Ma Iao Lai promete “participar de forma activa” nas eleições

Ma Iao Lai, presidente da Associação Comercial de Macau, disse que vai “participar de forma activa” nas eleições legislativas deste ano, sem confirmar se é ou não candidato. Segundo o jornal Ou Mun, o responsável frisou que pretende evitar “disputas e conflitos internos para que Macau se torne mais harmoniosa”, além de defender “um melhor desenvolvimento da economia”.

No seu discurso, proferido no âmbito de um almoço de primavera que contou com a presença do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, Ma Iao Lai disse que a associação vai juntar-se aos sectores sociais de Macau para o cumprimento do 14º Plano Quinquenal da China, além de colaborar com a governação do Executivo local.

Ma Iao Lai promete trabalhar ao lado das autoridades no combate aos efeitos da pandemia. Sobre o 14º Plano Quinquenal chinês, o dirigente defendeu que este inaugura uma nova jornada em prol da construção de uma nação moderna com características socialistas, isto no ano em que o Partido Comunista Chinês celebra o seu centenário.

Ho Iat Seng promete maior participação de mulheres na governação

Num evento com dirigentes da Associação Geral das Mulheres de Macau, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, declarou que o Governo vai “promover uma participação mais ampla das mulheres nos assuntos sociais e na governação pública”. Num outro encontro com a Associação Comercial de Macau, o governante destacou a importância do sector empresarial no combate à pandemia

 

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, parece estar disposto a promover uma maior igualdade de género no território. Num evento com a Associação Geral das Mulheres, realizado para assinalar o Dia Internacional da Mulher, Ho Iat Seng referiu que o Governo “vai promover uma participação mais ampla das mulheres nos assuntos sociais e na governação pública, com vista a proporcionar-lhes um espaço cada vez mais vasto de desenvolvimento”.

No seu discurso, o governante disse ainda que o objectivo é que as mulheres “desfrutem de igualdade de oportunidades no acesso à educação e ao emprego e que desenvolvam as suas potencialidades nos diferentes domínios, nomeadamente político, comercial e educativo”.

Ho Iat Seng referiu ser importante continuar a “promover a igualdade entre homens e mulheres e a defender os direitos e interesses das mulheres”. Quanto ao papel do Governo nesta matéria, o Chefe do Executivo destacou “a implementação de diversas políticas e medidas de apoio às mulheres, de promoção da igualdade e de fomento da convivência e harmonia familiares”.

Sobre a associação, que este ano comemora 71 anos de existência, Ho Iat Seng disse esperar que continue a “desempenhar a sua missão de aproximar e unir as mulheres compatriotas”, bem como defender “os direitos e interesses e a prestação de serviços sociais”.

A importância das PME

Ho Iat Seng reuniu também com dirigentes da Associação Comercial de Macau (ACM). O encontro, que aconteceu no domingo para celebrar o Ano Novo Chinês, serviu para o Chefe do Executivo assinalar o papel do sector empresarial durante a pandemia.

“Os operadores do sector empresarial, designadamente a Associação Comercial de Macau, imbuídos dos valores do patriotismo e do amor a Macau, uniram-se aos residentes (…), e todos (…) contribuíram para debelar efetivamente a propagação da pandemia (…) e manter a estabilidade da conjuntura sócio-económica local, que retoma gradualmente a normalidade”, disse.

No seu discurso, o governante destacou também o facto de, desde a sua criação, a associação promover “a união dos sectores industrial e comercial, fomentado o seu desenvolvimento”, além de que tem “participado de forma pró-activa nos assuntos sociais e prestado apoio ao Governo”.

Para o Chefe do Executivo, este será um ano “marcado pela coexistência de desafios e oportunidades”, pelo que o Governo “irá, unindo todos os sectores de Macau, defender a segurança do País e a estabilidade social”, bem como “persistir na implementação de medidas de prevenção e controlo da epidemia, em prol da recuperação sócio-económica”.

China | Pequim apela ao fim da guerra comercial e à reposição do que Trump “destruiu”

O Governo Central quer que a relação entre as duas maiores potências económicas mundiais volte a ser de cooperação em vez de conflito. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, apelou ontem a Washington para abandonar os preconceitos e as suspeitas e restabeleça a racionalidade e o desenvolvimento saúde de uma relação bilateral. O caminho apontado foi o levantamento de restrições comerciais e o fim da interferência injustificada em Taiwan, Hong Kong, Xinjiang e Tibete

Com agências 

 

Por trás de Wang Yi um banner à largura da sala anunciava o teor do discurso do Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês: “Trazer de volta ao bom rumo as relações entre China e Estados Unidos”.
Foi com este pano de fundo que o governante discursou ontem em Pequim, apelando aos líderes políticos norte-americanos para abandonarem preconceitos e suspeitas infundadas, de forma a retomar relações estáveis, saudáveis e racionais entre as duas maiores potências económicas.

A anterior Administração norte-americana lançou uma guerra comercial, que incluiu a imposição de taxas alfandegárias punitivas sobre grande parte dos bens importados da China e restrições no fornecimento de tecnologia às empresas chinesas ou nos intercâmbios académicos.

Trump também melhorou os laços militares e diplomáticos com Taiwan, enquanto puniu as autoridades chinesas acusadas de abusos contra minorias muçulmanas em Xinjiang e de repressão das liberdades em Hong Kong.

Reforçando a ideia de retorno, Wang Yi evocou uma memória histórica. “Há cinquenta anos, o Dr. Henry Kissinger quebrou o gelo diplomático e visitou a China. Com extraordinária resolução política, os líderes da China e Estados Unidos abriram em conjunto uma porta que esteve fechada durante décadas”, recordou Wang. “Cinquenta anos depois, devemos ter o sentido de responsabilidade e tomar decisões sensatas, acrescentou.

O governante chinês não deixou de realçar que nos últimos anos, as relações com Washington desviaram-se do caminho normal e enfrentaram grandes obstáculos. Sem grandes rodeios, Wang apontou responsabilidades à anterior administração que, “para satisfazer as suas necessidades políticas, adoptou várias medidas para reprimir e conter a China, infligindo danos incomensuráveis às relações bilaterais”, cita a agência Xinhua.

Futuro mal definido

Embora o novo Presidente norte-americano, Joe Biden, tenha prometido colaborar com Pequim e adoptar um tom diferente na diplomacia dos EUA, não é claro se fará mudanças fundamentais nas políticas seguidas nos últimos anos. A reversão pode ser complicada politicamente, uma vez que os dois países enfrentam um momento negro, nunca antes vivido, em termos comerciais, disputas territoriais com vizinhos e acusações de usurpação de tecnologia e espionagem. Além disso, existe um forte apoio bipartidário a Taiwan, assim como em relação as críticas de abuso dos Direitos Humanos da China, especialmente em Hong Kong, Xinjiang e Tibete.

Como tal, o governante chinês solicitou que Washington pare de “manchar a reputação do Partido Comunista da China e de conspirar ou mesmo apoiar as palavras e acções erróneas das forças separatistas de Taiwan e de minar a soberania e segurança da China em assuntos internos relativos a Hong Kong, Xinjiang e Tibete”.

Sobre o comércio, Wang disse que a China defenderá os direitos das empresas norte-americanas enquanto espera que os EUA “ajustem as suas políticas o mais depressa possível”, removam taxas não razoáveis sobre produtos chineses, levantem sanções unilaterais contra empresas chinesas e institutos de pesquisa e educação e abandonem a supressão irracional do progresso tecnológico da China”.

Os EUA também devem suspender as restrições aos intercâmbios nas áreas da imprensa, ensino ou negócios, para reverter a queda acentuada no número de chineses que estudam nos EUA e as visitas de chineses para turismo ou negócios, disse Wang. “Espero que os dois lados trabalhem juntos para dirigir o navio gigante que é a relação China – EUA de volta ao curso de um desenvolvimento sólido, em direção a um futuro brilhante, com perspectivas ilimitadas”, descreveu.

Embora o tom do ministro, assim como do conselheiro para a política externa Yang Jiechi ou o Presidente Xi Jinping pareça mais positivo, alguns porta-vozes do Governo Central têm adoptado um tom mais combativo. Em conferência de imprensa, na sexta-feira, a porta-voz Hua Chunying do Ministério dos Negócios Estrangeiros comparou a vaga de frio que atinge o Texas com as interações sociais e económicas observadas na China durante o feriado do Ano Novo Lunar, sem demonstrar qualquer simpatia. “Tudo isto nos deu uma compreensão mais profunda do que os Direitos Humanos realmente significam e como melhor protegê-los. Estamos mais convencidos de que estamos no caminho certo e temos toda a confiança no futuro”, disse.

As vistas largas

Um editorial do jornal oficial Global Times, que faz eco de alguns dos pontos de vista do Governo Central, publicou no domingo um artigo que estimava o retorno dos Estados Unidos ao tom conciliatório e à cooperação por não conseguires derrotar a China.

Importa realçar que analistas da Câmara do Comércio norte-americana divulgaram na semana passada um relatório, em conjunto com a consultora Rhodium Group, a concluir que se os Estados Unidos venderem metade do seu investimento directo na China, os investidores norte-americanos poderiam perder cerca de 25 mil milhões de dólares em mais-valias, de acordo com um comunicado da Câmara do Comércio dos Estados Unidos.

Seguindo esta lógica, o jornal chinês teceu considerações à participação de Joe Biden na cimeia do G7 e na Conferência de Segurança de Munique, a estreia internacional do novo Presidente, sob o lema do slogan “A América está de volta”.

O artigo do Global Times refere que a reconciliação com os aliados tradicionais de Washington, para fazer face aos desafios levantados pela China, “tem sido uma característica da nova administração norte-americana desde que tomou posse”.

Porém, o editorial aponta que as mensagens de Biden na passada sexta-feira sugerem que a cooperação estreita entre Washington e os aliados está votada a resultar no compromisso, em vez do acção unilateral dos Estados Unidos contra os seus aliados devido às relações que mantém com Pequim. Em vez do tom de Guerra Fria, as intervenções em ambas as reuniões mencionaram a necessidade de trabalhar com Pequim em algumas áreas. O Global Times acrescenta que “quando fala com os aliados, Biden é claramente mais equilibrado do que quando comunica sozinho com os media norte-americanos”.

Segundo a fonte oficial, a principal razão pela qual Washington nada pode fazer em relação a Pequim, e porque a Casa Branca vacila entre a cooperação com os seus aliados para conter a China e trabalhar com a China, prende-se com o facto que um corte decisivo com Pequim e a confrontação total seria demasiado dolorosa para Washington. O romper final da relação entre as duas maiores economias mundiais é retratado pelo Global Times como “uma esperança ilusória”.

Covid-19 | China soma 11 novos casos, todos oriundos do exterior

A Comissão de Saúde da China informou hoje que foram diagnosticados 11 casos de covid-19, nas últimas 24 horas, todos oriundos do exterior.

Os casos foram detectados em viajantes oriundos do exterior nas cidades de Xangai (leste), Tianjin (norte) e Pequim (norte) e nas províncias de Guangdong (sudeste), Sichuan (centro), Fujian (leste) e Hunan (centro).

A Comissão de Saúde chinesa indicou que, até à meia-noite, o número total de infectados activos na China continental se fixou em 401, entre os quais dois em estado grave. Desde o início da pandemia, 89.842 pessoas ficaram infetadas na China, tendo morrido 4.636 doentes.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.461.254 mortos no mundo, resultantes de mais de 111 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

China e Índia anunciam retirada de tropas em área disputada

China e Índia anunciaram hoje a retirada de todas as tropas localizadas junto ao lago Pangong, na região oeste dos Himalaias, onde no verão passado ocorreram confrontos sangrentos entre soldados dos dois países.

Em comunicado conjunto, os Ministérios da Defesa dos dois países explicaram que os comandantes dos dois exércitos se reuniram, no sábado, e “avaliaram positivamente a retirada final tranquila das tropas colocadas na área do lago Pangong”.

A mesma nota indicou que a desaceleração das tensões naquela área é uma “boa base” para resolver outras disputas fronteiriças ao longo da zona oeste da chamada Linha Real de Controlo, que separa China e Índia nas áreas onde mantêm reivindicações territoriais.

Os dois comandantes comprometeram-se a manter o diálogo para “estabilizar e controlar” a situação no terreno, e encontrar uma solução “aceitável para ambas as partes” que permita “paz e tranquilidade nas áreas fronteiriças”.

A Índia anunciou este mês o início do processo de retirada das tropas da região, onde há cerca de oito meses houve um confronto entre soldados dos dois lados com paus e pedras.

Nova Deli indicou que 20 soldados morreram, enquanto Pequim reconheceu quatro mortos, condecorando-os por “se sacrificarem para defender a soberania” chinesa.

Os dois países reagiram ao confronto, reforçando a presença militar nas áreas disputadas, enquanto tentavam resolver a crise por via diplomática, que resultou num acordo para travar a escalada de tensões de forma “gradual, coordenada e verificada”.

O tenso impasse nas montanhas Karakoram começou no início de maio, quando soldados indianos e chineses ignoraram os repetidos avisos verbais uns dos outros, desencadeando uma disputa, através do lançamento de pedras e lutas corpo a corpo, na margem norte do Lago Pangong, que é marcado por oito cumes contestados.

Em junho, os atritos agravaram-se e espalharam-se para o norte, em Depsang e no vale de Galwan, onde a Índia construiu uma estrada militar ao longo da fronteira disputada.

As relações entre os dois países têm sido tensas, em parte devido àquela fronteira não demarcada. China e Índia travaram uma guerra na fronteira em 1962, que terminou com uma trégua incómoda marcada por confrontos adicionais.

Desde então, as tropas protegeram a fronteira indefinida enquanto os soldados se envolviam em confrontos ocasionais. Os dois países concordaram em não se atacar com armas de fogo.

A linha de controlo contestada separa territórios controlados por chineses e indianos em Ladakh, no oeste, e no estado indiano de Arunachal Pradesh, que a China reivindica na totalidade.

De acordo com a Índia, a fronteira de facto tem 3.488 quilómetros de comprimento, enquanto a China disse ser consideravelmente mais curta.

Timor-Leste | Vítimas de ex-padre tinham calendário para abusos

As vítimas do ex-padre norte-americano que hoje, segunda-feira, começa a ser julgado em Timor-Leste por abuso sexual de crianças no orfanato que liderava, no enclave de Oecusse sabiam, de antemão, quem tinha de estar, cada noite, com o homem. “Havia uma lista com os nomes das meninas na porta dele, por isso sabíamos que era a nossa vez. Todas as meninas tinham de ir lá. Não havia excepções”, conta uma das vítimas, num dos poucos depoimentos sobre o caso conhecidos até hoje, divulgado pela organização Fokupers.

Richard Daschbach, hoje com 84, viveu décadas em Oecusse, liderando o orfanato de Topu Honis por onde passaram centenas de crianças e que contava até com o apoio de doadores internacionais. Na segunda-feira começa a ser julgado por abuso sexual de crianças, pornografia infantil e violência doméstica.

Por trás da face humanitária e de solidariedade, que elevaram Daschbach ao estatuto de quase figura mítica na região e entre alguns dos seus apoiantes, havia abusos sexuais regulares a menores, a que só escapavam os meninos.

“Eu não sabia nada. E não perguntei nada. Fui com as outras. Naquela vez estávamos três meninas no quarto. E foi quando as coisas más aconteceram. E fiquei surpreendida que as meninas ficavam caladas. O pai nem precisava de nos ameaçar. Ficávamos caladas. Ninguém falava de nada”, contou a jovem no depoimento divulgado hoje pela organização.

A jovem explica que o então padre – a quem chama ‘pai’ – nunca dizia por palavras o que queria, mas sim por gestos, incluindo masturbação, sexo oral e toques, agarrando as meninas para mostrar o que queria que fizessem. “E tínhamos de fazer várias vezes. Pegava nas nossas mãos e punha-as no corpo e queria que o agarrássemos” nas suas partes privadas, disse a jovem. “Enquanto criança eu pensava que as partes privadas do pai não deviam estar na minha boca”, disse a vítima, que não é identificada “para sua protecção”.

Outra vítima, cujo depoimento foi divulgado pela publicação online timorense Neon Metin, confirma a natureza regular dos abusos e garante que as mulheres e homens do orfanato sabiam e que nenhuma menina escapava. As crianças descrevem que, no geral, eram bem cuidadas, especialmente quando contrastando com as situações que viviam na comunidade, e que no início havia paz e tranquilidade. Excepto ao final das tardes.

“Sentávamo-nos todos juntos para rezar, raparigas e rapazes. E alguém ficava ao colo dele. Depois de rezar alguns iam-se embora e a que se sentava no colo era a que ia passar a noite com ele no quarto e na cama. Na noite seguinte, haveria outra rapariga”, conta.

“As pessoas que trabalhavam no orfanato sabiam de tudo. Havia uma lista com os nossos nomes. Esta noite sou eu. Amanhã à noite era outra rapariga. Ou às vezes via-nos sentadas juntas e entrava e escolhia quem queria naquela noite. Ele próprio, o próprio padre, dizia ‘esta noite dormes comigo’”, contou a vítima.

Apesar da Topu Honis ser um orfanato, havia muitas crianças com pai e mãe ali acolhidas, uma forma de procurar melhores condições para as meninas que, em casa, não tinha comida ou as condições mínimas. “Os nossos pais não podiam pagar nada. E ele cuidou de nós. Então, quando estava a abusar de nós sexualmente, ficávamos caladas! Todas nós, raparigas, passámos por isso. Dormi com ele como mulher e marido”, conta, descrevendo depois toques sexuais, sexo oral e penetração.

Às vezes, a situação repetia-se à tarde, ou quando algumas das crianças tomavam banho e, caso alguém não quisesse, eram “as senhoras do orfanato” que mandavam as crianças para o quarto. “As senhoras ficavam chateadas e diziam que tínhamos de dormir com ele porque durante as orações ele escolhia quem vai dormir com ele. Não gosto desta coisa má na minha vida”.

Quando o caso começou a ser conhecido publicamente, os rapazes do orfanato diziam que também sabiam do abuso que acontecia às meninas e chegaram a ameaçar bater a quem falasse. “Ameaçaram bater-nos. É por isso que algumas das raparigas não falam porque têm medo de ser espancadas por homens”, conta.

“Sinto amargura e vergonha. Falo agora, publicamente, como um exemplo para as minhas irmãs mais novas. Se acontecer, não se escondam. Espero que nos ajudem a todas a ter justiça”, disse.

Fontes conhecedoras do processo recordam que fazer avançar o caso foi mais fácil no Vaticano, que reagiu relativamente depressa e acabou por expulsar o padre do sacerdócio, do que no sistema de justiça timorense. Um compasso de espera que permitiu a Dashbach, já depois de ser condenado pela Santa Sé, continuar a viver livremente na mesma comunidade onde os abusos foram cometidos, a região de Kutete, a cerca de 25 quilómetros da capital do enclave, mas a “duas horas de tempo” de viagem, como se descrevem as distâncias na região. Agora, depois de ser detido e de estar em prisão domiciliar, regressou a Oecusse para ser julgado.

Dada a natureza do caso, o julgamento decorre à porta fechada, com o coletivo de três juízes a ouvir primeiro a leitura da acusação, pelo Ministério Público, antes de dar oportunidade a Daschbach para que faça uma declaração. A declaração, de culpa ou de inocência, ou o eventual silêncio, determinarão depois o andamento do processo.

Juiz revolta homossexuais

Ao que isto chegou em Portugal. Um país a ocupar-se durante uma semana de um juiz presidente do Tribunal Constitucional que há anos tinha uma posição anti-homossexual. É um tema antigo e demasiadamente badalado.

Até entre os nossos reis tivemos D. Sebastião, D. Pedro I e D. Afonso VI que eram mais para lá do que para cá. O homossexualismo tem sido um dos maiores preconceitos da história humana mundial e em Portugal sempre existiu a prática do amor entre homens ou entre mulheres. Há anos, os sacerdotes católicos abusavam de jovens ainda no seminário. Alguns foram expulsos da Igreja, mas nos dias de hoje até o Papa Francisco admitiu o casamento homossexual.

A Assembleia da República aprovou o casamento gay e a partir daí muita gente tem saído do armário. Entretanto, um magistrado de nome João Caupers, sem qualquer investigação sobre o seu passado conseguiu chegar a presidente do Tribunal Constitucional. A maioria dos comentadores televisivos indicaram que para se chegar a um cargo desta natureza tem de ser um cidadão impoluto e exemplar. Ora, o juiz Caupers escreveu em 2010 alguns textos, que indignaram as pessoas em geral e até os seus pares na área judicial, textos esses completamente anti-homossexuais.

Quer dizer, não me digam que durante toda a carreira deste juiz se lhe apareceu pela frente qualquer réu que ele soubesse ser homossexual, seria certo que o condenava mesmo sendo um inocente? Nem posso acreditar nisso. O que sabemos é que o juiz presidente do Tribunal Constitucional referiu-se aos homossexuais como uma “inexpressiva minoria cuja voz é despropositadamente ampliada pelos media”, posicionando-se como um fulano integrante de uma “maioria heterossexual dominadora”. As suas declarações estiveram directamente ligadas à promulgação da lei que abriu a possibilidade de casamento para casais homossexuais. O juiz tem agora em 2021 o desplante de se desculpar e de afirmar que se tratou de um “instrumento pedagógico, dirigido a estudantes para melhor provocar o leitor” e acrescentando que hoje em dia não tem as mesmas ideias. Não tem? Será que passou a ser homossexual? Claro que não. O que o juiz escreveu por diversas vezes, tais como “os homossexuais não são nenhuma vanguarda iluminada, nenhuma elite”, pelo que não faria sentido a sua “promoção”. Gostaria de ouvir a opinião de um juiz que conheci e que era homossexual e que, infelizmente, já faleceu. Tenho a certeza que esse homem de uma competência extrema e que nunca misturou alhos com bugalhos exigiria a demissão do juiz Caupers de presidente do Constitucional.

Um juiz deste pensamento quando era professor catedrático nunca poderia chegar ao mais alto cargo do Tribunal Constitucional, com a agravante dos seus textos continuarem à mercê dos estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e onde os docentes partilham e expõem artigos de opinião.

Eu não sou homossexual nem defendo qualquer causa ligado ao tema, mas sei de fonte clínica de que a homossexualidade não é doença nenhuma e que desde a nascença do ser humano que os genes já têm a sua tendência hetero ou homossexual. Não tenho nada a ver com a vida e opções de cada um, mas não posso admitir pacificamente que um juiz desta envergadura deixe revoltados quantos já compreenderam que ser homossexual não é crime nenhum, apesar de continuarem a ser terrivelmente perseguidos e discriminados, sendo ainda criminalizados pela sua orientação sexual em muitos países, nalguns inclusive submetidos à pena de morte. A criminalização da homossexualidade em Portugal só foi definitivamente afastada em 2007. Mas em 2010, o professor Caupers ainda tentava provar aos estudantes que ser homossexual era um crime hediondo. Mas, como em Portugal o habitual é que a discriminação, a injustiça, a corrupção e a prepotência morram solteiras, temos mais um caso em que um “senhor” juiz rir-se-á disto tudo.

Tratar da nossa saúde

Isolar é a atitude indicada para prevenir o ser infectado por o Covid19, mas mesmo assim, este vai sempre um passo à frente. Daí, o remédio para combater as suas mutações, cujas vacinas trazem a esperança mas andam sempre um passo atrás, é investir na saúde, ter uma visão optimista e ser-se paciente, esperando o vírus desaparecer. A solução é tratar de fortalecer a saúde do corpo e da mente, para a qual é preciso criar um ambiente positivo, evitar tensões e conflitos, e abrir o espírito ao comum bem-estar interior.

Segundo A. da Silva Tullio, o jornalismo francês foi inventado como remédio para a cura dos doentes em França, pelo Dr. Theophrasto Renaudot, médico do Rei de França Luís XIII (1610-43). A História começa com o trabalho de um seu amigo genealógico, Pedro de Hozier, que andava pelas províncias de França e outros países para redigir a História da Nobreza (publicada mais tarde). Com as histórias genealógicas e outras das suas viagens coligia notícias que ia mandando aos amigos, entre os quais o Dr. Theophrasto Renaudot. Este começou a ler algumas dessas notícias durante as visitas aos doentes e estes melhoravam a olhos vistos e assim começou a correr a fama do doutor das notícias. Aos doentes já não lhes chegava escutar as notícias, mas também as queriam ler. Com o aumento de doentes, o médico necessitou de contratar copistas e aumentando o formato, colocou também notícias suas. Estava-se em 1630 e a tiragem corria já para os milhares, o que mostra a corrida dos doentes para este médico. Daí lembrou-se, se esse remédio curava os doentes, porque não estender aos sãos e como era amigo do cardeal Richelieu, conseguiu facilmente a licença régia, saindo em 30 de Maio de 1631 o primeiro número da Gazeta, com oito páginas. Jornal que contou com colaboradores como Richelieu, tornou-se o diário oficial do governo e com o título Gazete de France chegou até ao século XX.

O nome de Gazeta vem da moeda de cobre da República de Veneza, dos meados do século XVI, que era o custo de escutar as participações a relatar os avanços do cristianismo no teatro de guerra da Turquia.

Em Portugal, considerado o primeiro jornal português, a Gazeta começaria em Novembro de 1641 e vendia-se mensalmente por dez reis, mas já muito antes havia papéis volantes, relações e notícias avulso. Desde 1604 existia a irmandade dos cegos papelistas, onde eram apenas admitidos doze irmãos com vista para guiar e ajudar os cegos, livrando-os assim da mendicidade. Imprimiam e apregoando, vendiam os papéis noticiosos pela rua. Como muitas notícias eram censuradas, os que tinham vontade de saber mais dirigiam-se para determinados lugares da cidade (por exemplo, em Lisboa, Luís de Camões gostava de ir ao adro de S. Domingos), onde as pessoas se reuniam a determinadas horas, para escutar as licitadas novidades. Eram notícias tanto do reino, como do estrangeiro e de alguidar.

A Holanda teve desde 1605 uma publicação com as leis e ao mesmo tempo dava notícias da guerra e do comércio e a Inglaterra, no ano 1622 publicou a sua Gazeta semanal, política, comercial e literária.

Voltando a Portugal, em 1755, o terramoto deu-se a um sábado e a Gazeta saia às quintas-feiras. Pois a 6 de Novembro, a folha saiu pontualmente em Lisboa e relatava: “O dia primeiro do corrente ficará memorável a todos os séculos pelos terramotos e incêndios que arruinaram uma grande parte desta cidade; mas tem havido a felicidade de se acharem nas ruínas os cofres da fazenda real e da maior parte dos particulares”. As informações em cima partilhadas são de A. da Silva Tullio e foram publicadas em 1903.

Medicina preventiva

A História do ser humano é uma incessante procura de conhecer a Natureza, para como espelho nela se rever, sendo o princípio básico, pertencermos ao todo energético que faz o Universo. Nessa unidade, cuja energia vital Qi tudo rege, é por exercícios físicos a combinar com a química glandular e de respiração que o corpo é nutrido por canais de energia, os meridianos e vasos sanguíneos, oxigenando-o e fazendo-lhe a limpeza.

Outro método de purificar é trabalhar a respiração, prolongando lentamente o inspirar, primeiro enchendo os pulmões e daí levar o ar a preencher os espaços claviculares e seguir mais profundamente até ao estômago.

Parecendo já completamente cheio, há sempre espaço para mais insuflar e na plenitude, conseguir fazer uma pausa com o maior momento alcançável. Atestado, agora em sentido oposto, com a mesma lentidão expelir até deitar fora todo o ar e repete-se esse ciclo do respirar. Este o melhor exercício para elevar a robustez energética do corpo e esvaziar a mente, método associado à meditação para assegurar a saúde e cultivar o Espírito.

Outra natural terapia, para manter um corpo são em mente sã, é a ginástica praticada na antiga agricultura por quem com a Natureza trabalha e desde o plantar ao colher, todo o corpo é revitalizado. Após as colheitas, o festejar expressando emoções ao dançar com movimentos corporais a estimular a circulação do corpo, levando os dois braços para cima e num vira que vira, torna a rodopiar. Ao fim, os aplausos libertam foguetes de palmas e carregadas as energias, segue como novo. Em agradecimento à Natureza pelos produtos dados, as celebrações de oferecer sacrifícios ao Céu animam o espaço de Atenção, suspenso aos limites, a prestar respeito à unidade Universo.

O ser humano, em tempos que andava, qual criança, à descoberta da Essência da Natureza, ainda sem as formatadas adultas planificações para controlar e produzir, qual animal intuía os melhores alimentos para comer e após ingeridos, iam-se encontrando os efeitos, transmitindo-os oralmente.

Há cinco milénios, Shen Nong, um dos três Ancestrais Soberanos da China, ensinou a ferver a água antes de ser bebida e ingeria plantas selvagens para classificar quais as comestíveis e as venenosas. Contase ter sido num só dia envenenado 72 vezes, mas salvo por umas verdes folhas de um arbusto com flores brancas, o chá, que o desintoxicou. Utilizou as ervas medicinais como cura para muitas maleitas e melhorou as artes da agricultura, daí Deus da Agricultura. Já no Livro dos Poemas (Shi Jing) do século XII a.n.E., um sem número de plantas estavam classificadas.

O quotidiano caminhar é outra terapia, em marcha não molenga nem a correr, com herança ancestral à longa caminhada de peregrinação, massajando os pés, naquele tempo descalços, nas jornadas por calhaus redondos, ou anguladas pedras, quais agulhas pressionando as plantas dos pés, porta para trabalhar o corpo e seus órgãos, num exercício de libertar as tensões dos canais energéticos. Daqui evoluiu para as massagens e acupunctura, esta já praticada entre 6000 e 5000 anos antes da nossa Era por tribos neolíticas chinesas.

O problema do vírus só será resolvido quando tivermos o corpo nutrido com saúde para conseguir repelir todos os ataques a que quotidianamente está sujeito, pois segundo os mestres de Medicina Tradicional, não há doenças, apenas doentes.

China | Estudadas medidas para contrariar queda da taxa de natalidade

A China está a considerar medidas adicionais para aumentar a taxa de natalidade, mais de quatro anos após ter posto fim à política do filho único, que vigorou ao longo de mais de três décadas. A queda na taxa de natalidade é vista agora como grande ameaça ao progresso económico e à estabilidade social no país asiático.

A Comissão Nacional de Saúde da China afirmou, em comunicado, que vai realizar pesquisas para “estimular ainda mais o potencial de nascimentos”. A mesma nota indica que a iniciativa se concentrará primeiro no nordeste da China, o antigo centro industrial do país que registou grande declínio populacional, à medida que jovens e famílias migraram para as cidades prósperas do leste e sudeste do país.

As autoridades revelaram no mês passado que, em 2020, foram registados 10,04 milhões de nascimentos, menos 14,8% do que o número oficial de nascimentos registado em 2019. A China passou a permitir, desde 2016, dois filhos por casal, face ao envelhecimento da população chinesa.

No entanto, a mudança teve apenas um efeito temporário na taxa de natalidade, com muitos casais a justificarem a decisão de ter só um filho com os altos custos com educação e saúde e outras barreiras económicas e sociais.

A China tinha uma população de 1,34 mil milhões de pessoas em 2010, com uma taxa de crescimento anual de 0,57%, face a 1,07% uma década antes, segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas do país. O último censo foi realizado no segundo semestre do ano passado e os resultados ainda não foram divulgados. Um relatório das Nações Unidas diz que a Índia deve ultrapassar a China como o país mais populoso do mundo até 2027.

MNE chinês refuta “mentiras” sobre Xinjiang

O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês criticou nesta sexta-feira certos políticos ocidentais, profissionais de imprensa e académicos por fabricarem mentiras sobre o chamado “genocídio” e “trabalho forçado” em Xinjiang.
Hua Chunying respondeu quando solicitada a comentar as observações feitas por alguns políticos canadianos, americanos e australianos sobre os assuntos de Xinjiang.

Observando que a população Uigur em Xinjiang mais que dobrou nos últimos 40 anos, Hua perguntou se alguém já tinha visto um “genocídio” como esse. “Recentemente, algumas pessoas do Canadá, dos Estados Unidos e da Austrália têm espalhado constantemente mentiras a respeito dos assuntos de Xinjiang”, disse Hua, acrescentando que o lado chinês explicou detalhadamente a real situação em Xinjiang de várias formas, mas essas pessoas aparentemente não estão dispostas a ouvir.

“Essas pessoas – certos políticos, profissionais dos media e académicos do Canadá, dos Estados Unidos e da Austrália – nunca estiveram em Xinjiang, Nunca viram a beleza de Xinjiang com seus próprios olhos e nunca sentiram a harmonia e a felicidade de pessoas de vários grupos étnicos em Xinjiang”, disse Hua.

Hua disse que mais de 200 milhões de turistas visitaram Xinjiang em 2019, e que a China acolherá os políticos, profissionais dos media e académicos do Canadá, dos Estados Unidos e da Austrália, que queiram visitar Xinjiang e conversar com as pessoas que lá vivem, se realmente esperam entender a situação real da região.

No entanto, “a China opõe-se firmemente à chamada ‘investigação’ com base na presunção de culpa”, acrescentou. Salientando que o genocídio já foi uma realidade no Canadá, Estados Unidos e Austrália, Hua disse que alguns ocidentais gostam de fazer acusações infundadas contra a China quando se trata de direitos humanos, mas repetidamente ignoram os problemas nos seus próprios países.

“Será que os políticos canadianos, americanos e australianos têm algo a dizer sobre esses problemas? Eles condenam esses problemas?” questionou Hua. Hua disse que os direitos à vida e à saúde são prioridades máximas dos direitos humanos em todos os momentos, em todos os países e em todas as sociedades.

Hua mencionou ainda “a felicidade do povo chinês durante a Festa da Primavera” e as “dificuldades dos cidadãos dos EUA no sul do Texas, no clima frio, depois de cortes maciços de energia e interrupções no abastecimento de suprimentos de primeira necessidade.

“Em termos de garantia dos direitos humanos, acreditamos firmemente que estamos no caminho certo e temos plena confiança no futuro”, disse Hua. “As pessoas que fabricam e difundem consistentemente mentiras sobre os assuntos de Xinjiang visam usar os direitos humanos como desculpa para interferir nos assuntos internos da China, prejudicar a segurança e estabilidade, e bloquear o desenvolvimento da China”, disse Hua, acrescentando que tais conspirações estão “condenadas ao fracasso”.

Hua exortou essas pessoas a concentrarem-se nas suas próprias sociedades e na solução de problemas nos seus próprios países, acrescentando que se insistirem em prejudicar os interesses da China, o país tomará medidas concretas e necessárias.

Literatura | Personalidades copiam poemas de Clepsydra em edição comemorativa

“Clepsydra – Poemas de Camilo Pessanha” é a nova obra editada em Portugal pela Associação Wenceslau de Moraes em parceria com a Sociedade de Geografia de Lisboa. Várias personalidades, desde escritores a amantes da poesia de Pessanha, escolheram um poema e copiaram-no, no que resultou num “livro bonito”. A edição ficou a cargo de Pedro Barreiros e Margarida Jardim

 

A Associação Wenceslau de Moraes acaba de lançar uma nova obra comemorativa dos 100 anos da primeira edição de Clepsydra, do poeta Camilo Pessanha. “Clepsydra – Poemas de Camilo Pessanha” foi lançado oficialmente esta sexta-feira em Lisboa, num evento online, e não é mais do que uma reunião de poemas copiados por aqueles que admiram Pessanha ou que sobre ele escrevem ou investigam.

Margarida Jardim, uma das editoras desta obra, descreveu-a como “um livro que tem outros livros dentro dele, e que é bonito por isso”. “É simples, mas quando se abre reparamos que tem muitos livros lá dentro”, frisou.

Editar os 500 exemplares disponíveis foi uma “viagem” e uma “aventura” que foi sendo adiada devido à pandemia. A obra deveria estar pronta o ano passado mas tal não foi possível. “Este livro revelou-se uma aventura por variadíssimas razões, porque a ideia do Pedro [Barreiros] convocou à edição inúmeras pessoas que foram copistas. Cada um acolheu um poema e copiou-o humildemente. Uns vieram pela internet, chegaram cópias pelo correio, algumas perderam-se.”

O lançamento do livro aconteceu na sexta-feira, dia 19, por forma a assinalar a data em que Camilo Pessanha foi para Macau, com 26 anos, onde trabalhou como jurista e advogado. “Macau foi muito importante para o desenvolvimento dos interesses de Camilo Pessanha, que recebeu muito de Macau, inclusivamente a sua grande informação sobre a cultura chinesa, a poesia e a língua. [Pessanha] chegou a traduzir muitos poemas chineses dos quais a maior parte se perderam”, descreveu Pedro Barreiros, também editor da obra.

Mas não foi apenas Pessanha que ganhou com o território, tendo-se estabelecido uma relação mútua. “Macau ganhou imenso com a presença de Camilo Pessanha, porque a sociedade era virada para o comércio e o dinheiro. A única coisa que se pensava em Macau nessa altura era sobre essas duas coisas e a intelectualidade estava muito rebaixada, incluindo o conhecimento sobre a cultura chinesa”, adiantou Pedro Barreiros.

“Um livro com muitos elementos”

O editor do livro, que considera Camilo Pessanha como um dos quatro grandes poetas portugueses, explicou que a ideia de convidar várias personalidades a copiar poemas de Pessanha foi também uma forma de recordar um método usado pelo poeta.

“Esta ideia que tivemos de fazer a Clepsydra com autógrafos de escritores, poetas ou outras pessoas interessadas em Pessanha, com os poemas copiados à mão, era uma técnica de Camilo Pessanha. Ele nunca pensou em escrever um livro com princípio, meio e fim, o que fazia era declamar os seus poemas. Sabia tudo de cor, como sabia de cor vários poemas de vários autores. As pessoas depois escreviam os poemas.”

Em Macau, além da sua veia poética, Pessanha destacou-se também pelo seu talento na área do Direito. “A primeira função [que teve em Macau] foi ligada à parte jurídica, como funcionário do Ministério Público e como advogado, onde foi muito célebre. Dizia-se que ‘acção defendida pelo doutor Pessanha era acção ganha” ‘, lembrou Pedro Barreiros.

Rui Zink, escritor, foi um dos participantes da sessão de lançamento. “Todo este ruído e sujidade da caligrafia, e ainda por cima são dezenas de caligrafias diferentes, enriquece o livro. É mesmo uma entrega, uma coisa que se fazia muito no século XIX, a prática da homenagem, transcrevendo, e é que muito bonita”, disse.

O autor português descreveu também esta obra como sendo “um objecto de valor, de prestígio”. “É um livro com muitos elementos mas é depois difícil vendê-lo. Este é um objecto que fica, que tem um valor autónomo. As pessoas interessadas vão aparecer, por isso é bom que haja poucos pontos de venda. Sei que vou querer enviar isto para vários interlocutores. É um objecto de valor, de prestígio.”

Dada a diferença horária, ficou a promessa de realizar uma outra sessão de lançamento online para Macau, ainda sem data marcada. Manuela Cantinho, ligada à Sociedade de Geografia de Lisboa, entidade que também se associou a esta edição, garantiu que será feito um lançamento presencial quando terminarem as medidas de confinamento em Portugal.

Impostos de jogo com quebra de 73,6% em 2020

O Governo não chegou a arrecadar 30 mil milhões de patacas com impostos sobre o jogo no ano passado, o que representa uma descida de 73,6 por cento. Por outro lado, a pandemia continua a afectar o território, com os hotéis a registarem uma descida da taxa média de ocupação durante o Ano Novo Lunar

 

Os impostos do jogo geraram uma receita de 29,8 mil milhões de patacas no ano passado, revelam dados do relatório sobre a execução orçamental publicados pela Direção dos Serviços de Finanças. Este valor representa uma quebra de quase 73,6 por cento em comparação a 2019, ano em que os impostos sobre o jogo foram de 112,7 mil milhões de patacas.

Já as receitas de outras concessões de serviços de utilidade pública fixaram-se em 278 mil patacas em 2020, uma redução de quase um quarto face ao ano anterior. No total, o Governo arrecadou receitas de quase 94,7 mil milhões de patacas, enquanto o valor global das despesas superou os 91,2 mil milhões. Num ano marcado pelo impacto da pandemia de covid-19, a maioria das despesas foram no âmbito das “transferências, apoios e abonos”, fixadas em 56,45 mil milhões.

Recorde-se que de acordo com a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, os casinos terminaram o ano passado com uma receita bruta acumulada de 60,44 mil milhões de patacas, ou seja, uma quebra de 79,3 por cento face a 2019.

O Ano Novo Lunar era aguardado por algumas operadoras de jogo com “optimismo moderado”. Apesar de não serem conhecidos os valores das receitas gerados durante as festividades, o número de turistas manteve-se em baixa. As estatísticas preliminares da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) mostram que Macau recebeu 90.615 visitantes entre 11 e 17 de Fevereiro, o que traduz uma descida de 65,3 por cento comparativamente ao ano passado.

Ocupação de 48,3%

Durante as festividades, os hotéis registaram uma taxa média de ocupação diária de 48,3 por cento, uma descida de 4,6 pontos percentuais. Os estabelecimentos com maior taxa de ocupação foram os hotéis de cinco estrelas, que ficaram ligeiramente acima de metade da sua capacidade, enquanto as pensões tiveram apenas cerca de um quarto da sua ocupação. Por outro lado, a taxa média de ocupação dos hotéis de quatro estrelas (49,8 por cento), representou um aumento de 1,5 pontos percentuais em comparação ao mesmo período de 2020.

Neste período, o preço médio por quarto foi de cerca de 1.175,3 patacas, registando uma descida de 42,1 por cento. A maior variação de preços foi nos hotéis de duas estrelas (menos 79,4 por cento) enquanto a menor se deu nos estabelecimentos de cinco estrelas (quebra de 38,7 por cento).

A DST comunicou que estão planeadas actividades promocionais para operadores turísticos em cidades da Grande Baía depois do Festival da Primavera. “Está também em avaliação a possibilidade de prosseguir com a realização de promoções nas principais cidades do Interior da China, à semelhança da ‘Semana de Macau em Pequim’ realizada em Setembro passado, num conjunto de esforços para prosseguir com a divulgação da imagem de Macau como cidade saudável e segura para visitar”, diz a nota.

Acumulação de lixo gera mais de 10 mil queixas desde 2019

Desde que a aplicação “IAM em Contacto” foi lançada, no início de 2019, foram submetidas mais de 22 mil queixas, quase metade devido à acumulação de lixo nas ruas. Macau é dos territórios da região que mais produz resíduos sólidos per capita

 

Mais de 10 mil pessoas usaram a aplicação “IAM em Contacto”, desde Janeiro de 2019, para apresentar queixas devido à acumulação de lixo nas ruas, volume que representa quase metade do total de queixas recebidas, e em média mais de uma dúzia todos os dias. O presidente do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), José Tavares, confirmou este número ontem, em declarações citadas pelo canal chinês da Rádio Macau, acrescentando que a aplicação contabilizava mais de 22 mil queixas até no fim do ano passado, o que dá uma média de 30 reclamações por dia, ao longo dos dois anos de actividade.

O segundo problema que gera mais participações é a manutenção de estradas e vias públicas, ainda assim muito distante do volume de queixas geradas por acumulação de lixo, com cerca de 2500 incidentes.

No terceiro lugar do pódio, com 700 queixas em dois anos – em média, uma todos os dias – surgem as reclamações relativas a pontos de recolha de lixo. Em 2018, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) afirmava que tinha como meta reduzir a produção de lixo per capita em cerca de 30 por cento até 2026. Meta que tem sido comprometida, com o aumento da produção de resíduos sólidos, cenário que se agravou, em termos de tratamento, desde que a China proibiu a importação de lixo do exterior, incluindo Macau.

Números assustadores

O mais recente relatório ambiental do território divulgado pela DSPA, relativo a 2019, revelou que “as quantidades de resíduos sólidos urbanos, de resíduos sólidos urbanos descartados ‘per capita’, de resíduos de materiais de construção registaram aumentos em diversos graus em comparação com 2018”.

O documento que fez o balanço da situação dos resíduos na RAEM apontava para 550.249 toneladas descartadas de resíduos sólidos urbanos, volume que representou um crescimento de 5,3 por cento em relação a 2018.

Em 2019, a quantidade ‘per capita’ diária de resíduos sólidos urbanos descartados foi de 2,24 quilogramas, mais 3,2 por cento que em 2018. Macau superou, consideravelmente, cidades como Hong Kong, Cantão, Pequim, Xangai e Singapura.

Tribunal de recurso volta a dar razão a Tiago e Fong Fong Guerra

O Tribunal de Recurso timorense indeferiu esta semana um recurso do Ministério Público que apontou o que considerou serem vários “vícios” na decisão de absolvição, em Janeiro, de um casal português julgado em Díli.

“Acordam os juízes deste Tribunal em julgar improcedente o recurso apresentado, confirmando integralmente a decisão recorrida”, refere o acórdão, assinado a 18 Fevereiro e a que a Lusa teve hoje acesso. O texto de 23 páginas está assinado pelos juízes Duarte Tilman, Deolindo dos Santos e Maria Natércia Gusmão Pereira.

O Ministério Público tinha recorrido do acórdão do Tribunal de Recurso em que este absolveu o casal português, considerando que a decisão tinha os “vícios” de “insuficiência obscuridade e contradição de fundamentação”.

Apontou ainda os vícios de “omissão de pronúncia” e de “excesso de conhecimento”, aspectos, considera, que justificavam novo julgamento. “Nulidades que importam ser conhecidas e decididas, determinando em consequência o reenvio do processo para novo julgamento”, refere o documento.

A 15 de Janeiro, o Tribunal de Recurso timorense absolveu o casal de portugueses Tiago e Fong Fong Guerra, condenado em 2017 por peculato a oito anos de prisão e a uma indemnização ao Estado, ordenando o descongelamento das suas contas.

O acórdão, aprovado por unanimidade por um colectivo de três juízes determina a absolvição do crime de peculato, pelo qual o Tribunal de Díli tinha aplicado uma pena de oito anos de prisão efectiva e o pagamento de uma indemnização de 859 mil dólares. O tribunal determinou ainda o descongelamento das contas bancárias do casal e o levantamento de todas as medidas de coação que estavam a ser aplicadas.

No extenso acórdão, que conclui um processo que durou dois anos e meio, os juízes dão deferimento ao recurso da defesa à sentença de 24 de Agosto de 2017, que tinha argumentado que a decisão da primeira instância padecia de “nulidades insanáveis” mais comuns em “regimes não democráticos”, baseando-se em provas manipuladas e até proibidas.

Metro Ligeiro | Linha da Ilha da Montanha entregue à Nam Kwong

O GDI prevê que linha de Hengqin do Metro Ligeiro comece a funcionar de forma experimental no espaço de quatro anos. A obra foi adjudicada à Nam Kwong, e a deputada Song Pek Kei defendeu que esta deve cooperar com empresas de engenharia locais no projecto

 

A obra da linha de Hengqin do Metro Ligeiro foi adjudicada à Nam Kwong União Comercial e Industrial, e a construção vai implicar um investimento global de cerca de 3,5 mil milhões de patacas, avançou o Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) em comunicado. A escolha da empresa estatal foi justificada com o facto de se tratar de um “projecto de infra-estruturas fronteiriças entre Macau e Zhuhai”.

O Governo estima que esta linha entre comece a funcionar em modo experimental no espaço de quatro anos. “Vai-se proceder, posteriormente, aos trâmites relativos à adjudicação do sistema e material circulante, visando a conclusão do projecto e a sua operação experimental dentro de quatro anos”, indica o GDI.

A estrutura principal da linha da Ilha da Montanha, que terá um comprimento de cerca de 2,2 quilómetros e um troço em túnel que ronda os 900 metros, inclui um viaduto, um túnel subaquático e duas estações. Uma das estações é elevada, localizada junto da Ponte Flor de Lótus, enquanto a outra é subterrânea, no posto fronteiriço de Hengqin.

O GDI acrescentou ainda que o Governo “irá reforçar a passagem de correspondência entre o Metro Ligeiro e os autocarros mediante um plano geral em articulação com a construção das estações do Metro Ligeiro”.

Por outro lado, o serviço de assessoria de revisão independente do projecto fica a cargo da PAL Ásia Consultores, Limitada, a quem foi adjudicado por 10,45 milhões de patacas.

Velocidade reduzida

A deputada Song Pek Kei reagiu à adjudicação da obra à Nam Kwong indicando que compreende a escolha mas que o Governo deve requerer à empresa para cooperar com pequenas e médias empresas de engenharia locais para promover o emprego e a indústria da construção no território, noticiou o Jornal do Cidadão.

Song Pek Kei também apelou a uma supervisão do projecto da linha de Hengqin, para evitar atrasos sérios ou derrapagens. Em causa está o seu entendimento de que no passado a supervisão governamental de alguns projectos foi “negligenciada”. Para a deputada, o empreiteiro deve ser multado caso haja atrasos nas obras por sua culpa. E alertou para preocupações da população com a abertura e transparência do método de adjudicação directa, nomeadamente sobre como é que a empresa escolhida pode assegurar a qualidade e cumprir o período de construção sem excessos nos gastos.

Por outro lado, observou que não houve novidades relativamente à linha de Seac Pai Van, pedindo explicações ao Executivo sobre os motivos do atraso. Note-se que nas Linhas de Acção Governativa para este ano, o Governo apontou que as obras da Linha de Seac Pai Van e da ligação do metro à Ilha da Montanha avançavam “em breve”.

Na altura, previa-se que a construção da Linha de Seac Pai Van, que vai ter um comprimento de 1,6 quilómetros, começasse até ao final de 2020. No entanto, na página electrónica do GDI ainda não é apresentado o resultado da adjudicação, de entre as dez empresas admitidas a concurso.

O Governo já assegurou que a expansão da linha do metro vai continuar, apesar do número reduzido de passageiros. No mês passado, registou-se uma média de 1.700 passageiros por dia. Dados do GDI apontam ainda que a epidemia da covid-19 teve impacto nas obras da estação da Barra do Metro Ligeiro, causando um atraso de 45 dias.

Emprego | Defendidos critérios para a importação de quadros qualificados

Em declaração ao jornal do Cidadão, a deputada Ella Lei sugeriu que o Governo deve elaborar uma lista de quadros qualificados e os critérios de importação segundo as indústrias em que Macau tem falta de profissionais. A recomendação surge na sequência de o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, ter confirmado que a Comissão de Desenvolvimento de Talentos (CDT) está a ajustar o plano de talentos.

A legisladora apontou que o Governo não tem esta lista nem normas de avaliação para a aprovação da importação de quadros qualificados, criticando que esta decisão depende apenas da vontade do Executivo, considerando o seu poder discricionário que exerce excessivo. Para defender esta ideia, disse que outras regiões têm critérios, sistemas de pontuação e vagas por sectores para a importação de talentos. Ella Lei recordou que o Comissariado contra a Corrupção divulgou que as políticas correntes de fixação de residência são irrazoáveis e irregulares, existe abuso do regime e violação das leis, e que a inspecção levada a cabo pelo Governo é ineficiente.

Já Nelson Kot, presidente da Associação de Estudos Sintético Social de Macau, considera que deve ser criado um mecanismo de avaliação dos quadros importados, tendo como base a prática de Hong Kong para se elaborar um regime de imigração apropriado a Macau. Exemplificou que pode ser avaliada a idade, formação académica, profissão, estado económico, e realização profissional dos candidatos. Nelson Kot defende ainda que a CDT deve elaborar um plano a cinco anos, para garantir que os profissionais que vêm para o território podem ajudar ao seu desenvolvimento, bem como planear o desenvolvimento de talentos de 10 a 15 anos.

Educação | Governo diz que pensamento “distintivo” e “crítico” são iguais

Numa aparente mudança de discurso, a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude aponta que as expressões ´pensamento distintivo’ e ‘pensamento crítico’ não têm diferenças. Mas ainda não há uma decisão sobre qual incluir na Política da Juventude para os próximos dez anos

 

O Governo ainda não decidiu se vai optar pelo uso da expressão “pensamento crítico” ou “ponderado” na Política da Juventude 2021-2030, cujo documento de consulta usou palavras diferentes nas versões chinesa e portuguesa. No entanto, deixou de apresentar o termo “crítico” como tendo conotação negativa.

“As expressões ´pensamento distintivo’ e ‘pensamento crítico’ resultam de diferentes traduções da expressão inglesa ‘critical thinking’. Em termos de natureza, não existem diferenças, tendo-se adoptado, no documento da consulta da ‘Política de Juventude’ a expressão ‘pensamento distintivo’”, respondeu a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) a uma interpelação escrita do deputado Sulu Sou.

De acordo com o director da DSESJ, Lou Pak Sang, a expressão foi extraída das ideias da Doutrina do Meio, onde se defende o pensamento cauteloso, mas ambas as expressões pretendem que a formação dos jovens inclua um “pensamento independente e a capacidade de distinguir o certo do errado”.

Com os resultados da consulta pública ainda por divulgar, Lou Pak Sang explicou que o Governo vai tomar uma decisão depois de organizar as opiniões recebidas e de as entregar a académicos e ao Conselho de Juventude.

Desenvolver potencial

Mesmo defendendo a salvaguarda da independência de raciocínio, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude chegou a argumentar que na cultura chinesa criticar pode implicar um “sentimento de negar, ou uma atitude ou posição oposta a tudo” e que os jovens devem adoptar uma atitude “muito prudente”. Questionada sobre o tema, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, apontou anteriormente que não se deve “criticar por criticar”, sendo necessário uma mentalidade construtiva.

Na interpelação, Sulu Sou defendeu a necessidade de “medidas concretas, para formar talentos com pensamento independente e espírito crítico, em vez de criar modelos de obediência cega, que caminham ao sabor da corrente”. O director da DSESJ respondeu que as escolas têm sido incentivadas a diversificar experiências, e que os docentes têm recebido formação “no sentido de desenvolver, nos alunos, um pensamento criativo num ambiente de aprendizagem diversificado e aberto, desenvolvendo as suas potencialidades”. Perante actividades diferentes e de intercâmbio, Lou Pak Sang considera que os alunos têm alargado os seus horizontes.

Myanmar | Greve marcada para hoje apesar da crescente violência nas ruas

A violência alastra no Myanmar, com a morte no sábado de duas pessoas às mãos dos militares, uma delas um adolescente. Mas nem isso afasta a população das ruas, que hoje se junta numa greve nacional. No interior do país, os protestos para a saída dos militares do poder também se fazem sentir

 

Com agências 

“A noite passada um homem foi alvejado no município onde estou a viver agora. Ele estava a fornecer combustível, chegou uma carrinha da polícia, ele questionou-os e alvejaram-no no olho para o calar. A bala atravessou a cabeça e ele morreu logo ali.” O relato, feito ao HM, é de Dominican Koyin, birmanês residente em Yangon, e espelha bem a violência que se tem sentido no país nos últimos dias. Desde que os militares protagonizaram um golpe de estado que levou à detenção de Aung San Suu Kyi e outros membros do Governo eleito, no passado dia 1 de Fevereiro, que a população tem saído à rua, mas a violência dos militares contra civis é cada vez maior.

Sábado foi considerado um dos dias mais violentos, e que resultou na morte de duas pessoas na cidade de Mandalay, no norte do país. A carga policial aconteceu um dia depois da morte de Mya Thwate Thwate Khaing, de 20 anos, baleada na cabeça no dia 9 de Fevereiro durante um protesto, tendo-se tornado na primeira vítima mortal e num símbolo da resistência civil.

Segundo a agência France-Presse, centenas de polícias foram chamados para o local da manifestação, realizada num estaleiro naval da segunda maior cidade do país, fazendo aumentar os receios de detenção entre os manifestantes. Numa tentativa de evitar detenções, os manifestantes bateram em panelas, mas acabaram por não conseguir evitar a carga policial, com as autoridades a efetuarem disparos, segundo relata um jornalista da AFP presente no local.

“Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas”, referiu esta fonte não precisando se foram usadas munições reais ou balas de borracha.

À mesma agência noticiosa, o pessoal médico indicou a existência de “pelo menos seis feridos” e afirmou que foram usadas munições reais. Os médicos indicaram ter recebido, para tratamento, seis homens com ferimentos de bala, dois dos quais com gravidade.

Multidão assistiu a funeral

Uma multidão assistiu este domingo na capital de Myanmar ao funeral da jovem baleada na cabeça pela polícia durante um protesto contra a tomada do poder pelos militares. Mya Thwet Thwet Khine foi baleada na cabeça pela polícia no dia 09 de fevereiro, dois dias antes do seu 20.º aniversário, num protesto na capital, Naypyidaw, e morreu na sexta-feira.

Os populares que participaram nesta cerimónia fúnebre acompanharam a entrada no cemitério do carro funerário, que transportou o corpo para um crematório, onde mais pessoas o aguardavam. Levantaram silenciosamente as mãos em saudações de três dedos – um sinal de desafio e resistência adotado pela vizinha Tailândia — à passagem lenta do veículo preto e dourado.

Dentro do salão do crematório, a tampa do caixão de Mya Thwet Thwet Khine foi parcialmente removida para permitir um último vislumbre da sua cabeça apoiada numa cama de rosas vermelhas e brancas. Membros da multidão do exterior cantaram “A nossa revolta tem de ser bem-sucedida!”.

Reacção de Guterres

Apesar da violência, o movimento popular não esmoreceu. “No sábado, grandes multidões continuaram a manifestar-se em todo o país”, referiu Dominican Koyin ao HM. “As tensões por parte das forças de segurança são cada vez maiores e talvez a junta militar esteja a perder a paciência. Apesar de a junta militar estar, de forma cautelosa e paciente, a lidar com os protestos em Yangon, devido à presença de embaixadas estrangeiras e do escritório da ONU, os actos brutais e desumanos das forças de segurança já aconteceram em cidades como Myitkyina, Monywa e Mandalay”, acrescentou.

Dominican, que é padre e um dos representantes da comunidade católica no país, conta que “todas as noites a polícia e os soldados fazem ataques aéreos e detenções de todos os líderes que protestem contra os militares, incluindo civis que aderiram ao movimento de desobediência civil.”

O aumento da violência já levou António Guterres, secretário-geral da ONU, a fazer um alerta. “Condeno o uso de força letal na Birmânia [Myanmar]”, escreveu no Twitter. “O uso de força letal, intimidação e assédio contra manifestantes pacíficos é inaceitável”, continuou.

“Todos têm o direito a uma reunião pacífica. Apelo a todos os partidos para que respeitem os resultados das eleições e regressem ao governo civil”, acrescentou o chefe da ONU.

Greve nacional marcada

O descontentamento face ao golpe de estado não se faz sentir apenas nas principais cidades do país. Na região de Ayeyarwady, a quatro horas de Yangon, os camponeses saem às ruas empenhando cartazes. Tin Ko Lin, activista e também ele oriundo de uma família de camponeses, falou com o HM sobre o que se está a passar no Myanmar.

“Foram mortas duas pessoas. Estamos a enfrentar muitos actos de violência e problemas. Estamos a lutar contra os militares aqui. No interior do país, e sobretudo os camponeses, estão a enfrentar muitos problemas. Há pessoas que foram presas pela polícia, mas durante o dia continuamos a lutar.”

Tin Ko Lin conta que os camponeses “não gostam dos militares” e assegura que vão continuar a lutar, apesar de o medo ser cada vez maior. “Não queremos um regime militar. Amanhã [hoje] há muitas pessoas que vão para as ruas, de todos os lados. Podem ser alvejados e temos de nos preparar para isso. Temos receios pelo facto de estarem armados. Mas acreditamos que podemos lutar contra os militares”, frisou.

A manifestação de que fala Tin Ko Lin não é mais do que uma greve nacional em que todos, trabalhadores e estudantes, prometem ir para as ruas. “Espero que esta greve nacional possa trazer alguma mudança”, referiu Dominican Koyin. Isto apesar de os militares “serem verdadeiramente obstinados e desumanos”. “A minha maior preocupação sobre os acontecimentos de amanhã [hoje] é que a junta militar possa impor uma ordem desumana e matar todos os civis”, frisou Dominican.

Peter Khup, sediado em Yangon, é um dos que participa na greve agendada para hoje. “Vou estar nas ruas a dar apoio aos manifestantes, vou levar garrafas de água. Em Yangon vamos manifestar-nos de forma pacífica, porque temos uma forma criativa de nos manifestarmos para não enfrentarmos a polícia ou os soldados. Se eles bloquearem uma rua nós vamos para outra”, concluiu.

John Tharngel tem participado nas manifestações todos os dias desde o dia 6 deste mês. Hoje também estará presente na baixa de Yangon. “Não tenho medo da violência e penso que não acontecerá nada em Yangon, mas estou preocupado com o que possa acontecer nas outras cidades”, descreveu ao HM.

Facebook suspende página

A situação nas ruas levou, entretanto, o Facebook a suspender a página Tatmadaw True News Information Team Page, coordenada pelos militares, por incitamento à violência, noticiou ontem a Reuters.

Este domingo a polícia prendeu um conhecido actor por manifestar-se contra os militares, enquanto que em Yangon os protestos continuaram. Também em Mandalay as manifestações prosseguiram de forma pacífica nos lugares onde as duas pessoas foram mortas, uma delas um adolescente. Em Myitkyina foram deixadas flores em sua memória. Nas cidades de Monywa, Bagan, Dawei e Myeik, a população trouxe fotografias dos falecidos à rua.

Tom Andrews, relator especial da ONU para o Myanmar, disse estar “horrorizado” com as mortes que ocorreram em Mandalay. “Desde canhões de água até às balas de borracha, passando pelo gás pimenta, temos agora tropas a disparar contra manifestantes pacíficos. Esta loucura tem de parar, agora”, disse, citado pela Reuters.

O jornal estatal Global New Light of Myanmar acusa os manifestantes de sabotarem tanques e de atacarem agentes da polícia com paus e facas, afirmando que oito polícias e vários soldados ficaram feridos. Sem fazer referência às mortes, o jornal apontou ainda que “alguns manifestantes agressivos também ficaram feridos devido às medidas de segurança conduzidas pelas forças de segurança de acordo com a lei”.

Ao jornal online Observador, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal confirmou que há apenas sete portugueses a residir no Myanmar, não tendo chegado nenhum pedido de ajuda. O HM tentou contactar a embaixada de Portugal em Banguecoque, também responsável pelo Myanmar, mas até ao fecho da edição não obteve qualquer resposta.

Covid-19 | Viagens durante Ano Novo Chinês caíram 58% face a 2020

O número de passageiros que viajaram durante as férias do Ano Novo Lunar na China caiu 57,9%, em relação ao período de férias de 2020, devido aos surtos de covid-19 registados no país nas primeiras semanas do ano. A estimativa divulgada ontem pelo Ministério dos Transportes aponta para um total de 97,7 milhões de viagens realizadas entre os dias 11 e 17 de Fevereiro.

Este número representa também uma queda de 71,5%, em relação à semana do Ano Novo Chinês de 2019, uma diferença ainda maior, porque em 2020 o feriado coincidiu com os estágios iniciais da pandemia, quando as autoridades colocaram sob quarentena a cidade de Wuhan, onde os primeiros casos de covid-19 foram diagnosticados.

O ministério também destacou que, nos seis dias anteriores à época festiva, foram realizadas mais de 176 milhões de viagens por via rodoviária, o que representa uma subida de 97,3%, face ao período de férias de 2020.

Perante os surtos de covid-19 registados em Janeiro, que colocaram o número de infecções no nível mais alto desde julho de 2020, o Governo chinês tomou medidas para reduzir as deslocações durante o Ano Novo Lunar, no que é habitualmente a maior migração humana do mundo.

Para milhões de trabalhadores chineses as férias do Ano Novo Lunar são a única oportunidade que têm para regressar às respetivas terras natais. A imprensa oficial revelou que as reservas de hotéis por hospedes nas suas cidades de residência aumentaram 660% e as visitas a atrações turísticas locais 300%.

Os cinemas arrecadaram cerca de 8.000 milhões de yuan, um novo recorde para esta época festiva e um novo impulso para a recuperação de um dos setores mais afectados pela pandemia. As vendas do sector retalhista aumentaram quase 29%, em relação ao ano anterior, e os serviços de entrega ao domicílio 260%.

O último contágio local pelo novo coronavírus foi detectado na província de Hebei, no norte do país, no dia 15 de Fevereiro.

Projecto de Álvaro Siza e Carlos Castanheira na China vence Prémio Edifício do Ano Archdaily

O Museu de Arte e Educação de Ningbo, na costa leste da China, do arquitecto Álvaro Siza com Carlos Castanheira, venceu o prémio Edifício do Ano 2021, na categoria Arquitectura Cultural.

O edifício de Álvaro Siza e Carlos Castanheira era finalista, na categoria de Arquitectura Cultural, com o Museu Audemars Piguet, em Le Brassus, na Suíça, o centro chinês de Arte de Qujiang, em Xi’an – Shanxi, o edifício Experimenta, em Heilbronn, na Alemanha, e com o MEETT – Centro de Congressos e Exposições de Toulouse.

A categoria Arquitetura Cultural é uma das 15 que compõem os prémios da plataforma internacional de arquitectura, e o projecto de Álvaro Siza e Carlos Castanheira foi o único de arquitectos portugueses entre os finalistas, nesta edição. Os vencedores foram escolhidos por votação dos membros registados na plataforma.

O museu projectado pelos arquitetos portugueses, situado junto ao Lago Dongqian, tem cerca de seis mil metros quadrados e foi inaugurado no passado mês de Novembro. Em vez de escadas, o edifício, com uma altura de 25 metros, tem uma rampa sem barreiras a ligar os cinco andares e é iluminado apenas por janelas situadas no rés-do-chão e no topo do museu.

O Museu de Arte e Educação de Ningbo é um projecto do grupo privado chinês Huamao Group. O presidente deste grupo, Xu Wanmao, convidou Álvaro Siza para a liderança da obra, depois de visitar o Museu de Serralves, que Prémio Pritzker desenhou, no Porto.

A primeira obra de Siza Vieia na China – um edifício de escritórios, desenhado também em parceria com o arquiteto Carlos Castanheira – foi inaugurado em agosto de 2014, no leste do país. Na Ásia, a dupla portuguesa também assinou projetos em Taiwan e na Coreia do Sul.

Os prémios Edifício do Ano da Archdaily são atribuídos em categorias de comércio, cultura, desporto, educação, hotelaria, saúde e indústria, em arquitetura de interiores, arquitectura paisagística e de espaços públicos, em edifícios de escritórios, de habitação, em moradias, edifícios religiosos e em projectos de pequena escala/pequenas instalações. É ainda distinguida a melhor aplicação de materiais.

Os 75 finalistas – cinco em cada categoria -, para esta 12.ª edição, foram escolhidos por votação dos membros da ArchDaily, entre 26 de Janeiro e 10 de Fevereiro, a partir dos 4.500 projectos submetidos e publicados na plataforma, ao longo de 2020. Os vencedores podem ser vistos em https://boty.archdaily.com/us/2021.

A ArchDaily – Plataforma, com base em Nova Iorque, foi criada em 2008, reúne profissionais das áreas da arquitetura, design, construção e meios de comunicação especializados, dos diferentes continentes.

Alma taurina

No dia 4 de Dezembro de 2019, uma vaca que ia ser enviada para o matadouro, escapou da manada, passou pela vedação de ferro, passeou-se nas ruas do Bairro da Ilha Verde e só parou depois de ter sido anestesiada. Por causa da anestesia, a carne ficou imprópria para consumo, por isso os donos do animal entregaram-no ao Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), que o colocou no Parque de Seac Pai Van de Coloane, onde passou a viver alegremente num belo habitat. As suas companheiras que não fugiram, acabaram no matadouro e, finalmente, na mesa dos comensais.

Esta história revela-nos duas verdades. Primeira, nunca devemos esperar pela morte, sem antes termos tentado encontrar forma de a evitar. Se não conseguirmos lutar contra a morte, podemos ficar num beco sem saída.

Segunda, quando temos o poder de decidir sobre a vida de terceiros, ao optarmos pela vida, o resultado final pode beneficiar ambas as partes. Estas duas verdades são igualmente aplicáveis na política.

As lágrimas dos mais fracos nunca geram simpatia nos mais fortes, que só respeitam adversários à sua altura. Quando não existe possibilidade de sobrevivência, a resistência é o único recurso. A vaca que fugiu para o Bairro da Ilha Verde em 2019 ficou conhecida em Macau como “a vaca corajosa”, porque lutou pela vida. A forma como o IAM lidou com a situação também é digna de louvor. Podiam tê-la mandado para o matadouro, depois de ter passado o efeito da anestesia, até porque o animal tinha “vandalizado” e destruído propriedade pública durante a fuga, e podia por isso ter sido “condenado à morte”, mas o IAM pelo contrário albergou-a no Parque de Seac Pai Van, parque esse que ganhou mais uma atracção. No “Ano do Boi”, e no meio da pandemia, as pessoas de Macau vêem na vaca do Parque de Seac Pai Van um símbolo da luta pelo aperfeiçoamento constante, o que as incentiva a ter confiança no auto-fortalecimento e na auto-ajuda. Como diz o ditado, “há um tempo para morrer e há um tempo para viver em paz”.

Espanha e Portugal são países onde as touradas já foram muito populares. Lembro-me de ter visto uma em Macau, num Ano Novo Lunar, ainda no tempo da administração portuguesa. No entanto, com a luta pelos direitos dos animais, as touradas foram gradualmente entrando em declínio. Inúmeros touros foram mortos nestas arenas ao longo dos tempos, bem como vários toureiros, já que a tauromaquia é um desporto de alto risco.

As touradas desapareceram de Macau após o regresso da cidade à soberania chinesa. Depois disso também houve a promulgação da “Lei de Protecção dos Animais”, e o IAM optou pela “preservação da vida” e não pela “sentença de morte”. Isto significa que Macau é um local que defende uma política de paz e de estabilidade. O mesmo não se passa na vizinha Hong Kong que, embora nunca tenha assistido à violência das touradas, tem assistido no último par de anos a uma violência bem pior, a que lança os homens uns contra os outros. A mentalidade do toureiro (ou morres tu ou morro eu) tornou Hong Kong numa praça de touros, onde acontecem touradas violentas de vez em quando. Ser um lutador não é uma grande virtude, porque em última análise implica a destruição de tudo o que nos rodeia.

As vacas são animais gentis e, se forem bem tratadas, permanecem calmas. Mas sem não o forem, o seu poder destrutivo é enorme, especialmente se forem massacradas com bandarilhas.

Em 2020, muitas pessoas foram afectadas pela COVID-19 e sofreram imenso. Em 2021, o “Ano do Boi”, vai ser determinante se os governantes possuirem mentalidade de “toureiros” ou de “criadores de gado”. Os “toureiros” vão provocar mortes, mas os “criadores de gado” estão destinados a ter bons resultados. Ficarei feliz se me puder sentar no restaurante que foi instalado no último piso da velha praça de touros de Barcelona, a beber vinho tinto e a comer melão com presunto, em vez de iscas feitas a partir do fígado do touro morto na arena.

O metro de Pequim

Entretinha-me a pensar se alguma vez iria deixar aquele local, se seria possível mudar complemente de circunstâncias. As metrópoles têm um poder atroz de nos sugarem para dentro e por dentro, parece impossível sair delas e parece impossível sair de nós próprios quando estamos nelas. As suas rotinas muito bem estabelecidas, o seu dia-a-dia optimizado com transportes públicos, salários, entretenimento, trabalho e lazer, boémia e cultura, soluções para todos os problemas. Uma cidade com vinte milhões de habitantes, altamente funcional. Gostava de caminhar na rua depois das minhas aulas com uma garrafa de baijiu e os phones nos ouvidos. Ouvia todo o tipo de porcaria de death metal a hip-hop caviar. Aquele cliché de querer sentir alguma coisa. Adorava a forma como olhavam para mim, como se olha para um carro a passar. Até pode ser um mazzerati novo – e havia vários por todo o lado – mas o interesse dura alguns segundos, fica-se a pensar naquilo, depois vê-se um monte de coisas completamente diferentes a seguir como scooters em contra-mão, dezenas de bicicletas acumuladas à entrada de um metro, uma senhora a vender batata doce assada. Uma estrangeira com baijiu na mão, a contemplar tudo, presente e simultaneamente alheada com a música nos ouvidos, a caminhar aleatoriamente. Gostava de caminhar sem saber para onde ia, nem norte nem sul, caminhar até não sentir as pernas, até suar debaixo do casaco de ski para as temperaturas inferiores a zero. Pergunto-me como me percepcionavam os transeuntes chineses, mas acredito que pensariam nesta imagem de mim durante dois ou três minutos, fariam um breve julgamento, voltavam aos seus problemas. Sim, a mega metrópole tem soluções para tudo menos para a indiferença abissal que é preciso cultivar para nela se sobreviver. Não se pode ter demasiada pena, não se pode ter demasiada inveja. É necessário um estoicismo de néon em edifícios gigantes prolongados no horizonte, infindáveis à vista. Os edifícios e depois o céu. Arranha-céus que são muralhas, não sei se estas também defendem o país das invasões estrangeiras, parece-me que fazem o oposto: convidam os foragidos a explorar a imensidão de possibilidades que ela apresenta. A reencontrarem-se ou a reconstruirem-se.

Todos os poetas que ali conheci escreviam longos poemas sobre o metro. Como é possível descrever uma mega metrópole sem se romantizar o metro de 618 km, um tráfego de 2180 milhões ao ano? A Jennifer tinha um trabalho poético só com frases em inglês das t- shirts do metro “Kate Moss and Pizza Slices”; “My ex died”; “Never say die, believe in yourslef”; “hang some”, etc. O meu trabalho poético “linhas de metro” tinha sido composto para uma performance com música e utilizava o metro para descrever o grupo de artistas underground que faziam parte do meu ciclo de amigos. Descrevia uma história de sedução. Falava de alguém ambicioso, que não se importava de recorrer a qualquer método para extrair das pessoas aquilo que pretendia, mesmo que isso passasse por seduzi-las e abandoná-las aos seus sentimentos.

Artistas que passavam por ali sem ali pertencerem. Era impossível não falar do metro. Depois de caminhar com o baijiu na mão, se estivesse completamente perdida, não tinha qualquer problema. Pegava no telemóvel e apanhava um didi para casa. Uma das estações de metro que apanhava com frequência tinha uma entrada com duas escadas rolantes nos dois sentidos: subir e descer. Por cima de cada escada havia um painel que indicava um visto verde, significava que era a direcção para descer para o metro e outro que tinha uma cruz vermelha, para não se ir distraidamente pela escada rolante que sobe em vez de descer. Esta estação em específico tinha um dos sinais avariados. Ambos os painéis tinham o símbolo de “proibido”. Um deles não era proibido. Todos os dias me entretinha a tirar fotos às pessoas que iam pelo falso “sentido proibido” a apanhar o painel e as pessoas a seguirem o seu caminho, ignorando os sinais vermelhos ou todos os painéis, vermelhos ou verdes, em geral. Parecia-me uma metáfora perfeita para a vida na China.

Confuso é um país com metade da população daquela cidade todo à beira-mar. Confuso é apanhar um pássaro de metal gigante que nos transporta para o outro lado do mundo, duas ou três vezes por ano. Tudo isso parece fantasia.

A mente prega-nos tantas partidas, que não seria de espantar se toda a memória fosse também outro truque. Percebemos perfeitamente a existência dos aviões que fazem voos intercontinentais, mas não conseguimos perceber o porquê da nossa própria existência. Somos como as oito horas do fuso horário que se perdem entre Pequim e o Porto e que ninguém sabe para onde vão. Por vezes penso que vão para o céu. Por cima das nuvens, há uma realidade onde estas oito horas ainda existem. Há uma parte de mim que acredita que alguém vive naquela dimensão, em meu nome. Fomos programados para ser livres, não deixar que a nossa geografia nos condicione, as nossas relações humanas não nos condicionem, as nossas crenças e valores não nos condicionem. Fomos programados para não ter forma e esse é um privilégio tão grande quanto a responsabilidade de navegar num mundo infinito sem nunca nos perdermos – o que é impossível. O metro vai sempre a abarrotar em hora de ponta mas o silêncio impera. Todas as manhãs somos uma massa homogénea optimizada na selva urbana. Não temos forma. Mas temos todos que chegar a algum lado.

Na Poesia de ser Macaense

Por Alfredo Gomes Dias

Dentro de cada um de nós, o conhecimento de si e do sentido que emprestamos à nossa vida é, talvez, o exercício mais exigente, porque mais doloroso, mesmo quando o revestimos sob a forma de poesia. E se esta ideia, assumida como verdade, é generalizável a qualquer ser humano, num qualquer ponto do globo, adquire um novo significado quando se refere a um macaense, aquele ser “entre dois polos / que se atraem / e repelem”, principalmente quando lhe acrescentamos a sensibilidade e a racionalidade de ser mulher.

Quando Cecília Jorge oferece a Macau um livro de poemas escritos ao longo de uma vida, devolve à cidade o sentir e o pensar que a acompanharam nas ruas construídas de vivências múltiplas, entre amores e desamores. Neste quotidiano, parte ao encontro das suas origens, ao subir aqueles cinco degraus que a “levam ao casarão / Onde crescem raízes / agarradas a velhas paredes / que arrostaram tufões”. Recordando o “bisavô Jorge”, reconhece a felicidade de “ainda ter conhecido o espírito / que pairava neste chão”, transportando sentimentos que criam raízes nas memórias e na terra onde se mistura “A humidade o cheiro os meandros / da alma indómita / que remonta ao passado”.

Contudo, não são as origens nem as memórias condições bastantes para que veja facilitada a tarefa do conhecimento de si, quer como pessoa, quer como parte de uma comunidade que mantém uma “Porta aberta para dois lados/ de entrada /sem saída”. Para Cecília Jorge, já vai longe o tempo em que sentia necessidade de se definir como macaense, assumindo finalmente que este ser macaense é, em si mesmo, uma indefinição, “que te (in)defines / pelo não ser bem / que também não és bem…”. Deste modo, o ser passa a reconhecer-se pelo não-ser, porque não é possível (re)conhecer-se. Nesta incógnita, que hoje paira sobre toda a comunidade, as suas palavras alargam aquela indefinição a Macau, que sempre a ajudou a identificar-se, consigo e com os outros. Por isso, “sei onde estava / não onde estou / Não sei por onde vou / por onde não vou”. Descentrando-se da terra, deixando secar as raízes que sempre deram sentido à sua vida, de dádiva e partilha, a macaense valoriza-se pelo que é, na sua individualidade, afirmando “Sou / apenas / mas sou / quanto baste”. E, num último esforço de encontrar-se, procura no Mundo aquilo que Macau já não oferece, questionando “Donde venho? De que lado / do Mundo?”. Uma questão que, no presente, só pode encontrar resposta num passado longínquo e num futuro por construir. Parar no presente, para “recarregar / energias para / retomar a rota do vento / e cumprir o destino”. Anuncia-se a esperança num futuro carregado de um presente de incertezas.

Sempre fez parte do ser macaense a procura, numa “Miragem / de olhos postos no Ocidente”, das suas raízes mais profundas, que Cecília Jorge reconhece como “berço secular / da eterna presença”, embora longínqua, mas que emerge na “confluência de civilizações” que transformaram Macau no “patamar” de dois mundos “harmonizados / num só”. Talvez resida aqui o sinal de esperança antes enunciado, embora assente nos “Pés de barro da lusitanidade”. Fragilidades de uma origem que se prolonga no acto do regresso, anunciadas nas “caravelas de vela solta / que se vão rasgando / no retorno à Pátria”. Desta síntese imperfeita e, mais uma vez, indefinida, fica como garante a “Língua materna Mãe”, aquela língua que nos embala “num fado de Amália / até ao finar da vida”. Nesta língua, que na casa e nas ruas se fez arma, apresentada como um “Lago fecundo sem margens / Como o mar que banha o teu berço”, encontramos uma das razões de querer partir, uma vontade representada num relógio que teima em impor uma lenta marcha do tempo, demasiado lenta para quem deseja bater “as asas / no devaneio / que me leva para / longe / daqui”.

Já não é suficiente o ser que se confunde com a terra, o “reinol aventureiro” que se cruzou com a “mãe asiática”, num caldo de cultura com cheiro a canela, criando “ternura e sensualidade / no recato de uma alcova” e lutando “contra as monções”. Já não é suficiente acreditar que se vive numa cidade “maior que o mundo”, onde era possível uma “existência singela / humana partilha / solidariedade / e amizade”. Já não é suficiente sentir Macau “na curva do Chunambeiro / que já nem curva é”, obrigando a macaense, mulher e poetisa, a sentir “a alma da urbe / viva”, a transformar-se num espírito solitário que vagueia e pisa um “chão inexistente”. Junta-se, então, a angústia e a desmotivação – “Nem chorar / consigo” –, que se vivem e sentem numa profunda “dor indizível dor abstracta fugidia / dor infinita” que, sem matar, “despedaça e / chaga sem sangrar”. Macau vai-se esmaecendo nesta dor de quem, como muitos, como Cecília Jorge, desconhece a terra que sempre chamou de sua, como se, na velha Baía da Praia Grande, ainda fosse possível sentir uma “aragem / que nos embalava” ou ver “Raios de sol em despedida”.

É na rua que persistem as memórias de uma Macau que se perde nos dias que passam, nos “jasmins / que espalhados ao sabor do vento / nos perfumavam as madrugadas / e os crepúsculos”; no “sabor dos fritos / comidos na rua”; nos macaenses “em volta de / uma só / taça de chá”. Estas são algumas das memórias que persistem numa cidade em mudança permanente, abandonando o nome de porto de abrigo. Como a rua da “Felicidade sequestrada / num nome”, também Macau se entregou a um futuro sem passado e, por isso, com um presente comprometido na auto-negação de si própria, comprimida “em caixotes / a tanto-por-metro-quadrado”, impedindo a mulher da cidade de desfrutar da “grandeza / de um céu distante”.

Ao ser macaense, agora sentindo-se em terra alheia, sobra apenas a solidão, mesmo quando se mistura “num mar de gente / tão transparente / e frágil / que se esquece”. Uma solidão que se dilui na cidade, na “Ficção criada pelos portugueses”, que “nem os próprios dela / se apercebem”. Fica apenas a solidão e a memória.

A memória
esmorece
e se apaga
no vazio.

Um sol inesperado

Há praticamente um ano que andamos nisto. Aprendemos entretanto palavras novas (aprendemos a repetir palavras que não esperávamos um dia dizer). Deixamos a vida à porta quando entramos ou saímos de casa como um guarda-chuva encharcado. Na verdade, não sabemos bem o que fazer com ela enquanto ela não volta. É o mais longo intervalo de que tenho memória nesta relação que já dura há uns bons anos.

Felizmente, temos conseguido controlar (com muitos sacrifícios a vários níveis) a taxa de mortalidade – com algumas excepções muito pouco felizes, como foi o caso deste Janeiro. Mas subsiste a sensação de que a morte – apesar de todas as medidas, apesar das benfazejas vacinas – está à espreita, à espera de um descuido, de uma distracção de principiante, do momento em que ousamos vir à tona reclamar o quinhão de oxigénio a que estávamos habituados. De um ponto de vista objectivo – eu de fora, com os óculos da ciência disponível postos, a olhar para mim próprio – sei que não faço parte de um grupo de risco acrescido. Em princípio, se o bicho resolver fazer de mim turismo, sobreviverei. Mas se em Março do ano passado, quando o confinamento era sinónimo de incerteza e de pavor, eu conhecia apenas duas pessoas que tinham adoecido com o vírus – e que nem sequer moravam em Portugal (olá Ana, olá Carlos, sintam-se bem-vindos a este texto) – e que dele recuperam sem qualquer mazela subsequente, neste momento conheço muito mais gente que adoeceu – e recuperou – e também gente que morreu.

A morte em jeito de estatística no telejornal da noite, vociferada pelo apresentador de serviço como se de um anúncio bíblico se tratasse, não me tira propriamente o sono; há muito tempo que a minha relação com a televisão e os seus mecanismos de predação afectiva é praticamente inexistente. Evito-a como quem se escusa à companhia de uma pessoa desonesta. Mas não há como evitar o pesar por aqueles de quem sabíamos os nomes, ou aqueles que são os pais, os tios ou os avós das pessoas da nossa congregação de vivências. São esses que dão à cara à estatística anónima que alimenta os noticiários. Lá fora cheira à morte.

E, de repente, e por mais que se insista em abandonar a vida à soleira da porta enquanto ela não resolver se portar bem, a vida, como as ervas que rebentam na fenda de uma rocha num assomo de tenacidade, a vida acontece. Sem avisos, sem reservas, sem máscaras: ela segue-nos para onde quer que vamos.

Uma muito querida amiga minha engravidou. Talvez esta seja a pior altura para se engravidar (ou para qualquer tipo de acontecimento que celebre a vida em geral). Mas a vida não alimenta a metafísica com que lhes revestimos os ossos. Ela acontece. E acontece no momento em que alguém expira pela última vez e volta a acontecer – sempre cegamente, sempre sem tomar qualquer partido – quando alguém inspira pela primeira vez. É maravilhosamente caótica, é tenaz e salpica irrestritamente os sítios por onde passa com a bonança da sua criação.

O Francisco nascerá este ano. Ouvirá muitas histórias a respeito do ano da sua vinda. Talvez acabemos por falar desta pandemia como os antigos falaram da pneumónica (a gripe espanhola de 1918), sem as terríveis consequências a nível de mortalidade – esperemos – que esta última acarretou. Se tudo correr excepcionalmente bem, talvez acabemos por somente com algum esforço de rememoração nos lembrar deste intervalo. O Francisco, para mim, carregará o augúrio do símbolo deste ciclo de renovação e continuidade, os dedos que se tocam no princípio e no fim de tudo, a história que se faz entregando corpos ao berço e à cova. O Francisco é um sol inesperado desfazendo uma neblina de gesso.