Facebook vai banir empresas controladas pela Junta Militar em Myanmar

A “casa-mãe” do Facebook, Meta, anunciou hoje que vai banir todas as páginas e contas pertencentes a empresas apoiadas pelo exército birmanês, medida que acentua as restrições à Junta Militar no poder em Myanmar (ex-Birmânia).

O exército birmanês tem vastos interesses comerciais em indústrias tão diversas como cerveja, tabaco, transporte, têxteis, turismo e finanças.

Segundo ativistas e grupos de direitos humanos, essas indústrias estão a financiar as ações de repressão e de abusos muito antes do golpe militar de 01 de fevereiro, quando a Junta Militar derrubou o regime civil de Aung San Suu Kyi.

No final de fevereiro, o Facebook apagou todas as contas vinculadas aos militares, justificando a decisão pelos apelos da Junta Militar ao uso da força contra os opositores do golpe.

A empresa também removeu a publicidade de empresas relacionadas com militares nas suas plataformas.

Agora a Meta “também vai remover páginas, grupos e contas que representam empresas controladas por militares”, disse o grupo, num comunicado divulgado terça-feira.

A decisão, prossegue o comunicado, é baseada “numa extensa documentação” da comunidade internacional sobre o “papel direto das empresas no financiamento da violência contínua e das violações dos direitos humanos” pelos militares em Myanmar.

A Meta referiu-se sobretudo ao relatório de uma missão de investigação da ONU sobre os interesses económicos dos militares como “base” para tomar a decisão, acrescentou o grupo.

As páginas das empresas Myawaddy Trading Ltd, Myawaddy Bank e Myanma Beer, citadas no relatório de 2019, estavam hoje inacessíveis, assim como a de uma produtora de filmes, apontada como pertencente à filha do líder da Junta, Min Aung Hlaing.

Questionado pela agência noticiosa France-Presse (AFP) sobre o tempo necessário para bloquear todas as páginas das empresas incriminadas, a Meta remeteu comentários para mais tarde.

O gigante norte-americano – a rede mais popular e influente em Myanmar, foi criticado pela falta de resposta aos apelos à violência, ligados aos massacres de rohingyas, uma minoria muçulmana perseguida, em Myanmar em 2017.

Considerado um “genocídio” por investigadores da ONU, a violência provocou o êxodo de cerca de 740.000 rohingyas para o Bangladesh.

Segunda-feira, um grupo organizado de refugiados rohingya apresentou uma queixa contra o Facebook, exigindo 150.000 milhões de dólares (132.630 milhões de euros) de indemnização, acusando a rede social de ter permitido que mensagens de ódio dirigidas a esta minoria étnica se propagassem na plataforma.

A ação apresentada num tribunal na Califórnia (Estados Unidos), onde o Facebook tem a sede, o grupo refere que os algoritmos usados pelo gigante da tecnologia “fomentaram a desinformação e ideologias extremistas que resultaram em atos violentos no mundo real”.

Sob pressão nos Estados Unidos e na Europa para lutar contra as informações falsas, especialmente sobre a epidemia de covid-19 e durante as eleições norte-americanas, o Facebook tem assinado parcerias com diversos meios de comunicação social com o objetivo de verificar publicações ‘online’ e remover as falsas.

9 Dez 2021

Tele-trabalho II

[dropcap]A[/dropcap] semana passada referimos que o Hongkong and Shanghai Banking Corporation, o Standard Chartered Bank e o DBS Bank tinham colocado grande parte dos seus empregados em tele-trabalho. O Twitter, a Microsoft, o Facebook e o Google tomaram medidas semelhantes. Este modelo de trabalho permite a criação de horários flexíveis. O trabalho deixa de ser feito em grupo e passa a ser individual e o trabalhador tem como única companhia o computador.

O tele-trabalho traz benefícios aos empregados. Por exemplo, a semana passada falámos da 9GAG. No começo, esta empresa estava instalada num pequeno escritório e ambicionava mudar-se para um espaço maior. Efectivamente acabaram por alugar um escritório com 7.000 metros quadrados, do qual abdicaram após a pandemia, na medida em que os funcionários passaram a trabalhar a partir de casa para garantir a sua segurança​. Nesta modalidade, o trabalhador poupa dinheiro em transportes, em almoços e desfruta de maior liberdade. Tem mais flexibilidade de horários. Para quem tem família, torna-se mais agradável porque pode dispôr de mais tempo para estar em casa. Desta forma, o trabalhador considera o tele-trabalho uma modalidade vantajosa, pois ganha tempo de lazer e tem menos pressão laboral.

Com o tele-trabalho, as pessoas deixam de estar inseridas no colectivo e passam a funcionar individualmente, tendo como único companheiro de tarefas o computador. O pré-requisito para este modelo, é a capacidade para lidar com situações informáticas mais complexas. Sem essa capacidade, as pessoas não podem trabalhar sozinhas a partir de casa. Por exemplo, para tornar o tele-trabalho viável, as empresas tiveram de armazenar uma grande quantidade de dados na cloud. Para quem não souber usar a cloud, o tele-trabalho passa a ser um problema. Da mesma forma, quem não estiver à vontade com as novas tecnologias, como os programas de vídeo, para poder comunicar com a empresa, este modelo não funciona.

Os problemas técnicos de cada função são outro elemento que tem de ser considerado. Se um novo trabalhador não dominar ainda muito bem todos os aspectos das tarefas que desempenha, o seu superior precisa de muito tempo para o ensinar. Este treino através do computador é ainda muito mais difícil. A única solução para este problema é um sistema de formação regular dos seus empregados. Sem recursos internos, o tele-trabalho não é viável.

E será este modelo aplicável a Macau?

O Twitter, a Microsoft, o Facebook o Google são empresas de redes sociais. Por regra, os seus empregados trabalham de forma independente e são responsáveis por diferentes áreas. Como não é necessário fazer coordenação de tarefas, é mais fácil para estes funcionários trabalhar a partir de casa. Em Macau o sector económico depende principalmente da indústria do jogo, da indústria hoteleira, do comércio e do catering.

Os trabalhadores destas áreas têm contacto directo com o público, pelo que é impossível colocá-los em tele-trabalho. Em Macau só será possível adoptar este modelo no sector dos serviços.

Em geral as pessoas estão habituadas ao trabalho no escritório, que já se tornou parte das suas vidas, e não é fácil alterar este conceito. As chefias gostam de vigiar os subordinados para garantir que estão a trabalhar como deve de ser. No escritório é problemático chegar atrasado, sair mais cedo, faltar ao trabalho por alegada doença, ou não ter a secretária arrumada. Se não houver uma alteração de hábitos e de mentalidades, vai haver resistência à implementação do tele-trabalho em Macau.

É inegável que o tele-trabalho traz algumas vantagens, quer às empresas quer aos funcionários, mas a natureza de cada função tem de ser cuidadosamente analisada, porque nem todas se adaptam a este novo modelo. As empresas e os empregados devem compreender que o tele-trabalho traz inevitavelmente consigo novos problemas. A semana passada, referimos que algumas pessoas que estavam a trabalhar em casa se aproveitaram dos horários flexíveis para irem passear em grupo, quando deveriam estar a trabalhar, tendo colocado em causa a eficácia deste modelo. Estas são precisamente as questões sobre as quais as empresas, que estão a considerar implementar o tele-trabalho, devem reflectir.

 

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau
Blog:http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk

1 Dez 2020

CEAM | Grupo que discutia Macau em português faz nove anos e mantém-se no limbo

Hugo Silva, também conhecido pelo nome satírico de Falamau da Silva, era o principal dinamizador da “Conversa Entre a Malta”. Com a sua morte, perdeu-se a password do grupo que se tornou conhecido por discutir os assuntos de Macau, de forma mordaz. Porém, para os outros administradores a suspensão é mesmo uma forma de homenagear o falecido

 

[dropcap]D[/dropcap]urante anos o grupo Conversa Entre a Malta (CEAM) foi uma referência para discutir o quotidiano de Macau em língua portuguesa. E hoje faz nove anos. No entanto, desde Fevereiro que o grupo está suspenso. Já antes, em Outubro do ano passado, a publicação de novas mensagens tinha sido bloqueada, de forma temporária.

O principal motivo que faz com que o CEAM, que no pico da participação chegou a ter mais de 2 mil membros, ainda esteja bloqueado prende-se com o facto de o administrador e amigo dos utilizadores mais activos ter falecido. Hugo Silva Junior, que também utilizava o perfil “Falamau” da Silva, faleceu em Abril deste ano, vítima de doença inesperada, e levou consigo a password da CEAM. Face a este desfecho, a restante administração em vez de criar um novo grupo, decidiu que a melhor forma de homenagear Hugo Silva Junior seria deixar o CEAM nesta situação de limbo. Foi o que explicou ao HM, Fernando Gomes, utilizador e comentador frequente.

“O Hugo Silva foi um dos grandes impulsionares do Conversa Entre a Malta, que era um grupo que tinha muitos utilizadores, mas em que a maior parte se limitava a ver o conteúdo. No entanto, ele partilhava sempre as notícias, informações e tinha um jeito de deixar certas ‘provocações’ saudáveis que faziam com que mais pessoas participassem”, recorda Fernando Gomes. “Como ele morreu em Abril, de forma inesperada, acabou por levar com ele a password do grupo, o que faz com que também não possa ser reactivado”, acrescentou.

Esta versão é corroborada pelo administrador Arnaldo Martins. “Por respeito à memória do Hugo Silva deixámos o grupo parado. Ele era sempre um dos elementos mais dinamizadores”, disse Martins, em declarações ao HM.

Hong Kong e o futuro

Porém, antes do falecimento de Hugo Silva, o grupo CEAM já estava suspenso, por decisão do elemento que era visto como a “alma” do grupo. Na altura, a interrupção era para ser temporária e foi motivada por duas razões. Por um lado, para acalmar os ânimos devido às discussões sobre as manifestações em Hong Kong, e, por outro, para tentar recentrar as discussões em Macau, o objectivo inicial da criação.

“O grupo foi suspenso devido ao que se estava a passar em Hong Kong. Havia demasiada discussão pouco saudável, o que fazia com que ficasse um ambiente pesado entre pessoas amigas. E esse não era de todo o objectivo da Conversa Entre a Malta. Nós não somos assim tantos para nos andarmos a zangar”, justificou Arnaldo Martins. “Ali o objectivo era discutir Macau e os assuntos do quotidiano, mas já só se falava de Hong Kong. Não era o que se queria para o grupo”, acrescentou.

Para Arnaldo Martins a ausência de um grupo como o CEAM acaba por fazer falta à comunidade que domina a língua portuguesa. “É um grupo que faz falta para falar de Macau, porque não existem muitos grupos para discutir o quotidiano em português”, considerou. Também Fernando Gomes recorda com saudades a interacção do grupo: “Era um grupo sobre a actualidade e as pessoas falavam sobre as informações, com opiniões e um pendor sempre mais satírico”, lembra.

Por este motivo, não é afastado o cenário de no futuro ser lançado um grupo semelhante, para que a “malta” volte a discutir Macau. Mas, não só, além da actividade “online” da CEAM, ao longo dos anos foram também feitos alguns eventos de convívio de jantar ou mesmo de prática desportiva. E os encontros podem voltar, assim que se ultrapasse esta situação de pandemia. “Se no próximo ano terminar a pandemia, espero que possamos retomar as actividades do grupo […] A pandemia trouxe muitas dificuldades, mas espero que no futuro possamos voltar ao convívio. E também com o tempo, acho que se não for a CEAM haverá uma outra página para se discutir Macau”, deixou no ar Arnaldo Martins.

3 Nov 2020

Detidos por partilhar pornografia infantil no chat do Facebook

[dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) deteve na passada quinta-feira um total de cinco suspeitos de partilhar vídeos pornográficos em grupos de conversação do Facebook Messenger, que incluem a participação de menores de idade nos actos sexuais. O alerta foi transmitido à PJ pela Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) entre os dias 7 e 11 de Agosto, apresentando suspeitas sobre a divulgação entre Abril e Junho de 2020, em Macau, de vídeos de índole pornográfica com intervenientes menores.

De acordo com informações reveladas pela PJ na passada sexta-feira em conferência de imprensa, em causa estão dois vídeos. O primeiro tem a duração de 2:29 minutos e, após análise, verificou-se que o seu conteúdo revela uma “menor estrangeira” a ter relações sexuais com um homem, nomeadamente “coito oral”.

O segundo tem a duração de 00:49 segundos e, segundo a PJ, revela uma menor a ter relações sexuais com um homem, nomeadamente “coito anal”.

Após o alerta emitido pela Interpol, a PJ iniciou uma investigação que permitiu identificar e localizar os cinco suspeitos de nacionalidade nepalesa ligados ao caso. As detenções aconteceram durante a manhã da passada quinta-feira nas residências e locais de trabalho dos suspeitos, tendo sido igualmente apreendidos cinco telemóveis.

Consumadas as detenções, quatro dos suspeitos que trabalhavam como seguranças confessaram ter divulgado os vídeos aos amigos através de grupos de conversação do Facebook Messenger, negando, contudo, ter recebido qualquer quantia para o fazer. O outro suspeito, que se encontra desempregado, recusou-se a cooperar na investigação, embora a PJ tenha confirmado através da Interpol que também ele divulgou os conteúdos de pornografia infantil entre os amigos.

Casos importados

Durante a conferência de imprensa, o porta-voz da PJ referiu ainda que, após análise do conteúdo dos vídeos em questão, acredita-se que “os vídeos tenham sido captados fora de Macau” e que os materiais foram difundidos dentro de grupos de amigos ou conterrâneos “apenas com o intuito de partilhar”.

Os cinco suspeitos foram presentes ao Ministério Público (MP), onde vão responder pela prática de crimes relacionados com “Pornografia de Menor”, podendo ser punidos com penas de prisão de 1 a 5 anos.

18 Out 2020

Facebook contesta encerramento de grupo pró-democracia na Tailândia

[dropcap]O[/dropcap] Facebook vai contestar uma ordem do governo tailandês que o obrigou a encerrar um grupo muito popular dedicado ao movimento pró-democracia em curso no reino, declarou ontem a empresa norte-americana.

Uma crescente onda de manifestações alastrou-se no país do sudeste asiático desde Julho, contra o governo considerado ilegítimo, mas também contra a monarquia, assunto que até então era tabu.

O grupo “Royalist Marketplace”, criado em Abril, tinha mais de um milhão de membros quando o acesso foi bloqueado pelo Facebook na segunda-feira.

A rede social foi “forçada” a tomar essa decisão por ordem do governo tailandês, afirmou um porta-voz do Facebook à agência francesa France-Presse.

“[Pedidos como este] violam o direito internacional. Estamos a trabalhar para proteger e defender os direitos de todos os utilizadores da Internet e estamos a preparar-nos para contestar legalmente esse pedido”, acrescentou.

Pavin Chachavalpongpun, um activista tailandês exilado no Japão e moderador nesse grupo, disse à AFP que o mesmo permitiu “discussões reais” sobre a monarquia, o seu papel e caminhos para a reforma.

De acordo com Pavin, o encerramento do grupo mostra que o Facebook está a trabalhar para “promover o autoritarismo” na Tailândia e “aprovar as tácticas do Governo sobre censura de informações”.

É “um obstáculo ao processo de democratização na Tailândia, bem como à liberdade de expressão”, acrescentou.

Sem precedentes

Ontem de manhã, o advogado Anon Numpa, uma das principais figuras do movimento, foi preso pela terceira vez em poucas semanas.

Desde o início dos protestos, 11 activistas foram detidos por uma dúzia de motivos, incluindo sedição e violação da lei de emergência sanitária.

A monarquia é um assunto extremamente delicado na Tailândia, onde o rei e a sua família são protegidos por uma lei de difamação muito severa que pune com até 15 anos de prisão qualquer crítica.

Com uma fortuna estimada em 60 mil milhões de dólares, o monarca Maha Vajiralongkorn, conhecido como Rama X, trouxe mudanças sem precedentes na governação do país desde a sua ascensão ao trono, assumindo o controlo directo dos bens reais e colocando unidades do exército directamente sob o seu comando.

Manifestantes tailandeses, inspirados nos jovens de Hong Kong, atacam também o primeiro-ministro, Prayut Chan-O-Cha, um antigo chefe do exército que liderou um golpe de Estado em 2014 e permanece no poder após as eleições contestadas de 2019.

Os manifestantes exigem a sua renúncia, a dissolução do Parlamento e a reescrita da Constituição de 2017, que dá poderes muito amplos aos 250 senadores, todos eleitos pelo exército.

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) denunciou o uso por parte do governo tailandês de “leis que violam os direitos” e a liberdade de expressão.

“O Facebook deve lutar contra as exigências do governo em todas as instâncias possíveis para proteger os direitos humanos do povo tailandês”, afirmou John Sifton, director da HRW para a Ásia.

Um pequeno protesto pró-monarquia ocorreu ontem em frente à embaixada japonesa em Banguecoque, para pedir a Tóquio que reenviasse Pavin para a Tailândia para ser julgado sob a lei de difamação real.

26 Ago 2020

Hong Kong | TikTok suspende serviços, enquanto gigantes tecnológicos reagem à Lei da Segurança Nacional

A aplicação de partilha de vídeos TikTok suspendeu os serviços em Hong Kong na sequência da entrada em vigor da Lei da Segurança Nacional. A empresa garantiu ao HM que a app vai continuar a funcionar em Macau. Entretanto, gigantes como Google, Facebook, Twitter e até mesmo a “jovem” Zoom decidiram interromper a colaboração com as autoridades da região vizinha, numa rara reacção a decisões políticas de Pequim

 

[dropcap]U[/dropcap]ma das mais populares apps da actualidade, o TikTok, anunciou ontem que vai suspender o funcionamento da aplicação em Hong Kong devido à aprovação da Lei da Segurança Nacional.

Os residentes da região vizinha vão ficar impossibilitados de usar o TikTok nos próximos dias, apesar de ontem já haver relatos a dizer ser impossível o download da app.

O HM contactou a empresa sediada em Pequim que detém o TikTok, a ByteDance, que garantiu que Macau não vai ser afectada pela suspensão da aplicação em Hong Kong. “Devido aos recentes acontecimentos, decidimos parar as operações da app TikTok em Hong Kong”, referiu um porta-voz da ByteDance ao HM, acrescentando que a medida se aplica apenas à RAEHK.

Convém referir que a ByteDance é uma gigante empresa multinacional de tecnologia, sediada em Pequim, avaliada em 100 mil milhões de dólares norte-americanos, e que contava com 800 milhões de utilizadores em Janeiro.

Apesar de estar sediada na capital chinesa, a ByteDance frisou que as grandes decisões de gestão de negócios, incluindo regras sobre conteúdos, são tomadas fora da China. Aliás, o TikTok não está disponível no mercado chinês.

O Governo de Macau usou recentemente a plataforma para um concurso intitulado “Pequena criatividade valoriza-se muito na dinamização dos bairros antigos”, organizado conjuntamente pela Direcção dos Serviços de Economia e pela Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau. O prazo para entregar obras, incluindo vídeos de TikTok, é domingo, com os vencedores a serem anunciados no dia 17 de Julho.

A Zoom também anunciou ontem a tomada de posição face à aprovação da Lei da Segurança Nacional, ao declarar que não vai aceder aos pedidos de informações e acesso a dados por parte das autoridades de Hong Kong. A aplicação de chamadas de vídeo, que se tornou incontornável na Era do distanciamento social, usada para aulas e reuniões, foi criticada depois de em Junho ter suspendido a conta de Lee Cheuk-yan, activista pró-democracia e deputado no Conselho Legislativo durante mais de 20 anos, e de ter terminado uma acção online em memória das vítimas do massacre de Tiananmen.

Apesar das recentes tomadas de posição, a empresa sediada nos Estados Unidos decidiu, para já, não vai aceder a solicitações do Governo de Carrie Lam. “A Zoom apoia a livre e aberta troca de pensamentos e ideias. Estamos muito orgulhosos por facilitar conversas com significado e em ajudar à colaboração profissional em todo o mundo. Estamos a acompanhar os desenvolvimentos na RAEHK, incluindo potenciais orientações da Governo norte-americano. Como tal, interrompemos todos os pedidos de processamento de dados relacionados com Hong Kong”, referiu um porta-voz da Zoom citado pelo portal HKFP.
Importa também referir que o bilionário de Hong Kong Li Ka-shing é um dos accionistas da empresa que detém a Zoom.

Preocupações gigantes

A tomada de posição das “novatas” Zoom e TikTok chegou um dia depois da Google, Facebook e Twitter terem revelado na segunda-feira que iam temporariamente recusar pedidos das autoridades de Hong Kong para aceder a dados de utilizadores.

As empresas indicaram estar a analisar os contornos da Lei da Segurança Nacional, com o Facebook a ir mais longe ao admitir que irá considerar implicações do diploma nos direitos humanos.

O consenso dos colossos de internet é um raro exemplo no que toca a questionar abertamente uma política do Governo chinês, inclusivamente usando expressões semelhantes nos comunicados.

Com muito dinheiro de publicidade em jogo, a tomada de posição espelha os receios trazidos pela legislação aprovada pela Assembleia Popular Nacional. A lei confere poderes às autoridades para apagar publicações de internautas e punir empresas de internet que não obedeçam a pedidos para aceder a dados de privados, incluindo penas de prisão para profissionais das empresas responsáveis pela não autorização de cedência de dados.

Uma vez que a nova lei tem um âmbito de aplicação vasto, que não se cinge apenas o território de Hong Kong, abre portas a consequências de utilizadores fora da RAEHK.

As empresas norte-americanas, nomeadamente Google, Facebook e Twitter, não especificaram se a decisão se torna definitiva, ou se vão cooperar com as autoridades da RAEHK com limitações, algo que pode ser determinante na liberdade para aceder à internet em Hong Kong. Porém, como destaca o The New York Times, as empresas têm muito a perder se estiverem dispostas a abdicar dos negócios de publicidade que têm na China, apesar das suas aplicações estarem bloqueadas.

Posts das redes

“Vamos interromper as revisões de pedidos do Governo de Hong Kong para aceder a dados do Facebook enquanto analisarmos aprofundadamente a Lei da Segurança Nacional, incluindo ouvindo opiniões de peritos internacionais em direitos humanos”, lê-se no comunicado da empresa da Mark Zuckerberg.

Segundo o relatório de transparência do Facebook de 2019, no ano foram recebidos 241 pedidos das autoridades de Hong Kong para aceder a dados de usuários, tendo colaborado com entrega de dados em 110 casos. O Facebook recebeu em 2019 do Governo de Macau 11 pedidos de acesso a dados, aos quais acedeu em 5 casos.

Em relação à reacção à Lei da Segurança Nacional de Hong Kong, Google e Twitter emitiram comunicados semelhantes ao do Facebook, também a sublinhar que não iriam aceder a pedidos de entrega de dados.

Outra aplicação que se juntou aos gigantes foi o Telegram, uma app de mensagens muito popular entre os manifestantes de Hong Kong. A aplicação é detida por uma empresa com escritórios no Médio Oriente e na Europa.

Tico e o teco

O Governo dos Estados Unidos está a considerar restringir o acesso dos utilizadores norte-americanos à aplicação chinesa TikTok, alegando a possibilidade de o regime chinês usar o serviço de partilha de vídeos como forma de monitorar e distribuir propaganda.

Em declarações à cadeia televisiva Fox, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, observou que está, em conjunto com o Presidente Donald Trump, a “levar a sério essa possibilidade”.

A Índia tomou essa decisão, na semana passada, por considerar a aplicação “prejudicial à soberania e à integridade” do país, alegando que é usada para “roubar e transmitir clandestinamente e sem autorização dados dos utilizadores para servidores localizados fora da Índia”. Também o Governo australiano pondera seguir a essa via e restringir o acesso ao TikTok.

“Estamos a levar muito a sério e a analisar essa possibilidade”, reiterou Pompeo. O secretário de Estado norte-americano recusou dar mais detalhes sobre o assunto, apontando que não queria “adiantar-se” a um possível anúncio presidencial.

Mike Pompeo alertou os cidadãos norte-americanos para serem cautelosos no uso do TikTok, caso não queiram que as suas informações privadas caiam “nas mãos do Partido Comunista Chinês”.

Recentemente, a aplicação de vídeos entrou na ordem-do-dia da política norte-americana ao ser palco para um golpe de protesto contra Donald Trump. Uma avalanche de internautas combinou no TikTok reservar bilhetes para o comício inaugural da campanha de Trump, que decorreu em Tulsa no Estado do Arizona, e não comparecer. O evento foi uma frustração para a campanha de reeleição do Presidente norte-americano, fã assumido de redes sociais, com o primeiro comício a meio gás depois de Trump se gabar ter mais de um milhão de pessoas interessadas em comparecer.

Signal e VPN

Outra consequência da entrada em vigor da lei foi a procura em Hong Kong de aplicações de comunicação encriptada, facto que empurrou a app Signal para o primeiro lugar dos downloads. Têm circulado nas redes sociais inúmeras confissões de internautas que, pelo sim pelo não, apagaram posts alusivos a protestos ou a actividade política, até mesmo contas inteiras.

Segundo o South China Morning Post, desde que a lei foi anunciada, as empresas que vendem VPN (virtual private network), que permitem usar a internet sem mostrar a identificação do telefone ou computador, registaram records de vendas.

8 Jul 2020

Determinismo

[dropcap]N[/dropcap]uma desses depoimentos desabridos que o à-vontade e a espontaneidade do Facebook permitem desafogar alguém disse en passant: “…as pessoas cuja identidade de género não corresponde ao sexo que a sociedade lhes atribuiu à nascença…”

Não é forçoso que quem isto proferiu requeira como corolário epistemológico da sua afirmação que a diferença entre os espermatozóides xx e xy não passe de uma burla engendrada por uma ciência hetero-patriarcal (já agora branca e capitalista, para se completar de razões). Mas tudo na afirmação implica que o xx e o xy terá contribuído muito menos para a atribuição do sexo dos nascituros do que a sociedade em que eles vieram ao mundo.

Claro que se pode aludir que esta frase vale o que vale a maior parte dos dizeres pespegados nas redes sociais, por norma superficiais e preconceituosos, na medida em que são segregados sem reflexão e por mera adesão sentimental às ideias mais cintilantes que “andam por aí”; e decorrentes de um fervoroso – embora denegado – moralismo, porque buscam o consolo dado por uma lei justa, geral e universal, que ao identificar e denunciar os “culpados” julga ter encontrado a “resposta.”

Mas porque procede de uma convicção validada nalguns círculos, mesmo se tomada como embuste a frase não deixa de ser sintomática. Não só porque deriva de um ethos que se vai trivializando e condensando em certas meninges e se vai tornado dominante, como essas tais meninges se têm na conta de indubitavelmente cultas e privilegiadamente inteligentes – como podia ser de outro modo pois se ao contrário da massa de alienados, já são detentoras das chaves epistemológicas que determinam a vida humana?

A frase é sobretudo reveladora do estado de alienação inerente – dizer “genético” seria demasiado sarcástico – aos apaniguados do determinismo social, pois acarreta uma contradição que eles não detectam. Ou melhor: que esqueceram, pois em tempos ela foi “resolvida” pelas investigações de Lisenko, as quais acabaram no caixote de lixo da ciência após a proverbial pilha de vítimas mortais do dogmatismo soviético.

O determinismo social é uma espécie de Frankenstein composto pela certeza “científica” do “materialismo histórico” e pela persuasão “científica” do positivismo comtiano que aglutinados e sujeitos a uma série de descargas eléctricas políticas e filosóficas aparentam ter vida própria.

Há um dito que virá aqui a propósito: quando se tem um martelo todos os problemas são pregos. Se até o sexo dos nascituros é determinado socialmente então o determinismo biológico (e o físico, e o químico) é irrelevante. Ora a biologia, a física e a química, foram as áreas em que o conhecimento humano penetrou na natureza; por via desse formidável instrumento mental que é a razão elas constituíram-se como ciências e esta, segundo os seus rigores de observação e análise, estabeleceu as leis que determinam os eventos naturais. Portanto, se é a biologia que comprovada e cientificamente determina o sexo dos nascituros como pode arrogar-se de científico e determinante o “determinismo social” que suspeita da sua validade?

Uma das mais efervescentes e criativas regiões da filosofia que ainda se vai fazendo é que discute com a ciência a complexa, enigmática e buliçosa fronteira entre o determinismo da neurociência e o livre-arbítrio, ou seja, a liberdade do ser humano, o único animal que produz semântica e demonstra intencionalidade. Para esta controvérsia pouco têm contribuído os expertos “continentais” do determinismo social, impantes nas suas convicções epistemológicas, afinal estanques a qualquer discussão científica dado serem sistematicamente carentes de prova matemática ou empírica, na melhor das hipóteses argumentando com a falaciosa prova testemunhal.

Este ensimesmamento do determinismo social tende desgraçadamente a gerar nos seus adeptos uma consequência que contradiz a sua suposta índole científica. Dado que se protegem e defendem com recurso a uma desconfiança inamovível e infundada – mas nada cartesiana – contra tudo que resiste a ser “prego”, amiúde fazem incidir esta atitude de suspeita apelidada de “crítica” sobre os enunciados da ciência. Aquilo que designam com alacridade de “saberes alternativos” acaba por degenerar na legitimação e ratificação de modelos de pensamento pré- ou anti- Razão ou seja na visão do mundo característica da era medieval. “Obscurantismo” é a palavra justa para a qualificar.

15 Set 2019

Quase psicopatas 

[dropcap]S[/dropcap]omos todos seres humanos e atentos ao mundo que nos rodeia, até ao dia em que nos esquecemos disso mesmo. E, por norma, esse esquecimento ocorre com frequência nas redes sociais, onde nos atacamos quase sem dar por isso.

Há uns tempos, um leitor enfurecido decidiu escrever na página oficial do Hoje Macau, no Facebook, que nós merecíamos levar com uma bomba, uma publicação feita na caixa de comentários de uma notícia sobre ataques na zona da Faixa de Gaza. Bastante elucidativo.

Agora, são os protestos em Hong Kong que geram uma onda de revolta individual e quase colectiva contra os manifestantes. Há dias, um leitor escrevia que os tiros dados pela polícia não deveriam ter sido feitos para o ar, mas directamente para quem estava a protestar. Tipo arma de fogo, morriam logo vários de seguida.

Aposto que se trata de um bom residente, cumpridor das regras sociais e defensor da harmonia de Macau. Só não lhe dêem uma arma para as mãos. Somos todos bonzinhos e respeitadores, até termos acesso a uma rede social. Aí, destilamos ódio, somos uns quase psicopatas sem nos apercebermos. Seríamos incapazes de matar, mas nas redes sociais, não faz mal nenhum ameaçar. Serve para descomprimir das agruras da vida…

29 Ago 2019

YouTube fecha canais associados a campanha de desinformação sobre Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] Google informou hoje que desactivou mais de 200 canais na plataforma de vídeos YouTube que alegadamente conduziam “operações de influência coordenadas” sobre os protestos em Hong Kong, dias depois de Facebook e Twitter tomarem a mesma decisão.

O Google suspendeu 210 canais do plataforma de vídeo YouTube após detectar um “comportamento coordenado, ao difundir vídeos relacionados com os protestos em curso em Hong Kong”. A empresa não vinculou directamente a campanha com o regime chinês, mas associou a sua decisão “recentes observações e acções anunciadas pelo Facebook e Twitter”.

Esta semana, o Facebook e o Twitter suspenderam também várias contas originárias do continente chinês, que “deliberada e especificamente tentavam semear a discórdia política em Hong Kong, inclusive minando a legitimidade e as posições políticas dos manifestantes”.

Ambas as empresas disseram que suspenderam as contas com base em “evidências confiáveis” de que se tratava de uma “operação coordenada pelo Estado” chinês. A decisão levou a acusações de censura pelas autoridades chinesas.

O Twitter anunciou ainda que não aceitará mais “propaganda de órgãos de imprensa controlados pelo Estado”, condenando comportamentos “manipuladores”. Pequim, que há muito se queixa que a imprensa ocidental domina o discurso global e alimenta preconceitos contra a China, investiu nos últimos anos milhares de milhões de dólares para convencer o mundo de que o país é um sucesso político e cultural.

Twitter ou Facebook têm sido parte central dessa estratégia, apesar de estarem bloqueados na China, onde a narrativa é controlada pelo Partido Comunista, cujo Departamento de Propaganda emite directrizes para os órgãos de comunicação ou censura informação difundida nas redes sociais domésticas, como o Wechat ou Weibo.

Vários órgãos de comunicação estrangeiros estão também bloqueados na Internet chinesa, a maior do mundo, com cerca de 710 milhões de utilizadores. A antiga colónia britânica vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

23 Ago 2019

Pequim utilizou redes sociais contra manifestantes em Hong Kong

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades chinesas utilizaram cerca de um milhar de contas do Twitter e várias páginas do Facebook para desacreditar e dividir os manifestantes pró-democracia em Hong Kong, anunciaram ontem as duas redes sociais.

A rede social Twitter anunciou que suspendeu 986 contas que “são coordenadas como parte de uma operação chinesa” para “minar a legitimidade e as posições políticas” dos manifestantes, disse numa mensagem.

Já a rede social Facebook salientou que removeu, pelas mesmas razões, sete páginas e três grupos, também relacionados com “pessoas associadas ao Governo de Pequim”.

Há mais de dois meses que Hong Kong é palco de protestos, marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, que tem usado balas de borracha, gás pimenta e gás lacrimogéneo.

Em 1 de Julho, alguns manifestantes invadiram mesmo o parlamento de Hong Kong. Mais recentemente, o aeroporto de Hong Kong foi palco de manifestações, com as autoridades a serem obrigadas a cancelar centenas de voos numa das infraestruturas aeroportuárias mais movimentadas do mundo.

A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”, precisamente o que os opositores às alterações da lei da extradição garantem estar agora em causa.

Para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.

20 Ago 2019

Imposto digital

[dropcap]A[/dropcap] última cimeira do G20 aprovou a implementação do imposto digital, para ser aplicado a empresas que fornecem serviços digitais (as DPC sigla em inglês). Das empresas deste ramo destacam-se o Facebook, o Google, a Apple e a Amazon, conhecidas em todo o mundo.

No universo online, onde vivemos actualmente, as DPC vendem e-books, publicidade e colocam os seus motores de busca ao nosso dispor, para nos permitir procurar todo o tipo de informação. Os consumidores pagam estes serviços. Estes pagamentos geram os lucros das DPC. Sem um imposto digital não há forma de taxar as DPC e, ao contrário das empresas tradicionais, as DPC pagam impostos baixos.

Quando na cimeira do G20 foi estabelecida a necessidade de cobrar o imposto digital, foram avançados dois princípios. O primeiro consistiu na regulação das taxas. Debateu-se se os impostos deveriam ser cobrados nos países onde os serviços são prestados ou nos locais onde as empresas estão sediadas. Mas, como as DPC não são empresas físicas, nem estão registadas num determinado país, estabeleceu-se que as taxas seriam cobradas pelos países onde os serviços são prestados.

Serão, pois, os Governos dos países consumidores destes serviços a cobrar o imposto. Nestas questões a justiça fiscal é importante. Se os países não tiverem implementado o imposto digital, por mais dinheiro que as DPC ganhem, os governos não o podem cobrar. Para a economia desses países também é injusto que empresas que facturam milhões não contribuam com uma parte dos seus lucros.

Em segundo lugar, a cimeira decidiu que se estabeleceria uma taxa mínima para esta contribuição fiscal. Este princípio é bom, mas encerra alguns problemas. A Irlanda e o Luxemburgo já têm imposto digital, cobrado a uma percentagem relativamente baixa. Para evitar pagar mais, as DPC têm-se estabelecido nos países que cobram taxas baixas. Nos países que cobram imposto mais alto, as DPC só têm fornecido os seus serviços. Se for criada uma percentagem global para o imposto digital, as vantagens que os países como a Irlanda e o Luxemburgo oferecem vão ser significativamente reduzidas; por isso estes países têm-se oposto à percentagem global. Se esta questão não for resolvida, vai ser difícil o G20 estabelecer uma regulamentação global até 2020.

Singapura já tinha anunciado a implementação do registo de fornecedores estrangeiros para 2020. Neste regime DPCs com uma receita anual superior a 1 milhão de dólares, e uma facturação local superior a 100.000 dólares, deverá pagar este imposto.

O Japão reviu os impostos ao consumo em 2015 e expandiu a taxação a empresas estrangeiras que vendam produtos digitais em solo japonês. Desde que a transacção ocorra no Japão, o fornecedor tem de pagar imposto ao Governo nipónico. A definição do local da transacção foi alterada de “localização do fornecedor do serviço” para “morada do consumidor do serviço”.

Estamos, pois, perante a eclosão de um novo imposto global. De que forma deverão Hong Kong e Macau lidar com esta situação? Se Hong Kong continuar a manter o seu sistema fiscal, ou seja, omitindo o imposto digital, pode vir a atrair para o seu território muitas DPCs. Mas se isto se verificar, o Governo de Hong Kong vai perder uma fonte de rendimento fiscal. Actualmente, a maior parte dos dividendos do Governo de Hong Kong são obtidos através da venda de terras. É uma receita instável. Para além disso, existem poucos impostos em Hong Kong. Do ponto de vista dos cofres da cidade, seria uma boa decisão a implementação do imposto digital

Saliente-se ainda que a comunidade internacional defende a criação deste imposto num futuro próximo e, para se manter alinhado com o resto do mundo, Hong Kong também o deveria implementar.

A receita do Governo de Macau provém sobretudo dos casinos. Após a reunificação da China, os casinos são fonte de enormes lucros e a receita do Governo também tem vindo a subir. Para já, em Macau o imposto digital não parece ser uma prioridade. Outra vantagem possível da não implementação deste imposto é o encorajamento ao crescimento do comércio online na cidade. Pode vir a atrair DPCs estrangeiras para aqui se estabelecerem.

De qualquer forma, continuemos a acompanhar os desenvolvimentos da implementação do imposto digital e depois tiraremos mais conclusões.

 

Legal consultant of Macau Jazz Promotion Association
Associate Professor, Macao Polytechnic Institute
Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
23 Jul 2019

Eliete e o Facebook

[dropcap]O[/dropcap] Facebook é cada vez mais – a par do Google – um dos motores do Zeitgeist em que vivemos. Podemos ser contra – por diversas razões – ou a favor – por outras tantas e, às vezes, até por razões coincidentes com as que outros são contra –, mas não lhe podemos ser indiferentes. Escrevo isto a propósito do último romance da Dulce Maria Cardoso, o fantástico Eliete, um entretecido de múltiplas camadas de sentido que vão, com enorme subtileza e um ritmo magistralmente gerido, compondo aquilo que Virginia Woolf não desdenharia chamar “o grande rosto da vida”, declinação central do conceito de “moments of being” que funciona como ponto arquimédico de toda a sua obra.

Muito do romance vai ao osso da dicotomia fundamental da nossa época: a identidade real e a identidade digital. E Dulce insiste, e bem, na radical mudança que as redes sociais em sentido lato – nomeadamente o Facebook e o Tinder – têm vindo a operar na nossa vida. Mas não é um romance-diagnóstico. Está demasiado perto da realidade que procura dirimir e está sobretudo na charneira de uma mudança muito mais vasta do que a que lhe é possível abraçar. Eliete vê bocados da criatura movendo-se, percebe-lhe as pegadas, os efeitos nos sítios por onde passa, aquilo que arrasta consigo e aquilo que deixa para trás. E não se lhe pode pedir mais: a criatura está longe de ter chegado ao destino. Mas estas mudanças na organização da identidade e das suas hierarquias Eliete expõe-nas magistralmente, sobretudo quando incide sobre a decisiva inversão da hierarquia de importância das identidades reais e virtuais. O que doravante importa (apresentar aos outros) é uma cuidada construção da identidade virtual, sendo essa construção muito mais simples de fazer e de manter porque a estrutura própria do virtual é a do enquadramento fotográfico: ao contrário da realidade, cuja estrutura de fluxo impede obviamente a captação fragmentária, o virtual funciona – pelo menos por ora – mediante instantes meticulosamente escolhidos pelo portador dessa identidade. Às múltiplas perspectivas alheias incidindo impiedosamente sobre o sujeito, próprias do real, contrapõe-se uma generosa curadoria mono-ocular: é o sujeito que dita a sequência de perspectivas pela qual os outros acedem à sua vida. Enquadra, filtra, contextualiza, reconfigura.

E Eliete é o retrato deste processo em curso, preocupada com os likes ou os comentários de desconhecidas às fotos do marido, Jorge, zangada com os laços inautênticos que marido e filha exibem numa fotografia de conjunto, inquieta com a quantidade de likes e outros emojis recebidos numa foto na qual tem o cuidado de aprimorar digitalmente as pernas. E ao Facebook segue-se o Tinder e a neutralização progressiva da angústia a que corresponde a dissociação cada vez maior entre a identidade real e a identidade virtual.

Vistas as coisas de uma perspectiva aérea, parece não estarmos a falar de muito: uma mulher na meia-idade, a consciência clara desse processo, o desinteresse sexual do marido, o desinteresse total das filhas, a demência da avó, as múltiplas formas de perda e as poucas redenções possíveis.

Mas Eliete tem a rara virtude de transformar o quotidiano áspero e o sonho comezinho, passíveis em mãos menos seguras de provocar unicamente um longo e monótono bocejo, numa cartografia precisa de um modo de vida cuja disposição naturalmente caótica era refractária à sua compreensão – como todos os modos de vida. E às vezes é só isso que os grandes romancistas fazem: aclaram, organizam, mapeiam.

1 Jun 2019

De Eva para Lillith

[dropcap]I[/dropcap]sto anda tudo ligado, sendo, o mais das vezes, em rede, por contágio ou intoxicação voluntária, que a criatividade se insemina. Leio a sinopse de Um Homem é Um Homem de Brecht e percebo de imediato a fonte do Nicanor Parra para escrever o seu poema Um Homem. Tal como é nítida a sombra da faca de Macbeth em Faca Só Lâmina de Guimarães Rosa.
E talvez isso até não aconteça somente por refração ou influência, mas pelo que Benjamin insinua sobre BB e as autorreferências nos seus textos: «A relação que ele mantém com a sua história é igual à do professor de ballet com a aluna: o primeiro objectivo é flexionar as articulações dela até ao limite impossível».

Quando se lê numa atitude que não seja reverencial mas como quem participa num banho de ideias e formas, acontece que a boa sugestão do poema não nos pareça ser explorada a contento (a bailarina foi preguiçosa e as suas flexões não desenharam todas as figuras que lhe eram possíveis) e então assinalamos, anotamos a sugestão de uma emenda à parte ou fazemos uma variante, tornando-se esse poema matéria-prima para um delito.

Gostava de um dia ter a insolência para publicar um volume com os “poemas emendados” que guardo na gaveta, de vários poetas (no meu blogue, Raposas a Sul, expus um dos crimes que cometi: em Fortunata critica: Beirão no aeroporto).

Foi uma magnífica escola de poesia, esse manejo das facas do açougueiro; arroubos de uma montagem muito godardiana.

Nunca compreendi a atitude passiva, basbaque, diante de um poema. Uma coisa é a humildade e o reconhecimento dos nossos limites, outra o que nos é lícito fazer em privado para melhorar e expandir o estro que parcamente nos coube e aí o diálogo interpelativo com os textos dos ancestrais que escolhemos pode dar bons resultados e mais depressa, por saturação, escreveremos contra aquela orbe, afastando a influência. É como no luto, ultrapassa-se atravessando-o, com a dor e a irracionalidade necessárias. Tratemos a fascinação como um luto que temos de atravessar.

Quando cheguei a Moçambique, a erosão – humana, urbana e ambiental – que se me deparou era tão descomunal que tive vergonha pela frivolidade de noventa por cento das guerrinhas entre os meus amigos literatos, entre as diversas gerações ou capelas, mesquinhos dramas burgueses (e estendo a coisa aos que se julgam marginais e independentes), e durante algum tempo, face àquele choque da realidade, suspeitei do autárquico regime das metáforas. Deixei de conseguir ler Char ou Gamoneda. Do primeiro, só uma biografia que mostrava a dignidade do seu percurso de vida me recuperou o poeta; quanto a Gamoneda só o voltei a apreciar quando, após um jejum de cinco anos, me consenti voltar às metáforas.

Um dia numa aula abri a Poesia Toda do Herberto e li um poema aos alunos. Sangraram aquelas orelhas contra a espinhosa – sem referências mínimas para o desfrute e a beleza que, para mim, ali se engendrava; iluminando-se-me então que a beleza é algo que floresce na apropriação de um contexto -, e, simultaneamente, vi o aparato de que o poema se servia para camuflar que resvalava para uma vácua dimensão abstracta (- daí que, contra alguns, tenha gostado tanto do concreto para o qual guinou o Herberto, nos últimos livros). E a aula saiu dos eixos, usei de tesoura e cola e mudei o poema do Herberto, ou enxuguei-o em catorze versos. Telefonei-lhe para contar como lhe assassinara a vaidade, mas atendeu-me a dona Olga e de rajada perguntou sarcástica: “Então Cabrita, como vão essas pretas?”, o que me inibiu a tesão de mijo.

De outra vez, fiz crime de lesa-majestade ao emendar publicamente um poema de Craveirinha, um dos que mais gosto mas falho na chave final. Chama-se Exíguas Palavras: «Posso jurar que a solidão me tacteia. / Uma a uma esvaziando-se no rígido vazio / exíguas são as palavras que me ocorrem. / Rimas de livros fitam-me indulgentes. / Desde Camões ao Eça passando por Tolstoi / são-me vãs as respostas que contêm. // Um sobressalto interrompe-me a escrita. / Na maneira yankee de chamar deve ser o Hemingway. // Jamais estaremos socraticamente sós. Há sempre em nós um Chaplin. / Não são os grãos de areia um por um que povoam os desertos?// O que há de eterno não sou eu que tenho de o consumar. // É irritante o farfalho do vento nas persianas. / Mahatma Gandhi só sucede para os lados da Índia. // Não fumo. Volutas de cigarro são meu anacronismo. / Nem me faz sua volúpia a mínima gota de álcool. // Chateado levanto-me. Pressuroso. // Na torradeira as torradas estão a queimar-se.» Um homem faz contas à vida, às suas ilusões e precaridade das palavras, inexoravelmente sozinho com os seus modelos esfiapados pela realidade e que até os seus vícios vê declinar. Sobra-lhe apenas o riso com que a realidade num golpe brusco (maldita torradeira) se apodera do desanimo. Este poema é a branda ilustração de um ditado judaico que reza: “o homem pensa, Deus ri”, e no seu conseguimento é quase perfeito.

Mas não desisto de ser um leitor activo, e para mal dos meus pecados sempre li assim os versos finais: «Chateado levanto-me. Pressuroso. / Na torradeira as palavras estão a queimar-se.» Convençam-me de que não é o que falta ao poema.

O poema é, não raro, um caminho entre uma cidade e outra e é para ser transitado e intervencionado até que ambas as urbes cresçam intempestivas e num imprevisto sentido, e não a senhora púdica que não pode ser tocada.

Daí que escreva tudo de jacto e às vezes exponha esse precipitado no Facebook para me divertir, mas só o dou por acabado anos depois, estando a virgem convertida numa senhora muito dada à brincadeira. De Eva para Lillith, eis o caminho do poema.

30 Mai 2019

Condenado homem que difamou portuguesa no Facebook

Um indivíduo que acusou uma professora no Facebook de lhe bater no carro e fugir acabou condenado pela prática do crime de publicidade e calúnia. O comentário que motivou o processo judicial tinha a fotografia do documento de identificação da ofendida

 

[dropcap]U[/dropcap]m homem que acusou no Facebook uma portuguesa de ter batido no seu carro e fugido, foi condenado a pagar uma multa de 15 mil patacas pela prática do crime de publicidade e calúnia, de forma agravada. O caso aconteceu em Maio de 2016 e a decisão foi tomada em Dezembro pelo Tribunal Judicial de Base (TJB). O indivíduo teve também de pagar uma indemnização cível de 10 mil patacas à ofendida.

A situação que levou ao crime gerou-se quando a professora, de nacionalidade portuguesa, circulava na Taipa e encontrou um carro parado na faixa de rodagem. No momento em que tentou contornar a outra viatura para seguir viagem, a mulher acabou por bater no carro do sujeito.

Após o incidente, a portuguesa saiu do carro e abordou o condutor, disponibilizando-se para assumir os custos pelos danos causados. Além disso, mostrou o documento de identificação ao lesado, que prontamente tirou uma foto do mesmo.

No entanto, o que parecia ser um problema de fácil resolução acabou por se complicar. Por um lado, a mulher sugeriu ao indivíduo que levasse o carro a uma oficina, que ela depois pagaria. Numa das oficinas contactas, o preço orçamento era de cerca de 1.500 patacas. Contudo, o homem insistia em receber um montante que se aproximava das 5.000 patacas, que ficava acima do pedido por mecânicos locais.

Após alguns dias de impasse, o homem acabou por publicar a fotografia do documento de identificação da professora num grupo do Facebook, em língua chinesa. No conteúdo do comentário surgiam ainda as seguintes acusações: “visivelmente alguém abandonou o local após a ocorrência dos factos”, “é professora e não cumpre a sua palavra”, é mesmo a vergonha dos professores”. Os comentários que motivaram o processo não se ficaram por aqui. “Se tiverem filhos naquela escola, tomem cuidado com esta professora de nacionalidade estrageira. Sendo ela uma pessoa não cumpridora da sua palavra, então, como poderá servir de bom exemplo às gerações mais jovens?”, lia-se no comentário.

“Factos ofensivos”

Após a publicação do comentário, a professora foi abordada por amigos, colegas de trabalho e inclusive a directora da instituição onde ensinava em relação ao sucedido. Face à dimensão e visibilidade que o comentário acabou por alcançar, e pelo facto de conter inverdades, a docente portuguesa decidiu apresentar queixa.

Na decisão sobre o caso, o tribunal acabou por condenar o homem por entender que não foram encontradas “provas que indiquem que os factos ora descritos na referida ‘publicação’ são verdadeiros” e também pelo conteúdo ter factos vistos pelo tribunal como “ofensivos à honra e consideração” da portuguesa. A decisão do TJB foi publicada, ontem, num anúncio na imprensa local.

13 Fev 2019

Facebook celebra 15 anos esta segunda-feira

[dropcap]O[/dropcap]s utilizadores estão no centro da dimensão económica do Facebook, de acordo com três especialistas que partilharam com a agência Lusa diferentes perspectivas sobre a rede social no âmbito do seu 15.º aniversário, celebrado esta segunda-feira.

“O maior activo do Facebook são os utilizadores. Disso não há dúvida. O resto da tecnologia com certeza que também é, mas não interessava nada a tecnologia sem os utilizadores”, disse à Lusa o analista de mercados Filipe Garcia, CEO da Informação de Mercados Financeiros SA.

Recordando que aquando da entrada em bolsa da empresa, em 2012, a “grande questão que se colocava era saber se tinha um modelo de negócio que permitisse monetizar a sua base de utilizadores”, para o analista hoje as dúvidas estão dissipadas.

“À medida que o Facebook, através da publicidade, começou a monetizar – e de que maneira – o seu negócio, e a partir do momento em que os analistas começaram a ver que não eram só utilizadores, mas também dólares, as coisas começaram a mudar”, recordou Filipe Garcia.

“Uma necessidade latente”

Já Filipe Carrera, coordenador da pós-graduação em Marketing Digital do Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM), em Lisboa, considera que uma das vantagens da publicidade no Facebook é funcionar com a “necessidade latente” dos seus utilizadores.

“Isto é, eu não estou à procura de rigorosamente nada específico, mas o que é feito é um perfil daquilo que são as minhas necessidades, e algumas delas latentes que eu ainda nem exteriorizei. O Facebook tem a vantagem de ser a maior base de dados mundial de atitudes, comportamentos e interesses”, assinalou, classificando esta característica como “o grande valor” da rede social.

Questionado sobre se este atributo do Facebook não se pode tornar demasiado invasivo para os utilizadores, Carrera notou uma contradição na relação das pessoas com a plataforma.

“Gostamos da personalização e que a plataforma nos sugira o que queremos, mas não gostamos que ela se intrometa na nossa vida”, disse, comparando o uso do Facebook com a ida a um restaurante, em que “um dia se calhar gostamos que o chefe de mesa nos diga que temos o peixinho de que gostamos”, mas noutro já “queremos carne” e não o sugerido.

Acerca da comunicação das marcas com os utilizadores, Filipe Carrera considerou que meios como o Facebook trouxeram uma “grande democratização”, uma vez que é um meio “acessível a pequenas empresas”.

“Estamos a falar de pequenas empresas que a única coisa que fazem é ter um telemóvel, tiram umas fotografias, põem um ‘post’ e têm um efeito bastante forte nas suas vendas”, referiu Filipe Carrera, dando como exemplo barbearias ou mercearias.

Empresas com presença sólida

Por sua vez, Mário Pedro Ferreira, investigador da Universidade Católica do Porto (UCP), em declarações escritas à Lusa, considera que “as grandes empresas estão a marcar presença de forma muito mais sólida e estruturada no Facebook” face às pequenas e médias empresas.

O investigador da UCP assinala que isso está relacionado “não só com as questões orçamentais inerentes a este tipo de publicidade, mas também com a complexidade da mesma”, já que a publicidade no Facebook tem “um foco muito mais direto no consumidor e nas suas emoções” e necessita de “forte planeamento inicial e de acompanhamento estratégico contínuo”.

Mário Pedro Ferreira considera que no Facebook, devido à componente emocional que lhe está associada, “a principal arma estratégica que as empresas utilizam são os influenciadores”, e neste campo Filipe Carrera recorda que “os melhores influenciadores são aqueles que nem sabem que o são”, ou seja, utilizadores comuns que se tornam “embaixadores da marca”.

Sobre publicidade, o analista de mercados Filipe Garcia considera que “a capacidade de começar a cobrar mais dinheiro pelos anúncios do Instagram e arranjar uma forma de monetizar o Whatsapp”, empresas detidas pelo Facebook, será o “jóquer” para os próximos anos da companhia.

Em termos de riscos, o analista da IMF alerta para a existência de uma multa “que mexa a sério com a empresa” ou a tomada de “medidas que restrinjam o tráfego e publicidade”.

Neste sentido, Filipe Garcia classifica o caso Cambridge Analytica como um marco que desencadeia esse risco, já que “obrigou a que o Facebook restrinja as suas próprias receitas” para “melhorar processos”.

“Quando eu estou a banir uma página de ‘fake news’, e a página normalmente faz conteúdo patrocinado, eu estou a dizer a mim próprio que não vou ter aquela receita”, assinala.

3 Fev 2019

Facebook encerra 68 páginas e 43 contas ligadas a Bolsonaro

[dropcap]O[/dropcap] Facebook anunciou ter encerrado 68 páginas e 43 contas ligadas ao ultraconservador Jair Bolsonaro, candidato favorito a vencer as eleições presidenciais de domingo, devido a violações da política de autenticação

“Como parte dos nossos esforços contínuos para proteger a nossa comunidade e a plataforma contra o abuso, o Facebook removeu 68 páginas e 43 contas associadas ao grupo brasileiro Raposo Fernandes Associados (FRG), devido a violações da nossa política de autenticação e de e-mails indesejados “, esclareceu a rede social num comunicado divulgado na segunda-feira.

“As pessoas da RFA criaram páginas usando contas falsas ou várias contas com os mesmos nomes” para publicar “uma grande quantidade de artigos” onde redirecionaram os conteúdos para páginas fora do Facebook.

O jornal Folha de São Paulo revelou há dez dias que as páginas e contas controladas pela RFA formaram uma enorme rede de apoio a Jair Bolsonaro.

Segundo a pesquisa do jornal paulista, essas páginas geraram 12,6 milhões de interações – reações, comentários e partilhas, nos 30 dias anteriores à publicação do artigo no jornal, muito mais do que as interações observadas no mesmo período nas contas de celebridades como o jogador de futebol Neymar ou as cantoras pop Anitta e Madonna.

As redes sociais desempenharam um papel fundamental na ascensão de Bolsonaro na corrida presidencial, que se encontra bem colocado para vencer Fernando Haddad.

Jair Bolsonaro fez quase toda a sua campanha através do Facebook, Twitter e Instagram, onde tem 14 milhões de seguidores, contra 2,8 milhões de Haddad.

O final da campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais de 28 de outubro no Brasil tem registado a abertura de várias investigações contra empresas que supostamente criaram ilegalmente mensagens difamatórias que foram disseminadas pela plataforma Whatsapp.

O objetivo da divulgação de milhões de mensagens tem como objetivo propagar conteúdos falsos contra o Partido dos Trabalhadores (PT) e o candidato, Fernando Haddad, para favorecer o líder da extrema direita Jair Bolsonaro.

No domingo, o governo brasileiro alertou que “não existe anonimato na internet” para os responsáveis pelas “notícias falsas” que têm como intenção provocar dúvidas sobre a credibilidade do sistema eleitoral ou para difamar os candidatos presidenciais.

“Não há anonimato na internet, não existe, não há possibilidade. Aqueles que tenham a intenção de cometer crimes contra a credibilidade do sistema eleitoral”, disse o ministro da Segurança, Raul Jungmann.

23 Out 2018

Singapura | Facebook investe milhões no primeiro centro de dados na Ásia

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Facebook anunciou ontem a construção de um centro de dados em Singapura, o primeiro na Ásia, no qual prevê investir cerca de 860 milhões euros e que deverá começar a funcionar a partir de 2022. O centro vai ocupar 170 mil metros quadrados de um prédio de 11 pisos e criará “centenas de empregos”, informou a rede social em comunicado. O vice-presidente que gere os centro de dados do Facebook, Thomas Furlong, justificou a escolha de Singapura pela “sua infra-estrutura robusta, acesso a fibra, formação de recursos e apoio de entidades governamentais”. Furlong adiantou que o Facebook tem mil funcionários em Singapura e promove programas para ajudar o crescimento de empresas emergentes locais, segundo o jornal Straits Times. “Os nossos centros de dados são instalações altamente avançadas que ajudam a levar aplicações e serviços do Facebook a pessoas de todo o mundo todos os dias”, informou o Facebook em comunicado. O centro ficará localizado próximo do terceiro centro de dados da Google anunciado em Agosto e que procura responder à crescente procura do seu serviço Google Cloud Platform gerada pelo aumento de utilizadores de telemóveis e de empresas que operam ‘online’ na região.

7 Set 2018

Facebook | Banidas contas ligadas à Rússia e Irão por manipulação

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]rede social Facebook identificou e baniu 652 páginas, grupos e contas ligadas à Rússia e ao Irão por manipulação coordenada que incluía a partilha de material político. A remoção das páginas, grupos e contas resultaram de quatro investigações – três envolvendo o Irão e uma envolvendo a Rússia -, indicou a empresa norte-americana na terça-feira, através do seu fundador e CEO, Mark Zuckerberg. As campanhas de manipulação tinham como alvo os Estados Unidos, o Reino Unido, países da América Latina e do Médio Oriente. A rede social revelou ainda ter informado os Governos dos Estados Unidos e do Reino Unido. O Facebook intensificou significativamente a fiscalização da sua plataforma desde o ano passado, quando foi tornado público que agentes russos realizaram com sucesso operações de manipulação política naquela rede social, com o objectivo de influenciar a eleição presidencial norte-americana de 2016.

23 Ago 2018

Direitos Humanos | HRW acusa Google e Facebook de submissão à censura chines

[dropcap style=’circle’]G[/dropcap]oogle e Facebook estão a trabalhar em aplicações para entrarem no mercado chinês. Para o conseguirem, as empresas têm de se submeter às regras e censura do continente. A Human Rights Watch alerta para violações à liberdade de expressão em que as gigantes tecnológicas americanas estão a ser cúmplices. Para Éric Sautedé trata-se apenas de hipocrisia empresarial

A Human Rights Watch (HRW) apela a accionistas da Google e do Facebook, que pressionem as companhias para não alterarem os direitos dos seus utilizadores de modo a entrar no mercado chinês. O mesmo apelo é feito ao Congresso Americano e à União Europeia. O pedido é feito num relatório divulgado na passada terça-feira em que a entidade de defesa dos direitos humanos acusa os gigantes tecnológicos norte-americanos de cumplicidade para com a falta de liberdade de expressão que existe no continente.
Em causa está o desenvolvimento de tecnologias por parte das duas empresas adaptadas às regras e leis do continente, e que já preveem elementos de censura que existem no país.
De acordo com uma reportagem publicada no “The Intercept”, a Google está a desenvolver um motor de busca para telemóveis que atende aos requisitos de censura cada vez mais restritos do continente.
O Facebook também desenvolveu uma versão “censurada” da rede social especialmente elaborada para poder ser utilizada no mercado chinês , no entanto nunca a terá lançado, refere a mesma fonte.
Segundo a HRW, também o Congresso Americano e a União Europeia devem transmitir a estas companhias as suas preocupações com a cooperação dos dois gigantes tecnológicos com os sistemas de censura e vigilância de Pequim.
“As empresas de tecnologia devem desafiar a censura da China e não ser cúmplices”, aponta Cynthia Wong, investigadora na área das ciências e tecnologias da comunicação da HRW. “Os accionistas do Google e do Facebook que se preocupam com os direitos humanos devem instar essas empresas para que não se deixem de comprometer com estes valores com o objectivo de ceder ao mercado da China”, acrescentou.
De acordo com a reportagem do “The Intercept”, citada pelo relatório da ONG, a publicação teve acesso a documentos que descrevem os planos para o lançamento da versão adaptada da Google para a China e do seu mecanismo de pesquisa enquanto aplicação para o sistema Android. Segundo a mesma fonte, a Google fez inclusive uma apresentação da aplicação às autoridades de Pequim e está a aguardar aprovação para proceder ao lançamento oficial.
O projecto, para já, tem o nome de código Dragonfly e está em desenvolvimento desde a Primavera do ano passado. Os trabalhos de programação para a aplicação terão acelerado após uma reunião entre o CEO da Google, Sundar Pichai e representantes do Governo Central no passado mês de Dezembro. O “The Intercept” aponta ainda para um possível lançamento dentro dos próximos seis a nove meses.
A empresa está também em conversações com potenciais parceiros chineses para fornecer outros serviços como o armazenamento em nuvem.
A HRW entrou em contato com o Google de modo a esclarecer a forma de salvaguardar os direitos humanos relativos à liberdade de expressão com sua expansão no continente, no entanto não recebeu qualquer resposta até ao lançamento do relatório que denuncia a situação.

Tudo sob controlo

O regime de censura da China restringe a divulgação de uma ampla gama de temas que podem ser considerados politicamente sensíveis, incluindo críticas ao Governo que não estejam em conformidade com a narrativa oficial ou situações que possam denegrir de alguma forma o país e o seu funcionamento.
Para garantir o controlo de informação, o país dispões de um filtro a nível nacional – “The Great FireWall”, que bloqueia sites, incluindo os serviços do Google, Facebook, Youtube, Instagram entre outros.
Caso tenha sucesso, a Google consegue voltar a estar presente no mercado chinês. “A Google saiu da China em 2010 porque os direitos humanos e segurança cibernética eram muito precários”, esclarece Cynthia Wong.
De 2006 a 2010, a Google já tinha implementado uma versão autocensurada na China. Em Março de 2010, a empresa anunciou que deixaria de restringir os resultados de buscas na China, referindo as suas preocupações com a censura online, com a vigilância e ataques cibernéticos direccionados às contas do Gmail por parte de activistas dos direitos humanos. Como resultado, o mecanismo de busca permaneceu inacessível aos usuários chineses do continente, juntamente com outros serviços do Google.
“Desde então, a China renovou a repressão aos direitos de expressão e promulgou novas leis. Além disso, criou empresas de tecnologia peritas na monitorização da censura e vigilância”, refere Wong. Para uma reentrada no enorme mercado chinês a Google terá de ceder muito mais do que no passado a este respeito e não explica como, refere a investigadora no relatório da HRW.
De acordo com o mesmo documento, a aplicação de pesquisa está a ser feita de acordo com o regime de censura do país, nomeadamente através do mecanismo de filtro automático ligado aos sites e informações já bloqueados pela Great Firewall de modo a que não apareçam nas buscas dos cidadãos chineses. Exemplos de sites que serão censurados incluem a British Broadcasting Corporation (BBC) e a Wikipedia, de acordo com documentos vistos pelo The Intercept.

Facebook camuflado

A Google não é a única empresa de tecnologia dos EUA a considerar submeter-se a censura para conseguir entrar na China. Em Novembro de 2016, o New York Times revelou que o Facebook estava a desenvolver um software “para impedir que as publicações aparecessem nos feeds de notícias das pessoas em áreas geográficas específicas”. O objectivo era “ajudar o Facebook a entrar na China.” A reportagem afirmava ainda que a rede social “ofereceria o software para permitir que um terceiro – neste caso e provavelmente uma empresa chinesa parceira – pudesse monitorizar as histórias e tópicos mais populares ”, e permitiria que terceiros“ tivessem controlo total para decidir se essas publicações deveriam aparecer nos feeds dos utilizadores ”, referia o New York Times, citado pela HRW.
A entrada formal do Facebook na China levanta as mesmas preocupações de direitos humanos enfrentadas pela Google. “A rede social contém informações altamente confidenciais sobre as redes e ligações dos seus utilizadores que o Governo pode exigir que a empresa divulgue”, refere a HRW.
Em 2016, a HRW contactou o Facebook para saber se o sistema proposto iria avançar e como é que a rede social pretendia evitar a cumplicidade com a censura estatal chinesa. Outro dos esclarecimentos pedidos estavam relacionados com a confidencialidade dos dados e como o Facebook pensava proteger os seus utilizadores de represálias e da vigilância abusiva devido à sua actividade online, caso tivesse que obedecer à lei chinesa que rege estas matérias. “Neste momento, não concluímos como ou quando o acesso ao Facebook poderá ser implementado para as pessoas na China”, respondeu a empresa.
Em Maio de 2017, o Facebook lançou silenciosamente uma aplicação de partilha de fotografias, a Colorful Balloons, na China, recorrendo a uma empresa local sem uma conexão pública com a companhia norte-americana. A empresa também tentou, sem sucesso, abrir um centro de inovação e empresas subsidiárias na China.
Em Agosto de 2018, a HRW voltou a entrar em contato com o Facebook para actualizações da sua abordagem à China sem receber qualquer resposta.

Uma grande hipocrisia

“O que é certo é que essas grandes empresas, Google e Facebook, são verdadeiras hipócritas” diz categoricamente o académico Éric Sautedé ao HM.
Sautedé considera que as companhias que se promovem como modelos de liberdade, e quando não o fazem argumentam que não podem substituir os governos quando se trata de ter “princípios” e “valores”.
A Google retirou-se da China em 2010, recorda o académico, na época em que era “fácil adoptar a nobre postura de queixo erguido” e defender a liberdade de informação. No entanto, a realidade era outra: as pesquisas do Google já eram residuais entre os cibernautas chineses, sendo que o motor de busca do país, o Baidu, liderava na taxa de utilização.
Ainda assim, Eric Sautedé aponta ainda que a Google nunca deixou de ter produtos para a China. São exemplo disso as duas aplicações da Google que funcionam no país: o Google Translate e um sistema de gestão de arquivos.
Para o académico uma entrada destes gigantes no mercado chinês é também uma ilusão. “Um estudo recente mostrou que os utilizadores chineses são bastante apáticos e não estão interessados em fontes alternativas de informação”, explica. Por outro lado, as pessoas no continente atravessam uma fase de deslumbre com o desenvolvimento do país e estão “orgulhosos porque a China está em posição para competir com os Estados Unidos”.
Já o Facebook “está condenado”. Mark Zuckerberg, CEO da empresa, “cede aos regulamentos chineses há algum tempo e já se sabe, desde as eleições presidenciais americanas de 2017, “que mais ninguém confia na confidencialidade ou segurança daquela rede.
Para Sautedé é necessário arranjar alternativas que garantam responsabilidade e sustentabilidade e, para tal, não se pode contar com Google e Facebook

9 Ago 2018

Facebook detecta esforços “sofisticados” para influenciar eleições americanas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Facebook afirma ter detectado nas suas plataformas esforços “sofisticados”, possivelmente ligados à Rússia, para influenciar a política norte-americana.

A empresa diz que removeu 32 contas do Facebook e Instagram porque estavam envolvidas num “comportamento político coordenado” e aparentavam ser falsas.

A Facebook não chegou a dizer que o esforço visava influenciar as eleições intermediárias dos EUA em novembro, embora o momento da atividade suspeita fosse consistente com tal tentativa.

A Facebook divulgou ontem as suas descobertas depois de o jornal The New York Times as ter noticiado.

A empresa afirmou que não sabe quem está por detrás destes esforços, mas considera que pode ter ligações com a Rússia.

A Facebook disse que descobriu algumas conexões entre as contas que removeu e as associadas à Agência de Pesquisa da Internet da Rússia, que foram removidas antes e depois das eleições presidenciais dos EUA em 2016. A primeira página foi criada em março de 2017.

A Facebook afirma que mais de 290 mil contas seguiram pelo menos uma das páginas falsas. As páginas mais seguidas do Facebook tinham nomes como “Aztlan Warriors”, “Black Elevation”, “Mindful Being” e “Resisters”.

A Facebook revela que as páginas publicaram cerca de 150 anúncios por 11 mil dólares norte-americanos no Facebook e no Instagram, pagos em dólares americanos e canadianos.

O primeiro anúncio foi criado em abril de 2017 e o último em junho de 2018.

A empresa acrescentou que os responsáveis têm tido “mais cuidado em apagar os seus rastos” do que em 2016, em parte devido às medidas que a Facebook tem adotado para evitar abusos, no último ano.

1 Ago 2018

Facebook vai remover informações falsas que potenciem violência iminente

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Facebook vai remover informações falsas publicadas naquela rede social que possam contribuir para atos de violência iminente, anunciou quarta-feira a empresa, que já testou essa medida no Sri Lanka, recentemente abalado pelos conflitos inter-religiosos.

“Estamos a começar a implementar essa nova política em países onde vemos exemplos em que a desinformação levou à violência”, disse a gestora de produtos do Facebook, Tessa Lyons, citando o caso do Sri Lanka, em declarações aos jornalistas na sede da empresa no oeste da Califórnia.

A rede social pode remover, por exemplo, conteúdo impreciso ou enganoso, como fotos falsas, criadas ou compartilhadas para contribuir ou exacerbar a violência física.

O Facebook contará com a ajuda de organizações locais ou agências especializadas para determinar se essas publicações podem causar violência iminente e que, portanto, justifiquem a sua remoção.

Discursos de ódio e apelos diretos à violência já violam as regras do Facebook. A nova política é examinar e remover outro tipo de conteúdo, menos explicitamente violento, mas que ainda assim sejam suscetíveis de potenciar conflitos.

Tessa Lyons acrescentou que essa mudança na política do Facebook seria colocada em prática gradualmente nos próximos meses.

Também na quarta-feira, o sítio de notícias de tecnologia e ‘media’ digital Recode publicou uma entrevista com o CEO do Facebook, na qual Mark Zuckerberg defende que apesar de achar que a negação do Holocausto é “profundamente ofensiva”, não acredita que tal conteúdo deva ser banido da rede social.

As declarações provocaram críticas, inclusive da Liga Anti-Difamação, que afirmou em comunicado que o Facebook tem uma “obrigação moral e ética” de não permitir que as pessoas divulguem a negação do Holocausto na sua plataforma.

Zuckerberg, que é judeu, disse que o conteúdo ofensivo não tem que ser necessariamente proibido, a menos que seja para planear danos ou atacar alguém.

19 Jul 2018

Operadora Galaxy contratou empresa para vigiar Facebook de empregados

O jornal South China Morning Post noticiou ontem que a Galaxy contratou uma empresa de Hong Kong para vigiar as contas de Facebook dos seus funcionários, a fim de detectar potenciais comentários negativos para a operadora. O Gabinete de Dados Pessoais promete acompanhar o caso, enquanto que Cloee Chao denuncia casos de despedimentos na SJM devido a comentários online

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] operadora de jogo Galaxy tem vindo a vigiar os comentários e publicações dos seus empregados recorrendo a um acordo assinado com uma empresa de Hong Kong, a YouFind. A notícia foi ontem avançada pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post (SCMP), que referiu ter tido acesso a documentação que comprova esta parceria. Os funcionários alegam que está em causa uma violação dos direitos pessoais, uma vez que o objectivo é eliminar comentários ou publicações que dêem uma imagem negativa da operadora e “criar comentários positivos em grupos no Facebook”, por forma a “neutralizar” esse impacto negativo.

O jornal escreve que cabe à YouFind criar perfis falsos de Facebook, sendo que a Galaxy garantiu que esta atitude da operadora está “totalmente de acordo com os padrões globais da indústria”.

O HM contactou o Gabinete de Dados Pessoais (GPDP) no sentido de perceber se será aberta alguma investigação sobre este caso, uma vez que, de acordo com o SCMP, este acordo vigora com base na lei de Hong Kong e não na lei de protecção de dados pessoais que está implementada em Macau. Contudo, o GPDP disse apenas que vai “acompanhar de perto o caso”.

Cloee Chao, presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, garantiu ao HM que vai reunir com os restantes membros da direcção para tomar uma decisão face a possíveis acções respeitantes a esta matéria, uma vez que não tinham conhecimento deste acordo. A croupier e dirigente associativa frisou que já ocorreram despedimentos em Macau devido a publicações feitas por funcionários nas redes sociais.

“Este tipo de casos já aconteceu antes. Alguns funcionários, julgo que da Sociedade de Jogos de Macau, foram castigados e até despedidos por causa dos comentários que deixaram em plataformas como o Facebook.”

 

Medo da imagem

Em Agosto do ano passado, quando grande parte do território tentava recuperar dos estragos causados pelo tufão Hato, a Galaxy terá pedido a voluntários para procederem a limpezas nos espaços comuns do empreendimento, nomeadamente na zona da piscina. Tal gerou uma onda de protestos na página da empresa no Facebook, mas Buddy Lam, vice-presidente dos Assuntos Comunitários da operadora, garantiu que tudo não passou de um mal entendido.

Para um especialista em dados pessoais ouvido pelo SCMP, este caso é apenas “a ponta de um grande e preocupante icebergue”. O organismo responsável pelos dados pessoais do Governo de Hong Kong também estará a acompanhar o caso.

A Galaxy alega que os funcionários já sabiam deste acordo através do seu contrato de trabalho, mas alguns empregados que falaram à SCMP, sob anonimato, garantem que não sabiam de nada. Um deles compara este caso ao escândalo protagonizado pela Cambridge Analytica durante as eleições americanas que elegeram Donald Trump.

“Muitos locais não compreendem na totalidade como é que podem fazer publicações que serão visíveis apenas para os seus amigos. Estou muito desapontado com o meu empregador por este poder espiar as minhas conversas pessoais e identificar os comentários negativos que faço sobre a Galaxy nas minhas costas”, apontou um dos funcionários.

“Os boatos são uma coisa normal, tal como expressar opiniões. Não deveríamos ser espiados pelo nosso empregador e ter as nossas visões distorcidas e falsificadas”, acrescentou.

Outro funcionário contou ao repórter do SCMP que as preocupações da Galaxy sobre a sua imagem, depois do incidente causado pelo tufão Hato, têm sido uma realidade. “A Galaxy tem estado muito preocupada com a sua reputação depois do tufão Hato. Mas isto parece-me demasiado, como o caso da Cambridge Analytica, e atenta contra a minha privacidade e direito de expressar a minha opinião”, rematou.

No comunicado que enviou ao SCMP, a Galaxy acrescenta ainda que “não autoriza e não vai autorizar qualquer uso ilegal das redes sociais. A Galaxy desempenha de forma pró-activa as suas responsabilidades sociais e garante que as condutas estão de acordo com as leis [de Macau e de Hong Kong]”.

22 Jun 2018

Facebook partilhou dados de utilizadores com grupo Huawei

O Facebook admitiu ontem ter partilhado dados de utilizadores com quatro empresas chinesas, incluindo o grupo de telecomunicações Huawei, que Washington considera uma ameaça à segurança nacional, agravando a pressão sobre a política de privacidade da empresa

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s fabricantes chineses Huawei, Lenovo, OPPO e TCL estão entre as empresas com quem o grupo partilhou dados, de forma “controlada”, admitiu o vice-presidente do grupo Francisco Varela, em comunicado. A partilha fazia parte de um acordo entre o Facebook e os fabricantes para facilitar o acesso dos utilizadores aos serviços da rede social. A nota surge após uma investigação do jornal The New York Times ter revelado que o Facebook estabeleceu acordos com 60 fabricantes de dispositivos móveis, que tiveram acesso, sem o consentimento explícito, a vários dados pessoais dos utilizadores, como religião, tendências políticas, amigos, eventos e estado civil.

O Huawei esteve sob investigação pelo Congresso dos Estados Unidos, que num relatório de 2012 considerou que a firma tem uma relação próxima com o Partido Comunista Chinês.

Agências governamentais e o exército norte-americano baniram recentemente telemóveis fabricados pela Huawei devido a questões de segurança. “Queremos clarificar que toda a informação partilhada com o Huawei foi armazenada nos dispositivos e não nos servidores do Huawei”, afirmou Varela.

“Justo e transparente”

Em Abril passado, Zuckerberg esteve no Congresso norte-americano para testemunhar no caso que envolve a empresa Cambridge Analytica, que usou, indevidamente, dados de 87 milhões de utilizadores do Facebook. Em Maio, Zuckerberg foi ouvido no Parlamento Europeu e pediu desculpa pelo uso indevido de dados pessoais dos utilizadores.

A Huawei tem escritórios em Lisboa, onde conta também com um centro de inovação e experimentação. Segundo a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), desde 2004, a firma chinesa investiu 40 milhões de euros em Portugal.

O Governo chinês pediu ontem aos Estados Unidos que facilitem “um ambiente justo e transparente para que as empresas chinesas operem e invistam”, em resposta à denúncia de acesso a dados do Facebook por grupos tecnológicos chineses.

A porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, disse em conferência de imprensa que o ministério não comenta o caso, por se tratar de “cooperação entre empresas privadas”, mas insistiu na necessidade de que os EUA tratem de forma justa e transparente as firmas chinesas.

7 Jun 2018

Das consequências da tecnologia

[dropcap]V[/dropcap]ivemos numa época em que a tecnologia impera. Até os mais analógicos – por militância ou desconhecimento – têm presença em uma ou mais redes sociais. Aqueles que prescindem de imprimir uma marca online são uma excepção. Mas muitos daqueles que abraçaram a internet na sua tentacularidade social não nasceram nela. Fazem parte de uma ou mais gerações de transição que, com maior ou menor dificuldade, embarcaram com o comboio em andamento. E, por vezes, nota-se.

Há dias, no Facebook, alguém partilhara uma publicação na qual se dizia que caso o utilizador escrevesse “BFF” nos comentários, ficaria a saber se os dados tinham sido partilhados pelo Facebook. Se a cor do texto do comentário mudasse de preto para verde era sinal de que os dados do utilizador em causa tinham sido partilhados de forma abusiva.

O código do Facebook é constantemente actualizado; corrigem-se bugs, retiram-se e adicionam funcionalidades e implementam-se mudanças mais ou menos perceptíveis. Uma das coisas que recentemente mudou é a resposta do algoritmo a um comentário que o Facebook consegue “ler”. Por exemplo, quando escrevemos “parabéns”, o Facebook interpreta a palavra, esta fica com uma cor alaranjada e pipocam no ecrã uma série de animações que sugerem festividade. “Bff”, por outra parte, fica verde. A cor que significaria “positivo” para a partilha indevida de dados pessoais, de acordo com o exemplo supra-citado. Uma pequena modificação no código explorada para o humor. Podia ter sido pior.

Uma amiga minha, livreira, confessava-me no outro dia ter apanhado um susto tão desnecessário como embaraçoso. Pesquisando pela livraria na qual trabalha, no Google, deu conta de que este dizia que a loja “encerrava brevemente”. Assustada, ligou para o chefe e dono do espaço: “mas nós vamos fechar? Passa-se algo que não me tenhas contado? Devo procurar trabalho?” O chefe, ainda mais iletrado nas coisas da informática, mostrou-se surpreendido e assegurou ter as contas em dia. “Não tenho planos de fechar isto, vê lá o que consegues saber junto desses tipos.”

Essa minha amiga passou algumas horas só para encontrar o endereço electrónico para o qual devem ser encaminhadas as reclamações. Escreveu uma missiva entre o indignado e o violento e remeteu-a nervosa, esperando que o Google foste lesto a desfazer o equívoco. Os clientes e potenciais clientes podiam ser induzidos em erro, o que seria fatal para o negócio.

Passados cerca de dois dias e alguma ansiedade, alguém lhe perguntou, num almoço com amigos, a que horas ela tinha feito a pesquisa. “Pelas 18:30”, respondeu. “Então é normal que o motor de busca tenha dado a informação de que encerravam brevemente. Fecham às 19, não é?” Fez-se subitamente luz e, verdade seja dita, uma dose considerável de vergonha. O Google, afinal, não fazia parte de uma conspiração de uma qualquer livraria vizinha para desacreditar a dela.

Um dia, já ninguém terá tido uma infância analógica. Até lá, a nossa ignorância informática confere-nos um certo charme e municia-nos de histórias interessantes para jantares com amigos.

23 Abr 2018