Pornografia Infantil | Residente detido por divulgar conteúdo com menores

É o segundo caso em dois dias. Depois de informada pela Interpol, a PJ deteve mais uma pessoa por difusão de conteúdos pornográficos com menores. Desta feita, o suspeito é um residente de Macau de 65 anos. De acordo com as autoridades, o homem tem ainda na sua posse mais quatro vídeos e 70 fotografias da mesma natureza

 

[dropcap]U[/dropcap]m residente de Macau de 65 anos foi detido na passada quarta-feira após ter publicado online um vídeo pornográfico que conta com a participação de menores. De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), a publicação, que foi feita com recurso à aplicação móvel de uma plataforma não especificada, revela um menor de idade a ter relações sexuais com uma mulher. Segundo as autoridades, o vídeo foi publicado pelo suspeito na segunda-feira. Os dois intervenientes, têm nacionalidade estrangeira e não têm qualquer ligação com Macau.

Recorde-se que o caso acontece um dia depois da detenção em Coloane de um trabalhador não residente (TNR) de nacionalidade filipina que tentou publicar um vídeo no Facebook, cujo conteúdo mostra uma rapariga com menos de 14 anos a ter relações sexuais com um homem.

Tal como no caso que envolveu o TNR, o alerta para a publicação de conteúdo relacionado com pornografia infantil por parte do residente de Macau, foi transmitido à PJ pela Organização Internacional de Polícia Criminal, Interpol.

Após ter sido notificada na terça-feira de que o endereço de IP fornecido pela Interpol pertencia a Macau, a PJ deteve o suspeito no interior do seu apartamento na zona envolvente à Avenida do Ouvidor Arriaga. No decorrer da investigação, a PJ encontrou o conteúdo incriminatório no telemóvel do suspeito, que admitiu, de seguida, ter descarregado o vídeo através de uma plataforma social estrangeira.

Para o fazer, depois de se registar gratuitamente como membro da plataforma em questão, o suspeito terá aderido a um grupo de conversação com mais de 100 participantes, onde o vídeo foi partilhado, permitindo-lhe assim fazer o download. No mesmo grupo, o suspeito teve ainda acesso a mais vídeos de índole pornográfica com menores, tendo inclusivamente partilhado outros dois conteúdos da mesma natureza, noutros dois grupos de conversação.

Imagens comprometedoras

Segundo a PJ, no decorrer da investigação, foram encontrados centenas de filmes e fotografias de cariz pornográfico, entre os quais foi possível confirmar que quatro vídeos e 70 fotografias estão relacionados com pornografia infantil. Afastado, para já, ficou o cenário de os conteúdos estarem de alguma forma relacionados com Macau.

O caso foi entregue ao Ministério Público, onde o suspeito vai responder pela prática de crimes relacionados com “Pornografia de Menor”, podendo ser punido com uma pena de prisão de 1 a 5 anos.

Em causa está o artigo do Código Penal que prevê a produção, distribuição, venda, importação, exportação ou difusão “a qualquer título ou por qualquer meio” ou aquisição e detenção para esses fins, de materiais relacionados com pornografia infantil.

Sin Fong Garden | Ip Sio Kai espera consenso entre proprietários e comissão de condomínio 

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[/dropcap]O deputado Ip Sio Kai, também director-geral da sucursal do Banco da China em Macau, disse ontem esperar consenso entre proprietários e comissão de gestão do condomínio do edifício Sin Fong Garden no que diz respeito a empréstimos.

“Os proprietários e a comissão de gestão estão a discutir se vão pedir mais dinheiro para a reconstrução [do edifício]. Em primeiro lugar, deve ser obtido um consenso colectivo”, disse ontem o responsável à margem de uma reunião de comissão da Assembleia Legislativa.

Ip Sio Kai declarou que alguns proprietários fizeram empréstimos a título individual no passado para reconstruirem o prédio, mas que nesta fase é necessária vontade colectiva para aumentar o montante emprestado pelo banco. “Se alguns proprietários não concordarem será difícil atribuir esse montante. Li notícias de que ainda estão a discutir [o assunto]”, frisou.

Esta questão surgiu depois de a Associação de Conterrâneos de Jiangmen, ligada aos deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting, ter recuado na atribuição das 100 milhões de patacas para a reconstrução do prédio, uma promessa feita em 2018. Os proprietários correm agora o risco de ter de pagar um total de 170 milhões de patacas.

O director-geral da sucursal do Banco da China em Macau assegurou que os proprietários ainda não contactaram o banco. “Num empréstimo normal, e não apenas para o Sin Fong Garden, o banco tem em conta o ‘Loan to Value’ [garantias de quem pede o empréstimo] e a capacidade de pagamento. Se este processo for bem analisado, os riscos normais são evitáveis. Não deve haver grande diferença entre este empréstimo e o empréstimo comum para a compra de uma habitação”, rematou Ip Sio Kai.

Corredor exclusivo | Pais de finalistas desejam intervenção do consulado 

O fim do corredor exclusivo entre Macau e o Aeroporto Internacional de Hong Kong vai afectar os planos de muitos finalistas do ensino secundário que tencionam estudar fora de Macau. Alguns pais ponderam pedir ajuda ao consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, mas Paulo Cunha Alves confirmou ao HM que não há, por enquanto, planos para negociar com as autoridades locais

 

[dropcap]A[/dropcap] partir da próxima quinta-feira, 16 de Julho, já não será possível aos residentes de Macau utilizar o corredor especial para o Aeroporto Internacional de Hong Kong, medida que altera os planos de muitos finalistas do ensino secundário que pretendem frequentar o ensino superior fora de Macau.

O HM falou com alguns pais de alunos da Escola Portuguesa de Macau (EPM) e da The International School of Macao (TIS), que defendem que o consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong deveria intervir para apoiar os finalistas a viajar para fora do território.

“Foi levantada ontem [quarta-feira] a possibilidade de os pais se juntarem e pedir ajuda ao consulado”, contou ao HM Andrea Magalhães, que frisou, no entanto, não estar ainda formalizado qualquer pedido de apoio.

“O consulado já deu apoio uma vez e desta vez pode ser que ajude todos os miúdos portugueses que são finalistas e que têm de ir para Portugal estudar. Vamos ver as hipóteses que se levantam”, disse Andrea Magalhães, mãe de uma aluna que frequenta o 12º ano na EPM e que, para já, está em fase de exames.

“Sei de pessoas que vão [sair de Macau] em finais de Agosto e a minha filha irá em princípios de Setembro. Tudo depende do que as autoridades decidirem, porque de um dia para o outro podem abrir o corredor especial”, adiantou.

No caso de Sandra Joaquim, o filho tenciona estudar na Holanda, onde inclusive já alugou casa. “Nesta altura, mesmo que quisesse aproveitar o corredor exclusivo, este termina já a 16 de Julho e ainda falta um mês e meio para ele ir para a Holanda. Vamos ver o que acontece no próximo mês e depois temos de ver o que podemos fazer.”

Sandra Joaquim também pensou falar com o consulado “para ver se têm alguma sugestão”. “Acredito que o meu filho não seja o único estudante do 12º ano que irá estudar para a Europa. Tenho esperança que o consulado possa ajudar”, acrescentou.

No caso de Celeste Monteiro, a matrícula do filho no curso de gestão, também numa universidade holandesa, teve mesmo de ser adiada por um ano, ficando provisoriamente na Universidade de São José (USJ). “Com toda esta situação, achamos melhor adiar por um ano. Penso que o consulado deveria intervir, pois faz parte dos deveres de um consulado”, defendeu ao HM.

Consulado sem planos

Contactado pelo HM, o consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong adiantou que, para já, não há planos para iniciar novas negociações com as autoridades. “Face à evolução da pandemia em Hong Kong, neste momento não existe a intenção, da parte deste Consulado Geral, de iniciar um novo processo negocial com as autoridades da RAEM e da RAEHK. Todos aqueles que pretendem assumir os riscos de viajar deverão fazê-lo até ao final do dia 16 de Julho.”

Filipe Regêncio Figueiredo, presidente da Associação de Pais da EPM, afirmou que actualmente há duas turmas a frequentar o 12º ano. “O corredor foi interrompido e não sabemos se daqui a duas semanas isto muda. Se não mudar, obviamente que para quem vai para a universidade ou para quem pretende ir para outro sítio isto é uma grande complicação.”

O responsável aponta que seria bom o consulado poder interceder neste caso, ainda que “seja uma decisão que não lhes cabe a eles”. “Esta situação [corredor exclusivo] não se pode manter indefinidamente, não só por causa desta situação [dos estudantes] mas de tudo o resto”, acrescentou.

O fim do corredor afecta também alunos do ensino superior que já estão matriculados em universidades no exterior. É o caso de Dinis Chan, finalista do curso de Direito em Lisboa, que não sabe quando poderá voltar a Portugal. “Reservei um voo e planeei regressar em Junho, mas o meu voo foi cancelado pela companhia aérea. Não sabemos como vai ficar a situação, talvez as aulas passem a funcionar online”, apontou.

O início das aulas de Dinis Chan está marcado para Outubro. “Perante este cenário não temos escolha e só podemos tomar as nossas próprias medidas para nos proteger. Não sabemos quando reabrem as fronteiras e as universidades regressam à normalidade”, frisou.

Motociclos | Song Pek Kei aponta para falta de estacionamento

[dropcap]S[/dropcap]ong Pek Kei lamenta que a população esteja dependente dos autocarros ou veículos privados, porque o Metro Ligeiro ainda não tem ligação a Macau. Em interpelação escrita, a deputada quis recordar o Governo da importância dos transportes públicos para aliviar a dificuldade de movimento da população.

Embora a deputada reconheça que o volume dos carros privados está sob controlo, destaca que o Governo precisa resolver o problema das motos. Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos mostram que até Abril havia 122.907 registadas, mas que no total apenas existiam cerca de 70 mil lugares de estacionamento de motociclos. Para além da escassez de lugares, aponta que alguns estacionamentos gratuitos são ocupados durante prazos longos, apelando às autoridades para reforçar a inspecção e combater o abuso deste tipo de estacionamento.

Na interpelação, Song Pek Kei aponta ainda que a China e várias cidades no exterior usam sistemas de estacionamento mecânicos, que permitem mais espaço. Assim, a deputada quer que o Governo considere criar edifício-garagem em alguns terrenos que estão por aproveitar. Já no âmbito dos transportes públicos, entende que os serviços de autocarros podem ser melhorados, nomeadamente ao nível da frequência e roteiros de autocarros.

Economia | Macau continua a enfrentar pressão, disse Ho Iat Seng

Prevê-se que a pressão sobre a economia se alargue à segunda metade do ano, disse ontem o Chefe do Executivo, que referiu ainda como a epidemia deu novamente a conhecer os pontos fracos económicos do território

 

[dropcap]O[/dropcap] surto desta epidemia “revelou mais uma vez os problemas” da estrutura industrial única de Macau, da dependência excessiva do sector do jogo e da falta de resiliência económica, disse ontem o Chefe do Executivo. Ho Iat Seng, que presidiu à reunião do Conselho para o Desenvolvimento Económico, considera que em Macau a situação epidémica está “relativamente controlada”, mas prevê-se que “face ao aumento contínuo dos factores de incerteza externos, Macau continue a enfrentar uma grande pressão (…) na segunda metade do ano”.

Ao discursar na abertura do evento, Ho Iat Seng comentou que o novo tipo de coronavírus causou “um grande impacto na economia mundial”, e que a evolução da epidemia em vários países não se encontra estável, gerando “incerteza” quanto à recuperação económica. Assim, entende que a RAEM “não pode ficar alheia” aos desafios enfrentados a nível mundial. Como tal, Ho frisou a necessidade de se promover a diversificação da economia, aproveitar as vantagens do princípio “Um País, Dois Sistemas” e participar activamente na Grande Baía. A ideia é construir uma base mais sólida para o desenvolvimento da RAEM a longo prazo.

À margem da reunião, questionado sobre a abertura das fronteiras com Guangdong, José Chui Sai Peng salientou esta “não é exclusivamente uma decisão do Governo da RAEM”, mas “um entendimento mútuo”.

Para além disso, observou que a prioridade é abrir a fronteira de forma responsável e segura. “Quando e como é para ser estudado, [mas] não apenas em Macau, penso que é um assunto nacional”, referiu em declarações aos jornalistas. Uma ideia também defendida por Sio Chi Wai, da secção para Estudo das Políticas da Diversificação Adequada da Economia. “É preciso considerar a política geral do Governo Central, deve ser reaberta de forma gradual, tendo em conta a saúde”, disse. Sio Chi Wai observou ainda que vários membros querem “aprofundar a cooperação com Hengqin”.

Concorrência

Por usa vez, o chefe da secção para Estudo das Políticas do Recursos Humanos, espera que o Governo possa dar meios para aumentar o nível profissional dos trabalhadores e promover formações em sectores e indústrias diferentes, de forma a “termos recursos humanos para sustentar o desenvolvimento das indústrias emergentes”.

Lau Veng Seng alertou que se está a enfrentar um desafio ao nível da concorrência que se enfrenta de recursos humanos de outras regiões. “Temos de estabelecer um mecanismo de formação de talentos. Que são formados desde muito pequenos para que os jovens possam ter uma perspectiva clara sobre o seu futuro”, apelou.

China | Roubos de identidade assombram exames de acesso à universidade

Quase 11 milhões de estudantes em toda a China fizeram esta semana o gaokao, o exigente exame de acesso ao ensino superior. Além dos anos de matéria curricular, outro peso a pairar por cima das cabeças dos alunos é a recente revelação de roubos de identidade com o objectivo de apropriação das melhores notas. A ponta do iceberg surgiu na província de Shandong, com a descoberta de 242 casos

 

[dropcap]P[/dropcap]ara milhões de estudantes chineses, o gaokao, exame de acesso ao ensino superior, é o momento mais importante das suas vidas, o teste derradeiro que determina se entram na universidade que lhes abre portas para uma vida melhor, em especial para as famílias mais desfavorecidas. E se todo o esforço, sacrifício e horas de estudo forem em vão e o sucesso for roubado por outro aluno? Foi com esta sombra presente que 10,71 milhões de estudantes fizeram, esta semana os exames de acesso às universidades chinesas.

Um artigo publicado a 19 de Junho, no jornal oficial Southern Metropolis Daily, citado pela BBC, revelou que várias universidades da província de Shandong estão a investigar mais de duas centenas licenciados que se inscreveram nas instituições usando a identidade e resultados do gaokao de outros alunos.

Na passada segunda-feira, a Comissão de Inspecção e Disciplina de Shandong em conjunto com os departamentos de educação e segurança publicaram os resultados preliminares de uma investigação que revelou 242 casos de roubo de identidade ocorridos entre 1999 e 2006.

Na grande maioria, as vítimas não faziam ideia de que a sua identidade e resultados de exames haviam sido roubados, algumas desistiram de ingressar na universidade na sequência da fraude. Houve igualmente casos de acordos entre vítima e infractor, uma espécie de compra do silêncio do estudante a quem foi roubada a identidade.

Em resposta a esta situação, legisladores chineses apresentaram propostas para criminalizar a fraude nos exames, de acordo com a China News Service. No domingo, o Comité Central da Assembleia Popular Nacional (APN) começou a preparar um diploma para tornar o roubo de identidade no acesso à universidade um crime, em resposta ao escândalo e consternação social que o caso despoletou. O órgão oficial adiantou que a maioria dos 175 membros do Comité Central sugeriram penas exemplares para quem coloque em risco o futuro de terceiros.

O gaokao é um exame “vai ou racha” para milhões de estudantes, altamente competitivo e intenso, que permanece como o único critério determinante para saber quem entra na universidade. É um momento decisivo que afecta significativamente a perspectiva de conseguir um bom emprego, principalmente para quem vive nas zonas rurais e menos desenvolvidas da China.

Este ano um número record de 10,71 milhões de estudantes inscreveram-se nos exames, o que representou mais 400 mil em relação a 2019.

Palavra de ministro

“Qualquer estudante que defraude ou esteja envolvido em roubo de identidade nos exames de acesso ao ensino superior, ou gaokao, será desqualificado e impedido de se inscrever em universidades e instituições de ensino superior”, avisou o Ministro da Educação chinês, citado pelo China Daily.

Em comunicado, emitido no fim da semana passada, o ministério revelou estar a trabalhar de perto com as autoridades de segurança pública e disciplina na fiscalização dos exames para responsabilizar culpados e cúmplices que desvirtuem a justiça dos resultados.

O China Daily descreve que o Ministério da Educação deu instruções às universidades para verificar a identidade dos estudantes do ensino secundário para tentar encontrar infractores que tenham roubada identidade ou adquirido pontos extra no gaokao de forma fraudulenta.

Os exames, que deviam ter decorrido no passado mês de Junho, foram adiados para a terça e quarta-feira desta semana, não só para preparar as escolas para o reforço de segurança face ao escândalo de fraude, mas também devido à pandemia de covid-19.

Na censura a este fenómeno, os membros do Comité Central da APN foram mais longe. “A característica essencial do que é o crime é o perigo que representa para a sociedade. Comparando com defraudar ou roubar dinheiro, roubar as qualificações, e as perspectivas de futuro, é ainda mais prejudicial. Tal infracção deve ser punida criminalmente e extinguida”, referiu Liu Jixing.

Zhang Yesui, colega de Liu na elite da APN, concordou e acrescentou que a lei criminal foi revista em 2015 para incluir artigos que punem fraude nos exames nacionais, tal como o gaokao, medida que teve efeito persuasivo, uma vez que o número de casos verificados caiu.

O caso de Chen

O iceberg de fraudes começou a despontar com o caso de Chen Chunxiu, de 36 anos, residente de Liaocheng na província de Shandong. Em 2004, Chen conseguiu uma pontuação de 546 num total de 750 no gaokao, o suficiente para estudar economia e gestão na Universidade Tecnológica de Shandong. O problema é que esta realidade só foi conhecida pela aluna 16 anos depois.

Para Chen Chunxiu, este era o exame que poderia mudar tudo. Ter sucesso no gaokao significava que a filha de um agricultor teria uma hipótese de realizar o sonho de entrar na universidade que queria. O sonho não se realizou.

Depois da admissão negada, Chen passou por vários empregos, trabalhou em fábricas, foi empregada de mesa, até encontrar uma oportunidade para trabalhar como professora de infantário.

Depois desses duros 16 anos, Chen descobriu que afinal de contas conseguira um resultado que lhe permitia entrar na Universidade Tecnológica de Shandong e que fora mesmo admitida. Alguém havia entrado com a sua nota e a sua identidade, depois de jogos de bastidores de familiares.

Em Maio desde ano, Chen decidiu candidatar-se num curso para adultos na mesma universidade. Depois de preencher os dados pessoais no website, descobriu que tinha entrado em 2004 e terminado os estudos em 2007. O choque seguinte foi quando viu a fotografia de outra pessoa na ficha com o seu nome. A verdade começava a vir ao de cima.

De acordo com a agência estatal Xinhua, o tio da estudante que roubou as notas e identidade de Chen, um funcionário local, foi acusado de pedir auxílio a um director de admissões que tinha acesso às informações do exame da vítima. A história de Chen foi amplamente divulgada na China nas últimas semanas. A sua família vivia na pobreza e só tinham dinheiro para pagar a educação a um filho, portanto, obrigaram o irmão, com menos “talento académico”, a abandonar os estudos para lhe dar prioridade. Este caso não é paradigmático da China rural, onde normalmente a educação dos filhos é privilegiada em relação à das filhas.

Nessa altura, 2004, as universidades chinesas não tinham a obrigação de enviarem cartas aos estudantes rejeitados na admissão, portanto, o silêncio postal significava que estava na hora de procurar um trabalho.

A outra face

Chen Chunxiu nunca recebeu a carta que lhe fora endereçada onde constava que fora admitida. O pai da estudante que tomou o seu lugar alegadamente interceptou a carta antes de ser remetida, com a ajuda do reitor da escola onde o exame foi feito, de acordo com a Xinhua. O que seguiu foi um rol de falsificações que permitiu à pessoa errada entrar na universidade na pele de Chen.

Importa referir que a impostora contava entre familiares um director de polícia e funcionários da Universidade Tecnológica de Shandong para garantir que entrava na universidade. A filha de um agricultor pobre não tinha hipóteses no meio de um esquema deste género.

Por coincidência, a impostora também se chama Chen, mas Chen Yanping. Até hoje, os colegas de universidade de conhecem-na como Chen Chunxiiu. Entretanto, a instituição revogou a licenciatura da alegada autora de fraude, que acabou também por perder o emprego.

Segundo a Xinhua, as autoridades locais tomaram “medidas coercivas” contra o pai da alegada impostora, um termo vago que tanto pode significar detenção ou prisão domiciliária.

Funeral de Stanley Ho | Analistas dizem que poder de Pansy Ho será reforçado

[dropcap]A[/dropcap]nalistas ouvidos pela Lusa consideram que a morte do magnata do jogo Stanley Ho, cujas cerimónias fúnebres se realizam hoje e na sexta-feira em Hong Kong, pode reforçar o poder de Pansy Ho, filha do empresário de Macau.

Pansy Ho, de 57 anos, foi a filha que anunciou aos ‘media’ a morte do pai, em 26 de Maio, e que hoje leu as mensagens de condolências na cerimónia de homenagem ao magnata de Macau, realizada em Hong Kong, enquanto “representante da família”, de acordo com um comunicado da empresa de assessoria.

Em 2019, a multimilionária e a Fundação Henry Fok passaram a assegurar 53,012% das ações da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), que já deteve o monopólio do jogo no território. A STDM, por sua vez, controla 54,11% da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) Holdings, com 22 casinos no território.

Pansy Ho, filha mais velha do segundo casamento do magnata, que detém ainda parte da norte-americana MGM China, deverá “tomar o controlo da SJM e consolidá-lo”, disse à Lusa Ben Lee, analista da consultora de jogo IGamix.

Recentemente, houve “movimentos que evidenciam que (…) os antigos aliados de Stanley Ho, a família Fok, redirigiram o apoio para Pansy”, considerada a favorita do magnata, “com a irmã, Daisy Ho, a ser nomeada co-presidente da SJM” em 2018, apontou Lee.

Pansy também vendeu parte da participação na MGM China, quando se sabe que a lei do jogo impede um accionista de deter mais de 5% em mais do que uma concessionária. “Estes movimentos sugerem que Pansy irá procurar assumir o controlo” e “consolidar” o seu poder sobre o antigo império de Stanley Ho, que inclui 22 casinos detidos pela SJM, interesses na subconcessionária norte-americana MGM Resorts International e nos ferries e helicópteros que ligam Macau e Hong Kong, através da empresa Shun Tak.

Para Ben Lee, tal poderá desembocar naquilo a que chama “a reintegração do antigo império” de Stanley Ho, que foi dividido em três componentes: SJM, STDM e Shun Tak. “Isso dar-lhe-á muito mais poder e influência do que tinha dividido”, considerou Lee, sublinhando que os investidores veem com bons olhos o reforço do poder de Pansy.

A SJM “tem estado num limbo desde que Stanley Ho ficou incapacitado [em 2009], não tem havido realmente qualquer direcção ou visão na empresa. A consolidação dos votos e procurações por detrás de Pansy Ho dar-lhe-á o controlo de que necessita para que a SJM ganhe uma nova dinâmica”, defendeu o analista.

A “dança das cadeiras” levará provavelmente à perda de poder da quarta mulher de Stanley Ho, Angela Leong, actualmente co-presidente da SJM, com Daisy Ho, irmã de Pansy. “Penso que o acordo [de poder] partilhado cessará quando Pansy Ho eventualmente se mudar para a SJM e assumir o controlo”, antecipou Lee.

O advogado em Macau e especialista na área do jogo Carlos Lobo é da mesma opinião. “A Angela é a pessoa que tem uma ligação maior a Macau, é deputada na assembleia legislativa há vários anos, e sempre liderou, enquanto Stanley Ho estava capaz, uma boa parte dos projectos da SJM”, lembrou o jurista. “Ganhou muita experiência e conseguiu navegar numa área extremamente complexa”, mas “está bastante enfraquecida e terá dificuldades em retomar a posição que tinha há alguns anos”, defendeu.

Lawrence Ho, irmão de Pansy, detentor de um concorrente da SJM em Macau, a sub-concessionária Melco Resorts & Entertainment, é uma incógnita no futuro xadrez. “Tenho visto muito pouca cooperação entre os dois, ele é muito independente”, apontou Lee.

Para Carlos Lobo, “não se pode descartar o facto de que Lawrence faz parte deste mesmo grupo de irmãos que está a tomar conta deste processo”, defendendo que tem “potencial para ser alguém que as pessoas em Macau revejam como o real sucessor do pai”.

Com as concessões atuais a chegarem ao fim em 2022, a SJM terá também de se preparar para alterações na repartição do mercado, segundo Lee, que prevê que os operadores norte-americanos venham a ser substituídos “por interesses mais amigos da China”.

Outra das incógnitas no horizonte dos casinos do antigo magnata, que deteve o monopólio do jogo em Macau até 2002, é a lei do jogo, que deverá ser alterada até 2022, quando as concessões chegam ao fim.

“O Governo anunciou que iria iniciar uma consulta pública este ano, mas já vamos em julho e ainda não começaram”, explicou Carlos Lobo, que participou na elaboração da lei do jogo ainda em vigor.

A disputa pelo poder no império de Stanley Ho acontece numa altura em que os casinos registam perdas recorde, por causa da pandemia, que atrasou a abertura de um empreendimento da SJM em Cotai (entre Taipa e Coloane).

“Temos visto a parte de mercado da SJM diminuir ao longo dos últimos anos”, salientou o especialista em Gestão Internacional de ‘Resorts’ Integrados da Universidade de Macau Glenn McCartney, recordando que, depois de Stanley Ho ter perdido o monopólio do jogo no território, passou a enfrentar cinco operadores, e essa concorrência “existe mesmo entre membros da família”.

Para a SJM crescer, “vai ter de aumentar a percentagem de mercado, atraindo novos clientes da China, ou ultrapassar os concorrentes, o que vai ser muito difícil”, num momento em que todos os operadores “estão desesperados por reconquistar os rendimentos perdidos com a covid-19”, com quebras de 97% por mês, disse.

Funeral de Stanley Ho | Advogado diz que herança pode reavivar disputas familiares

[dropcap]O[/dropcap] advogado Carlos Lobo disse à Lusa que a repartição da herança de Stanley Ho, o magnata dos casinos de Macau que deixou três mulheres e 15 filhos vivos, levanta “incertezas jurídicas” e pode reavivar disputas familiares. “Sempre que há famílias, há problemas, e numa família tão grande, é expectável que nem todos concordem”, antecipou Carlos Lobo.

O jurista, que foi assessor do Governo de Macau, tendo participado na elaboração da lei do jogo e integrado em 2001-2002 a comissão do primeiro concurso público de concessão dos casinos, disse à Lusa que a partilha da fortuna de Stanley Ho “é um processo bastante complexo”, levantando questões sobre a jurisdição aplicável e a possibilidade de ser contestada por membros do clã.

Falecido em 26 de Maio, Stanley Ho, cujas cerimónias fúnebres se realizam hoje e na sexta-feira, em Hong Kong, deixou uma fortuna avaliada em cerca de 6,4 mil milhões de dólares, quando se reformou, em 2018.

O império do homem mais rico da Ásia originou disputas ainda em vida, após ter sofrido um acidente que o incapacitou, em 2009, e que o levaria finalmente a abdicar da presidência das ‘holdings’ dos seus casinos, em junho de 2018, com 96 anos, em favor da filha Daisy Ho.

Antes, em 2011, Stanley Ho chegou a processar a terceira mulher e os cinco filhos do segundo casamento, acusando-os de tentarem apropriar-se indevidamente dos seus bens, enquanto Angela Ho, filha mais velha do primeiro casamento, se queixava de que o pai não deixara nada à mãe, a macaense Clementina Leitão, considerada determinante na fortuna do magnata.

A herança poderá provocar novas guerras familiares, até pelo grande número de herdeiros do “rei dos casinos”: sobreviveram-lhe três das quatro mulheres e 15 dos 17 filhos.

Sublinhando que não se sabe se Stanley Ho deixou ou não testamento, o advogado considerou que, em qualquer caso, vai ser um processo “muitíssimo complicado”, a começar pela determinação da jurisdição aplicável.

“Stanley Ho era residente em Hong Kong, mas também em Macau”, disse Carlos Lobo à Lusa, recordando que os sistemas jurídicos das antigas colónias britânica e portuguesa “são completamente diferentes”.

“Em Hong Kong, que segue o regime da ‘common law’ britânica, a pessoa que faz o testamento pode fazer literalmente tudo o que quiser”, enquanto que em Macau, onde o direito da família é semelhante ao de Portugal, “não pode fazer tudo e mais alguma coisa, e não pode beneficiar uns filhos relativamente a outros”.

“Se Stanley Ho beneficiou filhos em detrimento de outros (…) alguém poderá ter legitimidade (…) para verificar se as coisas foram ou não bem feitas, e ser eventualmente ressarcido no seu dano”, preveniu.

O advogado apontou ainda que a localização de bens imóveis pode igualmente atrasar a repartição célere da fortuna. “Havendo bens em Macau que eram dele, aplica-se necessariamente a lei de Macau”, apontou.

As movimentações na luta pela herança começaram ainda antes do funeral de Stanley Ho, agendado para esta sexta-feira, em Hong Kong.

Onze dias após a morte do pai, Deborah Ho, a filha mais nova do primeiro casamento de Ho com Clementina Leitão apresentou um pedido no Registo de Sucessão de Hong Kong para que os seus advogados sejam informados de todas as movimentações relacionadas com a herança, de acordo com o diário South China Morning Post.

Dias depois, foi a vez de um sobrinho de Stanley Ho, Michael Hotung, apresentar igual pedido – o mesmo sobrinho que, no passado, reclamou 255 milhões de dólares (cerca de 225 milhões de euros) em dividendos da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), em nome da mãe, Winnie Ho, irmã de Stanley, falecida em 2017.

Para o jurista, apesar de parte da fortuna de Stanley Ho ter sido distribuída em vida, “é expectável que surjam pessoas e filhos que se julguem menos beneficiados relativamente aos outros irmãos e irmãs, e venham agora solicitar que o tribunal determine se aquilo que foi feito o foi de forma correta e justa”.

Um mês depois da morte de Stanley Ho, a família anunciou que o magnata tinha mais um filho que nunca foi apresentado ao público, o que “traz mais um elemento de incerteza para o processo”, considerou Carlos Lobo.

O até aqui desconhecido 17.º filho (15.º dos filhos vivos) chama-se Ho Yau-bong, informou, no final de junho, a mãe, Angela Leong, quarta mulher de Stanley Ho e atual diretora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) Holdings, com 22 casinos no território.

A também deputada na Assembleia Legislativa de Macau precisou que o filho – que deverá ter 28 anos, segundo a imprensa local – não era um segredo para a família, e a identidade tinha sido protegida por causa de problemas de saúde.

Neste caso, a questão da repartição da fortuna poderá alargar-se a mais um membro da família, considerou Carlos Lobo.

”Terá havido partilhas em vida por parte de Stanley Ho relativamente aos filhos, nomeadamente a Pansy Ho [que controla, através da STDM, com a Fundação Fok, a maior parte da SJM, e detém parte da MGM China], a Daisy Ho [presidente da SJM Holdings] e Lawrence Ho [à frente da Melco Resorts & Entertainment]”, todos filhos da segunda mulher, Lucina Laam King Ying.

Para o jurista, a questão que se coloca é saber se Ho “fez partilhas relativamente a esse filho que ninguém sabia que existia”.

Inflação na China regista subida homóloga de 2,5% em Junho

[dropcap]O[/dropcap] índice de preços ao consumidor (IPC) da China, o principal indicador da inflação, registou um crescimento homólogo de 2,5%, em junho passado, informou hoje o Gabinete Nacional de Estatísticas do país asiático (GNE). O número está em linha com a previsão dos analistas e constitui um ligeiro aumento em relação a maio, quando aumentou 2,4%, face ao mesmo mês do ano anterior.

Ainda assim, trata-se do segundo menor aumento percentual desde abril de 2019, ilustrando o impacto económico das medidas de confinamento aplicadas na China para conter a pandemia da covid-19, no primeiro trimestre do ano.

Segundo o estatístico do GNE Dong Lijuan, os dados de junho devem-se ao “progresso na retomada dos negócios nas cidades”, além das políticas adoptadas “para garantir a oferta e estabilizar os preços”.

À semelhança dos meses anteriores, os dados do GNE revelaram que os principais protagonistas do aumento da inflação foram os alimentos, com uma subida de 11,1%, em relação a junho de 2019.

O preço da carne de porco, principal fonte de proteína animal na dieta chinesa, aumentou 81,6%, reflectindo os efeitos de uma peste suína que dizimou a produção doméstica da China a partir de meados de 2018.

O preço das frutas frescas caiu 29% e o dos ovos 13,6%, enquanto o dos legumes frescos aumentou 4,2%. O GNE indicou que o preço dos produtos não alimentares aumentou 0,3%, em relação ao ano anterior, e o dos bens de consumo 3,5%. O custo dos serviços aumentou 0,7%.

O custo dos cuidados médicos subiu 1,9%, em junho, o mesmo aumento observado na educação, cultura e entretenimento, enquanto os preços dos transportes e comunicações caíram 4,6%. O preço do vestuário caiu 0,4% e o da habitação 0,6%.

Putin apoia esforços da China para “preservar segurança nacional em Hong Kong”

[dropcap]O[/dropcap] Presidente russo, Vladimir Putin, defendeu hoje os esforços do homólogo chinês para “preservar a segurança nacional em Hong Kong”, durante uma conversa na qual os líderes se comprometeram a “defender mutuamente a soberania” dos seus países.

O ministério dos Negócios Estrangeiros da China informou que Putin disse a Xi Jinping, durante uma conversa por telefone, que se opõe a “qualquer medida provocadora que comprometa a soberania chinesa”. “Acho que a China é totalmente capaz de manter a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong a longo prazo”, disse Putin, segundo o comunicado do Ministério.

Xi parabenizou ainda Putin, pelas alterações à Constituição russa, votadas entre 25 de junho e 01 de julho, que permitirão ao Presidente russo permanecer no poder até 2036.

“Como sempre, a China apoiará a Rússia na escolha de um caminho de desenvolvimento que se adapte às suas características”, disse Xi, acrescentando que “é necessário que os dois países continuem a cooperar, numa altura de mudanças na situação internacional”.

Os dois líderes frisaram a sua rejeição pela “interferência de outros países” nos seus assuntos internos, algo que deve ser “impedido”, numa clara referência à suposta interferência estrangeira em Hong Kong.

Vários países criticaram a decisão da China de impor uma lei de segurança nacional em Hong Kong, por considerarem que ameaça as liberdades na cidade, cuja soberania foi devolvida pela China, pelo Reino Unido, em 1997, mas que manteve estatuto de região administrativa especial, com uma mini-constituição própria.

China pede reconciliação com os Estados Unidos

[dropcap]O[/dropcap] ministro dos Negócios Estrangeiros chinês apelou hoje a uma “reconciliação” entre China e Estados Unidos e propôs que os dois lados elaborem uma lista para identificar e resolver as disputas que estão a abalar a relação.

Num discurso publicado no portal do ministério, Wang Yi reconheceu que os dois países enfrentam “os desafios mais sérios” desde que estabeleceram relações diplomáticas, em 1979, e defendeu que os laços se desenvolvam “de maneira sincera”. “A China está pronta para falar se os Estados Unidos quiserem. Somente o diálogo pode evitar mal-entendidos”, apontou.

Wang Yi considerou que ambas as potências devem “coexistir pacificamente e enviar energias positivas”. O chefe da diplomacia chinesa sugeriu a elaboração de vários dossiers para os dois países analisarem. O primeiro trataria de questões “bilaterais e globais”, enquanto o segundo trataria de “questões problemáticas” que, em teoria, ainda podem ser resolvidas por meio de negociação. No terceiro constariam problemas não resolvidos.

Segundo Wang, a política dos EUA em relação à China tem como base “julgamentos errados” e a chave seria que Washington aceitasse que não pode mudar o país asiático.

“A China não pode ser como os Estados Unidos. Temos o nosso próprio caminho e as nossas características”, argumentou. “Devemos gerir disputas, minimizar os danos que estas podem causar ao relacionamento. Devemos procurar um terreno comum”, acrescentou.

Nos últimos anos, Washington passou a definir a China como a sua “principal ameaça”, apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas, que resultou já numa guerra comercial e tecnológica e em disputas por influência no leste da Ásia.

As relações deterioram-se ainda mais nos últimos meses, com trocas de acusações sobre a origem da pandemia do novo coronavírus ou a aprovação da nova lei de segurança nacional de Hong Kong.

Solilóquio mudo

Sim, na minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite
Clarice Lispector (1920 – 1977)

 

[dropcap]H[/dropcap]á uma melancolia guardada nos olhos da população. Incomoda-me ver as pessoas de olhos baixos –excluídas da vida. Sou um leitor de olhares. Ensinou-me uma voz amiga. Não há estímulos, sensações, não se vive, estamos soterrados. Há um grande desassossego.

Não falam deles – trocam palavras, não ideias – falam do Outro. Falam das desilusões do Outro, das obsessões do Outro, dos seus pensamentos, dos seus erros. Não é o seu conhecimento que eleva a sua opinião, é a sua ignorância. Não sabem gerar pensamento ou estimular o debate de ideias. Não são eles é o Outro. E quem é o Outro? É conciliador e dialogante, mas falta-lhe decisão, determinação e coragem – não se rende e nunca desiste.

“O Homem não é mais do que a série dos seus actos” – como afirmava o filósofo alemão Georg Hegel (1770 – 1831). A Arte de desconversar é mesmo um fim em si – é uma arte! Criticam por o burro ir ligeiro e eles a pé.
Surpreendem-me através da ocultação de conversas, ligadas ao imaginário do Outro, produzindo um jogo de tensão e reflexão entre o visível e o invisível. Mas todas essas conversas combinam uma boa dose de paixão, amor e obsessão. Existe o medo de dizer uma mentira, não a verdade. Não há inocência nas conversas, há sobrevivência. Vivemos de apontamentos.

Bisbilhotice e má língua criticam uns, outros falam em difamação e vingança. E, em lugar da distância, descobrimos a proximidade. Aceitam a plácida contrariedade e a crença nas virtudes da modéstia. São almas dedicadas a ser governadas pela vida alheia. A crise que vivemos não explica tudo. Explica as falhas humanas, as ambições, todas as assimetrias, comportamentos, maldades, erros. Faltou capacidade para prevenir e remediar – não remendar -a crise. Os governos mundiais, fora raras excepções, são metáforas da crise.

Gosto desta gente, queixa-se tão pouco, mas há gritos nas trevas – a rua quando espreita assusta, o medo e a solidão, começaram a fazer parte do nosso alfabeto, os dias ganham cor, ainda guardamos memórias de luz e sombra. Há um crítico(ar) da erosão, um simples percalço não um fim.

Sobre a solidão, “não é estar só é o estar vazio”. Há um texto lindíssimo de Rainer Maria Rilke (1875 – 1926) que diz o seguinte: “Devemos permanecer silenciosos e solitários e pacientes para acolher em nós a graça de uma hora que a muitos não chega a revelar-se, porque neles há demasiado rumor e uma escassa ordem.

Tudo depende afinal, de aprender a ligar-se àquilo que é grande, àquilo que vivemos apenas no coração e que nada pode turbar. Se nestes momentos de grande recolhimento e elevação compreendemos que a vida está naquilo que, palpitante e solene, se move em nós e nos deslumbra com lágrimas que brotam do profundo mais luminoso, então a modesta confusão que nos circunda ainda, o ordinário e o turbulento que corre não poderão já fazer-nos desanimar”.

O destino pode ser rumo, mas também fado – palavras obedientes -, não gostamos de coisas que nos fazem sofrer, precisamos de nos perder para nos encontrar. Vivemos muito à superfície, precisamos de uma vida que decline o medo, o silêncio – como dizia o poeta Cristovam Pavia “só há uma saída pelo fundo”.

Ensopado de humanização

[dropcap]D[/dropcap]o poeta holandês Remco Campert perdi todos os livros que tinha, mas ficou-me na cabeça a frase de uma entrevista. À pergunta idiota “Quando é que escreve?”, respondeu “Escrevo quando sinto que não pertenço”. Nessa altura, eu vivia em verdadeira ponte aérea. Lembro-me que ia embarcar para longe e atentei aos quadros electrónicos. Os números digitais estavam sempre a transformar-se noutros números. Os destinos que apareciam logo desapareciam. Pescoços levantados e nervosos a comutar paixões.

Eu já sabia que um aeroporto a nada pertence, não se localiza em lado nenhum, nem propõe uma geografia própria. Todos os aeroportos tendem a ser iguais, nivelando expectativas e longos corredores de vidro para destemperar as angústias. Se a alteração das pulsações começou por definir a lanterna mágica e depois o cinema, hoje os aeroportos ocuparam-lhe essa posição. Em tempos que já lá vão, cada catedral era um aeroporto. No entanto, tal como acontece nos nossos tempos, ninguém tinha a consciência disso.

Por exemplo, no ano 1000 não existia a consciência do ano 1000. Para registar uma data, recorria-se a referências tais como um reinado, um pontificado, a governação de um bispo, ou um ciclo de cobranças (com incidência, por exemplo, no imposto fundiário herdado da fiscalidade romana). Um diploma redigido na cidade de Paris, no ano de 998, foi datado do seguinte modo: “13ª das calendas de Maio, indicção II, 10º ano do reinado de Roberto”. O ano 1000 não pertencia, portanto, às pessoas que viveram nessa época.

Com excepção de alguns membros da igreja que sabiam ler, ninguém fazia a mínima ideia da data que corria. Essa ignorância generalizada explicou a indiferença na altura pelo (que para nós hoje é o) ano mil. Além de que não era comum, nesse tempo, pensar os anos sob a forma de algarismos e ainda menos com uma base comum. A duração ri-se do modo como o acto de contar não passa de uma urgência para crianças a correrem atrás umas das outras, desarvoradas, sem direcção certa, aos gritos e felizes por se sentirem e saberem eternas. Há épocas a que não se regressa. Há épocas a que nunca pertenceremos. Tinha toda a razão Remco Campert.

Talvez fosse por causa do arrojo de Campert que Clarice Lispector gritou deste modo no outro lado do Atlântico: “Quero o material das coisas. A humanidade está ensopada de humanização, como se fosse preciso; e essa falsa humanização impede o homem e impede a sua humanidade. Existe uma coisa que é mais ampla, mais surda, mais funda, menos boa, menos ruim, menos bonita.”. Essa coisa ensopada é o que nos faz correr sem ter a consciência da corrida. Pertencer por pertencer. A história inventou-nos o ano mil e outros cômputos digitais que nos garantem certas certezas. Por sua vez, os aeroportos e muitos outros interfaces que transpiram sofregamente na rede – sempre, sempre em viagem – inventaram-nos a inocência da geografia, mas continuam a atirar sobre nós as mesmas certezas (ainda que sob a forma de estilhaços em toada de zapping).

O facto é que todos os dias é possível rever os mesmos vultos a rezar na mesma direcção. Reproduzem passos, percorrem alamedas ou algoritmos e recompõem as escadarias do acastelado. Reduplicam rostos nos teclados, agitam polegares e escancaram os longos vazios que destilam em ecrãs que se perdem dentro de outros tantos ecrãs. E a linguagem que usam é a dos aeroportos: igual a si mesma, redonda, por vezes ofensiva e bastante parecida, aliás, com um papel de embrulho untado pela gordura dos hamburgers.

Se eu fosse publicitário começava agora mesmo um “brain storming” com frases nuas e curtas do género “Repetir é sufocar”, “Acreditar é pavimentar o ar” ou “Não pertencer é procurar o ar”. Era preciso que as vogais abertas à O’Neill se vendessem ao preço do ouro, pois o petróleo está a descer nas cotações. Assim houvesse tempo para poder depois gozar dos rendimentos da campanha. Até porque o tempo somos nós e não o ano mil que explode na mostarda das fábulas mundanas. Na minha opinião de publicitário virtual, o poeta Remco Campert ficou para sempre em loop a repetir a frase – “Escrevo quando sinto que não pertenço” – nas ondas hertzianas da rádio “Hilversum Vier”, hoje baptizadas, ao que sei, pelas ondas digitais da “NPO Radio 4”. Afinal o que mais custa é comutar as paixões.

Lispector, Clarice. A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro, Rocco, 2009 (or. 1964), pp. 158.

Bíblicas desilusões

[dropcap]E[/dropcap]m 1894, ainda a bordo do navio que o conduzia a Macau, Camilo Pessanha começou a escrever cartas ao pai e ao colega e amigo Alberto Osório de Castro. Trazem as descrições primeiras daquela cidade, bem como da travessia até lá. Mostram um registo pitoresco, embebido de leituras de Pierre Loti, um famoso autor do exotismo francês e dos crisântemos floridos que hoje já ninguém lê. É o registo do iniciante, do recém-chegado, vibrando a qualquer lastro de exotismo e não o Pessanha que nos habituámos a conhecer, ponderado estudioso das coisas da China e com muito poucas cedências ao fascinado discurso do exótico oriental, que tantas vítimas fez até hoje.

É de supor que as leituras orientalistas (Loti e outros franceses) fazem parte da bagagem da sua travessia para o “pálido Oriente – pálido e rútilo” (Correspondência, p. 120 da edição de 2012, de Daniel Pires), expressão com forte olor francês a chineserias e japoneserias retirada de uma carta a Osório de Castro. E o mais importante é que estas primeiras cartas assinalam já um vivo interesse pela China e, mais importante ainda, um programa de escrita logo desde a arribação, como o desta, enviada a seu pai desde Macau:

“Quase já estou animado a escrever sobre coisas do Oriente” (Correspondência, p. 228).
Mas o primeiro sinal desse confronto com o Oriente tem um nome concreto, chama-se desilusão, e chega mesmo antes de o poeta chegar à China. Passado o estreito de Malaca, logo se queixa ao pai acerca do mundo que se lhe apresenta para lá da Europa. É, na verdade, tópico habitual da literatura: o velho Oriente revelando-se como desilusão, quando confrontado com o livro, isto é, a autoridade europeia com que viaja debaixo do braço, que prepara, explica e dispõe o Oriente. É o ponto da viagem no qual se desilude com Adem, cidade-porto junto ao Mar Vermelho, na primeira travessia para Macau: “Não vi coisa alguma do que dizia um artigo que eu li de António Enes: nem chins, nem turcos, nem índios, nem gregos… nem ingleses” (p. 219). O poeta confronta a sua visão com a descrição de António José Enes, um político ultramarino invocado como autoridade (desmentida) em assuntos do Oriente. Seria porventura um artigo aconselhando o viajante português sobre o que iria encontrar em viagem para Leste, e como se comportar diante de bizarrias e barbaridades.

Aqui Camilo junta-se a outros viajantes ilustres da desilusão, como Goethe, Chateaubriand, Nerval ou Twain. O problema é que o Oriente moderno já não se parece nada com os textos, bíblicos e outros, como no caso daqueles turistas do Próximo Oriente a que podemos juntar o poeta da Clepsydra. O desencanto é porém mais um sinal do conhecimento superficial, e Camilo não é um turista na China, apenas nestas paragens. A China está certamente para além de qualquer encanto ou desencanto europeu, mas esta breve passagem pelo tema romântico da desilusão é importante como o momento em que a mente se prepara para conhecer o que está por detrás dos textos e criar novos textos que possam mentir de outra forma. Uma forma, digamos, mais sofisticada. Afinal, quarenta anos passados em Macau permitem mentir muito e melhor, ainda que sobre o celeste império dê para mentir apenas em prosa, que o verso, com China ou sem China, é sempre verdadeiro.

Deslizes civilizacionais

[dropcap]A[/dropcap] forma trivial como Bolsonaro nomeia ministros tornou-se tão deslustrosa que hoje ninguém arrisca “credibilizar” a pasta da Cultura. O que já fora comentado, ironicamente, por Drummond de Andrade, numa crónica. É no livro De Notícias e Não-notícias faz-se a Crônica, num precioso microconto: « — Esse vai ser ministro, sentenciou o pai, logo que o garoto nasceu. — E você, com esse ordenado micho de servente, tem lá poder pra fazer nosso filho ministro?, duvidou a mãe.» No baptizado, ao enunciar o nome do filho, o personagem de Drummond proclamou: «— Ministro. — Como?, estranhou o padre. — Ministro, sim senhor, teimou o pai, irredutível. A mulher ainda tentou corrigir: — Tonzinho, não foi Antônio de Fátima que a gente combinou?». Melhor, é impossível.

O que era afinal a civilização democrático-liberal? A elegância, a leveza, a dignidade que nos eram consentidas no fluxo do quotidiano e o sentimento de que as instituições funcionavam capazmente (i.é, sujeitas a erros e acertos periódicos) na regulação social; tendo como base valores éticos que protegiam um sentimento de pertença comum.

O que se conseguiu à custa da clivagem entre narrativas civilizacionais ou até de guerras e obrigou a novas formas de gerir o conflito e as mediações humanas, tendo mudado inclusive o estatuto das ficções, crescentemento palco de simulações das dinâmicas sociais. Isso mexeu com as próprias formas criativas, deu-lhes pano de fundo, mercados, complexidade, subtileza – refinou-lhe os processos.

Vou dar um exemplo extraído de um filme que se encontra no Youtube. Trata-se de Youngs Lions, de Edward Dmytryk, de 1959; conta a história de três tipos: um tenente alemão gradualmente céptico com a razão da guerra e dois americanos que vão servir no exército a contragosto (um cantor da Broadway e um rapaz pobre de origem judaica). O enredo entrecruza os variados pontos de vista acerca do conflito e os elos humanos que nutrem os dois lados da batalha.

Marlon Brando é Cristhian, da Baviera, instrutor de esqui, que será um tenente do exército incomodado com a nazificação do espírito alemão. Mandado para Paris, enfiaram-no na Gestapo, com cujos métodos discorda, e pede uma licença ao seu capitão para ir a Berlim. Este, que vê nele um bom militar a quem só falta obedecer sem se interrogar, pede-lhe que entregue uma mantilha de renda preta que comprou à sua mulher e lhe “transmita o seu afecto e como pensa nela constantemente”.

Cristhian faz a visita à esposa do capitão. Esta, de uma beleza e sensualidade ímpares, está de saída (vai encontrar-se com um general), mas sugere que a aguarde “pois quer falar com ele sobre o capitão”. Ele fica por deferência, dir-se-ia que o seu gesto se entroniza na aprendizagem da obediência que o capitão lhe quer incutir. Ela volta de madrugada e acorda-o com suavidade. Ele quer compor-se, julga-se numa postura imprópria em casa alheia, mas ela mete-o à vontade e inverte os papéis, perguntando-lhe “se ele não lhe oferece uma bebida”.

Depois, en passant, ele queixa-se de não ser soldado e de ter sido posto na polícia (nesta fala abre-se uma ética) e ela confia-lhe que pode mexer os cordéis para o transferirem. Como? Ela, despindo-se, insinua, “com esforço…”. Cristhian compreende que é uma questão de troca de “esforços” e, fiel à transmissão de afecto que lhe pediram que fizesse, satisfá-la sexualmente com uma obediência cega ao acto.

O jogo destes matizes subtende uma ironia subtil, feroz, inteligentíssima: a cena vale o filme.

À frente, uma segunda cena entre os dois dá-nos a chave do “ethos” de Cristhian.
Fim da guerra. Cristhian, que vira o capitão em péssimo estado no hospital, volta a visitar-lhe a esposa. A casa está arruinada e a rua derruida, sob efeito dos bombardeios. Ela fala-lhe friamente da morte do marido, que entretanto se suicidou. Não se mostra alterada e atira-se de novo a ele. Ante as suas reticências, ela pede-lhe para ser “realista”. Cristhian percebe: o que antes se lhe afigurava uma marca de liberdade afinal não passa de um expediente de sobrevivência a todo o transe – mete-lhe agora repulsa a beleza dela, afinal um signo do degradado vaivém dos afectos com que o sistema corrompeu o espírito alemão e lhe ditou a crueldade. A corrupção, percebe aí Cristhian, começa na forma como cedemos aos apetites, lhes obedecemos – paradoxal caminho da derrota. Rejeita-a, e nesse gesto repele a sua anterior cumplicidade com a abjecção.

Nas duas cenas, através das peripécias da intimidade, transparece o arco e o declínio de uma postura civilizacional e por isso são magníficas – embora sejam ideias de argumento que Dmytryk se limita a ilustrar.
Contudo, para se conseguir esta complexidade das personagens, esta filigrana que oferece vários níveis de leitura para as situações dramáticas e o implícito que abre chaves no jogo psicológico foi preciso uma tradição narrativa que levou séculos a apurar-se e que supunha um modo fecundo de relacionamento com o que seja a inteligência e o modus operandi da criativa ociosidade burguesa.

O que está colocado em causa nesta época sombria. Estamos de novo na temperatura civilizacional de onde emerge a mediocridade e a confusão de valores que levou Cristhian a equivocar-se em todas as escolhas políticas. Como acontece ciclicamente, acomodamo-nos à patética fase de exibição narcísica em que não nos rala ficarmos mais tolos, egoístas, e naufragados na iliteracia. Escuda-nos a ilusão de que tudo tem um preço: primeiro efeito do triunfo niilista. A vaga anti-intelectual que sacode os orgãos de comunicação ajusta-se.

Trump, que ridiculamente se diz o novo guardião do Cristo Redentor, ao “nacionalizar” as vacinas para o Covid-19 esvazia com isso os valores cristãos que protegiam a validade de uma pertença comum. A contradição não lhe importa, Trump, num lance de poder travestido de nacionalismo espera ter corrompido a vontade dos votos. Assim começam os fascismos.

Macau Book Carnival | 23ª edição da feira do livro arranca esta sexta-feira 

Começa esta sexta-feira mais uma edição do Macau Book Carnival, uma feira do livro organizada pela Associação de Promoção da Literacia de Macau. Com eventos para toda a família, além da venda de livros com desconto, a feira do livro recebe, no sábado, para uma conversa sobre o livro bilingue “Na Rua”, da editora Mandarina

 

[dropcap]A[/dropcap] 23ª edição do Macau Book Carnival começa esta sexta-feira e, à semelhança dos anos anteriores, tem lugar no ginásio do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Até ao dia 19 de Julho o público poderá não só usufruir de livros mais baratos como também ter acesso a espectáculos musicais e outras actividades para toda a família.

Este sábado, dia 11, por volta das 15h30, tem lugar uma sessão de lançamento do livro bilingue “Na Rua”, lançado pela editora de livros infantis Mandarina. A sessão conta com a presença de Catarina Mesquita, fundadora da Mandarina, e o escritor Joe Tang.

Ao HM, Imwa Chan, presidente da Associação de Promoção de Literacia de Macau, explicou que a edição deste ano conta com a presença de 30 livrarias e editoras, que vão apresentar obras em chinês, inglês e português. A apresentação do livro “Na Rua” partiu de um convite da associação.

“Esperamos que os leitores chineses que querem aprender português possam comprar o livro”, frisou.
Imwa Chan assegura que, 22 anos depois, esta feira do livro tornou-se mais do que local onde se vendem livros com desconto. “Sinto-me encorajada com o facto de este não ser apenas um evento para vender livros com desconto, mas pode também ser uma plataforma para que livrarias, e escritores e leitores se possam reunir num só espaço e possam trocar impressões sobre o seu trabalho. Trata-se de uma plataforma para promover a literatura de Macau, uma vez que o território é um lugar cheio de cultura e história, com uma grande ligação ao património.”

Anos de desafios

Imwa Chan assegurou ao HM que organizar uma feira do livro como esta nos últimos 22 anos não foi fácil. A maior dificuldade prendeu-se com a falta de uma localização específica. “Lembro-me que houve um ano em que tivemos de organizar esta feira num centro comercial, um espaço muito pobre para este tipo de eventos.

Temos de ter um parceiro a longo prazo para que possamos ter uma localização permanente, e felizmente que o IPM nos apoiou.”

“Quando o semestre termina o ginásio fica disponível para o nosso evento. Finalmente conseguimos obter uma localização permanente e um calendário regular para organizar a nossa feira do livro, o que corresponde às expectativas dos leitores locais”, acrescentou.

A ideia para a organização do Macau Book Carnival surgiu graças à presença regular de Iwma Chan na feira do livro que todos os anos se organiza em Hong Kong.

“Há 20 anos achei que havia a necessidade de organizar uma feira do livro em Macau no período das férias para os leitores. Sempre visitei a feira do livro anual em Hong Kong e pensei que necessitávamos de um evento semelhante em Macau, mesmo que tenhamos uma população mais pequena em relação a Hong Kong”, explicou ao HM.

Desde então que a adesão ao evento tem sido positiva, uma vez que, segundo Imwa Chan, o ano passado estiveram presentes na feira cerca de 5.000 pessoas.

O evento conta com o apoio da Fundação Macau e do Instituto Cultural. O Instituto Português do Oriente (IPOR) tem sido uma presença habitual no evento mas este ano, alegando falta de recursos humanos, a entidade não estará representada.

O Macau Book Carnival acontece todos os dias da semana entre 10 e 19 de Julho. Durante a semana o horário de funcionamento é entre as 11h e as 21h, enquanto que aos sábados e domingo a feira tem as portas abertas entre as 11h30 e as 21h30.

Dois casos detectados de VIH pelo Centro de Transfusões de Sangue

[dropcap]N[/dropcap]o ano passado foram detectados 66 casos de VIH e 10 de SIDA. A maioria das ocorrências foi descoberta por entidades médicas ou voluntários para exames, mas houve também fontes menos comuns: dois dos casos de VIH foram detectados pelo Centro de Transfusões de Sangue, e um outro na prisão.

As informações do Centro de Prevenção e Controlo da Doenças disponibilizadas na página electrónica dos Serviços de Saúde revelam ainda que, no geral, cerca de 24 por cento dos casos de VIH e SIDA foram transmitidos por via desconhecida.

As principais formas de transmissão de VIH foram por contacto homossexual (31 casos), heterossexual (11 casos) e bissexual (seis). Mas houve mais cenários de transmissão. Uma pessoa contraiu o vírus por via de drogas injectáveis, tratando-se de alguém que foi diagnosticado na China Continental em 2007 e migrou no ano passado para Macau. Outros dois casos trataram-se de contacto com sangue, por transmissão através de equipamentos contaminados utilizados para tatuagem fora de Macau.

As situações descobertas no ano passado dizem respeito a pessoas de um leque etário alargado. Só não houve casos de VIH na faixa igual ou inferior a 19 anos. De resto, foram detectados trinta casos entre os 20 e os 29 anos, e três acima dos 70.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, no final do ano passado havia 38 milhões de pessoas a viver com VIH no mundo, 67 por cento das quais tinham acesso a terapia retroviral.

14 casos em 2020

Entre residentes locais e não residentes, na janela temporal entre Janeiro e Março deste ano, foram detectados 14 casos de VIH/SIDA, respeitantes a pessoas entre os 20 e os 39 anos, todas do sexo masculino. Registaram-se casos de transmissão por contacto homossexual, um por contacto heterossexual e outro bissexual. Foram descobertas situações de VIH e SIDA por entidades médicas, voluntários para exame e no estabelecimento prisional.

Note-se que os Serviços de Saúde têm indicação de oito locais onde as pessoas podem fazer testes rápidos de HIV de forma gratuita. É também disponibilizado um canal de acesso rápido para consultas médicas destinadas a pessoas suspeitas de estarem infectadas com HIV/SIDA.

Tribunal | Segunda Instância agrava pena de agiota

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) decidiu agravar a pena de um homem que tinha sido condenado a sete meses de prisão, suspensa durante dois anos, pela prática de um crime de usura, além da proibição de entrar nos casinos. Em causa está um caso ocorrido em Dezembro de 2017, quando o homem condenado e um parceiro fizeram um empréstimo a um jogador nos casinos de Macau.

Como parte do “contrato” sobre o valor emprestado, a vítima entregou igualmente o documento de identificação ao parceiro do homem condenado, no que foi encarado como uma garantia de que o montante emprestado e perdido posteriormente seria devolvido.

No entanto, o caso acabou por chegar à Justiça e o Tribunal Judicial de Base considerou que apesar de o homem estar acusado da prática do crime de usura para jogo e do crime de exigência ou aceitação de documentos, não tinha ficado provado que este sabia que o seu parceiro tinha efectivamente recolhido o documento de identificação da vítima. A decisão não agradou ao Ministério Público que recorreu com o argumento que neste tipo de crimes a “apreensão de documento de identificação dos devedores para servir de garantia era uma situação frequente e previsível”.

O TSI acabou por aceitar o recurso e agravou a pena que passou de sete meses de pena de prisão suspensa para 2 anos e 6 meses de prisão efectiva. Um dos aspectos que também contribuiu para que a pena passasse a efectiva foi o facto de o crime ter tido impacto na “imagem de Macau”, que tem como principal indústria o turismo e o jogo.

Pornografia infantil | TNR detido após tentar publicar vídeo no Facebook

Um trabalhador não residente de nacionalidade filipina foi detido em Coloane após tentar publicar um vídeo no Facebook, cujo conteúdo mostra uma rapariga com menos de 14 anos a ter relações sexuais. O alerta foi dado à PJ pela Interpol, depois de verificado que o endereço IP era de Macau

 

[dropcap]U[/dropcap]m homem de 35 anos, filipino e trabalhador não residente (TNR) em Macau foi detido na terça-feira, no seguimento de uma tentativa falhada de publicar, no Facebook, um vídeo de índole pornográfica, cujos intervenientes incluem uma rapariga menor. O alerta foi transmitido à Polícia Judiciária (PJ) pela Interpol, após a publicação do vídeo ter sido interceptada e bloqueada pelo Facebook.

De acordo com informações reveladas ontem pela PJ em conferência de imprensa, o vídeo tem a duração de 2:26 minutos e, após análise, verificou-se que o seu conteúdo revela uma “rapariga com feições asiáticas”, aparentemente com menos de 14 anos, a ter relações sexuais com um homem, nomeadamente “cópula e coito oral”.

O caso chegou à PJ na terça-feira por via da Interpol, Organização Internacional de Polícia Criminal, após a publicação do conteúdo ter sido bloqueada no domingo anterior, pelo sistema do Facebook. Assim que foi detectada a ocorrência, a plataforma sediada nos Estados Unidos da América fez queixa junto das autoridades locais, informando de seguida a Interpol, que um endereço de IP de Macau estava envolvido na divulgação de um vídeo relacionado com pornografia infantil.

Após ter sido dado início à investigação a partir do endereço de IP fornecido pela Interpol, contou o porta-voz da PJ, o suspeito, um jardineiro de apelido Cadano, foi identificado e detido no próprio dia no seu local de trabalho, em Coloane.

Já com o suspeito detido, a PJ procedeu à investigação dos dados armazenados no telemóvel, confirmando que a conta de Facebook em causa foi utilizada a partir do mesmo dispositivo.

Outros conteúdos

Além do conteúdo relacionado com pornografia infantil que esteve na origem do caso, a PJ revelou ainda que, no telemóvel do suspeito, se encontram mais de 20 outros vídeos de índole pornográfica que estão a ser investigados.

“No telemóvel do suspeito ainda há mais de 20 vídeos relacionados com pornografia mas, por enquanto, não temos a certeza se envolvem menores ou não”, referiu o porta-voz da PJ.

Quanto ao vídeo em questão, o suspeito diz que o mesmo foi descarregado em 2018, negando, no entanto, alguma vez ter tentado a sua divulgação através da internet. A identidade da interveniente continua por apurar, nem tão pouco se sabe a sua nacionalidade, revelou a PJ.

Após recolhidas as provas, o caso foi entregue ao Ministério Público, onde o suspeito vai responder pela prática de crimes relacionados com “Pornografia de Menor”, podendo ser punido com um pena de prisão de 1 a 5 anos.

Em causa está o artigo do Código Penal que prevê a produção, distribuição, venda, importação, exportação ou difusão “a qualquer título ou por qualquer meio” ou aquisição e detenção para esses fins, de materiais relacionados com pornografia infantil.

Finalistas de arquitectura da USJ com olhos postos na Ilha Verde

[dropcap]C[/dropcap]om o objectivo de melhorar o design urbano e desenvolver novas visões para a Ilha Verde, os finalistas do curso de arquitectura da Universidade de São José (USJ) vão expor uma selecção de projectos até à próxima quarta-feira, sob o tema Green Link. A informação foi divulgada ontem pela USJ em comunicado.

Patente na Galeria Kent Wong, no Campus da Ilha Verde da USJ, a exposição nasceu a partir de um trabalho de grupo que serviu para os alunos identificarem “os problemas e oportunidades do bairro de Ilha Verde” e redesenharem “o seu tecido urbano”, propondo um novo plano urbano e conceitos arquitectónicos inovadores que explorem “um estilo de vida mais verde”.

Com o objectivo de promover a igualdade social e a qualidade do meio ambiente, segundo o comunicado da USJ, os projectos incluem propostas variadas como conjuntos habitacionais, centros comunitários, hotéis, bibliotecas, museus e centros desportivos, procurando sempre expandir o espaço público através de práticas de design sustentável e a inclusão de uma “elevada percentagem de espaço verde em cada um dos edifícios propostos”.

De acordo com Nuno Soares, coordenador interino do Departamento de Arquitectura da USJ e professor do projecto final de curso, citado no comunicado, o objectivo unificador dos projectos passou por “explorar criativamente a interacção com a natureza de forma a gerar conceitos arquitectónicos inovadores, capazes de dar uma contribuição significativa para melhorar o contexto envolvente”.

Trocar ideias

Além da exposição Green Link estar patente até ao próximo dia 15 de Julho, o Departamento de Arquitectura da USJ revela ainda que haverá a hipótese de participar numa sessão de debate sobre o tema no sábado, dia 11 de Julho, entre as 16h e as 18h. O objectivo é possibilitar que os alunos partilhem conceitos e processos subjacentes aos seus projectos com a comunidade, ao mesmo tempo, que recebem feedback do público.

A exposição inclui projectos de Frederick Tupaz Cabio, Isaac Ho, Ian Leong, Mamadú Seck, Phillia Hao Hsin Chiang, Travis Lai, Joana Wong Tsz Yin, Natalie Ho I Fu, Ida Lei e Vanda Chan.

Habitação | Preços subiram 0,7% entre Março e Maio

[dropcap]O[/dropcap] índice global de preços da habitação entre Março e Maio deste ano foi de 264,7, representando um crescimento de 0,7 por cento em comparação com o período entre Fevereiro e Abril. Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram que a maior subida se deu na Taipa e em Coloane, com um índice de preços das habitações de 262,5, mais dois por cento, enquanto na península de Macau o aumento foi de 0,4 por cento para um índice de 265,2.

Por sua vez, o índice de preços de habitações construídas (283,5) subiu 0,2 por cento. O valor dos edifícios construídos há cinco anos ou antes disso diminuiu 0,5 por cento. No entanto, os valores foram em sentido contrário para os edifícios com idades superiores. Nos que foram construídos entre 11 a 20 anos atrás, o índice de preços subiu 0,8 por cento. Já o índice de preços de habitações em construção (278,9) aumentou 0,3 por cento comparativamente ao período transacto.

Sin Fong Garden | Proprietários querem reunir com associação de Jiangmen

A comissão de gestão de condomínio do edifício Sin Fong Garden quer reunir com a Associação de Conterrâneos de Jiangmen, ligada aos deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting. Na carta pedem-se explicações públicas sobre o facto de a associação alegar agora que não tem condições para financiar a reconstrução do edifício

 

[dropcap]A[/dropcap] Associação dos Conterrâneos de Jiangmen, ligada aos deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting, foi ontem desafiada a reunir com a comissão de gestão de condomínio do edifício Sin Fong Garden, num encontro onde os media poderão estar presentes para “esclarecer todas as dúvidas da sociedade”.

Em causa está a promessa de um donativo no valor de 100 milhões de patacas feita pela Associação dos Conterrâneos de Jiangmen em 2018 e que não chegou a ser cumprida. Os dirigentes afirmam agora que, devido à crise e outras mudanças socioeconómicas, não podem conceder o montante. Em 2018, a associação que se prestou ajudar os moradores do Sin Fong Garden afirmou que as 100 milhões de patacas eram um donativo, mas agora os seus dirigentes afirmaram que sempre se tratou de empréstimo.

A comissão de gestão do condomínio do edifício Sin Fong Garden lembra que a associação “assumiu publicamente que os fundos estavam prontos a serem atribuídos”, sendo que “em 2018 foi assinado um acordo de doação de 60 por cento do montante para a reconstrução, em concordância com os pequenos proprietários”, lê-se na carta.

Foi em 2012 que se verificou que o Sin Fong Garden estava em risco de queda, tendo-se gerado, nos meses seguintes, um impasse quanto à solução a adoptar para o prédio. A reconstrução acabou por ser a solução encontrada.

“Depois do início das obras, a vossa associação afirmou que iria providenciar o financiamento de acordo com progresso do capital e das obras. A nossa comissão lamenta que, até agora, a vossa associação apenas tenha pago 5.12 milhões de patacas. Se tinham problemas financeiros quando foi assinado o acordo para a doação, em 2018, poderiam ter explicado a situação que iríamos aceitar as justificações. Afinal de contas, este montante seria um donativo concedido com boa vontade e não poderíamos insistir”, adianta a mesma carta.

À espera de aprovação

Ontem o deputado Zheng Anting não conseguiu dar certezas quanto à participação da Associação de Conterrâneos de Jiangmen na referida reunião, uma vez que o assunto está a ser discutido pela direcção.

“Contactei pessoalmente com alguns proprietários nos últimos dias e entendo que não importa se se trata de um donativo ou de um empréstimo, pois existe uma discrepância entre a actual situação e a resolução esperada pelos proprietários. Esperamos poder comunicar plenamente com os proprietários sobre a solução.”

O deputado lembrou que a associação já propôs duas alternativas para que as obras não fiquem paradas. “A pandemia e outros factores trouxeram um impacto provisório na reconstrução do edifício Sin Fong Garden, e tanto a associação como os proprietários querem uma resolução apropriada. Esperemos que o caso se resolva com sucesso e que o Sin Fong Garden seja reconstruído o mais depressa possível”, adiantou.

Questionado se este caso pode ter impacto para os deputados nas próximas eleições legislativas, Zheng Anting não deu resposta concreta. “Esperamos poder resolver o caso”, disse apenas.

Segurança | Investigadores da PJ distinguidos

[dropcap]A[/dropcap]o todo foram 14 os investigadores da Polícia Judiciária (PJ) distinguidos pelo gabinete do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak. Destes, quatro receberam a menção de mérito excepcional devido aos trabalhos de prevenção relacionados com o novo tipo de coronavírus.

No despacho publicado ontem em Boletim Oficial, Ma Wai Hou, investigador criminal principal desde 1999, foi distinguido pelo “desempenho notável” a liderar o trabalho de localização de pessoas que tiveram contacto próximo com os doentes, dando um “grande contributo para impedir a propagação da epidemia na comunidade”. Também relacionado com o trabalho de prevenção epidémica foram distinguidos os investigadores Cheang Weng Kin, Cheng Long Wai e Lei Kin Cheong, que foram também promovidos.

Os restantes investigadores mencionados no despacho foram distinguidos pelo desempenho de funções noutras áreas, nomeadamente no desmantelamento de redes de tráfico de droga, agiotagem e contribuições na defesa da cibersegurança de Macau.

Covid-19 | Corredor especial entre Hong Kong e Macau sem extensão

Acaba na próxima semana a ligação especial de barco entre Macau e o aeroporto de Hong Kong, e não vai ser renovada. O médico Alvis Lo disse não ter informações suficientes para indicar que medidas vão ser aplicadas ao secretário para a Economia e Finanças na deslocação a Hong Kong para o funeral de Stanley Ho

 

[dropcap]O[/dropcap] prazo do corredor especial com embarcações a fazerem a ligação entre Macau e o aeroporto de Hong Kong não vai ser estendido. “Não vai haver prolongação”, disse Lau Fong Chi, da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), recomendando a quem precisa do serviço para “planear bem as suas viagens”. A política termina na quinta-feira da próxima semana.

Estão registadas 1684 pessoas para chegar por esta via a Macau, das quais 1267 já voltaram ao território. Em sentido inverso, foram vendidos 1144 bilhetes do barco do terminal marítimo do Pac On para o aeroporto da região vizinha, tendo já saído 670. No dia, em que termina a medida especial, o último barco sai do aeroporto de Hong Kong às 23h, enquanto a última embarcação para sair de Macau é às 19h.

“Os residentes de Macau devem aproveitar bem essa embarcação especial, assim como as pessoas retidas em Macau que querem regressar ao seu país”, disse Lau Fong Chi. Em alternativa a este mecanismo, a responsável disse que as pessoas podem optar por fazer mais escalas para chegarem por Macau por outras rotas que não inclua passagem por Hong Kong.

Secretário em incerteza

A situação epidémica em Hong Kong foi um dos focos principais da habitual conferência da saúde dedicada ao acompanhamento da pandemia. “Sei que muitos cidadãos estão preocupados com o surto em Hong Kong.

Será que isso pode ser uma incerteza para Macau?”, observou Alvis Lo. O médico procurou tranquilizar, explicando que “o fluxo de pessoas entre Hong Kong e Macau é muito baixo” e que quem chega do território vizinho tem de cumprir observação médica e fazer teste de ácido nucleico por duas vezes. “Essa medida de isolamento com o teste é muito útil”, declarou. Havia ontem 1362 pessoas em quarentena nos hotéis designados. Desse universo, 1109 são residentes de Macau, 60 trabalhadores não residentes e 193 de outras nacionalidades.

Em relação à logística que o secretário para a Economia e Finanças terá de enfrentar por viajar hoje para Hong Kong, em representação do Governo da RAEM nas cerimónias fúnebres de Stanley Ho, não foram avançados detalhes, tanto para a ida, como para o regresso a Macau.

“Para um caso tão concreto temos de ter todas as informações. (…) Ainda não temos a certeza se o secretário vai ou não deslocar-se a Hong Kong ou quando. Não sabemos estes detalhes, [por isso] não podemos saber que medidas adoptar. Cada caso é um caso”, disse Alvis Lo.

Em termos gerais, o médico tinha indicado que nas negociações entre Hong Kong e Macau se determinou a possibilidade de dispensa de algumas medidas em situações específicas, o que “não impede a aplicação de outras medidas, nomeadamente do teste de ácido nucleico ou percurso que fez dos dois lados”. A TDM Rádio Macau avançou que Hong Kong decidiu isentar os representantes do Governo de Macau que marquem presença na cerimónia.

Alerta com lares

Noutro aspecto, o chefe do departamento de solidariedade do Instituto de Acção Social (IAS) garantiu que os trabalhadores de lares e asilos cumprem muitas medidas para higiene” e têm recebido formação para responder eficazmente aos desafios da pandemia. Choi Sio Um disse que vai ser destacado pessoal para visitar os lares e se conhecer melhor a sua situação.

O responsável do IAS notou que os idosos são mais frágeis por terem um sistema imunitário mais fraco. “Nunca baixámos os braços, pelo contrário, temos vindo a prestar alto alerta quanto a isto”, acrescentou.
Sobre a eventualidade de a situação em Macau se tornar semelhante à de Hong Kong, reconheceu que “a epidemia é imprevisível, qualquer coisa pode acontecer”, mas frisou que existe um plano e que há capacidade de tratamento.

Oito para quarentena

Uma empregada doméstica, que no final de Junho partiu de Macau para Manila, telefonou ao empregador na RAEM a indicar que testou positivo de covid-19 nas Filipinas. A família do empregador, constituída por quatro pessoas, bem como outras oito que partilhavam casa com a trabalhadora fizeram testes de ácido nucleico que deram negativo. De acordo com o médico Alvis Lo, os resultados negativos mostram que “a maior probabilidade é de ter sido infectada nas Filipinas”, afastando possíveis preocupação com o caso. No entanto, Leong Iek Hou, Coordenadora do Núcleo de Prevenção de Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença indicou que “como medida de prevenção” essas oito pessoas serão sujeitas a observação médica.