Covid-19 | Medicamento da Hovione precisa ser testado

[dropcap]S[/dropcap]egundo um estudo australiano o medicamento Ivermentine, produzido pela Hovione Macau, tem capacidade para inibir o coronavírus.

No entanto, os Serviços de Saúde alertam que é cedo para conclusões e que o fármaco tem de ser testado primeiro em humanos. “É um medicamento desparasitante e um estudo diz que tem efeito contra o coronavírus. Mas, sabemos que para se provar esse efeito é necessário seguir vários procedimentos e testar em humanos”, alertou Alvis Lo.

“Temos esperança que a informação se confirme, até porque falamos de um medicamento barato, mas precisamos de mais dados e testes em seres humanos”, frisou.

Covid-19 | Governo gasta 20 milhões com veículos e corredor especial

Apesar de a Air Macau ter cedido um avião gratuitamente, o Governo gastou 20 milhões com outros tipos de transportes devido à covid-19, nomeadamente com o corredor especial entre Hong Kong e Macau

 

[dropcap]O[/dropcap] Executivo gastou 20 milhões de patacas com o transporte de regresso dos residentes da RAEM retidos em Wuhan e com a criação do corredor especial entre o aeroporto de Hong Kong e Macau. Os números foram apresentados ontem por Inês Chan, chefe do Departamento de Licenciamento e Inspecção da Direcção de Serviços de Turismo (DST).

“O avião fretado à Air Macau ficou isento de custos, foi assumido pela empresa como responsabilidade social. No entanto, houve esses custos com o transporte específico para os residentes, porque precisamos de organizar veículos especiais, assim como as inspecções nos postos fronteiriços”, disse Inês Chan.

“Houve várias pessoas a regressar a Macau vindas de vários sítios e em altura diferentes, não só turistas, mas também estudantes”, clarificou Inês Chan. “Em Março, muita gente regressou a Macau através de Hong Kong, numa altura em que já havia dificuldades de transporte. Tivemos de contratar mais empresas para nos ajudarem, o que envolve muitos custos”, acrescentou.

Apesar do montante apresentado, não foram detalhados os diferentes gastos, informação que ficou prometida para ocasião posterior.

Isenção de quarentena

Ontem foi igualmente revelado que “dezenas” de residentes pediram a isenção de quarentena nas deslocações entre Macau e Hong Kong, principalmente pessoas com cuidados de saúde. A informação foi revelada por Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença.

“São pessoas que estão a ser tratadas em Hong Kong e que precisam de regressar a Macau, por isso pediram isenção da quarentena”, explicou Leong. “Ainda estamos a tratar dos pedidos, o que vai ser feito de forma rigorosa porque temos de cumprir o despacho com as medidas de prevenção e controlo da epidemia, que obriga qualquer pessoa vinda de Hong Kong a uma quarentena de 14 dias”, acrescentou.

Segundo a explicação, há pedidos de isenção de quarentena quase todos os dias, tanto para pessoas em tratamentos como para familiares.

Alternativas de medicamentos

Outro dos assuntos que merece a atenção das autoridades de saúde é o tratamento realizado pelos residentes da RAEM no estrangeiro e Hong Kong, assim como a importação especial de medicamentos.

Até ontem não tinha havido pedidos de transporte para Hong Kong por parte de residentes de Macau a precisar de certos cuidados de saúde. Porém, os Serviços de Saúde admitem a possibilidade de dificuldades para receber certos medicamentos recomendados por médicos fora de Macau. Nesse caso, os pacientes são aconselhados a entrarem em contacto com os Serviços de Saúde para expor as situações.

Porém, em situações urgentes Alvis Lo Iek Long, médico-adjunto da direcção do Centro Hospitalar do Conde São Januário, aconselhou a ida às urgências. “Se tiverem dificuldades no acesso a medicamentos podem entrar em contacto connosco. Vamos analisar as situações caso-a-caso para ver se os mesmos fármacos existem em Macau, ou então recomendar semelhantes”, indicou.

Religião | Prevenção da pandemia divide moderados e fundamentalistas

Enquanto no Vaticano o Papa Francisco celebra os ritos pascais sozinho, muitos líderes religiosos, das mais diversas crenças, contrariam as medidas que procuram parar a propagação do novo coronavírus. Em Itália, o país com mais vítimas mortais da covid-19, o líder da extrema-direita defendeu a abertura de igrejas para a celebração da Páscoa. Um pouco por todo o mundo, fundamentalistas desafiam autoridades de saúde e cientistas

 

[dropcap]A[/dropcap]s clivagens entre ciência e fé são tão velhas quanto a necessidade de encontrar respostas transcendentais para as dúvidas encontradas no mundo natural, e voltaram a tornar-se evidentes no contexto da pandemia da covid-19.

No passado domingo, em plena época pascal, o líder do partido de extrema-direita Lega, Matteo Salvini, defendeu a abertura das igrejas para a realização dos ritos de Páscoa. O dirigente do partido que nasceu de uma força política que operava uma milícia responsável por violência contra imigrantes, mostra-se desafiante relativamente às medidas de contenção da pandemia, apesar de a Itália ser o país com mais mortos, pela covid-19.

Para travar o novo coronavírus, Matteo Salvini argumentou que “a ciência por si só não chega”, e que é fundamental a contribuição do “bom Deus”.

As declarações foram rebatidas pela própria Conferência Episcopal. “O momento é de responsabilidade e vamos ver quem é capaz de demonstrá-lo”, afirmou o cardeal Gualtiero Basetti, presidente da Conferência Episcopal italiana, em entrevista ao Corriere della Sera, em resposta a uma pergunta sobre que opinião tem daqueles que pressionam para que as igrejas voltem a abrir na Páscoa.

As afirmações de Salvini fazem eco da posição dos sectores mais conservadores, que criticaram a suspensão das missas para limitar a propagação do vírus no país. “É a primeira vez que se celebra a semana santa desta maneira, sem o contributo dos fiéis, mas isso não implica renunciar a viver estes dias plenamente”, frisou o cardeal Gualtiero Basetti. “A impossibilidade de assistir às missas da Páscoa este ano é um acto de generosidade. É nosso dever respeitar aqueles que, numa emergência, estão na linha da frente com grande risco para a sua segurança”, acrescentou.

Também o arcebispo de Bolonha (norte), o cardeal Matteo Maria Zuppi, defendeu o encerramento das igrejas durante a pandemia, afirmando, em entrevista ao La Repubblica, que as regras têm de ser cumpridas. “Eu também gostava de poder celebrar a semana santa e a Páscoa com a comunidade. Mas arriscar é perigoso, as regras devem ser respeitadas e a Igreja tem o dever de o fazer”, disse.

A posição de Salvini é replicada um pouco por todo o mundo, inclusive por líderes religiosos de crenças que o político despreza, e volta a trazer para a ordem-do-dia o conflito ideológico entre ciência e aquilo a que os quadrantes mais ortodoxos denominam de liberdade religiosa.

Américas evangélicas

Em Belém, considerado pelos crentes como o local onde Jesus Cristo nasceu, as portas da Igreja da Natividade estão encerradas. Da mesma forma, a Mesquita de Omar Bem Khatab fechou.

Nos Estados Unidos a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida por mórmon, encerrou muitos templos e limitou, ou suspendeu temporariamente, aglomerações de crentes um pouco por todo o mundo.

Atitude seguida pela Igreja Presbiteriana, que desaconselhou círculos de oração e assegurou aos crentes que podiam limitar a participação em actos religiosos nas igrejas sem medo de julgamento.

Porém, fora das religiões com liderança centralizada e no reino das variadíssimas denominações evangélicas independentes, não existem limites. Muitos líderes religiosos ignoram as quarentenas e tornam a desobediência às autoridades numa cruzada pela liberdade religiosa. Landon Spradlin, um pastor evangélico, é o retrato perfeito que ilustra a fragmentação ideológica e a extrema politização da actualidade com um desfecho trágico.

Antes de ser contaminado pelo novo coronavírus, Spradlin referiu-se à pandemia, numa publicação de Facebook, como uma histeria vendida pela comunicação social e fez as habituais e perigosas comparações com a gripe. Teorias poucos dias repetidas pelo Presidente Donald Trump. Aliás, o pastor plagiou o magnata e disse que os média trataram muito melhor Obama do que Trump, e que a covid-19 fazia parte de uma conspiração para desacreditar Trump. Sem se preocupar com medidas de contenção, e acreditando no poder da fé no combate ao vírus, Spradlin foi para Nova Orleães em missão para salvar almas do deboche e vício durante o Mardi Gras. Um mês depois, morria infectado pela covid-19, engordando a contabilidade de casos de doentes que testam negativo, mas que estão infectados.

O cocktail de fé e conservadorismo político levou ao revigoramento das posições anticientíficas, algo que não é novo, mas que ganha contornos particularmente perigosos hoje em dia.

Depois de ser detido por organizar serviços religiosos apesar das restrições impostas pelas autoridades da Florida, um pastor evangélico protestou argumentando ser “vítima da tirania governamental”. O Governador, republicano, Ron DeSantis ouviu a declaração do pastor e voltou atrás, designando os serviços religiosos como “actividades essenciais”. O passo seguinte foi retirar às cidades e condados o direito de banir as actividades religiosas.

Na direcção oposta, os líderes da publicação Christianity Today e da Associação Nacional Evangélica assinaram uma declaração conjunta a referir que não ir à igreja nesta altura é um “sacrifício de amor”, não é desprezo pela necessidade da oração. “Não vamos transmitir paz através de abraços, mas por telefone. Serão estes meios inferiores? Sim. Serão aceites pelo Senhor? Acreditamos que sim”, refere a declaração, citada pelo The Guardian.

Diabo do secularismo

Em Israel, apesar das medidas impostas, os judeus ultra-ortodoxos resistem às directrizes do Governo para conter o surto da covid-19, com um efeito devastador no número de infectados.

Aliás, o surto está a espalhar-se nas comunidades mais conservadoras entre quatro a oito vezes mais rapidamente do que na sociedade geral.

Uma dessas comunidades situa-se em Bnei Brak, nos subúrbios de Telavive, onde 95 por cento dos residentes são ultra-ortodoxos. Apenas naquela localidade, o Governo avançou que quase 40 por cento dos residentes possam estar infectados, num universo de 200 mil pessoas.

As autoridades de saúde atribuem a proliferação em larga escala de infecções entre este tipo de comunidades religiosas à densidade populacional, famílias numerosas, um sentimento profundo de desconfiança da autoridade estatal, à ignorância dos riscos de saúde disseminado por líderes religiosos.

Além disso, partilham forte aversão à tecnologia e aos média seculares, algo que acreditam ser exigido pelas leis religiosas. O The Times of Israel avança que quatro residentes de Bnei Brak recorreram ao Supremo Tribunal de Justiça com uma acção que pretende terminar o bloqueio argumentando que a medida viola os seus direitos fundamentais e encoraja a discriminação contra a comunidade ultra-ortodoxa.

“Desde o estabelecimento do Estado de Israel, nunca houve uma decisão com um impacto tão grave nos direitos humanos”, escreveram os peticionários.

O encerramento de cidades foi coadjuvado pelo músculo das forças policiais israelitas e pela divisão de pára-quedistas das Forças de Defesa de Israel, com a construção de checkpoints a limitar o movimento dos residentes para fora das comunidades.

A estas medidas localizadas juntam-se as ordens de isolamento a nível nacional, que remetem para quarentena em casa todos os israelitas, à excepção das saídas para acorrer a necessidades essenciais.

Fé em julgamento

Na Coreia do Sul, o Governo municipal de Seul pediu ao Ministério Público a acusação de Lee-Man-hee, auto-proclamado messias e fundador da Igreja de Shincheonji, o culto que registou um foco de contaminações. O alegado emissário de Deus vai-se sentar no banco dos réus juntamente com mais 11 arguidos acusados de esconder nomes de membros que sabiam estar infectados das autoridades que tentavam controlar a propagação do surto.

Segundo o Governo sul-coreano, os membros da seita cristã infectaram-se uns aos outros em Fevereiro na cidade de Daegu, no sul do país, o epicentro da pandemia na Coreia do Sul, antes de se espalhar.

Depois das consequências desastrosas deste caso, no passado domingo, as autoridades municipais de Seul voltaram a recorrer à justiça numa acção contra uma igreja evangélica que violou as ordens emanadas da administração da cidade que proíbe reuniões em massa para prevenir a propagação do novo coronavírus.

Covid-19 | Universidade de São José cria fundo para ajudar alunos internacionais

[dropcap]A[/dropcap] Universidade de São José (USJ) anunciou o lançamento de um fundo para ajudar alunos internacionais com dificuldades financeiras. O fundo vai “apoiar os estudantes internacionais em situações excepcionalmente difíceis, até que possam retomar as suas vidas normais”, explicou a universidade numa nota enviada às redacções.

“A actual pandemia do coronavírus e as respectivas medidas preventivas estão a ter um efeito dramático na capacidade de alguns estudantes internacionais de se sustentar financeiramente”, acrescentou, indicando que irá recolher doações ‘online’ e publicar relatórios regulares sobre o uso das verbas, mas que a lista de beneficiários “será estritamente confidencial”.

Mais informações podem ser obtidas por e-mail (studentaffairs@usj.edu.mo) ou por telefone (+853 8592 5655), junto da USJ, criada em 1996 pela Universidade Católica Portuguesa em conjunto com a diocese de Macau. Após 40 dias sem identificar qualquer infecção, a partir de meados de março Macau identificou 34 novos casos, todos importados. Em Fevereiro registou-se uma primeira vaga de 10 casos da covid-19, já todos com alta hospitalar.

Covid-19 | China sem registo de mortes nas últimas 24 horas

[dropcap]A[/dropcap] China disse hoje que não foram registadas quaisquer mortes devido à covid-19 nas últimas 24 horas e que no país existem pouco mais de duas centenas de casos graves de infecção. A Comissão Nacional de Saúde da China informou que nas últimas 24 horas foram registados 32 novos casos na China continental, que exclui Macau e Hong Kong, todos provenientes do exterior, os chamados casos importados.

Além disso, as autoridades de saúde chinesas indicaram que o número total de infectados no país asiático desceu para 1.242, quando no dia anterior era de 1.299 pessoas. Assim, o número total de infectados diagnosticados na China desde o início da pandemia é de 81.740, dos quais 3.331 pessoas morreram e 77.167 pessoas receberam alta.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 1,3 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 73 mil. Dos casos de infecção, cerca de 250 mil são considerados curados.

Estudo da WWF defende fim dos mercados ilegais de animais

[dropcap]U[/dropcap]m estudo ontem divulgado feito no sudeste asiático indica que 90% dos entrevistados apoiam o encerramento de mercados ilegais de animais selvagens, ligando-os à actual pandemia covid-19. O estudo foi divulgado pela organização ambientalista “World Wide Fund for Nature” (WWF), que em conjunto com a empresa GlobeScan inquiriram 5.000 pessoas em Hong-Kong, Japão, Mianmar, Tailândia e Vietname.

Dos resultados concluiu-se que 82% das pessoas estão muito preocupadas com a atual situação de pandemia, devido ao novo coronavírus que provoca a doença covid-19, e que já matou mais de 70.000 pessoas. E 93% apoia ações dos governos para eliminar mercados ilegais não regulados.

A covid-19 é uma doença zoonótica (transmitida de animais para seres humanos), tal como outras das maiores epidemias recentes, como a SARS (2002 – síndrome respiratória aguda grave), MERS (2012 – síndrome respiratória do Médio Oriente) e Ébola (também doença causada por vírus), todas com origem num vírus que passou de animais para pessoas. A covid-19 terá começado num mercado de animais na China, estando agora espalhada por todo o mundo.

“É hora de perceber a ligação entre o comércio de animais selvagens, a degradação ambiental e riscos para a saúde humana. Agir agora é crucial para a nossa sobrevivência”, diz Marco Lambertini, diretor da WWF Internacional, citado num comunicado hoje divulgado pela Associação Natureza Portugal (ANP), que em Portugal trabalha com a WWF, uma organização presente em mais de uma centena de países.

A covid-19 surgiu em dezembro passado na China, onde o Governo já proibiu o consumo de animais selvagens. Ângela Morgado, diretora da ANP, diz, também citada no documento, que o Vietname se prepara para proibir a caça, comércio, transporte e alimentação de animais selvagens, acrescentando: “Todos os países do mundo deverão juntar-se às vozes destas populações que estão a pedir aos governos asiáticos para encerrar mercados ilegais ou não regulados de animais selvagens de uma vez por todas, para salvar vidas e ajudar a evitar a repetição da perturbação social e económica que enfrentamos hoje em todo o mundo”.

Na informação divulgada hoje pela WWF salienta-se que o comércio insustentável de animais selvagens é a segunda maior ameaça direta à biodiversidade em todo o mundo, depois da destruição de habitats.

“As populações de espécies de vertebrados na Terra caíram em média 60% desde 1970, e um relatório de 2019 da Plataforma Intergovernamental de Ciência e Políticas sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES) concluiu que atualmente, em média, 25% das espécies globais estão ameaçadas de extinção”, alertam os responsáveis.

Lembrando que as actividades humanas alteraram significativamente três quartos da terra e dois terços dos oceanos, os responsáveis dizem que este processo, que aproxima o Homem à vida selvagem, facilita a propagação de novas estirpes de vírus e bactérias.

“O comércio ilegal e descontrolado de animais selvagens vivos cria oportunidades perigosas de contacto entre os seres humanos” e as doenças que os animais possam ter. “Não é por acaso que muitos surtos recentes tiveram origem em mercados que vendem uma mistura de mamíferos domésticos e selvagens, aves e répteis, criando as condições para o desenvolvimento de novas e antigas zoonoses”, alerta-se no comunicado.

Num relatório publicado em março pela WWF-Itália já se salientava a evidente ligação entre os impactos os ecossistemas provocados pelo Homem e a disseminação de doenças. Agora os ambientalistas da WWF dizem que este é o ano e a oportunidade para reequilibrar o relacionamento do Homem com a natureza.

No inquérito, 09% dos entrevistados disse que eles próprios ou alguém que conheciam tinham comprado animais selvagens nos últimos 12 meses, num mercado. Mas 84% disseram não ser provável, ou ser pouco provável, que compre animais selvagens no futuro.

Rei da Tailândia volta ao país para celebrar aniversário da sua dinastia

[dropcap]O[/dropcap] rei Maha Vajiralongkorn da Tailândia voltou ontem ao país vindo da Alemanha, onde vive grande parte do tempo, para o aniversário do início da sua dinastia, a Chakri. Esta é a primeira visita do rei desde que foi imposto o estado de emergência no país para conter a epidemia do novo coronavírus a 26 de março.

O monarca chegou acompanhado da rainha Suthida e já esteve com o primeiro-ministro, Prayut Chan-ocha, e o chefe das Forças Armadas, Apirat Kongsompong, numa cerimónia na qual entregou doações de material de saúde para fazer frente ao vírus.

“Esta pandemia não é culpa de ninguém. O governo deve resolver o problema, entendendo as suas causas. É necessário estabelecer um sistema e comunicá-lo às pessoas para que o entendam bem”, disse Vajiralongkorn na cerimónia, cujas imagens foram transmitidas pela televisão.

Durante o dia, prestou homenagem ao seu pai, o rei Bhumibol Adulyadej, que morreu em 2016, e a Rama I, fundador da dinastia Chakri, que começou em 1782 e da qual Vajiralongkorn é o décimo monarca.

A chegada do rei da Alemanha coincide com a decisão do governo de estender até 18 de abril a proibição de aterragem de qualquer avião comercial vindo do estrangeiro para evitar os contágios. Vajiralongkorn, 67 anos, foi coroado o ano passado.

Há duas semanas, milhares de internautas tailandeses protestaram contra o rei na rede social Twitter devido ao seu papel ausente durante a pandemia, um desafio sem precedentes à dura lei de lesa majestade da Tailândia, que castiga com até 15 anos de prisão as críticas ao monarca.

Ao contrário de outros reis, Vajiralongkorn não fez qualquer declaração pública sobre a crise do novo coronavírus, que na Tailândia infectou 2.200 pessoas e matou 26.

International Property Awards | Atelier de Maria José de Freitas distinguido

[dropcap]D[/dropcap]ois trabalhos desenvolvidos pelo atelier AETEC, da arquitecta Maria José de Freitas, foram distinguidos nos International Property Awards no Reino Unido. Um dos projectos é um edifício residencial situado junto ao Mercado Vermelho, de nome Chon Kit Gardens, enquanto que o outro é o balcão da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) localizado no edifício dos serviços transfronteiriços da ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai.

Ao HM, Maria José de Freitas declarou que a equipa está satisfeita com a distinção obtida. “Queremos continuar com qualidade e o facto de essa qualidade ser reconhecida a nível internacional é, para nós, muito gratificante.” No que diz respeito aos projectos em questão, “são de áreas diferentes”, tendo implicado “um grande esforço e muito consenso”.

“Procurámos introduzir mais valias e outras visualizações para Macau”, adiantou a arquitecta que, no caso do projecto do edifício residencial, foi buscar inspiração às cores do Mercado Vermelho. Quanto ao balcão da DST, “houve maior liberdade de concepção” dada a maior disponibilidade de espaço para trabalhar.

Pereira Coutinho quer salário extra e subsídios de risco na função pública

[dropcap]A[/dropcap]tribuição de um mês de salário extra para todos os trabalhadores da linha da frente no combate à covid-19. Esta vai ser uma das ideias apresentadas hoje de manhã pelos representantes da Associação de trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) ao Chefe do Executivo, no âmbito das Linhas de Acção Governativa.

Segundo José Pereira Coutinho, deputado e presidente da ATFPM, as sugestões vão focar três aspectos: saúde pública, devido à epidemia da covid-19, reforma da administração pública e ainda internacionalização de Macau como destino turístico.

“Na saúde pública, além dos merecidos louvores para os trabalhadores da linha da frente e das forças de segurança envolvidos nos trabalhos de combate à covid-19, defendemos que deve ser atribuído um salário adicional”, afirmou José Pereira Coutinho, ao HM. “É um justo estímulo e reconhecimento da coragem, espírito de sacrífico e riscos corridos por estes profissionais”, acrescentou.

Além do pagamento, a ATFPM quer ainda que seja criado um subsídio de risco e um seguro para os trabalhadores que lidam com epidemias que ameaçam a saúde pública.

“Vamos propor a criação de um subsídio de risco para determinadas profissões. Esta epidemia mostrou a necessidade de criar este tipo de subsídio e também um seguro de vida”, explicou. “Queremos que este seguro de vida seja atribuído a outros trabalhadores, tal como aconteceu com os agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública, nomeadamente a Unidade Táctica de Intervenção, que tem funções de alta responsabilidade no âmbito do combate ao terrorismo e protecção de altas entidades”, justificou.

Eterna diversificação

No que diz respeito à saúde pública, a ATFPM vai dizer a Ho Iat Seng que defende a realização de testes de rastreio da covid-19 a todos os trabalhadores da função pública.

Finalmente em relação ao turismo, os dirigentes da associação consideram que a covid-19 mostrou a importância do turismo de Macau diversificar a origem dos visitantes, além do Interior da China.

A reunião entre o Chefe do Executivo e os membros da ATFPM está agendada para as 10h de hoje e tem como assunto as Linhas de Acção Governativa, que deverão ser apresentadas na próxima semana.

Dividendos em quarentena  

[dropcap]A[/dropcap] 1 de Abril, o Hong Kong and Shanghai Banking Corporation anunciou que, devido ao surto do novo coronavírus, o Banco de Inglaterra tinha emitido uma circular onde se salientava não ser prudente pagar aos accionistas dividendos que excedam os 100 milhões de libras. Na possibilidade de haver uma crise gerada pela dificuldade de cobrança de dívidas à Banca, o HSBC cancelou a distribuição de dividendos do quarto trimestre de 2019. A Administração também anunciou que o HSBC não vai pagar dividendos em 2020 e que vai suspender a compra de acções. Após estes anúncio, o valor das acções do HSBC desceu para HK$39.95, uma queda de cerca de 9%; a queda a pique do valor das acções recorda o tsunami financeiro ocorrido a 9 de Março de 2009, quando o valor das acções do HSBC atingiu o mínimo histórico de HK$33.

O HSBC já tinha confirmado que iriam ser feitos pagamentos dos dividendos do quarto trimestre, no valor de US$0.21 por acção. Este pagamento foi agora cancelado. O “sell-off” das acções e a queda dos preços revela a insatisfação dos investidores. A Agência de Rating Fitch considera que o ranking do HSBC desceu de estável para negativo, o valor das acções a longo prazo permanece no A + e o cálculo do risco previsível é baixo.

Os Bancos comerciais ingleses acataram as instruções do Banco de Inglaterra. Para além do HSBC, o Standard Chartered Bank, o Barclays Bank, entre outros, decidiram cancelar o pagamento de dividendos. Em Hong Kong, alguns investidores consideram que o cancelamento dos pagamentos, após um período de lucro, é injusto para os accionistas e pode resultar em processos legais.

Segundo a Lei Comercial de Hong Kong, a distribuição de dividendos está dependente da decisão dos Conselhos Directivos. Os precedentes indicam que as empresas não têm de pagar dividendos todos os anos, mesmo que tenham tido lucro. Perante esta premissa legal os accionistas têm poucas hipóteses de ganhar uma acção legal, por isso vão ter de aceitar a decisão da Administração do Banco.

“Vem aí o Natal, compre HSBC” foi o slogan comercial que circulou em Hong Kong durante mais de 30 anos, ou seja: comprar acções do HSBC antes do Natal implicava receber os dividendos no sapatinho. O HSBC desempenhou por muito tempo o papel de Banco Central antes da reunificação. Mesmo após a reintegração na China, continuou a ter a responsabilidade da emissão de moeda. Distribuindo dividendos quatro vezes por ano, sempre foi muito estável. A taxa de lucro era relativamente alta, à volta de 5%. Foram estas as razões que sempre levaram as pessoas a comprar acções do HSBC.  Os conselhos do Banco de Inglaterra, a queda do lucro das economias asiáticas e a decisão do HSBC de cancelar o pagamento dos dividendos fez com que os investidores passassem a estar mais atentos à evolução dos efeitos da pandemia, do que propriamente ao desempenho financeiro das empresas. Vale a pena investir em acções altamente cotadas durante este período? Ou deverá o investimento ser direccionado para empresas menos afectadas pelos efeitos da pandemia, como gestão de propriedades e vendas online?

O Banco de Inglaterra aconselhou os bancos comerciais ingleses a reservarem fundos suficientes para poderem responder à crise, reflectindo as apreensões do Governo britânico sobre as possíveis consequências deste surto. A epidemia afecta o fluxo de pessoas, as empresas não têm clientes, as receitas caem e circula necessariamente menos dinheiro. As empresas que contraíram empréstimos à Banca vão ter dificuldade em pagá-los. No final deste ciclo, os bancos e as empresas vão ser as vítimas desta crise. Se os bancos colapsarem sobrevém um desastre que afectará toda a sociedade. Assim sendo, não é para pagar dividendos que os bancos são necessários, mas sim para reforçar as suas reservas, de forma a poderem fazer face à impossibilidade cobrar os empréstimos a muitas empresas que vão falir.

Ao abrigo das políticas monetárias, numa situação como a que vivemos, o Banco Central baixa as taxas de empréstimo dos bancos comerciais, para permitir que haja mais dinheiro a circular nos mercados e que a economia possa ser salva. Na situação actual, os bancos comerciais não pagam dividendos, têm mais fundos e as taxas de empréstimo estão reduzidas. Os custos das operações bancárias também baixaram. O Banco Central está a aplicar mais fundos no mercado para salvar a economia. É uma boa medida para os britânicos.

É claro que tudo depende da diferença entre o montante que iria ser pago em dividendos e o dinheiro que o Banco Central vai injectar na economia, se houver um déficit muito grande será mau para a Banca e para a sociedade em geral.

Como a decisão do HSBC e de outros bancos comerciais britânicos foi determinada pelo Banco de Inglaterra, acredito que seja pouco provável que esta tendência se venha a alargar a outras empresas.

Os accionistas investem a pensar em diferentes retornos, alguns apostam no crescimento do valor das acções e outros fazem apostas mais seguras. Como o HSBC sempre representou um investimento seguro, nunca teve falta de accionistas. A decisão de não pagar dividendos desagradou aos investidores. De futuro, o HSBC vai voltar a emitir títulos no mercado para angariar fundos, a questão que agora se coloca é se se irão voltar a vender bem. Se a maior parte dos seus accionistas também quiserem vender os títulos, o HSBC vai ter dificuldade em angariar findos. Todos estes factores terão de ser considerados em detalhe antes de se tomar decisões.

Macau não tem o seu próprio mercado de acções. Os residentes de Macau que querem investir na Bolsa recorrem normalmente ao mercado de Hong Kong. O não pagamento de dividendos também afecta os investidores de Macau. No entanto as consequências não são as mesmas para os residentes de Hong Kong e para os residentes de Macau. O sistema de pensões de reforma de Macau é melhor do que o de Hong Kong. Cada reformado recebe à volta de 6.000 patacas por mês, o que não acontece em Hong Kong. O sistema de pensões de reforma (o Mandatory Provident Fund – MPF) implementado em Dezembro de 2000, assegura aos residentes de Hong Kong alguma protecção no período da reforma. No entanto, comparado com Macau, fica muito atrás. Para aqueles que compraram acções do HSBC com o objectivo de obter mais alguns dividendos nesta fase da vida, a actual decisão do HSBC representa um corte grave no orçamento. Como os residentes de Hong Kong compreenderam que o MPF não lhes pode dar protecção suficiente, tentaram obter outras garantias; agora o HSBC não vai pagar os dividendos, o que vai obrigar a população de Hong Kong a voltar a repensar o seu sistema de pensões de reforma. O Governo de Hong Kong tomou este ano uma decisão idêntica à do Governo de Macau, planeando atribuir a cada residente a quantia de HK$10.000. Mas, será que Hong Kong também poderá replicar o sistema de pensões de reforma de Macau, orientado pelo princípio de que a segunda geração deve apoiar a primeira, para que os mais velhos possam ter uma vida mais segura?

No mundo da finança todos os sectores se afectam entre si. A epidemia afectou as medidas económicas do Governo britânico, as medidas do Governo afectaram os bancos comerciais; os bancos comerciais afectaram os investidores.

 

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado do Instituto Politécnico de Macau
Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk

Estádio em casa

[dropcap]O[/dropcap] estádio de futebol é um local de barbárie, desde insultos racistas à mãe do árbitro a chapadas no pescoço do fiscal de linha vale praticamente tudo. Se olharmos para Portugal é um ambiente de constante hostilidade e agressividade, quase sempre acima da lei, e que à excepção do “futebol jogado” tem muito pouco de interessante. No entanto, ninguém vai para o futebol à espera de outra coisa. Aquilo tem sido sempre assim, até porque estão lá os “moços das claques” (como se eles fossem os únicos responsáveis).

O que não se percebe é que este ambiente seja reproduzido nas redes sociais. É praticamente impossível olhar para uma caixa de comentários e esperar uma discussão informada. Nada disso, cada um mete as palas e marra para onde está virado, sem ceder um milímetro na sua opinião. As discussões informadas são a excepção, embora existam e o meio tem valor para os jornalistas, é um bom ponto de partida para notícias.

Mas na verdade, a maioria nem está interessada em debater nada, quer apenas ir para lá insultar os outros e vender o seu peixe. E consegue. Há sempre quem dê troco. O que me custa a perceber é que pessoas por quem temos sempre grande estima se transfigurem tanto nas redes sociais, mas essa é a magia negra do estádio de futebol e também das redes sociais…

Uma obra diabólica quase esquecida

[dropcap]E[/dropcap]m Janeiro de 1945, ainda antes do final da II Guerra Mundial, Samuel Barber, que desde 1942 servia na força aérea norte-americana, foi contratado por John Nicholas Brown, violoncelista amador e administrador da Boston Symphony Orchestra. para escrever um concerto para violoncelo para Raya Garbousova, uma violoncelista russa expatriada. Serge Koussevitzky, o grande maestro da Boston Symphony, arquitectou o projecto e providenciou que o compositor fosse dispensado do serviço militar para escrever o trabalho para a sua 20ª temporada como director musical da orquestra. A partitura é dedicada a John e Anne Brown. Barber, antes de começar o trabalho, pediu a Garbousova que tocasse o seu repertório e poder entender o seu estilo de execução e os recursos do seu instrumento, o Stradivarius Davidov (que seria mais tarde propriedade de Jacqueline du Pré e actualmente de Yo-Yo Ma). O Concerto para Violoncelo e Orquestra em Lá menor, Op. 22, concluído nos finais de 1945, foi o segundo dos seus três concertos (sendo o primeiro o Concerto para Violino e o terceiro o Concerto para Piano) e é possivelmente um dos trabalhos mais exigentes tecnicamente no repertório do instrumento. Garbousova estreou-o com a Boston Symphony Orchestra no Boston Symphony Hall, no dia 5 de Abril de 1946, a que se seguiram apresentações em Nova Iorque na Academia de Música de Brooklyn, em 12 e 13 de Abril, sem grande êxito, obtendo finalmente a obra grande sucesso no Carnegie Hall em 1946, recebendo o 5th New York Music Critics’ Circle Award em 1947 como “excepcional entre as composições orquestrais executadas pela primeira vez [no Carnegie Hall] durante a temporada de concertos” .

Raya Garbousova, que estava no auge da sua carreira quando a peça foi escrita, tocou o concerto extensivamente, mas depois de se aposentar, a obra caiu em desuso devido às suas exigências técnicas extremas. Barber, que havia feito várias alterações ao trabalho entre 1947 até à sua publicação em 1950, a maior parte no Allegro de abertura, pretendia, mais tarde na sua vida, modificar a parte do violoncelo, esperando incentivar mais violoncelistas a executar a peça, mas a sua doença prolongada impediu-o.

Várias gravações recentes aumentaram o interesse pela obra, incluindo a de Yo-Yo Ma, do violoncelista suíço Christian Poltéra e a de Christine Lamprea, vencedora recente do Sphinx Prize 2018, nos EUA.

Lírico e expressivo, o concerto é escrito tradicionalmente em três andamentos – Allegro moderato, Andante sostenuto, e Molto allegro e appassionato (rápido, lento, rápido), com cordas duplas extremamente difíceis e várias cadências eloquentes. A peça requer uma técnica segura e um autodomínio dramático. O concerto para violoncelo foi o último dos trabalhos instrumentais de Barber a conter aquele brilho entusiasmado de confiança e serenidade do compositor; a sonata para piano e o concerto para piano são obras muito boas, mas o seu apelo depende mais do virtuosismo vistoso – apropriado para as suas formas, é claro, mas não exactamente o verdadeiro Samuel Barber, que reapareceu na ópera, onde o seu lirismo inato correspondia melhor às expectativas do público, e em outros trabalhos vocais como Knoxville: Summer of 1915 e Andromache’s Farewell.

 

Sugestão de audição:
Samuel Barber: Cello Concerto, Op. 22
Victor Simon, cello, Moscow Radio Symphony Orchestra, Gennady Rozhdestvensky – Cascade, 2007

Um outro planeta

[dropcap]R[/dropcap]enato Campos é um jovem escritor brasileiro, do Ceará, apaixonado por Portugal. A sua paixão pelo país em geral e Lisboa em particular, junto com o seu preciosismo narrativo, fê-lo escrever o seu primeiro romance não só a partir da capital portuguesa, mas também numa linguagem mais «aportuguesada», em português europeu, e foi publicado em Fevereiro deste fúnebre 2020, com o título «Um Outro Planeta». Infelizmente, devido a este tempo de peste, o livro anda não foi distribuído. Pela fortuna da amizade chegou-me há dias um exemplar em mãos. O livro tem 167 páginas e conta-nos a história de um homem de sessenta anos, Duarte Marques, advogado de sucesso em São Paulo, que regressa à casa da família em Lisboa para o funeral da mãe. O pai morrera onze anos antes, num trágico acidente. Agora, Duarte e a irmã, mais nova que ele, tinham de tomar decisões em relação à casa. Rita aceitaria a sua decisão, não só pela prática profissional de Duarte, mas porque sempre confiara nele a vida toda, mesmo nas longas ausências de anos e anos sem se verem. Duarte decidiu ficar uma semana em Lisboa, na antiga casa onde nasceu e cresceu, para tomar algumas providências mais urgentes e ver que decisão tomar.

No segundo dia, dá-se conta de que os textos que escrevera desde os 12 anos até à ida para a universidade, em Londres, ainda se encontravam nas mesmas gavetas onde os tinha deixado. Nunca mais se lembrara desses textos. À página 24, lê-se: «Desde cedo, em Londres, aprendeu a esquecer tudo. E o que primeiro esqueceu foi ele mesmo. Ao chegar a São Paulo, dois anos depois de terminado o curso em Londres, começou a criar um pequeno império imobiliário com esse crédito inicial de não ser quem era.» A mãe mantivera tudo intacto. Mantivera dentro das gavetas o Duarte que foi esquecido em Londres. Abre uma garrafa de vinho, lembrando de imediato os jantares em casa, com o pai, a mãe e os amigos deles. O livro a partir daqui começa a ter interrupções contínuas da sequência temporal e demoramo-nos em analepses.

Nesta primeira, em que Duarte abre a garrafa, regressamos ao que Duarte pensa do vinho que acabara de provar somente ao fim de três páginas e meia.

Um dos textos mais antigos que encontra, escrito quando tinha 12 anos, traz-lhe lembranças profundas, que julgava ter esquecido. Tratava-se de um poema que escreveu para «Artur, a minha primeira paixão, que estudava na mesma escola, em outra turma. Um ano mais velho, um ano mais alto e, segundo se dizia e o olhar fazia crer, um infinito de mais experiência.» Entre o vinho e as recordações de Artur, lemos finalmente os primeiros versos do poema que escreveu para o rapaz: «Eu aqui no meu mundo / tu aí no teu. / E eu desejando que o mundo não seja muito diferente do teu / ou, pelo menos, que não seja muito diferente. / Uma diferença de que tenho medo / como o pequeno pássaro que trazias na mão com o teu sorriso branco, desconhecido.» O discurso volta para o narrador, que escreve: «Lembrava agora aquela tarde longínqua, junto ao chafariz do liceu, em que lhe leu o poema. O sorriso de Artur, a mão dele sobre o seu rosto, o beijo na fronteira entre os lábios e a face, como se por indecisão e não por cálculo de incêndio, fê-lo arder no mundo pela primeira vez. Nunca mais o desconhecido o fez tremer assim. A lembrança desse momento há muito esquecido ou apenas adormecido, embora talvez ecoando em cada gesto e decisão da sua vida, fazia tremer o vinho, que nunca lhe soubera tão bem.»

Na manhã seguinte, Duarte decide vender a casa. A sua localização, em frente ao jardim do Príncipe Real, a crescente expansão do turismo sobrevalorizando os imóveis e desconfiar de que o dinheiro pudesse talvez fazer falta à irmã, levara-o à decisão. Passa o dia fora, passeando pelas ruas de Lisboa, almoça numa esplanada junto ao Tejo, vê a beleza dos corpos ao sol do fim de Verão, lembra de novo Artur. Lê-se à página 100: «Nunca mais soube dele. Teria casado? Teria envelhecido de modo insuportável, de modo a ser punido pelo espelho, de cada vez que se aproximasse de si mesmo? Ou, ainda que envelhecida, marcada pelos anos, por desgostos da vida, mantinha de algum modo a sua beleza quase intacta?» À noite volta às gavetas. Lê um outro texto que escrevera aos 16 anos: «Ontem, quase a adormecer, cansado de tanto ter bebido, não escrevi uns versos que salvavam o mundo, deixando para o fazer hoje, quando escrevo que ontem não fui capaz de me levantar para escrever uns versos que salvavam o mundo.» E, nesse preciso momento, compreende – não como se compreende uma equação matemática, uma lei da geometria ou mais prosaicamente que já passámos a saída da auto-estrada onde devíamos ter saído, mas como quando descobrimos que acabámos de envelhecer –, que aquela casa é um outro planeta. E mais distante que Marte.

A sua vida, desde que foi para a universidade, passou a ser outra. Escreve Campos, através do narrador, perto do final do livro, à página 147: «Dos anos da infância até ao mundo é outro planeta. E como foi possível não se ter lembrado disso até agora? Como foi possível ter esquecido Artur, aquele tremer original, igualando o desejo ao medo durante um abalo de terra?» Não posso contar o final do livro, não posso falar-vos do narrador, mas posso dizer que o primeiro romance de Renato Campos é um livro belo, escrito com uma sensibilidade que nos mostra o interior humano como uma pintura e sempre com um uso preciso das metáforas. Preciso no sentido em que, não só nos faz ver por dentro, mas nos faz acreditar que a palavra salva, mesmo sabendo que nada nos salva. Nem a habilidade de esquecermo-nos de nós próprios.

Branqueamento de capitais | Denúncias caem 13,3 por cento

[dropcap]N[/dropcap]o total, entre Janeiro e Março de 2020, foram feitas 606 denúncias relativas a transacções suspeitas de branqueamento de capitais ou financiamento de terrorismo, uma descida de 13,3 por cento em relação ao primeiro trimestre do ano passado.

A informação foi revelada ontem pelo Gabinete de Informação Financeira (GIF), que justifica os resultados, principalmente, com a “diminuição significativa do número de STRs [Suspicious Transaction Reports] reportados pelo sector do jogo”.

De facto, segundo os dados do GIF, o sector do jogo foi responsável pela denúncia de 356 transacções suspeitas, representando 58,7 por cento do total de queixas feitas no primeiro trimestre de 2020. As restantes denúncias são provenientes do sector financeiro (29,9 por cento) e de outras instituições (11,4 por cento).

Ao contrário dos casinos, as denúncias provenientes de outros sectores registaram subidas nos primeiros três meses de 2020. Comparativamente a 2019, o número de participações relacionadas com transacções suspeitas de branqueamento de capitais aumentou de 169 para 181 no sector financeiro e de 23 para 69 noutras instituições.

Taipa | Descobertas munições de AK-47 em estaleiro

[dropcap]U[/dropcap]m trabalhador de limpeza de um estaleiro de construção que fica perto do cruzamento da Avenida de Kwong Tuang e da Rua de Sai On, na Taipa, descobriu um grande saco com munições abandonadas. Depois da investigação da Polícia Judiciária (PJ), contabilizaram-se no total 186 munições, para três armas de fogo diferentes de 7.62mm.

Das munições encontradas, 153 são adequadas para uso em AK-47, enquanto as restantes são para pistolas dos tipos 54 e 64. A PJ descreveu que as munições estavam conservadas, eram letais, e estava a investigar a sua origem e quem as abandonou.

No dia 25 de Março, sete trabalhadores de uma empresa começaram a ajudar na limpeza do estaleiro de construção em causa. Até que a 31 de Março, um dos trabalhadores encontrou um saco de plástico preto, onde as munições foram escondidas, reportando o caso ao seu superior, que o ignorou. No dia 1 de Abril, o funcionário voltou a denunciar a situação ao superior e desta vez também ao Instituto para os Assuntos Municipais, tendo o caso acabado por ser tratado pela polícia.

USJ | Tribunal de Última Instância deu provimento ao recurso de Eric Sautedé 

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O[/dropcap] Tribunal de Última Instância (TUI) concedeu provimento ao recurso colocado por Eric Sautedé, académico, no processo por despedimento sem justa causa que o opõe à Universidade de São José (USJ). Eric Sautedé exige uma indemnização de 1,3 milhões de patacas. Em Dezembro de 2018 o Tribunal de Segunda Instância (TSI) havia dado razão à USJ neste caso.

Questionado pelo HM, Eric Sautedé disse que esta é “uma boa notícia”. “De certa forma reconhece que há um caso, mas não quero especular. Mostra que a justiça está a funcionar ao seu ritmo e que os procedimentos judiciais estão a ser perfeitamente respeitados. Esta notícia também mostra que o Estado de Direito é formalmente respeitado em Macau, ao contrário do que os comentários feitos pela USJ, à data e agora, sugerem”, acrescenta. Até ao fecho desta edição, não foi possível ter acesso a mais detalhes relativos à decisão do TUI.

Sem conciliação

Quatro anos volvidos após o seu despedimento, em Janeiro de 2018, Eric Sautedé falava ao HM de como este processo lhe mudou a vida profissional.

“Eliminou as minhas possibilidades de encontrar outro trabalho. Na verdade, duas universidades não me aceitaram, apesar de ser altamente recomendado por dois docentes para dar aulas a tempo parcial. Uma delas chegou mesmo a pôr fim ao acordo inicial que tínhamos feito para me contratar para docente a tempo inteiro. Estava apenas à espera do contrato”, frisou.

Sautedé disse ainda que, ao longo destes anos, nunca foi possível chegar a acordo com a universidade. “Nunca houve um gesto de conciliação da parte da USJ”, adiantou o académico. Sautedé vive actualmente em Hong Kong e está ligado à organização não governamental China Labour Bulletin.

Em 2014 a USJ admitiu ter despedido Eric Sautedé devido aos seus comentários sobre política feitos aos media. “Se há um docente com uma linha de investigação e intervenção pública [política], coloca-se uma situação delicada. Ou a reitoria pressiona e viola a sua liberdade, ou cada um segue o seu caminho”, explicou na altura Peter Stilwell.

A par da saída de Eric Sautedé da USJ, em 2014, também a saída de Bill Chou da Universidade de Macau gerou um debate sobre o panorama da liberdade académica no território.

CTT | Envio de máscaras faz disparar encomendas para o exterior

[dropcap]M[/dropcap]otivado pelo envio de máscaras cirúrgicas para fora de Macau, o número de objectos expedidos mais do triplicou em Março. Segundo os dados publicados no final da semana passada pela Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações (CTT), o número de objectos expedidos passou de um total de 4.404 em Fevereiro, para 14.720 em Março. Destes totais, a percentagem de máscaras cirúrgicas enviadas subiu, respectivamente, de 60 para 66 pontos percentuais.

Em sentido contrário, o peso da recepção de máscaras cirúrgicas em Macau caiu drasticamente entre Fevereiro e Março. Dos 10.096 objectos recebidos em Fevereiro, 75 por cento corresponderam a máscaras, ao passo que dos 10.317 objectos recebidos em Março, apenas 12 por cento eram máscaras.

De Fevereiro a Março de 2020, os CTT receberam no total 20.413 objectos e trataram do envio de outros 19.124, sendo que o volume total de serviços postais internacionais aumentou 68 por cento relativamente ao mesmo período do ano passado. De acordo com os CTT Macau, os principais destinos em Fevereiro e Março foram Portugal, China, Grã-Bretanha, Hong Kong, Taiwan, Austrália e Canadá.

Jogo | Procura de ajuda por dependência volta a descer

Voltou a baixar o número de pessoas que procurou ajuda junto do Instituto de Acção Social devido a dependência do jogo. No ano passado foram registados 110 casos, o que representa uma descida de 17,3 por cento, face a 2018. A maioria continua a dar como motivo para o vício a resolução de problemas financeiros, e há mais pessoas a jogar por entretenimento. A popularidade das apostas desportivas aumentou

 

[dropcap]O[/dropcap] Instituto de Acção Social (IAS), registou no ano passado 110 casos de pessoas afectadas pela dependência do jogo. É o segundo ano consecutivo em que descem os pedidos de ajuda, e representa uma descida de 17,3 por cento em comparação a 2018, quando se contabilizaram 133 casos. As informações divulgadas são do sistema de registo central dos indivíduos afectados pelo vício do jogo que faz a comparação percentual do ano passado com os anos desde 2011.

A maioria dos casos registados em 2019, equivalente a 72,73 por cento, tinha dívidas. De entre os endividados, 16,25 por cento tinham entre 250 mil e 500 mil patacas por liquidar. Os dados do IAS revelam que mais de 16 por cento das pessoas que pediram ajuda gastaram em média entre 10 mil e 50 mil patacas por mês no jogo. Uma percentagem que diminuiu, tal como a de quem gastou entre cinco a 10 mil.

Importa referir que quase 24 por cento das pessoas deram como principal motivo para recorrerem ao jogo a resolução de problemas financeiros. Sobressai que desde que é feita esta contabilidade pelo IAS, 2019 foi o ano com em que menos pessoas indicaram jogar para desanuviar: 15,88 por cento. Por outro lado, cresceu a percentagem de quem o faz por entretenimento. Cerca de um terço dos casos de quem joga aufere rendimentos entre 10.501 e 21.000 patacas. Não são disponibilizados dados sobre os restantes.

Menos casos graves

Do universo de 110 jogadores sinalizados pelo IAS, apesar dos casos de vícios do jogo de grau ligeiro terem diminuído, os casos de distúrbio moderado aumentaram. Com uma ligeira descida em comparação a 2018, os casos graves de distúrbio do jogo foram os mais baixos desde 2015, passando para 33,71 por cento.

Outro número que salta à vista nos dados divulgados pelo IAS é a percentagem recorde de indivíduos afligidos pelo distúrbio de actividades profissionais relacionadas com a indústria do jogo: 19,19 por cento. De entre quem está empregado, há também mais pessoas que precisam de trabalhar por turnos. Apenas um em cada dez jogadores está desempregado.

A faixa etária entre os 30 e os 39 anos foi a que mais procurou ajuda junto do IAS devido à dependência do jogo. As informações disponibilizadas pelo instituto dão ainda a conhecer que há mais pessoas com mais de 60 anos a pedir apoio, ultrapassando já os 10 por cento.

O bacará manteve-se como o jogo mais popular, sendo o preferido de quase metade dos apostadores. Foi seguido pelas apostas em futebol e basquetebol, que aumentaram a sua popularidade para 12,21 por cento. Só depois aparecem as máquinas de póquer e o Sic Po Cussec.

Máscaras | Agnes Lam destaca Presidente da República portuguesa como exemplo a seguir

[dropcap]O[/dropcap] Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou no sábado que usa máscara nas raras ocasiões em que não fica confinado ao Palácio de Belém. Palavras que mereceram o elogio de Agnes Lam. “Espero que os meus amigos europeus e americanos olhem para o Presidente português como um importante exemplo para o uso de máscara”, escreveu a deputada no Facebook.

Marcelo Rebelo de Sousa especificou que passou a usar protecção por recomendação familiar. “Uso máscara, isso é uma ideia que me veio até um bocadinho daquilo que os meus netos me contaram que foi a lição da China. A China tem outra tradição de utilização de máscaras”, disse o Presidente da República, citado pela LUSA. Importa recordar que o filho do chefe de Estado, e quatro netos, vivem na China.

Agnes Lam usou Facebook também para desejar as melhoras ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que foi internado no domingo depois dos sintomas da covid-19 persistirem. A deputada lançou também algumas farpas. “Espero que melhore rapidamente, mas também que compreenda que a imunização em massa é uma ideia muito perigosa. Ainda não sabemos o suficiente sobre a pandemia. Humildade e precaução são as estratégias mais seguras de combate doenças”, sugeriu Lam. De acordo com Executivo britânico, o internamento de Johnson foi apenas por precaução.

Metro Ligeiro | Governo remete formas de pagamento para a empresa

[dropcap]O[/dropcap] director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), Lam Hin San, diz que o Governo tem uma “atitude aberta” quanto ao uso de cartões e plataformas de pagamento que possam ser usados em diferentes meios de transporte público, com benefício de tarifas reduzidas. No entanto, remeteu a responsabilidade para a política comercial da empresa em causa e a plataforma de pagamento electrónico.

A informação foi dada em resposta a uma interpelação escrita de Ella Lei. A deputada tinha questionado se o Governo vai fazer estudos sobre o pagamento electrónico em transportes públicos ou permitir o uso desses meios no Metro Ligeiro. A ideia é que o pagamento possa ser feito sem ser por aquisição de bilhete de viagem individual ou cartão pré-pago.

Quanto ao uso dos diferentes meios de pagamento electrónico em autocarros e atribuição de descontos e serviços de transbordo sem pagar, Lam Hin San disse que já existe regulação. Citou um despacho do Chefe do Executivo onde se estipula que os passageiros que paguem as tarifas por meios electrónicos aprovados pela DSAT e lançados pelas instituições de crédito da RAEM, se aplicam os valores reduzidos estabelecidos para titulares de cartão electrónico, estudantes, idosos ou portadores de deficiência.

Ella Lei indicava na interpelação que os descontos e transbordos só se aplicam ao Macau Pass e Mpay, defendendo que isso “limita, de certo modo, as opções dos residentes”. E recordou que quando a Linha da Taipa entrou em funcionamento a DSAT afirmou que mais tarde a empresa do Metro Ligeiro iria considerar disponibilizar outras formas de pagamento.

Ordenados | DSAL recebeu 22 notificações, mas só contabiliza 19

Acompanhamento dos pedidos de redução salarial levou DSAL a considerar que nem todas as 22 situações reportadas correspondem a uma diminuição dos salários

 

[dropcap]A[/dropcap]pesar de oficialmente apenas 19 empresas e 417 trabalhadores terem notificado a Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) sobre a redução de ordenado, o Governo recebeu avisos de mais três empresas, num total de 432 empregados. A informação foi confirmada pela DSAL, ao HM, que explicou a exclusão dos registos por se ter considerado que as alterações contratuais das três empresas não constituem uma redução salarial.

Em causa está a resposta, com a data de 20 de Março, do director dos Serviços de Economia, Tai Kin Ip, a uma interpelação do deputado Sulu Sou. Segundo os dados apresentados por Tai entre 22 de Janeiro e 16 de Março teriam sido 22 empresas e 432 trabalhadores envolvidas nas reduções salariais.

Porém, os dados são diferentes dos avançados pelo secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, que na quinta-feira passada, após uma reunião do Conselho Permanente de Concertação Social, havia dito que entre 22 de Janeiro e 1 de Abril tinham sido registadas 27 notificações de 19 empresas sobre redução do salário de 417 trabalhadores.

Ao HM, a DSAL admitiu a discrepância com a correcção das estatísticas: “De acordo com o registo de notificações de redução de salários recebidas pela DSAL, entre 22 de Janeiro e 16 de Março, foram recebidas notificações de um total de 22 empresas, envolvendo 432 trabalhadores”, foi reconhecido. “Após acompanhamento e de acordo com os dados suplementares fornecidos pelas empresas, verificou-se que estas empresas não efectuaram reduções salariais, tendo apenas alterado as condições de trabalho mediante acordo entre as partes empregadora e trabalhadora, ou seja, o valor do salário dos trabalhadores não foi reduzido”, foi acrescentado.

Seis investigadas

Segundo a DSAL foram seis as notificações acompanhadas, entre as quais em três casos confirmou-se mesmo a redução salarial, que resultaram nos 19 pedidos confirmados.

De acordo com a legislação actual, a remuneração dos trabalhadores só pode ser reduzida caso as duas partes estejam de acordo, a decisão não pode partir apenas do empregador. “A remuneração de base só pode ser diminuída mediante acordo escrito entre as partes, o qual só produz efeitos após comunicação à DSAL, a efectuar pelo empregador no prazo de dez dias”, define a Lei das Relações Laborais.

Ainda de acordo com os números apresentados por Tai Kin Ip, na resposta a Sulu Sou, entre Fevereiro e 16 de Março foi encontrada colocação para 422 pessoas que procuravam emprego. “Entre 1 de Fevereiro e 16 de Março de 2020, houve um total de 442 candidatos que foram contratadas com sucesso mediante o encaminhamento profissional promovido pela DSAL, envolvimento, principalmente, sectores de construção civil, de comércio a retalho e de transportes”, foi informado.

Os sectores mais afectados pelo impacto do covid-19 estão principalmente relacionados com o turismo, mas afectam igualmente a construção civil e as vendas a retalho.

Suspensa travessia de autocarros na ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau suspensa

[dropcap]P[/dropcap]artiu no domingo o último autocarro dourado a fazer ligação entre Macau e Hong Kong. Ontem deixou de ser oferecido o serviço que ligava as duas cidades através da ponte Hong Kong-Zhuhai Macau. “Nenhum transporte público pode ligar as duas regiões”, com excepção para carros particulares autorizados e transporte de mercadorias, disse no fim de semana um responsável do Corpo de Polícia de Segurança Pública, citado pela agência Lusa.

O objectivo da suspensão dos autocarros passa por evitar a circulação de pessoas. Os horários de funcionamento do posto fronteiriço de Macau da ponte também sofreram ajustes, passando a funcionar apenas entre as 10h e as 20h no domingo. Os corredores de entrada e saída para veículos deixaram de funcionar durante 24h para estar abertos entre as 06h e as 22h.

Por outro lado, ficou desde ontem fechado o parque de estacionamento Este da ponte. Vale a pena recordar que o transporte organizado pelo Governo para trazer residentes do aeroporto de Hong Kong até Macau já terminou, e que as ligações marítimas entre as duas regiões estão suspensas desde Fevereiro.

Covid-19 | Pacientes de Macau em Hong Kong só em “casos especiais”

Apesar da suspensão do “autocarro dourado”, os Serviços de Saúde admitiram comunicar com as autoridades de Hong Kong para que pacientes de Macau possam ser tratados no território em situações excepcionais. Foi ainda revelado mais um caso confirmado em Hong Kong de uma pessoa que esteve em Macau

 

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) admitiram ontem poder vir a comunicar com as autoridades de Hong Kong sobre a possibilidade de abrir excepções para os casos de doentes de Macau que precisam de fazer tratamentos no território vizinho. No entanto, sublinhou Lo Iek Long, Médico Adjunto da Direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário, tal só deve ser considerado caso não existam alternativas em Macau e riscos para a comunidade.

“Temos de ver caso a caso. Se o sistema de saúde de Macau não satisfizer a necessidade dos nossos doentes então temos esse mecanismo para ajudar, mas não podemos ignorar as medidas adoptadas pelas autoridades de Hong Kong”, explicou Lo Iek Long, por ocasião da conferência de imprensa diária sobre a covid-19.

Apesar de desconhecer o número de pacientes afectados pela situação, o responsável afirmou que a situação dos doentes em Macau já estava a ser analisada, mesmo antes do serviço de autocarros públicos que faz a ligação entre Macau e Hong Kong através da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, ter sido suspensa no domingo passado.

“Não é só por causa da suspensão do serviço do autocarro dourado de Hong Kong. Desde o início da epidemia estamos a analisar as situações dos pacientes de Macau que precisam de ir a Hong Kong. A circulação transfronteiriça pode causar um surto na comunidade. Não queremos que um paciente que se deslocou a Hong Kong possa vir a ficar infectado devido a um surto no hospital. Isso é algo que não queremos ver”, explicou o responsável.

Por isso, apontou Lo Iek Long, é preciso “avaliar a situação em geral” e apenas, se se tratar de “um caso determinado e especial que não seja possível tratar em Macau”, os SS podem vir a comunicar com as autoridades de Hong Kong para “ver se podem abrir uma excepção”.

Quanto ao número total de entradas e saídas através dos postos fronteiriços de Macau, Lei Tak Fai, Chefe da divisão de Relações Públicas da CPSP referiu que foram registadas 4.200 entradas e 3700 saídas até ao início da tarde de ontem.

Risco baixo

Foi ainda revelado que as autoridades de Hong Kong reportaram que um dos casos confirmados do novo tipo de coronavírus esteve em Macau dias antes de testar positivo. No entanto, como explicou Leong Iek Hou, do Centro de Prevenção e Controlo da Doença a possibilidade de haver contágio é baixa.

Isto, porque o paciente em causa esteve em Macau com outro, entretanto também confirmado em Hong Kong, tendo efectuado o mesmo percurso e estado com os mesmos contactos próximos. Recorde-se que o primeiro caso reportado pelas autoridades de Hong Kong dizia respeito a uma mulher filipina de 40 anos que esteve em Macau entre os dias 22 e 27 de Março.

Segundo Leong Iek Hou, o risco de contágio é baixo pois os oito contactos próximos que os dois casos têm em comum testaram negativo para o novo tipo de coronavírus, estando praticamente todos a terminar os 14 dias de quarentena.

Quanto aos 34 pacientes a receber tratamento em Macau, segundo o médico Lo Iek Long, apenas um continua a inspirar maior cuidado. Trata-se da mulher de 50 anos (18º caso) que, apesar de “necessitar de ventilação e a sua situação ser crítica”, se encontra estável. Há ainda um paciente que necessita de oxigénio esporadicamente e outros três que apresentam febre baixa. Os restantes são considerados casos ligeiros.

Quarentena | Hotéis dispensados

O Hotel Regency Art, na Taipa, e o Hotel Metrópole, em Macau, vão deixar de acolher indivíduos em quarentena. Sobre o primeiro, o anúncio foi feito ontem pela responsável dos serviços de turismo Inês Chan. “Vamos libertar o Hotel Regency Art porque agora já se encontra desocupado. Estamos actualmente a proceder à desinfecção de acordo com as instruções dos serviços de saúde”, anunciou Inês Chan. No domingo, a responsável tinha já anunciado que o hotel Metrópole tinha deixado também de fazer parte da lista de estabelecimentos designados. Segundo Inês Chan, estão actualmente 1491 pessoas em observação médica nos hotéis designados pelo Governo, que são agora 10. Recorde-se que o número de pessoas em quarentena tem vindo a decrescer desde que no passado dia 1 de Abril deixou de funcionar o corredor especial criado pelo Governo para transportar residentes de Macau do aeroporto de Hong Kong para o território.

Miguel Poiares Maduro: “Pode ser cedo para dizer que a posição da China sairá reforçada”

Deixou Florença há cerca de três semanas devido ao surto da covid-19. Miguel Poiares Maduro defende que Portugal acabou por beneficiar do facto de a pandemia ter chegado primeiro a Itália e Espanha, o que permitiu reagir mais rapidamente. Para resolver a crise económica da União Europeia, o académico defende uma solução entre a emissão de coronabonds e o mecanismo de estabilidade. Quanto à China, pode sair com a imagem internacional reforçada pela eficácia a lidar com a pandemia

 

[dropcap]Q[/dropcap]ue comparação faz entre a resposta das autoridades portuguesas e italianas à pandemia da covid-19?

Portugal beneficiou do conhecimento do que se ia passando em Itália e depois em Espanha. Tivemos, num certo sentido, a sorte de o vírus ter entrado em Portugal mais tarde e o ponto de entrada ser a Itália. Como vivo entre Itália e Portugal pude verificar que Itália introduziu medidas de controlo ainda antes de ter casos de infecção, mais fortes do que Portugal. Itália foi um dos poucos países europeus que controlou a temperatura das pessoas nos aeroportos, como acontece na Ásia. Mas isso não evitou que fosse um dos primeiros países a ter contágios e onde o contágio se propagou. Neste momento, Portugal não tem necessitado sequer de impor medidas tão restritas como as que se implementaram em Itália. Também acho que os portugueses, pelo alerta causado em Itália e Espanha, perceberam mais rapidamente a gravidade do risco que o vírus comporta do que os italianos perceberam, porque eles foram os primeiros na Europa a enfrentar a situação. É difícil ter a percepção exacta da gravidade da situação porque há uma limitação nos dados a que temos acesso e na sua comparação. O número de testes realizados varia muito consoante os Estados, e, portanto, estamos a perceber que quantos mais testes se realizam mais diagnósticos há. O mesmo relativamente às taxas de mortalidade que são muito variáveis e que têm a ver com o volume de testes e com o critério para a atribuição de uma morte ao covid-19, que também parece diferente entre os vários estados.

Falta unidade, em termos de medidas de saúde, na União Europeia (UE) para responder a esta crise?

Primeiro ponto: a política de saúde é dos Estados-membros, não é da UE. Se houve alguém que não se preparou foram os Estados, embora esse problema pareça comum a praticamente todo o mundo. O mais interessante e preocupante é que, mesmo já depois da situação [de infecções acontecer] na China, os países europeus e os EUA parecem não se ter dado conta de quão grande este risco poderia ser. Isso explica porque não estavam feitas reservas de equipamento e material. Mas é um problema global. Quanto à UE, não é uma questão de saúde, mas do grau de liberdade que a UE confere às suas políticas tradicionais para as respostas que os Estados-membros têm de dar, e que podem interferir com a livre circulação de pessoas, as regras da concorrência e do pacto de estabilidade ou de disciplina orçamental. E aí a UE já abriu as cláusulas de excepção e os Estados têm a liberdade para tomar as decisões que entenderem para combater o vírus. Mas a crise económica vai ser consequência deste problema de saúde pública.

Que respostas são necessárias?

Há uma segunda dimensão [quanto à união no seio da UE] que é a solidariedade necessária para a resposta económica que os Estados europeus têm de dar. Alguns países não têm uma situação financeira e orçamental que lhes permita usar todos os recursos financeiros necessários para dar uma resposta eficaz. Vão depender da solidariedade dos outros Estados-membros. Aí, infelizmente, estamos a ver uma repetição das velhas divisões europeias e a entrar num ciclo vicioso, que é a falta de confiança entre os Estados-membros que leva à pouca solidariedade, e que agrava a desconfiança mútua entre os Estados. Isso pode ser destrutivo para a UE. Tudo depende de uma solução que reponha essa confiança e com base nisso permita a solidariedade entre os países, que vai ser fundamental.

A resposta fragmentada e as acusações entre Estados podem levar a uma crise política que afecte ainda mais a identidade europeia?

Esse risco existe. Mas também existe uma oportunidade se a UE conseguir dar uma resposta suficientemente eficaz, mas nunca vai ser a resposta eficaz para nenhum dos Estados. Tem de ser uma resposta suficientemente forte para satisfazer todos. Se a UE conseguir isso, ao contrário de isto poder agravar a crise de legitimidade e de suporte público, pode, pelo contrário, ser um momento de reafirmação do processo de integração europeia e de revalorização aos olhos dos cidadãos desse processo, porque ele vai ser visto como contribuinte para solucionar este problema. Tudo depende se a UE conseguir uma forma de solidariedade aceitável para todos ao nível da resposta económica e depende também do papel da UE na promoção da cooperação na resposta científica.

Relativamente à emissão de coronabonds, espera um consenso em breve?

Penso que não iremos ter coronabonds nos moldes que alguns Estados gostariam de ter. Mas também não iremos ter simplesmente o modelo do mecanismo de estabilidade e crescimento que a Alemanha ou a Holanda defenderiam. Provavelmente, não vamos ter nem a condicionalidade do mecanismo de estabilidade europeu nem um simples mecanismo de emissão de dívida entre os Estados-membros. Será algo que ficará a meio caminho. Depois há um segundo aspecto relevante, que nem os próprios coronabonds prevêem, que é se este mecanismo vai funcionar através de financiamento que se transforma em dívida dos Estados membros. Seja coronabonds ou o mecanismo de estabilidade europeu, será dívida que entra para a dívida de cada um dos Estados. A ser assim, isso tem sempre um peso muito grande para países já muito endividados, como é o caso de Portugal, por exemplo, mesmo que essa dívida tenha condições muito favoráveis. Por isso, é que há pessoas, como eu, que defendem que tão ou mais importante [discutir] como é que essa emissão de dívida vai ocorrer é [analisar a possibilidade] de isso ser feito através de apoios directos de um instrumento europeu nos Estados, ao invés do endividamento. No fundo, se fosse através de um mecanismo de subsídios, isso seria muito mais positivo porque não entrava no endividamento dos Estados.

Espera respostas com a revisão orçamental anunciada pela comissária europeia?

Aquilo de que se fala nesta altura é que algumas das verbas do fundo de coesão vão ser agora alocadas a finalidades distintas que dizem respeito às consequências deste vírus. Mas isso não são verbas novas, deixam é de ser utilizadas para outras finalidades dos Estados. E são sempre verbas limitadas. O que pode ajudar é um novo acordo em matéria de plano financeiro multianual para a UE, que é o que determina o orçamento anual para os próximos sete anos na UE. Não tem havido um acordo entre os Estados-membros, e pode ser que isto [a crise do coronavírus] crie a energia e os incentivos necessários para existir um acordo, e que este vá no sentido de haver um orçamento mais ambicioso, ou associado a novos discursos próprios da UE. Eu tenho defendido que parte da resposta pode estar aí. Às vezes, alargar um problema pode ser a forma de chegar a acordo, porque cria mais condições para fazer um trade-off e haver um compromisso entre as diferentes posições. Parte do compromisso no futuro pode não ter os coronabonds mas sim um orçamento europeu maior do que aquele que se estava a pensar. E associado a novos discursos próprios da UE.

Qual o efeito geopolítico desta crise económica e de saúde pública nas relações entre a China e UE?

É interessante notar que esta crise começou por ser vista como problemática para a China e até para o Presidente Xi Jinping, mas rapidamente se converteu, através da eficácia da resposta chinesa ou da percepção pública internacional dessa eficácia, [em algo positivo]. Há quem conteste que seja tão eficaz como se diz, mas pelo menos é essa a percepção pública. Isso reforçou a legitimidade e a imagem internacional da China. O facto de o país ter feito isso mais rapidamente que os outros Estados coloca a China economicamente numa melhor posição do que os outros países e isso reforça o papel internacional da China e o seu peso geopolítico. A China parece estar a fazer uso disso através de gestos simbólicos de apoio e solidariedade para com os Estados com maiores dificuldades nesta matéria. Mas esta é uma crise nova, totalmente diferente, e o impacto na economia e política é muito difícil de prever, estando constantemente em mutação. É cedo para fazer qualquer juízo definitivo sobre a orientação geopolítica a nível global resultante desta crise.

Xi Jinping tem usado esta crise como uma ferramenta de soft power?

Claramente. A China partiu de uma posição que parecia de fragilidade e conseguiu dar a volta, e hoje o país está a usar a crise da covid-19 de um ponto de vista favorável. Mas pode ser cedo para dizer que a posição da China sairá reforçada. À medida que a crise evoluir o que se vai passar é a comparação entre uma maior transparência em alguns países e menor transparência noutros. E isso pode vir a afectar a posição internacional da China dependendo de como o país se comportar nessa matéria.

A pandemia da covid-19 pode vir a contribuir para o descrédito do populismo, tendo em conta as posições assumidas por Jair Bolsonaro, no Brasil, e Donald Trump, nos EUA?

Pode funcionar das duas formas. Os populistas, por definição, são pessoas que defendem um poder forte e um reforço da autoridade. Nessa medida, até por contraposição aos instrumentos da democracia liberal, uma crise como esta apela e tende a reforçar a adesão dos cidadãos ao poder forte. Estamos a ver populistas que têm usado o estado de emergência para consolidar a sua posição no poder, veja-se Viktor Orbán na Hungria. Por outro lado, a lógica contrária à ciência e ao conhecimento a que alguns populistas deram imagem de marca, como o Presidente norte-americano e do Brasil, parece estar a causar problemas na gestão da crise. Esses problemas passam pelo facto de as opiniões públicas desses países associarem uma má gestão da crise a uma desvalorização da ciência e do conhecimento e uma arrogância dos líderes. Tudo vai depender da evolução dessa gestão e das consequências a nível de saúde e económico. Trump tem sofrido uma penalização forte porque foi visto como alguém que desvalorizou os alertas científicos, gerindo mal a crise e antecipando mal os riscos por causa disso. No Brasil, a desvalorização do risco feita inicialmente por Bolsonaro pode causar um custo político forte.

 

Coronavírus | UE aprova apoios

A Comissão Europeia aprovou ontem um pacote de medidas de apoio financeiro para países da União Europeia (UE), como é o caso de Portugal, Grécia e Polónia. De acordo com a agência Reuters, as medidas passam pela concessão de empréstimos com garantias e subsídios. Através de comunicados oficiais difundidos na sexta-feira e sábado, foi referido que o apoio financeiro será de 13 mil milhões de euros para Portugal, enquanto que a Polónia receberá um apoio totalizado em 22 mil milhões de euros. Já a Grécia recebe apenas dois mil milhões de euros. Margrethe Vestager, vice-presidente da Comissão Europeia, disse que a garantia financeira concedida à Polónia “vai ajudar os negócios no país afectados pela actual crise gerada pelo novo coronavírus, cobrindo no imediato o capital de trabalho e as necessidades de investimento”.