Tarifas | Von der Leyen pede a Li Qiang para evitar uma escalada

A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu ontem que se “evite uma escalada” na sequência das tarifas aduaneiras impostas pelos Estados Unidos, durante uma conversa telefónica com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang.

Segundo um comunicado do executivo comunitário, durante o telefonema, “a presidente apelou a uma solução negociada para a situação actual, sublinhando a necessidade de evitar uma nova escalada. Von der Leyen apontou também a importância vital da estabilidade e da previsibilidade para a economia mundial.

Em resposta à perturbação generalizada causada pelos direitos aduaneiros dos Estados Unidos, a líder do executivo comunitário sublinhou a responsabilidade da Europa e da China, “enquanto dois dos maiores mercados mundiais”, de apoiar um sistema comercial sólido e reformado, livre, justo e assente em condições de concorrência equitativas.

Recordou igualmente a urgência de soluções estruturais para reequilibrar as relações comerciais bilaterais e garantir um melhor acesso das empresas, produtos e serviços europeus ao mercado chinês.

Por último, Ursula von der Leyen reafirmou junto do primeiro-ministro chinês o apoio firme da UE a uma paz justa e duradoura na Ucrânia, salientando que as condições de paz devem ser determinadas pela Ucrânia. Convidou a China a intensificar os seus esforços para contribuir de forma significativa para o processo de paz.

EUA | Pequim critica observações de JD Vance sobre “camponeses chineses”

A China classificou como indelicados os comentários do vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, que afirmou numa entrevista que Washington estava a pedir dinheiro emprestado aos “camponeses chineses” e depois a comprar-lhes os frutos do seu trabalho.

Em entrevista ao canal de televisão Fox News, Vance defendeu a ofensiva comercial do Presidente Donald Trump, que abalou a economia mundial com a introdução de taxas alfandegárias, em particular contra a China, apesar dos receios de repercussões globais e das críticas dentro do seu próprio partido.

“Pedimos dinheiro emprestado aos camponeses chineses para comprar o que os camponeses chineses produzem”, afirmou Vance.

Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês disse ontem que “a posição da China sobre as relações económicas e comerciais sino-americanas foi claramente expressa”. “É surpreendente e triste ouvir palavras tão ignorantes e indelicadas por parte deste vice-presidente”, afirmou Lin Jian, em conferência de imprensa.

O vice-presidente dos Estados Unidos disse que via esta medida como um antídoto para a “economia globalista”, que, na sua opinião, não está a funcionar em benefício do povo norte-americano. “Este não é um método para a prosperidade económica. Não é um método para preços baixos, e não é um método para bons empregos nos Estados Unidos da América”, acrescentou o braço direito de Donald Trump.

China sem nada a perder se taxas aumentarem mais 50 por cento, dizem economistas

Pequim está a aproximar-se de um ponto em que não tem “nada a perder” na guerra comercial com Washington, afirmaram economistas, após o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter ameaçado aumentar as taxas em mais 50 por cento sobre produtos chineses.

“A margem de lucro do sector exportador chinês é entre 30 por cento e 40 por cento”, escreveu Dan Wang, director para a China do grupo de reflexão (‘think tank’) Eurasia Group. “Se os Estados Unidos impuserem taxas alfandegárias superiores a 35 por cento, a maior parte dos seus lucros será eliminada. O facto de as taxas serem de 70 por cento ou mesmo de 1000 por cento não faz grande diferença, uma vez que impede a China de negociar directamente com os Estados Unidos”, argumentou.

Desde a sua tomada de posse, em Janeiro, Trump já aplicou uma sobretaxa adicional de 20 por cento sobre produtos chineses que entram nos Estados Unidos. Esta sobretaxa deverá aumentar para 54 por cento amanhã.

Em resposta, Pequim anunciou que vai impor taxas de 34 por cento sobre os produtos norte-americanos a partir de quinta-feira. O Presidente dos Estados Unidos ameaçou na segunda-feira aumentar as taxas em mais 50 por cento se Pequim mantiver a sua decisão.

No conjunto, as taxas iriam para cerca de 115 por cento, segundo Su Yue, economista principal para a China na Economist Intelligence Unit.

“Além disso, todas as conversações com a China sobre as reuniões que solicitaram connosco serão encerradas”, ameaçou Trump.

Wang explicou que, apesar de os exportadores chineses enfrentarem agora a nova realidade de um aumento permanente dos custos de exportação, isso não significa que as exportações vão parar. Pelo contrário, obriga os exportadores a encontrarem novos mercados e a reduzirem o envio de mercadorias directamente para os EUA.

Alicia Garcia-Herrero, economista-chefe para a região Ásia-Pacífico do banco de investimento francês Natixis, também minimizou a última ameaça de Trump.

“O mercado dos EUA já está fechado para os produtos chineses, pelo menos directamente da China para os EUA, pelo que [um aumento adicional de 50 por cento das tarifas] não é uma ameaça [eficaz]”, considerou. A decisão reflecte o facto de os EUA estarem a visar a China mais do que qualquer outro país, o que “já acontecia antes de a China retaliar”, frisou.

Erros e chantagens

A China ameaçou ontem “tomar resolutamente contramedidas para salvaguardar os seus próprios direitos e interesses”, em resposta à ameaça de Trump. Em comunicado, o Ministério do Comércio disse que a imposição pelos EUA das “chamadas ‘tarifas recíprocas’” à China é “completamente infundada e é uma prática típica de ‘bullying’ unilateral”.

“As contramedidas tomadas pela China têm como objectivo salvaguardar a sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento e manter a ordem normal do comércio internacional. São completamente legítimas”, lê-se no comunicado. “A ameaça dos EUA de aumentar as taxas sobre a China é um erro em cima de um erro e mais uma vez expõe a natureza chantagista dos EUA. A China nunca aceitará isso. Se os EUA insistirem nesse caminho, a China lutará até ao fim”, apontou.

Visita | PM espanhol na China pela terceira vez em dois anos

Em plena guerra comercial, o líder do governo espanhol regressa à China para estabelecer acordos bilaterais com o gigante asiático

 

O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, visita esta semana dois dos países mais afectados pelas novas taxas comerciais anunciadas pelos Estados Unidos, o Vietname e a China, para promover o comércio e os investimentos bilaterais.

No caso da China, é a terceira vez em apenas dois anos que Sánchez visita Pequim e vai reunir-se de novo com o Presidente do país, Xi Jinping, como já aconteceu em Março de 2023 e Setembro de 2024.

Esta viagem à Ásia ocorre poucos dias depois de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter anunciado a intenção de impor e agravar taxas sobre produtos importados pelo país, com a China e o Vietname a serem alvo das maiores percentagens: 34 por cento e 46 por cento, respectivamente.

O Governo espanhol realçou nos últimos dias que as visitas de Sánchez ao Vietname e à China foram coordenadas com a União Europeia (UE) e já estavam previstas antes dos anúncios de Trump.

A ida de Sánchez ao Vietname e à China não é, assim, uma resposta à guerra comercial norte-americana nem “contra ninguém”, disseram as mesmas fontes, que reconheceram, porém, que a viagem adquiriu uma relevância nova no contexto dos últimos dias.

O objectivo de Espanha é diversificar mercados para exportação, assim como de destino e origem de investimentos, mas não substituir a relação comercial com os EUA, disse o Governo espanhol. Espanha tem com o Vietname e a China um enorme desequilíbrio comercial, que pretende reduzir.

Segundo dados oficiais, em 2024, Espanha importou do Vietname 5.200 milhões de euros e exportou 530 milhões. No caso da China, as importações ascenderam a 45 mil milhões de euros e as exportações a 7.400 milhões.

Chave da diversificação

Na semana passada, no dia seguinte ao anúncio das novas taxas comerciais dos EUA, Sánchez acusou Trump de ter iniciado uma guerra comercial “injusta e injustificada contra tudo e contra todos” e com um “ataque unilateral”.

O primeiro-ministro espanhol apelou a uma resposta da UE que passe pela negociação com os EUA e pela imposição de taxas recíprocas, mas também pela diversificação dos parceiros comerciais, em linha com o princípio da “autonomia estratégica da Europa” em que os dirigentes europeus têm insistido nos últimos anos, sobretudo após a guerra na Ucrânia iniciada pela Rússia.

A China “tem de ser um parceiro estratégico no futuro” e “independentemente da situação actual em relação aos Estados Unidos”, disse na segunda-feira o ministro espanhol da Economia, Carlos Cuerpo, no Luxemburgo, à chegada a uma reunião de ministros da UE com a pasta do comércio.

Cuerpo realçou que Espanha está “há vários anos a insistir no reforço desta relação” da UE com a China.

“Entre outras coisas porque nos ajuda a abrir um mercado importantíssimo e, além disso, é uma fonte potencial de investimentos no nosso continente, nos nossos países”, acrescentou o ministro, que afirmou que Espanha quer “estabelecer uma relação estratégica com a China”.

Plano de viagem

Sánchez inicia amanhã a primeira visita de um primeiro-ministro espanhol ao Vietname, que inclui encontros com os líderes políticos do país e com empresários. Chega à China na sexta-feira e tem na agenda encontros, em Pequim, com o Presidente chinês, Xi Jinping, o primeiro-ministro, Li Qiang, e com empresários chineses.

A visita anterior, em Setembro de 2024, coincidiu com um momento de tensão entre a União Europeia e a China, por causa da decisão de Bruxelas de avançar com novas taxas sobre a importação de carros eléctricos chineses e a ameaça de Pequim de retaliação em relação à carne de porco europeia, de que Espanha é um dos maiores produtores dentro do bloco comunitário.

Para além do comércio, Espanha atraiu nos últimos anos investimentos chineses significativos. Segundo dados oficiais das autoridades de Espanha, empresas chinesas têm investidos mais de 10 mil milhões de euros no país para a produção de carros eléctricos, a par de outros projetos na área das baterias ou dos eletrolisadores (usados na produção do designado hidrogénio verde).

Jurista Cristina Ferreira apresenta hoje livro na FRC

A Fundação Rui Cunha (FRC) acolhe hoje, a partir das 18h30, a apresentação do novo livro da jurista Cristina Ferreira, intitulado “Estatuto Jurídico do GAFI na Ordem Internacional”, editado pela Brill. O evento decorre no âmbito do ciclo de palestras “Reflexões ao Cair da Tarde”, e conta com a moderação de Paulo Cardinal, jurista e docente. Ambos dão aulas na Faculdade de Direito da Universidade de Macau.

O evento tem por objectivo dar a conhecer as premissas do livro “The Legal Status of the Financial Action Task Force in the International Legal System”, lançado em Janeiro, sendo que a conferência versa sobre a “evolução do estatuto jurídico do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI) na cena internacional, com base no argumento ousado de que o GAFI evoluiu gradualmente para uma organização internacional, abordando este tema na perspectiva do direito internacional e do direito das organizações internacionais, combinando teoria e prática”, segundo a autora, citada por um comunicado da FRC.

O GAFI (FATF – Financial Action Task Force) é a organização a nível mundial responsável por fixar as políticas e padrões internacionais no combate ao branqueamento de capitais, ao financiamento do terrorismo e da proliferação de armas de destruição maciça, e à ocorrência de outras ameaças à integridade do sistema financeiro mundial.

Anos de análise

Como consultora jurídica em Direito Internacional, a autora testemunhou ao longo de duas décadas “a metamorfose gradual, do que começou por ser um organismo técnico especializado, para uma organização complexa e multifacetada, cuja legitimidade é prejudicada pela falta de clareza quanto à sua posição jurídica”.

O âmbito da organização, e o impacto de longo alcance das suas políticas e medidas, para responder às tendências e ameaças globais que representam um risco para o sistema financeiro internacional, bem como a forma como os membros, não membros, Organizações Internacionais e outros intervenientes, as aceitaram e implementaram, sem um exame minucioso (pesos e contrapesos) e sem questionar o seu estatuto legal, é a reflexão que se coloca.

O tema tem especial relevância para audiências nas áreas do Direito Internacional Público, Direito das Organizações Internacionais ou Direito Institucional Internacional, Direito Económico Internacional, Relações Internacionais, e para um público potencial de decisores políticos, académicos, profissionais do Direito, advogados, reguladores e estudantes.

Peter Kogler, artista: “A linguagem visual que uso é universal”

Peter Kogler é o artista escolhido para uma nova montra no estúdio de design e arquitectura Impromptu Projects, de Rita Machado e João Ó, inaugurada amanhã. Até ao dia 31 de Dezembro deste ano será possível ver, em “Peter Kogler: Showroom”, na Travessa de Inácio Baptista, os trabalhos deste artista internacional que inovou ao colar o mundo da tecnologia e computadores à arte, criando uma nova linguagem artística

 

Como se sente por apresentar o seu trabalho em Macau?

Infelizmente nunca estive em Macau. Fui contactado há cerca de dois ou três anos pela Rita e João [Rita Machado e João Ó] para participar num projecto, vi as coisas que estavam a desenvolver, e que me pareciam muito interessantes. Tivemos uma conversa e a partir daí sabíamos que havia a hipótese de fazer um projecto conjunto no futuro. Mas só agora o conseguimos concretizar.

Que tipo de trabalhos traz a esta montra?

É uma fachada interessante com um mosaico, em que há uma montra e fizemos uma instalação com papel de parede, que é uma espécie de continuidade da fachada, como se fosse uma grelha distorcida. Temos depois das ventoinhas LED com dois globos que rodam em todas as direcções de forma caótica. É uma espécie de exposição de rua, porque está numa montra.

É, para si, uma forma diferente de apresentar o seu trabalho junto do público?

Já expus em diversos museus e espaços, e expus de uma forma mais clássica, digamos assim, com exposições. Mas também fiz muitos projectos no chamado espaço público, como estações de metro ou de comboio. Essa é a razão pela qual estou agora em Nápoles, porque estou a trabalhar num projecto para uma enorme estação de metro em parceria com um arquitecto.

Como artista, como se sente mais confortável a mostrar o seu trabalho? Num museu, ou num espaço público?

Gosto de trabalhar das duas formas. É preciso ter em conta que, quando se faz um projecto no espaço público, as pessoas não têm escolha. Têm de atravessar uma estação de metro ou uma estação de comboios [e ver o projecto exposto]. Mas quando se vai a uma galeria ou a um museu, é uma decisão consciente de alguém que sabe que vai confrontar-se com a arte ali exposta. Essa é a principal diferença. Portanto, temos um público diferente quando trabalhamos num espaço dito público, e temos de ajustar a nossa linguagem visual a uma situação específica.

É considerado um dos pioneiros da arte computacional e da integração de um ambiente digital na arte. Como decidiu que era este o caminho a seguir como artista?

Quando era apenas um jovem artista, em 1984, fui a uma feira de máquinas de escritório em Viena. Recordo-me quando foi apresentado o Macintosh, da Apple, o primeiro computador que tinha uma interface de utilizador baseada em ícones, em informação gráfica. Foi, assim, a primeira máquina em que o utilizador não tinha de ter qualquer tipo de conhecimento sobre programação, podia-se usar o Macintosh de forma bastante intuitiva. Essa foi, claro, uma mudança paradigmática, e era evidente que iria mudar a forma como as imagens são produzidas e como são comunicadas. Este foi um dos aspectos que me influenciou. Outro tem a ver com o facto de, na história da arte, os computadores não terem, nessa altura, nenhuma presença, ou seja, não havia muito a fazer nessa altura, por isso a oportunidade de criar uma espécie de nova linguagem visual era bastante boa. Estas foram as duas principais razões que me levaram a escolher este meio como a minha ferramenta principal.

Actualmente, com a Inteligência Artificial (IA), há todo um novo universo que pode ser explorado artisticamente.

Bem, acredito que vai mudar a nossa vida em vários níveis, vai afectar todo o contexto social. A Internet foi, por si só, uma grande mudança, e as redes sociais também vieram alterar muita coisa. A IA não se trata apenas de algo com impacto na arte, mas em toda a nossa vida.

Que tipo de mensagens são transmitidas com o seu trabalho?

Não há um tipo de mensagem específica, eu diria. Quando trabalhamos com computadores e os usamos como ferramenta visual estamos ligados a todos os outros domínios em que este tipo de meios digitais desempenha um papel. Portanto, é uma área que nos diz algo sobre determinada situação em um determinado momento histórico.

Que expectativas tem em relação ao acolhimento do seu trabalho em Macau? E que influência poderá o território trazer ao seu trabalho?

Começo por dizer que a linguagem visual que utilizo no meu trabalho tem um carácter bastante universal. Trabalho com alguns elementos que podem ser lidos em qualquer tipo de cultura, como o cérebro, as mãos, o globo, tubos. Todas estas imagens não têm qualquer tipo de conotação cultural específica. Estou ansioso por ir a Macau, para que me possa aperceber das qualidades específicas do território. Presumo que Macau seja fruto de uma situação muito complexa devido às circunstâncias históricas, com o facto de ter sido uma colónia portuguesa junto à China que, neste momento, apresenta um poderoso contexto económico. São muitas as influências que se cruzam ali.

Ao longo da sua carreira tem exposto nos principais museus e galerias de todo o mundo. Esperava este reconhecimento internacional?

Acima de tudo penso que é um privilégio ter a possibilidade de trabalhar a tantos níveis diferentes e com tantos contextos culturais diferentes. É também um processo contínuo de aprendizagem.

O seu trabalho está muito ligado ao universo abstracto. Como se sente se o público não compreender o que quer transmitir, ou até com críticas negativas?

Claro que não fico nada contente, mas isso faz parte do trabalho. Sabe, há sempre opiniões diferentes, e é assim que as coisas são.

Mas entende que o seu trabalho se pode centrar ao nível do abstracto, ou estou a fazer uma análise errada?

Há de facto certos elementos na minha linguagem visual que se apresentam com uma espécie de tradição abstracta. Mas há também muitos elementos com ligação a coisas que conhecemos, como o cérebro ou o globo. O meu trabalho comunica também a diferentes níveis, mas há também coisas mais directas, como as instalações que faço mais direccionadas a crianças, por exemplo. Aí, as crianças reagem de maneira forte. Tal significa que a informação passa de forma bastante directa, porque não é algo que se lhes possa dizer ou explicar, porque as crianças não têm propriamente conhecimentos da história da arte.

Quais as grandes influências na sua arte? Essas influências foram mudando ao longo dos tempos?

Um aspecto importante é aquilo que se pode fazer com a tecnologia. Comecei a trabalhar com computadores em 1984, em que havia programas gráficos com uma linguagem visual específica. Mas havia muito poucos dispositivos para transferir os elementos para outros materiais, como telas ou papéis de parede. Portanto, eram processos de transferência e produção totalmente analógicos, ao nível da fotografia ou da serigrafia, por exemplo. Ao longo de todos estes anos a tecnologia desenvolveu-se rapidamente e hoje qualquer tipo de transferência de elementos ou produção é digital, como projectar animações de computador, imprimir coisas para fachadas… Para mim foi importante observar todas essas possibilidades técnicas e perceber como as posso utilizar e incluir na minha linguagem visual.

Incêndios | Menos 15 por cento de ocorrências

Nos primeiros três meses do ano registou-se uma diminuição geral das ocorrências que implicaram a intervenção do Corpo de Bombeiros. Ainda assim, as autoridades foram chamadas a intervir em 13.207 casos

 

Nos primeiros três meses do ano o número de incêndios registados pelo Corpo de Bombeiros (CB) apresentou uma redução de 15,35 por cento com 215 ocorrências, em comparação com o período homólogo. Os números do primeiro trimestre do ano foram apresentados ontem, em conferência de imprensa.

De acordo com os dados oficiais, entre Janeiro e Março deste ano houve menos 39 incêndios em comparação com o período homólogo, quando o número de incêndios tinha sido de 254 ocorrências. Entre os 215 fogos, 155 foram extintos sem necessidade de recorrer à utilização de mangueiras. No ano passado, o número de incêndio extintos sem necessidade de ligar as mangueiras tinha sido de 204.

Em relação aos incêndios dos primeiros meses deste ano, 35 fogos ficaram a dever-se a situações de comida queimada. No ano passado, este tipo de ocorrências tinha contribuído para 61 casos.

Entre as outras causas de ocorrências de incêndios, constam o esquecimento de fogões ligados, chamas que não ficam totalmente extintas, a queima de incensos, velas e papéis votivos, curtos-circuitos em instalações eléctricas e falhas mecânicas.

Apesar da redução dos incêndios, no primeiro semestre registaram-se várias ocorrências em prédios residenciais que causaram pelo menos cinco feridos. Os números mostram que o total geral de ocorrências em que o Corpo de Bombeiros teve de intervir apresentou uma redução de 6,32 por cento, de 14.098 casos para 13.207 casos.

Menos ambulâncias

Em relação aos dados sobre as saídas de ambulâncias houve uma redução dos casos de 3,1 por cento para 11.406 ocorrências, que exigiram a utilização de 12.221 veículos, uma redução de 3,43 por cento. No período homólogo, registaram-se 11.774 ocorrências que exigiram a saída de 12.655 veículos de emergência. Sobre esta diferença, o Corpo de Bombeiros indicou que se deveu “principalmente à redução dos casos de leve indisposição da febre e dificuldades de respiração”. “Os casos gerais de socorro lidaram essencialmente com tonturas, dores abdominais, dificuldades de respiração, vómitos, febres e vários tipos de ferimentos”, foi acrescentado.

Também nas operações de salvamento houve uma redução, de 3,3 por cento, de 454 casos para 439 casos.
Finalmente, no que diz respeito aos serviços especiais, apurou-se uma redução de 29,01 por cento, de 1.616 casos para 1.144 casos, uma diferença de 29,21 por cento.

AMCM | Central de Depósito e Liquidação de Valores Mobiliários perde 7,18 milhões

A Central de Depósito e Liquidação de Valores Mobiliários de Macau, controlada a 100 por cento pela RAEM, continua a registar prejuízos sucessivos. Desde 2022, a empresa criada para diversificar a economia de Macau nunca apresentou lucros

 

A empresa Central de Depósito e Liquidação de Valores Mobiliários de Macau (MCSD, na sigla em inglês) registou prejuízos de 7,18 milhões de patacas no ano passado. Este é o segundo ano consecutivo com perdas da empresa controlada a 100 por cento pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM), que tinha apresentado perdas de 6,7 milhões de patacas no ano anterior.

Criada em 2021, a MCSD surgiu no âmbito da política do Governo de Ho Iat Seng para diversificar a economia na área das finanças e tem como funções a exploração das infra-estruturas financeiras, de serviços de registo central, compensação, liquidação e de depósito de valores mobiliários. No âmbito destas funções, a MCSD tem prestado apoio ao mercado de empréstimos obrigacionistas.

No entanto, os números da empresa teimam em continuar a apresentar prejuízos. No primeiro ano completo de operações, em 2022, a empresa que tem um capital social de 50 milhões de patacas, apresentou prejuízos de 3,9 milhões de patacas. No ano seguinte, os prejuízos subiram para 6,7 milhões de patacas e os dados mais recentes mostram um novo recorde negativo de 7,18 milhões de patacas.

Mais receitas e despesas

Apesar do cenário negativo, as receitas originadas por contratos com participantes no mercado financeiro de Macau até registaram um aumento. Actualmente, no portal da MCSD, surgem registadas como “participantes” cerca de 90 entidades. Em 2024, as receitas derivadas dos contratos de participação subiram para 2,9 milhões de patacas, quando no ano anterior tinham sido de cerca de 966 mil patacas.

Em termos das restantes receitas do ano passado, foi apurado um 1 milhão de patacas em juros, com os outros serviços a geraram 11.300 patacas e os ganhos com câmbios a gerarem 721 patacas.

Em termos das despesas houve igualmente um aumento para 11,2 milhões de patacas em 2024, face aos 9,2 milhões de patacas de 2023.

O custo mais elevado foi para as remunerações dos trabalhadores que subiram de 3,1 milhões de patacas para 4,6 milhões de patacas. Para este aumento contribuiu o recrutamento de cinco funcionários, totalizando 13 trabalhadores no fim de 2024. A outra grande despesa deveu-se ao pagamento dos serviços de correio telecomunicações que foi de 3,2 milhões de patacas, abaixo do custo de 3,3 milhões do ano anterior.

Comércio | Fornecedores pedem autonomia face a produtos americanos

Para evitar o impacto das tarifas dos Estados Unidos da América, a Associação da União dos Fornecedores de Macau defende uma maior autonomia gradual face aos produtos importados da América. A ideia veio do presidente da associação, Ip Sio Man, segundo o canal chinês da Rádio Macau.

De acordo com Ip, a dependência dos EUA é negativa porque as políticas tarifárias são imprevisíveis e estão constantemente a mudar. O responsável indicou que no ano passado, o valor de produtos que Macau exportou para os EUA foi de 300 milhões de patacas, enquanto o valor dos produtos importados dos EUA foi de 70 mil milhões de patacas. Por outro lado, Ip Sio Man antecipou que o Governo de Macau não está em condições de seguir o Interior na adopção de políticas de retaliação contra os EUA, pelo que deverá seguir um caminho alternativo.

Mas mesmo que Macau siga a política de retaliações, Ip desvalorizou o caso, ao considerar que não vai ter grande impacto, porque, nos últimos anos, Macau tem explorado activamente novos mercados e pode importar produtos de outras regiões para substituir os dos EUA.

Consumo | Índice de confiança com resultados ambíguos

O índice de confiança dos consumidores subiu ligeiramente durante o terceiro trimestre, mantendo-se ainda assim perto de terreno negativo. Um inquérito, elaborado pela MUST, demonstra o aumento da confiança na compra de casa e investimentos financeiros, mas uma quebra da confiança na economia local, emprego, preços e evolução do nível de vida

 

A Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na siga inglesa) publicou na segunda-feira o mais recente índice de confiança dos consumidores relativo aos primeiros três meses deste ano, revelando uma ligeira subida da crença da população em relação ao panorama económico de Macau.

O inquérito realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável da MUST tem por base a análise a seis categorias: “nível de preços”, “compra de habitação”, “nível de vida”, “emprego”, “investimentos” e “economia local”. Das seis categorias, duas registaram subidas e quatro descidas.

De acordo com um comunicado emitido pela equipa que realizou o inquérito, o índice geral aumentou 0,85 por cento face ao trimestre anterior, situando-se, numa escala entre 0 e 200, em 103,82 pontos, atingindo o quarto trimestre seguido de subida do índice geral.

Tendo em conta os resultados gerais, os académicos consideram que a confiança geral dos consumidores de Macau está numa fase de estabilidade. Refira-se que nos últimos três meses de 2024, o índice geral subiu 2,54 por cento face ao trimestre anterior.

Ponto por ponto

Entre as seis áreas analisadas, duas registaram subidas de confiança no primeiro trimestre de 2025. A confiança no mercado accionista e em investimentos financeiros subiu 16,7 por cento, para 112,37 pontos, registando a maior flutuação. Também a confiança na compra de habitação subiu 2,4 por cento, entrando em terreno positivo (100,22 pontos), depois de já ter aumentado 6,5 por cento nos últimos três meses do ano passado, acompanhando a descidas dos preços da habitação.

No campo negativo, a maior descida aconteceu no capítulo da confiança na economia local, que caiu 3,14 por cento para a fronteira da falta de confiança, com 100,61 pontos, quase repetindo a queda registada nos últimos três meses de 2024 (3,13 por cento) e somando o terceiro trimestre consecutivo em quebra.

Também a confiança em relação preços caiu 2,32 por cento para terreno negativo (98 pontos), depois de no último trimestre de 2024 ter subido 6,38 por cento para a neutralidade (100.35).

A confiança no nível de vida passou a ocupar o segundo lugar do pódio, apesar da descida trimestral de 0,2 por cento para 108,3 pontos. Também a confiança no mercado de trabalho desceu 0,76 por cento para 103,39 pontos.

A equipa da MUST destacou o facto de a confiança na economia local estar a cair há três trimestre seguidos, o que considera ser um sinal de alerta para factores riscos no ambiente económico. Os académicos destacam também o fraco crescimento da economia global enquanto influência nos resultados do inquérito, que foi realizado antes da imposição à escala global de tarifas comerciais pela Administração de Donald Trump.

CAEAL | Pedida isenção a escolas durante acto eleitoral

A Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) organizou uma sessão com várias instituições de ensino para recordar a necessidade de as escolas respeitarem os “princípios de justiça, imparcialidade e integridade nas eleições”. A iniciativa decorreu a convite da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ).

Com várias escolas ligadas a associações financiadas pelo Governo que apresentam listas candidatas às eleições, os casos de campanha eleitoral através dos alunos, como acontece com a entrega de panfletos, não são incomuns. Por esse motivo, a CAEAL destacou a necessidade das direcções garantirem que as escolas se mantêm à margem do acto eleitoral.

O presidente da comissão, o juiz Seng Ioi Man, frisou na sessão que “as escolas públicas devem manter uma posição neutra, e que os seus funcionários devem igualmente manter uma posição neutra perante as diversas listas de candidatura, durante a execução das suas tarefas, não podendo proceder a propaganda eleitoral durante o horário ou no espaço de trabalho”.

Em relação às escolas privadas, o responsável defendeu que a “Lei Eleitoral não regula especificamente as escolas privadas em matéria de propaganda eleitoral”, mas que as orientações internas “devem ser decididas e aplicadas pelas próprias instituições de ensino privado, mas sempre em conformidade com a lei e realizadas dentro do período de propaganda eleitoral”.

Emprego | Ella Lei pede mais ajudas a jovens e idosos

A deputada Ella Lei defende que o Governo precisa de lançar mais apoios ao emprego dos jovens e das pessoas mais velhas. Foi desta forma que a deputada ligada aos Operários fez a antevisão da apresentação das primeiras Linhas de Acção Governativa (LAG) do Governo de Sam Hou Fai, que decorrem na próxima segunda-feira.

Segundo o jornal Ou Mun, a deputada espera que o Governo possa lançar novos subsídios, cursos de formação e criar novas oportunidades de emprego para estes grupos.

Ella Lei recordou que Sam Hou Fai destacou a garantia dos direitos laborais dos residentes como uma das suas prioridades do mandato, deixando a esperança que o Governo faça uma revisão do número de autorizações de trabalho concedidas aos não residentes. Neste capítulo, Lei espera que haja maiores incentivos para os locais assumirem posições de chefia, principalmente nas grandes empresas.

Além disso, Ella Lei quer que o Governo reforce o combate contra os trabalhadores ilegais, citando as queixas dos residentes de que nos sectores de construção, restauração, ou motoristas é normal existirem trabalhadores ilegais e nos últimos anos ainda entram em outros sectores como convenções e exposições, turismo e filmagens.

Habitação | Pedido apoio para quem está em lista de espera

Em plena pré-campanha eleitoral, Nick Lei tem insistido no tema da habitação. O deputado divulgou ontem uma interpelação escrita onde pede o retorno do subsídio para quem espera por uma fracção de habitação social, e a redução do tempo de espera pela entrega de uma casa

 

A mais de três meses do início da campanha para as próximas eleições que vão seleccionar o elenco futuro da Assembleia Legislativa, Nick Lei parece ter escolhido uma das suas prioridades: a habitação pública.

Depois de na segunda-feira, o deputado ligado à comunidade de Fujian ter divulgado uma resposta do Instituto de Habitação a uma interpelação escrita sobre habitação económica, ontem foi a vez de endereçar a habitação social.

Nick Lei insiste no retorno do subsídio para ajudar a pagar a renda a candidatos que esperam por uma fracção. O chamado “abono de residência” foi criado no segundo mandato de Edmund Ho na liderança do Governo, para ajudar famílias que cumpriam os critérios de acesso a uma habitação social, mas que se encontravam em lista de espera, por não existir apartamentos disponíveis.

Na última ronda do apoio, em 2022, o valor do subsídio era de 1.650 patacas por mês, para agregados com um ou dois membros, e de 2.500 patacas por mês, para agregados familiares com mais de duas pessoas.

O deputado reconhece que num futuro próximo, a oferta de habitação social poderá satisfazer a procura. Mas, para já, há quem espere por uma fracção há mais de dois anos e meio.

“Importa realçar que as famílias que esperam por habitação social são todas compostas por residentes desfavorecidos economicamente. Apesar de o Governo ter garantido que a espera por uma fracção foi reduzida para um ano, depois da implementação do mecanismo de candidatura permanente, isso continua a não reflectir a espera real entre os vários tipos de tipologia de apartamentos”, afirmou o deputado.

Mais vale sós

Nick Lei dá o exemplo das candidaturas a apartamentos T1 de habitação social, que largamente excedem a oferta. Mas admite que os blocos deste tipo de habitação pública na Zona A dos Novos Aterros, que devem estar concluídos entre 2026 e 2027, podem ajudar a solucionar a situação, oferecendo cerca de 4.088 apartamentos, dos quais 3.276 são T1. Além disso, também o complexo de habitação social da Avenida Venceslau de Morais, o Edifício Mong Son irá ajudar a colmatar as lacunas do lado da oferta. Este prédio é composto por três blocos, com 24 a 35 pisos, três pisos em cave, disponibilizando 885 fracções de tipologia T1 e 705 fracções de tipologia T2, num total de 1.590 fracções de habitação social.

O deputado defende que a pressão financeira provocada pelo mercado de arrendamento afecta seriamente as famílias mais pobres, principalmente face à subida anual de 3,9 por cento das médias das rendas no ano passado.

Outra das exigências do deputado, prende-se com a garantia máxima que o Governo deu de quatro anos, entre o momento em que uma candidatura a habitação social é aceite e a entrega de uma casa. Nick Lei gostaria que este período de garantia fosse reduzido.

LAG 2025 | Cheques, economia e Grande Baía devem ser apostas de Sam Hou Fai

As Linhas de Acção Governativa para este ano são apresentadas na segunda-feira, marcando a estreia de Sam Hou Fai num dos mais aguardados momentos do calendário político local. As receitas do jogo e previsões económicas devem estar em cima da mesa, segundo José Sales Marques e Lou Shenghua. O futuro dos cheques pecuniários poderá ser outro assunto a ter em atenção

 

Sam Hou Fai está há quase cinco meses no Governo e prepara-se para apresentar, na próxima segunda-feira, o seu primeiro relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. As grandes expectativas costumam residir nos montantes dos cheques pecuniários, os valores atribuídos em apoios sociais e demais previsões orçamentais, sobretudo depois de o território atravessou um duro período económico com a covid-19.

As LAG 2025 deverão centrar-se nesses temas, e na integração de Macau nos vários projectos de cooperação a nível regional, como a ilha de Hengqin ou a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Cumprindo a tradição anual da política local, Sam Hou Fai fez a habitual ronda de auscultações às associações locais, a fim de saber as suas opiniões sobre as principais medidas a tomar.

Ouvido pelo HM, o economista José Sales Marques espera clareza nas políticas anunciadas a nível económico. “Gostaria de ver estas LAG trazerem maior claridade quanto a políticas económicas e a visão para o futuro da RAEM. Falo de medidas de carácter estrutural, que estimulem a confiança do investidor privado, e que concretizem também as tais reformas da administração pública para aumentar a eficiência e eficácia”, destacou.

Sales Marques disse ainda que “gostaria de ver claramente formuladas as posições e prioridades de Macau no seu relacionamento com países e regiões do mundo, incluindo medidas que levem a aprofundar o papel de Plataforma Sino-Lusófona e de base de diálogo multicultural”.

Lou Shenghua, analista político e docente da Universidade Politécnica de Macau (UPM), disse que as principais ideias apresentadas estarão de acordo com aquilo que Sam Hou Fai apresentou no programa eleitoral. “A tónica poderá ser colocada na melhoria da eficácia da governação, na diversificação económica moderada, na construção da Zona de Cooperação de Hengqin e nas questões relacionadas com os meios de subsistência das pessoas”, disse o analista, frisando que “os cidadãos poderão estar mais preocupados com as questões relacionadas com os meios de subsistência”.

E que programa apresentou Sam Hou Fai em Setembro do ano passado, quando se vislumbrou que seria o único candidato ao cargo de Chefe do Executivo? Um programa que tem como “objectivo máximo satisfazer as expectativas dos cidadãos por uma vida melhor” e a “orientação fundamental de implementar o princípio ‘um país, dois sistemas’ de forma plena, correcta e firme”. Não foi esquecida a importância da segurança nacional, referindo-se a necessidade de defesa “da soberania, segurança e interesses do desenvolvimento do país”. Sobre a RAEM, Sam Hou Fai disse querer erguer um “Macau alicerçado no Estado de Direito, dinâmico, cultural e feliz”.

O então candidato único a chefiar o Governo prometeu melhorar a capacidade governativa da administração local. “Empenhar-nos-emos na elevação da capacidade e do nível de governação da RAEM, na mudança dos conceitos de governação, na optimização da forma de governação, na persistência de governação de Macau em conformidade com a lei, e no aprofundamento da reforma da Administração Pública e do sistema jurídico”.

Assim, disse “optimizar as formas de governação, dar maior importância ao papel dos órgãos consultivos, dos especialistas e académicos, e das associações de amor à pátria e a Macau, auscultar amplamente as opiniões e sugestões dos diversos sectores, dos diferentes ramos de indústria e das diversas camadas sociais”. Resta saber o se as LAG vão trazer estes aspectos latos para o campo das acções e medidas concretas.

Cheque mate

Na segunda-feira, a agenda prossegue como habitual na apresentação de um relatório das LAG. Primeiro Sam Hou Fai irá à Assembleia Legislativa, a partir das 15h, fazer uma apresentação geral aos deputados das questões políticas e orçamentais essenciais para este ano, seguindo-se uma conferência de imprensa.

No dia seguinte, é dia de debate no hemiciclo sobre o mesmo relatório, seguindo-se depois os debates sectoriais com todos os secretários até ao dia 30 deste mês.

Um dos temas políticos que têm estado na ordem dia é o valor dos cheques pecuniários e se estes deixam, ou não, de ser atribuídos a residentes que vivem fora de Macau. Há analistas a defender a reformulação do programa, mas Sales Marques recorda que “o valor previsto para os cheques pecuniários na discussão do orçamento para 2025 é de 10 mil patacas para residentes permanentes”.

“As receitas orçamentais previstas tiveram por base de cálculo uma previsão de receita bruta de jogo de 240 mil milhões de patacas à média de 20 mil milhões por mês. Acontece que as receitas efectivas obtidas até ao fim do primeiro trimestre do corrente ano ficaram aquém das previstas, com um desvio de menos cerca de quatro mil milhões de patacas. O Governo da RAEM já anunciou pela voz do secretário para a Economia que as receitas fiscais inscritas no orçamento em vigor podem não ser atingidas.”

Tendo em conta estas previsões menos optimistas, referidas, aliás, pelo próprio secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, na última semana, Sales Marques acredita que, a haver ajustamentos nos cheques, serão “pequenos”. “Quanto ao método de distribuição, prevejo que continue a ser o mesmo”, rematou.

Já Lou Shenghua acredita que “o plano de comparticipação pecuniária pode sofrer alterações”. “Em termos de montante, é provável que se mantenha o valor de dez mil patacas por residente, mas quanto à forma, poderá ser atribuído em vales de consumo”, referiu.

No passado dia 1, o secretário Tai Kin Ip afirmou que as contas orçamentais estão ainda aquém do esperado. “Reparámos que nos primeiros três meses de 2025 as receitas brutas dos jogos atingiram 57,66 mil milhões de patacas, permanecendo o valor praticamente inalterado em termos anuais, não alcançando ainda a esperada média mensal de 20 mil milhões de patacas”.

Assim, foi deixado o alerta de que “as receitas financeiras do corrente ano poderão não ser tão optimistas como o previsto”, sendo necessário “estudar seriamente a futura situação económica e persistir na gestão dos recursos financeiros com prudência”.

Jogo e outras histórias

Relativamente ao sector do jogo, que continua a ter um peso predominante na economia, Sam Hou Fai confirmou há sensivelmente um mês que as concessionárias e os casinos-satélite têm até ao final do ano que preparar a transição para um modelo de exploração sem subconcessões. Ficará nas “mãos” das concessionárias decidir se vão ou não explorar estes casinos directamente.

Para Sales Marques, esse dossier “preocupa diversos sectores da sociedade, não só pela questão do emprego dos seus trabalhadores, mas também pela repercussão que terá o seu encerramento nas zonas da cidade onde se encontram, sobretudo no comércio a retalho e na restauração, pequeno comércio em geral”.

Assim, “será prudente evitar grandes choques na conjuntura actual”. “Tudo se fará para regularizar essas unidades nos termos da lei em vigor, sem provocar o seu encerramento imediato”, acrescentou.

Já Lou Shenghua espera “haver espaço para negociação sobre a distribuição das receitas entre os casinos-satélite e as concessionárias”.

Apesar das preocupações que residem no desemprego destas pessoas, Sam Hou Fai adiantou em Março, à TDM, que podem ser afastados esses receios. “Sei que os trabalhadores dos casinos-satélite estão distribuídos pelas empresas de jogo, portanto as operadoras têm a responsabilidade de os absorver ou de ter planos para estes trabalhadores”, frisou.

Leis para que te quero

Tendo em conta o historial de Sam Hou Fai na justiça, pois presidiu ao Tribunal de Última Instância desde o estabelecimento da RAEM, podem esperar-se algumas medidas novas na área do Direito.

Sales Marques deposita a expectativas na criação de novos regulamentos “que sejam mais facilitadores ao funcionamento da economia”, bem “mais favoráveis ao ambiente competitivo de negócios desta região da Grande Baía, nomeadamente quanto à contratação de recursos humanos qualificados, condições oferecidas à sua estadia e o das suas famílias e regulamentos administrativos menos burocráticos”.

Lou Shenghua acredita que este poderá, de facto, “prestar mais atenção à reforma jurídica”, embora esta “deva estar em conformidade com as políticas governamentais e acompanhar o ritmo dos tempos, não devendo ser reformada só porque sim”, salientou.

Economia | Bolsas asiáticas caem a pique após colapso de Wall Street

As acções asiáticas abriram ontem em forte queda, dando seguimento ao colapso de sexta-feira em Wall Street devido à imposição de tarifas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e à reacção de Pequim.

Os mercados de futuros nos EUA também fecharam no vermelho, com o S&P 500 a perdeu 4,2 por cento, enquanto o Dow Jones Industrial Average caiu 3,5 por cento. O índice Nasdaq perdeu 5,3 por cento.

As negociações em Tóquio abriram em queda expressiva, com o Nikkei, o principal índice da bolsa nipónica, a perder quase 8 por cento, logo após a abertura do mercado. Uma hora mais tarde, estava a cair 7,1 por cento, para 31 375,71. O segundo índice nipónico, o Topix, também abriu a perder 8,64 por cento no início da sessão.

O Kospi da Coreia do Sul abriu a perder 5,5 por cento para 2.328,52, enquanto o S&P/ASX 200 da Austrália começou as negociações a cair 6,3 por cento para 7.184,70.

O índice de referência da Bolsa de Taipé, o Taiex, poucos minutos após a abertura, caiu 9,8 por cento, perdendo 2.054 pontos, para 19.243, com a empresa tecnológica Hon Hai (Foxconn), o maior fabricante mundial de produtos electrónicos, e a gigante taiwanesa TSMC, que domina o mercado mundial de fundição de chips, a registarem também perdas próximas dos 10 por cento.

De igual modo, os preços do petróleo continuaram em plano descendente, com o preço de referência do petróleo dos EUA a cair 4 por cento, ou 2,50 dólares, para 59,49 dólares por barril. O petróleo Brent, o padrão internacional, cedeu 2,25 dólares para 63,33 dólares por barril.

O mercado monetário também registou grandes movimentos, com o dólar americano a cair para 145,98 ienes japoneses, de 146,94 ienes, sendo que iene é muitas vezes visto como um porto seguro em tempos de turbulência. O euro subiu de 1,0962 dólares para 1,0967 dólares.

Recessão à vista

Na sexta-feira, no pior registo desde a Covid-19, Wall Street fechou com o S&P 500 a cair 6 por cento e o Dow 5,5 por cento. O Nasdaq composto caiu 5,8 por cento.

As perdas aceleraram depois de a China ter igualado o grande aumento dos direitos aduaneiros anunciado por Trump na quarta-feira da semana passada, fazendo subir a parada numa guerra comercial que poderá terminar com uma recessão da economia mundial.

Mesmo um relatório melhor do que o esperado sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos, divulgado na sexta-feira, que normalmente se assume como o destaque económico de cada mês, não foi suficiente para suster a queda dos mercados. Todas as acções das 500 empresas do índice S&P 500, excepto 14, caíram na sexta-feira.

A resposta da China às tarifas norte-americanas provocou uma aceleração imediata das perdas nos mercados mundiais. O Ministério do Comércio de Pequim anunciou que irá responder às tarifas de 34 por cento impostas pelos EUA sobre as importações da China com a sua própria tarifa de 34 por cento sobre as importações de todos os produtos norte-americanos a partir de 10 de abril, entre outras medidas.

Os Estados Unidos e a China são as duas maiores economias do mundo. Trump anunciou na quarta-feira que vai impor tarifas a países de todo o mundo. Sobre as taxas, o Presidente dos EUA disse que “vão trazer um crescimento como nunca se viu” e “mais rápido do que se pensa”.

No caso da UE, Trump referiu que a tarifa será de 20 por cento, uma vez que, segundo explicou, o bloco europeu tributa os produtos norte-americanos em 39 por cento, em média, enquanto a Coreia do Sul, por exemplo, os tributa em quase 50 por cento, em média. As tarifas impostas pelos Estados Unidos aos produtos sul-coreanos serão de 26 por cento.

Academia Internacional de Hong Kong contra a Corrupção (II)

A semana passada, debatemos a Independent Commission Against Corruption of Hong Kong” (HKICAC) (Comissão Independente de Hong Kong Contra a Corrupção) e a “Hong Kong International Academy Against Corruption” (HKIAAC) (Academia Internacional de Hong Kong Contra a Corrupção) e apresentámos sucintamente as suas origens. Hoje, iremos analisar o Comissariado de Macau contra a Corrupção, (CCAC).

Em 1975, durante a administração portuguesa de Macau, o combate à corrupção era levado a cabo pela Polícia Judiciária. Em 1992, o então Governo de Macau criou o Alto Comissariado Contra a Corrupção e a Ilegalidade Administrativa. Tendo como referência a experiência de Hong Kong, que se tinha tornado um dos locais do mundo mais impolutos, no momento de redigir a Lei Básica de Macau, foi claramente estipulado que teria de ser criado o CCAC.

O website do CCAC sublinha o trabalho empenhado que desenvolve para rever a lei e fortalecer a luta contra a corrupção. Um dos casos mais ilustrativos é o de Ao Man Long:

“A investigação do caso de corrupção a Ao Man Long teve início em 2005, quando no decorrer da investigação de um caso de corrupção com base na informação entretanto disponível, o CCAC descobriu que o então Secretário para os Transportes e Obras Públicas estava envolvido por suspeitas de abuso de poder. Terá aceitado subornos de montantes avultados oferecidos por empresários da construção civil e indicado os vencedores de concursos de adjudicação de grandes obras do Governo.”

(Em Abril de 2007, foi concluída a primeira fase do inquérito contra Ao Man Long. Descobriu-se que, no período em que exerceu funções do Secretário, o seu património atingiu um total de 800 milhões de patacas, ou seja, 57 vezes superior às remunerações do cargo. Na sua residência, foram encontrados dinheiro, títulos de valor, abalones, barbatanas de tubarão, relógios de luxo, garrafas de vinho tinto caríssimas e outros objectos. No passado dia 30 de Janeiro, o TUI condenou Ao Man Long, por 57 crimes de corrupção passiva, branqueamento de capitais, abuso de poder e outros, à pena de prisão de 27 anos e ao pagamento de uma indemnização de 240 mil patacas ao Governo da RAEM, sendo declarados perdidos a favor do Governo todos os bens provenientes dos actos ilícitos.)

Isto mostra que o CCAC alcançou resultados extraordinários no seu trabalho de combate à corrupção.

Em 2006, foi criada em Pequim, a Associação Internacional de Autoridades Anti-Corrupção (IAACA sigla em inglês). É a primeira organização internacional anti-corrupção do mundo com agências de vários países membros. Visa promover activamente a “Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção” e reforçar a cooperação internacional entre as agências congéneres de vários países. Cao Jianming, Procurador-Geral da Procuradoria Popular Suprema da China, foi eleito Presidente da IAACA por duas vezes, a 5 de Novembro de 2010 e a 24 de Novembro de 2013. O mandato do Presidente da IAACA é de três anos. A 5 de Janeiro de 2022, o Comissário da Comissão Independente contra a Corrupção de Hong Kong, Bai Yunliu, foi eleito como novo presidente. Mais tarde, Bai Yunliu aposentou-se. A 1 de Setembro de 2023, Hu Yingming assumiu o cargo de presidente da IAACA.

A IAACA tem um “Secretariado da Federação”, criado pelo HKICAC a 6 de Janeiro de 2022 para apoiar o Comissário do HKICAC no exercício das suas funções como Presidente da IAACA. A principal responsabilidade da Secretaria da Federação é apoiar ou organizar actividades. O HKIAAC é afiliado à Divisão de Cooperação Internacional e Assuntos Institucionais do HKICAC e desempenha parte das funções do Secretariado da Federação.

O Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, acredita que, além de cooperar com o trabalho e as políticas anti-corrupção da China, o HKICAC também coopera com organizações de todo o mundo para promover conjuntamente a causa anti-corrupção a nível global. O HKICAC pode ajudar a aperfeiçoar a luta contra a corrupção em Hong Kong, promover o ambiente impoluto da região e promover a estabilidade, a integridade e o Estado de direito da sociedade de Hong Kong.

Actualmente, o HKICAC já deu formação em mais de 70 países. Em Fevereiro de 2024, o HKICAC coorganizou um “Curso Internacional Anti-corrupção sobre Investigação Financeira e Perseguição de Fugitivos e Recuperação de Activos Roubados”, com duração de nove dias, em colaboração com a “Rede Operacional de Agências de Aplicação da Lei Anti-corrupção do Escritório de Drogas e Crime” das Nações Unidas.

Em Março de 2024, o HKICAC abriu um curso profissional anti-corrupção de cinco dias para mais de 90 funcionários do “Gabinete de Combate ao Enriquecimento Ilegal” no Mali, cobrindo tópicos como técnicas de investigação, gestão da integridade e educação pública. No início de Abril de 2024, o HKICAC enviou pessoal para o Cazaquistão, na Ásia Central, para realizar cursos para quase 200 funcionários de agências locais anti-corrupção.

Em Maio de 2024, o HKICAC assinou um memorando de cooperação com a Rede Operacional de Agências de Aplicação da Lei Anti-Corrupção do Gabinete das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime. Em Maio de 2025, auxiliou-a na redação das “Directrizes de Gestão de Risco de Corrupção Prisional”.

Um porta-voz do HKICAC assinalou: “O HKICAC valoriza a operacionalidade que combina a teoria com a prática, cumpra activamente a sua missão anti-corrupção, construa uma plataforma internacional de integridade, promova o desenvolvimento da causa anti-corrupção a nível global e contribua inequivocamente para o avanço desta em todo o mundo.”

O HKICAC forneceu várias formações anti-corrupção em muitos países e trabalhou afincadamente para combater a corrupção global. Estas conquistas foram feitas sob a liderança da China. A partir de agora, o HKICAC não só continuará a desenvolver com competência este trabalho, como a sua existência falará em prol da história da China e de Hong Kong.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Email: cbchan@mpu.edu.mo

Arquitectura | Proposta de Nuno Soares para praia de Hac-Sá vence prémio

“Park of Tides”, projecto liderado pelo arquitecto Nuno Soares, do atelier “Urban Pratice”, recebeu o Prémio de Prata na categoria “Landscape Design – Public Landscape” nos London Design Awards 2024.

A proposta, lançada em concurso público por convite pelo Instituto para os Assuntos Municipais de Macau no início de 2024, tinha como objectivo “criar um percurso pedestre acessível que ligasse as duas extremidades da praia, incorporando simultaneamente instalações de lazer”, descreve o comunicado.

“Park of Tides” inspira-se “no ritmo natural das marés”, tendo uma área de 12 mil metros quadrados, onde se reinterpreta “o percurso com uma expansão em forma de onda”. Prevê-se, nesta proposta, “um espaço moderno, verde e acessível à beira-mar, que valoriza a beleza natural e o valor recreativo da Praia de Hac Sá”.

Nuno Soares desenvolveu ainda três zonas, centradas no lazer e espaços interactivos, na exploração de materiais naturais e actividades ao ar livre e ainda outro local com “design e instalações contemporâneas”. Assim, em conjunto, estas três zonas “reimaginam a zona ribeirinha como um destino multifuncional e inclusivo para os visitantes se envolverem, explorarem e descontraírem”.

Citado pela mesma nota, Nuno Soares explicou que este projecto “adopta uma abordagem de impacto mínimo, onde estruturas permeáveis e materiais naturais se envolvem com o terreno”, além de representar um “compromisso” do atelier “com práticas arquitectónicas sustentáveis e inclusivas, assegurando a preservação ecológica ao mesmo tempo que aumenta o bem-estar da comunidade”.

Os London Design Awards, em conjunto com a International Awards Associate, reconhecem projectos que são excepcionais e de influência criativa propondo-se a promover trabalhos de designers envolvidos em vários campos, trazendo reconhecimento aqueles que superam a indústria.

Imagens sobre a China povoam nova mostra da Halftone

A Halftone – Associação Fotográfica de Macau inaugura esta sexta-feira uma nova exposição dedicada à cultura e visões da China. “O Espírito da China” é o nome da mostra que pode ser vista no piso 3 do empreendimento The Parisian Macao, no Cotai, a partir das 18h30, estando patente até ao dia 11 de Maio.

Esta exposição coletiva reúne os trabalhos de 17 fotógrafos radicados em Macau, que exploram, através de narrativas visuais fortes, a evolução da identidade chinesa e o seu significado contemporâneo. Incluem-se nomes como João Palla, Sofia Mota, Sara Augusto ou Francisco Ricarte, entre outros. Alguns dedicam-se exclusivamente à fotografia, outros apenas fazem dela um passatempo. A ideia é revelar este cruzamento de formas de fotografar.

Segundo um comunicado da Halftone, que publica também uma revista de fotografia, “a mostra propõe uma reflexão sobre a forma como a urbanização rápida e o surgimento de megacidades coexistem com bairros históricos, como os rituais religiosos e festividades antigas dialogam com a cultura digital, e como as novas gerações estão a redefinir o que significa ser chinês no século XXI”.

“Com recurso à fotografia documental, contemporânea e conceptual, os trabalhos percorrem o tempo e o espaço — passado, presente e futuros imaginados — oferecendo visões profundas sobre património, marcos urbanos e novas formas de expressão visual”, acrescenta-se.

Uma dinâmica própria

A Halftone aponta ainda, na mesma nota, que “mais do que uma representação do legado chinês”, esta exposição “revela a identidade como uma força viva — constantemente moldada por mudanças sociais, dinâmicas da diáspora e interconectividade digital”. “O público é convidado a reflectir sobre a coexistência entre o antigo e o novo, e a envolver-se com o espírito de uma nação em transformação”, é ainda referido.

“O Espírito da China” mostra um país que “tem passado por uma transformação impressionante nas últimas décadas, reconfigurando não apenas os seus horizontes urbanos e paisagens arquitectónicas, mas também a própria essência da sua identidade cultural”. “Perante uma modernização acelerada e o avanço da tecnologia, uma nova geração tem vindo a construir um diálogo dinâmico entre tradição e inovação”, descreve a nota.

Caligrafia | FRC acolhe nova mostra a partir de hoje

A galeria da Fundação Rui Cunha acolhe uma nova mostra de trabalhos de caligrafia. Trata-se de “Feelings Expressed in Ink”, da autoria da artista e docente Ao Wan U e de alunos do Centro I Chon da União Geral das Associações de Moradores de Macau, conhecidos também como Kaifong

 

A Fundação Rui Cunha (FRC) inaugura hoje, a partir das 18h30, a mostra colectiva de caligrafia com o nome “Feelings Expressed in Ink”, com trabalhos da artista e professora Ao Wan U e alunos séniores do Centro I Chon da União Geral das Associações dos Moradores de Macau. A entidade co-organiza este evento em conjunto com a Associação de Poesia dos Amigos do Jardim da Flora.

Esta mostra apresenta cerca de 60 obras de caligrafia a caneta e pincel, ricas em contexto e diversidade, executadas por 40 artistas amadores de idades compreendidas entre os 45 e os 88 anos de vida.

“A caligrafia, um aspecto essencial da cultura chinesa, transporta a sabedoria e as tradições estéticas desenvolvidas ao longo de milhares de anos. Não é apenas uma forma de arte, mas também um caminho para o crescimento espiritual”, refere Ao Wan U, citada por um comunicado da FRC.

A responsável acrescenta ainda que “além de despertar o potencial mental dos nossos participantes mais maduros, a prática da caligrafia serve para enriquecer a sua compreensão e apreciação desta forma de arte, através da aprendizagem colaborativa e da troca. Os participantes transmitem as suas histórias com tinta, expressando as suas emoções através das obras de arte. Este esforço reflecte com perfeição o princípio da “aprendizagem ao longo da vida”, revelou ainda.

A paixão da arte

Na apresentação da mostra, Ao Wan U, que foi tutora deste projecto, refere a sua dedicação ao universo da caligrafia, na ligação à docência.

“Como tutora deste projecto, possuo um mestrado em Educação e mais de 20 anos de experiência no ensino da caligrafia. Recebi vários prémios do Concurso de Caligrafia de Macau para Professores do Ensino Básico e Secundário, reflectindo o meu profundo empenho em nutrir uma paixão por esta forma de arte. A minha dedicação à excelência na educação valeu-me o reconhecimento como ‘Tutora de Excelência'”, explicou.

A responsável ensina também caligrafia não só em escolas de ensino formal, mas também em programas de educação contínua para alunos adultos. “Através destes programas, espero contribuir para aumentar a sua autoconfiança e auto-estima”, disse. A mostra vai estar patente na FRC por um curto período de tempo, terminando já este sábado, 12.

Japão | Casal imperial de visita a Iwo Jima

A visita dos imperadores japoneses serve para assinalar o 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, num território que foi palco de uma das batalhas mais sangrentas do conflito

 

Os imperadores do Japão, Naruhito e Masako, chegaram ontem à ilha de Iwo Jima, cenário de uma das batalhas mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial, no âmbito das celebrações do 80.º aniversário do fim do conflito global.

É a primeira vez que o casal imperial visita a ilha remota, agora oficialmente designada Ioto, situada a cerca de 1.250 quilómetros a sul de Tóquio, onde irá prestar uma homenagem diante dos memoriais de guerra aí erguidos.

A Batalha de Iwo Jima é considerada uma das batalhas mais sangrentas da Campanha do Pacífico da Segunda Guerra Mundial. Durante as cinco semanas que durou, cerca de 7.000 soldados norte-americanos e quase 22.000 soldados japoneses foram mortos, entre 80.000 soldados que combateram nesta ilha de apenas 21 quilómetros quadrados.

A tomada da ilha, remota e fortemente fortificada, em 26 de Março de 1945, foi considerada um passo fundamental no avanço das forças aliadas no Pacífico, com vista a invadir o território principal do arquipélago japonês, embora a importância estratégica da batalha seja ainda debatida pelos especialistas.

A ilha foi devolvida à soberania japonesa em 1968 e oficialmente rebatizada Ioto em 2007, a pedido dos habitantes da zona, nome efectivamente utilizado pelos antigos habitantes. A ilha foi erradamente designada por Iwo Jima quando os habitantes foram retirados pouco antes da batalha.

Após a ocupação, os habitantes não foram autorizados a regressar e, durante a ocupação norte-americana, a ilha manteve esse nome, o que contribuiu para popularizar a legenda da fotografia histórica de Joe Roshental, em que os fuzileiros navais norte-americanos estão a hastear a bandeira dos EUA, uma imagem adaptada para o cinema por Clint Eastwood.

Outras visitas

Em 1994, os imperadores Akihito e Michiko visitaram a ilha para prestar homenagem, no âmbito do 50.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, assinalado um ano mais tarde.

A presença de Naruhito e Masako segue-se a uma homenagem anterior, em 29 de Março, protagonizada pelo primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, e pelos ministros da Defesa do Japão e dos Estados Unidos, Gen Nakatani e Pete Hegseth.

A digressão dos imperadores, este ano, prossegue em Junho com uma passagem por Okinawa, a prefeitura da ilha mais a sul do Japão, onde teve lugar outra das batalhas mais emblemáticas desta guerra, a Batalha de Okinawa.

Nos próximos meses, o casal imperial visitará ainda Hiroshima e Nagasaki, na primeira viagem às cidades devastadas pelos bombardeamentos nucleares norte-americanos desde que ascenderam ao trono.

China preparada para travar combate comercial com EUA

O jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) admitiu ontem que as taxas impostas por Washington terão impacto na economia chinesa, mas ressalvou que a liderança em Pequim já vinha a preparar-se para este momento.

“Embora os mercados internacionais considerem, de modo geral, que os abusos tarifários dos Estados Unidos excederam as expectativas, o Comité Central do Partido [Comunista] já tinha previsto esta nova ronda de contenção e repressão económica e comercial contra a China, estimou plenamente o seu potencial impacto e preparou planos de resposta com tempo de antecipação e reservas suficientes”, afirmou o Diário do Povo.

Reconhecendo que a aplicação de taxas alfandegárias adicionais de 34 por cento sobre as importações oriundas da China, além das taxas de 20 por cento impostas anteriormente, resultará numa “redução do comércio bilateral com os EUA” e num “impacto negativo a curto prazo para as exportações”, o jornal lembrou que “muitos produtos dos EUA têm elevada dependência da China”.

“Os EUA dependem da China não só para muitos bens de consumo, mas também para investimento e produtos intermédios, com uma dependência superior a 50 por cento em várias categorias, o que torna difícil encontrar alternativas no mercado internacional a curto prazo”, lê-se no editorial.

A percentagem das exportações da China para os Estados Unidos, em relação ao total das suas vendas externas, caiu de 19,2 por cento, em 2018, para 14,7 por cento, em 2024. Parte desta queda deve-se ao ‘comércio triangular’, no qual os produtos são exportados quase concluídos da China para outros países, incluindo Vietname, Tailândia ou Camboja, onde é acrescentado um componente ou acabamento, visando alterar o local de fabrico, visando contornar as taxas.

O Diário do Povo lembrou que, nos últimos anos, “apesar das pressões internas e externas”, Pequim “tem persistido em fazer coisas difíceis, mas correctas”, incluindo desalavancar o sector imobiliário e reduzir o endividamento das administrações locais e das pequenas e médias instituições financeiras. “Estes três grandes riscos foram eficazmente controlados e contidos e estão a diminuir”, assegurou.

Em grande

Apontando a “grande dimensão” da economia chinesa, o jornal lembrou que a China dispõe de instrumentos de política monetária, como a redução do rácio de reservas obrigatórias e das taxas de juro, para estimular o consumo interno com uma “força extraordinária”, o que permitiria ao país asiático reduzir a sua dependência das exportações.

“O mercado interno tem uma ampla margem de manobra”, afirmou o jornal oficial do Partido Comunista Chinês. E sublinhou ainda a capacidade do país para transformar o efeito adverso das medidas dos EUA num “impulso” para acelerar a transformação económica e a “inovação industrial”.

“Estrangular, reprimir e restringir apenas forçará a China a acelerar os avanços tecnológicos fundamentais em áreas-chave”, avisou.

Comércio | EUA acusados de unilateralismo, proteccionismo e intimidação

A guerra comercial imposta ao mundo por Donald Trump intensifica-se. Pequim responde com novas taxas e suspende importações de vários produtos norte-americanos, enquanto assegura que “o céu não vai cair”

 

A China acusou ontem os Estados Unidos de unilateralismo, proteccionismo e intimidação económica, face ao intensificar da guerra comercial entre Pequim e Washington.

“Colocar a ‘América em primeiro lugar’, acima das regras internacionais, é um acto típico de unilateralismo, proteccionismo e ‘bullying’ económico”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Lin Jian, em conferência de imprensa.

Na semana passada, Trump impôs uma taxa adicional de 34 por cento sobre produtos oriundos da China, como parte do “Dia da Libertação”, que se somou a duas rondas de taxas de 10 por cento já declaradas em Fevereiro e Março. A China retaliou rapidamente com a sua própria taxa de 34 por cento sobre produtos norte-americanos.

Pequim também suspendeu as importações de sorgo, aves de capoeira e farinha de ossos de algumas empresas norte-americanas. As últimas medidas de retaliação da China incluem mais controlos de exportação sobre minerais de terras raras, essenciais para várias tecnologias, e uma acção judicial na Organização Mundial do Comércio.

Lin afirmou que as taxas impostas por Trump prejudicam a estabilidade da produção global e das cadeias de abastecimento e afectam seriamente a recuperação económica mundial. “A pressão e as ameaças não são a melhor forma de lidar com a China,” disse Lin. “A China salvaguardará firmemente os seus direitos e interesses legítimos”, acrescentou.

Votos de confiança

Pequim transmitiu ontem confiança, com o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista, a assegurar que “o céu não vai cair”. “Perante os golpes indiscriminados das taxas americanas, sabemos o que estamos a fazer e temos instrumentos à nossa disposição”, acrescentou.

Não se sabe se o líder da China, Xi Jinping, se vai reunir com Trump para chegar a um acordo. Lin dirigiu as perguntas sobre uma possível reunião a outros departamentos. No domingo, funcionários do Governo chinês reuniram-se com representantes de empresas norte-americanas, incluindo a Tesla e a GE Healthcare.

“A raiz do problema das taxas alfandegárias está nos EUA”, disse Ling Ji, vice-ministro do Comércio, na reunião com 20 empresas norte-americanas, de acordo com um comunicado. “Esperamos que as empresas americanas possam resolver o problema pela raiz, emitir declarações razoáveis, tomar medidas concretas e trabalhar em conjunto para salvaguardar a estabilidade das cadeias de abastecimento global”, afirmou.

Ling, que é também o negociador comercial adjunto da China, garantiu que o país asiático protegerá os “direitos e interesses legítimos das empresas financiadas por estrangeiros de acordo com a lei” e “promoverá activamente a resolução dos seus problemas e exigências”

Protecção garantida

O vice-ministro chinês do Comércio, Ling Ji, disse ontem a representantes de empresas norte-americanas como a Tesla e a GE Healthcare que Pequim “sempre protegerá” os direitos das empresas com capital estrangeiro, face à guerra comercial desencadeada por Washington.

“A China tem sido, é e será um destino de investimento ideal, seguro e promissor para investidores estrangeiros”, disse Ling, durante uma mesa redonda com mais de 20 empresas de capital norte-americano, em Pequim, segundo um comunicado difundido pelo Ministério do Comércio chinês.

O Dragão e a Alegria dos Peixes de Yu Xing

Zhong Kui, o patrono dos estudantes é muitas vezes representado de pé sobre uma estranha criatura que, observada desde a cauda, apresenta um rabo de peixe que se vai transformando num dragão, um compósito designado ao.

Nos exames imperiais, desde a dinastia Tang até à dos Song, entre 618 e 1279, os candidatos que estudaram para o exame imperial, depois de o completarem aguardavam o resultado numa escadaria onde estava esculpida a figura de uma dessas criaturas fantásticas. O que ficava em primeiro lugar, o primeiro a pisar a cabeça do ao, originou um ditado para indicar um feito bem-sucedido – duzhan aotou, «apreender a cabeça do ao».

Os descendentes do imperador, durante a dinastia Qing designados em manchu a-ge, não estavam sujeitos a esse exame, mas o seu regime de estudos não era menos exigente. Desde as três da manhã estudando, entre outros os Quatro livros e os Cinco clássicos, sem férias, com apenas cinco dias livres por ano.

Um dos mais brilhantes herdeiros dessa dinastia foi Aisin-Gioro Hongli, que entre 1735-95 ocuparia o trono do filho do dragão com o nome Qianlong. Um episódio da sua biografia confirma-o, quando impressionou o seu poderoso avô, o imperador Kangxi (1654-1722). Tinha então doze anos quando o encontrou pela primeira vez no Pavilhão das peónias do antigo palácio de Verão Yuanmingyuan, o «Jardim do brilho perfeito». Na ocasião ele recitou de cor o poema de Zhou Dunyi (1017-1073) Em louvor do loto, a flor que nasce para a beleza, indiferente ao lodo de onde vem.

Quando por sua vez se tornou imperador, o neto recordou o grato encontro com o avô nomeando dois lugares onde este decorreu; o pavilhão do jardim das peónias passou a «A lua emergindo, as nuvens afastam-se», e o local onde estudou com ele, «Vento e pinheiros entre uma miríade de vales». De modo habitual também lembrou o lugar mandando executar a pintura Manhã gloriosa durante o guxian, o terceiro mês lunar (tinta e cor sobre seda, 179,4 x 106,2 cm, no Museu do Palácio Nacional em Taipé).

Yu Xing (1736-1795), nascido na colina Yushan em Changshu (Jiangsu), o autor desse painel, era um pintor da corte de Qianlong que se distinguira em minuciosas pinturas de flores, plantas, insectos e peixes. Num rolo horizontal que fez sob o tema Peixes e algas (tinta e cor sobre papel, 28,5 x 157,8 cm, vendido na Sotheby’s), Qianlong escreveu um poema provando o seu apreço:

Algas verdes como jade

espalhadas por todo o lago

e peixes nadando livres entre as algas.

Esta cena faz-me pensar

na inutilidade da nossa vida.

Observando os peixes divertindo-se

transmite-me uma grande alegria.

O clássico Zhuangzi afirma, sem explicar a razão por palavras, que é mesmo jubilosa a vida dos peixes. E quem sabe se não é essa alegria que está figurada na persistente representação de um peixe que voará, leve e poderoso como um dragão.

Turismo | Quase 409 mil visitantes em três dias

Entre sexta-feira e domingo, 408.778 visitantes entraram em Macau, segundo dados divulgados pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública.

O fim-de-semana prolongado pelo feriado Cheng Ming (dia dos finados) registou um número de entradas de visitantes progressivamente menor, ou seja, depois dos mais de 173 mil turistas que chegaram a Macau na sexta-feira, o número foi diminuindo até domingo.

Como manda a tradição, o posto fronteiriço das Portas do Cerco registou o maior fluxo de travessias, com 185.152 entradas de visitantes nos três dias, seguido pelo posto da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, com 81.464 entradas e o posto de Hengqin com 62.854. Com o registo durante o fim-de-semana prolongado, o número de entradas em Macau desde o início do ano ultrapassou os 10 milhões de visitantes.