Economia | Banco Mundial prevê crescimento chinês, em contraciclo global

O Banco Mundial perspectiva o crescimento de 1,6 por cento do PIB chinês este ano, número que contrasta com a recessão global provocada pela contracção de 5,2 do PIB mundial. O resultado coloca Pequim na singular posição de ser a única potência a crescer. Nesse contexto, o Banco Mundial apelou ao perdão da dívida a países pobres e fortemente afectados pela pandemia

 

[dropcap]E[/dropcap]nquanto a economia global está ligada ao ventilador, paralisada pelo bloqueio imposto pela pandemia da covid-19, o Produto Interno Bruto chinês poderá crescer este ano a um ritmo de 1,6 por cento. Esta é a estimativa do Banco Mundial, que quantifica a hecatombe da economia global no recuo de 5,2 por cento do PIB global.

O organismo presidido por David Malpass destaca entre as razões para a boa performance chinesa, no contexto global de paralisia, a resposta rápida à pandemia, incluindo a imposição apertada de confinamento e medidas de controlo e despistagem de contactos de pessoas possivelmente infectadas.

Além das medidas de saúde pública, Pequim alocou centenas de milhões de de dólares em projectos de infra-estruturas, assim como subsídios individuais para estimular o consumo.

Os resultados foram visíveis durante a Semana Dourada, com o sector do turismo a dar sinais de vida e o aumento do consumo a fazer-se sentir.

Segundo números avançados pela CNN Business, a economia chinesa pode passar a valer 14,6 biliões de dólares até ao final de 2020, o que equivale a cerca de 17,5 por cento do PIB mundial.

Boom dourado

Os sinais positivos na economia chinesa foram evidentes durante a Semana Dourada, quando foram registados resultados ligeiramente abaixo dos de 2019, o que ainda assim foi visto pelos analistas do Banco Mundial como boas notícias.

Mais de 630 milhões de pessoas viajaram pela China durante a Semana Dourada, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Cultura e Turismo. O volume de viagens atingiu quase 80 por cento das realizadas durante o mesmo período no ano passado.

No que diz respeito a gastos, durante a Semana Dourada os turistas desembolsaram cerca de 70 por cento do que gastaram no ano passado, atingindo 70 mil milhões de dólares.

Outro indicador da saúde económica durante a pandemia é a participação em actividades em grupo, como por exemplo, idas ao cinema. Durante o último período da Semana Dourada a venda de bilhetes de cinema ultrapassou os 580 milhões de dólares, um volume de negócio 12 por cento inferior ao registado no mesmo período de 2019.

O economista chefe do Macquarie Group, Larry Hu, categoriza os números da Semana Dourada como “encorajadores”. Citado pela CNN Business, o especialista afirma que todos os indicadores apontam para “o regresso do consumo à normalidade na China, em especial o consumo de serviços que está em franca recuperação”, acrescentando que os resultados podem ter sido influenciados pela procura contida durante muito tempo, e que agora conseguiu concretizar-se.

Fábricas a laborar

Antes da Semana Dourada, a economia chinesa já dava sinais de estar a ganhar dinamismo.
A actividade manufatureira da China subiu em Agosto, prolongando a tendência crescente pelo sexto mês consecutivo, depois da forte queda causada pelas medidas adoptadas para travar a pandemia da covid-19.

O índice mensal dos gestores de compras da China (PMI, na sigla em inglês), divulgado pelo Gabinete Nacional de Estatísticas, fixou-se nos 51 pontos, depois de se ter fixado nos 51,1 pontos, em Julho. O número é 0,1 pontos inferiores ao alcançado no mês anterior e um pouco menor do que o esperado pelos analistas, que previam 51,2 pontos para Agosto.

Neste índice, uma leitura acima dos 50 pontos indica crescimento da actividade do sector, enquanto uma leitura abaixo indica contração.

Os dados confirmam a recuperação do sector, depois de forte quebra em Fevereiro, quando o PMI registou 35,7 pontos, devido às medidas adoptadas para travar a propagação do novo coronavírus, e que incluiu o encerramento de fábricas e estabelecimentos comerciais e ainda restrições na movimentação de centenas de milhões de pessoas.

O especialista em estatística GNE Zhao Qinghe disse em comunicado que “a procura continua a recuperar e o ciclo de oferta e procura está a melhorar gradualmente”.

No entanto, observou que “algumas (pequenas) empresas no centro do país, incluindo no município de Chongqing e na província de Sichuan, e em outros lugares, relataram que, devido ao impacto de fortes chuvas e inundações, o fornecimento de matérias-primas atrasou-se e as encomendas e a produção caíram”.

Segundo analistas da consultora britânica Capital Economics, os dados de Agosto mostram “um sector de serviços mais forte, que compensou a pequena perda de ímpeto nos sectores manufactureiro e da construção”. “Uma recuperação liderada pelo investimento vai acabar por incentivar o consumo e os gastos das famílias, colocando assim a recuperação económica no caminho certo”, lê-se na mesma nota.

Vigor na carteira

Outro sinal positivo é a recuperação do consumo, principalmente tendo em conta os alertas de economistas para a forte dependência de gastos públicos, nomeadamente em projectos de infra-estruturas. O mesmo aconteceu com o investimento estrangeiro, em particular vindo dos Estados Unidos, apesar do contexto de guerra comercial. Na primeira metade do ano, o investimento norte-americano na China cresceu 6 por cento, de acordo com dados oficiais.

Louis Kuijs, economista da Oxford Economics, citado pela CNN Business, destacou que “apesar das tensões entre China e Estados Unidos se terem agravado, muitas multinacionais predominantemente norte-americanas escolheram relacionar-se com a China”. O economista sublinha em especial a importância das barreiras levantadas por Pequim para investir no sector financeiro.

Porém, nem todas as carteiras estão recheadas e quem já era mais desfavorecido antes da pandemia foi quem mais sofreu com a influência económica da covid-19.

De acordo com dados do Governo Central, o salário médio dos trabalhadores rurais ou migrantes caiu quando 7 por cento no secundo trimestre do ano. Centenas de milhões de pessoas estão nesta categoria, que tipicamente inclui trabalhadores da construção civil e operários fabris.

O maior impacto económico provocado pela pandemia foi sentido pelos agregados familiares que auferem menos de 7.350 dólares por ano.

“Isto sugere que a recente recuperação do consumo foi conquistada pelas classes mais ricas”, descreveu a Fitch Ratings.

Nós somos o mundo

Na semana passada, o Banco Mundial apelou aos países mais desenvolvidos, incluindo a China, para cancelarem as dívidas de países pobres e serem activos na ajuda contra os efeitos da pandemia.

O presidente do Banco Mundial, numa conferência online, acusou a China ser implacável na cobrança de dívidas e de não participar na iniciativa de suspensão de dívidas, em particular em países africanos.
Angola não foi exemplo, uma vez que no mês passado o Presidente Xi Jinping telefonou ao seu congénere João Lourenço a recordar o papel que o Export-Import Bank of China teve na candidatura a fundos de emergência financeira do Fundo Monetário Internacional e mostrou-se disponível para suspender dívida, de acordo os mecanismos do Banco Mundial.

13 Out 2020

Banco central | Limite diário de remessas para o continente aumenta

O banco central chinês anunciou ontem que vai aumentar o valor máximo da remessa diária por parte de residentes de Macau, para contas pessoais na China, de 50.000 yuan para 80.000 yuan. A Autoridade Monetária de Macau saudou a medida

 

[dropcap]É[/dropcap] oficial. O valor máximo das remessas diárias que um residente de Macau pode transferir para contas pessoais no Interior da China aumentou de 50 mil yuan para 80 mil yuan. Em comunicado, o Banco do Povo Chinês disse que a medida visa “atender melhor à necessidade dos residentes de Macau de ter liquidez em yuan ” e “tornar mais conveniente o comércio e outras trocas entre o continente e Macau”.

Na mesma nota, o banco central assegurou que vai continuar a apoiar a economia, comércio e o investimento em Macau denominados em yuan.

O aumento do tecto diário para a transferência de capital aplica-se apenas num sentido, de Macau para o continente chinês. No sentido inverso, a China impõe um limite anual de transferências para o exterior equivalente a 50.000 dólares.

O levantamento de dinheiro no estrangeiro por parte de titulares de cartões bancários emitidos na China está também limitado a 100 mil yuan por pessoa e por ano, independentemente do número de cartões e de contas.

Reacções esperadas

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) saudou as medidas anunciadas pelo banco central chinês. Em comunicado, a AMCM “entende que as mesmas podem apoiar o desenvolvimento das operações em yuan em Macau”.

Por outro lado, destacou que ficam criadas “condições sólidas e necessárias que permitem o estabelecimento da conexão e articulação entre os mercados financeiros localizados na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.

Também no mercado bolsista a medida foi recebida de forma positiva, em especial pelos investidores nas acções das operadoras de resorts integrados. Por exemplo, a cotação das acções da Las Vegas Sands valorizaram 1,11 por cento, quanto a Wynn Resorts registou uma subida de quase 4 por cento. Os investidores com acções da Melco Resorts no portfolio tiveram também um bom dia com as acções do grupo a valorizarem 3,79 por cento.

Em 2018, o comércio entre o continente e Macau atingiu 3,16 mil milhões de dólares, quatro vezes mais do que em 1999, o ano da transição, segundo dados do ministério chinês do Comércio. Os investimentos no continente oriundos de Macau atingiram os 1,28 mil milhões de dólares, no ano passado.

20 Dez 2019

Banco central | Limite diário de remessas para o continente aumenta

O banco central chinês anunciou ontem que vai aumentar o valor máximo da remessa diária por parte de residentes de Macau, para contas pessoais na China, de 50.000 yuan para 80.000 yuan. A Autoridade Monetária de Macau saudou a medida

 
[dropcap]É[/dropcap] oficial. O valor máximo das remessas diárias que um residente de Macau pode transferir para contas pessoais no Interior da China aumentou de 50 mil yuan para 80 mil yuan. Em comunicado, o Banco do Povo Chinês disse que a medida visa “atender melhor à necessidade dos residentes de Macau de ter liquidez em yuan ” e “tornar mais conveniente o comércio e outras trocas entre o continente e Macau”.
Na mesma nota, o banco central assegurou que vai continuar a apoiar a economia, comércio e o investimento em Macau denominados em yuan.
O aumento do tecto diário para a transferência de capital aplica-se apenas num sentido, de Macau para o continente chinês. No sentido inverso, a China impõe um limite anual de transferências para o exterior equivalente a 50.000 dólares.
O levantamento de dinheiro no estrangeiro por parte de titulares de cartões bancários emitidos na China está também limitado a 100 mil yuan por pessoa e por ano, independentemente do número de cartões e de contas.

Reacções esperadas

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) saudou as medidas anunciadas pelo banco central chinês. Em comunicado, a AMCM “entende que as mesmas podem apoiar o desenvolvimento das operações em yuan em Macau”.
Por outro lado, destacou que ficam criadas “condições sólidas e necessárias que permitem o estabelecimento da conexão e articulação entre os mercados financeiros localizados na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.
Também no mercado bolsista a medida foi recebida de forma positiva, em especial pelos investidores nas acções das operadoras de resorts integrados. Por exemplo, a cotação das acções da Las Vegas Sands valorizaram 1,11 por cento, quanto a Wynn Resorts registou uma subida de quase 4 por cento. Os investidores com acções da Melco Resorts no portfolio tiveram também um bom dia com as acções do grupo a valorizarem 3,79 por cento.
Em 2018, o comércio entre o continente e Macau atingiu 3,16 mil milhões de dólares, quatro vezes mais do que em 1999, o ano da transição, segundo dados do ministério chinês do Comércio. Os investimentos no continente oriundos de Macau atingiram os 1,28 mil milhões de dólares, no ano passado.

20 Dez 2019

Crime | Detido por burla de 2 milhões de yuan

[dropcap]U[/dropcap]m gerente de uma empresa de engenharia de Macau, de apelido Kou e com 58 anos, foi detido na passada quinta-feira por alegadamente ter burlado um comerciante do Continente no valor de 2,248 milhões de renminbis. Em causa está uma transacção de mil toneladas de aço em Julho de 2015.

Segundo a versão das autoridades, o detido alegou que queria comprar mil toneladas em aço para as obras de construção de um hotel no Cotai no valor de 2,248 milhões yuan. Logo no início pagou 300 mil patacas como caução e fechou um acordo para enviar o material para um lugar de Zhuhai, entre Julho e Agosto, que depois ser transferido para Macau. No entanto, após o envio, a vítima não recebeu o resto do dinheiro, e perdeu o contacto com o suspeito. Após ter apresentado queixa junto das entidades do Interior, apurou-se que Kou não só não tinha pago o que faltava, como também não tinha enviado os materiais para Macau. Em vez disso, vendeu os materiais por 1,7 milhões de renminbis.

No âmbito da investigação foi pedido auxílio às autoridades da RAEM que apuraram que o homem tinha recebido o dinheiro da venda e assim o caso foi reencaminhado para o Ministério Público. Kou enfrenta a acusação da prática do crime de valor consideravelmente elevado.

19 Set 2019

Crime | Detido por burla de 2 milhões de yuan

[dropcap]U[/dropcap]m gerente de uma empresa de engenharia de Macau, de apelido Kou e com 58 anos, foi detido na passada quinta-feira por alegadamente ter burlado um comerciante do Continente no valor de 2,248 milhões de renminbis. Em causa está uma transacção de mil toneladas de aço em Julho de 2015.
Segundo a versão das autoridades, o detido alegou que queria comprar mil toneladas em aço para as obras de construção de um hotel no Cotai no valor de 2,248 milhões yuan. Logo no início pagou 300 mil patacas como caução e fechou um acordo para enviar o material para um lugar de Zhuhai, entre Julho e Agosto, que depois ser transferido para Macau. No entanto, após o envio, a vítima não recebeu o resto do dinheiro, e perdeu o contacto com o suspeito. Após ter apresentado queixa junto das entidades do Interior, apurou-se que Kou não só não tinha pago o que faltava, como também não tinha enviado os materiais para Macau. Em vez disso, vendeu os materiais por 1,7 milhões de renminbis.
No âmbito da investigação foi pedido auxílio às autoridades da RAEM que apuraram que o homem tinha recebido o dinheiro da venda e assim o caso foi reencaminhado para o Ministério Público. Kou enfrenta a acusação da prática do crime de valor consideravelmente elevado.

19 Set 2019

Yuan | Moeda cai para nível mais baixo desde 2008 em relação ao dólar

[dropcap]A[/dropcap] moeda chinesa desvalorizou-se ontem para o nível mais baixo face ao dólar norte-americano desde 2008, numa altura em que a guerra comercial com os Estados Unidos se agrava, afectando também as praças financeiras chinesas.

A meio do dia de ontem na China, um dólar norte-americano valia 7,15 yuan no mercado interno – o valor mais baixo da moeda chinesa em 11 anos. Nos mercados internacionais, que inclui Hong Kong, o valor do yuan face ao dólar fixou-se nos 7.1355.

O yuan não é inteiramente convertível, sendo que o seu valor face a um pacote de moedas internacionais pode variar até 2 por cento por dia.

No início do mês, as praças financeiras em todo o mundo registaram fortes perdas depois de Pequim permitir que o yuan caísse para o valor mais baixo em onze anos, em relação ao dólar, no que foi interpretado como uma retaliação pelo anúncio de novas taxas alfandegárias sobre importações oriundas da China pelos Estados Unidos.

Nas últimas semanas, o Banco do Povo Chinês (banco central) tem tentado estabilizar o valor do yuan, mas as disputas comerciais entre Pequim e Washington voltaram a agravar-se nos últimos dias.

Na sexta-feira, Pequim anunciou que vai impor novas taxas alfandegárias, de 5 por cento e 10 por cento, sobre 75 mil milhões de dólares de importações oriundas dos EUA, a partir de Setembro.

Trump anunciou que vai elevar as taxas de 25 por cento para 30 por cento, sobre 250 mil milhões de dólares de bens importados da China, e 15 por cento, sobre os restantes 350 mil milhões de dólares em produtos chineses.

As bolsas de Xangai e Shenzhen fecharam ontem a cair 1,17 por cento e 0,98 por cento, respectivamente. A bolsa de Hong Kong recuou 2,79 por cento.

Ao ataque

Os governos dos dois países disputam há mais de um ano uma guerra comercial, com ambos os lados a subirem as taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de bens importados um do outro.

No cerne das disputas está a política de Pequim para o sector tecnológico, que visa transformar as firmas estatais do país em importantes actores globais em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.

Os EUA consideraram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos da China em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.

27 Ago 2019

FMI garante que China interveio pouco na cotação do yuan

[dropcap]O[/dropcap] Fundo Monetário Internacional (FMI) garantiu sábado que o Banco do Povo Chinês (banco central) realizou “poucas intervenções” sobre o câmbio do yuan face a divisas estrangeiras nos últimos anos.

Num relatório sobre a economia chinesa no último ano, o organismo citou como exemplo que, após a desvalorização do renminbi, registada entre Junho e Agosto de 2018, a divisa chinesa manteve-se “geralmente estável” frente às principais moedas internacionais.

O documento foi divulgado na mesma semana em que o yuan ultrapassou, pela primeira vez desde 2008, a barreira psicológica das sete unidades por dólar norte-americano, com alguns especialistas a consideraram que o banco central chinês permitiu deliberadamente esta desvalorização em resposta ao anúncio do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de novas taxas alfandegárias de 10 por cento sobre 300 mil milhões de dólares de importações chinesas, a partir de 1 de Setembro.

A perda de valor do yuan levou o Departamento do Tesouro norte-americano a designar oficialmente a China como país “manipulador de divisa”, algo em que Trump insistia há anos.

E, embora o relatório do FMI se refira a 31 de Julho último, as conclusões são que a taxa de câmbio real efectiva cumpre as regras básicas.

No entanto, no documento sublinhou-se que a China devia ser mais transparente ao explicar os movimentos do yuan e permitir uma maior flexibilidade na taxa de câmbio.

12 Ago 2019

Guerra Comercial | Desvalorização do yuan agudiza relação com Washington

As tensões económicas entre Washington e Pequim conheceram um novo capítulo com a desvalorização do yuan abaixo da barreira psicológica da paridade de 7 yuan para 1 dólar, pela primeira vez em dez anos. Enquanto Trump apelida a medida dura de Xi como mais um exemplo de manipulação cambial, as perspectivas de continuação da desvalorização cambial mantêm-se. Em Portugal, não se teme impacto nos Panda Bonds. Por cá, o presidente da Associação de Bancos de Macau prevê quebras no consumo dos turistas

 

Com agências 

[dropcap]S[/dropcap]em vencedores à vista, a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China continua a aprofundar-se. Depois do anúncio da desvalorização da moeda chinesa abaixo da barreira psicológica da paridade de sete yuans para um dólar, o Presidente norte-americano, Donald Trump, voltou ao Twitter para apelidar, novamente, a China de manipulador cambial.

A resposta dura de Xi depois de Trump ter proclamado novas taxas alfandegárias sobre as importações chinesas a partir de 1 de Setembro tem provocado ondas de choque um pouco por todo o mundo. Além disso, a medida do Banco Popular da China promete não trazer novidades nas relações económicas entre as duas maiores potências económicas mundiais e, talvez, provocar ainda mais a ira da Casa Branca. A desvalorização da moeda tem como objectivo ajudar as fábricas chinesas a contornarem o aumento dos custos trazidos pela imposição de novas tarifas na venda de produtos para os Estados Unidos.

Neste contexto, o Banco Popular da China definiu ontem o valor de abertura do yuan em 7,0039 para o dólar norte-americano – a primeira vez, desde 2008, que o nível de abertura se fixou de sete yuan para um dólar.

Mas, a meio da tarde, o yuan estava a ser negociado a 7,0435, ligeiramente acima do valor de quarta-feira. O yuan não é inteiramente convertível, sendo que o seu valor face a um pacote de moedas internacionais pode variar até 2 por cento diariamente.

Face às circunstâncias, é expectável que o banco central chinês volte a desvalorizar a moeda, talvez para 7,5 a 8 yuan para 1 dólar, de forma a neutralizar o impacto das tarifas impostas por Washington. A acção pode levar os bancos centrais da região do Pacífico Asiático a baixar as taxas de juro. Aliás, na quarta-feira, três bancos centrais, Tailândia, Nova Zelândia e Índia, já baixaram as taxas de juro, uma tomada de posição defensiva que tenta incentivar as economias locais face às ameaças que a guerra comercial representa para a economia mundial.

Mano a mano

Face às hostilidades económicas, não é surpresa que o comércio entre China e Estados Unidos tenha voltado a contrair em Julho, segundo dados oficiais ontem divulgados. Além da intensificação da guerra comercial entre Pequim e Washington, a possibilidade de acordo parece cada vez mais difícil, principalmente durante este ciclo político de Washington.

Os dados das alfândegas chinesas revelam que as importações de bens oriundos dos EUA caíram 19 por cento, em relação ao mesmo mês do ano anterior. Enquanto as exportações chinesas para os Estados Unidos caíram 6,5 por cento.

No total, as trocas comerciais da China com o exterior registaram um crescimento homólogo de 5,7 por cento, em Julho, fixando-se em 2,74 mil milhões de yuans. As exportações subiram 10,3 por cento, enquanto as importações aumentaram 0,4 por cento.

O excedente comercial fixou-se assim nos 310.260 milhões de yuans, um aumento de 75,3 por cento, em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Entre Janeiro e Julho, o comércio externo da China atingiu os 17,4 mil milhões de yuan, com melhor desempenho das exportações – avançou 6,7 por cento – do que as importações, que subiram 1,3 por cento. O excedente comercial chinês, no conjunto dos primeiros sete meses de 2019, é de 1,5 mil milhões de yuan, mais 44,5 por cento do que no mesmo período de 2018.

Panda tranquilo

A desvalorização da moeda chinesa, que se tem verificado nos últimos dias, não terá impacto nas ‘Panda Bonds’ que Portugal emitiu em Maio deste ano, graças à cobertura de risco cambial, segundo o IGCP.

Em resposta à Lusa, o Coordenador do Núcleo de Emissões e Mercados da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), Tiago Tavares, salientou que, “relativamente à desvalorização ou valorização da moeda chinesa, importa salientar que o IGCP efectuou a cobertura total do risco cambial associado à primeira emissão de ‘Panda Bonds’”.

Em Maio, Portugal colocou dois mil milhões de yuans em ‘Panda Bonds’ a três anos com juros anuais de 4,09 por cento, anunciou em comunicado o Tesouro português.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, afirmou depois, em Junho, que a taxa da emissão de dívida em moeda chinesa foi de 0,62 por cento a três anos após aplicada a cobertura de risco.

De acordo com Filipe Garcia, presidente da consultora IMF, as flutuações cambiais chinesas não alteram as condições, quer do reembolso dos cupões quer do montante final da operação, por estarem “acauteladas pela cobertura da taxa de câmbio”. O economista disse, em declarações à Lusa, que mesmo que não houvesse cobertura de câmbio “era bom [para Portugal] que a moeda caísse”.

Novas emissões

David Silva, analista da corretora Infinox, detalha esta questão à Lusa, referindo que “Portugal colocou dois mil milhões de yuan, o que equivalia a cerca de 260 milhões de euros ao câmbio no momento da emissão, pelo que, neste momento, o Estado necessitaria de um valor inferior a 260 milhões para ressarcir os seus credores”.

Tiago Tavares, questionado sobre planos para novas emissões, disse ainda que “o programa aprovado pelas autoridades chinesas expira daqui a dois anos e o montante do programa ascende a cinco mil milhões de yuans, cuja primeira emissão foi de dois mil milhões, não estando prevista qualquer calendarização para uma nova emissão”, garantiu.

Por sua vez, David Silva estima que, tendo em conta que “a China utilizou a desvalorização da sua moeda para fazer face ao novo ataque por parte dos Estados Unidos, o yuan poderá continuar a perder algum valor propositadamente por mais algum tempo”.

Para o especialista, “o principal ponto passará por perceber quanto custará novamente esta operação, uma vez que o actual ‘rating’ de Portugal e a procura verificada na primeira emissão levam a crer que os investidores chineses iriam voltar a aderir em grande número a nova emissão”.

Para Filipe Garcia, esta questão sempre esteve mais relacionada “com o interesse político do que financeiro. Porque já, na altura [da primeira operação] era mais barato Portugal emitir em euros”.

Segundo um comunicado divulgado no ‘site’ do IGCP, em Maio, a procura dos investidores pelos títulos “foi forte”, 3,165 vezes o montante colocado, tendo permitido rever em baixa a taxa de juro para 4,09 por cento.

Mário Centeno reconheceu em Junho que os 0,62 por cento (taxa da emissão) correspondem a “um esforço muito grande da República Portuguesa”, sublinhando que “o prémio que está a ser pago é exactamente” aquele, “para diversificar as suas fontes de financiamento”.

Mário Centeno admitiu que “se calhar [a decisão] é hoje mais questionável do ponto de vista estritamente financeiro do que quando foi tomada”, porque se trata de “um processo muito longo” e actualmente as taxas dos títulos de dívida de Portugal estão muito mais baixas no mercado.

Bolsas e petróleo

A batalha na balança comercial entre Pequim e Washington fez também baixas nas bolsas mundiais, levando o preço do petróleo por arrasto. Ainda assim, nem só de crude e acções vive a economia. A desvalorização do yuan e a arma de arremesso económico preferida de Trump, o aumento de tarifas, não afectou os juros das dívidas, o valor do ouro e as chamadas moedas de refúgio, incluindo as virtuais.

Porém, nos mercados accionistas, o sangue correu quente com quedas acentuadas um pouco por todo o mundo.

As bolsas asiáticas caíram para mínimos de um mês e Wall Street registou perdas na ordem dos dois por cento. Na Europa, o panorama não foi melhor, com o Stoxx 600, o índice pan-europeu, a recuar para mínimos de dois meses para 2,2 por cento. O DAX germânico perdeu 1,7 ponto, o CAC francês perdeu 2,2 por cento, o FTSE MIB italiano recusou 1,3 por cento, o espanhol IBEX perdeu 1,4 por cento e o FTSE 100 britânico caiu 2,5 por cento. Seguindo a tendência, também o PSI-20 português perdeu 1,07 por cento.

Além das obrigações soberanas, o ouro acentuou os ganhos que já registava há várias semanas, batendo recordes uma vez que desde Abril de 2013 não valia tanto. Nos refúgios cambiais, o franco suíço e o iene japonês acompanharam os ganhos, enquanto nas criptomoedas, a bitcoin disparou mais de 8 por cento para 11.770 dólares.

9 Ago 2019

Portugal diz que desvalorização da moeda chinesa não tem impacto nos Panda Bonds

[dropcap]A[/dropcap] desvalorização da moeda chinesa, que se tem verificado nos últimos dias, não terá impacto nas ‘Panda Bonds’ que Portugal emitiu em Maio deste ano, graças à cobertura de risco cambial, segundo o IGCP.

Em resposta à Lusa, o Coordenador do Núcleo de Emissões e Mercados da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), Tiago Tavares, salientou que, “relativamente à desvalorização ou valorização da moeda chinesa, importa salientar que o IGCP efectuou a cobertura total do risco cambial associado à primeira emissão de ‘Panda Bonds’”.

Em Maio, Portugal colocou dois mil milhões de renmimbi em ‘Panda Bonds’ a três anos com juros anuais de 4,09%, anunciou em comunicado o Tesouro português.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, afirmou depois, em Junho, que a taxa da emissão de dívida em moeda chinesa foi de 0,62% a três anos após aplicada a cobertura de risco.

De acordo com Filipe Garcia, presidente da consultora IMF, as flutuações cambiais chinesas não alteram as condições, quer do reembolso dos cupões quer do montante final da operação, por estarem “acauteladas pela cobertura da taxa de câmbio”.

O economista disse, em declarações à Lusa, que mesmo que não houvesse cobertura de câmbio “era bom [para Portugal] que a moeda caísse”.

David Silva, analista da corretora Infinox, detalha esta questão à Lusa, referindo que “Portugal colocou dois mil milhões de renminbis, o que equivalia a cerca de 260 milhões de euros ao câmbio no momento da emissão, pelo que, neste momento, o Estado necessitaria de um valor inferior a 260 milhões para ressarcir os seus credores”.

Tiago Tavares, questionado sobre planos para novas emissões, disse ainda que “o programa aprovado pelas autoridades chinesas expira daqui a dois anos e o montante do programa ascende a RMB [renmimbi] cinco mil milhões, cuja primeira emissão foi de RMB dois mil milhões, não estando prevista qualquer calendarização para uma nova emissão”, garantiu.

Por sua vez, David Silva estima que, tendo em conta que “a China utilizou a desvalorização da sua moeda para fazer face ao novo ataque por parte dos Estados Unidos, o renmimbi poderá continuar a perder algum valor propositadamente por mais algum tempo”.

Para o especialista, “o principal ponto passará por perceber quanto custará novamente esta operação, uma vez que o actual ‘rating’ de Portugal e a procura verificada na primeira emissão levam a crer que os investidores chineses iriam voltar a aderir em grande número a nova emissão”.

Para Filipe Garcia, esta questão sempre esteve mais relacionada “com o interesse político do que financeiro. Porque já na altura [da primeira operação] era mais barato Portugal emitir em euros”.

Segundo um comunicado divulgado no ‘site’ do IGCP, em Maio, a procura dos investidores pelos títulos “foi forte”, 3,165 vezes o montante colocado, tendo permitido rever em baixa a taxa de juro para 4,09%.

Mário Centeno reconheceu em Junho que os 0,62% (taxa da emissão) correspondem a “um esforço muito grande da República Portuguesa”, sublinhando que “o prémio que está a ser pago é exactamente” aquele, “para diversificar as suas fontes de financiamento”.

Mário Centeno admitiu que “se calhar [a decisão] é hoje mais questionável do ponto de vista estritamente financeiro do que quando foi tomada”, porque se trata de “um processo muito longo” e actualmente as taxas dos títulos de dívida de Portugal estão muito mais baixas no mercado.

A moeda chinesa voltou ontem a desvalorizar-se face ao dólar norte-americano, depois de sinais de estabilização terem acalmado os mercados financeiros, que registaram quedas acentuadas na segunda-feira com a desvalorização abrupta do yuan. Um dólar norte-americano valeu ontem 7,0488 yuan, mais 0,4% do que na terça-feira.

8 Ago 2019

Reservas cambiais da China recuam 0,5% em Julho

[dropcap]A[/dropcap]s reservas cambiais da China, as maiores do mundo, caíram 0,5 por cento, em Julho, para 3,104 biliões de dólares, o valor mais baixo em seis anos, segundo dados oficiais ontem publicados.

A queda, de 15.537 milhões de dólares, em relação ao valor de Junho, deveu-se ao facto de as principais moedas caírem, em relação ao dólar norte-americano, devido às incertezas nos mercados financeiros internacionais, explicou a porta-voz e economista-chefe da Administração Estatal de Divisas, Wang Chunying.

Wang destacou questões “geopolíticas”, incluindo alterações no comércio global – uma referência à guerra comercial entre Pequim e Washington -, a política monetária do banco central chinês ou as perspectivas de ‘brexit’ (saída do Reino Unido da União Europeia).

A porta-voz salientou, no entanto, que as reservas chinesas somaram 310 biliões de dólares este ano, um acréscimo de 1 por cento.

Wang salientou que, num futuro próximo, a situação política e económica internacional continuará a ser “complicada e grave”, devido ao maior proteccionismo e populismo, bem como à volatilidade dos mercados financeiros e à pressão negativa sobre o crescimento em todo o mundo.

Os governos da China e dos Estados Unidos impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de bens importados um do outro, numa guerra comercial que espoletou desde o Verão passado.

8 Ago 2019

Yuan desvaloriza e ultrapassa ‘barreira psicológica’ de 7 para 1 face ao dólar

[dropcap]A[/dropcap]s taxas de câmbio do yuan chinês face ao dólar norte-americano quebraram hoje a ‘barreira psicológica’ de 7 para 1, após o anúncio do Presidente dos Estados Unidos de impor novas tarifas aos produtos importados da China.

De acordo com o portal de notícias financeiras chinês Yicai, cada dólar foi trocado por 7,0258 yuans, de acordo com a taxa “onshore” – aquela operada nos mercados locais, a cotação mais alta desde Abril de 2008.

Quando a taxa “onshore” cresce é um sinal de que o renminbi está a enfraquecer, já que é mais caro para os detentores de yuan comprar dólares. Enquanto isso, a taxa “offshore” – a que é operada em mercados internacionais como o de Hong Kong – subiu 1,38% e ficou em 7,0683 yuans por dólar norte-americano.

Foi a primeira vez que o yuan subiu acima de 7 em relação ao dólar, considerado por muitos analistas uma ‘barreira psicológica’ para os investidores, desde que o mercado ‘offshore’ foi aberto em Hong Kong em 2010.

Um porta-voz do Banco Popular da China disse, citado pelo mesmo portal, que a depreciação do yuan é justificada por “medidas unilaterais e proteccionismo comercial”, bem como “a imposição de aumento de tarifas contra a China”, numa clara referência ao último episódio da guerra comercial que Pequim e Washington mantêm desde Março de 2018.

Na quinta-feira, o Presidente norte-americano Donald Trump anunciou a imposição de novas tarifas de 10% sobre produtos chineses avaliados em 300 mil milhões de dólares até 1 de Setembro. O Ministério do Comércio da China respondeu que ia retaliar, sem adiantar pormenores.

Uma das principais queixas do Governo dos EUA no contexto do conflito comercial é de que Pequim manipula a moeda para evitar a valorização e, consequentemente, as exportações percam competitividade.

Um yuan mais fraco significa que os produtos chineses são mais baratos, o que pode ajudar a conter o efeito negativo das novas tarifas dos EUA sobre a competitividade da economia de Pequim.

Contudo, o Banco Popular da China indicou já que as flutuações do renminbi são ajustadas ao mercado, mas que a moeda chinesa “permanece estável e forte”, garantindo ter “experiência, confiança e capacidade” para manter a estabilidade a um “nível apropriado” das taxas de câmbio no país. Além disso, o banco central anunciou “mão dura” contra a especulação de curto prazo.

5 Ago 2019

Emissão de dívida chinesa em Macau é “inteligente” mas requer responsabilidade

No próximo dia 4 de Julho vão ser emitidos títulos de dívida do Estado chinês em Macau no valor de dois mil milhões de renminbi. O economista Albano Martins considera tratar-se de uma alternativa segura de investimento para empresas e residentes, se o Governo Central mantiver a estabilidade da moeda

 
[dropcap]N[/dropcap]o próximo dia 4 de Julho, vão ser emitidos em Macau títulos de dívida do Estado chinês no valor de 2 mil milhões de renminbi. A iniciativa parte do Governo Central que desta forma dá mais um passo para a internacionalização da moeda enquanto recolhe dividendos, o que para o economista Albano Martins é uma “medida inteligente”. “O Governo Central está a tentar obter fundos através de Macau, porque sabe que Macau é uma zona onde há excedentes”, justificou o economista ao HM.

De acordo com o comunicado emitido ontem pelo Gabinete do Porta-voz do Governo, a medida permite “maior desenvolvimento das actividades financeiras com características próprias, bem como a promoção da diversificação adequada da economia de Macau”. A este respeito, Albano Martins considera antes que é mais uma alternativa dentro do mercado de investimento local.

“Não se pode dizer que seja uma diversificação da economia, mas uma alternativa de financiamento numa altura em que as taxas de juro são relativamente baixas”, como tal, “é um aliciante para quem quer colocar as suas poupanças no Estado chinês, porque dá garantias de cumprir as suas obrigações em relação aos pagamentos à data de vencimento”.

Por outro lado, para Albano Martins o valor de dois mil milhões de renminbi não é “nada de especial”, mas o mais importante, acrescentou, é que “o mercado de Macau passa a ter uma nova forma de aplicação dos seus dinheiros que não são apenas os depósitos bancários, o investimento imobiliário ou o investimento noutro tipo de activos reais”. O argumento do economista é também defendido oficialmente: “A emissão de títulos em renminbi fortalecerá ainda a cooperação financeira entre a China interior e Macau, fornecendo, aos investidores, maiores escolhas de investimentos seguros e prudentes”, lê-se na nota do Gabinete.

Mais responsabilidades

Inegável, é o passo para a internacionalização da moeda chinesa através da emissão de dívida pública em Macau, que traz consigo também novas responsabilidades para o Governo Central, nomeadamente no que toca a garantias para a estabilização da moeda, condição fundamental para não desiludir os investidores. “É um activo em renminbi, mas é preciso que haja alguma garantia para que no final deste percurso, ou seja, no final do vencimento, a moeda não valha menos, porque caso contrário é uma aposta que vai criar muitos danos colaterais a quem for investidor”, disse o economista.

Neste sentido, “quando se quer internacionalizar uma moeda o mais importante é a estabilidade da própria moeda”. Em causa está o facto de o renminbi ser uma moeda controlada administrativamente pelo Governo Central, não tendo uma cotação livre no mercado, “como têm as outras que também estão sujeitas a especulação, claro, mas e quando isso acontece os bancos centrais são chamados a colocar a situação na ordem, sendo que o que conta é o jogo entre a oferta e a procura”.

Apesar do renminbi ainda não estar de acordo com as normas dos mercados internacionais, pode apresentar garantias dependendo isso do próprio Governo Central. “Tudo bem desde que não faça esse controlo de forma a que venha a provocar lesões gravíssimas em quem investir na sua moeda”, disse.

Para o efeito, a China “tem de ter uma consciência mais refinada em termos de economia de mercado e não pode manipular as taxas de câmbio apenas porque quer exportar mais ou porque quer fazer com que a sua economia seja mais competitiva”.

No caminho da internacionalização da moeda, a China “pode e deve ser uma alternativa aos Estados Unidos da América, ou pelo menos ser mais uma alternativa ao euro e ao dólar americano, mas é preciso cumprir regras e uma das regras é garantir a estabilidade da evolução da taxa de cambio da sua própria moeda”, reforçou.

Já para o deputado Ip Sio Kai, com ligações à banca, o renminbi é uma moeda “mais razoável” para os investimentos no mercado internacional o que vai atrair a participação do investimento no mercado de títulos por parte dos residentes. Por outro lado, o deputado considera que se trata de uma iniciativa capaz de “ajudar muito nas negociações com os países de língua portuguesa”.

26 Jun 2019

Portugal realizou primeira emissão de dívida em moeda chinesa

Portugal começou ontem a emitir dívida no valor de dois mil milhões de renmimbis. A operação, intitulada “Obrigações Panda”, deverá implicar nova venda de dívida, com o mesmo montante, em 2020. Economistas falam numa tentativa da China de internacionalização da sua moeda

 

[dropcap]A[/dropcap] operação tem o nome do mais famoso animal chinês e é inédita para um país europeu. Portugal fez ontem uma emissão de dívida em moeda chinesa no valor de dois mil milhões de renmimbi (260 milhões de euros), com uma maturidade a três anos.

As “Obrigações Panda” (Panda Bonds) prevêem, de acordo com o jornal Expresso, que em 2020 se fará nova emissão de dívida com o mesmo valor. Ainda assim, esta operação representa um pequeno montante, tendo em conta que a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) vai emitir, este ano, obrigações no valor de quase 16 mil milhões de euros, a maioria na moeda europeia.

Com esta colocação, Portugal será o primeiro país da zona euro a emitir dívida em renmimbi. Na semana passada, quando confirmou a realização da operação, o secretário de Estado das Finanças afirmou que “o ‘pricing’ só será fechado no dia da operação, mas antecipa-se que seja superior ao equivalente em euros”. Ricardo Mourinho Félix adiantou que “é o custo de entrada num novo mercado”.

Também a presidente da IGCP, Cristina Casalinho, já disse que a emissão de ‘Panda Bonds’ surgiu como “uma oportunidade” para Portugal continuar a alargar a base de investidores.

“Hoje em dia dependemos crucialmente da base de investidores que temos e o que sabemos é que investidores que compram por exemplo em dívida alemã não investem em dívidas com níveis de risco mais elevado. Se a China pode surgir como uma alternativa de continuar no esforço de alargamento da base de investidores, é importante”, afirmou ainda a presidente do IGCP quando, na semana passada foi questionada sobre a operação.

Na ocasião, a presidente do IGCP disse que a operação demorou dois anos a ser negociada e que acredita que, apesar de ter uma taxa de juro associada “significativamente” mais elevada, compensará no longo prazo.

Entretanto, Mário Centeno, ministro português das Finanças, declarou ao canal de televisão CNBC que a colocação das “Obrigações Panda” a três anos em renminbis é “um passo positivo na gestão da dívida externa portuguesa no médio prazo”, disse.

Segundo a Global Capital, esta operação no mercado obrigacionista interbancário chinês dirige-se a investidores institucionais tanto a nível onshore como offshore, incluindo o uso da plataforma Bond Connect, lançada em 2017, que permite a investidores adquirirem obrigações tanto no mercado da China como de Hong Kong.

Por cá, Lionel Leung congratulou-se com a iniciativa lusa incentivando o reforço do papel de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa seja reforçado.

“Fui, ainda, informado que Portugal será o primeiro país da zona Euro a concretizar a emissão de obrigações Panda denominadas em RMB no Interior da China. Esta circunstância, além de nos encorajar a continuar a envidar os maiores esforços nos nossos trabalhos, fomentando o papel de Macau enquanto plataforma de prestação de serviços entre a China e os países de língua portuguesa é também, bastante significativa”, disse o secretário para a Economia e Finanças durante a conferência sobre a promoção da cooperação entre instituições bancárias de Macau e dos países de língua portuguesa, que decorreu ontem na RAEM.

Em prol da internacionalização

Para o economista Albano Martins, ao permitir que Portugal faça emissão de dívida na sua moeda é mais um passo para a internacionalização do renmimbi.

“À China interessa que isto aconteça porque faz circular moeda chinesa e fá-la tornar-se mais global. O renmimbi é uma moeda que está em constante depreciação”, defendeu ao HM.

Esta quarta-feira foi divulgado um relatório por parte do Departamento do Tesouro norte-americano que pede à China que evite a contínua desvalorização da sua moeda, mantendo o gigante asiático na lista de economias que merecem atenção por más práticas de câmbio.

O Tesouro norte-americano apontou que continua a ter “preocupações significativas” sobre as práticas monetárias chinesas, particularmente à luz do “desalinhamento e desvalorização ” do renminbi (nome oficial do yuan, a moeda nacional chinesa) em relação ao dólar.

“A China deve fazer um esforço conjunto para melhorar a transparência das suas operações e taxas de câmbio”, lê-se no documento. A moeda chinesa desvalorizou 8 por cento em relação ao dólar, no ano passado, representando um superavit comercial bilateral “extremamente grande e crescente” que, segundo o documento, cifrou-se 419.000 milhões de dólares em 2018.
José Morgado, economista, falou ao HM precisamente dos riscos cambiais para o Euro com a emissão de dívida em renmimbis. Tais operações “acarretam sempre um risco quando os países não têm resultados na moeda em que se endividam”.

“Quando Portugal tem financiamento numa moeda diferente, a questão que se põe é se, na altura do financiamento, tem receitas nessa moeda ou não. Se não tem, deve fazer a troca na moeda cambial e terá de comprar a moeda que necessita. Aí pode haver um risco, porque se a moeda que está a comprar for mais cara, pode ter um custo superior.”

Ainda assim, Morgado acredita que este é mais um passo dado pelo Governo Central em prol da internacionalização da sua moeda.

“Para que o renmimbi se internacionalize é necessário que haja mais negócios nessa moeda. A China, de modo a não estar dependente das moedas tradicionais e mais internacionais, como o dólar e o Euro, está cada vez mais a tentar fomentar os negócios na moeda chinesa.”

Tal “é importante em termos estratégicos para a economia chinesa, porque lhe dá uma posição geopolítica estratégica relativamente à moeda. Além disso, as empresas chinesas, que possuem negócios em renmimbis, não tem riscos cambiais associados por realizarem negócios noutras moedas”, acrescentou José Morgado.

Zona Euro “frágil”

Apesar de Portugal ser o único país da União Europeia (UE) a emitir dívida na moeda chinesa, cinco Estados-membros, nomeadamente a Alemanha, Bélgica, França, Irlanda e Itália colocaram, na semana passada, um total de 35 mil milhões de euros em títulos de médio e longo prazo através de leilões e operações organizadas por sindicatos bancários. Pagaram juros mais baixos em todas as emissões e registaram uma procura muito elevada nas operações sindicadas que chegou a mais de 70 mil milhões de euros.

O mercado pareceu funcionar apesar dos avisos feitos a semana passada pelo Banco Central Europeu (BCE), que disse que a economia da zona Euro está “frágil”, escreveu o Expresso.

Esta quarta-feira o Euro registou um valor mais baixo face ao dólar americano, numa altura em que se mantém a tensão entre Estados Unidos e China e os investidores procuram divisas consideradas refúgio, como o iene e o franco suíço. O Euro valia, no final da tarde de quarta-feira, 1,1134 dólares, abaixo dos 1,1165 a que negociava na terça-feira quase à mesma hora.

O conflito entre Estados Unidos e China, que começou com a imposição de novas taxas alfandegárias, agravou-se depois da recente decisão do Governo norte-americano de colocar o grupo chinês de telecomunicações Huawei numa ‘lista negra’, invocando argumentos de segurança nacional.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou no Japão que os Estados Unidos “não estão prontos” para concluir um acordo com a China, mas também disse que existem “muito boas hipóteses” de isso acontecer em breve.

30 Mai 2019

Banco central volta a injectar liquidez no mercado

[dropcap]O[/dropcap] Banco do Povo Chinês (banco central) injectou hoje 160 mil milhões de yuan no sistema financeiro do país, na primeira injecção de liquidez em mais de trinta dias, informou a agência noticiosa oficial Xinhua. O banco central da China efectuou aquela operação através de acordos de recompra (‘repos’), mecanismo que pressupõe a recompra posterior dos títulos vendidos dentro de um prazo estabelecido.

Os ‘repos’ têm um vencimento de sete dias e taxas de juros de 2,55%. A operação visa manter níveis suficientes de liquidez e compensar o impacto causado pela emissão de novos títulos governamentais, destaca a Xinhua, que cita o banco central chinês. Em declarações à agência, o economista Hua Changchun diz esperar que o banco central mantenha a liquidez nas próximas semanas, visando resistir a pressões económicas negativas e à escassez de liquidez de final do ano.

O banco central chinês tem optado cada vez mais por operações no mercado aberto na gestão da liquidez, ao invés de baixar as taxas de juros ou reduzir o coeficiente de reservas obrigatórias dos bancos.

18 Dez 2018

China gasta quase 32 mil milhões de dólares para segurar valor do yuan

[dropcap]A[/dropcap] China gastou quase 32 mil milhões de dólares das suas reservas cambiais para evitar a queda da moeda chinesa, em Outubro, a maior intervenção em quase dois anos, após o yuan recuar quase 10% desde Abril.

Dados oficiais hoje revelados pela Administração Estatal de Divisas revelam que as reservas cambiais da China, as maiores do mundo, caíram em Outubro, de 3,087 biliões de dólares para 3,053 biliões. Excluindo efeitos de valorização, os dados indicam um intervenção das autoridades de 32 mil milhões de dólares, para segurar o valor do yuan, a maior desde Janeiro de 2017.

Os números atenuam preocupações de que Pequim poderia recorrer a uma desvalorização cambial deliberada, visando estimular as exportações, numa altura de tensões comerciais com Washington. O presidente norte-americano, Donald Trump, impôs já taxas alfandegárias de até 25% sobre 250 mil milhões de dólares de importações oriundas da China.

A queda do yuan apoia os exportadores chineses face à subida das taxas alfandegárias nos EUA, ao reduzir o preço dos seus bens na moeda norte-americana, mas encoraja os investidores a tirar dinheiro da China, levando a um aumento nos custos de financiamento de outras indústrias domésticas.

Analistas consideram que as autoridades querem evitar que a cotação baixe para um dólar/sete yuan, considerada uma linha perigosa para a moeda chinesa. Na quarta-feira, 6,93 yuans valiam um dólar norte-americano, depois de, no final de Outubro, a cotação se ter fixado nos 6,9644, a mais baixa desde Maio de 2008.

Iris Pang, economista para a China no banco de investimento ING, em Singapura, considerou a queda das reservas cambais, em outubro, pequena, comparativamente à registada em 2015, quando caiu 70 mil milhões, por mês, em média, durante meio ano. “Não existe pânico de fuga de capital na China, apesar da cotação dólar/yuan estar perto de sete para um”, comentou, num relatório.

Contudo, a fuga de capital tem vindo a acelerar: dados da balança de pagamentos publicados na segunda-feira fixam a saída financeira líquida em 19 mil milhões de dólares, no terceiro trimestre do ano, o maior valor trimestral, desde o final de 2016.

As reservas cambiais da China atingiram o pico de 3,99 biliões de dólares, em Junho de 2014, mas nos dois anos e meio seguintes o banco central gastou quase um bilião de dólares para travar a queda da moeda chinesa, face a uma fuga de capitais privados recorde.

Desde o início de 2017 até meados deste ano, o banco central reduziu a sua intervenção, à medida que o aumento do controlo sobre o fluxo de capitais e indicadores económicos robustos reduziram a pressão sobre a moeda.

No entanto, nos últimos meses, a pressão voltou a aumentar devido a indicadores económicos menos fortes e um aumento das taxas de juro pela Reserva Federal norte-americana. No terceiro trimestre do ano, o crescimento da economia chinesa abrandou para 6,5%, em termos homólogos, o ritmo mais lento desde o primeiro trimestre de 2009.

O investimento em activos fixos, motor fundamental do crescimento, abrandou para 5,4%, nos primeiros nove meses do ano, face ao mesmo período do ano passado.

8 Nov 2018

Presidente do Banco Central chinês promete maior apoio ao sector privado

[dropcap]Y[/dropcap]i Gang, presidente do Banco Popular da China (BPC), prometeu na terça-feira uma série de políticas para ampliar os canais de financiamento para o sector privado. “Há muita água na ‘piscina monetária’, mas precisamos de injectar fundos para as empresas privadas com falta de dinheiro”, disse ele à Xinhua em uma entrevista, citando as políticas na emissão de títulos, empréstimos bancários e financiamento de capital.

O BPC acrescentou um novo índice na avaliação macroprudencial para os bancos comerciais e forneceu-lhes fundos de créditos baratos de longo prazo, a fim de incentivar mais empréstimos para as empresas privadas, disse Yi.

Este ano, o banco central aumentou as cotas de refinanciamento num recorde de 300 mil milhões de yuans, e diminuiu as taxas de juros de refinanciamento em 0,5 ponto percentual para os pequenos credores.
Além disso, a China decidiu apoiar a emissão de bónus pelas empresas privadas, com apoio de liquidez do banco central.

Yi disse que está a iniciar um plano piloto, sob o qual o primeiro lote de três empresas arrecadaram um total de 1,9 mil milhões de yuans com o seu bónus subscritos em grande excesso. “Outras 30 empresas privadas estão a preparar-se para a emissão de bónus.”

O BPC apoia também o financiamento de capitais pelas empresas privadas, disse o presidente do banco.
“O banco central fornece fundos iniciais e incentiva a participação das instituições financeiras e outros investidores,” apontou ele.

Yi enfatizou que, as dificuldades de financiamento para as empresas privadas, especialmente as pequenas e médias entidades, se tornaram um problema fortificado no mundo, e que a China desenvolverá mais esforços para resolver o “fracasso de mercado.”

Contas caseiras

A China manteve um ambiente de política monetária prudente e neutra e garantiu liquidez razoável e suficiente. A medida do BPC para rebaixar os depósitos compulsórios dos bancos libertou um valor líquido de 2,3 biliões de yuans para o mercado monetário este ano.

Até ao final de Setembro, os micro-empréstimos não liquidados fixaram-se em 7,73 biliões de yuans, um aumento de 18,1por cento em termos anuais. Os novos micro-empréstimos chegaram às 959,5 mil milhões de yuans nos primeiros três trimestres.

8 Nov 2018

Moeda chinesa recua face ao dólar dos EUA para valor mais baixo em dez anos

[dropcap]A[/dropcap] moeda chinesa caiu ontem para o nível mais baixo em dez anos face ao dólar norte-americano, aproximando-se da barreira de um dólar para sete yuan, numa altura de fricções comerciais com Washington. Ao meio dia de ontem, na China, 6,9644 yuans valiam um dólar norte-americano, a cotação mais baixa desde Maio de 2008.

Washington acusa Pequim de práticas de concorrência desleal, nomeadamente a desvalorização da moeda chinesa, como forma de estimular as exportações. O yuan não é inteiramente convertivel, sendo que a sua cotação pode variar, no máximo, dois por cento por dia face a um pacote de moedas internacionais.

Este mês, no entanto, o Departamento do Tesouro norte-americano recusou classificar a China como manipulador de moeda, mas afirmou que mantém o país sob vigia. As autoridades chinesas prometeram evitar a “desvalorização competitiva”, num período de disputas comerciais com os Estados Unidos em torno das ambições chinesas para o setor tecnológico.

O presidente norte-americano, Donald Trump, impôs já taxas alfandegárias de 25% sobre 250 mil milhões de dólares de importações oriundas da China.

A queda do yuan apoia os exportadores chineses face à subida das taxas alfandegárias nos EUA, ao reduzir o preço dos seus bens na moeda norte-americana, mas encoraja os investidores a tirar dinheiro da China, levando a um aumento nos custos de financiamento de outras indústrias domésticas.

O nível de um dólar para sete yuan pode reforçar a atenção dos EUA para com o valor da moeda chinesa. Um relatório publicado ontem pelo banco japonês Mizuho Bank prevê que as autoridades chinesas “permaneçam firmes” e previnam uma “capitulação para um nível inferior a sete dólares”.

Desde Abril, a moeda chinesa caiu quase 10%, face ao dólar norte-americano, à medida que os indicadores da economia chinesa abrandam e a Reserva Federal norte-americana aumenta as taxas de juro.

O Banco do Povo Chinês (banco central do país) pode comprar ou vender moeda – ou pedir aos bancos comerciais do país que o façam – controlando assim a oscilação do valor do yuan.

30 Out 2018

Economia | Pequim tenta travar especulação com yuan face a desvalorização

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] banco do povo chinês (banco central) anunciou que a partir de ontem os bancos terão de ter um depósito de 20 por cento para contratos de compra ou venda de yuan no futuro. A medida aumenta os custos de apostar na desvalorização do yuan, visando travar a negociação especulativa.
Na sexta-feira passada, a moeda chinesa chegou a cair 0,7 por cento, face ao dólar norte-americano, atingindo o valor mais baixo desde maio de 2017.
Desde o início de Fevereiro, o yuan caiu já cerca de 8 por cento face ao dólar. A queda apoia os exportadores chineses face à subidas das taxas alfandegárias nos EUA, ao reduzir o preço dos seus bens na moeda norte-americana, mas encoraja os investidores a tirar dinheiro da China, levando a um aumento nos custos de financiamento de outras indústrias domésticas.
As crescentes fricções comerciais com Washington sugerem que Pequim continuará a desvalorizar a sua moeda. Analistas afirmam que a desvalorização tem sido suscitada também pelo abrandamento do ritmo de crescimento da economia chinesa e as diferentes direcções das taxas de juro nos EUA e na China.
No mês passado, o Presidente norte-americano, Donald Trump, impôs taxas alfandegárias de 25 por cento sobre 34 mil milhões de dólares (mais de 29 mil milhões de euros) de importações oriundas da China, contra o que considera serem “tácticas predatórias” por parte de Pequim, que visam o desenvolvimento do seu sector tecnológico.
Pequim retaliou aquelas medidas, levando Trump a ameaçar penalizar mais 200 mil milhões de dólares (173 mil milhões euros) de produtos chineses.
A liderança chinesa tem tentado manter os seus planos de desenvolvimento económico a longo prazo, resistindo à exigência de Trump para que altere as suas políticas para a tecnologia, que outros governos acusam de violar os compromissos da China com a abertura do seu mercado.

Moeda isolada

Jingyi Pan, analista na IG Asia, empresa líder nas transacções de derivados, afirma que o banco central chinês tem sido “muito tolerante” face à desvalorização do yuan, mas que as últimas medidas “sugerem preocupações com a fuga de capital”.
Pequim impôs medidas semelhantes em Outubro de 2015, após uma mudança no mecanismo da taxa de câmbio ter levado os mercados a apostar na queda do yuan. A moeda estabilizou temporariamente, mas desvalorizou no ano seguinte. Tornar a aposta na queda do yuan mais difícil “não isola [a moeda] da guerra cambial”, afirma em relatório Philip Wee e Eugene Leow, do banco de Singapura DBS Group.
A eficácia dos novos controlos deverá ser limitada, segundo analistas, face às diferentes tendências nas taxas de juro na China e EUA.
A Reserva Federal norte-americana está a aumentar as taxas de juro, enquanto Pequim tem impulsionado o acesso ao crédito, visando estimular o crescimento económico. Isto encoraja os investidores a converter o dinheiro em dólares, visando obter maiores lucros.

7 Ago 2018

Economia | Países africanos estudam uso do yuan como divisa de reserva

Países do leste e sul de África, num total de 14 que inclui Angola e Moçambique, reúnem hoje num fórum em Harare, para estudar a possibilidade de usar a moeda chinesa, o yuan, como divisa de reserva

 

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]egundo um comunicado do Macroeconomic and Financial Management Institute of Eastern and Southern Africa (MEFMI), citado pela agência oficial chinesa Xinhua, participam no fórum 17 altos quadros dos bancos centrais e Governos dos respectivos países. O tema do fórum é “Tendências na Gestão de Reservas Soberanas”.

“No final de 2017, as reservas da maioria dos países da região do MEFMI fixaram-se no limiar, ou abaixo, da tradicional referência de três meses de importações. A dívida pública denominada em moedas estrangeiras continua a aumentar, assim como as taxas de juros”, refere-se no comunicado.

Na mesma nota acrescenta-se que o grosso das reservas na maioria dos países da região está investido em dólares norte-americanos, o que não acompanha as grandes mudanças na economia mundial. “Isto é particularmente evidente quando a China e a Índia continuam a definir as tendências económicas como principais parceiros comerciais da região”, lê-se.

“A maioria dos países na região do MEFMI receberam empréstimos ou apoios da China e faria sentido económico que fossem pagos em renminbi [a moeda chinesa]”, acrescenta.

A internacionalização do renminbi é uma prioridade para Pequim, que quer contrariar a hegemonia do dólar norte-americano e negociar na sua moeda recursos como petróleo e ferro, dos quais é o maior mercado mundial, e facilitar os investimentos chineses além-fronteiras.

Em 2016, o renminbi aderiu formalmente ao cabaz de moedas do Fundo Monetário Internacional (FMI), um instrumento criado pela instituição com a finalidade de permitir liquidez aos países membros.

As reservas internacionais angolanas voltaram em Abril às quedas, depois de uma ligeira recuperação em Março, renovando mínimos históricos desde 2010 ao chegar aos 12.733 milhões de dólares (10.778 milhões de euros).

Angola vive desde finais de 2014 uma crise financeira, económica e cambial, decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo.

Angola figura entre os três maiores receptores de apoio financeiro prestado por Pequim ao exterior, logo atrás da Rússia e Paquistão, segundo a unidade de investigação sediada nos Estados Unidos, a China AidData.

Entre 2000 e 2014, o país africano, que é também um dos principais fornecedores de petróleo da China, recebeu 14,3 mil milhões de dólares em empréstimos e doações de Pequim, detalha a mesma fonte.

30 Mai 2018

China | Economia cresce 6,9% no segundo trimestre

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China, segunda maior economia do mundo, cresceu 6,9%, no segundo trimestre do ano, mais duas décimas do que no mesmo período de 2016, anunciou ontem o Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês. O Produto Interno Bruto (PIB) do país mantém assim o ritmo de crescimento, face ao primeiro trimestre do ano, e supera em uma décima a previsão dos analistas.

A liderança do país pretende manter a economia estável, a poucos meses de se realizar o congresso do Partido Comunista Chinês, o mais importante acontecimento da agenda política do país, que se realiza de cinco em cinco anos.

No próximo congresso, o Presidente chinês, Xi Jinping, deverá coordenar a remodelação do Comité Central do Politburo, a cúpula do poder na China, numa altura em que analistas ocidentais admitem que este ficará no poder além do período previsto de dez anos.

Nos últimos meses, os principais índices da economia chinesa têm apresentado resultados positivos. Analistas previram, no entanto, um abrandamento, à medida que Pequim torna mais difícil o crédito, visando travar o aumento do endividamento das empresas.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu que a economia chinesa mantenha, em 2017, o ritmo de crescimento atingido no ano passado, de 6,7%, estimulado pelo investimento público.

No segundo trimestre do ano, o consumo interno e as exportações aceleraram, compensando o abrandamento do crescimento no sector secundário, imobiliário e outros ativos fixos.

O sector retalhista cresceu 10,4%, na primeira metade do ano. As exportações e importações aceleraram entre maio e junho. O investimento, que continua a ser o principal motor da economia chinesa, cresceu 8,6%, entre janeiro e junho.

Desde a crise financeira global de 2008, a China tem recorrido ao crédito para estimular o crescimento económico. No total, a dívida não-governamental cresceu do equivalente a 170% do PIB, em 2007, para 260%, no ano passado, um valor considerado bastante alto para um país em desenvolvimento.

Em Maio passado, a agência de notação financeira Moody’s baixou a classificação da dívida chinesa a longo prazo e o FMI urgiu Pequim a controlar o crescimento da dívida.

Os reguladores chineses apontaram a redução dos riscos no sistema financeiro do país como uma prioridade para este ano. Os bancos foram incitados a controlar de perto várias empresas que fazem investimentos além-fronteiras, para ter a certeza de que conseguem respeitar os seus compromissos.

No relatório do Governo apresentado este ano à Assembleia Nacional Popular, o legislativo chinês, o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, defendeu que um crescimento económico de 6,5% para este ano “é alcançável”, confiando que os vários riscos para a economia podem ser atenuados.

18 Jul 2017

Yuan entra no cabaz de moedas do Fundo Monetário Internacional

O Yuan faz finalmente parte do cabaz de moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional, juntando-se ao dólar americano, yen japonês, euro e libra. A medida, que internacionaliza a moeda chinesa, terá poucos efeitos em Macau e Hong Kong, dizem economistas

[dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]astou um ano apenas para a moeda chinesa dar um passo gigante na sua internacionalização e passar a fazer parte do cabaz de moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional (FMI). O yuan está agora ao lado do dólar americano, do yen japonês, do euro ou da libra inglesa, o que faz com que a China deva, aos olhos dos analistas, assumir as rédeas em prol de maiores reformas económicas.
Em Novembro do ano passado, a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, confirmava que o yuan já respeitava dois dos critérios para entrar no cabaz das moedas mais importantes do mundo. A moeda chinesa já era “largamento utilizada” e “livremente utilizada”. No dia em que se celebraram os 67 anos da República Popular da China, o país teve mais uma confirmação do sucesso das suas políticas económicas.
Citado pelo diário de Hong Kong South China Morning Post, Peter Wong Tung-shun, CEO do banco HSBC para a zona da Ásia-Pacífico, defendeu que a entrada do yuan para o cabaz de moedas do FMI “catapulta formalmente (a moeda chinesa) para o ranking das moedas de reserva mais importantes, o que dá grande confiança a empresas e instituições de todo o mundo para constituir negócios em yuan e investir em activos nesta moeda”.

Poucas consequências

O HM questionou dois economistas sobre eventuais consequências desta decisão para Macau e Hong Kong, mas Albano Martins e José Pãosinho não conseguem prever efeitos positivos ou negativos.
“A curto e médio prazo não vejo quaisquer consequências porque o movimento de internacionalização do yuan começou há alguns anos em Macau e Hong Kong. O impacto será maior noutros países do que nestas regiões. A entrada do yuan no cabaz de moedas do FMI vai tornar os empréstimos mais caros porque as taxas de juro da moeda chinesa são superiores às das outras moedas”, explicou José Pãosinho.
Quanto à entrada da moeda no cabaz do FMI, constitui “um acontecimento normal em termos da evolução da economia chinesa, que tem um maior peso na economia mundial”. Resulta ainda de um “processo normal na política de internacionalização”, referiu ainda o economista.
Também Albano Martins não denota grandes consequências pelo facto dos dois territórios terem a sua própria moeda, a pataca e o dólar de Hong Kong. “Não vejo qualquer tipo de efeito ou consequência benéfica ou não benéfica para Macau e Hong Kong. Primeiro porque o dólar americano está ligado à nossa moeda, e não me parece que haja outro tipo de consequência. A China passa a ter a terceira posição, a seguir ao Euro, e não me parece que tenha qualquer relevância em relação a Hong Kong ou Macau. Isso terá consequências positivas para a China porque internacionaliza mais a moeda chinesa, mas para Hong Kong e Macau não. Até termos moeda própria não haverá grandes consequências”, defendeu ao HM.
Apesar de se vislumbrar uma maior internacionalização para uma moeda que, até há poucas décadas atrás, estava confinada às fronteiras internas do país, a verdade é que a utilização do yuan sofreu uma quebra, tendo existido reservas quanto a uma depreciação. Analistas disseram ao South China Morning Post disseram que esta medida não vai provocar mudanças de imediato, graças às políticas de capital mais restritivas e a uma falta de transparência nas políticas monetárias.
“É um sinal positivo e um bom começo, mas não vai fazer grande diferença em termos de procura do yuan e a sua liquidez”, concluiu Heng Koon How, estratega monetário do banco Credit Suisse de Singapura.
Em 2003 o yuan transpôs fronteiras pela primeira vez quando Pequim autorizou o estabelecimento de negócios em yuan através dos bancos de Hong Kong. Em 2009 seria permitida a sua utilização por empresas e instituições internacionais. Em 2010 passou a ser permitido fazer investimentos em yuan.

5 Out 2016

Renminbi | Portugal e PLP “vão ajudar” à internacionalização da moeda chinesa

A criação do sistema de liquidação imediata do renminbi foi o primeiro passo para a internacionalização da moeda chinesa e a utilização de Portugal e dos Países de Língua Portuguesa como via para esse objectivo é o segundo passo. A menos de um mês do renminbi entrar no FMI, a comunicação do presidente da AMCM em Lisboa incidiu sobre aquilo que é uma das formas de abertura da China ao mercado internacional

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á foi concluído no primeiro semestre o sistema de liquidação imediata de renminbi e agora o próximo passo é que os Países de Língua Portuguesa sirvam como meio para a internacionalização da moeda chinesa. É o que explica o presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM) que relembrou, num seminário em Portugal, que o renminbi vai fazer parte do Fundo Monetário Internacional (FMI) (ver texto secundário).
O organismo dirigido por Anselmo Teng frisa no seu relatório anual de 2015 que estavam em marcha os trabalhos para a construção do sistema de liquidação imediata em tempo real em renminbi de Macau, sistema que foi concluído dentro do calendário previsto, no primeiro semestre deste ano, em Março. Numa resposta mais detalhada ao HM, a AMCM explica que o sistema serviu para facilitar também os negócios entre o território e os países de expressão lusa, de uma forma que veio ajudar Macau a firmar-se ainda mais como plataforma.
“Através da ligação com o China National Automatic Payment System (CNAPS), [este sistema] concretizou as facilidades de serviços de liquidação transfronteiriços em renminbi, alargando os meios de movimentação bilateral [da moeda]. Paralelamente, reforçou a ligação económica e comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e elevou o papel de Macau como plataforma de serviços financeiros entre a China e [esses países], para consolidar as bases futuras”, indica o organismo numa resposta ao HM.
No seminário onde esteve presente, em Portugal, o presidente da AMCM reiterou esta ideia. É o próprio continente quem quer usar não só os Países de Língua Portuguesa, mas também Portugal como meio para a internacionalização da sua moeda, sendo este um dos objectivos estratégicos do Governo Central.
“A adesão formal, a partir do dia 1 do próximo mês, do renmimbi aos direitos de saque especiais do Fundo Monetário Internacional simbolizará um importante marco no caminho da internacionalização [da moeda]. Com o avanço contínuo desta etapa, estamos crentes de que o renminbi será cada vez mais procurado no mercado internacional e será uma moeda de ampla utilização (…)”, disse Anselmo Teng, no seminário”Serviços financeiros, estímulo e cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa, com a RAEM como plataforma”, que contou com a Caixa Geral de Depósitos na organização.
“Com base no volume de importações e exportações entre a China e os países de língua portuguesa, ascendendo a 98,5 biliões de dólares em 2015 (…), pode-se verificar que o espaço de desenvolvimento associado ao uso transfronteiriço do renminbi nas relações comerciais a desenvolver pela China e pelos Países de Língua Portuguesa será muito amplo”, frisou ainda.

Foco das atenções

Na resposta ao HM, a AMCM relembra que as Linhas de Acção Governativa sempre tiveram como objectivo “reforçar a plataforma de serviços comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa, promover a cooperação com os serviços financeiros regionais, manter em geral o desenvolvimento estável da economia e aperfeiçoar continuamente as infra-estruturas financeiras de Macau”. Algo que está constantemente a ser falado, mas que ocupa, agora, um lugar mais elevado devido ao 13.º Plano Quinquenal do Governo chinês. Plano que tem, entre os seus objectivos, abrir o mercado de capitais do país e desenvolver a moeda chinesa, pelo que as várias autoridades do país estão a reforçar as relações com o exterior nesse sentido.
Também o director-geral do Shanghai Municipal Financial Services Office, Zheng Yang, salientou em Lisboa a necessidade de reforçar as relações comerciais entre o mercado português e a China, considerando que “Portugal é o mais importante parceiro de negócios da China na União Europeia”, enquanto a “China é o décimo maior mercado das exportações e o sétimo maior mercado das importações de Portugal”. Zheng Yang defendeu que é altura de haver uma melhoria na “cooperação em serviços financeiros entre Xangai, Macau e Lisboa”. Xangai é um dos mais importantes centro de negócios e financeiro do continente.
Também o responsável pela representação em Lisboa do Bank of China, Xiao Qi, afirmou que o banco está muito envolvido na internacionalização da moeda chinesa e oferece uma série de produtos e serviços em renmimbi nos 50 países e regiões em que está presente, incluindo em Portugal.
Actualmente, o sistema de liquidação imediata em tempo real em renminbi de Macau tem 28 instituições financeiras. Presta serviços de liquidação aos clientes dos bancos, no âmbito dos câmbios da moeda chinesa e de transferências de fundos nessa moeda entre os bancos. Para a AMCM, o funcionamento do sistema traz também um aperfeiçoamento das infra-estruturas financeiras de Macau.
“Não só beneficia a gestão do risco de liquidação em renminbi e eleva a eficácia da liquidação, como também promove o aprofundamento da cooperação financeira regional”, reforça a AMCM.
O sistema demorou 15 meses para entrar em vigor, depois de testes e ensaios virtuais. Avaliações concretas sobre o sistema não as há, mas a AMCM assegura que este está “a funcionar estável e fluentemente”.
O seminário em Lisboa contou com a presença de um membro da nova administração da Caixa Geral de Depósitos, Emídio Pinheiro, que frisou que o banco público quer ajudar nas ligações comerciais entre Portugal e a segunda maior economia do mundo.

Moeda chinesa entra no FMI a partir de 1 de Outubro

Foi no ano passado que o Fundo Monetário Internacional confirmou a inclusão do renminbi no seu cabaz internacional de divisas. A partir de Outubro, que é, coincidentemente, Dia Nacional, a moeda do continente vai servir para calcular o valor dos direitos de saque especial, que servem como referência para os empréstimos concedidos pelo FMI.
A inclusão do renminbi vai fazer com que a moeda se junte ao grupo, que analistas económicos descrevem como restrito, de moedas com estatuto de reservas internacionais. São elas o dólar, o euro, a libra e o iene japonês.
Mas, para que uma moeda possa integrar este cabaz de divisas tem de ser livremente utilizada, como relembrava o ano passado a imprensa especializada em Economia. Mais ainda, tem de ter “relevância global no sistema financeiro e nas trocas comerciais”. Algo que a China pretende, então, com a abertura do mercado ao comércio externo e que faz até parte do plano quinquenal do país (ver texto principal). Christine Lagarde, directora-geral do FMI, admitiu isso mesmo no ano passado, depois de anunciada a entrada da moeda no organismo no próximo mês. Aliás, essa abertura foi o que permitiu à China ver o renminbi no FMI.
“A [decisão] de incluir o renminbi é também o reconhecimento do progresso feito pelas autoridades chinesas nos últimos anos nas reformas dos sistemas monetário e financeiro”, frisou na altura, acrescentando que, ainda que o renminbi seja controlado pelo banco chinês, “o FMI considerou que a divisa é livremente utilizada”.
Antes do anúncio da inclusão da moeda no FMI, o Governo Central teceu críticas ao que considerava ser um sistema financeiro “demasiado dependente do dólar americano”.

Que consequências?

Ainda que a inclusão do renminbi como moeda de seja uma notícia positiva para a China, já que outros países poderão aceitar o renminbi como moeda de troca no futuro, um impacto a longo prazo ainda não é algo tido como certo. Analistas citados por agências internacionais não esperam um grande impacto no dólar, por exemplo, ainda que antevejam que a divisa possa ser, daqui a alguns anos, cada vez mais utilizada a nível global, ultrapassando mesmo as trocas internacionais a envolver a libra e o iene.
Mas, tudo dependerá da forma como o continente usar esta oportunidade, como defendiam analistas citados pela imprensa da especialidade, no ano passado, sendo que apenas uma consequência já se prevê a curto-prazo: a China poderá ter mais voz nas decisões monetárias internacionais. No entanto, também Lagarde espera outra consequência: que o país seja incentivado a acelerar as reformas no sector financeiro. “A continuação e o aprofundamento daqueles esforços trarão um sistema financeiro e monetário internacionais mais robustos, o que ajudará à estabilidade do crescimento da China e da economia global”, frisou na altura.

Anselmo Teng | Continente quer investir mais em empresas lusas

O presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), Anselmo Teng, disse ontem que a China está interessada em fazer mais investimentos e aquisições em Portugal no sector financeiro e que as que já aconteceram são o início de uma tendência que será reforçada.
“Cada vez mais entidades chinesas querem participar nos capitais de bancos portugueses e seguradoras e isto é uma tendência marcada, como mencionou o representante da Fosun, agora envolvida numa acção no BCP”, afirmou Teng num seminário, em Lisboa, sobre o reforço da cooperação nos serviços financeiros entre a China e os Países de Língua Portuguesa.
Após questões de jornalistas sobre interesses de grupos chineses em bancos portugueses, o responsável da AMCM pediu a palavra para afirmar que a China não só apoia os movimentos que têm existido, como deseja que se reforcem.
“Enquanto autoridades governamentais, temos gosto nesta tendência. Isto é só o início de aquisição de entidades chinesas em Portugal, haverá no futuro mais”, acrescentou.
Este seminário contou com a presença de um representante do grupo chinês Fosun, que detém em Portugal a seguradora Fidelidade e a Espírito Santo Saúde, e quer comprar 16,7% do capital do BCP, podendo reforçar posteriormente a sua participação para entre 20% a 30% no banco, dependendo das limitações de votos dos estatutos.
Também presente neste evento esteve o presidente do conselho de administração do Haitong Bank (ex-Banco Espírito Santo de Investimento), Hiroki Myiazato. De acordo com informação da imprensa, o Haitong propôs, à margem do concurso para a compra do Novo Banco, ao Fundo a aquisição parcial do Novo Banco pelo próprio banco assim como por outros investidores, ficando com cerca de 30% da instituição que resultou da resolução do BES.

Com Agência Lusa

7 Set 2016

Yuan desvaloriza pelo oitavo dia seguido

A taxa de referência do yuan foi cortada pelo oitavo dia consecutivo, para o nível mais baixo desde Março de 2011. Foi a maior desvalorização desde Agosto, altura em que a intervenção no mercado cambial também provou uma tempestade nos mercados

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Banco Popular da China cortou a taxa de referência do yuan esta quinta-feira, 7 de Janeiro, pelo oitavo dia consecutivo, para o nível mais baixo desde Março de 2011. A decisão levou as acções chinesas a desvalorizarem mais de 7%, acabando por ser suspensas, pela segunda vez esta semana, apenas 30 minutos depois do início da negociação.
O banco central da China fixou a taxa de referência em 6,5646 por dólar americano antes da abertura do mercado, 0,5% abaixo da anterior cotação de 6,5314. Esta foi a maior queda entre as fixações diárias desde a desvalorização realizada em meados de Agosto que, tal como agora, desencadeou um período de forte turbulência nos mercados mundiais.
Actualmente, a moeda chinesa está autorizada a negociar num intervalo de 2% acima ou abaixo da fixação oficial diária.
Nos últimos meses, as autoridades chinesas vinham reduzindo os esforços de intervenção no mercado, depois de a turbulência em Agosto ter obrigado a medidas extremas, que incluíram a obrigação de os fundos estatais comprarem acções e a suspensão de ofertas públicas iniciais.
Segundo fontes citadas pela Bloomberg, o banco central está agora a considerar novas medidas para impedir uma elevada volatilidade na taxa de câmbio do yuan e vai continuar a intervir no mercado cambial. Segundo a mesma fonte, as medidas que estão a ser consideradas têm como objectivo restringir a arbitragem entre as taxas offshore e onshore.
O banco central também reduziu as suas reservas de divisas para 3,33 biliões de dólares no final de Dezembro, o valor mais baixo dos últimos três anos.
Este ano, foi introduzido o mecanismo de suspensão das acções criado para travar fortes volatilidades no mercado. Contudo, este mecanismo tem sido criticado pelos analistas, por considerarem que aumenta ainda mais as desvalorizações, já que os investidores antecipam a venda das suas posições para não correrem o risco de ficarem “presos” com a suspensão.
Esta quinta-feira, o regulador também impôs um novo limite à quantidade de acções que os accionistas de grandes empresas podem vender. Na terça-feira – dia em que as acções chinesas valorizaram – o governo interveio no mercado através dos fundos estatais para impulsionar o mercado.

Reservas internacionais caem para o menor nível em 3 anos

As reservas internacionais da China recuaram ao menor nível em três anos em Dezembro, uma queda que deve intensificar as preocupações sobre a capacidade de Pequim conter a saída de capital. As reservas internacionais do país recuaram US$ 107,92 mil milhões em Dezembro, para US$ 3,330 biliões, informou nesta quinta-feira o Banco do Povo da China (BPC). Os formuladores da política monetária e os agentes do mercado têm acompanhado com atenção as reservas, desde que o BPC desvalorizou o yuan em cerca de 2% em Agosto, gerando preocupações sobre a possibilidade de um enfraquecimento maior da moeda chinesa. Isso levou a uma queda recorde de US$ 93,9 mil milhões nas reservas, enquanto Pequim actuava para apoiar a divisa. Em Novembro, as reservas internacionais da China haviam recuado US$ 87,22 mil milhoes, para US$ 3,438 biliões – que já era o nível mais baixo desde fevereiro de 2013.

Bolsas voltam a suspender operações

As bolsas da China voltaram a suspender as suas operações nesta quinta-feira, menos de 30 minutos depois do início do pregão, por causa de uma queda de mais de 7%, depois do anúncio oficial da desvalorização do yuan, a maior desde Agosto. As autoridades da China reduziram o nível de referência do yuan em relação ao dólar em 0,51%, a 6,5646 yuans por dólar, a menor taxa desde Março de 2011. Esta foi a segunda vez esta semana que as bolsas chinesas activaram o mecanismo de suspensão, que entrou em vigor na segunda-feira. O índice de Xangai perdia 7,04%, aos 3.125,00 pontos enquanto o Shenzhen recuava 8,35% aos 1.955,88 pontos. Em Hong Kong, o Hang Seng recuou 3,09% aos 20.333,34 pontos; em Tóquio, o Nikkei 225 caiu 2,33% aos 17.767,34 pontos; em Seul, o Kospi teve queda de 1,10% aos 1.904,33 pontos; em Singapura, o Straits Times teve baixa de 2,65%, aos 2.729,91 pontos; e em Taiwan, o Taiwan Weighted caiu 1,73% aos 7.852,06 pontos.

8 Jan 2016

Yuan entra no clube das moedas fortes

O FMI aprovou ontem a entrada da divisa chinesa na cesta de moedas usadas pela instituição. Muito vai mudar: na China e no mundo

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]egunda maior economia do planeta e detentora da maior fatia do comércio global, a China conseguiu ontem uma vitória crucial no seu esforço de internacionalizar o yuan e transformá-lo em numa moeda da reserva global que possa desafiar a supremacia do dólar.
Reunido em Washington, o Fundo Monetário Internacional (FMI) deve aprovar a inclusão do yuan na cesta de moedas utilizadas pela instituição em empréstimos de emergência como complemento às reservas dos seus países membros. A entrada do yuan no clube integrado pelo dólar, euro, libra esterlina e yen reflecte o crescente peso da China no comércio global e a expansão do uso do yuan em pagamentos internacionais.
No ano passado, a China superou a União Europeia e respondeu pela maior fatia das exportações e importações mundiais, com 15,5%. Em 2014, a China aparecia em terceiro lugar no ranking, com 8,9%. Há três anos, o yuan era a 12.ª moeda mais usada em pagamentos globais, segundo dados da Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (Swift), responsável pela rede que permite o envio de dados sobre movimentações financeiras entre instituições bancárias. Desde então, o yuan subiu sete posições e entrou no grupo das cinco moedas mais usadas em transacções internacionais.
Com uma fatia de 2,45%, o yuan aparecia no mês passado atrás do yen (2,88%), da libra esterlina (9,02%), do euro (28,53%) e do dólar (43,27%). A decisão de ontem responderá a uma antiga aspiração chinesa, que esperava a entrada do yuan na cesta de moedas em 2010, quando foi realizada a última revisão da composição dos Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês), uma espécie de moeda internacional que pode ser usada para complementar as reservas dos membros do FMI.
Com isso, os empréstimos de emergência desse tipo feitos pela instituição passarão a ter participação do yuan, em percentagem a definir.
Além de elevar o estatuto da moeda chinesa, a mudança é importante pelas repercussões de longo prazo na economia do país. Para que o yuan entre no clube do SDR, o governo chinês comprometeu-se com uma série de reformas no seu sistema de câmbio e de transacções internacionais, com gradual liberalização das contas correntes e de capitais, na direcção de uma economia mais aberta e mais exposta às forças de mercado.
Um desses ajustes foi a mudança no cálculo da cotação do yuan adoptada em Agosto, que levou à maior desvalorização da moeda desde 1994. Interpretado pelo mercado como um sinal de nervosismo das autoridades de Pequim em relação à desaceleração da economia do país, o movimento estava relacionado com exigência do FMI de um sistema de câmbio menos controlado.
“A decisão do FMI fortalecerá os reformadores na China”, disse o economista David Dollar, que foi director do Banco Mundial na China de 2004 a 2009 e hoje está no Brookings Institution, em Washington. “É um sinal importante.”
Em artigo publicado na revista Caixin no dia 10 de Novembro, o presidente do Banco do Povo da China, Zhou Xiaochuan, disse que as autoridades de Pequim adoptarão uma série de reformas com o objectivo de tornar o yuan uma moeda internacional livremente conversível até 2020.
Entre as mudanças, mencionou a redução das restrições sobre o mercado de capitais e maior transparência e previsibilidade na comunicação do Banco Central. Três dias depois da publicação do seu artigo, Christine Lagarde divulgou uma nota na qual defendeu a inclusão da moeda chinesa no SDR. Segundo a directora do FMI, técnicos do Fundo concluíram que o yuan atende aos critérios definidos e recomendaram a inclusão da moeda chinesa.

30 Nov 2015