China | Reservas obrigatórias dos bancos reduzidas para impulsionar a economia

O Banco Popular da China anunciou ontem que vai reduzir o rácio de reservas que os bancos devem manter, com o objectivo de impulsionar a economia em desaceleração. O anúncio provocou um aumento dos preços das acções nos mercados chineses, com o índice de referência de Hong Kong a subir 3,6 por cento.

As praças financeiras chinesas definharam nos últimos meses, com os investidores a retirarem dinheiro, desencorajados por uma recuperação vacilante após o país abdicar da política de ‘zero casos’ de covid-19.

No início da semana, surgiram informações não confirmadas de que o Governo tencionava fazer com que as empresas públicas de investimento canalizassem fundos ‘offshore’ para os mercados, a fim de ajudar a estancar as perdas. As medidas do banco central parecem fazer parte de um esforço concertado para estabilizar os mercados e incutir maior confiança nas perspectivas da segunda maior economia do mundo.

O governador do banco central, Pan Gongsheng, disse que as reservas obrigatórias de depósito seriam reduzidas em 0,5 por cento a partir de 5 de Fevereiro, adiantando que a medida injectaria cerca de 1 bilião de yuan na economia.

Em conferência de imprensa, o responsável afirmou que o banco central também planeia emitir em breve um plano de empréstimos para empresas de construção, visando apoiar a indústria, que enfrenta uma grave crise de liquidez. A economia da China está a recuperar e isto permite uma ampla margem de manobra para as políticas.

“Actualmente, os riscos financeiros do nosso país são geralmente controláveis, as operações globais das instituições financeiras são sólidas e os mercados financeiros estão a funcionar sem problemas”, afirmou.

Ressalto financeiro

A economia chinesa acelerou no último trimestre de 2023 e fixou a taxa anual de crescimento em 5,2 por cento, correspondendo ao objectivo estabelecido pelo Governo chinês, segundo dados oficiais divulgados este mês. Esta aceleração reflecte o efeito base de comparação face à paralisia da actividade económica no ano anterior, suscitada pela política de ‘zero casos’ de covid-19.

O PIB da China cresceu 3 por cento em 2022, uma das taxas mais baixas dos últimos 40 anos. Numa base trimestral, a economia cresceu 1 por cento no quarto trimestre, abrandando em relação à expansão de 1,3 por cento registada entre Julho e Setembro do ano passado.

25 Jan 2024

Detido antigo vice-presidente do Banco de Desenvolvimento da China

A Procuradoria-Geral da China ordenou ontem a detenção de Zhou Qingyu, antigo vice-presidente Banco de Desenvolvimento da China, instituição do Estado chinês que é um dos principais financiadores dos países em desenvolvimento. Zhou foi acusado de aceitar subornos.

A detenção surge no final de uma investigação da Comissão Nacional de Supervisão, órgão máximo anticorrupção da China, sobre suspeitas de “violações graves” da lei, informou a agência de notícias oficial chinesa Xinhua. Ainda não foi divulgada qualquer informação sobre as datas do julgamento do antigo director financeiro.

Zhou, que ocupou o cargo entre 2016 e Julho de 2022, apenas dois meses antes de completar 60 anos, está também a ser investigado desde Maio pela Comissão Central de Inspeção e Disciplina, o poderoso órgão anticorrupção do Partido Comunista da China (PCC).

Em Novembro passado, aquele órgão acusou o banqueiro, nascido em 1962 na província central de Henan, de, entre outras coisas, “coleccionar e ler em privado livros e publicações sobre questões políticas sérias”, “aceitar banquetes”, “aderir a clubes privados” e “interferir de forma flagrante no recrutamento de funcionários de instituições financeiras”.

Em Fevereiro passado, o PCC comprometeu-se a intensificar a campanha contra a má conduta financeira, poucos dias depois de o desaparecimento do conhecido banqueiro Bao Fan, que mais tarde anunciou estar a “cooperar numa investigação”, de acordo com o banco de investimento de que é fundador, o China Renaissance.

A campanha no sector financeiro resultou na acusação de vários funcionários de organismos reguladores e de altos dirigentes de empresas.

15 Dez 2023

China e Arábia Saudita acordam troca cambial de 50 mil milhões de yuans

Os bancos centrais da China e da Arábia Saudita assinaram um acordo de troca cambial avaliado em cerca de 50 mil milhões de yuans durante três anos. O Banco Popular da China, o banco central chinês (PBC, na sigla em inglês) anunciou na segunda-feira o pacto, num comunicado, no qual garante que servirá para “fortalecer a cooperação financeira, expandir a utilização de moedas locais e promover a facilitação do comércio e do investimento” entre os dois países.

De acordo com jornal de Hong Kong South China Morning Post, esta é a primeira troca cambial entre Pequim e Riade e o 30.º acordo deste tipo que o PBC conclui na última década. O banco central chinês celebrou pactos semelhantes com outros países do Médio Oriente, como os Emirados Árabes Unidos (2012), Qatar (2014) ou Egito (2016), para promover a internacionalização do yuan.

No ano passado, a Arábia Saudita exportou para a China petróleo no valor de cerca de 65 mil milhões de dólares, representando 83% das suas vendas ao gigante asiático. No entanto, a China continua a importar a maior parte do crude que utiliza da Rússia.

De acordo com dados da plataforma internacional de pagamentos SWIFT, o yuan é a quinta moeda mais utilizada a nível mundial em pagamentos transfronteiriços em 2023, com uma quota de 3,71%, longe do euro (23,6%) e do dólar norte-americano (46,58%).

No entanto, em Setembro conseguiu ultrapassar o euro e colocar-se na segunda posição na tabela mundial com uma fatia de 5,8%, face aos 5,43% da moeda europeia, embora o dólar continue a ser o líder indiscutível, com 84,15%. Nos últimos anos, a China lançou uma campanha para liquidar as transações de petróleo e gás natural em yuan, para reduzir a dependência do dólar, lançando, por exemplo, contratos futuros de petróleo em yuan através de um bolsa especializada em Xangai, em 2018.

No final de 2022, durante uma cimeira na Arábia Saudita, o líder chinês Xi Jinping apelou aos países árabes para “aproveitarem ao máximo” a bolsa de Xangai para negociarem petróleo bruto e gás em yuan e não em dólares. Pequim mediou um acordo histórico, em março, entre a Arábia Saudita e o Irão.

22 Nov 2023

Banco central | China vai atingir meta de crescimento de “cerca de 5%”

A China vai atingir a meta de crescimento económico oficial de “cerca de 5 por cento” este ano, enfatizou ontem o governador do Banco do Povo da China (banco central), Pan Gongsheng.

Pan afirmou que, com o “efeito continuado das políticas de ajustamento macroeconómico”, a dinâmica de crescimento “reforçou-se”, com a “recuperação estável da produção e do consumo”, uma “melhoria global do emprego e dos preços”, um “saldo base da balança de pagamentos” e uma “tendência positiva dos indicadores principais”.

As declarações do governador foram feitas durante um fórum económico realizado em Pequim, no qual sublinhou que a China “manteve uma posição de liderança entre as principais economias do mundo”.

O responsável afirmou ainda que a transformação económica da China “tem avançado de forma constante”, com um “rápido crescimento do investimento nas indústrias de alta tecnologia” e uma “contribuição do consumo para o crescimento económico de 83 por cento”, durante os três primeiros trimestres do ano, o que “cria condições para manter a estabilidade económica e dos preços”.

“A economia chinesa precisa de um ritmo razoável, mas o mais importante é alcançar um desenvolvimento sustentável e de alta qualidade, e mudar o tipo de crescimento económico é mais importante do que perseguir altas taxas de crescimento”, disse Pan.

A economia da China vai crescer 5,4 por cento este ano, mas abrandará para 4,6 por cento, em 2024, devido à “contínua fraqueza” do mercado imobiliário e à “fraca” procura do exterior, previu na terça-feira o Fundo Monetário Internacional (FMI).

9 Nov 2023

Bolsa | Venda de títulos chineses agrava fuga de capital

Investidores estrangeiros venderam o equivalente a 3,1 mil milhões de euros em acções de empresas cotadas na China, na semana passada, após o país ter registado em Setembro a maior fuga de capitais desde 2016, segundo um relatório. De acordo com o banco de investimento norte-americano Goldman Sachs, a fuga de capitais da segunda maior economia do mundo ascendeu este mês ao equivalente a 4,8 mil milhões de euros.

Na semana passada, o índice CSI 300, que reúne as maiores empresas cotadas na China, caiu 4,2 por cento, aproximando-se do nível mais baixo dos últimos 12 meses. “Com as taxas de juro mais altas por mais tempo nos Estados Unidos e a necessidade de maior flexibilização da política monetária na China, a pressão para a saída de capitais e a depreciação [da moeda chinesa, o yuan] vai persistir”, afirmaram os economistas do Goldman Sachs, num outro relatório publicado ontem.

Cerca de 75 mil milhões de dólares (mais de 70 mil milhões de euros) saíram do país em Setembro, a maior saída líquida desde 2016, de acordo com o banco norte-americano, que utiliza a sua própria medida do fluxo monetário transfronteiriço. Esta saída ocorreu depois de uma fuga de 42 mil milhões de dólares em Agosto (quase 40 mil milhões de euros), quando tanto a balança de capitais como a balança corrente registaram défices.

Apesar do elevado excedente nas trocas comerciais entre a China e o resto do mundo, o país registou uma entrada líquida de 15 mil milhões de dólares em Setembro, contra 26 mil milhões de dólares em Agosto, o que sugere que as empresas mantiveram parte das suas receitas de exportação fora do país, face à depreciação da moeda chinesa.

24 Out 2023

Furto | Residente e cidadão chinês roubaram 4,5 milhões

As autoridades policiais da China e de Macau detiveram oito pessoas, incluindo um residente de Macau e dois cidadãos chineses, alegadamente envolvidos no furto de uma mala com 4,5 milhões de renminbis ocorrido em Agosto no Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Exterior. Os detidos no Interior da China foram depois reencaminhados para Macau.

Segundo o jornal Ou Mun, o dinheiro foi roubado quando a vítima se encontrava no terminal dos ferries do Porto Exterior e tentava sair do território. Quando foi à casa de banho, o suspeito local e um dos suspeitos do Interior da China roubaram a mochila e a mala, e de seguida fugiram para a província de Guangdong.

A Polícia Judiciária (PJ) de Macau explicou que o residente local, que será o alegado cabecilha do grupo, entregou o dinheiro ao irmão e à mãe, tentando transferir o montante através do câmbio ilegal. A PJ conseguiu recuperar 1,3 milhões e deteve cinco suspeitos, após a apreensão dos três primeiros suspeitos, incluindo a mãe e o irmão do alegado cabecilha.

O caso foi encaminhado para o Ministério Público para mais investigação e detidos são suspeitos dos crimes de furto qualificado e associação criminosa. A PJ procura mais suspeitos ligados ao caso.

11 Out 2023

China e Brasil fazem negócios em moedas locais pela primeira vez

A China e o Brasil concluíram um acordo comercial nas suas moedas locais pela primeira vez, com transacções financiadas e liquidadas em renminbi (RMB) e convertidas diretamente em reais, de acordo com o Banco da China Brasil SA.

A transacção foi uma exportação de celulose de 43 caixas da Eldorado Brasil, uma das empresas líderes no sector de celulose brasileiro, transportada em Agosto do porto brasileiro de Santos para o porto de Qingdao, na China. As transacções financeiras foram realizadas ao longo do mês seguinte e concluídas em moeda brasileira em 28 de setembro.

A empresa brasileira concordou que uma empresa chinesa de importação adoptasse o yuan como moeda nominal do contrato em Agosto e nomeou o Banco Central do Brasil como o banco recebedor para testar a liquidação. O banco recebeu uma carta de crédito diferida em RMB emitida pela importadora e, posteriormente, a empresa brasileira foi informada, após a auditoria dos documentos de carga e cartas de crédito, ter sido concluída. A transacção ocorreu após a assinatura de um memorando de entendimento sobre a cooperação entre os dois governos para promover o comércio em moedas locais, em Abril.

Primeiro ou talvez não

A Eldorado Brasil, que em 2022 teve lucro de R$ 3,53 mil milhões (cerca de 5,4 mil milhões de patacas), embarcou no dia 26 de agosto 43 contentores de celulose no Porto de Santos com destino ao Porto de Qingdao, na China. Em Fevereiro deste ano teria havido uma transação pioneira entre outras empresas brasileiras e chinesas, segundo o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), mas os participantes não foram divulgados. Desta vez, contudo, os negócios fecharam um ciclo completo em yuan e real. Segundo a agência China News Service, a transação foi de ponta a ponta, envolvendo precificação, liquidação, financiamento e câmbio direto em renmimbi.

No caminho de Lula

A possibilidade de realizar transações em renmimbi, nome oficial da moeda chinesa, mais conhecida como yuan, é uma prática em vários países – até os EUA têm uma câmara de compensação – mas, no Brasil, ganhou contornos mais fortes de disputa geopolítica considerando as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vem defendendo uma moeda própria para o comércio das nações que compõem o Brics, sempre confrontando o dólar: “por que todos os países estão obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar? Por que não podemos fazer nosso comércio lastreado na nossa moeda?”. Recentemente, em agosto, Lula sugeriu que o comércio entre Brasil e Argentina poderia adotar o yuan, em vez do dólar, para ajudar o país vizinho, que passa por uma severa crise financeira.

Eldorado diz que operação foi um teste

Em nota, a Eldorado confirmou o primeiro embarque de celulose negociado em moeda chinesa. O país asiático é principal cliente da companhia, destino de 40% das exportações. Segundo o director-financeiro da Eldorado, Fernando Storchi, a operação “contou com apoio do Bank of China, serve de teste e pode abrir acesso a novas linhas de crédito no mercado chinês”.

O Banco Industrial e Comercial da China no Brasil (ICBC) fez o desconto das cartas de crédito em yuan para a Eldorado, que pôde converter instantaneamente os valores para reais. O memorando de cooperação para promover o comércio em moedas locais tinha sido assinado em abril deste ano, durante visita do presidente Lula a Pequim.

Disputas geopolíticas à parte, o consultor em negócios asiáticos Sérgio Quadros, da SQ Asia Business Consulting, observa que a transação directa em reais e yuans “queima” a etapa de conversão ao dólar, e, ao fazer isso, implica em redução de custos na taxa de câmbio e despesas financeiras. Quadros morou dez anos na China e foi responsável pela instalação e abertura da primeira agência do Banco do Brasil no país asiático. “Isso com certeza vai ter um impacto positivo no aumento do comércio entre o Brasil e a China. Porque as empresas vão diminuir a necessidade de ter acesso obrigatório a linhas de crédito em dólar, podendo usar somente sua moeda local. Você não está substituindo o dólar pelo yuan. O dólar vai continuar sendo moeda forte e hegemónica por muito tempo. Podemos aumentar o comércio com a China usando uma facilidade da moeda chinesa, assim como usamos o euro nas exportações para a Europa e o iene nas transações com o Japão. Não significa que 100% das exportações para a China serão em yuan”, sublinha.

Do ponto de vista geopolítico, a consolidação de um canal de comércio em yuan e real pode ser uma espécie de “vacina” contra eventuais sanções nas disputas internacionais. “Imagine se surge um atrito entre os países em que as transacções da China sofram sanções, como ficaria o comércio do Brasil?”, indaga Quadros. Tal cenário de sanções não é sem sentido, diante das tensões diplomáticas e militares entre China e Estados Unidos.

A Eldorado Brasil tem como seu principal acionista a J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, que controla também a maior empresa de carnes do mundo, a JBS.

6 Out 2023

Dívida | Emissão em Macau teve procura superior à oferta

A terceira e maior emissão de dívida do Governo Central em Macau foi um sucesso, com a procura a ser superior à oferta, revelou a Autoridade Monetária. Os títulos em renminbis ofereciam taxas de juro de 2,4 e 2,68 por cento

 

A emissão de dívida no valor de 5 mil milhões de renminbis pelo Governo Central foi considerada um sucesso, com a procura a ser superior à oferta. Pelo menos de acordo com um comunicado emitido pela Autoridade Monetária de Macau.

“O Ministério das Finanças da República Popular da China emitiu […] com sucesso, as suas obrigações nacionais em Renminbi em Macau”, foi apontado. “A Autoridade Monetária de Macau saúda o sucesso da presente emissão, manifestando o seu agradecimento pelo apoio prestado pelo Ministério das Finanças no âmbito do desenvolvimento do sector financeiro moderno de Macau”, foi acrescentado.

De acordo com a AMCM, esta foi a “primeira emissão de obrigações nacionais com uma duração de cinco anos”, o que contribuiu para “complementar a escassez de obrigações de médio e longo prazo no mercado obrigacionista de Macau”.

Entre os 5 mil milhões de RMB, a AMCM explicou que 4 mil milhões foram obrigações “emitidas com um prazo de dois anos e uma taxa de juro de 2,4 por cento”. A restante dívida, no valor de mil milhões, foi colocada no mercado com um “prazo de cinco anos e uma taxa de juro de 2,68 por cento”.

Ainda de acordo com as autoridades, a “emissão de obrigações nacionais foi bem acolhida pelo mercado, tendo registado uma subscrição excessiva”, ou seja, a procura ultrapassou a oferta.

Terceira emissão

Esta foi a terceira emissão de dívida do Ministério das Finanças do Governo Central desde 2019. Até ao presente, todas as emissões foram direccionadas a investidores institucionais, como bancos, seguradoras ou fundos de investimento, o que significa que o cidadão comum não pode aceder a estes instrumentos de investimento.

“O volume acumulado das obrigações emitidas pelo Ministério das Finanças em Macau atingiu 10 mil milhões de RMB, verificando-se um aumento constante em termos de montante de emissão e uma estrutura de prazo cada vez mais diversificada”, destacou a AMCM. “A emissão contínua de obrigações em RMB em Macau contribuirá para a gradual construção de uma curva de rendimentos em Macau, fornecendo uma referência de preços para produtos denominados em RMB offshore e promovendo o desenvolvimento do mercado offshore de RMB e do mercado obrigacionista em Macau”, foi acrescentado.

Em 2022, o Governo Central tinha feito uma emissão em Macau no valor de três mil milhões de renminbis, em que a procura foi superior à oferta. O mesmo tinha acontecido em 2019, quando foi feita a primeira emissão, no valor de 2 mil milhões de renminbis.

21 Set 2023

Estudo | Pequim tem oportunidade para reforçar papel internacional do yuan

O país deve intensificar a utilização internacional do yuan através de acordos de livre comércio e investimentos, são algumas das conclusões de um estudo da Universidade Renmin. Argentina, Brasil e Rússia são países que já usam a moeda chinesa nas trocas comerciais

 

A China pode aumentar o papel internacional do yuan, segundo um estudo elaborado pela Universidade Renmin, apesar da ausência de convertibilidade da moeda chinesa e do rígido controlo imposto por Pequim sobre o fluxo de capital.

Argentina, Brasil e Rússia incrementaram já o uso do yuan nas trocas comerciais com a China, numa altura em que o debate sobre a fragmentação do mercado monetário e a diluição do domínio do dólar norte-americano foi renovado pelas sanções impostas pelo Ocidente contra a Rússia.

O estudo da Universidade Renmin, que mede a “internacionalização” da moeda, com base no seu uso no comércio internacional, reservas e transacções cambiais, conclui que o yuan teve uma pontuação de apenas 6,4, numa escala de 0 a 100, no ano passado.

Embora este tenha sido o valor mais alto do yuan até à data, ficou bem atrás do dólar e do euro, que obtiveram 50,5 e 25,16 pontos, respectivamente.

O estudo apontou que a China deve pressionar por mais acordos de livre comércio, bilaterais ou regionais, para aumentar as oportunidades de comércio e investimento e criar condições favoráveis para o uso do yuan no exterior.

“Também devemos fortalecer os intercâmbios com países desenvolvidos no âmbito da transformação do modelo económico para baixar as emissões de carbono e no desenvolvimento financeiro verde, e aproveitar o potencial do yuan para servir a cooperação no combate contra as alterações climáticas e o desenvolvimento de baixo carbono”, lê-se.

O mesmo documento sugeriu: “A China deve participar activamente na formulação das futuras regras de comércio digital e na governação económica digital global, e aproveitar ao máximo as vantagens na transformação digital e no desenvolvimento da moeda digital do banco central”.

Luta antiga

A China tem tentado internacionalizar a sua moeda, o yuan, desde 2009, visando reduzir a dependência do dólar em acordos comerciais e de investimento e desafiar o papel da divisa norte-americana como a principal moeda de reserva do mundo.

O dólar é utilizado em 84,3 por cento das trocas comerciais a nível global, segundo dados recentes divulgados pelo jornal britânico Financial Times. Mas a participação do yuan mais do que duplicou desde a invasão da Ucrânia, de menos de 2 por cento para 4,5 por cento, reflectindo o maior uso da moeda chinesa no comércio com a Rússia.

Num ensaio académico, Michael Pettis, professor de teoria financeira na Faculdade de Gestão Guanghua, da Universidade de Pequim, explicou como a “rigidez” do sistema financeiro da China, em contraste com o mercado de capitais aberto dos Estados Unidos, impede o yuan de assumir maior predominância como moeda de reserva.

Pettis lembrou que o mundo continua a usar o dólar devido à “profundidade, flexibilidade” e “governação superior” do mercado financeiro norte-americano, e à “disposição e capacidade dos EUA de acomodar e absorver os desequilíbrios” comerciais do resto do mundo, incorrendo em grandes ‘deficits’ comerciais.

“A economia e o sistema financeiro dos EUA absorvem quase metade das poupanças do mundo”, apontou Pettis. O mercado aberto de acções e títulos de dívida do país desempenha também um papel central no financiamento das empresas, famílias e governos.

A China, por outro lado, tem um sector financeiro “mais rígido”, com o crédito bancário a servir directamente os objectivos do Estado e a alocação de crédito a ser determinada pela liderança política.

O sistema financeiro e os activos chineses estão, assim, praticamente vedados ao capital estrangeiro, e o yuan não é inteiramente convertível. O banco central chinês estabelece diariamente uma taxa de paridade para o valor do yuan, em relação ao dólar norte-americano. A moeda chinesa pode oscilar até 2 por cento face a essa taxa de referência.

A crescer

No evento que marcou a publicação do estudo da Renmin, Chen Yulu, ex-vice-presidente do banco central e agora presidente da Universidade Nankai, disse que o yuan é já a terceira maior moeda internacional, superado apenas pelo dólar e euro, e que a sua participação no mercado e influência estão a crescer.

“Para transformar o yuan numa moeda equivalente ao dólar norte-americano e ao euro, até 2035, são necessárias três condições: um sistema industrial moderno apoiado pela economia real, o aprofundamento do mercado financeiro doméstico e grandes progressos na infraestrutura de internacionalização do yuan e um equilíbrio de alto nível entre a abertura institucional do sistema financeiro da China e o regime de controlo de risco”, apontou Chen.

Num relatório divulgado no início deste mês, a Associação Bancária da China chamou os bancos estatais e os gigantes industriais a desempenhar um papel de liderança, priorizando o uso da moeda chinesa no comércio de matérias-primas e em projetos no exterior.

“Dado o ajuste no sistema monetário internacional após a pandemia e o conflito Rússia – Ucrânia, a internacionalização do yuan tem uma importante janela para se desenvolver”, lê-se no relatório. “Os bancos chineses devem aproveitar a oportunidade histórica”, acrescentou.

25 Jul 2023

Banco central chinês mantém taxa de juro de referência em 3,55%

O Banco Popular da China, o banco central do país, vai manter a taxa de juro de referência em 3,55 por cento, pelo segundo mês consecutivo, após a redução de 10 pontos base ocorrida em Junho, a primeira desde Agosto de 2022.

Na actualização mensal, a instituição indicou que a taxa de referência para empréstimos (LPR, na sigla em inglês) se vai manter no nível actual, durante pelo menos um mês.

O indicador, estabelecido como referência para as taxas de juros em 2019, é usado para definir o preço dos novos empréstimos – geralmente para as empresas – e do crédito com juros variáveis, que está pendente de reembolso.

O cálculo é realizado com base nas contribuições para os preços de uma série de bancos – incluindo os pequenos credores que tendem a ter custos de financiamento mais elevados e maior exposição a empréstimos malparados – e visa reduzir os custos do crédito e apoiar a “economia real”.

A LPR a cinco anos ou mais – a referência para o crédito à habitação – também não se alterou, mantendo-se nos 4,2 por cento, depois de ter sofrido também uma redução de 10 pontos base (0,10 pontos percentuais), no mês passado.

O banco central confirmou assim as previsões dos analistas, que anteciparam que não haveria alterações nas principais taxas de juros da China este mês.

21 Jul 2023

Economia | Pequim promete mais apoio ao sector privado

O Governo chinês assegura que vai dar melhores condições ao sector privado para fortalecer o crescimento económico e combater o desemprego jovem que atinge registos históricos

 

As autoridades chinesas prometeram ontem adoptar medidas adicionais de apoio ao sector privado, face ao crescimento económico aquém das expectativas e uma taxa de desemprego jovem em máximos históricos.

Em comunicado, o Conselho de Estado (Executivo) e o Comité Central do Partido Comunista da China (PCC) comprometeram-se a melhorar o ambiente de negócios, fortalecer mecanismos para garantir a “concorrência leal” e um tratamento não discriminatório, face às empresas estatais, em resposta às reclamações frequentemente feitas por grupos estrangeiros.

O plano de Pequim, que está dividido em 31 pontos, promete também melhorar os sistemas de apoio ao financiamento e ao mercado de trabalho, visando promover o “espírito empreendedor” no sector privado.

O documento visa ainda incentivar as empresas a empreender processos de transformação digital e tecnológica.

No entanto, a directriz apela também às empresas privadas para que “cumpram com as suas obrigações sociais”, através de donativos para caridade, apoio em situações de emergência ou colaboração na “construção da defesa nacional”. A mesma directriz pede o reforço da influência do Partido Comunista no sector privado.

Após a publicação do documento, um porta-voz da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o órgão máximo de planeamento económico do país, indicou que o sector privado se tornou num “elemento intrínseco” do sistema económico chinês, embora reconheça que “algumas empresas enfrentam dificuldades” e que os mecanismos propostos vão ter de ser ajustados para aumentar a “confiança e vitalidade”.

Jogar pelo seguro

A falta de confiança das empresas privadas é um dos factores que alguns analistas destacam para explicar a desaceleração da economia chinesa.

“As empresas estão hesitantes em aumentar a produção ou o investimento, face a contratempos económicos. Muitas estão à espera para ver o que vai acontecer, e não tentarão expandir as suas operações até que haja uma recuperação da procura geral”, afirmou, esta semana, num relatório, o economista Harry Murphy Cruise, da Moody’s Analytics.

A taxa oficial de desemprego entre os jovens urbanos da China (entre 16 e 24 anos) atingiu novo recorde histórico em Junho, ascendendo a 21,3 por cento, segundo dados oficiais publicados esta semana.

A economia chinesa registou um crescimento homólogo de 6,3 por cento, no segundo trimestre do ano, aquém das expectativas dos analistas, já que o efeito base de comparação, após um ano de bloqueios rigorosos, fazia prever uma taxa superior.

Em relação ao período entre Janeiro e Março, a economia cresceu apenas 0,8 por cento no segundo trimestre do ano.

21 Jul 2023

Divisas | Yuan mais usado do que dólar em operações transfronteiriças

Pela primeira vez na história, a utilização da moeda chinesa ultrapassou a da divisa norte-americana nas transacções internacionais

 

A China realizou em Março, pela primeira vez, mais transacções transfronteiriças com a sua moeda do que com o dólar norte-americano, num novo marco nos planos de Pequim para reduzir a sua dependência da divisa norte-americana.

Segundo uma análise difundida ontem pela Bloomberg Intelligence, baseada em dados do Governo chinês, o uso do yuan neste tipo de operações atingiu o recorde histórico de 48 por cento, em Março, quando o uso do dólar nas transacções internacionais chinesas caiu para 47 por cento.

Em 2010, a China praticamente não utilizava o yuan para liquidar este tipo de transacções, utilizando quase exclusivamente o dólar. Estes dados são calculados com base no volume de todo o tipo de transacções transfronteiriças realizadas no país, incluindo a compra e venda de acções, através das ligações entre as praças financeiras da China Continental e de Hong Kong.

“O aumento do uso do yuan pode ser uma consequência natural da abertura pela China da sua conta de capital”, disse Stephen Chiu, analista de câmbio da Bloomberg. No entanto, a moeda chinesa ainda tem uma participação de apenas 2,3 por cento nos pagamentos globais, segundo dados do sistema internacional de pagamentos SWIFT.

A China tem tentado internacionalizar o yuan desde 2009, visando reduzir a dependência do dólar em acordos comerciais e de investimento e desafiar o papel da moeda norte-americana como a principal moeda de reserva do mundo. Esta questão tornou-se mais urgente à medida que fricções políticas e a prolongada guerra comercial e tecnológica entre Pequim e Washington resultaram na imposição de sanções contra várias entidades chinesas.

O debate sobre a fragmentação do mercado monetário e a diluição do domínio do dólar norte-americano foi renovado também pelas sanções impostas pelo Ocidente contra a Rússia. A China reforçou a cooperação com Moscovo, a nível de sistemas de pagamento, promovendo o uso do yuan nas trocas comerciais bilaterais.

O dólar é utilizado em 84,3 por cento das trocas comerciais a nível global, segundo dados recentes divulgados pelo jornal britânico Financial Times. Mas a participação do yuan mais do que duplicou desde a invasão da Ucrânia, de menos de 2 por cento para 4,5 por cento, reflectindo o maior uso da moeda chinesa no comércio com a Rússia.

Na terça-feira, o Conselho de Estado (Executivo) chinês reiterou a sua intenção de aumentar o uso do yuan para liquidar operações internacionalmente.

“A internacionalização do yuan está a acelerar à medida que outros países buscam uma moeda de pagamento alternativa para diversificar os riscos, já que a Reserva Federal [dos EUA] perdeu alguma credibilidade”, disse Chris Leung, economista do DBS Bank.

O especialista notou, no entanto, que o dólar norte-americano vai manter-se por muito tempo como a moeda de escolha mundial: “A participação do yuan nos pagamentos globais pode ser para sempre pequena”.

Ajuda brasileira

Este mês, o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, atacou, em Xangai, o domínio do dólar norte-americano como moeda de reserva mundial e apelou para o uso de outras divisas na relação comercial entre Brasil e China.

“Eu todos os dias me pergunto por que motivo os países estão obrigados a fazer o seu comércio em dólar”, afirmou o chefe de Estado brasileiro, na sede do Novo Banco de Desenvolvimento, criado pelo BRICS, o bloco de economias emergentes que junta Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Nós precisamos de ter uma moeda que dê aos países um pouco mais de tranquilidade”, acrescentou.

Michael Pettis, professor de teoria financeira na Faculdade de Gestão Guanghua, da Universidade de Pequim, escreveu então na sua conta oficial no Twitter que as afirmações de Lula são “palavras de político” e “não de quem conhece o balanço de pagamentos global”.

“Ele não percebe que o que importa não é a moeda em que o comércio brasileiro é denominado. Podem ser dólares, yuan, reais, euros ou até o ringgit da Malásia”, apontou. “O que importa são os activos em que os exportadores desejam acumular o produto das suas exportações”, afirmou.

Para os exportadores brasileiros acumularem o yuan nas suas trocas com a China, Pequim teria que executar reformas no sistema financeiro e monetário que são incompatíveis com o seu modelo de governação, apontou.
Pettis considerou que a “rigidez” do sistema financeiro da China, em contraste com o mercado de capitais “aberto” dos Estados Unidos, “impede o yuan de assumir maior predominância como moeda de reserva”.

“A China teria de abdicar do controlo sobre as contas correntes e de capital” e “aceitar um sistema de governação no qual as decisões de uma ampla gama de autoridades estariam sujeitas a um processo legal transparente e previsível”, para que o yuan pudesse, “pelo menos parcialmente”, ameaçar a posição do dólar, afirmou o académico, que vive no país asiático há duas décadas.

27 Abr 2023

Banco central chinês mantém taxa de juro de referência em 3,65%

O Banco Popular da China (banco central) anunciou ontem que vai manter a taxa de juro de referência em 3,65 por cento, inalterada desde a redução de cinco pontos base (0,05 pontos percentuais), realizada em Agosto. Na actualização mensal, a instituição indicou que a taxa de referência para empréstimos (LPR, na sigla em inglês) se vai manter no nível actual, durante pelo menos um mês.

O indicador, estabelecido como referência para as taxas de juros em 2019, é usado para definir o preço dos novos empréstimos – geralmente para as empresas – e do crédito com juros variáveis, que está pendente de reembolso.

O cálculo é realizado com base nas contribuições para os preços de uma série de bancos – incluindo os pequenos credores que tendem a ter custos de financiamento mais elevados e maior exposição a empréstimos malparados – e visa reduzir os custos do crédito e apoiar a “economia real”.

A LPR a cinco anos ou mais – a referência para o crédito à habitação – também não se alterou, mantendo-se nos 4,3 por cento, depois de ter sofrido também o último corte em agosto de 2022, de 15 pontos base (0,15 pontos percentuais).

O banco central confirmou assim as previsões da maioria dos analistas, que anteciparam que não haveria alterações nas principais taxas de juros da China este mês.

21 Fev 2023

Câmbio | Yuan recua face ao dólar para valor mais baixo desde 2007

A moeda chinesa, o yuan, caiu ontem para o nível mais baixo em relação ao dólar norte-americano desde 2007, depois de o líder chinês, Xi Jinping, obter um terceiro mandato e elevar aliados a posições chave. Um dólar valia ontem 7,3060 yuans no encerramento do mercado na China – o nível mais baixo desde o final de 2007 e uma queda de cerca de 16 por cento, em relação ao pico atingido em Março passado. A taxa de câmbio no mercado internacional (‘offshore’) situou-se em 7,3345 yuan.

A moeda chinesa não é inteiramente convertível. O banco central chinês estabelece diariamente uma taxa de paridade para o valor do yuan em relação ao dólar norte-americano. A moeda chinesa pode oscilar até 2 por cento face a essa taxa de referência.

A taxa de câmbio oficial estabelecida pelo Banco Popular da China passou de 7,1230, na segunda-feira, para 7,1668 na terça-feira. A depreciação do yuan surge um dia depois de a Bolsa de Valores de Hong Kong ter afundado 6,3 por cento, para o nível mais baixo desde 2009.

Analistas consideram que a nova formação do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês aumentou o risco para as acções das empresas chinesas, face à ausência de reformistas económicos orientados para o mercado.

Na abertura do congresso, o líder chinês pediu “melhor regulação dos mecanismos de acumulação de riqueza” e a “prevenção da expansão desordenada do capital”, sinalizando crescente escrutínio sobre o capital privado.

25 Out 2022

Moeda | Yuan recua face ao dólar para valor mais baixo desde 2008

O yuan registou uma queda acentuada na sexta-feira, o que levou os bancos estatais chinesas a venderem dólares norte-americanos no mercado de câmbio doméstico, numa tentativa de estabilizar a moeda

 

A moeda chinesa, o yuan, caiu na passada sexta-feira para o nível mais baixo em relação ao dólar norte-americano, desde a crise financeira global de 2008, apesar dos esforços de Pequim para conter a queda. Um dólar valia sexta-feira 7,2494 yuans no encerramento do mercado na China – o nível mais baixo da moeda chinesa desde Janeiro de 2008 -, e uma queda de mais de 15 por cento, em relação ao pico atingido em Março passado.

A desvalorização do yuan é sobretudo motivada pelo rápido aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, o que leva os investidores a converterem dinheiro em dólares, na tentativa de obter melhores retornos.

O yuan registou uma breve recuperação, na quinta-feira, após a agência de notícias Bloomberg ter noticiado que a China está a considerar reduzir o período de quarentena para quem chega do exterior.

Um yuan mais fraco ajuda os exportadores chineses, ao tornar os seus produtos mais baratos nos mercados externos, mas incentiva a fuga de capital. Isto aumenta os custos de financiamento para as empresas chinesas e atrasa os esforços do Partido Comunista para impulsionar o crescimento económico do país.

Em contraste com a Reserva Federal dos EUA, que elevou as taxas de juros por cinco vezes este ano, visando combater a inflação, o Banco Popular da China reduziu as taxas de juros, para impulsionar o crescimento económico, que caiu para 2,2 por cento, em relação ao ano anterior, nos primeiros seis meses de 2022 – menos de metade da meta oficial de 5,5 por cento. Na quinta-feira, o banco central manteve a taxa de referência do país em 3,65 por cento.

Tentar estabilizar

A taxa de paridade do yuan, face ao dólar, baseia-se na média dos preços oferecidos antes da abertura do mercado interbancário e pode oscilar, no máximo, 2 por cento por dia. Isto evita grandes oscilações diárias, mas vários dias consecutivos de queda podem resultar em mudanças significativas.

Para reforçar a taxa de câmbio, Pequim cortou já o volume de depósitos em moeda estrangeira que os bancos chineses devem manter como reservas, de 8 por cento para 6 por cento. Ao aumentar a quantidade de dólares e outras moedas estrangeiras disponíveis para comprar yuans as autoridades visavam valorizar a moeda chinesa.

Os principais bancos estatais chineses realizaram também vendas de dólares norte-americanos no mercado de câmbio doméstico, numa tentativa aparente de estabilizar a moeda local.

23 Out 2022

Banco Mundial | China passa para factor de desaceleração económica na Ásia

A política de zero-casos levada a cabo no país e a fragilidade do sector imobiliário continuam a travar o crescimento económico chinês

 

A economia chinesa deverá crescer este ano 2,8 por cento, abaixo da média de 5,3 por cento dos países da Ásia – Pacífico, estimou ontem o Banco Mundial, à medida que a política ‘zero covid’ trava décadas de trepidante crescimento da China.

Num relatório, o Banco Mundial (BM) reviu em baixa a sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China de “entre 4 por cento e 5 por cento” para 2,8 por cento.

Devido à desaceleração da economia do país, a entidade reduziu também as previsões de crescimento para a região da Ásia – Pacífico, para 3,2 por cento. Porém, excluindo a China (o relatório inclui Leste Asiático, Sudeste Asiático e as ilhas do Pacífico), a região deve crescer 5,3 por cento.

Os principais indicadores económicos da China apontavam para um bom ano. Em Março passado, as autoridades estabeleceram uma meta de crescimento de 5,5 por cento para 2022, acima das expectativas de muitos analistas.
Mas, no segundo trimestre, o isolamento de Xangai, a “capital” financeira do país, e de importantes cidades industriais como Changchun e Cantão, no âmbito da política de ‘zero casos’ de covid-19, tiveram forte impacto nos sectores serviços, manufactureiro e logístico.

O exemplo mais destacado é a evolução do PIB chinês, que passou de um crescimento homólogo de 4,8 por cento, no primeiro trimestre, para apenas 0,4 por cento, no segundo. A comparação trimestral revelou uma contração de 2,6 por cento.

Outros indicadores de grande importância para a economia chinesa também foram afectados, como o que mede a produção industrial (-2,9 por cento), ou actividade da indústria manufactureira, que sofreu contrações em cinco dos últimos seis meses.

Outro factor citado pelo relatório do Banco Mundial, é a “fraqueza” do sector imobiliário, cada vez mais asfixiado desde 2020 devido às limitações impostas por Pequim a muitas construtoras no acesso ao crédito.

Segundo dados da consultora CRIC, as vendas das 100 principais imobiliárias do país caíram 32,9 por cento, em termos homólogos, em Agosto. A agência de ‘rating’ Moody’s prevê que a procura continue a cair ao longo dos próximos 12 meses.

Em alta

O abrandamento da economia chinesa gerou novos protagonistas na região, como o Vietname, que deverá crescer 7,2 por cento em 2022, segundo o Banco Mundial. A Indonésia surge também em destaque, com o PIB a subir 5,1 por cento.

“A maior fonte de crescimento na região foi o levantamento das restrições impostas para combater a pandemia da covid-19”, disse Aaditaya Mattoo, economista-chefe do Banco Mundial para o Leste Asiático e o Pacífico, no relatório.

A variante Ómicron da covid-19 obrigou as autoridades chinesas a impor medidas de confinamento extremas, para salvaguardar a estratégia de ‘zero casos’, assumida como um triunfo político pelo secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, apesar dos crescentes custos económicos e sociais.

28 Set 2022

BPC | País mantém taxa de juros de referência em 3,65 por cento

O Banco Popular da China (banco central) anunciou ontem que irá manter a taxa de juros de referência em 3,65 por cento, após ter realizado um corte de cinco pontos base há um mês. Na actualização mensal, a instituição indicou que a taxa de referência para empréstimos (LPR, na sigla em inglês) se vai manter no nível actual até pelo menos daqui a um mês.

Este indicador, estabelecido como referência para as taxas de juros em 2019, é usado para definir o preço de novos empréstimos – geralmente para empresas – e empréstimos com juros variáveis que estão pendentes de reembolso.

O cálculo é realizado com base nas contribuições para os preços de uma série de bancos – incluindo pequenos credores que tendem a ter custos de financiamento mais altos e maior exposição a crédito malparado -, e visa reduzir os custos de empréstimos e apoiar a “economia real”. A LPR a cinco anos ou mais – referência para o crédito à habitação – também não se alterou, mantendo-se em 4,3 por cento, depois de ter sofrido também um corte no mês passado, neste caso de 15 pontos base.

O banco central chinês atende, assim, às previsões dos analistas, que antecipavam que não haveria alterações nas principais taxas de juros da China após os cortes anunciados em Agosto.

20 Set 2022

Henan | Detentores de depósitos em bancos em crise enfrentam polícia

Detentores de depósitos em bancos chineses enfrentaram a polícia, no domingo, na província de Henan, num caso que já chamara a atenção após as autoridades tentarem usar a aplicação de rastreamento da covid-19 para impedir a mobilização

 

Centenas de pessoas ergueram faixas e gritaram palavras de ordem nos degraus da entrada da agência do Banco Popular da China (banco central), na cidade de Zhengzhou, a capital da província central de Henan, que fica a cerca de 620 quilómetros a sudoeste de Pequim, segundo o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

Um vídeo difundido nas redes sociais mostra agentes de seguranças à paisana em confrontos com a multidão. Outros vídeos mostram manifestantes a serem empurrados nas escadas por seguranças vestidos com camisas brancas ou pretas lisas.

Os manifestantes estão entre os milhares de clientes que abriram contas em seis bancos rurais em Henan e na província vizinha de Anhui que ofereciam taxas de juros mais altas. Os depositantes foram depois impedidos de retirar os seus fundos, após a imprensa local ter noticiado que o chefe da empresa que controla os bancos, e Henan Xincaifu Group Investment Holding, tinha fugido e é procurado por crimes financeiros.

As faixas erguidas pelos manifestantes acusavam o Governo de Henan de “violência e corrupção” e pediam a intervenção do primeiro-ministro chinês: “Li Keqiang, venha investigar Henan!”.

A Comissão Reguladora de Bancos e Seguros da província declarou no domingo à noite que está a “investigar a situação financeira” dos bancos e que “vai elaborar um plano de compensação em breve”.

De acordo com cálculos da imprensa local, até 400.000 clientes, com um total de 40.000 milhões de yuans depositados naqueles bancos, podem ser afectados.

Exame de código

No mês passado, as autoridades de Henan foram acusadas de uso indevido da aplicação de rastreamento e armazenagem dos resultados dos testes para a covid-19, imprescindíveis para viajar e aceder a locais públicos na China, para impedir protestos pelos depositantes.

O código QR de pessoas que tentaram deslocar-se até Henan, após os bancos locais terem suspendido transferências e levantamentos, ficou subitamente vermelho, o que impede viagens para outros territórios ou acesso a locais públicos, ao chegar a Henan ou mesmo antes de começarem a viagem.

De acordo com os regulamentos daquela província, apenas podem ser atribuídos códigos vermelhos a pessoas que sejam casos confirmados de covid-19, contactos directos de casos positivos ou que cheguem do estrangeiro ou de zonas do país consideradas de risco.

O assunto gerou debate na rede social Weibo – o equivalente local do Twitter, que está bloqueado no país asiático -, onde alguns internautas manifestaram a sua indignação pelo abuso de uma ferramenta de prevenção epidémica.
“O código de saúde já se tornou uma ferramenta política”, lamentou um internauta. Cinco funcionários de Zhengzhou foram posteriormente punidos na sequência daquele caso.

12 Jul 2022

Câmbio | Renminbi esgota nos multibancos após desvalorização acentuada

A quebra acentuada da taxa de câmbio do renminbi em Macau levou muitos a cruzar a fronteira para levantar dinheiro e lucrar com o câmbio ilegal no Interior da China. Como resultado, os multibancos de Macau deixaram de disponibilizar renminbis. A Associação Económica de Macau alerta que a desvalorização do renminbi a longo prazo pode afectar a capacidade de consumo dos turistas

 

A queda acentuada da taxa de câmbio do renminbi levou a que os multibancos de Macau deixassem de disponibilizar a moeda. Isto, dado que a desvalorização gerou oportunidade de negócio favorável para quem se dedica à troca ilegal de dinheiro no Interior da China.

Citada pelo jornal Exmoo, uma fonte que conhece bem o mercado cambial e que optou por não se identificar, explicou que actualmente “este negócio é ainda melhor do que fazer contrabando” e, por isso mesmo, muitas pessoas arriscam vir a Macau trocar dólares de Hong Kong por renminbis (ou fazer essa operação através do multibanco), levando de volta para a China grandes quantidades de dinheiro para trocar novamente por dólares de Hong Kong.

“Actualmente, o preço a pagar pelo câmbio [do renminbi] nos bancos de Macau é inferior ao preço praticado no mercado negro na China”, disse.

Por exemplo, conta a mesma fonte, à taxa de câmbio em vigor na passada terça-feira era possível trocar em Macau 100 dólares de Hong Kong por 85 renminbis, sendo estes depois trocados de volta por dólares de Hong Kong no mercado ilegal, já na China, por valores entre os 83,7 e os 84 renminbis. A diferença permitiu a quem fez negócio lucrar cerca de um renminbi por cada 100 dólares de Hong Kong trocados no mercado negro.

A fonte ouvida pelo Exmoo partilhou ainda que a desvalorização do renminbi pode ser explicada com o facto de a Reserva Federal dos Estados Unidos da América (EUA) ter aumentado as taxas de juros e com os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Além disso, também a redução do número de turistas que entram em Macau terá contribuído para a desvalorização da moeda no território, dado haver menos procura.

Menos poder de compra

Em declarações ao mesmo jornal, o vice-presidente da Associação Económica de Macau, Henry Lei Chun Kwok, lembrou que devido ao aumento das taxas de juro nos EUA, também a libra britânica e o iene japonês estão em queda.

Apontando que a pataca está anexada ao dólar americano, Henry Lei alertou ainda que se a taxa de câmbio do renminbi se mantiver baixa nos próximos tempos, a longo prazo o sector do turismo em Macau pode vir a ressentir-se, dado que o poder de compra e a disponibilidade para consumir dos visitantes chineses será inferior.

12 Mai 2022

Morreu investidor que ficou conhecido como “Primeiro Accionista da China”

Um antigo operário fabril que ficou conhecido como o “Primeiro Accionista da China”, depois de acumular uma fortuna a negociar nos incipientes mercados financeiros do país a partir da década de 1980, morreu no domingo, segundo a imprensa local.

Yang Huaiding morreu com 71 anos, segundo o jornal estatal Securities Times e outras publicações da área financeira, que citaram uma declaração da sua família.

Yang pediu demissão do armazém de uma fábrica em Xangai, a “capital” económica do país, em 1988, e usou as suas poupanças de 20.000 yuan para comprar e vender obrigações emitidas pelo Estado chinês, depois de o Partido Comunista ter permitido a transferência de propriedade, como parte das reformas económicas orientadas para o mercado.

Yang tornou-se conhecido publicamente depois de pedir à polícia que o protegesse enquanto carregava caixas de dinheiro e títulos entre províncias. Foi então apelidado de “Yang Milhão”, depois de ganhar um milhão de yuans (165.000 euros, na época), no espaço de um ano.

No início da década de 1990, Yang aumentou a sua fortuna ao negociar nas recém-abertas bolsas chinesas. A imprensa escreveu que o último grande feito de Yang foi em 2008, quando previu correctamente a queda dos preços das acções, que gerou a crise financeira global.

Yang tornou-se a primeira pessoa na China a contratar um guarda-costas e um advogado particular e a processar uma companhia de valores mobiliários, de acordo com o Securities Times.

O mesmo jornal escreveu que Yang foi o primeiro particular a actuar como consultor de bancos e autoridades fiscais. “Como uma das testemunhas da ‘era do despertar’ do mercado de valores mobiliários da China, a sua morte é lamentável”, descreveu o jornal.

16 Jun 2021

Moeda chinesa atinge valor mais alto em relação ao dólar desde 2018

A moeda chinesa, o yuan, está hoje a ser negociada no seu valor mais alto, em relação ao dólar norte-americano, desde maio de 2018, com a taxa nos mercados internacionais a atingir 6.385 yuans por dólar.

A taxa oficial que o Banco do Povo da China (banco central) fixa todos os dias situou-se em 6,4099 yuans por dólar e seguiu a mesma tendência de subida. Analistas citados pelo portal de notícias Caixin apontaram a desvalorização do dólar, o que tem contribuído para um maior fluxo de investimentos nos mercados de capitais chineses.

O canal de investimento que permite a negociação de títulos dos mercados chineses por meio de Hong Kong bateu na terça-feira o seu recorde histórico, com um influxo líquido de 21,72 mil milhões de yuans.

A imprensa oficial chinesa citou especialistas que apontaram que os investidores estrangeiros têm visto as ações chinesas como um “amortecedor” contra as “fraquezas” de outras moedas, referindo-se ao dólar.

Dong Shaopeng, pesquisador da Universidade do Povo de Pequim, garante que as ações nos mercados norte-americanos estão perto de sofrer uma correção que afetaria também “inevitavelmente” as bolsas chinesas.

No entanto, o especialista defendeu que o efeito sobre as chamadas ‘ações A’ – aquelas de empresas chinesas que são negociadas em Xangai ou em Shenzhen – não será “grave”.

Apesar do efeito positivo nas bolsas chinesas, analistas chineses acreditam que a tendência de alta do yuan em relação ao dólar não vai continuar, já que o yuan excessivamente valorizado pesaria sobre a competitividade das exportações chinesas, que continuam a ser um motor importante da economia do país asiático.

27 Mai 2021

Número de bilionários cresce na China apesar da pandemia

A China nunca teve tantos bilionários, apesar da pandemia que abalou a economia mundial, com o país a superar os Estados Unidos e a Índia no número de super-ricos, segundo um relatório divulgado ontem. O país asiático foi o primeiro a sofrer o impacto do novo coronavírus, no primeiro trimestre de 2020, mas também o primeiro a recuperar e a voltar a atingir o crescimento económico.

Apesar das medidas de contenção e prevenção da doença sem precedentes que afetaram a atividade no início de 2020, o número de bilionários em dólares aumentou na China, no ano passado, segundo o ‘ranking’ da unidade de investigação Hurun Report Inc, que publica anualmente uma lista dos mais ricos da China. O país asiático somou mais 253 bilionários e domina amplamente o ‘ranking’ mundial, com um total de 992 bilionários.

Os Estados Unidos estão em segundo lugar, com 696 bilionários, mas as três maiores fortunas do mundo continuam ser norte-americanas e francesas: Elon Musk (chefe da Tesla), seguido por Jeff Bezos (Amazon) e Bernard Arnault (LVMH). A Índia é o terceiro país do mundo com mais bilionários (177).

O homem mais rico da China agora é o chefe da empresa de água engarrafada Zhong Shanshan. A sua fortuna é estimada em 85 mil milhões de dólares. Pela primeira vez na história do ‘ranking’ da Hurun, as maiores fortunas da China não estão ligadas ao mercado imobiliário, um setor do qual o crescimento do país depende há muito tempo.

Os proprietários das empresas do sector da Internet Tencent e ByteDance são, respectivamente, o segundo e o terceiro mais ricos. Jack Ma, que há muito tempo ocupa o primeiro lugar do pódio das personalidades mais ricas da China, caiu para o quarto lugar, com uma fortuna estimada em 55 mil milhões de dólares.

3 Mar 2021

China reduz carga fiscal em mais de 2,09 biliões de yuan

[dropcap]A[/dropcap] China reduziu a carga fiscal em 2,09 biliões de yuan, nos primeiros três trimestres do ano, anunciou hoje a Administração Estatal de Finanças. Mais de 65% dessas reduções foram produzidas através de mecanismos aprovados pelo Governo chinês para apoiar o desenvolvimento económico, devido ao impacto da pandemia da covid-19.

Entre janeiro e setembro, o número de contribuintes no país cresceu 7,5%, com destaque para o terceiro trimestre, em que o número subiu 26%, em termos homólogos, segundo os dados oficiais. Para 2020, o Executivo elevou o objectivo de reduzir a carga tributária das empresas em 25%, para 2,5 biliões de yuan. No ano passado, a China cortou 2,36 biliões de yuan em impostos e taxas, acima da meta original de dois biliões de yuan.

Em abril de 2019, o Governo reduziu o IVA de 16% para 13% para sectores como vendas ou importação de bens, e de 10% para 9% para outros, como transporte ou construção, enquanto manteve os impostos sobre os serviços em 6%.

Os pequenos contribuintes, quer sejam cidadãos comuns ou donos de pequenas empresas, que registam vendas abaixo de um determinado patamar, beneficiaram de uma redução do IVA até 3%, segundo um relatório da consultora PwC.

Devido ao impacto da covid-19, esta última taxa foi reduzida para 1% em todas as províncias da China, excepto em Hubei, onde foram detetados os primeiros casos da doença e que sofreu as medidas mais restritivas. Nesta região foi aplicada isenção do pagamento do IVA para os pequenos contribuintes.

O Governo chinês anunciou ainda medidas como permitir que pequenas e médias empresas atrasem o pagamento dos impostos referentes a 2020 para o próximo ano. Empresas em sectores particularmente afectados, como transporte, restaurantes, turismo ou cinema, podem carregar suas perdas operacionais líquidas por oito anos em vez dos cinco permitidos até agora.

As empresas que mais sofreram com a pandemia também podem atrasar o pagamento das contribuições para a segurança social, por um período de meio ano.

2 Nov 2020

Economia | Banco Mundial prevê crescimento chinês, em contraciclo global

O Banco Mundial perspectiva o crescimento de 1,6 por cento do PIB chinês este ano, número que contrasta com a recessão global provocada pela contracção de 5,2 do PIB mundial. O resultado coloca Pequim na singular posição de ser a única potência a crescer. Nesse contexto, o Banco Mundial apelou ao perdão da dívida a países pobres e fortemente afectados pela pandemia

 

[dropcap]E[/dropcap]nquanto a economia global está ligada ao ventilador, paralisada pelo bloqueio imposto pela pandemia da covid-19, o Produto Interno Bruto chinês poderá crescer este ano a um ritmo de 1,6 por cento. Esta é a estimativa do Banco Mundial, que quantifica a hecatombe da economia global no recuo de 5,2 por cento do PIB global.

O organismo presidido por David Malpass destaca entre as razões para a boa performance chinesa, no contexto global de paralisia, a resposta rápida à pandemia, incluindo a imposição apertada de confinamento e medidas de controlo e despistagem de contactos de pessoas possivelmente infectadas.

Além das medidas de saúde pública, Pequim alocou centenas de milhões de de dólares em projectos de infra-estruturas, assim como subsídios individuais para estimular o consumo.

Os resultados foram visíveis durante a Semana Dourada, com o sector do turismo a dar sinais de vida e o aumento do consumo a fazer-se sentir.

Segundo números avançados pela CNN Business, a economia chinesa pode passar a valer 14,6 biliões de dólares até ao final de 2020, o que equivale a cerca de 17,5 por cento do PIB mundial.

Boom dourado

Os sinais positivos na economia chinesa foram evidentes durante a Semana Dourada, quando foram registados resultados ligeiramente abaixo dos de 2019, o que ainda assim foi visto pelos analistas do Banco Mundial como boas notícias.

Mais de 630 milhões de pessoas viajaram pela China durante a Semana Dourada, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Cultura e Turismo. O volume de viagens atingiu quase 80 por cento das realizadas durante o mesmo período no ano passado.

No que diz respeito a gastos, durante a Semana Dourada os turistas desembolsaram cerca de 70 por cento do que gastaram no ano passado, atingindo 70 mil milhões de dólares.

Outro indicador da saúde económica durante a pandemia é a participação em actividades em grupo, como por exemplo, idas ao cinema. Durante o último período da Semana Dourada a venda de bilhetes de cinema ultrapassou os 580 milhões de dólares, um volume de negócio 12 por cento inferior ao registado no mesmo período de 2019.

O economista chefe do Macquarie Group, Larry Hu, categoriza os números da Semana Dourada como “encorajadores”. Citado pela CNN Business, o especialista afirma que todos os indicadores apontam para “o regresso do consumo à normalidade na China, em especial o consumo de serviços que está em franca recuperação”, acrescentando que os resultados podem ter sido influenciados pela procura contida durante muito tempo, e que agora conseguiu concretizar-se.

Fábricas a laborar

Antes da Semana Dourada, a economia chinesa já dava sinais de estar a ganhar dinamismo.
A actividade manufatureira da China subiu em Agosto, prolongando a tendência crescente pelo sexto mês consecutivo, depois da forte queda causada pelas medidas adoptadas para travar a pandemia da covid-19.

O índice mensal dos gestores de compras da China (PMI, na sigla em inglês), divulgado pelo Gabinete Nacional de Estatísticas, fixou-se nos 51 pontos, depois de se ter fixado nos 51,1 pontos, em Julho. O número é 0,1 pontos inferiores ao alcançado no mês anterior e um pouco menor do que o esperado pelos analistas, que previam 51,2 pontos para Agosto.

Neste índice, uma leitura acima dos 50 pontos indica crescimento da actividade do sector, enquanto uma leitura abaixo indica contração.

Os dados confirmam a recuperação do sector, depois de forte quebra em Fevereiro, quando o PMI registou 35,7 pontos, devido às medidas adoptadas para travar a propagação do novo coronavírus, e que incluiu o encerramento de fábricas e estabelecimentos comerciais e ainda restrições na movimentação de centenas de milhões de pessoas.

O especialista em estatística GNE Zhao Qinghe disse em comunicado que “a procura continua a recuperar e o ciclo de oferta e procura está a melhorar gradualmente”.

No entanto, observou que “algumas (pequenas) empresas no centro do país, incluindo no município de Chongqing e na província de Sichuan, e em outros lugares, relataram que, devido ao impacto de fortes chuvas e inundações, o fornecimento de matérias-primas atrasou-se e as encomendas e a produção caíram”.

Segundo analistas da consultora britânica Capital Economics, os dados de Agosto mostram “um sector de serviços mais forte, que compensou a pequena perda de ímpeto nos sectores manufactureiro e da construção”. “Uma recuperação liderada pelo investimento vai acabar por incentivar o consumo e os gastos das famílias, colocando assim a recuperação económica no caminho certo”, lê-se na mesma nota.

Vigor na carteira

Outro sinal positivo é a recuperação do consumo, principalmente tendo em conta os alertas de economistas para a forte dependência de gastos públicos, nomeadamente em projectos de infra-estruturas. O mesmo aconteceu com o investimento estrangeiro, em particular vindo dos Estados Unidos, apesar do contexto de guerra comercial. Na primeira metade do ano, o investimento norte-americano na China cresceu 6 por cento, de acordo com dados oficiais.

Louis Kuijs, economista da Oxford Economics, citado pela CNN Business, destacou que “apesar das tensões entre China e Estados Unidos se terem agravado, muitas multinacionais predominantemente norte-americanas escolheram relacionar-se com a China”. O economista sublinha em especial a importância das barreiras levantadas por Pequim para investir no sector financeiro.

Porém, nem todas as carteiras estão recheadas e quem já era mais desfavorecido antes da pandemia foi quem mais sofreu com a influência económica da covid-19.

De acordo com dados do Governo Central, o salário médio dos trabalhadores rurais ou migrantes caiu quando 7 por cento no secundo trimestre do ano. Centenas de milhões de pessoas estão nesta categoria, que tipicamente inclui trabalhadores da construção civil e operários fabris.

O maior impacto económico provocado pela pandemia foi sentido pelos agregados familiares que auferem menos de 7.350 dólares por ano.

“Isto sugere que a recente recuperação do consumo foi conquistada pelas classes mais ricas”, descreveu a Fitch Ratings.

Nós somos o mundo

Na semana passada, o Banco Mundial apelou aos países mais desenvolvidos, incluindo a China, para cancelarem as dívidas de países pobres e serem activos na ajuda contra os efeitos da pandemia.

O presidente do Banco Mundial, numa conferência online, acusou a China ser implacável na cobrança de dívidas e de não participar na iniciativa de suspensão de dívidas, em particular em países africanos.
Angola não foi exemplo, uma vez que no mês passado o Presidente Xi Jinping telefonou ao seu congénere João Lourenço a recordar o papel que o Export-Import Bank of China teve na candidatura a fundos de emergência financeira do Fundo Monetário Internacional e mostrou-se disponível para suspender dívida, de acordo os mecanismos do Banco Mundial.

13 Out 2020