China | Futebol assume importante papel geoestratégico

Dois investigadores da Universidade de Aveiro analisam o plano chinês para o desenvolvimento do futebol e falam da possibilidade de, no futuro, o investimento de grandes empresas chinesas em clubes, tanto na China como na Europa, poder diminuir. Sem ter o mesmo posicionamento dos Jogos Olímpicos e sem os mesmos recursos das equipas de topo, o futebol na China assume cada vez mais uma importância geoestratégica na Europa, defendem Emanuel Leite Júnior e Carlos Rodrigues

 

[dropcap]É[/dropcap] certo que na China os chineses não jogam futebol nem tem por hábito ir aos estádios, mas a verdade é que esta prática desportiva é cada vez mais popular no país. Xi Jinping tem um plano para o desenvolvimento do futebol na China, no entanto, este projecto enfrenta diversos desafios, como notam os investigadores da Universidade de Aveiro (UA), Emanuel Leite Júnior e Carlos Rodrigues, num trabalho de investigação intitulado “The Chinese plan for football development: a perspective from innovation theory”, recentemente publicado.

Os autores notam que o futebol conseguiu ter um verdadeiro impacto na sociedade nos últimos anos, apesar de, em termos de resultados, nunca ter conseguido atingir a mesma dimensão que os Jogos Olímpicos de 2008, quando a China ganhou inúmeras medalhas de ouro.

Mesmo sem resultados, o futebol tornou-se uma arma geoestratégica. “A China não tem as condições gerais para estar na competição de elite do futebol, que é o desporto mais popular do planeta e, nesse sentido, a única coisa que pode esperar é aproximar-se do elevado potencial (do futebol) enquanto meio de soft power”, escrevem os autores.

Acrescentam que “o futebol na China tem ainda falta de recursos para que possa ser minimamente competitivo a nível internacional”.

Apesar de as equipas de futebol chinesas não estarem no mesmo patamar que as equipas europeias, por exemplo, a verdade é que a China se faz notar através dos elevados investimentos que têm sido feitos por parte de empresas em equipas de futebol de toda a Europa, incluindo de Portugal.

Segundo os autores, assim que o plano de desenvolvimento do futebol, pensado para um período entre 2016 e 2050, foi lançado, empresas de grande dimensão da China como os grupos Alibaba, Dalian Wanda, Jiangsu e Fosun “começaram a fazer investimentos significativos nos mercados interno e externo de futebol”, sendo que “o desenvolvimento do mercado interno de futebol ganhou especial atenção, devido à contratação de jogadores estrangeiros, que envolveu elevados valores de transacção e salários”.

“A Liga Chinesa de Futebol começou a estar debaixo dos holofotes”, apontam os investigadores. Contudo, “está longe de ser claro que estes desenvolvimentos correspondem ao sonho de Xi Jinping de participar no campeonato mundial de futebol”.

Citando outros autores, Leite Júnior e Carlos Rodrigues salientam que a participação de grupos privados no investimento do futebol faz parte de uma estratégia governamental. “O Governo deixou de intervir directamente no mercado desportivo, limitando a sua acção a linhas orientadores e ao apoio ao desenvolvimento do sector, enquanto promove uma estrutura que permite estabelecer uma estrutura competitiva no mercado.”

Ao autorizar que o futebol se desenvolva com o apoio de privados, dentro da ordem do sistema capitalista, o Governo não deixa de assumir “um papel educacional” para que possa alterar “comportamentos e hábitos, a fim de garantir o poder de transformação necessário para destruir barreiras que estão profundamente enraizadas na cultura chinesa”.

Os autores acreditam também que “mais do que recursos e capacidade financeira, a capacidade para materializar esta mudança em termos de comportamentos e hábitos, ao nível da prática e do consumo do futebol, é o maior desafio e o único em termos da inovação social”.

Investimento pode diminuir

Depois de anos a investir em clubes europeus de topo, cujos investimentos atingiram os 168 milhões de dólares americanos em 2015, mais do que os custos totais suportados pela Confederação Asiática de Futebol, o cenário pode alterar-se nos próximos anos.

“É previsível que esta onda frenética de investimento chinês deverá diminuir, apesar de ter existido uma especulação sobre a possibilidade de jogadores de topo como Rooney ou Diego Costa irem para a China”, escreveram os académicos.

Mesmo que este investimento venha a diminuir, os autores garantem que o cenário geopolítico do futebol já se alterou por completo.

“Estas operações, tal como esperado, tiveram uma enorme repercussão na Europa. O investimento chinês no futebol trouxe um aumento a uma significativa deslocação da centralidade de poder, além de ter alterado a geopolítica do desporto.”

Maior ambição

Apesar do plano para o desenvolvimento do futebol na China ter sido implementado em 2016, a verdade é que, de acordo com o Diário do Povo, o mesmo plano passou a ser mais ambicioso a partir de 2017, quando se definiram objectivos concretos a atingir nos anos de 2020, 2030 e 2050.

Neste sentido, daqui a dois anos as autoridades chinesas prevêem que o país tenha cerca de 20 mil escolas de futebol e 70 mil campos para a prática da actividade, além de que as escolas primárias e secundárias devem incluir no seu plano de estudos 30 a 50 minutos de treino de futebol.

Em 2030 o número de escolas deverá passar para as 50 mil, além de que “a equipa masculina chinesa deverá ser uma das melhores da Ásia e a selecção feminina deve atingir o nível mundial”.

Até 2050 a China pretende que a selecção masculina participe não só em campeonatos mundiais como passe a figurar no ranking 20 da FIFA. O país deve, ainda, organizar o campeonato do mundo de futebol e, inclusivamente, ser vencedor de uma edição.

“A fim de atingir objectivos tão ambiciosos, além de outras medidas, o plano de desenvolvimento do futebol estabelece que a Associação Chinesa de Futebol deve organizar e gerir o desenvolvimento do futebol em todo o país, de uma forma viável e sustentável, garantindo ainda um ambiente competitivo e justo”, apontam os autores.

Além disso, é exigido aos clubes que adoptem formas modernas de gestão, estando prevista a participação do sector privado nesse processo.

Esta mudança de planos está relacionada com os sonhos de Xi Jinping de elevar o futebol chinês a outro patamar. “A China pôs em prática o seu ousado projecto de futebol não apenas porque o Presidente pretende ver a equipa nacional entrar na elite mundial do futebol, como pretende tirar vantagem deste popular desporto como um instrumento que promova o crescimento do desporto em toda a nação e contribuir para o desenvolvimento da economia, sociedade e cultura”, lê-se.

Sobre o futuro, e apesar de considerarem “difícil” prever o que vai acontecer, os autores deste trabalho de investigação acreditam que as autoridades chinesas “vão continuar a lutar pela implementação do plano a fim de atingir o objectivo de um crescimento ‘saudável e estável’ não apenas do futebol, mas de todo o mercado desportivo”.

“Isso, incluindo novos recursos financeiros, como é o caso dos que são obtidos com os novos impostos sobre o valor das transferências de jogadores. Ficou estabelecido que esses montantes servirão para apoiar o desenvolvimento de escolas de formação para novos jogadores, tal como a promoção da comunidade futebolística e o fomento de iniciativas de caridade ligadas a este desporto”, concluem os autores.

Vistos gold | Vítor Sereno recusa ilegalidades no processo

[dropcap]O[/dropcap] ex-cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong, Vítor Sereno, disse à TDM Rádio Macau que não existem quaisquer ilegalidades no processo dos vistos gold, em reacção às declarações da ex-euro-deputada Ana Gomes ao HM, tendo dito que “nunca foi confrontado ou teve conhecimento de qualquer situação ilegal ou menos clara”.

Sereno, actualmente a desempenhar funções diplomáticas no Senegal, adiantou também que “nunca pactuaria com qualquer situação ilegal ou menos clara”, recordando que seguiu “durante cinco anos e meio uma política de rigoroso cumprimento das instruções que recebia no sentido de promover activamente a diplomacia económica, na qual se inserem os ‘vistos gold´”.

Vítor Sereno disse também que os “‘vistos gold’ são parte integrante da política económica do Governo de Portugal e estão previstos e regulamentados por leis aprovadas pela Assembleia da República e por diversos Governos Constitucionais”.

Na entrevista publicada na edição de hoje, Ana Gomes, que não se recandidatou ao Parlamento Europeu nas últimas eleições, defendeu que a política dos vistos gold favorece a corrupção e é “criminosa do ponto de vista da lei chinesa”, pois obriga a montantes mínimos de investimento em Portugal acima do que está previsto pelas autoridades chinesas em termos de exportação de capitais.

No Parlamento Europeu, Ana Gomes foi vice-presidente da Comissão Especial sobre os Crimes Financeiros e a Elisão e a Evasão Fiscais, que elaborou relatórios sobre os vistos gold.

Número de portugueses na Tailândia aumenta 7,7% no 1.º quadrimestre

[dropcap]O[/dropcap] número de turistas portugueses que visitaram a Tailândia, entre Janeiro e Abril de 2019, cresceu 7,69%, percentagem que contraria um crescimento negativo de 1,68% na Europa, segundo a autoridade de turismo daquela região.

Em termos absolutos, nos primeiros quatro meses do ano, Portugal registou um aumento de 16.940 para 18.243 turistas, acrescenta a Autoridade de Turismo da Tailândia, citando dados oficiais do Ministério do Turismo.

“Abril foi o mês com maior número de viajantes (5.737) traduzindo-se numa taxa de crescimento de 48,74% que se justifica pelo período de férias da Páscoa, bem como pela concentração de diversas feiras de turismo, que contribuíram para alavancar as vendas, nos meses antecedentes, como foi o caso da Exponoivos, da BTL, do Mundo Abreu e da Feira das Viagens que contaram com a presença activa da Autoridade de Turismo da Tailândia na promoção do destino”, refere a mesma entidade em comunicado hoje divulgado.

Já em termos globais, no primeiro quadrimestre de 2019, o Turismo da Tailândia registou um crescimento de 2,11%, tendo a Europa, o Médio Oriente e a Oceânia registado quedas.

“As melhores ‘performances’ [comportamentos] têm-se registado na Ásia, principalmente nos países do Sul (+22,83%), e nalguns países da Europa como a Lituânia (21,25%), Ucrânia (19,25%), Polónia (15,11%), Uzbequistão (11,03%), Bulgária (8,01%) e Portugal (7,69%)”, acrescentam.

De acordo com a Autoridade de Turismo da Tailândia são esperados 40 milhões de turistas em 2019, dos quais sete milhões serão europeus.

De Portugal espera-se um contributo de 55.000 viajantes, “mantendo uma ‘performance’ de crescimento percentual acima da média”, concluem.

Portugal assina protocolo com China para agilizar processos de internacionalização

[dropcap]O[/dropcap] Governo assinou ontem um protocolo para o reforço da cooperação com a China, que tem como objectivos a harmonização de procedimentos e a agilização dos processos de internacionalização, foi anunciado.

“Depois de ter aberto o mercado da China para a carne de suíno nacional, o Ministério da Agricultura está agora a trabalhar intensamente nos mercados da pera rocha, da uva de mesa e dos citrinos, produtos cuja negociação se encontra já numa fase bastante adiantada, tendo ficado já agendada a visita de uma missão técnica chinesa a Portugal no próximo mês de Agosto”, anunciou, em comunicado, o Governo.

Este foi o principal assunto da reunião que hoje juntou, em Lisboa, delegações dos dois países, lideradas pelo ministro da Agricultura de Portugal, Capoulas Santos, e pelo ministro da Administração Geral das Alfândegas da República Popular da China, Ni Yuefeng.

De acordo com o Ministério da Agricultura, além da pera rocha, da uva de mesa e dos citrinos, Portugal está igualmente a negociar a abertura do mercado chinês para as maçãs, arroz (‘baby rice’), kiwis, pêssegos, nectarinas, ameixas, mel, carne de aves, carne de ovino e de bovino, ovos de incubação, pintos do dia, cavalos e produtos derivados de carne de suíno.

Portugal tem com a China uma “balança comercial positiva” no sector agro-alimentar, exportando um montante global de 150 milhões de euros, valor que, para o ministro da Agricultura, tem condições para crescer.

“A China é um mercado interessante para Portugal, não só pela sua dimensão de milhões e milhões de consumidores, mas também pela apetência do próprio mercado, que procura produtos que se diferenciem pela qualidade e por elevados padrões de segurança alimentar, o que é manifestamente o caso da produção nacional”, afirmou, citado no mesmo documento, Capoulas Santos.

O líder do Ministério da Agricultura assegurou ainda que a aposta passa pela simplificação de procedimentos, “através do estabelecimento de canais bem articulados, que permitam melhorar os contactos e acelerar a capacidade de resposta das autoridades nacionais”.

A apoteose do concerto grosso

Os Concerti Grossi, Op. 6, HWV 319-330 (ou Doze Grandes Concertos), de Georg Friedrich Händel, compostos para um trio concertino de dois violinos e violoncelo e uma orquestra de cordas ripieno em quatro partes com cravo continuo, contam-se entre os melhores exemplos no género concerto grosso barroco. Em grande parte compostos de material novo, foram publicados pela primeira vez em Londres por John Walsh em 1739, e tornaram-se, na segunda edição de 1741, a Opus 6 de Händel. Têm como modelo os antigos concerti da chiesa e os concerti grossi da camera de Arcangelo Corelli, em vez do concerto veneziano de três andamentos posterior de Antonio Vivaldi, tanto do agrado de Johann Sebastian Bach. Apesar do modelo convencional, Händel incorporou nos andamentos destes concertos toda a gama dos seus estilos composicionais, incluindo sonatas trio, árias operáticas, aberturas francesas, sinfonias italianas, árias, fugas, temas e variações e uma variedade de danças.

Devido às mudanças nos gostos populares londrinos, a temporada de 1737 foi desastrosa para a empresa de Händel, a segunda Royal Academy of Music, que naquela época administrava sozinho, e também para a sua companhia rival, a Opera of the Nobility. No final da temporada, Händel sofreu um colapso físico e mental, que resultou na paralisia dos dedos de uma mão. Persuadido por amigos, acabaria por ir para as termas de Aix-la-Chapelle (Aachen), onde experimentaria uma recuperação completa. Doravante, com excepção das óperas Giove in Argo, HWV A14 (1739), Imeneo, HWV 41 (1740) e Deidamia, HWV 42 (1741), Händel abandonaria a ópera italiana em favor do oratório inglês, um novo género musical por cuja criação foi grandemente responsável. O ano de 1739 assistiu à primeira apresentação do seu grande oratório Saul, HWV 53, da cantata Ode para o Dia de Santa Cecília, HWV 76, segundo um poema do poeta inglês John Dryden, e do renascimento da sua ópera pastoral ou serenata inglesa Acis e Galatea, HWV 49. No ano anterior, tinha produzido o oratório bíblico Israel no Egipto e em 1740 compôs L’Allegro, il Penseroso ed il Moderato, HWV 55, uma ode pastoral baseada na poesia de John Milton.

Händel compôs os Doze Grandes Concertos para a temporada de 1739-1740 do teatro The Lincoln’s Inn Fields, situado na Portugal Street em Londres, para serem executados nos intervalos dos seus oratórios, como um recurso para atrair público. Após o sucesso dos seus concertos para órgão Op. 4, o seu editor John Walsh encorajou-o a compor um novo conjunto de concertos para compra por assinatura sob uma Licença Real adquirida especialmente. Havia pouco mais de 100 inscritos, incluindo membros da família real, amigos, patronos, compositores, organistas e administradores de teatros. Walsh vendeu com sucesso a sua própria edição de 1715 dos célebres doze Concerti grossi, Op. 6, de Corelli, publicados pela primeira vez postumamente em Amesterdão, em 1714. A escolha posterior do mesmo número de opus para a segunda edição de 1741, o número de concertos e a forma musical não podem ter sido inteiramente acidentais, pois Händel, nos seus primeiros anos em Roma, havia encontrado e caído sob a influência de Corelli e da escola italiana. Os doze concertos foram produzidos num espaço de cinco semanas entre o final de Setembro e Outubro de 1739.
A composição dos Concerti grossi, Op. 6, tendo em conta o curto período de tempo sem precedentes da sua composição, de apenas pouco mais de um mês, parece ter sido um esforço consciente de Händel para produzir um conjunto de “obras-primas” orquestrais em homenagem aos sempre populares 12 Concerti Grossi, Op,. 6 de Corelli, bem como um registo duradouro das suas habilidades composicionais. Apesar da convencionalidade do modelo corelliano, os concertos são extremamente diversos e em parte experimentais, tirando proveito de todos os géneros musicais possíveis e influenciados por formas musicais de toda a Europa.

 

Sugestão de audição da obra:
G. F. Händel, Concerti grossi, Op, 6 Nos. 1-4
The English Concert, Trevor Pinnock – DG Archiv Produktion, 1984</strong

Assembleia Legislativa vai decidir conflito entre Sulu Sou e Ho Iat Seng

[dropcap]F[/dropcap]oi ontem admitido o recurso do deputado Sulu Sou contra o presidente da Assembleia Legislativa (AL), Ho Iat Seng. O processo vai agora ser decidido em reunião plenária da AL mas não tem ainda uma data definida.

Em causa está a queixa apresentada pelo deputado pró-democrata referente ao presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng, à Mesa do hemiciclo, por considerar que a figura máxima da AL ignorou um pedido de esclarecimentos. A questão diz respeito às declarações do presidente da AL sobre o ordenado do legislador durante a sua suspensão.

O caso remonta há cerca de um ano, quando estiveram em causa as alterações à Lei de Reunião e Manifestação. Na discussão, Sulu Sou tentou usar um aspecto técnico para que a lei fosse alterada e acabou por ser repreendido por Ho Iat Seng.

O presidente do hemiciclo deixou críticas ao deputado acusando Sulu Sou de desconhecimento das normas internas e afirmando que este tinha continuado a receber um ordenado de cerca de 100 mil patacas, apesar de estar suspenso.

Recusas injustificadas

As afirmações levaram a uma queixa por escrito de Sulu Sou a Ho Iat Seng, por motivos de conduta imprópria. Esta queixa foi posteriormente reencaminhada para a Comissão de Regimentos e Mandatos da AL onde foi recusada. Segundo a comissão, a queixa deveria ter sido apresentada de imediato, no Plenário em que Ho Iat Seng proferiu as referidas afirmações.

Este parecer da comissão acabou por ser depois utilizado por Ho Iat Seng para recusar a queixa inicial.

Apesar de Sulu Sou ter levantado várias dúvidas sobre o parecer da Comissão de Regimento e Mandatos, recebeu como resposta o mesmo parecer, sem mais explicações. Esta situação é inadmissível para o deputado que defende que as decisões têm que ser tomadas com base nas normas jurídicas existentes e não na “vontade”. O caso vai agora ser deliberado no hemiciclo em data a agendar.

Estados de Úteros Saudáveis

[dropcap]N[/dropcap]em todas as mulheres têm útero. Há homens que têm útero. O órgão responsável pela menstruação existe para além do género, já sabemos. Há quem não o queira porque não se identifica com ele, mas há quem não o queira também porque, às vezes, dá mais problemas do que prazeres. O estado de saúde do útero deve ser discutido – não é por acaso que no Reino Unido a co-fundadora de uma organização dedicada ao cancro do colo do útero tenha feito uma citologia ao vivo num talk show televisivo. O famoso Papanikolaou (o apelido do cientista que desenvolveu este exame) traz mais desconforto que outra coisa, mas é daqueles males que somos obrigados a engolir se queremos controlar a saúde do útero. O colo do útero é uma entrada para o útero pela vagina que se vai alterando durante o ciclo hormonal – abre-se e fecha-se de acordo com o desejo de contacto com o exterior. Durante a ovulação, como devem calcular, está muito mais receptivo. Podia estender-me aqui de como o útero é um órgão fabuloso que produz ovócitos e que consegue desenvolver a composição de células do ser vivo por parir.

Este órgão é o palco e o protagonista de uma dança hormonal que faz com que a menstruação, já nossa muito conhecida, a ovulação, mais obscura, e a gestação aconteçam. A dança vai acontecendo com esperança que a fecundação se concretize – que nem sempre é uma possibilidade porque não ovulamos todos os meses. Estas formas dinâmicas e cíclicas do trabalho deste órgão podem não ser pacíficas – como para quem sofre de endometriose.

A forma desastrada e dolorosa do endométrio e da menstruação se comportarem resulta no que já vi descreverem – sensação de facadas na barriga. Calcula-se 10% das mulheres no mundo sofrem de endometriose, mas o seu diagnóstico é raro. Isto vem da ‘normalidade’ com que as dores menstruais são encaradas. A endometriose é uma condição em que o endométrio (o forro do útero que permite a nidação) cresça em outros locais menos propícios, como nos ovários, nas trompas de falópio e pode chegar a outros órgãos adjacentes. Também não é de fácil diagnóstico porque é preciso realizar uma ecografia na altura certa do mês para poder ver a invasão do endométrio no seu esplendor. Ninguém sabe ao certo como é que esta condição se desenvolve.

Existem formas de tratamento, mas ninguém sabe da cura. O desconforto desta condição é tal que há pessoas que preferem tirar o útero para resolver o problema. São uns dias por mês em que as sofredoras de endometriose se sentem assoberbadas de dores ao ponto de não saírem da cama.

Estrelas televisivas já dão a cara por esta condição incapacitante, como a Lena Dunham, e assim contribuem para a consciencialização do que pode ser um útero doente. Assim espera-se que as 10% de mulheres por este mundo fora comecem a perceber o que há de errado com elas.

A saúde do útero parece necessitar de um equilíbrio delicado para um funcionamento pleno, mas a investigação ainda não percebeu que equilíbrio é esse. O útero não participa no sexo da mesma forma que a vulva e a vagina. Não tem o factor prazer escarrapachado nas suas paredes, mas tem um papel importante na produção e regulação hormonal. A saúde da vagina é uma coisa, a saúde do útero é outra. Apesar de intimamente ligados, ficamos frequentemente presos na imaginação vulvar e vaginal e tornamos misteriosa a actividade do útero. Pensamos nele na menstruação – quando nos dá aquelas facadinhas – e pouco mais. Para estados de úteros saudáveis talvez tenhamos que trazer mais conversas: sobre o colo, sobre os dramas e os medos, sobre as vacinas que se podem tomar para prevenir doenças graves e sobre as menstruações dolorosas que as vezes os médicos têm dificuldade em identificar. Úteros de plena consciência do que são e podem ser.

O farol da barra

[dropcap]A[/dropcap]migos, deixem que vos fale hoje de pequenos anacronismos que resistem. E se o conseguem é porque são reservas perenes de humanidade, lugares onde estamos entregues a nós mesmos na companhia de estranhos. Deixem que vos fale de um lugar tão ideal quanto próximo, tão remoto quanto quotidiano, tão necessário como desapercebido. Deixem que vos fale da cumplicidade solitária dos balcões de bares ou de cervejaria – da barra, como é conhecido entre os iniciados.

Lugar para partilha ou meditação solitária, para conversas com estranhos que provavelmente nunca teríamos com os que temos por mais próximos. A barra, até pela sua disposição física, é um lugar igualitário: todos valemos o mesmo, todos estamos sentados ao lado de quem calhar, todos somos da mesma altura.

Eu pratico há muito a barra e sempre que posso encontro lá refúgio. Convém que seja num lugar onde sejamos reconhecidos, porque a conversa e o silêncio são dessa forma facilitados. É que também há isto na barra: a possibilidade do silêncio, algo que se está a tornar raro e precioso nos dias de hoje. Não falo do silêncio de quem conversa com ecrãs e outros telemóveis: isso não é silêncio, é isolamento voluntário e perigoso. Não, é aquele silêncio de quem está entregue a si próprio e o único eco que ouve vem dentro de si.

Mesmo quem não pratique a barra sabe do que falo porque a nossa cultura está cheia de referências sobre esses santuários, algumas mais românticas do que outras. Os quadros de Hopper, Humphrey Bogart em Casablanca a ser surpreendido ao balcão por um amor que julgava perdido, as canções de abandono de Sinatra… E aqui, como sempre, tenho que parar perante o maior profeta deste estilo de vida: vejam a capa de um dos seus melhores e mais tristes discos: No One Cares, álbum de 1959 dedicado aos que perderam e ainda estão à espera. Nela vemos o homem vestido com uma improvável gabardina branca, sentado sozinho ao balcão e olhando com tristeza para um copo vazio. Atrás dele, quase como se fosse por troça, vários casais dançam sorridentes. Disquinho duro, este, e recomendável que esteja fora do alcance das crianças.

Mas distraí-me, ajudem-me. Falava desta noção solitária do amor que se perdeu e que ainda se espera ao balcão. Outro grande campeão destes que perdem foi Lupicínio Rodrigues, cantor in excelsis da dor de corno. Os seus sambas simples e com vocabulário elementar dizem mais desta maleita do que alguns romances contemporâneos. E ainda por cima foi quem cunhou originalmente a expressão “dor de cotovelo”: não amigos, não se trata de inveja – a dor de cotovelo tem origem na posição prolongada dos braços em cima da barra enquanto alguém se lembra do amor que foi embora e planeia vinganças atrozes sobre quem o levou.

Mas a barra não vive apenas de perdas e tristezas: vive da alegria das cumplicidades efémeras, dos que entregam tudo no momento e para o momento. Não há exigências de maior nessas alturas.

Nem sequer a bebida é factor necessário (embora no meu caso seja sempre bem-vinda); o que interessa é a conversa, a deriva dos dias, sem necessidade de grandes pensamentos ou aforismos rebuscados. Tive a sorte de ter grandes companheiros de barra (lembro o poeta José Agostinho Baptista ou o grande Eduardo Guerra Carneiro), uns mais cultos do que outros, uns ilustres e outros anónimos. O que fazia (e faz) a magia desses encontros é a comunhão espontânea e sem compromisso. Falamos com o outro, aprendemos com o outro, ouvimos histórias, rimos, desassossegamos. Não é de espantar que um dos mais conhecidos praticantes desta modalidade – o realizador Fernando Lopes – me tenha um dia confessado na barra de um dos mais conhecidos restaurantes de Lisboa e seu poiso costumeiro: «Quando eu morrer gostava que o meu nome ficasse aqui gravado nesta cadeira».

Gosto deste lugar onde nos podemos desaguar. E constato com alegria que, a pouco e pouco, as mulheres reclamam o seu direito à barra que estupidamente lhes foi vedado pela pressão social.

Que assim continue. São precisos lugares onde possamos exercer as nossas solidões sem complexos, por mais felizmente precárias que essas solidões possam ser.

Imagens passando

Mymosa, Lisboa, 13 Maio

 

[dropcap]P[/dropcap]arece Primavera, mas os dias não sabem a projecto. E, no entanto, ei-los que aportam a este cais poroso e desabrido, instável. Clássico e original à vez, este de que falo sem o nomear, deixa-me entusiasmado. Enlevado, até. Uma obra completa das radicais, com tanto por descobrir, ainda incómoda e desafiante, um pensamento de fio de navalha. Cheira-me que surgirá novo abysmo escrito pela mão de autor redivivo. E na conversa lhana que lhe dá sequência, Deus aflora, a querer suscitar outros fôlegos, sempre adiados. A tristeza recolhe-se por umas horas e deixo-me tombar na noite. Sem consolo.

Casa da Cultura, Setúbal, 14 Maio

São uma mão, as vezes que me sento a apresentar, pouco antes, a Festa de Ilustração. Custa-me cada vez mais subir o degrau daquele palco. Este ano, dá-se atenção redobrada ao humor desenhado, com a Cristina [Sampaio] no papel de convidada, e um olhar sobre o famigerado Tignous, um dos tombados do «Charlie Hebdo», modesta homenagem quando os tempos mandam sinais de que a liberdade não foi, nem será, conquista definitiva. Os medos entranham-se. O autor clássico, Manuel Lapa, não escapará das leituras proto-censórias que procuram a todo o custo reescrever a História, antes mesmo de a entender, no conforto dos gabinetes das academias. Assim se incomodem a ir espreitar a exposição, desta vez prolongada Verão adentro, antes de começar o digladiar das bandeiras. Do muito para ver e ler e até ouvir, mal ficaria não destacar a sempiterna «Ilustração Portuguesa», mai-las suas centenas de imagens. «Reúnem-se aqui apenas por coincidirem no ano que passou? Ou algum nexo, um estilo, uma cor as pode reunir? São estrelas solitárias a comporem uma constelação. Mais do que iluminar a noite escura, brilham para nos mostrar de que somos feitos: poeira de luz. Muitas destas imagens fortes continuam a voar sob o radar da atenção. Quantos de nós se deitam de costas a mirar o firmamento? Não perdem, por isso, a capacidade de nos atrair. Pela dança estética das formas, pelo que dizem ou mostram, por parecerem pedaços partidos de espelho. Parte de nós encontra-se aqui, estilhaçada. Vale muito a pena perdermo-nos à nossa procura.»

Casa da Música, Óbidos, 16 Maio

Por um triz não me vejo obrigado a deixar Lisboa sem o livro, que chega segundos antes da minha boleia se fazer à estrada. Óbidos recebe-nos chuvosa e fria. Acabo a montagem mesmo em cima da abertura do Latitudes, que mistura «Literatura e Viajantes». Demoro-me sempre mais do que devia nas imagens deste «Atrito», do André [Carrilho]. Viajo da maneira mais confortável, através dos olhos e das palavras dos outros. Não será o mesmo, mas quantos conheço que se fartam de andar pelo mundo estragando tanto para trazerem tão pouco? Não se aplica a regra a este andarilho, que anuncia parar com tais aguarelas nascidas no sítio em que o tocam. Não me canso de o sublinhar, acompanhadas depois por textos saborosíssimos. Quase não tive tempo de lamber a cria, a nossa primeira em off set digital, mas estou satisfeito, com a velocidade de produção, claro, mas sobretudo com o resultado vívido, que me permite multiplicar as horas vendo a alma de Macau, espelhada nos emaranhados de linhas ou nos cruzamentos de luz e velocidade (algures na página). Vou ali dar uma saltada a Shenzhen.

«A China moderna ultrapassa todas as expectativas e ri-se das nossas ideias preconcebidas. Quer que a conheçamos, e gentilmente nos estende a mão para uma viagem guiada. Uma viagem que é também o pretexto para conhecer visitantes e os mundos de onde vêm, do outro lado da muralha. Mundos que, à falta de melhor, estão representados nos mitos dos filmes de Hollywood e das grandes obras literárias. Ou, ainda melhor, estão ali ao lado num parque de diversões, espraiado debaixo da minha varanda de hotel.

O Windows of the World é a última etapa da estadia, obrigatória, e não desilude. É um gigantesco campo de percepção distorcida e, obviamente, diz tanto do Ocidente aos chineses que o visitam, como revela aos visitantes estrangeiros a ficção que a China tem do resto do mundo. (…) Mais adiante outra pequena ilha aloja o Capitólio de Washington, completa com uma multidão em miniatura que a visita e tira fotos. E eu tiro fotos também às miniaturas de turistas que tiram fotos às réplicas de monumentos americanos transplantados de uma fantasia chinesa. Mais adiante estão as Pirâmides do Egipto, mesmo ao lado da Esfinge de Gizé, e o respeito que lhes é dado é evidente, pela área desafogada que ocupam, à laia de deserto. Faz sentido, uma vez que provavelmente são as atracções cujos originais mais poderiam rivalizar com o que a civilização chinesa produziu ao longo de cinco séculos. (…) Acabamos o último dia em Shenzhen a rir das representações que a China faz do que vê à distância e que só podem ser em miniatura. E levamos connosco a suspeita de que o Império do Meio poderá um dia meter o Ocidente no bolso.»

Casa Saramago, Óbidos, 17 Maio

Não foi à primeira, como se o poeta se quisesse ficar pelo traço desenhado com as palavras do Carlos [Morais José], que tentou substituir o projector em panne. Um dia depois, lá se conseguiu ver «Pe San Le – O Poeta de Macau», da Rosa [Coutinho Cabral], com sucessivas aproximações a Pessanha através das reflexões e da omnipresença do Carlos, no papel de entendido e dilecto apaixonado. «Imagens que passais pela retina / Dos meus olhos, porque não vos fixais? / Que passais como a água cristalina / Por uma fonte para nunca mais!…» São hipnóticos os longos travellings que vão sugerindo uma Macau de outros tempos, ainda que fixada no âmbar dos gestos de hoje.

Livraria Santiago, Óbidos, 17 Maio
Não foram muitos os que ouviram o José Luiz [Tavares] dissertar acerca do lugar em que se encontra, entre línguas, a portuguesa, que maneja como poucos, e o crioulo materno. Temo que esteja condenado a esta ponte sobre um nada tão substancial, que percorreu agora em insuspeitadas direcções com estes fados, litanias, toadas, lengalengas e sarabandas, algumas que nos entram carne dentro. Ou dela partem. (Bem que tentámos preservar uns quantos mais afoitos, mas a guilhotina, não só não o permitiu como acabou atraindo a atenção para o que se queria recatado.) Nem a «Arder A Vida Inteira» se livra o poeta da sua sombra maior: Camões.

Artes e Letras, Óbidos, 18 Maio
Continua chuvosa a manhã, pelo que postámos as velhas carcaças, a do Luís [Gomes] e a deste vosso criado, nos famosíssimos cadeirões de contemplar prateleiras jamais virgens. Não sem antes dar saltada a uma África gravada há muito no olhar de exploradores holandeses, papel que se desfaz, volume que fala. Folgo em ver assentar esta irrequieta livraria, pejada de memórias vivas, finalmente protegida por muradas.

Casa Saramago, Óbidos, 18 Maio
É de vida feito, este «Anastasis», percurso sinuoso do Carlos [Morais José] por entre ruínas e textos, ajaezado agora com capa vítima da espontaneidade do traço livre do Rui [Garrido]. O copo que se derruba quer apenas dizer que a conversa está a meio. Há ainda a última história, pensamento que se esconde no verso, um reconhecimento por fazer. A poesia que aqui se apresenta de peito feito, desafiante, diz de quem preza tanto a casa que não consegue parar de partir.

ONU diz que norte-coreanos são forçados a subornar para sobreviver

[dropcap]O[/dropcap]s norte-coreanos são forçados a pagar subornos a funcionários estatais para sobreviver e vivem diariamente num “ciclo vicioso de privação, corrupção e de repressão”, denunciam as Nações Unidas num relatório divulgado ontem.

A organização internacional diz no relatório que o suborno é “um recurso diário da luta das pessoas para fazer face às despesas” e que faz parte de um sistema que legitima as violações dos direitos humanos.

O documento, divulgado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e citado pelas agências internacionais, relata que muitas pessoas pagam subornos em dinheiro ou em géneros, por exemplo em cigarros, para não comparecerem em empregos designados pelo Estado norte-coreano, pelos quais não recebem qualquer remuneração monetária.

As pessoas ficam assim livres, conta a organização, para trabalharem e ganharem dinheiro em mercados informais, que proliferam no país devido ao fracasso do sistema público em distribuir produtos básicos.

O relatório afirma que uma carente reforma do Estado e o actual código criminal do país permite que funcionários estatais norte-coreanos possam extorquir dinheiro ou outro tipo de favores a pessoas que trabalham nestes mercados informais e improvisados, recorrendo, por exemplo, a ameaças de detenção e de prisão.

“As pessoas na Coreia do Norte estão presas num ciclo vicioso, no qual o fracasso do Estado em suprimir as necessidades básicas da vida as obriga a recorrer a mercados informais, onde enfrentam um conjunto de violações dos direitos humanos num ambiente legal indefinido”, reforça a organização, num comunicado.

Fala quem sabe

A Coreia do Norte, oficialmente uma república socialista, decidiu legalizar e regulamentar alguns destes mercados informais desde que o seu sistema de racionamento público entrou em colapso, em virtude de uma crise económica e de um cenário de fome que remonta a meados da década de 1990.

O relatório da ONU avança ainda que outros norte-coreanos subornam guardas fronteiriços para conseguir passar para a China, sendo que vários são posteriormente repatriados à força para a Coreia do Norte.

De acordo com a ONU, este relatório foi elaborado com base nos testemunhos presenciais de 214 norte-coreanos que fugiram daquele país, principalmente das províncias de Ryanggang e North Hamgyong (norte), e que vivem, na maioria, na vizinha Coreia do Sul.

Comércio | Pequim salienta necessidade de igualdade nos negócios

[dropcap]O[/dropcap] porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lu Kang, disse esta segunda-feira que a igualdade é uma obrigação para se chegar a um acordo comercial com os Estados Unidos.

O Presidente norte-americano Donald Trump disse na segunda-feira no Japão que Washington não está pronto para fazer um acordo comercial com a China, mas deixa aberta a possibilidade de que as duas nações possam chegar a um acordo em breve.

Trump previu um “bom acordo com a China no futuro, porque não acredito que a China possa continuar a pagar estas centenas de milhões de dólares em taxas”.

A posição da China tem sido consistente, disse Lu. “O atrito comercial deve ser resolvido através de consultas e negociações amigáveis, que devem basear-se no respeito mútuo, igualdade e benefício mútuo”, acrescentou.

Caso à parte

O vice-reitor e professor da Escola Nacional de Desenvolvimento da Universidade de Pequim, Huang Yiping, disse que as partes normalmente se esforçam para chegar a uma resolução de ganhos mútuos nas consultas comerciais, mas o governo dos EUA é diferente, porque quer garantir apenas as suas vantagens nas negociações comerciais, disse.

Huang disse recentemente num seminário em Pequim que o governo dos EUA é, em certa medida, “irracional” nas conversações com a China. Com este pano de fundo, é difícil prever se os dois países podem alguma vez chegar a um acordo, acrescentou.

Já Wei Jianguo, ex-vice-ministro do comércio, disse que as frequentes acusações do governo dos EUA contra a China impediram a possibilidade de um acordo. Os EUA não perceberam a firme determinação da China em defender seus interesses nacionais. É impossível impor um acordo unilateral”, disse Wei, vice-presidente do Centro para o Intercâmbio Económico Internacional da China, um grupo de think tank em Pequim.

Zhang Yansheng, investigador sénior do Centro para o Intercâmbio Económico Internacional da China, disse que o governo dos EUA tem feito comentários ou movimentos inesperados, muitas vezes contraditórios, como as diversas afirmações em que se as negociações China-EUA terminassem, uma tarifa adicional de 25 por cento seria imposta às importações chinesas. Zhang Yansheng questiona ainda por que é que Washington implementou novas taxas enquanto a 11ª ronda de negociações estava em andamento. E afirma que “uma explicação é necessária.”

Esperado primeiro défice orçamental na CGA em quatro anos

[dropcap]J[/dropcap]á são conhecidas as previsões orçamentais para este ano relativas à Caixa Geral de Aposentações (CGA), de que dependem 2497 reformados em Macau. As contas foram feitas pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP) em Portugal e não são animadoras: está previsto o primeiro défice orçamental em quatro anos e mais despesas, além de que as contribuições não serão suficientes para cobrir todos os gastos.

O relatório determina que, de acordo com o Orçamento de Estado (OE) em Portugal para este ano, “o saldo orçamental da CGA deverá atingir um défice de 60 milhões de euros (mais de 542 milhões de patacas), em contraste com a trajectória excedentária registada nos últimos anos”. Isto porque “a CGA apresentou um saldo orçamental positivo nos últimos quatro anos”, aponta o relatório.

O CFP prevê uma degradação de 162 milhões de euros do orçamento da CGA, que “tem subjacente um ritmo de crescimento da despesa (1,9 por cento) superior ao da receita (0,2 por cento), e que se explica pelo “crescimento dos encargos com pensões e abonos da responsabilidade da CGA”. Esse aumento de 1,9 por cento “elevará a despesa da CGA para 10.083 milhões de euros em 2019”.

Não só é esperado um défice como também está prevista “uma diminuição da receita de contribuições para a CGA de 3,3 por cento”.

“De acordo com o OE/2019, essa receita deverá atingir 3877 milhões de euros este ano, dos quais 3769 milhões de euros serão provenientes de quotas e contribuições. A diminuição prevista acompanha o perfil de saídas de subscritores para a aposentação e para a reforma que se tem verificado desde que o sistema fechou a novas entradas, ainda que o impacto dessas saídas deva ser atenuado pelo efeito positivo decorrente do descongelamento gradual de carreiras”, lê-se.

Apenas 40 por cento

No que diz respeito à receita proveniente de contribuições e quotizações, esta cobrirá apenas 42,4 por cento da despesa com pensões e abonos da responsabilidade da CGA. “Caso este valor se concretize, será o rácio de cobertura mais baixo desde 2012”, afirmam os analistas do CFP.

Ainda assim, o CFP dá conta de um aumento da receita da CGA previsto para este ano, “que deverá decorrer sobretudo de um acréscimo de transferências do OE”, uma vez que este “aponta para que a receita atinja 10.023 milhões de euros em 2019, mais 23 milhões de euros do que no ano anterior.

No que diz respeito à execução orçamental da CGA em 2018, “o saldo atingiu um excedente superior ao registado no ano anterior, embora a previsão inicial apontasse para uma situação deficitária”.

O relatório do CFP relata que “a CGA atingiu um excedente orçamental de 101 milhões de euros em 2018”, sendo que este resultado “reflecte um aumento de 25 milhões de euros face ao saldo obtido no ano anterior, porque o acréscimo da receita foi superior ao da despesa”.

Videovigilância | UM volta atrás e não vai instalar câmaras nas salas de aula

[dropcap]A[/dropcap] Universidade de Macau (UM) decidiu não instalar os sistemas de vigilância nas salas de aula à excepção daqueles que são usados para a realização de exames”. A afirmação é da instituição de ensino superior e consta de um comunicado enviado ontem ao final do dia, por e-mail, à comunicação social.

Um dia depois de ter afirmado à Rádio Macau a intenção de instalar câmaras de videovigilância em todas as salas de aula do campus da Ilha da Montanha, a UM volta atrás.

Segundo a instituição, a decisão de apenas manter as câmaras que se encontram nas salas em que são realizados os exames e não na totalidade dos espaços de aula, teve em conta a “ponderação de vários factores e a percepção de que não era urgente avançar para o sistema de videovigilância em todas as salas”.

Coincidências

A informação surgiu ontem, poucas horas após o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, ter referido que poderia pedir esclarecimentos à UM acerca da instalação de câmaras em todas as salas de aula e da garantia de protecção de dados pessoais.

Alexis Tam falava à margem da assinatura dos acordos de cooperação entre o Governo e as operadoras de jogo locais para a realização do Art Macau. O secretário salientou também que não era responsabilidade do Governo interferir nas decisões da Universidade dado o respeito pela sua autonomia. No entanto, horas depois, a UM volta atrás.

Recorde-se que a UM avançou na passada segunda-feira, à Rádio Macau, a intenção de equipar todas as salas de aula com câmaras de videogilância após a abertura de um concurso público para o fornecimento e instalação de sistemas de vigilância em circuito fechado de televisão.

O objectivo, apontou a instituição, era “proteger a segurança de funcionários e alunos” e “garantir os bens e instalações da Universidade de Macau”.

De acordo com a UM, o Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP) tinha autorizado a medida após uma consulta em 2016. A única exigência imposta à UM foi que tivesse em conta os procedimentos legais.

Actualmente, a UM já tem 19 salas de aula equipadas com câmaras, sendo um requisito exigido para exames de certificação em inglês, que têm lugar duas vezes por ano, em Junho e em Dezembro.

TSI | Recurso de homem que provocou um incêndio com cigarro negado

[dropcap]O[/dropcap] recurso interposto pelo homem que provocou um incêndio após ter mandado um cigarro da varanda foi negado pelo Tribunal de Segunda Instância (TSI). O tribunal manteve o acórdão do Tribunal Judicial de Base (TJB) que condenou o indivíduo a três anos de pena suspensa e ao pagamento de uma indemnização superior a 150 mil patacas.

O caso remonta à madrugada de 3 de Fevereiro de 2015, em que o arguido depois de fumar na varanda do seu domicílio, lançou uma ponta de cigarro não apagada que caiu sobre um motociclo estacionado, incendiando-o. O fogo acabou por se propagar rapidamente a outros motociclos estacionados na Travessa dos Poços da Rua de João de Araújo, destruindo 15 motas e causando danos nas lojas e habitações próximas.

O Ministério Público deduziu acusação e, em 5 de Setembro de 2017, o TJB condenou este homem pela prática, “em autoria material, por negligência e na forma consumada, dum crime de incêndio, na pena de 3 anos de prisão, suspensa na sua execução por 3 anos, sob a condição de pagar, a título de indemnização e no prazo de 3 meses a contar do trânsito em julgado da decisão, aos donos/usuários dos motociclos e das lojas prejudicados, um montante global de mais de 150 mil patacas”.

O responsável pelo incêndio interpôs recurso para o TSI, argumentando a “existência de erro notório na apreciação da prova e excesso na medida da pena”. O recurso foi negado.

Ministério Público | Relatório apela à contratação de juízes portugueses

É necessária a contratação de juízes portugueses e a abertura do curso de formação para magistrados locais. O alerta é dado no relatório de trabalho do Ministério Público referente ao ano de 2018. A necessidade do agrupamento dos diversos serviços do MP também é relatada como prioritária, visto que o organismo viu algumas valências quase “despejadas” das suas instalações no ano passado

 

[dropcap]É[/dropcap] preciso contratar magistrados portugueses “qualificados e experientes” para trabalharem em Macau. A ideia é deixada pelo Procurador da RAEM, Ip Son Sang no relatório de trabalho do Ministério Público (MP) referente ao ano de 2018.

O responsável reitera o apelo ao Governo para a contratação de mais profissionais portugueses justificando que “dois dos três delegados do Procurador, portugueses, aposentar-se-ão, respectivamente, em 2019 e 2020” por atingirem a idade máxima para o exercício e funções, enquanto que o terceiro delegado do Procurador, também português, “sairá de Macau em Março de 2021, por motivos de serviço”.

A falta de recursos humanos estende-se aos magistrados locais na medida em que “alguns eventualmente requerem a aposentação voluntária”, uma situação que acontecerá nos próximos anos e que terá como consequência “uma diminuição gradual de recursos humanos da equipa de magistrados do MP”.

Neste contexto, Ip Son Sang reitera o apelo dirigido ao Chefe do Executivo no sentido de avançar com “o recrutamento de magistrados portugueses qualificados e experientes para trabalharem em Macau”, e sugere aos serviços públicos responsáveis pelos assuntos de justiça a abertura de um novo curso de formação de magistrados, “no sentido de complementar os recursos humanos de toda a equipa de magistrados, garantindo o funcionamento normal dos órgãos judiciários – o Ministério Público e os Tribunais”.

De acordo com o relatório, o Ministério Público tem 40 magistrados efectivos, sendo um Procurador, nove procuradores-adjuntos e 30 delegados do Procurador.

À espera de casa

Outra preocupação manifestada pelo Procurador do MP tem que ver com as instalações em que estão alojados os serviços, sendo que no ano passado o MP enfrentou de novo uma acção de despejo. “O Ministério Público enfrentou, em 2018, mais uma vez a ‘desocupação forçada’ exigida pelo proprietário para recuperar a unidade”, lê-se. O caso acabou por ser resolvido com um acordo que previa o aumento do valor de renda, no entanto, “a incerteza do decurso da negociação causa enorme distúrbio e preocupação ao funcionamento e gestão dos lugares de trabalho do MP”.

Actualmente, quatro serviços afectos ao MP e o Gabinete do Procurador funcionam e distribuem-se em quatro edifícios comerciais e dois edifícios de tribunais espalhados por várias áreas de Macau. Esta dispersão não é favorável ao bom funcionamento do organismo e “pode suscitar objectivamente vários impactos no trabalho diário do MP, especialmente no desempenho das várias funções judiciárias”. Os inconvenientes logísticos são vários e estendem-se ainda a áreas como o “sigilo, segurança e transporte de documentos”.

Para resolver a situação o MP aguarda a transferência dos serviços para o Edifício Provisório do Ministério Público que se encontra em construção e que deverá estar pronto no final do próximo ano. “Verifica-se que já estão concluídas as obras de fundações e da cave da 1.ª fase do respectivo projecto de construção, prevendo-se que a 2.ª fase, obras de cobertura principais, será concluída no 4.º trimestre de 2020”, revela o relatório acerca da calendarização das obras de construção das ditas instalações.

Acusações difíceis

De entre os crimes listados no relatório que passam pelas mãos do MP, o documento destaca a violência doméstica referindo que até ao final do ano passado tinham chegado ao fim três processos que resultaram em condenação por prática do crime de violência doméstica “e um processo que acabou por ser findo com condenação por prática do crime de ofensa simples à integridade física”.

O documento recorda a evolução dos processos relativos à infração da Lei da Prevenção e Combate à Violência Doméstica, que entrou em vigor apenas em 2016 apontando que, de Outubro a Dezembro de 2016, ou seja, “nos primeiros três meses em que se executa a Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica, foram instaurados 15 inquéritos pelo Ministério Público, não se registando nenhuma acusação naquele ano”. Em 2017 e 2018 foram instaurados 65 e 56 inquéritos e deduzidas 6 e 9 acusações, respectivamente.

O reduzido número de avanços nos processos de acusação deve-se às próprias características deste tipo de crime. “A violência doméstica envolve sempre o relacionamento pessoal a nível emocional ou íntimo, muitas vezes, no decurso do inquérito depois de o ofendido ter manifestado desejar procedimento criminal, vem declarar que desiste do procedimento ou recusa-se a prestar declarações”, refere o documento. Esta é uma situação que “poderá frustrar o objectivo da punição do agressor, no procedimento contra a violência doméstica, que é o que se pretende com esta Lei”, aponta.

Ensino | Projecto de reconhecimento de cursos superiores ainda este ano

[dropcap]O[/dropcap] grupo de trabalho responsável pelos estudos para o reconhecimento dos cursos superiores de Macau em Portugal já está criado e o projecto em causa pode estar pronto ainda este ano.

A ideia foi deixada ontem pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, à margem da assinatura do acordo de cooperação do Art Macau. “Já criámos um grupo de trabalho, e muito em breve os meus colegas da Direcção dos Serviços do Ensino Superior vão a Portugal para trabalhar com o Ministério do Ensino Superior e Ciência e talvez ainda dentro deste ano, teremos um projecto concreto”, disse o governante.

Esta medida vem no seguimento do acordo assinado no Palácio das Necessidades entre Alexis Tam e Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, este mês em Portugal. O objectivo é o reconhecimento mútuo dos vários graus académicos do ensino superior de Macau e de Portugal.

IPIM | Quarenta pedidos de residência investigados

Irene Lau tomou ontem posse como presidente do IPIM, em cerimónia acompanhada pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. A supervisão dos pedidos de residência temporária tem sido a sua última grande bandeira, com 40 situações suspeitas de fraude remetidas já para investigação

 

[dropcap]O[/dropcap] Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM) tem sob suspeita de irregularidades cerca de 40 casos de pedidos de residência temporária, de um total de 1.208 processos submetidos a revisão e aprovação, afirmou ontem a presidente Irene Lau, após a cerimónia da tomada de posse do cargo que exercia já, interinamente, desde Outubro de 2018.

Os números em causa estão sob investigação, depois de solicitados esclarecimentos sobre os factos declarados pelos requerentes, no decorrer do trabalho de supervisão e revisão das autorizações, concedidas pelo IPIM, a investidores e a técnicos especializados. Só as situações que suscitam dúvidas, quanto à autenticidade das provas, são encaminhadas para as autoridades legais.

“Nem todos os casos de informação incompleta são fraudulentos, alguns têm apenas dificuldade em explicar as razões das lacunas nos documentos, por isso a nossa preocupação em fazer mais perguntas e solicitar mais provas. Existem cerca de 40 pedidos suspeitos, que já foram entregues às autoridades competentes, mas ainda não temos confirmação da evidência de crime em relação a todos, naturalmente, porque isso leva tempo”, explicou Irene Lau à comunicação social.

E adiantou que, “em relação aos 40 casos suspeitos, acreditamos que as informações que foram dadas não são o que aparentam ser. Como casos de pessoas que alegam que trabalham em Macau, mas que depois descobrimos que nunca estiveram no território, por exemplo, e outras situações muito variadas”, detalhou.

A actual responsável do IPIM, em reunião plenária da Assembleia Legislativa, na passada segunda-feira, havia informado já que foram revistos mais de 1.200 processos até meados de Maio, e aprovados 134 pedidos de fixação de residência temporária, no primeiro trimestre deste ano. Em 2018 tinham sido aprovados 322 pedidos, havendo portanto uma diminuição “devido à reapreciação” dos casos, como então sublinhou. Irene Lau respondia à interpelação oral da deputada Lei Cheng I sobre os resultados do relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), elaborado em Julho último, sobre casos problemáticos ou de falsificação nos pedidos de imigração temporária.

Outra medida que deverá contribuir para afinar o processo de atribuição de residência temporária é a divulgação de informação quanto aos requisitos, formulários e critérios necessários à sua obtenção. “Os procedimentos têm que ser melhorados, e o IPIM vai insistir para que no futuro sejam entregues os documentos de forma adequada e completa, através da divulgação do que é necessário para que os pedidos decorram de forma eficiente, bem como através do alerta para os prazos previstos na lei”, acrescentou também ontem.

De vogal a presidente

Irene Va Kuan Lau, que até Outubro de 2018 desempenhava o cargo de vogal executiva do IPIM, foi indicada pelo Governo da RAEM para assumir provisoriamente, “em regime de substituição”, as funções de presidente daquela instituição, decisão resultante do afastamento de Jackson Chang, suspenso na sequência de uma investigação por “crimes funcionais” na apreciação e autorização de pedidos de residência.

Além do presidente, que ficou sujeito às “medidas de coacção de suspensão do desempenho de funções públicas e de proibição de saída de Macau”, foram aplicadas idênticas medidas a um vogal executivo da instituição e a um antigo director adjunto do Gabinete Jurídico e de Fixação de Residência do IPIM.

Em Julho passado, o relatório do CCAC dava conta de irregularidades na apreciação e autorização, por parte do IPIM, dos pedidos de “imigração por investimentos em imóveis”, “imigração por investimentos relevantes” e “imigração por fixação de residência dos técnicos especializados”.

Estacionamento | Até o secretário baixou o nível de vida

[dropcap]U[/dropcap]m dos problemas que esteve ontem em discussão na Assembleia Legislativa (AL) foi a falta de estacionamento. Em relação a este aspecto, o próprio secretário para os Transportes e Obras Públicas confessou que também ele se teve de adaptar, após o regresso de Macau, e baixar o seu nível de vida.

“Em Portugal tinha dois carros, mas aqui apesar de ter dinheiro para os dois carros, só comprei um. Só tenho um lugar de estacionamento”, confessou Raimundo do Rosário. “Baixei a qualidade de vida. Eu tenho dinheiro, mas não tenho estacionamento. São factores que as pessoas precisam de ter em consideração”, sublinhou.

Por este motivo, o governante admitiu que por vezes precisa de partilhar o veículo com a esposa, optando por andar ou apanhar os transportes públicos: “Durante a semana, pergunto-lhe se ela precisa do carro, quando ela precisa é ela que leva o carro. Eu vou a pé ou apanho o autocarro”, revelou.

Ainda em relação ao estacionamento para motos, Raimundo do Rosário considera que as pessoas têm suficientes incentivos para deixar os veículos nos auto-silos. Contudo, preferem sempre estacionar nas ruas: “As pessoas não querem usar os auto-silos. De dia o preço são duas patacas por hora e à noite é uma. Eu acho que já temos incentivos”, defendeu. “Acho que podemos fazer com que o estacionamento até seja gratuito para incentivar uma maior utilização dos auto-silos, mas eu não concordo”, frisou.

Mak Soi Kun, o deputado mais votado de 2017, foi um dos legisladores que interveio nesta altura, e confessou que por várias vezes ouviu residentes a dizerem ter visto o secretário nos autocarros.

Contudo, alertou para o facto das pessoas de idade evitarem este transporte por terem medo das travagens dos condutores: “As pessoas idosas têm medo de ir de autocarro para o hospital por causa das travagens bruscas dos motoristas”, alertou Mak. “O Governo deve fazer algo para aperfeiçoar as técnicas de condução”, acrescentou.

Habitação | Papéis de seda são assunto do passado, diz Rosário

[dropcap]O[/dropcap] deputado Zheng Anting apresentou uma interpelação a questionar Raimundo do Rosário sobre o facto de vários moradores detentores de papéis de seda não conseguirem instalar quadros eléctricos com maior potência nas suas casas.

Em causa estão principalmente pessoas que habitam em Coloane e Ká Hó. Contudo, Raimundo do Rosário afirmou que os papéis de seda não têm valor legal e que o Executivo não pode legitimar ilegalidades.

“A Lei Básica não reconhece a escritura em papel de seda. A nova Lei de Terras também não fala do assunto. A antiga dizia que ia resolver a questão, mas a nova não prevê nada sobre as escrituras em papel de seda. Não vale a pena discutir mais sobre esta questão. Já não existe”, sublinhou o secretário.

Na réplica a Raimundo do Rosário, Zheng Anting apontou que era importante encontrar uma solução legal, porque muitos destes moradores querem abrir espaços comerciais para “vender água ou petiscos”, mas que por falta de potência no abastecimento eléctrico não conseguem. O número dois de Mak Soi Kun frisou também que compreende que o problema é complicado, mas que é preciso respeitar o “legado histórico” de Macau.

Face a este argumento, o líder da pasta das Obras Públicas realçou que respeitar o legado histórico dos papéis de seda e que o legado passa por manter a situação como está: “A finalidade dessas fracções é habitação. Esse é o legado histórico. Se formos instalar um loja nesse espaço, então temos a fazer alterações e é preciso de instalar mais do que um quadro de electricidade.

Mas se mantiverem a situação como está e a fracção for só para habitação já não têm problemas. Assim respeita-se o legado histórico”, respondeu.

Preço de Zhuhai afasta água reciclada em Macau, diz secretário

[dropcap]O[/dropcap] secretário para os Transportes e Obras Públicas admite que os preços praticados por Zhuhai no abastecimento de água são tão baixos que o custo do desenvolvimento de água reciclada –utilizada para o autoclismo, mas que não é potável – fica demasiado dispendioso.

“Zhuhai é muito bom para nós. Eles quando nos vendem a água está é tão barata que o tratamento da água reciclada ficaria demasiado caro”, admitiu. “Se virmos a relação custo benefício, face à importação de água, não é uma ideia muito atractiva. Por isso, em termos de protecção ambiental temos outras prioridades”, clarificou.

A resposta ficou longe de convencer, e deputados como Mak Soi Kun, Au Kam San e Agnes Lam afirmaram que Macau tem de encontrar alternativas mais limpas, também para não poupar os recursos do país. Agnes Lam foi mais longe e disse mesmo que para os residentes utilizarem água potável, que há pessoas no Interior da China que ficam prejudicadas.

“Importar água pode ser mais barato. Mas temos de ser mais responsáveis pelo mundo e pelo nosso País. Não estamos a agir bem”, afirmou a legisladora. “Quando puxamos o autoclismo em Macau, os residentes em Guizhou ficam a chorar”, acrescentou.

Sobre a utilização dos recursos naturais, os representantes do Executivo deixaram ainda críticas aos residentes, uma vez que tendem a exagerar no consumo devido aos subsídios da energia eléctrica e na água, que fazem com que os preços sejam relativamente baixos.

Ao mesmo tempo, Raimundo do Rosário explicou que o Governo não vai equacionar grandes mudanças na água, uma vez que o mandato termina em Dezembro e ainda tem 26 obras e projectos para concluir.

Metro Ligeiro | Empresa do Governo Central leva RAEM a tribunal

A China Road and Bridge Corporation iniciou um processo judicial para ser compensada pelo erro no concurso de construção do Parque de Materiais e Oficina do Metro Ligeiro. As partes recusam revelar o valor do pedido de compensação, mas com um custo de obra de 912 milhões da patacas o pagamento pode alcançar valores milionários

 

[dropcap]A[/dropcap]o fim de vários meses, a China Road and Bridge Corporation fez entrar no Tribunal Administrativo uma acção para ser compensada pelo erro no concurso público de atribuição da construção do Parque de Materiais e Oficina do Metro Ligeiro. A revelação foi feita ontem durante a sessão do Plenário da Assembleia Legislativa, por Raimundo do Rosário.

“Houve um pedido de indemnização. A sociedade comercial já apresentou uma acção judicial que está em curso”, afirmou Raimundo do Rosário, após uma questão do deputado Au Kam San.

“Como o processo judicial se encontra a decorrer não vou fazer mais comentários”, acrescentou.
Segundo a decisão dos tribunais, um erro na avaliação das propostas fez com que a vencedora do concurso da oficina do metro ligeiro fosse a Companhia de Engenharia e de Construção da China (Macau), quando deveria ter sido a China Road and Bridge Corporation. Porém, quando a decisão final do TUI foi tomada, a obra estava praticamente acabada, pelo que o Executivo evocou o interesse público para não acatar a ordem.

Mesmo assim, o cenário do pagamento de uma indemnização nunca foi afastado e durante meses o Governo ficou à espera de ser abordado pela empresa. Agora, segundo o secretário, o caso chegou aos tribunais.

Após a revelação da acção, o HM contactou um representante da China Road and Bridge Corporation que se limitou a dizer que não tinha comentários a fazer ao caso. O mesmo representante também não quis revelar o montante do pedido de compensação.

Números astronómicos

Apesar do valor da indemnização não ter sido revelado, este poderá alcançar um valor milionário. Isto porque o valor que vai ser tido como referência é a proposta do concurso público, que na altura foi de cerca de 912,9 milhões de patacas.

A este valor da proposta, a empresa vai subtrair os custos que teria com materiais, mão-de-obra e as outras despesas para chegar ao lucro com os trabalhos. Mesmo assim, o valor da indemnização é considerado muito elevado pelo Governo e é por este motivo que se recorreu aos tribunais.

Como explicou Raimundo do Rosário, ontem, ao deputado José Pereira Coutinho agora a última palavra está com os tribunais: “Vai ser o tribunal a definir a indemnização. Talvez haja dúvidas, mas vai ser o juiz a decidir”, afirmou.

Polémicas à parte, a obra do Parque de Materiais e Oficina do Metro Ligeiro acabou por ser concluída pela Companhia de Engenharia e de Construção da China (Macau), que cobrou cerca de 1,07 mil milhões de patacas. À imagem da empresa queixosa, também a empresa que concluiu a obra tem como principal accionista o Governo Central.

Ana Gomes, ex-deputada do Parlamento Europeu, sobre vistos gold: “É uma prostituição da cidadania europeia”

Ana Gomes não se recandidatou às eleições europeias e vai reformar-se, mas não pretende abandonar o papel de investigadora na área do crime económico. A ex-eurodeputada defende que o programa dos vistos gold “é criminoso do ponto de vista da lei chinesa”, favorece a corrupção e a entrada de tríades na Europa. Ana Gomes fala de Vítor Sereno, ex-cônsul, como um dos grandes angariadores de vistos gold em Macau

[dropcap]M[/dropcap]arcelo Rebelo de Sousa esteve na China há pouco tempo. Foi algo crítica no seu Twitter face à postura do Presidente da República. Que balanço faz da visita?
Não conheço os balanços que se estão a fazer internamente, a nível diplomático e económico. Não tenho dúvida de que, ao nível dos media, as autoridades portuguesas procuraram mostrar que tudo é maravilhoso. Não gostei de ver o nosso Presidente da República ir na molhada dos 120 dignitários de países que participam na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. Acho que as relações Portugal-China são suficientemente importantes e distintas de outro tipo de relação, e mesmo que os chineses decidissem enquadrá-la na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, Portugal não teria de ir na molhada.

Fala do Fórum que se realizou em Pequim sobre essa política.
Sim. Acho que há aqui uma questão de estatuto estratégico para Portugal, e não para a China, que nos deveria ter feito dizer que estaríamos disponíveis para ir este ano à China, mas não permitir um enquadramento de forma indistinta. Por muito que, quer o Presidente da República, quer o Governo, projectem uma imagem de grande triunfo, eu estou para ver qual foi o triunfo. Vi o Presidente da República falar das 48 universidades onde se aprende português. Já aprendiam, não? Não foi por causa desta visita.

É algo que tem vindo a acontecer aos longo dos anos.
E tem a ver obviamente com os desígnios estratégicos chineses, em relação aos quais não me cabe criticar. Acho muito bem, pois a China tem capacidade e interesse, vê as coisas de maneira global e a longo prazo. Tem os seus recursos para os monopolizar para aquilo que entende ser do seu interesse e naturalmente que isso passa pelo conhecimento das línguas, onde o português é relevante. Portugal não pode embarcar neste tipo de iniciativas, que são estratégicas para a China, só com uma perspectiva de interesse económico. A relação com a China é demasiado importante para ser entendida apenas de uma perspectiva económica e mercantilista, justificada a pretexto de um combate ao proteccionismo. A relação com a China tem de ser vista a várias dimensões.

FOTO: Lusa

Quais são elas?
Falo da dimensão da segurança humana em Portugal no que respeita aos direitos fundamentais dos cidadãos portugueses. Chegou-se ao ponto de se criar um sistema de crédito social, que serve para controlo das liberdades cívicas. Acho isto altamente preocupante, e não me venham dizer que ao falar de direitos humanos a Xi Jinping se cumpriu a nossa obrigação em matéria de direitos humanos. Não só vejo essas obrigações em relação aos cidadãos chineses que não dispõem de direitos básicos e fundamentais, a que a China está veiculada por fazer parte da ONU, mas também do ponto de vista dos cidadãos portugueses.

Como é que a segurança dos portugueses pode estar em risco?
Quando se contempla importar as redes 5G da Huawei, sabendo que na China não existe um regulamento geral de protecção de dados pessoais. Acho que é altamente hipócrita e perigoso passar-se por cima destes aspectos, já para não falar dos sectores da vida política e económica portuguesa que já estarão nas mãos dos chineses, não só pela via das compras que cá vieram fazer na altura da Troika, com grandes cumplicidades e grandes responsabilidades europeias, mas também nacionais, como pelo controlo que exercem através de tecnologias que tem os seus dados armazenados na China. Visitei a Huawei em 2015, perto de Pequim, e sei bem que qualquer dado que a Huawei obtenha em qualquer parte do mundo é, por imposição chinesa, armazenado na China.

Os políticos portugueses deixaram-se seduzir muito facilmente num período de crise económica, e agora é tarde?
Não sou ingénua e sei bem que o longo relacionamento com a China através de Macau sempre teve aspectos positivos a nível cultural, político e social, mas também tem aspectos bastante perniciosos, designadamente ao nível de uma lógica economicista que facilitou a corrupção, ao nível dos próprios partidos políticos. Se isso aconteceu no passado ainda mais acontece no presente, ainda por cima depois de Portugal passar este período de aflição tremenda com uma austeridade imposta, onde se privatizaram infra-estruturas críticas e centros estratégicos para Portugal e para a União Europeia (UE). Na altura incomodaram-me muito a atitude das autoridades nacionais e a negligência das autoridades europeias, designadamente as que integravam a Troika. Não viram as questões de segurança, de deixar uma empresa como a REN ser controlada pela State Grid. Na altura coloquei questões à Comissão Europeia, que me respondeu com respostas inenarráveis, de que era o mercado a funcionar. Hoje a sensibilidade na Comissão é outra, mas entretanto já muitas concessões foram feitas em Portugal na área da energia e dos portos, como é o caso do Porto de Sines, e também noutros países europeus. Não é por acaso que a Grécia e países do leste, como a Bulgária e Roménia, estão a ser alvo de um interesse alvo por parte da China.

O discurso político vigente não parece estar atento a esses perigos.
Até os negligencia totalmente. Reduziram a uma questão ao combate a um proteccionismo induzido pelo lado americano, quando obviamente isso é distorcer o que está em causa. É negligenciar a própria segurança nacional e europeia. Eu vejo grandes vantagens na forma como a China tirou da pobreza milhares de milhões de pessoas, mas no seu relacionamento com países africanos, há aspectos positivos e negativos. Portugal, sabendo o que sabe, e sendo membro da UE, não se pode dar ao luxo de ser ingénuo.

Houve uma nova resolução aprovada em Março no seio da UE relativa a crimes financeiros e casos de evasão fiscal. Vem resolver os problemas que se vinham verificando até então?
É a quarta directiva sobre branqueamento de capitais, na qual participei, mas já vem a caminho a quinta directiva. Conseguimos que os Estados-membros fiquem obrigados a criar registos centrais dos beneficiários únicos de todas as companhias, e portanto todas tem de registar e identificar quem é detentor de, pelo menos, 25 por cento das suas acções. Esta é a forma mais importante de combatermos a evasão fiscal e o branqueamento de capitais. Isto é importante para Portugal e também para a China, pois vamos cobrir grande parte dos esquemas de branqueamento de capital que se fazem através dos vistos gold, tendo em conta que os cidadãos chineses representam cerca de 80 por cento do número de pedidos. O próprio visto gold implica a compra de imobiliário com o valor mínimo de 350 mil euros, valor que é bastante mais elevado do que o montante que a China permite aos seus cidadãos exportarem anualmente. O esquema em si é criminoso do ponto de vista da própria lei chinesa. Certamente que o esquema se presta muito aos criminosos chineses e às tríades para se infiltrarem na UE, porque além dos adquirentes há os familiares. Este é um assunto que tem estado na mira das autoridades chinesas e eu própria contactei com elementos da polícia chinesa que me contactaram quando participei, há uns anos, num seminário sobre os vistos gold. Sei que estiveram algumas vezes em Portugal e que até houve um cidadão chinês que foi extraditado e que era portador de um visto gold. É um assunto de interesse mútuo, as autoridades portuguesas estão confrontadas com o recente relatório da UE sobre os riscos destes sistemas para a segurança do espaço Schengen, mas o actual Governo tem feito vista grossa e tem actuado de uma forma que considero altamente criticável.

Houve apenas um projecto proposto por um partido político português para por fim aos vistos gold, e que foi rejeitado pelos deputados.
Apoiei esse projecto e em breve farei uma reunião aqui com o representante da Comissão Europeia. Há cerca de 20 países europeus com esquemas de vistos gold. Que autoridades de vários países continuem a fazer vista grossa a este assunto não me vai impedir a mim e a mais gente de ajudar quem quer expor os casos. No caso de Portugal, o esquema é opaco, porque mesmo Chipre e Malta publicam as listas dos cidadãos que adquirem os vistos gold, mesmo na forma de passaportes. Tenho endereçado cartas a todos os governantes a pedir para consultar os nomes das pessoas e isso não me é facultado. A explicação que me dão é a protecção de dados, num país onde se publicam nomes e moradas por tudo e por nada. A única explicação que encontro é a consciência de que, se eu pudesse consultar essa lista, encontraria uma série de indivíduos que não seriam recomendáveis em nenhum país do mundo, a não ser atrás das barras de uma prisão.

Um ex-ministro foi inclusivamente arguido num processo relacionado com os vistos gold. Esse processo, só por si, tirou credibilidade a uma política já frágil?
Paulo Portas foi o pai dos vistos gold mas não inventou a roda, porque foi copiar outros esquemas de vistos gold que já existiam e havia obviamente intuitos de favorecer a corrupção. Não sou contra o facto de Portugal facilitar a vinda de cidadãos que tenham cá investimentos, mas não deve ser vendida a residência. Isso favorece a constituição de cartéis, de angariadores de vistos gold, que não só facilitam todo o tipo de criminalidade como eles próprios se sustentam com o financiamento. Da forma como este esquema foi operacionalizado há ligações de ex-ministros e de ex-chefes de gabinetes de ministros, não é só Miguel Macedo. Foi feita a colocação de antigos chefes de gabinete em posições chave do aparelho diplomático, na China, por exemplo, para a angariação de vistos gold, o que favorece a corrupção.

Pode dar nomes?
O antigo ministro Mário Lino é um dos que me dizem que tem uma empresa envolvida na operacionalização dos vistos gold. Além disso, vi várias vezes Vítor Sereno, na qualidade de cônsul em Macau e Hong Kong, a fazer auto-promoção do seu papel no esquema dos vistos gold.

Na China, Marcelo pediu mais investimento na economia real, e esse relatório da UE também fala do facto dos vistos gold não ajudarem a desenvolver a economia real.
Contam-se pelos dedos das mãos os vistos gold que foram concedidos em troca de investimento na economia e criação de emprego. A maior parte depende do imobiliário. Isso só por si demonstra que o esquema é perverso e não cumpriu os objectivos. Depois dizem que o Estado ganha imenso dinheiro com os emolumentos. É um esquema de prostituição da cidadania europeia. Não há controlo da origem das fortunas. E não sabemos hoje da missa a metade dos esquemas de corrupção e não sei se algum dia iremos a saber. O ganho económico não pode ser justificação.

Macau vai acabar com as sociedades offshore até 2021. Chegou a estar numa lista de paraísos fiscais da UE, depois saiu da lista. O facto de haver uma lei que põe fim às offshore faz com que haja mais transparência?
Não sei o que Macau está a prever nessa matéria. Sei que na UE há cada vez maior interesse em expor e conhecer estes esquemas. Já percebemos que não é pela lista de jurisdições que não cumprem as regras (que se resolve o problema), embora isso possa ser importante, mas é sim pela imposição de mecanismos de transparência. Nesse sentido a quarta directiva vai ter impacto além da UE e nas jurisdições que tem íntima ligação com países da UE, como é o caso de Macau. Na quinta directiva aperta-se o controlo.

Falou da questão dos partidos e da corrupção com ligações a Macau. Isso continua a acontecer mesmo depois da transição?
Pode acontecer por vias mais sofisticadas e através de escritórios de advogados. Estes são frequentemente intermediários desses esquemas e a criminalidade associada à fuga ao fisco e branqueamento está muito sofisticada, e isso faz-se através dos partidos políticos. Estamos atentos e penso que haverá mais investigação sobre isso. A Comissão Europeia passou recentemente uma directiva sobre as entidades obrigadas no quadro do branqueamento e incluem-se também agências imobiliárias ou escritórios de advogados, entre outros. Pessoalmente vou continuar a trabalhar nisso aqui.

Este ano comemoram-se os 20 anos da transferência de soberania de Macau para a China. A Lei Básica tem sido cumprida?
Acho que a Lei Básica tem muitos aspectos importantes e estruturantes para Macau, mas penso que ela poderia ter ido mais longe na altura.

Em que sentido?
Na área da defesa dos direitos dos cidadãos, acho que teria havido soluções mais próximas do modelo de Hong Kong que poderiam ser importantes. Mas em última análise a verdade é que tudo depende da China e da sua evolução. Apesar de Hong Kong ter uma Lei Básica mais rigorosa em termos de defesa dos direitos humanos, na prática a China não a tem respeitado e tem intimidado líderes de partidos políticos. Se faz isso em Hong Kong mais facilmente pode fazer em Macau, pela dimensão e pela facilitação da Lei Básica que deixámos. Não tenhamos ilusões, nunca seria Portugal ou a Grã-Bretanha a fazer valer os direitos, isso depende da capacidade dos cidadãos de Macau e Hong Kong. Há a harmonia e liberdade que é permitida por Pequim. Os chineses não respeitam quem não se faz respeitar. A Grã-Bretanha cometeu alguns erros, mas sabe fazer-se ouvir e respeitar. E Portugal não sabe. É por isso que acho que faço uma apreciação negativa da visita do Presidente da República.

Sobre a Lei Básica, o ex-jurista da Assembleia Legislativa Paulo Cardinal defendeu que Portugal deveria fazer relatórios sobre a sua aplicação em Macau, mas o ministro Augusto Santos Silva afastou essa hipótese.
Não estou surpreendida que a postura de Portugal seja de abdicação. Esse jurista tem certamente razão, mas isso seria se estivesse a lidar com autoridades que levassem a sério as suas responsabilidades históricas face aos cidadãos de Macau, o que não é o caso.

Europeias/resultados: Seis votos da Coreia do Sul ‘fecham’ escrutínio em Macau

[dropcap]A[/dropcap] contabilização de seis votos da Coreia do Sul permitiu ‘fechar’ hoje os resultados das eleições europeias em Macau, disse hoje à Lusa o embaixador Paulo Cunha Alves, pouco depois de ter sido afixado o edital.

“Esta é uma situação normal, já que temos de aguardar a recepção de votos fora de Macau, como aconteceu este ano com a Coreia do Sul”, explicou o responsável diplomático do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong.

O consulado sediado em Macau era um dos quatro cujos resultados se encontravam ainda por apurar, segundo o ‘site’ do Ministério da Administração Interna (MAI) que, às 11:10 indicava que todos os mandatos estavam atribuídos.

O MAI assegura que, com os resultados de inscritos e votantes já disponíveis dos consulados que estão a aguardar pelos votos de mesas com menos de 100 eleitores, é possível concluir pela certeza da distribuição dos mandatos: PS 9; PSD 6; BE 2; CDU 2; CDS 1; e PAN 1.

A demora no apuramento total dos resultados das eleições europeias de domingo justificou-se pelo atraso na comunicação dos consulados, justificou na segunda-feira à agência Lusa fonte do MAI.

Dos 71.163 eleitores inscritos em Macau, apenas 670 exerceram o direito de voto. Segundo o último edital afixado no Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, o PS foi o partido mais votado, com 163 votos, seguindo-se o PSD (122), BE (73), CDS-PP (53), PAN e Livre, ambos com 42, Nós, Cidadãos (41) e CDU (27).

Meteorologia | Mau tempo para hoje e amanhã

[dropcap]O[/dropcap]s dias de hoje e de amanhã vão ser de mau tempo. A informação foi avançada ontem pelos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG). Em comunicado, o organismo aponta que vão continuar a “ocorrer aguaceiros e trovoadas na região”, pelo que aconselha a população a estar atenta “às condições meteorológicas e às informações emitidas”.

Enquanto que os SMG de Macau apelam à atenção, o Governo de Hong Kong, perante as mesmas circunstâncias, já solicitou às entidades empregadores flexibilidade no que respeita ao cumprimento de horários pelos trabalhadores, tendo em conta as previsões de tempestade.

Recorde-se que o sinal de trovoada e chuva intensa foi emitido na manhã de ontem, em Macau, às 9h10, enquanto na região vizinha o alerta foi dado às 5h da manhã. A diferença de horário na emissão do sinal foi alvo de críticas por parte da população. Em resposta os SMG afirmam que “das 00h às 07h, a área de chuva intensa principal não tinha afectado a região, uma vez que a área de chuva intensa estava relativamente isolada”, sendo que “na altura, previu-se que nas próximas duas horas, fosse impossível a precipitação atingir padrões de emissão do sinal de chuva intensa”.

No entanto, a realidade não correspondeu às previsões e a chuva intensa fez-se sentir ao longo de grande parte da manhã, tendo os SMG retirado o respectivo sinal apenas às 11h10.