Portugal-China 45 anos | Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM

Há 45 anos, Portugal e a China estabeleciam relações diplomáticas. A data foi assinalada no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, num evento que teve como oradores os ex-embaixadores portugueses na China, José Duarte de Jesus e Jorge Torres Pereira, e o embaixador chinês em Portugal, Zhao Bentang. Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM, recordou ao HM episódios que levaram à estabilização das relações entre os dois países e o papel que Macau desempenhou no processo

Há 45 anos, Portugal e a China estabeleciam relações diplomáticas. A data foi assinalada no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, num evento que teve como oradores os ex-embaixadores portugueses na China, José Duarte de Jesus e Jorge Torres Pereira, e o embaixador chinês em Portugal, Zhao Bentang. Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM, recordou ao HM episódios que levaram à estabilização das relações entre os dois países e o papel que Macau desempenhou no processo.

Celebramos o 45.º aniversário das relações diplomáticas entre Portugal e a República Popular da China (RPC). Foi um processo fácil?
Não, pelo contrário. Foi um processo moroso e complicado. Na verdade, não estamos a falar do estabelecimento de relações diplomáticas com a China, mas sim do restabelecimento… ou, se quisermos, do estabelecimento de relações diplomáticas com a República Popular da China. As relações diplomáticas existiam há séculos, mas quando Mao fundou a RPC em 1949, o regime comunista esbarrou com o regime ditatorial de Salazar que, por motivos ideológicos, nunca aceitou formalizar o relacionamento com o regime comunista chinês, apesar das várias tentativas da parte chinesa, nomeadamente no seguimento do estabelecimento de relações diplomáticas sino-francesas em 1964. Depois de 1974, o novo regime português mudou radicalmente de postura e o Primeiro Ministro Mário Soares propôs o reatar das relações, mas nesta fase a China já não demonstrou grande receptividade.

Porquê?
A RPC ainda não tinha definido a política de reunificação nacional e não sabia bem como resolver a questão de Macau. Macau tinha um estatuto ambíguo desde os incidentes do ‘1,2,3’ de 1966… E havia expectativa sobre o processo de descolonização português e, principalmente, sobre a posição de Portugal em relação à União Soviética, numa altura de grande tensão nas relações sino-soviéticas. O início da guerra civil angolana no momento em que Pequim cancelou a ajuda militar aos movimentos de libertação e o apoio de uma das facções pela União Soviética, contribuiu para o alargamento da sua esfera de influência em África. O regime comunista chinês via com apreensão a influência soviética no nosso processo revolucionário e estava pouco disposta a normalizar relações com os comunistas portugueses. Os chineses não tinham informação suficiente sobre a esquerda portuguesa para conseguir entender a natureza da mudança de regime, mas com a formação da Aliança Democrática em 1979, perceberam que a União Soviética não tinha qualquer impacto no panorama político português. A candidatura portuguesa à CEE (1977) também ajudou, porque revelava as intenções de integração portuguesa na Europa Ocidental.

Referiu há pouco a questão de Macau. Teve, de facto, influência no processo?
Sem dúvida. O primeiro passo para a aproximação entre os dois países foi o reconhecimento, do Governo português, de que a questão de Macau poderia ser negociada quando ambos os governos considerassem apropriado. Nesta Nota Diplomática do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal de 6 de Janeiro de 1975, Portugal também reconhecia o Governo da República Popular da China como o único representante legítimo do povo chinês, sendo Taiwan uma parte integrante do território chinês. Foram duas concessões políticas unilaterais importantes, assumidas pelo novo regime português sem obter qualquer contrapartida chinesa, prova de que o estabelecimento de relações diplomáticas era bem mais importante do que a soberania de Macau. Não podemos esquecer que a posição chinesa da altura era que, sendo Macau parte integrante do território chinês, não deveria ser alvo de negociações com outro país. Zhou Enlai chegou a dizer que um dia a China iria libertar Macau dos portugueses. A RPC considerava-se soberana sobre Macau. Macau era território chinês e por isso não teria direito à descolonização. Mais tarde o processo seria descrito como uma transferência de administração.

Macau não deveria ser um obstáculo para o reatar de relações?
Exacto. Portugal não questionava a soberania da China sobre Macau: tratava-se de território sob Administração portuguesa. Isto é visível na Nota Diplomática que referi há pouco, mas também no Estatuto Orgânico de Macau, que foi aprovado no Conselho da Revolução em Lisboa em 1976, e na nova Constituição Portuguesa de 25 de Abril de 1976, que não considerava Macau como território português, mas sim “Território sob Administração Portuguesa”. O facto de não se debater a questão da soberania facilitou o relacionamento com a China. E, em bom rigor, convém dizer que Macau não era uma colónia. A retrocessão de Macau teria de passar sempre por alguma espécie de negociação e, naquele momento, a RPC não estava interessada em negociar.

Mas depois mudou de ideias, não foi?
O processo foi lento. A RPC confrontava-se com grandes mudanças internas. A crise de sucessão na liderança chinesa impedia a adopção de grandes iniciativas. Os líderes mais importantes, como Zhou Enlai e Mao, tinham falecido em 1976 e o Bando dos Quatro radicalizou a cena política chinesa. Hua Guofeng sucedeu a Mao e o Bando dos Quatro e outros Maoistas radicais foram presos. Só no final da década de 70 Deng Xiaoping traz a estabilidade, com uma postura mais pragmática e menos ideológica, pondo os objectivos nacionalistas acima de concepções marxistas ou maoistas. E delineou a estratégia para a retrocessão de Macau. Uma coisa é certa: a China não queria reatar relações diplomáticas com Portugal antes de ter a estratégia para Macau bem definida. Durante todo o processo negocial Macau foi considerada questão “prévia” pela parte chinesa, defendendo sempre a sua posição de princípio relativamente à soberania sobre o território. Portugal não se opôs, mas exigiu o reconhecimento da importância da história – Macau era “um problema herdado da história”. As duas partes chegaram a um entendimento: Macau era parte do território chinês, administrado pelos portugueses, e o status quo não poderia ser unilateralmente alterado; a questão seria unicamente resolvida pela via negocial. Este entendimento permitiu que as conversações para o estabelecimento de relações diplomáticas prosseguissem sem quaisquer condicionalismos, como se Macau não existisse. O comunicado conjunto sobre o estabelecimento de relações diplomáticas não faz qualquer referência directa ou indirecta a Macau, embora Macau fosse a questão mais delicada das negociações. As declarações sobre Macau foram impressas numa Ata, que, no fundo, foi um acordo entre dois Estados que reconheciam direitos e estabeleciam obrigações recíprocas, mas optou-se por usar a palavra “Ata” ao invés de “acordo” para minimizar a sua importância. A “Ata Secreta”, como ficaria conhecida na imprensa, permaneceria secreta por acordo de ambas as partes, invocando a manutenção da estabilidade de Hong Kong.

O que dizia a “Ata Secreta”?
Que Macau fazia parte do território chinês e seria restituído à China, no momento julgado oportuno, pelos governos dos dois países e por meio de negociações. Durante o período de negociações da Declaração Conjunta, entre 1986 e 1987, a existência da “Ata Secreta” gerou muita polémica, porque alguns dos líderes políticos nunca tinham tido acesso à Ata e alguns até duvidavam da sua existência. O próprio Governador de Macau Pinto Machado admitiu à imprensa que a Ata nunca lhe tinha passado pelas mãos. Só passado algum tempo se encontrou a Ata no Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Primeiro Ministro Cavaco Silva decidiu revelar parcialmente o seu conteúdo, evidenciando as responsabilidades assumidas pelos anteriores governos em relação a Macau. De facto, a “Ata Secreta” foi a base negocial da retrocessão de Macau.

Voltando às negociações das relações diplomatas. Uma vez negociada a “Ata Secreta”, as conversações já decorreram sem sobressaltos?
Mais ou menos. Depois de três anos de reuniões informais, a China propôs a abertura de negociações oficiais para o reatamento de relações diplomáticas luso-chinesas ao nível de embaixador, em Janeiro de 1978, e decorreram em Paris – local privilegiado de negociações com a China na Europa desde que em 1964 o General de Gaulle reconheceu a RPC. De Janeiro a Junho de 1978 decorreram conversações formais entre os embaixadores Han Kehua e Coimbra Martins, e as negociações ficaram praticamente concluídas. Mas em Portugal, a instabilidade política interna levou à formação de três governos diferentes no espaço de um ano (liderados, respectivamente, por Mário Soares, Nobre da Costa e Mota Pinto). E Coimbra Martins aguardava em Paris pela definição da política portuguesa relativamente à normalização de relações diplomáticas com a RPC. O comunicado conjunto sobre o estabelecimento de relações diplomáticas só seria assinado a 8 de Fevereiro de 1979.

O Centro Científico e Cultural de Macau em Lisboa assinalou ontem o 45º aniversário das relações diplomáticas com um evento que moderou. Em que consistiu a sessão?
O evento teve entrada livre e, para além do Embaixador da República Popular da China em Portugal, contámos com intervenções de dois diplomatas portugueses. O tema da intervenção de José Manuel Duarte de Jesus, embaixador de Portugal na República Popular da China entre 1993 e 1997, foi “45 Anos de novas Relações Diplomáticas e 5 séculos de Relações Amigáveis”. Jorge Torres Pereira, embaixador em Pequim entre 2013 e 2017, apresentou a comunicação “2029: Perspectivas para a comemoração do Cinquentenário das relações Portugal-República Popular da China”. E o Embaixador Zhao Bentang falou sobre os “45 Anos de cooperação em mãos dadas: a amizade China-Portugal cresce com resultados frutíferos”. O encerramento esteve a cargo da Senhora Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Professora Elvira Fortunato. Recordo que o Centro Científico e Cultural de Macau é um Instituto Público que pertence ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e tem por missão divulgar em Portugal conhecimento sobre a Ásia, em particular sobre a China, com destaque para o papel de Macau.

10 Fev 2024

CCCM | Macau antigo patente em exposição virtual

“Macau: Diferentes olhares em tempos diferentes. Fotografias de Raquel Soeiro de Brito e da colecção do Centro Científico e Cultural de Macau” é a mostra online patente nesta entidade sediada em Lisboa. Trata-se de uma exposição virtual com imagens de Macau dos anos 60 organizada em parceria com a Universidade de Lisboa

Consegue imaginar a Macau do período da Administração portuguesa, mas na década de 60, quando não havia qualquer ponte entre a península de Macau e as ilhas e as travessias eram feitas de barco? Esse exercício de memória visual é o mote para a mais recente exposição virtual disponível no website do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM).

“Macau: Diferentes olhares em tempos diferentes. Fotografias de Raquel Soeiro de Brito e da colecção do Centro Científico e Cultural de Macau” é o nome da mostra que pode ser visitada a partir de qualquer lugar e à distância de um clique, sendo organizada em parceria com o Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa.

A ideia é destacar as imagens captadas pela geógrafa portuguesa Raquel Soeiro de Brito no início dos anos 60 juntamente com outras fotografias feitas por outros profissionais entre os anos de 1980 e 1990.

A exposição divide-se nas categorias “Vistas”, “Ruas e Gente”, “As Hortas” e a “Vida Marítima”, convidando quem a vê a conhecer melhor uma Macau que hoje em dia apenas vive no imaginário de alguns.

Em “Ruas e Gente”, por exemplo, percepciona-se “a vida urbana de Macau” centrada no “Bairro do Bazar” e prolonga-se até às zonas do Porto Interior e Rua do Almirante Sérgio. Comercializava-se artigos de pesca e outros artigos marítimos tendo em conta a proximidade do Delta do Rio das Pérolas, e na área ainda viviam pessoas nos barcos.

Logo ali, bem perto, permanecia a avenida Almeida Ribeiro, o coração da península, a borbulhar de comércio. Segundo a descrição da exposição, a geógrafa portuguesa registou, em 1961, “as últimas imagens do antigo aldeamento chinês de Mong-Há, espaço agrícola recém-sacrificado pela abertura de novas avenidas”.

Os restantes profissionais que trouxeram imagens para esta exposição são Álvaro Tavares, Eduardo Tomé, Cheong Io Tong e o jornalista Rogério Beltrão Coelho, mostrando uma Macau mais contemporânea, mas talvez já distante da actualidade.

Mostram-se, ainda assim, novas roupas e modos de vida mais urbanos que substituem “as cabais e os grandes chapéus de palha”, mantendo-se “muita da ambiência de rua dada pelo comércio tradicional chinês, seja nas lojas, seja nas inúmeras vendas ambulantes”.

Vida a Oriente

Raquel Soeiro de Brito, actualmente com quase 100 anos de idade, é uma reputada geógrafa portuguesa da chamada “Escola de Geografia de Lisboa”, tendo realizado a sua primeira viagem a Macau em 1961 na qualidade de investigadora do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa.

A mostra virtual patente no CCCM constrói-se a partir de uma selecção de 90 imagens retiradas de um conjunto de 300 fotografias e dispositivos dessa viagem realizada nos anos 60.

Macau tinha, à data, pouco mais de 150 mil habitantes, cuja economia já era marcada pelo jogo, mas onde havia bastante actividade marítima, muitas hortas e habitações ilegais graças à vinda de muitos refugiados do continente. A descrição da exposição aponta para o facto de “o olhar fotográfico da geógrafa” sobre “a duradoura imutabilidade do mundo tradicional chinês”.

Existem ainda outras 66 fotografias que fazem parte do acervo do CCCM, já dos anos 80 e 90, destacando-se “o enquadramento da cidade, o pormenor das ruas e das gentes, os espaços rurais periféricos e, por último, as áreas portuárias e a pesca”.

Outra exposição virtual que pode ser vista no website do CCCM é da autoria de Jorge Veiga Alves, fotógrafo amador que viveu e trabalhou no território na década de 80. “À Procura de Macau – I, II e III” é a selecção de imagens também de uma Macau de outrora, feitas pelo próprio Jorge Veiga Alves.

19 Jan 2024

CCCM | Acolhidos espólios de antigos governadores de Macau

Parte dos espólios pessoais de Nobre de Carvalho, Garcia Leandro e Vasco Rocha Vieira vão poder ser consultados na biblioteca e arquivo do Centro Científico e Cultural de Macau. A apresentação do Fundo Documental dos Governadores de Macau, apoiado pela Fundação Jorge Álvares, bem como a assinatura dos protocolos relativos a esta iniciativa, decorre esta terça-feira em Lisboa

 

José Manuel de Sousa e Faro Nobre de Carvalho, Governador de Macau entre 1966 e 1974, ano da revolução do 25 de Abril em Portugal, que depôs o Estado Novo. General Garcia Leandro, Governador do território no pós-25 de Abril e grande responsável pela implementação do Estatuto Orgânico de Macau a partir de 1976. Vasco Rocha Vieira, último Governador português de Macau e aquele que, a 20 de Dezembro de 1999, abraçou a bandeira portuguesa e a entregou, como o culminar de séculos de história portuguesa no pequeno enclave chinês.

Todos eles foram fundamentais em diferentes períodos da história de Macau e parte do seu espólio pessoal vai passar a estar disponível para consulta de historiadores, demais académicos e interessados na biblioteca e arquivo do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM).

A cerimónia de apresentação do projecto, bem como a sessão de assinatura dos protocolos com os dois antigos Governadores e João Nobre de Carvalho, filho do já falecido Nobre de Carvalho, decorrem hoje em Lisboa.

O projecto conta com o apoio financeiro e logístico da Fundação Jorge Álvares. Ao HM, Celeste Hagatong, presidente da instituição, falou um pouco mais desta iniciativa. “A fundação suportou os custos das obras de adaptação de uma das salas do CCCM para acolher o Fundo Documental dos Governadores de Macau, bem como o necessário equipamento para garantir as condições exigidas para a guarda de tão valiosos espólios, assim como os custos com o transporte e classificação da documentação que aí vai ser depositada.”

A criação deste fundo documental é apenas um dos projectos que a fundação tem desenvolvido com o CCCM desde o ano passado, quando, mediante a assinatura de um protocolo, ficou determinado que seria dado o patrocínio a três iniciativas, nomeadamente as obras e instalação da Biblioteca Fundação Jorge Álvares no edifício do CCCM. Segundo Celeste Hagatong, esta biblioteca é hoje “uma referência para os estudantes e investigadores, nacionais e estrangeiros, que se debruçam sobre as relações entre Portugal e o Oriente”.

Tendo em conta as fases de grande desenvolvimento e mudança que Macau viveu nos anos em que estes Governadores administraram o território, nomeadamente o “1,2,3”, entre finais de 1966 e início de 1967, ou a transferência da administração portuguesa de Macau para a China, em 1999, os espólios podem conter informação valiosa para quem desejar aprofundar o estudo da história de Macau, conforme denota a presidente da Fundação Jorge Álvares.

“Estes são espólios pessoais dos Governadores e são, certamente, do interesse para os que se dedicam ao estudo da história Macau. Temos a obrigação de tentar preservar todo o património que possamos reunir sobre o passado de Macau e este é um nosso contributo para este desígnio.”

Cabe agora ao CCCM definir o calendário para disponibilizar estes espólios junto do público. De frisar que na sua obra “Macau nos anos da Revolução Portuguesa: 1974-1979”, que teve a sua primeira edição em 2011, o general Garcia Leandro fala da intenção de dar a sua documentação pessoal à consulta do público e estudiosos.

“Recentemente tem-se vindo a proceder à digitalização do meu arquivo pessoal, que havia estado guardado durante 25 anos na Presidência da República, e que ficará disponível no Centro Científico e Cultural de Macau”.

Galeria para o ano

Celeste Hagatong avançou ainda ao HM que, no próximo ano, será criada a Galeria dos Governadores, também no edifício do CCCM. Trata-se de um espaço onde serão expostos os retratos de todos os antigos Governadores portugueses de Macau, guardados nas instalações do CCCM desde 1999.

Estes retratos estavam expostos no Palácio da Praia Grande, tendo sido enviados para Lisboa aquando da transição. Segundo Celeste Hagatong, “a visita a esta galeria permitirá conhecer mais de perto a história de Macau e as relações entre Portugal, Macau e a China”.

De frisar que a abertura desta galeria acontece também no ano em que a Fundação Jorge Álvares, tal como a RAEM, celebra 25 anos de existência.

19 Dez 2023

Carmen Mendes, presidente do Centro Científico e Cultural de Macau: “O interesse pelo CCCM tem aumentado”

A presidente do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) participou recentemente numa visita a Pequim organizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China. Carmen Amado Mendes diz que a iniciativa serviu para “aprofundar o conhecimento bilateral de políticas” nas áreas da ciência e tecnologia e que podem surgir novas cooperações com o CCCM

 

Quais os propósitos fundamentais desta visita à China?

[Pretendeu-se] aprofundar do conhecimento bilateral das políticas e do desenvolvimento da ciência, tecnologia e da inovação entre países europeus e a China, assim como o incremento da cooperação nestes domínios. Além dos contactos com a parte chinesa, o programa permitiu estabelecer contactos entre os delegados dos vários países europeus e, consequentemente, ter um conhecimento mais aprofundado e uma panorâmica mais abrangente sobre as relações de cada um desses países com a China.

O programa foi promovido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China (MOST, na sigla inglesa) e incluiu ainda conexões com o China Science and Technology Exchange Center [Centro de Intercâmbio para a Ciência e Tecnologia da China]. Até que ponto se enquadram com a filosofia do CCCM? Acha que vão surgir novas parcerias?

O CCCM é um instituto público tutelado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), vocacionado para promover e divulgar conhecimento enquanto plataforma entre Portugal e a China. Isto foi especificamente referido no Memorando de Entendimento assinado entre o MCTES e o MOST em 2018, sobre a Promoção das Actividades de Cooperação para a Implementação da Parceria China-Portugal Ciência e Tecnologia 2030. E cito a seguinte parte: “A cooperação sobre o património cultural, história da ciência e tecnologia e interações contemporâneas emergentes, pode incluir […] a promoção da colaboração da China e de instituições chinesas com o Centro Científico e Cultural de Macau, CCCM, localizado em Lisboa”. O relacionamento e o intercâmbio institucionais são, por isso mesmo, essenciais.

Porque foi tão importante a presença do CCCM nesta visita?

Foi da maior importância. Os encontros desta natureza permitem dar a conhecer o Centro fora de portas, apresentando as suas actividades e projectos, bem como os vários pilares: a biblioteca, o museu, a casa editorial, o centro de investigação e de formação. É também uma oportunidade para apresentar o que tem sido feito em termos de cooperação institucional e explorar novas oportunidades de cooperação futura com entidades relevantes para a missão do CCCM.

Surgiram oportunidades para novas colaborações com o CCCM?

Sim, mas a sua implementação requer um tempo próprio. Provavelmente, aquela em que os resultados serão visíveis de forma mais célere é o intercâmbio de pessoas. Um exemplo é o posicionamento do CCCM como instituição de acolhimento de estagiários de instituições europeias e chinesas. Os nossos programas de estágio e voluntariado são cada vez mais procurados, incluindo estagiários Erasmus, na Europa, e estudantes chineses. A preparação de candidaturas conjuntas a financiamento de projetos é outra das possibilidades.

Há novidades face ao projecto Macau Academic Hub e Spin Incubator?

Trata-se de um projecto implementado de raiz, que estamos a desenvolver com a Universidade de São José nas instalações do CCCM. Está a andar a bom ritmo, mas é um projecto que tem tanto de desafiante como de complexo, indo desde a criação das infra-estruturas à definição de uma programação, por isso os resultados só serão visíveis a médio prazo.

Que balanço faz da iniciativa “Conferências de Primavera” e número de doutorandos associados? O CCCM conseguiu aumentar a ligação à academia desde que tomou posse?

A adesão às “Conferências de Primavera” ultrapassou todas as expectativas, sendo que o número de intervenções tem oscilado entre as 160 e as 180. O balanço tem sido extremamente positivo, não só pelo número de participantes como pela qualidade das comunicações apresentadas, que têm permitido dar a conhecer o que de mais actual se produz em termos de conhecimento no âmbito dos Estudos Asiáticos. Não sendo o CCCM uma instituição académica, creio que o grande mérito das conferências é congregar a quase totalidade da comunidade académica e científica que trata as questões da China, incluindo Macau, e do resto da Ásia. As bolsas CCCM/FCT são financiadas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia [FCT]. O programa teve início em 2021 e já temos 25 doutorandos no CCCM a desenvolver as suas investigações relacionadas com a Ásia, e em particular a China, nas mais variadas áreas.

Desde que tomou posse que o CCCM adquiriu maior visibilidade, como esperava?

Referindo-me apenas ao período desde que assumi funções, creio que o interesse pelo CCCM tem vindo a aumentar progressivamente. Para além dos já referidos níveis de participação nas “Conferências da Primavera” e do número de interessados que se candidata às bolsas de investigação, temos tido uma procura crescente dos nossos programas de estágios e voluntariado. O período da pandemia parece estar ultrapassado e há cada vez mais jovens que vêm diariamente trabalhar para as novas instalações do CCCM. A nossa casa editorial também tem recebido muitos pedidos de publicações de trabalhos, nomeadamente no âmbito das colecções conjuntas que criámos com a Universidade de Macau. E o público que vem assistir aos eventos e cursos que organizamos é cada vez mais diversificado. O objectivo é precisamente esse: transmitir conhecimento em Portugal sobre a Ásia, não apenas a especialistas, mas ao público em geral. É a missão do CCCM.

CCCM prepara novo ciclo de conferências para 2024

O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) prepara-se para organizar, no próximo ano, um novo ciclo de conferências sobre estudos dedicados a Macau, China e à Ásia, à semelhança do que tem acontecido nas últimas duas edições. Podem candidatar-se a este ciclo estudantes de mestrado e doutoramento ou ainda personalidades que desenvolvam, de forma independente, estudos sobre o Oriente.

A edição deste ano do “Ciclo de Conferências da Primavera” decorreu entre os meses de Fevereiro e Março e dividiu-se em três painéis, sobre Macau, China e Ásia, que receberam mais de 100 oradores nacionais e internacionais. No caso do painel sobre Macau, houve lugar a apresentações na área de história, nomeadamente a conferência “Relações Transculturais Portugal-Ásia nos séculos XVI e XVIII”, de Luís Filipe Barreto, académico ligado à Universidade de Lisboa que anterior presidente do CCCM.

Roderic Ptak, académico da Universidade de Munique e colaborador do HM apresentou as “Questões relacionadas ao mundo insular de Guangdong Central e do Lingdingyan no período Ming”, enquanto Célia Reis, investigadora da Universidade Nova de Lisboa, apresentou um estudo sobre a política religiosa entre lisboa e Macau, nomeadamente “a presença de jesuítas e irmãs da caridade nas décadas de 1860-70”.

O painel sobre a história de Macau encerrou-se com a apresentação “Originalidades do poder municipal a Oriente: os casos das Câmaras Municipais de Bardez e Salsete (Goa) e do Senado de Macau”, da autoria de Luís Cabral de Oliveira e João Carlos Faria, académicos da Universidade Nova de Lisboa e Instituto Politécnico de Leiria.

Paquistão em Lisboa

Além do ciclo de conferências da Primavera, o CCCM acolhe com frequência eventos dedicados ao Oriente, bem como cursos e diversas oficinas dedicadas ao patuá, ensino do mandarim ou à história de Macau. O mais recente evento foi a conferência “Paquistão-China: desafios e oportunidades nas relações bilaterais”, com Qamar Cheema, director-executivo do Instituto Sanober, um think tank no Paquistão. Destaque ainda para o facto de, até final deste mês, o CCCM estar a aceitar candidaturas para cinco bolsas de doutoramento, “em qualquer área científica que permita o desenvolvimento do conhecimento no âmbito das Relações Europa-Ásia e dos Estudos Asiáticos”. Estas bolsas são financiadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia do Governo português.

24 Out 2023

CCCM com cursos sobre Direito e tradução em Setembro

O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, está a aceitar inscrições para dois cursos livres que arrancam em Setembro. Um deles, com candidaturas até 18 de Setembro, é um curso sobre tradução criativa ministrado pelo tradutor de poesia chinesa António Graça de Abreu e Ana Cristina Alves, académica na área da filosofia chinesa e coordenadora da área formativa do CCCM.

Este curso, que inclui módulos como a tradução de provérbios filosóficos chineses, métodos na tradução entre o chinês e o português ou ainda as técnicas utilizadas na tradução de chinês para português na poesia chinesa, com recurso a autores como Shi Jing, Yang Lian, Gu Cheng e Bei Dao. Os formandos podem ainda aprender mais sobre a poesia na dinastia Tang, entre os anos de 618 e 907 a.c., com nomes como Li Bai, Du Fu, Wang Wei e Han Shan, entre outros.

Pretende-se, com este curso, “ensinar a traduzir de chinês para português e de português para chinês, com base em materiais literários e filosóficos já traduzidos ou a traduzir durante as várias sessões”. Assim, serão traduzidos e analisados poemas e pequenos contos, como as colectâneas poéticas de António Graça de Abreu e as antologias de contos da escritora Isabel Mateus, tendo por base pedagógica o manual “Culturas em Diálogo: A Tradução Chinês-Português”, lançado pela Universidade de Macau em 2016.

Ensinar Direito

Outra acção de formação que decorre no CCCM a partir de 15 de Setembro, acontece na área do Direito, com o curso intitulado “Introdução ao Direito de família em Macau e em Portugal numa perspectiva jus-comparatística”, ministrado por Paula Nunes Correia, ex-professora da Faculdade de Direito da Universidade de Macau.

Este curso livre tem por objectivo “tratar de diversos aspectos relacionados com o Direito da Família em Macau e em Portugal” numa perspectiva comparada. Assim, “serão introduzidos tópicos como os vários tipos de casamento, o divórcio e até a adopção”, a fim de garantir aos alunos “uma introdução abrangente, embora abreviada, destes importantes aspectos sócio-culturais”. O curso termina a 3 de Novembro e decorre mediante um número mínimo de inscrições.

7 Ago 2023

Painel de conferências sobre a Ásia arranca hoje no CCCM

Decorre entre hoje e quinta-feira, no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, o painel de conferências sobre a Ásia, integrado no evento anual “Conferências da Primavera”. Hoje, a partir das 10h (hora de Lisboa), o evento começa com a conferência “Abordagens ao Multilateralismo na Arte e Arquitectura Qing”, de Cristina Osswald, académica da Universidade Politécnica de Macau (UPM) e Pedro Luengo Gutierrez, da Universidade de Sevilha.

Segue-se o painel “As antigas Rotas da Seda da Ásia Ocidental”, moderado por João Paulo Oliveira e Costa, e que conta com a participação de quatro académicos.

À tarde decorre o painel dedicado à arte e ao património de Goa, com moderação de Paulo Teodoro de Matos. Aqui irão abordar-se temas como “Igreja de Santa Cruz dos Milagres, em Goa: Subsídios para uma (possível) Tipologia Goesa de Fachada”, por Joaquim Rodrigues dos Santos, da Universidade de Lisboa. Por sua vez, Teresa Teves Reis, da Universidade de Évora, vai falar da “Galeria de Retratos dos Vice-Reis e Governadores de Goa”, entre outras palestras.

Economia e companhia

Terça-feira será um dia dedicado às conferências sobre “Economia e Geopolítica”, com destaque para a participação do académico Luís Tomé, da Universidade Autónoma de Lisboa, que falará das “Interligações Geopolíticas e Securitárias entre a Europa e a Ásia”. Segue-se a apresentação “O Banco Asiático de Investimento em Infra-estrutura e o Banco Asiático de Desenvolvimento: o seu contributo para o relacionamento entre a Europa e a Ásia”, de João Sabido Costa, da Universidade Católica Portuguesa.

Diogo Cardoso falará, de seguida, das “Implicações Geopolíticas e Geoestratégicas do Programa Espacial da China para a Ásia e para o Mundo”. No painel “História de Sociedade”, que acontece também na terça-feira, destaque para a participação da académica Leonor Diaz de Seabra, da Universidade de Macau, com a palestra “Os Portugueses no Sião”.

Na quarta-feira, algumas palestras irão debruçar-se sobre a presença dos Jesuítas na Ásia, sendo dado também destaque às áreas da língua e literatura. Na quinta-feira, último dia, o painel “Imprensa e Sociedade” conta com uma apresentação de Carlos Picassinos sobre “A Imprensa Portuguesa e os Direitos Fundamentais: Lições para Portugal dos Contextos Híbridos de Hong Kong”, tema da tese de mestrado defendida no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa.

António Caeiro, jornalista e ex-delegado da Lusa em Pequim, vai falar sobre o seu mais recente livro, “Os Retornados de Xangai”, que conta a história da comunidade de lusodescendentes que viveram na cidade chinesa durante várias décadas até à implementação da República Popular da China, criando laços e negócios.

20 Mar 2023

CCCM | “Sons do Oriente Lírico” este sábado

O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) acolhe este sábado, em Lisboa, a partir das 14h30, o evento “Sons do Oriente Lírico”, que integra uma série de palestras e momentos musicais que exploram “as artes da Lira no Oriente”.

O público poderá, assim, ter contacto “com os sons da poesia e da música numa paisagem auditiva e visual expressa nos sons da voz e da música, num encontro entre o Ocidente e o Oriente”. Destaque para as palestras “Música e Instrumentos Musicais Chineses”, com o investigador Enio Souza, e “Apontamentos para a Poesia Chinesa”, com a académica Wang Suoying.

Ao longo da tarde acontecem ainda as iniciativas “Poema da Dinastia Tang, Chun Xiao, ‘Madrugada da Primavera'”, lido por Luciana Lu, e o “Momento Musical com contrabaixo e Guzheng”, com o duo Miguel Leiria e Xin Su.
António Graça de Abreu, tradutor de poesia chinesa, vai falar da “Poesia de poetas chineses”, enquanto Joaquim Pereira e os “Amigos do Patuá” vão falar da “Poesia do Adé”, um dos grandes nomes da poesia macaense em patuá. O evento encerra com um recital de poemas com Maria Maya e convidados.

16 Mar 2023

CCCM | Ciclo de conferências sobre Macau arranca sexta-feira

Começa esta sexta-feira mais um ciclo “Conferências da Primavera” promovido pelo Centro Científico e Cultural de Macau, com um primeiro programa inteiramente dedicado aos estudos sobre Macau, havendo lugar a palestras sobre a China e a Ásia. A sessão de abertura conta com a presença da Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, entre outras personalidades

 

A segunda edição do ciclo “Conferências da Primavera” começa esta sexta-feira em Lisboa, no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), e apresenta, até sábado, uma série de palestras sobre o território. Seguem-se depois apresentações de estudos sobre a China, entre os dias 6 e 11 de Março, e Ásia, de 20 a 25 de Março.

A sessão inaugural desta iniciativa contará com a presença da ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, Elvira Fortunato, o embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang, bem como a chefe da Delegação Económica e Comercial de Macau, Lúcia Abrantes dos Santos, entre outras personalidades.

O primeiro painel, dedicado ao tema “História”, será moderado pela investigadora Isabel Murta Pina e conta com a apresentação “Relações Transculturais Portugal-Ásia nos séculos XVI e XVIII”, de Luís Filipe Barreto, académico ligado à Universidade de Lisboa que foi anteriormente presidente do CCCM. Actualmente, é Carmen Amado Mendes que está à frente desta entidade.

Roderich Ptak, académico da Universidade de Munique e colaborador do HM na secção “Via do Meio” irá falar das “Questões relacionadas ao mundo insular de Guangdong Central e do Lingdingyan no período Ming”. O painel conta ainda com apresentações de Célia Reis, académica da Universidade Nova de Lisboa que se dedica habitualmente ao estudo da história de Macau e do Oriente. Desta vez, irá apresentar um estudo sobre a política religiosa entre lisboa e Macau, nomeadamente “a presença de jesuítas e irmãs da caridade nas décadas de 1860-70”.

Noel Golvers, da Universidade de Leuven, integra também o painel, que se encerra com a apresentação “Originalidades do poder municipal a Oriente: os casos das Câmaras Municipais de Bardez e Salsete (Goa) e do Senado de Macau”, da autoria de Luís Cabral de Oliveira e João Carlos Faria, académicos da Universidade Nova de Lisboa e Instituto Politécnico de Leiria.

Lembrar Senna Fernandes

A partir das 17h10, hora de Lisboa, será possível assistir ao painel temático “Literatura e Identidade”, moderado por Ana Cristina Alves, coordenadora do departamento educativo do CCCM. Regina Campinho, da Universidade de Coimbra (UC), inaugura a palestra com a apresentação “Identidades patrimoniais de uma paisagem urbana em mutação: Macau do século XIX ao século XXI”.

Segue-se uma recordação dos escritos daquele que é considerado um dos grandes escritores de Macau, Henrique de Senna Fernandes, por Cristina Zhou, académica também ligada à UC.

João Ferreira Oliveira, da Universidade Católica Portuguesa, irá falar das “atitudes linguísticas na literatura cómica em crioulo de Macau”, nomeadamente o patuá. Felipe de Saavedra, da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, falará da ligação do poeta português Luís de Camões e Macau. O mesmo tema será abordado por Eduardo Ribeiro, antigo funcionário do Governo de Macau, com a palestra “Camões em Macau”.

No sábado é dia de abordar outras vertentes da cultura e história de Macau. Vera Borges, da Universidade Cidade de Macau, irá apresentar “O drama da crioulidade: a ressurgência da figura do Vate em ‘Poemas para Macau’, de Cecília Jorge”. Aida Zhong Caiyan, da Universidade de Lisboa, irá falar da “identidade macaense sob a hibridez cultural”.

Ondina e propaganda

Fernanda Gil Costa, ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau, vai apresentar a palestra “Entre a periferia e Literatura-Mundo: Dois romances de Macau depois da transição política”, enquanto Dora Nunes Gago, que também dirigiu o mesmo departamento, falará da poesia de Maria Ondina Braga.

O trabalho da mesma poetisa vai também ser abordado pelo académico Duarte Drumond Braga em “Angola, Goa e Macau: as errâncias e as memórias coloniais de Maria Ondina Braga”.

No painel “Sociedade” destaque para a apresentação de um estudo desenvolvido por José Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau, Catherine Chan, da Universidade Lingnan, de Hong Kong, e Elisabela Larrea, doutorada pela Universidade de Macau. Este trabalho versa sobre a propaganda política do regime de Salazar em Macau no período do Estado Novo.

Segue-se a apresentação da antropóloga Sheyla Zandonai, que vai falar das ligações do território ao urbanismo focado no jogo e no turismo.

Isabel Morais, da Universidade de São José, apresenta um trabalho sobre o historiador macaense Augusto Montalto de Jesus, autor da conhecida obra “Macau Histórico”, que teve a primeira edição lançada em 1906. A académica irá abordar a relação entre o trabalho deste historiador e a informação política da I Guerra Mundial em língua portuguesa.

Cátia Miriam Costa vai falar do antigo jornal “Echo Macaense” como exemplo do papel político da imprensa em Macau, seguindo-se Hélder Beja, jornalista e ex-residente, que falará de “Macau, Cidade Imaginada: Representações de Macau no cinema português”.

Segue-se um momento musical com a banda composta por Carlos Piteira e Jaime Mota que se dedica a mostrar mais sobre o território através da música. Destaque ainda para o facto de esta quarta e quinta-feira decorrer, também no CCCM e inserido neste ciclo de conferências, uma série de apresentações destinadas a mostrar as investigações de jovens académicos. Os programas dedicados a estudos sobre a China e Ásia não foram ainda divulgados pelo CCCM.

28 Fev 2023

CCCM | Inaugurada nova biblioteca Fundação Jorge Álvares

As novas instalações da Biblioteca Fundação Jorge Álvares do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) foram inauguradas na passada segunda-feira. No acervo, existem mais de 27 mil registos bibliográficos em catálogo, que incluem 40.000 ‘slides’ e 5.000 fotografias e ainda uma colecção com 7 mil microfilmes, que guardam mais de 50 mil documentos

 

A ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Governo de Portugal, Elvira Fortunato, elogiou a inauguração das novas instalações da Biblioteca Fundação Jorge Álvares do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM). Em declarações à Agência Lusa, destacou o contributo para a preservação da história de Macau e das relações de Portugal com o território.

“Tem uma importância extremamente elevada. Aliás, tem a história de tudo aquilo que aconteceu em Macau e das relações de Portugal com Macau, que é de extrema importância preservar exactamente e dessa forma garantir que investigadores, historiadores nestas áreas tenham acesso aqui nesta biblioteca a um acervo extremamente grande”, afirmou Elvira Fortunato.

Segundo a Lusa, a biblioteca do CCCM é a mais completa e actualizada biblioteca sobre a China em todo o mundo lusófono, especializada na investigação e ensino, acerca da China/Macau, da Ásia Oriental e das relações entre a Europa e a Ásia.

A sua dimensão internacional e multidisciplinar, funciona em rede com outras bibliotecas e arquivos, nacionais e estrangeiros, de forma a melhor cumprir a sua missão de apoio à investigação e ensino, à informação e à divulgação de conhecimento.

As suas características tornam-na “extremamente útil não só para preservar a história, mas acima de tudo, possibilitar que mais investigação e mais historiadores, e a sociedade no fundo, tire partido de toda esta riqueza que existe aqui em Portugal”, conclui Elvira Fortunato.

A biblioteca dispõe de cerca de 27.000 registos bibliográficos em catálogo, que incluem uma colecção de audiovisuais, que designadamente o fundo de cerca de 40.000 ‘slides’ e 5.000 fotografias, entre outros suportes físicos, de que ressalta a colecção de cerca de 7 mil microfilmes, com mais de 50.000 documentos.

Bons exemplos

A inauguração das novas instalações da Biblioteca Fundação Jorge Álvares do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) aconteceu em Lisboa, na passada segunda-feira.

Na ocasião, a ministra do Governo português deixou ainda o desejo de que os doutorados bolseiros possam conduzir as investigações fora do ambiente académico, e considerou o Instituto Científico e Cultural de Macau um excelente exemplo dos novos ambientes de investigação.

“Nós queremos proporcionar uma maior integração dos doutorados em ambientes não académicos, portanto, a universidade e os centros de investigação funcionam também como uma plataforma para formar pessoas altamente qualificadas e queremos, ao existirem bolsas de doutoramento em ambiente não académico, como por exemplo aqui no Instituto Científico e Cultural de Macau, ao fazerem doutoramentos nestes ambientes, se proporcione também a sua possibilidade de ficarem aqui integrados como investigadores”, explicou.

21 Dez 2022

CCCM | Patuá e teatro em destaque no evento “Macau em Lisboa”

O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) promove este domingo um evento especial intitulado “Macau em Lisboa”, onde o patuá e o teatro feito em patuá estarão em destaque. A ideia é promover “uma tarde macaense onde a graça, o chiste próprio do patuá, bem-humorado e satírico, a música e a declamação poética” serão os protagonistas.

Desta forma, pretende-se, com “Macau em Lisboa”, dar “a conhecer aspectos específicos da cultura macaense expressos através dos documentários “Natal e Ano Novo”, realizado pela Casa de Portugal em Macau e projectos dos Doci Papiaçam di Macau, nomeadamente a curta-metragem “Macau Sã Assi”, “Lorcha Di Amor”, peça de teatro e “Macau Champurrado”.

Entre as 14h30 e as 19h haverá a apresentação do espectáculo com músicas de Natal protagonizado por Carlos Piteira e Jaime Mota e ainda uma conversa com as académicas Maria Antónia Espadinha e Ana Cristina Alves. Haverá ainda récitas em patuá.

16 Dez 2022

CCCM | Oficina “Histórias Chinesas com Pensamento” destinada a jovens

O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, promove, nos dias 20 e 21 de Dezembro, uma oficina destinada a crianças e jovens dos oito aos 16 anos, intitulada “Histórias Chinesas com Pensamento”. As sessões abordam temáticas como “mitos cosmológicos chineses – Pangu, Nuwa e a tradição da corte celeste”, “As três tradições filosóficas através dos textos de quatro amigos-guias – Mêncio, Zhuangzi, Huainanzi, Hanfeizi e a estrutura do mundo” ou “Filosofia proverbial chinesa”, entre outros.

Com esta iniciativa, o CCCM pretende promover “a descoberta da tradição cultural chinesa através dos mitos e seus ideogramas”, “proporcionando um primeiro contacto com filosofias chinesas para crianças e jovens, centrando na narrativa de fábulas, parábolas e pequenas histórias que os filósofos chineses têm contado aos jovens ao longo da sua tradição filosófica, ilustradas por material audiovisual”.

Desta forma, “as teorias são apresentadas de uma forma acessível e espontânea, com uma forte componente prática e criativa, dando a conhecer as histórias através da caligrafia chinesa, que os participantes serão convidados a executar, absorvendo-as por meio da comparação de mitos chineses com os da sua própria tradição cultural”.

A oficina será ministrada por Ana Cristina Alves, doutora em Filosofia da História, Cultura e Religião pela Universidade de Lisboa desde 2005, com especialização na China, e coordenadora do sector educativo e da área de tradução chinês-português do CCCM.

Colabora ainda neste projecto Lisa Spinelli, bolseira de doutoramento na área da antropologia, sendo a sua área de especialização a diversidade da espiritualidade e cultura popular chinesa, expressas através de mitos, contos e formas artísticas, com maior enfoque nos grupos étnicos chineses.

25 Nov 2022

CCCM | Novos livros sobre diplomacia chinesa e disputa sobre as ilhas Diaoyu

O Centro Científico e Cultural de Macau lançou recentemente duas obras sobre questões da actualidade chinesa. “Narrativas e Percepções: O Soft Power Chinês no Século XXI”, com coordenação de Carmen Amado Mendes e Daniel Cardoso e “Narrativas Estratégicas Chinesas e Japonesas: a Disputa Diaoyu/Senkaku” com autoria de Diogo Silva foram apresentadas no passado dia 11

 

Foram lançadas, no dia 11 deste mês, pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), duas obras da área da ciência política e relações internacionais que espelham problemáticas relacionadas com a China dos dias de hoje. Uma das obras aborda o modelo diplomático chinês no século XXI, e intitula-se “Narratives and Perceptions: Chinese Soft Power in the 21st Century” [Narrativas e Percepções: O Soft Power Chinês no século XXI], sendo coordenada pela própria presidente do CCCM, e especialista em relações internacionais, Carmen Amado Mendes, e Daniel Cardoso.

Este livro conta com autores como Anabela Santiago, Diego Santana Mathias, Diogo Silva, Emanuel Leite Jr., Sérgio Ribeiro, Tiago Carvalho e Rui Campos. Anabela Santiago traça um olhar sobre a informação usada pelas autoridades chinesas na divulgação das políticas de saúde do país. O foco é colocado na forma como a propaganda “tem sido usada no período de Reforma e Abertura do país até ao momento actual”, além de se analisar “a forma como influencia a disseminação das políticas de saúde pública chinesas e a percepção da liderança de Xi Jinping”, Presidente do país.

Anabela Santiago, doutoranda da Universidade de Aveiro, analisou o exemplo concreto das políticas na área da saúde relacionadas com o projecto “Rota da Seda”, inserido na iniciativa “Uma Faixa, uma Rota”. Isto porque “a saúde é um sector com bastante relevância para a República Popular da China”, tendo vindo a ganhar “uma maior proeminência no panorama internacional, uma vez que existe um interesse em demonstrar o compromisso [por parte da China], na qualidade de actor internacional, em colocar o crescimento saúde pública mundial como prioridade”. Esta posição reforçou-se com a pandemia, escreve a autora.

Desta forma, Anabela Santiago conclui que a China tem vindo a recorrer ao projecto “Rota da Seda” para a promoção de políticas de saúde e bem-estar em todos os países aderentes, com base na ideia da criação de uma comunidade para “um futuro partilhado” na área da saúde. A China apresenta-se, assim, como um país disposto a fomentar este tipo de políticas e a prestar apoio neste sector.

“Concluímos que a propaganda e os media podem ser um veículo para ‘contar bem a história da China’, uma vez que o Presidente Xi Jinping deseja o recurso à ‘Rota da Seda’ como uma bandeira do grande compromisso chinês para a promoção da boa governança de saúde a nível global”, lê-se no capítulo do livro.

Media e disputas

“Chinese and Japanese Strategic Narratives: The Diaoyu/Senkaku Dispute” [Narrativas Estratégicas Chinesas e Japonesas: A Disputa Diaoyu / Senkaku] é o nome da obra de Diogo Silva também lançada pelo CCCM no passado dia 11. Este é o resultado da tese de mestrado do autor, que analisa as estratégias usadas pelos governos dos dois países em jornais online de língua inglesa sobre as disputas territoriais nas ilhas Diaoyu, para os chineses, e Senkaku, para os japoneses.

O estudo foca-se no ano de 2012, quando a disputa subiu de tom face ao anúncio do governo japonês relativamente à possível compra das ilhas.

Diogo Silva analisa as notícias e as perspectivas políticas e estratégias que estas revelam perante o público, estabelecendo um quadro comparativo das visões da China e do Japão sobre esta disputa territorial que se tem prolongado no tempo.

28 Jul 2022

Música chinesa | CCCM promove conferência e espectáculos em Mafra 

A quinta edição da conferência sobre música chinesa e instrumentos musicais, organizada pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), volta a acontecer entre os dias 9 e 10 de Maio no Palácio Nacional de Mafra, em Portugal. A organização tem a colaboração da Câmara Municipal de Mafra e obras entidades públicas e privadas.

Segundo um comunicado, “esta edição contará com a participação de renomados etnomusicólogos, musicólogos, músicos e calígrafos, provenientes de sete países e, ainda, de doze académicos, investigadores e músicos portugueses”.

Além das palestras, dia 9 de Maio haverá também uma performance de música e caligrafia chinesa no CCCM, sendo que no dia seguinte decorre, no Palácio Nacional de Mafra, um concerto com um “programa musical intercultural diversificado que integra desde canções interpretadas em patuá (dialecto de Macau), aos cordofones dedilhados chineses”.

O CCCM adianta ainda que, desde a primeira edição desta iniciativa, que os “principais objectivos têm sido sensibilizar o meio académico, atendendo à inexistência do ensino dessa disciplina nas universidades, conservatórios e academias de música portugueses”.

Pretende-se também abordar a possibilidade de, “num futuro próximo, poder vir a ser implementado, em Portugal, o ensino da música e dos instrumentos musicais chineses e asiáticos no âmbito da performance, no contexto da etnomusicologia e da musicologia histórica”.

O CCCM pretende ainda divulgar a música e dos instrumentos musicais chineses junto do público generalizado. O evento regressa depois de ter estado dois anos suspenso devido à covid-19. Apoiado em grande parte pela Fundação Jorge Álvares, a quinta edição sobre música chinesa e instrumentos musicais tem ainda o apoio científico da CHIME – European Foundation for Chinese Music Research, com sede em Leiden, na Holanda.

29 Abr 2022

Patuá | CCCM promove oficina sobre dialecto da comunidade macaense

O patuá, um dialecto de Macau em vias de extinção, será o foco da próxima oficina promovida pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa. Entre o dia 30 de Abril e 31 de Outubro irá decorrer a “Oficina Língua Patuá”, que inclui aulas sobre o “enquadramento histórico, económico e social de Macau”, o “ensino e compreensão de fonemas, dicção e formas de falar”, sendo ainda feita uma introdução aos poemas macaenses. Esta oficina inclui também o ensino do patuá com declamação na sua vertente poética. Com esta iniciativa, o CCCM pretende chamar a atenção “para a posição mundial do Patuá enquanto língua minoritária decretada pela UNESCO, em risco de extinção”.

Esta oficina terá, portanto, “um conjunto de aulas vivas com a finalidade de sensibilizar para a questão da preservação” deste crioulo. Desta forma, contribui-se “para a preservação de uma componente integrante da singular história e cultura macaense”.

Esta oficina será ministrada por Joaquim Ng Pereira, macaense, licenciado em ciências da comunicação e cultura e mestre em programação e gestão cultural, ambos na Universidade Lusófona. Membro da Comissão das Migrações, Joaquim Ng Pereira tem-se dedicado, em Portugal, à promoção e divulgação do patuá e da cultura macaense.

Nesta actividade colabora também Sara Roncon Leotte, licenciada em relações lusófonas e língua portuguesa pelo Instituto Politécnico de Bragança e autora do relatório de estágio “Perspectivas sobre o ensino das línguas – português, chinês e patuá: a criação de oficinas de língua”, defendido no CCCM. A temática das relações sinólogas, com incidência em Macau e a preservação do patuá constitui o seu primeiro trabalho na área.

20 Abr 2022

CCCM | Imagens de Macau em exposição a partir da próxima segunda-feira

A antropóloga Marisa Gaspar fotografou entre 2010 e 2018 os recantos de Macau à medida que ia fazendo trabalho de campo para as suas investigações. O resultado pode agora ser visto numa exposição que estará patente no Centro Cultural e Científico de Macau, em Lisboa, entre a próxima segunda-feira e 22 de Abril

 

“Macau em contrastes”, a exposição de fotografia Marisa Gaspar, é a primeira iniciativa do género desenvolvida pela antropóloga. Inaugurada na próxima segunda-feira em Lisboa, a fim de acompanhar o ciclo de conferências da primavera que o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), a exposição junta um conjunto de imagens do território capturadas entre 2010 e 2018, os anos em que Marisa Gaspar esteve em Macau a fazer trabalho de campo para a sua investigação.

“Sou amadora e não tenho pretensões de ser outra coisa”, adiantou ao HM. “Esta é uma visão muito minha sobre a cidade e as suas vivências. O título da exposição ‘Macau em contrastes’ traduz muito isso, a minha experiência pessoal à medida que ia descobrindo a cidade”, adiantou.

A mostra conta com curadoria de Rui Dantas, director do Museu de Macau associado ao CCCM, e da Fundação Casa de Macau, em Lisboa. “São imagens de lugares e não de pessoas. É uma visão sobre a cidade e não tanto sobre a comunidade macaense ou coisas concretas do meu trabalho. É uma viagem pela minha descoberta de Macau ao longo dos anos”, contou.

Marisa Gaspar deparou-se, em 2010, “com vários pedaços” que depois se foram “descobrindo numa malha urbana”. “Houve uma mudança na configuração física da cidade e é isso que a exposição retrata. Macau é muito fotogénica e é natural que as pessoas a fotografem muito e que existam muitos pontos de vista pessoais sobre esse espaço. Não são as fotografias mais bonitas de Macau, mas são as fotografias reais”, frisou. Depois do CCCM, Marisa Gaspar pretende levar a exposição para outras paragens.

Investigação suspensa

Marisa Gaspar, investigadora no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade de Lisboa, está neste momento com um projecto de pós-doutoramento suspenso devido às restrições impostas pelas autoridades de Macau no âmbito da pandemia, que a impedem de viajar até ao território.

Ainda assim, a académica tem alargado a pesquisa a Macau como espaço de turismo e património, sem ter apenas o foco na comunidade macaense, mas também em determinados factos históricos.

“Sendo o meu objectivo o turismo, não consigo imaginar Macau sem turistas. As últimas políticas [previam] uma maior abertura de Macau ao mundo, com o desenvolvimento de várias parcerias. A ideia era uma projecção maior aos turistas internacionais. Estou apreensiva, porque tenho um projecto de investigação embargado”, confessou.

Ainda assim, Marisa Gaspar destaca o facto de a comunidade se ter vindo a destacar, nos últimos anos, “como comunidade patrimonial”, tendo em conta que “a gastronomia e o patuá foram reconhecidos como património chinês e foi levada à Assembleia Popular Nacional a possibilidade de a comunidade ser considerada mais uma etnia chinesa”.

23 Mar 2022

José Manuel Duarte de Jesus, embaixador jubilado: “A diferença entre a China e a Rússia é enorme”

Ex-embaixador de Portugal em Pequim e Pyongyang, José Manuel Duarte de Jesus defende que a China tem mantido uma estratégia para a sua política externa semelhante desde 1949 e que precisa de um mundo estável para a sua sobrevivência. Quanto à situação na Ucrânia, o embaixador jubilado acredita que a China “está a fazer as coisas com grande subtileza”

 

Quando é fundada a RPC, em 1949, Mao Zedong passou a liderar um país ainda fechado ao mundo. Neste período como eram as relações externas chinesas?

Na conferência de Bandung [em 1975], Zhou Enlai, então primeiro-ministro chinês, delineia as grandes linhas que vão orientar a diplomacia chinesa e a política externa. É interessante ver que, no caso da China, comparando com a maior parte dos países, tem havido uma constância enorme na sua política externa.

Até aos dias de hoje.

Mesmo com os problemas que se colocam hoje com a Ucrânia, julgo que a linha básica é a mesma. Isso verifica-se no caso de Taiwan e até com os problemas de agora. As últimas declarações de Wang Yi [ministro dos Negócios Estrangeiros] sobre a Ucrânia não diferem muito da política estabelecida. Vimos que a China condena a invasão, mantém a sua ideia de multilateralismo, a defesa das grandes orientações da ONU. A sua abstenção nas votações manteve-se quando foi do problema da Crimeia. A ideia da China é evitar meter-se nas crises internas de outros Estados.

A China abstém-se, mas a comunidade internacional insiste numa tomada de posição. Isso vai acontecer?

Condeno absolutamente a invasão na Ucrânia. Mas uma coisa é condenar, outra é votar publicamente contra. A China já está a assumir alguma posição. Recentemente houve um longo telefonema da ministra dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia com Wang Yi. A China está a fazer as coisas com grande subtileza, está a ter uma intervenção no sentido de promover o diálogo, mas não o faz publicamente. O pragmatismo da China, no que diz respeito à política externa, é imenso. Duvido que a China torne pública uma posição. Temos de ter alguma atenção a estas coisas que se vão dizendo, nomeadamente da grande aproximação entre a Rússia e a China.

Porquê?

Temos de ser prudentes. A China baseia-se, além de Karl Marx e Lenine, na filosofia antiga. E lembro-me muito, nesta situação, de uma coisa que Confúcio escrevia e que se aplica muito a esta situação, sobre a virtude, quando ele diz que sabe harmonizar-se com o outro quando esse outro é diferente, mas não o copia. Esta ideia está presente. A diferença entre a China e a Rússia é enorme.

E sempre foi.

A aproximação [dos dois países] é pragmática. Julgo que tentar uma harmonia não é copiar o modelo. É difícil entender a China quando não se tenta entender um pouco do seu passado cultural, e que comanda muitas das reacções que a China tem no mundo.

A Rússia é hoje uma oligarquia, afastada dos ideais do comunismo. Mas a China tem uma forte relação comercial com o país. Acha que esta relação poderá sofrer mudanças profundas nos próximos tempos?

É natural, suponho que todo o mundo vai sofrer mudanças. Vamos ter uma ordem mundial com fortes diferenças e ajustes. É difícil prever o que vai acontecer, mas estamos perante um modelo russo que é capitalista no pior sentido da palavra capitalismo. A dependência daquele senhor [Vladimir Putin] dos grandes oligarcas é enorme. A Rússia é fundamentalmente pragmática e nas relações externas o pragmatismo é a única ideologia da China. Daí digamos que haja uma grande vantagem para o diálogo e para a paz mundial. Pode ser um actor importante para ultrapassar clivagens.

No período da Guerra Fria dominavam dois actores, a URSS e os EUA. A China procurava uma outra via diplomática?

A China buscava para si um apoio no que, naquela altura, se chamava o Terceiro Mundo, a criação de um bloco que ultrapassasse os problemas entre os EUA e URSS. Tinha depois a Índia que queria fazer exactamente o mesmo, embora na altura nenhum deles [China e Índia] fosse ainda uma potência. A China teve uma evolução que lhe permitiu pôr em prática esse modelo a nível mundial com maior eficiência do que a Índia, que não conseguiu a mesma progressão tecnológica.

Com Deng Xiaoping o país abre-se ao mundo. A evolução económica do país teve um impacto na forma da China se relacionar com os outros países, com uma visão mais economicista?

Com certeza, sempre houve essa visão. Isso porque a China sempre foi pragmática e deu, desde a velha Rota da Seda até à actualidade, um valor especial às relações comerciais no sentido de poder ultrapassar a problemática política. Essa tem sido sempre uma aposta grande na China. A URSS sempre quis vender o seu modelo político a outros países e isso ficou muito evidente no caso da guerra colonial nas antigas colónias portuguesas em África. Havia movimentos que estavam ligados à URSS que queriam copiar o seu modelo.

E que obtinham financiamento.

Exactamente. Sabemos que a China financia todos. A ideia é sempre esse pragmatismo e isso ajuda a China a ultrapassar clivagens ideológicas ou ligadas ao poder. Hoje assistimos a um novo bipolarismo, já não entre a URSS e EUA mas entre os EUA e China. Mas a China tenta sempre partir este modelo, às vezes consegue, outras vezes não.

Essa estratégia verifica-se em projectos políticos actuais como é o caso de “uma faixa, uma rota”, em que há um amplo investimento da China em diversos países. É uma cópia desse modelo no período colonial?

Acho que sim. E é algo que vem desde os tempos da velha rota da seda: pegar em todos aqueles que são inimigos da China e torná-los parceiros económicos. O modelo tem sido sempre o mesmo com adaptações às circunstâncias. Há aqui uma orientação milenar que a maior parte dos políticos e analistas se esquecem.

A análise que tem sido feita à diplomacia chinesa peca por não olhar para esse lado filosófico, essa base confucionista, e que é diferente de outros países?

Sim. Há sempre um erro, mas penso que Portugal é dos países que menos comete esse erro por ter uma experiência de 500 anos de convivência com o país através de Macau. Tenho alguns exemplos que aconteceram comigo, e fiquei abismado com frequência por ver até que ponto essa história ainda se reflecte no nosso diálogo. Esse modelo que criámos permanece, com altos e baixos, e Portugal deveria explorar mais, do ponto de vista diplomático, este vector.

Actualmente a China parece estar a usar a pandemia como uma ferramenta de soft power, e Xi Jinping tem usado muito o conceito do “socialismo com características chinesas”. Com base nestes dois factores, como olha para a estratégia diplomática de Xi Jinping para os próximos tempos?

Sou prudente nessas coisas, porque mesmo a China tem desvios nesse tipo de linhagem ideológica. O problema que está a acontecer, e que é grave, são as relações com os EUA. Vimos que o Trump teve uma política externa desastrosa para a imagem externa do país. Estava com esperança de que Joe Biden viesse dar uma volta a isso, mas infelizmente não deu.

Ou ainda não teve tempo para dar?

Agora é tarde demais para dar, e ainda por cima tem de lidar com problemas internos graves. Ele quer afirmar-se e nesse processo não quer dialogar, porque acha que dessa forma fica com uma imagem de fraqueza. Isso prejudica porque estamos perante dois pólos economicamente e tecnologicamente concorrenciais. Sem diálogo, o problema é grave e isso junta-se ao problema que temos hoje na Ucrânia. Penso que da parte da China há uma vontade real de diálogo, porque sem isso os problemas económicos podem agravar-se no país. A China está numa grande fase de desenvolvimento e para isso precisa de um mundo estável, a sobrevivência do país depende dessa estabilidade, pois permite-lhe ter relações vantajosas. Se há uma guerra ideológica isso prejudica gravemente a China.

Um cenário de guerra comercial com os EUA está afastado?

Infelizmente não está.

Em relação a Taiwan, paira o fantasma de um conflito armado?

Convém não confundir Taiwan com a Ucrânia, que não têm nada a ver um com o outro. Mais uma vez a política da China em relação a Taiwan foi sempre a mesma, que é afirmar que o território faz parte da China desde a dinastia Ming. A diplomacia chinesa tem sido basicamente a mesma, mas infelizmente a diplomacia americana tem sido um zigue-zague nos últimos anos. E há académicos a afirmar isso, incluindo o próprio Kissinger.
É difícil prever o que vai acontecer, porque vai depender muito da influência externa dos outros países. Teremos de ver qual vai ser a atitude dos EUA face a Taiwan. A China vai, de certeza, manter a posição de “wait and see” [esperar e ver] e não vai copiar o senhor Putin e invadir. Se não tivesse surgido o problema da Ucrânia a questão de Taiwan seria um dos maiores focos de tensão a nível mundial. Vamos ter esperança de que as coisas se resolvam com Taiwan de uma maneira diferente, porque Taiwan é hoje uma grande economia e já é diferente da região que era nos anos 70. É natural que o diálogo tenha de ter uma formulação diferente.

A Coreia do Norte condenou as forças ocidentais na invasão da Ucrânia. Sendo uma potência nuclear, tal como a Rússia, teme algum tipo de união entre os dois países para um maior poder nuclear?

Espero que isso não aconteça. Não vejo nenhum tipo de ligação possível entre Putin e Coreia do Norte, são actores radicalmente diferentes. Quando eu lá estava, um dos inimigos da Coreia do Norte era a URSS. Mas quando há inimigos comuns, a união entre adversários é relativamente possível, pelo que há sempre um perigo. Não podemos esquecer as quatro potências nucleares a Oriente e não podemos brincar com o fogo, com o louco da Coreia. A Coreia do Norte é mais um laboratório psíquico do que um Estado. Nunca vi nem vejo comparação com outro país. Mas quem tem um cão tem de saber lidar para que ele não morda.

 

Orador no CCCM

José Manuel Duarte de Jesus será um dos oradores no ciclo de conferências da Primavera organizado pelo Centro Cultural e Científico de Macau. No dia 31 deste mês irá apresentar a palestra “A construção de uma imagem externa na diplomacia da República Popular da China, desde Zhou En Lai até aos nossos dias”, que serviu de ponto de partida para esta entrevista. José Manuel Duarte de Jesus participa na qualidade de académico do Instituto do Oriente, ligado à Universidade de Lisboa.

10 Mar 2022