Sarampo | Apelo à vacinação antes de deslocações ao exterior João Santos Filipe - 11 Abr 2025 Os Serviços de Saúde (SS) apelaram à população para se vacinar contra o sarampo antes de se deslocar ao exterior, e indicaram que este ano já morreram duas crianças nos Estados Unidos. O alerta foi deixado ontem de manhã, num comunicado em língua portuguesa. “Com a aproximação das férias da Páscoa, prevê-se um aumento de residentes de Macau, em viagem no exterior, pelo que os Serviços de Saúde apelam mais uma vez aos residentes que pretendem deslocar-se às zonas epidémicas para reforçarem a prevenção”, pode ler-se no comunicado. De acordo com o aviso, “os indivíduos que ainda não possuem imunidade contra o sarampo, devem concluir a vacinação com a antecedência mínima de duas semanas” antes da viagem. Em relação às “crianças que ainda não completaram as duas doses da vacina contra o sarampo” e as “grávidas sem imunidade” pede-se que evitem viajar para o exterior “a fim de reduzir o risco de infecção”. O comunicado aponta os Estados Unidos como um exemplo de um país onde existe um risco elevado de infecção: “Nos Estados Unidos da América, por exemplo, registou-se recentemente o 2.º caso de morte por sarampo infantil, uma criança que não foi vacinada contra o sarampo”, foi indicado. “Além disso, nos Estados Unidos da América foram registados mais de 600 casos confirmados de sarampo, o dobro dos 285 casos registados no ano passado. É de salientar que a grande maioria dos doentes não foi vacinada ou o seu registo de vacinação é desconhecido, dos quais cerca de 70 por cento são crianças ou adolescentes”, foi acrescentado. Outros perigos Os avisos não se ficam pelo país liderado por Donald Trump, e estendem-se à região do Pacífico Ocidental. “De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde, entre Janeiro e Fevereiro do corrente ano, foram registados cerca de 1.500 casos de sarampo na Região do Pacífico Ocidental, um aumento de quase o dobro em comparação com os 900 casos registados no período homólogo do ano passado”, é apontado. Porém, os alertas também chegam à Europa: “Registaram-se, recentemente, surtos de sarampo no Camboja, nas Filipinas, no Vietname e na Malásia, e vários casos de sarampo em diversos países europeus, nomeadamente, na Roménia, na França, na Espanha, na Itália e na Alemanha”, foi vincado. O alerta é também estendido às pessoas que vivem em Macau, dado o fluxo de turistas que visitam a RAEM: “Actualmente, embora Macau não seja uma região afectado por uma epidemia de sarampo, enquanto cidade turística, persiste o risco de importação e propagação do sarampo”, foi justificado. “Os Serviços de Saúde salientam que a vacinação contra o sarampo constitui o método mais eficaz para prevenir a infecção e reduzir a transmissão do sarampo”, foi destacado.
Alerta para menor consumo de turistas com desvalorização do renminbi Nunu Wu e João Luz - 11 Abr 2025 O presidente da Associação da Indústria Turística, Andy Wu, estima que o consumo dos turistas que visitam Macau pode sofrer uma redução devido à desvalorização do renminbi. A posição do representante e empresário do sector surge na sequência da recente quebra da taxa de câmbio de renminbi, que atingiu o ponto mais baixo desde 2010, levando a que as moedas indexadas ao dólar norte-americano, como a pataca e o dólar de Hong Kong, se tornem mais caras no câmbio. No fundo, a frente cambial na guerra comercial entre Washington e Pequim tornou Macau ainda mais dispendiosa para os turistas chineses. Segundo a taxa de câmbio de ontem um renminbi valia 1,09 patacas. No entanto, Andy Wu encara o volume de turistas verificado durante o fim-de-semana prolongado do feriado do Cheng Ming como um bom indicador que o número de visitantes, que ficou acima dos 130 mil por dia, não está a ser afectado pela guerra comercial. Em declarações ao jornal Ou Mun, o dirigente associativo acrescentou que Macau, enquanto cidade turística, enfrenta sempre variáveis cambiais que influenciam em grande escala a economia local. Como tal, neste momento, os turistas chineses podem adoptar uma postura mais prudente na hora de abrir a carteira. O responsável destaca o aumento da pressão sobre o volume de negócios do sector da venda a retalho, que já enfrenta uma crise profunda desde o fim da pandemia, obrigando a várias medidas de apoio lançadas pelo Governo. Por outro lado Outro possível duro golpe para a economia de Macau, originado pela desvalorização do renminbi, é o facto de os produtos, viagens e estadias na China se terem tornado mais baratos para os residentes de Macau e Hong Kong. Em relação aos feriados da Páscoa e do Dia do Trabalhador no fim de Abril e no início de Maio, Andy Wu espera que os turistas de Hong Kong possam compensar a possível falta de visitantes do Interior da China, onde não se celebra a Páscoa e não é feriado. Porém, o 1º de Maio é uma semana dourada com cinco dias de feriados na China. Neste período, Andy Wu prevê o aumento anual de visitantes face ao mesmo período de 2024.
Economia | Crescimento revisto em baixa para 6,8% João Santos Filipe - 11 Abr 202511 Abr 2025 O Grupo de Investigação Macroeconómica de Macau antevê que o território vai sofrer com as tarifas de Donald Trump, não de forma directa, mas porque estas podem levar a que os turistas do Interior controlem mais os A Universidade de Macau (UM) fez ontem uma revisão em baixa da previsão de crescimento do Produto Interno Bruto para 6,8 por cento. A revisão foi feita para ter em conta as novas barreiras ao comércio mundial, e, em particular, contra a China, impostas pelos Estados Unidos. Anteriormente, a previsão do Grupo de Investigação Macroeconómica de Macau previa um crescimento de 7 por cento do Produto Interno Bruto, ao longo deste ano. Segundo o jornal Ou Mun, na apresentação da previsão, que decorreu ontem, Kwan Fung, líder do grupo, admitiu que esta previsão é “relativamente conservadora”. O académico também explicou que a revisão se deve ao facto de a política de imposição de tarifas dos Estados Unidos ir contribuir para uma redução do volume do comércio a nível mundial e que vai afectar o crescimento da economia mundial. Neste cenário, Kwan reconhece que é inevitável que a economia da RAEM seja afectada por estes desenvolvimentos. Todavia, segundo o académico, o impacto “directo” para economia local vai ser “relativamente pequeno”, porque as tarifas têm como principal alvo o mercado das mercadorias, um tipo de comércio tido como “reduzido” na RAEM. Casinos investem menos Os investigadores explicaram igualmente que o efeito das tarifas vai fazer-se sentir na RAEM de forma directa, em virtude do impacto na economia do Interior. Assim sendo, os investigadores deixaram antever consequências como uma menor capacidade de consumo da população chinesa, que com menos dinheiro, vai gastar menos nas deslocações a Macau. Por esta via, o Grupo de Investigação Macroeconómica de Macau admite que os residentes de Macau também podem sofrer com as consequências. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, Kwan Fung afirmou também que as tarifas vão ter impacto nas concessionárias de jogo, o que deverá ser sentido a nível da vontade para investir. Por outro lado, o académico reconheceu que as concessionárias se podem tornar menos atractivas para os investidores. Na previsão de crescimento, os investigadores tiveram por base um cenário em que a exportações de serviços vai crescer 6,8 por cento ao longo do ano, o consumo privado 3,8 por cento e haverá uma inflação 0,7 por cento. Ao nível do desemprego, os académicos esperam uma taxa geral de 1,7 por cento, com o desemprego entre os residentes a ser de 2,3 por cento. Ao mesmo tempo, são esperadas receitas correntes da Administração na ordem dos 116,8 mil milhões de patacas.
Timor-Leste | Díli recebe reunião interministerial do g7+ Hoje Macau - 9 Abr 2025 A capital de Timor-Leste vai receber amanhã e sábado a sexta reunião ministerial do g7+ que vai juntar pela primeira vez os chefes da diplomacia da organização, que assinala 15 anos de existência. O g7+ é um fórum no qual os países-membros procuram influenciar o discurso global sobre paz, estabilidade e resiliência, bem como definir acções conjuntas para atingir aqueles objectivos. A organização intergovernamental foi estabelecida em 10 de Abril de 2010, em Díli, e surgiu com a preocupação, partilhada pelos seus Estados-membros, de que a cooperação tradicional para o desenvolvimento não melhorava a situação das nações frágeis. “O objectivo desta reunião, a sexta reunião ministerial do g7+, é reflectir sobre os progressos alcançados durante os 15 anos do seu estabelecimento”, afirmou o secretário-geral do g7+, Hélder da Costa. O encontro, que tradicionalmente reúne os ministros das Finanças, Planeamento ou Economia dos Estados-membros, vai juntar pela primeira vez os chefes da diplomacia de vários países por causa da “política global”, para ser feita uma “reflexão sobre o roteiro para os próximos anos” e porque o g7+ tem uma “voz cada vez mais global”, disse Hélder da Costa. A reunião, coorganizada com o Ministério dos Negócios Estrangeiros timorense, começa exactamente com uma intervenção do primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, sobre “salvaguardar a paz em tempos turbulentos: a visão do g7+”. O encontro fará também uma apresentação sobre o percurso da organização durante os últimos 15 anos e um debate sobre a cooperação entre os Estados-membros. O g7+ tem estatuto de observador junto da Assembleia-Geral da ONU desde Dezembro de 2019 e na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa desde Julho de 2021. Afeganistão, Burundi, República Centro-Africana, Chade, Comores, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Guiné-Conacri, Guiné-Bissau, Haiti, Libéria, Papua-Nova Guiné, São Tomé e Príncipe, Serra Leoa, Ilhas Salomão, Somália, Sudão do Sul, Timor-Leste, Togo e Iémen são os Estados-membros do g7+.
Tarifas | Japão diz que negociações com EUA incluem taxas de câmbio Hoje Macau - 9 Abr 2025 O ministro das Finanças japonês, Katsunobu Kato, indicou ontem que a taxa de câmbio entre o dólar e o iene vai estar em cima da mesa nas negociações com os Estados Unidos sobre tarifas. Kato confirmou o que os analistas têm vindo a sugerir, com base no objectivo prioritário dos Estados Unidos de reduzir a balança comercial com países com os quais têm défice e aos quais aplicou tarifas – a que chama de recíprocas -, como o Japão. “Houve várias comunicações com o lado norte-americano, incluindo sobre taxas de câmbio, e então os movimentos nos mercados de câmbio podem estar entre os temas discutidos, embora os detalhes ainda não tenham sido determinados”, referiu Kato num discurso no Parlamento japonês. O dirigente também explicou que as discussões sobre a taxa de câmbio vão ser realizadas entre os ministros das Finanças de ambos os países. O Governo japonês anunciou na terça-feira que o ministro responsável pela Revitalização Económica e Novo Capitalismo, Ryosei Akazawa, vai ser o principal representante de Tóquio nas negociações tarifárias. Washington, por sua vez, nomeou a dupla formada pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, e pelo representante comercial, Jamieson Greer, para liderar a equipa.
Mantida prisão efectiva para homem alcoolizado que agrediu ex-namorada Andreia Sofia Silva - 9 Abr 202510 Abr 2025 O Tribunal de Última Instância (TUI) decidiu manter a pena de prisão efectiva de três anos e três meses, por cúmulo jurídico, bem como inibição de condução durante um ano e seis meses a um homem que agrediu a ex-namorada dentro do carro desta quando estava sob efeito de álcool, tendo também conduzido quando se encontrava alcoolizado. O TUI manteve também a decisão do pagamento de uma indemnização de 1.867 milhões de patacas, sendo que a seguradora deverá suportar 288 mil patacas. O caso passou-se a 13 de Setembro de 2020, por volta das 21h34, quando o homem conduziu até à Avenida Comercial de Macau, tendo estacionado à porta do edifício FIT Centre Macau, aguardando que a ex-namorada voltasse para casa. Por volta das 23h30, a mulher, ao conduzir o carro, viu que o ex-namorado a esperava no local e estacionou na faixa de rodagem oposta. A mulher tinha sido vítima de agressões por parte do homem durante o relacionamento, pelo que parou o carro e ligou a um amigo a pedir ajuda. Foi nesse momento que o agressor saiu do carro, aproximou-se da viatura da ex-namorada e bateu-lhe depois de fazer uma inversão de marcha, “causando-lhe o bloqueio da porta frontal direita, que não pôde ser aberta”. De seguida, o homem “saiu do seu veículo e, com a chave na mão, bateu violentamente na janela de vidro do lado do lugar do condutor do veículo” da ex-companheira, tendo depois recuado o carro e batido na viatura da mulher. Foi aí que entrou no carro dela e a agrediu, nomeadamente pressionando o seu corpo, batendo-lhe no rosto com a chave, além de lhe ter dado socos na cabeça e no corpo. O acórdão do TUI descreve que o homem “mordeu subitamente o antebraço esquerdo e os dedos da mão esquerda [da mulher], movendo-se depois para o banco traseiro, onde puxou os seus cabelos para impedir a fuga, causando-lhe a queda de parte dos cabelos”. Algumas pessoas que passaram no local ajudaram a mulher a escapar e a imobilizar o homem. Stress pós-traumático No momento do incidente e agressão o homem tinha uma taxa de álcool no sangue de 1,33 gramas por litro, valor acima do limite legal. No tocante à mulher, foi sujeita a tratamento hospitalar. “Após o exame pericial, constatou-se que sofrera contusões e escoriações no couro cabeludo, várias contusões e escoriações no rosto, concussão cerebral, contusão no olho direito, cataratas traumáticas no olho direito, hemorragia na parte inferior da pálpebra direita, concussão na retina do olho direito, deficiência auditiva grave no ouvido direito”, descreve o acórdão. Além disso, as agressões causaram “a redução da visão e a assimetria entre o olho direito e o esquerdo, afectando obviamente a sua aparência e, ao mesmo tempo, fez com que sofresse de síndrome de stress pós-traumático, que poderia necessitar de tratamento a longo prazo”. Entende-se ainda que o homem “causou danos graves ao veículo e danificou o pavimento de pedra da berma da estrada”.
A ordem e o caos não existem Jorge Rodrigues Simão - 9 Abr 2025 (continuação da edição de 3 de Abril) A América, a China e a Rússia temem pela sua existência. Nestes graus de auto consciência, só se considera vivo quem é uma grande potência. Se formos reduzidos a um nível inferior, somos tentados a cometer suicídio (Experientia docet da União Soviética). Deixamo-nos ir. Daí a “Grande Guerra” em vários teatros, quentes ou mornos, que se não forem suspensos se transformarão em “Total”. A desordem abre buracos que convidam os ambiciosos. Antigos impérios já diagnosticados como estando em desarmamento irreversível (Turquia, Japão), antigas colónias que se redescobrem como Estados civilizados (Índia/Bharat), nações humilhadas e ofendidas em ascensão devido à infracção dos seus vizinhos (por exemplo, a Polónia). Enquanto os protagonistas de anteontem se debatem, desde da Inglaterra penúltima hegemonia ao falso casal França-Alemanha, confinados em “simul stabunt simul cadent”. As ondas do caos engolfam terras neutras ou negligenciadas reduzem as distâncias entre os “Três Grandes”, cotovelo a cotovelo nos mares da China, na Ucrânia, em breve no Árctico. A transição hegemónica flui da América para o caos. E aí permanecerá durante muito tempo. Um colosso sem rival não se dissolve de um dia para o outro, sobretudo se for capaz de arrastar o resto do mundo para o desastre. Quando chegar a sua hora, o seu último desejo será o de impedir que outros ocupem o seu trono. A América está em luta consigo própria. Conflito épico, ao qual se aplicam os versos esotéricos de Theodor Däubler, austríaco de Trieste, que afirma que “O inimigo é a figura da nossa própria matéria/ e ele nos perseguirá, e nós a ele, até ao fim ”. Na luta pela sobrevivência, a América sabe que o seu mal interior é curado em relação ao mundo, mas só depois de restaurada a ordem natural das coisas. Nós, Europeus à frente, os outros atrás ou contra. A nova combinação vencedora de elites pós-liberais e tecno-estrelas desinibidas, híbridos anarco-autoritários, está convencida disso, reforçada pelo entusiasmo vingativo das classes médias-baixas frustradas pela globalização, pela “invasão” de alergénios não assimilados no cânone Wasp e pelo declínio do seu próprio estilo de vida. Esta estranha aliança encontrou em Donald Trump o seu exuberante campeão. Profeta do “senso comum”. Brutal na lógica e nos gestos. Encarnação do “terrível simplificador”, o tipo ideal do demagogo violador de regras evocado com horror pelo historiador suíço Jakob Burckhardt no final do século XIX. Inspirado pela República de Platão diria que “A justiça não é senão o proveito do mais forte”. Baptiza-se a si como um “génio muito estável”. Escolhido por Deus, que desviou a bala com que o “Estado Profundo” satânico o queria liquidar. A história dirá. Entretanto, notemos que há génio nas suas acções terrivelmente simplificadas. Para levar à letra. O primeiro acto do segundo Trump, subversivo e homem da ordem, é muito cénico. Frenético. A doença da América requer curas perigosas. Um presidente de quase 80 anos, com apenas quatro anos de mandato pela frente partindo do princípio de que não vai acabar por reinterpretar a Constituição, inventando uma terceira tem de se preocupar. Ele parte de onde pode colher recompensas imediatas que é o mito americano. A sua narrativa exalta a vontade e, por conseguinte, a certeza de voltar a ser grande. Para Trump, querer é poder. Querer é sonhar e fazer sonhar. Revelar o “Destino Manifesto 2.0” aos seus compatriotas. Nova fronteira necessária. Objectivo operacional. Ergo, o domínio do Espaço para controlar a Terra e arrebatar o público com a lenda marciana contada por Musk; supremacia reforçada na IA para governar o ciberespaço, liderar a revolução tecnológica, reinventar a indústria sobre princípios inéditos, talvez fantásticos evitando descobri-los demasiado cedo para não alienar os operários; apagar os incêndios ucranianos e do Médio Oriente e preparar as guerras do futuro cuja aurora mal podemos vislumbrar. Possivelmente sem as combater, graças ao restabelecimento da dissuasão perdida. O alfa e o ómega desta narrativa são os anúncios rápidos através das redes sociais. As estrelas da tecnologia presidem aos capítulos do mito. São os generais que lideram as respectivas vanguardas nas frentes tecnológicas de valor estratégico. Poderes quase autónomos que Trump pretende explorar, controlar e dominar à medida que penetram informalmente nas estruturas em ruínas do Estado. Anuncia uma batalha entre tribos trumpianas por competências e poderes públicos e privados. Melhor, público-privado, dada a sobreposição de funções e responsabilidades. Jogo sem regras. Mais cedo ou mais tarde, o confronto entre Trump e Musk, o mais célebre e poderoso dos oligarcas da fronteira tecnológica, que o presidente mimou ou frustrou dia sim, dia não, parece inevitável. Um confronto decisivo, porque sem a estrela tecnológica o sonho trumpiano transformar-se-ia num pesadelo. Trump, o revolucionário, raro mas verdadeiro em que o sucesso ou o fracasso de um indivíduo afectará o destino da nação e do mundo. A prova de quão profundo e estrutural é o colapso emocional dos americanos. A revolta de uma corte de ricos imundos, entediados pelo dinheiro e energizados pelo poder, destruiu o exausto establishment centrista. Os hologramas da administração Biden estão a desfrutar de um descanso imerecido. Enquanto as burocracias federais e dos Estados azuis se envolvem numa guerra de guerrilha partidária com o apoio da linha dura. Uma guerra civil de baixa intensidade. O magnata nova-iorquino quer cortar o nó górdio que está a estrangular a América que é a incompatibilidade entre excepcionalismo e universalismo. Complexio oppositorum como chamou Jung por conter os opostos dentro de si e inscrito pelos Pais Fundadores no código genético das estrelas e riscas, que fez dos Estados Unidos um espécime único no bestiário das potências. Tornar a América grande de novo significa optar pelo excepcionalismo em vez do universalismo. Estabelecer-se de forma insuperável no topo do mundo tal como é, e não redimi-lo como deveria ser. Se quiserem reafirmar-se como o número um, mantendo os chineses à distância, não podem consumir-se em guerras intermináveis, muitas vezes perdidas e, na melhor das hipóteses, reprimidas. Nem transformar outras tiranias em democracias, violar tribos em nações, transmutar a miséria de outras pessoas em prosperidade à custa das suas próprias meias-vidas.
Fotografia | IIM com nova edição de “À Descoberta de Macau e Hengqin” Hoje Macau - 9 Abr 2025 O Instituto Internacional de Macau (IIM) volta a organizar uma nova edição do concurso de fotografia “À Descoberta de Macau e Hengqin”, aceitando submissão de imagens até ao dia 26 de Setembro. Segundo uma nota de imprensa, a iniciativa, organizada em parceria com diversas associações locais, pretende “reforçar o sentimento de pertença e promover um conceito de identidade radicado nos valores culturais e históricos de Macau”. Além disso, o concurso pretende “estimular o conhecimento dos participantes, especialmente entre os jovens, das riquezas do Património Cultural, construído ou não, de Macau, e das tradições que enformam Macau, incluindo atracções da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”. O concurso tem duas categorias, destinadas a residentes e não residentes, por forma a “abranger um público vasto”. Os prémios variam entre as 500 patacas para menções honrosas e as cinco mil patacas, no caso do primeiro prémio. Existe ainda um “Prémio Especial” destinado ao melhor trabalho apresentado por um sócio da Associação de Fotografia Digital de Macau, no valor de mil patacas. Após a avaliação pelo júri do concurso, terá lugar uma mostra dos trabalhos em exposição prevista para o final do corrente ano. Com este concurso, o IIM “espera que os participantes retratem aspectos de Macau, com os quais o autor culturalmente se identifique e mais estime, desde monumentos históricos, edificações, manifestações de natureza cultural (conforme a lista do património imaterial)”. Podem também ser retratados “hábitos, costumes e crenças, eventos turísticos e festividades populares, tradicionais e religiosas das culturas chinesa, portuguesa e macaense, assim como eventos de cariz internacional, bem como fotografia com criatividade digital, e ainda atracções da zona de cooperação aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”. As fotografias a concurso devem ter sido tiradas entre Setembro de 2024 e Setembro de 2025.
Letras&Companhia | Lançada versão chinesa de “A aventurosa viagem do Pátria” Andreia Sofia Silva - 9 Abr 2025 Lançado em Novembro do ano passado, em Portugal, o livro infanto-juvenil “A Aventurosa viagem do Pátria”, da autoria de Filipa Brito Pais, é apresentado este sábado no festival Letras&Companhia, mas em versão chinesa – “祖国号”的冒险之旅 从葡萄牙飞行到澳门 (1924). Eis a história da primeira viagem aérea entre Vila Nova de Mil-Fontes e Macau protagonizada pelos aviadores Sarmento Beires, Brito Pais e Manuel Gouveia O festival infanto-juvenil Letras&Companhia, promovido pelo Instituto Português do Oriente (IPOR), acolhe este sábado o lançamento da versão chinesa de “A aventurosa viagem do Pátria”, livro da autoria de Filipa Brito Pais, docente, que conta a história da primeira viagem aérea entre Portugal e Macau protagonizada pelos aviadores Sarmento Beires, Brito Pais, tio-bisavô da autora, e o mecânico Manuel Gouveia. No ano passado celebrou-se o centenário desta viagem, e vai daí Filipa quis contá-la a um público mais jovem. A obra conta com ilustrações de Leonor Almeida. Numa nota enviada à imprensa, Filipa Brito Pais descreve que “como professora do primeiro ciclo, tenho ido a diversas escolas em Portugal e Macau para cumprir o meu dever de memória em relação ao meu tio”. Desta forma, “surgiu a possibilidade de escrever um livro infanto-juvenil que me acompanhasse nas palestras que dou, pela falta de informação adequada ao público mais jovem, e tem feito um sucesso no público mais adulto”. “A aventurosa viagem do Pátria” tem prefácio do Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, bem como o apoio de diversas entidades ligadas a Macau. Numa altura em que se conhece a versão traduzida para chinês, a obra já foi apresentada a mais de 2500 alunos em escolas e bibliotecas municipais em Portugal. Coube ao IPOR fazer a tradução da obra. Aquando do lançamento em Portugal, Filipa Brito Pais afirmou ao HM que muitas histórias da viagem tiveram de ficar de fora, mas que esta é uma homenagem a heróis que ficaram no esquecimento na historiografia portuguesa. “Não retrata todas as etapas, porque seria impossível que o fizesse por ser para crianças. É um livro cuja história está bastante reduzida, até a pedido do meu editor, porque queria meter todas as peripécias e aventuras que eles viveram. A história de escreverem na tela do avião, na partida, foi uma das que não escrevi. O facto de Manuel Gouveia [o mecânico], dizer que era um homem do Norte, e que se fosse para morrer, morria-se. Outra do banho tomado a água fria que afinal era água a ferver”, contou. Para a autora, tratam-se de peripécias “demonstrativas de coragem e perseverança, capacidade de liderança”, sendo que este é um livro com uma mensagem forte, para que os jovens “não desistam dos seus sonhos”. Alimentar a memória Na mesma nota enviada aos jornais, Filipa Brito Pais descreve o facto de “estes heróis nacionais [terem sido] esquecidos na história por questões políticas”, nomeadamente pela oposição de um dos aviadores à Ditadura Militar de 1926. O facto de o regime ditatorial do Estado Novo ter sido instituído uns anos depois em Portugal, em 1933, contribuiu ainda mais para que esse feito aéreo tenha caído no esquecimento. Para realizar a viagem, foram criadas várias campanhas populares de captação de fundos, mas o percurso aéreo que ficou mais conhecido foi mesmo a viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral. “Tive a honra de ter estado presente, em Junho de 2024, em Macau e Hong Kong aquando das celebrações das comemorações do centenário da viagem do meu tio, em representação da família Brito Pais. Terei agora a maior honra de apresentar o livro em chinês e homenagear estes três heróis portugueses na diáspora”, afirmou. “Brito Pais e Sarmento de Beires sonharam em voar e em honrar a Pátria e Camões, escolhendo o destino de Macau, que nessa época era terra portuguesa. Sem apoios financeiros e com um avião velho e pesado, arriscaram e voaram por países que até então, nunca ninguém tinha ousado voar. Foram muitas as aventuras e poderiam ter desistido perante as adversidades que foram encontrando, mas não! Eles continuaram”, disse ainda na entrevista ao HM.
Apuramento da Taça GT – Corrida da Grande Baía decide-se em Pingtan Sérgio Fonseca - 9 Abr 2025 A segunda prova de apuramento para a Taça GT – Corrida da Grande Baía da 72.ª edição do Grande Prémio de Macau não será disputada no Circuito Internacional de Zhuhai, como inicialmente previsto, mas sim no Circuito Internacional da Cidade do Lago Ruyi, na região turística de Pingtan, em Fuzhou. O calendário da temporada de estreia da SRO GT Cup ficou finalmente definido ontem, com o anúncio oficial da confirmação de que o circuito semi-permanente de Pingtan acolherá a terceira e quarta rondas do campeonato para viaturas GT4, nos dias 28 e 29 de Junho. Pingtan junta-se, assim, a Xangai, Pequim e Macau no calendário deste ano do campeonato lançado pela SRO Asia em parceria com a Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC). A pista de Pingtan substitui Zhuhai, que constava no calendário provisório divulgado em Janeiro, mas que não conseguiu confirmar o seu evento. Esta nova data também não é coincidência, já que o evento da SRO GT Cup fará parte das actividades culturais Pingtan-Macau previstas para o mês de Junho. O pitoresco traçado de Pingtan – que combina cenários urbanos modernos e costeiros – continua largamente desconhecido fora da China. Inaugurado em 2022, o circuito conta com dois traçados que incorporam estradas públicas existentes na Ilha de Pingtan, secções construídas de raiz e boxes permanentes. Ambas as corridas da SRO GT Cup terão lugar no circuito de 2,9 quilómetros e 14 curvas, já utilizado por campeonatos nacionais como o China Endurance Championship (CEC) e o Campeonato Chinês de Fórmula 4. Início promissor A temporada de 2025 da SRO GT Cup arrancou de forma espetacular, com 33 carros – a maior grelha de GT4 alguma vez reunida na Ásia – a disputar duas corridas de apoio ao Grande Prémio da China de Fórmula 1, no mês passado. Integradas no programa oficial da F1, Chen Weian (Audi) e Lichao Han (Toyota) venceram as duas corridas que servirão de base para a seleção dos concorrentes com direito a participar, este ano, na Taça GT – Corrida da Grande Baía. Até 28 carros poderão competir na Taça GT – Corrida da Grande Baía, que se realiza no evento de final de temporada, nas ruas de Macau. Os lugares serão atribuídos com base na classificação após esta segunda jornada, agendada para Pingtan. Na disputa por uma vaga estiveram em Xangai seis pilotos da RAEM: Kevin Leong Ian Veng, Miguel Lei, Cheng Tou Wong, Wai Ming Fok, Kim Hou Lao e Un Hou Ip. Charles entra com o pé direito Ainda nas provas de GT, mas na Austrália, o piloto de Macau Charles Leong Hon Chio venceu as duas corridas da jornada inaugural do Lamborghini Super Trofeo Asia em Sydney. O jovem piloto do território, ao volante do Lamborghini Huracán Super Trofeo EVO2 da SJM Theodore Racing, dominou com autoridade as duas corridas disputadas no Sydney Motorsport Park, fazendo equipa com o irlandês Alex Denning. Após uma abertura de temporada sensacional, o Lamborghini Super Trofeo Asia regressa à ação no próximo mês, com a segunda ronda a decorrer no palco do Grande Prémio da China, o Circuito Internacional de Xangai, de 16 a 18 de maio. Depois de ter terminado em segundo lugar em 2024, Charles Leong está decidido a conquistar o título da competição da marca italiana na Ásia em 2025.
Visita | Elogiado papel de Espanha na aproximação da China à UE Hoje Macau - 9 Abr 2025 A China destacou ontem o papel positivo que Espanha está a desempenhar na melhoria das relações entre Pequim e a União Europeia, num contexto de crescentes tensões comerciais entre a China e os Estados Unidos. “Os laços entre a China e a Espanha mantêm a estabilidade estratégica e baseiam-se na abertura, na cooperação e no benefício mútuo”, disse ontem o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lin Jian, numa conferência de imprensa em Pequim, onde o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, tem previsto iniciar amanhã uma visita oficial. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros descreveu a Espanha como “uma importante economia europeia e um parceiro de cooperação fundamental no seio da União Europeia”. A viagem acontece num período de escalada da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos e depois de o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, ter falado com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Os dois líderes comprometeram-se a defender o comércio livre e a reforçar o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC). Sánchez será recebido em Pequim pelo Presidente chinês, Xi Jinping, e terá reuniões com o primeiro-ministro, Li Qiang, visando diversificar os mercados de exportação, reforçar os laços económicos com a Ásia e enfrentar desafios globais como as alterações climáticas e a guerra na Ucrânia.
UE | Câmara de Comércio na China diz que empresas devem repensar estratégias Hoje Macau - 9 Abr 2025 A Câmara de Comércio da União Europeia na China afirmou ontem que as taxas alfandegárias de 104 por cento impostas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses “exigem um repensar estratégico dos modelos de negócio e das cadeias de abastecimento”. A instituição afirmou, em comunicado, que as taxas conduzirão a “aumentos substanciais dos custos operacionais” e “a ineficiências”, o que, em última análise, significará “preços mais elevados para os consumidores”. Muitas das empresas que são membros da Câmara já alteraram ou estão a alterar as suas estratégias comerciais para um modelo “na China para a China”. “Isto tanto para mitigar os riscos decorrentes das tensões comerciais e para cumprir os requisitos regulamentares e de aquisição da China, que promovem cada vez mais os produtos ‘made in China’, como por razões comerciais”, acrescentou o texto. Segundo a instituição, num contexto em que os Estados Unidos estão “a recuar em muitos dos princípios que sustentaram a sua abordagem comercial global, gerando uma incerteza económica global sem precedentes”, a China tem agora “a oportunidade de estabelecer um ambiente de negócios que proporcione a estabilidade e a fiabilidade de que os investidores necessitam”.
Tarifas | Xi Jinping defende reforço de laços com vizinhos Hoje Macau - 9 Abr 2025 O Presidente chinês, Xi Jinping, apelou ontem ao “reforço dos laços estratégicos com os países vizinhos”, na sua primeira aparição pública desde que Donald Trump aumentou para 104 por cento as taxas alfandegárias sobre a China. Xi, que não mencionou o Presidente norte-americano, instou os seus funcionários, durante uma reunião de trabalho, a melhorarem as relações com os países vizinhos “através de uma gestão adequada das diferenças”, com vista a “reforçar os laços nas cadeias de abastecimento”, informou a agência noticiosa oficial Xinhua. As relações da China com os países vizinhos estão “no seu melhor nível na História moderna” e, ao mesmo tempo, Pequim está a entrar “numa fase crucial profundamente interligada com as mudanças na dinâmica regional e nos desenvolvimentos globais”, observou. O líder chinês defendeu que a diplomacia da China com os seus vizinhos se baseará na construção de uma “comunidade de futuro partilhado”, uma das frases mais repetidas pelos líderes do Partido Comunista Chinês (PCC) em que se defende que a prosperidade só é sustentável se as nações trabalharem em conjunto. Na reunião, foi salientado igualmente que a China deve reforçar o seu sentido de responsabilidade e manter uma “diplomacia de vizinhança de amizade, sinceridade, benefício mútuo e inclusividade”. Gestão de diferenças Foi igualmente sublinhado que a China deve “apoiar os países da região a manterem as suas próprias vias de desenvolvimento e a gerirem correctamente os conflitos e as diferenças”. “Devemos construir uma rede de interconexão de alto nível e reforçar a cooperação nas cadeias industriais e de abastecimento”, acrescentou o líder chinês, frisando a importância de “manter conjuntamente a estabilidade regional e cooperar em matéria de segurança e aplicação da lei”. O líder chinês não fez qualquer referência aos Estados Unidos e Pequim tem sublinhado até agora que não vai ceder às tarifas de Trump. Trump ordenou na terça-feira a aplicação de uma tarifa adicional de 50 por cento sobre os produtos chineses, elevando o total das taxas alfandegárias para 104 por cento. Pequim anunciou anteriormente uma taxa de 34 por cento sobre os produtos norte-americanos, depois de Trump ter imposto uma taxa na mesma percentagem sobre os produtos chineses, e anunciou ontem um acréscimo de 50 por cento à taxa imposta, totalizando agora uma tarifa de 84 por cento. Nas possíveis futuras negociações entre Pequim e Washington está também o futuro das operações da aplicação TikTok nos EUA, que o Governo de Trump exigiu que se desligue da sua empresa-mãe, a chinesa ByteDance, para poder operar em território norte-americano. Mais 50 por cento A China anunciou ontem uma taxa adicional de retaliação de 50 por cento sobre as importações oriundas dos Estados Unidos, para 84 por cento, intensificando a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. O Ministério das Finanças chinês afirmou que as novas taxas se aplicam para além das 34 por cento anteriormente anunciados sobre as importações dos Estados Unidos. As taxas entram hoje em vigor.
A imagem como o grande cesto materialista da arte Rosa Coutinho Cabral - 9 Abr 2025 “ Não é que o passado lance sua luz sobre o presente ou que o presente lance sua luz sobre o passado; mas a imagem é aquilo em que o ocorrido encontra o agora num lampejo, formando uma constelação” (Walter Benjamin) Tentando salvar a história das suas grandes tradições, para a fenomenologia, Heidegger não escapa a um resíduo idealista, como se as coisas do mundo lhe pertencessem a ela, à história e ao seu curso de uma só direcção, diz-nos Bragança de Miranda. Para Benjamin, na sua busca de uma superfície tangível dos objectos contaminados pelo tempo, o que lhe interessava era seguramente a perfuração háptica que encontramos em Caravaggio e em Fontana – o último trazendo ao objecto artístico um gesto claramente performativo e – como em tudo o que acontece no aqui e agora – capaz de recriar ou inspirar o caos nas coisas ditas artística. Coisas que já não se oferecem num curso harmonioso e não pertencem – nem à história, nem à estética, mas ao mundo como as pedras ou as palavras que nos saltam da boca. Superando de algum modo o punctum barthianao, a imagem dialéctica de Benjamin escapa à “historicidade” que se oferece como um altar sagrado onde as coisas da arte se eternizam – teleologicamente – num outro mundo onde as condições do mundo não se fazem sentir – onde é suposto que nada se perca, estrague, ou transforme na essência das coisas, e das obras, neste caso da obra de arte. O que interessa a Benjamin ecoa perturbadoramente em Duchamp, porque no vaivém entre o passado, o presente e o futuro, as coisas feitas seres que captam no acto de fazer a sua potência , é que possibilidade de pertencimento a um tempo determinado, se expande no gesto em que a obra afecta a sua própria historicidade, e pode ser lida em qualquer momento. Indicia a possibilidade do seu tempo e a potência da sua recepção em qualquer momento. É um boomerangue kronotópico e anmórfico. Infixo desde o momento em que se fixa. Como Benjamin dizia, apoderar-se de alguma coisa, no momento em que o perigo brilha, é fatal. Referia-se no entanto à potência do mito, que aqui prometeicamente pertencem aos que se aventuram a roubar o fogo aos deuses – o castigo é a esventração e o canibalismo dos outros, podendo, nestes outros, ler-se no mundo, no universo, no todo que existe e que não sabemos os limites, se bem que os possamos adivinhar. Para Benjamin, por isso, as coisas e obras feitas por artistas só podem ecxistir numa imagem que cintila como uma estrela, que se vê conforme as condições e os meios, e que faz parte de uma rede, um puzzle, ou, melhor, aproveitando a sua própria metódica ensaísta – numa constelação. Eu adoro lembrar a geometria do céu para saber onde se encontra a ursa maior e a ursa menor. Olhar o céu, este enorme ecran de imagens moventes, imagens que aparecem e desaparecem na enorme pele do mundo, porque mais não vemos para além dela, mesmo sabendo que existe mais. Que existe um universo inteiro de possibilidades. Nós, os que fazem e os que vêm, tocam ou usufruem da performatividade e efeitos do fazer, somos – como dizer – entranhas dentro deste enorme corpo que é o mundo. E desejamos repeti-la nos nossos pequenos gestos de artistas, e termos tanto impacto como o extraordinário espectáculo do céu, das sombras, do mar… E como o fazemos? Procurando criar imagens que expressam o tempo no seu espaço, sem se contaminarem por ele. Deixando-o à solta. Permitindo-nos duvidar dos nossos actos que já não são eternos nem pertencem da História, mas fazem parte de um arquivo incrível de possibilidades: todos podemos fazer, mas nem todos temos o efeito de afectar o mundo e, de algum modo, causar transtorno. Do acervo de possibilidade, do arquivo de todos os tempos e espaços, de todos os sonhos e modos de fazer, de todas as sensibilidades vem o objecto inflamado de originalidade – aquele cuja forma ainda não reconhecemos, aquele que re-arranja , desarranja, altera… aquele que convida um tempo a sentar-se para jogar xadrez com outro tempo. E a tal partilha do sensível, de que nos fala Rancière, é difícil. Tão difícil como temos a mesma imagem do mundo. Creio que estas coisas – que poucos vêm porque não reconhecem o novo aspecto, e que contemporaneamente na imensa libertação de normas excludentes, pode ter qualquer forma, nos conduz a uma inversão da teoria da Gestalt: já não é possível partilhar nada – nem mesmo o mundo e a sua grandiosa pele, o céu azul de Bataille. O grande mal de Ricoeur devora os olhos dos cadáveres e a imagem possível é a de um kit de sobrevivência perante a eminência de uma pavorods guerra nucleara à escala mundial. Como Agamben nos alerta, o gesto contemporâneo parte da urgência de responder. Que resposta nos trazem as imagens de todos os tempos se acreditarmos que não há kit de sobrevivência para a arte? Ela está sempre a mudar – tocada pela graça da aparição, ela está em decomposição como tudo o que está dentro do mundo. Como a luz… que hoje arrancamos à máquina e à técnica numa agónica comoção estética para ainda ver quando o mundo regorgitar a existência. O que fica, para já, é à martelada, ao arrepio do tempo, sem a iníqua verdade, muito nietzschianamente agourando que todos tentamos faze a nossa parte, sabendo da morte olharuda que tudo vê. Cada vez mais consciente que as coisas da arte não lhe podem escapar depois da brusquidão do seu nascimento, em perturbantes objectos que cada vez mais interferem performativamente com o estado das coisas, lembrando um maravilhoso filme de Wenders, os artistas autores, aqueles que afectam e alteram a aparência da aparição da obra de arte, como Duchamp, são viajantes imóveis que largam objectos-imagens que falam. Gritam. Lutam. Voam para o céu. Caem e explodem politicamente a terra onde vivemos onde tudo o que existe é imagem – sendo esta a constante matéria que emana do acto de fazer coisas – artísticas ou não.
Tarifas | Fornecedores recorrem a mercados alternativos João Luz e Nunu Wu - 9 Abr 2025 Macau estabeleceu acordos comerciais com Canadá, Austrália, Japão, e países europeus e do sudeste asiático que permitem minimizar o efeito das tarifas impostas pela Casa Branca, que entraram ontem em vigor. O presidente Associação da União dos Fornecedores de Macau refere que a partir do fim de Maio os efeitos serão imprevisíveis Entrou ontem em vigor a tarifa adicional a produtos chineses, elevando para 104 por cento a taxa total, implementada pela Administração de Donald Trump, e à qual Pequim respondeu também elevando a parada na guerra comercial que a Casa Branca declarou a um vasto leque de países e regiões. Para já, a curto-prazo, o presidente da Associação da União dos Fornecedores de Macau, Ip Sio Man, considera que as tarifas impostas pelo Governo dos Estados Unidos da América (EUA) não terão impacto no fornecimento de produtos e nos preços praticados em Macau. Em declarações ao jornal Ou Mun, o dirigente associativo referiu que nos últimos anos, Macau assinou protocolos comerciais com vários países que garantem a diversificação das fontes de produtos importados, que resultaram na substituição de muitos produtos importados dos EUA. Ip Sio Man revela que, por exemplo, parte da carne oriunda dos EUA foi substituída por carne do Canadá, Austrália e Nova Zelândia, além da fornecida pelo Japão e países europeus. Em relação a frutas, o representante aponta que a larga maioria é comprada a fornecedores do Interior da China. Para já, os contentores que foram carregados antes de 5 de Abril e os que já se encontram em rota para Hong Kong foram apenas sujeitos a uma taxa de 10 por cento. Porém, Ip Sio Man confessou ser difícil de prever o que acontecerá às ligações comerciais com os EUA e aos preços quando começarem a chegar navios de carga já com produtos tarifados, algo que deve acontecer no fim do próximo mês. Problemas de rotas O presidente da associação de fornecedores tem uma visão optimista do panorama comercial, argumentando que os países e regiões vizinhos, sobretudo do sudeste asiático, podem procurar mercados com impostos baixos, como Hong Kong e Macau, para exportar os seus produtos e que essa concorrência pode levar à descida dos preços. Além das tarifas de Trump, Ip Sio Man salientou a instabilidade que tem cortado severamente o transporte marítimo no Mar Vermelho, devido às ofensivas de Israel e EUA no Iémen e os ataques dos rebeldes hutis, que têm atacado navios de carga. Esta situação afectou o comércio de bens oriundos de Portugal, com a venda de produtos como o azeite, que passaram a demorar dois meses, o dobro do tempo, a contornar a zona de conflito. O principal impacto foi sentido ao nível dos produtos frescos, de curta validade, como queijos, produtos lácteos e carnes premium, que ficaram mais caros. O HM falou com um empresário português que importa produtos portugueses e que, devido aos atrasos no transporte marítimo, passou a optar pela via aérea. Apesar do aumento dos custos do transporte, a gestão de stock obrigou à procura de alternativas à rota marítima, que chega a demorar três meses a ligar Portugal a Macau.
SPU | Abertas inscrições de residentes para simulacro de emergência Hoje Macau - 9 Abr 2025 Os Serviços de Polícia Unitários (SPU) recebem, até ao dia 22 deste mês, inscrições para a realização do simulacro “Peixe de Cristal 2025”, que visa “reforçar a capacidade de acção conjunta para resposta a emergências e elevar a consciência sobre a prevenção de desastres do público em geral”. A estrutura da protecção civil irá testar modos de funcionamento e equipas simulando um “Plano de evacuação das zonas baixas em situações de ‘storm surge’ durante a passagem de tufão”. A operação irá contar com a participação de residentes, pelo que os interessados poderão inscrever-se. “Durante o exercício serão simulados diversos incidentes, a fim de testar a capacidade de resposta conjunta dos membros da estrutura de protecção civil”, contando-se com o apoio dos membros do Mecanismo de Ligação Comunitária de Protecção Civil e dos voluntários de protecção civil. As inscrições podem ser feitas através do website do Instituto de Acção Social ou várias entidades, como o Centro Comunitário de Mong-Há da União Geral das Associações dos Moradores de Macau, entre outros.
Casinos-satélites | PME admitem agonia com encerramentos João Santos Filipe e Nunu Wu - 9 Abr 2025 Vários empresários de Pequenas e Médias Empresas admitiram que com o encerramento dos casinos-satélite vão ter de fechar os negócios ou avançar para despedimentos em massa As empresas dependentes ou com grandes receitas geradas pelos casinos-satélite reconhecem que estão muito preocupadas com as perspectivas de uma onda de encerramentos, no final do ano. A posição de vários empresários foi tomada em declarações ao jornal Ou Mun. Os casinos-satélite resultam de acordos entre algumas concessionárias e empresas independentes, que exploram vários espaços de jogo, como acontece com os casinos Kam Pek ou Ponte 16, num total de 11 casinos. Neste modelo, as empresas independentes exploram os casinos, mas com trabalhadores, mesas de jogo e fichas das concessionárias, com quem têm um acordo e a quem efectuam pagamentos. A última revisão à lei do jogo estabeleceu um período de três anos para acabar com este modelo, que termina no final deste ano. Como resultado, as concessionárias podem optar por assumir, por si, a exploração destes casinos ou fechar os espaços. Em declarações ao jornal Ou Mun, um residente com o apelido Lam, que é responsável de uma empresa de software, afirmou que metade das receitas da companhia derivam de um dos casinos-satélite. Sem estas receitas, o dirigente admite que a empresa vai começar a perder dinheiro e que nesse cenário só tem duas hipóteses: pagar as perdas com dinheiro do seu bolso, até a situação se tornar insustentável, ou fazer o que apelidou de “cortar um braço”, o despedimento de cerca de 30 a 40 por cento dos trabalhadores. Lam disse igualmente que os casinos-satélite distribuem muito dinheiro às Pequenas e Médias Empresas, através da contratação de serviços. Porém, se apenas sobreviverem as concessionárias, a economia local vai sentir um impacto que classificou como profundo. Outro empresário, com o apelido Sin, responsável por uma empresa de limpeza, traçou um cenário semelhante, e reconheceu que com o encerramento dos casinos-satélite vai despedir um quinto do total do pessoal, o que indicou representar cerca de 100 trabalhadores, por falta de trabalho. Menos transportes A necessidade de avançar com o despedimento de trabalhadores é igualmente o cenário antevisto por Choi, de acordo com o Jornal Ou Mun. O empresário de uma empresa de transporte privado de pessoas afirmou que actualmente sobrevive no mercado local devido aos serviços prestados aos casinos-satélite. Choi reconheceu que 80 por cento das receitas provém destes espaços e que em caso de encerramento este volume de negócio não vai ser substituído. O empresário indicou que apesar de Macau receber mais turistas estes têm um perfil muito diferente. Entre as diferenças, apontou que são mais jovens e que não se deslocam através deste tipo de transporte, recorrendo antes aos transportes públicos. O jornal Ou Mun falou também com um outro empresário Ip, responsável por uma empresa de produtos de iluminação de publicidades. Esta emprega entre 20 e 30 trabalhadores e grande parte dos serviços são prestados aos casinos-satélite. Se estes encerrarem, Ip indica que não só a sua empresa vai encerrar, assim como várias outras lojas nas imediações dos casinos e que dependem destes.
Mercado da Taipa | Arrancou concurso para atribuir bancas Hoje Macau - 9 Abr 2025 Começou ontem o concurso público para a exploração de 20 bancas de venda de refeições leves, café, produtos culturais e criativos no Mercado da Taipa. O anúncio foi feito pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). As propostas apresentadas vão ser avaliadas com base em critérios como estratégias de operação do concorrente, experiência e qualificações do concorrente, horário de exploração da banca, diversidade da tipologia de mercadorias e conveniência dos métodos de pagamento. Os interessados podem entregar as propostas para ocupar as bancas até às 13h de 23 de Maio. Como parte deste concurso público, o IAM vai realizar em Abril três sessões de esclarecimento sobre o concurso público, no Centro de Actividades do Patane. As bancas para distribuição vão ser divididas em três grupos, de acordo com a zona e as dimensões, estando disponíveis 19 bancas de refeições leves ou artigos culturais e criativos no 1.º andar do Mercado da Taipa. A renda mensal esperada varia entre 486 patacas e 1.854 patacas. O café fica situado no 2.º andar do Mercado da Taipa e vai ter uma renda mensal de 2.040 patacas.
Violência doméstica | Ho Ion Sang pede recursos para ajudar vítimas João Santos Filipe - 9 Abr 2025 Apesar do “sucesso” das políticas de combate à violência doméstica, o deputado dos Moradores considera que as associações locais devem ter mais meios para apoiar as vítimas e os seus filhos. Além de meios de subsistência, Ho Ion Sang realça a importância de planear a carreira profissional e prestar cuidados infantis Ho Ion Sang defende o reforço da cooperação entre o Governo e as associações locais para dotar as vítimas de violência doméstica de mais meios de subsistência. O assunto é abordado através de uma interpelação escrita pelo deputado dos Moradores, em que é pedida uma maior cooperação entre o Governo e as associações locais. No documento, Ho defende o reforço da “rede de assistência social” e a melhoria do “apoio ao nível de meios de subsistência das vítimas de violência doméstica e dos filhos”, que passa não só pela disponibilização de apoio financeiros, mas também por “serviços mais orientados e diversificados, tais como planeamento de carreira, formação profissional e cuidados infantis”. Segundo o deputado, no contexto actual, as associações devem assumir um papel fundamental a ajudar as vítimas, na vida após os episódios de violência doméstica, nos casos em que precisam de uma rede de apoios, para reconstruírem a vida. Ho Ion Sang é deputado pela Associação dos Moradores, uma das mais apoiadas pelo Governo com fundos públicos. Mais cooperação O reforço da cooperação entre as associações locais e o Governo não visa só o pedido de mais recursos. Ho Ion Sang pergunta pelo desenvolvimento das directrizes, prometidas pelo Executivo para este ano, que vão definir formas para lidar com casos de violência doméstica quando há crianças envolvidas. Nas perguntas enviadas ao Governo, o deputado recorda que as directrizes foram concluídas em 2023, e que no ano passado as autoridades ouviram os serviços públicos e as associações. Todavia, a meta do Executivo passava por divulgar e implementar as directrizes ao longo deste ano, sem que haja, até agora, mais informações. Por isso, o deputado pede que o Governo revele o calendário de quando vão ser apresentadas. Na interpelação escrita, o deputado considera igualmente que se deve “intensificar” a “cooperação com as organizações não governamentais e consolidar os recursos de todas as partes envolvidas” para “criar uma atmosfera favorável para que toda a comunidade se oponha e resista unanimemente à violência doméstica”. Em relação à prevenção, Ho Ion Sang elogia os trabalhos realizados, com a aprovação da legislação que tornou este um crime público, que tem levado a uma redução gradual das ocorrências. No entanto, pede ao Executivo que não facilite nos esforços de combate ao crime, para alertar mais a população para este fenómeno.
DSAL | Novas sessões de emprego este mês Hoje Macau - 9 Abr 2025 A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) volta a organizar novas sessões de emparelhamento de emprego em colaboração com a Federação da Associação dos Operários de Macau (FAOM). As três sessões decorrem na terceira semana de Abril, sendo que as inscrições decorrem até ao dia 15. Existem 79 vagas disponíveis para residentes, nomeadamente 21 para os empreendimentos da Sociedade de Jogos de Macau, cuja sessão decorre dia 16. No dia seguinte haverá uma sessão de emparelhamento para o sector de transportes para o turismo e públicos, tendo como empresas participantes a “AA – Turismo Limitada”, Transmac e TCM, com 28 vagas. Por sua vez, na tarde desse dia, haverá 30 vagas para a “CDFG Macau, Sociedade Unipessoal Limitada”. A sessão de emparelhamento para o sector hoteleiro das partes da manhã e da tarde do dia 16 de Abril terá lugar na Sala de reuniões Shang Zhou sita no 2.º andar do Hotel Grand Lisboa Palace Macau. A sessão de emparelhamento da manhã do dia 17 de Abril e a sessão da tarde do mesmo dia terão lugar no 2º andar da FAOM, no Edifício da Federação das Associações dos Operários.
PCC | Educação patriótica da RAEM elogiada João Luz - 9 Abr 2025 A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura foi a Pequim onde reuniu com dirigentes do Governo Central e do Partido Comunista da China, de quem ouviu elogios relativos à educação patriótica na RAEM. O vice-ministro Wu Yan aconselhou integração nacional às universidades de Macau Uma delegação liderada pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam, que incluiu o director dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude, Kong Chi Meng e a Presidente do Instituto Cultural, Deland Leong Wai Man, deslocou-se a Pequim para reunir com dirigentes do Partido Comunista da China e do Governo Central. Apesar de a deslocação ter ocorrido entre 29 de Março e 1 de Abril, apenas foi divulgada pelo gabinete de O Lam na noite de terça-feira. A comitiva de dirigentes da RAEM visitou o Departamento de Comunicação do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC), o Ministério da Educação do Governo Central, o Museu do Partido Comunista da China e o Centro Nacional de Artes Performativas. Na manhã de 31 de Março, a comitiva da RAEM reuniu com Hu Heping, responsável pelo trabalho diário do Departamento de Comunicação do Comité Central do PCC. O dirigente destacou “os notáveis progressos de Macau na educação patriótica, reafirmando o apoio contínuo do Departamento de Comunicação do Comité Central do PCC ao desenvolvimento da indústria cultural de Macau. Além disso, defendeu o fortalecimento da cooperação entre o departamento e o Governo da RAEM para promover “as belas tradições de amor pela Pátria e por Macau”. Hu Heping destacou as vantagens do entrosamento das culturas chinesa e ocidental de Macau, para promover o intercâmbio e aprendizagem entre civilizações e a integração sociocultural de Macau na conjuntura global do desenvolvimento do País. Aprender a ser feliz Os dirigentes da RAEM foram também recebidos o vice-ministro Wu Yan, que “manifestou o seu apoio ao desenvolvimento da educação de Macau e expressou a sua esperança de que Macau possa contribuir para a integração da educação, ciência e tecnologia e de quadros qualificados do país”. O governante chinês espera também que as instituições de ensino superior de Macau adoptem “um desenvolvimento de alta qualidade” para “operarem com alta precisão e integrarem-se na conjuntura geral do desenvolvimento do país”. A delegação visitou também o Museu do Partido Comunista da China e o Centro Nacional de Artes Performativas, “onde ficou a conhecer a magnífica história do Partido Comunista da China nos seus 100 anos de luta, bem como as importantes instalações culturais do país”. Os dirigentes da RAEM indicaram que querem organizar visitas de “professores e estudantes de Macau, empréstimo de colecções históricas importantes a Macau para exposição e da organização de seminários temáticos”.
Literatura | Dora Nunes Gago fecha trilogia de Macau com “Flores de Cinza” Andreia Sofia Silva - 9 Abr 20259 Abr 2025 Dora Nunes Gago, escritora e ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau, acaba de lançar um novo livro de poesia. “Flores de Cinza” encerra a trilogia de obras dedicadas a Macau, composta por “Floriram por engano as rosas bravas” e “Palavras Nómadas” Foram dez anos que se traduziram em muitas palavras. Tantas, que deram três livros, “Floriram por engano as rosas bravas”, com clara referência a Camilo Pessanha; “Palavras Nómadas” e, agora, “Flores de Cinza”. O novo livro de poesia de Dora Nunes Gago, docente e ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau (UM), remete ainda para a Macau que perdura na sua memória e que, por isso, se traduz em palavras. Com a chancela da Húmus, o livro acaba de sair em Portugal, resultando dos “muitos poemas” escritos por Dora Nunes Gago no período em que esteve em Macau, experiência que a transformou numa autora publicada e premiada. Escrever poesia nesses anos de docência e vivência a Oriente acabou por ser a forma encontrada para lidar com rebuliços de Macau e as suas dinâmicas. “Talvez por ser um registo mais breve, uma forma de captar instantes, de os cristalizar, no meio de todo o bulício e surpresas de que Macau se veste. A Maria Ondina Braga referia na obra “Estátua de Sal”, escrita em Macau, por volta de 1963, que Macau é ‘terra de sono e poesia’. De sono não sei bem, sendo uma cidade que não dorme, mas de poesia, penso que será”, contou ao HM. “Flores de Cinza” chama-se assim porque foi buscar inspiração a um poema de Natália Correia: “(…) Jovens alheios à pulcritude do corpo em festa / Passam por mim como alamedas de ciprestes / E a flor de cinza da juventude é uma aresta / Que me golpeia abrindo vácuos de flores silvestres (…) / a galope num sonho com espuma nos dentes.” Dora Nunes Gago seleccionou os “poemas sobreviventes” dos restantes dois títulos da trilogia. “Houve os que se perderam, entre mudanças, viagens, blocos e cadernos perdidos.” Tal como todo o rebuliço próprio de Macau. Em “Flores de Cinza”, o território “é representado pelos rituais, as épocas simbólicas como o Ano Novo Chinês, que é aquele tempo festivo em que parece que o mundo renasce e se inventa”. Há também elementos que se transformam em poesia como os dumplings, os templos, a ilha de Hengqin, onde a autora viveu nos tempos em que deu aulas na UM. “O território está presente nas imagens, mas também na solidão e no silêncio que habita os poemas, todos eles curtíssimos. Neste livro, a minha obsessão pela síntese culminou”, descreve. Cada livro, uma mensagem Há poemas que falam por si só, outros que necessitam de ser explicados. E falando da trilogia que escreveu nos últimos anos, Dora Nunes Gago remete para o primeiro, onde se vai buscar o Simbolismo de Pessanha e onde se denota “o primeiro olhar sobre a Ásia e sobre Macau”. Aqui, não existe poesia, mas sim 24 contos, “muitos deles inspirados em histórias presenciadas, ouvidas ou lidas em jornais”. Já o premiado “Palavras Nómadas”, vencedor do Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, no ano passado, contém 50 crónicas. “Foi o modo de achar um fio condutor para unir várias experiências e aprendizagens que teceram um fio condutor para a minha vida.” Eis que, no último livro da trilogia, se reúnem 55 poemas, organizados em três partes, nomeadamente “exílios, permanências e regressos”. São “uma síntese de todo o meu percurso”, destaca. “Flores de Cinza” é “talvez o livro mais autobiográfico dos três, pois enraíza-se em múltiplos sentimentos, numa espécie de instantâneos que configuraram os meus dias”, destaca a autora. Do prefácio, da autoria de Maria João Cantinho, lê-se que o primeiro da trilogia, “Floriram por engano as rosas bravas” é “um livro de contos breves, cujo título foi tomado de empréstimo a um belíssimo verso (e um poema) do melancólico Camilo Pessanha, em Clepsidra”. Enquanto “Palavras Nómadas” reúne crónicas que nascem “da sua vivência em Macau, bem como da sua vertente de viajante e aventureira, como precisou Onésimo Teotónio Almeida, de forma muito elogiosa”. Por sua vez, no terceiro, Dora Gago “muda o registo e encontramo-nos diante de uma escrita poética e sensível, construída por poemas breves”, lê-se. Maria João Cantinho entende ainda que o poema “Destino” é um dos mais belos em “Flores de Cinza”: “Na louca corrida / do galgo abandonado / solitário de existir, lamber as feridas da morte / na pele do poema.” Aqui, descreve-se “a escrita poética é apresentada como vertigem (‘na louca corrida’) movida por um impulso alegórico, em que a presença da morte emerge”, onde “o destino é certamente essa corrida desvairada em que a morte ronda os vivos e só o poema pode salvar ou redimir aqueles”, considera Maria João Cantinho. Para esta, “a escrita de Dora Nunes Gago contém uma dimensão reflexiva, abordando temas como a criação ou a passagem do tempo, entre muitos outros, e recorrendo a uma linguagem rica, tanto vocabular, como ao nível prosódico, na busca de efeitos que acentuem a tensão do poema”. “Exílios”, a primeira parte da obra, arranca com “Início”, nome simples para um poema curto: “Sigo as pegadas da memória / inscritas na areia do tempo / e sou navio / ancorado sem leme / nem alento”. Talvez marcado pela saudade e pela distância, encontramos “Ausência”: “Dançam cinzas solenes / silvando sopros de saudade, / céus / soletrados / no sangue / da solidão.” E como este livro é feito de idas e vindas, a obra termina com “Retorno”, como se de uma linha do tempo se tratasse: “Regressar a casa / tatuar montes e vales / na retina, / regar as flores de cinza / renascidas / nas frestas pedregosas / da esperança.” Dora Nunes Gago é natural de São Brás de Alportel e actualmente é docente no Instituto Politécnico de Setúbal. Sobre “Palavras Nómadas”, o júri do Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, concedido pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), considerou tratar-se de uma “obra de variadas e ricas observações concernentes aos lugares por onde transcorrem as viagens relatadas, com descrições de grande vivacidade sensorial, a que não falta o olhar íntimo sobre os lugares e as gentes, bem como a capacidade de captação do que se tem vindo a designar como ‘génie du lieu’”. “Numa prosa de grande fluidez, eivada de reflexões onde se cruzam percepções, memórias, cultura, literatura e história, a autora logra suscitar uma leitura aderente desde as primeiras páginas, cujo ritmo e interesse sabe manter ao longo da considerável extensão da obra”, referiu o mesmo júri.
A psicologia da atração à primeira vista Tânia dos Santos - 9 Abr 2025 A “atração à primeira vista” é um fenómeno que fascina toda a gente. As comédias românticas retratam-na como um momento de ligação instantânea e incontrolável entre duas pessoas. Cabe-me agora desvendar as possíveis explicações por detrás deste fenómeno, recorrendo a duas grandes escolas de pensamento: a psicologia cognitiva — que desenvolve metodologias empíricas para testar hipóteses sobre o tema — e a abordagem psicodinâmica — que trabalha com bases interpretativas. Ambas as perspetivas constroem metáforas que nos ajudam a interpretar estes processos. Assim, podemos oscilar entre duas propostas: a atração à primeira vista será um produto de mecanismos inconscientes profundamente enraizados ou, pelo contrário, uma construção romântica a posteriori, baseada em processos sensoriais e cognitivos? A psicologia cognitiva sugere que a “atração à primeira vista” pode resultar de um processamento rápido de informação sensorial e emocional. O cérebro humano está programado para reconhecer padrões e categorizar informações de forma eficiente, o que nos permite avaliar alguém em frações de segundo, com base em traços faciais, expressões ou linguagem corporal. Estudos sobre perceção social confirmam que formulamos juízos imediatos sobre os outros. Do ponto de vista biológico, este fenómeno pode estar ligado à ativação do sistema dopaminérgico, responsável pela regulação do prazer e da recompensa. Quando encontramos alguém que consideramos atraente, o cérebro liberta dopamina, desencadeando um desejo de proximidade. Além disso, investigação sobre feromonas indicam que somos inconscientemente atraídos por parceiros cujo sistema imunitário complementa o nosso, favorecendo a diversidade genética na descendência. Por outro lado, a abordagem psicodinâmica, enraizada na psicanálise de Sigmund Freud, explica a atração à primeira vista através de mecanismos inconscientes. Segundo esta perspetiva, as experiências passadas — sobretudo as da infância — moldam os nossos padrões de atração. Quando nos sentimos instantaneamente atraídos por alguém, pode ser porque essa pessoa ativa memórias ou emoções associadas a figuras de vinculação primárias, como pais ou cuidadores. A atração não se centra no outro enquanto pessoa real, mas na forma como ele ressoa dentro da nossa estrutura inconsciente de desejo. O outro pode simbolizar algo que nos falta, algo interdito ou uma questão emocional ainda não resolvida. Esse mecanismo, conhecido como identificação projetiva, explica como podemos sentir uma forte atração por alguém que representa, de forma inconsciente, partes significativas da nossa história psíquica. Segundo esta teoria, raramente nos apaixonamos por quem a pessoa realmente é, mas sim pela maneira como projetamos nela as nossas necessidades emocionais não resolvidas. A atração é por isso um encontro de inconscientes, onde ambos projetam padrões familiares um no outro. Claro que as crenças também moldam expectativas românticas. Se acreditamos que a atração instantânea é um sinal de destino, tendemos a atribuir-lhe significado emocional. O impacto da cultura e das normas sociais mostra como a perceção do “amor à primeira vista” pode ser influenciada por narrativas romantizadas. Por exemplo, em livros, filmes ou publicidade romantiza-se a ideia da atração à primeira vista, criando uma narrativa que leva as pessoas a idealizar e a esperar ligações emocionais intensas e imediatas. Esta expectativa cultural pode influenciar a forma como interpretamos encontros reais — se alguém vive sintonizado com ideais românticos, é mais provável que atribua significado emocional a uma atração instantânea, encarando-a como algo “destinado a acontecer” ou “predestinado”. A psicologia cognitiva encara o fenómeno de forma mais pragmática, quase despojando-o do seu romantismo: tudo depende do nosso processamento mental e do que consideramos relevante. Já a psicanálise articula melhor o cruzamento entre fantasia e realidade, propondo que, embora a atração à primeira vista seja composta por elementos projetivos e fantasiosos, estes não estão totalmente dissociados do encontro em si. Há algo de significativo nessa dinâmica; caso contrário, as pessoas não se apaixonariam. Como diria um psicanalista, somos atraídos por quem consegue nutrir as nossas feridas psíquicas — o que, mais tarde, pode revelar-se a causa de disfunções no casal. Existe um domínio intangível que comunica subtilmente quem somos, de onde viemos e como nos podemos completar. Em suma, enquanto a neurociência e a psicologia cognitiva destacam reações automáticas e hormonais, a psicodinâmica enfatiza o papel do inconsciente e das experiências passadas. Embora a psicologia cognitiva e a psicodinâmica possam parecer opostas – uma focando-se em processos conscientes e observáveis e a outra em mecanismos inconscientes e emocionais –, existe potencial para sobreposição, e reconhecer isso poderia tornar a explicação mais robusta. A perspetiva cognitiva sobre a atração, que enfatiza julgamentos rápidos e automáticos baseados em sinais físicos e respostas emocionais, pode ser entendida como o processamento inicial e superficial que é complementado pelos processos inconscientes. Mas a minha proposta é outra: mostrar que a forma como olhamos para o fenómeno afecta a forma como o vivemos. Cada explicação poderá adaptar-se melhor às vivências de cada pessoa. Estará a atração à primeira vista enraizada num desejo autêntico e profundo, ou será uma ilusão alimentada pela necessidade humana de conexão e significado? A resposta talvez resida na imaginação e riqueza emocional de cada um. Em última análise, a maneira como interpretamos o fenómeno da “atração à primeira vista” pode ser profundamente influenciada pelos mecanismos cerebrais e inconscientes discutidos, mas também pelas narrativas culturais que internalizamos. Assim, a experiência será sempre uma intersecção entre o que sentimos e como aprendemos a sentir.
Bolsas asiáticas recuperam após perdas devido à guerra comercial Hoje Macau - 9 Abr 2025 As bolsas asiáticas regressaram ontem aos ganhos, depois de fortes perdas na segunda-feira, marcadas por receios de uma guerra comercial desencadeada por Washington, e depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, prometer “acordos justos” com quem negociar tarifas. Acompanhando a moderação de perdas registada por Wall Street, as principais praças asiáticas abriram com ganhos, lideradas por Tóquio, que subiu mais de 5 por cento na abertura, depois de registar perdas históricas no dia anterior. O principal índice da Bolsa de Hong Kong, o Hang Seng, subia cerca de 1,58 por cento a meio da sessão de terça-feira, após a maior queda em quase trinta anos, na segunda-feira: 13,2 por cento. Em Tóquio, o Nikkei subia 6,08 por cento a meio da sessão de negociação, depois de ter caído quase 8 por cento na segunda-feira, enquanto as bolsas de referência de Xangai e Shenzhen, que registaram quedas de 7,34 por cento e 9,66 por cento, respectivamente, na segunda-feira, estavam em terreno positivo ligeiro, 0,91 por cento e 0,42 por cento respectivamente. Respostas prontas O Presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou aplicar tarifas adicionais de 50 por cento à China, se Pequim não recuar com as taxas impostas aos produtos norte-americanos. Em resposta, o Ministério do Comércio do gigante asiático respondeu ontem que as contramedidas anunciadas na passada sexta-feira são “completamente legítimas”. O fundo estatal chinês Central Huijin Investment fez ontem saber que tem capacidade suficiente para garantir a estabilidade dos mercados de capitais do país e reafirmou a decisão de aumentar novamente a participação em fundos negociados em bolsa, depois de o ter feito na segunda-feira, quando as bolsas de Hong Kong e da China continental caíram fortemente. O mercado bolsista de Taiwan abriu no vermelho, com o Taiex a cair quase 3 por cento poucos minutos após a abertura e depois de ter registado a maior queda diária da história da ilha na segunda-feira, com uma descida de 9,7 por cento. Na Indonésia, o principal índice de referência da bolsa, que não operava desde 28 de Março, caiu mais de 9 por cento nos primeiros minutos da sessão, o que levou a uma paragem de meia hora, ao abrigo de um novo regulamento introduzido no dia anterior. Nos restantes mercados do Sudeste Asiático, as bolsas abriram, na sua maioria, com perdas, lideradas pelo Vietname (-5,04 por cento), Tailândia (-4,08 por cento) – ambas as bolsas estiveram encerradas na segunda-feira – e Singapura (-1,63 por cento). Já as bolsas das Filipinas (+2,04 por cento) e da Malásia (+0,3 por cento) despertaram com ganhos.