Filipinas | Ex-governantes apresentam queixa contra Xi Jinping no TPI Hoje Macau - 22 Mar 2019 [dropcap]D[/dropcap]Ex-funcionários do Governo filipino e um grupo de pescadores apresentaram queixa no Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o Presidente chinês, Xi Jinping, por crimes contra a humanidade e danos ambientais no mar da China Meridional. A acção, que solicita a abertura de um exame preliminar contra o Presidente chinês, foi apresentada em Haia, Holanda, na sexta-feira, indicou ontem a imprensa filipina, que publicou algumas páginas do documento. O ex-secretário dos Negócios Estrangeiros filipino Albert del Rosario e a antiga procuradora no combate à corrupção Conchita Carpio Morales assinaram essa queixa juntamente com um grupo de pescadores afectados pelas actividades da China nessas águas. Os requerentes acusam Xi Jinping e outros funcionários chineses de cometerem “crimes que implicam um dano ambiental massivo, quase permanente e devastador em vários países”, uma vez que a China ocupou várias ilhotas e recifes, cuja posse é disputada por vários países da região. Os antigos funcionários do Governo filipino e os pescadores alegam que os danos ambientais começaram quando o Governo de Xi Jinping empreendeu “um plano sistemático para tomar o mar da China Meridional”, de grande importância geo-estratégica, através do qual circula 30 por cento do comércio global e abriga 12 por cento da pesca mundial, além de possíveis depósitos de gás e petróleo. Os signatários da acção alegam que o TPI tem jurisdição sobre o caso uma vez que “os crimes” da China ocorreram quando Manila ainda era membro do tribunal. Em 17 de Março de 2018, o Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, retirou o país do tratado que dá jurisdição ao TPI para investigar acções criminais no seu território – com a medida a ser efectiva a partir da mesma data do ano seguinte. A saída foi oficializada no passado domingo.
Meteorologia| Autoridades de Hong Kong antecipam terceiro tufão n.º 10 desde 2017 João Santos Filipe - 22 Mar 201922 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap] Observatório de Hong Kong antevê a passagem de mais um tufão n.º 10, a menos de 500 quilómetros da região vizinha. A informação foi divulgada, ontem, pelo director do Observatório Shun Chi-ming, que espera um Verão com temperaturas mais elevadas devido aos efeitos do El-Niño. Este é um fenómeno meteorológico temporário e cíclico que resulta no aquecimento das temperaturas das águas no Oceano Pacífico. Em relação ao número de tufões, Hong Kong espera que o território possa ser afectado por quatro a sete ocorrências. “É um número normal”, disse Shun Chi-ming. “Uma vez que se vai fazer sentir os efeitos do El-Niño, é possível que a época de tufões apenas comece no início de – ou depois – de Junho”, acrescentou, de acordo com o portal Hong Kong Free Press. A última vez que Hong Kong içou o sinal número 10 de tufão em três anos consecutivos foi entre 1960 e 1962. Caso este ano se registe um tufão número 10, então o registo é igualado. Porém, o director do Observatório de Hong Kong deixou o desejo que tal não se verifique. “Espero que a história não se repita”, afirmou. Nos últimos dois também Macau içou por duas vezes o sinal de tufão n.º 10. Em 2017 tal aconteceu com o Tufão Hato, que matou pelo menos 10 pessoas, e no ano passado com o Tufão Mangkhut. Em relação à RAEM o Governo ainda não realizou o evento em que antecipa a época de tufões, o que normalmente acontece entre Abril e Maio. Contudo, não é de afastar um cenário muito semelhante, uma vez que nos últimos dois anos sempre que Hong Kong içou o sinal número 10, Macau fez o mesmo. Na mesma conferência de ontem, o director do Observatório anteviu que as temperaturas podem chegar aos 40 graus nos Novos Territórios. “A altura em que Hong Kong vai deixar de ter Inverno está quase a chegar”, afirmou Shun. No ano passado foram sete as tempestades tropicais que passaram a menos de 800 quilómetros do território, com o Mangkhut a ser o único tufão que levou a que o sinal número 10 fosse içado.
Rota das Letras | Rolling Puppets apresentam “Droga” de Lu Xun Sofia Margarida Mota - 22 Mar 2019 “Droga” de Lu Xun está em cena hoje, amanhã e domingo, nas oficinas navais nº2, pelas mãos da companhia Rolling Puppets. O espectáculo fecha mais uma edição do festival literário Rota das Letras e insere-se nas comemorações dos 100 anos do movimento do 4 de Maio que revolucionou a escrita no continente colocando as palavras ao alcance de todos [dropcap]”[/dropcap]A verdadeira acção não acontece quando se tem esperança de que se consiga alguma coisa com ela, a verdadeira acção acontece quando já não se espera”. Estas são as palavras de Tan Tan La, co-fundadora, com Kevin Chio, da companhia de teatro Rolling Puppets, para descrever o espírito de Lu Xun, autor de “Droga”, a peça que vai subir ao palco das oficinas navais, nº2, hoje, amanhã e domingo. Esta interpretação do trabalho de Lu Xun é também o mote para mais uma apresentação do espectáculo no território. A ideia de pegar neste texto, “Droga”, que pode ainda ser traduzido por “Medicamento” da autoria de um dos escritores emblemáticos do Movimento literário do 4 de Maio, surgiu em 2013. Nesta altura os responsáveis da Rolling Puppets, assistiam em Macau àquilo que consideraram “um verdadeiro início de movimentação social”. “Vivia-se uma época de alguma esperança social”, conta Tan Tan. A responsável recorda a saída à rua dos moradores do edifício Sin Fong, reclamando contra as más condições em que viviam. A eles juntaram-se residentes, e tudo parecia apontar para “uma luta colectiva por direitos sociais”. No entanto, esta “reivindicação”, foi de pouca duração. “Vimos a ocupação das ruas por parte de manifestantes, mas foi durante muito pouco tempo, nem chegou a uma noite, mas isso aconteceu”, recorda com satisfação. No entanto, de repente, “houve distribuição de dinheiro e deixou de ser necessário pedir que se fizesse justiça”, lamenta. “Quando começámos a ver as pessoas a saírem à rua, a pedir justiça, pensámos que finalmente estavam a acordar mas acabámos por perceber que afinal voltaram a adormecer muito rapidamente”, acrescenta a responsável. Foi também nessa altura, que os artistas encontraram um texto de Lu Xun que falava de solidão, em que o autor classificava o ser revolucionário como sendo uma espécie de viver solitário. “Ele, como revolucionário falava de como se sentia sozinho no seio da sociedade”. A partir daqui, pegar num texto de Lu Xun tornou-se imperativo para Ten Ten La e Kevin Chio. Por outro lado, trazer Lu Xun a cena pareceria ser também uma missão. Se os seus textos eram o reflexo de uma sociedade de há 100 anos, actualmente continuam a espelhar as necessidades de mudança. “Somos artistas e achamos que devemos ecoar alguma coisa no que fazemos que faça as pessoas pensar”, aponta Kevin Chio, “e este texto vai nesse sentido”, acrescenta. Questão necessária “Queremos que este espectáculo interrogue as pessoas acerca do que querem nesta vida confortável que aparentemente têm. Será que possuem alguma coisa que queiram proteger? Será que se sentem vivos?”, questiona Ten Ten. Mais, “será que a população agora é assim tão diferente daquela para quem escrevia Lu Xun, há exactamente 100 anos?” O autor, famoso por ter revolucionado a forma de escrita na China, tornando-a acessível a todos e libertando-a das elites, “falava acerca das pessoas que o rodeavam, de como o olhavam, como viam este medicamento, esta droga. O sangue contaminado que representava o sangue de uma revolução, levantava a interrogação se se trata de um veneno ou de uma cura”, diz Ten Ten La. Apesar das diferenças trazidas pela passagem do tempo, o responsável considera que ainda assim, as pessoas, agora, não diferem muito das do início do século. “Actualmente as pessoas continuam a ser como dantes. Continuamos a tentar protegermo-nos a nós próprios sem olhar para o mundo em geral e para o que nos rodeia. É o mesmo”, acrescenta. Lu Xun descreveu o que o rodeava, Ten Ten e Chio pretendem ser o seu “espelho”. Em dois tempos Para adaptar o texto do “mestre”, a Rolling Puppets reescreveu o conto de modo a que seja representado “a dois tempos” em paralelo. “Quando tentámos adaptar o texto, aproveitámos para preencher as lacunas que o autor deixou, propositadamente. Para isso alternamos a representação entre situações da história original, passada naquele restaurante de Pequim, em que um pai luta pela sobrevivência do filho doente através da dádiva de sangue, com situações actuais, em que adaptamos o espaço para um restaurante chique de Macau”, explica Tan Tan. Para o efeito, os artistas utilizam “o sangue que pode ser da cura ou da morte, que pode ser medicamento ou veneno, do conto original, e também o seu contraponto com os valores da actualidade que podem ser duplamente interpretados”, remata.
Violência | Marido tentou estrangular mulher com carregador de telemóvel João Santos Filipe - 22 Mar 201922 Mar 2019 Um homem desempregado zangou-se com a esposa após pedir-lhe para não gritar com o filho. A vítima queria dormir antes de cumprir um turno da noite, mas acabou por ser atacada. O caso aconteceu nas habitações públicas de Seac Pai Van [dropcap]U[/dropcap]m homem de 40 anos foi detido após ter tentado sufocar a mulher com um carregador de telemóvel. Além disso, o atacante terá agredido a esposa com as mãos e um pontapé na barriga. O caso, revelado pela Polícia Judiciária (PJ), aconteceu na terça-feira passada quando a mulher, de 32 anos, pediu ao marido que parasse de gritar, uma vez que estava a tentar dormir. “Por volta das três horas da tarde, a vítima estava a dormir no quarto porque tinha de trabalhar num turno nocturno. Mas, nessa altura, foi acordada com a voz do suspeito, que estava a gritar com o filho”, contou o porta-voz da Polícia Judiciária. “A vítima explicou ao suspeito que precisava de descansar. Mas este zangou-se e respondeu com um soco na cara da mulher. Depois, no quarto, começou a apertar-lhe o pescoço com as mãos, o que fez com que ela não conseguisse respirar”, foi acrescentado. Os membros do casal são residentes de Macau, mas o casamento foi registado em 2005, no Interior da China. A PJ não quis esclarecer se se tratava de um casal de novos imigrantes. A mulher trabalha num casino local, o homem é desempregado e ambos vivem numa das habitações públicas em Seac Pai Vai, na Avenida de Ip Heng. Por sua vez, o filho do casal tem cerca de 14 anos e terá sido ele a ligar às autoridades, quando percebeu que o pai não estava com intenção de parar com as agressões: “O filho viu a situação e puxou o pai para fora do quarto. Mas o suspeito voltou a entrar no quarto. Nesse momento, a vítima percebeu que o atacante trazia o fio do carregador do telemóvel nas mãos para a estrangular. Então a mulher ficou com medo e pediu ao filho que ligasse às autoridades”, relatou o representante das autoridades. Foi neste cenário que o homem voltou a atacar a mulher. Porém, optou por largar o carregador do telemóvel e procedeu ao ataque com as mãos no pescoço da vítima, que acabou inconsciente, por breves momentos. Com a vítima inconsciente, o marido desistiu do ataque e foi para a sala, onde o filho já tinha ligado às autoridades. Momentos depois, a vítima ainda combalida também se dirigiu a essa divisão e foi novamente atacada, desta feita com um pontapé na barriga. Episódios anteriores Após a chegada das autoridades, o homem foi imediatamente detido e a mulher transportada para o hospital para receber tratamento. Durante o depoimento, a mulher explicou que esta não tinha sido a primeira vez que tinha sido atacada pelo marido. “No interrogatório a vítima declarou que o suspeito tinha mau-humor e que esta não foi a primeira vez que tinha sido atacada”, revelou o porta-voz da PJ. “No entanto, justificou que nunca tinha pedido ajuda a amigos ou às autoridades porque tinha medo de prejudicar a vida do filho”, foi acrescentado. O homem foi levado para o Ministério Público e enfrenta suspeitas da prática do crime de violência doméstica, que é punida com uma pena mínima de um ano de prisão e máxima de 8 anos. Nos casos em que há agravantes a pena pode chegar aos 15 anos de prisão e se houver morte, a pena máxima sobe para 25 anos.
Jogo | Analistas projectam impacto da guerra comercial em Macau Hoje Macau - 22 Mar 2019 [dropcap]A[/dropcap] grande questão para a indústria dos casinos na RAEM é como se vai lidar com os efeitos das relações comerciais entre a China e os Estados Unidos. Este foi o foco da discussão tida num painel de analistas do ASEAN Gaming Summit 2019, que terminou ontem em Manila, nas Filipinas. Uma das previsões é que os junkets podem cortar nos empréstimos a jogadores VIP ligados ao sector industrial, devido a preocupações com o aumento de tarifas e a possibilidade de estas resultarem em dívidas por saldar. O painel constituído por Vitaly Umansky, da Bernstein Global Wealth Management, Praveen Choudhary da Morgan Stanley e Anil Daswani do Citigroup teve como objectivo discutir o futuro da indústria do jogo na Ásia. Daswani referiu que as receitas do sector são imprevisíveis, e que toda a equação económica depende da relação comercial entre Washington e Pequim e da possibilidade de reconciliação. As oscilações dos resultados podem variar entre perdas de 15 por cento e lucros de 12 por cento em 2019. O analista da Morgan Stanley destacou a mudança estratégica das concessionárias que apostaram com mais afinco no mercado de massas. Nesse aspecto, Praveen Choudhary acredita que a abertura da Ponte HKZM veio facilitar o acesso dos jogadores do Interior da China às mesas de jogo de Macau. Já o especialista em jogo do Citigroup prevê que a liquidez dos jogadores que escolhem Macau para apostar está longe de se esgotar e que, a dar-se a recuperação, o segundo semestre de 2019 “pode ser enorme para região”. No que diz respeito às concessões, o grupo de analistas foi unânime na expectativa de que as actuais operadoras vão ter as suas licenças renovadas em 2022. A ideia deixada é que a renovação é uma mera formalidade transformada numa grande novela. Foi também avançada, pelos três analistas, a possibilidade de haver uma nova concessão concedida a um operador local.
Violação | Menor terá violado vítima enquanto o pai dormia João Santos Filipe - 22 Mar 2019 Um menor de 16 anos foi acusado de violação num caso insólito. O crime terá ocorrido enquanto o pai da vítima dormia na mesma casa. Exames forenses não revelaram sinais de violência, mas o atacante confessou o crime [dropcap]U[/dropcap]m jovem de 16 anos foi detido depois de ter sido acusado de violar uma estudante de 17 anos. O caso foi apresentado, ontem, pela Polícia Judiciária (PJ) e terá acontecido no domingo, em casa da vítima enquanto o pai desta dormia. Segundo as autoridades, o alegado crime terá acontecido depois da jovem ter negado um pedido de namoro do rapaz de 16 anos. Segundo a versão apresentada pela PJ, o rapaz era conhecido dos pais da vítima e deslocou-se à casa desta com o propósito de entregar compras feitas pela mãe da própria vítima. Nessa altura, além da jovem apenas o pai se encontrava em casa. “Durante a visita, o suspeito pediu a vítima em namoro, mas foi recusado. Na sequência, a vítima foi para o quarto. Mas o suspeito ficou zangado, foi atrás dela e empurrou-a para o chão e tentou violá-la. Nessa altura, a vítima ainda conseguiu soltar-se”, contou o porta-voz da PJ. “Só que mais tarde, o suspeito voltou a empurrá-la para o chão, meteu o preservativo e violou-a”, relatou. Após o ataque, o jovem arrependeu-se e pediu desculpas à vítima, que se tinha trancado no quarto. “Como a vítima estava trancada no quarto ele entrou através da janela, agarrou-se aos metais de protecção e conseguiu entrar. Nessa altura, o sujeito pediu desculpas à vítima”, contou, ontem, a força de segurança. Queixa após dois dias Só depois do jovem ter alegadamente tentado atacar a vítima duas vezes, ter entrado no quarto da rapariga pela janela e deixado o local é que o pai acordou. “Após o jovem ter saído do local, a vítima trancou-se no quarto a chorar. Isso fez com que o pai se apercebesse de que algo não estava bem. Contudo, a vítima não lhe contou nada”, informou a PJ. Finalmente, na terça-feira, dois dias depois do ataque, a jovem contou aos progenitores que tinha sido violada. Nessa altura, os pais da vítima contactaram os do jovem, que lhes indicaram que o filho estava internado no hospital. Assim, quando o atacante teve alta, na quarta-feira, foi detido pela PJ: “Depois de ter sido detido, ele confessou a prática do crime. Mas as análises forenses mostraram que não havia feridas óbvias no corpo da vítima [resultantes da violação]”, admitiu o porta-voz da PJ. O caso foi reencaminhado para o Ministério Público (MP) e o jovem enfrenta uma acusação pelo crime de violação, punível com uma pena que pode ir dos 3 aos 12 anos de prisão.
Extradição | Macau sem pedidos em mente para Hong Kong Diana do Mar - 22 Mar 2019 Macau não tem, actualmente, intenção de pedir a Hong Kong a entrega de infractores em fuga. Já em sentido inverso, a ser aprovada a alteração à lei que regula a extradição na antiga colónia britânica, os pedidos da RAEHK vão ser analisados caso a caso pelo Ministério Público [dropcap]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça afirmou ontem que, actualmente, o Governo não tem interesse em pedir a Hong Kong a entrega de infractores em fuga para serem julgados pelos tribunais de Macau. Aos jornalistas, à saída de uma reunião da Assembleia Legislativa, Sónia Chan ressalvou, porém, que a revisão e entrada em vigor da lei na antiga colónia britânica “ainda necessita de tempo”. Já em sentido inverso, ou seja, os pedidos de entrega de fugitivos por Macau a Hong Kong serão decididos “caso a caso” pelo Ministério Público, reiterou Sónia Chan, ao ser questionada sobre a proposta de alteração à lei que regula a extradição em Hong Kong, apresentada em Fevereiro. A revisão legislativa visa permitir a transferência recíproca de fugitivos para jurisdições com as quais Hong Kong não tem tratados de extradição, incluindo Macau, Taiwan e China. Colarinho branco de fora É expectável que o diploma, que tem gerado controvérsia na região vizinha principalmente pelo receio de que abra caminho à entrega à China de pessoas procuradas por motivos políticos, seja votado ainda durante a actual sessão legislativa que termina no próximo mês de Julho. À luz do plano delineado pelo Governo de Hong Kong, num estágio inicial, cabe ao Chefe do Executivo decidir se autoriza a transferência do infractor em fuga, mas a última palavra compete aos tribunais. A alteração à lei foi desencadeada na sequência do homicídio de uma mulher de Hong Kong em Taiwan no ano passado, dado que o principal suspeito regressou a Hong Kong ficando fora do alcance das autoridades da Ilha Formosa. Esta semana foram divulgadas informações dando conta de que o Executivo de Hong Kong vai considerar a possibilidade de eliminar da proposta uma série de crimes de colarinho branco na alteração à lei que regula a extradição.
Habitação para troca | Novas regras para promitentes-compradores lesados Diana do Mar - 22 Mar 2019 Os promitentes-compradores lesados pela reversão do terreno onde adquiriram fracções em planta – como os do Pearl Horizon – vão deixar de ser elegíveis à compra de uma habitação para a troca se forem indemnizados na sequência de acções intentadas contra o Governo em tribunal [dropcap]O[/dropcap] jogo mudou. Os promitentes-compradores afectados pela declaração de caducidade da concessão do terreno onde compraram casas em construção que processarem o Governo arriscam deixar de ser elegíveis para a compra de uma habitação para a troca. Tudo vai depender do desfecho em tribunal: Se vencerem e forem indemnizados (independentemente do valor) perdem o direito a candidatar-se. Um cenário aplicável aos investidores do complexo residencial Pearl Horizon. A mexida foi introduzida pelo Governo na nova versão de trabalho do Regime jurídico de habitação para alojamento temporário e de habitação para a troca no âmbito da renovação urbana entregue aos deputados da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) que analisam o diploma em sede de especialidade. A alteração – de fundo – tem como objectivo evitar que haja um “duplo benefício”. “Se a parte sair vencedora [em tribunal, após processar o Governo] ao permitir-se a disponibilização de uma habitação para a troca pode originar-se o problema do duplo benefício”, afirmou ontem o presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL, Vong Hin Fai, citando a justificação dada pelo Governo. No entanto, nem todos os deputados concordaram, como reconheceu, dando conta, aliás, de que foi encaminhada para o Governo uma carta com opiniões de um dos nove membros precisamente sobre o artigo alvo de mudanças que diz respeito às disposições especiais. Vong Hin Fai escusou-se, contudo, a revelar o nome do deputado e o conteúdo da missiva. “Trata-se de questões complexas. É uma opinião particular e, por isso, peço compreensão”, afirmou. Apesar da “calorosa” discussão, a “maioria” dos membros da 3.ª Comissão Permanente da AL aceitou os argumentos do Governo, olhando para a mexida como “residual”, dado que, ganhando ou perdendo a acção em tribunal contra o Governo, o promitente-comprador lesado sempre “fica com algo”. Direitos (i)limitados O Executivo rejeitou, porém, a possibilidade de as mexidas condicionarem a decisão dos lesados. “Claro que o Governo respeita o direito de intentarem acções”, mas “há que maximizar o erário público” afirmou o presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL. Segundo dados facultados por Vong Hin Fai, 380 pessoas intentaram acções judiciais contra o Governo, com o valor das indemnizações exigido a ascender a 2,8 mil milhões de patacas, o que perfaz uma média de 7,5 milhões de patacas por processo. O presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL esclareceu, no entanto, que as acções interpostas contra os promotores, por exemplo, em nada interferem numa candidatura a uma habitação para a troca. Chefe decide área A nova versão de trabalho contempla outras mexidas. À luz da proposta de lei aprovada na generalidade em Dezembro, o preço de venda de habitação para a troca é fixado por despacho do Chefe do Executivo, tomando como “referência” o valor constante do contrato promessa de compra e venda. Ora, segundo Vong Hin Fai, o mesmo vai suceder com a área. Já a nível técnico, por exemplo, foi aditado um novo artigo que define as competências, estabelecendo que compete ao Tribunal Judicial de Base – e não ao Tribunal Administrativo – o julgamento das acções intentadas contra a entidade responsável pela renovação urbana, dado que, como revelado anteriormente, será uma sociedade de direito privado, embora a constituir em exclusivo com capitais públicos. Desconhece-se, neste momento, porém, mais detalhes sobre a futura empresa, com o presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL a indicar que os deputados não sabem inclusive quem são os sócios.
Entrevista | Pedro Lamares, actor Sofia Margarida Mota - 22 Mar 201912 Abr 2019 Pedro Lamares teve um percurso que passou por múltiplas formas de expressão artística, até que Pessoa o encaminhou para dizer poesia, o que o levou à representação. Todas estas estradas trouxeram o actor até Macau numa viagem que culmina, sábado às 21h, no palco do Teatro D. Pedro V, onde vai recriar o poema “Ode Marítima”, de Álvaro de Campos [dropcap]E[/dropcap]stá em Macau a recitar a “Ode Marítima” de Fernando Pessoa. Como é representar este texto emblemático do Pessoa? A Ode Marítima é aquilo a que chamamos na gíria teatral “um bife”. É um grande naco, e não é pela quantidade de texto. Aliás, eu não o faço de cor, o espectáculo é uma leitura viva e encenada. É um desafio brutal, acho que é, eventualmente, a coisa mais difícil e mais exigente que já disse. O texto pede uma entrega absoluta, não vale a pena dizer aquilo se não estiver disponível a entrar naquela espiral e encontrar a determinada altura o vórtice e alguma linha de trabalho que não seja um desatino total, que não seja só a loucura. Não há outra forma de fazer este espectáculo, sem ser com entrega total. A “Ode Marítima dá cabo de mim, é porrada emocional. Na semana antes de ter este espectáculo normalmente adoeço, fico sem voz. É uma cena psicossomática. O texto tem uma estrutura perfeita, é completamente pessoano; temos todo o delírio do Álvaro de Campos, visceral, mas tens o cérebro do Pessoa permanentemente a actuar sobre aquilo. O texto é tripartido. O primeiro bloco é a instalação, em que ele se senta no cais de pedra numa manhã de Verão e começa a observar o que vai acontecendo, mas ainda numa zona muito pacífica. A segunda parte é a subida em espiral, o delírio absoluto e depois cai a pique de um momento para o outro. O terceiro momento é todo em baixo é toda a reflexão sobre o que aconteceu ali. A primeira vez que disse a Ode, ao trabalhar o texto em casa, há nove anos, sentei-me à noite na mesa da sala com um whisky, um cinzeiro e um maço de cigarros à frente. Comecei a tentar ler o texto para dentro e aquilo é ilegível. Entra-se nas onomatopeias e é impossível, não estava mesmo a conseguir. Quando ia para aí na quarta página, voltei atrás e resolvi começar a dizer o texto em voz alta. Descomprometidamente. Liguei um cronómetro. Percebi que o texto tem exactamente 60 minutos, divididos em três blocos de 20. Sem ter o texto na cabeça, comecei a dizê-lo e entrei naquela espiral. Aliás, como ele diz no texto “o volante começou a girar dentro de mim”. Quando dei por mim, eram duas da manhã e, de repente, tudo começou a surgir com essa lógica muito evidente. Representou Fernando Pessoa no filme “ Filme do Desassossego” de João Botelho. Como foi essa experiência? Morri de medo no início. A minha ligação ao Pessoa vem de muito pequeno. Com treze anos comecei a ler Alberto Caeiro, quando o meu padrasto me ofereceu “O guardador de rebanhos”. Aquilo mudou tudo. Acho que foi isso que me pôs a dizer poesia, foi o dizer poesia que me pôs a estudar teatro. Aquilo condicionou o caminho da minha vida de uma forma definitiva, sem charme e sem romantismos. Fazer o Pessoa no “Filme do Desassossego” era assustador para mim. Além da força que o Pessoa tem na minha vida e, portanto, a responsabilidade natural que isso já me traria, existe todo um imaginário. Toda a gente tem um Pessoa na cabeça, qualquer português tem uma imagem do Pessoa. É um ícone. Corremos o risco de rejeição, como se se tratasse de um corpo estranho. Na altura, tive uma conversa com muito importante com o João Botelho, em que lhe falei desses medos, e ele disse-me: “Não quero fazer um documentário histórico, para isso existe a BBC. Quero fazer um filme, isto é sobre arte. Portanto, tu não vais ser o Fernando Pessoa, vais ser o Sr. Pessoa do ‘Filme do Desassossego’. Constrói”. Aquilo libertou-me completamente, mas não me tirou a responsabilidade. FOTO: Sofia Margarida Mota Tem um espectáculo intitulado “A poesia é uma arma carregada de futuro”. É isso que acha da poesia? Acho, absolutamente. Na arte em geral, e como escolhi a poesia como ferramenta é dessa que vou falar. Não tenho interesse na arte que não desarrume. Não tenho interesse em nenhum movimento artístico que não esteja comprometido com alguma coisa. Uma coisa que é feita só para agradar ou para ser bonita não me interessa como arte. Atenção que eu adoro o belo, sou um esteta. Adoro o belo, adoro pilotar aviões e não há nada mais belo do que estar lá em cima, no cockpit a ver o pôr do sol no Saara. É lindíssimo, mas não é arte. O meu trabalho artístico tem quase sempre um comprometimento, pelo menos com uma ideia de mundo, de pensamento, com uma ideia social que me acompanha. Estas coisas estão juntas. Portanto, o poema do Gabriel Celaya, cujo título dá nome a esse espectáculo, tem exactamente que ver com aquilo em que acredito. Ele diz: “maldigo a arte que é concebida como luxo cultural para os neutrais”. Estamos a falar da palavra. Acha que a palavra escrita está em vias de extinção nesta era digital? Se pensarmos em escrita, como caligrafia, tinta e coisas feitas à mão, ou livros em papel, não sei se em vias de extinção, mas em vias de entrar numa zona residual quase museológica acho que sim, dentro do romantismo. Ainda existem máquinas de escrever, e penas e canetas de tinta permanente, mas ninguém as usa. Eu tenho em casa porque sou um romântico e acho bonito, mas não as uso também. Portanto, acho que, mais cedo ou mais tarde, o objecto livro estaria mais ou menos na mesma dimensão. Eu não leio em livro electrónicos porque não me dá jeito. Gosto de sublinhar e de riscar de dobrar folhas, porque sou arcaico. Mas não tenho nada contra. Não acho que isso seja o fim da escrita. Há ameaças muito mais sérias à escrita e ao pensamento crítico que não sei se os distingo um do outro. Quais? A banalização e o vício do excesso de estímulo. A lógica digital que começa a trabalhar em nós uma ideia de que se não estivermos a ser permanentemente estimulados e se uma coisa não nos agarrar desde o primeiro momento com imensa informação visual sonora etc., nós desistimos dela. Isso sim, acho que é uma coisa que nos vai afastando daquilo que precisamos para ler e que nos vai pondo mais à superfície. A leitura exige de nós outro tipo de exercício mental, outro tipo de contemplação, de atenção e de paciência, de pensamento, de tempo. É muito mais fácil ver um filme do que ler um livro, e por sua vez é muito mais fácil ver uma série do que ver um filme e por sua vez é muito mais fácil ver um vídeo de cinco minutos do que acompanhar uma temporada de uma série. E por aí vamos. Por isso, depois aparecem fenómenos de escrita como uma fotografia e uma frase inspiradora, algo que não demore mais de 30 segundos a ler. Isso para mim ameaça mais a escrita do que o formato digital em si. Não sou conservador, a escrita pode mudar de forma. Mas acho que estamos num processo social que pode pôr em risco, e aí a escrita e a leitura são só a ponta do iceberg. Isso está a pôr em risco a nossa capacidade de questionamento e isso sim, pode ser gravíssimo. Quais são os livros da sua vida? Antes de mais tenho que falar do “Guardador de Rebanhos” do Alberto Caeiro, porque é brutal. Esse estará seguramente entre os livros da minha vida. O “Medo” do Al Berto que foi um livro que literalmente desfiz, a capa já saiu, criou bolhas. O Herberto Hélder, não é um livro, é um autor, mas também tem uma importância brutal. Portanto, se tivesse que escolher um livro diria a “Poesia Completa” porque me reensinou a dizer poesia. Ensinou-me a não trabalhar pela parte racional a não trabalhar só pelo entendimento do texto e pela sua narrativa. Com ele tive de trabalhar com outro lado de mim, com uma sensação de pele e com imagens. Estes três ao nível da poesia terão sido os mais marcantes. Ao nível do romance, coisa bastante óbvias. Marcou-me imenso ler “Os Maias”. A primeira vez que chorei a ler um livro foi a ler “Os Maias”, acabei de o ler e voltei a ler passado um ano. Outro romance que li muitos anos mais tarde e que me marcou imenso, do Sándor Márai, “As velas ardem até ao fim”, é muito duro. Tchekov também me marcou-me muito. O Oscar Wilde também me marcou muito, deixa-me desarrumado. Mas é engraçado que nunca tinha pensado nos livros da minha vida. Acho que o “Ensaio sobre a Cegueira” também seria um dos livros da minha vida. Fala daquilo que pode ser a sociedade em estado de medo ou em estado de crise. Começou nas artes plásticas, ainda andou pelo jazz e, a determinada altura, entrou numa licenciatura em música sacra. Chama-se adolescência. Há aquelas pessoas que na adolescência vão fumar charros ou fazer coisas que os pais não deixam. Eu não tive uma educação católica, portanto, acho que o meu gesto de rebelião aos 18 anos foi estudar música sacra. Tive lá um ano e fui-me embora para estudar teatro. A literatura não faz partes das artes está em humanidades. É uma lógica estranha, deve ter sido escrita pelo Kafka. Depois vais para as tais artes e passas anos a estudar história de arte e algumas técnicas de desenho, pintura e escultura e gravura. Mas acabei por estudar teatro, a profissão dos esquizofrénicos. Como queria ser tanta coisa ao mesmo tempo, decidi fazer algo que me pagam para ser uma coisa diferente de cada vez. Acabou de chegar a Macau. O que gostaria de levar daqui? Na verdade, gostava de ter três experiências: sentir a cidade na sua memória histórica e no confronto entre passado e presente, sem saudosismos bacocos. Gostava de ver o que restou e como as pessoas vivem; tenho alguma curiosidade de ver a parte dos casinos, uma curiosidade exótica. Quero ver aquelas luzes e sentir-me num filme americano dos anos 90. Depois gostava muito de dar um salto ao continente. Passar a fronteira e ir à China de verdade.
Radovan Karadzic condenado a prisão perpétua Hoje Macau - 21 Mar 2019 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ex-líder dos sérvios da Bósnia, Radovan Karadzic, foi ontem condenado a prisão perpétua por um tribunal internacional, após ter sido inicialmente condenado a 40 anos de prisão sob a acusação de genocídio de crimes de guerra. O veredicto em apelo foi pronunciado pelo Mecanismo para os tribunais penais internacionais (MTPI), que assumiu as funções do Tribunal Penal internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ), encerrado em 2017. Os juízes do tribunal da ONU – onde se incluí o português Ivo Rosa, instrutor em Portugal da Operação Marquês, cujo principal arguido é o ex-primeiro-ministro José Sócrates – rejeitaram o apelo de Karadzic contra uma anterior decisão do TPIJ em 2016, por crimes cometidos no decurso da guerra civil na Bósnia-Herzegovina (1992-1995), incluindo o assalto ao enclave de Srebrenica (leste) em Junho de 1995, declarou o juiz Vagn Joensen. A decisão ontem pronunciada pelo MPTI sobre o destino de Karadzic, 73 anos, será das últimas no âmbito das guerras que sucederam à desintegração da Jugoslávia em 1991, após as independências unilaterais da Eslovénia e Croácia. Após a morte, no decurso do processo que enfrentava, do antigo Presidente sérvio Slobodan Milosevic, o ex-líder político dos sérvios bósnios é o mais alto responsável em julgamento pelo conflito na ex-república jugoslava entre os exércitos muçulmano, sérvio e croata, com um balanço de mais de 100.000 mortos e 2,2 milhões de refugiados. Karadzic, que denunciou um processo político e negou as principais acusações, recorreu da sentença inicial em primeira instância, que a acusação considerou demasiado clemente. Na Bósnia, o governo da Republika Srpska (RS, uma das duas entidades semi-autonómas), anulou em 2018 um relatório de 2004 sobre as mortes e criou uma comissão para conduzir um novo inquérito sobre os crimes de guerra. Em 2017, e numa das suas últimas deliberações, o TPIJ condenou a prisão perpétua por acusações semelhantes o ex-comandante militar dos sérvios bósnios, general Ratko Mladic, que também recorreu da sentença.
Mundial sub-20 | Diogo Leite diz que Portugal aponta ao título Hoje Macau - 21 Mar 2019 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] defesa Diogo Leite assegurou que a selecção portuguesa de futebol de sub-20 quer conquistar o título mundial da categoria e considerou que os particulares com Alemanha e Inglaterra servem para Portugal se preparar para “o futuro”. “Temos um grupo forte. As expectativas são sempre boas. Vão ser dois jogos difíceis e que vão servir para nos prepararmos para o futuro, para nos prepararmos bem para o Mundial”, afirmou o central do FC Porto. Diogo Leite, de 20 anos, falava aos jornalistas no arranque da preparação da seleção de sub-20 para os dois jogos particulares com Alemanha, na sexta-feira, e Inglaterra, no dia 26 de Março, com vista à presença no Mundial de sub-20. De resto, o defesa apontou ao título mundial de sub-20: “Esse é sempre o objectivo, mas vamos passo a passo, jogo a jogo. Vamos chegar lá e deixar uma grande imagem de Portugal.” Portugal vai defrontar a Alemanha na sexta-feira, em Sandhausen, e no dia 26 de Março recebe a Inglaterra, em Penafiel. Os dois particulares servem de preparação para o Mundial de sub-20, que vai ter lugar na Polónia, entre 23 de Maio e 15 de Junho. Portugal está inserido no grupo F, juntamente com Coreia do Sul, Argentina e África do Sul. A selecção portuguesa estreia-se frente aos sul-coreanos, em 25 de Maio, seguindo-se os embates com os argentinos, em 28 de Maio, e com os sul-africanos, em 31 de Maio.
Euro2020 | Três novos alvos e um velho conhecido na mira de Ronaldo Hoje Macau - 21 Mar 2019 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] português Cristiano Ronaldo já ‘abateu’ metade das equipas que vão iniciar a fase de qualificação para o Euro2020 de futebol e pode adiccionar mais três ‘vítimas’ ao seu currículo, com o Luxemburgo a ser um ‘velho conhecido’. Frente a Sérvia, Ucrânia e Lituânia, o avançado de 34 anos pode aumentar ainda mais a sua lista de selecções europeias que ‘sofreram’ com os seus golos, enquanto frente ao Luxemburgo o capitão da selecção portuguesa já leva três. Das 55 equipas que vão iniciar o apuramento para a próxima fase final do Campeonato da Europa, Ronaldo marcou golos frente a 28, com Letónia, Suécia, Arménia e Andorra a serem os principais ‘prejudicados’, com o avançado a somar no total cinco golos perante estas três selecções. Holanda, Ilhas Faroé e Hungria também se podem queixar da boa pontaria do jogador da Juventus, que leva quatro golos frente a estas selecções. Depois do Euro2004 (fase final), Euro2008, Euro2012 e Euro2016, Ronaldo vai iniciar nova aventura europeia, com mais duas oportunidades de marcar frente à Sérvia, que foi adversário de Portugal no apuramento para o Europeu de Áustria/Suíça (2008) e Europeu de França (2016), tendo sempre ficado a zero. Já contra Ucrânia e Lituânia, o avançado vai ter pela primeira vez ocasião de inscrever o nome destas equipas na sua lista de ‘vítimas’ e aumentar o seu registo recorde de 85 golos por Portugal, em 154 jogos. Com o Luxemburgo, a história já é diferente, com Ronaldo a registar dois golos no apuramento para o Mundial2006 e Mundial2014, e outro num particular em 2011.
GP Macau | Apuramento de pilotos locais não será em Zhuhai Sérgio Fonseca - 21 Mar 2019 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Circuito Internacional de Zhuhai preparava-se para acolher as duas provas do Campeonato de Carros de Turismo de Macau (ex-MTCS, agora novamente MTCC na sigla inglesa) e até tinha duas datas reservadas no seu calendário para os Festivais de Corridas de Macau. Porém, os dois eventos que também servem para apurar os pilotos locais para a “Taça Carros de Turismo de Macau” do Grande Prémio de Macau serão afinal realizados este ano no Circuito Internacional de Guangdong. As razões para o volte-face não foram publicamente explicadas, mas a verdade é que, ao contrário do circuito permanente da cidade vizinha que até um poster imprimiu, a Associação Geral-Automóvel de Macau-China (AAMC), não tinha ainda confirmado que as suas provas de 2019 iam ser realizadas em Zhuhai. Este será um regresso ao circuito dos arredores da cidade chinesa de Zhaoqing, onde o AAMC organizou as suas provas pela última vez em 2014. As inscrições para as competições abriram ontem e fecham a 17 de Abril. O custo da inscrição é agora de seis mil renmimbis e todos os concorrentes terão que possuir licença desportiva internacional. Assim sendo, o primeiro fim-de-semana da competição que apura os pilotos locais de carros de Turismo para o Grande Prémio de Macau está marcado para 25 e 26 de Maio, enquanto que o segundo embate está agendado para 6 e 7 de Julho. Mesmos moldes O MTCC será novamente dividido em duas classes – “AAMC Challenge 1.6 Turbo” e “AAMC Challenge 1950cc ou Superior”. Os melhores dezoito classificados de cada classe no somatório dos dois fins-de-semana, que totalizam quatro corridas, terão apuramento directo para o grande evento do mês de Novembro. Os que ficarem de fora do top-18 terão que aguardar alguma desistência para terem uma vaga. A troca do traçado de Zhuhai pelo sinuoso circuito de Guangdong poderá equilibrar os andamentos entre participantes com orçamentos tão díspares, como explica o piloto local Rui Valente: “A diferença de andamentos nota-se menos neste circuito. Em Zhuhai se tens um carro muito bom, ninguém te agarra. Aqui neste circuito é outra história.” Grande Baía, Grande Turismo A novidade do Festivais de Corridas de Macau será a introdução da Taça da Grande Baía de GT. Esta competição que irá permitir a participação de trinta e seis concorrentes na 66ª edição do Grande Prémio de Macau terá as suas corridas separadas do MTCC. A Taça da Grande Baía de GT irá atribuir os troféus da “Taça de Hong Kong de GT” e do “AAMC GT Challenge”. O regulamento e o formato das corridas deste campeonato não foram ainda dados a conhecer, mas é provável que esta competição aceite todo o tipo de viaturas da classe GT4 e também os carros que deram corpo à Taça Lotus. Ao contrário do MTCC, cujos pneus são de livre escolha dos participantes, aqui os concorrentes têm que competir com pneumáticos da marca inglesa Avon.
Mercúrio retrógrado Gisela Casimiro - 21 Mar 2019 [dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]ati com a cabeça. Bati e bati com força, não figurativa mas literalmente, o que prova que, a ser um recurso estilístico, a realidade nada tem de estiloso. O mesmo devem ter pensado os donos das gargalhadas altíssimas que ouvi após o embate, o qual entortou a haste direita dos óculos e me deixou com a visão turva por instantes. Era de noite, estava distraída, olhar preso num jornal que alguém deixou num banco da paragem (mãe, pai, por que me abandonaram, vulgo ensinaram a ler?!), e com um saco de papel do McDonald’s na mão, que é como quem diz, quase mereceste levar com o mupi, que não teve culpa nenhuma e já lá estava. Gostaria de um dia ter a minha cara em todas as paragens de autocarro, locais esses de que sou membro diamante, mas talvez esta não seja a forma mais eficiente. Também gostaria de ir ao supermercado usando vestidos Valentino, mas isso fica para outra crónica. Eram já quase onze da noite, chegara à paragem onde o tempo de espera era de trinta e cinco minutos e, para fazer tempo, fora comprar comida. No restaurante, o atendimento atrasado, funcionários discutiam entre si, clientes discutiam com a gerente, motoristas de serviço de entrega suspiravam e bufavam. Eu rezava para não perder outro autocarro, enquanto comia os nuggets mais tristes de sempre. Mas eu ia tão bem no meu vegetarianismo quase totalitário, que talvez tenha sido o karma, ou então o único, o temido, o incorrigível mercúrio retrógrado. Na paragem, com uma dor crescente do lado mais afectado pela pancada, ainda me parecia ouvir a risota alheia, em eco, cada vez menos sonante, mas ainda no ar. Cheguei ao meu destino rapidamente e, em menos de vinte minutos, estava despachada de mais uma burocracia que, espero eu, tenha sido a final. Novo compasso de espera na paragem ao fundo da curva, perto da rotunda. Desta vez, não estava sozinha mas com um casal, cujo odor corporal me fez rezar novamente, com todas as forças, mas não as suficientes para aspirar mais ar, que o autocarro não demorasse muito. Chegada a casa, caí na cama, não sem antes recordar que nesse mesmo dia, numa entrevista feita em minha casa, faltaram os microfones, que ficaram do outro lado do rio, que uma peça de equipamento se estragou, que alguém se atrasou quase uma hora, que outro alguém combinou para as 15h com alguém que achou ter marcado às 16h, entre outras confusões e falhas de comunicação. No dia seguinte, antes de seguir em viagem para Londres e de lá para Hong Kong e Macau, tentei ir a um multibanco específico, que permitisse depositar dinheiro: nada feito. Durante o voo, tentei ver um filme ou ouvir música, no entanto o meu écrã não deixou, por mais resets que a tripulação fizesse. Pedi novos headphones pois os meus não funcionavam. Precisei de paracetamol pois a dor de cabeça passou de forte a insuportável, de subtil a um galo. Um galo português em Macau, algo a que os meus amigos, por algum motivo, parecem achar demasiada piada. Pelo menos encontrei dinheiro na rua duas vezes seguidas, no espaço de uma hora. Tentei comprar comida e nenhum dos terminais do café aceitava o meu cartão, o que me obrigou a ir levantar o bonito dinheiro destas terras. No hotel descobri, ao tentar aceder ao wifi, que me pede o número do quarto e o apelido, que o meu último nome é, agora, o de solteira da minha mãe. Há algo de curioso em telefonar a estranhos para descobrir em quem nos tornámos. Antes, no controlo de passaportes, o funcionário perguntou-me várias vezes se eu era eu, qual o meu nome, a data de nascimento. Apontou para a fotografia, depois escondeu-a. Sim, eu sou essa pessoa. Essa daí sou eu, sim. O meu passaporte é de 2017, cabelo esticado, desfrizado, comprido. Cortei o cabelo nem há uma semana (sim, a minha irmã convenceu-me finalmente e fi-lo eu mesma, pela primeira vez na vida, em casa), já não o desfriso há mais de um ano e meio, perdi peso e voltei a usar óculos que tirei, como mandam os scans biométricos. O sinal no rosto, esse, é o mesmo de sempre. Ainda assim, parecia não ser suficiente. Lá o convenci, talvez por ter-me oferecido para mostrar outros documentos, embora talvez isso apenas o confundisse mais, pois no cartão de cidadão o meu cabelo também está bastante diferente. Lembrei-me de quando trabalhava num edifício no Areeiro, e ia ao mesmo café todos os dias. Num dia em que fui de cabelo apanhado em vez de solto, a dona não me reconheceu logo. Ri-me sozinha ao lembrar de uma amiga que passou por mim na rua, na semana em que voltei a usar óculos, sem perceber que era eu. Nova afronta ao meu nome, quando o vejo com um g em vez de um c no novamente malogrado apelido. Quem claramente percebe disto é uma das moças do hotel, cujo nome adorei: Bet Si. I see what you did there. Mercúrio volta a estar directo dia 28 de Março, mas é certo e sabido que os seus efeitos se sentem bastante tempo antes e depois da sua vinda. Gisela Casimiro was marked safe during the first Mercury Retrograde of 2019, após ter sofrido o que julgou serem os seus efeitos todos em apenas vinte e quatro horas. É com alívio e já sem galo que de vós me despeço, desejando a todos um trânsito planetário seguro, e até aos próximos dois. Qualquer coisa, sabem de quem é a culpa.
Manifesto das mãos António Cabrita - 21 Mar 2019 [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]arcel Duchamp posicionou-se contra a tirania da retina na arte. Foi uma boa fisgada e necessária. Todavia, cem anos depois precisamos de um manifesto contra uma arte que seja só conceptual: a arte que descartou o corpo, a mediação, o corpo-a-corpo com os materiais, e que abandonou a expressão como saldo de uma experiência no tempo, faliu. Há um saber técnico que imprudentemente se descuidou e há uma inteligência, diria até, uma poética da mão, que convinha resgatar. E não é preciso ir muito longe. Se até a música depende das mãos, como não ver nisso o apelo a uma conformidade, a uma humildade que nos transporta à magia do tangível? O desempenho das mãos não admite embustes, nem na punheta de bacalhau. Porque na música não basta a excelência que a partitura encadeou, coitado do acorde que não encontrou o seu exacto momento de ataque, o tom e o valor que só a mão lhe emprestam. Há uns meses comecei uma vagarosa caminhada para o emagrecimento e quando me inquiriam sobre a minha diminuição de álcool eu respondia: “Quando o Orson Welles morreu, dizem que tinha à volta de cento e cinquenta quilos. O que é certo é que seis meses antes ele se cruzou num aeroporto com a Rita Hayworth, com quem fora casado, e que esta não o reconheceu. Ora, eu não quero praticar esta crueldade sobre a minha ex-mulher, senão o ódio que me devota e lhe orientou meia vida deixa de fazer sentido!” Era evidentemente uma blague, decidi emagrecer quando as minhas mãos se tornaram sápidas e já não conseguia olhar para elas. Nas mãos, como no rosto, começa a eroticidade do corpo. Calhou-me escolher o rosto e também as mãos. Para o Rei Ubu seria simples imaginar o seguinte recurso para a dócil aceitação da escravatura: as mãos da plebe seriam desenroscadas do corpo após as dez horas de trabalho e só na manhã seguinte lhes seriam restituídas. Sem mãos não há revoltas, apesar do raciocínio. Pois. E este idiota abandono da agricultura em todo o mundo é reflexo do caviloso predomínio que se dá a mente contra a mão. O mesmo que levou Bolsonaro a condenar um dedo no cu: eu não percebi a maleza do gesto a não ser no sentido em que faltará a mesma determinação para semear a beterraba. O que é certo é que é bimilenária na arte a desconsideração do trabalho manual em relação ao projecto, o que redundou no racionalismo da mente. Nem pela masturbação aprendemos. É engraçado o descaro com que em 1965 Robert Rauschenberg enviou o telegrama-retrato de Iris Clert, uma marchant francesa, onde se lia: “ This is a portrait of Iris Clert, if I say so. Robert Rauschenberg.” Engraçado é ter sido tomado a sério. Como antes, em Duchamp, a morfologia de um mictório, de um portador de garrafas, de uma pá de neve, foram confundidas, por simples penhor do nome, com uma nova função. E, contudo, o peso generoso do ser humano está na mão. No que esta transfigura e transmuta. A agressão em perdão, o objecto desvalorizado em valor que cicatrize. E até a cegueira de uma mão pode ser divina. Vê-se no modo como Hokusai aproveita o dom do acaso e faz do acidente, do estudo e da destreza, um só. Vê- se nas pinturas cegas de Tomie Ohtake, uma nipónico-brasileira que fez dezenas de quadros magníficos de olhos vendados; vê-se nas mãos de Rembrandt, na voluptuosa capacidade metamórfica de Júlio Pomar – pintores que talvez busquem a caligrafia de Deus, sem que em nenhum deles isso signifique um mínimo de beatice e antes uma operação mais concreta e abrangente do olhar. O velhinho Focillon explicou-o maravilhosamente: “(…) entre o espírito e a mão, as relações não são tão simples como as que há entre um chefe autoritário e um servo dócil. O espírito faz a mão, mas a mão também faz o espírito. O gesto que cria, exerce uma acção contínua sobre a vida inferior. A mão arranca a capacidade de tocar da sua capacidade receptiva, organiza-a para a experiência e para a acção. É ela quem ensina o homem a tomar posse do espaço, do peso, da densidade e do número.” Experimentem lá fazer arte contra estas grandezas. E noutra página do seu breve Elogio da Mão, Focillon dá o uppercut: “ O que distingue o sonho da realidade é que o homem que sonha não consegue criar uma arte: as suas mãos dormem.” Mãos sonâmbulas como as do voyeurista que domina este tempo de esplendor pornográfico, em cuja teia o cínico se espoja como a aranha convencida pelo seu raciocínio sobre a inexistência do vento. Razão tinha o catalão Juan-Eduardo Cirlot, quando escrevia: “Os olhos do meu espírito não têm/ a boca do meu espírito,/ as mãos do meu espírito não têm o corpo do meu espírito.// Esquartejado flutuo no abismo./ Azamboado de morte como uma água inquinada.// Já não quer dizer que não foi nada? / Todo um jogo de luzes e espelhos,/ todo um retábulo de fumo tenebroso? // As veias do meu espírito não têm/ o sangue do meu espírito.” É urgente percebermos que o pensamento só sobrevive em consentindo que o acaso se infiltre nas redes que tece – “exterior” que só o corpo, as mãos, lhe garantem.
Um apocalipse para levar a brincar Luís Carmelo - 21 Mar 20196 Mar 2020 [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]enho amigos que têm ídolos e muitas vezes nem fazem ideia de que assim é. Numa esfera mais alargada, conheço muitíssimas pessoas que fazem depender grande parte das suas vidas de heróis. Podem esses heróis ser poetas, pensadores, pedagogos, filósofos, comunicólogos, antepassados ou até silhuetas virtuais (personagens, actores, bandas, cantores e outros seres a partir dos quais se imaginam virtudes, dotes e dons). Nem sei se os humanos conseguirão viver de outro modo, identificando-se e projectando-se, ao mesmo tempo, em existências que lhes são (em princípio) exteriores. Na nossa época e em partes significativas do planeta, o facilitismo paródico-lúdico aliado a uma disposição desagregadora e niilista governa a nossa ‘intelligentsia’. Este tipo de poder – que funciona como um polvo de muitos tentáculos e origens – exerce-se sobretudo num movimento que oscila entre o ‘dogma’ das redes sociais (um horizonte imediato que se desactualiza logo que se actualiza) e o discurso fantasmático (o que aparece na rede – e nos rumores mediáticos – surge como imagem de imagem quase sem contexto). Um tal ziguezague social dá-se na perfeição com o reducionismo e com os limites suscitados pelas deusificações, pelos ídolos e pelo culto secreto ou desabrido de heróis. Os autores do iluminismo vangloriaram-se com a invenção da ciência histórica, entendendo-a como um mandamento que fazia preceder o seu tempo (definido como racional e virado para o que viria a designar-se, já no século XIX, por “progresso”) de uma idade heróica e de uma outra original e selvagem (a pré-história). Essa definição de contemporaneidade baseava-se, pois, na oposição entre uma racionalidade que naquele tempo se via ao espelho como uma evidência e o culto dos heróis que teria ficado irremediavelmente para trás. Como se percebe, as utopias alimentam-se das euforias do imediato, mas, no reverso (e nas suas ressacas históricas), tornam-se distópicas porque inevitavelmente falham. O que talvez melhor caracterizará uma época são os anseios e os projectos que foram sonhados, mas que acabariam por nunca se vir a realizar (veja-se o caso dos muitos ‘plots’ da guerra fria, por exemplo, que tão bem definem a segunda metade do século XX). Apesar de quase trezentos anos de fôlego moderno, para além das grandes guerras e dos holocaustos do século XX (não sei, sinceramente, se haverá um “para além do” holocausto), a nossa era, que se pode definir como um cocktail em que se misturam as ‘quêtes’ babyboomers, o ‘pós-moderno’ dos millenials e o aquário em rede da geração Z, criou as condições ideais para um reatar do culto dos heróis. Algo que seria muito difícil de prever há algumas décadas, quando a ‘intelligentsia’ ainda era movida a vapor por “intelectuais”, ideólogos e por outros arautos dos grandes “sujeitos sociais”. Moral da história: o que cai por terra, cai sem qualquer compaixão. E o que aparece em cena subitamente, como se fosse uma aura que viesse do nada, aparece sem quaisquer explicações. Eis o que melhor caracteriza o que é, hoje em dia, um “ídolo” (traduzido cada vez mais na linguagem corrente de um modo falacioso, através da palavra “ícone” e, ainda por cima, com a alarvidade de ser pronunciada como se não fosse uma esdrúxula). Sinal dos tempos. Quando eu era criança, os heróis corriam na BD, nos campos de futebol, numa ou noutra música e sobretudo nos livros de história. Na nossa era, os heróis começam no quarto entre mochilas, bonecos, carrinhos, penicos e um outro livro juvenil ou infantil caído no chão. É nos terminais tecnológicos que aparecem os primeiros heróis, os chamados youtubers que contam com vários milhões de subscritores. É o Wuant que brinca ao titanic, é o Feromonas que brinca com pacotes de leite aos gritinhos, é o Dark Frame que se dá a ver a dançar, enquanto visiona jogos de vídeo violentos, e é Sir Kazzio que aparece numa espécie de cabeleireiro com bolos e chantili a cobrir-lhe a cabeça. O registo do cómico está ao nível dos concursos de peidos que eu fazia com o meu irmão, quando tinha cinco ou seis anos de idade. Não tenho nada (dogmaticamente falando) contra a infantilização da sociedade. Seja como for, aqui corre dinheiro, muito dinheiro, e o modelo tende a exportar-se para outros patamares. As praxes nas universidades, por exemplo, são parentes íntimas desta espectacularização da idiotice radical e, em muitos casos, ameaçam durar quase um ano inteiro. Há meio século, as crianças eram vestidas (ou fardadas) como pequenos adultos; hoje a orwellização tecnológica está eufórica com este estado de perdição da infantilidade. Faz muito, mesmo muito jeitinho às receitas (de alguns). A vida ainda se há-de transformar num videojogo. Coisa lúdica. Um apocalipse para levar a brincar.
EUA continuam negociações comerciais em Pequim na próxima semana Hoje Macau - 21 Mar 2019 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s secretários norte-americanos do Tesouro, Steven Mnuchin, e do Comércio, Robert Lighthizer, deslocam-se a Pequim na próxima semana para prosseguir as negociações comerciais, indicou esta terça-feira um alto responsável da Administração dos Estados Unidos. A partir de 25 de Março, os dois secretários do Governo Trump reunir-se-ão com o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, chefe dos negociadores da parte chinesa, precisou o alto responsável, citado pela agência noticiosa francesa AFP, sem fornecer mais pormenores. Por sua vez, o Wall Street Journal noticiou que a duração das novas conversações ainda não está definida. Segundo o diário norte-americano, Liu He irá depois a Washington na semana seguinte. Esta delegação norte-americana ao mais alto nível já foi várias vezes a Pequim, a última das quais em meados de Fevereiro, tendo-se a delegação chinesa deslocado, na semana a seguir, à capital dos Estados Unidos para negociações que foram prolongadas. No melhor dos mundos Terça-feira, à margem de uma conferência de imprensa com o seu homólogo brasileiro, o Presidente norte-americano, Donald Trump assegurou que “as conversações com a China estão a avançar muito bem”. Na semana passada, Trump deu a entender que as negociações poderiam terminar “de uma forma ou de outra, provavelmente dentro de três ou quatro semanas”, confirmando que uma cimeira com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, não se realizará antes do início de Abril. O gabinete do inquilino da Casa Branca referiu inicialmente que essa cimeira, destinada a selar um acordo comercial, decorreria antes do fim de Março, na luxuosa ‘villa’ de Trump na Florida. As novas negociações da próxima semana vão realizar-se numa altura em que a Boeing, cuja venda de aviões faz parte das questões em debate, atravessa uma crise sem precedentes, após a imobilização dos seus 737 MAX devido a dois acidentes que fizeram centenas de mortos.
Hong Kong | Projecto Lantau vai custar 70 mil milhões de euros Hoje Macau - 21 Mar 2019 [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]ong Kong quer construir uma das maiores ilhas artificiais do mundo, um projecto que tem um custo estimado de 70 mil milhões de euros, noticiou ontem o jornal South China Morning Post (SCMP). Na terça-feira, as autoridades da antiga colónia britânica disseram que esperam iniciar o trabalho do aterro em 2025, com o objectivo de instalar os primeiros habitantes em 2032. O objectivo é ganhar mil hectares ao mar perto de Lantau, a maior ilha de Hong Kong, onde se situa o aeroporto internacional, uma solução para lidar com os graves problemas de habitação naquele território de sete milhões de habitantes, onde o metro quadrado é um dos mais caros do mundo. A construção vai custar 624 mil milhões de dólares de Hong Kong, um investimento que Hong Kong garante que vai ser recuperado, indicou o SCMP. A ilha artificial, a infraestrutura mais cara alguma vez construída por Hong Kong, custará quatro vezes mais do que o aeroporto internacional da cidade, inaugurado em 1998. O projecto vai superar em muito a famosa ilha artificial do Dubai, Palm Jumeirah, cujo investimento foi estimado pela imprensa em cerca de dez mil milhões de euros. A ilha terá quase o triplo do tamanho do Central Park em Nova Iorque. Serão construídas até 260 mil unidades habitacionais, das quais mais de 70 por cento serão habitações sociais. Vozes contra Os opositores do projecto denunciaram os elevados custos financeiros e ambientais, especialmente o impacto na vida marinha. Por outro lado, criticaram o Governo por tomar a decisão sem consultar a população. “Quando os serviços públicos e a infraestrutura de Hong Kong estiverem à beira do colapso, o [projecto Lantau], a panaceia do Governo, resolverá os problemas ou criará uma crise mais séria?”, questionou o deputado democrata Eddie Chu na sua página na rede social Facebook. Chu estimou que a despesa total poderia exceder 100 mil milhões de euros até 2025, a data do lançamento do trabalho de aterro. Hong Kong também planeia criar outra ilha artificial de 700 hectares perto de Lantau, mas não forneceu detalhes sobre esse projecto. Lantau já abriga a maior ponte marítima do mundo, que liga Hong Kong, Macau e Zhuhai. Em Outubro de 2018, quase seis mil pessoas da ilha de Lantau protestaram em Hong Kong contra a criação dos planos das autoridades. “Primeiro, há o ambiente, segundo, eles estão efectivamente a atacar os cofres públicos, e seria mais prudente gastar o dinheiro em áreas como a saúde e educação”, defendeu então uma manifestante citada pelo SCMP, numa alusão ao facto do investimento estimado representar cerca de metade das reservas fiscais daquele território administrado pela China. Outros opositores do projecto sugeriram também impulsionar o aproveitamento dos terrenos de forma mais rentável para a ilha, incluindo o desenvolvimento de mil hectares de terras agrícolas ou de 1.300 hectares de áreas industriais abandonadas.
Périplo | Xi Jinping na Europa para consolidar relação Hoje Macau - 21 Mar 2019 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês inicia esta quinta-feira um périplo pela Europa, visando “consolidar o bom momento” nas relações e reforçar alianças no comércio e assuntos internacionais, informou ontem o Governo chinês, apesar da crescente suspeição de Washington. A visita de Xi Jinping decorre entre 21 e 26 de Março, e inclui Itália, França e Mónaco. “As relações entre a China e a União Europeia (UE) têm registado um desenvolvimento sólido e de qualidade: a dinâmica é muito boa”, afirmou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Wang Chao, em conferência de imprensa. A adesão da Itália ao projecto chinês ‘Uma Faixa, Uma Rota’ deve dominar a visita de Xi. O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, confirmou já que a Itália vai tornar-se no primeiro membro do G7 e um dos poucos países da UE a apoiar formalmente o projecto, apesar das objecções dos Estados Unidos, e de outros países da UE, e da oposição interna. “Apreciamos o dinamismo demonstrado pela Itália para participar na iniciativa, que corresponde aos interesses dos dois países. A China está preparada para promover a cooperação a um nível prático e alcançar resultados de benefício mútuo”, assegurou Wang. O vice-ministro considerou “naturais” as dúvidas internas em Itália sobre a assinatura de um memorando de entendimento, que suscitou já um acalorado debate entre os dois parceiros do Governo. “Acreditamos que todas essas dúvidas e debates são naturais: qualquer recém-nascido precisa de tempo para crescer e é inevitável encontrar reticências ou mal-entendidos”, disse. Portugal é, até à data, um dos poucos países da UE a apoiar formalmente o projecto. As autoridades portuguesas querem incluir uma rota atlântica no projecto chinês, o que permitiria ao porto de Sines conectar as rotas do Extremo Oriente ao oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá. Prós e contras A última visita de Xi à Europa teve como destino Lisboa, em dezembro passado. E, no próximo mês, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, vai participar em Pequim na 2.ª edição do Fórum ‘Uma Faixa, Uma Rota’. O projecto tem, no entanto, suscitado divergências com as potências ocidentais, que vêem uma nova ordem mundial ser moldada por um rival estratégico, com um sistema político e valores profundamente diferentes. Bancos e outras instituições da China estão a conceder enormes empréstimos para projectos lançados no âmbito daquele gigantesco plano de infraestruturas, que inclui a construção de portos, aeroportos, autoestradas ou linhas ferroviárias ao longo dos vários continentes. Os EUA, e alguns países membros da UE, consideram que o projecto beneficia apenas as empresas chinesas. “Nós vemos [Uma Faixa, Uma Rota] como uma iniciativa feita pela China e para a China [‘Made by China, for China’]”, reagiu o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Garrett Marquis. “Estamos cépticos de que o apoio do Governo italiano traga quaisquer benefícios económicos sustentáveis para o povo italiano e isso pode acabar por prejudicar a reputação global de Itália a longo prazo”, disse. Equilíbrio de forças Conte afirmou, no entanto, que a assinatura de um memorando de entendimento não “colocaria” em questão a posição de Roma dentro da estratégia da Aliança Atlântica ou na parceira com a Europa. Numa intervenção na Câmara dos Deputados, Conte disse que os detalhes do memorando foram trabalhados durante meses de consultas e a todos os níveis do Governo. O responsável frisou que o memorando não é juridicamente vinculativo e que dará à Itália acesso a um enorme mercado. “Queremos em primeiro lugar reequilibrar a balança comercial, que neste momento não é favorável para nós”, disse. “As infraestruturas redefinirão as rotas do comércio internacional. Haverá novos aeroportos, novos corredores comerciais e isso certamente influenciará o nosso crescimento económico”, acrescentou. “Não queremos perder esta oportunidade”. Durante a visita a Itália, Xi vai reunir com o Presidente Sergio Mattarella, o primeiro-ministro Conte, e os titulares do Senado, Maria Elisabetta Alberti Casellati, e da Câmara dos Deputados, Robert Fico, e visitará ainda a cidade de Palermo. Wang não confirmou se Xi vai reunir com o Papa Francisco, embora tenha enaltecido a assinatura de um histórico acordo, em Setembro passado, para a nomeação dos bispos, o principal entrave ao estabelecimento de relações entre Pequim e a Santa Sé. “Foi uma grande conquista para a relação bilateral”, notou.
Entrevista | Hirondina Joshua, poetisa Sofia Margarida Mota - 21 Mar 201922 Mar 2019 Hirondina Joshua está em Macau a convite do festival literário Rota das Letras e no próximo sábado integra o painel “Pode ainda a Poesia revolucionar uma vida?”. A poetisa moçambicana começou a ler livros de filosofia aos 12 anos, e é na linguagem que considera estar o poder criativo do autor [dropcap]C[/dropcap]omeçou a ler livros de filosofia aos 12 anos. Como é que isso aconteceu? Foi um acidente. O meu pai tem uma biblioteca com muitos livros e muitos eram de filosofia. Tínhamos os nossos livros infantis, eu e os meus irmãos, mas fiquei cansada deles e queria ler uma coisa diferente. Queria saber o que o meu pai lia. Acabei por achar muito interessante. O que é que absorvia dessas leituras, na altura? Fascinava-me o facto daqueles livros me darem uma outra forma de ver as coisas. Coisas que nunca tinha sentido que não sabia o que eram. Era uma descoberta. Falavam da vida, eu não sabia o que era a vida, não pensava nisso. Era uma coisa estranha para uma criança. As crianças não pensam nestas coisas. As crianças vão fluindo e são contaminadas pelos adultos. As crianças perguntam sobre sensações e vão vivendo isso despreocupadamente. Quem pergunta o que é a vida não está despreocupado. Como apareceu a escrita? A escrita apareceu como uma experimentação. Eu via as pessoas, os autores que lia, e pensava que escreviam o que escreviam porque tiravam isso de algum lugar só deles. Depois pensava que se calhar também tinha um lugar assim e queria saber que lugar era esse em mim. Queria descobrir aquele lugar privado, queria encontrar o meu lugar para tirar os textos. Encontrou? Não. Não encontrei e acho interessante que não tenha encontrado. Ainda estou à procura desse lugar. FOTO: Sofia Margarida Mota O que é que a inspira para escrever? As pessoas, o que me rodeia, a vida, a tragédia. Não quero dizer que na vida seja tudo muito mau, mas infelizmente também não é muito bom. Inspiro-me na vida e em particular na criança que acho que ainda sou. Na inocência. Porquê a opção pela escrita de poesia? Não sei. É natural. Não sei responder. Escreveu os “Ângulos da casa”. Como foi o processo para chegar a este livro? Publiquei o livro quando tinha 29 anos e a maior parte dos textos foram escritos antes disso. “Ângulos da casa” foi uma associação desses textos com sete poemas que dão efectivamente o título ao livro, Nunca tinha tido a intenção de publicar. Só escrevia. Não pensei nos textos como um livro. Foi um processo diferente daquele por que estou a passar no livro que estou a escrever agora. Agora penso no que faço como um livro E em que é que está a trabalhar actualmente? É mais uma experiência. É diferente do outro em termos de sensibilidade. Gosta especialmente de escrever recorrendo a uma linguagem mais surrealista e simbolista. Porquê? Sim. Gosto muito. Neste meu último trabalho estou a explorar muito mais o simbolismo por exemplo. Acho que todas as coisas já foram ditas, já foram vistas, já foram escritas. Qual é a graça da literatura se já conhecemos todas as histórias? Nos poemas é a mesma coisa. Não há novidade. A única novidade que pode existir na literatura é a linguagem. Acho que o simbolismo e o surrealismo, principalmente estas duas linguagens, trazem a vida à literatura. Se já está tudo escrito o que me levaria a escrever? É por isso que exploro a linguagem. A linguagem é uma coisa tão particular que pode prender qualquer pessoa. Se a linguagem fosse plana a literatura não tinha graça. A criatividade está na linguagem. Veio de Moçambique para Macau. O que pode levar daqui? É uma cidade fascinante. As pessoas são diferentes das de Moçambique, mas descobri uma coisa: o Homem é igual em todo o lado. Há pessoas simpáticas e antipáticas, boas e más, com qualidades e defeitos em todo o lado. É verdade que o povo de Moçambique e este são muito diferentes. Mas é interessante descobrir as pessoas. É interessante perceber como as culturas moldam os povos. Como vê a literatura africana e especialmente a do seu país, Moçambique? Prefiro falar de Moçambique e da nova geração. Gosto muito do que os meus colegas estão a fazer incluindo as mulheres. Ficámos muito tempo escondidas e agora há muita mulheres a dinamizar a literatura. Em Moçambique há agora muitos movimentos literários. A cidade não fica parada como antes. Agora temos festivais, eventos e feiras. Os mais novos não estão à espera que os mais velhos avancem com iniciativas. Acho que a minha geração é muito forte e estou feliz por isso.
Entrevista | Gisela Casimiro, poetisa Sofia Margarida Mota - 21 Mar 201926 Mar 2019 Natural da Guiné Bissau e a viver em Lisboa, a convidada do festival literário Rota das Letras, Gisela Casimiro vai fazer parte do painel de sábado dedicado ao tema “Pode ainda a Poesia revolucionar uma vida?” O seu livro “Erosão”, lançado em Novembro do ano passado, reúne um conjunto de poemas que falam da desconstrução [dropcap]C[/dropcap]omo apareceu a poesia na sua vida? Apareceu na adolescência. Leio desde criança mas ler poesia em particular, só comecei mesmo na adolescência, altura em que a descobri. Passei demasiado tempo sozinha na biblioteca a ler tudo o que podia. Lia sobretudo Sophia de Mello Breyner e Octávio Paz, entre outros. Mas, na altura, lia tudo. O plano era ler tanto quanto possível porque sabia que isso me ajudaria a escrever melhor, mas também porque gosto de contar histórias e também gosto que me contem histórias. Lembro-me de quando li o meu primeiro livro sozinha, era um livro de histórias dos irmãos Grimm. Entretanto, também fui muito influenciada por contos persas. A poesia foi talvez uma maturidade que tenha surgido. A poesia já não pressupõe ficção. Escrevi prosa durante muito anos, altura em que escrevia ficção. Depois deixei de o fazer. Como é que foi o processo de criação de “Erosão”? Antes de ser “Erosão”, tinha outros conjuntos de poemas. Erosão neste caso é quase como um livro do meio na cronologia poética. Tenho um primeiro volume do qual tirei algumas coisas que estão no “Erosão” e depois tenho outro que já é pós este livro mas que ainda não está publicado. Portanto ali – no livro – houve uma mistura de duas vozes diferentes, de momentos diferentes. Mas é um livro que tal como o próprio nome indica tece um processo muito longo de construção ou de destruição. Porquê de destruição? O “Erosão” fala das coisas que nos destroem enquanto seres humanos, mas também da destruição de preconceitos, de ideias. O desaparecer do sofrimento, o desaparecer da ilusão e o aparecer da minha forma mais real, mais verdadeira. Um filtro digamos assim. FOTO: Sofia Margarida Mota Também escreve prosa. Que diferenças nota entre estes dois géneros? Não vejo muita diferença porque penso que a minha prosa também tem o seu quê de poético. A diferença que vejo é que quando escrevo poesia é como estar ao espelho e quando escrevo prosa é como estar a uma janela. Tem sempre que ver com pessoas, mas a poesia permite-me ser um pouco mais egocêntrica. Quando se escreve prosa tem que ver com histórias dos outros. Não é que não tenha que ver comigo também, mas é diferente, Sinto que estou a contar mais as histórias dos outros e não propriamente a minha. Nasceu na Guiné Bissau. O que traz das suas origens para o que escreve? Das minhas raízes não sei se já trago alguma coisa para a minha escrita. Não é uma escrita que seja conotada como sendo africana ou europeia. Eu conto histórias, e conto histórias que podem ser entendidas por qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Para mim a linguagem também é simples mesmo quando falo de coisas complexas. São coisas complexas, mas são coisas que todos nós partilhamos enquanto pessoas e que não importa de onde viemos. Aquilo que abordo são coisas do quotidiano com que todos nós lidamos. Claro que quando regressar a África, certamente que me tocará profundamente e isso irá reflectir-se naquilo que escrevo. Não estamos num mundo estanque e as pessoas que têm acesso ao que escrevo, identificam-se com elas. Aliás, isso é o que me interessa, chegar a uma coisa mais universal mas sem esquecer a individualidade de cada um. Gosto muito da Chimamanda, uma autora nigeriana que escreve ficção mas em que sabemos que existem ali muitas situações que acontecem na realidade. O “Americana” foi um livro que me marcou imenso porque senti que era o livro que tinha sido escrito para mim. No entanto é sobre uma nigeriana, e eu nasci na Guiné, e ela é uma nigeriana que emigra e vai para os Estados Unidos e o namorado vai para Inglaterra e eu não tive nenhuma dessas experiências. Quando fui para Portugal, era muito pequenina e foi uma decisão dos meus pais e não minha. Mas isso não me impede de me rever naquele livro. É isso que espero que aconteça quando as pessoas lerem a minha poesia. Como está a ser a sua estadia em Macau? Está a ser curiosa. Há alguns meses que escrevo crónicas para aqui e tinha curiosidade em estar neste lugar onde já estava presente sem ser de forma física. Estava curiosa por encontrar as pessoas. Ainda tenho que explorar muito mais e descobrir. Quem vem de Lisboa nota logo quando uma terra é muito plana (risos). Mas notamos logo as primeiras coisas que nos são familiares. Quando vinha no ferry de Hong Kong para cá estava a fazer piadas em que mencionava que estava num cacilheiro, depois vi a ponte e lembrei-me da ponte Vasco da Gama . Isto acontece em mais situações. Acho engraçado fazer primeiro estas comparações e depois começar a descobrir as coisas que são de cada lugar.
Kiang Wu | Médica que tratou caso de sarampo acabou infectada João Santos Filipe - 21 Mar 201925 Mar 2019 Macau registou mais dois casos de sarampo. Uma médica do Kiang Wu ficou infectada após ter tratado de um dos casos importados. O Governo explica, em parte, o aumento das ocorrências com a quantidade de trabalhadores não-residentes e vai estudar a obrigação da vacinação contra a doença [dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SSM) anunciaram ontem que foram registados mais dois casos de sarampo no território, o que coloca o número de ocorrências em oito, entre Setembro e ontem. Um dos casos registou-se no Hospital Kiang Wu, onde uma médica acabou infectada, após ter tratado um caso de sarampo. Segundo a informação fornecida por Lam Chong, chefe do Centro de Prevenção e Controlo da Doença, entre os oito casos já registados, cinco foram importados e três desenvolvidos após contacto com os casos importados, ou seja, houve uma relação de contágio. A primeira situação apresentada sucedeu no Hospital Kiang Wu, quando uma médica com 38 anos tratou de um outro paciente com a doença, que terá sido o quinto caso. No entanto, a profissional de saúde acabou infectada e foi diagnosticada ontem. Encontra-se internada no Kiang Wu, isolada, e o estado de saúde é considerado normal. Os Serviços de Saúde estão agora a acompanhar a situação de 106 pessoas que estiveram em contacto com a mulher. Uma vez que a médica é residente do Interior da China, não se sabe se tinha sido vacinada contra a doença. Questionado se teria havido negligência, ou se os serviços iriam proceder a uma investigação à infecção da médica, Lam Chong não respondeu directamente e limitou-se a dizer que vai haver mais campanhas de sensibilização. “Há cada vez mais casos de sarampo importado. Por isso, vamos sensibilizar os médicos das urgências, de clínica geral, internos, entre outros para os cuidados”, afirmou. “São acções que também vão ser feitas nos centros de saúde e hospitais diurnos”, acrescentou. O segundo caso envolve um nepalês de 37 anos, empregado pelo Macau Jockey Club. O trabalhador não-residente chegou à RAEM a 2 de Março e está internado em regime de isolamento. No local de trabalho ninguém apresentou qualquer sintoma, mesmo assim os SSM estão a acompanhar cerca de 20 pessoas que estiveram em contacto com o doente. TNR e viagens Durante a conferência de imprensa, Lam Chong explicou que, segundo a Organização Mundial do Comércio, o sarampo é considerado eliminado em Macau. No entanto, os casos registados nos últimos tempos são justificados com dois factos: o aumento exponencial dos trabalhadores não-residentes de áreas onde há surtos da doença e às viagens dos residentes, que vão a países, incluindo Europa e Estados Unidos, e regressam infectados. “Estamos a estudar a possibilidade de os trabalhadores não-residentes serem obrigados a levar a vacina para poderem trabalhar em Macau. São cerca de 180 mil TNR e muitos vêm de regiões onde há surtos”, disse Lam. Neste sentido, o médico apelou para que as empregadas domésticas se vacinem, uma vez que podem constituir um perigo para as crianças de que tomam conta. No caso dos TNR, a vacina custa menos de 100 patacas. Para os residentes está disponível gratuitamente. Já no caso dos residentes, os SSM apelaram a que tenham cuidado, principalmente quando se deslocam para sítios onde o sarampo está activo. Um dos casos identificados, que terá sido o sexto, foi um bebé que viajou com os pais para a Suíça e voltou infectado. Os SSM confirmaram que o bebé não tinha sido vacinado.
Ká Hó | Aberto concurso público para duplicar capacidade da barragem Diana do Mar - 21 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap] Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) lançou ontem o concurso público para a ampliação da barragem de Ká Hó. Segundo o anúncio publicado ontem em Boletim Oficial, a empreitada tem um prazo máximo de execução de 750 dias de trabalho, ou seja, de pouco mais de dois anos. A obra vai permitir ampliar a capacidade de armazenamento global da barragem de Ká Hó para o dobro, ou seja, dos actuais 340 mil metros cúbicos para 740 mil metros cúbicos, de acordo com o GDI. O projecto encontra-se dividido em duas empreitadas: a da ampliação da barragem propriamente dita e a relativa ao assentamento de tubagem de distribuição de água. As propostas para a primeira fase – de ampliação da barragem – têm de ser entregues até 11 de Abril, estando o acto público de abertura das mesmas marcado para o dia seguinte. A ampliação da barragem da Ká Hó foi lançada “no intuito de intensificar o desenvolvimento urbanístico sustentável de Macau em termos de abastecimento de água, aperfeiçoar o sistema de abastecimento de água e elevar a capacidade de armazenamento do recurso de água doce”, justifica o GDI, num comunicado publicado no seu portal. A obra de ampliação da barragem de Ká Hó, em Coloane, foi viabilizada depois de a Sociedade de Turismo e Desenvolvimento Insular ter prescindido da concessão, por arrendamento, de cinco parcelas de terreno. Segundo um despacho do secretário para os Transportes e Obras Públicas, publicado no final do mês passado, a empresa, liderada por Pansy Ho, abdicou de cinco parcelas que totalizam 3.632 metros quadrados de um terreno com uma área global de 767.373 metros quadrados, de cujos direitos resultantes da concessão é titular. As cinco parcelas de terreno foram integradas, livres de ónus ou encargos, no domínio público do Estado sem lugar a qualquer tipo de contrapartidas, segundo assegurou Raimundo do Rosário. Imobiliário | Número de casas vendidas em Fevereiro caiu 76,8% Em Fevereiro foram transaccionadas 279 fracções destinadas à habitação, contra 1207 em igual mês do ano passado. Em queda esteve também o preço médio por metro quadrado que desceu de 110.243 patacas para 98.618 patacas. Segundo os dados publicados no portal da DSF, contabilizados a partir das declarações para liquidação do imposto de selo por transmissões de bens, a península figura como a ‘campeã’ de vendas – com 272 – contra 54 na Taipa e 13 em Coloane. A península apresentou o preço médio por metro quadrado mais baixo (94.500 patacas), seguindo-se a Taipa (101.973 patacas) e Coloane (133.766 patacas).
IAS | Lançado sistema de linguagem gestual por videochamada João Santos Filipe - 21 Mar 2019 O Governo lançou um serviço que vai facilitar a vida das pessoas que comunicam através linguagem gestual. Em Macau há cerca de 3.000 pessoas que sofrem de deficiências auditivas e que poderão ser potenciais utilizadores [dropcap]O[/dropcap] Executivo, em parceria com a Associação de Surdos de Macau, lançou ontem um serviço de videochamada que permite a quem sofra de surdez e deficiência auditiva comunicar no dia-a-dia com pessoas que não dominem a língua gestual. Numa fase inicial, este serviço vai servir essencialmente para ajudar na comunicação junto dos serviços públicos do Instituto de Acção Social (IAS), mas não é excluída a hipótese de, no futuro, haver outras aplicações e a extensão a outros serviços do Governo. Segundo o modelo adoptado, a pessoa com problemas de audição faz uma videochamada através de uma aplicação móvel para a Associação de Surdos de Macau. Do outro lado, atende um membro da associação a quem a pessoa com problemas de audição explica o que pretende através de linguagem gestual. Ao mesmo tempo, o receptor da chamada interpreta a comunicação gestual para os funcionários o IAS, através da fala. O serviço funciona através de tablets instalados em 20 locais de atendimento público do IAS. O objectivo é dispensar a utilização de um intérprete de linguagem gestual in loco e acelerar a comunicação. “É um serviço que vai poupar no tempo de espera quando estas pessoas vão aos serviços do IAS. Normalmente, quando este tipo de pessoa se desloca ao IAS é necessário pedir um intérprete de língua gestual, ou é preciso que esteja disponível, o que também pode implicar deslocações e tempo perdido. Com esta forma, a comunicação pode acontecer imediatamente através da plataforma”, explicou Hon Wai, presidente substituto do IAS. O responsável do departamento da acção social reconheceu também que a implementação deste projecto era um desejo antigo, mas que esbarrou na “falta de estabilidade da Internet”. Numa primeira fase, a Associação de Surdos de Macau vai disponibilizar nove intérpretes e o serviço vai estar operacional entre as 9h30 e as 18h, nos serviços do IAS. De acordo com os números apresentados por Hon Wai, existem cerca de 3000 pessoas que sofrem de surdez e deficiência auditiva em Macau e que poderão recorrer ao serviço. Obras de acesso A apresentação do novo serviços do IAS foi utilizada para um breve balanço dos trabalhos feitos para tornar os edifícios do Governo, e de entidades subsidiadas pelo erário da RAEM, acessíveis a pessoas com dificuldades de deslocação. Segundo Hon Wai até ao final do ano passado foram concluídas 2.143 obras de acesso, entre instalação de rampas, elevadores ou equipamentos nas casas-de-banho. Foram também instalados 400 equipamentos de alerta visual contra-incêndio, que utilizam luzes intermitentes, em vez do som das campainhas. Em relação aos custos destes trabalhos, o IAS explicou que ainda não tinham sido compilados até ontem.