Irão | Pequenas concentrações assinalam morte de Mahsa Amini

O aniversário da morte da jovem curda Mahsa Amini foi assinalado, no sábado, por pequenas e dispersas concentrações no Irão, onde o regime impôs fortes restrições de segurança.

Segundo relata a agência espanhola EFE, nos vídeos publicados nas redes sociais por activistas iranianos ouvem-se gritos de “morte ao ditador” – em referência ao líder supremo da república islâmica, o ayatollah Ali Khamenei – e o lema dos protestos “mulher, vida, liberdade”.

Num desses vídeos, em Teerão, capital iraniana, duas mulheres sem véu sobem a uma plataforma, apoiadas por buzinas de carros.

Os protestos aconteceram apesar da forte mobilização policial nas ruas.

Fez no sábado um ano que Mahsa Amini morreu, depois de ter sido detida pela polícia de costumes iraniana por não estar a usar o véu islâmico, episódio que desencadeou inéditas manifestações cívicas contra o regime teocrático de Teerão, que reprimiu violentamente os protestos.

A data foi assinalada em cidades como Teerão, Mashad e Rasht e em especial no território do Curdistão, de onde Mahsa era originária.

No sábado, as autoridades impediram que a família da jovem celebrasse uma cerimónia no cemitério onde está enterrada, depois de terem detido temporariamente o seu pai.

Na cidade de Nurabad, na província ocidental de Fars, dois homens numa moto atiraram contra as forças de segurança que se saldou na morte de um membro da ‘basiji’, a milícia islâmica mobilizada para impedir protestos.

Os autores do ataque, que causou ainda três feridos, conseguiram fugir sem serem identificados, segundo a agênca oficial iraniana Fars.

Este episódio e os protestos que se realizaram em várias cidades, ainda que tímidos, são as mais significativas expressões do descontentamento social desde Maio, quando três manifestantes foram executados pelo regime.

Os protestos que se seguiram à morte de Mahsa Amini levaram milhares de manifestantes às ruas do Irão, exigindo o fim do regime, com um saldo de 500 mortos e milhares de detidos.

 

Avisos e ameaças

Nas últimas semanas, as autoridades iranianas intensificaram os avisos e as medidas repressivas numa tentativa de evitarem que o primeiro aniversário da morte de Amini se convertesse em novas manifestações.

As autoridades iranianas comunicaram ontem a detenção, em três províncias do país, de várias pessoas que pretendiam “provocar o caos” e colaborar com “meios de comunicação hostis”, mas não adiantaram o número exacto.

Amini foi detida pela polícia de costumes iraniana a 13 de Setembro de 2022, por alegado uso indevido do ‘hijab’, o véu islâmico, tendo surgido morta três dias depois, quando ainda estava sob custódia policial.

Apesar da visibilidade dos protestos e da atenção internacional, o movimento cívico ainda não conseguiu ameaçar os alicerces do regime teocrático liderado pelo ayatollah Ali Khamenei.

18 Set 2023

Arábia Saudita | Integração na Organização de Cooperação de Xangai aprovada

A Arábia Saudita aprovou ontem a sua associação à Organização de Cooperação de Xangai (SCO), à qual pertencem Rússia e China, como parceiro de diálogo, ilustrando a sua estratégia de aproximação a Pequim.

“O memorando para a concessão ao reino da Arábia Saudita do estatuto de membro associado no diálogo da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês) foi aprovado”, disse a agência oficial de notícias saudita SPA, sem dar mais pormenores.

A decisão foi aprovada numa sessão presidida pelo rei saudita, Salmán bin Abdulaziz, no palácio Al Salam, na cidade de Jeddah. O estatuto de membro associado ao diálogo é um pré-requisito para os países que se querem tornar membros plenos da organização.

A SCO é uma organização política, económica e militar da Eurásia, fundada em 2001 em Xangai pelos líderes da China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão. Há quatro anos, o grupo passou a incluir a Índia e o Paquistão, com o objectivo de desempenhar um maior papel maior como contrapeso à influência ocidental na região. O Irão deve obter o estatuto de membro na próxima cimeira, que se realiza em Abril, na Índia.

Desde a sua criação, a organização tem-se concentrado principalmente em questões de segurança regional, na luta contra o terrorismo, separatismo étnico e extremismo religioso.

O Irão e a Arábia Saudita anunciaram, este mês, em Pequim, um acordo para restabelecerem as relações diplomáticas, cortadas por Riade em 2016, no que foi visto como um triunfo para a China, que tem reclamado um papel maior na resolução de questões internacionais.

30 Mar 2023

Diplomacia | China apadrinhou restabelecimento das relações diplomáticas entre Irão e Arábia Saudita

Para surpresa geral da comunidade internacional, a diplomacia chinesa conseguiu mediar na passada sexta-feira o que parecia impossível: o restabelecimento das relações entre a Arábia Saudita e o Irão. O acordo entre as duas potências do Médio Oriente foi assinado na China, onde as duas partes mantiveram negociações com o apoio de Pequim, segundo um comunicado conjunto dos três países

 

“A República Islâmica do Irão e o Reino da Arábia Saudita decidiram retomar as relações diplomáticas e reabrir as suas embaixadas no prazo de dois meses”, pode ler-se no inesperado comunicado, assinado em Pequim, que deixou o Médio Oriente na expectativa de uma diminuição dos conflitos na região.

As conversações para retomar as relações diplomáticas foram conduzidas em Pequim de 6 a 10 de Março, de acordo com uma declaração trilateral da China, Arábia Saudita e Irão, informou a Xinhua. “Tanto a Arábia Saudita como o Irão manifestaram o seu apreço e agradecimento ao Iraque e a Omã por acolherem múltiplas rondas de diálogo entre 2021 e 2022, e aos líderes chineses e ao governo chinês por acolherem, apoiarem e contribuírem para o sucesso das conversações”, lê-se na declaração final.

O papel que a China desempenhou na ajuda aos dois países, que são velhos rivais, suscitou elogios generalizados após o seu anúncio, com uma esperada excepção. Segundo Pequim, “isto mostra que a filosofia diplomática chinesa, que visa promover a paz e o desenvolvimento, é muito mais apelativa do que a táctica de alguns países de alimentar o confronto para expandir o seu próprio domínio político na região do Golfo”.

“Esta é também uma das melhores práticas no âmbito da Iniciativa de Segurança Global (ISG) que a China propôs e que poderia ter implicações de grande alcance e um efeito demonstrativo noutras regiões que enfrentam problemas semelhantes de confrontação e conflito”, acrescentaram fontes próximas da diplomacia chinesa.

Já o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China afirmou no sábado que “a China espera ver uma comunicação e um diálogo mais estreitos entre a Arábia Saudita e o Irão e está pronta a continuar a desempenhar um papel positivo e construtivo na facilitação de tais esforços”.

“O seu diálogo e o acordo estabelecem um bom exemplo de como os países da região podem resolver disputas e diferenças e alcançar uma boa vizinhança e amizade através do diálogo e da consulta. Isto ajudará os países regionais a livrarem-se da interferência externa e a tomarem o futuro nas suas próprias mãos”, disse o porta-voz, observando que a China continuará a contribuir com os seus conhecimentos e propostas para a realização da paz e tranquilidade no Médio Oriente.

Ao mesmo tempo que felicita as duas partes por terem dado um passo histórico em frente, Wang Yi, director do Gabinete da Comissão dos Negócios Estrangeiros do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC), disse que a China apoia as duas partes a darem passos firmes, tal como acordado no acordo, para trabalharem para o futuro brilhante comum com paciência e sabedoria. “Como amigo de confiança dos dois países, a China continuará a desempenhar um papel construtivo”, disse Wang.

Hussein Ibish, um académico residente no Instituto dos Estados Árabes do Golfo em Washington, afirmou numa entrevista à CNN que “o facto de ter sido acordado em Pequim é muito significativo para a China e a sua ascensão como actor diplomático e estratégico na região do Golfo”. “Isto parece reconhecer o papel único da China em ser capaz de intermediar as relações entre Teerão e Riade, entrando numa posição que tinha sido anteriormente ocupada por países europeus, se não pelos Estados Unidos, e isto não será particularmente agradável para Washington”, disse Ibish.

Redução de conflitos

O acordo entre o Irão e a Arábia Saudita para a retoma dos laços diplomáticos pode ter efeitos a longo prazo em todo o Médio Oriente e não só, reduzindo as hipóteses de conflitos armados entre rivais regionais. Uma análise da agência Associated Press (AP), sobre os países afectados por este acordo, refere o Iémen, país onde quer a Arábia Saudita, quer o Irão, estão profundamente envolvidos na sua longa guerra civil.

A Arábia Saudita entrou no conflito em 2015, apoiando o Governo exilado do país, enquanto o Irão apoiou os rebeldes houthis, que em 2014 tomaram a capital, Sanaa. Diplomatas têm procurado uma forma de encerrar o conflito, que gerou um dos piores desastres humanitários do mundo e que se transformou numa guerra por procuração entre Riade e Teerão. O acordo saudita-iraniano pode dar um impulso aos esforços para acabar com o conflito.

Já no Líbano, há muito que o Irão apoia a poderosa milícia xiita libanesa Hezbollah, enquanto a Arábia Saudita apoia os políticos sunitas do país. O alívio das tensões entre Riade e Teerão pode levar os dois a procurarem uma reconciliação política no Líbano, que enfrenta um colapso financeiro sem precedentes.

Por outro lado, na Síria, o Irão apoiou o Presidente sírio, Bashar al-Assad, na longa guerra civil deste país, enquanto a Arábia Saudita apoiou os rebeldes que procuram derrubá-lo. No entanto, nos últimos meses, principalmente após o terremoto que devastou a Síria e a Turquia, as nações árabes aproximaram-se de Al-Assad. O acordo diplomático desta sexta-feira pode tornar mais apelativo para Riade interagir com Al-Assad.

O americano intranquilo

No ‘outro lado do mundo’, o Governo norte-americano, liderado por Joe Biden, não quer acreditar no que se passou sob “as suas barbas” e sublinha que está “céptico” de que o Irão irá honrar os seus compromissos e garantem que estarão atentos. O papel da China na mediação feriu o papel dos EUA na região e, no que se refere à batalha entre Washington e Pequim pela influência na região e não só. Temerosas, as autoridades norte-americanas realçam que “não está claro” se os esforços chineses serão bem-sucedidos.

O acordo com a Arábia Saudita pode fornecer a Teerão novos caminhos para contornar as sanções, depois de já ter aprofundado laços com a Rússia e até armado Moscovo com ‘drones’ de ataque utilizados contra a Ucrânia.

Já na Arábia Saudita, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman pretende gastar dezenas de milhões de dólares em megaprojetos para reformular o reino rico em petróleo perante as ameaças impostas pelas alterações climáticas. Preocupações com ataques e conflitos regionais apenas colocaria esses projectos em dúvida.

Sem “agenda escondida”

Entretanto, perante as dúvidas e o mal-estar dos EUA, a China garantiu que o seu papel no restabelecimento das relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita não tem uma agenda escondida e que não pretende preencher um vazio no Médio Oriente.

“A China não persegue qualquer interesse egoísta” e vai continuar a apoiar os países do Médio Oriente “a resolver as suas diferenças através do diálogo e em consultas para promover a paz e estabilidade duradouras em conjunto”, lê-se numa declaração colocada no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

A posição da China surge depois de ter mediado a reaproximação entre os dois países, e na sequência de preocupações de vários analistas e países, como os Estados Unidos, sobre as reais intenções da mediação chinesa.

A intervenção chinesa no reatamento das relações diplomáticas entre os dois países, incluindo a reabertura de embaixadas depois de sete anos, foi vista como uma grande vitória diplomática da China, com os países do Golfo a considerarem que os Estados Unidos reduziam a sua intervenção na região.

“Respeitamos o estatuto dos países do Médio Oriente como senhores desta região e opomo-nos à concorrência geopolítica no Médio Oriente”, lê-se ainda na declaração. “A China não tem intenção e não vai procurar ocupar o chamado vazio ou erguer blocos exclusivos”, afirma-se ainda, numa aparente referência aos Estados Unidos.

A diplomacia chinesa, no Médio Oriente, é encarada como um parte neutra, com fortes laços quer ao Irão, quer à Arábia Saudita, bem como com Israel e a Autoridade Palestiniana.

ONU, Europa e países do Golfo saúdam o acordo

A União Europeia (UE) considerou positivo o acordo para o restabelecimento de relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita e espera que possa contribuir para a estabilização do Médio Oriente. “A UE saúda o acordo para o restabelecimento das relações diplomáticas entre o Reino da Arábia Saudita e a República Islâmica do Irão e aguarda agora a sua implementação. Uma vez que ambos são fundamentais para a segurança da região, o restabelecimento das suas relações bilaterais pode contribuir para a estabilização da região como um todo”, declarou, em comunicado, o Serviço Europeu de Ação Externa.

A UE, que reconheceu “os esforços diplomáticos que levaram a este importante passo”, destacou que a promoção da paz e da estabilidade, bem como a redução das tensões na região, são prioridades do bloco comunitário e declarou-se “preparada para estar em contacto com todos os actores da região de forma inclusiva e com total transparência”.

Também o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, saudou o acordo e elogiou a China, Omã e o Iraque por promoverem as conversações. Países como o Qatar, os EAU, Iraque, Omã, Líbano, Bahrein, entre muitos outros, também expressaram sentimentos positivos em relação à decisão dos dois países de retomar os laços diplomáticos, informou a Reuters.

Séculos de tensões entre Irão e Arábia Saudita

As relações entre o Irão (indo-europeu) e a Arábia Saudita (semita), dois “pesos-pesados” do Médio Oriente, são tensas há séculos devido a rivalidades religiosas e à luta de influências na região. Seguem-se alguns pontos essenciais na história de relações tensas entre os dois países.

Século VII
Povos árabes invadem o Irão (império sassânida) impondo o Islão e eliminando o zoroastrismo.

Século VIII
Irão adopta o xiismo, criado na sequência do massacre a uma caravana onde seguia Ali (quarto califa), a sua mulher Fátima (filha do profeta Maomé) e o filho de ambos.

Século XX
Revolução iraniana e guerra
Após a criação da República Islâmica do Irão, em abril de 1979, na sequência da revolta popular desse ano, os países sunitas acusaram Teerão de pretender “exportar” a revolução xiita para os abafar. Em 1980, o Iraque atacou o Irão, desencadeando uma guerra de oito anos durante a qual a Arábia Saudita apoiou financeiramente o regime iraquiano.

Peregrinos mortos, relações rompidas
Em 1987, as forças de segurança em Meca, na Arábia Saudita, reprimem uma manifestação anti-norte-americana não autorizada organizada por peregrinos iranianos. Mais de 400 pessoas, na maioria iranianas, são mortas. Iranianos, furiosos, saquearam a Embaixada Saudita em Teerão e, em 1988, Riade cortou relações diplomáticas, o que se prolongaria até 1991.

Oposição na Síria e no Iémen
Enquanto os protestos da Primavera Árabe atingem a região em 2011, Riade envia soldados para o Bahrein, onde os xiitas estão a manifestar-se em apoio à revolução. A Arábia Saudita acusa o Irão de alimentar tensões. Os dois países rivais confrontam-se novamente em 2012, quando irrompe a crise síria. O Irão apoia o Presidente sírio, Bashar al-Assad, enquanto a Arábia Saudita sai em defesa dos rebeldes. No Iémen, em 2015, Riade formou uma coligação árabe sunita para intervir em favor do Presidente iemenita para tentar derrotar os rebeldes xiitas Houthi, apoiados por Teerão.

Debandada mortal em Meca
Uma debandada durante a grande peregrinação anual a Meca, em 2015, matou cerca de 2.300 peregrinos estrangeiros, incluindo centenas de iranianos. O líder supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, diz que a Arábia Saudita não merece administrar os locais mais sagrados do Islão.

Relações novamente rompidas
Em 2016, a Arábia Saudita executou o proeminente clérigo xiita Nimr al-Nimr, uma dos principais líderes dos protestos antigovernamentais, por “terrorismo”. A execução deixa o Irão furioso. Manifestantes atacam missões diplomáticas sauditas no Irão. Riade rompe novamente as relações com Teerão.

Hezbollah, Qatar
Em 2016, as monarquias árabes do Golfo consideram a poderosa milícia xiita libanesa Hezbollah, aliada do Irão, como uma “organização terrorista”. Em 2017, foi em Riade que o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, anunciou a renúncia ao cargo, argumentando com o “controlo” do Irão no Líbano através do Hezbollah. Mais tarde, Hariri irá retratar-se. No mesmo ano, a Arábia Saudita e aliados cortam relações diplomáticas com o Qatar, acusando-o de manter laços “muito estreitos” com o Irão e de apoiar o extremismo, o que Doha nega. A Arábia Saudita e respectivos aliados restabelecem as relações em 2021.

Nuclear iraniano
Em 2018, numa entrevista a uma cadeia de televisão norte-americana, o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman avisou que, se Teerão adquirir armas nucleares, a Arábia Saudita fará o mesmo “o mais rápido possível”.

13 Mar 2023

China anuncia visita de presidente chinês Xi Jinping ao Irão

O presidente chinês, Xi Jinping, vai realizar uma visita de Estado ao Irão, anunciou hoje o ministério dos Negócios Estrangeiros da China, após o líder iraniano, Ebrahim Raisi, ter concluído uma visita de três dias a Pequim.

Xi “aceitou com prazer o convite” do seu homólogo para visitar Teerão, segundo um comunicado conjunto, publicado pelo ministério, que não especificou data. A última visita de Estado do presidente chinês ao Irão ocorreu em janeiro de 2016.

O anúncio surgiu no terceiro e último dia da deslocação de Raisi a Pequim. Foi a primeira visita de Estado de um presidente iraniano à China em mais de 20 anos.

Parceiros políticos e económicos, os dois países enfrentam pressões por parte dos países ocidentais, nomeadamente devido às suas posições face à invasão da Ucrânia pela Rússia. O Irão enfrenta também duras sanções dos Estados Unidos, devido ao seu programa nuclear.

No comunicado de quinta-feira, os dois países apelaram ao levantamento das sanções, dizendo que “garantir os dividendos económicos do Irão” é uma “parte importante” do acordo nuclear, assinado em 2015.

Pequim e Teerão também pediram a “implementação plena e efetiva” do acordo, culpando a “retirada unilateral dos Estados Unidos” pelas tensões atuais.

O Irão é um dos últimos grandes países a oferecer apoio à Rússia, que foi vetada ao isolamento diplomático, desde o início da intervenção militar na Ucrânia, no final de fevereiro de 2022.

Os países ocidentais acusam a República Islâmica de fornecer a Moscovo veículos aéreos não tripulados (“drones”) militares armados, que estão a ser usados contra a Ucrânia. Teerão negou aquelas acusações.

Na terça-feira, Xi Jinping elogiou a “solidariedade” nas relações China – Irão, dizendo que “perante a situação complexa, provocada pelos desenvolvimentos no mundo, China e Irão apoiam-se, mostram a sua solidariedade e cooperam”.

Pequim assinou, em 2021, um vasto acordo estratégico de 25 anos com Teerão. Esta importante parceria abrange áreas tão variadas como a energia, segurança, infraestruturas e comunicações.

16 Fev 2023

Visita | Presidente do Irão na China para fortalecer cooperação

A visita oficial de três dias de Ebrahim Raisi visa aprofundar a colaboração entre as duas nações em matérias como a energia, segurança, infraestruturas e telecomunicações

 

O Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, iniciou ontem uma visita oficial de três dias à China, visando fortalecer a cooperação entre os dois países, num período de tensões com o Ocidente. A China assinou, em 2021, um vasto acordo estratégico com o Irão para os próximos 25 anos, numa altura em que as pesadas sanções impostas pelos Estados Unidos a Teerão estão a sufocar a economia da República Islâmica.

Esta parceria abrange várias áreas, incluindo energia, segurança, infraestruturas e telecomunicações.
Teerão é também acusado pelos países ocidentais de apoiar a Rússia na invasão da Ucrânia através do fornecimento de veículos aéreos não tripulados (“drones”) armados. O Irão nega categoricamente aquela acusação.
Ebrahim Raisi chegou a Pequim no início da manhã de ontem, segundo imagens divulgadas pela televisão estatal iraniana, que mostram o líder a descer do avião.

A visita surge também numa altura em que o Irão enfrenta uma vaga de protestos, desencadeada pela morte, a 16 de Setembro, de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos, presa por violar o rígido código de vestuário da República Islâmica.

Raisi deve ser recebido com honras de chefe de Estado pelo Presidente chinês, Xi Jinping. O programa completo da sua visita não é conhecido.

Laços a fortalecer

Os dois líderes encontraram-se, pela primeira vez, em Setembro passado, à margem da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), que se realizou no Uzbequistão. Durante a cimeira, o Presidente iraniano apelou ao reforço das relações económicas com Pequim, nomeadamente nos domínios do “petróleo e energia, agricultura, comércio e investimento”.

Pequim há muito que procura fortalecer os laços com Teerão. Xi Jinping descreveu anteriormente o país como o “principal parceiro da China no Médio Oriente”, durante uma rara visita realizada a Teerão, em 2016.

Pequim quer “desempenhar um papel construtivo no reforço da unidade e na cooperação com os países do Médio Oriente e na promoção da segurança e estabilidade na região”, disse o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Wang Wenbin, em conferência de imprensa, na segunda-feira.

Ebrahim Raisi também deve reunir com empresários chineses e cidadãos iranianos que residem na China, segundo a agência noticiosa oficial iraniana Irna. A China é o maior parceiro comercial do Irão e era um dos principais importadores de petróleo iraniano, antes do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltar a impor sanções contra Teerão, em 2018, após Washington ter-se retirado unilateralmente do acordo nuclear iraniano, assinado em 2015.

O Irão iniciou negociações com os EUA, França, Reino Unido, China, Alemanha e Rússia, em Abril de 2021, em Viena, com o objectivo de ressuscitar este acordo internacional, que garante a natureza civil do programa nuclear de Teerão, que é acusado de tentar desenvolver armas atómicas. Estas negociações estão actualmente suspensas.

15 Fev 2023

Irão assegura que pode garantir parte das necessidades energéticas europeias

O Governo do Irão defendeu ontem que poderá garantir as necessidades energéticas da Europa caso exista o restabelecimento do acordo nuclear de 2015 e se os Estados Unidos puserem fim às sanções contra Teerão.

“Se as negociações forem um êxito e se levantarem as sanções, o Irão pode satisfazer parte das necessidades da Europa, sobretudo no que diz respeito a recursos energéticos”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanani.

O porta-voz lembrou que o Irão dispõe de grandes reservas de petróleo e de gás – terceiro e quarto maior produtor mundial, respetivamente –, pelo que está em condições de ajudar a resolver “os problemas energéticos europeus”, uma consequência, sustentou, “da crise na Ucrânia”.

O Irão está a negociar há 16 meses com a Alemanha, França, Reino Unido, Rússia, China e, de forma indireta, com os Estados Unidos, a restruturação do acordo nuclear de 2015, que limitava o programa nuclear iraniano em troca do levantamento das sanções, pacto abandonado unilateralmente em 2018 pelos Estados Unidos, por decisão do então Presidente Donald Trump.

A este propósito, Kanani salientou que o Irão não recebeu uma “resposta oficial” dos Estados Unidos à mais recente proposta de Teerão, apresentada na semana passada, para salvar o acordo de 2015.

“O Irão aguarda uma resposta das outras partes e, sobretudo, do Governo norte-americano”, afirmou o porta-voz iraniano, apesar de Washington ter já afirmado, na semana passada, que a mais recente proposta iraniana “não é construtiva”.

O Irão propôs mudanças, geralmente aceites pelos europeus, e às quais os Estados Unidos responderam através dos mediadores.

Na quinta-feira passada, o Departamento de Estado norte-americano afirmou que a proposta de Teerão “não é construtiva”, acrescentando, no entanto, que responderia a Teerão através da União Europeia (UE).

“[O Irão] nunca recebeu uma resposta [do Ocidente] a afirmar que a sua posição não é construtiva. Pelo contrário, é construtiva, clara e legal”, insistiu Kanani. “O Irão está a tentar suspender as sanções para o benefício económico da nação iraniana, e essa é uma das principais prioridades de Teerão”, disse Kanani.

Antes de Washington ter reintroduzido as sanções à República Islâmica, a produção iraniana era de 3,8 milhões de barris de petróleo por dia (bpd).

Após as sanções, o Irão foi forçado a cortar significativamente a produção, mas, segundo o diretor-executivo da Companhia Nacional de Petróleo iraniana, Mohsen Joyaste Mehr, desde abril deste ano que o país já atingiu os níveis registados pré-sanções.

Aliás, recentemente, Mohsen Joyaste Mehr afirmou que o Irão poderá aumentar a produção para 4,03 milhões de bpd até março de 2023. “Quando os mercados internacionais abrirem, estaremos prontos para aumentar as exportações e voltar com capacidade total”, garantiu Mehr.

No entanto, outras fontes, como a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), colocam a produção diária atual em 2,5 milhões de bpd e as exportações em 800.000 milhões de bpd, principalmente para a China.

Citado pela agência noticiosa espanhola EFE, Esfandyar Batmanghelidj, o diretor-executivo da Bourse & Bazaar Foundation (um grupo de reflexão centrado na diplomacia e desenvolvimento económico no Médio Oriente e na Ásia Central), defendeu que, quando as sanções forem levantadas, o Irão poderá colocar um milhão de barris de petróleo por dia no mercado internacional.

No entanto, prosseguiu Batmanghelidj, o Irão não conseguirá exportar gás para a Europa devido às dificuldades em transportá-lo.

6 Set 2022

Nuclear | Irão respondeu à proposta apresentada pela UE para salvar pacto

O Irão respondeu à proposta apresentada pela União Europeia (UE) para salvar o pacto nuclear, noticiaram hoje os ‘media’ iranianos.

“O Irão enviou a resposta ao alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell”, informou a agência noticiosa iraniana Mehr, avançando que Teerão “expressou os seus pontos de vista sobre as questões que ainda estão por resolver nas conversações”.

“Há diferenças em três questões, e os EUA mostraram flexibilidade em duas delas, mas devem ser incluídas no texto”, disse a agência noticiosa oficial IRNA. “A terceira questão está relacionada com as garantias do acordo”, acrescentou a IRNA.

As grandes potências aguardam a resposta de Teerão a uma proposta de acordo apresentada a 26 de julho pelo chefe da diplomacia da União Europeia.

Após vários meses de impasse, os diplomatas de todas as partes no acordo (Irão, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) regressaram a 04 de agosto à capital austríaca para mais uma tentativa de salvar, sob a égide da UE, o acordo concluído em 2015.

O pacto destina-se a assegurar que o programa nuclear iraniano se destina apenas a usos civis, depois de o Irão ter sido acusado de tentar desenvolver armas atómicas, apesar dos seus desmentidos.

Mas, após a retirada unilateral dos Estados Unidos do acordo em 2018, durante a Presidência de Donald Trump, e da reimposição das sanções norte-americanas ao Irão, Teerão afastou-se gradualmente do cumprimento das obrigações consagradas no texto.

O objetivo das negociações, nas quais os Estados Unidos participaram de forma indireta, é retomar o processo. Na terça-feira, o porta-voz de Borrell instou Teerão e Washington a tomarem “uma decisão rápida” sobre o compromisso final elaborado em Viena, indicando tratar-se de uma questão de “pegar ou largar”.

Persiste um grande obstáculo: o Irão exige o encerramento da questão das instalações não-declaradas, onde foram identificados vestígios de urânio enriquecido.

16 Ago 2022

Irão e China pedem multilateralismo para fazer frente aos Estados Unidos

O Irão e a China pediram ontem uma estratégia de multilateralismo para fazer frente à “hegemonia” dos Estados Unidos, país que acusam de promover “insegurança e instabilidade” no mundo.

“Políticas unilaterais e hegemonia são medidas para controlar outros países”, disse o Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, referindo-se aos Estados Unidos, durante um encontro no âmbito da visita do ministro da Defesa chinês, Wei Fenghe, a Teerão.

“A cooperação de poderes independentes é a forma de lidar com políticas unilaterais”, acrescentou o Presidente iraniano.

Wei defendeu que as “políticas unilaterais impedem um crescimento económico sustentável” e observou que as relações entre Pequim e Teerão são uma fonte de “segurança regional e global”.

“O Irão e a China podem cooperar em todas as matérias globais e contribuir para a paz mundial”, disse o ministro chinês, que também se encontrou com o seu homólogo iraniano, Reza Gharaei Ashtiani.

O Irão e a China selaram um acordo de cooperação económica em 2021 que estipula que Pequim investirá cerca de 400 mil milhões de dólares nos setores da energia e infraestruturas do Irão, ao longo de 25 anos.

Em troca, o Irão, grande produtor de hidrocarbonetos, garantirá um fornecimento estável de petróleo e de gás a preços competitivos para a indústria chinesa.

Os dois países realizaram recentemente vários exercícios militares conjuntos, um deles no final de janeiro, no Oceano Índico, que também incluiu a Rússia.

28 Abr 2022

Francisco José Leandro, académico: “O Irão é muito importante para a China”

“A Geopolítica do Irão” é o mais recente livro do académico Francisco José Leandro, da Universidade Cidade de Macau, editado em parceria com Carlos Branco e Flavius Caba-Maria. A obra aborda as diferenças na sociedade iraniana antes e depois da queda do Xá, Mohammad Rezā Shāh Pahlavi, sem esquecer o actual posicionamento do país no mundo

 

A que questões este livro pretende responder sobre o papel geopolítico do Irão?

Uma delas passa por contribuir para a mudança da narrativa da discussão sobre os assuntos do Irão, que infelizmente são dominados pela retórica política e não pelo estudo académico. Queremos também demonstrar que o Irão é um actor racional e contribuir para desvendar as razões que estão por detrás dessa racionalidade, bem como abrir uma oportunidade para uma escrita inclusiva e plural sobre o Irão como um actor geopoliticamente incontornável naquela zona do globo. Pretendemos também explorar o contexto geopolítico do Irão nas perspectivas da sua vizinhança, do vis-à-vis nas relações regionais e inter-religiosas e na relação com as designadas grandes potências, como a Rússia e a China.

O capítulo da sua autoria é dedicado à história do sistema político iraniano e ao seu modelo híbrido, fortemente marcado pelo Islamismo. Acredita que, à luz deste sistema, poderá algum dia haver uma abertura do país ao Ocidente?

Um dos aspectos que procurei demonstrar no meu capítulo foi precisamente o facto de o Irão ser politicamente diferente, por razões históricas, sociais e pelo seu contexto geopolítico. O sistema político do Irão resulta de um número dificilmente quantificável de factos, mas certamente directamente associado ao regime dos Pahlavi e da relação que este estabeleceu com a administração americana. Para além deste facto, tal como todos os regimes teocráticos, fundamenta-se numa verdade absoluta, a de que é possível uma interpretação humana do conceito divino de bem-comum, facto que, do ponto de vista do ocidente, se revela muito difícil de aceitar. Temos, todavia, o dever de entender a realidade, de que o Irão é uma potência regional decisiva para a estabilidade da região. Os sistemas políticos nascem por razões bem determinadas, desenvolvem-se no contexto das suas idiossincrasias domésticas e nos seus contextos regionais e, naturalmente transformam-se. Não conhecemos, no momento presente, sociedades capazes de implementar sistemas políticos absolutos e perpétuos… este ou qualquer outro. Todavia, não antevejo uma substancial transformação política do Irão, no curto prazo, no que respeita ao Ocidente.

O livro traça uma diferença na evolução do sistema geopolítico do país a partir dos acontecimentos da Primavera Árabe. Muitas destas revoluções foram fracassando nos seus pressupostos iniciais. Dez anos depois, de que forma o país foi mudando com estes acontecimentos?

O livro não pretendia fazer o estudo das questões internas do regime iraquiano. O que posso observar é a existência de uma certa estabilidade interna, cujo sistema político foi concebido para a proporcionar. O Irão debate-se com problemas estruturais de desenvolvimento e uma diversidade étnico-cultural complexa, bem como um conjunto de fronteiras com vizinhos em situação complicada – factos que dominam a agenda política interna, sempre no respaldo da procura de autonomia e livre de interferências externas. Esta narrativa continua muito presente na sociedade Iraniana, no sentido em que um dos autores usa a expressão “antifragility” [anti-fragilidade]. Bem sabemos que não há revoluções imaculadas. Mas o peso do passado anterior a 1979, e o legado do conflito armado com o Iraque (2003) em que o Irão apoiou os EUA, estão ainda na memória colectiva dos iranianos, ou pelo menos tem vindo a ser um argumento de peso na preservação do sistema político-social em vigor. Os recentes protestos políticos no Irão, têm em regra um contorno socioeconómico e/ou de natureza social-cultural, frequentemente com demonstrações de ambos os lados na abordagem aos problemas.

Recentemente Joe Biden lamentou os poucos progressos feitos com o país ao nível do Acordo Nuclear assinado em 2015. Acredita na evolução diplomática a curto prazo com Washington?

O Acordo nuclear sobre o Irão é um dos exemplos da irresponsabilidade dos EUA, no contexto de potência global. A retirada dos EUA dos acordos estabelecidos em 2015 não só colocou a comunidade internacional, designadamente a União Europeia (UE) e a Rússia, numa posição muito difícil, como as perspectivas da reeleição de Trump em 2024, fazem com que o regime Iraniano exija novas garantias de que as sanções não se vão repetir, pelas razões já observadas. Neste contexto, devo lembrar que o programa nuclear iraniano foi lançado na década de 1950, com a ajuda dos EUA, como parte do programa Átomos para a Paz e que o Irão é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), que proíbe o desenvolvimento dessas armas, garantindo, porém, o direito de dominar a tecnologia nuclear para fins pacíficos. Em 2022, iniciaram-se negociações entre o Irão e a Rússia no sentido de aumentar a capacidade nuclear iraniana. Como um dos autores [deste livro] refere, o acordo nuclear de 2015 foi uma vitória do multilateralismo, que a administração Trump usou para objectivos domésticos, com manifesto desprezo pelos seus aliados internacionais. Relembro que não existiam motivos objectivos que indicassem o incumprimento irreconciliável da parte do Irão. A questão nuclear funciona também como um factor que complica outras áreas de cooperação, designadamente das questões associadas ao desenvolvimento e aos direitos humanos. Os EUA colocaram o Irão numa posição com alternativas escassas, perante a comunidade internacional ainda dominada, pelos menos em parte, pelos próprios EUA. A evolução deste acordo depende da capacidade normativa de UE (dissociada dos EUA, actor que, para o Irão, não é confiável) e do papel construtivo da Rússia e da China.

Um dos países envolvidos nestas negociações é a China. Quais os interesses mais prementes que Pequim procura ao negociar com o Irão, sobretudo tendo em conta o projecto “Uma Faixa, Uma Rota”?

Geopoliticamente o Irão é muito importante para a China e para a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, e também como parceiro na região do Médio Oriente. Um dos elementos demonstrativos desta importância foi precisamente o facto de que, muito recentemente, a Organização de Cooperação de Xangai (SCO) ter iniciado um processo formal para conceder a adesão plena ao Irão. Esta vai ser a segunda vez que a organização se expande depois de incluir a Índia e o Paquistão (2017), estendendo seu alcance da Ásia Central-Sul e ao Médio Oriente. Desde 2016 que o Irão tem uma parceria especial abrangente com a China e faz parte da lista de Estados que assinaram o memorando de cooperação para a implementação da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. O desapontamento com comportamento dos EUA e indirectamente com a UE, associado ao pragmatismo chinês, às suas (da China) necessidades de energia, ao seu projecto de transformação do sistema financeiro internacional e, finalmente, considerando as necessidades de defesa do Irão, creio que a cooperação China-Irão se vai intensificar nos anos mais próximos. Um dos autores do livro acrescenta ainda uma razão ideológica que une a China e o Irão é a aversão partilhada a todas as formas de colonialismo, designadamente o neocolonialismo americano.

22 Fev 2022

China exige que os EUA cessem todas as sanções ilegais contra o Irão

Um enviado chinês exigiu na terça-feira que os Estados Unidos cessem todas as sanções ilegais contra o Irão e sua “jurisdição extensiva” contra terceiros e indivíduos, após as negociações do acordo nuclear com o Irão terem sido retomadas em Viena.

Diplomatas seniores da China, França, Alemanha, Rússia, Grã-Bretanha e Irão reuniram no Grand Hotel Wien. No topo da agenda está o levantamento das sanções contra o Irão e as medidas de implementação nuclear.

A reunião da Comissão Conjunta do Plano de Ação Abrangente Conjunto (JCPOA, na sigla inglesa), conhecida como acordo nuclear com o Irão, atraiu a atenção do público, já que representantes dos Estados Unidos estão em Viena para salvar o acordo.

“Os EUA devem suspender todas as sanções ilegais contra Teerão, e o lado iraniano deverá retomar o cumprimento total do acordo nuclear de 2015 com base nisso”, disse Wang Qun, enviado chinês às Nações Unidas e outras organizações internacionais em Viena, após a reunião.

Wang disse que a retirada dos EUA do tratado e sua pressão contra o Irão “é a raiz da situação actual. Portanto, o retorno antecipado dos EUA ao acordo é a chave para resolver o problema”.

“O pedido justificado da parte lesada deve ser confirmado e satisfeito primeiro (…) Os EUA devem suspender todas as sanções contra Teerão e, com base nisso, o Irão poderá retomar total conformidade com o acordo nuclear”, disse Wang num comunicado.

O representante chinês enfatizou que a China se opõe firmemente a quaisquer sanções unilaterais ilegais impostas pelos EUA e salvaguardará os seus direitos e interesses legítimos.

Wang acrescentou que a China apoia os esforços da Comissão Conjunta na criação de dois grupos de especialistas, um sobre o levantamento de sanções e questões nucleares e o outro sobre o “contacto próximo” com os EUA, esperando que os dois grupos possam alcançar progressos o mais rápido possível.

“A China continua a apoiar inabalavelmente o JCPOA e espera que todas as partes possam aprimorar seu sentido de urgência, aproveitar as oportunidades actuais e colocar o JCPOA de volta por meio de negociações justas e razoáveis”, observou Wang.

Wang garantiu ainda que a China está disposta a trabalhar com todas as partes para continuar a avançar na solução política da questão nuclear do Irão e a empenhar-se para restaurar a implementação total do acordo de 2015 o mais rapidamente possível.

8 Abr 2021

Pandemia | Irão eleva para 514 o número de mortos de entre 11.364 casos

[dropcap]O[/dropcap] Irão registou mais 85 mortes devido ao novo coronavírus, elevando para 514 o número de mortos entre os 11.364 casos de pessoas infectadas no país, segundo informações da televisão estatal iraniana. O Irão regista um dos piores surtos do novo coronavírus em todo o mundo e, inclusivamente, várias autoridades do país foram infectadas.

O número real de casos pode ser ainda maior, pois foram levantadas questões sobre a transparência das autoridades iranianas em relação ao surto.

O novo coronavírus responsável pela Covid-19 foi detetado em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.900 mortos em todo o mundo, levando a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar a doença como pandemia.

O número de infectados ultrapassou as 131 mil pessoas, com casos registados em mais de 120 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 78 casos confirmados.

A China registou nas últimas 24 horas oito novos casos de infeção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), o número mais baixo desde que iniciou a contagem diária, em Janeiro.

Até à meia-noite de quinta-feira, o número de mortos na China continental, que exclui Macau e Hong Kong, subiu para 3.176, após terem sido contabilizadas mais sete vítimas fatais. Esta sexta-feira o país registou oito novos casos de infecção, o valor mais baixo de que há memória. No total, o país soma 80.813 infectados. A Comissão Nacional de Saúde informou que até à data 64.111 pessoas receberam alta após terem superado a doença.

Face ao avanço da pandemia, vários países têm adotado medidas excepcionais, incluindo o regime de quarentena inicialmente decretado pela China na zona do surto.

A Itália é o caso mais grave depois da China, com mais de 15.000 infectados e pelo menos 1.016 mortos, o que levou o Governo a decretar a quarentena em todo o país.

13 Mar 2020

Pandemia | Irão eleva para 514 o número de mortos de entre 11.364 casos

[dropcap]O[/dropcap] Irão registou mais 85 mortes devido ao novo coronavírus, elevando para 514 o número de mortos entre os 11.364 casos de pessoas infectadas no país, segundo informações da televisão estatal iraniana. O Irão regista um dos piores surtos do novo coronavírus em todo o mundo e, inclusivamente, várias autoridades do país foram infectadas.
O número real de casos pode ser ainda maior, pois foram levantadas questões sobre a transparência das autoridades iranianas em relação ao surto.
O novo coronavírus responsável pela Covid-19 foi detetado em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.900 mortos em todo o mundo, levando a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar a doença como pandemia.
O número de infectados ultrapassou as 131 mil pessoas, com casos registados em mais de 120 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 78 casos confirmados.
A China registou nas últimas 24 horas oito novos casos de infeção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), o número mais baixo desde que iniciou a contagem diária, em Janeiro.
Até à meia-noite de quinta-feira, o número de mortos na China continental, que exclui Macau e Hong Kong, subiu para 3.176, após terem sido contabilizadas mais sete vítimas fatais. Esta sexta-feira o país registou oito novos casos de infecção, o valor mais baixo de que há memória. No total, o país soma 80.813 infectados. A Comissão Nacional de Saúde informou que até à data 64.111 pessoas receberam alta após terem superado a doença.
Face ao avanço da pandemia, vários países têm adotado medidas excepcionais, incluindo o regime de quarentena inicialmente decretado pela China na zona do surto.
A Itália é o caso mais grave depois da China, com mais de 15.000 infectados e pelo menos 1.016 mortos, o que levou o Governo a decretar a quarentena em todo o país.

13 Mar 2020

Covid-19 | Irão anuncia 11 novas mortes

[dropcap]A[/dropcap] epidemia causada pelo novo coronavírus provocou a morte de mais 11 pessoas infectadas no Irão, segundo o Ministério da Saúde do país, elevando o número de mortos para 54, o maior depois da China.

“Onze pessoas perderam a vida” nas últimas 24 horas, após serem infectadas com o novo coronavírus”, disse o porta-voz do ministério, Kianouche Jahanpour, citado pela agência AFP, acrescentando terem sido relatados 385 novos casos, elevando o número de pessoas infectadas no Irão para 978.

No sábado, segundo dados das autoridades locais, o Irão registava 43 mortos por causa do novo coronavírus, um aumento de nove mortes e 205 novos casos detetados.

Após ter sido acusado de minimizar o balanço da epidemia e de gerir mal a situação, o Governo iraniano prometeu maior transparência.

Em conferência de imprensa, o mesmo porta-voz admitiu a possibilidade de “dezenas de milhares” puderem vir a fazer testes. O número de vítimas mortais do coronavírus no Irão é o mais elevado a seguir ao da China, onde a epidemia surgiu no final de 2019.

Kianouche Jahanpour acusou os ‘media’ estrangeiros de divulgarem informações falsas sobre a epidemia, citando “rumores, informações falsas e contraditórias” e acusou o serviço da BBC em persa de “se aliar aos inimigos regionais do Irão para a propagação de mentiras”.

2 Mar 2020

Covid-19 | Irão anuncia 11 novas mortes

[dropcap]A[/dropcap] epidemia causada pelo novo coronavírus provocou a morte de mais 11 pessoas infectadas no Irão, segundo o Ministério da Saúde do país, elevando o número de mortos para 54, o maior depois da China.
“Onze pessoas perderam a vida” nas últimas 24 horas, após serem infectadas com o novo coronavírus”, disse o porta-voz do ministério, Kianouche Jahanpour, citado pela agência AFP, acrescentando terem sido relatados 385 novos casos, elevando o número de pessoas infectadas no Irão para 978.
No sábado, segundo dados das autoridades locais, o Irão registava 43 mortos por causa do novo coronavírus, um aumento de nove mortes e 205 novos casos detetados.
Após ter sido acusado de minimizar o balanço da epidemia e de gerir mal a situação, o Governo iraniano prometeu maior transparência.
Em conferência de imprensa, o mesmo porta-voz admitiu a possibilidade de “dezenas de milhares” puderem vir a fazer testes. O número de vítimas mortais do coronavírus no Irão é o mais elevado a seguir ao da China, onde a epidemia surgiu no final de 2019.
Kianouche Jahanpour acusou os ‘media’ estrangeiros de divulgarem informações falsas sobre a epidemia, citando “rumores, informações falsas e contraditórias” e acusou o serviço da BBC em persa de “se aliar aos inimigos regionais do Irão para a propagação de mentiras”.

2 Mar 2020

Epidemia | Macau decreta isolamento para quem esteve em Itália ou Irão

[dropcap]M[/dropcap]acau vai isolar quem entra no território e tenha estado em Itália ou no Irão 14 dias antes, anunciaram as autoridades no sábado. A medida, que já entrou em vigor, destina-se a reforçar a prevenção, explicaram as autoridades em comunicado.

“Os indivíduos que tenham estado na Itália ou no Irão nos 14 dias anteriores à entrada em Macau, devem efectuar, a pedido dos Serviços de Saúde, observação clínica de isolamento nos locais indicados em Macau, com a duração de 14 dias, sem prejuízo de outras medidas de prevenção da epidemia”, indicaram.

“Os residentes de Macau podem realizar a observação médica domiciliária em local considerado apropriado pelos Serviços de Saúde; por sua vez, os indivíduos não residentes de Macau devem pagar todas as despesas de observação médica de isolamento efectuadas no hotel designado”, salientaram.

Também no sábado passado, o Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT) emitiu um alerta de viagem (nível 2) para Itália. O aviso traduz-se num “alerta aos residentes de Macau que planeiem viajar ou que se encontrem naquele país, para reconsiderarem a viagem neste momento”, pelo que “é sugerido que se evitem viagens não essenciais neste período para aquele destino”.

2 Mar 2020

Epidemia | Macau decreta isolamento para quem esteve em Itália ou Irão

[dropcap]M[/dropcap]acau vai isolar quem entra no território e tenha estado em Itália ou no Irão 14 dias antes, anunciaram as autoridades no sábado. A medida, que já entrou em vigor, destina-se a reforçar a prevenção, explicaram as autoridades em comunicado.
“Os indivíduos que tenham estado na Itália ou no Irão nos 14 dias anteriores à entrada em Macau, devem efectuar, a pedido dos Serviços de Saúde, observação clínica de isolamento nos locais indicados em Macau, com a duração de 14 dias, sem prejuízo de outras medidas de prevenção da epidemia”, indicaram.
“Os residentes de Macau podem realizar a observação médica domiciliária em local considerado apropriado pelos Serviços de Saúde; por sua vez, os indivíduos não residentes de Macau devem pagar todas as despesas de observação médica de isolamento efectuadas no hotel designado”, salientaram.
Também no sábado passado, o Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT) emitiu um alerta de viagem (nível 2) para Itália. O aviso traduz-se num “alerta aos residentes de Macau que planeiem viajar ou que se encontrem naquele país, para reconsiderarem a viagem neste momento”, pelo que “é sugerido que se evitem viagens não essenciais neste período para aquele destino”.

2 Mar 2020

Covid-19 | “Máscaras? É por causa da poluição”, dizem populares em Teerão

[dropcap]E[/dropcap]m Teerão são já muitos os que andam de máscara, mas a medida é explicada por populares pela poluição atmosférica e não pelo novo coronavírus Covid-19, uma epidemia cuja mortalidade tinha poupado até hoje o Irão.

Os dois primeiros casos mortais foram hoje referenciados pela agência estatal IRNA, que cita uma assessora do ministro da Saúde, identificada como Alireza Vahabzadeh, que precisou que as vítimas, duas pessoas idosas, foram localizadas em Qom, cerca de 140 quilómetros a sul da capital do país, Teerão.

Ainda há dois dias, a IRNA citava o ministro da Saúde, Saeed Namaki assegurando que não havia casos positivos do novo coronavírus no Irão, acrescentando que as fronteiras eram controladas 24 sobre 24 horas.

Mas para populares contactados pela agência Lusa, e que desconheciam a confirmação oficial dos primeiros casos mortais no país, quem usa máscara fá-lo para se proteger da poluição.

Sadegh, que preferiu não dizer o nome completo, respondeu apontando para a fila interminável de carros que a meio da tarde de hoje, tal como nos outros dias da semana, ajuda a formar uma expressiva nuvem.

“Em Teerão já não se pode falar de hora de ponta. Todos os dias o trânsito é caótico e fico admirado por não haver mais acidentes”, acrescenta Sadegh, que sabe do que fala porque todas as semanas vai várias vezes ao Aeroporto Internacional Imam Khomeini, a cerca de 50 quilómetros, buscar clientes com o seu carro particular a fazer de táxi.

A entrada em Teerão da Persian Gulf Freeway, que passa ao lado do aeroporto, começa nas três faixas previstas que recebem seis carros.

Carros da polícia distribuídos ao longo do trajeto não impressionam os condutores, que apesar dos vários sinais ao longo da via alertarem para a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança não fazem caso e, muitos, conduzem com uma mão, enquanto o telemóvel na outra os ajuda a encontrar o melhor trajeto ou onde fica uma ou outra morada.

Mas o novo coronavírus preocupa as autoridades e hoje a IRNA publicou uma notícia sobre uma iniciativa de solidariedade com a China, mas também de sensibilização dos iranianos, com uma projeção multimédia sobre a emblemática Torre Azadi.

A Torre Azadi, anteriormente conhecida como Torre Shahyad, monumento localizado na Praça Azadi, é um dos marcos históricos da capital e que marca a entrada oeste da cidade.

Faz parte do Complexo Cultural Azadi, que também inclui um museu subterrâneo.

A iniciativa do município de Teerão foi marcada pela projeção da bandeira chinesa no monumento.

Citada pela IRNA, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying saudou o recente envio pelo Irão de três milhões de máscaras.

O coronavírus Covid-19 já provocou 2.014 mortos e infectou mais de 75.000 pessoas a nível mundial.

A maioria dos casos ocorreu na China, onde o novo vírus foi detetado no final de 2019, na província de Hubei, a mais afetada pela epidemia.

Além de 2.006 mortos na China continental, morreram duas pessoas na região chinesa de Hong Kong, duas no Irão, uma nas Filipinas, uma no Japão, uma em França e uma em Taiwan.

As autoridades chinesas isolaram várias cidades da província de Hubei, no centro do país, para tentar controlar a epidemia, medida que abrange cerca de 60 milhões de pessoas.

20 Fev 2020

Covid-19 | "Máscaras? É por causa da poluição", dizem populares em Teerão

[dropcap]E[/dropcap]m Teerão são já muitos os que andam de máscara, mas a medida é explicada por populares pela poluição atmosférica e não pelo novo coronavírus Covid-19, uma epidemia cuja mortalidade tinha poupado até hoje o Irão.
Os dois primeiros casos mortais foram hoje referenciados pela agência estatal IRNA, que cita uma assessora do ministro da Saúde, identificada como Alireza Vahabzadeh, que precisou que as vítimas, duas pessoas idosas, foram localizadas em Qom, cerca de 140 quilómetros a sul da capital do país, Teerão.
Ainda há dois dias, a IRNA citava o ministro da Saúde, Saeed Namaki assegurando que não havia casos positivos do novo coronavírus no Irão, acrescentando que as fronteiras eram controladas 24 sobre 24 horas.
Mas para populares contactados pela agência Lusa, e que desconheciam a confirmação oficial dos primeiros casos mortais no país, quem usa máscara fá-lo para se proteger da poluição.
Sadegh, que preferiu não dizer o nome completo, respondeu apontando para a fila interminável de carros que a meio da tarde de hoje, tal como nos outros dias da semana, ajuda a formar uma expressiva nuvem.
“Em Teerão já não se pode falar de hora de ponta. Todos os dias o trânsito é caótico e fico admirado por não haver mais acidentes”, acrescenta Sadegh, que sabe do que fala porque todas as semanas vai várias vezes ao Aeroporto Internacional Imam Khomeini, a cerca de 50 quilómetros, buscar clientes com o seu carro particular a fazer de táxi.
A entrada em Teerão da Persian Gulf Freeway, que passa ao lado do aeroporto, começa nas três faixas previstas que recebem seis carros.
Carros da polícia distribuídos ao longo do trajeto não impressionam os condutores, que apesar dos vários sinais ao longo da via alertarem para a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança não fazem caso e, muitos, conduzem com uma mão, enquanto o telemóvel na outra os ajuda a encontrar o melhor trajeto ou onde fica uma ou outra morada.
Mas o novo coronavírus preocupa as autoridades e hoje a IRNA publicou uma notícia sobre uma iniciativa de solidariedade com a China, mas também de sensibilização dos iranianos, com uma projeção multimédia sobre a emblemática Torre Azadi.
A Torre Azadi, anteriormente conhecida como Torre Shahyad, monumento localizado na Praça Azadi, é um dos marcos históricos da capital e que marca a entrada oeste da cidade.
Faz parte do Complexo Cultural Azadi, que também inclui um museu subterrâneo.
A iniciativa do município de Teerão foi marcada pela projeção da bandeira chinesa no monumento.
Citada pela IRNA, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying saudou o recente envio pelo Irão de três milhões de máscaras.
O coronavírus Covid-19 já provocou 2.014 mortos e infectou mais de 75.000 pessoas a nível mundial.
A maioria dos casos ocorreu na China, onde o novo vírus foi detetado no final de 2019, na província de Hubei, a mais afetada pela epidemia.
Além de 2.006 mortos na China continental, morreram duas pessoas na região chinesa de Hong Kong, duas no Irão, uma nas Filipinas, uma no Japão, uma em França e uma em Taiwan.
As autoridades chinesas isolaram várias cidades da província de Hubei, no centro do país, para tentar controlar a epidemia, medida que abrange cerca de 60 milhões de pessoas.

20 Fev 2020

Eu nunca olho lá para fora

[dropcap]U[/dropcap]ma sondagem da Morning Consult/Politico concluiu que apenas 28% dos eleitores americanos conseguem apontar, num mapa, onde se encontra o Irão. Tendo em conta que alguns até indicam sítios no oceano onde não existe terra ou então Espanha, não sei bem que pensar sobre a qualidade dos dados recolhidos, mas uma coisa é certa: a ignorância da maioria dos americanos sobre assuntos que ultrapassam as suas fronteiras é lendária. As incursões americanas no Iraque e no Afeganistão geraram sondagem com resultados em tudo semelhantes. Porventura, muitos de nós portugueses e europeus falhariam nos mesmos testes; estou no entanto convencido de que pelo menos na zona do alvo (médio oriente) a maior parte acertaria.

De certo modo, é absolutamente expectável que os americanos não nutram grande curiosidade acerca do mundo que os rodeia. Apenas quarenta por cento dos americanos têm passaporte. Não têm especial interesse em viajar para fora dos Estados Unidos da América, que geograficamente dispões de uma variedade notável de climas, paisagens e diversidade de flora e fauna. Para quê ir para um resort nas Filipinas quando se têm as praias de Flórida intramuros, ou para a Suíça fazer ski quando se tem Aspen? Mais a mais, dizem os próprios, “lá fora as pessoas geralmente não gostam de nós”. Os americanos, sobretudo desde o 11 de Setembro, têm medo do que está lá fora e estão convencidos de que o resto do planeta é ou está em vias de se tornar um albergue de terroristas prontos a se auto-detonarem à visão de uma t-shirt a dizer “I love NYC”. E é verdade: a maior parte do mundo olha para os americanos como a maior parte da turma olhava para o puto rico e meio tonto a quem se adivinhava um futuro garantidamente radioso sem que precisasse para isso de fazer grandes esforços.

A ignorância americana acerca do que a rodeia resulta, paradoxalmente, do enorme sucesso da sua cultura. Os americanos são auto-suficientes culturalmente. Ouvem música popular americana. Lêem autores americanos. Vão à Broadway. Assistem a filmes de Hollywood. Para quê mais? A própria imaginação colectiva americana está refém dessa particular distorção de óptica em jeito de auto-centramento: as invasões extraterrestres ou começam nos Estados Unidos ou têm neles o centro nevrálgico. Os Estados Unidos são, literalmente, um mundo dentro do mundo. Certa vez, estando eu numa festa de aniversário num subúrbio de Lisboa, calhei a confessar a um amigo que estava comigo à janela a fumar “tenho saudades de ter uma casa com alguma vista”. Ele virou-se para mim e disse-me “eu nunca olho lá para fora”. Os americanos são um tanto ou quanto assim.

Não é por isso maximamente surpreendente que desconheçam boa parte do que acontece em seu redor. Muitos de nós, aliás, temos talvez maior consciência extrafronteiriça mas igual deficiência no saber para além da rama do assunto. Somos todos taxistas quando nos cabe falar de algo que em grande parte desconhecemos mas que de algo modo nos puxa pelo nervo comentadeiro. Na noite da réplica iraniana à morte de Qasem Soleimani pelas forças armadas norte-americanas, que consistiu num disparo de uns 22 mísseis terra-terra (mais para consumo interno do que para destruir o que quer que seja) sobre bases americanas em solo iraquiano, vaticinava-se Facebook fora o princípio do fim do mundo ou, pelo menos, o início da terceira guerra mundial. Não aconteceu – praticamente – nada.

Mas o que me assusta, isso sim, é a possibilidade dessa ignorância generalizada se corporizar em alguém que concorre à presidência. O que me assusta é, como dizia alguém logo a seguir às últimas presidenciais americanas, é que os americanos possam eleger um presidente que é “uma espécie de caixinha de comentários com pernas, braços e boca”. Isso sim, assusta-me.

17 Jan 2020

Médio Oriente | Irão não quer “escalada da guerra”. EUA avaliam retaliações iranianas

O mundo acordou ontem com a confirmação de que o Irão atacou duas bases militares norte-americanas no Iraque. Teerão disse que não deseja uma “escalada de guerra”, mas que irá defender-se “de qualquer agressão”. A comissária europeia Ursula von der Leyen expressou preocupação e afirmou a importância de manter o acordo nuclear

 

Com agências

[dropcap]M[/dropcap]orto e enterrado o general Qassem Soleimani, o Irão deixou ontem bem claro que não pretende ficar de braços cruzados depois da morte ordenada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apesar de não desejar uma “escalada de guerra”, como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros. O Pentágono confirmou ontem o ataque a duas bases militares norte-americanas no Iraque, noticiaram agências.

“O Irão disparou mais de uma dúzia de mísseis balísticos contra as forças militares dos Estados Unidos da América e da coligação em Ain Assad e Arbil”, afirmou, em comunicado, um porta-voz do Departamento da Defesa norte-americano, Jonathan Hoffman, citado pela agência France-Presse, acrescentando que “está claro que os mísseis foram disparados” a partir de território iraniano.

A televisão estatal do Irão anunciou depois que dezenas de mísseis iranianos foram lançados contra a base aérea iraquiana de Ain Assad, que alberga tropas norte-americanas. A estação descreveu esta acção, com mísseis terra-terra e desencadeada na madrugada desta quarta-feira, como uma operação de vingança na sequência do ataque de que resultou a morte do general iraniano Qassem Soleimani. Esta operação militar foi designada “Mártir Soleimani” e foi desencadeada pela divisão aeroespacial dos Guardas da Revolução, que controla o programa de mísseis iranianos.

A base aérea de Ain al-Assad foi a primeira utilizada pelos forças militares norte-americanas após a invasão do Iraque em 2003, destinada a derrubar Saddam Hussein. As forças dos EUA permaneceram estacionadas no local quando foi desencadeado o combate no Iraque e na Síria contra o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico. O Irão ameaçou ainda atacar “no interior dos EUA”, “Israel” e “aliados dos EUA”, segundo os Guardas da Revolução, na eventualidade de haver uma retaliação norte-americana.

EUA avaliam respostas ao Irão

As forças militares dos Estados Unidos não comentaram no imediato esta informação, mas Donald Trump não deixou de tweetar sobre este assunto, tendo feito uma declaração pública ontem.

“Está tudo bem! Mísseis lançados do Irão para duas bases militares localizadas no Iraque. Avaliação das vítimas e danos materiais está em curso. Até agora, está tudo bem”, escreveu o Presidente às 21h45, hora de Washington. Trump frisou ainda que os EUA têm “as mais poderosas e mais bem equipadas forças armadas em todo o mundo, de longe”.

Trump disse posteriormente que Washington ainda está a estudar retaliações pelo ataque iraniano desta madrugada contra instalações norte-americanas no Iraque, mas que quer a paz.

Donald Trump diz que ainda estão em aberto as opções de resposta ao Irão, mas que, para já, os EUA vão intensificar sanções económicas contra o Irão, como retaliação contra os ataques iranianos com mísseis que esta madrugada atingiram duas bases militares que albergam soldados norte-americanos no Iraque.

Durante uma comunicação ao país, ao lado de chefes militares e altos funcionários do seu Governo, Trump disse que os ataques iranianos desta madrugada não provocaram vítimas e fizeram “danos materiais mínimos” e considera que o Irão está a recuar no conflito. “Eles parecem estar a retirar. E isso é bom”, afirmou o Presidente norte-americano.

Palavras de Pompeo

Esta terça-feira, Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano, disse aos jornalistas que Soleimani não se encontrava em missão diplomática no Iraque na altura em que foi morto. “Mas alguém aqui acredita nisto? Há algo na História que indica, mesmo sendo uma possibilidade remota, que este senhor estaria numa missão pacífica? Sabemos que isso não é verdade. Trata-se de propaganda iraniana, mas isso não é novidade, uma vez que no passado afirmaram estar em causa missões diplomáticas. Posso garantir que ele [Soleimani] não estava lá [em Bagdade] a representar algum tipo de acordo”, disse, de acordo com o canal Euronews.

Donald Trump admitiu que a morte de Soleimani foi orquestrada para prevenir “ataques iminentes contra diplomatas americanos e pessoal militar”. À luz de uma Resolução de 1973, o Congresso norte-americano deveria ter sido informado de que estava em causa um ataque iminente, mas a informação providenciada pelo Governo de Trump apenas continha documentação confidencial no que diz respeito às provas.

Nancy Pelosi, democrata presidente da Câmara dos Representantes, disse mesmo que a notificação “apresenta mais dúvidas do que respostas”, incluindo “questões sérias e urgentes sobre o tempo, forma e justificação para a decisão da Administração de levar a cabo hostilidades contra o Irão”, escreveu o New York Times.

O senador republicano Lindsey Graham, próximo do Presidente, considerou “um acto de guerra” os disparos de mísseis contra duas bases iraquianas com militares dos EUA e admitiu ataques de represália às instalações petrolíferas iranianas. “Deixem-me dizer isto hoje: se estão a ver televisão no Irão, acabei de falar com o Presidente (Trump) e têm o vosso destino nas vossas mãos, em termos de viabilidade económica do regime. Se (vocês, iranianos) continuarem com isto vão acordar um dia fora do negócio do petróleo”.

Antes, dissera que Trump poderia escolher atacar alvos militares ou petrolíferos. Pompeo admitiu terça-feira que seriam analisados todos os potenciais alvos à luz das leis internacionais.

UE atenta

Na primeira reunião do ano da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, presidente, expressou “as mais profundas condolências” para os familiares das vítimas, tendo lembrado a investigação em curso.

O encontro teve como ponto principal de discussão a crise que se vive entre o Irão e os Estados Unidos. “Esta crise afecta não apenas a região, mas todos nós. E o uso de armas deve parar agora para dar espaço ao diálogo. A União Europeia (UE), de uma maneira muito própria, tem muito a oferecer. Temos vindo a estabelecer relações duradouras com muitos dos actores da região”, disse.

“Vamos fazer tudo para garantir a manutenção do acordo nuclear”, assegurou a presidente da Comissão Europeia. “A comissão também analisou potenciais consequências de uma crise nuclear para a UE. Por exemplo, em áreas como transportes, energias, fronteiras e migração, mas também no que diz respeito ao desenvolvimento económico, estabilização e reconstrução que a UE está a fazer nestas áreas. A UE está dedicada a estas áreas, com as nossas vozes a serem ouvidas. Queremos actuar da forma mais activa possível.”

Josep Borrell, Alto Representante da UE para a Política Externa e vice-presidente da Comissão) sublinhou que “os recentes desenvolvimentos são extremamente preocupantes” e apontou que “os últimos ataques [da passada madrugada] contra bases no Iraque usados pelos Estados Unidos e por forças da coligação [contra o autodenominado Estado Islâmico], entre as quais forças europeias, é mais um exemplo da escalada e confrontação crescente”. “Não é do interesse de ninguém levar esta espiral de violência ainda mais longe”, frisou.

Entretanto, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, alertou ontem o Irão de que Israel responderá de “forma retumbante” caso o país seja atacado. “Quem nos atacar receberá uma resposta retumbante”, garantiu Netanyahu.

 

Transportes | Companhias aéreas evitam Médio Oriente

Algumas companhias aéreas comerciais redirecionaram ontem os voos que cruzam o Médio Oriente para evitar eventuais perigos no meio da crescente tensão entre os Estados Unidos e o Irão. A transportadora australiana Qantas disse que estava a alterar as suas rotas de Londres para Perth, na Austrália, para evitar o espaço aéreo do Irão e do Iraque até novo aviso. As companhias aéreas Emirates e Flydubai, dos Emirados Árabes Unidos, cancelaram os seus voos para Bagdade nos seus sites na internet.

Fonte da Flightradar, que monitoriza o tráfego aéreo, disse que dois voos da Emirates fizeram uma rota diferente para evitar a passagem pelo Iraque, enquanto um voo da Air Canada para o Dubai foi forçado a redirecionar o trajeto pelo Egipto e Arábia Saudita.

A companhia aérea Malaysia Airlines confirmou que “devido aos recentes acontecimentos”’, os seus aviões evitariam o espaço aéreo iraniano. A Singapore Airlines também disse que os seus voos para a Europa seriam redireccionados para evitar o espaço aéreo do Irão.

A Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA disse que estava a proibir pilotos e transportadoras americanas de voar nalgumas áreas do Iraque, Irão e nalgum espaço aéreo do Golfo Pérsico. A entidade alertou ainda para o “potencial de erro de cálculo ou identificação errónea” de aeronaves civis mo meio da escalada da tensão entre os EUA e o Irão. A FAA disse ainda que as restrições estão a ser emitidas devido a “actividades militares mais activas e aumento das tensões políticas no Médio Oriente, que apresentam um risco para as operações de aviação civil dos EUA”.

Queda de avião de companhia ucraniana e sismo à margem da clima tenso

A tensão internacional que se vive desde a morte de Soleimani agravou-se com a queda de um avião ucraniano em Teerão que provocou a morte de 176 pessoas, a maioria nacionais do Canadá e do Irão. Estas seguiam a bordo do Boeing 737, que se despenhou pouco depois de descolar do aeroporto internacional Imam Khomeini, em Teerão.

De acordo com o jornal The Guardian, citado pela Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Vadym Prystaiko, afirmou em comunicado que a bordo do avião estavam 82 iranianos, 63 canadianos, 11 ucranianos, 10 suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos. “Expressamos as nossas condolências. As autoridades ucranianas continuam a investigar”, disse Prystaiko.

Apenas dois passageiros e os nove elementos da tripulação da Ukraine International Airlines eram de nacionalidade ucraniana, indicou. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já apelou para que se evitem especulações sobre a queda do avião ucraniano no Irão.

“Peço a todos que se abstenham de especulações e versões não verificadas do desastre”, escreveu Zelensky na rede social Facebook. Uma informação divulgada anteriormente pela televisão estatal iraniana dava conta de que 180 pessoas seguiam a bordo da aeronave.

Segundo agências internacionais, o avião da Ukraine International Airlines caiu num terreno agrícola a sudoeste de Teerão, para onde já foi mobilizada uma equipa de investigação.
As primeiras indicações disponibilizadas pelas autoridades iranianas apontaram para a existência de problemas mecânicos.

O acidente ocorreu horas depois do lançamento de dezenas de mísseis iranianos contra duas bases em Ain Assad e Arbil, no Iraque, utilizadas pelo exército norte-americano, numa operação de vingança pela morte do general iraniano Qassem Soleimani.

Sismo nuclear

Entretanto, um terramoto de magnitude 4,5 atingiu ontem a região sudoeste do Irão, onde a está situada a central nuclear de Bushehr, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês). O sismo foi registado a 10 quilómetros de profundidade, numa área que se situa a 17 quilómetros a sudeste da cidade de Borazjan às 06h49 (hora local), segundo o USGS. O terramoto foi sentido em Bushehr, onde está localizada a única central nuclear iraniana. Não existem informações de vítimas ou danos.

9 Jan 2020

Médio Oriente | Irão não quer “escalada da guerra”. EUA avaliam retaliações iranianas

O mundo acordou ontem com a confirmação de que o Irão atacou duas bases militares norte-americanas no Iraque. Teerão disse que não deseja uma “escalada de guerra”, mas que irá defender-se “de qualquer agressão”. A comissária europeia Ursula von der Leyen expressou preocupação e afirmou a importância de manter o acordo nuclear

 
Com agências
[dropcap]M[/dropcap]orto e enterrado o general Qassem Soleimani, o Irão deixou ontem bem claro que não pretende ficar de braços cruzados depois da morte ordenada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apesar de não desejar uma “escalada de guerra”, como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros. O Pentágono confirmou ontem o ataque a duas bases militares norte-americanas no Iraque, noticiaram agências.
“O Irão disparou mais de uma dúzia de mísseis balísticos contra as forças militares dos Estados Unidos da América e da coligação em Ain Assad e Arbil”, afirmou, em comunicado, um porta-voz do Departamento da Defesa norte-americano, Jonathan Hoffman, citado pela agência France-Presse, acrescentando que “está claro que os mísseis foram disparados” a partir de território iraniano.
A televisão estatal do Irão anunciou depois que dezenas de mísseis iranianos foram lançados contra a base aérea iraquiana de Ain Assad, que alberga tropas norte-americanas. A estação descreveu esta acção, com mísseis terra-terra e desencadeada na madrugada desta quarta-feira, como uma operação de vingança na sequência do ataque de que resultou a morte do general iraniano Qassem Soleimani. Esta operação militar foi designada “Mártir Soleimani” e foi desencadeada pela divisão aeroespacial dos Guardas da Revolução, que controla o programa de mísseis iranianos.
A base aérea de Ain al-Assad foi a primeira utilizada pelos forças militares norte-americanas após a invasão do Iraque em 2003, destinada a derrubar Saddam Hussein. As forças dos EUA permaneceram estacionadas no local quando foi desencadeado o combate no Iraque e na Síria contra o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico. O Irão ameaçou ainda atacar “no interior dos EUA”, “Israel” e “aliados dos EUA”, segundo os Guardas da Revolução, na eventualidade de haver uma retaliação norte-americana.

EUA avaliam respostas ao Irão

As forças militares dos Estados Unidos não comentaram no imediato esta informação, mas Donald Trump não deixou de tweetar sobre este assunto, tendo feito uma declaração pública ontem.
“Está tudo bem! Mísseis lançados do Irão para duas bases militares localizadas no Iraque. Avaliação das vítimas e danos materiais está em curso. Até agora, está tudo bem”, escreveu o Presidente às 21h45, hora de Washington. Trump frisou ainda que os EUA têm “as mais poderosas e mais bem equipadas forças armadas em todo o mundo, de longe”.
Trump disse posteriormente que Washington ainda está a estudar retaliações pelo ataque iraniano desta madrugada contra instalações norte-americanas no Iraque, mas que quer a paz.
Donald Trump diz que ainda estão em aberto as opções de resposta ao Irão, mas que, para já, os EUA vão intensificar sanções económicas contra o Irão, como retaliação contra os ataques iranianos com mísseis que esta madrugada atingiram duas bases militares que albergam soldados norte-americanos no Iraque.
Durante uma comunicação ao país, ao lado de chefes militares e altos funcionários do seu Governo, Trump disse que os ataques iranianos desta madrugada não provocaram vítimas e fizeram “danos materiais mínimos” e considera que o Irão está a recuar no conflito. “Eles parecem estar a retirar. E isso é bom”, afirmou o Presidente norte-americano.

Palavras de Pompeo

Esta terça-feira, Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano, disse aos jornalistas que Soleimani não se encontrava em missão diplomática no Iraque na altura em que foi morto. “Mas alguém aqui acredita nisto? Há algo na História que indica, mesmo sendo uma possibilidade remota, que este senhor estaria numa missão pacífica? Sabemos que isso não é verdade. Trata-se de propaganda iraniana, mas isso não é novidade, uma vez que no passado afirmaram estar em causa missões diplomáticas. Posso garantir que ele [Soleimani] não estava lá [em Bagdade] a representar algum tipo de acordo”, disse, de acordo com o canal Euronews.
Donald Trump admitiu que a morte de Soleimani foi orquestrada para prevenir “ataques iminentes contra diplomatas americanos e pessoal militar”. À luz de uma Resolução de 1973, o Congresso norte-americano deveria ter sido informado de que estava em causa um ataque iminente, mas a informação providenciada pelo Governo de Trump apenas continha documentação confidencial no que diz respeito às provas.
Nancy Pelosi, democrata presidente da Câmara dos Representantes, disse mesmo que a notificação “apresenta mais dúvidas do que respostas”, incluindo “questões sérias e urgentes sobre o tempo, forma e justificação para a decisão da Administração de levar a cabo hostilidades contra o Irão”, escreveu o New York Times.
O senador republicano Lindsey Graham, próximo do Presidente, considerou “um acto de guerra” os disparos de mísseis contra duas bases iraquianas com militares dos EUA e admitiu ataques de represália às instalações petrolíferas iranianas. “Deixem-me dizer isto hoje: se estão a ver televisão no Irão, acabei de falar com o Presidente (Trump) e têm o vosso destino nas vossas mãos, em termos de viabilidade económica do regime. Se (vocês, iranianos) continuarem com isto vão acordar um dia fora do negócio do petróleo”.
Antes, dissera que Trump poderia escolher atacar alvos militares ou petrolíferos. Pompeo admitiu terça-feira que seriam analisados todos os potenciais alvos à luz das leis internacionais.

UE atenta

Na primeira reunião do ano da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, presidente, expressou “as mais profundas condolências” para os familiares das vítimas, tendo lembrado a investigação em curso.
O encontro teve como ponto principal de discussão a crise que se vive entre o Irão e os Estados Unidos. “Esta crise afecta não apenas a região, mas todos nós. E o uso de armas deve parar agora para dar espaço ao diálogo. A União Europeia (UE), de uma maneira muito própria, tem muito a oferecer. Temos vindo a estabelecer relações duradouras com muitos dos actores da região”, disse.
“Vamos fazer tudo para garantir a manutenção do acordo nuclear”, assegurou a presidente da Comissão Europeia. “A comissão também analisou potenciais consequências de uma crise nuclear para a UE. Por exemplo, em áreas como transportes, energias, fronteiras e migração, mas também no que diz respeito ao desenvolvimento económico, estabilização e reconstrução que a UE está a fazer nestas áreas. A UE está dedicada a estas áreas, com as nossas vozes a serem ouvidas. Queremos actuar da forma mais activa possível.”
Josep Borrell, Alto Representante da UE para a Política Externa e vice-presidente da Comissão) sublinhou que “os recentes desenvolvimentos são extremamente preocupantes” e apontou que “os últimos ataques [da passada madrugada] contra bases no Iraque usados pelos Estados Unidos e por forças da coligação [contra o autodenominado Estado Islâmico], entre as quais forças europeias, é mais um exemplo da escalada e confrontação crescente”. “Não é do interesse de ninguém levar esta espiral de violência ainda mais longe”, frisou.
Entretanto, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, alertou ontem o Irão de que Israel responderá de “forma retumbante” caso o país seja atacado. “Quem nos atacar receberá uma resposta retumbante”, garantiu Netanyahu.
 

Transportes | Companhias aéreas evitam Médio Oriente

Algumas companhias aéreas comerciais redirecionaram ontem os voos que cruzam o Médio Oriente para evitar eventuais perigos no meio da crescente tensão entre os Estados Unidos e o Irão. A transportadora australiana Qantas disse que estava a alterar as suas rotas de Londres para Perth, na Austrália, para evitar o espaço aéreo do Irão e do Iraque até novo aviso. As companhias aéreas Emirates e Flydubai, dos Emirados Árabes Unidos, cancelaram os seus voos para Bagdade nos seus sites na internet.
Fonte da Flightradar, que monitoriza o tráfego aéreo, disse que dois voos da Emirates fizeram uma rota diferente para evitar a passagem pelo Iraque, enquanto um voo da Air Canada para o Dubai foi forçado a redirecionar o trajeto pelo Egipto e Arábia Saudita.
A companhia aérea Malaysia Airlines confirmou que “devido aos recentes acontecimentos”’, os seus aviões evitariam o espaço aéreo iraniano. A Singapore Airlines também disse que os seus voos para a Europa seriam redireccionados para evitar o espaço aéreo do Irão.
A Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA disse que estava a proibir pilotos e transportadoras americanas de voar nalgumas áreas do Iraque, Irão e nalgum espaço aéreo do Golfo Pérsico. A entidade alertou ainda para o “potencial de erro de cálculo ou identificação errónea” de aeronaves civis mo meio da escalada da tensão entre os EUA e o Irão. A FAA disse ainda que as restrições estão a ser emitidas devido a “actividades militares mais activas e aumento das tensões políticas no Médio Oriente, que apresentam um risco para as operações de aviação civil dos EUA”.

Queda de avião de companhia ucraniana e sismo à margem da clima tenso

A tensão internacional que se vive desde a morte de Soleimani agravou-se com a queda de um avião ucraniano em Teerão que provocou a morte de 176 pessoas, a maioria nacionais do Canadá e do Irão. Estas seguiam a bordo do Boeing 737, que se despenhou pouco depois de descolar do aeroporto internacional Imam Khomeini, em Teerão.
De acordo com o jornal The Guardian, citado pela Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Vadym Prystaiko, afirmou em comunicado que a bordo do avião estavam 82 iranianos, 63 canadianos, 11 ucranianos, 10 suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos. “Expressamos as nossas condolências. As autoridades ucranianas continuam a investigar”, disse Prystaiko.
Apenas dois passageiros e os nove elementos da tripulação da Ukraine International Airlines eram de nacionalidade ucraniana, indicou. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já apelou para que se evitem especulações sobre a queda do avião ucraniano no Irão.
“Peço a todos que se abstenham de especulações e versões não verificadas do desastre”, escreveu Zelensky na rede social Facebook. Uma informação divulgada anteriormente pela televisão estatal iraniana dava conta de que 180 pessoas seguiam a bordo da aeronave.
Segundo agências internacionais, o avião da Ukraine International Airlines caiu num terreno agrícola a sudoeste de Teerão, para onde já foi mobilizada uma equipa de investigação.
As primeiras indicações disponibilizadas pelas autoridades iranianas apontaram para a existência de problemas mecânicos.
O acidente ocorreu horas depois do lançamento de dezenas de mísseis iranianos contra duas bases em Ain Assad e Arbil, no Iraque, utilizadas pelo exército norte-americano, numa operação de vingança pela morte do general iraniano Qassem Soleimani.

Sismo nuclear

Entretanto, um terramoto de magnitude 4,5 atingiu ontem a região sudoeste do Irão, onde a está situada a central nuclear de Bushehr, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês). O sismo foi registado a 10 quilómetros de profundidade, numa área que se situa a 17 quilómetros a sudeste da cidade de Borazjan às 06h49 (hora local), segundo o USGS. O terramoto foi sentido em Bushehr, onde está localizada a única central nuclear iraniana. Não existem informações de vítimas ou danos.

9 Jan 2020

Ai, o Irão!

[dropcap]A[/dropcap]i, o Irão. Tudo aflito com Hão Cão mas, afinal, quem está mal é o Irão. Até onde é que irão?, é a pergunta nas mentes e que faz tinir os dentes. E a Rússia, meu deus, e a China, gentil Confúcio, até onde é que eles irão? Dar-se-á uma explosão?

Vem aí o apocalipse, pse, pse? Ou talvez não? É perguntar ao Irão, à capital Teerão e, porque não, a Hão Cão? E já agora ao vizinho, ao que chamam Paquistão, cujas armas são das boas e estão ali mesmo à mão.

Isto é uma maravilha: nada se passa, tudo se enrodilha. A massa vai p’rá pandilha, a do costume, que das gentes faz curtume. E depois, perguntam os bois? E depois nada, a mesma e triste maçada, até me tocar na pele.

Aí é dor a granel, ai que queima, ai que se vai o papel. Não era nada comigo, menos com o meu umbigo, esta guerra de alto-ar: américas vermelhuscos, iranianos patuscos, tudo de pernas pr’ó ar. Vem daí, anda brindar, é tempo de alvorecer. Que neste mundo aziago já só nos falta morrer. Então para espairecer que esteja o copo na mão. Bota acima e bota abaixo. Quero lá saber do Irão! Vou mas é para Hão Cão!

6 Jan 2020

EUA sancionam empresas chinesas por transporte de petróleo iraniano

[dropcap]O[/dropcap]s Estados Unidos impuseram ontem sanções contra empresas chinesas e seus dirigentes acusados de “conscientemente transportarem petróleo do Irão”, violando o embargo norte-americano, disse o chefe da diplomacia, Mike Pompeo.

O secretário de Estado norte-americano sublinhou, num discurso em Nova Iorque, que esta decisão ilustra o início de uma fase de endurecimento das sanções contra o Irão, anunciada terça-feira pelo Presidente Donald Trump, na Assembleia Geral das Nações Unidas.

Na sua intervenção na ONU, Donald Trump pediu a unidade da comunidade internacional para travar as intenções nucleares do Irão, cujo regime apelidou de “terrorista”, e avisou que se não houver uma mudança de atitude por parte de Teerão os Estados Unidos endurecerão as sanções.

Ontem, o chefe da diplomacia norte-americana explicou que os EUA “intensificarão esforços” para diminuir os riscos de as empresas sancionadas fazerem negócios com o Corpo da Guarda da Revolução do Irão.

“Estamos a dizer à China e a todos os países: saibam que sancionaremos qualquer violação de sanções” impostas por Washington contra a exportação de petróleo iraniano”, disse Mike Pompeo, num discurso perante a organização Unidos Contra um Irão Nuclear, que Teerão definiu como “grupo terrorista”.

As empresas China Concord Petroleum, Kunlun Shipping e Pegasus 88 juntam-se a partir de agora a outras empresas que estão sujeitas a sanções por parte de Washington, ficando inibidas de acesso aos mercados financeiros norte-americanos.

Donald Trump retirou os EUA do acordo nuclear com o Irão e introduziu sanções contra Teerão, a partir de 2018, no sector financeiro e energético, alegando a necessidade de “enfraquecer” o regime, que acusa de ser a principal fonte de financiamento de movimentos terroristas globais.

26 Set 2019

Cimeira G7 | Contradições sobre mensagem para Irão e guerra comercial a marcar manhã de hoje

[dropcap]A[/dropcap] França disse hoje que os líderes do G7 concordaram em encarregar o Presidente francês, Emmanuel Macron, de conversar com o Irão, para evitar uma escalada de violência na região, mas Donald Trump negou a informação.

A presidência francesa disse hoje que os líderes dos países mais industrializados do mundo (G7) concordaram em instruir o Presidente francês para enviar uma mensagem em nome das democracias avançadas ao Irão e manter conversações com as autoridades iranianas.

Não foram fornecidos detalhes sobre a mensagem, mas a presidência francesa disse que o objetivo é prevenir que o Irão obtenha armas nucleares e evitar novas tensões no Médio Oriente.
Questionado sobre se assinou a mensagem, o Presidente dos Estados Unidos afirmou aos jornalistas: “Eu não discuti isso”.

No âmbito de uma reunião bilateral com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, Donald Trump disse que não impede nenhum líder de falar com o Irão, e acrescentou: “Se eles querem conversar podem conversar”. A França está a liderar os esforços europeus para tentar salvar o acordo nuclear iraniano, enfraquecido pela retirada dos Estados Unidos.

Os líderes dos sete países mais industrializados do mundo estão reunidos em Biarritz, França, onde hoje começaram as reuniões com uma sessão dedicada às tensões comerciais e a situação global de segurança, duas questões essenciais da cimeira, que começou na noite passada.

Numas breves declarações à imprensa esta manhã, depois de tomar o pequeno almoço com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump disse que os demais membros do grupo do G7 não lhe pediram para que pare a guerra comercial com a China, reconhecendo depois que tem “dúvidas sobre tudo” o que faz.

“Ninguém me disse isso”, disse Trump, quando questionado sobre se os aliados do G7 o pressionaram para que ponha fim à tensão com a China, que está a diminuir o crescimento económico mundial.

Trump insistiu na ideia de que o que a China fez aos Estados Unidos “é indigno”, por ganhar “centenas de milhar de milhões de dólares por ano” através do que considera serem práticas comerciais ilícitas e roubo de propriedade intelectual.

Ainda assim reconheceu que tem algumas “dúvidas” sobre as suas decisões em relação à China, já que tem “dúvidas sobre tudo”, e apostou na continuação do diálogo com Pequim.

O Presidente francês, Emmanuel Mácron, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pediram no sábado em Biarritz que haja uma trégua no conflito comercial entre os dos países, perante as consequências negativas para a economia global.

O próprio Johnson disse hoje, em frente de Trump, que “em geral” é a favor da paz comercial e referiu opor-se, em princípio, à imposição de novas tarifas.

Nas declarações aos jornalistas o Presidente dos Estados Unidos disse ser “possível” que a Rússia regresse ao G7 no próximo ano, depois de ter sido expulsa devido à invasão e anexação da Crimeia, em 2014.

O hipotético retorno da Rússia é um dos assuntos que dividem os membros da cimeira de Biarritz, com Trump a defende-lo e alguns líderes europeus a oporem-se.

Donald Trump também disse não ter ficado satisfeito com o facto de a Coreia do Norte ter feito mais um teste com mísseis, mas desvalorizou a importância do ocorrido.

“Não estou contente, mas mais uma vez ele (o líder norte-coreano) não viola o acordo” sobre esses testes, disse aos jornalistas.

25 Ago 2019