Brasileiro Eddy Murphy ensina capoeira e português a crianças 

As aulas de capoeira do brasileiro Eddy Murphy estão a dar medalhas e a formar campeões em Macau, mas também estão a servir para ensinar português a crianças de mais de uma dúzia de países. À tarde, num ginásio num centro comercial na ilha da Taipa, há tradições, línguas e costumes que são convocados à reunião, para tocar, jogar e dançar, bem como cantar, nomear dos pés à cabeça partes do corpo e contar números, sempre em português.

“A capoeira é o maior veículo de divulgação da língua portuguesa”, sentencia Eddy Murphy, até porque está presente em centenas de países, salienta, enquanto os mais pequenos praticam ‘capoeiragem’, a expressão brasileira que o mestre quer que em Macau signifique que há mais vida para além da competição que a arte marcial arrasta.

Em Macau, são muitos os países que ‘habitam’ as aulas de capoeira do brasileiro e do Grupo Axé Capoeira, do mestre Barrão. Nas ‘t-shirts’ dos alunos está estampada a expansão, escrita a várias cores: Brasil-China-Macau-Hong-Kong. Tarzan, Formigão, Amarela, Tangerina, Amazonas, Eddy Murphy, Pensador, Luz e Açaí são alcunhas de algumas das crianças e jovens que representam também diferentes geografias, da Malásia ao Canadá e Japão, dos Estados Unidos a Singapura, da Tailândia e Indonésia até aos países lusófonos como Brasil e Portugal, e que se cruzam no antigo e multicultural território administrado pelos portugueses, agora região administrativa especial chinesa.

Passagem para a EPM

Caleb, que por ali, na ‘capoeiragem’ de Macau, é conhecido pela alcunha de Pensador, nasceu em Singapura, filho de pai canadiano e mãe norte-americana.

Mais expansivo que a irmã, descreve-se, atirando a idade e nome, bem como a alcunha de Katie (Luz). E explica o peso das aulas de capoeira na segurança e fluência no português que evidencia, orgulhoso: “Também [aprendemos] numa escola portuguesa, também aprendemos ali”.

Ao lado, Eddy Murphy, de 53 anos, acrescenta o ‘pormenor’: os mais pequenos chegaram primeiro, depois vieram os pais, e, com a necessidade de os filhos entenderem melhor as aulas de capoeira, acabaram por os fazer entrar na Escola Portuguesa de Macau. Eddy Murphy garante que a arte de ‘cozinhar’ esta fusão é simples de se entender pela integração social e construção de pontes, asseguradas pela arte marcial que vive da dança, da música e da cultura popular.

Creative Macau | Exposição de escultura de Eloi Scarva e Chan Un Man abre hoje portas 

“Capsule Formation & Asymbiotic Seed Germination” é o nome da nova exposição da Creative Macau que é hoje inaugurada e que se mantém patente até ao dia 27 deste mês. Ambos residentes de Macau, mas com diferentes backgrounds culturais e artísticos, Eloi Scarva e Chan Un Man traçam na escultura a sua visão da cidade envolta numa pandemia, da natureza e dos objectos tradicionais

 

Eloi Scarva e Chan Un Man são os protagonistas da nova exposição do espaço Creative Macau e que abre hoje ao público. “Capsule Formation & Asymbiotic Seed Germination” é uma mostra de esculturas com estéticas completamente diferentes mas que acabam por se complementar.

De um lado, Eloi Scarva, jovem, de 27 anos, formado em escultura em Portugal, com uma visão muito própria de uma Macau fechada em si mesma devido à pandemia. Do outro, Chan Un Man com uma interpretação da natureza e de uma estética mais tradicional, apresentando peças trabalhadas em madeira.

Ao HM, Eloi Scarva, membro da Creative Macau desde 2017, contou que a ideia de Lúcia Lemos, responsável pela galeria, era precisamente criar um contraste nesta mostra, que revelasse os dois lados de que o território é feito. “Ele [Chan Un Man] é de Macau mas tem residência na China, e eu também sou de Macau, nasci cá mas tenho um lado português. A exposição tem esse contraste, com duas estéticas muito diferentes”, frisou.

Eloi Scarva resolveu abordar os actuais tempos de pandemia em que vivemos criando cápsulas, dentro das quais a cidade existe. “A minha estética é sempre muito industrial e achei que, neste caso, encaixavam bem estes materiais para representar a cidade. A primeira ideia era algo que tivesse objectos, muito na ideia daquilo que é a cidade de Macau, do espaço, de uma nova adaptação ao isolamento.”

O artista, que confessou não dar nomes conceptuais às suas obras, adicionou também o acrílico para que as pessoas possam ver de fora essa visão da cidade dentro da cápsula. Lá dentro foram depositados materiais que Eloi Scarva foi encontrando e coleccionando nas ruas.

“Há sempre coisas que se encontram pela cidade, nem que sejam pequenos objectos que as pessoas perdem. Decidi aliar as duas coisas, então as peças são uma colectânea enclausurada dentro de caixas, o que acaba por ser uma representação a vida aqui. São janelas para observarmos o que se passa”, frisou.

Natural e artesanal

Chan Un Man decidiu apresentar nesta mostra trabalhos esculpidos em madeira. “A primeira parte é composta por trabalhos meus anteriores e as ideias surgiram sobretudo de objectos tradicionais chineses, como mobiliário artesanal de madeira, mesas de jantar, cadeiras e armas antigas. Tentei combinar a memória desta percepção tradicional com os meus elementos criativos, e queria dar vida a estas peças com madeira natural”, descreveu ao HM.

A segunda parte da exposição contém peças novas, e exemplo disso é a obra intitulada “Seed Germination 1.2.3 Series”. “Esta ideia nasce da vitalidade da natureza e mostra a tensão no processo de germinação de sementes e do crescimento de raízes e folhas e essa experiência do ciclo de vida da natureza.”

Chan Un Man começou a trabalhar como artista quase de forma auto-didacta, pois em criança gostava de fazer desenhos nos livros que lia. Daí até comprar pincéis e começar a pintar foi um passo. Em 1988 estudou artes no Instituto Politécnico de Macau, tendo depois prosseguido os seus estudos na Guangzhou Academy of Fine Arts, finalizando um mestrado em escultura. Desde então que esta é a sua principal área de trabalho.

Para esta exposição na Creative Macau, Chan Un Man gostaria de ver, sobretudo, o reconhecimento de que “em Macau há alguns artistas que trabalham arduamente para fazer arte”. Comentando o trabalho do seu parceiro de exposição, Eloi Scarva, fala de alguém que “tem uma estética muito orgânica e que trabalha as peças de uma forma quase obsessiva, com detalhe”. O artista português prefere trabalhar as suas esculturas “de uma forma mais rústica e industrial”, remata.

DSAL | Caso de morte por queda no mar vai seguir para tribunal

De acordo com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), houve três casos de incidentes que provocaram a morte de trabalhadores por terem caído ao mar nas pontes-cais ou embarcações. A informação é avançada pela directora dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água, em resposta a uma interpelação escrita de Ella Lei. Um dos casos vai ser encaminhado para tribunal depois de serem recolhidos documentos comprovativos, no âmbito da reparação de danos por acidentes de trabalho.

“A DSAMA tem vindo a reforçar a realização de fiscalizações aleatórias às pontes-cais e barcaças. Quando se verificarem infracções, proceder-se-á à aplicação das respectivas sanções”, respondeu Wong Soi Man. As embarcações que tiverem um registo de segurança “menos satisfatório” podem ter um prazo mais curto de licença aquando da sua renovação.

A DSAL fez 33 fiscalizações no ano passado aos locais de alojamento de trabalhadores não residentes, incluindo cinco em barcaças, “de forma a saber se estes reuniam as condições mínimas de higiene e habitabilidade”.

Estudo | Solteiros correm maior risco de depressão

Um estudo sobre o impacto da pandemia em Macau concluiu que os solteiros têm mais probabilidades de sofrer de depressão, de ansiedade e insónia. Os resultados foram anunciados na sexta-feira pelos investigadores em conferência de imprensa.

No mesmo estudo, aponta-se um maior risco de sofrer de ansiedade e insónia nas mulheres, um resultado que coincide com estudos anteriores no sudeste asiático sobre a população mais propensa à depressão, devido a factores biológicos e de contexto social, explicaram.

Os investigadores da Universidade de Macau “descobriram que os participantes [no estudo] que não estavam preocupados com a informação sobre a epidemia, ou tiveram grandes perdas económicas devido à epidemia, bem como aqueles que eram solteiros ou sentiam que a epidemia tinha um grande impacto na sua vida diária, tinham mais probabilidades de sofrer de sintomas de depressão, ansiedade e/ou insónia”, salientaram.

A investigação abrangeu 1.005 residentes de Macau e decorreu entre Agosto e Outubro de 2020. Os resultados indicaram que “70,1 por cento relatou que a epidemia teve um impacto moderado a severo nas suas vidas diárias, e 7,7 por cento sofreu grandes perdas económicas”.

Por outro lado, “em termos de saúde mental, 11,5 por cento e 6,3 por cento relatou ter sofrido sintomas moderados a graves de depressão e ansiedade, respectivamente”.

Finalmente, “durante a fase final da epidemia, 26,4 por cento referiu ter sofrido fadiga moderada a severa, e 6,4 por cento sofreu sintomas de insónia moderada a severa”, pode ler-se nas conclusões.

Autoridades investigam caso que resultou na morte de três gatos

Segundo massacre de animais em menos de três meses resulta em oito mortes. ANIMA diz “BASTA!” e apela às autoridades que se empenhem nas investigações dos crimes e levem os responsáveis à Justiça

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) está a investigar a morte de três gatos, cujos corpos apareceram na tarde de sábado na Rua Dois do Bairro Iao Hon. O alerta para a situação partiu de residentes da zona e da ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais de Macau.
Horas depois do caso ser relatado, o IAM emitiu um comunicado, em chinês, com os resultados das investigações preliminares levadas a cargo com a polícia. De acordo com o conteúdo da mensagem, entre os corpos estava uma gata que se encontrava grávida e ainda dois gatos, mais novos. No entanto, o IAM indicou que não houve sinais de traumas ou fracturas, o que levou as autoridades a excluir imediatamente a possibilidade dos animais terem caído de uma altura elevada ou ter havido maus-tratos. No entanto, o IAM afirmou que há indícios de morte em circunstâncias suspeitas pelo que o caso foi qualificado como crime de crueldade contra animais e está a cargo da polícia. O crime tem uma moldura penal que pode chegar a um ano de prisão ou multa de 120 dias.

No mesmo comunicado, o IAM apontou ainda que a decomposição dos corpos dos animais apresenta diferentes graus, pelo que se acredita que apesar de terem sido abandonados no mesmo local que os felinos morreram em ocasiões diferentes.

Pelo fim da impunidade

O caso de sábado é o segundo massacre de felinos tornado público na RAEM em menos três meses. Em Janeiro tinha sido revelado pelo condomínio do prédio dos Jardins do Oceano que um morador tinha atirado cinco gatos da janela. O caso teria ocorrido em Dezembro e os corpos ficaram abandonados nas áreas comuns até serem removidos pela administração.

Como o massacre de Dezembro ainda não teve acusação conhecida, até porque as provas foram destruídas, a ANIMA vem agora pedir um fim à impunidade perante a crueldade contra animais. “Perante os sucessivos encerramentos de processos sem apuramentos de responsabilidades, desta vez a ANIMA vem dizer BASTA!”, afirmou Albano Martins, presidente honorário vitalício, em declarações ao HM.

A posição da ANIMA surge também na sequência do assassinato de uma cadela de rua decapitada em 2017 e deixada perto das instituições da associação. A ANIMA acredita que se tratou de uma mensagem política, uma vez que era responsável pelo animal. Apesar de ter sido apresentada queixa contra o crime atempadamente junto da autoridades, o caso nunca conduziu a qualquer acusação.

Quem se juntou às críticas foi o deputado Sulu Sou, ligado à associação democrata Novo Macau. O legislador condenou o caso e apontou que a lei de protecção animal está a ser mal executada, uma vez que as condenações pelo crime de crueldade contra animais são quase nulas.

Justiça | John Mo tenta evitar condenação de seis anos de prisão

A defesa de John Mo, ex-director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, apresentou recurso para o Tribunal de Última Instância da condenação pelo crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência. A informação foi avançada ao HM por Oriana Pun, advogada de defesa de John Mo, condenado pelo Tribunal de Segunda Instância (TSI) a seis anos de prisão efectiva.

Em Junho de 2018, John Mo foi detido preventivamente, depois de ter sido acusado de violação por uma aluna de mestrado de outra instituição. Como consequência, o contrato do então director da Faculdade de Direito da UM foi imediatamente declarado extinto. Segundo a acusação, a violação teria acontecido dentro de uma sala de karaoke, e o acto teria sido assistido por outras duas pessoas, uma delas Lei Iok Pui, membro do Conselho da Juventude, por escolha do Governo e que tinha sido tinha candidato não-eleito nas legislativas pela lista do deputado Si Ka Lon.

O académico acabou por estar em prisão preventiva até ao julgamento, que terminou em Fevereiro 2019, e foi considerado inocente pelo Tribunal Judicial de Base. Na altura, o caso ficou gravado pela videovigilância e após visionar as imagens, o colectivo de juízes liderado por Leong Ieng Ha considerou que a queixosa nunca tentou impedir os avanços sexuais de John Mo. “Ficou deitada [na sala de karaoke], mas o indivíduo não a prendeu [quando avançou]. A ofendida podia movimentar os braços. E ela mexeu-se, aparentemente para facilitar a introdução [do dedo]. Tinha as mãos livres, mas não bateu no arguido. Bastava que tivesse feito qualquer gesto de oposição como, por exemplo, puxar os cabelos do arguido, para mostrar que recusava. Não o fez”, foi apontado na altura.

“A pessoa ofendida foi ao WC com a terceira arguida. Mas depois regressou para a sala do karaoke. Se não queria beijos porque não fugiu quando foi à casa-de-banho? Não havia uma relação de poder entre os dois. Ela poderia ter deixado o local. Mas regressou e sentou-se ao colo do arguido”, foi igualmente argumentado na primeira decisão.

À segunda

Apesar da absolvição, o Ministério Público recorreu para o Tribunal da Segunda Instância, que condenou John Mo, não pelo crime de violação, mas antes por abuso sexual de pessoa incapaz de resistência, assim como ao pagamento de 100 mil patacas à ofendida. A sentença, que apenas foi disponibilizada em chinês, condenou ainda Lei Iok Pui a uma pena de prisão de cinco meses, suspensa por três anos, devido ao crime de omissão de auxílio.

Avenida Wai Long | Governo pondera redução do número de fracções no projecto de habitação pública

Com mais terrenos disponíveis, o Governo diz que quer apostar menos na quantidade e mais na qualidade de vida – apresentando aos deputados duas alternativas ao plano actual para a habitação pública na Avenida Wai Long. Ambas prevêem a diminuição do número de fracções

 

O plano para habitação pública na Avenida Wai Long pode vir a sofrer mudanças, já que o Governo apresentou aos deputados duas alternativas além da opção actual. O secretário para os Transportes e Obras Públicas – que é favorável às duas opções que não à actual – argumenta que as alternativas propostas têm como objectivo melhorar as condições de vida dos habitantes, nomeadamente por permitir maior afastamento entre torres, dando às pessoas “mais privacidade”.

O plano actual previa entre 6.000 e 6.500 fracções, com orientação nascente. A primeira alternativa é semelhante, mas ao eliminar dois blocos que ficam próximos do futuro viaduto reduz a habitação para 4.800 a 5.300 casas. A segunda alternativa implica mais alterações: os edifícios deixam de ser perpendiculares à Avenida Wai Long e passam a ficar paralelos (orientação norte/sul), construindo-se antes 4.000 fracções.

O secretário Raimundo do Rosário recordou que quando tudo começou, foram anunciadas oito mil casas para Wai Long por não haver muito espaço disponível no território. “Hoje, em que houve terrenos cuja caducidade foi declarada, a RAEM tem terrenos. E portanto, não há essa necessidade de levar até à exaustão a utilização dos terrenos”, observou.

“Apoio totalmente a segunda alternativa apresentada”, disse Wu Chou Kit. O deputado considera que se houver oito mil fracções concentradas na Avenida Wai Long “vai ser um local de elevada densidade habitacional e não nas melhores condições”, defendendo que uma redução pode “melhorar” as condições de vida. Quis, no entanto, saber se foi equacionado o desenvolvimento da sociedade em termos demográficos e socio-económicos. O secretário respondeu que já foi feita uma estimativa da população na elaboração do plano director, sendo tida em conta a previsão de que a população vai chegara aos 800 mil habitantes.

José Chui Sai Peng disse concordar com as propostas por terem o objectivo de “melhorar a qualidade de vida” da população, mas quis saber quanto tempo vai demorar a construção.

Caso o Governo decida avançar com uma das alternativas, será necessário fazer novos estudos, nomeadamente de impacto ambiental, e ajustamento ou alteração da primeira fase da habitação pública e da rede rodoviária. Procedimentos que podem demorar entre um a dois anos.

Equipamentos públicos

Por sua vez, Iau Teng Pio alertou que não quer que o complexo habitacional se torne uma versão 2.0 de Seac Pai Van. E observou que quantos menos pessoas utilizarem os serviços ou equipamentos sociais, “melhor é a qualidade” que podem oferecer.

O projecto prevê um edifício de equipamentos públicos, cuja dimensão não vai sofrer alterações independentemente do número de fracções habitacionais. O edifício, com uma dimensão de 99.200 metros quadrados, deverá incluir correios, um centro de comida, equipamentos médicos e estacionamento.

Já Au Kam San, mostrou-se contra a segunda alternativa, considerando a primeira mais razoável. “A segunda proposta prevê menos fracções, de facto, mas em termos de outros factores são piores ainda”, disse. O deputado apontou problemas ao nível da circulação do ar e da visibilidade. E defendeu ainda que deve ser aberto concurso depois de se acumular um certo número de fracções concluídas e interessados.

Optar por edifícios com orientação norte/sul também não foi a opção que Ho Ion Song considerou mais “adequada”. O deputado reconheceu haver razão para reduzir o número de apartamentos, mas apontou a necessidade de “ponderar a razoabilidade”.

Perante a hipótese de haver cortes nas fracções actualmente projectadas, Leong Sun Iok questionou o que vai o Governo fazer para oferecer mais habitações públicas noutros locais e qual a sua localização. Caso se opte pela redução das fracções, o secretário espera que “haja novidades” sobre outras casas entre finais deste ano e início do próximo.

Ser ou não ser

Vários deputados questionaram como vai ser feita a fiscalização da qualidade das habitações, num contexto de queixas recentes sobre queda de azulejos nos edifícios do Lago e Ip Heng. Um dos intervenientes foi Pereira Coutinho, que quis saber como vai ser assegurada a qualidade do material. “Como será fiscalizado ou supervisionado o factor de qualidade?”, questionou também Angela Leong.

O secretário para os Transportes e Obras Públicas frisou que vão ser envidados “todos os esforços”, mas que não pode garantir uma ausência total de problemas ou um fiscal por cada piso. Raimundo do Rosário indicou que no futuro, não serão usados materiais de revestimento de paredes e vai antes optar-se por pintura, para não haver queda de azulejos.

Por outro lado, o secretário frisou que o problema não se cinge ao sector público. “Até a casa do director, uma casa privada, um edifício privado, houve casos de queda de azulejos”, disse Raimundo do Rosário, acrescentando que nesse caso “não houve vozes nem barulho”.

O dirigente lamentou também a existência de críticas generalizadas. “Por causa de dois casos, de dois edifícios é que acham que todas as obras que o Governo realiza são lixo. As obras realizada pelo Governo são lixo? Não”, declarou. O secretário reconheceu que perante um problema é necessário dar acompanhamento e resolvê-lo, mas deixou um pedido: “não exagerar”. Em defesa dos seus colegas, Raimundo do Rosário frisou que só “não erra quem não trabalha”.

Comissão não segue caso Viva Macau mas acompanha revisão de regimes jurídicos

No seguimento de uma petição apresentada pela Associação Novo Macau (ANM) sobre o caso Viva Macau, a 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa vai pedir informações ao Governo sobre o ponto de situação das mudanças ao regime de administração financeira pública e a responsabilização de dirigentes. No entanto, não vai ser dado seguimento ao caso Viva Macau.

“Os dirigentes, não vamos dizer se é ou não o secretário, não violaram qualquer conduta profissional nem cometeram qualquer irregularidade”, disse Chan Chak Mo. O presidente da Comissão indicou que o relatório do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) “está muito detalhado”, afastando uma análise à situação da Viva Macau. Chan Chak Mo esclareceu que a Comissão está a acompanhar a necessidade de revisão dos regimes jurídicos, mas não propriamente o caso.

O relatório do CCAC concluiu que não houve crime de corrupção ou dolo no empréstimo de 212 milhões de patacas pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercialização (FDIC) à falida Viva Macau. No entanto, apontou que do lado do Executivo houve negligência e falta de rigor na concessão de tranches. Sobre o então Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, o relatório apontou que os seus actos “deficientes, negligentes e até omissivos ficaram aquém das expectativas dos cidadãos em relação ao trabalho dos titulares dos principais cargos”.

A petição da Associação Novo Macau, entregue em Outubro do ano passado, pedia que os deputados dessem seguimento às recomendações do CCAC no caso Viva Macau, dando sugestões como o alargamento dos prazos para procedimentos disciplinares e a criação de um sistema de responsabilização para titulares de altos quadros.

Sulu Sou, que esteve presente na reunião de sexta-feira, criticou a Comissão por não fazer uso do poder de solicitar depoimentos de pessoas e obter informações de entidades públicas ou privadas, para ouvir Edmund Ho e Francis Tam. “Não estão dispostos a fazer isso. Então penso que isso afecta o resultado da discussão sobre a petição”, indicou o democrata.

Para Sulu Sou as dúvidas permanecem. O deputado considera que os antigos governantes foram “pessoas-chave” no caso da Viva Macau, indicando serem os únicos que podiam dar permissão à atribuição dos empréstimos. “Tenho uma grande questão: se o CCAC não convidou as ‘pessoas-chave’ deste assunto, como é que chegou à conclusão de que ninguém deve assumir responsabilidades?”, questionou. Sulu Sou defendeu assim que “Edmund Ho e Francis Tam deviam vir cá explicar o que aconteceu há dez anos”.

Ponto de situação

Em cima da mesa está a possibilidade de a Comissão solicitar uma reunião com representantes do Governo para discutir os regulamentos do Regime de administração financeira pública e sobre o FDIC, “para ver se há ou não margem para aperfeiçoar as normas constantes nestes dois diplomas”. “Como o Governo agora está a trabalhar nessa vertente, se calhar vamos pedir ao Governo para nos facultar os respectivos documentos primeiro e, se necessário, vamos convocar uma reunião”, comentou Chan Chak Mo.

Outro tema a receber atenção dos deputados é a responsabilização dos titulares de altos cargos, que está a ser estudada pelo Governo. A Comissão quer saber o ponto de situação da revisão e que lhe sejam facultados documentos. Também neste ponto se admite que possa ser convocada uma reunião.

Eleições | Joana Chong condenada a 4 meses de prisão por campanha em tempo de proibição

No período de proibição de campanha, a polícia encontrou material sobre as eleições na página de Facebook de Joana Chong. Como a candidata não apagou os conteúdos, foi condenada por desobediência qualificada

 

Joana Chong, candidata às eleições de 2017 pela lista Poder dos Cidadãos, foi condenada a quatro meses de prisão pelo crime de desobediência qualificada, por não ter removido da página de Facebook material sobre as eleições, durante o “período de proibição de propaganda”. A decisão tornada pública ontem foi revelada pelo Tribunal de Segunda Instância, e a pena é suspensa.

Segundo a informação disponibilizada, o Corpo de Polícia de Segurança Pública descobriu o caso a 16 de Setembro de 2017, quando os agentes navegavam na Internet à procura de eventuais violações à lei eleitoral. Ao depararem-se com a página pessoal de Joana Chong, encontraram fotos e vídeos relativos à candidatura da lista Poder dos Cidadão e desencadearam os procedimentos necessários para formar uma acusação contra a visada, por desobediência qualificada.

No primeiro julgamento, cujo desfecho foi conhecido em Novembro de 2019, Joana Chong foi sentenciada a uma pena de quatro meses de prisão, suspensa durante um ano, pelo crime de desobediência qualificada.

A condenada recorreu e argumentou que apesar da página ser apresentada como pessoal era gerida por pessoas da candidatura. Este aspecto foi justificado com o facto de a candidata residir no Interior e ser incapaz de aceder ao Facebook, que é bloqueado pela firewall.

Política de instruções

Joana Chong argumentou igualmente que apesar do conteúdo não ter sido eliminado, tinha dado indicações, como lhe tinha sido pedido, para que as publicações e partilhas relativas às eleições fossem removidos. Apesar das justificações, o Tribunal de Segunda Instância manteve a condenação.

No entender do colectivo de juízes liderado por Chao Im Peng, mesmo que a acusada tivesse pedido a remoção dos conteúdos, continuava a ter a obrigação de confirmar que estes tinham sido apagados. “A recorrente deveria ter previsto a possibilidade de não poder o trabalhador concluir a tempo as tarefas que, por certa razão, lhe haviam sido confiadas; no entanto, não cumpriu o dever de cuidado e confirmou o resultado final, adoptando uma atitude de aceitação da eventual situação em que as informações de propaganda eleitoral continuaram a existir na rede social”, é dito no acórdão.

O tribunal também não acreditou que Joana Chong não conseguisse aceder à página pessoal de Facebook no Interior.
Por outro lado, os juízes consideraram que a condenada agiu com dolo, uma vez que apagou os conteúdos na aplicação Wechat, mas não garantiu que o mesmo foi feito no Facebook, o que na visão dos juízes foi ter uma “atitude de aceitação da divulgação continuada das informações”.

A lista Poder dos Cidadãos era encabeçada por Sze Lee Ah, que durante a campanha se promoveu como Che Guevara e somou 1.305 votos, insuficiente para eleger qualquer deputado.

Covid-19 | Primeiro lote de 100 mil vacinas chegou ao território no sábado

Após 30 horas de viagem pelo Interior, as vacinas do Grupo Sinopharm chegaram finalmente a Macau. Segundo o Governo, a vacinação arranca já amanhã e Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde, prometeu, como sinal de confiança, ser a primeira pessoa vacinada no território contra a covid-19

 

As primeiras vacinas contra a covid-19 chegaram no sábado e o processo de inoculação vai arrancar amanhã, com foco no grupo dos profissionais de saúde. O momento da chegada do produto do Grupo Sinopharm foi assinalado com uma cerimónia que contou com a presença da secretária para os Assuntos Sociais e Cultural, Elsie Ao Ieong U, do director dos Serviços de Saúde (SSM), Lei Chin Ion, e ainda da vice-directora do Gabinete de Ligação, Yan Zhichan.

Os produtos chegaram a Macau após uma viagem com uma duração superior a 30 horas, e foram transportados num camião que à chegada ao território apresentava as seguintes inscrições: “Operação Logística da Nam Kwong” e “Chegada a Macau com sucesso do primeiro lote de vacinas nacionais”.

O estilo da faixa no camião, com letras douradas sobre vermelho, muito frequentemente utilizado para transmitir mensagens políticas por parte de instituições oficiais e empresas estatais do Interior, ficou a cargo do Gabinete de Ligação e do Grupo Nam Kwong. Isto porque de acordo com o comunicado emitido pelo Governo da RAEM, o processo foi realizado com o “forte apoio do Governo Central” e o transporte contou com a “total cooperação” do Gabinete de Ligação e da empresa estatal com forte presença em Macau, a nível de distribuição não só de alimentos, mas também de combustíveis.

Após a chegada do camião, foi realizada a operação de entrega, que teve início com uma inspecção das vacinas realizada pelo Departamento dos Assuntos Farmacêuticos dos SSM. De seguida, Fu Jianguo, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Nam Kwong, e Lei Chin Ion assinaram os documentos acusando a recepção. O processo ficou terminado por volta das 14h45.

O primeiro

Após a cerimónia de entrega das vacinas, o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, prometeu ser o primeiro vacinado com a injecção do grupo Sinopharm. O compromisso foi deixado, segundo o jornal Ou Mun, após os jornalistas terem insistido na pergunta sobre quem seria a primeira pessoa vacinada na RAEM. A questão fez, num primeiro momento, Lei Chin Ion ficar calado e sorrir, mas o silêncio foi interrompido com uma resposta sem margem para dúvidas: “A decisão é minha, e vou ser eu o primeiro a ser vacinado!”, prometeu.

Antes de se ter comprometido a tomar a primeira vacina, Lei Chin Ion explicou a situação da compra, deu alguns pormenores e transmitiu ainda uma mensagem de confiança sobre a segurança da vacinação.

De acordo com a explicação, o primeiro lote de vacinas vai permitir abranger 50 mil pessoas, uma vez que cada pessoa tem de ser vacinada com duas das 100 mil doses do produto da Sinopharm, que as autoridades dizem ter uma taxa de eficácia de cerca de 80 por cento.

Na primeira fase, a vacinação vai estar disponível apenas para o pessoal médico, que além do hospital e clínicas públicas inclui igualmente os trabalhadores do Hospital Kiang Wu, Hospital da Universidade de Ciência e Tecnologia, clínicas privadas e ainda funcionários dos centros de reabilitação da Federação das Associações dos Operários de Macau.

Ainda de acordo com as declarações de Lei Chin Ion, a partir de terça-feira as vacinas vão estar disponíveis principalmente para os profissionais de saúde que trabalhem nas urgências. Uma vez que a vacinação é voluntária, facto que tem sido sublinhado várias vezes pelas autoridades, persistem dúvidas sobre se haverá uma adesão em número elevado. Contudo, segundo o director dos SSM, mais de metade dos colegas de trabalho apontaram “não ter problemas” com a questão de serem vacinados. Este aspecto foi realçado por Lei, que indicou ainda que deve ser o pessoal de saúde a liderar pelo exemplo.

Custos de 350 milhões

Anteriormente foi tornado público que Macau vai importar três tipos de vacinas, as Sinopharm que chegaram no sábado, as BioNTech, desenvolvidas pela fabricante alemã em conjunto com a americana Pfizer, e ainda a AstraZeneca. Os primeiros lotes da BioNTech devem chegar até ao final do mês ao território, quanto ao produto da AstraZeneca prevê-se que a chegada ocorra entre Julho e Setembro.

No sábado Lei Chin Ion recusou entrar em detalhes sobre os preços por unidade das vacinas, por reconhecer que os pagamentos às diferentes fabricantes são diferentes. No entanto, avançou que vão chegar a Macau 1,4 milhões doses de vacinas contra a covid-19 com um preço aproximado de 350 milhões de patacas.

Além disso, o Governo tem estado a trabalhar na compra de seguro para quem seja inoculado. Depois de ter pedido a diferentes seguradoras propostas de preços para este processo, o Executivo vai agora tomar uma decisão. O esquema do seguro ainda não é conhecido, mas Lei Chin Ion afirmou que vai ser revelada esta tarde, durante a habitual conferência de imprensa semanal sobre o desenvolvimento da pandemia.

 

Tipos de vacinas disponíveis

Fabricante: Sinopharm BioNTech (Desenvolvida com Pfizer) AstraZeneca

Eficácia: 80 por cento Superior a 90 por cento Superior a 70 por cento

Chegada: Disponíveis Até ao final do mês Entre Julho e Setembro

Idade: Maiores de 18 e menores de 60 anos Maiores de 16 anos Maiores de 19 anos

Nota: A maior parte da informação da tabela foi disponibilizada pelo Governo

Covid-19 | Residente de 30 anos confirmado como o 48.º caso em Macau

[dropcap]O[/dropcap] 48.º caso confirmado de infecção por covid-19 em Macau é um português, que veio de Lisboa no voo que chegou via Tóquio. O anúncio foi feito pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, na sexta-feira à noite, e o paciente está assintomático.

Segundo as informações disponibilizadas, o doente tem 30 anos e encontrava-se a fazer quarentena no hotel Grande Coloane, desde 21 de Janeiro. Além disso, a namorada foi igualmente colocada em isolamento por se considerar que é um caso de contacto próximo.

“A 3 de Fevereiro de 2021, os resultados do teste de sanguíneo de anticorpos apresentaram anticorpos IgG positivos e anticorpos IgM negativos. Os 3 testes de ácido nucleico nos 14 dias anteriores foram todos negativos e o doente não apresentou os sintomas clínicos”, foi explicado. “No dia 4 de Fevereiro, foi enviado para isolamento no hospital para a observação médica, sem sinal de pneumonia na tomografia torácica . Em 5 de Fevereiro, o teste de zaragatoa nasofaríngea apresentou fracamente positivo, foi diagnosticado como a pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus, sendo o 48.º caso confirmado de pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus (COVID-19) em Macau”, foi acrescentado.

Namorada isolada

Segundo os dados revelados pelo Governo na segunda-feira passada, dos 47 casos registados em Macau apenas um estava activo, com o paciente a cumprir isolamento no Centro Hospitalar Conde São Januário. A doente, que é residente e tem 43 anos, encontrava-se num estado estável, sem pneumonia. O caso tinha sido identificado no dia 22 de Janeiro, após a realização de dois testes de despistagem.

A confirmação de mais um caso faz subir para dois o número de pessoas contagiadas que apanhou o voo para Macau vindo de Tóquio.
Além disso, havia oito pessoas consideradas de contacto próximo, que tinham viajado no mesmo voo. Este é um número que agora vai chegar aos nove, uma vez que, segundo o comunicado das autoridades, a namorada do português também foi isolada por precaução. O isolamento vai ser cumprido no Centro Clínico de Saúde Pública do Alto de Coloane.

Literatura | António Lobo Antunes nomeado para o Prémio Literário Internacional de Dublin

O escritor português António Lobo Antunes é um dos 49 nomeados para o Prémio Literário Internacional de Dublin 2021, com o livro “Até que as pedras se tornem mais leves que a água”, anunciou a organização. O autor português faz parte da lista longa escolhida por bibliotecas de todo o mundo, da qual constam autores oriundos de 30 países.

Entre os primeiros finalistas daquele prémio encontram-se os já distinguidos “Rapariga, Mulher, Outra”, de Bernardine Evaristo (Prémio Booker), “Pátria”, de Fernando Aramburo (Prémio Nacional de Narrativa), e “Os Rapazes de Nickel”, de Colson Whitehead (Prémio Pulitzer de ficção).

Da lista constam ainda autores como Elif Shafak (“10 Minutos e 38 Segundos Neste Mundo Estranho”), Colum McCann (“Apeirogon”), Heather Morris (“A Coragem de Cilka”), Elizabeth Acevedo (“Clap when you land”), Fernanda Melchor (“Hurricane season”), Carina Sainz Borgo (“Cai a Noite em Caracas”), Ocean Vuong (“Na Terra Somos Brevemente Magníficos”), Brit Bennett (“The vanishing half”) e Daniel Kehlmann (“Tyll. O Rei, O Cozinheiro e O Bobo”).

Traduzido para o inglês com o título “Until Stones Become Lighter Than Water”, o livro de António Lobo Antunes foi editado em Portugal em 2017 pela D. Quixote e é um regresso do autor aos fantasmas da guerra de Angola.

Numa crónica com o mesmo título publicada em 2016 na revista Visão o autor escreveu: “O meu trabalho é escrever até que as pedras se tornem mais leves que a água. Não são romances o que faço, não conto histórias, não pretendo entreter, nem ser divertido, nem ser interessante: só quero que as pedras se tornem mais leves que a água”.

O Prémio Literário de Dublin é organizado pela autarquia da capital da Irlanda e gerido pelas bibliotecas públicas da cidade, com um valor monetário de 100 mil euros, a serem entregues na totalidade ao autor da obra vencedora, se esta for escrita em inglês, ou, no caso de tradução, a dividir entre escritor e tradutor, no valores de 75 mil euros e 25 mil euros, respectivamente.

A lista de finalistas do Prémio Literário Internacional de Dublin 2021 será conhecida no dia 25 de março e o vencedor será revelado a 20 de Maio. A escritora irlandesa Anna Burns foi a vencedora da edição de 2020, com o romance “Milkman” (que já antes vencera o Prémio Booker).

Produções da Netflix dominam nomeados do sindicato de actores dos Estados Unidos

As séries “The Crown” e “Schitt’s Creek”, e os filmes “Ma Rainey: A mãe do blues” e “Minari” são os mais nomeados para os prémios do Sindicato de Actores dos Estados Unidos (SAG), ontem anunciados. De acordo com o sindicato, a plataforma de ‘streaming’ e produtora Netflix é a que soma mais nomeações — trinta –, entre produções de filmes e séries.

A série anglo-americana “The Crown”, inspirada na história da família real britânica e exibida na Netflix, e a série canadiana “Schitt’s Creek”, exibida no canal CBC, somam cinco nomeações cada, incluindo o prémio de melhor elenco em série dramática e de comédia, respetivamente.

Em cinema, com três nomeações cada, surgem “Ma Rainey: A mãe do blues”, de George C. Wolfe, e “Minari”, produção entre Estados Unidos e Coreia do Sul, realizada por Lee Issac Chung.

Os nomeados dos prémios do sindicato dos atores foram anunciados um dia depois de Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood ter revelado os nomeados para os Globos de Ouro, criticados pela imprensa especializada por falta de diversidade e representatividade de atores não-brancos.

Pelo conjunto do elenco, na categoria de cinema estão nomeados “Da 5 Bloods: Irmãos de armas”, de Spike Lee, “One night in Miami”, de Regina King, “Ma Rainey: A mãe do blues”, “Minair”, assim como “Os 7 de Chicago”, de Aaron Sorkin.

Na categoria de melhor série de comédia estão nomeados os elencos de “Dead to me”, “The flight attendant”, “Dead to me”, “The Great”, “Schitt’s Creek” e “Ted Lasso”, enquanto na de série dramática competem “The Crown”, “Better cal Saul”, Bridgerton”, “Lovecraft country” e “Ozark”.

Sobre categorias individuais, de representação principal e secundária, destaque para a dupla nomeação, a título póstumo, do ator Chadwick Boseman, pela prestação em “Da 5 Bloods: Irmãos de armas” e “Ma Rainey: A mãe do blues”.

O calendário de prémios da indústria cinematográfica também foi afectado pela pandemia da covid-19, pelo que os galardões deste sindicato dos atores, considerados um dos barómetros para os Óscares, serão entregues a 4 de Abril. A cerimónia dos Óscares também sofreu alterações, com os nomeados a serem conhecidos em março, e o anúncio dos vencedores re-agendado para 25 de Abril. Os vencedores dos Globos de Ouro serão conhecidos a 28 de Fevereiro.

China financia assistência técnica a agricultura cabo-verdiana com aposta nas algas

O Governo chinês assinou esta quinta-feira um acordo com Cabo Verde para o financiamento de quase 1,5 milhão de dólares em assistência técnica, a implementar pela FAO na atividade agrícola e segurança alimentar, apostando na produção de algas no arquipélago.

O projeto de assistência técnica a Cabo Verde, a três anos (2021 a 2024), surge no âmbito do Programa de Cooperação Sul-Sul entre a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a China, e deverá abranger 4.500 agricultores das ilhas de Santo Antão e de Santiago, além de 100 investigadores, estudantes e técnicos, no reforço das capacidades.

“Não se trata de um projeto de infra-estruturas, em que cerca de 1,5 milhões de dólares irão ser empregues em equipamentos e infra-estruturas. Não é nada disto. Trata-se essencialmente de partilha de conhecimento e de boas práticas no domínio da agricultura, da pecuária e da produção de algas marinhas como uma novidade no contexto dos projetos técnicos que temos estado a desenvolver aqui em Cabo Verde”, destacou o ministro da Agricultura, Gilberto Silva.

O governante cabo-verdiano falava após a assinatura, na Praia, do acordo tripartido para implementar o projecto. Durante três anos, o projecto financiado pela China, com a presença de sete peritos chineses, vai fornecer a Cabo Verde assistência técnica na promoção da horticultura, com apoio à gestão dos solos, água e fertilizantes, e na promoção da proteção das plantas, através da introdução de métodos e da organização de formações de campo para a gestão integrada de pragas do milho e os métodos de controlo biológicos sobre as pragas de solo.

Envolve ainda a “promoção do pequeno produtor pecuário”, através da melhoria da produção animal e da melhoria da genética animal, do reforço da vigilância epidemiológica e da valorização dos produtos animais.

O projecto prevê ainda um estudo sobre a eco-fisiologia e o potencial do cultivo de algas marinhas e da cadeia de valor em Cabo Verde, bem como o desenvolvimento e implementação de “sítios-piloto para introduzir e promover a cultura de algas marinhas”, explicou a FAO.

“Temos um imenso mar e é possível tirar melhor proveito deste imenso mar na produção de algas e introdução de algas como alimentos, mas também, e porque não, utilizar as algas para outros fins, como a cosmética e efeitos farmacêuticos. Temos de começar a tirar melhor proveito dos recursos marinhos”, enfatizou o ministro da Agricultura.

O objectivo, explicou Gilberto Silva, é tirar partido da “experiência” da China nesta actividade. “Não tendo nós tradição nem experiência neste domínio, entendemos que é bom começar com estudos e com a partilha de conhecimentos que nos levem a definir melhor o caminho e empregar uma boa franja da nossa população, sobretudo aquela que se vem dedicando à extração de areias nas praias, à produção de algas. Portanto, encontrar um caminho mais sustentável para assegurar o emprego e o rendimento, e acima de tudo proteger o ambiente”, disse ainda o governante.

O montante estimado do projeto é de quase 1,5 milhão de dólares, financiados pelo Governo da China, sendo a execução e gestão a cargo da FAO, através do acordo tripartido assinado. De acordo com Ana Touza, representante da FAO em Cabo Verde, o arquipélago será o décimo país a implementar um projeto ao abrigo do Programa de Cooperação Sul-Sul/FAO-China.

“Em temos de inovação o destaque vai para a possibilidade de aquacultura em algas marinhas, área ainda não muito estudada e aproveitada em Cabo Verde, um país com 99% de mar e com grande potencial na matéria”, destacou a representante da FAO, sublinhando igualmente a atenção que será dada ao combate às pragas que afetam a produção agrícola no país.

O embaixador da China em Cabo Verde, Du Xiaocong, assumiu que este projeto é um dos passos para assinalar, em 2021, os 45 anos das relações diplomáticas entre os dois países, reforçando a cooperação bilateral. “E demonstra que no futuro próximo, a China vai apoiar mais parceiros internacionais e oferecer mais apoio aos países africanos, na agricultura”, destacou o diplomata chinês.

“Leva-nos a crer que vamos no caminho certo, no caminho de uma agricultura cada vez mais resiliente e adaptada às mudanças climáticas, mais inteligente e voltada para o reforço da segurança alimentar e nutricional, tendo em conta que é necessário produzir mais alimentos saudáveis e colocar na mesa dos cabo-verdianos”, concluiu o ministro Gilberto Silva.

Reino Unido retira licença de transmissão a canal estatal chinês CGTN

O Reino Unido retirou esta quinta-feira a licença de transmissão ao canal de notícias estatal chinês CGTN, após apurar que o titular não tinha controlo editorial sobre a produção, controlada antes pelo Partido Comunista da China. A CGTN (China Global Television Network), que estava disponível na televisão gratuita e paga no Reino Unido, não comentou ainda a decisão.

O regulador da imprensa britânico Ofcom começou a investigar o canal depois de várias pessoas terem apresentado queixa, devido à exibição de confissões forçadas, que violam as regras de justiça e objectividade. Uma das confissões envolveu o antigo funcionário do Consulado Britânico em Hong Kong que afirma ter sido detido e torturado pela polícia chinesa à procura de informações sobre os manifestantes na antiga colónia britânica.

Outro caso envolveu um investigador corporativo britânico que disse ter sido forçado a confessar durante a sua detenção na China. O regulador disse ainda ter apurado que a entidade que detinha a licença do canal, a Star China Media Limited, não tinha responsabilidade editorial pela produção da CGTN, que é um requisito para obter licenciamento.

Um pedido de transferência da licença para a China Global Television Network Corporation (CGTNC) foi rejeitado porque faltavam “informações cruciais”, disse o Ofcom. “Consideramos que o CGTNC seria desqualificado de deter uma licença, já que é controlado por um órgão que é controlado pelo Partido Comunista Chinês”, justificou ainda.

O regulador disse que deu à CGTN “tempo significativo” para cumprir com os requisitos. “Após cuidadosa consideração, levando em consideração todos os factos e os direitos da emissora e do público à liberdade de expressão, decidimos que é apropriado revogar a licença da CGTN para transmitir no Reino Unido”, justificou.

2021, o ano decisivo

Com Joe Biden na presidência dos Estados Unidos, as relações sino-americanas entraram numa fase delicada. Para o Governo da China, um Presidente americano conhecedor da política chinesa torna-se um interlocutor mais complicado do que o intempestivo Donald Trump, que jogava cartadas políticas de forma irresponsável. No final do seu mandato, a estratégia de lançar um ataque à China em grande escala criou um clima político. Por isso, se Biden mudar de repente esta estratégia, pode vir a ser encarado pelos americanos como cobarde e pró-comunista. As recentes declarações dos EUA sobre os aviões de guerra da RPC que sobrevoaram Taiwan, demonstram que a atitude em relação à China se vai manter firme durante os tempos mais próximos. 2021 vai ser um ano decisivo para perceber se as relações sino-americanos se virão a tornar hostis ou cordiais.

A nova liderança americana tem de afirmar rapidamente uma imagem de sucesso, caso contrário o povo americano pode vir a sentir saudades do slogan de Trump “A América primeiro”. Se os Estados Unidos forem bem- sucedidos, a China tem de recuar. A Armadilha de Tucídides (um termo que descreve a aparente tendência para a guerra sempre que um poder emergente ameaça uma hegemonia internacional) não é só uma terminologia política, é uma realidade. Devido à ascensão da China para a posição de segunda maior potência económica, e à iniciativa

“Uma Faixa, Uma Rota” ao longo dos últimos anos, A Europa e a América deixaram de a encarar como um país em desenvolvimento, para a passarem a ver como uma ameaça às suas economias. Neste xadrez politico-económico, Hong Kong tornou-se a plataforma de confronto entre a China a Europa e a América.

Face a estes voláteis desenvolvimentos internacionais, e no cenário da actual pandemia, 2021 pode ser o ano decisivo para determinar quem serão os vencedores e os vencidos neste jogo de luta entre Hong Kong e a China e entre Macau e a China.

As transições de poder propiciam o surgimento de crises, e a eleição presidencial americana é disso um exemplo. Em 2022, o Partido Comunista Chinês (PCC) vai realizar o seu 20.º Congresso Nacional, que pode vir a mexer com os quadros de topo da política chinesa. Nos últimos anos, os corredores de poder da China tornaram-se ainda mais homogéneos, e qualquer erro pode provocar abalos políticos. Como em 2021 se comemora o 100.º aniversário da fundação do Partido Comunista Chinês, a distribuição de poder entre os quadros neste período vai determinar as mudanças pessoais no Congresso de 2022. Se essas mudanças não forem abruptas, os riscos para o país durante a transição de poder serão reduzidos, o que vai ser determinante para o equilíbrio de forças entre a China e os Estados Unidos. Caso contrário, quando a situação estabilizar na América e a sua presença militar se voltar a sentir na Ásia, estaremos de regresso a mais uma luta pelo poder.

Quanto a Hong Kong, é situação é ainda mais precária, e as clivagens no seu seio vão de mal a pior. Quando a discussão política passa para o campo do confronto, o enquadramento constitucional fica em segundo plano. Com a promulgação da Lei da República Popular da China sobre a Salvaguarda da Segurança Nacional na Região Administrativa Especial de Hong Kong, Hong Kong tornou-se num caranguejo que foi empurrado para debaixo de água por um pedregulho. O caranguejo certamente que não se consegue mexer, mas os peixes e os camarões que nadam à sua volta também sofrem. Basta olhar para as questões levantadas pelo BNO (British National Overseas passport) que pode dar ou não aos habitantes de Hong Kong a possibilidade de emigrarem para o Reino Unido, para ficarmos a perceber se as decisões que forem tomadas nesse âmbito serão certas ou erradas. Depois de os legisladores democratas se terem demitido do Conselho Legislativo de Hong Kong, os do campo pró-governamental tomaram controlo absoluto do Plenário. Infelizmente, o seu desempenho tem sido frustrante. Se nas próximas eleições de Setembro, os democratas continuarem a ser sistematicamente banidos da corrida, a cosmopolita cidade de Hong Kong tem grandes hipóteses de se vir a tornar apenas mais uma cidade da Área da Grande Baía de Cantão-Hong Kong-Macau. Hong Kong sem os seus habitantes vai tornar-se uma cidade portuária e nada mais. 2021 vai ser um ano crucial para virmos a saber o rumo que Hong Kong vai tomar.

Macau sobreviveu à pandemia em 2020. No entanto, a sua recuperação económica ainda depende do turismo, e os problemas dos cidadãos têm vindo a acumular-se. O V Governo da RAEM, foi muito bem-sucedido na resposta à epidemia com a estratégia de “defesa da estabilidade”, mas o seu desempenho tem sido medíocre no que respeita `à promoção da economia e à salvaguarda do estilo de vida da população. A administração excessivamente conservadora impediu que Macau se tenha tornado a cidade a registar a recuperação económica mais rápida da Área da Grande Baía de Cantão-Hong Kong-Macau. As eleições para a VII Legislatura da RAEM também estão marcadas para o próximo mês de Setembro. Mas na premissa de que a actual composição da Assembleia Legislativa permanecerá inalterada, o sufrágio directo seria a única forma de a revitalizar. Como é que se pode impedir o Governo liderado pelo Chefe do Executivo de errar se não houver suficiente supervisão? Quando as pessoas só sabem dizer “sim” e tecer “louvores”, estamos sempre a chover no molhado. Se a reorganização dos vários poderes que atrás mencionámos for bem conduzida, estaremos todos seguros. Mas se não for, temo que se venha a criar um problema sem solução.

A Qubit

“What is a Qubit? You guessed it – it’s a Quantum Bit. A Qubit is a Basic unit of information on a quantum computer. Just like bits on normal computers, qubits are used to store, transmit, and process information, but in much higher quantities.”
San Satoshi
Hymn Of Modernity: Machine Learning, Augmented Reality, Big Data, Qubit, Neuralink and All Other Important Vocabulary

 

A 29 de Setembro de 2018, cientistas chineses e austríacos ligaram-se numa videoconferência. Essa imagem de homens e mulheres, sentados em cadeiras e com a intenção de ouvir mensagens do outro lado do mundo, tornou-se uma das fotografias simbólicas da nova era. Porquê?

Era uma videoconferência diária, mas o evento representou uma novidade extraordinária, pois as equipas chinesa e austríaca estiveram em videoconferência encriptadas através de um sistema quântico. Tudo graças a Micius (um nome derivado do filósofo chinês Mozi, latinizado em Micius), um satélite que a China lançou em 2016, e cujo objectivo era precisamente assegurar a possibilidade de guardar informação através da utilização da mecânica quântica. Como acontece frequentemente na China, este resultado depende do trabalho do cientista, Jian-Wei Pan, elogiado até pelo Presidente Xi Jinping e considerado o “pai chinês do quantum” e que é professor na Universidade de Ciência e Tecnologia da China que com cinquenta anos de idade, produziu uma série de descobertas que o tornaram famoso na sua terra natal.

O seu trabalho, como habitualmente, não vem do nada, mas de um esforço excepcional da China para desenvolver perante outros o chamado “computador quântico”, que é extraordinariamente poderoso. Numa entrevista à “MIT Technology Review”, Pan recordou que na China foi primeiro um “estudante” de tudo o que foi descoberto no Ocidente, mas agora pode tornar-se um líder na sua área. Este é um pensamento que percorre a mentalidade de cada chinês. O principal objectivo de Pan era construir computadores quânticos poderosos, cujas unidades de computação, as qubits, ao contrário dos bits, podem ocupar simultaneamente um estado quântico de 0 e 1. Ao ligar as qubits através de um fenómeno que o próprio diário do MIT chama “quase místico” e conhecido como emaranhamento, os computadores quânticos podem gerar aumentos exponenciais no poder de processamento. No futuro, as máquinas poderiam portanto ser utilizadas “para descobrir novos materiais e medicamentos através da realização de simulações de reacções químicas que actualmente exigiriam demasiado tempo de processamento por computadores clássicos”.

Os “PCs Quantum” poderiam também impulsionar a Inteligência Artificial (IA) porque as redes ultra seguras que utilizam a distribuição quântica de chaves poderiam ser particularmente úteis para o sector financeiro (uma das áreas em que a recente aceleração da tecnologia produziu as mudanças mais radicais, embora nem sempre no centro da cena mediática) e para os militares. Os investigadores chineses estão, de facto, a trabalhar em “sensores quânticos” especiais com o objectivo de favorecer a navegação dos seus submarinos. Em suma, seria uma verdadeira revolução. E quem chegar primeiro, como de costume, será favorecido. É uma guerra em curso, na qual também há bolsas de cooperação, pois cientistas chineses e americanos colaboram entre si, mas os governos têm muito mais ciúmes das descobertas das suas próprias equipas. O confronto entre Oriente e Ocidente joga-se muito mais em pc quântico do que em sistemas de reconhecimento facial, onde as técnicas podem ser alcançadas, embora mais tarde do que os concorrentes, mais rápida e facilmente do que a criação de um computador quântico capaz de funcionar realmente.

A China já construiu a mais longa rede terrestre de “chaves criptográficas quânticas” do mundo. A ligação terrestre de 2032 quilómetros entre Pequim e Xangai foi concebida por Pan e envia chaves criptográficas quânticas. É um serviço cívico aos municípios, que começaram a utilizar esta nova forma de transporte de dados, bem como para a transmissão de dados financeiros. Segundo os analistas, é difícil medir exactamente quanto a China está a investir nestes e noutros projectos quânticos, pois é difícil medir tudo na China, considerando que alguns dados são confidenciais (mesmo o número exacto de “reservas estatais de carne de porco”, útil para acalmar os preços, como no caso da epidemia de peste suína que eclodiu em 2019, é um segredo de Estado) e outros são sempre susceptíveis de ajustamento por parte daqueles que os recolhem. Certamente que os investimentos são massivos.

O governo está há muito empenhado neste esforço, encorajando a produção de artigos científicos e o número de patentes relacionadas com comunicações e criptografia quântica. O número de patentes chinesas excede em muito o dos Estados Unidos. Para ajudar a desenvolver os futuros investigadores quânticos, o país está a construir em Hefei um laboratório nacional de mil milhões de dólares para a ciência da informação quântica, que abriu em 2020 para reunir especialistas de várias disciplinas, tais como física, engenharia eléctrica e ciência dos materiais. A China lançará também mais quatro satélites quânticos de baixa órbita, a serem seguidos por um satélite geoestacionário de alta órbita. A visão a longo prazo é criar uma Internet que cubra o continente e que, protegida pela criptografia quântica possa eclipsar aquilo a que agora chamamos de Internet, com tudo o que implica para a chamada “soberania digital” que caracteriza a China.

Mas olhando muito mais longe, e pensando nos consumidores, esta tecnologia poderia ser utilizada para proteger tudo, desde smartphones a portáteis. A grande questão é a vontade do Estado de investir em certos sectores e uma das razões pelas quais a China tem feito tão bem neste campo, é a estreita coordenação entre os seus grupos de investigação governamentais, a Academia Chinesa de Ciências e as universidades do país. A Europa tem o seu plano director quântico “para estimular tais colaborações, mas os Estados Unidos têm sido lentos em produzir uma estratégia abrangente para desenvolver as tecnologias e criar uma futura mão-de-obra quântica”. Que este desafio entre a China e o Ocidente também é fundamental foi demonstrado recentemente. A “supremacia quântica por meio de um processador supercondutor programável” é o título de um texto assinado por investigadores que colaboram com o Google e a NASA no desenvolvimento de novos computadores, o qual apareceu no website da Nasa e foi depois removido. Não foi feito tão depressa, porque o “Financial Times” conseguiu guardar uma cópia do documento e publicá-lo no seu site.

O texto ocupa-se precisamente dos computadores quânticos. Se houvesse casas de apostas para o desafio quântico entre a China e o Ocidente, até há pouco tempo a maioria teria aconselhado a apostar na China. O anúncio do Google, então, com ou sem publicidade, deve ter cientistas chineses inquietos nas suas cadeiras, assumindo que tudo é verdade. Não vai demorar muito tempo a perceber-se, porque as coisas avançam sempre muito rapidamente na China. E é precisamente a velocidade que distingue o desenvolvimento chinês. Os Estados Unidos pensaram, por exemplo, que a vantagem 5G da China poderia ser de alguma forma gerida, e depois tornar-se cada vez mais sólida com o passar dos anos.

A China navega com ventos devastadores em termos de velocidade de execução, podendo contar com financiamento e um sistema educativo que, embora com falhas, é capaz de gerar talentos, aproveitando o tamanho da população local e a riqueza que tem sido criada ao longo dos últimos quarenta anos.

O desafio tecnológico será o terreno em que o Ocidente terá de competir nos próximos anos; pensemos apenas nos dados, e em breve, perguntar-nos-emos, de facto já o fazemos, se a natureza extractiva do capitalismo actual, presente tanto no Ocidente como na China, dará origem a um sistema governado por empresas ou por um Estado, como o chinês. Para a Europa, então, o destino poderia parecer inexoravelmente ligado à seguinte questão se será que preferimos que os nossos dados estejam em mãos chinesas ou em mãos americanas?

Esta perspectiva deveria levar-nos a pensar no peso dos dados e no seu “processamento”, pelo qual passará o nosso mundo do futuro, como elaborar uma estratégia global e considerar os dados como um bem comum poderia permitir à Europa, por exemplo, não ser apenas uma periferia do mundo ou uma terra de conquista das superpotências, mas um lugar capaz de prever um novo modelo de transparência e de utilização pública dos dados.

Desta forma, poder-se-ia evitar os erros do passado. Se a Europa conseguir fazê-lo, tanto na China como no Ocidente, cidades inteligentes, por exemplo, poderiam realmente tornar-se o lugar capaz de produzir uma nova forma de cidadania, em vez de novas divisões sociais. De facto, a aspiração deve ser que as tecnologias possam tornar-se um instrumento para melhorar a vida das pessoas e a sua relação com o ambiente, em vez de uma arma de controlo social nas mãos dos estados e plataformas tecnológicas. Em finais de Janeiro de 2020, o Covid-19 atacou o mundo. O surto começou na região Hubei da China, na capital Wuhan, uma cidade de onze milhões de pessoas. Desde finais de 2019 que têm sido comunicados casos anormais de pneumonia na China. Alguns médicos pensavam que se tratava da SRA (Síndrome Respiratória Aguda Grave) novamente, outra forma de coronavírus registada na China e identificada por um médico italiano, que mais tarde morreu de SRA na Tailândia, desde finais de 2002. Durou até 2003 e fez setecentas e setenta e quatro vítimas em dezassete países. Alguns países sem qualquer comprovação científica em mero discurso político consideram as autoridades chinesas como responsáveis pela propagação do vírus, afirmando que minimizaram a epidemia durante muito tempo sem dar o alarme, contribuindo assim para atrasar fatalmente a adopção de contramedidas. Depois foi a vez de Guangdong, e depois de Hubei. O atraso das autoridades chinesas na comunicação da emergência foi mínimo, e para não incorrer em “outra SRA”, a China comunicou a existência do vírus, primeiro à Organização Mundial de Saúde (OMS) e só mais tarde à sua população.

Uma vez iniciada a resposta, no entanto, a China agiu como habitualmente, com a máxima velocidade para remediar o problema. Wuhan foi colocado em quarentena juntamente com quinze outras cidades, num total de pelo menos sessenta milhões de habitantes, correspondente à população da Itália inteira, que ficaram em lugares selados, dos quais era impossível entrar e sair; tendo sido a maior quarentena da história da humanidade, uma solução que é frequentemente considerada tardiamente pela comunidade científica, mas que demonstra a determinação chinesa em lidar com a epidemia. O facto de tudo ter provavelmente uma razão e onde a verdade científica está por determinar e de ter começado dentro de um mercado em Wuhan, onde animais selvagens são abatidos e vendidos, destaca o que ainda é visível, de um país lançado para o futuro, mas que ainda mantém hábitos tradicionais e culturais de mil anos de idade, capazes de afectar o tecido social se tal for comprovado.

Em quarentena e com as grandes cidades desertas, com escolas e escritórios fechados, uma sequência de imagens icónicas passou rapidamente perante a população chinesa como o grito dos edifícios na noite de Wuhan, de encorajamento, a contagem dolorosa dos mortos e a necessidade de abastecer os hospitais com material médico, a construção em dez dias de dois hospitais de emergência, o despedimento de centenas de funcionários considerados “incompetentes”, a morte de Li Wenliang, um médico de trinta e quatro anos de idade que tinha relatado casos de pneumonia anormal mas em que não se acreditava.

Li Wenliang teve de receber uma reprimenda, depois foi ilibado e finalmente morreu do Covid-19. Em todo este estremecimento de tragédia e esperança, a principal preocupação de muitos chineses continuava a temer a proximidade com qualquer pessoa infectada nos dias que antecederam o surto. E as respostas chegaram, porque o saber na China tornou-se muito fácil, pois as companhias telefónicas e algumas aplicações (por exemplo, as dos caminhos-de-ferro estatais) criaram sistemas através dos quais as pessoas puderam verificar se, durante as suas viagens de comboio ou avião, estiveram perto ou em contacto com aqueles que mais tarde adoeceram ou que foram hospitalizados. A China-Mobile, um dos maiores operadores telefónicos do país, disse aos cidadãos de Pequim que poderiam verificar os seus movimentos durante os últimos trinta dias através de um serviço ad hoc.

Parece inacreditável aos nossos olhos, uma afronta à privacidade de cada um dos passageiros dos comboios e aviões, que desconheciam os controlos do seu estado de saúde, no entanto, na China, revelou ser um passo bastante positivo, de acordo com o feedback dos utilizadores sobre estes serviços, para tranquilizar as pessoas. O poder das aplicações chinesas, dedicadas ao controlo rigoroso dos movimentos das pessoas foi apresentado pelo governo chinês e pelos operadores como um grande serviço numa situação de emergência.

Como a agência Reuters referiu, a Covid-19 teria feito emergir o sistema de vigilância chinês “das sombras”. Mais do que uma emergência, na realidade, poder-se-ia dizer que o vírus permitiu uma utilização ad hoc de instrumentos que os chineses estão habituados a utilizar todos os dias. A Covid-19, de facto, é a primeira emergência sanitária global na era da IA e, embora numa situação dramática e complicada, mais uma vez a China mostrou um caminho. Aqui, por exemplo, há outro uso da IA na China quando um homem de Hangzhou que tinha acabado de regressar de Wenzhou, um lugar considerado altamente infectado, foi avisado pela polícia para não sair de casa e a matrícula do seu carro foi gravada pelas câmaras de vídeo. Por causa da sua origem, deveria ter ficado em casa, ter medido a sua temperatura e contactado as autoridades sanitárias da cidade, se necessário. Mas, aborrecido, decidiu sair e foi contactado não só pela polícia, mas também pelo seu empregador. O homem tinha sido visto perto do lago Hangzhou por uma câmara de reconhecimento facial e as autoridades também tinham alertado a sua empresa de que não estava a cumprir as directivas impostas.

Na China existem novas possibilidades para as empresas de alta tecnologia e neste momento, embora nunca o admitam, deparam-se com uma oportunidade única de aumentar o combustível principal para as suas invenções, que são os dados. A China tem muito e de qualidade, mas com a Covid-19 a quantidade de informação aumentou. Abalados pelo medo e pela preocupação, os chineses enterraram a sua fraca resistência à invasão da sua privacidade com a empresa de reconhecimento facial. Foi desenvolvida uma nova forma de detectar e identificar pessoas com febre, graças ao apoio do Ministério da Indústria e Ciência. O novo “sistema de medição de temperatura” utiliza dados corporais e faciais para identificar pessoas doentes. Este é apenas um exemplo (Baidu, o principal motor de busca da China, anunciou também que o seu Laboratório de IA estaria a fazer um dispositivo semelhante) que permite detectar tendências que têm vindo a ocorrer no país há algum tempo como empresas privadas, apoiadas pelo Estado, desenvolvem novos produtos “intrusivos” (e, neste caso, também úteis, dir-se-á); a empresa pode então vender no estrangeiro a sua criação, aperfeiçoada graças à possibilidade de acesso a todos os dados.

O governo tem movimentos e dados na ponta dos dedos para se certificar de que tudo está a correr de acordo com as suas directivas. A frente do reconhecimento facial, não termina aí, pois o SenseTime, outra das bandeiras do sistema, afirmou ser capaz de identificar até pessoas que usavam máscaras. Este é um aspecto importante, especialmente durante os dias mais complicados da Covid-19, para além do smartphone, para fazer uma enorme quantidade de coisas (pagar, reservar, executar tarefas no banco ou em repartições públicas) precisa sobretudo da cara. Com a utilização massiva de máscaras, a tecnologia tem dado sinais de imperfeição (também ironicamente sublinhada nas redes sociais chinesas por pessoas que, devido à máscara, falharam o reconhecimento para entrar nas suas casas).

A empresa de câmaras de vigilância Zhejiang Dahua disse que pode detectar febre com câmaras de infravermelhos com uma precisão até 0,3 graus. Uma utilização específica para lugares com muita gente, como um comboio. De facto, numa entrevista à Xinhua, a agência estatal chinesa, a Academia das Ciências da China explicou como a tecnologia pode ajudar as autoridades a encontrar pessoas num comboio que possam estar expostas a um caso confirmado ou suspeito de Covid-19, pois obtém informações relevantes sobre o passageiro, incluindo o número do comboio, e informações sobre passageiros que estiveram próximos da pessoa. Outras aplicações para lidar com a Covid-19 estão em curso sendo o mais famoso que está relacionado com o uso de drones para convidar as pessoas a usar máscaras (um vídeo em que, na Mongólia Interior, uma senhora idosa recebeu uma visita de um drone foi muito filmada na rede); depois há os robôs que dentro dos hospitais cuidam de actividades que poriam em perigo a saúde dos operadores, tais como desinfestação, entrega de refeições ou limpeza nas áreas dos hospitais utilizadas para os infectados e doentes de Covid-19, bem como assistentes de voz, que usando IA são utilizados para pedir informações a pessoas em casa, armazenar dados e sugerir tratamentos ou hospitalização imediata. Em cinco minutos, os assistentes de voz chineses fazem duzentas chamadas, aliviando muito o trabalho dos hospitais.

Como o portal mandarim Yesky salientou, “este serviço de chamadas robotizadas pode ajudar os médicos da linha da frente a controlar a situação. Com tecnologias como o reconhecimento de voz, compreensão semântica, e diálogo homem-máquina, os robôs são capazes de compreender com precisão as línguas humanas, obter informações básicas e dar respostas”. O “lado” da investigação médica não está ausente.

A este respeito, o website da Administração do Ciberespaço da China, num artigo intitulado “Inteligência artificial e grandes dados ajudam a investigação e desenvolvimento de novos medicamentos contra o Covid-19”, anunciou o lançamento de um plano de “investigação e desenvolvimento de medicamentos graças à IA e plataformas de partilha de grandes dados, bem como todo o tipo de investigação e material bibliográfico sobre a Covid-19. Sobre esta questão, contudo, apesar dos anúncios, a comunidade científica é bastante unânime em salientar que o prazo para uma cura, para não mencionar as vacinas, não está exactamente ao virar da esquina. Finalmente, há o aspecto ligado às conferências virtuais e ao e-learning, em que a China tem vindo a investir há algum tempo e que em 2020, devido ao encerramento de escolas e escritórios, tem visto uma atenção e experimentação renovadas. Para as escolas, foram utilizados programas prontos que permitem a ligação de vários alunos ao mesmo tempo, fornecendo ao professor todos os dados necessários, incluindo os gravados por câmaras fotográficas sobre a atenção demonstrada pelo aluno durante a aula. Para além da actual situação de emergência, esta é uma realidade na China.

Da vergonha

Confesso-vos: não tenho jeito para ser português. Não nutro aquele entusiasmo irrestrito por tudo quanto é luso e que, não raras vezes, se traduz em profusas hipérboles capazes unicamente de me causar vergonha. Vergonha talvez seja a palavra certa para descrever o que se tem passado no rectângulo desde que chegou o primeiro lote de vacinas para a COVID. Não duvido que em Espanha, França e Estados Unidos aconteça um pouco do mesmo que se tem passado por cá. Mas a coisa aqui assume contornos de grotesco pelo facto de aqueles apanhados com a boca na botija – ou com a seringa no braço, para ser mais preciso – não sofrerem quaisquer consequências excepto um muito transitório vexame público. Além de não se mostrarem especialmente arrependidos, arranjam toda a sorte de justificações para justificarem o injustificável num estado democrático: o facto de terem abusado do poder conferido pelo lugar que ocupam para subtrair uma ou mais doses de vacinas a quem mais precisava.

Em Março do ano passado escrevia aqui nesta coluna que estes momentos de crise acabam por ser uma espécie de janela e de espelho. Uma janela no sentido em que cada um de nós assiste ao outro revelando-se – como o conhecíamos ou como nunca imaginamos que seria – e assiste – mais ou menos satisfeito com o resultado – à sua própria revelação. Uma coisa é a ética em conversa de café; outra, muito diferente, é como cada um de nós reage numa situação excepcional. Somos capazes dos mais desobrigados sacrifícios e do mais abjecto egoísmo. A história é uma sucessão de homens que, perante a adversidade, cresceram ou mirraram.

O que tem vindo a lume, porém, são maioritariamente histórias do pequeno abuso de poder tão costumeiro em Portugal. Autarcas cujo ego não cabe no reflexo do espelho, convencidos que estão isentos do cumprimento das regras do jogo democrático; pequenos dirigentes intermédios de organismos públicos habituados a levar resmas de papel do escritório para casa a colocarem na lista dos vacinados prioritários mulher, filhos, sogra e periquito; a malta rés-do-chão da hierarquia logística cujos dedos pegajosos alimentam diariamente a estatística do desperdício nos serviços públicos a desviarem aquilo que podem, vacinas incluídas. Portugal em dois vocábulos: desenrascanço e jeitinho.

Por isso tremo quando ouço falar de qualquer tipo de multiplicação de poderes locais. Seja por via da divisão de território para a criação de Juntas de Freguesia adicionais, seja por via da regionalização, uma daquelas bandeiras clássicas que a pretexto de aproximar o poder do povo serve unicamente para distribuir umas migalhas suplementares pelos indefectíveis do partido (qualquer que ele seja). Portugal tem cerca de dez milhões de pessoas – o tamanho de uma cidade média na China – mas só estaremos satisfeitos quando cada um de nós for uma minúscula dependência autárquica por onde passem uns cobres públicos aos quais possamos deitar mão.

Imaginem então os poucos mas prezados leitores quando chegarem os fundos da bazuca europeia. Não há partido que não salive pela cascata de dinheiro prometida. A pretexto do hidrogénio verde, da TAP ou dos bancos cronicamente de cuecas – ao contrário dos seus gestores, impados de tanta opulência – o dinheiro há-de desaparecer à vista de todos como a água da chuva numa sarjeta (ou melhor, até, porque não consta que os bolsos desta gente alguma vez entupam, por mais que se lhes despeje dentro).

O ideal, acaso queiram a minha opinião, é implementarmos uma cláusula através da qual se exclua automaticamente dos lugares de poder todo e qualquer cidadão de nacionalidade portuguesa. Portugal é um país com boa comida, um clima fantástico e algum potencial geográfico.  Só falta quem, desinteressadamente, ponha mão nisto.

A calma de perder o controlo

Ultimamente, tenho lido os estóicos. Têm feito as vezes de um guia prático de sobrevivência em tempos onde a saúde mental de cada um de nós, apesar de cada vez mais vulnerável, tem que ser auto-tratada (consultas desmarcadas, escassez devido a procura, perigo de ir a hospitais).

Dizem que esta é a mais prática das correntes filosóficas. Efetivamente, o meu recurso a ela neste mapeamento de situações mentais não pode estar completamente errado. Muitos terapeutas reconhecem a contribuição do estoicismo para o desenvolvimento de terapias cognitivo-comportamentais. Muitas meditações aurelianas me faltam ainda para me conseguir auto-proclamar uma seguidora de Zenão de Cítio. Uma visão estóica fundamental do mundo que decidi assimilar prende-se com a aceitação total dos acontecimentos externos como não pertencendo a nenhuma forma do nosso domínio. Não há sobre esses eventos externos culpa ou forma de manter o controlo. É um princípio que se aplica à aleatoriedade dos acontecimentos humanos e naturais, em geral. Uma pandemia tem certamente uma origem investigável cientificamente mas tem também um caráter aleatório na forma como se manifesta e impacta as várias camadas de conjunturas em que cada um de nós se encontra individualmente. Temos de admitir: não somos nada bons a aceitar o que é aleatório. Sobretudo, se o fenómeno for extremamente incómodo. É mais fácil atribuir-lhe significado. Pode ser um significado simbólico ou espiritual. A natureza revoltada que nos veio dar uma lição. Pode ser um apontar de dedos – um “alguém está por detrás disto”.

Apesar da distância temporal a que nos encontramos da filosofia helenística sabemos hoje, mais do que ontem, que o universo provavelmente não é uma matéria estável, mas antes um arbítrio. Quem o diz é a física quântica. Ou seja, o único controlo exequível é aquele que ocorre nos nossos vários eventos internos. Não somos nós a olhar o universo, é o universo observa-se a si mesmo. Indiferentes a estas considerações sobre ego e universo, encontram-se as pessoas que procuram justificar eventos externos à luz de lógicas externas, nada fundadas na realidade mas antes na crença ou especulação. Há variantes de conspirações sobre este vírus para gostos diversificados. Que é transmitido pelas torres celulares do 5G, que foi criado pelo Bill Gates para depois lucrar com as vacinas, que foi criado pelas próprias farmacêuticas produtoras das vacinas. Que as vacinas têm microships do governo chinês ou americano (opção de escolha do vilão) para nos espiar e controlar. Que todos os políticos, jornalistas e profissionais de saúde nos ocultam tudo. Este tipo de necessidade de atribuir explicações ao desconhecido, surgiu antes da nossa realidade se tornar cyber-punk. Também em 1348, os flagelantes decidiram atribuir a peste negra aos pecados da humanidade e por isso formaram longas procissões em grupos de mais de quinhentos indivíduos cada que deambulavam pela Europa. Enquanto se chicoteavam, distribuíam pedaços de pele e sangue pelos caminhos que percorriam e, assim, contribuíam boçalmente para a uma aceleração da propagação da doença. Ou seja, na esperança de liquidar a dívida divina percepcionada, estas pessoas ajudaram a piorar a situação. Digamos que a ignorância e a vontade de agir não são a melhor combinação. O racismo e a xenofobia, tão em ascensão na Europa contemporânea, também não são fenómenos exclusivos de escuras cavernas virtuais. Durante o período da peste negra do século XIV, a comunidade judaica foi acusada de ter infetado poços com a praga de forma propositada. Dizia-se que se viam poucos judeus infetados. Foram perseguidos, torturados e linchados publicamente. Comunidades judaicas inteiras foram massacradas até à extinção em eventos como o que ocorreu em Toulun a 13 de Abril de 1348.

Apesar das inúmeras evidências da existência do absurdo na experiência humana, é difícil aceitar o que acontece como simplesmente aquilo que acontece. Aquilo que nos é externo e não controlável. Há, contudo, algo que podemos controlar. Os nossos eventos interiores. Se a necessidade de uma causa ou de uma atribuição de culpas é necessária para explicar o que não entendemos, há um trabalho interior muito importante a fazer e que pode perfeitamente ser feito em confinamento. Vazio existencial? Falta de causas pelas quais se agregar? Frustração?

Depressão? Medo? Reside no interior de cada um de nós a verdadeira razão pela qual não conseguimos aceitar o que nos foge ao controlo. Como os estóicos, deixemos que as revoluções que decidamos iniciar aconteçam primeiro dentro de nós. Isto para que não sejamos, novamente, flagelantes de pecados inexistentes.

Zerbo Freire, poeta cabo-verdiano: “Cheguei a Macau com uma caderneta de poesias em crioulo”

“Visão, Direcção, Acção” é o primeiro livro do poeta cabo-verdiano Zerbo Freire. Nascido em Lém Cachorro, o autor veio para Macau estudar língua e cultura chinesas com uma bolsa de estudos e fez intercâmbio em Pequim. Depois de vir para Macau, Zerbo Freire passou dos receios que tinha em se expor para ver as coisas sob outro ângulo. A obra é uma publicação da cod e será apresentada por Carlos Morais José na segunda-feira pelas 18h30, na Fundação Rui Cunha

 

Como é que o Centro de Protecção Social de Lém Cachorro influenciou o teu desenvolvimento?

Para falar a verdade foi o momento mais crucial e importante até agora, até chegar aqui. Entrei nesse centro com seis anos, por causa de muitos problemas familiares socio-económicos. É uma casa a que devo muito respeito. De uma certa forma é um centro que contribuiu para o meu desenvolvimento não só pessoal, mas para dentro de mim, é uma coisa mesmo psicológica. Foi lá que comecei a tirar as mágoas, medos, choros. Vim de um bairro problemático, com muitos problemas sociais, e isso de uma certa forma acaba por influenciar a sua vivência, as suas coisas, a sua forma de pensar e estar também. Foi lá que comecei a aprender as coisas, que entrei na escola. Tive sempre aquele acompanhamento, iam ver como estavam as notas. De certa forma foi a casa que contribuiu para eu estar aqui hoje. Saí de lá com 18 anos. E quando saí de lá vim para Macau. É por isso que digo que é uma casa que esteve comigo até hoje.

Chegaste a frequentar o curso de Economia e Ciências Empresariais mas tiveste de o deixar por razões financeiras. Na altura como ficaram os teus planos académicos?

É uma coisa que nos deixa um bocadinho por baixo. Eu já tinha planos de fazer o curso de Economia, porque sempre foi um sonho. Quando se vê que não se pode fazer porque não se tem certas condições financeiras isso acaba por abalar. A única forma de superar isso foi vir para Macau. Vir para Macau foi uma forma de esquecer esse fracasso. Não foi só um fracasso da minha parte mas também foi um fracasso no sentido em que as coisas foram superiores a mim. Não podia fazer mais nada a não ser aceitar e caminhar, fazer as coisas.

Foi de certa forma um fracasso da sociedade… ficaste zangado? Como encaraste a situação?

Um bocadinho. Quando vi que as condições não estavam a dar certo para fazer o curso, a única solução foi deixar o curso e procurar outra coisa para fazer. Tentei procurar trabalho mas não dava para suportar os custos, não era só pagar a escola. Não dava para fazer tudo. A solução era procurar uma bolsa fora, então foi aí que encontrei Macau.

Já te tinha ocorrido vir para Macau antes?

Em relação a Macau, China, nada. Falando a verdade nunca tive ideia de fazer o curso fora, sempre tive uma visão de que se quero ajudar o meu país então tenho de estudar lá, senão há um contraste. Sempre tive a visão de estar lá dentro.

Vieste para estudar língua e cultura chinesa. O que te atraiu mais nessa área?

Foram a língua e a cultura em si. Antes de chegar cá, quando faltavam dois meses para vir, já tinha encontrado a bolsa e comecei a estudar um pouco a língua, ter noção das coisas que ia encontrar, as coisas básicas, aprender um bocadinho de caracteres. Então a partir daí comecei a ter noção do que iria encontrar aqui. Quando cheguei, é claro, [houve] aquele choque, mesmo linguístico. Muitas pessoas falam do choque cultural, mas falo muitas vezes de choque linguístico porque estudar a língua chinesa foi deixar uma parte que sempre sonhei de lado, esquecer mesmo e focar na língua chinesa. Passando anos começou a fazer parte de mim e agora não quero deixar. Às vezes falo sobre a contradição, que mudança. O sonho do cara era ser economista, e agora só quer saber da língua chinesa.

Escreves poemas em chinês. Sentes alguma barreira quando te tentas expressar dessa forma?

Quando escrevi o meu primeiro poema em chinês estava em Pequim. Como as coisas em Pequim são a um ritmo mais elevado, as coisas são mais sérias, num modo mais crítico de falar. Foi lá que comecei a ter mais tempo. As coisas entram, entram, e sente-se uma necessidade de as tirar para fora também. Já gosto de poesia, porque não escrever também poesia em chinês? Claro, não foi fácil escrever a minha primeira poesia em chinês, tenho um programa que se chama pleco no meu celular, e tem algumas ideias na minha cabeça mas são em pinyi, não sei escrever o caractere. Então tinha o celular ao lado, um papel, sentava-me fora da residência e escrevia assim. O caractere que não sabia via no pleco, a gramática que não sabia tinha de ir ver ao livro. Depois complementava. Durava quase uma semana para terminar uma poesia.

Os poemas deste livro foram escritos ao longo de quanto tempo?

Comecei a escrever quando comecei a fazer música, porque também sou rapper. Comecei a fazer música com rimas de poesia, e [decidi] que não ia escrever texto mas poesia. Até é mais sensível. Quando está ‘rappando’ está rimando, tem uma base que é poética. Não é um texto, é uma poesia, é mais completo. Foi assim que comecei a tirar as coisas, com a minha língua de origem, o crioulo. Cheguei a Macau com uma caderneta de poesias toda em crioulo. Quando cheguei ao segundo ano comecei a ter essa ideia de organizar as coisas e fazer um livro. Comecei a tirar tempo para fazer a tradução para português e depois comecei a enviar para o pessoal com mais experiência nessa área aqui, para começar a dar opiniões e dicas. Havia algumas dicas que não me agradaram, mandava a poesia e vinha igual de novo. Não sei se estou a perder o meu tempo, porque não mudava nada. Mandei para outras pessoas até encontrar o Carlos.

É fácil tomar a decisão de tornar público algo que também é tão pessoal?

Claro que não. Eu sempre tive a ideia de que a minha escrita era para mim e ninguém tinha o direito de saber o que estava a escrever. Inicialmente era essa ideia que tinha. Até nas minhas músicas, tenho cerca de 10 faixas de rap mas pouca gente sabe. Aquela gente que sabe é a minha família e amigos mais próximos. Muitas vezes as coisas que escrevo são pessoais, são os meus medos, minhas frustrações, o momento que estou mais sozinho. Quando falo assim de escrita englobo sempre o que está dentro, então quando tiro para fora tinha medo de me estar a expor. É aqui que chega Macau. Quando cheguei a Macau passei a ver as coisas num ângulo diferente, é uma coisa mais diversificada. Porque quando se chega aqui e vê que não é um cara sozinho, que tem muita gente com muitas formas de pensar e que só está a contribuir para isso, é aí que quer se expor, mostrar as ideias e o que sente. Fiquei a perceber que somos feitos de sentimentos, se escrevo sentimentos quero que o pessoal o sinta. Comecei a ter essa coragem.

No poema “partida” falas de abraçar um mundo novo. Em que aspectos sentes que te aculturaste?

No momento em que comecei a tirar as primeiras palavras em chinês, as primeiras frases. A pessoa sai no fim de semana, é a rotina de estudante, quer curtir, e acaba por encontrar outro tipo de pessoas. Há pessoas que falam português, outras inglês, cantonês ou mandarim. Eu sou um cara bem envergonhado, então inicialmente não fui eu. Depois de duas cervejinhas é que começava a chegar junto do pessoal para falar. Então passava todos os meses a estudar, saía para beber e começavam a sair pequenas frases, pequenas conversações. Foi aí que comecei a sentir que não estou sozinho aqui e a coisa estava a começar a entrar. É como comer uma comida pela primeira vez, acha uma coisa horrível, mas quando se come regularmente começa a apreciar as coisas. Não fiquei admirando as coisas, comecei a apreciar, a senti-las.

No livro falas de como o “poder económico é a nossa dívida”. É uma mensagem sobre Cabo Verde, ou mais geral?

É uma mensagem mais geral mesmo, esse poema é uma dedicatória ao continente africano, é uma poesia que fiz especialmente para lá. É uma poesia inspirada no Joseph Ki-Zerbo, que foi um activista burkino e um historiador africano. Através de um livro dele que li, “Para quando África?”, tirei de lá essa inspiração e depois escrevi. Isso que falo de “tornámo-nos soldados mercenários”, tem algumas coisas lá que descrevem a nossa situação hoje. Então essa poesia é uma visão geral do continente, inspirada em Joseph Ki-Zerbo.

E o que achas da forma como está agora o continente?

As coisas continuam a mudar de uma forma lenta, mas continuam a mudar, mas de uma forma lenta. Como Joseph Ki-Zerbo falou, para quando? E quando se coloca essa questão vê-se que esse quando está ainda distante. É por causa da nossa lentidão. Estamos a reclamar de muitas coisas e andando lento.

Vires para fora pode ajudar a que o processo seja mais rápido? O que podes dar de volta?

A única coisa que posso dar de volta é esse conhecimento que a cada dia estou a ter na área de língua e cultura chinesa. É uma cultura e uma língua dotada não só de conhecimento cientifico, mas de conhecimentos do povo. São provérbios, a gente podia reeducar as pessoas através dessas coisas. Pelo menos, o plano que sempre tenho é abrir um instituto no meu bairro onde vou pelo menos começar a levantar crianças com cinco ou seis anos, em idade em que estão com força de aprender. Agora não é tempo de se manobrar com pessoas já com 16 ou 17 anos que já estão crescidas. Se se vê que a sociedade está muito rígida, tem de se puxar, uma coisa tem de ser familiar. Então cresce na família e depois tentar fugir para a sociedade. Tem de aprender isso socialmente. É um dos meus planos, abrir essa coisa para pelo menos levantar no bairro.

Quem admiras mais no ramo da poesia?

Eu nunca peguei num livro de poesia em português para ler assim. É uma coisa bem esquisita para quem escreve poesia em português. Eu comecei a sentir a poesia quando comecei a ler os clássicos chineses. Pode perguntar como é que eu já tinha escrito poesia há três ou quatro anos, é uma coisa meio esquisita mas foi aí que senti, não vou negar. Porque comecei a levar a poesia mais a sério. É uma poesia não muito simples, muito interpretativa, histórica. Às vezes faço pesquisas e análise histórica e linguística da poesia clássica chinesa e foi lá que deu essa vontade. Isso também contribuiu de uma certa forma. Porque quando voltei de Pequim já estava decidido que queria procurar algo e lançar o meu livro, dar o meu primeiro passo.

Falas na poesia como alavanca para a consciencialização. Para que temas queres que os teus leitores despertem?

Começo a pensar na consciência lá do meu bairro. Quando falo em consciência falo em algo social. Quero que o pessoal desperte a percepção das coisas, que elas têm um processo. É por isso que falei em “visão, direcção, acção”. Vem das palavras que o meu pai sempre fala, da luta para a conquista. É isso que quero, que o pessoal tenha essa consciência da luta, o lutar para conseguir algo. O pessoal do meu bairro pensou que é a esperar que as coisas vêm, e é isso que tento despertar. Não só do meu bairro mas para todos os que vão ler a poesia. Eu estive nessa posição em que se sente fracasso, é por isso que falo na luta para a conquista. Aquele momento de visão em que só se quer lidar e controlar os medos e traumas que aconteceram há muito tempo, que se carregam, mas tentam-se controlar e equilibrar. Depois, quando tenta equilibrar, encontra o silêncio para decidir. Porque você só decide quando consegue ver as coisas como elas são. Foi isso que eu fiz. Tentei procurar, acalmar a minha dor, fazer as coisas e tentar manipular a frustração. Você tem de manipular a frustração, controlá-la. Deixar sair a frustação que você quer. Essa é uma frustração que eu já manipulei, é boa. Quando a frustração é manipulada torna-se sensível. Então foi isso que fiz e tentei decidir as coisas. Como eu falo, em busca do sol de horizonte.

Droga | Desmantelada rede operada por cidadãos vietnamitas 

A Polícia Judiciária (PJ) desmantelou uma rede de tráfico de droga alegadamente operada por cidadãos vietnamitas há cerca de dois meses, noticiou o jornal Ou Mun. Três vietnamitas e um toxicodependente foram detidos, tendo sido encontrados pelas autoridades estupefacientes como ice e MDMA no valor de 160 mil patacas.

A PJ recebeu informações na semana passada sobre este caso, mas só na noite desta quarta-feira encontrou droga na posse de Lo, toxicodependente de 27 anos, que estava na zona do NAPE. Lo teria consigo pouca quantidade de droga e apenas para consumo próprio.

Nessa mesma noite, a PJ encontrou dois cidadãos vietnamitas, de apelidos Pham e Nguyen, no bairro do Iao Hon, que tinham consigo utensílios para dividir a droga em doses individuais.

Além disso, as autoridades encontraram outro indivíduo de nome Troung, que se presume ser o membro principal da associação criminosa, com drogas nas roupas e no apartamento. Todos os suspeitos acusaram positivo no exame toxicológico. As investigações prosseguem relativamente ao número de pessoas envolvidas e à origem dos estupefacientes.

Covid-19 | Dois residentes vindos de Tóquio podem ter estado infectados sem saber 

O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus informou ontem que as análises de dois residentes que regressaram da Europa, vindos no voo Tóquio-Macau, acusaram positivo para a presença de anti-corpos relacionados com a covid-19. Significa que podem já ter estado infectados com a doença sem o saberem

 

Há dois passageiros oriundos do voo Tóquio-Macau com análises positivas à presença de anti-corpos relacionados com a covid-19, faltando ainda a confirmação para um terceiro caso suspeito. A informação foi avançada, em comunicado, pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. O registo positivo significa que estas pessoas podem já ter estado infectadas com covid-19 e recuperado da doença sem o saberem. Os testes foram realizados esta quarta-feira, dia 3.

“Um residente teve reacção positiva nos anticorpos IgG específicos e um residente teve reacção positiva nos anticorpos IgM específicos. Ambos foram encaminhados para o Centro Hospitalar Conde de São Januário para se submeterem a exames mais pormenorizados.”
Um dos residentes é português, do sexo masculino, com 30 anos de idade e executivo de uma empresa. As análises do homem “apresentaram anticorpos IgG positivos e anticorpos IgM negativos”. “Uma vez que os três testes de ácido nucleico nos 14 dias anteriores foram todos negativos e sem sintomas clínicos, considera-se que a possibilidade de ter estado infectado antes da chegada é muito elevada”, explica o Centro de Coordenação.

Desta forma, o residente foi enviado para a enfermaria de isolamento do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ) para a realização de exames imagiológicos torácicos, tratamento e exame de ácido nucleico.

O segundo caso diz respeito a um homem de 43 anos, cozinheiro, cidadão chinês mas residente em Macau, que voltou da Suíça. “As análises efectuadas revelaram anticorpos IgM positivos e anticorpos IgG negativos. Os três testes de ácido nucleico realizados anteriormente também foram todos negativos e não manifestaram sintomas clínicos.” O homem foi também enviado para o CHCSJ para a realização dos mesmos exames. De frisar que “os dois indivíduos acima mencionados não estão listados como casos confirmados”, referiu o Centro.

E ainda…

Além destes dois casos já confirmados, o Centro adiantou que “há uma terceira pessoa com uma reacção positiva suspeita a anticorpos IgM”, mas “após a repetição do teste a reacção foi negativa”. “Havendo a possibilidade de esta situação ser considerada como uma provável falsa reacção positiva, é necessário realizar um novo teste”, adianta o Centro.

Trata-se de uma mulher com 20 anos de idade, de nacionalidade chinesa, estudante de Macau no Reino Unido. “Nos primeiros exames foi identificada uma suspeita de anticorpo IgM positivo. Após a realização dos exames, os resultados foram negativos. Por isso, considera-se que a possibilidade de ter sido anteriormente infectada é elevada. Nos próximos sete dias serão realizados a esta estudante mais dois testes de anticorpos e de ácido nucleico, para excluir a possibilidade da infecção.”

As autoridades explicaram que “em geral, após ser infectado [com a vírus que causa a covid-19] o corpo humano apresenta, primeiro, anticorpos IgM específicos na fase inicial da doença, e anticorpos IgG específicos nas fases intermédia e final da doença”. Depois disso, os anticorpos IgM gradualmente desaparecem”.

Imóveis | Processos sancionatórios contra 18 casos de anúncios ilegais

A Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT) e o Conselho de Consumidores (CC) criaram um “mecanismo conjunto de prevenção e controlo para a aquisição de imóveis sitos no Interior da China pelos residentes de Macau” com Zhuhai, Zhongshan e Jiangmen que envolve sensibilização jurídica, troca de informações e cooperação na fiscalização.

Entre Janeiro do ano passado e 1 de Fevereiro de 2021, a DSEDT abriu 136 processos de inspecção à publicidade de imóveis. Foram instaurados processos sancionatórios contra 18 casos a envolver anúncios publicitários ilegais de imóveis no Interior da China, indicaram a DSEDT e o CC em comunicado. Os organismos descrevem que o combate aos anúncios ilegais obteve “resultados positivos”. Caso sejam detectados anúncios que violem a lei, a DSEDT aplica multa aos infractores e confisca o suporte publicitário ilícito. Depois de Macau comunicar a ilegalidade, a respectiva entidade municipal participante no mecanismo investiga os anúncios em causa.

Terrenos | Última Instância confirma caducidade da concessão em dois processos

O Tribunal de Última Instância (TUI) rejeitou os recursos apresentados por duas empresas contra o Governo no âmbito da declaração da caducidade de concessão de dois terrenos situados no ZAPE e na Taipa. Os acórdãos foram ontem tornados públicos, mas as decisões datam de 18 de Dezembro de 2020 e 6 de Janeiro deste ano.

Um dos processos diz respeito a um terreno situado no ZAPE, na Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues, e que foi concessionado à sociedade Good Harvest-Comércio e Fomento Predial, Limitada. O prazo de aproveitamento do terreno terminou em 29 de Julho de 1999, mas só a 19 de Julho de 2019 é que o então Chefe do Executivo, Chui Sai On, proferiu o despacho que declarou a caducidade da concessão do terreno por falta de realização do seu aproveitamento nas condições contratualmente definidas imputável à concessionária.

O outro processo diz respeito a um terreno situado na Taipa, na Rua de Viseu, concessionado à sociedade Pacífico Infortécnica-Computadores e Serviços de Gestão, Limitada. O prazo global de aproveitamento do terreno era de 30 meses, contados a partir da publicação do despacho até 30 de Junho de 1991. O ex-Chefe do Executivo, Chui Sai On, proferiu o despacho, a 23 de Março de 2015, que anulou a concessão por falta de aproveitamento do terreno.