China registou um EBITDA (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) ajustado foi de 191 milhões de dólares, mais 26 por cento que no mesmo período do ano passado.

Em comunicado, a MGM China anunciou ter obtido mais 18 por cento em receita bruta de jogo e que os seus dois casinos em Macau representam 9,4 por cento da cota total do mercado do jogo no território.

A MGM China apontou ainda ter crescido em todos os segmentos de jogos, tanto no jogo de massas como no jogo vip, mais 3 por cento, ao contrário da tendência que se tem verificado no mercado global no território, que no primeiro trimestre do ano viu as receitas do jogo VIP caírem 13,4 por cento.

“Juntamente com o crescimento dos nossos negócios, estamos muito satisfeitos em ver a nossa subconcessão de jogos estendida. Estamos gratos pelo apoio do Governo de Macau e continuamos comprometidos com a evolução contínua da região”, apontou o presidente executivo e director executivo da MGM China, Grant Bowie, citado na nota.

SJM | Salário e bónus pagos a Angela Leong com redução superior a 13 milhões

Ambrose So e Stanley Ho foram outros dos afectados pelas quebras nos pagamentos recebidos. No entanto, resultados apresentados na terça-feira apontam para o aumento dos lucros da concessionária

 

[dropcap]O[/dropcap] salário de Angela Leong no Grupo SJM, que também inclui a empresa que detém a concessionária Sociedade de Jogos de Macau, teve uma quebra de 13,2 milhões de dólares de Hong Kong, superior a 40 por cento, entre 2017 e o ano passado. A informação foi divulgada no relatório anual de 2018 da empresa, que foi enviado à bolsa de valores Hong Kong na segunda-feira à noite.

Segundo os dados apresentados, em 2017 a também deputada tinha levado para casa 30,5 milhões de dólares de Hong Kong. Mas, no ano passado o montante que recebeu caiu para os 17,3 milhões. Esta quebra ficou a dever-se à redução nos pagamentos feitos com base nas acções.

Enquanto em 2017 tinha recebido 13 milhões de dólares de Hong Kong devido às acções no grupo, no ano passado esse valor foi de zero.

Ao nível do salário base, Angela Leong beneficiou de uma subida de 10,3 milhões para 11 milhões de dólares de Hong Kong, valor que não foi suficiente para compensar as perdas com as acções e com os prémios especiais e outros pagamentos.

No entanto, Angela Leong não foi a única a ser afectada pela quebra dos resultados entre 2017 e 2018, uma vez que a direcção do grupo teve uma redução na folha de pagamentos de 167,4 milhões para 100,3 milhões de dólares de Hong Kong. A quebra atingiu igualmente Ambrose So, director executivo, cujo salário caiu de 35,9 milhões para 20 milhões de dólares de Hong Kong. O mesmo aconteceu com o fundador Stanley Ho, que recebeu 15,6 milhões de dólares de Hong Kong em salários e bónus, mas em 2017 tinha levado para casa 39,1 milhões.

Contudo, este ano pode levar a novos aumentos em comparação com o ano passado. Na terça-feira, o grupo anunciou o crescimento dos lucros de 16,5 por cento no primeiro trimestre do ano, face ao período homólogo, para os 850 milhões de dólares de Hong Kong. No primeiro trimestre de 2018, os lucros tinham sido de 730 milhões.

Mudanças na STDM

Também na segunda-feira, o Ming Pao, jornal de Hong Kong, revelou os resultados da assembleia-geral das Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, no que diz respeito à eleição dos corpos sociais para o período entre 2019 e 2021. Ian Fok, segundo filho mais velho de Henry Fok, que se aliou a Pansy Ho para controlar a STDM, assumiu a presidência do conselho de administração. Da família Fok fazem ainda parte do conselho de administração Jason e Erick Fok.

No que diz respeito às filhas da segunda mulher de Stanley Ho, Maisy Ho entrou, substituindo a irmã do pai, Nanette, que mesmo de cadeira de rodas não deixou de comparecer no encontro que serviu para escolher os corpos sociais.

Além dos Ho e dos Fok, constam no conselho de administração da STDM Angela Leong, quarta mulher de Ho, Ina Chan, terceira mulher, Patrick Tsang e David Shum.

Advogados impedidos de exercer direito de defesa de Scott Chiang

A juíza recusou o pedido da defesa de voltar a ouvir as testemunhas à luz da nova acusação, por achar que não haveria alteração substancial dos factos. Os advogados contestam a decisão e apontam que uma acusação diferente altera a forma de inquirir as testemunhas

[dropcap]A[/dropcap] sessão de terça-feira do julgamento de Scott Chiang por manifestação ilegal, que inicialmente incluía também o deputado Sulu Sou, terminou com os advogados do activista a queixarem-se que não lhes foi possível exercer o direito de defesa.

O julgamento, que terminou em Maio do ano passado, condenou Scott Chiang e Sulu Sou pelo crime de manifestação ilegal, apesar da acusação ter sido de desobediência qualificada.

A mudança do tipo de crime, apenas revelada na leitura da sentença, levou o Tribunal de Segunda Instância (TSI) a anular o julgamento da primeira instância. Porém, na terça-feira, as queixas da defesa voltaram a repetir-se, uma vez que a juíza Cheong Weng Tong não autorizou que fosse feita uma nova análise das provas, nem que as testemunhas fossem ouvidas à luz da nova acusação. A decisão de Cheong já tinha sido tomada após as férias judiciais da Páscoa, quando negou os requerimentos dos advogados Jorge Menezes e Pedro Leal.

“A única coisa que a juíza fez foi dar palavra aos advogados para se defenderem da questão da manifestação ilegal. Pura e simplesmente não quis saber dos factos, que era o mais importante”, afirmou Pedro Leal, à saída do tribunal, na terça-feira. “Todos os factos da primeira audiência [antes da primeira sentença] foram analisados no sentido de saber se eles tinham obedecido a uma ordem judicial. As questões para as testemunhas foram sempre: ‘respondeu ou não respondeu? Foram ou não dadas ordens?’. Nunca pensámos na questão de manifestação ilegal. Foi algo que só apareceu depois”, acrescentou.

“Nós pedimos ao tribunal [Tribunal Judicial de Base], na sequência da anulação do julgamento pelo TSI, que nos desse direito de defesa, como o TSI disse que tínhamos direito […] o TJB disse que não a tudo”, considerou, por sua vez, Jorge Menezes. “Para ser franco isto não foi um julgamento, o julgamento inclui factos e testemunhas. Isto foi uma audiência em que os advogados tiveram a falar com o tribunal”, sublinhou.

Na origem da decisão da juíza Cheong Weng Tong terá estado o facto de entender que a alteração da qualificação jurídica não altera os factos apurados. Algo que, no seu entender, não justifica que as testemunhas voltem a ser ouvidas e que sejam reanalisadas as imagens captadas pela Polícia Judiciária (PJ).

A defesa não concorda com o argumento: “No primeiro [julgamento] estava em causa se tinham desobedecido a uma ordem. No segundo era diferente, estava em causa se houve ou não manifestação ilegal. […] No primeiro não perdemos tempo com o que não era relevante e no segundo não nos deixaram gastar tempo com o que era relevante”, explicou Jorge Menezes.

Condenação esperada

À luz dos acontecimentos, a defesa prevê a entrada em tribunal de dois recursos para “fazer justiça”. Um primeiro contra a decisão de não permitir uma nova análise dos factos e um segundo contra a condenação de Scott Chiang. “Por uma questão de coerência do tribunal, acho que Scott Chiang vai ser condenado. O tribunal condenou perante os factos que correspondiam a uma manifestação ilegal e penso que vai continuar com essa interpretação”, anteviu Pedro Leal, que defende a inocência do seu cliente.

Posição semelhante foi tomada pelo advogado durante a sessão, que mesmo assim contestou a tese de manifestação ilegal. Por sua vez, também o arguido Scott Chiang não quis prestar declarações adicionais na sessão de terça-feira: “Não estou à espera de nada deste julgamento pelas razões óbvias. Eles só querem corrigir um procedimento, um erro menor. Não querem mudar o conteúdo”, apontou à saída. “É um caso que se arrasta e uma pessoa tem de voltar aqui depois de quase um ano. Mas tento convencer-me que todos nós estamos a tentar fazer algo de bom pela sociedade. Não venho aqui apenas para me defender ou para me manter fora da prisão, também venho para estabelecer um precedente bom para quem vier a seguir”, considerou.

Já o MP considerou que os factos são suficientes para provar a prática do crime e pediu a condenação. Sobre os aviões de papel, a procuradora sublinhou que todos têm de cumprir a lei:

“O IACM tinha transmitido à associação que, devido à existência de obras, não era permitido deslocarem-se ao local […] Fizeram aviões de papel com os panfletos, que tinham nas mãos, e atiraram para a residência. Todos temos de cumprir a lei”, apontou.

A leitura da sentença ficou agendada para 14 de Maio. A decisão não vai afectar Sulu Sou, uma vez que o deputado desistiu do recurso da primeira decisão para voltar mais depressa à Assembleia Legislativa, depois de ter sido suspenso para ir a tribunal.

Último a falar

Na passada sexta-feira, a juíza deu de imediato a palavra ao representante do Ministério Público, quando pediu as alegações complementares com deu início à sessão. Depois, passou a palavra aos advogados de defesa. Só no final foi ouvido o arguido Scott Chiang. A alteração da ordem, quando o normal é que o arguido seja ouvido no início, valeu críticas da defesa. “Foi a primeira vez na minha vida em quase 30 anos de advocacia que não vi o tribunal dar a palavra ao arguido no início para falar. Nunca tinha visto isto na minha vida”, disse Jorge Menezes. Também Pedro Leal frisou o acontecimento: “Inicialmente, o arguido deve ser a primeira pessoa a pronunciar-se sobre os factos constantes na acusação, que correspondem ao crime. De facto, não lhe foi dada a palavra, só no final”, apontou.

Lei Sindical | Coutinho pede a Chui iniciativa legislativa

[dropcap]J[/dropcap]osé Pereira Coutinho enviou uma carta ao Chefe do Executivo a pedir que o Governo apresente uma proposta de lei sindical até ao final do mandato, ou seja até Dezembro. O pedido surge depois de Coutinho ter visto rejeitado, pela sétima vez, um processo da sua iniciativa sobre este documento, que concretiza o artigo 27.º da Lei Básica.

“Em nome dos trabalhadores do sector público e privado vimos solicitar a intervenção de V. Exa., para que ainda durante o seu mandato acelere o processo legislativo submetendo à Assembleia Legislativa o respectivo projecto lei para apreciação e votação final”, pode ler-se no documento do deputado. Segundo José Pereira Coutinho esta proposta permitiria “equilibrar os pratos da balança entre os empregadores e os trabalhadores” e permitiria acabar “de uma vez por todas com a exploração laboral e o uso abusivo do elo mais forte da relação laboral”.

Ao mesmo tempo, o deputado que preside à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) apontou que é “extremamente importante respeitar rigorosamente a Lei Básica” e que deveria ser o Executivo “o primeiro a dar o bom exemplo”.

Coutinho questiona também que medidas vão ser aplicadas para sancionar a entidade responsável pelo estudo da Lei Sindical, a Associação de Estudo de Economia Política, controlada por Kevin Ho, devido aos “graves atrasos” na entrega de resultados. O estudo devia ter ficado concluído até ao final do ano passado. “Cumpre ao Governo justificar publicamente que medidas serão adoptadas no decurso dos prazos estabelecidos em termos contratuais”, refere o deputado.

1 de Maio | Lesados do Pearl Horizon entregam missiva ao Governo

Os lesados do Pearl Horizon e a Associação da Reunião Familiar de Macau organizaram ontem duas marchas de protesto que culminaram com a entrega de cartas na sede do Governo. De acordo com a PSP, as manifestações correram de forma pacífica e ordenada

 

[dropcap]A[/dropcap]pesar das reivindicações não serem novas, a União Geral dos Proprietários do Pearl Horizon e a Associação da Reunião Familiar de Macau marcharam em protesto durante a tarde de ontem, cumprindo a tradição internacional de manifestações durante o 1 de Maio. Porém, nenhuma das entidades pediu alargamento de direitos laborais.

Os lesados do Pearl Horizon entregaram cartas na sede do Governo e no Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na RAEM a pedir a resolução completa do problema que enfrentam e vincaram a insatisfação face às resoluções apresentadas pelo Executivo liderado por Chui Sai On.

Ouvidas pelo HM, duas proprietárias confessaram que perderam completamente a confiança no Governo e mostraram desconhecimento quanto ao timing da implementação da proposta de permuta de casa. Uma lesada, de apelido Chan, adiantou mesmo que a situação que a levou a protestar “não é um problema do promotor Polytex”, mas uma consequência da entrada em vigor da Lei de Terras, uma vez que na altura da compra ainda não existia legislação relativa à aquisição de fracções ainda por construir.

Além disso, Chan acrescentou não acreditar no plano de habitação para troca apresentado pelo Executivo por uma questão de disparidade de valor. A lesada duvida que a fracção a que terá direito corresponda aos padrões de luxo dos apartamentos que estavam planeados para o Pearl Horizon.

Tudo em família

A outra manifestação de ontem foi organizada pela Associação da Reunião Familiar de Macau, que também entregou uma carta na sede do Governo com o intuito de reforçar o pedido de reunificação de pais que residem no território com filhos que moram no Interior da China.

Na missiva foi endereçado um convite ao Chefe do Executivo para participar num encontro promovido pela associação para comemorar o Dia Internacional da Família, no próximo dia 15 de Maio. Em declarações ao HM, o presidente da associação recordou que há mais de uma década que luta pela reunificação entre filhos de pais separados. Além, disso, o dirigente associativo recordou que o Chefe do Executivo lhe terá assegurado que iria discutir com o Governo Central uma solução para o problema, mas que, até hoje ainda não foi dado um único passo nessa direcção.

Contas diferentes

Quanto aos números de participantes, a contabilidade feita por ambas as associações diverge da feita pelas autoridades. De acordo com o presidente da União Geral dos Proprietários do Pearl Horizon, Kou Meng Pok, participaram na manifestação entre 300 e 400 pessoas. Os números avançados ao HM pela Associação da Reunião Familiar de Macau referem a adesão de 570 pessoas.

Segundo dados avançados pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), a manifestação organizada pelos lesados do Pearl Horizon contou, “durante o período de pico, com 280 participantes, enquanto o protesto pela reunião familiar levou à rua 130 pessoas. A CPSP destacou 120 agentes para garantir a manutenção da ordem pública.

Ainda de acordo com as autoridades, “com o apoio e indicações de agentes policiais, os manifestantes desfilaram pacificamente, conseguiram expressar as solicitações e a manifestação foi realizada duma forma ordenada”.