As Viagens de Gulliver – Segunda Parte

Mais do que na primeira viagem, a Lilliput, é na segunda viagem, a Brobdingnag, que a configuração do nosso ponto de vista começa realmente a fazer efeito. Evidentemente, já na primeira viagem ficámos confrontados com a conformação extática do nosso ponto de vista, aquando dos relatos que os lilliputianos fazem dos objectos de Gulliver. Veja-se como exemplo esta passagem, à página 32: «Pediu-me depois uma das colunas de ferro ocas, ou seja, as minhas pistolas.» Perante a descrição dos objectos de Gulliver pelos lilliputianos, nós passamos a ver os nossos objectos pela primeira vez. Porque vemo-los sem o preconceito daquilo para que servem, da sua utilidade.

Mas é mais do que isso. Nós não vemos as coisas, mas o sentido que damos a elas. Os liliputianos descrevem o objecto, nós vemos uma pistola. Nós já não vemos as partes de um objecto, a não ser que sejamos entendidos no assunto. Ver as coisas para lá da sua utilidade pode ser através da completa ignorância do que sejam ou através de uma especialização desse mesmo conhecimento, como, por exemplo, aquilo que um guitarrista vê em relação às guitarras eléctricas, que é completamente diferente do que a maioria dos humanos vê. Os humanos em geral olham uma guitarra eléctrica e vêem uma guitarra eléctrica, assim como os humanos em geral vêem uma pistola, mas os guitarristas vêm as partes: a madeira do corpo, a madeira do braço, a madeira da escala, os carrilhões, se têm trava ou não, qual o material dos mesmos. Depois vêem a alma da guitarra: os captadores (pick-ups); primeiro, se são single-coil, humbuckers ou P-90, depois qual a potência deles. Ou seja, perante uma guitarra eléctrica a maioria de nós somos humanos e os guitarristas liliputianos. Já se deram conta, evidentemente, que o meu modo liliputiano em relação à guitarra é diferente do modo dos liliputianos em relação à nossa realidade, pois eles descrevem as coisas porque as desconhecem, não dizem pistola, descrevem-na, ao passo que os guitarristas, em relação à guitarra eléctrica, atentam nas suas partes e não apenas no todo, porque sabem muito bem o que é uma guitarra eléctrica e que a sua qualidade (ou a sua utilidade) depende da qualidade das suas diversas partes. Não apenas no sentido de que umas partes são melhores do que outras, mas no sentido em que umas partes são mais eficazes para um determinado estilo de música, ou para aquilo que o guitarrista quer tocar, do que outras partes. De facto, há dois modos de sermos liliputianos: ou o completo desconhecimento das coisas ou um grande conhecimento das coisas. Entre o completo desconhecimento e o grande conhecimento está o humano.

Assim, a diferença de tamanho entre nós e os liliputianos, muito menores, ou entre nós e os brobdingnaguianos, muito maiores, não configura apenas uma diferença de escala, mas uma diferença de visão do mundo. De outro modo, a diferença de escala faz com que nos demos conta de que a nossa visão do mundo depende da nossa escala.

Para além deste nosso modo de nos relacionarmos com o mundo circundante, com aquilo que usamos no dia a dia, há também o modo como nos relacionamos connosco mesmos e com os outros. E isto espoleta com muito mais força na segunda parte do livro, em Brobdingnag, porque somos mais sensíveis a perceber as diferenças quando corremos risco de vida ou somos mais vulneráveis.

Por isso mesmo, e não é por acaso, somente na segunda parte do livro Gulliver diz estas palavras: «Sem dúvida alguma, os filósofos têm razão quando nos afirmam que nada é grande ou pequeno senão por meio de comparações» (p. 82) Apesar de se ter dado conta da diferença de escala em Liliput, ele não era vulnerável, ou pelo menos não era vulnerável como o é em Brodingnag. Mais do que em Liliput, é agora em Brodingnag, que ele se dá conta de que o ponto de vista em que estamos usualmente é relativo. Aquela frase, logo no início da segunda parte do livro, aparece quando Gulliver chega a Brobdingnag e se lembra de si no país dos lilliputeanos. Há uma reconfiguração do plano, uma reconfiguração do ponto de vista. Antes, em Lilliput, ele era um gigante, agora a situação inverteu-se, os gigantes são os outros e ele sente aquilo que os lilliputianos deveriam ter sentido com ele, mas que lhe estava completamente vedado. No fundo, o que aqui está em causa, é que nós mesmos só conseguimos nos ver se acontecer uma catástrofe, isto é, um rompimento com o ponto usual em que estamos. Curiosamente, nas viagens que fazemos usualmente o que acontece é que nós reparamos nos outros, nas diferenças, e é isso que acontece com Gulliver em Lilliput. Ele enumera as diferenças, quase comicamente, mas agora, em Brobdingnag, ele apercebe-se dele mesmo. E apercebe-se dele mesmo através da comparação com a sua vivência em Lilliput. Literalmente, ele foi virado do avesso. Viu-se por dentro. Leia-se: «Nesta terrível agitação mental não podia abstrair-me de Lilliput, cujos habitantes me olhavam como o maior prodígio que o mundo tivera, onde eu podia, com uma só mão, arrastar uma armada imperial e cometer outros feitos fantásticos que ficarão para sempre registados nas crónicas daquele império […]. Pensava na mortificação que, para mim, devia representar o facto de ser tão mesquinho nesta nação quanto um lilliputiano seria entre nós.» (82) Esta contínua e radical alteração do ponto de vista, ir do tamanho natural a sentir-se extremamente grande e depois a sentir-se extremamente pequeno obriga Gulliver a configurar a sua existência e o mundo. Ele percebe claramente que estamos presos num ponto de vista fixo e não perguntamos por nada. Mas quando aqui se diz fixo, não quer dizer que ele não mude ao longo da vida, que nós não estejamos sempre a mudar aquilo que julgamos acerca disto ou daquilo, porque estamos, fixo aqui quer dizer que o nosso ponto de vista é dependente da nossa escala, que não é apenas de tamanho, embora seja, mas também do nosso corpus de conhecimento. Ou seja, nós vemos as coisas, não como elas são, mas com os apetrechos sensíveis e com o conhecimento que temos. Nós não podemos ver os átomos ou os poros da pele, por exemplo, nem podemos ver o que quer que seja fora do saber que temos. A este modo de nos mostrar como somos, através de uma projecção ou criação de outras escalas, chamo reconfiguração do nosso ponto de vista, porque é disso que se trata: passamos a ver que temos um ponto de vista fixo e do que é que ele depende.

(Continua na próxima semana)

Corpo devagar

Delito. Matar o tempo, diz-se. Fazê-lo passar mais depressa e sem sentir o seu rasto lento, na expectativa de algo. Mas há outra maneira de o silenciar. Suspender sem extinguir, a respiração imparável e ficar num limbo de ilusória eternidade. O sem tempo de um intervalo. A quase morte do tempo por fuga da vítima. Uma coisa defensiva e sem instintos homicidas.

A pele das coisas. Espelhos visíveis. À flor da superfície. A lembrar-me. Desse corpo revestido de ti.
Pouso o guardanapo, o copo a libertar um aroma rico, colorido e encorpado, da região que eu gosto. Aliso a saia e disponho-me de costas direitas a fruir. O rio aqui atrás invisível mas a três passos largos. Uma pausa oferecida a custo num dia de agitação demais. Inquietações que não se curam senão com um intervalo de esquecimento. Um almoço que não pode ser longo mas terá o dom de parecer um daqueles momentos que duram eternidade mais uns minutos, mesmo se pouco mais do que isso contando no relógio. O pão de forno de lenha ainda morno e um pratinho de azeitonas. Não precisava de mais. Coloridas, amargas da cura e do tempero variadas. A lembrar-me, umas, os teus olhos, outras a cor da pele. Aquelas daquele tom de pele que é a lembrar o teu. Também invisível mas já aqui atrás à distância de um pensamento leve. Umas lascas da pequena merendeira intensa de ovelha, curada por fora com uma pele a ficar espessa e ainda sedosa por dentro. Coisas simples vindas de mais a sul e que lembram a mesa que era de casa e de sempre. Viva na memória.

Delito de ser corpo. Devagar. De pensamento. Um corpo amado tem uma arquitectura própria. Tão específica que se deve a um encontro de acaso entre um sentimento e uma genética da qual só se conhece a obra final. Percorre-se num olhar milimétrico e tudo é coerente com o sentido de posse que é a de amar. Não a de ter mas a de conter. Um palmo de pele discreta como o é sempre, a esconder mistérios que é como se não existissem. Não há um veículo que transporte nenhuma função orgânica que transcenda a visão estética. A visão pura. Coincidente. Avança-se um centímetro mais, com a palma da mão onde se concentra tudo. Minto. Menor a superfície do tacto e maior a intensidade. É já só a ponta dos dedos que sente mais e não há mais nada e é o todo que se intui em cada parte e prévio ao desejo. Poder-se-ia dizer que do corpo nasce. Este. Mas é um pouco como se o corpo pré-existente fosse produto do olhar que ama cada detalhe como por um acto de reconhecimento. Sem voz. A este corpo chegam as vozes únicas vindas do tacto e do olhar atento, focado. A ouvir de dentro. Não há mais desejo. Somente espanto, ou devoção. Deito-me esguia como me sinto como sempre quis ser, como uma linha a contornar um corpo ao lado. Em baixo, coberto pelo olhar, protegido do esquecimento. Deito-me ao lado. Deito-me a perder-me de vista. Nesse corpo que é único como o que lhe sinto ser seu. Eu. A elaborar esse corpo. De sentido se do amor que não se faz de mais do que disso.

Dessa paixão por entardecer na praia. Anoitecer. Serenar e silenciar tudo. Restando um estar ao lado, deitada, soturna de tão tarde, centrada e surda. A respirar esse momento – corpo. Ali. Ao lado. Dentro. Como um fado. E destilar-se dos olhos. A encaminhar-se na mão leve que toca somente para se fazer existente. Ou até acariciar o corpo meio ausente. Ali estranho. Em si distante quanto pesado de evidência.
Apago o candeeiro da mesa, chega de realidade, por hoje.

LMA | Rootz & Tronicbeats trazem música ao vivo e electrónica este sábado 

O Festival Arroz ganha nova edição este sábado com a actuação, no Live Music Association, dos Rootz & Tronicbeats. Num festival que sempre se pautou pela diversidade de géneros musicais, desta vez o protagonismo é dado aos sons electrónicos, numa combinação com música tocada ao vivo

 

O palco do Live Music Association será, no próximo sábado, um lugar de experimentação. A nova edição do Festival Arroz, que tem acontecido no espaço da Coronel Mesquita, já trouxe muitas sonoridades de bandas locais, mas desta vez a escolha recaiu sobre os Rootz & Tronicbeats, que actuam a partir das 22h.

Este é o segundo concerto que acontece este ano no âmbito deste festival, e o público poderá assistir “aos contextos, sonoridades e experiências [das bandas] na mistura de [sons]”. Na sua junção em palco, os Rootz e os Tronicbeats prometem “revelar o seu carisma e paixão pelo panorama de música local para todos os amantes da música”.

Ao HM, Sonn B. Cheong, ligado à organização do festival, confessou que a grande diferença deste concerto em relação aos anteriores é o espectáculo como um todo.

“Tentamos combinar música ao vivo, tocada por instrumentos, com a música electrónica. Essa vai ser a parte mais importante do concerto, e é algo que é raro acontecer em Macau. Os artistas das duas bandas vão actuar em conjunto com os músicos.”

O responsável frisou que, desta vez foram escolhidos “géneros musicais como o reggae, afrobeats, dub e jungle, e que serão a base do concerto do Festival Arroz”. “Acima de tudo estamos a tentar introduzir música tocada ao vivo para perceber a química entre os músicos, e também para providenciar uma noite memorável a cada pessoa que participe no nosso espectáculo”, referiu Sonn B. Cheong.

Espalhar amor

Os Tronicbeats assumem-se como uma editora de música electrónica que reúne vários produtores e djs naturais de Macau. Mas o grupo é mais do que isso, apresentando-se também como organizador de eventos e promotor de actividades publicitárias, design e produção musical, entre outras actividades.

No caso do projecto Rootz, criado pela cantora Betchy Barros e pelo seu irmão rapper Tony Barros, a ideia base é também a união de músicos locais, a fim de mostrar ao público todo o seu potencial.

Numa anterior entrevista ao HM, Betchy Barros explicou a ideia por detrás deste projecto, que nasceu o ano passado.

“Estamos a tentar incorporar noites que sejam divertidas para as pessoas saírem da rotina e conhecerem novos artistas. Em Macau faltava muito o valor dado aos artistas locais, porque normalmente eram sempre bandas que vinham de fora. Agora estamos a focar-nos no que temos em casa. Está a ser uma experiência fantástica porque isso está a abrir portas para outros eventos.”

Sonn B. Cheong adiantou que o objectivo do Festival Arroz é “espalhar o amor pela música e também gerar ideias e oportunidades de trabalho em parceria entre músicos e artistas que, com esforço, contribuem para as indústrias criativas de Macau”.

A organização do Festival Arroz planeia continuar a organizar concertos até Fevereiro do próximo ano. No próximo sábado a entrada custa 180 patacas e dá direito a uma bebida.

Euro 2020 | Itália sagra-se campeã europeia

Com apenas mil adeptos italianos no estádio de Wembley, os transalpinos tinham uma missão quase impossível pela frente. Tom Cruise estava nas bancadas, mas a equipa de Roberto Mancini não precisou de escalar arranha-céus ou salvar o mundo de uma ameaça nuclear. Precisou apenas de ir a penáltis para derrotar a Inglaterra, depois de o jogo acabar empatado (1-1) no tempo regulamentar

 

Por Martim Silva

A final do Euro 2020 começou com o herói da final de 2016, Éder. O avançado português, agora desempregado, carregou o troféu, outrora conquistado por Portugal, até ao relvado num clima de estádio cheio e onde os ingleses nunca se sentiram se não dentro de casa.

Com tanta hostilidade e realeza nas bancadas, os pupilos de Roberto Mancini acusaram logo a pressão. Os jogadores de Itália, sem tempo para ajustar as meias ou admirar o cenário de uma final europeia, sofreram um golo aos 3 minutos marcado por Luke Shaw, que bateu o recorde de golo mais rápido numa final do Euro.

Como já escrevemos em edições anteriores, os transalpinos têm alguma deficiência no comportamento do seu meio-campo. A dinâmica dos três centro campistas da equipa de Mancini tem os seus pontos fortes. Consegue esticar a pressão para zonas mais recuadas do terreno do adversário, mas acaba por deixar um dos três médios isolado do resto da equipa. Esta situação aconteceu várias vezes durante a caminhada de Itália neste Euro, mas devido à sua superioridade, a situação, por vezes, passou despercebida. Contudo, a equipa de Gareth Southgate tem jogadores capacitados para explorar qualquer tipo de fraquezas. Foi este o filme do primeiro golo do encontro: Harry Kane apareceu no espaço entre Marco Verratti e Jorginho e com caminho mais do que livre para passar a bola a Kieran Trippier, que sem grande oposição italiana, executa um cruzamento, no vértice do lado direito da grande área de Itália, para Shaw encostar ao primeiro poste, depois de uma má abordagem de Gianluigi Donnarumma.

Os ingleses foram capazes de defender em bloco baixo, apesar de não conseguirem criar muito perigo. Os transalpinos, com dificuldades em incomodar a baliza de Jordan Pickford, tiveram no nervosismo e na fatalidade de sofrer um golo tão cedo um aliado indesejado. A organização ofensiva esteve repleta de fragilidades nunca antes mostradas pela equipa azzurri. O meio-campo mostrou-se pouco activo com bola e só as tentativas de drible de Federico Chiesa eram capazes de incutir alguma esperança no povo italiano. Sem grande espectáculo na final, a resistência de Inglaterra só sucumbiu às investidas da equipa de Mancini aos 67 minutos através de Leonardo Bonucci e após um lance de bola parada com alguma confusão à mistura.

Com novo empate, o encontro seguiu para prolongamento onde as oportunidades inglesas só vieram de bola parada e os italianos a forçar Pickford a um par de defesas.

O jogo seguiu para as grandes penalidades e Southgate fez entrar Marcus Rashford e Jadon Sancho um minuto antes do tempo extra terminar para ajudar os Três Leões a levantar o troféu em Wembley. Ambos falharam os seus penáltis com os azzurri a desperdiçar apenas um. O terceiro penálti falhado pelos ingleses, por Bukayo Saka, e defendido por Donnarumma deu o troféu à selecção de Itália em pleno coração de Londres.

Sonho cumprido

Com a emoção da conquista, o técnico azzurri realçou a garra dos seus jogadores. “Não sei o que dizer, estes rapazes foram formidáveis. Fomos corajosos, verdadeiramente corajosos. Sofremos o golo rapidamente e isso colocou-nos em dificuldade, mas depois dominámos o jogo. Esta noite estamos felizes, é importante para todo o mundo, para todos os adeptos. Espero que façam a festa, em Itália.”, começou por dizer o agora campeão europeu.

Sem esquecer o passado, Mancini lembrou as dificuldades de Itália em levantar um troféu quando ainda era jogador. “Tive muita sorte em fazer parte de um grande conjunto em 1990 e de uma equipa sub-21 formidável. Apesar de sermos a melhor equipa, não vencemos nada e perdemos ambas as vezes nos penáltis. Mas o facto de conseguirmos produzir este espírito de equipa nos últimos 50 dias criou algo que nunca será quebrado daqui para a frente. Os jogadores serão sempre associados a este triunfo.”, concluiu o treinador italiano.

Para o capitão Giorgio Chiellini, no que será provavelmente o seu último Euro, o triunfo é justo. “Umas lágrimas caíram. Todos nós merecemos, mas quando se chega à minha idade percebe-se o que significa conquistar este troféu. Andamos a dizer que há algo mágico no ar desde o fim de Maio, dia após dia.”, sentenciou.

Previsão com oito anos tornou-se realidade

Um usuário do Twitter, previu o resultado do Euro 2020 em… 2013. Num tweet no dia 22 de Fevereiro de 2013, Cameron escreveu na rede social americana que “Inglaterra acabou de perder a final do Euro 2020 nos penáltis contra a Itália, nada mudou.”.

As palavras do adepto inglês tornaram-se virais por prever, de maneira exacta, o desfecho da final da competição europeia de selecções.

A vitória de Itália, após marcação de penáltis, fez com que a equipa azzurri levantasse o seu segundo troféu europeu, sendo o primeiro erguido em 1968, frente à antiga Jugoslávia.

Mas para Cameron, a sua previsão com 144 mil retweets e 225 mil gostos não parou por aqui. Numa troca com um outro utilizador, o Nostradamus inglês disse ter apostado na previsão de 2013, recebendo lucrando se Itália vencesse a Inglaterra nos penáltis e na final. “Claro que apostei. Apenas 6 libras para um retorno de 61 libras só para mim se este cenário moribundo se tornar realidade.”, assim escreveu o novo carrasco da selecção inglesa no dia de ontem.

Com uma previsão tão acertada, a quantia apostada parece insuficiente para o sofrimento da derrota de Inglaterra às mãos de Itália. Uma quantia superior, certamente, taparia qualquer lágrima que fosse causada pelo desaire britânico na prova.

Com o Mundial de 2022, no Catar, à porta, Cameron poderá vir a ser o grande vidente de competições de selecções desde o polvo Paul que em 2010 previu oito jogos de forma correcta, sendo um destes a final entre Espanha e Holanda para o Mundial desse ano.

Habitação temporária | Abre hoje mostra de modelos de fracções

A Macau Renovação Urbana vai disponibilizar a partir de hoje uma exposição de modelos de fracções para habitação para troca e habitação temporária, no Lote P da Areia Preta, no antigo terreno do Pearl Horizon. Os visitantes podem assim ficar a conhecer a concepção e plano das fracções de alojamento temporário.

Segundo a Macau Renovação Urbana, as unidades habitacionais seguem padrões do sector privado, e consistem em oito torres com altura entre 37 e 50 andares, oferecendo no total 2.803 fracções, cerca de 1.100 lugares de estacionamento para automóveis e 590 para motociclos. “O projecto contará com uma gama variada de instalações recreativas e de lazer, incluindo zonas recreativas e desportivas tanto em áreas exteriores como cobertas, parques infantis, passeios, para além de relvados” e uma ampla área verde, informou ontem a Macau Renovação Urbana.

Os modelos estão patentes no 3.º andar do Edifício Mong Tak, na Rua de Francisco Xavier Pereira.
Recorde-se que a construção do projecto foi entregue a duas empresas, com a primeira empreitada a cargo da China Construction Engineering (Macau) Company Limited (4 mil milhões de patacas), e a segunda empreitada da responsabilidade da joint venture entre a Coneer Engineering Limited-China Road and Bridge Corporation e a Top Design Consultants Company Limited (878 milhões de patacas).

Habitação Económica | Amanhã abrem candidaturas para 5.254 fracções

Começa amanhã o período de candidatura para compra de 5.254 fracções de habitação económica construídas em cinco lotes da zona A dos Novos Aterros. A larga maioria dos apartamentos são T2 e estima-se que o preço ronde os 2,6 milhões de patacas. Será a primeira vez que as candidaturas podem ser submetidas online e que terão de respeitar a nova lei

 

O próximo concurso para compra de habitação económica começa a aceitar candidaturas a partir de amanhã, até 12 de Novembro, com a possibilidade de entrega de documentos em falta até 13 de Dezembro. O anúncio foi feito ontem por Arnaldo Santos, presidente do Instituto de Habitação (IH).

No total, serão disponibilizados para compra 5.254 fracções, a larga maioria (85 por cento) são da tipologia T2 (4.478). As fracções T1 são 242, e as restantes 534 da tipologia T3. As casas disponíveis para compra neste concurso serão construídas nos cinco lotes da zona A dos Novos Aterros, a saber as zonas A1 a A4 e A12.

O preço das fracções será fixado por despacho do Chefe do Executivo, mas Arnaldo Santos prevê que um T1 ronde 1,9 milhões de patacas, o T2 tenha um custo aproximado de 2,6 milhões de patacas, enquanto o T3 ande perto de 3,2 milhões de patacas. Quanto às áreas, foi anunciado ontem que serão de 36,63 metros quadrados para apartamentos com um quarto, enquanto os T2 terão 48,55 metros quadrados e, finalmente, as fracções com três quartos vão ter 61,14 metros quadrados.

Os interessados podem visitar a partir de hoje uma exposição dos vários modelos de tipologia de habitação económica no Edifício Mong Tak, na Rua de Francisco Xavier Pereira, sendo necessário para tal marcação prévia através do site do IH.

Regras do lar

Este é o primeiro concurso que decorre ao abrigo da nova lei que regulamenta a compra de habitação económica. Assim sendo, comporta um conjunto de novos requisitos como a possibilidade de candidatura em nome individual de residentes que tenham completado 23 de idade. É necessário que o candidato resida em Macau há, pelo menos, sete anos e que tenha permanecido na RAEM, pelo menos, 183 dias no ano anterior ao fim do prazo do concurso.

Além disso, os candidatos não podem ser proprietários de casas nos 10 anos anteriores à apresentação da candidatura, excepto se a propriedade for adquirida por sucessão.

Fica de fora do concurso quem tenha desistido de candidaturas para compra de habitação económica nos cinco anos anteriores à apresentação de candidatura e quem já tenha uma fracção deste tipo ou tenha beneficiado de bonificação de juros de 4 por cento. Finalmente, fica também excluído, enquanto elemento do agregado familiar ou candidato individual, quem tenha sido afastado de concursos anteriores devido a prestação de declarações falsas, ou tenha usado meios fraudulentos para adquirir habitação económica, quem tenha arrendado habitação social e beneficiários de abono de residência. Além disso, ficam também de fora quem tenha visto o contrato de habitação económica resolvido ou declarado nulo.

Quanto aos rendimentos dos candidatos, o Chefe do Executivo estabeleceu ontem em despacho o limite mínimo para um candidato individual em 12.750 patacas por mês e máximo de 38.350 patacas mensais. Para agregados familiares, o limite máximo de rendimento mensal é 76.690 patacas. Famílias com duas pessoas têm limite mínimo de 19.270 patacas, enquanto três de 26.020 de patacas. As restantes tipologias de agregados têm os limites fixados pelo despacho assinado por Ho Iat Seng e publicado ontem.

Enxotar abutres

Fazendo questão de frisar a natureza do que é a habitação económica, nomeadamente afastando a possibilidade de ser usada para investimento imobiliário, as novas regras do jogo ditam que as fracções apenas podem ser vendidas ao IH volvidos seis anos da aquisição e pelo mesmo preço a que foram compradas. Ao preço original serão deduzidas “despesas com as obras de reposição das condições de habitabilidade da fracção, entre outras”, adianta o organismo presidido por Arnaldo Santos.

Outra das novas medidas estabelecidas para prevenir abusos, é a obrigatoriedade de a casa ser mesmo usada para habitação. Assim sendo, “o candidato e os elementos do agregado familiar, incluídos no memento da candidatura que, sem motivos devidamente justificados, não residam na habitação económica, pelo menos 183 dias por ano, são punidos com multa de 5 por cento a 15 por cento do preço da venda inicial”.

No total, o Governo irá construir 28 mil fracções na zona A dos Novos Aterros, “que serão lançadas de forma gradual para a venda”, sendo expectável que dentro de quatro anos estejam prontas 24 mil fracções, e que destas 10 mil sejam destinadas a habitação económica.

Além da zona A, está prevista a construção deste tipo habitação na Avenida Wai Long, Taipa, a Habitação Social de Mong Há – Edifício Mong Tak, da Habitação Social na Rua Central de Tói San e a Habitação Social na Avenida de Venceslau de Morais.

DSPA | Governo sem novos planos para reduzir plástico

O director da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), admitiu, em resposta a uma interpelação escrita da deputada Ella Lei, que o Executivo não dispõe de novos planos para a redução do uso de garrafas de plástico além do mero incentivo.

“Em 2019 foram usadas menos cerca de 15 milhões de garrafas de plástico do que em 2018. A DSPA irá continuar a promover esta medida, e de momento o Governo não dispõe de nenhum outro plano para restringir o uso de garrafas de plástico.”

O ano passado, as garrafas de plástico representaram cerca de 6,33 por cento dos plásticos descartados. Na mesma resposta, é dito que “os complexos de entretenimento com hotéis substituíram as garrafas de plástico por garrafas de vidro ou por outras formas, havendo, portanto, resultados positivos a assinalar”.

Foram instalados no território 38 bebedouros em várias zonas, nove dos quais em sete parques ou zonas de lazer sob gestão do Instituto para os Assuntos Municipais. “Serão instalados pelo menos outros 15 ainda este ano, dos quais seis em parques ou zonas de lazer”, referiu o director da DSPA.

Chuvas intensas | Executivo diz ser impossível fazer maiores previsões 

O Secretário para os Transportes e Obras Públicas e o director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos reuniram com os deputados, mas admitiram que fazem “uma previsão relativa” que “não é exacta”. Raimundo do Rosário afirmou que cada pessoa ou empresa tem de tomar uma decisão consoante as informações disponíveis

 

O Governo admitiu ontem perante os deputados, num encontro que decorreu na Assembleia Legislativa (AL), que não consegue ir mais além no que à previsão das chuvas intensas diz respeito e cabe a cada um tomar as decisões com base nas informações disponibilizadas.

“A única coisa que os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) podem fazer é uma boa previsão. As previsões nunca são 100 ou 90 por cento exactas. A forma como essas informações são aproveitadas pelos particulares não tem a ver com os SMG”, referiu Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas. O governante referiu que a análise dos SMG é “uma previsão relativa, mas não é exacta”.

“Não temos essa tecnologia [de previsão das horas em que ocorrem as chuvas intensas]. Pode-se alegar que Macau não é tão pequeno como parece, mas dou um exemplo. A 28 de Junho, às 17h57, registou-se chuva intensa. Nas Portas do Cerco registaram-se 16 milímetros, mas em Coloane foi de oito milímetros [de precipitação]. Macau é pequena, mas houve essa grande diferença”, adiantou.

As alterações climáticas foi outro dos argumentos usados na reunião. “O clima faz com que Macau seja afectada por questões extremas. A 1 de Junho registou-se um nível de precipitação que atingiu o máximo de anos anteriores. Esperamos que as pessoas tenham consciência dos tempos severos e das dificuldades que encontramos, e os SMG não podem fazer nada. Apesar do avanço da tecnologia, ainda há incertezas”, disse o director dos SMG, Leong Weng Kun.

O responsável explicou ainda que “há uma previsão da trajectória de chuva intensa, mas às vezes em dez minutos tudo muda e é impossível fazer uma previsão”. “Porque não activamos o sinal vermelho e preto com antecedência? Porque muitas vezes essa chuva ainda não existe. No dia 1 de Junho, às 7h, era impossível. Todos dizem que a meteorologia é uma ciência exacta, tal como a matemática, mas com as tecnologias disponíveis é muito difícil [prever]”, adiantou.

Decisões pessoais

O deputado Zheng Anting foi um dos intervenientes na sessão, tendo referido que muitos pais tiveram de regressar a casa na manhã do dia 1 de Junho após ter sido içado o sinal de chuva intensa. Zheng questionou se os SMG não deveriam ter tomado a decisão com maior antecedência.

No entanto, o secretário adiantou que não cabe aos SMG tomar as decisões pelas pessoas. “A responsabilidade é fazer uma boa previsão, mas a forma como cada pessoa ou empresa vai usar essa informação não tem a ver connosco. Quando há sinal de chuva intensa não podemos dormir para acompanhar a situação, é uma responsabilidade. Se emitirmos o aviso e nada acontecer, temos de assumir a responsabilidade.”

Segundo Raimundo do Rosário, “os aparelhos dão a informação, mas quem decide [o que fazer] é a pessoa”. “Tomar uma decisão acarreta riscos. É difícil. O período máximo de chuva intensa é de 80 minutos, então nesse caso, entre as 6h e às 12h, temos de decidir”, explicou.

A deputada Song Pek Kei chamou a atenção para o problema das alterações climáticas. “O aquecimento global tem um grande impacto, não está em causa a previsão tecnológica. A população tem de estar preparada para um tempo extremo.”

O secretário disse ainda que membros do Governo visitaram vários locais afectados pelas chuvas para “prestar esclarecimentos”. “A chuva intensa surge muito rapidamente. Em minutos podemos passar de um aviso para outro. Em cada minuto o nível de precipitação é diferente”, concluiu.

O director dos SMG falou também do “investimento [feito] em muitos recursos”, embora “o resultado nem sempre corresponda ao investimento”. “Vamos fazer acções de sensibilização junto da população”, concluiu.

Eleições | Novos critérios patrióticos na base da exclusão de candidatos

A CAEAL justificou a desqualificação de 21 candidatos às eleições eleitorais com o incumprimento de sete critérios patrióticos divulgados ontem. Na base, está a alteração à Constituição da República Popular da China realizada em 2018, que reforça a liderança do Partido Comunista. Sem detalhar exemplos que provam a inelegibilidade dos candidatos, Tong Hio Fong frisou, contudo, que criticar o Governo local não viola as regras

 

A Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) justificou a desqualificação dos 21 candidatos, considerados “inelegíveis” por não serem fiéis a Macau e não defenderem a Lei Básica, com o incumprimento de novos critérios patrióticos apresentados ontem.

Na base, está a concretização dos princípios “Macau governado pelas suas gentes” e “Macau governado por patriotas” na implementação correcta do princípio “Um País, Dois Sistemas” e a alteração à Constituição da República Popular da China aprovada em 2018 e que acrescentou que “a liderança do Partido Comunista da China é a essência do socialismo com características chinesas”.

Em causa, revelou o presidente da CAEAL, Tong Hio Fong, estão sete novos critérios [ver coluna] elaborados para apreciar, de acordo com a Lei Eleitoral, “a elegibilidade de todos os participantes”.

“Os patriotas devem defender sinceramente a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento do Estado, como também devem respeitar e defender o sistema fundamental do Estado e a ordem constitucional da região administrativa especial, e não podem exercer quaisquer actividades que ponham em risco a soberania, a segurança nacional, que desafiem o poder central a autoridade da Lei Básica da RAEM, que a usem para se infiltrar e destruir a China, entre outras”, resumiu Tong Hio Fong.

Exemplos por dar

Questionado sobre as razões pelas quais os critérios foram divulgados após o término do período de apresentação de candidaturas, o presidente da CAEAL apontou que tudo foi feito de acordo com a lei e que esta atribui “o direito à interpretação” das normas referentes às “inelegibilidades” (Artigo 6º), previstas na Lei Eleitoral. Quanto a exemplos concretos que estiveram na base da exclusão dos candidatos, Tong Hio Fong, referiu não ser conveniente avançar detalhes devido aos procedimentos judiciais e administrativos ainda em curso.

“Através da interpretação da lei elaborámos detalhadamente [os critérios] e, na lei, existe a disposição prevista no número 8 do artigo 6.º [da Lei Eleitoral]. A lei atribui o direito à interpretação desta norma”, explicou o presidente da CAEAL.

“Quanto às provas, durante o nosso processo de apreciação consultámos junto da polícia algumas informações e (…) decidimos, a partir daí, se reuniam o que está previsto [na Lei Eleitoral]. Se [estas provas] envolvem a situação individual do candidato (…) ou eventualmente procedimentos administrativos ou acções judiciais em curso não consideramos conveniente divulgar”, rematou.

Os “factos comprovados” de que os candidatos violaram os critérios, revelou a CAEAL, foram obtidos em ocasiões públicas, através de fotografias ou comentários nas redes sociais. Procurando esclarecer o cenário, Inês Chan, Directora do Gabinete de Comunicação Social, fez questão de sublinhar que criticar ou fiscalizar o Governo local não viola as regras estabelecidas.

“Criticar a governação e as políticas do Governo não viola os critérios. Estamos a falar de uma coisa mais profunda. Por exemplo, [se um indivíduo] participa em acções (…) organizadas por entidades anti China (…) é considerado como não sendo fiel ou [acusado] de não defender a Lei Básica”, referiu Inês Chan.

Futuro incerto

Questionado se os 21 candidatos poderão vir a concorrer a eleições legislativas no futuro, Tong Hio Fong respondeu apenas dizendo que “em cada acto eleitoral a CAEAL vai proceder à respectiva análise”.

Sobre o período temporal a que se referem as informações requeridas ao Gabinete do Secretário para a Segurança, a CAEAL admitiu ter pedido “todas as informações que reúnem o que está previsto na legislação, relacionados com os critérios”.

Recorde-se que 15 dos 21 candidatos excluídos pertencem ao campo democrata, envolvendo os elementos da lista da Associação do Novo Progresso de Macau, encabeçada pelo actual deputado Sulu Sou, elementos da lista da Próspero Macau Democrático, liderada por Scott Chiang e os membros da Associação do Progresso de Novo Macau, encabeçada por outro ex-deputado Paul Chan Wai Chi.

Além destes, os restantes candidatos excluídos pertencem às listas encabeçadas por Cloee Chao (Novos Jogos de Macau), Lee Sio Kuan (Ou Mun Kong I) e Lo Chun Seng (Macau Vitória).

Os candidatos tinham até ontem para suprir quaisquer irregularidades e requerer a substituição de candidatos, mesmo sem saber os fundamentos da exclusão. A CAEAL tem agora dois dias para tomar uma decisão final, havendo ainda a possibilidade de os candidatos levarem o caso ao Tribunal de Última Instância (TUI), no máximo, até ao dia 27 de Julho.

Saída sem beleza

O histórico deputado Ng Kuok Cheong, que nestas eleições se perfilava em segundo lugar na lista liderada por Scott Chiang, afirmou ao HM que as justificações apresentadas ontem foram semelhantes ao conteúdo da carta que notificou da possível desqualificação. Scott Chiang passou o dia no Edifício Administração Pública e cerca das 17h30 foi-lhe facultado a documentação que justifica a desqualificação da candidatura. Sem dar grandes detalhes, Ng Kuok Cheong indicou que estas provas incidem sobre a sua participação em vigílias e pedidos de implementação do sufrágio universal para Chefe do Executivo, incluindo fotos de 2001. “Não conhecia estes novos critérios eleitorais. Isto é a supressão da liberdade de expressão”, comentou o ainda deputado.

Listas | Cloee Clao e Lee Sio Kuan mantêm lideranças

Cloee Chao e Lee Sio Kuan, líderes das listas Novos Jogos de Macau e Ou Mun Kong I, candidatas às eleições legislativas, afirmaram que não vão sair das posições de liderança. Segundo o jornal All About Macau, Lee Sio Kuan disse que ama a pátria e Macau e que defende a Lei Básica. “Porque é que fui desqualificado em vez de toda a equipa? Amo 100 por cento Macau e a pátria, e defendo a Lei Básica.” O candidato adiantou ainda que defende o artigo 23 da Lei Básica, relativo à segurança nacional. Lee Sio Kuan promete ainda recorrer da decisão da CAEAL para o Tribunal de Última Instância. Também Cloee Chao confirmou ao jornal que o primeiro e segundo candidatos não foram substituídos, sendo que a equipa está neste momento a analisar quais serão os próximos passos a adoptar. O representante da lista Aliança para a Promoção da Lei Básica de Macau disse que substituiu dois candidatos desqualificados porque estes não estavam elegíveis para votar.

CAEAL | Ouvintes do Fórum Macau mostram descontentamento

Vários ouvintes do Fórum Macau no canal chinês da Rádio Macau mostraram ontem em directo o seu descontentamento face à desqualificação de candidatos às eleições de Setembro. Cheong, um dos participantes do programa da manhã que dá voz ao público, afirmou que a força política das listas que foram desqualificadas é muito fraca e que não é bom o facto de não existirem opiniões diferentes na sociedade. “Estas vozes são aceitáveis. Macau é um território tranquilo, será que é necessário fazer isto?”, questionou o mesmo ouvinte, citado pelo All About Macau.

Outro ouvinte, de apelido Chao, disse que as definições de “defender” ou “ser fiel” à RAEM e à Lei Básica são “subjectivas”, e que não podem ser usadas como argumento para desqualificar. “Não precisamos do tipo de deputado que apenas recebe rendimentos, em tantos anos na AL, e nunca é uma voz para a população nem faz coisas concretas”, disse.

Sobre os deputados que estão em perigo de voltarem a concorrer à Assembleia Legislativa, Ng Kuok Cheong e Sulu Sou, Chao defendeu que “dão voz à população” e que “não há deputados tão trabalhadores como eles”. O residente terminou a sua participação a confessar que se sente triste.

Por sua vez, Wong referiu que não acredita na independência dos tribunais e que o campo pró-democracia não tem qualquer efeito prático na política local. “Parece que o Governo tem medo deles e quer erradicá-los. Os tribunais também obedecem ao partido?”, questionou.

Associações | Wu Zhiliang crê em campanhas sem fundos públicos

O presidente do Conselho de Administração da Fundação Macau, Wu Zhiliang, afirmou no domingo que as entidades beneficiárias de apoios da fundação foram recordadas de que não podem gastar dinheiro público em actividades relacionadas com as eleições. Além disso, o responsável declarou acreditar que os beneficiários de apoios compreendem as regras a que estão obrigados e que as cumprem conscientemente. Wu Zhiliang disse ainda ter recebido garantias de associações de que não vão utilizar fundos em acções relacionadas com a campanha eleitoral. Além disso, garantiu que a Fundação Macau reforçou a supervisão do uso dos fundos que atribui.

Francisco José Leandro, académico da Universidade Cidade de Macau: “Tenho óptimas referências do Fórum”

“China and portuguese speaking Small Island States: From sporadic bilateral exchanges to a comprehensive multilateral platform” é o nome do livro que acaba de ser lançado pela Universidade Cidade de Macau e que olha para Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste como os Estados insulares, falantes de português, aos quais nunca foi dada muita atenção, mas que representam um enorme potencial. Nesta equação, não só a China é parte interessada, mas também Macau

 

Falemos deste conceito de Estados insulares, falantes de português que, de certa forma, são diferentes dos outros países de língua portuguesa, sobretudo a nível sócio-económico. Até que ponto estes Estados têm esta capacidade de entrar nas parcerias com a China?

São Estados vulneráveis, fazem parte da ONU, têm programas de apoio especiais. Partimos dessa ideia de, no contexto da língua portuguesa, quais seriam os Estados que estão nesta condição? São três [Timor-Leste, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe]. Quisemos perceber o que têm em comum, pois todos eles têm uma história comum e qualquer coisa de especial na sua localização.

Em que sentido?

Começando por Timor, é um Estado muito jovem que está ainda à procura do que irá ser o seu projecto económico em termos de sustentabilidade. O seu processo de adesão à ASEAN é decisivo e vital para o país. Toda a sua integração regional faz-se com dois grandes parceiros, que é a Indonésia e a Austrália, e depois com uma presença da China, que neste contexto é particularmente interessante.

Porquê?

Na mesma latitude aparece o Estreito de Torres, que é muito importante em todo o balanceamento da navegação comercial entre os oceanos Pacífico e Índico, porque a alternativa para o Estreito é pela rota do sul, dos pólos, muito morosa e cara.

Esta obra fala também de São Tomé e Príncipe.

É importante por várias razões, sobretudo pela localização. Muita gente fala em São Tomé por causa do petróleo, mas acho que não é muito relevante, ou pelo menos não o será nos próximos anos. A questão decisiva é São Tomé no contexto do Golfo da Guiné. A questão dos acessos aos mercados e novos corredores económicos que se desenvolvem em torno dos Camarões, Nigéria.

Decisivo em que sentido?

No Golfo da Guiné a quantidade de portos de água profunda é muito reduzida. Essa é a oportunidade que São Tomé poderá explorar através do investimento chinês no porto de águas profundas no norte. São Tomé pertence a uma série de organizações internacionais. Já há cooperação entre São Tomé e a Nigéria, mas aquilo que acho que ainda falta muito trabalhar é a questão do combate à pirataria. São Tomé tem a localização perfeita para isso, não tem é os meios. Isso permitia a exploração das rotas marítimas naquela zona de forma mais segura, diminuindo os custos de navegação e de seguros.

Aos olhos da China há diferenças a nível de interesses entre Timor-Leste e estes Estados insulares em África? Timor é mais importante por uma questão de proximidade e por ser membro candidato da ASEAN?

Em relação a Timor, a China tem vários tipos de interesse, pois é um país que tem neste momento um plano de desenvolvimento muito ambicioso. Estão a construir novos portos e aeroportos, novos centros para maximizar a capacidade que o país deve ter em relação ao petróleo e gás natural. Há investimentos em infra-estruturas que são fundamentais. Mas há um quadro de presença e de acesso aos mercados. Em São Tomé a ideia é mais abrangente.

Como?

É todo o Golfo da Guiné, com uma presença através dos investimentos, e depois tudo o que os investimentos acabam por gerar. Se vier a ser construído este porto em Fernão Dias, há depois uma série de actividades adjacentes e uma série de interesses que se vão desenvolvendo. A mesma coisa em relação a Cabo Verde. Cabo Verde tem uma localização interessante porque, do ponto de vista do acesso marítimo e aéreo, é uma espécie de porta aviões na costa ocidental de África ao Estreito de Gibraltar e no acesso ao Canal do Panamá.

Cabo Verde é um país mais desenvolvido.

Sim, e está muito bem no Índice de Desenvolvimento Africano. Tem uma estrutura de governação muito mais sólida e consistente. Cabo Verde, neste momento, já faz planos, e tem a generalidade da população com um maior índice de educação mais elevado, o que permite tirar outro tipo de sinergias desses acordos, porque há quadros qualificados. São Tomé não tem grandes possibilidades de fazer uma gestão moderna de um grande porto, vai precisar de mão-de-obra estrangeira. Estes três Estados insulares têm semelhanças entre eles, mas depois são diferentes relativamente ao seu desenvolvimento, estrutura de governação e sistema político, embora seja muito parecido.

A China tira partido dessas diferenças.

A China faz uma coisa pragmática, não tem um modelo que impõe a todos. Aliás, não há nada que se imponha, é muito flexível. O que a China faz, faz muito bem, mas o que falta aqui não é mérito da China, mas sim dos países de língua portuguesa. A China sabe exactamente o que quer destas cooperações, mas porque estes países estão em vias de desenvolvimento ou são muito jovens, nem todos têm os objectivos nacionais classificados de forma consistente.

E a China tem sempre os seus objectivos bem definidos, é um grande contraste.

Sim. É sempre fácil dizer que o problema é da China, mas não é. Estamos numa negociação muito assimétrica em termos de recursos, mas mesmo assim o que me parece essencial é que as partes, estes três Estados, tenham a capacidade de se auto-determinarem daquilo que para eles é importante, para depois usarem isso no contexto das relações bilaterais.

Macau tem capacidade para entrar neste jogo de investimentos, nomeadamente através do Fórum Macau? Há espaço para as relações bilaterais ou cria-se uma plataforma multilateral, como o nome do livro indica?

As duas coisas. O Fórum Macau é um instrumento político da cooperação chinesa. Há canais bilaterais que não passam pelo Fórum, mas isso é natural. O Fórum Macau é um complemento dos canais bilaterais. As pessoas criticam imenso o Fórum Macau mas eu tenho óptimas referências do Fórum, e acho que aquilo que eles fazem, fazem-no bem. Exploram aquilo que é deixado pelas relações bilaterais. Creio que a negociação do porto Fernão Dias em São Tomé será conduzida numa lógica bilateral, mas há imensas coisas que aparecem associadas a este projecto, que envolvem outro tipo de actores, e o Fórum Macau pode dar uma ajuda. O Fórum Macau foi constituído em 2003, mas na realidade só ficou constituído por volta de 2017, 2018.

Isso porquê?

Houve uma série de dificuldades ao nível dos representantes [dos países]. São Tomé só nomeou o seu representante a partir de 2017, 2018. Portugal nunca teve um representante e tem agora desde 2018, e o Brasil também nunca teve, tem agora. Na realidade, o Fórum como foi pensado tem dois anos de existência. O Fórum vive das conferências ministeriais, e a sexta cimeira não se sabe quando vai acontecer devido à pandemia. É muito injusto criticar o Fórum e dizer que não serve. Houve uma série de coisas que aconteceram que não são culpa do Fórum mas circunstâncias políticas que têm de ser respeitadas no contexto da soberania dos Estados.

Para que serviram então os primeiros anos do Fórum Macau?

Falamos de uma organização cuja base é chinesa e cujos representantes são de Estados soberanos. No contexto dos Estados soberanos não há outra organização como o Fórum. As organizações precisam de tempo para amadurecerem e criarem relações de confiança. A instituição do Fundo do Fórum é uma coisa relativamente nova que não correu muito bem, e estávamos à espera da sexta cimeira que ainda não aconteceu. Mesmo em Portugal, quem sabe da existência do Fórum Macau? Meia dúzia de pessoas. O Fórum é um mecanismo importante para a China e Portugal, e a prova é que todos os países de língua portuguesa estão representados no Fórum.

Mas e o papel de Macau neste contexto?

Nesta via bilateral e complementar do Fórum, Macau tem o seu nicho. Macau não tem capacidade soberana, porque não é um Estado, nem económica para grandes investimentos. Mas o que está a acontecer em Cabo Verde, com o investimento de David Chow, é um bom exemplo. Investe num nicho criado pelas relações bilaterais. As relações entre Portugal e a China passaram por várias fases, e entre 1999 e 2003 não aconteceu nada. A partir daí o Fórum é extremamente importante. No caso de Portugal é complexo porque há uma tradição europeia e de alinhamento com os EUA, e a China é um parceiro importante, e Portugal tem de arranjar aqui um equilíbrio. Os países de que falamos também têm este tipo de problemas. Cabo Verde tem uma relação muito integrada na comunidade ocidental africana, e talvez o país mais atrasado seja São Tomé em termos de integração na sua região. Mas Timor tem a lógica da Austrália e Indonésia, e agora procura a China, para obter equilíbrio. Por exemplo, a aquisição dos equipamentos militares é feita aos três, é o melhor interesse diplomático.

As fraquezas destes Estados insulares não os vão tornar mais dependentes da China?

Todos os Estados são dependentes de outros. Posso arranjar equilibrios nessas dependências, mas para isso preciso de saber o que quero. Nestes processos de desenvolvimento estes países têm de ter cuidado e não se adjudicarem a uma única solução. Cabo Verde, por exemplo, tem óptimas relações com os EUA, com a União Europeia. Timor tem óptimas relações com a Austrália, ainda tem algumas tensões com a Indonésia, porque não há-de ter relações com a China? O país com uma situação mais complicada é São Tomé, que está numa situação de auto-isolamento há muitos anos, com o sistema de partido único, em que praticamente só se relacionou com Angola. Falamos de três países que até foram menosprezados no seu potencial. Olhamos sempre para grandes potências, como Angola, por causa dos recursos. Mas veja-se o que aconteceu: tem um problema, que é a diversificação.

Só tem o petróleo.

Sim.

Que expectativas tem para a próxima conferência ministerial do Fórum?

Há uma tendência que o Fórum está a seguir, e bem, que é a seguinte: no princípio estava inteiramente dedicado à questão do comércio e economia, e agora está a abrir-se a cooperações a outras áreas, como a cultura, a educação e a ciência. As coisas estão associadas.

Hong Kong | Detidos suspeitos de ligações a grupo acusado de planear ataques terroristas

A polícia de Hong Kong deteve hoje cinco suspeitos de estarem associados às nove pessoas detidas na passada semana acusadas der “fazerem bombas num hotel” e “planearem ataques terroristas em espaços públicos”, segundo as forças de segurança.

Os detidos, quatro homens e uma mulher, ainda não foram formalmente acusados e estão detidos em diferentes esquadras de polícia, avançou o jornal local South China Morning Post (SCMP), que cita fontes policiais. As detenções foram efetuadas pela Divisão de Segurança Nacional.

Na segunda-feira da semana passada, a polícia deteve nove pessoas, incluindo seis estudantes do ensino secundário, que formaram um “grupo organizado” e tinham reservado um quarto de hotel como “laboratório para fazer explosivos”, segundo o superintendente da Divisão de Segurança Nacional, Li Guihua.

Os detidos tinham planeado atacar no início deste mês na cidade e fugir do território depois disso, disse Li. As detenções foram efetuadas ao abrigo da Lei de Segurança Nacional, que prevê penas de prisão perpétua para casos de secessão, subversão, terrorismo ou conluio com forças estrangeiras.

Taça do Mundo | Macau tem até ao final de Agosto para responder à FIA

Na quinta-feira passada, o Conselho Mundial da FIA anunciou que a Taça do Mundo de GT da FIA vai voltar a ser disputada no Circuito da Guia, dentro do programa do 68.º Grande Prémio de Macau, com a condição que haja um relaxamento nas actuais restrições de entrada de estrangeiros no território

 

“A data, o local e a regulamentação desportiva para a Taça do Mundo FIA de GT de 2021 foi aprovada, com o evento a regressar ao Circuito da Guia em Macau de 17 a 21 de Novembro”, é possível ler no comunicado emitido pela FIA.

O mesmo comunicado diz que “o evento apenas terá lugar caso seja eliminada previamente a obrigatoriedade de quarentena à chegada a Macau”. E sobre isto, a comunicação vai ainda mais longe, pois “foi acordado um prazo para tal entre a FIA e a Autoridade Desportiva Nacional local, a Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC).”

A federação internacional não revelou o prazo limite dado às entidades de Macau, mas segundo uma nota informativa disponibilizada aos pilotos, equipas e partes interessadas, pela SRO Motorsport Group, os co-organizadores da corrida, este será no final do próximo mês: “caso as restrições nas viagens ainda estejam em vigor aquando o fim das inscrições a 31 de Agosto (e não existir uma data confirmada para o seu relaxamento), a Taça do Mundo de GT da FIA talvez poderá não se realizar em 2021”.

Organizada em Macau desde 2015, a Taça do Mundo esteve marcada para Macau no calendário internacional em 2020, mas foi cancelada devido às restrições provocadas pela crise sanitária em curso. Porém, a Taça GT Macau, precursora da Taça do Mundo e que se realiza ininterruptamente desde 2008, voltou a disputar-se com a presença de pilotos locais. O chinês Ye Hongli venceu a corrida ao volante de um Mercedes-AMG GT3 Evo. Maro Engel (Mercedes), Laurens Vanthoor (Audi), Edoardo Mortara (Mercedes), Augusto Farfus (BMW) e Raffaele Marciello (Mercedes) foram os pilotos que se sagraram vencedor da Taça do Mundo nas edições anteriores.

O Conselho Mundial da FIA da pretérita semana não fez qualquer referência às outras Taças do Mundo agendadas para Novembro na RAEM: Fórmula 3 e Turismos. Contudo, é expectável que na data limite estipulada para a Taça do Mundo de GT da FIA, o órgão máximo que rege o desporto automóvel vá também decidir o que fazer com estas duas competições. Há um sentimento de confiança sobre um regresso a Macau dentro do paddock do Campeonato FIA de Fórmula 3, com os intervenientes praticamente todos vacinados desde o início da época, e sujeitos a um rigoroso sistema de testagem e controlo nas provas até aqui realizadas em conjunto com a Fórmula 1.

Porta volta a abrir-se aos amadores

Caso a Taça do Mundo de GT da FIA avance, esta terá o mesmo formato de 2019, com uma Corrida de Qualificação de 12 voltas, no sábado, e que decidirá a grelha de partida para a corrida de 16 voltas, no domingo, que irá atribuir o troféu. As inscrições vão abrir no final do mês e encerram a 31 de Agosto. Os interessados deverão pagar um depósito de 2,500 euros e, caso sejam aceites, o preço de inscrição na prova é de 10,000 euros.

A maior novidade é que a Taça do Mundo de GT da FIA voltará a aceitar a participação de pilotos categorizados pela FIA como “Bronze”, que na sua grande maioria são pilotos amadores, mais velhos e sem resultados de vulto nas principais competições internacionais. Esta medida vai de encontro à vontade de muitos “Gentleman Drivers” da região de quererem participar numa prova que na realidade foram eles que ajudaram a construir. Por outro lado, esta medida deverá permitir que o número de concorrentes nesta corrida volte a ser acima das duas dezenas, algo extremamente difícil de conseguir apenas com pilotos profissionais.

Caso o Governo da RAEM e as autoridades de saúde optarem pelo não relaxamento das medidas actualmente em vigor, então a Taça do Mundo de GT da FIA deverá novamente dar lugar à Taça GT Macau, com a possibilidade do regresso dos concorrentes do Campeonato da China GT, competição que tem a sua prova final calendarizada para Macau.

Tailândia | Restrições reforçadas incluindo recolher obrigatório em Banguecoque

A Tailândia vai impor novas restrições face a um pico epidémico sem precedentes desde o aparecimento da covid-19, incluindo um recolher obrigatório noturno em Banguecoque, anunciaram sexta-feira as autoridades.

A partir de segunda-feira, “as deslocações desnecessárias estão proibidas. As pessoas não poderão sair de casa entre as 21:00 e as 04:00, excepto em caso de necessidade”, declarou Apisamai Srirangson, porta-voz adjunto do grupo de trabalho da covid-19.

Estas medidas dizem respeito aos 10 milhões de habitantes da capital tailandesa, mas também aos de nove outras províncias. A Tailândia registou um recorde de 72 mortes e 9.276 casos de infecção nas últimas 24 horas.

“Pedimos desculpa pelas dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem em áreas com as maiores restrições, mas isso permitirá combater efectivamente a doença. A Tailândia sairá vitoriosa”, acrescentou o porta-voz.

O teletrabalho é encorajado e estão proibidas as concentrações de mais de cinco pessoas. Os transportes públicos não funcionam a partir das 21:00 e os centros comerciais encerram às 20:00.

Devido às restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, a Tailândia registou em 2020 os seus piores resultados económicos desde a crise asiática de 1997.

Abertura em causa

Há vários meses que o número de casos tem vindo a aumentar e o governo tailandês é criticado pela lentidão do seu plano de vacinação, pela fraca capacidade de testagem e pela má gestão da economia.

As novas medidas surgem numa altura em que o país tenta reabrir as suas portas aos viajantes internacionais. O turismo representa quase um quinto da economia do reino e antes do encerramento das fronteiras, em Março de 2020, cerca de 40 milhões de pessoas viajavam para a Tailândia anualmente.

No mês passado, o governo tailandês anunciou a intenção de reabrir o país aos visitantes completamente vacinados em Outubro.

O Benfica é enorme

Qualquer português que não seja do Benfica tem a maior consideração e admiração pela obra que muitos presidentes do clube foram edificando, o que é o meu caso. A história do Benfica é quase infinita, incontornavelmente digna. Conquistou miúdos, adolescentes e adultos. Começaram a jogar futebol num campo em que as poucas bancadas eram de madeira. O clube foi tendo adeptos, simpatizantes, sócios e dirigentes. Os jogadores que chegaram a praticar o melhor futebol de Portugal foram engrandecendo o Benfica. Conquistaram campeonatos, taças, torneios. Taças internacionais de campeões. Entre os muitos, José Águas, Simões, Costa Pereira, Neto, Cavém, Ângelo, Cruz, Coluna, Soeiro, Germano, José Augusto, Torres e tantos outros, apareceu um miúdo moçambicano que chegou a melhor do mundo. O Eusébio ofereceu ao Benfica a fama, o prestígio, a genialidade e a vitória. Eusébio deixou pelo mundo golos fenomenais. Eusébio engrandeceu o nome de Portugal pelos cinco continentes.

O Benfica foi crescendo, teve o maior estádio do país, encheu o velho estádio da Luz para festejar a Taça dos Campeões. Criou uma academia de formação de jovens. O seu historial é grandioso, os benfiquistas chamam-lhe “glorioso” e hoje é uma marca mundial de excelência. E por que razão estou a falar do Benfica? Porque me lembrei da confusão, especulação, acusação e detenção de que foi alvo o presidente do Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa. As televisões andaram mais de uma semana a falar de fraudes, burlas, frutas, crime que o presidente portista teria cometido. No final, assistimos à absolvição total. Pois, esta semana, o circo repetiu-se, desta feita com o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira. A comunicação social enlouqueceu e ficou em histerismo total, com repórteres à porta de casa do presidente do Benfica, na garagem, no estádio da Luz, à porta da polícia, à porta dos amigos do presidente benfiquista, uma vergonha tudo o que se assistiu baseado em especulações e suspeitas.

Anunciam que Luís Filipe Vieira cometeu fraudes, burlas, fugas ao fisco, negócios ilegais de imobiliário, uso dos dinheiros do Benfica, só faltou anunciarem que Vieira tinha já vendido o Estádio da Luz. Luís Filipe Vieira foi sempre toda a vida um homem de negócios. Os benfiquistas sempre souberam isso e elegeram-no seis vezes como presidente do clube. Nos seus negócios pode ter cometido irregularidades, mas há muitos anos que se assistia a uma actividade obscura de certos indivíduos que pretenderam sempre destituí-lo do cargo.

No entanto, que não se misture nunca a grandiosidade do Benfica com a pessoa ou pessoas que dirigem o clube e que devido ao incumprimento da lei deverão abandonar as suas funções no clube. Luís Filipe Vieira tem tido negócios como tantos empresários e alguns deles banqueiros que gozam da liberdade porque sabem tudo acerca das centenas de cidadãos que corromperam. Vieira pode ter estado ligado ao BES, ao Ricardo Salgado, ao Novo Banco, ao “rei dos frangos”, a António Costa ou Mário Centeno, a centenas de outros empresários. A verdade é que durante a semana não se falou em outra coisa: na detenção de Luís Filipe Vieira e muito especialmente, persistindo-se na ideia de que o presidente já não tem condições para exercer o cargo. Ora aqui está o busílis da questão. Temos em Portugal milhares de traficantes, de meliantes, de assaltantes, de negociadores vigaristas, de ladrões e que são do conhecimento das autoridades. O que se lamenta é que as polícias queiram dar nas vistas e autopromoverem-se prendendo de vez em quando alguns nomes sonantes, a fim de passar a ideia ao povo de que actuam sem discriminação, que tanto o pobre como o rico são tratados por igual. E isso, não é verdade. Já prenderam José Sócrates? Já prenderam Ricardo Salgado? Já prenderam Arlindo Carvalho? Já prenderam António Mexia? Já prenderam Zeinal Bava ou Henrique Granadeiro? Já prenderam Moniz da Maia? Já prenderam Nuno Vasconcellos?

Já prenderam Gama Leão? Já prenderam outros presidentes de clubes de futebol? Já prenderam os responsáveis da construção do autódromo do Algarve? Poeira para os olhos é que não admitimos…

A detenção rápida na quarta-feira passada do presidente do Benfica não foi um acto inocente. Sabemos que estão muitos milhões de euros envolvidos nos negócios de Vieira, quer em Portugal ou no Brasil onde usou saques de bancos a que agora é acusado de dever. Sabemos das dívidas que Vieira tem ao Novo Banco. Sabemos que os fundos abutres americanos tentaram salvar ou afundar ainda mais Luís Filipe Vieira. Agora, a preocupação principal de certos grupos, não só de benfiquistas, traduzir-se no afastamento de presidente do Benfica leva-me a retornar ao pensamento sobre o presidente do Futebol Clube do Porto que andou nestas mesmas andanças no seio das televisões e seus comentadores, alguns bons canalhas. O tribunal decidiu que os arguidos fossem em liberdade sob o pagamento de caução e o vice-presidente do Benfica, Rui Costa, uma das glórias futebolísticas assumiu a presidência do clube.

O Benfica continuará a ser grande. O clube irá ao longo dos anos ter novos presidentes. A sua SAD terá que continuar com os negócios de compra e de venda de jogadores. Contudo, ninguém poderá acusar Luís Filipe Vieira que nada fez pelo Benfica ou que enriqueceu à custa do clube. Aconteça o que acontecer ao presidente Vieira, este ficará na história do clube pela obra que levou a cabo, naturalmente com uma página negra se se confirmar que usou o dinheiro do Benfica para os seus negócios pessoais.

*Texto escrito com a antiga grafia

Água para incêndios

O aumento da população de Macau em meados do século XIX levou a problemas com a água, poluída que estava a Ribeira do Patane, (inicial local de abastecimento da população e de aguada para os barcos), servindo-se os habitantes na sua maioria da dos poços públicos e da água da Fonte do Lilau que, apesar de não ser tratada, era boa para beber e onde os aguadeiros se abasteciam. Muitos donos de propriedades mandaram então abrir poços, sendo a água da maior parte deles de fraca qualidade. Já a da chuva, que num clima tropical cai torrencial, era nos pátios recolhida em grandes potes, colocados sob a junção dos telhados. Nos incêndios no Bazar, a água do Ribeira do Patane e do Rio Oeste era utilizada para complementar a dos poços próximos do fogo.

O Governador José Maria da Ponte e Horta (1866-1868) a 27 de Dezembro de 1866 por Portaria n.º 45 nomeava o Major Comandante do Corpo de Polícia de Macao Bernardino de Senna Fernandes como Inspector de Incêndios, cargo que exercia já antes de 1862 e por Portaria n.º 46 determinava: Cumprindo-me organizar quanto em mim caiba e como melhor for, o serviço respectivo à extinção dos incêndios na colónia de Macau: hei por conveniente determinar que o Sr. inspector dos fogos inspeccione incontinente todos quantos poços assim públicos como particulares existirem na cidade, informando-se por sua própria inspecção e visita da quantidade d’ água aproximada que esses poços oferecerem, devendo de tudo isso dar-me minuciosa conta, e bem assim ordeno que as lojas maiores do bazar tenham permanentemente uma barrica d’ água em reserva, a qual deverá ser mudada todos os três dias por conta dos inquilinos. E que servirá para com ela se ocorrer às primeiras necessidades dos incêndios, quando estes se manifestarem nas vizinhanças dessas mesmas lojas: e determino também que nos cantos d’alguma das ruas do bazar, n’aquelas ao menos onde a água for mais escassa existam depósitos do mesmo líquido, que servirão para o mesmo fim, e que ficarão inteiramente sob a vigilância da polícia. Outro sim tenho por conveniente ordenar que o Sr. inspector dos fogos passe uma revista cuidadosa a todas as bombas da cidade, a fim de se informar do seu número e estado, da gente que as guarnece, da quantidade de baldes que as completam, do nome dos seus chefes, e enfim de género de responsabilidade que actualmente cabe a quem dirige e superintende o trabalho de cada uma d’essas bombas: devendo o mesmo sr. inspector instruir-me se convirá, acaso, o pôr à testa de cada bomba da cidade, um empregado seu que entenda o chinês, ou se por meio de um alistamento regular, e com penalidades, se logrará obter que cada bomba desempenhe com todo o seu pessoal o trabalho que lhe for determinado no momento do incêndio. Outro sim determino que o sr. inspector dos fogos auxiliando-se para esse fim da polícia, se tanto for necessário, faça visitas domiciliárias aos estabelecimentos industriais do bazar, e procure remover do centro da população china para outros pontos da cidade mais afastados, ou menos povoados, aquelas indústrias que reconhecidamente forem tidas por perigosas, e isto a bem do grande número de cidadãos chineses que actualmente habitam o centro do bazar. Ordeno também, que o sr. inspector dos fogos, logo que rebente algum incêndio em qualquer ponto da cidade mande imediatamente franquear por via da polícia, que ficará responsável pela segurança da propriedade dos cidadãos, aquelas lojas ou edifícios particulares da vizinhança do lugar atacado, onde existirem poços ou depósitos d’água, que possam servir no abastecimento das bombas, empregadas no trabalho da extinção do incêndio.

Determino mais, que o sr. inspector dos fogos organize, sem demora, uma brigada de homens de machado e de grampos, destinada a operar com prontidão nos casos em que seja necessário isolar, pela força, os edifícios atacados d’aqueles que se lhe acharem contíguos ou mui próximos; devendo a mesma autoridade aproveitar-se para este fim dos elementos que já hoje a colónia oferece com relação a este ponto>, Boletim Oficial de 31 de Dezembro de 1866.

Melhoramentos

A 19 de Fevereiro de 1868, o Inspector de Incêndios seguindo essas directivas apresentava o relatório ao Governador e antes, já entregara outro sobre o número de poços e de bombas para apagar os fogos, referindo agora Senna Fernandes: . Mandei assinalar as lojas que tinham poço com uma tabuleta afixada na parte exterior, a indicar haver ali água para se recorrer em caso de incêndio.

Entre as lojas que não haviam contribuído para a compra de bombas, que as lojas do Bazar têm a expensas suas, mandei fazer com o produto de uma subscrição voluntária um certo número de . Mandei reparar as bombas avariadas e . O prémio estabelecido pelo governo para as duas primeiras bombas a comparecer no lugar do incêndio, é um poderoso incentivo para apressar ao lugar do sinistro o principal meio para o extinguir.

Pago pela Fazenda havia apenas um empregado para cuidar das bombas e mais objectos pertencentes à repartição, falta suprimida por voluntários paisanos que se têm prestado a dirigir o trabalho das bombas na ocasião d’ incêndio, sendo Fermino Machado o mais assíduo a prestar este serviço.

Não só as bombas da Fazenda mas também as do Bazar e San-Kio usam acudir ao incêndio, dando-se o sinistro em qualquer ponto da cidade; e as bombas pertencentes às lojas chinesas são transportadas e trabalhadas pelos serventuários das mesmas lojas; por isso julguei conveniente mandar pôr um distintivo na cabaia, chapéu e lanterna dos dependentes de todas as lojas, a fim de os poder distinguir de outros chineses que não têm quem os garanta; e que por conseguinte são excluídos do lugar do incêndio ou presos em tais ocasiões, não trazendo o distintivo por mim dado.

Com prévia autorização de V. Exa., ordenei a todas as lojas do Bazar para que tivessem um dependente seu, armado, e postado na porta da rua durante o incêndio; e este expediente tem concorrido muito para evitar roubos, e para manter a ordem e sossego público, ficando por este modo o Bazar bem guardado e bem policiado.

Vendas de automóveis na China sobem 27 por cento

As vendas de automóveis na China aumentaram 27 por cento no primeiro semestre de 2021, face ao homólogo, mas continuam abaixo dos níveis pré-pandemia, e a produção e as vendas caíram em Junho, devido à escassez global de ‘chips’ para processadores.

Segundo a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis, as vendas de veículos utilitários desportivos, `minivans` e `sedans` no maior mercado automóvel do mundo subiram para 10 milhões de unidades, no período entre Janeiro e Junho.

As vendas totais de veículos, incluindo camiões e autocarros, aumentaram 25,6 por cento, em relação ao ano anterior, para 12,9 milhões de unidades.

Em comparação com os níveis pré-pandemia, referentes a 2019, as vendas de veículos de passageiros caíram 1,4 por cento, no primeiro semestre, segundo a mesma fonte. As vendas totais de veículos caíram 4,4 por cento.

A produção de veículos de passageiros caiu 13,7 por cento, em Junho passado, em relação ao ano anterior, enquanto as vendas caíram 11,1 por cento para 1,6 milhão de unidades. As vendas revelaram uma “queda óbvia depois de Maio”, disse a Associação, em comunicado. “Os veículos de passageiros foram principalmente afectados por um fornecimento insuficiente de ‘chips'”, justificou.

Alta voltagem

A procura por automóveis da China já estava a enfraquecer devido à insegurança dos consumidores sobre a desaceleração do crescimento económico e a guerra comercial com os Estados Unidos, antes de as concessionárias encerrarem, no primeiro trimestre do ano passado, para combater o surto do novo coronavírus.

A actividade económica da China recuperou relativamente cedo, depois de o Partido Comunista ter declarado vitória sobre o vírus, em Março de 2020.

Mas as vendas de veículos caíram 22,4 por cento, no primeiro semestre de 2020, estabelecendo uma base baixa de comparação homóloga. As vendas anuais caíram em 2020 pelo terceiro ano consecutivo.

A queda nas vendas é um golpe para as fabricantes globais, cujo aumento das receitas depende do mercado chinês, face a crescimentos anémicos nos Estados Unidos e na Europa. Fabricantes globais e chinesas estão a gastar milhares de milhões de dólares no desenvolvimento de veículos eléctricos para cumprir as quotas de vendas estipuladas por Pequim.

A procura este ano foi impulsionada pelas vendas de veículos híbridos, embora ainda representem uma fracção do total. As vendas de eléctricos, no primeiro semestre de 2020, aumentaram 200 por cento para 1,2 milhão de unidades, mas a procura também está a cair, de acordo com a Associação. O crescimento das vendas em Junho desacelerou para 140 por cento, fixando-se em 256.000 veículos.

As vendas de automóveis de passageiros por marcas chinesas no primeiro semestre de 2020 aumentaram 46,8 por cento, em relação ao ano anterior, para 4,2 milhões de unidades. A sua participação de mercado aumentou 5,7 por cento, para 42 por cento.

UM | História e cultura chinesas contadas através da banda desenhada 

Chamam-se “Chang’e Voa para a Lua”, “Nüwa Conserta o Céu” e “Jingwei Enche o Mar” e conta, em português, inglês e chinês, pedaços da história e cultura chinesas. Estas publicações são da responsabilidade da Universidade de Macau e foram apresentadas na sexta-feira na Escola Oficial Zheng Guanying

 

O Centro de História e Cultura da China (CCHC) e o Centro de Ensino e Formação Bilingue Chinês-Português (CPC), da Universidade de Macau (UM), acabam de lançar livros de banda desenhada em três línguas e que visam promover a história e cultura chinesas. Os livros, intitulados “Chang’e Voa para a Lua”, “Nüwa Concerta o Céu” e “Jingwei Enche o Mar” fazem parte da colecção “Histórias aos Quadradinhos inspiradas na Cultura Chinesa” e contam os mitos, lendas e história da China.

Depois da publicação, em 2018, dos livros “Chang’e Voa para a Lua” e “Nüwa Conserta o Céu”, a UM lança agora estas três obras, cuja tradução visa “incentivar o conhecimento e a compreensão da cultura chinesa entre os jovens de Macau e dos países de língua portuguesa”. Com estes livros, a UM pretende também “que os jovens conheçam a diversão, a sabedoria e a cultura dos mitos chineses antigos e que aprendam a história e cultura chinesa”, além de possibilitar “a aprendizagem do português pelos estudantes de Macau na forma simples de histórias em banda desenhada”.

Estas obras foram apresentadas na última sexta-feira numa instituição de ensino que constitui um exemplo do ensino em várias línguas, a Escola Oficial Zheng Guanying. A actividade visou proporcionar “o acesso à cultura tradicional chinesa a mais alunos, permitindo-lhes conhecer mais sobre mitos e lendas”.

Teatros e outras histórias

A UM conta, em comunicado, que esta actividade na Escola Oficial Zheng Guanying incluiu também a teatralização dos contos incluídos nos livros, além de ter sido organizado um concurso de tradução chinês-português baseado nas lendas e mitos contados nestas obras.

Chan Ka Man, directora da instituição de ensino não superior, disse que “este tipo de actividade se encaixa nas tarefas de leitura actualmente organizadas pela escola para os estudantes do terceiro ano”, permitindo “que os estudantes fiquem a saber mais sobre os mitos e as histórias antigas, ao mesmo tempo que cultiva bons hábitos de leitura e o gosto pela mesma”.

Os dois centros da UM têm como objectivo “promover o desenvolvimento do ensino das ciências humanas e sociais em Macau e formar jovens talentos através de uma série de programas de ensino e formação, em colaboração com instituições de ensino e escolas primárias e secundárias de Macau”.

Além disso, o trabalho desenvolvido pelo CCHC visa “reforçar o estudo da história e cultura chinesas”, bem como “construir um mecanismo avançado para o seu intercâmbio, que permita a divulgação destas na comunidade de Macau e internacionalmente, especialmente entre jovens”.

Outro foco deste centro é “aprofundar a divulgação e a influência da história e cultura chinesa nos países e regiões de língua portuguesa, de forma a aumentar o conhecimento e compreensão das mesmas”.

Animais | Associações em difícil situação financeira 

A ANIMA começa hoje uma nova campanha de recolha de fundos, em princípio até ao final do ano, que inclui sorteios com prémios. Ao HM, Albano Martins, presidente honorário da associação, conta que os fundos vão servir para a associação pagar as contas a partir de Setembro, depois do apoio da Fundação Macau. “Esta campanha é para tentar dar uma ajuda à ANIMA e ver se conseguimos ainda outros fundos.”

Ainda assim, Albano Martins referiu não estar “confiante de ter apoio dos casinos”. “No ano passado ficou provado que os casinos vinham reduzindo substancialmente os apoios. Numa situação normal tínhamos mais de 2,5 milhões de apoio dos casinos, e no ano passado tivemos, no total, entre 400 a 500 mil patacas. A situação do jogo não alimenta grandes esperanças à ANIMA”, acrescentou.

Também Fátima Galvão assegura que a Masdaw está “numa situação financeira péssima”. “Nós nem apoios temos, a não ser das pessoas que gostam de animais. A nossa situação está muito má. Temos mais de 700 mil patacas de défice. Vamos ter de fazer campanhas de recolha de fundos e estamos a preparar eleições, que vão ser em breve. A nova direcção de certeza que vai entrar com muita vontade de trabalhar e de lutar pela melhoria das condições de vida dos animais, sobretudo dos cães”, rematou.

Covid-19 | Preços do transporte aéreo de animais duplicaram

Nos dias que correm, quem quer viajar a partir de Macau com animais de estimação pode pagar cerca de 100 mil dólares de Hong Kong. Associações como a ANIMA e a Masdaw dão algum apoio e dizem que os preços quase duplicaram

 

A pandemia da covid-19 e as restrições de viagens levaram a um enorme aumento do custo de transporte aéreo de um animal, o que faz com que muitas pessoas permaneçam em Macau à espera de melhores tempos para viajar e melhores preços. O alerta é dado por dois dirigentes de associações de defesa dos direitos dos animais. Albano Martins, presidente honorário da ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais de Macau, é uma dessas pessoas.

“Com as fronteiras fechadas as coisas tornam-se extraordinariamente difíceis. Temos casos de muitas pessoas que querem ir-se embora com os seus animais, eu sou uma dessas pessoas. Não consigo transferir os meus animais e por isso ainda estou em Macau, à espera de uma janela de oportunidade para usar o aeroporto de Hong Kong.”

Se já é difícil viajar no geral, com animais “as coisas tornam-se quase impossíveis”, disse Albano Martins ao HM. “O transporte tornou-se extraordinariamente caro, e a saída de um animal custa hoje provavelmente o dobro do que numa situação normal. Isto por causa da pandemia, das restrições, dos custos das viagens. Se levarmos um animal como bagagem acompanhada pagamos menos, se levarmos como carga chega-se a pagar quase 100 mil patacas por animal.”

Igual opinião tem Fátima Galvão, membro da direcção da Masdaw (Associação para os Cães de Rua e o Bem-Estar Animal em Macau). “Há pessoas que ficaram em Macau mais tempo para poderem levar os seus animais, e houve outras que enviaram primeiro os animais, mas pagaram fortunas. Conheço uma pessoa que pagou 105 mil dólares de Hong Kong para enviar a cadela para Inglaterra, e outra que pagou 65 mil dólares de Hong Kong para enviar para a Rússia”.

A Masdaw não recebeu muitos animais devolvidos por causa desta situação, mas auxiliou residentes com o transporte. “Ajudamos pessoas que não tinham meios de levar os animais consigo, nomeadamente para as Filipinas, porque os aviões não transportavam animais. Recebemos dois animais nessas condições, mas um deles está numa família de acolhimento, vai ser adoptado e vai para o Canadá.”

Uma dor de cabeça

Alastair Pullan diz ter sofrido “a experiência mais stressante” da sua vida com o transporte de dois cães e um gato para o Reino Unido, depois de ter sido despedido do espectáculo “House of Dancing Waters” em Junho.

Depois de realizar testes aos animais, que confirmaram boas condições para viajar, Alastair Pullan deparou-se com preços muito elevados. “Planeava viajar pela British Airways, mas [uma empresa de transporte de animais] disse-me que a companhia aumentou o seu preço pelo transporte dos animais em 500 por cento. Isso significa que o custo da viagem variava entre 50 a 200 mil dólares de Hong Kong. As outras companhias aéreas estavam a seguir esta tendência e a rota era agora impossível de fazer devido aos custos”, contou ao HM.

Depois de uma tentativa falhada com a Eva Air, o britânico acabou por marcar uma viagem pela Qatar Airways, que obrigou a quarentena de duas semanas em Hong Kong. Os seus animais viajaram de ferry para Hong Kong, graças ao apoio de amigos, e em Paris a viagem para o Reino Unido foi de automóvel. O custo foi de cerca de 20 mil dólares de Hong Kong e exigiu “muita papelada”.

“Toda a viagem custou 50 mil dólares de Hong Kong e se não tivesse recorrido ao Go Fund Me [plataforma de crowdfunding] não teria conseguido”, concluiu.

TUI | Confirmada pena de 16 anos de prisão para agente da CPSP

O Tribunal de Última Instância negou o recurso de um guarda condenado a 16 anos de prisão efectiva devido à prática de crimes de corrupção passiva, falsificação informática, violação de segredo, entre outros. O agente aproveitava a sua função para falsificar registos de entrada a favor de emigrantes ilegais, em troca de dinheiro, permitindo a saída através do posto fronteiriço onde trabalhava

 

Sem mais possibilidades de recorrer e com decisão judicial transitada em julgado, um guarda do Corpo de Polícia de Segurança Pública foi condenado a 16 anos de pena de prisão efectiva depois de o Tribunal de Última Instância lhe ter negado, no passado dia 3 de Junho, o último recurso. A decisão foi divulgada na sexta-feira pelo gabinete do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak.

O tribunal no topo da hierarquia judicial da RAEM acompanhou o acórdão do Tribunal de Segunda Instância que já havia negado provimento ao recurso, confirmando assim a condenação da primeira instância. Assim sendo, o guarda foi condenado na pena única de prisão efectiva de 16 anos, pela prática de três crimes de corrupção passiva para acto ilícito, um crime de acolhimento, um crime de falsificação informática e 66 crimes de violação de segredo.

O caso foi desvendado pelo Comissariado contra a Corrupção que descobriu que o guarda “recebia interesses ilícitos de terceiro há muitos anos e aproveitava a função que desempenhava para falsificar registos de entrada a favor de um emigrante ilegal e ajudando-o a sair através do posto fronteiriço onde trabalhava.”

O agente era suspeito também de ter revelado, durante um longo período de tempo, informações de entrada e saída de várias pessoas determinadas a terceiro, a fim de receber uma remuneração mensal. Além disso, era suspeito de praticar crimes de corrupção passiva para acto ilícito, de acolhimento, de falsificação informática e de violação de segredo.

Quarteto fantástico

Além deste guarda, foram sujeitos a punições disciplinares outros quatro agentes policiais, oriundos de diversas subunidades, por terem ajudado o principal suspeito na consulta e revelando-lhe dados policiais confidenciais, como “registos de entrada e saída fronteiriça e dados de vigilância respeitantes a outras pessoas, bem como dados respeitantes a casos em fase de investigação”, refere o gabinete de Wong Sio Chak.

Foram instaurados processos disciplinares aos quatro agentes, “um deles foi alvo de uma ordem judicial de suspensão de funções, em 29 de Junho de 2020, e aos restantes três foram aplicadas a suspensão preventiva de funções em 14 de Abril de 2021”.

O secretário para a Segurança exigiu uma “revisão séria” da fiscalização interna e o reforço da “gestão disciplinar, garantindo a integridade do corpo policial”.

Turismo | Expo Internacional acolheu mais de 15 mil visitantes

A 9.ª Expo Internacional de Turismo (Indústria) de Macau acolheu em três dias mais de 15 mil visitantes presenciais e um pico máximo de participação de 120 mil participantes em sessões online. Lei Wai Nong reforçou a importância do evento para explorar oportunidades de cooperação e desenvolver novos produtos, a pensar na recuperação económica

 

Inaugurada na sexta-feira, a 9.ª Expo Internacional de Turismo (Indústria) de Macau, acolheu ao longo do fim-de-semana mais de 15 mil visitantes, revelou ontem a Directora dos Serviços de Turismo, Maria Helena de Senna Fernandes. Além das presenças “físicas”, no pico máximo de participação nas salas de transmissão ao vivo promovidas durante o evento foram contabilizados 120 mil visitantes, segundo declarações da directora da DST ao canal chinês da TDM-Rádio Macau.

“O projecto de iniciativa em nuvem criado em 2020 no rescaldo da pandemia, continua a ser encarado como uma forma positiva de impulsionar as empresas expositoras internacionais que não conseguiram vir a Macau, a investir no território no futuro”, apontou Maria Helena de Senna Fernandes.

Dois dias antes, o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, apontou no discurso de inauguração do evento, que o objectivo passava essencialmente por investir no desenvolvimento de novos produtos a pensar na revitalização do sector, fortemente abalado pela pandemia de covid-19. “Espera-se que através da participação na Expo de Turismo, os operadores turísticos possam explorar em conjunto oportunidades de cooperação e desenvolver novos produtos (…), bem como preparar-se para a futura recuperação do mercado internacional”, disse Lei Wai Nong.

O evento que terminou ontem decorreu num formato simultaneamente online e presencial, devido às medidas de prevenção e às restrições fronteiriças, contando com mais de 700 stands e quase 400 expositores, sendo a maioria do Interior da China. Detalhando, dos 394 expositores, 265 eram do Interior da China, 106 de Macau e 23 de empresas internacionais.

Os números traduzem o actual fluxo turístico atípico já que, devido às restrições fronteiriças, a China é o único território do mundo isento de quarentena à entrada em Macau e único com o qual existem actualmente voos directos.

Crescer em conjunto

O evento pretendeu “construir uma ponte de intercâmbio e cooperação entre a indústria turística de Macau, do Interior da China e do exterior, para a exploração conjunta de oportunidades de negócio”, procurou sintetizar Lei Wai Nong.

No final de Junho, aquando da apresentação do evento, o presidente do Associação das Agências de Viagem, Alex Lao, salientou que os bons resultados no combate à pandemia em Macau fizeram com que o território se pudesse “vender” ao mundo como uma “cidade saudável e segura” e assim criar uma “plataforma sustentável” com a China continental.

A 9.ª Expo Internacional de Turismo (Indústria) de Macau contou com o apoio do Ministério da Cultura e Turismo da China e foi organizado pela Direcção dos Serviços de Turismo, sob a coordenação da Associação das Agências de Viagens de Macau.

Hospital das Ilhas | Gestão pode ficar a cargo de empresa chinesa

O Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas poderá ser gerido por uma empresa privada do Interior da China. A hipótese está a ser estudada, de acordo com o director dos Serviços de Saúde, que acrescentou que independentemente da natureza da entidade gestora, o hospital será público. Song Pek Kei e Nelson Kot concordam com o modelo

 

“A sua natureza será definitivamente pública.” Foi desta forma que Alvis Lo definiu o Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas. Apesar da ressalva, o director dos Serviços de Saúde (SSM) deixou em aberto a possibilidade de o hospital ser gerido por uma empresa privada do Interior da China. “Não vamos descartar a possibilidade de ter parceiros que nos ajudem a melhorar a eficácia. Estamos ainda numa fase de preparação, a estudar e discutir hipóteses. Não é apropriado revelar muito nesta fase”, afirmou na sexta-feira Alvis Lo, citado pelo Canal Macau da TDM.

O director dos SSM adiantou, à margem de uma conferência de imprensa do Conselho Executivo, que a opinião pública será auscultada ao longo do processo.

Para já, ainda não há informação relativamente à empresa responsável pela gestão do complexo hospitalar, mas a ideia avançada por Alvis Lo é encontrar um bom modelo de funcionamento e gestão e melhorar o planeamento do sistema de saúde de Macau.

Quanto à data de abertura do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas, o director dos SSM reiterou a dificuldade de indicar um calendário preciso devido à complexidade e dimensão do mega-projecto.

Ver com bons olhos

Song Pek Kei e Nelson Kot concordam com a entrada de uma empresa privada chinesa na gestão do Hospital das Ilhas.

A deputada e candidata pela lista ligada a Fujian declarou ao jornal Cidadão que Macau pode ficar a ganhar com a gestão por uma instituição do Interior da China com a prestação de serviços de melhor qualidade.
Song Pek Kei entende que entregar a gestão a um privado chinês pode encurtar a entrada em funcionamento do hospital, principalmente se for uma empresa com experiência na área, pelo menos eliminando a fase de recrutamento de pessoal médico.

Outro ponto destacado por Song Pek Kei foi a razoabilidade de ter apenas uma entidade a gerir o complexo hospitalar, por considerar que se a administração foi entregue a diversas instituições a articulação pode tornar-se complicada.

Porém, a deputada declarou ser imperioso evitar as mesmas queixas que recaem sobre o Centro Hospitalar Conde de São Januário, nomeadamente quanto ao tempo de espera para consultas.

Nelson Kot, também em declarações ao jornal Cidadão, acha boa ideia entregar a gestão do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas a uma empresa chinesa, sugerindo duas vias possíveis para que tal aconteça: a criação de uma parceria pública/privada ou de um contrato de concessão.

O candidato a deputado frisou ainda que os serviços médicos básicos do Hospital das Ilhas devem ser assumidos pelo Governo, enquanto incumbência natural de um hospital público. Quanto às especialidades, como oncologia ou procedimentos médicos minimamente invasivos, Nelson Kot refere que a colaboração de equipas médicas oriundas da China ou Hong Kong podiam reduzir os tempos de espera.

Os especialistas

O Conselho Executivo apresentou na sexta-feira um regulamento administrativo que estabelece regras para habilitações académicas ou profissionais de quinze categorias de profissionais de saúde. Assim sendo, “considera-se habilitado com grau académico a pessoa titular de mestrado ou doutoramento que corresponda a um ciclo de estudos integrados que não confira o grau de licenciatura”.

O Conselho dos Profissionais de Saúde, que inicia funções em Outubro, será responsável pela definição de “requisitos de duração do curso, finalidade do curso, estrutura curricular, plano de estudos e número de créditos do curso do respectivo grau académico obtido no exterior da RAEM”, esclarece o Conselho Executivo.

Ficaram também definidas 41 especialidades médicas e 13 especialidades de enfermagem reconhecidas na RAEM. O director dos Serviços de Saúde afirmou que existem médicos suficientes para todas as especialidades e que confia na capacidade da Academia Médica de Macau para formar mais quadros. Além disso, Alvis Lo adiantou que, de modo geral, os cursos leccionados no Interior da China serão reconhecidos em Macau.

Eleições | Neto Valente preocupado com liberdade de expressão. Académicos divididos

O presidente da Associação de Advogados de Macau, Jorge Neto Valente confessou estar chocado com a desqualificação dos 21 candidatos às eleições legislativas, que a CAEAL considerou não serem fiéis a Macau e não defenderem a Lei Básica. Para Neto Valente, esta é uma forma de derrotar os candidatos da corrida eleitoral “na secretaria”, admitindo estar preocupado com a manutenção da liberdade de expressão no território.

“Devo dizer que fiquei chocado com esta notícia porque conheço alguns dos excluídos (…) acompanho o que eles dizem e alguns deles são ou foram deputados e há dezenas de anos que prestam serviços a Macau. Fico muito preocupado quando se diz que eles não são fiéis a Macau, que não amam Macau e não têm amor ao País”, começou por dizer à TDM-Canal Macau.

“O facto de terem ideias diferentes de algumas autoridades, ou das autoridades constituídas, não significa que não tenham o direito de as ter, porque quando a Lei Básica diz que é garantida a liberdade de expressão, podem congeminar-se muitas restrições, há maneiras de exprimir essa liberdade. Mas uma coisa é certa. Liberdade de expressão quer dizer o direito de pensar de maneira diferente”, acrescentou.

Nesse sentido, o advogado reiterou ainda que, apesar de “muitas vezes” não estar de acordo com as ideias dos candidatos excluídos, estes “têm o direito de expor as suas ideias”. Caso isso não seja admitido, “não há liberdade de expressão”, apontou.

“É bom que se saiba que isto é uma maneira de derrotar candidatos que se querem submeter a sufrágio popular e directo. É derrotá-los na secretaria e isto não é liberdade. A Lei Básica é clara, como a constituição da China também é clara, a dizer que há liberdade de expressão”, rematou.

Mudanças bruscas

Contactado pelo HM, Eilo Yu, professor associado da Universidade de Macau (UM) na área do Governo e Administração Pública, considerou que a decisão resulta da vontade de Pequim, não dando margem para que se possa tratar de “um mal-entendido”.

“Não é apenas um mal-entendido. Se virmos bem, isto não visa apenas dois ou três candidatos do campo democrata, visa também candidatos de outras listas. Isso faz-me crer que esta decisão vai além das autoridades de Macau e está relacionada com a vontade do Governo Central de não ter estes candidatos a concorrer às eleições”, apontou o académico.

Eilo Yu considera tratar-se de uma “mudança demasiado repentina”, que vem no seguimento do princípio “Macau governado por patriotas”, com uma colagem directa às medidas que começaram a ser implementadas em Hong Kong.

Por seu turno, Wai Kin Lok, professor de Direito da UM defendeu que o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ entrou “numa nova fase”. Para o académico a decisão não demonstra que a lei eleitoral “está mais apertada”, mas sim que, em anos anteriores, as normas não estavam a ser cumpridas de forma “precisa” e em toda a sua plenitude.

Eleições | CAEAL exclui 21 candidatos por não serem fiéis a Macau

Ao todo, 21 candidatos de seis listas foram considerados “inelegíveis” por não serem fiéis a Macau e não defenderem a Lei Básica. Destes, 15 estão associados a candidaturas do campo pró-democracia, que têm até hoje de “suprir as irregularidades”, apesar de os fundamentos da exclusão serem ainda desconhecidos. Wong Sio Chak garante que as informações foram obtidas dentro da legalidade

 

A Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) anunciou na passada sexta-feira que, no seguimento do processo de apreciação das candidaturas apresentadas, existem 21 elementos “inelegíveis” pertencentes a seis listas que estão na corrida às eleições de Setembro por sufrágio directo.

Em causa, revelou o presidente da CAEAL Tong Hio Fong, em conferência de imprensa, está o facto de os candidatos terem violado “conforme factos comprovados”, o artigo da lei eleitoral que prevê a exclusão de candidatos que não defendem a Lei Básica ou não são fiéis à Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) da República Popular da China.

“Os candidatos que não defendem a Lei Básica da RAEM ou não são fiéis à RAEM (…) perante lei não têm elegibilidade”, sendo que “antes desta conferência de imprensa [a comissão] já procedeu à notificação das candidaturas quanto à sua elegibilidade para substituir os candidatos”, afirmou Tong Hio Fong, segundo a agência Lusa. Outros dois candidatos de uma sétima lista foram também excluídos por não serem eleitores, adiantou também.

Tong Hio Fong referiu ainda que os mandatários das candidaturas com membros inelegíveis têm até ao final do dia de hoje para “suprir quaisquer irregularidades e requerer a substituição de candidatos”, recusando-se a revelar quais os fundamentos concretos que estiveram na base da decisão. No entanto, admitiu que a CAEAL recebeu informações do Gabinete do Secretário para a Segurança.

“Aquando da apreciação da sua qualificação, a polícia forneceu alguns dados, através dos quais fizemos a nossa avaliação”, começou por explicar Tong Hio Fong. “Vamos revelar [os fundamentos] em momento oportuno porque ainda está em curso o procedimento administrativo”, acrescentou de acordo com a TDM – Canal Macau.
Wong Sio Chak confirmou a versão, mas diz não poder fornecer detalhes acerca das informações que levaram à desqualificação dos candidatos. À saída de uma reunião da Assembleia Legislativa, o secretário para a Segurança afirmou que os dados em questão são confidenciais e foram transmitidos à CAEAL a pedido do organismo. Além disso, assegurou, a obtenção de provas foi feita dentro da legalidade.

“A informação é toda confidencial. Não temos o poder nem a obrigação de anunciar esta informação. Quanto ao tipo de informação que foi dada, quando foi dada e como foi dada [são dados] que o Secretariado para a Segurança não pode divulgar”, afirmou Wong Sio Chak de acordo com a mesma fonte. “Se [a CAEAL] não tivesse pedido [as informações], nós não as teríamos dado porque nós não temos a tarefa [de organizar] as eleições. [As informações] foram obtidas legalmente. É tudo legal”, rematou.

Dos excluídos

Apesar de a CAEAL não ter adiantado os nomes dos candidatos excluídos, logo após o anúncio e ao longo do fim-de-semana, as próprias listas visadas vieram a público reagir à decisão. Contas feitas, pelo menos 15 dos 21 candidatos excluídos pertencem ao campo pró-democrata, envolvendo cinco elementos da lista da Associação do Novo Progresso de Macau, encabeçada pelo actual deputado Sulu Sou, cinco elementos da lista da Próspero Macau Democrático, liderada por Scott Chiang e os cinco membros da Associação do Progresso de Novo Macau, encabeçada por outro ex-deputado Paul Chan Wai Chi.

Além destes, os restantes candidatos excluídos pertencem às listas encabeçadas por Cloee Chao (Novos Jogos de Macau), Lee Sio Kuan (Ou Mun Kong I) e Lo Chun Seng (Macau Vitória).

Em resposta, Scott Chiang, Sulu Sou e Paul Chan Wai Chi, os candidatos que encabeçam as listas democratas excluídas, organizaram no sábado uma conferência de imprensa conjunta que contou com outros membros das listas como Rocky Chan (Associação do Novo Progresso de Macau) e o actual deputado Ng Kuok Cheong (Próspero Macau Democrático). Além de expressarem a sua oposição relativamente à situação, os líderes das três candidaturas prometeram impugnar da decisão e, se necessário, levar o caso até ao Tribunal de Última Instância (TUI), no máximo, até ao dia 27 de Julho.

“Faremos o nosso melhor para defender os nossos direitos políticos e a nossa reputação e lutaremos pelos nossos direitos com base no raciocínio. Não permitiremos que o Governo negue os nossos esforços na promoção do progresso, responsabilidade e transparência do sistema político de Macau ao longo dos anos, para que ainda possam existir vozes diferentes em Macau”, afirmou Scott Chiang, segundo a Lusa.

O cabeça de lista da Próspero Macau Democrático reiterou ainda que “é um direito elementar” de qualquer acusado saber qual a acusação de que é alvo para se defender e que os prazos impostos para regularizar a situação não são inocentes.

“Na carta que recebemos ontem [sexta-feira], a CAEAL não citou qualquer facto ou alegados factos que fundamentem a decisão. Escolheram realizar a conferência de imprensa muito tarde, mesmo antes do fim-de-semana, por isso, temos muito pouco tempo para preparar a nossa resposta (…) isto é uma desvantagem para todos”, acrescentou de acordo com a TDM-Canal Macau.

Na mesma ocasião, Sulu Sou lembrou que “a Assembleia Legislativa de Macau tem uma história de 45 anos, com eleições directas desde 1976 e a abertura do voto a todos os eleitores chineses em Macau nos anos 80”. “Creio que este é um incidente que não pode ser encarado de ânimo leve no mundo”, frisou.

“A acusação da CAEAL está totalmente errada e pode privar-nos de um direito tão importante de nos candidatarmos a eleições e de votar”, afirmou, acrescentando ainda que direitos como a liberdade de imprensa, liberdade de procissão e reunião, liberdade de expressão “podem ser todos tirados por aqueles que estão no poder”, referiu Sulu Sou.

Por seu turno Ng Kuok Cheong frisou que, caso se trate de “uma decisão política já tomada”, não há nada que possa vir a ser feito para inverter o curso dos acontecimentos.

“Se a decisão política já tiver sido tomada, não vamos conseguir resolver qualquer problema através do recurso. Podemos ver que é uma profunda alteração política para o futuro de Macau. Veremos como é que os cidadãos vão lidar com esta importante alteração. Se não podermos fiscalizar o Governo através da Assembleia Legislativa, o que poderemos fazer?”

Hoje as três listas irão responder por escrito à CAEAL e vão pedir que sejam conhecidos os fundamentos da decisão. Nenhuma das listas visadas pretende avançar com a substituição de candidatos.

Surpreendidos e indignados

Reagindo à decisão da CAEAL, o candidato da Associação de Progresso de Novo Macau, Paul Chan Wai Chi, diz discordar do procedimento e considera que se trata de uma consequência da atmosfera política de Hong Kong, facto que “não é bom para o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’”, apontou.

Também Cloee Chao que apresentou uma lista ligada aos trabalhadores do jogo mostrou estupefacção com o curso dos acontecimentos, prometendo avançar para os tribunais. “As pessoas sabem o que fazemos e como actuamos na sociedade”, sublinhou à TDM-Canal Macau.

Igualmente surpreendido com a decisão ficou Lee Sio Kuan, cabeça de lista da Ou Mun Kong I, garantindo que nunca deixou de ser patriótico.

“Eu e a minha equipa temos sido patrióticos e temos amado Macau, defendido a Lei Básica e a implementação das políticas da RPC e da RAEM. Fiquei muito surpreendido com o que aconteceu (…) há mais de 10 anos que participamos nas eleições legislativas”, referiu.

Por seu turno, após ter confirmado que a sua lista está entre as excluídas, Lo Chun Seng, cabeça de lista da Macau Vitória recusou-se a tecer qualquer comentário até ao momento.