“Oriente Místico de Chaos Balós”, um livro que explora os primórdios das relações sino-lusófonas

Chama-se “O Oriente Místico de Chaos Balós” e é o novo livro de Pedro Daniel Oliveira, jornalista em Macau. Esta obra, publicada na Amazon Books, revela a viagem de João de Barros, um português do século XVI, de Portugal para Goa

 

No romance “O Oriente Místico de Chao Balós”, publicado ontem na Amazon Books, o jornalista português Pedro Daniel de Oliveira relata os primórdios das relações sino–lusófonas, marcadas por choques culturais, mas também interesses comuns no comércio e segurança.

O enredo gira à volta de João de Barros (Chao Balós, na língua siamesa), um português do século XVI, que deixa a sua terra natal, Alenquer, no Reino de Portugal, e parte para Goa, na Índia, onde se dedica à mercancia. Mais tarde, estabelece-se em Odiaa (Ayutthaya), então capital do Reino do Sião, atual Tailândia.

“A China ganha importância capital nesta altura, dado que o herói vai diversas vezes ao porto de Cantão [sul da China] fazer as mercadorias, tendo como escala o porto da Veniaga (ou ilha de Tamão), sensivelmente onde hoje se situa o aeroporto de Chek Lap Kok, em Hong Kong”, conta à agência Lusa Pedro Daniel de Oliveira.

Os interpostos portugueses nas províncias de Fujian e Zhejiang, no leste da China, são também mencionados na obra.

O personagem é fictício, mas o jornalista português diz ter tido o “cuidado de respeitar a cronologia da época, os factos cronológicos, as datas e os eventos”, recorrendo a cronistas portugueses, chineses e tailandeses da época. “Eu fui o máximo possível fidedigno. Isto requereu muita investigação, muito trabalho, confrontação de fontes”, explica. “Tive de fazer essa safra”.

Pequenos conflitos

Pedro Daniel de Oliveira admite que os contactos iniciais entre portugueses e chineses ficaram marcados por desentendimentos.

“A intenção dos portugueses era chegar à China e fazer possivelmente o que fizeram na Índia e em outros sítios: expandir o Império português, mas não conseguiram”, adianta.

Em causa estava também a inadaptação à ordem social existente na China, uma sociedade então confucionista, fortemente “hierárquica” e “disciplinada”.

“Os portugueses eram fanfarrões, julgavam-se mais do que os outros, faziam-se valer da fama que tinham, dos feitos que havia, e isto criou ruptura com a parte chinesa”, aponta.

Os interpostos portugueses na costa leste da China acabaram por ser dizimados e os mercadores portugueses que lá viviam foram expulsos.

“Até percebo uma parte e a outra”, diz Daniel de Oliveira. “Era difícil perceber na altura que tipo de gente era aquela. Os chineses eram tão diferentes dos portugueses, e eles pensavam também que os portugueses eram bárbaros. ‘Quem são estes homens de barbas grandes’, questionavam. Era normal que tivesse aquele desfecho”, acrescenta.

A tecnologia naval e militar da época detida pelos portugueses garantiu, no entanto, uma aproximação às autoridades das províncias costeiras de Fujian e Guangdong, através do apoio no combate à pirataria.

“Os portugueses foram essenciais para os chineses no combate aos piratas que saqueavam o litoral chinês e povoações. Os portugueses ganharam aí muitos pontos junto das autoridades chinesas”, descreveu.

O comércio, particularmente as vendas de âmbar cinzento, que os imperadores da dinastia Ming viam como um afrodisíaco, essencial para ampliar a prole e conseguir ter suficientes descendentes para perpetuar a casa real e a dinastia, aproximou também os mercadores portugueses das autoridades provinciais.

O acordo sobre Macau

Os portugueses acabariam por assentar em Macau, após um acordo feito entre Leonel de Sousa, capitão-mor de uma frota comercial, e Wang Bo, o ‘haidao’ (Subintendente de Defesa Costeira) de Cantão. “O que eu percebi é que havia interesses locais que, por muitas vezes, se sobrepunham aos interesses do poder em Pequim, como é o caso do assentamento português em Macau”, explica Pedro Daniel de Oliveira.

“A forma como os chineses olhavam para os portugueses era: ‘nós não os queremos aqui, mas eles são necessários’. Foi sempre esta ambiguidade que prevaleceu naquela altura”, conclui.

Pedro Daniel de Oliveira foi jornalista no semanário católico O CLARIM e no Jornal Tribuna de Macau. Colaborou esporadicamente com a Revista Macau e com a Macao Magazine. Trabalhou ainda como assistente de realização na Teledifusão de Macau (TDM).

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