Tailândia/Camboja | Cessar-fogo “imediato e incondicional” aceite pelas duas partes Hoje Macau - 29 Jul 2025 A Tailândia e o Camboja concordaram com o cessar-fogo proposto ontem numa reunião na Malásia, após os piores combates da última década. Horas antes do início das negociações, representantes dos dois países trocaram acusações A Tailândia e o Camboja concordaram com um cessar-fogo “imediato e incondicional”, anunciou ontem ao final da tarde o primeiro-ministro da Malásia após realizar negociações de paz. Anwar Ibrahim, que recebeu os líderes de ambos os países, disse que o cessar-fogo terá início à meia-noite de segunda-feira, hora local. “Tanto o Camboja como a Tailândia chegaram a um entendimento comum”, disse Ibrahim após as negociações de mediação na Malásia. Os embaixadores dos Estados Unidos e da China na Malásia também estiveram presentes na reunião na capital administrativa da Malásia, Putrajaya. Recorde-se que a Malásia detém a presidência rotativa da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), da qual Banguecoque e Phnom Penh são membros, e já interveio como mediadora entre as partes no segundo dia do diferendo. Pelo menos 35 pessoas foram mortas e mais de 270.000 deslocadas pelos piores combates em mais de uma década entre os países vizinhos. Os confrontos continuaram na madrugada de segunda-feira, poucas horas antes do início das negociações. Além do confronto físico, os dirigentes dos dois países também trocaram acusações horas antes da negociações que parecem apontar para o fim do conflito. O primeiro-ministro interino tailandês acusou o Camboja de falta de “boa fé”, ao partir para a Malásia. “Não achamos que o Camboja esteja a agir de boa-fé, tendo em conta as acções para resolver o problema. Eles têm de demonstrar uma intenção sincera”, disse Phumtham Wechayachai aos jornalistas no aeroporto em Banguecoque. Também o Camboja afirmou que os ataques continuaram na madrugada de segunda-feira nos templos disputados de Ta Moan Thom e Ta Krabey, a mais de 400 quilómetros de Banguecoque e Phnom Penh. A porta-voz do Ministério da Defesa do Camboja, Maly Socheata, disse, numa conferência de imprensa, que a Tailândia atacou o território cambojano entre domingo e a madrugada de ontem com obuses de artilharia e bombas de fragmentação. “Sublinhamos a necessidade de ambas as partes exercerem a máxima contenção e se comprometerem com um cessar-fogo imediato, abstendo-se de qualquer acção que o possa prejudicar”, lê-se num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Malásia ainda antes da reunião. “Exortamos ambas as partes a cessarem todas as hostilidades, a regressarem à mesa das negociações para restaurar a paz e a estabilidade e a resolverem os diferendos e as divergências por meios pacíficos”, declarou ainda o Governo de Kuala Lumpur. Potências atentas O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, exortou os dois países a diminuírem as tensões “de imediato” e a concordarem com um cessar-fogo na disputa fronteiriça. “Tanto o Presidente [Donald] Trump como eu estamos em contacto com os nossos homólogos de cada país e estamos a acompanhar a situação de muito perto. Queremos que este conflito termine o mais rapidamente possível”, apontou Rubio na rede social X. Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês apelou à paz. “Camboja e Tailândia são vizinhos próximos e também amigos da China. A paz e a boa vizinhança são do interesse comum de ambas as partes”, declarou o porta-voz do ministério, Guo Jiakun, em conferência de imprensa. As declarações surgem após o primeiro-ministro interino tailandês, Phumtham Wechayachai, ter citado a China, juntamente com os Estados Unidos e a Malásia, como um dos países que “intervieram para ajudar” a viabilizar o encontro entre Banguecoque e Phnom Penh, em confronto desde quinta-feira passada devido a uma disputa territorial na fronteira comum. Além de Washington, Pequim e da ASEAN, também a ONU, União Europeia, Japão e Rússia, entre outros, apelaram à contenção e ao diálogo entre as partes.
Tarifas | China e Estados Unidos reunidos para prolongar trégua Hoje Macau - 29 Jul 2025 Responsáveis norte-americanos e chineses estão reunidos desde ontem, em Estocolmo, com o objectivo de prolongar a trégua na guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, num contexto ainda incerto. Trata-se do terceiro encontro entre Pequim e Washington, depois das reuniões em Genebra, em Maio, e Londres, em Junho, que permitiram pôr fim à escalada nas tensões comerciais entre os dois países. A reunião decorre no início de uma semana decisiva para a política comercial do Presidente norte-americano, Donald Trump, uma vez que as tarifas aplicadas à maioria dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos deverão sofrer um forte aumento a partir de sexta-feira. As discussões em Estocolmo visam prolongar a pausa de 90 dias negociada em Maio, em Genebra, que pôs fim às represálias de ambos os lados do Pacífico, responsáveis por sobretaxas de 125 por cento sobre produtos norte-americanos e 145 por cento sobre produtos chineses.
China | Análise: Batalha contra deflação e excesso de oferta ainda longe da vitória Hoje Macau - 29 Jul 2025 O Financial Times alertou que a China continua longe de vencer a deflação, apesar de a inflação homóloga ter regressado a terreno positivo em Junho, pela primeira vez desde Janeiro. Os analistas aconselharam uma redução da oferta De acordo com o editorial do Financial Times (FT), publicado no domingo, “poucos acreditam que o crescimento sustentado dos preços esteja de volta”, devido sobretudo à fraca procura interna. Pequim tem feito esforços para incentivar o consumo, mas terá de ir mais longe, nomeadamente através do reforço dos sistemas de pensões e benefícios sociais, de modo a reduzir a poupança preventiva das famílias. O FT sublinha ainda que a dinâmica deflacionista não será travada se o Partido Comunista Chinês não enfrentar também o excesso de oferta. A deflação consiste numa queda dos preços ao longo do tempo, por oposição a uma subida (inflação). O fenómeno reflecte debilidade no consumo doméstico e investimento e é particularmente perigoso, já que uma queda no preço dos activos, por norma contraídos com recurso a crédito, gera um desequilíbrio entre o valor dos empréstimos e as garantias bancárias. Outro dos efeitos é o de levar ao adiamento das decisões de consumo e investimento em resultado de expectativas de preços mais baixos no futuro, podendo criar uma espiral descendente de preços e procura difícil de inverter, afectando a economia por inteiro. O risco de deflação na economia chinesa agravou-se nos últimos dois anos, suscitado por uma profunda crise imobiliária, que afectou o investimento e o consumo, e o excesso de capacidade de produção em vários sectores. Os preços de produção estão em queda desde Outubro de 2022, num contexto em que as fábricas chinesas reduzem os preços para manter quota de mercado, tanto em indústrias tradicionais, como o aço e o cimento, como em sectores modernos, incluindo veículos eléctricos, painéis solares e inteligência artificial. O jornal britânico lembra que o Presidente chinês, Xi Jinping, e outros altos responsáveis passaram de negar as preocupações externas sobre excesso de capacidade de produção a criticar os fabricantes domésticos pelo fenómeno de neijuan (“involução”), expressão usada para descrever a concorrência excessiva em preços. Fabricar eficiência O editorial frisa que as próprias políticas de Pequim alimentaram o problema, com a aposta em “novas forças produtivas de qualidade”, voltadas para tecnologias avançadas e novas indústrias, a desencadear uma corrida para atrair apoio político e subsídios locais. O resultado é “um surto de investimento com duplicações em excesso”, levando a cortes de preços e acumulação de produtos armazenados, desde veículos eléctricos estacionados em portos a semicondutores para sistemas de inteligência artificial sem uso. “Está a tornar-se cada vez mais difícil para os fabricantes chineses exportarem este excesso de produção, à medida que os parceiros comerciais estão mais conscientes do impacto da importação de produtos baratos nas suas indústrias locais”, nota o jornal. Vários dos principais parceiros comerciais do país asiático, incluindo União Europeia, Estados Unidos, mas também países em desenvolvimento como o Brasil, têm adoptado medidas proteccionistas, incluindo o aumento de taxas alfandegárias, e lançado investigações ‘antidumping’ contra a China. O ‘dumping’ consiste na venda abaixo do custo de produção. O Financial Times defende que Pequim deve limitar a “generosidade do Estado” e criar um mercado nacional mais unificado, restringindo os incentivos distorcivos dos governos locais. Propõe ainda alterar as metas provinciais, reduzindo a ênfase no Produto Interno Bruto, e reforçar a protecção da propriedade intelectual para incentivar uma diferenciação mais inovadora. Segundo o editorial, Xi Jinping poderá tentar fixar tectos de produção e pressionar os fabricantes a reduzir a oferta, mas “Pequim fará bem em perceber que o seu apoio excessivo é o problema”. “O Estado pode construir fábricas, mas não pode fabricar eficiência”, aponta o Financial Times.
Budismo na China: Florescimento durante a Era Sui-Tang Hoje Macau - 29 Jul 2025 (continuação do número anterior) O Budismo atingiu o auge do seu desenvolvimento e impacto na sociedade chinesa durante as dinastias Sui (581-618) e Tang (618-907). Esta era é frequentemente evocada como a idade de ouro do budismo chinês, distinguida por uma combinação notável de engenho intelectual, vitalidade institucional, devoção fervorosa e criatividade artística. O período Tang é também invulgarmente aceite como o ponto alto da civilização chinesa, uma era de poder dinástico e prosperidade sem rival, celebrada pela sua sofisticação cultural, efervescência e cosmopolitismo. O ápice do budismo na China coincidiu, assim, com um dos períodos mais significativos da história chinesa, quando o Império do Meio emergiu como o país mais avançado e poderoso do mundo. Nessa altura, o Budismo era claramente a tradição religiosa mais prevalecente e influente na China, embora não fosse de modo algum a única. O confucionismo e o taoísmo também floresceram, no meio de um ambiente sociocultural positivo que fomentou aquilo a que hoje poderíamos chamar atitudes multiculturais e a aceitação do pluralismo religioso. Além disso, durante esta época, foram introduzidas na China várias outras religiões “ocidentais”, incluindo o zoroastrismo, o islamismo, o cristianismo nestoriano e o maniqueísmo. Durante a era Tang, os mosteiros, templos e santuários budistas eram uma mistura proeminente de paisagens urbanas e rurais. Os monges e os mosteiros eram símbolos altamente visíveis da presença generalizada do budismo em toda a China, o que tinha ramificações sociais, políticas e económicas significativas. A ordem monástica assumiu posições-chave de liderança religiosa e esteve na linha da frente dos principais desenvolvimentos institucionais e intelectuais. Embora a maioria dos líderes monásticos viesse de origens privilegiadas, havia também numerosos monges e monjas com uma educação mais humilde que atendiam às necessidades religiosas do povo comum. Chang’an, a principal capital Tang, tinha mais de 150 mosteiros e conventos, que albergavam milhares de monges e freiras. Os principais complexos monásticos da capital eram de grande dimensão, com numerosos edifícios, pavilhões e pátios. Eram também conhecidos pelo seu esplendor arquitetónico e pelo seu ambiente requintado. Com várias funções religiosas, que incluíam rituais realizados em nome da família imperial e da dinastia reinante, os mosteiros eram também importantes centros da vida social, bem como locais onde se realizavam variados eventos culturais. Luoyang, a capital secundária, não ficou muito atrás no que diz respeito à presença de estabelecimentos e actividades budistas, especialmente durante o reinado da Imperatriz Wu (r. 690-705), a única monarca feminina na história chinesa, que era conhecida pelo seu patrocínio ao budismo. Houve também notáveis construções e expansões em Longmen e Dunhuang, os famosos complexos de cavernas que estão entre os maiores e mais importantes repositórios de arte budista. A profusão de estátuas, frescos, inscrições e relevos que enfeitam os santuários das grutas são um testemunho impressionante das imensas alturas da criatividade artística de inspiração budista e do fervor religioso que caracterizaram esta época. Também nos dão a conhecer a gama de aspirações e motivações evidenciadas entre os fiéis budistas, que envolviam intrincadas intersecções de considerações religiosas, económicas, políticas e sociais. Muitos mosteiros famosos situavam-se também em capitais de províncias ou prefeituras. Havia ainda mais mosteiros situados em várias montanhas – como Wutaishan, Lushan, Tiantaishan e Nanyue – que, para além do seu papel primordial como centros de treino monástico, serviam também como importantes locais de peregrinação (para Nanyue, ver Robson 2009). Os oficiais e literatos Tang visitavam frequentemente este tipo de estabelecimentos monásticos, onde interagiam de perto com o clero budista. Muitos deles eram também patronos proeminentes e fervorosos apoiantes da causa budista. De um modo geral, os literatos desempenharam papéis essenciais no crescimento e transformação do budismo. Um bom número deles esteve mesmo ativamente empenhado na propagação das doutrinas e práticas budistas. Além disso, afirmaram o lugar central do Budismo na vida cultural e social chinesa e, em momentos-chave, defenderam a fé budista contra os seus vários detractores (Halperin 2006: 27-61). A influência generalizada do budismo na esfera cultural é claramente evidente na literatura e na poesia Tang, que evocam frequentemente temas, ideias e imagens budistas. Em várias inscrições escritas para mosteiros budistas e outros tipos de escritos, os literatos escreviam sobre a sua devoção pessoal e apresentavam testemunhos embelezados sobre a sublimidade ou a eficácia dos ensinamentos budistas. Exemplos copiosos de tais sentimentos podem ser encontrados nos escritos de poetas famosos como Wang Wei (701-761) e Bo Juyi (772-846, também conhecido como Bai Juyi). Ambos os poetas eram bem conhecidos pelos seus compromissos sérios com os ideais e práticas budistas, especialmente os associados ao nascente movimento Chan, pelo que não é surpreendente que a sua poesia estivesse imbuída de sentimentos budistas. Em muitos poemas, os tropos ou imagens budistas assumem um papel central, o que os torna fontes úteis para o estudo de atitudes e práticas laicas (ver Poceski 2007b). O crescimento do budismo teve também impactos notáveis nas esferas económica e política. Muitos mosteiros tinham estatuto oficial e recebiam financiamento do Estado. Uma vez que as doações religiosas eram vistas como um dos principais geradores de mérito espiritual, os donativos dos fiéis – que provinham das elites sociopolíticas, bem como da população comum – eram uma importante fonte de rendimento para os mosteiros. Alguns estabelecimentos monásticos eram também grandes proprietários de terras. Outras fontes de rendimento eram as actividades comerciais, como a exploração de lagares de azeite, moinhos e casas de penhores (Gernet 1995: 142-52, 167-86). Embora o Estado imperial patrocinasse as actividades religiosas e concedesse certos privilégios ao clero – nomeadamente a isenção de impostos e do serviço militar – também implementou uma série de políticas destinadas a controlar a religião e as suas instituições, que não eram necessariamente exclusivas da era Tang. Estas políticas incluíam o controlo das ordenações monásticas, a regulamentação da construção de templos e mosteiros e a imposição de restrições às actividades do clero e à sua liberdade de movimentos. Dado o relativo conforto da vida monástica e a grande dimensão do clero, que incluía indivíduos com todo o tipo de antecedentes e aspirações, um certo nível de laxismo monástico e de corrupção era um problema constante. Este facto suscitou críticas tanto do exterior como do interior da comunidade budista, juntamente com apelos ocasionais à purificação do clero. No decurso da história da China, muitas dinastias reinantes estavam empenhadas em utilizar o prestígio e a popularidade do budismo para os seus objectivos políticos. Foi esse o caso, nomeadamente, durante a dinastia Sui, que fez uso extensivo do budismo como parte da sua política global de unificação do país sob o seu domínio centralizado. A situação durante a era Tang era um pouco mais complexa e confusa, em parte devido a uma política oficial que dava precedência ao taoísmo. Ao longo da dinastia, o nível de patrocínio oficial do estado e as suas atitudes em relação ao budismo foram influenciados por uma variedade de factores, incluindo as piedades pessoais de cada imperador. Num dos extremos do espetro estava a já mencionada Imperatriz Wu, que ofereceu um apoio generoso e fez uso extensivo do Budismo como uma fonte chave de legitimidade para o seu governo, que foi único nos anais da história chinesa devido ao seu género (ver Weinstein 1987: 37-47). No outro extremo do espetro estava o Imperador Wuzong (r. 842-845), que durante o seu curto reinado iniciou uma das mais abrangentes e devastadoras perseguições anti-budistas. Embora a perseguição se tenha estendido a outras religiões “estrangeiras”, especialmente o zoroastrismo, o maniqueísmo e o cristianismo nestoriano, os monges e mosteiros budistas foram os seus principais alvos. O imperador ordenou a destruição ou o encerramento total dos mosteiros e de outros estabelecimentos budistas, a laicização do clero e a expropriação das terras e propriedades monásticas (Weinstein 1987: 114-36; Ch’en 1964: 226-33). A perseguição foi de curta duração, uma vez que o imperador seguinte, Xuanzong (r. 846-859), mudou rapidamente a política do Estado e tornou-se um generoso apoiante do budismo. No entanto, para alguns historiadores, este acontecimento traumático marcou o fim de uma grande era na história budista chinesa. Escolas do budismo chinês Ao nível da elite, as fases formativas da história budista chinesa foram, em grande medida, moldadas pela formação de tradições exegéticas discretas e pela sistematização de paradigmas doutrinais ou soteriológicos explícitos. Estes processos encontraram as suas expressões mais notáveis no desenvolvimento das chamadas escolas ou tradições do Budismo chinês. No entanto, ao discutir estas escolas, temos de ter em conta que o termo chinês para “escola” (zong) nos coloca uma série de desafios, dadas as suas múltiplas conotações e os seus usos ambivalentes numa série de contextos. O mesmo termo pode ser utilizado para designar o objetivo essencial de uma determinada doutrina (que pode estar associada a uma escritura específica, como o Huayan jing), uma tradição de exegese canónica ou de reflexão filosófica (por exemplo, Madhyamaka), uma sistematização de doutrinas ou práticas particulares, ou um grupo de praticantes que aderem a um conjunto de ensinamentos ou ideais. Muitas vezes, envolve uma combinação de várias destas possibilidades interpretativas. De um modo geral, no contexto budista chinês, a noção de escola não implica uma tradição sectária distinta, por exemplo, ao longo das linhas que se desenvolveram no budismo japonês posterior, que veio a incorporar uma variedade de seitas institucionalmente independentes, como Sōtō Zen, Jōdo, Tendai, Shingon e Nichiren. Não obstante a existência de identidades de grupo distintas ou divisões faccionais – ao longo das linhas daquelas que separam Chan de Tiantai, por exemplo – as escolas do budismo chinês não se desenvolveram em seitas discretas que tinham estruturas eclesiásticas autônomas ou amarras institucionais que as diferenciavam da corrente principal monástica. De facto, todas elas eram partes integrantes de uma tradição budista inclusiva, largamente associada à ordem monástica e ao cânone budista, que era capaz de acomodar uma vasta gama de abordagens e perspectivas. Esta tradição budista mais vasta estava aberta a todo o tipo de gestos ecuménicos e amálgamas sincréticas. Também tinha a capacidade de absorver todos os tipos de debates doutrinários e desacordos faccionais. É, portanto, inútil ou enganador falar de monges (ou praticantes) Chan como um grupo distinto, quer no sentido sociológico, quer no sentido institucional, uma vez que não havia ordenações separadas ou outros marcadores de entrada oficial na escola Chan. Assim, os monges associados ao Chan (bem como às outras escolas) eram capazes de acomodar várias identidades sobrepostas, contextuais e porosas. Estas identidades envolviam a sua participação simultânea no movimento Chan mais alargado e numa das suas linhagens, bem como a sua pertença à ordem monástica e à tradição budista comum, com a sua história rica, saberes cumulativos, literatura expansiva e instituições multifacetadas (Poceski 2007a: 103-06). Da mesma forma, mesmo quando estabelecimentos religiosos específicos eram marcados como “mosteiros Chan”, estavam abertos a todos os tipos de praticantes. Por exemplo, quando um sistema de mosteiros Chan foi estabelecido durante a era Song, eles foram sub-sumidos sob a designação oficial de “mosteiros públicos” (shifang conglin). Estes mosteiros estavam abertos a todos os monges devidamente ordenados e em boa situação. Apenas a sua abadia estava limitada aos detentores da linhagem Chan, que eram também membros proeminentes da ordem monástica principal. O mesmo acontecia com os mosteiros Tiantai, que pertenciam a uma categoria separada de mosteiros de “ensino” (jiao) (ver Schlütter 2008: 31-54). Além disso, quando a escola Chan desenvolveu códigos monásticos específicos para a regulamentação deste tipo de mosteiro, basearam-se em grande medida no Vinaya, o código canónico de disciplina monástica, e incorporaram também uma variedade de costumes e rituais que não eram de modo algum exclusivos da escola Chan (ver Yifa 2002, especialmente o Capítulo 2). Durante o início da história do Budismo na China, especialmente durante o Período da Divisão, a elite monástica preocupou-se em alcançar o domínio dos principais princípios doutrinários e sistematizações filosóficas da tradição indiana Mahāyāna, que foram trazidos para a China em várias fases distintas. No início do século IV, após a chegada de Kumārajīva à China, as tradições dominantes de aprendizagem escolástica e exegese das escrituras giravam em torno do texto e das doutrinas da escola Madhyamaka. As primeiras apropriações chinesas das doutrinas Madhyamaka são evidentes nos escritos de Sengzhao (374-414) – um dos principais discípulos de Kumārajīva – que se distinguem pela sua complexidade intelectual e criatividade, bem como pelo recurso extensivo à terminologia chinesa nativa na exposição de ideias budistas subtis (ver Liu 1994: 37-81). Durante o século VI, os textos e as ideias do Yogā āra tornaram-se objeto de intenso estudo e reflexão, seguidos de uma crescente popularidade das doutrinas da natureza búdica e do tathāgatagarbha (ver Paul 1984, especialmente a Introdução). Estas tendências coalesceram em torno da formação das escolas Shelun e Dilun, que eram principalmente tradições eruditas de exegese canónica centradas em textos selecionados, que envolviam segmentos estreitos e pouco ligados da elite monástica, reconhecidos pela sua perspicácia intelectual e perícia escolástica. Como os nomes das duas escolas indicam, seus principais pontos de partida textuais eram o Daśabhūmikasūtra śāstra de Vasubandhu (Shidi jing lun, geralmente abreviado para Dilun) e o Mahāyān graha de Asa ga (She dasheng lun, ou Shelun). Durante as eras Sui e Tang houve um ressurgimento do interesse pela literatura e ensinamentos Madhya- maka, representado principalmente pelos escritos e actividades prolíficas do famoso erudito Jizang (549-623), que tinha ascendência da Ásia Central. A escola Sanlun (Três Tratados) de Jizang é muitas vezes rotulada como uma versão chinesa de Madhyamaka, embora por uma variedade de razões, incluindo a integração por Jizang da doutrina da natureza búdica na sua sistematização idiossincrática da filosofia budista, a simples equiparação de Sanlun com Madhyamaka seja questionada por alguns académicos. Outros também sugeriram que a escola Tiantai tem igual direito ao título de herdeira e criadora da herança filosófica da tradição Madhyamaka (Swanson 1989: 16). Durante o início da dinastia Tang, houve também um interesse considerável numa variedade de doutrina Yogā āra, trazida para a China pelo famoso tradutor e peregrino Xuanzang, frequentemente referida como a escola Faxiang (Caraterísticas do Dharma). Entre as principais caraterísticas destas escolas contavam-se as suas estreitas ligações a textos canónicos, modelos teóricos e sistemas de análise filosófica de origem indiana. Embora todas elas tenham gozado de uma popularidade considerável durante os seus tempos áureos, acabaram por ser largamente suplantadas pelas novas escolas ou tradições que se tornaram proeminentes durante o período Sui-Tang, nomeadamente Chan, Huayan, Tiantai e Terra Pura, a cada uma das quais é atribuído um capítulo separado na Parte II ou na Parte III deste volume. Não tendo equivalentes exactos no budismo indiano ou da Ásia Central, estas escolas vieram a representar formulações exclusivamente chinesas da doutrina e prática budistas. Entre elas, Huayan e Tiantai são geralmente consideradas como representando os pontos mais altos do desenvolvimento doutrinário no budismo da Ásia Oriental, enquanto Chan e Terra Pura incorporam as abordagens dominantes ao cultivo espiritual, embora seja discutível se a segunda constitui realmente uma escola distinta. Os copiosos textos, crenças, doutrinas e práticas das quatro escolas foram também exportados para o resto da Ásia Oriental, onde se tornaram elementos centrais ou inluentes na formação das tradições budistas nativas. (continua)
Portugal dos Pequenitos aborda países lusófonos atenuando ideia do império Hoje Macau - 29 Jul 2025 O Portugal dos Pequenitos de Coimbra, que exaltava o império colonial quando foi criado em 1940, disponibiliza actualmente um passaporte lúdico aos visitantes que queiram viajar entre os novos países de língua portuguesa representados no parque. Associadas à saga dos Descobrimentos encetados no século XV pelos portugueses, a esfera armilar e a cruz de Cristo permanecem 85 anos depois entre os adornos do espaço turístico instalado na margem esquerda do rio Mondego por Bissaya Barreto (1886-1974), um maçom que foi carbonário na juventude e mais tarde amigo de Salazar. “Acreditamos que é possível aprender a brincar”, disse à agência Lusa o director do parque temático, Nuno Gonçalves, citando o fundador. Na reportagem, percorrendo as miniaturas do Portugal dos Pequenitos (casas tradicionais, monumentos e representações dos países de língua portuguesa, além de Macau, Índia, Açores e Madeira, entre outras), o responsável realçou “a inspiração ludo-pedagógica” de uma visita que já foi realizada por milhões de pessoas de todos os continentes. “Encontramos aqui uma solução perfeita entre a possibilidade de divertimento e de aprendizagem, em que a língua portuguesa é uma forma viva para que as novas gerações possam aprender a brincar”, defendeu. Tanto a esfera armilar, um antigo instrumento de navegação que os republicanos de 1910 incluíram na nova Bandeira Nacional, como a cruz ligada às naus de Vasco da Gama e demais navegadores, foram adoptadas pelo Estado Novo para propagandear um “Portugal do Minho a Timor”, imperial, pluricontinental, supostamente uno e indivisível. A cruz de Cristo, ainda assim, continua a figurar na bandeira da Região Autónoma da Madeira, além de identificar as frotas da Força Aérea e da Marinha Portuguesa. Mais pedagogia Nas últimas décadas, acompanhando a consolidação do regime democrático nascido com o 25 de Abril de 1974, bem como a ascensão à independência das ex-colónias, a primitiva matriz ideológica do Portugal dos Pequenitos foi dando lugar a uma visão mais multicultural que privilegia as componentes lúdica e pedagógica. “Expressão profunda da nossa língua, na medida em que ela é comum” à maioria dos Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), menos a Guiné Equatorial, o parque é também assumido pela entidade proprietária, a Fundação Bissaya Barreto, como “expressão de interculturalidade” e de tolerância entre povos ligados por laços históricos, disse Nuno Gonçalves, enquanto explicava o funcionamento do passaporte lúdico que pode ser carimbado à entrada de cada país, região ou território. A viagem inclui, designadamente, Brasil, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Timor-Leste e ainda Açores, Madeira, Índia e Macau, cuja administração portuguesa passou para a China em 1999. “Esta visita inclui a viagem, a experiência, a dinâmica e a narrativa”, enfatizou Nuno Gonçalves. Imaculada concepção Concebido pelo arquitecto Cassiano Branco, o parque nasceu por iniciativa de Bissaya Barreto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, na qual estudou nos alvores do século XX, fazendo amizade com António Salazar, então ainda um jovem aluno da Faculdade de Direito. Abriu ao público em 1940, escassos meses após ter sido inaugurada, em Lisboa, a Exposição do Mundo Português, que assinalou dois centenários: oito séculos da fundação da nacionalidade, por Afonso Henriques, e 300 anos da restauração da independência de Portugal pelos conjurados de 1640, pondo fim a 60 anos de dinastia dos Filipes e domínio espanhol. Cinquenta anos depois da emancipação política das antigas colónias de África, em 1975, quando Goa, Damão e Diu, a chamada Índia Portuguesa, já tinham sido anexados pela então União Indiana, em 1961, o Portugal dos Pequenitos, entre outras valências, engrandece com “galerias inspiradas nos países de expressão portuguesa”, propondo “uma experiência de visitação que seja também aprendizagem”. “É possível fazer uma visita a Portugal e outros países num curto espaço de tempo e por um valor muito reduzido, porque não temos de apanhar o avião”, gracejou o director.
Creative Macau | Património da UNESCO em destaque em nova mostra Andreia Sofia Silva - 29 Jul 2025 A nova exposição na Creative Macau revela uma perspectiva fresca sobre o património histórico de Macau e da China classificado pela UNESCO. Justin Ung pegou em sítios como o Templo Tin Hau, na Taipa, ou o Templo do Céu, em Pequim, e criou ilustrações que ensinam a história dos locais “Walking Colors: Architectural Hue Archives” é o nome da nova exposição patente na Creative Macau e que fica disponível para visita do público, de forma gratuita, a partir do próximo dia 6 de Agosto. A mostra reúne trabalhos de ilustração de Justin Ung que foi buscar inspiração aos sítios de índole religiosa classificados e protegidos pela UNESCO, seja em conexão com o catolicismo ou com budismo, em Macau, na China, mas não só. Desta forma, apostando numa perspectiva artística própria, com o uso abundante da cor, apresentam-se ilustrações de lugares como o Templo do Céu, em Pequim, o Templo Tin Hau, na Taipa, ou ainda a Sagrada Família, em Barcelona. Segundo uma nota da Creative Macau, apresenta-se a cor como sendo “uma das linguagens mais directas da arquitectura e o código de memória mais vívido de uma cidade”. Desta forma, o nome “Walking Colors” dado a esta mostra [Cores Ambulantes] promove isso mesmo: um percurso próprio por estes lugares especiais cheios de história, incluindo um passeio pelos “corredores arquitectónicos de Macau e das cidades classificadas como Património Mundial da UNESCO”. Assim, o público pode ver “os votos solenes do Templo do Céu, com um azul celeste esmaltado em Pequim” bem como “os sussurros românticos dos azulejos portugueses em tons pastel de Macau”. Há, depois, no caso da catedral da Sagrada Família, “o abraço acolhedor dos seus tons terrosos”, bem como, de regresso a Macau, “a vibração pulsante das luzes néon dos casinos, em que cada tonalidade conta a história de encontros culturais”. Releituras várias Em “Walking Colors: Architectural Hue Archives” é proposta “uma jornada visual pela arquitectura” e uma “decodificação cromática das culturas”, em que se pode seguir “os passos da cor” e fazer uma releitura “das histórias arquitectónicas do nosso património mundial”. No caso de Macau, o seu centro histórico passou a ser classificado pela UNESCO em 2005. Desde então que locais como as Ruínas de São Paulo, o Largo do Senado e zonas adjacentes são alvo de protecção e preservação próprias tendo em conta a classificação pelo organismo internacional. Também em 2005 foi classificado o Templo Expiatório da Sagrada Família, integrada num conjunto de obras do arquitecto espanhol António Gaudi, que viveu entre os anos de 1852 e 1926. No ano seguinte seria classificado o Templo do Céu na capital chinesa, que está integrado num conjunto de templos taoístas e considerado o maior do país. O Templo do Céu foi construído em 1420, tendo sido usado pelas dinastias Ming e Qing para pedir às divindades boas colheitas e agradecer por todos os ganhos e frutos obtidos. Relativamente ao protagonista desta mostra na Creative, Justin Ung, que tem como pseudónimo “Meow the Sardines”, conta no currículo com um mestrado em História e Estudos do Património. Actualmente é autor de ilustrações para diversas publicações, nomeadamente a revista “Fantasia”, tendo ilustrado vários livros infantis. A exposição fica patente na Creative Macau até ao dia 23 de Agosto.
Crime | Detida por suspeitas de troca ilegal de dinheiro Hoje Macau - 29 Jul 2025 Uma residente com 40 anos foi detida pela Polícia Judiciária perto de um casino, por suspeitas da prática do crime de troca ilegal de dinheiro. A informação foi divulgada ontem pela PJ e citada pelo jornal Ou Mun. De acordo com o relato, no domingo a mulher foi vista por agentes da polícia a aproximar-se de um jogador do Interior da China e a trocar 12.129 renminbis por 13.000 dólares de Hong Kong. O jogador transferiu o dinheiro através de uma aplicação móvel, enquanto a mulher lhe entregou o dinheiro vivo. De seguida, o homem foi ao casino trocar o dinheiro por fichas de jogo e foi detido, assim como a residente suspeita, pelas autoridades. A PJ apreendeu ao jogador 5.700 dólares de Hong Kong em fichas e 5.000 dólares de Hong Kong em dinheiro vivo. Com a mulher foram apreendidos 117 mil dólares de Hong Kong. A PJ acredita que a mulher trocava dinheiro ilegalmente pelo menos desde meados de Julho. O caso foi remetido para o Ministério Público.
Praia Grande | Obras no Centro Católico alteram trânsito Hoje Macau - 29 Jul 2025 A realização da segunda fase de obras na rede de esgotos e demais instalações junto ao Centro Católico, na Avenida da Praia Grande, vai obrigar a mudanças na disposição do trânsito entre quinta-feira e o próximo dia 30 de Agosto, nomeadamente entre a Avenida da Praia Grande e a Rua do Campo. Segundo informações disponibilizadas ontem pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), irão realizar-se “obras de ligação à rede de esgotos, instalação de condutas de água, cabos eléctricos, tubagens, condutas de gás natural, reordenamento viário e demolição da galeria pedonal temporária”, pelo que o passeio em frente ao Centro Católico ficará vedado a peões. Além disso, a paragem junto ao China Plaza ficará suspensa nesse período, com mudanças nas carreiras de autocarro 10B e 28B. Os passageiros podem usar a paragem localizada a 100 metros, no sentido Avenida do Infante D. Henrique.
Casinos | Ernst & Young acusada de ignorar crimes em Macau Andreia Sofia Silva - 29 Jul 2025 A consultora Ernst & Young foi acusada por um antigo funcionário de ter ignorado, durante anos, os crimes dos grupos junket Suncity e Tak Chun em Macau. O funcionário apresentou uma queixa contra a empresa nos EUA depois de, nas suas palavras, ter feito vários alertas sobre a situação É certo que os antigos patrões dos grupos junket Suncity (Alvin Chau) e Tak Chun (Levo Chan) já se encontram a cumprir as penas a que foram condenados, mas os processos de crime organizado associados às duas empresas que durante anos operaram no sector do jogo de Macau, angariando clientes VIP, ainda levantam polémica. Desta vez, um antigo funcionário da consultora Ernst&Young (EY), Joe Howie, que colocou a empresa em tribunal acusando-a de ignorar, durante anos, os sinais de alerta de que algo não estava bem nestas empresas junket nem em empresas a elas associadas. Joe Howie, que co-liderou o Centro de Excelência em Risco Global da EY, diz que durante anos alertou para falhas na adesão aos padrões definidos pelo Public Company Accounting Oversight Board, resistindo a investigações ou negando suspender contratos com clientes que estavam a ser investigados. Segundo o portal AGBrief, Howie trabalhou 35 anos na EY e, ao abrigo da legislação “Sarbanes-Oxley Act” apresentou agora a queixa num tribunal federal norte-americano, alegando que a empresa fez retaliações contra ele por ter deixado alertas sobre as operações da Suncity e Chun Tak. Segundo a queixa, estão em causa violações às leis de valores mobiliários dos EUA e condutas anti-ética. Na acção judicial é indicado que a EY fez durante anos trabalho de consultoria e auditou contas das duas empresas junket também noutros mercados asiáticos. O funcionário diz que a EY sabia que estava a trabalhar com empresas ligadas ao grupo Suncity, incluindo pessoas dos EUA que tinham grandes operações nos casinos de Macau. A EY não terá reparado na ausência de dados fornecidos por estas empresas à consultora. “Apesar das repetidas advertências, a EY continuou a lucrar com contratos assinados com esses clientes de alto risco”, lê-se no processo. Joe Howie terá sido “marginalizado e forçado a reformar-se de forma antecipada, sendo expulso da sociedade como forma de retaliação”, é referido. As três famílias Na queixa protagonizada por Joe Howie, lê-se ainda que cinco empresas listadas nos EUA, e com ligações próximas ao sector do jogo local, estavam associadas a “famílias ligadas às tríades chinesas, incluindo descendentes de Stanley Ho”, sendo que a queixa “identifica três famílias, não pelo nome, mas pela associação e papéis que tinham nas empresas, alegadamente ligadas ao império junket de Alvin Chau e outras redes de contacto”, lê-se na notícia. O portal AGBrief escreve ainda que na queixa apresentada contra a EY constam acusações de que esta “providenciou opiniões na auditoria pouco qualificadas, falhando em reportar e identificar falhas em programas contra branqueamento de capitais ou conflitos de interesses”. Do lado da EY a reacção foi de desresponsabilização, referindo que as acusações não estão devidamente fundamentadas e que se baseiam em informações divulgadas pela comunicação social, referindo que os processos dos grupos Suncity e Tak Chun foram “consideradas especulativas e politicamente motivadas”.
Jogo | Casino-satélite Grandview vai fechar portas amanhã João Santos Filipe - 29 Jul 2025 O Grandview é o primeiro casino-satélite a encerrar desde a reforma legal que ditou o fim destes espaços. De acordo com a concessionária SJM e a DICJ, pelo menos, sete residentes podem ficar desempregados, enquanto o número de trabalhadores não-residentes despedidos não foi revelado Apesar de os casinos-satélites estarem autorizados a operar até ao final do ano, o Casino Grandview, na Taipa, vai encerrar as portas amanhã. O anúncio foi feito ontem pela concessionária SJM Resorts, através de um comunicado, e afecta directamente 166 trabalhadores. De acordo com a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), sete destes trabalhadores residentes serão despedidos. Os casinos-satélite resultam de acordos entre algumas concessionárias e empresas independentes, que exploram vários espaços de jogo. Segundo as últimas alterações propostas pelo Governo e aprovadas pela Assembleia Legislativa, os casinos-satélite têm de ser encerrados até ao final do ano. A alternativa passa por passarem a ser explorados pelas concessionárias, uma situação que apenas se vai verificar com os casinos L’Arc e Ponte 16. “Seguindo o planeamento geral da empresa e considerações comerciais, o Casino Grandview irá oficialmente cessar as operações antes do previsto, às 23h59 de quarta-feira, 30 de Julho de 2025”, foi justificado. “Todas as mesas de jogo actualmente em funcionamento no local serão redistribuídas para outros casinos da empresa para continuar a servir os nossos estimados clientes”, foi acrescentado. A empresa comunicou ainda aos clientes com fichas, depósitos ou descontos em dinheiro acumulados no Casino Grandview que se não forem reembolsados após o encerramento podem dirigir-se ao Casino Casa Real para tratar da situação. “A empresa vai assegurar-se de que todos os direitos dos clientes vão ser devidamente honrados”, foi indicado. Empregos assegurados No comunicado divulgado ontem de manhã, a empresa garantiu que “todos os trabalhadores locais”, contratados pela SJM, que trabalhavam no Casino Grandview vão ser transferidos para outros casinos “de acordo com as necessidades operacionais”. A potencial vaga de despedimentos só afectará assim os trabalhadores não-residentes, embora o número não tenha sido divulgado. A concessionária informou também que os sete funcionários da empresa que explora o casino e que vão ficar desempregados podem candidatar-se a empregos e que terão “prioridade na contratação em igualdade de circunstâncias”. “A empresa continua empenhada em cumprir as suas responsabilidades empresariais e contribuir para o desenvolvimento estável do sector do jogo de Macau em parceria com a comunidade local”, foi vincado. DICJ acompanha fecho Minutos depois do comunicado da SJM, também a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) tomou uma posição sobre um assunto muito discutido na sociedade e longe de gerar consenso, principalmente devido ao impacto para os empregos indirectos, ou seja, gerados pelos negócios como restaurantes, lojas de penhores ou hotéis que sobrevivem devido aos clientes destes casinos. “Quanto aos trabalhadores do casino-satélite, a DICJ irá manter uma estreita comunicação com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), no sentido de assegurar o cumprimento rigoroso dos compromissos assumidos pela SJM, nomeadamente da proposta apresentada anteriormente, no que respeita à remuneração, às regalias e às condições de trabalho dos seus 159 trabalhadores destacados no referido casino-satélite”, foi informado. “E, ao mesmo tempo, proporcionar oportunidades de mudança de emprego aos 7 trabalhadores recrutados pelo próprio casino-satélite, a fim de garantir a continuidade de emprego dos mesmos”, foi frisado. No comunicado, o Governo indica que a decisão da SJM resultou de uma lógica comercial, apesar de admitir que a lei foi alterada e que os casinos-satélites passam a ser ilegais no próximo ano. A DICJ informou também que vai enviar trabalhadores para o local, para garantir o “tratamento adequado dos numerários e fichas de jogo guardados na tesouraria, dos cupões de numerário não usados e da troca das fichas de jogo”.
SJM confirma construção de hotel de baixo custo na Ilha da Montanha Andreia Sofia Silva - 29 Jul 2025 A Sociedade de Jogos de Macau Holdings (SJM) anunciou ontem que vai mesmo construir um hotel de três estrelas em Hengqin depois de ter adquirido partes do empreendimento imobiliário “Xin De Kou An Shang Wu Zhong Xin”, através da subsidiária SJM Investment Limited. A confirmação surge depois do anúncio preliminar feito em Dezembro do ano passado, sendo que o investimento significa não apenas a expansão do grupo ligado aos sectores do jogo e do turismo, mas também “a aquisição estratégica que apoia a política nacional”, nomeadamente a cooperação crescente entre Macau e Hengqin. O empreendimento tem uma “proximidade estratégica aos pontos turísticos centrais do Grupo”, situando-se a dez minutos de carro do Grand Lisboa Palace, no Cotai, e a 30 minutos do Hotel Grand Lisboa, no centro da península de Macau. Desta forma, desbloqueiam-se novas oportunidades “para sinergias operacionais, partilha de infra-estruturas e promoções entre empreendimentos”. “Aquando da sua conclusão, espera-se que o hotel possa complementar o portfolio do grupo através da expansão eficiente de capital” tendo em conta a existência de carências de resposta no segmento de massas, bem como “ampliar o alcance de mercado e gerar mais fluxos de receita”. Ligação à vida O valor de aquisição é de 424 milhões de renminbis, excluindo impostos, tratando-se de um valor acordado “tendo em conta o valor de mercado, estimado em 660 milhões de renminbis para o imóvel, e de 108 milhões de renminbis em custos relacionados com a conversão”. O montante será pago em sete fases. O imóvel inclui 12 andares destinados a escritórios, a funcionar em regime de condomínio, e uma zona de retalho. Prevê-se que as obras de conversão e renovação demorem 24 meses a estar concluídas. Pretende-se que o futuro hotel passe a estar incluído “num ‘hub’ que compreende espaços residenciais, comerciais e de escritório”, e que funcionam perto do posto fronteiriço de Hengqin. Segundo uma nota da SJM, a construção do hotel “visa expandir o grupo na área da hotelaria na Grande Baía, apoiar o desenvolvimento integrado da Zona de Cooperação Profunda Guangdong–Macau de Hengqin e fortalecer o papel de Hengqin como um motor chave da diversificação económica de Macau”.
Azulejos | Moradores pedem maior atenção a perigos Hoje Macau - 29 Jul 2025 A União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM) pede ao Governo mais fiscalização às obras e à qualidade e segurança dos azulejos instalados nos edifícios habitacionais. Foi desta forma que a associação reagiu aos três casos de queda de azulejos nos blocos 5, 6 e 7 do Edifício Koi Nga, em Seac Pai Van, dois dos quais aconteceram durante a passagem do tufão Wipha, e o terceiro dias nos dias seguintes. Segundo a associação, o Governo tem de intensificar os esforços de inspecção, por questões de segurança pública, até porque no bloco 7 existe uma zona exterior com espaços para uso dos moradores que podem ser atingidos por azulejos. Apesar dos alertas, Leong Hong Sai recordou que os problemas com o Edifício Koi Nga são antigos e que em Maio o Governo, numa resposta a interpelação escrita, admitiu que em sete blocos dois oito blocos houve quedas de azulejos. No entanto, o Executivo também informou na altura que em três dos blocos foram concluídas as obras de recuperação das paredes e que nos outros blocos os trabalhos estavam em curso.
Chikungunya | Aliança do Povo alerta para perigo em terrenos do Governo Hoje Macau - 29 Jul 2025 Os membros da associação sugerem que os terrenos recuperados sejam utilizados temporariamente, para evitar a situação actual com águas paradas e ervas por cortar, propícia à reprodução de mosquitos A Aliança de Instituto de Povo de Macau alertou o Governo para o estado de vários terrenos recuperados na área de Nam Van, propício à propagação de mosquitos. O alerta foi deixado através das declarações de Tong Ho Laam, vogal do conselho executivo da associação, e Tam Sio Pang, director da associação, numa altura em que foram registados quarto casos importados de febre de Chikungunya. De acordo com o relato apresentado, Tong e Tam foram abordados por residentes que se queixam que há muito tempo nos “muitos terrenos desocupados” daquela zona há “poças de água estagnada” e “o crescimento de erva”, o que cria condições ideais para a reprodução dos mosquitos. Neste cenário os dirigentes associativos esperam que o Governo tomem medidas para prevenir a proliferação de mosquitos nos terrenos que estão na sua posse. No artigo, os membros da associação recordam também que anteriormente as Obras Públicas adjudicaram o serviço de remoção de água e mapeamento dos terrenos de Nam Van identificados como A3, A4 e A9. Os trabalhos estão contratualizados para acontecer entre Junho e Setembro. Contudo, Tong Ho Laam e Tam Sio Pang indicam que apesar de os trabalhos estarem a ser realizados no terreno A3, que no A4 ainda existe muita água parada. Em relação ao terreno A9, junto do edifício AIA, é indicado que também existe muita água parada e zonas com ervas altas, uma vez que o terreno em questão tem maior profundidade. Problemas temporários Os membros da associação apelam também ao Governo para fazer uma melhor utilização dos terrenos que se encontram desocupados, com a criação de parques públicos e outras instalações públicas. Desta forma, indicam, estes problemas seriam facilmente resolvido ou nem sem verificariam. Desde o início do ano foram registados quatro casos importados de febre de Chikungunya. Os dois mais recentes foram divulgados na sexta-feira e levaram os Serviços de Saúde a apelar à população para tomar medidas de precaução. Segundo os Serviços de Saúde a febre Chikungunya é uma doença viral, transmitida por mosquitos do género Aedes, principalmente os das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus.
Imobiliário | Associação critica Governo por falta de medidas Hoje Macau - 29 Jul 2025 O presidente da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau, Ip Kin Wa, alertou novamente para o risco do crédito malparado nos bancos de Macau atingir níveis preocupantes, na consequência da crise do mercado imobiliário e do encerramento dos casinos-satélites. As declarações foram prestadas numa entrevista ao jornal Ming Pao, de Hong Kong. Na opinião de Ip, a situação económica de Macau não é única e a tendência negativa verifica-se igualmente no Interior da China e em Hong Kong. Contudo, o dirigente associativo mostra-se preocupado porque diz que nas outras duas regiões os Governos tomaram medidas para promover a estabilização dos mercados imobiliários. Ao mesmo tempo, Ip indica que em Hong Kong o Executivo enviou uma comitiva ao Médio Oriente para atrair investimento imobiliário e quadros qualificados. No entanto, o presidente da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau lamenta que na RAEM o Executivo não apresente medidas para atrair quadros qualificados. Ip criticou também o facto de o Governo não ter alterado o imposto de selo nas transacções de imobiliário, que actualmente varia de 1 a 3 por cento, consoante o valor do imóvel. O presidente da associação afirmou que este imposto é o mais elevado da Grande Baía. “Actualmente, em Macau, realizam-se pouco mais de 100 transacções de imóveis por mês e apenas 2.000 transacções ao longo do ano. Os preços dos imóveis estão a descer e é necessário salvar o sector imobiliário para estabilizar o consumo e a economia”, apelou Ip.
Economia | Nick Lei pede apoios para aliviar impacto da inflação João Santos Filipe e Nunu Wu - 29 Jul 2025 Nova ronda do cartão de consumo e maior acesso à habitação social. A meses das eleições, são estes os pedidos do deputado ligado à comunidade de Fujian O deputado Nick Lei pediu ao Governo que lance novas medidas para contrariar o impacto da inflação na carteira dos residentes. O pedido consta de declarações prestadas ao Jornal do Cidadão pelo legislador ligado à comunidade Fujian, em reacção às notícias de que a inflação em Junho cresceu 0,25 por cento. O deputado destacou que o aumento dos preços afecta directamente a vida da população, que fica com menor poder de compra. Nick Lei argumentou também que a inflação é altamente prejudicial para a população, principalmente para as famílias com baixos rendimentos e os idosos que dependem dos benefícios e apoios sociais, para quem as pequenas quantidades de dinheiro que deixam de ficar disponíveis devido ao aumento dos preços têm maior impacto. Neste sentido, defende que o Executivo deve lançar uma nova ronda do cartão de consumo, como fez o Governo de Ho Iat Seng entre 2020 e 2022, durante os anos da pandemia. Com as eleições de 14 de Setembro a aproximarem-se, o deputado argumentou também que Macau deve adoptar esta medida para que as pessoas consumam mais no território, em vez de se deslocarem para o Interior da China. Ao mesmo tempo, o deputado alertou as autoridades para o impacto do aumento das rendas da habitação. Segundo Nick Lei, os dados oficiais mostram que a subida das rendas foi um dos factores que tornaram os preços mais caros em Macau. Por isso, espera que o Executivo acelere o processo de distribuição de casas e pondere aumentar o subsídio para pagar rendas em habitações privadas, enquanto os agregados familiares aguardam pelo acesso à habitação social. Casas para todos Nick Lei revelou que apesar de o número de oferta das habitações sociais estar a aumentar, actualmente muitos residentes esperam um apartamento, sobretudo ao nível das fracções T1. O deputado afirmou ter recebido queixas de uma residente que está há quase três anos à espera, sem que a sua situação seja resolvida. O legislador também defende que os jovens tenham acesso à habitação temporária, que vai ser construída para alojar moradores dos prédios que vão ser renovados, no âmbito da política de renovação urbana. Apesar das críticas ao aumento dos preços, Nick Lei elogiou o Governo por nos últimos anos ter trazido maior transparência ao mercado, ao realizar inspecções frequentes ao fornecimento dos bens de primeira necessidade, como comida, mas também o preço dos produtos derivados do petróleo e o gás. No entanto, o deputado apontou que a transparência dos preços não resolve todos as angústias dos consumidores, são necessárias também medidas e planos de apoio para responder à subida dos preços.
Educação | Governo prepara manual para sobredotados Hoje Macau - 29 Jul 2025 O Governo está a trabalhar num manual escolar para apoiar os alunos sobredotados. A revelação foi feita por Kong Chi Meng, director dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude, em resposta a uma interpelação escrita do deputado Ron Lam. “Actualmente, a DSEDJ está a elaborar um manual escolar de apoio à educação sobredotada, fornecendo sugestões práticas para o planeamento escolar e desenvolvimento da educação para alunos sobredotados”, foi revelado. “A DSEDJ espera, através das escolas, pais/encarregados de educação e alunos, atender às necessidades de desenvolvimento dos alunos sobredotados, nos seus vários aspectos e, no futuro, reforçar as acções de divulgação e promoção, incentivando mais escolas a promover a sua própria educação de sobredotados, promovendo, de forma contínua, o seu desenvolvimento”, foi acrescentado. Na resposta, Kong Chi Meng realça também que desde 2009 a DSEDJ tem dado formação especial a professores para identificarem este tipo de alunos: “Para reforçar a capacidade de identificação e apoio prestado pelo pessoal docente da linha da frente e quadros médios e superiores de gestão, desde 2009, a DSEDJ tem vindo a organizar, sistematicamente, cursos de formação e actividades de aprendizagem e intercâmbio sobre educação de alunos sobredotados, bem como palestras destinadas a pais/encarregados de educação, com vista a aumentar os seus conhecimentos sobre os seus filhos sobredotados e a aumentar a eficácia da educação”, foi indicado.
Dispositivos médicos | Nova lei entra em vigor em 2026 Hoje Macau - 29 Jul 2025 O novo “Regime de supervisão e administração de dispositivos médicos”, que foi aprovado no hemiciclo no passado dia 14 de Julho e publicado ontem em Boletim Oficial, entra em vigor a 1 de Julho do próximo ano. O diploma passar a regulamentar ao uso e compra de materiais e aparelhos que vão dos simples pensos rápidos, agulhas de acupunctura, a desfibriladores e respiradores. A lei tem o objectivo de proporcionar “uma supervisão integral, em todas as fases, de dispositivos médicos”, nomeadamente nas fases da “investigação, desenvolvimento, fabrico, importação, exportação, venda por grosso e venda a retalho”. Desta forma, aponta uma nota oficial do Governo, “será possível garantir a qualidade, eficácia e segurança [destes dispositivos], defendendo-se e promovendo-se a saúde pública”. Segundo o novo regime jurídico, os dispositivos médicos são classificados em três classes principais de acordo com o seu nível de risco potencial, sendo que “apenas os dispositivos médicos que tenham sido aprovados para registo ou tenham sido inscritos podem circular no mercado de Macau”.
Quase 5.600 residentes de Macau encontraram emprego em Hengqin João Santos Filipe - 28 Jul 2025 Em Abril, 5.592 residentes de Macau estavam empregados na Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin, total que representou um crescimento e 32,2 por cento face ao ano transacto. Os dados fazem parte de um estudo realizado conjuntamente pela representação em Hengqin da Associação das Mulheres de Macau e o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada, citado pelo jornal Ou Mun no sábado. Segundo os dados apresentados, em Abril deste ano, 27.629 residentes de Macau viviam ou trabalhavam na Zona de Cooperação Aprofundada, o que representou um aumento de 27,6 por cento, face a Abril de 2024. Entre estes, o número de pessoas a viver na Ilha da Montanha totalizava 23.106 (mais 11,5 por cento face a 2024). O estudo conduzido pela associação, que tem sido um dos grupos defensores da política de apoio à Zona de Cooperação Aprofundada. mostra também que mais de 80 por cento dos residentes que vivem ou trabalham em Hengqin estão “satisfeitos” com a vida no outro lado da fronteira. Com base em cerca de 500 questionários, 80 por cento dos inquiridos mostrou satisfação com “o empreendedorismo” e “o ambiente de emprego” na Zona de Cooperação Aprofundada. Aqui e ali Quando questionados pelo facto que mais contribui para que se mudassem para Hengqin, 89,31 por cento dos inquiridos destacou o “ambiente bonito” da Ilha da Montanha. A publicação em língua chinesa aponta apenas alguns dos factores estudados, e em muito caso não indica a percentagem das respostas. No entanto, o aspecto mais criticado pelos inquiridos foi a falta de infra-estruturas no outro lado da fronteira e a falta de outras instalações. Entre as principais críticas das pessoas que vivem ou trabalham em Hengqin surgem igualmente as dificuldades de transportar na fronteira certos produtos de Macau para Hengqin e vice-versa, devido às regras alfandegárias. Como parte das conclusões é defendido o levantamento de várias restrições na circulação entre os dois territórios e no acesso dos residentes em Hengiqn a áreas como a saúde, segurança social e educação.
Governo caloteiro André Namora - 28 Jul 2025 Ser caloteiro é muito feio e prejudicial. Muito pior, quando é o próprio Governo a dever milhões de euros a bombeiros. Os bombeiros são pau para toda a obra: apagam fogos, socorrem acidentes rodoviários onde muitas vezes têm de desencarcerar vítimas, socorrem pessoas no interior de elevadores, socorrem em inundações, transportam os mais variados doentes, socorrem mulheres grávidas que têm o parto no interior das ambulâncias. Chamam-lhes os soldados da paz. Mas, nas ambulâncias é que está o busílis. O Governo tem uma dívida milionária para com as corporações de bombeiros de cerca de 20 milhões de euros e só em Taxa Social Única – obrigatória para a Segurança Social – as corporações têm de pagar 35 milhões por ano. A maioria das ambulâncias usadas no socorro são do INEM e é este instituto que terá de pagar o calote. Os bombeiros avisaram com muita antecedência que se a verba não for paga que deixarão de utilizar as ambulâncias do INEM e passam apenas a usar as ambulâncias próprias das suas associações, apesar de uma saída com ambulância do INEM custar 21 euros ao Estado enquanto o mesmo serviço com ambulância dos bombeiros custar 45 euros – mais do dobro. No entanto, a Liga dos Bombeiros Portugueses garantiu que a população não será deixada sem resposta em casos de emergência porque as tripulações são as mesmas. Um dos problemas que encarece o transporte de doentes é a situação caótica que se verifica no país relativamente ao encerramento de diversas urgências hospitalares um pouco por todo o país. Muitas vezes os bombeiros têm de andar de cidade em cidade devido ao encerramento de urgências e o facto do aumento de quilometragem obviamente que encarece o transporte. Na realidade, por causa da crise nas urgências, os bombeiros têm trabalhado mais no socorro pré-hospitalar, mas o Governo não pagou o que deve. A isto, define-se ser caloteiro. Se o Governo não pagar os 20 milhões de euros em causa, as ambulâncias do INEM podem ficar paradas. As diversas crises registadas no Ministério da Saúde versus INEM têm sido um caos, com diversas personalidades a pedir a demissão da ministra e os trabalhadores do INEM a reivindicarem a demissão do presidente do instituto. Com a greve no INEM morreram cidadãos por falta de socorro. Vários cidadãos e bebés têm morrido por socorro demorado. Os helicópteros que já deviam estar ao serviço do INEM nem vê-los. Todavia, o ridículo aconteceu. O INEM pagou na semana passada 3,5 milhões de euros de dívidas do serviço de urgência pré-hospitalar, confirmou a Liga dos Bombeiros. Esta quantia é irrisória. O INEM o que diz é que, da sua parte, todo o processo burocrático está pronto, a única coisa que precisa é que o Ministério da Saúde transfira para o INEM os valores para eles poderem pagar. A “única coisa”… O responsável pela Liga dos Bombeiros, António Nunes, salientou que este é um “período do ano bastante complicado” para as associações de bombeiros, que têm de pagar os subsídios de férias, além da Taxa Social Única, um encargo mensal que tem de ser pago à Segurança Social. Tudo isto, parece uma brincadeira com algo muito sério. Por vezes não se tem a noção de que as 464 associações de bombeiros pagam, por ano, à Segurança Social 35 milhões de euros e que se as associações não efectuarem o referido pagamento no dia 20 de cada mês entram em incumprimento e deixam de poder tirar certidões de não dívida, o que impede receber as verbas do Estado. A seriedade da situação é gravíssima se atendermos que os corpos de bombeiros fazem o transporte de 1,2 milhões de utentes por ano, por mobilização do INEM. Os bombeiros portugueses encontram-se num beco sem saída, simplesmente pela inoperância do Ministério da Saúde e do seu INEM. Estamos perante uma gestão incompetente dos dinheiros públicos que são obrigatoriamente destinados a quantos tudo fazem por nos salvar a vida. De dia e de noite os bombeiros respondem sempre e arriscam a sua vida nas situações mais perigosas e drásticas. Onde está a consideração da ministra da Saúde pelos soldados da paz? Quando se deixam 20 milhões de euros por pagar a quem é fundamental no quotidiano do país, não existe classificação para esta forma de governar. Os bombeiros portugueses não mereciam ser tratados como pedintes, facto deplorável e chocante que constatamos de acontecer no seio de quem tem o poder de gerir o nosso dinheiro direcionado a quem por lei nunca deveria ter qualquer pagamento governamental em atraso. Ai, Portugal, Portugal…
Diplomacia | Tailândia concorda em princípio com cessar-fogo com Camboja Hoje Macau - 28 Jul 2025 O primeiro-ministro interino da Tailândia, Phumtham Wechayachai, disse ontem que o país concordou, em princípio, com um cessar-fogo, mas enfatizou a necessidade de “intenções sinceras” por parte do Camboja De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros tailandês, Phumtham Wechayachai apelou a negociações bilaterais rápidas para discutir medidas concretas no sentido de uma resolução pacífica do conflito. O actual líder do Governo da Tailândia agradeceu ainda ao Presidente dos Estados Unidos, com quem falou horas antes, numa conversa por telefone em que Donald Trump apresentou uma proposta de cessar-fogo. Também o primeiro-ministro do Camboja, Hun Manet, disse ontem que o país aceitou negociações para um “cessar-fogo imediato e incondicional”. “Esta é uma boa notícia para os soldados e para o povo de ambos os países”, disse o líder cambojano, num comunicado. Manet instruiu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Prak Sokhonn, a iniciar discussões com o homólogo norte-americano, Marco Rubio, para pôr fim ao conflito que eclodiu na quinta-feira. Ainda assim, jornalistas da agência de notícias France-Presse em Samraong, no Camboja, a cerca de 20 quilómetros da fronteira com a Tailândia, ouviram o som de disparos de artilharia esta madrugada. Uma porta-voz do Ministério da Defesa do Camboja afirmou ainda que a Tailândia tinha atacado às 04h50 (05h50 em Macau) perto de dois templos cuja soberania é disputada pelos dois países. O coronel Richa Suksowanont, porta-voz adjunto do exército tailandês, acusou as forças cambojanas de dispararem ontem de manhã artilharia pesada contra a província de Surin, incluindo contra casas de civis. Richa Suksowanont disse que o Camboja também lançou ataques com foguetes contra o antigo templo de Ta Muen Thom, reivindicado por ambos os países, e outras áreas, numa tentativa de recuperar o território protegido pelas tropas tailandesas. As forças tailandesas responderam com artilharia de longo alcance para atingir a artilharia e os lança-foguetes cambojanos. As operações no campo de batalha vão continuar e um cessar-fogo só poderá acontecer se o Camboja iniciar formalmente as negociações, acrescentou Richa Suksowanont. Do outro lado A porta-voz do Ministério da Defesa do Camboja, tenente-general Maly Socheata, acusou as forças tailandesas de intensificarem a violência com bombardeamentos em território cambojano na manhã de domingo, seguidos de uma “incursão em grande escala” envolvendo tanques e tropas terrestres em várias áreas. “Tais acções minam todos os esforços para uma resolução pacífica e expõem a clara intenção da Tailândia de intensificar o conflito, em vez de o apaziguar”, afirmou. Uma histórica disputa fronteiriça entre os dois países conduziu na quinta-feira a confrontos que envolveram caças, tanques, tropas terrestres e artilharia. Os combates causaram 33 mortes e mais de 130 mil deslocados em ambos os lados da fronteira. O saldo já supera o da série anterior de grandes confrontos fronteiriços entre os dois países, que causaram 28 mortes entre 2008 e 2011. O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se de urgência e, no sábado, o secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, condenou a escalada de violência entre a Tailândia e o Camboja, pediu a ambas as partes que se comprometam com um cessar-fogo e ofereceu-se como mediador.
Telegram | Milhares de homens partilharam fotos íntimas de mulheres Hoje Macau - 28 Jul 2025 Milhares de homens na China partilharam fotos e vídeos íntimos das suas namoradas ou esposas, sem o consentimento destas, na aplicação de mensagens Telegram, o que gerou um apelo geral para reforçar a protecção das mulheres. A onda de reacções ocorreu após uma estudante chinesa ter sido expulsa de uma universidade a meio de Julho por “violação da dignidade nacional”, depois que um jogador ucraniano de e-sport ter divulgado vídeos no Telegram, mostrando que tiveram relações íntimas. Um evento semelhante ocorreu na quinta-feira. Uma chinesa descobriu que fotos dela, tiradas sem seu conhecimento, foram partilhadas num fórum desta mesma aplicação de mensagens com mais de 100.000 utilizadores, principalmente homens chineses, revelou o Southern Daily, um meio de comunicação estatal. “Não somos conteúdo que pode ser descarregado, visualizado e fantasiado ao acaso”, pode-se ler-se num comentário na rede social Red Note. “Não podemos mais permanecer em silêncio.”Porque da próxima, posso ser eu, ou seres tu”, acrescenta. A pornografia é ilegal na China e os comportamentos conservadores em relação às mulheres continuam a ser a norma, reforçados pelos meios de comunicação estatais e pela cultura popular. O maior grupo deste tipo no Telegram, chamado “Mask Park”, foi desde então removido, mas grupos menores derivados deste permanecem activos, segundo a mulher contactada pelo Southern Daily. Outros membros do fórum também partilharam fotos de suas actuais ou antigas companheiras, de acordo com um artigo publicado no Guangming Daily, um meio de comunicação apoiado pelo Partido Comunista Chinês no poder, suscitando um choque geral na Internet. Um hashtag associado a este caso foi consultado mais de 230 milhões de vezes na plataforma social Weibo desde quinta-feira. As autoridades chinesas ainda não anunciaram quaisquer medidas contra o Telegram, que é proibido na China, mas que continua acessível através de algumas redes privadas virtuais, afirmou a plataforma à agência de notícias AFP.
Tecnologia | Pequim quer reconciliar inteligência artificial e o seus riscos Hoje Macau - 28 Jul 2025 O Governo chinês pediu a reconciliação entre o desenvolvimento da inteligência artificial e os riscos representados por esta tecnologia, defendendo um consenso global, apesar da rivalidade entre Pequim e Washington neste assunto O Presidente norte-americano, Donald Trump, divulgou esta semana um plano de acção para promover o desenvolvimento irrestrito de modelos americanos de inteligência artificial (IA) nos Estados Unidos e no estrangeiro, descartando as preocupações sobre potenciais abusos. O Presidente norte-americano rompe, assim, com a linha do antecessor democrata Joe Biden, que defendia o desenvolvimento controlado. “Não deixaremos que nenhuma outra nação nos vença” na corrida da IA, declarou Trump. No sábado, na abertura da Conferência Mundial de Inteligência Artificial (WAIC) em Xangai, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, apelou para a boa governação e a partilha de recursos, anunciando, nomeadamente, a criação de um organismo, lançado pela China, para estimular a cooperação internacional em IA. “Os riscos e os desafios associados à inteligência artificial estão a atrair uma ampla atenção (…) Encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento e a segurança requer um consenso urgente e mais amplo de toda a sociedade”, sublinhou. Não forneceu detalhes sobre o novo organismo, embora os meios de comunicação estatais tenham relatado que “a primeira consideração” era que a sede fosse em Xangai (nordeste). A organização deve “promover a governação global, uma ampla consulta, contribuição conjunta e benefícios partilhados”, informou a agência de notícias estatal chinesa Xinhua. Um tigre bebé Numa altura em que a IA se está a integrar em praticamente todos os sectores, o uso tem levantado questões éticas significativas, que vão desde a disseminação da desinformação ao impacto no emprego e à potencial perda de controlo tecnológico, avançou a agência de notícias France-Presse. Durante um discurso na conferência de Xangai, o Prémio Nobel da Física, Geoffrey Hinton, utilizou uma metáfora, ‘como um tigre bebé a viver em casa’ , para descrever a situação global actual. Hinton descreveu a actual atitude em relação à IA como semelhante a “uma pessoa adoptar um filhote de tigre fofo como animal de estimação”. “Para sobreviver”, disse, “é preciso ter a certeza de que se pode treiná-lo para que não o mate quando crescer”. Os enormes avanços na tecnologia de IA nos últimos anos também a colocaram na vanguarda da rivalidade entre os Estados Unidos e a China. A China “incentiva activamente” o desenvolvimento da IA de código aberto e está disposta a partilhar avanços tecnológicos com outros países, especialmente as nações em desenvolvimento, destacou. “Se estabelecermos monopólios, controlos ou barreiras tecnológicas, a inteligência artificial corre o risco de se tornar um privilégio de um pequeno número de países e empresas”, alertou, por seu turno, Li Qiang. O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Ma Zhaoxu, alertou, por sua vez, contra o “unilateralismo e o proteccionismo” numa reunião subsequente. Os Estados Unidos intensificaram os esforços nos últimos anos para restringir as exportações de ‘chips’ avançados para a China, com Washington a manifestar preocupação de que possam ser usados para modernizar as Forças Armadas chinesas e enfraquecer a posição norte-americana na corrida tecnológica. O primeiro-ministro chinês citou “a escassez de ‘chips’ e de capacidade computacional” entre uma lista de obstáculos ao desenvolvimento do sector.
O Budismo na História da China Hoje Macau - 28 Jul 2025 Por Mario Poceski (continuação do número anterior) Apesar do seu sucesso a longo prazo na China, no processo de crescimento e assimilação, o budismo teve de ultrapassar uma série de obstáculos. A um nível básico, havia problemas linguísticos, uma vez que o chinês literário era muito diferente do sânscrito, a principal língua canónica da tradição Mahāyāna. Havia também desafios formidáveis relacionados com a superação das vastas diferenças de perspectivas intelectuais, valores culturais e predilecções religiosas que separavam a China da Índia. Em contraste com a transmissão do budismo a muitas outras partes da Ásia, onde a sua chegada foi associada à entrada de uma cultura superior, no contexto chinês a religião estrangeira entrou num país (ou numa área cultural e geográfica distinta) com um sentido bem estabelecido de auto-identidade e ricas tradições filosóficas, políticas e religiosas. No esquema chinês, a sua civilização era suprema, assente em valores duradouros e sustentada por instituições excepcionais. Aos olhos de muitos ideólogos e intelectuais chineses, a sua cultura era gloriosa e completa. Também tinha sábios ilustres, como Confúcio e Laozi, que nos tempos antigos revelaram os padrões essenciais do comportamento humano adequado e exploraram os mistérios intemporais do Tao. Por isso, parecia indecoroso que os seus compatriotas adorassem uma estranha divindade estrangeira ou seguissem costumes estranhos importados de terras distantes. Com a crescente influência do budismo na China medieval, alguns dos literatos, especialmente aqueles com predilecções confucionistas, articularam uma série de críticas à religião estrangeira. O objeto mais proeminente das suas críticas contundentes foi a ordem monástica (Sangha). Inicialmente, o monaquismo representava um novo tipo de instituição, sem equivalente na sociedade chinesa. Consequentemente, foi identificado por alguns oficiais como sendo potencialmente subversivo, ou pelo menos irreconciliável com o sistema sociopolítico tradicional da China. Por exemplo, a renúncia monástica aos laços sociais e a observância do celibato foram criticadas como sendo incompatíveis com o ethos confucionista dominante, que privilegiava o patriarcado e sublinhava a primazia das relações sociais, especialmente as centradas na família. Consequentemente, os monges eram criticados por se desviarem das normas sociais estabelecidas. Eram acusados de não serem iliais, sobretudo por não se casarem e não produzirem descendência masculina. Numa sociedade que louvava a piedade ilial como uma virtude suprema – que estava ligada ao culto prevalecente dos antepassados – tais acusações representavam sérios impedimentos à ampla aceitação do budismo e ao crescimento da ordem monástica. O budismo foi também rejeitado por oficiais e literatos xenófobos devido às suas origens estrangeiras (lit. “bárbaras”). Aos seus olhos, isso tornava-o hostil aos valores chineses essenciais e inadequado como religião para o povo chinês. Além disso, de acordo com alguns dos seus detractores, a ordem monástica era economicamente improdutiva, impondo um encargo financeiro excessivo e injustificável tanto ao Estado imperial como ao público em geral. Outro ponto de discórdia, com sérias implicações políticas, era a insistência da ordem monástica na sua independência institucional – ou, pelo menos, numa aparência de independência – que colidia com as opiniões prevalecentes sobre a autoridade absoluta do imperador e o primado do Estado chinês. Por vezes, estas críticas conduziram mesmo a apelos explícitos à proclamação do budismo, o que, em duas ocasiões distintas, culminou em perseguições conduzidas pelo Estado, sob as dinastias Wei do Norte (446-451) e Zhou do Norte (574-577). No entanto, estes foram apenas contratempos temporários, uma vez que em ambos os casos as comunidades budistas locais conseguiram recuperar rapidamente (Ch’en 1964: 147-53, 190-94). No final do século VI, nas vésperas da reunificação da China sob a dinastia pró-budista Sui (581-618), o budismo já tinha estabelecido raízes duradouras em todo o território da China. Durante o Período da Divisão, o budismo chinês também passou a desempenhar um papel central nos vastos processos de difusão cultural e realinhamento político que aproximaram outras partes da Ásia Oriental da esfera de influência da China. As formas chinesas de budismo do norte foram introduzidas pela primeira vez na península coreana durante o século IV e, ao longo dos séculos seguintes, houve um fluxo constante de monges coreanos que foram estudar para a China (ver o capítulo de Sem Vermeerch neste volume). Depois, no século VI, o budismo foi também introduzido no Japão, onde rapidamente se tornou proeminente. Em pouco tempo, o budismo tornou-se a religião nacional de facto do Estado insular e, nas épocas seguintes, continuou a exercer uma influência notável na cultura e na sociedade japonesas (ver o capítulo de Heather Blair neste volume). Formação canónica e classificação doutrinal Muitos dos monges missionários que entraram na China trouxeram consigo uma série de escrituras e outros textos budistas. Durante vários séculos, até ao início da era Tang, a tradução de textos canónicos para chinês foi uma das principais preocupações do clero budista e dos seus patronos leigos. O enfoque nos textos sagrados e a reverência que lhes era dirigida reflectiam as atitudes budistas tradicionais, mas eram também influenciadas pela orientação esmagadoramente literária da cultura chinesa de elite, na qual a palavra escrita era tida em grande consideração. Em muitas ocasiões, o Estado foi um dos principais patrocinadores de vários projectos de tradução. Os principais exemplos disso são as volumosas traduções produzidas pelos grandes gabinetes de tradução dirigidos por Kumārajīva (344-413?) e Xuanzang (ca. 600-664), provavelmente os dois tradutores mais conhecidos de textos budistas para chinês. Tanto o missionário Kuchan como o monge chinês trabalharam sob os auspícios imperiais em Chang’an, a capital imperial, ou nos seus arredores. Os seus gabinetes de tradução oficialmente sancionados estavam situados em mosteiros apoiados pelo Estado, com numerosos monges proeminentes a servir como seus assistentes. Xuanzang também era famoso pela sua peregrinação épica à Índia, de onde trouxe de volta numerosos manuscritos budistas, enquanto Kumārajīva era um expoente proeminente da doutrina do vazio, tal como proposta pela escola Madhyamaka. A tarefa de traduzir textos budistas para chinês foi um empreendimento monumental, não só devido aos desafios linguísticos, conceptuais e transculturais acima referidos, mas também devido à enorme dimensão dos vários cânones produzidos pelas principais tradições do budismo indiano. A tradição Mahāyāna, que se tornou dominante na China, tinha um cânone aberto, e os seus adeptos eram criadores especialmente prolíficos da literatura canónica. Também temos de ter em mente que, ao mesmo tempo que o Budismo crescia na China, o movimento Mahāyāna indiano passava por importantes desenvolvimentos e mudanças de paradigma, com impactos notáveis nas esferas doutrinal, literária e institucional. Desenvolvimentos notáveis no budismo indiano que tiveram lugar durante os primeiros séculos da Era Comum, que vieram a exercer inluências significativas no budismo chinês, incluíram o aparecimento de escolas distintas de orientação filosófica, como Madhyamaka e Yogā āra, cada uma das quais produziu extensa literatura. A emergência do movimento tântrico durante o século VII, apesar da sua ênfase nas práticas rituais, levou à produção de ainda mais textos. Muitos destes textos foram, a seu tempo, traduzidos para chinês, o que levou à criação de comentários sobre as escrituras e outras obras exegéticas. Assim, o cânone budista chinês estava em constante expansão e evolução, acabando por se tornar uma das maiores colecções de literatura religiosa do mundo (ver o capítulo de Jiang Wu neste volume). Entre os numerosos textos canónicos traduzidos por Kumārajīva, Xuanzang e outros tradutores notáveis estavam escrituras inluentes como a Escritura do Lótus, indiscutivelmente a escritura mais popular na China (e no Japão), bem como a Escritura Huayan, a Escritura Vimalak rti e a Escritura Amitābha. A origem indiana de alguns destes textos (por exemplo, as Escrituras de Huayan) é incerta, enquanto outros (por exemplo, as Escrituras de Amitābha) não foram assim tão influentes no país onde nasceram, mas, por uma série de razões, captaram a imaginação religiosa dos budistas chineses e vieram a exercer uma imensa influência no desenvolvimento do budismo chinês (e da Ásia Oriental). Algumas obras canónicas, especialmente os textos volumosos e multifacetados, como as escrituras do Lótus e de Huayan, foram abordadas de vários ângulos e utilizadas para uma multiplicidade de fins. Em certos meios intelectuais, serviram de ponto de partida para discussões filosóficas sofisticadas, incluindo reflexões metafísicas sobre a natureza da realidade (ver os capítulos de Haiyan Shen e Imre Hamar neste volume), mas também inspiraram uma série de práticas cultuais. Além disso, impulsionaram criações artísticas requintadas: inscrições caligráficas, pinturas de cenas bem conhecidas das escrituras ou esculturas de divindades nelas representadas. O envolvimento do estado imperial com o cânone não se limitou ao patrocínio de projectos de tradução. Estendeu-se também à encomenda de catálogos de textos canónicos, bem como à compilação e publicação do cânone budista, conhecido como a “Grande Coleção de Escrituras” (Da zang jing). Por vezes, o governo também reivindicou uma prerrogativa auto-designada para tomar decisões sobre o que deveria ser incluído ou excluído do cânone. Quando um determinado movimento ou seita budista entrava em conflito com o governo, isso podia levar não só à sua proibição como heresia subversiva, mas também à proscrição dos seus textos, como aconteceu com o famoso movimento dos Três Estádios durante a era Tang (Hubbard 2001). Com o tempo, o cânone cresceu não só em tamanho, mas também em termos da variedade de textos nele contidos. Por fim, muitos textos compostos na China foram incorporados no cânone – ou melhor, nos cânones, uma vez que havia várias versões do cânone chinês. Isto incluiu numerosas escrituras apócrifas compostas na China, algumas das quais foram aceites como canónicas, tendo algumas delas se tornado bastante inluentes (ver Buswell 1990). Os casos em questão são o Tratado sobre o Despertar da Fé Mahāyāna (Dasheng qi xin lun) e a Escritura do Despertar Perfeito (Yuan jue jing), ambos os quais receberam extensa exegese e foram frequentemente citados numa grande variedade de textos que tratavam de temas filosóficos ou de questões relacionadas com o cultivo espiritual. Ainda mais numerosos foram os textos compostos por autores chineses, a maioria dos quais eram membros da ordem monástica. Exemplos deste tipo incluem várias obras históricas e a pletora de textos produzidos por monges associados a escolas budistas chinesas como Chan, Huayan e Tiantai. A proliferação de textos canónicos, juntamente com a variedade de diferentes perspectivas doutrinais e paradigmas soteriológicos neles expressos, tornaram-se repetidamente fontes de perplexidade para os budistas chineses, especialmente durante as fases iniciais da difusão da religião “indiana”. Toda a situação foi agravada pela forma aleatória como vários textos e doutrinas foram introduzidos na China. Por exemplo, qual era a relação entre as doutrinas Madhyamaka do vazio, das duas verdades e da origem condicionada, e as explorações matizadas do Yogā āra sobre a mente e a realidade em termos de categorias distintas como as três naturezas e as oito consciências? E as noções relacionadas com a natureza búdica e o tathāgatagarbha, que não eram muito influentes na Índia e entraram na China numa fase posterior do desenvolvimento doutrinal, mas que acabaram por ser aceites pela maioria dos budistas chineses como artigos de fé fundamentais e peças centrais da sua visão do mundo? Uma forma de lidar com esta proliferação de modelos teóricos e com a superabundância de significados foi a criação de taxonomias doutrinárias (panjiao, também designadas por classificações de ensinamentos), que se tornaram uma das marcas do escolasticismo budista chinês medieval. A criação de taxonomias doutrinais foi uma forma particular chinesa de lidar com a multiplicidade de textos e ensinamentos contidos no cânone, embora também estivesse relacionada com certas dificuldades religiosas e desenvolvimentos peculiares no seio da tradição budista medieval. De um modo geral, os esquemas classificativos reflectiam as sensibilidades intelectuais chinesas, especialmente a tendência para procurar a harmonia, a ordem e a inclusão. Adoptaram atitudes abrangentes e aparentemente ecuménicas em relação às tradições budistas cumulativas, que eram vistas como repositórios sagrados de verdades intemporais e significados sublimes. Afirmavam que, em última análise, existe apenas uma verdade, que é inefável e transcende todas as construções conceptuais. No entanto, há uma série de caminhos de prática e realização que conduzem à verdade múltipla, adaptados às aptidões espirituais distintas ou às capacidades de grupos distintos de praticantes. Ao mesmo tempo, os vários textos e ensinamentos foram organizados de forma hierárquica, de acordo com critérios pré-determinados e à luz de pontos de vista particulares. Por estes meios, as taxonomias também promoviam a superioridade de um determinado texto ou ensinamento, tornando-se assim ferramentas potencialmente úteis para o avanço de agendas proto-sectárias. Todos estes elementos são evidentes no proeminente esquema taxonómico criado por Fazang (643-712), uma figura de proa da escola Huayan e principal arquiteto do seu sistema doutrinário abrangente e sofisticado. Entre os cinco níveis de ensinamentos incluídos na taxonomia de Fazang, os ensinamentos da Escritura Huayan, que ele apelidou de “ensinamento perfeito”, ocupam a posição mais elevada. De uma forma que reflectia a sua própria perspetiva filosófica, Fazang também organizou os principais sistemas doutrinais do budismo indiano numa forma hierárquica, com a doutrina tathāgatagarbha acima da doutrinas das escolas Yogā āra e Madhyamaka (ver Gregory 1991: 127-43). Como é habitual nas taxonomias doutrinais chinesas, os ensinamentos Hīnayāna ou Pequeno Veículo foram colocados no fundo. Do mesmo modo, nos esquemas taxonómicos produzidos por Zhiyi (538-597) e pela sua escola Tiantai, a Escritura do Lótus, que serviu de texto fundador para o abrangente e engenhoso sistema de filosofia budista de Tiantai, foi exaltada como o texto mais supremo do cânone budista, embora com a ressalva de que nenhuma escritura, por mais pro- funda ou sublime que seja, tem o monopólio da verdade última. Para além disso, ao aplicar diferentes princípios de classificação, a escola Tiantai foi capaz de produzir várias nomenclaturas classificativas distintas. Isso é exemplificado pelos três esquemas taxonómicos conhecidos coletivamente como os “oito ensinamentos e cinco períodos”, que organizam a totalidade dos textos e ensinamentos canónicos em três grupos separados, em termos dos seus conteúdos doutrinários, meios de instrução empregues pelo Buda e os principais períodos na carreira de pregação do Buda. (continua)
MICAF arranca com exposições, instalações e muita cor Hoje Macau - 28 Jul 2025 Está aí a segunda edição do Festival Internacional de Artes para Crianças de Macau (MICAF, na sigla inglesa), que desde sexta-feira tem a decorrer um programa com 49 actividades e espectáculos em mais de 1.000 sessões, divididos em nove secções. Segundo uma nota do Instituto Cultural (IC), incluem-se nas actividades destinadas aos mais pequenos “programas de artes performativas de nível internacional, um musical de grande escala, exposições de arte, um festival de cinema, grandes instalações ao ar livre, acampamentos artísticos, acampamentos de música, workshops e uma feira artística”. Segundo o IC, o objectivo do MICAF é “iluminar a infância das crianças através da arte, incentivando as famílias e as crianças a contactarem de perto com as artes a partir de diversas perspectivas usando todos os seus sentidos”. Um dos eventos é “O Paraíso do Pequeno MICAF”, que irá realizar-se todos os fins-de-semana na Praça do Centro Cultural de Macau (CCM), sendo que esta iniciativa tem vindo a decorrer desde o início do mês de Julho. O evento inclui sessões com jogos e insufláveis com “elementos desportivos, correspondendo assim ao espírito da 15ª edição dos Jogos Nacionais”, além de que está presente a mascote MICAF de 10 metros de altura. Depois, nos fins-de-semana de 22 a 24 e de 29 a 31 de Agosto, terá lugar o “Dia de Diversão MICAF”, com programas sob o tema “diversão aquática e arte”, incluindo-se também a realização da “Festa da Espuma” e da “Festa de Diversão Aquática”. Haverá também “danças de rua interpretadas por crianças, palhaços, artistas com andas e outras actuações interactivas, bem como workshops de artesanato e exibições de filmes para famílias ao ar livre”. Uma mostra mágica Destaca-se também a realização da exposição “A Magia das Linhas: O Mundo Maravilhoso das Ilustrações de Serge Bloch”, patente no ART Espaço, situado no terraço do primeiro andar do Centro Cultural de Macau até ao dia 7 de Outubro. A mesma mostra apresenta-se também na Zona da Barra no entorno da Doca D. Carlos I – Oficinas Navais N.º 1 e N.º 2 até 14 de Setembro. Esta mostra, organizada em parceria com o MGM, traz três secções que permitem a crianças e adultos “entrarem no espaço criativo construído pelo ilustrador francês Serge Bloch com linhas mágicas” e “embarcarem numa viagem artística cheia de imaginação, alegria e inspiração, na descoberta de um lugar para reconhecerem a beleza dos pequenos momentos da vida”. Interligadas à exposição decorrem actividades como o seminário “Tela Artística – Pincel de Cor”, bem como o “Workshop Extra de Livros Ilustrados”, ambos a realizar-se nas Oficinas Navais nº2. Depois, oficinas como “Aventura de Rabiscos – Criar Histórias Inspiradas na Arte de Bloch”, “Linhas Travessas – Oficina Magia da Colagem para Famílias” e “Mágicos das Linhas – Oficina de Livros Ilustrados para Famílias” decorrem no ART Espaço”. O MICAF traz também a Macau o musical “Disney – A Caixa Mágica”, bem como a peça de teatro de marionetas “Os Hamsters de Chong Chong”, seleccionado no âmbito do “Comissionamento de Produções de Artes Performativas 2024-2026”. O cartaz do MICAF traz também o bailado “Cinderela”, protagonizado pelo Ballet do Teatro Nacional de Brno da República Checa; o teatro multimédia “Poli Pop”, do Teatro Pincelado da Coreia do Sul; sem esquecer “Espectáculo de Neve”, teatro com palhaços. Ainda na vertente de palco vão decorrer os espectáculos “Um Dia de Astronauta” e o teatro musical coral, de estilo familiar, “Sussurrando o Zodíaco: O Concerto Coral do Zodíaco Chinês”. No cinema, a Cinemateca Paixão apresenta um ciclo de filmes para os apaixonados da animação.