Guerra Comercial | Lionel Leong confiante na economia do país João Santos Filipe - 31 Mai 2019 O secretário para a Economia e Finanças admite que houve uma quebra económica durante o primeiro trimestre, mas recusa, para já, que esta se deva ao impacto da guerra comercial que opõe a China aos EUA. Leong mostrou-se ainda confiante na economia chinesa, mas não nega que o consumo dos turistas possa ser afectado [dropcap]A[/dropcap]pesar de admitir ter havido uma quebra no Produto Interno Bruto (PIB) durante o primeiro trimestre do ano em Macau, Lionel Leong recusa a ideia de que se trate de um efeito da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Segundo o secretário para a Economia e Finanças a quebra aconteceu, mas ficou principalmente a dever-se ao facto dos grandes investimentos do Governo, como a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, ou ao facto de os grandes casinos, no sector privado, estarem concluídos. “Em termos do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, e em comparação com o período homólogo, houve uma redução. Em 2018 houve mais factores a contribuir para o crescimento do que os existentes neste ano. Já tinha previsto esta situação na Assembleia Legislativa que poderia haver uma alteração na economia”, afirmou Lieonel Leong. “Este ano houve alterações no investimento, não tivemos nenhum grande projecto público como no ano passado com a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Também a nível do sector privado há menos investimento porque as infraestruturas ficaram quase todos concluídas em 2018”, explicou. O secretário admite que a guerra comercial possa ter um impacto no poder de compra dos turistas, porém, mostra-se confiante no desempenho económico da China e de Macau. “Em termos do turismo sabemos que pode haver um impacto no poder de compra dos visitantes. Sabemos que esse é um facto importante. Mas vamos estar atentos”, clarificou Leong. Já em relação a um possível um efeito negativo para as exportações chinesas para os Estados Unidos, que passam por Macau, Lionel Leong considerou que o impacto deve ser muito reduzido: “Também estamos atentos aos produtos da China que são exportados através de Macau para os Estados Unidos. Mas a quota de mercado é muito baixa e não é relevante para o PIB”, apontou. O secretário mostrou ainda confiança inabalável na economia chinesa: “Em termos da guerra comercial estamos confiantes no desenvolvimento económico do País e de Macau”, sublinhou. Em termos económicos, o Governo da RAEM garante que a prioridade passa por manter a economia estável. “Estamos todos a trabalhar para que a economia de Macau se possa desenvolver de forma estável. Fazemos os possíveis para também crescer, mas o objectivo é ter uma situação estável”, apontou.
Emissão de dívida portuguesa em moeda chinesa “foi um sucesso”, diz ex-presidente do IGCP Hoje Macau - 31 Mai 2019 [dropcap]O[/dropcap] ex-presidente do IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública João Moreira Rato sublinha que “Portugal foi precursor em termos de emissões soberanas em ‘panda bonds’” e considera que “a operação foi um sucesso”. “É uma iniciativa positiva ir procurar novas bases de investidores da forma o mais segura possível e com os menores riscos possíveis”, afirmou João Moreira Rato, em declarações à agência Lusa. “Acho que esta operação, principalmente, representa para Portugal uma opção de entrar num mercado que no futuro pode ser muito representativo, mas que nesta fase ainda está numa fase de desenvolvimento insipiente”, acrescenta o ex-presidente do IGCP. Para João Moreira Rato, “o que se espera é que, tendo sido um dos primeiros a entrar e acumulando alguma experiência neste mercado, Portugal fique bem colocado no futuro para ter acesso a uma outra base de investidores, que é uma base de investidores com um potencial enorme”. Embora apontando a componente “política” da operação, que deve ser inserida no “contexto das relações bilaterais entre Portugal e a China”, João Moreira Rato considera que esta aposta numa “base de investidores novas pode ser importante no futuro” e constituiu uma “justificação técnica” para a opção pelas ‘Panda Bonds’. Quanto ao risco associado à operação, o ex-presidente do IGCP admite que “a cobertura pode ser difícil”, mas não a considera “arriscada demais”: “Penso que o IGCP há de ter acautelado os riscos e esse, provavelmente, foi um dos factores que levou a que a operação fosse mais pequena”, referiu. “[A operação] pode fazer sentido do ponto de vista financeiro, em termos de explorar novas bases de clientes. Agora o que se pode é questionar se não haveria outras bases de clientes que também deveriam ser pensadas e que poderiam ser mais baratas, mas isso são escolhas que depois têm de se fazer”, disse à Lusa. “Tenho a certeza que a escolha está bem fundamentada tecnicamente pelo IGCP, a partir daí é uma escolha mais política do Ministério das Finanças entre a opção A, B ou C”, acrescentou. Portugal colocou ontem dois mil milhões de renmimbi (260 milhões de euros) em ‘Panda Bonds’ a três anos com juros anuais de 4,09%, anunciou em comunicado o tesouro português. Segundo um comunicado divulgado na página da Internet do IGCP, a procura dos investidores pelos títulos “foi forte”, 3,165 vezes o montante colocado, tendo permitido rever em baixa a taxa de juro para 4,09%. Em 27 de maio, o IGCP tinha anunciado que iria colocar dois mil milhões de renmimbi (260 milhões de euros) em ‘Panda Bonds’ a três anos com a taxa de juro a variar entre 3,90% e 4,5%. Esta operação de ‘Panda Bonds’ foi a primeira emissão em moeda chinesa de um país da zona euro e a terceira de um país europeu. Com esta operação Portugal acedeu ao terceiro maior mercado de obrigações do mundo, refere ainda o IGCP. A emissão realizada pelo IGCP só avançou depois de Portugal ter tido ‘luz verde’ das autoridades chinesas para emitir títulos de dívida em moeda chinesa – as chamadas ‘Panda Bonds’. “Um sinal económico” A emissão de dívida feita por Portugal em moeda chinesa é um sinal “mais económico do que político”, disse à agência Lusa Carla Fernandes, do Instituto Português de Relações Internacionais da Nova. A investigadora do IPRI-Nova disse que a aproximação entre Portugal e China é algo que já está a acontecer “há muito tempo” e tem-se estreitado depois da visita do presidente chinês, Xi Jinping, a Portugal, no ano passado. Carla Fernandes recordou que, durante esta visita, foram assinados vários protocolos, incluindo um para a emissão das ‘Panda Bonds’, que hoje foi concretizada. Mais recentemente, foi o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que visitou a China, recordou a investigadora, salientando que as boas relações entre os dois países tiveram a sua prova principal na transferência “muito pacífica” da soberania de Macau para a China. Carla Fernandes deu ainda conta de que entre os países europeus “Portugal está no grupo” dos que contam com melhores relações com a China, tendo também a conta as ligações históricas entre os dois países ao longo de vários séculos.
China acusa Estados Unidos de “terrorismo económico” Hoje Macau - 30 Mai 2019 [dropcap]A[/dropcap] China declarou hoje que a guerra comercial bilateral iniciada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, com taxas alfandegárias punitivas e sanções contra empresas chinesas, é “terrorismo económico”. “Somos contra a guerra comercial, mas não temos medo dela”, declarou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Hanhui, em conferência de imprensa. “Opomo-nos firmemente a este recurso sistemático às sanções comerciais, às taxas alfandegárias e ao proteccionismo. Esta instigação premeditada de um conflito comercial é terrorismo económico, chauvinismo económico e assédio económico em estado puro”, advertiu. A declaração do responsável chinês surgiu no momento em que a China se mostra progressivamente mais ofensiva perante aquilo que considerou serem pressões intoleráveis de Washington. A guerra comercial entre as duas potências intensificou-se desde que Washington aumentou, no início deste mês, as taxas alfandegárias punitivas sobre produtos chineses. Donald Trump reforçou também a pressão sobre o gigante das telecomunicações chinês Huawei, “número dois” mundial dos ‘smartphones’ e líder planetário das redes móveis de quinta geração (5G). Em nome da segurança dos Estados Unidos, uma lei proíbe desde o ano passado as administrações federais de comprarem equipamentos e serviços do grupo, ou de trabalharem com empresas terceiras que sejam clientes da Huawei. A administração de Trump proibiu também as empresas norte-americanas de venderem tecnologia à Huawei, colocando em risco o aprovisionamento crucial para o gigante chinês de componentes electrónicos produzidos nos Estados Unidos. “O unilateralisno e o assédio crescem e afectam gravemente as relações internacionais e os princípios fundamentais”, sublinhou Zhang Hanhui. “Este conflito comercial terá igualmente um impacto negativo importante sobre o desenvolvimento e o relançamento da economia mundial”, advertiu o responsável chinês. Perante o ataque de Trump, meios de comunicação social e responsáveis políticos chineses lançaram a ameaça de reduções nas exportações de terras raras para os Estados Unidos, o que poderá vir a privar as empresas norte-americanas de um recurso essencial para as tecnologias de ponta. A China assegura mais de 90% da produção mundial deste conjunto de 17 metais, indispensáveis no fabrico de ‘smartphones’, ecrãs plasma, veículos eléctricos, mas também de armamento.
Portugal realizou primeira emissão de dívida em moeda chinesa Andreia Sofia Silva e Sofia Margarida Mota - 30 Mai 201931 Mai 2019 Portugal começou ontem a emitir dívida no valor de dois mil milhões de renmimbis. A operação, intitulada “Obrigações Panda”, deverá implicar nova venda de dívida, com o mesmo montante, em 2020. Economistas falam numa tentativa da China de internacionalização da sua moeda [dropcap]A[/dropcap] operação tem o nome do mais famoso animal chinês e é inédita para um país europeu. Portugal fez ontem uma emissão de dívida em moeda chinesa no valor de dois mil milhões de renmimbi (260 milhões de euros), com uma maturidade a três anos. As “Obrigações Panda” (Panda Bonds) prevêem, de acordo com o jornal Expresso, que em 2020 se fará nova emissão de dívida com o mesmo valor. Ainda assim, esta operação representa um pequeno montante, tendo em conta que a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) vai emitir, este ano, obrigações no valor de quase 16 mil milhões de euros, a maioria na moeda europeia. Com esta colocação, Portugal será o primeiro país da zona euro a emitir dívida em renmimbi. Na semana passada, quando confirmou a realização da operação, o secretário de Estado das Finanças afirmou que “o ‘pricing’ só será fechado no dia da operação, mas antecipa-se que seja superior ao equivalente em euros”. Ricardo Mourinho Félix adiantou que “é o custo de entrada num novo mercado”. Também a presidente da IGCP, Cristina Casalinho, já disse que a emissão de ‘Panda Bonds’ surgiu como “uma oportunidade” para Portugal continuar a alargar a base de investidores. “Hoje em dia dependemos crucialmente da base de investidores que temos e o que sabemos é que investidores que compram por exemplo em dívida alemã não investem em dívidas com níveis de risco mais elevado. Se a China pode surgir como uma alternativa de continuar no esforço de alargamento da base de investidores, é importante”, afirmou ainda a presidente do IGCP quando, na semana passada foi questionada sobre a operação. Na ocasião, a presidente do IGCP disse que a operação demorou dois anos a ser negociada e que acredita que, apesar de ter uma taxa de juro associada “significativamente” mais elevada, compensará no longo prazo. Entretanto, Mário Centeno, ministro português das Finanças, declarou ao canal de televisão CNBC que a colocação das “Obrigações Panda” a três anos em renminbis é “um passo positivo na gestão da dívida externa portuguesa no médio prazo”, disse. Segundo a Global Capital, esta operação no mercado obrigacionista interbancário chinês dirige-se a investidores institucionais tanto a nível onshore como offshore, incluindo o uso da plataforma Bond Connect, lançada em 2017, que permite a investidores adquirirem obrigações tanto no mercado da China como de Hong Kong. Por cá, Lionel Leung congratulou-se com a iniciativa lusa incentivando o reforço do papel de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa seja reforçado. “Fui, ainda, informado que Portugal será o primeiro país da zona Euro a concretizar a emissão de obrigações Panda denominadas em RMB no Interior da China. Esta circunstância, além de nos encorajar a continuar a envidar os maiores esforços nos nossos trabalhos, fomentando o papel de Macau enquanto plataforma de prestação de serviços entre a China e os países de língua portuguesa é também, bastante significativa”, disse o secretário para a Economia e Finanças durante a conferência sobre a promoção da cooperação entre instituições bancárias de Macau e dos países de língua portuguesa, que decorreu ontem na RAEM. Em prol da internacionalização Para o economista Albano Martins, ao permitir que Portugal faça emissão de dívida na sua moeda é mais um passo para a internacionalização do renmimbi. “À China interessa que isto aconteça porque faz circular moeda chinesa e fá-la tornar-se mais global. O renmimbi é uma moeda que está em constante depreciação”, defendeu ao HM. Esta quarta-feira foi divulgado um relatório por parte do Departamento do Tesouro norte-americano que pede à China que evite a contínua desvalorização da sua moeda, mantendo o gigante asiático na lista de economias que merecem atenção por más práticas de câmbio. O Tesouro norte-americano apontou que continua a ter “preocupações significativas” sobre as práticas monetárias chinesas, particularmente à luz do “desalinhamento e desvalorização ” do renminbi (nome oficial do yuan, a moeda nacional chinesa) em relação ao dólar. “A China deve fazer um esforço conjunto para melhorar a transparência das suas operações e taxas de câmbio”, lê-se no documento. A moeda chinesa desvalorizou 8 por cento em relação ao dólar, no ano passado, representando um superavit comercial bilateral “extremamente grande e crescente” que, segundo o documento, cifrou-se 419.000 milhões de dólares em 2018. José Morgado, economista, falou ao HM precisamente dos riscos cambiais para o Euro com a emissão de dívida em renmimbis. Tais operações “acarretam sempre um risco quando os países não têm resultados na moeda em que se endividam”. “Quando Portugal tem financiamento numa moeda diferente, a questão que se põe é se, na altura do financiamento, tem receitas nessa moeda ou não. Se não tem, deve fazer a troca na moeda cambial e terá de comprar a moeda que necessita. Aí pode haver um risco, porque se a moeda que está a comprar for mais cara, pode ter um custo superior.” Ainda assim, Morgado acredita que este é mais um passo dado pelo Governo Central em prol da internacionalização da sua moeda. “Para que o renmimbi se internacionalize é necessário que haja mais negócios nessa moeda. A China, de modo a não estar dependente das moedas tradicionais e mais internacionais, como o dólar e o Euro, está cada vez mais a tentar fomentar os negócios na moeda chinesa.” Tal “é importante em termos estratégicos para a economia chinesa, porque lhe dá uma posição geopolítica estratégica relativamente à moeda. Além disso, as empresas chinesas, que possuem negócios em renmimbis, não tem riscos cambiais associados por realizarem negócios noutras moedas”, acrescentou José Morgado. Zona Euro “frágil” Apesar de Portugal ser o único país da União Europeia (UE) a emitir dívida na moeda chinesa, cinco Estados-membros, nomeadamente a Alemanha, Bélgica, França, Irlanda e Itália colocaram, na semana passada, um total de 35 mil milhões de euros em títulos de médio e longo prazo através de leilões e operações organizadas por sindicatos bancários. Pagaram juros mais baixos em todas as emissões e registaram uma procura muito elevada nas operações sindicadas que chegou a mais de 70 mil milhões de euros. O mercado pareceu funcionar apesar dos avisos feitos a semana passada pelo Banco Central Europeu (BCE), que disse que a economia da zona Euro está “frágil”, escreveu o Expresso. Esta quarta-feira o Euro registou um valor mais baixo face ao dólar americano, numa altura em que se mantém a tensão entre Estados Unidos e China e os investidores procuram divisas consideradas refúgio, como o iene e o franco suíço. O Euro valia, no final da tarde de quarta-feira, 1,1134 dólares, abaixo dos 1,1165 a que negociava na terça-feira quase à mesma hora. O conflito entre Estados Unidos e China, que começou com a imposição de novas taxas alfandegárias, agravou-se depois da recente decisão do Governo norte-americano de colocar o grupo chinês de telecomunicações Huawei numa ‘lista negra’, invocando argumentos de segurança nacional. O Presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou no Japão que os Estados Unidos “não estão prontos” para concluir um acordo com a China, mas também disse que existem “muito boas hipóteses” de isso acontecer em breve.
Malásia vai continuar a usar equipamentos Huawei, diz Primeiro-ministro Hoje Macau - 30 Mai 2019 [dropcap]A[/dropcap] Malásia vai continuar a usar os equipamentos do gigante das telecomunicações chinês Huawei “tanto quanto possível”, anunciou hoje o primeiro-ministro malaio, Mahathir Mohamad. A “Huawei tem um enorme avanço, mesmo sobre a tecnologia norte-americana” e “o Ocidente” deve aceitar o domínio crescente das nações asiáticas, considerou o dirigente de 93 anos, por ocasião de um fórum económico em Tóquio. A empresa chinesa tem meios de investigação e de desenvolvimento “bem mais importantes que toda a Malásia”, disse. “Por isso, vamos tentar usar a tecnologia [da Huawei] tanto quanto possível”, acrescentou. Em vez de ameaçar os rivais, “os Estados Unidos devem aceitar a concorrência. Algumas vezes a China sairá vitoriosa, outras vezes serão os Estados Unidos”, disse o governante malaio. Em plena guerra comercial contra Pequim, a administração do Presidente norte-americano, Donald Trump, proibiu recentemente as empresas dos Estados Unidos de venderem tecnologia à Huawei, “número dois” mundial dos ‘smartphones’, o que coloca em risco o aprovisionamento crucial para o gigante chinês de componentes electrónicos produzidos nos EUA. Washington suspeita, sem até agora ter apresentado quaisquer provas, que a Huawei permite aos serviços de informações chineses de utilizar o seu material para espiar as comunicações nas redes móveis mundiais. “Sim, talvez espiem. Mas o que há exactamente para espiar na Malásia? Somos um livro aberto”, afirmou Mahathir Mohamad. “Todos sabem que, se um país nos quiser invadir (…), nós não resistiremos, seria uma perda de tempo”, concluiu. Em Abril passado, o Governo da Malásia anunciou que vai retomar um projecto de ligação ferroviária, de 668 quilómetros de comprimento, que liga a costa ocidental da Malásia aos estados rurais orientais, numa ligação essencial à iniciativa chinesa de construção de infraestruturas “Uma Faixa, Uma Rota”. O acordo foi alcançado depois de o construtor chinês ter baixado os custos, sendo agora de 44 mil milhões de ringgits, uma descida de um terço em relação ao custo inicial de 65,5 mil milhões de ringgits. Em Agosto de 2018, Mahathir Mohamad cancelou também a construção de dois oleodutos, financiados pela China e avaliados em milhares de milhões de dólares, no final de uma visita oficial a Pequim, onde esperava renegociar os termos dos contratos, apoiados por bancos estatais chineses.
Crime | Macau, Hong Kong e Guangdong reforçam combate Hoje Macau - 30 Mai 2019 [dropcap]A[/dropcap]s forças policiais de Macau, de Hong Kong e da província chinesa de Guangdong reuniram-se terça-feira para reforçarem a cooperação no combate à associação criminosa, imigração ilegal e exploração de prostituição, informaram ontem as autoridades. O encontro decorreu na cidade de Foshan e juntou responsáveis das polícias de investigação criminal das três regiões que integram o projecto da Grande Baía. As forças policiais partilharam estudos sobre as novas formas de cooperação no combate à criminalidade transfronteiriça, bem como as estratégias face a fenómenos como o tráfico de droga, crimes de burla e branqueamento de capitais.
Emigrantes dizem que nada foi feito para que fossem votar Hoje Macau - 30 Mai 2019 [dropcap]V[/dropcap]ários representantes da emigração defenderam ontem, em Lisboa, que nada foi feito para que os emigrantes fossem votar nas eleições europeias, reclamando mais acção dos partidos e do Governo portugueses na mobilização dos eleitores. A análise aos resultados das eleições europeias de 26 de Maio na emigração, onde a abstenção se situou nos 99%, marcou ontem a reunião dos membros do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas (CCP) com os deputados da Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas. Nestas eleições, o universo eleitoral no estrangeiro subiu de menos de 300 mil para 1.431.825 eleitores, em resultado de alterações introduzidas no processo de recenseamento dos emigrantes, que passou a ser automático, com o número de votantes a situar-se nos 13.816. “Estamos todos recenseados, mas nada foi feito para irmos votar. Nenhum partido fez campanha, não houve informação”, disse António Cunha, que representa os portugueses residentes no Reino Unido. Nelson Ponta Garça, dos Estados Unidos, classificou o recenseamento automático como “a maior vitória” das comunidades nos últimos anos, mas apontou falhas aos partidos e à administração eleitoral na forma de comunicar com as comunidades, defendendo uma maior aposta nas redes sociais. “Já não estamos no tempo dos dinossauros”, disse, considerando que as mensagens de sensibilização para o voto através das emissões internacionais da televisão pública não chegam à maior parte das comunidades. “A rede consular está rebentada, estoirada, miserável. É a preocupação número um das comunidades e é essencial resolver esta questão”, disse. Conselheiros e deputados apontaram falhas na votação em países como a França, Bélgica ou Luxemburgo, onde os portugueses com dupla nacionalidade não conseguiram votar para a eleição de eurodeputados portugueses, defendendo a necessidade de analisar estas questões com vista a fazer os ajustamentos possíveis. É já a seguir Com as legislativas de 6 de Outubro no horizonte, todos os partidos políticos se comprometeram a reforçar o trabalho de divulgação e sensibilização para o voto junto da emigração. “Temos de trabalhar no sentido de garantir maior proximidade das mesas de voto aos eleitores”, disse Paula Santos, do PCP. O Conselho Permanente, órgão de cúpula do Conselho das Comunidades Portuguesas, está reunido até sexta-feira em Portugal na sua habitual reunião anual. Com um mandato de quatro anos, os conselheiros estão organizados num conselho permanente, conselhos regionais, comissões temáticas, secções e subsecções, e reúnem-se em plenário, em Portugal, uma vez por mandato.
Da identidade dos Macaenses e de outros portugueses do Oriente (continuação) Jorge Morbey - 30 Mai 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Portugal, a referência a pessoas de determinada localidade expressa-se, pelo adjectivo derivado do nome da mesma localidade. Por exemplo: lisboeta é o natural de Lisboa, ou gente de Lisboa. Na China, a forma para designar a naturalidade é semelhante. Por exemplo: Beijing ren, Xangai ren (gente de Pequim, gente de Xangai). No caso de Macau, único em todo o território da China, Ao Men ren (gente de Macau, em mandarim) Ou Mun yan (em cantonense) é uma designação que não inclui toda a população de Macau. Na minuciosa especificação que os chineses fazem da população de Macau, Ao Men ren ou Ou Mun yan não significa toda a população de Macau. Significa, apenas, a população chinesa de Macau. Os macaenses são designados, pelos chineses de Macau, por “t’ou-san” (filhos e filhas da terra, habitantes locais). A população chinesa de Macau distingue os portugueses em: macaenses e reinóis, ou metropolitanos. Aos euro-asiáticos ou macaenses chamam “t’ou-san”, como já se disse. Aos “portugueses de Portugal” chamam “Kuai-lôu” (gíria: diabo, ele ou ela). E especificam ainda o género: “ngau-sôk” (lit.: tio boi) e “ngaû-pó”(lit.: mulher vaca). Por seu lado, os macaenses distinguem-se dos chineses. Tradicionalmente autodenominavam-se “macaístas” ou “maquistas” e designavam os chineses por “chinas”. Os chineses de Macau que recebiam o baptismo e adquiriam um nome cristão/português eram conhecidos por “chong cao” (convertido ao cristianismo, novo cristão). O peso social dos macaenses em Macau outorgou-lhes a distinção social “t’ou-san” que, ao mesmo tempo, impede “Ao Men Ren” ou “Ou Mun yan” de significar “todos os naturais de Macau”, como acontece em todas as localidades do Continente. Isto significa que, do ponto de vista dos chineses de Macau, a sua terra é uma singularíssima excepção na China. É deles. Mas é, também, dos macaenses. O fenómeno da miscegenação não é vulgar no interior da China. Quando existe alguém, meio chinês e meio estrangeiro, a designação é “Hun Xue Er”, literalmente: misturado; mestiço. 8. A Mulher na Família Macaense “1600 – Macau conta na sua população com 600 famílias indo-portuguesas” (B.B. Silva : ob. cit.) “1635 – António Bocarro diz na sua Descrição de Macau: Os cazados que tem esta cidade são oitocentos sincoenta portugueses e seus filhos que são muito mais bem dispostos, e robustos, que nenhum que haja neste oriente, os quaes todos tem huns e outros seis escravos darmas de que os mais e milhores são cafres e outras naçoens(…). Além deste número de cazados Portuguezes tem mais esta cidade outros tantos cazados entre naturais da terra, Chinas Christãos que chamam jurubassas de q’ são os mais, e outras nações xtãos (…). Tem alem disto esta cidade muitos marinheiros pilotos e mestres solteiros Portuguezes os mais delles cazados no Reino, outros solteiros que andão, nas viagens de Japão, Manila, Solor, Macassar, Cochinchina, destes mais de cento e sincoenta, e alguns são de grossos cabedais de mais de sincoenta mil xerafins que por nenhũ modo querem passar a Goa por não lançarē mão delles ou as justiças de Sua Magde. e assy tambem muitos mercadores solteiros muito ricos em que melitão as mesmas razões”. (idem). Ao longo do século XVII, apenas uma mulher portuguesa (europeia) existiu em Macau (MONTEIRO: 2007). Peter Mundi afirmou também que, em 1632 – quase um século depois do estabelecimento dos portugueses em Macau – não existia na cidade mais do que uma mulher europeia, sendo as outras mestiças, euro-asiáticas. Sobre a participação da mulher chinesa na construção da sociedade macaense, a historiografia divide-se. Bento da França (1897), Álvaro de Melo Machado (1913), Francisco de Carvalho e Rego (1950) e Carlos Estorninho (1952), entre outros, argumentam que a entrada das mulheres chinesas na sociedade de Macau foi tardia: “Por três séculos /…/ os portugueses não casaram com mulheres chinesas “. Posição contrária é tomada por Charles Boxer (1942) e pelo Padre Manuel Teixeira (1965), entre outros, que sustentam a participação da mulher chinesa na sociedade macaense, desde o início: “Os portugueses casaram com mulheres chinesas e, assim, (Macau) gradualmente foi povoada. (D’Avalo: 1638, citado por BOXER: 1942). Eu defendo a participação tardia da mulher chinesa na sociedade macaense pelas seguintes razões: – Os padrões de controlo social, tradicionalmente xenófobos entre os chineses, desqualificavam socialmente as mulheres chinesas que se relacionassem com estrangeiros. Esta situação parece ter começado a sentir algum alívio somente após a proclamação da República na China (1911). – Era costume antigo em Macau, a afixação e circulação de “pasquins” contendo crítica social: ao governador, a pessoas com destaque social e a factos e eventos que pisassem os limites da “normalidade macaense”. Produzidos no séc. XIX, existem “pasquins” ridicularizando, em patuá, casamentos anunciados, de homem macaense ou reinol com mulher chinesa. Isso não aconteceria se tais casamentos fossem uma prática habitual; – Construído em 1860, o Teatro D. Pedro V é propriedade da Associação dos Proprietários do Teatro D. Pedro V cujos Estatutos não permitiam a entrada a chineses. Esta discriminação étnica não aconteceria se fosse comum a mulher chinesa deter o estatuto de cônjuge nas famílias macaenses; – os chineses convertidos à religião católica, nascidos em Macau, recebiam a designação de “tchong cao” (inscrito na religião, novo cristão) mas não o de “tou san” (filho da terra), embora beneficiassem de um estatuto mais próximo do dos macaenses. – O crioulo de Macau (Patuá ou Maquista) é gémeo do crioulo de Malaca [Kristang] e o seu léxico contém escassa influência do cantonês (BATALHA: 1988). Como língua falada predominantemente na relação familiar – linguagem que se aprende no berço -, parece que a influência decisiva na construção da Família Macaense, entre os sécs. XVI e XIX , não terá sido da mulher portuguesa, nem da mulher cantonense. Esse papel terá sido desempenhado principalmente pela mulher euro-asiática não chinesa, (indo-portuguesa, de Malaca e de Timor-Flores, principalmente). À medida em que a influência da mulher euro-asiática não chinesa se foi distanciando, o Patuá foi perdendo terreno para o português padrão, acolhendo escasso número de léxico inglês – e de muito cantonense – que o conduziu ao processo de extinção, a par da entrada da mulher cantonense na sociedade macaense que alcança o seu auge entre 1945 e 1974, e marca o fim do papel da mulher asiática não chinesa na sociedade macaense e a sua substituição pela mulher cantonense. – A sociedade macaense tradicional, marcada pela mulher asiática não chinesa, tinha uma identidade própria que se empenhava na sua diferenciação activa do sul da China. Sempre resistiu à sua diluição no ambiente chinês, em retribuição, aliás, à atitude relutante dos chineses em relação à intrusão dos portugueses em território da China. 9. A ambivalência Cultural Macaense A comunidade macaense euro-asiática de origem chinesa, bem como os precedentes macaenses euro-asiáticos de origem não-chinesa, atribuíam um peso desigual aos elementos constitutivos da sua herança cultural ambivalente. Historicamente, a componente portuguesa era maximizada e a componente asiática secundarizada. Para um observador menos atento, certos comportamentos, com maior visibilidade no relacionamento de netos luso-chineses com avós maternos chineses, poderiam parecer incompreensíveis. Não resultando de conflito inter-geracional, a sua origem situava-se em “zona de diferença étnica”, aprofundada por eventual incompatibilidade cultural (escarro ou arroto ruidoso, uso dos pausinhos que vão à boca para retirar comida da travessa, etc.). A primeira geração de um casamento luso-chinês (homem português com mulher chinesa é o “casamento regra” entre 1945/74) é detentora de uma herança biológica mestiça paritária (50% chinesa-han/50% portuguesa-europeia). Mas este equilíbrio genético – que se mantém pela vida fora – não é observado no desenvolvimento comportamental dos indivíduos. Segundo Albert Bandura, psicólogo contemporâneo que elaborou a teoria da aprendizagem social, uma das mais importantes fontes de influência na aprendizagem humana é o comportamento dos outros. Diariamente somos expostos a uma enorme multiplicidade de modelos que, em diferentes contextos, exibem, desde os comportamentos mais simples, aos mais complexos. A observação desses comportamentos e das suas consequências será, em grande parte, determinante na aprendizagem. Mas a aprendizagem humana é selectiva. Os indivíduos tendem a imitar as figuras que lhe são significativas. Em regra, na primeira etapa da vida, o horizonte de observação e aprendizagem do indivíduo é o seu ambiente familiar, nomeadamente a estrutura interna da família. Quer na China, quer em Portugal, a autoridade parental, o papel de liderança da família, é atribuído ao marido / pai. Daí decorre a assumpção da herança cultural paterna como património familiar principal, mesmo quando ele opta pela educação dos seus filhos no exterior ou em escolas estrangeiras. Os casamentos inter-étnicos luso-chineses são principalmente entre homens portugueses e mulheres chinesas. Em tais casamentos, as referências culturais portuguesas são transmitidas de uma geração para a seguinte como as principais referências. 10. A educação dos macaenses Uma das decisões mais importantes nos casamentos luso-chineses diz respeito à educação das crianças. A educação nas escolas portuguesas era a escolha óbvia. Tão óbvia quanto a autoridade do pai dentro da família. A opção pela educação em português era a centrifugação definitiva que separava as duas componentes culturais das crianças macaenses, moldando a sua matriz cultural portuguesa e relegando os elementos da sua herança cultural chinesa para a periferia dessa matriz básica. É, portanto, compreensível que os macaenses falem, leiam e escrevam português, mas, em regra, não podem ler nem escrever chinês, embora falem cantonense. A capacidade de ler e escrever uma língua é a chave para o acesso à respectiva cultura. No caso dos macaenses, o domínio do português falado e escrito tem sido o factor decisivo da sua ligação à cultura portuguesa. Da mesma forma, a incapacidade de ler e escrever chinês tem sido o factor determinante do seu distanciamento da cultura chinesa, de cujas formas mais eruditas são absolutamente estranhos. Depois de concluírem os estudos secundários, alguns jovens macaenses, em regra, iam para as Universidades portuguesas e os restantes permaneciam em Macau. Para estes, a sua entrada na vida profissional, principalmente no Funcionalismo Público, coroavam os esforços iniciados com a decisão tomada pelo pai quando eram crianças e recompensava-os com o prestígio social de fazer parte da máquina administrativa que regulava a vida de Macau. Era impossível e impensável que um jovem macaense completasse o ensino secundário e fosse continuar os estudos numa universidade chinesa, no Continente ou em Taiwan. (continua)
A rosa selvagem admin - 30 Mai 201912 Jun 2020 «Con cua nằm yên trên thớt Không biết khi nào con dao sẽ rơi.»* “[dropcap]V[/dropcap]iemos ver se estavas intacto”, foi o que disseram, enquanto um deles colocava as mãos nos meus ombros, como se quisesse cravar-me no chão. “Saber como evoluíste. Quem és”. No limiar do milésimo avaliavam a minha robustez, mas também a minha cognição. Quase que não tive tempo para falar, nem sabia o que dizer, o resultado da minha existência não tinha sido para além do satisfatório. Mas eles tomavam-me apenas como um exemplar, não me queriam apontar valor menos comensurável. A ideia nunca terá sido fazer de mim um líder, nem a espinha dorsal de um povo. Deixaram-me estar. Hoje, sei que em situações de apuro, não foram muitas, me deram a mão. Mas ao longo dos anos, não se intrometeram na minha vida e deixaram-me ao deus dará. Se não fosse comigo, se estivesse a falar de outra pessoa, seria fácil colocar este assunto no papel sem indignar o próximo. Sempre que o faço, ouço logo uma série de palavrões para que pare de inventar, porque o que digo não corresponde à verdade. “Lá estás tu!”, é a expressão que usam. Ninguém tem de acreditar. Cada um vive na sua psicosfera, maios ou menos amedrontados pelos seus temores. E daí não se sai. Cada um com o seu mambo. Apesar do limite difuso, considero que é melhor pôr a cabeça fora da toca e ficar sujeito aos temporais, aventurando-nos pela brecha que encontrarmos, ou na graça de uma linha invisível, do que ficar quietinho receosos do desconhecido. Por isso, vou continuar a contá-lo. Saltou o fim primeiro. Não faltarão mais intermissões. Preciso de me socorrer da Internet para reportar o dia certo em que ocorreu. A relevância em saber o dia, a hora ou o mês é menor. A importância de determinada ocorrência tem sempre uma condição redutora quando amarrada à memória. Vale o que vale. Tivesse ocorrido uma catástrofe natural ou um jogo de futebol, teria sido mais notado. Seja como for, não sou capaz de contá-lo de maneira a que faça sentido. Nunca soube. Tinha 18 anos e saía do Cinema Condes, em Lisboa, onde acabara de ver o filme ‘Platoon’ com o meu avô. O último filme que vi com ele. Enaltecido pelos Óscares, tinha estreado há pouco em todo o país. Ele queria ver a História a acontecer, crua e imbecil, o comportamento humano, a voracidade dos americanos, perdidos e sem freio, a reacção vietcongue, a crueldade do campo, das famílias indefesas e de como, no meio de toda aquela iguaria, era retratado o comunismo. Eu quis ir porque gostava do realizador no seu fato de argumentista e porque era o filme mais badalado da altura, um filme duro. Oliver Stone realizava o seu primeiro grande projecto cinematográfico. Duas horas cheias de carnificina e explosões no escuro, era o que nos esperava. Qualquer filme sobre a Guerra do Vietname tinha como termo de comparação ‘The Deer Hunter’ – não sei se ainda tem – que tinha visto anos antes no prolongamento de uma noite de passagem de ano. Em Portugal intitulou-se ‘O Caçador’. Um filme interminável, que nunca termina na nossa cabeça, com as suas frentes, a guerra e a paz, e nada pelo meio. O sangue-frio que preludia a luta desumana com uma caçada ao veado; concluída na paz podre do regresso à vida mundana, deixando o espírito em fervura para sempre. Só há uma vida quando alguém se vê acolhido numa guerra. Esgotam-se, uma coisa na outra. Não há espaço para mais. Quem sobra, fica apenas com o corpo como contento. Um dos caçadores era John Savage, ídolo de miúdo. Entrava também no enredo sobre a guerra civil em El Salvador, filmado por Stone no ano anterior. Savage interpretava aí um fotojornalista destemido que acaba por morrer sob fogo cruzado, agarrado à sua câmara. “You got to get close to get the truth. You got too close you die.” Embora tentassem, no Platoon os actores não eram tão carismáticos como no Caçador; ali era mais a acção, a câmara em cima das personagens, a correr a seu lado, sem complacência, como mais um companheiro de batalha, ou a face do inimigo. A virtude de estar vivo perante o sacrifício de uma luta que não era a deles, em nome de um ideal de pátria, que se escondia debaixo das unhas, sem significado aparente. “We didn’t fight the enemy, we fought ourselves… and the enemy was in us!”, confessava o protagonista destroçado. Não eram os bravos do pelotão, epíteto que se colou ao rótulo da versão portuguesa, eles tentavam apenas safar a pele, levando o corpo como salvação ao regressar a casa. Ou o que restasse dele. A morte crua em todo o alcance da razão. A câmara a transportar os corpos trucidados para dentro dos choppers Huey, que se avantajavam para permanecer incólumes no ar. Tudo isso às escuras no Cinema Condes, que já tinha sido cave para sociedades secretas onde, entre meninas e conspirações contra a pátria, se cozinharam outros vietnames. Sob o olhar vesgo das hordas de cinéfilos locais, o Condes seria tomado pelos americanos mais tarde. Não há nota de que algum helicóptero o tivesse acudido. Se no Caçador, a hipertrofia mental era simbolizada por Robert De Niro como alicerce para uma exacerbada tragédia fílmica; no hiper-realismo caricatural de Oliver Stone, originalmente escrito a pensar em Jim Morrison como o herói, o apogeu e queda revelam-se com a morte de Willem Dafoe, o messias do Vietname, que não teve tempo para ser pregado à cruz. Em ambos, a linha para a realidade é delicada e a tensão é glorificante. Actores que se transformam em máquinas de guerra sem discórdia. O sargento De Niro, o mais bravo da matilha, a usar balas reais na rodagem na famosa cena da roleta russa. Não esquecer a banda sonora, que nos ficou também a circundar as sinetas da emoção. Avô e neto. Cada um para seu lado, em tempos de vida diferentes, em conhecimento díspar. O bíblico Dafoe de braços no ar, num ressalvar dos céus para a Quinta Sinfonia de Mahler, que não o era, mas que tanto fazia, porque a conhecíamos melhor, num pequeno adágio que já tinha surgido no ‘Homem Elefante’, erigido no início dessa mesma década por David Lynch e em mais uns quantos filmes. Eu sei, o Valério Romão, colega de carteira e de apelido, diz sempre que me perco. É verdade. Aqui, os pregos da memória colam-se com cuspo. Samuel Barber, um génio que aos dois anos já dedilhava as teclas de um piano e aos seis era a coqueluche dos saraus familiares, escreveu, aos 26 anos, o adágio mais triste que as cordas podem fustigar. Um tormento. Em Lynch, picotado ao definhar de Joseph Merrick; em Stone, à firmeza de Charlie Sheen de nunca voltar para casa. A obra expressa a coragem do compositor para sair do seu covil, ostentando na arte o verdadeiro sentir. Misantrópico. “No doubt many wonderful souls have shrunk and refused to put their real emotions into art for others to know”. A transcendência confessional do seu talento traduzida em absoluta tristeza por não ousar análoga veracidade no batalhão familiar. Perde-se o corpo fica a alma. Mas não foi o filme que importou nesse dia. Nem o facto de conversar com o meu avô sobre ele. que não sobreviveu à sua traiçoeira guerra, “the smell of napalm in the morning”, meses depois. Foi, sim, o chamamento que se lhe seguiu. A verificação do estatuto. O último check-out, que se prolongou num longa metragem, até ao dia em que escrevo. Já os tinha notado quando fui à casa-de-banho no Condes. Fizeram-me sinal, era inconfundível. Não eram seres com antenas ou luzinhas a brilhar no olhar, nem vinham vestidos de negro, era gente comum. Pessoas banais: arrumadores de carros, vendedores de fruta, rapariguinhas perfumadas de lanterna no escuro do cinema. Passavam despercebidos, mas existiam para recolocar as linhas do espaço; para que o desenho que tinham elaborado, em recorrentes abduções infantis, não sofresse quebras. Seguindo o argumento de que todos fazíamos parte. Viver é sofrer, dizem os veteranos do Vietname. Somos como o caranguejo que aguarda o cair da faca. Sobrevive-se encontrando sentido no sofrimento, uma luta de mentiras e propaganda levada pelos tecnocratas e fazedores de armas. Todos os homens são criados iguais. Acreditamos no mesmo. Vida, liberdade e busca da felicidade. Espírito aberto. Tudo se passou enquanto o meu avô fumava o seu último cigarro. Ficara tudo como estava. “Quem eram aqueles?”, terá pensado sem perguntar, antes de entrarmos num “carro de praça”, como ele chamava aos táxis. Achou que não seria importante. Não lhe disse que os bravos do seu pelotão tinham perdido a guerra. Quem haveria de supor que o desfecho seria esse? A luta é sempre desigual. Não faz sentido. Não é preciso ser maior de idade para chegar a essa conclusão. * «O caranguejo fica quieto na tábua de cortar. Sem saber quando a faca vai cair.» Escrito por um soldado vietcongue desmoralizado, após a sangrenta batalha de Ia Drang, em 1965; lugar onde o Vietname não é Norte nem Sul, mas apenas terreno perdido em mata densa e traiçoeira.
De Eva para Lillith António Cabrita - 30 Mai 2019 [dropcap]I[/dropcap]sto anda tudo ligado, sendo, o mais das vezes, em rede, por contágio ou intoxicação voluntária, que a criatividade se insemina. Leio a sinopse de Um Homem é Um Homem de Brecht e percebo de imediato a fonte do Nicanor Parra para escrever o seu poema Um Homem. Tal como é nítida a sombra da faca de Macbeth em Faca Só Lâmina de Guimarães Rosa. E talvez isso até não aconteça somente por refração ou influência, mas pelo que Benjamin insinua sobre BB e as autorreferências nos seus textos: «A relação que ele mantém com a sua história é igual à do professor de ballet com a aluna: o primeiro objectivo é flexionar as articulações dela até ao limite impossível». Quando se lê numa atitude que não seja reverencial mas como quem participa num banho de ideias e formas, acontece que a boa sugestão do poema não nos pareça ser explorada a contento (a bailarina foi preguiçosa e as suas flexões não desenharam todas as figuras que lhe eram possíveis) e então assinalamos, anotamos a sugestão de uma emenda à parte ou fazemos uma variante, tornando-se esse poema matéria-prima para um delito. Gostava de um dia ter a insolência para publicar um volume com os “poemas emendados” que guardo na gaveta, de vários poetas (no meu blogue, Raposas a Sul, expus um dos crimes que cometi: em Fortunata critica: Beirão no aeroporto). Foi uma magnífica escola de poesia, esse manejo das facas do açougueiro; arroubos de uma montagem muito godardiana. Nunca compreendi a atitude passiva, basbaque, diante de um poema. Uma coisa é a humildade e o reconhecimento dos nossos limites, outra o que nos é lícito fazer em privado para melhorar e expandir o estro que parcamente nos coube e aí o diálogo interpelativo com os textos dos ancestrais que escolhemos pode dar bons resultados e mais depressa, por saturação, escreveremos contra aquela orbe, afastando a influência. É como no luto, ultrapassa-se atravessando-o, com a dor e a irracionalidade necessárias. Tratemos a fascinação como um luto que temos de atravessar. Quando cheguei a Moçambique, a erosão – humana, urbana e ambiental – que se me deparou era tão descomunal que tive vergonha pela frivolidade de noventa por cento das guerrinhas entre os meus amigos literatos, entre as diversas gerações ou capelas, mesquinhos dramas burgueses (e estendo a coisa aos que se julgam marginais e independentes), e durante algum tempo, face àquele choque da realidade, suspeitei do autárquico regime das metáforas. Deixei de conseguir ler Char ou Gamoneda. Do primeiro, só uma biografia que mostrava a dignidade do seu percurso de vida me recuperou o poeta; quanto a Gamoneda só o voltei a apreciar quando, após um jejum de cinco anos, me consenti voltar às metáforas. Um dia numa aula abri a Poesia Toda do Herberto e li um poema aos alunos. Sangraram aquelas orelhas contra a espinhosa – sem referências mínimas para o desfrute e a beleza que, para mim, ali se engendrava; iluminando-se-me então que a beleza é algo que floresce na apropriação de um contexto -, e, simultaneamente, vi o aparato de que o poema se servia para camuflar que resvalava para uma vácua dimensão abstracta (- daí que, contra alguns, tenha gostado tanto do concreto para o qual guinou o Herberto, nos últimos livros). E a aula saiu dos eixos, usei de tesoura e cola e mudei o poema do Herberto, ou enxuguei-o em catorze versos. Telefonei-lhe para contar como lhe assassinara a vaidade, mas atendeu-me a dona Olga e de rajada perguntou sarcástica: “Então Cabrita, como vão essas pretas?”, o que me inibiu a tesão de mijo. De outra vez, fiz crime de lesa-majestade ao emendar publicamente um poema de Craveirinha, um dos que mais gosto mas falho na chave final. Chama-se Exíguas Palavras: «Posso jurar que a solidão me tacteia. / Uma a uma esvaziando-se no rígido vazio / exíguas são as palavras que me ocorrem. / Rimas de livros fitam-me indulgentes. / Desde Camões ao Eça passando por Tolstoi / são-me vãs as respostas que contêm. // Um sobressalto interrompe-me a escrita. / Na maneira yankee de chamar deve ser o Hemingway. // Jamais estaremos socraticamente sós. Há sempre em nós um Chaplin. / Não são os grãos de areia um por um que povoam os desertos?// O que há de eterno não sou eu que tenho de o consumar. // É irritante o farfalho do vento nas persianas. / Mahatma Gandhi só sucede para os lados da Índia. // Não fumo. Volutas de cigarro são meu anacronismo. / Nem me faz sua volúpia a mínima gota de álcool. // Chateado levanto-me. Pressuroso. // Na torradeira as torradas estão a queimar-se.» Um homem faz contas à vida, às suas ilusões e precaridade das palavras, inexoravelmente sozinho com os seus modelos esfiapados pela realidade e que até os seus vícios vê declinar. Sobra-lhe apenas o riso com que a realidade num golpe brusco (maldita torradeira) se apodera do desanimo. Este poema é a branda ilustração de um ditado judaico que reza: “o homem pensa, Deus ri”, e no seu conseguimento é quase perfeito. Mas não desisto de ser um leitor activo, e para mal dos meus pecados sempre li assim os versos finais: «Chateado levanto-me. Pressuroso. / Na torradeira as palavras estão a queimar-se.» Convençam-me de que não é o que falta ao poema. O poema é, não raro, um caminho entre uma cidade e outra e é para ser transitado e intervencionado até que ambas as urbes cresçam intempestivas e num imprevisto sentido, e não a senhora púdica que não pode ser tocada. Daí que escreva tudo de jacto e às vezes exponha esse precipitado no Facebook para me divertir, mas só o dou por acabado anos depois, estando a virgem convertida numa senhora muito dada à brincadeira. De Eva para Lillith, eis o caminho do poema.
“Dá-lhe jindungo!” Gisela Casimiro - 30 Mai 201931 Mai 2019 [dropcap]C[/dropcap]ais do Sodré e as filas sempre longas para tudo. Entro, valido o novo e mágico passe social, o tal que, dizem, dá acesso a mais “leite, tabaco e drogas”. Deve ser o “Batido de atum para toda a gente!” deste século. Carris, eléctrico 15. Outro dia vinha, na sua versão moderna, silenciosa e bem menos charmosa, cheio de maratonistas femininas, t-shirt rosa a publicitar o evento. Era domingo e nem uma noiva de ares ucranianos faltou, bonita e sorridente, vestido branco em cascata. Não a esquecerei tão cedo, como não esqueço a velhota que, certa vez, no comboio, me falou da sua carreira de actriz, e mostrou fotos analógicas que, desconfio, trazia sempre consigo, como se fossem os seus verdadeiros documentos de identificação. Nelas, encontrei Gérard Depardieu composto, mais magro; foi no tempo em que ainda não trocara a França pela Rússia nem a nossa admiração pelos seus escândalos. Este à minha beira é angolano, como o sotaque denuncia. Terá uns sessenta anos de pele clara e pouco tocada pelo tempo. Rapidamente lhe sinto o bafo a álcool, mas não me levanto, o carro vai cheio. Da última vez, num autocarro, fi-lo. Depois, observei a passageira seguinte enfiar tanto quanto pôde do rosto na gola da camisola (o inverno protege os audazes), ficando assim curvada o resto da viagem. Seria bom que tivéssemos como comunicar telepaticamente, nós passageiros incautos, numa espécie de Shining: atenção que esse esteve a beber desde manhã; olha que essa ainda não tomou banho esta semana. O verão, por sua vez, expõe todos. Ele vai proferindo pequenos insultos contra o que entende ser canalha irrompendo eléctrico adentro, e pergunto-me se é por desinteresse ou pena que nenhum dos visados o agride ou lhe responde. Mais rápido, já está, é passar, temos de ir embora! Ele olha-me, pausa, as mãos hesitam, cheias de histórias. Fala. Desculpa, eu não reparei que estavas aqui. Lá se foi a minha boa sorte, olá radar de estranhos. Então agora podemos conversar. És uma mulher bonita e interessante. Como é que vocês escrevem tão rápido? Eu não consigo… Isso. Dá-lhe jindungo, dá no jindungo! Saberá ele que voltei agora de Maputo? Grita, rosna, ri, ressona. Do álcool ou da apneia, quem sabe. Certo é que lhe vemos o pescoço tombar para trás a cada cinco minutos. Num momento está aqui e é a única voz que se ouve, no seguinte… bem, é o único ressonar que se ouve. Acorda ao fim de segundos, continuando o discurso de onde o interrompeu, como se tivéssemos sido nós e não ele a fechar os olhos. A mulher à minha frente continua a lançar-me olhares e sorrisos solidários. Eu tenho cada vez mais dificuldade em não rir, e evito olhar muito para ele. Olha aquele a piscar-te o olho, estás a ver? Ele é paquistanês, tem um restaurante ali em baixo. Eu conheço-o. Está cheio de dinheiro. Ele é um bom partido para ti (eis um pretendente que também é casamenteiro). Dinheiro eu não tenho muito, eu sou assim-assim. Humm. Esse rapaz, esse tem qualquer coisa na mochila. Cuidado. Abriu, fechou… Este (o 15) agora só pára em Alcântara. Se eu fosse esse rapaz (o motorista) só parava em Algés. Ressona, ronca bem alto, acordado apenas pelos solavancos do eléctrico, em cujo percurso encontro simetrias com o seu discurso. Se ele deixasse aqui a mochila com a bomba… Olha eu então é que estava lixado, que era o primeiro a receber… a bomba. Bom. Ba. Bom-ba. Booomba. A palavra brinca-lhe perigosamente na fala. Eu, ele, espera aí… eu, ele, aquele, tu também um bocadinho (eu, obrigada, meu caro senhor, não quereria ficar de fora de tal acontecimento) e aquele jovem. A minha cara séria desfaz-se. É impossível não rir. Era bomba. Bom-ba. Boooom-ba. Íamos cantar Elton John lá para os anjinhos (deve estar a pensar em Candle in the wind, mas eu sugeriria Someone saved my life tonight). Mas pelo menos deixavas-me o casaco de pele. O alvo agora é um rapaz que vai em pé e o olha, preparando-se para sair na próxima paragem. Estava a brincar, gosto desse casaco. Deixavas-me o casaco de pele. E se eu deixasse a bomba E o casaco de pele? Pergunta o rapaz. Explodimos os três a rir. Só nós, não a bomba. Não sobrava nada, responde o homem. A malta brinca mas prestem atenção, temos de estar sempre atentos. Uma vez no metro entrou um gajo com um saco que fazia tic tac tic tac, as duas pessoas que estavam à minha frente fugiram logo e eu disse: pronto, se fui, fui-me. Mas o gajo agarrou o saco, levantou-se e saiu na paragem a seguir. Olha, não rezei. Disse apenas, se tiver de explodir, explodiu. Era uma vez eu. Paciência. Já não te conhecia. Deixei o carro em Algés e ainda tenho de ir para Cascais. Estou sozinho num T5. E chego a casa e, olha, fico a ver televisão. Se a bomba explodisse, eu não estava cá, tu não me conhecias, eu não te conhecia. É verdade (reitero, pensando em como a vida poderia ter-me poupado pelo menos ao seu hálito a lembrar uma das míticas personangens de Tieta do Agreste). Suspira novamente. Dá-lhe jindungo! Repete o seu mantra. Ressona novamente e de repente, como um pequeno motor. A porta abre, o eléctrico guina. Não pára, sempre a andar! Acelera, comanda ele, o motorista absorto no caminho, em silêncio. Já vais sair? Já vais embora? Vou. Já não o vejo, mal o ouço, mas ele continua. Gingando e profetizando na noite.
Odisseia nos espaços Luís Carmelo - 30 Mai 20196 Mar 2020 [dropcap]R[/dropcap]evi ‘2001: Odisseia no Espaço’ há não muito tempo. A contracenar com a proto-lenda dos hominídeos, uma nave dirige-se para a estação espacial que Kubrick imaginou com a forma de uma dupla roda giratória. A banda sonora que acompanha a parte inicial da saga cósmica, a famosa valsa ‘Danúbio Azul’ de Johann Strauss II, suscitou-me profunda arrelia há quatro décadas e, desta vez, a coisa não passou de uma enigmática compaixão. À pulsão inicial (renhida) sucedeu uma quase insípida indiferença. E, no entanto, a fita era a mesma e a música replicava na perfeição a melodia estreada no carnaval de 1867 em Viena. Sou eu que hoje sou um outro. Esta experiência de degustação existencial não é inédita. A música é uma excelente anfitriã para estes saltos no escuro, mas as cidades (ou os microcosmos) que já habitámos também o são. A ‘minha Évora’, a ‘minha Tomar’, a ‘minha Amesterdão’, o ‘meu Campo de Ourique’, para dar só alguns exemplos, são territórios que não existem para mais ninguém. São-me exclusivos e eu não saberia traduzi-los para uma outra pessoa. Trata-se de atmosferas (fóricas) que têm tornado permeável o meu face a face com o planeta (a nossa vida tem a sua ‘Route 66’ que se deixa ramificar por uma ilimitada rede de capilares). Poder-se-ia dizer que estamos sempre em queda gravitacional, tendo como referência diversos centros, a maior parte deles instáveis, imprevisíveis. Mas essa queda vive em estado de perdição nos dois sentidos que a palavra oferece (as palavras são oferendas): seja na acepção de perda, seja na acepção do fascínio. Daí que a degustação de experiências passadas, que parecem domesticadas, não passe de puro funambulismo. Na verdade, caminhamos sempre em cima de uma estreita corda entre terraços de arranha-céus como o de Babel e a vulnerabilidade à vertigem e sobretudo ao desconhecido (com a idade, passa-se a dar ao desconhecimento um deslumbre especial) é ruidosa, no sentido de um sinal que é aleatório. E confirmamos então, se não o havíamos já feito antes por mera euforia, que tudo é intimamente transitório e que a perenidade (ou a eternidade) não passa de uma bela ideia dos humanos. Apenas isso. Nas inúmeras teses sobre o tema (que alimentam a atracção por aquilo que não somos e que desejaríamos ser), há uma teoria dos estóicos que me agrada especialmente. Para essa corrente que habitou o Mediterrâneo durante quase meio milénio, dos idos de Zenão de Chipre a Marco Aurélio ou a Séneca, há dois princípios que constituem o cosmos: um activo, o “logos” ou “fogo inteligente” (a razão que estrutura o mundo), e um outro passivo que corresponde à matéria inerte (terra e água). Os elementos activos (fogo e ar) combinam-se para produzir a “pneuma”, ou força vital, que atravessa e sustém todos os corpos do universo, através de um duplo movimento: para dentro, unificando-os, e para fora, conferindo-lhes as qualidades. A pneuma, ou respiração universal, é, pois, uma espécie de escudo invisível e perene (isto é: que preserva e que se preserva eternamente). Revelada a paixão estóica, devo referir que, para me aperceber de diferenças (o ‘Danúbio Azul’ escolhido por Kubrick é um óptimo exemplo), é preciso que se pise terra firme. Por outro lado, são as diferenças entre tudo o que se desencadeia diante de nós que nos permitem atribuir sentido à vida e ao que nela acontece. Se tudo se propagasse igual a si próprio e fora do tempo – seria assim a eternidade – não haveria sentido, nem necessidade de terra firme para colocar o corpo de pé e nele sentir a imprevista comoção suscitada por ‘2001: Odisseia no Espaço’. A ‘terra firme’ a que metaforicamente me refiro deverá, de alguma maneira, corresponder à “pneuma” dos estóicos. Sem esse escudo, ou sem essa âncora que nos permite focar e objectivar os diversos passos do mundo, gravitaríamos sem consciência fosse do que fosse, tal como um protozoário unicelular cuja utopia maior passaria por poder tornar-se visível a olho nu, num futuro muito, muito longínquo (cumprindo, para novíssimos patamares, a famosa profecia dos “15 minutos de fama” de Andy Warhol).
Exposição | Espaço e Lugar a partir de amanhã na Casa Garden Sofia Margarida Mota e Raquel Moz - 30 Mai 2019 Um reflexão sobre Macau sentido como espaço físico e lugar emocional é a proposta de “Espaço e Lugar”. A mostra reúne os trabalhos de Maria Mesquitela, João Palla, Alexandre Marreiros, Sofia Campilho e Maria Albergaria, e tem inauguração marcada para amanhã, às 18h30 na Casa Garden [dropcap]”[/dropcap]Espaço e Lugar” é a exposição que tem inauguração marcada para amanhã às 18h30, na Casa Garden, e que reúne os trabalhos de cinco artistas de diferentes sectores das artes plásticas. De Macau vão estar presentes as criações dos arquitectos João Palla e Alexandre Marreiros. Já de Portugal vêm os trabalhos de Maria Albergaria, Maria Mesquitela e Sofia Campilho. Juntos “dialogam entre si através de um tratamento e de uma abordagem visual do território dando primazia ao cenário urbano e à sua envolvência natural”, apontou a fotógrafa Maria Mesquitela ao HM. O tema coloca frente a frente as concepções de espaço e de lugar numa metamorfose capaz de transformar o primeiro conceito no segundo. Aos arquitectos coube essencialmente a interpretação do espaço, enquanto objecto concreto, sendo que o lugar é o tema sujeito à interpretação “mais individual dos artistas, daquilo que os aproxima emocionalmente do espaço, transformando-o ou não no dito lugar”. “Para ser lugar é preciso uma aproximação emocional, por exemplo, uma casa onde nós habitamos é um lugar. Mas se calhar uma estação de metro é um espaço, a menos que seja um sítio de referência diário, de uma rotina, com a qual existe uma ligação”, explica Maria Mesquitela. A unir os dois conceitos está Macau e a vivência da cidade quer por quem cá está, quer por quem vem de fora e a sente pela primeira vez. “Somos três artistas portuguesas que vimos de fora, e vamos abordar a cidade, o nosso primeiro, segundo e terceiro impacto, é como se estivéssemos a ver a cidade, este espaço de fora para dentro, ou seja uma visão mais sensitiva, sensorial, em que não há uma crítica sobre o sítio, porque não o vivenciamos”, aponta a fotógrafa referindo-se à participação das três portuguesas. Para Mesquitela, é neste movimento que se vai percepcionando a identificação de um lugar. João Palla e Alexandre Marreiros, habitantes do território, têm uma abordagem feita “muito mais de dentro para fora”, visto que Macau já é o seu lugar e que acabam por ter que se afastar para analisar o espaço em si. “Ou seja, é mais parcial, talvez com alguma crítica em que mostram a cidade com alguns pormenores muito particulares”, revela Maria Mesquitela. Matérias primas Também os meios usados são diversos e variam de autor para autor. Maria Mesquitela, fotógrafa, vai usar o meio que lhe serve de profissão. Depois de três vindas a Macau em que sentiu a cidade sempre de formas diferentes e foi acompanhando as sensações de imagens, a artista mostra agora estas transformações em forma de fotografia. “O meu trabalho é muito ao nível da imagem, por ser fotografia, com uma percepção mais imediata”, diz. Em “Espaço e Lugar” vão estar presentes 3 peças de instalação, que conjugam a “textura com as cores de Macau” em panos. Já Sofia Campinho utiliza a técnica mista para dar corpo ao seu trabalho artístico de onde se destaca o uso do desenho, de recortes e da pintura. Talvez por ter passado na sua formação académica e profissional pela área da Psicologia, apresenta aqui “um trabalho mais relacionado com a vivência das pessoas, mais íntimo”, conta Maria Mesquitela. “Por exemplo, tenta procurar o indivíduo que vive numa cidade como Macau, quando é que ele se isola, quando é que está em contemplação, quando é que está em movimento”. Para o efeito, a artista usou motivos e materiais locais – “algumas folhas e papéis com caligrafia e com rezas” – aos quais adaptou a sua percepção da cidade. A aplicação de ouro a vários suportes é o mote para as criações de Maria Albergaria. No trabalho em que traz a sua representação de Macau, Albergaria debruçou-se sobre a flora local e “foi procurar os jardins e toda esta natureza, que é muito bonita, e juntou-lhe o ouro, que é a sua técnica primordial o que, no fundo, também está muito relacionada com Macau”, conta Mesquitela. Das mulheres artistas que vieram de fora saem as obras “mais românticas, sensitivas e muito imediatas”. Por outro lado As mesas de jogo são o mote de João Palla que vai apresentar uma instalação em que aborda o tema da principal actividade local. A ideia é representar “o casino, como um lugar que molda a cidade”. O trabalho do arquitecto é uma observação “sobre os diferentes tipos de mesa de jogo, apropriando-se delas numa reinterpretação do lugar do jogo não esquecendo a importância dos casinos, para o bem e para o mal”. Alexandre Marreiros estará como peixe na água na exploração que faz do seu “tema preferido que é o território arquitectónico e urbano, que está relacionado com esta abordagem do espaço e do lugar”. Marreiros construiu o seu trabalho na observação do crescimento da cidade de Macau, e mostra o que considera ser uma “arquitectura de aparência” ou de “cosmética”, o antes e o depois de Macau, e a rapidez com que o território evolui e se transforma, “talvez como um inventário”. Uma das peças presentes, “Bestiário da arquitectura” é precisamente sobre a arquitectura contemporânea de Macau, “numa contemplação e crítica do espaço habitado e, portanto, o que é lugar e o que não é lugar”. O resultado, é “um misto de interpretações de quem vem de fora e de quem está dentro, de como cada pessoa interpreta este tema”, remata a fotógrafa.
Crime | Detido suspeito de roubo a habitação Hoje Macau - 30 Mai 2019 [dropcap]A[/dropcap] Polícia anunciou ontem a detenção de um homem com 24 anos, de Guangxi, que terá estado envolvido num assalto em Março do ano passado a uma casa. Na altura, segundo o jornal Ou Mun, as autoridades suspeitavam que tinham sido dois os assaltantes que entraram numa habitação, cujos proprietários estavam fora de Macau, e levaram bens avaliados, como joias e jade, no valor de 5 milhões de patacas. Os dois indivíduos ainda terão estado cerca de sete horas na habitação para abrir um cofre, mas acabaram por não ser bem sucedidos. Na altura, após o assalto acabaram por fugir para o Interior da China. Agora, o homem de 24 anos foi detido quando tentava reentrar em Macau. Segundo as autoridades terão sido as câmaras de segurança que permitiriam identificá-lo. Mesmo assim, um dos ladrões ainda se encontra a monte.
Rejeitado pedido da Surf Hong para anular multas Andreia Sofia Silva - 30 Mai 2019 [dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) recusou o pedido apresentado pela empresa Surf Hong para suspender as multas que lhe tinham sido aplicadas pelo Instituto do Desporto (ID) no âmbito de um processo laboral. A empresa alegou que não possui recursos e bens para pagar duas multas de valor superior a 11 milhões de patacas, mas não conseguiu provar esse argumento. No acórdão, ontem tornado público, é referido que Wong Chong Heng, único accionista da Surf Hong, “é empresário individual”, pelo que “respondem, pelas dívidas do empresário comercial, pessoa singular, contraídas no exercício da sua empresa, os bens que a compõem e, na sua falta ou insuficiência, os seus bens particulares”. Nesse sentido, o empresário “deve invocar e comprovar, simultaneamente, que os seus bens pessoais e os bens da empresa não são suficientes para pagar as multas”, contudo, este “não indicou os seus bens e as suas situações financeiras”. Perante estes factos, o TSI “entendeu não existirem provas suficientes para sustentar que a medida sancionatória, imposta pela Administração, causa prejuízos de difícil reparação” à Surf Hong. Wong Chong Heng alegou que, com o pagamento das duas multas impostas pelo Governo, “será obrigado a declarar falência e a enfrentar o encerramento da empresa, o que lhe causará prejuízos de difícil reparação”. Este alegou também que “a execução imediata dos referidos actos administrativos lhe poderá provocar a perda de todos os contratos de prestação dos serviços de gestão e de salvamento nas piscinas e praias, causando desemprego aos empregados”. De frisar que o ID decidiu aplicar duas multas superiores a quatro e sete milhões de patacas à Surf Hong “por violação dos deveres contratuais previstos no ‘Contrato de Prestação de Serviços de Gestão das Piscinas situadas em Macau afectas ao Instituto do Desporto’ e no ‘Contrato de Prestação de Serviços de Gestão das Piscinas situadas nas Ilhas afectas ao Instituto do Desporto’”, aponta o mesmo acórdão.
Estudo | Macau sem condições para atribuir subsídios a cuidadores João Santos Filipe - 30 Mai 2019 Académicos de Hong Kong consideram que falta definir um conceito de cuidadores, assim como um sistema de classificação que indique claramente quem são as pessoas que precisam de cuidados assistidos. A situação inviabiliza o pagamento de subsídio a cuidadores [dropcap]O[/dropcap] Governo não vai atribuir subsídios a cuidadores de pessoas com deficiência, idosos ou alunos com dificuldades na aprendizagem. O anúncio foi feito ontem pelo Instituto de Acção Social (IAS), que tinha encomendado um estudo, pelo qual pagou 1,6 milhões de patacas, para apurar a viabilidade da medida. Os resultados foram apresentados ontem, por uma investigadora da Universidade de Hong Kong, e concluiu-se que ainda não é possível avançar com apoios porque não há uma definição legal sobre quem são os cuidadores, assim como também não existe uma clarificação sobre quem são as pessoas a necessitar de cuidados que justificam apoio financeiro. “Por enquanto não temos uma definição do cuidador nem da pessoa que carece de cuidados. Assim, não podemos saber quem são os cuidadores que devem integrar o programa para receber o subsídio. Neste aspecto uma definição é muito importante”, afirmou Choi Siu Un, Chefe do Departamento de Solidariedade Social do IAS. “Também ainda não temos dados para fazer uma classificação sobre os cuidados que uma pessoa precisa. Para implementar o subsídio precisamos de ter uma classificação sobre o tipo de cuidados necessário”, acrescentou. Choi Siu Un explicou também que não há um regime para estabelecer as responsabilidades nem as obrigações a que os cuidadores vão ficar submetidos, principalmente depois de receberem o subsídio. Durante o evento Choi garantiu que o IAS vai fazer todos os esforços para tratar destas questões e que deverá ser feita uma consulta pública no futuro sobre a matéria. Até lá, o assunto fica suspenso: “Precisamos de esclarecer bem todas estas questões porque temos de fazer uma boa gestão do erário público e evitar que haja abusos”, frisou. Sem oposição Ontem, Lou Wei Wun, professora assistente do Departamento do Trabalho Social e Administração Social, da Universidade de Hong Kong, apresentou os resultados do estudo. Uma das revelações feitas é que das pessoas ouvidas, operadores do sector, deputados, entre outros, não houve oposição à medida. Não terá mesmo havido qualquer opinião contra o pagamento. Face a um eventual valor para o subsídio, não houve qualquer conclusão uma vez que os académicos defendem que sem conceitos definidos não é possível avançar com uma proposta. No entanto, nos jurisdições analisadas, como as do Japão, Coreia do Sul ou dos Estados Unidos, o subsídio nunca fui superior a 10 por cento da mediana dos salários. Em Macau, com base nos dados do primeiro trimestre do ano, este valor equivaleria a 1.700 patacas, uma vez que a mediana do salário mensal é 17.000 patacas. Porém, o estudo aponta que sem critérios definidos não se pode avançar. “A equipa considera que ainda não chegou a altura e nem existe uma base apropriada para implementar em Macau a política relativa à atribuição do subsídio a cuidadores”, foi dito nas conclusões. Foi igualmente recomendado pelos investigadores que “como primeiro passo, seja efectuada uma revisão e elaborados um quadro de política sistemático e um sistema de serviços, ambos centrados no cuidador”.
Videovigilância | Dados Pessoais vão analisar instalação de câmaras na UM Hoje Macau - 30 Mai 2019 [dropcap]O[/dropcap] Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP) vai criar um grupo de trabalho para analisar a instalação de câmaras de videovigilância dentro das salas de aula da Universidade de Macau (UM). “O coordenador do Gabinete mandou criar, através de um despacho, um grupo de trabalho responsável pelos trabalhos de natureza de apreciação, acompanhar a fiscalização e coordenar o tratamento, de acordo com a lei, de dados pessoais envolvidos nos sistemas de videovigilância por parte da UM”, lê-se num comunicado ontem difundido. O mesmo grupo de trabalho terá como responsabilidade “apresentar propostas de apreciar casos semelhantes das outras instituições de ensino superior conforme as necessidades reais”, sendo que os resultados serão depois divulgados junto do público. O GPDP adianta ainda que, “tendo em conta a natureza institucional única da UM”, “a efectuação adequada de intervenção antecipada e apreciação por sua iniciativa ajudará a introdução de uma avaliação suficiente do impacto da privacidade dos dados pessoais para UM antes de iniciar oficialmente o tratamento de dados”. Além disso, a actuação do gabinete deverá promover “a implementação das normas apropriadas do tratamento de dados pessoais também pode evitar a ocorrência de violação da Lei da Protecção de Dados Pessoais”, lê-se no comunicado.
Saúde | Serviços anunciam pico de epidemia da gripe B Raquel Moz - 30 Mai 2019 Um surto de gripe B está a afectar o território, com vários casos de contágio a decorrer sobretudo em escolas. De momento não há situações severas, mas as autoridades apelaram ontem à prevenção para evitar o contágio [dropcap]A[/dropcap] gripe voltou a deflagrar no território em meados de Abril e inícios de Maio, desta vez com um pico de epidemia do vírus Influenza B. Só durante o mês de Abril, foram registados 1.405 casos, o que representa um grande aumento face ao mesmo mês do ano anterior (81 casos), mas uma diminuição face ao anterior período de pico, em Janeiro de 2019 (3.246 casos). O habitual pico de Inverno, verificado no início deste ano, foi sobretudo afectado pelo vírus da gripe A (do subtipo H1N1). O novo surto agora verificado tem sido marcado pelo vírus da gripe B (da linhagem Victoria), com fenómenos de incidência epidemiológica sobretudo em escolas, ainda sem motivos para alarme, mas com razões para que sejam desde já aplicadas medidas de contenção e prevenção. Os Serviços de Saúde convocaram ontem uma conferência de imprensa para alertar a população para a necessidade de um reforço nos cuidados de saúde e higiene, com vista a minimizar a exposição à estirpe de vírus em causa, uma vez que a gripe B não está tão protegida pela actual vacina da Influenza, como as outras estirpes. “A taxa de protecção da actual vacina é alta, mas para esta estirpe da gripe B o seu efeito é mais fraco. De acordo com as análises laboratoriais, a vacina sazonal só tem uma cobertura de 15 por cento para esta linhagem Victoria”, explicou Lam Chong, chefe do Centro de Prevenção e Controlo de Doença dos Serviços de Saúde. O melhor a fazer é, então, a prevenção pessoal, sendo que a gripe é um vírus comum e recorrente, que em pessoas saudáveis pode ser curado mesmo sem medicação específica, já que a prescrição faz-se sobretudo com antipiréticos (para a febre) e analgésicos (para as dores), repouso, hidratação e isolamento. Durante a sessão de esclarecimento, foram apresentados os números mais recentes do surto epidemiológico, que na passada terça-feira, 28 de Maio, somou dois novos casos de infecção colectiva de gripe B, um na Escola Pui Tou (secção primária) e outro na Escola da Sagrada Família, tendo sido registados 27 casos na passada semana (16 do sexo masculino e 11 do sexo feminino), com idades compreendidas entre os 5 e os 10 anos. Actualmente não existem casos severos ou hospitalizações, mas no passado dia 22 de Maio ocorreu o terceiro caso de morte pelo vírus da gripe, desta vez pelo Influenza B, após as primeiras duas baixas em Janeiro, provocadas pelo Influenza A. Segundo informaram os responsáveis, este último caso mortal por gripe B afectou uma senhora de 62 anos, com um historial de complicações médicas que se agravaram devido à infecção viral. Vacinas para todos Em Macau, desde Setembro de 2018 até à data, período de cobertura das vacinas sazonais, desenvolvidas anualmente por especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS), foram inoculadas 145 mil pessoas. Em crianças, dos 6 meses aos 3 anos, a taxa é de 67 por cento, nas escolas primárias é de 77 por cento, e nas escolas secundárias é de 65 por cento. A cobertura geral da população do território “é de 22 por cento, o que é bastante elevado em relação a toda a região asiática”, indicou o responsável. “Gostaria de sublinhar que temos actualmente em Macau suficiente stock da vacinas anti-gripe e que a cobertura contra os vírus é muito alta”, frisou Lam Chong, referindo que os Serviços de Saúde todos os anos recorrem às vacinas mais avançadas, que são indicadas pela OMS e iguais em todo o mundo. São vacinas do tipo quadrivalente, que protegem a população contra os dois subtipos da gripe A (H1N1 e H3N2) e as duas linhagens da gripe B (Yamagata e Victoria). A estirpe de vírus predominante, neste surto de Abril e Maio, em toda a região da China e do sudeste asiático, é a que vem da linhagem Victoria, de acordo com a monitorização das autoridades competentes. Em inícios de Abril, o epicentro geográfico da epidemia era no Norte da China, mas no final do mês deslocou-se para o Sul. Macau também é afectada por estas migrações virais, “por ser uma cidade muito turística e com uma grande densidade populacional”, propícia ao contágio fácil, reflectiu.
IPM | Chui Sai On promete manter apoio institucional Hoje Macau - 30 Mai 2019 [dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, disse ontem na cerimónia de graduação do ano lectivo 2018/2019 dos estudantes do Instituto Politécnico de Macau (IPM) que o apoio do Governo à instituição de ensino superior público é para continuar. Citado por um comunicado oficial, Chui Sai On referiu que “o Governo da RAEM continua a apoiar o IPM na sua missão privilegiada de formação de quadros técnico-profissionais, na criação pragmática de novas disciplinas e na oferta de novos cursos de mestrado e de doutoramento”. Além disso, o apoio continuara a verificar-se ao nível da “realização de uma investigação interdisciplinar, na optimização da avaliação e da acreditação académicas e na elevação do nível global da sua actividade pedagógica”. Tudo para garantir que a RAEM continua a desempenhar o seu papel de formador de profissionais que dominam a língua portuguesa no contexto do projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Chui Sai On falou também dos projectos políticos que têm vindo a ser desenvolvidos ao nível do ensino superior, mas não só. “Temos aperfeiçoado e aumentado o número de políticas de apoio e o investimento de recursos, de modo a garantir aos residentes de Macau uma partilha mais justa e mais pragmática dos frutos do desenvolvimento na área da educação, promovendo assim a igualdade social através da igualdade na educação.”
Guia | Lam Lon Wai quer avanços na passagem pedonal Hoje Macau - 30 Mai 2019 [dropcap]O[/dropcap] deputado Lam Lon Wai apela a mais medidas para a promoção do transporte pedestre em Macau. Em interpelação escrita, o tribuno com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), pede que se acelere a construção do sistema pedonal circundante da Guia já há muito prometido pelo Executivo. Para Lam, este é um dos projectos que poderia contribuir efectivamente para a promoção da circulação pedestre em Macau, estando em conformidade com as políticas de protecção ambiental do território. Desta forma, seriam evitados os incómodos provocados pelos carros particulares e pelos transportes públicos cada vez mais concorridos com o desenvolvimento do território. Como tal, são necessárias medidas urgentes para equipar a cidade de passagens pedonais, em que a estrutura da Guia assume um lugar de destaque, aponta o deputado. Por outro lado, e dada a demora da construção do projecto, Lam Lon Wai quer ainda saber o ponto da situação e os gastos previstos para a conclusão da obra.
Hong Kong | Joseph Lau retira acção em tribunal e diz apoiar Governo João Santos Filipe - 30 Mai 2019 O milionário procurado pelas autoridades locais voltou atrás na intenção de contestar a lei da extradição entre Hong Kong, o Interior da China e Macau nos tribunais. A decisão foi justificada com o amor ao País e a Hong Kong [dropcap]O[/dropcap] milionário de Hong Kong Jospeh Lau retirou a acção dos tribunais de Hong Kong em que contestava a lei de extradição entre a RAEHK, o Interior da China, Macau e Taiwan. A informação foi revelada ontem através de um comunicado do escritório Sit, Fung, Kowng e Shum, que representa o empresário procurado pelas autoridades de Macau. Na informação divulgada não é explicado se Joseph Lau terá obtido garantias que não será extraditado para Macau ou se terá sofrido outro tipo de pressões. A versão oficial é que “ama o País e ama Hong Kong” e que não quer contribuir para a instabilidade vivida na RAEHK. “O Sr. Lau é um empresário que ama o País e Hong Kong. O Sr. Lau apoia sempre o Governo de Hong Kong e a forma como este gere a Região Administrativa Especial, de acordo com a Lei”, pode ler-se no comunicado emitido ontem. “O objectivo da acção foi sempre proteger os interesses pessoais e os interesses do Sr. Lau; este foi um processo decente e razoável e nunca teve como objectivo atingir o País ou o Governo de Hong Kong”, foi acrescentado. Por outro lado, o multimilionário diz estar triste com a situação à volta desta proposta de lei e com a instabilidade que criou na sociedade de Hong Kong: “O Sr. Lau está profundamente triste com as várias discussões e os desacordos que surgem hoje na nossa sociedade. O Sr. Lau espera de forma sincera que a sociedade de Hong Kong mantenha a harmonia e estabilidade, a prosperidade e o progresso”, é frisado. Segundo o comunicado, a medida é tomada para não ser Joseph Lau também a contribuir para a turbulência na RAEHK: “O Sr. Lau está assim a retirar/descontinuar a acção judicial na esperança que esta acção contribua para reduzir as discussões na nossa sociedade. Também significa que o Sr. Lau também deu o seu contributo”, é sublinhado. A ferro e fogo Joseph Lau foi condenado em Macau a uma pena de 5 anos e 3 meses devido à prática de um crime de corrupção activa para acto ilícito e de um crime de branqueamento de capitais. Em causa está o processo em Macau que envolveu o ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long. Como não há acordo de entrega de fugitivos entre Hong Kong e Macau, Joseph Lau não tem de cumprir a pena, desde que evite entrar na RAEM. Porém, a lei proposta pelo Governo de Carrie Lam iria colocar um ponto final nesta situação. Foi com o intuito de evitar ser enviado para a Prisão de Coloane que Joseph Lau começou uma acção em tribunal. A acção foi agora retirada e nos últimos tempos surgiram também informações na imprensa em chinês de Hong Kong que Jo empresário poderia mesmo já estar no Canadá. A proposta de lei de extradição de Carrie Lam tem sido alvo de várias críticas em Hong Kong e levou mesmo a confrontos físicos no Conselho Legislativo. A situação fez com que o Governo de HK evitasse com que o diploma fosse discutido numa das fases das especialidade.
Formação de condutores só para novos taxistas Sofia Margarida Mota - 30 Mai 2019 Nenhum dos 8000 taxistas que se encontram a exercer a actividade em Macau vai precisar de se submeter à nova regra que obriga os condutores a frequentar uma formação e a fazer uma prova especifica. A nova norma, ontem aprovada em Conselho Executivo, vai entrar em vigor para a semana, mas só para os novos condutores. [dropcap]E[/dropcap]sta norma, que vai integrar o diploma de regulamentação dos táxis, deixa assim de fora 18 mil profissionais que detêm actualmente licença para conduzir táxis. Destes, oito mil estão actualmente no activo, sendo este o número de condutores que, este ano, procedeu ao pagamento do imposto de selo, condição necessária para exercer actividade. A informação foi clarificada ontem pelo responsável pela Direcção para os Assuntos de Tráfego, Lam Hin San, na conferência de imprensa do Conselho Executivo. “Esta norma só vai abranger os novos condutores de táxi”, disse. Entretanto, o regulamento administrativo aprovado pelo Conselho Executivo define agora que os candidatos à profissão tenham que frequentar uma formação com a duração de 10 horas, e que inclui conhecimentos sobre o transporte de passageiros nos táxis, principais vias de Macau, práticas de segurança rodoviária, “bem como ética, atitude na prestação de serviços e linguagem básica”, apontou o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng. Após concluírem a formação, os interessados podem participar na prova específica dentro de um prazo de três anos. Só depois, e uma vez aprovados, podem ter acesso ao cartão de identificação de condutor de táxis. Câmaras grátis Dentro da regulamentação dos táxis, o Conselho Executivo aprovou ainda o projecto de regulamento administrativo acerca dos requisitos, inspecções e prazo de utilização dos veículos onde está definida a instalação de um “sistema inteligente” que inclui equipamentos de gravação de som e imagem. Os custos deste sistema vão estar a cargo do Governo. “Tendo em conta que os titulares das licenças já investiram muito, o Governo vai apoiar a instalação deste equipamento” apontou, Leong Heng Teng. Só após a realização do concurso público, que vai determinar o fornecedor dos equipamentos, será conhecido o orçamento deste programa. De acordo com o porta voz do Conselho Executivo, esta acção deverá estar pronta dentro de 18 meses. Aos portadores da licença de exploração de táxis caberá o pagamento das despesas de manutenção deste terminal, avaliadas em 10 patacas diárias. Actualmente circulam em Macau cerca de 1800 táxis, estando prevista a entrada em actividade de mais 200 veículos, aumentando assim a circulação para 2000.
Aterros | Ng Kuok Cheong quer consulta este ano Hoje Macau - 30 Mai 2019 [dropcap]O[/dropcap] deputado Ng Kuok Cheong pediu ao Governo que inicie a consulta pública sobre os novos aterros até Junho e que finalize o relatório da mesma até ao final do ano. É este o conteúdo da última interpelação do pró-democrata que foi divulgada ontem. No mesmo documento, o legislador reforça a necessidade de reservar espaço nos aterros para as habitações dos residentes e pergunta o que é que o Chefe do Executivo está a fazer para garantir que esses terrenos não acabam aproveitados com outros propósitos.
Diamantes | Peritagem de importações suspeitas feita em Xangai Sofia Margarida Mota - 30 Mai 2019 Macau não tem profissionais especialistas na peritagem de diamantes em bruto pelo que, em casos suspeitos de importação, as pedras vão ser enviadas para Xangai. A medida está prevista na proposta de lei de certificação de diamantes em bruto, em discussão na Assembleia Legislativa. Os custos, caso a suspeita de infracção não se confirme, vão ser suportados pelo Governo [dropcap]O[/dropcap]s diamantes em bruto cuja origem seja suspeita vão ser alvo de peritagem em Xangai por falta de profissionais especialistas no território. A ideia foi deixada ontem pelo presidente da 2ª Comissão Permanente, Chan Chak Mo, após a reunião de discussão na especialidade da nova versão da proposta de lei de certificação do comércio internacional de diamantes em bruto à luz do Sistema de Certificação do Processo de Kimberley. “Perguntámos ao Governo se Macau tem peritos especializados para os casos em que a Direcção dos Serviços de Finanças e os Serviços de Alfândega solicitem a realização de peritagens sobre a origem dos diamantes e o Governo respondeu que este tipo de trabalho vai ser reencaminhado para a bolsa de diamantes de Xangai”, disse o presidente da 2ª comissão. As despesas para o transporte e análise em Xangai, caso se prove que a pedra suspeita está de acordo com os requisitos exigidos e que o processo de importação não teve qualquer ilegalidade, vão ser custeadas pelo Governo. Já se se confirmarem irregularidades na importação, será a empresa que detém o diamante a pagar os custos de peritagem. “Numa situação normal, se não for detectado nenhum problema não há necessidade de pagamento por parte do possuidor do diamante com as despesas de peritagem, mas se for detectado algum problema cabe ao possuidor do diamante fazer o pagamento”, explicou Chan Chak Mo. A possibilidade de formar peritos locais não fez parte da agenda dos deputados. Quando questionado sobre a matéria, na conferência de imprensa após a reunião de ontem, Mo apontou que “depois do arranque deste sector em Macau, o Governo poderá providenciar acções de formação para a formação de profissionais de peritagem”. A existência deste serviço em Macau iria reduzir os custos que o processo poderá vir a ter se for realizado em Xangai. “Se houver uma entidade em Macau, claro que podemos reduzir o custo das operações”, disse o presidente da comissão. Por outro lado, de acordo com Chan Chak Mo, esta não será uma medida desmotivadora para o sector visto que “quem detém o negócio deve prever que o diamante pode ser enviado para peritagem”. Na mesa dos deputados da 2ª comissão esteve em análise uma nova versão da proposta de lei onde constam algumas alterações solicitadas com a análise da versão inicial. Uma das mudanças diz respeito aos requisitos para o exercício da actividade de comércio de diamantes em bruto. Na versão inicial não estava previsto que pessoas condenadas por crimes ligados a drogas ou branqueamento de dinheiro pudessem exercer a função se consideradas reabilitadas e agora, a reabilitação já consta no articulado como medida que permite a estas pessoas exercerem o comércio das pedras preciosas. Rumo à terceira volta No entanto, ainda está por resolver a questão do recurso em caso de processos que envolvam esta actividade. A proposta aponta que as competências para aplicação de sanções cabem ao dirigente máximo da Direcção para os Serviços de Economia e não contempla a possibilidade de recurso para além das decisões deste responsável. Para os deputados, este ponto terá que ser revisto de modo a permitir outras formas de recurso, indo ao encontro da legislação local. “Neste momento a legislação já tem um mecanismo para recursos – administrativos, contenciosos, ou reclamações – e queremos que a lei mencione claramente esta matéria”, disse Chan Chak Mo acrescentando que “esta proposta apenas prevê a competência máxima do director dos serviços de economia, não constando claramente que é possível a interposição de recursos”. Os deputados pedem o Governo uma nova versão do articulado para análise.