CAEAL | Macau Vitória apresentou queixa por pressões

Lo Chun Seng, cabeça-de-lista da Macau Vitória, apresentou ontem uma queixa por escrito à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). Em causa estão alegadas pressões sobre pessoas que integram a lista para que desistam a corrida eleitoral.

Segundo Lo ocorreram “movimentações de bastidores” para que os candidatos desistissem. As pressões não foram feitas através “ameaças directas”. Além das movimentações menos claras, o cabeça da lista Macau Vitória indicou que alguns candidatos foram pressionados pela família para desistir.

Como a lista Macau Vitória tem apenas quatro candidatos, uma desistência pode fazer com que a lista não possa participar no acto eleitoral, que exige um mínimo de quatro candidatos. No entanto, mesmo que nesta altura alguns candidatos comuniquem à CAEAL a desistência, a lista tem até 12 de Junho para “suprir as deficiências”. Só após esse prazo é que a Macau Vitória arrisca ficar sem alternativas.

Aos jornalistas, Lo lamentou a situação: “É verdade que venho do campo pró-democrata, mas sou uma pessoa muito discreta”, indicou. “Não somos uma ameaça, mas para estes poderes ocultos isso não interessa… Ainda temos de enfrentar jogos de bastidores”, acrescentou.

Eleições | 159 candidatos concorrem à Assembleia Legislativa pela via directa

As listas candidatas ao hemiciclo são dominadas por membros do sexo masculino, com uma proporção de 68,5 por cento, ou seja, superior a um terço. As informações publicadas antecipam também que as eleições indirectas vão ser uma formalidade, com o número de candidatos a ser igual às vagas

 

No total, 159 candidatos distribuídos por 19 listas concorrem pelo sufrágio directo à Assembleia Legislativa (AL). O acto eleitoral vai realizar-se a 12 de Setembro e a constituição das listas admitidas pela Comissão dos Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) foi publicada na tarde de ontem, no Edifício Administração Pública.

Os dados revelados mostram que a maioria dos candidatos pelo sufrágio directo são do sexo masculino, ou seja 109 dos 159 candidatos, o que representa uma proporção de 68,5 por cento. As candidatas são 50, o que representa 31,5 por cento, ou seja, representam menos de um terço.

Naturalmente, a lista que tem mais membros do sexo feminino é a Aliança Bom Lar, liderada por Wong Kit Cheng, e que tem ligações à Associação das Mulheres de Macau. As candidaturas com mais membros do sexo masculino são a Poderes do Pensamento Político, liderada por Nelson Kot, que tem 10 homens e duas mulheres, assim como a lista Associação dos Cidadãos Unidos por Macau, liderada por Si Ka Lon, que em 13 candidatos tem 10 homens.

A maior representatividade masculina reflecte-se nos cabeças-de-listas. Em 19 listas, 14 têm como primeiro candidato um homem, enquanto as restantes cinco são lideradas por mulheres. Estes dados reflectem-se em proporções de 73,7 por cento e 26,3 por cento.

Para cumprir calendário

A informação publicada ontem pela CAEAL confirma também que as eleições indirectas vão servir praticamente para “cumprir calendário”. No total, vão participar nas eleições indirectas 12 candidatos para igual número de vagas, como já tinha sido antecipado.

Em relação às eleições pela via indirecta de 2017, este ano vai trazer três diferenças. Ho Ion Sang, deputado que até agora tinha sido eleito pela via directa, passa para o colégio eleitoral dos sectores dos serviços sociais e educacional. Ho substitui Chan Hong, que deverá ser nomeada por Ho Iat Seng, de forma a manter-se como deputada.

Ao nível do colégio eleitoral dos sectores cultural e desportivo, Chan Chak Mo mantem a candidatura, mas a lista tem agora o nome de União Cultural e Desportiva Sol Nascente e conta com Angela Leong, que substitui Vitor Cheung Lup Kwan.

No que diz respeito ao colégio eleitoral dos sectores industriais, comercial e financeira Chui Sai Cheong, Vong Hin Fai e Chan Iek Lap são os candidatos, e no sector profissional Kou Hoi In, Chui Sai Peng, Ip Sio Kai e Wang Sai Man vão ser os eleitos. Finalmente, no colégio eleitoral Lei Chan U e Lam Lon Wai, ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau, são os únicos candidatos.

Centenário do PCC | O lugar de Macau e o bom exemplo discutido em palestra em Portugal

Numa palestra promovida pela Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa, a propósito do centenário do Partido Comunista Chinês, o Embaixador chinês em Portugal destacou Macau como o bom exemplo da concretização de “Um País, Dois Sistemas”, alertando para os “comentários desenfreados” feitos por outros países face à situação de Hong Kong. Já o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros português Martins da Cruz referiu que Macau “nunca foi uma ameaça aos interesses chineses”

 

Macau tem sido apontado como o território onde tudo correu bem na aplicação do princípio “Um País, Dois Sistemas”, e essa ideia voltou a ser destacada numa palestra online promovida pela Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa, em Portugal, a propósito do centenário do Partido Comunista da China (PCC).

Um dos oradores foi o embaixador chinês em Lisboa, Zhao Bentang, que lembrou o facto de Deng Xiaoping “e outros comunistas chineses terem rompido com a mentalidade da Guerra Fria e, salvaguardando a unidade nacional e os interesses vitais dos compatriotas de Hong Kong e Macau produziram de maneira criativa a grande ideia ‘Um País, Dois Sistemas’, concretizando a transição pacífica e o retorno bem sucedido de Hong Kong e Macau”.

Na visão do diplomata, a realidade comprova que o princípio de integração “não é apenas a melhor solução para a questão de Macau, mas também o melhor sistema para manter a prosperidade e estabilidade de Macau a longo prazo”.

Zhao Bentang referiu também a situação da região vizinha. “Quanto às medidas tomadas pela China em relação a Hong Kong, na verdade estamos a aprender as boas experiências na prática de ‘Um País, Dois Sistemas’ em Macau, e isso também tem o objectivo de assegurar o desenvolvimento estável e a prosperidade de Hong Kong.”

O embaixador destacou ainda o facto de “alguns países tentarem sempre fazer comentários desenfreados sobre as nossas medidas em relação a Hong Kong”, algo que é “um desrespeito e interferência grosseira nos assuntos internos da China”.

António Martins da Cruz, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros português, também participou na palestra, referindo a importância de “saber valorizar o papel de Macau” na hora de celebrar o centenário do PCC. “Com uma situação bem diferente de Hong Kong, com um ambiente agreste, Macau nunca foi, ao longo dos séculos e ainda hoje, uma ameaça para os interesses chineses.”

Para Martins da Cruz, o território representa “um marco de estabilidade no panorama actual” e uma “plataforma que facilita os investimentos mútuos e a presença das empresas chinesas em Portugal e portuguesas na China”. “Tudo isto é possível graças à visão do PCC e dos seus políticos, ao longo dos anos, que sempre souberam ter em conta a especificidade de Macau. E por isso lhe devemos estar gratos”, frisou.

Martins da Cruz lembrou também que, ao contrário de outros países estrangeiros, a China sempre manteve boas relações com Portugal. “Só Portugal foi uma excepção: estabelecido em Macau desde o século XVI, com o acordo de poder central chinês da altura e durante todos estes séculos, até 1999, Portugal não participou na violência, nos saques, na ocupação pelas potências estrangeiras, na humilhação do povo chinês. Foi aliás nessa altura que os ingleses se apoderarem de Hong Kong e que outros ocuparam Xangai, que se promoveram medidas para enfraquecer o povo chinês e destruir uma civilização com milhares de anos.”

Wu Zhiwei, membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e empresário, também destacou o bom exemplo da RAEM no contexto nacional. “A 20 de Dezembro de 1999, Macau regressou ao seio da pátria, e nestes últimos 22 anos o seu desenvolvimento económico avançou a passos gigantes, o nível de vida dos residentes tem melhorado de forma continuada, a sociedade é estável e harmoniosa e as múltiplas culturas completam-se numa relação mútua. O amor à pátria e a Macau constituem os valores no território. Macau tornou-se num exemplo da concretização bem-sucedida do modelo ‘Um País, Dois Sistemas’”, referiu.

Sem imposições

Numa sessão onde todos os participantes destacaram os ganhos obtidos nos últimos 100 anos graças ao PCC, nomeadamente a quase erradicação da pobreza na China e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), foi também abordado o sistema político no país. Martins da Cruz colocou a questão: “poderia ter sido outra força política a assumir o rumo desde 1949? Podia, mas não foi. E se fosse, provavelmente, não se manteria no poder desde então.”

“No Ocidente, na Europa e nos EUA, alguns Governos, embora de forma assimétrica, mas sobretudo comentadores e activistas (uma nova classe de geração espontânea que não consigo definir) criticam a China por não ter os nossos valores e princípios. Não entenderam a cultura e a civilização chinesas e o papel do PCC na história da China no último século. Os países devem manter relações e entendimentos independentemente dos seus regimes políticos. Senão Portugal só reconheceria talvez um terço dos Estados que tem regimes semelhantes ao nosso”, destacou o antigo embaixador.

Para Martins da Cruz, “o interesse da Europa é que a China seja um país estável, desenvolvido, previsível e confiante no seu próprio sistema”. Tudo isso acontece “graças ao pragmatismo e ao papel do PCC”.

O ex-ministro adiantou ainda um cenário hipotético. “Mas, por absurdo, vejamos outro cenário: a China com um sistema político igual aos ocidentais. Nesse caso, e sempre segundo os parâmetros daqueles que defendem a teoria, seria mais desenvolvida do que agora. Mas seria um perigo maior para o ocidente, pois seria mais desenvolvida e com os mesmos objectivos. Representaria um desafio maior na estratégia, na política e na economia. Mas os que invocam esta possibilidade não sabem ou não querem responder a este paradoxo. Porque não lhes conviria.”

Segundo Martins da Cruz, estas personalidades “não conseguem admitir que a visão do PCC, a visão chinesa sobre a situação e os equilíbrios globais não é a mesma que nós temos, nem tem de ser”.

“Não entendem que na cultura chinesa os interesses colectivos prevalecem sobre os interesses individuais. Que o exercício de hierarquia começa ainda na família e se reflecte nas empresas, na administração e no Estado. Não compreendem, ou não conseguem entender, que na cultura chinesa disciplina significa segurança. Que é indispensável para superar a pobreza e permitir a convivência de 1 bilião e 400 milhões. E que o PCC é o garante desse interesse colectivo, dessa hierarquia e dessa segurança”, adiantou.

Martins da Cruz não deixou, contudo, de colocar uma questão. “Há críticas a fazer a este sistema político? Certamente, se o compararmos com os nossos sistemas. Mas não temos o direito de impor.”
E sobre a não imposição de sistemas políticos também falou o embaixador Zhao Bentang. “Todos ganham com a coexistência harmoniosa de sistemas da China e do ocidente”, frisou, sem esquecer os ganhos que a sociedade chinesa obteve nos últimos anos. “O Presidente [Xi Jinping] disse porque é que o socialismo com características chinesas pode obter o sucesso e dar benefícios ao povo. O marxismo pode ser viável. Desde o dia em que foi fundado, o partido tornou o marxismo como pensamento orientador e persiste na combinação dos princípios básicos do marxismo com a realidade concreta da China.”

Palavras de Kevin Ho

Kevin Ho, empresário de Macau e membro da Assembleia Popular Nacional, foi outro dos oradores a tecer rasgados elogios a Pequim. “Se olharmos para o nosso país actualmente, quem pensaria que iria acontecer tudo isto nos últimos 100 anos? O que era a China? O nosso país estava essencialmente dividido em muitas partes e governado por diversas pessoas. Tínhamos uma absoluta pobreza e desde a sua formação, há 100 anos, o PCC tem estado comprometido em construir um melhor lugar para os chineses.”

Para Kevin Ho referiu ainda, a partir da Reforma e Abertura implementada por Deng Xiaoping “vimos as vidas das pessoas a melhorar, e em 2021 declaramos com sucesso a erradicação da pobreza”.

“Nos últimos 80 anos, e sob liderança do PCC, muitos milhões deixaram o estado de absoluta pobreza, o que é um milagre mundial. Não temos qualquer intenção de olhar para as políticas dos outros países e interferir nos outros países, e esperamos que a mesma percepção exista para o nosso país”, concluiu o empresário.

China confisca 2,2 toneladas de escamas de pangolim na fronteira com o Vietname

As autoridades alfandegárias do sul da China desmantelaram uma organização contrabandista envolvida no tráfico de espécies protegidas e apreenderam 2,2 toneladas de escamas de pangolim, informou hoje a agência noticiosa oficial Xinhua.

Na sequência daquela operação, na Região Autónoma de Guangxi, foram presos dois suspeitos, que teriam aproveitado a localização da região, que faz fronteira com o Vietname, para comprar escamas no país vizinho e contrabandear para a China, informou a Xinhua, acrescentando que o caso ainda está sob investigação.

As autoridades chinesas redobraram os seus esforços, desde o ano passado, para erradicar o comércio e o consumo de animais selvagens, ambos proibidos por Pequim após o novo coronavírus surgir em Wuhan.

Alguns especialistas sugerem que as quintas que criam animais selvagens podem ser a origem do coronavírus.

Peter Daszak, membro da delegação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que investigou a origem da pandemia na China, no início deste ano, declarou em março que a rota mais provável de transmissão do vírus seria a partir de morcegos para algum animal selvagem, criado em cativeiro no sul da China, e finalmente para o ser humano.

No ano passado, a China listou os pangolins entre os animais protegidos de primeira categoria. O pangolim é consumido pelas suas supostas propriedades curativas, destacadas pela medicina tradicional chinesa.

Covid-19 | Governo japonês decreta estado de emergência em Tóquio durante Jogos Olímpicos

O Governo japonês decidiu declarar um novo estado de emergência em Tóquio, avançaram hoje meios de comunicação social, devendo abranger todo o período dos Jogos Olímpicos, que começam dentro de duas semanas, devido ao aumento de casos de covid-19.

“O Governo decidiu declarar o quarto estado de emergência em Tóquio e já comunicou a decisão à coligação” que apoia o Governo, noticiou hoje a estação televisiva estatal NHK.

O estado de emergência ficará em vigor até 22 de agosto, segundo diversos meios de comunicação social, cobrindo o período dos Jogos Olímpicos, que decorrem em Tóquio entre 23 de julho e 08 de agosto.

De acordo com a agência Kyodo, que cita um alto funcionário do Governo, também é possível que as provas olímpicas não tenham público a assistir.

Em março, os organizadores tinham proibido a presença de espectadores oriundos do estrangeiro nos Jogos, o que é um facto inédito na história olímpica.

Mais tarde, em junho, as autoridades japonesas anunciaram que iriam autorizar a presença de espectadores locais, mas com 50% da capacidade dos locais das provas e com o limite máximo de 10.000 pessoas.

Mais recentemente, o Governo alertou para a hipótese de fechar as portas à presença de espectadores para as provas, mas apenas como uma das opções que estavam a ser estudadas, perante o agravamento da situação pandémica.

Uma decisão final sobre as restrições a aplicar sobre a presença do público deve ser tomada nos próximos dias, após uma tomada de posição oficial do Governo sobre o estado de emergência.

O Japão foi relativamente poupado, na pandemia de covid-19, em comparação com muitos outros países, com cerca de 14.800 mortes registadas desde o início da pandemia, mas os especialistas têm-se mostrado particularmente preocupados com o efeito dos Jogos Olímpicos num eventual aumento de propagação do novo coronavírus.

Cerca de 11.000 atletas são esperados para os Jogos Olímpicos, obrigando as autoridades japonesas a tomar medidas drásticas a todos os participantes das provas.

Coreia do Sul regista maior número diário de casos de covid-19 em 2021

A Coreia do Sul registou 1.212 casos em 24 horas, maior número diário deste ano, e as autoridades disseram hoje que vão manter as actuais restrições durante pelo menos mais uma semana.

Do número total de casos nas últimas 24 horas, 44 foram importados e 1.168 foram infeções locais, das quais quase 85% estavam localizadas na região da capital, onde reside mais de metade da população do país, de acordo com dados divulgados pela Agência de Controlo e Prevenção de Doenças da Coreia (KDCA).

O primeiro-ministro sul-coreano, Kim Boo-kyum, disse que as restrições em vigor no país vão continuar na área metropolitana de Seul, onde não são permitidas reuniões de mais de quatro pessoas e a restauração deve fechar às 22:00, pelo menos durante mais uma semana.

O Governo vai considerar a possibilidade de apertar as restrições, caso o nível de infeção persistir ou se agravar durante os próximos dois ou três dias.

A Coreia do Sul, um dos países que melhor geriram a pandemia, com apenas cerca de 150 mil casos e duas mil mortes, tinha planeado flexibilizar as atuais restrições para a região da capital a 01 de julho, mas recuou com o agravamento da situação.

Além de estar concentrado em Seul e arredores, o aumento das infeções parece dever-se a um aumento da circulação da variante Delta mais contagiosa do vírus, que está a afetar principalmente as pessoas entre os 20 e 39 anos, um grupo ainda sem acesso à vacina.

Como muitos outros territórios, a Coreia do Sul enfrenta o problema do fornecimento global de vacinas. Até agora apenas 15,4 milhões de pessoas (30,1% da população) receberam pelo menos uma dose e 5,46 milhões (10,6% da população) as duas necessárias para completar o processo de vacinação contra a covid-19.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 3.987.613 mortos em todo o mundo, resultantes de mais de 184,1 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus, segundo o balanço mais recente feito pela agência France-Presse.

ONU diz que Coreia do Norte corre risco de nova penúria alimentar

A Coreia do Norte corre o risco de enfrentar uma nova penúria alimentar e as dificuldades podem materializar-se já em Agosto, indicou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

O regime norte-coreano, sob várias sanções internacionais devido ao programa nuclear, há muito que luta para alimentar a população e sofre regularmente de escassez de alimentos. A pressão sobre a economia norte-coreana foi agravada pelo encerramento das fronteiras ordenado para combater a pandemia da covid-19, mas também devido a uma série de tempestades e inundações ocorridas no ano passado.

No mês passado, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, reconheceu que o país estava a enfrentar uma “situação de tensão alimentar”.

Num relatório de segunda-feira, a FAO estimou que a Coreia do Norte deverá produzir 5,6 milhões de toneladas de cereais este ano, menos 1,1 milhões de toneladas do que seria necessário para alimentar a população.

“As importações comerciais oficialmente planeadas são de 205 mil toneladas”, de acordo com o relatório, o que significa um défice alimentar de cerca de 860 mil toneladas.

“Se este défice não for adequadamente coberto por importações comerciais ou ajuda alimentar, as famílias correm o risco de um período de escassez difícil entre agosto e outubro”, salientou o relatório.

O encerramento das fronteiras com a China levou a uma redução das trocas comerciais com o principal aliado económico e diplomático da Coreia do Norte.

Vários tufões no verão passado causaram inundações que destruíram casas e devastaram produções agrícolas.

A Coreia do Norte sofreu uma grave crise alimentar nos anos 90 que causou centenas de milhares de mortos, na sequência da redução da ajuda de Moscovo após a queda da União Soviética.

Morreu Dilip Kumar, aos 98 anos, um ícone da época de ouro de Bollywood

Dilip Kumar, um dos mais célebres atores indianos da época dourada do cinema de Bollywood, morreu hoje em Mumbai com 98 anos depois de ter sido internado num hospital há uma semana.

“É com grande tristeza e profundo pesar que anuncio a morte da nosso amado Dilip há alguns minutos. Viemos de Deus e a ele voltamos”, disse o amigo da família Faisal Farooqui na conta do falecido actor na rede social Twitter.

Kumar foi internado num hospital em Mumbai, a ‘meca’ de Bollywood, em 30 de junho, com dificuldades respiratórias.

“Dilip Kumar será recordado como uma lenda cinematográfica. Foi abençoado com um brilhantismo sem precedentes, através do qual cativou gerações de espetadores. A sua morte é uma perda para o nosso mundo cultural, as minhas condolências à família, amigos e inúmeros fãs”, disse o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, numa mensagem também publicada no Twitter.

Dilip Kumar, nascido Muhammad Yusuf Khan em 1922 em Peshawar, agora no Paquistão, atuou em mais de 65 filmes, ao longo de 50 anos de carreira. O actor é considerado como um dos mais populares da indústria. Estreou-se em 1944 com o filme Jwar Bhata, embora os seus filmes mais conhecidos são Mela (1948), Devdas (1955) e Mughal-E-Azam (1960).

Guarda costeira chinesa resgata nove baleias no leste do país

A guarda costeira chinesa resgatou nove baleias que ficaram presas nas águas da costa da província de Zhejiang, leste da China, mas não puderam evitar a morte de outras três, informou hoje a imprensa local.

Equipas de resgate deslocaram-se para uma praia na cidade de Linhai, na manhã de terça-feira, após serem notificadas que 12 baleias encalhadas foram avistadas na área, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua.

No entanto, o calor, o peso e a localização complicaram a tarefa de devolvê-las à água, e três dos cetáceos morreram antes da chegada das equipas de resgate.

Segundo a agência, trata-se de 12 baleias com cabeça de melão (Peponocephala electra), uma espécie com cerca de três metros de comprimento e 200 quilos de peso, que costuma habitar oceanos tropicais e subtropicais.

Cerca de 150 pessoas participaram do resgate, durante o qual foram cavados buracos ao redor dos mamíferos marinhos e despejada água sobre os seus corpos para evitar que se afogassem na lama.

As equipas de resgate também usaram toalhas molhadas para manter os animais húmidos e ergueram proteções contra o sol, disse um oficial local à emissora estatal CCTV.

Após quase 10 horas, as equipas conseguiram salvar as nove baleias restantes e transportá-las para um local seguro.

As autoridades enviaram duas das baleias resgatadas para um aquário, outras duas para um parque costeiro e as cinco restantes para uma empresa local de criação de animais marinhos, disse a Xinhua.

Tóquio 2020 | Organização pede ao público para evitar assistir ao vivo à maratona

A organização dos Jogos Olímpicos Tóquio2020 e as autoridades japonesas pediram ontem ao público para evitar assistir ao vivo à prova da maratona, devido ao elevado risco de infeção com o novo coronavírus.

A maratona, umas das mais emblemáticas provas olímpicas, e as competições de marcha de Tóquio2020 vão realizar-se em Saporo, 800 quilómetros a norte da capital japonesa, onde se disputarão a maioria dos eventos desportivos, entre 23 de julho e 08 de agosto.

Em março, as autoridades japonesas proibiram a presença de espectadores provenientes do estrangeiro para assistirem aos Jogos Olímpicos e novas medidas restritivas da presença de público podem ser anunciadas ainda durante esta semana.

O Japão passou por uma crise sanitária menos grave do que muitos outros países afectados pela pandemia de covid-19, mas demorou a lançar uma campanha de vacinação, pelos que as infeções continuam em alta na região de Tóquio.

Lam Lon Wai alerta para problemas com roedores na Zona Norte

Lam Lon Wai, ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), está preocupado com a quantidade de ratos que têm aparecido na aérea do Jardim Triangular da Areia Preta. Numa interpelação escrita, o deputado pede ao Governo que apresente soluções para o problema que diz estar longe de resolvido, embora o Executivo tenha instalado várias ratoeiras com veneno no local.

“Apesar de terem sido colocadas ratoeiras com veneno na zona e também de os moradores terem sido aconselhados a não deixar lixo nas ruas ou no chão, infelizmente, a situação não melhorou e os ratos continuam visíveis e muito activos à noite, o constitui uma ameaça à saúde pública e tem um impacto negativo para os comerciantes e residentes da zona”, afirma Lam Lon Wai. O legislador recorda ainda que o Governo diz utilizar anualmente novas ratoeiras para controlar as pragas de roedores. Porém, Lam questionou a eficácia da estratégia, uma vez que apesar dos reforços o problema é recorrente e cada vez mais visível.

Neste sentido, o deputado perguntou: “Actualmente as ratoeiras são a principal forma de controlo de ratos. Mas, muitas pessoas questionam o método e querem saber se não há alternativas mais eficazes. Será que o Governo pode adoptar meios de exterminação mais desenvolvidos?”

Ratos e obras

Lam Lon Wai faz igualmente a ligação entre o surgimento de ratos e obras naquela zona, considerando que as empresas responsáveis não tomam todas as medidas para evitar a proliferação de roedores. “Como a passagem aérea está a ser renovada, o ambiente naquela zona é caótico, há uma concentração de entulho e de outros detritos, o que cria as condições para o aparecimento de ratos. O Governo devia intensificar as operações de fiscalização para garantir que há menos entulho, ao mesmo tempo que a comunidade tem de fazer o seu papel e limpar os espaços”, considerou. “Será que o Governo tem planos para melhorar a fiscalização das obras e manter uma boa higiene nas zonas mais afectadas por ratos?”, questionou.

De boas intenções a gordofobia está cheia

No corrente ano de 2021 a gordofobia ataca de novo, camuflada de boas intenções, como não podia deixar de ser.
Viremo-nos para a Nova Zelândia, dos primeiros países a oferecer produtos menstruais nas escolas, um país evoluído e cheio de boas intenções, que não tem medo de tomar medidas para erradicar a pobreza menstrual. Pena que nem sempre o ímpeto se alastre a outras áreas. A universidade de Otago na Nova Zelândia publicou um estudo que correu o mundo. Eu fui ler o comunicado oficial da universidade, para perceber o tom de celebração que se veiculava.

Atentem: os investigadores desenvolveram a primeira gerigonça do mundo para a perda de peso. Um acessório interessante, uma espécie de cadeado magnético que não deixa que a mandíbula se afaste mais do que 2 mm. A justificação desta invenção é simples: já que a obesidade é uma epidemia global, são necessárias mais e melhores técnicas para as pessoas perderem peso. A cirurgia bariátrica é um procedimento muito invasivo e caro. O cadeado é bem mais baratinho com resultados promissores, dizem eles. Os dentistas colocam-no na boca dos interessados e as pessoas ficam reduzidas ao consumo de líquidos. As pessoas perdem peso a custo de “algum desconforto” e “algum embaraço”, como a investigação mostrou.

Claro que os mais sensatos e sensíveis prontamente se referiram ao acessório como um objecto de tortura medieval. Parece uma brutalidade não poder abrir a boca à vontade ou ficar com dificuldades em falar. Fui ler a publicação científica. Os investigadores enquadraram a utilidade do “cadeado” numa narrativa que já nos cansa: a de que os obesos são uns “coitadinhos” que não têm saúde física e mental, que não têm vida social, e que, pior, em tempo de COVID-19, estão ainda mais vulnerabilizados – e precisam de um milagre. Pensei para comigo, em que raio de contexto isto foi permitido? Que comissão de ética foi favorável a um estudo que se propunha trancar a boca das pessoas?

A Nova Zelândia – o tal país que oferece produtos menstruais – usa o índice de massa corporal como um indicador de saúde na decisão de aceitar ou rejeitar imigrantes. A entrada pode-lhes não ser permitida, ou os seus pedidos de renovação podem ser rejeitados quando já lá moram. Só para clarificar: obesidade não é uma doença, apesar dos serviços de fronteiras neozelandeses assim o entenderem por vezes (ainda que rejeitar alguém doente é bastante problemático também). A metáfora da epidemia da obesidade claro que não ajuda a passar esta mensagem. O país teme que as pessoas com excesso de peso sobrecarreguem os serviços de saúde. Contudo, investigação mostra que o índice de massa corporal não é um indicador de saúde, visto que não compromete um estilo de vida activo. Nesta tentativa de se culpar a pessoa com excesso de peso pelos seus problemas também se negligenciam os factores sistémicos, sociais e culturais, que contribuem para eles. O problema não é a gordura, o problema é o estigma associado à gordura. Posto isto, a Nova Zelândia é um contexto socio-cultural bastante propício à gordofobia declarada, camuflada e pseudo-bem-intencionada. De todas as formas e feitios. Se é verdade que há pessoas que sofrem com excesso de peso, este sofrimento não existe no vácuo. As sociedades travam guerras declaradas contra a gordura. Não há mudança possível sem consciência de que o problema não são as pessoas individuais, mas o sistema que recusa o seu corpo à partida.

Há uns tempos referi que a mera menção da obesidade como epidemia faz aumentar o preconceito contra o excesso de peso. Só um exemplo, entre muitos, de como a linguagem e os discursos à volta destas coisas afectam os processos que nos tornam mais inclusivos em relação aos outros. O desafio é pudermos olhar para as medidas bem-intencionadas com olhar critico e feroz de que podem, na verdade, perpetuar aquilo que queriam mitigar desde o início.

E esse lado do fim do mundo?

Santa Bárbara, Lisboa, Domingo longo começado no Sábado, 12 e 13 Junho

Na economia do tempo do micro-editor nunca sobra em quantidade para este lavrar das terras férteis. Estou em crer que o Mário [Gomes] se vai tornando na mais saborosa das fraudes literárias. Por exemplo, o Arno Schmidt nas suas mãos parece ter sido escrito em português, tal a limpidez de cascalho no fundo do riacho que por aqui se ouve. Será Arno extensão de Gomes? Anuncia-se, portanto, «A República dos Doutos – Romance-breve das Latitudes dos Cavalos», delirante “reportagem” ao lugar maravilhoso onde as artes e as culturas viveriam sem preocupações outras que a criação, ilha em movimento dividida por um muro, habitada por seres fabulosos e outros mais reconhecíveis.

Estende-se narrativa (para conforto dos carentes da anedota e outros preguiçosos) e explodirá moral (de agradar às tribos sanguinolentas dos malditos e outros mortos-vivos), mas o essencial está no labor da linguagem, com multiplicação ao infinito de planos, a lúdica recomposição das pontuações e outros sinais, e, sobretudo, o fraseado em pizzicato sobre escórias, imagens potentes, lâminas saltitantes, espinhos de rasgar peles. E por nisso falar, surpreendente erotismo para tão apocalíptico cenário. Certas obras inventam o presente. Se «Leviatã|Espelhos negros» podia ser sido livro de cabeceira durante a pandemia, estas «Latitudes dos Cavalos» continuam a ser ferramenta de ver ao longe, o que nos acontece ao perto. Ao calhas:

«Oh, ainda tem 1 hora ou 2 horas : afinal o fim do mundo é bem perto.» : «Pois, para pessoas como você !» (Pelos vistos ele gostou da resposta; passou a mão pelo bloco de barba maciço e deu um salto em frente, orgulhoso).
Nomes como terramotos ! : um sítio por onde passámos chamava-se ‹Tatara-káll› (e os cascos retumbavam ocos, como que a condizer !). –

Na – enfim, poderemos falar duma ‹aldeia› ? : as poucas cabanas de ramos esgalhados (alguns deles desfolhados até pelos mais famintos ou preguiçosos !). / Todos haviam retomado os seus afazeres, em plena paz : centauros barbudos com gadanhas ceifavam os lameiros. (Um deles, todo silhueta, levantou a garrafa, bebendo; (e eu achei por bem beliscar a minha perna : será que tinha adormecido a ler um livro de mitologia grega, Preller=Robert ?)).

Não ! Nunca na vida ! : uma centaura de óculos era certamente uma novidade (e além disso, mais velha : um balde de ferro com água estirava-lhe o braço : as mais velhas seguravam os seios maiores com ambas as mãos ao galopar. – ’ma fábrica de soutiens. Podia ser um negócio bombástico !).

E todos os nomes, como trovoadas, como lados entrelaçados, como aragem de fogo; como nudez da terra, cadinhos esquentados, ouro picado.»

Santa Bárbara, Lisboa, Domingo, 20 Junho

Chegou o carteiro. Podia ter sido, mas não e ainda bem. Imagino em quantas dobras tornaria o estreito fanzine em origami para habitar a caixa de correio… «Cartas ao mundo tal qual o conhecemos» (ed. cod, inc) nasce do primeiro fechamento e bela ideia: o narrador está separado do mundo e escreve-lhe, aproveitando o ensejo para pontosituar esse velho relacionamento. O Carlos [Morais José] escreve e assim pensa. «Estás a acabar como sempre estiveste, meu mundo. Todos albergam o desejo secreto de assistir à tua morte, ao teu fim, à extinção de tudo. Os profetas insistiram com veemência particular na vinda recente de um apocalipse. Mas tu, meu mundo, não acabaste: mais depressa eles acabaram para ti. Meio céu e meio terra, aqui estás, aqui estarás, incriado, sempre tu, pois nunca soubeste o que seria ser outro». A Ana desenha seguindo nervosamente a própria mão na combinação dos corpos (algures na página). Quando o ouriço se fecha, pequena esfera de espinhos, o mundo cessa de existir? Está posta a cama de faquir sobre a qual a reflexão poética encontra conforto para levitar. A doença faz-se solidão, e talvez o seu inverso. Certa melancolia habita estas linhas, talvez farpas: pode o indivíduo ser em pleno no eu sem as amarras e as vagas doidas que habitam o seu entorno, esse que nos cerca, que ora nos esmaga ora nos amplia? Afinal, terá o mundo fechado assim tanto? E para balanço? Não são dadas respostas, mas enumeradas dificuldades, entrechocando-se em dança tal os corpos da Ana. Este detalhar do convívio amoroso com o universo deixa-nos à beira do abysmo de mística profana. Em verdade vos digo, não há outro modo de andar que não sobre tal fio de navalha. Recordo sempre com o título errado de ponto final, quando o poema de Reinaldo Ferreira se chama com exactidão apenas «Ponto»: «Mínimo sou,/ Mas quando ao Nada empresto/ A minha elementar realidade,/ O Nada é só o resto.»

Basílica da Estrela, Lisboa, Quinta, 29 Junho

Vejo agora com o corpo todo que talvez seja desta matéria a despedida, momentos em que não distinguimos o que sobra de noite ou começa de luz, frescura nas mãos antes de cuspidas, os pulmões a encher com o céu do olhar, seis da manhã, talvez antes, contavas-me como no orvalho se colhem as derradeiras lágrimas de felicidade, sete da tarde final, devia ter levado enxada para marulhar as terras ajardinadas do claustro, círculo de tantos silêncios, era de ficar encostado ao cabo esperando pelo teus silêncios encavados, que os cultivavas com gosto, Manuel Luís [Bragança], vinhas tu de um pai e eu ao encontro do escritor, dos que lavram a eito, e encontrámo-nos de esternos no ar em entrechoque, cavername de cada navio seu, mas irmanados nos rumos diversos, logo naufragados à mesa da minha impotência, tonto, que não consegui nada, quando muito celebração, e agora que recomeçávamos vem a puta da velha e retira-te do jogo. Admiro o modo como indicavas a floresta doida de praças e ruas e varandas e janelas que foi sendo o teu pairrequieto, em absoluta liberdade desenvolvendo amores com sabor e perfume de limão ou assim, bandeiras doidas a estrelar na língua e mais além. Asneiras: disse todas em voz alta mal recebi a notícia, não as redigo como sabes que gosto. Não há alívio que valha. Eras para além da linhagem de onde vinhas, mas nela celebravas uma sementeira de desatinos e interpelações. Cuspo nas mãos, cuspo no céu. Hei-de aprender a dizer foda-se como quem reza. Toquei a madeira do teu féretro feito de veios, talvez raízes, e vociferei que do teu fogo se ergam árvores, mergulhem pássaros, voem copas e se enterrem asas. Sacudo a enxada batendo no chão, soltando terra até casa, marcando com som baço a linha directa ao coração. Volto a bater com a asneira no chão: caralho. Falta-me o ar.

Elogio da imperfeição

Forget your perfect offering / There is a crack, a crack in everything / That’s how the light gets in.
Anthem, Leonard Cohen

 

Arrisco a tese, amigos, com a vossa benevolência: o mundo de agora está formatado para os grandes gestos. Há uma lupa imensa sobre tudo o que acontece e, pior ainda, sobre tudo o que deve acontecer. Alguém deixou a porta aberta e entraram todos os que se indignam, exigem, sabem, oferecem soluções generosas desde o conforto do seu teclado.

O clima é de dedos em riste e de discursos em cima de caixotes. Nada escapa: até o que antes era arte ou desporto tem de incluir uma componente de comício para ter credibilidade. As mentes sequiosas de virtude assim o exigem e na sua ausência assim o condenam. Nestes dias não se pede menos do que salvar o mundo – mesmo que exista muita gente que não queira ser salva. Esses, como eu, estão semi-clandestinos, fugitivos da ordem do dia e da polémica de micro-ondas. E sem surpresa refugiam-se nas pequenas coisas, nos pequenos gestos onde de resto sempre estiveram. Um olhar, um dito, um riso, uma imperfeição.

Lembram-se da imperfeição, amigos? Lembram-se quando a fragilidade era algo com que toda a gente convivia de forma natural? Uma lágrima vertida, uma piada infeliz, um comentário inoportuno mas possível? Lembram-se do que era a maravilhosa possibilidade de errar? Acarinhem essas memórias, então. Nos dias da ditadura sanitária temos mesmo que andar munidos de um documento que prova que estamos vivos da melhor maneira possível. E, em todas as áreas, somos obrigados a viver da melhor maneira possível tal como é entendida pelo espírito do tempo: militantes, interessados, activistas, especialistas, cavaleiros de armadura sempre reluzente e alma impoluta.

Vejo na minha mesa de trabalho duas fotografias que adoro e, apesar de terem sido tiradas na segunda metade do século XX, considero-as como relíquias arqueológicas de outras estações onde a fragilidade era bem-vinda. Uma delas mostra o Papa João Paulo II, personalidade fortíssima, chefe da igreja carismático e decisivo para o processo de desmoronamento da então União Soviética. E que faz Karol Wojtyla, esse sim praticante de grandes gestos? Boceja. E nesse momento banal reconhecemo-nos, somos nós que poderíamos ser aquele homem já quebrado pelo tempo e incapaz de suster o que é comum a todos os mortais. Noutra o fotógrafo estava presente na cerimónia de coroação de Isabel II, no dia 2 de Junho de 1953. A fotografia é tirada dentro da catedral de Westminster, com os protagonistas devidamente vestidos e preparados para a pompa e circunstância da ocasião. E o que vemos, então?

Uma jovem rainha, de manto e coroa segurando a orbe numa das mãos e sorrindo, quase corando. Percebemos a causa de tudo quando olhamos para quem está em segundo plano: o marido, príncipe Filipe com um sorriso maroto de um moço que terá soltado um piropo à sua amada que conseguiu atravessar a mais formal das cerimónias. Como sempre deveria ser.

Assusta-me uma ideia de sociedade perfeita e clínica, onde a imperfeição é pré-definida por decreto ou sentença popular. Aterroriza-me a imposição das “boas causas” que espezinham o factor humano enquanto cantam loas a mundos quem sabe desejáveis mas impossíveis de serem impostos.

Quero a imperfeição. Quero a fragilidade. Quero que o erro seja um direito. Até lá, e enquanto não chegar a carta de mobilização, fico-me com estes vestígios não de um tempo melhor mas certamente mais imperfeito.

Hong Kong | Detidos nove suspeitos por conspiração terrorista

A polícia de Hong Kong informou ontem que deteve nove pessoas suspeitas de envolvimento em actividades terroristas, afirmando que estariam a tentar fabricar explosivos para colocar bombas em toda a cidade. Dos nove detidos, seis são estudantes do ensino secundário, informou a polícia.

Segundo as autoridades, o grupo estava a tentar fabricar o explosivo triperóxido de triacetona (TATP) num laboratório caseiro, num ‘hostel’. A polícia disse que planeavam utilizar o material para bombardear tribunais, túneis, caminhos-de-ferro e fazer explodir caixotes do lixo na rua, “para maximizar os danos causados à sociedade”.

Os nove detidos, cinco homens e quatro mulheres, têm entre 15 e 39 anos de idade, segundo o superintendente sénior Li Kwai-wah, do Departamento de Segurança Nacional da Polícia de Hong Kong, citado pela agência de notícias Associated Press (AP).

As autoridades apreenderam aparelhos e matérias-primas utilizados para fazer o explosivo, além de manuais de instruções e cerca de 80.000 dólares de Hong Kong. A polícia disse que o grupo planeava deixar Hong Kong e sabotar a cidade antes da partida.

Desde 2019, a polícia de Hong Kong prendeu várias pessoas pelo fabrico de bombas, incluindo de TATP. Em Dezembro de 2019, as autoridades desativaram duas bombas numa escola católica local.

Cooperação | Pequim apela a consenso com a Europa

O Presidente chinês, Xi Jinping, pediu uma “expansão do consenso e cooperação” com os países europeus, para “enfrentar desafios globais em conjunto”, noticiou ontem a televisão estatal chinesa. Xi Jinping fez o apelo durante uma videoconferência, realizada na segunda-feira com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, na qual foram abordadas as relações bilaterais entre a China e a União Europeia (UE).

Citado ontem pela televisão estatal CCTV, o líder chinês apelou ao “respeito mútuo” e “busca por interesses comuns”, e a uma “gestão adequada” das diferenças, visando desenvolver os laços entre a China e a Europa.

“Esperamos que a Europa desempenhe um papel mais activo nos assuntos internacionais, reflectindo verdadeiramente a sua autonomia estratégica”, exortou Xi.

O apelo surge após uma visita do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à Europa, que visou formar uma frente comum para desafiar a China em questões económicas e de Direitos Humanos.

A cimeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) apontou também, pela primeira vez, a China como um adversário.

Xi ressaltou o seu compromisso com um “verdadeiro multilateralismo”, que permita resolver os problemas internacionais “através de consultas”.

Outras matérias

Apesar de a União Europeia reclamar há vários anos reciprocidade no acesso ao mercado, apontando que as suas empresas enfrentam regulamentos discriminatórios no país asiático, Xi pediu aos países europeus que “proporcionem um ambiente de negócios transparente e não discriminatório para as empresas chinesas”.

O Presidente chinês pediu também às nações europeias para apoiarem a celebração dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em 2022, numa altura em que existe a possibilidade de alguns países boicotarem o evento.

A conferência entre os três líderes, que não foi anunciada antecipadamente, serviu também para abordar o comércio internacional, o combate às mudanças climáticas, a protecção da biodiversidade e a cooperação internacional no contexto da pandemia da covid-19.

Merkel e Macron apoiam investimento

A chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, apoiaram a ratificação do acordo para a protecção de investimentos entre a China e a União Europeia, numa videoconferência com o homólogo chinês, Xi Jinping. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China garantiu que Macron expressou o seu “apoio à conclusão do acordo de investimentos China-UE” e que Merkel mostrou esperança de que “seja aprovado o mais brevemente possível”. “A Alemanha apoia que a cimeira entre a UE e a China seja antecipada e espera que o acordo de investimento seja aprovado o mais brevemente possível”, disse a chanceler alemã, de acordo com a agência noticiosa oficial Xinhua.

Creative Macau | Obras de Luna Cheong expostas a partir de amanhã

A partir de amanhã, a Creative Macau recebe a exposição “Rituality”, de Luna Cheong. A mostra, que reúne 18 pinturas e instalações da artista local, parte em busca de compreender “a necessidade que o ser humano tem de manter a prática de rituais” no dia-a-dia, mesmo depois da perda do simbolismo

 

“Porque razão continuamos a praticar diariamente alguns rituais religiosos e em privado, quando a nossa cultura já mudou tanto ao longo dos anos?”. A questão, que serve de base para a exploração da prática de novos e ancestrais rituais nos dias de hoje, é de Luna Cheong, artista plástica de Macau responsável pela exposição “Rituality”, que abre ao público a partir de quinta-feira no espaço da Creative Macau.

Ao HM, Luna Cheong apontou que a mostra versa sobretudo “sobre os rituais da vida”, dando como exemplo, não só hábitos de subsistência antigos realizados em nome de boas colheitas, como as “danças da chuva”, mas também tendências dos novos tempos como o facto de muitas pessoas não prescindirem de tirar uma fotografia à refeição que estão prestes a tomar, quer seja para partilhar nas redes sociais ou para guardar num qualquer arquivo digital.

“Comecei a pensar na necessidade que o ser humano tem de manter os seus rituais. Os rituais fazem parte de algumas práticas antigas do Homem, realizadas em nome da sua própria subsistência. Por exemplo, quando havia secas, faziam-se danças da chuva para que as colheitas crescessem, mesmo não sabendo que isso iria resultar em consequências práticas. À medida que o tempo foi passando, rituais mais pessoais, como juntar as mãos para rezar e outros, passaram também a fazer parte do nosso dia-a-dia”, partilhou a artista.

A exposição que vai estar patente na Creative Macau até ao próximo dia 21 de Agosto inclui 18 pinturas e instalações de Luna Cheong. De acordo com a artista, as obras seguem o estilo desenvolvido durante percurso o universitário realizado entre o Instituto Politécnico de Macau (IPM) e a Universidade Nacional de Artes de Taiwan, que coloca em destaque “as emoções das relações sociais resultantes da interação entre o público e o trabalho artístico”.

A mostra, que elabora sobre rituais e eventos como o Natal que acontecem ao longo das diferentes estações do ano, está dividida em duas partes: “Life” e “Ritual”. Enquanto que a primeira explora as actividades realizadas em grupo durante algumas festividades, a segunda foca-se na exploração de ritos pessoais.

Um sinal de vida

Das 18 obras, três são instalações que enquadram elementos audiovisuais. Uma dessas instalações, conta Cheong, recria um espaço onde a luz chega de forma tímida e onde há troncos de madeira e um assento orientado em direcção a uma imagem.

Segundo a artista, a instalação pretende recriar um momento especial vivenciado por si e que expressa “a fé na vontade que o ser humano tem em sobreviver”. “A instalação usa vídeo, um assento e troncos de madeira para recriar um espaço com pouca luz (…) que expressa a fé na vontade que o ser humano tem em sobreviver. A obra foi feita numa altura em que me sentia deprimida. Naquele preciso momento, enquanto pensava, uma imagem surgiu de repente na minha cabeça para me transmitir uma mensagem. Fiz esta obra para que as pessoas também possam receber essa mensagem”, contou Luna Cheong.

Euro 2020 | Inglaterra recebe Dinamarca na 2.ª meia-final

Com o Euro perto do fim, muitos não acreditavam que dinamarqueses e ingleses pudessem chegar tão longe. Os nórdicos só garantiram o apuramento no último jogo da fase de grupos. Os Três Leões, mesmo com a vitória frente aos alemães, não se mostraram tão perigosos quanto os outros gigantes europeus. Ambas as equipas têm pela frente uma oportunidade única para colocar fim ao rótulo de não favoritos e voltarem ao sucesso de outrora

 

Por Martim Silva

Não há como sentir saudade se não houver distância e Dinamarca e Inglaterra não se encontravam, em Mundiais ou Euros, desde 2002 quando disputaram os oitavos de final do Mundial desse ano. Os ingleses levaram a melhor, tendo vencido os nórdicos por uma margem de 3-0. Desde então defrontaram-se, em competições oficiais, apenas duas vezes e para a Liga das Nações. Um empate a zeros e uma vitória dinamarquesa por 1-0, poderia levar a equipa de Kasper Hjulmand a colocar-se na posição de favorito, visto que os dois encontros realizaram-se no final de 2020.

Mas com a goleada da equipa de Gareth Southgate frente à Ucrânia, para os quartos de final do Euro, por 4-0 e o 4.º lugar no ranking FIFA das selecções, os ingleses são claros favoritos no embate das meias finais.

Para os vermelhos e brancos, há muito fardo emocional do seu lado. A queda de Christian Eriksen, à frente do povo dinamarquês, podia ter feito da equipa de Hjulmand um mero participante que no fim da fase de grupos ia, simplesmente, para casa. A Dinamarca quer repetir o feito de 1992, quando conquistou o Euro, e não deixar que o colapso de Eriksen seja uma nuvem negra a pairar sobre a cabeça dos jogadores. O espírito e a resiliência que os nórdicos demonstraram depois do acontecimento foi a base do sucesso que se vê hoje. “Eu acredito no carácter da minha equipa e no amor e compaixão que temos recebido dos nossos adeptos, algo que nos dá asas. Estamos a jogar com o coração do Eriksen. Acreditamos fortemente em nós e iremos lutar.”, referiu o seleccionador dinamarquês que também rejeitou comparações à equipa de 1992. “Não quero falar mais de 1992. Eram tempos diferentes, o Euro era diferente e o futebol era diferente. Nós queremos escrever a nossa própria história.”.

Do outro lado, os ingleses estão bem cientes do perigo dinamarquês. Os pupilos de Southgate também fizeram grande parte dos jogos do Euro em terreno caseiro e sentem a pressão do país nos ombros. Inglaterra não levanta um troféu desde o Mundial de 1966 e muitos acreditam que este possa ser, finalmente, o ano da glória inglesa. Mas de acordo com o seu treinador, os cuidados terão de ser redobrados porque do lado nórdico não há só qualidade futebolística. “Eles estão nas costas de uma onda de emoção, com toda a certeza, e essa é uma força poderosa que vem a Wembley. Essas coisas têm um impacto no nosso pensamento. Mas eu sei que os nossos jogadores estão no seu melhor quando estão calmos a jogar outro jogo e a pensar de forma clara.”, referiu Gareth Southgate.

Chave do sucesso

No seguimento de ambos os jogos dos quartos de final, Dinamarca e Inglaterra tiveram desempenhos vitoriosos. Os nórdicos passaram por algumas dificuldades frente aos checos, especialmente nos momentos finais, e os ingleses tiveram um triunfo confortável. Ambas as equipas têm jogadores capazes de desbloquear a partida, mas as tropas de Southgate têm sido um autêntico monstro a defender. Inglaterra é a única equipa da prova que ainda não sofreu qualquer golo. A baliza do guardião Jordan Pickford tem estado fechada a sete chaves.

Não obstante, o ataque dinamarquês não tem tido escassez de golo. O avançado Kasper Dolberg, que desde que assumiu a titularidade tem marcado sempre, e o lateral Joakim Mæhle formam uma dupla jovem e perigosa e com pontaria afinada. Há ainda o atacante Yussuf Poulsen e o médio criativo Mikkel Damsgaard a formar um ataque capaz de marcar a qualquer equipa.

Do lado inglês, Harry Kane tem, finalmente, encontrado o fundo das redes adversárias e mostra ser um verdadeiro líder dentro de campo. Raheem Sterling e Jadon Sancho mostraram todo o seu talento frente à Ucrânia. O lateral Luke Shaw também tem estado à altura dos seus companheiros, tendo feito duas assistências no último jogo.
O embate entre ambos está marcado para a madrugada de 7 para 8 de Julho às 3h de Macau. Será jogado no estádio de Wembley, palco que receberá também a final da competição.

Bandeira gay confiscada em Baku

Após sucessivas polémicas, por causa da UEFA e do governo da Hungria, em torno da bandeira que representa a comunidade LGBT, em pleno jogo entre Dinamarca e República Checa em Baku, no Azerbaijão, dois adeptos dinamarqueses trouxeram para o estádio a bandeira em questão, mas esta foi removida por oficiais da UEFA.
Kristoffer Føns, um dos sujeitos que mostrou a bandeira, falou ao canal público da Dinamarca, o DR, sobre o sucedido. “Um guarda oficial veio ter comigo e tirou a bandeira das minhas mãos. Antes de ir para Baku sabia que íamos para um sítio onde os direitos humanos não são importantes. Tinha tido algum cepticismo acerca do Mundial (2022) ser jogado no Catar e pensei que seria um hipócrita se nada fizesse.”.

Após o encontro, e de acordo com a claque de adeptos da Dinamarca, a bandeira regressou à posse de Føns mas a UEFA, em comunicado, negou qualquer tipo de envolvimento na situação. “Nunca instruímos os stewards em Baku, ou em qualquer outro estádio, para confiscarem bandeiras de arco-íris. Assim que a UEFA soube do incidente, contactámos o nosso delegado e o nosso segurança no estádio para investigarem e clarificarem o assunto junto dos stewards locais.”, esclareceu o organismo que tutela o futebol europeu.

Thomas Delaney divulgou daltonismo em 2018

A Dinamarca tem surpreendido tudo e todos dentro e fora de campo neste Euro 2020. É especialmente fora das quatro linhas que os dinamarqueses têm encontrado exemplos de superação e onde tem residido o sucesso da caminhada europeia. Depois do jogo contra a República Checa, que apurou os nórdicos para as meias finais da competição, Thomas Delaney marcou um golo e foi eleito Homem do Jogo. Apesar da sua qualidade dentro de campo, o médio do Borussia Dortmund defende também outras cores, a dos daltónicos.

Em 2018, e segundo uma reportagem da BBC focada no daltonismo dos jogadores do Mundial desse ano, o nome de Delaney foi o mais sonante. No dia que a Dinamarca viajava para a Rússia para entrar em estágio, o médio dinamarquês telefonou para a estação de rádio dinamarquesa DR P3 para mostrar o seu apoio perante um jovem daltónico que, momentos antes, tinha dito à mesma estação de rádio não ter conseguido distinguir as cores das equipas no jogo amigável entre Dinamarca e México.

Depois de se identificar no início da chamada como Thomas e jogador da Dinamarca, Delaney explicou a sua situação. “Eu sou vermelho-verde. Eu diria que não é tão mau, mas acontece. No outro dia, dentro do campo, foi um pouco difícil ver quem estava na minha equipa e quem estava na outra.”, confessou o médio

No mesmo artigo, Kathyrn Albany-Ward, fundadora do grupo Colour Blind Awareness, enalteceu o exemplo do médio. “Ele é o primeiro jogador ao mais alto nível, ainda a jogar, que admitiu ser daltónico. Acho que ele não se apercebeu das implicações positivas daquilo que fez.”. A Dinamarca continua a ser motivo de inspiração para muitos.

Burla | Desfalcados em cerca de 1 milhão para ingressar na universidade

Um designer gráfico de 27 anos é suspeito de burlar os pais de quatro estudantes do Interior da China em cerca de 1 milhão de renminbis, levando-os a acreditar que teria ligações privilegiadas com a direcção de uma universidade de Macau. O residente é ainda acusado de falsificar certificados de admissão e forjar o envio de emails em nome da instituição de ensino

 

Os maus resultados obtidos no Exame Nacional Unificado de ingresso no Ensino Superior pelos filhos, levaram quatro encarregados de educação do Interior da China a recorrer aos serviços de um designer gráfico de Macau que alegou ter contactos privilegiados dentro do Conselho Escolar de uma universidade de Macau, para facilitar a admissão de alunos.

Como resultado, para além de ver os filhos falhar o ingresso ao Ensino Superior em Macau, as vítimas acabaram burladas em cerca de 1 milhão de renminbis e confrontadas com um esquema de falsificação de documentos emitidos em nome da instituição de ensino. O residente de Macau foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) na segunda-feira, praticamente dois anos depois da queixa apresentada pelos lesados e da detenção de outras três suspeitas.

O caso remonta a Agosto de 2019, altura em que os encarregados de educação entraram em contacto com uma residente de Macau de apelido Cheong que se prestou a estabelecer alguns contactos para garantir que, apesar dos resultados insatisfatórios, os estudantes fossem admitidos na universidade em questão, que não foi identificada pela PJ.

Em contrapartida, as quatro vítimas prontificaram-se a pagar, por cada estudante, respectivamente, 200.000 dólares de Hong Kong, 246.300 renminbis, 243.500 renminbi e 264.500 renminbis, ou seja, cerca de 1 milhão de renminbis no total. Contudo, após apresentarem a notificação de admissão nos serviços da universidade, os encarregados de educação foram informados que nenhum dos estudantes sido autorizado a ingressar no estabelecimento de ensino.

O acontecimento levou as vítimas a apresentarem queixa à polícia, desenrolando-se daí uma investigação que concluiu que, além de Cheong, outras duas intermediárias estariam envolvidas no esquema. Detidas e interrogadas pela PJ em Setembro de 2019, as três vítimas admitiram ter seguido as instruções de um homem que era, nada mais, nada menos, que o designer gráfico de 27 anos detido na passada segunda-feira e que saiu de Macau no dia 4 de Agosto de 2019. Pelo trabalho efectuado, as arguidas admitiram ainda ter lucrado montantes entre as 36.000 e as 400.000 patacas.

Tal e qual

Através do Gabinete de Acesso ao Ensino superior, a PJ verificou que, tanto o certificado como a notificação de admissão eram falsas. Além disso, ficou ainda provado que as vítimas receberam emails falsos enviados em nome da universidade.

Através da acção da Interpol, a PJ pediu ajuda à polícia do Interior da China para interceptar o principal responsável pelo esquema, facto que veio mesmo acontecer na passada segunda-feira, dia em que o designer de Macau viria a ser detido em Zhuhai.

Interrogado pela PJ, o suspeito admitiu não ter qualquer ligação com a universidade em causa e que, em conjunto com uma das detidas em 2019, foi responsável por forjar a notificação de admissão a partir de um software online, enviar os emails falsos e criar um falso certificado de admissão.

O suspeito foi presente ontem ao Ministério Público onde irá responder pela prática dos crimes de burla de valor elevado e falsificação de documentos.

Parque Guangdong-Macau quer promover medicamentos chineses no Brasil

O Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa para a Cooperação entre Guangdong-Macau quer montar uma plataforma de comércio de medicamentos com o Brasil.

A promessa foi feita pela presidente do parque, Lu Hong, durante uma sessão de bolsas de contactos que, após três horas e meia, terminou com acordos assinados entre 15 fabricantes e oito distribuidores brasileiros.

Num comunicado, o parque situado na ilha da Montanha, junto a Macau, revela que o evento reuniu reguladores médicos de Macau e do Brasil para discutir o registo e supervisão de medicamentos tradicionais chineses.

O cônsul-geral do Brasil em Macau, Rafael Rodrigues Paulino, disse que um reforço da cooperação com o Brasil nesta indústria é particularmente importante no contexto da pandemia de covid-19.

Mais de 70 pessoas participaram na sessão de bolsas de contactos, que incluiu uma componente presencial, na ilha da Montanha, e videoconferência, tendo promovido 87 medicamentos de empresas de Macau, Hong Kong e da China continental.

Lu Hong lembrou que o parque tem vindo a apostar na formação de técnicos em medicina tradicional chinesa em Moçambique.

Mais de 300 profissionais de saúde moçambicanos já receberam formação nesta área, tendo o parque também apoiado empresas de Macau e da China continental na obtenção de licenças de comercialização de seis medicamentos tradicionais chineses em Moçambique.

Cooperação em alta

Espera-se que a nova lei de Macau que concede benefícios fiscais à produção de medicamentos tradicionais chineses intensifique a exportação para países africanos de língua portuguesa, disse em Março o presidente da Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos.

“A informação que tenho é que há pelo menos 25 empresas que se chegaram à frente a pedir emissão de alvarás para produção” de produtos associados à medicina tradicional chinesa, adiantou Eduardo Ambrósio.

Em 2019, o Ministério da Saúde do Brasil e a Administração Nacional de Medicina Tradicional Chinesa assinaram um acordo de cooperação, com foco em medicina tradicional, durante uma visita do Presidente chinês, Xi Jinping, a Brasília.

Renovação Urbana | Governo rescinde contrato de consultoria com Deloitte

O Executivo decidiu antecipar o fim do contrato com a Deloitte por considerar que não faz sentido fazer uma nova consulta pública. O vínculo tinha um valor de 14,5 milhões de patacas

 

O Governo vai rescindir o contrato de consultadoria na área da Renovação Urbana com a empresa Deloitte. O anúncio foi feito ontem pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, após a primeira reunião do ano do Conselho para a Renovação Urbana.

“Foi apresentada aos membros a situação do estudo que tínhamos encomendado a uma consultora sobre a Renovação Urbana. E fizemos um ponto da situação que se resume no seguinte: o trabalho que está feito, está feito. O trabalho que falta fazer… Vamos interromper o contrato porque o que falta fazer não faz muito sentido”, afirmou o secretário. “O trabalho que está por fazer não faz sentido, porque basicamente a consulta pública já foi feita em 2019 e não faz sentido fazer outra consulta”, acrescentou.

Raimundo do Rosário não avançou a compensação que terá de ser paga à empresa, mas garantiu que o valor a pagar pelos trabalhos feitos e rescisão não vai ultrapassar o montante da adjudicação, ou seja 14,5 milhões de patacas.

Os resultados apurados da consultadoria vão agora ser utilizados para elaborar a lei da Renovação Urbana, que o secretário confirmou ser o próximo passo de um processo que se discute há anos.

Água reciclada avança

À margem do encontro, Raimundo do Rosário comentou os planos para construir uma Estação de Tratamento de Água reciclada, que poderá ser utilizada para fins domésticos, como no autoclismo. Quando assumiu a pasta dos Transportes e Obras Públicas, o secretário suspendeu um projecto semelhante e explicou a mudança de posição:

“Quando tomei posse havia um estudo para fazer uma estação de água reciclada em Coloane e, na altura, suspendi a obra. Achava o preço da água reciclada muito caro. […] Agora vamos fazer uma estação com um tratamento mais ligeiro e por conseguinte mais barato”, explicou.

Por último, o governante comentou também a polémica em torno da repetição do concurso público para a construção da Linha de Seac Pai Van do Metro Ligeiro. A necessidade de repetição foi explicada com a ausência de definição de metas temporais para a construção de certas fases do projecto.

Raimundo do Rosário não quis comentar as propostas entregues na repetição, mas pediu a compreensão da população. “Queria só dizer que em seis anos, quase sete, foi a primeira vez, e espero que única, que se cancelou um concurso e se voltou a fazer. Espero que nos seja permitido de vez em quando errar”, desabafou. Como o concurso ainda está a decorrer, o secretário recusou fazer mais comentários por considerar que seria “prematuro”.

PCC | Exposição de fotografias recebeu mais de 16 mil visitantes

Nos dias que se seguiram à comemoração do centésimo aniversário do Partido Comunista da China, o número de visitantes da exposição de fotografias alusiva ao acontecimento mais que triplicou. Para a organização, o sucesso da exposição é o reflexo da “vontade das pessoas que vivem em Macau”

 

Desde a inauguração a 23 de Junho, a exposição de fotografias “Os 100 anos do Partido Comunista da China” recebeu até segunda-feira 16.701 visitantes e contou com a inscrição prévia de 38.213 pessoas, tendo recebido mais de 1.000 organizações e associações. De referir que, em pouco mais de três dias e desde a comemoração do centenário do Partido Comunista da China, assinalado a 1 de Julho, o número de visitantes mais que triplicou. Isto, tendo em conta que até à passada quinta-feira a exposição tinha acolhido cerca de 5.000 visitantes.

De acordo com a vice-presidente da Fundação Macau, Zhong Yi Seabra de Mascarenhas, o sucesso da exposição que vai estar patente até 15 de Julho no Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, “traduz a vontade das pessoas que vivem em Macau”, incluindo as diferentes comunidades que vivem no território, como a portuguesa ou a macaense.

A responsável frisou ainda que a liderança do Partido Comunista da China (PCC) foi “muito importante” para a concretização da transferência de soberania de Macau e para que o território gozasse das vantagens do princípio “Um País, Dois Sistemas”, permitindo “fazer um bom trabalho de intercâmbio com os países lusófonos e manter o convívio entre a cultura ocidental e oriental”.

“Gostávamos que as pessoas que vivem em Macau pudessem apreciar a história e este momento, porque até a China chegar onde está hoje foram precisas muitas gerações, muitos líderes, muitos jovens e muitas pessoas que perderam a vida e contribuíram para cada passo do desenvolvimento da China. A nova geração tem de se lembrar e guardar um sentimento de gratidão (…) cabendo-nos a nós procurar a paz e construir Macau de forma benéfica”, apontou Zhong Yi ao HM.

Atrás do sonho

A vice-presidente da Fundação Macau sublinhou ainda ser fundamental que os jovens conheçam a história do PCC e das suas figuras, de modo a que possam contribuir para o sonho de tornar toda a nação chinesa numa nação próspera.

“[Quando eram jovens], líderes como Mao Zedong ou Deng Xiaoping (…) já tinham ideias para que, não só eles, mas também toda a nação chinesa pudesse viver bem. É um sonho impressionante, acho que a juventude é muito importante”, partilhou Zhong Yi.

“Cada nação tem de ser patriota. Os Chineses têm de ser patriotas assim como os portugueses também devem ser patriotas em relação ao seu próprio país. Sem amar o país como é possível ser-se um verdadeiro cidadão?”, questionou.

Eleições | Wong Wai Man diz que a sua exclusão prejudicou a população

A comissão de candidatura Ajuda Mútua Grassroots foi recusada por ter sido considerado que não reunia as 300 assinaturas necessárias. Porém, o candidato diz que a população é que saiu prejudicada com a decisão

 

Wong Wai Man foi excluído de participar nas eleições por não ter conseguido constituir uma comissão de candidatura com 300 pessoas. O homem que em 2017 se destacou na campanha como o “Soldado de Mao”, por usar as roupas de soldado comunista, ainda recorreu da exclusão, mas o Tribunal de Última Instância (TUI) acabou por validar a primeira decisão da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL).

Ao HM, Wong diz que a decisão só prejudica a população. “Eu não perdi nada, quem ficou a perder foi a população”, afirmou sobre a exclusão.

A declaração foi justificada com a postura que diz que os outros candidatos adoptam nas eleições. Segundo Wong, normalmente as listas fazem muitas promessas extravagantes durante a campanha, quando precisam de reunir votos, mas depois não têm qualquer intenção de cumprir.

Também por aquela que considera ser a postura dos outros candidatos, Wong aponta que a sua lista, que tinha o nome Ajuda Mútua Grassroots, apresentava as melhores respostas para os problemas da população.

De acordo com o “Soldado de Mao”, no seu programa político constavam ideias como a criação de condições para que todos pudessem ter acesso a uma habitação e a um emprego com um salário elevado. Como consequência da resolução das questões da habitação e emprego, Wong afirma que os problemas do trânsito e do ambiente vão ser também resolvidos.

Críticas à CAEAL

Foi a 25 de Junho que a CAEAL anunciou que a lista Ajuda Mútua Grassroots tinha sido excluída, uma vez que os 300 membros da comissão de candidatura não cumpriam os requisitos necessários. Segundo a primeira explicação, a CAEAL apenas teria validado 190 das 300 assinaturas, por considerar que as recusadas tinham informações incorrectas, envolviam pessoas que não podiam votar ou por haver pessoas que assinaram mais do que uma vez.

No entanto, Wong diz que ficou provado pelo TUI que apenas 16 dos assinantes não cumpriam os requisitos e que 284 foram validadas. Para o cidadão a postura deixa motivos para questionar a actuação da CAEAL. “Porque é que os 158 assinantes não podiam ser convocados para se verificar as informações? A CAEAL só disse de forma pouco clara que as informações não correspondiam à verdade…”, desabafou.

À luz da aprovação de 284 das assinaturas, Wong considerou ainda que a sua conduta de levar o caso para tribunal contribuiu para “valorizar o processo”.

Fora das eleições, Wong foi questionado sobre quem considerava ser os deputados que melhor tinham desempenhado as funções desde 2017. Para o “Soldado de Mao”, destacam-se os deputados Ella Lei e Leong Sun Iok, da Federação das Associações dos Operários de Macau, e ainda Sulu Sou e José Pereira Coutinho.

Wong foi condenado em Março de 2020 ao pagamento de uma multa 10.800 patacas, pelo crime de violação da liberdade de reunião e manifestação. Os factos levam-nos a 2017, quando Wong interrompeu a campanha da lista de Sulu Sou. Porém, sobre a avaliação positiva ao deputado com quem teve problemas legais, o ex-candidato explicou que apenas teve em consideração “os factos e não a pessoa”.

Eleições | Fão acredita que Agnes Lam e Operários podem dar voz à APOMAC

Com Melinda Chan fora da corrida ao hemiciclo, a influência da APOMAC pode reduzir-se. No entanto, Jorge Fão acredita que há alternativas e candidatos com interesses muito semelhantes aos da associação

 

Pela primeira vez desde 2009, nem Melinda Chan, nem qualquer candidato apoiado por David Chow, vão participar nas eleições para a Assembleia Legislativa. Devido à proximidade histórica ao empresário Chow, a Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC) pode enfrentar dificuldade para se fazer ouvir no hemiciclo. Contudo, Jorge Fão presidente da Mesa da Assembleia Geral da APOMAC, acredita que existem alternativas.

Numa posição que sublinhou ser pessoal, Jorge Fão disse ao HM que os candidatos ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Ella Lei e Leong Sun Iok, e a ainda a independente Agnes Lam têm muitos interesses em comum com a APOMAC, sendo lógica uma aproximação política.

“Não é uma posição de direcção, mas como tenho estado ligado às eleições e à política gostava de apontar os nomes da professora Agnes Lam e também os candidatos dos Federação das Associações dos Operários de Macau, Ella Lei e Leong Sun Iok”, afirmou. “Creio que são candidaturas mais credíveis, pessoas que lutam por benefícios e interesses comuns e que não estão na Assembleia Legislativa a defender motivos populistas”, acrescentou.

No que diz respeito à lista de Agnes Lam, Jorge Fão destacou a presença do arquitecto Rui Leão. “É uma voz da comunidade portuguesa e macaense, e pelo menos a lista tem uma pessoa das comunidades. Eu considero o arquitecto Leão um membro da nossa comunidade, que cresceu em Macau. É também um bom profissional, discreto e não embarca em populismos ou demagogia”, explicou.

Questões operárias

Em relação aos deputados da FAOM, Jorge Fão destaca a defesa das questões laborais, às quais também dedicou grande parte da sua vida, tendo sido um dos membros fundadores e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). “Embora tenha tido um caminho diferente do deles, sempre defendi a causa trabalhadora. Eles estão a trabalhar nesse sentido, sem lançarem grandes foguetes, e têm uma máquina bem oleada”, reconheceu o dirigente da associação. “São deputados energéticos, com alguma discrição, sem demagogia, populismo, sem promessas que não são para cumprir”, realçou.

Apesar dos elogios, Jorge Fão não deixa de considerar que os dois poderiam ter feito mais na AL. “Os deputados fizeram o trabalho possível. Podiam ter feito mais, mas nós sabemos que é difícil. Sempre disse que em Macau quem manda são os patrões e não acho que isso tenha mudado”, indicou.

Eleições concorridas

No que diz respeito às eleições pela via directa, são 19 as listas que vão participar, no caso de não haver exclusões por parte da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa nem desistências.

Em relação à mudança de Angela Leong do sufrágio directo para o indirecto, Fão diz que Cloee Chao, candidata ligada aos trabalhadores do sector do jogo, pode sair a ganhar. “Ela avançou com uma candidatura, tem feito trabalho e pode beneficiar da mudança. Há apoios no sector à lista dela”, considerou.

O ex-deputado crê ainda que a lista da Associação do Bom Lar, ligada à Associação das Mulheres de Macau e liderada por Wong Kit Cheng, vai sair reforçada das eleições com a possibilidade de eleger dois deputados.

Finalmente, sobre a candidatura do macaense José Pereira Coutinho, Jorge Fão diz que vai ser eleito “sem nenhum problema” e que a grande questão é a capacidade de eleger o segundo deputado, apesar de ser “difícil”.