Os sistemas meteorológicos de alerta precoce e a sua importância

(continuação da edição de 5 de Junho)

Apesar de possuir um serviço meteorológico eficiente (Administração de Serviços Atmosféricos, Geofísicos e Astronómicos das Filipinas – PAGASA1) as Filipinas, devido ao Haiyan, foram palco de uma das grandes tragédias relacionadas com ciclones tropicais. No caso do Haiyan, os boletins de alerta foram emitidos, regular e atempadamente, antes e durante a passagem do tufão, mas o facto de os mapas de risco de inundações estarem desatualizados fez com que muitas pessoas tivessem perecido por se refugiarem em abrigos situados em zonas consideradas seguras nesses mapas.

Por outro lado, devido a haver muitas línguas no país (mais de 180 línguas e dialetos regionais), os boletins são emitidos principalmente em inglês e tagalo, as duas línguas oficiais. Assim, as razões de um tão grande número de vítimas, além da excecional violência do tufão e dos mapas de risco de inundações estarem desatualizados, foi o facto de terem sido usados os termos “storm surge”, suscetíveis de não serem compreendidos por grande parte da população menos instruída. Entre as recomendações expressas nos relatórios das várias missões encarregues de avaliar as consequências do tufão sobressaíram a necessidade de atualização urgente dos mapas de risco de inundações e a utilização, nos boletins de alerta, de linguagem menos técnica com o intuito de ser facilmente compreendida pelas populações.

Os media filipinos, e alguns internacionais, noticiaram que o presidente da autarquia de Guiuan2, a primeira cidade filipina que se encontrava no percurso previsto do tufão, enviou mensageiros com altifalantes, em motociclos, aos vários “barangays”3 da municipalidade próximos da costa, avisando a aproximação de um tsunami. O termo “tsunami”, embora não fosse tecnicamente correto nesta situação, alertou as populações, pouco sensibilizadas com a previsão de uma maré de tempestade, para que seguissem as instruções da autoridade de proteção civil a fim de serem evacuadas, o que foi conseguido com sucesso.

Note-se que as pessoas estavam bem cientes das consequências dos tsunamis, dado que foram bastante divulgadas notícias sobre as consequências de um fenómeno deste tipo que ocorrera alguns anos antes, em 2004, na costa oeste de Sumatra, causando aproximadamente 230.000 vítimas mortais em 14 países diferentes.

A OMM e o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR)5 têm insistido na necessidade de alargamento deste tipo de sistemas de alerta precoce a outros fenómenos, além dos relacionados com meteorologia. Surgiu, assim, o conceito de Sistemas de Alerta Precoce de Riscos Múltiplos (internacionalmente conhecido como “Multihazard Early Warning Systems” – MHEWS), que abrangem vários tipos de riscos, considerando as inter-relações entre eles. Os principais riscos que podem ser motivo da emissão de alertas multirriscos são essencialmente inundações, ciclones extratropicais, ciclones tropicais (ciclones, tufões, furacões), marés de tempestade, secas, incêndios florestais, ondas de calor, deslizamentos de terras, sismos e tsunamis.

De acordo com o relatório “Global Status of Multi-Hazard Early Warning Systems 2024”, elaborado pela OMM e UNDRR (apresentado na COP29 pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres), os países com sistemas deste tipo menos desenvolvidos têm uma taxa de mortalidade relacionada com desastres naturais de quase seis vezes superior do que os países em que os sistemas multirriscos são mais avançados, e quase quatro vezes mais pessoas afetadas por catástrofes.

Espera-se que na próxima conferência sobre o clima, a realizar sob os auspícios da UNFCCC6 (COP30 – 15 a 21 de novembro de 2025, em Belém, Brasil), venham a ser reforçadas as medidas para a melhoria dos sistemas de alerta precoce nos países em que ainda não estejam devidamente implantados.

Referências:

PAGASA – Philippine Atmospheric, Geophysical and Astronomical Services Administration.

Guiuan – cidade importante na história das Filipinas. Consta que, no século XVI, foi na ilha Homonhon, pertencente àquela municipalidade, que Fernão de Magalhães desembarcou pela primeira vez naquele arquipélago. Talvez por esta razão a população da cidade é maioritariamente católica.

Barangay – Divisão administrativa nas Filipinas, correspondente a aldeia.

“ESCAP/WMO Typhoon Committee” – tem sede do Secretariado em Macau, desde 2007.

UNDRR – United Nations Office for Disaster Risk Reduction.

UNFCCC – United Nations Framework Convention on Climate Change.

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