Barcos-dragão | Regatas internacionais em Junho Hoje Macau - 24 Mar 2021 A edição deste ano das regatas internacionais de barcos-dragão de Macau, em Junho, vai ter um número máximo de 2.700 participantes, incluindo da China continental, foi ontem anunciado. “Estamos a discutir com equipas do interior da China, eles também esperam que seja possível vir a Macau novamente”, disse o director do Instituto de Desporto de Macau, Pun Weng Kun, em conferência de imprensa. As regatas, que vão decorrer entre 12 e 14 de junho, vão ter seis provas. No dia 13 decorrem as regatas para pequenas embarcações, e no dia seguinte, dia do festival dos barcos-dragão, será a vez das grandes embarcações, num total de seis provas, indicou a organização.
Covid-19 | Agência europeia admite avaliar vacina chinesa Sinopharm Hoje Macau - 24 Mar 2021 A Agência Europeia do Medicamento (EMA) disse ontem estar em discussões com o grupo farmacêutico estatal chinês Sinopharm sobre a vacina desenvolvida contra a covid-19, admitindo avaliar este fármaco para dar resposta às necessidades europeias e globais. “Há várias vacinas produzidas por farmacêuticas chinesas e estamos em discussões com um grupo que produz uma dessas vacinas, a Sinopharm, e esperamos ficar em posição de também avaliar essa vacina”, disse a directora executiva da EMA, Emer Cooke. Intervindo numa audição por videoconferência na comissão de Saúde Pública do Parlamento Europeu, a responsável pelo regulador europeu notou serem “necessárias todas as vacinas eficazes e seguras possíveis para não só dar resposta às necessidades da população europeia, como ao nível mundial”. Em causa está a chamada “análise contínua”, um instrumento regulador que a EMA utiliza para acelerar a avaliação de um medicamento promissor durante uma emergência de saúde pública, já que, ao rever os dados em tempo real à medida que estes ficam disponíveis, pode chegar mais cedo a um parecer final sobre a autorização de comercialização, quando esta der entrada. Nesta situação de avaliação preliminar encontram-se as vacinas russa Sputnik V, a da alemã CureVac e a da norte-americana Novavax. Até ao momento, a EMA deu ‘luz verde’ a três vacinas para a covid-19: a da Pfizer/BioNTech a 21 de Dezembro de 2020, a da Moderna a 6 de Janeiro, da AstraZeneca a 29 de Janeiro e, em meados deste mês, a vacina da Johnson & Johnson, produzida pela farmacêutica Janssen. “Não nos podemos esquecer de que são as vacinas que nos vão ajudar a vencer esta pandemia”, vincou Emer Cooke perante os eurodeputados na sessão à distância.
O mês das Mulheres Tânia dos Santos - 24 Mar 2021 O dia da Mulher foi no dia 8, o dia da Mãe em muitos locais do globo foi na segundo Domingo do mês de Março. Muitas são as pessoas que têm feito as suas homenagens às mulheres das suas vidas durante este período. Muitas são as pessoas que aproveitam para desbravar um território mais inclusivo para os temas da mulher. Ao contrário do que vos dizem, o campo está longe de ser simples. O mês dá azo a muita celebração e contestação porque a forma de sermos mulheres pode ser, e é, bastante discutida e posta em causa. A Cindy Lauper está bastante satisfeita que o seu clássico dos anos 80 tenha sido re-interpretado para dar luz a estes assuntos importantes. “Girls just wanna have fun-damental rights”, dizem os novos slogans. Um direito básico que tomamos como garantido nas sociedades modernas, um direito mais facilmente identificado como em falta em sociedades em desenvolvimento. Como e por que é que estes direitos ainda não estão totalmente garantidos em lado nenhum, obriga a uma análise cuidada das causas e consequências destas dinâmicas de desigualdade. Num mundo dado a olhar para coisas com a sua lente mui conhecida da heteronormatividade, ou seja, de presunção que a única constelação íntima e romântica é a heterossexual, olha-se para a desigualdade de género nas dinâmicas de um suposto polo feminino e masculino. Fala-se a partir de uma visão do mundo onde é claro quem é uma mulher (e um homem), em que se assume a posição da vítima e do abusador. Fala-se da força física dos homens, e da vulnerabilidade e pequenez das mulheres. Estes são adereços simbólicos que ajudam a simplificar o que é complexo – mas que não precisa de ser simplificado. O problema da simplificação é que peca pela exclusão. Inclusão, neste e em todos os contextos da nossa vida, é valorizar a diversidade. Não há nada mais justo do que a diversidade. As vulvas e as vaginas não são uma garantia de identificação de mulher. Ter um aspecto “feminino” também não é precondição. Ter a menstruação não é um traço definidor. Ter mamas também não. Houve quem celebrasse o tão recente dia da mulher com descrições idílicas das supostas rotinas matinais de cuidados de pele, maquilhagem, cabelo e roupa. Isso também não define o ser mulher. Mesmo assim, apesar de não definirem absolutamente nada, fazem parte da experiência, ainda que insistam numa ideia estereotípica da mesma. É preciso fazer mais. É necessário um olhar crítico para as formas de representação e linguagem que excluem a experiências das outras mulheres que não encontram legitimidade social para o serem. Num mês como este nota-se ainda mais a urgência de se criar um espaço, físico e simbólico, onde todas possam caber. A dificuldade, contudo, é que na tentativa de ser tudo, cai-se no erro de não se ser nada. Não se podem perder de vista as particularidades de tudo o que implica a desigualdade de género e a violência que ainda existe pelo que é fora da suposta norma. São cada vez mais necessárias visões sistémicas e integradoras dos fenómenos para perceber as muitas forças que moldam as expectativas e definições de género. Expectativas essas que moldam o preconceito por certas visões do mundo, frequentemente vangloriando as visões fisiológicas e biológicas como a solução para o mundo social. Quem dá sentido ao que é ser-se mulher, somos nós, seres pensantes, não são os genitais. Na constante reivindicação por uma definição de mulher verdadeiramente inclusiva, que se discutam com franqueza todas as outras formas de se ser. Porque para se ser mulher, basta sentirmo-nos mulheres.
Prova de vida (bis) João Paulo Cotrim - 24 Mar 2021 Santa Bárbara, Lisboa, sábado, 13 Março É raro ver a mão por si só. Dançarina, agita-se à frente do peito, prolongamento dos olhos, alargando a área de influência da voz. Ferramenta, fecha-se em força, desmultiplica-se em função, alicate, bisturi, seringa, chave, bandeira. Instrumento, vai a cada canto do palco e do sopro e das cordas. E assim com os corpos, aquele de que faz parte ou alheios, para tocar e, portanto, aumentar. Ou repousa por sobre partes outras, recolhida às axilas, à timidez e conforto dos bolsos. Tem que se apanhar distraída, cansada, como que desarticulada, de um lado veias, do outro linhas. Vejo-as a sacudir o pó do álbum e deixo-me vaguear até ao tédio fatal. «O meu pecado era não ter dezoito anos. A norma não permitia o desejo. E o senhor de azul não parava de o repetir. Que não, imensas eram as desculpas e os lamentos para tudo ser resumido e concluído num «não». Redondo. Não podia entrar no bloco de granito branco. Que não e pronto. Na Biblioteca Nacional só podia entrar depois de ter aqueles anos cumpridos. Foram tiros na minha curiosidade. Recolhi à timidez e desci os degraus, entre anjos de saber. Há-de haver algures um nome para os «guarda-lombadas». Guarda-livros é para quem neles guarda números. Anjo-da-guarda também não se aplica, que esses evitam acidentes. Tendo os livros alma, serão as bibliotecas céu ou inferno? No Campo Grande há um enorme purgatório cheio de almas penadas. Durante oito ou nove séculos, artistas e santos, campónios e burgueses comeram a poeira daqueles caminhos, pintaram aqueles ícones, construíram e reconstruiram aquelas paredes, fecharam-se sob a ocupação otomana, abriram-se aos ventos da Renascença Nacional Búlgara, padeceram as proibições comunistas, acolheram o seu fim. Durante oito ou nove séculos, ressoaram os sinos pela floresta que esconde o Mosteiro de Rila, e sem por isso afectarem o silêncio prenhe dos santuários. Cerrada a porta principal, o mosteiro torna-se castelo inexpugnável. Mas a entrada fundamental não se fecha. Os peregrinos acedem aos manuscritos e anotam-nos. É cedida passagem ao povo que aí se perde nas hagiografias pintadas do fundador, o eremita S. João. Anjos, somos todos anjos. Qualquer um pode tocar as iluminuras. Qualquer um pode trazer pó das lombadas nos dedos. Qualquer um pode abastecer-se de metáforas para o caminho. Ou ler, livros d’alma que por lá não vi outros.» Alma minha, revista Ler «Falta, portanto, uma etiqueta para o bom encontro dos seres amantes. Nada de transcendente, uma conversa tu-cá-tu-lá sobre as geografias respectivas do corpo e prazer. Fora da cama, enfrentando a ignorância sem temores nem culpa. Lá dizia um doutor norte-americano que a libertação sexual significa o direito a saborear todas as partes do corpo, o direito de fazer carícias proibidas civil ou religiosamente, o direito a ser sensual e exuberante em vez de mecânico e solene. (…) A intimidade exigida para o sexo oral é tal que raramente se encontra fora de uma relação amorosa. Por isso, dizem alguns, quando a aceitação do outro é alcançada torna-se subitamente a expressão última do amor. Pouco importa se o figo é comido da maneira correcta ou vulgar, descritas na versão de Herberto Helder do poema de D. H. Lawrence, «Figos» (ed. Assírio & Alvim): “A maneira correcta de comer um figo à mesa/ É parti-lo em quatro, pegando no pedúnculo,/ E abri-lo para dele fazer uma flor de mel, brilhante rósea, húmida, desabrochada em quatro espessas pétulas./ Depois põe-se de lado a casca/ Que é como um cálice quadrissépalo,/ E colhe-se a flor com os lábios./ Mas a maneira vulgar/ É pôr a boca na fenda, e de um sorvo aspirar toda a carne.”» Sexo oral: A maneira correcta de comer um figo, revista Cosmo «Para que serve o sono senão para dar à alma uma oportunidade de preguiça? O descanso é a miséria do futuro, mas o trabalho é a ocupação dos tristes. O sono é uma derrota. De olhos abertos, quando os outros dormem é a máxima para os que, mesmo quando os candeeiros se apagam, lhes basta os mínimos para se conduzirem pelas ruelas obscuras. (…) A vida sabe ser um enjoo e daí que os vómitos mais fundos, mas também os mais fecundos, sobre a humana condição surjam nas navegações noctívagas. A sensação amarga de nos cuspirmos é uma metáfora do desejo. É tanta a vontade de abandonarmos o navio-corpo ou a viagem-vida que nos surpreendemos com a energia do rasgo, com a força que parece vir do nosso centro mais profundo, mas que é só estômago. A digestão dos dias também parece arrotar nos sonhos, mal a luz se ausenta para parte certa. Por tudo isto, e mais alguma coisa, a noite é, como só no feminino, a suprema surpresa do amor, o sopro perfumado da inspiração, a mais fina concentração, a mais impossível das possibilidades. Por tudo isto vos digo que a noite está em vias de extinção.» Crónica, revista Tango «Os marinheiros, a base da pirâmide hierárquica, caçam a ferrugem por todo o lado e, viagem após viagem, pintam cada centímetro quadrado, ocupam-se com milhentos serviços de manutenção numa luta inglória contra os elementos. Não se consegue, todavia, evitar tédio. Nem para os que procuram aprender as subtilezas da língua das correntes (que vão sempre para algures) ou do sentido dos ventos (que obrigatoriamente vêm de algures). O mar é nisso traiçoeiro. Atrai porque dono de belezas mil, senhor de encantos misteriosos, para , tendo-nos à mercê, nos castigar com o tempo, uma paisagem de aparência sempre igual, um ritmo sincopado, hipnótico, que nos maça o corpo e adormece a alma.» Sem destino, revista Grande Reportagem «Se soubesse desenhava um mapa. Mas esse é o meu segundo desgosto, não ter ainda aprendido a desenhar. E muito menos mapas, que pedem rigor na concepção, firmeza no traço, poesia na maneira de passar ao papel os caminhos e as montanhas. Se soubesse compunha assim uma viagem. Só que esse é o meu primeiro desgosto: não aprendi ainda música. Estive já em África, o que pode ser considerado um princípio, mas não consegui mais do tamborilar, sem nunca desenhar mapas nem compor viagens. É por isso que, nos momentos fáceis, mas sobretudo naqueles em que viver pesa e cansa, a música desenha horizontes e das montanhas pouco mais que pó nos passos de quem anda. Carnet de routes, revista Ícon «Flop Traz consigo, do inglês, o som de sólido mergulhando em líquido, ainda que sem estardalhaço. De tanta queda ter dito, flop tornou-se, também na nossa língua cheia de trapos alheios, fracasso ou insucesso. Quanto maior for a subida, mais brutal a queda. A gravidade da observação aplica-se a certa operação policial que, com estardalhaço e brutalidade, caiu pesadamente no abuso e na ineficácia. Flop possui a suavidade da brincadeira com pedras saltitantes à beira-mar. Fracasso contém a culpa do vidro partido ameaçando cortes e sangue. Prefiro fracasso. Boca de incêndio [dicionário minúsculo para perceber o que dizem por aí as palavras], jornal Expresso
O canto que se perde Nuno Miguel Guedes - 24 Mar 2021 Vivo numa cidade que não me deixa estar triste à vontade. É impossível, garanto. Estes dias de azul-ferrete (quando se alude a Eça de Queiroz há sempre a esperança de redimir um texto, amigos) decretam uma obrigação de bem-estar eufórico ou pior, felicidade. Nada contra, é certo. Nem eu tenho prazer na tristeza nem felizmente nada na minha vida desta altura me carrega para rios mais profundos e negros. Até ver, claro. Mas a tristeza é um direito inalienável e um estado de espírito tão valioso de viver e sentir como o da alegria. E no entanto o mais contrariado, o mais oprimido. Estes dias de implacável azul assim o parecem provar. E obviamente que podemos sempre contar com a proverbial estupidez humana que se lembrou de consagrar um dia do calendário à “felicidade”. Dia Internacional da Felicidade, dizem eles. Celebra-se, ao que parece, todos os 20 de Março por sugestão do simpático reino budista do Butão – que entre outras características nacionais converte o Produto Interno Bruto em “Felicidade Nacional Bruta” – e a sua instituição foi aprovada em 2012 por unanimidade (!) pelos 193 estados membros das Nações Unidas. Tenho a certeza de que em certas regiões do globo assoladas por todos os flagelos possíveis e imaginários esta patusca proposta de um reino distante deve ser amplamente ansiada e festejada todos os anos. Enfim, amigos, estou a deixar que o azedume me possua outra vez. Regresso ao azul do céu para ver se equilibro o mel e o vinagre da alma. Não consigo: a realidade insiste em perseguir-me e em saber quem sou. Deparo com esta história, metáfora e literalidade em simultâneo. Conto: numa região australiana uma espécie nativa de ave – o australian regent honeyeater, assim mesmo sem tradução depois de ter ouvido quem sabe destas coisas -, dizia, este pássaro está em vias de extinção devido a intervenção humana negligente que destruiu quase por completo o seu ecossistema. Isto, infelizmente, não é raro; deparamos com este tipo de desastre ecológico quase quotidianamente. Mas o mais triste está para vir: devido à escassez dos seus membros, os pássaros não conseguem aprender o seu canto, essencial para o acasalamento. Ou seja: os mais novos, que aprendem o seu cantar por imitação dos mais velhos, já não o podem fazer. Assim, replicam o cantar de outras espécies – o que naturalmente não convence as fêmeas e assim torna impossível a sua reprodução. A extinção parece inevitável, ainda para mais sabendo que o estado natural destes jovens pássaros é o silêncio, para evitarem serem notados por predadores. Não saber o seu próprio canto, esquecer a sua própria voz por ausência de interlocutor. Não consigo evitar a analogia com a actual condição humana, cada vez mais sentenciada por vontade própria a falar sozinha, esquecendo-se aos poucos daquilo que foi o canto da sua humanidade apenas porque ouvir o outro parece estar também próximo da extinção. E isto, amigos, nem este céu azul pode salvar.
Covid-19 | BGI Group doa a Angola kits para detectar novas estirpes Hoje Macau - 24 Mar 2021 O grupo chinês de biotecnologia BGI Group doou ao Ministério da Saúde de Angola 40 mil kits para ajudar a detectar as novas estirpes do coronavírus responsável pela covid-19, foi anunciado segunda-feira. Segundo um comunicado, durante a cerimónia de doação a ministra angolana da Saúde, Sílvia Lutucuta agradeceu ao BGI Group por apoiar novamente Angola “face aos novos desafios trazidos pelas variantes da covid-19”. A ministra lembrou que o grupo chinês assinou em Julho do ano passado um acordo com o Governo angolano para instalar quatro laboratórios, conhecidos como Huoyan (‘Olho de Fogo’), com capacidade para processar até 6.000 testes de diagnóstico da covid-19 por dia. Os laboratórios abriram na segunda metade de 2020, com 18 técnicos angolanos treinados pelo BGI Group, referiu o grupo no comunicado. Durante a cerimónia o Embaixador chinês em Luanda, Gong Tao, disse que a China está disposta a colaborar com Angola no fornecimento de vacinas contra a covid-19. Angola foi o primeiro país de língua portuguesa em África a receber vacinas da AstraZeneca e Pfizer contra a covid-19 (624.000 doses), ao abrigo da Covax, uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde em parceria com a Vaccine Alliance e a Coalition for Epidemic Preparedness Innovations. A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.716.035 mortos no mundo, resultantes de mais de 123 milhões de casos de infecção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP. Em Angola, morreram 530 pessoas dos 21.757 casos de infecção confirmados, revelou ontem o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda.
Ho Iat Seng nega pressões na TDM e Macau entra em ranking de liberdade de imprensa Hoje Macau - 24 Mar 2021 Ho Iat Seng garantiu ontem que o Executivo não pressionou a TDM. As declarações surgem na sequência da notícia de que a Comissão Executiva da empresa terá dado indicações para os jornalistas não “divulgarem informação ou opiniões contrárias às políticas do Governo Central da RPC”, e depois do anúncio de que Macau entraria no ranking dos Repórteres sem Fronteiras devido ao caso da TDM. “O Governo não apertou o controlo dos meios de comunicação social. A TDM é uma empresa pública e um meio de comunicação local, acho que todos os meios de comunicação social amam a pátria e Macau, de certeza. Não foram dadas novas indicações”, adiantou Ho Iat Seng. Entretanto, o responsável dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) na Ásia disse ontem à Lusa que o canal público de rádio e televisão da TDM pode converter-se num “órgão de propaganda” da China, devido à “censura da direcção”. “É absolutamente inaceitável que, a pretexto do patriotismo, se obrigue os jornalistas a calarem-se, é abrir a porta a todos os abusos”, denunciou Cédric Alviani. “Em todos os regimes autoritários do mundo, o patriotismo e o amor à pátria são utilizados para impedir os jornalistas de criticar as autoridades. Amar o seu país é ser capaz de criticar o que é feito pelos seus dirigentes, que não são infalíveis, e é importante que os jornalistas tenham espírito crítico”, sublinhou. Entrada no ranking Assim sendo, Macau vai passar a fazer parte do ‘ranking’ anual dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que analisa a liberdade de imprensa em 180 países. Na classificação da liberdade de imprensa estabelecida anualmente pelos RSF figurava apenas Hong Kong, que chegou a ser considerado um bastião da liberdade de imprensa, mas caiu do 18.º lugar, em 2002, para 80.º em 2020, enquanto a China continental é 177.º em 180 países, numa lista que até aqui deixava Macau de fora. “Macau é mais pequeno que Hong Kong e quando abrimos a delegação [no Sudeste Asiático] contávamos ambos juntos, mas as coisas mudaram nos últimos anos e seria útil ter um indicador mais preciso”, disse ontem à Lusa Cédric Alviani, antecipando a inclusão do território na classificação já “este ano” ou “no próximo”. Alviani considerou que “o facto de a direcção [da TDM] dar ordens com conotações políticas [aos jornalistas] (…) representa efectivamente uma mudança”, afirmando que se trata de um incidente sem precedentes no território. “Abri a delegação dos RSF [no Sudeste Asiático] há quatro anos e tenho vindo a monitorizar a liberdade de imprensa na região, e de facto esta é a primeira vez que ouço este tipo de queixa em Macau”, disse o responsável. “Isso não significa que seja a primeira vez que isto acontece, porque em Macau as autoridades chinesas já fizeram muito mais para fazer avançar o sistema de censura ou auto-censura [do que em Hong Kong], mas é a primeira vez que ouvimos falar de algo tão directo e que obviamente chocou os jornalistas, porque a informação saiu”, frisou. Anunciadas demissões Pelo menos cinco jornalistas da TDM – Teledifusão de Macau apresentaram a demissão na sequência da directiva que exige uma linha editorial patriótica. A informação foi avançada ontem à Lusa por uma das cinco jornalistas portuguesas que trabalham no serviço de rádio em língua portuguesa da emissora pública TDM. Outra jornalista confirmou a demissão e que a decisão resultava da polémica sobre a linha editorial assumida pela empresa. A Agência Lusa contactou a direcção do serviço de rádio em língua portuguesa da TDM que não quis fazer comentários sobre esta situação.
FAM | Festival de Artes de Macau em Maio com mais de 100 actuações e actividades Pedro Arede - 24 Mar 2021 O Festival de Artes de Macau está de volta com um total de 20 programas de teatro, dança, música e arte visuais e outros tantos workshops, exibições de filmes, exposições fotográficas e actividades. Privilegiando as produções da China e de Macau, haverá lugar para um novo espectáculo dos Dóci Papiaçám, dança contemporânea do grupo Jun Xing de Xangai e música clássica Depois do interregno do ano passado motivado pela pandemia, o Festival de Artes de Macau (FAM) está de volta entre 30 de Abril e 29 de Maio, e propõe-se, sob o tema “Reiniciar”, a levar aos mais diversos palcos e espaços da cidade, mais de 100 actuações e actividades, onde não faltam espectáculos de teatro, dança, música, artes visuais, ópera cantonense e ainda workshops e exibições de fotografia e cenografia. Com um orçamento total de 21 milhões de patacas, a presidente do Instituto Cultural (IC), Mok Ian Ian sublinhou que a edição deste ano do FAM irá privilegiar as produções locais e da China. “Como a pandemia global não mostra sinais de abrandar, o Festival de Artes de Macau deste ano, que tem como tema ‘Reiniciar’, irá privilegiar as produções do Interior da China e de Macau, apresentando um total de 20 programas de teatro, dança, música e artes visuais, aliados ainda a workshops, visitas aos bastidores e à exibição de filmes, perfazendo um total de mais de 100 actuações e actividades do Festival Extra”, afirmou ontem a responsável durante a apresentação do 31º programa do FAM. Segundo a responsável, a programação deste ano, para além de apresentar produções que recriam grandes clássicos de forma “inovadora”, inclui também “uma série de obras que não deixarão de impressionar o público pelo seu apelo artístico e ideias vanguardistas”, onde não faltam histórias “consagradas, estimulantes e sentimentais sobre o sentido da vida”. Exemplo disso mesmo é o espectáculo de abertura do festival, “Cobra Branca”. Com exibições agendadas para os dias 30 de Abril e 1 de Maio, o espectáculo apresentado pelo Estúdio de Teatro Lin Zhaohua (Pequim), reinventa as personagens do conto chinês “A Lenda da Cobra Branca”, combinando teatro, música, dança e arte multimédia. Já o espectáculo de encerramento “Tirando Licença”, apresentado pelo Teatro Nacional da China nos dias 28 e 29 de Maio, conta a história de um experiente e aclamado actor pelas suas interpretações de Rei Lear, cuja vida se está a aproximar do fim, acabando por partilhar com o público as suas divagações entre o mundo real, o delírio, a fragilidade e a eternidade da vida. No sector da dança, o destaque vai para as obras “Flôr Silvestre” e “Tridade”, ambas da autoria do Grupo de Dança e Teatro Jin Xing (Xangai) e cujas exibições estão agendadas, respectivamente, para os dias 7 e 8 de Maio no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau. Rir em patuá De volta, após um ano em silêncio, está também o Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau. “Patrám pa unga Dia” (Patrão por um Dia) é a obra interpretada em patuá, da autoria de Miguel de Senna Fernandes e que consta da programação deste ano do FAM. À margem da apresentação do programa do FAM, Senna Fernades destacou a importância que é ter a oportunidade de voltar aos palcos por parte dos grupos locais e assegura que, apesar da pandemia, não vão faltar motivos para rir. “Esta peça era para ter como base o que tinha escrito no ano passado, mas achámos que os tempos mudaram e [por isso] arranjámos uma história completamente diferente, para ver se conseguimos fazer rir as pessoas neste contexto. Apesar de ainda andarmos de máscara, há espaço para uma boa risada”, apontou. A história, que é de amor, conta Miguel de Senna Fernandes, anda à volta daquilo que é ser patrão por um dia, mais precisamente de “um Horácio” que, nas vésperas do seu casamento, tem de assumir o papel mais importante da empresa. “Patrám pa unga Dia” sobe ao palco do Grande Auditótio do Centro Cultural de Macau nos dias 15 e 16 de Maio. Arte em família A programação deste ano do FAM inclui ainda uma série de iniciativas para pais e filhos desfrutarem em conjunto. O “Jogo Coloane” da Dream Theatre Association, propõe uma visita guiada por ruelas de Coloane, relembrando a história da indústria de construção naval. Por seu turno, a “Mostra de Espectáculos ao Ar Livre”, que terá lugar no jardim do Mercado de Iao Hon, levará à cena durante três noites consecutivas, inúmeras exibições de dança, capoeira e trechos de ópera cantonense. Os bilhetes para todos os espectáculos da 31,ª edição do FAM podem ser adquiridos online ou por telefone a partir das 10h00 do dia 28 de Março. O sistema de reservas online estará disponível três dias antes.
Penhores | Empregado furta 1,3 milhões de dólares de HK Hoje Macau - 24 Mar 2021 Um funcionário de uma casa de penhores confessou ter furtado 1,3 milhões de dólares de Hong Kong em 2019, mas só nos últimos dias é que o proprietário do estabelecimento apresentou queixa na Polícia Judiciária (PJ). Segundo o jornal Ou Mun, o proprietário só deu pela falta desse montante depois de verificar a contabilidade relativa ao mês de Julho de 2019. Aí terá percebido que o desvio do dinheiro poderia estar relacionado com o seu antigo empregado, de apelido Sou de 31 anos de idade, com quem já não tinha qualquer contacto. O pai do suspeito tomou conhecimento do caso e reembolsou o dono da casa de penhores em apenas 670 mil dólares de Hong Kong, mas ainda assim o proprietário resolveu avançar para a denúncia junto das autoridades policiais. A PJ não encontrou o suspeito, mas, com a ajuda do pai do indivíduo, o homem acabou por ser detido, tendo confessado que usou o dinheiro para pagar dívidas. O caso já foi encaminhado para o Ministério Público.
SMG | Previstos entre cinco a oito tufões este ano Salomé Fernandes - 24 Mar 2021 Espera-se que a época de tufões este ano se estenda até meados de Outubro, com o território a ser afectado por cinco a oito tufões. Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos anunciaram que vão criar um sistema de aviso de tsunamis na segunda metade do ano Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) estimam que este ano Macau seja afectada por cinco a oito tempestades tropicais. A informação foi ontem avançada pelo director dos SMG. “Prevemos que em 2021 a situação de tempestade tropical será normal a relativamente alta. (…). Algumas podem atingir um nível de tufão severo ou superior, o de supertufão. O primeiro ciclone tropical pode ocorrer na primeira quinzena de Junho ou antes”, avançou Leong Weng Kun em conferência de imprensa. Estima-se que o território seja afectado por um supertufão este ano, com maior probabilidade entre Julho e Setembro. Este ano a época de tufões deverá ser “um pouco mais longa” do que o normal, podendo durar até meados de Outubro. De acordo com os SMG, o fenómeno “La Niña” no Oceano Pacífico desaparece gradualmente no Verão, mas não se exclui a possibilidade de regressar no final do ano. Entre Abril e Setembro espera-se que a temperatura esteja normal a relativamente alta, enquanto a precipitação pode variar de normal a relativamente mais baixa. Apesar disso, ficou a ressalva de que podem ainda assim ocorrer “aguaceiros muito fortes”. Os SMG apontam também que a época de chuva “terá início muito em breve” e esperam que a sociedade adopte medidas preventivas, salientando que o surgimento de chuva intensa é “aleatório e imprevisto”. Note-se que os dados apresentados mostram que nos últimos anos a temperatura média anual em Macau foi de 22,8 graus, uma subida de 0,2 graus Celsius comparativamente ao período entre 1981 e 2010. Alerta para tsunami Os SMG apresentaram também os objectivos de trabalho para 2021: optimização de informações meteorológicas, expansão da rede de monitorização, promoção e educação na prevenção de desastres meteorológicos e a criação de um aviso para tsunamis. “Macau não é uma localização ou ponto facilmente afectado por tsunamis, mas no ano passado melhorámos vários avisos. Portanto, queremos melhorar este aviso também”, disse Leong Weng Kun, acrescentando que é preciso contactar com a estrutura de protecção civil. O objectivo é terminar o sistema de alerta de tsunami na segunda metade do ano. Além disso, na época de tufões poderá ser apresentado um novo mapa de trajectória, com espaço ampliado, alertas mais antecipados e a previsão de intensidade das tempestades.
Casinos | Esperado aumento de receitas de massas a partir de Abril Andreia Sofia Silva - 24 Mar 2021 Vários analistas esperam um aumento das receitas de jogo, no segmento das apostas de massas, a partir de Abril, isto à medida que as restrições de circulação nas fronteiras vão sendo levantadas. Segundo o portal GGRAsia, a consultora Sanford C. Bernstein Ltd previu, numa nota publicada esta segunda-feira, que as receitas de jogo terão sido de 5.85 mil milhões de patacas nos primeiros 21 dias de Março, o que perfaz 279 milhões por dia. Também o banco de investimentos JP Morgan estimou que a média das receitas de jogo, por dia, foi de 307 milhões na semana passada, o que representa a terceira semana consecutiva com aumento. “As apostas de massas em Macau melhoraram novamente na terceira semana de Março em relação à semana anterior, mesmo que as apostas no segmento VIP tenham permanecido abaixo do normal”, apontaram os analistas Vitaly Umansky, Kelsey Zhu e Louis Li, da Sanford C. Bernstein Ltd. Além disso, “a média diária semanal das apostas de jogo aumentou 13 por cento e 18 por cento em relação à média diário registada em Fevereiro”. Esta consultora espera ainda “receitas do segmento de massas mais robustas no início do Verão” caso “as restrições de viagens associadas à covid-19 sejam eliminadas e haja um aumento de visitantes”. “Esperamos que o número de visitantes e as receitas de massas aumentem lentamente durante Março e Abril. Mas sem uma grande mudança no sistema de testagem à covid-19 para entrar em Macau, mudanças nos vistos individuais ou vistos para excursões [por parte das autoridades chinesas], e a abertura da fronteira com Hong Kong, as receitas de massas e os números de visitantes manter-se-ão abaixo dos níveis normais”, frisaram.
TSI | Tribunal dá razão a TNR que perdeu blue card por crime de acolhimento Andreia Sofia Silva - 24 Mar 2021 O Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão a uma cidadã filipina que perdeu o blue card pela prática do crime de acolhimento a 6 de Novembro do ano passado. Tal iria implicar a perda de trabalho e a possibilidade de a trabalhadora não residente (TNR) enfrentar dificuldades económicas. Esta “alegara que, com as únicas 3.040,00 patacas que ainda tinha na algibeira, da execução imediata da revogação da autorização de permanência que implicava a proibição legal de trabalhar advinha a perda imediata do rendimento mensal, no valor de 3.500,00 patacas, o único meio financeiro para a sua subsistência em Macau, o que a impossibilitava de continuar a viver, por falta de meios económicos para o seu próprio sustento, em Macau”. A situação iria complicar-se ainda mais pelo facto de a cidadã filipina não conseguir viajar devido à pandemia. “Não podemos passar por cima da questão de saber como é que a requerente poderá ganhar para si e manter a sobrevivência, com o mínimo da dignidade humana, em Macau, se não puder continuar a trabalhar”, lê-se no acórdão do TSI. Desta forma os juízes decidiram pela suspensão da eficácia do despacho assinado pelo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, que determinou o cancelamento do blue card desta TNR.
ONU | RAEM questionada sobre aumento de casos de suicídio de estudantes Salomé Fernandes - 24 Mar 202124 Mar 2021 O Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais da ONU quer que o Governo de Macau dê explicações sobre as medidas de combate à depressão e suicídio de estudantes. Políticas associadas aos direitos laborais e protecção para quem denuncia casos de corrupção também são alvo de interesse A saúde física e mental dos estudantes em Macau captou a atenção da Organização das Nações Unidas (ONU), nomeadamente no que diz respeito ao aumento dos casos de suicídio. O tema consta de uma nova lista de preocupações emitida pelo Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais da ONU. “Indique os esforços realizados para dar resposta ao nível alegadamente elevado de depressão e stress mental, particularmente no contexto da pandemia de covid-19, e para combater o suposto aumento de incidência de suicídio entre estudantes”, lê-se no documento. O pedido de informações alarga-se ao quadro político e legislativo sobre saúde mental, bem como às medidas adoptadas para “combater o estigma associado a pessoas com condições de saúde mental” e “facilitar o acesso a serviços de saúde mental”. Recorde-se que no seguimento de vários casos de suicídio, o Governo criou este ano um grupo de trabalho para o acompanhamento da saúde mental e física dos jovens. Vários deputados têm expressado preocupação com a situação, apelando ao Governo para apurar as causas. Ao nível da educação, pedem-se esclarecimentos sobre as razões para o “decréscimo contínuo da taxa de ingresso no nível de educação primária” e o “aumento da taxa de desistência escolar na educação secundária”. Ferramentas de trabalho É também pedido a Macau que dê respostas sobre o andamento da lei sindical e medidas tomadas para “proibir e proteger contra actos de discriminação, represálias por actividades sindicais ou interferência com o funcionamento de sindicatos”. Note-se que o documento de consulta da lei sindical está a ser analisado pelo Comité Permanente da Concertação Social, que só vai emitir parecer no último trimestre do ano. No seguimento de observações anteriores da ONU, questionam-se ainda quais as medidas para “melhorar as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores migrantes”, e em específico as recomendações de estudos sobre a situação dos empregados domésticos. A lista de perguntas, com vários pontos sobre direitos laborais, incide também sobre as disparidades salariais entre homens e mulheres. No documento, é feito um apelo à RAEM para dar informações sobre os mecanismos de combate à corrupção, e “aumentar a transparência e responsabilização na conduta dos assuntos públicos”. O interesse alarga-se aos casos submetidos ao Comissariado Contra a Corrupção, em particular aos que envolvem oficiais de altos cargos. O Comité quer também saber que medidas foram criadas para proteger os chamados “whistle-blowers” e assegurar a protecção de vítimas de corrupção. Caso tenha pensamentos suicidas e necessite de auxílio, pode ligar para o Serviço de Auxílio da Cáritas, através do número 2852 5222, em chinês, ou do número 2852 5777, em inglês.
Ambiente | Coutinho pede medidas para eliminar autocarros a gasóleo Andreia Sofia Silva - 24 Mar 2021 O deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre as medidas que serão adoptadas nos próximos anos para a eliminação dos autocarros movidos a combustível. “O Governo deve eliminar gradualmente os 859 autocarros movidos a gasóleo para elevar a proporção de combustíveis não fósseis. Pode ainda, atendendo à electricidade que é produzida localmente, recorrer ao gás natural para a produção de electricidade, a fim de se conseguir uma redução significativa das emissões de gases com efeito de estufa. Já existe algum calendário detalhado e planos de acção eficazes?”, pergunta. Pereira Coutinho questiona também o Executivo sobre a existência de um “calendário detalhado e planos de acção eficazes para a instalação dos equipamentos de carregamento para os veículos amigos do ambiente”. No que diz respeito às políticas ambientais implementadas pelo Governo chinês, Pereira Coutinho pede “planos a curto, médio e longo prazo para atingir o objectivo exigido pelo Presidente do país [Xi Jinping] sobre a redução de mais de 65 por cento das emissões de CO2 por unidade do PIB, em comparação com 2005”.
Ho Iat Seng recorda que o cartão de consumo não era popular no início Andreia Sofia Silva e Nunu Wu - 24 Mar 2021 Ho Iat Seng disse ontem, à margem da cerimónia de recepção ao novo comissário dos Negócios Estrangeiros Liu Xianfa, que ainda não há certezas sobre o novo programa de apoios financeiros concedidos à população. O objectivo é reunir consenso ao invés de gerar o caos social, declarou O Chefe do Executivo disse ontem que o Governo não tem ainda certezas de como será o novo plano de apoios financeiros atribuídos à população, afirmando que “gerou diferentes opiniões na sociedade, às quais o Governo continua a prestar atenção”. “O programa causou muita insatisfação, o que, enquanto Governo, lamentamos. Queremos revitalizar a economia e, para apoiar os residentes, já antecipamos a atribuição do cheque pecuniário”, frisou, à margem da cerimónia de recepção do novo Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) chinês em Macau, Liu Xianfa. O Chefe do Executivo referiu a importância do consenso social nesta matéria, depois de a apresentação do plano ter gerado múltiplas críticas. “O plano tem o valor de 500 milhões de patacas e é preciso entregar a alteração à lei do orçamento na Assembleia Legislativa. No ano passado, também houve muitas críticas aos cartões de consumo, pessoas que queriam dinheiro em vez do cartão, ou que não sabiam como o usar. Mas, no fim, reunimos um consenso e lançámos o cartão de consumo.” “Considerámos que este plano iria ajudar Macau e fizemos melhorias. A nossa finalidade é obter consenso, em vez de gerar caos.” Ho Iat Seng disse também que “o cartão de consumo terminou há muito tempo e voltar ao início, com saldo a zeros, implica um grande volume de trabalho. Não é fácil”, declarou. A primeira versão do plano, que visa fomentar a economia local, prevê a atribuição dos cupões de consumo, usados no comércio local através dos meios de pagamento electrónicos. Os residentes, estudantes do interior da China ou trabalhadores não residentes precisam gastar 14.400 patacas entre Maio e Dezembro para obter 4.800 patacas em cupões. Entre lá e cá Ho Iat Seng referiu ainda que Macau está a discutir com as autoridades chinesas o reconhecimento mútuo da vacinação. “Claro que pode haver sempre esse reconhecimento. Entramos na China independentemente da vacina tomada. O problema é a isenção do teste de ácido nucleico depois da toma da vacina. A RAEM continua a negociar com as autoridades. Quando tivermos a isenção do teste de ácido nucleico depois da toma da vacina, os cidadãos chineses também não precisam do teste.” Quanto à nomeação do novo líder dos Negócios Estrangeiros dem Macau, Ho Iat Seng destacou o facto de Liu Xianfa ter desempenhado “importantes cargos”, além de possuir vasta experiência na área da diplomacia. “O Governo da RAEM está confiante que, com o apoio do Governo Popular Central e a cooperação do Comissariado, e através da articulação com a política externa do País, da promoção plena da vantagem institucional do princípio ‘um País, dois sistemas’ e do aproveitamento dos recursos diplomáticos do País, irá intensificar constantemente os trabalhos no âmbito das relações externas de Macau”, afirmou o governante.
Ensino | Governo assegura que rácio professor/alunos está a melhorar Pedro Arede - 24 Mar 202124 Mar 2021 Em resposta a uma interpelação escrita enviada por Sulu Sou, o director dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), Lou Pak Sang, assegurou que o número médio de alunos por turma está dentro do limite de 35 e que o rácio professor/alunos tem vindo a melhorar. “O número médio de alunos por turma, dos diversos níveis de ensino não superior, está dentro do limite de 35, o rácio turma/professor está em conformidade com os objectivos definidos no ‘Planeamento para os próximos 10 anos para o Desenvolvimento do Ensino Não Superior de Macau (2011-2020’ e o rácio professor/alunos tem melhorado de forma contínua”, pode ler-se na resposta. Perante as reservas apontadas por Sulu Sou sobre o facto de o planeamento a médio e longo prazo do ensino não superior não mencionar “o ensino em turmas pequenas”, Lou Pak Sang fez questão de sublinhar que a aprendizagem em turmas reduzidas “não implica simplesmente uma redução do número de alunos por turma”, mas que implica também a “alteração dos métodos pedagógicos”. O director da DSEDJ reitera ainda que o Governo está atento à influência que o aumento da taxa de natalidade na região está a ter sobre a procura de vagas escolares e que a longo prazo irá “promover a optimização do planeamento de turmas das escolas” com o objectivo de “coincidir com a procura real da sociedade”. Tudo sob controlo Acerca da preocupação demonstrada pelo deputado relativamente à falta de espaço para os alunos desenvolverem actividades, sobretudo nas escolas que funcionam em pódios de edifícios, a DSEDJ assegura que tem “melhorado continuamente” o ambiente escolar nesses estabelecimentos de ensino. Já sobre o planeamento de terrenos para fins educativos, tema sobre o qual Sulu Sou questionou acerca da utilização dos terrenos do canídromo e das novas zonas urbanas, Lou Pak Sang referiu que a DSEDJ tem mantido a comunicação, tanto com a entidade responsável pelo planeamento urbanístico, como com as escolas necessitadas, com o objectivo de, no futuro, articular a sua acção com a publicação do novo Plano Director de Urbanização. Por último, Lou Pak Sang vinca ainda que não há falta de recursos para apoiar os alunos do ensino particular, já que existe financiamento destinado à contratação de terapeutas, agentes de aconselhamento psicológico, pessoal de apoio e a proporcionar serviços de transporte e refeições.
APN | Câmara do Comércio e FAOM analisam as “duas sessões” João Luz - 24 Mar 2021 A Associação Comercial de Macau e a Federação das Associações dos Operários de Macau organizaram palestras de análise e interpretação do espírito das decisões saídas das últimas reuniões da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e da Assembleia Popular Nacional. O patriotismo foi o fio condutor das intervenções Na segunda-feira, a Associação Comercial de Macau e a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) organizaram dois eventos, separados, sobre as sessões da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) e da Assembleia Popular Nacional (APN), que decorreram em Pequim no início do mês. Na palestra da associação comercial, discursaram algumas figuras ilustres do panorama político de Macau, incluindo Kou Hoi In, Ma Iao Lai, Angela Leong, Si Ka Lon e Tina Ho. O empresário e membro de Macau do Comité Permanente da CCPPC e presidente da Associação Comercial de Macau, Ma Iao Lai, declarou que os membros de Macau apoiam com firmeza a decisão da APN de alterar a lei eleitoral de Hong Kong, com a implementação do princípio “Hong Kong governado por patriotas” e o fortalecimento do princípio “Uma País, Dois Sistemas”. De acordo com o jornal Ou Mun, o empresário afirmou que Macau também tem de consolidar as fundações políticas e sociais assentes no patriotismo, e ser governado por patriotas de forma a manter intacto o princípio “Um País, Dois Sistemas”. Na mesma ocasião, Tina Ho, que também participou nas duas sessões, afirmou que Macau desempenha um papel importante na implementação do 14.º plano quinquenal da China. A líder da Associação Geral das Mulheres de Macau, e irmã do Chefe do Executivo, mencionou que Macau deve agarrar as oportunidades nascidas do desenvolvimento do país, em particular na zona vizinha de Hengqin, e participar na construção de “Uma Faixa, Uma Rota”, sem sugerir de que formas. Operários unidos A sessão organizada pela FAOM foi concorrida, contando com a participação de cerca de 400 pessoas, segundo o Ou Mun. A dirigente Ho Sut Heng argumentou pela necessidade de detalhar os sucessos conseguidos pelo país ao longo do ano passado, apesar das adversidades do complexo cenário internacional e dos desafios trazidos pela pandemia. Ho Sut Heng entende que sob a liderança do Comité Central do partido, unido em torno do Presidente Xi Jinping, chineses de todos os grupos étnicos trabalharam arduamente para vencer a luta contra a pobreza e construir uma sociedade assente no bem-estar. Chan Kam Meng igualmente membro de Macau que participou nas duas sessões ligado aos operários, afirmou que a RAEM tem de cumprir o seu desígnio nacional e diversificar a economia.
A Santa Aliança | União Europeia, EUA, Canadá e Reino Unido adoptam sanções contra a China Hoje Macau - 24 Mar 202124 Mar 2021 Um espectro assombra o Ocidente – o espectro da China. Todas as potências fizeram uma santa aliança para exorcizar esse espectro: União Europeia, EUA, Canadá, Reino Unido adoptam as mesmas sanções. Duas coisas resultam desse facto: a China já é reconhecida por todas as potências ocidentais como sendo ela própria uma potência; chegou o tempo dos chineses publicarem abertamente, diante do mundo todo, os seus pontos de vista, os seus objectivos e as suas tendências. Assim acontece O Conselho da União Europeia (UE) aprovou na segunda-feira sanções contra 11 pessoas e quatro entidades por violação dos direitos humanos, sendo a primeira vez desde Tiananmen que há visados na China por medidas restritivas. Segundo um comunicado do Conselho, os casos de violações e atropelos graves de direitos humanos visados por sanções incluem detenções arbitrárias em grande escala, em particular de uigures em Xinjiang, na China. Esta é a primeira imposição de sanções da UE à China desde o embargo de venda de armamento de 1989, na sequência dos incidentes da Praça de Tiananmen, em Pequim. As pessoas e entidades constantes da lista estão sujeitas ao congelamento de bens na UE e os indivíduos estão ainda sujeitos à proibição de viajar para a UE. Além disso, é proibido a pessoas e entidades da UE colocarem fundos à disposição de quem esteja incluído na lista de sanções. O Reino Unido e os Estados Unidos juntaram-se também na segunda-feira, numa acção conjunta com a UE e o Canadá, na imposição de sanções a responsáveis chineses por abusos dos direitos humanos contra uigures. O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, disse que as medidas são parte de uma “diplomacia intensiva” do Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e os 27 países da UE para forçar a acção num contexto de evidências crescentes de graves violações de direitos humanos contra o povo uigure. As sanções de Londres, a impor imediatamente, incluem proibição de viagens e congelamento de bens contra quatro responsáveis chineses, disse Raab no parlamento britânico. Por seu lado, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse que “uma resposta transatlântica unida envia um forte sinal para aqueles que violam ou abusam dos direitos humanos”, adiantando que serão tomadas “outras acções em coordenação com parceiros que pensam da mesma forma”. “Continuaremos a apoiar os nossos aliados em todo o mundo no apelo ao fim imediato dos crimes da RPC e à justiça para as muitas vítimas”, disse ainda num comunicado. Andrea Gacki, do Departamento do Tesouro norte-americano, indicou que “as autoridades chinesas continuarão a sofrer consequências enquanto atrocidades ocorrerem em Xinjiang”, ao anunciar sanções contra dois responsáveis chineses. Wang Junzheng e Chen Mingguo são associados a “graves violações dos direitos humanos”, incluindo “detenções arbitrárias e graves maus-tratos físicos”. Crítica da diplomacia política Contudo, a China respondeu de imediato, convocando o embaixador da UE em Pequim, Nicolas Chapuis, para apresentar uma queixa formal sobre as sanções, anunciaram ontem as autoridades chinesas. O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, condenou o que disse serem “sanções unilaterais baseadas em mentiras e notícias falsas inconsistentes com a realidade e a lei” e que na segunda-feira levaram à retaliação por parte da China contra dez pessoas, incluindo cinco eurodeputados. Qin instou a UE a “reconhecer a gravidade dos seus erros e corrigi-los”, bem como a “abandonar a confrontação para não causar mais danos aos laços entre os dois blocos”. A China retaliou a atitude da União Europeia anunciando sanções contra dez pessoas, incluindo cinco membros do Parlamento Europeu, em represália às sanções impostas pela União Europeia (UE) a Pequim por supostas violações dos direitos humanos dos uigures na região autónoma de Xinjiang. Entre os sancionados pelas autoridades chinesas, que não poderão entrar no país asiático, estão os eurodeputados alemães Reinhard Bütikofer (presidente da delegação do Parlamento Europeu para as relações com a China) e Michael Gahler, o francês Raphaël Glucksmann, o búlgaro Ilhan Kyuchuk e a eslovaca Miriam Lexmann, além de outros políticos, investigadores e quatro instituições. O investigador alemão Adrian Zenz, cujos relatórios sobre os uigures em Xinjiang provocou fortes protestos de Pequim, também foi sancionado. “Depois de assistir a uma dura troca de palavras entre autoridades chinesas e norte-americanas no Alasca na semana passada, e a réplica da China contra as acusações dos EUA em questões como Xinjiang e Hong Kong, a UE devia ter aprendido a sua lição sobre como lidar com a China”, alertaram especialistas chineses, observando que se “Pequim não teme as sanções de Washington, o que dizer de uma Bruxelas muito mais fraca”. O número de indivíduos e entidades que a China colocou na lista de sanções superou em muito os da UE, o que, segundo as mesmas fontes, “mostra a determinação da China em defender os seus interesses e lutar inabalavelmente contra a campanha de desinformação e difamação”. “Em comparação com as sanções europeias, as sanções da China são mais fortes e mais extensas, pelo menos em termos do escopo dos assuntos sancionados”, referiu Cui Hongjian, director do Departamento de Estudos Europeus do Instituto de Estudos Internacionais da China. “A lista estende-se das figuras-chave que têm desafiado a China sobre os assuntos de Xinjiang até aos que dentro da UE têm interferido repetidamente nos direitos humanos da China, de várias maneiras há muito tempo. As sanções têm como objectivo enviar um forte sinal de alerta à UE, instando-a a parar de interferir nos assuntos internos da China, e não apenas nas questões relacionadas com Xinjiang”, sublinhou Cui. Wang Jiang, do Instituto de Direito da Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse que a China também usará argumentos legais para defender os direitos legítimos de indivíduos e entidades chinesas. “Também é possível que processem as pessoas que promovem as sanções, assim como os residentes de Xinjiang que espalham os boatos por perdas económicas e de reputação”. “Uma vez que os procedimentos legais estejam em andamento, o réu terá que apresentar provas, que demonstrarão que as sanções sobre Xinjiang são baseadas em rumores”, concluiu Wang. Entretanto, a Assembleia Nacional Popular informou que vai acelerar o seu trabalho sobre as leis contra sanções externas e interferência, de acordo com Wang. “A China pode aprender com a Rússia no combate às sanções estrangeiras, como conceder ao chefe de estado autoridade para alocar recursos administrativos no combate a essas sanções e proteger os seus cidadãos e empresas, e também acelerar a formulação da legislação anti-sanções”. Um duvidoso capital “Sentindo-se deixada para trás, a UE quer destacar a sua existência política pressionando por sanções sobre “questões de direitos humanos” contra a China e a Rússia, pois vê nos direitos humanos uma arma que pode empunhar para se envolver na competição entre superpotências”, comentou ainda Cui Hongjian, acrescentando que a UE encara os direitos humanos como uma “arma barata, pois não tem o poder financeiro e militar de Washington”. “Mas a arrogância da UE cegou-a para o facto de não estar em posição de apontar o dedo ao desenvolvimento dos direitos humanos na China, já que também se encontra atolada em graves crises de direitos humanos, como o tratamento de muçulmanos nos seus próprios países e a sua miserável resposta à pandemia”, referiu o académico. Cui Hongjian vai ainda mais longe, lembrando o passado recente: “Os nazistas alemães conduziram um massacre planeado em grande escala de judeus durante a Segunda Guerra Mundial e 6 milhões morreram no Holocausto; colonos alemães em 1904 massacraram numerosos namibianos para reprimir um levantamento popular e mataram mais de 100 mil pessoas em 1908. Outros países europeus também cometeram crimes infames nas suas histórias coloniais”. Moscovo e Pequim pedem reunião do Conselho de Segurança A China e a Rússia pediram uma reunião com os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU para explorar problemas comuns da Humanidade através do diálogo, para manter a “estabilidade global”. Num comunicado conjunto divulgado ontem, no final da visita de dois dias do ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, a Pequim, os dois países expressaram que “no contexto de crescente agitação política internacional” é necessário convocar os membros do Conselho de Segurança das Organização das Nações Unidas (ONU). “Pedimos às maiores potências mundiais, em especial aos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que fortaleçam a confiança mútua e assumam a liderança no momento de salvaguardar a lei e a ordem internacionais, e no quadro da legislação internacional”, refere o comunicado. Os dois países consideram que “o mundo entrou num período de mudanças turbulentas” em que a “propagação do novo coronavírus acelerou a evolução do panorama internacional, desequilibrou o sistema de governação global e atingiu o processo de desenvolvimento económico”. Perante a situação, Pequim e Moscovo pedem à “comunidade internacional” que deixe de lado as diferenças, no sentido de “uma maior coordenação e da manutenção da paz, assim como pela construção de uma ordem internacional mais justa, ‘multipolar’, democrática e razoável”. Na opinião da China e da Rússia, “a forma de abordar os assuntos internacionais deveria basear-se em princípios reconhecidos pela legislação internacional”, que consideram essenciais para o desenvolvimento da sociedade. Deste modo, Lavrov e o homólogo chinês, Wang Yi, consideraram a “democracia” como “uma conquista do desenvolvimento humano”, mas apontaram que “não existe um padrão para o modelo democrático” e que a “ingerência em assuntos internos dos Estados soberanos com o pretexto de promover a democracia é inaceitável”. Por seu lado, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Hua Chunying, negou que Pequim tenha convidado Lavrov em nome dos Estados Unidos ou que tenha concordado em organizar a visita assim que os diplomatas chineses terminassem o encontro no Alasca. “O desenvolvimento das relações entre a China e a Rússia não aponta para nenhum outro país. Não somos como outros países que gostam de montar esquemas onde há conspiração tácita”, disse sublinhou. No início deste mês, numa conferência de imprensa, Wang Yi referiu que os laços sino-russos estão “unidos como uma montanha”, que as boas relações entre Pequim e Moscovo são “imperativas nas atuais circunstâncias” e que a associação pressupõe um “pilar para a paz mundial”. Já Hua Chunying destacou que os dois países “caminham lado a lado” e que se “opõem à hegemonia e à intimidação”. O objectivo de ambas as potências, acrescentou, é dissuadir outros países de os pressionar, sobretudo no que diz respeito aos assuntos internos. Por um mundo multipolar “Não é muito sensato sancionar a Rússia e a China”, afirmou Lavrov em declarações à chegada a Guilin, assegurando que Pequim e Moscovo “estão à procura de uma ordem internacional “justa e democrática”, regida pelas interacções entre os países. “E o modelo de interação entre a Rússia e a China é livre de preconceitos ideológicos, não está sujeito ao oportunismo e não é dirigido contra ninguém”, disse o ministro russo. Nesse sentido, espera-se que ambos os países renovem por mais cinco anos o Tratado de Boa Vizinhança e Cooperação Amigável assinado em 2001, disse Lavrov. Nas declarações, o chefe da diplomacia russa atacou o Ocidente, em especial os Estados Unidos, por Washington pretender, “a qualquer custo”, preservar o domínio na economia global e na política internacional, “impondo a sua vontade a todos e em todos os lugares”. Segundo Lavrov, o mundo está a atravessar “mudanças complexas” com a “crescente influência dos novos centros” económicos, financeiros e políticos que, defendeu, estão a levar o mundo para “um sistema verdadeiramente multipolar”. Nesse sentido, defendeu a promoção e o uso de outras moedas além do dólar norte-americano e da mudança dos sistemas de pagamentos “controlados pelo Ocidente” para reduzir os riscos de sanções. De acordo com Lavrov, as relações entre Moscovo e Pequim estão “no seu melhor de toda a história” e que o “diálogo mutuamente respeitoso deve servir de exemplo”. Presidente do Parlamento Europeu ameaça com “consequências” O presidente do Parlamento Europeu (PE), David Sassoli, anunciou que “haverá consequências” às sanções “inaceitáveis” impostas por Pequim à instituição em retaliação a medidas adoptadas no Conselho da UE. “As sanções da China a eurodeputados, à Subcomissão dos Direitos Humanos e a entidades da UE são inaceitáveis e terão consequências”, disse Sassoli, no Twitter. “Os direitos humanos são inalienáveis”, sublinhou, salientando que os eurodeputados e as entidades em causa expressaram opiniões, exercendo os seus direitos democráticos.
Península da Coreia | Pequim diz a Pyongyang que quer trabalhar para a paz Hoje Macau - 23 Mar 2021 O Presidente chinês, Xi Jinping, comunicou ontem ao líder norte-coreano, Kim Jong-Un, que a China está disposta a trabalhar com a Coreia do Norte e “outras partes implicadas” para resolver o problema da Península da Coreia. De acordo com a Agência Nova China, Xi Jinping e Kim Jong-Un “trocaram mensagens verbais” na embaixada de Pyongyang em Pequim dois dias depois das conversações no Alasca entre as delegações dos Estados Unidos e da República Popular da China. “A China está disposta a fazer novas contribuições para a paz, estabilidade e desenvolvimento e prosperidade regionais”, disse Xi Jinping. Por outro lado, segundo o jornal Global Times, Kim Jung-Un assegurou que deseja fortalecer “os laços entre a China e a Coreia do Norte, numa postura inquebrável do país e do povo”. Nos contactos diplomáticos que decorreram no Alasca, reunião que começou de forma fria mas que terminou com a criação de um grupo de trabalho sobre alterações climáticas, os assuntos sobre a Coreia do Norte foram abordados pelas duas partes, informou no sábado a televisão chinesa CCTV. O Presidente da Coreia do Sul, Mon Jae-in, disse em Janeiro que o Governo de Seul continua disposto a reunir-se com representantes norte-coreanos “onde e quando seja” para reactivar os laços e o processo de desarmamento de Pyongyang, num momento em que o diálogo está praticamente congelado. O líder norte-coreano não fechou a porta ao restabelecimento do diálogo com Seul, mas instou a Coreia do Sul a abandonar as manobras militares conjuntas com os Estados Unidos como condição para voltar a retomar os contactos. Desde o fracasso da Cimeira de Hanói sobre o programa nuclear, em 2019, entre Kim Jong-Un e o ex-presidente norte-americano Donald Trump, Pyongyang endureceu posições face a Seul.
Português | Distinguidas três licenciaturas como de “primeira classe” Hoje Macau - 23 Mar 2021 O Ministério da Educação chinês distinguiu pela primeira vez três licenciaturas em língua portuguesa lecionadas em universidades chinesas como sendo de “primeira classe”. A Universidade de Línguas Estrangeiras de Dalian, no nordeste da China, foi a última a anunciar, no domingo, que o seu curso de português foi escolhido, juntamente com um programa de inglês para negócios. O ministério chinês da Educação não divulga publicamente a lista das licenciaturas de “primeira classe”. A lista é enviada a todas as instituições de ensino superior do país, que podem escolher divulgar os seus cursos que foram distinguidos. No início de Março, a Universidade de Estudos Estrangeiros de Guangdong, província do sul da China adjacente a Macau, já tinha anunciado a inclusão na lista da sua licenciatura em português. Poucos dias depois, foi a vez da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai revelar que o seu programa de língua portuguesa tinha também sido escolhido. O ministério chinês criou em Abril de 2019 um plano para distinguir, até 2021, 10 mil licenciaturas de “primeira classe” a nível nacional e 10 mil licenciaturas de “primeira classe” a nível provincial e regional. No início de Março, a Universidade de Estudos Internacionais de Xi’an, anunciou que a sua licenciatura tinha sido considerada de “primeira classe” pela província de Shaanxi, no centro da China. O Ministério da Educação chinês autorizou a abertura de duas novas licenciaturas em língua portuguesa, elevando para mais de 30 o número deste tipo de cursos na China continental. Os dois novos departamentos de português foram criados na Universidade Normal de Hebei e na Universidade Normal de Hunan. As licenciaturas arrancam oficialmente em Setembro. No total, mais de 1.500 estudantes chineses frequentam agora cursos de português no país asiático.
Hong Kong | Consulado anuncia atendimento remoto para comunidade portuguesa Hoje Macau - 23 Mar 202123 Mar 2021 O consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong anunciou ontem nas redes sociais o início do serviço de atendimento remoto para os cidadãos portugueses que residem em Hong Kong e que, neste momento, se vêem impossibilitados de renovar a sua documentação devido ao fecho de fronteiras. “Depois de ultrapassadas todas as questões técnicas e de segurança informática, teve hoje [ontem] início o novo serviço de permanências consulares por atendimento remoto entre este Consulado-Geral e o Consulado Honorário de Portugal em Hong Kong.” O comunicado acrescenta ainda que esta é uma “solução provisória para satisfazer as necessidades e os pedidos mais urgentes para renovação de passaporte e de cartão de cidadão aos utentes nacionais residentes na RAEHK”. Esta medida estará em vigor “até ao momento em que for possível retomar as normais permanências consulares mediante a deslocação da funcionária deste Consulado-Geral ao Consulado Honorário em Hong Kong, logo que sejam canceladas as restrições fronteiriças entre as duas Regiões Administrativas Especiais”. No comunicado são ainda deixados contactos para quem tiver urgência na renovação de documentação: info@hkportugalcon.org ou do telefone +852 2587 7182. Conforme o HM noticiou a semana passada, há vários cidadãos portugueses em Hong Kong que necessitam de um novo passaporte para poderem ter o visto de trabalho renovado, além de que há muitos pais que ainda não conseguiram registar os seus filhos como cidadãos portugueses.
Plano de estabilização económica para 2021 (I) David Chan - 23 Mar 2021 A 15 de Março o Governo anunciou o lançamento o “Plano de Garantia de Emprego, Estabilização da Economia e Asseguramento da Qualidade de Vida da População para 2021”, que inclui distribuição de verbas, plano de promoção do consumo local (plano PCL), aperfeiçoamento das competências profissionais e medidas para beneficiar a população a nível individual e a nível empresarial. O primeiro ponto do plano 2021 é a comparticipação pecuniária. O Governo espera, a partir de Abril, vir a investir 7,235 mil milhões de patacas, atribuindo a cada residente permanente 10.000 patacas anuais e 6.000 a cada residente não permanente. O Plano de Comparticipação Pecuniária, que já vigora em Macau há vários anos, mantém-se este ano e continua a ser muito bem recebido. Embora tenha havido rumores de que este montante iria ser atribuído na forma de cartões de consumo, esta modalidade acabou por não prevalecer e o apoio continua a ser dado em dinheiro. Anteriormente, o cartão de consumo tinha um limite de 300 patacas diárias, e era difícil pagar bens ou serviços de valor superior a este limite. Além disso, as 10.000 patacas anuais que cada residente permanente recebe já se tornaram parte integrante do orçamento das famílias. O cancelamento desta comparticipação só iria desconcertar as pessoas. A manutenção do Plano de Comparticipação Pecuniária prova que o Governo de Macau tem em consideração a vontade popular. O segundo ponto do plano 2021 é a promoção do consumo local (PCL), e subdivide-se em três acções: descontos no cartão de consumo (DCC), descontos para séniores e ainda alimentação, alojamento e viagens para os residentes de Macau. O Governo espera investir no plano DCC, a lançar em Maio e que estará em vigor até ao final do ano, 5 mil milhões de patacas. Terá a duração de 8 meses. Os residentes, os trabalhadores imigrados, e os estudantes de fora de Macau também podem ser integrados neste plano. Após gastarem 50 patacas, podem receber 5 cupões de 10 patacas cada; se gastarem 100 patacas podem receber 10 cupões, e assim sucessivamente. Posteriormente, depois de gastarem 30 patacas podem usar um cupão de 10; se gastarem 60, podem usar dois cupões, sempre nesta proporção. Os cupões são válidos por 15 dias. O limite mensal em cupões é de 600 patacas e o limite diário de gastos que podem usufruir deste benefício é de 200 patacas. Com base nas 600 patacas diárias, cada residente de Macau pode obter 4.800 patacas em cupões ao longo destes 8 meses. O objectivo do plano DDC é triplicar o consumo. Este plano é muito bom. Estimula a economia premiando exponencialmente o consumo. Mas, mesmo assim, ainda há quem lhe aponte alguns defeitos. Os críticos afirmam que a pandemia afectou profundamente várias pessoas. Se não houver um subsídio ao consumo inicial (para além da comparticipação pecuniária), como é que as pessoas podem obter os cupões subsequentes? Mas mesmo que haja este subsídio, subsiste a necessidade de estar constantemente a fazer cálculos aritméticos para perceber a melhor forma de obter cupões, que expiram ao fim de 15 dias. Todos estes inconvenientes podem diminuir a vontade de consumir. Assim, a melhor maneira seria poder deduzir os cupões directamente na primeira compra. Não seria uma novidade, porque o cartão sénior funciona desta forma. Claro que se voltássemos aos cartões de consumo eliminaríamos estes problemas. No entanto, os cartões de consumo que usámos o ano passado não triplicavam o valor das compras. Do ponto de vista da recuperação da economia e da promoção do consumo, o plano dos cupões será melhor do que os cartões de consumo. Continua na próxima semana. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau Blog:http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Concentração Anabela Canas - 23 Mar 2021 Vagueio pela casa de mim orvalhada não sei se eu se esta vida aqui disposta. De um certo poema de vazio. E é como se por muitos dos momentos em que me contento em enfrentar-me tudo reparando finalmente que em mim existo me diga que é pouco quando queria de mim fazer a suficiência que não vem de outras paragens. Onde andam os outros que tanto se ausentam onde andam os espelhos cobertos de invisibilidade eu neles eles de mim e assim mais sós esvaziados de imagens que dizem como estou a gastar-me. Nada é monótono nem contínuo desfiar de dias sempre encontrar as mesmas páginas irresolutas e sempre este grito que não sai por civismo e hábito. As palavras custam a encontrar o timbre prolongado de socorro e acusação. Ao que de outro não chega ao que de outro se alimenta da minha respiração. Em que me concentro devagar. Mas nem sei se de mim há ar puro que sirva a alguém quando assim me vejo com as palavras diárias sem novidade sem extensão que as liberte daquilo que disparam. Deviam liberdade a esta boca cheia do que desce de uma mente em círculos. Maldigo-as porque são pobres que sempre voltam sem os ter ensinado a ser independentes. Na mesma pobreza insuficiente. O que se quer das palavras senão que resolvam se revolvem devem alivia se descrevem devem entender e se compreendem devem sair para viver. E não voltar. Ideias amantes têm connosco uma relação de hábito. Dão-se ares de que nos pertencem à casa, reclamam dos vinhos e reparam numa ruga nova mas recusam um novo recanto. Um parágrafo, um itálico. Do corpo. Penso-as hipócritas a maquilhar rostos degradados repetidos e vãos. Espreitam em vão de escada por isso a passagem e voltam a enrolar-me os braços em volta e voltam a repetir-me falsas cumplicidades aos ouvidos cansados. Mas eu não as queria mais e por vergonha por não querer ferir-me na sua hipotética lealdade duvidosa mas possível tenho no fundo um medo de que se forem não voltem nunca mas mesmo nunca mais e delas venha a precisar. Que há tantas outras mas algumas me são amantes do costume e não sei se sei passar a outros braços e a outros fluidos de aroma diferente. É um vício o conforto de uma intimidade. Um abismo tudo o que se avizinha em volta uma temida dificuldade em descobrir o desconhecimento e uma apavorada dúvida de poder ser aceite amada e desvendada. Por outras palavras feitas. Ideias que cheguem desconhecidas e bravas em estado bruto. Mesmo se de desvendar já não se faz o gesto de anteriores palavras. Amantes. Não as deveria deixar andar com a chave de casa para entrarem e saírem a seu capricho e gosto. Há dias em que não as quero. Há dias em que não quero outras. Há aqueles dias em que me são indiferentes e precipita-se a vertigem de um certo não sei o quê de afecto pela superfície das coisas. Não quero as profundidades sempre presentes e não quero os rostos maquilhados delas a encobrir a idade. Tão velhas a ficar como tudo ou mesmo eu. Repetidas e gastas e de dentro algo tende a rebelar-se das novas gerações de mim como em juvenil revolta de afirmação. De retrocesso de não querer o gato irisado na pele nem o tédio de tanto sentir sem saída. Em que eu preciso de revirar todo o eu sacudir de pernas para o ar como roupa despida para extrair dos bolsos toda a carga meio esquecida a fermentar poeiras e a dar de um certo eu esta ideia vencida. Depois eu penso qualquer outra coisa como ou naquela expressão da Pina Bausch: “Dance, otherwise you’re lost.”. E danço.
Fernão de Magalhães no Índico José Simões Morais - 23 Mar 2021 Este artigo complementa o publicado a 25 de Janeiro cujo título era ‘Fernão de Magalhães com Francisco de Almeida’, tendo então Afonso de Albuquerque conquistado em 1507 Ormuz. O Vice-Rei D. Francisco de Almeida, “embora fosse sua intenção desde o início submeter o rei de Ormuz à suserania portuguesa, pretendia fazê-lo por meios diplomáticos, sem violência nem conquistas, pelo menos enquanto não tivesse garantido o do Malabar”, segundo Joaquim Candeias Silva, que refere, “demonstra aqui o seu grande pragmatismo de administrador, mais do que de político, defendendo um Estado economicamente sólido, mercantilista, com a balança comercial favorável.” Já sobre Afonso de Albuquerque diz, “manifestara grandes dificuldades para se impor, quer aos seus subordinados [três dos cinco capitães em Ormuz abandonaram-no em Fevereiro de 1508 por discordarem dos seus métodos] quer aos chefes locais”, que o achavam pessoa de má-fé e sem palavra pois, mesmo negociada a paz com Cogeatar, vizir e capitão de Ormuz, continuava a mover-lhe guerra. Ocupado a construir o forte em Ormuz, Albuquerque descurara o serviço que lhe competia, tanto no policiamento marítimo da entrada do Mar Vermelho, como encontrar lugares onde fosse proveitoso o assentamento comercial, preferindo a guerra às pacíficas conversações para o trato. Assim, por seu desleixo, a armada do Sultão do Egipto entrou no Mar Arábico sem ter sido detectada e em Março de 1508 apanhou de surpresa Lourenço de Almeida em Chaul, matando-o, após derrotar a frota dentro do porto. “Em finais de Outubro de 1508 chegaram a Cochim algumas naus do Reino e por elas soube o vice-rei que D. Manuel o mandava regressar a Portugal na nau S. João, que para o efeito fora expedida de Lisboa a 9 de Abril, sob o comando geral de Jorge de Aguiar. Nesta nau iam também os pormenores acerca da transmissão de poderes ao novo governador <& o mais que avia de fazer>”, refere Joaquim Candeias Silva, que adita, “Jorge de Aguiar ia nomeado para andar de armada no cabo Guardafui [entrada do Mar Roxo], em substituição de Afonso de Albuquerque, e para lhe suceder quando este completasse o seu triénio de governador.” Na Índia, os servidores do Vice-Rei viram como divina providência a nau S. João ter-se perdido, pois viviam já numa intranquilidade e medo perante o que lhes reservava o futuro com o próximo governador, de temperamento irascível e vingativo, e por isso pediam ao ainda chefe para ficar e não entregar o comando a Afonso de Albuquerque, por ser inábil para a governança. Estava-se na segunda semana de Dezembro de 1508 e como Albuquerque ainda não chegara a Cochim, o Vice-Rei, por ser já tarde para apanhar a monção favorável e fazer em segurança a viagem de regresso ao reino, decidiu ir ao território de Cambaia vingar a morte do filho Lourenço. Magalhães acompanhou-o no ataque a Dabul e a 2 de Fevereiro de 1509 a Diu. D. Francisco de Almeida a 8 de Março regressou em glória a Cochim, onde já Albuquerque o esperava e logo lhe exigiu, antes de passar por a porta da fortaleza, a entrega do governo. Como era ainda Vice-Rei, mandou ficar para depois essa conversa, pois precisava de descansar e dar de jantar aos que com ele vinham. Os dias seguintes foram de festa e celebração, recebendo congratulações do Rei de Cochim. Entretanto, deixou bem claro só ali ainda estar pois o barco para o levar de volta não aparecera, determinando partir no início do Verão, quando chegassem as naus do reino, mas só ao embarcar entregaria o governo a quem o Rei D. Manuel mandasse. No preparo da carga para levar, o Vice-Rei teve bastante dificuldade em conseguir pimenta, pois esta não aparecia devido à sabotagem dos subordinados de Albuquerque. Estes induziram também o Rei de Cochim a deixar de reconhecer D. Francisco de Almeida como legítimo governador, mostrando-lhe a carta-patente que D. Manuel mandara a dar-lhe conta da ordem de substituição. Mar de Bengala Fernão de Magalhães estava em Cochim desde que viera de Diu, assistindo a toda esta agitação política e diplomática, quando a 20 de Abril de 1509 chegou a expedição de Diogo Lopes de Sequeira com quatro navios a caminho de Malaca, onde ia estabelecer um tratado comercial, por ser o mais importante dos portos na ligação entre o Índico e o Pacífico. Até então, a acção dos portugueses quedara-se no Mar Arábico e só por uma vez se fizera a tentativa de explorar o resto do Oceano Índico, quando Lourenço de Almeida procurou navegar no Mar de Bengala. Refere Damião Peres, em História dos Descobrimentos Portugueses, “O Cabo Comorim, extremidade austral da península indiana, foi atingido nos fins de 1505, por uma frota em cujo comando o Vice-Rei da Índia investira seu filho, D. Lourenço de Almeida, incumbindo-o de fiscalizar nas Maldivas o comércio naval que dos portos do Índico Oriental e das ilhas da Indonésia por ali se fazia. Errando caminho, a frota foi arrastada por correntes marítimas àquele Cabo, mandando então o capitão-mor velejar para a ilha de Ceilão, atingido no seu setentrional porto de Gale.” Foram estes os primeiros portugueses no Índico oriental, mas a exploração do Golfo de Bengala só ocorrerá em 1516 por João Coelho, quando atingiu o delta do Rio Ganges. Magalhães embarcou em Cochim com o amigo Francisco Serrão na expedição de Lopes de Sequeira, a qual foi reforçada com alguns navios e partindo em Agosto de 1509, passaram pelas ilhas de Nicobar, por os portos de Pacém e de Pedir na grande ilha de Samatra, arquipélago da Indonésia, antes de chegarem a 11 de Setembro a Malaca. Aí, os locais prepararam uma cilada aos portugueses que, avisados por os chineses do plano para destruir a frota, conseguiram os dois amigos, Sequeira e outros, fugir em dois barcos para a Índia, deixando dezoito portugueses prisioneiros em Malaca. De novo em Cochim, ainda o Vice-Rei não entregara o governo a Afonso de Albuquerque, que só tomaria posse a 29 de Outubro de 1509, ou a 4 de Novembro, segundo Joaquim Candeias Silva, em O Fundador do Estado Português da Índia D. Francisco de Almeida 1457(?)-1510, de onde provem muitas das informações deste artigo. O 1.º Vice-Rei da Índia Francisco de Almeida (1/11/1505-29/10/1509) partia de Cochim a 19 de Novembro de 1509 e dirigindo-se “a Cananor, onde acabou de abarrotar, dali desaferrou no primeiro dia de Dezembro desse ano de 1509.” Após dobrar o Cabo da Boa Esperança, foi à Aguada do Saldanha onde a 1 de Março de 1510, devido ao roubo de gado por uns marinheiros, os habitantes mataram 65 portugueses, entre eles D. Francisco de Almeida e mais dez capitães. Afonso de Albuquerque tornou-se Governador do Estado da Índia portuguesa e como prioridade estabeleceu conquistar Ormuz, Goa e Malaca, para erguer o grande império no Oriente. Em Ormuz deixara em 1508 o forte meio feito; Goa era um importante porto a meio da costa ocidental da Índia com fortes ligações à Arábia; e Malaca, onde estavam 18 portugueses presos, dava acesso ao Oceano Pacífico.